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Unidade 7Dinâmica de populações

Autores: Delano Moody Simões da Silva e Ana Júlia Lemos Alves Pedreira

Sumário

I. Introdução

II. Estrutura Populacional

III. Distribuição Geográfica

IV. Distribuição Espacial

V. Densidade Populacional

VI. Crescimento Populacional

VII. Fatores que influenciam o crescimento das populações

VIII. Referências

414 Módulo IV - Desenvolvimento e Crescimento

I. IntroduçãoBem, antes de começarmos a falar sobre a dinâmica de populações, devemos

começar conversando o que é realmente uma população e quais suas principais carac-terísticas.

Se formos perguntar para uma pessoa qualquer o que seria uma população, provavelmente teríamos como resposta: “Uma população corresponde às pessoas que vivem numa determinada cidade”. Se fizermos essa mesma pergunta para um estatís-tico, teríamos como resposta: “Uma população corresponde a um conjunto de elemen-tos que possuem pelo menos uma característica em comum”.

Veja que a definição estatística não exclui a definição popular, pois as pessoas que vivem numa cidade têm pelo menos uma característica em comum, que é a loca-lidade de sua moradia.

Mas, se perguntarmos para um biólogo, deveríamos ter a seguinte resposta: “Uma população é constituída por indivíduos de uma mesma espécie que vi-vem em uma determinada área, em um determinado momento”. Note que a definição estatística também não exclui a definição biológica, porém não pode-mos fazer apenas uma leitura de conjunto nessa definição.

Quando falamos “indivíduos de uma mesma espécie”, estamos falando de in-divíduos que, quando cruzam entre si, em condições naturais, deixam descendentes férteis e viáveis (essa é a definição para espécie biológica). Mas, mais do que isso, estamos falando de indivíduos que têm muito mais coisas em comum do que somente o local em que vivem.

Como veremos a frente, esse conjunto de características, que é compartilhada por indivíduos de uma mesma espécie, será extremamente importante para entender-mos a dinâmica de uma população.

Além das características intrínsecas da espécie, cada população pode se com-portar de uma forma particular devido a processos biológicas (como interações com outras populações e disponibilidade de alimento) e não biológicas (como temperatura, umidade, etc.) do seu habitat. Dessa forma, os indivíduos de uma população podem ser influenciados pelo suprimento de recursos (como alimento, disponibilidade de abrigo) no ambiente, pela taxa de predação, pela ocorrência de parasitas, ou outros fatores. Sendo assim, estudos populacionais podem ser uma grande ferramenta para o melhor entendimento da dinâmica e estrutura de uma comunidade. Entende -se por comunidade o conjunto de diferentes populações que vivem em determinada área em um determinado momento.

Alguns aspectos populacionais serão abordados nesta unidade para que vocês possam compreender como é o funcionamento de uma população. Começaremos es-tudando a estrutura de uma população. A seguir, abordaremos sua distribuição geo-gráfica e espacial. Na seqüência, a densidade populacional. Por fim, trataremos do seu crescimento e os fatores que o influenciam.

Bem, vamos lá!!

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II. Estrutura Populacional

Imagine duas populações da mesma espécie vivendo em ambientes muito pa-recidos, com as mesmas condições de alimentação e abrigo. A pressão exerci-da pelos predadores e parasitas também é semelhante. Uma população, que aqui chamaremos de Alfa, possui 20% de indivíduos jovens, 60% de indivídu-os maduros e 20% de indivíduos velhos. A outra população, que chamaremos de Beta, tem 5% de jovens, 20% de indivíduos maduros e 75% dos indivíduos velhos. Suponhamos que, para os indivíduos dessas populações, somente os indivíduos maduros possam reproduzir, indivíduos jovens e velhos sejam in-capazes e a reprodução seja anual. Se as condições ambientais não sofressem grandes alterações nos próximos anos, qual das duas populações teria maior chance de crescimento?

Claro que a situação acima é uma grande simplificação. Mas com base nesse exemplo, podemos apresentar um conceito muito importante no estudo de popula-ções: o de estrutura populacional. A estrutura de uma população nada mais é do que a distribuição dos indivíduos de uma população em cada classe ou faixa etária. Para indivíduos de algumas espécies, determinar sua idade cronológica (dias, semanas, meses e anos) é tarefa fácil, porém em outras espécies isso se torna muito mais difícil, pois nelas o crescimento não é tão facilmente perceptível. Nessas situações, podemos utilizar estágios de vida (jovens, adultos, velhos) ou medidas de crescimento (peso e altura).

Atividade Complementar 1

A) Pesquise de que forma os biólogos de campo determinam a estrutura po-pulacional de grupos biológicos distintos como: mamíferos de grande porte, peixes, insetos, plantas arbóreas e plantas herbáceas. Apresente para seu tutor quais as principais metodologias utilizadas pelos biólogos para cada tipo de organismo citado.

B) Pesquise e descreva sucintamente de que outras formas o conhecimento da estrutura populacional pode contribuir para o bom entendimento da dinâmica de uma população.

III. Distribuição GeográficaOs indivíduos de uma população encontram -se distribuídos de forma desigual

pelas regiões que ocupam. Essa desigualdade é explicada pelos tipos de habitats ade-quados a cada um, ou seja, para que uma espécie possa ocorrer em determinado local, este deve conter os requisitos necessários para a sobrevivência daquela espécie (ali-mento, abrigo, características climáticas, etc.). Vale ressaltar que as espécies podem não se encontrar restritas a um único habitat, por possuírem diferentes necessidades de recursos. No entanto, a existência de um habitat adequado para uma determinada espécie não garante a sua ocorrência naquela localidade. Outros fatores podem in-fluenciar essa ocorrência, como competidores, predadores, parasitas ou barreiras de dispersão.

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Dinâmica de populações

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Algumas espécies não são restritas a um único tipo de habitat, podem ocorrer em habitats com características bem variadas. Espécies com essa característica são co-nhecidas como espécies de ampla distribuição, como exemplo podemos citar o par-dal e a própria espécie humana. Outras espécies são restritas a um tipo específico de habitat, sendo chamadas de espécies endêmicas. O grau de endemismo de uma espécie pode ser desde um determinado habitat que ocorre em várias regiões até uma localidade muito restrita como o alto de uma montanha, por exemplo. Existem espécie endêmicas de determinados biomas, isto é, são exclusivos do bioma. Já que estamos falando nisso, vamos aproveitar e pesquisar um pouco a respeito!

Atividade Complementar 2 Pesquise na internet e entregue para seu tutor uma lista com:

A) Três espécies de ampla distribuição no território nacional;

B) Três espécies que são restritas uma região (talvez um bioma) do território nacional;

C) Três espécies que ocorram somente numa única localidade, descrevendo os aspectos físicos dessa localidade.

Para as espécies de ampla distribuição (item A), verifique quais as característi-cas dessa espécie que favorecem esse tipo de distribuição.

IV. Distribuição Espacial A observação da distribuição espacial dos indivíduos de uma determinada po-

pulação no seu habitat pode ser uma atividade extremamente interessante. Alguns indivíduos parecem que só ocorrem juntos, extremamente próximos uns aos outros; outros, que têm de manter uma certa distância entre seus semelhantes. Ainda temos aquelas populações cujos indivíduos aparentemente não seguem nenhum padrão de organização. Mais interessante que a própria observação é tentar buscar quais os mo-tivos que levaram àquela organização espacial. Em Ecologia de Populações podemos detectar três padrões de distribuição espacial:

Indivíduos perten-centes a espécies endêmicas apre-sentam distribuição limitada a habitats especializados, ou seja, são nativos de uma área geo-gráfica restrita.

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a. Agrupada: nesta distribuição os indivíduos ocorrem muito próximos uns dos outros, talvez devido às características do ambiente, por distribuição de recurso ou ainda devido às características reprodutivas da própria espécie (por exemplo, reprodução vegetativa).

b. Homogênea: os indivíduos tendem a manter uma distância mínima en-tre si, fato que pode estar relacionado a interações diretas entre os indivíduos (por exemplo, o espaçamento que deixamos entre plantas em uma plantação, ou animais que delimitam territórios e os defendem da entrada de ouros indivíduos.).

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Dinâmica de populações

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c. Aleatória: nesta distribuição existe uma ausência de interações atrativas ou repulsivas dos indivíduos, dessa forma os indivíduos se distribuem ao acaso, sem um padrão definido.

Muitas vezes temos agrupamentos de indivíduos de uma determinada espécie que num primeiro momento podemos classificar como populações isoladas. Porém, com uma análise mais detalhada iremos perceber que na verdade cada agrupamento é um dos componentes de uma única população. Portanto, o conjunto dessas “subpopu-lações” é conhecido como metapopulação. Essa ocorrência separada pode ser devido a uma característica do habitat, onde os ambientes não são contínuos e tem manchas habitáveis para cada espécie. Hoje sabemos que essas manchas muitas vezes não pos-suem a mesma qualidade e que existe uma dinâmica importante entre os indivíduos de manchas distintas, a qual irá contribuir para a dinâmica da dessa metapopulação.

Atividade Complementar 3As populações naturais não se distribuem de forma homogênea no ambiente.

O modelo de metapopulações tenta explicar essa distribuição desigual das popula-ções e a sua dinâmica, sendo que, além desse, existem outros modelos com o mesmo objetivo. Pesquise e descreva outros modelos que podem explicar a distribuição das populações no ambiente.

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V. Densidade Populacional O número de indivíduos numa dada população pode variar por diversos mo-

tivos, como por características biológicas e não biológicas do ambiente, ou até mesmo por características da própria espécie (por exemplo, períodos reprodutivos). Sendo assim, para se entender como determinado fator atua numa população, devemos pri-meiro conhecer o número total de indivíduos da mesma.

Para determinarmos o tamanho total de uma população, utilizamos a densida-de e a área ocupada por ela. A densidade nada mais é que o número de indivíduos por unidade de área. Conhecendo este valor podemos multiplicá- lo pela área ocupada pela população e estimarmos o seu tamanho total.

Como contar os indivíduos de uma população? Em populações pequenas ou de pouca mobilidade, isso pode ser uma tarefa fácil. Mas, imagine uma população de cigarras ou um cardume de peixes. As formas de se estimar o tamanho dessas popula-ções podem variar bastante, podendo ocorrer desde a contagem direta de indivíduos (em populações pequenas) até a amostragem de parte da população (em populações muito grandes ou com grande capacidade de movimentação). Não podemos esque-cer que a distribuição espacial das espécies também pode mascarar alguns dados de estimativa populacional. Vale a pena pesquisar a respeito da distribuição espacial da espécie que está sendo estudada. Em populações animais adotamos o método chama-do de marcação e recaptura. Nesse método, coletamos uma amostra dos indivíduos que compõem uma população (M), geralmente com um tipo de armadilha específi-co para o animal que se deseja. A seguir, anotamos os dados que forem necessários para o estudo da população (peso, tamanho, etc.), fazemos uma marcação no mesmo (tatuagem, brinco, placa – dependendo do animal) e o liberamos. Esperamos passar algum tempo para que o animal se misture novamente na população. Esse tempo va-ria de acordo com a população em questão, e fazemos uma nova captura. Do total de indivíduos capturados na segunda vez (n), contabilizamos quantos indivíduos foram recapturados (x), ou seja, já estavam marcados. Com base nesses números podemos estimar o número de indivíduos (N) da população da seguinte forma:

Vamos exercitar esse cálculo. Imagine que iremos determinar o tamanho de uma população de gafanhotos numa determinada área. Fizemos uma primeira captu-ra e obtivemos 50 indivíduos, os quais foram marcados com uma caneta marcadora e posteriormente soltos. Após algum tempo fizemos uma segunda captura, onde obtive-mos 70 indivíduos, sendo que destes 20 tinham nossa marca. Colocando os valores na nossa fórmula, obtemos N= (70x50)/ 20 = 175 indivíduos na população.

Esse procedimento de marcação e recaptura pode ser repetido algumas vezes para que possamos capturar diferentes indivíduos da população. Após uma seqüência de coletas de marcação e recaptura, podemos obter um gráfico que nos mostra como a população variou ao longo de um determinado período de tempo. Observe o gráfico a seguir:

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Dinâmica de populações

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0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

100

1 2 3 4 5 6 7 TTeemmppoo

NNúúmm

eerroo

ddee iinn

ddiivvíí

dduuooss

'Figura 1: Variação da população de gafanhotos

O tempo (eixo dos x) pode variar em dias, meses ou até em anos, dependendo da coleta realizada e do tempo de vida da espécie em questão.

Outro método pode ser utilizado em populações vegetais, ou de animais sés-seis. Nesses casos, podemos utilizar parcelas com tamanhos determinados e constan-tes que devem ser dispostas de forma aleatória no ambiente. Dentro de cada parcela fazemos a contagem dos indivíduos ali presentes e depois podemos fazer uma extra-polação do tamanho populacional.

A densidade das populações varia ao longo do tempo. Essa variação pode ocor-rer devido aos nascimentos, às mortes e à movimentação dos indivíduos entre meta-populações ou populações distintas. Essa movimentação não ocorre apenas para os organismos que têm capacidade de deslocamento, mas pode ocorrer também com o auxílio de outros organismos. Por exemplo, uma planta pode “mover” suas sementes e essa movimentação é denominada dispersão de sementes.

Quando observamos as populações localmente, podemos classificar as movi-mentações de entrada e saída de indivíduos por imigração e emigração, respectiva-mente. Essa movimentação, ou dinâmica de movimentos, é extremamente importante para manter as populações. Quando a interconectividade entre subpopulações é gran-de, proporciona que a população como um todo funcione e desenvolva como uma única estrutura.

VI. Crescimento Populacional

Algumas populações têm capacidade de se reproduzir muito rapidamente. Se algum fator não controlasse o tamanho dessas populações, elas seriam muitíssi-mo grandes. Ainda bem que esses fatores regulam o tamanho das populações. Imaginem o que ocorreria com organismos como bactérias que possuem gran-de capacidade reprodutiva, se não houvesse fatores que regulassem seu cresci-mento populacional? Essa capacidade reprodutiva também pode ser chamada de potencial biótico de uma dada população.

A síndrome de dispersão de sementes pode ser de três tipos principais: zoocó-ricas, anemocóri-cas e autocóricas. Na zoocórica, a semente é dis-persa com auxílio de animais, como abelhas e morce-gos, por exemplo. Já na anemocórica o vento é o agente de dispersão. E na autocórica a semente possui dispositivos que auxiliam na sua própria dispersão.

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As populações podem variar de tamanho ao longo de um determinado período de tempo. Vamos imaginar uma população de cigarras. Se você buscar na sua memó-ria, irá lembrar que, no período da primavera, elas aumentam em número fora do solo e se tornam bastante “escutáveis”. Por que isso ocorre? Provavelmente existem fatores associados ao crescimento dessa população, tais como alimento, fatores climáticos, características biológicas específicas da espécie, dentre inúmeros outros fatores que influenciam esse processo.

Das diferentes equações que descrevem o crescimento populacional, vamos es-tudar duas: o crescimento exponencial e o crescimento geométrico. No crescimento exponencial, a adição de novos indivíduos na população é contínua, não tendo um período específico. Isso ocorre com a população humana, onde os bebês nascem e são adicionados à população ao longo de todo ano sem ter um período específico para isso. O gráfico de uma população que cresce exponencialmente (Figura 2) segue a se-guinte equação:

N(t) = N(0)e rt

Em que N(t) é o tamanho de uma população após determinado tempo t, N(0) é o tamanho inicial da população e r é a taxa de crescimento exponencial. A constante e é a base de logarítimos naturais e possui um valor aproximado de 2,72. Observando a figura 2 podemos notar que à medida que a população vai aumentando a velocidade do crescimento aumenta mais ainda.

Figura 2: Crescimento exponencial.

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Dinâmica de populações

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Algumas espécies não incrementam suas populações continuamente, fazem isso em períodos específicos, chamados de períodos reprodutivos. Nessas espécies as populações oscilam entre períodos reprodutivos e não reprodutivos. Nos períodos não reprodutivos as taxas de mortalidade tendem a ser maiores que nos períodos re-produtivos. Isso pode ser facilmente observado em populações de animais que se re-produzem nos períodos chuvosos, como algumas espécies de insetos. Ao longo do pe-ríodo chuvoso podemos observar um aumento significativo no número desses insetos, porém, no período seco, ocorre uma queda drástica da sua população. Dessa forma, analisar o crescimento dessas populações que possuem acréscimos em intervalos é mais correto quando comparamos períodos correspondentes (período chuvoso de um ano com o período chuvoso do ano seguinte, por exemplo). A esse modelo chamamos de crescimento geométrico, no qual a adição de indivíduos novos à população ocorre em períodos específicos. A intensidade desse incremento é extremamente variável, dependendo de condições ambientais.

Para calcularmos o crescimento de uma população que cresce geometricamente em muitos intervalos de tempo, utilizamos a seguinte equação:

N(t) = N(0)λ tEm que N(t) é o tamanho de uma população após determinado tempo t, N(0) é

o tamanho inicial da população e λ é a taxa de crescimento geométrico que pode ser obtido pela razão do tamanho populacional de um determinado ano sobre o tamanho populacional do ano anterior. Note que o tamanho da população oscila ao longo do tempo, sendo que essas oscilações podem ser devidas a fatores sazonais (preciptação) ou características da própria espécie (período reprodutivo).

Apesar de úteis para o entendimento da dinâmica populacional, esses modelos pouco esclarecem as questões dos indivíduos. As taxas de natalidade e mortalidade são obtidas para a população. Afinal de contas, um indivíduo só nasce e morre uma única vez. Quando os indivíduos de uma população possuem taxas de mortalidade e natalidade iguais, podemos prever o tamanho que a população terá em um momento futuro. Mas, quando essas taxas variam com a faixa etária, a contribuição de cada indivíduo na população deve ser calculada separadamente. Imagine duas populações distintas: uma com a maioria dos indivíduos em estágio pré -reprodutivo e a segunda com a maioria de seus indivíduos anciãos (lembrem -se do exemplo que foi dado no início da unidade). Mesmo que essas duas populações tenham o mesmo número total de indivíduos e estejam sujeitos as mesmas condições ambientais, não podemos espe-rar que possuam a mesma taxa de crescimento.

Para entendermos melhor como cada indivíduo ou grupos de indivíduos po-dem contribuir para o crescimento da população, utilizamos as tabelas de vida. Para construirmos uma tabela de vida de uma determinada espécie, devemos conhecer a distribuição etária da espécie (estrutura populacional), a probabilidade de sobrevi-vência dos indivíduos em cada faixa etária e a fecundidade em cada faixa. A tabela 1 apresenta os dados de uma espécie fictícia na qual os indivíduos são hermafroditas, reproduzem uma única vez por ano e somente após esse evento morrem. Todos os indivíduos com três anos reproduzem e morrem logo em seguida, por isso não temos indivíduos com quatro anos ou mais.

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Tabela 1 Tabela de vida de uma população de uma espécie fictícia (Ricklefs, 2003).

Idade (Anos) Sobrevivência Fecundidade N° de indivíduos

0 0,5 0 201 0,8 1 102 0,5 2 403 0 3 30

Com base nas informações presentes nessa tabela, podemos estimar quantos in-divíduos teremos nessa população num período futuro. Inicialmente, devemos saber quantos indivíduos sobreviveram de um ano para o outro em cada faixa etária. Dos indivíduos recém- nascidos, 50% destes morrem antes de completarem um ano. Logo, dos 20 indivíduos, somente dez passarão para a próxima faixa etária (0,5x20) (Tabela 2). Para os indivíduos com um ano, a mortalidade é menor, sendo que 80% destes pas-sam para a próxima faixa etária, ou seja, oito indivíduos (0,8x10). Para os indivíduos de dois anos, apenas 20 passarão para a próxima faixa, enquanto para os indivíduos que estão com três anos, nenhum sobreviverá, como foi dito anteriormente. Diante disso, a situação é a seguinte:

Tabela 2 Número de sobreviventes na próxima estação reprodutiva.

Idade (Anos) N° de indivíduos inicialN° de sobreviventes

para a próximaestação reprodutiva

0 201 10 102 40 83 30 20

Agora podemos calcular quantos indivíduos novos irão nascer após o acasala-mento dos sobreviventes (Tabela 3). Para isso, basta multiplicar a fecundidade de cada faixa etária pelo número de indivíduos de cada uma. Dessa forma, cada indivíduo com um ano de idade irá gerar um novo indivíduo, cada indivíduo de dois anos irá gerar três indivíduos novos e assim consecutivamente. O resultado após esse período reprodutivo será o seguinte:

Tabela 3 Número de filhotes produzidos a partir dos cálculos de fecundidade.

Idade (Anos)N° de sobreviventes

para a próximaestação reprodutiva

Fecundidade N° de indivíduos

0 01 10 1 102 8 2 243 20 3 40

Total 38 74

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Dinâmica de populações

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Conclui -se que, ao final desse período reprodutivo, teremos 74 novos indivídu-os no ano seguinte (Tabela 4). Segue abaixo resultado:

Tabela 4 Número de indivíduos adicionados para a próxima geração.

Idade (Anos) N° de indivíduos inicial N. de indivíduos no ano seguinte

0 20 741 10 102 40 83 30 20

Total 100 112

Ou seja, essa população terá o incremento de 12 indivíduos. O mesmo cálculo pode ser feito para vários anos, proporcionando a possibilidade de fazermos estimati-vas para o tamanho populacional no futuro.

Atividade Complementar 4 Utilizando a Tabela 1:

A) Calcule o tamanho da população, ao final de cada ano, para 10 anos poste-riores ao ano inicial.B) Calcule a taxa de crescimento geométrica (λ) dessa população para cada pe-ríodo.C) Com base no λ de cada período, você pode afirmar que essa população assu-miu uma distribuição etária estável? Justifique sua resposta.

VII. Fatores que influenciam o crescimen-to das populações

Em populações naturais observou -se que, em baixas densidades, elas apresen-tam um crescimento exponencial até determinado momento. Quando as mesmas che-gam a uma determinada densidade, começam a diminuir sua taxa de crescimento. Ou seja, quando os recursos são abundantes, as populações crescem de maneira exponen-cial, e quando os mesmo recursos começam a se tornar escassos devido ao aumento da população, a taxa de crescimento diminui. Esse “momento” ou limite para o cresci-mento de uma população no seu habitat é conhecido como capacidade de suporte (K), ou resistência do meio. Nesse ponto, as taxas de natalidade e mortalidade deveriam ser equivalentes. Acima desse ponto, a taxa de mortalidade é maior que a de natalida-de. Abaixo desse ponto, a taxa de natalidade deverá ser maior que a de mortalidade (Figura 3).

Esse modelo de crescimento é descrito pela chamada equação logística:

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Em que:

dN = Taxa de crescimento populacional;dtr0 = Taxa de crescimento intrínseco;

N = Tamanho populacional;

K = Capacidade de suporte.

Segundo essa equação, a medida que a população vai aumentado sua densida-de, sua taxa de crescimento irá diminuir, sendo que, quanto mais próximo da capacidade de suporte do ambiente, menor será a taxa de crescimento.

Figura 3: Crescimento logístico.

Nesse momento, vale a pena discutirmos um pouco sobre quais fatores podem influenciar o crescimento das populações. Esses fatores podem ser de dois tipos: dependentes da densidade ou independentes da densidade. Fatores dependen-tes da densidade são aqueles que estão diretamente relacionados ao número de indivíduos de uma população. Por exemplo: quanto mais indivíduos existi-rem em uma determinada área, mais alimento será necessário para essa popula-ção. Alimento, espaço, doenças, predadores, dentre outros também são conside-rados fatores dependentes da densidade. À medida que a população aumenta de densidade, esses fatores passam a regular o tamanho da população, influen-ciando fortemente as taxas de natalidade, mortalidade e fecundidade dos indi-víduos. Já fatores como o clima e catástrofes ambientais são considerados fato-res independentes da densidade, uma vez que não se encontram diretamente relacionados ao número de indivíduos da população. Esses fatores chegam a influenciar no crescimento da população, mas não são considerados regulado-res do seu tamanho. Isso porque independente do número de indivíduos, os fatores vão atuar da mesma forma. Por exemplo, o efeito da precipitação sobre os indivíduos que habitam uma determinada localidade independe do número de indivíduos que nela residem.

426 Módulo IV - Desenvolvimento e Crescimento

Dinâmica de populações

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Em populações animais, os efeitos dependentes da densidade são perceptíveis nas taxas de natalidade, de mortalidade, de fecundidade e até mesmo na longevidade dos indivíduos. Em populações vegetais também observamos, na mortalidade e prin-cipalmente na fecundidade, os efeitos da densidade populacional. Nesses organismos é muito comum, em situações com recursos limitados, que as plantas retardem o seu crescimento para aumentar a sua chance de sobrevivência. Sendo que tal “escolha” pode acarretar um prejuízo na reprodução.

Atividade Complementar 5

A) Ecólogos vegetais afirmam que as plantas apresentam uma resposta caracte-rística quando crescem em altas densidades, conhecido como auto afinamento. Pesquise sobre esse comportamento e apresente dois exemplos descritos em ar-tigos científicos, citando o artigo consultado.

B) O gráfico abaixo (Figura 4) representa a variação da densidade populacio-nal de uma espécie de roedor do cerrado, Oxymicterus delator. É um animal insetívoro e com hábitos semifossoriais (que cava e se enterra). Na figura estão representadas as variações tanto de adultos como de todos os indivíduos da população (adultos e jovens). Podemos perceber que existe uma variação da densidade populacional ao longo do ano. Sugira fatores que poderiam explicar essa variação. Esses fatores seriam dependentes de densidade ou não? Justifi-que sua resposta.

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ago/ 96

set/ 96

out/ 96

nov/ 96

dez/ 96

jan/ 97

fev/ 97

mar/97

abr/97

mai/97

jun/ 97

jul/ 97

ago/ 97

set/ 97

Meses

Den

sida

de (i

n d/h

a )

Adulto Total

Figura 4: Variação da densidade populacional de O. delator em um campo úmido na Reserva Ecológica do IBGE, DF. Fonte: PEDREIRA, 1998.

Agora que estudamos a dinâmica de populações, você pode perceber o quan-to ela é importante em estudos de conservação e manejo de espécies. Saber como as populações variam pode nos ajudar a preservá las e também a manejá las quando ne-cessário.

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VIII. Referências BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWSEND, C. R. Ecology: Individuals, populations and communities. 3. ed. Cambrige: Blackwell Science, 1996.

____. Ecologia – De Indivíduos a Ecossistemas. 4. ed. Artmed, 2007. ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.

PEDREIRA, A. J. 1998. 48f. Dinâmica Populacional e Área de Vida de Oxymycterus delator (Rodentia, Muridae) em Campo Úmido no Planalto Central, Brasília DF. Dissertação (Mestrado em Biologia) Departamento de Ecologia, Universidade de Brasília, Brasília, 1998.

REAL, L. A.; BROWN, J. H. Foundations of Ecology: Classic papers with commentaries. Chicago: Chicago Press, 1991.

RICKLEFS, R. E. Ecology. 3. ed. New York: W. H. Freeman and Company, 1990.

____. Economia da Natureza. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

SILVERTOWN, J. W.; DOUST, J. L. Introduction to plant population biology. 3. ed. Cambrige: Blackwell Science, 1993.

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