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UNIVERSIDADE DE AVEIRO A TELEVISÃO E A SOCIEDADE DANIEL SILVEIRA DOS SANTOS JANEIRO 1999

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UNIVERSIDADE DE AVEIRO

A TELEVISÃO E A SOCIEDADE

DANIEL SILVEIRA DOS SANTOSJANEIRO 1999

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UNIVERSIDADE DE AVEIRO

A TELEVISÃO E A SOCIEDADE

DANIEL SILVEIRA DOS SANTOSNOVAS TECNOLOGIAS DA COMUNICAÇÃOTEORIA E PRÁCTICA DA COMUNICAÇÃO

NÚM. MEC. 19697

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“Agradeço a todas as pessoas que, com um pouco de paciência perderamuns minutos do seu precioso tempo para preencherem o inquérito e assim

facilitarem a realização deste trabalho. Muito obrigado”

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INTRODUÇÃO

Do mesmo modo que a ferramenta é, de certa forma, o prolongamentoda mão, os media são o prolongamento dos sentidos.

Os meios de comunicação social invadiram o nosso ecossistema einstalaram-se de maneira indiscutível na nossa vida quotidiana. Temosdificuldade em imaginar o Mundo sem os seus tentáculos absorventes, apesarde, na realidade, a maior parte dos media ser recente e mesmo os mais antigosmeios de comunicação terem sofrido, nestes últimos cem anos, umdesenvolvimento inesperado.

Um mundo diferente é-nos, assim, servido todos os dias. Mundo dosacontecimentos de que os factos reais são puro pretexto, simulacro do real deque as representações sociais se alimentam para darem coerência àscontradições e antagonismo do real e poderem sobreviver.

O nível de vida foi aumentando progressivamente. Graças à interferênciae à rápida evolução dos meios de comunicação, especialmente os projectadosatravés do Espaço, como a rádio e a televisão, a civilização ocidentaltransformou o Mundo naquilo a que McLuhan chamou uma “Grande Aldeia”.Mas o progresso verificado ultimamente, num ritmo cada vez mais acelerado,criou, na vida do Homem moderno, um terrível dilema, um permanente conflito.Com o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia, ele não só encontrou osmeios de dominar o que o rodeia e de satisfazer as suas necessidades, comotambém adquiriu a capacidade de destruir tudo o que criou.

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OBJECTIVOS

Este trabalho tem como objectivo principal provar a importância, nasociedade, dos meios de comunicação, em especial, da televisão, segundo omodelo de comunicação de H. Lasswell (1948).

Para a realização deste trabalho foi feito um inquérito a um universo depessoas dividido em sexo, idade e profissão, com o intuito de demonstrar comoa sociedade vive dependente dos meios de comunicação e como estesinfluenciam o comportamento do Homem social.

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MODELO DO INQUÉRITO

“A televisão e a sociedade”

1- Entre rádio, televisão e jornal qual o atrai mais?RádioTelevisãoJornal

2- Quanto tempo dedica, por dia, a ver televisão? (seja sincero)Menos de uma horaUma horaDuas ou três horasMais de três horas

3- Quais os tipos de programas que prefere?Desportivos MusicaisCulturais PassatemposReligiosos NoticiáriosNovelas Des. AnimadosOutros Quais?__________________________________________________________________

4- Qual o efeito da televisão na sua vida quotidiana?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5- Acha que a televisão é prejudicial na formação da personalidade?Sim Não

5.1- Em que aspectos?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANÁLISE DO INQUÉRITO

1- Entre rádio, televisão e jornal qual o atrai mais?

O meio de comunicação que mais atrai as pessoas, em geral, é atelevisão. No gráfico acima pode-se verificar que entre homens e mulheres foieste o mais escolhido. Com uma menor percentagem ficaram a rádio e o jornal.

A mesma pergunta realizada a pessoas de idades diferentes mostrouque a televisão é a mais escolhida por todas as idades, em especial, daspessoas com idades compreendidas entre 20 e 29 anos. Verifica-se que a rádiotambém tem alguma importância nas pessoas mais jovens, sendo o seuimpacto muito menor em relação à televisão.

Entre rádio, televisão e jornal qual o atrai mais?

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1

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2

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Rádio Televisão Jornal

Meio de comunicação

de

pes

soas

M

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Entre rádio, televisão e jornal qual o atrai mais?

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I d a d e s

Rádio

Televisão

Jornal

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2- Quanto tempo dedica, por dia, a ver televisão? (seja sincero)

Verificou-se, neste gráfico, que a média do tempo, em geral, que aspessoas inquiridas gastam a ver televisão é entre uma e duas horas por dia. Asmulheres ocupam, em média, uma hora por dia, a ver televisão. São oshomens quem supera esta média ocupando entre duas e três horas por dia.

Neste gráfico, podemos verificar que são as pessoas com mais de 20anos que ocupam a maior parte do tempo a ver televisão, sendo como média,em geral, uma hora por dia para todas as pessoas.

Quanto tempo dedica, por dia, a ver televisão?

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-1 hora 1 hora 2 ou 3horas

+ 3 horas

Tempo

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Quanto tempo dedica, por dia, a ver televisão?

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Tempo

de

pes

soas

-1 hora

1 hora

2 ou 3 horas

+ 3 ho ras

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3- Qual o tipo de programas que prefere?

O tipo de programas preferidos, segundo este gráfico, são os programasdesportivos e os noticiários. Enquanto que os homens preferem os programasdesportivos, as mulheres, por sua vez, preferem as novelas. Em geral estesdois grupos encontram-se equilibrados quanto à sua escolha entre osprogramas culturais, musicais, noticiários, desenhos animados e outros.

Na escolha por idades, verifica-se que as pessoas com idadescompreendidas entre 10 e 29 anos, vêem quase todos os tipos de programas.Nos restantes pode ver-se uma escolha mais diversificada entre todos os tiposde programas.

Quais os tipos de programas que prefere?

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1

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2 2

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T i p o s d e p r o g r a m a s

M

F

Quais os tipos de programas que prefere?

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1 1 11 1 1

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10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69

I d a d e s

D e s p o r t i v o s

Cul tura is

R e l i g i o s o s

Nove las

M usicais

Passa tempos

N o t i c i á r i o s

Des . An imados

O u t r o s

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4- Qual o efeito da televisão na sua vida quotidiana?

Nas respostas a esta questão, observam-se respostas diferentes,algumas das quais passo a transcrever:

Profissão: Motorista - “Quase nulo, pelo pouco que tenho disponível”;Pedreiro – “Com os programas que eu vejo, a televisãoinforma-me do que acontece à minha volta”;Empregado de Escritório – “A televisão, é uma maneirade ajudar a passar o tempo, iludindo as pessoas, e informao que se passa pelo mundo fora";Estudante – “Relaxar”;Estudante – “Ajuda-me a estar actualizado em relação aoque se passa no mundo”;Estudante – “Ajuda-me a distrair e a passar o tempo,quando não tenho mais nada para fazer”;Professora – “praticamente nenhum, uma vez que vejopouco tempo”.

5- Acha que a televisão é prejudicial na formação da personalidade?

Existe um certo equilíbrio entre as resposta a esta pergunta. Para oshomens a televisão não é um factor prejudicial na formação da personalidade,enquanto que as mulheres possuem opinião diferente.

5.1- Em que aspectos?

Para a maior parte das pessoas que responderam sim na questãoanterior, a televisão interfere através de “termos utilizados”, “moda”, “violência”,“baixa qualidade”.

Para as pessoas que responderam não, a televisão actua como“informadora”.

Acha que a televisão é prejudicial na formação da personalidade?

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Sim Não

Opinião

de

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M

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MASS MEDIA

Os Mass Media são intermediários, meios de difusão das mensagens.Por vezes, indicam, também, a própria difusão da mensagem. Designam,essencialmente, técnicas de comunicação dirigidas a um determinado público eà própria comunicação em si.

Além de suporte, os media são o relais entre o emissor e o receptor. Foisobretudo graças a eles que a comunicação fez os progressos que lheconhecemos, alcançando a sua actual importância.

Sem eles teríamos ficado provavelmente no estádio da «aldeia global»,lugar ideal para o Homem viver, onde o número limitado de casas permitiriaque, falando em voz alta, qualquer pessoa pudesse ser ouvida por todos osoutros habitantes. Era o que acontecia na pré-história e ainda acontece emalgumas civilizações subdesenvolvidas da Amazónia e da África.

Os progressos registados no sentido de conseguir comunicar a umadistância cada vez maior foram muito morosos, passando primeiro peloestafeta encarregado de transmitir curtas mensagens verbais, pelo tantã epelos sinais de fumo.

A descoberta da escrita veio dar um grande impulso, originando otransporte das mensagens por vários estafetas, por pombos-correios, etc.

Depois houve Guttenberg e a imprensa, Marconi e o telégrafo, Bell e otelefone, até aos nossos dias, em que os progressos alcançados são tais que onosso planeta está practicamente transformado numa «aldeia global». Épossível hoje comunicar rapidamente de um continente para outro graças àrádio, à televisão, aos satélites, que asseguram o relais das mensagens,contribuindo assim para uma maior aproximação entre os homens.

A palavra Media, em conjunto com os outros elementos do modelo decomunicação de Lasswell, tal como este a emprega, designa todos os meios deexpressão, incluindo os mais simples e os mais naturais, tais como a voz e ogesto. Só podemos falar de Mass Media quando se trata de meios cujafinalidade habitual não reside na comunicação interpessoal, mas natransmissão de uma mensagem de um centro emissor para uma pluralidade deindividuos receptores. Do mesmo modo, reserva-se normalmente o termo MassMedia para as técnicas de difusão artificiais, sobretudo as que estão ligadas àmecanização, aos progressos científicos e, de preferência, à electrónica.

Assim, surgem, por vezes, dúvidas quanto à legitimidade de classificar,neste domínio, o livro impresso. Em geral, considera-se que só os livros debolso, devido à sua elevada tiragem e fabricação em série e os álbuns debanda desenhada, por causa do seu carácter visual e da sua relativamodernidade, se podem considerar Mass Media. Os jornais, principalmente osde grande circulação, e, sobretudo, os magazines ilustrados são, pelasmesmas razões, considerados, Mass Media.

Cronologicamente, foi o cinema o primeiro dos Mass Media a utilizarverdadeiramente uma técnica nova, intimamente ligada à sociedade industrial.Por outro lado, o filme sonoro constitui igualmente um elemento importante doconjunto audiovisual, que tende cada vez mais, implícita ou explicitamente, aocupar o lugar principal no campo habitualmente atribuido aos Mass Media.

Os discos, a rádio, as fitas magnéticas são, no sector da comunicaçãosonora, os instrumentos mais facilmente identificáveis como Mass Media.

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Actualmente, a televisão é, sem qualquer dúvida, o tipo mais acabado dosMass Media, porquanto reúne todas as qualidades exigidas, sendo uminstrumento audiovisual ligado a uma técnica electrónica e particulamenterepresentativo da civilização industrial.

Inclui-se com frequência neste domínio a publicidade, o que éperfeitamente legítimo. Não se trata de uma técnica específica ou de umrnedium em particular, mas de um determinado emprego ou de uma certafunção de vários outros media como o jornal, o cinema, a rádio, a televisão,que constituem o seu suporte, excepto nos casos em que a publicidade utilizasuportes como o cartaz, o qual, se não é o seu suporte privilegiado, lhe está,pelo menos, ligado na maioria dos casos.

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O PODER DOS MASS MEDIA

Os meios de comunicação social e a sua utilização constituem um factorde desenvolvimento a nível socio-cultural, político e económico. Isto tudo érelativo, na medida em que, quanto maior for a liberdade de informar e quantomelhor for a clareza da informação que se transmite pelos meios decomunicação, mais independente e esclarecida será a opinião pública. Esta é arazão por ter sido tão relevante, ao longo da história, o empenhamento dasforças do poder no domínio dos meios de difusão e no controlo da informação.A informação só poderá afirmar-se como verdadeiramente livre quando nãodepender dos governos, nem das potências do dinheiro, mas apenas e emexclusivo da consciência dos jornalistas e dos leitores. No entanto, a verdade éque existe, por parte do emissor, identificado, no Modelo de Comunicação deLasswell, como um elemento de controlo, uma pressão, manifestada através deregras de funcionamento dos meios de comunicação, que condiciona aformação da opinião pública e modela o comportamento daqueles a quem sedestina a informação.

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COMO E QUANDO SURGE A TELEVISÃO?

A revista ilustrada e o cinema estão nas origens da televisão e justificamo seu aparecimento. E isso acontece precisamente porque tanto a primeiracomo o segundo apresentam determinados inconvenientes para a comodidadedo público consumidor. Assim, enquanto a primeira tem de ser escolhida,comprada e folheada, o segundo implica a necessidade de deslocação até umasala de exibição. Daí que a televisão apareça como uma espécie de remédiopara este tipo de inconvenientes.

Durante anos – mais propriamente, de 1926, ano da sua invenção, porJohn Baird, até às primeiras emissões regulares da BBC, em 1936 – atelevisão foi uma bizarria. Depois, país após país, tornou-se no centro dasatenções, moldou hábitos, transformou culturas, criou heróis, chegou aoestatuto de núcleo das sociedades modernas.

Começou com um ecrã de tamanho minúsculo, sem que existissesincronia entre o som e a imagem (algo que foi ultrapassado, logo em 1934,pela germânica Telefunken), e durante décadas manteve-se a preto-e-branco.

Ultrapassada a Grande Guerra, retomadas as emissões britânicas, omesmo Baird fez uma primeira demonstração com imagens a cor, mas serianecessário esperar até à década de 50 até que a CBS realizasse as primeirasemissões a cores.

A Portugal chegou tarde (emissões regulares a partir de 1957), ainda apreto-e-branco e, durante muito tempo, através de um canal estatal. Foi atravésdas imagens da RTP que os portugueses seguiram, a par de meiaHumanidade, o que terá sido o momento mais espectacular da história datelevisão: a chegada do homem à Lua.

A televisão é o meio de comunicação de massas que traz uma novadimensão através da imagem. O seu lema é o de informar para formar,mostrando. Esta faculdade de poder mostrar é um apelo permanente porque aimagem tem, implicitamente, uma presença permanente, não comocomplemento mas como suporte de todo o seu processo comunicativo.

A televisão é, provavelmente, o meio de comunicação mais familiar, nãosó por ocupar grande parte do tempo disponível, como, também, por ser ummedium acessível, que capta facilmente o interesse e que se inserepredominantemente no espaço doméstico.

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TEM MAGIA, A TELEVISÃO

Era um pequeno e sujo hotel à beira da estrada. 0 sol tórrido morara duranteo dia no quarto abafadiço, e, antes de nos resignarmos à fornalha e á insónia,apetecia demorar o serão no piso térreo, ocupado pelo bar-restaurante, ondea brisa nocturna corria da entrada directamente para o quintal.A freguesia deitara-se já. Lá fora, os camiões lado a lado, num sono profundo,como profunda era a noite, apenas o pirilampo dos jardins a assinalar-lhes ovulto monstruoso. No primeiro andar, os homens de tronco soberbo que, mala alva clareasse, os guiariam de novo até à posta seguinte. Para esses, nãoexistia calor nem insónia: por muito que o suor lhes afrontasse os músculosvaronis e os mosquitos investissem, em zoadas sucessivas, a fadiga era maisforte. Dormiam como pedras.No bar-restaurante, pois éramos nós e um casal italiano os sobreviventes. Apatroa, de gestos distraídos, limpava e relimpava a baixela, enquanto iaseguindo o programa de televisão. Quando o cozinheiro, palitando os dentes,veio lá de dentro para se lhe associar, agora que terminara a sua lida, amboscomentaram as imagens. E comentavam-nas com miolo. Aquilo era umprograma para civilizados e eles como civilizados reagiam. Também eu me fuisentindo seduzido por aquela subtil e engenhosa interpretação do quotidianoatravés de desenhos que a ágil cãmara animava. O ritmo e as mudanças deplanos eram vivíssimos. Quando se impunha, aparecia o rosto comunicativodo locutor, olhos nos olhos dos espectadores, sem um gaguejo ou umcabotinismo na fala, sem o amaneiramento das vedetas de pataco. Depois,seguiram-se as actualidades, e nessa altura o locutor foi rendido. Estesegundo tinha a voz mais cheia e vibrátil e graduava-a com emoção. Eramoslevados a supor que ele participara nos acontecimentos que narrava, e nóspróprios, sob esse clima de convicção, também nos sentiamos heróis outestemunhas do que as imagens iam revelando.Tem magia, a televisão. É o mundo em nossa casa. Eu, que a abomino, tãousurpadora tem sido dos nossos hábitos, do que nos restava de convívio,quando o dia chega ao fim e nos espera um familiar, um livro, umdesenferrujar de ideias numa roda de amigos, eu, que a abomino sobretudoporque, entre nós, ela é um incitamento à estupidez e à mediocridade, acho-me a não saber resistir-lhe, mesmo quando me agonia.Por isso, ali estava eu, de pescoço torcido, a tentar não perder um fotograma.É certo que o programa merecia-o, visto que em França, na Itália e na Suíça,únicos paises em que tenho apreciado, embora pela rama, o nível desigual dasua Televisão, há pelo menos um limiar de respeito pelo espectador eninguém pensa em servir-se desta terrível arma de contágio para proceder auma lavagern dos cérebros com o único objectivo de embrutecer as gentes.

Fernando Namora, Diálogo em Setembro

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AGARRADOS AO ECRÃ

Começou por ser um objecto feio, que se colocava num canto da sala -verdade se diga que entrou logo para o lugar das visitas... -, de forma a queninguém viesse a fazer cair aquela pesada caixa.Era um luxo ter em casa aquele ecrã, que, ao fim do dia, durante algumas(poucas) horas, transmitia informação e entretenimento.Com o correr do tempo e o evoluir das modas, criaram-se móveisespecialmente destinados ao seu aconchego, mastodontes aos olhos daestética contemporânea. Resultado dessa adequação à decoração, do ritmo devidacitadino e da qualidade das estações emissoras, o televisor foi ganhandoposições no tabuleiro do lar; chegando ao centro da sala, por vezes, adornadopor "napperons" e encimado por "bibelots". Ditador do horáro de toda a família,refeições deglutidas à pressa, conversas proibidas, o televisor passou amandar nos lares, tendo hora para deitar os mais pequenos e servindo dereferência para o sono dos mais velhos.Sala que se preze tem de apresentar um televisor - a cores é obrigatório, omodelo mais recente é sinal de prosperidade - frente-a-frente com um amplosofa, no qual a família e os amigos se juntam, para se encontrarem... nasimagens que vêem. Até que aparece esse germe da discórdia que dá pelonome de "comando", que faz as delícias dos amantes do "zaping" e provoca aira dos que não suportam os saltos constantes de canal em canal. Felizmenteque existe, desde a década de 60, uma espécie sucedânea do vestuto televisorde válvulas: o portátil. Através dele, o televisor multiplica-se em cada casa. jánão se fica pela sala de estar. Há quem tenha por ideal um aparelho por cadamembro da família. Dessa forma todos ficam felizes, agarrados ao ecrã...

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CONCLUSÃO

Ninguém duvida hoje da importância da comunicação e das suastécnicas nas sociedades contemporâneas. À comunicação social, consideradapor alguns como o quarto poder (depois do legislativo, do executivo e dojudicial), é atribuido todo um ministério. Qualquer tipo de organização tem muitopoucas possibilidades se singrar se não dedicar grande parte da sua atençãoàs comunicações.

O problema deste fim de século continua a ser a subinformação a que évotado o cidadão dos países evoluídos ou em vias de desenvolvimento. E,contrariamente ao que se poderia supor, esse estado crónico se subinformaçãonão é o resultado da falta de informação, mas de excesso da mesma.

Com efeito, o indivíduo sobre-informado, «agredido» pelas centenas demensagens que diariamente lhe chegam de todos os lados, fica desmotivado ecria uma barreira natural à recepção de qualquer comunicação. O que não é deespantar se se tiver em conta que o Francês consome, em média, sete quilosde jornais, o Inglês catorze e o Americano quarenta.

Tudo parece indicar que o futuro pertencerá às comunicações e às suastécnicas. Mas, para já, se o nosso século ficar identificado na história poralguma característica mais saliente, será, com certeza, por ser o século dacomunicação de massas.

Os modernos meios de comunicação reúnem os homens do nossotempo, como que em mesa redonda, para o convívio fraterno e a acçãocomum. Na verdade, estes meios suscitam e difundem, por toda a parte,relações entre os homens e promovem o diálogo público e universal. A torrentede informação e opinião, assim movimentada, faz de cada homem umparticipante no drama, nos problemas e dificuldades do género humano,participação que cria, por sua vez, as condições necessárias para acompreensáo mútua, que conduz ao progresso de todos.

Os meios de comunicação, com os seus rápidos progressos, vãoabatendo barreiras que o espaço e o tempo levantaram entre os homens;apresentam-se, portanto, como factores de proximidade e de comunhão.Graças a eles, notícias e conhecimentos de toda a ordem circulamcontinuamente por toda a parte, permitindo aos homens seguir muito maisactivamente a vida do mundo de hoje. Graças, também, a eles, novasoportunidades surgiram para a divulgação do ensino a todos os níveis, e,sobretudo, para a luta contra o analfabetismo e para a instrução elementar oueducação permanente. Estabelecem e preservam, além disso, maior dignidadeentre os homens, de modo que todas as camadas sociais possam usufruir dosmesmos benefícios culturais e recreativos. Enriquecem, finalmente, o espírito,pondo-o em contacto, pelo som e pela imagem, com a realidade, ou dando-lhea possibilidade de reviver situações remotas, quanto a tempo ou lugar.Quando, numa região, não existe cultura literária, os cidadãos, conservandosempre o apreço pelos valores e costumes da sua cultura tradicional, terãomais rapidamente ao seu dispor os benefícios da sociedade moderna.

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BIBLIOGRAFIA

Carvalho, Costa – O Mundo Na Mão, Vol. 2, Areal Editores, Lisboa, 1988.

Namora, Fernando – “Tem Magia, a Televisão”, Diálogo Em Setembro.

Jornal de Notícias – Colecção “Século XXI”, 1998 e 1999.

Revista Vida Mundial – Janeiro 1999.

Por vezes, a fim de demonstrar a opinião dos inquiridos, foram transcritaspartes das suas respostas às questões do inquérito.

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ÍNDICE

Introdução……………………………………………………………….

Objectivos……………………………………………………………….

Modelo do Inquérito……………………………………………………

Análise do Inquérito……………………………………………………

Mass Media……………………………………………………………..

O Poder dos Mass Media……………………………………………..

Como e Quando Surge a Televisão………………………………….

Tem Magia, A Televisão………………………………………………

Agarrados ao Ecrã……………………………………………………..

Conclusão……………………………………………………………….

Bibliografia………………………………………………………………

Índice…………………………………………………………………….

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