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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFICAÇÕES: O CASO DOS PRÉDIOS PÚBLICOS EXISTENTES chrystyane gerth silveira abreu (CEFET) [email protected] A construção civil é uma grande consumidora de recursos energéticos, no intuito de verificar os principais conceitos relacionados ao tema, foi feita uma análise bibliométrica a respeito de sustentabilidade na construção civil e eficiência energética na construção civil. O setor carece de normas que tornem compulsórios requisitos mínimos de eficiência energética em edificações. O Procel Edifica surge como uma etiqueta voluntária que demonstra o nível de eficiência energética da edificação. O presente trabalho demonstra quais são os critérios mínimos que devem ser contemplados para que uma edificação se enquadre como energeticamente eficiente de acordo com os requisitos técnicos de qualidade para o nível de eficiência energética de edifícios comerciais, de serviços e públicos, RTQ-C. A etiqueta mostra o quão eficiente é a edificação, variando de A a E, sendo a A a mais eficiente e a E a menos eficiente. A fim de confrontar os dados teóricos com os práticos, foi feito um estudo de caso em um prédio público existente. Nesse contexto, propostas foram elaboradas para serem adequadas aos requisitos mínimos exigidos pelo RTQ-C. Dos três sistemas avaliados pelo Procel Edifica, apenas um deles, a envoltória, possui análise obrigatória, mesmo quando o desejado é a obtenção da etiqueta parcial. Assim, conclui-se que, como as edificações variam caso a caso, a estratégia a ser adotada para obtenção da etiqueta do Procel Edifica também varia de acordo com as condições do prédio existente. Palavras-chave: Sustentabilidade na construção civil. Eficiência energética na construção civil. Procel Edifica. Edificações XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM

EDIFICAÇÕES: O CASO DOS PRÉDIOS

PÚBLICOS EXISTENTES

chrystyane gerth silveira abreu (CEFET)

[email protected]

A construção civil é uma grande consumidora de recursos energéticos,

no intuito de verificar os principais conceitos relacionados ao tema, foi

feita uma análise bibliométrica a respeito de sustentabilidade na

construção civil e eficiência energética na construção civil. O setor

carece de normas que tornem compulsórios requisitos mínimos de

eficiência energética em edificações. O Procel Edifica surge como uma

etiqueta voluntária que demonstra o nível de eficiência energética da

edificação. O presente trabalho demonstra quais são os critérios

mínimos que devem ser contemplados para que uma edificação se

enquadre como energeticamente eficiente de acordo com os requisitos

técnicos de qualidade para o nível de eficiência energética de edifícios

comerciais, de serviços e públicos, RTQ-C. A etiqueta mostra o quão

eficiente é a edificação, variando de A a E, sendo a A a mais eficiente e

a E a menos eficiente. A fim de confrontar os dados teóricos com os

práticos, foi feito um estudo de caso em um prédio público existente.

Nesse contexto, propostas foram elaboradas para serem adequadas

aos requisitos mínimos exigidos pelo RTQ-C. Dos três sistemas

avaliados pelo Procel Edifica, apenas um deles, a envoltória, possui

análise obrigatória, mesmo quando o desejado é a obtenção da

etiqueta parcial. Assim, conclui-se que, como as edificações variam

caso a caso, a estratégia a ser adotada para obtenção da etiqueta do

Procel Edifica também varia de acordo com as condições do prédio

existente.

Palavras-chave: Sustentabilidade na construção civil. Eficiência

energética na construção civil. Procel Edifica. Edificações

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1. Introdução

A construção civil é um setor que gera diversas externalidades ao meio ambiente, apesar de

sua grande relevância no que tange aos aspectos sociais e econômicos. Segundo Omer (2007),

globalmente as edificações são responsáveis por 40% da energia mundial anual consumida.

Perez, Ortiz e Pout (2008) afirmam que o crescente uso de energia motiva preocupações sobre

dificuldades de abastecimento e o esgotamento dos recursos energéticos, além dos impactos

ambientais causados, tais como a destruição da camada de ozônio, o aquecimento global, as

alterações climáticas, dentre outros. Eles afirmam ainda que a contribuição dos edifícios para

o consumo de energia, residencial e comercial, atinge valores entre 20% e 40% nos países

desenvolvidos, e superam setores que são tradicionais demandantes de energia: indústrias e

transporte.

O crescimento da população pode ser considerado como a origem no aumento da procura por

serviços de construção e de níveis superiores de conforto. No intuito de minimizar a demanda

por energia elétrica verifica-se que a utilização de tecnologias energicamente eficientes se

fazem necessárias.

A certificação de edifícios que contemplem a eficiência energética surge como uma

importante ferramenta para contribuir com a otimização da utilização dos recursos naturais.

Uma ferramenta utilizada no Brasil, no intuito de demonstrar o nível de eficiência energética

em que a edificação se encontra, é o “Procel Edifica”. Este representa o dispêndio energético

da edificação através de um selo. Assim, os usuários e/ou as partes interessadas deste edifício

têm conhecimento do quanto de energia o mesmo consome.

O presente artigo tem como objetivo avaliar uma edificação pública construída no intuito de

verificar em que classificação do Procel Edifica a mesma se enquadra. E, posteriormente,

sugerir melhorias a serem implementadas afim de melhorar a eficiência energética da mesma

de modo a alcançar o nível mais eficiente do Procel Edifica. Vale ressaltar que o

desenvolvimento do trabalho tem como objetivo intermediário enfatizar a relevância do

Estado em prol do fomento de práticas sustentáveis.

O presente artigo se divide na seguinte forma, a seção 1 apresenta a introdução,

contextualizando o estudo no que diz respeito à temática estudada. A seção 2 apresenta uma

revisão da literatura com relação aos principais tópicos necessários para o entendimento do

trabalho. Na seção 3 a metodologia aplicada é exposta e os principais conceitos ligados a ela.

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A seção 4 apresenta os resultados obtidos através da aplicação da metodologia exposta no

tópico anterior. Por último, a seção 5 aborda as principais conclusões encontradas pelo estudo.

2. Revisão da literatura

2.1. Sustentabilidade na construção civil

O setor da construção civil contribui atualmente, segundo Bribián et. al. (2008), com uma

parcela significativa da degradação ambiental proveniente da atividade humana. Enquanto os

edifícios têm um grande impacto positivo econômico na sociedade, eles também são

responsáveis por uma parte importante do consumo de materiais e energia, além da geração de

emissões ambientais, tanto em nível nacional quanto global, conforme observa Singh et. al.

(2011).

Para aplicar o conceito de sustentabilidade no setor da construção são necessários métodos de

medição quantificáveis. Métodos para a avaliação do desempenho ambiental dos edifícios têm

sido desenvolvidos desde o início da década de 90, segundo Passer et. al. (2012).

Arslan (2007) afirma que a construção sustentável se esforça para minimizar o consumo de

energia e de recursos durante todas as fases do ciclo de vida dos edifícios, ou seja, desde seu

planejamento a sua construção passando pela sua utilização, renovação e à sua eventual

demolição. Também visa minimizar possíveis danos ao meio ambiente.

Isto pode ser atingido por aplicação dos seguintes princípios durante todo o processo de

construção:

Redução da procura de energia e do consumo de materiais operacionais;

Utilização de produtos de construção reutilizáveis ou recicláveis e materiais que visem

estender o tempo de vida dos produtos e dos edifícios;

Garantia de logística reversa dos materiais utilizados;

Proteção integral de áreas naturais e utilização de todas as possibilidades de economia

de espaço da construção.

2.2. Eficiência energética na construção civil

Segundo Omer (2007), a eficiência energética é relacionada com o fornecimento das

condições ambientais desejadas ao mesmo tempo em que se consome a quantidade mínima de

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energia. Esta é a forma mais eficaz de reduzir as emissões de dióxido de carbono e trazer

melhorias para famílias e empresas.

As medidas convencionais que podem ser empregadas para melhorar o desempenho

energético dos edifícios podem ser classificados em aquelas que estão imediatamente

relacionadas com a envoltória do edifício, por exemplo, os elementos de construção, e aqueles

que se relacionam com a operação dos sistemas de energia usada para aquecimento,

arrefecimento, ventilação, abastecimento de água quente, etc. (KOLOKOTSA et. al., 2009).

A energia necessária para a operação poderia ser significativamente reduzida com a adoção de

uma solução técnica, como melhorar o isolamento térmico da envoltória do edifício ou a

introdução de tecnologia eficiente. Além disso, a energia incorporada pode ser reduzida por

uma remodelação adequada, através da reciclagem e da reutilização de materiais e

componentes. Para tal, é necessário estudar o impacto ambiental dos edifícios, de modo a

evitar problemas de deslocamento a partir de uma parte do ciclo de vida para outra ou de uma

área geográfica para a outra. (ARDENTE et. al., 2011)

Um aspecto crítico tanto no projeto, como também na fase operacional de um edifício, quando

são necessárias ações de renovação ou reabilitação é a avaliação e ajuste das medidas

alternativas com base em um conjunto de critérios, tais como consumo de energia,

desempenho ambiental, custo de investimento, custo operacional, qualidade do ambiente

interior, segurança, fatores sociais, entre outros como citam Kolokotsa et. al. (2009).

Dakwale et. al. (2011) dizem que para se alcançar a eficiência energética é necessário: criar

consciência sobre o consumo de energia através de treinamento e educação; formular padrões

de consumo de energia; adotar uma abordagem integrada ao selecionar melhor opção para a

geração de energia em termos de custo e impacto ambiental; utilizar fontes renováveis de

geração de energia; modernizar a tecnologia relacionada com a geração de energia não

convencional; cancelar os subsídios à tecnologia obsoleta e subsidiar a tecnologia moderna.

De acordo com o World Energy Council (2004), a rotulagem e seus critérios mínimos de

eficiência energética são as opções de alto desempenho para a obtenção de melhorias rápidas.

As empresas de construção e os proprietários de edifícios devem visualizar a possibilidade da

obtenção de vantagens comparativas oferecidas por um edifício que seja etiquetado com o

nível máximo de eficiência energética. Isso pode ser representado no processo de vendas,

destacando a redução no consumo de energia refletido nas faturas de eletricidade mensais, nas

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atividades relacionadas com o calor de conforto e nas de marketing. Destacando-os como

edifícios verdes, a fim de agregar valor a estes produtos. “Esta abordagem resultaria em

benefícios financeiros para o construtor, o proprietário e o usuário do edifício.” (BATISTA et.

al., 2011).

2.3. O Procel edifica

Segundo Mendes et. al. (2005) os choques de petróleo ocorridos em 1973/74 e em 1979/81

exarcebaram a preocupação com a escassez dos recursos energéticos. Fato esse que fez

emergir a eficiência energética, desenvolvendo medidas que priorizassem a conservação dessa

fonte e a utilizassem de maneira mais eficiente. Desde 1985, o Brasil conta com programas de

eficiência energética reconhecidos internacionalmente.

Carlo e Lamberts (2010) explicam o Programa Brasileiro de Etiquetagem , PBE, que é

coordenado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, INMETRO. Ele

tem a função de contribuir para a racionalização do uso da energia no Brasil através da

prestação de informações sobre o eficiência energética dos equipamentos disponíveis no

mercado nacional.

Uma edificação que deseja obter a etiqueta do procel edifica deve tomar uma série de medidas

que visem alcançar níveis maiores de eficiência energética. A etiqueta pode ser obtida desde

seu nível A, o mais eficiente, até o seu nível E, o menos eficiente, conforme tabela 1, abaixo:

Tabela 1- Pontuação exigida para cada nível de classificação

ANEXO DA PORTARIA INMETRO n° 372 / 2010

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Tabela 2.3: Classificação Geral

PT Classificação Final

≥4,5 a 5 A

≥3,5 a <4,5 B

≥2,5 a <3,5 C

≥1,5 a <2,5 D

<1,5 E

2.3. Pré-requisitos Gerais

Além dos requisitos descritos nos itens 3 a 5, para o edifício ser elegível à etiquetagem,

deve cumprir os seguintes requisitos mínimos:

2.3.1. Circuitos elétr icos

2.3.1.1 Níveis A e B

Possuir circuito elétrico com possibilidade de medição centralizada por uso final:

iluminação, sistema de condicionamento de ar, e outros; ou possuir instalado

equipamento que possibilite tal medição.

· Exceções:

o hotéis, desde que possuam desligamento automático para os quartos;

o edificações com múltiplas unidades autônomas de consumo;

o edificações cuja data de construção seja anterior a junho de 2009.

2.3.2. Aquecimento de água

Edificações com elevada demanda de água quente como academias, clubes, hospitais,

restaurantes, edifícios destinados à hospedagem ou edifícios em que a parcela de água

Fonte: Inmetro, 2010

Ressalta-se que o nível de eficiência global de uma edificação é dividido em três sistemas:

iluminação, condicionamento de ar e envoltória. Sendo que eles têm pesos diferentes no

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cálculo final de eficiência, o primeiro e o último possuem um peso de 30%, enquanto o

segundo possui um peso maior que os demais, de 40%.

Segue abaixo uma tabela com os requisitos mínimos a serem atendidos no intuito do edifício

eleger a etiqueta de eficiência energética em seu nível A.

Quadro 1 - Requisitos mínimos para atendimento do Procel Edifica, nível A

Sistemas Medidas

Pré-requisitos gerais

Circuitos elétricos

edição centralizada para iluminação

edição centrali ada para sistemas de

refrigeração

edição centrali ada para outros

Aquecimento de água

Sistema de aquecimento solar

Aquecedores a gás do tipo instant neo

Sistemas de aquecimento de água por bombas

de calor

Caldeiras a gás

Isolamento de tubulaç es

Elevadores

Acionamento com inversor de frequência

Acionamento micro processado com inversor

de frequência e frenagem regenerativa, e

máquinas sem engrenagem (ap s T

Bonificações

Sistemas e equipamentos que racionali em

o uso da água

Torneiras com arejadores e/ou temporizadores

Sanitários com sensores

Aproveitamento de água pluvial e de outras

fontes alternativas de água

Sistemas ou fontes renováveis de energia Aquecimento solar de água

Energia e lica ou painéis fotovoltaicos

Sistemas de cogeração e inovaç es técnicas

ou de sistemas Iluminação natural

Pré-requisitos específicos

Envoltória

Transmit ncia térmica

Respeitar os limites de acordo com a zona

bioclimática

Cores e absort ncia de superfícies

Utili ação de materiais de revestimento externo

de paredes com absort ncia solar baixa

Utili ação de cor de absort ncia solar baixa em

coberturas

Iluminação enital

Atender ao fator solar máximo do vidro

Sistema de abertura para os respectivos

percentuais de aberturas zenitais

Sistema de iluminação

Divisão dos circuitos Possuir pelo menos um dispositivo de controle

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manual

Contribuição da lu natural

Propiciar o aproveitamento da luz natural

disponível

Desligamento automático do sistema de

iluminação

Em um horário pré- determinado

Possuir sensor de presença

Possuir um sinal de um outro controle ou

sistema de alarme que indique que a área está

desocupada

Sistema de condicionamento de ar

Proteção das unidades condensadoras

Estar sombreadas permanentemente e com

ventilação adequada

Isolamento térmico para dutos de ar

Apresentarem as espessuras mínimas para

isolamento de tubulaç es para sistemas de

aquecimento e refrigeração

Condicionamento de ar por aquecimento

artificial

Atender aos indicadores mínimos de eficiência

energética Fonte: Inmetro, 2010

Uma observação feita aqui é que o edifício pode obter uma etiqueta parcial de apenas um

desses sistemas, sendo a envoltória obrigatória em quaisquer que seja o escopo da

etiquetagem do edifício. Isto é, se o desejo for etiquetar parcialmente uma edificação, a

envoltória deverá sempre fazer parte dessa análise.

Além disso, o nível de eficiência energética estabelecido para a envoltória do edifício deve

contemplá-lo totalmente. Porém, nos casos dos sistemas de iluminação e condicionamento de

ar, o nível de eficiência energética pode ser adotado para uma sala, um conjunto de salas, um

piso ou parte de um edifício.

3. Método de pesquisa

Do ponto de vista de sua natureza, a pesquisa apresentada neste artigo é caracterizada como

qualitativa e exploratória, pois é baseada na análise da qualidade das informações disponíveis

ao público, através da internet e na relação lógica estabelecida entre elas. Para tal, foram

utilizadas as bibliotecas digitais disponíveis, dentre elas, a ferramenta de busca da internet

intitulada como Google Acadêmico. Além disso, foi feita uma busca de artigos científicos

através do Portal CAPES, tendo sido o Scopus a base de dados mais utilizada, porém, também

foram pesquisados o ISI e o SciELO. Vale informar que as áreas selecionadas para a busca

dos artigos foram: sustentabilidade na construção civil, eficiência energética em edificações e

selos de eficiência energética, nesta ordem. No intuito de escolher os periódicos de interesse

em que os artigos foram publicados foi consultada a lista disponível na base QUALIS, no

endereço http://qualis.capes.gov.br/webqualis. Para o alcance dos resultados foi adotado o

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desenvolvimento da pesquisa em cinco etapas de um processo cíclico e dinâmico, de acordo

com FARIAS FILHO (2009): estruturação da pesquisa, coleta de artigos, refinamento da

amostra, tabulação e análise de dados, resultados e conclusões.

Utilizaram-se dos seguintes critérios para a revisão da literatura: (1) realizar busca sistemática

na literatura sobre o tema, (2) observar as evidências científicas disponíveis, (3) considerar

desenho da pesquisa, (4) observar a consistência das medidas e a validade dos resultados dos

trabalhos levantados, (5) explorar outros frameworks de diretrizes de eficiência energética, (6)

considerar se a diretriz deve ou não ser utilizada de maneira absoluta e isolada ou se seu

caráter será informativo e sugestivo (HABBOUR; MILLER, 2001), e (7) alinhamento à

revisão da literatura.

O resultado da pesquisa de campo consiste na comparação entre os requisitos exigidos para

enquadrar uma edificação no nível mais alto de eficiência energética , Selo Procel/ Brasil , e o

estágio atual de prédios públicos existentes.

O estudo de caso foi realizado em um prédio público existente na cidade de Niterói,

resultando em algumas propostas para alinhar as características de eficiência energética às da

edificação. A escolha do edifício se deu mediante a representatividade que o mesmo tem para

a sociedade, tendo em vista que, por ser um prédio público com a finalidade de prestar

serviços jurídicos aos cidadãos da cidade fluminense, situado no centro de Niterói, tem um

fluxo diário muito grande de de pessoas transitando nele.

Por se tratar de uma edificação, considera-se que o estudo tem uma contribuição relevante

para a sociedade já que as contruções variam caso a caso. Segundo Yin (2003), o estudo de

caso único se torna apropriado quando o caso é extremo ou único.

4. Resultados e discussões

Os agentes governamentais podem, através de instrumentos de política pública ambiental,

criar mecanismos que estimulem a sustentabilidade econômica, social e ambiental.

O setor público tem importante papel no que diz respeito ao consumo energético do país, por

isso ao buscar eficiência energética em suas edificações ele está induzindo um novo

comportamento da sociedade, além de demonstrar sua preocupação com questões ligadas a

sustentabilidade. Dessa forma, o mesmo consegue alinhar o discurso a prática, mostrando-se

coerente em suas atitudes.

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Assim, ao se etiquetar um prédio público com o selo do Procel Edifica, o governo fomenta

práticas sustentáveis na sociedade contribuindo com o meio ambiente no sentido de otimizar a

utilização dos recursos naturais que passam por um processo de conversão e se transformam

em energia elétrica.

Alguns requisitos devem fazer parte da edificação para que a mesma obtenha o selo de

eficiência energética. Então, o problema abordado nesse estudo de caso trata de possíveis

medidas a serem adotadas para que esses requisitos sejam atendidos. Resultando em um

quadro a fim de verificar se a edificação analisada possui os requisitos mínimos exigidos pelo

RTQ-C para obter a etiqueta do Procel Edifica em seu nível A, em especial os três principais

sistemas: envoltória, sistema de condicionamento de ar e sistema de iluminação. Segue abaixo

o quadro desenvolvido:

Quadro 2 – Diagnóstico do prédio analisado

Requisitos Atende

EN

VO

LT

ÓR

IA

Índice de consumo da envoltória Sim Não N/A

Atende para os valores mínimos de nível A (desconsiderando

AVS, AHS e FS) X

Absortância

Cores e absort ncia de paredes , X

Cores e absort ncia de cobertura ,

X

Iluminação zenital

Iluminação enital X

SIS

TE

MA

DE

CO

ND

ICIO

NA

ME

NT

O D

E A

R

As unidades condensadoras de aparelhos Splits ou condicionadores

de ar do tipo janela estão protegidas do sol

X

O Isolamento térmico dos dutos estão de acordo com o

especificado nas tabelas 5.1 e 5.2 do manual RTQ-C? X

Sistema de aquecimento artificial atende aos requisitos mínimos de

eficiência conforme manual T -C?

X

quido

Condicionadores de ar atendem aos requisitos mínimos de

eficiência da tabela . do manual T -C? X

s esfriadores de líquidos atendem aos requisitos mínimos de

eficiência da tabela . do manual T -C? X

Os Condensadores ou Torres atendem aos requisitos mínimos de

eficiência da tabela . do manual T -C?

X

Existe cálculo de carga térmica do sistema X

Controle de temperatura

Existe controle de temperatura por ona térmica X

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Para sistemas de aquecimento esfriamento simult neo, exite

faixa de temperatura de controle? X

Equipamentos possuem controle de aquecimento suplementar? X

Existe controles para que não ocorra aquecimento e resfriamento

simult neo X

Automatização

sistema de condicionamento possui controle para desligamento

automático X

Zonas térmicas

Existem dispositivos de isolamento das diferentes onas térmicas X

Sistemas hidráulicos

O sistema de condicionamento de ar po

sistema de bombeamento possui controle para variação de

va ão ( Válvulas com inversores de frequência X

A central de água gelada é capa de redu ir a sua va ão quando um

ou mais esfriador de líquido for desligado X

SIS

TE

MA

DE

IL

UM

INA

ÇÃ

O

Divisão de circuitos

250m2

Possui pelo menos um dispositivo de controle manual, de fácil

acesso ao usuário dentro do ambiente, para acionamento

independente da iluminação interna do ambiente

X

Possui um dispositivo de controle manual a cada 250m2 para o

acionamento independente da iluminação interna do ambiente

Cada controle está de fácil acesso ao usuário e há indicação visual

de qual a área de escrit rio atendida pelo controle

X

acima de 1000m2

Possui um dispositivo de controle manual a cada m para o

acionamento independente da iluminação interna do ambiente

Cada controle está de fácil acesso ao usuário e há indicação visual

de qual a área de escrit rio atendida pelo controle?

X

Contribuição da luz natural

Possui pelo menos um dispositivo de controle manual (ou

automação, por exemplo, fotocélula para o acionamento

independente desta fileira de luminárias

X

Desligamento automático

Possui automação para desligamento da iluminação por

programação de horários ou sensores de presença X

Determinação da eficiência

A lumin ncia da área de escrit rio possui em média lux X

A densidade de potência instalada está abaixo do limite de , X

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w/m2?

No quesito envoltória, nota-se que o nível de eficiência energética que o edifício se encontra é

o C. Isso se dá por causa da cor escura que foi dada à cobertura, fato esse que aumentou o

índice de absortância da mesma, ocasionando em um maior gasto de energia para conforto

térmico dos usuários.

O sistema de condicionamento de ar teve seu nível de eficiência energética enquadrado no

nível E, já que os equipamentos utilizados não atendem aos requisitos mínimos de eficiência

indicados pelo RTQ-C, não existe cálculo de carga térmica do sistema, não há controle de

temperatura por zona térmica e dispositivos de isolamento das diferentes zonas térmicas não

foram contemplados.

O sistema de iluminação obteve classificação nível C, por não possuir pelo menos um

dispositivo de controle manual (ou automação, por exemplo, fotocélula para o acionamento

independente da fileira de luminárias pr xima a janela que possui iluminação natural. Além

disso, por não ter automação para desligamento da iluminação por programação de horários

ou sensores de presença, a lumin ncia da área de escrit rio possuir em média mais do que

lux e a densidade de potencia instalada ser alta.

De acordo com o resultado obtido pelo confronto entre as exigências mínimas para obtenção

da referida etiqueta e as características da edificação analisada, verifica-se que a ponderação

feita pelas características dos sistemas mostram que o nível de eficiência geral do edifício se

enquadra no nível E. Isso porque o sistema que obteve menor nível de eficiência foi o de

condicionamento de ar, sistema esse que possui maior peso no cálculo de eficiência global.

5. Considerações finais

O artigo apresenta medidas a serem tomadas para que edificações sejam consideradas

energeticamente eficientes, tendo sido obtidas através da revisão da literatura. Posteriormente,

foi realizado um estudo de caso para verificar na prática o que deveria ser modificado em

determinada construção e quais são os empecilhos encontrados para tal. Além disso,

procurou-se expor a importância da adoção de tais ações para a sociedade como um todo, em

especial para o setor governamental, e possíveis atitudes a serem tomadas para fomentar essa

prática.

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Com relação ao edifício analisado, a proposta inicial é adequar os sistemas de iluminação e a

envoltória aos requisitos exigidos pelo Procel Edifica, já que as medidas a serem realizadas

são consideradas relativamente simples. Posteriormente, em razão do dispêndio de tempo e de

recursos das medidas a serem implementadas, é recomendada a adequação do sistema de

condicionamento de ar.

Nota-se que, apesar de ser uma edificação relativamente nova, a mesma possui vários critérios

a serem adequados para se tornar energeticamente mais eficiente. Isso porque no Brasil a

obtenção da etiqueta que comprova a eficiência energética de uma edificação ainda é

voluntária e surgiu há pouco tempo. Então, o número de prédios que a possuem é pequeno se

comparado ao total de edificações do país.

Porém, esse cenário tende a mudar desde que o governo crie regulamentos que tornem

compulsória a etiquetagem de edifícios em termos de eficiência energética. Ou mesmo,

através da conscientização da população a respeito dos benefícios que um edifício eficiente

traz, não só ao consumidor final, como também à sociedade, e passar a exigir a etiqueta em

suas aquisições e nos prédios públicos, disseminando o uso da mesma.

REFERÊNCIAS

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