Uso Combinado de Surfactante y Óxido Nítrico Inhalado en ...
EFEITO INIBITÓRIO DO ÓXIDO NÍTRICO SOBRE A ATIVIDADE DOS ...
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DANIELLE DUMA
EFEITO INIBITÓRIO DO ÓXIDO NÍTRICO
SOBRE A ATIVIDADE DOS GLICOCORTICÓIDES
NO CHOQUE SÉPTICO.
Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação em Farmacologia, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito Parcial para a obtenção de grau de Mestre em Farmacologia.Orientador: Prof. Dr. Jamil Assreuy
FLORIANOPOLIS
2001
“EFEITO INIBITORIO DO OXIDO NITRICO SOBRE A ATIVIDADE DOS GLICOCORTICÓIDES NO CHOQUE
SÉPTICO ”
POR
DANIELLE DUMA
Dissertação julgada e aprovada em sua forma final, pelo Orientador e membros da Banca Examinadora, composta pelos Professores Doutores:
Banca Examinadora:ly Filho(Grienta(fòr)
/UFSC - Membro Titular)
Thereza Christina Barja-Fidal^ (UERJ -Membro Titular)
Roseli Coimbra FargesíSÇ-^-Membro Titular)
Prof. Dr.^èiHaldo-ÍSaoliLTakahashi Coordenador do Programa de
Pós-Graduação em Farmacologia da UFSC
Florianópolis, 20 de fevereiro de 2001.
DUMA, Danielle. Efeito inibitório do óxido nítrico sobre a atividade dos
glicocorticóides no choque séptico. Florianópolis, 2001, 108p.
Dissertação (Mestrado em Farmacologia) - Curso de Pós-Graduação em
Farmacologia, Universidade Federal de Santa Catarina.
Orientador: Prof. Jamil Assreuy
Defesa: 20/02/2001
Tendo em conta que na [sepse] a forma cálcio-independente da óxido nítrico
sintase (iNOS) é induzida, que os níveis de [glicocorticóides] circulantes estão
aumentados na sepse e que o tratamento com corticóides sintéticos não
funciona em pacientes sépticos o objetivo deste estudo foi avaliar [in vivo] a
relação entre o [óxido nítrico] e o efeito da dexametasona em animais tratados
com LPS. Assim, observamos que: i) o tratamento de animais com endotoxina
aumentou os níveis de NOS cálcio-independente no pulmão, baço e rim e os
níveis de NOS cálcio-dependente na musculatura esquelética; ii) a injeção
prévia de dexametasona inibiu a expressão de NOS nos órgãos-estudados,
exceto no rim; iii) um doador de NO (SNAP) injetado previamente em animais
tratados com dexametasona + LPS decresceu o efeito inibitório do
glicocorticóide na expressão das NOS no pulmão, baço e na musculatura
esquelética; e iv) o mesmo pré-tratamento com SNAP antes de dexametasona
e LPS fez retornar os níveis séricos de NOx e a apoptose de células linfóides
do baço aos valores obtidos com a administração de LPS somente. Sabendo
da afinidade do NO por sulfidrilas livres presentes em vários alvos proteicos e
com base nos nossos resultados, sugerimos que a redução do efeito da
dexametasona causado pelo NO é um dos possíveis mecanismos
responsáveis pela falha do efeito anti-inflamatório dos glicocorticóides em
pacientes sépticos, talvez pela interação do NO com sulfidrilas críticas ao
funcionamento do [receptor] de glicocorticóides, via [S-nitrosilação],
DEDICO ESTE TRABALHO A MINHA MÃE
POR TODO AMOR, CARINHO E INCENTIVO
AO LONGO DESTES ANOS
o PROFESSOR SE LIGA À ETERNIDADE;
ELE NUNCA SABE ONDE CESSA A SUA INFLUÊNCIA
(HENRYADAMS)
Agradeço imensamente ao professor Jamil Assreuy pela
oportunidade de tê-lo como orientador: pelos valiosos ensinamentos
oferecidos nestes anos de convívio e pelas memoráveis conversas "de
final de tarde". Agradeço também por todo o carinho e comprensão nos
momentos mais difíceis de minha vida, os quais foram fundamentais para
a conclusão desta etapa.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais Zenilda Duma e Leônis Duma por todo o
carinho e apoio nas escolhas que fiz. Aos meus irmãos Alexandre Duma e
Cristiano Duma pelos momentos de alegria em nossos encontros.
Ao amor e companherismo compartilhados com o Sven Le Poole e pelas
palavras doces e confortantes, ditas nos momentos certos.
Ao José Eduardo Silva-Santos (Dudu), pela imensa ajuda prestada para
concretização deste projeto, pela amizade e principalmente paciência nos
infindáveis finais de semana em que realizamos experimentos juntos.
Á María Cláudia Santos da Silva, pela verdadeira amizade demonstrada
mesmo nos momentos mais confusos de nosso convívio.
Aos amigos do laboratório de Farmacologia do Oxido Nitríco: Adriana S.
Madeira, Daniel Fernandes, Márcia Ribeiro Teríuck, Renata S. Costa, Rodrígo
Quintanilha Veras, Emiliana Rodrígues, Rafael Prím e Alexandre Meyer, pelo
saudável convívio e amizade.
Aos professores do Departamento de Farmacologia, pelo aprendizado.
Em especial ao professor João Batista Calixto, pela disponibilização de sua
infra-estrutura, fundamental para realização deste projeto científico.
Aos funcionários do Departamento de Farmacologia pela ajuda prestada.
Aos colegas da pós-graduação pela troca de informações e amizade.
Ao CNPq e CAPES pelo apoio financeiro.
LISTA DE TABELAS
1. Aumento na NOS cálcio-independente
e cálcio-dependente após a administração
de LPS em vários órgãos do rato...........................................................72.
LISTA DE ABREVIATURAS
Ach - acetilcolina
ACTH - hormônio adrenocorticotrópico
CaM - calmodulina
cGMP - monofosfato cíclico de guanosina
cNOS - óxido nítrico sintase constitutiva
CRF - fator de liberação de corticotrofina
EDRF - fator de relaxamento derivado do endotélio
eNOS - óxido nítrico sintase endotelial
FAD - dinucleotídeo de flavina e adenina
FMN - mononucleotídeo de flavina
GC - glicocorticóide
GR - receptor de glicocorticóide
GIH - trifosfato de guanosina
H2O2 - peróxido de hidrogênio
HPA - eixo hipotálamo-pituitária-adrenaí
HSP - proteína de choque térmico
1L1-P - interleucina 1 p
INF-y - interferon-y
iNOS - óxido nítrico sintase induzida
LPS - lipopolissacarídeo
MR - receptor de mineralocoritóide
NADPH -nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (reduzido)
NF-kB - fator nuclear da cadeia leve k
nNOS - óxido nítrico sintase neuronal
NO - óxido nítrico
N0 2 ‘ - nitrito
N03‘ - nitrato
NOS - óxido nítrico sintase
NOx - nitrito + nitrato
O2- - ânion superóxido
O3 - ozônio
ONOO" - peroxinitrito
ROS - espécies reativas de oxigênio
RNS - espécies reativas de óxido nítrico
SNAP - S-nitroso-N-acetil-DL-penicilamina
THB4 - tetrahidrobiopterina
TNF-a - fator de necrose tumoral-a
111
1. Efeito do LPS na indução de NOS em diferentes órgãos
do rato............................................................................................................ 69
2. Perfil enzimático de NOS no pulmão de ratos
submetidos à diversos tratamentos.............................................................73
3. Perfil enzimático de NOS no baço de ratos
submetidos à diversos tratamentos.............................................................75
4. Perfil enzimático de NOS no rim de ratos
submetidos à diversos tratamentos...................... ...................................... 77
5. Perfil enzimático de NOS no musculatura
esquelética de ratos submetidos à diversos tratamentos.........................79
6. Efeitos dos diversos tratamentos no peso
do baço........................................................................................................... 81
7. Dosagem de NOx no soro de animais
submetidos à diversos tratamentos.............................................................83
LISTA DE FIGURAS
IV
Resumo
O choque séptico é uma condição potencialmente letal causada por
agentes infecciosos e é caracterizado por um estado de baixa perfusão tecidual
podendo conduzir à disfunção múltipla de órgãos e consequentemente à morte.
Tendo em conta que na sepse a forma cálcio-independente da óxido nítrico
sintase (iNOS) é induzida, que os níveis de glicocorticóides circulantes estão
aumentados na sepse e que o tratamento com corticóides sintéticos não
funciona em pacientes sépticos o objetivo deste estudo foi avaliar in vivo a
relação entre o NO e o efeito da dexametasona em animais tratados com LPS.
Assim, observamos que: i) o tratamento de animais com endotoxina aumentou
os níveis de NOS cálcio-independente no pulmão, baço e rim e os níveis de
NOS cálcio-dependente na musculatura esquelética; ii) a injeção prévia de
dexametasona inibiu a expressão de NOS nos órgãos estudados, exceto no
rim; iii) um doador de NO (SNAP) injetado previamente em animais tratados
com dexametasona + LPS decresceu o efeito inibitório do glicocorticóide na
expressão das NOS no pulmão, baço e na musculatura esquelética; e iv) o
mesmo pré-tratamento com SNAP antes de dexametasona e LPS fez retornar
os níveis séricos de NOx e a apoptose de células linfóides do baço aos valores
obtidos com a administração de LPS somente. Sabendo da afinidade do NO
por sulfidrilas livres presentes em vários alvos proteicos e com base nos
nossos resultados, sugerimos que a redução do efeito da dexametasona
causado pelo NO é um dos possíveis mecanismos responsáveis pela falha do
efeito anti-inflamatório dos glicocorticóides em pacientes sépticos, talvez pela
interação do NO com sulfidrilas críticas ao funcionamento do receptor de
glicocorticóides, via S-nitrosilação.
Summary
Septic shock is a potentially lethal condition caused by infectious agents
and is characterized by a low end-organ perfusion which may lead to multiple
organ dysfunction and death. Taking into account that in sepsis the calcium-
independent isoform of nitric oxide synthase (iNOS) is induced, that plasma
levels of glucorticoids (GC) increase in sepsis and that treatment with corticoids
fails in septic patients, the mai goal of the present work was to examine in vivo
the relationship between NO and the effect of dexamethasone in rats injected
with LPS. Our results show that; i) treatment with endotoxin increased calcium-
dependent NOS levels in the lung, in the spleen and in the kidney and of
calcium-dependent NOS in the skeletal muscle; ii) previous administration of
dexamethasone inhibited the NOS expression in all organs but the kidney; iii)
the NO donor SNAP injected previously to dexamethasone and to LPS
diminished the inhibitory effect of the corticoid on NOS expression in the lung, in
the spleen and in the skeletal muscle and iv) likewise, SNAP injected previously
to dexamethasone and LPS restored serum levels of NOx and spleen
lymphocyte apoptosis back to values found in LPS-treated animals. Taking into
account that NO has a high affinity towards free sulphydryls present in several
cell proteins and the results presently shown, we suggest that NO-induced
reduction in dexamethasone effects shall be one of the mechanisms causing
failure in the anti-inflammatory effects of corticoids in septic patients, probably
due to NO interaction with sulphydryls critical to the correct function of
glucocorticoid receptor via S-nitrosylation.
VI
ÍNDICE
Lista de Tabelas........................................................................................... iLista de Figuras............................................................................................ üLista de Abreviaturas.................................................................................. ...viResumo...........................................................................................................vSummary.........................................................................................................vi
1. Óxido Nítrico............................................................................................... 11.1 Histórico........................................................................................................ 11.2. Óxido Nítrico Sintases................................................................................. 71.2.1 NOS Neuronal ..111.2.2 NOS Endotelial ..131.2.3 NOS Induzida ..161.3 Alvos Moleculares do NO ..201.4 Ações do NO na Fisiologia e na Patologia ..252. Choque Séptico ..302.1. Introdução ..302.2. Mediadores Químicos e Fatores de Transcrição........................ ..352.2.1. Mediadores ..352.2.2 NF-kB ..362.2.3 Citocinas Pró-inflamatórias......................................... ..382.2.4 Citocinas Anti-inflamatórias... .422.2.5 Proteínas de Choque Térmico {Heat Shock Proteins) ..432.2.6. Agentes Vasoativos ..443. Hormônios da Supra-Renal ..483.1. Introdução........................................ ..483.2. Mineralocorticóides ..503.3. Glicocorticóides ..523.3.1. Síntese e Liberação...................................................... ..533.3.2. Mecanismo de Ação.................... ................................ .543.3.3. Uso no Choque Séptico ..604. Objetivos ..625. Material e Métodos...................................... ..635.1. Animais ..635.2. Perfusão e Obtenção das Amostras ..635.3. Medida da Atividade das NOS........ . ..645.3.1. Preparação dos Homogenatos dos Órgãos ou Tecidos ..645.3.2 Ensaio da Atividade das NOS pelo Método da Citrulina .655.4. Determinação dos Níveis Séricos de Nitrato + Nitrito (NOx) ..665.5. Protocolo Experimental ..675.6. Drogas .685.7. Análise Estatística .686. Resultados .696.1. Efeito do LPS na Indução de NOS em Diferentes Órgãos do Rato .696.2. Perfil Enzimático de NOS no Pulmão de Ratos Submetidos a diversos
Tratamentos ..736.3. Perfil Enzimático de NOS no Baço de Ratos Submetidos a Diversos
Tratamentos ..756.4. Perfil Enzimático de NOS no Rim de Ratos Submetidos a Diversos
Tratamentos ..77
6.5. Perfil Enzimático de NOS na Musculatura Esquelética de Ratos Submetidos a Diversos Ttratamentos ..79
6.6. Efeito dos Diversos Tratamentos no Peso do Baço .816.7. Dosagem de NOx no Soro de Animais Submetidos a Diversos
Tratamentos ..837. Discussão ..858. Conclusões........................................................ ................................. .........959. Referências Bibliográficas ..96
INTRODUÇÃO
1. OXIDO NITRICO
1.1. Histórico
O óxido nítrico (NO) é uma molécula diatômica encontrada na forma de
gás. Inicialmente o NO foi amplamente estudado por tratar-se de um
constituinte atmosférico encontrado principalmente em atmosferas poluídas e
na fumaça de cigarros (Schwartz & White, 1983).O NO pode ser formado a
partir da reação do oxigênio e do nitrogênio na atmosfera durante tempestades
com raios. Ele também reage com o ozônio (O3) na superfície terrestre,
levando à formação de dióxido de nitrogênio (NO2), um gás extremamente
tóxico para os seres vivos, uma vez que causa séria irritação pulmonar. Através
de uma reação catalisada por raios ultravioleta, 0 NO2 decompõe-se em óxido
nítrico e oxigênio. O NO por sua vez, liga-se ao O2 atmosférico resultando na
formação de ozônio (um potente oxidante encontrado em altas concentrações
em atmosferas poluídas). O O3, ao reagir com 0 NO atmosférico possibilita a
formação de novo de NO2. Este ciclo de formação e de decomposição de NO2,
que faz com que a atmosfera permaneça poluída, foi alvo de estudo por vários
grupos de pesquisadores (Goodman, 1996).
A produção de óxidos de nitrogênio por sistemas biológicos começou a
ser investigada no início do século passado. Porém, as observações feitas
naquela época foram ignoradas até o final dos anos 70 e início dos anos 80
quando, estudando a importância da formação de nitrato endógeno durante a
carcinogênese, Green et al. (1981a) confirmaram que mamíferos produziam
nitrato (NO3). Inicialmente pouca importância foi dada a este achado, pois
presumia-se que o nitrato encontrado na urina humana derivava das
nitrosoaminas presentes na alimentação. No entanto, a demonstração de que
esta produção de nitrato estava aumentada durante infecções em humanos
(Green et a i, 1981a) ou após o tratamento de animais de laboratório com
endotoxina bacteriana (Green et aí., 1981b) fez crescer o interesse de
pesquisadores acerca desta nova possibilidade de formação de NO (para
revisão ver Morris & Billiar, 1994).
Coincidentemente no mesmo período, o laboratório de Robert Furchgott
verificou que a interação da acetilcolina (Ach) com receptores muscarínicos
localizados nas células endoteliais causava um potente relaxamento do
músculo liso vascular (Furchgott & Zawadski, 1980). Este achado resolveu o
paradoxo entre o efeito vasoconstritor da acetilcolina in vitro (observado
durante anos) e seu efeito vasodilatador in vivo que, desde o início do século
passado já era observado em animais tratados por via intravenosa com Ach e
outros agonistas muscarínicos.
Surpreso, Furchgott analisou criteriosamente seus resultados e
constatou que a diferença estava na forma como a aorta era retirada dos
coelhos. Durante anos foram utilizadas tiras helicoidais de aorta de coelho nos
experimentos. Já nos experimentos em que era observado um relaxamento
induzido pela acetilcolina, a aorta de coelho era isolada na forma de anéis, de
maneira muito mais cuidadosa do que as preparações em forma de tira. Além
disso, e para complicar ainda mais a questão, nem todas as preparações
isoladas na forma de anel respondiam com relaxamento quando na presença
de acetilcolina. Então a mais importante conclusão a que chegou Furchgott,
nesta fase de seus experimentos, foi que o relaxamento em resposta à
acetilcolina nestas preparações dependia do cuidado com que os anéis eram
isolados. Ele percebeu que quando a parte interna do vaso era friccionada.
como acontecia com as preparações helicoidais, o relaxamento à acetilcolina
era eliminado. Por outro lado, quando a íntima do vaso era preservada, todas
as preparações respondiam à acetilcolina com relaxamento. Ao analisar as
preparações que não respondiam à acetilcolina com relaxamento, foi possível
observar que o endotélio encontrava-se removido das mesmas. Algum tempo
depois o próprio Furchgott demonstrou que o endotélio, estimulado por
diferentes agonistas e em diferentes espécies, liberava uma substância (ou
substâncias) lábil, de fácil difusão, não-prostanóide, que agia sobre as células
do músculo liso dos vasos sangüíneos de diferentes tecidos e espécies,
causando relaxamento (para uma revisão detalhada ver Furchgott, 1993 e
Furchgott, 1996).
A natureza humoral desta substância relaxadora, mais tarde
denominada fator relaxante derivado do endotélio (FRDE, ou EDRF, para o
termo em inglês endothelium-derived relaxing factoi), foi proposta pela primeira
vez em 1983, por Cherry et al., do mesmo grupo de Furchgott, que demonstrou
tal fenômeno através do relaxamento induzido pela bradicinina em artérias
humanas e de cães. Trabalhos subsequentes demonstraram que muitos outros
vasorelaxadores em várias preparações vasculares incluindo artérias, veias e
microvasos também necessitavam de células endoteliais para produzir
relaxamento total e ou parcial.
Enquanto a identidade do EDRF permanecia desconhecida, Stuehr &
Marietta (1985) demonstraram que macrófagos peritoniais de camundongos
produziam nitrato e nitrito em resposta ao tratamento com LPS, ilustrando pela
primeira vez a produção de óxidos de nitrogênio por uma célula específica de
mamífero. Em 1987, Hibbs et al., demonstrou que a atividade citotóxica dos
macrófagos contra certas linhagens de células tumorais dependia da L-arginina
como substrato utilizado por estes macrófagos, que a conversão de L-arginina
para nitrito e nitrato era necessária para esta atividade citotóxica dos
macrófagos e que análogos da L-arginina eram eficientes inibidores
competitivos desta via.
A descoberta do NO como mediador endógeno, e mais ainda, sua
identidade com o EDRF, por Palmer, Ferridge & Moncada (1987) também foi
confirmada por Ignarro et al. (1987). No ano seguinte Palmer et al. (1988a)
mostraram que a L-arginina era o substrato para a formação de NO pelas
células endoteliais através de experimentos utilizando bioensaios ou
quimioluminescência para detectar a liberação de NO ém células endoteliais na
presença ou não de L-arginina. Na ausência de L-arginina, num período de 24
horas, observava-se uma diminuição na liberação de NO induzida por
bradicinina, a qual era restaurada pela L- mas não D-Arginina. Além disso, este
aumento ocorrido apenas na presença de de L-arginina, sugeriu que a
formação de NO era dependente somente de L-arginina (Palmer etal., 1988a).
Estes achados sugeriram o envolvimento de uma enzima na formação do óxido
nítrico e que esta enzima pode utilizar substrato exógeno (L-arginina) quando o
estoque de L-arginina endógeno é limitado. Resultados similares foram obtidos
por Schimidt et al. (1988). Além disso, L-NMMA (N-metil-arginina), um inibidor
da formação de nitrito e nitrato em macrófagos, também inibiu a liberação de
NO de células endoteliais em cultura de maneira específica. Estes efeitos do L-
NMMA foram revertidos por L-arginina sugerindo que este inibidor compete
com a L-arginina para formação de NO por via enzimática (Palmer et al.,
1988b).
Destes estudos dois conceitos foram desenvolvidos: que o NO (mais que
nitrito e nitrato) era o responsável pela atividade citotóxica dos macrófagos e,
mais importante, que o NO era sintetizado por dois diferentes tipos celulares
exercendo funções biológicas diferentes, o relaxamento vascular e
citotoxicidade.
Desde então, a via L-arginina-óxido nítrico foi relacionada a diversos
processos biológicos em quase todos os sistemas orgânicos, como o sistema
nervoso, endócrino, imune e cardiovascular. Produzido em quantidade e
período apropriados, o NO atua como uma molécula sinalizadora essencial em
diversos processos fisiológicos, como neurotransmissão, aprendizagem,
memória e regulação do tônus vascular. Com um peso molecular igual a 30, o
NO é certamente uma das menores moléculas envolvidas em processos de
mediação celular. Embora não seja um mediador intercelular clássico (do tipo
que se liga a receptores de membrana), o NO é uma molécula que se difunde
livremente e tem seus efeitos biológicos determinados pela sua reatividade
química. Como um radical livre relativamente estável (meia-vida de 5-10
segundos), ele reage com espécies contendo elétrons não-pareados, como
oxigênio molecular, ânion superóxido (O2 ) e metais (Mayer & Hemmens,
1997). A interação que ocorre entre 0 NO e o radical 0 2 ', por exemplo, pode
gerar o ânion peroxinitrito (0N 00-) o qual, por ser muito instável e gerar
espécies semelhantes a radicais hidroxila, tem um importante papel como
mediador do estresse oxidativo em diversos estados patológicos (Dalloz et a i,
1997).
O NO é formado endogenamente via conversão da L-arginina em L-
citrulina (Ignarro, 1990; Moncada eí a/.,1991). Tal processo é mediado por um
grupo de enzimas denominadas óxido nítrico sintases (NOS), que são
comumente divididas em duas categorias: as óxido nítrico sintases constitutivas
(cNOS) e a óxido nítrico sintase induzida (iNOS) (Marletta, 1993; Nathan et al.,
1994). As enzimas constitutivas estão associadas com a formação de baixas
concentrações de NO por curtos períodos de tempo e são cálcio-dependentes.
Em contrapartida, a enzima induzida gera altas concentrações de NO por
períodos prolongados de tempo e é, funcionalmente, cálcio-independente. O
NO tem sua atividade biológica dividida em efeitos diretos e indiretos e uma
das principais razões para esta divisão são suas propriedades químicas
fundamentais. O NO tem um número ímpar de elétrons com um elétron
desemparelhado, o que o torna um radical instável mas não muito reativo
(Cotton & Wilkinson, 1989). O NO não reage rapidamente com a maioria das
substâncias biológicas, quando comparado com outros radicais como OH.
Como conseqüência, o NO tem uma meia-vida relativamente longa in vivo (5-
10 segundos) (Moncada et al, 1991). Assim, parte das suas ações são
mediadas por sua interação direta com alvos moleculares (ver abaixo)
enquanto outras necessitam da sua reação prévia com outros radicais, mais
comumente o ânion superóxido (Koppenol etal., 1992).
As propriedades físicas do NO também são importantes para entender o
efeito desta molécula em sistemas biológicos. A solubilidade do NO é
extremamente baixa em solução aquosa (1,9 mM em condições normais de
temperatura e pressão) (Dean, 1985; Armor, 1974) e sua capacidade de
difusão é de 50 |jm/s (Gally et al., 1990).
Considera-se que em sistemas biológicos o NO gerado pelas enzimas
constitutivas produz efeitos diretos enquanto que NO gerado pela enzima
induzida produz efeitos diretos e indiretos. Esta classificação simplifica a forma
como o NO reage com os sistemas biológicos para o melhor entendimento das
funções desempenhadas por ele durante processos fisiopatológicos.
1.2. Óxido Nítrico Sintases (NOS)
Três diferentes isoformas da óxido nítrico sintase (NOS) foram
identificadas como catalisadoras da oxidação da L-arginina em L-citrulina e NO.
Elas são denominadas de NOS neuronal (nNOS), NOS endotelial (eNOS) e
NOS induzida (iNOS). Por ser um gás lipossolúvel, o NO não pode ser
armazenado em vesículas para posterior liberação como os transmissores
clássicos, tendo que ser sintetizado de acordo com as necessidades celulares.
A síntese do NO ocorre através de duas etapas, iniciando-se pela oxidação da
L-arginina, que origina a N-hidroxi-L-arginina como um intermediário estável e,
na etapa final, gera L-citrulina e NO em quantidades equimolares (Stuehr et
a/., 1991) (Esquema 1). A síntese de NO é dependente da doação de
equivalentes redutores pela nicotinamida adenina dinucleotideo fosfato
reduzida (NADPH) (Meletta et al., 1988), e requer oxigênio molecular como co-
substrato (Kwon etal., 1990; Mayer etal., 1991). Dois moles de O2 e 1,5 moles
de NADPH são consumidos por mole de produto formado (Mayer et al., 1991;
Stuehr et a/.,1991). Além de NADPH e O2, são necessários outros cofatores
como a tetrahidrobiopterina (THB4), os dinucleotideo (FAD) e mononucleotídeo
(FMN) de flavina, além da calmodulina , que é considerada como um ativador
alostérico da NOS, para conversão de L-arginina em L-citrulina e NO (para
revisão detalhada ver Crane etal., 1997 e Mayer & Hemmens,1997).
8
1",.NH1 .o NADPH L. O.SNADFH
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Esquema 1: Etapas bioquímicas envolvidas na blossíntese de NO pelas óxido nítrico
sintases (Mayer & Hemmens, Trends Biochem. Sci., 22: 477-481, 1997).
Para produzirem NO, as NOS devem estar na forma de dímeros, com
seus monômeros alinhados em forma de “cabeça com cabeça”. O Esquema 2
ilustra um modelo geral para estrutura e composição dos domínios de ligação
de uma NOS na forma dimérica ativa, utilizando a iNOS de camundongo como
modelo. Ela mostra as duas subunidades alinhadas como descrito
anteriormente, com o domínio oxigenase de cada subunidade interagindo para
formar o dímero, e os domínios redutase posicionados de forma independente.
As NOS são enzimas que contém um grupamento heme e apresentam uma
seqüência muito similar (aproximadamente 60% de homologia) à do citocromo
P 450 redutase. As três isoformas conhecidas de NOS são classificadas de
acordo com sua localização subcelular, seqüência de aminoácidos, regulação e
papéis funcionais. O Quadro 1 ilustra as principais características das NOS.
Cada NOS é produto de um gene distinto. Todas as isoformas da NOS
possuem as mesmas características básicas em relação aos domínios
catalíticos (ver Esquema 2): o terminal carboxila contendo o domínio redutase,
com um sítio de ligação para FAD, FMN e NADPH e o terminal amino contendo
o domínio oxigenase, que contém um grupamento heme e o sítio de ligação
para o cofator THB4. Já a calmodulina liga-se na porção redutase da enzima,
próxima ao centro da NOS, separando praticamente os domínios redutase e
oxigenase. Cada isoforma da NOS apresenta uma extensão do terminal amino
diferente, o qual não é essencial para a catálise de NO e provavelmente está
relacionado á localização intracelular da enzima (para revisão detalhada ver
Griffith & Stuehr, 1995).
Esquema 2: Modelo do domínio de ligação e estrutura quaternária da iNOS,
mostrando o alinhamento dos monômeros (Stuehr, D. J., Annu. Rev. Pharmacol.
70X/C0/, 37: 339-59, 1997).
Todas as três isoformas possuem sítios de ligação para a calmodulina.
Em estudos funcionais de enzimas purificadas, a diferença existente entre a
enzima induzida e as duas outras isoformas constitutivas está na capacidade
da iNOS manter uma molécula de calmodulina ligada permanentemente,
mesmo em baixas concentrações de Ca "". Sem a ligação do complexo
cálcio/calmodulina as enzimas constitutivas são incapazes de catalisar a
formação de citrulina. Um modelo de ativação das NOS dependentes de cálcio
foi proposto baseado no fato de que o circuito, por onde fluem os elétrons
provenientes da região redutase, se fecha somente na presença de
cálcio/calmodulina. A mudança conformacional que ocorre após a interação
deste complexo ao seu sítio específico de ligação permite o alinhamento dos
centros redox com o grupamento heme da molécula, facilitando a transferência
de elétrons. A enzima na ausência de concentrações ótimas de cálcio é
considerada como inativa. Passa para um estágio ativo após a ligação do
complexo cálcio/calmodulina. Este modelo de ativação foi proposto para as
enzimas constitutivas, uma vez que a induzida já possui sua molécula de
calmodulina ligada (Hemmens & Mayer, 1997).
O primeiro inibidor da síntese de NO a ser descoberto foi a N°-
monometil-L-arginina (L-NMMA; Moncada et al., 1989). Este e vários outros
como L-nitroarginina (L-NA), L-nitroarginina metil éster (L-NAME), N°-amino-L-
arginina (L-NAA), sintetizados posteriormente, são análogos da arginina, os
quais competem pelo sítio de ligação da L-arginina. Um derivado da ornitina, o
N-iminoetil-L-ornitina (L-NIO), um substituto imidazol da ornitina, também tem a
capacidade de inibir de forma irreversível a síntese de NO. Os inibidores
diferem entre si quanto ã sua potência e farmacocinética. (ver Moncada, 1991).
10
MassaMolecular
NomeAlternativo
Cromos. Dependência de Cálcio
LocalizaçãoSubcelular
ExpressãoTecidual
Neuronal (160 kDa)
Tipo 1 nNOS bNOS
12 dependente(constitutiva)
Ligadas a proteínas específicas via domínio PDZ do terminal amínico
CélulasneuronaisMusculaturaesquelética
Induzida (130 kDa)
Tipo II INOS
macNOS
17 independente(induzida)
Solúvel ?Macrófagos Hepatócitos Astrócitos Músculo Liso
Endotelial (134 kDa)
Tipo ill eNOS ecNOS
7dependente(constitutiva)
Liga-se ao Goigi e às caveolas através de palmitoilação e de miristoilação
EndotélioEpitélioCardiomiócitos
Quadro 1: Principais características das óxido nítrico sintases. Adaptado de
Hemmens & Mayer, Meth. Mol. Biol., 100: 1-32, 1997.
A descoberta dos inibidores da NOS tornou-se ferramenta importante na
investigação da participação do NO em diversos estados fisiopatológicos. No
entanto, como nenhum dos inibidores conhecidos é totalmente seletivo, a
busca pela síntese de novos inibidores (seletivos) tem sido intensa.
1.2.1. NOS Neuronal
O NO foi primeiramente caracterizado como um mensageiro neuronal
por Garthwaite et al. (1988), que demonstraram que o glutamato agindo nos
receptores NMDA (N-metil-D-aspartato) de neurônios em cultura, liberava um
fator com propriedades semelhantes aos do NO. Posteriormente, Bredt &
Snyder (1990) purificaram e caracterizaram a nNOS.
A seqüência do DNA desta enzima isolada de cérebro humano e de rato
mostram uma alta identidade (-93%) e peso molecular em torno de 160 kDa,
com aproximadamente 1430 aminoácidos, apresentando no seu C-terminal
(domínio redutase) 36% de homologia com a redutase do citocromo P450. Esta
semelhança é encontrada em todas as NOS clonadas até o momento. Das três
NOS, a nNOS é a codificada pelo maior gene (em torno de 150 Kb), localizado
no cromossoma 12 (região 12q24.2) (Marsden et al., 1994). Na ausência de L-
arginina, o domínio redutase pode transferir elétrons do NADPH para o O2 e
assim formar o ânion superóxido (O2') e peróxido de hidrogênio (H2O2). Estas
espécies reativas de oxigênio (do inglês reactive oxygen species, ROS) podem
explicar as características neurotóxicas e neurodegenerativas dos aminoácidos
excitatórios. Com base nestes fatos, Bredt & Snyder (1994) propuseram que a
NOS seja uma evolução do citocromo P450. O Esquema 3 mostra ainda
possíveis sítios de fosforilação (P), como o resíduo Ser372. Na seqüência N-
11
terminal, Hendriks (1995) descreveu a presença de um domínio PDZ (que são
seqüências de aminoácidos encontradas em proteínas que fazem interação
proteína-proteína e que são muito comuns em regiões de junções celulares).
Este domínio PDZ serve como um verdadeiro “gancho” fazendo com que a
nNOS fique “ancorada” à PSD 95, uma proteína cerebral que liga
especificamente em certos canais iônicos incluindo os receptores NMDA
(Brenmam et a i, 1996) ou, no caso da musculatura esquelética, a proteínas
pertencentes ao sarcolema da membrana plasmática como, por exemplo, a a1-
sintrofina, um componente do complexo distrofina (Brenmam et a i, 1995). A
nNOS apresenta ainda uma região de “splicing” alternativo, sugerindo que em
algumas situações pode ocorrer a síntese da enzima de uma forma modificada.
A isoforma pNOS, um “splicing” alternativo da nNOS (Silvagno et a i, 1996), é
amplamente encontrada em células da musculatura esquelética, onde é
responsável por vários dos efeitos fisiológicos do músculo esquelético, como
contração, regulação da glicólise e diferenciação de miócitos (para revisão ver
Stamler & Meissner, 2001). A isoenzima neuronal é expressada por distintos
neurônios de diversas áreas do sistema nervoso central (Garthwaite & Boulton,
1995), assim como em terminais nitrérgicos (periféricos), inervando a
musculatura esquelética e muitos outros tecidos (Rand & Li, 1995).
12
13
PDZ p CaM FMN FAD NADPH
n N O S n H 2^ ^ H
0 WIYR 500 1000 1433
e N O S ■0 500 1000 1203
iN O S H 1
C IT . P 4 5 00 500
Domínio TM
1000 1153
Esquema 3: Estrutura primária das NOS sintases humanas. Adaptado de
Knowles & Moncada, Biochem. J., 298:249, 1994
1.2.2. NOS Endotelial
A primeira descrição da eNOS foi feita por Palmer e Moncada em 1988.
Desde então, a investigação da presença desta enzima em vários tecidos foi
extensivamente investigada. Através da utilização de anticorpos específicos
para NOS endotelial, estudos histoquímicos localizaram esta enzima nas
células endoteliais de artérias e veias de vários tecidos, incluindo tecidos
humanos (Pollock et a/., 1993). A expressão de eNOS também foi demonstrada
em vários tipos de células não endoteliais, incluindo neurônios do hipocampo,
neurônios motores e outras regiões do cérebro de ratos (Dinerman et a/.,1994;
Abe etal., 1997).
O estudo da sua seqüência de DNA mostrou homologia em torno de
60% com a nNOS, possuindo peso molecular em torno de 133 kDa, com
aproximadamente 1200 aminoácidos. O gene que a codifica está no
cromossomo 7 (região 7q35-7q36) e possui em torno de 4,8 Kb (Fõrstermann &
Kleinert, 1995). Existe um alto grau de conservação entre os domínios para
ligação de FAD, FMN, NADPH, CaM e de fosforilação (P). No extremo N-
terminal existe uma seqüência de aproximadamente 70 resíduos de
aminoácidos, semelhante à seqüência N-terminal encontrada na nNOS, que
permite a localização da enzima na membrana, porém através de um
mecanismo diferente. O resíduo de glicina na posição 2 é miristoilado,
resultando na associação da enzima à membrana plasmática (Busconi &
Michel, 1993; Sessa et al., 1993). Além do mais, ocorre ligação dos resíduos
C15 e C26 com o ácido palmítico (Garcia-Cardena etal., 1995; Liu eía/.,1995).
A exata contribuição de cada uma destas modificações, e como elas são
reguladas em resposta à sinais extracelulares, tem sido objetivo de vários
debates. No entanto, está claro que a ligação desta enzima com ácidos
palmítico e mirístico ocorre exclusivamente na membrana, enquanto mutantes
incapazes de fazerem estas interações com os ácidos graxos, encontram-se
exclusivamente no citosol. Além do mais, em resposta á diversos estímulos, a
eNOS pode sofrer fosforilação de um resíduo de serina resultando na
translocação da fração particulada para a fração solúvel.
A utilização de anticorpos específicos contra a eNOS permitiu a
localização da enzima em diferentes tecidos e células. In vivo, esta enzima
parece existir principalmente ligada á membrana citoplasmática nas cavéolas
de células endoteliais (Shaul et al., 1996), em artérias e veias de diferentes*
tecidos, incluindo o humano, em células epiteliais tubulares renais,
sinciciotrofoblasto de placenta humana, células intersticiais de cólon e
neurônios do hipocampo (Sessa, 1994a).
Como dito anteriormente, a ativação desta enzima pode ser regulada
pelos níveis de cálcio intracelular, através da formação do complexo
cálcio/calmodulina e interação deste corn seu sítio específico localizado do
domínio redutase da enzima. Associado a este tipo de regulação, Michel et al.
14
(1997) propõe um modelo de regulação recíproca da atividade da eNOS pela
interação da enzima com o complexo cálcio/calmodulina ou com a caveolina
(proteínas de sustentação encontrada nas cavéolas de células endoteliais). A
enzima encontra-se na sua forma ativa quando ligada ao complexo
cálcio/calmodulina. No entanto, quando a eNOS reage com a caveolina,
(através do sítio de ligação da calmodulina), ela passa para o estado inativo,
uma vez que não é mais possível a ligação do complexo cálcio/calmodulina.
Além da regulação feita pela concentração de cálcio, estudos recentes
mostram que a interação desta enzima com chaperonas de 90 KDa (hsp 90)
(Michel et al.,^ 997) também possa estar regulando a atividade da eNOS (Shah
et a i, 1999).
Apesar de ser encontrada constitutivamente nas células endoteliais,
vários compostos e variadas condições fisiológicas são capazes de regular a
expressão do gene para a enzima. Sinais físicos e químicos como o oxigênio
(Arnet et a/.,1996), exercícios físicos (Sessa et a i, 1994b) e o estresse de
cisalhamento produzido pelo sangue sobre as células endoteliais podem
produzir mudanças na liberação de NO através do controle transcripcional da
expressão de eNOS ou efeitos diretos sobre a atividade da enzima. Uma região
responsiva ao estresse de cisalhamento foi localizada na seqüência promotora
da eNOS (Mardsen et a i, 1993). Esta região possui elementos regulados pelo
fator NF-kB, metais pesados, resposta de fase aguda e esteróides. Uma
atividade basal desta região promotora foi observada em células endoteliais e
não-endoteliais que possuem a eNOS (Fõrstermann & Kleinert, 1995).
15
1.2.3. NOS Induzida
Normalmente, a isoenzima induzida não encontra-se presente em
células em condições fisiológicas, mas é expressada algumas horas após
estimulação destas células por sinais inflamatórios, como citocinas, ou
microbianos. Muitos destes estímulos podem estar interferindo na transcrição
gênica, no entanto trabalhos mostram interferência na translação e ou
estabilidade de mRNA (Krõncke etal., 1995).
Esta enzima possui um peso molecular em torno de 130 kDa, com
aproximadamente 1150 aminoácidos. O gene que a codifica está no
cromossoma de número 17 (região 17cen-q17q11; 17q11.2-q12) e possui 37
Kb (Chartrain et al., 1994). A seqüência de DNA isolada de células de
camundongo, rato e humanas possui alta homologia. Mesmo assim, entre as
espécies, a seqüência da INOS é menos conservada do que quando
comparada às formas constitutivas. Sua seqüência de DNA mostra 50% de
identidade com a nNOS e 51% com a eNOS. Assim como a nNOS, a iNOS é
predominantemente solúvel (Stuehr et al., 1991) e apresenta domínios para de
ligação de NADPH, FAD e FMN. Uma das mais importantes características, à
nível bioquímico, que distingue a isoenzima induzida das outras isoformas
constitutivas é a sua habilidade de ligar-se à calmodulina diante de pequenas
concentrações de cálcio (< 30 nM) (Cho et al., 1992). Como normalmente a
concentração intracelular de cálcio basal é bem maior que o valor descrito
acima, a iNOS é considerada uma enzima cálcio-independente. Além do mais,
esta enzima não é regulada por modificações na concentração intracelular de
cálcio, o que a torna uma enzima altamente “produtiva” devido à grande
16
quantidade de NO liberado, o qual é requerido para defesa do organismo
diante de processos infecciosos ou tumorais.
A região de fosforilação está ausente e o mRNA possui zonas de
possível “splicing” alternativo (Xie et al., 1992; Cho et al., 1992). Uma grande
variedade de células possui a capacidade de expressar a enzima após sua
devida ativação. Macrófagos, linfócitos, neutrófilos, células de Kupffer,
hepatócitos e mastócitos tanto de ratos como de camundongos são capazes de
expressar a enzima (Bandaletova et al., 1993). A descoberta da iNOS, levou a
um grande número de pesquisas na tentativa de indução e detecção da enzima
em células humanas. Entretanto, o processo de indução, em humanos, parece
ser bem diferente e não ocorrer com a mesma combinação de citocinas
utilizada para as células animais. A enzima já foi localizada, por técnicas de
imunohistoquímica, em tecidos humanos inflamados. Por exemplo,
imunoreatividade para iNOS foi detectada em macrófagos alveolares de
paciente com broncopneumonia (Tracey et al., 1994). Além deste, outros
trabalhos, realizados nos últimos anos, mostraram a expressão desta enzima
em diversos tecidos humanos (Cunha et al., 1993; Geller et al., 1993; Martin et
al., 1993).
As cascatas de sinal de transdução envolvidas na indução da INOS são
complexas e altamente tecido-específicas. O gene da INOS possui porções
com regulação diferenciada na região promotora. A região 1 possui sítios de
união para LPS e a região II para IFN-y. Esta última não regula diretamente a
expressão da NOS, mas amplifica em aproximadamente 10 vezes a expressão
codificada pela região I. Desta forma, os elementos responsivos ao LPS e IFN-y
17
atuam em duas regiões diferentes do gene e o LPS por si só é capaz de induzir
a expressão da iNOS, enquanto que o IFN-y só o faz na presença do LPS (Xie
et a i, 1993).
A expressão da enzima é um processo altamente regulado e com
controle transcripcional que varia de acordo com o tecido. Por exemplo, o
estímulo LPS/citocina é capaz de induzir fortemente a indução da síntese da
enzima em macrófagos e microglia (Nathan & Xie, 1994; Nussler eía/.,1994).
Entretanto, com os mesmos estímulos, somente uma modesta ativação é
observada em hepatócitos, célula muscular lisa e célula epitelial renal. Nestas
situações, uma combinação de citocinas se faz necessária para uma total
expressão da enzima. Desta forma, a indução da iNOS parece ser
diferencialmente regulada em células parenquimatosas e células que
participam da resposta imune (como macrófagos e microglia) (Cunha et a i,
1994; Rees et a i, 1995).
O aumento na expressão da INOS é decorrente de um aumento na
transcrição do gene da enzima e é regulado principalmente pela ligação de
fatores de transcrição, tais como o NF-kB e o fator regulador de interferon 1, a
regiões promotoras existentes no gene que codifica esta isoforma. A ativação
destes fatores de transcrição por componentes de cascatas de sinalização
parece ser o evento fundamental para a iniciação da transcrição do gene (Xie
et a i, 1994; Muisch et a i, 1993; Kamijo et a i, 1994).
Talvez a mais importante diferença entre as enzimas constitutivas
(eNOS e nNOS) e a enzima induzida (iNOS) esteja relacionada à quantidade
de NO gerado por cada uma destas enzimas. A ativação das enzimas
18
constitutivas induz a liberação de quantidades picomoles de NO, durante curtos
períodos de tempo (segundos a minutos). Por sua vez, quando expressa, a
INOS libera grandes quantidades de NO na ordem de nano à micromoles,
durante longos períodos (horas).
A associação das três isoformas da NOS com o endotélio, neurônios e
células de defesa é, no entanto, uma classificação simplista. Por exemplo, a
eNOS é encontrada não apenas em células do endotélio vascular como
também em plaquetas e em certas populações neuronais do cérebro, enquanto
a nNOS tem sido igualmente encontrada no epitélio dos brônquios e da
traquéia, bem como no músculo esquelético. Além do mais, algumas diferenças
têm sido identificadas entre iNOS obtidas de diferentes tecidos das mesmas
espécies. Por fim, enquanto a eNOS e a nNOS podem ser induzidas (ou, talvez
mais exatamente, ter seus níveis de expressão regulados), em certas situações
como durante exercício crônico, lesões em nervos ou durante a gravidez
(quando a iNOS também é induzida), a iNOS parece estar presente
constitutivamente em alguns tecidos, incluindo o epitélio brônquico de
humanos, os rins de ratos e alguns tecidos fetais (para revisão ver Moncada et
al., 1997; Michel & Feron, 1997; Cooke & Dzau, 1997).
Esta variabilidade na regulação da expressão das NOS faz com que
alguns pesquisadores se refiram a estas enzimas através da característica que
ainda as diferencia: a dependência ou não de concentrações fisiológicas de
cálcio intracelular para ativação das mesmas.
19
20
1.3. Alvos Moleculares do NO
Esta molécula diatômica participa de várias funções fisiológicas. As
propriedades tóxicas e/ou regulatórias do NO levam a confusões a respeito de
suas funções biológicas. Com o intuito de simplificar o entendimento da
química envolvida nos processos biológicos onde o NO participa (como dito
anteriormente), as interações do NO com alvos biológicos pode ser classificada
em efeitos diretos e efeitos indiretos. Este tipo de classificação leva em
consideração o tempo, a localização, a quantidade de NO produzida e a
relevância dos alvos que serão afetados. Efeitos diretos são definidos como as
reações onde o NO interage diretamente com moléculas biológicas específicas.
Efeitos indiretos são definidos como aqueles resultantes das reações de
espécies reativas de óxido nítrico (RNS), que são derivadas da auto-oxidação
do NO com vários radicais livres.
Efeitos diretos biologicamente relevantes do NO geralmente requerenri
baixas concentrações locais (< 5 ^M). Nesta concentração, o NO tem marcada
preferência para ligar-se ao grupamento heme da guanilato ciclase, ativando a
conversão de GTP a cGMP que é a base para o controle de várias funções
fisiológicas (Furchgott & Vanhoute, 1989; Ignarro et al., 1990). Efeitos indiretos
envolvem inicialmente a ligação de NO com oxigênio ou superóxido para
formar várias RNS (espécies ativas de nitrogênio). Estas RNS danificam
proteínas e o DNA, resultando em conseqüências potencialmente tóxicas ao
organismo. O NO tem um enorme potencial de reação, o que influencia uma
variedade de processos fisiológicos e fisiopatológicos. Para identificação da
reação NO-dependente, importante na modulação da resposta inflamatória e
em vários outros processos fisiopatológicos, é necessário o mapeamento das
condições relativas ao tempo, localização, e quantidade de NO e das espécies
de RNS produzidas. O entendimento básico da química envolvida nos
processos fisiológicos regulados por NO auxiliará no desenvolvimento de novas
estratégias terapêuticas para o tratamento de injúrias teciduais inflamatórias.
Um grande número de ligantes, incluindo hormônios, autacóides, drogas
e toxinas, tem o cGMP intracelular como o mediador de seus efeitos biológicos.
A produção de cGMP ocorre a partir da enzima guanilato ciclase, que catalisa a
conversão de GTP em cGMP. As duas principais categorias de enzimas
guanilato ciclases são as do tipo solúvel e do tipo ligada à membrana (Ignarro
& Kadowitz,1985; Murad, 1986).
O NO somente ativa a guanilato ciclase do tipo solúvel e é considerado o
principal modulador endógeno da atividade desta enzima. Embora a interação
precisa entre o NO e a guanilato ciclase solúvel não seja completamente
conhecida, a reação entre o NO e o grupamento heme da enzima que leva ã
formação de um complexo nitrosil-heme pentacoordenado e que altera a
configuração de um anel porfirínico, é sugerida como responsável pela indução
do estado ativado da enzima, que proporciona um aumento da conversão de
GTP em cGMP (Ignarro et a/.,1982; Ignarro et a i, 1984; para revisão ver
Ignarro eíã/., 1994).
O NO também pode interagir com o oxigênio molecular, espécies
reativas de oxigênio, proteínas contendo metais e ou grupamentos tióis que
constituem importantes alvos de interação com o NO (devido a alta reatividade
entre estes compostos) podem levar ou não a importantes efeitos biológicos.
Por exemplo, a interação do NO com o grupamento heme da hemoglobina gera
21
a metahemoglobina e a interação do NO corn a oxihemoglobina faz corn que o
NO seja faciinnente convertido a nitrato por meio de uma reação oxidativa.
Estes dois eventos estão relacionados à inativação do NO. A reação entre o
ânion superóxido e o NO, gerando peroxinitrito e radicais hidroxil, além de
servir como outro meio de inativação de NO ou do ânion superóxido, pode
estar envolvida em importantes danos oxidativos contra o próprio organismo ou
contra agentes patogênicos, dependendo das circunstâncias existentes. Já a
interação do NO com os grupamentos tióis, basicamente representados pelas
sulfidrilas de resíduos de cisteínas, que estão presentes em grande abundância
em peptídeos e proteínas, proporciona a formação de compostos S-nitrosotióis
(o principal tiol intracelular que reage com o NO é a glutationa). A formação dos
R-SNO, que podem atuar como um sistema tampão e de estoque de NO,
representam o surgimento de uma importante classe de moléculas
sinalizadoras de eventos celulares, podendo funcionar como um mecanismo
adicional de sinalização e de regulação via NO em vários sistemas biológicos
(para revisão ver Gaston, 1999). Estes compostos são considerados
verdadeiros reservatórios de NO, sendo encontrados, em condições
fisiológicas, no plasma (Stamler, 1994) e em vários tecidos (Gaston, 1993).
Desta forma, foi sugerido que os R-SNO atuam como importantes
transportadores de NO (para uma revisão ver Gaston, 1999).
As ações dos R-SNO são atribuídas principalmente à clivagem
espontânea da ligação S-N e conseqüente liberação do NO (para revisão ver
Buther & Rhodes, 1997). Em condições fisiológicas, os R-SNO liberam NO"
(íon nitrosõnio), NO' (íon nitroxila) e N 0 ‘, sendo que estas distintas formas
redox de NO exibem grandes variações quanto á sua reatividade química
22
(Stamier, 1992). A forma oxidada do NO, o NO"" ou íon nitrosônio, é
responsável por um grande número de reações eletrofílicas, em especial a
formação de R-SNO. Quimicamente, também existe a possibilidade da
transferência do NO' de um tiol para outro tiol, sendo este processo chamado
de transnitrosilação. Por outro lado, o NO' pode ser resultante da ionização do
nitroxil (HNO) (para uma revisão ver Buther et al., 1995).
Os R-SNO, como estoques endógenos de NO, são reconhecidos como
compostos envolvidos em lesão de DNA, na defesa de hospedeiros contra
parasitas, na regulação da canais iônicos e no controle da pressão arterial
(Kowaluk & Fung, 1990). A ocorrência de R-SNO como S-nitrosoalbumina, S-
nitrosoglutationa e S-nitrosocisteína foi demonstrada in vivo (Dicks et al.,^996)
e possivelmente estão implicados em condições fisiopatológicas. Por exemplo,
alguns estudos evidenciaram que R-SNO estão presentes no tecido pulmonar
humano em concentrações da ordem de nanomolar a micromolar, e que em
estados patológicos como asma e pneumonia estes níveis aumentam (Gaston
et al., 1993). A bioatividade dos R-SNO e a velocidade com que eles doam NO
pode ser aumentada pela presença de metais como por exemplo o ferro, o
cobre e o zinco. Mais ainda, várias enzimas têm sido descritas como
responsáveis pela clivagem dos R-SNO, tais como a tireoredoxina redutase, a
glutationa peroxidase, a gamaglutamil transpeptidase, a xantina oxidase e a
formaldeído desidrogenase dependente de glutationa. A relativa distribuição
destas enzimas nos diferentes tecidos pode alterar significamente a
disponibilidade de R-SNO. No processo de clivagem dos R-SNO ocorre o
aparecimento de diferentes óxidos de nitrogênio como peroxinitrito.
23
hidroxilamina, S-nitroso-cisteinil-glicina, além do próprio NO (para revisão ver
Gaston, 1999).
Em decorrência da liberação de NO de R-SNO protéicos, pode ocorrer a
formação de pontes dissulfeto entre sulfidrilas vicinais. Esta modificação pós-
translacional por sua vez pode também modular a funcionalidade de proteínas
e enzimas. A S-nitrosilação de sulfidrila de cisteínas é apontada como a maior
responsável pela modulação redox e modificações funcionais de proteínas
(Marshall et al., 2000 ). Embora exista uma grande quantidade de sulfidrilas de
cisteína em uma única proteína ou enzima, somente algumas são nitrosiladas.
Este fenômeno é atribuído ã especificidade do NO em reagir com resíduos de
cisteínas desde que elas estejam em determinadas seqüências de aminoácidos
(para revisão ver Broillet, 1999). Como exemplo de proteínas cuja
funcionalidade pode ser modificada por nitrosilação de sulfidrilas podemos
destacar os canais de K"" dependentes de cálcio na musculatura lisa vascular
(Bolotina et al., 1994), os canais de cálcio do tipo L no músculo cardíaco
(Campbell et al., 1996), os canais de Na'" presentes em baroreceptores (Li et
al., 1998) e os receptores de glicocorticóides (Galigniana et al., 1999). Além
disso, espécies reativas de NO como o NO"", podem ativar MAP-quinases pela
ativação direta de proteínas G de baixo peso molecular como a p2V^^, RAC 1
ou Cdc42. Estas espécies são também capazes de ativar diretamente alguns
eventos de sinalização como as quinases ERH, JNK E p38 (para revisão ver
Broillet, 1999).
Embora várias pesquisas envolvendo R-SNO estejam sendo realizadas,
as funções biológicas destes compostos mais estáveis que o próprio NO ainda
não estão totalmente elucidadas (Buther & Rhodes, 1997). Também existem
24
evidências de que, além das ações decorrentes da liberação de NO, os R-SNO
podem apresentar relevante atividade biológica independente desta liberação
(Kowaluk& Fung, 1990).
1.4. Ações do NO na Fisiologia e na Patologia
Inúmeros trabalhos na literatura demonstram que o óxido nítrico
apresenta relevante atividade biológica em vários sistemas biológicos como os
sistemas nervoso, imune, endócrino e cardiovascular, entre outros.
A produção de NO pelas enzimas cálcio-dependentes está envolvida
numa variedade de processos fisiológicos do sistema cardiovascular e do
sistema nervoso central (Moncada et al., 1991). Já o NO produzido pela enzima
cálcio-independente é responsável pela citotoxicidade de macrófagos contra
certos microorganismos e células tumorais, além de contribuir para o fenômeno
de imunidade não-específica (Moncada etal., 1991).
No sistema nervoso, o NO desenvolve importante papel não apenas em
funções neuronais como liberação de neurotransmissores, desenvolvimento
neuronal, regeneração, plasticidade sináptica e regulação da expressão gênica,
mas também em uma variedade de desordens nas quais a produção excessiva
de NO causa problemas neurológicos (Yun et al., 1997). Por exemplo,
inúmeras evidências implicam o NO como um mediador de neurotoxicidade,
especialmente em resposta à ativação de receptores NMDA pelo glutamato,
durante acidente vascular cerebral e em patologias como as doenças de
Alzheimer e de Huntington (para revisão ver Zhang & Snyder, 1995). Também
foi demonstrada a participação do NO em quadros de demência decorrente da
infecção pelo HIV. A proteína da membrana gp 120, encontrada na superfície
25
do vírus é capaz de matar neurônios via ativação da NOS no sistema nervoso
(Dawson eí a/., 1993).
A demonstração da existência de uma liberação fisiológica contínua de
NO no leito vascular foi feita por Rees et al. (1989), que demonstraram que a
administração de L-NMMA, um análogo da L-arginina e inibidor da NOS,
causava um estado de hipertensão arterial, o qual era totalmente revertido pela
administração de L-arginina. A importância da liberação fisiológica de NO no
controle da pressão arterial foi confirmada com a obtenção de camundongos
knockout para eNOS (Huang etal., 1995; Shesely etal., 1996).
A liberação de NO derivado do endotélio é aumentada após a ativação
de receptores distintos para acetilcolina, ADP, bradicinina, serotonina,
histamina, e outros mediadores químicos. Estímulos físicos, incluindo-se
estresse de cisalhamento (ou do termo em inglês shear stress) e hipóxia,
também são potentes indutores da liberação de NO. Tantos estímulos físicos
como os químicos levam à abertura de canais da cálcio existentes na
membrana da célula endotelial. O aumento nas concentrações intracelulares de
cálcio facilita a formação de complexos Ga^7calmodulina que, ao se ligarem à
eNOS, levam à sua ativação. O NO produzido pela célula endotelial se difunde
então para luz do vaso ou para as células musculares lisas subjacentes. Uma
vez no interior da célula muscular lisa, o NO ativa a guanilato ciclase solúvel,
estimulando a conversão de trifosfato de guanosina (GTP) a monofosfato
cíclico de guanosina (cGMP). A elevação nos níveis citoplasmáticos de cGMP
causa a ativação de uma proteína quinase-cGMP dependente (responsável
pela fosforilação da miosina). O resultado observado é o relaxamento da
musculatura lisa e conseqüente vasodilatação. O excesso de cGMP formado é
26
inativado por uma família de fosfodiesterases, que o convertem à 5'-GMP
(Loyd-Jones & Boch, 1996). O mecanismo pelo qual a liberação basal de NO é
regulada pelo estresse de cisalhamento e como a superfície luminal é capaz de
perceber as alterações no fluxo e na pressão interna dos vasos ainda não é
exatamente conhecida, mas talvez ocorra através de alterações do
citoesqueleto ou em estruturas vizinhas das células endoteliais (para revisão
ver Busse et al., 1995).
O NO produzido pelo endotélio cria um estado de vasodilatação ativa
responsável pelo controle homeostático da pressão e fluxo sangüíneos.
Existem várias evidências de que a deficiência na produção de NO contribui
para a patogênese da hipertensão (para revisão ver Vane et al., 1990).
Excessos na produção de NO, observado em pacientes.com choque séptico
são lesivos ao organismo. Este excesso leva à intensa vasodilatação e
hipotensão decorrentes do NO originado da iNOS de células endoteliais e
musculares lisas (Rees eía/.,1989).
O NO produzido pela célula endotelial e que se difunde para a luz do
vaso tem um importante papel na inibição da ativação e adesão plaquetárias. O
efeito do NO sobre as plaquetas é um mecanismo cGMP-dependente. Tanto
prostaciclina (PGI2) como NO agem sinergisticamente, reduzindo a função
plaquetária, sugerindo que a liberação de ambos pela célula endotelial tem
uma participação fundamental no controle de um processo trombótico
(Radomski et a i, 1987a-d).
A doença aterosclerótica é uma das maiores causas de mortalidade no
mundo. Atualmente já se sabe que o início de um processo aterosclerótico é
decorrente de disfunção nas células endoteliais, que perdem sua capacidade
27
de produção de NO em níveis normais. A contínua produção de NO inibe a
oxidação de LDL e a ativação e adesão das plaquetas à parede vascular,
limitando a formação de trombo (Radomski, 1987a-d), reduz a quimiotaxia e a
adesão de leucócitos para o espaço subintimal (LIoyd-Jones & Boch, 1996) e
regula a proliferação das células musculares lisas, impedindo seu crescimento
excessivo (Garg & Hassid, 1989). Esses dados sugerem que o óxido nítrico
modula o desenvolvimento e a progressão da placa aterosclerótica e que uma
queda nos níveis basais de produção de NO estão interligados com o
desenvolvimento da aterosclerose.
Se por um lado a redução da produção basal de NO pode estar
envolvida na gênese de doenças cardiovasculares, a expressão da iNOS e
conseqüente produção de maiores quantidades de NO ocorre em um grande
número de doenças. Em roedores, o NO produzido pela iNOS de macrófagos
ativados desenvolve um papel fundamental como molécula citotóxica contra
diversos parasitas e células tumorais (Moncada et al., 1991; para revisão ver
Fang, 1997). Uma expressão similar de iNOS ocorre também em macrófagos
de humanos em uma série de doenças infecciosas, o que é um importante
indício de uma participação primordial do NO na atividade citotóxica das células
de defesa em humanos (Krõncke et al., 1998). A expressão da iNOS durante
períodos prolongados e contínuos têm, no entanto, sido relacionada a algumas
doenças auto-imunes, como artrite reumatóide e esclerose múltipla, a eventos
isquêmicos (como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral), a
processos neurodegenerativos, bem como as doenças inflamatórias crônicas
das vias aéreas (asma), dos rins (glomerulonefrites) da pele (lupus eritematoso
cutâneo, dermatites) e até mesmo a participação do NO no diabetes melitus
28
tipo 1 , com a hipótese de que a diabetes pudesse ser também uma doença
auto-imune (Cobertt et al., 1992,1993). Embora em experimentos com animais
de laboratório a inibição da iNOS melhore muitos dos sintomas relacionados às
doenças listadas anteriormente, o grau exato de benefícios e ou danos gerados
pela atividade da iNOS em humanos durante estas doenças não é
completamente compreendido (para revisão ver Krõncke, 1998).
O desenvolvimento de um processo inflamatório crônico é um importante
fator de risco no surgimento de câncer. Uma dás hipóteses é de que a ativação
crônica de células efetoras resulta na liberação de produtos como o NO, e que,
os altos níveis de NO produzidos por estas células podem reagir com aminas,
originado nitrosaminas (potentes agentes carcinogênicos), que se acumulam
no tecido. Além disso, o NO pode também causar mutações importantes no
DNA, levando à dano celular ou ao crescimento de células morfologicamente
alteradas (Lyons, 1995).
O efeito citotóxico do NO pode ocorrer também pela ligação ao
complexo Fe-S de várias proteínas essenciais ao funcionamento celular. Esta
alta afinidade por íons ferro resulta na remoção do íon dos centros Fe-S ou na
formação de espécies Fe nitrosiladas das proteínas envolvidas. Em alguns
casos, a destruição dos complexos Fe-S causa a inibição de determinadas
enzimas que participam da cadeia respiratória para produção de ATP,
acarretando a morte da célula em um momento posterior (Feldman et al.,
1993).
O NO também é capaz de inibir a enzima ribonucleotídeo redutase
(enzima responsável pela conversão de ribonucleotídeos à
desoxiribonucleotídeos), o que pode levar a uma depleção celular dos
29
precursores necessários à síntese de DNA. Sem síntese de DNA, a divisão
celular não ocorre e as células não proliferam (Hibbs & Taintor, 1986; Drapier &
Hibbs, 1988; Hibbs etal., 1990; Feldman etal., 1993).
Também é reconhecido o fato do NO ter atividade citotóxica importante,
estando envolvido na defesa do hospedeiro contra patógenos intra e
extracelulares, tais como bactérias (Green et al., 1993), protozoários (Assreuy
et al., 1994) e fungos e helmintos (James & Glaven, 1989). Entretanto, o
mecanismo responsável pela morte destes parasitas ainda é fonte de estudos.
A produção excessiva de NO parece ser uma das principais causas de
alguns dos sintomas do choque séptico (Fleming et al., 1990; Wright et al.,
1992; Wu et al., 1996). Neste caso a iNOS é expressa em células fagocíticas,
como macrófagos (Marietta ef a/.,1988; Hibbs etal., 1988; Stuehr etal., 1989) e
neutrófilos (McCall etal., 1989), bem como em células endoteliais (Radomski et
al., 1990) e células do músculo liso vascular (Knowles et al., 1990a), dentre
outras, em resposta a produtos bacterianos e ou citocinas (como o IFN-y, a IL-
1P e o TNFa, por exemplo).
2. CHOQUE SÉPTICO
2.1. Introdução
O número de casos de choque séptico vem crescendo progressivamente
nos últimos anos, tanto que atualmente é considerado como a causa de morte
mais comumente encontrada nas unidades de terapia intensiva nos Estados
Unidos da América e Europa. Isso se deve em parte à evolução da medicina ao
longo dos últimos anos, que ao promover o aumento da perspectiva de vida de
idosos e pacientes com enfermidades graves, associado ao emprego
30
descontrolado da antibióticoterapla (responsável pelo aumento do número de
bactérias resistentes), ao número de procedimentos invasivos e de pacientes
imunodeprimidos (como pacientes HlV-positivos) e à elevada freqüência de
infecções hospitalares, têm contribuído enormemente para a assustadora
incidência de choque séptico.
Embora não existam estudos estatísticos sobre a incidência da sepse e
do choque séptico no Brasil, sabe-se que nos Estados Unidos cerca de
100.000 a 300.000 pacientes desenvolvem sepse anualmente, dos quais 50%
evoluem para o choque séptico e invariavelmente morrem (Davis & Hagen,
1997; Chernow & Dinarello, 1997).
Em 1991 um novo conceito, a síndrome da resposta inflamatória ou do
inglês systemic inflammatory response syndrome (SIRS), foi criado para definir
0 estado de pacientes que exibiam episódios de resposta inflamatória
sistêmica. A SIRS é diagnosticada por uma combinação de sinais clínicos e
sintomas passíveis de avaliação. A denominação SIRS foi criada para incluir
tanto a sepse quanto doenças semelhantes provenientes de causa não-
infecciosa, como trauma, isquemia, queimadura, pancreatite e hemorragia.
Define-se um quadro de SIRS quando o paciente manifesta duas ou mais das
seguintes condições: hipertermia (temperatura maior que 38°C) ou hipotermia
(temperatura menor que 36°C); taquicardia (freqüência cardíaca maior que 90
batimentos/min); taquipnéia (freqüência respiratória cardíaca maior que 20
respirações/min ou PaC0 2 menor que 32 mmHg) e contagem de células totais
sangüínea maior que 12.000/mm^ ou menor que 4.000/mm^ ou mais de 10% de
formas imaturas (Bone etal., 1997).
31
Uma das seqüelas da SIRS ou da sepse que podem vir a surgir é a
síndrome da falência de múltiplos órgãos (MOF), que acomete 30% dos casos
dos pacientes com sepse, enquanto quase todos desenvolvem disfunção de
um órgão (Davies & Hagen, 1997). Usualmente é definida pela falência
seqüencial ou de pelo menos dois ou mais órgãos, que tornam-se incapazes de
manter a homeostasia. Descrita pela primeira vez entre os anos de 1965 e
1970, quando surgiram inúmeros trabalhos descrevendo a falência precoce de
diferentes órgãos como uma grave complicação do choque séptico (Clowes et
al., 1968; Skiliman et al., 1969; apud Thijs et al., 1996), a falência múltipla,
progressiva e seqüencial dos sistemas orgânicos é, em última análise, a
responsável pelo grande índice de mortalidade entrè pacientes sépticos. A
mortalidade de pacientes que têm três ou mais tipos de órgãos afetados é
particularmente alta (Bates et al., 1997). Os pulmões, rins, fígado, sistema
cardiovascular, sistema nervoso central e o sistema de coagulação estão
geralmente envolvidos na síndrome de falência múltipla de órgãos.
O choque séptico é um agravamento do quadro de sepse. Envolve pelo
menos dois estágios distintos de evolução. Na fase inicial, pacientes sépticos
encontram-se num estado hiperdinâmico (ocorre exacerbação da atividade
cardiovascular), caracterizado por taquicardia, aumento da frequência e do
débito cardíaco, baixa resistência vascular periférica, hipóxia, oligúria e acidose
lática (Thiemermann, 1997; Kilbourn, 1997). Com a evolução da infecção,
ocorre um aumento nas concentrações sangüíneas de catecolaminas, cortisol e
glucagon (Rackow & Astiz, 1991), resultando em taquicardia e vasoconstrição
periférica. Embora muitos pacientes acabem morrendo nos estágios iniciais da
doença, em um grande número de casos estas alterações hemodinâmicas
32
evoluem gradualmente para um estado hipodinâmico (estágio tardio do
choque), devido em grande parte à gradativa redução do desempenho
cardíaco. Ocorre uma vasodilatação progressiva associada a débito cardíaco
elevado e diminuição da resistência periférica (em alguns casos pode ocorrer
vasoplegia). Em seguida, ocorre falência cardíaca com progressiva queda no
débito cardíaco e acentuada queda da perfusão e oxigenação teciduais
(Thiemermann, 1997). Neste estágio tardio ocorre ainda hipoglicemia devido à
depleção de glicogênio hepático e inibição da gliconeogênese (Ceppi et al.,
1997). A síndrome inclui freqüentemente aumentos acentuado da atividade
plasmática de transaminases, concentrações de uréia e de bilirrubina,
indicativos de injúria renal e hepática, enquanto que o desenvolvimento de
acidose lática reflete a inadequada perfusão tecidual e o metabolismo
anaeróbico (Rackow & Astiz, 1991). A absoluta maioria dos casos de
recuperação de um choque séptico acontece com pacientes que não
adentraram nos estágios tardios da doença. A causa de morte da maioria dos
pacientes geralmente é um estado de vasodilatação irreversível combinada
com falência do miocárdio, algumas vezes acompanhada de uma arritmia
terminal (Mercier etal., 1998; Brantzaeg, 1996a).
As manifestações clínicas da sepse e do choque séptico, tais como
febre, hipercoagulação e hipotensão periférica, derivam da liberação sistêmica
de mediadores inflamatórios pelas células de defesa e células endoteliais. Os
fatores desencadeadores da ativação celular e da cascata de eventos
plasmáticos são componentes da parede celular desses organismos, como o
ácido lipoteicóico (LTA) e peptideoglicanas, derivados de bactérias Gram-
positivas (exotoxinas), ou o lipopolissacarídeo (LPS), no caso de bactérias
33
Gram-negativas (endotoxinas), que invadem tecidos do liospedeiro e, às vezes,
a corrente sangüínea. Além de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas
outros microorganismos como fungos, vírus e protozoários também podem
desenvolver papéis centrais para evolução de um quadro de sepse (Bone,
1994). Apesar de na última década ter ocorrido um aumento de casos de sepse
por bactérias Gram-positivas, infecções por bactérias Gram-negativas ainda
são as mais freqüentes.
O LPS e as exotoxinas são liberados normalmente durante a replicação
da bactéria e ou como conseqüência da sua morte, devido à lise da parede
celular. A importância do LPS como fator desencadeador da sepse foi
demonstrada após sua administração em humanos sadios, com reprodução de
alterações hemodinâmicas observadas em pacientes com sepse e em modelos
experimentais (Suffradin et al., 1989). As atividades biológicas das endotoxinas
e exotoxinas procedem da ativação dos sistemas séricos e da ativação de
células residentes, células endoteliais e dos leucócitos. Conseqüentemente
ocorre síntese e/ou liberação de mediadores endógenos (citocinas e
mediadores lipídicos), sendo a ativação das células inflamatórias o fator
predominante para o desenvolvimento da sepse (Galanos & Freudenberg,
1993). Dentre as moléculas descritas como receptores para o LPS, o antígeno
de membrana CD14 é considerado o mais influente na ativação celular pelo
LPS, estando presente em células mielóides diferenciadas como monócitos e
neutrófilos. Esse receptor é uma glicoproteína que pode estar ancorada na
membrana celular ou solúvel. Os níveis de CD14 solúvel no local da infecção
ou na circulação, bem como sua expressão na membrana celular, encontram-
se alterados em diferentes situações, como doenças infecciosas e na sepse.
34
demonstrando desta maneira a importância do CD 14 para a ação do LPS
(Antal-Szalmas et al., 1997). Contudo, o CD14 parece não ser relevante
quando LPS é administrado ou liberado em grandes quantidades, pois neste
caso a ação do LPS independe deste receptor (Malhotra & Bird, 1997). Outras
moléculas também foram descritas como receptores para o LPS, como por
exemplo a L-selectina e a integrina CD11/CD18, ambas moléculas de adesão
presentes na membrana celular de leucócitos (Malhotra & Bird, 1997).
2.2. Mediadores Químicos e Fatores de Transcrição
2.2.1. Mediadores
Um grande número de mediadores humorais é produtos liberados por
várias células estão envolvidos nos eventos imunológicos existentes no choque
séptico e têm sido responsabilizados por grande parte dos sintomas clínicos da
sepse e das formas mais severas de choque séptico (Thijs et al., 1996). Neste
grupo de substâncias incluem-se as citocinas pró-inflamatórias (como os
fatores de necrose tumoral a e P e uma vasta lista de interleucinas), o sistema
complemento e as vias extrínsecas e de contato dos sistemas fibronolítico e de
coagulação. Além disso, muitos elementos celulares como células
mononucleares, neutrófilos, células endoteliais e plaquetas desempenham
papéis de destaque no desenvolvimento desta síndrome, através da liberação
de uma ampla gama de substâncias bioativas, tais como prostaglandinas,
leucotrienos, fator de ativação plaquetária, endotelinas, radicais livres de
oxigênio, proteinases e o NO. Os efeitos biológicos destes sistemas de
mediadores são diversos e complexos. Eles podem induzir a liberação de
outros mediadores (e algumas vezes deles próprios), apresentar efeitos
35
sinergísticos, manifestar efeitos diferentes quando em combinação e através
destas interações, aumentar ou limitar o processo inflamatório (para revisão ver
Thijs etal., 1996).
Dentre os mediadores endógenos liberados primeiramente pelas células
residentes e posteriomente pelas células recrutadas para o foco infeccioso, as
citocinas desempenham um papel relevante na resposta do hospedeiro.
Citocinas como a interleucina-1 (IL-1), o TNF-a, a IL-8 e as demais quimiocinas
promovem o recrutamento de neutrófilos para o sítios inflamatórios e sua
ativação, com conseqüente aumento da atividade microbicida, sendo esta
resposta local fundamental para o controle da infecção. A evolução de uma
infecção localizada para um quadro sistêmico caracteriza-se pela presença de
citocinas pró-inflamatórias na circulação e ativação das células circulantes,
podendo também haver a presença de bactérias, endotoxinas ou exotoxinas.
As mesmas citocinas encontradas no local da infecção estão presentes na
circulação, e provêm do tecido e/ou do endotélio ou ainda dos leucócitos
sangüíneos. Esse fato é responsável pela maioria das alterações
fisiopatológicas observadas em um quadro clínico de sépse e em modelos
experimentais.
2.2.2. NF-kB
O mecanismo molecular que traduz para o núcleo os sinais mediados
pelo receptor para LPS não estão totalmente esclarecidos. Algumas proteínas-
quinases, como a proteína quinase C e as MAP-quinases (p42, p44 e p38) são
essenciais para o início do sinal de transdução ativado por LPS (Sweet &
Hume, 1996). A produção de citocinas via indução por LPS requer a ativação
36
de vários fatores de transcrição. O NF-kB e o fator nuclear interleucina 6 (NF-
IL-6 ) estão envolvidos na transcrição de uma variedade de citocinas pró-
inflamatórias (como por exemplo: IL-1, IL-6 , TNF-a e IFN-y), moléculas de
adesão e indução da iNOS (Sweet & Hume, 1996). Além disso algumas
citocinas como, IL-1 e TNF-a, podem também ativar o NF-kB, criando assim,
um feedback autoregulatório. Por estes motivos, o NF-kB é considerado uma
importante proteína na regulação da resposta de fase aguda da inflamação.
O NF-kB é um fator de transcrição encontrado em todas as células
eucarióticas. Foi primeiramente descrito em 1986, por Sen & Baltimore, como
um fator nuclear necessário para a transcrição da cadeia leve kappa de
imunoglobulinas em linfócitos B. É sabido que o NF-kB pré-formado existe no
citoplasma da grande maioria de células em sua forma inativa, ligado à uma
proteína inibitória chamada Ik-B. O Ik-B se liga ao NF-kB e mascara o sinal de
localização celular, mantendo-o no citoplasma (Verma et al., 1995; Baldwin,
1996). Através do recebimento de um sinal apropriado (como o sinal de
transdução induzido por LPS) ocorre a translocação nuclear do NF-kB por
modificação de sua subunidade inibitória. A ativação do NF-kB requer uma
sequência de fosforilações, ubiquitinações e degradação do Ik-B.
Recentemente, as Ik-B quináses (IKK) que fosforilam resíduos de serina
encontrados na porção N-terminal do Ik-B foram identificadas (Woronicz et al.,
1997). Entretanto, os mecanismos exatos da ativação destas quinases por
estimulação de monócitos ou neutrófilos com LPS permanecem
desconhecidos. É importante salientar a habilidade do NF-kB em responder
aos sinais enviados por um mediador (indução de sinal) e o fato de que sua
atividade não requer a síntese de novas proteínas, o que permite que o sinal
37
seja transmitido rapidamente. Liu et al. (1997) demonstraram a ativação (em
escala temporal) do NF-kB in vivo, via tratamento de ratos com LPS (dentre
outros estímulos), e a indução da transcrição do gene e expressão da proteína
para iNOS (também em escala temporal). Após o tratamento com LPS, o NF-
kB foi ativado em 15 minutos, o pico de resposta foi alcançado em 30 minutos e
se manteve elevado por 4 horas, indicando a rápida indução e a natureza de
sustentação da ativação do NF-kB neste modelo (Liu etal., 1997).
38
2.2.3. Citocinas Pró-Inflamatórias
O TNF-a é tido como um mediador central da sepse, uma vez que é a
primeira citocina que aparece na circulação na sepse experimental e em
humanos. A administração de i.v. TNF, em animais, induz uma síndrome com
as características da sepse e o tratamento com anticorpo anti-TNF protege
contra os efeitos letais da endotoxina em vários modelos animais (Van der Poli
& Sauerwein, 1993).
Monócitos e macrófagos são os principais produtores de TNF, mas as
células T, células NK {natural killei) e os neutrófilos podem também secretar
TNF-a. Muitas infecções e estímulos inflamatórios são capazes de estimular a
blossíntese de TNF-a, incluindo endotoxinas ou lipopolissacarídeos (LPS) e
outros produtos de bactérias, protozoários, vírus e fungos. Este processo é
extremamente controlado e, no macrófago (o principal produtor de TNF), a
regulação ocorre a nível transcripcional, pós-transcripcional e translacional
como descrito anteriormente. Hormônios glicocorticóides, administrados antes
da ativação do TNF, inibem a sua síntese por inibirem seu mRNA, impedindo
assim a translação. Após a ativação das células por LPS, os corticosteróides
não são nnais capazes de inibir a síntese de TNF. Outros fatores, como IL-4, IL-
6 , pentoxifilina e o antagonista do fator de ativação plaquetária (PAF), possuem
a capacidade de suprimir a síntese de TNF. Já o aumento da produção de TNF
pode ser aumentada por IFN-y, IL-1 e espécies reativas de oxigênio (para
revisão ver Beishuizen etal., 1999).
O TNF é produzido e secretado por células ativadas após alguns
minutos depois do contato com LPS, alcançando o pico máximo de produção
entre 90 e 120 minutos após a administração de endotoxina em voluntários
humanos. Ele ativa as funções inflamatórias de várias células não somente
como um efetor direto mas também age sinergisticamente com IL-1, IFN-y e
LPS. TNF também interage com o sistema complemento e induz a liberação
adicional de eicosanóides. Muitos efeitos mediados pelo TNF ocorrem no
endotélio, onde ele estimula a produção de substâncias vasodilatadoras como
a prostraglandina I2 (PGI2) e 0 óxido nítrico. Grandes quantidades de TNF
fazem com que as células endoteliais percam suas propriedades
anticoagulantes naturais, aumentando a taxa de deposição de fibrina. Isto pode
resultar em coagulação intravascular disseminada, podendo 0 plasma ficar
desprovido de fatores de coagulação. Em sobreposição a estes eventos, como
o TNF tem também importante atividade sobre os neutrófilos, ele promove a
aderência de células polimorfonucleares ao endotélio e as faz sofrer
degranulação e formar compostos intermediários do oxigênio, tais como o
ânion superóxido e o peróxido de oxigênio. Além disso, 0 TNF induz severas
anormalidades metabólicas, como inibição da recaptação de lipídio pelo tecido
adiposo, aumento da lipogênese no fígado, efluxo de aminoácidos da
39
musculatura esquelética e diminuição da proteólise no fígado (para revisão ver
Beishuizen etal., 1999).
A utilização de anticorpos monoclonais contra TNF-a é capaz de reduzir
a morte e a falência circulatória causada pelo choque séptico em ratos (Tracey
et al., 1987; Nassif et al., 1992; Ruetten & Thiemermann, 1997), ao passo que
a injeção de TNF-a recombinante puro é capaz de mimetizar alguns sintomas
do choque séptico (Tracey etal., 1986; Takahashi etal., 1992).
A participação da IL-1 na fisiologia da sepse foi bem demonstrada pela
observação de que um antagonista do receptor para esta citocina (IL-1ra)
reduziu a letalidade causada pela administração de endotoxina (Ohlsson et al.,
1990) ou E. coli (Wakabayashi et al., 1991) em coelhos. Duas formas de IL-1
existem: IL-1 a e IL-1 (3. Elas ligam-se aos mesmos receptores celulares e
exercem efeitos biológicos idênticos. A síntese e liberação de IL-1 em
macrófagos e outras células são iniciadas por microorganismos, endo e
exotoxinas de uma variedade de bactérias, C5a, TNF, por injúria tecidual e até
mesmo pela própria IL-1. Esta citocina age como adjuvante endógeno, servindo
como cofator durante a ativação de linfócitos, primariamente pela indução da
síntese de outras citocinas e a ativação de células T de fase estacionária.
Assim como o TNF, a lL-1 é capaz de induzir um estado semelhante ao choque
séptico em coelhos, resultando principalmente no dano pulmonar (para revisão
ver Beishuizen etal., 1999).
A baixa incidência de detecção de IL-1 durante a sepse em humanos,
provavelmente se deve à falta de um método padronizado capaz de detectar
esta citocina no sangue de diferentes indivíduos. Em voluntários humanos
normais, após a administração de uma dose intravenosa de endotoxina, é
40
possível detectar níveis de lL-1. O pico máximo de lL-1 é alcançado depois de
2 ou 3 horas, após a ativação do sistema que sinaliza a produção de IL-1. A
detecção de IL-1 circulante em pacientes com sepse é observada em apenas
37% dos pacientes, resultado este que pode estar sendo influenciado pelos
métodos de ensaio utilizados (para revisão ver Beishuizen etal., 1999).
A utilização in vivo e in vitro de antagonista do receptor IL-1 (IL-1ra) é
capaz de bloquear a atividade desta citocina. No entanto, é necessário uma
dose elevada deste antagonista, uma vez que a quantidade de receptores para
IL-1 circulantes é elevada, sem levar em consideração a densidade de
receptores necessários á produção das resposta biológicas. Como efeito da
utilização de IL-1ra, ocorre uma dramática redução na hipotensão,
provavelmente devido ao bloqueio da indução de iNOS mediada por IL-1. Uma
redução na produção de IL-1 e TNF pode também ocasionar uma redução na
progressão da infeccão do paciente em choque (para revisão ver Beishuizen et
al., 1999).
A interleucina-8 (lL-8 ), outro mediador pró-inflamatório, é uma pequena
citocina de 8 kDa. É considerada como um fator quimiotático e ativador de
neutrófilos. Alguns estudos mostram a importância desta citocina no
recrutamento de neutrófilos e ativação de sítios de inflamação, resultando na
amplificação da resposta inflamatória local, bem como do dano tecidual. Esta
citocina é secretada por vários tipos de células, incluindo fibroblastos, células
endoteliais e células mononucleares periféricas. A secreção desta citocina
pode ser estimulada por endotoxinas, IL-1 e TNF, mas não existe correlação
satisfatória para explicar a indução de IL-8 por IL-1 em pacientes sépticos (para
revisão ver Beishuizen etal., 1999).
41
2.2.4. Citocinas Anti-Inflamatórias
Os efeitos biológicos das citocinas pró-inflamatórias são balanceados
por diversas citocinas anti-inflamatórias como, IL-4, IL-6 , IL-10, IL-11, IL-13,
fator de crescimento e transformação tumoral (TGF-p), TNF solúvel, receptores
para IL-1 e antagonistas do receptores para IL-1. Dentre todas, as que se
destacam são a IL-10, a IL-4 e TGF-p. Destas, a IL-10, que elimina a
capacidade do TNF-a e da IL-8 de ativar monócitos obtidos de doadores
humanos (Brandtzaeg, 1996b), foi detectada em pacientes com choque séptico
induzido por bactérias Gram-positivas e Gram-negativas e em crianças com
septicemia meningocóccica (Marchant et al., 1994; Derkx et al., 1995). Gomo a
IL-10 é encontrada nos estágios iniciais do choque séptico em níveis de 10-100
vezes maiores do que de outras cininas anti-inflamatórias conhecidas, ela vem
sendo considerada uma das mais importantes citocinas anti-inflamatórias (para
revisão, ver Brandtzaeg, 1996a).
Sabe-se que o choque séptico é geralmente precedido de uma infecção
local não controlada, na qual bactérias ou produtos bacterianos ganham
acesso ã circulação sangüínea sistêmica e induzem uma resposta inflamatória
exacerbada. Como bactérias e seus produtos causam danos teciduais, o
objetivo de uma imunomodulação eficaz seria aumentar as respostas imunes
ao agente agressor. Entretanto, embora existam inúmeros mecanismos
responsáveis pelo balanceamento do processo imunológico, estes parecem
ineficientes durante um choque séptico, no qual uma reação inflamatória
descontrolada, que também culmina em. danos teciduais (Thijis et a/.,1996),
mostra-se como uma das responsáveis pela elevada letalidade deste quadro
42
patológico. A exarcebação da liberação de citocinas anti-inflamatórias também
prejudica a resolução da sepse, uma vez que ocorre uma drástica diminuição
da produção de citocinas pró-inflamatórias pelos macrófagos, necessárias para
a defesa do organismo (Volk et al., 1996).
2.2.5 Proteínas de Choque Térmico (Heat Shock Proteins)
As Heat Shock Proteins (hsp) são proteínas sintetizadas por células em
resposta ao aumento da temperatura e a vários outros estímulos que causam
estresse celular. Fazem parte de uma grande família conhecidas como
"chaperonas moleculares" (do inglês molecular chaperones). Sua principal
função é o equilíbrio da homeostasia celular (integridade conformacional e
estrutural), preservando desta forma a viabilidade celular na presença de
agressores (para revisão ver Beishuizen etal., 1999).
A indução das hsp ocorre também através de espécies reativas de
oxigênio (ROS) originadas das respostas imunológicas do organismo. Elas
conferem proteção contra estresse oxidativo e exposição a oxidantes através
do efeito de "scavenging" de radicais livres, prevenção e reparo do dano ao
DNA, inibição da produção de ROS e inibição da fosfolipase A2. Além disso, as
hsp podem modular a produção de óxido nítrico em células e participar dos
eventos responsáveis pela proteção celular durante processos inflamatórios,
como por exemplo durante 0 desenvolvimento da falência múltipla de órgãos
observada durante o choque séptico (para revisão ver Beishuizen etal., 1999).
43
2.2.6 Agentes Vasoativos
As células endoteliais desempenham várias funções fisiopatológicas. A
liberação de substâncias vasoativas como por exemplo prostaciclina, óxido
nítrico e endotelinas (por estas células) são responsáveis pela modulação do
tônus vascular. Além disso, estas substâncias estão amplamente envolvidas na
insuficiência de perfusão tecidual observada durante um quadro sepse
(Beishuizen etal., 1999).
A endotelina é um peptídeo constituído de 21 aminoácidos. É
encontrada principalmente no endotélio vascular, onde desempenha suas
atividades vasoconstritoras. Além disso, pode ser produzida por
macrófagos/monócitos em resposta a estímulos como catecolaminas
circulantes, TNF, IL-1 e IL-6 . Os receptores para endotelina também foram
encontrados nos pulmões, rins, glândula adrenal, medula, cérebro, trato
gastrointestinal, fígado e baço de várias espécies. A estimulação de células in
vitro e in vivo por endotoxinas leva ã produção de endotelinas no endotélio e
em macrófagos (Beishuizen etal., 1999).
Um número bastante elevado da casos clínicos demonstrou um aumento
nos níveis plasmáticos de endotelina durante quadros de sepse e choque
séptico, o que sugere a participação deste peptídeo no desenvolvimento de
falência múltipla dos órgãos e coagulação intravascular disseminada. Alguns
autores sugerem que a hipotensão associada à baixa resistência vascular
sistêmica, produzida durante o choque séptico, resultante da ação de
substâncias vasodilatadoras, seja o resultado dos efeitos vasodilatadores
prevalecendo sobre os efeitos vasoconstritores gerados pela endotelina. Em
44
alguns leitos (como o renal) este efeito de hipotensão não é observado. A
endotelina é uma das substâncias vasoativas responsáveis pela disfunção
renal que ocorre durante a sepse, por promover redução no fluxo sangüíneo
renal e na taxa de filtração glomerular. A vasoconstrição produzida por este
peptídeo ocorre, pois acredita-se que o estímulo gerado por endotoxinas
supera o estímulo produzido pela baixa perfusão tecidual. Assim, de alguma
forma não totalmente esclarecida, a endotelina é formada e/ou convertida à sua
forma ativa, o que faz com que este peptídeo promova uma vasoconstrição
renal seletiva (Beishuizen et al., 1999).
Como descrito anteriormente o óxido nítrico é um mensageiro
intracelular envolvido em vários processos fisiopatológicos. Nos últimos anos,
inúmeros trabalhos foram publicados demonstrando o envolvimento da "super"
produção de NO durante o desenvolvimento do choque séptico e falência
múltipla dos órgãos, sendo assim considerado como o principal fator envolvido
na vasodilatação e no dano tecidual observado no desenvolvimento desta
enfermidade (Knowles & Moncada, 1992), tanto em animais de experimentação
quanto em humanos (Tsuneyoshi etal, 1996).
A maior parte do NO importante no quadro de choque séptico tem
origem na indução da INOS (Rees et al., 1990; Salter et al., 1991). Uma vez
expressa, esta enzima é capaz de produzir altas concentrações de NO por
longos períodos. O aumento na expressão de INOS (proteína) e de seu mRNA
durante a endotoxemia é observada em vários tipos celulares, como células
endoteliais, células de Kupffer, hepatócitos, células da musculatura lisa
vascular, células renais, condrócitos, miócitos e fibroblastos. Além disso, a
indução da INOS pode ser observada também nos pulmões, aorta, coração.
45
fígado, pâncreas e rins em modelos de sepse Gram-positivo in vivo
(Kengatharan et al., 1996). No entanto é importante ser levado em
consideração que a indução desta enzima ocorre de forma diferencial, no que
se refere às citocinas e órgãos. Assim, em determinados órgãos (baço e
coração) tanto TNF quanto IL-1 parecem ser importantes para indução da
iNOS, enquanto que em outros (pulmão) nenhuma das duas parece ser a
citocina majoritária para a indução da INOS (Cunha et al., 1994).
Admite-se que a contínua e excessiva produção de NO pela indução da
iNOS seja a causa da hipotensão e da hiporresponssividade a vasoconstritores
observada no choque séptico. Dados da literatura mostram que a expressão da
INOS após o tratamento com LPS ou bactérias apresenta diferentes
características no que se refere ao intervalo necessário para indução e ao
período cuja expressão permanece detectável, de acordo com o tipo de animal
e/ou tecido analisado (Knowles et al., 1990; Salter et al., 1991; Cunha et
a/.,1994; Rees et al., 1995). Por exemplo, a expressão de iNOS em diferentes
tecidos de rato atinge seu ápice 4 a 6 horas após a administração de LPS,
decaindo a níveis muito baixos dentro de 24 horas (Knowles et al., 1990; Salter
etal., 1991). Utilizando um modelo de infusão de LPS para reproduzir a fase de
hiperdinâmica circulatória do choque séptico Gardiner et a/.(1995) sugeriram
que: i) a atividade da iNOS é temporalmente dissociada da vasodilatação
existente em ratos 24 horas após o início da infusão de LPS; e ii) o tratamento
com L-NAME (um inibidor da iNOS) não reverte os efeitos cardiovasculares do
LPS. Em conjunto, estes achados sugerem que o mecanismo da
hiporresponsividade possa ser mais complexo do que simplesmente uma alta e
contínua produção de NO.
46
Existem várias evidências clínicas comprometendo o NO como efetor
nas mudanças hemodinâmicas observadas durante o choque séptico. Elevados
níveis de cGMP, nitrito e nitrato (metabolites do NO) são alterações
bioquímicas encontradas nos pacientes sépticos (Beishuizen et al., 1999). A
confirmação da relevância do NO proveniente da iNOS no quadro séptico
recebeu confirmação com a observação que uma parcela importante da
sintomatologia da sepse é atenuada quando da utilização de inibidores das
NOS. Assim, a utilização de inibidores restabelece níveis pressóricos normais
após a administração de LPS (Kilbourn et a/.,1990; Gray et al., 1991; Rees et
al., 1998), melhora índices de sobrevivência em modelos de sepse (Wu et
a/., 1995) e atenua a falência múltipla de órgãos e a falência circulatória
decorrentes da administração de LPS em ratos (Wu et al., 1996). Finalmente,
camundongos knockout para o gene da iNOS tem sua resposta à
catecolaminas melhorada bem como sobrevivem mais em modelos
clinicamente relevantes de choque séptico (Hollemberg et al., 2000). Além
disso, embora a expressão de iNOS esteja associada também à depressão da
atividade cardíaca existente durante o choque séptico (Schulzl et al., 1992), a
inibição da NOS tem mostrado-se ineficaz em restabelecer a função cardíaca
do choque endotoxêmico (Klabunde & Coston, 1995; Keller et al., 1995). Um
problema que permeia a sugestão feita por vários autores que inibidores da
iNOS seriam benéficos (Mulder et al., 1994; Avontuur et al., 1998) no
tratamento do choque séptico é o fato de que, se do ponto cardiovascular, esta
inibição é vantajosa, o mesmo não seria verdade do ponto de vista de defesa
do organismo, já que o NO vindo desta mesma enzima é vital no combate ao
agente invasor (Hibbs et a/.,1990). Além disso, os diferentes efeitos dos
47
inibidores da síntese de NO, relativos ao nnecanismo de ação e a dose-
dependência, contribuem para ambiguidade observada no que se refere à
utilização ou não de inibidores da síntese de NO na clínica (Beishuizen et al.,
1999). Como sugerido por Wright etal. (1992) os efeitos benéficos da utilização
de inibidores da NOS parecem estar relacionados à inibição da isoforma
induzida, enquanto os efeitos deletérios relacionados à inibição das enzimas
constitutivas, principalmente da forma endotelial.
48
3. HORMÔNIOS DA SUPRA-RENAL
3.1. Introdução
O sistema endócrino é responsável pela coordenação das reações do
organismo frente às várias mudanças fisiopatológicas que podem ocorrer
durante a vida normal de um indivíduo. Um dos órgãos centrais deste complexo
sistema é a glândula adrenal (Miller & Blake Tyrrel,1995). A importância clínica
das glândulas adrenals foi descrita primeiramente por Addison em 1849, a
partir da observação de que pacientes com a glândula adrenal destruída não
conseguiam sobreviver. Estes estudos, os quais foram publicados
posteriormente (Addison, 1855; apud Goodman, 1996) tiveram continuidade
nos trabalhos realizados por Brown-Séquard, que demonstrou que a
adrenolectomia bilateral era fatal em animais de laboratório (Goodman, 1996).
Situada no final da cascata neuroendócrina, chamada de eixo
hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA) (Fink,1997), a glândula adrenal é composta
por duas partes distintas: a medula adrenal (funcionalmente relacionada com o
sistema nervoso simpático; secreta os hormônios adrenalina e noradrenalina
em resposta à estimulação simpática) e o cortéx adrenal que secreta os
hormônios adrenocorticais mineralocorticóides e glicocorticóides, além de
secretar pequenas quantidades de hormônios sexuais como os hormônios
androgênicos (Guyton & Hall, 1996). As ações dos hormônios adrenocorticais
historicamente foram descritas como ações mediadas por glicocorticóides
(regulação do metabolismo de carboidratos) e ações mediadas por
mineralocorticóides (regulação do balanço eletrolítico). O principal
glicocorticóide em humanos é a hidrocortisona ou cortisol enquanto que o
principal mineraiocorticóide encontrado em humanos é a aldosterona.
Sinais originados de áreas centrais do cérebro como o hipocampo ou
amígdala modulam a síntese e liberação do fator de liberação de corticotrofina
(CRF, do inglês corticotrophin-releasing factor) e arginina vasopressina (AVP)
do hipotálamo, que então resulta na formação de um sinal do hormônio
adrenocorticotrópico (ACTH) no interior da pituitária. O ACTH estimula a
síntese e liberação de hormônios adrenocorticais por um mecanismo ainda não
totalmente esclarecido. Acredita-se que as ações do ACTH devam-se à
biossíntese de novo de hormônios adrenocorticais, uma vez que não ocorre
acúmulo de esteróides na glândula adrenal. A regulação da secreção de ACTH
e conseqüentemente, a regulação da secreção de hormônios adrenocorticais é
feita por fatores que influenciam o funcionamento do eixo HPA. Dentre eles
destacam-se o ciclo circadiano, o pico basal de liberação de hormônios
adrenocorticais ocorre pela manhã ( - 8 :0 0 h) resultante da alteração cíclica de
24h nos sinais a partir do hipotálamo que causam a secreção destes
hormônios; feedback negativo, realizado pelo produto final da estimulação da
liberação de ACTH (podendo ocorrer sobre o hipotálamo ou sobre a hipófise); e
sinais de estresse como injúria, hemorragia, infecção severa, cirurgias,
49
hipoglicemia, frio, dor e medo, aumentam a liberação de ACTH (Goodman,
1996).
Os efeitos dos hormônios adrenocorticais ou corticosteróides ou ainda
glicocorticóides, é mediado por dois distintos receptores intracelulares, o
receptor glicocorticóide (GR) e o receptor mineralocortióide (MR) (Hollenberg et
al., 1985; Arriza et al., 1987). Estes, após ativação por seus respectivos
hormônios nos tecidos alvos, regulam a expressão de genes responsivos a
glicocorticóides, alterando os níveis de determinadas proteínas. Devido a esta
interação (receptor-DNA), a resposta induzida por glicocorticóides não é
imediata ocorrendo ao longo de algumas horas. Embora os corticosteróides
ajam predominantemente aumentando a expressão de genes-alvos, existem
alguns exemplos bem documentados onde os glicocorticóides diminuem a
transcrição de destes genes-alvos. (Goodman, 1996). Em contraste a estes
efeitos diretos no DNA, recentes estudos têm demonstrado a possibilidade de
que algumas das ações dos corticosteróides ocorrem rapidamente sendo
mediadas por receptores de membrana (Wehling, 1994).
3.2. Mineralocorticóides
Como descrito anteriormente, o principal mineralocorticóide encontrado
em humanos é a aldosterona, suas principais ações estão envolvidas na
regulação do balanço eletrolítico. Este hormônio exerce cerca de 90% da
atividade mineralocorticóide da secreção adrenocortical mas o cortisol, o
principal glicocorticóide secretado pelo córtex adrenal, também fornece uma
quantidade significativa de atividade mineralocorticóide. Apesar de ser
secretado numa quantidade 80 vezes maior que a aldosterona, sua atividade
50
mineralocorticóide é de apenas 1/400 da atividade exercida pela aldosterona
(Guyton & Hall, 1996).
A função mais importante da aldosterona é promover o transporte de
sódio e de potássio através de algumas porções das paredes tubulares renais.
Uma outra função também desenvolvida pela aldosterona, porém menos
importante, é a de promover o transporte de hidrogênio nos rins. Assim, o papel
da aldosterona pode ser resumido como responsável pela conservação de
sódio no líquido extracelular e excreção de potássio pela urina. A secreção da
aldosterona é regulada principalmente a partir da concentração do íon potássio
(um aumento na concentração de potássio, por menor que seja, pode causar
um aumento na secreção de aldosterona) e do sistema renina-angiotensina
(causa 0 aumento da secreção de aldosterona em resposta à diminuição do
fluxo sangüíneo renal). Apesar de há muitos anos ser conhecido o efeito global
dos mineralocorticóides sobre o corpo, a ação básica da aldosterona sobre as
células tubulares no aumento do transporte de sódio é ainda parcialmente
conhecida. Acredita-se que devido à sua solubilidade lipídica nas membranas
celulares, a aldosterona difunde-se para o interior das células epiteliais
tubulares, onde interage com o receptor mineralocorticoíde, que através da
interação receptor-DNA, promove a transcrição de proteínas relacionadas com
o processo de transporte de sódio e potássio (Guyton & Hall, 1996).
O receptor mineralocorticóide de humanos foi clonado em 1987 (Arriza
et a i, 1987). É composto por 984 aminoácidos e possui alta afinidade por
corticosterona, aldosterona e cortisol (Krozowski & Funder, 1983). Sua
expressão é restrita a alguns tecidos como rim (seu principal sítio de ação),
cólon, glândulas salivares, glândulas sudoríoaras e hipocampo. Apesar deste
51
receptor possuir elevada afinidade por cortisol, a especifidade restrita à
aldosterona se deve à presença de uma enzima chamada 11(3-hidroxiesteróide
desidrogenase. Esta enzima, presente estrategicamente nos tecidos onde a
atividade mineralocorticóide é marcante, promove a catálise do glicocorticóide
cortisol em cortisona, um derivado corticosteróide que possui baixa afinidade
pelo receptor mineralocorticóide. Desta forma, mesmo na presença de altas
quantidades de cortisol circulante, a especifidade da aldosterona pelo MR pode
ser mantida (Goodman, 1996).
3.3. Glicocorticóides
São vários os efeitos biológicos dos glicocorticóides, dentre os quais
incluem-se regulação no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios;
regulação da fisiologia do sistema cardiovascular, do sistema imune, do rim, da
musculatura esquelética, e dos sistemas endócrino e nervoso.
Até recentemente, os efeitos observados pela ação dos glicocorticóides
eram relacionados apenas a seus efeitos fisiológicos (níveis normais de
glicocorticóides) e efeitos farmacológicos (altos níveis de glicocorticóides que
excedem a dose diária produzida considerada como fisiológica).
Recentemente, novos conceitos sugerem que as ações anti-inflamatórias e
imunossupressoras dos glicocorticóides, também promovem um efeito
"protetor" em condições fisiológicas, uma vez que os mediadores da resposta
imune associados à resposta inflamatória diminuem o tônus vascular, o que
pode levar a um colapso cardiovascular caso não ocorra a neutralização destas
reações pelos hormônios glicocorticóides (Goodman, 1996).
52
Os glicocorticóides sintéticos são amplamente utilizados na terapêutica,
devido às suas propriedades anti-inflamatórias e imunossupressoras. São
descritos como os anti-inflamatórios mais potentes existentes na clínica, uma
vez que seus mecanismos de ação geralmente suprimem a resposta
inflamatória desde o início do processo. Com exceção da reposição hormonal
em casos de deficiência, a utilização de glicocorticóides é basicamente
empírica e requer cuidadosa consideração em relação ao custo-benefício
oferecido por esta classe de anti-inflamatórios, uma vez que os efeitos
colaterais causados por sua administração são vários e extremamente nocivos
ao organismo (nos casos de uso contínuo).
3.3.1. Síntese e Liberação
Como descrito anteriormente os glicocorticóides são secretados a partir
da ação do ACTH sobre o córtex da adrenal. Nas células adrenocorticais o
ACTH liga-se a um receptor de membrana acoplado à proteína G, chamado
receptor ACTH. Desta forma ocorre ativação da adenilato ciclase e aumento na
concentração intracelular de cAMP (segundo mensageiro). As células
adrenocorticais, em resposta ao ACTH, aumentam a oferta de colesterol, o
substrato das enzimas esteroidogênicas, durante a fase aguda da biossíntese
de glicocorticóides que ocorre em poucos segundos após a ativação do
receptor ACTH. Durante a fase crônica, que pode ocorrer dentro de algumas
horas ou até mesmo em alguns dias após a ação do ACTH sobre seu receptor
na membrana das células, ocorre um aumento acentuado na transcrição de
enzimas esteroidogênicas. A mais importante de todas as etapas estimuladas
pelo ACTH para controlar a secreção adrenocortical é a ativação da enzima
53
proteína quinase A, que causa a conversão inicial do colesterol em pregnolona.
Esta conversão inicial é a etapa "limitadora da velocidade" de todos hormônios
adrenocorticais, o que explica porque o ACTH normalmente é necessário para
que qualquer um dos hormônios adrenocorticais seja formado (Guyton & Hall,
1996). Os mecanismos que regulam a secreção de ACTH pela hipófise anterior
já foram discutidos acima (seção3.1).
O cortisol combina-se no sangue com uma globulina chamada de
globulina fixadora do cortisol ou transcortina e, em menor extensão, com
albumina (cerca de 94% são normalmente transportados na forma fixada e
cerca de 6% na forma livre). Por outro lado, a aldosterona combina-se apenas
frouxamente com as proteínas plasmáticas, de modo que cerca de 50% estão
na forma livre. Tanto na forma combinada quanto na livre, os hormônios são
transportados pelo compartimento do líquido extracelular. Em geral os
hormônios são fixados nos tecidos alvo ou destruídos dentro de 1 ou 2 horas
no caso de cortisol, ou dentro de cerca de 30 minutos no caso da aldosterona.
Os esteróides adrenals são degradados sobretudo no fígado e conjugados
especialmente para formar glicuronídeos e, em menor extensão em sulfatos.
Cerca de 25% destes são excretados na bile e, depois, nas fezes, e os 75%
restantes, na urina. As formas conjugadas destes hormônios são inativas
(Guyton & Hall, 1996).
3.3.2. Mecanismo de Ação
O modelo clássico de ação dos glicocorticóides envolve a ligação deste
a um receptor específico no citosol, com conseqüente transporte para o núcleo
54
celular e interação com regiões específicas no DNA, promovendo a transcrição
e/ou repressão de determinados elementos responsivos à eles.
O receptor glicocorticóide (GR) humano foi clonado em 1985 ,
Hollenberg et a i. Em seguida os receptores de rato e camundongo também
foram clonados. Existe uma alta homologia estrutural entre as diferentes
espécies, em torno de 89%. Sua estrutura de aproximadamente 80-90 kDa
pode ser dividida em três domínios funcionais. A maior diferença entre os
receptores é observada no domínio N-terminal, considerado como uma região
"moduladora" envolvida na regulação da transcrição mediada por receptor.
Ainda nesta região existem resíduos de serina passíveis de regulação via
fosforilação, no entanto o efeito destas fosforilações sobre as ações dos
glicocorticóides ainda não estão totalmente esclarecidas. Perto do centro da
proteína está um segundo domínio de ligação, uma região altamente básica,
enriquecida de resíduos de cisteína, lisina e arginina. Esta região tem
aproximadamente 70 aminoácidos e nela está localizado o domínio de ligação
do receptor ao DNA (DBD, do inglês DNA binding domain). Existem também
nesta região duas projeções em forma de "dedo", as quais interagem com o
DNA, chamadas de "dedos de zinco" (do inglês zinc fingers). Estes zinc fingers,
por sua vez, são formados por um átomo de zinco ligado a quatro resíduos de
cisteínas. O terceiro e último domínio, chamado de domínio de ligação do
hormônio (HDB, do inglês hormone binding domain) está localizado no extremo
C-terminal do receptor. A ligação do glicocorticóide (GC) ocorre nesta região e
ativa as respostas biológicas mediadas pelo receptor. O GR inativado é um
complexo protéico de aproximadamente 300 kDa localizado no citosol celular e
resulta da associação do receptor a heat shock proteins. Uma molécula do
55
receptor encontra-se associado a duas moléculas de heat shock protein com
90 kDa cada , a hsp90. A ligação da hsp90 confere ao receptor uma
conformação de ligação ao esteróide de alta afinidade. Já a dissociação que
ocorre sob algumas condições como elevação da temperatura e do pH,
promove a alteração da conformação do receptor para um estado de alta
afinidade de ligação ao DNA. A ligação do esteróide ao GR também acarreta
na dissociação da hsp90 e possibilita a translocação do mesmo para o núcleo.
Além da heat shock protein de 90 kDa, outras hsp como a hsp70 e a hsp56
fazem parte do heterocomplexo que forma o GR. Na verdade, estas proteínas
existem no citosol complexadas independentes de sua ligação com o receptor.
A função da hsp70 no heterocomplexo formado a partir da ligação com o
receptor ainda não está totalmente elucidada. Sabe-se que assim como a
hsp90, esta proteína de 70 kDa também liga-se diretamente no receptor dentro
do domínio de ligação do esteróide (HBD). A hsp56, outra proteína que faz
parte do heterocomplexo GR inativado, é uma imunofilina ou proteína de
ligação para a droga imunossupressora FK506. Porém, a função da ligação
desta imunofilina ao receptor ainda não está bem esclarecida. Acredita-se que
ela esteja envolvida no processo de translocação do receptor para o núcleo
(para revisão ver Barnes, 1998 e Richards et a i, 1995). Além destas proteínas
citadas anteriormente, sabe-se da existência de outras proteínas que também
mantêm o receptor inativado, as quais ainda não foram caracterizadas.
Após a ligação do esteróide ao seu domínio de ligação ocorre a
dissociação do heterocomplexo (GR inativado) e o receptor transloca-se para o
núcleo, onde ocorre a dimerização do mes.mo que permite a interação receptor-
DNA. Alguns trabalhos têm demonstrado que a formação de homodímeros não
56
é exclusiva. Assim, foram encontrados heterodímeros formados a partir da
ligação de receptores glicocorticóides e receptores mineralocorticóides. Além
de aumentar a afinidade dos receptores pela região de ligação no DNA a
formação de heterodímeros pode ter implicações clínicas, como a possibilidade
de otimização dos tratamentos feitos com corticosteróides (para revisão ver
Trapp & Holber, 1996).
No núcleo o receptor glicocorticóide interage com sítios específicos no
DNA, chamados de elementos responsivos à glicocorticóide (GRE, do inglês
glucocorticoid response element - 5'-GGTACA-nnn-TGTGCT-3') ou elemento
responsivos ao glicocorticóide negativo (nGREs), cuja seqüência de
identificação varia muito mais (Yamamoto, 1985; Beato, 1987). O número de
genes por célula regulados diretamente, varia entre 10 e 100. No entanto sabe-
se que vários outros genes são regulados de forma indireta através da
interação com outros fatores de transcrição. Ao ligar-se ao GRE, o receptor
dimerizado inicia a seqüência de transcrição. O mecanismo pelo qual o GR
ativado encontra as regiões responsivas ao glicocorticóide dentro de um "mar
de genes" ( - 1 0 0 .0 0 0 ) não está totalmente esclarecido mas recentemente
algumas evidências sugerem que o GR dimerizado liga-se inicialmente de
forma não-especifica ao DNA. Em seguida interage com outro filamento de
DNA para então dissociar-se do primeiro sítio de ligação. Estes "pulos" são
repetidos até que sítios GRE de alta afinidade sejam encontrados. A ligação do
GR ao seu sítio GRE modifica o curso da transcrição, resultando na indução ou
repressão de determinados genes, quando ocorre a ligação com um nGRE
(para revisão ver Barnes, 1998). Os nGRE são raramente identificados em
alguns genes como o gene da pro-opimelanocortina (POMC) e o gene da
57
osteocalcina (para revisão ver Webster & Cidiowski, 1999). IVIuitos genes que
são reprimidos pelos glicocorticóides não possuem GRE sendo assim sugerido
por alguns pesquisadores que outro mecanismo deva estar envolvido neste
processo.
Este é o mecanismo mais bem descrito até então (modulação da
expressão do gene através de uma interação proteína-proteína). Através do
cross-talk com fatores de transcrição como o AP-1, a expressão de genes pode
ser controlada pelo GR sem que ocorra necessariamente a ligação do receptor
ao DNA. Neste caso, a interação com outras proteínas, possivelmente
mediadas por fatores de transcrição, previne a transativação do gene
resultando num efeito repressor. Desde a descoberta deste mecanismo em
1990 (Jonat et a i, 1990; Schüle et a i, 1990; Yang Yen et a i, 1990), um
crescente número de exemplos deste modo de ação foi descrito incluindo a
interação do GR com AP-1, NF-kB, GATA-1 e CREB (Chang et a i, 1993; Imai
et a i, 1993; Caldenhoven et a i, 1995). Este pode ser um dos mecanismos pelo
qual os glicocorticóides exercem seus efeitos anti-inflamatórios, uma vez que a
ativação da transcrição de vários mediadores da inflamação é reprimida pela
interação direta com o glicocorticóide. Os efeitos anti-inflamatórios dos
glicocorticóides parecem ocorrer através do cross-talk com NF-kB e AP-1 em
diferentes tecidos.
Esta interação proteína-proteína foi primeiramente demonstrada com o
gene da colagenase, o qual era induzido pelo fator ativador de transcrição de
proteína-1 (AP-1), um heterodímero dos produtos dos genes fos e jun. O
glicocorticóide interage com o AP-1 e previne a ativação da transcrição deste
gene. Este tipo de interação parece ser importante na regulação dá expressão
58
de vários genes que transcrevem mediadores inflamatórios, ativados inclusive,
por outros fatores de transcrição como o NF-kB, que por sua vez é responsável
pela ativação de genes que codificam citocinas, receptores para citocinas,
proteínas quimiotáticas ou moléculas de adesão, assim com IL-1(3, TNF-a, IL-2,
IL-6 , IL-8 , proteína quimiotática para macrófago (MCP-1, do inglês macrophage
chemotactic protein) dentre outros mediadores da inflamação (ver De Bosscher
etal, 2 0 0 0 ).
Outra forma de regulação da transcrição de mediadores da inflamação é
através da up-regulation de l-kBa, que como descrito anteriormente é uma
proteína inibitória do fator de transcrição NF-kB. No entanto, vale lembrar que
este mecanismo de repressão do NF-kB é altamente tecido-específico (ver De
Bosscher etal, 2000).
Recentemente cresceram as evidências que sugerem que os
glicocorticóides também interagem com a cromatina e regulam a expressão de
genes através de um modelo de competição. Vários fatores de transcrição têm
a habilidade de interagir com moléculas co-ativadoras (como por exemplo
CREB binding protein ou CBP, e p300). Estas por sua vez, possuem atividade
histona-acetiltransferase, o que resulta na acetilação de resíduos de histona e
conseqüentemente no desenrolamento da fita de DNA. Este evento permite
que ocorra a transcrição de determinados genes que codificam principalmente
mediadores pró-inflamatórios. A utilização de glicocorticóides (como droga anti-
inflamatória), através de sua interação com co-repressores promove a
deacetilação das histonas e o enovelamento da fita de DNA o que impede a
transcrição de genes. O que determina se ocorrerá ou não abertura da
cromatina para posterior transcrição é a competição entre os fatores de
59
transcrição e os glicocorticóides na corrida pela interação destes com as
CBP/p300 (Barnes, 1998).
3.3.3. Uso no Choque Séptico
Devido às propriedades anti-inflamatórias dos glicocorticóides e de sua
habilidade em afetar vários sistemas envolvidos no desenvolvimento do choque
séptico, glicocorticóides sintéticos foram utilizados em indivíduos com sepse
como uma possibilidade de tratamento. Alguns dos estudos realizados
demonstraram que os glicocorticóides sintéticos melhoraram os sintomas do
choque séptico em indivíduos, porém isto não foi observado em todos os tipos
de sepse (Thompson, 1993). Foi verificado também que na maioria dos casos,
a utilização dos glicocorticóides não melhorou o quadro dos pacientes
estudados (Bone, 1991; Cohen & Glauser, 1991).
Embora ocorra um aumento considerável na concentração de cortisol
durante o choque séptico (Molijn et a i, 1995) em resposta ao estresse
provocado pela infecção estes glicocorticóides endógenos não foram capazes
de inibir, por exemplo, a indução da iNOS. Esta falha do sistema, que é um dos
responsáveis pelo controle da resposta inflamatória no organismo, pode ser
causada pela redução do binding de glicocorticóide com as proteínas
responsáveis por seu transporte plasmático (Pugeaut et ai., 1989) ou pela
diminuição do binding de glicocorticóide com o seu receptor (Huang et ai.,
1987; Li & Xu, 1988). Recentemente este dado foi confirmado por Galigniana et
ai. (1999) que através da incubação do receptor glicocorticóide com doadores
de NO (os quais poderiam estar mimetizando o efeito do NO produzido em
grande quantidade durante o choque séptico) demonstrou que o binding do
60
receptor estava diminuído. Sabendo que o óxido nítrico tem alta afinidade por
sulfidrilas (-SH) ou resíduos de cisteína e que o receptor glicocorticóide possui
cisteínas críticas ao seu funcionamento, os autores sugeriram que: i) o NO
estava nitrosilando as cisteínas presentes no domínio de ligação do
glicocorticóide; ii) que este efeito não podia ser atribuído à dissociação do
heterocomplexo hsp90; iii) que a utilização de DTT (um anti-oxidante) revertia
este efeito; e iv) que a falha que ocorre no sistema considerado o "freio" da
resposta inflamatória pode estar atribuída ao fato de que as altas quantidades
de NO produzidas em condições patológicas estariam diminuindo a afinidade e
o número de receptores, possivelmente por S-nitrosilação de grupos -SH
críticos à ativação e ligação do glicocorticóide ao receptor GR (Galigniana et
al„ 1999).
Se assim for, novas estratégicas terapêuticas poderão ser desenvolvidas
na tentativa de reverter o quadro patológico de pacientes com choque séptico.
61
OBJETIVOS
4. Objetivos
4.1 Geral
Neste estudo, procuraremos demonstrar que a administração prévia de
NO é capaz de mudar o curso da ação de um glicocorticóide, no que se refere
à inibição da indução da INOS no choque endotóxico em ratos.
4.2 Específicos
- Avaliar o perfil de indução da iNOS e os padrões de atividade de
NOS constitutivas em diversos órgãos do rato, causado pela injeção
de LPS;
- Avaliar a capacidade inibitória de dexametasona na indução da iNOS
em animais endotóxicos;
- Avaliar o efeito de doadores de NO administrados previamente ao
iniciador do choque endotóxico (LPS);
- Avaliar o comportamento dos níveis plasmáticos de nitrato+nitrito
(NOx) em animais injetados com LPS, bem como a eventual
modificação destes achados por dexametasona e por doadores de
NO;
- Avaliar o comportamento do peso do baço em animais injetados com
LPS, bem como a eventual modificação destes achados por
dexametasona e por doadores de NO.
62
MATERIALE MÉTODOS
5. Material e Métodos
5.1 Animais
Para realização deste estudo foram utilizados ratos Wistar, fêmeas, com
3 a 4 meses de idade e pesos variando entre 170 e 220 g. Os animais foram
fornecidos pelo Biotério Central da Universidade Federal de Santa Catarina e
mantidos no Biotério Setorial da Coordenadoria Especial de Farmacologia até a
realização dos experimentos. A temperatura ambiente (22 ± 2°C) e o ciclo de
luz claro/escuro (12/12h) foram controlados automaticamente. Os animais
tiveram livre acesso à alimentação e água até o momento do experimento.
5.2 Perfusão e Obtenção das Amostras
Todos os procedimentos a seguir foram realizados de acordo com as
diretrizes da publicação Cuidados com Animais de Laboratório dos Institutos
Nacionais de Saúde (NIH; USA). Imediatamente antes da anestesia, os animais
foram pesados. Para realização da perfusão, coleta de sangue e de amostras
de tecido para posterior análise, os animais foram anestesiados com uma
solução de uretana (1,0 g/kg), administrada pela via intramuscular. Após
abertura da cavidade toráxica, aproximadamente 1 mL de sangue foi coletado
do coração do animal. Em seguida uma agulha de escalpe conectada a um
reservatório contendo salina (NaCI 0,9%) à 37°C mantido à uma altura de
aproximadamente 1 m foi inserida no ventrículo esquerdo do coração. Para
garantir a completa perfusão foi feito um pequeno corte no ventrículo direito
permitindo o escoamento do sangue.
O sangue coletado foi incubado por 30 minutos em banho-maria a 37°C.
Em seguida os tubos foram centrifugados por 10 minutos a 2000 rpm. O soro
63
foi retirado e estocado em freezer a -70°C para posterior determinação de
nit rito/nitrato.
Os órgãos (ou fragmentos deles, dependendo do caso) como, aorta,
musculatura esquelética, cérebro, coração, rim, baço e pulmão foram
cuidadosamente coletados para garantia da integridade da enzima NOS e
rapidamente armazenadas em freezer a -70°C até o momento da dosagem. O
peso do baço foi registrado após sua coleta, antes de ser congelado.
5.3 Medida da Atividade das NOS
5.3.1 Preparação dos Homogenatos dos Órgãos ou Tecidos
Para evitar-se perda da atividade enzimática, a homogeneização dos
tecidos era feita imediatamente antes do ensaio enzimático. Para preparação
dos homogenatos os órgãos foram mantidos a uma temperatura de 4°C. Este
cuidado foi necessário para evitarmos ao máximo a desnaturação enzimática.
Os órgãos foram cortados em pequenos fragmentos e imediatamente imersos
em tampão de homogeneização gelado (composto por 320 mM de sacarose,
50 mM de Tris-HCI, 1 mM de DTT, 10 pg/mL de inibidor de tripsina do feijão de
soja, SBTI, pH 7,0) numa proporção de 1:3 a 1:5 (p/v). Imediatamente antes da
homogeneização, adicionou-se o inibidor de serino-proteases, fluoreto de
fenilmetilsulfonil (PMSF) numa concentração de 10 mg/mL. Nos órgãos ou
tecidos muito pequenos, o volume de tampão de homogeneização foi ajustado
de forma a ainda conseguir-se uma boa homogeneização sem, contudo, diluir-
se a amostra em demasia. Os órgãos foram triturados em homogeneizador
mecânico (Ultra-Turrax) a uma velocidade de 10.000 rpm. O material foi
centrifugado por 15 minutos (30.000 x g) a uma temperatura de 4°C.
64
5.3.2 Ensaio da Atividade das NOS pelo IVIétodo da L-citrulina
A atividade da NOS foi medida através da conversão de (H^)-L-arginina
em (H^)-L-citrulina, onde o produto é separado do substrato graças à afinidade
diferencial de uma resina de troca iônica (descrito por Gopaiakrishna e
Nagarajan, 1980 e aplicado por Bredt e Snyder, 1990).
Para evitar-se consumo excessivo de substrato (tornando a cinética não-
linear) ou uma atividade tão baixa que aumentasse o erro das determinações, o
volume a ser ensaiado de cada homogeneizado foi variado dentro do limite de
30 pl, que é o volume máximo permitido pelo método. Quando o volume de
amostra a ser ensaiado era menor que 30 [jI, o volume restante era completado
com tampão de homogeneização. Às amostras foram adicionados 50 piL de
tampão de ensaio, misturados e incubados por 1 h em banho-maria a 37°C. O
tampão de ensaio era composto por 50 mM de KH2PO4: 1,2 mM de MgCl2; 0,25
mM de CaCl2; 60 mM de L-valina; 1,2 mM de L-citrulina e 1 mM de DTT
(preparado de antemão, aliquotado e armazenado em freezer doméstico por
até 3 meses). No dia do ensaio, os seguintes cofatores eram adicionados: 5 |jM
de L-arginina, 4 pM de flavina adenina dinucleotídeo (FAD), 4 pM de flavina
adenina mononucleotídeo (FMN), 10 |jM de tetrahidrobiopterina (THB4), 200
(jM de nicotinamida adenina difosfato reduzido (NADPH) e o equivalente a 0,1
(jCí de (H^)-L-arginina. Após o período de incubação, a reação era terminada
com a adição de 500 pL de resina (Dowex AG-50x8, forma sódica, 1:1 em
água, pH 6,7). Após agitação, os tubos eram centrifugados por 3 minutos a
5.000 rpm. Cem microlitros do sobrenadante foram retirados e adicionados à 1
mL de líquido de cintilação (58% de fluido de cintilação [6g/L de PPO -1- 0,2 g/L
de POPOP em tolueno], 34% de Triton X-100 e 8% de água de Milli-Q). O tubo
65
de ensaio foi vigorosamente agitado e em seguida a radioatividade foi
quantificada em um contador (3 de cintilação líquida. A determinação da
concentração protéica dos homogenatos foi feita através da absorção
ultravioleta no comprimento de onda de 280 nm em cubetas de quartzo.
Uma das vantagens do método da L-citrulina é que ele permite a
determinação simultânea das duas categorias de NOS, as enzimas cálcio-
dependentes e as enzimas cálcio-independentes. Para tanto, cada amostra é
ensaiada em três condições distintas, cada uma delas em um tubo distinto. A
primeira delas, no assim chamado tubo T, consiste na incubação do
homogenato com o tampão de ensaio somente. A segunda, no tubo chamado
de tubo E, consiste na incubação do mesmo volume de homogenato em
questão com o tampão de ensaio (como acima descrito) mas acrescido de 1
mM de EGTA. Na última delas, no tubo chamado de tubo E+L, o homogenato é
incubado com tampão de ensaio acrescido de 1 mM de EGTA + 1 mM de L-
NIO (ou outro inibidor potente não-seletivo das NOS). Assim, a subtração dos
resultados dos tubos T e E dos resultados dos tubos E+L, para cada amostra
de homogeneizado, desconta a contagem "não-específica". O valor de [E-
(E+L)] representa a atividade cálcio-independente e o valor {[T-(E+L)] - [E-
(E+L)]} representa a atividade cálcio-dependente.
5.4 Determinação dos Níveis Séricos de Nitrato + Nitrito (NOx)
A metodologia utilizada para a dosagem dos valores de NOx foi descrita
detalhadamente por Granger et al. (1990). Cem microlitros de soro foram
desproteinizados pela adição de 20 |j L de sulfato de zinco a 20% (p/v em
água), seguidos de 80 |jl de água de Milli-Q e mantidos a 4°C por 30 minutos.
66
Em seguida, as amostras foram centrifugadas por 20 minutos a 3.000 rpm.
Cem microlitros do sobrenadante foram retirados e incubados durante 3 horas
em estufa a 37°C em presença de nitrato redutase expressa em E. coli em
tampão fosfato de sódio 0,5 M pH 7,2 e tampão formiato de amônio 2,4 M pH
7,2. Após este período de incubação, as amostras foram novamente
centrifugadas para a remoção da bactéria, sendo então 100 |jL do
sobrenadante misturados com o mesmo volume de reagente de Griess (1% de
sulfanilamida em 10% de ácido fosfórico e 0,1% de alfa-naftil-etilenodiamina
em água de Milli-Q) em placas de 96 poços para leitura em 540 nm em um
leitor de placas. Curvas-padrão de nitrito e nitrato (0 a 150 |jM) foram feitas
simultaneamente. Como nestas condições a conversão de nitrato a nitrito foi
sempre superior a 90%, nenhuma correção dos resultados foi feita. Finalmente,
por meio de uma regressão linear, os valores foram expressos como |jM de
NOx (nitrito + nitrato).
5.5 Protocolo Experimental
Com o objetivo de avaliarmos o perfil de indução da NOS cálcio-
independente e os padrões de atividade de NOS constitutivas nos diversos
órgãos do rato causado pela injeção de LPS, os animais foram tratados e
divididos em dois grupos. O curso temporal de todo o protocolo experimental
está mostrado no Esquema 4. O primeiro deles, determinado como grupo
controle recebeu injeções de PBS estéril (250 pl, i.p.). O segundo grupo
recebeu injeções de LPS (5 mg/kg, i.p.) obtido de E. coli (sorotipo 0111:84).
Oito horas após o tratamento os animais foram anestesiados, perfundidos,
sacrificados e os órgãos e o sangue coletados como descrito anteriormente.
67
Quando houve necessidade de pré-tratamento com glicocorticóide, duas
doses de dexametasona (2 mg/Kg, s.c.) foram administradas nos animais, a
primeira 12 h e a segunda 1 h antes da administração (ver Esquema 4).
Para o tratamento dos animais com o doador de NO, o SNAP foi
administrado na dose de 3 mg/kg, s.c. 2 horas antes de cada dose de
dexametasona (ver Esquema 4).
68
-14 -12 TEMPO (h) -2 -1 ZERO + 8GRUPO
TRATAMEhíTOCONTROLE PBS PBS
DEXA PBS DEXA
LPS PBS PBS
DEXA+LPS PBS DEXA
SNAP+DEXA+LPS SNAP DEXA
PBS PBS PBS
PBS DEXA PBS
PBS PBS LPS
PBS DEXA LPS
SNAP DEXA LPS
SACRIRCIO
Esquema 4: Protocolo experimental identificando os grupos de animais e o
tratamento utilizado em cada grupo durante todo o tempo do experimento.
5.6 Drogas
S-nitroso-N-acetil-DL-penicilamina (SNAP), sintetizado pelo método de
Field et a i (1978); 21-fosfato dissódico de dexametasona (Prodome); [H^] L-
arginina (Amersham, ImCi/mL ou 37MBq/mL). Os demais reagentes
empregados foram da Sigma Chemical Co. (St. Louis, USA) ou Merck (São
Paulo, Brasil).
5.7 Análise Estatística
Os resultados estão expressos como média ± erro padrão da média
(EPM). Para a análise estatística foi utilizado a análise de variância de uma via
(ANOVA) seguida pelo teste t de Bonferroni. Um valor de P menor que 0.05 foi
considerado estatisticamente significativo.
RESULTADOS
6. Resultados
6.1 Efeito do LPS na Indução de NOS em Diferentes Órgãos do
Rato.
Na primeira série de experimentos, nosso objetivo foi fazer uma
avaliação da resposta de indução da NOS em vários órgãos para escolha
daqueles que melhor respondiam aos efeitos da administração de LPS, em
termos quantitativos de atividade da NOS. A Figura 1 ilustra o aumento
percentual na quantidade das enzimas cálcio-dependente e independente
encontradas nos diferentes órgãos de animais tratados com LPS (5 mg/Kg),
comparadas às enzimas encontradas em animais controle, isto é, injetados
apenas com PBS. A Tabela 1 apresenta os mesmos resultados, expressos
porém, sob a forma de atividade de NOS em pmol de citrulina/min/mg de
proteína. Como pode ser observado na Figura 1, Painel A, em relação à
enzima cálcio-independente, os órgãos que mostraram maior aumento na
atividade foram o pulmão, o baço e o rim (2138%, 1400% e 576% acima dos
controles, respectivamente).
Em relação à enzima cálcio-dependente, observa-se que alguns órgãos
mostraram mudança nos níveis desta NOS. Em ordem decrescente, a
musculatura esquelética, o pulmão, o baço e o cérebro tiveram elevações no
teor desta isoforma (Figura 1, Painel B).
Portanto com base nestes ensaios preliminares, decidimos escolher
avaliar o perfil enzimático frente aos diversos tratamentos que se seguirão nos
seguintes órgãos: pulmão, baço, rim e músculo esquelético.
Dois pontos precisam ser ressaltados para se ter a exata compreensão
do significado dos nossos resultados. Primeiro, o ensaio da citrulina (que ainda
69
é o método mais utilizado para medir-se atividade de NOS), como todo ensaio
enzimático, oferece à enzima as melhores condições de trabalho no que se
refere à substratos, cofatores, etc. Portanto, é impossível neste tipo de ensaio
detectar-se alterações na atividade da enzima (se por isso entendemos
alterações nos parâmetros cinéticos, Vmax e Km), já que à ela estão sendo
oferecidas condições de funcionamento ideal. Assim, é muito mais provável
que as variações que detectamos reflitam quantidade de moléculas protéicas
enzimáticas e não alterações em parâmetros cinéticos. Isto só poderia ser
detectado se purificássemos cada isoforma de cada órgão para a realização de
ensaios cinéticos adequados. O segundo ponto refere-se à dependência ou
não de cálcio para a atividade enzimática. Embora seja classicamente descrito
na literatura que as isoformas induzida e constitutiva sejam cálcio-
independente e cálcio-dependente, respectivamente, muitos outros trabalhos
mostram que há exceções a esta regra. Como estava fora do escopo deste
trabalho, não detalhamos experimentos para verificar se, por exemplo, o
aumento da NOS cálcio-dependente encontrado no pulmão após injeção de
LPS (veja Figura 1, Painel B) seria realmente um aumento desta isoforma ou
se isto significaria o aparecimento de uma atividade “induzida e cálcio-
dependente”. Entretanto, é óbvio que este tipo de estudo é muito importante, já
que um aumento de três vezes em qualquer atividade enzimática não é um
número trivial em termos biológicos.
70
71
NOS CALCIO-INDEPENDENTE
2500
.c?-°
NOS CALCIO-DEPENDENTE
300-
(0 250- Oo 2 0 0 -
§ 150-
g i o o 450H
0
/ • / /
Figura 1: Aumento na NOS cálcio-dependente e cálcio-
independente após a administração de LPS em vários órgãos do rato.
Ratos foram injetados i.p. com PBS. (grupo controle) ou com LPS (5 mg/Kg).
Após oito horas do tratamento com LPS foram sacrificados. Vários órgãos
foram coletados, congelados à -70°C, para posterior dosagem da atividade das
NOS pelo método da citrulina (como descrito na seção de Métodos). O
resultado está expresso como % de aumento da quantidade das enzimas após
a administração de LPS, em relação aos animais controle. Painel A: NO
sintases cálcio-independentes e Painel B: NO sintases cálcio-independentes. A
linha pontilhada representa a atividade constitutiva da NOS cálcio-dependente.
Tabela 1: Aumento na NOS cálcio-independente e cálcio-dependente após a
administração de LPS em vários órgãos do rato.
72
ATIVIDADE DA NOS CÁLCIO-INDEPENDENTE (pmol de citrulina/min/mg de proteína)
Órgão Controle LPS % Aumento NOS
Aorta 1,1 ±0,8 0,6 ± 0,42 0
Músculo Esquelético 1,6 ±0,5 0,7 ±0,18 0
Cérebro 2,46 ± 1,8 2,22 ±1,7 0
Coração 0,7 ± 0,24 1,2 ±0,35 171
Rim 0,17 ±0,05 0,98 ±0,19 576
Baço 0.15±0,17 2,1 ±0,2 1400
Pulmão 0,36 ±0,15 7,7 ±1,25 2138
ATIVIDADE DA NOS CÁLCIO-DEPENDENTE
Órgão Controle LPS % Aumento NOS
Aorta 1,7 ±0,63 0,83 ± 0,54 0
Músculo Esquelético 3,5 ±0,16 7,3 ±0,7 208
Cérebro 48,5 ±5,21 55,69 ±5,18 114
Coração 0,12±0,1 0,11 ±0,1 0
Rim 0,27 ± 0.09 0,24 ± 0,08 0
Baço 0,38 ±0,17 0,5 ±0,15 131
Pulmão 0,09 ± 0,06 0,13 ±0,07 150
Ratos foram injetados i.p. com PBS (grupo controle) ou com LPS (5 mg/Kg). Após oito
horas do tratamento com LPS foram sacrificados. 0 resultado da atividade enzimática das NOS realizada em diversos órgãos está expresso em pmol de cit/min/mg de
proteína e em % de aumento da quantidade das enzimas após a administração deLPS, em relação aos animais controle.
6.2 Perfil Enzimático de NOS no Pulmão de Ratos Submetidos a
Diversos Tratamentos
Podemos verificar que o tratamento de ratos com LPS causou, após
um período de 8 horas, um aumento significativo na enzima cálcio-
independente no pulmão, em torno de 21 vezes em relação à atividade
encontrada em animais do grupo controle (Figura 2, Painel A). Este aumento foi
substancialmente reduzido (praticamente à valores de animais injetados
apenas com salina) quando da utilização de um pré-tratamento com
dexametasona administrada 12 horas e 1 hora antes da administração de LPS
(5 mg/Kg). Notavelmente, o efeito inibitório da dexametasona sobre a indução
da INOS foi completamente abolido nos animais que foram tratados com SNAP
(3 mg/Kg), 2 horas antes das duas doses de dexametasona.
Em relação aos níveis da enzima cálcio-dependente, nenhuma
diferença significativamente relevante foi observada entre todos os grupos.
73
74
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<1> S "a 0)I 2s “ ■S <Dd> ■° ■D O) re p ■a < > .£5 £
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NOS CALCIO-INDEPENDENTE
PBS LPS
A/OS CALCIO-DEPENDENTE0.75-
<0■o ■$
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i l
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0.50-
0.25-
0 . 00 '
PBS LPS
DEXA SNAP+DEXA+LPS
Figura 2: Perfil enzimático das NOS no pulmão de ratos submetidos a
diversos tratamentos. Painel A; NOS cálcio-independente e Painel B: NOS
cálcio-dependente. Ratos foram submetidos aos diversos tratamentos (como
mostrado na seção de Métodos) e 8 horas depois da injeção de LPS o pulmão
direito e o esquerdo foram coletados e congelados à -70°C para posterior
dosagem da atividade das NOS pelo método da citrulina (como descrito na
seção de Métodos). Cada barra representa a média ± EPM de 3-6
determinações e expressa a atividade total de cada isoforma. Para a análise
estatística foi utilizada a análise de variância de uma via (ANOVA) seguida pelo
teste ide Bonferroni. * p < 0.05 em relação aos animais controle (primeira barra
ã esquerda). Atentar para as escalas diferentes para a atividade das duas
isoformas.
6.3 Perfil Enzimático de NOS no Baço de Ratos Submetidos a
Diversos Tratamentos
O perfil enzimático das duas isoformas da NOS também foi avaliado no
baço de animais submetidos aos diversos tratamentos (Figura 3). Em relação à
NOS cálcio-independente observa-se que em animais tratados com LPS, os
níveis desta isoforma aumentaram em aproximadamente 14 vezes (Figura 3,
Painel A). Diferentemente do observado no pulmão, a administração prévia de
dexametasona aos animais tratados com LPS causou um redução discreta nos
níveis desta isoforma (cerca de 38%). Esta redução entretanto foi revertida pela
utilização de SNAP previamente ao corticóide, como descrito no protocolo
experimental.
Em relação à enzima cálcio-dependente (Figura 3, Painel B) podemos
observar claramente o efeito de indução desta isoforma nos animais que
receberam dexametasona, quando comparados ao grupo controle. Um achado
interessante é o fato de que, como esperado, o tratamento com LPS não
alterou os valores desta isoforma, mas a administração do corticóide elevou
estes níveis de forma considerável. Outro detalhe importante observado nesta
Figura é o fato da enzima dependente de cálcio ter tido seus níveis elevados
para níveis equivalentes aos da enzima independente de cálcio de animais
tratados com LPS (comparar com a barra LPS somente no Painel A).
75
76
ENZIMA CALCIO-INDEPENDENTE
ENZIMA CALCIO-DEPENDENTE
(0a> S y, TJ 5 4 '
S « 3. <D -O■g Pp
U
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PBS LPS
DEXA SNAP+DEXA+LPS
Figura 3: Perfil enzimático das NOS no baço de ratos submetidos
a diversos tratamentos. Painel A: NOS cálcio-independente e Painel B: NOS
cálcio-dependente. Ratos foram submetidos aos diversos tratamentos (como
mostrado na seção de Métodos) e 8 horas depois da injeção de LPS o baço foi
coletado e congelado à -70°C para posterior dosagem da atividade das NOS
pelo método da citrulina (como descrito na seção de Métodos). Cada barra
representa a média ± EPM de 3-6 determinações e expressa a atividade total
de cada isoforma. Para a análise estatística foi utilizada a análise de variância
de uma via (ANOVA) seguida pelo teste t de Bonferroni. * p < 0.05 em relação
aos animais controle (primeira barra à esquerda) e # p < 0.05 em relação aos
animais tratados com dexametasona + LPS (quarta barra ã esquerda). Atentar
para as escalas de atividade das duas isoformas.
6.4 Perfil Enzimático de NOS no Rim de Ratos Submetidos a
Diversos Tratamentos
No rim, o padrão de resposta aos tratamentos utilizados não foi o
mesmo observado nos órgãos anteriormente descritos. Observa-se um nível
basal da isoforma induzida que, diferente dos demais, é proporcionalmente
grande em relação aos níveis pós-LPS (Figura 4, painel A). Após aV .
administração de endotoxina observa-se uma elevação nos níveis da isoforma
cálcio-independente (em torno de 3x). Curiosamente, o pré-tratamento com a
dexametasona não reduziu o aumento causado pelo LPS. Além disso, os
animais pré-tratados com SNAP (antes da dexametasona e do LPS)
mantiveram valores aumentados (em torno de três vezes) nos níveis desta
isoforma.
Em relação aos níveis d a . enzima cálcio-dependente, nenhuma
diferença significativamente relevante foi observada entre todos os grupos.
77
78
1 . 2 5 '
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1 -S S" 0-75-
I 0.50-
^ 1 0.25J
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ENZIMA CALCIO-INDEPENDENTE
PBS LPS
ENZIMA CÁLCIO-DEPENDENTE0.4'
"(O<ü .EI % 0-3-
j 0 . 1 -
O.O'
PBS LPS
DEXA SNAP+DEXA+LPS
Figura 4: Perfil enzimático das NOS no rim de ratos submetidos a
diversos tratamentos. Painel A: NOS cálcio-independente e Painel B: NOS
cálcio-dependente. Ratos foram submetidos aos diversos tratamentos (como
mostrado na seção de Métodos) e 8 horas depois da injeção de LPS, o rim
(direito e esquerdo, foram coletados e congelados à -70°C para posterior
dosagem da atividade das NOS pelo método da citrulina (como descrito na
seção de Métodos). Cada barra representa a média ± EPM de 3-6
determinações e expressa a atividade total de cada isoforma. Para a análise
estatística foi utilizada a análise de variância de uma via (ANOVA) seguida pelo
teste ide Bonferroni. * p < 0.05 em relação aos animais controle (primeira barra
ã esquerda). Atentar para as escalas de atividade das duas isoformas.
6.5 Perfil Enzimático de NOS na Musculatura Esquelética de Ratos
Submetidos a Diversos Tratamentos.
A dosagem dos níveis das duas isoformas da NOS feitas na musculatura
esquelética mostrou um resultado interessante: ao contrário do observado nos
outros órgãos, o padrão de resposta no que se refere à sensibilidade ao
corticóide, à resposta à injeção de endotoxina e à resposta ao pré-tratamento
com o doador de NO foi encontrado na isoforma dependente de cálcio. Como
pode ser observado na Figura 5, Painel B, o tratamento com LPS elevou seus
níveis para cerca do dobro do controle, enquanto que a dexametasona inibiu
cerca de 90% do aumento causado pelo LPS. O pré-tratamento com o doador
de NO reverteu a inibição para praticamente os mesmos níveis vistos com o
tratamento com LPS. Portanto, viu-se na musculatura esquelética um perfil da
isoforma cálcio-dependente que é muito similar ao da isoforma cálcio-
independente nos outros órgãos. Finalmente, nenhum efeito significativamente
relevante foi observado para a isoforma cálcio-independente (Figura 5, painel
A).
79
80
ENZIMA CALCIO-INDEPENDENTE
ENZIMA CALCIO-DEPENDENTE
DEXA SNAP+DEXA+LPS
Figura 5: Perfil enzimático das NOS na musculatura esquelética de
ratos submetidos a diversos tratamentos. Painel A: NOS cálcio-
independente e Painel B: NOS cálcio-dependente. Ratos foram submetidos aos
diversos tratamentos (como mostrado na seção de Métodos) e 8 horas depois
da injeção de LPS o músculo rectus femoris e músculos adjacentes, como
gracilis e gluteos superficialis, foram coletados e congelados à -70°C,
considerados como uma única amostra, para posterior dosagem da atividade
das NOS pelo método da citrulina (como descrito na seção de Métodos). Cada
barra representa a média ± EPM de n determinações e expressa a atividade
total de cada isoforma. Para a análise estatística foi utilizada a análise de
variáncia de uma via (ANOVA) seguida pelo teste ide Bonferroni. * p < 0.05 em
relação aos animais controle (primeira barra à esquerda). Atentar para as
escalas de atividade das duas isoformas.
6.6 Efeito dos Diversos Tratamentos no Peso do Baço
Sendo o baço um rico tecido linfóide e tendo-se em conta o bem
documentado efeito dos glicocorticóides na indução de apoptose em linfócitos,
resolveu-se avaliar se o NO estaria interferindo com outra ação dos corticóides
que não a indução da NO sintase. Os resultados destes experimentos estão
mostrados na Figura 6. No grupo controle verifica-se que os baços
representam cerca de 0,33% do peso corporal dos animais. Nos animais
tratados somente com dexametasona, houve uma redução no tamanho do
baço em torno de 60%, confirmando nossa hipótese de que este órgão é
sensível ao aumento da concentração plasmática de corticóides. A injeção de
LPS causou um aumento de aproximadamente 1,5 vezes no peso do baço em
relação aos animais controle. A injeção prévia de dexametasona diminuiu o
efeito do LPS em torno de 40%. Os baços dos animais que foram pré-tratados
com o doador de NO e depois com dexametasona e LPS praticamente
dobraram de tamanho (0,26% para 0,49%), indicando que o efeito inibitório da
dexametasona deixou de existir. Assim, podemos observar em nosso
experimentos uma relativa diminuição do tamanho do baço em animais
tratados com dexametasona e elevação do peso deste órgão quando os
animais foram tratados com LPS e com o doador de NO.
81
82
SVQ.
Otf)0)Q.
0 . 6 -
0 .5 -
& 2- 0.3-s 8
0 .2 -
0 . 1-
0 . 0 -
PBS LPS * #
DEXA SNAP+DEXA+LPS
Figura 6; Variações no peso do baço em ratos submetidos a diversos
tratamentos. Painel A: animais injetados com salina e Painel B: animais
injetados com LPS (5 mg/kg). Ratos foram submetidos aos diversos
tratamentos (como mostrado na seção de Métodos) e 8 horas depois da
injeção de LPS os animais foram pesados, sacrificados, o baço foi retirado e
pesado em balança analítica. Os resultados estão expressos como % do peso
do baço em relação ao peso corporal de cada animal. Cada barra representa a
média ± EPM de 3-6 determinações. Para a análise estatística foi utilizada a
análise de variância de uma via (ANOVA) seguida pelo teste t de Bonferroni.
*p < 0.05 em relação aos animais tratados somente com dexametasona
(segunda barra à esquerda) e # p < 0.05 em relação aos animais tratados com
dexametasona + LPS (quarta barra à esquerda). Atentar para as escalas de
atividade das duas isoformas.
6.7 Dosagem de NOx no Soro de Animais Submetidos a Diversos
T ratamentos
O nível de NOx sérico é pouco Indicador de quais órgãos ou tecidos
estão produzindo NO. Ainda assim, como neste trabalho estamos interessados
na produção global de NO (já que muitos tecidos não analisados aqui também
contribuem para os níveis séricos de NOx), analisamos este parâmetro frente
aos diversos tratamentos (Figura 7). A quantidade de NOx no soro de animais
tratados com LPS aumentou 52 vezes, confirmando uma grande produção de
NO. A utilização prévia de dexametasona nos animais tratados com LPS levou
os níveis de NOx praticamente à zero. O SNAP, administrado antes do
corticóide, causou um retorno nos níveis de NOx equivalente aos dos animais
com LPS somente.
83
84
DEXA+LPS SNAP+DEXA+LPS
Figura 7: Níveis de NOx no soro de ratos submetidos a diversos
tratamentos. Ratos foram submetidos aos diversos tratamentos (como
mostrado na seção de iVlétodos) e 8 horas após a injeção de LPS, retirou-se 1
ml de sangue, deixou-se coagular e retirou-se o soro que foi congelado à -
70°C para posterior dosagem. Cada barra representa a média ± EPM de 3-6
determinações e está expressa em pM, calculado a partir de uma curva-padrão
de nitrato. Para a análise estatística foi utilizada a análise de variância de uma
via (ANOVA) seguida pelo teste t de Bonferroni. * p < 0.05 em relação aos
animais controle (primeira barra à esquerda).
DISCUSSÃO
7. Discussão
Hoje não resta nenhuma dúvida que o NO é um dos principais
participantes no quadro da sepse/choque séptico (Fleming eía/.,1990; Parrat et
a/.,1998; Beishuizen eía/.,1999), tanto em animais de experimentação quanto
em humanos (Tsuneyoshi et a i, 1996). É importante ressaltar que a maior
parte do NO importante no quadro séptico é originário da enzima cálcio-
independente (Stoclet et aí., 1999). Em modelos experimentais de
administração de LPS em animais ocorre a indução da expressão desta enzima
em muitos tecidos e órgãos (Knowles et a i, 1990; Salter et a i, 1991; Cunha et
a/.,1994). Este processo inicia-se 2 horas após a administração da endotoxina,
atingindo o pico máximo de atividade enzimática entre 6 e 12 horas (Knowles et
a!., 1990; Salter et a/.,1991; Cunha et a i, 1994). A indução desta enzima
também ocorre em vários outros modelos que simulam, em maior ou menor
grau, o quadro de choque séptico humano, onde também é observado um
processo de indução da enzima NOS cálcio-independente (Spack et a/.,1997).
A indução desta enzima, contudo não é exclusividade do choque séptico, mas
ocorre em uma grande variedade de outras condições da fisiologia animal e
humana, notadamente na resposta inflamatória (Nussier & Billiar, 1993). No
nosso trabalho optamos que a obtenção do material para análise fosse feita na
oitava hora após a injeção de LPS. Esta escolha deveu-se aos fatos de que a
atividade da INOS ser máxima ao redor deste tempo e também por uma
questão de conveniência, por causa dos vários tratamentos que precederam a
injeção de LPS. Dos órgãos do rato analisados no nosso trabalho, os que
melhor responderam em termos de indução da NOS após a injeção de LPS
foram o pulmão, o baço, o rim e a musculatura esquelética. O exame atento
85
dos níveis de NOS medidos em cada um deste órgãos nos permite verificar
que há uma variação muito grande entre os níveis da enzima nos diferentes
órgãos. IVlais ainda, outros órgãos, como por exemplo a aorta, simplesmente
não mostraram quantidades mensuráveis de NOS após injeção de LPS. Cunha
et al. (1994) demonstraram que a indução diferencial de iNOS em diversos
tecidos do camundongo deve-se ao efeito diferencial de TNF-a e IL-ip. Assim
é que a indução de iNOS em determinados órgãos parece ser estritamente
dependente destas citocinas, enquanto que em outros a remoção das 'mesmas
nada acarretou, indicando que outras citocinas devem ser mais importantes.
Além disso, Rees et al. (1995) tratando camundongos com a bactéria C.
parvum demonstraram que a indução da expressão de NOS ocorre inicialmente
em macrófagos e no fígado, seguida pela indução da expressão no baço, no
coração e na aorta ao longo de vários dias (30 no total) sugerindo que a
liberação sequenciada de citocinas causou a indução escalonada
temporalmente de INOS. Desta forma, é possível que os diferentes níveis de
NOS encontrados nos vários órgãos de rato após o tratamento com LPS
devam-se à uma expressão diferencial qualitativa e temporal. Outras
possibilidades também devem ser levadas em conta, tais como diferentes
níveis de receptores de LPS, abundância relativa e vida-média do mRNA da
NOS, diferentes mecanismos de transdução de sinal e de transdução gênica,
etc. que poderiam explicar estas diferenças.
Um achado bastante curioso dentro dos nossos resultados foi a indução
de uma enzima cálcio-dependente na musculatura esquelética dos ratos
tratados com LPS. Baseado na literatura, que só descreve um tipo de NOS na
musculatura esquelética, a assim chamada pNOS, considerada como uma
86
variante da nNOS específica em músculo esquelético, cremos que a atividade
detectada no nosso ensaio possa ser atribuída à esta enzima. A função
fisiológica desta enzima ainda não está bem esclarecida, porém alguns relatos
apontam efeitos do NO gerado por esta enzima no acoplamento excitação-
contração do músculo, na auto-regulação do fluxo sangüíneo, na diferenciação
de miócitos, na respiração ,e na regulação da homeostasia da glicose. A
localização e atividade da pNOS parece ser regulada por interações proteína-
proteína e por modificações co- ou pós-translacionais (para revisão ver Stamier
& Meissner, 2001). Não há relato na literatura mostrando o efeito de LPS sobre
os níveis desta enzima, mas, no caso dela realmente ter a sua expressão
aumentada pelo LPS, isto poderia explicar a caquexia observada durante o
choque séptico, decorrente da excessiva produção de NO pela |jN0S que
acabaria por interferir em todos os processos fisiológicos da musculatura
esquelética. De qualquer modo, este resultado mostra que o papel das
chamadas NOS cálcio-dependentes deve ser reavaliado no quadro de choque
séptico, por estudos analisando a expressão de mRNA destas enzimas.
Outro achado muito curioso do nosso trabalho foi o fato de que a
dexametasona também interfere por si nos níveis de NOS cálcio-dependentes.
Assim, ao analisarmos o baço dos animais tratados somente com
dexametasona, observamos que os níveis de NOS cálcio-dependente foram
maiores quando comparados aos níveis dos animais controle. O aumento na
expressão de NOS cálcio-dependente já havia sido descrita no tecido vascular
por Nishida et al. (1992) em resposta ao estresse de cisalhamento e por
Weiner et al. (1994) em resposta ao tratamento com estrogênio. Ainda não se
87
sabe o mecanismo pelo qual o corticóide exerce este efeito talvez, por aumento
da transcrição protéica, nem qual a relevância disso para a fisiologia normal.
A resposta inflamatória é um complexo processo fisiológico essencial à
manutenção da homeostasia e consequentemente para a sobrevivência de um
organismo. É bem sabido que em situações de estresse ou em resposta a
estímulos inflamatórios, o organismo aumenta os níveis de glicocorticóides
endógenos na tentativa de reajustar a homeostasia. Também é bem conhecido
o fato de que a injeção prévia de glicocorticóides inibe vários aspectos da
resposta inflamatória (onde o quadro de sepse se insere). Assim, a inibição da
indução da expressão de NOS causada por glicocorticóides, demonstrada
inicialmente por Rees et aí. (1990) e Wright et aí. (1992) foi confirmada em
nossos resultados, já que a administração prévia de dexametasona causou
forte inibição da indução de enzimas cálcio-independentes (no pulmão e no
baço) e cálcio-dependente (na musculatura esquelética) dos animais tratados
com LPS. Mais ainda, este efeito inibitório da dexametasona sobre a indução
da NOS deve ser muito mais amplo do que nós pudemos ver, já que os níveis
séricos de NOx (que espelham o total de atividade de NOS em um organismo)
também diminuem bastante em resposta ao tratamento prévio com o corticóide.
A dexametasona entretanto falhou em inibir a indução da NOS causada
pelo LPS no rim. Embora não tenhamos uma explicação clara para esta
observação, isto poderia estar relacionado á, por exemplo, uma menor
população de receptores de corticóides encontrados neste órgão. Sabendo da
importância dos hormônios e receptores mineralocorticóides na manutenção de
vários aspectos da fisiologia renal e da imensa quantidade da enzima 11-p-
hidroxiesteróide desidrogenase presente no rim, que confere á este órgão
88
nítida predileção pela ligação com mineralocorticóides, pode ser que os
glicocorticóides tenham efeitos menores no rim. Alternativamente, a ausência
do efeito da dexametasona em inibir a indução da NOS causada pelo LPS no
rim poderia ser atribuída a um aspecto hemodinâmico/farmacocinético. Como o
rim entra em falência durante um choque séptico (Sandin, 1993), pode ser que
simplesmente não haja entrada suficiente de dexametasona para ligar-se aos
seus receptores em quantidade adequada para inibir a indução da NOS. Outra
possibilidade seria que, como acima descrito, o sistema de indução da NOS no
rim fosse diferente dos demais órgãos, por depender de citocinas ou de
mecanismos de transdução distintos dos demais.
A questão central que aparece entretanto é a seguinte: se os
glicocorticóides são tão potentes em inibir a indução da iNOS e se o NO é tão
importante na fisiopatologia do choque, porque a administração de corticóides
depois da instalação da sepse falha totalmente em mudar o curso deste
quadro clínico? (Thompson, 1993; Bone,1991; Cohen & Glauser, 1991). Porque
a utilização de drogas tão eficazes como anti-inflamatórios, após a instalação
do choque séptico, não cessa a seqüência de reações que, em 50 a 70% dos
casos, acaba por matar o paciente?
O principal achado deste estudo sugere uma resposta, pelo menos
parcial, ã esta pergunta: o próprio NO produzido em excesso durante o choque
séptico interfere nos efeitos dos glicocorticóides.
Os experimentos mostrando que a administração de SNAP, um doador
de NO, efetuada antes do corticóide (simulando a excessiva produção de NO
durante o choque séptico) reverteu totalmente o efeito anti-inflamatório da
dexametasona indica, claramente, que este mecanismo deva ser operativo
89
para explicar a falha dos GC no choque séptico. Este artifício (injeção de
SNAP) possibilitou a avaliação da ação do NO sobre os efeitos do
glicocorticóide analisada sob 3 aspectos: inibição da indução de NOS,
apoptose de células linfóides do baço e níveis séricos de NOx. Em todas as
três formas de avaliação, o doador de NO mostrou-se eficaz em impedir o
efeito do glicocorticóide, ou seja, os níveis de NOS mantiveram-se elevados no
pulmão, baço e musculatura esquelética, a diminuição do tamanho do baço
(indicando apoptose de células linfóides) causado pelo glicocorticóide não
ocorreu e os níveis séricos de NOx nos animais pré-tratados com SNAP foram
os mesmos encontrados em animais injetados somente com LPS.
Um dos possíveis mecanismos pelo qual o NO interfere no efeito do
glicocorticóide foi sugerido por Galigniana et al. (1999) em estudos realizados
in vitro, demonstrando que o binding do receptor de glicocorticóide está
diminuído de forma tempo- e concentração-dependente na presença de
doadores de NO. Os autores sugerem que a razão para a perda da capacidade
do ligante de interagir com o receptor seria a nitrosilação, pelo NO, de resíduos
de cisteína críticos ao funcionamento do GR. Esta sugestão é baseada no fato
de que a incubação simultânea de doadores de NO e DTT (agente protetor de
sulfidrilas) abole o efeito do NO sobre o binding do ligante com o GR. Esta
informação é sustentada ainda pelas seguintes evidências: i) pela capacidade
que a molécula de NO tem de reagir com vários alvos intracelulares,
principalmente sulfidrilas de cisteínas (Fang, 1997); ii) que desta interação
resulta a formação de S-nitrosotióis; e que iii) em algumas circunstâncias,
através da formação de pontes dissulfeto entre duas sulfidrilas vicinais de S-
nitrosotióis (Arnelle & Stamier, 1995), pode ocorrer a mudança conformacional
90
ou a adoção de uma conformação inativa de proteínas, que resulta no
comprometimento de suas funções fisiológicas.
No entanto, como estes estudos foram realizados somente in vitro com
receptores purificados de fibroblastos de camundongos, afirmar que este seja
realmente o mecanismo pelo qual o glicocorticóide deixa de exercer suas
funções anti-inflamatórias in vivo, seria uma extrapolação perigosa sem a
demonstração cabal da ocorrência deste mecanismo durante um choque
séptico.
Nossos resultados demonstram claramente que o NO inibe a ação do
glicocorticóide in vivo. Apesar das respostas dos órgãos terem sido diferentes
entre si, o que novamente confirma a expressão diferencial qualitativa e
temporal das NOS, não resta dúvida que o SNAP causa uma nítida reversão do
efeito do glicocorticóide (inibição da indução de NOS).
Comparado aos outros tecidos estudados, o pulmão parece ser um
órgão extremamente sensível ao efeito inibitório na indução de NOS
independente de cálcio efetuado pela dexametasona. Além disso, o mecanismo
envolvido neste processo parece ser também extremamente sensível à
presença de NO, já que a administração prévia de SNAP reverteu
completamente o efeito do glicocorticóide. Estas evidências sugerem que o
receptor esteróide envolvido no processo deva ser mais sensível ao efeito de
S-nitrosilação, quando comparado aos outros órgãos, e que cisteínas críticas
ao funcionamento do receptor possam estar S-nitrosiladas. No entanto, para
confirmarmos a veracidade destas possibilidades que coincidem com as
sugestões apresentadas no estudo feito in vitro, haverá necessidade de
91
experimentos realizados in vivo abordando o estado do receptor, em termos de
densidade e afinidade pelo ligante, em nossas condições experimentais.
Uma outra situação que talvez seja análoga à nossa seria a observação,
por outros autores, de que há uma resistência a glicocorticóides em pacientes
asmáticos (Barnes, 1998). Com base nos nossos resultados e no fato de que
vários trabalhos da literatura mostram a presença de NOS cálcio-independente
em pacientes asmáticos, é tentador sugerir que o NO possa estar inativando os
receptores de glicocorticóides, contribuindo para o agravamento do quadro
asmático. Este mecanismo talvez seja mais importante do que outros sugeridos
para explicar esta resistência, tais como níveis aumentados de cortisol
circulante, interação do receptor com fatores de transcrição e diminuição no
binding do receptor de glicocorticóide por diminuição da densidade de
receptores ou afinidade pelo ligante (Barnes, 1998).
Um dos principais mecanismos pelo qual o organismo mantém a
homeostasia em situações onde o sistema imune é ativado parece ser o
antagonismo entre NF-kB e os glicocorticóides. Sinais que ativam o NF-kB
como infecções bacterianas e virais e estresse oxidativo, são interpretadas pelo
organismo como estímulos estressantes. Estes estímulos ativam o eixo HPA,
aumentando os niveis de glicocorticóide circulantes. Sabendo-se que o NF-kB
também é ativado por intermediários reativos de oxigênio e, uma vez que estes
são liberados e produzidos durante uma resposta inflamatória, a via de
ativação do NF-kB é fisiologicamente relevante em situações de estresse. A
ativação de NF-kB por ROS pode ser inibida por agentes redutores ou
seqüestradores de ROS, incluindo ditiocarbamatos e N-acetil-L-cisteína
(Schreck, et a/., 1992). Isto sugere que o estado redox da célula pode ser um
92
mecanismo geral de up-regulation da transcrição de genes responsivos ao NF-
kB. Um complicador deste tipo de análise é o fato de que o NF-kB ativa a
transcrição de genes pró- e anti-inflamatórios. Como os corticóides inibem o
funcionamento correto do NF-kB por diversos mecanismos (vide item 3.3.2 da
Introdução), a imunossupressão causada pelos glicocorticóides serve de limite
para o dano celular que pode ser iniciado por ativação excessiva do NF-kB e
da resposta imune. Na vigência de uma inibição do GR, o sistema do NF-kB
poderia funcionar sem restrição, que é o que parece acontecer quando
injetamos SNAP previamente ao GC ou o que deve estar ocorrendo in vivo na
sepse decorrente da produção excessiva do NO.
Portanto, sabendo-se que grandes quantidades de NO são liberados
durante a sepse em animais (Rees, 1995a; nossos próprios resultados) e em
humanos (Spack et a/.,1997) e com base nos resultados de Galigniana et al.,
(1999) in vitro e nos resultados do presente trabalho in vivo, sugerimos que os
glicocorticóides falham em exercer suas ações anti-inflamatórias no choque
séptico devido à elevada produção de NO. Este NO produzido in vivo poderia
causar uma diminuição no número e afinidade de receptores pelo ligante,
possivelmente por S-nitrosilação de sulfidrilas críticas. Esta hipótese nos
permite considerar a possibilidade de resgate da funcionalidade do GR por anti-
oxidantes que, ao modificar o estado de nitrosilação de sulfidrilas críticas
poderia normalizar a função do receptor e, como a mais importante
consequência, resgatar as ações dos glicocorticóides endógenos e exógenos.
Neste ponto, é interessante perguntar se valeria a pena resgatar o
receptor de glicocorticóide da inibição efetuada pelo NO. Do ponto de vista
cardiovascular a resposta é afirmativa, porque este resgate significaria a
93
inibição da indução da NOS cálcio-independente (principalmente no músculo
liso vascular) e a consequente diminuição da hipotensão generalizada, da
hiporeatividade vascular, etc. No entanto, no que se refere às funções
imunossupressoras este resgate poderia representar um enorme problema na
recuperação de pacientes sépticos, já que o efeito inibitório da expressão de
iNOS em células de defesa poderia “desarmar” estas células para a destruição
do agente infeccioso. É fácil antever as consequências deste evento para o
curso do choque séptico. Da mesma forma, o resgate do receptor de
glicocorticóide poderia causar uma imunosupressão generalizada (que é um
efeito típico destes compostos) prejudicando toda a capacidade de defesa do
organismo frente à um agente invasor. Assim, fazemos novamente a pergunta;
seria vantajoso para o organismo resgatar os efeitos dos glicocorticóides no
choque séptico? Achamos que a resposta ainda pode ser sim, desde que
saibamos mais detalhadamente as consequências da inativação do receptores
pelo NO sobre todas as ações do corticóides, e não somente na sua ação
sobre a indução da iNOS. Neste sentido, é possível que efeitos deletérios
induzidos pelo resgate do receptor em alguns sítios possam ser compensados
por efeitos benéficos em outras células, tecidos ou sistemas. É importante
lembrar que no choque séptico, o organismo aumenta muito os níveis de
corticóides plasmáticos, talvez significando que as ações decorrentes disso
seriam benéficas para o hospedeiro, não fosse a interferência do NO com os
receptores destes compostos. Enfim, as respostas para estas perguntas
somente virão com a realização de mais pesquisas neste fascinante assunto.
94
CONCLUSÕES
8. Conclusões
Os resultados aqui apresentados demonstram que:
a administração de LPS em ratos induz a maior expressão de NOS cálcio-
independente no pulmão, no baço e no rim e aumento dos níveis séricos de
NOx;
a administração de LPS em ratos leva à expressão de NOS cálcio-
dependente na musculatura esquelética;
a injeção prévia de dexametasona inibe o aumento dos níveis de NOS
induzidos pelo LPS no pulmão, no baço e na musculatura esquelética, mas não
no rim além de diminuir os níveis séricos de NOx e causar redução no tamanho
do baço;
o pré-tratamento com SNAP de animais injetados com dexametasona +
LPS reverte o efeito de inibição da indução de NOS causado pelo corticóide em
todos os órgãos estudados, iguala os níveis de NOx aos valores encontrados
em animais tratados somente com LPS e inibe o efeito de apoptose de células
linfóides no baço;
Estes achados sugerem que:
o NO bloqueia in vivo o efeito de inibição da indução de NOS da
dexametasona provavelmente através da inativação do receptor de
glicocorticóide;
se esta inibição do efeito do glicocorticóide causada pelo NO for devida à
nitrosilação de sulfidrilas in vivo, em princípio ela poderia ser revertida pela
utilização de anti-oxidantes que resgatariam o receptor deficiente de volta às
suas funções normais.
95
REFERENCIASBIBLIOGRÁFICAS
9. Referências Bibliográficas
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