EDUCAÇÃO POSTURAL NA ESCOLA

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EDUCAÇÃO POSTURAL NA ESCOLA; UMA ABORDAGEM INTEGRADORA DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE 1 Jaqueline Maria Schiffl Biava 2 Dartel Ferrari de Lima RESUMO: Para manter o equilíbrio do corpo humano e para funcionar com o melhor esforço muscular possível é necessário que o indivíduo tenha uma boa postura corporal, que, por vez, depende da fase desenvolvimento músculo-esquelético em esse indivíduo se encontra. Alguns desvios posturais formados na infância podem acentuar na adolescência e causar sérios transtornos durante a vida adulta. Este estudo teve como objetivo principal conhecer as alterações posturais mais recorrentes e os fatores de risco que contribuem para a postura inadequada entre os escolares da Escola Estadual Telmo Octávio Müller da cidade de Marmeleiro – PR. Para tantol, usou-se o modelo de instrumento sugerido por Liposki, Rosa Neto e Savall (2007) para avaliar 108 escolares, sendo 43 do gênero masculino e 65 do gênero feminino, durante as aulas de Educação Física. Dentre os avaliados, 54,63% não apresentaram indícios de alterações posturais e 45,37% apresentaram um ou mais desvio. Os resultados, dentre os que apresentaram alterações posturais no plano frontal, prevaleceram as alterações nos segmentos da cabeça, ombros e escápulas, tanto em meninas como em meninos. Verificou-se acentuada ocorrência de escoliose. Os resultados serviram de base para que se pudesse embasar o desenvolvido um trabalho com a comunidade escolar, envolvendo educadores, pais e alunos para a sensibilização da necessidade de se estabelecer conduta preventiva da postura corporal no âmbito escolar, cumprindo proposta do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE de executar ações de implementação efetivas nas escolas do estado do Paraná. Palavras-chave: Postura corporal; PDE; Educação Física escolar. 1 Licenciada em Educação Física. Professora da Escola Estadual Telmo Octário Muller de Marmeleiro – PR. Endereço eletrônico: <[email protected]>. 2 Mestre em Ciências – Professor do CCHEL – UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon – PR – Membro do Grupo de Pesquisa em Saúde Coletiva. Endereço eletrônico: <[email protected]>.

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EDUCAÇÃO POSTURAL NA ESCOLA; UMA ABORDAGEM INTEGRADORA DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

1Jaqueline Maria Schiffl Biava2Dartel Ferrari de Lima

RESUMO: Para manter o equilíbrio do corpo humano e para funcionar com o melhor esforço muscular possível é necessário que o indivíduo tenha uma boa postura corporal, que, por vez, depende da fase desenvolvimento músculo-esquelético em esse indivíduo se encontra. Alguns desvios posturais formados na infância podem acentuar na adolescência e causar sérios transtornos durante a vida adulta. Este estudo teve como objetivo principal conhecer as alterações posturais mais recorrentes e os fatores de risco que contribuem para a postura inadequada entre os escolares da Escola Estadual Telmo Octávio Müller da cidade de Marmeleiro – PR. Para tantol, usou-se o modelo de instrumento sugerido por Liposki, Rosa Neto e Savall (2007) para avaliar 108 escolares, sendo 43 do gênero masculino e 65 do gênero feminino, durante as aulas de Educação Física. Dentre os avaliados, 54,63% não apresentaram indícios de alterações posturais e 45,37% apresentaram um ou mais desvio. Os resultados, dentre os que apresentaram alterações posturais no plano frontal, prevaleceram as alterações nos segmentos da cabeça, ombros e escápulas, tanto em meninas como em meninos. Verificou-se acentuada ocorrência de escoliose. Os resultados serviram de base para que se pudesse embasar o desenvolvido um trabalho com a comunidade escolar, envolvendo educadores, pais e alunos para a sensibilização da necessidade de se estabelecer conduta preventiva da postura corporal no âmbito escolar, cumprindo proposta do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE de executar ações de implementação efetivas nas escolas do estado do Paraná.

Palavras-chave: Postura corporal; PDE; Educação Física escolar.

1 Licenciada em Educação Física. Professora da Escola Estadual Telmo Octário Muller de Marmeleiro – PR. Endereço eletrônico: <[email protected]>.

2 Mestre em Ciências – Professor do CCHEL – UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon – PR – Membro do Grupo de Pesquisa em Saúde Coletiva. Endereço eletrônico: <[email protected]>.

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RESUMEN: Para mantener el equilibrio del cuerpo humano y trabajar con el esfuerzo de músculo lo mejor posible es necesario que una persona tiene una buena postura de cuerpo, qué a su vez depende de la fase de desarrollo en el músculo esquelético de que tipo es. Algunas desviaciones posturales adquiridos en la infancia puede agravarse durante la adolescencia y causar trastornos graves en la edad adulta. Este estudio tuvo ya que objetivo determinar los cambios posturales más frecuentes y los factores de riesgo que contribuyen a una mala postura entre los alumnos de la escuela estatal Telmo Octavio Müller ciudad Marmeleiro - PR. Para tantol, utilizó el modelo de instrumento propuesto por Liposki, Rosa Neto y Savall (2007) para evaluar los 108 estudiantes que fueron 43 varones y 65 mujeres, durante las clases de educación física. Entre los evaluados, 54,63% no tenían evidencia de los cambios posturales y 45,37% tenían uno o más de diversión. Los resultados, entre los que presentaron alteraciones posturales en el plano frontal, prevalecieron los cambios en los segmentos de la cabeza, los hombros y los omóplatos, en las niñas y los niños. Había presencia marcada de la escoliosis. Los resultados sirvieron de base para que podría proponer el trabajo con la comunidad escolar, la participación de profesores, padres y estudiantes para crear conciencia de la necesidad de establecer la postura conducta preventiva en la escuela, que sirve el proyecto de Programa de Desarrollo Educativo -- PDE de la ejecución de la aplicación efectiva en las escuelas en el estado de Paraná.

Palabras clave: Postura corporal, PDE, La Educación Física

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INTRODUÇÃO

Com as inovações tecnológicas no campo da informação, com o surgimento

dos jogos na internet e vídeos-game, cada vez mais crianças e adolescentes

passam a maior parte do tempo em frente do computador ou da televisão, mantendo

uma postura corporal, geralmente inadequada.

Essa falta de atividade física regular, uso inadequado de mobiliário e

mochilas escolares excessivamente pesadas, associados à má postura corporal

tanto estática como dinâmica, são situações potenciais que podem desencadear

alterações na postura corporal, que se relacionam com o aparecimento de inúmeras

alterações na coluna vertebral, comprometendo as condições de saúde das crianças

e dos adolescentes na fase escolar.

Os problemas posturais começam cedo e se estendem pela adolescência e

vida adulta, sendo, no entanto, as crianças são mais suscetíveis aos

desalinhamentos, pois se encontram em período de crescimento e de acomodação

das estruturas anatômicas. Como afirma Verderi (2003), uma criança sem

orientação pode adquirir vícios de postura, principalmente no manuseio de materiais

escolares e nas atividades do cotidiano.

No período pubertário, a coluna vertebral cresce mais rapidamente que os

membros e nem sempre músculos e tendões acompanham o crescimento ósseo.

Em função da desarmonia do crescimento, o adolescente demora a se acomodar

com seu “novo corpo” e para construir uma nova identidade corpórea. Nessa fase é

comum a ocorrência de postura inadequada.

Pinto e Lópes (2001) afirmam que uma boa auto-imagem corporal fortalece as

relações sociais dos seres humanos entre si, e, por isto mesmo, possibilita efetivas

interações de crianças e adolescentes entre seus pares e com os indivíduos adultos;

ao contrário, uma auto-imagem corporal desfavorável acarreta uma série de

desajustes psicossociais.

Então, os autores complementam ao afirmar que, se uma boa auto-imagem

corporal depende da postura corporal, sendo esta um hábito que o indivíduo adquire

com o passar dos anos e que não se limita apenas as posições eretas e sentadas,

identificar e corrigir desvios posturais em crianças e adolescentes é de suma

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importância, não apenas para o momento presente, mas, principalmente, para o

alinhamento do padrão psicossocial desse indivíduo quando adulto.

Na compreensão desses desalinhamentos posturais e de suas conseqüências

no tempo presente e futuro, encontrou-se concordância com os achados de Schmidt

e Bankoff (2000), onde propõem que as alterações posturais são problemas

relacionados com a inadequada integração proprioceptiva do esquema corporal de

cada indivíduo, visto que, a consciência do corpo no espaço, a percepção corporal e

a relação existente entre corpo e ambiente estão intimamente ligadas aos sentidos

que, por vez, precisam estar habilitados para desencadear uma percepção sensório-

motora capaz de ajustar, quando necessário, o equilíbrio musculoesquelético das

estruturas do corpo independentemente da posição se estática ou dinâmica.

É, pois, nesta direção que deve caminhar a intervenção postural preventiva no

ambiente escolar, que, sobretudo, se constitui em um espaço multidisciplinar,

privilegiado para propiciar ao aluno a oportunidade de conhecer, refletir e

transformar a visão de seu próprio corpo a fim de adotar uma postura correta,

reconhecendo-a como a melhor maneira de minimizar o esforço pelo qual o corpo é

submetido nas atividades diárias.

Nesse espaço escolar, a Educação Física como disciplina da matriz curricular,

deve oferecer sua contribuição em: avaliar, discutir, prevenir, intervir e alertar a

sociedade sobre os problemas posturais de crianças e adolescentes na fase escolar,

lembrando sempre, que os distúrbios, sobretudo, são potencializados por hábitos

inadequados gerados pelo uso inadequado das novas tecnológicas.

No que refere a ações educativas e preventivas que favoreçam o perfeito

desenvolvimento físico e motor de crianças e adolescentes em fase de crescimento,

verifica-se que o ambiente escolar, ainda, representa uma área de atuação pouco

explorada e, por isto mesmo, abre espaços para momentos de investigação,

discussões, reflexões, sensibilização e conscientização de educadores, pais,

professores e alunos sobre os diversos fatores que interferem no desenvolvimento

normal da postura corporal de escolares. Mas, é preciso conhecer a realidade

vivenciada no cotidiano escolar para que as ações propostas sejam estimuladoras e

capazes de incentivar a adoção de uma nova postura corporal.

A Escola Estadual Telmo Octávio Müller – Ensino Fundamental, de

Marmeleiro – PR, serviu de espaço para a realização das ações previstas no plano

de trabalho docente desta autora como professora PDE no Programa de

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Desenvolvimento Educacional – PDE, sob o título de “Educação Postural na Escola”,

como em tantas outras instituições da rede pública estadual do ensino fundamental

– séries finais, facilmente se pode observar adolescentes com sérios problemas

posturais. Muitos dessas inadequações posturais parecem ser extensões de

comportamentos vividos em família ou no grupo sócio-comunitário do no qual o

estudante está inserido.

Nessa perspectiva surgiu o despertar e o estímulo para a realização deste

estudo, que visou conhecer as alterações posturais mais recorrentes e identificar os

fatores que contribuem para a postura corporal inadequada entre os estudantes da

Escola Estadual Telmo Octávio Müller de Marmeleiro no estado do Paraná.

A partir desse conhecimento, foi possível propor um programa de ação

educativa em relação à postura corporal, a ser desenvolvido por meio da ação

conjunta – escola e comunidade –, visando o desenvolvimento de ações preventivas

aplicadas em casa, na escola e na comunidade, cuja intenção não foi em limitar as

atividades funcionais dos estudantes, mas sim, construir uma nova perspectiva de

postura corporal que permite a realização de atividades cotidianas próprias da fase

escolar, possibilitando às crianças e os adolescentes um desenvolvimento físico-

motor mais harmônico.

POSTURA CORPORAL: ALGUMAS REFLEXÕES

A Organização Mundial de Saúde (WHO, 2009) define a postura corporal

como sendo: as condições posturais ligadas a todo um conceito psíquico-morfo-

funcional de um indivíduo.

Definindo postura, Tribastone (2001, p. 21) defende que é “[...] a posição

otimizada, mantida com característica automática e espontânea, de um organismo

em perfeita harmonia com a força gravitacional e predisposto a passar do estado de

repouso ao estado de movimento”.

Uma boa postura corporal, conforme Carnaval (2004) é aquela em que o

indivíduo, em posição ortostática exige pequeno esforço da musculatura e dos

ligamentos para se manter nessa posição. Assim ele encontra o melhor equilíbrio

ortostático.

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A saúde e o bem-estar do ser humano têm correlação com a postura corporal,

especialmente em crianças e adolescentes, cuja postura assumida poderá seguir

para a vida adulta. As proporções do corpo humano, gradualmente, atingem a forma

definida para o indivíduo adulto. O crescimento é maior no início da infância, diminui

até o começo da adolescência, voltando a acelerar no período pubertário. Observa-

se que o crescimento das várias epífises ósseas se desenvolve de maneira variável.

No membro superior, ombro e punho, e o joelho no inferior, são as epífises que

apresentam crescimento mais rápido. Na faixa etária dos sete aos doze anos de

idade, ou seja, no início e durante a primeira fase do período escolar, ocorre uma

busca pelo equilíbrio das proporções do corpo, quando os padrões adequados ou

inadequados de postura e movimento delineados na infância, começam a ser

determinados e se tornam habituais na adolescência.

Maini e Beresford (2000) defendem que é nessa fase que mais facilmente são

evidenciadas transformações posturais inadequadas, que aceleram o processo de

degeneração do sistema músculo-esquelético, o que, invariavelmente, pode levar a

uma predisposição para afecções da coluna vertebral no adulto, manifestadas por

quadros álgicos.

Pinto e Lópes (2001) e Perez (2002) também apontam que as alterações

corridas nessa fase, geralmente relacionadas com a coluna vertebral, causadas por

traumatismos, fatores emocionais, socioculturais e de ordem hereditária, aos

poucos, se integram ao modo de agir das pessoas, levando, com o tempo, a

consequências inesperadas.

Moffat e Vickery (2002 apud Liposchi, Rosa Neto e Savall, 2007) diferenciam

postural corporal correta de incorreta. “[...] postura correta mantém o esforço total

em seu mínimo, distribuindo-o para as estruturas mais aptas a suportá-lo, enquanto

que a ‘má postura’ apresenta efeito oposto, aumentando o estresse total e

distribuindo-o para estruturas menos capazes de suportá-lo.

Braccilalli (2000) esclarece o significado de postura corporal adequada, que

consiste em uma relação estável entre o sujeito e o meio, resultando em uma

estabilização espacial. Porém, mais do que um ato mecânico-espacial, a postura

corporal está intimamente ligada à auto-imagem que o próprio adolescente constrói

sobre seu corpo; é uma das experiências básicas na vida de todos os seres

humanos e, também, é um dos pontos fundamentais da experiência vital do

adolescente na construção de seu futuro mundo adulto.

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Na concepção de Pinto e Lópes (2001), manter uma boa postura corporal é,

sobretudo, manter constante um estado de equilíbrio musculoesquelético que seja

capaz de proteger as estruturas de suporte corporal contra lesões ou deformidades

em qualquer posição que tais estruturas estejam. Inexistindo a manutenção desse

estado de equilíbrio surgem desvios posturais.

Magee (2002) afirma que as alterações na coluna vertebral estão ligadas ao

aumento de suas curvaturas fisiológicas ou ao aparecimento de curvaturas laterais

(escoliose). Os desvios posturais mais freqüentes são: cabeça inclinada, com

rotação, elevação, depressão, protusão e retração dos ombros, abdução ou adução

escapular, inclinação, rotação, anteversão e retroversão da cintura pélvica, valgo,

varo, hiperextenso e flexo nos joelhos e, valgo varo e equinismo nos pés.

Conforme a autora, este tipo de postura é facilmente observada em pessoas

que permanecem de pé ou sentada por longo período, o que favorece o

desequilíbrio muscular, ocasionando em na cronicidade, distúrbios dolorosos,

alterações nas condições respiratórias e nas emoções expressas em atitudes

corporais.

Vários fatores podem interferir na postura corporal do adolescente, entre os

mais comuns apresenta: hábitos errados de postura, hereditariedade, traumatismo,

doenças inflamatórias, enfermidades musculoesqueléticas, debilidade muscular ou

neural, estresse, desnutrição, roupas inadequadas, sobrepeso e obesidade.

Tribastone (2001) afirma que o tônus muscular é o principal fator da mantenedor da

postura corporal. Porém, este não se constitui somente na base da acomodação

postural, antes, também representa uma expressão de emoções e movimentos ou

atitudes de cada ser humano em particular.

Santin (1988 apud Venâncio, 2007) afirma que antes mesmo de um estudo ou

conhecimento mais aprofundado sobre o corpo e sua constituição anatômica e

fisiológica, cada indivíduo passa a construir paulatinamente sua imagem corporal a

partir de experiências vividas no seu cotidiano. Historicamente, antes do

desenvolvimento do pensamento lógico racional e de ações experimentais

cientificizadas, o homem já realizava a experiência existencial do corpo; forma

simples, mas crucial para a sobrevivência da espécie. Ainda, hoje essa experiência

vem manifestada por meio de muitas atitudes de crianças, jovens, adultos e idosos

que, sobretudo, refletem o desejo de modificação da relação espacial com seu

modelo postural ou esquema do corpo. Objetos de uso pessoal, roupas, penteados,

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formas de andar, de dança ou qualquer nova maneira adotada, alteram

objetivamente a imagem corporal, bem como a higiene pessoal.

Conforme Schilder (1999) entende-se por imagem do corpo humano a

figuração de nosso corpo formada em nossa mente, ou seja, o modo pelo qual o

corpo se apresenta para nós. Porquanto, a imagem corporal se constitui em uma

forma subjetivada de como a tridimensionalidade do corpo é percebida por cada

pessoa. Mas, a imagem corporal é também uma imagem social porque está sempre

acompanhada pela imagem corporal do outro.

Na compreensão de Santin (1988 apud Venâncio, 2007) e Schilder (1999),

sendo pessoal e social, a imagem corporal que o ser humano forma sobre si mesmo

é uma imagem dinâmica e mutável, construída no contexto sociocultural.

Então, o corpo do ser humano transforma-se em um palco de imagens

corporais construídas (BARROS, 2005).

METODOLOGIA DE TRABALHO

Para alcançar o objetivo deste estudo, usou-se uma metodologia simples,

basicamente centrada em uma pesquisa de campo, do tipo descritivo-exploratória,

com abordagem quali-quantitativa, de acordo com o modelo teorizado por Costa e

Barreto (2003).

A população da pesquisa de campo envolveu 412 estudantes matriculados e

freqüentes na Escola Estadual Telmo Octávio Müller e a amostra foi constituída por

108 escolares da 7a série do Ensino Fundamental, na faixa etária entre 12 e 14 anos

de idade.

Na coleta de dados, usou-se o instrumento de avaliação postural (IAP)

desenvolvido por Liposcki, Rosa Neto e Savall (2007) para avaliar a postura corporal

dos escolares e a técnica de entrevista semi-estruturada visando atingir os seguintes

propósitos: obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido de pais ou

responsáveis pelos estudantes menores e a auto-avaliação dos escolares

participantes desta investigação, sobre as suas concepções de posturas corporais e

seus hábitos e práticas regulares de atividades físicas. Para a comparação dos

segmentos corporais e simultaneamente a verificação das alterações anatômicas,

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utilizou-se uma câmara fotográfica Olympus (5.1 megapixels), fita métrica flexível e o

software Sapo® (versão 0,68 julho/2007) para avaliação postural e análise das fotos,

seguindo-se o protocolo de analise de Carnaval (2004).

Nos procedimentos de coleta de dados, o trabalho exploratório com os

escolares foi realizado em duas etapas. A primeira, constituída por entrevistas para

investigar se o estudante, através de auto-avaliação, considerava ser portador de

alguma inadequação postural e para conhecer os seus hábitos de atividades físicas.

A segunda etapa, formada pela coleta de dados, utilizou-se de um simetrógrafo de

plástico com painel quadriculado, instrumento de avaliação postural (IAP) de

Liposcki, Rosa Neto e Savall (2007).

Nessa segunda etapa, os escolares foram fotografados na posição ortostática

a uma distância de três metros, com a câmera posicionada a uma altura de 90

centímetros (cm), nas seguintes vistas: anterior, posterior e lateral, em seguida, as

fotos foram analisadas no computador por meio do software Sapo®.

No momento da avaliação postural, ocorrido durante as aulas de Educação

Física, as meninas, em posição ortostática, vestiram short ou bermudas e top e, os

meninos, short ou calção confortável para facilitar a visualização da postura corporal,

comparação dos segmentos corporais e simultaneamente a verificação de possíveis

alterações anatômicas como rotações, inclinações, simetrias e outras inadequações

posturais. O grupo foi submetido a análise de observação visual, pelo método

avaliativo na posição de pé simétrica, vista frontal, posterior e lateral...

Os instrumentos auxiliares como o simetrógrafo e a câmara fotográfica se

apresentaram como importantes para a análise das variáveis referentes aos desvios

posturais investigados seguindo-se a proposição do instrumento de avaliação

postural, tais como: inclinação lateral da cabeça, elevação, depressão, retração e

protusão dos ombros, inclinação lateral do quadril, joelhos valgos, varos, flexos ou

hiperextenso, pés valgos, varos, convergentes e abdutos, e alterações da coluna

vertebral hipercifose, hiperlordose cervical e lombar e as escolioses.

Os dados coletados foram dispostos em planilhas eletrônicas e a análise

realizada por meio de técnica de estatística com o auxílio do software Excel 2002

para Microsoft Windows®.

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TRABALHO DE SENSIBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE ESCOLAR

A partir do pressuposto defendido por Moffat e Vickery (2002 apud Liposchi,

Rosa Neto e Savall, 2007), de que para a garantia de um programa de prevenção se

faz necessário mediante um trabalho educacional que enfatize a postura corporal

como elemento da identidade particular de cada pessoa, uma das primeiras ações

deve ser a mudança de concepções de educadores, pais e alunos sobre os

significados da postura corporal, ou seja, do modelo postural adotado pelo indivíduo.

Neste sentido se firmou a realização do projeto PDE – Educação Postural na Escola,

implementado por esta professora PDE no ano de 2008, abrindo espaços para

reflexões, sensibilização e ampliação de conhecimentos sobre a realidade

vivenciada na Escola Estadual Telmo Octávio Müller, de Marmeleiro – PR.

Esta abordagem compôs a essência da unidade didática sobre educação

postural, elaborado no segundo semestre de 2008 e disponibilizado em forma de

DVD para os alunos e para os professores da referida escola, durante as ações

programas para a implementação do Projeto PDE– Educação Postural na Escola –

realizado no primeiro semestre de 2009.

Na implementação do projeto PDE as práticas e as ações interdisciplinares

alcançaram docentes de diferentes áreas do conhecimento humano, com o objetivo

de: (a) estabelecer momentos de trocas e de reflexões sobre os significados e

conseqüências que a má postura corporal pode trazer para o desenvolvimento físico

e cognitivo do adolescente; (b) estimular os docentes para a colaboração com o

programa de educação postural na escola; (c) oportunizar a aquisição de

fundamentos teóricos sobre o tema em pauta e; (d) colher subsídios para a

organização e difusão na comunidade escolar dos objetivos e propósitos do

programa de educação corporal na escola.

Durante os encontros com educadores, pais e estudantes foram pautadas

diferentes abordagens referentes à educação postural, apontado conceitos básicos

de anatomia e biomecânica da coluna vertebral, influência exercida pelo meio

ambiente nas atividades e hábitos desenvolvidos e adotados pelos indivíduos dentre

outros temas, por meio de palestras em parceria com uma profissional

fisioterapeuta, aulas expositivas, apresentação do material didático-pedagógico

anteriormente elaborado em DVD, debates, coleta de sugestões e avaliações dos

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momentos de intervenção. Nessas atividades, também foi possível contar com a

participação e colaboração de sete professores do Grupo de Trabalho em Rede

(GTR) que contribuíram com suas experiências pedagógicas.

No material didático-pedagógico, gravado em DVD, foram apresentados

esclarecimentos sobre postura corporal; dicas para manter a postura

adequadamente equilibrada; flagrantes de posturas incorretas ou inadequadas;

orientações quanto ao modo de sentar-se em frente ao computador, à televisão e

para ler, além do modo de andar, deitar, ficar ereto e, finalmente, dicas sobre formas

adequadas de como apanhar e carregar objetos ou mochilas escolares para evitar

sobrepeso na coluna vertebral.

Paralelamente, isto é, no primeiro semestre de 2009, após trabalho de

sensibilização dos educadores, em colaboração com professores, direção e equipe

pedagógica, as ações orientadas para contribuir com a melhoria da postura corporal

dos escolares foram: engajamento dos professores na luta por uma boa postura

corporal dos estudantes em ambientes escolar durante as aulas das diferentes

disciplinas da matriz curricular; reelaboração de horários escolares, com distribuição

adequada de aulas diárias para evitar o acúmulo de materiais didáticos em um

mesmo dia, visando um redimensionamento do peso das mochilas carregadas pelos

escolares; desenvolvimento de um trabalho específico com os escolares, durante as

aulas de Educação Física, com enfoque em atividades físicas voltadas a exercícios

de alongamento, respiratórios e de relaxamento.

Neste período, houve a divulgação do projeto PDE – Educação Postural na

Escola – entre a comunidade escolar, através de reuniões, palestras, projeção de

vídeos, e nota no jornal da Escola – TOM da HORA –, buscando a sensibilização de

pais sobre os problemas posturais dos adolescentes, indicação de dicas e métodos

preventivos e, por fim, obtenção da autorização para que seus respectivos filhos

participassem da avaliação postural.

Resultante desta investida de sensibilização junto aos pais, reuniram-se cento

e oito termos de consentimento livre e esclarecido, devidamente assinados pelos

alunos e seus respectivos pais ou responsáveis. Esses escolares, quarenta e três do

gênero masculino e sessenta e cinco do gênero feminino, compuseram a amostra da

pesquisa exploratória sobre avaliação postural.

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RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

A amostra foi composta por 108 estudantes da Escola Estadual Telmo

Octávio Müller, devidamente matriculados e freqüentes, sendo 43 do gênero

masculino e 65 do gênero feminino. Em termos percentuais, a participação das

meninas equivaleu a 60,19% do total da amostra e dos meninos representou

39,81%.

Na análise das idades dos escolares participantes do estudo, constatou-se

que 55,56%, se encontram na faixa etária dos 13 anos de idade; 24,07% na faixa

etária dos 14 anos de idade e; 20,37% tinham 12 anos de idade.

As informações coletadas nas entrevistas, referente à auto-avaliação de cada

escolar sobre sua percepção da existência de possíveis desvios posturais, indicam

que 80,56% do total de participantes afirmaram não possuir nenhum tipo de

alteração postural; 11,11% optaram pela indicação de que não sabem opinar sobre o

assunto e apenas, 8,33% reconheceram possuir algum tipo de alteração postural.

Na investigação sobre a prática de atividades físicas, se ofertou aos escolares

4 opções de respostas, verificando-se que a prática de atividades físicas realizada

duas vezes por semana reuniu a maior concentração de escolares (45,37%), em

seguida, a opção pela prática com freqüência superior a duas vezes por semana

obteve 26,85%. Chamou a atenção que, 22,22% dos escolares investigados

praticam atividades físicas somente durante as aulas de Educação Físicas e outros

5,56%, não praticam nenhum tipo de atividade física, sendo, portanto, não partícipes

das atividades programadas pela educação física.

Na avaliação dos escolares participantes da investigação, constatou-se que

49 deles apresentam algum tipo de desvio postural que, em geral, está associado a

um ou mais desvios e, 59 alunos (54,63%) não apresentam nenhum tipo de

alteração postural visível. A constatação de que 45,37% do total da amostra

apresentou um ou mais tipos de desvios posturais associados atribui grande

importância para o desencadeamento de ações preventivas.

O resultado obtido através do Instrumento da Avaliação Postural (IAP),

primeiramente, foi verificado a frequência das alterações posturais observadas pela

vista anterior, envolvendo apenas os escolares com indícios de um ou mais tipos de

desvios posturais associados.

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Considerando-se que em um mesmo avaliado se encontrou um ou mais

desvio postural associado, verificou-se que dentre os 49 (quarenta e nove) escolares

avaliados foram observadas 182 (cento e oitenta e duas) ocorrências de alterações.

Como demonstrado na Tabela 1, constatou-se que a elevação do ombro

esquerdo (24,75%) foi a mais freqüente ocorrência, seguida pela cabeça inclinada à

direita (18,13%) e elevação no ombro direito. Não se observou alterações na rotação

esquerda do tronco, na crista ilíaca assimétrica direita, na rotação interna do quadril

esquerdo e genovaro esquerdo e direito.

Tabela 1 – Ocorrências das alterações posturais, vista anterior

Alteração postural observada Ocorrência (%)Cabeça inclinada à direita 33 18,13Cabeça inclinada à esquerda 8 4,40Elevação do ombro esquerdo 45 24,73Elevação do ombro direito 21 11,54Triângulo de Thales assimétrico esquerdo 10 5,49Triângulo de Thales assimétrico direito 17 9,34Tronco em rotação à direita 6 3,30Tronco em rotação à esquerda 0 0Crista ilíaca assimétrica esquerda 4 2,20Crista ilíaca assimétrica direita 0 0Rotação interna do quadril esquerdo 0 0Rotação interna do quadril direito 2 1,10Genovalgo esquerdo 18 9,89Genovalgo direito 18 9,89Genovaro esquerdo 0 0Genovaro direito 0 0

Na investigação sobre as alterações posturais na vista lateral, observou-se

valor absoluto de 141 ocorrências, sendo que os resultados aparecem registrados

na Tabela 2.

As alterações constatadas com maiores freqüências e respectivas

percentagens foram: 41 ocorrências da cabeça projetada para frente (29,08%); 37

ocorrências de ombros protusos (26,24%); 31 ocorrências de coluna cervical

hiperlordose (21,99%); 16 ocorrências de coluna torácica hipecifoce (11,53%); 8

ocorrências de joelho genorecurvado (5,67%) e 6 ocorrências de coluna lombar

hiperlordose (4,26%). Não se observou cabeça projetada para trás, coluna cervical

retificação, coluna torácica retificação, coluna lombar retificação, cintura pélvica

antiversão e retroversão e joelho genoflexo.

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Tabela 2 – Ocorrências das alterações posturais, vista lateral

Alteração postural observada Ocorrência (%)Cabeça projetada para frente 41 29,08Cabeça projetada para trás 0 0Ombros protusos 37 26,24Ombros retraídos 2 1,42Coluna cervical hiperlordótica 31 21,99Coluna cervical retificação 0 0Coluna torácica hipecifótica 16 11,35Coluna torácica retificação 0 0Coluna lombar hiperlordótica 6 4,26Coluna lombar retificação 0 0Cintura pélvica em antiversão 0 0Cintura pélvica em retroversão 0 0Joelho genorrecurvado 8 5,67Joelho genoflexo 0 0

As alterações posturais nas escápulas esquerda e direita e na coluna

vertebral, sob visão posterior, indicaram prevalência inferior quando comparada aos

tipos de desvios anteriormente apresentados na vista lateral.

A Tabela 3 apresenta a distribuição do valor absoluto de ocorrências (25) e

respectivas percentagens, verificou-se que 24% das ocorrências são alterações na

escápula alada esquerda e 28% na direita; 8% na escápula retraída esquerda e 4%

na direita. Na coluna vertebral foi constatada escoliose “S” em 36% das ocorrências

entre os avaliados portadores de alterações posturais, não sendo observada

escoliose “S” invertida ou escoliose “C”, nem alterações nas pregas glúteas

assimétricas tanto na esquerda como na direita.

Tabela 3– Ocorrências das alterações posturais, visão posterior

Alteração postural observada Ocorrência (%)ESCÁPULAS

Escápula alada esquerda 6 24Escápula alada direita 7 28Escápula retraída esquerda 2 8Escápula retraída direita 1 4

COLUNA VERTEBRALEscoliose "S" 9 36

As avaliações posturais nos pés aparecem registradas na Tabela 4, com valor

absoluto de ocorrências (96) e respectivas percentagens, constatando-se maior

prevalência de alterações posturais no pé direito e esquerdo do tipo plano (29,17%)

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e no pé direito tipo cavo (29,17%). Alterações nos pés direito do tipo varo (3,13%) e

esquerdo valgo (9,38%), apresentaram-se em percentagens inferiores. Não se

observou alterações no pé esquerdo do tipo cavo e varo.

Tabela 4– Ocorrências das alterações posturais nos pésAlteração postural observada Ocorrência (%)

Direito plano 28 29,17Direito cavo 28 29,17Direito varo 3 3,13Esquerdo plano 28 29,17Esquerdo valgo 9 9,38

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

Os resultados encontrados entre os escolares participantes da presente

pesquisa se tornam preocupantes, considerando-se que 45,37% do total da amostra

apresentaram algum desvio postural. Estes resultados, no entanto, são

concordantes com outros estudos nacionais em que os escolares com sinais de

desvios posturais, mesmo com o uso de método avaliativos diferentes (Kendall ou

Portland State University, por exemplos), constituíram grupos com índices inferiores

ou iguais a 50% do total das respectivas amostras (ROSA NETO, 1991; CORREA,

PEREIRA e SILVA, 2005; PENHA et al., 2005; LONGO e DEPRÁ, 2008),

Contudo, são discordantes com outros estudos realizados com escolares

brasileiros, que apontaram índices maiores que 50% das respectivas amostras para

pelo menos uma alteração postural (OLIVEIRA et al., 1998; SCHMIDT e BANKOFF,

2000; CARENZI et al.,2004; LOTICI, 2005; LIMA, 2006; BACK, 2006; DETSCH et

al., 2007; SANTOS et al.,2009).

Alguns destes mencionados estudos serviram de base para análise dos

resultados alcançados na presente pesquisa, quando se verificou, no plano frontal,

visão anterior e posterior, desalinhamentos de ombros que totalizaram 36,26%

(elevação no direito = 24,72% e no esquerdo = 11,54%).

No presente estudo, na visão lateral, em relação à cabeça projeta para frente

(29,08%), ombro protuso (26,24%) e ombro retraído (1,42%), os índices observados

são semelhantes ao encontrados por Lima (2006) na avaliação com escolares de

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Florianópolis – SC, quando verificou diferenças significativas nos segmentos da

cabeça e ombros, com maior prevalência entre meninas que em meninos, sendo,

respectivamente por gênero, alterações na cabeça 73,33% e 55,66% e nos ombros

70,67% e 65,09%.

A avaliação postural dos escolares, no presente estudo, apontou 64% de

alterações nas escápulas alada esquerda (24%) e direita (28%) e escápulas

retraídas direita (4%) e esquerda (8%). Corrobora com estes resultados o estudo de

Schmidt e Bankoff (2000) que avaliaram a postura corporal de escolares, verificando

nos membros superiores desvios em ombros e escápulas, sendo as alterações nos

escapulares altamente relacionados com o peso dos escolares avaliados.

Na avaliação postural dos pés, no presente estudo, foram encontradas

alterações do tipo pé plano (direito e esquerdo = 29,17%), cavo (direito = 29,17%),

varo (direito = 3,13%) e valgo (esquerdo = 9,38%). Alguns destes índices são

inferiores aos encontrados por Correa, Pereira e Silva (2005) na avaliação com 72

escolares avaliados, entre 6 - 15 anos de idade, de ambos os sexos, da rede privada

de ensino, que observaram prevalência de 38,88% de alterações laterais e 33,27%

de alterações ântero-posteriores, sendo pé valgo com índice de 49,99%.

Analisando-se os resultados de 3 estudos paranaenses se verifica que a

presente pesquisa apresenta índices diferentes. Dois desses estudos apontam

índices superiores, como, por exemplo, Oliveira et al. (1998) que avaliaram 42

escolares do ensino público de Londrina, com idades entre 7-12 anos, de ambos os

gêneros, verificando que 73,8% dos sujeitos possuíam hiperlordose lombar; 54,8%

protusão de ombros; 52,3% joelho valgo/varo/recurvatum; 42,8% inclinação de

cabeça; 23,8% atitude escoliótica e; 9,5% hipercifose torácica.

Ao investigar possíveis desvios posturais entre 97 escolares das 7a séries, da

rede pública de ensino do município de Capitão Leônidas Marques – PR, Lotici

(2005) observou prevalência bastante expressiva dos desvios na coluna vertebral.

Entre os escolares avaliados, 59% apresentaram algum desvio na coluna, dos quais

os casos suspeitos de hipercifose foram 30%; gibosidade com 25% de ocorrência e

hiperlordose com 16%.

Comparando com a presente pesquisa, em Terra Boa – PR, Longo e Deprá

(2008) alcançaram índices bastante inferiores em relação às alterações posturais

observadas com escolares do ensino público, na faixa etária de 9-11 anos de idade,

avaliados pelo teste de postura de New York. Os pesquisadores constataram que

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98,3% dos avaliados não apresentam indícios de problemas de coluna advindos da

má postura corporal.

Em relação a estudos realizados no município de Guarulhos na Grande São

Paulo, Carenzi et al. (2004) avaliaram 378 escolares, de ambos os gêneros, faixa

etária de 7 - 14 anos de idade e encontraram resultados concordantes com a

presente pesquisa, observando maior prevalência de alterações nos ombros e maior

freqüência de alterações do tipo escoliose, pé valgo e hiperlordose lombar.

Também, em avaliação postural de 247 escolares (131 masculinos e 116

femininos), em Jaguariúna-SP, Santos et al. (2009) identificaram as alterações com

índices superiores ao encontrados neste estudo, tais como: desnível (50,2%) e

protrusão de ombro (39,7%); escápula alada (40,5%); aumento do ângulo valgo de

joelho (29,6%); inclinação (21,5%); anteroversão pélvica (19%); hiperextensão de

joelho (19%); rotação de fêmur (12,9%); protrusão (11,7%); inclinação cervical

(15,4%); cifose torácica (9,7%) e hiperlordose lombar (26,3%).

Em Santa Catarina, Rosa Neto (1991), na avaliação postural de 197 escolares

da rede escolar privada de Florianópolis-SC, com idades entre 7-12 anos, verificou

prevalência de inclinação lateral de tronco (50%) e a hiperlordose lombar (31,82%),

encontrando as seguintes alterações mais elevadas: joelhos fletidos (24,8%),

protusão de ombro (17,4%) e anteversão pélvica (15,2%). No referido estudo, as

alterações posturais identificados para efeito de encaminhamento médico foram:

joelho valgo (11,6%); inclinação lateral de ombro (3,4%); joelho varo (1,8%); padrão

hiperlordótico lombar (1,8%) e padrão hipercifótico (0,6%).

Em Tangará – SC, Pereira et al. (2005) apontaram uma prevalência de 48,4%

de alterações posturais laterais nas alunas de 10 - 12 anos de idade e 49,5% de

alterações laterais nas alunas de 13 - 15 anos de idade.

No estado do Rio Grande do Sul, por meio de um inquérito com 495

estudantes do ensino médio, com idades entre 14 - 18 anos de idade, na cidade de

São Leopoldo, Detsch et al. (2007) observaram índices superiores ao encontrados

na presente pesquisas, apontando uma prevalência de 66% para as alterações

laterais e de 70% para as alterações ântero-posteriores.

Contudo, tendo em vista que a maior parte dos estudos citados teve por

objetivo identificar sinais de presença de escoliose em escolares na faixa etária de

10 - 16 anos de idade, apontando que sua prevalência se situa entre 2 a 3%, os

índices encontrados na presente pesquisa com escolares de Marmeleiro - PR, que

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se aproximaram a 36% quando observada as 25 ocorrências entre os 49 avaliados

com indícios de desvios posturais e 8,33% para o mesmo número de ocorrências

entre o total de 108 escolares avaliados, tornam-se bastante relevantes.

Diante desses resultados, concorda-se com Oliveira et al. (1998) de que os

altos índices de alterações posturais possam ser resultado da falta de conhecimento

de pais e professores, associada a inexistência de um trabalho escolar preventivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS CONCLUSÃO

Na presente pesquisa descritivo-exploratória destacou-se que 94,44% dos

escolares avaliados participam de atividades físicas regulares; aproximadamente

80,56% apontaram não apresentar nenhum tipo de desvio postural, mas, constatou-

se que 45,37% possuíam uma ou mais alteração postural associada. Dentre estes,

as seguintes alterações apresentaram maior prevalência: inclinação na cabeça

(22,53%); cabeça projetada para frente (29,08%); elevação nos ombros (36,26%);

ombros protusos e retraídos (27,66%); coluna cervical hiperlordose (21,99%); coluna

vertebral escoliose (36%); nas escápulas (64%); pé plano e cavo (29,17%).

Ao término das atividades do projeto – Educação Postural na Escola –,

referente ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, observou-se que os

escolares que efetivamente participaram da sensibilização, divulgação, execução

das ações e avaliação da postural mudaram seu comportamento dentro da sala de

aula; adotaram cuidados específicos para com a postura corporal ao sentar-se ou

manter-se em pé, corrigindo-a, quando necessário. Houve relato de pais sobre

mudanças na postural corporal de seus filhos, observadas no ambiente familiar.

Os resultados alcançados no presente estudo podem ser considerados

motivos suficientes para justificar a necessidade de um programa de triagem

postural escolar na rotina dos professores de Educação Física, como forma de

identificar alterações e, se necessário, indicar profissionais específicos para atender

aquelas consideradas indicativos de patologias.

Conclui-se, então, que a adoção de programas preventivo-educativos sobre

postura corporal, quando desenvolvido em conjunto com pais, alunos, educadores e

outros profissionais que trabalham na instituição escolar, representa um meio de

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promoção à saúde e efetiva contribuição para a melhoria da qualidade de vida da

comunidade escolar.

AGRADECIMENTOS

Expresso agradecimentos à fisioterapeuta Lygia Ghelen que, em entrevista,

concordou em colaborar com o projeto e proferir palestra para professores, pais e escolares;

ao professor orientador, mestre Dartel Ferrari de Lima pelas suas preciosas contribuições; à

direção e equipe pedagógica da Escola Estadual Telmo Octávio Müller pelo apoio recebido;

aos pais e alunos que gentilmente aceitaram o convite para participar deste estudo e aos

colegas de PDE, Aderson Dalla Costa, Leda Beatriz Laurensi e Maria Helena de Santi Stael,

pelo companheirismo e amizade.

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