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EDUCAÇÃO E INTERCULTURALIDADE NA AMERICA LATINA: UMA
PERSPECTIVA CRÍTICA E INTERDISCIPLINAR
MARIA NEUSA GONÇALVES GOMES DE SOUZA*
Resumo
Os estudos sobre educação, interdisciplinaridade e relações interculturais, já
desenvolvíamos desde 2014 no GEPFIP - estudos interdisciplinares no CPAQ/UFMS.
Mas, a partir de aulas na pós-graduação, a especialização em História da América
Latina, desde 2017 nos aprofundamos na temática desse artigo. Neste trabalho
apresentamos alguns educadores e as teorias aplicadas no séc. XX em alguns países
como Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai. A seguir a educação intercultural, seu
surgimento na Bolívia, as relações internacionais envolvidas, como os interesses de
ordem econômica. Nossa perspectiva é histórica, crítica abordando às políticas
econômicas e sociais para a educação. Utilizamos os relatórios do MEC - MERCOSUL
e da UNESCO. Como resultados sabemos que a falta de prioridade nas políticas
impedem o avanço educacional, devido à carência de investimentos. Esperamos
contribuir com as pesquisas na área. Os Referencias são Candau (2010) Medeiros
(2001), Walsh (2005), Saviani (2008), Gadotti (2007) UNESCO (2002), MERCOSUL-
MEC (2007).
Palavras- chave: América Latina, educação, investimentos, interculturalidade.
Abstract
The studies of education, interdisciplinarity and intercultural relations, start in 2014 in
GEPFIP - studies interdisciplinar in the CPAQ/UFMS . from postgraduate classes, to
the specialization in Latin American History in 2017, our interest was accentuated for
de themátic. In this work is to present some educators and the theories applied in the
century XX in some countries such as Brazil, Argentina, Bolivia and Paraguay. Below
the intercultural education, its emergence in Bolivia, the international relations
involved, such as economic interests. Our perspective is historical, critical addressing
economic and social policies for education. We use to the reports of the MEC -
MERCOSUR and UNESCO. As preliminary results, we know that the lack of priority
on the political impedes the educational progress. We hope to contribute with research
in the área. The references are Candau (2010) Medeiros (2001), Walsh (2005), Saviani
(2008), Gadotti (2007) UNESCO (2002), MERCOSUL-MEC (2007).
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Kay words: Latin America, education, investments, interculturality.
* Professora do curso de História CPAQ/UFMS. Doutora e mestre em educação, especialista em
História regional, graduada em História. Colaboradora do GEPEMULT/UFMS com projeto no
CNPq; membro do grupo GEPFIP - interdisciplinar. Pesquisadora da educação na América Latina,
interdisciplinaridade, relações interculturais, prática de ensino. Contato [email protected].
Introdução
Participando do grupo de pesquisa GEPFIP- Estudos e Pesquisas em Formação
Interdisciplinar de Professores desde 2014, familiarizamo-nos com o sistema
interdisciplinar proposto por Gusdorf (apud Japiassu, 1976, p. 20) com a forte afirmação
de que transcendêssemos a nossa especialidade e acolhêssemos as contribuições das
outras ciências.
Nossa caminhada pelos estudos interdisciplinaridades e a ciência História nos
levaram a uma complexa rede de conhecimentos; entendemos complexidade como
“aquilo o que é tecido junto” uma interligação de saberes como afirma E. Morin (1999,
p.10). A ciência Histórica tem esta abertura interdisciplinar. Historiadores nesta visão
precisam articular os muitos conhecimentos, Bloch (2002, p.16) já afirmava a
possibilidade da abertura a outras ciências como a economia, geografia, sociologia,
antropologia, a psicologia e outras. Sendo assim do fulcro História veremos aqui uma
interligação de saberes, história e a reflexão crítica da educação na América Latina.
No inicio de 2018, trabalhando na pós-graduação, a especialização em História da
América Latina, do curso de História no CPAQ-UFMS na disciplina Educação na
América Latina, nosso interesse se aguçou pelo pensamento educacional na América
Latina e as questões econômicas.
Aprofundando os estudos neste ensaio pretendemos destacar algumas teorias e
educadores do séc. XX, no Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai entre outros. Após
iremos esclarecer o surgimento da educação intercultural na Bolívia. Por último
veremos de forma crítica as políticas públicas econômicas estabelecidas para a
educação, por meio dos relatórios do MEC, MERCOSUL e UNESCO para a América
Latina.
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Educadores e algumas ideias pedagógicas no séc. XX na América Latina.
Quem se destacou no inicio do séc. XX, foi Emília Ferrero de nacionalidade
Argentina, teve muita importância na divulgação da complexa teoria de Piaget, a teoria
Construtivista. Ela se radicou no México, era psicóloga, foi orientanda de Piaget,
pesquisou a psicogênese da língua escrita. Trabalhou em vários lugares na América
Latina e Europa. Tinha como alguns princípios considerar que nenhuma criança parte do
zero na aprendizagem. Era contrária a ideia de que o segredo para a criança aprender
era reproduzir sons e formas apresenta Gadotti (2003, p.224). No construtivismo o
sujeito deve ser considerado o que reconstrói o objeto de estudo para apropriar-se do
desenvolvimento de um conhecimento, e nunca passivo e de forma mecânica. Emilia F. Levou a complexidade deste trabalho a vários países com inúmeros livros publicados
nos anos de 1960 à frente. Piaget afirmava necessário o erro construtivo, e conhecer a
maturidade do aluno para a aprendizagem, como também avaliar os progressos, não
adiantava a escrita e leitura sem o pensar. Se o professor não quer erros ele não quer
que o aluno pense, questione, busque
Também surgiu a Escola Nova no inicio do século XX com John Dewey (1859-
1952), psicólogo, e pedagogo, filosofo norte-americano, defendia a escola ativa, que
propunha a aprendizagem através das atividades dos alunos. seus estudos foram de
grande influência sobre a pedagogia contemporânea. Valorizava a iniciativa, e
cooperação, pretendia liberar as potencialidades do indivíduo rumo a uma ordem social
para ser aperfeiçoada. Dewey privilegiava o aspecto psicológico da educação, como o
autogoverno dos estudantes, conforme esclarece Medeiros (2001.p 144). A educação
deveria ser equalizadora da sociedade. Saviani (2008, p.7) diz que o método aplicado às
crianças “normais” eram testes de inteligência e testes de personalidade. A sala era bem
equipada com materiais e para a elite. No século XX o escolanovismo estava largamente
disseminado na Europa e nos Estados Unidos, teve grande alcance na pedagogia latino-
americana.
A Escola Nova surge no Brasil em 1922, Anízio Teixeira e Lourenço Filho na
década de 30 a 40 divulgaram o ideal escolanovista. A Escola Nova foi um conjunto de
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princípios para rever a finalidade da educação e as bases da aplicação foi á técnica
educativa. A escola reforçava e controlava toda a ação educativa e a socialização da
criança. Do ponto de vista filosófico era contra o mecanicismo empírico e realizava
testes para avaliar o aprendido e desejava a transformação da dinâmica do ensino e a
reforma dos processos. Buscava um ensino ativo estimulava a cooperação e o trabalho
em equipe.
Paulo Freire foi um nome que apareceu no cenário educacional e revolucionou o
ensino no Brasil e na América Latina com seu método de alfabetização de adultos. Ele
nasceu em 1921, morreu em 1997. Formado em Direito escolheu o magistério. Foi
professor em Recife nos anos de 1940 a 1950. Com a ditadura de 1964 foi exilado por
suas ideias contrárias ao regime militar, ficou no Chile por 15 anos. Foi à Nicarágua, S.
Tomé e Príncipe e na década de 1970 esteve na Universidade de Genebra-Suíça. Toda a
obra de Freire foi orientada por uma teoria do conhecimento de concepção dialética em
que educador e educando aprendem juntos numa relação dinâmica. prática é orientada
pela teoria e se aperfeiçoa. Em seu retorno ao Brasil lecionou na Pontifícia
Universidade Católica em São Paulo. Recebeu prêmios na Bélgica, da UNESCO, e de
outros países. Sua obra A Pedagogia do oprimido foi traduzida em 18 línguas. Seu
desejo era emancipar as classes desfavorecidas pela educação. Destacamos de seu
pensamento e método para alfabetizar adultos: o fato de pensar o concreto e a realidade,
a conscientização por ele que parte da valorização da cultura do povo era avançada,
visava à educação para a autonomia intelectual do cidadão para intervir na realidade, a
educação não era neutra para ele, era sempre um ato político esclarece Gadotti (2003, p.
253).
Sugerindo situações do cotidiano da comunidade. Usava a palavra tijolo para
operários, peixe para pescadores e assim por diante. Usou imagens e palavras prontas
para despertar a vontade de ler e escrever. Ensejava que os alunos “Lessem o mundo”
trata-se de aprender a ler a realidade, para reescrever essa realidade transforma-la. Foi
muito difundido seu método no exterior. O método de alfabetização de adultos,
propunha catalogar as palavras chaves do vocabulário dos alunos para iniciar o
processo. O educador rompia a cultura do silencio do aprendiz e o transformava em
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sujeito da própria história. Em todos seus escritos ele refletiu sobre o significado da
educação. Para ele tudo estava em permanente interação e transformação. Suas frases:
1-não há futuro a priore 2- o ser humano e histórico e inacabado e sempre
pronto a aprender, o mundo não é ele está sendo. 3- Não vamos ler histórias
alienadas e alienantes, mas fazer histórias e por ela ser feito. 4- Como na
verdade posso eu continuar falando no respeito á dignidade do educando se o
ironizo, se o discrimino, se o inibo, com minha arrogância? 5-As qualidades e
virtudes são construídas por nós no esforço que nos impomos para diminuir a
distancia entre o que dizemos e fazemos. (GADOTTI, 2003, p.253).
Paulo Freire vivia o que ensinava, era um educador autêntico e criativo.
Com os regimes ditatoriais militares nos anos 60 em vários países da América Sul
implantaram a educação tecnicista, com desmobilização popular, controle sobre
conteúdos ensinados e uma educação voltada para o trabalho prático para classes baixas
e de alta formação nas profissões liberais para classe alta. Nos moldes positivistas e
tradicionais. O Tecnicismo foi enfraquecido com a queda dos regimes militares.
Posteriormente entre a década dos anos 70 a 80 com a estagnação econômica e a dívida
social quase todos os países latino-americanos por ações governamentais atingem o
desmantelamento no ensino e à privatização. Conforme esclarece Saviani (2008).
As teorias críticas de cunho marxista chegaram posteriormente, e forte nos países
latino americanos influenciando o pensamento intelectual da sociedade. Com críticas
aos regimes democratas e de ideologia dos partidos comunistas. “Essa ideologia afirma
que a sociedade é marcada pela divisão de classes, e que a marginalidade é inerente à
própria estrutura social, sendo que a educação serve a marginalização”. (SAVIANI,
2008, p.18). Assim, a função da escola seria somente a reprodução da sociedade em que
está inserida no contexto os marginalizados são os próprios trabalhadores. A escola,
constituída pelo grupo dominante tem a função de garantir o funcionamento do sistema
capitalista. As ideias dominaram até mais da metade do séc. XX na América Latina.
A educadora Rosa Maria Torres se destacou, pedagoga equatoriana trabalhou na
Nicarágua com alfabetização e educação popular. Influenciada por Freire, fez criticas ao
que se diz da educação popular e ao que existe na realidade. Criou Nove Teses sobre a
educação popular: 1-O fracasso na ação alfabetizadora não é o fator econômico ou
técnico, mas na vontade politica de mobilização do povo em torno do projeto. 2- O
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Projeto requer a aplicação do conhecimento cientifico e técnico negado historicamente
ao povo controlado pelos setores dominante. 3- alfabetizar é direito conduzido pelos
progressistas e revolucionários 4- a alfabetização é um instrumento que contribui para
as ações rumo à liberdade do povo. 5- Alfabetizar é por meio da leitura e da escrita para
trazer uma ação conscientizadora. 6- É um processo social de formação mobilização e
organização de uma consciência critica e de classe. 7- Faz parte da construção de um
projeto popular hegemônico de caráter contestatório. 8- O povo deveria ser ativo e
protagonista de suas próprias histórias 9- A alfabetização não e a meta, mas o ponto de
partida de um processo de educação permanente apresenta Gadotti (2010, p.218).
Maria Tereza Nidelcof foi educadora argentina, trabalhou em Buenos Aires, nos
bairros pobres. Criou a ideia de professor povo e criativo, contrario a ideia do professor
policial, castrador tradicional. Para ela os professores podem ser elementos de mudança
na sociedade, na escola e vida real dos alunos, devem viver experiências concretas e
não viver a escola teórica e reproduzir a ordem social vigente. Seus estudos buscam a
partir da realidade a transformação na ação do professor, aluno e sociedade. Valorizava
a comunicação e a afetividade, o ver e ouvir os alunos. Incentivava e ensinava o valor
do trabalhar, acreditava no atendimento individual se necessário. Incentivava a
criatividade, o lúdico o prazeroso. Achava fundamental gostar dos alunos. Reconhecia
que os adolescentes em geral são mais problemáticos. Afirmava que trabalhamos numa
sociedade desigual e precisamos mostrar que compreendemos a situação deles, dizia de
que lado estamos? Falava de paz de justiça e meio ambiente e suas contradições.
Sobre a sala de aula afirmava que não devia ser uma prisão sem expressão sem
vida. Achava importante discutir questões da mulher, do cotidiano, da realidade, dos
direitos humanos. Apresentava a escola como meio da descoberta do lado de fora, a
cidade, a vida etc., mas proporciona a descoberta do lado de dentro de nós mesmos.
Propunha vigiar o autoritarismo moderado ou duro e criar o respeito às ideias. Partir do
conhecido ao desconhecido do relato da experiência a descoberta do novo conhecimento
Aprender a ser livre, a liberdade individual, obrigações grupais e limites. Conforme
Gadotti (2010, p.220). Houve varias ideias pedagógicas implantadas na América Latina
com uma contribuição valiosa e dedicados professores e estudiosos da sociedade.
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Educação Intercultural a real intenção “civilizar”
A educação intercultural surgiu na América Latina referente à educação escolar
indígena. As origens do pensamento se deram do período colonial sendo que nesta fase
houve a imposição eurocêntrica sobre as varias etnias indígenas. Após a imposição veio
à ideia de assimilação pelos Estados modernos, quando aparecem as primeiras escolas
bilíngues para povos indígenas. As escolas bilíngues surgiram para alfabetizar e
“civilizar” povos inteiros, a agência da América do norte Summer institute of linguistics
promoveu essas atividades com os governos para os alunos serem “transladados” do seu
estado normal a trabalhadores rurais. A escola era tida como um propulsor de
desenvolvimento, por meio da língua materna as crianças e jovens seriam os
transmissores aos pais dos valores da cultura nacional, de acordo com Collet (2001, p.74).
As línguas indígenas foram transcritas para a escrita essa ideia direcionou as politicas
educativas em toda a América latina ate a década de 70, envolvendo universidades,
governos e setores da igreja católica. Foram produzidos materiais didáticos e apesar de
buscarem a integração nacional fortaleciam a manutenção da cultura dos povos
envolvidos. No Equador, Peru e Bolívia não satisfeitos não seguiram o modelo, mas
desenvolveram formas adaptadas de trabalhar a questão.
No Brasil pesquisadores a partir de 2006, desenvolveram um projeto pioneiro com
apoio do CNPq chamado multiculturalismo, direitos humanos e educação para
investigar como a educação intercultural tinha se desenvolvido nos vários países latinos
americanos. Ocorreram diversos seminários e entrevistas com professores universitários
e pessoas de movimentos sociais e de ONGs para ver a situação no continente sul
americano. Atualmente há ampla produção latino-americana na temática
majoritariamente nos países de língua espanhola e nos andinos. No Brasil após a
constituição de 1988, que reconhece a especificidade cultural das populações indígenas
e quilombolas, as pesquisas se intensificaram sendo ainda necessário este diálogo com
os países vizinhos. A Universidade Estadual de Campinas foi à pioneira em trabalhar o
projeto de educação indígena “uma experiência de autoria” defendendo o processo de
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integração cultural local com o saber sistematizado geral, mas valorizando as praticas
do indígena. Esta universidade não obteve quase nenhum apoio ate 1980.
Na Bolívia pais de maioria indígena 65% há reivindicações sobre escolas serem
gerenciadas por professores indígenas. Diferentes línguas propiciaram o dialogo entre
diferentes culturas. No Brasil de minoria indígena existem 0,3% da etnia na população.
Na década de 80 e 90 onze países latinos- americanos reconheceram em suas
constituições o caráter multilíngue e pluricultural de suas sociedades como Argentina,
Paraguai, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guatemala, Peru, Venezuela; devido a
isso foi necessário o surgimento de políticas adequadas. Nos mostra Candau (2010,
p.163).
Walsh (2005) dos Estudos Culturais Latino Americano, na Universidade Andina
Simon Bolívar em Quito no Equador investiga “modernidade-colonialidade” e
interculturalidade e ela afirma:
O conceito de interculturalidade é central na reconstrução de um pensamento
critico por três razões; primeiro porque é pensado desde a experiência da
colonialidade (...) segundo reflete um pensamento não baseado no legado
eurocêntrico ou da modernidade. Terceiro porque tem origem no sul, dando
uma volta à geopolítica dominante do conhecimento que tem tido seu centro
no norte global. (WALSH, 2005 apud CANDAU 2010, p. 164).
O grupo de estudos buscou as contribuições de Minolo, argentino e Quijano
peruano nas categorias geopolíticas de poder e do saber, do pensamento fronteiriço, e
de-colonialidade. A descolonização diz respeito às independências conquistadas a
despeito das marcas dos colonizadores deixadas, a de-colonialidade de poder e do ser
diz respeito a padrões de poder com base na hierarquia racial, de identidade, sendo a
subalternização de grupos indígenas e negros desconsiderando todo conhecimento que
não seja o eurocêntrico. Walsh apud Candau (2010, p.170) defende outro poder
identitário e social, mas a educação depende de financiamentos, das políticas de
governos, de verbas sujeitas às alterações e ideologias do poder.
Relatório MEC- MERCOSUL Brasil e UNESCO
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O mundo se organiza de forma globalizada e por isto a importância da união
de forças em defesa dos interesses dos grupos, assim surgiu o MERCOSUL - Mercado
Comum do Sul na perspectiva econômica. Formam o grupo o Brasil, a Argentina, o
Uruguai, e o Paraguai. Participam dos debates sem voto o Equador, Chile, Colômbia,
Peru, Bolívia, Guiana e Suriname. A América Latina também tem se aliançado com
países de sua língua de origem como Portugal e Espanha. Segundo o relatório do MEC-
BRASIL os promotores da globalização neoliberal são o Banco Mundial para a
educação na América Latina, existe um ideal educacional defendido por esses
organismos.
O MERCOSUL nasceu da luta pela democratização no Brasil e na Argentina,
as ditaduras acabaram na Argentina em 1983 e no Brasil, em 1985. O MERCOSUL
surgiu como um instrumento de união democrática, de justiça social, inclusão e
equidade. Infelizmente, o Tratado de Assunção de 1991, que deu origem ao
MERCOSUL, ignorou esses antecedentes. É verdade que o MERCOSUL vem
contribuindo para a defesa dos interesses econômicos da América Latina. Atualmente
precisamos aprofundar para uma maior integração política e social, não só econômica.
Buscando a integração do povo latino americano houve a XXVII Reunião de
Ministros de Educação do MERCOSUL, em 2004 no Brasil, sob a coordenação do
MEC e emergiram muitos estudos de questões sociais e econômicas educacionais, as
quais nos embasaram aqui. O Plano trienal para a educação no Contexto do
MERCOSUL em 1992 afirmava que “a educação poderá constituir-se no grande espaço
solidário que têm os países da sub-região para participar ativamente na criação de um
pensamento social, científico, técnico, político.” (GADOTTI, 2007, p. 19)
O MERCOSUL Educacional data de 1992. O Plano Trienal tem por objetivos: a
formação de uma consciência favorável ao processo de integração; a capacitação de
recursos humanos para contribuir com o desenvolvimento econômico; a harmonização
dos sistemas educativos.
Chamado de Setor Educacional do MERCOSUL (SEM) é dirigido pelo Ministério
da educação dos países envolvidos. O SEM afirma a perspectiva internacional nas
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estratégias de desenvolvimento dos países latino-americanos, tornando-os mais
competitivos diante dos desafios do processo de globalização e regionalização, com o
fortalecimento dos laços culturais e sociais. Para além do Mercado, a integração inclui
as três esferas do poder público e a Sociedade Civil. A integração cultural é muito mais
ampla do que a integração baseada nos interesses econômicos.
Outras instituições que ditam as regras são Banco Mundial e a Organização
Mundial do Comércio (Gentili apud Gadotti, 2007, p.25) na América Latina, saltam aos
olhos as concepções educacionais defendidas) Trabalham com a noção de “Governo”
(aparatos administrativos) separada da noção de “Estado”. Para o “globalismo”, o
cidadão é o consumidor. 2) O Banco Mundial sustenta a filantropia para os pobres e
Mercado para os ricos. O banco considera a educação como um serviço e não como um
direito. 3) Os princípios que orientam as reformas são instrucionistas, estão centrados
no ensino e não na aprendizagem. Defende-se o aumento de tempo e não a qualidade.
Os professores estão excluídos de toda discussão da qualidade. Ensinar se reduziria a
aplicar uma receita, a saber manejar um repertório de técnicas. 4) A proposta neoliberal
é de uma desprofissionalização da docência, buscando-se alternativas na
“terceirização”, contratando-se docentes através como trabalho temporário. Por isso
cada vez mais, a promoção do “ensino a distância a baixo custo”. 5) Nessa “educação
bancária” de Paulo Freire, até um computador bem programado poderia substituí-lo. O
professor não seria mais necessário. 6) Essa seria a propalada educação “para todos”.
Já para as elites ela seria diferente. Para as elites haveria necessidade de professores,
para formá-los como “governantes”. 7) Como deve ser o sistema de ensino? o sistema
de ensino deve propor pacotes de ensino para serem “aplicados” para as pessoas
aprenderem a resolver seus problemas.
E as propostas diretas são: 1) conteúdos mínimos e socialmente necessários,
verificados através de exames nacionais; 2) redução dos benefícios dos trabalhadores da
educação 3) centralização curricular e pedagógica (exemplo: a avaliação nacional); 4)
descentralização das responsabilidades e municipalização do ensino fundamental; e 5)
padrões de gestão mercantis da escola. O Fórum Mundial de Educação aprovou, em sua
terceira edição, realizada em Porto Alegre no final de julho de 2004, uma “Plataforma
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Mundial de Lutas”, em defesa do direito à educação pública e contra a mercantilização
da educação, apresenta Gadotti, (2007, p.30).
Veremos a seguir alguns dados quantitativos da UNESCO para avaliarmos os
investimentos públicos para a educação nos ano de 1980 a 2005. Conforme Gadotti
(2007). Gasto público em educação País – Em % do PNB (produto nacional bruto).
Argentina de 2,67 a 4,0 / Bolívia de 4,42 a 6,5 / Brasil de 3,60 a 4,5 / Chile 4,63
3,8 / Colômbia 2,38 a 5,0 / Cuba 7,20 a 8,7 / México 4,73 a 5,5 / Panamá 4,90 a 4,6 /
Paraguai 1,51 a 4,4 / Peru 3,09 a 33,5/ Uruguai 2,29 a 32,6. Os maiores investimentos
foram na Argentina, Colômbia, Paraguai e espantosamente no Uruguai de 2% para 32%.
UNESCO (2006 e 2008)
De 1980 a 2005 podemos ver nos países um aumento significativo nos gastos
públicos em quase todos os países apontando um reconhecimento das necessidades da
educação a partir da década de 1990, demonstrando uma valorização da educação,
possivelmente decorrentes dos acordos internacionais a partir do marco de ação da
Educação para Todos da UNESCO, firmados com os países participantes.
Aqui o percentual do gasto público em educação custo-aluno do ciclo inicial do
ensino fundamental em PPC (ou seja paridade de poder aquisitivo) (valor em U$) de
1998 a 2005. Argentina de 551 a 1.498 / Brasil de 855 a 1.071/ Chile de 864 a 1.421 /
Colômbia de 906 a 1.478/ México de 1.011 a 1.442/ Peru de136 a 403. Todos
apresentaram um gasto maior com alunos proporcional, a Argentina mais que o dobro, e
o Peru quatro vezes mais. UNESCO (2006 e 2008).
Uruguai e Argentina, ao longo de mais de vinte anos, dispõem de sistemas
educacionais consolidados e de uma população com alto índice de escolaridade. Em 12
países da América Latina nove deles, os gastos governamentais com educação variam
entre 2,5% e 3,5% do PIB. Existe uma grande variação entre os gastos por aluno,
segundo os níveis de ensino. Assim, a relação entre gastos no ensino superior e no
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primário varia de 1,9 na Argentina a 10,0 no Brasil, sendo 2,9 no Chile e 6,0 na
Colômbia. (UNESCO, 2002)
Considerações finais
A maioria dos países priorizado neste estudo tiveram seus processos históricos
semelhantes, a colonização portuguesa ou espanhola, a imposição política e religiosa
católica, o domínio cultural, a exploração da mão de obra e da matéria prima. No campo
da educação não foi diferente. Houve o predomínio das ideias pedagógicas europeias ou
americanas como a Escola Nova, o Construtivismo, as ideias marxistas etc. Com a
exceção de Freire criador do método para alfabetização de adultos –chamada de
educação libertadora que se espalhou pelo mundo. Boas contribuições nos determinados
tempos e contextos históricos.
No caso da educação intercultural surgiu na Bolívia por interferência americana
para “civilizar” os alunos sendo que eles levariam aos pais as informações recebidas. A
intenção era buscarem a integração nacional, fortalecendo a manutenção da cultura dos
povos envolvidos. Seriam aulas bilíngues, mostrando as duplas culturas e assim
transformá-los em trabalhadores rurais, uma mão de obra adaptada ao mercado. Este
curso quando não é priorizado em alguns países, que aceitaram a ideia deste trabalho,
eles ficam na dependência de recursos financeiros para a realização.
Sobre os relatórios já podemos analisar muitas situações, o chamado SEM Setor
Educacional do MERCOSUL busca a integração cultural e a integração econômica.
Lembrando que fazem parte o Brasil, a Argentina, o Uruguai, e o Paraguai. Participam
dos debates sem voto o Equador, Chile, Colômbia, Peru, Bolívia, Guiana e Suriname.
Mas dependem das regras econômicas ditadas pelo Banco mundial para a execução das
atividades planejadas a serem implantadas.
Os maiores investimentos na educação nos anos de 2006-08 conforme o relatório
da UNESCO foi na Argentina, Colômbia, Paraguai e Uruguai de 2% para 32%. E
referente ao gasto público com custo-aluno todos os países tiveram aumento em seus
investimentos. Ainda que possam ser insuficientes.
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A situação atual da educação na América Latina conta com um momento do
sistema educacional em explosão demográfica, com o aumento da população, gerando
aumento da demanda e das expectativas; esta em uma crise na estrutura física para a
educação devido à falta de investimentos, temos a falta de prioridade política para a
educação; o desprestigio da profissão pela falta de remuneração adequada e pela queda
na qualidade do ensino. A comunicação de massa vem competindo com o sistema
educacional trazendo uma falsa impressão que informação é conhecimento; Há uma
ausência de modelos com bons resultados no trabalho, modelos nacionais e regionais
em descompasso com o mundo atual. Segundo Mosquera (1994, p.62),
A crise econômica nos países da América Latina em geral, na área educacional
leva a elevada taxa de analfabetismo que corresponde a 5% da população mundial,
sendo que 13% de crianças estão fora da escola, ocorrendo muita evasão e repetência
devido ao fato de que a luta por sobrevivência vem em primeiro lugar para as famílias
carentes. Também houve um sucateamento na instituição escolar, desde as construções,
materiais pedagógicos, mobiliários, ventiladores, livros, etc. pela falta de investimentos,
uma educação para todos que não atinge a todos, e o Estado que não privilegia a maioria
da população. (Medeiros, 2001).
Há países com sistemas antidemocráticos e anacrônicos, países com alta taxa de
população, baixa renda, fome e miséria, violência, há todo um problema social a ser
trabalhado juntamente com a educação.
Priorizar a educação a qualidade e investir, seria fundamental; mas o capitalismo o
neoliberalismo pretende formar um homem cuja formação seja voltada a indústria a
empresa, ao consumo etc. O livre mercado praticado em todos os países da América
latina torna os pobres mais pobres e ricos mais ricos. E preciso pensar o papel da
educação não perder a essência de forma a não ficarmos a margem da tecnologia e do
mundo. Apesar da necessidade de recursos materiais e humanos precisamos recuperar
muitos anos de atraso social, na capacitação do ser humano para aprender “a Ser e
Saber” por meio do conhecimento libertador.
REFERÊNCIAS
14
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