Educação Patrimonial na Vila de Santo Amaro do Sul, RS...
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Educação Patrimonial na Vila de Santo Amaro do Sul, RS; Resgate do
Patrimônio e inserção do tema no currículo escolar
Fabiana de Oliveira1, André Luis Ramos Soares2
RESUMO
Localizada a 95 Km de Porto Alegre a vila de Santo Amaro do Sul, reúne um grupo de 16
construções históricas, sendo também um lugar rico em histórias, lendas e tradições. Possuí
portanto um patrimônio rico e variado, que deve ser resgatado para que a comunidade não
perca o elo com seu passado, mantendo sua cultura e suas tradições.
Na tentativa de sensibilizar a comunidade para que resgate e preserve seus bens
patrimoniais, o Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória da Universidade Federal de Santa
Maria - NEP/UFSM - desenvolve um projeto voltado para a o resgate da memória do município
incentivando a população a valorizar e preservar seus bens, sejam eles materiais ou imateriais,
buscando o florescimento de uma identidade local .
Optamos por trabalhar com os professores do ensino público afim de que estes se tornem
multiplicadores do projeto na escola e comunidade. Partindo do resgate da cultura material,
através de escavações arqueológicas no interior da Igreja Matriz de Santo Amaro, buscamos o
diálogo com a comunidade, realizando visitas guiadas às escavações. Em seguida realizamos o
trabalho junto aos professores, com palestras, oficinas de reconhecimento do patrimônio e
resgate da história oral, em entrevistas com os moradores da localidade.
A proposta elaborada para o desenvolvimento de atividades relacionadas à Educação
Patrimonial, é a de inserção desta metodologia nas disciplinas do EFEM (Ensino Fundamental e
Médio), atuando paralelamente com as atividades normais do currículo escolar, visando o
entendimento dos alunos para questões envolvendo o patrimônio de sua cidade e região.
1 Acadêmica do Curso de História da UFSM (9º semestre), bolsista BIC/FAPERGS
2 Professor do Departamento de História da UFSM, coordenador do Núcleo de Estudos do Patrimônio e
Memória – NEP/UFSM – orientador do projeto.
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Frisamos que o patrimônio deve ser estipulado pela comunidade por si mesma, pois
somente ela tem o poder de resgatar e preservar aquilo que lhe é caro, e que deseja legar as
gerações futuras. A Educação Patrimonial é apenas um caminho para que se estabeleça esse
elo.
Palavras chave: Patrimônio, Educação Patrimonial, preservação.
O Núcleo de Estudos do Patrimônio e Memória - NEP – da Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM- desenvolve estudos e projetos de Educação Patrimonial em várias localidades
do Rio Grande do Sul. Um desses locais é o distrito de Santo Amaro, município de General
Câmara. Um dos primeiros redutos da colonização açoriana no estado, Santo Amaro guarda um
importante patrimônio material e imaterial representativo da presença lusa no Rio Grande do
Sul.
ASPECTOS HISTÓRICOS:
O Rio Grande do Sul, situado no extremo do Brasil Meridional, teve uma ocupação tardia em
relação a outras regiões brasileiras. A princípio a região não oferecia nenhum atrativo
econômico para os padrões mercantilistas (século XVI), que justificassem tal procedimento.
Somente a partir do século XVII a região é alvo de incursões por parte dos jesuítas (Espanha) e
bandeirantes (Portugal).
Do lado Litorâneo, é feita a penetração portuguesa, com a descida de jesuítas itinerantes até a altura do rio Tramandaí. Paralelamente, a oeste, os jesuítas a serviço da Coroa espanhola atravessavam o rio Uruguai, fundando a partir de 1626 missões na região do Tape; uma parcela do projeto das Missões Jesuíticas do Paraguai. Entretanto, a ação bandeirante ao destruir as Missões e delas levando muitos índios cativos transformou o território em “terra de ninguém”, entre os anos de 1641-1682. (WEIMER, 1992, pg.37).
A atuação dos bandeirantes não contribuiu de forma efetiva para a ocupação do território
riograndense, visto que não foi estabelecido nenhum povoado português na área. Além do que,
a reativação do tráfico negreiro (bastante lucrativo para os portugueses) motivou o abandono da
caça ao índio na região sul. No entanto, o que veio a ser um passo importante para a ocupação
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do atual do Rio Grande do Sul foi o estabelecimento pelo Império Português, em 1680, da
Colônia do Santíssimo Sacramento, localizada à margem esquerda do Rio da Prata.
A passagem de lagunistas e vicentinos em direção a Colônia de Sacramento, permitiram os
primeiros contatos com rebanhos de gado da Vacaria del Mar, iniciando o comércio de couro e
sebo, sendo a carne em sua maior parte desprezada.
O início do povoamento oficial deu-se, quando, em 1.737, foi fundado um posto fortificado (Presídio Jesus, Maria, José), na margem do canal de desaguamento da lagoa dos Patos, que passou a constituir a vila do Rio Grande de São Pedro, atual cidade e porto de Rio Grande. (BERNARDES, 1997, pg.54).
A partir de 1750 as estâncias propagaram-se pelo interior do Rio Grande do Sul, mas na
Depressão Central, o empuxo principal do povoamento foi dado pelas necessidades militares. A
defesa do território e a manutenção das possessões lusas justificam a expansão do
povoamento na região, a partir da fortificação de Rio Pardo, situada na confluência dos Rios
Pardo e Jacuí, dando origem assim, a atual cidade de Rio Pardo.
O povoamento da parte sul do Vale iniciou, fundamentalmente, com a cidade de Rio Pardo. Sua origem, vinculada aos interesses da expansão portuguesa em ocupar o território entre Laguna e Sacramento, se materializa enquanto posto avançado da primeira rede de núcleos urbanos que os portugueses começavam a criar, nesse período, ao longo da calha do rio Jacuí. Nesse sentido, a distribuição pela Coroa Portuguesa, na terceira década do século XVIII, de sesmarias entre os açorianos buscava garantir a permanência do domínio português na região, através do abastecimento e da consolidação desses núcleos de povoamento. (SILVEIRA e HERMANN, 2001, pg.221)
O local denominado hoje como Santo Amaro destaca-se, então, como uma das primeiras vilas
açorianas no Estado, representativa no cenário português do Século XVIII, porque, se por um
lado a presença de um fortim e de uma Igreja revelam o estabelecimento de uma colonização,
por outro, é o primeiro passo para a tomada das Missões Jesuíticas Guaranis, na época um
território Espanhol.
A partir da expedição portuguesa de demarcação, sob a responsabilidade de Gomes de Freire
de Andrada (Capitão-General do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo e de todo o sul do Brasil),
que tinha por objetivo a colocação dos marcos de fronteira entre as terras de Espanha e
Portugal (Tratado de Madri), foram criados, segundo Vogt:
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(...) dois depósitos de armas e munições nas bordas do rio Jacuí: um, situado na margem esquerda da confluência dos rios Pardo e Jacuí, no local hoje chamado Alto da Fortaleza; outro, em Santo Amaro. Um ano depois, em virtude da excelente e estratégica localização para a defesa dos interesses lusos no Sul, Gomes Freire ordenou a construção de um forte no lugar onde se situava o depósito de Rio Pardo. (2001, pg.81-82). [grifo nosso]
Este forte era, além do ponto de apoio de víveres e munições das tropas portuguesas, o
princípio de uma colonização lusa no Brasil Meridional. Embora a data de construção do forte e
da vila seja ainda controversa, os documentos apontam para datas entre 1752 e 1770 para sua
fundação. Devemos ressaltar que a documentação sobre o tema é bastante escassa e na
maioria das vezes controversa, principalmente no que se trata a funcionalidade do depósito de
armas e munições de Santa Amaro, tratado por alguns autores como armazém ou como fortim
de paliçadas. Mesmo assim, a Igreja Matriz de Santo Amaro (Foto 1) e outros prédios atestam
não somente o valor histórico, mas principalmente a riqueza em termos do patrimônio edificado.
Era um Templo com largas dimensões físicas; opulentos detalhes arquitetônicos; invejável riqueza de ornamentos tais como imagens de santos magistralmente talhadas; alfaias de fino lavor; candelabros de cristal; turíbulo e demais utensílios de ouro; um púlpito elevado à parede lateral direita. Isto fazia da Igreja de Santo Amaro um monumento de arte comparado às Igrejas de Ouro Preto. (Pereira Rodrigues, 1994, p. 67)
Foto 1: IGreja de Santo Amaro. Foto André Soares
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Ainda devemos lembrar que é incontestável a importância da Vila de Santo Amaro como
patrimônio nacional. Além de representar um dos poucos locais com o traçado urbanístico
original do século XVIII, possui um conjunto de mais de dez prédios tombados pelo IPHAN em
torno da praça e da Igreja. Prédios que permitem ao visitante visualizar uma cidade inteira, com
forte colonização açoriana, mas também elementos de sua cultura, através da culinária, festas
católicas e história. No entanto, estes patrimônios estão esquecidos da população, e o resgate
é urgente uma vez que a localidade perde a cada dia seus habitantes mais antigos.
A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL:
O homem é o criador de sua cultura, mas tem sido também o maior responsável por sua
destruição. Todas as ações pelas quais as sociedades manifestam sua formas de viver, seus
costumes, crenças e tradições constitui sua cultura, que ao longo do tempo vai sendo esquecia
pelas gerações mais novas, perdendo o elo com seu passado. Nesse contexto, a Educação
Patrimonial aparece como uma metodologia que busca a valorização dos bens culturais a partir
das manifestações materiais (objetos), que pretende levar a comunidade a um maior
conhecimento a respeito da importância da valorização e preservação de seus bens
patrimoniais e culturais. Entendemos cultura como o resultado da interação dos homens com a
natureza e com outros homens, o que resulta em objetos, utensílios, no estabelecimento de
normas de conduta e convivência, na expressão de seus sentimentos e na organização de
rituais e celebrações de sua cultura e crença.
“Os bens culturais que recebemos de outras gerações contribuem para a formação de identidade de grupos e categorias sociais. Fazem parte da memória coletiva e, como tal, permitem-nos estabelecer elos de pertencimentos com os nossos antepassados. Desconsiderar essa produção é esquecer nossas raízes (Machado, 2004, p 14)”
Atualmente, ensinar tem-se tornado um desafio constante. Os educadores precisam
desenvolver novos métodos de ensino, pois os educandos não se contentam apenas em
estarem sentados em suas carteiras, copiando fórmulas, verbos, datas etc... querem uma maior
interação com os conteúdos propostos, participando ativamente do processo ensino
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aprendizagem. O ensino no Brasil tem passado por constantes transformações. Para se viver
em uma sociedade plural, é preciso respeitar todos os grupos e culturas que constituem uma
nação, sem preconceito ou discriminação por nenhuma delas.
Ciente disso, o Ministério de Educação incluiu nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os temas
transversais, que objetivam a inserção de temáticas referentes ao reconhecimento da
diversidade sociocultural brasileira, através do resgate e valorização dos patrimônios de cada
região do país. Os temas transversais incluem Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultural
e Orientação sexual. Eles apresentam conceitos e valores fundamentais à democracia e à
cidadania para a sociedade brasileira.
Dentro desses temas, a pluralidade cultural será o tema específico de nosso trabalho, fazendo
uso novas metodologias que pretendem levar os educandos a pensar o meio em que vivem
conhecer sua história, sua comunidade e sua cultura. Aqui, a cultura não é entendida como
sendo apenas erudição, conhecimento, mas todo o processo de criação que resulta em formas
específicas de ser e viver.
Toda comunidade produz cultura. Sua forma de construir meios para sua sobrevivência, sua
linguagem, os rituais que criam para celebrar suas datas especiais, suas festas e comidas
típicas, enfim tudo aquilo que a representa e diferencia das demais comunidades é sua cultura.
“A cultura é eminentemente dinâmica – transmite-se e aprende-se – e,é nesse processo de socialização que aprendemos a formar parte do grupo ao qual pertencemos, onde vamos adquirindo a nossa identidade (Grunberg, 2000, p. 160)”.
Neste contexto, surge a metodologia da Educação Patrimonial. O desenvolvimento dessa
proposta e as ações educacionais voltadas para o uso, valorização e apropriação dos bens
culturais que formam o “patrimônio cultural”, teve início no Brasil, em julho de 1983, por ocasião
do 1o. Seminário sobre o “Uso Educacional de Museus e Monumentos”, no Museu Imperial, em
Petrópolis, RJ.
A metodologia da Educação Patrimonial é uma proposta educacional, centrada no patrimônio
cultural como fonte primária de conhecimento, que pretende levar o indivíduo a uma
alfabetização cultural, para um maior entendimento da cultura a qual está inserido, podendo ser
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aplicada a qualquer tipo de evidência material, ou bem cultural, ou seja, qualquer expressão
que resulte da relação entre as comunidades e seu meio ambiente.
A Educação Patrimonial visa despertar a curiosidade dos educandos, para que esses
descubram por meio dos objetos ou manifestações culturais mais informações a respeito do
meio em que vivem. Sendo aplicada a partir das séries iniciais, a metodologia da educação
patrimonial, vai ao encontro daqueles que ainda não tendo seus valores totalmente formados,
possuem um maior potencial para adquirir e transmitir essas noções de valorização e
preservação dos patrimônios para o restante da comunidade.
“O Patrimônio é uma construção social coletiva, pertence a todos e todos os cidadãos devem ter o direito e o dever de preservá-lo, como possibilidade de resgate de sua identidade social (dentro de sua comunidade de origem) e individual (frente a frente no espelho de sua alma) (Garbinatto, 1979).”
Assim, nosso trabalho busca levar os indivíduos a um maior conhecimento acerca de sua
História, seus costumes, sua identidade própria. Esta metodologia desenvolvida junto aos
distintos grupos sociais viabiliza a formação da suas identidades, aumento da auto-estima e
posterior valorização dos bens culturais. Neste aspecto a identidade pode ser compreendida
como o conjunto de costumes e crenças herdadas de seus antepassados, cuja conservação
forma memória de determinado povo, que é manifestada através de seus patrimônios.
“Os indivíduos necessitam desse tipo de relação como referencial de sua existência, como elemento positivo e benéfico. A esse tipo de elemento dá-se o nome de bens. Alguém pode estar de tal forma ligado a um bem, que o simples fato de outra pessoa ver esse bem será suficiente para lembrar-se dela, para evocá-la na memória e na afeição. O objeto se torna uma marca, uma forma de identificá-la” (Krulikowski, sd.)3.
Assim, destacamos que o patrimônio é uma construção, e como tal necessita de tempo para
definir-se. Nada é concebido visando tornar-se patrimônio, é necessário a identificação da
comunidade com este bem, de modo que torne-se um marca que a destaca das demais
comunidades.
3 KRULIKOWSKI, Erick S. Tesouros do Brasil. Valorizando nosso patrimônio, preservando nossa cultura. Livro do Professor. São
Paulo:
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Foto 2: Atividades com os Professores. Foto Daiane Spiazzi
As atividades da Educação Patrimonial servem de subsídio para que a comunidade em geral
desperte para uma re-apropriação de seus bens, sugerindo uma retomada dos valores culturais
e históricos relativos a esta sociedade. A Educação Patrimonial tem como proposta chave à
conscientização da população para com o patrimônio, trabalhando para que haja o resgate e a
valorização de uma identidade local, regional ou nacional (Foto 2).
A Educação Patrimonial, enquanto metodologia pretende envolver a comunidade escolar
(professores e alunos) e ainda todos aqueles que têm uma relação de pertença com a cultura
local, para que sejam perpetuadores do conhecimento e sirvam de objeto disseminador da
identidade e da valorização do patrimônio nos futuros cidadãos.
A proposta da Educação Patrimonial não pretende ser impositora de uma identidade, ela serve
como estímulo, um ponto de partida, apresentando, discutindo e gerando em cada indivíduo a
necessidade e o interesse em querer identificar-se com o patrimônio, apenas apresentando
subsídios para que ele veja dentro de sua comunidade os patrimônios que são significativos de
sua identidade
O Brasil é um país pluricultural, formado por povos oriundos de todos os cantos do planeta, por
isso possui uma enorme diversidade cultural e Itaara é um exemplo disso. Essa diversidade que
passada de geração a geração, vai formando nossa identidade. Essas expressões culturais, ao
longo do tempo, vão sendo esquecidas pelas gerações mais novas, pois hoje vivemos num
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mundo globalizado, onde não se tem a noção do particular de cada comunidade, das diferenças
que tornam cada sociedade única. Fala-se em sociedade mundial, como se todos
pertencessem ao mesmo grupo e tivessem as mesmas crenças e tradições. É na contra mão
desta homogeneização que a Educação Patrimonial trabalha e procura se desenvolver, visando
não o todo de um povo, mas suas particularidades, resgatando valores básicos da identidade
de uma comunidade. Este resgate é fundamental para que não se perca a identidade e os
patrimônios de uma região, visando sua perpetuação na figura das novas gerações.
Dentro de uma comunidade o trabalho da Educação Patrimonial é o de valorizar as formas de
manifestação da identidade e do patrimônio, abrangendo todas as camadas sociais e
econômicas da sociedade, pois todas fazem parte dessa comunidade.
“O trabalho da Educação Patrimonial é levar os indivíduos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para uma melhor utilização destes bens e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, tendo assim um contínuo processo de criação cultural. A metodologia da Educação Patrimonial é materializada através do estudo de objetos comunitários como estratégia de aprendizagem do contexto sócio-cultural (Itaqui, 1998, p. 20)”.
A Educação Patrimonial dentro do contexto cultural visa uma retomada das relações de união e
pertença em uma dada comunidade, aparecendo neste contexto como um agente de
“alfabetização cultural” onde cada elemento dessa metodologia busca uma revitalização e um
despertar da comunidade trabalhada para as suas “raízes” e para seus patrimônios, não
deixando que fiquem esquecidos na história de sua comunidade.
“O trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e os adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto desses bens e propiciando a gerarão e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural (Horta, 1999, p. 6)”.
Pode-se aplicar a metodologia da Educação Patrimonial em qualquer objeto, evidência material,
ou bem cultural, enfim, qualquer expressão que resulte da relação entre a comunidade e seu
meio ambiente. A Educação Patrimonial, quando aplicada desde as séries iniciais, vai ao
encontro dos educandos que, ainda não tendo sua carga de valores totalmente formada,
possuem um maior potencial para adquirir e transmitir as noções de valorização e preservação
dos patrimônios para os demais membros da comunidade (Soares, 2003).
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A aplicação da metodologia da Educação Patrimonial está baseada em quatro etapas:
observação, registro, exploração e apropriação (Horta et al., 1999).
Observação: refere-se ao que está sendo visto. Aqui, deve-se fazer perguntas ao objeto que
está sendo analisado para que se obtenha o máximo de informações a seu respeito.
Registro: neste momento, os indivíduos demonstram, de forma escrita, oral ou através de
desenhos, o que de mais significativo descobriram a respeito do objeto por elas analisado.
Exploração: consiste na análise do problema, levantamento de hipóteses, discussão dentro do
grande grupo, pesquisa em outras fontes, as dúvidas e opiniões de cada um sobre o objeto.
Apropriação: É o significado que ficou para cada pessoa do grupo à respeito do objeto, ou seja,
o que cada um aprendeu sobre o objeto estudado.
A partir dessas etapas é possível promover propostas de aprendizagem, que agreguem tanto
adultos quanto crianças. Assim, cria-se uma relação de afeto entre a comunidade e seus
patrimônios, de modo que preservá-los passa a ser algo importante e prazeroso para todos os
indivíduos da comunidade.
A Educação Patrimonial objetiva essencialmente as faixas etárias mais novas, pois são agentes
disseminadores de conhecimento. Sendo aplicada a partir das séries iniciais, a metodologia da
educação patrimonial, vai ao encontro daqueles que ainda não tendo seus valores totalmente
formados, possuem um maior potencial para adquirir e transmitir essas noções de valorização e
preservação dos patrimônios para o restante da comunidade.
ATIVIDADES REALIZADAS:
Inicialmente foram realizadas atividades com os professores da rede pública de ensino do
município, que envolveu palestras e exposições, a respeito do patrimônio, onde foram
apresentadas noções sobre o tema (O que é patrimônio? O que pode ser patrimônio? Para que
serve os patrimônios? etc...), bem como noções de Educação Patrimonial (O que é Educação
Patrimonial?, Qual o objetivo da Educação Patrimonial?, Para que se investir em Educação
Patrimonial?). Os participantes levantaram questões sobre o tema, o que provocou debates e
todos tiveram oportunidade de colocar seu ponto de vista referente aos temas propostos.
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A seguir, foram propostas oficinas, visando aprofundar as questões levantadas até então. As
oficinas foram as seguintes:
- OFICINA “CAIXA DE ESPUMA” - Vários objetos históricos foram colocados dentro de
uma caixa, contendo flocos de espuma. Os participantes dividiram-se em grupos, tendo cada
grupo um representante que deveria pegar um objeto dentro da caixa. Cada grupo recebia
uma ficha com perguntas que deveriam ser respondidas após a análise do objeto, de acordo
com os conhecimentos dos membros do grupo (Foto 3). As perguntas eram as seguintes:
1- Que objetos são estes?
2- De que são feitos?
3- Para que servem?
4- Quem você acha que utilizou?
5- Qual a idade do objeto?
Foto 3: oficina da Caixa de Espuma: descrição dos objetos. (foto Daiane Spiazzi)
Cada grupo, após responder as questões apresentava aos colegas às conclusões que tiveram
em relação ao objeto que analisaram e colocavam como esse objeto pode ser utilizado em sala
de aula. O objetivo dessa oficina é fazer com que os participantes realizem as quatro etapas da
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metodologia da Educação Patrimonial: observação, registro, exploração, apropriação. Com isso,
é possível que se faça uma re-apropriação dos objetos, e se possa utilizá-los em sala de aula,
para que se realize um estudo mais dinâmico dos objetos e bens históricos.
- OFICINA SOBRE OS PATRIMÔNIOS:
Nessa oficina, os objetos específicos utilizados são os patrimônios locais. Os grupos recebem
uma ficha contendo perguntas sobre “o que consideravam importante” no município; devem
respondê-la de acordo com seu conhecimento sobre os patrimônios da localidade. A ficha era a
seguinte:
FICHA DE PERCEPÇÃO ACERCA DO PATRIMÔNIO CULTURAL (a partir de Caldarelli,
2003).
Na ficha constam os seguintes dados: Município, Nome do entrevistado, descrição da região
onde vive, história da região onde vive um lugar importante, razão, onde não se deve deixar de
ir, razão, o que não se pode deixar de ver, razão, o que não se pode deixar de participar, razão,
o que não se pode deixar de comer/beber, razão, o que você entende por patrimônio cultural.
Após responder as questões, os grupos apresentavam para os demais suas respostas. Essa
oficina objetiva saber se os indivíduos da comunidade conhecem realmente a região onde
vivem e o que consideram mais importante em sua cidade, que pode vir a ser considerado o
patrimônio local.
Na tentativa de sensibilizar também os educandos em relação a seu patrimônio, foram
desenvolvidos materiais lúdicos para uso em sala de aula. Esses materiais são compostos de
uma maquete representando o patrimônio material (nesse caso, a igreja matriz do distrito),
cadernos lúdicos com atividades relativas aos patrimônios materiais e imateriais além de jogos
lúdicos como quebra-cabeças e jogos de tabuleiro entre outros.
O trabalho está em desenvolvimento e até o presente momento teve a abrangência dos
professores da rede Estadual de Ensino, atuantes no distrito de Santo Amaro. A proposta
elaborada para o desenvolvimento de atividades relacionadas à Educação Patrimonial é a de
inserção desta metodologia nas disciplinas do EFEM (Ensino Fundamental e Médio), atuando
concomitantemente com as atividades normais do currículo escolar, visando o entendimento
dos alunos para questões envolvendo o patrimônio de sua cidade e região.
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HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; Grunberg, Evelina; Monteiro, Adriane Queiroz.
Brasília: IPHAN, Museu Imperial, 1999. . Guia Básico de educação patrimonial
ITAQUI, José. Educação Patrimonial: a experiência da 4º Colônia. Santa Maria: Palloti,
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