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7/31/2019 EDICAO 187 CADERNO 1 http://slidepdf.com/reader/full/edicao-187-caderno-1 1/16 Ano 29 • número 187 • Maio de 2012 • Belo Horizonte/MG As mais novas do passado PÁGINA 4 A quem servem os nobres vereadores PÁGINA 8 Os monarquistas estão chegando... PÁGINA 10 Cdo DO!S - Músic, cim, s pásics, qudihos, shs umbis

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Ano 29 • número 187 • Maio de 2012 • Belo Horizonte/MG

As mais novas dopassadoPÁGINA 4

A quem servem osnobres vereadores

PÁGINA 8

Os monarquistas estãochegando...PÁGINA 10

C d o DO!S - Músic , ci m , s p ás ic s, qu d i hos, s h s umbis

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D y S l g6º períoDoed : G s p d s l

Dentre tantos ensinamentos,este talvez seja o mais importan-te deixado por Millôr Fernandesaos jornalistas brasileiros. Esta eoutras tantas lições são a heran-ça que o velho mestre nos legou eque servem para abrandar a tris-teza e o vazio que sentimos comsua ausência. Se já não estámais entre nós, contudo, os exem-

plos e a obra de Millôr servemcomo baluarte para a prática jornalística no Brasil.

Esta nova edição do IM-PRESSÃO nasce sob os auspí-cios dos ensinamentos de Millôr.Oposição acima de tudo, princi-

palmente aos paradigmas do jor-nalismo que abunda nos jornaiscontemporâneos. O que se pre-tende, nas páginas a seguir, éum contraponto à pasteuriza-ção, à mesmice, aos modelosprontos e ao engessamento dosmanuais.

Sob a tutela dos professoresMaurício Guilherme e LeoCunha, o IMPRESSÃO temcomo bandeira o signo da experi-mentação e da procura prementepor novidades. Não apenas nanarrativa, mas nas imagens, no

conceito e na maior interaçãoentre os alunos do UniBH e seu jornal. Como um autêntico labo-ratório, o jornal busca ser umceleiro de ideias e de novos parâ-metros de jornalismo.

Sem a preocupação em se

dividir por editorias estanques,as páginas a seguir abrigam ma-térias que caminham por váriossegmentos e resgatam o jornalis-mo de reportagem, no qual asensibilidade e o olhar críticodos alunos ganha espaço diantedo fato. É o que vocês vão ver na seção “Eu estava lá”, com amatéria do aluno GuilhermeRezende sobre o Rock in Rio.Outra seção que estreia no IM-PRESSÃO é “Minha BH”,onde a aluna Andressa Resendecomenta os efeitos da dança, na

capital mineira, para a recupe-ração de deficientes físicos.Do mercado de livros históri-

cos à ação dos vereadores emBelo Horizonte, passando pelosneo-monarquistas e pelo con- fronto entre dislexia e autoesti-

ma, o IMPRESSÃO tambémdá espaço à visão de mundo dosalunos, que surge em artigos, re-senhas e crônicas. A culturapede passagem e aparece nasmatérias sobre artes plásticas,música e quadrinhos.

Por fim, é preciso lembrar aos alunos do UniBH que o IM-PRESSÃO está aberto a todosvocês. Não existe uma equipe fechada de produção. Pelo con-trário! Venham nos fazer umavisita no quinto andar do CPM.Tragam sua pauta, sua suges-

tão, sua ideia, sua crítica. Oupassem aqui, apenas, para bater um papo. Sem vocês, estudantesde jornalismo, o IMPRESSÃOnão é nada. Ou, como diria omestre Millôr: “O importantenão é o relógio. São as horas”.

P im i s p v s IMPreSSãO2 BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

eXPeDIente

REITOR

Prof. Rivadávia C. D. de Alvarenga NetoINSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGNProf. Rodrigo Neiva

COORDENAÇÃO DO CURSODE COMUNICAÇÃO SOCIALProfa. Fernanda de Oliveira Silva Bastos

LABORATóRIO DEjORNALISMO IMPRESSO

EDITORESProf. Leo Cunha Prof. Maurício Guilherme

PRECEPTORAProfa. Ana Paula Abreu(Programação Visual)

ESTAGIÁRIOSCamila FreitasGuilherme Pacellijéssica Amaral

MONITORESDany Starling Gustavo PedersoliMarina Fráguas

LAB. DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS

EDITORAProfa. Lorena Tárcia

ParceriaLACP – Lab. de Criação Publicitária

IlustraçõesPaulo Henrique Fernandes(aluno de Publicidade e Propaganda)

IMPRESSÃO / TIRAGEMSempre Editora2000 exemplares

e i o o m ho Jo - bo ó iodo p ís expocom 2009

o 2º m ho expocom 2003

O ornal IMPRESSÃO é um pro eto deensino coordenado pelos professoresMaurício Guilherme e Leo Cunha, com osalunos do curso de Comunicação Social- Habilitação em jornalismo - do UniBH.

Mesmo como pro eto do curso de jorna-lismo, o ornal está aberto a colaboraçõesde alunos e professores de outros cursosdo Centro Universitário. Espera-se que osalunos possam exercitar a prática e divul-gar suas produções neste espaço.

Participe do IMPRESSÃO e faça contatocom a nossa equipe:

Rua Diamantina 463Lagoinha – BH/MGCEP: 31110-320Telefone: (31) 3207-2811Email: [email protected]

“Imprensa é oposição. O resto éarmazém de secos e molhados”

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Mídi s c o ogi s IMPreSSãO4 BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

L s h s ó c s sc s j l s sm c d d l l m ss d b s l s f s s g s d

C s F s cD g C sS m l S s

7º períoDoed : G s p d s l

História e jornalismo são áreas próxi-mas. Um jornalista que se preze, afinal,deve conhecer muito bem os “movimen-tos” históricos. Nos últimos anos, essa na-tural proximidade tem levado jornalistas ase destacar pela publicação de livros sobremomentos e personagens marcantes na tra-jetória do Brasil. O que chama a atenção éo sucesso de tais produções: ao contrárioda “fama” de mau leitor do brasileiro –para muitos, “um povo sem memória” –, osresultados mostram que a população temgrande interesse em conhecer melhor o

passado da nação. Iniciativas como a dosjornalistas Eduardo Bueno que, em 2000,lançou obest-seller Brasil: uma História – Cin-co séculos de um País em construção–, Lauren-tino Gomes, autor dos livros1808 e 1822,Fernando Morais, celebrado por seus livros A Ilha, Olgae Chatô, e Lucas Figueiredo re- velam o sucesso da “fórmula”.

Em função da proposta de uma revista,o jornalista Laurentino Gomes dedicou-seao relato dos eventos históricos que vão doDescobrimento à Independência do Brasil.De tal encomenda, foi publicada a chegadade Cabral às novas terras. O projeto, contu-do, seria deixado de lado pela mesma pu-blicação que propusera o trabalho ao au-

tor, apesar de seus anos de dedicação eárdua pesquisa. Nas mãos, porém, Lauren-tino possuía rico material sobre a vinda daCorte Portuguesa para o Brasil, no começodo século XIX. A solução encontrada foi apublicação, em livro, de todo o conteúdopesquisado: “Certa vez, um amigo me per-guntou o que eu estava pensando ao pre-tender lançar um livro sobre a história dopaís. Isso não vende, me disse ele”. Pois ojornalista contrariou o amigo: em 2008,lançou1808. O resto é história.

O livro se tornou umbest-seller brasileiro

e rendeu a Laurentino o prêmio Jabuti demelhor obra de reportagem e não-ficção.“Minha intenção foi aproximar a história

de um público distante dela. Procurei dardimensão humana aos personagens, dife-rentemente do que é feito nas versões ofi-ciais”, afirma o autor. A aceitação foi tãogrande que a continuação da obra – intitu-lada1822 e lançada em 2010 – também jáentrou para a lista de best-sellers e lhe ga-rantiu mais um Jabuti. A história da Inde-pendência do Brasil é contada com o mes-mo estilo do livro anterior. “Pretendocompletar a trilogia, contando os momen-tos da história imperial brasileira. Vou lan-çar o terceiro livro,1889, que vai narrar osacontecimentos da Proclamação da Repú-blica”, revela. Ao todo,1808 e 1822 somammais de 1,2 milhão de exemplares vendi-

dos.Também jornalista, Lucas Figueiredoapostou em assuntos relacionados à histó-ria e à política nacional. Depois de escreverMorcegos negros, Ministério do Silêncio, Olhopor Olhoe O Operador , o escritor lançou re-centementeBoa Ventura!– A corrida do ourono Brasil (1697-1810) – A cobiça que forjou umpaís, sustentou Portugal e inflamou o mundoé

FotoS : DivuLGação

o

l dd h s ó

L G m s d m s d 1,2 m d x m l s;M y D l p mb m l s dbest-sellers

“p c dd m s

h m ss g s,d f md q fnas versões o ciais”

L G m s

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avaliado com destaque pela Revista de His-tória da Biblioteca Nacional, referência naárea. “O trabalho não é muito diferente doque se faz na redação. A dificuldade da his-toriografia está na grande quantidade dematerial disponível”, revela o autor.

Ao alcance de todos?

Autora de obras comoCondessa de Bar-ral, a paixão do Imperador, O príncipe maldito e História das mulheres no Brasil, a historia-dora Mary del Priore encara a grande acei-tação desses títulos pelo público comooportunidade de reflexão sobre o modo detratamento de assuntos históricos no País.“O gargalo está na difusão da produção his-toriográfica fora do ambiente acadêmico.O conteúdo produzido nas academias estátão monotemático que se torna desinteres-sante ao grande público”, analisa Mary.Formada em jornalismo e história, DanielaMaciel afirma que “a linguagem é um dosprincipais fatores dessa tendência. Por for-ça do próprio ofício, os jornalistas escre-

vem de maneira mais direta e coloquial. Oshistoriadores têm uma forma científica deescrita, o que, muitas vezes, dificulta o en-tendimento”, explica.

Se, por um lado, a aceitação do públicochama a atenção, por outro, os historiado-res não veem com bons olhos a participa-ção de jornalistas no “meio” historiográfi-co. Mary del Priore acredita que se trata deum dilema comum e defende os jornalis-tas. “História e jornalismo darão as mãospara caminhar e levar conhecimento e in-formação de melhor qualidade à sociedadebrasileira”, constata a historiadora. ParaLucas Figueiredo, seus textos sobre a histó-ria do Brasil não têm pretensões acadêmi-

cas: “Sou jornalista. Meu trabalho é repor-tagem histórica. Não há tese no meu livro.Só quero contar boas histórias para o pú-blico que não as conhece”, pondera.

O aquecimento do mercado de livroshistóricos escritos por jornalistas despertaquestionamentos quanto à forma como o

conteúdo histórico é desenvolvido nas es-colas. Para Mary del Priore, a qualidade doaprendizado está associada à metodologiaaplicada aos alunos. “História é uma disci-plina que requer paixão. Se não há umbom professor, no começo da fase estudan-til, não se espere que a pessoa tenha inte-resse posteriormente”, critica. Apesar dis-

so, Daniela Maciel é contra a mudança dosmétodos. “Podem haver formas comple-mentares. A história é uma disciplina, umaciência com metodologia e teorias próprias,que devem ser levadas em conta”, argu-menta a jornalista.

Mídi s c o ogi sIMPreSSãO 5BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

L s bl c d s l j l s L c sF g d s b m m s-ch d

h s ó b s l

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Ou os p pos IMPreSSãO6 BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

Os olhos da arteH s s, sc el z L sb sm às c s –

c m q l s c m bl m s d s – g d z d l

Para a escritora Elizete Lisboa, crianças cegas também merecem obras bonitas: “Quando pequena, meus livros não possuíam atrativo visual. Eram sempre feios”

FotoS: ana pauLa DiaS

a p l D s6º ded : D y S l g

Segundo dados do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística

(IBGE), fruto do Censo realizado em2010, o Brasil conta com mais de 35milhões de deficientes visuais – o queequivale a 18,8% da população nacio-nal. Os números incluem pessoas quenão enxergam nada e aquelas que pos-suem “alguma” ou “grande” dificulda-de para enxergar. Em Minas Gerais, onúmero é de, aproximadamente, 3,3milhões de indivíduos com proble-

mas de visão – ou 17% dos moradoresdo Estado. Em comparação com asinformações da pesquisa anterior,também divulgada pelo IBGE, havia,no ano 2000, cerca de 16,7 mi de de-ficientes visuais no País, e, em terrasmineiras, 1,7 mi. Ao pensar nesses números, a escri-tora Elizete Lisboa, especializada emliteratura infantil, decidiu transfor-mar seu trabalho em serviço inclusi- vo, de modo a que crianças – entre asquais, aquelas com deficiência visual– se unissem em torno do prazer daleitura. Elizete é de Coluna (MG), pe-queno município no Vale do Rio

Doce, localizado a 315 km de BeloHorizonte, para onde se mudou aosoito anos. Ela nasceu com retinosepigmentar, doença genética que podese manifestar em qualquer idade e ca-racterizada pela perda da visão notur-na, do campo visual e da visão central.No seu caso, a enfermidade manifes-tou-se logo no berço. Ela enxergavapouco, via as coisas sem definição cla-ra e sem formato, salvo objetos maio-res. Com o tempo, entretanto, acaboucompletamente cega.

Primeiros passos no escuroPor dois anos, Elizete estudou em

escola pública não-inclusiva, mas sófoi alfabetizada aos nove, numa insti-tuição para cegos. Até o Ensino Fun-damental, achava os professores dePortuguês muito chatos. E acreditavaque aquilo não era para ela. Foi noEnsino Médio que conheceu umaprofessora que a estimulou não ape-nas a estudar, mas também a ensinar. A escritora encantou-se pela discipli-na e começou a lecionar aulas particu-lares de Português. Logo depois, en-trou para a Faculdade de Letras.Começou a escrever em 1998. Foinessa época, também, que teve a ideiade criar o projeto “Livro com duas es-

Florice é uma pata, preta e bonita, que mora numa fazenda; come milho namão de menino; nada no lago, unto com o pato. Um dia, novidade: oprimeiro ovo. Depois, uma dúzia de patinhos. Aquelas vidas pequeninasenfeitam e alegram a fazenda. Mas os patinhos logo percebem que omundo não é s bonzinho não. Põe estrondo nas tempestades, pregaenormes sustos na gente. Com suas duas escritas (visual e braile) e, ainda,pelo valor artístico de seu texto e ilustrações,Benquerer bem amar procura aabrir caminhos para o Brasil da inclusão, que dese a ver todas as crianças setornando leitoras.

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critas”, cujo objetivo era pu-blicar livros infantis que po-deriam ser lidos por criançascegas ou não.

Em 2004, lançou seu pri-meiro livro, que não era embraille. O mesmo ocorreucom o segundo. Naquele pe-ríodo, ia às editoras apresen-tar seu projeto. “Eu propu-nha livros bonitos. Tinhaque investir no visual, deuma forma como não se faziano Brasil ou no mundo. O

investimento era muito caroe as editoras não queriam in- vestir no projeto. Diziam quesó cegos iam querer aquelasobras”, conta. A ideia de Eli-zete dizia respeito à produçãode livros, com textos e ilustra-ções que pudessem ser lidospor qualquer criança. A auto-ra desejava escrever, na mes-ma página, uma história paragarotos e garotas capazes deler com os olhos ou com asmãos, de forma que até os de-

senhos pudessem ser identifi-cados em braille. “Antes dosmeus livros havia outros comduas escritas, mas eram edi-ções só para cegos. Por isso,não tinham gravura, nem be-leza visual”.

Inclusão pela leitura A escritora persistiu com

a ideia, até que, em 2005,conseguiu publicar seu pri-meiro livro em braille. A par-tir daí, não parou mais. Hoje,

já publicou seis livros infan-tis com as chamadas “duasescritas”, e já está com outrosdois “bonecos” (como sãochamados os primeiros exem-plares antes de ir para a edi-tora) prontos. O próximodeve ser lançado em maiodeste ano. Quase todos osseus livros já estão na 5ª edi-ção.

Elizete defende seu proje-to de livros inclusivos e expli-ca que crianças cegas tam-

bém merecem livros bonitos:“Quando eu era criança,meus livros não possuíamatrativo visual. Eram semprefeios”. Foi por isso que a au-tora resolveu criar obras bo-nitas, que também pudessemser lidos pelas crianças com

problemas de visão. “Sercega me deu elementos paraisso. Eu tinha dois filhos queenxergavam, e precisava lerpara eles”, conta, ao falar doslivros bonitos que desejavaque os filhos vissem.

Sem nenhum auxílio, aautora usa o computador eescreve suas obras. Para usá--lo, faz uso de um programachamado Jaws, software de voz sintetizado que faz leiturada tela do computador. Basi-camente, o programa lê oque está na tela e o usuário

pode regular a velocidadecom que ouvirá a mensagem.Elizete já utiliza o equipa-mento há 14 anos. Ouve asmensagens em ritmo tão rá-pido que é quase inaudívelpara quem não está acostu-mado ao programa.

Atualmente, Elizete apre-senta seu projeto em oficinase simpósios. Leva seus livrospara escolas, junto aos perso-nagens, que ela manda fazerde pano, iguais aos dos li- vros. Podem ser sanfonas,acordeons ou outros objetosatraentes. A ideia é brincarem torno do livro. “As crian-ças adoram”. A escritoratambém ministra palestraspara adultos sobre a impor-tância dos livros “com duasescritas”, destinados ao pú-blico infantil. “Isso é que élivro inclusivo”, defende. Osucesso é tanto que ela andaconversando com uma edito-ra de Portugal – a mesmaque publicou suas obras noBrasil – para tentar levá-lospara lá.

Ou os p posIMPreSSãO 7BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

A galinha e o macaco acordaram felizes da vida. Queriamexibir os presentes que ganharam, e saíram para passear.Encontraram a cabra com os três bebês cabritinhos e agarça. Hum, de repente, a garça perdeu a elegância, arre-galou um olho feio e cou olhando torto... Uma garçacarrancuda, cara amarrada. O que estaria errado?

Cuidado! Uma bruxa brincalhona, que á fez muitose muitos aniversários e adora cantar no meio danoite, cismou que vai se casar no ano que vem, eestá à procura de um marido que goste de cantar eque se a bem velho. E bem feio!

A gente vê com os olhos, mas também se pode ver comas mãos. Pode-se ver, ouvindo, pensando. Agora, penseem uma bruxinha que adora água, espuma, canção;que não pára de lavar: lava tapete, prato, pato, lava bo-neco de pau e boneca de pano. Lava até segredos...

Fonte: Editora Paulinas

a c m m s c ss d d s j s m l s s l s e

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v d s d m b lh c d d c m d d q

D y S l g6º períoDoed : G s p d s l

O vereador é o agente po-lítico mais próximo da socie-dade. Muitas vezes, ele é umconhecido, alguém comquem se esbarra diariamen-te. Um líder comunitário,um colega de clube, um co-merciante do bairro, aqueleque frequenta o mesmo barou a mesma fila de super-mercado. Alguém que vivena mesma comunidade queo eleitor, conhece bem as ne-cessidades do lugar e que,eleito, poderá solucionaresses problemas.

Mas qual a verdadeira função do vereador? Aten-der à comunidade que o ele-geu e cuidar de problemasisolados, localizados somen-te em um bairro ou região,ou atuar em prol de toda a cidade? Legislar e fiscalizaros atos do Poder Executivoou operar como um repre-sentante particular daquela parcela da população que,com seus votos, colocou-o na Câmara Municipal?

Responder a essas ques-tões não é tarefa fácil. Dos41 vereadores atualmente na Câmara Municipal de Belo

Horizonte, 28 foram eleitoscom grandes votações em re-giões específicas da cidade.Em certos casos, os eleitoscontaram com percentuaisque ultrapassam os 60% de

votos obtidos numa única região ou em localidades vi-zinhas.

“Teoricamente, o verea-dor é as duas coisas. Quandose reúne na Câmara, é obri-gado, por dever de ofício, a pensar na cidade, analisar oorçamento, o código de pos-tura etc. Seu mandato é mu-nicipal. Mas, até como for-ma de sobrevivência, opolítico deve estar muitoatento à sua base. Se você foieleito por uma região, a ex-pectativa é que a represen-te”, explica o coordenadordo Centro de Estudos Legis-lativos da Universidade Fe-deral de Minas Gerais (CEL--UFMG), Carlos Ranulfo.

Para o pesquisador, se o vereador preocupar-se emexercitar apenas as funçõesoriginais do cargo, corre sé-rio risco de não conseguirnovo mandato. “O vereadorque não se preocupa em darretorno à base eleitoral está sendo pouco representativocom seu eleitorado e podeser que não se reeleja. Ele

precisa equilibrar as duascoisas”, analisa. “Por outrolado, vereadores mais conhe-cidos da população, commaior penetração na im-prensa e votação pulverizada podem pensar, com maistranquilidade, na cidadecomo um todo”, completa.

EncruzilhadaCom 88,84% de seus vo-

tos adquiridos na região doBarreiro, o vereador AntônioTorres Gonçalves, o Gunda(PSL), assume que priorizousua comunidade durante omandato. “Meu trabalho vol-

tou-se para o Barreiro”, diz opolítico, que justifica a predi-leção pelas carências locais.“O pessoal vinha de fora, pe-gava os votos e não fazia nadapela comunidade. Trabalheimuito junto ao Executivopara realizar obras necessá-rias”.

Quem também teve uma votação significativa numaúnica região foi o vereador João Oscar (PRP), que conse-guiu 80% de votos em VendaNova. Segundo ele, o manda-to destinou-se à comunidadeque o elegeu, mas sem perderde vista o cenário geral deBelo Horizonte. “Dediquei amaior parte do meu trabalhoa Venda Nova, mas abri ou-tros espaços de discussão,principalmente como presi-dente da Comissão de Admi-nistração Pública”, destaca.

Para os vereadores, toda- via, a atuação parlamentar é vista de maneira distorcidapela população. “O povo nãoquer saber de lei, mas de me-lhoria para sua comunidade. Já apresentei diversos proje-tos na Câmara, mas ninguémnunca me pergunta sobreeles. Só pedem melhorias,obras. É isso que eles co-bram”, diz Gunda. João Os-car concorda. “Agimos, mui-

tas vezes, como despachantes.Pegamos as demandas da re-gião e levamos a discussãoao Executivo”.

Recordista de votos nosdois últimos pleitos, EliasMurad (PSDB) sempre tevemaioria de votos na regiãoCentro-Sul da capital. Em2008, essa concentraçãoequivaleu a 48,5%. Apesardisso, ele entende que a fun-ção do cargo é muito maisampla que atender a umaúnica parcela da população.“O vereador deve sempre di-latar seus horizontes, sempriorizar regiões ou interes-ses de segmentos”, adverteMurad, que irá se aposentardas atividades políticas em2012.

Mesmo tendo sido lem-brada em todas as zonas elei-torais da capital, Maria LúciaScarpelli (PC do B) foi eleitagraças à votação alcançada naregião Centro-Sul, que equi- valeu a quase 38% de seus votos. Para ela, isso se deunão por que tenha trabalha-do em prol da localidade,mas em função do perfil doseleitores. “O eleitorado doCentro-Sul de Belo Horizon-te é muito diverso, mas comum alto percentual de pesso-as conscientes. Sempre atuei

Cidade versus

10ª Reunião Ordinária da Comissão de Administração Pública: audiência para discutir situação de servidores da PBH que tem vínculo “celetista”

“o dd s md l s sh z s,s m z

g õ s ss s d

segmentos”

el s M d

JéSSiCa aMaraL

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na luta pelos direitos do con-sumidor, não por uma classeespecífica. Isso se reflete nos votos que tive”.

Scarpelli critica os cole-gas que passam seus manda-tos voltados somente a umaregião. “É preciso trabalharpela cidade, por ‘coisas’maiores e não por causaspersonalistas. Muitos verea-dores agem dessa forma e

acabam se debruçando emuma única região. Não traba-lham por Belo Horizonte,mas pelo lugar que os ele-geu”, condena.

Desejo da populaçãoSe, entre os vereadores, a

forma de exercer o mandatoainda se mostra polêmica, emmeio à população o sentimen-to é mais claro. Caso eleitopor uma região específica, opolítico tem obrigação com olugar, com a comunidade, edeve voltar seu trabalho para

onde conseguiu votos, a des-peito de o cargo pertencerao município.

“O vereador eleito com votos de Venda Nova devetrabalhar por Venda Nova,de modo a apoiar a comuni-dade e atuar junto da gente.Tem vereador que faz muitaproposta, mas não vai aobairro e se esquece que o po-der está com as liderançascomunitárias. Queremos tra-balho e serviço. Ele pode tra-balhar para outros lugares,mas, primeiramente, tem

que respeitar Venda Nova”,diz o presidente da Associa-ção de Moradores de Jardimdos Comerciários C, AlípioCarlos de Paula.

Italiano radicado na cida-de de Belo Horizonte, o pre-sidente da Associação deMoradores da Savassi, Ales-sandro Runcini, reclama dafalta de contato com os vere-adores da capital. “Seria mui-to bom se tivéssemos rela-ções estreitas com os vereadores, até como formade conseguir melhorias parao bairro”, diz Runcini, quedeixou Roma e veio para oBrasil há 16 anos. “Os políti-cos deveriam ser mais engaja-dos, atentos aos anseios dosmoradores e sempre em con-tato com seus representados.Em nosso caso, não apenascom moradores, mas tam-bém com comerciantes. Elesprecisam se inteirar sobre oque acontece na Savassi”,afirma.

Próxima campanhaSe há divergência na hora

de avaliar a forma mais cor-reta de exercer a atividadeparlamentar, os vereadorestêm visões semelhantes nomomento de traçar estraté-gias para as campanhas eleito-rais. De olho na reeleição, ospolíticos entendem que de- vem continuar ativos nasregiões onde são bem vota-

dos, mas sem abrir mão deexplorar novos horizontes.“Voltarei a dialogar com

os locais onde fui mais vota-da, além de reforçar os pedi-dos e meus compromissos.Mas sinto que, se não expan-dir para outras áreas, correreisério risco de ficar de fora”,

analisa Scarpelli. No caso da vereadora, a aposentadoriado colega Elias Murad, comquem disputou os votos daregião Centro-Sul, pode serbenéfica. “A saída do profes-sor Murad pode influenciarfavoravelmente. Ainda queele lance um sucessor, nãoacredito muito na transferên-cia de votos”.

Gunda, por sua vez, di-

vidirá as atenções durante apróxima campanha. “Oitentapor cento do trabalho seráfeito aqui mesmo, no Bar-reiro, onde as pessoas já con-hecem meu trabalho. Os out-ros 20% das ações dirãorespeito a outras localidades”. João Oscar segue na mesma

toada. “Uma vez na Câmara, você amplia seus relaciona-mentos. Continuarei trabal-hando em Venda Nova, que éonde vivo, mas quero estreit-ar laços com outros lugaresda cidade”.

A visão dos vereadores écompartilhada pelo professorCarlos Ranulfo. “O políticodeve combinar duas estraté-gias. Primeiro, é preciso man-

ter o que tem. Ninguém jogafora o que já possui. Mas eleprecisa expandir sua área de votação. A eleição, principal-mente no Brasil, é muitocompetitiva. De uma horapara outra, alguém pode apa-recer em seu reduto eleitorale lhe tomar os votos”, alerta.

t m s co mpo â sIMPreSSãO 9BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

Comunidader s s s ô m d lêm c Câm d B l H z

inFoGraFia : GuiLHerMe paCeLLi

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t m s co mpo â s IMPreSSãO10 BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

G s m q c s g z m-s d f d d s d g m m

C l a gl d8º períoDoed : D y S l g

No imaginário popular, o“Brasil Monárquico” está fre-quentemente relacionado aepisódios escritos nas entreli-nhas da história: Dom João VI e a coxinha de frango nocolete; Dona Carlota Joaqui-na e seus modos, no mínimo,extravagantes de ser; Dom Pe-dro II e os irrefreáveis cochilosdurante as conferências reais.

Críticas e deboches são costu-meiramente dirigidos a che-fes, estadistas e líderes quecarregam significativos pode-res e, ainda mais, no que serefere ao Brasil Impé-

rio, ficaram noções enraizadasem nossa própria maneira depensar e falar. “Não sei quemé o rei da bala chita...” e “Fu-lano de Tal é educado comoum príncipe!” são exemplos –neste caso, positivos – da ima-gem imperial que, atéhoje, carregamos!

Relacionar a figura de reise príncipes à figura de quemadmiramos revela muito maisintimidade com o passado doque se pensa. Devido, justa-mente, a este sentimento de

identificação é que o médicoRodrigo Laender – de calçajeans e camisa listrada de bo-

tão – con-sidera-se um mo-

narquista: “Todosnós queremos um pai. OBrasil precisa de um pai. E umrei, criado dentro dos princí-pios de honra e dedicação, é omais indicado para assumiressa função”.

No Brasil, por incrível quepareça, Rodrigo não está nemum pouco sozinho. Atualmen-te, há dezenas de “Movimen-tos”, “Círculos” e “DiretóriosMonárquicos”. São grupos de

pessoas que, sem necessaria-mente possuir títulos de no-breza ou parentesco com a Fa-mília Imperial, acreditam edefendem a Monarquia ou, aomenos, simpatizam-se com acausa. O objetivo é a reunião ea articulação dos interessadoscom grupos e entidades, a fimde divulgar a MonarquiaConstitucional Parlamentaris-ta, democrática e federativa,junto à população e poderesconstituidos, na busca pelorestabelecimento do Império

do Brasil. Planos, aliás, paracurto prazo.

Um por todos...Na capital mineira, há

dois exemplos em

at iv i -

dade: oM o v i -m e n t o

J o v e mda Mo-

narquia eo Círculo

Monárqui-co de Belo

Horizonte, sen-do o primeiro

uma recente ala dosegundo. O Círculo

Monárquico de BH nas-ceu em decorrência das

comemorações dos 200 anosda chegada da Família Real noBrasil, que ficaram restritas aSão Paulo e Rio de Janeiro.Um grupo de amigos, sob osauspícios dos Institutos Geo-gráficos e Históricos de NovaLima e Sabará, foi o responsá- vel por enxergar essa brechamonárquica em Minas e orga-nizar o Círculo. Hoje, são 680mil mineiro monarquistasde carteirinha.

Na prática, essas associa-

ções promovem palestras,conferências, seminários, cur-sos e encontros para discutir eaprofundar o conhecimentosobre o regime monárquico. A estratégia básica segue trêscomandos: comunicação,educação e aglutinação. A pri-meira almeja a comunhão en-tre os grupos monárquicos; asegunda, a informação sobreos princípios e vantagens doregime Monárquico para apopulação, e a terceira, aunião de esforços com vistas à

restauração do regime de Mo-narquia Parlamentarista.O presidente do Círculo

Monárquico de Belo Hori-zonte, Mário de Lima Guerra,relembra a importância da vinda da Família Real para oEstado de Minas Gerais. “Oproblema de Minas semprefoi o sistema fiscal, o famosoquinto do ouro. Com a chega-da do príncipe Dom João,este modelo passou por rees-truturação. Foi um dos perío-dos em que Minas mais sedesenvolveu”. Não é à toa

que informação e conheci-mento histórico está entreum dos três pilares dos movi-mentos monárquicos para arestauração... Em breve.

Empada de bacalhauSe nós, quando votamos,

não fazemos ideia de quemestá por trás da figura queaparece nas campanhas, ocaso dos participantes do Cír-culo é bem diferente. Máriode Lima relembra o primeiroencontro com D. Betrand ediz do homem que seria nos-so imperador como se falassede um amigo íntimo. “Oitode agosto de 2008. A data éconsiderada, por nós, como oPrimeiro Encontro Monár-quico Mineiro, patrocinadopelo Instituto Histórico e Ge-ográfico de Sabará. Veio mui-ta gente de outras cidades,que ficou sabendo da vindado príncipe. Ele é um caramuito culto, bem informado,gosta de filosofia, é piloto deavião, enfim, ótimo papo!Nós nos tornamos amigos em48 horas porque temos gostosem comum. A gente gosta deempada de bacalhau com gua-raná, uma taça de vinho noalmoço. Foi o primeiro conta-to de muitos!”.

Sobre a desinformaçãohistórica do brasileiro frente àMonarquia, Pedro Henrique Viana Espechit – cujo nomede batismo é uma homena-gem realizada por seu pai, mo-narquista doente, a Dom Pe-dro Henrique de Orleans e

Bragança – relembra o episó-dio de repressão que sua famí-lia viveu no período de dita-dura militar. “Durante arevolução, em 1964, lá emCurvelo, todo mundo que‘era alguma coisa que termi-nava em ista’ acabava preso.Monarquista, para eles, eracomunista. Brinco que só nãoprenderam o ascensorista por-que, na verdade, a cidade ain-da não tinha elevador”, con-ta, ao confessar que conhecede perto a Família Imperial:

“Meu pai era muito amigo doDom Henrique, com quemtenho várias fotos de criança.Eles se mandavam cartas!”.

Plebiscito já!Quando questionados so-

bre a possibilidade de a Mo-narquia ser, de fato, restaura-da, os monarquistasrespondem com argumentosnuméricos. E esperança. Má-rio Guerra lembra que, noplebiscito ocorrido em 1993,quase 7 milhões de pessoas votaram a favor da Monar-

quia. Segundo ele, trata-se denúmero significativo de favo-ráveis ao regime. “Nosso obje-tivo é, justamente, reuniraqueles que já são simpáticosà causa e informar a outros.Quando tivermos uma listade Um milhão demonarquistas, organizados,engajados e dispostos, preten-demos enviar uma petiçãopara Brasília e exigirnovo plebiscito”.

Referência em engajamen-to para uns, tentativa de res-tauração elitista para outros,os grupos instigam opiniõesdiversas de especialistas. Parao cientista social HenriqueRodrigues, a existência demovimentos monárquicos,hoje, mais de cem anos após aqueda do regime, “representaum desejo de ordem, honra etradicionalismo, refletidos nodesejo de um sistema políticodiferenciado”. Entretanto,em sua opinião, a mudançaseria em vão. “Eles se esque-cem que mudar de regime po-lítico não acarreta em mudan-ça certeira nos costumes dopovo, sendo antes o contrá-rio”, conclui.

Para mais informações so-bre a monarquia no Brasil, oCírculo reúne-se toda sexta--feira, às10h, no Café Polastri,situado à Av. Bernardo Mon-teiro, nº 1022. O papo é des-contraído e está aberto acuriosos, interessados e mo-narquistas que, porventura,queiram abraçar a causa juntoaos grupos e diretórios.

... s ch g d s m q

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Mi h BHIMPreSSãO 11BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

Na dança dos sentidosCentro artístico transforma portadores de de ciência física em bailarinos pro ssionais

a d ss r s d7º ded : D y S l g

Primeiro sinal e os baila-rinos se preparam para maisum espetáculo. Segundo ba-dalar, hora da oração. É sóno terceiro e derradeiro avi-so, porém, que a bailarina Ana Luiza de Castro Guima-rães, 28, deseja que o abrirdas cortinas não seja o últi-mo: “Quando estou pronta,digo: meu Deus, muito obri-gada por mais um espetácu-lo. A minha maior e maislinda oração é dançar e dizera mim mesma que consegui.Sinto-me privilegiada por tera trajetória de uma dançari-na com limitações e vivertudo isso”.

Ana veio ao mundo emum parto pré-maturo. Aonascer, o lado direito de seucorpo sofreu limitações devi-do à falta de oxigenação nascélulas cerebrais. As caracte-rísticas anatômicas, contu-do, nunca impediram a garo-ta de buscar – e alcançar– seus sonhos.

Já adolescente, surgiu odesejo de realizar movimen-tos cadenciados. Ela chegoua procurar academias, mas asaulas de dança não ofere-ciam exercícios específicos,que respeitassem suas limita-ções corporais. Leonor deCastro Guimarães, 57, mãede Ana Luiza, acreditava quea vontade da filha em seguircarreira artística não se con-cretizaria.

“Ela decidiu que queriadançar e eu fiquei muito tris-te porque não imagineicomoseria possível”, lembraa mãe. Foi na mesma adoles-cencia, entretanto, que aarte mudou a vida dajovem.“Uma vez artista, sem-pre artista. É viciante. Adre-nalina de apresentação éalgo que você só vivencia nopalco e, quando experimen-ta uma vez, não quer largarnunca mais”, diz a hoje psi-

cóloga e bailarina ligada aocorpo de baile da Compa-nhia Crepúsculo há 13 anos.

Direito à arte Assim como o clã das

Castro Guimarães, outras fa-mílias de Belo Horizonte fa-zem parte da AssociaçãoCrepúsculo. O centro artísti-co é uma organização nãogovernamental (ONG), cujoprojeto inclusivo iniciou-seem 1996 e, hoje, integra ospoucos grupos brasileiros atrabalhar corpo, estética e

dança como foco artístico,com consequências terapêu-ticas para deficientes.

Luciane Kattaoui, 36,bailarina, terapeuta ocupa-cional e coordenadora artís-tica da entidade, é a idealiza-dora da iniciativa. Ela afirmaque tudo começou com a vontade de dançar com pes-soas portadoras de dificulda-des motoras: “Não é um ‘fa-zer bonitinho’. Afinal, asociedade está pedindo e alegislação garante direitosaos portadores. É uma von-

tade de estar junto, convivercom pessoas diferentes”.

A Crepúsculo realiza tra-

balhos de supervalorizaçãoda arte inclusiva, aprimora-mento artístico de jovens econscientização com a famí-lia e a sociedade. Há umaequipe de professores forma-dos e especializados, que li-dam com as particularidadesde cada portador de necessi-dade física.

De acordo com Luciane,o trabalho paulatino trans-forma jovens com medos einseguranças em bailarinosprofissionais, respeitando,claro, o tempo de maturação

artística de cada integranteda ONG. Para a coordenado-ra, o objetivo é ressignificar acomunicação e o diálogo ar-tístico por meio da emoção edo aprimoramento da técni-ca, além de proporcionar ex-perimentação das linguagenscorporais, encontros de so-cialização, desinibição eautoconhecimento.

Para Heraldo Dutra, ge-rente de projetos da Associa-ção Pais e Amigos Excepcio-nais de Belo Horizonte(Apae-BH), as políticas pú-blicas têm como objetivo ainclusão. Heraldo relataque, para a construção de so-ciedades mais justas e solidá-rias é preciso promover qua-lidade de vida às pessoascom deficiência. “Além dis-so, há que se articular políti-cas inclusivas junto aos po-deres públicos e assegurar aoportador o direito a educa-ção, saúde, assistência social,habitação, formação profis-

sional, inserção no mercadode trabalho, entre outros be-nefícios essenciais. Trata-se

de um processo lento emtodo o País, mas que temavançado”.

Estética múltiplaNa capital mineira, a

Crepúsculo se vale de leismunicipais, estaduais e fede-rais, e e se beneficia de in-centivos e fundos fiscais,bem como de outros repas-ses advindos da iniciativaprivada. Asatividades gratui-tas, oferecidas para jovens eadultos, são oficinas de tea-tro, música, artes plásticas,contação de histórias e circo. Já no atendimento clíni-co, destaque para terapia ocu-pacional, fisioterapia, fono-audiologia, psicopedagogia epsicologia. Uma vez por se-mana, cada aluno dedica-se adeterminada “linguagem”,durante uma hora e meia, po-dendo transitar por todos osnúcleos artísticos.

O espaço também possuicompanhias de dança e tea-tro que já fazem turnês emBelo Horizonte e alguns mu-nicípios do interior de Mi-nas Gerais e da região sudes-te do país. Luciane Kattaouiexplica que as técnicas viven-ciadas em grandes grupostambém são aplicadas à Cre-púsculo. “Às vezes, é um seg-mento do método, porquetenho uma pessoa que nãoestica o braço, outro que nãoanda, não fala. É uma técni-ca adaptada a cada corpo e acada possibilidade”, concluia coordenadora.

a s õ s s d C úsc l m c m l s

al d s m s ss s c m h d

“ad l ds

lg qsó s c

lc .É viciante”

a L z G m s

FotoS: DivuLGação

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L a d6º períoDoed : M F g s

Aprender a escrever corre-tamente sempre foi tarefacomplexa para o dramaturgoRenato Lopes de OliveiraFerreira, hoje com 30 anos.Nos tempos de letramento,os professores achavam queele não se esforçava o bastan-te e cobravam atitudes damãe, que, por sua vez, pensa- va haver falta de vontade oude capacitação do filho. “Euera tachado de ‘burro’, poistrocava as letras, cometia er-ros ortográficos e tiravanotas baixas”. O pro-

b l e m apersis-tiu,a té

que – aos 13 anos Renato élevado a uma fonoaudióloga,que o diagnosticou como“disléxico”.

Justamente devido à faltade informação, os efeitos dadislexia são, por vezes, rela-cionados a desatenção, pou-ca inteligência ou baixa con-dição socioeconômica. Paraalém do senso comum, po-rém, a Associação Brasileirade Dislexia (ABD) define oproblema – que atinge cercade 17% da população mun-dial – como “distúrbio deaprendizado na área da escri-ta, leitura e soletração”. Con-

gênita e hereditária, a dificul-dade em ler e compreender aescrita – cuja maior incidên-cia dá-se no período de alfabe-

tização – proporciona uma sé-rie de alterações genéticas, oque resulta em mudançasneurológicas. Quando o trata-mento não é correto, o distúr-bio pode aumentar de nível,assim como causas emocio-nais acabam por ampliar a in-tensidade de seus sintomas.

A dislexia desenvolve-seem três níveis: leve, moderadoe intenso. Seu diagnóstico éindividual e deve ser feito porequipe multidisciplinar, com-posta por neuro-logista, fo-

noaudiólogo, oftalmologista,otorrinolaringologista, psico-pedagogo e psicólogo. Cadaprofissional avalia o paciente

segundo sua área específica,na tentativa de levantar hipó-teses que caracterizarão ou-tros transtornos ou constata-rão a dislexia. A necessidadede avaliação completa facilitaa identificação dos “não-dislé- xicos”, conforme explica a fo-noaudióloga Cristina Santa-na: “Há muito equívoco porparte das pessoas, que nor-malmente classificam tudocomo distúrbio da escrita”.

A anomalia afeta a codifi-cação e decodificação das ins-truções. Com isso, o cérebro

se torna “hipofuncio-nal”. Em outros ter-

mos, pode-se dizer que certasáreas cerebrais “deixam a de-sejar”. Por isso, é possível queum disléxico desenvolva “co-

morbidade”, quando um dis-túrbio se associa a outros.Neste caso, o paciente apre-senta, ainda, “disortografia”,que é a troca de fonemas naescrita; discalculia, conhecidacomo a dificuldade em assimi-lar e decorar símbolos etabuada; disgrafia, alteraçãona escrita ou letra feia, e dis-praxia, a síndrome do desajei-tado. Em geral, o disléxicoapresenta memória curta,dificuldades para seguir indi-cações de caminhos e execu-tar sequências de tarefas com-plexas ou de organização. Além disso, pode ter

baixa per-

Co h cim o IMPreSSãO12 BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

C h c c c s c s m s d m d ó l s d

provoca baixa autoestima infantil

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Co h cim oIMPreSSãO 13BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012

cepção espacial – expressa,por exemplo, na confusão en-tre direita e esquerda – e pro-blemas para interpretartextos e aprender uma segun-da língua.

DesafosPara o assistente de marke-ting Frederico Garcia, 27anos, a comprovação da disle- xia, por meio do trabalho deuma psicóloga, ocorreu naidade de alfabetização. “Du-rante toda a vida, tive proble-mas com acentos e constru-ção de texto”, ressalta, aolembrar, ainda, que sempreapresentou “escrita espelha-da”, quando a criança escrevenúmeros e letras de trás parafrente. Frederico, contudo,sempre foi um bom comuni-cador, a ponto de se formarna área: “Nunca tive facilida-de em Português, mas precisa- va de me comunicar. Minhapsicóloga dizia que pessoascom dislexia têm essa tendên-cia. Acho que sou um bomorador”. Os disléxicos tam-bém têm muita facilidadecom atividades relacionadasao raciocínio lógico e às artes.“Lembro que meu QI semprese apresentava acima da mé-dia. Eu tinha facilidade commatérias como Física”, com-pleta.

Mesmo com tais habilida-des, por serem classificadascomo “diferentes” ou “incom-petentes”, muitas criançascom distúrbio do aprendiza-do deixam de frequentar aescola. E olha que a Lei deDiretrizes e Bases da Educa-ção Nacional (LDB), de de-zembro de 1996, estabeleceque “o dever do Estado com aeducação escolar pública seráefetivado pelo atendimento

educacional especializado gra-tuito aos educandos com ne-cessidades especiais, preferen-cialmente na rede regular deensino”. Apesar do belo tex-to, para a pedagoga Maria Aparecida Alves Santos, de

48 anos, a inclusão na educa-ção é um desafio “entre o reale o ideal”.

Outra dificuldade destaca-da pela profissional diz respei-to à aceitação familiar. Afinal,a chegada de uma criança nafamília é sempre repleta deexpectativas, planos, idealiza-ções, mas, diante do nasci-mento de um filho com pro-blemas, tudo parece ir porágua abaixo: “É assim quemuitas famílias retratam o im-pacto da chegada de umacriança com necessidades es-peciais. Mostram, portanto,que têm problemas em se re-lacionar e aceitar as doenças. Apesar disso, terão que se rea-dequar às novas condições

emocionais, socioeconômi-cas, etc.”, afirma Maria Apa-recida Santos.

Na verdade, a aceitação fa-miliar é muito importantepara que o tratamento produ-za resultados. Além disso, re-

vela-se necessário que os pro-

fissionais envolvidos tenhampaciência e dedicação emcada caso. Há oito meses, aprofessora de inglês, RejaneProtzner, descobriu que umde seus alunos, com 12 anosde idade, sofre de dislexia. Se-

gundo ela, o processo deaprendizado é lento, pois ogaroto apresenta dificuldadesem associar sons e letras, as-sim como para identificar asclasses gramaticais das pala- vras, desenvolver estratégiasde leitura, realizar referênciassegundo contextos e discernirideias principais.

Apesar disso, a professoragarante que não precisoucriar método específico de en-sino. Bastou-lhe tomar atitu-des que, em geral, pareceriamóbvias. “Procuro não dar res-postas ou fazer afirmações‘gratuitamente’, mas estimu-lar nele percepção sobre oque estamos estudando. Ten-to, ainda, levantar o conheci-

mento prévio do aluno sobreo assunto e expandir sua vi-são textual.” Depois de mui-tos treinos e exercícios, Reja-ne garante que tem tido bonsresultados. “Para mim, a ex-periência é enriquecedora,embora, às vezes, seja frus-

trante perceber que ele pode-ria evoluir mais. Tenho desen- volvido, em mim, maispaciência, tolerância e a no-ção. Afinal, ele possui ritmopróprio e a minha função éajudá-lo a melhorar. Fico felizporque vejo sua capacidadede progredir”, destaca.

Esperança e melodiaDurante o processo de tra-

tamento da dislexia, o maisindicado pelos profissionais éo Multissensorial Fônico Arti-culatório, método que traba-

lha a leitura e a escrita pormeio de estratégias de associa-ção, capazes de ativar as áreasmultifuncionais. Apesar dis-so, “tudo o que envolve os dis-túrbios do aprendizado aindaestá em processo de pesquisa”,explica a psicopedagoga Eloi-se Torres, que também desta-ca a importância de o disléxi-co ter consciência de que seuproblema não é totalmentecurável. “Afinal, em compara-ção a outras pessoas, semprehaverá diferença em sua capa-cidade. Ao fazer o tratamento,

contudo, ele poderá ter me-lhorias significativas”.O psicólogo Max Dola-

bella acrescenta que, além deesperança e força de vontadedos pacientes e de suas famí-lias, há tratamentos comple-mentares, que também po-dem ajudar: “Começamos adesvendar o funcionamentodo sistema nervoso central enovas abordagens pedagógi-cas estão sendo desenvolvi-das. Entre essas abordagens,destaco a musicoterapia e acantoterapia, atividades que,por envolver lógica matemáti-ca e apelo afetivo, têm o po-der de ampliar as interaçõesentre os dois hemisférios cere-brais”, conclui.

F l d ss d s l s m c c s c d d sl x

Di culdades na escrita, bem como o famoso “garrancho”, fazem parte de quem sofre com a doença

“L mbro qum u Qi s mprs apr s ntavaac ma daméd a. eu t nhafac l dad commatér as comoFísica”.

Fr d r co Garc a

JéSSiCa aMaraL

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IMPreSSãO 15BelO HOrIzOnte, MaIO De 2012e s io

v -m mb p s g d !

em d c s , q lq s j d !

um z d x ss m lh s d z s

Vamos dar uma “saidinha de banco”?

Eu vigio, tu vigias, ele vigia...

Bruno GarCeS

Bruno GarCeS

Bruno GarCeS

áLvaro De oLiveira

tHaLvaneS GuiMarãeS

Dia de greves em BH

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