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1 A MODELAGEM ECONÔMICO-ECOLÓGICA E A GESTÃO INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS Eixo temático G: relações entre economia ecológica, natureza, sociedade (temas conceituais) Resumo: este trabalho tem por objetivo discutir a importância do uso da modelagem econômico-ecológica para fornecer subsídios adequados à gestão integrada dos recursos naturais a luz da abordagem da Economia Ecológica. A gestão dos recursos naturais deveria adotar como unidade territorial básica a bacia hidrográfica, uma vez que representa um sistema ecológico integrado. Além disso, Os ecossistemas são complexos, interdependentes e seus processos, funções e serviços não são facilmente caracterizados e/ou identificados. Do ponto de vista da Economia Ecológica a avaliação e valoração dos recursos naturais tem se mostrado um desafio na medida em que é preciso levar em conta essa à complexidade ecossistêmica e a existência de valores ecológicos e socioculturais (MAY, 2010), além do valor econômico. Deste modo, a modelagem econômico-ecológica pode se mostrar um instrumento capaz de subsidiar os processos de valoração dos recursos naturais, bem como contribuir de maneira significativa para a gestão ambiental integrada. Um importante instrumento que pode contribuir para a gestão integrada dos recursos naturais é a implantação de esquemas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Contudo, a implantação de esquemas de PSA somente é possível a partir da identificação dos benefícios providos pelos ecossistemas. Palavras-chave: Modelagem Econômico-Ecológica; Gestão Integrada dos Recursos Naturais; Valoração dos Recursos Naturais; Pagamento por Serviços Ambientais. Abstract: the aim of this paper is to discuss the importance of using the ecological economics modelling to provide adequate subsidies to the integrated management of natural resources based on Ecological Economics Approach. The management of natural resources must adopt as the basic territorial unit the watershed. It is responsible for the provision of important ecosystem services. Furthermore, ecosystems are complex, interdependent and their process, functions and services, but these features have not been easily identified. From Ecological Economics approach, the assessment and valuation of natural resources has been a challenge in that it is necessary to take into account the complexity of this ecosystem and the existence of ecological and sociocultural values (MAY, 2010), as well as economic value. Thus, the ecological economics may prove a tool to support the process of valuation of natural resources, and contribute significantly to the integrated environmental management. An important tool that can contribute to the integrated management of natural resources is the implementation of schemes Payment for Environmental Services (PES). However, the implementation of PES schemes is only possible through the identification of the benefits provided by ecosystems. Keywords: Ecological Economics Modelling; Integrated Management of Natural Resources; Valuation of Natural Resources; Payment for Environmental Services.

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    A MODELAGEM ECONMICO-ECOLGICA E A GESTO

    INTEGRADA DOS RECURSOS NATURAIS

    Eixo temtico G: relaes entre economia ecolgica, natureza, sociedade (temas

    conceituais)

    Resumo: este trabalho tem por objetivo discutir a importncia do uso da

    modelagem econmico-ecolgica para fornecer subsdios adequados gesto

    integrada dos recursos naturais a luz da abordagem da Economia Ecolgica. A

    gesto dos recursos naturais deveria adotar como unidade territorial bsica a bacia

    hidrogrfica, uma vez que representa um sistema ecolgico integrado. Alm disso,

    Os ecossistemas so complexos, interdependentes e seus processos, funes e servios no so facilmente caracterizados e/ou identificados. Do ponto de vista da Economia Ecolgica a avaliao e valorao dos recursos naturais tem se mostrado

    um desafio na medida em que preciso levar em conta essa complexidade

    ecossistmica e a existncia de valores ecolgicos e socioculturais (MAY, 2010),

    alm do valor econmico. Deste modo, a modelagem econmico-ecolgica pode se

    mostrar um instrumento capaz de subsidiar os processos de valorao dos recursos

    naturais, bem como contribuir de maneira significativa para a gesto ambiental

    integrada. Um importante instrumento que pode contribuir para a gesto integrada

    dos recursos naturais a implantao de esquemas de Pagamento por Servios

    Ambientais (PSA). Contudo, a implantao de esquemas de PSA somente

    possvel a partir da identificao dos benefcios providos pelos ecossistemas.

    Palavras-chave: Modelagem Econmico-Ecolgica; Gesto Integrada dos

    Recursos Naturais; Valorao dos Recursos Naturais; Pagamento por Servios

    Ambientais.

    Abstract: the aim of this paper is to discuss the importance of using the ecological

    economics modelling to provide adequate subsidies to the integrated management

    of natural resources based on Ecological Economics Approach. The management

    of natural resources must adopt as the basic territorial unit the watershed. It is

    responsible for the provision of important ecosystem services. Furthermore,

    ecosystems are complex, interdependent and their process, functions and services,

    but these features have not been easily identified. From Ecological Economics

    approach, the assessment and valuation of natural resources has been a challenge in

    that it is necessary to take into account the complexity of this ecosystem and the

    existence of ecological and sociocultural values (MAY, 2010), as well as economic

    value. Thus, the ecological economics may prove a tool to support the process of

    valuation of natural resources, and contribute significantly to the integrated

    environmental management. An important tool that can contribute to the integrated

    management of natural resources is the implementation of schemes Payment for

    Environmental Services (PES). However, the implementation of PES schemes is

    only possible through the identification of the benefits provided by ecosystems.

    Keywords: Ecological Economics Modelling; Integrated Management of Natural

    Resources; Valuation of Natural Resources; Payment for Environmental Services.

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    1. Introduo

    A valorao dos recursos naturais tem se mostrado um grande desafio na

    medida em que preciso levar em conta complexidade ecossistmica e a

    existncia de valores ecolgicos e socioculturais (MAY, 2010), alm do valor

    econmico. O processo de valorao implica dificuldades metodolgicas que

    representam um importante problema de pesquisa a ser enfrentado. Este problema

    metodolgico possui duas dimenses: a primeira resulta da inerente complexidade

    dos ecossistemas, implicando na utilizao de modelos econmico-ecolgicos que

    permitam manejar as mltiplas variveis em jogo; a segunda refere-se aplicao

    do mix adequado de procedimentos de valorao para os diferentes tipos de valores

    e a sua integrao atravs de anlises multicriteriais.

    O uso da modelagem econmico-ecolgica pode subsidiar de maneira mais

    adequada os processos de valorao dos recursos naturais, bem como contribuir de

    maneira significativa para a gesto ambiental integrada. Diferentemente das

    atividades econmicas tradicionais, a gesto ambiental implica em considerar que

    as dinmicas entre o sistema econmico e o natural so interdependentes. Deste

    modo, a gesto dos recursos naturais deve ser integrada, no sentido, de considerar

    a interdependncia existente entre o sistema econmico e o natural e entre os

    componentes do sistema natural. Nesta linha de pesquisa apenas a Economia

    Ecolgica considera na devida medida a interdependncia ecossistmica, no qual

    ganha destaque o uso da modelagem econmico-ecolgico como meio para

    subsidiar os processos de avaliao dos servios ecossistmicos.

    Neste contexto, o objetivo principal deste trabalho discutir a importncia

    do uso da modelagem econmico-ecolgica como instrumento capaz de fornecer

    subsdios mais adequados gesto integrada dos recursos naturais.

    O trabalho est organizado em cinco sees alm desta introduo. Na

    primeira seo ser apresentada a abordagem econmico-ecolgica, base para a

    construo e uso da modelagem. Na segunda seo ser realizada uma apresentao

    sobre a modelagem econmico-ecolgica. Na sequncia sero delineadas algumas

    consideraes sobre a importncia, os usos e as perspectivas da modelagem

    econmico-ecolgica como ferramenta para subsidiar a gesto integrada dos

    recursos naturais. Por fim, apresentam-se as consideraes finais.

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    2. Economia Ecolgica: Uma Abordagem Biofsica da Economia

    A Economia Ecolgica (EE) tornou-se a principal resposta crtica a

    Economia Ambiental (EA), resultado da inquietao silenciosa de um conjunto

    de cientistas quanto ao tratamento dado inter-relao entre o sistema econmico

    e natural. Essa escola integra em seu corpo terico-analtico diversas reas do

    conhecimento, tais como economia, ecologia, termodinmica, tica e uma srie de

    outras cincias naturais e sociais. Essa caracterstica proporciona a construo de

    uma viso integrada, holstica, biodinmica e biofsica da inter-relao entre o

    sistema econmico e natural, cujo objetivo fornecer contribuies estruturais

    para a soluo de problemas ambientais em diversas escalas espaciais e

    temporais. Neste sentido, a EE considerada uma abordagem transdisciplinar da

    problemtica ambiental (COSTANZA, 1994).

    Essa abordagem considerada pessimista, pois sua anlise permeada por

    um elevado grau de incerteza no sentido Keynesiano sobre a capacidade de o

    desenvolvimento tecnolgico superar as limitaes impostas pelo ecossistema ao

    crescimento econmico. Para a EE seria irracional apostar que a inovao

    removeria todo e qualquer limite para o crescimento da economia. No entanto, se

    essa postura mostrar-se equivocada, o resultado ser uma agradvel surpresa, e a

    sociedade ainda teria um sistema relativamente sustentvel (COSTANZA, 1994).

    Dessa maneira, a EE vista como uma postura ctica, porque assumi que

    uma parcela dos recursos naturais so finitos e insubstituveis e, que os ganhos

    de eficincia proporcionados pela inovao tecnolgica sero compensados de

    maneira negativa pelo aumento da escala da atividade econmica e pelas escolhas

    dos consumidores, que, normalmente, privilegiam bens intensivos em energia e

    estilos de vida material-intensivos (WORLD RESOURCES INSTITUTE WRI,

    2000). Cabe destacar que a escala do sistema econmico est associada

    capacidade de suporte do sistema natural (carrying capacity) (ROMEIRO, 2012).

    Neste sentido, a EE coloca a seguinte questo: qual a escala mxima de uso

    dos recursos naturais? (ANDRADE, 2008, p. 17). O conceito de escala fsica das

    atividades humanas, entendido como tamanho fsico do sistema econmico, ocupa

    um lugar central na abordagem econmico-ecolgica. Conforme Andrade (2008, p.

    17), a EE considera que o estudo da escala precede o estudo da alocao tima.

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    Logo, a distribuio e o uso eficiente dos recursos naturais devem tomar por base a

    capacidade de suporte do sistema natural, isto , identificar a escala sustentvel para

    o sistema econmico.

    Segundo Romeiro (2012), a abordagem econmico-ecolgica inverte a

    lgica de deciso apresentada pela perspectiva neoclssica. Deste modo,

    primeiramente deve ser definida, a partir de parmetros ecolgicos de

    sustentabilidade, a escala disponvel de recursos naturais. Uma vez definidos os

    limites de uso dos recursos naturais, ou seja, a escala, discutir-se- o problema da

    distribuio desses recursos entre os diversos agentes envolvidos. A discusso da

    distribuio deve levar na devida medida o critrio da justia social. Por fim, a

    alocao eficientes dos investimentos ficar a cargo do mercado, mas baseada pelas

    restries ecolgicas e sociais.

    Deste modo, a sustentabilidade do sistema econmico-ecolgico passa pela

    definio de uma hierarquia de objetivos que considere a gesto econmico-

    ecolgica na escala local, regional/nacional e global. Esse processo envolve a

    modelagem econmico-ecolgica; ajuste de preos e outros incentivos locais para

    que de fato reflitam os custos ecolgicos regionais globais no longo prazo, incluso

    a incerteza; desenvolvimento de polticas locais, nacionais e globais que no levem

    ao contnuo declnio do capital natural (COSTANZA, 1994)1.

    3. Modelagem Econmico-Ecolgica e Avaliao Ecossistmica

    O uso da modelagem econmico-ecolgica pode contribuir para o processo

    de valorao dos recursos naturais. Liu et al. (2010) destacam que a captura dos

    valores deve ser um processo capaz de lidar com o desafio de identificar as diversas

    dimenses e/ou aspectos dos recursos naturais. O processo de valorao deve

    considerar na devida medida a escala sustentvel, distribuio equitativa intra e

    intergeracional e a alocao eficiente dos recursos naturais. Assim, o processo de

    valorao depender de uma criteriosa Avaliao Ecossistmica, cujo objetivo ser

    o de identificar as funes e servios ecossistmicos, porque fundamental

    compreender de maneira aprofundada a complexidade dos ecossistemas avaliados

    e suas relaes com a dinmica socioeconmica (ROMEIRO; MAIA, 2010).

    1 Sobre as caractersticas da EE ver Cechin e Veiga (2010).

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    Romeiro e Maia (2010) destacam que a avaliao ecossistmica o ponto central

    da valorao sob a perspectiva Econmico-Ecolgica. A caracterizao dos

    inmeros atributos dos ecossistemas necessria para avanar no processo de

    valorao (BINGHAM et al., 1995).

    consenso que todos os seres vivos dependem de ecossistemas saudveis e

    dos servios providos pelo capital natural, que representa parcela do estoque total

    de recursos naturais que compem a biosfera (ANDRADE, 2010). O capital natural

    compreende o estoque de recursos e as funes ecossistmicas (COSTANZA;

    DALY, 1992; CHIESURA; DE GROOT, 2003). Assim, a origem dos benefcios

    proporcionados pelo sistema natural est localizada nos processos ecossistmicos.

    Para entender a dinmica intra e inter-ecossistemas e deste com o sistema

    econmico preciso identificar suas funes ecossistmicas, que, por sua vez,

    geraro os servios ecossistmicos (DE GROOT et al., 2002).

    As funes representam caractersticas intrnsecas dos ecossistemas, as

    quais esto relacionadas ao conjunto de condies e de processos por meio do qual

    um ecossistema mantm sua integridade, tais como: transferncias de energia,

    ciclagem de nutrientes, regulao dos gases atmosfricos e do clima, ciclos

    bioqumicos e o ciclo hidrolgico (ALCAMO et al., 2003; DALY; FARLEY, 2004).

    Pode-se referir que representam uma funo de produo ecolgica (KUMAR;

    KUMAR, 2008) responsvel pelos inmeros processos. As funes so agrupadas

    em quatro categorias (DE GROOT et al., 2002) (Figura 1).

    Figura 1 Interdependncia entre as Funes Ecossistmicas

    Fonte: Preparado com base em De Groot et al., 2002.

    Segundo Andrade (2008), as funes so resultados das complexas

    interaes entre os componentes ecossistmicos, que se traduzem nos servios

    Funes de Regulao

    Capacidade de regulao dos processos biolgicos essenciais de suporte vida.

    Tais como: composio dos gases atmosfricos, clima, gua, formao do solo etc.

    Funes de Habitat

    Essenciais para a conservao da

    diversidade biolgica, gentica e

    dos processos evolucionrios.

    Funes de Produo

    Capacidade dos seres

    autotrficos de converter matria

    e energia solar em biomassa.

    Funes de Informao

    Contribuio dos ecossistemas

    para a manuteno do bem-estar

    do sistema humano ou no.

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    ecossistmicos quando trazem a implcita ideia de valor humano. Para Daly e

    Farley (2004, p. 103), We call an ecosystem function that has value to human

    beings an ecosystem service. Ainda, (2004, p. 75), Living species interact to

    create complex ecosystems, and these ecosystems generate ecosystems functions.

    When functions are of use to humans, we refer to them as ecosystem services. Many

    of these ecosystem services are essential to our survival.

    Alm disso, funes e servios ecossistmicos no representam resultados

    de uma nica relao, por exemplo, um nico servio ecossistmico pode ser

    resultado de duas ou mais funes, ou mesmo, uma nica funo pode produzir

    mais que um servio (COSTANZA et al., 1997; DE GROOT et al., 2002, DALY;

    FARLEY, 2004). Conforme destacam Daly e Farley (2004), a estrutura e a funo

    ecossistmica so mutuamente interdependentes, assim, preciso que a anlise

    econmica reconhea efetivamente essa integrao (Figura 2).

    Figura 2 Interdependncia entre os Servios Ecossistmicos

    Fonte: Preparado base em Alcamo et al., 2003, p. 5.

    Segundo De Groot (1992) apud De Groot et al. (2002, p. 394), as funes

    ecossistmicas referem-se a capacidade que os processos e componentes naturais

    possuem para fornecer os bens e servios que satisfaam direta e indiretamente as

    necessidades humanas. A partir das funes tm-se a constituio dos servios,

    dotados de valores ecolgico, sociocultural e econmico (Figura 3).

    Os servios ecossistmicos habilitam uma tentativa para que se possam

    mensurar, em termos monetrios ou no, seus respectivos valores. Os servios

    ecossistmicos tm valor para a sociedade, portanto, passveis de valorao. O

    processo de valorao deve utilizar como instrumento de suporte a modelagem

    econmico-ecolgica em funo das caractersticas intrnsecas dos ecossistemas e

    de sua relao com o sistema econmico. Por fim, a partir do valor total dos

    Servios de Suporte

    Servios necessrios para a produo de todos os outros servios ecossistmicos.

    Formao dos solos; Ciclo de Nutrientes; Produo Primria.

    Servios de Proviso

    Compreende os produtos obtidos

    dos ecossistemas.

    Servios de Regulao

    Benefcios obtidos dos processos

    de regulao dos ecossistemas.

    Servios Culturais

    Benefcios no materiais obtidos

    dos ecossistemas.

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    respectivos servios ecossistmicos, no necessariamente expressos na mtrica

    monetria, ser possvel traar as linhas gerais que devero nortear a tomada de

    deciso a respeito do uso e ocupao das terras.

    Figura 3 Avaliao Integrada das Funes e Servios Ecossistmicos

    Fonte: De Groot et al., 2002, p. 394. Traduo livre.

    Para Costanza et al. (1989), preciso empreender uma abordagem

    dinmico-integrada para avaliar os ecossistemas, incorporando os valores dos

    servios ecossistmicos a partir de suas dimenses ecolgica, social e econmica.

    Os mltiplos valores so indissociveis das funes fsicas, qumicas e biolgicas

    internas de qualquer ecossistema. Desta forma, a integrao entre o sistema

    ecolgico e o antropognico deve contar com o auxlio de modelos econmico-

    ecolgicos, pois uma abordagem mais ampla de valorao holstica no deve

    estar restrita apenas aplicao de modelos monodisciplinares, mas

    transdisciplinares (ANDRADE, 2010).

    Bockstael et al. (2000) destacam que essa abordagem mais ampla tem por

    objetivo melhorar a compreenso dos sistemas, avaliar possveis impactos futuros

    em relao dinmica de uso e ocupao das terras, desenvolvimento econmico e

    alternativas de polticas, inclusive fornecer subsdios para melhor avaliar o valor

    dos servios ecossistmicos. Ademais, um modelo integrado permitir que se

    Valores Ecolgicos baseiam-se na

    sustentabilidade ecolgica.

    Valores Socioculturais baseiam-se nas percepes

    sobre equidade e cultural.

    Valores Econmicos baseiam-se na eficincia e

    no custo dessa eficincia.

    Bens e Servios

    Ecossistmicos

    Processos e Estrutura

    Ecossistmica

    Funes ecossistmicas:

    - Regulao - Habitat - Produo

    - Informao

    Valor Econmico

    Total

    Tomada de decises para determinar as

    opes de poltica e de gesto dos recursos naturais.

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    avaliem os efeitos indiretos no sistema natural em um horizonte de longo prazo das

    opes de polticas adotadas no presente.

    Na construo de modelos econmico-ecolgicos a proposta de valorao

    dos recursos naturais da EE comeou a ganhar forma a partir do Patuxent

    Landscape Model (PLM). Esse modelo baseado em um processo espacialmente

    explcito e multi-escalar projetado para simular as dinmicas ecolgicas na escala

    espacial da Bacia Hidrogrfica de Patuxent2. O PLM incorpora a interao do

    sistema natural com um componente econmico que prev padres de uso e

    ocupao das terras (VOINOV et al., 1999; COSTANZA et al., 2002).

    Um desdobramento do PLM foi o desenvolvimento do Global Unified

    Metamodel of the Biosphere (GUMBO), projetado para simular o sistema

    integrado da Biosfera Global e avaliar a dinmica e os valores dos servios

    ecossistmicos. O GUMBO resultado de uma sntese e de uma simplificao de

    diversos modelos dinmicos globais existentes. Esse modelo considerado o

    primeiro modelo global que incorpora a dinmica de feedbacks entre tecnologia,

    produo econmica e bem-estar humano e o fluxo de servios ecossistmicos

    dentro do sistema Global. Cabe destacar que os servios ecossistmicos so seu

    foco, onde se busca verificar como eles afetam a produo econmica e o bem-estar

    humano. A anlise concentra-se na interao e nos efeitos de retroalimentao entre

    os sistemas ecolgicos e socioeconmicos. O modelo inclui o capital natural,

    humano, social e construdo pelo homem, assim como variveis de estado

    (condio) e fatores de produo (BOUMANS et al., 2002).

    Outro importante desdobramento do GUMBO foi construo do

    Multiscale Integrated Models of Ecosystem Services, conhecido como Projeto

    MIMES. Esse projeto tem por objetivo construir modelos participativos para coleta

    de dados e valorao dos servios ecossistmicos, que podem ser sintetizados em

    trs objetivos especficos (BOUMANS; COSTANZA, 2007): i) construo de um

    conjunto de modelos computacionais econmico-ecolgicos, destinados para

    entender o funcionamento integrado dos ecossistemas, o fluxo de servios

    ecossistmicos e o bem-estar a partir de uma gama de escalas espaciais (global,

    nacional, regional e local); ii) desenvolvimento e aplicao de novas tcnicas de

    2 Localizada no Estado de Maryland, EUA, com 2.352 km de rea (COSTANZA et al., 2002).

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    valorao adaptadas as caractersticas inerentes dos bens pblicos naturais,

    integrando-as com a modelagem econmico-ecolgica; iii) disponibilizar modelos

    integrados e seus resultados a todos potenciais usurios.

    No entanto, segundo Andrade (2010), a principal limitao do MIMES est

    no grande volume de dados e de informaes necessrias e, no grande esforo

    computacional requerido para executar todos os seus elementos de maneira

    simultnea. A soluo oferecida pelo Projeto MIMES para contornar essa restrio,

    que os vrios componentes possam ser utilizados separadamente. Outra limitao

    a ausncia de documentao para orientar sua aplicao em estudos de avaliao

    ecossistmica e de valorao dos servios ecossistmicos.

    A construo de modelos de valorao dinmico-integrados a partir da

    perspectiva econmico-ecolgica, conforme destaca Andrade (2010), no deve ser

    considerada, strictu sensu, um novo mtodo ou mesmo o desenvolvimento de novos

    mtodos, mas uma tentativa de ampliar as tcnicas utilizadas no processo de

    valorao dos servios ecossistmicos. Neste sentido, possvel observar que na

    mesma linha da EE existe uma srie de modelos que podem contribuir para a

    valorao dos recursos naturais.

    Nesta perspectiva, vale destacar o Natural Capital Project, iniciativa da

    ONG The Nature Conservancy (TNC), WWF (World Wildlife Fund) e do Woods

    Institute for the Environment Stanford University que desenvolveram o InVEST

    Integrated Valuation of Ecosystem Services and Tradeoffs. Em linhas gerais, o

    InVEST agrega um conjunto de modelos tericos que permitem avaliar mltiplos

    servios ecossistmicos. As suas principais caractersticas so: compilao de

    modelos tericos consagrados que requerem uma quantidade relativamente

    pequena de dados e de informaes; o foco de ao subsidiar a tomada de deciso

    sobre a gesto ambiental; suporte documental. O InVEST inclui modelos para a

    quantificao biofsica, mapeamento e valorao monetria dos benefcios providos

    por ecossistemas terrestres, freshwater e marinhos.

    Vale destacar que o InVEST oferece uma grande potencialidade para que se

    possa avanar no processo de valorao. No entanto, o uso da modelagem disposta

    pelo InVEST ou por qualquer outra plataforma de modelagem exige que o analista

    tenha razovel conhecimento sobre o uso de geotecnologias, alm de

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    conhecimentos em agronomia, pedologia, ecologia etc. Neste sentido, a prtica da

    modelagem econmico-ecolgica pode ser caracterizada como uma verdadeira

    abordagem transdisciplinar da problemtica ambiental, aspecto que dificulta sua

    utilizao, embora seus resultados possam contribuir para um real avano da

    Gesto Integrada dos Recursos Naturais.

    A avaliao ecossistmica particularmente difcil, porque uma grande

    parcela dos benefcios providos pelo capital natural so externalidades positivas,

    que em sua maioria ainda no foram identificados pela sociedade. A avaliao

    ecossistmica e a valorao podem ser considerados formas prticas para que se

    possa tornar explcita a estreita relao existente entre os ecossistemas e o sistema

    econmico. O processo de valorao um importante instrumento para a adequada

    gesto dos recursos naturais, sem a qual se tornaria difcil elaborar polticas de

    gesto ambiental. a partir do processo de valorao e do capital natural que ser

    possvel, por exemplo, a construo de sistemas de cobranas pelo direito de uso

    dos recursos naturais cobrana pelo direito de uso da gua , atribuio e definio

    de taxas, impostos, multas, implantao de Esquemas de PSAs, entre outras

    iniciativas. Estes instrumentos tm dois importantes objetivos: captao de recursos

    financeiros para financiar a manuteno e conservao do capital natural;

    disciplinar o uso das ddivas gratuitas pelo sistema econmico. Neste sentido, a

    modelagem econmico-ecolgica pode contribuir de maneira significativa para a

    Gesto Integrada dos Recursos Naturais.

    Mesmo diante da importncia da modelagem como suporte para a avaliao

    ecossistmica, para o processo de valorao e, posteriormente, fornecendo

    subsdios mais adequados para a formulao e implantao de polticas ambientais,

    o uso da modelagem tem-se mostrado um imenso desafio para os analistas. Na

    tentativa de ilustrar as inmeras dificuldades envolvidas no uso da modelagem

    segue abaixo uma ilustrao hipottica de como seria o processo ideal de avaliao

    e valorao dos impactos ambientais associados moderna atividade agropecuria

    a luz da perspectiva econmico-ecolgica.

    Supondo que o governo brasileiro deseje avaliar os impactos ambientais

    associados expanso da fronteira agropecuria na Regio Centro-Oeste, a qual

    teria por objetivo levantar informaes para subsidiar a elaborao de uma proposta

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    de reordenamento do uso e ocupao das terras. Como o uso da modelagem

    econmico-ecolgica poderia auxiliar neste processo de avaliao? Quais os

    desafios e as dificuldades envolvidas na avaliao?

    O uso da modelagem econmico-ecolgica dever ser precedido por uma

    criteriosa avaliao ecossistmica, cujo objetivo identificar os servios

    ecossistmicos providos pelo territrio em anlise, neste caso, pelo Bioma Cerrado.

    Por exemplo, o Bioma Cerrado contribui na reteno do solo e de outras

    substncias, na fertilidade do solo, na purificao da gua, controle de pragas e

    doenas, turismo etc. Em seguida, empreende-se a avaliao quantitativa e

    qualitativa dos servios ecossistmicos providos pelo Bioma Cerrado e sua relao

    com o seu estado e sua inter-relao com o sistema humano. O objetivo dessa

    avaliao identificar os tradeoffs e mensurar na mtrica biofsica e/ou monetria

    os benefcios providos pelo Bioma Cerrado. Na avaliao, a modelagem

    econmico-ecolgica pode se constituir um importante instrumento auxiliar, porque

    permite identificar os tradeoffs entre o estado do ecossistema e os servios

    ecossistmicos e o reflexo no fluxo de servios decorrente da ao humana sobre

    os ecossistemas do territrio avaliado.

    As estimativas da avaliao biofsica podero ser utilizadas para que seja

    possvel estimar a capacidade mxima de provimento de servios ecossistmicos

    pelo Bioma Cerrado, logo, subsidiando a definio da escala sustentvel,

    aceitvel ou possvel de uso das terras. Neste sentido, as informaes geradas pela

    avaliao ecossistmica e pelo processo de valorao podem fornecer subsdios

    adequados tomada de deciso a respeito da escala de uso de interveno da

    sociedade sobre os ecossistemas, da alocao dos recursos, dos instrumentos a

    serem adotados pela sociedade para internalizar no sistema econmico os custos

    envolvidos no uso dos servios ecossistmicos e na degradao dos ecossistemas,

    entre outras atividades de gesto.

    Assim, a modelagem pode contribuir para a definio da escala de uso dos

    recursos naturais. Uma vez conhecida essa escala, possvel definir a alocao dos

    recursos entre os agentes, em termos da distribuio intrageracional e

    intergeracional. Esse modelo de avaliao contribuir para que se alcance ou oriente

  • 12

    a sociedade para o uso mais eficiente dos recursos naturais, mas respeitando os

    limites absolutos impostos pelo sistema natural.

    4. Perspectivas sobre o Uso da Modelagem Econmico-Ecolgica e a Gesto

    dos Recursos Naturais

    A modelagem econmico-ecolgica pode ser uma importante ferramenta

    para subsidiar a gesto integrada dos recursos naturais. A modelagem tambm pode

    contribuir para a construo de esquemas de PSA ou de PWS (Payments for

    Watershed Services). O PWS representa um PSA que tem como foco os servios

    hidrolgicos, tais como controle de cheias, regulao da oferta de gua, purificao

    de gua, controle da eroso etc. Esse tipo de mecanismo cria incentivos financeiros

    para a proteo, restaurao ou sustentao dos servios ecossistmicos providos

    por bacias hidrogrficas.

    A instituio de um esquema de PSA deve ser um projeto de longo prazo,

    que requer um intenso engajamento dos agentes envolvidos, cujo objetivo criar

    laos de confiana e de comprometimento. Por exemplo, o sistema construdo pela

    cidade de Nova Iorque na bacia hidrogrfica de Catskill um caso da implantao

    de um esquema de PWS bem sucedido. As aes empreendidas no mbito de um

    PWS podem incluir a restaurao e manuteno da vegetao nativa, adoo de

    prticas conservacionistas etc.

    Mesmo que exista um intenso debate sobre a eficincia de esquemas de PSA

    para melhorar ou manter o fluxo de servios ecossistmicos em bacias

    hidrogrficas, o interesse pela adoo desses instrumentos apresenta uma tendncia

    ascendente em todo o mundo. Por conseguinte, os recentes avanos na modelagem

    podem subsidiar o desenho e a implantao de esquemas de PSA ou de PWS por

    meio da identificao de como os pagamentos possam atender a mltiplos objetivos

    ou servios ecossistmicos. Em outras palavras, a modelagem econmico-ecolgica

    permite identificar as interdependncias entre o sistema economia e natural e entre

    os componentes do sistema natural. Ainda, a modelagem permite identificar e

    determinar onde distribuir os pagamentos ou estabelecer novos esquemas de PSA

    para melhorar a eficincia dos investimentos em capital natural. Em alguns casos,

    a modelagem pode subsidiar a escolha entre as opes de gesto a partir de

  • 13

    informaes sobre a variao biofsica e, quando possvel monetria, no fluxo de

    servios ecossistmicos.

    Considerando a ampla possibilidade de formulao de esquemas de PSA, de

    polticas ambientais e o amplo uso da modelagem no subsdio da gesto de bacias

    hidrogrficas, o Natural Capital Project elaborou estrutura metodolgica que pode

    orientar e ilustrar o potencial da modelagem integrada a Sistemas de Informao

    Geogrfica (SIGs) no desenho e implantao de esquemas de PSA e de modelos

    de gesto integrada dos recursos naturais (Figura 10).

    A maioria dos esquemas de PSA adotados no mundo baseada no apoio

    governamental e/ou privado, requerendo, assim, algum tipo de suporte poltico e

    administrativo para a criao de arranjos institucionais. Deste modo, para subsidiar

    a tomada de deciso dos agentes que desejam apoiar um esquema de PSA

    necessrio demonstrar que os benefcios lquidos para a sociedade so maiores do

    que as alternativas disponveis de gesto ou de uso das terras (etapa 1). A simulao

    de mudanas no uso das terras e nas prticas de manejo pode mostrar como a

    implantao de um esquema de PSA afetaria o fluxo de servios ecossistmicos. As

    informaes geradas tambm poderiam contribuir para o desenvolvimento da

    estrutura de governana (etapa 3).

    Deste modo, a modelagem econmico-ecolgica poderia ser utilizada para

    demonstrar como mudanas no uso e manejo das terras encorajadas pela adoo de

    esquemas de PSA afetaria o fluxo de servios ecossistmicos em determinado

    territrio. A modelagem econmico-ecolgica quando integrada a Sistemas de

    Informaes Geogrficas (SIGs) possibilita a construo de mapas que mostram a

    variao espacial no fluxo de servios ecossistmicos. Esse tipo de informao pode

    aumentar a conscientizao sobre a importncia dos servios ecossistmicos,

    especialmente em mbito local, alm de subsidiar o dilogo entre as partes

    envolvidas, permitindo um impulso poltico para a implantao em larga escala de

    esquemas de PSA e a adoo de mtodos de valorao participativos para subsidiar

    a gesto ambiental.

  • 14

    Figura 4 A Modelagem Econmico-Ecolgica e o Desenho e Implantao de Esquemas de PSA

    Fonte: Preparado pelo autor com base em Natural Capital Project, 2010. NOTA: Existem outras etapas para implantar esquemas de PSA ou PWS, mas que no necessariamente utilizam as informaes geradas

    pela modelagem econmico-ecolgica tais como avaliao institucional, capacidade da estrutura de gesto e a determinao e o tipo de

    contrato e de pagamento.

    Etapas Contribuio da Modelagem Econmico-Ecolgica

    1. Suporte Institucional Demonstrar o potencial econmico e a eficincia e benefcios sociais do PSA.

    2. Avaliao Ecossistmica

    i) Verificao da situao corrente dos servios ecossistmicos; ii) identificar onde distribuir os pagamentos; iii) predizer

    as mudanas nos servios ecossistmicos; iv) priorizar as alternativas de gesto mais significantes.

    3. Desenvolver a

    governana

    Subsdio de informaes sobre os agentes envolvidos e sua relao com o provimento e o uso dos servios

    ecossistmicos.

    4. Identificao dos beneficirios

    Identifica onde os servios ecossistmicos so utilizados e a quantidade disponvel.

    5. Identificao dos

    provedores

    i) Identifica as reas geogrficas da proviso corrente; ii) identifica o potencial de proviso de cada rea geogrfica; iii)

    avalia as variaes na proviso para cada alternativa de gesto.

    6. Preos e Valores Subsidia o processo de valorao dos servios ecossistmicos.

    7. Verificao do sucesso Permite informar as metas do provimento de servios ecossistmicos na mtrica biofsica.

    8. Monitoramento Subsidia a construo de um plano de monitoramento e de avaliao.

    9. Adaptar e Ampliar i) Avaliar planos alternativos de gesto; ii) identificar as novas reas de PSA.

  • 15

    A modelagem contribui para a conduo da avaliao ecossistmica (etapa

    2), fundamental para qualquer proposta de gesto integrada dos recursos naturais.

    A avaliao ecossistmica contribui de maneira significativa para uma maior

    compreenso do estado corrente dos servios ecossistmicos, do potencial dos

    servios a serem restaurados e mantidos e como as prticas de manejo poderiam

    aumentar a eficincia no fluxo de servios ecossistmicos. Integrando a modelagem

    a Sistemas de Informaes Geogrficas possvel identificar como ser distribudo

    no espao o pagamento, baseado evidentemente na contribuio relativa de cada

    sub-bacia ou bacia no provimento dos servios ecossistmicos.

    Ainda, a avaliao ecossistmica poderia contribuir na determinao dos

    potenciais compradores e provedores de servios ecossistmicos (etapas 4 e 5) e,

    subsidiar a verificao do sucesso de um esquema de PSA ou do modelo de gesto

    adotado, tais como a equidade e a eficincia das aes de gesto ambiental (etapa

    7). Embora os critrios sejam determinados pelos agentes envolvidos, mas a

    informao proporcionada pela avaliao ecossistmica poderia ajudar na

    identificao e mensurao dos critrios.

    A determinao do conjunto de preos e valores resultado da negociao

    entre beneficirios e provedores (etapa 6). No entanto, a modelagem pode fornecer

    estimativas dos valores dos servios ecossistmicos para a sociedade. Essas

    informaes poderiam ser utilizadas para capturar a disposio a pagar dos usurios

    a partir de mtodos deliberativos ou participativos.

    Conforme destaca o Natural Capital Project (2010), a sustentabilidade de

    um esquema de PSA est amparada no pagamento dos servios prestados pelos

    ecossistemas, resultantes das prticas de gesto adotadas pelos proprietrios das

    terras. A determinao da prestao dos servios ambientais requer um

    acompanhamento de indicadores relevantes, confiveis e mensurveis, que

    permitiro avaliar a eficcia do PSA (etapa 8) ou da gesto. Entretanto, em funo

    da dificuldade de se obter os dados de entrada dos modelos em tempo real, a

    modelagem contribui parcialmente com essa etapa. Assim, o monitoramento

    apresentar um perodo de defasagem em relao ao andamento do PSA, embora a

    modelagem ainda tenha um papel central.

  • 16

    Os resultados verificados na avaliao e no monitoramento dos esquemas

    de PSA e da gesto ambiental podem ser utilizados para adaptar ou melhorar o

    desempenho do modelo de gesto adotado segundo as condies econmicas,

    sociais, culturais e ambientais verificadas na regio (etapa 9). Essa etapa seria

    baseada nos resultados proporcionados pela avaliao ecossistmica, que, por sua

    vez, subsidiaria a determinao dos potenciais beneficirios e provedores, preos e

    valores dos servios etc., conforme descrito anteriormente.

    A modelagem econmico-ecolgica pode ser considerada um importante

    instrumento para subsidiar a gesto integrada dos recursos naturais, em especial, na

    implantao de esquemas de PSA. No entanto, a gesto integrada dos recursos

    naturais deve considerar na devida medida algumas das caractersticas

    fundamentais e inerentes ao sistema natural: irreversibilidade da degradao dos

    ecossistemas, ou seja, uma vez degradado apenas parcela do ecossistema poder ser

    recuperada; incerteza quanto aos resultados da interveno humana no relativo

    equilbrio (termo) dinmico dos ecossistemas; escala fsica de uso antrpico dos

    ecossistemas; estreita interdependncia entre os componentes do ecossistema e

    deste com o sistema antrpico. Por exemplo, a disponibilidade de gua limpa requer

    a presena de ecossistemas saudveis cujas interaes entre o solo, a gua, a

    vegetao e o clima asseguram importantes servios para o bem-estar humano e

    para a manuteno da estabilidade ecossistmica. Estes servios incluem a

    purificao da gua, controle do fluxo, infiltrao e armazenagem de gua e a

    manuteno de ecossistemas aquticos (STANTON et al., 2010).

    Os mercados ambientais e os mecanismos de mercado como pagamentos ou

    compensaes tm demonstrado potencial para contribuir na resoluo dos

    problemas ambientais mais custo-efetivos quando comparados com mecanismos

    regulatrios. Ademais, esses instrumentos tm um importante papel na proteo e

    restaurao dos servios providos por bacias hidrogrficas, onde os aparatos

    regulatrios so relativamente escassos (STANTON et al., 2010).

    A sociedade est comeando a reconhecer que o ecossistema responsvel

    por parcela importante de seu bem-estar. Existe um relativo consenso sobre a

    importncia de se incorporar os servios ecossistmicos nas decises dos agentes.

    Entretanto, a quantificao dos nveis e valores desses servios tem ser mostrado

  • 17

    um grande desafio para a sociedade (NELSON et al., 2009). A partir dessa

    perspectiva, por exemplo, a gesto de bacias hidrogrficas no deveria ter como

    foco apenas a melhoria da qualidade hdrica, mas o objetivo deveria ser apenas a

    melhoria da qualidade do ecossistema como um todo e, no apenas suas partes, ou

    seja, uma verdadeira gesto integrada dos recursos naturais.

    Na perspectiva econmico-ecolgica a deciso sobre a alocao eficiente

    dos recursos naturais deve ser precedida pela definio da escala do ecossistema e

    do subsistema antrpico. Conforme destaca Tosto (2010), a escala representa a

    dimenso biofsica do subsistema antrpico analisado em relao ao ecossistema,

    este definido pelo solo e por sua aptido agrcola ou capacidade de uso do solo

    (suporte). As informaes geradas podem fornecer subsdios para orientar a gesto

    integrada dos recursos naturais em busca da escala aceitvel, da alocao

    eficiente e da definio dos valores dos recursos naturais. A definio da escala

    biofsica contribui para manter o fluxo de servios ecossistmicos dentro de uma

    escala aceitvel. Embora a aptido agrcola no seja suficiente para determinar a

    escala sustentvel da atividade humana. No entanto, a adoo da modelagem

    econmico-ecolgica e dos pressupostos da economia-ecolgica fundamental

    para que se identifique e se quantifique a escala aceitvel do ecossistema.

    5. Consideraes Finais

    A dinmica ecossistmica gera um conjunto de servios ecossistmicos que

    contribuem diretamente para o bem-estar humano. Entretanto, a maior parcela

    desses bens so pblicos, dificultando a instalao de mercados privados. Logo, os

    custos e benefcios envolvidos na apropriao e uso desses servios na maioria das

    situaes no so expressos em valores de mercado, mesmo aqueles transacionados

    no mercado, tais como petrleo e commodities agrcolas, refletem apenas parcela

    de seus custos e benefcios. Essa distoro explicada pelo fato de que existem

    externalidades que so difceis de serem identificadas e mensuradas na mtrica

    monetria, sendo necessria uma abordagem transdisciplinar.

    Para a Economia Ecolgica, o processo de valorao deve incluir uma

    criteriosa avaliao ecossistmica, a qual permitir a identificao e a mensurao

    biofsica dos servios providos, por exemplo, por uma bacia hidrogrfica. Assim,

  • 18

    esse esquema terico-metodolgico poderia subsidiar a institucionalizao de uma

    gesto integrada de recursos naturais, permitindo at mesmo a consolidao de

    mercados de servios ambientais, tornando a recuperao e conservao da

    qualidade dos ecossistemas uma fonte de rendimento.

    Por fim, a modelagem econmico-ecolgica pode contribuir para o processo

    de valorao e para a definio da escala de uso dos recursos naturais. Uma vez

    conhecida escala biofsica de uso do sistema natural possvel definir a alocao

    dos recursos ambientais entre os agentes, em termos da distribuio intrageracional

    e intergeracional. Essa perspectiva de avaliao da relao entre o sistema

    econmico e o natural contribuir para que a sociedade adote um modelo gesto

    realmente integrado, que busque o uso mais eficiente dos recursos naturais, mas

    respeitando os limites absolutos impostos pelo sistema natural.

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