ECCOM 8 - Revista de Educação, Cultura e Comunicação

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ISSN 2177-5087 Lorena, SP Brasil volume 4, número 8, jul./dez. 2013 EDUCAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO FACULDADES INTEGRADAS TERESA D’ÁVILA

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Revista de Educação, Cultura e Comunicação do Curso de Comunicação Social das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA, Lorena, SP, Brasil.

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

ISSN 2177-5087

Lorena, SP – Brasil volume 4, número 8, jul./dez. 2013

EDUCAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO

FACULDADES INTEGRADAS TERESA D’ÁVILA

LORENA - SP

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ISSN 2177 – 5087

ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação

Lorena, SP, volume 4, número 8, jul./dez. 2013

© Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA

Cursos de Comunicação Social

ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação / Faculdades

Integradas Teresa D´Ávila - vol. 4, n. 8 (2013). – Lorena, SP: Cursos de

Comunicação Social, 2013 –

Semestral

ISSN: 2177-5087

1. Educação - periódicos. 2. Cultura - periódicos. 3. Comunicação - periódicos. I.

Brasil, Faculdades Integradas Teresa D´Ávila.

CDU.001.5(05)

CDU 001.5 (05)

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Equipe Editorial

Editor Científico

Neide Aparecida Oliveira, Fatea, Brasil

Editor Gerente

Neide Aparecida Oliveira, Fatea, Brasil

Revisores

Neide Aparecida Oliveira, Fatea, Brasil (Línguas portuguesa e inglesa)

Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, Brasil (Normatização)

Conselho Editorial

Prof. Dr. Adilson da Silva Mello, UNIFEI, Brasil

Prof. Dr. André Luiz Moraes Ramos, FATEA, UniFOA, Brasil

Prof. Dr. Carlos Manuel Nogueira, Universidade de Lisboa, Portugal

Profª Drª Débora Burini, UFSCar, Brasil

Profª Drª Lucia Rangel Azevedo, FATEA, Brasil

Profª Drª Olga de Sá, PUC-SP, FATEA, Brasil

Prof. Dr. Rosinei Batista Ribeiro, UniFOA, FATEA, Brasil

Prof. Dr. Walter Moreira, UNIMAR, Brasil

Prof. Me. Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, UNITAU, Brasil

Profª Me. Neide Aparecida Arruda de Oliveira, FATEA, Brasil

Publicação On Line

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http://www.issuu.com

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© Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA

Curso de Comunicação Social

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SUMÁRIO

EDITORIAL...............................................................................................................

5

GESTOR ESCOLAR: A EDUCOMUNICAÇÃO COMO ALTERNATIVA DE

ADMINISTRAÇÃO EDUCACIONAL PARA O ENSINO MÉDIO

INTEGRADO..............................................................................................................

Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Marco Antonio de Oliveira

7

O SOLDADO PORTUGUÊS NOS CANCIONEIROS LÍRICO E NARRATIVO..

Carlos Nogueira

27

A MÚSICA NO COMPORTAMENTO DOS JOVENS NA CIDADE DE

LORENA...........................................................................................................

Miguel A. de Oliveira Júnior, Ariane Zaine Almeida dos Santos, Geovana Mara da

Silva Rosa, Stephany dos Santos Ramos

41

O LIVRO INFANTIL: A PERCEPÇÃO POR TRAS DAS ILUSTRAÇÕES...........

Deise Carelli, Layla Martins de Aquino

51

O PAPEL DA LIDERANÇA NOS PROJETOS DE ENDOMARKETING..............

Adriana Bernadete Barros Carvalho Garcia

63

O USO DAS REDES SOCIAS VIRTUAIS NOS PROCESSOS DE

RECRUTAMENTO E SELEÇÃO.......................................................................

Tatiana Martins Almeri, Karina Ramos Martins, Diego da Silva Paiva de Paula

77

O ENVOLVIMENTO DA UNIVERSIDADE COM A COMUNIDADE POR

MEIO DO RÁDIO......................................................................................................

Gerson Mário de Abreu Farias, Jefferson José Ribeiro de Moura

95

O MOMENTO DA EMOÇÃO E DO INTERESSE EM SALA DE AULA NO

PROCESSO DE PRODUÇÃO DO GÊNERO INFOGRÁFICO...............................

Diego de Magalhães Barreto

103

SÉRGIO MATTOS, E SUA RELAÇÃO COM O PENSAMENTO

COMUNICACIONAL LATINO-AMERICANO.......................................................

Débora Burini

113

NORMAS PARA ENVIO DE ORIGINAIS................................................................

123

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EDITORIAL

É com imenso prazer que os Cursos de Comunicação Social das Faculdades Integradas Teresa

D’Ávila (FATEA) – representando os Cursos de Jornalismo, Rádio, Televisão e Internet e Publicidade

e Propaganda– apresenta o volume 4, número 8, da Revista eletrônica ECCOM – Educação, Cultura e

Comunicação que completa quatro anos em 2013.

A revista ECCOM é um periódico multidisciplinar, de periodicidade semestral, que publica

nessa edição, 9 artigos que pretendem trocar experiências e compartilhar trabalhos que interessem ao

desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e pedagógico nos diversos campos e áreas do saber.

Os artigos enviados devem contemplar as áreas de Comunicação Social, Educação e Cultura

reunidos nos grandes temas: Educomunicação, Crítica e Mídia, Educação e Cidadania, Novas

tecnologias, Sociedade e Cultura, Linguagem Midiática, Responsabilidades Social e História e

Evolução.

Nesse número, o primeiro artigo está relacionado à área da Educomunicação, um diálogo entre

a Comunicação e a Educação, permeado pela Gestão Escolar. É uma pesquisa aplicada do professor

Marco Antonio de Oliveira e da professora Neide Aparecida Arruda de Oliveira sob a denominação de

“Gestor Escolar: a Educomunicação como alternativa de administração educacional para o ensino

médio integrado”.

Mais uma vez, o professor Dr. Carlos Nogueira, da Universidade Nova de Lisboa, presenteia-

nos com uma pesquisa sobre “O soldado português nos cancioneiros lírico e narrativo” abordando a

poesia oral portuguesa. É o segundo artigo apresentado.

O terceiro artigo é um ensaio sobre “A música no comportamento dos jovens na cidade de

Lorena/SP”, de autoria do professor Miguel Adilson de Oliveira Júnior e de seus alunos graduandos de

Jornalismo.

A quarta apresentação é da professora Deise Carelli e da pós-graduanda Layla Martins de

Aquino que relata a percepção dos alunos por trás das ilustrações dos livros infantis.

A professora, Adriana Bernadete Barros Carvalho, busca refletir sobre o papel da liderança

nos projetos de Endomarketing, no quinto artigo apresentado.

Já no sexto artigo, é abordado o tema “O uso das redes sociais virtuais no processo de

recrutamento e seleção” pela professora doutoranda Tatiana Martins Almeri e seus alunos de

graduação em Administração de Empresas.

“O rádio como ferramenta de diálogo entre a comunidade e a universidade” é apresentado

pelos professores e mestres Gerson Mario de Abreu Farias e Jefferson José Ribeiro de Moura, como o

sétimo artigo.

O pesquisador e mestre Diego Magalhães Barreto apresenta como oitavo artigo, o resultado de

sua tese de mestrado “O momento da emoção e do interesse em sala de aula no processo de produção

do gênero infográfico”.

A última pesquisa a ser apresentada é da professora e doutora Débora Burini sob o título

“Sérgio Matos, e sua relação com o pensamento comunicacional Latino-Americano”.

Assim, permanece, há quatro anos, a revista ECCOM, dialogando com as diversas áreas do

conhecimento: Comunicação, Cultura e Educação. Obrigada a todos os pesquisadores: professores,

especialistas, mestres e doutores que têm contribuído para a divulgação das pesquisas.

Boa leitura a todos!

Neide Aparecida Arruda de Oliveira

Editora Gerente

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Gestor Escolar: a Educomunicação como alternativa

de Administração Educacional para o Ensino Médio

Integrado

Neide Aparecida Arruda de Oliveira

Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté. Professora das Faculdades Integradas

Teresa D’Ávila – Fatea

Marco Antonio de Oliveira Especialista em Gestão Escolar pelo Claretiano. Graduado em Geografia pela Unisal e Administração.

Professor efetivo da rede pública do estado de São Paulo.

Resumo

Escolas de Ensino Médio Integrado são experiências novas e muito diferentes das dos modelos

tradicionais. Além dessas escolas terem de conceber e implementar um currículo mais

organicamente integrado, abrigam e põem em diálogo obrigatório profissionais e instituições

de origens e tradições diversificadas. A perspectiva de se trabalhar a educomunicação como

alternativa para a reforma do Ensino Médio Integrado pode trazer uma importante base para a

realização de novos modelos de gestão da comunicação no ambiente de trabalho educativo.

Neste contexto, o Gestor Escolar assume o papel de mediador da inter-relação dos

profissionais da área da comunicação e da educação. Este trabalho teve como objetivo geral

promover uma reflexão sobre o currículo do Ensino Médio Integrado; realizar uma pesquisa

bibliográfica sobre educomunicação; verificar quais são os desafios do gestor escolar

necessários para implantar a educomunicação. Este estudo se justifica, pois busca uma base

contextual para que se promova uma reflexão, levando em conta a perspectiva da

educomunicação que levaria a uma mudança substancial no tratamento do Ensino Médio pelas

políticas públicas no Brasil. A fundamentação teórica será realizada à luz de Soares (2011),

Citelli e Costa (2011). A metodologia dar-se-á por meio de pesquisa exploratória com

delineamento bibliográfico com base em material já elaborado, constituído principalmente de

livros e artigos científicos.

Palavras-chave

Gestor Escolar; Educomunicação; Administração Educacional e Ensino Médio Integrado.

Abstract

Integrated high schools are new experiences and very different from the traditional models.

Besides these schools have to design and implement a curriculum more organically integrated,

shelter and put in dialogue mandatory professional institutions and diverse backgrounds and

traditions. The prospect of working educommunication as an alternative to the integrated

secondary school reform can bring an important basis for the realization of new models of

communication management in workplace education. In this context, the School Manager

assumes the role of mediator in the interrelationship of professionals in the field of

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communication and education. This work aimed to promote reflection on the curriculum of the

Integrated High School; conduct a literature search on educommunication; verify what are the

challenges of school management needed to deploy educommunication. This study is justified

because it seeks a contextual basis for that promotes reflection, taking into account the

perspective of educational communication that would lead to a substantial change in the

treatment of secondary school by public policies in Brazil. The theoretical framework will be

made in the light of Soares (2011), Citelli and Costa (2011). The methodology will give through

exploratory research design literature based on material already prepared, consisting mainly of

books and scientific articles.

Keywords

School Manager; Educomunication; Educational Administration and Integrated High School.

Introdução

De acordo com Soares (2011, p.7), há muitos desafios a serem vencidos na área

educacional como “uma educação que faça sentido para os jovens, que os envolva no

fazer educativo, que reúna profissionais qualificados e que faça da escola parte de um

sistema de aprendizado em tempo integral (...)”.

Soares (2011, p.8) cita uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas do

Rio de Janeiro que mostra que 40% dos jovens do Ensino Médio não o conclui devido

ao desinteresse pela escola, já a segunda causa da evasão escolar (27%) seria a

necessidade de trabalhar e a terceira causa (10,9%) seria a dificuldade de acesso à

escola. São apontadas por Soares (2011) que nesta faixa etária (de 15 a 17 anos), “os

jovens estão no auge das descobertas como sexualidade, da realidade virtual promovida

pela internet, pelos conflitos familiares em casa, pelo acesso às drogas e pela

necessidade de conseguir dinheiro”; e a escola está muitas vezes alheia a tudo isso. A

escola ainda mantém o antigo modelo curricular repelindo as experiências mais

interessantes e difíceis que a adolescência proporciona ao indivíduo. A escola,

infelizmente, ainda está distante do jovem.

O objetivo deste estudo é refletir sobre o Gestor escolar como mediador da

educomunicação no currículo do Ensino Médio Integrado. O desafio do gestor escolar

será o de auxiliar na implementação de um currículo mais organicamente integrado, que

abrigam e põem em diálogo obrigatório os profissionais e as instituições de origens e

tradições diversificadas. A perspectiva de se trabalhar a educomunicação como

alternativa para a reforma do Ensino Médio Integrado pode trazer uma importante base

para a realização de novos modelos de gestão da comunicação no ambiente de trabalho

educativo. Neste contexto o Gestor Escolar assume o papel de mediador da inter-

relação dos profissionais da área da comunicação e da educação.

De acordo com Soares (2011), uma educação eficaz precisa estar inserida no

cotidiano de seus estudantes, ela tem que fazer sentido para eles e para isso ela precisa

de um projeto de educação que caminhe no mesmo ritmo que o mundo que os cerca e

que acompanhe as transformações físicas, psicológicas, cognitivas que seus corpos e

suas mentes vão sofrendo.

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Experiências que reúnem essas características já existem em todo o Brasil,

embora ainda sejam pouco divulgadas, mais em escolas públicas que nas escolas

particulares usando a educomunicação segundo Soares (2011, p.8). Muitas instituições

como a ONG Comunicação e Cultura no Ceará (produzindo jornais escolares),

comunidades de Recife e Olinda (produzindo programas de rádio) e em São Paulo por

meio do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da Universidade de São Paulo

(produzindo programas de rádio ou filmes).

Os projetos educomunicativos que estão sendo realizados gradualmente em

várias regiões do país têm um papel fundamental em canalizar as habilidades já

evidentes para a produção de mídia de qualidade, marcada segundo Soares (2011, p.9)

pela “criatividade, motivação, contextualização de conteúdos, afetividade, cooperação,

participação, livre expressão, interatividade e experimentação”.

Soares (2011) registra que já em 2006, as práticas pioneiras de educomunicação

formaram a rede de experiências em Comunicação, Educação e Participação, a

denominada CEP justamente com o objetivo de refletir sobre prática de desenvolver

modelos de políticas públicas para melhorar a educação pública no Brasil. Nesta época,

2006, foi pautado, por exemplo, o programa de educação integral do governo federal,

que passou a considerar a educomunicação como uma das opções de atividades no

contraturno escolar, o que levou os projetos em educomunicação para mais de cinco mil

escolas em todo o país. Mas ainda há muito a se fazer, e a transformação crucial

ocorreria se houvesse a flexibilização do currículo escolar.

Por isso, este estudo se faz necessário, pois busca uma base contextual para que

se promova uma reflexão, levando em conta a perspectiva da educomunicação que

levaria a uma mudança substancial no tratamento do Ensino Médio pelas políticas

públicas no Brasil.

Gestor escolar como mediador da inter-relação da área

Educacional e Comunicacional

Parafraseando Lück (2000, p.11), há muitos desafios para ser trabalhados pela

comunidade educacional, como a mudança de concepção da escola, que segundo ela é

limitada devido ao seu modelo estático; além de haver a necessidade da democratização

escolar, isto é, deve-se construir uma autonomia na escola, tendo em vista a sua

descentralização.Para esta pesquisadora, Lück, também há necessidade de se investir na

formação de gestores escolares para que estes auxiliem na construção da autonomia da

escola.

Lück (2000, p.11) ressalta que:

Em toda sociedade, observa-se o desenvolvimento da consciência de que o

autoritarismo, a centralização, a fragmentação, o conservadorismo e a ótica

do dividir para conquistar estão ultrapassados por conduzirem ao desperdício,

ao ativismo inconsequente, a falta de responsabilidade por atos e resultados e

ao fracasso de suas instituições.

Para Lück (2000, p.11), é por isso que o atual panorama educacional é marcado

“por uma mudança de paradigma adotando concepções e práticas interativas e

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participativas, estabelecendo alianças, redes e parcerias, na busca de soluções de

problemas”. Para esse autor, essa nova fase educacional está modificando a semântica e

a concepção da educação, da relação entre sociedade e escola o que tem demandado um

esforço dos gestores escolares na organização da escola e na administração dos

profissionais que atuam nela.

De acordo com Drucker (1992 apud Lück, 2000, p.13), “trata-se de uma

experiência nova, sem parâmetros anteriores para qual devemos desenvolver

sensibilidade, compreensão e habilidades especiais, novos e abertos. Isso porque tudo

que dava certo antes está fadado ao fracasso na nova conjuntura”.

Para Lück (2000, p.13), recentemente o diretor escolar não tinha autonomia em

sua própria instituição de ensino, pois estava sob tutela dos órgãos centrais.

Seu trabalho constituía-se, sobretudo, repassar informações, controlar,

supervisionar, “dirigir” o fazer escolar, de acordo com as normas propostas

pelo sistema de ensino ou pela mantenedora. Era considerado bom diretor

quem cumpria estas obrigações plenamente, de modo a garantir que a escola

não fugisse ao estabelecido em âmbito central ou em hierarquia superior

(LUCK, 2000, p.13).

De acordo com Luck (2000), esse procedimento era possível porque a clientela

escolar era mais homogênea, ante-elitização da educação, em vista do que, quem não se

adequasse ao sistema era banido dele. A expulsão explicita ou sutil de alunos da escola

foi uma pratica aceita como natural durante muitos anos. Portanto tensões, contradições

e conflitos eram eliminados ou abafados e os elevadíssimos índices de vazão escolar

que marcaram a escola brasileira podem ser também explicados por um esforço no

sentido de manter a homogeneidade da clientela escolar. Essa situação esta associada

ao entendimento limitado de que a escola é responsabilidade do governo, visto este

como uma entidade superior e externa à sociedade; uma supra-entidade ao mesmo

tempo autoritária e paternalista.

A leitura, ao pé da letra da determinação constitucional de que educação é

dever do Estado, é comumente associada à ideia de que ela é apenas direito

da sociedade. Essa dissociação entre direitos de uns e deveres de outros, ao

perpassar a sociedade como um todo, produz na educação, diretores que não

lideram, professores que não ensinam, alunos que não aprendem, todos

esperando que o “outro” faça alguma coisa, para resolver os problemas ou

dificuldades, inclusive os ocupantes de posições no sistema de ensino

(LUCK, 2000, p.13).

Assim, segundo Lück adotou-se:

O método de administração científica, orientado pelos princípios da

racionalidade limitada, da linearidade, da influência estabelecida de fora para

dentro, do emprego mecanicista de pessoas e recursos para realizar os

objetivos organizacionais, da fragmentação e redução dos processos

educacionais a tarefas exercidas sem vida e sem espírito, o amor à profissão

foi deixado de lado. Muitas vezes, até a atividade pedagógica, como é o caso

de corrigir provas, dar notas passaram a ter uma conotação de quantidade e

não mais de qualidade. Houve uma grande preocupação com a dimensão

quantitativa em detrimento à qualitativa. (LUCK, 2000, p.13).

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Diante da afirmação acima feita por Lück, administrar estaria relacionado a

comandar e a controlar segundo um olhar objetivo do profissional que atua acerca da

unidade e nela atua de forma imparcial o que asseguraria a sua própria autoridade,

focada na imagem do gestor. O que aconteceu, segundo Lück é que:

Houve uma fixação de uma hierarquia e verticalização aos processos sociais

nele vigente; estabeleceu-se ainda a burocratização dos processos, a

fragmentação de ações e sua individualização e, como consequência, a

desresponsabilização de pessoas em qualquer nível de ação, pelos resultados

finais. A eles está associada a administração por comando e controle,

centrada na autoridade e distanciada da implementação de ações,

construindo-se, dessa forma, uma cultura de determinismo e dependência.

Luck (2000, p.14)

De acordo com Luck (2000, p.14), as instituições educacionais não podem ser

administradas com enfoque unicamente da administração cientifica, isto é, que as

pessoas que atuam nestas instituições sejam consideradas partes de uma máquina e

sejam controladas pelo seu ambiente externo. Para este autor os sistemas educacionais

são “organismos vivos e dinâmicos fazendo parte de um contexto socioeconômico-

cultural marcado não só pela pluralidade, como pela controvérsia que vêm, também se

manifestar na escola”. Para Lück (2000) por isso, a gestão escolar urge:

De um novo enfoque de organização e é esta necessidade que a gestão

escolar deve procurar responder. Essa gestão abrange, portanto, a dinâmica

das interações, em decorrência do que o trabalho, como prática social, passa a

ser o enfoque orientador da ação de gestão realizada na organização de

ensino.Vive-se, então, um momento de transição entre os dois enfoques de

ensino: a administração científica (que seria o modelo estático) e a

administração empreendedora (que seria o modelo dinâmico). Há de se

dar conta, no contexto da escola, da multiculturalidade de nossa sociedade, da

importância da riqueza dessa diversidade, associados à emergência do poder

local e reivindicação de esforços de participação. Em decorrência dessa

situação exposta, muda a fundamentação teórico-metodológica necessária

para a orientação e compreensão do trabalho da direção da escola, que passa

a ser entendida como um processo de equipe, associado a uma ampla

demanda social por participação. (LUCK, 2000, p.15).

Não se trata então, segundo Lück de mudar a termologia de administração para

gestão, mas sim esta mudança deve acontecer no que diz respeito ao seu conceito, isto é,

uma forma democrática de ouvir a comunidade escolar.

A partir desse novo conceito “gestão escolar” pode-se verificar que ele traz o

entendimento de que professores, equipe técnico-pedagógica, funcionários, alunos, pais,

comunidade, todos, não apenas fazem parte do ambiente cultural, mas o formam e

constroem pelo seu modo de agir, em sua interação dependem a identidade da escola na

comunidade, o seu papel na mesma e os seus resultados.

A mudança de consciência implica o reconhecimento desse fator pelos

participantes do processo escolar, de sua compreensão ao seu papel em

relação ao todo, uma vez, como lembra Peter Senge (1993, p. 29), “quando os

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membros de uma organização concentram-se apenas em sua função, eles não

se sentem responsáveis pelos resultados”. E essa percepção setorizada tem

sido a responsável pelo fracionamento e dissociação das ações escolares e

consequente diluição do seu trabalho e dos seus efeitos. (LUCK, 2000, p.16).

A respeito dos mecanismos de eleição do diretor, o movimento de

descentralização e construção da autonomia da escola passou, no Brasil, pela adoção de

mecanismos diferenciados de provimento do cargo de diretor da escola, em

contrapartida à prática tradicional de indicação por políticos, filtrada e referendada pelos

órgãos centrais. Assim é que:

A escolha do diretor escolar, pela via de eleição direta e com a participação

da comunidade, vem se constituindo e ampliando-se como mecanismo de

seleção diretamente ligado à democratização da educação e da escola pública,

visando assegurar, também, a participação das famílias no processo de gestão

da educação de seus filhos. (PARENTE, 1999 apud LUCK, 2000, p.22).

Luck relata que essa eleição teve início no estado do Paraná, em 1984, sendo

praticada em 17 estados brasileiros; mas que não há resultados gerais consistentes que

demonstrem a efetividade desse mecanismo na prática efetiva de gestão democrática,

tendo sido até mesmo identificada a intensificação do autoritarismo da gestão escolar

por diretores eleitos, em certos casos. É sempre bom lembrar que não é a eleição em si

que democratiza, mas sim o que ela representaria como parte de um processo

participativo global, do qual ela seria apenas um momento significativo. Ao se

promover a eleição de dirigentes, estar-se-ia delineando uma proposta de escola, de

estilo, de gestão e firmando compromissos coletivos para levá-los a efeito. Esse

entendimento, no entanto, não se tem manifestado no conjunto das escolas, como em

geral não se manifesta em nossa prática de escolha de nossos dirigentes e legisladores:

os elegemos e nos descompromissamos de qualquer participação, mesmo a de

acompanhamento das ações necessárias que tomem para por em prática essa política.

A aspiração de que com a introdução da eleição, as relações na escola se

dariam de forma harmoniosa e de que as práticas clientelistas

desapareceriam, mostrou-se ingênua e irrealista, posto que a eleição de

diretores, como todo instrumento de democracia, não garante o

desaparecimento de conflitos. Constitui uma forma de permitir que eles

venham à tona e estejam ao alcance da ação de pessoas e grupos para resolvê-

los (LUCK, 2000, p.22).

Trata-se, portanto, de uma área de atuação sobre a qual muito temos a apreender:

como eleger o melhor e mais competente profissional disponível para o cargo, como

superar os interesses individuais e de grupos isolados na busca do bem social e da

qualidade da educação, como manter o compromisso coletivo e a mobilização social em

torno da escola, para alem da ocasião das eleições.

Segundo Paro (1996, apud LUCK, 2000, p.23), a decisão pelo judiciário, de

apontar a inconstitucionalidade da realização de eleição para o provimento do cargo de

diretores de escola, tem promovido uma retração na expansão desta pratica e fortalecido

uma tendência a perder de vista os esforços pela democratização da escola e de sua

gestão. Segundo ele, deve-se promover critérios de seleção de diretores que passem

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pela demonstração de competências para o exercício deste trabalho (critérios técnicos).

Este é o caso de sete estados brasileiros, onde são realizados concursos, provas, exames

de competência profissional, associados ou não, à participação em cursos de

capacitação.

Formação de Gestores Escolares

Para se conseguir o aumento da competência escolar, exige-se maior habilidade

de sua gestão porque a formação de gestores escolares passa a ser uma necessidade e

um desafio para os sistemas de ensino. A formação inicial, em nível superior, de

gestores escolares, era do curso de Pedagogia.

O MEC propunha, na década de setenta, que todos os cargos de diretores de

escola viessem a ser ocupados por profissionais neste curso. No entanto, com

a abertura política na década de oitenta e a introdução da prática de eleição

para esse cargo, diminui acentuadamente a procura desses cursos que, por

falta de alunos, tornaram-se inviáveis (LUCK, 2000, p.28).

De acordo Machado (1999), houve então um movimento no sentido de oferecer

cursos de especialização em gestão educacional, muito procurado por profissionais já no

exercício dessas funções, porém, com um número relativamente pequeno de vagas.

Recaem, portanto, sobre o sistema de ensino a tarefa e a responsabilidade de promover,

organizar e até mesmo realizar cursos de capacitação para preparação de diretores

escolares. Esta responsabilidade se torna maior quando se evidencia a necessidade de

formação contínua, completando a formação inicial, como condição para acentuar o

processo de profissionalização de gestores, de modo que enfrentem os novos desafios a

que estão sujeitas as escolas e os sistemas de ensino. Sendo assim, é imprescindível

fornecer capacitação na formação continuada e permanente aos diretores de escola.

Por isso é necessário que o empreendedorismo faça parte da capacitação dos

diretores escolares, já que esse cargo exige ser ocupado por um profissional com

multiplicidade de competências, que saiba lidar com a dinâmica constante das situações

que impõe novos desdobramentos e desafios. Esse profissional tem que estar apto a

trabalhar sob pressão e tensões cotidianas pelas quais passa um diretor escolar.

Escolas do Ensino Médio Integrado – Currículo Integrado

De acordo com o portal do MEC acessado em 15 de janeiro de 2013, o Programa

Ensino Médio Inovador- ProEMI, instituído pela Portaria nº 971, de 9 de outubro de

2009, integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, como

estratégia do Governo Federal para induzir a reestruturação dos currículos do Ensino

Médio.

O objetivo do ProEMI é apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas

curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio, ampliando o tempo dos

estudantes na escola e buscando garantir a formação integral com a inserção

de atividades que tornem o currículo mais dinâmico, atendendo também as

expectativas dos estudantes do Ensino Médio e às demandas da sociedade

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contemporânea. (PORTAL MEC, 2012)

Segundo o site do portal do MEC que apresenta as orientações sobre a

implantação do Programa do Ensino Médio Inovador – ProEMI -, o site afirma que a

principal fonte de informação para a elaboração deste documento foi o Censo 2010 do

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), do

Ministério da Educação e que também foram utilizadas informações de outras fontes

como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD para o ano de 2009 e a

Síntese dos Indicadores Sociais 2010 (SIS 2010), do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). Os indicadores mostram a necessidade de mudar o currículo do

Ensino Médio, tanto que o governo Federal sancionou a mudança. O primeiro passo foi

dado ao reconhecer que o currículo do ensino Médio precisa mudar, precisa ser mais

atraente às necessidades do aluno contemporâneo.

O segundo passo é entender quais são as mudanças propostas no currículo.

De acordo com o Portal do MEC, os projetos devem atender as reais

necessidades das unidades escolares, com foco na promoção de melhorias significativas

para a aprendizagem do estudante, reconhecendo as especificidades regionais e as

concepções curriculares implementadas pelas redes de ensino e poderão apresentar

projetos, denominados Projetos de Reestruturação Curricular (PRC), as escolas

selecionadas pelas Secretarias Estaduais de Educação e do Distrito Federal, conforme

Resolução CD/FNDE n° 63, de 16 de novembro de 201, observando os termos da

Resolução CD/FNDE nº 17, de 19 de abril de 2011, que dispõem sobre os

procedimentos de adesão, de habilitação, as formas de execução e prestação de contas

referentes ao Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), bem com as expressas neste

Documento Orientador do Programa.

O Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI) estabelece em seu Documento

Base um referencial de tratamento curricular, indicando as condições básicas para a

elaboração dos Projetos de Reestruturação Curricular (PRC), as quais estão sujeitas à

adequação dos respectivos ambientes escolares, quais sejam: uma carga horária mínima

de três mil horas; foco na leitura; atividades teórico-práticas apoiadas em laboratórios de

ciências, matemática e outros espaços ou atividades que potencializem aprendizagens

nas diferentes áreas do conhecimento; fomento às atividades de produção artística que

promovam a ampliação do universo cultural do estudante; fomento as atividades

esportivas e corporais que promovam o desenvolvimento dos estudantes; fomento às

atividades que envolvam comunicação e uso de mídias e cultura digital, em todas as

áreas do conhecimento; oferta de atividades optativas (de acordo com os macrocampos),

que poderão estar estruturadas em disciplinas, ou em outras práticas pedagógicas multi

ou interdisciplinares; estímulo à atividade docente em dedicação integral à escola, com

tempo efetivo para atividades de planejamento pedagógico, individuais e coletivas;

incorporação das ações ao Projeto Político-Pedagógico implementado com participação

efetiva da Comunidade Escolar; as escolas integrantes do Programa deverão promover a

participação dos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM); e

elaboração de plano de metas para melhoria do índice escolar.

Para entendermos as mudanças propostas para a reestruturação do Ensino Médio

Inovador, são necessárias conhecer as ações nos Projetos de Reestruturação Curricular

(PRC) das Unidades Escolares que de acordo com as orientações do documento

orientador do ProEMI que pode ser encontrado no portal do MEC.

Page 16: ECCOM 8 - Revista de Educação, Cultura e Comunicação

15

ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

Os Projetos de Reestruturação Curricular (PRC) poderão apresentar ações em

diferentes formatos (disciplinas, oficinas, projetos interdisciplinares,

aquisição de materiais e tecnologias do Guia de Tecnologias4 atualizado,

dentre outros) e poderão incluir formação específica para os profissionais da

educação envolvidos na execução das atividades. O conjunto de ações que

compõem o PRC de cada escola deverá contemplar, no mínimo, os

Macrocampos obrigatórios: Acompanhamento Pedagógico e Iniciação

Científica e Pesquisa. As ações nos demais macrocampos serão propostas

conforme necessidades e interesses da equipe pedagógica, dos professores e

da comunidade escolar. (PORTAL MEC, 2012, p. 14)

Conforme o documento orientador postado no portal do MEC, os macrocampos

obrigatórios são divididos em oito, sendo eles: Acompanhamento Pedagógico; Iniciação

Científica e pesquisa; Cultura Corporal; Cultura e Artes; Comunicação e uso de mídias;

Cultura Digital; Participação Estudantil; Leitura e Letramento. Os dois primeiros

macrocampos são obrigatórios segundo o portal do MEC.Devem-se privilegiar

atividades interativas de forma direta com o estudante, podendo também, incluir ações

de formação dos professores, da gestão escolar e adequação dos ambientes escolares. Os

macrocampos deverão dialogar entre si e com o currículo.

Compreende-se macrocampo o conjunto de atividades didático-pedagógicas

que estão dentro de uma área de conhecimento percebida como um grande

campo de ação educacional e interativa, podendo contemplar uma

diversidade de ações que qualificam o currículo escolar. (PORTAL MEC,

2012, p. 14)

De acordo com o portal do MEC, o macrocampo denominado Acompanhamento

Pedagógico é obrigatório pelo menos no acompanhamento de uma das atividades e

“deverá desenvolver atividades articuladas aos componentes curriculares, tendo como

referência os objetivos constantes no Projeto Político Pedagógico, elaborado a partir do

diagnóstico realizado pela escola.”,

Parafraseando o portal do MEC (2012), o segundo macrocampo que também é

obrigatório é o denominado Iniciação Científica e pesquisa e deverá desenvolver

atividades que integram teoria e prática, compreendendo a organização e o

desenvolvimento de conhecimentos científicos nas áreas das ciências exatas, da

natureza e humanas.

O terceiro macrocampo de acordo com o documento orientador postado no

portal do MEC (2012) é a Cultura Corporal que deve desenvolver “atividades que

promovam o desenvolvimento da consciência corporal e do movimento, a compreensão

da relação entre o corpo e as emoções e, entre o indivíduo, o outro e o mundo,

abordando também a importância de atitudes saudáveis”.

O quarto macrocampo é denominado de Cultura e Arte que deve desenvolver

(...) conhecimentos que incorporem práticas de elaboração nas diversas

formas de expressão artística, bem como atividades relacionadas à apreciação

e análise da produção artística (pintura, dança, música, reciclagem (5 R5) e

ecotécnicas, cinema, teatro e contação de história, dentre outras), ampliando

o desenvolvimento do estudante em aspectos relacionados ao senso estético,

à relação entre cultura, arte, relações sociais, entre outras. (PORTAL MEC,

2012, p. 15)

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

O quinto macrocampo que é o foco deste estudo é o da Comunicação e uso

das mídias (grifo nosso) que deve

(...) desenvolver os processos relacionados à educomunicação e as ações

deverão orientar e propor vivências em espaços de atuação que permitam ao

jovem acesso às diferentes mídias e tecnologias da informação e da

comunicação ampliando a compreensão de métodos, dinâmicas e técnicas. As

atividades deverão possibilitar a criação de condições para a utilização dos

instrumentos e ferramentas disponíveis, das formas e possibilidades de

comunicação e de processos criativos, assim como viabilizar a reflexão sobre

o uso crítico das diversas tecnologias em diferentes espaços do convívio

social (fanzine, informática e tecnologia da Informação, rádio escolar, jornal

escolar, histórias em quadrinhos, fotografia, vídeos, dentre outros).

(PORTAL MEC, 2012, p. 16)

Este macrocampo será alvo de discussões durante toda a reflexão proposta deste

estudo bibliográfico no que tange a uma importante oportunidade para promover uma

profunda modificação na maneira de educar voltado à contemporaneidade.

Dando continuidade ao entendimento sobre a divisão dos macrocampos, segue-

se o sexto que se refere à Cultura Digital, outro campo importante da Modernidade. Este

macrocampo deve ser capaz de

(...) criar condições e espaços necessários para que o jovem tenha acesso às

ferramentas, aos instrumentos e ás informações que possibilitem

compreender a amplitude da cultura digital e suas múltiplas modalidades de

comunicação. As atividades deverão possibilitar o desenvolvimento de

habilidades para a comunicação em linguagem comum digital nas dimensões

local e global, de tempo real e, estabelecer formas de interação que permitam

utilizar o ambiente digital em diferentes espaços da vida - trabalho,

desenvolvimento de pesquisa, acesso e produção de conhecimento, redes

sociais, participação política -, ampliando e potencializando o uso de

instrumentos tecnológicos como ferramentas que contribuem para a produção

de conhecimentos. (PORTAL MEC, 2012, p. 16)

Não há dúvida alguma como negar a importância de se inserir jovens, que já

nascem na era digital, com um celular em casa, alheio a como utilizar a tecnologia da

melhor forma possível, respeitando a ética, os direitos autorais e defender suas próprias

autorias, ou seja, a produção de seu próprio conhecimento.

O sétimo macrocampo trata-se da Participação estudantil incentivando-o “à

atuação e organização da juventude nos seus processos de desenvolvimento pessoal,

social e de vivência política”. (PORTAL MEC.GOV.BR, 2012, p. 16)

E, por último, o oitavo macrocampo, que de acordo com o portal do MEC, (2012,

p. 16) trata da Leitura e Letramento que deve “criar alternativas de leitura e produção de

textos, explorando diversos gêneros que possibilitem ao estudante utilizar, desenvolver

e apreender estratégias para a compreensão da leitura e a organização da escrita em

formas mais complexas.”.

Soares (2011, p.9) afirma que o projeto de Ensino Médio Inovador proposto pelo

MEC propõe uma “revolução nos velhos „engavetamentos‟ e isolamentos das

disciplinas, sugerindo um trabalho por áreas de conhecimento”, ou seja, uma

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

organização matricial dos saberes e fazeres. Nessa matriz, há um espaço potencial para

que as habilidades específicas funcionem como “enzimas do aprendizado” (Soares,

2011, p.9). Na visão de Soares, a educomunicação ocuparia justamente este espaço, o

espaço de animação.

Levando em conta a perspectiva que se abre para uma mudança no tratamento do

Ensino Médio realizada pelo gestor escolar de acordo com as políticas públicas no

Brasil, abordar-se em seguida mais profundamente o quinto macrocampo (Comunicação

e uso de mídias), que é uma alternativa de administração educacional para o Ensino

Médio Integrado.

Educomunicação como alternativa para a reforma do Ensino

Médio. Trajetória do conceito de Educomunicação

Embora o termo educomunicação pareça novo, de acordo com Soares (2011, p.

33), “a palavra educomunicação já tem história”.

Foi referendada por muitos gestores culturais, sob os auspícios da Unesco, a

partir de 1980, para designar uma prática genericamente definida na Europa

como Media Education (educação para a recepção crítica dos meios de

comunicação). Com esse sentido que o termo foi utilizado por Mario Kaplún,

assim como por grupos ligados, nos diversos países da América Latina e

Caribe, à Organização Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

(OCLACC), (...) em pesquisa concluída em 2002, fala em três décadas de

práticas educomunicativas no continente(...). (SOARES, 2011, p.33-34).

Ao longo da década de 1990, segundo Soares (2011), núcleos de extensão de

universidades, assim como ONGs voltadas para o uso da mídia em suas experiências de

formação de crianças e jovens brasileiras difundiram vários métodos de abordar as

práticas de educação à mídia, sendo que algumas dessas organizações passaram a

entender que o exercício de “produzir comunicação” de forma democrática e

participativa, por parte da juventude, o que representaria um diferencial em relação às

experiências internacionais voltadas exclusivamente para as práticas de leitura da mídia.

Atualmente, o termo educomunicação passou a ser empregado nos textos do

Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE-SP), a partir

de 1999, segundo Soares (2011, p.34) e que acabou em 2009, dando nome ao curso

superior: a Licenciatura em Educomunicação.

A investigação do NCE-SP mostrou evidências de que transformações profundas

estavam ocorrendo no campo da constituição das ciências, em especial as humanas,

incluindo a área que abrigava a interface Comunicação e Educação, o que acabou

mostrando um novo campo de saber interdisciplinar.

A partir do ano de 2000, a interpretação oferecida ao conceito pelo NCE-USP

passou a circular fora da fronteira nacional em artigos e livros. No Brasil, o principal

veículo de divulgação do conceito tem sido a revista Comunicação & Educação, que,

em 2002, introduziu o assunto em suas páginas com um artigo intitulado “Gestão da

comunicação e educação: caminhos da educomunicação”. (SOARES, 2011, p.36).

Para manter a coerência com a trajetória do conceito de educomunicação e com

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os princípios que a sustentam, propõe-se neste estudo que este novo campo seja pensado

como uma ótima opção, como uma alternativa de administração educacional e cabe ao

gestor utilizar e aplicar no currículo do ensino médio Integrado.

A educomunicação no centro do currículo

Segundo Soares (2011, p.51), “são poucos os pensadores da área da educação

que se sentem à vontade em aproximar as expectativas de valores ao universo

representado pela comunicação, suas linguagens e tecnologias”.

É difícil acreditar que há educadores que não conseguem enxergar que a mídia

por meio dos meios de comunicação de massa necessitam ser pensados e relacionados à

formação de um interlocutor crítico. O que se depara, muitas vezes, é a mídia

influenciando hábitos e incentivando consumo excessivo em uma sociedade capitalista.

Por isso é um grande desafio ao gestor, fazer com que os educadores aceitem

esse novo diálogo com o novo campo de atuação, o da educomunicação.

Somente quem educa por amor à profissão e aceita desafios possa aplicar a

educomunicação nas instituições escolares. São profissionais da educação que não

duvidam de que os jovens estejam aprendendo muitas coisas na TV, na internet ou nos

jogos de vídeo-games, entendendo que as experiências desses jovens com as

Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) evidenciam não apenas o caráter

estimulante que elas podem ter nos espaços educativos, mas também a forma como o

emprego delas muda, transforma os modos de olhar para o mundo.

Principalmente no Ensino Médio que é a fase de tantas descobertas e mudanças,

é necessário mudar o currículo.

Para Jesús-Martin Barbero, (1996 apud SOARES, 2011, p. 52)

Os novos educadores devem ser capazes de compreender que há uma nova

cultura juvenil irreversivelmente em formação, vendo nelas mais que

ameaças, mas novas e interessantes possibilidades de fazer uma nova aula e

uma nova escola.

Não dá mais para continuar no século XXI ensinando como no século passado.

O mundo mudou e as instituições de ensino devem acompanhar estas mudanças.

Metodologia da Pesquisa

De acordo com Gil (2008, p. 40), “as pesquisas exploratórias têm como objetivo

proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito”

e por ser bastante flexível, elas “assumem a forma de pesquisa bibliográfica”. Este

trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa exploratória com delineamento de cunho

bibliográfico e com a aplicação de uma prática educomunicativa, em uma Disciplina de

Apoio Curricular (DAC) que pertencia a um projeto da Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo e que tinha como objetivo preparar os jovens para passarem nos

vestibulares e ingressar no ensino superior.

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No ano de 2009, lecionava-se a Disciplina de Apoio Curricular - DAC - em uma

escola pública da rede estadual de ensino no interior do estado de São Paulo para os

alunos do 3º ano do ensino médio do período noturno. Eram jovens na faixa etária de 18

a 21 anos.

A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, objetivando melhorar a

formação dos alunos, elaborou o Programa Apoio à Continuidade de Estudos para ser

implementado nas Disciplinas de Apoio Curricular (DAC) da 3ª série do Ensino Médio e

3º termo de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A proposta era aumentar as chances dos

jovens, que concluíssem o Ensino Médio em escolas públicas, a continuar seus estudos em

nível superior.

A matriz curricular dessas séries contava com seis horas/aula por semana,

dividida entre as áreas de Códigos e Linguagens, Ciências Humanas e Ciências da

Natureza e Matemática. O programa teve como propósito subsidiar alunos e

professores com material didático-pedagógico e preparar os professores para atuar

visando ao desenvolvimento dos alunos nas habilidades e competências cognitivas mais

complexas.Naquele ano, atendendo à proposta da Secretaria de Estado da Educação de

São Paulo, na disciplina DAC, decidi realizar a produção de uma revista, atendendo ao

quinto macrocampo, Comunicação e uso das mídias, estabelecido pelo Portal do MEC

(2012), cujo tema principal foi sobre o meio ambiente e assuntos voltados a atualidades.

O projeto foi desenvolvido ao longo do primeiro bimestre letivo de 2009 durante as

aulas desta disciplina.

Procedimentos de coleta de dados

Primeiro passo: Nos primeiros encontros foram levadas para a sala de aula

varias revistas para que os alunos tivessem o primeiro contato. Estas revistas estavam

relacionadas com tema meio ambiente e atualidades, como por exemplo: Revista Veja,

Revista Nova Escola, Revista Conhecimento Prático Geografia, Revista Época e Guia

do Estudante da editora Abril. Os alunos folheavam as revistas e liam algumas matérias.

Segundo passo: Foi explicada aos alunos a estrutura de uma revista, ou seja, foi

explicado o processo de construção deste gênero textual. De acordo com Scalzo (2004),

existem três grandes grupos estilísticos de revista: ilustradas, especializadas e de

informação. As ilustradas têm como base as imagens. Os textos funcionam como

acessório; já as especializadas são muitas vezes temáticas, têm público mais

segmentado; e as de informação que referem-se à informação trabalhada, muitas vezes

têm como base o factual.

Para este trabalho decidiu juntamente com os alunos que o tipo de revista a ser

produzido seria a revista do grupo estilístico especializada.

Em seguida, foi explicado aos alunos como podemos definir uma revista, que ela

é um veículo de comunicação (mas não de uma massa heterogênea), um produto, um

negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços e um misto de jornalismo e

entretenimento, por isso eles poderiam além de produzir textos informativos, poderiam

também produzir gêneros relacionados ao entretenimento, como palavras cruzadas,

jogos dos sete erros, horóscopo, moda, beleza, culinária, dentre outros.

Houve também uma explicação sobre o que diferencia uma revista de um jornal.

A revista tem funções culturais mais complexas que a simples transmissão de notícias,

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pois além de informar, as revistas entretêm, trazem análise e levam à reflexão; enquanto

o jornal ocupa o espaço público, do cidadão, e o jornalista que escreve em jornal fala

sempre com uma plateia heterogênea, muitas vezes sem rosto, a revista entra no espaço

privado, na intimidade, na casa dos leitores. As revistas reafirmam a identidade de grupos

de interesses específicos, funcionando muitas vezes como uma espécie de carteirinha de

acesso a eles. A durabilidade das revistas é maior que a durabilidade dos jornais tanto

em função da qualidade do papel quanto do seu conteúdo. Muitas revistas mesmo após a

leitura são guardadas para consulta como por exemplo nos consultórios médicos como

um passatempo enquanto se espera ser atendido; isto já não acontece com os jornais. O

formato da revista também auxilia sua facilidade no manuseio e ao carregá-la, além de

ocupar um espaço menor na hora de guardar. É possível colecionar e ainda não suja as

mãos. Existem revistas maiores (Ex: Caros Amigos) e menores (Ex; Ana Maria), mas o

mais comum é o de 20,2 x 26,6cm – que é o tamanho das revistas Veja, Revista Nova

Escola, Revista Conhecimento Prático Geografia, Revista Época e Guia do Estudante da

Editora Abril. Outra característica da revista é a sua periodicidade que pode ser

semanal, quinzenal ou mensal.

De acordo com Scalzo (2004), os tipos de segmentação das revistas mais

comuns são: por gênero (masculino e feminino); por idade (infantil, adulta,

adolescente); por localização geográfica (cidade ou região) e por tema (cinema,

esportes, ciência...). Mas é possível estender e afunilar essa lista de segmentações até

chegarmos a grupos muito pequenos (é só tomar cuidado apenas para não individualizar

seu leitor como faz a Internet).

Terceiro passo: para a construção da revista foi explicado aos alunos sobre os

ingredientes da reportagem para revistas que referem-se a pesquisar os antecedentes,

para resgatar no tempo as origens do tema que no caso deste projeto era a cidadania, ou

seja, a relação do homem com o espaço em que vive. E também refletir sobre os

desdobramentos, os aspectos que o tema pode assumir no futuro; humanizar o texto da

reportagem, ter o ser humano como centro do foco central para transmitir um retrato

completo do tema que se está abordando e emocionar. É essencial também trabalhar nas

imagens/projeto gráfico da reportagem.

Então os alunos tiveram que fazer uma pesquisa em livros, revistas e internet

sobre o tema cidadania para subsidiar a produção de textos em forma de reportagens ou

gerar ideias para que entrevistas fossem realizadas na escola.

Nesta fase, os alunos produziram três revistas denominadas: Revista José Félix,

Mulheres e Requint Verde. Na Revista José Félix os alunos decidiram como

reportagem principal abordar a história do Professor José Félix que é o patrono da

escola, fazer entrevistas com os gestores, professores de alunos e ex-alunos. Outros

temas abordados foram: educação, tecnologia, biologia, geologia, saúde, violência,

cidadania, gastronomia e atualidades. Também foram colocados anúncios publicitários.

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Figura 1

Figura 2

Na Revista Mulheres, as alunas decidiram como reportagem principal abordar

assuntos relacionados à mulher como: estética, maquiagem, gravidez na adolescência,

esportes praticados por mulheres e culinária; não faltando porem a reflexão sobre

aquecimento global e meio ambiente.

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Figura 3

Figura 4

Na Revista Requint Verde, os alunos abordaram os seguintes assuntos: moda,

saúde, ecologia, meio ambiente, culinária e horóscopos.

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Figura 5

Figura 6

Quarto passo: os alunos após a produção da revista, no dia da entrega ao

professor tiveram que apresentá-la oralmente à turma. Neste momento os alunos

tiveram a oportunidade de expressar como foi a experiência de elaborar uma revista.

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Quinto passo: as revistas foram avaliadas pelo professor e devolvidas aos

alunos com as devidas considerações.

Considerações finais

Se retornarmos ao objetivo do ProEMI que é apoiar e fortalecer o

desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio,

pode-se verificar que na sociedade contemporânea onde as novas tecnologias têm

atraído a atenção dos jovens, urge a necessidade de se aplicar projetos

educomunicativos como o apresentado neste trabalho nas instituições escolares e ter o

apoio da equipe gestora durante o processo de elaboração.

Muitas escolas podem e devem receber a proposta do ProEMI como uma

possível solução para a falta de motivação dos alunos e as propostas educomunicativas

devem ser vistas como uma alternativa de administração educacional direcionando

projetos relacionados com a elaboração: de revista impressa ou virtual, de jornal

impresso ou virtual, de blogs, de jornal mural, de rádio-escola, de rádioweb, de tvweb,

enfim projetos que façam parte do mundo em que os jovens estão inseridos. Temos que

educar os jovens para os meios de comunicação de massa e para a utilização da

tecnologia desenvolvendo o senso crítico deles.

As propostas educomunicativas não necessitam de grandes investimentos

financeiros, mas necessita-se de preparação do grupo de gestores escolares, pois se o

grupo de gestores não tem conhecimento sobre a o que é educomunicação, não sabe

como implantar, este grupo não escolherá na proposta do ProEMI, trabalhar com a

educomunicação. Percebeu-se isso em minha turma de pós-graduação de Gestão

Escolar. Durante a realização da disciplina de Estratégias de Comunicação, uma das

alunas, coordenadora de uma escola pública, ficou espantada por descobrir as práticas

educomunicativas citadas pela professora da disciplina e afirmou que a escola onde ela

trabalhava não escolheu trabalhar com a educomunicação, pois não sabia exatamente o

que era; ela ainda afirmou “Se eu soubesse de todos os benefícios que a

educomunicação traria, nós teríamos escolhido em nossa escola”. Isto mostra o quanto

os profissionais da Educação desconhecem esse campo de atuação, ou seja, a junção da

Comunicação com a Educação.

Lembramos então da proposta que havíamos trabalhado em 2009 com a

elaboração de revista. Na época, o trabalho de elaboração dos periódicos foi facilitado

em virtude de o número de alunos não ser muito grande; dividiu-se a sala em três

grupos de seis alunos. Como os recursos tecnológicos não estavam disponíveis acabou-

se fazendo as revistas manuscritas, o que mostra que dependendo da realidade escolar, a

proposta pode ser adaptada. O importante deste projeto foi o comprometimento e

engajamento dos alunos, fruto este que rendeu excelentes revistas.

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e autoriza a destinação de recursos para o desenvolvimento do Programa Ensino Médio

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O soldado português nos cancioneiros lírico e narrativo

Carlos Nogueira IELT, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, FCSH, Universidade Nova de Lisboa, 1069-061

Lisboa, Portugal

Resumo

Nos cancioneiros da guerra colonial portuguesa, o soldado e o povo dizem as suas vivências de dor,

angústia e perplexidade, matizadas, por vezes, de um patriotismo que é, acima de tudo, abnegação e

resignação, mas também, nalguns momentos, contestação irónica e vontade de mudança. Para estes,

a poesia era mais do que ideologia. Num mundo em ruínas, era uma das raras liberdades individuais

e coletivas, um dos raros lugares de alguma pacificação e salvação. O Estado Novo, pelo contrário,

exalta e promove a capacidade de sofrimento físico e espiritual do soldado português e do povo. A

cosmovisão oficial tem de contaminar a experiência pessoal. Daí os discursos e as composições que

cantam o heroísmo, o sacrifício e a morte em combate.

Palavras-chave

Poesia oral portuguesa; Cancioneiro lírico; Cancioneiro narrativo; Guerra colonial portuguesa.

Abstract

In the songbooks of Portuguese colonial war, the soldier and the people say their experiences of pain,

anguish and perplexity, nuanced, sometimes a patriotism which is, above all, self-denial and

resignation, but also, in some moments, ironic and contestation willingness to change. For them,

poetry was more than ideology. In a world in ruins, was a rare individual and collective freedoms, one

of the rare places in some peace and salvation. The New State, by contrast, celebrates and promotes

the ability of physical and spiritual suffering of the soldier and the Portuguese people. The official

worldview has to contaminate personal experience. Hence the speeches and the singing compositions

heroism, sacrifice and death in combat.

Keywords

Oral poetry Portuguese; Lyrical repertoire; Songbook narrative; Portuguese Colonial War.

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Em 1943, Fernando de Castro Pires de Lima abria o artigo “Soldado que vais prà

guerra” nestes termos:

Tive sempre pelo exército uma grande admiração e respeito. Ele representa a alma

duma Pátria. Se o exército está doente, é fatal que a nação se encontra gravemente enferma. E

se, pelo contrário, o exército está forte e poderoso, é porque o País vive uma hora alta de

grandeza e de fé! (1943, p. 155)

Mas o texto não é um mero elogio dos “Soldados do Império, excelentes rapazes,

simples e obedientes, fortes e ingénuos, valentes sem atitudes ridículas ou quixotescas, leais

como as armas e sempre dispostos a sacrificar-se pela pátria! Nesse moço alegre e

despreocupado, tantas vezes tímido e infantil, está um coração de português de rija têmpera,

que, na hora do combate, sabe morrer como ninguém! É o segredo do soldado português!” (p.

156).

Este escrito é, antes de mais, uma exaltação de Portugal como nação imperial que tem

uma herança histórica e cristã, nacional e universal, a dignificar e a perpetuar: “Portugal

atravessa um momento excepcional da sua história e esse momento foi possível porque, no

segundo fundamental, uma espada se ergueu até ao Céu e um toque de clarim abriu os olhos

aos portugueses repartidos pelas cinco partes do mundo” (p. 155).

Aquelas passagens poderiam ter sido escritas por Salazar ou por uma qualquer figura

da elite política do Estado Novo. Há, evidentemente, uma desproporção entre a realidade

portuguesa e o discurso que a representa. Este texto interessa-nos porque esse excesso político

e discursivo antecede outro excesso: a mitificação do soldado português através da leitura

tendenciosa das quadras tradicionais que o retratam ou em que ele se retrata.

Esta atitude inscreve-se numa estratégia mais vasta de glorificação e nacionalização do

povo e das suas formas de expressão literária. Uma estratégia de compensação do lugar

periférico que Portugal ocupava no mundo e na Europa, apesar do discurso que enaltecia o

seu vasto império: “Alastra pelo mundo uma guerra maldita, ódios cegos que não cansam, e

Salazar, Ministro da guerra, ordena e manda soldados portugueses guarnecer as províncias do

Império. Vigília militar constante e permanente. Ou tu, militar português, não fosses a

encarnação do próprio Império!” (p. 156-157).

Fernando de Castro Pires de Lima anuncia assim o seu programa: “Vamos ouvir o

bom povo, ingénuo e puro, vamos auscultar a sua opinião sobre a vida militar e o que ele

pensa do exército” (p. 157). Contudo, os poemas não vão ser interpretados à luz do seu

significado intrínseco e subjetivo. O que prevalece é a visão do autor, que é também a visão

do regime. Poemas que dizem tragédias individuais, e contrariam a tese da entrega

incondicional do soldado português à sua missão, transformam-se em poemas nacionalistas,

em epopéias. É o caso desta quadra, a que Pires de Lima se refere dizendo apenas que “a

noiva” “um dia lá o viu partir na expedição porque ele anunciou-lhe a hora de embarcar:

Acorda, meu bem, acorda,/ Digo-te adeus, minha amada,/ Obrigam-me a ir prà guerra/

Amanhã de madrugada…” (p. 157).

A reação daquela cujo namorado partirá para a guerra, segundo o autor, não pode ser

senão esta: “Ó triste segunda-feira/ Da semana que há-de vir!/ Vai o meu amor prà guerra,/

Não o posso ver partir…” (p. 167). Nenhum fervor patriótico neste texto, nenhum zelo

nacionalista, apenas drama individual, angústia fora de qualquer ideia de grandeza da pátria.

Mas Pires de Lima interpreta este triste fado de uma maneira muito distinta; e tão seguro está

da sua visão que nos dá o pensamento e as emoções da pobre moça em primeira pessoa:

Que saudades vou ter do meu namorado! Quando o tinha na Pátria, ao menos sabia

que estava relativamente perto de mim. Vai partir e sei lá se voltará mais! Que saudades vou

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ter do meu amor… Mas eu tenho fé, eu tenho esperança que Nossa Senhora velará por ele e,

no fim da guerra, há-de voltar e casará comigo. (p. 167)

Esta sacralização do Império, em que nação, regime, abnegação, obediência e fé

constituem um todo, tem naturalmente efeitos profundos na mundividência das camadas da

população menos favorecidas económica e culturalmente. Por isso é que esta quadra é

conhecida em todo o país: “Meu pai chora que se mata/ Por eu chegar ao ‘stalão!/ Não chore,

meu Pai, não chore:/ Os homens para que são?” Pires de Lima comenta fervorosamente este

texto e destaca o último verso; para ele, o filho, “cheio de orgulho, vaidade legítima de

homem, grita (…) “os homens para que são?” (p. 159).

Fernando Pessoa, no poema “O Infante”, incluído na Mensagem (1934), diz

“Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez./ Senhor, falta cumprir-se Portugal!” Para Pires de

Lima e para o regime, Portugal cumpre-se através da sua ideologia de Estado colonizador e do

seu povo; a missão dos seus homens e das suas mulheres é a mais alta: “casar e formar um lar

bem português”; para isso, é preciso que ela todos os dias reze à “Virgem Santa para que lho

mande coberto de glória: O meu amor é soldado,/ Do segundo batalhão;/ São os mais bonitos

olhos/ Que leva a expedição” (p. 168).

Há, como dizíamos, uma desproporção evidente entre o discurso de produção

ideológica de identidade nacional e as quadras tradicionais sobre a guerra ou o serviço militar

em geral. O cancioneiro da Guerra Colonial, de que falaremos a seguir, não teria ficado imune

a uma leitura deste tipo; ele colocaria desafios mais complexos, como veremos, mas nada que

uma visão parcial e omissa como a de Fernando de Castro Pires de Lima não pudesse resolver

sem grandes problemas textuais e éticos.

As quadras que Pires de Lima comenta no seu artigo revestiram-se de um significado

especial durante os anos em que partiam de Portugal contingentes armados para o império

africano. Todas elas fazem assim potencialmente parte do cancioneiro lírico ligado à guerra

ultramarina. Já vimos como esses textos oscilam entre a angústia dos que ficam e dos que

partem e a aceitação ou exaltação do serviço militar ou da guerra como missão.

Antes de abordarmos o cancioneiro da Guerra Colonial produzido ou interpretado

pelos próprios soldados e por aqueles e sobretudo aquelas que lhes eram próximos

(namoradas, noivas, esposas, mães), há que comentar brevemente o cancioneiro oficial

suscitado por esta mesma situação histórica e política: aquele que é produzido e interpretado

por vozes sintonizadas com o regime, voluntária ou involuntariamente (não esqueçamos a

indicação que acompanhava estas folhas: “Letras visadas pela Delegação Geral dos

Espetáculos”).

O tema Cruz de Guerra, de Manuel Neves e Mário Ferreira, cantado pelo Conjunto

Típico Armindo Campos, é paradigmático dessa tendência; a sua divulgação fez-se também

através de uma folha volante de miscelâneas com 55,5 x 43,5 cm. O texto, mitificando a Mãe-

Pátria e o exército, é uma das expressões do discurso místico e nacionalista oficial: “Numa

aldeia de Portugal/ Certo jovem foi chamado/ Para defender ser leal/ o seu país tão amado.”

Exaltando a ação das Forças armadas, heroicizando o soldado, todo o poema, literariamente

muito pobre, educa para o medo, a submissão e o conformismo; o filho sossega a mãe dizendo

“Tu sabes bem/ Que há outra Mãe/ Mais portuguesa” e ela, perante a morte dele, canta: “É tão

grande a minha mágoa/ Tenho vivido com os olhos rasos de lágrimas/ Meu filho querido/ Mas

estou contente afinal/ Por teres nascido/ E morrido por Portugal/ Meu querido filho/ Mas

estou contente afinal/ Por teres nascido/ E morrido por Portugal.”

Não conhecemos qualquer versão oral deste texto. Pelo tema e pelos motivos, ele

poderia ter entrado facilmente em processo de tradicionalização, mas a arte poética não é, em

toda a extensão do poema, a da tradição oral. Estamos perante uma canção que tem tudo para

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impressionar a sensibilidade coletiva pelo menos durante algum tempo mas não para fazer

parte do cancioneiro narrativo tradicional. Faltam-lhe a forma e o mecanismo prosódico e

estilístico que, protegendo a mensagem da diluição, facilitam a sua memorização e

transmissão: a quadra heptassilábica.

No cancioneiro narrativo da Guerra Colonial enunciado e interpretado pelos seus

protagonistas mais diretos, os textos que circularam com mais intensidade já se integram no

espírito da escola poética tradicional. Os seus níveis de circulação e perduração temporal e

espacial estão atestados pela relativa frequência com que nos têm aparecido durante as nossas

recolhas de campo, realizadas intermitentemente em vários concelhos do distrito do Porto

desde 1994.

Algumas dessas cantigas provêm inequivocamente de folhas volantes. É o caso de A

Vida do Recruta: Lindas Quadras Dedicadas ao Soldado Português (Visado pela Censura) e

de A Vida do Soldado Português. Noutras, escritas em cadernos, participaram vários autores.

A sua difusão foi menor do que as de cordel mas nem por isso as devemos menosprezar. Em

todas se verifica a relação entre literatura e testemunho, em todas um eu testemunhal diz o que

viu e viveu na realidade.

Há, como é sabido, poemas narrativos sobre a vida do soldado que circularam muito

antes da Guerra Colonial. A produção de A Vida do Recruta: Lindas Quadras Dedicadas ao

Soldado Português, por exemplo, remonta a uma data anterior a 1937. Recolhemos uma

versão oral em Quintela, Baião, distrito do Porto, em 14 de Maio de 1996, cantada por um ex-

soldado, que a aprendeu em 1937, em Lisboa, onde cumpriu o serviço militar. Tal como

sucedeu em relação a muitas quadras tradicionais sobre o soldado e a guerra, treze anos de

intenso conflito armado (1961-1974) renovaram a funcionalidade de textos como este e

promoveram a venda de muitas folhas volantes e folhetos. Também o folheto A Triste Vida de

um Pobre Soldado Narrada por Ele Próprio (16 páginas, 16,5 x 12 cm) é anterior à Guerra

Colonial, como se percebe pela ilustração da capa, que inclui vários soldados com fardas do

início do século XX, e pela inexistência de qualquer alusão a este momento da história de

Portugal. O folheto O Que Se Passa na Vida Militar, que narra o percurso de um soldado

desde a inspecção até à conclusão do serviço militar, também ilustra este fenómeno de

adaptação.

As composições do cancioneiro da Guerra Colonial que nasceram diretamente de

experiências de soldados destacados para o Ultramar ou de um narrador testemunhal de

terceira pessoa incluem por vezes logo no incipit atestações de veracidade: “Era há dois anos

casado/ Quando foi mobilizado/ Pra o Ultramar embarcou” (Uma Falsa Notícia) ou “No ano

de 69/ Foi quando assentei praça/ O meu coração adivinhou/ O ano da minha desgraça” (O

Que Se Passa na Vida Militar). O discurso testemunhal liga-se ao discurso das emoções.

Vejamos, em primeiro lugar, neste cancioneiro esquecido e marginalizado, os textos

em que são mais ou menos visíveis as leis da tradicionalidade (a anonímia, a antiguidade, a

variação). A propriedade comunal e anónima do poema oral vem já, aliás, da versão escrita.

Estas folhas volantes e estes folhetos são quase sempre anónimos. A Vida de um Soldado é

um dos poucos que indicam o nome do autor: Manuel das Neves, soldado n.º 178, em

Abrantes.

Entre os textos das folhas volantes e dos folhetos e as versões orais que pudemos

recolher verificam-se diversos fenómenos intertextuais: substituição de palavras, expressões,

versos ou estrofes, supressão e fragmentação-contaminação. Ressalve-se: assumimos, por se

tratar da hipótese mais plausível, que a cantiga narrativa tem a sua origem num texto escrito,

mas nada nos diz que, pelo menos nalguns casos, o modelo integral ou parcial da composição

de cordel não tenha sido um texto oral (ou vários).

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Um texto fragmentado pode fecundar um novo poema. Recolhemos, por exemplo, um

texto que inclui duas estrofes de A Vida do Recruta. As quadras 4 e 5 a seguir transcritas são

iguais às quadras 7 e 8 desse folheto:

Em versos vou escrever

Esta minha tradição;

É tudo quanto eu sinto

Dentro do meu coração.

Pois um amor do coração

Que tudo por ti eu darei;

Foi uma jura que eu fiz

Desde o dia em que te amei.

Pois esta vida para mim

É de amargura e dor,

Somente por me lembrar

Desses teus carinhos de amor.

Adeus, querida amada,

Não fiques desanimada;

Tão depressa que regresse,

Cumprirei a minha palavra.

A viagem no comboio

Foi sempre muito animada,

Mas com o coração triste

Dos segredos da namorada.

Uma destas cantigas narrativas tem como ponto de partida uma variante da primeira

quadra do célebre poema de resistência ao fascismo Menina dos Olhos Tristes (1959), de

Reinaldo Ferreira, musicado por José Afonso e cantado por Adriano Correia de Oliveira (e,

mais recentemente, por João Afonso: “Menina dos olhos tristes,/ O que tanto a faz chorar?/ –

O soldadinho não volta/ Do outro lado do mar”). A composição que recolhemos, constituída

por 9 quadras, figura, no caderno de onde a transcrevemos, como O Soldadinho Português.

Tal como no poema popularizante de Reinaldo Ferreira, que dialoga subversivamente

com as cantigas de amigo galaico-portuguesas, também na cantiga narrativa popular se afirma

que “O soldadinho não volta/ Do outro lado do mar”. Mas o desenvolvimento é diferente: em

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Reinaldo Ferreira, o soldadinho acaba por regressar “numa caixa de pinho” (“O soldadinho já

volta,/ Está quase mesmo a chegar./ Vem numa caixa de pinho./ Desta vez o soldadinho/

Nunca mais se faz ao mar”); na cantiga narrativa, de final aberto, relata-se, em terceira pessoa,

a chegada do soldado e a sua adaptação ao novo ambiente. Obviamente: não sabemos se a

quadra inicial desencadeou a cantiga ou se foi uma incrustação, se foi o mote de uma

amplificação textual ou uma citação.

A presença desta quadra na memória coletiva é fácil de explicar. Estes quatro versos

elegíacos dizem a história trágica de um povo que assiste à partida dos seus filhos para uma

guerra injusta e assassina. Os símbolos, portugueses e universais, articulam tradição poética

portuguesa e história (a expansão territorial dos portugueses): a “menina” e o “soldadinho”

equivalem, numa comparação com a cantiga trovadoresca, ao “amigo” que partia para a

guerra e à “amiga” que o aguardava na sua terra natal; o barco (subentendido) é a “barca”, o

meio que concretiza a separação involuntária, e a água (o mar), arquétipo de liberdade,

procura, paixão, significa aqui ruptura, perda e morte:

Menina dos olhos tristes,

Por que estás a chorar?

– O soldadinho não volta

Do outro lado do mar.

Na ausência dele ficou

Um rosto belo e honroso;

O Vera Cruz partiu,

Logo ficou tormentoso.

O soldadinho partiu,

Deixando a terra natal,

Preparado para a luta,

Para defender Portugal.

Passaram dias e dias

Em pleno alto mar;

O soldadinho na solidão,

O que se não pode evitar.

Já se vê a terra ao longe,

Já se sente endurecer,

O coração do soldado

Para lutar e vencer.

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Desembarcou em Nacala

E ali se preparou

Para a longa caminhada

E logo depois arrancou.

Descansou no mato

Numa noite lamentável,

Esperando novo dia

Que veio com tempo admirável.

Com o corpo dorido

Pelas picadas incertas;

Assim eles demonstraram

Que ainda eram muito checas.

Ao contemplar a paisagem

O soldadinho sempre atento

Pensou que do cerrado mato

Eles podem surgir num momento.1

A forma estrófica das cantigas narrativas que mais perduram na memória coletiva é a

quadra. Mas há outras composições, organizadas em dísticos, tercetos, sextilhas ou oitavas,

que circularam apenas entre os soldados e, nalguns casos, talvez apenas nalguns batalhões e

nalgumas áreas. Temos, neste caso, o Cancioneiro do Niassa, assim chamado por todos

aqueles, tanto autores-intérpretes como consumidores, que cantavam, declamavam ou diziam

fados e canções que determinados elementos dos diversos ramos das forças armadas haviam

adaptado de temas muito em voga. Encontramos, por exemplo, adaptações de letras e

melodias de canções ou fados interpretados por Max, Amália Rodrigues ou José Afonso

(deste autor e intérprete é conhecida a adaptação de Os Vampiros, sob o título O Hino do

Lunho2).

1 Recitado por Norberto Vaz Ribeiro, de 48 anos. Quintela, freguesia de Gestaçô, 27 de Março de 1997. Não

sabemos se este texto provém de um folheto. 2 Lunho é uma das localidades do Niassa Ocidental onde os portugueses encontraram mais resistência.

A primeira estrofe do hipertexto reproduz, quase sem alterações, os versos do hipotexto: “No céu cinzento, sob o

astro mudo,/ Batendo as asas pela noite calada,/ Vêm em bandos, com pés de veludo,/ Chupar o sangue fresco da

manada”. Varia apenas o segundo verso: “Batem as hélices na tarde esquentada”. A seguir, a adaptação torna-se

mais intensa; opera tanto na estrutura de superfície, na cadeia sintagmática, através da substituição de palavras e

expressões, como na estrutura profunda. A permuta traz sempre uma mudança de significado:

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O Cancioneiro do Niassa (Norte de Moçambique) começou por designar o conjunto

de canções e fados que retratava o quotidiano dos militares em serviço no Niassa (Norte de

Se alguém se engana com seu ar sisudo

E lhes franqueia as portas, à chegada:

Eles comem tudo, eles comem tudo,

Eles comem tudo e não deixam nada.

A toda a parte chegam os vampiros,

Poisam nos tectos, poisam nas calçadas.

Trazem no ventre despojos antigos

E nada os prende às vidas acabadas.

Se alguém se engana com o seu sorrir

E lhes franqueia as portas, à chegada:

Só mandam vir, só mandam vir,

Só mandam vir e não fazem nada.

A toda a parte chegam helicópteros,

Poisam nos tandos, poisam nas picadas.

Trazem no ventre “os cabeças de ouro”

Que de guerrilhas não percebem nada.

Na adaptação, bem mais longa do que o original, os acrescentos, em que também se denunciam os

abusos cometidos por todos aqueles têm cargos de chefia, acentuam o desejo de ridicularização e vingança. Daí o

recurso à nota simultaneamente factual e burlesca:

São os reizinhos do Niassa todo.

Senhores por escolha, mandadores sem punho,

Aceitam cunhas e dizem que não,

Passam a ronda sobre os céus do Lunho.

(…)

Lendo os papéis, lá na sua ZAC,

Gritam pra nós, mui enfurecidos:

– Foi de propósito, foi de propósito,

Foi de propósito que ela foi estoirada.

No chão do medo tombam os vencidos,

Ouvem-se os tiros na noite abafada,

Jazem nos fossos vítimas dum credo

E não se esgota o sangue da manada.

Estou farto deles, estou farto deles,

Só mandam vir e não fazem nada.

Comem cabrito, comem cabrito,

Comem cabrito e nós feijoada.

(…)

Tremem as paredes de qualquer quartel,

Falam militares, anda tudo à bulha.

Ri-se o capitão, ri-se o coronel,

Com esta merda da mini-patrulha.

(…)

Senhor comandante de batalhão,

Invente mais uma operação

E distribua mais uma ração,

Mais quatro noites a dormir no chão.

Estou farto deles, estou farto deles,

Só mandam vir e não fazem nada.

Por uma ponte sem terminação,

O nosso sangue foi sacrificado,

Mas, aleluia!, não será lembrada,

Pelos cabeças de ar condicionado.

Se alguém se engana com o seu sorrir

E lhes franqueia as portas, à chegada:

Só mandam vir, só mandam vir,

Só mandam vir e não fazem nada.

Estou farto deles, estou farto deles,

Só mandam vir e não fazem nada.

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Moçambique), mas essas músicas rapidamente passaram a representar a vida de todos os

soldados portugueses destacados para a guerra ultramarina.

Um dos nossos melhores informantes, Norberto Vaz Ribeiro, que cumpriu o serviço

militar em Angola (1969-1971), declamou-nos, em 1997, cerca de uma dezena desses textos,

cuja linha narrativa por vezes nada tem a ver com a orientação das cantigas narrativas

canónicas (partida; dificuldades do recruta; saudades da terra natal, da namorada e da família;

despedida da vida militar; entusiasmo perante a proximidade do regresso). Neste cancioneiro

registado em cadernos que alguns soldados conservam ainda hoje como relíquias e memoriais,

não há heróis, nem se idealiza uma grandeza imperial que a realidade da guerra tornava dia a

dia mais improvável. O tom, de denúncia e indignação, é burlesco, irónico e satírico.

Dois dos mais originais dão-nos a perspectiva do Outro. O Fado do Turra exalta as

características especiais do soldado nativo (“Sabes bem que eu sou ladino,/ Que tenho o andar

muito fino,/ E me escapo como um rato”) e nega a tradicional supremacia do branco: “Lá

porque és branco e pedante,/ Pretendes ser arrogante/ Por capricho e altivez./ Eu que tenho

sido pobre/ Talvez te lixes de vez.”

O Turra das Minas também tem como tema o soldado africano, perito na colocação de

minas, hábil na arte da guerrilha. Enunciado na primeira pessoa do singular (“Eu sou ladino”)

e dirigido a um tu bem determinado (“Lá porque és branco e pedante”), pode ter sido

produzido por um africano e chegado aos portugueses de uma forma que não poderemos

precisar; por um português residente no território ocupado, insatisfeito com a guerra; ou por

um militar branco que se opunha a esta guerra ou que, pouco satisfeito com os

acontecimentos, a comentava ironicamente:

O turra das minas,

Pequeno e traquina

Lá vai na picada,

E a malta escondida

Na mata batida,

Monta a emboscada.

O turra passou,

A malta esperou,

Já toda estafada,

Não o viu passar,

E a berliet

Sempre foi estoirada.

O soldado recém-chegado, o caloiro ingénuo e inexperiente, é o destinatário de um

poema ironicamente amargo: “Bem-vindo, checa,/ Para esta guerra/ Que cá te espera./ Não

estejas triste/ Que a guerra é linda,/ Só fazes cena.” Apesar das afirmações cruas e

desencantadas sobre o quotidiano que espera o novo soldado (“Vais ter saudades/ De

mulheres brancas./ […]// Não chores, ó desgraçado,/ Não vale a pena chorar”), este Fado do

Checa tem como objetivo principal dar-lhe um conselho subversivo e potencialmente

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salvador: “Mas tem cuidado,/ Checa danado,/ Sê pouco anjinho,/ Manda-os lixar/ E faz a tua

guerra sozinho”.

No Fado das Comparações, uma voz coletiva descreve criticamente a vida em

Lourenço Marques (Maputo, após a época colonial) e a vida nas frentes de combate

(“Estranha forma de vida,/ Que estranha comparação,/ Vive-se em Lourenço Marques,/ Cá

arrisca-se o coirão”):

Vida boa, vida airada,

Boates e só festança,

Lá não se fala em matança,

Nem turras, é só borgada.

Niassa, pura olvidança,

Guerra como és ignorada,

Conversa que é evitada

Pelos que vivem na abastança.

Este poema é particularmente valioso pela forma direta como formula a acusação

contra aqueles que ocultavam os fatos de guerra menos louváveis e menos favoráveis para a

causa nacional:

Falar na nossa desdita

Fica mal e aborrece,

E como lembrar irrita,

Toda a gente a desconhece.

Os desaires militares, ocultados muitas vezes ou reduzidos na sua gravidade para não

interferirem numa opinião pública habilmente manipulada durante muito tempo, eram

representados em poemas como este:

Por léguas e léguas,

Aqui no Niassa,

Onde a guerra entoa.

Ó mortos e feridos,

E os mais comidos,

Somos sempre nós.

Vamos pelos ares,

Gritando por todos,

Até pelos avós.

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No Fado do Desertor, o eu-soldado é um anti-herói que refere ironicamente o modo

como o convocaram para o serviço militar (“Estava eu na minha terra/ Disseram-me vais prà

guerra”), como deserta e se une a uma africana, com quem vem a ter um filho mulato:

Estava já farto da guerra

E a lembrar-me da minha terra,

Fui um dia passear.

Numa palhota, sozinha,

Estava uma preta girinha

Que, ao ver-me, fez-me chorar.

E fiquei com tanta pena

Dessa mocinha morena

Que fugimos para o Mato.

Somos um casal feliz

E já temos um petiz

Que por sinal é mulato.

Paralelamente a estas duas modalidades, circulavam inúmeras quadras soltas sobre o

serviço militar e sobre a guerra colonial. Umas viriam de folhas volantes e folhetos, outras dos

cadernos em que alguns soldados guardavam os textos que produziam ou ouviam, liam e

cantavam, outras pura e simplesmente da memória dos seus utilizadores. São fragmentos

autobiográficos que evocam a despedida da família, o embarque, as impressões provocadas

pelas terras africanas, a esperança, o desalento e a saudade. Muitas dessas quadras, como

estas, técnica e expressivamente muito pobres, não terão sequer circulado oralmente:

Disse adeus à minha família,

Digo adeus a quem lá fica,

Que vou para o Ultramar

Conhecer terra mais rica.

No dia 25 de Abril

Foi quando eu fui embarcar;

No ano de 1970

Fui para o Ultramar.

Vida pobre mas é dura,

São sentimentos de valor;

É triste andar em terra mal-sigura,

Onde anda o pior terror.

Em Candulo é a minha triste vida,

Desempenhando minha missão;

Deixei a minha querida terra,

Mas não me sai do coração.

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Algumas dessas quadras transportam informações que acusam o seu registo escrito,

em carta versificada, anterior à circulação oral; carta, por vezes, composta em grupo, tal era a

partilha de vivências, receios e esperanças entre os soldados3:

3 Eis uma dessas cartas, que transcrevemos de um caderno de um dos nossos informantes, Noberto Vaz Ribeiro,

referido atrás:

Carta de um soldado

Ó minha querida mãe

Para saber que estou bem

Vou-lhe esta carta escrever

Responda-me já em seguida

Minha mãezinha querida

Quero notícias saber

Está o dia a chegar

Para a poder abraçar

E também o meu irmão

É para mim grande alegria

Entrar na nossa freguesia

Na mais breve ocasião

Fique sabendo estou bem

Por isso não chore mãe

Eu não estou a enganar

Todos sabem afinal

Que a Guiné é Portugal

Portanto temos que lutar

Quantos rapazes daí

Já vieram para aqui

Este povo nos consola

E que bem gravado fique

O nome de Moçambique

Nunca esquecendo Angola

Senhora da Conceição

Padroeira desta Nação

Nossa Pátria há-de salvar

E os que lutam pelo bem

Graças dela também têm

E o milagre está-se a dar

Diga à minha namorada

Que aguarde minha chegada

Nunca dela me esqueci

Estou pronto a casar

Se ela me souber respeitar

Foi o que eu lhe prometi

O tempo passa depressa

Portanto minha promessa

Hei-de cumprir a rigor

Daqui só vai nesta carta

Saudades para que reparta

Por todos com muito amor

Ser Soldado Português

É lutar com altivez

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Esta vida é de enganos

Como tu deves saber;

Ainda faltam dois anos,

Para te tornar a ver.

Os versos que aqui vão

Não me podem esquecer;

É a vida de um soldado

Que por aqui anda a sofrer.

Nacionalismo e imperialismo não são, portanto, conceitos ausentes deste cancioneiro

da Guerra Colonial (nem o racismo: “Vi lá gente de cor preta,/ Com palavras diferentes;/

Pareciam-me de carvão/ E só lhes reluziam os dentes”). Mas há por vezes sinais claros de

descontentamento e subversão que nos mostram como, afinal, a decadência portuguesa era

bem percebida por aqueles que a viviam como uma catástrofe individual, mental e física: os

soldados e as suas famílias.

O mar do regime e o mar do soldado não são os “Mares de Pessoa” (Eduardo

Lourenço): o Mar de Fernando Pessoa, alegórico e mítico, conduziria a um universo

humanista espiritualmente renovado, de que Portugal seria o centro; o mar de Salazar

conduziria a um mundo de que Portugal, sempre alimentado pelo sacrifício dos seus homens e

das suas mulheres, seria o fundador e a matriz; o mar do soldado português era um mundo de

fantasmas, medos e alguma crença num Império em que ele participaria ativamente4.

Referências

Lima, Fernando de Castro Pires de. Ensaios. Porto: Portucalense Editora, 1943.

Rodrigues, Maria da Ascensão Gonçalves Carvalho. Cancioneiro da Cova da Beira. Vol. III:

Canções Narrativas, Outros Géneros Poéticos e Adenda ao Romanceiro. Prefácio de Pere

Ferré. Notação musical de Manuel F. Domingos. Covilhã: Edição da Autora, 1999.

Contra inimigos da Nação

Só peço a Deus que me ajude

E à Senhora da Saúde

Por todos quantos cá estão 4 No cancioneiro do nosso informante Norberto Vaz Ribeiro, há apenas um poema em que o eu-soldado se

apresenta como um herói:

Quando chegar a Portugal,

Hei-de mostrar minhas grandezas,

Qu’ hão-de ser cobertas com flores

Pelas meninas portuguesas.

Oh! que grande prazer

Haverá nesse dia;

Tantos beijos e abraços,

É uma santa alegria.

No Cancioneiro da Cova da Beira, de Maria da Ascensão Gonçalves Carvalho Rodrigues, temos uma cantiga

em que um soldado, que “Da Índia escreveu à mãe”, afirma: “Mãezinha, não estejas triste,/ Que a guerra aqui

não existe./ Estou guardando o que é nosso” (1999, p. 143).

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A Música no Comportamento dos Jovens na Cidade de

Lorena

Miguel A. de Oliveira Júnior Mestre em Linguística Aplicada – Professor das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, da Associação

Educacional Dom Bosco e da Escola Superior de Cruzeiro

Ariane Zaine Almeida dos Santos Graduanda em Jornalismo - Faculdades Integradas Teresa D’Ávila

Geovana Mara da Silva Rosa Graduanda em Jornalismo - Faculdades Integradas Teresa D’Ávila

Stephany dos Santos Ramos Graduanda em Jornalismo - Faculdades Integradas Teresa D’Ávila

Resumo

É notório o fato de que a arte é parte essencial na vida do ser humano e entre os jovens ela é ainda

mais presente e importante. De todas as suas variedades a música é a que possui maior influência na

vida dos adolescentes, pois ela possibilita o autoconhecimento e é muito importante na construção da

personalidade e da formação sociocultural. O estudo da música interfere também, positivamente, na

formação escolar dos jovens, pois desperta o interesse pelo conhecimento e torna os alunos mais

receptíveis às matérias, mais concentrados e dedicados. Uma pesquisa feita com alunos, entre 14

(quatorze) e 17(dezessete) anos de um projeto musical da cidade de Lorena interior de São Paulo,

confirmou essas informações e mostrou que desde o princípio a música representa muito mais cultura

e conhecimento do que lazer. O governo apoia cada vez mais a música, pois tem recebido muitos

retornos positivos como foi relatado pelo secretário da cultura de Lorena, que notou uma melhora no

rendimento escolar dos alunos matriculados em aulas musicais. A entrevista realizada com uma

psicóloga e uma professora do projeto Guri mostrou que além de todos os outros benefícios citados, a

música também trabalha o lado social dos adolescentes.

Palavras-chave

Jovens; Música; Escola; Educação; Cultura.

Abstract

It is overt the fact that the art is part essential in human’s life and among young people it is present,

and even more important. All off varieties is the song that has the biggest influence on the lives of

teenagers because it enables the selfknowledge and is very important in the construction of personality

and socio-cultural. The study of music also interferes positively in the education of young people as

they awake the interest for knowledge and makes students more receptive to subjects more focused

and dedicated. A survey of students between fourteen (14) and seventeen (17) years of a musical

project of the city of Lorena São Paulo, confirmed this information and showed that from the

beginning the music is much more culture and knowledge than leisure . The government supports

increasing the music, it has received many positive returns as reported by the Secretary of Culture of

Lorena, who noted an improvement in the academic performance of students enrolled in music

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classes. The interview with a psychologist and a professor at the Guri project showed that in addition

to all other benefits cited, the music also works the social side of teenagers.

Keywords

Teenagers, Music, School, Education, Culture.

Introdução

É notório que o homem está diretamente relacionado à música e que entre os jovens

ela tem forte influência. O governo tem investido cada vez mais em projetos musicais, pois

estes apresentam resultados positivos para a sociedade em todos os lugares do país, inclusive

nas cidades do interior que são muitas vezes esquecidas.

A importância da música na formação social e intelectual dos jovens influenciou

diretamente esta pesquisa que foi focada na cidade de Lorena no interior de São Paulo, onde

existem vários projetos musicais, estadual e também particular. Estudar a influência desses

projetos na vida do jovem é muito importante porque abre caminhos para novas didáticas e

auxilia na compreensão do comportamento dos jovens e na criação de novos projetos sociais.

A música pode ser decisiva na vida de uma pessoa, ou pode ajudá-la a desenvolver

habilidades e controles muito importantes. Além disso, um jovem ligado à musicalidade

desenvolve interesse e apreço pela cultura e pela arte, valores que estão escassos atualmente, e

colaboram para o enriquecimento cultural do país. Também na formação intelectual, porque,

além de um dom, a música também é um estudo.

Segundo Snyders (1994), os jovens querem ser reconhecidos por sua personalidade,

fazem questão de mostrar quem são. A bagagem cultural é importante nesse aspecto, pois

nesse caso, a cultura estará em constante renovação, já que as gerações apresentam

características diferentes. E o estudo da música contribui para o enriquecimento do saber e da

formação cultural pessoal.

Esta pesquisa foi embasada na opinião de Georges Snyders em relação à educação

musical, presente no livro “A Escola Pode Ensinar as Alegrias da Música?”, que mostra a

importância e o grau de influência da música na formação e no comportamento dos

adolescentes. Foi realizada uma pesquisa de campo com a participação dos alunos entre 14

(quatorze) e 17 (dezessete) anos do Projeto Guri da cidade de Lorena. A participação desses

alunos se deu por meio da aplicação de um questionário para avaliação da importância do

estudo da música na vida dos adolescentes. O secretário da cultura da cidade também foi

entrevistado para recolhermos sua opinião a respeito da educação musical e para compreender

como a cidade trabalha com esse tipo de ensino.

O objetivo desta pesquisa é ampliar o campo de visão dos educadores e pedagogos,

para que o processo educacional possa evoluir e apresentar a música como alternativa de

educação sociocultural.

Em suma, esta pesquisa justifica-se pelo valor atribuído aos projetos musicais na vida

dos jovens em formação, pois a eles foi atribuída a responsabilidade do futuro. Ajudar por

meio da arte, nesse caso com a música, para que jovens cresçam socialmente e tornem-se

pessoas realizadas.

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A música e a educação

Segundo Snyders , pedagogo francês que baseia sua visão sobre educação na filosofia

social comunista, a educação deve ser influenciada por meio da alegria, e uma das formas de

alcançá-la é pela música, e essa deve ser apresentada como estímulo e recompensa.

O contato com a música na infância e principalmente na adolescência é muito

influente na formação da personalidade do indivíduo e também no interesse pela educação,

cultura, ou seja, pelo conhecimento.

Vivemos uma mutação histórica no ensino da música: pela primeira vez, torna-se

tecnicamente possível fazer os alunos ouvirem obras

musicais em condições de quase perfeição. A música é feita para ser bela e o belo

existe para proporcionar alegria, a alegria estética. O ensino da música tem por

objetivo levar os alunos a um contato feliz com as obras musicais, fazê-los viver

uma experiência de alegria a partir delas. As diferentes músicas podem contribuir

para isto: é necessário levar a sério o rock e os outros gêneros apreciados pelos

jovens, assim como é preciso incitá-los a exprimir e viver seus gostos sem culpas

nem provocações. O ensino da música é o mais desesperado, porque conta muito

pouco para o futuro profissional e escolar dos alunos em seu conjunto. E é o mais

carregado de esperança: o professor não tem de passar aos alunos o amor pela

música, pois, sem dúvida, nenhuma geração de jovens viveu tão musicalmente como

a de agora, cabe a ele “simplesmente” estabelecer a comunicação entre a música

“deles” e as outras. (SNYDERS, 1991)

Essa arte atua nas condições motoras e emocionais dos jovens; as práticas musicais

exigem controle dos movimentos, disciplina e atenção. Essas áreas passam a ser muito bem

desenvolvidas influenciando diretamente, de forma positiva, no rendimento do jovem na área

acadêmica.

A influência da prática musical na área emocional é percebida com mais facilidade.

Como foi dito, os jovens se tornam mais dispostos a aprender, adquirir conhecimentos de

diversas áreas, pois eles também participam da música de alguma forma, na composição do

ritmo, da melodia, letra e forma. A música mesmo por meio de um olhar profissional ainda é

vista como forma de lazer, satisfazer o cérebro com uma atividade, algumas vezes complexa,

porém prazerosa. Dessa maneira, o jovem se torna mais tranquilo e receptivo a outros estudos,

gerando um maior aproveitamento do conteúdo por estar centrado e disposto. De acordo com

Barreto e Silva (2004, p. 64): “O relaxamento propicia o controle da mente e o uso da

imaginação, dá descanso, ensina a eliminar as tensões e leva à expansão da nossa mente”.

Também atrelada esse processo, está a formação de bagagem cultural, que através do

conhecimento musical, é formada a partir do contato com compositores que fazem parte da

história nacional e mundial. É bom conhecer o passado e identificar sutilezas que demonstram

muito mais do que um simples poema cantado, mas uma critica, um segredo, um fato

marcante. A cultura é uma bagagem fundamental na vida do homem.

Os projetos musicais influem diretamente no desempenho escolar dos jovens, já que a

escola encarrega-se de formar jovens acadêmicos e também cidadãos. “A escola, através da

literatura, através da reflexão moral, forma o conjunto da personalidade e não se contenta

apenas em aprender a ortografia.” (SNYDERS, 1994) Dessa forma, estimulando a

autoformação sociocultural, os projetos musicais atuam fortemente no processo de formação

do conhecimento.

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O caráter social entra em vigor junto com os outros já mencionados. A música gera a

integração entre os indivíduos, une jovens com a mesma preferência melódica e temática.

Mesmo quando praticada sozinha, ela é compartilhada e recebe influências externas, gerando

assim uma ligação entre seres humanos, mesmo de forma indireta. A música é formada a

partir das relações e dos sentimentos gerados a partir dela: amores, decepções, alegrias, enfim,

é um laço entre pessoas, o compartilhamento de experiências e características que influem do

outro. (RIBAS, 2006.)

A música e o autoconhecimento

Além de estarem envoltos em um ambiente acadêmico cercado de cobranças e

obrigações, os jovens precisam se conhecer nessa fase da vida, descobrir seus interesses,

características, medos e vontades, e a música se mostra como um caminho para tal processo

de autoconhecimento. Por meio dela o jovem expressa suas emoções e sentimentos

armazenados. Ele é livre para compor e se identificar.

Tão importante quanto o autoconhecimento, a música permite que se extravasem

sentimentos, é muito importante no controle da agressividade, ajuda a lidar com frustrações e

diminui as doenças psicossomáticas, pois permite que o jovem entre em contato com os

sentimentos abafados, que ele identifique suas mágoas e lide com elas mais facilmente.

Segundo a psicóloga Edmara Felizardo, a música é a manifestação artística que abrange a

maior parte da sociedade, devido a sua capacidade de trazer a tona sentimentos de forma

precisa e clara.

Diante de toda realidade ainda vale a pena inserir a música como base fundamental

de formação e de expressão máxima do "eu”. Sem dúvida alguma é uma grande

aliada para a boa saúde mental e social do ser humano.

Pesquisa quantitativa

A pesquisa quantitativa foi aplicada em forma de questionário a 12 (doze) alunos do

projeto Guri do Governo Estadual de São Paulo e da Secretaria de Cultura, no polo da cidade

de Lorena, para a turma de canto coral, por ser a única classe onde estudam jovens entre 14

(quatorze) e 17 (dezessete) anos, que são o foco da pesquisa, e também pelo motivo de o

projeto Guri ser o principal da cidade e ser de fácil acesso para a população.

Consultar o Anexo A como modelo do questionário aplicado.

Estudo de caso: Projeto Guri

As atividades musicais, na maioria das vezes, não são desenvolvidas nas escolas, a

inclusão da educação musical na grade curricular dos alunos ainda é uma questão em

discussão para muitos educadores. Dessa forma uma alternativa são os projetos sociais.

Na cidade de Lorena, interior de São Paulo, o Projeto Guri é um dos grandes

responsáveis pela formação de músicos. O Projeto Guri do Governo Estadual de São Paulo e

da Secretaria de Cultura oferece, desde 1995, cursos de iniciação musical para mais de 50 mil

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jovens entre 6 (seis) e 18 (dezoito) anos. O estudo da música é realizado em grupo o que

estimula o processo criativo dos alunos e possibilita maior aproveitamento das aulas, pois

ocorre uma interação entre os jovens que se ajudam.

As aulas acontecem no período de contraturno escolar não interferindo negativamente

nos estudos dos jovens matriculados no projeto. Na cidade de Lorena, o público alvo são os

jovens de 8 (oito) a 18 (dezoito) matriculados regularmente na escola. Acontecem aulas de

canto, coral e instrumentos com corda e de sopro duas vezes por semana no Colégio Delta.

O projeto existe na cidade desde 2003, e já atendeu mais de 1500 jovens, e atualmente,

no ano de 2013, existem 169 jovens matriculados.

Foi feita uma entrevista com a professora do projeto, Nair Nunes Cavaterra. E para ela

a música traz benefícios em várias áreas: emocional, motora e social. Segundo ela, o gosto

musical brasileiro tem sofrido uma decadência devido à degradação das novas produções. Por

meio do estudo da música, o interesse pela história da música brasileira é despertado, e

consequentemente forma-se a cultura; para Nair “através da música se fazem grandes

mudanças”. E como professora, seu contato com os jovens é bem próximo e ela pôde sentir

essa evolução em seus alunos.

A música e a formação social

Uma entrevista foi realizada com o secretário da cultura de Lorena, Adriano Fernandes,

e ele destaca muito a música como uma importante formadora de relações. A música torna os

jovens mais sociáveis, ecléticos e receptivos. Para Adriano, é muito importante incentivar a

musicalidade na adolescência. A cidade de Lorena divulga seus artistas por meio de

indicações feitas na Casa da Cultura, e acrescenta que música só traria resultados positivos se

fosse parte da grade curricular das escolas e diz: “música também é um idioma diferente”.

Resultados e discussão

As respostas do questionário aplicado foram analisadas de forma quantitativa e cada

questão foi estudada isoladamente como será mostrado a seguir.

Questão 1:

A análise das respostas obtidas através da aplicação do questionário aos alunos entre

14 e 17 anos do projeto musical permitiu a constatação de que o ingresso no estudo da música

realizou-se fortemente, devido ao interesse particular do aluno, como apresentado na figura 1.

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Figura 1: Resultados obtidos da questão 1.

Qualquer pessoa pode fazer música e se expressar através dela, desde que sejam

oferecidas condições necessárias para sua prática. Quando afirmamos que qualquer pessoa

pode desenvolver-se musicalmente, consideramos a necessidade de tornar acessível, às

crianças e aos jovens, a atividade musical de forma ampla e democrática. (LOUREIRO. 2004,

p.66)

Questão 2:

Para 80 % dos alunos a música é vista como cultura. Como a música é muito presente

e importante para os jovens que a estudam, na questão 2 mais de uma alternativa foi marcada,

portanto a análise dessas respostas foi feita de forma quantitativa; então se 15 alunos

responderam ao questionário e em 12 deles a alternativa “cultura” foi marcada, concluímos

que para a grande maioria desses alunos a música representa, principalmente, a cultura. Esse

resultado foi ilustrado de forma simples na figura 2.

Figura 2: Resultados obtidos da questão 2.

Segundo Brito (1998), a música é uma forma de linguagem que faz parte da cultura

humana desde tempos remotos. É uma forma de expressão e comunicação e se realiza por

meio da apreciação e do fazer musical.

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Questão 3:

Foi pedido aos alunos que classificassem o grau de influência que a música exerce

sobre eles de 0 a 5, e para 73% dos entrevistados a música tem grau de influência máximo, ou

seja, é totalmente influente. A figura 3 ilustra esse resultado.

Figura 3: Resultados obtidos da questão 3.

“A tarefa básica da música na educação é fazer contato, promover experiências com

possibilidades de expressão musical e introduzir os conteúdos e as diversas funções da música

na sociedade, sob 10 condições atuais e históricas” (SOUZA, 2000).

Questão 4:

A música influenciou positivamente o rendimento escolar de 80% dos jovens após o

início do estudo musical, conforme ilustrado na figura 4.

Figura 4: Resultados obtidos da questão 4.

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Como afirma Snyders (1994): “O ensino da múscia pode dar um impulso exemplar à

interdisciplinaridade, fazendo aparecer o belo em áreas do conhecimento consideradas áridas

por muitos alunos”.

Questão 5:

Mais uma vez, devido à forte influência da música na vida dos jovens alunos, mais de

uma alternativa foi marcada, então a análise das respostas ocorreu da mesma maneira que na

questão 2. Foi pedido que identificassem qual outra mudança, além do rendimento escolar, foi

notada após o contato com a música, e em 11 de 15 questionários, foi marcada a alternativa

que indicava interesse pela cultura, e em 9 questionários, a facilidade em se comunicar foi a

alteração positiva mais assinalada. As Figuras 5 e 6 ilustram esse resultado.

Figura 5: Resultados obtidos da questão 5.

Os sons preenchem cada minuto do dia e as pessoas vivem imersas num mundo de

vibrações sonoras, cujos apelos produzem nelas, efeitos diferenciados dos outros estímulos

sensoriais. Isso se deve ao fato de que a música “fala ao mesmo tempo ao horizonte da

sociedade e ao vértice subjetivo de cada um, sem se deixar reduzir às outras linguagens”

(WISNICK, 1989, p. 12).

Conclusão

Por meio da análise dos resultados obtidos pelo questionário e as entrevistas, ficou

claro que a participação da música na vida dos jovens é muito mais forte do que

imaginávamos ao começar a pesquisa, e que a relação entre música e adolescente vai além da

admiração por um grande artista da área. Ela envolve estudo, prazer, conhecimento, cultura e

terapia.

Influenciou consideravelmente, de forma positiva, o estudo dos jovens, melhorando a

atenção e compreensão das matérias escolares e também tornando-os mais dispostos e

receptivos. A música também desperta o interesse pela cultura, inserindo de forma singela um

sentimento de admiração pela pátria, ao conhecer as produções aqui realizadas.

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Está atrelada ao autoconhecimento e à manifestação de sentimentos censurados pelo

inconsciente ou até mesmo esquecidos, ajudando dessa forma a trabalhar traumas e desvios de

personalidade. Auxilia na formação do caráter e torna os jovens mais sociáveis, promovendo a

interação.

Ficou claro entre os professores e os adolescentes que participaram dessa pesquisa,

que a música é de extrema importância na vida do ser humano e que não pode ser deixada em

nenhuma fase da vida, em especial na adolescência, devido aos inúmeros benefícios citados.

Mostramos o quanto é importante e útil a presença da música na educação.

Em suma, os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois além da influência positiva

no comportamento dos jovens, notou-se também a importância da música no processo de

formação da bagagem cultural, fato o qual não haviámos percebido antes da realização da

pesquisa e que é essencial para o desenvolvimento acadêmico e profissional.

Referências

BARRETO, Sidirley de Jesus; SILVA, Carlos Alberto da. Contato: Sentir os sentidos e a

alma: saúde e lazer para o dia-a dia. Blumenau: Acadêmica, 2004.

BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: propostas para a formação integral

da criança. São Paulo. Editora Fundação Peirópolis, 2003.

LOUREIRO, Alicia M. A. A educação musical como prática educativa no cotidiano

escolar. Revista da ABEM, Porto Alegre, n.10, 2004.

RIBAS, Maria Guiomar de Carvalho. Música na educação de jovens e adultos: um estudo

sobre práticas musicais entre gerações. Disponível em: <http://www.

lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7177/000540408.pdf?sequence=1>. Acesso em 24 abr.

2013.

SNYDERS, George. A escola pode ensinar as alegrias da música?. 2. ed. São Paulo:

Cortez, 1992.

SOUZA, Jusamara. O cotidiano como perspectiva para a aula de música, In: SOUZA,

Jusamara. (org). Música, cotidiano e educação. Porto Alegre: UFRGS, 2000.

WISNIK, José Miguel. O som e o Sentido: uma outra história das músicas. São Paulo:

Companhia das Letras, 1989.

ANEXO A – Pesquisa quantitativa

1. Qual o principal motivo para você ter buscado o estudo da música?

( ) Influência dos pais.

( ) Inspiração de um ídolo.

( ) Curiosidade.

( ) Interesse pela música.

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2. O que a música representa para você?

( ) Lazer.

( ) Estudo.

( ) Cultura.

( ) Carreira.

3. De 1 a 5 o quanto a música te influencia?

____

4. Você percebeu uma melhora no seu rendimento escolar após o início do estudo da música?

( ) Sim

( ) Não

5. Além das mudanças no estudo, quais outras mudanças ocorreram?

( ) Aumento do contato social.

( ) Facilidade em se comunicar.

( ) Autoconhecimento.

( ) Interesse pela cultura.

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O livro infantil: a percepção por tras das ilustrações

Deise Carelli Pós-graduada, nível lato sensu, em Artes Plásticas pela Universidade São Judas Tadeu – SP e em Teoria e

Prática das Artes Contemporânea pela FATEA. Graduada em Educação Artística, com habilitação em Artes

Plásticas, pelas Faculdades Integradas Teresa D´Ávila. É professora da FATEA.

Layla Martins de Aquino Pós-Graduanda do curso de Educação, Mídias e Novas Tecnologias pelas Faculdades Integradas Teresa D’

Ávila, FATEA, formada em Bacharel em Design pela mesma instituição.

Resumo

Este trabalho teve como objetivo contribuir para o estudo sobre ilustração infantil com foco na

compreensão da leitura e percepção visual de crianças de 6 a 9 anos, através de uma pesquisa acerca

das ilustrações na literatura infantil, levantamento de dados sobre cognição e percepção visual de

crianças, onde análises convencionais com cerca de 63 crianças foi possível observar como se dá a

leitura visual infantil. Para isso, foram utilizadas as obras “O Matador”, “Já Já: a história de uma

árvore apressada” e “Gildo” ganhadores do prêmio Jabuti na categoria melhor ilustração infantil e

juvenil do ano de 2009, 2010 e 2011 respectivamente.

Palavras- chave

Percepção Infantil; Ilustrações; Livro; Jabuti; Design Gráfico; Educação.

Abstract

This paper aimed to contribute to the study of children's illustration with a focus on reading

comprehension and visual perception for children 6 to 9 years. Through a survey about the

illustrations in children's literature, data collection on children's visual perception and cognition,

where through conventional analysis about 63 children were able to observe how the visual reading.

For this, we used the works “O Matador”, “Já Já: a história de uma árvore apressada” and “Gildo”

Jabuti prize winners for best illustration for children and youth in 2009, 2010 and 2011 respectively.

Keywords

Children's perception; Illustrations; Book; Jabuti; Graphic Design; Education.

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Introdução

Esse estudo busca dialogar e interagir com crianças a fim de compreender suas

preferências em relação às imagens em livros infantis, abranger informações e dados a

respeito da ilustração, literatura infantil, aspectos cognitivos, psicológicos, pedagógicos e

emocionais de crianças, baseando-se em informações sobre suas preferências, a fim de

compreender a percepção de crianças de 6 a 9 anos em relação às imagens. Para tanto se fez

necessário elaborar a análise de ilustrações de livros apresentadas pelo mercado editorial,

optou-se pelos livros ganhadores do prêmio Jabuti, na categoria melhor ilustração infantil e

juvenil do ano de 2009, 2010 e 2011 respectivamente, por ser um prêmio altamente

respeitável, que serve de padrão e referência para o todo o público brasileiro, onde parâmetros

e pesquisas por conveniência realizadas com 63 alunos de duas escolas da cidade de Cruzeiro/

SP, buscou servir de direcionamento a essas análises.

Em livros e em outros meios de aplicação de ilustrações infantis, por vezes o público-

alvo, as crianças, são negligenciadas, não participando do processo de desenvolvimento do

produto. Escritores, editoras e os próprios ilustradores realizam o que consideram adequados

às idades e ao gosto infantil. Há muito pouca literatura sobre o assunto. Segundo Arizpe e

Styles (2003), há poucas tentativas válidas em perguntar às crianças sobre o modo como

realizam a leitura e a visualização de um texto verbo-visual sido realizadas. Pouco ainda se

leva em consideração também, o modo como percebem a relação entre os textos e as imagens.

O fato de a literatura infantil ter sido por muito tempo tratada como um gênero de menor

importância dentro da literatura tradicional pode ter contribuído nesse aspecto.

Marc Soriano (apud CARVALHO, [s.d]) entende o livro infantil como uma mensagem

do autor para um leitor-criança e, como o leitor encontra-se em fase de desenvolvimento, sua

leitura e compreensão torna-se um processo de aprendizagem. E julgando que as

representações do ato de ler podem contribuir para a construção do gosto pela leitura, a

ilustração não só complementa um texto verbal, mas busca dialogar com ele, ampliando seus

sentidos e entendimentos. De acordo com Ilza Santos (2008), a criança, ao ler um livro,

transporta ao seu imaginário as histórias que lê e as imagens que vê, interpretando o livro

como parte do seu universo, por isso a importância da participação da criança e a

compreensão da leitura visual infantil.

Fundamentação Teórica

Segundo Guto Lins (2004) os livros infantis são permeados por imagens, sendo a

linguagem visual anterior à linguagem falada e escrita, imagem não é uma mera figuração, é

também uma linguagem, podendo a ilustração narrar, representar, explicar, acompanhar,

interpretar um texto, a ilustração como meio de linguagem, pode se apropriar de diversos

estilos para atender a um objetivo comunicacional. Mas dificilmente possui uma única função.

Geralmente se enquadram nas funções: Descritiva, quando há o uso da imagem para descrever

um personagem. Narrativa, onde os desenhos seguem uma sequência que ajuda a contar a

história. E Lúdica, quando há o uso de fantasia e humor. (JAKOBSON apud CAMARGO,

1995). Além de possuir valores psicológicos, pedagógicos, estético e emocionais ligados à

linguagem da imagem em livros infantis como o principal modo de estimular o olhar infantil

na estruturação do mundo exterior e interior. (COELHO, 2000) E dentro de livros infantis, a

imagem tem a capacidade de caracterizar um personagem, atribuindo-lhe personalidade, idade

e figurinos diferentes, podendo situá-lo em um lugar e em uma época diferente. (LINS, 2004).

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Outro fato importante a ser levado em consideração, é a relação da imagem e sua

percepção, para Eduardo Neiva Jr. (1986, p.5), “a imagem é basicamente uma síntese que

oferece traços, cores e outros elementos visuais em simultaneidade”. As ilustrações em livros

infantis são geralmente imagens planas, apesar das utilizações de novas tecnologias, como

pop-up, abas, dobras diferenciadas, não deixam de ser impressas. Essas imagens, segundo

Jacques Aumont,(1993) podem possuir uma dupla realidade, através do seu arranjo espacial

uma imagem plana pode oferecer uma cena semelhante ao real. Ao se observar determinadas

imagens como fragmentos de superfície plana e como fragmento de espaço tridimensional,

ocorre o fenômeno da dupla realidade das imagens. Uma ilustração que esteja contida em um

livro pode ser tocada, a folha onde se encontra a ilustração representada, pintada e impressa

pode ser deslocada, sendo um objeto de representação “bidimensional”. O modo como uma

criança usa de sua imaginação, percebe o desenho contendo profundidade, seu significado e

percepção de um mundo tridimensional, representado pictoricamente, só é possível através de

seu olhar, de sua codificação das imagens ali expostas. Associando características espaciais a

essas imagens, valores imagéticos, relação memorial e características emocionais ligadas as

cores e formas.

No decorrer do trabalho, foi notada uma dificuldade de se encontrar informações sobre a

nomenclatura das classificações entre os livros infantis e infanto-juvenis. Sendo assim, optou-

se por classificar como leitor iniciante as crianças da faixa etária a partir dos 6/7 anos e leitor

em processo, a partir dos 8/9 anos seguindo características citadas por Coelho (2000).

O livro analisado “O Matador” do escritor Wander Piroli, cujas ilustrações foram

desenvolvidas pelo designer e artista plástico Odilon Moraes através do uso da aquarela, conta

a história de um menino que vivia tentando matar pardais e apesar de todos os esforços, nunca

conseguia. Já os outros meninos da rua, com o uso de um estilingue, matavam facilmente. Até

que um dia, o personagem conseguiu acertar um passarinho, fica inicialmente animado de ter

o que tanto queria, mas não consegue mostrar a ninguém o que tinha conseguido fazer. O

pássaro fica agonizando e sem saber o que fazer, termina por matar o pardal, algo que o marca

para sempre.

Outro livro analisado é “Já Já: a história de uma árvore apressada” cujas ilustrações

são de marchetaria, técnica em madeira, escrito e ilustrado por Paulo Rea, “Já Já” é uma

árvore, precisamente um jacarandá, que nasceu quando o vento trouxe uma semente e esta

caiu na terra. Ao contrário de outras árvores, que crescem lentamente, não possui paciência e

logo cria raízes, cresce a sua copa, frutos e flores. Assim não vê o tempo passar, quando já

está no máximo de seu crescimento, fica entediado, sem saber o que poderá acontecer. Acaba

aprendendo que deveria ter aproveitado melhor o tempo que passou, mas a história nunca

acaba, pois novas árvores serão geradas pelas sementes que Já Já deixou.

“Gildo”, outro livro analisado, escrito e ilustrado por Silvana Rando, apresenta Gildo

que é um elefante muito corajoso, que gosta de muitas coisas, como: montanha-russa, de

avião, de filme de terror e de cantar em público, mas como quase todo mundo, existe uma

coisa que o deixa apavorado, balões de aniversário. Gildo na festa de um amigo é pego

desprevenido e acaba recebendo um balão que é amarrado em seu braço, sem conseguir se

desfazer do balão, acaba levando-o para a casa, após várias tentativas de se livrar o objeto,

percebe que aprendeu a não ter mais medo, ficando ansioso para uma nova festa onde poderia

brincar com mais balões.

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Figura 1- Capa dos livros analisados.

Capa do livro "O Matador"

Capa do livro "Já Já: A

história de uma árvore

apressada"

Capa do livro "Gildo"

Fonte: Autor

Atualmente, crianças de 6 a 9 anos recebem uma alta carga de informações visuais,

seja através da televisão, internet, propagandas, embalagens de comida e etc. compreendem e

aceitam representações diferenciadas, pois estão acostumadas a ver uma grande quantidade de

imagens. (LINS, 2004) declara que a Imagem, essa que vem avançando sobre o espaço da

escrita, ocupando espaços importantes dentro da mídia impressa, livros, jornais e revistas.

(GUIMARÃES, 2004). Sabendo dessa importância e da quantidade significante de imagens

memorizadas pelas crianças as auxiliam na interpretação de estímulos visuais, essa pesquisa

procurou estabelecer uma metodologia com foco na análise direcionada ao público infantil,

levando em consideração as fases no desenvolvimento infantil no campo da psicologia

experimental citadas por Nelly Novaes Coelho (2000).

Seguindo a seguinte ordem de desenvolvimento: (1) Compreensão e definição do

problema, objetivo e justificativa do trabalho. Estabelecimento do público-alvo; crianças de 6

a 9 anos; (2) Realização da coleta e levantamento de informações e dados a cerca do conteúdo

que o tema engloba. Pesquisas teóricas e análise das informações encontradas; (3) Análise

convencional realizada com 63 crianças de 6 a 9 anos, parâmetro de direcionamento e

desenvolvimento do trabalho, sendo uma amostra local sem representação estatística.

Aplicação da Proposta de Leitura de Imagem, onde foram realizadas leituras e análises

separadas com leitores iniciantes e leitores em processo, respeitando a faixa etária e as

restrições de cada escola, realizado com as turmas do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental na

escola particular, Colégio “Orbe” da cidade de Cruzeiro, interior de São Paulo e escola

“Lions” da prefeitura da mesma cidade.

Inicialmente, houve o acompanhamento de cada turma à biblioteca municipal de

Cruzeiro/ SP, onde foram realizadas observações com foco no gosto e padrão de leitura das

crianças para dar parâmetro e início às análises previstas. Essas observações se mostraram

adequadas às pesquisas das fases de desenvolvimento infantil realizadas anteriormente, onde

foi possível notar que, crianças com 6 e 7 anos são mais curiosas com as letras, mas são

atraídos pela capa, ilustrações e principalmente por textos curtos e diretos. Preferiram

personagens inseridos na coletividade, com uso de letras, palavras e ilustrações diferenciadas.

As de 8 anos preferiram livros com uso de cores mais fortes, livros didáticos, quadrinhos e

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ilustrações mais realistas. Os de 9 anos preferiram livros coloridos com textos médios, se

concentraram mais nas histórias e nos textos, questionando as palavras e as ilustrações,

buscam uma referência entre elas, leram os textos e olharam as ilustrações para confirmarem

o que leram.

Após esse primeiro momento, houve a realização da leitura e análise das imagens

com todas as turmas. Para os leitores iniciantes, do colégio Orbe, a Coordenadora Pedagógica

da escola achou aconselhável a não utilização do livro “O Matador”, por acreditar possuir um

tema triste e “pesado” para crianças de 6 a 7 anos. Sendo assim as análises com essa turma,

realizada com 21 leitores iniciantes e 23 leitores em processo realizado no dia 23 de outubro

de 2012, no colégio “ORBE”, respeitaram os seguintes passos, a seguir: foram cobertos os

textos dos livros “Já Já: a história de uma árvore apressada” e “Gildo” e pedido às crianças

que descrevessem o que viam em cada ilustração. Após a leitura apenas das ilustrações foi

pedido que cada criança disse-se o que entendeu e que contasse a historia das imagens do

livro visto. Após esses primeiros passos, houve a contextualização das imagens, introduzidos

à leitura dos textos juntamente com as ilustrações, e novamente pedindo para que contassem

as historias de cada livro. Por último, realização de desenhos com o uso da memória, gostos e

das interpretações do que entenderam e viram.

Com as turmas de leitores em processo, do colégio “ORBE”, foram realizados os

mesmos passos, mas com a utilização dos três livros, não somente dois como na turma

anterior.

Na escola “Lions”, as análises e observações foram realizadas no dia 14 de

novembro de 2012, com 20 alunos no período da tarde, onde o mesmo princípio foi seguido,

com exceção apenas que o processo já começava com a leitura do texto e imagens, buscando

observar o que compreendiam do livro como um todo, sem o uso de leitura individual da

ilustração e depois da ilustração e do texto, não sendo assim influenciados pela leitura e

compreensão anteriores.

Figura 2- Alunos do Colégio “Orbe” interagindo com as ilustrações e com os livros.

Fonte: Autor

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Figura 3- Leitura e conversa com as crianças da escola “Lions”.

Fonte: Autor

Figura 4- Desenhos dos Leitores iniciantes do Colégio “Orbe”.

“Já Já: A história de uma árvore apressada”

“Gildo”

“Já Já: A história de uma árvore apressada”

“Gildo”

Já Já: A história de uma árvore apressada” “Gildo”

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

Fonte: Autor

Figura 5- Alguns dos desenhos feitos pelos leitores iniciantes da escola "Lions".

“O Matador”

“Gildo”

“JáJá: A história de uma árvore apressada” “JáJá: A história de uma árvore apressada”

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“Gildo”

“Já Já: A história de uma árvore

apressada”

Fonte: Autor

Colégio “ORBE”: Ao perguntar às crianças as suas preferências em relação aos

livros e às ilustrações, a maioria disse ter gostado mais do “Gildo” e as cenas próximas ao seu

universo, como ir à piscina, ao cinema e ao parque, com as quais se relacionaram, realizando

uma relação pessoal com as imagens. No desenvolvimento dos desenhos, com uso da

memória, ficou claro essas relações e a imaginação infantil, elas criam e desenvolvem outras

histórias para os livros, com base nas imagens vistas.

Os leitores iniciantes tiveram maior facilidade na compreensão, descrição e leitura

das ilustrações do livro “Gildo”, onde identificam mais facilmente o personagem principal, e

o contexto da história. Atribuindo corretamente as feições de “Gildo” ao medo dos balões,

chegando a relacionar esse medo ao personagem acreditar que poderia voar se tivesse um

balão, “elefantes têm medo de alturas” foram algumas das palavras ditas por uma das crianças

analisadas. Isso não se encontra no livro, descrito ou ilustrado, mas foi atribuído por

referências culturais existentes, relacionaram com o filme infantil “Up- Altas Aventuras”

(figura 6). (DOCTER; RIVERA, 2009) Universo infantil.

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Figura 6- Relação entre o filme infantil e o livro “Gildo”.

Cena do filme “Up- Altas Aventuras

Ilustração da pág. 12 do livro “Gildo”

Fonte: adaptado pelo autor

Em relação ao livro “Já Já, a história de uma árvore apressada” alguns fizeram uma

leitura bem próxima a do livro, relacionando as formas e os padrões, como um desenho de

uma árvore retangular, outros desenvolveram a atividade usando recursos pré-estabelecidos

inconscientemente, como por exemplo, uma árvore, com o caule marrom e as folhas verdes,

mesmo no livro não demostrando tais cores. Durante a história, o “passarinho” e não a árvore,

foi considerado como o personagem principal, a ilustração representada na primeira página do

livro, foi descrita como escuro o que fez com que atribuíssem aspectos noturnos a imagem,

como classificar o “pássaro” de coruja, a “semente” estrela e ao narrarem a história, após as

descrições, dizendo que se passava a noite. Por ser um livro mais estático, não agradou as

crianças, que possuíram grande dificuldade em compreender os planos do livro, descrevendo

o “passarinho” dentro da árvore e não atrás como se faz ver nas ilustrações da página 25 do

livro (Figura 7).

Figura 7- Ilustrações da página 25 do livro "Já Já: A história de uma árvore apressada"

Fonte: Autor

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Alguns aspectos interessantes foram: a relação que tiveram com as imagens,

descrevendo, por exemplo, as “raízes” da árvore “Já Já”, como labirintos, caso que também

ocorreu com a turma de leitores em progresso. E a relação com o personagem da “professora”

de Gildo, sendo uma coruja, que foi dito por uma menina de 7 anos; “essas aves são sábias e

inteligentes”. Deixando claro o repertorio cultural e a memória infantil, mostrando a

capacidade que possuem de descrever, compreender e relacionarem uma imagem. Após à

contextualização e leitura do texto, foi possível observar que podem ser influenciados pelas

leituras anteriores das imagens. Na história de Gildo, mesmo após a leitura do texto

mantiveram o mesmo entendimento. Já em relação ao livro “Já Já” compreenderam que o

personagem principal era a árvore, mas continuaram a dar grande importância ao pássaro, se

esquecendo da árvore com facilidade ao recontarem a história. Além de relacionarem a

semente e o pássaro ao “nascimento” de Já Já, disseram ainda que a árvore era quadrada e que

o livro era chato, pois “não acontecia nada”. Atribuindo assim a história somente as

ilustrações e não ao texto.

Leitores em processo: mostraram uma maior dificuldade em descrever as ilustrações,

por vezes começavam a narrá-las, contando histórias acerca das imagens. Em “Gildo” o foco

em geral era nos animais e nas cores que compunham as ilustrações, no primeiro momento ao

observarem as imagens, colocavam o personagem Gildo desde o inicio como medroso,

relacionando os balões ou bexigas às festas de aniversários e o medo do personagem por

causa do “estouro” e barulho desses balões. Inconsciente coletivo.

Em “Já Já”, a primeira ilustração, por ser escura, representava nada a eles, disseram;

“não há nada ai, não vemos nada ai”, após observarem as demais ilustrações compreenderam

de forma correta o passar do tempo e o crescimento da “árvore”, aqui sendo considerada

retangular, demonstrando maior conhecimento das formas geométricas, mas a mesma

dificuldade em visualizar os planos que aos leitores iniciantes foi observada.

Em “O Matador” possuíram muita facilidade de leitura das imagens, descreveram as

primeiras ilustrações como: rua e bairro, e os elementos que formavam a composição como:

poste, fios elétricos, rua, casas, meninos, árvores...

Relacionaram o elemento vermelho das últimas ilustrações como: sangue, morte do

passarinho e tristeza. Após a leitura do texto e contextualização, foi percebido que o

entendimento dos livros se manteve os mesmos e relacionaram cada uma das histórias com

aspectos de suas vidas. Gildo tem medo, Já Já quer crescer, e “O matador” só queria fazer

algo que todos faziam, não queria ser diferente nem que rissem dele.

Escola “Lions”: pode se notar o mesmo padrão de preferência e uso de recursos da

memória nos desenvolvimento dos desenhos: árvores retangulares, com semelhanças às

ilustrações dos livros. Observou-se também que a compreensão e preferência pelas ilustrações

se mantiveram padronizadas e a mesma dificuldade foi visível na compreensão de planos e de

leitura das imagens do livro “Já Já: a história de uma árvore apressada”, disseram, por

exemplo, que: “o livro é chato, parado, só fica mostrando a árvore”, assim como as

dificuldades em compreenderem, mesmo com a leitura do texto em conjunto, que o

personagem principal era árvore e não o passarinho. Não demostraram muita atenção na

leitura deste livro, o que não aconteceu com o livro “Gildo”, que compreenderam facilmente,

atribuindo o medo do personagem a bexigas e balões, referenciando também o barulho e

estouro desse objeto como principal motivo, sendo o livro preferido pela maioria e se

encantaram com personagens secundários. Em “O Matador” adoraram as ilustrações,

disseram que era lindo, mesmo não tendo gostado da história, compreenderam a ideia central

do livro de forma correta, tendo um pouco de dificuldade ao final, na leitura das ultimas

ilustrações, apesar de relacionarem corretamente a mancha vermelha ao “sangue” do

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passarinho e sua morte, não conseguiam compreender o pesar do escritor, relacionando-o ao

personagem principal, onde disseram que o pássaro estava dentro do menino literalmente, “ele

comeu o passarinho”.

Conclusão

O objetivo do trabalho foi alcançado, além das análises dos livros escolhidos, foi

realizada uma pesquisa ampla onde foi possível identificar características infantis importantes

como os aspectos do uso da memória e da linguagem visual.

O publico infantil, mesmo os menores, lidam com uma grande quantidade de

imagens que são memorizados e absorvidos inconscientemente e conscientemente desde

pequenos. O que acaba facilitando ao relacionamento e a leitura visual, atribuindo sentidos às

imagens, literalmente, visualmente e metaforicamente. Durante as análises por conveniência,

foi possível observar que algumas ilustrações que continham formas, padrões e planos

diferenciados podem confundir e atrapalhar o sentido que interpretam o texto. Imagens e

cores, em geral, foram relacionadas e compreendidas da mesma maneira, independentemente

das idades das crianças, onde atribuíram características emocionais as figuras de alguns

personagens, representando o inconsciente coletivo e o nível de repertório cultural infantil,

além de relacionarem e compararem as ilustrações a elementos do seu universo, como filmes,

desenhos animados, brinquedos e outros, demostrando a atenção e inovação constante que

esses livros devem possuir. E que profissionais que constroem e/ ou utilizam da ilustração em

livros infantis devem possuir conhecimentos acerca de todos esses aspectos e sobre as fases

da compreensão e desenvolvimento infantil para que seja mais bem aproveitado pelas

crianças, pois as crianças utilizam mais fantasias que um adulto, observam e percebem os

desenhos de maneiras diferentes dos mais velhos. Transportando ao seu imaginário as

histórias e imagens que vê, interpretando o livro como parte do seu universo.

Foi possível notar que no livro “Gildo”, as estruturas de composições, dinâmicas,

coloridas, são de fácil identificação e relacionamento infantil, além dos ambientes retratados

na história serem comuns entre a maioria das crianças, escola, parque de diversão, cinema,

havendo assim uma ligação emocional forte com o publico e por isso sua preferencia, onde há

possibilidade do uso da imaginação para se desenvolver outras histórias. Sendo o personagem

principal um animal, com as quais relacionam características pessoais.

Através do cruzamento de informações com o público e com base nas teorias

pesquisadas, ficou claro que é possível buscar informações e dialogar com as crianças em

relação aos seus gostos visuais e literários. Sendo, os aspectos mais importantes em

ilustrações infantis às relações emocionais possíveis e a compreensão das fases infantis.

Referências

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GUIMARÃES, Luciano. A cor como informação: a construção biofísica, linguística e

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LINS, Guto. Livro Infantil?: Projeto gráfico, metodologia, subjetividade. 2. ed. São Paulo:

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63

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O papel da liderança nos projetos de endomarketing

Adriana Bernadete Barros Carvalho Garcia Mestranda em Engenharia Mecânica na UNESP, MBA em Gestão de Produção pela UNESP,

Pós-Graduação em Administração de Marketing pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e

Publicitária, formada pela Universidade de Taubaté.

Resumo

Analisar o comprometimento da alta administração e o envolvimento dos funcionários em relação aos

valores, cultura, visão, missão, é o foco principal da pesquisa em estudo, no qual conclui que a

liderança é de extrema importância na imagem que é passada aos funcionários, tendo como

importante resultado a necessidade de integração entre áreas organizacionais visando o esforço

conjunto para atingir objetivos comuns.

Palavras-chave

Marketing interno; Liderança; Qualidade; Serviço.

Abstract

Analyze the commitment of senior management and the involvement of employees in relation to the

values, culture, vision, mission, is the main focus of the research study, which concludes that

leadership is extremely important that the image is passed to employees, with the important result of

the need for integration between organizational areas targeting the effort to achieve common goals.

KeyWords

Internal marketing; Leadership; Quality service.

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Introdução

A prestação de serviços está presente de forma cada vez mais significativa na vida

econômica e social das pessoas declara Garcia (2013), a ênfase em qualidade torna-se de

extrema importância em todos os setores, fazendo com que surja, assim, a necessidade das

empresas desenvolverem um entendimento apurado sobre qualidade na prestação de serviços,

buscando alcançar a satisfação dos clientes, porém, muitas vezes esquecem-se de alimentar o

cliente interno, o que faz com que empresas tenham baixo desempenho ou um alto turn-over,

devido a falta de satisfação desse cliente, muitas vezes, esquecidos. Tendo portanto, esse

estudo de caso, foco em uma empresa de papel de pequeno porte, onde o objetivo é analisar a

participação da liderança nas ações de endomarketing, afinal, nos dias atuais, a forma como os

funcionários percebem a empresa, pode tornar um grande diferencial competitivo Lings,

Greenley (2010), atuando assim em duas frentes: funcionários motivados e orientada em

qualidade SeyedJavadin, Rayej, Yazdani, Estiri, Aghamiri, (2012). Assim há a necessidade de

melhorar as habilidades de liderança Skipper and Bell (2006).

Marketing Interno, endomarketing e Comunicação Interna

Em pesquisas realizadas, Davis (2011) defende que o endomarketing ocorre quando a

organização tenta por meio de ações vender uma ideia positiva da empresa aos funcionários,

pois tem a proposta de fechar uma lacuna que há entre os diferentes níveis da organização,

desenvolvendo relações mais cooperativas, na mesma linha vem Bekin (2004), referindo-se

ao conceito do endomarketing como o de alinhar, sintonizar e sincronizar para implementar e

operacionalizar a estrutura organizacional de marketing da empresa, que empregam

comunicação interna pessoal, impressa, eletrônica ou digital com o objetivo de facilitar e

realizar trocas, construindo um bom relacionamento com o público interno, compartilhando os

objetivos empresariais, além de harmonizar e fortalecer relações, assim, melhorando a

imagem da empresa e seu valor no mercado.

A comunicação assim como outro assunto, possui implicações no mundo corporativo,

desde o pessoal da linha de frente até o CEO da empresa, porém, poucas empresas pensam

estrategicamente a comunicação. Conforme figura 1, Argenti (2006) refere-se que a estrutura

da comunicação dentro da empresa é realizada de forma circular, o que reflete a realidade de

que a comunicação é um processo contínuo, em vez de um processo com princípio e fim.

Comunica-se pormensagens

Que entãoresponde para

Seu público-alvo

A empresa

Figura 1 – Estrutura da comunicação dentro da organização. Fonte: Argenti 2006

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

Gronroos (2009) defende que as empresas devem sempre utilizar de campanhas

internas para reforçar a moral dos funcionários, pois atitudes e motivações vêm há muito

tempo sendo uma preocupação dos profissionais de administração e recursos humanos e,

assim como Argenti (2006) coloca que a comunicação interna é vital para incentivar o

funcionário, pois ao fornecer informações e saber ouvir, eles se envolverão com o trabalho,

estarão conectados com a empresa e serão capazes de levar adiante as metas da organização.

Ainda segundo Gronroos (2009, p. 340)

A crescente necessidade de aplicar marketing para os funcionários deve-se ao fator

humano em negócios. A importância emergente da comunicação para quase todos os

negócios tem dado força à noção de que o recurso mais crítico de uma empresa é um

funcionário bem desenvolvido e treinado, e focado em serviços de qualidade”, e

Ballantyne (2003) refere-se que a empresa deve transformar toda organização em

uma entidade focada no cliente.

Ainda segundo Gronroos (2009), Lings, Greenley (2010) e Ballantyne (2003), o

relacionamento entre os funcionários só pode ser atingido se os mesmos sentirem que podem

confiar uns nos outros, confiar que a empresa e sua administração proporcionarão

continuamente o suporte físico e emocional requerido para trabalhar de um modo focado na

satisfação do cliente e na prestação de serviços de qualidade.

O mesmo pensamento tem Bak, Vogt, George and Greentree (1995) sobre o marketing

interno que usa uma perspectiva de marketing para gestão de recursos humanos de uma

organização como um processo de gestão holística para integrar os funcionários da empresa

com o objetivo de alcançar mercados externos. E Marchiori (2006) completa que qualquer

mudança pressupõe comunicação, visto que a sobrevivência da organização e a manutenção

de suas relações são obtidas e mediadas por processos organizacionais, o que possibilita à

organização: a cooperação e o senso comum.

O marketing interno, liderança e a alta administração

Bezerra (2006) defende que para que haja o comprometimento de toda equipe é

preciso que o ambiente tenha um clima saudável de realização e produtividade, onde

considera que a liderança deve ser a força motriz do endomarketing.

Não é competência, mas o estilo de liderança, em geral, que é importante na

determinação atitudes e comportamentos dos funcionários refere-se Naudé, Desai, and

Murphy (2003), por isso, há necessidade de um envolvimento direto nos processos de

endomarketing, afinal, Davis (2011) afirma que os conflitos entre os níveis de organização e

entre as funções são comuns.

Segundo Oakland (1994) a estratégia essencial para mudar as atitudes em relação à

qualidade é ganhar a aceitação para a ideia da necessidade de mudar e para isso acontecer é

indispensável fornecer informações pertinentes, ensinar boas práticas e gerar interesse, ideias

e conscientização por meio de excelentes processos de comunicação junto aos funcionários.

Para Bezerra (2006) e Brito, Ferasso, Saldanha and Vanzin (2010) defendem que a

liderança tem o poder de recepção e transmissão de informações, afetando assim, a

comunicação organizacional, onde tem o objetivo de promover da melhor forma a imagem da

empresa junto aos seus funcionários, mas para isso, deve-se trabalhar em conjunto,

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

introduzindo novas tecnologias no relacionamento entre as equipes, logo disseminando o

conhecimento.

Visto que há uma perspectiva social da gestão a partir das relações humanas e na

teoria do comportamento, o que concebe novas dimensões e valores, ou seja, os funcionários

precisam de motivação, comunicação e liderança, onde sem a participação da diretoria no

processo de implantação do endomarketing, os funcionários perdem o foco, no estudo em

questão, por se tratar de uma empresa de pequeno porte, onde partem do princípio de que a

diretoria não se comunica com os colaboradores, para tanto, não haverá também uma boa

relação entre todos da equipe. (GARCIA, 2013)

A comunicação interna deverá partir da alta administração para o pessoal de todos os

níveis, explicando a necessidade e compreensão de todos os processos e aperfeiçoamento de

seus desempenhos, refere-se Oakland (1994), onde o processo de comunicação deve ser

passado com entusiasmo e comprometimento e deve incluir as seguintes diretrizes:

necessidade de melhoramento; conceito de qualidade total; importância da compreensão dos

processos da empresa; abordagem a ser feita; responsabilidades individuais e dos grupos dos

processos; princípios de medição de controle. E Ferreira (2004) completa que a política de

comunicação da empresa deve restabelecer o clima de confiança entre a empresa e o

funcionário, que devem saber o que a organização espera deles; e dizer quantas vezes for

necessária.

Para Oakland (1994) através de processos de comunicação excelentes pode-se ganhar

a aceitação de mudança e propõe alguns métodos: sugestões, reuniões de departamento,

treinamento vocacional e de integração, campanhas de cartazes, lembretes, competições,

premiações, demonstrações e exposições, revistas e jornais, pesquisa de opinião ou atitudes.

O tema da comunicação nas obras dos principais mestres da qualidade total Deming,

Juran e Crosby, de acordo com Oakland (1994) são características como um modelo de

implementação de cima para baixo, também chamado de Top Down, e isso requer a

comunicação organizacional que prioriza a comunicação dentro da empresa, afinal é

necessária a transmissão de informação para repassar os objetivos e instruções. Pois de acordo

com Deming e Juran apud Oakland (1994) é necessário educação e treinamento para

qualidade, visando sempre o comprometimento de todos os envolvidos, onde há a necessidade

de uma boa comunicação dentro da empresa.

Em contrapartida vem Kezar (2012) afirma que não basta apenas a liderança top down

para criar mudança, pois a falta de complexidade cognitiva no desenvolvimento de soluções,

colocando autoridade em um pequeno número de pessoas, acaba tornando um líder

dependente. E então, analisando a figura 2 de Kramer and Crespy (2011), que fornece uma

representação visual sobre a implementação da filosofia da empresa, onde há o recrutamento

de novos grupos, melhorando o clima de colaboração que poderia vir a ocorrer, onde há uma

cultura colaborativa, aos poucos envolvendo todo o elenco, analisando assim, que a liderança

de alguma forma deve estar envolvida no processo.

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Figura 2–Creatting a collaborative culture. Fonte: Kramer and Crespy (2011)

A implantação do Projeto de Endomarketing

A implementação de um processo de endomarketing começa por um diagnóstico, o

qual de acordo com Bekin (2004) e Davis (2001), deve-se: 1. Determinar os objetivos da

campanha;

2. Identificar o mercado interno (público-alvo); 3. Escolha uma estratégia de interação ou

influência; 4. Desenvolver o conteúdo do programa; 5. Selecionar as táticas de marketing

6. Implementar o programa.

Isso não se esquecendo de um comportamento consistente da gestão, onde executa de

extrema importância para que a cultura, missão e valores da empresa, sejam passados de

maneira eficiente.

E Preston and Steel, (2002) completam que para que o endomarketing seja positivo, há

que se identificar a satisfação do funcionário, orientação ao cliente e estratégia de

implementação e gerenciamento, seguindo a missão e valores da empresa.

Segundo Argenti (2006) para se ter uma comunicação eficiente então é necessário:1)

Determinar objetivos de dada comunicação;2) Decidir que recursos estão disponíveis; 3)

Diagnosticar a reputação da organização, ou seja, analisar a imagem da empresa junto à seus

funcionários. E além disso é necessário analisar o público-alvo que Argenti (2006) compara

com estudar a platéia na hora em que se planeja um discurso, o que determina: Qual o

público-alvo da organização; O que cada um pensa sobre a organização; O que cada um sabe

sobre a comunicação em questão. Argenti (2006) afirma que as organizações possuem

diferentes públicos, conforme quadro abaixo.

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Principal Secundário

- Funcionário

- Cliente

- Acionista

- Comunidade

- Mídia

- Fornecedor

- Governo

- Credores

Tabela 1: Público-alvo das empresas. Fonte: Argenti 2006

E então após definir claramente os objetivos de comunicação e analisar

cuidadosamente os públicos envolvidos Argenti (2006) refere-se às etapas que envolvem a

transmissão da mensagem, conforme tabela 2.

Canais Antigos Novos

- Fala

- Escrita

- Fax

- E-mai;

- Correio de Voz

- Site externos

- Intranets

- Weblogs

- Web conferência

Tabela 2 :Canais de comunicação. Fonte: Argenti 2006

A figura 3 a seguir, resume esse modelo de estratégia de comunicação (ARGENTI,

2006, p. 42), no qual existem vários canais para transmitir as comunicações internas e

externas da empresa.

Mensagens

Qual é o melhor canal de comunicação?Como a empresa deve estruturar a mensagem?

Cada público-alvo respondeu da maneira que a empresa desejava?A empresa deve revisar a mensagem à luz das respostas do público?

Quais são os públicos da empresa?Qual é sua atitude em relação à empresa

e ao tópico em questão?

O que a empresa deseja que cada público faça?Que recursos estão disponíveis?Qual é a reputação da empresa?

Públicos

Respostas do público

A empresa

Figura 3 – Estrutura expandida da estratégia de comunicação empresarial. Fonte: Argenti 2006

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Ao longo dos anos os gerentes começaram a dedicar um pouco mais de atenção ao público

interno, pois segundo Argenti (2006), as empresas com mais altos níveis de comunicação

eficaz apresentam aos acionistas um retorno melhor, e o mesmo estudo mostra que a

comunicação impulsiona o desempenho e o sucesso financeiro da empresa. Começa-se então

a analisar como a empresa pode fortalecer o relacionamento com os funcionários por meio da

comunicação. Para isso, há a necessidade de um programa de implementação da comunicação

que requer que todos os níveis da organização tenham uma boa comunicação, para isso

Argenti (2006) refere-se da importância de reuniões regulares, publicações internas de

interesse dos funcionários e muitas vezes da implementação de um canal de TV interna.

Argenti(2006) completa que quando as mensagens de marketing interno e externo são mal

alinhadas a experiência do cliente é afetada, com efeitos ruins para a empresa.

Para Kramer and Crespy (2011), sugerem que a liderança deve ser compartilhada em

vários ambientes organizacionais e o desejo de comunicar, gerará melhor colaboração, onde

somente os líderes qualificados chegarão ao nível de colaboração que desejam, sendo capaz

de criar uma evolução para a visão da empresa, consequentemente desenvolvendo uma cultura

de colaboração.

Logo, seguindo Campos (2004) para transformar as estratégias da organização em

realidade, e o que irá operacionalizar esse gerenciamento é a utilização do método PDCA,

método esse desenvolvido por WalterA. Shevart na década de 20, que significa:P = Planejar

(plan); D = Executar (do); C = Controlar (control); A = Agir (action)

Figura 4 – Ciclo PDCA de controle de processos. Fonte: Campos 2004

Afinal, segundo Marchiori (2006) a organização precisa atuar em sintonia e a base

disso é a missão, visão, valores e a política, pois essas bases, juntas, contribuem para a

eficácia e desenvolvimento da organização. E completando, (OAKLAND, 1994) diz que a

organização precisa de uma estrutura de visão que inclua sua filosofia de orientação, valores e

crenças centrais, os quais devem estar combinados com a missão da empresa, refere-se ainda

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ao fato que a organização deve focar suas ações nos funcionários, fornecedores, clientes,

sociedade, acionistas e partes interessadas.

Abaixo segue quadro desenvolvido pela autora no que tange a importância do projeto

para a empresa e as barreiras encontradas, relacionando a empresa com foco no cliente x o

processo de implementação de endomarketing.

Foco no cliente Comunicação Interna

Objetivo: Melhoria contínua

Objetivo: Melhorar a comunicação entre todos os departamentos da empresa

Foco: Satisfação do cliente interno e externo, compromisso da gestão, treinamento e educação do empregado

Foco: Manter o entusiasmo entre os funcionários, formulando e produzindo informação motivadora, para que ocorram cada vez menos fofocas.

Barreiras para Implantação:

Falta de envolvimento e comprometimento da direção;

Mudança cultural;

Entendimento muito limitado da qualidade;

Outros interesses que não de qualidade;

Políticas organizacionais;

Cinismo;

Estrutura organizacional;

Falta de treinamento e educação dos empregados.

Barreiras para implantação:

Falta de envolvimento e comprometimento da direção nos aspectos de melhorar a comunicação interna;

Dificuldade de promover a mudança cultural dos funcionários da empresa;

Estrutura organizacional sem cultura de comunicação;

Falta de treinamento e educação dos empregados.

Comunicação muitas vezes visto como algo pouco importante para empresa.

Quadro 1 – Foco no Cliente versus Comunicação Interna. Fonte: autora

Nas empresas com foco no cliente, para garantir a sobrevivência no mercado, a

comunicação interna torna-se mais urgente e necessário principalmente no que se refere a um

programa que suportará estratégias e propostas a serem utilizadas em novos processos

organizacionais. Para isso devem–se construir mensagens que sejam eficazes, éticas e

favoráveis ao que está sendo proposto.

De acordo com Ferreira (2004) alguns pontos são importantes entre a endomarketing e

foco no cliente, no qual a comunicação é fator primordial nos planos de comunicação, pois

não é algo automático, e quando há informações errôneas muitas vezes a empresa perde

credibilidade, podendo assim desmoralizar a empresa perante o cliente, acarretando em falta

da satisfação do mesmo.

Oakland (1994) afirma que as atitudes e o comportamento do pessoal podem ser

influenciados pela comunicação, e para constatar esse fato, basta olhar para a mídia e

anúncios, pois para ganhar aceitação dos funcionários em relação à mudança de cultura dentro

da empresa é necessários ter informações pertinentes, por meio de excelentes processos de

comunicação.

Dentre os principais estão: Comunicação verbal: Realizado entre pessoas ou grupos,

de forma direta ou indireta; Comunicação escrita: Pode ser boletins, folhas de informação,

relatórios e recomendações; Comunicação Visual: Cartazes, exposições, vídeos, mostruários.

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Estudo de Caso

O estudo de caso foi realizado em uma empresa de pequeno porte com

aproximadamente 100 funcionários, do setor de papel, tendo a empresa toda uma

administração interna local e familiar.

Sabendo-se da necessidade do mercado quanto à qualidade de prestação de serviço ao

cliente, em 2012 após a reformulação do planejamento estratégico da empresa foi necessário

desenvolver um trabalho com o seu cliente interno, contratando uma empresa terceirizada

para desenvolver um projeto visando melhorar a comunicação interna, a motivação e o clima

organizacional da empresa, transmitindo para todos os funcionários inicialmente a missão,

cultura e valores da empresa e posteriormente campanhas motivacionais.

O projeto iniciou-se através de entrevistas com pessoas-chave de todos os

departamentos da empresa para um levantamento de seus pontos fortes e fracos, logo obtendo,

um diagnóstico parcial da empresa, a fim de corrigir as falhas e fortalecer a mentalidade dos

funcionários para que possam cumprir com eficiência suas os processos internos e

consequentemente a satisfação do cliente.

Como pontos fortes foram detectados: A qualidade do produto; E em relação aos

pontos fracos que tangem aos problemas internos: Falta de um plano de incentivo; Falta de

relacionamento com clientes e fornecedores, Falta de divulgação da empresa; Não entrega dos

produtos no prazo; Necessidade de criar canais de comunicação interna; Não possuir plano de

saúde; A valorização dos funcionários não é bem trabalhada; Falta habilidade para lidar com

as diferenças das pessoas; A forma como a diretoria se relaciona com os funcionários; Falta

de treinamento.

Metodologia

O presente artigo teve como objetivo geral identificar e avaliar o papel da liderança na

implantação dos processos de endomarketing, através de um estudo de caso, qualitativo de

natureza exploratória, onde de acordo com Miguel (2012) tem como estratégia de pesquisa

considerar aspectos relevantes entre o fenômeno e o contexto, o qual ainda não encontra-se

claramente definido.

Como parte da metodologia para o desenvolvimento deste artigo realizou-se, várias

pesquisas junto aos funcionários e diretoria, através de uma pesquisa que envolveu

abordagens de Endomarketing, como instrumento de comunicação, satisfação do funcionário

com a empresa, relacionamento entre equipes de trabalho, autonomia na execução do

trabalho, realização profissional dentro da empresa.

O questionário constitui-se de questões fechadas e abertas, e foi apresentado a uma

amostra de 27 funcionários de diferentes setores.

Apresentação dos resultados

Foi levantado o perfil dos respondentes, o qual foi constatado que 71% do sexo

masculino e 29% feminino, onde 28% tem menos de um ano na empresa, 29% de 1 a 2 anos,

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29% de 3 a 4 anos e 14% acima de 4 anos, ressaltando que a empresa possui 6 anos. Quanto

ao tipo de comunicação interna entre os funcionários os seguintes itens foram identificados:

Comunicação interna utilizada Respostas

E-mail 15

Reuniões 10

Comunicação face a face 13

Campanhas internas 2

Newsletter 0

Mural 2 Tabela 3: Tipos de comunicação interna utilizada na empresa junto aos funcionários.

Verificando que e-mail e mural são os veículos mais utilizados dentro da empresa no

qual as campanhas internas também são inseridas dentro dos murais, identificou-se na prática

que há ainda funcionários que não possuem acesso ao e-mail, como por exemplo, funcionários

do setor de produção.

Veiculos mais eficaz Respostas

E-mail 2

Reuniões 2

Comunicação face a face 20

Campanhas internas 2

Newsletter 1

Mural 8 Tabela 4: Tipos de comunicação interna mais eficaz de acordo com os funcionários

Verificando a predominância da comunicação face a face como a mais eficaz e

levando-se em conta a motivação do funcionário junto à empresa, o qual é o objetivo principal

da implantação do endomarketing na empresa em questão, identificou-se que 72% dos

respondentes consideram que a empresa não divulga de forma correta os objetivos, metas e

desempenho dos funcionários, onde por muitas vezes são cobrados, sem saberem ao certo o

que a diretoria quer.

Em termos de relacionamento entre as áreas, 74% consideram boas, porém, ao se

perguntar sobre o relacionamento com a diretoria, 82% dos respondentes ressaltou de

insuficiência na comunicação, onde, há sim, acesso à eles, porém, não há um bom diálogo

entre diretoria x funcionários.

Em relação à pergunta sobre realização profissional dentro da organização 57%

consideram-se mais ou menos satisfeito e quando perguntados a respeito do reconhecimento

da empresa, 76% responderam nada reconhecido.

Os respondentes afirmam também que muitos não conhecem os clientes da empresa,

ficando mecanizados no processo que executam. Aí entra o pensamento de Lovelock (2006)

que declara que em prestação de serviços o cliente interage diretamente com o serviço

prestado, ficando difícil melhorar a qualidade e produtividade sem entender totalmente o

envolvimento do cliente em determinado ambiente aí a importância de uma boa comunicação

e relacionamento entre todos os setores.

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Segundo KUNSCH (2009, p. 196) “vive-se a era da informação, dos avanços

tecnológicos, que invadem e transformam o ambiente organizacional e o ambiente doméstico,

rearticulando e redefinindo as relações espaço temporais”.

Assim a busca pela excelência na prestação de serviços e produtos busca garantir a

satisfação do cliente e vem para agregar valor à marca, e isso deve-se estender para a

satisfação dos funcionários, pois os fundamentos da qualidade estão voltados para dentro da

organização, por isso a importância de uma política de valorização das pessoas, através do uso

de programas de endomarketing.

Conclusão

As transformações ocorridas no final do século XX fizeram com que as empresas

analisassem todos os seus processos, devido à concorrência que é cada vez maior. A

globalização impôs para as empresas uma redefinição de posicionamento, devido a

competitividade, às exigências do cliente e das necessidades de criar um produto que atenda

as necessidades do mercado Garcia (2013), e esse artigo surgiu no decorrer do processo de

implementação do projeto de endomarketing, em uma empresa de pequeno porte, do setor de

papel, que identificou a necessidade da liderança em todo o processo, onde segundo dados da

pesquisa a liderança cobra dos funcionários, porém não se comunica da melhor forma com os

funcionários.

Assim, demonstrando o potencial que o Endomarketing possui como instrumento de

motivação e envolvimento dos funcionários, no intuito de contribuir para a capacitação e

valorização do capital intelectual de uma organização o que, em consequência, poderá gerar

melhores soluções, mostrando assim, a importância de profissionais motivados como forma

de satisfazer o cliente interno e consequentemente o cliente externo, através de um tratamento

diferenciado. Este artigo beneficiará também o próprio capital intelectual da organização, e de

outras, como ferramenta de benchmarking.

Afinal de acordo com Kunsch (2009, p. 208) “independente da opção da organização,

a comunicação assume caráter estratégico, na medida em que, tais decisões tendem a provocar

mudanças, ou seja, alterações e ou adaptações de práticas e condutas até então adotadas e que

precisam adequar-se às novas exigências, onde as políticas de comunicação através de ações

planejadas e integradas junto ao público-interno fará com que os funcionários colaboradores

“vistam a camisa na satisfação do cliente”, pois é exigida participação efetiva e

comprometimento por parte deles. Além disso, exige-se profundo conhecimento dos

processos comunicacionais, bem como de suas expectativas e frustrações.

Concluindo assim, e seguindo o pensamento de Marchiori (2006) a partir do momento

em que as pessoas passam a se relacionar em grupo e a desenvolver formas de ser e agir, fica

claro que a cultura está sendo desenvolvida dentro da empresa, pois é formada por um

conjunto de valores e crenças que são transmitidas dentro da organização, e a partir do

momento que a cultura da qualidade passa ser a implementada dentro da empresa, ocorre um

choque, por isso a necessidade da comunicação e de todo envolvimento da liderança na

implantação do projeto.

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O uso das redes sociais virtuais nos processos de

recrutamento e seleção

Tatiana Martins Almeri Doutoranda e Mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, pela PUC-SP . Professora da Universidade Paulista e

da Fatec em São José dos Campos.

Karina Ramos Martins Graduanda de administração de empresas pela Universidade Paulista de São José dos Campos

Diego da Silva Paiva de Paula Graduando de administração de empresas pela Universidade Paulista de São José dos Campos

Resumo

Este artigo tem por objetivo estudar o comportamento dos usuários das redes sociais virtuais com

base na visão das agências de emprego, analisando suas atitudes, comportamentos e atributos

pessoais, para depois poder traçar um perfil de comportamento adequado para estes ao usarem as

redes sociais virtuais. Por ser um assunto atual esta pesquisa representa um apoio inovador à

sociedade em geral que buscar promover sua imagem pessoal e profissional de maneira positiva e

idônea, lhes fornecendo dados relevantes, embasados numa pesquisa científica sobre como alcançar

esta exposição de modo saudável, agregando valor à sua postura profissional. A principal

metodologia utilizada foi a pesquisa descritiva de opinião, feita através de um questionário enviado

para as agências de emprego onde o foco era buscar as características de comportamento e atitudes

observadas pelos profissionais da área nas páginas das redes sociais virtuais dos candidatos em

potencial. Como resultado deste trabalho pode-se concluir que a utilização da internet nos processos

de recrutamento e seleção é muito expressiva e a consulta das redes sociais virtuais de candidatos foi

uma prática adotada por 100% das agências de emprego entrevistadas, por ser um trabalho prático,

sem maiores custos e capaz de reduzir o tempo no processo de recrutamento e seleção, além de

fornecer informações reais sobre o perfil do candidato. A principal contribuição desta pesquisa foi

que, embasado no resultado geral do questionário aplicado, foi possível estabelecer um perfil padrão

de comportamento ao usuário das redes sociais virtuais que quando seguido pode contribuir de

maneira efetiva para a divulgação positiva da imagem profissional e pessoal deste em um processo de

recrutamento e seleção.

Palavras-Chave

Redes Sociais Virtuais; Recrutamento e Seleção; Comportamento Padrão Adequado; Postura

Profissional.

Abstract

This article aims to study the behavior of users of virtual social networks based on the vision of

employment agencies, examining their attitudes, behaviors and personal attributes, and then be able

to draw a profile of the behavior appropriate to use these virtual social networks. Why be a hot topic

this research represents an innovative support to society in general that seek to promote their

personal and professional image in a positive and credible, providing them with relevant data, based

on scientific research on how to achieve this exposure in a healthy way, adding value to your posture

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professional. The principal methodology used was descriptive of opinion, done through a

questionnaire sent to employment agencies where the focus was to seek the characteristics of behavior

and attitudes observed by professionals in the pages of virtual social networks on the candidate’s

potential. As a result of this study, it can be concluded that the use of internet in recruitment and

selection is very expressive query and virtual social networks of candidates was a practice adopted by

100% of employment agencies interviewed for being a practical, no major able to reduce costs and

time in the process of recruitment and selection, and provide real information about the candidate's

profile. The main contribution of this research is that grounded the overall result of the questionnaire,

it was possible to establish a pattern of behavior to profile user virtual social networks which when

followed can contribute effectively to disseminate positive personal and professional image of this

person in a recruitment and selection process.

KeyWords

Virtual Social Networks; Recruitment and Selection; Proper Behavior; Posture Pattern Professional

Introdução

Hoje a tecnologia está inserida de tal forma no cotidiano das pessoas, direta ou

indiretamente, afetando suas escolhas e até mesmo sua imagem pessoal e profissional. Este

fenômeno ocorre de maneira mais forte no uso das redes sociais virtuais, nestes locais os

usuários têm a chance de mostrar suas características psicológicas, valores, interesses,

preconceitos, ambições entre outras particularidades da sua personalidade.

Neste ambiente virtual as agências de emprego aproveitam para observar, monitorar,

avaliar e selecionar candidatos a possíveis processos de recrutamento e seleção, considerando

o que este expõe em suas redes sociais virtuais. Esta avaliação por parte das agências pode ser

positiva ou negativa, tudo depende do conteúdo que é apresentado a ela na página do

candidato em potencial.

Neste contexto, esta pesquisa se torna útil, pois traz à tona um perfil de comportamento

adequado aos usuários de redes sociais virtuais, para que este consiga transmitir sua imagem

de maneira positiva e atraente às agências de emprego que possivelmente poderão analisar o

conteúdo publicado por ele; fato que aumenta as chances deste usuário se tornar um possível

candidato de processos de recrutamento e seleção promovidos.

Esta pesquisa tem como objetivo geral estudar as características de comportamento dos

candidatos de um processo de recrutamento ou seleção nas redes sociais, com base na visão

das agências de emprego sobre o assunto e traçar um perfil de comportamento adequado e

positivo para um profissional que é usuário das redes sociais e que pode vir a participar de um

processo de recrutamento e seleção. Para alcançar o objetivo geral é necessário estabelecer

também objetivos específicos que são as fases da realização desta pesquisa científica; estes

objetivos são: investigar as características de comportamento positivas e negativas dos

candidatos de um processo de recrutamento ou seleção que são usuários de redes sociais

virtuais e descobrir os critérios de avaliação utilizados por essas agências para definir o uso

correto e adequado dessa ferramenta como um diferencial competitivo para o usuário que está

à procura de uma vaga.

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1. O processo de Recrutamento e Seleção

Toda escolha requer critérios que estabeleçam a legitimidade de seus resultados e garantam

a decisão correta. Esta premissa se estende ao âmbito profissional, onde os processos de

recrutamento e de seleção são utilizados de diferentes formas no objetivo central de selecionar

um profissional que seja compatível e se encaixe da melhor maneira possível à vaga e à

cultura de uma determinada empresa.

O recrutamento e a seleção são encarados por diversos autores como processos

codependentes e diferentes entre si. Segundo Chiavenato (2010, p. 104) “Este é o papel do

recrutamento: divulgar no mercado as oportunidades que a organização pretende oferecer para

as pessoas que possuam determinadas características desejadas”. Ou seja, é necessário

divulgar de maneira correta e atrativa as vagas a serem ocupadas, em diversos meios capazes

de atingir os possíveis candidatos que possuem o perfil que a vaga demanda. Este processo é

considerado bilateral pelo fato de não só a organização trará um perfil e optar por determinado

tipo de profissional, como também o profissional escolher a empresa que vai se candidatar

(ARAÚJO E GARCIA, 2009).

1.1 Recrutamento

Segundo Chiavenato (2008, p. 165) “Recrutamento é um conjunto de técnicas e

procedimentos que visa atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar

cargos dentro de uma organização”.

Esse processo pode ser dividido em três tipos: O recrutamento interno, o Recrutamento

externo e o Recrutamento misto, eis as características de cada um deles. No recrutamento

interno os responsáveis pelo processo de recrutar candidatos se voltam para dentro da própria

organização, buscando aproveitar os talentos existentes dentro dela pra preencher as vagas

existentes, como afirmam Araújo e Garcia (2009, p. 17) “em outras palavras, o recrutamento é

considerado interno quando a organização utiliza seus próprios recursos humanos sem

recorrer ao mercado externo”.Nesta forma de recrutamento os funcionários podem ser

transferidos (movimentação horizontal, onde o funcionário ocupa um novo cargo sem

necessariamente ter um acréscimo financeiro por isso) ou promovidos (movimentação

vertical, onde geralmente ocorre um acréscimo financeiro ao funcionário e este passa a ocupar

um cargo mais elevado na hierarquia da empresa) como ressalta Chiavenato (2008).

O recrutamento externo se baseia na busca por candidatos no mercado de trabalho, com os

requisitos básicos para o perfil da vaga e a disposição em se adequar a empresa busca por

candidatos é feita através de agências de emprego, de indicação de candidatos por

funcionários da própria empresa, de contatos com associações de classe ou sindicatos, de

cartazes e anúncios colocados na portaria da empresa, de contatos com Universidades, de

viagens de recrutamento em outras localidades, de divulgação em jornais e revistas, de sites

de vagas de emprego e também de bancos de dados da própria empresa onde os currículos são

enviados via email ou cadastrados no espaço comumente denominado “Trabalhe Conosco”

nos sites da organização.

A cada dia a internet, para o recrutamento de pessoal, é utilizada em maior escala, sendo

uma forma econômica e rápida de encontrar profissionais em vários lugares e com diferentes

características notadas facilmente. De acordo com Araújo e Garcia (2009) “a verdade é que

esta poderosa ferramenta da tecnologia da informação tem facilitado bastante o andamento

deste processo, encurtando cada vez distâncias e tempo”.

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O recrutamento misto é a utilização simultânea ou não dos recrutamentos interno e externo,

no objetivo de ter ampla gama de candidatos qualificados a vaga seja dentro ou fora da

empresa. Atualmente o recrutamento misto é muito utilizado pelo fato de usufruir de fontes

internas e externas, e consequentemente fornecer uma gama de informações sobre os

profissionais muito rica, que facilita o processo de escolha de candidatos.

1.2 Seleção

Após o recrutamento, ainda existe a necessidade de selecionar aquele candidato que será

capaz de se encaixar com perfeição a vaga disponibilizada. “A seleção de pessoal é um

sistema de comparação e de escolha (tomada de decisão). Para tanto, ela deve

necessariamente apoiar-se em algum padrão ou critério de referência Pra alcançar certa

validade na comparação” (CHIAVENATO, 2010, p. 139).

O processo de seleção pode ser caracterizado como a etapa onde alguns dos candidatos que

tiveram interesse na vaga divulgada, ou que foram recrutados pela própria organização, são

escolhidos levando em consideração critérios pré-estabelecidos e passam por diversos tipos de

testes, entrevistas e dinâmicas no objetivo de escolher aquele que melhor irá desenvolver as

tarefas demandadas da vaga em aberto e agregar valor a organização por meio de seu

trabalho.

1.2.2 A escolha final de um candidato

Segundo D’Ávila; Régis e Oliveira (2010, p. 66) “todo material coletado no processo de

seleção, nas redes sociais online, nos bancos de currículos, ou mesmo nas indicações de

terceiros deve ser analisado. Essa análise fundamenta o processo de recrutamento e seleção da

empresa estudada, pois, por meio dessa análise, podem-se direcionar as solicitações de vagas

aos papéis sociais de maior aderência, aumentando a qualidade da seleção”. Sendo assim com

base no maior número de informações obtidas a respeito dos candidatos, é possível delimitar

aqueles que efetivamente se encaixam na vaga.

Geralmente a responsabilidade pela execução do recrutamento e da seleção é do

departamento de Recursos Humanos ou de uma empresa terceirizada como uma agência de

empregos, mas estes atores geralmente não são os responsáveis por efetuar a contratação do

funcionário, pois a atividade de recrutamento e seleção é uma função de “apoio” ocasionada

pela necessidade de um determinado profissional em uma determinada área da empresa.

2. Redes Sociais

De acordo com Cavalcanti e Branco (2012) em toda sociedade e a todo tempo é possível

observar a presença dessas redes, nas quais todos têm participação direta ou indireta e são

membros atuantes, mesmo que involuntariamente, não sendo necessário muito esforço para

identificar as que estão inseridos no cotidiano, como, por exemplo, a rede de luz, de

telecomunicações, de água ou até mesmo uma mera rede de amigos.Porém para compreender

o conceito dessa “estrutura não linear, descentralizada, flexível, dinâmica, sem limites

definidos e auto-organizável que se estabelece por relações horizontais de cooperação”

(TOMAÉL et al, 2005, p. 94), é necessário buscar ainda mais informações. Tomaél et al

(2005) afirma ainda que o homem, por natureza e instinto, se agrupa em redes com seus

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semelhantes e acaba criando relações de interesses que ao longo do tempo se fortalecem e se

transformam conforme o seu percurso. Marteleto (apud TOMAÉL et al, 2005, p. 93) relata

que as redes sociais são “[...] um conjunto de participantes autônomos, unindo ideias e

recursos em torno de valores e interesses compartilhados”. Para Hunt (2010, p. 2) “as pessoas

estão em redes sociais para se conectar e construir relacionamentos”. De acordo com

Machado e Tijiboy (2005) o relacionamento é a característica básica para que possa haver

uma ligação social em uma rede, sendo o fator que permite a união de pessoas e

consequentemente de forças para o alcance de um alvo/interesse comum. Cavalcanti e

Branco (2012, p. 7) relatam que “redes são estruturas, desenhos organizacionais ou sistemas,

que contem vários elementos, pessoas e entidades, [...] com alguma ligação em comum que as

une”, sendo que a entrada nessa estrutura é fator crítico e primordial para a aquisição do

conhecimento por meio do compartilhamento de informações dos integrantes desse espaço

que possibilita a oportunidade de construir o saber a cada nova conexão. “Uma rede social é

definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos; ou nós

da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais)” (WASSERMAN et al, apud

RACUERO, 2006, p. 26). Schlithler (apud CAVALCANTI; BRANCO, 2012), sustenta a

tese de que o número de conexões em uma rede é um elemento de suma importância para o

sucesso na busca de um objetivo comum, todavia relata que além da quantidade de conexões é

necessário relevar a utilidade do que será compartilhado nas redes em que um indivíduo está

conectado, afim de que o mesmo não se exponha ao excesso de informação desnecessária e

irrelevante para o alcance desse objetivo previamente estabelecido no ingresso dessa conexão.

“De forma simples e sintética, uma rede social nada mais é que uma rede de amigos e/ou

conhecidos” (REAL et al, 2012, p. 5) e “[...] um instrumento de captura de informações”

(FANCHINELLI; MARCON; MOINET, apud TOMAÉL, 2005, p. 94).

2.1 Redes Sociais Virtuais

Com a emergência da globalização, a banalização e o crescimento desenfreado da

tecnologia, surge, também, com a virada do século, um novo conceito de redes que

revolucionaria as relações de tempo-espaço. O que antes era necessário passa a se tornar

obsoleto, dando espaço a novas ferramentas, como, por exemplo, o computador que assumiu a

funcionalidade da máquina de escrever, possibilitando a inserção de novos conectados às

Redes Sociais Virtuais. As redes sociais virtuais possibilitaram, ainda, o contato visual em

tempo real sem necessidade de locomoção a grandes distâncias e conforme Castells (apud

GOMES et al, 2012) as pessoas estão cada vez mais organizadas nas redes sociais mediadas

pelo computador.

De acordo com Matos (apud RIBAS; ZIVIANI, 2008) as redes sociais virtuais ou

organizações virtuais são temporárias, e seus os atores são independentes e se relacionam

através da tecnologia da informação, com a intenção de compartilharem conhecimento,

informações e recursos para se aprimorarem cada vez mais em questões de interesses pessoais

e profissionais. Segundo Machado e Tijiboy (2005, p. 2) “as redes sociais virtuais são canais

de grande fluxo na circulação de informação, vínculos, valores e discursos sociais, que vem

ampliando, delimitando e mesclando territórios.” Para Ribas e Ziviani (apud CAVALCANTI;

BRANCO, 2012) a internet é ferramenta básica para se construir essas redes e pode ser citada

como pioneira quando se fala em troca de informações da humanidade a nível global e virtual

e nela os atores se portam como consumidores e provedores de informação. Yenes (apud

RIBAS; ZIVIANI, 2008) conceitua virtual como o funcionamento fundamentado nas

tecnologias da informação e comunicações, podendo simular a realidade e beneficiar os

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

usuários ao proporcionar os mesmos efeitos de um serviço que obteriam na utilização daquilo,

só que pela Internet.

Afirma o escritor Rheingold (apud RIBAS; ZIVIANI, 2008), que as redes/comunidades

virtuais agrupam indivíduos on-line em busca de valores e objetivos em comum e ainda

ressalta que são agregados sociais que surgem da Rede (Internet), quando uma quantidade

suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com

suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no espaço

cibernético (ciberespaço). Enfim, o ciberespaço que para Lévy (apud RIBAS; ZIVIANI,

2008) é fruto da internet, é semelhante ao espaço virtual, que não se contraria ao espaço real,

sendo intangível, público e formado pelo fluxo de informações que possibilita aos integrantes

das redes sociais virtuais a interação entre si.

2.2 Twitter

Duas palavras resumem o Twitter: Clareza e objetividade. Primo (2008) define o Twitter

como um “Microblogging” que aceita postagens de textos com no máximo 140 caracteres e

seu objetivo, de início, é que os usuários se interajam, entrei si, respondendo o

questionamento: “O que você está fazendo?”. Segundo Comm e Burge (2009) a idéia inicial

do Twitter veio de Jack Dorsey e, inicialmente, era utilizado para a comunicação interna dos

empregados da ODEO, uma companhia de arquivos de áudio digital na internet, de uma

maneira divertida. O serviço foi criado em julho de 2006 por Evan Williams, Jack Dorsey e

Biz Stone e lançado definitivamente em outubro de 2006. Logo após começou a se

popularizar com o auxílio da publicidade gerada pela conquista do prêmio SXSW, devido a

referências positivas ainda no Blogger.Um dos maiores desafios para os usuários desse

Microblogging é se expressar de maneira clara e positiva em apenas 140 caracteres, sendo que

suas publicações poderão ser visualizadas por seus seguidores que avaliarão o conteúdo

postado e decidirão se o seguirão ou não, sendo que, se o tweet atender as expectativas do

leitor será gerado entre os conectados um vínculo de idéias e de amizade. De acordo com

Shirky (apud PRIMO, 2008), a maioria das publicações postadas pelos usuários é voltada

para os próprios seguidores e não para os “não seguidores”. Para Comm e Burge (2009),

como nas conversas reais, as do Twitter também requer etiquetas como não enviar Spam,

seguir seus seguidores, manter-se nos 140 caracteres, ser original a ponto de influenciar sem

apelações, entre outras dicas que com uma boa dose de bom senso possível cativar novos

seguidores e cultivar os que já te seguem.

2.3 Facebook

Um dos sites de relacionamento da atualidade que está se destacando cada vez mais é o

Facebook, sistema que foi desenvolvido, em fevereiro de 2004, por cinco jovens

universitários de Havard, que inovaram o conceito de Rede Social Virtual,eles eram Mark

Zuckerber, Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris Hughes onde de acordo com Recuero

(2009) tinham o objetivo inicial de gerar uma rede de contatos para os universitários que

estavam no período de transição da saída escolar para o ingresso na universidade. De início, o

sistema, era apenas disponível para os alunos de Havard, sendo que, depois, seria liberado

para escolas secundárias (BOYD & ELLISON, apud RECUERO, 2009a).O Facebook

disponibiliza uma variedade de aplicativos e ferramentas, permitindo que seus usuários se

comuniquem e compartilhem informações com a opção de controle e privacidade das mesmas

(EDUCAUSE, apud GONÇALVES, 2012) e para ter uma noção da grandiosidade desse fluxo

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de informações Teixeira Jr. (apud GOLLNER, 2011, p. 29) afirma que “em dezembro de

2010, 250 milhões de pessoas se conectavam diariamente ao Facebook trocando um bilhão de

informações, cerca de 42 milhões por hora”.

Segundo dados do próprio site a empresa possui 3.976 colaboradores (dados de junho de

2012) e sua sede está situada na Califórnia - Estados Unidos. Em julho de 2012 contava com

cerca de 955 milhões de usuários ativos mensais, que utilizavam o site para se conectarem

com amigos e familiares, para descobrirem o que está acontecendo ao redor do mundo, e para

compartilharem o que importa para eles, sendo que, cerca de 81% deles estavam fora dos

EUA e Canadá, 552 milhões utilizavam diariamente o site e 43 milhões usavam os aplicativos

disponíveis. Recuero (2009a, p. 172) afirma que “o Facebook é hoje um dos sistemas com

maior base de usuários no mundo”.

2.4 Linkedin

Segundo Vargas (2011) o Linkedin, que também está enquadrado na categoria de software

social, foi desenvolvido por Allen Blue, Reid Hoffman, Konstantin Guericke, Eric Ly e Jean-

Luc Vaillant em 2002. Seu público-alvo são os usuários que buscam o êxito e a promoção de

seus perfis profissionais nas redes sócias virtuais onde desde 5 maio de 2003, data em que foi

lançado, o site vem contribuído para a conexão de todos os profissionais do mundo afim de

torná-los mais eficientes e excelentes. De acordo com as informações contidas na própria

página do site, “a empresa é de capital aberto e tem um modelo de negócios diversificado com

receitas provenientes de soluções de contratação, soluções de marketing e assinaturas

Premium” (LINKEDIN, 2012). O início se deu na sala de estar de cofundador Reid Hoffman,

em 2002, e para a surpresa dos criadores do site de relacionamento, no final do primeiro mês

de operação o site já tinha um montante de 4.500 membros. No final do segundo trimestre de

2012, os indicadores mostravam que a cada segundo dois usuários se inscreviam para

participar do site e no dia 2 de agosto do mesmo ano o Linkedin se tornou a maior rede

profissional do mundo na internet com mais de 175 milhões de profissionais que o utilizam

para compartilhar informações, ideias e aproveitar oportunidades em mais de 200 países e em

18 idiomas (inglês, checo, holandês, francês, alemão, indonésio, italiano, japonês,

coreano, malaio, norueguês, polaco, português, romeno, russo, espanhol, sueco e turco), sendo

que, segundo dados do site, 62% dos seus usuários estão fora dos Estados Unidos onde está

localizada a sua sede, precisamente em Mountain View, Califórnia.

Metodologia

Todo trabalho que tem por objetivo obter resultados relevantes e confiáveis tem de se

respaldar em pesquisas de caráter científico, que possam orientar o desenvolvimento da ideia.

Este trabalho foi embasado nos seguintes tipos de pesquisa:

a) Pesquisa Analítica de Revisão: Tipo de pesquisa onde são recolhidas muitas informações

relevantes sobre o assunto estudado e estas são avaliadas, analisadas e unem diversos autores

na sua composição. Neste artigo, a pesquisa analítica de revisão foi utilizada para compor a

revisão teórica, onde foram coletados conceitos e definições de autores reconhecidos perante a

área onde se localiza o objeto de estudo desta pesquisa, que são os processos de recrutamento

e seleção e as redes sociais virtuais. Esta revisão teórica é base de informações necessárias

para compor uma melhoria no cenário atual dos objetos de estudo, criando uma relação entre

eles;

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

b) Pesquisa Descritiva de Opinião: O principal tipo de pesquisa utilizado foi a pesquisa

descritiva de opinião, devido ao fato de que esta pesquisa nos influencia a busca de opiniões,

atitudes e comportamentos num determinado grupo social, onde avaliando diversos fatores é

necessário tomar uma decisão, como afirmam Cervo e Bervian (1996, p. 50) “procura saber

atitudes, pontos de vista e preferências que as pessoas têm a respeito de algum assunto, com o

objetivo de tomar decisões”. Esse método foi qualificado como principal pelo fato de que o

foco da pesquisa é identificar as características de um comportamento adequado para um

candidato de um processo de recrutamento/seleção que é usuário das redes sociais, e para isso

foi necessário descobrir quais são os fatores positivos e negativos, comportamento e atitudes

observados pelas agências de emprego (os formadores de opinião e responsáveis pela decisão

de indicar o profissional adequado a empresa) nas redes sociais de candidatos, através de um

questionário;

Parte Prática

Para a execução desta pesquisa era essencial buscar a opinião dos responsáveis pelos

processos de recrutamento e seleção das agências de emprego, cargos muitas vezes ocupados

por psicólogos e administradores especializados na área de Recursos Humanos, para saber

como estes utilizam as redes sociais virtuais para seleção de candidatos, além de conhecer

quais são as características de comportamento observadas neste candidato.

Definido o público-alvo da pesquisa, foi elaborado um questionário com oito questões,

sendo duas abertas, onde o foco foi buscar nas respostas as características negativas e

positivas observadas pelas agências de emprego nas páginas das redes sociais, além de saber

como as agências tratam este assunto e sua real importância nos processos de recrutamento e

seleção. O questionário foi enviado a vinte (20) agências da região em São José dos Campos,

Jacareí e Caçapava, via email e durante o período de 20/10/2012 a 24/10/2012 os

questionários foram devolvidos por quinze destas, também via email, e estes foram analisados

e representados graficamente, para uma melhor explicação das respostas fornecidas pelas

agências.

Hoje é fato que a ideia de exposição da vida privada na internet seja algo amplamente

divulgado e muitas vezes aceito com naturalidade. Os usuários de redes sociais virtuais

expõem sua vida de maneira aberta e intensa, onde publicam através de textos e fotografias

onde estão, o que estão fazendo, o que comem, quando acordam e quando vão dormir. Num

contexto mais profundo, pode-se afirmar que estes usuários consciente ou inconscientemente

demonstram suas características pessoais e psicológicas, sua personalidade, seus preconceitos

e suas opiniões a respeito dos mais diversos assuntos discutidos pela sociedade.

Neste cenário é possível destacar que um dos maiores malefícios do excesso de exposição

pessoal é a perda de oportunidades no mercado de trabalho, pelo fato de que as agências ao

observarem as páginas das redes sociais destes usuários, acabam por se desinteressar em

convocá-los para possíveis processos de recrutamento e seleção pelo fato de que a imagem

negativa demonstrada por ele próprio faz com que seu perfil não se enquadre no que a agência

procura para a vaga disponível.

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Gráfico 1: Inclusão das Redes Sociais Virtuais no processo de R&S.

Fonte: Autores, (2012).

Por meio da interpretação das respostas obtidas nos questionários enviados para as

agências de R&S e representados graficamente acima foi possível constatar que 100% das

agências entrevistadas utilizam sites de relacionamento pessoal e/ou profissional, nas redes

sociais virtuais, como apoio para o processo de R&S e justificam o seu uso afirmando que

essa ferramenta é assertiva e com retorno positivo, pois nesses canais virtuais ocorre um

grande compartilhamento de valiosas informações que possibilitam a divulgação de suas

vagas e auxiliam na captação de candidatos potenciais para o preenchimento destas.

Gráfico 2: Sites mais utilizados pelas agências no processo de R&S.

Fonte: Autores, (2012)

Foi possível observar também que dentre os sites mais utilizados como ferramenta de

apoio nos processos de R&S pelas agências, destaca-se o Linkedin com 60% de adesão,

seguido pelo Facebook com aproximadamente 27% (26,67%) e o Twitter com quase 13%

(13,33%). Esse resultado favorável ao Linkedin foi facilmente relacionado à sua gama de

informações voltadas ao perfil profissional dos candidatos, permitindo que as agências os

selecionem com base nas suas formações profissionais. Já o Facebook e o Twitter (sites de

relacionamentos pessoais) são utilizados para respaldar informações pessoais prestadas

durante o processo seletivo e permitem às agências conhecer as reais características pessoais

do candidato em seu convívio social postadas em seu perfil na internet.

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Gráfico 3: Faixa Etária analisada pelas agências.

Fonte: Autores, (2012).

A maioria das agências entrevistadas, representando um pouco mais que 93%, afirmam não

existir uma faixa etária específica na busca por candidatos usuários das redes sociais virtuais e

ressaltam ainda que no processo de R&S o perfil do candidato que mais se adequar à vaga,

não importando a idade, será o contratado. Em contraponto a essa ideia 7% das agências

entrevistadas afirmam que a faixa etária para se recrutar on-line no cenário atual do mercado

de trabalho seria de dezoito (18) a vinte cinco (25) anos. Esta porcentagem mesmo que

pequena indica o fato de que algumas agências acreditam que o jovem na faixa etária de 18 a

25 é o usuário mais assíduo das redes sociais virtuais, uma característica marcante da

chamada geração Y, que possui extrema facilidade no contato com a internet, tendo então um

perfil com mais informações passiveis de análise por essas agências quando comparado a

outras faixas etárias que não demonstram tanto interesse pelas redes sociais virtuais.

Gráfico 4: Ingresso na utilização dos sites como apoio nos processos de R&S.

Fonte: Autores, (2012).

Analisando o gráfico referente ao ingresso das agências de emprego nas redes sociais

virtuais para obter apoio nos processos de R&S, foi possível notar que aproximadamente 87%

(86,67%) destas, a partir do ano de 2011 (dois mil e onze) e a minoria com um pouco mais de

13% (13,33) a partir de 2008.

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Gráfico 5: Etapa de consulta ao perfil do candidato na Rede Social Virtual.

Fonte: Autores, (2012).

Os dados do gráfico apresentado acima permitem a conclusão que 80% das agências de

emprego recorrem à consulta dos perfis dos candidatos em suas redes sociais virtuais após a

entrevista ou dinâmica em grupo, sendo que 20% das entrevistadas optam por esse recurso já

na seleção dos currículos. A razão encontrada pela maioria das agências para utilizarem tal

recurso após a entrevista ou dinâmica em grupo foi a de que esse procedimento possibilita que

estas comprovem, confrontem e comparem a veracidade das informações pessoais e

profissionais apresentadas pelos candidatos durante grande parte do processo de R&S. Já as

que defendem essa vistoria durante a seleção dos currículos afirmam que é mais prático e

eficaz no processo traçar um perfil de cada candidato antes mesmo destes serem entrevistados

ou passarem por qualquer tipo de dinâmica e ressaltam que essa atitude é tomada para analisar

se a forma com que se portam durante a entrevista ou nas dinâmicas condiz com as

observadas segundo sua conduta nas redes sociais virtuais.

Gráfico 6: Prioridade na análise das informações nos perfis on-line dos candidatos.

Fonte: Autores, (2012).

Considerando a prioridade das agências de R&S em relação às informações analisadas nos

perfis dos candidatos das redes sociais virtuais foi possível observar que 40% das

entrevistadas priorizam o conteúdo pessoal postado pelo usuário como, por exemplo, a forma

que estes definem quem são, como expressam suas ideologias e defendem seus pontos de

vistas em comentários no próprio perfil ou no de terceiros (amigos), se possuem um nível

ortográfico e de vocabulário considerável a ponto de elaborar um perfil com informações

dispostas de maneira clara e coerente. As demais agências entrevistadas, representando a

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grande maioria com 60% das justificativas, afirmam que outros tipos de informações são

prioridades na consulta ao perfil do candidato nas redes sociais virtuais e explicam que devido

à utilização do Linkedin no processo de R&S as informações de aspecto profissional como

formação acadêmica, experiências profissionais, idiomas, entre outras são mais relevantes que

as pessoais, sendo que, as chances de contratação de um candidato aumentam na medida em

que este se empenha na descrição com riqueza de detalhes de seu perfil profissional.

Gráfico 7: Comportamento Positivo para um usuário/candidato de uma rede social

virtual.

Fonte: Autores, (2012).

Quando questionadas, de forma aberta, sobre as características que consideravam positivas

para um candidato usuário das redes sociais virtuais, as agências enfatizaram determinados

comportamentos que podem ser reputados como diferencial competitivo e decisivo para a

conquista de uma vaga de emprego. Entre esses comportamentos, e unânime na opinião geral,

está a preocupação em preservar a imagem pessoal nessas redes, evitando a exposição

excessiva e desnecessária de informações e preferências particulares, evitando consequências

indesejáveis. Em seguida e também em unanimidade está a promoção de um perfil

profissional nas redes sociais virtuais. Outro indicador que torna o perfil de um candidato

atrativo para as agências foi o fato de o usuário demonstrar interesse naquilo que deseja como

carreira, ou seja, deve acompanhar por meio das redes sociais virtuais as noticias do segmento

no qual anseia uma oportunidade e curtir perfis que divulgam vagas de emprego, assim

quando visitarem seu perfil será notório sua busca pelo sucesso profissional. Ser dinâmico,

mostrar boa vontade em aprender com as oscilações no cenário dos negócios foi a

característica enfatizada por 60% das agências que afirmam que para se obter êxito tanto na

vida profissional, quanto na pessoal é necessário dispor de flexibilidade e adaptabilidade às

mudanças cotidianas. E finalmente representando um pouco mais de 33% (33,33%) da

opinião das agências entrevistadas se encontra o convívio e a interação nas redes sociais

virtuais de maneira sadia.

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Gráfico 8: Comportamento Negativo para um usuário/candidato de uma rede social

virtual.

Fonte: Autores, (2012)

Com respaldo nos dados colhidos das agências de emprego referente às características que

estas consideravam negativas para um candidato usuário das redes sociais virtuais, foram

estabelecidos os três tipos de comportamentos que mais os prejudicam em um processo de

R&S. Em geral, nesta questão houve certa homogeneidade na visão das agências devido à

imaturidade virtual do povo brasileiro que não consegue seguir se desenvolvendo

comportamentalmente de maneira proporcional às novas tecnologias de modo a usá-las como

ferramentas de auxílio às suas necessidades. Quase 87% (86,66%) das agências entrevistadas

acreditam que comentários ofensivos e os erros de ortografia são os atos que mais prejudicam

os usuários das redes sociais virtuais, ficando atrás somente da exposição excessiva de

informações pessoais que, por unanimidade, foi considerada o principal motivo das

consequências advindas da má utilização dos candidatos de um processo de R&S fazendo

com que grandes oportunidades sejam desperdiçadas pelo excesso do desnecessário. Além

dessa exposição demasiada outro erro cometido pelos usuários é a atitude de postar palavras

torpes, conteúdo ofensivo, que demonstre tendências preconceituosas ou opiniões polêmicas

que abordem temas inconvenientes, ofensas às empresas do segmento em que se espera uma

oportunidade e um comportamento psicologicamente inadequado, com certeza serão fatores

de peso negativo no processo de R&S, fazendo que o candidato tenha menos probabilidade de

ser o contratado.

Gráfico 9: Redes Sociais Virtuais como diferencial competitivo no processo de R&S

Fonte: Autores, (2012).

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Em comum acordo, todas as agências afirmam haver uma maior possibilidade de êxito para

os candidatos nos processos de R&S por fazerem uso das redes sociais virtuais e sustentam a

essa tese afirmando que estar nestas redes sociais significa ter acesso mais rapidamente a

informações de oportunidades de emprego devido ao elevado número de empresas que

divulgam suas vagas nos canais virtuais.

Plano de Melhoria

Com base no resultado do questionário aplicado ás agências de emprego e como citado

anteriormente por Araújo e Garcia (2009), é explícita a importância da Internet atualmente

nos processos de recrutamento e seleção, esse fato fica claro logo ao se observar o resultado

da primeira questão do questionário aplicado, onde todas as agências afirmaram utilizar as

páginas das redes sociais virtuais como forma de encontrar candidatos em potencial.Baseado

nos indicadores obtidos na coleta de dados, foi eleita como ferramenta administrativa o

método 5W2H para desenvolvimento da melhoria do presente estudo. Essa ferramenta

engloba sete questões voltadas para o planejamento estratégico de um idéia, e essas são: What

(o quê)? Why (por quê)? When (quando)? Where (onde)? Who (quem)? How (como)? E How

much (quanto)?

Abaixo segue a estrutura do 5W2H aplicado a este estudo:

a) What (o quê)? : Definir um perfil padrão de comportamento adequado para os usuários das

redes sociais virtuais

b) Why (por quê)? : Para que estes usuários possam obter um diferencial competitivo no

mercado de trabalho, quando consultado seu perfil nas redes sociais virtuais pelas agências de

emprego.

c) When (quando)? : Esta medida pode ser adotada a partir do momento em que um novo

usuário ingressar numa rede social virtual, e para os usuários que já possuem um perfil numa

rede social virtual, quando este tomar ciência do uso inadequado do seu perfil.

d) Where (onde)? : No comportamento dos usuários dentro das redes sociais virtuais.

e) Who (quem)? : Os usuários das redes sociais virtuais.

f) How (como)? : Alterando informações pessoais, prejudicais, à imagem profissional do

usuário, como fotos obscenas, comentários inconvenientes, preconceituosos ou inadequados.

g) How much (quanto)? : Se tratando de uma pesquisa com foco comportamental, não foi

possível estimar um custo, visto que uma mudança no comportamento é uma atitude

intrínseca e singular de cada individuo, onde não existem meios de mensurar financeiramente

o valor da transformação e evolução pessoal de cada um.

Como previsto no objetivo deste estudo, e de acordo com o resultado das questões abertas

7 (sete) e 8 (oito) do questionário enviado as agências de emprego, foi possível traçar os

padrões de perfil comportamental adequado e inadequado para os usuários das redes sociais

virtuais, enfatizando o perfil apontado como adequado, pelo fato de ser uma ferramenta de

melhoria pessoal da imagem profissional do individuo nessas redes.

Características do perfil adequado:

a) Cuidado e preservação a imagem pessoal nas redes sociais virtuais;

b) Clareza, objetivo e coerência nas postagens;

c) Promoção de um perfil profissional nas redes sociais virtuais;

d) Demonstração de interesse e boa vontade em aprender;

e) Utilização da rede social de maneira participativa;

f) Flexibilidade e adaptabilidade às mudanças cotidianas no conteúdo postado.

g) Interação nas redes sociais virtuais de maneira sadia;

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Características do perfil inadequado:

a) Erros de digitação, concordância ou ortografia ao postar;

b) Exposição excessiva de informações pessoais e desnecessárias;

c) Demonstração de tendências preconceituosas e ofensivas;

d) Denegrir a imagem das empresas em que já trabalhou;

e) Postar Informações falsas a respeito de suas intenções ou demonstrar ambiguidade nos

objetivos profissionais;

f) Demonstrar personalidade contundente em discussões polêmicas como futebol, política e

religião;

g) Demonstrar um Comportamento violento ou promíscuo no tratamento com os amigos;

h) Fazer parte de comunidades que possam denegrir a sua imagem perante os olhares de

terceiros.

Conclusão

Com o diagnóstico dos indicadores apresentados no presente estudo e através da pesquisa

teórica com ideias de autores já renomados na área, foi possível compreender minuciosamente

o uso das redes sociais virtuais no processo de recrutamento e seleção e estabelecer padrões

de comportamentos apropriados para os usuários dessas redes, baseando-se na ótica das

agências de emprego entrevistadas que, aderiram em unanimidade, esse método que apesar de

recente, simboliza redução de tempo, custo e burocracia no processo dentro desses canais de

informação virtuais, como Twitter, Facebook e Linkedin. Foi possível observar que na visão

das agências participantes da pesquisa, a sua grande maioria enfatizou que dentre as

características positivas que influenciam significativamente dentro do processo de

recrutamento e seleção dentro das redes sociais virtuais estão o cuidado com a imagem

pessoal dentro das redes sociais virtuais e a exposição excessiva de informações irrelevantes a

terceiros que podem vir a prejudicar o seu sucesso profissional. Ressaltaram, ainda, a

importância de promover um perfil profissional nessas redes com clareza, objetividade e

dinamismo, alem de ser necessário, demonstrar-se um profissional com boa vontade, de fácil

convívio e que se adapta fácil às mudanças provenientes do cotidiano. Todavia as agências

ressaltaram comportamentos negativos presentes em alguns usuários que devem ser evitados e

policiados frequentemente, como os erros de digitação, sejam na ortografia ou mesmo na

concordância ao postar uma ideia, a demonstração de tendências preconceituosas e ofensivas

que possam denegrir a imagem de terceiros ou mesmo uma simples discussão em algum

tópico de assuntos polêmicos como religião, futebol ou política. Esses comportamentos

podem interferir e até mesmo decidir o futuro de um candidato em um processo de

recrutamento e seleção.

Enfim, como em toda pesquisa científica, sugiram limitações que influenciaram,

impactando negativamente, o resultado da pesquisa, como o número de agências contatadas e

o número de agências que responderam os questionários via e-mail, como a falta de

informações bibliográficas por se tratar de um tema recente e pouco abordado e outra série de

variáveis que mesmo estando presentes não impediram que o presente estudo fosse concluído.

Seria interessante para estudos e pesquisadores futuros, a análise das diferenças entre os

usuários homens e mulheres, quais características são as mais observadas em distintos

gêneros, ou ainda, quais dos gêneros obtém maior êxito nos processos de recrutamento e

seleção. Também poderia ser elaborado um estudo que diagnosticasse se, mesmo nas redes

sociais virtuais, é possível omitir suas reais características pessoais e profissionais a fim de se

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

promover em um processo de recrutamento e seleção on-line e outra série de estudos

abrangente as redes sociais virtuais.

Referências

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O rádio como ferramenta de diálogo entre a comunidade

e a universidade

Gerson Mario de Abreu Farias Graduado em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo pela Universidade de Taubaté (2001) e mestre

em Lingüística Aplicada pela Universidade de Taubaté (2008). Atualmente é Docente no Departamento de

Comunicação Social da UNITAU e coordena um projeto de extensão junto a Rádio Comunitária Liberdade

FM de Taubaté, exercendo as funções de Diretor Artístico e Diretor de Jornalismo. Tem experiência na área

de Comunicação, com ênfase em Radiojornalismo, atuando principalmente nos seguintes temas: rádio e

internet, Análise do Discurso, Linguagem Radiofônica, TV Regional e Rádio Comunitária.

Jefferson José Ribeiro de Moura Formado em Comunicação Social pela USP nas habilitações Rádio e TV e Publicidade e Propaganda.

Especialista em Comunicação Social e Mestre em Lingüística Aplicada pela Universidade de Taubaté. Professor

há 29 anos, atuou na PUC de Campinas, Faculdades Anhembi Morumbi e Universidade Braz Cubas.

Atualmente leciona na UNITAU e Faculdades Integradas Teresa D’Ávila onde também é Coordenador nos

Cursos de Comunicação Social.

Resumo

Este trabalho apresenta um projeto de extensão da Universidade de Taubaté para aprimoramento da

participação da comunidade em uma emissora de rádio comunitária. Baseado nas propostas de Gohn

sobre educação nao-formal e das idéias de Habermas, propõe-se uma atuação maior e mais

consciente do público, como atores na esfera pública. Esta participação tem como modelo a idéia do

jornalismo cidadão utilizada por vários portais de internet. Alargando o conceito pretende-se ir além

da proposta do jornalista cidadão, em direção ao radialista cidadão, que se responsabilizará pela

programação da rádio, apoiado e qualificado por profissionais. Este projeto está sendo desenvolvido

na Rádio Comunitária Liberdade de Taubaté, SP há três anos.

Palavras-Chave

Rádio; Comunidade; Espaço Público; Cidadania.

Abstract

This paper presents an extension project at the Universidade de Taubaté to improve community

participation in a community radio station. Based on the proposed Gohn on non-formal education and

ideas of Habermas proposes a greater role and more aware of the public, as actors in the public

sphere. This participation is modeled on the idea of citizen journalism used by several internet portals.

Extending the concept intends to go beyond the proposal of citizen journalist, broadcaster towards the

citizen, to be responsible for the radio programming, and supported by qualified professionals. This

project is being developed in Rádio Comunitária Liberdade, Taubaté three years ago.

Keywords

Radio; Citizenship; University; Public Space.

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Introdução

Dados do Censo 2010 do IBGE e do Ministério das Comunicações indicam que o

rádio é um dos veículos com maior abrangência, na população brasileira. Conforme a

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE, 83,4%dos lares do país possuem pelo menos um aparelho receptor de

rádio e 96,9%, de televisão. Ao mesmo tempo, apenas 27% possuem assinatura de televisão a

cabo ou por satélite, e 36,5% têm acesso à rede mundial de computadores (internet), apesar de

42,9% possuírem computador. (Disponível em: http://www.teleco.com.br/pnad.asp - acesso

em 13 de maio de 2013.)

O rádio ensina, o rádio educa, o rádio diverte e entretém, o rádio consola, o rádio

conversa. O prazer de ouvir rádio está diretamente ligado à característica de natureza pessoal

e íntima do próprio mídium. Em regiões geograficamente distantes, o rádio tem papel

fundamental na transmissão da informação, e mais do que isso, o rádio é um dos principais

elementos formadores de opinião, onde muitas vezes é o único canal de comunicação entre a

comunidade.

A informação transmitida pelo rádio não requer esforço para seu entendimento; basta

ligar um receptor em determinada freqüência e permanecer próximo para, desta forma, ouvir

as informações que são enviadas. O rádio acompanha a vida diária e o cotidiano de quem o

ouve.

O rádio envolve o ouvinte, fazendo-o participar por meio da criação de

um “diálogo mental” com o emissor. Ao mesmo tempo, desperta a

imaginação através da emocionalidade das palavras e dos recursos de

sonoplastia, permitindo que as mensagens tenham nuances individuais, de

acordo com as expectativas de cada um. (ORTRIWANO, 1985, p. 80)

Rádio e Cidadania

O rádio pode focar temáticas de interesse local, interpretando o mundo por

perspectivas diferenciadas e/ou com idiomas locais. A penetrabilidade, a natureza local e a

capacidade de envolver comunidades num processo interativo de comunicação, somadas ao

baixo custo de produção e distribuição, são qualidades imprescindíveis para justificar o poder

do rádio no processo de desenvolvimento de uma comunidade.

Cabe ao rádio o papel de mediador entre as informações (entenda-se aí como tudo que

o rádio transmite: cultura, notícias e entretenimento) e o radiouvinte. A identidade e as

características estruturais da própria emissora também influenciam decisivamente nessa

relação emissor/receptor, ou seja, modelos tecnológicos de transmissão sonora adotados pelas

emissoras podem ser decisivos no impacto da informação que chega.

Desta forma, a emissora preserva sua atividade cultural e/ou educativa e mantém o seu

papel social e político, além de contribuir com o processo de democratização da população

adulta a que se destina, possibilitando sua inserção social e garantindo, com isso, o pleno

exercício da cidadania.

O rádio funciona bem no mundo das idéias. Como um meio de promover

a educação, ele se destaca com conceitos e também com fatos. Seja

ilustrando dramaticamente um evento histórico, seja acompanhando o

pensamento político atual, serve para veicular qualquer assunto que possa

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013 97

ser discutido, conduzindo o ouvinte, num ritmo predeterminado, por um

conjunto de informações. (MCLEISH, 2001. p. 19)

O discurso do rádio está intimamente ligado ao acesso do veículo à grande parte da

população em uma relação quase diária de interlocução dialógica e no potencial dos

programas de entretenimento como espaço de educação não-formal, podendo servir como

complemento à educação formal. Este tipo de discurso é capaz de estabelecer uma interação

importante com o ouvinte e apresentar de maneira implícita conteúdos educacionais

relacionados à educação não-formal. E o rádio com sua extensa cobertura nacional e alta

audiência regional é um veículo importante enquanto espaço não-formal de educação,

promovendo discussão de idéias e de atuação na comunidade, fazendo uso da vivência

coletiva e individual, permitindo uma expressão menos massificada e mais cultural.

(...) a educação é abordada enquanto forma de ensino/aprendizagem

adquirida ao longo da vida dos cidadãos; pela leitura, interpretação e

assimilação dos fatos, eventos e acontecimentos que os indivíduos fazem,

de forma isolada ou em contato com grupos e organizações. (GOHN,

2001, p. 98)

Espaço Público

Thompson, J. B. (1998), em “A Mídia e a Modernidade”, relaciona a modernidade

com as diferentes formas de interação entre os indivíduos. Distingue o face a face da interação

mediada, da quase interação mediada (livros, jornais, pelo rádio, TV). A quase interação

mediada cria certo tipo de situação social através da qual os indivíduos são conectados por

meio de um processo de comunicação e de troca simbólica. Nestor García Canclini assim

descreve:

Perceber que as transformações culturais geradas pelas últimas

tecnologias e por mudanças na produção e circulação simbólica não eram

responsabilidade exclusiva dos meios comunicacionais induziu a procurar

noções mais abrangentes. (CANCLINI, 2003, p. 284)

Habermas (2003, p.108) avalia que a esfera pública passou a ter o “status normativo de

órgão de auto-mediação da sociedade burguesa com um poder estatal que corresponda às suas

necessidades” e Poulantzas (1978) define o Estado como “a condensação material de uma

relação de forças entre classes e frações de classe”. Para ele:

Se a Indústria Cultural é um elemento de mediação entre o capital, o

Estado e as outras instituições das ordens econômica e política, de um

lado, e as massas de eleitores e consumidores do outro, essa mediação

não se faz em termos de grandes estruturas, segundo as linhas da

dinâmica pesada que pode derivar dos modelos de base e superestrutura,

mas antes segundo as relações conflituosas que se estabelecem entre os

diferentes atores que, nos diferentes setores relacionados, participam

daquela dinâmica ágil que responde, a cada instante, e de forma sempre

problemática, às necessidades da acumulação do capital e da reprodução

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013 98

ideológica de um sistema caracterizado pela anarque e pela contradição.

(POULANTZAS, 1978, p. 215-216)

Para o sociólogo francês Dominique Wolton, em conferência de abertura do XXXII

Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom, na cidade de Curitiba,

comunicação não é simplesmente compartilhar idéias, mas, colaborar para democratizar a

informação valorizando e respeitando a inteligência do receptor. Na ocasião ele afirmou: “não

há democracia sem comunicação”.

Rádio Comunitária Liberdade

A Rádio Comunitária Liberdade situa-se em Taubaté, Estado de São Paulo, e iniciou

suas irradiações em 11 de novembro de 2001. Ligada à Associação e Movimento Comunitário

Rádio Liberdade Comunitária FM, tem como presidente atual o Sr. Jair José da Silva. Está

localizada a Rua Diana Ortiz, 90 no Alto de São Pedro e opera na freqüência 104,9 Mhz. É

totalmente legalizada sendo registrada no Ministério das Comunicações sob o nº

50011468793. Sua programação é basicamente musical, apresentando boletins informativos

do decorrer da semana além de alguns programas produzidos por voluntários no sábado. No

domingo transmite ao vivo a missa da Igreja de São Pedro.

Desde o início de suas operações, em 2001, professores e alunos do Departamento de

Comunicação Social da Universidade de Taubaté já vinham participando esporadicamente sua

programação de maneira voluntária, desenvolvendo projetos de programas de entretenimento

e informação ligados a disciplinas do Curso ou apenas por interesse pessoal.

No final do ano de 2009 o Presidente da Associação e Movimento Comunitário Rádio

Liberdade Comunitária FM de Taubaté procurou oficialmente o Departamento de

Comunicação Social da Universidade de Taubaté, na figura de seu diretor, o prof. Marcelo

Pimentel pedindo apoio para desenvolver e manter sua programação, atualizando a plástica

sonora e produzindo programas. A tarefa foi repassada para o GRUPPEM (Grupo de

Produção e Pesquisa em Multimídia do Departamento de Comunicação Social da UNITAU)

que viu aí a oportunidade de desenvolver um projeto de extensão mais amplo, que atendesse

as necessidades da emissora comunitária e oferecesse aos alunos a oportunidade de unir

prática e teoria em uma atuação real.

A extensão é uma das atividades que compõe a relação da Universidade com a

comunidade que a cerca. A participação dos alunos e professores em ações voluntárias que

revertem benefícios para esta comunidade é uma maneira da IE usar seu conhecimento e

estrutura para o desenvolvimento social. Mais importante ainda quando essa atividade de

extensão promove um contato direto do aluno com a realidade permitindo a aplicação prática

dos conhecimentos obtidos em sala de aula.

O projeto apresentado se propôs a não só produzir material para a rádio comunitária,

mas reorganizá-la enquanto emissora, projetando uma grade de programação mais eficiente,

definindo setores de programação, jornalismo e captação de recursos, readequando-a

tecnicamente e capacitando e estimulando a comunidade a produzir seus próprios programas,

orientada por professores e alunos da Universidade.

Art. 3º O Serviço de Radiodifusão Comunitária tem por finalidade o

atendimento à comunidade beneficiada, com vistas a:

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013 99

I- dar oportunidade à difusão de idéias, elementos de cultura, tradições e

hábitos sociais da comunidade;

II- oferecer mecanismos à formação e integração da comunidade,

estimulando o lazer, a cultura e o convívio social;

III- prestar serviços de utilidade pública, integrando-se aos serviços de

defesa civil, sempre que necessário;

IV- contribuir para o aperfeiçoamento profissional nas áreas de atuação

dos jornalistas e radialistas, de conformidade com a legislação

profissional vigente;

V- permitir a capacitação dos cidadãos no exercício do direito de

expressão da forma mais acessível possível. (LEI Nº 9.612, DE 19 DE

FEVEREIRO DE 1998)

Enfim, oferecer meios para que a comunidade utilizasse o

espaço público da emissora de rádio comunitária como produtores e difusores de informação e

cultura. Aliado a isso os alunos poderiam aplicar a teoria na atuação prática do dia a dia,

acrescentando na formação um diferencial importante, não só no que se refere a atuação

profissional e técnica mas no crescimento humano.

Além da extensão este projeto previa atividades de ensino, na medida em que os

alunos participariam da capacitação dos membros da comunidade. Atividades de pesquisa

também seriam contempladas com a produção de artigos científicos e de iniciação científica

pela análise do trabalho realizado.

Os espaços onde se desenvolvem ou se exercitam as atividades da

educação não-formal são múltiplos, a saber: no bairro-associação, nas

organizações que estruturam e coordenam os movimentos sociais, nas

igrejas, nos sindicatos e nos partidos políticos, nas Organizações Não-

Governamentais, nos espaços culturais, e nas próprias escolas, nos

espaços interativos dessas com a comunidade etc. (GOHN, 1999, p. 101)

O projeto na Rádio Comunitária Liberdade de Taubaté, SP

O projeto teve início com uma coleta de dados tanta na emissora quanto na

comunidade. Paralelamente uma pesquisa bibliográfica ofereceu um embasamento teórico à

equipe envolvida. A partir daí foram definidas metas e estratégias de atuação.

A proposta central é devolver à comunidade a capacidade de utilizar o espaço público

aqui representado pela emissora comunitária. No caso da Rádio Liberdade, esta participação é

muito pequena. São apenas seis voluntários que produzem programas aos sábados, sem

nenhuma relação direta com a comunidade, a não ser a participação por telefone.

O objetivo maior é limitar aos poucos a participação da Universidade e aumentar a da

comunidade, com o gerenciamento artístico da emissora, a produção de programas culturais,

de entretenimento e informativos voltados para a comunidade. Para tanto o projeto se baseia

na idéia do jornalismo cidadão, hoje desenvolvido principalmente por alguns portais na web.

Também chamado de jornalismo participativo, colaborativo ou open

source, o jornalismo cidadão é aquele em que as audiências atuam

ativamente na produção das notícias, propondo que qualquer pessoa

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013 100

possa produzir e publicar matérias, tendo papel ativo na recolha, análise,

escrita e divulgação de informações – funções antes restritas aos meios de

comunicação. (DOURADO, 2010, p. 5)

A idéia é que esta “atuação ativa da audiência” se estenda para todos os setores da

emissora, e que a atuação da Universidade se restrinja a capacitação da comunidade,

orientação e apoio aos produtores cidadãos. Não se pretende que a Universidade se aposse da

emissora, transformando-a em um laboratório para alunos, e nem que a Associação e

Movimento Comunitário Rádio Liberdade Comunitária FM de Taubaté use a Universidade

como muleta, furtando-se de realizar sua função comunitária.

Hoje, a Universidade por meio do GRUPPEM trabalha na reestruturação técnica e

artística da emissora, que vai da organização da grade de programação, da estruturação do

processo de captação de apoios culturais, da modernização e adequação dos equipamentos e

pela distribuição eficiente dos voluntários pelos vários setores da emissora.

Organização e Coordenação do Departamento de Jornalismo

Produção de 01 radiojornal diário

Produção de boletins informativos

Lançamento do projeto Radiojornalismo Cidadão para comunidade

Coordenação de projeto de produção/apresentação de programas envolvendo a comunidade

Capacitação da comunidade em atividades técnicas e artísticas como operação de áudio,

produção de programas e locução.

Criação e produção de programas por alunos do Depto de Comunicação

Gerenciamento técnico e artístico

Organização da programação, desenvolvimento da plástica da emissora, criação e gravação

de vinhetas e chamadas e padronização da grade de programação e das inserções de apoio

cultural.

Apoio técnico, manutenção e assessoria na compra de equipamentos e organização e

padronização de espaço

Estruturação de equipe para captação de recursos financeiros através do apoio cultural, com a

redefinição de valores, estratégias e divulgação.

Criação de Tabela de valores

Criação de material institucional

Criação de canal na Web para relacionamento com a comunidade

Criação e manutenção de um blog para divulgação da grade de programação para

sensibilização da Comunidade

Desenvolvimento de estratégias para trazer a comunidade para participar da rádio.

Cartazes a serem distribuídos pelo bairro convidando as pessoas a se tornarem produtores

de conteúdo.

Apoio da Igreja no sentido de convidar os paroquianos nos eventos da igreja para a

participação ativa na emissora, etc.

Transmissão ao vivo de eventos culturais do bairro, com participação da comunidade por

meio de entrevistas.

Parceria com a escola do bairro, capacitando alunos do ensino médio para produzirem

conteúdo para rádio.

É importante que o morador e potencial produtor da emissora adquira consciência do

seu papel como cidadão e parte da comunidade, e que a rádio é um espaço onde esta cidadania

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013 101

pode e deve ser exercida. Que a emissora não seja um cópia mal feita das emissoras

comerciais, mas sim um veículo alternativo para a comunicação da comunidade com a

comunidade. Não substituem [mídia comunitária] a grande mídia e nem tem a

pretensão de competir com ela, mesmo porque esta desempenha um papel

ímpar e indiscutivelmente importante na livre circulação da informação.

Mas contribuem na oferta mais plural de conteúdos e inovam nos

processos de ocupação das grades de programação e na gestão de

veículos, uma vez que são gestados a partir de e pelas organizações da

sociedade civil, na maioria sem fins lucrativos e de interesse social.

(PERUZZO apud PERUZZO, 2003, p. 259, 260)

Considerações Finais

Nestes três anos de trabalho, foi possível atingir alguns dos objetivos desejados. A

reorganização da emissora, no aspecto técnico e artístico, a organização do departamento de

jornalismo e a participação dos alunos da Universidade na programação foram algumas das

vitórias alcançadas. Porém a participação efetiva da comunidade ainda é incipiente. Pretende-

se agora em 2013, por meio de parceria com uma escola do bairro, trazer alunos do ensino

médio para atuarem na emissora.

Compartilhar dos atributos que o meio possui para assim colaborar na implementação

de um sistema de informações que auxilie no aprimoramento da capacidade de participação

dessa parcela da população, é objetivo principal desse projeto.

Entender o rádio como um mediador na relação de comunicação da comunidade

auxiliando-a a construir seus saberes por meio de práticas inovadoras, com o uso da

linguagem radiofônica, é o desafio lançado.

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Page 104: ECCOM 8 - Revista de Educação, Cultura e Comunicação

103

ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

O momento da emoção e do interesse em sala de aula

no processo de produção do gênero infográfico

Diego de Magalhães Barreto Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté. Professor das Faculdades Integradas Teresa

D’Ávila e da Etec Padre Carlos Leôncio da Silva.

Resumo

O objetivo deste artigo é apresentar uma breve análise que verifica se quando as atividades em sala

de aula, nesse caso, produção de infográficos, são realizadas por emoção e por interesse incidem num

maior envolvimento dos alunos. Como metodologia, é apresentada uma pesquisa etnográfica

realizada em uma turma de Curso Técnico de Informática para Internet de uma escola técnica

estadual da região paulista do Vale do Paraíba. A realização da prática concretizou-se dentro de um

Projeto Educacional, o qual parte do ponto de vista de um processo organizado e vinculado ao

conhecimento prévio dos alunos. Após o experimento, chegamos a conclusão que a atividade com

participação do aluno na escolha de tema leva ao prazer e ao engajamento do próprio aluno.

Palavras-chave

Letramento; Emoção e interesse; Gêneros discursivos; Infográfico.

Abstract

The objective of this paper is to present a brief analysis that checks if the activities in the classroom, in

this case, production of infographics, are held by emotion and interest cover a greater involvement of

students. The methodology presents an ethnographic study in a classroom course Computer

Technician for Internet technical school state of São Paulo region of Vale do Paraíba. The practical

realization of materialized within a Educational Project, which begins from the viewpoint of an

organized process and linked to students' prior knowledge. After the experiment, we conclude that the

activity with student participation in the choice of topic leads to pleasure and engagement of the

student himself.

Keywords

Literacy, Emotion and Interest; Genres discursive; Infographic.

Page 105: ECCOM 8 - Revista de Educação, Cultura e Comunicação

104

ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

Introdução

Vivemos em uma sociedade contemporânea que passa por inúmeras mudanças

econômicas, sociais, políticas, culturais e educacionais. As novas tecnologias estão presentes

no dia a dia das pessoas: na vida pessoal, no trabalho, na escola, entre outras esferas da

sociedade.

Cada esfera cotidiana é também uma esfera de circulação de discursos e, de acordo

com Bakhtin (2010), esses tipos relativamente estáveis de enunciados em cada esfera de

utilização da língua são chamados de gêneros discursivos. São várias as esferas; por exemplo,

a esfera familiar, a publicitária, a jornalística, a artística, a política, a jurídica, a escolar, a

científica, assim por diante, e, consequentemente, vários gêneros do discurso.

Eles nem sempre são os mesmos, pois constantemente sofrem atualizações ou

transformações para atender melhor às necessidades sociais, como a carta, que perdeu espaço

para o e-mail, principalmente por não possuir agilidade na transmissão.

Dentre os gêneros disponíveis pela revolução tecnológica que vivemos, está o

infográfico (ver em BARRETO, 2013 a diferença entre infográfico como gênero e como

elemento da construção composicional), que, conforme Teixeira (2010), utiliza

indissociavelmente elementos visuais – como mapas, fotografias, ilustrações, gráficos, entre

outros – e textos.

O presente artigo tem como objetivo apresentar uma breve análise que verifica se

quando as atividades em sala de aula, nesse caso, produção de infográficos desenvolvida com

alunos do curso de Informática para Internet, são realizadas por emoção e por interesse

incidem num maior envolvimento dos alunos.

Letramento

A palavra letramento corresponde ao inglês literacy. Entretanto, muitas traduções da

década de 1990 definiram letramento por alfabetismo. Hoje em dia, entende-se que

alfabetismo tem um foco individual no processo de aquisição de códigos, na obtenção da

“tecnologia” do ler e do escrever (alfabetização), bem como tem relação com as habilidades

escolares de ler e escrever no ensino tradicional. Letrar, segundo Soares (2010), é mais que

alfabetizar, é ensinar a ler e a escrever dentro de um contexto de que as pessoas façam parte e

que tenha sentido para elas, ou seja, um contexto para uma prática social, envolvendo

consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas. De acordo

com Rojo (2009, p.98),

[...] o termo letramento busca recobrir os usos e práticas sociais de linguagem que

envolvem a escrita de uma ou de outra maneira, sejam eles valorizados ou não

valorizados, locais ou globais, recobrindo contextos sociais diversos (família, igreja,

trabalho, mídias, escola etc.), numa perspectiva sociológica, antropológica e

sociocultural.

Dentro dos inúmeros contextos sociais, cada esfera é também uma esfera de circulação

de discursos e, segundo Bakhtin (2010), esses tipos relativamente estáveis de enunciados em

cada esfera de utilização da língua são chamados de gêneros de discurso.

Page 106: ECCOM 8 - Revista de Educação, Cultura e Comunicação

105

ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

Hoje em dia, trabalhar com leitura e escrita em sala de aula é trabalhar com os gêneros

discursivos:

[...] é trabalhar com os letramentos múltiplos, com as leituras múltiplas – a leitura na

vida e a leitura na escola – e que os conceitos de gêneros discursivos e suas esferas

de circulação podem nos ajudar a organizar esses textos, eventos e práticas de

letramento (ROJO, 2009, p.118).

Gêneros discursivos

Nas práticas letradas, inúmeros são os campos da atividade humana e todos eles estão

ligados ao uso da linguagem. Entendemos que a linguagem se manifesta em forma de

enunciados que, para Bakhtin (2010), são a unidade básica da comunicação: acontece num

determinado local e em um tempo determinado, sendo produzido por um sujeito histórico e

recebido por outro que com ele dialoga; assim, cada enunciado é único e irrepetível. Cada

campo de atividade, por exemplo, a familiar, a publicitária, a jurídica, a jornalística, a

artística, a política, a escolar, a científica, segundo Bakhtin (2010, p.261), possui enunciados

que “refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu

conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem [...] mas, acima de tudo, por sua construção

composicional”. Ainda de acordo com o autor, “cada campo de utilização da língua elabora

seus tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2010, p.262), e isso, para ele,

são os gêneros do discurso ou gêneros discursivos.

Os gêneros discursivos estão presentes no dia a dia das pessoas, nos vários campos da

comunicação, desde simples diálogos até documentos detalhados, sendo enunciados

“relativamente estáveis”, determinados sócio-historicamente. Muitos desses gêneros são-nos

dados como nos é dada a língua materna: não os aprendemos em dicionários e gramáticas,

mas sim por meio de uso da linguagem em sociedade, quando os ouvimos, aprendemos e

reproduzimos na comunicação viva com as pessoas que nos cercam. Bakhtin (2010, p.262)

completa:

A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são

inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada

campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se

diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo.

Dessa forma, com o desenvolvimento das tecnologias, aparecem os textos

multimodais, ou seja, os textos que se compõem com elementos verbais e não verbais

(imagens, sons, gestos etc.). De acordo com Kress e Van Leeuwen (apud MOZDZENSKI,

2008), num texto multimodal, a escrita é somente uma das formas de representação das

mensagens, devendo-se levar em consideração os inúmeros modos semióticos, que, nessa

perspectiva teórica, são as diversas formas de representação produzidas na comunicação

dentro de um contexto social.

Logo, os gêneros orais e escritos são multimodais, pois segundo Dionisio (2011),

sempre juntamente com o uso das palavras, utilizamos outros modos de representação, como

os gestos, as entonações, os sorrisos, as tipografias, as cores, as animações, entre outros.

Assim, “quando falamos ou escrevemos um texto, estamos usando no mínimo dois modos de

representação” (DIONISIO, 2011, p.139).

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

Além dos modos semióticos dos gêneros orais, os avanços tecnológicos,

predominantemente o da informática e o das técnicas de impressão, auxiliaram nas novas

formas de apresentação da escrita. Enquanto, tempos atrás, as características de antigos

periódicos, jornais e gazetas mostravam que os recursos imagéticos eram limitados, eram

textos com pouca ou quase nenhuma ilustração ou imagem; nos dias atuais, esses meios de

comunicação começaram a utilizar uma série de elementos visuais com o intuito de atrair a

atenção do leitor: uso de tipografias diferentes, cores, layouts, símbolos, caricaturas etc.

Exemplo disso são os infográficos, que se tornaram cada vez mais frequentes tanto na mídia

impressa quanto na mídia digital.

Infografia

Infográfico, segundo Faria (1996, p.158), é o:

Conjunto de informações (textos, desenhos, gráficos) posto de forma esquemática

para situar rapidamente o leitor sobre determinado assunto. As informações são

colocadas de maneira didática e geralmente em ordem cronológica de episódios,

quando o assunto já vem sendo destaque há mais tempo. A parte escrita não aparece

em forma de texto contínuo e sim através de frases curtas, que resumem o fato

ocorrido e seus desdobramentos anteriores.

Concordando com a autora, temos que os infográficos são elementos visuais aliados ao

texto verbal, de uma maneira enxuta e reduzida, e cumprem o papel de informar.

O infográfico é uma relação indissociável entre imagem e texto e pode ser constituído

por ilustrações, gráficos, fotografias, mapas e outros recursos visuais. Assim também, o

infográfico é uma forma mais simples e clara de transmitir informações complexas o bastante

para serem comunicadas apenas por texto. Teixeira (2010, p.18) define o termo como:

[...] uma modalidade discursiva, ou subgênero do jornalismo informativo, na qual a

presença indissociável de imagem e texto – e imagem, aqui, aparece em sentido

amplo – em uma construção narrativa permite a compreensão de um fenômeno

específico como um acontecimento jornalístico ou o funcionamento de algo

complexo ou difícil de ser descrito em uma narrativa textual convencional.

Outra autora, Módolo (2007), explana que o termo infográfico vem do inglês

informational graphics e significa uma mensagem transmitida visualmente, mas com

informação, ou seja, a linguagem verbal que está a serviço da imagem. Segundo ela, a

principal característica de um infográfico é a conectividade e a interatividade entre texto e

imagem. Inegavelmente, a imagem não existe sozinha e o texto também não, um é aliado ao

outro. Com isso a imagem deixa de ter somente o papel de ilustrar o texto escrito e se

apresenta juntamente com a informação. Também são percebidas nos infográficos a clareza e

a objetividade dessa linguagem: eles visam atrair o público pela forma chamativa da

informação e, além disso, facilitar a compreensão da mensagem.

O binômio “imagem e texto” não tem como princípio uma função apenas expositiva, e

sim explicativa. Por isso, o infográfico deve favorecer o entendimento de algo. Logo, como

no jornalismo, deve manter a fidedignidade, construindo a narrativa de forma que remeta ao

que aconteceu: no caso de um acidente de um carro que bateu em um muro, por exemplo, não

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

adianta a representação ser de um carro qualquer em um muro qualquer; o infográfico é fiel

em sua representação visual.

Acreditamos que os infográficos sejam ótimas contribuições para auxiliar no ensino e

na aprendizagem de diversos tipos de conteúdos, primeiramente chamando a atenção e

instigando e, posteriormente, exercendo sua função de informar.

O momento da emoção e do interesse em sala de aula

Estamos vivendo em uma fase de mudança e a educação também precisa se atualizar,

mudar. A educação, de acordo com Vygotsky (2004), deve possibilitar outras facetas, outras

possibilidades que não mais aquela em que o professor é o detentor do saber, aquela em que

os alunos são meros espectadores, não participam, não experimentam de qualquer emoção.

Vygotsky (2004, p.448) explana sobre o novo papel importante do professor: “Cabe-lhe

tornar-se o organizador do meio social, que é o único fator educativo”. Ao fazer a

organização, o professor também reorganiza seu papel e o papel de seus alunos perante a

aprendizagem. O professor assume o papel de mediador de conhecimentos na construção do

saber, passando a ter uma postura ressignificada, abrindo caminhos e possibilidades para que

os alunos busquem novos conhecimentos em um processo participativo.

A sala de aula deve ser um ambiente de vivência, de convivência, de trocas de

conhecimentos, e os professores devem entender os alunos não como seres pensantes, mas

como sujeitos que sentem. Os alunos e professores devem ser efetivamente cúmplices do ato

de ensinar e aprender, transformando e compartilhando os aspectos cognitivos e também os

afetivos. Dessa forma, Renda e Tápias-Oliveira (2007, p.322) apontam, em análise aos dados

de sua pesquisa, e que corroboramos, que “a leitura e a escrita, quando desenvolvidas por

prazer, incidem em maior envolvimento do sujeito. Esse tipo de atitude frente ao objeto, pelos

enunciados analisados, não goza da mesma qualidade em atividades realizadas por

obrigação”. Sendo prazeroso, o que é lido é sempre passado para frente, colocado em prática,

discutido; ao contrário do que acontece quando algo é feito por obrigação.

Assim, conforme Vygotsky (2004, p.145), “[...] o momento da emoção e do interesse

deve necessariamente servir de ponto de partida a qualquer trabalho educativo.”

Metodologia

Este estudo é fruto de uma pesquisa etnográfica, realizada na Escola Técnica Estadual

(Etec) Padre Carlos Leôncio da Silva, situada no município de Lorena/SP, para os alunos do

Curso Técnico de Informática para Internet (antigo Web Design), nossos sujeitos de pesquisa.

A pesquisa etnográfica tem como característica a interação entre o pesquisador e os

seus objetos de estudo, além de um envolvimento direto e intenso na pesquisa; na educação,

tem como propósito “descrever, analisar e interpretar uma faceta ou segmento da vida social

de um grupo e como isso se relaciona com a educação” (MOREIRA; CALEFFE, 2006, p.86).

Para realização da pesquisa, obtivemos um total de 25 sujeitos, os quais prontamente

aceitaram participar e fizeram parte deste estudo. A intenção da atividade, a qual faz parte de

uma dissertação de Mestrado (BARRETO, 2013), era desenvolver um gênero infográfico com

um assunto de interesse. Efetuamos uma prática com a utilização de Projetos Educacionais em

Sala de Aula (GIACAGLIA; ABUD, 2003), que segundo os autores, consiste no

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planejamento e na organização de atividades que objetivem uma experiência ativa por parte

dos alunos, a partir de seu repertório, e que tenham relação com o programa pedagógico.

Assim, tivemos as seguintes etapas para elaboração da atividade: conversa inicial

sobre Projeto Educacional, gêneros discursivos e infográficos; discussão sobre infográfico e

pesquisa de modelos pelos próprios sujeitos a partir de orientações dadas pelo professor;

pesquisa de outros exemplos de infográficos e escolha do tema de interesse para produção dos

infográficos em duplas ou individualmente; preenchimento da ficha de auxílio à criação de

infográfico fornecida pelo professor; pesquisa sobre o assunto de interesse (texto e imagem)

para a elaboração de infográfico e a produção do gênero infográfico mediante explicação das

ferramentas dos softwares de criação e editoração de imagens e da teoria de design pelo

professor e; por fim, a entrega dos infográficos pelos sujeitos.

Durante a atividade, os sujeitos elaboraram diários retrospectivos (num total de 3),

que foram enviados por e-mail ao professor-pesquisador após determinadas etapas da

atividade realizada em sala de aula. Nossa intenção era que o diário retrospectivo servisse

como um instrumento de reflexão dos sujeitos e de seu processo no desenvolvimento da

atividade, a fim de que pudessem expressar suas facilidades e dificuldades (TÁPIAS-

OLIVEIRA, 2006) no decorrer da criação do produto final. Passemos à análise dos dados

quanto ao nosso objetivo.

Análise de dados: o momento da emoção e do interesse no

processo de produção do gênero infográfico

Procederemos à análise dos enunciados, os quais serão numerados sequencialmente

como E1, E2, E3... Para manter o anonimato e apresentar mais de um enunciado do mesmo

aluno ou dupla, os sujeitos também serão dispostos por ordem numérica: sujeitos 1, 2, 3...

Acrescentamos que os excertos foram corrigidos quanto a eventuais problemas no uso da

norma padrão (acentuação, ortografia, concordância...), para efeito de clareza, preservando,

entretanto, as marcas de informalidade características do grupo social; os grifos são dos

próprios sujeitos. As palavras ou os trechos em itálico são as marcas linguísticas que

analisaremos.

Uma das primeiras etapas da atividade de elaboração do infográfico, como já exposto

anteriormente, foi solicitar aos nossos sujeitos de pesquisa que escolhessem um tema pelo

qual se interessassem, partindo, assim, conforme afirma Vygotsky (2004), do momento da

emoção e do interesse. Ao longo da pesquisa, percebemos que isso ficou evidente. Vejamos

abaixo alguns extratos.

(E1) Sujeitos 4 e 15 - 1º diário

No nosso infográfico, o tema será sobre música, escolhemos esse tema porque gostamos de

música. [...]

(E2) Sujeitos 8 e 12 - 1º diário

Escolhemos fazer este infográfico porque gostamos de dança [...].

(E3) Sujeitos 7 e 9 - 2º diário

Escolhemos o assunto sobre música, rock, por ser um assunto que agrada a equipe. [...]

(E4) Sujeitos 19 e 21 - 1º diário

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[...] O tema não foi difícil de escolher devido o gosto da dupla por animes e com isso facilitou

a pesquisa. [...].

(E5) Sujeito 11 - 2º diário

[...] uni minha imaginação com o conhecimento que tenho sobre o assunto. Portanto, não me

foi nada difícil desenvolver o tema do trabalho, antes foi prazeroso.

(E6) Sujeitos 16 e 25 - 2º diário

Hoje, a aula foi de infográfico e foi bem legal; sentamos em duplas, pesquisamos o que é

infográfico, escolhemos um tema por qual nos interessamos e fizemos nosso próprio

infográfico sobre o skate.

(E7) Sujeitos 19 e 21 - 2º diário

Gostamos da aula, pois é um pouco diferente e o legal é fazer um infográfico sobre algo que

gostamos.

(E8) Sujeitos 4 e 15 - 3º diário

[...] Desde o começo, eu e minha parceira nos empenhamos muito em fazer o infográfico

porque o assunto que escolhemos nos interessou bastante e isso contribuiu muito para o

desenvolvimento do projeto porque nós tínhamos o estímulo de pesquisar e fazer bem feito.

Entendemos que a prática deveria partir de um pressuposto da solicitação de um tema

pelo qual os sujeitos tivessem afinidade, gostassem, pois acreditamos no dizer de Renda e

Tápias-Oliveira (2007, p.309) para quem é importante “mudar nosso modo social de entender

os alunos, não só como sujeitos pensantes, mas também como sujeitos que sentem”. Em E1,

E2 e E3 observamos, na manifestação dos sujeitos, a presença de marcas de caráter volitivo,

ou seja, relacionadas à vontade, como o verbo gostar, agradar; respectivamente nos

enunciados, a escolha do assunto foi feita porque gostamos de música ou porque gostamos de

dança ou ainda por ser um assunto que agrada a equipe. Em E4 e E5, também encontramos

essa marca: no primeiro, quando os sujeitos afirmam que o gosto pelo tema não tornou a

escolha difícil e, além disso, facilitou a pesquisa; e no segundo relato, o sujeito também

afirma que, ao unir a imaginação com o conhecimento, não encontrou dificuldades ao optar

pelo tema, e completa dizendo que isso foi prazeroso. Em E6, essa escolha pelo que se

interessa tornou a aula bem legal e, em E7, a dupla afirmou gostar da aula por trabalhar com

infográfico, pois foi um pouco diferente, e também por fazer a atividade sobre algo que

gostam. Por fim, no enunciado E8, verificamos que, diante disso, de se trabalhar com o que

gostam, há o empenho e a dedicação dos alunos e, conforme os próprios sujeitos afirmaram:

nós tínhamos o estímulo de pesquisar e fazer bem feito.

A evidência encontrada nos relatos citados, relacionada à escolha do tema por parte

dos alunos ou duplas, deixa claro que Renda e Tápias-Oliveira (2007) estão com razão, pois

nossos sujeitos, ao escolherem um tema de seu interesse, e não um tema imposto com o qual

eles não tivessem afinidade, ficaram predispostos à atividade. Dessa forma, acreditamos que

houve o “fortalecimento da autoestima dos alunos, para sua própria produção” (TÁPIAS-

OLIVEIRA; RENDA, 2011, p.63). Assim, fica claro que, quando o aluno-futuro-profissional

trabalha com aquilo de que gosta, com aquilo com o qual tem afinidade, a atividade fica mais

leve, e a aprendizagem de novos conteúdos vem acompanhada da vontade de aprender.

Essa atitude de usar a afetividade positiva deve sempre existir em processos

educativos, para que instigue e estimule a participação mais efetiva do aluno, pois, para

Vygotsky (2004, p.144), “antes de comunicar esse ou aquele sentido, o mestre deve suscitar a

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respectiva emoção do aluno e preocupar-se com que essa emoção esteja ligada a um novo

conhecimento”.

Os próximos excertos que analisaremos têm como foco o trabalho com o Projeto

Educacional e, no nosso caso, com os infográficos:

(E9) Sujeitos 7 e 9 - 3º diário

[...] enfim, exceto em suas dificuldades, o infográfico foi muito interessante e algo inédito de

se trabalhar.

(E10) Sujeitos 8 e 12 - 3º diário

No final de tudo isso, gostamos de realizar essa atividade de fazer um infográfico, pois é uma

coisa que é exibida em todos os lugares, mas este foi um que nós mesmos fizemos.

Nos enunciados E9 e E10, percebemos a satisfação dos alunos em participarem do

Projeto Educacional trabalhando com infográficos. Detendo-nos mais nos enunciados, em E9,

os sujeitos, mesmo cientes das dificuldades, consideram o trabalho com infográfico muito

interessante e algo inédito. Já no enunciado E10, novamente, é notado o uso do verbo gostar e

seu caráter volitivo: os sujeitos afirmam ter gostado de realizar a atividade, por ser uma

coisa que é exibida em todos os lugares, mas este foi um que eles mesmos fizeram. Além

desse caráter, acreditamos que a afirmação e o uso da conjunção adversativa mas evidencia o

gosto por realizar o infográfico, pois, apesar de encontrar outros infográficos em diversas

revistas, jornais e Internet, aquele foram eles próprios que fizeram.

Um aspecto a ser considerado a favor de Projetos Educacionais é que eles acabam por

determinar um objetivo aos alunos-autores, que se preocupam com a finalidade do projeto em

si, e todos os recursos para realizar o seu objetivo acabam sendo assimilados facilmente.

Dessa forma, a atividade passou a ser significativa e, de acordo com Vygotsky (2004, p.171),

não será um conhecimento inútil. Diz o pensador russo:

Se eu conservo na memória milhares de conhecimentos úteis mas não posso usá-los

no momento necessário e adequado, tais conhecimentos serão em mim um peso

pesado e não só não serão úteis no comportamento como ainda trazem um evidente

prejuízo por ocuparem espaço e não permitirem o estabelecimento e a elaboração de

outras reações menos ricas porém mais verdadeiras pelo sentido.

Conclusão

Concluindo, notamos escolhas linguísticas nos excertos analisados que apontam para a

atividade, como o uso de marcas volitivas indicando o gostar durante a aprendizagem. De

acordo com Vygotsky (2004) e Renda e Tápias-Oliveira (2007), quando uma atividade é

realizada por prazer pelos alunos, com base no seu interesse e na sua satisfação, ela é

executada com maior envolvimento e predisposição; isso torna a aprendizagem mais fácil e o

engajamento dos alunos mais efetivo, como, de fato, aconteceu: os sujeitos, ao escolherem um

tema pelo qual tinham interesse, ao invés de realizá-la como uma atividade obrigatória

proposta pelo professor, produziram infográficos de forma mais participativa e “com gosto”,

como muitos afirmaram.

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

Assim, trabalhar com aquilo de que se gosta na realização de um Projeto Educacional

é fundamental para a mudança de postura do aluno; dessa forma, corroboramos o que dizem

Giacaglia e Abud (2003, p.58) ao afirmarem que, quando os alunos estão “envolvidos em um

trabalho ‘real’, tratando com pessoas e Instituições ‘reais’”, isso os torna “responsáveis e

conscientes de suas atividades”. Dessa maneira, refletem sobre o que estão produzindo, e isso

pode resultar em “aprendizagem efetiva e duradoura” (GIACAGLIA; ABUD, 2003, p.58):

como o aluno se sente mais à vontade, passa a se envolver mais, tornando-se autônomo e

consciente de suas próprias atitudes.

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Page 114: ECCOM 8 - Revista de Educação, Cultura e Comunicação

ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

113

Sérgio Mattos, e sua relação com o Pensamento

Comunicacional Latino-americano

Débora Burini Bacharel em Comunicação Social na habilitação Rádio e Televisão (1989), Mestre em Comunicação e

Semiótica pela PUC de São Paulo (1996), e Doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de

São Paulo-UMESP. Atuou desde 1988 em emissora de televisão, e participou como membro do Conselho

Deliberativo da Direção do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (1995). Professora

universitária desde 1995 atuou na Universidade de Taubaté, FAAP e Faculdade Cásper Líbero. Atualmente

ministra aulas na Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.

Resumo

Este artigo parte da analise das ideias produzidas por pensadores representativos da Escola Latino-

Americana de Comunicação. Propõe-se elaborar um perfil das idéias do jornalista, compositor,

poeta, e escritor brasileiro Sérgio Augusto Soares Mattos, focalizando suas matrizes intelectuais, e

identificando suas fontes no âmbito do pensamento comunicacional latino-americano. O artigo

adotou como procedimentos metodológicos a pesquisa bibliográfica e um estudo bibliométrico de

amostra da obra do pensador, que vem contribuindo firmemente com pesquisas sobre a história da

mídia regional na Bahia, e a análise e registro histórico da televisão.

Palavras-chave

Comunicação; Pensamento Comunicacional; Mídia Regional; Televisão.

Abstract

This article is part of the analysis of ideas produced by representative thinkers of the Latin American

School of Communication. Propose to develop a profile of the ideas of the journalist, songwriter, poet,

and writer Sergio Augusto Soares Mattos, focusing their intellectual matrices and identifying their

sources within the communicational thinking Hispanic. Article methodological procedures adopted as

the research literature and a bibliometric study sample of the work of the thinker who has contributed

strongly to research on the history of regional media in Bahia, and the analysis and recording of

television history.

Keywords

Communication; Thinking Communicational; Regional Media; Television.

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

114

Introdução

Os conceitos desenvolvidos por Theodor Adorno, Armand Mattelart, Roland Barthes,

Umberto Eco, Paulo Freire, entre tantos outros pensadores, fundamentam até hoje as

pesquisas realizadas no Brasil e na América Latina, como os de “hegemonia e sociedade

civil” de Antonio Gramsci, e “o meio é a mensagem” de McLuhan.

O pensamento comunicacional latino-americano tem conquistado espaços dentro dos

estudos midiáticos. Inicialmente as pesquisas da área se limitavam a registrar os fatos pela

documentação descritiva. Mas, logo após o surgimento dos primeiros cursos de graduação em

jornalismo e publicidade e propaganda, o pensamento comunicacional latino-americano

ganhou seu primeiro reconhecimento efetivo.

O PCLA (Pensamento Comunicacional Latino-americano) possui peculiaridades

teóricas, graças à formação híbrida em sua personalidade cultural. Tais conceitos têm

conquistado força entre os pesquisadores imunes aos modismos teóricos, além de ganhar cada

vez mais espaço nas pesquisas de outros continentes quando o assunto é o pensamento

comunicacional latino-americano.

A escolha do tema “Pensamento Brasileiro”, trouxe para o debate um dos maiores

representantes da geração de pesquisadores atuais, o jornalista, poeta e escritor cearense com

alma baiana, Sérgio Mattos. Ele é considerado um estudioso da Comunicação de Massa e suas

relações com a política e a censura, o que vem contribuindo para a formação e

conscientização direta dos futuros comunicólogos e profissionais da área.

O diálogo proporcionado pela pesquisa foi fundamental para compreender em parte, as

matrizes de formação intelectual do pesquisador. A escolha do livro “A televisão no Brasil:

50 anos de história (1950-2000)” de Sérgio Mattos, foi definida por se tratar de uma obra

produzida em meio às comemorações do 50° aniversário da televisão brasileira. A obra

buscou resgatar a trajetória histórica da televisão, registrando as influências socioculturais e

políticas que interferiram direta e indiretamente no seu processo de desenvolvimento.

O artigo não tem a pretensão de analisar minuciosamente todas as obras do

pesquisador Sérgio Mattos, mas propõe uma reflexão sobre suas idéias e conceitos, além de

compreender a relação do autor com o pensamento comunicacional latino-americano.

O procedimento metodológico adotado vai da pesquisa bibliográfica e da análise dos

resultados, da realização de um estudo bibliométrico de amostra da obra, até a audição de

parte do acervo musical que o próprio pesquisador mantém atualizada em sua home page

http://www.sergiomattos.com.br/musica.html, de domínio virtual hospedada no provedor A

Tarde, e que proporciona um olhar diferenciado para construir a imagem de Sérgio Mattos de

forma autêntica e legítima.

Um cearense com alma baiana

(...) Ai que saudade do tempo do candeeiro, do namoro na praça da matriz

das brincadeiras de criança e das morenas da vizinhança (...) (MATTOS,

s/d)1

1 Ai que saudade! Composição de Sérgio Mattos e Kareka,

Disponível em: <http://www.sergiomattos.com.br/int_mus3.html> Acesso em: 20 de março de 2013.

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

115

A história do cearense com alma baiana Sérgio Augusto Soares Mattos se inicia em 1°

de julho de 1948, na cidade de Fortaleza, no Ceará. Era o primogênito de uma família que

teve sete filhos, seus pais humildes possuíam apenas o ensino fundamental. Desde cedo, aos

11 anos de idade escrevia crônicas e poemas no Ginásio São Bento e no Seminário Central da

Bahia, para onde se mudou em 1959, mesmo ano da criação do Centro Internacional de

Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina – CIESPAL2 na cidade de Quito,

Equador.

Aos 16 anos Sérgio Mattos iniciou seu trabalho no jornal A Semana, da Arquidiocese

de Salvador onde fazia de tudo.

Como jornalista na imprensa baiana desde 1968 exerceu praticamente todas as funções

dentro de uma redação, de repórter a secretário de redação.

Sua aproximação com a pesquisa em comunicação social aconteceu quando se torna

bacharel em Jornalismo em 1971. É o próprio Sérgio Mattos quem descreve em entrevista

concedida a Iluska Coutinho3:

Durante o meu curso universitário eu já atuava na imprensa diária de

Salvador, mas sempre tive uma queda pela pesquisa e foi exatamente no

período da formação universitária que exercitei minhas primeiras pesquisas

no campo do jornalismo (censura dos meios de comunicação) e sobre

veículos (jornal, rádio e televisão) que, por sinal persistem até hoje como

meus campos de pesquisa preferidos (MATTOS In HOHLFELDT e GOBBI,

2004, p.164).

No dia 25 de setembro de 1997 a Assembléia Legislativa do Estado da Bahia outorgou

a Sérgio Mattos, em sessão especial, o título de cidadão baiano. Sérgio Mattos também

recebeu título de cidadania em outros municípios como Itabuna, Juazeiro, Santo Antônio de

Jesus, Piritiba, Cruz das Almas, São Felipe, Feira de Santana e Cachoeira.

Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia em 1971, Mestre em

Comunicação em 1980, e Doutor em 1982.

Sérgio Mattos realizou o mestrado em Comunicação na THE UNIVERSITY OF

TEXAS, AUSTIN – Estados Unidos, orientado por Jorge Reina Schemment com a

dissertação intitulada: “The Impact of Brasilian Military Government on The development of

TV in Brasil”.

O título de Doutor em Comunicação também foi conquistado na THE UNIVERSITY

OF TEXAS, AUSTIN - Estados Unidos, e teve como orientador Emile G. McAnany. A tese

intitulada: “Domestic and Foreign Advertising in Television and Mass Media Growth: A Case

Study of Brazil”, foi uma importante pesquisa sobre comunicação de massa e a suas relações

com as ditaduras militares. Escreveu sobre as relações entre a publicidade, nacional e

internacional, no desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, a partir da análise do

caso brasileiro.

Meus dois orientadores eram ligados ao grupo de Everet M. Rogers e Wilbur

Schramm e logo também passei a fazer parte deste colégio invisível, lendo

2 O CIESPAL tinha por objetivo propor novos formatos e métodos de ensino superior em comunicação, promovendo cursos a

professores e jornalistas da América Latina por especialistas da Europa e dos Estados Unidos. O CIESPAL revelou-se como

um importante passo para estimular as pesquisas no continente americano. 3 COUTINHO, Iluska. Sérgio Mattos um perfil intelectual.

Disponível em: <http://www.sergiomattos.com.br/curriculo.html> Acesso em: 25 de março de 2013.

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

116

textos dos pesquisadores da Califórnia, do Texas e de Londres. Pelo tipo de

pesquisa que realizei mantive contatos pessoais e com a obra também de

brazilianistas como John F. Dulles, Wayne Selcher, Albert Fishlow, Thomas

Skidmore entre outros, além de pesquisadores norte-americanos, ingleses e

latino-americanos que pesquisavam ou estavam também interessados, como

eu, na influência da publicidade multinacional no desenvolvimento dos

veículos de comunicação a exemplo de Herbert Schiller, Jeremy Tunstall,

Lee Chin-Chuan (que examinavam o imperialismo na mídia), Robert White,

John Kochevar, Noreene Janus, Rafael Roncagliolo, Luis Ramiro Beltran,

Elizabeth Fox, Juan Garguverich, Juan Diaz Bordenave, Fernando Reys

Matta, Armand Mattelart e muitos brasileiros entre eles José Marques de

Melo, Carlos Eduardo Lins da Silva, Ana Maria Fadul , Sérgio Capparelli ,

Muniz Sodré etc. (MATTOS In HOHLFELDT e GOBBI, 2004, p.169)

Estudioso da comunicação com especial ênfase para a análise e registro histórico da

televisão, poeta e compositor que se identifica muito com o sertão nordestino, jornalista,

cronista, e pesquisador universitário, Sérgio Mattos é membro da Associação Baiana de

Imprensa (ABI), do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IHGB), da Academia de Letras

e Artes de Feira de Santana (ALAFS), e da Academia de Letras e Artes de Salvador (ALAS).

O jornalista também é sócio correspondente da Academia Santamarense de Letras, e

membro da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

(INTERCOM), que nasceu em 1977 com o propósito de organizar e valorizar a comunidade

científica da comunicação social no Brasil, e oferecer visibilidade internacional as produções

latino-americanas.

Na carreira profissional Sérgio Mattos ocupou o cargo de Diretor e Editor do Jornal A

TARDE de Salvador. Docente da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da

Bahia. Contribuiu com a instalação do Mestrado em Comunicação e Cultura Contemporânea

na UFBA. Foi Diretor Geral do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia.

No INTERCOM, ocupou a Coordenação do Grupo de Trabalho em Televisão (1994-

2000), hoje núcleo de pesquisa em tv. Dos 56 trabalhos apresentados ele gerou dois livros: “A

televisão e as políticas regionais de comunicação” n° 6 (1997), e “A televisão na era da

globalização” n° 9 (1999).

Em 1994 publicou um relato da produção acadêmica na UFBA intitulado

“Bibliografia dos Docentes do Departamento de Jornalismo: produção científica, literária e

artística”. Segundo o professor Dr. Edivaldo Boaventura (1994), a publicação é uma projeção

de um grupo que faz a Academia, mas também trabalha no jornal, na televisão e na

publicidade.

Sérgio Mattos tem 58 anos de idade, é casado com Denise, tem dois filhos, uma neta e

três enteados, aposentou-se em dezembro de 1997, e em março de 2000 assumiu a Direção do

Campus de Ciências Humanas da Unibahia onde mantém até hoje a coordenação da área de

Extensão de Pesquisa e Pós-Graduação.

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

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Escritor, compositor e poeta

(...) A floresta geme a serra canta o gemido ecoa. Eco, eco, ecologia. É de

noite, é de dia, a moto-serra, serra destruindo a vida da terra (...) (MATTOS,

s/d)4

O trabalho do poeta e escritor Sérgio Mattos surge na década de 60, quando ele

começa a participar dos movimentos literários da Bahia. Em 1968, com Ivan Dorea Soares,

Sérgio Mattos criou a revista de poesias Experimental, que serviu para lançar cerca de 30

jovens poetas baianos.

Mais tarde tem seus trabalhos publicados em diversas revistas e suplementos literários

do país, tendo participado de coletâneas como, Cinco Poetas Contemporâneos e Retina. Para

ele: “ser poeta é ser intermediário, fonte e destinatário” (In HOHLFELDT e GOBBI, 2004).

Sérgio Mattos possui forte identificação com o sertão nordestino que mereceu a

criação do primeiro pôster-poema ilustrado por artistas plásticos.

Em 1973, lançou o livro Nas Teias do Mundo, pela Empresa Gráfica da Bahia e em

1979 o mesmo livro foi traduzido para o inglês (Time´s Sentinel) pela professora Maria Luiza

Nunes, da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.

Em 1977, lançou a obra O Vigia do Tempo e produziu um poema que mais tarde seria

publicado em livro, Censura – Amor – Dança – Pensamento: Amordaçamento.

Em 1978, pelo Centro Editorial e Didático da UFBA, editou um livro de crônicas

infanto-juvenil, intitulado A Batalha de Natal.

Em 1980, mais uma obra teve tradução para o inglês, Já Não Canto, Choro (I No

Longer Sing, I Cry).

Outras obras também merecem destaque, Lançados ao Mar (1985), Asas para Amar

(1995), e Estandarte (1995) que seria traduzido para a língua francesa em 1999.

Para Sérgio Mattos (2004, p.171), “quem trabalha com poesia acaba trabalhando

simultaneamente também com a música, graças à sonoridade das palavras e do próprio

poema”. O compositor já possui mais de 200 músicas compostas, especialmente do gênero

forró, um dos mais autênticos ritmos do Nordeste e da Música Popular Brasileira. Algumas

músicas são em parceria com compositores regionais como, Kareka, Adelmário Coelho, João

Caetano, Bira Paim, Quininho de Valente, Edil Pacheco, e Vizek.

Sérgio Mattos (2004, p.171) produziu três CD´s individuais sem saber cantar e nem

tocar nenhum instrumento, dezenas de canções foram gravadas por diversos intérpretes.

Todos os álbuns tiveram a preocupação de preservação dos ritmos regionais e de suas raízes

culturais como, por exemplo, Esquentando o Terreirão, (Sérgio Mattos e), Mulher Especial,

Abre a Porta, Ai Que Saudade) São João Baiano, Corpo Nu (Sérgio Mattos e Kareka), Moça

Dançadeira (Sérgio Mattos e Vizek), 500 Anos de Brasil (Sérgio Mattos, Adelmário Coêlho e

João Caetano), Mulher Fagueira (Sérgio Mattos, Bira Paim e Quininho de Valente), e Amor

Perdido (Sérgio Mattos e Bira Paim).

4 Ecologia. Poema de Sérgio Mattos e co-participação do artista plástico Fernando Freitas Pinto.

Disponível em: < http://www.sergiomattos.com.br/poes_ecologia.html> Acesso em: 20 de março de 2013.

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ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

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Por que Texas? Por que Austin?

No mesmo ano de criação da INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos

Interdisciplinares da Comunicação em 1977, Sérgio Mattos se submeteu à seleção da Laspau-

Fulbright, organismo de apoio à pesquisa científica que concedia bolsas de estudos na área de

Comunicação para a América do Sul.

Após conquistar a bolsa de estudos para o mestrado em 1978, Sérgio Mattos se mudou

para os Estados Unidos e iniciou uma nova fase na vida de pesquisador. Ele tinha

conhecimento de que na maior universidade pública dos Estados Unidos, Universidade do

Texas em Austin havia o maior Centro de Estudos Latino-Americanos, o ILAS – Institute of

Latin American Studies.

A Universidade do Texas mantém o Instituto de Estudos Latino-americanos, um dos

mais importantes nesse campo, nos Estados Unidos. Abriga o Brazil Center, instituído há

cerca de dez anos, com 28 especialistas em estudos brasileiros – antropólogos, cientistas

políticos, lingüistas e historiadores – e uma biblioteca com expressivo acervo de documentos

sobre o Brasil e a América Latina. A importância da biblioteca é atestada pelo número de

estudiosos brasileiros que acorrem ao centro para consultar a bibliografia existente.

Sérgio Mattos (2004, p.168) recorreu à biblioteca LBJ – Library B. Johnson, pois ela

abrigava inclusive documentos dos governos militares do Brasil, sobre o golpe de 64 e sobre

outros países latino-americanos, tema que o pesquisador tinha como objetivo estudar. A

ênfase dada ao tema mereceu inclusive um sub-capítulo em seu livro “A televisão no Brasil:

50 anos de história (1950-2000)”.

Como bolsista da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior, Sérgio Mattos permaneceu em Austin para realizar seu doutorado orientado por

Emile G. McAnany, que fazia parte do grupo de estudos ligados à Everet M. Rogers e Wilbur

Schramm apelidado por Sérgio Mattos de “Colégio Invisível”. O termo foi designado para

representar a consolidação de uma subárea de estudos da Comunicação conhecida por

Comunicação e Desenvolvimento, onde temas como meios de comunicação de massa com

enfoque econômico, e social positivo eram estudados. Segundo Marques de Melo (2003,

p.54), Wilbur Schramm definiu Comunicação como um “processo social básico”, e

vislumbrou um campo científico caracterizado por amplitude cognitiva e pluralidade

metodológica.

Segundo Mattos (2004, p.169), “só compreenderemos o que ocorre com a mídia se

entendermos o seu desenvolvimento dentro do contexto sócio-econômico, político, social e

cultural de cada país”. Ainda segundo Mattos (2000, p.14), o caso brasileiro vai de encontro

às previsões e projeções baseadas nas primeiras constatações dos teóricos da dependência, e

exemplifica afirmando:

O caso do Brasil nos leva a repensar as suposições e hipóteses de inúmeras

teorias que vêm estudando o desenvolvimento dos meios de comunicação,

principalmente a televisão, nos países periféricos e em especial no Brasil.

Exatamente por isso acreditamos que estudos de caso podem ser de maior

utilidade para se compreender o crescimento da mídia no Brasil do que

muitas abordagens que tentam estudar a evolução da televisão brasileira a

partir, e unicamente, de uma perspectiva global. (MATTOS, 2000, p.14)

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Durante todo o tempo em que esteve nos Estados Unidos, Sérgio Mattos aproveitou

para produzir e publicar em inglês, duas teses, dois livros de poesias, e dois livros técnicos,

além de buscar inspiração para a composição de algumas músicas.

Em 1982 termina seu doutorado em Austin com um saldo positivo em relação à

produção acadêmica, e traz na bagagem de volta ao Brasil conhecimentos capazes de suscitar

sua sede pela pesquisa agora em terras baianas.

(...) No Brasil agente tem ouro, ferro, bronze e prata futebol, samba e forró.

Loira, morena e mulata. A força desta união faz esta grande nação (...)

(MATTOS, s/d)5

Reconhecimento

Sérgio Mattos recebeu vários prêmios6, entregues em reconhecimento ao valor das

pesquisas desenvolvidas em relação aos meios de comunicação de massa e especialmente a

televisão. Sempre esteve preocupado em contextualizar historicamente os problemas sócio-

econômicos, políticos e culturais relacionados ao seu objeto de estudo. Dentre os 28 prêmios

recebidos ao longo de sua trajetória acadêmica profissional, o destaque fica por conta de dois

deles: Prêmio de Comunicação Luiz Beltrão na categoria Maturidade Acadêmica no ano de

2000 na INTERCOM, e Troféu Jorge Amado de Cultura e Arte (Ano IV), da Fundação Jorge

Amado, Ilhéus, Bahia, em 2001.

As idéias do professor

Sempre engajado com as pesquisas sobre os problemas comunicacionais latino-

americanos, Sérgio Mattos defende que é preciso analisar o contexto histórico de cada país e

seus impactos no desenvolvimento da mídia, em lugar de aplicar e comprovar todas as teorias

de comunicação de massa anteriormente utilizadas. É o próprio professor quem analisa:

Acredito – toda linha de minha pesquisa segue este princípio – que só

compreenderemos o que ocorre com a mídia se entendermos o seu

desenvolvimento dentro do contexto sócio-econômico, político, social e

cultural de cada país. Esta é uma proposição conceitual para analisarmos a

mídia que venho defendendo nos últimos 25 anos (MATTOS In

HOHLFELDT e GOBBI, 2004, p.169).

Durante o período em que esteve nos Estados Unidos realizando seus estudos do

mestrado e do doutorado, Sérgio Mattos pesquisou sobre o caso do Peru e o caso do Brasil no

que diz respeito ao desenvolvimento da comunicação de massa em países dominados pelo

regime militar, mas não foi adiante por falta de recursos na época.

5 500 Anos de Brasil. Trecho da música composta por Sérgio Mattos, Adelmário Coêlho e João Caetano.

Disponível em: <http://www.sergiomattos.com.br/int_mus9.html> Acesso em: 1 de março de 2006.

6 Currículo Lattes atualizado. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/8348605651249261> Acesso em: 20 de fevereiro de

2013.

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Outro motivo que levou o pesquisador a desistir foi porque em pouco tempo os

modelos ditatoriais dos governos militares começaram a ruir, no entanto ele ainda enxerga a

possibilidade de resgatar esse estudo.

O caso do Peru deu origem ao livro “The Development of Communication Policies

Under the Peruvian Military Government: 1968-1980”, publicado em 1981 pela Klingesmith

Independent Publisher.

O período da crise econômica e da democratização nos países latino-americanos

descreve os desafios para uma nova fase: o século XXI, que pretende buscar novas

metodologias para sistematizar os efeitos causados pela expansão da comunicação na

sociedade, e minimizar a dicotomia entre teoria e prática.

Para Mattos (2000, p.19), era preciso construir uma teoria crítica e social da

globalização mais abrangente do que as teorias identificadas como de direita ou de esquerda.

Diferentemente da sociologia funcionalista, a teoria crítica não enxergava nas novas técnicas

de comunicação e na indústria cultural ferramentas para o fortalecimento da democracia

moderna, mas maneiras de alienar os indivíduos. Sérgio Mattos (2000) defende que para

estudar causa e efeito é necessário estudar os veículos de comunicação, em especial a

televisão, sob o contexto social, político, histórico, cultural, e econômico, e afirma:

(...) construir uma teoria crítica e social da globalização que seja mais abrangente

do que as teorias identificadas como de direita ou de esquerda, responsáveis por

enorme lista de estruturas teóricas (desenvolvimentistas, terceiro-mundistas e

outras mais reformistas ou menos radicais) usadas nos últimos trinta anos para

explicar o fluxo da informação, os veículos de comunicação, principalmente a

televisão, e os processos de interação sociocultural entre as nações. (MATTOS,

2000, p.19)

O Culturalismo da década de 80, que tem como ponto fundamental os efeitos causados

pela entrada dos meios de comunicação de massa nas estruturas familiares, padroniza-os de

acordo com o produto cultural oferecido.

O autor critica as generalizações feitas em estudos de pesquisadores norte-americanos

e europeus, incluindo também alguns latino-americanos, ao considerar a América Latina

como uma unidade cultural idêntica.

Entre os autores citados por Sérgio Mattos no livro “A televisão no Brasil: 50 anos de

história (1950-2000)”, destacamos os que examinavam o imperialismo da mídia como,

Robert White, John Kochevar, Noreene Janus, Rafael Roncagliolo, Elizabeth Fox, Juan

Garguverich, Juan Diaz Bordenave, Fernando Reys Matta, Armand Mattelart, e Luis Ramiro

Beltrán, sempre engajado com as pesquisas sobre políticas de comunicação para o

desenvolvimento social na América Latina.

Estudos como os de Schiller, Wells e Nordenstreg e Varis constataram alta

proporção de programas importados, principalmente dos Estados Unidos,

para as televisões de países latino-americanos (MATTOS, 2000, p.12)

Outros como o próprio Sérgio Mattos, interessados na influência da publicidade

multinacional no desenvolvimento dos veículos de comunicação, Herbert Schiller, Jeremy

Tunstall, e Lee Chin-Chuam.

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A experiência brasileira, entretanto, serve de apoio aos argumentos e

prognósticos de Pool e Tunstall e confirma as constatações de Lee de que as

audiências dos países terceiro-mundistas preferem os programas produzidos

localmente. (MATTOS, 2000, p.13)

O autor ainda cita os brasileiros, Carlos Eduardo Lins da Silva, Ana Maria Fadul,

Sérgio Capparelli, Muniz Sodré, e José Marques de Melo, que segundo MATTOS (2000), é

um exemplo que ele próprio seguiu.

Considerações finais

Nos últimos anos a área da Comunicação Social tornou-se mais complexa e

abrangente. Os estudos da comunicação na América Latina permanecem vivos em parte

graças à autores nacionais como Sérgio Mattos, cuja as obras e idéias são consistentes e

adequadas ao nosso contexto sócio-econômico.

Sérgio Mattos vem sendo considerado um dos principais pesquisadores das Ciências

Sociais Aplicadas voltadas à Comunicação e ao Jornalismo Especializado (Comunitário,

Rural, Empresarial, Científico).

Suas pesquisas vêm intervindo no cenário comunicacional e, revelando-se mais

comprometidas com as Linhas de Pesquisa que incluem a História da Mídia Regional

na Bahia e a história da televisão brasileira.

O professor Sérgio Mattos representa, sem dúvida alguma, um dos ícones nacionais

mais significativos no que diz respeito à comunidade científica brasileira em comunicação,

mantendo um Projeto de Pesquisa sobre a História do Jornalismo Contemporâneo da Bahia,

onde o pesquisador tem realizado um verdadeiro inventário da organização editorial dos

jornais baianos, analisando a teoria e a ética do jornalismo regional.

O pesquisador escreveu muito sobre televisão e censura e sobre o controle e

cerceamento da liberdade de expressão. Estudou a comunicação de massa e suas relações com

a ditadura militar, e as influências desses governos no desenvolvimento da TV no Brasil.

Quando questionado em entrevista à Rosane Santana7 (1989) para falar sobre o

processo de concessão de canais de televisão no Brasil, Sérgio Mattos revela:

O processo de concessão de televisão no Brasil, inicialmente, foi atribuído

ao favoritismo político, através do qual a concessão de canais de televisão

era feita sem um plano preconcebido. Neste sentido, a proliferação de

estações de televisão começou muito antes de 1964, mais precisamente

durante o governo de Juscelino. Depois da criação do Ministério das

Comunicações (em 1967), a concessão de canais de televisão começou a ser

planejada mais tecnicamente, mas o favoritismo político continuou. A nova

Constituição (5 de outubro de 1988) muda esta situação. (MATTOS, 1989)

Mesmo dedicando-se à pesquisa e ao ensino, sempre se manteve no exercício do

jornalismo diário em inúmeras funções editoriais nos jornais baianos.

7 Entrevista concedida por Sérgio Mattos a Rosane Santana e publicada no jornal A TARDE, capa do Caderno 2 do dia 10 de

janeiro de 1989. "A imprensa passa por uma crise de qualidade e de identidade" Disponível em:

<http://www.sergiomattos.com.br/entrv2.html >Acesso em: 25 de março de 2013.

Page 123: ECCOM 8 - Revista de Educação, Cultura e Comunicação

ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

122

O pesquisador Sérgio Mattos, como bom jornalista, vai além da simples

constatação dos problemas advindos da restrição à liberdade de imprensa, e

investiga as causas do controle dos meios de comunicação. (HOHLFELDT

& GOBBI, 2004, p.166)

O jornalista tem realizado pesquisas sobre o desenvolvimento dos meios de

comunicação de massa no Brasil desde 1970. A televisão tem merecido um lugar de destaque

nos seus trabalhos que procuram dentro de uma análise histórica institucional compreender o

desenvolvimento da mídia, sempre dentro do contexto sócio-econômico, político e cultural.

Por fim, é o próprio autor quem descreve seu trabalho como escritor, definindo suas

características:

Escritos em linguagem concisa, clara e direta, meus livros oferecem uma

gama de informações que interessam não apenas aos estudantes, professores

e profissionais da comunicação, mas também a todo curioso e consumidor

dos produtos de nossos veículos de massa. (MATTOS, 2000) 8

Referências

DALLA COSTA, Rosa Maria Cardoso et al. Teoria da comunicação na América Latina:

da herança cultural à construção de uma identidade própria. Curitiba: Editora UFPR,

2006, 198 p.

HOHLFELDT, Antonio e GOBBI, Maria Cristina (orgs.). Teoria da Comunicação:

Antologia de Pesquisadores Brasileiros. Porto Alegre: Sulina, 2004, 396 p.

MARQUES DE MELO, José. História do pensamento comunicacional. São Paulo: Paulus,

2003, 373 p.

MATTOS, Sérgio. A televisão no brasil: 50 anos de história (1950-2000). Salvador:

Edições Inamá, 2000, 176 p.

_______________ Um perfil da TV brasileira. Salvador: A Tarde, 1990.

MATTOS, Sérgio (org.). A televisão na era da globalização. Salvador – São Paulo:

Intercom, GT Televisão, 1999.

MATTOS, Sérgio (org.). A televisão e as políticas regionais de comunicação. Salvador –

São Paulo: Intercom, GT Televisão, 1997, 118p.

Sites:

http://www.utexas.edu/cola/insts/llilas/about/

http://www.infoamerica.org/teoria/beltran1.htm

http://www.sergiomattos.com.br/home.html

8 Home page oficial do próprio Sérgio Mattos

Disponível em: < http://www.sergiomattos.com.br/livros.html> Acesso em: 1 de fevereiro de 2013.

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123 ECCOM, v. 4, n. 8, jul./dez. 2013

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