ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
ISSN 2177-5087
Lorena, SP – Brasil volume 7, número 13, jan./jun. 2016
EDUCAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO
FACULDADES INTEGRADAS TERESA D’ÁVILA
LORENA - SP
1
ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
2
ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
ISSN 2177 – 5087
ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação
Lorena, SP, volume 7, número 13, jan./jun. 2016
© Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA
Especialização em Educomunicação e Novas Tecnologias
Cursos de Comunicação Social Jornalismo/Publicidade e Propaganda/Rádio, TV e Internet
ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação / Faculdades
Integradas Teresa D´Ávila - vol. 7, n. 13 (2016). – Lorena, SP: Cursos de
Comunicação Social, 2016 –
Semestral
ISSN: 2177-5087
1. Educação - periódicos. 2. Cultura - periódicos. 3. Comunicação - periódicos. I.
Brasil, Faculdades Integradas Teresa D´Ávila.
CDU.001.5(05)
CDU 001.5 (05)
3
ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
Equipe Editorial
Editor Científico
Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil
Editor Gerente
Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil
Revisores
Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil (Línguas portuguesa e inglesa)
Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, Brasil (Normatização)
Conselho Editorial
Prof. Dr. Adilson da Silva Mello, UNIFEI, Brasil
Prof. Dr. André Luiz Moraes Ramos, UniFOA, Brasil
Prof. Dr. Carlos Manuel Nogueira, Universidade de Lisboa, Portugal
Profª Drª Débora Burini, UFSCar, Brasil
Profª Drª Lucia Rangel Azevedo, FATEA, Brasil
Profª Drª Olga de Sá, PUC-SP, FATEA, Brasil
Prof. Dr. Rosinei Batista Ribeiro, UniFOA, FATEA, Brasil
Prof. Dr. Walter Moreira, UNIMAR, Brasil
Prof. Dr. Wellington de Oliveira, PUC-SP, FAINC, FATEA, Brasil
Prof. Me. Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, UNITAU, Brasil
Profª Me. Neide Aparecida Arruda de Oliveira, FATEA, Brasil
Publicação On Line
http://publicacoes.fatea.br/
http://www.issuu.com
http://www.doaj.org
© Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA
Especialização em Educomunicação e Novas Tecnologias
Cursos de Comunicação Social Jornalismo/Publicidade e Propaganda/Rádio, TV e Internet
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
SUMÁRIO
EDITORIAL
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AS REDES SOCIAIS NA DIVULGAÇÃO DE EVENTOS E PROMOVENDO O
TURISMO DE EVENTOS EM PARNAÍBA-PI
André Riani Costa Perinotto, Dilene Magalhães Borges, Julyana Lopes Sousa
7
O ENQUADRAMENTO DA CRISE HÍDRICA NA REVISTA VEJA
Andrea Reis, Carla Montuori Fernandes
27
A ESCOLA CONTEMPORÂNEA E O DIÁLOGO COM A GERAÇÃO Z:
ESTUDO DE CASO DE EDUCOMUNICAÇÃO NO ENSINO MÉDIO DO
COLÉGIO ISRAELITA BRASILEIRO
André Iribure Rodrigues, Fernando Zatz
37
PROFESSOR X TECNOLOGIA: USO DA FERRAMENTA BLENDSPACE EM
SALA DE AULA
Miguel A. de Oliveira Júnior, Luara Aparecida Russo de Castilho, Miriam L. Dias
Macedo Rodrigues Alves
53
A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
SUPERIOR DO VALE DO PARAÍBA: ESTUDO DE CASO
Rachel Duarte Abdala, Rosana do Carmo Montemor
63
CONFRONTING THE CHALLENGES OF DIGITAL MEDIA AND
LEARNING: ADVANCING THE DEBATE ON EDUCATION, YOUTH AND
CITIZENSHIP
Wellington de Oliveira
79
MARKETING INSTITUICIONAL: FORTALECIMENTO DA MARCA
POLÍCIA MILITAR
José Ronaldo Andrade , Ângela Santos
89
O PAPEL DO PROFESSOR E AS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS NO ESTUDO
DA LINGUAGEM DA MÍDIA
Lígia Beatriz Carvalho de Almeida, Mariana Pícaro Cerigatto
105
UM ENSAIO ETNOFOTOGRÁFICO SOBRE O ENVELHECIMENTO
Wilson José Alves Pedro
115
COMUNICAÇÃO, ECONOMIA POLÍTICA E SOCIEDADE MUNDIAL DE
CONTROLE: COMPLEXIDADE E PODER NA CONTEMPORANEIDADE
José Antonio Martinuzzo, Wagner Piassaroli Mantovaneli
129
USOS E APROPRIAÇÕES DE MULTIMÍDIAS NA EDUCAÇÃO PARA A
BIODIVERSIDADE EM ESCOLAS DE BELÉM/PA
Mayara Maciel
147
NORMAS PARA ENVIO DE ORIGINAIS
161
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
EDITORIAL
É com grande prazer que colocamos à disposição da Comunidade, pelo quinto ano consecutivo, o volume 7, número 13, da revista eletrônica científica Educação, Cultura e Comunicação – ECCOM – cujo ISSN é 2177-5087.
Neste volume são apresentados 11 artigos.
O primeiro estudo, de autoria de Julyana Lopes Sousa, Dilene Magalhães Borges e André Riani Costa Perinotto, trata-se das redes sociais na divulgação de eventos e promovendo o turismo de eventos em Parnaíba, Piauí.
Em seguida, apresenta-se “O Enquadramento da Crise Hídrica da Revista Veja”, que pretende elencar como ocorreu o enquadramento da crise e as atribuições de responsabilidade veiculadas por essa mídia, das pesquisadoras Andréa Reis e Carla Montuori Fernandes.
O terceiro artigo intitulado segue abordando “A escola contemporânea e o diálogo com a Geração Z: Estudo de Caso de Educomunicação no Ensino Médio do Colégio Israelita Brasileiro”, parte da inter-relação entre as áreas científicas da Educação e da Comunicação para identificar alternativas que tornem o ambiente escolar e os processos de ensino-aprendizagem mais relevantes às expectativas do jovem contemporâneo.
Como tornar as aulas mais dinâmicas, atrativas e informativas? Esta deve ser a indagação principal da grande maioria dos docentes no Brasil. A partir desta indagação, inicia-se uma reflexão denominada “Professor x Tecnologia: uso da ferramenta Blendspace em sala de aula”, dos autores Miguel Adilson de Oliveira Júnior, Miriam L. Dias Macedo R. Alves e Luara Ap. Russo de Castilho.
O quinto artigo “A extensão universitária em uma instituição de ensino superior do Vale do Paraíba: estudo de caso”, das autoras Rachel Duarte Abdala e Rosana do Carmo Montemor, relata uma análise sobre a extensão universitária por meio de um estudo de caso em uma instituição de ensino superior no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.
Já no sexto artigo redigido em língua inglesa intitulado “Confronting the challenges of digital media and learning: Advancing the debate on education, youth and citizenship.”, de autoria do Dr. Wellington de Oliveira, focaliza mídia digital e educação como meios poderosos para criar oportunidades para os jovens como formas de aprenderem aquilo que é relevante para suas vidas e prepará-los para o sucesso na escola, no local de trabalho e nas suas comunidades.
Em seguida, o sétimo relato de pesquisa trata-se de “Marketing institucional: fortalecimento da marca Polícia Militar”, cujos autores José Ronaldo Andrade e Ângela Santos, analisam a viabilidade de implantação da gestão de fortalecimento da marca da Instituição, por meio da contratação de uma empresa especializada para trabalhar o composto integrado de marketing e consequentemente educação e treinamento a todos os policiais, a fim de torna-los gestores da marca da corporação, buscando uma mudança de comportamento que passa da indiferença para colaborador cuidando da marca como se fosse seu próprio nome, com a finalidade de melhorar a imagem e reputação dos serviços prestados pela Polícia Militar.
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No oitavo artigo “O papel do professor e as abordagens pedagógicas no estudo da linguagem da mídia” discute metodologias destinadas à alfabetização para a mídia. O estudo aponta caminhos, calcados na metodologia inglesa, denominada media literacy, para trabalhar com a linguagem da mídia em sala de aula e expõe resultados de atividades aplicadas pelas autoras Ligia Beatriz Carvalho de Almeida e Mariana Pícaro Cerigatto.
No nono artigo intitulado “Um ensaio etnofotográfico sobre o envelhecimento”, de Wilson José Alves Pedro, propõe uma síntese reflexiva – imagética e textual sobre o tema processos de envelhecimento.
Já o décimo relato de pesquisa “Comunicação, economia política e sociedade mundial de controle: complexidade e poder na contemporaneidade”, de José Antonio Martinuzzo e Wagner Piassaroli Mantovaneli, discute como a análise da economia política, conjugada à análise dos sistemas de comunicação, pode ajudar a entender a complexidade da formação de uma sociedade mundial de controle, condição indispensável para a sobrevivência acadêmica frente ao tecido complexo do real com o qual tem de lidar para criar efeitos positivos no campo da ação social.
“Usos e apropriações de multimídias na educação para a biodiversidade em escolas de Belém/PA” é o último relato apresentado pela pesquisadora Mayara Santos Maciel que identificou as percepções sobre o conceito de biodiversidade em duas comunidades escolares de Ensino Fundamental e Médio da cidade de Belém do Pará – Brasil.
Boa leitura a todos!
Neide Aparecida Arruda de Oliveira
Editora Gerente
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
As redes sociais na divulgação de eventos e promovendo
o turismo de eventos em Parnaíba-PI
Julyana Lopes Sousa Graduação em Turismo (Bacharelado) pela Universidade Federal do Piauí (UFPI, Parnaíba)
Dilene Magalhães Borges Graduação em Turismo (Bacharelado) pela Universidade Federal do Piauí (UFPI, Parnaíba).
André Riani Costa Perinotto Graduado em Turismo pela Universidade Metodista de Piracicaba; Especialista em Docência para Ensino
Superior em Turismo e Hotelaria pelo SENAC/SP; Mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista -
UNESP/Rio Claro; Doutor em Ciências da Comunicação - UNISINOS/RS. Professor Adjunto - D.E - Curso de
Turismo. UFPI - Universidade Federal do Piauí / CMRV (Parnaíba/PI).
Resumo
Este trabalho trata da utilização das redes sociais como estratégia para a divulgação dos
eventos e da promoção (estratégia de marketing) do turismo de eventos em Parnaíba/PI, além
de identificar as redes sociais mais utilizadas e analisar as ações adequadas de divulgação
de eventos por seus produtores. Para o fundamento teórico do estudo, obtiveram-se
informações de autores ligados ao tema em comum, concebidos de livros, artigos, internet e
revistas especializadas. Os procedimentos metodológicos definiram-se em caráter
bibliográfico, de campo, descritivo, qualitativo e quantitativo com a aplicação de
questionários padronizados às empresas de eventos e aos órgãos municipais, que costumam
realizar eventos na cidade, dos quais se constatou conforme a análise, que utilizam
consideravelmente as redes sociais, deixando claro que a internet e, especialmente o
Facebook, são ferramentas essenciais para a propagação de seus eventos.
Palavras-chave Redes sociais; Marketing; Turismo de eventos; Parnaíba.
Abstract This work is about the use of social networks as a strategy for the dissemination of events and
promotion (marketing strategy) the tourism events in Parnaíba/PI, and identify the most used
social networks and examine the appropriate actions for the dissemination of events their
producers. For the theoretical foundation of the study, we obtained information of authors
related to common theme, designed books, articles, internet and specialized magazines. The
methodological procedures defined in bibliographical, field, descriptive, qualitative and
quantitative character by applying standardized questionnaires to event companies and
municipal agencies, which usually hold events in the city, which was found as the analysis,
using pretty social networks, making it clear that the internet and, especially Facebook, are
essentials tools for the propagation of their events.
Keywords Social networks; Marketing; Tourism Events; Parnaíba.
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1. Introdução
Na contemporaneidade o crescimento tecnológico e o interesse da sociedade pela
tecnologia vêm se desenvolvendo cada vez mais e conquistando espaços em diferentes áreas e
serviços, os quais requerem formas comunicacionais mais rápidas e que favoreçam a interação
entre os indivíduos, ocasionando a troca e o compartilhamento de informações acerca dos
mais distintos lugares em um único instrumento de comunicação.
Neste sentido, com base na observância do seu processo evolutivo, as redes sociais
destacam-se como importantes e essenciais ferramentas de comunicação entre as pessoas.
Estima-se que seu início tenha ocorrido com a troca de e-mails ou correios eletrônicos,
considerados como formas predominantes de interatividade, até enfim, obter esta notável
interação em tempo real formada por uma estrutura de sociabilidade, composta por pessoas ou
organizações que estão conectadas por vários tipos de relações e associadas a valores e
objetivos comuns.
As redes sociais, por meio da internet, passam a ser usadas pelas organizações como
uma nova mídia tornando-se assim, novas ferramentas de marketing. A propósito, pode-se
supor que no Brasil, o marketing estratégico e o marketing eletrônico vêm crescendo
paralelamente à difusão da internet no país, provocando transformações nas organizações e
criando um novo segmento direcionado a estes canais midiáticos.
Desse modo, suspeita-se que o marketing estratégico insere-se nos diversos meios de
comunicação e de relacionamento, ou seja, tudo em que ocorre a troca ou o compartilhamento
de informação, o marketing estratégico pode ser aplicado com o intuito de divulgar uma
informação ou uma marca de determinada empresa.
Neste contexto, observou-se que não há uma análise que permita verificar o uso das
redes sociais como estratégia de marketing na divulgação do turismo de eventos em Parnaíba,
o qual se estima que ainda esteja em fase de desenvolvimento na cidade, dando margem à
seguinte proposição: De que forma as redes sociais, utilizadas como ferramentas do marketing
estratégico, facilitam a divulgação do turismo de eventos na cidade de Parnaíba/PI? Por
conseguinte, vale assim mencionar que, com o auxílio do marketing estratégico, em especial
do marketing eletrônico, este segmento tem-se disseminando e alcançando um crescimento
significativo, no qual a utilização de meios e recursos como as redes sociais, colabora
expressivamente no seu incremento e na sua prática.
Este trabalho, portanto, teve como objetivo analisar a utilização das redes sociais como
ferramenta estratégica de mercado para divulgar o turismo de eventos em Parnaíba, bem
como, identificar as redes sociais e analisar os efeitos e as maneiras adequadas da utilização
das redes sociais como ferramenta difusora dos seus produtores de eventos.
Dessa maneira, a análise das redes sociais como estratégia de marketing dos eventos
realizados em Parnaíba apontou os motivos pelos quais os promotores de eventos são
induzidos a utilizarem como forma de divulgação, uma vez que a ferramenta Facebook é
apontada como a ferramenta mais utilizada para propagação de seus eventos, esclarecendo os
efeitos causados por meio de seu uso para promover o turismo de eventos, e assim, divulgá-la
e atrair os turistas que buscam este segmento.
2. Sociedade e comunicação
Presume-se que, historicamente, a sociedade já passou por várias transições estruturais
e sociais, como sociedade agrícola, sociedade industrial, sociedade da informação, sociedade
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
do conhecimento e, atualmente, percorre por uma transformação causada pela internet e as
tecnologias digitais capazes de aflorar um novo paradigma social descrito pela sociedade em
rede.
As tecnologias da comunicação e informação (TIC’s) são vulneráveis aos efeitos
causados pelas formas de uso sociais da própria tecnologia, assim como, a eletricidade ou o
motor elétrico que tiveram papeis importantes para a formação da organização social baseada
na sociedade industrial. Desta forma, a sociedade em rede segue pelo mesmo caminho,
usando a tecnologia como condição fundamental para a elaboração de uma nova organização
social baseada nas redes.
O nosso mundo está em processo de transformação estrutural desde há duas
décadas. É um processo multidimensional, mas está associado à emergência
de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de
comunicação e informação, que começaram a tomar forma nos anos 60 e que
se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Nós sabemos que a
tecnologia não determina a sociedade: é a sociedade (CASTELLS, 2005,
p.17).
Assim, pode-se afirmar que a sociedade é o grande transformador da tecnologia, capaz
de moldar e desenvolver os avanços tecnológicos de acordo com a necessidade, valores e
interesses das pessoas que a constituem e a tecnologia assume o papel de sustentação dessa
nova sociedade emergente dando existência a esta forma estrutural denominada sociedade em
rede.
A sociedade em rede difunde-se em todos os aspectos de atividades relacionadas à
comunicação, originando um sistema cada vez mais digitalizado e interativo. Esta sociedade,
portanto, entra em fase de um novo conceito que se designa em um paradigma de organização
social, difundido por meio da influência da internet e das tecnologias digitais, capazes de
estruturá-la em redes, as quais proporcionam novas formas de interação globalizada e sem
fronteiras.
Diante desta afirmação, explica Monge e Contractor (2004 apud CASTELLS, 2005)
que a rede é uma estrutura formal e a sociedade em rede é classificada em termos simples,
como uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologia de comunicação e
informação estabelecidas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram,
processam e distribuem informação através de conhecimento acumulado nos laços dessas
redes.
As novas tecnologias de informação e comunicação têm sido, portanto,
elementos fundamentais do ambiente no qual está configurada a sociedade
informacional, que utiliza amplamente tecnologias de armazenamento e
transmissão de dados de baixos custos. Essa generalização da utilização dos
dados e da informação é acompanhada por inovações organizacionais,
comerciais, sociais e jurídicas que estão alterando profundamente o modo de
vida das pessoas na atualidade (ASSMANN, 2000 apud GUIMARÃES e
BORGES, 2008, p. 7).
Deste modo, os avanços tecnológicos ocasionaram certa dependência do homem em
relação aos novos meios de comunicação digital, estruturando um novo arranjo social,
sistematizada por redes de comunicação digital. Esses aparatos revolucionaram as formas
interativas entre as pessoas e que, com o passar do tempo, tem despertado um maior interesse
social por interatividade, informação e conhecimento. Vale acrescentar que as novas TIC’s
ocasionam a oportunidade de democratização e universalização da difusão da informação,
através da inovação dos meios comunicativos transformando a qualidade de vida das pessoas
que integram essa sociedade contemporânea.
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3. Internet e mídias sociais: surgimento, evolução e turismo
Entende-se a internet como um meio de comunicação e mecanismo de propagação da
informática e divulgação mundial em um meio para participação e interação entre indivíduos
e seus computadores, independentemente da localização geográfica, proporcionando aos seus
usuários um mundo virtual capaz de possibilitar uma interação em tempo real. A partir dos
avanços tecnológicos a internet revoluciona o “mundo” dos computadores e das
comunicações como, até então, nenhum outro meio ou outras invenções foram capazes de
consumar.
Sendo um meio de comunicação (mídia) impregnado de informações, a internet se
torna um exemplo de referencial para diversos/diferentes assuntos, e está disponível para os
usuários em vários lugares e, principalmente nos centros urbanos, passando a ser uma
ferramenta indispensável no cotidiano das pessoas.
Dentre as principais tecnologias produzidas nos últimos anos, nenhuma
causou mais impacto para a humanidade do que a internet. Empresas
reinventaram novas formas de trabalho e descobriram oportunidades outrora
inexistentes. A partir dessa tecnologia, surgiram empresas virtuais que nem
mesmo possuem estrutura física tradicional, caso da gigante livraria
eletrônica e pioneira nesse segmento, a Amazon, e de milhares de outras
empresas que são fundadas a cada dia, em todo o mundo (CAIÇARA
JUNIOR, 2007, p.129).
Assim, como os outros meios de comunicação que surgiram, evoluíram e se tornaram
úteis e essenciais para a humanidade, a internet também possui o seu momento histórico e sua
evolução formando uma cronologia desde o seu surgimento nos Estados Unidos até a sua
utilização na sociedade.
De acordo com Caiçara Junior (2007), as décadas de 1960, 1970 e meados de 1980
foram apontados como o período da Guerra Fria, entre a União Soviética e os Estados Unidos,
uma situação em que a informação se tornou um artifício essencial usado como estratégia de
combate pelos dois países.
No intuito de compartilhar com os outros pontos e proteger as informações localizadas
nos servidores dos quartéis generais de algum ataque inimigo durante a Guerra Fria, os norte-
americanos criaram um sistema que interligava diversos pontos, formando uma rede.
Em 1969, surgiu a rede, designada como Advanced Researc Projects Agency
(Arpanet), que interligava laboratórios e universidades americanas, que em seguida tornou-se
um projeto efetivo e eficiente, que se desenvolveu, passando a interligar outras universidades
em redes. Em 1970, a Arpanet foi dividida em duas novas redes, a nova Arpanet, que é
voltada apenas para pesquisas, e a Milnet, empregada para uso em tarefas militares e da
defesa. Em meados da década de 1980, com o aperfeiçoamento das outras tecnologias ligadas
a rede, como email, entre outras, surgiu então, o nome internet, conhecida também como a
rede das redes, e assim a internet foi sendo criada ao longo da década de 80, interligando os
Estados Unidos da América com os outros países, criando uma grande rede (CAIÇARA
JUNIOR, 2007).
A expansão do uso da internet fez com que vários países despertassem o interesse em
participar da Era digital, em busca de usufruir das facilidades e serviços proporcionados por
essa nova tecnologia de informação e comunicação, cuja atração e eficiência proporcionaram
a sua rápida difusão pelo mundo, armazenando e distribuindo todos os tipos de informações
de forma acessível aos usuários. Assim, é pertinente mencionar que “o empoderamento dos
usuários da internet, atores sociais, está na produção de autoridade pelo diálogo. Este cenário
alimenta a base das novas gerações” (VELLOSO e YANAZE, 2014, p. 10).
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Vale ainda destacar que a revolução da internet atingiu também o Brasil, por meio da
criação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), tendo como objetivo atender e proporcionar a
conexão das redes de universidades e centros de pesquisa, e assim, como os Estados Unidos,
começando a ser utilizadas no meio acadêmico. “A expansão do uso da Internet no Brasil só
está sendo possível, inicialmente, graças à implementação de uma série de medidas
comandadas pelo poder público no setor das telecomunicações” (BENAUKOUCHE, 1997, p.
126).
Diante da sua evolução e desenvolvimento, a internet, capaz de conectar a todos em
uma rede proporcionando facilidades em vários serviços, uma vez que opera em tempo real,
transformou-se em uma ferramenta imprescindível para várias atividades econômicas, como o
Turismo, que envolve troca de informação, comunicação e interatividade entre pessoas.
Sobre o turismo, pode-se dizer que é uma atividade econômica de significativa
importância em diversos países; fenômeno de natureza cultural, social e ambiental,
potencializa a criação de vários produtos no mercado de acordo com o crescimento da
demanda, proporcionando melhoria na situação socioeconômica das inúmeras regiões
turísticas.
Segundo Dutra (2003), o turismo é o movimento de pessoas através da realização de
viagens para locais diferentes dos quais a pessoas habitam, em busca de lazer, diversão,
negócio, religião ou outra atividade ligada à economia, no intuito de vivenciar momentos
diferentes dos quais vividos em seu cotidiano. Por isso, fazem-se necessários grandes
investimentos nessa área, os quais permitem o uso constante da tecnologia de forma a
distribuir informações, em tempo real, aos consumidores e transformar os meios de
comunicação em ferramentas indispensáveis para o setor turístico.
Ainda, vale comentar de acordo com Nielsen (2002) que, logo após a Revolução
Industrial, modificações nos modelos de trabalho e lazer colocaram as rodas do turismo em
movimento. Durante esta era pós-industrial, o turismo encontrou suas origens durante a
primeira viagem de Thomas Cook em suas excursões organizadas, onde foi por seu
intermédio que ficou marcado o nascimento do turismo em massa. Com isso, ficou
comprovado que ele utilizou as impressoras de sua própria tipografia para produzir uma
primeira versão dos folhetos, gerando uma excursão de trem que durou um dia. O resultado
deste empreendimento mostrou o poder da propaganda nos meios de comunicação.
No turismo, considera-se a mídia indispensável no processo de informação turística,
uma vez que as pessoas estão constantemente em contato com uma variedade de anúncios
expostos por comerciais de televisão, internet, outdoors, dentre outros. Neste contexto, não há
dúvida de que os efeitos destes anúncios são fatores que influenciam a tomada de decisões dos
turistas e, com a evolução das TIC’s tem-se influenciado o crescimento do setor turístico e o
desenvolvimento dos negócios virtuais tornando-se assim, uma ferramenta fundamental para o
incremento das atividades turísticas.
Dentro desta perspectiva, devido ao crescimento da utilização da internet como meio
de troca de informação, surgiu então o comércio eletrônico do qual a mídia virtual passa a ser
um canal de distribuição de informação, divulgação e comercialização de produtos,
principalmente para as empresas turísticas que passam a usufruir da internet para promover e
vender seus produtos e serviços, trazendo vantagens para os negócios eletrônicos através do
Marketing Digital.
O marketing digital é o conjunto de estratégias de marketing e publicidade,
aplicadas a Internet, e ao novo comportamento do consumidor quando está
navegando. Não se trata de um ou outra ação, mas de um conjunto coerente e eficaz
de ações que criam um contato permanente da sua empresa com seus clientes. O
marketing digital faz com que os consumidores conheçam seus negócios, confiem
nele, e tomem a decisão de compra a seu favor (TORRES, 2010, p. 7).
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
Vale assim frisar que, atualmente, as informações provêm de vários sites,
principalmente das redes sociais, nas mídias sociais que, além de proporcionar comunicação
em tempo real aos usuários, contém informações de todos os tipos de atividades, produtos ou
serviços que ocorrem no cenário mundial e que são produzidos pelos próprios usuários. Desse
modo, os consumidores passaram a se comunicar cada vez mais pela internet, tornando as
redes sociais um canal de comunicação constante entre os consumidores.
4. As redes sociais e seu processo de comunicação
Os meios comunicacionais vêm evoluindo com o decorrer dos últimos anos,
diminuindo a distância entre as pessoas quando se trata de comunicação. É neste sentido que
as redes sociais adquirem destaque ao dispor de atributos que simplificam e favorecem a
interação dos indivíduos, além de oferecer vários recursos que permitem a troca de
informações e geração de conhecimento, a aproximação de amigos, familiares e o
estabelecimento de contados profissionais, ocasionando assim, um fluxo em massa por seu
intermédio.
Desse modo, uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores
(pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (interação ou laços sociais), ou seja,
estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por vários tipos de
relações, construindo uma interação social (WASSERMAN e FAUST, 1994; DEGENNE e
FORSÉ, 1999 apud RECUERO, 2009). Pode-se, portanto, caracterizá-la como uma metáfora
para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas
entre os diversos atores.
Para Marteleto (2001, p.72), as redes representam “um conjunto de participantes
autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”.
Pessoas interconectadas formam este novo grupo de usuários que buscam informações
diversas, geram, transmitem e as compartilham em todo o mundo.
As redes sociais na internet possibilitam não apenas uma facilidade na comunicação
entre indivíduos e as organizações, mas também traz para o consumidor um novo canal de
buscas por informação conforme os interesses dos usuários, os quais as utilizam também para
trocar experiências a respeito de algum produto ou serviço que, como afirma Torres (2009) “o
consumidor busca informações relevantes sobre produtos e serviços, para conhecer as
experiências de outros consumidores transformando o ambiente das redes sociais em mídias
sociais”.
Neste sentido, vale mencionar que surgimento das redes sociais se concebeu através
dos grandes avanços tecnológicos que a Web já passou para poder chegar a Web 2.0, que
permite a interatividade entre os usuários, propiciando e potencializando a formação de redes
sociais digitais.
Com advento da web 2.0, a forma de comunicação foi ganhando maior
participação, o que antes era limitado apenas para pessoas de alto nível de
habilidade técnica, passou a ser acessível a qualquer pessoa que poderia ter
seu próprio site e publicar seu conteúdo, o que configura a “explosão dos
blogs”. Em seguida, com o surgimento do Facebook e Twitter, as Redes
Sociais 3.0, que são caracterizadas pela interação com outras redes e uso
generalizado de jogos sociais (CRUZ, MOTA e PERINOTTO, 2012, p. 12).
O efeito dessa ferramenta de comunicação é tão intenso que é capaz de transformar
opiniões e dar força e impulsos nas grandes mudanças que ocorrem mundialmente. No Brasil,
podem-se citar as manifestações que se propagam por todo o país, mobilizando a sociedade
em busca dos direitos da população e de melhorias na saúde, educação e em detrimento aos
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016
corruptos e ações ilícitas; ou ainda, como bem apontam Velloso e Yanaze, 2014, p. 10:
A sociedade atual se delineia pela interação promovida pelas plataformas
tecnológicas, pela agilidade nos acessos, rapidez na circulação de
informações, liberdade de expressão e necessidade de opinar (...). Uma vez
que o impulso de opinar e expressar suas ideias com liberdade será uma
tendência das novas gerações diante das organizações, seus produtos e
serviços.
De acordo com Marteleto (2001, p. 72), nas redes sociais existe a valorização dos elos
informais e das relações, em oposição às estruturas hierárquicas; a rede é uma forma de
organização presente na vida das pessoas e mesmo nascendo na esfera informal de relações
sociais, seus efeitos podem ser percebidos fora de seu espaço em diversas formas de interação
social.
A rede proporciona um espaço de interação que permite a cada conexão, ligações e
diferentes informações relativas, movidas por interesses, capaz de arquitetar e auxiliar a
sociedade. Assim, aproveitando desse tipo de vantagem que é oferecido pela mídia social, as
empresas de vários setores passam a utilizar as redes sociais como ferramenta de marketing
para a divulgação e promoção de seus produtos, serviços e eventos.
5. As redes sociais como estratégia para eventos
A tecnologia é utilizada consideravelmente no cotidiano das pessoas e, por meio das
mídias sociais a comunicação se torna facilmente manejada. As mídias ou redes sociais
atraem muitos adeptos e esses estão sujeitos a incontáveis fontes de publicidades, informações
e entretenimentos e, desta forma, acabam interagindo com empresas e com pessoas de áreas
geográficas distantes.
Neste sentido, a comunicação digital através das mídias sociais se torna uma
ferramenta essencial para a aplicação do marketing estratégico, posto que, o uso das redes
sociais, já faz parte do dia a dia das pessoas, que buscam por meio das mídias sociais,
informação e socialização, movidas por um determinado interesse sobre um produto, serviço
ou apenas com o intuito de interagir com outras pessoas.
Segundo Cruz, Mota e Perinotto (2012), no caso do turismo, as redes sociais
desempenham uma influência fundamental no momento em que se divulga um determinado
produto ou destino turístico, sendo essa divulgação realizada de várias maneiras,
principalmente através das redes sociais que oferecem participação e interação com público
em redes sociais como Facebook, Twitter, Flickr, Orkut e outras. Estas redes sociais se
transformaram em mídias sociais com grande poder de influenciar os usuários destas mídias.
O crescimento da utilização das redes sociais no cotidiano das pessoas têm levado as
empresas de eventos a buscarem uma forma de obter vantagens sobre isso, com o intuito de
divulgar seus eventos através dos novos meios de comunicação que atingem um número
maior de pessoas, proporcionando uma comunicação em tempo real, e assim, gerando na
maioria das vezes resultados favoráveis ao organizador de evento. Desta forma, observou-se
que a mídia mais utilizada como estratégia de marketing para a divulgação de eventos é a
ferramenta Facebook, pois é uma mídia social que reúne um grande número de usuários, na
qual a informação é disseminada rapidamente.
De acordo com Recuero (2009), o Facebook, é uma rede social que foi fundada em
Fevereiro de 2004, pelo americano Mark Zuckerberg ex-estudante de Harvard. No início,
tinha como objetivo conectar alunos dos Estados Unidos que estavam saindo do ensino médio
e ingressando na faculdade e para participar era necessário que a instituição fosse cadastrada.
14
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Milhares de perfis foram criados inicialmente nos Estados Unidos e em alguns países, depois
se expandiu para outras fronteiras e chegando ao Brasil.
Antes da chegada da rede social Facebook, já existiam outra rede social que lideravam
no Brasil, como o famoso Orkut que pertence ao Google e foi criado em 2004, pelo Orkut
Büyükkökten. De acordo com Santana (2007 apud Cruz, et. al., 2012), no intuito de fazer com
que os membros desenvolvessem novas amizades e mantivessem relacionamentos, buscando
estabelecer um círculo social. A maioria dos usuários era brasileira, e as principais
ferramentas oferecidas pelo Orkut para divulgar algo como destino turístico, são o Promova,
onde o usuário colocava foto ou alguma referência do que gostaria de promover, e a Eventos,
no qual o usuário pode criar um evento e verificar quantas pessoas aderiram o convite. Além
desta, ainda existia as comunidades, cujo são criadas sobre um tema específico, em que os
usuários pode debater, fazer enquetes e divulgar eventos.
O Orkut possuía 70 milhões de usuários no mundo, e no Brasil teve uma liderança de
mais de sete anos, porém não conseguiu manter essa liderança com a chegada do Facebook,
que acarretou a perda do comando. O Facebook vem crescendo rapidamente e atingindo mais
de 750 milhões de usuários no mundo. No Brasil, expandiu cada vez mais superando e
conquistando o prestígio dos brasileiros, como aponta uma pesquisa do site Ibope e publicada
em setembro de 2011, acerca do seu desenvolvimento no Brasil:
Excepcionalmente e para esclarecimento do mercado, o Ibope Nielsen
Online [...] divulga o número de usuários únicos dos sites sociais. Em
agosto, o Facebook atingiu 30,9 milhões de usuários únicos, ou 68,2% dos
internautas no trabalho e em domicílios, equiparando-se ao Orkut, o maior
site social no Brasil, até então, que registrou alcance de 64%, ou 29 milhões
de usuários.
Dentro desta perspectiva, o Facebook passou a ser um instrumento indispensável para
o turismo, um canal de comunicação para as empresas profissionais e órgãos voltados para as
atividades turísticas, no qual é possível obter e compartilhar informação de qualquer atividade
relacionada a este setor. Neste sentido, vale citar Parnaíba, a qual se localiza no litoral do
Piauí oferecendo inúmeras potencialidades turísticas para o desenvolvimento do turismo na
região, com diversos atrativos turísticos naturais, históricos e culturais que atraem turistas de
todos os lugares com o interesse de conhecer e desfrutar das belezas dessa região, se
destacando cada vez mais no cenário turístico nacional e ganhado grande poder competitivo
no mercado em relação às outras regiões turísticas.
Pode-se dizer que em Parnaíba/PI vários setores do turismo vêm crescendo
rapidamente, em especial o turismo de eventos que está se desenvolvendo bastante por meio
do marketing estratégico realizados nas redes sociais pelos organizadores que buscam por
intermédio dessa ferramenta, atrair cada vez mais turistas, assim promovendo o seu evento em
outros lugares, tonificando a economia e fortalecendo este segmento turístico na localidade.
A propósito, conforme as percepções de Brito e Fontes (2002 apud CEZARIO, 2008),
turismo de eventos é um segmento que cuida de diversos tipos de eventos que acontecem
dentro de um universo amplo e diversificado, respaldando sobre outras áreas, como da saúde,
cultural, econômica, jurídica, artística, esportiva e comercial, proporcionando aos indivíduos
que o praticam, a troca de informação, a atualização, a tecnologia e entre outras ideias que
contribuem para o fortalecimento das relações sociais, industriais, culturais e comerciais que
ocorrem ao mesmo tempo em que são impulsionados os fluxos de deslocamento e visitação.
O Facebook, portanto, se tornou uma ferramenta proveitosa para as empresas de
eventos e, especialmente para a Superintendência de Turismo da cidade de Parnaíba, que criou
um perfil e uma página na rede e passou a utilizar esta mídia social para divulgar os eventos
que iriam ocorrer na cidade, com intuito de divulgar os eventos através da mídia social que
possui milhares de usuários espalhados pelo mundo.
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Neste contexto, o uso do Facebook como mídia social (rede social) vem se
desenvolvendo consideravelmente nas atividades econômicas, principalmente para o turismo,
o qual se torna uma excelente ferramenta de divulgação das atividades turísticas na mídia
social, pois as ideias ligadas ao trade turístico podem ser compartilhadas através de grupos,
páginas e murais da rede social. Diante destas constatações, o Facebook se transformou em
um canal de comunicação direcionado às várias atividades ligadas ao turismo, em especial, as
áreas de turismo e viagens, turismo de negócios e turismo de eventos.
6. Procedimentos metodológicos
O processo de desenvolvimento metodológico caracteriza-se como a ideia de uma
prática de pesquisa para a realização de estudos em diferentes aspectos. Para uma
fundamentação teórica coerente, deve-se utilizar estudos de autores que, de certa forma,
discorram sobre o estudo indagado, no intuito de empregar a metodologia mais adequada.
Os procedimentos metodológicos, conforme Lakatos e Marconi (2003) são
determinados por atividades coerentes, racionais e sistemáticas que ajudam a detectar
desacertos na organização e na elaboração de métodos dos cientistas. Com isso, podem obter
a abrangência de seus objetivos através da configuração econômica e segura desenhando uma
passagem mais adequada para a análise em ação e que necessitará ser seguida futuramente.
Os procedimentos adotados e aplicados na elaboração da análise foram desenvolvidos
com aspectos bibliográficos, no qual a pesquisa se concebe através da coleta de dados e
informações; na biblioteca, por meio de livros, revistas especializadas, artigos e sites com
temas relacionados à internet, redes sociais e eventos, permitindo-se assim, mediante essas
informações, caracterizar as ferramentas e os conceitos aplicados para a análise de dados.
Neste contexto, Lakatos e Marconi (2003, p.158) definem pesquisa bibliográfica como:
A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos
já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer
dados atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura
pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar publicações e certos
erros, e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até
orientar as indagações.
O estudo também foi realizado por meio de uma pesquisa de campo, na qual provém
da observação de acontecimentos e fenômenos que ocorrem no âmbito real sobre determinada
sociedade, uma vez que deseja adquirir informações nas imediações de um problema,
descobrindo novos fatos e fenômenos relevantes para a análise da pesquisa. Deste modo, a
pesquisa de campo realizou-se através da elaboração e aplicação de questionários, em busca
de fornecer credibilidade ao estudo. Neste sentido, ainda segundo os autores supracitados,
para a realização da pesquisa de campo faz-se necessária a prévia elaboração de uma pesquisa
bibliográfica, que auxiliará no embasamento do assunto proposto.
As fases da pesquisa de campo requerem, em primeiro lugar, a realização de
uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão. Ela servirá, como
primeiro passo, para saber em que estado se encontra atualmente o problema,
que trabalhos já foram realizados a respeito e quais são as opiniões reinantes
sobre o assunto. Como segundo passo, permitirá que se estabeleça um
modelo teórico inicial de referência, da mesma forma que auxiliará na
determinação das variáveis e elaboração do plano geral da pesquisa
(LAKATOS e MARCONI, 2003, p.186).
Diante desses pressupostos, Parnaíba/PI foi o objeto de estudo desta análise, no qual se
acredita que os promotores de eventos e proprietários de empresas de eventos, aproveitam-se
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das facilidades de distribuição de informação e comunicação, oferecidas por meio das redes
sociais para divulgar os eventos dentro da cidade, atingindo públicos de fora da cidade
(possíveis turistas).
Para tal, o instrumento fundamental utilizado para a avaliação e obtenção da pesquisa
refere-se ao questionário, pois somente através da sua aplicação foi possível obter e registrar
resultados verídicos, o qual segundo Lakatos e Marconi (2003) “é um instrumento de coleta
de dados, constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e
sem a presença do entrevistador”. Pode-se dizer então que é uma ferramenta que busca
recolher informações, fundamentadas na interrogação de um grupo que representa a
população em estudo sendo formulado com uma sequência de perguntas de interesse do
investigador, sem necessidade de interação direta entre o investigador e o entrevistado.
A aplicação do questionário apresenta uma série de vantagens para o investigador, a
saber: rapidez e facilidade em interrogar um número elevado de pessoas em tempo limitado,
obtendo um grande número de dados, economizando tempo e podendo ser enviado por email,
correio, entre outros, além da obtenção de respostas explicitas em relação ao estudo e
credibilidade.
No ambiente da pesquisa, elaborou-se um questionário contendo 12 perguntas, sendo
11 fechadas e padronizadas, e apenas 1 (uma) aberta, totalizando em 7 questionários aplicados
para as empresas/produtores de eventos e para os superintendentes de Turismo e de Cultura
do município, que costumam realizar eventos na cidade. Neste caso 5 questionários foram
explicados e 2 enviados através de rede social. Verificou-se mediante as pesquisas que a
empresa de eventos A e a empresa de eventos B se destacam consideravelmente nas redes
sociais, porém, ambas não possuem cadastros na Prefeitura Municipal de Parnaíba.
A aplicação dos questionários realizou-se nos dias 20, 24, 29 de Janeiro e 06 e 07 de
Fevereiro de 2014. Visando economizar tempo e também por indisponibilidade de tempo dos
responsáveis das empresas A e B, foram entregues dois questionários através da rede social
Facebook, os quais facilitaram o contato com as referidas empresas.
A abordagem da pesquisa referiu-se ao enfoque qualitativo, no qual os dados são
coletados diretamente da fonte, uma vez que o pesquisador mantém contato direto com o
ambiente e o objeto de estudo indagado, abordando as questões relacionadas com o ambiente
de pesquisa, sem a necessidade de utilizar-se de dados estatísticos, focando na natureza e na
essência, assim como afirmam os autores Prodanov e Freitas (2013, p. 70) a respeito da
abordagem qualitativa.
Há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo
indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não
pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a
atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa.
Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural
é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave.
Tal pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados
indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de
abordagem.
Sobre as análises e discussões, são apresentados no próximo item descrições,
cruzamentos de dados e gráficos, desta forma, definindo como os dados estão reunidos. As
amostras das coletas são apresentadas separadamente, no intuito de demonstrar como os
resultados foram avaliados, podendo assim chegar ao objetivo do estudo.
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7. Análises e discussões
As análises e discussões dos resultados demonstram as respostas alcançadas através
dos dados coletados durante a pesquisa e, para compreender e analisar melhor este estudo são
apresentados os dados individuas obtidos em gráficos e tabela com informações e descrições
dos elementos estudados através dos questionários aplicados aos entrevistados.
Teve-se, portanto, como objetivo da pesquisa de campo analisar a utilização das redes
sociais pelas empresas de eventos como estratégia de marketing para divulgar os eventos de
Parnaíba, dentre as quais apenas 5 (cinco) se sobressaem na cidade, devido aos eventos
realizados e aos maiores destaques nas redes sociais e, foram assim denominadas como
Empresa A, Empresa B, Empresa C, Empresa D e Empresa E.
Ademais, foram pesquisados 7 (sete) respondentes que mais se destacam e costumam
realizar eventos na cidade, sendo estes, 5 (cinco) empresas de eventos e 2 (dois) órgãos
municipais, cujos os dados coletados foram transcritos em gráficos, esclarecendo os
resultados e facilitando o entendimento do estudo. Assim, como define Lakatos e Marconi
(2003, p. 170):
Os gráficos, utilizados com habilidade, podem evidenciar aspectos visuais
dos dados, de forma clara e de fácil compreensão. Em geral, são empregados
para dar destaque a certas relações significativas. A representação dos
resultados estatísticos com elementos geométricos permite uma descrição
imediata do fenômeno.
Os questionários aplicados possuíam perguntas referentes aos tipos de eventos, a
frequência em que os eventos são realizados, ao tipo de público que os eventos são
direcionados, aos meios de comunicação utilizados para divulgação, a frequência com que
utilizam a mídia social, as mídias mais utilizadas pelos entrevistados para divulgar os eventos,
de onde vêm o público e o efeito das mídias sociais para a divulgação de eventos. Desse
modo, apresentam-se a seguir os respectivos resultados e discussões obtidos neste estudo.
Tipos de eventos realizados pelos produtores de eventos
Conforme se observa no gráfico 1, 62% (5 empresas) realizam Festas e Shows, 13%
realiza Eventos Acadêmicos, ou seja, apenas uma empresa (Empresa A) é voltada para a
realização de eventos acadêmicos e 13% (Superintendência de Turismo e de Cultura) realizam
Eventos Turísticos. Isso quer dizer para o turismo de eventos, que a maioria das empresas
realiza mais Festas e Shows em Parnaíba, pois são tipos de eventos que englobam diversos
públicos, e apenas 25% dos eventos realizados na cidade são direcionados para turismo de
eventos, porém vale ressaltar que mesmo que os eventos não sejam voltados particularmente
para o turismo de eventos, ainda assim atrai turistas que buscam diversão e entretenimento.
Gráfico 1: Tipos de Eventos Realizados
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
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Frequência dos eventos
Como mostra o gráfico 2, 43% (3 empresas) executam eventos mensalmente, 29% (2
empresas) toda semana e 28% (2 empresas) refere-se a Outros. Nota-se que a maioria os
entrevistados realizam eventos mensalmente, ou seja, todo mês ocorrem eventos em Parnaíba,
no caso um ou dois eventos por semana, devido à sazonalidade do movimento de pessoas na
cidade, isto é, os meses de alta temporada são mais propícios para realização de eventos na
cidade.
Tipos de público
O gráfico 3 exibe que 43% dos entrevistados apontam que os eventos realizados são
voltados para jovens e adultos e 57% dos entrevistados afirmam que os eventos são voltados
para todos os tipos de público. Verifica-se que a maioria dos eventos realizados são
direcionados para todos os tipos de público, ou seja, público que é comum em turismo de
eventos, principalmente quando o evento é organizado para a população como intuito de atrair
também turistas para a cidade.
Meios de comunicação utilizados para divulgar os eventos
Dentre os meios de comunicação utilizados para divulgar os eventos, o gráfico 4
aponta que 23% usam Cartazes, 22% Internet, 19% Boca a boca, 13% Rádio e 13% utilizam
Carro de som e 10% Comerciais de TV. Observa-se que as empresas de eventos utilizam
vários meios de comunicação para divulgar seus eventos, principalmente Cartazes e Internet,
Gráfico 2: Frequência dos eventos.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
Gráfico 3: Tipos de público.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
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no caso os Cartazes são espalhados pela cidade onde ocorrerá o evento e também em
municípios e cidades vizinhas, no intuito de divulgar o evento na cidade e também alcançar os
turistas das cidades vizinhas. Porém, apesar dos Cartazes serem utilizados da mesma forma
que a internet pelos entrevistados, a mídia virtual possui maior alcance, pois propicia maior
distribuição de informação de forma instantânea, e deste modo alcança e atrai vários de tipos
de públicos para o evento, tanto a população local como também os turistas.
Entre as 12 perguntas, apenas uma foi aberta, no qual foi questionado aos
entrevistados que dentre os meios de comunicação utilizados pelas empresas e órgãos para
divulgar seus eventos, quais deles os entrevistados mais utilizam. Observou-se que de acordo
com as respostas, 5 entrevistados afirmam que utilizam mais a internet para divulgar seus
eventos, e apenas 2 utilizam rádio. Neste sentido, cabe mencionar Castells (2003) ao
caracterizar a relevância da internet, bem como do seu uso na atual sociedade da informação.
A internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o
que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser
equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de
sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da
atividade humana. Ademais, à medida que novas tecnologias de geração e
distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação
como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet
passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da
informação: a rede.
O uso da mídia social e rede social
O uso da mídia social e rede social se tornou algo cada vez mais frequente, pois
percebe-se através do gráfico 5 que 72% utilizam a mídia social todo dia, dados bastante
significativos, e apenas 14% Até 3 vezes na semana e 14% Uma vez na semana. Percebe-se
que a mídia social passou a ser uma ferramenta essencial para as empresas na aplicação do
marketing estratégico, pois proporciona uma comunicação em tempo real e atinge várias
pessoas ao mesmo tempo de forma instantânea. É neste contexto que Tomaél (2005, p.93)
dispõe dos seguintes argumentos que evidenciam a importância da utilização das redes
sociais.
Apenas nas últimas décadas é que as empresas perceberam que as redes
servem como um instrumento organizacional, uma vez que são
descentralizadas, flexíveis, dinâmicas, sem limites definidos e estabelecem-
se por relações horizontais de cooperação. Esta horizontalidade de
cooperação é uma característica importante nas redes, já que não existe
hierarquia definida.
Gráfico 4: Meios de comunicação utilizados para divulgar os eventos.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
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Redes sociais mais utilizadas para divulgar eventos
Verifica-se no gráfico 6, que 4 redes sociais são mais usadas pelos entrevistados
para divulgar seus eventos, como Facebook que obteve 64%, e de acordo com os
entrevistados é a rede social mais utilizadas por eles para divulga-los, o uso do Facebook
deve-se ao grande número de usuários que esta rede social possui, seguido do Instagram com
18%, Twitter com 9% e Youtube com 9%. Visto que as empresas utilizam várias redes sociais
para divulgar seus eventos, constata-se que isto proporciona às empresas maior disseminação
de informação e alcance de diferentes públicos.
O público alvo do evento
Nota-se no gráfico 7, que de acordo com os entrevistados, 86% afirmam que o
público alvo dos eventos vem tanto de Parnaíba como de fora (cidades vizinhas), ou seja,
ambos. Entretanto, ocorreu certa divergência em relação a afirmação do Superintendente da
Cultura, pois o mesmo afirma que o público alvo dos eventos é de Fora (referente aos 14%),
visto que a Secretária de Cultura é órgão municipal voltado inteiramente para atender a
população da cidade de Parnaíba, uma vez que busca preservar e resgatar a cultura da cidade.
Gráfico 5: O uso da mídia social e rede social.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
Gráfico 6: Redes sociais mais utilizadas para divulgar eventos.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
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Observou-se no gráfico 8, que a rede social Facebook mostrou-se
significativamente importante na escala de avaliação de 1 a 5 para a divulgação de eventos
através das mídias virtuais. Esta rede social tornou-se indispensável para os usuários a cada
dia, por ser uma ferramenta de interatividade entre as pessoas. 85,7% dos entrevistados
escolheram alto impacto para o Facebook e apenas 14,3% escolheram médio impacto. Desta
forma, pode-se dizer que de acordo com as escolhas dos entrevistados e considerando a
escolha da maioria, o Facebook tem alto impacto como mídia virtual para a divulgação de
eventos.
Sobre o gráfico 9, 40% dos entrevistados apontaram nenhum impacto para o Twitter e
20% no nível 1, 20% no nível 2 e 20% no nível 3, ou seja, de acordo com os entrevistado, a
maioria escolheram nenhum impacto e o restante ficaram divididos entre médio impacto.
Então, pode-se dizer que o Twitter é uma mídia virtual que não possui muito impacto quando
utilizada para a divulgação de eventos.
Gráfico 7: Público alvo do evento.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
Gráfico 8: Facebook.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
Gráfico 9: Twitter.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
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No gráfico 10, percebe-se que para 40% dos entrevistados a rede social Instagram
possui nenhum impacto, 20% médio impacto no nível 4 e outros 40% dos entrevistados
apontaram alto impacto. Deste modo constata-se, que o Instragram é uma mídia virtual
utilizada por alguns dos entrevistados, mas que, para os sujeitos, a mídia possui alto impacto.
Em relação ao Foursquare, notou-se de acordo com as escolhas dos entrevistados, que
100% o apontaram como rede social que causa nenhum impacto, quando utilizadas para a
divulgação de eventos.
Sobre o uso da internet para a divulgação de eventos, observa-se, que de acordo com
as avaliações realizadas nos gráficos e nas tabelas através das respostas dos entrevistados, que
todos os respondentes utilizam a mídia virtual como meio de comunicação e a maior parte
deles utiliza-a todo dia. A internet é utilizada como ferramenta de pesquisa e divulgação de
eventos, que são realizados mensalmente na cidade de Parnaíba, visto que a maioria indicam
62% Festas e Shows e 25% Eventos turísticos, voltados 57% para todos os tipos de públicos e
43% para Jovens e adultos.
Destaca-se o uso do Facebook com 64% em relação às outras redes sociais, e nota-se
também seu impacto bastante significativo em relação às outras mídias avaliadas pelos
entrevistados, seguido do Instragram, Twitter e o Foursquare que foi a ferramenta que obteve
maior número de votos apontando nenhum impacto quando utilizadas para a divulgação de
eventos, por isso os entrevistados utilizam mais a esta rede social para divulgar seus eventos
na cidade de Parnaíba.
É importante salientar que os usos das redes sociais, podem acarretar, também, em
divulgações indiretas, pois as diversas ferramentas das diferentes redes como:
compartilhamento, curtidas, marcações de contatos, grupos, perfis, entre outras ferramentas,
fazem com que outros contatos possam ter acesso ao que foi postado na rede. Tal como Cruz,
Mota e Perinotto (2012, p. 85) comentam, algumas vezes não fazendo usos adequados dessas
ferramentas:
É importante salientar que a circulação dessas postagens e dessas
repostagens significam um aumento de pessoas que podem ter acesso aos
conteúdos, imagens e até mesmo vídeos de localidades com potencial de
atração turística, sendo assim as redes sociais uma importante ferramenta de
divulgação dos atrativos e recursos turísticos do Litoral do Piauí. Porém,
acredita-se que os usuários não estão fazendo uso total dessas duas
ferramentas por desconhecerem as ferramentas oferecidas pelas duas Redes
Sociais e o quanto elas podem ser importantes no crescimento de uma
empresa que trabalha com o turismo assim como para região que está sendo
divulgada.
Gráfico 10: Instagram.
Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)
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O crescimento do uso das redes sociais, fez com que as empresas considerassem as
redes sociais como meio de comunicação instantâneo, que acelera o fluxo de informação e
atingem várias pessoas ao mesmo tempo. De acordo com Ogata (2011), a vantagem em que
qualquer empresa vê em relação ao uso das mídias sociais, é que são ferramentas gratuitas, no
qual as empresas podem realizar a promoção de negócio e fomentar as relações com os
clientes.
Observa-se que, de acordo com as respostas contidas nos questionários, as redes
sociais, através da mediação da internet, estão inseridas no cotidiano das empresas, se
tornando um meio de comunicação indispensável e eficaz para atenderem às necessidades dos
clientes e dos potenciais clientes.
Considerações Finais
É perceptível a evolução, o poder e a rapidez dos meios de comunicação sobre a
sociedade e a forma como transformam os conhecimentos, as opiniões, as informações e o
modo de ver a realidade. A fluidez e a troca de informação, como textos, imagens e
mensagens auditivas e visuais conduzidas pelos meios de comunicação através das
importantes redes sociais são capazes de influenciar e mobilizar as pessoas em geral,
tornando-se uma ferramenta poderosa e eficaz para diversos setores relacionados à
comunicação entre as pessoas.
Nos setores do turismo e eventos, os meios de comunicação são indispensáveis para o
desenvolvimento da atividade, principalmente para o turismo de eventos, pois através das
tecnologias de informação e comunicação se aplica o marketing estratégico das empresas dos
eventos devido à facilidade da disseminação de informação. Neste sentido, a internet e o
turismo formam uma constituição perfeita de trabalho em conjunto, visto que o turismo
desenvolve uma elevação profissional de forma clara e positiva e, no momento em que ocorre
a combinação com a mídia virtual torna-se mais acessível e instantâneo. Desse modo, é
perceptível que em Parnaíba as empresas de eventos utilizam bastante os meios de
comunicação para promover os seus eventos, principalmente com a mídia virtual.
Diante da questão apresentada, submeteu-se uma pesquisa a respeito da utilização das
redes sociais pelas empresas para a divulgação de seus eventos em Parnaíba em busca de se
obter respostas sobre a importância do uso das redes sociais para as empresas e produtores
que empregam o uso desta ferramenta para promover seus eventos na cidade.
Fica claro na pesquisa, conforme as respostas dos 7 (sete) questionários, que a rede
social através da internet (mídia social) é utilizada por 100% dos entrevistados, por ser um
importante meio de socialização e interatividade. Centralizando o estudo nas redes sociais e
avaliando os impactos provocados por estas mídias sociais, quando utilizadas na divulgação
de eventos pelos entrevistados, constatou-se que o Facebook é a rede social mais usada e de
maior importância para os entrevistados, como também, pelos, e para, os produtores e
empresas de eventos em Parnaíba/PI. Neste contexto, pode-se dizer que, a internet é uma
ferramenta estimada e de grande relevância para o homem pós-moderno (na sociedade
midiatizada), como também, uma grande aliada ao campo turístico comunicacional.
Desta forma, pode-se aferir que as redes sociais se transformaram em um espaço de
comunicação para as empresas de eventos e tornaram-se ferramentas fundamentais para a
divulgação de eventos, com base na facilidade de acesso que permite obter e distribuir
informação de forma instantânea para várias pessoas (demandas reais ou potenciais).
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O Enquadramento da Crise Hídrica na Revista Veja
Andrea Reis
Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É docente da Faculdade
Carlos Drummond de Andrade. Atua como pesquisadora do Núcleo de Estudo em Arte, Mídia e Política da
PUC-SP.
Carla Montuori Fernandes
Doutora e Pós-doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É
docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura das Mídias da Universidade Paulista
(UNIP). Atua como pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC-SP.
Resumo
O artigo tem por objetivo estudar o enquadramento midiático construído em torno da crise
hídrica que se instalou no Estado de São Paulo, com maior período de seca entre os anos de
2014 e 2015. No intuito de analisar como o tema foi retratado pelos meios de comunicação, a
revista Veja foi eleita objeto deste estudo, que pretende elencar como ocorreu o
enquadramento da crise e as atribuições de responsabilidade veiculadas por essa mídia, ao
governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB), a Companhia de Saneamento Básico do
Estado de São Paulo (Sabesp), aos cidadãos e ao meio ambiente, no período de 1º de janeiro
a 31 de março de 2015.
Palavras-chave
Mídia; Política; Crise hídrica; Enquadramento; Revista Veja.
Abstract
The article aims to study the media framework built around the water crisis that settled in São
Paulo, with the driest period between the years 2014 and 2015. In order to analyze how the
subject was portrayed by the media, Veja magazine was elected object of this study, which
aims to list as did the framework of the crisis and the responsibility assignments conveyed by
this medium, the re-elected governor Geraldo Alckmin (PSDB), the Basic Sanitation
Company of the State of São Paulo (Sabesp), citizens and the environment in the period from
January 1 to March 31, 2015.
Keywords
Media; Policy; Water crisis; Framework; Veja magazine.
Introdução
O cenário de campanha das eleições para governador do estado de São Paulo, assim
como o início do novo mandato de Geraldo Alckmin (PSDB), reeleito em 2014, foi marcado
por um clima de grande preocupação em relação à questão hídrica, no qual os meios de
comunicação atuaram como instrumento de produção e veiculação de notícias com os mais
variados vieses políticos. Uma das razões para isso é o fato de o estado de São Paulo estar
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enfrentando o pior período de estiagem, desde 1953.1
O Sistema Cantareira, que abastece 47% da Região Metropolitana de São Paulo,
principal fonte de captação de água pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (Sabesp), apresentou diminuição significativa dos reservatórios. Os demais sistemas
que abastecem a região, por ordem de importância, Guarapiranga, Alto Tietê, Rio Claro, Rio
Grande, Alto Cotia, Baixo Cotia e Ribeirão Estiva, também recuaram,2 em razão das quedas
provocadas, em parte, pela falta da chuva em todo o estado.
Diante da possibilidade de uma crise hídrica mais severa, Geraldo Alckmin (PSDB),
governador e candidato à reeleição, iniciou em 15 de maio3 de 2014 a utilização do volume
morto4 do Sistema de Abastecimento Cantareira. Vale ressaltar que, em ordem de
responsabilidade, a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo detém 50,26% das ações da
Sabesp, ao lado dos 49,74% das ações que pertencem aos acionistas privados.5
No ano de 2004, ao receber a concessão para utilização do Sistema Cantareira, a
Sabesp e o governo do estado foram informados pelo artigo 16, do documento de Outorga do
Sistema Cantareira, sobre a necessidade de planejamento e investimento em novas formas de
captação, por causa do risco de redução do sistema de abastecimento.6
Nos anos posteriores, ações para reparos de vazamento das tubulações, novas formas
de captação de recursos, campanhas para uso consciente de água, aumento da cobrança na
conta dos consumidores em função de consumo excessivo etc. não foram priorizadas pela
Sabesp e pelo governo do Estado, que esteve sob a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), nos
anos de 2002-2006; José Serra (PSDB), de 2006-2010, e, novamente, Geraldo Alckmin
(PSDB), de 2010-2014.
A escassez de água, em véspera da campanha eleitoral para escolha dos governadores
do país, acalorou o debate político-midiático. Os meios de comunicação conferiram uma
ampla cobertura à crise hídrica, com diversos vieses, entre os quais merecem destaque o papel
do cidadão no controle de gastos excessivos e/ou consumo consciente, o impacto climático da
falta de chuva no estado de São Paulo, a ausência de infraestrutura e investimentos da Sabesp
e as ações do governo do estado para minimizar a crise.
Em análise preliminar, notou-se que as reportagens veiculadas sobre o tema adotaram
uma ampla variedade de enquadramentos, com diferentes ênfases e atribuições de
responsabilidades. Nesse sentido, pretende-se identificar como foi retratada a crise hídrica
pela revista Veja, durante o período posterior ao pleito eleitoral de 2014, com o intuito de
responder qual foi a representação de sentido construída por essa mídia em relação ao
governo na instância estadual.
A amostra abrangerá as reportagens que retrataram a crise hídrica, no editorial Brasil,
da revista Veja, nos três primeiros meses do novo mandato governamental de Geraldo
Alckmin (PSDB), de 1o de janeiro a 31 de março de 2015. A escolha da Veja se justifica pelo
fato de ser a segunda maior revista semanal de informação, com cerca de 1,2 milhões de
exemplares em circulação no mundo. Além disso, tem-se o fato de que os meios de
comunicação, em especial a mídia impressa, atuam como veículos de representação de
sentido, em constante processo de reconstrução e reinterpretação da realidade social.
1 Estado de São Paulo vive pior seca em 70 anos. Disponível em: <http://www.climatempo.com.br/noticias/266765/estado-de-sao-paulo-
vive-pior-seca-em-70-anos/>. Acesso em: 20 abr. 2015. 2 Complexo Metropolitano. Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=36>. Acesso em: 20 abr. 2015. 3 Alckmin inicia retirada do volume morto do Cantareira. Disponível em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral, alckmin-inicia-
retirada-do-volume-morto-do-cantareira, 1167092>. Acesso em: 20 abr. 2015. 4 O volume morto é considerado uma reserva técnica, que se encontra abaixo do nível de captação das represas. 5 Informação retirada do site da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp. Disponível em:
<http://www.sabesp.com.br/sabesp/filesmng.nsf/6B9EDD2E0EBB914883257CAA0007D3B7/$File/DFs_2013.pdf>. Acesso em: 20 abr.
2015. 6 Redução da dependência da Sabesp em relação ao Sist. Cantareira (artigo 16). Disponível em: <http://agua.org.br/wp-
content/uploads/2014/11/dados.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2015.
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O conceito de representação social se expande por vários campos dos saberes, como
psicologia, semiótica e antropologia, e adquirem fundamental importância nos estudos de
comunicação. A tarefa de descrever como determinados grupos são representados é
fundamentada por Stuart Hall (1997), em um entrelaçamento com o imaginário social.
Definida por Hall como parte fundamental do processo por meio do qual os sentidos são
produzidos e trocados pelos membros de uma cultura, a representação envolve o uso da
linguagem, de signos e de imagens que respondem ou representam as coisas.
O conceito de representação é considerado parte essencial do processo de produção de
significado por meio da linguagem e compartilhado entre membros de uma cultura. Adotando
uma abordagem construcionista, Hall argumenta que a produção de sentido ocorre no interior
da linguagem, por meio dos “signos, organizados em linguagens de diferentes tipos, para nos
comunicarmos significativamente com os outros” (HALL, 1997. p. 17).
Soares (2007) acrescenta que a representação de sentido por meio da linguagem é
produzida de forma intensa pelos meios de comunicação, uma vez que os produtos culturais
produzidos pela mídia geram imagens colhidas do mundo empírico para apresentá-las “na
categoria de ‘representantes’ de pessoas, situações e fatos” (SOARES, 2007, p. 51).
Soares (2009) aponta ainda que as representações ocupam papel distinto nos gêneros
ficcional, persuasivo e informativo (jornalístico). Na produção ficcional, as narrativas
veiculadas no formato de telenovelas, filmes, minisséries etc. são construídas sem um
compromisso com a realidade, ainda que criadas no contexto de verossimilhança de fatos,
operando em um sincretismo entre o real e o imaginário (SODRÉ, 1977). Já a publicidade,
para o autor, por patrocinar boa parte da comunicação midiática, possui o notório objetivo de
despertar e persuadir a audiência para o desejo do consumo.
O jornalismo, gênero definido pela veiculação de um relato particular dos
acontecimentos, no qual se busca uma relação referencial com a realidade narrada, possui uma
relação controversa com o sentido das representações. A contestação envolve a precisão e a
propriedade das representações, já que a narrativa jornalística é em grande parte construída
sob um determinado aspecto do mundo selecionado (SOARES, 2009).
O conceito de enquadramento surge diante da capacidade dos meios, em especial da
esfera jornalística, de produzir e disseminar uma interpretação de mundo, através de uma
retórica, em que algumas ideias e imagens tornam-se mais salientes no texto do que outras,
que se apresentam de maneira menos destacada ou até mesmo invisível. Para Porto (2004, p.
11), “enquadramentos noticiosos são padrões de apresentação, seleção, ênfase utilizados por
jornalistas para organizar seus relatos”.
Reconhecido como importante instrumento de poder informativo, o enquadramento
pode atuar no sentido de auxiliar na construção ou na definição de determinada realidade
(PORTO, 2004). Desta forma, o referencial teórico-metodológico do enquadramento foi
selecionado para análise das reportagens da revista Veja.
O enquadramento da mídia: uma metodologia para análise da
produção jornalística
A primeira sistematização sobre o conceito de enquadramento, denominado framing
analysis, foi realizada por Erving Goffman, em sua obra Frame analysis: an essay on the
organization of experience7, publicada em 1974. A ideia de enquadramento (frames) derivava
da preocupação de Goffman em entender como cada sujeito particular classificava e
7 A versão traduzida para o português chegou às livrarias em 2012 sob o título Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise.
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organizava uma dada situação social e atribuía sentido à realidade ao seu redor. Para o autor,
“enquadramentos são entendidos como marcos interpretativos mais gerais, construídos
socialmente, que permitem às pessoas dar sentido aos eventos e às situações sociais”
(GOFFMAN apud PORTO, 2004, p. 78).
Durante o período de pesquisa, Goffman atentou para a questão da audiência, com o
intuito de verificar como o público recebia e interpretava as informações enquadradas pela
mídia. Entretanto, a primeira aplicação do conceito de enquadramento no campo de
comunicação foi publicada em 1978 pela socióloga Gaye Tuchman, no livro Making news. A
pesquisa buscou demonstrar como o enquadramento de uma informação pode atuar no sentido
de reforçar o poder político, auxiliando a construção ou a definição de uma determinada
realidade (PORTO, 2004).
Mais adiante, após o surgimento de inúmeros estudos que ampliaram as noções de
enquadramento com análises do discurso da mídia nas esferas sociais e políticas, o sociólogo
Eatman propôs uma revisão sistemática do conceito, ao definir que enquadrar envolve seleção
e saliência:
Enquadrar é selecionar alguns aspectos de uma realidade percebida e fazê-
los mais salientes no texto comunicativo de modo a promover uma definição
particular de um problema, interpretação causal, avaliação moral e/ou um
tratamento recomendado para o item descrito. (EATMAN, 1993, p. 52)
Reconhecido como importante instrumento de poder informativo, Porto (2004) aponta
que, para mapear os diferentes tipos de enquadramento utilizado nos relatos jornalísticos, faz-
se necessário adotar um modelo sistemático de análise que permita maior criticidade na
aplicação da metodologia. Com o objetivo de romper com a retórica funcionalista, em que os
meios de comunicação orientam-se a partir de um enquadramento dominante, Porto (2004)
estabeleceu uma classificação para análise das reportagens, cuja proposta busca sistematizar a
presença ou ausência de mais de um enquadramento nos segmentos do conteúdo da mídia.
Assim, o autor denomina segmento restrito as mensagens que possuem um único
enquadramento interpretativo sobre determinado evento ou tema político e nomeia de
segmentos plurais os que possuem mais de um enquadramento. Os segmentos plurais se
dividem em plurais fechados, nos quais é possível identificar certo privilégio ou ênfase a um
determinado aspecto da notícia, e plurais abertos, em que nenhum enquadramento é
apresentado como válido ou verdadeiro. Os segmentos que adotam forma episódica não
incluem enquadramentos interpretativos, adotando um estilo mais descritivo de reportagem
(PORTO, 2001).
A característica principal do enquadramento episódico é a ausência de entrevistas nas
reportagens, já que se trata de um formato em que geralmente o conteúdo jornalístico é
exibido de maneira descritiva. Neste caso, o texto se limita em relatar o fato apenas. Já no
formato restrito o conteúdo jornalístico privilegia apenas um enquadramento interpretativo
sobre o fato divulgado, com uma única interpretação do veículo de comunicação sobre o
evento.
As matérias de formato plural aberto têm como característica principal a presença de
mais de um enquadramento, com espaço compatível da reportagem para abordar o tema a
partir de variados ângulos. No plural aberto são apresentadas mais de uma interpretação da
notícia, sendo que nenhumas das opções são confirmadas como mais válida (correta). As
matérias de plural fechado, ao contrário, comportam mais de uma interpretação noticiosa,
sendo que uma delas é privilegiada e apresentada como mais correta.
O passo seguinte para a correta aplicação metodológica reside na identificação das
principais controvérsias e enquadramentos presentes nas notícias, com o intuito de averiguar
quais atores sociais distintos possuem capacidade para influenciar o processo de
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enquadramento, além dos grupos dominantes e influentes, já que é imprescindível, segundo
Porto (2004, p. 94), “incluir as interpretações promovidas por movimentos sociais ou de
oposição, inclusive aquelas que são excluídas pela mídia”, explicitando, quando possível, “as
razões que levam ao predomínio de certos enquadramentos, em detrimento de outros”.
Por fim, a definição de uma análise sistemática de conteúdo aparece como item
fundamental para identificar as práticas de enquadramento. Independentemente do método
adotado, Porto (2001) alerta para a importância de eleger um enfoque integrado que inclua
uma análise de conteúdo quantitativa e uma análise textual de teor qualitativo.
Na aplicação do método ao conteúdo jornalístico da revista Veja, foram selecionadas
apenas as matérias com enquadramento interpretativo, a fim de entender a seleção e a ênfase
atribuída pelas reportagens ao retratar a crise hídrica e a relação com o governador Geraldo
Alckmin (PSDB), após o início de sua segunda gestão, de 1 de janeiro até 31 de março de
2015.
Para compreender o conteúdo veiculado pela narrativa jornalística, recorreu-se à
análise de conteúdo (BARDIN, 2006) e às três etapas que compõem essa metodologia. Na
primeira etapa, denominada pré-análise, foi realizada a seleção das reportagens que serviram
como objeto do estudo. Nesse caso, foram privilegiadas apenas as matérias que retrataram a
crise hídrica, no estado de São Paulo, na editorial Brasil. Após a visualização do conteúdo
jornalístico, na etapa nomeada de exploração do material, as unidades de análise foram
agrupadas, com base nos formatos episódico, restrito, plural aberto e plural fechado. Na
terceira e última etapa, os resultados obtidos foram interpretados e comparados às luzes do
contexto político e do cenário eleitoral.
Análise das reportagens
Como mencionado acima, o período amostral foi de 1º de janeiro a 31 de março de
2015. Foram analisadas 95 reportagens da revista Veja, sendo que nestas, apenas ocorreram os
enquadramentos dos tipos restrito e episódico, conforme a tabela abaixo.
Tabela 1. Enquadramento - Crise Hídrica na revista Veja. (de 1º de Jan. a 31 de Mar.)
Tipo de
Enquadramento
Total
Restrito 69
Episódico 29
Fonte: Dados obtidos pelas autoras para o artigo.
Tais tipos de enquadramentos indicam que a revista somente limitou-se a informar o
problema da crise hídrica sem uma análise mais aprofundada sobre o tema, desconsiderando
outros ângulos para relatar a questão. Não houve uma investigação ou um debate com a
sociedade civil sobre o problema, e muitas vezes as suas reportagens apenas reproduziram o
que foi publicado pelos jornais O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo. Somente
9,5% destas reportagens foram assinadas por seus próprios jornalistas, sendo no caso
redigidas por Felipe Frazão, Carolina Farina, Gabriel Castro, Mariana Zylberkan, Eduardo
Gonçalves, Mariana Barros e Jennifer Ann Thomas.
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A maioria das reportagens apresentava como assunto principal as informações a
respeito dos níveis das represas, o que poderíamos até denominá-las como sendo do tipo
“placar”, conforme a matéria veiculada em 4 de fevereiro de 2015, com o título: “Nível de
água do Cantareira sobe pelo 2º dia consecutivo. Esse é o segundo registro de alta do
reservatório, que opera com 5,2% da capacidade, em 2015”. Durante o período da análise
foram identificadas 29 reportagens com o formato “placar”, no qual os volumes dos
reservatórios, suas altas e baixas, eram noticiados frequentemente pela revista.
A revista praticamente não deu voz à sociedade civil. Não aparecem especialistas ou
Organizações Não-Governamentais (ONGs) envolvidas com o problema da água, e nem
mesmos os consumidores estão presentes. As únicas vozes ouvidas são as do governador
Geraldo Alckmin e da Sabesp, entretanto, Alckmin é pouco responsabilizado pela crise.
Segundo a reportagem “Datafolha: 60% apoiam rodízio de água em São Paulo. Já no
levantamento nacional, 65% defendem racionamento imediato de energia” publicada no dia 9
de fevereiro de 2015 demonstrou que entre os moradores de São Paulo, 37% atribuíram a falta
de água ao governo do Estado, enquanto que para 22% a responsabilidade é de "todos".
Outros 20% culparam a população e 9%, o Governo Federal.
A revista Veja, em inúmeras reportagens investiu no enquadramento restrito, ao
veicular que o consumo excessivo de água pela população acaba por contribuir para
consolidação da crise hídrica no Estado. A reportagem “Vida Seca na grande cidade”,
publicada em 24 de janeiro, reafirma que diminuir o consumo é o caminho natural em
períodos sem abundância. Ainda que o texto jornalístico apresente certa crítica ao governo
estadual, ao mencionar que o problema da seca é reflexo da falta de gerência e descaso das
autoridades, não isenta o cidadão comum sobre a necessidade de mudança de comportamento
no consumo do recurso natural.
O cidadão é colocado à frente do problema, ainda que de maneira sutil, na reportagem
de formato episódico, publicada com a chamada “Jundiaí: a cidade paulista onde não falta
água”. A matéria aponta que apesar da falta de chuva que assola a região desde dezembro de
2013, quando a cidade recebeu a primeira previsão de estiagem drástica feita pelo Consórcio
Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Consórcio PCJ), a
conscientização da população sobre a falta de água, por meio de campanhas para redução do
consumo, permitiu que a cidade controlasse seus reservatórios e não sofresse mais com
problemas de escassez.
As reportagens que abordaram as multas proferidas contra os cidadãos que excederam
o consumo de água estipulado pela Sabesp e pelo governo do Estado de São Paulo foram
abordadas pela revista com reportagens de formato restrito, no qual apenas o quesito
culpabilidade obteve destaque. A reportagem não concedeu voz para a sociedade civil ou
outras instituições responsáveis pelo Código de Defesa dos Consumidores. Para exemplificar,
a reportagem veiculada no dia 26 de janeiro, com o título “Multa da água atinge 12% dos
clientes da Grande SP”, aponta que 19% dos consumidores da Grande São Paulo continuam
consumindo água acima da média, sendo que 12% dos clientes na região metropolitana foram
multados porque aumentaram o consumo de água em fevereiro de 2015.
Na mesma linha de atribuição de responsabilidade aos cidadãos, a reportagem com a
chamada “Apesar de multa, 22% gastam mais água em janeiro”, publicada em 10 de
fevereiro, apontou que mesmo diante de aplicação de multas pelo consumo excessivo de água,
22% dos consumidores das 31 cidades da grande São Paulo gastaram mais no mês passado do
que a média antes da crise hídrica.
A falta de chuva durante o ano de 2014 e o início de 2015 ganhou ênfase nas
reportagens de formato episódico e restrito, e tornou-se elemento balizar para o início de
adoção de medidas emergenciais, proferidas pela Sabesp e pelo governador Geraldo Alckmin.
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Para exemplificar essa dependência, a matéria de formato restrito, publicada em 29 de janeiro,
com o título “Rodízio proposto há 1 ano pouparia 12,3% do Cantareira”, aponta que o rodízio
proposto pela Sabesp há mais de um ano e descartado pelo governador Alckmin,
possivelmente seria colocado em ação, já que “as chuvas esperadas pelo governo para esse
verão não vieram”.
A mesma conduta jornalística foi observada na reportagem de enquadramento
episódico, “SP: chuva de fevereiro adia decisão sobre rodízio de água”, veiculada em 11 de
fevereiro, ao divulgar um parecer da Sabesp sob possível trégua ao rodízio, caso se mantenha
o cenário de chuva do mês de fevereiro. Nesse sentido, o maior vilão da crise hídrica foi o
fator climático, seguido pelo uso abusivo por parte dos consumidores, mas não aparece nas
reportagens a má gestão por parte do governo estadual.
Muitas vezes as reportagens apresentavam uma conotação positiva para o governador
ao demonstrá-lo como o grande defensor para a não aplicação do rodízio de água, mesmo que
diante de uma clara “restrição hídrica”. As menções ao governador Geraldo Alckmin, nas
reportagens proferidas pela revista Veja, estão envoltas em uma agenda que aponta os esforços
e as medidas adotadas pelo governador para resolver o problema. A matéria “Alckmin cria
grupo para preparar plano em caso de rodízio”, publicada em 4 de março, aponta que o
governador vem trabalhando em prol de resolver o problema da crise. A criação de um Comitê
de Crise Hídrica representa parte dessas ações para minimizar os efeitos da seca.
Medidas estudadas e adotadas pelo governo estão presentes em inúmeras reportagens,
com destaque para as chamadas: “Não há decisões sobre o rodízio de água”, “São Paulo
estuda restringir a captação de água pela indústria”, “Alckmin reduz imposto sobre galões de
água”, “Governo de São Paulo prepara pacote com 8 obras para enfrentar crise hídrica” e
“Alckmin financiará projetos de uso racional de água” publicadas em 30 e 31 de janeiro; 2 e 4
de fevereiro e 23 de março, respectivamente.
As matérias citadas demonstravam o empenho do governador para que a crise hídrica
fosse resolvida, além da busca por apoio junto ao Governo Federal para captação de recursos
para as obras emergenciais. Como exemplo, a reportagem sobre os rumos da crise hídrica e a
indecisão sobre um possível rodízio de água, relatou o encontro do governador Geraldo
Alckmin com a Presidente Dilma Rousseff (PT) e os Ministros Aloizio Mercadante (PT), da
Casa Civil, e a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, ocorrido em Brasília, no Palácio
do Planalto, com o objetivo de debater a crise hídrica paulista e buscar apoio financeiro para
conter o agravamento do problema. Entre os trechos da coletiva de imprensa concedida após a
reunião entre membros do governo, a matéria concedeu destaque para o fato de Alckmin
mencionar que sua gestão está distribuindo gratuitamente caixa de água para famílias de baixa
renda.
A falta de previsão sobre um possível rodízio no abastecimento de água no Estado de
São Paulo, fato veementemente recusado pelo governador no período da campanha eleitoral
de 2014, obteve um enquadramento enviesado pela revista Veja. A ausência do um discurso
uníssono entre as duas instituições supostamente reflete a tentativa de blindar a imagem do
governador no início do segundo mandato, atribuindo à Sabesp a responsabilidade de proferir
todos os anúncios que repercutiam de maneira negativa junto à população.
A reportagem publicada em 8 de fevereiro com a chamada “Governo de SP cria
‘gatilho’ para racionamento de água” é reveladora dessa dicotomia, já que retrata o pedido de
Geraldo Alckmin ao presidente da Sabesp, Jerson Kelman, para que estabeleça um nível
mínimo de segurança do Sistema Cantareira para evitar o desabastecimento, antes de decretar
o rodízio, medida que o governador tenta evitar, segundo informa a reportagem.
De maneira semelhante, em 21 de janeiro, a reportagem “Governo de SP estuda usar a
Billings para atender Alto Tietê”, com enquadramento restrito, reproduz trechos da entrevista
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do governador Geraldo Alckmin, em que ele reafirma que o racionamento oficial de água no
Estado de São Paulo está fora de cogitação. Sem qualquer questionamento sobre o tema, a
matéria reproduz o termo redução da pressão ao invés de racionamento para retratar os cortes
no fornecimento de água que já ocorriam na maior parte das regiões do Estado de São Paulo.
As reportagens com menções sobre a possibilidade de adoção do rodízio, quando
associadas ao governador Geraldo Alckmin reproduziam os esforços do governo para que as
medidas fossem adotadas com o mínimo de impacto à população, como explícita a matéria
jornalística “Alckmin cria grupo para preparar plano em caso de rodízio”, de enquadramento
restrito, veiculada em 4 de março, em que aponta a criação de um grupo executivo dentro do
Comitê de Crise Hídrica para preparar um plano de contingência em caso de implantação do
rodízio.
Sem maiores aprofundamentos, as reportagens publicadas pela revista Veja sobre a
falta de abastecimento de água em São Paulo e a adoção de um provável rodízio privilegiou
enquadramentos restritos e episódicos, desassociando, quando possível, o governador Geraldo
Alckmin das matérias que apontavam quadros mais severos sobre a crise hídrica, como a
reportagem “Sabesp fala em rodízio drástico: 5 dias sem água e 2 com”, publicada em 27 de
janeiro, no qual o diretor da Sabesp, Paulo Massato, declarou que em um cenário extremo, a
companhia poderia decretar um rodízio "drástico" na região metropolitana: algumas regiões
ficariam até cinco dias sem água, semanalmente.
Em 14 de fevereiro, a reportagem com de enquadramento restrito, publicada com o
título “Secretário reconhece que Sabesp fecha registros de distribuição”, atribui aos
funcionários da Sabesp a manobra, que segundo o Secretário da Empresa, Benedito Braga,
eram realizadas manualmente, para fechar o registro de 40% da rede de distribuição de água
da grande São Paulo. O corte no abastecimento de água que assolou parte significativa da
população paulista foi tratado como uma ação isolada da Sabesp, aparentemente desvinculada
do governo estadual.
Interessante pontuar que até o reajuste nas contas de água da população paulista foi
enquadrado como uma medida da Sabesp, na reportagem publicada em 31 de março, com o
título “Sabesp alega crise e agência autoriza aumento de 13,8% na conta de água”. Segundo
informou a reportagem, o aumento, que seria de 5,4%, havia sido autorizado pela Agência
Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (ARSESP) em abril de 2014,
mas sua aplicação foi adiada pela companhia por decisão do governador Geraldo Alckmin,
que disputou e venceu a reeleição em outubro do mesmo ano.
Por fim, deve-se esclarecer que os problemas econômicos enfrentados pela sociedade
civil causados pela crise hídrica ficaram praticamente ausentes nas reportagens, e até mesmo
o prejuízo que a crise trouxe à própria Sabesp não foram densamente discutidos pela revista.
Considerações Finais
Se em análise preliminar, notou-se que as reportagens veiculadas sobre o tema
adotaram uma ampla variedade de enquadramentos, com diferentes ênfases e atribuições de
responsabilidades, na análise das reportagens durante o início do segundo mandato de Geraldo
Alckmin notou-se que existiu apenas um tipo de direcionamento sobre a crise hídrica, fato
confirmado pela predominância dos enquadramentos do tipo restrito e episódico.
Tais tipos de enquadramentos indicam que a revista somente se limitou a informar o
problema da crise hídrica sem uma análise mais aprofundada sobre o tema, desconsiderando
outros ângulos para relatar a questão, ficando desta maneira ausente das reportagens,
entrevistas com representantes da sociedade civil.
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O conceito de enquadramento confirma a capacidade dos meios, em especial da esfera
jornalística, de produzir e disseminar uma interpretação de mundo, através de uma retórica,
em que algumas ideias e imagens tornam-se mais salientes no texto do que outras. Após a
análise é possível afirmar que a revista Veja isentou o governador Geraldo Alckmin em
relação ao caos do setor hídrico, demonstrando-o sempre contrário às medidas que poderiam
prejudicar a população, como o rodízio de água. Não obstante, todas as ações impopulares
adotadas pelo governo estadual ficaram sob a responsabilidade da Sabesp.
Referências
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A escola contemporânea e o diálogo com a Geração Z:
Estudo de caso de educomunicação no ensino médio do
Colégio Israelita Brasileiro.
André Iribure Rodrigues
Doutor em Comunicação e Informação PPGCOM/UFRGS – doutorado-sanduíche PPGCOM/UFRJ; Mestre em
Comunicação e Informação PPGCOM/UFRGS; Bacharel em Comunicação Social – habilitação em Publicidade
e Propaganda; atualmente, ocupa o cargo de Vice-diretor e Coordenador Acadêmico da Fabico/UFRGS.
Fernando Zatz
Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Foi educador comunitário pelo movimento
juvenil Chazit Hanoar na América Latina. E-mail: [email protected]
Resumo
Este texto parte da inter-relação entre as áreas científicas da Educação e da Comunicação
para identificar alternativas que tornem o ambiente escolar e os processos de ensino-
aprendizagem mais relevantes às expectativas do jovem contemporâneo. Para contextualizar
a educação de Ensino Médio foram investigadas as novas formas de se relacionar com o
conhecimento a partir da Cibercultura e sob a perspectiva da Geração Z, que representa o
atual corpo discente. Tal investigação teórica foi confrontada com um estudo de caso no
Colégio Israelita Brasileiro, o qual visa organizar e analisar as práticas educativas em um
Ecossistema Comunicativo. Assim, foi possível reconhecer desafios para promover processos
de ensino-aprendizagem vinculados ao diálogo com a Geração Z, entre os quais se destacam:
investir nos espaços transdisciplinares; estimular à docência orientadora e incluir as
tecnologias de forma estratégica.
Palavras-chave
Educomunicação; Geração Z; Diálogo; Ecossistema Comunicativo; Escola.
Abstract
This text takes into consideration the interrelation between the scientific areas of Education
and Communication in order to identify alternatives which make the school environment and
the teaching-learning processes more relevant to the expectations of the contemporaneous
young person. In order to contextualize the education during High School, the new ways of
relationship with the knowledge from the Ciberculture under the perspective of Generation Z
– which represents the present student body – were investigated. Such theoretical
investigation was confronted with a case study in the Brazilian Israelite School, which aims to
organize and analyze the educative practices within a Communicative Ecosystem. Thus, it was
possible to recognize challenges to promote teaching-learning processes linked to the
dialogue with the Generation Z, among which some stands out: investing on transdisciplinary
spaces; stimulating the orienting teaching and including the technologies in a strategic way.
Keywords
Educommunication; Generation Z; Dialogue; Communicative Ecosystem; School.
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Introdução
No dia 1º de janeiro de 2015, a Presidenta reeleita Dilma Rousseff1 anunciou o novo
lema da nação: “Brasil, Pátria Educadora”. Tal lema está alinhado ao momento fundamental
da Educação para os municípios, estados e Distrito Federal, já que, com a aprovação do Plano
Nacional de Educação (PNE) em 2014, todos supracitados devem estar em processo de
planejamento para elevar a qualidade do ensino e cumprir com as metas estabelecidas no
PNE. Paralelo aos desafios da universalização do ensino, da inclusão das minorias excluídas e
outras pautas fundamentais à Educação, há um problema iminente a toda educação pública e
privada contemporânea: estudos demonstram baixo índice motivacional dos alunos na escola
atual. Segundo pesquisa nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (UNESCO), de 2008, metade dos alunos brasileiros de ensino médio
acredita que entre os principais problemas da educação está o desinteresse dos alunos.
Recente pesquisa da Fundação Getúlio Vargas2 (2009) também chamou a atenção para a falta
de interesse dos jovens no ambiente escolar: ela demonstrou que 40% daqueles que
abandonaram a escola o fizeram por falta de interesse, enquanto 27% por necessidade de
trabalhar e 10% pela falta de escolas. Percebemos que os problemas da educação não se
encontram apenas na democratização do acesso às escolas, mas na necessidade de tornar os
jovens interessados nos processos de ensino-aprendizagem.
É justamente diante do desafio de tornar a escola mais interessante à juventude que
este trabalho se apropria da inter-relação entre a Educação e a Comunicação. O objeto de
estudo escolhido foi o da gestão comunicacional no ambiente escolar e, para um recorte mais
sucinto, definiu-se o ensino médio, com jovens entre 15 e 17 anos, como contexto a ser
investigado.
O objetivo geral deste trabalho, portanto, é investigar a inter-relação entre
Comunicação e Educação no contexto escolar de ensino médio com a intenção de cumprir
uma série de objetivos específicos: I) contextualizar a escola com as novas formas da
sociedade se relacionar com o conhecimento; II) apontar as características da juventude no
ambiente escolar; III) identificar, organizar e reconhecer as principais áreas de intervenção da
Educomunicação no ambiente escolar; IV) apontar caminhos e questionamentos para a
promoção do diálogo nos processos de ensino-aprendizagem no ensino médio.
Primeiro, então, estrutura-se a fundamentação teórica, separada nos seguintes
aspectos: o epistemológico da inter-relação entre Educação e Comunicação; o das novas
formas da sociedade contemporânea de se relacionar com o conhecimento; o das principais
características da Geração Z como educandos e o organizacional que promove áreas de
intervenção no contexto escolar a partir da Educomunicação. Para aproximar a
fundamentação teórica da prática educativa foi escolhida a metodologia do Estudo de Caso,
na qual o Colégio Israelita Brasileiro (CIB) de Porto Alegre foi escolhido por ser uma escola
tradicional e que se posiciona como inovadora, principalmente através da inserção das
tecnologias em sala de aula. Por fim, o artigo faz as considerações finais do trabalho.
O diálogo está no centro das confluências epistemológicas
O paralelo entre as tradicionais áreas da Educação e Comunicação está vinculado ao
papel do diálogo. A partir do levantamento bibliográfico, identificou-se que a perspectiva dos
1 Recuperado 25 março 2014, em: http://www.brasil.gov.br/governo/2015/01/dilma-toma-posse-e-anuncia-lema-do-novo-governo-
201cbrasil-patria-educadora201d. 2 Recuperado 25 março 2014, em: http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1169/motivos-da-evasao-escolar/
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estudos de recepção na Comunicação é uma possibilidade de concordância com os estudos da
Educação, mais especificamente, com as teorias do currículo.
Os estudos da recepção tratam, segundo Jacks e Escosteguy (2005), da comunicação
enquanto relação dos meios com suas audiências. Tais estudos surgem no escopo da
comunicação no ambiente acadêmico desde a década de 1920, época na qual o polo da
emissão foi amplamente privilegiado já que analisava o receptor via os efeitos das mensagens
enviadas. Um dos primeiros modelos de comunicação, chamado de “Teoria Matemática da
Comunicação3”, punha a transmissão de informação de forma linear e descartava o contexto.
Somente a partir da década de 1970 houve uma mudança de paradigma e “[...] a recepção
começa a ser concebida como ativa, admitindo-se a participação dos sujeitos na reconstrução
dos significados das mensagens.” (BACCEGA & GUIMARÃES, 2006, p.409). É nesta
mudança que se faz a relação com a Educação.
Já as teorias do currículo, da Educação, são definidas por Silva (2010) como as
escolhas por quais conhecimentos devem ser ensinados na escola. O termo obteve força em
época análoga aos primórdios dos estudos da recepção com a obra The Curriculum4 (1918)
que tratava o sistema educacional como um estabelecimento comercial, já que previa
resultados fixos em seus educandos para cada processo. No entanto, na década de 70 as
teorias críticas do currículo “desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas
desigualdades e injustiças sociais” (SILVA, 2010, p.30), e passam a conotar um papel ativo ao
educando.
Assim, tal qual a comunicação pode ser concebida e até realizada sob a prerrogativa
linear de emissor-mensagem-receptor, inquestionável na década de 20, a pedagogia também a
pode fazer, sendo tal paradigma denominado por Paulo Freire (1987) de educação bancária,
em que vige a opressão em contrapartida da liberdade. Segundo Baccega e Guimarães (2006),
o modo como o professor concebe o aluno está diretamente conectado ao modo que a
comunicação concebe o receptor. Ao considerar o receptor ativo, através do diálogo, se
vinculam Educação e Comunicação.
O conceito do diálogo, entretanto, é amplamente discutido academicamente e cabe
fazer uma breve ressalva sobre a diferenciação entre duas correntes de pensamento: a
freireana e a buberiana. Comecemos pelas consonâncias: primeiramente, como nos aponta
Martín-Barbero (2014), o diálogo jamais pode ser entendido como simples e direto, como se
fora uma simples fórmula matemática. Tal qual a linguagem, o diálogo não se constitui apenas
no entendimento das atribuições do símbolo, mas também na própria constituição da
subjetividade: é o que Martín-Barbero (2014) chama de mediação. Neste ponto concordam as
filosofias de Martim Buber e Paulo Freire; entremos nas diferenças.
Buber, através de seu teorema Eu-Tu, posiciona o diálogo enquanto ontologia: o ser -
Eu - não existe sem o Tu. Ou seja, a relação e o diálogo não são apenas ferramentas ou
potências para fins; são, afinal, as próprias formas de existirmos no mundo. Já para Freire, os
homens, através do diálogo, pronunciam o mundo. Chama tal conceito de “palavra”. Ou seja,
através da linguagem, a pronunciação do mundo se dá sempre em duas esferas: ação e
reflexão. Quando a “palavra” é apenas uma, está destituída de diálogo.
Neste ponto encontra-se a diferença nas concepções do diálogo entre os dois autores:
na presença da finalidade política e emancipadora dos sujeitos na abordagem freireana. Então,
enquanto para Freire o diálogo serve ao direito de todos a pronunciarem o mundo unindo ação
e reflexão, para Buber (2001) não há intencionalidade, nem estratégias: é simplesmente o que
somos.
Mas, afinal, por que isso é importante? É justamente neste sentido que o artigo se
3 Shannon, C. & Weaver, W. (1975). The mathematical theory of communication. Chicago: University of Illinois Press. 4 Bobbitt, John Franklin. The Curriculum. Boston: Houghton Mifflin, 1918.
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desdobrará ao se afastar da epistemologia. O ecossistema comunicativo de um ambiente
escolar, que será abordado adiante, sugere que o aporte da Educomunicação vá além da
imersão de tecnologias ou da manutenção do direito à expressão, por exemplo. Ele preza por
uma estrutura dialógica que provoca o coletivo ao conhecimento incessante, sem finalidades,
mas como uma ontologia: uma forma de ser Escola que se posiciona no espaço do entre. Para
nós, esse entendimento é uma alternativa para promover o diálogo com os jovens e aumentar
o interesse frente às escolas contemporâneas.
O conhecimento vive a crise da modernidade
Não há quem defina, com segurança, uma inexata pós-modernidade. Entretanto, a
crise do pensamento moderno já está consolidada e enquanto a sociedade reinventa o mundo,
muitas estruturas, entre as quais a escola, não acompanham as mudanças. A crise da
modernidade é, sobretudo, aquela que descentra o sujeito cartesiano5 e que questiona as
metanarrativas, ou seja, os pensamentos totalizantes do saber do pensamento moderno.
Para Silva (2010), o currículo predominante é justamente uma encarnação do
pensamento moderno: é linear, sequencial, estático, realista, objetivista, disciplinar,
segmentado, eleva o conhecimento “científico” em detrimento ao cotidiano. Tampouco as
teorias críticas da Pedagogia respondem à crise, já que focam em demasia na emancipação do
sujeito Moderno.
É no contexto da crise da Modernidade que surge o conceito de Cibercultura,
sobretudo nos estudos de Comunicação. Lemos (2010) define Cibercultura como uma forma
cultural da pós-modernidade, já que resulta da convergência entre a sociabilidade e as
tecnologias microeletrônicas.
Lévy (1999) faz referência à evolução do conhecimento na história: antes da escrita, o
saber era ritual, prático e encarnado por toda comunidade. Depois, pertencia aos livros e aos
seletos intérpretes. Com o tempo, passou a uma biblioteca, e era sábio o homem que
dominava todo o conhecimento. Hoje, é tempo de Cibercultura e o que o autor chama de
“desterritorialização da biblioteca”: o conhecimento tem possibilidades infinitas e pertence à
rede, não a determinado grupo.
Gómez (2006) faz importantes aportes para o conhecimento não ficar sujeito nem à
visão tecnocêntrica - que dá demasiada importância às tecnologias - nem à sociocêntrica - que
dá demasiada importância aos atores sociais. Para ele, a contemporaneidade se caracteriza
justamente pela “explosão de mediações”: há tanto a descentralização das mediações entre os
meios midiáticos, como o enfraquecimento das mediações de tradicionais instituições, tal qual
a Escola e o Estado.
A perspectiva que se segue aqui é justamente essa: a da complexidade, a da “explosão
de mediações”. Martín-Barbero (2014) apresenta um conceito pertinente a essa perspectiva,
chamado de “ecossistema comunicativo”, que se define como o entorno educacional que nos
envolve e tem como características ser difuso, pois conta com uma mistura de saberes e
linguagens circulando por dispositivos midiáticos interconectados, e descentrado, por ir além
dos meios tradicionais da educação como o livro e a escola. Soares (2012), principal autor da
Educomunicação, posiciona o ecossistema comunicativo dialógico como o ideal a ser
alcançado pelos ambientes educativos.
5 Em referência a René Descartes (1596-1650), símbolo da centralidade do Modernismo, autor da frase: “penso, logo existo”. Descartes, R.
(1996). Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes.
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A cibercultura muda o paradigma do conhecimento
A partir desse cenário de complexas mediações entre atores humanos e tecnológicos,
algumas características se tornam proeminentes para o ambiente do conhecimento e surge um
novo paradigma. Castells (2000) o define como o “paradigma da tecnologia da informação” e
aponta algumas características, entre elas destaca-se: informação é sua matéria prima - as
tecnologias agem sobre múltiplas informações e não apenas para gerar novas informações;
lógica das redes - cenário com crescimento mais horizontal, favorável à inovação e que
diminui importância das estruturas; flexibilidade - favorece reconfigurações e mudanças
constantemente; e convergência tecnológica - tendência na qual as tecnologias se
complementam e dependem uma da outra. Junto ao valor da lógica das redes de Castells
(2000) cabe ressaltar o conceito de “inteligência coletiva” de Lévy (2007), que muda o
paradigma moderno “penso, logo existo6” para “formamos uma inteligência coletiva, logo
existimos eminentemente como comunidade”. No contexto da educação, Lévy (2007) acredita
que o caminho mais promissor é o da aprendizagem cooperativa, justamente por coadunar
com esse conceito. Para o autor, a transmissão de saberes não deixa de existir, simplesmente é
mais eficiente por outros meios que não a escola e o professor. Lévy (1999, p.169) incita,
também, que “os indivíduos toleram cada vez menos seguir cursos uniformes ou rígidos que
não correspondam às suas necessidades reais e à especificidade de seu trajeto de vida”, por
isso a educação precisa sair da metáfora da pirâmide, de pré-requisito para saberes superiores,
e entrar no modelo da navegação, que promove conhecimentos diversos com maior
personalização e crescimento em rede.
Mais recente que os primórdios dos estudos da Cibercultura, o debate acerca do valor
da realidade móvel ganhou enorme relevância a partir do crescimento dos smartphones e
tablets. Para Lemos (2009), os meios de comunicação massivos tradicionais, como a
televisão, implicavam em pouca mobilidade comunicacional, restando-se restrita ao consumo.
Já os recentes meios pós-massivos, móveis e em rede, além do consumo, ampliam também as
possibilidades de produção e distribuição de informação. Se então já vivíamos um contexto de
conexão, a mobilidade amplia as formas de conexão entre homens e homens, homens e
máquinas e máquinas e máquinas. É o momento em que Lemos (2007, p.2) define que “a rede
transforma-se em um ‘ambiente’ generalizado de conexão, envolvendo o usuário em plena
mobilidade”. Esta liberdade para se movimentar pelo tempo e espaço, com possibilidades
múltiplas e constantes de buscar informações torna os homens o que o autor define como
“nômades por conhecimento”.
De volta à prática, no contexto escolar, três termos envolvendo aprendizagem com
tecnologia aparecem com frequência: e-learning, caracterizado pela educação eletrônica à
distância, via internet; m-learning, referente às metodologias com dispositivos móveis e, por
fim, a u-learning, alusivo ao ensino ubíquo, ou seja, apoiado na tecnologia, mas com
liberdade para transitar em qualquer ferramenta. As três modalidades são relevantes aos
jovens “nômades” que, através das tecnologias móveis, situam o espaço e o tempo como
constantes oportunidades de acesso à informação e à comunicação. Mesmo que se possa
prever um cenário no qual o u-learning seja realidade a toda sociedade, o caminho não é
basear toda a educação nas tecnologias, mas considerá-las mediações permanentes e
importantes em um amplo e diversificado ecossistema comunicativo.
6 Também faz referência ao filósofo símbolo do Modernismo, René Descartes (1596-1650).
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A Geração Z7 já nasceu na cibercultura
Há variações entre as definições da geração subsequente a Geração Y, mas o que nos
interessa é o recorte dos jovens que nasceram no mundo pós-internet: os chamados nativos
digitais, nascidos a partir de aproximadamente 1995. Diferente das gerações anteriores, dos
“imigrantes digitais”, a Geração Z é a primeira que cresceu alfabetizada digitalmente e livre
de qualquer “sotaque”. Segundo Tapscott (2010), é a geração que não diferencia o off do
online. Marc Prensky (2001) diz que a singularidade dessa geração está justamente na rápida
disseminação da tecnologia digital nas últimas décadas do século XX. No entanto, ela ocupa
diferentes posições: ora otimista, como uma oportunidade de democratizar e compartilhar
conhecimentos sem distinções de classe, por exemplo, e ora pessimista, como uma ferramenta
que promove uma visão rasa e efêmera do mundo. Tapscott (2010) é otimista ao observar o
comportamento dos jovens frente às tecnologias digitais, inclusive a televisão. Para o autor,
pela primeira vez os jovens assumiram controle dos elementos primordiais para uma
revolução em comunicação, já que outrora o poder era exclusivo às redes de televisão e à
mídia impressa e, por conseguinte, à visão de mundo de seus proprietários.
Diversas críticas também acompanham essa emergente geração. Neste contexto, as de
Mark Bauerlein (2008) estão entre as mais proeminentes. O autor afirma que ao invés da
inquietude e da curiosidade, até então valores centrais da juventude, estão presentes o
consumismo e o imediatismo que perpetuam a infantilidade e assim fazem com que a
juventude abdique de alcançar a profundidade em qualquer tema. No entanto, há poucas
evidências que comprovem o que diz. Entre os extremos do otimismo libertário das
tecnologias e a visão pessimista sobre essa juventude rasa encontram-se os trabalhos de
Palfrey e Gasser (2013) e de Veen e Vraaking (2009), que analisam os desafios para essa
juventude e para aqueles mais responsáveis por ela: pais e professores. É a partir dessa
perspectiva que vamos analisar a relação desses jovens com o ambiente de ensino.
Para Veen e Vrakking (2009) a Geração Z está se moldando a partir da relação com a
tecnologia. Por exemplo, as crianças aprendem desde cedo que há múltiplas fontes de
informação cujas verdades podem ser diferentes. Além disto, estão acostumadas a ter
completo controle sobre o fluxo de informações, seja pelo mouse, controle remoto ou celular.
Nesse aspecto encontra-se uma diferença crucial entre a Geração Z e suas antecessoras:
enquanto a primeira funciona em rede e de forma difusa, a segunda é linear e centralizada.
Enquanto as antecessoras leem o manual para instalar algo, a Geração Z já sai manuseando e
recorre aos fóruns e às informações na rede.
Outro elemento-chave para os autores está justamente no papel dos jogos para essa
geração. Tal qual o jovem exerce o controle sobre o fluxo de informações, ele o faz ao brincar
em ferramentas tecnológicas, inclusive, a partir dos três anos. Ao jogar, eles são estimulados
por desafios cada vez maiores e aprendem por meio da descoberta e da experimentação, afinal
o computador os dá infinitas chances. Os jogos em rede também estimulam a cooperação para
poder vencer, que corrobora com a visão de Palfrey e Gasser (2013), acerca do aprendizado
em times: a escola do futuro segue a tendência ao compartilhamento e da construção do
conhecimento coletivo. Já dizia Lévy (1999), que o caminho mais promissor para a educação
era o cooperativo.
É evidente que a tecnologia tem papel importante nessas mudanças. Porém, as maiores
mudanças pouco tem a ver com inclusão das tecnologias na sala de aula. Para Tapscott (2009),
7 Para entender a abordagem de gerações, utilizamos a definição de condensação relativa de Bauman (2011): “[...] nenhum ser humano é
exatamente igual a outro - e isso se aplica tanto aos jovens quanto aos velhos. Contudo, é possível notar que, em determinadas categorias de
seres humanos, algumas características ou atributos tendem a aparecer com maior frequência que em outras. É essa ‘condensação relativa’ de
traços característicos que nos permite falar, em primeiro lugar, em ‘categorias’, sejam elas nações, classes, gêneros ou gerações.”
(BAUMAN, 2011, p.58).
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a principal mudança de paradigma que essa geração precisa, na qual a tecnologia digital deve
estar inserida, é na mudança da “Aprendizagem Difusora” para a “Aprendizagem Interativa”,
que defende as seguintes mudanças: I) as atividades devem ser centradas no aluno, não no
professor; II) as atividades devem ter uma medida para cada, não uma medida para todos; III)
as atividades devem privilegiar a descoberta, não a instrução; e IV) a aprendizagem deve ser
colaborativa, não individual.
A educomunicação é uma solução consolidada
A inter-relação entre Educação e Comunicação está consolidada como uma área
própria do saber científico, tendo em vista a vasta literatura e os diversos projetos dos últimos
vinte anos. Citelli (2011) a legitima como um campo próprio do saber com o objetivo de, em
síntese, pensar e praticar Educação no âmago do ecossistema comunicativo. Cabe aqui
ressaltar a visão de ecossistema comunicativo de Soares (2012) e própria da Educomunicação:
o termo é uma figura de linguagem para ilustrar um ideal de relações que é decorrência de
uma decisão estratégica de assumir o planejamento e execução da Educomunicação, através
do diálogo no ambiente escolar.
Soares (2000) defende que a Educomunicação se encontra na solução dos destempos8
da educação contemporânea: enquanto para a Educação, o espaço é a escola local e o tempo é
o estudo do passado, para a Comunicação o espaço é desterritorializado, virtual, e o tempo é o
presente. Portanto, é preciso de alinhamento para relacionar as áreas. O autor também
estabelece dois pressupostos teóricos e dois práticos para a Educomunicação, que dão
consistência acadêmica ao debate e que coadunam com o que foi abordado anteriormente
neste trabalho.
O primeiro pressuposto teórico diz que a educação só é possível enquanto ação
comunicativa, já que a comunicação está presente em todos os modos de formação do ser
humano e já que toda comunicação é em si uma ação educativa. O segundo converge com o
primeiro ao posicionar a Educomunicação como um campo de inter-relação entre as duas
áreas da ciência, em oposição a disposições de confronto ou cooperação. Já o primeiro dos
práticos define um campo de práxis abrangente, ao elucidar que a relação da Educomunicação
com a escola extrapola a visão mais comum de educação para a mídia. Para isso, posiciona a
área em três âmbitos: I) o administrativo, voltado à gestão das relações entre públicos
internos; II) o disciplinar, que sugere que a comunicação enquanto linguagem, processo e
produto cultural se transforme em conteúdo disciplinar e que visa garantir um tratamento
educomunicativo a toda grade curricular; e III) o transdisciplinar, que dá mais liberdade a
educandos e educadores, com estímulo aos projetos e à utilização das linguagens midiáticas.
O quarto pressuposto trata de um ponto crucial para a efetuação dessas ideias que é a
formação de profissionais educomunicadores. Para o autor, os preconceitos entre os
profissionais de Pedagogia e da Comunicação afastaram a necessidade dos educadores de
entenderem as linguagens produzidas socialmente na construção da cultura contemporânea.
Atualmente, para Soares (2012), os maiores desafios do campo são justamente colocar
em prática tais pressupostos e disseminar tais informações, tendo em vista que já há diversas
consonâncias legais9 que estimulam projetos dessa índole, assim como há bastante material
acadêmico próprio e de inter-relação entre as áreas para serem usados. Para tanto, o
8 Remete ao conceito apresentado por Martín-Barbero (1997 apud SOARES, 2000) que basicamente, se refere à permanência de uma
determinada ideia sem que acompanhe uma mudança sociocultural. Orozco (2006, p.86), define destempos como “superposições de
temporalidades, modernas, pré-modernas e pós-modernas, [nas quais] ao mesmo tempo que indicam o sentido das mudanças, definem sua
adaptação a elas [...]”. 9 Para mais informações: Soares, I. (2012). Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação: contribuições para a reforma do ensino
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“ecossistema comunicativo” baseado no diálogo deve ser entendido como uma meta perante o
planejamento, a realização e a avaliação de processos, produtos e projetos. Para dar sustância
ao ecossistema comunicativo, Soares (2012) sugere as seguintes áreas de intervenção, com os
seguintes objetivos:
Educação para Comunicação: compreender o fenômeno da comunicação
interpessoal, grupal, organizacional e massivo; estudar papel dos meios de
comunicação;
Expressão comunicativa através das artes: explorar o potencial criativo e
emancipador das distintas formas de manifestação artística;
Mediação tecnológica: práticas relacionadas com o uso de Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) de forma democrática e estratégica;
Pedagogia da comunicação: atentar ao cotidiano da didática; promover a
cooperação e a realização de projetos;
Gestão da comunicação: planejar e executar as práticas referentes às áreas
anteriores; avaliar constantemente - exige auxílio de profissional da área;
Reflexão epistemológica: estudar constantemente a inter-relação entre as áreas da
Educação e Comunicação para analisar diferenças entre teoria e prática.
Portanto, nota-se que a Educomunicação não visa estabelecer características de uma
sociedade contemporânea, mas propor uma abordagem prática para a gestão escolar, levando
em consideração toda a base teórica da inter-relação entre as áreas. Sob essa perspectiva, o
estudo de caso foi realizado em um Ensino Médio de uma escola que não conta com
planejamento em Educomunicação, para descobrir suas dificuldades e oportunidades.
Ecossistema comunicativo no Colégio Israelita Brasileiro (CIB)
Foi feita uma análise de um ecossistema comunicativo sob a perspectiva da gestão
escolar. Primeiro serão apresentados os processos metodológicos, estratégia de pesquisa e
fontes de evidência. Posteriormente, será apresentada a análise dividida em três etapas:
filosofia educacional; ecossistema comunicativo e generalização dos desafios.
O método escolhido foi o estudo de caso único por ser indicado quando a teoria já
fornece diversas proposições que podem ser testadas e analisadas sob as circunstâncias
específicas do caso (YIN, 2001). Também se posiciona como um estudo introdutório, já que
não foram encontrados trabalhos que analisam escolas sob a perspectiva da gestão de um
ecossistema comunicativo.
A estratégia de pesquisa foi dividida em três etapas com os seguintes objetivos: I)
Filosofia Educacional: analisar a presença do diálogo, como conceito, nos documentos
norteadores do CIB. II) Ecossistema Comunicativo: organizar e analisar as atividades de
caráter educomunicativo do ensino médio do CIB em um ecossistema; III) Generalização:
reconhecer desafios do ensino médio para dialogar com a Geração Z e apontar alternativas
para promover o interesse dos educandos.
As fontes de evidência foram escolhidas a partir do conceito de triangulação de Yin
(2001) que entende as informações a partir de múltiplas fontes. Primeiramente, foi feita uma
análise de documentos norteadores da gestão e prática escolar10. Posteriormente, foram feitas
três entrevistas informais, duas com Adriana Beatriz Gandin, a Coordenadora Administrativo
10 Foram analisados três documentos: Valores Institucionais, Mandala Educativa e Triple A. Eles estão descritos no site da escola.
Recuperado 2 junho 2015, em http://www.colegioisraelita.com.br.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Pedagógica e uma com Iury Carmo de Melo Wald, o Analista de Suporte, responsável pelas
TIC na escola. Por fim, foram feitas duas observações diretas de aulas com mediação
tecnológica para turmas de ensino médio.
A filosofia que norteia e o ecossistema que faz acontecer
Para entender a realidade escolar, primeiro foram analisados os documentos
norteadores. No CIB foi observado que, apesar do diálogo não aparecer de forma direta, os
valores da escola estão à frente das típicas metanarrativas da Modernidade e há espaços para
interpretação que incentivam a comunicação. Vejamos os trechos dos Valores Institucionais,
divididos em Visão, Missão e Proposta.
Primeiro, destaca-se a Visão da escola: “Ser uma instituição reconhecida pela alta
qualidade de ensino, cujo projeto educativo valoriza de forma marcante a cultura e as
relações interpessoais através de práticas inovadoras, vinculadas à preparação para o
empreendedorismo.” (CIB, grifos nossos). Já a Missão da escola declara que “[...] elege a
educação para a Paz e a busca constante pela excelência de ensino com vistas à formação de
cidadãos preparados para a vida e para a construção de uma sociedade plural.” (CIB,
grifos nossos). A Proposta contempla dois principais valores para o cumprimento da missão;
primeiro, define a Cultura como o centro do projeto educativo, através da qual os “[...] alunos
são incentivados a buscar [...] seus próprios espaços de realização pessoal e auto-superação
(sic), em uma perspectiva empreendedora.” (CIB, grifos nossos). Em seguida define
Solidariedade “como a responsabilidade que temos uns pelos outros, é o sentido que o
Colégio atribui à participação no espaço coletivo.” (CIB, grifos nossos).
A partir do posicionamento da escola enquanto instituição, já se notam interfaces com
a fundamentação teórica. O papel da cultura e das relações interpessoais reforça o papel da
comunicação na escola. A cultura tem papel central para a promoção de um ambiente
comunicativo já que a comunicação está sempre imersa na memória comum dos sujeitos, tal
qual o colégio define a Cultura como centro de seu projeto educativo. A inovação vinculada
ao empreendedorismo também representa uma visão dialógica de conceber o educando,
considerando-o ativo e com múltiplos caminhos de evolução, contrapondo-se ao que seria a
visão bancária da educação de Freire (1987).
Ao definir a cultura como espaço para auto-superação, a filosofia coaduna com a
perspectiva freireana do diálogo de atribuir para os processos de ensino-aprendizagem, uma
finalidade emancipadora ao sujeito. No entanto, tal emancipação vinculada à “perspectiva
empreendedora” está assaz reservada à perspectiva individual da “auto-superação”, deixando
de incorporar uma perspectiva da dialogicidade como ontologia, de basear-se nas relações Eu-
Tu (BUBER, 2001), e que incentivaria um cenário contemporâneo de cooperação e
desenvolvimento em rede.
Além da cultura organizacional, outro documento fundamental para a realidade da
escola é a Mandala Educativa, que diz respeito a nove diferentes núcleos de atuação que
propõem um ensino para além dos livros e disciplinas tradicionais. Entre elas destaca-se o
Núcleo de Ciência & Tecnologia que traz “[...] os conteúdos para o ‘mundo real’, para serem
utilizados no cotidiano, na vida dos alunos.”; a Cidade-Laboratório que traz oficinas opcionais
e transdisciplinares; o Núcleo Educacional de Empreendedores que visa “[...] mostrar
caminhos para que os jovens possam gerenciar suas vidas”; e o Currículo Socioafetivo que vai
além da dimensão cognitiva e estimula a convivência e a formação de identidade. Aqui é
necessário reforçar a importância da Cidade-Laboratório como estrutura para uma abordagem
transdisciplinar da educação. Ela dispõe de cinco núcleos: Ciência & Tecnologia, Cultura e
Erudição, Educacional de Empreendedores, Educação Judaica e Política e Cidadania e visa
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
oferecer oficinas para todas as etapas da escola. A Cidade-Laboratório conta com prefeitura,
supermercado, banco, centro cultural, centro multimídia de imprensa e também com prefeito,
secretários e vereadores, todos com até 10 anos de idade.
A maior parte dos projetos estimulados pela Mandala Educativa acontece na Cidade-
Laboratório e se encontra no âmbito das práticas transdisciplinares que, segundo Soares
(2012, p.146), são aquelas nas quais “[...] professores e alunos podem encontrar o mais amplo
leque de possibilidades para o exercício da criatividade educomunicativa, mediante ações
através de projetos”. A Mandala Educativa é um importante avanço da gestão frente a um
ecossistema comunicativo dialógico e aos valores do CIB enquanto organização, analisados
anteriormente.
De forma geral, nos documentos analisados, a instituição demonstra estar consciente e
aberta aos novos contextos do conhecimento. Na filosofia, tem uma visão restrita do diálogo,
mas incentiva uma concepção ativa do educando. Ao centralizar a Cultura, motiva a escola a
acompanhar as mudanças na crise da Modernidade, lideradas hoje pela Geração Z, seu
público primário.
Analisada a filosofia, partimos para a análise do ecossistema comunicativo do CIB que
leva à prática os valores da escola. Nesta etapa utilizamos da separação de Soares (2012), ao
considerar os três âmbitos de atuação: administrativo, disciplinar e transdisciplinar; e as
seguintes áreas de atuação, conforme figura abaixo:
Figura 1 – Áreas de intervenção da Educomunicação
Fonte: os autores (2014), baseado em Soares (2012).
No âmbito administrativo, o CIB primeiramente apresenta uma filosofia alinhada com
o pensamento da Educomunicação, mesmo que com pouca clareza. Em segundo lugar, está
vivendo um processo importante que é o planejamento para adoção do Ensino Integral,
movimento que vai ampliar as possibilidades educomunicativas. Além disto, oferece amplo
suporte tecnológico para seus públicos internos: 3 Lousas Eletrônicas; 35 iPads; 35
computadores no laboratório de informática e computadores nas principais salas de aula e
laboratórios. Também, a Superintendência estabeleceu uma meta, na qual todos os professores
têm que incluir as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pelo menos duas vezes ao
ano. As metodologias com as TIC ficam a cargo do professor, mas tanto a Coordenadora
Administrativo-Pedagógica como o Analista de Suporte obrigatoriamente aprovam os projetos
ou, quando necessário, ajudam a concebê-los. Outro trunfo administrativo da escola é o
investimento na formação de professores. O CIB investe na Universidade Corporativa do
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Colégio Israelita Brasileiro (UniCCIB) que tem encontros mensais obrigatórios para os
professores da escola e ainda oferece vagas para profissionais da rede pública de educação.
Segundo Adriana B. Gandin, Coordenadora Administrativo-Pedagógica do Ensino Médio do
CIB, a UniCCIB está sendo fundamental na efetivação de novos projetos em sala de aula. Em
2013, as atividades foram a respeito do Ensino Integral.
Entretanto, a maior barreira que o CIB encontra para implantar novas mudanças é a
necessidade de focar na preparação para o vestibular. Contudo, Adriana B. Gandin afirma que
o crescimento do Enem oferece mais possibilidades para inovações dentro e fora da sala de
aula, por ser uma prova mais interpretativa e interdisciplinar. A falta de um profissional da
Educomunicação também dificulta o planejamento da comunicação como um ecossistema.
Analisados os principais esforços administrativos, seguimos com os âmbitos
disciplinar e transdisciplinar e suas seis áreas de intervenção. Avaliamos as atividades que
correspondiam às áreas e chegamos à seguinte conclusão: o ecossistema comunicativo do CIB
é contemplado, porém pouco aproveitado. Vejamos área por área:
Na primeira, educação para a comunicação, encontramos tanto práticas disciplinares:
o professor de Filosofia incluiu no currículo a discussão de relacionamentos virtuais a partir
do documentário Catfish11 para todas as séries do ensino médio; como transdisciplinares: com
projeto de leitura crítica da mídia, levado a cabo na Feira do Livro da escola.
Quanto à pedagogia da comunicação, além da filosofia da escola analisada acima, a
escola pede para que cada professor preencha uma ementa da disciplina com os objetivos,
conteúdos e formas de avaliação; neste documento12, a Escola faz uma tripla recomendação:
I) Diversidade didática (diferentes metodologias); II) Presença de tecnologia educacional
(diferentes recursos); e III) Acompanhamento individual do aluno (ensino customizado,
desafios e recuperação paralela). Tais recomendações estão de acordo com os valores da
Geração Z. Quanto às práticas transdisciplinares, na forma de projetos, são diversas as
possibilidades oferecidas pela escola. No entanto, grande parte delas é opcional e não conta
com alto índice de penetração. Entre elas, as oficinas da Cidade-Laboratório, como: Fórum de
Atualidades, Física Avançada, Edição de Vídeo e Música Hebraica. Outros projetos
transdisciplinares já integram o currículo escolar e têm maior adesão, além de serem
amplamente elogiados pela coordenação. Entre eles, destaca-se o projeto “Miniempresa13” de
empreendedorismo em conjunto com a Junior Achievment que visa a gestão de uma empresa
pelos alunos da 2ª série do Ensino Médio. Outro projeto de destaque é o “Mini Parlamento”,
de caráter obrigatório e que acontece no horário das disciplinas também para os alunos da 2ª
série. O projeto transforma os alunos em parlamentares do Estado de Israel com a tarefa de
criar leis que contribuam para o fim dos conflitos do Oriente Médio.
Quanto à mediação tecnológica, o CIB demonstra estar especialmente voltado para a
inclusão das tecnologias no âmbito disciplinar. Na pesquisa, foi observada uma aula de
preparação para o Enem com a utilização de computadores e do aplicativo Nearpod14 - que é
voltado para escolas e possibilita ao professor montar uma apresentação com diversos
recursos de interatividade e de avaliação por meio de questionários corrigidos em tempo real.
A atividade era essencialmente a mesma para todos os alunos, que podiam participar em
velocidades diferentes, mas também possibilitou uma reduzida diversificação ao permitir que
os alunos explorassem algumas páginas virtuais previamente selecionadas. O professor
aplicou ainda um questionário que corrigia automaticamente, mostrando gráficos de erros e
acertos da turma e das duplas. Esta atividade exemplifica que as tecnologias digitais são
ferramentas potentes para a educação, mas não necessariamente significam uma pedagogia
11 Documentário americano de 2010, conta a construção de amizades virtuais e compara as informações virtuais com a realidade.
Informações recuperadas 15 maio 2014 em: http://www.imdb.com/title/tt1584016. 12 A ementa original não foi disponibilizada para anexar a este trabalho. 13 Mais informações em: http://www.jabrasil.org.br/jars/programas/miniempresa 14 Mais informações em: http://www.nearpod.com/
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baseada no diálogo.
Por fim, na área de expressão comunicativa, o colégio tem disciplina de artes
obrigatória até o segundo ano e oferece aulas de dança e esportes como disciplinas opcionais.
No âmbito transdisciplinar, oferece uma oficina opcional de edição de vídeos e fotografias, e
por iniciativa do corpo discente, conta com um jornal do Grêmio Estudantil.
Vimos acima que todas as áreas de intervenção, salvo a Reflexão Epistemológica, são
contempladas pelas variadas atividades da escola, seja de forma disciplinar ou
transdisciplinar. No entanto, cabe salientar que apesar de contempladas, as atividades que
fazem parte do ecossistema comunicativo normalmente não alcançam todo o corpo discente
do ensino médio, nem compreendem em grande parte do currículo escolar.
Em suma, no âmbito administrativo a escola ruma para muitas melhorias, com ampla
formação de profissionais, suporte tecnológico, processos que incentivam o ecossistema
comunicativo, uma filosofia norteadora oportuna e já se prepara para efetivar o Ensino
Integral. Nos âmbitos disciplinar e transdisciplinar, a escola conta com diversas
possibilidades, com destaque para os projetos da Cidade-Laboratório. Mas, ainda esbarra em
dificuldades: a escola sofre primeiramente com o peso do Vestibular, que acaba sufocando
alternativas e priorizando a transmissão de saberes e o treino para provas. Os professores de
ensino médio, por exemplo, são orientados a aplicarem uma prova parcial e uma trimestral,
somando 70% da nota, nas datas previstas para as “semanas de provas”, que concentram todas
as provas, de todas as disciplinas. Resta ao professor, 30% da nota para outras formas de
avaliação, essas orientadas a serem alternativas; em segundo lugar, ao não assumir o ensino
integral para o Ensino Médio, novos projetos e metodologias não encontram espaços frente à
força do currículo para o Vestibular. Mas, assim que o assumir, um novo planejamento e
novas soluções vinculadas a um ecossistema comunicativo dialógico irão surgir.
Desafios para escolas do ensino médio contemporâneas
A escola de ensino médio que está disposta a dialogar com o jovem contemporâneo
tem de estabelecer uma série de mudanças para solucionar os principais destempos da
educação para com a Geração Z e seu entorno de Cibercultura. O trabalho motivou uma série
de considerações que se propõem à generalização dos desafios, desde que avaliadas de acordo
com as realidades locais.
Sugerimos, pois, que os desafios encontram-se divididos em duas macroáreas. A
primeira é a político-administrativa, que diz respeito tanto às estruturas legais e de políticas
públicas, quanto às filosofias educacionais e processos de gestão de cada escola, que norteiam
a prática educativa. A segunda macroárea é a de ensino-aprendizagem, que se refere aos
processos de promoção do conhecimento, sob a responsabilidade de todos os diretores e
educadores.
Na macroárea político-administrativa, o primeiro desafio é se adequar à legislação
brasileira15, a qual já apresenta ampla consonância com os valores e com as novas formas da
Geração Z se relacionar com o conhecimento, principalmente através da interdisciplinaridade,
da inserção de tecnologias e da consideração do educando como sujeito produtor de
conhecimento. O segundo é repensar as estruturas de avaliação. Neste ponto, o maior enclave
resultante das políticas públicas é a preparação para o Vestibular, que perde força com a
progressiva aceitação do Enem pelas universidades brasileiras, mas que segue
impossibilitando inovações nas escolas pela necessidade de “passar” conteúdos para serem 15 Este trabalho não se propôs a publicar uma análise sobre a evolução das leis brasileiras em respeito à educação. No entanto, recomenda-se
a seguinte leitura, que evidencia os valores propostos: Abramovay, M. & Castro, M. (2003). Ensino médio: múltiplas vozes. Brasília:
UNESCO/MEC. Recuperado 22 março 2014 em: http://unesdoc.unesco.org.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
“memorizados”. Deste modo, ressaltamos a importância de se repensar as estruturas de
avaliação, de forma que conceba o educando não apenas como repositório de conhecimento,
mas como propõe Lévy (1999), como “recurso de aprendizagem”. Ao mudar o foco da
avaliação da transmissão para comunicação, surge a necessidade de pensar em políticas que
reconheçam a diversidade dos educandos e, que se aproximem ao máximo, de uma avaliação
personalizada, tendo em vista a crescente velocidade de renovação dos saber e do saber-fazer
(LÉVY, 1999). Avaliar a diversidade é muito difícil ao utilizar apenas uma ferramenta de
avaliação.
Além de seguir a legislação e repensar as estruturas de avaliação, é importante incluir
o diálogo nos documentos norteadores da escola. A perspectiva adotada por esse trabalho é a
de posicionar a dialogicidade no campo da relação, baseada no princípio Eu-Tu de Buber
(2001), sem pré-determinar qualquer finalidade, mas construindo um ecossistema
comunicativo que entende a complexa interação entre atores humanos e técnicos, no qual
através da descentralização da produção de saberes promove a diversificação do
conhecimento. Essa perspectiva não finaliza, mas minimiza a emancipação do sujeito
centrado, da autossuperação, da conscientização para a “pronúncia do seu mundo” (FREIRE,
1987) e da maneira na qual o CIB diz em sua Proposta Educativa que na Cultura “os alunos
são incentivados a buscar [...] seus próprios espaços de realização pessoal e auto-superação
(sic), [...]”. Como vimos a partir de Hall (2000), a fragmentação do sujeito é uma das
características mais marcantes da crise da modernidade. Se por ora o domínio do saber foi
considerado exclusivo ao professor, tampouco se pode deixar levar para uma pedagogia que
centralize em demasia a produção do saber no sujeito-educando. A dialogicidade proposta
aqui contextualiza a produção do saber em um difuso ecossistema comunicativo.
Por fim, é necessário formar profissionais educadores. Neste caso, o CIB é referência
com a UniCCIB que oferece educação continuada para os profissionais e é, segundo Adriana
B. Gandin, o berço da maior parte de projetos inovadores. É preciso incentivar que tanto
educadores, como comunicadores especializem-se na Educomunicação para promover
mudanças em suas escolas.
Partimos para a macroárea de ensino-aprendizagem. O principal destempo é o embate
comunicacional entre uma escola que se mantém vinculada a um currículo proposto na
Modernidade e um corpo discente que é considerado a geração dos nativos digitais e que se
situa justamente além da crise da Modernidade. A perspectiva que se assume aqui é a de
estimular a curiosidade e a participação dos educandos através daquilo que valorizam, para
que se sintam estimulados tanto aos processos de ensino-aprendizagem quanto ao ambiente
escolar.
Neste sentido, o primeiro desafio dos processos de ensino-aprendizagem é o de
promover a transdisciplinaridade. Foi visto na bibliografia e no caso do CIB que as propostas
transdisciplinares, através de projetos, como as oficinas da Cidade-Laboratório, são aquelas
que mais atraem o interesse dos educandos. Soares (2012) afirma que o avanço do Ensino
Integral é uma grande possibilidade para as escolas começarem, aos poucos, a transição de
uma educação principalmente disciplinar, para uma educação principalmente transdisciplinar.
O segundo desafio é que o professor seja mais orientador, ao invés do transmissor. Os
alunos são diferentes e querem ser tratados dessa forma. Junto a essa lógica, surge o terceiro
desafio que é o da diversificação e personalização, para que os alunos se sintam
constantemente desafiados, de acordo com suas velocidades e interesses, seja em grupo ou em
particular.
O quarto desafio é utilizar as tecnologias de forma estratégica. Ou seja, não utilizá-las
apenas como ferramenta, mas a serviço de uma pedagogia que, de fato, dialogue com essa
geração. Por fim, o quinto desafio é aplicar o que Soares (2012) chama de “tratamento
educomunicativo” para que “[...] mesmo ambientes fechados e rígidos possam ser
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beneficiados pela brisa educomunicativa” (Soares, 2012, p.75). Ao ler as provocações
fundamentadas na teoria, reconhece-se uma iminente urgência em inovar nas práticas de
ensino-aprendizagem. No entanto, não deve haver a pretensão de apagar o que é feito. As
mudanças podem ser incorporadas aos poucos, de modo que a instituição siga valorizando
seus profissionais e que as próprias mudanças inspirem inovações.
Relembremos os desafios propostos à generalização para solucionar os destempos da
educação. Primeiro, na macroárea político-administrativa: discutir e seguir a legislação
brasileira; reestruturar as formas de avaliação e de acesso ao Ensino Superior; incluir o
diálogo na filosofia educacional e, por fim, formar continuamente os profissionais. Já na
macroárea do ensino-aprendizagem: promover a transdisciplinaridade; tornar o professor mais
orientador; investir na diversificação e personalização; utilizar as tecnologias de forma
estratégica; dar tratamento educomunicativo a todas as práticas.
Considerações Finais
A investigação acerca da inter-relação entre Comunicação e Educação no ensino
médio contemporâneo permitiu reflexões e ponderações acerca do paradigma escolar vigente.
Viu-se que a Comunicação passa a ter um papel importante na gestão da instituição escolar e
de processos de ensino-aprendizagem, a partir do momento no qual a filosofia e os
profissionais da Educação consideram a escola como um espaço de diálogo, em um contexto
de múltiplas mediações. Mas, de fato, a complexidade que a Educação enfrenta é enorme e
não cabe à Comunicação ou à Educomunicação tomar para si o problema em sua amplitude.
O que pretende a Educomunicação é fazer parte da gestão e planejamento de ambientes
educativos, sejam escolares ou não.
A contribuição de analisar um ambiente educativo sob a matriz do ecossistema
comunicativo, resultado de vinte anos de pesquisa e projetos de inclusão social, é de extrema
relevância para que as escolas despertem o interesse dos educandos frente à escola. A
Educomunicação trabalha com propriedade no campo da dialogicidade e por isso tem o
desafio de apontar caminhos a serem seguidos.
O intuito das provocações aqui apresentadas é justamente de problematizar a realidade
escolar, para que um debate acerca das propostas de ensino-aprendizagem aprimore
constantemente aquilo que está em curso. O caminho que vislumbramos é o da escola que
planeja os momentos de comunicação entre educandos-educandos, educandos-educadores e
educadores-educadores. Como esse diálogo vai acontecer? Há espaço para incluir a todos no
processo de ensino-aprendizagem?
Tais questionamentos devem sempre nortear a escola que investe em estratégias de
comunicação para promover o diálogo com os alunos da Geração Z - imersos na Cibercultura
e multiconectados. A Educomunicação, de fato, contribui para melhorar o ambiente educativo
e para potencializar os processos de ensino-aprendizagem.
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Professor x tecnologia: uso da ferramenta Blendspace em
sala de aula
Miguel A. de Oliveira Júnior
Mestre em Linguística Aplicada pela UNITAU-Taubaté/SP. Professor das Faculdades Integradas Teresa
D´Ávila-Lorena/SP, Associação Educacional Dom Bosco-Resende/RJ e Escola Superior de Cruzeiro-SP
Miriam L. Dias Macedo Rodrigues Alves
Graduada em Jornalismo pela UNITAU-SP. Especialista em Educomunicação pelas Faculdades Integradas
Teresa D’Ávila
Luara Aparecida Russo de Castilho
Graduada em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Especialista em Educomunicação pelas
Faculdades Integradas Teresa D’Ávila
Resumo
Como tornar as aulas mais dinâmicas, atrativas e informativas? Esta deve ser a indagação principal da grande
maioria dos docentes no Brasil. A educação passa por constantes mudanças e o aluno do século XXI que está
cercado por novas tecnologias exige que as mesmas também ultrapassem o muro escolar. Para isto o professor
deve buscar mecanismo ou ferramentas que deixem as aulas mais atrativas e dinâmicas. Uma pesquisa recente,
divulgada pelo portal Aprendiz, do UOL, aponta que a web pode ser utilizada para criar uma interatividade
entre alunos e professores, por meio da conexão de mídias. Para isto, ao propomos o uso da ferramenta
Blendspace, em sala de aula, para que aconteça uma interação maior entre aluno/professor. Este recurso
possibilita que a aula se torne mais interessante agregando informações atualizadas ao assunto tratado em
qualquer disciplina do meio escolar. O Blendspace pode servir como um facilitador seja: com o acesso à
internet, por meio das ferramentas Google; trazer novas informações ao conteúdo; dinamizar a forma que o
material é passado ao aluno com apresentação de vídeos, fotos, notícias e músicas e aproximar o educador do
educando tendo em vista os mecanismos disponibilizados pelo Blendspace. Sabemos que neste universo
tecnológico várias ferramentas são oferecidas para auxílio na educação, optamos em apresentar o Blendspace
por considerá-lo completo: rápido, fácil e educativo.
Palavras-chave
Tecnologia; Professor; Educação; Blendspace.
Abstract
How to make classes more dynamic, attractive and informative? This should be the main question of the vast
majority of teachers in Brazil. Education goes through constant changes and the student of the twenty-first
century that is surrounded by new technologies requires them also beyond the school wall. The reason the
teacher should seek mechanism or tools that let the most attractive and dynamic lessons. Recent research
published by the portal Apprentice, the UOL, points out that the web can be used to create a interactivity
between students and teachers, through the media connection. For this, we propose the use of Blendspace tool in
the classroom, so that happens more interaction between student/teacher. This feature allows a class to become
more interesting adding updated information to the subject matter in any school subject. The Blendspace can
serve as a facilitator is: with Internet access, through the Google tools; bring new information to the content;
streamline the way the material is passed to the student with the presentation of videos, photos, news and music
and approach the teacher of the student in view of the mechanisms provided by Blendspace. We know that in this
technological universe where various tools are provided to aid in education, we chose to present the Blendspace
by considers it complete: fast, easy and educational.
Keywords
Technology, Teacher, Education, Blendspace.
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1 Introdução
A necessidade do homem em se manter conectado com o novo vem desde os
primórdios. Já no século XV a humanidade iniciou o processo de mutação com seu meio,
devido a interconexão globalizada, bem como as revoluções na história política, econômica e
das comunicações, e iniciava-se o fenômeno das transformações.
Foi no fim da idade média em que os seres humanos conheceram a Revolução
Industrial, obrigando as pessoas a se adaptarem com o novo, apresentado na metade do século
XX.
O filósofo Pierre Lévy (2010) relaciona o desenvolvimento da comunicação paralelo
aos transportes, por exemplo, o transporte físico pela transmissão de mensagens; o telégrafo e
o avanço das ferrovias; o automóvel e o telefone; bem como o rádio, a televisão, os satélites,
os computadores e os ciberespaços.
Apesar dos avanços históricos, ainda nem todos os usufruem na atualidade, sendo
assim, a educação deve levar às escolas da rede municipal, estadual ou particular os meios de
comunicação e mídias utilizando-as como mecanismos para aproximar os alunos.
Nos últimos anos o ensino no Brasil se mostrou estagnado à nova realidade, o que quer
dizer pouco desenvolvimento enquanto, assim como no período da Idade Média, o homem
deixava sua zona de conforto para acompanhar os recomeços da Revolução Industrial.
Jacques Delors (2012) lamenta o insucesso escolar praticado no país e o classifica
como “irreversível”, dando origem à marginalização e a exclusão social. O universo escolar
tem se tornado desgastante às novas gerações. Na era digital, é preciso que os alunos em
questão sejam motivados ao ensino, ao conteúdo e as disciplinas impostas pela grade
curricular.
Para dinamizar esta realidade, novos recursos podem ser utilizados pelos professores,
tais como o Blendspace, um programa de fácil acesso, gratuito e que basta um computador
conectado à internet.
A ferramenta pode garantir o sucesso de uma aula ao permitir interação, mostra de
conteúdos externos (vídeos, fotos, pesquisas, notícias e conteúdo da rede), além de convidar o
aluno a ser participativo diante da disciplina. O objetivo é aproximar o educador do educando
com atividades mais interativas, criativas e interessantes.
2 Referencial Teórico
O ensino básico no Brasil é dividido em quatro etapas escolares, são elas educação
infantil, fundamental I, fundamental II e ensino médio. Sendo cada uma delas sob
responsabilidade de uma gestão, mas todas dependentes dos repasses do Governo Federal, por
meio do MEC – Ministério da Educação e da Cultura.
Sabemos todos que a distribuição de renda e da riqueza no país determina o
acesso e a permanência dos estudantes na escola. Considerar este contexto
socioeconômico descritiva e analiticamente, vê-lo como suscetível de
superação por meio de políticas sociais redistributivas e considerar a
situação da educação escolar enquanto tal são princípios metodológicos
indispensáveis para uma análise adequada das políticas educacionais.
Afirmar a determinação socioeconômica sobre a educação não é negar as
determinações (CURY, 2014)
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Recentemente, diversos programas de incentivos para a educação básica foram
lançados, como a alfabetização na idade certa, olimpíadas nacional de conhecimento da língua
portuguesa, de matemática e ciências; no entanto nenhum deles tem se refletido com muito
afinco nas escolas do país.
A falta de interesse dos alunos e de adequações na metodologia da educação brasileira
agravam este quadro. O governo federal tem se desempenhado como forma de avaliar o
conteúdo ministrado aos estudantes (Saeb – Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica), por exemplo, mas os números ainda não são satisfatórios.
Para a diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, o PNE
(Plano Nacional de Educação) só terá um resultado efetivo na educação brasileira se for
cumprido no prazo de 10 anos.
É necessário alfabetizar todas as crianças no máximo até o final do
terceiro ano do ensino fundamental. Além disso, a implantação de escola
integral deve ser ampliada, dos atuais 34,7% para 50% as matrículas nesse
regime. Não existe qualidade no ensino sem professores de qualidade, é
preciso valorizá-los. Para isso, não tem jeito, tem que pagar melhor. Isso
exige muito recurso, mas é o dinheiro mais bem gasto. (CRUZ,
Exame.com.19.08.2014)
O Brasil é o 8º país com maior número de adultos analfabetos do mundo. São mais de
14 milhões. Países como Índia, China, Paquistão, Blangadesh, Nigéria, Etiópia e Egito
lideram o ranking, divulgado no início do ano em reportagem da revista Veja (editora Abril,
de 12 de fevereiro de 2014). Os dados são da Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura). Entre os latino-americanos, 38% dos que não sabem ler e
escrever, são brasileiros.
Apesar de preocupante, o índice aponta ligeira queda na comparação com o ano
anterior. Dividido por regiões, 9,5% da população do Norte são analfabetos, enquanto no
Nordeste o valor chega a 16,6%, os mais altos do país. Na região centro-oeste são 6,5%,
sudeste 4,7% e no Sul 4,2% dos habitantes.
As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não
necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não
necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para
envolver-se com as práticas sociais de escrita: não leem livros, jornais,
revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não
sabem preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um
simples telegrama, uma carta, não conseguem encontrar informações num
catálogo telefônico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, numa bula
de remédio. (SOARES, 1998)
A taxa de escolarização pode justificar este cenário. No ano passado, três milhões e
meio de pessoas, entre quatro e 17 anos não frequentaram a escola.
Dados do Censo da Educação Superior divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas (Inep) mostram que o crescimento do número de matrículas no ensino superior foi
inferior em relação ao censo anterior. No ano passado, no entanto, mais de 7,3 milhões de
pessoas ingressaram em universidades, o que corresponde a um aumento de 3,8% na
comparação com 2012.
O panorama aponta também que diminuiu o número de formandos, a primeira queda
desde 2003. A proporção de alunos que terminam a faculdade em relação aos que entram é
de 36% e o índice tem retraído nos últimos cinco anos, resultado da criação de programas de
incentivo à graduação, como o PROUNI (Programa Universidade para Todos), o FIES (Fundo
de Financiamento Estudantil) e a própria remodelação do ENEM (Exame Nacional do Ensino
Médio) que já é aceito como um passaporte para o ingresso a uma universidade.
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A evasão no ensino superior pode ser um reflexo da má qualidade dos cursos
oferecidos, pelas muitas faculdades espalhadas em todo o país. Para medir o desempenho
curricular dos cursos oferecidos o Governo cria sistemas de avaliação como o Sinaes (Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior) e o Enade (Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes).
Os referidos programas apresentados são algumas das tentativas do MEC de
reestruturar o ensino oferecido para formação de profissionais, o que demonstra uma
preocupação com a forma estagnada da atual educação para com a realidade, a começar pelos
avanços das gerações e seus mecanismos.
Para dinamizar esta realidade, novos recursos podem ser utilizados pelos professores,
tais como as ferramentas de web.
De acordo com reportagem “Número de usuários de internet aumenta 11% em um ano
no país”, o número de internautas tem saltado significativamente de um ano para o outro.
O número de usuários ativos de Internet em domicílios continua a crescer no
Brasil, segundo o Ibope Nielsen Online. Do total de 67,8 milhões de pessoas
com acesso em casa, 42,1 milhões foram usuários ativos em setembro. Em
relação ao mês anterior, o crescimento foi de 1,4%; e de 11% sobre os 37,9
milhões de setembro de 2011. Usuário ativo é a pessoa com dois anos ou
mais de idade que usou pelo menos uma vez em setembro o computador com
Internet (SOUZA; GADELHA, 2014)
Os dados ganham ainda mais força ao considerar o público jovem (de 15 a 24 anos)
com acesso a internet já ultrapassa a casa dos 20 milhões, sendo que 80% deles mantêm perfil
em redes sociais, de acordo com Claudia Tozetto, do portal IG São Paulo, de outubro de 2013.
Uma pesquisa recente, divulgada pelo portal Aprendiz, do UOL, afirma que a web
pode ser utilizada para criar uma interatividade entre alunos e professores, inclusive em sala
de aula, mantendo-se conectados às mídias.
Para a diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo, Gabriella Bighetti, o uso da
Internet para o aprendizado é uma realidade. “A pesquisa mostra que os jovens têm mais
facilidade para realizar trabalhos escolares e atividades propostas em sala de aula”. Essa tese é
reconhecida pelos próprios alunos. Para 70% dos jovens, o bom professor entende de internet
e tecnologia, segundo pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Pesquisas e
Estatísticas) e pelo Instituto Paulo Montenegro. “Somente 2% dos professores usam a internet
em sala de aula”, Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). (KIDDO, 2014)
Mas a promessa era de mudança com a chegada da Web 2.0, nome dado à segunda
geração de serviços que são ofertados pela internet graças ao avanço da tecnologia. Criada em
2004 pela empresa americana O’Reilly Media, essa tendência fortaleceu o uso de aplicativos,
o que fez aumentar a quantidade de informações que constam na rede.
Estamos falando de dinamismo e por isso, já que os adeptos têm aumentado em instantes, a
importância de levá-los (mecanismos) para sala de aula. Porém quem se animou com a Web
2.0, ainda precisa se inteirar da Web 3.0. Nada mais é do que a terceira geração dos adeptos à
internet, mas com a evolução mais personalizada do seu público.
No entanto, é indispensável à preparação dos educadores para que o uso das
ferramentas da web seja dosado corretamente, para que o educando não perca o censo crítico
e o prazer de trabalhar ativamente os projetos e disciplinas práticas.
3 Metodologia
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3.1. Uso das ferramentas e o professor
Para comprovar o que proposto incialmente, quanto ao uso da web em sala de aula,
optamos em realizada de forma ilustrativa uma pesquisa exploratória de cunho bibliográfico,
no qual foi elaborado um questionário, com três perguntas fechadas e uma aberta, para os
professores do curso de pós-graduação em Educomunicação da FATEA (Faculdades
Integradas Teresa D’Ávila), Lorena, São Paulo. Optou-se em deixar uma questão de forma
aberta para que os professores pudessem passar suas experiências em sala de aula com o uso
de novas ferramentas. Diante disso avaliamos que de uma maneira geral que o uso da web em
sala de aula é observado por todos como uma forma de criar uma interação e participação
efetiva dos alunos. O questionário foi encaminhado, via e-mail, para os sete professores do
curso, no qual apenas dois não responderam. Os professores entrevistados estão nomeados por
números.
3.2 O Blendspace
3.2.1 Página inicial
Barra de menu: Tips (dicas) – Criação de apresentações de Pesquisa Colaborativa;
Contar histórias digitais e criação aos estudantes; Lançando e “misturando” em sala de aula.
Oferece sugestões e suporte para apresentações criativas.
Gallery (galeria) – Publicação de imagens e exemplos de atividades elaboradas por
meio da ferramenta.
Blog – Espaço de publicações sobre a utilização e formato de aulas, relacionando às
realidades do mundo web e seus mecanismos para com a sociedade.
Login (conectar) – Página para que o usuário se cadastre ou acesse sua conta no
Blendspace. Pode ser via e-mail vou vinculado ao Google e ao Facebook.
Sign up (inscreva-se) – Cadastro de novos usuários. Na página, pede para identificar se
você é estudante ou professor.
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Uma vez conectado, o usuário é direcionado para a seguinte página.
Barra de menu: Lessons (aulas) – permite visualizar todos os trabalhos que já foram
criados na conta; classes (classes) – usuário pode organizar, por exemplo, para qual sala ele
está programando a atividade desenvolvida no Blendspace; gallery (galeria) – a mesma da
primeira página.
New lesson (Nova lição) – Link que direciona para o mural de ferramentas do
Blendspace.
Join Class (juntar classe) – grupos.
3.2.2 Criando aula
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Standards (padrões) – Encaixar tags padrão no mural.
Templates (modelos) – Forma dos slides no mural; estrutura que pode sofrer
modificações, inclusive na sequência didática.
Themes (temas) – Para personalizar o mural.
Play (iniciar) – Iniciar a apresentação do mural criado pelo usuário.
Print (imprimir) – Imprimir o conteúdo.
Autosave (gravada automaticamente) – Enquanto a lição é criada, cada alteração é
salva automaticamente.
Share (compartilhado) – Comando em que fornece o link para compartilhamento nas
nuvens do conteúdo ou no perfil do usuário nas redes sociais.
No link ao lado, representado por bonecos e o sinal de “+”, o usuário pode adicionar
outras pessoas habilitadas para fazer alterações no mural didático.
À direita segue o espaço destinado para pesquisa de conteúdo digital por meio de
ferramentas Google: You Tube, Google, Flickr, Educreations (Criações educativas), Gooru,
Redes parceiras (educreations, prezi, Khan), Upload (seleciona arquivos da máquina para
adicioná-lo ao mural), Dropbox, GDrive, configurações (comentários e gráficos sobre as
visualizações que o mural teve na rede).
4 Resultados e discussão
Questão um - Você acredita no potencial transformador do uso da tecnologia e novas
mídias em sala de aula?
Ficou comprovado pela analise deste gráfico que 100% dos professores entrevistados
acreditam que o uso da web tem o poder transformador em sala de aula.
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Questão dois - Qual ferramenta você utiliza?
Nesta questão foram oferecidas ferramentas de web e uso tradicional em sala de aula
para avaliar a opção do professor. Isto comprova uma mescla entre o uso de ferramentas
tecnológicas como internet e o data show que despontaram como opções mais utilizadas em
50% dos casos. Porém ainda o recurso TV é a primeira opção para 70% dos entrevistados.
Questão três - Quando utiliza essas ferramentas, você observa:
É perceptível que nesta questão em que se discute os resultados quanto o professor
utiliza as ferramentas de web em sala de aula, que 50% dos entrevistados observam que a aula
ganha dinamismo e para 38% há assim uma maior interação.
Questão Quatro - “Qual retorno concreto ao introduzir essas ferramentas em aula?”,
Professor 1 – “Facilidade de compreensão e interação com os alunos”;
Professor 2 – “O aluno ao invés de copiar, ele presta a atenção”;
Professor 3 – “Percebe-se que com essa inserção em utilizar os meios de comunicação
no dia a dia em sala de aula proporciona o enriquecimento do conteúdo. A atividade passa a
ser significativa e com a efetiva participação na realização dos exercícios propostos, que são
próximos da realidade dos alunos (não tornando-os como algo obrigatório, "chato",
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"maçante"; e sim como algo prazeroso, instigante, fazendo a busca por mais e mais
informações), torna-os autônomos e conscientes”;
Professor 4 – “O conteúdo se torna mais claro e objetivo, por mostrar vários exemplos,
simulações, etc”;
Professor 5 – “Poder oferecer uma quantidade maior de material de referência aos
alunos em diversos suportes (vídeo, áudio e texto) que podem ser acessado de modo rápido,
pessoal e sem acumular material físico, além de poder relacioná-los com outras fontes de
pesquisa (links) e permitir um aprofundamento acadêmico e prático com mais autonomia por
parte dos alunos”.
Com esta questão aberta é possível afirmar que o dinamismo e interatividade são
pontos destacados pelos professores, quando questionados sobre o retorno dos alunos ao
utilizarem de novas tecnologias em sala de aula. A possibilidade de ampliar os conteúdos
pesquisados criando vários pontos de vistas, a partir de um tema central foi citada pelos
entrevistados.
Esta pesquisa reforça o que já foi proposto. O uso da web como ferramenta em sala de
aula no ensino superior é de potencial importância. Visto isto na primeira questão quando
100% dos professores entrevistados apontam no potencial transformador que o uso da
tecnologia e novas mídias oferecem em sala de aula.
O uso da internet é o comum entre os entrevistados, no qual 50% utiliza de alguma
maneira, a rede para aprimorar o estudo e dinamizar as aulas.
Por fim, ficou claro que o uso das tecnologias dinamizam as aulas e aproximam o
aluno do professor. A nova era digital obriga que os docentes estejam antenados com as novas
ferramentas, já que os alunos em sua grande maioria respiraram este novo ar tecnológico. Por
isso, podemos concluir efetivamente a pesquisa pela fala do professor 3, na quinta questão,
que apontou a inserção dos meios tecnológicos no dia a dia em sala de aula como um
mecanismo de enriquecimento do conteúdo, no qual deixa a atividade mais significativa,
participativa e mais próxima da realidade dos alunos.
5 Considerações Finais
Após as pesquisas bibliográficas e analise da pesquisa realizada, podemos concluir que
o uso das ferramentas da web em sala de aula e inseri-las na educação pode ser um estímulo
para atrair o aluno à sala de aula.
O uso das novas tecnologias é indispensável para deixar o dia a dia escolar mais
dinâmico, atrativo e interativo. Chamar a atenção do aluno se tornou um desafio a ser vencido
pelos educandos. No entanto, é preciso dedicação e investimentos para efetivo resultado, tanto
às escolas, universidades e instituições de ensino – ao trabalharem com laboratórios e
equipamentos tecnológicos - como aos professores – que ainda engatinham quanto à
capacitação profissional.
O uso da internet já está inserido no contexto social do aluno.
As pesquisas apontam que o currículo escolar necessita de atualizações, tendo em
vista, que o uso de data show, por exemplo, é visto pela maioria como um avanço tecnológico.
Ao longo do levantamento verificamos a praticidade do Blendspace, por isso, a sua sugestão.
Levando em consideração que para haver comunicação é preciso entendimento, o
recurso proposto é um canal para que a mensagem (conteúdo interdisciplinar) chegue até o
receptor (aluno), para tanto o emissor (professor) deve utilizá-la de maneira correta. O
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objetivo é ensinar por meio de um produto (mídia) de forma criativa e motivadora.
Referências
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2002. SciELO Brasil. Disponivel em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
73302002008000010&script=sci_arttext> Acesso em: 25. nov 2014.
CHIARINI FILHO, Antonio Roberto. Aprender e ensinar linguagens no universo da
tecnologia. Editora Plêiad, série Comunicação na Contemporaneidade, São Paulo, 2012.
DELORS, Jacques. Educação um tesouro a descobrir – Relatório para a Unesco da
Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
______. Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo:
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GABRIEL, Martha. Marketing na era digital: conceitos, plataformas e estratégias. São
Paulo: Novatec Editora Ltda, 2010.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. (1993), São Paulo: 34, 2010.
KIDDO, Yuri. Do Promenino com Cidade Escola Aprendiz. Juventude Conectada: pesquisa
aponta como a tecnologia auxilia os alunos na hora de estudar e na relação com os
professores. Outubro. 2014. Disponível em
<http://www.promenino.org.br/noticias/reportagens/juventude-conectada-pesquisa-aponta-
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SANTAELLA, Lucia. Cultura das Mídias. São Paulo: Experimento, 2003.
SILVA, Juremir Machado da. A revolução Contemporânea em Matéria de Comunicação.
Revista FAMECOS, Porto Alegre, 1998.
SOARES, Magda Becker. Livro Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998.
SOUZA, Daiane, GADELHA, Igor. Especialista defende investimento na educação brasileira.
Revista Exame.com. 19.08.2014. Disponivel em
<http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/especialista-defende-investimento-na-educacao-
brasileira> Acesso em 25 nov 2014
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A extensão universitária em uma instituição de ensino
superior do Vale do Paraíba: estudo de caso
Rachel Duarte Abdala
Doutora e mestre em História da Educação pela Universidade de São Paulo (USP), onde se graduou e licenciou
em História. É professora de Teoria da História e Didática Específica de História no Curso de História da
Universidade de Taubaté, do qual é coordenadora pedagógica. Líder do Núcleo de Pesquisa em História da
Universidade de Taubaté e integra como pesquisadora o Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em
História da Educação-NIEPHE, da Universidade de São Paulo. Atua na formação inicial de professores de
História e em Projetos de Extensão Universitária, na própria UNITAU e no Projeto Rondon, do Ministério da
Defesa. Atualmente, coordena o subprojeto de História do PIBID-Programa Institucional de Incentivo à
Docência na Universidade de Taubaté, promovido pela CAPES. Faz parte do corpo docente permanente do
Programa de Mestrado Strictu Sensu em Desenvolvimento Humano e Educação da Universidade de Taubaté
Rosana do Carmo Montemor
Graduada em Relações Públicas - UNITAU (1993), Pós Graduada em Gerenciamento Administrativo -
Fundação Álvares Penteado- FAAP (2000), MBA em Gestão Avançada de Recursos Humanos pelas Faculdades
Integradas Teresa D'Ávila (2012), Mestranda em Desenvolvimento Humano-Universidade de Taubaté-UNITAU
(2014). Coordenadora do Núcleo de Extensão - Relações Universitária - FATEA - desde 2006, Conselheira
Municipal do Fundo Social de Solidariedade do Município de Lorena, Conselheira do COMTUR- Conselho de
Turismo de Lorena, Docente das Faculdades Integradas Teresa DÁvila nos Cursos de Rádio Tv e Internet,
Biblioteconomia e FATI- Faculdade Terceira idade. Diretora Social do Grupo de Recursos Humanos de Lorena
e Vale Histórico.
Resumo
Nesta pesquisa, o objetivo foi analisar a Extensão Universitária em relação à relevância dessa dimensão
acadêmica em uma instituição de ensino superior no Vale do Paraíba na perspectiva do estudo de caso.
Metodologicamente, optou-se pela pesquisa qualitativa, com caráter exploratório, utilizando como instrumento
a técnica do grupo focal. Selecionando-se oito sujeitos, estudantes de graduação, representando cada uma das
áreas temáticas definidas pelo Plano Nacional de Extensão Universitária: Comunicação, Cultura, Direitos
Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e Produção e Trabalho. Como resultados foi
possível verificar que, de modo geral, a instituição estudada oferece condições para a realização de atividades
de extensão universitária e que os estudantes envolvidos com essas atividades percebem a sua função na sua
formação acadêmica. Verificou-se também que a instituição valoriza e realiza a indissociabilidade entre a
extensão, o ensino e a pesquisa, preconizada pela Constituição Federal.
Palavras-chave
Extensão universitária; Instituição universitária; Indissociabilidade.
Abstract
In this research, the aim was to analyze the University Extension in relation to the relevance of academic
dimension in a higher education institution in the Paraíba Valley in view of the case study. Methodologically
opted for the qualitative research, with exploratory using as a tool the technique of focal group. Selecting eight
subjects, graduate students, representing each of the thematic areas defined by the National Plan of University
Extension: Communication, Culture, Human Rights and Justice, Education, Environment, Health, Technology
and Production and Labour. As a result it found that, in general, the studied institution offers conditions for
holding university extension activities and that students involved in such activities realize their role in their
education. It was also found that the institution values and realizes the inseparability of the extension, teaching
and research, advocated by the Federal Constitution.
Keywords
University Extension; University; inseparability.
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Introdução
Ao buscar estudos sobre a função da Extensão, encontram-se vários questionamentos
em textos produzidos e divulgados sobre o assunto, principalmente no que se refere à
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, preconizada na Constituição, e ao fato de
a extensão ser considerada atividade de menor valor acadêmico.
Araújo (2011) aponta como problema o fato de a Extensão Universitária ser muitas
vezes objeto de controvérsias e de conflitos, devido à dificuldade de compreensão do que
sobre ela está disposto em lei. A autora enfatiza a importância da Extensão Universitária a
partir do princípio de sua indissociabilidade, e defende a percepção de que no ensino também
se realiza o desenvolvimento do espírito crítico e criativo dos estudantes.
Nogueira (2013) afirma que se faz necessário reconhecer o impacto da extensão como
componente formativo, considerando-a articuladora do ensino e da pesquisa, trazendo
contribuições, mudanças, novos olhares e até mesmo críticas e novos aprendizados.
A proposta desta pesquisa foi investigar como a extensão vem sendo realizada em
instituições universitárias, a partir do estudo de caso de uma instituição particular da região
metropolitana do Vale do Paraíba/SP. Um estudo sobre essa temática favorece a reflexão de
mecanismos para desenvolver novas e mais atividades de extensão, e para subsidiar, por meio
do estudo, reformulações que fundamentariam seu reconhecimento como parte constitutiva da
formação acadêmica.
Discussões teóricas sobre a extensão universitária
Como apresenta Frantz (2002), a preocupação com as mudanças de referenciais dos
alunos a partir da experiência acadêmica e, sobretudo, a partir da interação com as atividades
de extensão das Universidades, não fomentaram pesquisas sobre como tais atividades
interfeririam no desenvolvimento humano – cognitivo, cultural, operacional e funcional – dos
graduandos. Nas palavras do autor:
Há poucos estudos sobre experiências concretas capazes de nos levar a
entender, de forma mais ampla, o papel que a extensão vem assumindo para
ajudar a universidade a cumprir seus fins sociais, ou mesmo as suas
diretrizes Interdisciplinares (FRANTZ, 2002, p. 43).
Sugahara (2012) avaliza a extensão universitária como uma forma de conceber a
educação, além dos muros da universidade, como um caminho de descobertas, uma abertura a
novas dimensões do conhecimento humano, admitindo que as Instituições de Ensino Superior
ao gerirem a extensão assumem-na como uma forma de abordagem das questões sociais que
se efetiva com a difusão de conhecimentos, propondo a preparação de atividades de
intervenção em cooperativas a partir de oficinas socioeducativas de cunho interativo
estimulando o desenvolvimento de habilidades para lidar com desafios típicos da autogestão
como conflitos, divisão das tarefas e autonomia.
Fernandes et al. (2012) investigou, por meio de pesquisa de natureza descritiva com
abordagem qualitativa, a relação atual existente entre uma universidade e as comunidades
circunvizinhas, no município de Fortaleza/CE, a partir da visão dos seus moradores, por meio
da qual pode-se perceber que a extensão universitária possui uma função essencial no ensino
superior brasileiro principalmente para a formação de uma integração entre a comunidade e a
universidade, concluindo que uma das estratégias que a universidade utiliza para a formação
de um profissional cidadão é baseada na extensão universitária.
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Follmann (2012) faz um questionamento amplo sobre a defasagem existente entre
academia e sociedade, para, em seguida, estabelecer alguns pontos de reflexão sobre a
importância e pertinência da transdisciplinaridade para ajudar a dirimir esta defasagem,
realçando a importância do papel da extensão universitária.
Rodrigues et al. (2013) apresenta o contato dos acadêmicos com o público em geral,
onde as teorias aprendidas em sala de aula se concretizam, mostrando que a extensão
universitária traz para a sociedade grande contribuições, pois possui papel essencial, tanto na
vida dos acadêmicos, que colocam em prática tudo o que aprenderam em sala de aula, quanto
na vida das pessoas que usufruem deste aprendizado.
Santos (2014) por meio de uma investigação científica, de abordagem qualitativa,
apresenta a extensão universitária como “laboratório” de ensino, pesquisa científica e
aprendizagem profissional, a partir de um estudo de caso realizado com estudantes do curso
de Licenciatura em Pedagogia de uma faculdade particular localizada no município de Ponta
Grossa, Estado do Paraná. Discorre sobre a indissociabilidade do trinômio ensino, pesquisa
científica e extensão na universidade brasileira contemporânea, comentando sobre as
contribuições da extensão universitária para o ensino, a pesquisa científica e a aprendizagem
profissional. A atividade extensionista em questão configurou-se como sendo de extrema
relevância para a formação acadêmica das futuras pedagogas em termos teórico-práticos,
metodológicos, didático-pedagógicos e de ensino-aprendizagem; visando assim a conquista de
uma educação escolar de melhor qualidade e, consequentemente, a construção de uma
sociedade cada vez mais justa, ética, fraterna, equânime e democrática.
A historicidade da extensão universitária no Brasil
Numa conjuntura de política de ditadura, a prática de uma Extensão Universitária
emancipadora passou a ser entendida como ação de risco ao regime militar no Brasil. Assim, a
Lei da Reforma Universitária “[...] é um mecanismo que colocou a educação superior a
serviço do Estado. Mas não se pode negar que foi ela, igualmente, que definiu um perfil da
universidade brasileira e abriu espaços para novas reformulações” (GURGEL, 1986, p. 87). A
partir das considerações do referido autor, como forma de se contrapor e de cooptar os
estudantes para o trabalho assistencial comunitário que se consolidam nos anos posteriores,
cita-se, aqui: o serviço de extensão cultural da Universidade de Pernambuco e da
Universidade Volante do Paraná; o aparecimento do primeiro Centro Rural Universitário e
Ação Comunitária (CRUTAC), projeto de extensão com o desenvolvimento de programas de
ação comunitária; e, o Projeto Rondon, sob a gerência do Ministério do Interior, com o
objetivo de colocar os estudantes a serviços do Estado.
Num processo de construção político-democrático, as Universidades Católicas iniciam
uma reflexão sobre a importância da extensão, por meio de vários encontros de Ação
Comunitária e Extensão, promovidos pela Associação Brasileira de Escolas Superiores
Católicas (ABESC), ampliando as discussões, a fim de aventarem a questão da atuação da
Universidade na sociedade. O primeiro encontro, em 1983, na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC/SP), iniciou esta reflexão sobre a identidade das Universidades
Católicas no Brasil e sua relação com a sociedade, em função de debates já acontecidos em
julho de 1982, na Universidade Santa Úrsula (RJ), em função dos resultados de uma grande
pesquisa de avaliação realizada em todas as Universidades Católicas brasileiras e latino-
americanas. O instrumento de interlocução foram os setores que se dedicavam à Ação
Universitária e Extensão, nascendo assim o Fórum Nacional de Extensão (FOREXT), que
atualmente é denominado Fórum de Pró-Reitores de Extensão (FORPROEX), o qual se
tornou um encontro de referência para a discussão sobre o caminho da Extensão nas
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universidades brasileiras, trazendo às instituições sua dimensão como processo educativo,
promovendo a participação da educação superior brasileira, pública, privada ou comunitária.
A extensão foi mencionada no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB (Lei nº 9.394), especificamente em seu Art. 43, itens VI e VII (in verbis):
Art. 43 [...] VI. Estimular o conhecimento dos problemas do mundo
presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços
especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de
reciprocidade; VII. Promover a Extensão, aberta à participação da
população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da
criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
Outro aspecto da atual política de educação superior no Brasil que deve ser salientado
é o de que o Ministério da Educação (MEC), como gestor maior dessa política, implantou
uma série de mecanismos de avaliação institucional específicos para as Instituições de Ensino
Superior (IES). No âmbito interno de cada Universidade e no campo específico das atividades
de Extensão, tal fato constitui-se num importante parâmetro de acompanhamento e
desenvolvimento dessas atividades,
Por mais distintas que sejam as experiências e realidades de nossas
universidades, a sobre a importância da extensão universitária foi
historicamente impulsionada por um aspecto comum a todas: o da percepção
de que a universidade caminhava distanciada da realidade social do país. Em
outras palavras, a extensão se construiu e se desenvolveu como atividade
universitária em conexão com o reconhecimento de que ensino e pesquisa
não respondiam aos interesses de tal realidade; ela poderia reduzir esse
distanciamento (FREIRE, 2012, p. 14).
No Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras –
FORPROEX (BRASIL, 2003), para consecução de sua missão fundamental, a de oferecer
respostas às necessidades da sociedade, optou-se por sistematizar o trabalho de extensão das
Instituições de Ensino Superior Públicas de acordo com as seguintes áreas temáticas:
Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde,
Tecnologia e Produção e Trabalho. Cabe observar, aqui, que a instituição pesquisada adotou
este modelo.
Os espaços formativos de aprendizagem são as salas de aula, o laboratório e a
biblioteca. Por meio da extensão esses ambientes podem ser ampliados, considerando-se as
comunidades locais, as organizações sociais ou as regiões culturais como lugares alternativos,
amplificadores do processo educativo não formal de aprendizagem.
Portanto, é pertinente salientar que a extensão desenvolve um modo específico de
aprender, porque proporciona a ampliação do espaço, a otimização do tempo e a significação
do processo, possibilitando o desenvolvimento das competências humanas, pedagógicas e
profissionais.
Para Zanella (2003, p. 70),
[...] a aprendizagem deve ser entendida como um processo mais amplo que a
aquisição de conhecimentos, pois no processo de aprendizagem o estudante
amplia seu volume de conhecimentos. Aprendizagem significa a própria
mudança que via se operando no sujeito através das experiências.
Almeida (2012) salienta que o aprendizado na extensão universitária não se limita à
técnica de determinada área profissional, pois propicia outros conhecimentos diferenciados
que contribuem para o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes extensionistas.
Zanella (2003) observa que a aprendizagem deve ser entendida como processo mais
amplo que a aquisição de conhecimentos, porque vai se constituindo por meio da experiência
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do sujeito. Seguindo esse pensamento sobre a aprendizagem, e que o sujeito desta pesquisa é
o adulto, que se torna o sujeito educacional dentro do processo da extensão que ele vivencia,
faz-se coerente discutir o processo metodológico da andragogia, uma terminologia que estuda
como os adultos aprendem.
Nesta perspectiva, para a proposta de discussão da extensão universitária desenvolvida
nesta pesquisa, a questão a ser observada é a que se refere a aprender experimentalmente, pois
como afirma Bellan (2010), a experimentação é um recurso didático que deve ser
considerado, na contemporaneidade, no processo educacional com foco no conteúdo, e
principalmente na fase adulta.
A partir das atividades de extensão, não apenas se daria o contato com uma realidade,
mas também se faria com que novos sujeitos de diversas áreas de conhecimento – tanto
formal quanto informal – expusessem conhecimentos de modo a compartilhá-los
equitativamente. Ao final, o conjunto integra uma experiência que contempla áreas de
conhecimentos das mais diversas. Além de servir como instrumento desse processo de
movimento entre teoria/prática, a atividade de extensão na universidade é um trabalho
interdisciplinar que favorece a construção, no aluno, de uma visão mais integrada da
sociedade e do exercício de seu papel social (GUARESCHI, 1988; CHAUÍ, 2003).
Para que tal procedimento seja significativo, é oportuno que a relação da academia
com a sociedade, por meio de seus projetos pedagógicos abertos à comunidade, constitua-se
em um tempo e em um espaço favorável ao processo de aprendizagem.
No que se refere às diretrizes sobre a indissociabilidade - ensino, pesquisa e extensão,
apolítica nacional de extensão universitária apresenta o aluno como protagonista de sua
formação técnica, sendo a extensão uma oportunidade de aprendizado para obtenção de
competências necessárias para a sua atuação profissional e sua formação cidadã. Permite-lhe
também reconhecer-se como agente de direitos e garantias de direitos, deveres e
transformação social. Na prática extensionista, emerge um novo conceito de sala de aula, que
não limita o aprendizado ao espaço físico tradicional. Salientada na política como um novo
saber, em que o eixo pedagógico clássico estudante-professor é substituído pelo eixo
estudante-professor e comunidade, é considerada, assim, como uma possibilidade acadêmica
do estudante e do professor (BRASIL, 2003).
Assim, um importante aspecto a ser refletido é o de que as atividades extensionistas
realizadas na Universidade pesquisada devem ser consideradas a partir de sua institualização
normativa, e também como um processo de democratização e socialização do conhecimento.
Consideram-se, pois, as relações sociais como um espaço formativo educativo, indicando as
várias possibilidades que a extensão proporciona e despertando uma nova cultura para a
academia. Síveres (2013) reafirma o caráter que deve compor as ações educativas como
espaço/tempo da vivência e da experiência universitária, o que coloca o conhecimento como
bem público produzido e socializado por/e para todos.
Partindo do pressuposto de que as universidades têm por objetivo zelar pelo
aprendizado e pela construção do conhecimento em um indivíduo consciente de seu papel na
sociedade, são necessárias pesquisas que apresentem de forma mais concreta a contribuição
dessas instituições para o aprimoramento pessoal de seus educandos, pelo menos quanto às
atividades de extensão universitária.
Segundo Alvarez (1996), ao participar de um projeto o aluno está envolvido em uma
experiência em que o processo de construção do conhecimento está integrado às práticas
vivenciadas. Esse aluno deixa de ser, nessa perspectiva, um aprendiz do conteúdo de uma área
de conhecimento qualquer. É um ser humano que está desenvolvendo uma atividade complexa
e que, nesse processo, está se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto de
conhecimento cultural e se formando como sujeito cidadão, corresponsável pelo lugar em que
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atua.
Método
Propôs-se a realização de uma pesquisa de natureza pesquisa qualitativa, com caráter
exploratório. Conforme apontado por Minayo (2008, p. 57),
O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações,
das crenças, das representações, das percepções e das opiniões, produtos das
interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem
seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. [...] Se conforma melhor a
investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias
sociais sob a ótica dos atores [...] Permite desvelar processos sociais ainda
pouco conhecidos e propicia a construção de novas abordagens, revisão e
criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. Caracteriza-
se pela empiria e sistematização progressiva do conhecimento até a
compreensão da lógica interna do grupo estudado.
Para o desenvolvimento desta pesquisa optou-se pela pesquisa qualitativa para se ter
uma percepção da extensão universitária na instituição pesquisada. Isso corresponde a uma
“[...] proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de
depoimentos [...]” (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003, p. 15).
A pesquisa foi feita em uma instituição de ensino superior da região metropolitana do
vale do Paraíba Paulista, que conta atualmente com 2100 estudantes, distribuídos em 12
cursos, dos quais selecionou-se uma amostra, considerando-se a experiência consolidada dos
alunos com a extensão universitária durante dois anos, para a participação no grupo focal,
conforme Gatti (2005), oito estudantes, cada um de uma das áreas temáticas.
No campo das abordagens qualitativa da pesquisa, o grupo focal vem sendo cada vez
mais empregado, conquistando um lócus privilegiado nas mais diversas áreas de estudo.
Esclarece-se que os partícipes devem ter alguma vivência com o tema a ser discutido, de tal
modo que sua participação possa trazer elementos ancorados em suas experiências cotidianas
(GATTI, 2005). Bomfim (2009) corrobora o pensamento de Gatti, afirmando que se
identificam outros propósitos na utilização desse método na pesquisa, como “[...] focalizar a
pesquisa e formular questões mais precisas de investigação; [...] avaliar um serviço ou
programa; desenvolver hipóteses de pesquisa para estudos complementares” (BOMFIM,
2009, p. 781 – grifo nosso).
Os dados coletados foram analisados visando a descrição dos conteúdos de
mensagens, e a obtenção de indicadores que permitam deduzir sobre as condições de
produção e/ou recepção das mensagens.
Extensão Universitária na Instituição pesquisada
A instituição pesquisada é confessional católica, fundamentando-se no Evangelho em
diálogo aberto com as outras religiões, com a ciência e a tecnologia. Tem como filosofia, em
seus pilares Razão, Afeto e Religião, a busca do saber como construção, privilegiando o
protagonismo juvenil e a cidadania. Com base nessa filosofia, faz com que o educando saiba
que é amado e respeitado como ser humano, com suas diferenças e sem discriminação,
promovendo a educação inclusiva. Acredita-se que esse sistema orienta o educando para o
transcendente, como valor e sentido da vida.
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Situada na Região Metropolitana do Vale do Paraíba, foi fundada em 19 de dezembro
de 1954. De acordo com o PDI (Projeto de Desenvolvimento Institucional), constitui-se como
uma instituição sem fins lucrativos que prioriza o atendimento às necessidades sociais da
juventude, especialmente a empobrecida. Tem como princípio a valorização da vivência
extracurricular, inclusive as relacionadas a contribuição para melhoria de seu entorno, pois
entende que a ciência e a tecnologia têm sentido somente se buscarem a felicidade da pessoa
em comunhão com a humanidade. O compromisso declarado em sua filosofia é formar
profissionais, cidadãos e pessoas capazes de compreender, com atitude reflexiva e lucidez, a
dinâmica cultural hodierna, para agir sobre ela e transformá-la, de acordo com os anseios de
sua comunidade.
A instituição oferece curso de graduação em bacharelado e licenciatura. Nas áreas do
conhecimento de Ciências Sociais e Aplicadas: curso de Administração, Arquitetura e
Urbanismo, Design e Biblioteconomia. Na área do conhecimento de Ciências da Saúde: curso
de Farmácia e Enfermagem. Na área de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Rádio, Tv e
Internet e Publicidade e Propaganda. Na área de Ciências Biológicas: Biologia. Na área de
conhecimento de Linguística, Letras e Artes: Letras e Pedagogia. Oferece curso de pós-
graduação Lato Sensu e Stricto Sensu. Cursos na área de Administração: MBA em Gestão
Empresarial e Responsabilidade Social; MBA em Finanças, Controladoria e Auditoria. Na
área de Educação, oferece Especialização em Educomunicação, na área de Ciência da
Informação, Especialização em Projetos e Desenvolvimento de Aplicações WEB.
A política extensionista da instituição fundamenta-se na missão institucional, que
orienta o educando ao transcendente, como valor e sentido da vida. O educando deverá
vivenciar, nas ações extensionistas, a realidade comunitária e descobrir a importância de ser
corresponsável pelo espaço social. Ele é estimulado a refletir sobre seu papel como agente da
construção de uma sociedade melhor e mais igualitária, e a desenvolver uma visão da vida e
do mundo que reconheça os valores humanos.
Nessa instituição, os projetos são distribuídos de forma a criar programas e fortalecer
projetos relacionados com as áreas temáticas definidas pelo Plano Nacional de Extensão
(Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde,
Tecnologia e Produção, Trabalho), especialmente no âmbito da região.
Ao longo da realização da pesquisa, verificou-se que a instituição tem se preocupado
com a realização e com investimentos na extensão universitária desde a instituição legal da
indissociabilidade na Constituição Federal, pois “durante longos períodos da história
brasileira a educação como fator do desenvolvimento foi total ou parcialmente negligenciada”
(FREITAG, 1986, p. 13). Neste sentido, tal como ocorreu com outras áreas voltadas para a
questão social, “no campo educacional passou-se a produzir estudos que privilegiam a
abordagem da educação na sua dimensão de política pública” (AZEVEDO, 1997 p. 1-2). Essa
preocupação é revelada pela institucionalização da extensão com a criação do NEXT-Núcleo
de Extensão, em 1998. Na última década, a instituição tem intensificado suas ações nessa
área, percebendo os limites e os desafios que esse tipo de atividade exige, na perspectiva do
novo papel que a Conferência Mundial de Educação Superior (CMES, 2009) apontou de a
universidade estar comprometida com o desenvolvimento econômico, social e humano das
sociedades, defendendo o princípio de considerar o ensino superior como um bem público e
um direito humano fundamental. Sobre esse dever Fernando Haddad enfatizou:
É claro que nossos países têm um contingente da população que não teriam
acesso à educação se não fosse pela ação estatal. Imaginar que o setor
privado pode agir como o Estado no sentido de expandir matrículas,
inclusive através de empréstimos educativos não vai resolver o problema. O
que vai resolver o problema é a expansão do investimento público na
educação e a garantia do direito de cada cidadão ao ensino público e gratuito
em todos os níveis (CMES, HADDAD, 2009 apud ZAINKO, 2012, p. 4).
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Neste contexto, de acordo com Paulilo e Abdala (2010, p. 133), “A formulação de leis
de diretrizes e bases para a educação e a busca de formas e alternativas para implementar seus
propósitos, expõe um processo recorrente de polêmicas e lutas pelo poder na condução das
políticas públicas de educação”.
Percebe-se que a extensão vem contribuindo com “a relação transformadora entre a
universidade e a sociedade” (BRASIL, 2003, p. 5), diante do que se apurou na pesquisa do
diálogo com a comunidade e com as políticas públicas implementadas no município,
defendendo, como Paulo Freire (2000a) que é preciso acreditar nas utopias, na transformação,
numa sociedade mais justa e igualitária, percebendo na Educação não apenas um lugar de
produção de conhecimento, mas, também de transformação social.
Frigotto e Ciavatta (2003) reafirmam o pensamento de Freire, afirmando que:
A educação é, portanto, ao mesmo tempo determinada e determinante da
construção do desenvolvimento social de uma nação soberana. Além de ser
crucial para uma formação integral humanística e científica de sujeitos
autônomos, críticos, criativos e protagonistas da cidadania ativa, é decisiva,
também, para romper com a condição histórica de subalternidade e de
resistir a uma completa dependência científica, tecnológica e cultural
(FRIGOTTO, CIAVATTA, 2003, p. 103).
Neste contexto, necessita-se visualizar a Educação como um conjunto onde todos
devem se sentir responsáveis e comprometidos no processo de ensino-aprendizagem,
ressaltando-se que o processo educativo, onde quer que aconteça, será sempre permeado a
partir do contexto social e político que determina seus objetivos e meios de ação.
Segundo Bellan (2010) somente a perspectiva de receber um certificado de conclusão
não cativa um adulto, com maior faixa etária, pois este tem plena consciência de suas ações,
do seu modo de aprender.
Identificou-se que a questão de gênero tem estreita relação com a distribuição dos
cursos, pois de acordo com Pennebaker e Bael (1986) as mulheres têm consciência mais
acurada que os homens, elas se baseiam no que ocorre a sua volta. Essa reação natural, que
está vinculada ao cuidar e acolher reforça a tendência de evitar confrontos de ameaças
potenciais. Ao contrário a reação masculina de lutar ou fugir expõe os homens a mais
ameaças, mas lhes dá oportunidade de combatê-las adquirindo mais firmeza. Para Pennebaker
e Graybeal (2001) as mulheres são mais conscientes de seu estado emocional do que os
homens. Nesta perspectiva percebe-se, que as mulheres estão na maioria (55%) distribuídas
pelas áreas temáticas da Educação e da Saúde, ligadas ao cuidar e acolher, e os homens (52%)
distribuídos pelas áreas temáticas de Tecnologia e Produção e Direitos Humanos e Justiça.
Verificou-se, também, que o fato da maior parte dos pesquisados procurarem a
extensão pode estar associado ao conceito de Bordieu (1983, p. 17) no sentido de representar
a vontade dos sujeitos de conhecer a sociedade em que vivem, pois ela “revela coisas ocultas
e às vezes reprimidas”, construindo um estranhamento1 diante dela, como se tudo aquilo que
nela existe e acontece não lhes fosse familiar. Como dizia Freire: "Trata-se de aprender a ler a
realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)"
(FERRARI, 2004). Tal estranhamento, também pode ser entendido por postura metodológica
que orienta a prática científica no sentido de desenvolver a atitude de se propor a conhecer a
realidade social como observador, que olha de fora, e não de dentro, como se fizesse parte
dela (TOLEDO, 1971; TODOROV, 2013).
1 Estranhamento foi um termo utilizado pelo formalista russo Viktor Chklovski em seu trabalho “A Arte como processo” publicado pela
primeira vez em Poetika (1917). O estranhamento para Chklovski seria então o efeito criado pela obra de arte literária para nos distanciar (ou
estranhar) em relação ao modo comum como apreendemos o mundo e a própria arte, o que nos permitiria entrar numa dimensão nova, só
visível pelo olhar estético ou artístico (TODOROV, 2013).
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Trata-se, portanto, de olhar para as coisas que ocorrem na sociedade, as quais,
aparentemente, nos parecem naturais e familiares, pois se reproduzem, com elas se convive e
acha-se que as entendemos, pois “Em si próprio haveriam coisas que se fazem visíveis ao se
lhes prestar atenção, ao dirigir a elas o próprio olhar” (LARROSA, 1994, p. 59).
De acordo com Gadotti (2000, p. 6), “a escola é um instrumento que deve ser capaz de
possibilitar a liberdade e a autonomia do educando”. A instituição pesquisada tem primado
por esse caminho, propondo uma pedagogia "fundada na ética, no respeito à dignidade e à
própria autonomia do educando" (FREIRE, 2000b, p. 11), proporcionando, por meio dos
projetos de Extensão, contextos formativos que sejam adequados para que os educandos
possam se fazer autônomos, pois conquistar a própria autonomia alude Freire, que implica em
libertar-se das estruturas opressoras.
Para Bauman e May (2010) vive-se na atualidade um processo de interação com
outros indivíduos e de direcionamentos para a liberdade de escolha, justificando a
participação desses alunos em extensão. Nesse sentido, em Educação, essa liberdade é
limitada a fatores internos ou externos à ação pedagógica, pois se acredita, que quando um
indivíduo consegue transformar-se a partir da relação dialógica teoria-prática, nisso consiste a
autêntica liberdade do encontro entre o ser e o saber.
Então como nos adverte Saramago (2008), “se podes olhar, vê; se podes ver, repara”,
acredita-se que esses índices possam ser maximizados, pois muitos alunos não teriam
reparado o que a extensão pode oferecer para sua práxis. E é neste movimento de se ver e de
se reparar que os alunos identificaram (e se identificaram) o processo formativo vivido na
extensão, pois “São eles interlocutores, parceiros que ao participarem desta investigação
ajudaram na construção de um novo olhar” (YAMAMOTO, 2013, p. 36), “um olhar mais
sistêmico e complexo sobre a realidade observada, sentida e compartilhada” (YAMAMOTO,
2013, p. 267).
“Olhar” a própria experiência com “olhos de ver” traz um compromisso maior a ação
docente com o planejamento da ação pedagógica. Consequentemente, “amplia-se a função
docente e as exigências formativas quando a ação pedagógica extrapola uma perspectiva
reprodutora e transmissiva” (ROCHA, 2010, p. 16).
Nesta perspectiva, recorre-se a Fazenda (2001) que ensina ser o planejamento uma
atividade interdisciplinar, envolvendo a tríade: necessidade, intenção e cooperação de modo,
para que o movimento gerado tenha como finalidade, a construção do saber como exercício da
autonomia pessoal e prática da liberdade dos alunos participantes dos projetos, pois:
Educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que
pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber
mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem,
para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que
pouco sabem, possam igualmente saber mais (FREIRE, 2012, p. 25).
A instituição vive na atualidade um momento de reorganização em torno de uma
gestão socialmente responsável, para que haja a interação com os problemas sociais,
cumprindo a função das IES que abrange além do ensino e da pesquisa, a extensão, a qual se
incumbe da aproximação com a sua comunidade, construindo uma ponte para conectarem-se
com as questões reais da mesma. Para tanto é preciso à conscientização de todo o corpo
docente quanto à relevância da Responsabilidade Social para os alunos (CALDERÓN, 2006).
De acordo com Bolan e Motta (2007, p. 206) “A prestação de serviços sempre fez
parte da realidade das instituições de ensino superior, até mesmo porque, enquanto atividade
de extensão constitui precioso instrumento de aprendizado”, nesta perspectiva, atuando no
campo da cidadania, o voluntariado dos alunos nos projetos aprofunda o compromisso de
todos com a coletividade, fortalece as políticas públicas, contribui para ampliar as
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perspectivas de vida das comunidades, disseminando uma cultura de paz.
Segundo as definições: "O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse
pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte de seu tempo, sem remuneração alguma, a
diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos"
(ONU, 2006 apud SESC, 2007, p. 7); e a de que voluntário é “ator social e agente de
transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seu
tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário,
atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas
próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político,
emocional” (WILHEIM; CORULLÓN, 1996, p. 1), partindo-se das proposições de Armani
(2000), e com base nos dados coletados, pode-se inferir que os projetos, na instituição, são
atividades voluntárias que viabilizam as ações sociais planejadas, estruturadas em objetivos,
resultados e atividades baseadas em uma quantidade de recursos e de tempo dos alunos em
um exercício de cidadania, bem como seu papel na sociedade, despertando o sentimento de
solidariedade ao próximo.
Percebeu-se na fala dos sujeitos que “a experiência da atuação, o contato com a
sociedade”, chama sua atenção, pois “a integração com a comunidade”, por meio das “turmas
de vários cursos unidas em um só propósito” e a própria “integração com as pessoas e a troca
de conhecimento”, lhes proporcionou a possibilidade de “experiência e ajuda” na “troca de
experiência e a oportunidade de poder contribuir com a sociedade” ao incorporarem “a união
da equipe e a boa vontade em ajudar” durante essas atividades em seu percurso escolar. “A
harmonia entre os cursos em um único projeto” e “a intensidade do projeto” objetivaram
também aumentar sua consciência social e cidadã nas relações construídas nesse meio, pois “a
quantidade de pessoas envolvidas” e “a carência da comunidade e por serem muito
receptivos” e “o modo de como são acolhidas e como demonstraram estarem felizes por
estarmos ali”, mostrando-lhes a Extensão como um espaço de construção do conhecimento
científico.
Nesta perspectiva, os alunos chegaram a constatar que os saberes desenvolvidos a
partir da atividade de extensão se relacionam, tanto às experiências vividas nos projetos em
que participavam, atendendo às demandas da população assistida, como ao estreitamento de
intercâmbio desse conhecimento com a sociedade. Síveres (2003, p. 19) observa que as
instituições “[...] procuram caracterizar sua missão institucional por meio do desenvolvimento
de um processo educativo, cientifico, social, artístico e cultural, com base nas seguintes
questões: Quem somos? Por que existimos? O que fazemos? Como atuamos? Para onde
movemos?”.
A análise dos resultados identificou o reconhecimento, pelos graduandos, de que as
atividades realizadas devem ser socializadas, com o intuito de servirem de inspiração para
futuros projetos acadêmicos. Lembra-se o ensinamento de Yamamoto (2013, p. 99) sobre
valorização de “novas perspectivas da construção do conhecimento que consideram o “estar
no mundo” uma fonte inesgotável de conhecimento”. A partir disso, pode-se afirmar que a
instituição tem como responsabilidade face a realidade acadêmica, incentivar os jovens a
participarem dos projetos de extensão e que estes sejam momentos de discussão, de
crescimento intelectual, de trocas de conhecimentos.
Apresentar a experiência desenvolvida na instituição de ensino analisada, assim como
de notificar seu aparente sucesso, deu visibilidade aos projetos, de modo que instituições de
porte semelhante ao da pesquisa possam incorporar projetos similares, em consonância com
as demandas sociais de seu entorno, fortalecendo e consolidando a importância das atividades
de extensão nos núcleos acadêmicos, que muitas vezes são minadas, como já apresentado,
pelas necessidades de mercado que se impõem aos cursos de graduação, sobretudo nas
universidades particulares, pois, como assevera Melo Neto “[...] a universidade, com todas as
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suas contradições, tem sido um lugar privilegiado para a construção do conhecimento”
(MELO NETO, 2002, p. 28).
Nessa perspectiva, Chauí (2003) corrobora o pensamento de Melo Neto (2002), de a
realização das atividades de extensão, permitindo à instituição e aos alunos um foco na
formação cidadã como processo educacional, para que, em parceria possam construir
melhores condições de cidadania.
Considerando as funções sociais do ensino relacionadas à construção da cidadania e do
pressuposto de que as instituições têm por objetivo zelar pelo aprendizado e pela construção
de conhecimento de um indivíduo consciente de seu papel na sociedade e no mundo, a fala
dos sujeitos apresenta, entre a variedade de entendimentos, que o apreendido do ensinamento
de Síveres (2013) deve estar vinculado ao projeto social.
O reflexo causado na formação dos sujeitos diante da participação nas atividades de
extensão foi analisado por meio do Grupo Focal, para que, como em Villar (2011) e Tavares e
Freitas (2012), fosse possível perceber como é vista a Extensão Universitária pelos sujeitos, e
para avaliar o grau de importância que eles dão a essa atividade na formação acadêmica
cidadã.
Na esteira das lições sobre a Extensão ao longo dos anos, há que se considerar que
“[...] as instituições de ensino superior, por meio de suas atividades de extensão,
proporcionarão aos seus corpos discentes oportunidades de participação em programas de
melhoria das condições de vida das comunidades e no processo de desenvolvimento”
(BRASIL, 1968 art. 40, alínea “a”). Como, ao participar dos projetos, os alunos se envolvem
em experiências em que o processo de construção do conhecimento está totalmente integrado
às práticas vividas, eles se apropriam de conhecimento sobre novas funções sociais e
dimensões políticas, transformando-se em sujeito cidadão, corresponsável pelo
desenvolvimento do lugar em que atuam.
Aragão (2002) e Severino (2007) reiteram a importância das atividades de extensão na
universidade, com a função primordial de gerar e difundir o saber, para afirmação do diálogo
entre realidade social e conhecimento, no intuito de promover uma significativa participação
da sociedade, pois é neste diálogo que a geração e a difusão do saber encontram sua
relevância, pois “a extensão se torna exigência intrínseca do ensino superior em decorrência
dos compromissos do conhecimento e da educação com a sociedade, uma vez que tais
processos só se legitimam, inclusive adquirindo sua chancela ética, se expressarem
envolvimento com os interesses objetivos da população como um todo” (SEVERINO, 2007,
p. 31).
Todas as ações que estimulam as atividades extracurriculares conectam ensino,
pesquisa e extensão, como aquelas que exigem que professor e aluno se dediquem à
investigação, à leitura, ao contato com a comunidade, por meio de diferentes eventos
promovidos na instituição. Os grupos de pesquisa que envolvem professores, alunos dos
níveis de graduação e pós-graduação tornam indissociáveis o ensino, a pesquisa e a extensão,
quando se realizam pesquisas, buscam-se resultados que terão utilidade para a comunidade em
geral, seja ela produtora ou consumidora, então, o que se aprendeu na sala de aula está sendo
utilizado na pesquisa e que deverá ser divulgado por meio da popularização da ciência,
visando chegar à comunidade em geral e não apenas à científica.
O grupo focal permitiu chegar à conclusão de que uma vez que a proposta da
Extensão Universitária é realizar a articulação entre as partes, envolvendo os docentes,
discentes, gestores das instituições formadoras e comunidade do entorno, podemos inferir que
essa é uma perspectiva da educação problematizadora, buscando trabalhar com a perspectiva
de olhar para o serviço, visto que envolver todos os atores que estão diretamente e
indiretamente relacionados com a ação formadora é um dos princípios da problematização
74
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para que se possa efetivamente atender às necessidades da comunidade.
Considerações Finais
Com base nas reflexões realizadas no desenvolvimento da pesquisa, pode-se dizer que
as iniciativas e os avanços obtidos na instituição, a respeito da importância da extensão
universitária como atividade imprescindível à formação cidadã, e como espaço privilegiado
de compromisso social da universidade na sociedade, ainda se tem um longo caminho a
percorrer para que seja materializada uma extensão universitária.
Percebe-se que a instituição conhece o seu papel social perante a comunidade interna e
externa, porém ainda existem falhas, como acadêmicos que não participam e não conhecem
esse trabalho. Neste contexto, necessita a adoção de políticas que favoreçam o processo de
ensino aprendizagem, por meio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como
princípio, para que se possa formar um estudante que absorva conhecimento teórico e que
tenha condições de relacionar a teoria com a prática.
A extensão na instituição vivência um momento extremamente importante, pois a ideia
de uma extensão a serviço de um processo transformador, emancipatório e democrático, para
consolidação como fazer acadêmico, e ainda, desenvolvida no diálogo e no respeito a cultura
local, permite perceber quanto o pensamento freiriano foi marcante e está presente nas
práticas institucionais por meio do próprio fazer extensionista e das normatizações
universitárias que necessitam melhor dispor-se diante das funções acadêmica e social da
universidade, o que é um grande desafio visto que o Plano Nacional de Extensão está longe de
ser uma realidade plena nas universidades brasileiras.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Confronting the challenges of digital media and
learning: Advancing the debate on education, youth and
citizenship1
Wellington de Oliveira
Mestre e doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo e pós- doutorado em Psicologia da Educação pela mesma universidade. Atualmente é Diretor Geral das
Faculdades Integradas Teresa D'Avila- FATEA; professor permanente no Programa de Estudos Pós-Graduados
em Design, Inovação e Tecnologia da FATEA e Coordenador do LAPED: Laboratório Interdisciplinar em
Design, Tecnologia e Educação. Pesquisador do Grupo LACE- Linguagem e Atividade em Contextos Escolares
na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC/SP e no Grupo Atividade e Formação Docente na
mesma universidade.
Abstract
Our discussion in this paper is focused on digital media and education as powerful means for
creating more opportunities for more youth to engage in learning that is relevant to their lives
and prepares them for success and good life in school, the workplace, and their community.
We will discuss how new media builds up a new social reality at school and how new media
influences the configuration of the subjectivity of students and the implications of learning
and development in newer forms of digital environments for issues like democracy, citizenship
and ethics as debated in the DIGIT-M-ED Project.
Keyword
Digital media; Education; Student; DIGIT-M-ED Project.
Resumo
Nossa discussão neste trabalho focaliza mídia digital e educação como meios poderosos para
criar oportunidades para os jovens como formas de aprenderem aquilo que é relevante para
suas vidas e prepará-los para o sucesso na escola, no local de trabalho e nas suas
comunidades. Discutiremos aqui, como a nova mídia constrói uma nova realidade social na
escola e como as novas influências a configuração da subjetividade dos alunos e as
implicações da aprendizagem e desenvolvimento em novas formas de ambientes digitais para
questões como democracia, cidadania e ética debatidas no Projeto M-ED-DIGIT.
Palavras-chave
Mídia digital; Educação; Aluno; Projeto M-ED-DIGIT
1 Paper presented in 4th International Congress of International Society for Cultural and Activity Research – Sydney –Australia, financial
support by CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior.
80
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
New Media and Learning: starting debate
The rapid development of communication technology in the last fifty years enabled the
creation of an array of new artefacts to convey, recreate and produce the signs of modern
society. This wide variety of means presents, organizes, materializes and institutionalizes the
contents carried out in our culture, constantly and dialectally recreating modes of
participation.
The instructional potential of multiple media is clearly promising. New digital
technologies are said to contribute to disseminate information, to help incorporate material
from the sites in daily instruction, and to display student-produced projects and comments on
the sites (DESMET, 2009; MAYORA, 2009).
The large picture shows that these possibilities still remain a potentiality in Brazil.
Although the majority of urban public schools in Brazil have computers connected to the
internet – 92% according to research conducted by the Brazilian Internet Steering Committee
(CGI.br) in 2011 – only 4% of these are located in classrooms.
Schools are faced with the challenge of keeping up with a fast changing society. The
2010 Census showed a pronounced increase on the number of home computers and mobile
phones. In fact, the number of households with a computer with access to the internet doubled
in only five years (see table below). The number (27.4%) may seem minor when compared
with over 95% of households with a television. On the other hand, the rate of growth in which
digital media are entering lives, homes and work places in Brazil demands an immediate
response from schools.
According to Maddux and Johnson (2011: 196), “it could be argued that in every case,
the technology that succeeds and that is widely adopted in education is the technology that
first achieves so much cultural momentum through wide implementation in the culture at
large that the innovation simply cannot be ignored by educators.” That was certainly true with
some analogical technology, such as televisions and VCRs, which were incorporated to many
school classrooms and are now becoming obsolete. On the other hand, within classroom
contexts these technologies remained in the hands of the teacher and, though offering an array
of possibilities for incrementing lessons, were often underused and posed no shifts of power
among teachers and students.
Now new digital media – computers, digital cameras, mobiles and handheld
computing devices - have been at the centre of a commercial success story for over a decade,
and gaming among both children and adults has hit new levels of popularity. At a much lower
rate, some of these media are being incorporated by schools. Nonetheless they seem to be
referred to as occasional activities and their role in the classrooms has not yet been integrated
to schools’ routines. As indicated in the CGI report, “despite all investments in introducing
ICT in education, there are still great challenges to the effective use of computers and the
Internet by teachers in activities with students. The results of the ICT Education 2011 indicate
that the most frequent classroom activities are the ones in which teachers use ICT the less”.
Moreover, the use of computers in classrooms has nearly entirely been dedicated to
word processing and lecturing support. In other words, computers have been introduced as an
alternative to notebooks and blackboards. Their actual potential has not begun to be fully
exploited. The act of reading, for instance, has changed radically with the emergence of
digital texts
It’s important to clarify that we use the term digital media to describe media
articulation where more traditional media, such as books, television, and radio, are converging
with digital media, specifically interactive media and media for social communication. We are
81
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
interested in the media articulation that youth inhabit today. We have used the term digital
media rather than terms such as new media or interactive media because we are examining a
number of changes to media technology that can’t be reduced to a single technical
characteristic. Current digital media often rely on a convergence of digital and online media
with print, analog, and non-interactive media types.
Although some of these applications can, and sporadically have, been used for
educational purposes, they threaten the constraints of a predetermined curriculum, classroom
space, controlled practices, predisposed views, fixed contents, and more. They threaten the so
treasured control over the learner. Once the students are able to use the resources available by
the media, they can operate more independently and play a more active role in their learning.
This poses a demand for a change in the role of the teacher as well.
We claim that the use of multiple media in schools – with the operational
understanding of their possibilities, the relational reading of their multiple modes and signs,
and the encounter of their multiculturality – can transform the basis of relation among
teachers and students. Furthermore, it could bring real life into the classroom, instead of
creating this parallel, unrealistic life to be assimilated.
Lorenzi (2012:37) points out that "the presence of digital technologies in our
contemporary culture creates new possibilities for expression and communication." However
it is worth noting that the domain of its intricacies is not intuitive, demand learning. The
school is the privileged space of learning that begins at home and spreads throughout the
community in which we live and the spaces in which it circulates, whether real or virtual
spaces. Therefore, as shows Lorenzi (2012:37), digital technologies increasingly longer part
of our daily lives and, "as well as the technology of writing, should also be acquired."
Although we understand that schools draw on a not varied range of modes of
representation and communication to introduce and dispose its subjects to students, it is even
harder to realize that teachers have fairly few contact with media apart from the most obvious
and basic ones. Brown (2008:16) states that new media use “raises important issues about
traditional learner–teacher relationships, ownership of lecture content, and of control over the
dialogue in a classroom.” Based on Illich (1971), he reminds that the roles of learner and
teacher would not be fixed and learning would be far more collaborative, distributed, and
personalised than either then or now.
The new digital media are a frontier that is rich with opportunities and risks,
particularly for young people. Through digital technologies, young people are participating in
a range of activities, including social networking, blogging, vlogging, gaming, instant
messaging, downloading music and other content, uploading and sharing their own creations,
and collaborating with others in various ways.
Define digital media as online conduct that is meaningful and engaging to the
participant and is responsible to others in the community and society in which it is carried out.
We argue that the new digital media, with all their participatory potentials, are a space in
which the technologies of the new digital media; related technical and new media literacies;
person-centered factors, such as cognitive and social development, beliefs, and values; peer
cultures, both online and offline; and ethical supports, including the participatory citizenship
and educational curricula.
Digital media can help learners to become more active participants in public life and,
moreover, can facilitate critical pedagogy and social engagement. This also means that we
need to stop ignoring the ways in which we teach behind closed doors and radically focus on
media pedagogy as an urgent topic on which we should work together. In terms of digital
media as a tool for education in a digital age, Flusser offers beyond all else is a vision; a
vision and a warning. Flusser, who writes ‘all prediction damages the future’ (p. 159),
82
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uncovers the materiality of media and suggests that society, has the potential to move toward
a complete freedom of exchange and that the mediated interaction of the electronic era will
herald a cultural revolution. Technical images are the absurd means by which to embrace and
make meaning from an absurd existence.
However, the reverse side of this is the invention and creativity are those
using the digital to find new way of educating would be aided by Flusser;
Into the Universe of Technical Images provides a means of navigating what
is still to come, a partial map for plotting a path through the thickness and
thickets of a new techno-social reality. And soon, as Flusser himself puts it,
‘there will be nothing more we can say to one another, so now is the moment
to talk it over’ (FLUSSER, 2011, p. 86).
Thus, we can understand that digital media allow for a degree of freedom and
autonomy for youth that is less apparent in a classroom setting. Youth respect one another’s
authority online, and they are often more motivated to learn from peers. Their efforts are also
largely self-directed, and the outcome emerges through exploration, in contrast to classroom
learning that is oriented toward set, predefined goals in a relationship of mediation.
Mediation is understood here for us as intervention of the learning experience by
focusing on experience during the processes of thinking and learning (metacognition) and has
as its aims facilitating effective learning behaviour expansion of the transference of learning
into new situations which the learner will encounter increasing the capacity of the learner to
mediate their own learning in future, and thus, is largely about learning how to learn.
This discussion also finds support in new media theorists that try to look at how
emerging kinds of media like websites, blogs, wiki pages, and digital video both delimit the
ways people can use them, and provide, new avenues for the production of social relations
and meanings. For Bolter and Gusin (1999, p.55) all mediation is remediation. We are not
claiming this as an a priori truth, but rather arguing that at this extended historical moment, all
current media function as remediators and that remediation offers us a means of interpreting
the work of earlier media as well. Our culture conceives of each medium or constellation of
media as it responds to, redeploys, competes with, and reforms other media. In the first
instance, we may think of something like a historical progression, of newer media remediating
older ones and in particular of digital media remediating their predecessors. But ours is a
genealogy of affiliations, not a linear history, and in this genealogy, older media can also
remediate newer ones.
For the authors remediation lines up the logic of mediation for social actors in light of
advent of new media, is not to suggest that all of our culture's claims of remediation are
equally compelling or that we could necessarily identify all of the strategies through which
digital media remediate and are remediated by their predecessors. Thus, in the Bolter and
Gusin’s words, the double logic of remediation can function explicitly or implicitly, and it can
be restated in different ways: As they explain:
Remediation as the mediation of mediation. Each act of mediation depends
on other acts of mediation. Media are continually commenting on,
reproducing, and replacing each other, and this process is integral to media.
Media need each other in order to function as media at all.
Remediation as the inseparability of mediation and reality. Although
Baudrillard's notion of simulation and simulacra might suggest otherwise, all
mediations are themselves real. They are real as artifacts (but not as
autonomous agents) in our mediated culture. Despite the fact that all media
depend on other media in cycles of remediation, our culture still needs to
acknowledge that all media remediate the real. Just as there is no getting rid
of mediation, there is no getting rid of the real.
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Remediation as reform. The goal of remediation is to refashion or
rehabilitate other media. Furthermore, because all mediations are both real
and mediations of the real, remediation can also be understood as a process
of reforming reality as well. (BOLTER and GUSIN, 1999, p.55-56)
DIGIT-M-ED: the project
DIGIT-M-ED is a project coordinate by Michalis Kontopodis & Manolis Dafermakis,
co-funded by Marie Curie Action. The focus of the proposed investigation is the digital
capturing, editing and circulating of audio-visual data, although the digital technologies
employed by young people in marginalized urban spaces differ across the geographic áreas.
It is widely recognised today that we live in a ‘globalized media world’, yet few
researchers are trained to study the complexities this involves. Young people around the world
today have significantly greater access to globalised media and to technologies. This
development challenges some of the theoretical and methodological assumptions of earlier
research on youth, culture, education and digital media and technologies use. This
collaborative research endeavour will explore these crucial issues, consider current and future
directions for research on media use by youth across the globe, and address issues of how to
use digital media and technologies in order to facilitate learning and intercultural
understanding. This interdisciplinary international research staff exchange will thus contribute
to new knowledge and understandings of a very complex issue that has major implications for
Europe and the whole world. It will be highly beneficial to the researchers, greatly expanding
their possibilities to contribute to socially responsible cutting-edge research in Europe as well
as in Brazil, Russia and India with regard to media and youth.
The exchange will concern the social, cultural, historical, media-analytical,
psychological and educational dimensions of digital media practices with a focus on the
devices that are used for capturing, editing and circulating video data. It will apply inter-
disciplinary perspectives and knowledge to analyse how these digital media and technologies
practices are shaped by and shape today’s global youth. Solid research synergies between
German and Indian traditions of anthropological and sociological youth research, British
scholarship in media analysis, Greek and Brazilian educational and youth research and
Russian learning theories will be constructed more fully and creatively. Moreover, the
methodological contribution of the project is very important. One of the main project aims is
to develop an innovative methodology for the interdisciplinary and comparative/cross-cultural
study of emerging digital media and technologies practices and constellations with special
attention to the voices and perspectives of the young people involved in research.
With its focus on marginalized urban youth populations, DIGIT-M-ED addresses
directly the following issues which are of high priority both as seen from a European
perspective and on global level: 1) media and competitiveness in a knowledge society, 2)
media, youth policies and social exclusion, 3) global interdependence and transfer of
knowledge through media use, 4) well-being of democracies and political participation, and 5)
promoting sensitization to cultural diversity and social justice through media. The transferred
knowledge will thus be an important resource for educational policy makers, legal
institutions, non-government organisations, web-designers and teachers[1].
By bringing together some of the world’s leading senior researchers with talented early
career scholars from Europe, Brazil, India and Russia, DIGIT-M-ED will offer advanced
training in innovative approaches and research methodologies; will enhance the understanding
of emerging digital media and technologies practices; and strengthen quantitatively and
qualitatively the human potential in research focusing on the specific processes of media use
84
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
in the everyday lives of young people across diverse cultural contexts. On long term basis: the
exchange will be a terrain for the early career researchers to acquire and reinforce research
management and methodological skills, global thinking and intercultural understanding and
acquire additional competencies necessary to interdisciplinary cross-cultural research. These
skills will enable the early career researchers from the different countries to establish solid
leadership positions and maintain/ further develop lasting research collaboration.
At the same time, DIGIT-M-ED also creates opportunities for long-lasting
collaborations among world’s leading research centres such as the London Institute of
Education, the Free University Berlin and more peripheral – but outstanding – universities
such as the University of Crete, the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brazil as
well as the Jawaharlal Nehru University. In this way, the proposed IRSES supports the
development of periphery (European and global) and concomitantly promotes European
traditions of theory and research. Moreover, DIGIT-M-ED aims to provide the framework for
the development of joint postgraduate training and/or project-related exchanges of young
researchers.
New media and youth: exploring boundaries in Digitmed Project
As Michalis Kontopodis explored in his recent book “Neoliberalism, Pedagogy and
Human Development” young students and their parents throughout the industrialized
countries know that they can no longer expect a job for life. In Brazil the situation looks quite
better for now – but the chances that a crisis will emerge are quite high. Individual success
can no longer be the quest of education and human development in this context. Tomorrow’s
citizens and workforce need to be prepared to solve real problems, using multiple disciplines,
and drawing on the very best knowledge that the world has to offer, as to face global
challenges such as climate change, global economic crises and poverty or increased levels of
violence and national hostility.
Education is a complex process. It demands the very best from parents, teachers,
students, and administrators. Here newer forms of digital media have a strong potential: fast,
secure, reliable, and integrated internet networks provide collaboration tools that can
transform learning. Teachers can work together to develop new material and learn from each
other. Students no longer face the choice of either working flexibly at home or in school in
teams: they can do both. All can benefit from virtual experiences, places, and events never
before possible.
The DIGIT-M-ED teams in several parts of world have recently explored the purpose
and the mission of education and the uses innovative technology to connect communities and
people, thereby helping people improve their lives. This impact, this cross-communication,
enhances cultural sensitivity and helps us better understand differences in views, perceptions,
and potentially solutions. When technology meets humanity, the way we work changes and
the way we live changes. We call this the social technical citizenship.
In the classroom, the use of new media, more precisely digital cameras, may lead to a
rich, collaborative learning experience focused around authentic, project-based learning
depending on how teachers introduce and use these media. Students and teachers should have
access to materials, formative assessments and each other "anytime and anywhere," and be
able to draw in experts from around their system or around the world at the touch of a button.
This use includes:
Collaboration: Solutions that facilitate inclusiveness and encourage collaborative decision-
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making among students, faculty, staff, citizens, and public/private partners and help
effectively harness the efforts to solve problems and create value.
Borderless Networks: As the interactions of students, faculty, staff, outside experts,
community members, and other resources extend beyond physical classrooms and school
buildings, a "borderless network" provides security, flexibility, and access that enables
institutions to implement their learning model at any time, using a wide range of devices.
The DIGIT-M-ED project allowed teachers to learn about ideas outside of their school
or school district. Too often we are isolated within our classrooms, within their schools, and
within their school districts, and they made assumptions about how certain educational
practices should be done. When they see other schools doing things differently, it makes us
wonder how they could change or improve their own practices. While other digital media
have this capability, social media enables teachers to both find out about an alternative
practice and discuss the details of implementing this practice directly with whoever has
created.
Our project is still in the beginning, but some examples of this type of communication
can be found on our You-Tube channel:
https://www.youtube.com/channel/UCow1jHEY3TgMb4QdrD1h_RA
The activities with digital filming typically included one or more of the following:
- Generating new knowledge
- Acquiring valuable knowledge from outside sources
- Using this knowledge in decision-making
- Embedding knowledge in processes, products, and/or services
- Facilitating knowledge growth
- Transferring knowledge to other places (Brazil/ Europe, Urban/ Rural etc.)
Using films, digital and social media educators from different places, as network,
collaborated to solve problems that none of them could individually solve. It is a collective
attempt to capture a glimpse of how modern individuals face and negotiate the crisis of global
capitalism, as well as the formation of identity in the realm of media, education, and culture in
a highly dense, networked world.
There were also a few problems (or maybe they are more accurately named
opportunities?) with digital media. In DIGIT-M-ED we have seen many examples (and
participated in many examples) of miscommunication that occurred because of the general
terseness of the medium, and sometimes because of a fundamental disagreement about what
the language being used means. For example, in a meeting to discuss media and
empowerment in Greece, we had a half-an-hour-long argument with another educator, who
only ended when we realized that she was using a completely different definition of learning
than us. It is important to take the time to clarify language, and where necessary, link to less
concise explanations of what we mean. This is one reason why we think that every educator
who participates in digital media should have some web-space available to which they can
link when necessary.
We are living in times within which even the existence of a solidity that “melts into air”
is questioned, and where individuals are forced into a type of identity-virtual mode that
requires the complex and simultaneous negotiations of time, space, nation, and self simply to
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remain intact. It is in this rapidly moving and changing terrain of social relations that the
contributors of Virtualized Identities explore issues that range from popular culture and
education to digital technologies and the fluidity of race and identity.
The newer forms of digital media facilitated the cross-communication, which was very
significant for information sharing and especially in citizenship education. Citizenship
education need not always be formal; it can be carried out in an informal manner in most
communities. Using new digital media in evaluating social education is an imminent need
between youth continuing to improve it, wherever it is available, is important.
Our further aims in this direction include: visible reduction in social conflict, shaping
perceptions, promoting integration, sharing case studies, peace and conflict awareness, as well
as a wider reach to different groups in the society. This expanded outreach would make it
easier to learn from conflict indicators and trends in other parts of the world, train students
and lecturers to acquire skills in the use of new digital media, reduce social violence, increase
in social harmony and cooperation, and increase positive activities in the school, because this
use reveals possibility and belonging to voiceless people in communities.
Digital media by itself will not change education - that responsibility lies with the people,
who use it, but change starts with desire, and social media can provide information, which
may lead to a desire to change.
Conclusions
With the support of new digital media, social education may be promoted to address
social justice, conflict drivers in Brazil, Greece and all over the world; it may be redirected
toward global citizenship, and disadvantaged youth may be transformed. The issue of
attitudinal change in educational processes may benefit the war against corruption, reduce
ethnic conflict, maintain constructive social controls, promote interpersonal relations, and
encourage joint problem solving in terms of 21st Century issues such as virtual economy and
casino capitalism, transnational movements of immigration and ecological crisis, emergence
of nationalist movements and war.
With newer forms of digital media we envisage a social justice and global citizenship
education based on the core values of citizenship and integrity, and respect for diversity.
Through the integration of newer digital media into the schools, both teachers and students
alike will gain the ability to make and reflect upon media and in the process, acquire
important skills in teamwork, leadership, problem solving, collaboration, brainstorming,
communications, and creating projects.
Our point is digital media represents a new social space where individuals are
becoming who they are. Ontologically speaking: the use of digital media in classrooms with
youth reveals a new space of living and being. It (re)presents our individual and social
subjectivities, our social intra-actions. As responsible educators we should inquire,
interrogate, seek understanding, and re-imagine what identity and human subjectivity look
like in a post-Cartesian, midiatic and emergent world.
In short, we comprehend that digital media offers the promise of a new learning
system that motivate individual talents, skills, and interests. Discussing about media aims to
drive positive change in education that builds on the new modes of learning observed among
young people using digital media and related tools.
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Marketing institucional: fortalecimento da marca
Polícia Militar
José Ronaldo Andrade
Bacharelado e Mestrado Profissional em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na
Academia Militar do Barro Branco. Bacharel em Direito na Universidade Cruzeiro do Sul.
Ângela Santos
Tecnólogo em Processamento de Dados. Universidade de Taubaté
Resumo
Este artigo visa ressaltar a importância do fortalecimento da marca da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que influência nas atividades operacionais e imagem da instituição, uma vez que compromete a
reputação e sensação de segurança da população e que devido a sua importância precisa ser constantemente
aprimorado. A finalidade da presente pesquisa é analisar a viabilidade de implantação de uma Gestão de
Fortalecimento da Marca da PMESP, baseado na implantação de um sistema integrado de marketing, educação
e treinamento do policial militar, com o objetivo de colocar essa gestão dentro dos padrões de excelência
preconizados pela gestão contemporânea. Os métodos empregados baseiam-se em pesquisa bibliográfica, com
fundamentos conceituais, legais e pesquisa de campo, realizada por meio de pesquisa qualitativa, questões
direcionadas ao Centro de Comunicação Social em virtude de possuir parte das informações desejadas e
facilidade de acesso a outros órgãos da Corporação, com o objetivo de se verificar se há algum trabalho de
educação e treinamento na área de marketing relacionado à marca, recursos financeiros suficientes e se é
utilizado um sistema integrado de marketing. O resultado da pesquisa aponta para a necessidade de se adotar
um modelo de gestão da marca que privilegie a participação de todos, desde a alta gerência até o soldado
recém-ingressado para atingir metas em direção à proteção da marca da polícia. Ao final, conclui-se que a
proposta apresenta-se como um instrumento capaz de fortalecer a marca da Instituição e provocar uma
mudança de atitude nos policiais militares, contribuindo para o legado institucional.
Palavras-chave
Fortalecimento; Marca; Polícia Militar; Gestão; Educação.
Abstract
This article aims to highlight the importance of strengthening the brand of the Military Police of São Paulo State,
which influence the operating activities and image of the institution as it compromises the reputation and sense
of security of the population and because of its importance needs to be constantly improved. The purpose of this
research is to analyze the feasibility of implementing a Strengthening the Management of the PMESP mark,
based on the implementation of an integrated marketing system, education and training of military police in
order to place this management within the standards of excellence recommended by the contemporary
management. The methods employed are based on bibliographic research, with conceptual, legal foundations
and field research, conducted through qualitative research, questions directed to the Media Center by virtue of
owning part of the desired information and easy access to other bodies of corporation, in order to check for any
work of education and training in marketing related to the brand, sufficient financial resources and whether to
use an integrated marketing system. The result of the research points to the need to adopt a model of brand
management that favors the participation of everyone from top management to the newly joined soldier to
achieve goals toward the police brand protection. Finally, it is concluded that the proposal is presented as a tool
to strengthen the brand of the institution and bring about a change of attitude in the military police, contributing
to the institutional legacy.
Keywords
Fortification; Brand; Military police; Management; Education.
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1 Introdução
A pesquisa será direcionada quanto à viabilidade da implantação de uma gestão
voltada ao fortalecimento da marca da Polícia Militar do Estado de São Paulo buscando a
participação de todos, desde o escalão superior da Instituição aos policiais militares,
principalmente aqueles que têm contato direto com a população, através da contratação de
uma empresa terceirizada para cuidar do composto integrado de marketing da corporação,
educação e treinamento pessoal.
Desta forma, com base nos argumentos expostos, tem-se que o problema descrito
consiste na resposta à seguinte pergunta: Como adaptar a gestão de fortalecimento da marca
da Polícia Militar do Estado de São Paulo, a fim de elevar a imagem e reputação dos serviços
prestados à população?
O objetivo principal da pesquisa é analisar a viabilidade de implantação da gestão de
fortalecimento da marca da Instituição, por meio da contratação de uma empresa
especializada para trabalhar o composto integrado de marketing e consequentemente
educação e treinamento a todos os policiais, a fim de torna-los gestores da marca da
corporação, buscando uma mudança de comportamento que passa da indiferença para
colaborador cuidando da marca como se fosse seu próprio nome, com a finalidade de
melhorar a imagem e reputação dos serviços prestados pela Polícia Militar.
Os objetivos específicos da pesquisa são:
a) Adequar a gestão de fortalecimento da marca ao ambiente de trabalho da Polícia
Militar do Estado de São Paulo;
b) Levantar os benefícios tangível e intangível que a gestão de fortalecimento da
marca possa trazer à imagem e reputação da Instituição, se comparada à forma
tradicional de gestão da marca anteriormente utilizada;
c) Identificar e demonstrar os potenciais de ganhos através da correta administração
do composto integrado de marketing além da educação e treinamento pessoal; e
d) Conscientizar a administração da importância que a gestão de fortalecimento da
marca tem na motivação do Policial Militar, e por consequência, nos resultados da
Polícia Militar.
A hipótese sugerida é a de que a implantação da Gestão de Fortalecimento da Marca
da Polícia Militar, conforme os objetivos expostos melhorará a gestão administrativa que
envolve essa atividade de comunicação social, melhorando a imagem e reputação dos serviços
prestados pela Instituição, prevenindo e administrando crise de imagem.
O tema proposto é inovador e relevante, pois vem ao encontro das necessidades
estratégicas da Instituição e do Governo do Estado, visto que, se as hipóteses forem
confirmadas, será possível melhorar a gestão do fortalecimento da marca, as rotinas
administrativas, que reduzirá as despesas e retrabalhos originados a partir dessa atividade e ao
mesmo tempo melhorará a imagem e reputação da Instituição.
O método empregado baseou-se em pesquisas bibliográficas, por meio da consulta a
livros, legislação e normas vigentes, trabalhos científicos disponíveis em sítios na internet e
foi concluída com pesquisa de campo, realizada por meio de um questionário direcionado ao
escalão superior da corporação, que evidenciou a forma de trabalho e recursos atuais em
relação à gestão da marca.
A delimitação espacial restringir-se-á a Polícia Militar do Estado de São Paulo que
possui experiências positivas na gestão de sua marca. A pesquisa concentra-se na área de
Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, na linha de Gestão e Organização.
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A pesquisa foi estruturada em seis seções. Na primeira, aborda o tema marca de forma
genérica, abrangendo seu surgimento e evolução ao longo do tempo, conceitos, funções, bem
como a importância estratégica para as organizações. Constitui-se, pois, na fundamentação
teórica desta pesquisa. A segunda seção descreve, de forma sucinta, a percepção da imagem
da Polícia Militar por parte da população, com ênfase na letalidade policial, índice de
confiança e ameaça de extinção. A terceira seção aborda a estrutura de ensino da Polícia
Militar do Estado de São Paulo e a aproximação com a população. A quarta seção trata das
ações para fortalecer marca da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com destaque para a
importância do composto integrado de marketing, contratação de empresa de marketing,
indicadores para mensurar as ações de marketing, gestão de crise de imagem e comunicação e
a relação entre o consumidor e as marcas amadas. Na quinta seção apresenta proposta de
formulada no sentido de adoção da gestão de fortalecimento da marca. Por fim, a última
seção, conclui esse trabalho.
1.1 Origem e evolução das marcas
Desde a mais remota Antiguidade existiam várias maneiras de promover as
mercadorias. Sinetes, selos, siglas e símbolos eram as mais comuns, utilizadas como um sinal
distintivo e de identificação para assinalar animais, armas e utensílios. Naqueles tempos, bem
antes de as marcas terem adquirido o seu sentido moderno, era costume indicar a proveniência
do produto agrícola ou manufaturado, a marca servindo muitas vezes para atestar a excelência
do produto e seu prestígio (PINHO, 1996).
Na Idade Média, as corporações de ofício e de mercadores adotaram o uso de marcas
como procedimento para o controle de quantidade e da qualidade da produção. As chamadas
marcas de comércio tornaram possível a adoção de medidas para o ajuste da produção e
comercialização de determinados bens à demanda do mercado. E ainda constituíram uma
proteção para o comprador, que podia identificar o produtor e resguardar-se da má qualidade
que caracterizava grande parte das mercadorias na época (TAVARES, 2003).
Para as corporações, as marcas tinham também um sentido prático. Os ourives na
França e Itália, os tecelões na Inglaterra e muitos membros das guildas na Alemanha eram
forçados a usar marcas individuais, que permitiam às corporações preservar o monopólio e
identificar as falsificações ou os artesãos cuja produção estivesse em desacordo com as
especificações técnicas da agremiação (PINHO, 1996).
As marcas individuais tornaram-se obrigatórias e adquiriram, já no século XI, um
sentido comercial, com o surgimento das comunas e cidades e com a divisão de mercado,
trabalho e competência. As operações comerciais eram efetuadas longe do centro produtor,
deixando de existir uma relação direta entre o produtor e o comprador. Assim, a marca Ra o
elemento que estabelecia um vínculo entre o fabricante sediado na cidade de origem do
produto e o consumidor que estava em lugar distante. Por meio dela, o comprador tinha
assegurada a garantia de qualidade do produto e podia reclamar quando a mercadoria não
apresentasse as qualidades devidas (RUÃO, 2003).
No Brasil, o Código Criminal do Império era completamente omisso quanto a qualquer
tipo de proteção legal às marcas comerciais e de indústria. Até que, por volta de 1875,
conforme relata Domingues (1984: 47-48), a firma Meuron & Cia., fabricante de rapé com a
marca Arêa Preta, ingressou em juízo contra uma empresa concorrente, a Moreira & Cia., que
lançou no mercado o mesmo produto com o nome Arêa Parda, alegando a primeira a
usurpação da sua marca. A causa teve Rui Barbosa como advogado da reclamante, sendo
julgada improcedente pelo Tribunal da Relação da Bahia, já que nenhuma lei qualificava o
fato como delito (TAVARES, 2003). Nova representação foi encaminhada pelo autor ao
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Poder Legislativo, merecendo dessa vez a acolhida pela Comissão de Justiça Criminal da
Câmara dos Deputados, que na sua exposição de motivos manifestou o perigo que a certeza
de impunidade poderia acarretar para a indústria e elaborou um projeto de regulamentação
que, depois de aprovado, se transformou na Lei nº 2.682 de 23 de outubro de 1875 (PINHO,
1996).
1.2 Conceituações de marca
Ofertam-se conceitos de marca, a partir de textos legais e da doutrina, sem limitação
geográfica e sem se prender na legislação brasileira em vigor, uma vez que, na elaboração
conceitual não se pode dispensar o concurso da legislação estrangeira, ou comunitária, e o
processo histórico, ainda mais em sendo a matéria embasada em modelos marcados no âmbito
dos tratados internacionais (AAKER e JOACHIMSTHALER, 2007).
Antes de declinar sua preferência pelo conceito elaborado por Carvalho de Mendonça,
João da Gama Cerqueira cita os que foram elaborados por Afonso Celso, Bento de Faria e
Almeida Nogueira, advertindo que esses autores acentuaram como finalidade da marca a
indicação ao consumidor da origem ou procedência dos produtos e não a de identificá-los e
distingui-los dos similares. Carvalho de Mendonça (apud CERQUEIRA, 1946), assim elabora
a definição:
Essas marcas consistem em sinais gráficos ou figurativos, destinados a
individualizar os produtos de uma empresa industrial ou as mercadorias
postas à venda em uma casa de negócio, dando a conhecer sua origem ou
procedência, e atestando a atividade e o trabalho de que são resultado.
O Decreto-Lei nº 7.903, de 27-8-1945, conceituou marca no artigo 89 da seguinte
forma:
Considera-se marca de indústria aquela que for usada pelo fabricante,
industrial, agricultor ou artífice, para assinalar os seus produtos, e marca de
comércio, aquela que usa o comerciante para assinalar as mercadorias do seu
negócio, fabricadas ou produzidas por outrem.
Pontes de Miranda (1983) vê na marca um sinal “que se apõe em produtos ou
mercadorias para servir de indicação da sua qualidade, algumas vezes também da
quantidade”, sendo “o mais típico sinal distintivo de produto ou de mercadoria”.
O artigo 59 do antigo Código da Propriedade Industrial Brasileiro (Lei nº 5.772, de 21-
12-1971) dispõe:
Será garantida no território nacional a propriedade da marca e o seu uso
exclusivo àquele que obtiver o registro de acordo com o presente Código,
para distinguir seus produtos, mercadorias ou serviços, de outros idênticos
ou semelhantes, na classe correspondente à sua atividade.
Nota-se que o legislador, portanto, preferiu realçar, como traço conceitual, a
distintividade do signo marca em relação a outros produtos e serviços de concorrentes,
reafirmando ainda no artigo 64 do Código revogado que:
São registráveis como marca os nomes, palavras, denominações,
monogramas, emblemas, símbolos, figuras e quaisquer outros sinais
distintivos que não apresentem anterioridades ou colidências com registros já
existentes e que não estejam compreendidos nas proibições legais.
O traço distintivo, numa primeira leitura dos textos legais, implicava caracterização
gráfica ou visual, propícia a diferenciar os produtos e serviços. Excluída, nesses termos, era a
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marca sonora, produto da elaboração fonética, para distinguir os bens industrializados,
comerciáveis ou serviços do empresário.
Douglas Gabriel Dominguez (1984), seguindo orientação de Franceschelli, apontou o
desenvolvimento da radiodifusão para incluir no conceito de marca, como traço distintivo, a
impressão visual e sonora para afastar o risco de confusão dos consumidores, com supedâneo
na jurisprudência nacional, inclusive.
Como último conceito recolhido na doutrina nacional, temos o alinhavado por Newton
Silveira (1987) “todo nome ou sinal hábil para ser aposto a uma mercadoria ou produto
indicar determinada prestação de serviços e estabelecer entre consumidor ou usuário e a
mercadoria, produto ou serviço uma identificação, constitui marca”.
1.3 Funções da marca
Através dos tempos, as marcas têm sido usadas basicamente para identificar e
diferenciar uma mercadoria, produto ou serviço em relação aos seus concorrentes.
Modernamente, encontramos na marca as seguintes funções: concorrencial, identificadora,
publicitária, individualizadora, de descobrimento ou revelação, de diferenciação e de
diferenciação interna (PINHO, 1996). A seguir, estão descritas tais funções:
a) Função concorrencial: as marcas que assimilam os produtos concorrem diretamente
entre si;
b) Função identificadora: ao assinalar os produtos e serviços, as marcas os identificam
individualmente;
c) Função individualizadora: o produto marcado e identificado torna-se um bem
individualizado e único perante um conjunto de bens de marcas diferentes;
d) Função de descobrimento ou revelação: depois de um produto novo ser lançado no
mercado, a marca é que vai revelar sua existência ao consumidor. E ao comprar o
bem, o consumidor descobre o produto que a marca assinala;
e) Função de diferenciação: por meio de uma marca o produto torna-se diferenciado na
sua categoria;
f) Função publicitária: a publicidade busca divulgar e promover a marca do produto
junto ao consumidor para que, assim, ele deixe de ser uma mercadoria anônima;
g) Função de diferenciação interna: o popular Fusca, da Volkswagen, era apresentado em
três versões: Volkswagen 1200, 1300 e 1500. Domingues (1984: 90) sustenta que
esses números, acrescentados pelos fabricantes como elementos de diferenciação
interna das versões, acabaram constituindo um elemento de diferenciação interna das
versões, acabaram constituindo um elemento de diferenciação externa para o mercado.
Embora aparentemente idênticos, os modelos apresentavam diferenças concretas de
qualidade, preço e acabamento, que fizeram o consumidor estabelecer uma diferença
de status entre os proprietários de cada uma das versões.
2 Percepção da imagem da Polícia Militar do Estado de São Paulo
Neste tópico, nota que a visão que o cidadão possui em relação ao Polícia Militar por
meio de pesquisas, noticia jornalística e as ameaças que a Instituição está sujeita por parte de
representantes políticos. Hoje a estudos que relatam sobre a imagem da Polícia Militar do
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Estado de São Paulo, dentro dele destacam-se alguns pontos, são eles: letalidade, confiança e
ameaça de extinção.
2.1 Letalidade Policial
Dentre os números dessa violência fatal, uma parcela significativa tem sido atribuída a
ações das Polícias estaduais, em especial à militar, que no Estado de São Paulo as polícias
utilizam a força letal e não a inteligência para controlar o crime, que esta força letal é utilizada
para a proteção do patrimônio não da vida (GOMES, 2011).
As polícias têm agido com alto grau de letalidade em suas ações, utilizando a força e a
violência de forma desproporcional à ameaça representada e sem respeito aos direitos das
pessoas e aos procedimentos legais, que em São Paulo/SP apesar dos homicídios dolosos
terem reduzidos entre os anos de 2000 a 2010, as mortes provocadas pela polícia não
apresentaram uma queda (GOMES, 2011).
O relatório trimestral do Instituto Sou da Paz aponta um aumento desproporcional da
chamada letalidade policial, que as polícias militar e civil protagonizam um crescimento
alarmante, 206, 9% do número de pessoas mortas por policiais em serviço, comparação
realizada em relação ao primeiro trimestre de 2013 e 2014 (GOMBATA, 2014).
2.3 Confiança na Polícia Militar
A população brasileira está confiando menos na polícia, segundo dados do 7º Anuário
do Fórum Brasileiro de segurança Pública, cerca de 70, 1% dos brasileiros ouvidos na
pesquisa não confiam na polícia, alguns fatores que contribuem para a desconfiança é a baixa
taxa de resolução dos crimes, a burocracia no atendimento ao cidadão e a imagem de
violência que está associada às polícias, principalmente à Polícia Militar (RIBEIRO, 2013).
2.4 Ameaça de extinção da Polícia Militar
Tramita na Câmara dos Deputados e do Senado Propostas de Emenda à Constituição,
propondo mudanças radicais que afetam os interesses dos policiais civis e militares de todo o
Brasil, pois quer instituir uma nova organização policial civil e extinguir as atuais Polícias
Militares, são as PEC nº 21, 51, 102, 430.
3 Estrutura de ensino da Polícia Militar e aproximação do cliente
No presente tópico comenta que por meio de uma pesquisa qualitativa encaminhada ao
escalão superior da Polícia Militar a deficiência da Instituição quanto às questões relativas ao
fortalecimento da marca, os meios utilizados pela Polícia Militar para instruir e preparar sua
força de trabalho, Importância da aproximação com o cliente/comunidade.
Aplicar uma pesquisa ao Centro de Comunicação Social da Polícia Militar tendo em
vista a maior facilidade de obtenção das informações necessárias para instrução deste estudo,
em razão do Centro de Comunicação deter parte dos dados e facilidade de acesso a outros
órgãos da Instituição.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
3.1 Pesquisa formulada junto ao Escalão Superior da Polícia Militar de São
Paulo
Em resposta às questões encaminhadas ao escalão superior da Polícia Militar do
Estado de São Paulo foi informado o seguinte.
Que desde 2012 há recursos destinados ao centro de comunicação da Polícia Militar,
no montante de R$ 1.100.000,00; que tal recurso ainda não é suficiente tendo em vista a
demanda imposta pelos inúmeros projetos na área de marketing. As ações de marketing da
Polícia Militar não são uniformes e integradas; que não existe empresa contratada para lidar
com o composto de marketing da Polícia Militar e que o curso de Media Training iniciou em
2006, passou por mudanças estruturais e é voltado apenas a Oficiais.
Nos cursos de formação de Oficiais, Sargentos, Soldados e de aperfeiçoamento
profissional não há matéria específica que trate do marketing na Polícia Militar de forma a
tornar o Policial Militar um gestor de crise de imagem e da marca da Polícia Militar, só
diretrizes e instruções orientando como criar e manter sítios na Internet, utilização da internet,
lidar com a administração de crise de imagem, uso do Facebook; que o fortalecimento da
marca é trabalhado nas campanhas institucionais e ações voltadas a valorização profissional,
cujo principal mote é o fortalecimento do sentimento de pertencimento a Instituição.
3.2 Sistema de formação, instrução e prevenção da Polícia Militar do Estado
de São Paulo
A Polícia Militar possui seu próprio sistema de formação e instrução de seus policiais,
que ocorre desde a sua entrada na Instituição e se mantêm por toda a carreira, tais sistemas
são imprescindíveis para a educação para essa nova maneira de agir e perceber a importância
de se cuidar da marca da Instituição, desta forma deveria ser inserido no currículo desta
formação aulas referente ao fortalecimento de sua marca, promovendo uma educação e
conscientização da importância da marca e de como preservá-la.
O ingresso na Polícia Militar poderá ser feito através de concurso público, a carreira
do policial militar se inicia com a graduação de soldado, após concluir o Curso Superior de
Técnico de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública. Poderá ingressar diretamente
na Escola de Formação de Oficiais, onde cursará o Curso de Bacharelado em Ciências
Policiais de Segurança e Ordem Pública.
No quadro médico por meio de Concurso Público para Admissão aos cargos de 2º
Tenente Médico PM Estagiário e 2º Tenente Farmacêutico PM Estagiário do Quadro de
Oficiais de Saúde da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Posteriormente o colaborador
poderá ascender na carreira cursando a Escola Superior de Sargentos (ESSgt) fazendo o Curso
Superior de Tecnólogo de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública I.
No caso dos Oficiais terão que realizar o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, Curso
Superior de Polícia para galgar os últimos postos da Instituição; ao longo da carreira todos
terão que se submeter a outras instruções para se atualizar profissionalmente, como por
exemplo, o Estágio de Aprimoramento Profissional, Instrução Continuada do Comando e
Programa Vídeo Treinamento.
3.3 Importância da aproximação com o cliente/comunidade
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Neste item mostraremos que a união de esforços entre polícia e população é
fundamental para um relacionamento duradouro onde ambas as partes obterão ganhos de
confiança, eficiência nas questões de segurança, o Conselho Comunitário de Segurança se
constitui em uma oportunidade para a Polícia Militar conhecer a real necessidade do seu
público alvo.
Estabelecer um diálogo com o cliente é fundamental no sentido de conhecer sua real
necessidade ou desejo em relação ao serviço prestado pela Polícia Militar, e dentro deste
aspecto o CONSEG (Conselho Comunitário de Segurança) é uma ótima ferramenta de
aproximação da entre a Polícia Militar e a sociedade.
Esta aproximação se encaixa perfeitamente à orientação do art. 144 da Constituição
Federal do Brasil, quando diz que a preservação da ordem pública é dever do Estado, porém,
direito e responsabilidade de todos. Contudo, a ideia do Conselho Comunitário de Segurança
surgiu para criar um espaço onde todos poderiam se reunir e pensar estratégias de
enfrentamento dos problemas de segurança, tranquilidade e insalubridade da comunidade,
orientados pela Filosofia de Polícia Comunitária (SCARDUELIEeeCASAGRANDE,E2011).
O Conselho Comunitário de Segurança é uma entidade de apoio às polícias estadual.
Em outras palavras, são grupos de pessoas de uma mesma comunidade que se reúnem para
discutir, planejar, analisar, e acompanhar as soluções de seus problemas, o qual se reflete na
segurança pública. São meios de estreitar a relação entre comunidade e polícia, e fazer com
que estas cooperem entre si. A Secretaria da Segurança Pública tem como representantes, em
cada CONSEG, o Comandante da Polícia Militar da área e o Delegado de Polícia Titular do
Distrito Policial (TROJANOWICZEeeeBUCQUEROUX,e2003).
Sua legitimidade tem sido reconhecida pelas várias esferas de Governo e por
institutos independentes, o que permite afirmar que os CONSEGs representam hoje, a mais
ampla, sólida, duradoura e bem-sucedida iniciativa de Polícia orientada para a comunidade
em curso no Brasil e investir nesta aproximação trará benefícios para a marca da Polícia
Militar (SCARDUELI e CASAGRANDE, 2011).
Os objetivos dos CONSEGs são os de integrar a comunidade com as autoridades
policiais, com as ações que resultem na melhoria da qualidade de vida da população; a
comunidade propor às autoridades as definições de prioridade na Segurança Pública na sua
região; articular a comunidade visando à prevenção e a solução de problemas ambientais e
Sociais; fazer com que a comunidade interaja com as unidades policiais tendo em vista a
resolução de seus problemas, enfim, criar uma sinergia entre a polícia e a comunidade na
solução de problemas.
4 Ações para fortalecer a marca da Polícia Militar do Estado de
São Paulo
Aqui, vamos apresentar medidas para fortalecer a marca da Polícia Militar como, por
exemplo, a importância do Composto Integrado de Marketing, a possibilidade e necessidade
de Contratação de Empresa de Marketing, a importância dos Indicadores para mensurar as
ações de marketing, a relevância da Gestão de crise de imagem e comunicação, e como deve
ser a relação entre o consumidor e as marcas amadas.
4.1 Importância do Composto Integrado de Marketing
A comunicação de marketing, também conhecida como comunicação mercadológica,
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
tem como objetivo promover a troca de produtos e serviços entre o produtor e o consumidor,
logo abrange a comunicação institucional e a ela deve estar integrada. Isso porque, a
comunicação integrada pressupõe o desenvolvimento conjugado das atividades de
comunicação institucional, abrangendo jornalismo, editoração, relações pública, propaganda,
publicidade, promoção de vendas, exposições, treinamento (AMARAL, 2008).
Desse modo, a comunicação integrada de marketing é a forma encontrada para fazer o
planejamento global de comunicação, com as técnicas e os métodos específicos de cada área,
usando uma só linguagem, para realizar a promoção/comunicação dos produtos e serviços
entre o produtor e o consumidor. Nessa linha de pensamento, a comunicação de marketing é o
meio pelo qual as empresas buscam informar, persuadir e lembrar os consumidores – direta ou
indiretamente – sobre os produtos e marcas que comercializam (SANTIAGO, 2002).
Para Toledo, Nakagawa e Yamashita (2008) a comunicação de uma empresa pode
explorar inúmeras possibilidades para proporcionar uma aproximação entre ela e seus
consumidores, todo contato com a marca transmite uma impressão que pode fortalecer ou
enfraquecer a visão do cliente sobre a empresa, o contato pessoal passou a ser considerada
uma categoria de venda pessoal, por se tratar de uma alternativa de realização que pode ser
utilizada ou não, conforme opção do promotor em outras diversas atividades para promover,
mas a venda pessoal só se realiza pelo contato pessoal.
O composto integrado de marketing visa identificar o DNA da marca, estabelecer um
território para a marca ocupar na comunicação baseado em seu DNA, nos objetivos da
empresa e nos pontos de relevância para o consumidor, o território propõe o terreno aonde vai
se apoiar o tom da comunicação, criando o conceito BIG IDEA (AMARAL, 2008).
As decisões da empresa estão ligadas a parte estratégica da empresa, caracterizada por
buscando afetar o comportamento, começar pelo cliente ou prospecto de fora para dentro, usar
toda e qualquer forma de contato, gerar sinergia – declaração de posicionamento, construir
relacionamentos. O problema está no fato de algumas organizações ainda teimarem em tratar
as ferramentas de comunicação como práticas separadas direcionando verbas para: mídias
mais especializadas, altamente segmentadas, comunicação focada (SANTIAGO, 2002).
4.2 Contratação de Empresa de Marketing
A lei nº 12.232 estabelece normas gerais sobre licitações e contratações pela
administração pública de serviços de publicidade prestados necessariamente por intermédio
de agências de propaganda, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, se subordinam ao disposto nesta Lei os órgãos do Poder Executivo, Legislativo e
Judiciário, as pessoas da administração indireta e todas as entidades controladas direta ou
indiretamente pelos entes referidos.
Considera-se serviços de publicidade o conjunto de atividades realizadas
integradamente que tenham por objetivo o estudo, o planejamento, a conceituação, a
concepção, a criação, a execução interna, a intermediação e a supervisão da execução externa
e a distribuição de publicidade aos veículos e demais meios de divulgação, com o objetivo de
promover a venda de bens ou serviços de qualquer natureza, difundir ideias ou informar o
público em geral.
Nas contratações de serviços de publicidade, poderão ser incluídos como atividades
complementares os serviços especializados pertinentes é planejamento e à execução de
pesquisas e de outros instrumentos de avaliação e de geração de conhecimento sobre o
mercado, o público-alvo, os meios de divulgação nos quais serão difundidas as peças e ações
publicitárias ou sobre os resultados das campanhas realizadas, as pesquisas e avaliações
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previstas terão a finalidade específica de aferir o desenvolvimento estratégico, a criação e a
veiculação e de possibilitar a mensuração dos resultados das campanhas publicitárias
realizadas em decorrência da execução do contrato.
4.3 Indicadores para mensurar as ações de marketing
Os indicadores são importantes medidas utilizadas por uma organização para resolver
problemas conjunturais, para assegurar que os procedimentos internos sejam aplicados;
outros, ainda, para levantar aspectos econômicos da organização, qualidade de seus produtos,
satisfação de sua clientela, validar a ação adotada. A busca pela excelência exige o
sistemático levantamento de dados e informações, com a finalidade não somente de avaliar os
serviços, mas, principalmente, utilizá-los como elementos do planejamento estratégico. Nesta
perspectiva, entendem-se indicadores de desempenho como uma ferramenta para mensurar a
satisfação do usuário e a qualidade dos serviços, com vistas à avaliação e à tomada de
decisão. Seu uso sistemático aponta os pontos fortes e as debilidades da organização, bem
como permite a comparação, tanto da organização com ela mesma, em diferentes momentos,
como dela com outras organizações, facilitando o benchmarking, por exemplo (ROZADOS,
2005).
4.4 Gestão de crise de imagem e comunicação
Para Forni (2013) crise é uma ruptura na normalidade da organização; uma ameaça
real ao negócio, a reputação e ao futuro de uma corporação ou de um governo. As empresas
precisam estar organizadas e dispostas a criar mecanismos de prevenção de crise, o plano de
prevenção de crises também não pode ser um relatório feito por algum grupo restrito de
pessoas ou pelo gabinete ou assessoria da presidência, sem o envolvimento de toda a
organização.
Toda instituição deve ter um processo sistemático de identificação de potenciais crises,
deve ser uma rotina incorporada ao planejamento estratégico da corporação. Identificar riscos
potenciais deve ser um componente mensal e anual do planejamento, incutindo no quadro
pessoal da empresa a ideia de que administrar o risco é mais fácil do que gerenciar a crise.
Prevenção não é um gasto inútil, pelo contrário, representa investimento, pois o
planejamento prévio pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma organização, na
hora da crise; prevenir acontecimentos negativos que representem ameaça à marca, à
reputação. Torna-se necessário, portanto, irradiar por toda a organização uma efetiva educação
e treinamento do risco, como uma competência apropriada de preparação e treino para a
gestão das crises (CARVALHO, et al., 2010)
A comunicação de crise é parte do processo de gestão e deve contemplar as ações
necessárias para informar a opinião pública e tentar reduzir o impacto negativo. Se a
organização não tem um rápido e efetivo plano de comunicação de crise, a imprensa
preencherá o vácuo da mídia com informações, comentários ou opiniões, que servirão mais
para vender história do que para sua reputação.
A chave do sucesso na comunicação de crise é estabelecer a organização no centro da
crise como a única fonte autorizada de informação sobre o que está acontecendo e o que está
sendo feito sobre a crise. A mídia explora as crises porque são fatos inusitados, fogem da
normalidade, envolvem a imagem das organizações e despertam o interesse da audiência.
Vivemos hoje no mundo da visibilidade total, as crises são globais e dizem respeito a toda a
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comunidade, toda a sociedade.
A imagem e reputação de uma marca, de um produto ou de uma empresa são
construídas com base em percepções, o preço de uma crise de graves proporções é
extremamente alto, não saber se comunicar agrava o efeito negativo das crises, a internet e as
mídias sociais afetaram as práticas de gestão de crises, com ameaças mais sérias à reputação,
também mudou a forma e o tempo de resposta dos gestores. As crises acontecem quase em
tempo real (FORNI, 2013).
4.5 A relação entre o consumidor e as marcas amadas
Uma marca só existe quando existem pessoas que fazem questão da sua existência.
Marcas que não conseguem criar nenhum tipo de laço com o seu público não sobrevivem em
uma realidade onde as prateleiras das lojas estão transbordando produtos, cores e embalagens
diversas. Se não há quem compre, vai estar na prateleira por quê? Simplesmente não vai
(GRÄTSCH, 2013).
É nos conhecido que uma das funções das marcas é auxiliar o consumidor a identificar
produtos e serviços. Nem sempre a utilização de informação explícita é necessária, importa
que a mensagem da marca signifique alguma coisa às pessoas. O processo que perdura entre o
conhecimento e a tomada de decisão de compra de um consumidor deve contar com profundo
conhecimento da marca em relação ao público que ela quer alcançar; quem é ele? Quais suas
preferências? O que ele faz? Que lugares ele frequenta? Dentre outras (GRÄTSCH, 2013).
A marca é uma promessa criada na mente do consumidor, e o relacionamento entre
eles é definido pelo laço emocional que se forma a partir de trocas entre marca e consumidor.
A força dessa ligação emocional é definida pelo nível de intimidade entre a pessoa e a marca.
As empresas não criam marcas expressivas sem o auxílio de seu consumidor, mas podem
facilitar o desenvolvimento do relacionamento do público com a sua marca (GRÄTSCH,
2013).
É indispensável à marca, criar uma mensagem em volta de si que comunique ao seu
público o essencial para a formação de um vínculo. Segundo Solomon (2008), a mensagem
usada a favor da comunicação com o consumidor soma como atributo ou benefício único do
produto. A mensagem deve ser clara e não ser repetida constantemente para não gerar
desgaste e afastar a massa consumidora. Portanto, é importante variar e renovar seu conteúdo
e prezar sempre por elementos que mantenham a familiaridade ao cliente (GRÄTSCH, 2013).
5 Proposta de implantação da gestão de fortalecimento da
marca
Para que a PMESP possa implantar a solução proposta, haverá a necessidade seguir
algumas etapas, garantindo a geração de produtos ou serviços de alta qualidade a preços
competitivos ou mais baratos, além disso, desenvolve conhecimentos capazes de reeducar as
pessoas para ações de prevenção e melhoria contínua, garantindo o fortalecimento da marca, a
confiabilidade dos cidadãos e da qualidade dos processos ou serviços.
5.1 Fases do Plano de Implantação
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A estimativa média de implementação da Gestão do Fortalecimento da Marca a é de 3
a 6 meses para a fase preparatória, e de 2 a 4 anos para início do estágio de consolidação,
considerando que seja feita segundo as doze etapas sugeridas:
1ª etapa - Manifestação da Alta Administração sobre a Decisão de Introduzir a
Gestão do Fortalecimento da Marca da PMESP;
2ª etapa - Campanha de Divulgação e Treinamento para Introdução da Gestão
do Fortalecimento da Marca;
3ª etapa - Estrutura para Implantação da Gestão do Fortalecimento da Marca
da PMESP;
4ª etapa - Estabelecimento de Diretrizes Básicas e Metas para a Gestão do
Fortalecimento da Marca;
5ª etapa - Elaboração do Plano Diretor para Implantação da Gestão do
Fortalecimento da Marca;
6ª etapa - Início do Programa de Gestão do Fortalecimento da Marca;
7ª etapa - Melhoria Individualizada dos Policiais Militares e do composto
integrado de marketing para Maior Fortalecimento da Marca;
8ª etapa - Estruturação para a mudança de atitude para Maior Fortalecimento
da Marca;
9ª etapa - Estruturação da Gestão de Fortalecimento da Marca pelo Centro de
Comunicação Social da Polícia Militar e subunidades;
10ª etapa - Treinamento para Melhoria do Nível de Capacitação da Força de
Trabalho quanto ao Fortalecimento da Marca;
11ª etapa - Estruturação do Controle da Fase Inicial de Implantação da Gestão
de Fortalecimento da Marca aos Policiais Militares e do composto integrado de
marketing;
12ª etapa - Execução Total da Gestão de Fortalecimento da Marca e Elevação
do Nível Geral.
O treinamento será ministrado a um grupo pré-determinado de policiais militares, que
posteriormente difundirão os conhecimentos adquiridos aos demais Polícias Militares, na
forma de multiplicadores, Diretoria de Ensino da Polícia Militar organizar o currículo das
unidades formadoras, treinamento e fornecer todos os materiais e recursos necessários para a
sua realização, que ocorrerá nas Unidades de Ensino, Batalhões, Companhia, Pelotão e
Grupamento Policial Militar ou em local por elas definido.
Para consolidar a filosofia da nova Gestão, sugere-se que a Instituição normatize os
procedimentos a ser adotada por meio da edição e da publicação de Nota de Instrução (NI),
bem como a inserção do assunto em edições do Programa de Vídeo Treinamento (PVT),
Instrução Continuada de Comando etc, que gerará bons resultados na assimilação da nova
Gestão.
5.2 Projeto Piloto
A complexidade que envolve a implantação do novo modelo de gestão de
fortalecimento da marca, ao mesmo tempo, em toda a Polícia Militar, sugere-se o
desenvolvimento de um projeto piloto a ser implantado e avaliado em três batalhões
territoriais distintos, um na capital, um na região metropolitana de São Paulo e outro no
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interior do Estado.
A sistemática proposta permitirá confrontar o desempenho da gestão de fortalecimento
da marca em unidades do mesmo Comando de Policiamento ou do mesmo Batalhão, que
estarão utilizando modelos gerenciais distintos, assim, sugere que o projeto piloto seja
desenvolvido de 3 a 6 meses para a fase preparatória, e de 2 a 4 anos para início do estágio de
consolidação, considerando que seja feita segundo as doze etapas sugeridas, a fim de que seja
possível aferir efetivamente as vantagens de melhoria da imagem e da marca aqui propagadas.
6 Considerações Finais
Este trabalho teve como objetivo demonstrar a importância que o gerenciamento da
marca tem para as organizações, em especial a Polícia Militar do Estado de São Paulo
levando-se em consideração que o ciclo de vida de qualquer produto ou serviço que, por
consequência representa ou é representado pela marca da Instituição, só pode obter sucesso se
for devidamente acompanhado de perto por uma equipe de gerenciamento capaz de identificar
as ações necessárias e o momento certo para aplicá-las quando alguma variável no mercado
exige mudanças no posicionamento da empresa.
A marca também pode se tornar um bem intangível incrivelmente valioso para a
Corporação se for trabalhada corretamente e vista por seus gestores como um capital que
agrega valor à Polícia Militar e seus produtos/serviços. A Corporação não pode se dar ao luxo
de aceitar que a organização viva em um estado de complacência, ou seja, mantendo-se
apática quando as circunstâncias demandam mudanças de extrema importância nas ações
praticadas pelos integrantes da organização.
A história tem demonstrado que a falta de gerenciamento eficiente pode levar
verdadeiros impérios à falência ou, no mínimo, causar prejuízos que muito provavelmente
poderiam ser evitados. Integrar ações de gerenciamento e educação eficientes com
ferramentas de comunicação adequadas a cada situação é fundamental para que se obtenha
sucesso em qualquer serviço.
Cabe também, ao responsável pelo marketing da organização, implantar e desenvolver
uma cultura de identificação, preservação, reconhecimento e proteção da marca, iniciando
este trabalho dentro da polícia, passando após para as ações externas utilizando-se das
ferramentas e estratégias adequadas. Porém, devemos nos lembrar de que nosso parecer sobre
qualquer trabalho a que nos dedicamos nunca é o suficiente em um mundo que se modifica a
todo momento, de forma que devemos estar sempre em busca de novas possibilidades.
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O papel do professor e as abordagens pedagógicas
no estudo da linguagem da mídia
Lígia Beatriz Carvalho de Almeida
Profa. adjunta da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande, PB. Doutora em
Educação, Mestre em Comunicação Midiática. Licenciada em Pedagogia e Bacharel em Comunicação Social.
Pesquisadora da relação entre educação e tecnologias da informação e da comunicação. Integrante do grupo
de pesquisa EpisCom. E-mail: [email protected]
Mariana Pícaro Cerigatto
Jornalista, mestre em TV Digital e doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista
(Unesp). Integrante do grupo de pesquisa EpisCom. E-mail: [email protected]
Resumo
Os estudos sobre mídias e novas tecnologias na educação ganham cada vez mais relevância
mediante iniciativas que seguem uma tendência internacional de educação para a mídia e
fomentam a participação na cultura digital. Entretanto, no Brasil ainda faltam materiais
pedagógicos e metodologias de trabalho apropriadas para atividades dessa natureza. Nesse
contexto, se insere o presente artigo, que discute metodologias destinadas à alfabetização
para a mídia. O estudo aponta caminhos, calcados na metodologia inglesa, denominada
media literacy, para trabalhar com a linguagem da mídia em sala de aula e expõe resultados
de atividades aplicadas pelas autoras. Percebe-se, em linhas gerais, que a exploração da
linguagem midiática no contexto educacional contribui para desenvolver o senso crítico, a
criatividade, a expressividade, entre outras competências.
Palavras-chave
Mídia-educação; Linguagem; Formação de professores; Media literacy; Educomunicação.
Abstract
Studies on media and new technologies in education are increasingly gaining importance
through initiatives that follow an international trend of media education and promoting
participation in digital culture. In Brazil, however, there is a lack of appropriate teaching
materials and working methods for activities of this nature. This article discusses pedagogical
approaches to media literacy, presenting activities, based on the British methodology know as
media literacy, to work with language media in the classroom. The results of authors’
experiences in educationals institutions are also disclosed. It is considered that to work with
media language at school helps the kids to develop several skills, such as critical thinking,
creativity, expression.
Keywords
Media Education; Language; Teacher Training; Media Literacy; Educommunication.
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1 Introdução
A capacidade de se comunicar por meio das tecnologias e das mídias, além da
capacidade de ler criticamente os conteúdos midiáticos, são habilidades cada vez mais
valorizadas para exercer a cidadania.
Seguindo essa perspectiva, sabe-se que existem tentativas de políticas públicas
brasileiras promoverem o uso de mídias na educação e a inserção das tecnologias no ambiente
educacional. Apesar disso, ainda faltam materiais pedagógicos e metodologias de trabalho
apropriadas para atividades dessa natureza, as quais envolvem habilidades de leitura
multimodal, conhecimentos técnicos específicos e formação de critérios de julgamento que
não se limitem a criticar o gosto do aluno pela cultura de massa (CERIGATTO; SIQUEIRA,
2008).
Mais recentemente, está em discussão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para
o Ensino Básico, despachada pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.
Na área de Linguagens, o texto faz referência a cerca de oitenta componentes curriculares de
interesse para os estudos de mídia-educação (SOARES, 2015, p.01).
Até a elaboração deste artigo, a discussão do texto preliminar para o documento do
BNCC estava disponível no sistema de consulta pública por meio da internet
(http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/contribua-inicio).
Conforme aponta o próprio Ministério da Educação, a BNCC será um documento
norteador da Educação Básica sobre os conhecimentos indispensáveis para todos os
estudantes brasileiros:
A Base será mais uma ferramenta que vai ajudar a orientar a construção do
currículo das mais de 190 mil escolas de Educação Básica do país,
espalhadas de Norte a Sul, públicas ou particulares. Com a BNC, ficará claro
para todo mundo quais são os elementos fundamentais que precisam ser
ensinados nas Áreas de Conhecimento: na Matemática, nas Linguagens e nas
Ciências da Natureza e Humanas. A Base é parte do Currículo e orienta a
formulação do projeto Político-Pedagógico das escolas, permitindo maior
articulação deste. A partir da Base, os mais de 2 milhões de professores
continuarão podendo escolher os melhores caminhos de como ensinar e,
também, quais outros elementos (a Parte Diversificada) precisam ser
somados nesse processo de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos.
Tudo isso respeitando a diversidade, as particularidades e os contextos de
onde estão. (BRASIL, documento eletrônico)
O documento proposto é dividido em áreas de Linguagens, Matemática, Ciências
Humanas e Ciências da Natureza. Na área de Linguagens, há tópicos que relacionam o
trabalho com linguagens da mídia e tecnologias, separadas por nível de ensino.
Dentre alguns exemplos de atividades propostas destacadas do documento, estão: no
primeiro ano do Ensino Fundamental (E.F), há a proposta de trabalhar com a compreensão de
slogans em campanhas educativas. No segundo ano do mesmo nível de ensino há a proposta
de se trabalhar com a estrutura de notícias e reportagens. Já no terceiro ano do E.F há a
proposta de trabalhar com a compreensão dos recursos de persuasão e apelos publicitários. No
4º ano do E.F, há a indicação de produção de textos multimodais com a utilização de
diferentes mídias digitais; no 5º ano há a proposta de trabalhar com a seleção e a relação entre
a informação transmitida por mídias diferentes. No 6º ano há a inserção de produção de textos
publicitários em meios diversos; e no 7º ano há a proposta de estudar a construção do discurso
e da linguagem em diferentes gêneros e textos comunicativos. No 8º ano há referência e
análise de narrativas em quadrinhos (HQs) e no 9º do E.F mais uma vez há proposta de
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trabalhar com o consumo e a publicidade, além de gêneros jornalísticos. E, até o terceiro ano
do Ensino Médio, há propostas de atividades didáticas voltadas à análise, comparação e
tratamento da informação em diversos meios de comunicação e tecnologias.
Contudo, apesar do documento se mostrar interessante e atualizar as antigas bases
curriculares, prevendo mais atividades que engajem os estudantes juntos aos estudos das
mídias e tecnologias, considerando tanto o eixo da leitura crítica quanto o da produção, é
preciso considerar e reforçar a necessidade da formação do professor conseguir acompanhar o
conteúdo curricular proposto, de forma que o discurso não permaneça afastado da prática.
Mesmo em relação a conteúdos tradicionais, como o ensino da Língua Portuguesa e de
Matemática, sabe-se que estão em constante debate o desdobramento de metodologias de
ensino que garantam o desenvolvimento de certas competências comunicativas. O que pensar
então sobre uma área emergente na educação, que engloba a leitura crítica e a produção de
conteúdo através de mídias e tecnologias, para a qual se exige a competência de professores e
alunos? Como propor experimentações com diferentes linguagens e instrumentos de
produção, a fim de despertar a sensibilidade e o sentido da observação, tanto dos docentes
como dos alunos? (ALMEIDA; POLESEL; ANDRELO, 2008).
Sabe-se, ainda, que há entraves relacionados a reformas, recursos insuficientes,
desmotivação e “pânico moral” de parte dos docentes e gestores para lidar com mídias e
tecnologias.
É notável que a construção de um novo documento norteador para a Educação Básica,
como visto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), reforce a necessidade de
atualização assim como a importância da inserção do trabalho didático com as “velhas e
novas” mídias. Apesar da urgência dessas temáticas, vemos ainda que o estudo da linguagem,
do discurso e a produção com as mídias permanecem em desvantagem nas escolas. A
expressão textual ainda é ensinada se aproximando mais de uma postura passiva, que inibe a
criatividade dos alunos. A imagem é utilizada de maneira muito tímida, como simples recurso
ilustrativo, e devidamente legendada, inviabilizando qualquer possibilidade de construção
subjetiva de significado (ROSSETO, 2010). Nessa perspectiva, “o mundo legal do discurso
pedagógico parece esconder a pluralidade das linguagens institucionais não-escolares ou, pelo
menos, não reconhecê-las e mesmo esquivar-se dela” (CITELLI, 2004, p. 161).
Neste contexto se insere o presente artigo, que propõe discutir metodologias - baseadas
nos estudos ingleses de mídia-educação, a media literacy – que oferecem subsídios para o
trabalho com linguagens midiáticas em sala de aula, como a do cinema, do jornalismo, da
publicidade, entre outras. O propósito é desenvolver o senso crítico e proporcionar a
apropriação dos códigos culturais que compõem essas linguagens. Assim, propõe-se agregar
conhecimento a respeito do trabalho com as mídias em sala de aula, e espera-se que a
metodologia apresentada a seguir seja um caminho para reforçar o trabalho com conteúdos
midiáticos na Educação Básica, assim como na formação do professor, de qualquer área.
Os próximos tópicos do artigo explanam os fundamentos da abordagem da media
literacy, seis técnicas pedagógicas que auxiliam o desenvolvimento das atividades de leitura e
escrita da mídia, além de discussões de como o professor deve agir em sala de aula ao abordar
conteúdos de mídia e novas tecnologias.
Nas conclusões, há a apresentação de resultados referentes a trabalhos desenvolvidos
anteriormente, nos quais se adotou a metodologia inglesa, assim como reflexões e indicação
de projetos futuros que fortaleçam a ideia de inserir os meios de comunicação na cultura do
professor e no currículo das instituições de educação formal.
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2. Desenvolvimento
2.1 Media literacy: metodologia inglesa para alfabetização às mídias
A media literacy é uma área de estudos que se preocupa em desenvolver formas de
ensinar e aprender aspectos relevantes da inserção dos meios de comunicação na sociedade
(CERIGATTO; SIQUEIRA, 2008). No Brasil, as terminologias usadas são as mais diversas:
mídia-educação, educação para a mídia, leitura crítica dos meios, educomunicação etc. são
alguns dos termos usados para caracterizar essa área interdisciplinar do conhecimento. Na
Inglaterra, os objetivos da media literacy preveem que o cidadão seja capaz de:
separar fato de ficção, identificando diferentes graus de realismo; 2) entender
os mecanismos de produção e distribuição que resultam nos sistemas através
dos quais as emissoras comerciais sobrevivem com a venda de espaços de
publicidade; 3) distinguir uma reportagem da mera defesa de pontos de vista,
comparar padrões de apresentação de evidências e reconhecer mensagens
comerciais embutidas na programação; 4) explicar e justificar as escolhas de
assistir os programas e veículos de comunicação, apresentando opções
ponderadas e distância crítica1 (DCMS, 2001, p.5).
Especificamente na Inglaterra, o Communications Act de 2003 (a lei geral das
comunicações), estabeleceu como uma das tarefas do Ofcom, órgão regulador de mídia no
país, a de promover a media literacy. De lá para cá, uma série de medidas estão sendo postas
em prática, entre elas o fomento de programas de educação para a mídia em espaços de
educação formal e não-formal (CERIGATTO; SIQUEIRA, 2008).
Ao estudar recursos da linguagem cinematográfica, publicitária, jornalística, entre
outras, estudo este que é proposto em atividades da BNCC, não se busca apenas apresentar a
linguagem da mídia aos educandos, e sim, a possibilidade de apropriação dos elementos
linguísticos, de maneira crítica. O aluno, assim como o professor, tem que ser provocado a
entender como funciona todo processo de produção, seja de uma peça publicitária, uma
reportagem de jornal etc., não só do ponto de vista do receptor como também do produtor da
mensagem, e da instituição de mídia.
Outro aspecto a ser considerado, ao propor o trabalho com a mídia e seus conteúdos em
sala de aula, diz respeito ao modo como são desenvolvidas e implementadas as ações
pedagógicas para ensinar sobre a mídia. De um lado, há educadores que adotam a postura da
chamada “fé cega na tecnologia”; outros defendem a concepção originada do “pânico moral”
(GREEN; HANNON, 2007). Para uma parcela dos educadores, há de se defender a inserção
das tecnologias e mídias como objeto de estudo, porém sem considerar o olhar crítico. Para
outros, a cultura das mídias e o uso de tecnologias devem ser combatidos e são tidos como
ameaça ao saber e à cultura escolar. Entre esses dois extremos, podemos recorrer a visões
mais equilibradas, que, conforme Buckingham (2003), preocupam-se não em promover nem
em “inocular”, mas sim em preparar as pessoas para usar as mídias, tanto como consumidoras,
quanto como cidadãs.
Segundo Halloran e Jones (1986), a abordagem inoculativa perante às mídias não é
novidade, e está fortemente relacionada aos estudiosos da indústria cultural, adeptos da
famosa Escola de Frankfurt, tendo como principais pensadores Max Horkheimer e
Theodor Adorno. Buckingham (2003) alega os argumentos dessas duas posições extremistas
(Quadro 1) e sugere um caminho equilibrado:
1 Texto originalmente em língua inglesa, tradução livre feita pelas autoras.
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Quadro 1 – Argumentos das duas posições extremistas
NEIL POSTMAN
(falando da televisão)
DOM TAPSCOTT
(falando da internet)
- A mídia dilui os limites entre a infância
e a vida adulta;
- A leitura do livro exige aprendizado; a
TV não;
- Não há distinção evidente entre
conteúdo para adulto e para criança na
cultura televisiva;
- A TV é uma mídia totalmente
publicizada, aberta, sem limites: as
crianças aprendem todos os segredos da
vida adulta sobre sexo, drogas,
violência... esses conteúdos costumavam
ficar escondidos no tempo da cultura
majoritariamente impressa.
- É verdade que a mídia dilui as bordas entre
infância e vida adulta, e que a tecnologia é
mesmo a principal responsável por isso;
- Mas não se trata de uma catástrofe e sim de
uma forma de libertação para a criança e para
o jovem, que agora têm meios de se
expressar;
- Além disso, há uma diferença entre as
velhas e as novas mídias:
- TV: induz à passividade, banaliza, forma
pessoas estúpidas, isola, enfatiza uma visão
única;
INTERNET: ativa, desenvolve a inteligência,
fornece visão pluralista, cria comunidades.
Fonte: Buckingham (2003) apud Siqueira (2007).
Seguindo a perspectiva de um novo paradigma pedagógico, não mais se sustenta a ideia
de mídia como direcionadora de opiniões, crenças e ideologias, nem como vazia de valores
culturais (CERIGATTO; SIQUEIRA, 2008). E ainda:
O novo paradigma não pretende agir como um escudo para proteger os
jovens da mídia e conduzi-los para atividades melhores, mas sim torná-los
habilitados a tomar decisões mais informadas, para o seu próprio interesse
(BUCKINGHAM, 2003, p.13).
Para o trabalho com os conteúdos midiáticos, a proposta inglesa prevê o uso de quatro
conceitos-chave e algumas técnicas pedagógicas, como veremos a seguir.
2.2 Conceitos-chave e abordagens pedagógicas
A leitura crítica da mídia está embasada em conceitos-chave tais como linguagem,
audiência, instituições de mídia e representação (SIQUEIRA, 2012). Importante salientar que
a leitura crítica não ignora o prazer contido na leitura do texto midiático, mas não deixa de
fomentar o olhar crítico.
O quadro 2 exemplifica esses conceitos:
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Quadro 2 - Conceitos-chave da mídia-educação
Conceitos-chave Objetivos
Linguagem Criar atividades que ajudem o estudante a experimentar a linguagem
midiática e, assim conhecê-la por dentro;
Instituições de
mídia
Simular e produzir conteúdo aplicando rotinas de produção profissional
para compreender em que medida o produto final é mais resultado de
práticas institucionalizadas do que uma suposta capacidade que a mídia
tem de refletir a realidade como ela é;
Audiência Compreender o comportamento da audiência que, basicamente, negocia
significado com a mensagem. Na prática, algumas mensagens são
interpretadas exatamente do modo como seus autores queriam que
fosse, enquanto outras são interpretadas de modos alternativos e até
completamente inesperados. Desse estudo, ao menos potencialmente,
emerge uma compreensão do poder relativo das mídias, que não deve
ser nem sub, nem superestimado. Compreendido já é o bastante para a
mídia-educação;
Representação Aprender a avaliar criticamente o modo como os recursos da linguagem
e as rotinas de produção resultam em valores comumente associados a
sujeitos, hábitos, instituições. Ao comparar (com metodologia) o modo
como mensagens diferentes apresentam o mesmo assunto, os estudantes
têm a oportunidade de se afastar das mídias e observá-las “de cima”.
Tal procedimento cria as bases para uma análise crítica, que
compreende a mídia como representação e não como cópia da
realidade.
Fonte: Adaptado de Siqueira (2012).
Assim, ao utilizar uma reportagem de um jornal, um filme, uma peça publicitária etc.
pode-se trabalhar com os quatro conceitos para entender os processos midiáticos, que utilizam
a linguagem para atingir uma determinada audiência; e que as práticas institucionais e a rotina
de produção são carregadas de valores, interesses, e interferem na representação de mundo
construída. Todo produto da mídia, portanto, é uma representação, uma versão elaborada a
respeito de algum fato, pessoa ou objeto; dispõe de pontos de vista sectários querendo parecer
universais. Assim, os conteúdos midiáticos – inclusive, muitas vezes usados como fontes de
pesquisa para um trabalho escolar - precisam passar por uma avaliação crítica: já é um
primeiro passo saber diferenciar uma reportagem de uma fonte primária, por exemplo, já que
o texto passou por um processo de interpretação, de edição.
A seguir, apresenta-se um exemplo de atividade de educação para a mídia utilizando os
quatro conceitos-chave, se delimitando pelo eixo da leitura crítica:
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Figura 1: Publicidade de cerveja
Fonte: Blog Quase Publicitários (https://quasepublicitarios.wordpress.com/2010/06/23/anuncios-da-skol)
No aspecto da linguagem, podemos analisar o plano verbal e o não verbal da
propaganda da Skol. A linguagem nos dá pistas de valores embutidos na mensagem: no plano
verbal, a publicidade é dividida em dois quadros; o primeiro mostra um provador de roupas
como ele realmente é; do lado direito temos a mudança no provador, destacando o corpo da
mulher, de biquíni, e tapando seu rosto apenas. O plano fotográfico utilizado destacou todo o
corpo da mulher, do joelho para cima, para reforçar a mensagem da campanha: o corpo da
mulher é o que se quer ver, ainda mais trocando de roupa.
No plano verbal, temos a frase, “se o cara que inventou o provador bebesse Skol, ele
não seria assim”, do lado esquerdo. A utilização da gíria “cara” nos mostra que a escolha da
palavra atende o perfil do público masculino jovem, assim como o destaque para o corpo da
mulher. As cores da propaganda também remetem à mesma cor da bebida, no caso, a cerveja,
o que reforça a marca e a sua representatividade.
No aspecto da representação e da prática institucional, podemos analisar a empresa
que promove a peça publicitária; no caso, trata-se da Skol, uma das maiores empresas do
segmento de cerveja no Brasil e no mundo. Para vender a bebida, a Skol associou em sua
propaganda valores e interesses, postos por meio da linguagem para cativar o público-alvo.
Logo, entendemos que o interesse é atingir o público masculino, jovem, e para isso o corpo da
mulher, escultural, bem delineado, bronzeado, foi utilizado como apelo para chamar a
atenção. A propaganda nos passa a ideia de que quem gosta de Skol também prefere aquele
tipo de mulher, tido como padrão de beleza pela Skol.
De certa forma, a representação da mulher na propaganda feita pela Skol reforça a
imagem da “mulher objeto” em sociedade, após a análise de elementos da linguagem que
levaram a isso.
Ao utilizar a propaganda em sala de aula e os conceitos-chaves para promover a leitura
crítica, o educador ainda pode criar diferentes situações que recorrem a determinadas técnicas
pedagógicas específicas. Buckingham (2003) apresenta seis abordagens mais comuns da área,
a partir da experiência inglesa: análise textual, estudo do contexto, análise de conteúdo,
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estudo de caso, tradução (de um livro para um filme, por exemplo) e simulação-produção. As
etapas englobam desde a leitura crítica até a produção de mídia, e os conceitos-chaves podem
ser trabalhados nas diversas situações.
Vamos detalhar mais especificadamente cada uma dessas seis técnicas pedagógicas
baseadas em Cerigatto e Siqueira (2008), ilustrando com exemplos:
1. Análise textual – técnica que consiste em fazer do familiar, estranho, a fim de
encorajar a formação de um ponto de vista a partir de uma reflexão. Por exemplo:
selecionar um filme, descrever o script, identificar os recursos usados para ligar as
sequências, as conotações e associações das intertextualidades.
2. Análise contextual: Complementa a análise textual – estuda a linguagem mais a
fundo, a fim de identificar padrões e valores. Nessa técnica, podemos caracterizara
audiência idealizada pelos produtores, analisar os recursos técnicos e estéticos
empregados, recursos criar apelos e manter a audiência do filme.
3. Estudo de caso: Conhecer o processo de produção: como se define o público-alvo,
como se constrói a mensagem, onde se insere o marketing e publicidade e que
respostas gera na audiência. Por exemplo: identificar quem é o espectador de um
filme violento, quais são as expectativas em relação ao filme, onde o filme é
anunciado e quais são os argumentos das pessoas que criticam filmes desse tipo.
4. Tradução: São as mudanças que ocorrem quando um conteúdo é tratado em mídias
diferentes e em gêneros diferentes, para audiências diferentes. Por exemplo, analisar
como cada peça cinematográfica, de cada gênero, formula um conflito.
5. Simulação: Identificar personagens, traços físicos, comportamentais, valores,
atitudes. Construir o personagem oposto a esse e simular os acontecimentos.
6. Produção: Criar situações-problema da cultura midiática para serem resolvidas pelos
estudantes em equipes, como criar um filme. Dentro disso, os estudantes terão que:
definir o público-alvo; duração; gênero; orçamento; captação de recursos; atribuição
de tarefas; criar critérios de avaliação.
3 Considerações Finais e recomendações
Atividades envolvendo a mídia, se trabalhadas dentro da perspectiva inglesa e com as
devidas adaptações, podem alcançar sucesso mesmo no contexto brasileiro, como
demonstraram experiências práticas, desenvolvidas por Almeida (2012) e Cerigatto (2009),
envolvendo atividades de educação para a mídia em escolas públicas da rede estadual, em
Bauru, São Paulo, tanto com alunos e docentes. O trabalho desenvolvido demonstrou o
potencial das atividades para fomentar o debate, a expressão e a criatividade tanto de
educandos e educadores.
Essas pesquisas se desenvolveram entre os anos de 2007 e 2010, com alunos de ensino
médio, fundamental e formação de professores. Entre as instituições de ensino participantes
pode-se mencionar a Escola Estadual Joaquim Rodrigues Madureira, também o centro
socioeducativo Irmã Adelaide – com os assistidos do Ensino Fundamental II, além de
professores do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Professor Ernesto Monte,
todas em Bauru.
Com os alunos do ensino médio da Escola Joaquim Rodrigues Madureira, foram
trabalhadas oficinas que exploraram a linguagem do cinema. Já com as crianças e
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adolescentes, de 11 até 14 anos, do centro socioeducativo, trabalhou-se com a linguagem e
apelo publicitário. Segundo observações pontuais feitas em relatórios, o trabalho desenvolveu
habilidades de leitura, especialmente na expressão dos juízos de gosto e valor, estimulou a
produção, o raciocínio crítico, a expressividade e a criatividade.
Com os docentes do ensino fundamental da Escola Estadual Prof. Ernesto Monte foram
trabalhadas também atividades relacionadas ao cinema, sendo as mesmas oficinas praticadas
com os alunos. Foi possível perceber alguma resistência e posturas relativas ao “pânico
moral”. Também observou-se que, conforme a área em que atuavam, o grau de interesse era
menor ou maior; ou seja, professores da área de humanas eram mais cativados.
Mesmo com a tímida participação de alguns professores, a qualidade da compreensão
dos conceitos-chave sobre linguagem e narrativa cinematográfica foi expressa durante as
oficinas. Os professores discutiram em grupo as atividades e conheceram também mais a
fundo as suas dificuldades em lidar com as mídias e tecnologias e a importância de mudar este
cenário, frente às novas possibilidades e necessidades de aprendizado.
Assim, tendo em mãos experiências empíricas, sugere-se que, tanto a escola como as
instituições formadoras de docentes trabalhem os conteúdos das diversas mídias a partir de
uma perspectiva crítica, contemplando eixos de leitura e escrita.
Percebe-se que essa perspectiva de leitura e escrita críticas está presente em atividades
propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Básico. Apesar de
esforços reunidos para que novos parâmetros curriculares contemplem demandas atuais de
aprendizagem, não se vê o mesmo esforço para construir bases mais sólidas na formação de
docentes e currículos de formação inicial que acompanhem as discussões e propostas pelos
documentos vigentes da Educação Básica.
Mesmo que a BNCC traga à tona cerca de 80 componentes curriculares de interesse
para a media literacy, além das diversas dificuldades estruturais narradas por Almeida (2012),
o que se vê são poucas disciplinas na formação de docentes que trabalham as habilidades
exigidas nesse documento. As licenciaturas, inclusive, em algumas universidades e
faculdades, tiveram sua grade “enxugada” para redução de custo.
Reforça-se, portanto, a valorização das licenciaturas, da carreira de docente da
Educação Básica, assim como infraestrutura e base curricular adequadas à realidade das
necessidades de aprendizagem. Fica aqui a nossa contribuição para que o trabalho com as
mídias em sala de aula, em específico, não caia no engodo da fé cega ou do pânico moral, mas
que se torne um trabalho que contribua para consumidores mais críticos e ativos.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Um ensaio etnofotográfico sobre o envelhecimento
Wilson José Alves Pedro
Professor Adjunto da Universidade Federal de São Carlos – Departamento de Gerontologia, São Carlos (SP),
Brasil. Docente do Programa de Pós-Graduação Ciência, Tecnologia e Sociedade e do Programa de Mestrado
Profissional – Gestão das Organizações e Sistemas Públicos. Investigador Visitante do Instituto do
Envelhecimento – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (2013-2014). E-mail:
Resumo
O presente artigo propõe uma síntese reflexiva – imagética e textual sobre o tema processos
de envelhecimento. Trata-se de um ensaio etnofográfico, a partir de registros do diário de
campo, realizados em Portugal. A partir de um enquadre teórico sociológico propõe uma
reflexão sobre a complexidade da apreensão dos processos de envelhecimento, enquanto
fenômeno-objeto de estudo e seus determinantes. Aponta-se a necessidade de saberes
interdisciplinares e procedimentos plurimetodológicos no âmbito dos estudos gerontológicos
para compreender e agir sobre as multideterminações deste processo.
Palavras-chave
Gerontologia Social; Envelhecimento; Fotografia; Etnografia.
Abstract
This article proposes a reflective synthesis - imagery and text on the subject of aging
processes. This is a test etnofográfico, from records of the diary, made in Portugal. From a
sociological theory fits proposes a reflection on the complexity of the seizure of the aging
processes as a phenomenon - object of study and its determinants. It points up the need for
interdisciplinary knowledge and plural methodological procedures in gerontological studies
to understand and act on multideterminações this process.
Keywords
Social Gerontology; Aging; Photography; Ethnography.
Incursões pela Gerontologia
Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se
sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir – é lembrar hoje o que se
sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova
madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a
pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos. Esta
madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelada para
branco quente ousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia
de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta
hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que foi será outra coisa, e o
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão. Altos
montes da cidade! Grandes arquiteturas que as encostas íngremes seguram e
engradecem, resvalamentos de edifícios diversamente amontoados, que a luz
tece de sombras e queimações – sois hoje, sois eu, porque os vejo, sou o que
[não sereis] amanhã, e amo-vos da amurada como um navio que passa por
outro navio e há saudades desconhecidas na passagem” (PESSOA, p. 113-
114).
Nos últimos anos a opção em trabalhar com envelhecimento ativo e saudável
mobilizou as incursões acadêmicas, políticas e pessoais bastante complexas. Parafraseando o
poeta... “envelhecer é preciso, envelhecer não é preciso...” Atuo na vertente social da
gerontologia (PEDRO, 2012, 2013a, 2013b) um emergente campo científico, bastante
desafiador, pois demanda estudos e intervenções para aprimorar “o lugar da velhice na
sociedade” (BEAUVOIR). Será possível? Grandes são os paradoxos e contradições dos
processos individuais e coletivos do envelhecer, destacando que “uma vida que nem sempre é
vivida, no emaranhado das relações sociais” (CIAMPA, 1993). Afinal qual é o lugar da
velhice nas sociedades contemporâneas?
Figura 1: A espera da procissão. Festa de Santo Antônio, Lisboa, junho de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
Defendo que as pessoas devem ocupar lugares sociais cidadãos, construindo
identidades com autonomia, emancipação e respeito às diferenças (PEDRO, 2014). Tendo
delimitado o estudo das estratégias de promoção do envelhecimento ativo no contexto luso-
brasileiro, como fenômeno-objeto para os estudos pós-doutorado junto ao Instituto do
Envelhecimento – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e considerando a
natureza e complexidade do tema, tornou-se imperativo a imersão deste pesquisador social
brasileiro, na realidade portuguesa. A cultura é um fator determinante dentro da estrutura para
compreender o envelhecimento ativo. Segundo a OMS “a cultura, que abrange todas as
pessoas e populações, modela nossa forma de envelhecer, pois influencia todos os outros
fatores determinantes do envelhecimento ativo” (WHO, 2005). Esta etapa foi importantíssima
117
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
para compreender as especificidades e as formas de viver e envelhecer em Portugal na
contemporaneidade (PEDRO, 2014).
As regiões delimitadas para estudo, suas características e especificidades são
dialeticamente singulares e plurais. Cruzar informações sobre a região metropolitana de
Lisboa - Portugal com o interior do Estado de São Paulo – Brasil, foi e continua a ser um
processo inesgotável. A identificação e caracterização das singularidades, especificidades,
indicadores e boas práticas públicas de promoção do envelhecimento ativo são elementos-
chave do estudo. Nestas, o trabalho e a participação social são elementos centrais da
investigação e constitutivos da promoção de saúde e cidadania. São dimensões se amalgamam
requerendo delimitações e enquadres teóricos e metodológicos.
A abrangência geográfica das regiões do estudo foram pré-definidas pelo pesquisador,
tendo por referência a localização as instituições âncoras do estudo - Universidade de Lisboa
e Universidade Federal de São Carlos (PEDRO, 2013b). As escolhas destas regiões
justificam-se também pelas características sócio demográficas, e pela relevância da população
com 60+ anos nos universos investigados (INE, 2013; IBGE 2013).
O trabalho de campo proporcionou interações significativas com diversos atores
sociais, tanto na etapa de identificação dos documentos para análise, como na etapa das visitas
técnicas. Parcela significativa dos informantes do estudo se inserem num perfil sênior, ou seja,
são pessoas com 50+ anos. A quase totalidade das organizações, programas e serviços
investigados são destinadas e/ou dirigidas por pessoas com 60+ anos. Muitas foram as
interações decorrentes do estudo com pesquisadores e profissionais, estudantes em formação,
representantes de movimento sociais. Demandas e desafios das múltiplas determinações do
envelhecimento foram revisitadas in locus; sendo na postura de estranhamento o fio condutor
para viabilizar a presente investigação. E no processo de trabalho, o Diário de Campo foi
essencial para registros, apontamentos e reflexões,
Inquestionavelmente cuidados éticos são imprescindíveis. Portanto, todos os registros
fotográficos foram realizados em espaços públicos, o que permite o direito de publicização
das imagens.
Neste mundo globalizado, a diversidade de identidades é essencial para a garantia da
autonomia, o respeito à diferença e à emancipação, em todo o curso da vida e nos processos
de envelhecimento.
O trabalho se desenvolveu entre os meses de fevereiro de 2013 e janeiro de 2014, com
idas e vindas entre Portugal e Brasil. A proposta de cruzar fronteiras provoca inquietações e
reflexões acadêmicas e pessoais.
Neste contexto o presente ensaio apresenta algumas reflexões sobre os bastidores da
pesquisa. Denominado um estudo etnofográfico sobre o envelhecimento em Portugal, propicia
ao leitor o compartilhamento de imagens e reflexões, enfatizando a importância do diário de
campo na pesquisa social e a emergência de inovação nas investigações sociais sobre o
envelhecimento.
O envelhecimento, um fenômeno individual e coletivo, complexo e multideterminado;
requer esforços inovadores, para o enfretamento de sua ideologização e mercantilização e
mesmo a sua banalização. É preciso um amplo empreendimento científico, tecnológico e
político, para a promoção de condições objetivas e subjetivas, éticas e humanas para o
envelhecimento ativo e saudável digno. Se de um lado as imagens registradas expressam
manifestações de autonomia e independência, condições sine qua non para a construção de
uma velhice ativa; os textos complementarmente contextualizam e problematizam aportes
teóricos e metodológicos para a análise dos processos de envelhecimento.
Neste ensaio optei pela apresentação de fotografias realizadas exclusivamente em
118
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Portugal. Fruto das incursões cotidianas, em um cenário até então (des) conhecido pelo
pesquisador, cujas imagens apresentadas não remetem direta ou exclusivamente às estratégias
investigadas no estudo principal. Conforme apontado o empreendimento de observar, interagir
e compreender os processos de envelhecimento ativo em Portugal é extremamente instigante.
O encantamento e a inquietação provocadas pelo cotidiano transcendiam aos objetivos do
estudo. As várias manifestações individuais e coletivas, as ruas e lugares, as produções
simbólicas revelavam o cotidiano de um país envelhecido e com expressões singulares de
“autonomia e independência”. Isto pode ser constatado a olho nu. Pairava a dúvida: O que
fazer? Como captar este movimento? Como demonstrar este processo de envelhecimento?
Como evidenciar e integrar este cenário ao estudo em andamento.
Figura 2: Bairro Alto, Lisboa, março de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
O diário de campo tornou-se, portanto, um recurso essencial na pesquisa. Tomou
forma e consistência, a partir de anotações, leituras, registros fotográficos, gravações em
áudio e outros recursos, que compunha um mosaico de informações e que agora, revisitadas
estão contempladas no presente ensaio.
Apesar da clareza e foco do objeto de estudo - concepções paradigmáticas de
envelhecimento ativo, em documentos e na produção científica; o perfil sócio demográfico
com ênfase na população sênior (+50) e as estratégias de promoção do envelhecimento ativo,
tendo o trabalho a centralidade (PEDRO, 2013), ou seja, as concepções, políticas e práticas de
promoção do envelhecimento ativo, suas interfaces com a saúde, trabalho e a participação
social, nos contextos luso-brasileiro, a imersão na cultura portuguesa foi uma etapa
fundamental na identidade do pesquisador. Uma oportunidade singular.
O planejamento da investigação contemplava a proposta de realização de registros
fotográficos dos locais visitados. A literatura sobre pesquisa social destaca a importância do
diário de campo e enfatiza que “observar não é apenas ver. A validade – será que se está
observando aquilo que de fato se deseja observar? A confidencialidade ou fidedignidade –
será que sucessivas observações do mesmo fato ou situação oferecerão resultados
semelhantes?” (MARTINS, THEOPHILO, 2007, p. 84). Assim a opção pela realização de
registros fotográficos como recurso complementar do trabalho de campo possibilitava
registros importantes para evidenciar elementos complementares, porém essenciais ao estudo.
A fotografia é uma paixão antiga e companheira de viagem. Na condição de pesquisador
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
social foi importante rever e (re) significar a possibilidade de seu uso.
Lisboa, com sua geografia, sua arquitetura e sua gente revelara-se um observatório
social interessantíssimo sobre os processos de envelhecimento. O macro contexto econômico,
político e social português que me defrontei, revela também um cenário que requer um grande
empreendimento hermenêutico (AMARAL, 2010; CENTENO, 2013; ROSA, 2012).
Figura 3: Avenida do Alecrim, Lisboa, 16 de fevereiro de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
No processo de investigação os aportes teóricos e metodológicos foram assumindo
novos contornos, a partir de revisões sobre o individualismo metodológico nas teses de
Boudon (1986) e Ansart (2002) (1986), as diferentes formas de pensar o social com Becker
(2009) e as análise sobre os processos de envelhecimento de acordo com Caradec, Cabral e
Cols (2013) corroboram os pressupostos do estudo e aguçam as reflexões: como apreender o
fenômeno-objeto de estudo – processos de envelhecimento individual e coletivo – em suas
múltiplas determinações? Que saberes são necessários? De que forma?
Com Boudon a problematização sobre o lugar do indivíduo e dos indivíduos no
pensamento sociológico. Se enquadrarmos o princípio do individualismo metodológico,
visando compreender o envelhecimento – individual e coletivo tem-se com Ansart (2002) que
o fenômeno observado na consequência do comportamento dos indivíduos, ou seja, o objeto
situa-se no estudo dos comportamentos individuais no interior de um determinado sistema
social. Ora o revela-se o potencial? O individualismo metodológico “questionará o
comportamento real dos actores, considerando os papéis como possibilidades de acção
atribuídas aos actores, e não como normas constrangedoras (...) a tarefa do individualismo
metodológico não será verificar os papéis impostos, mas examaminar de que modo assumes
os actores os seus papeis, avaliam os ´subpapéis´que lhes são propostos e com que
consequências de ordem geral” (ANSART, 2002, p. 98-99).
120
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Figura 4: Avenida do Alecrim, Lisboa, 16 de fevereiro de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
Complementarmente as reflexões sobre a representação da realidade social. Becker
(2009) afirma que através de um filme documentário, um estudo demográfico ou um romance
realista as representações são sempre parciais. E os outros recursos devem ser também
problematizados? Neste direcionamento refletíamos sobre a proposta de trabalho e as formas
de representações da realidade social: “menos do que experimentamos e teríamos à nossa
disposição para interpretar se estivéssemos no contexto real que ela representa. Afinal, é por
isso que se fazem representações: para relatar apenas aquilo que os usuários precisam para
realizar o que quer que queiram fazer Uma representação eficiente nos diz tudo que
precisamos saber para nossos objetivos, sem perder tempo com aquilo que não precisamos”
(BECKER, 2009, p. 31).
O autor destaca:
Somos todos curiosos em relação à sociedade em que vivemos. Precisamos
saber, na base mais rotineira e da maneira mais comum, como nossa
sociedade funciona. Que regras governam as organizações de que
participamos? Em que padrões rotineiros de comportamento outras pessoas
se envolvem? Sabendo essas coisas, podemos organizar nosso próprio
comportamento, aprender o que queremos, como obtê-lo, quanto custará, que
oportunidades de ação várias situações nos oferecem. Onde aprendemos
essas coisas? Da maneira mais imediata, a partir das experiências de nossa
vida diária. Interagimos com todas as espécies de pessoas, grupos e
organizações. Conversamos com pessoas de todos os tipos e em todos os
tipos de situação. Evidentemente, não de todos os tipos: a experiência social
de tipo face a face é limitada pelas relações sociais, a situação na sociedade,
os recursos econômicos, a localização geográfica. Podemos nos virar com
esse conhecimento limitado, mas, em sociedades modernas (provavelmente
em todas as sociedades), precisamos conhecer mais do que aprendemos com
a experiência pessoal. Precisamos – ou pelo menos queremos – saber sobre
as outras pessoas e lugares, outras situações, outras épocas, outros estilos de
vida, outras possibilidades, outras oportunidades’. (BECKER, p. 17-18).
121
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
:
Figura 5: Explicações do Avô. Autor: Francisco Romano Esteves (1882-1960). Óleo sobre tela.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor. Registro fotográfico: Museu Casa Santa Maria
Para Becker, as fotografias, objeto cultural, ganha sentido a partir do contexto. Assim
o documentário, o fotojornalismo e a sociologia visual, oferecem um cenário mínimo para
tornar as imagens inteligíveis.
Assim, procuramos “representações da sociedade” em que outras pessoas
nos falam sobre todas essas situações, lugares e épocas que não conhecemos
em primeira mão, mas sobre os quais gostaríamos de saber. Com a
informação adicional, podemos fazer planos mais complexos e reagir de uma
maneira mais complexa às nossas situações de vida imediatas. Para
simplificar, uma “representação” da sociedade é algo que alguém nos conta
sobre algum aspecto da vida social. Essa definição abarca um grande
território. Num extremo situam-se as representações comuns que fazemos
uns dos outros como leigos, no curso da vida diária. (BECKER, p. 17-18).
Para a sistematização do Diário de Campo a proposição da fotoetnografia (ACHUTTI,
1997) foi fundamental. Trata-se de uma vertente na pesquisa qualitativa, pautada em
pressupostos da etnografia, utilizando-se de técnicas fotográficas aliadas à observação e
escrita, descrevendo através de imagens o fenômeno-objeto investigado (DUARTE, 2002).
Esta técnica permite alimentar a observação, o ato de olhar e captar emoções, sutilezas e
sensibilidades (Andrade, 2002).
Aprendemos a ver apenas o que praticamente precisamos ver. Atravessamos
nossos dias com viseiras, observando apenas uma fração do que nos rodeia.
Os homens modernos não são bons observadores e o uso de uma máquina
fotográfica pode auxiliar sua percepção. No caso da antropologia, o ato de
fotografar pode dar uma visão global e uma observação detalhada
(DUARTE, 2002, p. 54)
Esta proposição dá aderência aos pressupostos de Becker, ao reconhecer e legitimar
outras possibilidades de representar o social – objetiva e subjetivamente e nos conduzia:
Meus próprios colegas de profissão – sociólogos e cientistas sociais –
gostam de falar como se tivessem o monopólio da criação dessas
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representações, como se o conhecimento da sociedade que produzem fosse o
único conhecimento “real” sobre esse assunto. Isso não é verdade. E eles
gostam de fazer a afirmação igualmente tola de que as maneiras que
possuem de falar sobre a sociedade são as melhores ou as únicas pelas quais
isso pode ser feito de forma apropriada, ou que suas maneiras de fazer esse
trabalho protegem contra todas as espécies de erros terríveis que poderíamos
cometer. Esse tipo de conversa é apenas uma tomada do poder profissional
clássica. Levar em conta as maneiras como as pessoas que trabalham em
outros campos – artistas visuais, romancistas, dramaturgos, fotógrafos,
cineastas – e os leigos representam a sociedade revelará dimensões analíticas
e possibilidades que a ciência social muitas vezes ignorou serem úteis em
outros aspectos. (BECKER, p.19).
Portanto, mobilizado pela apreensão e representação do fenômeno-objeto de estudo,
concomitante às evidências de estudos teóricos e empíricos sobre o envelhecimento, interagi
com os seniores, pesquisadores e gestores portugueses da área do envelhecimento.
No cotidiano do Bairro Alto, que completou 500 anos de fundação; os deslocamentos
para a Universidade e organizações visitadas, bem como tempo livre retroalimentava
continuamente a tônica do envelhecimento: na dimensão vivida e representacional (artes,
mídia, instituições e afins) o envelhecimento se manifestava. Muitas eram as evidencias
fenomenológicas, cujos registros fotográficos tornavam o indizível em visível.
A Fotografia não fala (forçosamente) daquilo que não é mais, mas apenas e
com certeza daquilo que foi. Essa sutileza é decisiva. Diante de uma foto, a
consciência não toma necessariamente a via nostálgica da lembrança
(quantas fotografias estão fora do tempo individual), mas sem relação a
qualquer foto existente no mundo, a vida da certeza: a essência da Fotografia
consiste em ratificar o que ela representa. (BARTHES, 1984, p.127-128)
Figura 6: Alameda da Linha das Torres, Lisboa, outubro de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
123
ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Por ocasião do Simpósio Ciências Sociais Cruzadas (2013) interagi com a do Prof. Dr.
José de Souza Martins, um dos mais importantes cientistas sociais brasileiros
contemporâneos. Faço remissão a este encontro, além das conferências, a identificação do
livro Sociologia da Fotografia e da Imagem (2008) e visita ao ensaio fotográfico Fronteiras
(2013), foram fundamentais e decisivos para definição deste ensaio.
Martins afirma que “das formas de expressão visual da realidade social, a fotografia é
aquela que ainda procura o eu lugar na sociabilidade contemporânea. Talvez, porque tenha
sido, por muito tempo, a mais popular de todas, ao alcance de um leque amplo de usuários e
instrumentalizada por uma variedade significativa e imaginários. A que se deve agregar, em
consequência, a diversidade de funções: das puramente técnicas à puramente artísticas,
passando pelas relativas ao lazer e à memória do homem comum” (MARTINS, 2008, p. 33)
Figura 7: Marchas de Santo Antonio. Avenida da Liberdade. Lisboa, junho, 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
Martins afirma que a fotografia procura o seu lugar na Sociologia:
Tanto como forma peculiar de expressão do imaginário social e da
consciência social como recurso da Sociologia para compreendê-los. Ou,
melhor dizendo, procura a Sociologia um lugar para ela no elenco dos
recursos metodológicos que possam enriquecer os seus meios de observação
e registro das realidades sociais. Como ocorreu com os antropólogos, não é
raro que os sociólogos busquem nela a técnica capaz de reter e documentar a
dimensão ontológica do social. O uso da fotografia pela Antropologia e pela
Sociologia chegou a ser considerado, e ainda é por muitos, um recurso
objetivo de pesquisa, e por isso complementar da objetividade nas Ciências
Sociais. Sujeito, porém a ressalvas relativas ao risco da subjetividade própria
de uma modalidade de expressão visual no trânsito na arte. Howard Becker
assinalou esse temor em Margareth Mead, pioneira no uso antropológico da
fotografia.
Vai ficando evidente, porém, que a imagem fotográfica constitui mais do que
um recurso da técnica de pesquisa nas Ciências Sociais. Antes de ser
procurada pelos cientistas sociais, já havia sido cortejada pelo senso comum
e com ele contraíra matrimônio. Mais do que se tem hoje, essa busca tinha
124
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sentido quanto a Sociologia ainda se sentia segura no interior da fortaleza da
objetividade e das técnicas aparentemente precisas de observação e estudo
das estruturas sociais, dos processos sociais e das situações sociais. Uma
época, também em que uma certa inocência social limitava o ímpeto de
expressão do homem comum e o mantinha relativamente confinado no
interior do castelo forte das regras sociais” (MARTINS, 2008, p. 33-34).
E cada vez mais o estudo elucidava a relevância da inovação. Evidências emergiam e
não se tratava apenas de um flagrante. A intencionalidade do pesquisador em evidenciar o
trabalho e a participação social como elemento-chave na promoção do envelhecimento ativo
era recorrente. E cotidianamente observava-se.
Figura 8: Mercado de Almerin. Almerin, junho, 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
A idéias sociologicamente densa do momento decisivo opõe-se frontalmente
à banalidade anti-sociológica do flagrante e do congelamento. O flagrante,
para chegar à Sociologia, depende do que no casual e no repentino se fixou
em imagem fotográfica. Depende, então, de paciente busca na imagem já
feita, quase sempre improfícua, não raro com resultados ingênuos e
simplistas. A fotografia que expressa e documenta o momento decisivo
chega com um quadro visual de referência que é em si interpretativo, com o
deciframento da imagem já proposto esteticamente, socialmente
dimensionado, na tensão entre a obra fotográfica e a imagem fotográfica. O
flagrante é um acaso; o momento decisivo é uma construção, uma espera
elaborada, esteticamente definida. Não é acidental que o fotógrafo procure
previamente o cenário em que transcorrerá a cena do que vai fotografar
(MARTINS, 2008, p. 61).
Meu foco de estudo, entretanto é a promoção do envelhecimento ativo através do
trabalho. Flagrantes do cotidiano foram registrados. Os indicadores e estudos apontam a
ampliação da carreira e também outras formas de permanência na vida ativa e laboral após a
125
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aposentadoria (citar). O cotidiano traduzia,
Figura 9: Baixa Chiado. Lisboa, outubro, 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
O diário de campo se compunha, contemplando elementos subsidiários essenciais para
a compreensão dos processos de envelhecimento. As visitas técnicas aos programas e
organizações, as participações em eventos sobre envelhecimento e políticas públicas (e foram
muitos os eventos em 2013, com efetivas contribuições após as discussões do Ano Europeu de
Promoção do Envelhecimento Activo e Solidariedade entre as gerações ocorrido em 2012) e
as leituras e discussões corroboravam os dados.
Portanto, o envelhecimento humano, um dos problemas centrais do século XXI e
também de Portugal, investigado por Cabral et all (2013) era corroborado no trabalho de
campo, exigindo elementos para aprofundar o “paradoxo do envelhecimento”. De um lado, o
envelhecimento é visto como fenômeno positivo - individual e coletivo; corroborado em
termos econômicos, sociais, biomédicos, nos quais as políticas públicas promotoras do acesso
universal aos cuidados de saúde são conduzidas, traduzindo o aumento da expectativa e vida.
De outro lado, este fenômeno do envelhecimento interage com a diminuição da taxa de
fecundidade.
Os usos do tempo, as redes sociais e as condições de vida compunham dados
importantes de estudo em processo de finalização na ocasião (CABRAL e COLS, 2013) eram
também confirmados no cotidiano, corroborando as evidências.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Figura 10: Bairro Alto, Lisboa, março de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
Organismos internacionais - Organização das Nações Unidas - ONU, a Organização
Mundial de Saúde - OMS, a Comissão Europeia - CE e a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico - OCDE preconizam diretrizes e orientações para a promoção
de hábitos saudáveis de envelhecer durante todo o curso da vida, visando a necessidade de
assegurar a inclusão social das pessoas à medida que envelhecem e garantir a participação na
vida coletiva. E a despeito de tudo, o meu desassossego me faz revisitar Pessoa (2013), pois
precisava também de inspiração poética para o enfrentamento deste processo. Meus colegas
do Instituto do Envelhecimento foram co-responsáveis deste processo, uma vez me acolheram
como Investigador Visitante e me incentivam a buscar elementos da mutideterminação do
envelhecimento em Portugal: o perfil e especificidades dos seniores em Lisboa e Portugal, as
redes interpessoais, as relações de apoio emocional, instrumental e de aconselhamento; a
participação social, as ocupações de tempos livres, saúde e bem estar, as possibilidades de
trabalho e ocupação do tempo livre, dentre outros temas afetos ao envelhecimento.
Nas entrelinhas dos estudos compartilhados e na vivência cotidiana de Lisboa muitas
informações e cenas me pungiram. Inúmeros foram os registros fotográficos. Confesso, que
quando iniciei estes registros não tinha muita clareza dos outputs. Ficava uma mescla do
desejo de manter o vivido em fragmentos da fotografia, registrar meu trabalho de campo ou
até mesmo fotografias para poder compartilhar com amigos minha estada em Lisboa.
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Figura 11: Exposição Fotográfica Freguesia São José, Lisboa, novembro de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
Ora finalizo, reacendendo expectativas de que as reflexões advindas deste processo
possam fomentar reflexões e novas estratégias de promoção do envelhecimento ativo.
Agradeço aos sujeitos registrados nas imagens, com o reconhecimento que apesar de
identidade manter-se “anônima e indizível”, fotografia permite-nos refletir sobre a
independência e da autonomia necessárias para o curso da vida, de forma tão especial quando
nos veem com velhos e quando assim também nos sentimos... Envelhecer é preciso,
envelhecer não é preciso.
Figura 12: Estação Metro Campo Grande, Lisboa, novembro de 2013.
Fonte: Acervo Pessoal do Autor
E mais uma vez, é na poesia de Pessoa que conduzimos o encerramento do presente
ensaio, de modo reflexivo e poético, compartilhando com o leitor uma vez mais a
complexidade – teórico e metodológica de refletir sobre o lugar da velhice na
contemporaneidade. Se estes evidenciam alguns dos lugares ocupados é preciso destacar que
são apenas alguns. Há outros lugares... visíveis ou não, acessíveis ou não, solitários ou
compartilhados... Velhos, idosos, sêniores, pessoas idosas, terceira idade... acomodados ou
desassossegados, como o poeta, outras pessoas buscam....
Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada de real na vida que o
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar
que tal poema, longamente rimado, não quer, afinal, dizer senão que o dia
está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo
passa. Temos pois que conversar o dia bom em uma memória florida e
prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou
os céus da exterioridade vazia e passageira. Tudo é o que somos, e tudo será,
para os que nos seguirem nas diversidades do tempo, conforme nós
intensamente o houvermos imaginado, isto é, o houvermos, com a
imaginação metida no corpo, verdadeiramente sido. Não creio que a história
seja mais, em seu grande panorama desbotado, que um decurso de
interpretações, um consenso confuso de testemunhamos distraídos. O
romancista é todos nós, narramos quando vemos, porque ver é complexo
como tudo. Tenho neste momento tantos pensamentos fundamentais, tantas
coisas verdadeiramente metafísicas que dizer, que me canso de repente, e
decido não escrever mais, não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer
me dê sono, e eu faça festas como os olhos fechados, como a um gato, a tudo
quanto poderia ter dito. (PESSOA, 2013, p. 55-56)
Referências
BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.
BECKER, Howard Saul. (2009) Falando da Sociedade. Ensaios sobre as diferentes
maneiras de representar o social. Rio de Janeiro, Zahar, 2009.
CABRAL, Manuel Villaverde e cols (org). Processos de Envelhecimento. Lisboa, Portugal,
Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2014.
MARTINS, José de Souza. Sociologia da Fotografia e da Imagem. São Paulo, Contexto,
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PEDRO, Wilson José Alves Estratégias de promoção do envelhecimento ativo através do
trabalho. Projeto de pesquisa. UFSCar, Brasil; Instituto do Envelhecimento, Instituto de
Ciências Sociais, Lisboa, Portugal, 2013.
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Suzana Gontijo. Brasilia, Organização Pan-America de Saúde, 2005.
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
Comunicação, economia política e sociedade mundial
de controle: complexidade e poder na
contemporaneidade
José Antonio Martinuzzo
Professor Doutor no Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades, na mesma instituição, do qual é
coordenador-adjunto. Lidera os grupos de pesquisa Laboratório de Comunicação e Cotidiano (ComC) e
Sociedade Midiatizada e Práticas Comunicacionais Contemporâneas.
Wagner Piassaroli Mantovaneli
Mestre em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Graduado em
Comunicação Social (UFES) e Graduando em Direito (UFES). Pesquisador no grupo de pesquisa Sociedade
Midiatizada e Práticas Comunicacionais Contemporâneas, na linha de pesquisa Economia Política da
Comunicação.
Resumo
Objetivamos discutir como a análise da economia política, conjugada à análise dos sistemas
de comunicação, pode ajudar a entender a complexidade da formação de uma sociedade
mundial de controle, condição indispensável para a sobrevivência acadêmica frente ao tecido
complexo do real com o qual tem de lidar para criar efeitos positivos no campo da ação
social. As técnicas metodológicas utilizadas são análises bibliográficas de autores específicos
do campo da economia política da comunicação e da sociologia. Nossos resultados desvelam
a intricada complexidade que compõe a sociedade mundial de controle em termos de sistemas
econômico, político e comunicacional.
Palavras-chave
Sistemas de comunicação; Economia política; Sociedade mundial de controle; Comunicação.
Abstract
This paper aims to discuss how the political economy analysis joint a communication systems
analysis can help understand the complexity of global society of control, an indispensable
condition for academic survival given the complexity of reality which we have to deal with to
create positive effects in the social action structure. The methodological technique used is a
bibliographic analysis of particular authors of the political economy of communication field
and sociology. Our results unveil the intricate complexity that makes up the global society of
control in terms of economic, political and communication systems.
Keywords
Communications systems; Political economy; Global society of control; Communication.
Introdução
Aproximar-se do social é sempre uma difícil tarefa, pois envolve organizar o
complexo continuum do real com o qual devemos nos defrontar enquanto pesquisadores
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
encarregados de providenciar à sociedade um conhecimento rigorosa e sistematicamente
fundamentado. Organizar essa complexidade é tarefa que irresistivelmente faz-nos debruçar
nas atividades de seleção e decisão entre opções metodológicas que comporão o método de
toda a pesquisa.
Com uma complexidade organizada em mãos, o pesquisador tem condições de
controlar as variáveis que conhece e promete relacionar. Caso contrário, estaria apenas
entregando o caos do real ou o senso comum àqueles que por ele são direta ou indiretamente
afetados. Junto a essa complexidade organizada, a forma com que conhecemos deve sempre
ser-nos consciente para que possibilite um conhecimento apto a se integrar nas discussões
acadêmicas e sociais de maneira profícua.
Nossa complexidade aqui se organiza de acordo com o entendimento do papel dos
sistemas no saber humano, que separam sua ordem da desordem do meio (LUHMANN,
2011). Na vida, o mesmo ocorre: “nosso mundo organizado é um arquipélago de sistemas no
oceano da desordem” (MORIN, 2013, p. 129). Deste modo, o humano faz parte de “um
sistema social, no seio de um ecossistema natural, que está no seio de um sistema solar, que
está no seio de um sistema galáctico”. Por sua vez, ele, o humano, é constituído de “sistemas
celulares, que são constituídos de sistemas moleculares, que são constituídos de sistemas
atômicos” (MORIN, 2013, p. 129).
Os sistemas atuam na organização do saber e na organização de toda a vida. Não há
como viver sem ordem. Não há como viver sem um poder instituído. Não há como não
conviver dentro de uma civilização. Os sistemas atuam para organizar as condições de
possibilidade em que a vida ocorre. Ao se fechar operacionalmente em si mesmo, como nos
ensinou Luhmann, o sistema consegue organizar seus elementos e probabilidades de relações
entre eles e, assim, reproduzir-se (autopoiesis). O mundo fora de um sistema tem um
gradiente muito maior de complexidade, uma complexidade com a qual o sistema só consegue
se relacionar no âmbito do ruído.
A economia política, ciência, assim como tantas outras, que organiza a complexidade a
seu modo, é uma disciplina que pode nos oferecer o entendimento do sistema social em seu
todo a partir da seguinte definição proposta pelo sociólogo Vincent Mosco (2009): economia
política é controle e sobrevivência em vida social. Controle é metáfora para os processos de
organização da complexidade interna do poder social, referindo-se, portanto à política (do
grego: polis, referindo-se à organização de uma cidade, nação, país, território). Sobrevivência
é metáfora para os processos de produção e reprodução social, isto é, como a sociedade e o
homem, por meio de sua própria produção, resultado do trabalho, consegue produzir a si
mesmo. O interessante que vamos notar é que ambos, sobrevivência e controle, imbricam-se
na realidade por meio da comunicação.
A comunicação também será tratada em termos de sistema. Ela é a operação básica de
uma sociedade, segundo Luhmann (2001; 2011), e que é capaz de tornar qualquer sociedade
apta a se observar e produzir-se continuamente. A comunicação se torna preposto da ordem
sistemática, servindo para criar e recriar a todo momento estruturas e processos econômicos
(observação dos preços) e políticos (observação da opinião pública).
Economia política: uma forma de conceber o social
Entendemos que devemos conhecer um objeto e ao mesmo tempo conhecer as
possibilidades e limites do saber que nos permite ter acesso à realidade do objeto. Assim,
afastamos o risco do que acusou Rosa Luxemburgo [s.d], em 1925, de que “por mais incrível
que possa parecer, é um fato que a maior parte dos especialistas em economia política apenas
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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016
têm noções confusas sobre o verdadeiro objeto de seu saber” (p. 35). Desse modo, trataremos
primeiro de explicar o que é a economia política e como esse conhecimento pode, logo após,
ser atrelado a uma realidade formada por sistemas comunicacionais, que nos leva à uma
sociedade mundial de controle.
Para o estudo da economia política, Vincent Mosco (1996; 2009) elabora uma
definição ampla. Essa definição ampla – de economia política como controle e sobrevivência
na vida social – foi sugerida a Mosco por Dallas Smythe, uma das figuras fundadoras, junto a
Herbert Schiller e outros, da economia política da comunicação, em uma entrevista para a
primeira edição do livro de Mosco, The political economy of communication (1996).
A definição em sentido lato, que Mosco chama de “uma definição mais geral e
ambiciosa de economia política” (2009, p. 3), trata esta disciplina como “o estudo do controle
e sobrevivência na vida social” (p. 3). Junto a essa definição, o autor já delimita o que seria o
controle e a sobrevivência. São, primeiramente, metáforas para os processos políticos e os
econômicos (MOSCO, 2015) que, juntos, conformam a disciplina e que nos permitem um
alcance de sentido mais abrangente que na definição estrita. O controle significa
especificamente “como uma sociedade se organiza, conduz seus problemas e se adapta ou não
às inevitáveis mudanças que todas as sociedades enfrentam”. O controle, portanto, “é um
processo político porque molda as relações dentro de uma comunidade”. Sobrevivência, por
sua vez, significa “como as pessoas produzem o que elas necessitam para se reproduzir e
manter o andamento da sociedade”. Assim, sobrevivência “é principalmente um processo
econômico porque envolve o processo de produção e reprodução” (p. 3). A constituição mútua
de controle e sobrevivência é a tarefa mais interessante a se observar, isto é, como poder
social e reprodução social se imbricam.
Adicionalmente, segundo Mosco (p. 3), para descrever a economia política podemos
ampliar seu significado para além das definições mais comuns, realçando características
centrais que a caracterizam. Para isso, a economia política tem como pressupostos básicos: 1)
Entender a mudança social e a transformação histórica; 2) Examinar o todo social ou a
totalidade das relações sociais que conformam as áreas econômicas, políticas, sociais e
culturais da vida. Segundo Mosco, “a economia política sempre acreditou existir o todo de
uma sociedade e que nós deveríamos tentar entendê-lo” (p. 4). Mosco ainda vai mais longe ao
dizer que fazer uso do todo social não requer essencialismos ou reducionismos. “Na verdade,
como Marx e intérpretes do século XX como Gramsci e Lukács nos lembram, o pensamento
dialético nos leva a reconhecer que a realidade é compreendida de partes e do todo,
organizados na totalidade concreta de integração e contradição que constitui a vida social”
(2009, p. 31); 3) Ter o compromisso com a filosofia moral, isto é, procurar entender o dever-
ser na forma de valores, princípios e normas morais e legais capazes de constituir e também
mudar o comportamento social; e 4) Executar o pensar e o fazer em unidade, o que constitui a
ideia de práxis social.
Essas quatro características, portanto, colaboram para o entendimento da relação
controle-sobrevivência na vida social para além da própria definição, pois destacam
elementos que são pressupostos centrais da própria economia política. Assim, ao tempo em
que descrevemos a relação da distribuição de poder em uma organização social e de sua
reprodução, não devemos nos esquecer de que tal definição está atrelada à compreensão de
mudanças sociais, que se relacionam com um todo social, que processa mutuamente ser e
dever-ser e que, por isso, dá azo a uma práxis social.
Na conclusão de Political economy of communication, Vincent Mosco (2009) também
nos deixa claro algumas tendências para as quais a economia política da comunicação pode
ajudar a construir. Vemos no conceito de controle e sobrevivência um notável ponto de partida
para ajudar nessas tarefas, que são: 1) construir pontes com ajuda dos estudos da ciência e
tecnologia; 2) um projeto maior, que ajudaria a unir o amplo programa das ciências sociais e
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humanidades, das quais a economia política, os estudos culturais e estudos de política são
parte e o programa de ciências, principalmente a física, a química e a biologia, que se arroga
quase completa autoridade na vida intelectual de hoje. Obstruir essa separação, segundo
Mosco, é um desafio enorme, porém vital (2009).
Ora, tanto a primeira ponte, quanto a segunda, a economia política da comunicação
pode ajudar a construir a partir da definição da qual partimos aqui neste estudo, utilizando,
como complementação de sentido a perspectiva da complexidade de Edgar Morin, que nada
mais requer, dentre outros desafios, a religação de saberes hoje afastados na Academia,
sobretudo criando uma relação circular virtuosa, como diz, e não viciosa, entre física, biologia
e antropossociologia (p. 30-32, 2013).
A economia política da comunicação atinge um estágio ambicioso, como Mosco nos
coloca, se seguirmos essa tendência. A ideia não é, portanto, a de retomar perspectivas
antigas, mas de retornar a elas por um estudo crítico da epistemologia e da história das
ciências, e delas avançar nesse projeto de construção de uma economia política coerente com
a complexidade inerente ao conhecimento da vida desde sempre, e também desvelar truísmos
que a humanidade moderna inocentemente codificou por detrás de conceitos meteóricos e
também por conta de sua perplexidade ante a novidade do aparato tecnológico que
rapidamente construiu. Assim, é importante não só reestabelecer o conhecimento que
lentamente foi se acumulando, mas de expô-lo criticamente na forma de uma economia
política que dê conta da complexidade cada vez mais mistificada pela ignorância e pela
influência do pragmatismo decorrente da marcha de aceitação do poder econômico
(COMPARATO e SALOMÃO FILHO, 2014).
Para uma história da economia política, podemos sempre partir de dois pontos
comumente utilizados, conforme Mosco (2009): 1) Período da Grécia clássica, o que permite
um ponto de partida pela análise etimológica do termo; e 2) Período dos filósofos escoceses
da moral iluminista do século XVIII, culminando em Adam Smith. Não é difícil perceber que
em sua raiz grega a economia política que hoje discutimos na forma de ciência referia-se
àquilo que nos evidencia a etimologia da palavra economia, uma junção de oikos (casa,
ambiente, meio) e nomos (lei, organização, controle), isto é, a lei ou organização da casa, o
que requer pensar na complexidade de nossa sociedade, uma evolução que nos remonta à
organização política de toda uma economia, que deixa de ser familiar para ser controlada por
um estado. Política originou-se, por sua vez, do termo grego polis, para cidade-estado, “a
unidade fundamental da organização política no período clássico” (MOSCO, 2009, p. 23).
Economia política se origina, portanto, na organização da casa familiar e da casa
propriamente política. A etimologia nos atenta que o termo “economia política” nada mais é
que o estudo de uma economia adjetivada por características políticas, isto é, a organização de
um meio politizado.
Aristóteles é certeiro, no início de seu opúsculo Econômicos (2011), ao nos dar uma
síntese do que discutimos como economia e política, a partir de uma diferença básica: “a arte
de administrar uma casa e a de administrar uma polis diferem entre si não apenas na medida
em que a casa e a polis também diferem (uma vez que aquela é o fundamento desta), mas
ainda no fato de a administração da polis envolver muitos governantes e de a administração
doméstica depender somente de um” (p. 5, 2011).
Unindo à análise da etimologia do termo, podemos encontrar uma associação a um dos
pilares do Iluminismo, no qual se baseavam a economia política clássica: a visão de
racionalidade de Descartes (MOSCO, 2009, p. 38). Descartes é fundamento, como diz Morin
(2010; 2011; 2013), de toda uma ciência que dissocia res extensa e ego cogitans, que busca
esforços de uma objetividade como que separada da interferência do sujeito pensante. É obvio
que a economia política clássica, derivada desse paradigma cartesiano, não poderia ser outra
em suas primeiras figuras, com destaque para Adam Smith. As preocupações dessa economia
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política giram muito mais em torno de um equilíbrio social por meio de um mercado de livre
conduta, o qual, pela concorrência acirrada de seus constituintes, trataria naturalmente de se
autorregular. A influência cartesiana na economia política continuou com as tentativas de
fundamento da economia enquanto ciência, principalmente na obra Principles of Economics
(1890) de Alfred Marshall. Assim, a economia normativa preocupar-se-ia apenas com
questões de ordem puramente econômica, descrevendo forças em equilíbrio. “Em resumo”,
escreve Mosco (2009, p. 48), “a legitimidade matemática e científica veio com um preço
substancial: deixou de lado a economia política e a integração de história, todo social,
filosofia moral e práxis dentro de um significado de pesquisa e vida intelectual”.
Ao contrário da visão dialética e crítica de Marx da economia política clássica, essa
visão estática tendeu a afastar a história para tratar das mudanças sociais e a tornar, cada vez
mais, a economia uma ciência matemática, que buscasse uma objetividade científica, acima de
quaisquer outras características (MOSCO, 2009). Um retorno da análise da economia política
nos dias de hoje, no âmbito marxiano e marxista, pode ser interpretado como uma tentativa de
retorno do sujeito e suas reflexões críticas na ordem objetivista das ciências.
Sobrevivência e controle retomam o conceito de história e trabalho de Marx, no
sentido de que não há reprodução social sem a organização do poder social; e essa
organização implica uma organização do trabalho social para que possa ser controlada. A
história, para Marx, “significava, acima de tudo, como as pessoas produzem a si próprias por
meio do trabalho” (MOSCO, 2009, p. 42). Nossa visão de trabalho está aqui inclusa na visão
de processamento de energia e matéria para constituição de uma organização social. Neste
sentido, não se diferencia substancialmente da de Marx, entendendo que a sobrevivência na
vida social se dá principalmente na economia social como um processador de matéria, energia
e consequentemente informação, o que possibilita a produção e a reprodução social,
construindo um curso histórico sob o qual, vale sempre lembrar, não tem uma finalidade em
si, mas no qual os homens podem interferir e prever circunstâncias futuras a partir do controle
e da comunicação que circula em sociedade. Assim, lembrando célebre passagem de Marx em
O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, “os homens fazem a sua própria história; contudo, não
a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob
as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram”, e, portanto,
o passado torna-se um problema constante para aqueles que desejam sobreviver, e isso inclui
previsão sobre a insegurança que aguarda o futuro: “a tradição de todas as gerações passadas é
como um pesadelo que comprime o cérebro dos vivos” (MARX, 2011, p. 25).
O sistema de comunicação
Há quem diga que a comunicação é o ponto cego do marxismo ocidental (SMYTHE,
1977). A modernidade está baseada numa constante observação da observação, ou cibernética
de segunda ordem, de modo que esse ponto cego circula sem que sua materialidade seja
apontada. Os sistemas político e econômico têm suas formas de observação de segunda
ordem, para se proteger da complexidade e da contingência. Daí as tarefas de observar a
opinião pública e o sistema de preços para ambos sistemas, respectivamente, serem primordial
à sobrevivência (reprodução) mútua. Se a observação da observação da modernidade
evidencia a existência de um ponto cego, este obviamente não se trata de um ponto
literalmente, mas de um sistema informacional e comunicacional que permite aos sistemas
verem a si próprios. Como observar os preços e a opinião pública? Uma resposta é visível:
pelo controle informacional e comunicacional. Por esse motivo, a informação e a
comunicação não devem ser tratadas como entes abstraídos do mundo material, nem sequer
devem ser consideradas abstrações, pois não existem sem controle e este requer uma
materialidade onde são possíveis os fenômenos comunicacionais. Assim, a revolução da
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informação não é uma revolução na informação, mas, antes, uma revolução no controle, no
modo de processar matéria. A informação, portanto, “só adquire sentido dentro de um
contexto particular (...) do contrário, a informação não possui sentido; é indiferenciável do
ruído” (MULGAN, 1991, p. 10). Uma sociedade da informação é sempre, também, uma
sociedade do controle, onde o propósito é o de controlar por meio da obtenção de informação
a partir de uma dada materialidade. Entretanto, uma sociedade do controle põe logo a questão
de início: quem programa? quem dita a lógica? quem controla? Há uma reprodução milenar de
um sistema de classes e, se ainda existe, é porque seus propósitos estão sendo alcançados
continuamente. O sistema comunicacional é o ponto cego1.
Robert McChesney (2008) enfatiza e explica o papel do sistema de comunicação nas
sociedades modernas. Para ele, “é axiomático em quase todas variantes de teoria política e
social que o sistema de comunicação seja o pilar das sociedades modernas”. Em termos
políticos, “o sistema de comunicação pode servir para elevar a democracia, ou para negá-la,
ou alguma combinação dos dois”. Em termos econômicos, “o sistema de comunicação surgiu
como uma área central para fins lucrativos em sociedades capitalistas modernas” (p. 305). A
relação disso tudo junto, que é o que fazemos aqui em termos de controle e sobrevivência, é
enfatizada por McChesney (2008) ao dizer: “um grande esforço de pesquisa é, portanto,
realizado para avaliar a relação de comunicação enquanto uma atividade privada com os
mais amplos e necessários deveres políticos e sociais que também são operados pelos
mesmos sistemas de comunicação” (p. 305-306). Para McChesney, esse é um ponto central e
recorrente nos estudos de mídia. “A vida dupla do sistema de comunicação, de uma só vez o
pivô da economia global emergente e também um alicerce da democracia política, constitui a
tensão vital no cenário mundial” (2008, p. 306). Essa relação da economia global
contemporânea e da democracia política já é uma materialidade de onde podemos deduzir a
definição de controle e sobrevivência em vida social atrelando o ponto cego: o sistema de
comunicação, no qual se baseiam tanto política (organização interna do poder de controle) e
economia (reprodução social). O sistema de comunicação, apontado por McChesney, é o
mesmo que “compreende as bases institucionais indispensáveis para a deliberação social –
discussão, debate e tomada de decisão – para além dos fóruns de elite” (2008, p. 336). A
dualidade do papel do sistema de comunicação na reprodução social é essencial, portanto,
para ligar economia e política em uníssono.
De la Haye destaca que “durante o desenvolvimento do modo capitalista de produção,
o sistema de comunicação, que não era mais do que um fenômeno periférico e desorganizado
na sociedade feudal, tornou-se um elemento central” (1979, p. 16). Os meios de comunicação
não passam a ser apenas fatores na circulação de mercadorias e de manutenção da indústria
moderna, mas o seu papel passa a ser também como “a condição geral de aparecimento da
figura de um novo homem: o capitalista” (DE LA HAYE, 1979, p. 25). O nascimento de um
mercado mundial do qual o capitalista seria a base dependeu de mudanças no processo social
de produção e reprodução, das quais participavam os meios de transporte (ferrovias) e
comunicações (telégrafo), mas também a presença inconteste do Estado no estabelecimento
dessas condições gerais de produção. O Estado serve à burguesia em vários motivos, com o
uso de sua autoridade para regular salários, coordenar a transformação dos modos de troca e
também “para gerir contradições decorrentes do desenvolvimento desigual dentro da
formação social” (DE LA HAYE, 1979, p. 43). Não é uma questão apenas de um interesse de
1 Apesar da acusação de Smythe de a doutrina marxista não ter se preocupado com a comunicação do modo devido, há autores marxistas que enfatizam o elemento comunicacional em Marx. Um exemplo é o Professor Christian Fuchs, quem já possui um trabalho extenso que
relaciona marxismo e comunicação. Um dos artigos em que trata diretamente sobre o assunto é “Some theoretical foundations of critical
media studies: reflexions on Karl Marx and the Media”. O subtítulo é sugestivo e visa a combater a visão de alguns autores em dizer que Marx não tinha nada a nos oferecer sobre o assunto das mídias, da comunicação e da cultura. Muito pelo contrário, o argumento central de
seu artigo é de que “Marx deveria ser considerado como uma das figuras fundadoras dos estudos críticos de comunicação e da mídia e que
seus trabalhos podem ser aplicados hoje em dia para explicar fenômenos como a comunicação global (...)” (FUCHS, 2009, p. 269). Um outro
importante exemplo de trabalho já existente sobre a relação da obra de Marx e Engels e a comunicação é o de Yves de la Haye – Marx &
Engels on the means of communication (1979), que trataremos neste artigo.
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classe que dirige o Estado, mas de interesse ao próprio Estado nos meios de comunicação e
transporte. O Estado, como de la Haye coloca, é agente para criar o consenso necessário para
a hegemonia, “como um agente que coagula a formação social dentro das fronteiras
nacionais” (1979, p. 43). A questão comunicacional é interessante, em termos de soberania,
inclusive, pois também diz respeito à administração de seu território, de suas forças armadas,
de sua polícia, inteligência (DE LA HAYE, 1979). A comunicação passa a ser também uma
utilidade pública na medida em que não só conduz a vida dentro de um território, mas também
é fator essencial para decidir sobre a continuidade dessa vida em um território, principalmente
em momentos de guerra, onde a defesa da soberania e da população correm risco. Podemos
observar que inventos importantes da comunicação também surgem em momento de guerra,
impulsionados pelo investimento em pesquisa e desenvolvimento estatal. O Estado, em
momentos de crise, é quem carrega a legitimidade sobre o monopólio da força e precisa
utilizar essa força não só para manter a coesão da produção e reprodução sociais, mas também
a defesa e controle de seu território e territorialidades2.
Para de la Haye, “as forças armadas, de um lado, e a indústria, de outro, devem ser
considerados as matrizes históricas reais do setor da comunicação” (1979, p. 46). E esta
afirmação nos basta para perceber, mais uma vez, a relação de mútua constituição de controle
e sobrevivência e o papel do sistema de comunicação. Assim, a comunicação não pode ser
simplesmente “resumida como uma vasta superestrutura industrial”. A “‘comunicação’ como
uma atividade social compreende o conjunto de formas sociais pelas quais as relações sociais
são expressas, materializadas e modificadas”; a “comunicação estabelece a moldura, os
limites e as implicações dessas relações sociais, seja lá uma questão de nações, classes,
mercados ou impérios” (DE LA HAYE, 1979, p. 55). Essa afirmação complementa, portanto,
a noção de comunicação de Luhmann (2006; 2011), um sistema fechado que produz a si
mesmo e operador central do sistema social. A autopoiesis do sistema comunicacional se
confirma na materialidade do sistema social, que possui múltiplas formas responsáveis, como
diz de la Haye (1979), a dar expressão, materialidade e a modificar as relações sociais. A
comunicação é uma atividade social que estabelece os próprios limites dessa atividade. Uma
economia política da comunicação, como dissemos, deve relacionar poder e reprodução
sociais por meio desse sistema autopoiético: a comunicação social. A comunicação,
pensamos, deveria não ocupar o lugar, mas ter considerado um grau de relevância equiparado
ou, talvez, maior que os estudos de ideologia, seguindo a esteira de la Haye: “‘comunicação’
enquanto uma atividade social não pode ser restringida à pura ideologia, ao comércio de
mensagens ou às relações individuais e sociais, como faz a dominante sociologia da
comunicação” (1979, p. 55).
Luhmann nos possibilita pensar a sistemicidade das operações comunicacionais, o que
pode complementar a ideia de mútua constituição entre economia e política de Mosco.
Atentando à cibernética de um sistema autopoiético, que sobrevive na clausura para diminuir
a complexidade do mundo, Luhmann, para construção de uma teoria dos sistemas sociais,
partiu da comunicação como operação fundamental para que esse sistema exista. A
comunicação de Luhmann “é uma realidade emergente, uma situação sui generis” (1992, p.
252). A comunicação, como uma “situação sui generis”, não há de ser confundida, portanto,
com o sistema psíquico humano, onde opera a consciência. Sistemas social e psíquico, assim,
são coisas, apesar de suas relações na realidade fática, diferentes. Este último está ligado à
operação da consciência e aquele primeiro, o social, às operações de comunicação. Há um
entendimento corrente de que são indivíduos ou sujeitos que comunicam. Como uma situação,
a comunicação não pode estar ligada ao ato de um indivíduo, pois trata-se de um sistema em
sua complexidade, em primeiro lugar. Dessa maneira, o conceito de comunicação não é
atribuído à ação individual, a qual faz parte da realidade comunicacional, mas não pode ser
2 Territorialidade, para Soja (1971, p. 19), “é um fenômeno comportamental associado a organização do espaço em esferas de influência ou
territórios claramente delimitados que são feitos distintos e considerados ao menos parcialmente exclusivos por seus ocupantes”.
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encarada como aquela que comunica. Nesse sentido, para Luhmann, somente a comunicação
pode comunicar e é somente dentro dessa rede de comunicação que está o que entendemos a
ação criada. A comunicação é assim um sistema de complexa organização. Se fôssemos
definir apenas a comunicação enquanto realidade emergente, a definição de Luhmann nos é
esclarecedora: “a comunicação surge por meio da síntese de três seleções diferentes, a saber,
seleção de informação, seleção de expressão ou modo de emissão (utterance) dessa
informação e seleção do entendimento ou desentendimento dessa expressão ou da
informação” (1992, p. 252). Esses três componentes só podem criar comunicação em sua
síntese e não separados. Assim, a seleção da informação em conjunto com a seleção do modo
de expressá-la e do decorrente entendimento ou desentendimento dessa informação, ou de seu
modo de expressar, constituem a síntese que faz emergir a comunicação enquanto situação
complexa. A comunicação ocorre, portanto, “somente quando a diferença de expressão e
informação é entendida”, e isso quer dizer que comunicação é diferente da mera percepção do
comportamento dos outros. Ambos, o comportamento expressivo e a informação, apenas
formam a situação comunicacional, pois “são experimentados como seleção e, por esse modo,
distinguidos” (LUHMANN, 1992, p. 252). “Em outras palavras”, resume Luhmann, “alguém
deve ser capaz de assumir que a informação não é auto-compreendida, mas requer uma
decisão separada. Isso também é verdade quando o enunciador enuncia algo sobre ele
mesmo”. Assim, “enquanto essas distinções não são feitas estamos lidando apenas com mera
percepção” (LUHMANN, 1992, p. 252). A distinção de percepção e comunicação é sempre
necessária ser feita para o entendimento da definição de Luhmann: “o que alguém percebeu
não pode ser confirmado nem repudiado, ou questionado nem respondido. A percepção
permanece fechada dentro da consciência e opaca ao sistema de comunicação assim como
para outra consciência” (1992, p. 253). Um sistema de comunicação é, para Luhmann, “um
sistema completamente fechado que cria componentes dos quais ele surge por meio da própria
comunicação”. Nessa visão cibernética de comunicação, Luhmann quer nos dizer que a
comunicação é um sistema autopoiético e que não existe informação nem controle fora desse
sistema de comunicação. Assim, as atividades de processamento de informação, comunicação
mútua e controle são possíveis de serem separadamente descritas, mas em Beniger (1986)
veremos que todos os sistemas vivos mantêm os três inter-relacionados, sendo que um não
existe sem o outro. A visão de Luhmann é estritamente voltada ao sistema social e não aos
sistemas vivos de uma forma geral, daí sua ênfase na comunicação como a situação ou a rede
de onde a informação e o controle são possíveis existir. Seja lá o que for que os participantes
desse sistema entendem no fechamento de suas consciências, “o sistema de comunicação
elabora seu próprio entendimento ou desentendimento. E, para esse propósito, ele cria seu
próprio processo de auto-observação e auto-controle”. O processo de entendimento ou
desentendimento é uma condição de autopoiesis do próprio sistema, pois é pelo entendimento
ou desentendimento que há uma conexão com comunicação posterior dentro do sistema de
comunicação (LUHMANN, 1992, p. 253). Quem quer que seja pode comunicar sobre
entendimento, não compreensão ou mal-entendido, mas dentro das condições de autopoiesis
do sistema de comunicação (LUHMANN, 1992). Mesmo quando alguém diz não entender, a
comunicação procura resolver o problema por intermédio dela mesmo, uma comunicação
sobre a comunicação.
Comunicação, que enlaça em um sistema as três seleções – informação, expressão e
entendimento –, não pode ser também considerada simplesmente uma transmissão de
mensagens, informações ou expectativas de compreensão (LUHMANN, 1992, p. 254). A
seleção (e o fluxo comunicacional decorrente) é, portanto, uma situação emergente da própria
comunicação, não podendo se falar, inclusive, de comunicação fora da comunicação. Com a
criação de sistemas de processamento de informação, seja pela invenção da escrita, ou seja
pela invenção da imprensa, do telégrafo, do rádio, da televisão, do computador etc., a
formação desse sistema autopoiético só se tornou mais complexo com grande consequência
para a estrutura social, para a semântica, para a linguagem (LUHMANN, 1992). Assim, a
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própria seleção da qual depende a atividade comunicacional é afetada pela própria
comunicação. As escolhas da informação, da expressão dessa informação e de seu
entendimento (ou não) são afetadas pela situação comunicacional do sistema. Assim, como
um sistema fechado, a comunicação produz a si própria (autopoiesis), produzindo e
reproduzindo tudo que funciona como uma unidade para o sistema por meio do próprio
sistema. Neste momento que a crítica deve entrar, ao analisar quem tem maior influência
sobre esse sistema que produz e se reproduz e se esse sistema está de acordo ou não com
determinados valores sociais. Assim, a produção da comunicação por ela mesma depende de
um meio e de restrições desse meio para ser efetivada (LUHMANN, 1992). Um crítico pode
entrar e perguntar: mas quem impõe as restrições, quem controla o meio? Essa, todavia, é
tarefa que distingue Luhmann ao fazer sua teoria dos sistemas sociais.
Sejam quais/quem forem seus elementos, o sistema de comunicação, por ele mesmo,
em sua autorreferência, cria seus próprios elementos e estruturas. Assim, “o que não é
comunicado não contribui nada para o sistema” (LUHMANN, 1992, p. 254), sendo visível
que a falta de quaisquer uma daquelas seleções que definem a comunicação não gera
comunicação. Assim, na torrente informacional que invade a sociedade da informação, é fácil
entender que a confusão, o ruído e o caos dentro da ordem das estruturas dos sistemas sociais
(econômicas e políticas) surgem em algum momento pela não-seleção e, portanto,
descontinuidade do processo comunicacional que só pode ser revertida se a seleção for feita,
isto é, se a diferença se realizar. Daí a importância da troca de sentido dentro de uma
sociedade, para reforçar a ordem social pela própria comunicação que a produz e que a
reproduz. O sistema social produzido e reproduzido pelo da comunicação, entretanto, é
processado pelas operações comunicacionais até que encontre os limites para o
processamento, que devem ser resolvidos pela própria comunicação, pondo em relação
recursiva ordem e desordem. A não resolução do limite comunicacional implica a morte do
sistema social, o que, entretanto, não nos aconteceu até hoje, como veremos com a Revolução
do Controle, de Beniger (1986). A dificuldade do sistema em se comunicar, devido à expansão
social levada pela industrialização, tanto no âmbito político como no econômico, foi resolvida
pela própria comunicação, por novos meios de processamento de informação (burocracia e
racionalização) e feedback (marketing, pesquisa de mercado, técnicas de recenseamento,
sondagem de opinião etc.).
A sociedade mundial de controle
O conceito de Sociedade de Controle foi posto por Deleuze (2013) em seu Post-
scriptum sobre as sociedades de controle e desenvolvido mais a fundo por Hardt (1996) e
também Hardt e Negri (2000). Alguns preferem tratar essa sociedade em termos de vigilância
(LYON, 2011; BAUMAN, 2013), mas consideramos a palavra controle com maior
profundidade teórica, de acordo com o que já vimos na biologia, na cibernética, na sociologia,
na filosofia etc. Continuando o pensamento de Foucault (1998; 2015) sobre as sociedades
disciplinares, e lembrando Burroughs, Deleuze trouxe ao conhecimento a crise generalizada
institucional de espaços tradicionais de construção subjetiva como a escola, a família e a
fábrica. É como se “os muros das instituições” estivessem “desmoronando”. Portanto, sem
barreiras rígidas ou restrições, a livre circulação do poder hegemônico global tem a habilidade
de ser ubíquo e, portanto, o controle sobre o comportamento. As instituições passam a estar
constantemente se corrompendo. Esta característica que as torna muito próximas do que quer
a mais complexa fase do capitalismo: sua habilidade de se esfacelar, pois sem essa
flexibilidade o poder de controle social não se torna efetivo. O dispositivo de construção
subjetiva do indivíduo controlado por uma sociedade mundial de controle só pode ser aquele
em que as comunicações estejam presentes vinte e quatro horas por dia. Assim, o tempo livre
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do trabalhador é também tempo de trabalho. No seu próprio lazer, o indivíduo tem seu
comportamento registrado, avaliado e alimentado na grande máquina. Isso é simples de ver
com a utilização da propaganda massiva, tanto por governos quanto por mercados, e também
outros elementos simples de estímulo da demanda social e retorno comportamental como as
pesquisas de mercado, as relações públicas. Verdadeiras indústrias da consciência, como
lembrou Dallas Smythe (1977).
Deleuze, para retratar a passagem da disciplina ao controle, equipara os dois
momentos respectivamente, aos “túneis estruturais da toupeira” e às “ondulações infinitas da
serpente”, fazendo referência aos moldes pré-definidos da disciplina e à modularidade
reajustável do controle. Tal metáfora se refere basicamente às novas ferramentas de
realimentação do poder social. O espectro eletromagnético, por exemplo, que é o que nos
mais remete às ondulações infinitas dessa serpente, para não causar abstrações exageradas,
passa a ser um elemento de disputa com a invenção do rádio, tanto pelo Estado, como pelo
mercado. Ora, o controle desse elemento ubíquo, nada mais é que o controle sobre a
informação em momentos de guerra que põem em risco a soberania estatal e o controle sobre
a demanda para o mercado. A família e a fábrica não podem dar mais contas sozinhas, em
seus muros, de uma demanda de controle global. A família e a fábrica tradicionais precisam se
corromper o máximo possível para dar lugar ao controle ubíquo da população e das
demandas, que precisam ter suas subjetividades produzidas e reproduzidas no mesmo ritmo da
expansão populacional e industrial.
O mercado mundial, os Estados e suas ligações a instituições transnacionais formam
hoje instâncias globais que ditam a nova ordem mundial. Elas surgem, em sua maioria, dos
Estados Unidos. Chega-se ao império, após a crise do imperialismo colonialista, conforme
Hardt (1996). O poder não possui mais limites claros e não respeita fronteiras, mas possui
origem material bem clara: os países industrializados e detentores de know-how e tecnologias
de ponta. A fluidez exigida pelos mercados na contemporaneidade solapou a concepção da
“soberania moderna”. A delimitação de locais é substituída por fluxos que não permitem
mais, segundo Hardt, estabelecer os contornos de um espaço “de fora”. O dentro e o fora cada
vez mais se tornam hibridizados e confusos. A construção das civilizações, agindo
constantemente sobre a natureza humana, reprimindo seus instintos em nome da ordem,
alcança seu ápice nessa nova era. A artificialidade da ordem civil chegou a um extremo onde
o natural não é mais reconhecido, pois se hibridiza com a estrutura que foi construída pelo
humano. É como que se anunciassem o fim da natureza, para Hardt. Entretanto, nosso
trabalho, ao passo que é uma descrição de uma Sociedade de Controle, é também uma
alternativa a ela pelo estudo de sua complexidade e da compreensão de sua necessidade para
que uma consciência possa de fato efetuar mudanças na realidade social.
Hardt também nos informa sobre a privatização dos espaços tidos antes como
públicos. Há aí também uma evidente tendência à hibridização ou de quase eliminação do
“fora”. Por isso, entende-se que há um déficit do pensamento político na sociedade de
controle. Separar, portanto, “um dentro de um fora – o natural do social, o privado do
público” é tarefa complexa no abstracionismo da sociedade de controle. Mulgan (1991, p.
243-261), nesse sentido, leva-nos a repensar o que seria o controle público e a ideia de
“interesse público”, especialmente em um contexto democrático. Se a comunicação é privada
e pública ao mesmo tempo e se subjuga ao processamento social de reprodução, qual o espaço
ético a ser buscado? O espetáculo de Debord, utilizado pela mídia hodiernamente, é nada mais
que estratégia que desemboca nas fusões pós-modernas, onde o mercado se confunde com a
cultura (JAMESON, 2001).
O “fim da história”, em Fukuyama (apud HARDT, 1996), introduz o reino da paz. Isso
porque não cabe mais à potência soberana confrontar diretamente o “fora”. A ideia é de
extensão de seus domínios não mais pela força, mas pela persuasão. O “lugar da soberania” é
indistinto e o soberano se impõe difusamente. Na arquitetura do poder panóptico foucaultiano,
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a disciplina mostrava sua estrutura. Na sociedade controlada, o mercado mundial instala seu
poder de tal forma que não mais é possível conceber seu lugar e sua estrutura. “O planeta
inteiro é seu domínio” (HARDT, 1996, p. 361). Assim, não existe algo que possa ser chamado
de espaço de “fora” para o mercado mundial, tal como existia para o poder na era
disciplinada. “Nesse espaço liso do império, não há mais lugar do poder: ele está em todos os
lugares e em nenhum deles. O império é uma utopia, ou, antes, um não-lugar” (HARDT,
1996, p. 362).
A não existência de um fora deve ser interpretada como a crescente sistemização das
sociedades em torno de um mercado mundial. Deve-se tomar muito cuidado, pois a falta de
conhecimento do que é um sistema, pode levar um a achar que a não existência do fora é uma
realidade. Mas não é. O que o sistema faz é fechar-se operacionalmente para reduzir
complexidade e controlar. Durante essa operação contínua, que envolve o processamento de
informação e comunicação mútua, os sistemas processam também ruídos, caos. Estes são
informados por feedback e os limites reajustados de acordo com o conhecimento deles pelo
sistema. Esse sistema cibernético não se iguala a uma máquina fechada, pois diz respeito à
complexidade social. A realidade social é um jogo de reprodução que encontra, para tal
finalidade, conflitos que determinam os próprios limites dessa reprodução e que são
resolvidos para que o sistema não morra. Dizer que não existe um fora, é uma visão
unicamente que parte do ponto de vista interior ao sistema, mas que não diz respeito à
realidade complexa.
As estratégias do poder na era controlada evidenciam sua realidade amorfa e moldável.
São estratégias de reorganização de empresas, por exemplo, na concepção de um mercado
mundial que trarão à mostra esse “não-lugar”. A descoberta ou a ilação do caminho do poder
contribui para evidenciar as diferenças entre era disciplinar e era do controle e, ainda,
contribui para afastar a ideologia persuasiva que a todos cega. A “desdiferenciação” entre o
dentro e o fora, para usar terminologia de Jameson (2001), na sociedade de controle, não
obstante, vem interferir diretamente na construção da subjetividade dos indivíduos. A fluidez
que diluiu as barreiras entre instituições provoca uma intensificação do contato dos indivíduos
com elas e, consequentemente, uma intensificação na produção de subjetividades. Segundo
Hardt, o lugar de cada instituição foi estendido a todo campo social. Disso se depreende que
os indivíduos não deixam de participar das instituições, mas se perde a limitação que era
inerente a todas elas.
A relação das desregulamentações institucionais com o capitalismo é essencial para
explicar o mundo em que vivemos. “Assim como o capitalismo, quanto mais elas [as
instituições] se desregram, melhor elas funcionam” (HARDT, 1996, p. 369). A lógica do
capitalismo está em seu esfacelamento ou corrupção, como nos mostra Hardt. É se
aproveitando da corrupção da subjetividade, portanto, que o capitalismo se aperfeiçoa. O
controle é, assim, uma intensificação e uma generalização da disciplina, em que as fronteiras
das instituições foram ultrapassadas, tornadas permeáveis, de forma que não há mais distinção
entre fora e dentro. Dever-se-ia reconhecer que os aparelhos ideológicos do Estado também
operam na sociedade de controle, e talvez com mais intensidade e flexibilidade do que
Althusser jamais imaginou (HARDT, 1996, p. 369).
A sociedade de controle, consoante conclusão de Hardt (1996), conforma um “ponto
de chegada” do capitalismo. Há a constituição de uma nova “axiomática social” que
contempla uma “soberania propriamente capitalista”. Chega-se, logo, à sociedade
genuinamente capitalista que Marx definiu como “sociedade da subsunção real” (apud
HARDT, 1996, p. 372). É de grande importância, portanto, sublinhar o que esclarece Dênis de
Moraes (1998, p. 251). A diversidade de ofertas e os grandes fluxos de informação
proporcionados pela era digital contribuem para modificar a lógica entre mídia e público. O
que existe de diferente entre a mídia atual da mídia pré-digital, com relação ao controle, é que
hodiernamente não se pressupõe uma atuação disciplinar clássica, baseada na coerção. “A
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antiga disciplina era de longa duração, infinita e descontínua. As novas práticas de controle
social passam a ser de curto prazo, com rotação rápida e contínua” (MORAES, 1998, p. 251).
Embora o modelo disciplinar clássico não desapareça, aquele que impõe a informação,
justamente por saber que esta emana dele e apenas dele, o modelo atual de controle social,
segundo Moraes, conduz essa disciplina através de “modelos discursivos, fluidos e
sugestivos”. É uma (aparente) contradição perigosa que emerge nessa nova era: de um lado
megacorporações condicionando o mercado simbólico; de outro, a (aparente) diversidade de
oferta de informação.
James Ralph Beniger (1986), procurando compreender a centralidade da informação
para a vida material dos dias de hoje, já inicia sua grande obra – The Control Revolution – nos
convidando a pensar o porquê, como já demos sinal anteriormente, dentre as muitas coisas
que os seres humanos valorizam, de a informação ter sido aquela que dominaria as maiores e
mais avançadas economias do mundo. Por que agora os computadores, as máquinas
cibernéticas, que processam informação? A informação não haveria de se tornar bem e serviço
à toa. Simplificando: por que informação? Por que agora? Resposta: Por conta de uma
revolução na forma de o controle social operar. Isto é, a Revolução do Controle se trata de
“um complexo de rápidas mudanças nos arranjos econômicos e tecnológicos pelos quais a
informação é coletada, armazenada, processada e comunicada e pelos quais decisões
programadas ou formais podem afetar o controle social” (p. vi). A história apenas, sozinha,
argumenta Beniger (1986), não consegue explicar porque é a informação que passa a ser tão
crucial à economia e à sociedade. O cérebro mecânico que operaria e controlaria esse novo
processo de informação na era da cibernética só existe por conta da centralidade dada à teoria
da informação. Isto é, matéria não se confunde com informação, mas uma depende da outra.
“O cérebro mecânico não secreta pensamento ‘como o fígado faz com a bílis’, tal como
pretendiam os primitivos materialistas, nem o externa sob a forma de energia, como o
músculo externa sua atividade”. Assim, “informação é informação e não matéria ou energia.
Nenhum materialismo que não o admita pode sobreviver hoje em dia” (WIENER, 1970, p.
171). O caminho descrito pela cibernética para pensar um “cérebro mecânico” abriu outros
para pensar os mesmos processos em todos os sistemas vivos, o que faz com que a
informação tenha sua contrapartida e fundamento de validade naquilo que há de mais
complexo nas ciências: a própria vida. A resposta, assim, deve ser buscada “na natureza de
todos sistemas vivos – em última análise, na relação entre informação e controle” (BENIGER,
1986, p. vi). A razão disso é simples e complexa ao mesmo tempo: a vida já implica controle,
em células e organismos, não menos do que em economias nacionais ou qualquer outro
sistema finalista (purposive system) (BENIGER, 1986, p. vi).
Sociedades são sistemas de processamento de matéria e esse papel se tornava mais
claro na medida em que a Revolução Industrial aumentou o ritmo e a velocidade com as quais
a matéria se tornava processada. Houve um momento em que a necessidade de um
processamento mais rápido ultrapassou as possibilidades humanas, sendo necessários novos
avanços econômicos e tecnológicos com vistas em se criar ferramentas propícias ao
processamento daquilo de que sempre precisou a vida: informação. A razão da informação
também é clara: a necessidade de controle se tornou cada vez maior. Controle sempre gera
controle e, nisso, a velocidade para controlar ultrapassou o ritmo humano nos momentos
próximos e posteriores à Revolução Industrial, necessitando de extensões para controlar o
próprio controle e, como consequência, para processar informação e comunicação. Entender a
economia da informação em expansão como meio de controle parece ser apenas um modo
diferente de olhar as coisas. Apesar disso, as pretensões de Beniger são maiores: propor uma
síntese dos conhecimentos parcelares sobre as sociedades de informação, trazendo todas as
verdades produzidas dentro de outras que abarquem o todo (p. VIII). Assim, criamos uma
série de teorias com termos diferentes (Sociedade de controle, Sociedade do conhecimento,
Sociedade pós-fordista etc.) que, a fundo, referem-se a uma verdade em comum: necessidade
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de controle, daí a Revolução do Controle. Controle tem raízes no biológico, no físico e no
antropossociológico, compondo um pondo de partida importante para realização de um
pensamento complexo, conforme proposto por Morin (2013). O termo “revolução”, explica
Beniger, é um termo emprestado da astronomia que somente apareceu no discurso político na
Inglaterra do século XVII, referindo-se à “restauração de uma forma prévia de governo”,
sendo somente com a Revolução Francesa que a palavra ganhou um significado oposto até
hoje utilizado: “de mudança abrupta e frequentemente violenta” (1986, p. 7). No estudo de
Beniger, esse cuidado com a etimologia implica dizer que seu trabalho encara a palavra
revolução na combinação dos dois sentidos, não somente no popular, pois a Revolução à qual
Beniger se refere também tem seu sentido de restabelecimento de uma ordem que se
encontrava em crise – é o que ele chama de “crise do controle”, iniciada com a Revolução
Industrial e que levou mais tarde à Revolução do Controle, o que podemos encarar como uma
sobrevivência por meio do controle do sistema capitalista. Até mesmo a palavra “crise” pode
passar a ganhar uma autorreflexão nesse contexto, sendo levada às suas origens na medicina
como sinônimo de um ponto máximo de adoecimento de um sistema que, passado esse
momento por meio das realimentações vitais para combater seu enfraquecimento, voltaria à
sua homeostase; ou não, à sua morte. Isso é, entretanto, muito complicado para dizer sobre os
sistemas complexos humanos na forma de sociedades. Há quem diga que estamos em crises
constantes. Mas, esse não é nosso ponto aqui, já que controle absoluto é improvável e não
deve ser encarado no trabalho de Beniger, nem neste, como uma forma de absoluta
dominação. A renovação constante da crise é uma forma dialética de ver a mudança social, de
acordo com sua necessidade de manutenção de controle sobre a vida.
No trabalho de Beniger, como escreve, “a palavra controle representa sua mais geral
definição, influência proposital direcionada a um objetivo predeterminado” (purposive
influence toward a predetermined goal) (1986, p. 7). A ideia de controle como “influência” é
uma possibilidade que confirmamos com o estudo etimológico da palavra feito por
Comparato (2014). A origem do termo do Latim, entretanto, oferece-nos mais informação
importante. A palavra controle deriva do verbo do Latim medieval contrarotulare. Beniger
interpreta o verbo como “comparar algo contra os rolos” (rolos tem o sentido de “registro”),
cilindros de papel que serviam como registros oficiais nos tempos antigos. Essa própria
origem latina já é explicativa do processo de controlar algo, comparando os inputs de
determinados sistemas a seus programas armazenados, registrados. Assim, o programa de um
sistema serve como o registro da história do sistema com o qual o insumo que adentra o
sistema será comparado. Assim, inseparáveis do conceito de controle são as atividades de
processamento de informação e comunicação recíproca, centrais para realização do controle.
O processamento de informação, segundo Beniger, “é essencial para toda atividade com um
propósito, que são por definição direcionadas a um objetivo (goal) e devem, portanto,
envolver a contínua comparação dos estados atuais aos fins futuros, um problema básico de
processamento de informação” (1986, p. 8). Junto à comparação entre inputs e objetivos, uma
interação comunicacional mútua entre controlador e controlado deve também ocorrer, “não
apenas para comunicar a influência daquele para este, mas também para comunicar de volta
os resultados dessa ação (daí o termo feedback, por conta do recíproco fluxo de informação de
volta ao controlador” (BENIGER, 1986, p. 8). Daí, portanto, a centralidade do processamento
de informação e da comunicação mútua entre controlador e controlado. Não apenas essa
concepção influenciou Wiener em sua definição de Cibernética, mas também, conforme
Beniger, os pioneiros da teoria matemática da comunicação, Shannon e Weaver. Para estes,
conforme Beniger, a comunicação era um controle proposital, ou o conjunto de procedimentos
pelos quais uma mente pode afetar a outra. Eles notaram que “ou a comunicação afeta um
comportamento ou não possui qualquer efeito discernível ou provável” (BENIGER, 1986, p.
8).
Pondo tal conceito de controle, inseparável das atividades de processamento de
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informação e comunicação, ao nível de uma sociedade, Beniger (1986) nos afirma, portanto,
que a habilidade dessa sociedade em manter controle, em todos os níveis (do interpessoal ao
das relações internacionais), será diretamente proporcional ao desenvolvimento de suas
tecnologias de informação.
O processamento de informação, explica Beniger, pode ser mais difícil de apreciar do
que o processamento da matéria e energia, como é simples perceber com o processamento
tanto do carvão, da energia à vapor e dos tecidos em algodão pelos inventos que levaram à
Revolução Industrial. Isso ocorre, pois, ao contrário do processamento de matéria e energia, a
informação é epifenomenal, ou seja, “deriva da organização do mundo material no qual ela é
inteiramente dependente para sua existência” (BENIGER, 1986, p. 9, grifo nosso). Aqui,
precisamente, lembramos as palavras de Wiener: de que não há materialismo que se sustente
sem sua relação com a informação. Apesar de ser derivada da matéria e da energia que
constituem esse mundo material, a informação está ligada diretamente aos sistemas vivos que
necessitam de organização, de ordem e de poder. Resumindo, com Beniger: “todos os
sistemas vivos precisam processar matéria e energia para se manter contra a entropia, a
tendência universal da organização rumo ao colapso e à aleatoriedade” (1986, p. 10). Sendo o
controle necessário para tal processamento, a informação é, por sua vez, essencial ao controle.
Em decorrência, o processamento da informação e a comunicação mútua, enquanto elementos
que diferenciam os sistemas vivos do universo inorgânico, são elementos que definem a vida,
“excetuados alguns artefatos recentes de nossa própria espécie” (1986, p. 10).
A crise do controle, que levaria à Revolução do Controle, é encontrada por Beniger na
descrição de Émile Durkheim sobre o processo de industrialização das sociedades. A
industrialização, assim, de acordo com Durkheim (apud BENIGER, 1986), tende a quebrar
barreiras para transporte e comunicação que isolam mercados locais, chamados por ele de
“tipo segmentado”, estendendo a distribuição de bens e serviços para o “tipo organizado” de
mercado, que se trata de mercados em âmbito nacional e global. Quando ocorre isso, há uma
quebra de equilíbrio sob o qual a produção é regulada por intermédio de comunicação direta
entre produtor e consumidor. Essa descrição de Durkheim, presente no livro Da divisão do
trabalho social, é a descrição do que Beniger caracteriza como “crise de controle”. A saída da
crise seria solucionada com novos meios de comunicação com a finalidade de controlar
economias organizadas em níveis mais complexos que o do mero tipo segmentado,
localizado. Há, como diz Beniger, uma crescente “sistemização” (“systemness”) da sociedade,
na qual a capacidade de comunicar e processar informação está diretamente ligada ao que
funcionalistas estruturalistas como Durkheim chamaram de “problema de integração”
(BENIGER, p. 11), ou seja, “a crescente necessidade de coordenação de funções que
acompanham a diferenciação e a especialização em qualquer sistema” (BENIGER, p. 11).
Para Beniger, o que Durkheim descreve como uma crise de controle no âmbito social tem sua
contrapartida no âmbito da psicologia individual. A “anomia” de Durkheim surge, portanto,
do colapso de normas que governam o comportamento grupal e individual. A anomia é um
estado patológico do comportamento, exceção da própria regra de Durkheim que via o
aumento da divisão do trabalho diretamente associado a uma integração normativa e de
solidariedade social. Todavia, o estado de anomia não decorreria primeiramente dessa
mudança na estrutura da divisão do trabalho social, mas do colapso da comunicação entre os
setores sociais cada vez mais isolados. Assim, tanto o problema da integração econômica
quanto o da anomia, resultam da incapacidade de comunicação. O que Beniger segue
mostrando em todo seu livro são exatamente os esforços tecnológicos e econômicos para que
a comunicação se tornasse possível.
Para Beniger, principais respostas tecnológicas à essa crise de controle estão em
Weber, quem primeiro analisou o rápido crescimento da burocracia formal na virada do século
XIX para o XX (BENIGER, 1986), mais notavelmente em Economia e Sociedade. A
burocracia é a tecnologia que controla outros inventos tecnológicos capazes de cuidar dessa
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organização complexa trazida pela crise do controle. Apesar do apelo à formalidade da
burocracia nesse novo momento histórico, não se deve atribuir novidade ao fenômeno. Os
antigos estados-nação da Mesopotâmia e do Egito necessitavam de administrações
centralizadas, sendo daí que surge o aparato burocrático, o qual continuou a ser utilizado e
aperfeiçoado atingindo os impérios pré-industriais de Roma, China e Bizâncio (BENIGER,
1986). As organizações burocráticas, sintetiza Beniger, “tendem a aparecer qualquer que seja
o local em que uma atividade coletiva necessite ser coordenada por muitas pessoas em direção
a objetivos explícitos e impessoais, isto é, ser controlado”. Assim, “burocracias têm servido
como meios generalizados de controle a qualquer sistema social amplo na maior parte das
arenas institucionais e das culturais desde sua emergência em torno de 3.000 a.C.”
(BENIGER, 1986, p. 13, grifo nosso).
Por conta dessa perversidade da forma burocrática, a história e seus historiadores,
segundo Beniger (1986), tendeu a discutir com superficialidade o seu papel no último século
XIX como uma grande tecnologia de controle. É na sua forma moderna, sobretudo, que a
burocracia atinge o grau de tecnologia de controle e também de sobrevivência, isto é, tanto em
termos políticos como em econômicos. Com ajuda de novos meios de comunicação que
entrariam como parte desse aperfeiçoado objeto de controle, a sobrevivência de toda uma
economia social se tornara possível, juntamente com o lucro visado por particulares
detentores do poder econômico cada vez mais centralizado. O aparato estatal, é claro, bem
mais evidente inclusive que o econômico, aproveitou-se dessa nova organização do mundo
material, podendo aplicar a força da lei com a ajuda de meios de controle tentaculares como a
burocracia. A burocracia é, assim, um constituinte, ao mesmo tempo, econômico e político na
modernidade, dela se apropriando o imperium para aplicar suas leis e controlar a ordem
social, e a economia para permanecer sobrevivendo, inclusive mantendo padrões antigos de
exploração. A burocracia não pode deixar de ser vista como um meio de comunicação maior
que organiza outros menores. Se a comunicação, enquanto objeto, está situada nessa
encruzilhada de controles, como podemos falar de comunicação “livre”, em “free” flow of
information? Assim, como o poder não mostra sua materialidade com facilidade para a
sociedade emergente, estando “escondido” em uma rede de controle e sobrevivência,
podemos dizer que a comunicação que ali circula só pode dele “ser serva”.
A afirmação de Morin (2011) de que o poder que está escondido faz a comunicação
sua serva é corolário do pensamento de que à organização do controle e da comunicação não
se tem dirigido tanta atenção. Aliás, o seu pensamento complexo evidenciou que a forma
organizacional das coisas não pode estar imiscuída em um black-box onde os processos não
são vistos e reduzidos ao esquema input-output das máquinas triviais. Controle e
comunicação, em sua relação, só se tornam temas novamente postos em discussão, mesmo
assim marginalmente, com a Cibernética, quando exatamente o homem tem o aparelho ou a
máquina em suas mãos para analisá-lo e controlá-lo, observando nele os fluxos de
comunicação e de controle. Na guerra, mais do que nunca, era preciso dominar os processos
de comunicação e de controle.
Considerações Finais
Como visto, a “‘comunicação’, como uma atividade social, compreende o conjunto de
formas sociais pelas quais as relações sociais são expressas, materializadas e modificadas”; a
“comunicação estabelece a moldura, os limites e as implicações dessas relações sociais, seja
lá uma questão de nações, classes, mercados ou impérios” (DE LA HAYE, 1979, p. 55, grifos
nossos). Essa afirmação complementa, portanto, a noção de comunicação de Luhmann, um
sistema operacionalmente fechado que produz a si mesmo e operador central do sistema
social. A comunicação é uma atividade social que estabelece os próprios limites de tal
144
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atividade.
Para organizar e, ao mesmo tempo, por limites à situação de um todo social complexo
que se produz e reproduz continuamente, a comunicação tem de ser relativa ao controle
social. Controle social e comunicação social são faces de uma mesma moeda, de uma mesma
realidade: a dos sistemas vivos (Estados, indivíduos, empresas, sociedades) que produzem e
se reproduzem para sobreviver à tendência eterna à entropia que foi estabelecida pela segunda
lei da termodinâmica (MORIN, 2011).
O caráter central da reprodução social está no movimento de seus limites e isso só é
possível por meio da realimentação sistêmica (feedback). A informação, epifenômeno do
mundo material, passa por todas as barreiras físicas, como lembra Raffestin: “as barreiras em
volta dela não servem para nada”. E Raffestin lembra Wiener em Cibernética e Sociedade ao
dizer que gozará de maior segurança aquele país em que “a situação da informação e da
ciência for apropriada para satisfazer as eventuais exigências – o país no qual se constatar que
a informação interessa na qualidade de um processo contínuo, pelo qual observamos o mundo
exterior e agimos eficazmente sobre ele” (1993, p. 220).
A informação e sua existência no processo comunicacional dos sistemas sociais
(político e econômico) hoje só revelam a vida dupla da comunicação. Ela organiza o poder
social (política) ao mesmo tempo em que estabelece os limites da produção e reprodução
social sistêmica (economia). É na e pela comunicação que se vive e que se permite viver e
sobreviver. O que nos resta é criticar o processo comunicacional engendrado nesse tipo de
realidade – se compatível com a axiologia democrática preconizada pelos territórios
ocidentais ou se a comunicação é apenas serva de uns poucos. Daí, portanto, a tarefa do
sujeito e do intelectual é buscar e criticar os limites dos usos e alcances da comunicação em
sociedade, principalmente na atual complexidade da sociedade mundial de controle.
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Usos e apropriações de multimídias na educação para a
biodiversidade em escolas de Belém/PA
Mayara Santos Maciel
Bacharel em Comunicação Social com habilitação em jornalismo, formada pela Universidade Federal do Pará -
UFPA (2013). Foi bolsista PCI-DD/MCTI na Coordenação de Comunicação e Extensão do Museu Paraense
Emílio Goeldi (MPEG) no período de outubro de 2014 a setembro de 2015. Atuou no projeto Academia
Amazônia, produtora de audiovisual e cultural da UFPA, no período de 2010 a 2012. Foi bolsista da Assessoria
de Educação a Distância (AEDi) da UFPA entre os anos de 2010 e 2012. No mesmo período desenvolveu
atividades no Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Multimídia da AEDi-UFPA. Atuou na assessoria
de comunicação dos cursos a distância da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa - FADESP, com
início das atividades em 2011. De 2012 a 2013 foi estagiária de jornalismo das Organizações Rômulo Maiorana
- Portal ORM, realizando, principalmente, atividades de apuração e redação jornalística para a web. Tem
experiência e interesse em webjornalismo, assessoria de comunicação e Educomunicação.
Vanja Joice Bispo Santos Mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas. Especialista em Comunicação Cientifica e Tecnológica.
Analista de Ciência e Tecnologia e Chefe do Serviço de Comunicação Social do Museu Paraense Emílio
Goeldi/MCTI.
Lúcia das Graças Santana da Silva
Doutoranda em Museologia na universidade Lusófona em Lisboa, Portugal. Mestre em Teoria Literária pela
UFMG. Chefe do Serviço de Educação do Museu Paraense Emílio Goeldi/MCTI.
Resumo
Esta pesquisa, realizada no âmbito do Programa de Capacitação Institucional através do Museu Paraense Emilio
Goeldi/MCTI, identificou as percepções sobre o conceito de biodiversidade em duas comunidades escolares de Ensino
Fundamental e Médio da cidade de Belém do Pará - Brasil, vinculadas aos sistemas municipal e estadual de ensino, a saber:
Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Professor Eidorfe Moreira e Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Vilhena Alves. Também identificou como as Tecnologias da Informação e da Comunicação e
multimídias atuam como mediadoras dos processos de ensino e aprendizado sobre biodiversidade nestas comunidades.
Como metodologia foi utilizada a pesquisa-ação com observação participante (PERUZZO, 2003) e entrevistas em
profundidade do tipo semi-abertas com questões semi-estruturadas (Duarte, 2009). Concluiu-se que o conceito de
biodiversidade deve ser melhor trabalhado em âmbito escolar, de uma forma estruturada e com o auxílio pedagógico das
TICs, cujo uso educativo deve ser favorecido com melhores investimentos na educação pública, principalmente na formação
e sensibilização de professores para o uso pedagógico das TICs e multimídias.
Palavras-chave
Biodiversidade; Educomunicação; Multimídia; Educação; Comunicação.
Abstract
This research, carried out under the Capacity Institutional program through the Paraense Emilio Goeldi Museum/MCTI,
identified perceptions about the concept of biodiversity in two school communities of elementary and high school in the city
of Belém do Pará - Brazil, linked to municipal systems and state education, namely: Reference Center for Environmental
Education Foundation Teacher Eidorfe Moreira and State Elementary School and Middle Vilhena Alves. Also identified as
the Information and Communication Technologies and multimedia, act as mediators of the processes of teaching and
learning about biodiversity in these communities. The methodology used is action research with participant observation
(PERUZZO, 2003) and in-depth interviews of semi-open type with semi-structured questions (Duarte, 2009). It was
concluded that the concept of biodiversity should be better worked in the school environment, in a structured way and with
the pedagogical assistance of ICTs, whose educational use should be favored with the best investments in public education,
especially in training and teachers' awareness of the pedagogical use ICT and multimedia.
Keywords
Biodiversity; Educomunication; Multimedia; Education; Communication.
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Introdução
Ao longo de quase 150 anos o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) pesquisa
diversos aspectos da biodiversidade brasileira, sobretudo da Amazônia. A experiência e
tradição na construção e compartilhamento de conhecimentos científicos sobre biodiversidade
fez da instituição uma referência no assunto.
Há aproximadamente 5 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi, através da Escola da
Biodiversidade Amazônica (Ebio)1, um dos sub-ptojetos formulados no âmbito do
INCT/Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia2, estuda e experimenta linguagens e
formatos multimidiáticos para a comunicação pública da ciência produzida pela instituição,
através de práticas educomunicativas que buscam formar redes de saberes que valorizem a
sabedoria popular amazônica em diálogo com o conhecimento científico. Para comunicar a
ciência, a Ebio desenvolve produtos adaptados para a web, rádio e mídias locativas como
telefones celulares e tablets. Dentre as ações da Ebio destacam-se o Prêmio José Márcio
Ayres3, a Agência Tubo de Ensaio4, o projeto Viva Amazônia5, e outros.
A experiência da Ebio norteou a elaboração e execução desta pesquisa, executada no
âmbito do Programa de Capacitação Institucional, através do Museu Paraense Emílio
Goeldi/MCTI no período de outubro de 2014 a setembro de 2015. A primeira fase da pesquisa
mapeou práticas de educação e comunicação multimidiáticas em escolas públicas ligadas aos
sistemas municipal e estadual de ensino de Belém e identificou os imaginários dessas
comunidades escolares sobre o tema da biodiversidade e o papel das TICs e multimídias na
construção destes imaginários. Assim, pretendia-se, também, conhecer um dos públicos
prioritários da Ebio, e, portanto, do Museu Goeldi, e analisar como um assunto tão importante
na agenda científica do MPEG, o estudo da biodiversidade, é abordado nas escolas. O Museu
Paraense Emílio Goeldi é uma referência mundial nas pesquisas sobre a diversidade biológica
da Amazônia, e a popularização dessa temática junto ao público escolar é uma meta do
programa institucional Biodiversidade da Amazônia.
O termo biodiversidade ficou conhecido na literatura na década de 1980 e passou a ser
difundido após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a
Rio 92. Apoiada em Primack (1992), Fonseca (2007, p. 65) afirma que, do ponto de vista
biológico, a biodiversidade “refere-se à variedade de formas de vida presente na Terra
(diversidade de espécies), aos genes que as constituem (diversidade genética) e aos
ecossistemas dos quais são parte (diversidade de ecossistemas)”.
Corroborando esta ideia, Wilson (1992 apud CASTRO et al, 2014) afirma que o termo
biodiversidade refere-se à
Variedade de organismos considerada em todos os níveis, desde variações
genéticas pertencentes à mesma espécie até as diversas séries de espécies,
gêneros, famílias e outros níveis taxonômicos superiores. Inclui variedade de
ecossistemas, que abrange tanto as comunidades de organismos em um ou
1A Ebio tem o objetivo de “propor, planejar, experimentar e estudar a organização de processos de aprender-ensinar-comunicar
conhecimentos sobre a biodiversidade amazônica e o uso da terra na Amazônia”. 2 O INCT/Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia é um projeto que foca no desenvolvimento de pesquisas, ações de educação e
comunicação da ciência no Arco do Desmatamento”. Informações retiradas de <http://museu-goeldi.br/inct/>. Acesso em 25/03/2015. 3O PJMA é uma iniciativa do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Conservação Internacional (CI Brasil) com o apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia e da Escola da Biodiversidade Amazônica. O Prêmio tem a proposta
de provocar e estimular entre os estudantes de ensino fundamental e médio a curiosidade em relação aos conhecimentos sobre a
biodiversidade da região amazônica, suas interrelações, seus impactos à sociedade e ao meio ambiente. 4A Agência Tubo de Ensaio – a escola no caminho da ciência, é uma rede colaborativa formada por estudantes do ensino médio, professores,
universitários e profissionais de comunicação para reportar assuntos científicos de forma simples e criativa, a partir dos princípios da
comunicação pública da ciência. 5Concebido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, o Projeto “Viva Amazônia” pretende apresentar ao público informações sobre a Amazônia
em seus diversos aspectos, a partir dos acervos científicos do MPEG, como os biológicos, etnográficos, arqueológicos, fósseis e minerais, de
obras raras, documentais e das coleções vivas de fauna e flora do Parque Zoobotânico.
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mais habitats quanto às condições físicas sob as quais elas vivem (WILSON,
1992, p.412 apud CASTRO et al, 2014, p. 2).
Anos depois, em uma publicação posterior, Wilson (1997) faz uma afirmação
diferenciada. Neste trabalho, dá a seguinte definição para biodiversidade:
Biodiversidade é toda variação em todos os níveis de organização, desde os
genes dentro de uma simples população local ou espécie, até as espécies que
compõem parte de uma comunidade local e, finalmente, as próprias
comunidades que compõem a parte viva dos ecossistemas multifatoriais do
mundo. A chave precisa para a efetiva análise da biodiversidade está em cada
nível de organização que está sendo discutido (WILSON, 1997, p.1 apud
OLIVEIRA; MARANDINO, 2011, p. 56).
O Artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica, do Ministério do Meio
Ambiente, considera que o termo “diversidade biológica” significa a
Variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo,
dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas
aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo
ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas
(___, 2000, p. 9).
A biodiversidade, no entanto, não se resume à terminologia das ciências naturais, ela
também tem caráter social e cultural, visto que é um produto da relação entre a natureza e as
populações humanas. De acordo com Diegues et al (2000), a biodiversidade
É também uma construção cultural e social. As espécies são objetos de
conhecimento, de domesticação e uso, fonte de inspiração para mitos e
rituais das sociedades tradicionais e, finalmente, mercadoria nas sociedades
modernas (DIEGUES et al, 2000, p. 1).
Em âmbito escolar, a questão da biodiversidade é abordada especialmente nas
disciplinas ciências e biologia, e é visualizada também pela perspectiva da educação
ambiental, área interdisciplinar que conflui entre os campos educativo e ambiental.
Inicialmente, a experiência em educação ambiental no Brasil carregou fortes marcas
conservacionistas e naturalistas originadas no campo ambiental, caracterizadas, entre outros
aspectos, pelas práticas de educação realizadas em espaços de conservação e na sustentação
de uma militância política na área (KAWASAKI; CARVALHO, 2009).
No entanto, o conceito de educação ambiental crítica, de acordo com Loureiro (2007),
ultrapassa a tendência comum até os anos 1980, que associa a educação ambiental apenas ao
ensino de temas relacionados à biologia e ecologia e a práticas ecologicamente corretas. Para
o autor, a educação ambiental crítica
Se insere no mesmo bloco ou é vista como sinônimo de outras denominações
que aparecem com frequência em textos e discursos (transformadora,
popular, emancipatória e dialógica), estando muito próxima também de
certas abordagens da denominada ecopedagogia. A sua marca principal está
em afirmar que, por ser uma prática social como tudo aquilo que se refere à
criação humana na história, a educação ambiental necessita vincular os
processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na forma de intervir na
realidade e de existir na natureza. Reconhece, portanto, que nos
relacionamos na natureza por mediações que são sociais, ou seja, por meio
de dimensões que criamos na própria dinâmica de nossa espécie e que nos
formam ao longo da vida (cultura, educação, classe social, instituições,
família, gênero, etnia, nacionalidade etc.). Somos sínteses singulares de
relações, unidade complexa que envolve estrutura biológica, criação
simbólica e ação transformadora da natureza (LOUREIRO, 2007, p. 66).
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Apesar das diversas compreensões sobre a biodiversidade apontadas pelos autores, que
estão nos níveis da variedade genética, de espécies, de ecossistemas e das relações sociais e
culturais, a abordagem do tema nas escolas de Ensino Médio de Belém (PA) necessita de
maior exploração tanto por parte dos professores quanto dos alunos, já que um estudo
realizado por Fonseca (2007) mostra que maior parte dos docentes entrevistados em sua
pesquisa têm apenas informações básicas sobre os conceitos apresentados, sem
aprofundamento teórico. A afirmação é comprovada pela pesquisadora quando aponta que 17
dos 24 professores consultados entendem a biodiversidade em seu conceito de nível básico de
compreensão (variação do número de espécies existentes) e essa compreensão também é
dirigida a seus alunos por meio de livros didáticos. Dos 503 alunos ouvidos na pesquisa e que
afirmaram conhecer o termo biodiversidade, 352 (69,9%) apresentam construções centradas
em apenas um nível de compreensão, o mesmo que os professores.
Dessa forma, acreditamos que uma das possibilidades para favorecer uma discussão
mais ampla sobre os conceitos de biodiversidade nas salas de aula, visualizada não só pelo
viés biológico, mas alcançando também as questões sociais, econômicas, culturais e as
relações entre homem e natureza, especialmente na Amazônia, é a utilização de Tecnologias
da Informação e Comunicação como mediadoras dos processos educativos, componentes
pedagógicos dentro e fora dos ambientes escolares, desde que não funcionem como simples
aparatos de reprodução de conteúdo, mas como instrumentos importantes no processo de
autonomia da educação (FREIRE, 1983) e na busca por uma educação sensória e integrada
(MORAN, 1994).
Martín-Barbero afirma que o público em idade escolar, prioritariamente jovem, tem
intimidade com o uso das TICs e das multimídias.
Eles têm maior empatia cognitiva e expressiva com as tecnologias e com
novos modos de perceber o espaço e o tempo, a velocidade e a lentidão, o
próximo e o distante. Trata-se de uma experiência cultural nova, ou como
chama Walter Benjamin, um sensorium novo. Novos modos de perceber e de
sentir; uma sensibilidade que, em muitos aspectos, se choca e rompe com o
sensorium dos adultos (MARTÍN-BARBERO, 2000, p. 54).
A atual Pesquisa Brasileira de Mídia mostra que 42% dos brasileiros apontam a internet
como meio de comunicação mais utilizado. 65% dos jovens brasileiros até 25 anos acessam a
internet todos os dias. Quando se trata de mídias sociais, os índices aumentam: 92% dos
usuários de internet estão conectados na rede por meio de mídias sociais. Destes, o Facebook
é a mídia social mais utilizada, com 83% das respostas, seguido do WhatsApp (58%) e do
YouTube (17%).
Estes dados demonstram a presença cada vez mais constante de hipermídias6 e
multimídias na vida dos brasileiros, especialmente dos jovens. O filósofo francês Pierre Levy
(1999) definiu o termo multimídia como
Aquilo que emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação.
[...] Hoje, a palavra refere-se, geralmente, a duas tendências principais dos
sistemas de comunicação contemporâneos: a multimodalidade e a integração
digital (LEVY, 1999, p. 58).
Soares (2000) arriscou a previsão de que na metade da primeira década dos anos dois
mil, aproximadamente 60% do ensino do país estaria sendo ministrado fora dos ambientes
tradicionais de educação, ou seja, inteiramente através do ciberespaço7. De maneira geral, as
tecnologias são mediações que permeiam o cotidiano dos brasileiros, assim como as
6 Hipermídia é uma "expressão não linear da linguagem, que atua de forma multimidiática" (BAIRON, 2011, p. 7 apud MELLO;
ASSUMPÇÃO, 2012, p. 1). 7De acordo com Pierre Levy, o ciberespaço é um meio de comunicação oriundo da interconexão mundial de computadores. Não se refere
unicamente a infraestrutura material da comunicação digital, mas também ao universo de informações que esta engloba, bem como as
pessoas que nutrem e estão presentes neste universo. (LEVY, 1999, p. 14).
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hipermídias.
A incorporação destas tecnologias na educação pode ser a chave para o envolvimento e
protagonismo das juventudes em seus próprios processos de aprendizado. Adilson Citelli
(2000) afirma que a escola vem reconfigurando suas práticas a partir das mudanças que
surgem na contemporaneidade.
A escola está sendo pensada, assim, como espaço mediativo cada vez mais
cruzado pelas novas linguagens e pelas transformações científicas,
tecnológicas, culturais e de comportamentos que marcam o mundo
contemporâneo (CITELLI, 2000, p.83).
Tendo isso em vista e incrementando as pesquisas e experimentações que o Museu
Paraense Emílio Goeldi desenvolve desde 2010 sobre comunicação e educação no âmbito da
Escola da Biodiversidade Amazônica e do Prêmio José Márcio Ayres, mapeamos neste estudo
práticas de educação e comunicação multimidiáticas em algumas escolas municipais e
estaduais de Ensino Fundamental e Médio de Belém (PA) para percebermos como constroem
suas percepções de ensino e aprendizado sobre a biodiversidade amazônica utilizando as TICs
como mediadoras do processo de ensino e aprendizagem.
Objetivos
Esta pesquisa teve o objetivo de mapear práticas de educação e comunicação
multimidiáticas em algumas escolas municipais e estaduais de Ensino Fundamental e Médio
de Belém (PA) e saber como constroem suas percepções de ensino e aprendizado sobre
biodiversidade. Também foram objetivos desta pesquisa realizar um levantamento das escolas
de Ensino Fundamental e Médio da cidade de Belém (Pará – Brasil) que têm afinidade com o
uso das TICs e plataformas multimídia; e investigar de que forma as TICs são utilizadas como
colaboradoras no processo de ensino e aprendizado sobre a biodiversidade nas escolas
selecionadas na pesquisa.
Percurso metodológico
Como metodologia de pesquisa, utilizamos a pesquisa-ação com observação
participante. De acordo com Cicília Peruzzo (2003, p. 2) este método teve forte presença nos
estudos de comunicação no Brasil nos idos de 1980 e 1990, e “consiste na inserção do
pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação
investigada”.
A pesquisa-ação precede da presença do observador no ambiente investigado,
analisando de forma dinâmica os problemas manifestados, para tomar decisões e executar
ações a partir deles, compartilhando das atividades e do contexto do grupo pesquisado para a
proposição de uma ação planejada, de caráter social/educacional/técnico.
De acordo com Peruzzo (2003, p. 13), contextualizada no campo da Comunicação, a
observação participante “objetiva observar como se processa a recepção das mensagens dos
mass media, como elas são entendidas, decodificadas e reelaboradas. Pode também ter a
finalidade de observar os processos comunicativos interpessoais, grupais ou comunitários,
envolvendo os mass media ou outros processos de comunicação como os grupais e meios
alternativos de comunicação”.
O trabalho de pesquisa foi complementado pela aplicação entrevistas em profundidade
do tipo semi-abertas com questões semi-estruturadas, que “conjuga a flexibilidade da questão
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não estruturada com um roteiro de controle” (DUARTE, 2009, p. 66).
Durante o período da pesquisa foram coletados e analisados depoimentos de
professores, gestores e alunos de duas escolas vinculadas aos sistemas públicos de ensino
Municipal e Estadual. Um levantamento elaborado durante a pesquisa identificou 129 escolas
estaduais e 55 municipais que possuem afinidade com o uso das Tecnologias da Informação e
da Comunicação, satisfazendo um dos objetivos da pesquisa. Este levantamento foi realizado
com o suporte do Núcleo de Tecnologia Educacional Professor Washington Luís Barbosa
Lopes (NTE-Belém)8 e do Núcleo de Informática Educativa9.
Dentre as instituições de ensino inventariadas, selecionamos uma escola do sistema
municipal e uma do sistema estadual de ensino para compor o corpus de análise da pesquisa, a
saber: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Vilhena Alves e Fundação Centro de
Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (Funbosque). A
seleção das escolas que formaram o corpus de análise da pesquisa foi motivada pela presença
das TICs, pela relação pré-estabelecida com o Museu Goeldi e pela atuação pedagógica
voltada à educação ambiental.
A escolha da E.E.E.F.M Vilhena Alves é justificada pela relação que a escola mantém
com o Museu Goeldi através da participação de alunos na 5ª edição do Prêmio José Márcio
Ayres para Jovens Naturalistas (PJMA) e outras atividades educativas. Já a escolha da
Funbosque foi motivada principalmente pela valorização da educação ambiental em seu
Projeto Político Pedagógico, sendo esta a prática norteadora de suas ações.
Através da metodologia da pesquisa ação (PERUZZO, 2003) e da aplicação de
entrevistas em profundidade do tipo semi-abertas com questões semi-estruturadas, coletamos
depoimentos de 10 alunos na faixa etária de 13 a 20 anos, cursando o 8º ano do Ensino
Fundamental e o 2º ano do Ensino Médio nessas escolas, por considerar que são etapas de
ensino intermediárias onde os estudantes estão em pleno processo de formação de suas
percepções sobre biodiversidade. Destes, 6 discentes entrevistados fazem parte do corpo de
alunos da Funbosque e 4 da E.E.E.F.M Vilhena Alves. Entrevistamos 3 professores das
disciplinas biologia e ciências, sendo 2 da Funbosque e 1 da E.E.E.F.M Vilhena Alves; além
de 2 gestores, sendo 1 representante da coordenação pedagógica da Funbosque e 1 da vice-
direção da Escola Vilhena Alves.
As entrevistas na Escola Bosque foram realizadas no dia 22 de abril de 2015, já na
E.E.E.F.M Vilhena Alves foram feitas em 14 de abril e 25 de setembro de 2015. As entrevistas
foram gravadas em aparelho celular Samsung, transcritas, lidas, analisadas e selecionadas em
alguns trechos com informações sobre as percepções de ensino da biodiversidade e o papel
das TICs neste processo em ambiente escolar.
Como parâmetro de análise sobre os conceitos de biodiversidade, utilizamos os autores
que compõem a base de referência desta pesquisa: Wilson (1992, apud CASTRO et al, 2014),
Wilson (1997, apud OLIVEIRA; MARANDINO, 2011), Primack (1992 apud FONSECA,
2007) e Convenção sobre Diversidade Biológica (2000). Também utilizamos como parâmetro
para análise das respostas obtidas, o conceito atribuído por Diegues (2000), que assume um
espectro mais amplo para o termo, tomando a biodiversidade como uma construção social.
Para analisar as respostas obtidas a respeito do uso pedagógico das TICs e multimídias
na educação, utilizamos autores como Soares (2011), Citelli (2000), Martín-Barbero (2000),
Moran (1994, 2015), Freire (1983), a Pesquisa Brasileira de Mídia (2015) e outros.
8 O NTE-Belém é vinculado à Coordenação de Tecnologia Aplicada à Educação, da Secretaria Estadual de Educação. Em todo o Brasil, os
Núcleos atuam como multiplicadores do PROINFO, prestando assessoria e formação de professores sobre o uso das TICs na escola e
disseminando os princípios da educomunicação. 9 Órgão da Secretaria Municipal de Educação que oferece formação em informática educativa a professores do sistema público de ensino.
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Principais resultados
Entre os resultados da pesquisa sobre as percepções das comunidades escolares a
respeito do conceito de biodiversidade, concluímos que os alunos das duas escolas
investigadas não possuem um conhecimento sistematizado sobre o conceito de biodiversidade
e não o definem de forma hierárquica, nos níveis da variedade de genética, variedade de
espécies e variedade de ecossistemas, de acordo com a literatura utilizada nesta pesquisa. A
maioria dos alunos utilizou a variável “diversidade de vidas” em suas respostas, o que
consideramos aproximar-se do nível de variedade de espécies atribuído pelos autores base de
nossas referências sobre biodiversidade, como Wilson (1992, apud CASTRO et al, 2014),
Wilson (1997, apud OLIVEIRA; MARANDINO, 2011), Primack (1992 apud FONSECA,
2007) e Convenção sobre Diversidade Biológica (2000). Além disso, os discursos dos alunos
relacionavam a biodiversidade aos aspectos da natureza e a interação do homem nestes
espaços naturais, o que consideramos aproximar-se do conceito atribuído por Diegues et al
(2000), que define a biodiversidade também como construção social e cultural.
A relação estabelecida entre homem e natureza fica mais evidente nos discursos dos
alunos quando perguntados sobre a importância que eles atribuem à biodiversidade.
Pra mim é uma importância grande porque a gente estuda a vida dos seres,
mas é só estudar? Não! O que eles têm a ver com a gente? Tipo, um
exemplo, eu vou estudar sobre uma preguiça, mas eu só vou estudar sobre
ela, e o que ela vai trazer pra mim depois? Então pra mim não é só estudar os
seres, mas estudar a vida deles com a nossa, entendeu? É juntar eles com a
gente porque as mesmas coisas que eles sentem a gente sente também, tipo,
não é só estudar eles, mas sim ver como é a adaptação (Aluno 4 – 2º ano do
Ensino Médio - Funbosque, 2015).
Notamos que as respostas dos alunos aproximam-se não só do conceito de
biodiversidade como construção social e cultural, mas aproximam-se, também, do conceito de
educação ambiental crítica, apontado por Loureiro (2007), que interliga os processos sociais
aos processos ecológicos, já que, segundo o autor, é através das mediações sociais que nos
relacionamos com a natureza. Para o autor, a principal marca da educação ambiental crítica
Está em afirmar que, por ser uma prática social como tudo aquilo que se
refere à criação humana na história, a educação ambiental necessita vincular
os processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na forma de intervir
na realidade e de existir na natureza. Reconhece, portanto, que nos
relacionamos na natureza por mediações que são sociais [...] (LOUREIRO,
2007, p. 66).
Entre os entrevistados nas duas escolas, apenas um relacionou biodiversidade ao nível
da variedade genética e ao conceito social de raça.
Percebemos, entre os alunos do Ensino Fundamental das duas escolas, uma diferença de
compreensões sobre os conceitos de biodiversidade. Os discentes do 8º ano do Ensino
Fundamental entrevistados na Escola Vilhena Alves não conhecem o termo biodiversidade,
por isso não conseguiram definir seus entendimentos sobre o tema e nem responder às demais
questões relacionadas no questionário de entrevista. Já os alunos da mesma etapa de ensino da
Funbosque (8º ano) conheciam o termo e relacionaram suas compreensões à diversidade de
vida. Ambas as escolas oferecem em sua grade curricular a disciplina “ciências”, matéria que
relaciona conteúdos afins.
Esta diferença pode estar atrelada à política de ensino da Escola Bosque, pautada na
educação ambiental. A escola está inserida em um ambiente favorável ao ensino da
biodiversidade, permitindo interação entre os alunos e demais elementos da natureza, por
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estar situada em uma área de mata e preservação ambiental.
Sobre a percepção dos professores de ciências e biologia das duas escolas
investigadas a respeito da biodiversidade, concluímos que a definição deles está baseada na
diferença de espécies existentes em uma determinada área, na grandeza do que seria a
diversidade de vida, na diversidade da natureza e na sua conservação.
Percebemos nos discursos diferenças de abordagens. Enquanto um dos professores foi
mais específico e relacionou biodiversidade a um dos níveis presente nos conceitos vistos na
bibliografia desta pesquisa (nível da diversidade de espécies), os outros professores
entrevistados utilizaram conceitos mais gerais.
Quanto ao uso das TICs e multimídias para o ensino da biodiversidade na
Funbosque, a coordenação pedagógica afirmou que os alunos são estimulados ao uso
educativo, porém, tanto alunos quanto professores afirmam que os recursos didático-
tecnológicos disponíveis (como computadores) são insuficientes para atender a demanda da
escola.
Na Escola Vilhena Alves, a vice-direção mencionou o uso das mídias sociais e o
planejamento para a implementação de produtos de comunicação com finalidade educativa, a
exemplo de um blog e de um jornal escolar. Professores e alunos da E.E.E.F.M. Vilhena Alves
também afirmam que os recursos didático-tecnológicos são insuficientes e que o uso em sala
de aula não é frequente.
Dessa forma, podemos dizer que ambas as escolas possuem TICs com usos voltados ao
ensino da biodiversidade, mas são recursos limitados.
Quanto ao estímulo ao uso das TICs no ensino da biodiversidade, de maneira geral
podemos dizer que os professores da Funbosque estimulam o uso em medidas diferenciadas.
A frequência e a forma de uso das TICs nesta escola dependem da afinidade e identificação do
professor com as ferramentas. Porém, este uso é dificultado pela insuficiência da estrutura de
ensino.
Notamos que um dos professores da Funbosque divide suas aulas em momentos
distintos: as aulas teóricas em sala de aula, onde é sugerido que celulares e demais
ferramentas tecnológicas e multimidiáticas não sejam utilizados, e os momentos extraclasse,
que seriam na sala de informática e no auditório, locais onde é permitido o uso de tecnologias
como datashows e a linguagem audiovisual para ensinar. Por outro lado, o outro professor
entrevistado na Funbosque tenta utilizar este tipo de recurso com mais frequência.
Eu faço o máximo que eu posso pra fazer com que os alunos tenham uma
interação melhor com outras mídias, além de ficar só olhando pro quadro e
fazendo trabalho etc (Professor 1 - Funbosque, 2015).
Podemos dizer que a afinidade que o Professor 1 tem em relação ao uso de diferentes
mídias e linguagens em sala, corresponde à sua formação. Este professor realizou trabalho de
conclusão de curso de licenciatura em jogos eletrônicos e ainda pesquisa o assunto.
Enquanto um dos professores utiliza as multimídias e as TICs de forma pedagógica para
envolver seus alunos em suas aulas, o outro professor entrevistado na Funbosque evita utilizá-
las para que não tirem a atenção dos discentes, e em consequência, atrapalhem o momento da
aula dento da sala.
Eu vou te ser sincera, é um pouquinho complicado trabalhar com alguns
tipos, exemplo, celular dentro de sala de aula, acaba atrapalhando, tirando a
concentração do aluno porque muitas das vezes a gente está falando e ele
está ali no Facebook, então a gente tem que saber lidar com os meios
tecnológicos porque eu acho que tem momento pra tudo, né? [...] Geralmente
eu trabalho com a parte teórica, e quando não estou em sala eu estou no
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auditório preparando um vídeo pra eles [...] só que o laboratório de
informática não atende todos os alunos [...] (Professor 2 – Funbosque, 2015).
José Manuel Moran (1994) atribui tal fato ao receio que educadores sustentam em
relação aos meios.
Diante da fascinação que exercem os meios e da sua aparente transparência,
muitos educadores e intelectuais sentem verdadeiro horror e os criticam de
forma radical, por isso apoiam qualquer curso ou palestra que denuncie os
meios, que aponte seus desmandos, exageros, mecanismos de dominação.
Procuram os cursos de leitura crítica, mas não chegam desarmados; trazem
uma carga de preconceitos, de leituras, que esperam ver confirmados
(MORAN, 1994, p. 46).
Martín-Barbero (2000) afirma que os jovens têm mais empatia cognitiva e expressiva
com as tecnologias, por isso o estímulo do uso dessas ferramentas de forma educativa e
criativa pode ser um importante aliado na otimização do ensino e do aprendizado.
Já na E.E.E.F.M Vilhena Alves, o professor entrevistado afirmou estimular a o uso
pedagógico das TICs e de multimídias, mas esbarra nos problemas de estrutura para o uso das
ferramentas na escola.
O professor entrevistado na E.E.E.F.M. Vilhena Alves afirmou que as informações
fornecidas pelo celular, através da internet, não trazem “grande proveito” e que os jovens não
estariam interessados em pesquisa, pois o ensino não é prazeroso.
Eu queria era incentivar a pesquisa com eles, é essa e sempre foi a minha
intenção, tentar fazer com que eles pensem porque hoje a maioria dos jovens
é imbecil, eles têm muita informação mas não sabem nada, porque o celular
te dá tudo quebrado, nenhuma informação que possa trazer grande proveito.
Ele sabe tudo, na sala de aula de vez em quando aparece um achando que
sabe alguma coisa, mas ele só sabe aquele tópico que apareceu lá, aquela
informação quebrada ali. Genética, por exemplo, “ah, é isso? É e tal”. A
minha intenção, eu queria isso, mas eles também não estão interessados, eles
estão interessados em outra coisa. Estão interessados em celular, estão
interessados em festa, reuniões, acho que bebidas, drogas, porque tu sabes
que o ensino não é prazeroso, eles não têm prazer. Alguns te escutam, mas...
(Professor 1, E.E.E.F.M Vilhena Alves, 2015).
Para que o ensino seja prazeroso, é necessário que professores, alunos, gestão,
comunidade e principalmente os gestores da educação no país estejam interessados e
envolvidos na construção de projetos de educação mais integrados, que não se apoiem em
subdivisões de disciplinas, mas que que integrem corpo e mente, unam os saberes, a razão, as
emoções e sensações. A educação formal bancária considera pedagógico apenas o
conhecimento sistematizado, que destaca a lógica matemática e a escrita e deixa às margens
do fazer educativo o conhecimento abstrato e intuitivo. De acordo com Manuel Moran (2013),
aprendemos de diversas formas, inclusive pelo prazer.
[...] Aprendemos pela credibilidade que alguém nos merece. A mesma
mensagem dita por uma pessoa ou por outra pode ter pesos bem diferentes,
dependendo de quem fala e de como o faz. Aprendemos também pelo
estímulo, pela motivação de alguém que nos mostra que vale a pena investir
num determinado programa, num determinado curso. Um professor que
transmite credibilidade facilita a comunicação com os alunos e a disposição
para aprender. Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de
uma mídia, de uma pessoa. O jogo, o ambiente agradável, o estímulo
positivo podem facilitar a aprendizagem (MORAN, 2013, p. 27-29).
Professores da Funbosque e da Escola Vilhena Alves apontaram o uso do celular em
sala de aula como um “empecilho” para a aprendizagem, visto que esta ferramenta tiraria a
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atenção dos alunos ou ofereceriam informações “quebradas”.
Apenas um professor da Funbosque afirmou usar o celular de forma pedagógica durante
suas aulas e ainda disse conseguir maior transdisciplinaridade no ensino utilizando meios
tecnológicos.
Esta discordância nos discursos nos leva a crer que o problema não estaria impresso no
uso das TICs e multimídias na sala de aula, mas sim na forma como elas são utilizadas.
Enquanto um professor acredita que essas ferramentas são aliadas da educação, outros
acreditam que tiram a atenção. Dessa forma, acreditamos que a formação e a sensibilização do
professor para o uso pedagógico e educativo das TICs em sala de aula (virtual, presencial ou
externa) conformaria uma estratégia para que o ensino da biodiversidade seja mais prazeroso
e engaje os educandos de forma integral em seus processos de construção de conhecimento,
dando a eles oportunidades de expressão, baseada em uma pedagogia educativa dialógica.
No discurso do professor entrevistado na E.E.E.F.M Vilhena Alves, notamos que os
alunos foram rotulados como imbecis, pois “eles têm muita informação mas não sabem nada”.
A estrutura da educação bancária sugere uma dicotomia entre homem e mundo, e prega o
homem como espectador e não recriador e transformador do mundo (Freire, 1983). A visão
bancária da educação dá ao educador uma postura de opressor, detentor de conhecimento a ser
transmitido aos educandos, seres que, de acordo com esta concepção, são incapazes de pensar
o mundo de forma crítica e apenas recebem, de forma passiva, informações processadas por
educadores bancários. Para Paulo Freire (1983),
A concepção e a prática da educação que vimos criticando se instauram
como eficientes instrumentos para este fim. Dai que um dos seus objetivos
fundamentais, mesmo que dele não estejam advertidos muitos do que a
realizam, seja dificultar, em tudo, o pensar autêntico, Nas aulas verbalistas,
nos métodos de avaliação dos “conhecimentos’, no chamado “controle de
leitura”, na distância entre o educador e os educandos, nos critérios de
promoção, na indicação bibliográfica, em tudo, há sempre a conotação
“digestiva” e a proibição ao pensar verdadeiro (FREIRE, 1983, p. 73).
Para o autor é necessário superar esta dicotomia e a verticalidade que afasta o educando
do educador e, em seu lugar, pôr em prática uma educação baseada no diálogo, que respeite os
educandos como pessoas autônomas, capazes de pensar e recriar o mundo e suas realidades, e
formar da mesma forma que é formado.
Em verdade, não seria possível à educação problematizadora, que rompe
com os esquemas verticais característicos da educação bancária, realizar-se
como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os
educandos. Como também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo.
É através deste que se opera a superação de que resulta um termo novo: não
mais educador do educando, não mais educando do educador, mas educador-
educando com educando-educador.
Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto
educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também
educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos
e em que os “argumentos de autoridade” já não valem. Em que, para ser-se,
funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e
não contra elas.
Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.
Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na pratica “bancária”, são
possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos
passivos (FREIRE, 1983, p. 78-79).
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Reforçando a ideia de Freire (1983), a educomunicação propõe a construção de
ecossistemas comunicativos em ambientes educativos. Os ecossistemas comunicativos são
ideais de relações construídos em um espaço geralmente escolar para favorecer o diálogo e o
convívio social, tendo como metodologia a troca de ideias, considerando o uso das
tecnologias pra potencializar essa relação. Este diálogo tem que ser construído de forma
coletiva, de maneira a congregar os personagens da educação e as TICs. Estes espaços, então,
devem ser abertos, democráticos e participativos, garantindo que os sujeitos sociais
envolvidos tenham possibilidade de se expressar de forma igualitária (Soares, 2011).
A dificuldade que os alunos das escolas investigadas apresentaram na definição do
conceito de biodiversidade de acordo com a literatura utilizada como referência na pesquisa
pode estar relacionada à forma como o ensino é realizado.
Considerações Finais
De maneira geral, acreditamos que o conceito de biodiversidade deve ser melhor
trabalhado em âmbito escolar, de uma forma estruturada e com o auxílio das Tecnologias da
Informação e da Comunicação, que, em certa medida, são utilizadas nestas comunidades
escolares investigadas para favorecer o ensino da biodiversidade e demais temas, no entanto,
este uso é prejudicado pela ausência de estrutura adequada nas duas escolas investigadas, que
não atendem às demandas das comunidades escolares de forma plena, por isso acreditamos
que o uso integral dessas tecnologias seria favorecido com melhores investimentos na
educação pública, principalmente no que diz respeito à formação e sensibilização de
professores para o uso pedagógico das TICs e multimídias e ao estímulo à experimentação de
novas linguagens no ensino da biodiversidade e demais temas.
Como projetos futuros, propomos a sensibilização e a formação dos professores das
escolas investigadas para o uso pedagógico e educativo das Tecnologias da Informação e da
Comunicação, bem como de multimídias para dinamizar o ensino e o aprendizado sobre a
biodiversidade e outros temas.
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