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2º Trimestre de 2015 JESUS, O HOMEM PERFEITO o Evangelho de Lucas, o médico amado Portal Escola Dominical www.portalebd.org.br Ajude a manter este trabalho Deposite qualquer valor em nome de: Associação para promoção do Ensino Bíblico Banco do Brasil Ag. 0300-X C/c 35.720-0 PORTAL ESCOLA DOMINICAL 2º Trimestre de 2015 - CPAD JESUS, O HOMEM PERFEITO o Evangelho de Lucas, o médico amado Comentários da revista da CPAD: José Gonçalves A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE Damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical e, desta feita, teremos um trimestre “bíblico”, como denominamos o trimestre em que estudamos um livro da Bíblia Sagrada. A Casa Publicadora das Assembleias de Deus, neste novo currículo, convida- nos a estudar, no segundo trimestre de 2015, o Evangelho segundo Lucas, o terceiro evangelho sinótico, ou seja, o terceiro evangelho em que há uma “sinopse”, um resumo da vida e do ministério de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. É interessante notarmos o que significa a palavra “evangelho”. Esta palavra vem do grego “evangelion” (εύαγγέλιοον), cujo significado é de “boas novas”, “boas notícias”. Como ensina Marcos Calado em sua obra “O Evangelho desfigurado”, “…O termo grego (ΕΎΑΓΓΈΛΙΑ) , cujo significado é notícias de boas novas, tem origem no cenário pagão da antiga Roma. (…)em que “Boas Novas” serviam para o anúncio dos supostos feitos de imperadores que se apresentavam como milagreiros e eram anunciados como figuras messiânicas vindas do Oriente…” (O Evangelho desfigurado. Cópia encaminhada para revisão, pp.7-8). Assim, a ideia de “evangelho” era a de notícias que, de alguma forma, representavam a vinda da divindade em prol do ser humano, em seu socorro, em seu auxílio. Marcos, aquele que, ainda muito jovem, pôde acompanhar o ministério de Cristo Jesus (Mc.14:51,52) e que foi auxiliar tanto do apóstolo Pedro (II Pe.1:13) quanto do apóstolo Paulo (II Tm.4:11), foi quem denominou a narrativa da vida e ministério de Jesus como sendo “evangelho” (Mc.1:1), denominação que acabou designando todos os outros três livros que se ocuparam deste mesmo objetivo, livros estes escritos por Mateus, Lucas e João. A designação dada por Marcos não foi aleatória, mas decorre da própria nomenclatura adotada pelo Senhor Jesus, que disse ser Sua mensagem o “evangelho do reino de Deus”, como vemos em Mt.11:5; 24:14; Mc.1:15; 8:35; 10:29; 13:10; 14:9; 16:15; Lc.4:43; 7:22. Portanto, quando Marcos denominou de “evangelho” a narrativa do ministério de Jesus estava apenas autenticando uma designação que era do próprio Jesus. Sem dúvida, a mensagem trazida pelo Senhor Jesus era um “evangelho”, no sentido compreendido então pelo mundo greco-romano, pois se tratava de uma “boa notícia” vinda da parte de Deus para a humanidade, qual seja, a de que chegara o tempo da salvação da humanidade, que se cumprira a promessa messiânica, devendo tão somente o homem se arrepender de seus pecados e crer nesta mensagem para retornar à comunhão com Deus. Como diz Marcos Calado: “…Sob o prisma do cristianismo, o termo εύαγγέλια: “notícias de boas novas”, distancia-se consideravelmente da concepção pagã, pois apresenta um sentido sobrenatural que representa muito mais do que ‘notícias de boas novas, assumindo o caráter de εὐαγγέλιον τοῦ θεοῦ, “Evangelho de Deus”. Por isso, εὐαγγέλιον muito mais do que uma ‘boa notícia’; é comunicação atuante da salvação, um evento que gera a manifestação da fé, produção de Deus, a qual, pelo poder do Espírito Santo, visa à salvação do homem.…” (op.cit., p.8).

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Complemento para aula da EBD

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    PORTAL ESCOLA DOMINICAL 2 Trimestre de 2015 - CPAD

    JESUS, O HOMEM PERFEITO o Evangelho de Lucas, o mdico amado Comentrios da revista da CPAD: Jos Gonalves

    A) INTRODUO AO TRIMESTRE

    Damos incio a mais um trimestre letivo da Escola Bblica Dominical e, desta

    feita, teremos um trimestre bblico, como denominamos o trimestre em que estudamos um livro da Bblia Sagrada.

    A Casa Publicadora das Assembleias de Deus, neste novo currculo, convida-

    nos a estudar, no segundo trimestre de 2015, o Evangelho segundo Lucas, o terceiro evangelho

    sintico, ou seja, o terceiro evangelho em que h uma sinopse, um resumo da vida e do ministrio de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

    interessante notarmos o que significa a palavra evangelho. Esta palavra vem do grego evangelion (), cujo significado de boas novas, boas notcias. Como ensina Marcos Calado em sua obra O Evangelho desfigurado, O termo grego () , cujo significado notcias de boas novas, tem origem no cenrio pago da antiga Roma. ()em que Boas Novas serviam para o anncio dos supostos feitos de imperadores que se apresentavam como milagreiros e eram anunciados como figuras messinicas vindas do Oriente (O Evangelho desfigurado. Cpia encaminhada para reviso, pp.7-8).

    Assim, a ideia de evangelho era a de notcias que, de alguma forma,

    representavam a vinda da divindade em prol do ser humano, em seu socorro, em seu auxlio.

    Marcos, aquele que, ainda muito jovem, pde acompanhar o ministrio de

    Cristo Jesus (Mc.14:51,52) e que foi auxiliar tanto do apstolo Pedro (II Pe.1:13) quanto do apstolo Paulo

    (II Tm.4:11), foi quem denominou a narrativa da vida e ministrio de Jesus como sendo evangelho (Mc.1:1), denominao que acabou designando todos os outros trs livros que se ocuparam deste mesmo

    objetivo, livros estes escritos por Mateus, Lucas e Joo.

    A designao dada por Marcos no foi aleatria, mas decorre da prpria

    nomenclatura adotada pelo Senhor Jesus, que disse ser Sua mensagem o evangelho do reino de Deus, como vemos em Mt.11:5; 24:14; Mc.1:15; 8:35; 10:29; 13:10; 14:9; 16:15; Lc.4:43; 7:22. Portanto, quando

    Marcos denominou de evangelho a narrativa do ministrio de Jesus estava apenas autenticando uma designao que era do prprio Jesus.

    Sem dvida, a mensagem trazida pelo Senhor Jesus era um evangelho, no sentido compreendido ento pelo mundo greco-romano, pois se tratava de uma boa notcia vinda da parte de Deus para a humanidade, qual seja, a de que chegara o tempo da salvao da humanidade, que se

    cumprira a promessa messinica, devendo to somente o homem se arrepender de seus pecados e crer nesta

    mensagem para retornar comunho com Deus.

    Como diz Marcos Calado: Sob o prisma do cristianismo, o termo : notcias de boas novas, distancia-se consideravelmente da concepo pag, pois apresenta um sentido sobrenatural que representa muito mais do que notcias de boas novas, assumindo o carter de , Evangelho de Deus. Por isso, muito mais do que uma boa notcia; comunicao atuante da salvao, um evento que gera a manifestao da f, produo de Deus, a qual, pelo

    poder do Esprito Santo, visa salvao do homem. (op.cit., p.8).

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    Estas boas novas foram reduzidas a escrito, por inspirao do Esprito Santo, em quatro obras, que trazem a lei do reino de Deus, que nos indicam como o Senhor Jesus viveu sobre a face da Terra, a fim de que cada homem possa, seguindo o Seu exemplo (I Pe.2:21) e aprendendo dEle (Mt.11:28-30), alcanar a salvao mediante a f nEle, pois o Seu mandamento precisamente o de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (Jo.15:12).

    Portanto, assim como no Antigo Testamento, a revelao divina se iniciou com

    a lei (a Tor, os cinco primeiros livros de Moiss), o Novo Testamento tambm se inicia com a lei do reino de Deus, a lei do Messias, que a Sua prpria vida, narrada pelos quatro evangelistas.

    A existncia de quatro evangelhos j era prefigurada na antiga aliana,

    como vemos no vu do tabernculo, vu este que possua quatro componentes: azul, prpura, carmesim e

    linho fino, vu este que seria posto sobre quatro colunas de madeira de cetim, cobertas de ouro, cujos

    colchetes seriam de ouro, sobre quatro bases de prata (Ex.26:31,32).

    Alm da figura representada pelo tabernculo, tambm vemos na viso dos

    querubins dada ao profeta Ezequiel, tambm a prefigurao dos quatro evangelhos, pois cada querubim,

    ser celestial que est diante do trono e que contempla a glria de Deus, tem quatro rostos, um rosto de

    homem, um rosto de leo, um rosto de boi e um rosto de guia (Ez.1:6,10).

    O Senhor Jesus, ento, seria descrito sob quatro aspectos, para que, atravs de

    cada aspecto, pudssemos dEle aprender e seguir as Suas pisadas, tornando a cada um de ns instrumento pelo qual a glria de Deus pudesse ser mostrada a toda a humanidade (Mt.5:16).

    Alm do mais, a pluralidade dos relatos narrativos a respeito da vida e

    ministrio de Cristo Jesus teria o condo de confirmar a veracidade da narrativa, pois, como j

    indicava a lei mosaica, o testemunho de dois ou trs verdadeiro (Dt.17:6; 19:15; Mt.18:16; II Co.13:1;

    Hb.12:8). Assim, trs dos quatro evangelhos apresentam uma sinopse da vida e do ministrio de Cristo

    Jesus, enquanto que o quarto evangelho, o de Joo, apresenta sinais e discursos do Cristo que provam ser Ele

    o Filho de Deus, complementando, assim, com sobra, a veracidade deste ministrio, a verdade deste

    Evangelho.

    Estaremos a estudar um destes evangelhos, o terceiro evangelho sintico,

    escrito por Lucas, que no se identifica explicitamente como autor deste evangelho, mas cuja autoria

    demonstrada por inferncias, como havemos de ver na lio 1.

    O Evangelho segundo Lucas o mais pormenorizado de todos os evangelhos sinticos, elaborado segundo o que hoje denominamos de mtodo cientfico, o que no de admirar, j que Lucas era mdico (Cl.4:14) e, portanto, um cientista.

    Lucas o nico escritor gentio de todas as Escrituras Sagradas e sua obra,

    elaborada em dois volumes (o Evangelho e Atos dos Apstolos), vem demonstrar, precisamente, o aspecto

    universal da obra salvfica de Cristo, apresentando o Messias como o homem perfeito, como o Filho do homem. Em Lucas, vemos que Jesus a semente da mulher prometida no den e que reataria a amizade entre Deus e o homem (Gn.3:15).

    Vemos, assim, que o Evangelho segundo Lucas o linho fino do vu do tabernculo, o rosto de homem de cada querubim, aquele escrito que mostra Jesus como sendo o homem sem pecado, o segundo Ado, que veio ao mundo, sofreu tudo quanto sofre um ser humano, mas que

    venceu o pecado e a morte e, por isso, pde morrer em nosso lugar, realizando o sacrifcio perfeito que tirou

    o pecado do mundo.

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    Lucas mostra-nos o que Jesus fez, o que Jesus ensinou em seu evangelho (At.1:1) e, depois, mostra como, sob o poder do Esprito Santo, podemos tambm fazer e ensinar o que Jesus

    fez e ensinou, como integrantes do corpo de Cristo, como membros da Igreja, no livro de Atos dos

    Apstolos.

    Esta realidade bem demonstrada na capa da revista deste trimestre, que nos

    traz a coroa de espinhos posta sobre o Senhor quando de Sua paixo e, com a qual, foi crucificado.

    interessante notar que Lucas o nico evangelista que no registra este fato

    (a coroa de espinhos mencionada em Mt.27:29; Mc.15:17 e Jo.19:2,5), algo surpreendente diante da

    circunstncia de que o evangelho do mdico amado , de longe, o mais pormenorizado de todos, o mais

    preciso, o mais meticuloso. Por que, ento, deixou de registrar este fato da coroa de espinhos e, mais ainda,

    por que se tem a coroa de espinhos como capa da revista, se ela sequer mencionada no evangelho segundo

    Lucas?

    Precisamente, porque a coroa de espinhos tem um significado maior do que se pode imaginar. Ela simbolizava o pecado de todos os homens, que Jesus recebeu para cravar na Cruz,

    pecados cometidos desde o den at aquela atualidade. No foi por acaso que os solados fizeram para Jesus

    aquela coroa, pois era necessria a sua existncia, uma vez que os espinhos tm um smbolo de implantao

    do pecado na Terra(). O resultado [do pecado] foi que nasceram na Terra espinhos e abrolhos.Gn.3:18. (FONSECA, Davi. Passando pelo Calvrio, p.56).

    Lucas no precisou mencionar a coroa de espinhos, pois ela representa o

    pecado da humanidade posto sobre o homem perfeito, o homem sem pecado. Se Mateus precisou dizer que o

    Rei Jesus foi coroado de espinhos pelos soldados romanos; se Marcos precisou dizer que o Servo Jesus era o

    Servo Sofredor profetizado por Isaas e, por isso, teve, entre outros aspectos de Seu sofrimento, a imposio

    de uma coroa de espinhos; se Joo teve de dizer que o Filho de Deus foi humilhado a ponto de ser sido

    coroado com uma coroa de espinhos, Lucas nada precisou dizer, pois seu evangelho, do incio ao fim, mostra aquele homem, aquela semente da mulher que teria de trazer a amizade entre Deus e o homem, que haveria de extirpar os espinhos e abrolhos existentes na Terra por causa do pecado.

    A coroa de espinhos o smbolo da assuno por Jesus do pecado da

    humanidade, algo que lhe foi imposto, algo que no decorria de seu interior e que exigiu o derramamento do

    Seu sangue para pagamento do preo de nossos pecados.

    esta humanidade perfeita que assume o preo da humanidade pecadora que

    nos mostra a narrativa de Lucas em seu evangelho.

    O trimestre pode ser dividido em quatro blocos. O primeiro, introdutrio,

    que abarca a lio 1, d-nos uma viso geral a respeito do evangelho segundo Lucas.

    O segundo bloco fala-nos da vida de Cristo antes do incio de Seu ministrio pblico, pois Lucas procura mostrar o Senhor como um homem, situando-O na histria, dando

    conta de todo o seu desenvolvimento como ser humano, bloco que abrange as lies 2 e 3, quando

    estudaremos o nascimento e a infncia, adolescncia e juventude do Senhor.

    O terceiro bloco abrange as lies 3 a 11, quando estudaremos o ministrio terreno de Jesus, desde a Sua tentao at a ltima ceia.

    Por fim, o quarto bloco, abrange as lies 12 e 13, quando estudaremos o

    clmax do ministrio de Cristo Jesus, com a Sua morte e ressurreio, instantes que representam a

    consumao da obra salvfica e Sua aceitao pelo Pai.

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    O comentarista deste trimestre o pastor Jos Gonalves, presidente das

    Assembleias de Deus em gua Branca/PI, que j tem comentado, h alguns anos, as lies bblicas.

    Que, ao trmino deste trimestre, estudando o homem perfeito Jesus Cristo,

    possamos melhorar nossas vidas espirituais, a fim de que, aprendendo com Jesus em Sua vida e ministrio

    terrenos, prossigamos na direo que nos leva o Esprito Santo, o de sermos conformes imagem do Filho

    de Deus, a fim de que Ele seja o primognito entre muitos irmos (Rm.8:29).

    B) LIO N 1 O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

    O Evangelho segundo Lucas mostra-nos Jesus como o homem perfeito.

    INTRODUO

    - Neste trimestre letivo, estudaremos o Evangelho segundo Lucas, o terceiro evangelho sintico.

    - O Evangelho segundo Lucas mostra-nos Jesus como o homem perfeito.

    I OS EVANGELHOS

    - Neste segundo trimestre de 2015, teremos um trimestre bblico, o primeiro do novo currculo da CPAD, em que estudaremos o Evangelho segundo Lucas, o terceiro evangelho sintico, ou seja, evangelho que faz

    uma sinopse, um resumo da vida e do ministrio terreno de Jesus.

    - Os evangelhos so livros que trazem as boas novas da salvao, ou seja, livros que apresentam a vida e o ministrio terreno de Jesus, o Cristo, o Salvador da humanidade, o Messias prometido.

    - A palavra grega evangelion () tem o significado de boas novas e era utilizada, em Roma, para designar as notcias referentes a feitos extraordinrios e miraculosos feitos pelos imperadores, notcias

    que tinham o propsito de fazer os sditos de Roma crerem que os imperadores eram dotados de poderes

    divinos e que, assim, trariam melhores dias para a vida terrena.

    - Este sentido de boas novas, de notcias vindas da divindade para o bem do ser humano, foi dado pelo prprio Senhor Jesus quando iniciou Seu ministrio terreno, pois, como nos d conta o evangelista Marcos

    (que foi, alis, o primeiro a adotar esta nomenclatura para tratar da narrativa da vida e ministrio de Cristo -

    Mc.1:1), ao iniciar a Sua pregao, conclamou Seus ouvintes a crerem no evangelho, crendo que o tempo da redeno havia chegado, que o reino de Deus estava prximo e que era preciso se arrepender (Mc.1:15).

    - Ao longo de Seu ministrio, Jesus identificaria a Sua mensagem como sendo o evangelho (Mt.11:5; 24:14; Mc. 8:35; 10:29; 13:10; 14:9; 16:15; Lc.4:43; 7:22), tendo, inclusive, mandado que fosse esta a

    mensagem a ser pregada pelos Seus discpulos em continuidade Sua obra. No por outro motivo, alis,

    que o apstolo Paulo diz ser o Evangelho de Cristo o poder de Deus para a salvao de todo aquele que cr, primeiro do judeu, e tambm do grego, porque nele se descobre a justia de Deus de f em f, como est

    escrito: mas o justo viver da f (Rm.1:16,17).

    - elucidativo que o apstolo Paulo resuma o evangelho assertiva do profeta Habacuque de que o justo viver da f (Hc.2:4), pois a tradio judaica parece ir por dois caminhos com a ideia de que a Tor pode ser explicada por meio da halakhah (explicaes dos rabinos, dos doutores da lei) () [um dos quais]

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    refinar os vrios mandamentos em princpios gerais que so cada vez menores em nmero. Por exemplo, em

    Makkot 23b-24a [tratado do Talmude observao nossa], a discusso vai de uma enumerao dos 613 mandamentos identificados na Tor, para a reduo de Davi do nmero para 11 (Salmo 15), da reduo de

    Isaas para o nmero de seis (Is.33:15,16), para a reduo de Miqueias para o nmero de trs (Mq.6:8), para

    mais uma reduo de Isaas para dois (Is.56:1), para um essencial mandamento por Habacuque (mas o justo pela f viver). Obviamente, o apstolo Paulo refinou as vrias mitzvot para o mesmo princpio da f (veja Rm.1:17; Gl.3:11 e Hb.10:38). (PARSONS, John J. Taryag Mizvot: os 613 mandamentos da Tor. Disponvel em: http://www.hebrew4christians.com/Articles/Taryag/taryag.html Acesso em 10 fev. 2015)

    (traduo nossa de texto em ingls) (destaques originais).

    - Este nico princpio a que se reduz toda a Tor chamado por Paulo de Evangelho de Cristo, o poder de Deus para a salvao de todo aquele que cr, primeiramente do judeu e depois do grego, a sntese de toda a

    Tor, a Tor do Messias, quando se pode, ento, cumprir o mandamento dado por Deus neste novo tempo, o de amar uns aos outros como Jesus nos amou.

    - Ora, para que possamos amar como Jesus amou, temos de saber como Ele o fez enquanto esteve aqui na

    Terra e por isso que o Esprito Santo inspirou quatro homens para registrar esta vida e ministrio terrenos

    de Cristo, para que, assim, pudssemos seguir as Suas pisadas, aprender dEle e, deste modo, crendo nEle, alcanarmos a salvao.

    - Os evangelhos, pois, desempenham, em o Novo Testamento, o mesmo papel que o Pentateuco exerce

    no Antigo Testamento, ou seja, trazem-nos a lei do Messias, lei esta que, assim como foi complementada pela histria de Israel, pelos livros poticos e pelos livros profticos, tambm, em o Novo Testamento,

    complementada pela histria da Igreja primitiva, pelas epstolas e pelo livro proftico do Apocalipse.

    - Como afirma Marcos Calado, muito mais do que uma boa notcia; comunicao atuante da salvao, um evento que gera a manifestao da f, produo de Deus, a qual, pelo poder do Esprito

    Santo, visa salvao do homem. Reitere-se que, longe de ser um artifcio criado com pretenses polticas

    com o objetivo de legitimar a pretensa divindade de imperadores, essa concepo de Evangelho reflete, de

    fato, a vontade de Deus. (O Evangelho desfigurado. Cpia fornecida para reviso, p.8).

    - Mas por que o Esprito Santo inspirou quatro pessoas para reduzir a escrito o Evangelho? No bastava um?

    No seria esta pluralidade um fator de fraqueza da mensagem de Cristo, como, alis, entendem os

    muulmanos?

    - So quatro os evangelhos precisamente para que a verdade do Evangelho fique evidenciada, visto

    que o prprio Deus quem afirma que somente pode ser considerado verdadeiro o testemunho de duas ou

    trs pessoas (Dt.17:6; 19:15; Mt.18:16; II Co.13:1; Hb.10:28) e, ao inspirar quatro evangelistas, o Esprito

    Santo mostra que nosso Deus no um Deus contraditrio, mas que vela pela Sua Palavra para a cumprir

    (Jr.1:12). O prprio Jesus disse que estaria sempre no meio de dois ou trs que se reunissem em Seu nome

    (Mt.18:20).

    OBS: Alis, interessante que este princpio da pluralidade das testemunhas acolhido tambm pelo Alcoro, inclusive o nmero de quatro testemunhas, como se pode observar nas seguintes passagens: fiis, quando contrairdes uma dvida por tempo fixo, documentai-a; e que um escriba, na vossa presena, ponha-a fielmente por escrito ; que nenhum escriba se negue a escrever, como Deus lhe ensinou . Que o devedor

    dite, e que tema a Deus, seu Senhor, e nada omita dele (o contrato). Porm, se o devedor for insensato, ou inapto, ou estiver incapacitado a ditar,

    que seu procurador dite fielmente, por ele. Chamai duas testemunhas masculinas de vossa preferncia, a fim de que, se uma delas se esquecer, a

    outra recordar.(2:282); E queles que difamarem as mulheres castas, sem apresentarem quatro testemunhas, infligi-lhes oitenta vergastadas e nunca mais aceiteis os seus testemunhos,() porque so depravados (24:4);

    - Assim, no casual nem coincidncia que sejam trs os evangelhos sinticos, ou seja, aqueles que fazem

    um resumo, uma sinopse da vida e ministrio terrenos de Cristo Jesus e que, como complemento, venha o

    quarto evangelho, a apontar apenas alguns episdios desta vida e ministrio (sinais e discursos) que

    confirmam a divindade dAquele que trouxe as boas novas (Jo.20:30,31).

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    - Mais ainda, desde o tempo da lei, a sombra dos bens futuros (Hb.10:1), o Senhor j indicara que o Evangelho seria revelado ao homem por intermdio de quatro testemunhos, as quatro colunas que davam base ao vu do tabernculo, vu, este, alis, que era composto de quatro tecidos (azul, prpura, carmesim e linho fino) (Ex.26:31,32).

    - Como ensina Abrao de Almeida: As quatro colunas de entrada do Tabernculo tem tambm um significado muito importante. (). Estas colunas representam ou falam da oportunidade para todos, pois o nmero quatro est sempre relacionado com a plenitude da Terra. Todos tm oportunidade de entrar no

    santurio (Mt.24:31; Jo.3:16). Os quatro vus que cobrem as quatro colunas de entrada da tenda, por suas

    cores significativas, apontam-nos os quatro Evangelhos, pela ordem em que aparecem no Novo Testamento.

    Comparemos estas cores com os retratos de Jesus que os quatro evangelistas nos deram:

    1. A prpura. Esta cor se relaciona com a realeza e aponta para o Evangelho segundo Mateus, que o

    Evangelho do Rei. Mateus enfatiza este aspecto do carter de Jesus, quando, por 14 vezes, o chama de Filho

    de Davi, o famoso rei cuja descendncia Deus prometeu perpetuar no trono de Israel. O Messias viria como

    Rei, conforme a profecia de Zacarias 9.9.() 2. O carmesim. O Evangelho segundo Marcos est relacionado com a cor carmesim, ou seja, como sangue,

    que aponta para o servo sofredor, para o Messias na cruz, conforme a profecia de Isaas 42:1 () 3. Linho branco. No Evangelho segundo Lucas temos o linho branco apontando para o homem perfeito, para

    o carter justo de Jesus. Esse evangelista apresenta a pessoa do Salvador como o Filho do homem. o

    Evangelho do Filho do homem. E como todo homem perfeito, ilustre e nobre, precisa de uma genealogia, o

    mdico Lucas registra a ascendncia de Jesus. O Senhor, em Lucas, cumpre a profecia de Zacarias 6:12 () 4. Azul. Finalmente, chegamos cortina azul, essa cor indica sempre o Cu ou aquilo que celeste. Vem em

    Joo o Evangelho do Filho de Deus. Jesus, como o Filho de Deus, cumpre a profecia de Isaas 40.9 (). Joo no registra a genealogia de Jesus, pois Deus no tem genealogia. (O Tabernculo e a Igreja. E-book digitalizado por Levita para o site http://ebooskgospel.blogspot.com, pp.14-5) (destaques originais).

    - A presena de quatro evangelhos, portanto, alm de reforar a ideia de que o Evangelho para todo o

    mundo, ainda cumpre aquilo que havia sido tipificado no tabernculo.

    - Mas como se isto fosse pouco, de se ver que, na viso dos querubins do profeta Ezequiel, chamada

    pelos judeus de Merkavah, tida como a viso do trono de Deus, mostra claramente que a glria divina tem quatro aspectos, quatro perfis, consoante os quatro rostos de cada um dos querubins: rostos de homem,

    leo, boi e guia (Ez.1:5,10; 10:14). Logo, os judeus passaram a considerar esta viso, um mistrio sagrado, que no poderia ser ensinado seno aquele que fosse sbio e capaz de deduzir o conhecimento mediante o conhecimento de si mesmo (Tratado Hagigah do Talmude 2:1).

    - Ora, o Evangelho este mistrio (Rm.16:25; Ef.6:19), este mistrio que o prprio Cristo (Cl.2:2; 4:3). Assim como algum, para ser identificado, notadamente nos rgos policiais, fotografado em vrios

    perfis e aspectos, assim, tambm, o Senhor Jesus, em Sua revelao como o Messias, o Salvador do mundo, apresentado em quatro perfis, em quatro aspectos, precisamente os rostos vistos pelo profeta na viso do trono da glria de Deus: rosto de leo, a indicar a realeza de Cristo (o evangelho segundo Mateus); rosto de boi, a indicar Cristo como servo (evangelho segundo Marcos); rosto de guia, a indicar

    Cristo como Filho de Deus (evangelho segundo Joo) e rosto de homem, a indicar Cristo como o homem

    perfeito, o Filho do homem (evangelho segundo Lucas).

    - A pluralidade, portanto, no s um sinal da veracidade e da autenticidade do Evangelho de Cristo, como

    tambm a confirmao de que se tem aqui o cumprimento daquilo que fora tipificado nas mais profundas

    revelaes divinas dadas ao homem, a demonstrar que o Evangelho de Cristo , realmente, o cumprimento

    das promessas messinicas, da promessa de salvao de toda a humanidade.

    II EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

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    - Esclarecidos porque so quatro os evangelhos, entremos, ento, no estudo do Evangelho segundo Lucas,

    que o tema deste trimestre letivo da Escola Bblica Dominical.

    - O Evangelho segundo Lucas, segundo os estudiosos da Bblia Sagrada, foi o terceiro evangelho a ser

    escrito, por volta de 58 a 63 d.C., sendo de autoria de Lucas, o mdico amado, um dos cooperadores

    do apstolo Paulo (Cl.4:14; II Tm.4:11 e Fm.24).

    - O texto do Evangelho, em momento algum, diz que a autoria de Lucas, o que se percebe pelas

    inferncias. Com efeito, o evangelho se apresenta como um tratado dirigido a Tefilo, uma pessoa

    excelente (Lc.1:3), que , ento, certamente, o primeiro tratado mencionado pelo autor de Atos dos Apstolos (At.1:1), cujo tema apresentar o que Jesus comeou no s a fazer a ensinar.

    - Ora, o autor de Atos dos Apstolos que, portanto, o mesmo autor deste evangelho, outro no pode ser

    seno Lucas, pois, alm do grego refinado em que so produzidos tanto o evangelho quanto o livro de Atos,

    a indicar o mesmo estilo, tem-se, no livro de Atos, a evidncia de que o autor do livro algum que era

    muito prximo ao apstolo Paulo, proximidade esta que aponta para Lucas, aquele que nunca deixou o

    apstolo (II Tm.4:11). Alm do mais, na prpria narrativa de Atos, v-se que o uso do pronome ns no relato indica que se tratava de circunstncias em que Lucas estava a acompanhar o apstolo (At.16:16,17;

    20:13; 21:7,8,12; 27:2,18-20; 28:15).

    - Como se no bastasse isso, o estilo empregado, o vocabulrio empregado e o prprio mtodo adotado, um

    verdadeiro mtodo cientfico (Lc.1:1-4), revelam que o autor algum de refinada erudio, um auxiliar do apstolo Paulo que tivesse uma grande formao cientfica, algo que somente encontramos, entre os

    cooperadores do apstolo, na figura de Lucas, que era mdico (Cl.4:14).

    - A tradio da Igreja sempre atribuiu este evangelho a Lucas, como nos atesta Eusbio de Cesareia, em sua

    Histria Eclesistica, in verbis: Mas Lucas, nascido em Antioquia e mdico de profisso, por muito tempo companheiro de Paulo e bem familiarizado com os outros apstolos, nos deixou em dois livros

    inspirados as instituies daquela arte de cura espiritual que deles obteve. Um deles o Evangelho em que

    testifica ter registrado de acordo com a tradio recebida dos que foram testemunhas oculares desde o princpio e ministros da palavra a ele transmitida. Aos quais tambm, afirma ele, seguiu em tudo. E o outro os Atos dos Apstolos que comps no de acordo com testemunhos ouvidos de outros, mas com o que viu

    com os prprios olhos. Tambm se diz que Paulo costumava citar o Evangelho de Lucas, uma vez que

    quando escrevia sobre algum evangelho, chamando-o seu, dizia: de acordo com o meu evangelho (Histria Eclesistica. Trad. de Lucy Iamakami. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, pp.81-2).

    - Lucas, ao escrever este evangelho, quis trazer um novo perfil aos relatos que j existiam, procurando,

    ento, j que no fora testemunha ocular do ministrio de Jesus, obter criteriosas informaes a respeito dos

    fatos relatados tanto oralmente como por escrito pelos discpulos, para, ento, apresentar a um gentio, como

    Tefilo, a narrativa da vida e do ministrio terrenos de Jesus.

    OBS: Mas tambm Lucas, no incio de sua narrativa, acrescenta a causa que o levou a escrever, mostrando que muitos outros, tendo ousado pr-se a narrar as coisas de que ele j se havia certificado plenamente para nos livrar, em seu prprio Evangelho, de suposies incertas de

    outros, transmitiu o relato preciso do que ele prprio recebeu plenamente por intermdio de sua proximidade e permanncia com Paulo e

    tambm seu relacionamento com os outros apstolos (CESAREIA, Eusbio de. op.cit., p.103).

    - O objetivo de Lucas, portanto, era o de promover um relato criterioso, preciso a respeito da vida e do

    ministrio de Cristo, que fosse apresentado como o Filho do homem, a semente da mulher que haveria de trazer salvao a toda a humanidade. Seu intento, certamente inspirado pelo Esprito Santo, era apresentar

    Jesus como o homem perfeito, Aquele que teria trazido salvao a toda a humanidade.

    - Por isso, o evangelho segundo Lucas um relato que no se prende tanto s profecias a respeito do

    Messias, como fez Mateus, que procurava, em seu evangelho, mostrar o cumprimento das profecias para

    apresentar Jesus como o Messias esperado pelos judeus, como tambm no um relato em que Jesus Se

    apresenta como o Servo do Senhor, outra figura prevista nas profecias do Antigo Testamento, num

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    evangelho mais voltado aos romanos, que apresentava Jesus como sendo o Servo, quase que um soldado fiel vitorioso, assim como os soldados do poderoso exrcito romano.

    - Bem ao contrrio, este evangelho apresenta Jesus como o homem perfeito, o Filho do homem, expresso que Lucas usa para se referir ao Senhor Jesus por 26 vezes (Lc.5:24; 6:5,22; 7:34;

    9:22,26,44,56,58; 11:30; 12:8,10,40; 17:22,24,26,30; 18:8,31; 19:10; 21:27,36; 22:22,48,69; 24:7). Assim,

    sem se vincular s prprias profecias do Antigo Testamento, Lucas mostra Jesus como sendo o Salvador do

    mundo, o que era precisamente como o prprio Lucas via o seu Salvador, j que se tratava de um gentio, a

    propsito, o nico autor gentio das Escrituras (se se entender que livro de J foi escrito por Moiss e no

    pelo prprio patriarca J).

    OBS: Alguns entendem que Lucas era judeu, como o caso de Finnis Jennings Dake, que afirma: Ele era judeu e talvez o Lcio de Romanos 16.21; Atos 13.1. Se for verdade, era parente de Paulo (Bblia de Estudo Dake, p.1626).

    - Lucas, assim, mostra Jesus como o homem perfeito, aquele homem que, gerado por obra e graa do

    Esprito Santo (Lc.1:35), nunca teve pecado e, por isso mesmo, pde ocupar o lugar da humanidade e Se

    apresentar em sacrifcio perfeito que tirou o pecado do mundo, tendo, pois, Sua obra eficcia para todos os

    povos e no apenas para Israel, como poderia aparentar os dois evangelhos anteriores.

    - Por isso, esse evangelho era dirigido a Tefilo, pessoa que deveria ser um alto funcionrio do Imprio

    Romano, j que chamado de excelentssimo pelo autor do evangelho (Lc.1:3), pessoa que deveria ter sido evangelizada pelo prprio evangelista, a fim de que pudesse ele ter a certeza das coisas de fora

    informado (Lc.1:4).

    - por isso mesmo que o evangelho segundo Lucas chamado de coroa dos evangelhos sinticos, pois completa as sinopses anteriores, demonstrando o aspecto universal da obra salvfica de Jesus. Como afirma

    o Comentrio Esperana Lucas: O evangelho de Lucas um comentrio contnuo ao misterioso dizer do apstolo: Deus enviou seu Filho, que veio na forma da nossa natureza pecaminosa a fim de acabar com o pecado (Rm 8.3). como se Lucas tivesse visto sua prpria funo sendo exercida na atividade de Jesus. Mais do que os outros, ele descreve o Senhor Jesus como mdico, precisamente como o Grande Mdico,

    que veio no apenas para servir (Mt 20.28), mas que andou por toda parte fazendo o bem (At 10.38),

    demonstrou compaixo com todos os doentes do corpo e do esprito, liberou poder de si para restaurar (Lc

    5.17)! Todos relatam acerca da tentao de Jesus no deserto, mas unicamente Lucas acrescenta: apartou-se dele o diabo, at momento oportuno [Lc 4.13]. Todos relatam seu sofrimento no Getsmani, mas somente Lucas preservou para ns o relato comovente do suor que como gotas de sangue caindo sobre a terra [Lc 22.44], e do anjo que o fortalecia. Todos falam do arrependimento de Pedro, mas unicamente Lucas

    menciona o olhar do Senhor [Lc 22.61]. O terceiro evangelho a coroa dos evangelhos sinticos (RIENECKER, Fritz. Evangelho de Lucas: comentrio Esperana. Trad. de Werner Fuchs, p.9. Disponvel

    em: www.aibrern.com.br/index.php/arquivos/category/27-Lucas?...152. Acesso em 10 fev. 2015).

    - Dentro desta finalidade do evangelho, Lucas, usando de toda a sua erudio, quis demonstrar os fatos

    relacionados com a vida e o ministrio terrenos de Senhor Jesus como fatos devidamente comprovados,

    devidamente situados no espao e no tempo, satisfazendo, deste modo, as exigncias da cultura greco-

    romana, para mostrar a todos que Jesus o Salvador do mundo.

    - Tal cuidado quis o evangelista deixar claro logo no introito de seu evangelho, ao afirmar que, diante da

    preocupao que estava ocorrendo entre os cristos de pr em ordem a narrao dos fatos relativos vida e

    ao ministrio terrenos de Jesus Cristo, Lucas resolveu orden-los, registrando to somente os fatos que

    fossem devidamente comprovados por testemunhas, que procurou ouvir (Lc.1:1-4). O evangelho, portanto,

    teria o condo de dar certeza de tudo que Tefilo j fora informado atravs da evangelizao de que fora

    objeto.

    - Por isso, o evangelho segundo Lucas o mais minucioso de todos os evangelhos, havendo uma ntida

    preocupao de datao e de indicao dos locais onde se deram os fatos relatados, o que faz de Lucas

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    um parmetro para se estabelecer a chamada harmonia dos Evangelhos, esforo de estudiosos das Escrituras para dar um quadro amplo da vida e ministrio terrenos de Cristo.

    - Diante da pormenorizao do evangelho segundo Lucas, temos a possibilidade de fazer uma acurada

    diviso do livro. A Bblia de Estudo Plenitude entende que o evangelho segundo Lucas pode ser dividido

    em sete partes, a saber:

    a) Prlogo Lc.1:1-4. b) A narrativa da infncia Lc.1:5-2:52. c) Preparao para o ministrio pblico Lc.3:1-4:13. d) O ministrio galileu Lc.4:14-9:50. e) A narrativa da viagem (no caminho para Jerusalm) Lc.9:51-19:28. f) O ministrio de Jerusalm Lc.19:29 -21:38. g) A paixo e glorificao de Jesus Lc.22:1-24:53.

    - Como afirma Fritz Rienecker, no j mencionado Comentrio Esperana, o evangelho segundo Lucas

    aponta trs locais primordiais do ministrio de Cristo Jesus e a narrativa segue estes trs locais: Nazar, a

    terra onde Jesus foi criado; Cafarnaum, a base de Seu ministrio terreno e, por fim, Jerusalm, o local onde

    Ele seria morto e ressuscitaria. Este esquema, alis, comprova serem os mesmos os autores do evangelho e

    do livro de Atos dos Apstolos, j que, em Atos, h, tambm, esta estrutura de trs locais (Jerusalm,

    Antioquia e Roma).

    OBS: fcil de entender que justamente o evangelho de Lucas, aquele dentre todos os quatro evangelhos que explicita o nexo mais estreito com a evoluo ulterior do cristianismo, tenha obtido uma continuao em Atos dos Apstolos. O evangelho de Lucas e os Atos dos Apstolos

    formam uma unidade integrada, razo pela qual tambm o andamento de ambos os escritos exibe uma marcante semelhana. O contedo do

    evangelho pode ser sintetizado em trs nomes: Nazar, Cafarnaum, Jerusalm. Do mesmo modo o contedo de Atos dos Apstolos pode ser

    resumido em trs nomes: Jerusalm, Antioquia, Roma. Em Cafarnaum manifesta-se o que foi gerado no silncio de Nazar. Em Jerusalm

    completa-se o que foi preparado em Cafarnaum. O mesmo ocorre em Atos dos Apstolos. Em Antioquia vemos em flor a semeadura que

    germinou no Pentecostes em Jerusalm. Em Roma constatamos que a nova aliana se desprendeu cabalmente do velho solo e foi transplantada

    para o novo solo, sobre o qual desde ento produz seus frutos. Enquanto o evangelho descreve a maneira e a forma como a salvao em Israel se

    concretizou, apesar das hostilidades de seus lderes e da obcecao do povo, Atos dos Apstolos mostra que a fundao do reino de Deus entre

    os gentios no aconteceu seguindo o curso normal, com Israel (o povo convertido de Deus acolhendo em seu seio os gentios), mas que, pelo

    contrrio, a fundao do reino de Deus foi permanentemente confrontada com resistncia por parte de Israel, tanto na Palestina quanto nos pases

    gentios, at Roma, onde finalmente aconteceu a ruptura completa. (op.cit., p.8).

    - Segundo Finis Jennings Dake (1902-1987), o Evangelho segundo Lucas, 42 livro da Bblia, tem 24

    captulos, 1.151 versculos, 165 perguntas, o profecias do Antigo Testamento, 54 novas profecias, 930

    versculos de histria, 118 versculos cumpridos e 103 versculos de profecias no cumpridos.

    - Segundo os estudiosos das Escrituras Sagradas que entendem haver uma correlao entre as letras do

    alfabeto hebraico e os livros da Bblia Sagrada, Lucas livro relacionado com a letra resh (), cujo significado cabea, topo, o que faz com que haja relao com a sabedoria, que a coisa principal. Lucas seria, pois, o evangelho proverbial, o evangelho sapiencial, por ser o evangelho com o maior nmero de parbolas, sendo que dezenove delas unicamente naquele evangelho. Alm disso, mostra Jesus

    como um sbio inigualvel e incomparvel, assim formado durante o Seu crescimento biolgico (Lc.2:52), a demonstrar que se est diante da estatura completa da humanidade (Ef.4:13), do homem perfeito e sem igual , tanto que Ele no somente era sbio como tambm daria sabedoria a Seus discpulos (Lc.21:15). O prprio Jesus, alis, reporta-se Palavra de Deus como sabedoria de Deus em Lc.11:49, identificando-Se, pois, como a prpria sabedoria de Deus, a confirmar esta linha do terceiro evangelho.

    - Este perfil de Cristo como sendo o homem perfeito, o Filho do homem faz com que o evangelho segundo Lucas seja o que mais se aproxima do esprito de Paulo, como afirma Fritz Rienecker, in verbis: nenhum outro evangelho permite entrever vestgios to ntidos do esprito de Paulo como precisamente o evangelho de Lucas. bem verdade que no seja provvel que Paulo tenha tido em mente

    uma narrativa escrita de Lucas quando menciona o seu evangelho (Rm 2.16; 2Tm 2.8), mas apesar disso

    ambos convergem da maneira mais perfeita na descrio da instituio da santa ceia (Lc 22.19s; cf. 1Co

    11.23-29), no relato da apario de Cristo quando se manifestou a Pedro (Lc 24.33s; cf. 1Co 15) e em outros

    detalhes. (op.cit, p.8).

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    III A HUMANIDADE DE JESUS NO EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

    - Para terminarmos esta introduo ao estudo do evangelho segundo Lucas, devemos apresentar alguns

    dados do prprio evangelho que confirma cuidar ele de Cristo como sendo o homem perfeito, o Filho do

    homem.

    - Por primeiro, vemos que o evangelho segundo Lucas chama Jesus de Filho do homem por 26 vezes, como j se disse supra, algo que no se repete, com tanta insistncia nos demais evangelhos, a demonstrar,

    portanto, como realada a humanidade de Cristo, Sua condio de semente da mulher a restaurar a amizade entre Deus e o homem. A propsito, Lucas o nico livro das Escrituras, ao lado de Provrbios, a

    se utilizar da expresso Deus e os homens (Pv.3:4 e Lc.2:52).

    - Por segundo, Lucas faz questo de mostrar Jesus como homem, fazendo questo de indicar todo o

    crescimento de Jesus como qualquer ser humano. Assim, Lucas o nico evangelista a narrar as

    circunstncias em que se d a concepo de Jesus, pormenorizadamente descrevendo a anunciao a Maria

    pelo anjo Gabriel, como tambm sendo o nico que tenha indicado uma operao de Cristo enquanto feto ou

    embrio (Lc.1:26-45).

    - Lucas, tambm, o nico a trazer algumas informaes a respeito da adolescncia e da juventude de

    Cristo, antes do incio de Seu ministrio pblico, inclusive a passagem em que foi interrogado pelos

    doutores da lei no templo quando assumiu Sua responsabilidade perante a lei (Lc.2:39-52).

    - Por terceiro, Lucas mostra Jesus como a semente da mulher prometida no jardim do den, tanto que, na genealogia, ao contrrio do que faz Mateus, no remonta a Abrao, mas, sim, a Ado (Lc.3:23-38),

    demonstrando, portanto, que Jesus era o homem perfeito, o segundo Ado(I Co.15:45), j que gerado por obra e graa do Esprito Santo (Lc.1:35).

    - Por quarto, Lucas faz questo de realar, ao longo da narrativa, a humanidade de Cristo mediante

    diversas referncias a aspectos humanos do Salvador, tais como:

    a) Sua sujeio aos Seus pais como um filho Lc.2:51; b) Sua sujeio lei e s tradies judaicas Lc.2:42; 4:16; c) Sua condio social de filho de Jos Lc.4:22; d) Sua condio de homem de orao Lc.6:12; 11:1; 22:41 e) Sua compaixo, como algum que tem sentimentos e pode sentir o mesmo que os fracos, doentes e

    necessitados Lc.1:50,54,72,78; 7:13 algo que deveria ser seguido pelos Seus discpulos Lc.6:35,36;

    - Como afirmam Carlo Johansson e Ivan Hellstrm, Como todos os evangelistas, Lucas tem como objetivo apresentar Jesus. Mas seu enfoque particular apresentar Jesus como homem, simplesmente um

    homem perfeito, tal como seria Ado, no fora a queda. O primeiro Ado caiu, veio o segundo Ado (Jesus),

    que no caiu mas venceu o tentador em todo o tempo. E Lucas apresenta Jesus como o homem perfeito, que

    se compadece dos necessitados; que estende a mo ao carente; que tem ternura para dar aos amargurados;

    amor para os que esto ressicados pelo dio; poder para os fracos; que levanta os cados; que alimenta os

    famintos; que tem blsamo para aliviar a dor das feridas abertas; que carrega em seus ombros a ovelha

    desgarrada; que no sabe vingar-se, mas perdoar (Sntese bblica do Novo Testamento: Mateus a Joo. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1983. Coleo Ensino Teolgico n.2, pp.62-3).

    - este evangelho que nos d a figura do homem ideal, que deve ter seu exemplo seguido para a nossa

    salvao que haveremos de estudar durante este trimestre.

    Colaborao para o Portal Escola Dominical Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco