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TEORIA DO ESQUEMA 89 Teoria do esquema (Sihmidt) Rui Mendes, João Barreiros, Mário Godinho e Filipe Meio Objectivos Identificar as características do modelo híbrido. Conhecer e relacionar o conceito de programa motor genérico com a noção de invariância no controlo motor. Identificar o conceito de esquema e os elementos que contribuem para a sua formação. Perceber o conceito de movimentos similares. Conhecer as principais predições da teoria do Esquema. Estabelecer a relação entre os principais pressupostos da teoria do esquema e a capacidade de adaptabilidade motora (novos movimentos). Identificar as principais críticas à teoria do esquema. Palavras chave Modelo Híbrido, Modelo Intermitente, Programa Motor Genérico, Reforço Subjectivo, Esquema, Esquema de Evocação, Esquema de Reconhecimento, Movimentos Similares, Aquisição, Retenção, Trans fer, Validade Ecológica, Variabilidade das Condições de Prática, Parâmetros Invariantes do Programa Motor Genérico, Parâmetros de Especificação da Resposta Introdução Richard Schmidt desenvolveu em 1975 uma nova teoria de controlo e aprendizagem motora. Esta teoria surge como reacção à incapacidade da teoria de circuito fechado em explicar o controlo de movimentos balísticos alargando o seu campo de aplicação a movimentos discretos. Adicionalmente, foi avançada a solução para dois problemas insatisfatoriamente explicados pela teoria de Adams: a produção de novos o

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TEORIA DO ESQUEMA 89

Teoria do esquema (Sihmidt)

Rui Mendes, João Barreiros, Mário Godinho e Filipe Meio

Objectivos• Identificar as características do modelo híbrido.• Conhecer e relacionar o conceito de programa motor

genérico com a noção de invariância no controlo motor.• Identificar o conceito de esquema e os elementos que

contribuem para a sua formação.• Perceber o conceito de movimentos similares.• Conhecer as principais predições da teoria do Esquema.• Estabelecer a relação entre os principais pressupostos da

teoria do esquema e a capacidade de adaptabilidademotora (novos movimentos).

• Identificar as principais críticas à teoria do esquema.

Palavras chaveModelo Híbrido, Modelo Intermitente, Programa MotorGenérico, Reforço Subjectivo, Esquema, Esquema deEvocação, Esquema de Reconhecimento, MovimentosSimilares, Aquisição, Retenção, Transfer, ValidadeEcológica, Variabilidade das Condições de Prática,Parâmetros Invariantes do Programa Motor Genérico,Parâmetros de Especificação da Resposta

Introdução

Richard Schmidt desenvolveu em 1975 uma nova teoria decontrolo e aprendizagem motora. Esta teoria surge como reacção àincapacidade da teoria de circuito fechado em explicar o controlo demovimentos balísticos alargando o seu campo de aplicação a movimentosdiscretos. Adicionalmente, foi avançada a solução para dois problemasinsatisfatoriamente explicados pela teoria de Adams: a produção de novos

o

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TEORIA DO ESQUEMA 89

o Teoria do esquema (S&hmidt)Rui Mendes, João Barreiros, Mário Godinho e Filipe Meio

Objectivos• Identificar as características do modelo híbrido.• Conhecer e relacionar o conceito de programa motorgenérico com a noção de invariância no controlo motor.

• Identificar o conceito de esquema e os elementos quecontribuem para a sua formação.

• Perceber o conceito de movimentos similares.• Conhecer as principais predições da teoria do Esquema.• Estabelecer a relação entre os principais pressupostos da

teoria do esquema e a capacidade de adaptabilidademotora (novos movimentos).

• Identificar as principais críticas à teoria do esquema.

Palavras chaveModelo Híbrido, Modelo Intermitente, Programa MotorGenérico, Reforço Subjectivo, Esquema, Esquema deEvocação, Esquema de Reconhecimento, MovimentosSimilares, Aquisição, Retenção, Transter, ValidadeEcológica, Variabilidade das Condições de Prática,Parâmetros Invariantes do Programa Motor Genérico,Parâmetros de Especificação da Resposta

Introdução

Richard Schmidt desenvolveu em 1975 uma nova teoria decontrolo e aprendizagem motora. Esta teoria surge como reacção àincapacidade da teoria de circuito fechado em explicar o controlo demovimentos balísticos alargando o seu campo de aplicação a movimentosdiscretos. Adicionalmente, foi avançada a solução para dois problemasinsatisfatoriamente explicados pela teoria de Adams: a produção de novos

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movimentos (novelty problem) e o armazenamento de programas motores(storage problem).

As inovações da teoria

Uma das concepções inovadoras na teoria proposta por Schmidt(1975) relaciona-se com o pressuposto de o sistema motor humano sepoder considerar como híbrido: é admitida A teoria do esquemaa presença de processos de controlo do sustenta que o controlomovimento em circuito fechado e em de movimentos lentoscircuito aberto, que podem funcionar de se processa por circuitoforma variável de acordo com o contexto e fechado, enquanto oscaracterísticas da tarefa motora executa- movimentos rápidos ouda. balísticos são

Os conceitos de programa motor controlados por(PM) e de esquema, reformulados e circuitos abertosaplicados à aprendizagem motora porSchmidt (1975), são dois conceitos fundamentais na teoria do esquema.

O programa motor genérico

A teoria do esquema realça a definição de programa motor deKeele (1968) considerando-o como uma representação abstracta que,quando iniciada, resulta na produção de uma sequência coordenada demovimentos. Contudo, a exigência de um PM específico para cadamovimento não é sustentável face à capacidade limitada do ser humanoem armazenar informação relativa ao número infinito de movimentospossíveis. Esta limitação está também presente na teoria de Adams (1971)e é ultrapassada por Schmidt (1975) ao reformular o conceito de PMconcebendo a existência de programas motores genéricos.

O programa motor genérico (PMG) é a estrutura responsável pelaprodução de movimentos da mesma categoria ou classe, ou seja,movimentos similares com identidades e estruturas próximas. O PMG éuma estrutura abstracta da memória que, quando activada, promove arealização de um movimento e actua como um programa que govemauma classe de movimentos caracterizados por um padrão comum e cujaexecução se produz em circuito aberto.

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O PMG é constituído por informações invariantes que asseguramuma estrutura comum aos movimentos controlados por um mesmo PM.Estas informações genéricas sobre o movimento sãO designadas porparâmetros invariantes do PMG, podendo assumir três dimensões:1. Ordem dos elementos - responsável pela sequência de acções que

podem ser executadas por diferentes grupos musculares;2. Estrutura temporal das contracções (phasing) - que estabelece a

estrutura temporal das contracções musculares e assegura amanutenção da proporcionalidade de tempo relativo entre as diferentespartes ou componentes do movimento;

3. Força relativa - que assegura a proporção constante entre asintensidades das contracções dos diferentes grupos muscularespresentes na acção, independentemente do tempo de movimento ou dasua amplitude.

Cada movimento corresponde a um determinado conjunto devalores dos parâmetros invariantes do PMG. A variação da especificaçãodesses parâmetros resulta numa variação da resposta motora. Porexemplo, o mesmo PMG está associado ao controlo da classe demovimentos de lançar uma bola, cabendo ao sujeito determinar avelocidade ou distância de lançamento recorrendo para tal à especificaçãodos parâmetros do PMG. A especificação dos parâmetros requeridos paraa realização do movimento pretendido não altera a integridade dasinvariantes do PMG seleccionado pelo indivíduo, Os parâmetros deespecificação da resposta são os seguintes:1. Selecção das articulações e músculos envolvidos no movimento -

que especifica as articulações e músculos requeridos pelo movimentoa realizar;

2. Duração geral do movimento - que define a duração total domovimento, podendo ser interpretado como a especificação davelocidade do movimento;

3. Força geral - responsável por especificar a quantidade de forçaproduzida pela contracção dos diferentes músculos envolvidos nomovimento.

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Modelo Intermitente ou híbrido de Schmidt (adaptado)

O autor da teoria do esquemaadmite existir outro parâmetro, designada-mente um parâmetro espacial, embora asua confirmação experimental esteja porconcretizar.

A especificação dos parâmetros daresposta (e.g. lançar rápido ou lento, commais ou menos força, etc.) permite arealização de muitos movimentos diferentes, pertencentes à mesma categoria ouclasse de movimentos, utilizando o mesmo

Os problemas relativos àlimitada capacidade emarmazenar informação eem realizar movimentos

novos, sãosolucionados pelo

processo deespecificação dos

parâmetros invariantesdo Programa Motor

Genérico

Conhecimento do resuI~dos

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PM. Desta forma, a teoria do esquema resolve o problema da capacidadelimitada para armazenar informação, pois não é necessário um PM paracada movimento, mas apenas um PMG regulador de toda uma classe demovimentos.

Por outro lado, a especificação dos parâmetros da resposta, quertenham sido ou não previamente utilizados, explica satisfatoriamente acapacidade de produção de movimentos novos. Importa salientar que oconceito de movimento novo é interpretado como um movimento similar aoutro previamente adquirido, mas diferente no que respeita às suascaracterísticas temporais e/ou espaciais.

MOVIMENTOS SIMILARES

Algumas expressões salientam a similaridade entremovimentos: movimentos similares, do mesmo tipo, damesma classe ou família,. Genericamente, esta noçãorefere-se ao nível de semelhança entre a estrutura deduas tarefas, ou seja, ao que estas têm em comum. Efrequente o conceito de movimentos similares serabordado no contexto do transfer de aprendizagem: ateoria dos elementos idênticos de Thorndike (1914)sugere que o transfer de aprendizagem depende donúmero de “elementos idênticos” que existem nas duastarefas. Apesar do seu reconhecimento, a formulação deThorndike não especifica o que é um “elemento” e aforma como este se pode avaliar ou medir, limitandoassim a possibilidade de testar experimentalmente ateoria. A predição da teoria do esquema de que o mesmoprograma motor pode assegurar a realização demovimentos diferentes, mas pertencentes à mesmaclasse, relança a discussão sobre a similaridade demovimentos. Também aqui, o conceito não ésatisfatoriamente explicado. Schmidt (1988) reconheceque só o estudo das tarefas e dos programas motoresque as controlam, pode contribuir para o esclarecimentodos conceitos de similaridade e de elemento oucomponente do movimento. Neste sentido, doisaspectos devem ser admitidos:

1. Os movimentos similares têm características comuns

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não só relativas à semelhança entre as suas estruturascinéticas e cinemáticas, ou seja, aos seus padrões demovimento, mas também relativas à afinidade dosobjectivos da resposta dos movimentos (Holding, 1989);

2. As estruturas que controlam a realização demovimentos considerados similares são provavelmente as mesmas ou, pelo menos, as regras que oscomandam são semelhantes. A especificação dosparâmetros da resposta, usando as invariantes doprograma motor genérico, é um exemplo dessapossibilidade.

O conceito de Esquema

Em termos genéricos a origem do conceito de esquema pode seratribuida a Kant (1781) ao reflectir sobre, a relação entre, percepção econhecimento. Kant considerou que um esquema é um fruto da“imaginação” e representa a regra geral segundo a qual se podem edificarinúmeras imagens aparentadas (e.g. triângulos, cores, etc.). O esquemapermite classificar numa determinada categoria todos as variações domesmo objecto ou fenómeno.

O pressuposto teórico de que uma mesma estrutura cognitivapossa estar na base de respostas similares é admitido por Piaget (1983)no conceito de esquema de ãcçâo. Piaget argumentou que o esquema seconsolida pelo exercício e se conserva ao longo das repetições, aplicando-se a situações variáveis decorrentes das modificações do meio, e confere-lhe particular importância no desenvolvimento sensório-motor (e.g.,aquisição de praxias) e cognitivo da criança

BãrUétt(1 932) considerou ‘que o esquema é uma organizaçãoactiva das experiências passadas, e atraves do qual as novas experiênciaséão interprôtadas. É admitido que a resposta motora, não corresponda à‘rep’rbdüção: integral ,das acções anteriores mas’ resulte da nova e‘perm~nehte construção do esquema, ‘que po? sua vez é capaz de gerarnovas respostas:~Descrõvendo-o como urna representação (mnésica)genérica dõ”eventos ou Scçõõs, ~Bártlett argumenta que o esquemapermitõ cjüe ür* sújêito re~pÓnda’ da’’ mesma forma geral a estímulossemelhantes, mas com diferenças de pormenor

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Posner e Keele (1968, 1970) concluíram que só uma estruturacomo o esquema pode explicar a capacidade observada em sujeitos dereconhecer padrões visuais nunca vistos desde que estes pertençam auma classe de padrões previamente adquiridos.

Concebendo-o como uma estrutura ...

cognitiva flexivel, e capaz de produzir ~ pela ~ -

muitos movimentos similares, Schmidt ~o conceito.de Esquema parag ~(1975) atribui ao esquema motor um papeldeterminante na sua teoria. A formação doesquema, ou regra, para uma classe de ~e~4Ïmovimentos, depende do armazenamento ~

e conjugação de quatro tipos de informações:1. Condições iniciais - informações sobre o estado do organismo

previamente ao início do movimento, provenientes dos receptorésproprioceptivos e exteroceptivos que fornecem ao sujeito referênciasrelativas ao seu corpo e ao envolvimento;

2. Especificação da resposta - informação referente à especificaçãodos parâmetros seleccionados para o PMG que preside à realizaçãoda resposta motora;

3. Consequências sensoriais da resposta - informações provenientesdas aferências sensoriais (feedbacks) relativas ao movimentoefectuado;

4. Valor efectivo da resposta - informação sobre o sucesso da resposta,i.e., o produto da comparação entre o objectivo pretendido e a respostaefectivamebte produzida. Segundo Schmidt (1975), esta informaçãoprovém essencialmente do conhecimento dos resultados ouinformação de retorno sobre o resultado.

A interacção entre as informações retidas permite ao sujeitoelaborar dois tipos de conhecimento abstracto sobre as relações entre osquatro tipos de informação, ou seja, o esquema da resposta motora. Talcomo na teoria do circuito fechado são assumidas duas estruturas dememória com funções distintas no controlo do movimento, designadassegundo Schmidt (1975) por esquema de evocação (recai! schema) eesquema de reconhecimento (recognition schema).

Como responsável pela produção do movimento, o esquema deevocação deriva da conjugação das informações provenientes dasseguintes fontes: condições iniciais, especificação dos parâmetros eresultado da resposta. Assegurando a avaliação do movimento produzido,

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a constituição do esquema de reconhecimento corresponde à informaçãoretida sobre a relação entre as seguintes fontes de informação: condiçõesiniciais, consequências sensoriais e valor efectivo da resposta.

A produção da resposta pressupõe o conhecimento dasinformações relativas ao seu objectivo e àscondições iniciais Estas informações O esqu~ma eo’~ie~ment~permitem ao sujeito seleccionar o PMG Zfuiidanieiitalpara queo~correspondente a classe de movimentos .j~{~.~iniotoi’ tt~çna qual se enquadra o movimento a ~ ~

realizar. De seguida, partindo da relação ~~°I~’Z~ ~entre as experiências anteriores e a~~

- .. ~‘, objectivodomovimentoespecificaçao dos parametros das e» ~ - ‘

respostas correspondentes, procede à ~ S~””~

definição dos parâmetros que caracterizam o PMG responsável pelodespoletar do movimento, recorrendo ao esquema de evocação.

O esquema de reconhecimento tem a função de avaliação demovimentos rápidos, bem como a capacidade de produzir .movimentoslentos. A avaliação •de movimentos balísticos (rápidos) resulta dacomparação entre as consequências sensoriais recebidas após omovimento e as consequências sensoriais previstas. A informação sobre adiferença obtida, i.e., a medida do erro da resposta, retorna ao esquemada resposta possibilitando a correcção das respostas posteriores. Aintervenção do esquema de reconhecimento na.produção de movimentoslentos deriva das constantes comparações entre as consequênciassensoriais previstas, que servem de referencial de correcção, e asinformações sensoriais obtidas durante a realização do movimento,permitindo o seu ajustamento constante.

O valor efectivo da resposta é obtido essencialmente através doconhecimento de resultados. É esta informação que serve de valor dereferência para corrigir a resposta. Contudo, a teoria do esquema sustentaque a avaliação da resposta também pode ser efectuada pelo sujeitousando a informação de retorno intrínseca resultante da acção motoraefectuada, fium processo que Adams. (1971) e Schmidt (1975) designampor reforço subjectivo (subjective reinforcement). Este tipo de reforçofunciona como um mecanismo de auto-detecção do erro da resposta.

Schmidt (1975) admite a existência de um terceiro esquema: oesquema de identificação do.erro (error Iabeiing schema), que podesubstituir a informação relativa ao conhecimento dos resultados da acção

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na elaboração do esquema de evocação, bem como assegurar arealização de movimentos lentos.

Na teoria do esquema a informação sobre o erro decorrente daacção produzida pode contribuir para a aprendizagem, ao contrário dateoria do circuito fechado, em virtude da sua presumível participação naformação de esquemas. Este aspecto é uma das principais predições dateoria desenvolvida por Schmidt.

Originalidade e predições da teoria do esquema

Diversas predições emergem da teoria do esquema, iustiticando asua importância no âmbito da área do controlo e aprendizagem motora:1. O conceito de PMG sustenta a possibilidade de se realizarem

movimentos similares usando o mesmo programa motor, superandoassim o problema do armazenamento da informação. O mesmoconceito explica a possibilidade de realizar movimentos novos,resultantes da especificação dos parâmetros da resposta motora;

2. A teoria do esquema permite explicar a realização de movimentosrápidos e lentos, ao admitir o controlo de movimentos em circuito abertoe fechado (modelo híbrido),;

3. Na teoria de Schmidt o erro resultante da resposta motora produzidadeixa de ter um efeito exclusivamente negativo no processo deaprendizagem, pois se pode considerar que este participa de formarelevante na formação do esquema;

4. A hipótese da variabilidade das condições de prática , designaçãointroduzida por Moxley em 1979, é uma das principais predições dateoria do esquema. É pressyposto que o fortalecimento e construção deesquemas mais genéricos é beneficiado pela variabilidade dasexperiências motoras proporcion~as ao sujeito durante a prática.

A HIPÓTESE DA VARIABILIDADE DAS CONDIÇÕÊ.SE~PRÁTICA ~.

A hipótese da variabilidade das condições de práticàÔum dos aspectos preditivos mais salientes da teoria doesquema. Segundo esta, a variação das condições ©prática favorece o processo de aprendizagem.Normalmente, os estudos experimentais realizados neste ~J

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na elaboração do esquema de evocação, bem Gomo assegurar arealização de movimentos lentos.

Na teoria do esquema a informação sobre o erro decorrente daacção produzida pode contribuir para a aprendizagem, ao contrário dateoria do circuito fechado, em virtude da sua presumível participação naformação de esquemas. Este aspecto é uma das principais predições dateoria desenvolvida por Schmidt.

Originalidade e predições da teoria do esquema

Diversas predições emergem da teoria do esquema, justificando asua importância no âmbito da área do controlo e aprendizagem motora:1. O conceito de PMG sustenta a possibilidade de se realizarem

movimentos similares usando o mesmo programa motor, superandoassim o problema do armazenamento da informação. O mesmoconceito explica a possibilidade de realizar movimentos novos,resultantes da especificação dos parâmetros da resposta motora;

2. A teoria do esquema permite explicar a realização de movimentosrápidos e lentos, ao admitir o controlo de movimentos em circuito abertoe fechado (modelo híbrido),;

3. Na teoria de Schmidt o erro resultante da resposta motora produzidadeixa de ter um efeito exclusivarnente negativo no processo deaprendizagem, pois se pode considerar que este participa de formarelevante na formação do esquema;

4. A hipótese da variabilidade das condições de prática , designaçãointroduzida por Moxley em 1979, é uma das principais predições dateoria do esquema. É pressuposto que o fortalecimento e construção deesquemas mais genéricos é beneficiado pela variabilidade dasexperiências motoras proporcionadas ao sujeito durante a prática.

A HIPÓTESE DA VARIABILIDADE DAS CONDIÇÕES DEPRÁTICA

A hipótese da variabilidade das condições de prática éum dos aspectos preditivos mais salientes da teoria doesquema. Segundo esta, a variação das condições deprática favorece o processo de aprendizagem.Normalmente, os estudos experimentais realizados neste

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âmbito testam os efeitos na retenção e transfer deaprendizagem de dois tipos de organização da práticadurante a aquisição da tarefa: constante e variada.Usando como exemplo uma tarefa de lançamento dumabola a um alvo, a prática constante corresponde aolançamento sempre à mesma distância do alvo enquantona prática variada a bola é lançada a diferentesdistâncias. E frequente verificar-se melhor performancedo grupo com prática constante na aquisição e, níveis dedesempenho superiores do grupo com prática variadanos testes de retenção e transfer. Este fenómeno éexplicado pela influência que a última condição deprática tem na variação sistemática dos parâmetros deespecificação da resposta. A alteração das condições derealização da tarefa, neste caso a distância ao alvo,implica a parametrização da resposta de acordo com adistância de lançamento. Assim o sujeito não retém sóas informações referentes a diferentes valores dosmesmos parâmetros da resposta, mas também asinformações relativas às consequências sensoriaisobtidas e ao valor efectivo da resposta correspon-dente.Este processo contribui para~elaboração de esquemasde resposta mais genéricos favorecendo a suaadaptabilidade (transfer) a múltiplas situações. Ofortalecimento do esquema resultante da prática variadatambém se manifesta na sua maior resistência aoesquecimento, ou seja, no superior nível de desempenhoalcançado na mesma tarefa depois de um intervalo detempo sem prática motora efectiva (retenção). Emsíntese, a variabilidade das condições de prática produzefeitos negativos temporários na aquisição maspositivos na retenção e transfer de aprendizagem.Contudo, as características da tarefa motora o,u o nívelde desenvolvimento dos sujeitos, são aspectos queparecem interferir com os efeitos atrás referidos(Barreiros, 1992).

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le críticas à teoria do esquemaoq

a. ~ja Apesar da sua consistência fundamental, persistem diversasquéstõeS em aberto:

10 ~it.-iSegundo a teoría do esquema, o sujeito selecciona o programa motorgenérico correspondente ao movimento pretendido, mas nãoespecifica como é que o programa é seleccionado, esclarecendoapenas a formá como são seleccionados os seus parâmetros. A

la dificuldade de explicar a forma como são formados os PMG e comose desenvolvem as regras sobre os seus parâmetros, são duas

le limitações da teoria do esquema;le 2. Persiste a dúvida quanto à explicação da capacidade do sujeitoe realizar pela primeira vez um movimento, antes da existência de

qualquer esquema. Também as propriedades de estabilidade ea adaptabilid de associadas ao conceito de esquema sãoo questionáveis. A ideia de que o esquema é uma regra capaz de se

manter estável ao longo do tempo é incongruente com o pressuposto5 de que o esquema pode modificar-se substancialmente com a5 prática;

3. A hipótese da variabilidade das condições de prática é verificada em

a diversos trabalhos (e.g., Moxley, 1979, Shea & Morgan, 1979, Barreiros,) 1985). Contudo subsistem algumas questões relacionadas coma aspectos metodológicos da experimentação que condicionam a

generalização dos resultados experimentais, como por exemplo, adeterminação da quantidade de prática suficiente para produzir uma

9 alteração significativa no desempenho durante a fase de aquisição;1 4. No âmbito da investigação produzida no contexto da teoria do esquemaz e da hipótese da variabilidade das condições de prática, emerge uma3 questão essencial por solucionar - a clarificação teórica e operacional

da noção de movimentos similares;5. A especificação dos parâmetros do programa motor traduz-se em

impulsos (forças aplicadas num determinado instante) enviados pelosistema nervoso central que comandam as acções muscularesenvolvidas no movimento. Este modelo de funcionamento (impulsetiming mode!) é posto em causa pelas conclusões de diversos estudosque admitem que o controlo da resposta seja assegurado pelodesignado modelo de massa-mola (mass-spring moda’);

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6. A teoria do esquema em particular, e a abordagem cognitiva do controloe aprendizagem motora em geral, tem sido colocadas em causa poruma abordagem ecológica do comportamento motor, que contestaessencialmente a necessidade de utilização de constructos teóricosmuito elaborados (e.g. esquema) para produzir explicações igualmentepossíveis por concepções mais simples e naturais.

Síntese

A solução dos problemas do amiazenamento e da novidade apartir do conceito de programa motor genérico é um dosprincipais contributos da teoria do esquema. Adicionalmente, aconcepção de esquema como estrutura flexível avança umaexplicação satisfatória para a forma como são produzidos econtrolados movimentos rápidos e lentos, um dos aspectos atéentão por esclarecer. Apesar das críticas que lhe sãoformuladas, a sua operacionalidade na explicação dosprocessos de controlo e aprendizagem motora e o seu númerode hipóteses testáveis, como é exemplo a variabilidade dascondições de prática, explicam a importância e o sucesso dateoria de Schmidt (1975).

Questões1. Relacione os conceitos de programa motor e programa

motor genérico.2. Identifique os diversos parâmetros de especificação da

resposta e explique a possibilidade de um mesmoprograma motor genérico ser responsável pela realizaçãode movimentos similares.

3. Explique a solução preconizada pela teoria do esquemapara justificar a possibilidade de um sujeito produzirmovimentos novos.

4. Defina o conceito de esquema, descreva as suas funções,e indique quais os elementos que contribuem para a suaformação.

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5. Justifique os efeitos preconizados pela hipótese davariabilidade das condições de prática na aquisição,retenção e transfer de aprendizagem.

Leituras complementaresBarreiros, J. (1992). Aprendizagem Motora: Variabilidade dasCondições de Prática e Interferência Contextual. Lisboa: FMH.

Barreiros, J., Correia, P., Godinho, M. & Pereira, E. (1987). Oconceito de movimentos similares e a noção de invariante.Ludens, 11, 8-11.

Godinho, M., Barreiros, J. & Correia, P. (1997). Aprendizagemmotora: Teorias e modelos. Lisboa: FMH.

Schmidt, R. A. (1975). A schema theory of discrete motor skilllearning. Psychological Review, 82, 225-260.

Schmidt, R. A. (1988). Motor control and Iearning: A behavioralemphasis (2~ ed.). Champaign, III: Human Kinetics.