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CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL E RACIAL Drª Elza Maria Techio UFBA Psicologia Social

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CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL E RACIAL

Drª Elza Maria TechioUFBA

Psicologia Social

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O BRASIL É UM PAÍS RACISTA?

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IDENTIDADE RACIAL NO BRASIL

Muitos vão dizer: Não Que é um problema econômico

Suponhamos um país com 100 habitantes, 50 branco e 50 negros.

10 médicos, sendo que 9 brancos e 1 negro.10 advogados, 9 brancos e 1 negro.10 executivos, 9 brancos e 1 negro10 faxineiros, 1 branco e 9 negros.10 garçons, 1 branco e 9 negros.10 presos, 1 branco e 9 negros.

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IDENTIDADE RACIAL NO BRASIL

Como explicar?1. Vocação

Eles não tem vocação, vontade, etc.Eles gostam de limpar o chão, servir mesa, roubar,

etc.

2. CapacidadeEles não têm capacidade.São burrinhos, coitados.Limpar o chão é tão mais fácil

3. Brasil é um país racistaA estrutura, desde a saúde até o ensino, funciona no sentido de barrar seu acesso dos negros à carreiras de prestígio.

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IDENTIDADE RACIAL NO BRASIL

As desigualdades raciais no Brasil foram construídas historicamente.

Essas desigualdades afetam a percepção social dos grupos, alimentam os estereótipos e sustentam o racismo.

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IDENTIDADE RACIAL NO BRASIL A fim de conter essas desigualdades

sociais políticas sociais foram construídas:

Constituição de 1989, em diversos artigos defende a igualdade racial;

Lei 7.716/1989, lei CAÓ que considera o racismo crime inafiançável com previsão de pena de reclusão de até cinco anos

Decreto lei nº 4.887 de 20 de novembro de 2003 que reconhece as comunidades remanescentes de quilombolas e obriga o estado a sua proteção;

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AÇÕES AFIRMATIVAS

Diversos estudos têm demonstrado a defasagem em que se encontra o grupo dos negros (Hasenbalg, 1985).

Solução: conjunto de políticas compensatórias.

ações afirmativas: implementação de programas de governo que auxiliam os grupos socialmente discriminados por introduzir formas de tratamento preferencial a fim de reverter a desigualdade histórica a que estes grupos foram submetidos (Bolaffi, et al,

2003).

As ações afirmativas por meio de cotas.

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AÇÕES AFIRMATIVAS

Tem-se observado forte resistência na implementação de ações afirmativas.

Estudo realizado por Santos (2003) com pós-graduados da Universidade de Brasília, constatou que:

dos 249 alunos entrevistados, em sua maioria brancos 58,2%, 6% pretos, 27,7% pardos, 4% amarelos e 0,8% indígenas

68,3% são contrárias às cotas na UNB

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AÇÕES AFIRMATIVAS

Resultados similares foram encontrados entre os estudantes universitários de Sergipe sobre o sistema de cotas para negros (Ávila, Machado, Lima e Lima, 2004).

128 participantes 66% é contrária às cotas (66%), 22% são favoráveis 12% não têm atitude formada.

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AÇÕES AFIRMATIVAS

Justificativa:

Contra 7% as cotas discriminam os brancos;16% aumentam a discriminação contra negros e pardos; 28% ferem o princípio da igualdade e da democracia; 12% ferem o princípio da meritocracia e da livre competição; 11% a solução é melhorar o ensino médio e fundamental; 6% pode haver fraude na auto-definição da cor; 4% as cotas não resolvem; 4% o problema não é de cor, mas de classe social;12% outras respostas.

Favoráveis 59% reparar a situação de exclusão dos não brancos ;15% reparar desigualdades históricas;7% aumentar o contato entre os grupos ;7% solução emergencial 12% outras respostas

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IDENTIDADE RACIAL NO BRASIL

Nos perguntamos: Que efeitos tiveram essas leis na

realidades dos grupos em questão? Que estereótipos esses grupos carregam? Que contribuições obtiveram as crianças

que nasceram na vigência desses avanços?

Ser um grupo beneficiário da proteção estatal poderá mudar o autoestereótipo do grupo?

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ESTEREÓTIPOS

Estereótipos Conjunto de características atribuídas

aos membros de um grupo social (Oakes, Haslam e Turner, 1994).

Os estereótipos têm uma série de implicações na construção da identidade.

Categorização racial é o primeiro passo na formação de atitudes raciais, quer positivas, quer negativas (Tajfel, 1981).

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FORMAÇÃO DOS ESTEREÓTIPOS

não é difícil supor que a categorização exerça um importante papel na formação dos estereótipos

A primeira forma de categorização envolve a diferenciação entre os gêneros:

• alcançada antes do bebê completar o 1º ano de vida,• facilitado pelo caráter dicotômico desta

categorização

• Suspeita-se que os estereótipos de gênero se formam numa fase anterior à da formação dos estereótipos a respeito de outras categorias sociais

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FORMAÇÃO DOS ESTEREÓTIPOS

Na fase pré-escolar, em decorrência da utilização de pistas:• cor da pele, trajes, estilo de cabelo, tipo de linguagem,

as crianças parecem se encontrar aptas a categorizar aos outros segundo critérios bastante diferenciados:

• etnia, ocupação ou idade

Na meia infância:• as crianças passam a adotar categorias mais abstratas, sobretudo as que envolvem as diferenciações no plano religioso e nacional.

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FORMAÇÃO DOS ESTEREÓTIPOS

Categorização:

não se confunde com estereotipização.

Estereotipização:

presume a existência de um conjunto de crenças a respeito de um grupo, que é percebido de forma generalizada.

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ESTEREÓTIPOS

Formação dos estereótiposMuito cedo as crianças apresentam curiosidade e interesse quanto às diferenças raciais.

Ex: algumas peles são brancas e outras negras

Aos 3 anos podem: identificar, classificar e rotular pessoas por grupos raciais.

Categorização de pessoas por raça é influenciada por:

fatores situacionais edesenvolvimento cognitivo da criança

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ESTEREÓTIPOS a nível comportamental o preríodo pré-escolar é marcado pela aprendizagem das categorias sociais

Jogos, atividades, ocupações futuras e papéis. respostas verbais expressando preferências e conhecimento de estereótipos, preferências não verbais

jogos comportamentos, escolha de colegas, escolha de livros (Katz, 1983).

Aos 5 anos identificam e aderem a estereótipos culturalmente difundidos dos grupos sociais (Algoustinos e Rosewarne , 2001).

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ESTEREÓTIPOS Estudo sobre as consequências dos estereótipos com crianças de 6 a 10 anos de diferentes etnias, verificou:

A capacidade para inferir estereótipos e as consequencias aumenta com a idade

Crianças de grupos étnicos estigmatizados afro americanas e latinas, em todas as idades, são mais conscientes dos estereótipos mantidos do que as de grupos não estigmatizados (McKown e Weinstein (2003)

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ESTEREÓTIPOS Os estereótipos podem mudar conforme o contexto?

Segundo Fiske (1998) Sim

Estereótipos atribuídos aos negros americanos:

Primeiro rurais, escravos e trabalhadores braçais,

Depois preguiçosos, ignorantes, fortes, musicais, rítmicos, pobres, burros, sujos e

atléticos,

Mas recentemente: militantes, violentos, criminosos e hostis.

conteúdo dos estereótipos dos grupos minoritários é geralmente negativo

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ESTEREÓTIPOS

Silva (2001) analisou os estereótipos do negro nos livros didáticos no Brasil, constatou:

a despersonalização e desumanização dos personagens negros,

não são referenciados pelos nomes próprios geralmente associados a animais.

A criança negra é caracterizada como: má, traquina, desobediente, faminta e como brinquedo de criança branca.

Os personagens negros são associados a: papéis de baixo prestígio social,funções de cantor, dançarino, jogador, representados como escravos,intelectualmente incapazes e incompetentes

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ESTEREÓTIPOS

As atitudes e estereótipos sobre os grupos direcionam e influenciam as relações interpessoais.

Em pré-escolar de São Paulo é comum: às crianças brancas se referem as não

brancas por meio de rótulos, tais como: “negrinho feio”, “negrinho nojento”, “pretinha

suja”. As negras são recusadas 

para fazerem par nas filas, nas brincadeiras, nas festas, etc (Cavalleiro, 2000).

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ESTUDO: IDENTIDADE RACIAL EM CRIANÇAS BRASILEIRAS

Identidade étnica ou racial é composta pelas seguintes dimensões: consciência étnica: compreensão acerca do próprio

grupo étnico e o dos outros; auto-identificação étnica: aquisição de um rótulo

étnico preciso e consistente, baseado na auto percepção enquanto membro de um grupo étnico;

atitudes éticas: sentimentos relativos ao próprio e outros grupos, que resultam em maneiras específicas de respoder aos mesmos;

comportamentos étnicos: comportamentos sociais específicos de um determinado grupo.

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ESTEREÓTIPOS

Estudo realizado em Sergipe (França, 2010): 112 crianças brancas, mulatas e negras

entre 5 e 10 anos de escolas públicas e privadas,

40 crianças negras da comunidade Mocambo em Porta da Folha entre 6 e13 anos.

Objetivoanalisar os estereótipos de crianças brancas, mulatas, negras e índias sergipanas,

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AMOSTRA DE ARACAJU

Cor da Pele

Estereótipos Brancos % Mulatos % Negros %

Bonito 83,9 9,8 6,3

Bonzinho 39,3 33,0 27,7

Estudioso 44,1 22,5 33,3

Briguento 22,9 38,5 38,5

Professora gosta 60,6 22,9 16,5

Mãe gosta 43,0 27,1 29,9

Feliz 44,3 25,5 30,2

Inteligente 50,0 30,0 20,0

Rico 66,7 18,0 15,3

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ANÁLISE

Observa-se uma visão muito positiva do branco atribuindo-lhe todos os atributos positivos como: bonito, bonzinho, estudioso, gostado pela

professora e pela mãe, feliz, inteligente e rico

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AMOSTRA DE QUILOMBOLA

Cor da Pele

Estereótipos Brancos % Mulatos % Negros %

Bonito 85 12,5 2,5

Bonzinho 20 30 50

Estudioso 47,5 17,5 35

Briguento 23,1 33,3 43,6

Professora gosta 65 17,5 17,5

Mãe gosta 37,5 27,5 35

Feliz 37,5 40 22,5

Inteligente 47,5 22,5 30

Rico 52,5 30 17,5

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ANÁLISE

As crianças do quilombo Mocambo: Hierarquizam suas percepções

colocando em primeiro lugar o branco, em seguida vem os indígenas e por último seu próprio grupo.

A visão mais positiva do branco mediante os estereótipos:

bonito, estudioso, gostado pela professora e pela mãe, inteligente e rico.

Os índios como briguentos, felizes e ricos. Os quilombolas:

bonzinhos, briguentos, gostados pela mãe, estudioso e .

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CONCLUSÃO

As crianças brancas apresentam auto estereótipo positivo e; são estereotipadas positivamente pelos

demais grupos minoritários.

As crianças apreendem muito cedo no processo de socialização, quais são os estereótipos que a sociedade mantém para os grupos

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CONCLUSÃO

As crianças mulatas e negras são percebidas negativamente.

Porém observa-se um favorecimento ao próprio grupo nos estereótipos bonito, gostado pela professora e feliz.

Esses resultados servem como proteção a própria auto- estima, por atribuírem estereótipo positivo e minimizar os negativos.

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CONCLUSÃO

Esse resultado evidenciam uma situação de insegurança na construção da identidade nos grupos minoritários,refletindo-se na imagem que estão construindo de seu próprio grupo.

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OS ESTEREÓTIPOS REFORÇAM OS RACISMO E INTERFEREM NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE RACIAL

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