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0 DOUGLAS LUÍS ANDREOLLA Relação entre a qualidade das peles e dos couros bovinos nos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul Cuiabá – Mato Grosso 2010

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DOUGLAS LUÍS ANDREOLLA

Relação entre a qualidade das peles e dos couros bovinos nos

Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul

Cuiabá – Mato Grosso 2010

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DOUGLAS LUÍS ANDREOLLA

Relação entre a qualidade das peles e dos couros bovinos nos

Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal do Mato Grosso para obtenção do título de Mestre em Ciência Animal

Área de concentração: Produção, Controle e Qualidade de Peles e Couros Orientador: Dr. Manuel Antônio Chagas Jacinto Co-orientador: Dr. William Bertoloni

Cuiabá – Mato Grosso 2010

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CERTIFICADO DE APROVAÇÃO

Aluno: Douglas Luís Andreolla

Título: Relação entre a qualidade das peles e dos couros bovinos nos Estados de Mato Grosso

e Rio Grande do Sul

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Universidade Federal do Mato Grosso para obtenção do título de Mestre em Ciência Animal

Aprovado em: ________________________________ Banca Examinadora Prof. Dr.: Manuel Antônio Chagas Jacinto (Orientador)

Instituição: EMBRAPA-CPPSE/SP Assinatura:_________________________________

Prof. Dr.: William Bertoloni (Co-orientador)

Instituição: FAMEV/UFMT Assinatura:_________________________________

Prof. Dr.: Paulo Sérgio Andrade Moreira

Instituição: UFMT/CAMPUS-SINOP Assinatura:_________________________________

Prof. Dr.: Joanis Tilemahos Zervoudakis

Instituição: FAMEV/UFMT Assinatura:_________________________________

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DEDICATÓRIA

Dedico primeiramente à Deus por dar-me a graça da vida, assim como Nossa Senhora

da Salete e Santo Expedito por iluminar sempre meus caminhos e escolhas.

A minha mãe Maria Martoffel, pelo apoio e orações e a minha irmã Leila Andreolla,

por terem me apoiado e incentivado nos momentos mais difíceis, apesar da distância, em mais

uma etapa primordial da minha vida e área profissional. Ao me pai Ivaldo Luiz Andreolla, por

ter me proporcionado suporte estrutural para a concretização desta etapa, apesar das opiniões

e pensamentos divergentes.

Ao professor Doutor Manoel Antônio Chagas Jacinto pelas oportunidades,

aprendizados e exemplo de caráter, os quais serão lembrados nas minhas etapas futuras.

Assim como a todos os demais participantes, Alexandra Rocha de Oliveira, Alfred Werner

Loosli e Carlos Henrique Laske (Etapa Rio Grande do Sul), do projeto Validação do Sistema

Nacional de Classificação de Peles e Couros. Na árdua etapa de Marabá – Pará, sem

desmerecer as etapas de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, sendo todos de

grande valia, aprendizado e gratificação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os professores do curso de Pós-Graduação em Ciência Animal –

(PGCA) da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de

Mato Grosso – UFMT. Em especial ao Professor Doutor William Bertoloni, pela co-rientação

e ensinamento nas áreas afins.

Aos meus colegas pelo companheirismo e parceria nos variados momentos, em

especial à Laura Maria da Silva por incentivar-me a iniciar o desafio do mestrado nesta área

de Produção, Controle e Qualidade de Peles e Couros a qual veio à descoberta de total

afinidade, passando de desafio à realização e concretização profissional. E ao Douglas da

secretaria da PGCA, por sempre estar à disposição e atento aos avisos importantes.

Agradeço, também à bolsa concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao financiamento do projeto nacional pela Financiadora

de Estudos e Projetos – FINEP, à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA

e o apoio do Frigorífico Sadia, Frigorífico Pantanal, ambos de Várzea Grande – Mato Grosso

e ao Frigorífico Mercosul de Bagé – Rio Grande do Sul. Além destes, aos Curtumes

Durlicouros de Cuiabá – Mato Grosso e Curtume Bom Retiro de Bagé – Rio Grande do Sul,

os quais possibilitaram a realização e concretização desta pesquisa.

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EPÍGRAFE

“A inovação surge de acreditar que tudo pode ser

melhorado” Robert H. Dennard

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RESUMO

Andreolla, D. L. Relação entre a qualidade das peles e dos couros bovinos nos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. 2010 50f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal, na Área de Produção, Controle e Qualidade de Peles e Couros), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, 2010.

A publicação da Instrução Normativa nº 12 (IN 12), em 18 de dezembro de 2002, pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) estabeleceu os critérios de

classificação do couro bovino conforme os defeitos presentes na pele do animal, assim como

o local onde o técnico deveria se posicionar para fazer tal avaliação. Nesse sentido, o objetivo

do estudo é verificar a relação entre a qualidade das peles e dos couros bovinos nos Estados

de Mato Grosso e Rio Grande do Sul, através do protocolo para classificação de peles,

proposto pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), após prévio estudo

em relação à IN 12 e do protocolo para classificação comercial de couros, utilizado pelos

curtumes. O sistema que melhor se adaptar deve equacionar um dos principais entraves ao

desenvolvimento do setor de couros do país: a baixa qualidade da matéria-prima (pele). No

Estado de Mato Grosso, através da classificação de peles proposta em três categorias: A

(melhor), B (segunda melhor) e D (desclassificada), obteve-se 100% das peles avaliadas

classificadas na categoria “D” (desclassificada) em virtude da utilização da marca a fogo na

região do grupon. Enquanto que, no Rio Grande do Sul 94% receberam a categoria “D”, pela

mesma causa. Porém, após o curtimento das respectivas peles em couros, estes puderam ser

estratificados em seis classes comerciais (A, B, C, D, E e R). Sendo a classe “A” atribuída a

couros de melhor qualidade e, decrescendo em qualidade, “B”, “C”, “D” “E” e “R”. Para

tanto, utilizou-se a observação visual das marcas oriundas da propriedade rural, cujas causas

foram: os ectoparasitas, o homem (marcas decorrentes do manejo) e a ocorrência natural.

Após análises estatísticas, concluiu-se que o sistema de classificação de peles foi eficiente

para discriminar apenas peles de qualidade ruim e permite a avaliação de apenas um fator da

depreciação do couro, a marca a fogo. Não foi possível estabelecer relação entre os resultados

obtidos nos dois protocolos: IN 12 (modificada) e classificação comercial, em ambos Estados.

Porém, o sistema de classificação comercial, praticada pelos curtumes, consegue associar a

alta intensidade e localização dos fatores que depreciam o couro à baixa qualidade dos

mesmos e vice-versa.

Palavras-chave: Classificação de pele/couro, defeito, qualidade.

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ABSTRACT

Andreolla, D. L. The Relationship between Cowhide and Leather Quality in the States of Mato Grosso and Rio Grande do Sul. 2010 50f. Thesis (master's degree in Animal Science, in animal production area, hides and leather quality control), Faculty of Agronomy and veterinary medicine, Federal University of Mato Grosso, Cuiabá, 2010.

The publication of Normative Instruction n° 12 (IN 12), on 18 December 2002, from

the Ministry of Agriculture established the criterion for classification of bovine leather as the

defects in the animal's skin, as well as the location where the technician should position itself

to make such an assessment. In this sense, the objective of the study is to examine the

relationship between the quality of skins and cattle hides in the states of Mato Grosso and Rio

Grande do Sul, using the protocol for classification of skin, proposed by the Brazilian

Agricultural Research Corporation (EMBRAPA), after previous study in relation to IN12 and

the protocol for the commercial classification of leather, used by tanneries. The system that

best suits should consider a major obstacle to the development of leather sector in the country:

the low quality of raw (skin). In the State of Mato Grosso taking into account the

classification of fur proposal in three categories: A (better), B (second best) and

D (declassified). Got 100% of fur évalué classified in category "D" (declassified) to fire brand

in the region of grupon. Already in the State of Rio Grande do Sul 94% received a category

"D", for the same cause. Nevertheless, after tanning, the leather could be classified into six

commercial classes (A, B, C, D, E and R). The class "A" assigned to better quality and cuirs,

substantially in quality, "B", "C", "D", “E” and “R". For this, by visual appraisal of blemishes

on the original hides. The causes of these blemishes were ectoparasites, branding and other

marks from herd management, as well as natural scars. After statistical analyses, it was

concluded that the classification system was effective for fur discriminate only bad quality

skins and allows the evaluation of only one factor in the depreciation of the leather, marking

the fire. Unable to establish relationship between the results obtained in two protocols: IN 12

(modified), grade and class in both States. On the other hand, commercial classification

system practised by the leather can associate high intensity of detractors factors to low quality

leather and vice versa.

Keywords: Classification of skin/leather, defect, quality

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LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1 - Descrição básica da cadeia produtiva de peles e couros e suas inter-relações.........13

Figura 2 - Diagrama de uma pele/couro bovino em zonas......................................................17

Figura 3 - Processamento da pele em couro nos curtumes.......................................................19

Figura 4 - Região nobre da pele (grupon).................................................................................24

CAPÍTULO 1

Figura 1 - Mapa representando simultaneamente os tipos, a intensidade e localização dos

defeitos e a classificação comercial dos couros do Estado de Mato Grosso..........46

Figura 2 - Mapa representando simultaneamente os tipos, a intensidade e localização dos

defeitos e a classificação comercial dos couros do Estado de Rio Grande do Sul.47

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LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1 - Controles de qualidade da pele bovina praticados pelos produtores rurais, em Mato

Grosso do Sul em 2000............................................................................................20

Tabela 2 - Participação relativa das causas que originam peles de baixa qualidade................22

Tabela 3 - Frequência da ocorrência de defeitos no couro bovino de Mato Grosso do Sul

segundo diferentes agentes causadores..................................................................23

Tabela 4 - Comparativo da classificação dos couros produzidos no Brasil e Estados Unidos.27

Tabela 5 - Padrão de classificação do couro bovino (bovino em pé - vivo).............................27

Tabela 6 - Classificação nacional, comparada com a classificação destinada à exportação.....29

CAPÍTULO 1

Tabela 1 - Sistema de classificação das peles bovinas de acordo com a IN/MAPA 12/02,

modificada..............................................................................................................41

Tabela 2 - Intensidade dos defeitos que depreciam o couro...................................................43

Tabela 3 - Número (N) e frequência (%) das classes de peles e couros do Estado de Mato

Grosso e Rio Grande do Sul...................................................................................44

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LISTA DE GRÁFICOS

Página

Gráfico 1 - Produção brasileira de peles bovinas* - 1994 a 2008, em milhões de unidades....15

Gráfico 2 - Distribuição regional da produção de pele bovina no Brasil em 2006...................16

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SUMÁRIO

Página

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................13

2.1 CADEIA PRODUTIVA DE PELES E COUROS..................................................13

2.2 PRODUÇÃO DE PELES E COUROS NO BRASIL.............................................15

2.3 CARACTERÍSTICAS DAS PELES E COUROS..................................................17

2.4 PRODUÇÃO E OBTENÇÃO DE PELES.............................................................18

2.5 PRODUÇÃO E OBTENÇÃO DE COUROS........................................................18

2.5.1 Etapas do processamento de peles em couros......................................19

2.6 QUALIDADE DAS PELES E COUROS...............................................................20

2.6.1 Origem dos principais defeitos de peles e couros................................22

2.6.2 Causas dos principais defeitos de peles e couros.................................22

2.7 SISTEMA DE REMUNERAÇÃO DIFERENCIAL..............................................25

2.8 CLASSIFICAÇÃO DE PELES E COUROS..........................................................27

2.8.1 Classificação de peles.............................................................................28

2.8.2 Classificação de couros..........................................................................28

2.8.3 Sistema de classificação de couros........................................................29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................31

CAPÍTULO 1...........................................................................................................................38

Relação entre a qualidade da pele e do couro de bovinos nos Estados de

Mato Grosso e Rio Grande do Sul.................................................................38

Resumo.............................................................................................................38

Introdução........................................................................................................39

Material e Métodos..........................................................................................41

Resultados e Discussão....................................................................................44

Conclusões........................................................................................................48

Referências.......................................................................................................49

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1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, em 2008, possuía um

rebanho de 169,8 milhões de bovinos, a projeção para 2009 é que o efetivo do rebanho atinja

173,2 milhões (ANUALPEC, 2009). É desde 2003 o maior exportador em volume de carne

bovina. Mas, além da carne, os números favorecem outro setor da cadeia:

o do couro bovino (COSTA, 2005).

O setor de couros e derivados encontra-se entre os segmentos nos quais o Brasil

apresenta por tradição fortes indicadores de competitividade (PEREIRA et al., 2005a).

Segundo Azevedo (2002) aproximadamente 74% das peles produzidas no Brasil são

exportadas direta ou indiretamente, o que configura este setor como um dos setores industriais

mais abertos ao comércio exterior.

Porém, a baixa qualidade das peles e couros bovinos disponíveis no mercado interno

tem limitado desempenhos mais expressivos no setor coureiro, impossibilitando o país de

agregar valor ao produto dentro de suas fronteiras e de usufruir as oportunidades

possibilitadas pela comercialização do couro de melhor cotação no mercado

(SEBRAE, 2001). O principal instrumento para tentar minimizar os defeitos nas peles e

couros, melhorando sua qualidade, é a presença de um sistema de classificação padronizada e

objetiva, que possibilitaria bonificação a quem optasse por empregar boas práticas

agropecuária na produção de peles.

Decorrente da relevância do problema e de trabalhos anteriores,

(PEREIRA et al., 2007), foi proposto o estudo de um sistema de classificação de peles

bovinas composto de três categorias: A (melhor), B (segunda melhor) e D (desclassificada).

Assim como, a avaliação da relação existente entre o protocolo para a classificação de peles

(proposta) e o protocolo para a classificação comercial dos couros, através da observação

visual dos fatores (defeitos oriundos de propriedade rural, localização e intensidade) na pele

bovina e em seu respectivo couro, que interferiram nestes protocolos de classificação.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 CADEIA PRODUTIVA DE PELES E COUROS

A cadeia produtiva é composta por agentes que realizam transações, sendo que estas

possuem características distintas. Ou seja, o processo produtivo é dependente de uma

sequência onde as operações estão interligadas, a existência de problemas em um dos elos

pode prejudicar a eficiência e a qualidade do produto do elo anterior ou posterior

(VIEIRA, 2006).

O conjunto de setores envolvidos na cadeia do couro é composto por: criadores e

fazendeiros; matadouros e frigoríficos; salgadeiras; curtumes; empresas fornecedoras de

produtos químicos e máquinas; fabricantes e distribuidores de artigos em couro; fabricantes

de gelatina, colas e sebo; couro regenerado; e usuários e consumidores (ADZET, 2008).

A cadeia produtiva do couro pode ser definida por meio dos fluxos de produtos que se

dão a partir dos principais insumos utilizados pelo setor até a fabricação do item final.

Na Figura 1 pode ser observado um esquema geral dos principais fluxos produtivos dessa

cadeia produtiva (GARCIA & MADEIRA, 2008).

Figura 1 - Descrição básica da cadeia produtiva de peles e couros e suas inter-relações.

Fonte: Corrêa (2001).

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De acordo com Azevedo (2002), a cadeia produtiva do couro tem início na atividade

da pecuária, em que os diferentes sistemas de criação resultam em peles de qualidades

diversas, fato que gera segregações durante o processamento do couro e seus derivados.

A pele salgada, também denominado couro verde ou cru, é fornecida pelos frigoríficos

aos curtumes, que podem processá-la completamente (couros acabados) ou

parcialmente (wet-blue ou crust - semiacabados) (AZEVEDO, 2002).

A cadeia do couro possui estruturas e processos produtivos heterogêneos, sendo os

curtumes classificados de acordo com a etapa de processamento do couro

(SILVA et al., 2005). Desta forma, eles podem ser caracterizados em

(PACHECO, 2005; BARRONIO, 2007):

• Curtume de Wet-Blue – Realiza as operações de ribeira, processando desde as peles (salgadas ou preservadas) até o couro em wet-blue (primeiro estágio de processamento do couro) ou em couro piquelado (não recebe o curtente cromo); • Curtume Integrado – Realiza todas as operações, processando desde a pele até o couro acabado; • Curtume de Semi-Acabado – Utiliza como matéria-prima o couro wet-blue e o transforma em couro crust; • Curtume de Acabamento – Transforma o couro crust em couro acabado.

Os segmentos de máquinas, equipamentos, indústria química e de componentes

também são importantes integrantes da cadeia produtiva, permitindo aos curtumes atenderem

às demandas das indústrias de calçados, móveis, automóveis e

aeronáutica (SILVA et al., 2005).

O complexo industrial do couro é formado por aproximadamente 800 empresas que

atuam no processamento das peles em couros. Trata-se de uma atividade que movimenta um

Produto Interno Bruto (PIB) anual de aproximadamente US$ 3 bilhões, empregando cerca de

50 mil pessoas e ainda contribuindo com o recolhimento de impostos na ordem de

US$ 900 milhões por ano (BITTENCOURT, 2007). O Centro das Indústrias de Curtumes do

Brasil (CICB) estima que o complexo industrial movimentou um PIB estimado em

US$ 3,5 bilhões com exportações de US$ 1,16 bilhões em 2009, contribuindo em 7% para o

saldo da balança comercial brasileira. Já a cadeia produtiva do couro que abrange os setores

de curtumes, calçados, componentes, máquinas, equipamentos para calçados e couros,

artefatos e artigos de viagem, reúnem 10 mil indústrias, gerando mais de 500 mil empregos e

movimentando receita superior a US$ 21 bilhões por ano (GOERLICH, 2010).

A carne bovina é o principal destaque da cadeia de produção de peles e couros,

entretanto, muitos participantes da própria cadeia desconhecem que a adoção das boas

práticas na produção da carne é fundamental para se obter peles e couros com qualidade

superior. Deste modo, as peles bovinas do rebanho brasileiro continuam sendo produzidas

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com baixa qualidade. Se essa situação fosse revertida para peles de boa qualidade, o país

deixaria de perder entre 500 milhões a 1 bilhão de dólares por ano (KONZEN, 2006).

Estas perdas são decorrentes das marcas e cicatrizes causadas na pele dos bovinos

ainda no pasto, pelos ectoparasitas (berne, carrapatos, sarnas e micoses) e por equívocos de

manejo (arame farpado, marca a fogo no local inadequado), podendo prejudicar a qualidade

da pele ao longo de todo processo de produção, visto que algumas dessas marcas não podem

ser removidas durante a transformação da pele em couro. Assim, o problema da

competitividade da cadeia do couro se inicia em nível de propriedade rural (KONZEN, 2006).

2.2 PRODUÇÃO DE PELES E COUROS NO BRASIL

Em 2007 foram produzidos 330 milhões de couros em todo o mundo e

45 milhões de couros no Brasil. Deste modo, o país é responsável por 13,6% da produção

mundial, o que lhe garante o segundo lugar no ranking da produção mundial de couros

(GUIA BRASILEIRO DO COURO, 2008).

De acordo com Rosa (2009) a evolução da produção de peles bovinas no Brasil ao

longo dos últimos anos saltou de 24,09 milhões de peles em 1994 para

42,46 milhões em 2008, um aumento de 76% (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Produção brasileira de peles bovinas* - 1994 a 2008, em milhões de unidades.

Fonte: Adaptado de Rosa (2009). *Considerados de uma margem de segurança (perda) em relação ao total de animais abatidos.

Os principais Estados produtores de peles em 2006 foram: São Paulo, 16%;

Mato Grosso, 15%; Mato Grosso do Sul, 14%; Goiás, 10%; Minas Gerais, 7%;

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Rio Grande do Sul, 7%; Pará, 7%; Paraná, 5% e Rondônia, 5% (Gráfico 2). Já, os principais

Estados produtores de couros foram Rio Grande do Sul, 23,5%; São Paulo, 23%; Paraná, 12%

e Minas Gerais, 10%. Ou seja, a produção brasileira de couro estava concentrada nas

Regiões Sul e Sudeste que juntas, eram responsáveis por cerca de 68,5% do total de couros

produzidos (CORRÊA & ROSA, 2007).

Gráfico 2 - Distribuição regional da produção de pele bovina no Brasil em 2006.

Fonte: Adaptado de Corrêia e Rosa (2007).

Os Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul possuem a maior produção nacional de

couros, devido à presença de grandes estabelecimentos curtidores, necessitando das peles

produzidas em outras regiões (IEL; CNA; SEBRAE, 2000). Esta disposição espacial dos

curtumes se deve aos investimentos passados, pois a maioria dos abates concentravam-se

nestes Estados. Entretanto, esse quadro tem-se alterado com o crescimento do rebanho e a

instalação de frigoríficos e curtumes na Região Centro-Oeste, devido à maior oferta de

matéria-prima (pele) e diminuição dos custos de transporte (SANTOS et al., 2002).

A produção de peles e couros depende diretamente da taxa de desfrute1 e neste quesito

o Brasil deixa a desejar com uma taxa de abate (23%, em 2008) inferior à da Rússia (43%),

China (42%), Estados Unidos (37%) e Nova Zelândia (37%) (ANUALPEC, 2009). Porém,

a intensificação na produção de bovinos pode promover a redução da idade de abate e

1 Um dos principais índices avaliados para analisar a produtividade da pecuária bovina é a taxa de desfrute. A taxa de desfrute, ou taxa de abate, é expressa pela relação entre o número de bovinos abatidos nacionalmente e o total de bovinos no rebanho nacional. Cabe ressaltar que o elevado número de abates clandestinos também contribui para a baixa taxa de desfrute encontrada no país.

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consequentemente aumento nesta taxa de desfrute. O que irá proporcionar uma maior

produção de peles (GOMES, 2007).

2.3 CARACTERÍSTICAS DAS PELES E COUROS

A pele é dividida em diferentes zonas com textura e espessura variáveis de acordo com

a região da carcaça do animal (HOINACKI, 1989). Segundo Barronio (2007) a pele pode ser

dividida em três regiões distintas: cabeça, grupão e flancos (Figura 2). Sendo que as

proporções de cada região em relação à superfície total ou ao peso total de uma pele fresca

são: grupão 45-55%, flancos 20-25% e cabeça 20-25% (BASF, 2004).

Figura 2 - Diagrama de uma pele/couro bovino em zonas.

Fonte: Adaptado de Hoinacki (1989).

A cabeça (E + F) ou pescoço é uma região frequentemente mais grossa, comparada

com as outras regiões, sendo destinada a artigos que necessitam de maior espessura, como as

solas e vaquetas para artigos esportivos (CTCCA, 1994).

A região do grupão (A + B) também chamada de lombo ou dorso é a parte mais

valiosa (nobre) por possuir maior quantidade de feixes de fibras colágenas e maior

entrelaçamento destas. Além disso, esta é a região mais uniforme em espessura, sendo

destinada a artigos mais nobres (CTCCA 1994; HOINACKI, 1989).

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Por outro lado, a região do flanco ou barriga (C + D) é pobre em material colágeno e

tem menor espessura. Além disso, possui menor entrelaçamento entre os feixes de fibras

colágenas. Deste modo, quando comparada às outras zonas, pode ser destinada a artigos que

não exijam muita resistência à ruptura, nem muita espessura, como o forro para calçados

(CTCCA 1994; HOINACKI, 1989).

2.4 PRODUÇÃO E OBTENÇÃO DAS PELES

De acordo com Jacinto et. al. (2005) a produção de peles compreende o período no

qual o animal está sob os cuidados do produtor e inclui ainda o transporte até o abate. Nesse

período as peles estão sujeitas às inúmeras ocorrências, tanto no manejo dos animais no

campo, como nos currais. Além disso, a produção de peles bovinas pode sofrer influência do

peso dos bovinos (RESTLE et al., 2005), grupo genético (MENEZES et al., 2007), idade de

abate (PACHECO et al., 2005) e sistema de produção (GOMES, 2007).

A obtenção de pele da carcaça bovina, normalmente executada nos matadouros e

frigoríficos, ocorre após o abate e sangria dos animais, através do procedimento de esfola.

Posteriormente, as peles in natura são conservadas por tempo limitado, através do uso de

bactericidas ou salga (FLUD JÚNIOR, 2002).

2.5 PRODUÇÃO E OBTENÇÃO DE COUROS

Um dos aspectos que causa grande impacto na produtividade no curtume diz respeito

ao melhor aproveitamento das peles. Os curtumes compram as peles baseada no peso, mas o

preço final do couro é determinado pela área, o grande desafio do curtidor é obter a maior

área a partir de uma determinada quantidade mássica de peles, o que é genericamente

chamado de rendimento. Deve-se, entretanto, observar que o rendimento leva em

consideração a qualidade dos couros. Além disso, o rendimento em área pode variar com o

tipo do animal, estação do ano em que é realizado o abate e tipo de conservação

(MK QUÍMICA DO BRASIL, 2008).

De acordo com Hoinacki (1989) o couro constitui a pele do animal preservada da

putrefação por processo denominado curtimento. Após tratamento com substâncias

denominadas curtentes, as peles transformam-se em couros. Neste processo é mantida a

natureza fibrosa da pele, porém as fibras são previamente separadas pela remoção do tecido

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interfibrilar e ação de produtos químicos, tornando o couro flexível e macio. Deste modo, o

curtimento é um sistema mais amplo do que um simples processo de conservação.

2.5.1 Etapas do processamento de peles em couros

O processo de transformação da pele em couro varia em função do estado de

conservação da pele, raça, idade e sexo do animal. Assim como, da finalidade de sua

utilização (CTCCA, 1994).

A tecnologia de curtimento compreende diversas etapas com adições sequenciais de

produtos químicos, intercaladas por lavagens e processos mecânicos. Em cada etapa as

características químicas da pele são alteradas de acordo com a finalidade de cada operação.

Deste modo, as etapas podem ser agrupadas em: ribeira, curtimento, acabamento molhado e

acabamento (PRIEBE, 2005; AQUIM et al., 2006). A seguir são apresentadas através de

fluxograma as operações realizadas em curtumes, no processo de transformação da pele

em couro (Figura 3).

Figura 3 - Processamento da pele em couro nos curtumes.

Fonte: Priebe (2005).

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20

2.6 QUALIDADE DAS PELES E COUROS

O sistema de produção predominantemente empregado na pecuária, de pastejo

extensivo e longo período para abate, podem resultar em peles e couros com muitos defeitos

(AZEVEDO, 2002). Segundo depoimentos dos produtores, em relação ao sistema de

produção dos bovinos, tem-se que: quanto maior o período de tempo do animal na

propriedade rural, maiores são as probabilidades deste contrair doenças, abrigar parasitas e

ferir-se. Além disso, poderá ser comercializado por diversos produtores, cada um realizando a

marcação a fogo para identificação. Deste modo, pode-se inferir que a qualidade da pele

diminui à medida que o animal permanece mais tempo no pasto (FLUD JÚNIOR, 2002). Por

outro lado, havendo possibilidade dos animais serem abatidos precocemente, sua pele sofrerá

menos injúrias, possibilitando a produção de peles e couros de melhor qualidade

(GOMES, 2007)

A qualidade dos couros depende de uma série de fatores que se iniciam com a

produção das peles no campo durante a criação dos animais, passando pelo transporte até o

frigorífico, abate, esfola e conservação. Somente através do controle destes fatores serão

obtidas peles de boa qualidade (BARRONIO, 2007).

Qualidade é um conceito complexo. Porém, no caso do couro, a qualidade é um

conceito mais objetivo, regido pelo grau de seu aproveitamento industrial

(EMBRAPA, 2005). Deste modo, no processo da industrialização de peles visando à obtenção

de couros com alta qualidade, as propriedades das peles são de vital importância para garantir

as características dos couros finais (HEIDEMANN, 1993).

Por não receberem estímulos financeiros, cuidados importantes relacionados com a

identificação animal, transporte, manejo, invernada e mangueiro (curral), os quais contribuem

para a qualidade da pele e do couro, são tomados apenas por uma minoria dos produtores,

conforme pode ser verificado na Tabela 1 (FLUD JÚNIOR, 2002).

Tabela 1 - Controles de qualidade da pele bovina praticados pelos produtores rurais, em Mato Grosso do Sul em 2000. Produtores rurais Enfoques dos controles de qualidade

Marcação Transporte Manejo Invernada Mangueiro Praticam controle 16 (29%) 3 (5%) 8 (15%) 4 (7%) 8 (15%) Não praticam 40 (71%) 52 (95%) 47 (85%) 51 (93%) 47 (85%) Total 55 (100%) 55 (100%) 55 (100%) 55 (100%) 55 (100%)

Fonte: Adaptado de Flud Júnior, (2002).

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De acordo com Resende e Perez (2004) deve-se melhorar a qualidade da

matéria-prima pele, com enfoque principalmente nos seguintes problemas: a) Pecuaristas -

eliminação da marca a fogo, permitindo sua utilização somente nos locais prefixados por lei e

b) Frigoríficos - melhorar a qualidade de esfola da pele, reduzindo ou eliminando defeitos de

abertura, raias e furos, provocados durante a retirada desta do animal.

Apesar dos problemas de qualidade da matéria-prima, de acordo com o CICB, a

indústria de curtumes vem realizando sucessivos esforços voltados para a melhoria na

qualidade de seus produtos, implementando programas de gestão qualificada e atualização dos

equipamentos tecnológicos. O próprio CICB desenvolveu e implementou o Programa

Brasileiro de Melhoria do Couro Cru, que conseguiu uma significativa redução no percentual

de peles furadas ou com cortes no carnal, de 40% para 5%, em frigoríficos que aderiram ao

programa (AZEVEDO, 2002; KONZEN, 2006). Contudo, a própria entidade esclarece que

embora apresente resultados bastante positivos, a extensão do programa ainda não foi

suficiente para reduzir os problemas de qualidade do couro brasileiro (SANTOS et al., 2002).

Um importante obstáculo enfrentado pelo setor de couros, principalmente para o

dinâmico mercado de estofamentos é a melhoria da qualidade do produto final (couro). Cujo

nível atual depende da melhoria da qualidade de matéria-prima (pele) (AZEVEDO, 2002). De

acordo com Medeiros et al. (2006) a matéria-prima produzida em Mato Grosso do Sul, assim

como em outros Estados é em sua maioria de baixa qualidade, sinalizando a necessidade de

programas que visem à melhoria da qualidade do couro. Neste sentido, um assunto recorrente

nas empresas do setor é como melhorar a qualidade sem reduzir os níveis de produtividade

dos produtos oferecidos. Como melhorar a qualidade do produto reduzindo a perda de

materiais, diminuindo os prejuízos, visando atender aos desejos cada vez mais exigentes do

mercado (CAIXETA & ALVES, 2006).

De acordo com a análise de Costa (2002), tendo em vista a demanda atual pelos

produtos de curtume brasileiros, observa-se que o atributo mais importante é a qualidade,

seguido de preço e prazo de entrega. Fatores relacionados à competitividade sistêmica, como

legislação ambiental, localização geográfica da empresa, acesso a fontes de financiamento,

entre outros, aparecem em posição secundária. Assim, a matéria-prima de baixa qualidade

(pele) forçosamente acaba implicando em baixa qualidade dos produtos finais (couro), o que

contraria as condições impostas pelos atuais padrões de concorrência no mercado

(FLUD JÚNIOR, 2002).

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2.6.1 Origem dos principais defeitos de peles e couros

Os defeitos apresentados pelas peles e couros podem ter diferentes origens. Assim,

alguns são produzidos durante a vida do animal, sendo outros causados durante a esfola e a

conservação. Além disso, há defeitos eventualmente originados no processamento das peles

em couros (HOINACKI, 1989). Segundo Müller (1996), ao nível nacional, as peles

processadas nos curtumes apresentava um conjunto de defeitos que se originam no campo e

comprometem a qualidade da matéria-prima couro.

Os dois períodos mais críticos para a qualidade das peles bovinas são: do nascimento

do animal ao embarque para o abate e do abate a salga, armazenamento ou beneficiamento

pelos curtumes (ISO, 1998). Estudos indicaram que cerca de 60% dos defeitos na pele são

provenientes do manejo dos animais na propriedade rural; os demais ocorrem durante o

transporte da fazenda para o frigorífico, na esfola e na conservação

(ROCHA & OLIVEIRA, 1985; VOGELLAR et al. 1992). Porém, de acordo com Ferrari

(1993), 50% dos defeitos ocorrem do nascimento ao embarque para abate e os outros 50%, do

embarque ao abate e salga (Tabela 2).

Tabela 2 - Participação relativa das causas que originam peles de baixa qualidade.

(1) Fonte: 1 - Rocha e Oliveira (1985); 2 - Vogellar et al. (1992); 3 - Ferrari (1993).

Segundo Medeiros et al. (2006) no Mato Grosso do Sul a situação não é diferente, pois

a maioria dos defeitos presentes na pele bovina, quando analisada logo após o abate, tem

origem na fazenda (pecuarista).

2.6.2 Causas dos principais defeitos de peles e couros

Dentre os principais problemas encontrados como geradores de perdas e danos nas

peles produzidas pelos pecuaristas e processados em curtumes brasileiros podem ser

Período Causas Participação(%)(1) 1 2 3

1° Do nascimento ao embarque para abate (pecuarista)

1. Ectoparasitas 2. Marcas de ferro em brasa 3. Traumas de manejo 4. Acidentes (pasto/curral)

40 10 5 5

40 10 5 5

30 5 10 5

2° Do embarque ao abate 5. Traumas de transporte e salga (abatedor/ curtume, 6. Técnicas de esfola deficiente 3 dias) 7. Conservação deficiente

10 10 5 10 15 15 20 15 30

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evidenciados os seguintes: defeitos biológicos, causados por ectoparasitas (carrapato, berne,

mosca do chifre); e defeitos físicos, causados por agentes como cercas, arames, vegetação

arbustiva com galhos e espinhos, marcação a fogo, aguilhão, chifradas, luxações e outros

(MÜLLER, 1996). Porém, os defeitos originados na propriedade rural são em grande parte de

origem humana, sendo uma decorrência da mão-de-obra não especializada, pois os pecuaristas

não investem no treinamento dos peões (KONZEN, 2006).

Oliveira (1983), avaliando couros de bovinos provenientes dos Estados de Minas

Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Norte do Estado de Rio de Janeiro com a finalidade de

determinar as perdas causadas por berne, carrapatos, pela marca a ferro quente (fora da região

corporal regulamentar) e ainda pelas escoriações acidentais e/ou devidas à esfola, verificou

que: 89% dos couros apresentavam perfurações provenientes de dermatobiose (berne),

perdendo-se em média 18,56% do couro; para o defeito ocasionado por carrapatos havia uma

perda média de 4,2% em 90% dos couros. Para as marcas a ferro quente verificou-se que

apenas 53% estavam em locais corretos conforme legislação e que não afetavam a qualidade

do couro. Já, as escoriações provocadas por arame farpado e/ou outros objetos contundentes,

inclusive aqueles por vezes utilizados no manejo dos animais e as incisões na pele ocorridas

durante a esfola somaram uma perda de 1,78% em 26,92% dos couros observados.

Em pesquisa realizada por Medeiros et al., (2006) os defeitos que apresentam maior

frequência em ordem crescente, são: risco aberto, carrapato, risco cicatrizado e marca de ferro

quente (marca a fogo) (Tabela 3). Ressalta-se porém, que parte das lesões abertas não são

oriundas somente da fazenda. Elas podem ocorrer durante a fase de manejo pré-abate em

função de embarque e desembarque mal conduzidos, falhas no processo de transporte, manejo

incorreto dos animais, instalações inadequadas no frigorífico, ou por esfola mal feita.

Tabela 3 - Frequência da ocorrência de defeitos no couro bovino de Mato Grosso do Sul segundo diferentes agentes causadores. Defeitos do couro

Defeitos por intensidade (%)

Sem= 0 Com Pouco= 1 Médio= 2 Muito= 3 Aberto Cicatrizado

Carrapato 35,3 32,0 21,4 11,3 ----- ----- Berne 90,2 ----- ----- ----- 4,5 5,3 Mosca-do-chifre 98,8 0,8 0,1 0,2 ----- ----- Risco aberto 51,5 32 10,4 6,1 ----- ----- Risco cicatrizado 28,3 37,8 19,6 14,3 ----- ----- Marca a fogo 6,2 27,2 28,0 38,6 ----- -----

Fonte: Adaptado de Pereira et al. (2005b).

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Na Tabela 3 a baixa qualidade verificada no couro deve-se principalmente à marcação

inadequada em locais não permitidos por lei (MEDEIROS et al., 2006). Desde 21 de outubro

de 1942, o Decreto-Lei n° 4.854 (BRASIL, 1942) regulamenta a aplicação da marca de fogo

em bovinos, definindo o local de marcação (cara, pescoço, inserção da cauda e regiões

situadas abaixo de uma linha imaginária, nas articulações fêmuro-rótulo-tibial e

húmero-rádio-cubital) e o tamanho das marcas (máximo 11 cm de diâmetro) em seus artigos

primeiro e segundo.

Em pesquisa realizada por Flud Júnior (2002) a utilização da marca a fogo, já liderava

o ranking dos defeitos, apresentando um elevado percentual de incidência de quase 80%. Em

segundo lugar com 74% de incidência despontava a ação dos carrapatos, mesmo tendo sido

apurado com os produtores o combatem por meio de vacinas, vermífugos e pulverização de

medicamentos.

Atualmente, a Norma Brasileira (NBR) 10.453 de 1996 da Associação Brasileira de

Normas Técnica (ABNT) define as condições de marcação baseada na Lei n° 4.714, de 29 de

junho de 1965 (BRASIL, 1965; ABNT, 1996). Porém, a marcação dos bovinos continua

sendo realizada a fogo e em área nobre da pele, ou seja, dentro da área do grupon (Figura 4)

ou sobre o dorso do animal, não obedecendo às normas vigentes, referente às marcas de

identificação nos bovinos, regiões e tamanhos (KONZEN, 2006).

Figura 4 - Região nobre da pele (grupon).

Fonte: Jacinto et al., (2009). (a) No bovino in vivo e (b) após esfola.

Talvez por desconhecimento da lei ou por não auferirem lucro com a pele, os

proprietários conduzem os trabalhos de manejo incorretamente, contribuindo assim, para a sua

desvalorização (BONFIM, 2003). O fácil acesso à região dorsal e a posterior visualização

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pelos empregados que lidam com o gado (peões, campeiros) durante as práticas de manejo são

justificativas comuns para a marcação fora do local correto. Com essa prática, a região mais

valiosa da pele, a dorsal, é comprometida (grupon) (JACINTO et al., 2005).

Por ser causado intencionalmente pelo homem, esse defeito (marca a fogo) pode ser

resolvido facilmente, desde que haja campanhas de conscientização dos pecuaristas e

programas de premiação pela qualidade (MEDEIROS, et al. 2006). De acordo com

Resende e Perez (2004) a maioria dos defeitos pode ser minimizada ou equacionada pelo

tratamento adequado ao animal e isso passa por um amplo programa de educação e

divulgação, objetivando também o desenvolvimento gerencial e comercial aplicada à criação

e ao tratamento dos animais.

2.7 SISTEMA DE REMUNERAÇÃO DIFERENCIAL

Poucos frigoríficos realizam controle de qualidade dos animais adquiridos com vistas

à seleção de fornecedores (criadores) que ofereçam animais com peso e acabamento

uniformes, assim como peles de melhor qualidade. Os prejuízos decorrentes da grande

quantidade de defeitos das peles adquiridas não são absorvidos pelos frigoríficos, pois elas

são vendidas pelo sistema de “bica corrida”2 (KONZEN, 2006).

Nesse sistema, os frigoríficos entregam as peles frescas (in natura) para os curtumes,

sem que ocorra a classificação do produto, pois a maioria dos defeitos não são evidenciados

nesta etapa de produção. Como conseqüência, não é possível realizar a remuneração pela

qualidade, uma vez que os defeitos das peles não são identificados na origem

(KONZEN, 2006).

O principal fator limitante na melhoria da qualidade das peles e couros é a inexistência

de sistemas de remuneração diferencial pela qualidade, possíveis de serem estabelecidos a

partir de programas de classificação (GOMES, 2002). Segundo Flud Júnior (2002) em

pesquisa realizada com pecuaristas visando o controle de qualidade da pele bovina, dentre os

55 produtores pesquisados, 45 (82%) não utilizam as técnicas de produção de bovino voltadas

à qualidade da pele, o que ocorre em apenas 10 (18%). Um dado que se destaca é o fato de

2 “Bica corrida” é o sistema atualmente utilizado para a comercialização das peles, no qual o curtume adquire do frigorífico a produção (pele), independente da qualidade apresentada. Este é um importante gargalo da cadeia produtiva, visto que os curtumes compram as peles por kg e, depois de processadas, vendem os couros por metro quadrado (m2).

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que dos 55 produtores, 25 (45%) assinalaram conhecer essas técnicas, porém destes 25

produtores, 15 (60%) não o fazem, principalmente por não haver compensação financeira.

Não havendo estímulos financeiros para implantação das “Boas Práticas de Produção

de Peles e Couros”, os frigoríficos e pecuaristas mantêm as práticas tradicionais, que

implicam em custos elevados, tornando o sistema produtivo não sustentável

(MEDEIROS, 2002). Aqui, depara-se com dois problemas: a) necessidade de discriminação

do valor da pele, independentemente do preço da carne; e b) definição de uma remuneração

que contemple a qualidade da pele (MAIA et al., 2004).

Considerando os agentes, produtores rurais e indústrias frigoríficas, este fato fica

evidente pela falta de contratos para gerir a relação entre eles (VINHOLIS, 1999). Deste

modo, o pagamento pela qualidade se torna necessário pela falta de coordenação da cadeia e

também por não haver distinção entre aqueles produtores que entregam seus animais com pele

de boa qualidade, daqueles cujas peles são de baixa qualidade. Este fato leva a certo tipo de

acomodação por parte dos produtores, que não se esforçam para produzir peles de boa

qualidade. Como também, há um descontentamento por parte dos outros produtores, que

recebem o mesmo valor por seu produto de qualidade superior e, muitas vezes, têm seus

custos de produção mais elevados (MAIA, et al., 2004).

Dever-se-ia discriminar a remuneração do pecuarista pela qualidade das peles/couro

(redução de danos causados no pasto), a fim de estimular maior cooperação e

contratualização, em particular na cadeia pecuária-frigorífico-curtume. Dentre as

possibilidades, valeriam incentivos para a utilização de arame liso ao invés do farpado;

incentivo para maior freqüência da aplicação de banhos de carrapaticida; normatização da

aplicação de fogo na marcação (muitos pecuaristas marcam partes nobres do couro, grupon,

por desconhecimento); difusão de técnicas de esfola e a utilização de banho frio para reduzir

veiamento. Nesse caso, a qualificação do pecuarista (produtor da matéria-prima) deveria ser

foco específico de algumas agências e instituições públicas ligadas diretamente ao produtor

(LEMOS et al., 2008).

O estabelecimento de políticas para a remuneração diferencial pela qualidade pode

induzir o produtor a adotar medidas para preservar a integridade física da pele do animal.

Assim, além do preço da pele embutida na cotação da arroba bovina, o produtor passaria a

receber um sobre preço relativo à boa qualidade. Essa modalidade de negócio foi proposta por

Frizzo Filho (1993) e preconizada por Fair (1998), projetos europeus, na qual toda pele deve

ser identificada ou segregada durante o processamento até o estágio de wet-blue, quando se

transforma em couro e pode ser avaliado, classificado e medido (JACINTO et al., 2005).

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2.8 CLASSIFICAÇÃO DE PELES E COUROS

Os defeitos são uma das maiores fontes de não-conformidade na produção de couro.

Alguns destes são inerentes ao animal vivo e a indústria coureira não é capaz de medir

(mensurar) a qualidade das suas matérias-primas (peles) recebidas (BLC, 2007). Além disso,

poucas empresas (curtumes) possuem certificação de qualidade e padronização na

classificação do couro (SANTOS et al. 2002; BARRONIO, 2007).

De acordo com Gomes (2002) a maior parte dos couros do Brasil é classificada na

3a (25,3%), 4a (30,5%), 5a (10,6%) e 6a (10,7%) categorias. Já nos Estados Unidos,

praticamente toda a produção encontra-se em 1a (80%) e 2a (15%) categorias, as quais são

praticamente inexistentes no Brasil (8,6%) (Tabela 4).

Tabela 4 - Comparativo da classificação dos couros produzidos no Brasil e Estados Unidos.

Brasil Estados Unidos Classificação Porcentagem (%) Classificação Porcentagem (%)

1a /2a 8,6 1a 80,0 3a 25,3 2a 15,0 4a 30,5 3a 5,0 5a 10,6 6a 10,7

Refugo 25,3 Fonte: Adaptado de Gomes (2002).

Com o intuito de sanar esta ruim classificação de couros, foi publicada a Instrução

Normativa n° 12 (IN 12), em 18 de dezembro de 2002, pelo Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (MAPA), a qual estabeleceu os critérios de classificação do couro

bovino conforme os defeitos presentes e localização na pele do animal, em três níveis

caracterizados como “A”, “B” e “C” (POSTORI, 2008) (Tabela 5).

Tabela 5 - Padrão de classificação do couro bovino (bovino em pé - vivo). Defeitos naturais Couro tipo “A” Couro tipo ”B” Couro tipo“C” Carrapato Na barriga Na barriga Tolerado Berne curado Não tolerado Fora do grupon Até 4 cicatrizes grupon Risco cicatrizado Não tolerado Fora do grupon Tolerado Placa de berne Não tolerada Não tolerada Fora do grupon Risco aberto Não tolerado Não tolerado Fora do grupon Marca a fogo Não tolerada Não tolerada Tolerada

Fonte: BRASIL, 2002.

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Deste modo, o objetivo do programa de classificação visava racionalizar e melhorar a

qualidade da matéria-prima, para que fosse possível aumentar a renda do pecuarista e garantir

lucratividade para toda a cadeia produtiva (PERES, 2002). Definiu ainda, o local para a

tipificação da pele. De acordo com o documento, a avaliação deveria ser realizada no corredor

de abate dos frigoríficos, com o animal em pé, após descanso regulamentar com dieta hídrica

e banho de aspersão. Sendo as empresas responsáveis pela classificação do couro bovino

credenciadas pelo MAPA (BRASIL, 2002).

2.8.1 Classificação de peles

Com o intuito de analisar a exequibilidade técnica e operacional do sistema

preconizado pelo MAPA (IN 12) a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA - Gado de Corte), por meio de seu corpo técnico, propôs a elaboração de um

projeto de pesquisa, no qual sugerem grandes restrições quanto ao sistema visual de avaliação

dos defeitos na pele bovina, tornando-o subjetivo e questionável (PEREIRA et al., 2007;

POSTORI, 2008). Pois, nesta etapa de classificação os defeitos ficam encobertos pela

pelagem do animal, dificultando sua visualização e avaliação qualitativa. Somente após a

primeira etapa do processo de curtimento (caleiro) ou após o curtimento os defeitos ficam

visíveis, podendo então, serem quantificados e a qualidade avaliada (JACINTO et al., 2005).

Além disso, quando a IN 12 sugere que um defeito seja tolerado fora do grupon,

cria-se uma incoerência, pois a avaliação e classificação devem considerar apenas o grupon,

que é a parte nobre do couro. Como a avaliação a olho nú dos couros ainda com pêlo é

subjetiva, quanto mais classes, maior o nível de detalhamento requerido para discriminar

diversos tipos de couro, aumentando a margem de erro do sistema e comprometendo sua

efetividade (PEREIRA et al., 2007).

2.8.2 Classificação de couros

O processo de classificação (comercial) dos defeitos no couro bovino é realizado

visualmente por especialistas (YEH & PERNG, 2001), sendo que as observações no couro

para a sua classificação, geralmente ocorrem com o couro já pré-manufaturado (wet-blue)

(RODRIGUES et al., 2007). Nesse processo existem divergências quanto à classificação do

couro, já que é um processo repetitivo e realizado visualmente, tornando comum a ocorrência

de erros durante a análise (YEH & PERNG, 2001). Além disso, segundo Santos et al. (2002)

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não há padronização para a classificação do couro, ficando a cargo de cada indústria

(curtume) analisar e definir o percentual que poderá ser utilizado de cada região com defeitos.

Deste modo, existem vários sistemas de classificação, sendo o mais comum aquele que

estabelece até oito níveis de classificação: 1a (primeira) a 7a (sétima) e refugo

(MEDEIROS, et al. 2006). Porém, as mais empregadas pelos curtumes iniciam pela terceira

classificação, pois consideram que não existem couros bovinos de primeira e segunda, sendo

considerado raro o de terceira. Assim, frequentemente são utilizadas as classificações: quarta,

quinta, sexta, sétima, oitava é refugo (JACINTO et al., 2005).

Segundo Santos (2007) a classificação nacional de couros pode ser dividida em

9 classes de acordo com a presença dos defeitos e aproveitamento da superfície na flor

integral: I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e R (Refugo). Porém, de acordo com o critério para a

exportação de couros é dividida em 6 classes: A, B, C, D, E e Refugo (Tabela 6).

Tabela 6 - Classificação nacional, comparada com a classificação destinada à exportação. Classificação nacional (Exportação) Aproveitamento da superfície % (flor integral)*

I 95 II 80 III 70

IV (A) 60 V (B) 50 VI (C) 40 VII (D) 30 VIII (E) 20

R (refugo) 10

Fonte: Adaptado de Santos (2007). *sem necessitar nenhum artifício corretivo.

2.8.3 Sistema de classificação dos couros

Existem iniciativas da Embrapa, Universidade Paulista (UNIP), Universidade Católica

Dom Bosco (UCDB - Mato Grosso do Sul) e Federação das Indústrias do Estado de

São Paulo (FIESP/Sindicouro) no sentido de desenvolver um equipamento que avalie

objetivamente a qualidade do couro, especificando o nível (em função de defeitos, riscos,

marcas). A idéia é, no futuro, desenvolver uma padronização e um selo que garanta algumas

características ao produto final (SILVA et al., 2005).

O projeto para a Detecção Automática de Defeitos em Peles e Couros Bovinos

(DTCOURO) que está sendo desenvolvido no Grupo de Pesquisa de Engenharia e

Computação da Universidade Católica Dom Bosco (GPEC) propõe a automatização da

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classificação do couro bovino, tornando o processo mais eficiente e confiável. Em geral, a

detecção e classificação dos defeitos do couro é uma tarefa árdua, já que o couro apresenta

uma superfície complexa com diferentes texturas, cores, formas e espessuras

(PASQUALI, 2007). Com o desenvolvimento de um processo mecânico (automatizado) de

classificação do couro, será possível obter uma classificação consistente e que poderá ser

utilizada em larga escala (PASQUALI, 2006). O que vai proporcionar maior objetividade,

transparência e equalizar esse importante obstáculo na classificação de couros.

Atualmente, os defeitos que ocorrem durante o transporte dos animais ao frigorífico,

esfola e conservação da pele em fase de pré-processamento, aproximadamente de 2 a 3 dias,

já recebem um cuidado especial por apresentarem resultados imediatos. Porém, o maior

problema ainda ocorre na fase produtiva (propriedade rural), quando os bovinos são expostos

aos ectoparasitas, instalações e manejos inadequados. No momento em que o pecuarista

adotar boas práticas de produção e for remunerado pela qualidade de seu produto, haverá uma

maior produção de peles com melhor qualidade (menor quantidade de defeitos; maior

rendimento em área), aumentando a competitividade do produto couro.

Porém, ainda como desafio tem-se a subjetividade e a falta de padronização na

classificação de peles e couros. No momento a saída para remuneração adicional pela

qualidade das peles, seria a formação de contratos e parcerias dos pecuaristas que adotem

Boas Práticas Agropecuárias (BPA) com as indústrias frigoríficas e curtumes.

Através da resolução destes empecilhos, todos os segmentos da cadeia produtiva do

couro iram se beneficiar, gerando emprego, renda e divisas. Com melhor desempenho do

setor produtivo, ganhará desde o produtor ao trabalhador, passando pelos empresários e

governo.

A seguir, no capítulo 1, será abordada a relação entre a qualidade da pele e do couro

de bovinos nos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul, através da avaliação visual dos

fatores (defeitos oriundos de propriedade rural, localização e intensidade) envolvidos em

ambos os protocolos (protocolo da classificação de peles, proposta e protocolo da

classificação comercial de couros). Artigo, elaborado segundo as normas propostas pela

Revista Brasileira de Zootecnia (RBZ) para posterior publicação.

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CAPÍTULO 1

Relação entre a qualidade da pele e do couro de bovinos nos Estados de Mato Grosso 1

e Rio Grande do Sul3 2

3

Douglas Luís Andreolla4, Manuel Antônio Chagas Jacinto5, Alexandra Rocha de 4

Oliveira6, Waldomiro Barioni Júnior3, Willian Bertoloni7, Mariana de Aragão 5

Pereira8, Rui Machado3, Sérgio Novita Esteves3 6

Resumo 7

Neste estudo foi verificado que não existe relação entre a qualidade da pele e a do 8

couro de bovinos nos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. A qualidade foi 9

estabelecida pelo uso do protocolo de classificação definido na Instrução Normativa 10

n.12/02 do Ministério Agricultura Pecuária e Abastecimento (modificada), e dos couros, 11

pela da classificação comercial praticada no curtume. O sistema de classificação das peles 12

foi composto de três categorias: A (melhor), B (segunda melhor) e D (desclassificada). A 13

presença de, pelo menos, uma marca de identificação a fogo na região dorsal (grupon) 14

segregava a pele na classificação “D” (desclassificada). A marca a fogo na região dorsal 15

(grupon) foi responsável pela desclassificação das 1.000 peles avaliadas no Estado de 16

Mato Grosso e 940, do total de 1.000, no Estado do Rio Grande do Sul. Apesar de 100% e 17

94% das peles terem sido desclassificadas, respectivamente, no curtume, após o 18

curtimento, os couros puderam ser estratificados em seis classes comerciais (A, B, C, D, E 19

e R). Para tanto, utilizou-se a observação visual das marcas oriundas da propriedade rural, 20

cujas causas foram: os ectoparasitas, o homem (marcas decorrentes do manejo) e a 21

ocorrência natural. A frequência dos defeitos tanto na classificação das peles quanto na dos 22

couros (comercial) foi comparada pelo teste de Qui-quadrado. Foi adotada também a 23

Análise de Correspondência Múltipla para identificar e ajustar o mapa dos defeitos do 24

couro associados à classificação comercial. A intensidade dos defeitos que depreciam o 25

3 Pesquisa financiada pela Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP 4 Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, Pós-Graduação em Ciência Animal, Cuiabá, MT.

5 Embrapa Pecuária Sudeste - CPPSE, São Carlos, SP. E-mail: [email protected]. 6 Universidade Estadual Paulista – UNESP, Pós-Graduação em Produção Animal, Jaboticabal, SP. 7 Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, Cuiabá, MT. 8 Embrapa Gado de Corte - CNPGC, Campo Grande, MS.

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couro e a região considerada (barriga, cabeça e gupon) revelou correspondência com a 26

classificação comercial. Assim, a alta intensidade dos defeitos que depreciam o couro está 27

associada às piores classificações, e vice-versa. 28

29

Palavras-chave: classificação, defeito, estratificação 30

31

The Relationship between Cowhide and Leather Quality in the States of Mato Grosso and 32

Rio Grande do Sul, Brazil 33

34

Abstract 35

This study found there is no relationship between the quality of cowhides and that of 36

the respective leather in the states of Mato Grosso and Rio Grande do Sul. The hide quality 37

was established by classification using a modified protocol defined by Normative 38

Instruction 12/2002 from the Ministry of Agriculture, and the quality of the leather was 39

assessed by using the commercial classification employed by tanneries. The hides were 40

classified into three categories: A (best), B (second best) and D (disqualified). The 41

presence of at least one branding mark on the hind region was the reason for classification 42

in category D. All 1,000 hides from the state of Mato Grosso and 940 of the 1,000 from the 43

state of Rio Grande do Sul were then disqualified. Nevertheless, after tanning, the leather 44

could be classified into six commercial classes (A, B, C, D, E and R), by visual appraisal 45

of blemishes on the original hides. The causes of these blemishes were ectoparasites, 46

branding and other marks from herd management, as well as natural scars. The frequency 47

of the defects both in the classification of the hides and leather (commercial) was 48

compared by the chi-square test, and multiple correspondence analysis was performed to 49

identify and adjust the map of leather defects associated with the commercial 50

classification.There was a correspondence between the intensity of the defects that 51

degraded the leather and the region considered (belly, head and hind quarters). 52

53

Introdução 54

O setor de peles e couros é um dos segmentos em que o Brasil apresenta grande 55

abertura ao comércio exterior e fortes indicadores de competitividade (Pereira et al. 2005). 56

As exportações, em valor, ultrapassou os U$ 1,66 bilhões (2009) (Courobussiness, 2010). 57

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Apesar de sua importância no mercado mundial de peles e couros, o Brasil produz 58

peles de baixa qualidade. O principal fator limitante à melhoria da qualidade de pele/couro 59

é a inexistência de sistemas de remuneração diferenciada para a qualidade da matéria-60

prima (pele). Tais sistemas poderiam ser estabelecidos a partir de programas de 61

classificação de peles e couros (Gomes, 2002). 62

Com o intuito de verificar a relação entre a qualidade da pele e do couro de bovinos 63

nos Estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul, foi proposto esse estudo, no qual foram 64

aplicados dois protocolos de classificação, um para as peles, composto de três categorias: 65

A (melhor), B (segunda melhor) e D (desclassificada) e outro para os couros, baseado na 66

classificação comercial composta de seis categorias: A, B, C, D, E e R. 67

Para a classificação das peles, adotou-se o protocolo descrito na Instrução Normativa 68

n° 12/02 preconizado pelo Ministério Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), 69

modificado pela adoção das sugestões apresentadas por Pereira et al. (2007) de 70

reestruturação desse sistema. Para a qualificação dos couros aplicou-se a classificação 71

comercial, rotineiramente utilizada nos curtumes mediante à análise visual dos tipos, da 72

intensidade e localização dos defeitos. 73

Os dados foram representados por Análise de Correspondência Múltipla (ACM), pois 74

é uma técnica multivariada usada para exploração de dados categorizados de natureza 75

mutidimensional. Esta técnica procura organizar geometricamente, por meio de 76

representação gráfica, uma associação ótima entre as categorias das variáveis em estudo. A 77

estrutura de agregação resultante é representada por gráficos bidimensionais formados 78

pelos eixos fatoriais gerados pela análise de correspondência. É uma técnica dirigida a 79

estudos de natureza descritiva e não inferencial – não há necessidade de assumir modelos e 80

nem distribuições fundamentais. 81

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41

Material e Métodos 82

Nesse trabalho foi utilizada a metodologia proposta pela Instrução Normativa (IN) 83

n.12/02 do Ministério Agricultura Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2002), porém, com a 84

substituição do nível “C” pelo “D” (desclassificada). A área de observação proposta na 85

mesma IN foi ampliada, da região dorsal (grupon), para toda a pele (Tabela 1). 86

Tabela 1 - Sistema de classificação das peles bovinas de acordo com a IN/MAPA 12/02, 87

modificada1. 88

Defeitos Pele tipo “A” Pele tipo “B”

Carrapato Não tolerado Não tolerado

Berne aberto Não tolerado Não tolerado

Berne curado Não tolerado Tolerado

Risco aberto Não tolerado Não tolerado

Risco cicatrizado Não tolerado Tolerado

Sarna2 Não tolerado Tolerado

Marca a fogo Não tolerada Não tolerada 1 A ocorrência de qualquer defeito, excluindo-se os tolerados (Pele tipo “B”), determina a pele tipo 89

“D” (desclassificado); 2 Na indústria de curtimento é comumente considerada sinônimo de 90

dermatomicose, dermatofitose (ringworm) (Chermette et al., 2008). 91

92

Foram utilizadas 1.000 peles no experimento do Estado do Mato Grosso - rebanho 93

predominantemente Bos indicus - fornecidas por dois frigoríficos de Várzea Grande. Para o 94

experimento do Estado do Rio Grande do Sul - rebanho predominantemente Bos taurus – 95

também foram utilizadas 1.000 peles, fornecidas por um frigorífico de Bagé. 96

As peles foram transportadas para os curtumes, em Cuiabá (MT) e em Bagé (RS), e 97

classificadas visualmente, pelos bolsistas do projeto capacitados para esse fim, sendo 98

identificadas com números sequenciais e a letra correspondente à classificação recebida 99

(“A”, “B” ou “D”). Durante a classificação das peles o único defeito observado foi a marca 100

a fogo, o restante dos defeitos estavam encobertos por pelos. 101

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Após a etapa de curtimento com sulfato de cromo as peles foram consideradas como 102

“couro” e foram mantidas úmidas. Posteriormente foi realizada a classificação comercial, 103

por observação visual dos defeitos, pelos classificadores do curtume capacitados para esse 104

fim. Nessa fase os pelos já haviam sido removidos. 105

Na classificação comercial dos couros avaliam-se: o tipo e a localização dos defeitos, 106

bem como a intensidade do dano causado. Deste modo, a combinação de critérios produziu 107

uma matriz de defeitos e localizações, como segue: carrapato na barriga (CB), carrapato na 108

cabeça (CC), carrapato no grupon (CG), berne aberto no grupon (BAG), berne aberto fora 109

do grupon (BAFG), berne fechado no grupon (BFG), berne fechado fora do grupon 110

(BFFG), sarna fora do grupon (SFG), sarna no grupon (SG), risco fechado no grupon 111

(RFG), risco fechado fora do grupon (RFG), risco aberto no grupon (RAG), risco aberto 112

fora do grupon (RAFG) e marca a fogo (MF). 113

Os defeitos quantificados pelos classificadores dos curtumes e expressos em 114

intensidades: “pouco”, “médio” e “muito” (Tabela 2), foram validados por meio de um 115

quadrado construído com ferro de 6 mm de seção circular e 400 mm de lado, colocados nas 116

regiões: ventral, cabeça e dorso (grupon). A ausência de defeitos também foi considerada 117

uma “variável”. Para a análise estatística as intensidades foram transformadas em números: 118

ausência de defeito = 0, pouco defeito = 1, quantidade média de defeito = 2, grande 119

quantidade de defeito = 3. 120

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Tabela 2 - Intensidade dos defeitos que depreciam o couro 121

Defeitos Intensidade

Pouco Médio Muito

Carrapato (cicatrizes) Até 100 100 a 500 Acima de 500

Riscos abertos e fechados (cicatrizados) Até 3 4 a 5 Acima de 5

Sarna (marcas circulares) Até 2 3 a 4 Acima de 4

Berne aberto ou fechado (cicatriz) Até 2 3 a 4 Acima de 4

Marca a fogo Até 1 2 a 3 Acima de 3

122

Por meio do sistema de classificação comercial dos couros (CCO), considerando os 123

tipos, a intensidade e a localização dos defeitos, foi possível estabelecer seis classes: A, B, 124

C, D, E e R. A classe “A” foi atribuída aos couros de melhor qualidade e, decrescendo em 125

qualidade, “B”, “C”, “D” e “E”. A classe “R” foi atribuída aos couros refugos. 126

Foram montadas tabelas de frequência da classificação dos couros (comercial), 127

tabelas de frequências dos defeitos que depreciam o couro e tabela de contingência seguida 128

de teste de Qui-quadrado para estudar a associação entre a classificação comercial e as 129

variáveis relacionadas aos defeitos. 130

Como a classificação do couro é de natureza multivariada, isto é, vários fatores estão 131

associados e pelo fato das variáveis observadas serem qualitativas (não paramétricas), 132

aplicou-se também, a técnica de Análise de Correspondência Múltipla (ACM) para estudar 133

todas as associações entre os pares das variáveis, das tabelas de contingência. Os 134

resultados foram projetados sobre um gráfico, denominado mapa de perfis, em dimensão 135

reduzida, na forma de pontos, representando simultaneamente as categorias de linhas e 136

colunas da tabela de contingência. A associação entre as variáveis foi avaliada de acordo 137

com a proximidade das categorias; quanto mais próximas, maior a probabilidade de 138

estarem associadas (Andersen, 1991; Benzécri, 1992; Greenacre, 1984, 1987, 1993; Judez, 139

1988; Krzanowski, 1993). 140

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Resultados e Discussão 141

No Estado de Mato Grosso todas as peles avaliadas (1.000) foram desclassificadas 142

(D) por apresentar, pelo menos, uma marca a fogo no grupon. Já no Estado do Rio Grande 143

do Sul 940 das 1.000 peles avaliadas receberam a classificação (D) e 60 não apresentaram 144

marcas (Tabela 3). Pereira et al. (2007) encontraram resultados semelhantes para peles de 145

baixa qualidade (classe “C”) no Estado de Mato Grosso do Sul, pois, 937 delas (93,7%) 146

apresentaram pelo menos uma marca a fogo naquela região. 147

O local e a dimensão da marcação a fogo são determinados por lei (Brasil, 1965) e 148

normalizados (Associação, 1996). Porém, por desconhecimento da lei ou por não auferirem 149

lucro com a pele, os proprietários conduzem os trabalhos de manejo incorretamente, 150

contribuindo assim para a sua desvalorização (Bonfim, 2003). O fácil acesso à região 151

dorsal e a posterior visualização durante as práticas de manejo são justificativas comuns 152

para a marcação a fogo em local incorreto. Essa prática compromete a região mais valiosa 153

da pele, a dorsal (grupon) (Jacinto et al., 2005). 154

Tabela 3 - Número (N) e frequência (%) das classes de peles e couros do Estado de Mato 155

Grosso e Rio Grande do Sul. 156

Classificação das peles e dos couros1

N (%)

IN n. 12 - MAPA

(modificada) – (peles) Comercial (couros)

A B D Total A B C D E R Total

MT 0

0%

0

0%

1000

100%

1000

100%

0

0%

14

1,4%

316

31,6%

531

53,1%

115

11,5%

24

2,4%

1000

100%

RS 60

6%

0

0%

940

94%

1000

100%

248

24,8%

143

14,3%

146

14,6%

159

15,9%

283

28,3%

21

2,1%

1000

100% 1 Classificação das peles: IN/MAPA 12/02 (modificada) – A = melhor qualidade; B = qualidade 157

intermediária; D = desclassificado. Classificação comercial do couro: A = melhor qualidade, e 158

decrescendo em qualidade, B, C, D, E, R (pior qualidade = refugo) 159

160

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45

Em virtude da totalidade (MT) ou a grande maioria (RS) das peles terem sido 161

desclassificadas (D), não foi possível observar relação entre os resultados da classificação 162

das peles e da classificação dos couros. Porém, foi observado que existe relação entre o 163

tipo, intensidade e região de ocorrência dos defeitos dos couros na classificação comercial. 164

Durante a classificação comercial dos couros das respectivas peles, no Estado do 165

Mato Grosso, foram verificados 330 (33%) e 670 (67,0%) couros das duas melhores (B, C) 166

e três piores (D, E, R) classes, respectivamente (Tabela 3). Não sendo observado nenhum 167

couro da melhor classificação (A). Esse resultado coincide com as observações de 168

Furlaneto (1996), no Estado da Paraíba, onde foi observado que as peles e, 169

consequentemente, os couros eram de baixa qualidade pela grande intensidade dos 170

defeitos. 171

No Estado do Rio Grande do Sul foram observados 537 (53,7%) couros das três 172

melhores classes (A, B, C) e 463 (46,3%) das três piores (D, E, R). No entanto, a classe 173

“A” foi composta de 248 (24,8%) couros e a classe “E” de 283 (28,3%) (Tabela 3). Esses 174

resultados indicam que os couros do Rio Grande do Sul apresentam melhor qualidade pela 175

menor quantidade de defeitos, comparados aos resultados encontrados no Estado de Mato 176

Grosso, e por outros autores, no Mato Grosso do Sul (Pereira et al., 2005) e nos Estados de 177

São Paulo, Pará, Minas Gerais e Bahia (Jacinto et al. 2009). 178

A Análise de Correspondência Múltipla (ACM) permite a projeção simultânea das 179

categorias das variáveis e dos indivíduos sobre um gráfico, em "dimensão reduzida", 180

facilitando a interpretação do fenômeno pesquisado. A associação entre as variáveis é 181

avaliada de acordo com a proximidade dessas categorias; quanto mais próximas, maior a 182

probabilidade de estarem associadas. 183

Por meio desse técnica foi possível eleger seis defeitos: CC, CB, CG, SG, SFG e 184

RFG e suas respectivas intensidades, por melhor caracterizarem o universo dos couros do 185

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Estado de Mato Grosso avaliados e explicarem suas relações com a classificação comercial 186

(Figura 1). Como a classe “A” não foi identificada, as classes comerciais (CCO) 187

consideradas foram B, C, D, E e R. A relação dos seis fatores entre si e a classificação 188

comercial estão apresentados no mapa da Figura 1, ajustado pela ACM. 189

190

191

Figura 1 - Mapa representando simultaneamente os tipos, a intensidade e localização dos 192

defeitos e a classificação comercial dos couros do Estado de Mato Grosso. 193

194

A classificação comercial do couro (CCO) está representada pela linha tracejada no 195

sentido da direita para a esquerda (Figura 1). Pela correspondência entre a pequena 196

quantidade de defeitos com a alta qualidade dos couros, e vice-versa, foi possível definir 197

três zonas de estudo: boa (ausente = 0 ou pouco = 1), intermediária (média = 2) e 198

ruim (muito = 3). 199

Os dois eixos (fator 1 e 2) da análise de correspondência múltipla explicam juntos, 200

24,71% da relação existente entre as variáveis estudadas. No mapa, a classificação 201

comercial está representada no eixo x, com as melhores classificações indo da direita para 202

a esquerda (setas). 203

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Por intermédio da Análise de Correspondência Múltipla (ACM) foi possível eleger 204

cinco defeitos: CB, CC, CG, BFFG, BFG e suas respectivas intensidades, para a 205

caracterização amostral do universo de couros do Estado de Rio Grande do Sul avaliados e 206

explicarem suas relações com a classificação comercial (Figura 2). A maioria dos defeitos 207

encontrados apresentou as intensidades “sem” ou “pouco”, indicando couros de boa 208

qualidade. A relação dos cinco fatores entre si e a classificação comercial estão 209

apresentados no mapa da Figura 2, ajustado pela ACM. As classes comerciais (CCO) 210

consideradas foram da direita para esquerda: A, B, C, D, E e R. 211

212

213

Figura 2 - Mapa representando simultaneamente os tipos, a intensidade e localização dos 214

defeitos e a classificação comercial dos couros do Estado de Rio Grande do 215

Sul. 216

217

Os dois eixos da análise de correspondência múltipla explicam juntos, 30,47% da 218

relação existente entre as variáveis estudadas. No mapa, a classificação comercial está 219

representada no eixo x, com as melhores classificações indo da direita para a esquerda 220

(setas). 221

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Pela correspondência entre a pequena quantidade de defeitos com a alta qualidade 222

dos couros, e vice-versa, foi possível definir duas zonas de estudo: boa (ausente= 0 ou 223

pouco= 1) e ruim (média= 2 e muito= 3). 224

Diferentemente da classificação das peles, a classificação comercial do couro (CCO) 225

está altamente associada aos fatores: defeitos, localização e intensidade, 226

independentemente do tipo de defeito. 227

Conclusões 228

O único fator (defeito, localização e intensidade) que pode ser identificado no 229

protocolo da classificação de pele é a marca a fogo. Sendo que, no Estado do Rio Grande 230

do Sul houve dificuldade na observação visual deste fator, em virtude da característica de 231

pele dos bovinos (pêlos longos), influenciada pelo clima e genética (Bos taurus). Por outro 232

lado, foi possível verificar que a classificação comercial dos couros, em ambos Estados, é 233

altamente associada aos defeitos, localização e intensidade, em virtude da melhor 234

visualização destes fatores, embora subjetiva. Deste modo, não foi possível estabelecer 235

relação entre os resultados obtidos nos dois protocolos: IN n.12 do MAPA (modificada) e 236

classificação comercial. O protocolo indicado para avaliação da qualidade de pele/couro é 237

o da classificação comercial. O grande desafio agora é o desenvolvimento de métodos que 238

possibilitem a rastreabilidade das peles até sua transformação em couros, para posterior 239

classificação. 240

241

Agradecimentos 242

Agradecemos à bolsa de estudos concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento 243

de Pessoal de Nível Superior - CAPES, ao financiamento do projeto pela Financiadora de 244

Estudos e Projetos – Finep, à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. 245

O apoio dos Frigoríficos Sadia e Pantanal (Várzea Grande - MT) e Mercosul (Bagé - RS), 246

assim como dos Curtumes Durlicouros (Cuiabá - MT) e Bom Retiro (Bagé - RS), os quais 247

possibilitaram a realização e concretização desta pesquisa. 248

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