Dossiê Temático sobre a Cidade
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Transcript of Dossiê Temático sobre a Cidade
Olga Dryuchenko
A cidade
Escola Secundária de Albufeira
Autora: Olga Dryuchenko 11ºD
Professora: Maria de Jesus Pinto
Português
Ano lectivo 2010/2011
ossiê tematico
D 1
Amesterdão
Lisboa
Paris
Amesterdão Berlim
Roma
Paris
Lisboa
O que é uma
cidade?
Espaço
urbanístico?
Estrutura
social?
Londres
Madrid
História de um
povo?
New York
Moscovo
Viena Roma
Londres
Madrid Estocolmo
Tallin
Estocolmo
2
Íntrodução
organização
deste dossiê
temático foi mais
um desafio para a minha
criatividade. Por essa razão,
recebi a proposta da
professora com grande
entusiasmo e comecei a
imaginar mentalmente qual
seria a melhor e a mais
original forma de elaborar
esta recolha sobre o tema
“Cidade”. É um
tema relativamente fácil e
bastante vasto para um
citadino, o que facilita a
tarefa.
Antes de tudo, optei por
encontrar a forma mais
acertada para mim, para
depois organizar a recolha
sobre o tema. Encontrei esta,
a forma de fazer um livro-
jornal on-line. Porque?
Porque nunca tinha
experimentado fazer um
trabalho de tal forma, e
porque efectivamente
interesso-me por montar
jornais, escrever textos
jornalísticos, tratar do aspecto
visual e ver o resultado final.
Depois de decidir com o
suporte do dossiê, prossegui
para a recolha de materias.
Alguns deles resultam das
orientações iniciais da
professora, outros da minha
imaginação, outros da minha
ligação com a História,
Geografia, Literatura,
Música, alguns até das
minhas experiências
passadas.
O aspecto visual,
nomeadamente as imagens e
o seu tratamento, o tipo de
letra, as cores, derivará de
alguns exemplos de revistas,
mas não deixará de ser
original.
O objectivo é falar um
pouco dos mais variados
aspectos da cidade que vêm à
mente, organizá-los de forma
coerente e de fácil acesso.
A
Olga Dryuchenko 3
índice
Páginas
Introdução............................................ 3
Simbologia de “Cidade”..................... 5
Cidade e vida citadina nos diferentes
tempos da história...............................7
Albufeira , cidade dourada................. 9
Uma lenda de Albufeira .....................13
A lenda das Sete Cidades....................15
Thomas More sobre a cidade
In Utopia...............................................16
A Cidade na perspectiva dos
músicos, escritores, poetas e pintores....17
Sobre a cidade perfeita ......................25
Curiosidades sobre as cidades .......... 27
As cidades que visitei .........................29
Uma viagem a Salamanca.................. 37
A cidade inteligente............................ 39
Conclusão............................................ 42
Bibliografia......................................... 43
Anexos................................................. 44
4
Simbologia de
“Cidade”
cidade é
um
símbolo da sedentarização
dos povos nómadas e, por
isso, expressa pelo quadrado,
que representa a estabilidade.
Tal como as casas, as cidades
são o centro do mundo e
podem ser associadas a um
reflexo do paraíso ou de
locais espirituais. Segundo a
mitologia cristã, a primeira
cidade foi criada por Caim,
filho de Adão e Eva.
As cidades, tal como as
casas, são um símbolo de
estabilidade e sedentarização
e por isso assumem a forma
quadrada por oposição às
tendas e aos acampamentos
nómadas que têm a forma
redonda, representando o
movimento. São também um
símbolo feminino, associado
à mãe que encerra os filhos
que são os seus habitantes.
As cidades são um elemento
quadrado e mineral por
oposição ao paraíso, do qual
são um reflexo, que é
redondo e tem uma
simbologia vegetal. Segundo
a tradição, existem cidades
que são uma representação da
valores espirituais e
supremos: Heliopolis era a
cidade do Sol, Jerusalém
tinha a sua correspondente
“A
Nas imagens: Jerusalém e Babilónia
5
celeste com doze portas,
correspondendo ao cosmos
zodiacal, modelo que existia
também nas cidades hindus e
romanas, em que todas elas
eram construídas tendo em
conta a posição dos planetas
e o movimento do Sol. Para a
construção das cidades,
também se tinham em conta
as nascentes e os cursos das
águas, a direcção dos ventos,
da luz e da sombra.
Para além de quadradas,
as cidades também eram
posicionadas em relação aos
quatro orientes, ou seja, às
quatro direcções, que na
Índia eram associadas às
quatro castas. Estas quatro
direcções, complementadas
por duas vias principais
perpendiculares,assemelhava
m-se ao Yantra de Shiva e
eram usadas como modelo,
tanto nas cidades imperiais da
China como na Antiga Roma,
simbolizando o centro do
poder e do Império. Muitas
cidades tinham fortalezas em
forma de vários quadrados
encaixados, como era o caso
das cidades celtas, gregas ou
chinesas. Segundo Platão, as
cidades da Atlântida eram de
forma redonda, simbolizando
uma perfeição supraterrena.
Na Idade Média existia
muito o conceito de uma
cidade celeste por oposição
às cidades terrenas e que a
vida dos seres humanos era
um percurso entre estas duas
cidades. Na Bíblia, as cidades
eram descritas com
qualidades e defeitos e
vestuário de pessoas, como é,
por exemplo, o caso de
Jerusalém, descrita como
mãe, ou de Babilónia, vestida
de púrpura e escarlate, com
adornos de ouro e pedras
preciosas, simbolizando a
devassidão
Cidade (simbologia). In Diciopédia 2010
6
Cidades e vida citadina
Evolução histórica
s nossos
antepassados
adornaram a
cidade com edifícios tão
esplêndidos e numerosos que
qualquer dos seus
descendentes desistiria se
tentasse superá-los.
Deixaram-nos uma cidade
ordenada e bel, com os
propiléus lá no alto, o arsenal
e muitas coisas mais. E, no
entanto, as casas dos
poderosos eram modestas e
coerentes com o espírito da
nossa constituição. Eram tão
modestas e coerentes com
esta última, que vivendas das
pessoas famosas (...) não
excediam a dos seus
vizinhos(...)”
“O
Grécia, Atenas, 300 anos a.C
7
Nas imagens: Atenas e Torre Eiffel ( Paris)
primeira
muralha de
Lisboa, (...)
abrangia 15 mil hectáres. Não
era uma grande cidade em
comparação com outras
metrópoles famosas da
Espanha muçulmana. Mas
também não era uma aldeia.
Em redor da mesquita que
fora convertida em catedral
funcionavam os mercados e
os banhos públicos (...).”
actual
organização da
cidade de Paris
muito deve às obras de
Haussmann, durante o século
XIX. Foi ele quem abriu a
maioria das vias de maior
circulação hoje em dia
Costuma-se associar Paris ao
alinhamento de imóveis de
mesma altura ao longo de
avenidas ladeadas de árvores,
às fachadas ritmadas pelos
ornamentos do segundo andar
e pelos balcões contíguos do
quinto andar. O centro de
Paris distingue-se dos
centros de muitas grandes
cidades ocidentais pela sua
alta densidade populacional.”
.
“A
“A
Portugal, Lisboa, século XIII
França, Paris, século XXI
8
Albufeira,
cidade
dourada
9
10
ão nasci aqui. Mais de 6 mil
kilómetros separam-me da terra
que me deu vida e ar para
respirar, que me acolheu no seu
berço. Longe, atrás das
montanhas e mares, planícies e
vales. Mas o sítio onde pertenço
realmente, onde vejo a minha
vida correr de forma simples,
onde sei que cada rua me
conhece e cada edifício me sorri,
é Albufeira.
Extremo sul de Portugal,
Algarve. Albufeira é uma cidade
fantástica, de dimensões
pequenas mas com tão grande
significado. Aqui tudo é
pragmático , pode-se percorrer a
cidade inteira em menos de duas
horas. Cada cantinho é único,
cada sítio, mesmo visitado por
uma vez deixa uma recordação
especial. É uma cidade muito
acolhedora, pode-se mesmo dizer
que é dócil.
Para quem aqui vive, Albufeira é
essencial, é um pedacinho do
mundo como não há outro igual.
O verão aqui é dourado... Porque
as praias são douradas. A areia é
macia, o sol tão quente que
parece que vamos derreter. As
águas do mar são de um azul
reconfortante, as ondas falam
connosco num sussuro que fica
na memória para sempre. A Praia
dos Pescadores de Albufeira e o
antigo Jardim, fazem parte da
baixa da cidade que se conserva
desde dos tempos dos mouros.
As noites aqui são de veludo...
Frescas e brilhantes.
Albufeira
11
N
O dinamismo deste pequeno
lugar é de tão maneira acentuado
que por vezes chego a pensar que
me encontro na capital. Mas
quando saio para a rua, seja de
dia ou de noite, no verão ou no
inverno, com frio ou calor,
encontro sempre caras
conhecidas e simpáticas, porque
as pessoas de Albufeira são tão
sociáveis como em mais lado
nenhum. Posso viajar mas tenho
sempre saudades do espírito
albufeirense, esteja onde estiver.
Amo Albufeira, por ela ter me
dado tudo o que tenho, tudo que
preenche a minha vida. Por ela
me ter aquecido quando estava
com frio, por me ter dito o que
havia de fazer nos momentos de
maior desespero. Quando vou
pela rua sozinha, é aí que
saboreio a cidade, a sua
tranquilidade, o seu
companheirismo... Quando vou
pela rua sozinha, olho para os
lados e sei que estou em casa.
Esta cidade deixa-nos estar
connosco próprios, sentados no
pontão a ver o pôr-do-sol, só nós
e o nosso eu. Mas nunca nos
deixa sozinhos...
Este ar que me preenche tem um
cheiro específico, um cheiro a
amizade, um cheiro a bondade...
Porque Albufeira é aquela cidade
que uma vez presente na vida,
nunca desaparecerá da memória,
nunca largará o pensamento.
Porque ser albufeirense é fazer
parte de cada árvore, de cada
grão de areia na praia, de cada
raio do sol que ilumina este lugar
paradisíaco.
Cidade das praias
douradas, do sol
quente, do céu
limpo e das ondas
do mar com
espuma branca.
- a minha cidade
12 Olga Dryuchenko
“A Fonte
das Almas”
obre a Fonte Santa, de Alte, a norte de Paderne,
concelho de Albufeira, Estácio de Veiga pôs a lenda
em verso:
Era de Maio uma tarde,
De tais flores perfumada
Que a Virgem Mãe do Rosário
De tanto enlevo enlevada
Junto à margem de um ribeiro
Céu e terra contemplava.
Nas águas que ali correm,
Via-se ela retratada,
E dos mirtais e roseiras
Que o ribeiro refrescava,
Uma capela tecera
Para a Senhora da Orada.
Tecida que era a capela,
Logo dalí se ausentara,
Levando no seu regaço
O Filhinho de su’ alma
Indo em meio do caminho
Grande calor apertava;
A água o Menino pedia,
Mas sua Mãe não lh’a dava
Que dentre aquelas estevas
Olho d’água não brotava.
Crescia a sede, crescia ,
E então a Virgem parava.
Lança os olhos à ventura,
Vê uma rocha escarpada.
Onde o sol dava de face
Com tal calor que crestava!
Palavras que a Virgem disse
Logo pelo Céu entraram,
E o rochedo que as ouvira
Em fonte se transformara.
O caso é que em bem pouco
Água tão fresca jorrava,
Que aos pés da santa corria,
Como quem lhe os pés beijava.
S
Lenda da cidade de Albufeira
13
Bebendo que era o Menino,
Toda a fonte se cercava
De alecrins e manjeronas.
E rosas de toda a casta,
Desde então ficou a fonte
Chamada fonte fadada,
Dera-lhe a Virgem três chaves,
Uma de ouro e as mais de
prata,
Uma para ser aberta,
Outra para ser fechada
E outra para alí guardar
Almas puras como a água,
Das almas que a Santa Virgem
Muitas vezes lá guardava,
Ficou o povo chamando
À fonte – Fonte das Almas.
14
“A lenda das Sete
Cidades” onta a lenda
que o
arquipélago dos
Açores é o que hoje resta de
uma ilha maravilhosa e
estranha. Vivia nessa ilha um
rei que lamentava não ter
filhos. A dor tornava-o
amargo e cruel. Uma noite,
desceu uma estrela muito
brilhante dos céus que aos
poucos se foi materializando
numa bela mulher. Esta
prometeu ao rei uma filha
bela como o sol. Para isso, o
rei teria de deixar de ser cruel
e passar a ser paciente. Teria
que construir um palácio
rodeado por sete cidades
cercadas por muralhas de
bronze que ninguém poderia
transpor. A princesinha
ficaria aí guardada durante
trinta anos, longe dos olhos e
do carinho do rei. O rei
aceitou o desafio. No entanto,
decorridos 28 anos, o rei não
aguentou mais. Apesar de
saber que morreria e o seu
reino seria destruído, dirigiu-
se às muralhas para as
destruir. Assim que começou,
a terra estremeceu e o mar
engoliu a ilha. No fim de
tudo, restaram apenas as nove
ilhas dos Açores e o palácio
da princesa, transformado
agora na Lagoa das Sete
Cidades. A lagoa dividiu-se
em duas: uma verde, como o
vestido da princesa, e a outra
azul, da cor dos seus
sapatos.”
“C
Lenda da ilha dos Açores
Lenda das Sete Cidades. In Diciopédia 2010
Na imagem: Lagoa das Sete Cidades 15
Thomas More sobre
a cidade
númeras facetas de uma
cidade abrem-se perante
um observador atento.
Este pode subir o pano que
permanece sobre a cidade e
abrir-se-a aos seus olhos um
quadro multifacetado.
Um desses observadores foi
Thomas More, que no século
XVI escreveu o livro
“Utopia” no qual descrevia as
mais ideais cidades,
obviamente imaginárias.
More não se limitava apenas
a descrever a sua
organização, fez ele uma
autópsia minuciosa desde as
intrelações dos cidadãos, a
sua racional exploração dos
recursos das cidades, a sua
cultura até a distribuição da
riqueza comum.
As reflexões de Thomas
More suscitaram um debate
durante o qual os
participantes tentaram
defender ou refutar a ideia da
implementação da
organização das cidades
utopianas, na Inglaterra.
Porém, o modelo utopiano
revelou-se incompatível com
todos os países europeus. A
organização político-social
destes estava tão enraizada e
corrupta, que não se via
possível qualquer governante
legislar de acordo nem com
metade das leis utopianas.
Seria necessário arrasar todos
os países europeus e extinguir
a raça europeia, para poder
começar a construção da
cultura nova e mais perfeita...
I
In “Utopia”
Na imagem: Ilha da Utopia
16
Olga Dryuchenko
A cidade
Lisboa & Amaurota
“Estavam no Loreto; e
Carlos parara, olhando,
reentrando na intimidade
daquele velho coração da
capital. Nada mudara. A
mesma sentinela sonolenta
rondava em torno à estátua
triste de Camões. Os mesmos
reposteiros vermelhos, com
brazões eclesiásticos,
pendiam nas portas das duas
igrejas. O Hotel Aliance
conservava o mesmo ar mudo
e deserto. Um lindo sol
dourava o lagedo; batedores
de chapéu à faia fustigavam
as pilecas; três varinas, de
canastra à cabeça, meneavam
os quadris, fortes e ágeis na
plena luz. A uma esquina,
vadios em farrapos fumavam;
e na esquina defronte, na
Havaneza, fumavam também
outros vadios, de
sobrecasaca, politicando.”
Eça de Quierós, in “Os Maias “
17
“As cidades da ilha, com especial menção de Amaurota
Quanto às cidades, quem
conhece uma conhece todas.
Assemelham-se tanto quanto
a natureza do local o permite.
Descrever-vos-ei, pois, uma
delas, indferentemente; mas
porque não Amarouta? (...)
A cidade de Amaurota fica na
encosta de um monte de
inclinação suave e tem forma
quase quadrangular. Começa
pouco abaixo do cume do
monte e prolonga-se pelo
espaço de duas milhas até ao
rio Anidro. A sua largura,
junto ao rio, aumenta um
pouco. ( ... ) Hoje, as casas
são belas e elegantes,
contruídas por um processo
interessante, com três
andares. O exterior das
paredes é coberto de pedra,
gesso, tijolo, e o seu interior é
reforçado com vigas de
madeira. Os telhados são
planos (...)”
Thomas More, in “Utopia “
na perspectiva
dos escritores Nas imagens : Loreto, Lisboa e Ilha Poros, Grécia
18
Os músicos sobre
Rui Velozo – “Porto Sentido”
uem vem e atravessa o
rio
Junto a Serra do Pilar
Vê um velho casario
Que se estende ate ao mar
Quem te vê ao vir da ponte
És cascata, são-joanina
Erigída sobre o monte
No meio da neblina.
Por ruelas e calçadas
Da Ribeira até à Foz
Por pedras sujas e gastas
E lampiões tristes e sós.
Esse teu ar grave e sério
Num rosto e cantaria
Que nos oculta o mistério
Dessa luz bela e sombria
[refrão] Ver-te assim abandonado
Nesse timbre pardacento
Nesse teu jeito fechado
dD quem mói um sentimento
E é sempre a primeira vez
Em cada regresso a casa
Rever-te nessa altivez
De milhafre ferido na asa
Q
Nas imagens: Cidades do Porto e Lisboa
19
Amália Rodrigues – “Lisboa não
sejas francesa”
ão namores os
franceses
Menina, Lisboa,
Portugal é meigo às vezes
Mas certas coisas não perdoa
Vê-te bem no espelho
Desse honrado velho
Que o seu belo exemplo atrai
Vai, segue o seu leal
conselho
Não dês desgostos ao teu pai
Lisboa não sejas francesa
Com toda a certeza
Não vais ser feliz
Lisboa, que idéia daninha
Vaidosa, alfacinha,
Casar com Paris
Lisboa, tens cá namorados
Que dizem, coitados,
Com as almas na voz
Lisboa, não sejas francesa
Tu és portuguesa
Tu és só pra nós
Tens amor às lindas fardas
Menina, Lisboa,
Vê lá bem pra quem te
guardas
Donzela sem recato, enjoa
Tens aí tenentes,
Bravos e valentes,
Nados e criados cá,
Vá, tenha modos mais
decentes
Menina caprichosa e má
Lisboa não sejas francesa...
a Cidade..
N
20
A visão dos
“Cidade”
Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
Sofia de Mello Breyner, in “Obra Poética I”
21
poetas sobre
“UmaCidade” Uma cidade pode ser
apenas um rio, uma torre,
uma rua
com varandas de sal e
gerânios
de espuma. Pode
ser um cacho
de uvas numa garrafa, uma
bandeira
azul e branca, um cavalo
de crinas de algodão, esporas
de água e flancos de granito.
Uma cidade
pode ser o nome dum país,
dum cais, um porto, um barco
de andorinhas e gaivotas
ancoradas na areia.
E pode ser um arco-íris à
janela,
um manjerico de sol,
um beijo de magnólias
ao crepúsculo, um balão
aceso numa noite de junho.
Uma cidade pode ser
um coração, um punho.
Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas
Nas imagens: Cidades de Coimbra e Sintra
22
O olhar dos anto como os
compositores, os
escritores e os
poetas, os pintores têm uma
visão personificada e
impressionista sobre o espaço
urbano. Talvéz sejam
justamente as pinturas que
transmitem o ambiente
citadino da mais fiel forma...
T
“Sobre a Cidade” por Marc Chagall (1915)
23
pintores sobre
“Boulevard Montmartre”
por Camille Pissarro
(1897)
“O Paço da
Ribeira” por
Dirk Stoop
(1610-1686)
o
espaço
urbano
24
Sobre a cidade Perfeita
Largos boulevards,
ruas que brilham de pureza,
aposentos de luxo e
grau 0 de criminalidade.
mbarco numa viagem
por uma cidade
perfeita.
Começo por imaginar um
país perfeito, antes de tudo.
Não sei porque mas a
primeira associação que me
vem à mente quando se fala
em perfeição de cidade, é
Itália. Roma ou Veneza, ou
até mesmo Verona, cidades
de escape para romanticos e
artistas. Encontro-me em
Itália , numa delicada cidade
á beira do Mar Mediterrâneo.
O clima mediterrânico até no
Inverno é ameno. Mas estou
em meados de Junho. A
quantidade de sol é invejável,
as praias convidam-me
gentilmente. Ao fundo vejo,
montanhas onde posso
refugiar-me no fresquinho da
sombra do bosque.
Entro pelas portas da cidade.
Reparo que as ruas são
largas, bastante largas para
que os peões não tenham
medo de andar no passeio e
serem atropelados. Filas de
E
25
Na imagem: Roma, Itália.
árvores ao longo de qualquer
rua produzem oxigénio para
respirar livremente. Os
jardins que se encontram
espalhados por toda a cidade
dão-lhe um reflexo verde e
acolhedor que contrasta com
a cor das flores de verão.
A electricidade alimenta os
carros e os transportes
públicos, tanto como todos os
outros, de maneira a evitar a
poluição do ar. As casas são
de luxo, não muito grandes
mas bem equipadas, bem
contruídas e baratas, porque é
suposto o país e a cidade
serem abastadas. O Estado
democrático encarrega-se de
dar as melhores condições
aos habitantes. Estes,
desempenham os seus cargos
de modo a contribuir para o
bem de toda a sociedade .
Todos são bem remunerados
e têm as mesmas
oportunidades.Os preços são
fixos, não existe inflação nem
especulação da banca que
obrigam os preços a disparar.
Qualquer produto é acessível
para qualquer pessoa. O
poder de compra é
equivalente para todos.
Existem bancos, escolas com
o melhor sistema educativo,
universidades, unidades
hoteleiras e de restauração,
teatros, cinemas. Não falta
nada.
Não há ricos nem pobres.
Não existe descriminação. A
criminalidade é reduzida á
zero pois é simplesmente
impertinente e desnecessária.
É um mundo a parte, que
parte do princípio da
igualdade e da felicidade
comum. Cada um dos
habitantes da cidade está
plenamente feliz. A vida é de
tal maneira boa, que deveria
ser infinita…
É a utopia citadina... 26 Olga Dryuchenko
Tóquio
A maior área metropolitana do mundo
cidade de Tóquio é a capital do Japão e a maior
área metropolitana do mundo, contando com 12
milhões de habitantes. Porém, a Grande Tóquio
supera todos os limites, albergando mais de 35
milhões de habitantes. Em comparação com Portugal, esta
cidade ultrapassa o número total de habitantes portugueses mais
de 3 vezes!
A Nas imagens: Tóquio (Japão)e Hum (Croácia)
27
Hum -Cidade
miniatura um é uma cidade na Croácia central, que actualmente
se encontra registada no livro dos Recodes de Guiness
como a cidade mais pequena do mundo. Esta cidade-
fortaleza aparecida no século XI conta com apenas 17
habitantes! Nos seus tempos mais prósperos a sua população
atingiu os incríveis 300 habitantes!
H
28
Algumas
cidades que
visitei
29
Porto - Portugal
30
Vila Nova
31
de Gaia
Portugal
32
Moscovo
33
Russia
Salamanca -
Espanha
Uma viagem a
iajei a Salamanca
este Inverno. A
primeira impressão
que tive foi: é uma cidade
muito antiga, carregada de
séculos de história com tanto
por contar.
Ficamos alojados num hostel
no centro da cidade, numa
rua próxima da Plaza Mayor.
Das janelas do quarto abria-
se vista para umas casas
degradadas. Porém, as
redondezas tinham muito
mais para ver, para andar,
para contar ao som dos
nossos passos que
desconheciam a cidade.
Começamos por observar
mais de perto a Plaza Mayor
e a sua grandiosidade. As
ruas derivantes abriam
caminho para a outra parte
mais moderna da cidade,
carregada de lojas de moda e
montras para todos os gostos.
Mas havia algo mais
importante e simbólico para
ser visto. As Catedrais, a
nova e a antiga, e as
Unversidades, a de
Salamanca, e a Pontifícia.
V
Espanha. Salamanca. 2011
Uma cidade que não passa despercebida ...
37
As Catedrais eram de
extrema beleza. Eguidas sob
a tutela de diferentes ordens
arquitectónicas, elas
repousavam na sua
tranquilidade sacra. As salas
da Faculdade de Letras da
Universidade de Salamanca
deixaram uma impressão
magestosa. Zelando pela
nossa sorte, fomos procurar o
símbolo de Salamanca, a rã
que está no edifício principal
da Universidade.
A Casa das Conchas
conservava as suas 366
conchas desprotegidas do
vento de Inverno e dos 4ºC
que faziam gelar ossos. O
Museu da Arte Moderna
reluzia com as suas perfeitas
bonecas de porcelana.
Os jardins, situados nas zonas
mais elevadas da cidade
respiravam tranquilidade e
transmitiam o sentimento de
paz.
A ponte sob o rio, à entrada
da cidade, reflectia-se no rio
como um arco-íris.
Salamanca
Ao anoitecer milhares de luzes iluminavam a
Plaza Mayor enaltecendo o centro da cidade...
38 Olga Dryuchenko
Uma
cidade Inteligente
“(...)
a cidade contemporânea traz
consigo novos desafios, oportunidades, e
necessidades do desenvolvimento sustentável e da
gestão inteligente. A pergunta é: como será a cidade
do futuro? Qual é o modelo de cidade que
desejamos? O certo é que devemos optar por uma
cidade sustentável, i.e. uma cidade inteligente,
inovadora, e criativa e que deve ser focada,
planeada, e feita para as pessoas.”
“Assim, a cidade contemporânea traz
consigo novos desafios, oportunidades, e
necessidades do desenvolvimento sustentável e da
gestão inteligente. A pergunta é: como será a cidade
do futuro? Qual é o modelo de cidade que
desejamos? O certo é que devemos optar por uma
cidade sustentável, i.e. uma cidade inteligente,
inovadora, e criativa e que deve ser focada,
planeada, e feita para as pessoas.”
39
“A cidade inteligente é definida, portanto,
como um território que traz sistemas inovativos e TICs
dentro da mesma localidade. São territórios
caracterizados pela alta capacidade de aprendizagem e
inovação, embutida na criatividade d sua população, nas
suas instituições de geração de conhecimento, e na sua
infra-estrutura digital para comunicação e gestão do
conhecimento. Isto leva certamente à necessidade e à
ambição de repensarmos o nosso modo de viver.”
“Mas, o exemplo mais fascinante de cidade
digital é New Songdo em construção na Coreia do Sul, a 65
quilômetros da capital Seul, que conta com um investimento
de US$ 25 bilhões, e que deve ser inaugurada em 2015.
Songdo é um polo econômico, sustentável, tecnológico,
confortável e totalmente planeado para atrair a comunidade
mais dinâmica, vibrante e digitalizada do planeta. (...) Além
de ser uma cidade totalmente high-tech, Songdo pretende ser
a cidade mais verde do planeta.”
40
“Por exemplo, as arcas frigoríficas conectadas à
Internet, fazem compras on-line cada vez que algum alimento
está a ficar em falta. Para se vestir, as mulheres interagem
com o espelho do guarda-roupa que mostra as opções
disponíveis, provam virtualmente as diferentes combinações
e recebem até sugestões de moda etc. O chão é equipado por
sensores de pressão que accionam a ajuda automaticamente
em caso de queda de uma pessoa idosa. Sensores e chips
levantam e analisam informações sobre a qualidade da água,
ar, lixo, etc. e avisam sobre as condições sanitárias do
ambiente. No trânsito, os semáforos são inteligentes e actuam
de forma a facilitar o transito e evitar congestionamentos. Os
motoristas visualizem on-line, as condições do trânsito. As
áreas de estacionamento são monitoradas e os motoristas são
informados sobre a quantidade e a localização das vagas.”
“Assim, Songdo, é um exemplo perfeito de
tentativa para colocar em prática o conceito de Ubiquitous
City (U-City). O U-City, ou cidade digital, ou do futuro, é um
conceito que está a priori. Porém, é preciso ter muitos
cuidados com a privacidade das pessoas inerentes do uso de
chips que carregam informações e dados pessoais. Até que
ponto o monitoramento de nossas atividades é útil e pode ser
tolerado?”
41
Conclusão Quando peguei na ideia de
fazer um dossiê temático
estava com grandes dúvidas
sobre o resultado final.
Pensei e repensei as várias
maneiras de me lançar a este
desafio, e posso dizer que
completei o que tinha
previsto para este dossiê
temático.
A medida que realizava
algumas tarefas e preenchia
as páginas, as pesquisas
davam novas ideias. Revi
dezenas de imagens, ouvi
músicas que nunca tinha
ouvido, procurei vídeos,
poemas, e tudo o mais que se
possa imaginar. Fiquei mais
enriquecida culturalmente e
soube coisas que até hoje não
sabia.
Este dossiê temático é um
ensaio para um melhor e
maior trabalho que se pode
desenvolver. Porém, não
penso parar por aqui e até
gostaria de continuar a
preenché-lo. Seria uma mais
valia aperfeiçoar este modelo
já feito, adicionar mais
informação.
Enquanto estava a fazer isto
vi-me muito entusiasmada e
ansiosa para ver o resultado
das horas infinitas passadas
em frente ao computador.
No final, gostei muito do que
fiz, serviu-me de lição para as
próximas tarefas. Penso que
agora estou preparada para
fazer outro dossiê temático e
acredito que vou encontrar
maneira de fazé-lo mais
criativo.
Olga Dryuchenko 42
Bibliografia COUTO, Célia, ROSAS Maria, O Tempo da História 1ª,2ª,3ª parte, 10º
ano, 1ª edição, Porto Editora, 2008.
COUTO, Célia, ROSAS Maria, O Tempo da História ,3ª parte, 11º ano,
1ª edição, Porto Editora, 2010.
MORE, Thomas, Utopia, 3ª edição, Europa- América, 2004.
QUEIRÓS, Eça, Os Maias, Porto Editora, 2010.
MOUTINHO, José, Portugal Lendário, 1ª edição, Selecções do
Reader´s Digest, 2005.
Média:
Diciopédia, Porto Editora, 2010
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paris
http://letras.terra.com.br/amalia-rodrigues/483768/
http://letras.terra.com.br/rui-veloso/41677/
http://poesiaseprosas.no.sapo.pt/sophia_m_b_andresen/poetas_sophi
ambandresen_cidade01.htm
http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200810170304
http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%B3quio
http://ru.wikipedia.org/wiki/%D0%A5%D1%83%D0%BC
http://www.jornalpequeno.com.br/2010/9/26/cidade-inteligente-
132773.htm
http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200706220900&aut
hor=148&theme=327
43
Anexos Vídeos:
“Lisboa não sejas francesa”, por Amália Rodrigues:
http://www.youtube.com/watch?v=JDby_KHmVO4
“Porto Sentido”, por Rui Veloso:
http://www.youtube.com/watch?v=k2RBiFgaz7M
“Lisboa menina e moça”, por Carlos do Carmo:
http://www.youtube.com/watch?v=RDRM2dJQDws
“A cidade até ser dia”, por Anabela
http://www.youtube.com/watch?v=8E1glAS6IJ8
Mais:
Poemas sobre a “Cidade”
http://www.citador.pt/poemas.php?poemas=Cidade&op=9&
theme=327
Salamanca:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Salamanca
Albufeira:
http://www.albufeira.pt/
44
A Vida Vazia da Cidade
Instalámo-nos, portanto, na cidade. Aí toda a vida é suportável para as
pessoas infelizes. Um homem pode viver cem anos na cidade, sem dar
por que morreu e apodreceu há muito. Falta tempo para o exame de
consciência. As ocupações, os negócios, os contactos sociais, a saúde, as
doenças e a educação das crianças preenchem-nos o tempo. Tão depressa
se tem de receber visitas e retribuí-las, como se tem de ir a um
espectáculo, a uma exposição ou a uma conferência.
De facto, na cidade aparece a todo o momento uma celebridade, duas ou
três ao mesmo tempo que não se pode deixar de perder. Tão depressa se
tem de seguir um regime, tratar disto ou daquilo, como se tem de falar
com os professores, os explicadores, as governantas. A vida torna-se
assim completamente vazia.
Leon Tolstoi, in "Sonata a Kreutzer"