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DOSSIÊ PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DO ORIENTE MÉDIO Revista Ipsis Libanis http://www.icbl.com.br/ipsislibanis/ Ano 1 Número 4 ISSN:2526-0340 2017 2 REFLEXOS DE UMA SOCIEDADE HETEROGÊNEA: A PRESENÇA DOS MOUROS NAS CANTIGAS DE SANTA MARIA (1252-1284) Mateus Sokolowski 1 Resumo: O contexto de nosso estudo se passa durante reinado de Afonso X de Leão e Castela (1252 1284), este rei empreendeu grandes esforços para promover o conhecimento em seu reino. Entre suas principais realizações destaca-se o registro das 427 Cantigas de Santa Maria compostas em galego-português. A partir do estudo destas fontes temos por objetivo compreender a influência da música árabe na forma poética destas cantigas. Além disso, através de uma análise histórica de seu conteúdo, buscamos contribuir para o desenvolvimento de uma melhor compreensão deste contexto como exemplo de trocas culturais e políticas entre cristãos e muçulmanos. Abstract The context of our study is during the reign of Alfonso X of Leon and Castile (1252 - 1284). This king made great efforts to promote knowledge in his kingdom, among his main achievements stands out the record of 427 Cantigas de Santa Maria, composed in Galician-Portuguese. Based on these sources, we seek to understand the influence of Arabic music in the musical and poetic form of these songs. In addition, through a historical analysis of its content, we seek to contribute to the development of a better understanding of this context as an example of cultural, economic and political exchanges between Christians and Muslims. 1 Mestre em História pela UFPR destaca-se pelas suas pesquisas em História e Música Medieval. Reside em Curitiba, PR, Brasil. email para contato: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1138002116614347

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Revista Ipsis Libanis http://www.icbl.com.br/ipsislibanis/

Ano 1 Número 4 ISSN:2526-0340 2017

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REFLEXOS DE UMA SOCIEDADE HETEROGÊNEA: A PRESENÇA DOS MOUROS

NAS CANTIGAS DE SANTA MARIA (1252-1284)

Mateus Sokolowski1

Resumo:

O contexto de nosso estudo se passa durante reinado de Afonso X de Leão e Castela

(1252 – 1284), este rei empreendeu grandes esforços para promover o conhecimento

em seu reino. Entre suas principais realizações destaca-se o registro das 427 Cantigas

de Santa Maria compostas em galego-português. A partir do estudo destas fontes temos

por objetivo compreender a influência da música árabe na forma poética destas

cantigas. Além disso, através de uma análise histórica de seu conteúdo, buscamos

contribuir para o desenvolvimento de uma melhor compreensão deste contexto como

exemplo de trocas culturais e políticas entre cristãos e muçulmanos.

Abstract

The context of our study is during the reign of Alfonso X of Leon and Castile (1252 -

1284). This king made great efforts to promote knowledge in his kingdom, among his

main achievements stands out the record of 427 Cantigas de Santa Maria, composed in

Galician-Portuguese. Based on these sources, we seek to understand the influence of

Arabic music in the musical and poetic form of these songs. In addition, through a

historical analysis of its content, we seek to contribute to the development of a better

understanding of this context as an example of cultural, economic and political

exchanges between Christians and Muslims.

1 Mestre em História pela UFPR destaca-se pelas suas pesquisas em História e Música Medieval. Reside

em Curitiba, PR, Brasil. email para contato: [email protected]. Currículo Lattes:

http://lattes.cnpq.br/1138002116614347

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As Cantigas de Santa Maria

Além de ser uma importante obra poética e musical, as 427 Cantigas de Santa

Maria podem ser compreendidas como uma ferramenta política de Afonso X de Leão e

Castela (1252-124), que as utilizou como uma forma de expressar sua devoção a

Virgem, divulgar sua visão de mundo e exercer seu poder. Nosso conhecimento destas

fontes depende, sobretudo, dos manuscritos do século XIII, são eles: o Codex Toledano

(To), conservado atualmente na Biblioteca Nacional da Espanha, contém 128

composições com notação musical; o Códice da Biblioteca Escorial, o mais completo de

todos, pode ser dividido em dois códices o (E1) e o (E2) contendo 416 cantigas

ilustradas e notação musical. E o Códice de Florença (F), conservado na Biblioteca

Nacional desta cidade.

Hoje as Cantigas de Santa Maria podem ser encontradas na sua integralidade

em sites e em versões impressas. Nós utilizamos a edição impressa pela Real Academia

Espanhola em 1922 e o site do Domínio Público 2 lançado em 2004, onde se adota a

classificação corrente utilizada para a numeração das Cantigas de Santa Maria,

democratizando o acesso a estas fontes.

A autoria destes poemas é atribuída ao rei Afonso X, no entanto, o significado

da palavra “autor” durante a Idade Média é diferente da que se tem hoje. Segundo

Canedo, a identificação da autoria das CSM está mais ligada ao fato do rei ter sido o

mentor do projeto3, que contou com a colaboração de trovadores de sua corte.

Presume-se que o rei concebeu as cantigas em que fala na primeira pessoa, rezando

por vitórias em batalhas, cura de doenças e proteção contra inimigos. Fontes, por

exemplo, comprova o testemunho presencial do monarca através da CSM 169: “miragle

diréi grande que vi”, e outra em que o rei manifesta ter ouvido “dizer a muitos mouros

2 DOMÍNIO PÚBLICO. Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp>. Acesso em 01/08/2011. 3 CANEDO, S. A. Formas e fórmulas de composição nas Cantigas de Santa Maria. Tese (Doutorado

em Literaturas de Língua Portuguesa) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Belo Horizonte,

2005.

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que moravan ant'y”. 4 Desta forma, a coordenação dos trabalhos e a intensidade da

intervenção do rei, diluíram as contribuições de seus colaboradores sob sua assinatura.

Proposta de uma analise Interdisciplinar: Música, História e Literatura:

Os estudos referentes às Cantigas de Santa Maria avançam graças aos esforços

interdisciplinares entre a Música, a História e a Literatura que constituem os três pilares

de nossa análise. Quanto à música, Ferreira examina a independência de Afonso X

frente aos modelos consagrados pelo trovadorismo cortês peninsular:

os trovadores não estão na origem dos modelos maioritariamente usados nas CSM, então estes modelos formais foram adotados pelo rei a partir de uma cultura alheia à tradição cortês local. 5

Segundo Ferreira, a elaboração das CSM era um projeto pessoal do rei, mas se

os jograis transmitiam os poemas através do canto, é provável que tenham participado

de sua criação com a sugestão de alterações ou as executando a sua própria maneira.

Através de ferramentas teóricas da etnomusicologia6, o autor atualizou o debate sobre

a notação musical das cantigas e identificou a influência da cultura andaluza nos

modelos rítmicos das composições da Afonso X. Ou seja, é possível identificar nas

cantigas elementos tradicionais da poesia provinda do oriente árabe. Da mesma forma

Candé ressalta que:

(...)até o século XII ou XIII, não há incompatibilidade entre os sistemas musicais que podem referir-se às mesmas fontes. Os músicos do Oriente e do Ocidente encontram ao longe vivos sucessos, e o ensinamento dos teóricos persas coincide em mais de um ponto com o de Boécio e de seus sucessores – quando Afonso X, “El Sabio”, introduziu o ensino de música na

4 FONTES, Juan Torres. Alcaraz y la cantiga CLXXVIII”, en Alcanate. Revista de estudios alfonsíes,

III, El Puerto de Santa María (Cádiz), 2002-2003, págs. 256. 5 FERREIRA, Manuel Pedro. Jograis, contrafacta, formas musicais: cultura urbana nas Cantigas de

Santa Maria. In. Alcanate. Revista De Estudios Alfonsies VIII [2012-2013], [43 - 53] El. Puerto de Santa

Maria: Catedra Alfonso X el Sabio. 2007 P. 47. 6 Abordagem que busca compreender a música como cultura que como seus principais expoentes John

Blacking (1928-1990). Seu livro “How musical is man?” de 1974 está entre os mais citados nesse campo

de estudos.

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Universidade de Salamanca, os estudantes ainda puderam formar-se nessas diferentes culturas. 7

Daí a importância do estudo das melodias das cantigas para compreendermos

as relações culturais na Península Ibérica Medieval. Ferreira foi capaz de perceber a

influência moura nas melodias e ressalta que apesar de não sabermos exatamente

quem foram os colaboradores de Afonso X, há indícios de que algumas músicas foram

feitas com base em outras, pois na Idade Média era comum revestir os poemas com

melodias preexistentes que serviam de moldura.8 Este processo, chamado de

contrafactum, pode ser identificado em cantigas que possuem um ajustamento

problemático entre texto e música. Isso nos permite compreender melhor a

música/poesia medieval, onde a mesma melodia podia ser cantada com diferentes

textos, o conteúdo poderia ser adaptado à forma e vice-versa. Esta abordagem do autor

renovou os estudos das Cantigas de Santa Maria, cuja abordagem geralmente é

predominantemente literária deixando para segundo plano o caráter musical, igualmente

importante para sua compreensão. Apesar de nos dias de hoje existirem concertos e

releituras musicais de cantigas medievais, a música ainda não recebe a mesma atenção

da academia. No entanto, a notação musical que acompanham as cantigas, ou o

espaço que se destinou para sua escrita atestam que elas eram cantadas e não lidas 9:

Embora a entonação da voz, dicção das palavras e a execução cênica serem

elementos muito importantes e igualmente difíceis de recuperar, não podem ser

negligenciados.

Desta forma, o estudo da História da música pode ser muito útil para auxiliar os

pesquisadores na compreensão das cantigas como música e performance, e não

somente como poemas escritos. No entanto, a leitura de obras do gênero deve ser

sempre critica, no enxerto abaixo, exemplificaremos alguns equívocos da obra “História

da Música Ocidental” de Grout e Palisca, na qual se afirma que desde o século IX:

7 CANDÉ. Roland de. História Universal da Música. São Paulo. Martins Fontes, 1994. P. 198. 8 Nesta obra Ferreira irá exemplificar como contrafacta as seguintes CSM: o Canto da Sibila (CSM 422), o

tropo de ofertório Recordare, virgo mater (CSM 421), um rondeau com texto latino (CSM 290), uma

canção devocional de Gautier de Coinci (CSM 60) e uma alba do trovador Cadenet (CSM 340). 9 FERREIRA, Manuel Pedro. Jograis, contrafacta, formas musicais: cultura urbana nas Cantigas de

Santa Maria. In. Alcanate VIII [2012-2013], [43 - 53] ALCANATE. REVISTA DE ESTUDIOS

ALFONSIES El Puerto de Santa Maria: Catedra Alfonso X el Sabio. Disponível em:

<http://www.publius.us.es/en/alcanate>. Acesso em 07/04/2016

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Até o final de idade média todos os desenvolvimentos importantes da música europeia tiveram lugar ao norte dos Alpes. A deslocação do centro musical da Europa, deveu-se em parte às condições políticas. A conquista da Síria, do Norte da África e da Península Hispânica pelos muçulmanos, concluída em 719 deixou as regiões austrais da cristandade quer nas mãos dos infiéis, quer sob constante ameaça de ataque. 10

Há muito tempo esta perspectiva foi superada pelas pesquisas dos historiadores.

O trecho acima evidencia a necessidade de trazer novas perspectivas para a

compreensão acerca da história da Música na Idade Média Ocidental, onde ocorriam

trocas culturais, econômicas e políticas entre cristãos e muçulmanos11. O pesquisador

desavisado, não especialista no assunto, mas interessado pela música, pode dar crédito

a perspectivas equivocadas do passado. Dai a necessidade de estudos

interdisciplinares, ou maior diálogo entre as disciplinas. Nas páginas seguintes de sua

obra, Grout e Palisca contradizem-se ao referir-se à música secular, afirmando que os

Provençais tiveram “a sua arte incialmente inspirada na cultura hispano-moura da

vizinha Península Ibérica, que se difundiu rapidamente para o norte” 12.

Devemos lembrar que a Idade Média foi um período marcado por conflitos entre

cristãos e muçulmanos, mas a guerra não foi onipresente. Na maior parte do tempo,

houve convivência pacífica e relações de cotidiano. Segundo Senko13 por um longo

período a escrita da história sobre o Oriente foi marcada pelo uso de construções

teóricas tendenciosas, as quais visavam geralmente depreciar a imagem da cultura

oriental frente a ocidental. No século XX, autores como Edward Said buscaram

desvencilharem-se destes antigos preconceitos. Em sua obra “Orientalismo: o Oriente

10 GROUT, D. J.;PALISCA, C. V. História da música ocidental, 4ª edição, Lisboa: Gradiva, 2007.P. 71. 11 Em nossa comunicação proferida na VIII Semana Acadêmica de História da UFPR, ministramos o mini-

curso: ‘Estudo da confluência da música proveniente do oriente com a do ocidente nas Cantigas de

Santa Maria de Afonso X o Sábio (1252-1284). ”Disponível em http://sahufpr.blogspot.com.br/ acessado

em 29/08/2015. 12 GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. op. cit. 85. 13 SENKO, Elaine Cristina O passado e o futuro assemelham-se como duas gotas d’água: uma reflexão

sobre a metodologia da história de Ibn Khaldun (1332-1406). Elaine Cristina Senko. – Curitiba, 2012.

208 f. Orientadora: Profª. Drª. Marcella Lopes Guimarães Dissertação (Mestrado em História) - Setor de

Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.

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como invenção do Ocidente” 14, Said buscou desenvolver uma visão crítica do tradicional

discurso ocidental sobre o Oriente, alertando principalmente para a estigmatização

realizada pelos europeus acerca dos muçulmanos. Conhecer este trabalho é importante

para esclarecer equívocos construídos ao longo dos séculos, como a ideia “do atraso

do desenvolvimento da música provocado pelos infiéis”.

Ainda assim, a obra de Grout e Palisca é um clássico para o estudo da música.

Os autores escrevem uma obra muito ampla, e útil para estudarmos a notação musical

presente nos códices das cantigas medievais. Esta notação era constituída por neumas,

que são pontos quadrados, geralmente escritos com penas de ganso, que registravam

a melodia. 15 Este registro geralmente acompanhava as silabas das palavras, mas em

alguns casos encontramos figuras melismáticas16. Quanto ao ritmo existem amplas

divergências, pois a notação deste período não estabelecia critérios precisos para

execução dos ritmos, o que leva alguns estudiosos a defenderem que eram cantadas

em ritmo livre ou declamatório. Para Dart, os musicólogos não concordam integralmente

com a interpretação rítmica da notação medieval, e as discrepâncias entre as versões

publicadas da mesma peça, extraídas da mesma fonte, muitas vezes são

gigantescas.17No entanto, a influência dos ritmos árabes pode ser notada na forma

poética das Cantigas de Santa Maria. Na CSM 329, por exemplo, temos um poema de

15 cobras (estrofes), no qual o esquema de rimas é de AA no refrão e BBBA em todas

as cobras, ou seja, na estrutura poética temos a repetição das silabas: er er/ ez ez ez

er, na rima final do primeiro verso, que podemos verificar nas 2 ultimas estrofes da CSM

329:

Muito per é gran dereito | de castigado seer

quen s' atrev' ao da Virgen | pera furtar contanger..

Aquel mouro que estava | mui mais negro que o pez

14 SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução: Tomás Rosa

Bueno. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. 15 GROUT. D. PALISCA.C. Op. Cit. p. 57. 16 Melisma é quando se canta ou toca várias notas em uma única sílaba. A música cantada neste estilo é

dita melismática, ao contrário de silábica, em que cada sílaba de texto corresponde a única nota. 17 DART, Thurston. Interpretação da Música. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p 203.

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foi todo escodrunnado, | e lógo aquela vez

acharon-ll' a oferenda | e aa Sennor de prez

a déron outra vegada. | E aquel mouro s' erger.18

O trecho que mostramos é um exemplo perfeito do zejel19 (aa / bbba). Quando

ao conteúdo, o estribilho enfatiza a punição que deve ser dada aos que furtarem o que

é da Igreja: a cantiga narra um episódio onde um grande exército de mouros saquearam

territórios cristãos. Estes mesmos mouros depositam moedas roubadas no altar da

Virgem, até que um deles decide roubar as moedas, o que lhe deixa cego e paralisado.

Quando seus companheiros devolveram as oferendas, o Mouro em questão voltou a

andar e enxergar. A cantiga é um primoroso exemplo da ambiguidade da representação

dos mouros, devotos da Virgem e ladrões ao mesmo tempo. A fonte nos apresenta o

reconhecimento do outro através do intercâmbio religioso. Por este motivo as Cantigas

de Santa Maria são um meio privilegiado para o estudo do contato entre os cristãos e

muçulmanos. Sua singularidade histórica é um verdadeiro exemplo das trocas culturais

do século XIII, período no qual, apesar de existir conflitos e perseguições entre o

islamismo, judaísmo e cristianismo, havia também colaboração e tolerância. No reinado

de Afonso X vemos o desafio de governar um reino cristão e conduzir a convivência

destas três crenças monoteístas20.

Além dos textos e notação musical, é importante abordarmos as iluminuras dos

manuscritos marianos. Elas exaltavam a figura do rei como um intermediário entre a

Virgem e seus súditos e Afonso X é representado no trono, como um novo rei David

rodeado por seus escribas e músicos.21 O rei David, segundo o Antigo Testamento teria

18 CSM 329. 19 O zéjel Era uma forma poética e musical popular no al-Andaluz entre os séculos XI e X, geralmente

executada por músicos mouros, e muito popular no mundo árabe bem como nas monarquias cristãs que

contratavam estes músicos. Na sua forma mais típica, consiste num estribilho de dois versos, ao que se

seguem 3 mono-rimas (mudança) e um quarto verso (volta) que rima com o estribilho, e que anuncia a sua

repetição. A distribuição da rima é a seguinte: AA (estribilho), BBB (mudança), A (volta) e repetição do

estribilho. Em resumo: AA-BBBA, AA-CCCA, AA-DDDA. 20 SILVEIRA, Aline dias da. Política e convivência entre cristãos e muçulmanos nas Cantigas de Santa

Maria. PEREIRA, Nilton M., CROSSETTI, Cybele de A., TEIXEIRA, Igor S. Reflexões sobre o

medievo. GT Estudos Medievais/ ANPUH-RS. São Leopoldo (RS): Oikos, 2009. 21 ECO. Umberto. Idade Média - Bárbaros, cristãos e muçulmanos. v. 1. Portugal: Publicações Dom

Quixote, 2010. P. 622.

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utilizado o saltério para acompanhar a recitação dos salmos22, muitos dos instrumentos

musicais citados na bíblia estão retratados nas iluminuras. Como são poucos os

instrumentos medievais que resistiram até os dias de hoje, estas fontes são importantes

vestígios deste mundo sonoro, apesar de serem representações mais recentes de

tradições culturais muito antigas. Abaixo vemos uma iluminura das Cantigas de Santa

Maria que presenta músicos mouros e cristãos cantando lado a lado:

23

A imagem diz muito: O trovador nobre e cristão portava sua espada na cintura

enquanto cantava e louvava a Santa Maria, os músicos tocam uma cítola, ou alaúde,

que estão entre os instrumentos de origem árabe que chegaram até a Europa via

Bizâncio ou via Magrebe e al-andaluz. Harnoncourt coloca que ao se estudar a história

22 Saltério é um instrumento dedilhado simples, com caixa alta, geralmente em forma trapezoidal, sobre a

qual são esticadas cordas em número de sete a dez. A mais antiga representação de um saltério que se

conhece está num relevo da Catedral de Santiago de Compostela, na Galiza, datado de 1184. 23 Iluminura da Cantiga 360 presente no Códice E-1 Disponível em: <

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Christian_and_Muslim_playing_ouds_Catinas_de_Santa_Mari

a_by_king_Alfonso_X.jpg > Acesso em 31/10/2017

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de cada instrumento, verifica-se que a maioria possui uma trajetória que perpassam os

séculos,24 a nomenclatura e a origem de cada um é imprecisa, mas, atestam a

confluência da música oriental com a ocidental. 25 Smith afirma que Afonso X apreciava

a música moura e que seu filho Sancho IV em 1293 optou por incluir 15 músicos mouros

num grupo seleto de 27 músicos da corte. Possivelmente os músicos ocidentais

aprenderam a tocar alaúdes e outros instrumentos com mestres sarracenos e mouros 26

.

Na Idade Média, e demais períodos, o estudo da música é árduo e demora anos,

o que leva os discípulos a adotarem muito da performance e modos de tocar dos

mestres. Para Smith criou-se na Península Ibérica um estilo musical distinto da África e

de Bagdá fruto de influências recíprocas da literatura românica e melodias romances. 27

Nesse sentido, através das iconografias, Ferreira demonstra o papel destinado aos

jograis e torna explicita a importância da forma andaluza nas Cantigas Galego-

Portuguesas. A ligação entre os jograis locais e a corte é evidenciada pela forma

musical, poética e rítmica que remetem aos modelos árabes e aproximam

decisivamente as cantigas à arte mudéjar, refletindo a diversidade cultural da península

ibérica. 28

Na música medieval gostava-se que os instrumentos soassem muito fortes,

como no caso das gaitas-de-foles, ou suave como na harpa, flautas e alaúde. O

pesquisador deve tentar descobrir em qual ambiente a música era executada,29 pois há

diferenças entre a música executada ao ar livre e nos salões. Levantamos a hipótese

24 HARNONCOURT, Nikolaus. O Discurso dos Sons: Caminhos para uma nova compreensão musical.

1982. Trad. Marcelo Fagerlande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. P. 29 25 GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. Op. Cit. 26 SMITH. Douglas Alton. A History of the Lute from Antiquity to the Renaissance. The Lute Society

of America. 2002. Printed in Canada. P. 19 27 SMITH, Douglas Alton. Op.Cit. P. 20 28 Para o autor, Afonso X foi um dos responsáveis por adicionar ao canto europeu a forma da música

andaluza. O monarca impôs ao circulo palaciano suas excêntricas preferencias pessoais que refletiam o

isolamento politico durante as ultimas décadas do seu reinado. O Rei, como compositor, recorria a uma

variedade de tipos melódicos que, rara no canto gregoriano, tornou-se comum na tradição trovadoresca

europeia a partir do século XIII. Ferreira ressalta que Afonso X era um rei teimoso e incompreendido,

instigador de uma confluência palaciana entre cultura islâmica e cultura cristã, a qual na sua

excepcionalidade cuidou de dar expressão monumental. Ver: FERREIRA, Manuel Pedro. Alfonso X

Compositor. Alcanate , Revista de Estudios Alfonsíes V. V Semana de Estudios Alfonsiíes. 2006- 2007.

El puerto de Santa María. 29 DART, Thurston. Op.Cit. p 193.

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de que as Cantigas de Santa Maria eram executadas com certa frequência na corte de

Afonso X, conforme sugerem as iluminuras, o que indica um uso para-litúrgico do

repertório e fornece algumas pistas a respeito das ocasiões em que se executavam as

Cantigas de Santa Maria. Como verdadeira expressão da fé leiga, eram executadas em

festas, feiras e também no cerimonial de corte. Ademais, Afonso X recebia jograis e

trovadores dos reinos vizinhos, como França e Inglaterra, que contribuíam para o

intercâmbio de diferentes formas de se fazer música. Sua corte era, portanto, um local

que absorvia, retrabalhava e até exportava diferentes tendências e criações estéticas.

***

Além da produção das Cantigas, os empreendimentos culturais de Afonso X

foram variados. Este rei contava com a centenária tradição da escola de tradutores de

Toledo, que integrava o movimento de valorização do uso de línguas vernáculas como

um dos veículos para construção da identidade do reino. O rei enriqueceu o léxico

castelhano com termos jurídicos e científicos traduzidos do árabe, segundo Silveira tal

tarefa atesta o reconhecimento do outro (o muçulmano) na aquisição de saberes, e

consiste num passo importante para prática da tolerância, devido à necessidade de

organizar as formas de convívio nos reinos de Leão e Castela:

A prática da tolerância existiu na Península Ibérica muçulmana e cristã. Uma tolerância medieval, praticada com pragmatismo para evitar um mal maior, mas que não excluiu a possibilidade de reconhecimento do outro como elemento que faz parte de um todo maior, seja nas dimensões do reino ou do monoteísmo30.

No reino de Castela no século XIII, judeus e muçulmanos pagavam pesados

impostos, em contrapartida eram submetidos, bem como as suas propriedades, à

proteção do rei cristão.

30 SILVEIRA. Aline Dias da. FRONTEIRAS DA TOLERÂNCIA E IDENTIDAES NA CASTELA DE

AFONSO X. In. FERNANDES, Fátima Regina (Coord.) Identidades e Fronteiras no Medievo Ibérico.

Curitiba: Editora Juruá, 2013. p. 136.

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Enquanto Afonso X mandava traduzir, escrever crônicas e obras jurídicas em

castelhano, compôs suas cantigas em outro idioma: o galego-português que se

revelou como uma língua voltada para arte. O que lhe conferiu ainda mais prestígio foi

o fato de ter-se tornado idioma predileto dos trovadores, como os reis D. Dinis (1279-

1325) de Portugal e o próprio Afonso X 31, e são justamente estas cantigas/poesias que

buscamos estudar aqui; Para T. S Eliot, é a poesia que tem a incrível capacidade de

expressar sentimentos e conferir identidade a um grupo, mas, enquanto prática cultural

não poderia florescer isolada de outras culturas, e é por isso que confluência da tradição

do amor cortês, originário da Provença, com o modo de trovar galego-português e a

poesia andaluza ultrapassam as fronteiras medievais. 32

Esta mesma perspectiva pode ser encontrada no estudo de Ferreira. Em seu

capítulo “Hispânia contra Espanha: o ponto obliquo nas Cantigas de Santa Maria” o

autor explica que se escolhermos o termo Espanha para nos referir as cantigas de

Afonso X, excluiremos do nosso horizonte o reino português, enquanto o termo Hispânia

é mais preciso, pois inclui os reinos de Portugal, Leão ( e Galiza), Castela, Navarra e

Aragão, ligados à França e inclusive o reino islâmico de Granada. Devido ao idioma

poético comum as cantigas eram divulgadas por todos estes reinos, ao lado disso

Ferreira constatou que 26 Cantigas de Santa Maria narram eventos ocorridos em

Portugal,33 sem contar as referências a demais reinos vizinhos.

Nesse sentindo, Guimarães esclarece que o termo convergência, ou confluência,

sugere uma continuidade e sintonia, que pode explicar de maneira mais precisa a

interação entre a poesia peninsular e a provençal do que o termo influência, que sugere

uma procedência ou origem.34 A circulação dos cavaleiros e de suas mesnadas35 na

Idade Média não deixou somente uma trilha de saques e pilhagens. Eram eles também,

31 MONGELLI, Lênia Márcia. Fremosos Cantares: (antologia da lírica medieval galego-portuguesa) –

São Paulo. Editora WMF Martins Fontes, 2009. 32 ELIOT. T.S. De poesia e poetas. São Paulo: Brasilense, 1991. p. 30. 33 FERREIRA, Manuel Pedro. Aspectos da música medieval no ocidente peninsular. Volume 1 (Música

Palaciana). Editado por imprensa nacional – Casa da Moeda e Fundação Caloueste Gulbenkian. 1ª edição.

Lisboa, Maio de 2010.p. 176. 34 GUIMARÃES, Marcella Lopes. Sintomas de renovação na poética tardo-medieval. No prelo. 35 Era um contingente de homens armados pertencentes a um rei, rico homem ou conselho que formava

uma unidade ou tropa. Geralmente eram reunidos quando um rei pedia ajuda militar e os cavaleiros com

seus vassalos reuniam-se para atendê-lo.

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trovadores que, ao circularem, divulgavam suas cantigas, junto aos peregrinos e

romeiros que também contribuíam para o trânsito da criação poética. 36

Diferente do século XI, onde o Latim, tão importante para liturgia cristã e opunha-

se vigorosamente a língua árabe falada na Península Ibérica, nos séculos seguintes

nem uma nem outra vigora, mas, as línguas romances tornam-se principal meio de

comunicação da península37. Apesar de ter existido uma separação cultural-religiosa

na corte de Afonso X temos um espaço de aproximação e diálogo intelectual, que

propiciou a elaboração das Cantigas de Santa Maria. Além da música, em Castela o

bilinguismo era comum, palavras como alaúde, álgebra, álcool são só alguns exemplos,

da contribuição árabe ao vocabulário peninsular.

A presença dos muçulmanos nas Cantigas de Santa Maria: Uma análise

histórica.

Após a leitura das 427 Cantigas de Santa Maria separamos as que tinham o

mouro ou muçulmano como personagem de destaque, são elas: CSM 28, 46, 63, 83,

95, 99, 183, 185, 186, 192, 193, 205, 212, 215, 221, 277, 292, 305, 323, 328, 329, 333,

344, 345, 348, 352, 358, 361, 374, 379, totalizando 51 cantigas. Nelas vemos as

atividades dos mouros e episódios do processo de Reconquista, onde eles são

frequentemente caracterizados como feios e maldosos, mas, também são retratados

como devotos de Maria. Para Silveira nem todo muçulmano teve igual significado para

Afonso X e o rei buscava uma forma de integrar os não cristãos ao corpo do reino. 38

Através do estudo das cantigas não buscamos conhecer o relato de fatos

sucedidos. Não pretendemos violentar a fonte literária, mas buscamos aquilo que nem

crônicas, cartas ou leis podem oferecer, como historiador estamos interessados nas

maneiras de viver, pensar e sonhar; vamos às cantigas em busca da expressão do Eu,

de devoção, anseios, sentimentos e padrões estéticos.

36 GUIMARÃES, Marcella Lopes. Idem. 37 SILVEIRA. Aline Dias. Op. Cit. p. 131. 38 SILVEIRA. Aline dias. Op cit.

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Mais do que isso, as cantigas fornecem representações. Este conceito de Roger

Chartier é muito útil para analise do perfil dos mouros nas Cantigas de Santa Maria

enquanto:

(...) construção das identidades sociais como resultando sempre de uma relação de força entre as representações impostas pelos que detêm o poder de classificar e de nomear e a definição, de aceitação ou de resistência, que cada comunidade produz de si mesma (...) 39.

Concordamos com Fontes para quem o poder estabelecido por Afonso X

buscava construir uma identidade social hispânica a partir de um passado heroico e de

coexistência com judeus e mouros, representados de forma homogeneizadora e

subordinada, mas, ao mesmo tempo, ambígua. Segundo este autor:

Percebe-se na Castela de Afonso X que o poder estabelecido representa e ao mesmo tempo marginaliza grupos que compõem essa sociedade por intermédio de representações, como no caso dos “mouros”. Esta é uma criação homogeneizadora ao mesmo marginalizante e ambígua que abarca todas as populações hispano-árabes já pré-existentes no reinado castelhano-leonês, vinculando-as a uma única categoria identitária. 40

Ao lado disso, devemos lembrar que as cantigas atribuídas a Afonso X cobrem

todo seu reinado e irão, portanto, refletir diversos momentos de seu governo, ainda que

boa parte refira-se aos anos iniciais. A primeira centena fora concluída entre 1257 e

1265 e as restantes foram compiladas até o final de seu reinado.

Ainda infante Afonso X participou de grandes batalhas contra os mouros e o

reinado de seu pai, Fernando III (1201-1252), foi igualmente marcado por conflitos que

deram à coroa de Castela a maior parte dos territórios mulçumanos, 41 inclusive a cidade

de Sevilha: governada um século antes por Almutâmide42 (1040 — 1095): exemplo de

39 CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos. AV. (online), 1991, vol.5, n.11, pp.173-

191.p. 183. Apud. FONTES, Leonardo Augusto Silva. Às margens da cristandade: os moros d’España à

época de Afonso X / Leonardo Fontes. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Fluminense,Instituto

de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História,2011. p 59. 40 FONTES, Leonardo Augusto Silva. Op. Cit, p. 56. 41RUCQUOI, Adeline, História Medieval da Península Ibérica. Trad. Lisboa: Estampa, 1995. P. 159. 42 Terceiro e último dos reis Abádidas que governaram a Taifa de Sevilha

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rei e poeta do Al- Andalus43. Esta tradição poética não cessou no processo de

Reconquista, pelo contrário44:

Yet, ever after, a Muslim-ruled city fell to a Christian king, moorish musicians were often retained at the court. The Cantigas de Santa Maria of King Alfonso X the Wise of Castile were copied in Seville not long after its reconquest.45

Afonso X não só preservou, mas incentivou a produção cultural de Sevilha,

cidade de grande valor cultural. Foi a partir dela que planejou expandir seus domínios

até o Magrebe. A CSM 328 conta que rei esteve no porto vigiando o abastecimento da

frota destinada a atingir esta ambição, tal feito levaria inevitavelmente ao choque com

Abû Yûsuf (1258 - 1286) rei da Dinastia Merínida, que após conquistar boa parte do

Marrocos enviou expedições para Granada contribuindo para a sobrevivência

muçulmana na região. Desta forma, a expedição castelhana teve como único êxito o

saque da cidade de magrebina de Salé. O envio da frota e a captura de prisioneiros da

cidade tiveram um custo muito alto para o reino Cristão, de forma que o Fecho de

Allende (Cruzada para África) foi declarado como um verdadeiro fracasso em 1260 46.

Após esta expedição, Afonso X realiza um cerco à cidade de Jerez em 1261 com

intenção de conquistá-la e repovoá-la e no mesmo ano tomou a cidade de Niebla,

43 Na corte de Almutâmide reuniram-se importantes homens das artes e da ciência como o astrónomo

Arzaquel (1029 - 1087) e poetas como Ibn Hamdis (1056 –1133) e Ibn Zaydun (1003-1071) que faziam da

cidade a capital das artes e cultura mesmo durante a desintegração do califado de Córdoba. Já no século

XII Averrois (1126 - 1198) descreveu Sevilha como o centro musical de Andalus. 44 O Califa ‘ Abd al- Rahman I (756 – 788) pode ter sido o um dos primeiros a ter músicos na corte de

Córdoba, enquanto o Califa Abd al- Rahman II (882-852) foi mais dedicado a trazer a música oriental para

Península e estabeleceu uma sessão especial no seu palácio para cantoras mulheres. Entre os importantes

músicos do século IX, destaca-se Zyryab (789- 857): músico e cantor da corte do emirado de Córdoba.

Saiu foragido de Bagdá após seu professor sentir-se ameaçado por seu talento e ficou conhecido pelo nome

de Ziryab ("melro") devido à sua bela voz e tez escura. Ele era tão talentoso que recebeu vários favores de

seu Califa. Tinha uma posição privilegiada no Califado de Córdoba. Modificou o alaúde, inseriu mais uma

corda de cor vermelha e desempenhou grande influência em andaluz como um representante da alta cultura

de Bagdá. In_ SMITH. Douglas Alton. A History of the Lute from Antiquity to the Renaissance. The

Lute Society of America. 2002. Printed in Canada. P. 18 45 SMITH. Douglas Alton Op.Cit. P. p.19. “Ainda assim, mesmo após uma cidade muçulmana cair para

um rei cristão, os músicos mouros foram na maioria das vezes mantidos na corte. As Cantigas de Santa

Maria do Rei Alfonso X, o Sabio de Castela, foram copiadas em Sevilha, logo após a sua reconquista.”

(tradução do autor). 46 JIMENEZ, Manuel Gonzalez. Alfonso X El Sabio. Editorial Ariel, S.A., Barcelona.Ariel biografías. 2ª.

Edición. 2004. P 140.

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território próximo ao Algarve português, cujo senhor era Muhammad Ibn Mahfoth.

Segundo Jimenez, não havia nenhuma justificativa para o ataque a Niebla se não a

necessidade de obter um êxito militar, que compensasse a opinião pública quanto ao

fracasso da cruzada para África.

A partir daí Afonso X continuou a residir em Sevilha, capital cultural do reino com

grande concentração de jograis e tradutores, 47 enquanto buscava entrar em acordo com

os reinos de Aragão e Portugal para pacificar a península e concentrar suas forças para

El Fecho del Imperio48. Porém, no ano de 1264 o rei teria que lidar com a revolta dos

mudéjares49 e neste mesmo ano Muhammad I de Granada enviou uma embaixada para

comunicar a ruptura da vassalagem que o vinculava ao monarca castelhano. Tal notícia

surpreendeu Afonso X, pois este vínculo permitia aos dois reinos conter os problemas

internos. Para Jimenez, as relações entre os dois monarcas podiam ser consideradas

amigáveis: Em 1254, por exemplo, Muhammad I foi às cortes celebradas em Toledo e

prometeu apoio a Afonso X para expedição ao norte de África. No entanto, os avanços

de Afonso X ao sul pressionaram o reino de Granada fazendo com que Muhammad I

sentisse ameaçado pelo avanço cristão. 50

Apesar dos conflitos, a política de Castela desde Fernando III foi marcada pela

inclusão dos territórios e boa parte da população muçulmana, assim como o reino de

Aragão, onde Jaime I (1208 - 1276) oferecia capitulações generosas aos mouros

valencianos. Tais acordos garantiam aos muçulmanos a prática de sua religião,

organização política, liberdade de movimento e venda de seus bens. Contudo, a

pressão das ordens militares sobre os mudéjares, bem como o descumprimento de tais

acordos pelo Reino de Castela levou a população muçulmana a desocupar a região e a

participarem do levante organizado por Muhammad I de Granada.

A revolta de 1264 ocorreu simultaneamente ao ataque de exércitos granadinos

contra a fronteira. O fator surpresa contribuiu para a eficiência da revolta, que teria

como consequência a convocação de uma cruzada contra o reino de Granada e os

mudéjares sublevados. O rei solicitou autorização e apoio do Papa, do reino de Portugal

e Aragão que atendeu na figura do próprio Jaime I, seu sogro, com sua hoste para acudir

47 Idem. 48 No qual o rei reivindicava a sua sucessão ao Sacro Império Romano Germânico. 49 Muçulmanos que viviam em territórios cristãos mediante o pagamento de tributos 50 Ibid.

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na difícil campanha contra os mudéjares. Em 1265, os principais conselhos dos reinos

de Jaén e Córdoba se uniram aos cavaleiros da fronteira e firmaram um acordo de

irmandade contra os mouros. Em junho deste mesmo ano, Afonso X à frente desta hoste

penetrou o reino de Granada para efetuar uma operação de castigo. Após essa

demonstração de força, Muhammad I não teve outra opção senão solicitar trégua.51 A

partir deste momento, formou-se uma dependência do reino de Granada em relação ao

reino de Castela, a trégua de 1265 permitiu a Afonso X neutralizar os últimos focos de

resistência em Andaluzia. Além disso, os tributos pagos pelo reino de Granada faziam

enorme falta, deste modo em 1266 celebrou-se o tratado de Alcalá, onde se renovou a

vassalagem ao reino de Castela com pagamento do tributo anual de 250.000 Maravedis

(moedas de ouro cunhadas na Península Ibérica).

No entanto, os maiores desafios enfrentados pro Afonso X, não viriam por parte

dos muçulmanos, mas seriam causados por seus próprios vassalos e inimigos internos.

Ao fim de seu reinado, quando finalmente reconheceu o seu fracasso na obtenção do

título de Imperador do Sacro Império Romano Germânico, este rei encontrou seu próprio

reino dividido por conflitos sucessórios, que o levou a mandar executar Don Fradique

seu irmão, entre outros membros da nobreza acusados de traição e conspiração, o que

lhe traria graves consequências políticas no futuro. Tal feito contribuiu pra o crescimento

do descontentamento e desconfiança de nobreza para com seu projeto de centralização

política. A execução de seu irmão seria utilizada como argumento em 1282 para

deposição de Afonso X por parte de partidários de D. Sancho (1258 – 1295), seu filho.

Antes disso, em 1280, Afonso X mandou executar seu almoxarife real, o judeu Zag de

la Maleha, acusado de traição ao disponibilizar recursos o reino para o Infante Sancho,

ao invés de socorrer a hoste do rei que sofrera sucessivas derrotas militares. O ponto

de vista do monarca é amplamente divulgado pela CSM 235, cujo refrão denuncia a

ingratidão de sua nobreza52:

Como gradecer ben-feito é cousa que muito val,

assi quen nono gradece faz falssidad' e gran mal.53

51 JIMENEZ. Op.Cit. p. 180 52 Idem. p. 315. 53 CSM 235

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No final do seu reinado Afonso X chegou a solicitar apoio do reino francês,

enquanto o infante Sancho buscou apoio em Navarra. Sancho, por sua vez, levou a

cabo incursões contra Granada o obrigou Muhammad II (1273–1302) a solicitar uma

trégua, ao lado disso buscou simpatizantes junto à igreja e ordens militares. Na

assembleia de Valladolid de 1282, Afonso X foi despossuído de seus poderes mantendo

apenas o título, pois, sua autoridade real permanecia reconhecida somente em

Sevilha.54 A nobreza, o clero e as ordens militares, as maiores forças políticas deste

contexto, aliavam-se àquele que seria o novo monarca: Sacho IV. 55 Jimenez irá nos

mostrar um ponto importantíssimo desta conjuntura: no final de sua vida Afonso X

solicitou apoio do Papa e a demais reinos cristãos, mas a única ajuda verdadeira que

receberia, partiria surpreendente de Abu Yusuf (1258 - 1286) sultão dos Merínidas, que

colocou seu exército a sua disposição.

Após sua deposição em Valladolid, Afonso X deserdou e amaldiçoou

publicamente Sacho IV, deixando em seu testamento a maior parte de seus reinos para

o Infante Dom João de Castela. Além disso, “la escassa atividade de la cancilaria real

em los meses que precedieran a la morte de Alfonso X indica que su salud estaba ya

muy deteriorada” 56, até que em 1284 Afonso X faleceu deixando um legado cultural

ímpar na História do ocidente latino.

As Cantigas de Santa Maria, inevitavelmente irão refletir este contexto político

tão complexo. A CSM 46, por exemplo, conta a história de mouro que venerava a

imagem da virgem, até que se converte ao cristianismo, enquanto no início da cantiga

é descrito como infiel e saqueador, através de um milagre é convertido. Este temática é

reforçada pelo estribilho:

Porque ajan de seer

séus miragres mais sabudos

da Virgen, deles fazer

vai ant' ómes descreúdos57

54 Jimenez. Op. Cit. p. 347. 55 Idem. P. 351. 56 Idem.p. 371. 57 CSM 46

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Segundo a cantiga, inclusive os homens que não creem em Jesus, acabam por

ser convertidos. Os mouros descritos em detalhes “mouros barvudos” que os

diferenciavam dos demais, são reconhecidos, e podem inclusive receber a salvação

através da conversão. Tal tema se repete na CSM 192, onde a Virgem impede que um

mouro torne-se vassalo do demônio, enquanto na CSM 99 os mouros capturaram uma

cidade cristã, entram na igreja e destroem as imagens, sendo então punidos pela Virgem

por profanar a Igreja. Estas cantigas ao mesmo em que elogiam as matanças de mouros

nas batalhas da reconquista os retratam como importantes personagens do período. Ao

estudarmos a revolta dos mudéjares, por exemplo, temos que ter em mente que a

oposição entre o reino islâmico de Granada e o reino cristão de Castela não era total,

uma vez que Mohammad I era considerado vassalo de Afonso X e ambos os monarcas

influenciavam mutuamente cada reino, buscando alianças com a nobreza rival para

controlar o reino vizinho. Graças a esse vínculo com a coroa de Granada, o reino

castelhano recebia impostos que permitiam seu pleno funcionamento. Por trás dessa

aparente amizade, existia obviamente uma luta constante pela hegemonia na região.

Afonso X sempre buscou ser um imperador dentro de seu próprio reino e

enfrentou a resistência de sua nobreza por isto. Muhammad I, por sua vez, buscava ter

o controle de Granada e se desvincular da influência da dinastia dos Merínidas do

Marrocos. Cada reino possuía suas disputas internas, e a oposição entre muçulmanos

e cristãos não pode ser vista como total, pois, existia entre eles vínculos de vassalagem

e apoio mútuo, que revelam um complexo contexto político. A representação dos

mouros nas Cantigas de Santa Maria reflete este contexto e oferece distintas

percepções do muçulmano. Na CSM 379, por exemplo, a Virgem salva comerciantes

mouros do ataque de piratas, enquanto na CSM 192 os mouros são convertidos e

purificados. Afonso X podia esperar inclusive o apoio das minorias religiosas de seu

reino contra sua nobreza rebelde, o que explica a proteção dos judeus e muçulmanos

do reino. Nesse sentido, para Silveira as minorias religiosas deveriam ser integradas ao

corpo do reino, do qual o monarca era Cabeça, coração e alma. Nesse período as trocas

culturais foram inevitáveis e Afonso X teve que lidar com o desafio da alternância entre

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convivência e conflitos dentro de seu reino, temas que irão transparecer em suas

cantigas. 58

Conclusão:

As incompreensões contemporâneas sobre o Islã nos estimulam a pesquisar

sobre a presença da cultura árabe na Península Ibérica, este estudo se faz necessário

para esclarecer equívocos construídos ao longo dos séculos. A Idade Média foi um

período histórico marcado por vários conflitos entre cristãos e muçulmanos, no entanto,

a guerra não era onipresente. Na maior parte do tempo houve convivência e fiéis de

diferentes religiões relacionavam-se no cotidiano. Torna-se necessário, combater a

perspectiva dualista que estabelece às categorias “cristãos” e “muçulmanos” como

homogêneas e totalmente opostas uma a outra.

A partir da música foi possível perceber como a cultura cortesã dialogava com a

cultura popular nas Cantigas de Santa Maria, além de permitir a descoberta de um

hibridismo na composição destes poemas que refletem uma identidade cultural

indeterminada, reflexo do transito cultural entre Castela e os reinos vizinhos. 59 A

presença dos muçulmanos nesta música/poesia se deu, portanto, de maneiras diversas:

não só passivamente como personagem refém da narrativa cristã, mas de maneira ativa,

a partir do momento eles executavam e influenciavam a criação destes poemas.

8. REFERÊNCIAS

FONTES:

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58 SILVEIRA, Aline Dias. Op. Cit. P. 139. 59 SOKOLOWSKI, M. Aspectos da cavalaria nas cantigas de Santa Maria de Afonso X (1252-1284).

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