DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · interesses, curiosidades e características. ......
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM – FALCUDADE INTEGRADA
A Educação Infantil e o Brincar
Por: Ana Lúcia Fontes de Oliveira
Orientadora
Prof ª. Edla Trocoli
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A Educação Infantil e o Brincar
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Educação Infantil e
Desenvolvimento
Por: Ana Lúcia Fontes de Oliveira
AGRADECIMENTOS
... aos familiares, a professora Edla
Trocoli pela orientação e a amiga
Daniella por sua ajuda...
DEDICATÓRIA
... a minha princesa Giovanna por sua
paciência e compreensão...
RESUMO
O presente trabalho constitui de uma reflexão a respeito da importância do
brincar no desenvolvimento e aprendizagem na educação infantil, situando a
brincadeira numa abordagem histórica e social. Conhecer um pouco da visão
de escola e criança antigamente, mostrar que o brincar na Educação Infantil
facilita o aprendizado da criança, pois, através das brincadeiras é que a
assimilação ocorre de forma mais rápida e agradável fazendo com que a
criança desenvolva sua capacidade de criar e aprender refletindo no seu
desenvolvimento. Perceber que a brincadeira é uma necessidade do ser
humano em qualquer idade, tanto que os bebês também brincam.
METODOLOGIA
Para a realização desse trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica
fundamentada na reflexão da leitura de livros e observações, bem como
pesquisa de grandes autores referentes a este tema.
Realizamos observações do cotidiano em escola de educação pública em
turmas de educação infantil e berçário e conversamos com professores da
área.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A História da Criança e da Educação Infantil 09
CAPÍTULO II - A Importância do Brincar 17
CAPÍTULO III – Os Bebês Também Brincam 26
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37
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INTRODUÇÃO
A educação e o modo de ver as crianças mudaram muito ao longo dos anos.
Com essa perspectiva, devemos perceber a educação infantil como a
oportunidade de dar às crianças uma infância em que se respeite seus
interesses, curiosidades e características.
A escola desempenha um importante papel nesse aspecto, devendo
oferecer um espaço favorável e seguro para que a criança possa desenvolver
suas potencialidades.
Segundo Rosa (2002), “quando a criança constrói seu conhecimento a partir
de suas brincadeiras e leva a realidade para o seu mundo da fantasia, ela
transforma suas incertezas em algo que proporciona segurança e prazer, pois
vai construindo seu conhecimento sem limitações.”
O momento da brincadeira é de suma importância, pois contribui para
momentos de liberdade para criar, oportunidades de socialização e de se
encontrar.
As brincadeiras devem fazer parte do currículo escolar, das práticas
pedagógicas diariamente, mas o quê vemos é que esse olhar sobre a
brincadeira vem sendo ignorado no planejamento diário.
Propomos uma reflexão para que o direito de brincar da criança seja
respeitado, é uma lei inclusive.
O presente trabalho, que tem por objetivo principal, demonstrar como as
brincadeiras estimulam o desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social
da criança, desde muito pequenas, ainda bebês.
Segundo o dicionário Aurélio (2003), brincar é ”divertir-se, recrear-se,
entreter-se, distrair-se, folgar”, também pode ser “entreter-se com jogos
infantis”, ou seja, brincar é algo que todos deveriam fazer desde crianças até
adultos.
Através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes
como a atenção, a memória, a imaginação, proporcionando à criança o
desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade,
inteligência, sociabilidade e criatividade. Portanto, a brincadeira é de
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fundamental importância para o desenvolvimento infantil na medida em que a
criança pode transformar e produzir novos significados.
Percebemos que quando a criança é estimulada atribui um novo significado
às situações vivenciadas, que a criança enquanto ser social e histórico, também
é cidadã e deve exercitar seu direito de opinar, discordar e criticar, pois só com
espaço para criar e ousar, ela poderá construir sua autonomia e independência.
É primordial construir novos caminhos favorecendo a aprendizagem,
deixando de lado a postura ideológica de que a função da escola é de encher
de conteúdos a cabeça do aluno.
Os professores interferem a partir do momento em que com a brincadeira
direcionam a aprendizagem, não aproveitando a espontaneidade, a imaginação,
à criatividade das crianças para criar oportunidade, oferecendo material e
participando das brincadeiras. Deveriam estar conscientes de que a brincadeira
usada naturalmente e espontaneamente vai construir conhecimento de forma
interativa e imaginativa.
Infelizmente o quê vemos no cotidiano da maioria das escolas de educação
infantil se restringe a crianças durante horas dentro de sala de aula, fazendo
atividades mecanicamente, muitas das vezes a professora distribui massinhas,
giz de cera só para passar o tempo e as crianças ficarem quietas, enquanto ela
aplica atividades a outro grupo. Algumas escolas vêem como finalidade da
educação infantil prepará-las para iniciar o ensino fundamental, apesar da
LDB9394?96 no seu artigo 29 explicitar que “a educação infantil tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em
seus aspectos físicos, psicológicos, intelectuais e sociais”, o que se vê é o
contrário, um cotidiano em que esses aspectos não são desenvolvidos
plenamente.
A brincadeira seria uma atividade primordial para esse desenvolvimento,
portanto deveria ocupar um espaço maior, já que o conceito outrora aceito de
que o brincar está longe do saber foi superado por tudo que se conhece
atualmente sobre a mente infantil.
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CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DA CRIANÇA E DA EDUCAÇÃO INFANTIL
A família da Idade Média mais se parecia com uma microempresa. Era
um núcleo econômico dirigido pelo pai e submetido à sua autoridade, enquanto
a escola, de cunho religioso, voltava-se basicamente á formação do clero e
acolhia qualquer idade (crianças, jovens e adultos) sem distinção.
O vislumbre de uma transformação dessa organização da família e da
escola encontrada na Idade Média, somente ocorrerá a partir do século XV,
com a Modernidade, quando essas duas instituições assumem um papel
formador em relação à criança.
A família moderna, principalmente a partir do século XVI, redefine seu
papel perante a criança, assumindo uma função educativa.
A família patriarcal se transforma em nuclear (pai, mãe e filho) na qual os
vínculos afetivos são cada vez mais importantes, cujo centro é a criança. O eixo
da família moderna passa a ser a criança, transformada em objeto de seus
cuidados, de seu amor, de seu controle e idealizada como inocente e pura
(BACHA, 2002). Segundo Airés (1989), a família moderna apresenta um amor
obsessivo pela criança, e, como conseqüência, ela reina absoluta no espaço
doméstico.
Com o sentimento de infância que surge, reconhece-se que a criança
não está preparada para ingressar no mundo adulto, necessitando, portanto, de
cuidados especiais da família, da sociedade e do Estado.
Segundo Airés (1981), o “sentimento de infância” conhecia a criança
como um ser frágil e despreparado para a vida, abrindo caminho para a tutela
pedagógica, com a ideia de que a criança não estava preparada para a vida,
torna-se necessário submetê-la a um regime especial, antes de deixá-la unir-se
aos adultos.
Como conseqüência, a criança é excluída do convívio direto com o
adulto. A escola confinou a criança em um regime disciplinar cada vez mais
rigoroso, resultando no enclausuramento desta (o internato é um exemplo
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disso), enquanto a família priva a criança que gozava da liberdade entre os
adultos. Desenhava-se assim a função moderna da escola: confinar a infância.
A escola não como lugar de socialização e integração da criança ao universo
adulto, mas como lugar de confinamento da infância.
Na educação da Idade Moderna, o que se observa é a louvação da
disciplina em contraposição à alegria e ao humor. Trata-se de expurgar o infantil
de cada um, este, considerado um estado vil da natureza humana, de modo
que cura do “mal” infantil está no fundamento da escola moderna que, pelo
cultivo da razão, prevenirá e corrigirá os desvios, ou seja, a inclinação para o
mal.
Cultivar a razão para curar a humanidade do mal infantil está na raiz da
emergência da escola moderna. Ao invés de preservar uma inocência recém
descoberta pelo amor do adulto, a escola buscava “inocentar a criança
recalcando a criatura diabólica por meio do seu isolamento em relação ao
mundo adulto e às suas pulsões, de modo a torná-la pura razão” (BACHA,
2002, p. 107).
A expansão das escolas para fora do âmbito clerical se dá nesse
contexto de recalcamento da criatura diabólica. Ela será recalcada ou purificada
pela transformação, pela escola, em sujeito epistêmico, sujeito da ciência,
sujeito da razão. Irracional, a infância é um mal do qual todo homem deve ser
curado, de modo que o desígnio da educação escolarizada é expurgar a criança
em cada um.
Com isso, a escola começa a ser mais valorizada como espaço de
instrução, de formação, em que são ensinados conhecimento e
comportamentos e se valoriza a disciplina.
Na escola, já não se ensinam mais as mesmas coisas para todos, sem
diferenciação de idade como até então se fazia. Surge a preocupação em se
elaborar métodos próprios para a educação das crianças, considerando sua
particularidade (infância e juventude).
Considerando a necessidade da criança “descobertas” com o
reconhecimento da infância como uma fase ou período da vida do homem, a
escola que ate então era indiferente à formação infantil, começa, a partir do
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século XV, a focar a diferenciação das idades, a criação de classes escolares e
a divisão da população escolar em grupos de mesma capacidade (OLIVEIRA,
2006). A escola se transforma em uma instituição de ensino visando à
instituição e a formação da criança e do jovem e, assim, em instrumento
essencial da sociedade para a educação da infância e da juventude. Aos
poucos, a escola moderna vai delineando a aprendizagem, os hábitos, as
normas e os afazeres que correspondem a cada idade.
Segundo Brongére (2003), o Renascimento (séc XV e XVI) apresenta
uma visão negativa da criança, calcada no pensamento cristão. Nesse
contexto, a criança é marcada pelo pecado original de modo que o seu valor
negativo está associado ao mal, como pontuamos acima com Bacha e Oliveira
a pedagogia que dessa concepção decorre, não pode, basear-se na natureza.
Ao contrário, é uma pedagogia da vigilância que se contrapõe ao uso da
espontaneidade e aos comportamentos naturais da criança. Educar pressupõe,
então, romper com o mundo e as manifestações espontâneas da criança.
O século XVII observa uma reestruturação da escola, que segue os
pressupostos racionalistas: os currículos são modernizados, as classes são
organizadas por idade e programas e métodos são socializados. O pensamento
educativo renova-se: novas teorizações vão se constituindo com base em um
modelo de pedagogia explicitamente epistemológico a partir da valorização das
contribuições das nascentes ciências humanas tanto para a aprendizagem,
quanto para a formação da criança e do jovem (CAMBI, 1999).
Segundo Bacha (2002) isso não deixa de ser uma forma de recalcar o
infantil (irracional) que insiste e sobrevive no homem. E é justamente esse
homem, adulto, que a educação quer salvar do infantilismo e da irracionalidade.
Nessa busca de fazer do pequeno adulto, frágil, desprovido da razão, um adulto
racional, a escola, idealizada por Jan Amos Comênio (1592- 1670) é pontual.
Comênio apresenta uma proposta de organização escolar dividida em 4
grau recessivos e, para cada um deles, delineia objetivos, conteúdos e
métodos: a escola maternal para a infância, a escola nacional ou vernácula
para a meninice, a escola de latim ou ginásio para a adolescência e a academia
para a juventude. O jogo figura como estratégia nos dois primeiros graus.
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Rousseau foi o mais importante dos teóricos do século XVIII
influenciando de modo decisivo e radical a pedagogia, ao colocar no centro da
sua teorização a criança, de se conservar o seu caráter infantil, em vez de
permitir que ela tome parte, desde a infância, no mundo dos adultos.
Para Rousseau, a educação deveria estar voltada para as necessidades
mais profundas e essenciais da criança, respeitando seus ritmos de
crescimento e valorizando as características de cada idade infantil.
Com Rousseau inaugura-se o reinado de “sua majestade a criança”, pura
e inocentada em uma imagem ideal que perdurará durante o século XIX e XX e
começo do XXI.
Essa máscara de inocência recobre qualquer resquício manifesto da
antiga hostilidade dos adultos para com a criança que vigorava ate o século
XVII.
No século XIX, Friedrich Frobel (1782 – 1852) constrói sua proposta
pedagógica para a educação da criança pequena: sua concepção de infância
se baseia num pressuposto religioso, que tem na natureza sua expressão, a
manifestação de Deus. Se na infância esta depositada a voz de Deus, cabe a
educação possibilitar que ela se desenvolva. Cria os Jardins da Infância e o
método frobeliano para a educação da criança. Faz-se necessário a presença
de uma professora chamada de Jardineira. Sua função é orientar as atividades
das crianças de modo que o processo educativo é assegurado. O termo
jardineira, usado por Frobel para nomear a professora responsável pela
educação criança de 3 a 6 anos está relacionado ao local em que esse
processo deve acontecer. Portanto, ele idealizou e concretizou o que chamou-
se de Kindergarten, ou simplesmente, Jardim de Infância.
Os Jardins da Infância se constituem em espaço que dispõe de grandes
áreas verdes, aparelhadas e organizadas para que as crianças possam
desenvolver suas atividades, essencialmente o brincar, sempre orientadas
pelas professoras jardineiras.
Continuou seu processo de expansão, incorporando à proposta
froebeliana às ideias escolanovistas, cuja proposta também estava centrada na
criança, em suas atividades, na utilização de materiais concretos e
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especialmente na educação pelo lúdico. Traduzindo as ideias de teóricos como
Dewey, Montessori, Decroly e Claparéde, os ideais escolanovistas tiveram seu
ponto alto nos anos 20 e 30 no Brasil.
Froebel e os escolanovistas contribuíram muito para a superação de uma
concepção tradicional de ensino. Contudo, tais ideias foram se transformando
principalmente a partir da década de 70, com a perspectiva de uma educação
compensatória voltada às classes sociais menos favorecidas, em menos
instrumentos didáticos, que as carências e deficiências deveriam ser supridas
por uma “educação compensatória.”
A partir da década de 80, essa “educação compensatória” começa a ser
questionada por professores e técnicos, tal educação estava gerando
discriminação e marginalização dessas crianças.
Na década de 90 os trabalhos de Piaget e Vigotsky tiveram grande
divulgação em decorrência de uma forte tendência cognitivista que permeava a
escola.
Verifica-se que, até meados do final dos anos setenta, pouco se fez em
termos de legislação que garantisse a oferta desse nível de ensino. Já na
década de oitenta, diferentes setores da sociedade, como organizações não-
governamentais, pesquisadores na área da infância, comunidade acadêmica,
população civil e outros, uniram forças com o objetivo de sensibilizar a
sociedade sobre o direito da criança a uma educação de qualidade desde o
nascimento.
Do ponto de vista histórico, foi preciso quase um século para que a criança
tivesse garantido seu direito à educação na legislação, foi somente com a carta
constitucional de 1988 que esse direito foi efetivamente reconhecido.
De acordo com Bittar (2003, p.30), o esforço coletivo dos diversos
segmentos visava assegurar na Constituição, “[...] os princípios e as obrigações
do Estado com as crianças”. Assim, foi possível sensibilizar a maioria dos
parlamentares e assegurar na Constituição Brasileira o direito da criança à
educação .
A pressão desses movimentos na Assembléia Constituinte possibilitou a
inclusão da creche e da pré-escola no sistema educativo ao inserir, na
15
Constituição Federal de 1988, em seu artigo 208, o inciso IV : ¨[...] o dever do
estado para com a educação será efetivado mediante a garantia de oferta de
creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade ¨ (Brasil, 1988).
A partir dessa lei, as creches, anteriormente vinculadas à área de assistência
social, passaram a ser de responsabilidade da educação.
Tomou-se por orientação o princípio de que essas instituições não apenas
cuidam das crianças, mas devem, prioritariamente, desenvolver um trabalho
educacional.
A Constituição representa uma valiosa contribuição na garantia de nossos
direitos, visto que, por ser fruto de um grande movimento de discussão e
participação da população civil e poder público, “[...] foi um marco decisivo na
afirmação dos direitos da criança no Brasil”. (Leite Filho, 2001, p.31).
Na realidade, foi somente com a Constituição que a criança de zero a seis
anos foi concebida como sujeito de direitos.
Dois anos após a aprovação da Constituição Federal de 1988, foi aprovado o
Estatuto da criança e do adolescente – Lei 8069/90 que, ao regulamentar o
artigo 227 da Constituição Federal, inseriu as crianças no mundo dos direitos
humanos.
De acordo com seu artigo terceiro, a criança e o adolescente devem ter
assegurados os direitos fundamentais de ¨[...] desenvolvimento físico, mental,
moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade¨ ( Brasil,
1994ª).
Essa lei é mais do que um simples instrumento jurídico, porque inseriu as
crianças e adolescentes no mundo dos direitos humanos.
O Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu um sistema de
elaboração e fiscalização de políticas públicas voltadas para a infância,
tentando com isso impedir desmandos, desvios de verbas e violações dos
direitos das crianças. Serviu ainda como base para a construção de uma nova
forma de olhar a criança, uma criança com direito de ser criança. Direito ao
afeto, direito de brincar, direito de querer, direito de não querer, direito de
conhecer, direito de sonhar. Isso quer dizer que são atores do próprio
desenvolvimento.
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Nos anos seguintes à aprovação do estatuto da criança e do adolescente,
entre os anos de 1994 a 1996, foi publicado pelo Ministério da educação uma
série de documentos importantes intitulados: ¨ Política Nacional de Educação
Infantil ¨.
Tais documentos estabeleceram as diretrizes pedagógicas e de recursos
humanos com o objetivo de expandir a oferta de vagas e promover a melhoria
da qualidade de atendimento nesse nível de ensino, que discute a organização
e o funcionamento interno dessas instituições, por uma política de formação do
profissional de educação infantil, que reafirma a necessidade e a importância de
um profissional qualificado e um nível mínimo de escolaridade para atuar nas
instituições de educação infantil.
Além da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do
Adolescente de 1990, destaca-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1996, que, ao tratar da composição dos níveis escolares, inseriu a
educação infantil como primeira etapa da Educação Básica.
Essa lei define que a finalidade da Educação Infantil é promover o
desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade,
complementando a ação da família e da comunidade.
De acordo com o Ministério da educação, o tratamento dos vários aspectos
como dimensões do desenvolvimento e áreas separadas foi fundamental, já
que ¨ [...] evidencia a necessidade de se considerar a criança como um todo,
para promover seu desenvolvimento integral e sua inserção na esfera pública ¨(
Brasil, 2006, p.10).
Desse modo, verifica-se um grande avanço no que diz respeito aos direitos
da criança pequena, uma vez que a educação infantil, além de ser considerada
a primeira etapa da educação Básica, embora não obrigatória, é um direito da
criança e tem o objetivo de proporcionar condições adequadas para o
desenvolvimento do bem-estar infantil, como o desenvolvimento físico, motor,
emocional, social, intelectual e a ampliação de suas experiências. Diante dessa
nova perspectiva três importantes objetivos, devem necessariamente coroar
essa nova modalidade educacional
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1) Objetivo social: associado à questão da mulher enquanto
participante da vida social, econômica, cultural e política.
2) Objetivo educativo: organizado para promover a construção de
novos conhecimentos e habilidades da criança.
3) Objetivo Político: associado à formação da cidadania infantil em
que, por meio deste, a criança tem o direito de falar e de ouvir, de
colaborar e de respeitar e ser respeitada pelos outros.
A busca da qualidade envolve outras questões complexas, como o projeto
educativo das instituições, formação e valorização do professor e recursos
financeiros destinados a essa faixa etária, sendo necessário, contudo garantir
que esses recursos sejam efetivamente empregados nesse nível de ensino.
Para que essa finalidade seja cumprida no âmbito da legislação, foi
aprovada, no ano de 2001, o Plano Nacional de Educação, que teve por
objetivo principal estabelecer as metas para todos os níveis de ensino, cuja
vigência se estenderá até o ano de 2010.
Um dos objetivos desse documento é reduzir as desigualdades sociais e
regionais no que diz respeito à entrada e à permanência da criança e do
adolescente no ensino público, princípio que se aplica à educação infantil, visto
ser a desigualdade de acesso bastante significativa nas classes menos
favorecidas.
Esse documento estabeleceu originalmente, para a educação infantil, vinte e
seis metas para serem alcançadas no decorrer dos seus dez anos de vigência.
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CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR
Segundo Alves (1997) “se escrevêssemos uma lista de coisas que
acompanham o ser humano desde sua origem, entre elas estariam, provando,
com isso, sua indispensabilidade: os alimentos, para sustentar-se; a casa, para
abrigar-se; as vestes, para proteger o corpo; a linguagem, para comunicar-se; e
o brinquedo, para aprender sobre o desconhecido.”
Em Homo Ludens, Huizinga (1980) argumenta que o jogo puro e simples é o
princípio vital de toda a civilização, é uma função de vida.
Desde a antiguidade, na origem da educação, Platão e Aristóteles já
utilizavam o brinquedo, somando a idéia de estudo e prazer.
As crianças crescem em universos de diferentes culturas, recebendo as
influências: familiar, da comunidade na qual estão inseridas, a praticada na
escola e a cultura global. Todas essas influências refletem-se nas brincadeiras,
em que as crianças englobam esse riquíssimo universo lúdico.
Lembramos com saudades de nossa infância, nosso tempo de criança, das
brincadeiras com os primos e/ou amigos, da alegria de encontrá-los e
inventarmos brincadeiras diversas.
Areia da pracinha ou da praia se transformando em lindos ”bolos” e
enfeitados com conchinhas e/ou pedrinhas.
Crescemos nos tornamos mães, tias, avós e continuamos sentindo prazer no
brincar, a retornarmos a esse tempo, a essa atividade tão prazerosa e
estimuladora que é o brincar.
Infelizmente, por motivos diversos, o adulto se sente pressionado a uma
postura mais séria, com responsabilidades e deveres, como o trabalho, em que
empregadores “sugam” cada vez mais os empregados nessa sociedade
capitalista em que vivemos.
Com isso, nos sentimos cansados e “sem tempo” para coisas “sem
importância” como o brincar.
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Existem diversos brinquedos e brincadeiras cujas influências são resultado
do contato que existiu entre os diferentes povos quando se encontraram em
nosso país.
Segundo Wayskop (1997), nas civilizações antigas, os brinquedos estavam
também relacionados com as crianças e a religiosidade. Entre gregos e
romanos, os brinquedos das crianças, que se tornariam adultas, eram
oferecidos aos deuses. As bonecas das crianças em idade de se casar eram
consagradas à Vênus e à Diana ou deuses da fertilidade para que
posteriormente, suas proprietárias pudessem ter muitos filhos. Quando uma
criança morria seus brinquedos eram oferecidos às divindades do inferno.
No Egito, Grécia e Roma e até mesmo nas catacumbas cristãs, foram
encontradas bonecas, bolas, soldadinhos, armas ou outros brinquedos que
foram sepultados junto a seus pequenos donos. Além disso, entre os egípcios,
romanos e maias, os jogos serviam de meio para a geração mais jovem
aprender com a mais velha, valores e conhecimentos, bem como padrões da
vida social.
Segundo Silva (2002), a nova visão de infância, introduzida pelos trabalhos
de Rousseau e Pestalozzi, em que a infância deveria ser vista como um período
especial do desenvolvimento do ser humano. Este sentimento de infância
trouxe a adoção de práticas educacionais que são utilizadas até hoje e a
valorização da brincadeira infantil uma vez que o comportamento verdadeiro e
natural da criança é o brincar.
Com o surgimento da modernidade, houve uma mudança no ritmo das
pessoas e da vida, com a crescente violência, mudanças geográficas,
brincadeiras na rua como elástico, bolinha de gude, piques, queimado
acabaram se perdendo, com sorte algumas crianças conseguem ainda
desfrutá-las, mas não mais “ao ar livre”, em pracinhas ou em frente de casa e
sim, “protegidas” (ou será aprisionadas?) nos playgrounds dos prédios em que
moram, dentro de condomínios fechados, com câmeras por toda parte.
Concluímos que com tudo isso, os próprios pais preferem os filhos dentro de
casa, com isso o aumento do acesso a computadores, tablets e celulares,
fazendo com que tenham amigos virtuais.
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“A escola serviu como um meio de retirar as crianças das atividades de
trabalho e de estimular convivências que hoje, pelas questões vistas no
parágrafo acima e mais como: atividades extras, cobrança dos pais “para um
futuro melhor, sufocam” as crianças, por vezes restando apenas o momento na
escola para brincar, interagir, aprender uns com os outros. Infelizmente, alguns
professores tão preocupados com conteúdos programáticos, com notas acham
que “não podem perder tempo com brincadeiras”.
Com isso, as crianças estão sendo alfabetizadas cada vez mais cedo e
perdendo uma fase importante da infância.
Renovando as idéias de Brougère apud Watjskop (2001), podemos dizer
que: “A brincadeira é o lugar da socialização, da administração da relação com
o outro, da apropriação da cultura, do exercício da decisão e da invenção. Mas
tudo isso se faz segundo o ritmo da criança e possui um aspecto aleatório e
incerto. Não se pode organizar, a partir da brincadeira, um programa
pedagógico preciso. Aquele que brinca pode sempre evitar aquilo que não
gosta. Se a liberdade caracteriza as aprendizagens efetuadas na brincadeira,
ela produz também a incertitude quanto aos resultados. De onde a
impossibilidade de assentar de forma precisa as aprendizagens na brincadeira.
Este é o paradoxo da brincadeira, espaço de aprendizagem fabuloso e incerto.”
O brinquedo é o companheiro da criança em seus jogos e brincadeiras.
Segundo Benjamin (1984), o conteúdo ideacional do brinquedo jamais
determina a brincadeira, pois ao contrário, é ela que orienta o uso dos objetos.
Segundo Silva (2004), pode-se dizer também que o brinquedo é uma
produção cultural da criança: no momento da brincadeira, a criança faz de
qualquer objeto seu brinquedo, ela o cria e recria de acordo com sua
imaginação, com sua brincadeira e contexto. Um exemplo disso é uma
vassoura que se torna um cavalo para a criança enquanto brinca, ou mesmo
com o brinquedo industrializado que normalmente supõe uma brincadeira, ainda
assim a criança o converte e lhe dá novo significado, ela o reproduz, ou recria:
uma boneca pode se tornar um microfone, ou um tecladinho virar um
computador, depende do que a criança deseja representar ou expressar,
depende da sua imaginação.
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Por exemplo, quem nunca se imaginou dirigindo um carro ou um caminhão
em suas brincadeiras usando apenas o próprio corpo.
O corpo é o nosso primeiro e mais prazeroso brinquedo.
Winnicott(1975) afirma que além das significações e sentidos, o brinquedo é
também um objeto transicional, isto é, ele se encontra no meio do caminho
entre a chamada realidade concreta e a realidade psíquica da criança.
Reconhecer o corpo como “brinquedo” nos parece fundamental para o
professor, a diversidade de jogos e brincadeiras que exigem tão somente nosso
corpo como brinquedo para acontecer.
Mesmo quando precisamos de bolas, garrafas ou coisa parecida para
realizar um jogo de queimado ou pique-bandeira, sem o corpo-brinquedo nada
se faz.
Sem dúvida ter à disposição um conjunto de materiais é sempre importante
para o professor. Contudo, muitas vezes, precisamos de bem pouco para
realizar um jogo ou brincadeira e, até mesmo, nossas aulas.
Segundo Levisky (2002) os jogos e brincadeiras produzidos pelas crianças
são momentos em que elas podem exercitar as relações entre prazer e
realidade, entre consciente e inconsciente.
“Para Freud (1968)” a ocupação preferida e mais intensa da criança é o
brincar. Elas entregam-se as suas brincadeiras, aos seus jogos, as suas
histórias, com vigorosa seriedade. Com rara facilidade se põe a brincar e a
jogar, a contar e a ouvir uma história, constituindo um cenário imaginário em
que cria e representa diferentes personagens, vive as suas fantásticas
aventuras, inventa, constrói e destrói , conhece(se). Faz de seu corpo um
versátil brinquedo com o qual explora a realidade. No “como se”, disfarça-se,
passa a ser, ao menos naquele momento, quem não é.”
O jogo é uma forma de mudança de identidade que se “concretiza” na
realidade da criança quando, por exemplo, usa uma roupa emprestada dos
pais, um sapato de salto alto da mãe, uma capa de super herói etc.
O brincar da criança envolve a sua história, possibilitando que seu desejo se
“torne realidade” mesmo que por alguns minutos.
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Partindo do princípio de que o jogo é linguagem, Kupfer (2001) “o considera
como uma prática significante, por meio do qual, o sujeito se constitui, atinge o
outro e se faz reconhecer por este.
Alguns jogos e brincadeiras infantis têm como finalidade o desejo de ser
adulto, porque a criança acredita que o adulto tem o domínio de tudo.
A criança ao se posicionar no espaço imaginário do jogo consegue chegar ao
tão desejado lugar que acredita que o adulto esteja. Assim, ela tenta organizar
a realidade de outra maneira que seja mais conveniente e sobre a qual ela
tenha domínio.
O ato de brincar possibilita o processo de aprendizagem da criança, pois
facilita a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade, estabelecendo,
desta forma, uma relação estreita entre jogo e aprendizagem.
Para definir a brincadeira infantil, ressaltamos a importância do brincar para o
desenvolvimento integral do ser humano nos aspectos físico, social, cultural,
afetivo, emocional e cognitivo.
Para tanto, se faz necessário conscientizar os pais, educadores e sociedade
em geral sobre a importância do lúdico que deve estar sendo vivenciado na
infância, ou seja, de que o brincar faz parte de uma aprendizagem e não é
somente uma brincadeira que dá prazer, um momento de lazer, mas sim uma
forma de aprendizagem.
Na visão de Vygotsky, o jogo simbólico é como uma atividade típica da
infância e essencial ao desenvolvimento infantil, ocorrendo a partir da aquisição
da representação simbólica, impulsionada pela imitação. Desta maneira o jogo
pode ser considerado uma atividade muito importante, pois através dele a
criança cria uma zona de desenvolvimento proximal, com funções que ainda
não amadureceram, mas que se encontra em processo de maturação, ou seja,
o que a criança irá alcançar em um futuro próximo.
Vygotsky ainda afirma “a essência do brinquedo é a criação de uma nova
relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja,
entre situações no pensamento e situações reais, essas relações irão permear
toda a atividade lúdica da criança, serão importantes indicadores do
23
desenvolvimento da mesma, influenciando sua forma de encarar o mundo e
suas ações futuras.”
A brincadeira é uma maneira fantástica de aprendizagem, além de
oportunizar a integração entre as crianças.
Nesta fase, a criança está sempre descobrindo e aprendendo novas coisas,
é um ser em construção, o brincar nessa fase é fundamental para seu
desenvolvimento social e cognitivo, é um espaço de troca e transformação da
criança em um ser social, construtor de sua cultura e historia.
Com a brincadeira a criança pode pensar e experimentar situações novas do
cotidiano sem pressões provocadas pelas situações.
Existem vários objetivos que podem ser alcançados durante uma brincadeira
como: estimular o desenvolvimento, a concentração, a atenção, favorecer o
equilíbrio emocional, desenvolver a inteligência e criatividade e a sociabilidade,
oportunidade para aprender a jogar e a participar e incentivar a valorização do
brinquedo como atividade geradora do desenvolvimento intelectual, emocional e
social, enriquecimento do relacionamento entre a criança e a família e valorizar
os sentimentos afetivos e cultivar a sensibilidade.
Professores que utilizam a brincadeira como ferramenta são educadores
preocupados com a felicidade das crianças, para que brinquem livres da
obrigação de cumprirem metas determinadas pelos adultos em determinados
trabalhos, que se sintam alegres e felizes. É um espaço para a socialização, a
construção e a representação.
Ramos apud Fortuna (2003), diz que a brincadeira não deve ser uma
atividade tão “largada” que dispense o educador, nem tão dirigida que deixe de
ser brincadeira. Entendemos que a ação do educador é fundamental no
processo denominado brincadeira, pois a sua intermediação poderá ser
requisitada a qualquer momento, seja para incentivar ou para moderar as
atividades.
Com uma realidade bem diferente da ideal, os profissionais ficam
desestimulados em relação a esta fase do desenvolvimento.
24
Nas salas de educação infantil é comum encontrarmos atividades de
prontidão, exercícios que as crianças fazem rapidamente como cobrir números
e o nome.
Compreendemos que tais atividades possam ser subseqüentes a atividades
lúdicas que façam as crianças compreenderem o objeto de estudo, mas o quê
acontece são professores trabalhando conteúdos sem significado, esquecendo
o verdadeiro sentido da educação infantil, que é o reconhecimento do eu, a
socialização, a organização espacial, a discussão de posturas e a inserção da
criança na sociedade, pois ela acaba de sair do seio da família para lidar com
as relações com a sociedade.
Uma postura compensatória, que pretende compensar as necessidades da
classe popular aplicando uma quantidade enorme de exercícios de prontidão
não está presente apenas no trabalho de alguns professores, mas também na
fala dos pais, que cobram dos professores “dever de casa”, pois caso isto não
aconteça eles não fariam uma boa alfabetização, fazendo da educação infantil
um “preparatório” para o ensino fundamental.
Encontramos ainda na rede pública de ensino, professores que não
romperam com as posturas do passado, agindo de maneira assistencialista,
pensando que seu compromisso é com o cuidar do que com o desenvolvimento
de seus alunos, e outros que pensam que quanto maior a quantidade de
exercícios será melhor para o desenvolvimento da criança.
Segundo Vygotsky, a brincadeira é primordial para o desenvolvimento
cognitivo, pois, é através do processo de criar situações imaginárias que a
criança criará o pensamento abstrato. Através da brincadeira e do ato de
brincar, a criança estabelecerá seu desenvolvimento. O quê define o brincar é a
situação imaginária criada pela criança. A partir disso, pode se considerar que
brincar preenche necessidades que mudam de acordo com a idade.
A importância do brincar mudou tanto que chegou à lei, com o propósito de
orientar e dar suporte aos educadores que acompanham o dia a dia das
crianças. Isso é visível não só no Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil, mas também em outros documentos.
25
Também chegou à lei a inclusão de crianças portadoras de necessidades
especiais. Para o professor muitas vezes torna-se desesperador ter um aluno
“especial” em sua sala. É um trabalho integrador e desafiador ao mesmo
tempo.
O trabalho pedagógico para essas crianças consiste em oferecer estímulos,
através do brincar e dos brinquedos, para que surjam oportunidades de
desenvolvimento para essas crianças.
Segundo Cunha (1992) “[...] todas as crianças precisam brincar, todas as
crianças precisam de estímulos, mas as crianças deficientes dependem dessa
estimulação para se desenvolverem.”
Para o atendimento correto a essas crianças, às vezes, precisa-se de uma
adaptação do brinquedo, que esse brinquedo atenda a criança em sua etapa de
desenvolvimento.
Para as crianças com deficiências físicas é necessário que estejam
brincando de uma maneira confortável e segura. Os brinquedos selecionados
não devem exigir um controle motor muito rígido para que seja possível que
crianças com coordenação motora mais fragilizada possam brincar.
Segundo Cunha (1992),” o manuseio de brinquedos pode ajudar a criança a
melhorar o seu desempenho motor, se ela obtiver satisfação com eles.”
Crianças com deficiência visual precisam de brinquedos com discriminação
tátil e auditiva, para que os sentidos da audição e do tato sejam desenvolvidos
para ampliação da interação da criança com os objetos e as pessoas.
Crianças com deficiência auditiva ou totalmente surdas necessitam de
brincadeiras que promovam a comunicação entre as crianças e com os adultos.
Atividades como: dramatizações de histórias, jogos de mímica e desenhos e
teatro de fantoches.
Já para as crianças com deficiência mental, devemos apresentar o
brinquedo, iniciar a brincadeira e convidá-los para brincar. Essas crianças
apresentam dificuldades em abstrair, por isso a intervenção com a função
estimuladora é fundamental.
Através das brincadeiras e das diferentes formas de brincar temos inúmeras
situações para dar conta desse desafio. Quando falamos em inclusão estamos
26
falando de dar oportunidades para que todas as crianças participem, sejam elas
crianças com síndromes, com temperamentos diferentes, de outras
nacionalidades ou religiões, moradoras de favelas, abrigos etc.
Devemos pensar em trazer o brincar como ator principal da escola, seria um
avanço para a educação, pois, desta maneira, educadores, pais, alunos de um
modo geral tomariam consciência da importância que a brincadeira tem para o
desenvolvimento integral da criança, sendo uma forma de conhecê-las melhor,
para adequar propostas lúdicas e preservar suas culturas.
Devemos nos preocupar com o retorno e a garantia do brincar nas
instituições escolares principalmente pela tendência de enfatizar a educação
infantil como um preparo para a alfabetização. Trazer o brincar de volta ao dia
a dia das crianças para que seja assegurada uma infância saudável e
significativa.
Principalmente, com a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos,
devemos nos preocupar com o tratamento, espaço e tempo dedicados às
atividades lúdicas das crianças de quatro, cinco e seis anos que agora cursam
o primeiro ano do fundamental.
Analisemos que mudanças devem ocorrer em cada um de nós. Não são
mudanças fáceis e de um dia para o outro, são necessárias vivências pessoais
para resgatar e internalizarmos o espírito lúdico devemos reaprender a brincar!
Segundo Zabalza (2002),” educação infantil não é apenas a que se dá numa
escola. Ela começa no dia da concepção da criança no seio materno. A mãe
que tece pensamentos de carinho para o pequenino ser que se forma dentro
dela, que o aguarda nascer e que o recebe feliz, começou a educá-lo, porque
começou a criar aquele ambiente favorável e estimulante para ele se
desenvolver. E essa educação se prolonga, pelos dias e pelos anos,
acompanhando o crescimento da criança.”
27
CAPÍTULO III
OS BEBÊS TAMBÉM BRINCAM
Segundo Ortiz e Carvalho (2009),”antes de brincar de alguma coisa, o bebê
brinca com. Brinca com o rosto de sua mãe, primeiro elemento identificável
para um bebê, assim como o seio que o alimenta, com seu próprio corpo, com
as coisas que toca, com as pessoas que vê, com os movimentos, as luzes, os
sons que acontecem ao seu redor.O bebê começa brincando com os próprios
sentidos, num crescente jogo de descobertas, desenvolvimento de habilidades
e construções de significados.”
Segundo Trindade (2007)” perceber o quê se passa dentro e fora do corpo é
uma tarefa de integração, a criança se utiliza de jogos e brincadeiras em busca
dessa consciência.”
Primeiro brinca com aquele que cuida dele, está sempre por perto, para
depois brincar com partes de seu corpo e sons que consegue emitir.
Com o tempo, o bebê se ocupa em diferenciar as partes de seu corpo, para
saber o quê é dele e do outro.
Começa a perceber as coisas ao seu redor e, numa constante conquista do
mundo, passa a explorar não só o quê está ao alcance, mas elementos que lhe
sejam fascinantes.
Tudo é novidade para um bebê que está vivenciando o mundo pela primeira
vez, portanto, se lhe for permitido, vai explorá-lo com sua curiosidade.
O quê um bebê de apenas três meses de vida está fazendo quando coloca
sua mão na boca de um adulto?
Por que gosta tanto de brincar com os alimentos, retirando-os da boca para
amassá-los, explorá-los na própria mão?
Por que adora brincadeiras de se esconder com um pano e alguém dizer
“achou”?
Segundo Ortiz e Carvalho (2009), ao brincar, o bebê faz laço com o mundo
ao seu redor, com aqueles que com ele se relacionam e com o universo cultural
no qual está inserido. Ao mexer no rosto do adulto, ele enlaça uma brincadeira.
28
Difícil dizer onde começa esse jogo, pois o bebê tocou o adulto porque este
estava interessado nele, olhando para ele, falando com ele. Um seduz o outro,
um se une ao outro
Brincadeiras que começam colocando a mão na boca do adulto geram
outras, que criam uma linguagem entre mãe e bebê.
E assim várias ações surgem que geram aprendizados, que possibilitam o
desenvolvimento de muitas competências.
É indiscutível que, o bebê depois que aprende a se arrastar, ou engatinhar
ou mesmo andar dificilmente para no lugar.
Antes mesmo de seu deslocamento pelos espaços, ele já percorreu um longo
caminho de desenvolvimento tanto motor quanto com relação a sua percepção.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009), “sustentar a cabeça, sentar, buscar e
segurar nos apoios, pegar os objetos, coordenar a visão e o tato, cada novo
gesto e postura são o resultado de uma série de movimentos, exercícios e
coordenações. Há um caminho de desenvolvimento a ser percorrido, que se
inicia por movimentos incoerentes e desordenado que, aos poucos, em
constantes e progressivas experimentações, permite ao bebê conquistar
movimentos cada vez mais seguros e harmoniosos.”
Concluímos então, o quanto é importante um lugar que ofereça
possibilidades para os bebês se movimentarem e, conforme eles mostrem que
são capazes, oferecer desafios e situações, mas sempre observando a
segurança.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009), “de acordo com a evolução do movimento
e o repertório das crianças, outros elementos vão sendo incorporados em cada
proposta, tornando-as cada vez mais complexas, como músicas, fantasias para
circuitos temáticos, cantigas de roda. E assim, entramos em outras
modalidades, as expressivas, que exploram os diferentes movimentos e
habilidades motoras: a dança livre, as brincadeiras de roda, os jogos corporais
coletivos ( como entrar e sair da toca do coelho feita por um bambolê colocado
no chão), a imitação de bichos e diferentes personagens. “
29
A música se faz presente desde cedo, pois ainda no útero, os bebês já
convivem com sons provocados pelo corpo da mãe, com sua voz e de pessoas
próximas.
O bebê brinca com sua própria voz, brinca com sons que consegue produzir,
imita e reinventa sons.
Utilizando o corpo como brinquedo, brinca com os sons produzidos por seu
próprio corpo como: bater palmas e estalar a língua que se transformam numa
brincadeira muito apreciada por eles.
As crianças de 0 a 2 anos precisam de ambientes ricos, que favoreçam o uso
de todos os cinco sentidos .
A criança fica muito perto do chão, precisamos por isso pensar em como
utilizá-lo de forma atrativa para a criança, estimuladora e segura.
O chão pode ser de diferentes texturas, cores, ou emitir sons quando se
deslocar sobre ele.
Devemos repensar a posição dos móbiles, se ficam de fácil acesso às
crianças ou ficam no alto, perdendo um pouco sua função.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009),” o ambiente precisa favorecer o
movimento, que nesta faixa etária é o próprio pensamento em ação. Esses
tipos de intervenções fazem com que as crianças possam desenvolver
diferentes capacidades. O ambiente precisa sugerir desafios motores possíveis
de serem vencidos pelas crianças, mas organizados com conforto e
segurança.”
A princípio, os bebês talvez precisem de ajuda e incentivo para suas
descobertas motoras, mas se o quê for colocado ao seu redor for atraente, sua
curiosidade natural vai fazê-la usar as diferentes partes do corpo para atingi-los.
As crianças precisam se apoiar e ficar em pé sozinhas, vários recursos
podem ser utilizados desde um móvel ou uma barra; elas podem subir e descer
escadas baixas, entrar e sair de túneis, escorregar numa rampa, entrar em um
pneu ,percorrer um circuito com rampas e pneus.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009)” o importante é oferecer a oportunidade de
explorar o ambiente por meio de movimentos diferenciados, as crianças
precisam engatinhar, andar, correr, se pendurar, subir, descer, balançar, tentar
30
fazer, acertar, errar, tentar de novo.Só desta maneira elas aprendem a
conhecer seu próprio corpo, a controlá-lo e a saber seus limites e
possibilidades.”
A interação entre os bebês e os adultos na escola ocorre primeiramente
através dos cuidados físicos, da brincadeira, da imitação, pois vão conviver
com adultos e crianças ao longo do dia.
Devemos estar sempre atentas ao ambiente, se está muito barulhento,
podendo desta forma, estressar o bebê e também ao profissional que dele
cuida.
Desta forma, na organização do espaço precisamos ter um cantinho para a
criança que queira um pouco mais de sossego, ou repousar, com colchonetes
ou almofadas.
Quando formos decorar a sala do bebê ou algum lugar que será freqüentado
por ele, devemos ter o cuidado de não poluir o ambiente com muitas
informações, cores, coisas que estressem os bebês, precisamos aprender a
olhar com olhos de bebê, o quê é agradável para um bebê, pensarmos com
uma visão sensório-motora, com opções que o auxiliem em seu
desenvolvimento.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009),” ao pensar nos materiais que colocaremos
à disposição das crianças, é recomendável se orientar por dois parâmetros: o
quê é significativo para a criança e o quê faz parte do uso social, ou seja, o quê
faz parte de práticas sociais, daquilo que as pessoas fazem normalmente fora
da escola também.
Alfabetos e retas numéricas não fazem nenhum sentido para as crianças de
berçário; o desenho de algum artista plástico, como Miró, um pôster de
diferentes raças de cachorros tem afinidade com os bebês. “Seus nomes dentro
de uma centopéia desenhada pelo adulto não são entendidas, mas ao lado de
sua foto ou bordado no saquinho de sua roupa de dormir, sim.”
Devemos pensar também que os bebês são extremamente curiosos e “sem
nenhuma noção de perigo”, claro que por mais cuidados que se tenham,
acabam se machucando, mas não deve ser por causa de portas, quinas de
móveis ou brinquedos inadequados a sua faixa etária. Brinquedos com peças
31
soltas e pequenas estão proibidos, pois devido ao período em que se
encontram, tudo levam a boca, podendo causar sufocamentos, assim como
sacolas plásticas e tomadas sem protetor.
O funcionamento das creches, geralmente associada à falta de investimento
público em materiais, equipamentos e formação adequada dos profissionais,
tem deixado a desejar no estímulo adequado aos bebês.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009), “as crianças dessa faixa etária deveriam
ser alimentadas em seus desejos, em sua curiosidade natural, tendo a
possibilidade de aprender e se desenvolver num contexto coletivo de interações
afetivas ricas e culturalmente significativas. Os bebês podem também, ser
vistos como seres frágeis, sem nenhuma competência, de forma que atitudes
super protetoras dominam a relação dos adultos com eles. “
Alguns profissionais que trabalham com essa faixa etária por falta de
formação adequada, estimulam pouco os bebês, não dando a eles autonomia,
por medo que se machuquem, atrapalhando sua curiosidade em desvendar o
ambiente em que se encontram, ou então planejam e executam atividades com
o objetivo de “transmitir conhecimentos”.
A especificidade desta faixa etária ainda não é levada em consideração tanto
no que diz respeito ao currículo quanto às atividades propostas, bem como a
formação dos profissionais.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009),” normalmente existe uma “adaptação” das
atividades e das rotinas de crianças mais velhas para os bebês, o quê muitas
vezes resulta numa situação forçada de práticas desvinculadas entre si e sem
nenhum significado para as crianças. Por exemplo, a importância de ler para
bebês não significa necessariamente que os bebês devem conhecer todo e
qualquer tipo de texto, pois há textos que não têm significado nenhum para
estes pequenos.”
O livro é uma das maneiras deles terem contato com textos e manipularem
esse objeto, assim como as revistas.
Muitos professores “forçam” os bebês a ficarem sentados para ouvir uma
história, se esquecendo que usando o corpo e o movimento os bebês estão em
contínuo aprendizado e desenvolvimento.
32
Podemos e devemos contar histórias, sejam com livros ou sem, porém
lembrando que não é uma obrigação e, que sim, podem circular enquanto
ouvem e podem voltar a ouvir e se sentar quando assim o desejarem.
Submetê-los a uma escolarização nessa faixa etária, é totalmente sem
significado.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009), “as crianças possuem uma natureza
singular, que as caracteriza como seres que sentem, pensam e agem de um
jeito próprio desde que nascem. Nas interações que estabelecem desde cedo
com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as
crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem,
compreender a si mesmas, as relações contraditórias que presenciam e, por
meio principalmente das brincadeiras, explicitam suas condições de vida e seus
anseios e desejos.”
O educador de crianças pequenas precisa sempre estar atento a sua prática
e refletir sobre ela, procurar se atualizar, seja com cursos, revistas, livros,
necessita aprimorar sua base teórica para uma melhor compreensão de
atitudes e comportamentos das crianças.
O ato de brincar é uma maneira de colocar a criança em contato com sua
cultura ou com outras, através de brinquedos, músicas, personagens... sendo
inserida assim num mundo social, dentro de um contexto da qual faça parte,
com suas características específicas.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009), “o chocalho, por exemplo, é para a maioria
de nós um brinquedo de bebê, um objeto sonoro que produz sons variados, de
acordo com seu formato. Para algumas culturas indígenas, o chocalho é um
objeto mágico, destinado a proteger os pequenos nos primeiros dias de vida,
afastando com seus sons as coisas ruins que podem se aproximar delas. Já
para um bebê que vive em uma casa de percussionistas, por exemplo, alguns
chocalhos serão colocados longe de seu alcance por pertencerem a uma
coleção preciosa que é material de trabalho dos músicos, e não brinquedo de
bebê.”
No documentário “Babies”, que mostra de maneira preciosa o primeiro ano
de vida de quatro bebês em quatro diferentes cantos do mundo, podemos
33
assistir cenas semelhantes em contextos muito diferentes. Por exemplo, um
bebê africano dormindo amarrado às costas de sua mãe que balança seu corpo
enquanto trabalha cultivando o campo. “Já o bebê japonês, também dorme
com balanço, mas ao invés do corpo da mãe, quem o embala é uma cadeirinha
eletrônica enquanto sua mãe trabalha afastada, provavelmente em um
computador.”
Nas diferentes culturas, existem muitas semelhanças e diferenças no modo
de se lidar com os bebês. Na própria creche há bebês em cujas casas têm
muita gente, muitos recursos tecnológicos, muitos sons, muitas crianças,
música alta, enquanto outros convivem apenas com a mãe, avó ou babá
durante o dia todo e com poucas informações e estímulos no ambiente.
Bebês que na creche acordam com qualquer barulho, enquanto outros
dormem com tranqüilidade independente do movimento ao seu redor. Diversas
informações com diferentes estímulos, usando ações variadas e provocando
diferentes reações.
Segundo Ortiz e Carvalho (2009)” a creche tem que ser ambiente de
múltiplas experiências, que considere as diferentes vivências das famílias e
suas histórias como parte deste contexto. O ideal é que a criança, desde cedo,
possa entrar em contato com tal diversidade, aumentando assim seu repertório
e consequentemente sua capacidade de pensar e responder a diferentes
desafios.”
Segundo Ortiz e Carvalho (2009),” a idéia apresentada sobre a evolução da
brincadeira de acordo com o desenvolvimento e aprendizagens do bebê é que
existe uma evolução progressiva na exploração e utilização de objetos que
começa com a exploração de suas características físicas ( sabor, peso, forma,
cor, estrutura, dimensão...) e das ações que se pode realizar sobre eles (
segurar, chacoalhar, empurrar, lançar, etc.), passa pela sua utilização de
acordo com os significados afetivos ou convencionais ( escova para pentear,
colher para comer...) e transformam-se, aproximadamente a partir dos 15
meses, quando a criança realiza ações sobre objetos imaginários ou então
atribui um significado incomum a um objeto conhecido, como usar um lápis
34
como aviãozinho. São as primeiras formas de jogo simbólico, a ação do faz-de-
conta.”
Concluímos que a criança deve estar constantemente sendo supervisionada
por um adulto, mas que esse adulto nem sempre intervenha, e sim, que
observe o progresso da criança com quem brinca, e saiba identificar propostas
lúdicas que favoreçam seu desenvolvimento com atividades em crescente
desafio através de propostas novas e desafiadoras.
O trabalho com bebês é desafiador e estimulante também para os
profissionais que lidam com eles, porque aquele bebê que “ontem” não sentava
não se locomovia pela sala, não tinha preferências e passa a ter, é o novo que
não se torna velho, pois cada criança tem seu tempo para superar os desafios.
Nunca nos cansamos de ver o sorriso de alegria quando o bebê dá seus
primeiros passinhos, meio cambaleante, mas cheio de orgulho fazendo questão
de nos mostrar.
Percebemos que é o reflexo de situações que aconteceram desde o
nascimento do bebê e seus “outros”, fazendo com que surja um ser histórico,
pois é através da convivência social que a criança se desenvolve, partindo das
interações e da vida com os adultos e do mundo a sua volta.
É um processo complexo, e através da brincadeira que é uma ação humana,
que as crianças fazem suas primeiras participações na vida dos adultos,
construindo assim seu conhecimento de mundo.
Esse desenvolvimento é marcado por características únicas com relação às
outras espécies, pois todas as pessoas são diferentes, tanto fisicamente, como
em suas potencialidades.
Segundo Jacob (1979), “a compreensão da influência hereditária no
desenvolvimento do ser humano está bem esclarecida na diferenciação entre a
parte aberta e a parte fechada do código genético. A parte fechada do código
genético é aquela que impõe uma determinada informação genética que será
necessariamente cumprida. Trata-se da informação genética que estabelece
um ciclo de vida determinado para os seres humanos, alguns reflexos no
momento do nascimento, algumas características genéticas determinadas. A
parte aberta do código genético, ao contrário, estabelece um conjunto de
35
potencialidades que não se desenvolvem totalmente sem influência do meio,
sem a estimulação das pessoas com as quais convivem. Trata-se, por exemplo,
das possibilidades de utilização da linguagem, das capacidades de
estabelecimento de vínculos emocionais e da resolução de problemas. Em cada
uma dessas funções e capacidades há um predomínio específico da parte
aberta ou da parte fechada do código genético.”
Segundo Ortiz e Carvalho (2009) “,mais do que pesquisar para planejar e
conhecer os interesses e necessidades das crianças, o professor também
precisa fruir cultura, ampliar sempre seus horizontes, ler muito, assistir a
espetáculos de dança, música, teatro e cinema, conhecer músicas de estilos e
origens diferentes, freqüentar exposições, conhecer os centros culturais e
históricos de sua cidade e região, enriquecer as festas e encontros com
elementos da tradição e da cultura de cada lugar.”
Segundo Ortiz (2008), esta não é uma tarefa fácil, pois “como os professores
passaram e ainda passam por muitas situações de exclusão cultural, é mais
fácil serem reprodutores dessa exclusão do que lutar contra ela. Por isso, a
mudança de atitude exige muito empenho pessoal e profissional, exige tempo
para alimentar-se culturalmente e esteticamente. Ao ampliar seu universo
cultural, os professores assimilam conteúdos vivenciados de modo significativo,
e uma das conseqüências positivas para as crianças é que elas podem
preparar situações de ensino e aprendizagem que se tornem significativos para
as crianças, incidam na ampliação de repertório cultural delas, diversifiquem
suas experiências e assim as tornem mais criativas, flexíveis e tolerantes.”
Concluímos que o educador deve pensar na educação infantil como um meio
de desenvolver todas as capacidades da criança, desde os primeiros meses,
preparando-as para a vida e não somente “para passar conteúdos que facilitem
ou até alfabetizem a criança nessa etapa”, devemos ter um maior alcance como
o desenvolvimento integral do educando.”
36
CONCLUSÃO
A partir das pesquisas feitas, observações e leituras feitas vimos que, com
a brincadeira, a criança consegue construir seu conhecimento de forma lúdica.
Ela aprende a interagir umas com as outras, trocando experiências no cotidiano
escolar.
A criança aprende enquanto brinca, e concluímos que de alguma forma a
brincadeira se faz presente e acrescenta elementos indispensáveis ao
relacionamento com outras pessoas.
Assim, a criança estabelece com os jogos e as brincadeiras uma relação
natural e consegue extravasar sentimentos e emoções, se conhece e conhece
o outro.
Apesar de que durante este processo a preocupação com a brincadeira
enquanto atividade infantil que desenvolva habilidades e capacidades humanas,
durante as pesquisas e os estágios feitos em instituições de educação infantil,
foi constatado a distância existentes entre as instituições em relação ao aspecto
da brincadeira.
A partir disso, enxergar a criança como sujeito que pensa, sabe o que
quer e ocupa um lugar no mundo, passa despercebida muitas vezes pelas
instituições que não valorizam e que privam a criança de construir uma vivência
de experimentar coisas novas, experiências a partir da brincadeira.
Considerando que a brincadeira ocupa um espaço fundamental na
educação infantil, entendo que o profissional de educação é uma figura
primordial para que esse processo aconteça, pois este possibilita que as
crianças gozem de conhecer o mundo dos adultos, de maneira criativa,
prazerosa, partilhada.
Os inúmeros estudos e pesquisas desenvolvidos por psicólogos e
educadores sobre o tema demonstram o quanto a questão é importante no
desenvolvimento de uma criança.
A frase “Um homem só é homem quando brinca”, do filósofo alemão
Friedrick Schiller (1759-1805) é uma das melhores frases que resume a
37
importância de não dispor as crianças de uma fase da vida repleta
aparentemente de ações descomprometidas.
Por isso é necessário que o professor seja um mediador da brincadeira de
maneira que as capacidades infantis sejam desenvolvidas, estimulando o
interesse do aluno, ajudando-o a construir suas novas descobertas,
desenvolvendo e enriquecendo sua personalidade.
Percebeu-se que apesar de relegado pelas diretrizes e orientações
oficiais, o projeto pedagógico que permeia as atividades de sala de aula
continua priorizando atividades que desenvolvam habilidades específicas, o
professor controla e garante que o conteúdo seja passado.
Segundo Piccolo e Moreira (2013), “É importante que as instituições que
atendem crianças do período da educação infantil compreendam a importância
de elas manifestarem as diferentes possibilidades de expressão (desenhos,
danças, pinturas). Uma das tarefas da Educação Infantil é propiciar às crianças
diferentes formas de manifestar seu conhecimento, estimulando todas as
possibilidades de elas expressarem sua criatividade, sejam elas por gestos,
pela fala ou, ainda, por desenhos, pintura e escultura. As creches e pré-escolas
têm obrigações de representar espaços de estimulação e não de cerceamento
das capacidades criativas das crianças.”
É necessário que o professor repense sua prática, e construa um novo
olhar sobre sua rotina, estar atento a como as crianças são singulares, cada
uma com uma maneira diferente de se expressar.
Segundo Hoffmann (1980), “desde os mistérios e surpresas de um recém-
nascido, às fantasias das crianças maiores, travessuras ou olhares reveladores,
deparamo-nos com uma enorme e séria tarefa de observá-las e compreendê-
las para lhes oferecer as melhores oportunidades de conhecer a si próprias e à
realidade, através de experiências ricas e significativas. Compreendendo a
criança, o professor redimensiona o seu fazer a partir do mundo infantil
descoberto e ressignificado. E essa significação decorre diretamente da
qualidade de sua interação com a criança.”
Percebemos a brincadeira como elemento essencial para as crianças
serem crianças e se desenvolverem.
38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ORTIZ, Cisele e CARVALHO, Maria Teresa Venceslau de. Ser Professor de Bebês – Cuidar, Educar e Brincar, Uma Única Ação. Coleção Interações. Blucher. ISBN: 9788521206750
SOMMERHALDER, Aline. ALVES, Fernando Donizete. Jogo e a Educação da Infância. CRV. ISBN: 9788580421187 FRIEDMANN, Adriana. O Brincar na Educação Infantil. Moderna. ISBN: 9788516082444 WAJSKOP,Gisela. Brincar na Pré – Escola. Cortez, 2001.ISBN: 85-249-0573-5 GOLDSCHMIED, Elionor; JACKSON, Jackson. Educação de 0 a 3 anos – O atendimento em creche. Grupo A, 2006. ISBN: 978-85-363-0694-0 PICCOLO, Vilma Leni nista; MOREIRA, Wagner Wey. Corpo em Movimento na Educação Infantil. Telos, 2012. ISBN:978-85-64311-20-6
39
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A História da Criança e da Educação Infantil 11 CAPÍTULO II
A Importância do Brincar 18
CAPÍTULO III
Os Bebês também brincam 27
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
ÍNDICE 39