DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Clarisse. Vocês são fonte de luz e de vida. Ao...
Transcript of DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Clarisse. Vocês são fonte de luz e de vida. Ao...
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS ARTES PLÁSTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Marcia Aparecida Gonçalves Rodrigues
Orientador
Prof. Edla Trocoli
Niterói
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
AS ARTES PLÁSTICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em educação infantil e desenvolvimento.
Por: . Marcia Aparecida Gonçalves Rodrigues
3
AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus, Senhor de toda a
minha inspiração, que me fortalece a cada
dia, tornando possível a realização dos
meus sonhos.
Às minhas amigas que muito
contribuíram para a concretização deste
trabalho. Cada palavra, cada gesto, tudo
foi de total relevância. Jamais esquecerei o
que fizeram por mim. Mara, Marileia, Ana
Flávia, Andréa, Maria Célia, Beatriz,
Regina e Roseane.
A todas vocês,
Obrigada.
À minha professora Edla Trocolli
pelo cuidado e carinho com que me
orientou durante toda a realização deste
trabalho.
Obrigada.
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais Evilásio Gonçalves e Deusa Rosa Gonçalves, a realização deste trabalho. Meus pais que foram a pedra fundamental, essência pura de sabedoria que me ensinaram os valores e construíram através de um amor incondicional, a formação do meu caráter a fim de que eu me tornasse a pessoa que hoje sou.
A vocês, o meu eterno e profundo amor e até um dia.
Às minhas princesas Mariana e Clarisse. Vocês são fonte de luz e de vida.
Ao meu amado marido Valcemir Alves Rodrigues , que está comigo em todos os momentos da minha vida. Momentos de perdas e de muitas tristezas, mas também momentos de alegria e de felicidade plena.
Certamente não seria possível tantas horas de trabalho, de estudo e de dedicação sem a sua cumplicidade e companheirismo que muitas vezes em silêncio, outras vezes com palavras que confortaram meu coração, se fez presente ao meu lado.
A você meu amor, ofereço todo o meu carinho e admiração. Você é a razão do meu viver.
5
RESUMO
A pesquisa e elaboração deste trabalho é para pensar e refletir sobre que prática é está, que estamos construindo dentro de sala com nossas crianças. Seja através do ensino da Arte, seja através de qualquer outra disciplina.Sabemos que os interesses e as curiosidades das crianças precisam ser levadas em conta. Mas cabe, a nós educadores, despertá-los para novos olhares, fazer nascer inúmeras idéias, onde antes só havia uma. Precisamos fazer com que trilhem novos caminhos, mas para isso é necessário que o professor esteja sempre na busca do que seja melhor para os seus alunos.Nas aulas de Arte o professor deve estimular a criança a investigar, explorar e inventar pondo em prática toda a sua criatividade.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................7
CAPÍTULO I – BREVE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA ARTE NO BRASIL E NO MUNDO.....................................................................................................9
1.1- Diversidade cultural, o que é?.................................................................17
1.2- A trajetória histórica da criança e o processo de valorização das infâncias.............................................................................................................20
CAPÍTULO II – A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL.........................................28
2.1- A organização do currículo: pressupostos transversais e os eixos curriculares da Rede Municipal de Ensino de Niterói........................................29
2.2- Documentos oficiais: o que diz a LDB e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – Conhecimento de Mundo.......................................36
CAPÍTULO III -ONDE ESTÁ A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL?.................39
3.1- Percurso poético: artes plásticas e outras formas de linguagem...............41
3.2- Vivências do GREI 5 e a sua interação com as artes plásticas e as demais formas de linguagem.........................................................................................46
Considerações finais..........................................................................................55
Bibliografia.........................................................................................................57
Anexos...............................................................................................................59
7
INTRODUÇÃO
Este trabalho objetiva apresentar uma reflexão inicial sobre a função da
imaginação criadora na vida da criança na Educação Infantil. Como nós
educadores compreendemos a Arte com as crianças de 4 a 6 anos? De que
forma temos contribuído para que o processo da imaginação e da criação
sejam despertados de forma lúdica no cotidiano infantil? Quais os caminhos a
serem trilhados que vão contribuir a fim de que a criança possa perceber e
apropriar-se do mundo em sua plenitude, podendo assim, transformá-lo?
Todas essas perguntas aqui destacadas foram formuladas para
responder a algumas inquietações, e torná-las mais explicitas no decorrer
deste estudo.
Com a pesquisa pretende-se tecer caminhos de como as Artes Visuais;
mais especificamente as Artes Plásticas, começaram a fazer parte do Currículo
na Educação Infantil.
Através deste estudo e da prática pedagógica, serão descritas algumas
situações de como a criança percebe a arte e como o lúdico pode transformar o
dia-a-dia dos nossos pequenos.
Em meio a tantas indagações, houve a necessidade de fazer um breve
relato sobre o surgimento das Artes Visuais através do tempo sem, no entanto,
aprofundar, pois o tema que tem chamado bastante atenção diz respeito às
vivências da criança na Educação Infantil através das múltiplas linguagens.
As reflexões apontam que aprender arte dá ao indivíduo a possibilidade
de desenvolver o saber artístico e que está ligado ao fazer, ao pensar, ao
produzir e ao expressar sua forma de perceber o mundo através da
sensibilidade.
Em tudo a arte se revela em cada fazer, em cada criação e forma de
expressão a arte se faz presente. É como se cada um desses caminhos
chegassem a um mesmo lugar, na Arte.
8
No primeiro capítulo além de mencionar brevemente o surgimento da
arte no Brasil e no mundo com o objetivo de ressaltar alguns elementos da
herança cultural e das práticas sociais voltadas a infância.
Com o surgimento da LDB nos anos 90, o segundo capítulo traz
algumas reflexões sobre a construção do conhecimento que passa a priorizar
um currículo baseado na questão da diversidade através de múltiplas
estratégicas que visam enxergar a criança concreta, confirmando o seu lugar
como sujeito social, produtora de cultura. Perceber a importância da Educação
Infantil tendo como centro norteador os Referenciais Curriculares da Rede
municipal de Educação de Niterói, visando compreender a ressignificação do
currículo proposto neste segmento de ensino.
A partir dos três eixos que permeiam a Educação Infantil denominados:
Linguagens; Tempo e Espaço; Ciências e Desenvolvimento Sustentável, o
terceiro capítulo tecerá caminhos de como as Artes Plásticas pode adentrar e
articular através de propostas significativas um fazer entre os saberes da
criança com os seus pares e desta com os adultos no caso desta pesquisa, no
espaço da UMEI (Unidade Municipal de Educação Infantil).
9
CAPITULO 1
BREVE HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA ARTE NO BRASIL E NO MUNDO
Tudo o que nos rodeia e que foi criado pela mão do
homem, todo o mundo da cultura, diferentemente do
mundo da natureza, tudo isso é produto da imaginação .
(Vygotsky 1987b, p.10)
Ao pensarmos em história da arte, logo nos remetemos a algo atemporal
que no decorrer dos séculos deixa para a humanidade um significado, uma
importância e também exerce sobre ela um grande fascínio. Para muitas
pessoas a arte está voltada à “beleza”, a ideia da chamada arte culta “ou” “arte
maior”, seja na pintura ou escultura. Sentimos prazer em observar esse tipo de
material visual e não é preciso que sejamos grandes conhecedores da arte,
para apreciarmos uma obra artística. Somos seres autônomos prontos para
várias indagações, pois um mesmo objeto pode ser pensado, analisado de
maneiras contrastante por seus observadores que vai depender da época ou
cultura na qual estamos inseridos.
Para apreciar uma obra de arte não há a necessidade de se ter um
conhecimento prévio sobre o tema ou o contexto artístico. O ser humano tem
um prazer natural em contemplar algumas coisas apenas pelo que ela é, e da
mesma forma a arte pode ser absorvida pela chamada cultura popular. Para
um freqüentador de galerias é suficiente e legitimo a abordagem “eu sei do que
gosto e gosto do que vejo”.
De acordo com ARNOLD (2008, P.16) outra forma de apreciação da arte
envolve outro processo, uma crítica mais exigente que tem como base a
estética. Normalmente a estética visa observar o estilo, a composição, a cor;
fazem-se referências ou comparações com outras obras do mesmo autor ou
com outros artistas da mesma época ou período; artistas que pertencem ao
mesmo movimento ou estilo.
Existe outro tipo de conhecimento _o especializado que está relacionado
à apreciação e a critica, através de uma perícia técnica. O gosto de um perito
em relação à arte é considerado leigo está totalmente ligado à sua ideia sobre
10
a classe social e a cultura. A apreciação da arte está ao alcance de todos e
pode ser vista e aproveitada por qualquer pessoa. Em contrapartida, as
perícias em arte impõem uma hierarquia de gosto: a nossa faculdade de fazer
juízos discernentes em matérias estéticas e o nosso senso do que é apropriado
e socialmente aceitável. O gosto é determinado culturalmente. É importante
pensar também na dimensão social do gosto que tem haver com arte como
processo de exclusão social_ ficaram intimidados quando não sabemos quem
é o artista e principalmente quando não somos tocados emocionalmente pelo
primor, pela beleza ou delicadeza que a obra de arte não despertou em nós. Ao
contrário do que sentimos quando não nos familiarizamos com um objeto de
cunho artístico, deveríamos sim compreender como a arte se processa. A
história da arte é matéria aberta, esta à disposição de todos que estejam
interessados em contemplar o visual, refletir sobre ela e compreendê-la. Minha
intenção com este trabalho é poder através desses caminhos, nos envolver
com arte.
Desde os tempos mais remotos, lá na Pré-história o ser humano já
apresentava capacidade voltada às artes. Naquele tempo, o homem pré-
histórico não só dispunha de habilidades voltadas às artes visuais só dispunha
de habilidades voltadas às artes visuais através do desenho, da pintura, da
confecção dos objetos e construções, como também ao praticar danças que
estariam relacionadas à magia e a rituais sagrados. Para o homem primitivo
todo o Universo era palco sagrado envolvido em misticismo e povoado pelas
suas superstições.
Já na Antiguidade a arte visual era propagada apenas com intuito de
fazer era propagada apenas com o intuito de fazer uma simples cópia da
natureza. Não havia o objetivo de recriá-la, mas pura e simplesmente de
reproduzi-la. Naquela época tanto a arte visual quanto a música, eram vistas
como uma arte menor.
Segundo (ARNOLD, 2008, p.22) mesmo sendo a Grécia Antiga um dos
pontos altos na história da arte, pouco se sabe a respeito das esculturas
criadas pela civilização grega, e só através de cópias romanas puderam ser
mencionadas.
11
Durante o Renascimento a arte visual começou a ganhar espaço e tinha
como representação o Belo, que era vista como a perfeita harmonia entre o
homem e Deus. Somente a partir desse período é que os artistas começaram a
ser vistos como personalidades geniais e criadoras.
A partir do século XVII a arte começa a desvincular-se da Igreja e do
Estado e passa a ser percebida como a pura expressão humana, voltada para
o prazer e para o deleite.
O final da Idade Moderna teve como marco o nascimento de uma
primeira filosofia da educação estética- BAUMGARTEN (séc.XVIII) utiliza pela
primeira vez o termo aesthestica, fazendo com que esta denominação se
consagrasse entre 1735 e 1750. Para Baumgarten existem tipos de saberes
que se diferem o lógico e os saberes e os saberes sensitivos, sendo este
segundo uma zona de conhecimento na qual fazem parte, as contribuições
voltadas à arte.
Existem na Pedagogia um forte compromisso que abrange e concilia
passado e futuro, ou seja, os fenômenos sociais são construídos
historicamente a partir da reflexão e da transformação de tais fenômenos. Na
Modernidade, a educação tinha como objetivos principais a conquista de
formas mais elevadas da cultura. Os grupos sociais mais educados e que
pertenciam às classes dominantes, eram sem dúvida, considerados os mais
cultos. Veiga Neto (2003) refere-se à cultura dessa época como uma
epistemologia monocultural, uma vez que esta era totalmente voltada às
práticas e expressões do mundo ocidental.
De acordo com Eliana Pougy (2007, p.08),
nós, seres humanos, nos diferenciamos dos outros animais pela capacidade de produzir cultura. Como nenhuma outra espécie, somos também seres simbólicos: criamos símbolos cheio de significados para representar o que percebemos do mundo e de nós mesmos. A arte é uma das produções simbólicas do ser humano. Ela é produto da união entre o pensamento e a ação humana, e se manifesta por meio de imagens, gestos, sons, palavras ou de todas essas manifestações ao mesmo tempo. Para criar os símbolos, utilizamos as linguagens verbal, escrita, corporal, musical, visual. O ser humano pode criar símbolos que carregam mensagens poéticas, subjetivas, que vão além da realidade e
12
representam o mundo com imaginação e sentimento. Os portadores dessas mensagens são as chamadas obras de arte. Com isso, podemos, por exemplo, dizer que é o leitor de um poema quem o finaliza e que é o observador de uma obra de arte visual que recria.
Ainda de acordo com Pougy a arte não precisa necessariamente ser
bela, mas deve ser uma forma de conhecimento e que possa despertar em
quem a observa, aprecia admira, a sensibilidade que possa levar para um lugar
de fronteiras difusas e indefinidas.
Para Jorge Coli (1998) a riqueza da obra de Arte é infinitamente ampla e
tentar classificá-la através de um molde ou estilo não é lógico. Arte é história e
como tal não deve ser reduzida a um trabalho de equivalência meramente
zoológica.
Para que a história da arte seja construída, é preciso que tenha não só
um caráter atemporal, mas que também tenha algum tipo de sequência ou
progressão, voltadas aos acontecimentos da época, já que é isso que o termo
“história” sugere. A história é marcada por inúmeros eventos do passado, que
foram realizados por grandes homens ou através de um movimento continuo
de diferentes épocas que se destacam das outras_ tendo como exemplo, o
Renascimento ou o Iluminismo. Não vou detalhar a importância dessas duas
vertentes, mas não podemos deixar de mencionar como essas formas
cristalizadas nos remetem a pensar sobre o passado que reorganiza a pensar
sobre o passado que reorganiza a experiência visual através da história. Os
historiadores procuram definir as grandes épocas estilísticas na história da
arte_ por exemplo, o Renascimento, o Barroco ou o Pós- impressionismo.
Essas tradições podem ser descritas independentemente uma das outras, e
promovem um elo para as histórias as arte. Ao usar a expressão no plural
podemos entender que existem diferentes modos de registrar a história da arte
e a ênfase a ser dada recairá sobre o que for considerado o mais importante
em determinado momento_ em alguns casos, o artista, em outros, as obras ou
o movimento ao qual elas pertencem.
A história da arte é composta de elementos formais como o estilo_ muito
utilizado para privilegiar a arte clássica e suas reinterpretações.
13
Segundo ARNOLD (2008, pág.18) o problema em nos concentramos
nos elementos formais, tais como o estilo, é que o próprio estilo viva o tema da
discussão, em lugar das obras de arte.
ARNOLD (2008, pág.19) ainda argumenta que,
Além disso, histórias da arte que se concentram unicamente no estilo podem, com facilidade, negligenciar outros aspectos de uma obra de arte, tais como seu tema ou sua função. É possível narrar uma história do estilo artístico usando representações dos corpos masculinos e femininos. Pode-se começar com representação da perfeição física atingida na Antiguidade pelos gregos. Na Idade Média, porém, havia pouco interesse na descrição naturalista da forma humana. Já no período renascentista, o conhecimento da anatomia humana e da natureza se intensificou, significando que a arte havia se tornado mais “parecida com a vida”. Esse tipo de história, entretanto, poderia ser contada também por meio de representações de cães e gatos, embora tenhamos de convir que animais de estimação não foco de interesse para os artistas nos últimos dois mil anos.
Ainda assim, o estilo teve um grande significado no que se refere a
formulação da história da arte e só mais recentemente é que a arte ocidental
começou a ser reavaliada quanto a noção do seu processo estilístico. Quando
pensamos em estilo, logo nos remetemos a ideia de que a arte passa por uma
progressão constante e representativa no seu desenvolvimento. O naturalismo
tem como foco a representação do mundo, da forma como o percebemos,
sendo assim é comum criamos uma expectativa através de um movimento
contínuo quanto á forma de representá-lo.
Mas, se a ênfase dada ao naturalismo é tão vasta, por outro lado a arte
do tipo abstrata ou conceitual acaba por ter uma importância secundária_
entendia como uma arte segundo ARNOLD (2008, p.19) “primitiva” ou
“ingênua”, com ar pejorativo. Assim, arte moderna acaba por confrontar esse
preconceito. No entanto, diante disso, surgem reações de dúvida, a arte
abstrata pode ser considerada no seu sentido mais amplo, assim como a arte
naturalista?
Podemos dizer diante da pergunta em questão que, existem alguns
estilos de arte ou determinados objetos culturais que têm mais valor que
outros, tanto histórico quanto monetário. Essas obras canômicas servem como
14
exemplos definitivos do que seja gosto ou apreciação, tendo como repercussão
uma imensa importância histórico com relação à histórico da arte.
Com isso entendemos que “a ênfase e o valor que atribuímos à arte
culta podem, na verdade, não condizer com a importância que seus
contemporâneos lhes atribuíram. ARNOLD 2008, p.23
Ainda segundo ARNOLD o termo história da arte tem sido questionado.
Assim chamada Nova História da Arte, que para nós está agora defasada em
uma geração procurou reavaliar a maneira como pensamos e escrevemos
sobre as histórias dos objetos artísticos.
Muitas foram às correntes que tinham como objetivo especular quais
eram os significados social, cultural e histórico da chamada Nova História da
Arte.
Qual a relação entre a cultura visual e a definição da, arte culta? A
cultura visual contempla gama de informações que escapam à arte culta. A
cultura visual segundo ARNOLD (2008, p.27) está associada principalmente à
produção artística mais recente,num sentido mais amplo, sua abordagem é
igualmente eficaz para investigar objetos de períodos mais antigos.
A autora aponta que “a história da arte se desenvolveu, até certo ponto,
graças a uma preocupação em classificar a arte de acordo com sua
competência como de representação, se realista naturalista ou idealizada”
(2008, p.56).
A partir do século XX, surgiu uma nova tradição de arte não figurativa
neste modelo a arte não retrata o mundo como acreditamos vê-lo.
O ensino da Arte de modo sistematizado é uma prática recente, principalmente
no que diz respeito ao Brasil.
No período colonial a educação promulgadas pelos jesuítas enfatizava a
literatura pois as belas artes tinham como objetivo estimular os sentidos_ o que
não era permitido, frente a uma disciplina rígida. Só havia uma única
metodologia, o professor era o detentor do saber, o único na vida escolar do
aluno.
15
Durante o período do Império, no século XIX, foi criada a Academia
Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro. A Academia trouxe da Europa
modelos da estética neoclássica para serem reproduzidas como cópia do estilo
europeu. Nesse modelo europeu a expressão através dos sentidos precisava
ser controlada.
O neoclássico surge, mo Brasil, no período barroco e rococó. Aleijadinho
mistura sua expressividade de forma artesanal com pinturas nos tetos das
igrejas ou nas esculturas. No Brasil a arte barroca era considerada “menor”
enquanto que a neoclássica, era entendida como uma concepção burguesa.
Com a República surge também a escola tradicional. O ensino das artes
não tinha qualquer preocupação com a cultura nativa. Influenciados pelos
modelos educativos da sociedade americana, Rui Barbosa utilizava literalmente
cópias dos trabalhos quanto ao ensino de desenho (de Walter Imith).
Aurora Ferreira (2012, p.15) visualiza que “a preocupação com Arte-
Educação no Brasil começou com a era industrial que alcançou o país no final
do século XIX.” Os políticos e os intelectuais tinham como objetivo principal
preparar a classe social baixa para o trabalho.
Barbosa comenta que o ensino da arte como livre- expressão só
começou a fazer parte da educação a partir da década de 30 período em que
uma outra crise político-social, mudança de oligarquia para democracia, houve
então, a necessidade de reforma educacionais (Apud. FERREIRA, 2012, p.15).
Foi neste mesmo período que surge a Escola Nova. O modelo de
educação “parte da premissa de que a necessidade é a mola da ação e se
expressa pelo interesse,” (IAVELBERG, 2003, p.12).
E sob a influencia de John Dervey (filosofo americano, 1859-1952),
Herbert Read (filósofo inglês, 1893-1068), Viktor Lowelfed (filósofo alemão,
1903-1960), o ensino de Arte, acaba por se tornar um grande marco curricular
no que se refere a história das escolas brasileiras.
16
Os artes- educadores brasileiros no final dos anos 60 foram
influenciados por Lowenfeld (1977) que identificou através de suas pesquisas,
oito critérios para dimensionar a criatividade.
A teoria da educação pela arte foi desenvolvida por Herbert Read, cuja
ideia está na liberdade individual e na integração do individuo na sociedade e
na integração do individuo na sociedade a qual está inserido. Para Read (1982)
é preciso romper com as concepções voltadas intelectualistas voltadas à
educação que pressupõe que a “criança desenha o que vê, e não o que
imagina”. Read afirma que as idéias são pensadas, sentidas e experimentadas
(IAVELBERG,2003,p13).
No Brasil o ensino das artes começou a ser obrigatório nas chamadas
escolas primárias e secundárias (1º e 2º graus), através de uma criação
ideológica de educadores norte-americanos que através de um acordo oficial
(Acordo MEC-Usaid), tinha como proposta reformular a educação brasileira.
Neste momento foi estabelecido “em 1971 os objetivos e o currículo
configurado na Lei Federal N.5.692 de Diretrizes e Bases da educação (ANA
MAE BARBOSA, 2010, p.9).
Em 1948 o artista Augusto Rodrigues criou a Escolinha de Arte do Brasil,
no Estado do Rio de Janeiro. A Escolinha que começou a se identificar com as
ideias de Herbert Read, tinha como principal objetivo deixar o aluno pintar e
desenhar livremente. Educadores brasileiros como Anísio Teixeira e Helena
Antipoff também compartilhavam das ideias de Read. As escolas começaram a
aplicar práticas das Escolinhas a partir de 1958, através das classes
experimentais que foram criadas no Brasil. As Escolinhas eram também a
única instituição permanente para treinar o professor de Arte para atuar em
sala de aula (apud. BARBOSA 1991.p.14)
Duarte Jr. (1988, p.117) explica de forma detalhada o assunto,
na década de 60, especialmente após 1964, nossos dirigentes passaram a se valer dos valores técnicos e pragmáticos da moderna tecnologia norte-americana. A censura abateu-se especialmente sobre a produção artística nacional. O sistema de poder que passou a dominar o país em 1964 se propôs a eliminar ou controlar o espírito critico, inerente a toda atividade intelectual, jornalística, artística, filosófica ou cientifica civilizado
17
eram mensagens estéticas televisionadas. Quando a Lei Federal nº. 5.692, de 1971, tornou a arte disciplina obrigatória na escola de primeiro Grau e em alguns cursos de segundo Grau, os professores de arte correram ás Escolinhas em busca de orientação. Organizada de maneira formal e burocrática, a estrutura da Lei nº. 5.692, relegou a arte a uma disciplina a mais dentro dos currículos tecnicistas, com uma pequena carga horária semanal. A arte continuou sendo encarada, como um mero lazer, uma distração entre as atividades “serias” das demais disciplinas. (apud. FERREIRA, 2012, p.17)
Para completar o assunto BARBOSA (1991, PP 16-17) argumenta que:
Somente em 1973 foram criados pelo Governo Federal os cursos universitários para formação dos arte- educadores. O currículo entretanto, baseava-se na pratica em ateliê seguida de alguma informação teórica sobre arte, principalmente sobre a história da arte.
As disciplinas na área pedagógica limitavam-se a Psicologia, a Didática e à Estrutura e Funcionamento do Ensino, visando a uma abordagem relacionada a problemas do ensino da arte ou ao desenvolvimento do aluno por meio da arte, não havendo preocupação com uma teoria da arte- educação no currículo.
Com o intuito de melhorar o ensino da Arte, a partir dos anos 80 foi
criado o movimento Arte-Educação. O objetivo principal dos professores era
conscientizar e organizar os professores da área de Arte para dar maior valor à
disciplina. Foram promovidos eventos e encontros para lançar novas propostas
à ação educativa em arte, por todo o Brasil.
Mas, o que dizem os documentos oficiais sobre o ensino da Arte no
Brasil a partir do ano 2000? É o que pretendo refletir no II capítulo.
1.1 Diversidade cultural, o que é?
O conceito de Cultura é amplo e difícil de mensurar. Mas dentro do
contexto histórico, existem algumas definições. Cultura é tudo que faz parte
do modo de viver de uma comunidade ou sociedade, como formas de
governo, estrutura familiar, costumes, festas, danças, músicas, artes,
artesanato, arquitetura, lendas, culinária e muito mais. Inclui as relações
entre os grupos sociais e o relacionamento de cada sociedade com seu
ambiente.
18
No Brasil, uma de suas principais característica é a riqueza e a
diversidade da nossa cultura. Encontramos em nossa cultura contribuições
dos índios, negros, europeus, bem como de outros povos que participaram
da construção do país (japoneses, chineses, árabes, etc.). Em cada região
do país foi sendo desenvolvida uma cultura própria com a participação dos
estados, dos municípios e localidade. Esse processo de construção recebe
o nome de sociodiversidade ou diversidade cultural.
A diversidade cultural é um grande patrimônio dos seres humanos. A
história da humanidade é fruto da diversidade de culturas que foram
criadas e acumuladas ao longo do tempo. Vale ressaltar algum desses
saberes. Por exemplo: os números que utilizamos são de origem árabe; o
zero foi inventado pelos indianos; nosso idioma mistura a língua portuguesa
com palavras de origem indígena e africana; os alimentos que utilizam
também têm as mais diversas origens.
Segundo Perez, a escola tem o papel relevante, deve estar presente
mediando s interações entre o sujeitos e valorizando as diferenças culturais
que cada um desses sujeitos traz para o interior da escola_ um diversidade
de valores, crenças, modalidades de linguagem, estilos de comunicação
entre crianças e adultos e entre crianças e seus pares. Para Perez
(2001,p.84) “a sala de aula é um espaço de experiências e descobertas.”
Maria Tereza Amodeo (2003) nos conta em seu artigo que Monteiro
Lobato_ autor atualizado, à
Frente de seu tempo, como sempre foi inventou um mecanismo de incluir
em suas histórias, as histórias de outros autores. O seu objetivo era
proporcionar à criança um elo entre a tradição brasileira. Em sua visão
ampla, Lobato almejava preparar a criança para o futuro. Futuro esse que
hoje é compreendido como caótico agressivo, perigoso, mas que ao mesmo
tempo é também plural, multifacetado e parodoxal. Todos os produtos
culturais nascem a partir de uma determinada circunstancia que constrói
uma cultura só acontece porque incorpora inúmeros sistemas simbólicos,
elementos e valores sociais.
Qual é a concepção de cultura que impregna a sociedade
contemporânea? Para Roberto Da Matta (apud.KETZER,2003,p.12)cultura
e erudição são conceitos distintos. O senso comum costuma erroneamente
19
confundi-las. Chamamos de erudição como algo provido de grande
instrução, posicionando a aquele indivíduo que sabe muito, e cultura está
mais voltada para toda e qualquer forma de construção de significado.
Nesta perspectiva do autor já citado, cultura nada tem haver com
erudição. A cultura é inseparável do indivíduo suas experiências produzem
significados de forma individual e coletiva que configuram no conjunto de
atores sociais de seu tempo. Paulo Freire nos anos 1970 também defendia
essa ideia de que todo ser humano é produtor de cultura. A cultura não está
destinada apenas às chamadas pessoas cultas. Segundo Freire os
analfabetos têm cultura; os índios têm cultura e para refletimos ainda mais
sobre o tema, a criança tem cultura. Cabe à escola, mas principalmente ao
professor , valorizar todas as formas de linguagens como forma de
produção cultural. Para (KETZER,2003,p.26),a leitura deveria ser a primeira
forma de linguagem que deveria ter destaque na escola, já que é possível
colocá-la em diálogo com outras. Ainda segundo a autora, a escola não
deve apenas ser produtora de cultura, mas sobretudo ser a mediadora de
culturas diversas: da produzida no ambiente familiar e da produzida por
outros meios, como televisão, o teatro, a internet, o cinema, as artes
plásticas e até mesmo o brinquedo e tantos outros, dando um maior
destaque para o livro, que é de total relevância, capaz de agregar cultura e
erudição.
Embora a escola seja caracterizada como um espaço institucional
descompromissado com os interesses da indústria que move a produção
cultural, não pode fechar os olhos para sua presença no imaginário das
crianças que a freqüentam. Desta forma mesmo que descompromissada,
não se faz descontaminada. Mesmo que imbuída de outros propósitos, a
instituição se vê obrigada a conviver com as influências do mercado, o que
se traduz na presença, muitas vezes ostensiva, de jogos e brinquedos,
material próprio das rotinas escolares, vestimentas, quando não com a
exigência, por parte das próprias crianças, de que lhes ensinem músicas e
danças também ditadas pela moda que está na tela. E este constitui o ponto
nevrálgico da questão à qual o docente tem ficar atento. Não pode capitular
diante de tal pedido. Tem de estar consciente de que seu papel,como
educador, não é o mesmo desempenhado pela televisão.
20
As linguagens e as gramáticas da comunicação são muito distintas, a
começar pelo fato de que TV atua para o anonimato da multidão e a
docência se faz com um público datado, identificado, pronto para interagir
na simultaneidade dos acontecimentos. Ele pode e deve desencantar esta
criança, bela adormecida enfeitiçada pelo espelho,(...) despertá-la de seus
sonhos de alienação e devolvê-la ao mundo onde convivem os homens e as
mulheres, como tão bem sugere a psicanalista e jornalistas Maria Rita
Kehl. Por mais que se esforce em tentar reproduzir o modelo de
comunicação massiva, não o conseguirá, pois não dispõe de suas
ferramentas, de sua linguagem, de seu glamour.
(KETZER,2003,p.23)
O professor deve propiciar que o espaço da sala de aula seja
privilegiado a fim de que a criança e o jovem descubram a beleza, o
mistério e a magia do encontro da comunicação entre os seres humanos e
destes com o mundo, para que possa assim, descortiná-lo.
1.2 A trajetória histórica da criança e o processo de valorização das
infâncias
O homem foi, é e será sempre um ser condicionado pela natureza.
(Hannah Arendt, 1961)
A noção de infância que vem sendo delimitada historicamente, só
começou a corporificar-se a partir dos séculos XVII e XVIII. A sua abrangência
está vinculada às ideias de família e escola, ou seja, a educação da criança era
de responsabilidade da família ou do grupo social a qual pertencia.
Segundo Motta e Frangella (2013, pág.188)
...considerando a criança como sujeito político histórico-sociocultural, e buscando travar um diálogo com ela e assim afastar-nos da visão idealizada de infância, objetivamos nessa reflexão problematizar algo que nos é caro: pode a criança falar? Como as pesquisas dão voz à criança como sujeito da pesquisa?
21
A afirmação vem se contrapor ao conceito de infância que veio
sendo revelado na metade do século XVII, pois além de não ter voz e viver na
subalternidade, ainda havia mais uma agravante- a educação não era a mesma
para meninos e meninas. Somente a partir do século XVIII, cem anos depois e
que as meninas puderam começar a freqüentar o colégio.
Segundo as autoras, a criança não pode ser considerada objeto de
estudo, visto que ela é sujeito do contexto social no qual está inserida. A
criança é produtora de cultura, no entanto, o meio que a concebe acaba por
cristalizar o seu modo de ser através de procedimentos rígidos e de forma
homogeneizada. Ao contrário dessa postura globalizada, os procedimentos
utilizados deveriam levar em conta o que se passa no interior dos lares e das
salas de aula. O saberes da criança são mediados pela cultura e deveriam ser
levados em conta, já que são de total relevância e servem de intermediários no
ingresso da criança na vida social.
Se a cultura não é instância rígida e homogenia, podemos pensar na cultura produzida pelas criançascomo um dos elementos dessa heterogeneidade MOTTA E FRANGELLA (2013, pág.188)
Se a criança é produtora de cultura, torna-se procedente uma reflexão
substancial sobre o mecanismo da cultura e os diferentes processos de
interação entre esta e a infância. A criança não é um ser inerte onde são
impressas com eficácia, as marcas artísticas ou a personalidade à qual deve
possuir. Antes de tudo existe a construção de nuances quanto ao seu papel
enquanto sujeito- destinatária ou criadora do seu fazer. É preciso pensar
também nas circunstâncias de produção e consumo, principalmente esta
última_ uma vez que tanto a criança quanto a cultura estão totalmente ligadas
à engrenagem industrial e acabam por deixar marcas indeléveis em ambas.
O termo infância por si só carrega um nível de escravização no que se
refere à sua origem. Era designado infante duas categorias distintas: o filho do
rei que não assumiria o trono por não estar na linha direta da sucessão; a
infantaria, por sua vez era composta pelos soldados que seguiam a pé...
(MOTTA E FRANGELLA, 2013, pág.189)
22
Ao mencionar que é necessário dar voz à criança, as autoras
argumentam que não significa simplesmente deixá-la falar, mas ao expor o seu
pensar, que este seja ouvido numa troca mútua entre a criança e o outro.
Bidaseca (2010) diz que é preciso romper com um monologismo que
tem se instaurado como verdade epistêmica colonizadora. De acordo com a
autora as diferentes vozes ecoam de forma singular_ umas com mais potencial,
outras mais apagadas quase que inaudíveis, porém todas têm o seu valor.
Mas, a subalternidade colonizadora vem para discipar as vozes dos sujeitos no
intuito de retirar desses sujeitos, o direito de se fazer ouvir.
Bakhtin veio problematizar, trazer à tona uma nova perspectiva de
diálogo e polifonia decorrente da pluralidade e ao mesmo tempo da
singularidade visto que um discurso só existe, só tem significado se houver a
troca entre os múltiplos saberes
Segundo (BIDASECA, 2010) o indivíduo vive em constante processo de
construção e para que essa construção ocorra de forma significativa, é preciso
que haja uma interlocução entre os sujeitos e entre os sujeitos e a cultura.
Carvalho (2001) aponta que a questão da subalternidade está voltada
não só para um olhar etnográfico, como também às questões relacionadas às
condições históricas e às políticas que regem o momento histórico no qual o
sujeito faz parte.
BHABHA afirma que: O objetivo da diferença cultural é articular a soma do conhecimento a partir da perspectiva da singularidade significante do outro que resiste a totalização- a repetição que não retorna igual, o mesmo na origem que desemboca em estratégicas políticas e discursivas em que agregar não soma, serve para alterar o cálculo do poder e saber, produzindo outros espaços de significação subalterna. (2010, p.412, tradução das autoras)
Em seus estudos Bhabha faz um paralelo entre a pesquisa com crianças
e a tradução. Dialogando com Benjamin, Bhabha afirma que a tradução nunca
pode ser completa e absoluta_ ela implica negociação, articulação, uma
produção outra que não repete sentidos dados, mas os recria...
23
Sendo assim, a tradução não é em sua totalidade original, por existir
aspectos difíceis de serem traduzidos em sua íntegra, proferida através da
negociação, na fronteira, no limite entre o tempo, o espaço, a língua e a cultura.
BHABHA(2001) argumenta que mesmo os pensamentos ou idéias mais
radicais não ousaram ver a criança como ser político, produtora de cultura e
sim ser marginalizada da vida política, condição esta muito próxima de outros
grupos estigmatizados: índios, analfabetos, doentes mentais, etc. Segundo
SARMENTO (2006) o lugar do sujeito-criança, nessa percepção, traduz a fusão
de tempos o que justifica a sua inclusão na categoria dos sujeitos que ocupam
esse entre lugar
BHABHA (2001) ainda nos leva a refletir sobre os cuidados que o
pesquisador precisa ter para não tomar o conhecimento produzido como
verdade absoluta e intransferível. È preciso pensar que o sujeito em questão_ a
criança tem suas singularidades e que tanto estas quanto a sua alteridade,
precisam ser levadas em conta no decorrer da pesquisa.
As razões históricas impedem que o pensamento progressista seja
percebido pelo conservador, impedindo-o de ver a realidade de forma crítica. É
preciso que o conhecimento adquirido não fique estagnado pelas imposições
da visão dominante. Enquanto a pesquisa não levar em conta as relações
existentes entre a classe, a etnia, o gênero, a idade, a nacionalidade, a política
e a criança, estaremos tateando nas questões que envolvem a produção
cultural. A solução para os problemas de ordem prática que podem surgir
durante a pesquisa também são tateantes como numa espécie de ensaio- erro
que jamais se organiza visando uma maior eficácia.
Conceituar a criança como sujeito passivo não é privilégio do
pensamento conservador. Discursos entitulados como liberais da chamada
democracia também são marcados por essa ideologia dominante na qual,
percebem a criança como elemento culturalmente passivo. Raras exceções,
nunca se pensou ser a criança portadora de uma cultura própria, viva repleta
de significados e definida nos grupos infantis.
24
Segundo CORSARO (2011) as crianças se apropriam e reinterpretam os
elementos e artefatos disponíveis em seu ambiente social. Isso quer dizer que
ao reinterpretar a criança está buscando dentro de um contexto significativo a
ela“um fazer de novo”. O mesmo vale para a ação “interpretativa” que tem
como objetivo atribuir sentidos ao que é proposto pelo meio na qual está
inserida.
CORSARO enfatiza que as interações da criança com outra e com os
adultos fazem fluir o entendimento de como a cultura e o meio social lhes são
apresentadas.
A sociedade capitalista em que vivemos tende a privilegiar o adulto por
ser esse mais “produtivo” que a criança, na perspectiva de como é organizada
a produção neste modelo de sociedade. O mesmo acontece com os velhos de
todo o mundo que sofrem o abandono por não poder produzir como antes,
sendo inferiorizados até mesmo nos países ditos “desenvolvidos”, apesar de
ser nos países subdesenvolvidos que a situação se agrava.
Essa categoria rígida que dicotomiza um adulto (ativo) de uma criança
(passiva) é característica de um sistema de reprodução típica da humanidade.
Para SARMENTO (2000, p.158-159) as culturas da infância são
marcadas pelas interações que a criança faz com os pares, com os adultos e
com os diferentes tipos de linguagem, através dos jogos das brincadeiras e
dramatizações da vida cotidiana, das linguagens iconográficas e plástica.
Nessa interação entre as crianças e seus pares, a cultura produzida
acaba sofrendo alterações que BHABHA traduz como
Reprodução ou representação que nega a originalidade ou a essência do suposto “modelo”, atribuindo-lhe uma dimensão de simulacro que rompe com a fantasia de sua essência (RUTHERFORD,1996 p36).
O pesquisador precisa compreender que no ato da pesquisa é preciso
ter um olhar atento, não só para a situação a qual está observando, mas
principalmente saber olhar com estranhamento de quem é um terceiro
elemento daquele momento que está sendo vivenciado. As interpretações
25
apreendidas em um determinado contexto são suas e segundo MOTTA E
FRANGELLA (2013)
O lugar do pesquisador implica, dessa forma,um agir ético e responsivo, relacionar o que há de próprio e coletivo nas interpretações pessoais, posto que compreende o mundo a partir de sua realidade histórica e cultural,mas ainda assim o faz em seus próprios termos,sendo,portanto,responsável por sua ação.
Ainda segundo as autoras:
O pesquisador tem então, uma orientação no seu pertencimento para decidir de acordo com os valores de seu contexto, mesmo quando sua ação se opõe a eles. A responsabilidade se manifesta no ato, pois vai demandar uma decisão que implica pesar um sistema moral abstrato e decidir, a partir dele, em cada situação concreta, materializando-o numa ética.
Desse modo o pesquisador precisa refletir e compreender que qualquer
que seja a experiência vivida, esta sempre sofrerá um descompasso temporal
que impossibilitará a sua integração total no contexto da pesquisa, pois existe
uma realidade temporal(externa) relacionada ao meio que se contrapõe a uma
outra, a realidade temporal humana(interna),relacionada às emoções, à
sensibilidade e às ações singulares do sujeito.
Portanto uma das formas significativas de conceber a criança como
parceira, já que o pesquisador precisa percebê-la como produtora de cultura é
utilizar o lúdico na sua vida cotidiana seja na escola ou fora dela.O lúdico na
vida da criança pode e deve ser percebido como um lazer onde o jogo, a
brincadeira e as diferentes formas de linguagem, abrem espaço para o saber e
a expressão criadora.
Algumas imagens sociais da criança, por mais obsoletas que possam
parecer, ainda fazem parte das práticas da sociedade vigente nos dias atuais.
Cada uma dessas imagens sociais diferem nitidamente uma das outras, no
entanto, todas apontam para o caminho da negatividade. Nessa visão da
negatividade a criança não é compreendida como um ser humano completo,
provida de características próprias.
As interpretações concebidas sobre a criança são descritas de forma
homogeneizadas, sem levar em conta as especificidades e singularidades do
tempo histórico e do contexto social no qual esta inserida.
26
Com isso a ciência acaba por proferir um conceito estigmatizado sobre a
criança e a infância. Os saberes proferidos pela ciência transmitem uma
uniformização, dando à infância uma natureza universal.
Sarmento (2004) visualiza que o estudo das concepções da infância é
complexo, pois se dentro do mesmo espaço cultural existem uma gama de
variáveis_ visto que a classe social, o gênero a etnia, a nacionalidade, a
religião, o nível de instrução do grupo a qual a criança pertence acaba por
influenciar tais concepções o que dizer então, dessa “ideia de uma natureza
universal da infância, suporta a partir de estudos centrados no Ocidente?”
(e.g.Rogoff,2003). Como pode então, estudos feitos a partir da realidade do
mundo ocidental, invalidar as principalmente quebrar com esse paradigma
hegemônico e dar a criança um novo olhar, de quem a percebe como um novo
olhar, de quem a percebe como um ser completo.
Durante muito tempo o desenvolvimento infantil esteve vinculado aos
cuidados e proteção da criança que sempre foi percebida como alguém a ser
disciplinada, neutra, desprovida de saberes e que precisam ser moldada para
exercer uma cidadania plena no futura.
Mais tarde, por volta da década de 1960_ numa perspectiva da expansão
econômica no intuito de tentar compensar a privação cultural que as crianças
de baixa renda sofriam, a pedagogia vem com propostas de acelerar o
desenvolvimento infantil_ surgiu então a ideia da chamada “prontidão” para a
Alfabetização. Foi nesta época que a Educação Infantil elaborou algumas
experiências voltadas a outras áreas do conhecimento para treinar as crianças
com atividades pedagógicas e trabalhos de coordenação motora. Ainda assim,
somente a partir dessa perspectiva é que a criança começa a ser percebida em
sua especificidade. Surge neste momento a preocupação em criar novas
formas de se organizar o tempo, o espaço, e a brincadeira começa a ter
prioridade no segmento da Educação Infantil.
É na Educação Infantil que tudo começa, essa é a primeira fase da
Educação Básica. A escola precisa conceber que a criança é sujeito da sua
própria história. É comum falarmos que é preciso que sejam criadas políticas
públicas efetivas voltadas a infância, pois a criança é o futuro, é o adulto do
27
amanhã. Mas e o hoje, e a a criança do presente, onde fica nesse contexto,
onde as diferentes infâncias sempre foram negadas e continuam sendo até
hoje?
Toda a sociedade e não apenas a escola precisa compreender que a
criança carrega em seu íntimo uma cultura, a sua cultura que está imersa em
suas vivências, em suas ações, em suas interpretações cognitivas que abrem
as portas para que possa navegar por diferentes caminhos ao longo da sua
vida. Porém é preciso que a sociedade a qual está inserida, propicie boas
oportunidades para que essa criança, possa realmente ser então, o adulto num
futuro próximo. Mas antes disso é preciso deixá-la ser criança em todas as
suas especificidades, singularidades, pluralidades, percebendo-a como sujeito
completo.
28
CAPITULO 2
A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
“O homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.”
FAYGA OSTROWER
É através do outro que a criança aprende a interpretar o mundo físico,
social e cultural do qual faz parte. Cabe então às instituições voltadas ao
trabalho com crianças de 0 a 6 anos elaborar propostas que devem levar em
conta as necessidades específicas dos sujeitos. O acolhimento à criança e
ações substanciais é de total relevância para um bom desenvolvimento das
práticas pedagógicas
A percepção do mundo, adquirida a partir do contato que faz com os
objetos de conhecimento e principalmente com os pares que a criança tiver
nessas situações de interação, vai sendo ampliada assim como se ampliam
também as noções de causalidade, tempo e espaço.
A imitação é outro ponto chave no processo de desenvolvimento, a
criança utiliza-se das ações dos adultos, suas expressões, seus gestos, seus
movimentos, para a partir daí, de forma singular deixar de produzir um ação
conhecida, para recriar uma ação só sua, original.
A criança começa se especializar em conhecer o mundo a partir do
momento em que conquista a linguagem em suas diferentes modalidades. Com
a aquisição da linguagem a criança ingressa no universo simbólico, pois se
ampliam as possibilidades nas construções das suas representações.
2.1. A organização do currículo: pressupostos transversais e os eixos
curriculares da Rede de Ensino de Niterói
29
A Constituição de 1988 e a legislação complementar promulgam com
muita clareza, o direito à educação, principalmente no que se refere ao Ensino
Fundamental e à Educação Infantil. A constituição afirma ainda que “a
educação é um dos direitos sociais mais importantes e deve ser assegurada
pela família, pela sociedade e pelo Estado com absoluta prioridade, à criança e
ao adolescente.” (Revista do Professor jul./ set. 2002)
A educação voltada às crianças pequenas em instituições coletivas é
uma atividade recente, se comparada ao processo educacional que remonta
através da história a milênios.
No Brasil o atendimento a demanda de crianças pequenas em creches
ou nas classes de Educação infantil é relativamente nova. A partir do final do
século XIX foi que surgiram as primeiras instituições no Brasil e, o modelo
seguido era o internacional
Neste momento histórico, as creches tinham um padrão assistencialista
e filantrópico, pois o objetivo principal era o cuidar, a higiene, a alimentação e a
guarda da criança enquanto os pais estivessem trabalhando. As organizações
das instituições tinham o formato de asilos e orfanatos e o público alvo eram as
crianças das classes populares. Os profissionais envolvidos na educação das
crianças não precisavam ter especificamente uma formação pedagógica. Já as
chamadas pré-escolas e os jardins de infância tinham como propostas o
desenvolvimento voltado às propostas pedagógicas. As escolas funcionavam
em meio turno e o trabalho pedagógico tinham como objetivos principais a
socialização e a preparação para o ensino primário, já neste contexto as aulas
eram ministradas por professores e oferecidas às crianças das classes medias
e altas.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) veio
para implantar a igualdade entre as três modalidades de ensino que também
fazem parte o Ensino fundamental e o Ensino Médio, formando assim, a
chamada Educação Básica, que é direito de todo cidadão. A LDB ainda
assegura que esse ensino seja de qualidade.
30
Os pressupostos transversais da Educação Infantil da Rede Municipal de
Ensino priorizam que os conteúdos curriculares não podem se apresentar de
forma compartimentada e sim estar embasados em conceitos que fazem parte
do universo infantil. A Fundação Municipal de Educação de Niterói denomina
de “pressuposto transversais aquilo que vai alinhavar as práticas cotidianas.”
(2010, p.26).
Além de construir as práticas cotidianas, os pressupostos transversais
também incluem eixos onde estão inseridos os conhecimentos a serem
explorados que adentram por esses pressupostos: “brincar, cuidar educar,
relação espaço/tempo, múltiplas linguagens, letramento, coletividade e
singularidade, autonomia, sensibilidade e afetividade, diversidade cultural e
cidadania.” (2010, p.26)
Ao apresentar um currículo para a classe seja qual for a modalidade de
ensino- Educação Infantil, Ensino fundamental ou Ensino Médio, é preciso que
o professor avalie se este é apropriado para as crianças em sua sala de aula.
Segundo (SPODEK, 1999) existem outros fatores que precisam ser levados em
conta como analisar as dimensões culturais do programa em questão e a
dimensão relacionada ao conhecimento.
Não cabe aqui falar de qual ou quais são os pressupostos transversais
mais importantes na Educação Infantil, visto que todos são de total relevância
para o desenvolvimento global da criança. No entanto, não podemos deixar de
pontuar algumas questões voltadas ao brincar, cuidar educar e as múltiplas
linguagens, já que os demais pressupostos já foram mencionados no decorrer
deste estudo.
É impossível não dar destaque à questão do brincar, sendo este o
primeiro pressuposto transversal que deve ser assegurado à criança entre 0 a
6 anos.
O brincar atravessa diferentes tempos e lugares, passados, presentes e
futuros, sendo marcado ao mesmo tempo pela continuidade e pela mudança. A
criança, pelo fato de ter uma história e estar inserida em um contexto
sociocultural, ou seja, em um ambiente estruturado a partir de valores,
31
significados, atividades e artefatos construídos e socializados, incorpora a
experiência social e cultural do brincar por meio das relações que estabelece
com outros adultos e crianças. Essa experiência é recriada a partir das
situações vividas pelas crianças, através do seu poder de imaginar, criar,
reinventar e produzir cultura.
No cotidiano do trabalho da Educação Infantil faz-se necessário um
movimento constante de repensar a prática com as crianças, entendendo as
diferentes concepções que a perpassa. No planejamento das ações cotidianas,
consideram-se as manifestações infantis em sua diversidade? Ou organizam-
se os espaços físicos e as rotinas a partir de um entendimento da criança como
ser abstrato, com base em padrões fixos de desenvolvimento, de linguagem,
de socialização? Ou seja, uma infância definida pela falta, por aquilo que não é,
que não tem, que não conhece?
O brincar além de ser um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA, art. 16) é também primordial para o desenvolvimento
pleno da criança. A escola deve ter um papel central na construção do brincar,
já que inúmeros são os motivos que impedem as crianças de exercê-lo no dia-
a-dia. Muitas são as transformações ocorridas na sociedade como: a
diminuição dos espaços públicos de lazer; a insegurança que impede o brincar
nas calçadas, nas praças e nos parques; as moradias das famílias pobres que
são cada vez menores; a televisão e as demais tecnologias, que a cada dia
ocupam um longo tempo nas atividades das crianças, e a necessidade dos pais
ao se ausentarem demasiadamente devido ao trabalho, o que prejudica o
convívio com os filhos.
Para Vygotsky (1987), o “brincar é uma atividade humana criadora”,
permeando pela imaginação, pela fantasia e pela realidade que irão contribuir
para novas possibilidades da criança interagir, interpretar e se expressar com o
mundo através das suas ações.
O pressuposto cuidar educar possui uma definição ampla, que vai muito
além de um simples significada. Cuidar e educar só podem ser vividos
simultaneamente, estão presentes em todos os momentos da Educação
Infantil. Para mim é prazeroso poder dizer que eu colaborei para a construção
32
desse referencial junto com toda a equipe da UMEI Maria Luiza da Cunha
Sampaio, instituição esta, onde leciono. Esta Unidade municipal de Educação
Infantil acredita que:
O cuidar está em todos os momentos da escola, juntamente com o
educar. Está na hora da entrada do aluno, na rodinha, durante as
atividades,quando “cuidamos” da educação desse aluno, de sua
aprendizagem, de sua ampliação de visão de mundo: está presente quando
ouvimos o aluno sobre suas vivências, dificuldades, alegrias e tristezas; está
presente quando percebemos que a sua parte física ou emocional não está
bem.
Cuidamos do educando na hora das brincadeiras para que ele não se
machuque, mas também “cuidamos” para que ele se desenvolva plenamente.
O cuidar está presente quando ensinamos que o toque de outro aluno
em você nem sempre é uma forma de agressão, mas pode representar um
carinho, uma forma de ser percebido, de poder interagir.
O “cuidar” na Educação Infantil não existe apenas na relação adulto -
criança, mas também de forma inversa a essa, quando a criança pergunta o
porquê da professora estar com band-aid, ou com um braço enfaixado,
pergunta o motivo da ausência dela num determinado dia, ou fala como ela
está bonita etc.; este “cuidar” também está presente na relação entre os
próprios alunos, no momento em que um percebe que o outro se machucou e
procura a professora para pedir ajuda, ou pergunta ao próprio coleguinha
porque ele está chorando, se ele quer a mãe dele, ou quando apenas senta ao
lado do amiguinho que está triste e puxa conversa: também existe o cuidar da
criança perante a outra quando uma passa a representar o papel de mãe ou de
professora e dá comidinha na boca do colega, o amiguinho etc.
O “cuidar” também está presente quando a escola entra em contato com
a família para saber o motivo da ausência do aluno na escola, ou quando o
aluno apresenta pediculose, sarna impetigo, entre outras doenças de pele, e a
escola identifica essa situação e entra em contato com a família para que junto
possam solucionar o problema.
33
Assim, é possível compreender que todo professor educa enquanto
cuida e cuida enquanto educa. A adequação do planejamento das ações
educativas que o educador e a instituição apresentam à criança deve estar de
acordo com as necessidades por ela manifestadas desde a sua inserção no
primeiro dia de aula até o último momento quando sai da escola para iniciar
uma nova fase da Educação Básica.
Sabemos que a Educação Infantil deve estar articulada ao Ensino
Fundamental, no entanto, precisamos lembrar que articular-se não é
subordinar-se.
Nós professores sabemos o quanto é complexa a tarefa quanto ao ato
de educar e cuidar de nossas crianças seja ela de que idade for. Essa é uma
tarefa árdua que exige um misto de paixão, reflexão, comprometimento,
estudo, mas que oferece como recompensa, muita alegria e realização
profissional. Transmitir a crianças tão pequenas as informações, as formas de
como são construídas as relações sociais, as habilidades, as posturas que
serão de suma importância por toda a sua vida é um fazer de grande
responsabilidade social.
As múltiplas linguagens permeiam o universo da educação infantil. O
Referencial Curricular da Rede Municipal de Ensino de Niterói aponta que um
dos objetivos deste segmento de ensino é propiciar à criança o
desenvolvimento de diferentes formas de expressão, que despertem o seu
potencial criativo.
Segundo o Referencial as diferentes formas de linguagens devem ser
trabalhadas de forma contextualizada. Já foi mencionado que a criança nasce
imersa, em uma cultura. As diferentes linguagens fazem parte da vida do ser
humano. A língua escrita, a oralidade, a imagem, o desenho, o som, as artes
plásticas compõem a nossa interação com o mundo de forma dinâmica.
As crianças são sinestésicas, todos os sentidos são utilizados e
despertados a cada a cada momento. Esses sentidos são conduzidos pela
curiosidade natural de toda criança.
34
Segundo Barbieri (2012, p.25) “a arte, como todas as outras áreas,
permeia o dia da criança”. Sendo assim, compreendemos que estar em contato
direto com as várias formas de expressão é um dos direitos da criança. A
fotografia, o cinema, a dança, a dramatização, a palavra oral ou escrita, a
música, o livro, o computador, a televisão, a plasticidade, tudo isso é
linguagem, linguagem que transforma que humaniza.
Ninguém dúvida que a criança precisa de amor para crescer de forma
saudável e feliz. Despertar a criança para o mundo da Arte é como abraçá-la e
dizer: eu amo você!
Mas, como fazer acontecer o despertar da arte na criança desde a
Educação Infantil? Que propostas significativas poderiam ser levadas à criança
desde que ela nasce até a sua chegada à escola?
O primeiro contato da criança com a arte deveria acontecer assim como
as primeiras leituras, quando inicia a sua descoberta do mundo, quando tudo é
indagação e alegria, quando está ansiosa para adquirir suas primeiras
conquistas, seria fundamental.
Os especialistas nos ensinam que nunca é cedo para iniciar a vida da
criança no mundo da arte, a conviver com a arte. É maravilhoso perceber o seu
olhar cheio de brilho e satisfação ao apreciarmos uma criação sua, uma ação
que antes não conseguia e agora é capaz de fazê-lo, seja com muita ou pouca
habilidade, não importa. O que importa é o que o seu fazer e como ela
esperava por esse momento.
Vale lembrar aqui as palavras de Vygotsky (1995, p10) ao afirmar que:
“o essencial para o ser humano não é o simples fato de perceber o mundo,
mas de compreendê-lo.”
Valorizar as diferentes formas de linguagem no cotidiano da criança é
primordial para que enquanto sujeito produtora da cultura, possa desenvolver
cada vez mais o seu potencial criador.
Os três eixos curriculares: Linguagem; Tempo e Espaço; Ciências e
Desenvolvimento Sustentável, apresentados no Referencial Curricular estão
35
em concordância com o referencial teórico e também com as Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Brasil, MEC 2010), as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Brasil, MEC 2009) e
a Portaria 132/2008.
O eixo linguagem além de considerar todas as modalidades como forma
de expressão, ressalta também outras propostas linguísticas como a LIBRAS
(Língua Brasileira de Sinais, voltada às identidades cegas), como também a
CAA (Comunicação Alternativa e Assistiva) que todas estas modalidades
devem fazer parte do currículo escolar.
Ao considerarmos o pensamento de Bakhtin (2002) quando mencionar
que a linguagem é condição fundamental no processo de construção da
identidade do sujeito. Assim, quando damos voz à criança e a sua voz passa
pela escuta do adulto, ela passa a ser visível e valorizada nas suas
especificidades.
O eixo Tempo e Espaço se entrelaça com o eixo Ciências e
Desenvolvimento Sustentável na medida que os espaços da escola precisam
ser repensados. Essa forma de organizar o currículo está voltado ao trabalho
com o corpo em toda a sua plenitude: brincadeiras ao ar livre explorando todo o
espaço por mais tempo; não deixando a criança confinada na sala de aula;
cuidando para que tenha uma alimentação saudável, atentando também para
sua postura, respiração e bem estar.
Ciências e Desenvolvimento Sustentável segundo Grynszpan (2008)
citada neste documento argumenta que as propostas trabalhadas neste eixo
“deve sempre levar em conta a diversidade cultural das crianças.”
Ainda segundo a referida autora, a abordagem curricular deste eixo é
imprescindível para auxiliar a criança no cuidado com o corpo, na manutenção
da saúde, como também compreender a importância de se praticar ações
voltadas à preservação ambiental, nas relações com seres humanos e com
outros seres vivos e o ambiente.
Os autores deste Referencial Curricular apontam que o trabalho com os
eixos, não cabe uma proposta rígida e fechada, ao contrário é preciso que haja
36
uma flexibilidade e que cada eixo possa ser articulado com os demais a fim de
possibilitar à criança uma aprendizagem significativa desses e de outros
conhecimentos que fazem parte desse universo da Educação Infantil.
2.2. Documentos oficiais: o que diz a LDB e o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil - Conhecimento de Mundo
A escola é a instituição que pode possibilitar aos cidadãos melhores
condições de vida e de ampliação do seu universo cultural.
Ainda hoje, algumas pessoas acreditam que o ofício do professor está
relacionado à aula expositiva, por julgarem que assim os alunos estariam
vivenciando situações de aprendizagem.
Philippe Perrenoud (2000) visualiza que é de competência do professor,
organizar e dirigir situações de aprendizagem. Mas essa proposta vai além
daquela onde o professor é quem tem todo o saber, o que domina o ensino-
aprendizagem.
Seus estudos apontam que para dar significado ao ato de aprender é
preciso que o professor envolva seus alunos em atividades de pesquisa e na
construção de projetos.
O trabalho com as artes na Educação Infantil devem refletir a sua
relação com a vida contemporânea. Os currículos precisam estar em harmonia
com as finalidades da educação básica.
Segundo Santos, (2003) “os projetos de trabalho surgem para
transgredir as amarras que impedem o indivíduo de pensar por si mesmos.”
Para a autora, não importa a idade crianças de 3, 4 e 5 anos têm a
possibilidade de vivenciar e apreciar obras de artes e entender a seu modo a
magia, a aventura da cultura de uma determinada época.
Na visão de John Dewey a educação dá à criança possibilidade de
construir e reconstruir suas experiências. Para Dewey as experiências dão ao
indivíduo a sensibilidade de fazer interações entre o mundo físico e o humano.
37
Os saberes são produzidos através dos sentidos propondo uma conexão entre
corpo e mente (2010, p.28).
A LDB de 1996, assim como a Constituição Federal de 1988,
consideram a criança prioridade absoluta, sendo esta um sujeito de direitos e,
por se tratar de um indivíduo em desenvolvimento deve ter prioridade no
atendimento no que se refere à área educacional desde os primeiros anos de
vida.
O artigo 22 da LDB expressa que a educação básica tem como
finalidade oportunizar o desenvolvimento do educando para a construção da
cidadania e dando-lhe possibilidade de progredir cada vez mais nos estudos ao
longo dos anos. (Revista do Professor jul./set. 2011)
Já o artigo 29 da mesma lei afirma que a finalidade da educação infantil
é o desenvolvimento integral da criança até os 6 anos de idade e deve
contemplar todos os aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
contemplando assim, a ação da família e da comunidade na qual está inserida.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil, publicada
em dezembro de 2009, afirmam que as propostas curriculares devem garantir a
interação do educando com experiências que envolvam o cuidado, a
preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida
em todo o planeta, como também à conscientização ao não desperdício dos
recursos naturais. Sendo assim, uma das melhores formas de por em prática
esse trabalho, é possibilitar á criança que se expresse através da arte. Para
que possa compreender o mundo em que vive e entender a importância do
meio ambiente é preciso que possa manifestar-se através dos diferentes tipos
de linguagens. Cabe ao professor apresentar inúmeras possibilidades de
ensino através da arte, elaborando estratégicas relacionadas às questões
culturais, à leitura de histórias, poesias, utilização de material diversificado e a
exploração dos sentidos através das experiências estéticas, permitindo que a
criança coloque em prática o seu conhecimento, sem que o adulto altere a sua
produção, o seu produto final.
38
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil Conhecimento
do Mundo de 1998 promulga que a educação é um processo que se realiza
dentro do próprio indivíduo, ou seja, a verdadeira educação é a auto-educação.
Isso nos leva a refletir que tudo o que o professor transmite a uma criança, tudo
o que lhe apresenta os caminhos que lhe direciona e as experiências que lhe
oportuniza são apenas estratégias, são meios que a própria criança utiliza para
que assim, construa o seu saber.
Educar é dar à criança a oportunidade de “aprender a ser, a torna-se, a
criar, a participar e a transformar-se a si, ao ambiente, ao contexto em que
vive.” (Revista do Professor out/dez.2000).
As Artes Visuais na Educação Infantil é importante por inserir a criança
no mundo simbólicos, onde tem oportunidade de vivenciar diversas situações e
sentimentos. É uma forma de viajar a outros mundos, a outras épocas,
levando-a a construção mentais cada vez mais complexas e marcantes. No
entanto, é preciso que seja levado em conta a faixa etária e o nível de
desenvolvimento. O ensino das Artes Visuais desenvolve a capacidade
criadora, o pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a percepção, a intuição
e a cognição da criança.
Segundo o Referencial Curricular nacional para a Educação Infantil
(1998, p.91) “o ponto de partida para o desenvolvimento estético e artístico é o
ato simbólico que permite reconhecer que os objetos persistem, independentes
de sua presença física e imediata.”
Em seu livro A criança e o currículo (1902), Dewey afirmou que uma
prática educacional adequada, deve ser baseada nas experiências. Mas para
que as experiências tenham realmente significado para o indivíduo é preciso
que possa lidar diretamente com problemas que com certeza encontrará no
mundo. Os arte -educadores afirmam que, são as artes, e em particular as
artes visuais que irão fornecer tais experiências (Eisner, 2001,p.85)
Os programas ou currículo voltados ao ensino de arte que são
significativos para a criança devem levá-la a pensar de forma inteligente sobre
a arte e suas inúmeras manifestações no mundo. Segundo Eisner (2001, p.85)
39
as pessoas vêem arte, entendem o lugar desta na cultura através do tempo,
fazem julgamento sobre suas qualidades e por último, fazem arte. Essas quatro
modalidades formam: a produção, a crítica, a História e a Estética da arte, o
aluno passa a perceber o sentindo que a arte tem em sua vida a partir da sua
própria produção artística, das relações que estabelece consigo mesmo, com
as outras pessoas, com a imaginação e com a cultura.
40
CAPÍTULO 3
ONDE ESTÁ A ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL?
Para onde a escola vai? Sem a poesia, sem a beleza da arte, eu não sei... eu acho que o caminho é muito escuro, muito.
Maria Helena Accorsi Willrich
No capítulo anterior vimos que o currículo da Educação Infantil deve
estar pautado nas especificidades da faixa etária que atende, embasados em
uma perspectiva cidadã, de diversidade cultural e nos pressupostos
transversais descritos no Referencial Curricular, que orientam as práticas
cotidianas. Assim, afirma-se que “[...] o currículo na Educação Infantil não se
pauta em conteúdos comparti mentalizados, ele deve estar embasado em
.alguns conceitos que se constituem pressupostos de todo o trabalho com as
crianças” (NITERÓI, 2010, p.26).
Com base nessas afirmações, surgem questionamentos indispensáveis
no que se refere às práticas recorrentes na educação das crianças de 0 a 6
anos. Será que nós educadores estamos oportunizando a elas o acesso aos
conhecimentos implícitos nos referentes pressupostos? De que forma temos
compreendido o currículo na educação infantil diante dos inúmeros desafios da
sociedade contemporânea?
No entanto, já é possível identificar no cotidiano de várias unidades
escolares, praticas pedagógicas que percebem a criança como sujeito que
pensa, que produz, que reproduz e que reelabora o conhecimento que tem
sobre si e sobre o mundo.
Na Educação infantil ao compreendermos a criança como alteridade, ou
seja, aquela que altera, que surpreende, devemos considerar a escuta como
eixo essencial ao nosso trabalho para dar “visibilidade à criança e às
manifestações de suas “cem linguagens”: dramatizações, movimentos, gestos
falas, construções com objeto.” (Guimarães 2004) Sendo assim, vale refletir
sobre: como se dá a participação da criança na elaboração do planejamento?
De que forma as suas brincadeiras são observadas, aproveitadas ou
41
questionadas, ganhando centralidade? De que forma suas falas, suas formas
de expressão, seus desenhos,os objetos ou brinquedos que constrói, a
organização dos seus corpos em movimento e as suas ideias são explícitas no
espaço da escola?
Guimarães (2004) aponta que é papel do professor direcionar o olhar
para intensificar a qualidade das interações cotidianas. É através das
brincadeiras, interesses, medos, alegria e do reconhecimento de suas ideias
que a criança constrói sua autoconfiança. Cabe ao adulto propor situações que
desperte as produções e os interesses infantis. Ao darmos voz à criança, o
adulto desencadeia nela o desafio de também escutar, de considerar a
presença e os pensamentos ou ideias do outro, compreendendo assim, a
diversidade cultural como riqueza, dos que com ela convive.
Ao contribuir na elaboração dos projetos junto com o professor e os
demais, a criança se sente autora das produções cotidianas. Nesse entrelaçar
é preciso que a organização do trabalho docente tenha também a participação
das crianças e das famílias.
Todo esse repertório não pode ser descartado porque a aprendizagem é
construída a partir do conhecimento prévio do aluno e também da sua
interação com um ambiente rico e estimulante. Essa organização do espaço
pedagógico recebe o nome de rotina. O termo rotina está longe de ser algo
repetitivo e cansativo como o nome pode sugerir, ao contrário. Ela é o ponto de
partida para oferecer às crianças inúmeras possibilidades de atividades a
serem desenvolvidas. Na educação Infantil tem-se a possibilidade de
proporcionar à criança a articulação com várias formas de linguagens.
Vygotsky (1989) nos diz que: “Qualquer situação de aprendizado com qual a
criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia.”
Quanto mais a escola oportuniza a criança acesso às diferentes
linguagens, cada vez mais terá a possibilidade de ampliar o seu universo
cultural. Na medida em que for compreendendo o mundo real, mais segura
ficará para interagir com o novo.
42
A criança contemporânea vive numa sociedade letrada, rodeada de
linguagens por todos os lados, portanto, é imprescindível que lhe sejam dadas
possibilidades para que não só compreenda, como também possa intervir na
realidade.
3.1 Percurso poético: artes plásticas e outras formas de linguagem
Trabalhar com artes plásticas na Educação Infantil visa ampliar o
universo de imagens das crianças ao estimular a sua capacidade de apreciar
artisticamente a leitura de esculturas, pinturas e muito mais. Quando o
professor pesquisa e traz para sala de aula diversas técnicas e matérias onde
as crianças possam experimentá-los, interagindo a seu modo e construindo as
suas próprias obras ele possibilita a sua expressão criadora.
Conhecer obras e histórias de artistas dos mais variados estilos, países
e momentos históricos, desenvolve na criança o senso crítico e estético
Desde os primórdios do homem, o ato de contar histórias para as
crianças está presente em todas as culturas dos diferentes povos e épocas. O
“Momento da História” é muito valioso para a educação, pois dá à criança a
possibilidade de ouvir, imaginar, sonhar e principalmente descobrir a função
social da escrita. É possível o professor organizar esse momento de várias
maneiras: no início ou no final da aula, enriquecendo com outras propostas tais
como: música, fantasias, pinturas, modelagens, organizando uma mini
biblioteca na sala; fazendo uma “Ciranda de Livros” onde cada criança escolhe
um livro de sua preferência para contar a história a seu modo à turma;
promovendo empréstimos de livros para que as famílias leiam para as crianças
nos fins de semana, enfim, existe uma infinidade de propostas significativas.
Brincar é uma linguagem natural da criança, se não for a mais
importante delas. Em todas as culturas e momentos históricos as crianças
brincam. A brincadeira é uma atividade essencial na vida da criança, onde
pode expressar suas ideias, sentimentos e conflitos, dividindo com o professor
e com os colegas a forma como percebe o mundo e como é o seu dia a dia.
43
Celso Antunes (2012, p.45) propõe que se faça a “Substituição da
explanação pelo desenvolvimento de Projetos que nasçam da curiosidade e
dos questionamentos feitos pela própria criança.”
É neste momento que nasce o percurso poético entre as artes plásticas
e as outras formas de linguagem. Os projetos devem ser traçados de forma de
interdisciplinar. Antunes nos diz que ao mergulhar no mundo da linguagem a
criança vai de encontro à descoberta da palavra, à compreensão dos símbolos;
ao reconhecimento da linguagem matemática, na identificação dos números e
suas grandezas e do social, o reconhecimento e a convivência no mundo
voltados ao meio ambiente; às suas experiências e descobertas relacionadas
ao próprio corpo e as suas emoções. Para Antunes, seja qual for o tema o
importante é que o professor saiba promover situações de ampliação do
vocabulário e do desenvolvimento do pensamento crítico à construção do
conceito de número; a identificação das noções de tempo (ontem, hoje e
amanhã), à contextualização dos assuntos ou temas abordados e às vivências
do aluno.
Outro ponto chave para o autor (p.46) é a utilização das múltiplas
linguagens onde podem ser desenvolvidas as “diferentes inteligências das
crianças”,pois é através destas que a criança descobre que podemos nos
comunicar não só quando cantamos, desenhamos, pintamos, modelamos,
compomos, fazemos colagens e quando usamos muitas outras formas de
expressão. É preciso que a criança perceba a diferença em ações como “ver e
olhar”, “dizer e falar”, “ouvir e escutar.”
A arte pode despertar ainda a nossa percepção de que” todo ser humano é
sempre agente transformador do mundo.” (Antunes, 2012, p47)
É através das nossas ações que podemos buscar soluções para
melhorar a vida das pessoas e do ambiente em que vivemos.
A Educação Infantil tem um papel fundamental na formação da criança
ao estimular elementos fundamentais quanto:
A descoberta das coisas nas quais pensa e, através delas, de seus interesses e de como lutar por eles; a identificação das coisas com as quais a criança pensa e assim a percepção dos
44
múltiplos símbolos que caracterizam o mundo da linguagem e, finalmente, a compreensão do espaço no qual o pensamento é desenvolvido, sua diversidade e mutabilidade e ação de todos em sua transformação.
Antunes (2012, p.47)
Enfim, o professor precisa propor situações de aprendizagem e
construção de projetos que promovam a vontade da descoberta, o espírito de
buscar e a curiosidade que é natural de toda criança. Uma atividade de artes
pode conter elementos que envolvem ações relacionadas a lingüística, lógico -
matemáticas, visuoespaciais, sonoras, corporais e naturalistas. É através das
“linguagens múltiplas” e através do fazer espontâneo das crianças que surgem
movimentos, sons, desenhos, colagens, sejam através de construções
individuais ou coletivas.
Para Ferreira (2012, p.49) quando bem planejada, a aula de Arte deve
priorizar o desenvolvimento de varias habilidades como a percepção estética, a
sensibilização e da imaginação, e da criatividade. Todas essas habilidades
devem estar integradas a outras linguagens músicas, artes plásticas, artes
cênicas, expressão corporal como também a literária, a matemática e as
ciências naturais.
As autoras Martins, Picosque e Guerra (apud, 1998, p.118) enfatizam
que:
Na aula de artes, a ênfase não deveria estar, por exemplo, na teoria das cores, mas no provocar a sensibilidade cromática; não na historia da arte impressionista, mas no ressignificar o momento de olhar a vitalidade das cores e das coisas, na fugacidade impressa pelo gesto do artista; não na execução de ritmos na atividade com a bandinha, mas na exploração percursiva dos sons, em busca de frases sonoras (1998, p.117).
A Arte não deve ter como objetivo padronizar o processo de criação das
crianças, pois cada uma possui um ritmo que é só seu, umas desenvolvem-se
mais rapidamente, outras precisam de um pouco mais de tempo para que
possa de forma gradativa, desenvolver a sua sensibilidade, sua emoção e sua
imaginação criadora.
45
A arte é primordial para desenvolver várias competências na criança a
motricidade, aspectos voltados à emoção, à percepção e a corporal. Todos
esses aspectos quando bem desenvolvidos, contribuem para o desabrochar da
criatividade e da sua capacidade inventiva
Ferreira (apud, 1998, p.45) visualiza que “a constituição da criança não
pode ser explicada apenas pelos fatores biológicos. Os fatores culturais e
sociais também constituem a criança.”
Sobre as afirmações apontadas pela autora, vale compartilhar algumas
reflexões sobre a arte e sobre o ensino da arte através das contribuições de
alguns teóricos do ensino- aprendizagem.
Vygostky (1896-1934) que diz que a intervenção educativa acontece a
partir do que o aluno já sabe para o que ele vai conhecer, ou seja, a partir do
desenvolvimento real promover seu desenvolvimento potencial. O que ele
chama de “zona de desenvolvimento proximal”, isto é, ao limite que a criança já
é capaz de encontrar soluções para seus problemas, desde que com a ajuda
de um adulto ou de um colega mais adiantado.
Segundo a teoria de Vygotsky, a psicologia experimental quando
associada à neurologia e à fisiologia irá promover uma dialética voltada aos
processos de construção do pensamento, dando ao sujeito a possibilidade de
vivenciar experiências frente a desafios cognitivos e situações- problema. É por
meio das interações sociais que a criança vai construindo conhecimento a
partir da troca com outros sujeitos e consigo própria.
A visão de Vygotsky está voltada para valorização da escola como
instrumento de apropriação do saber do indivíduo com o outro, ou seja, através
das relações interpessoais e para o plano individual interno (a relação intra-
pessoais).
Vygotsky propõe uma visão de formação das funções psíquicas
superiores como internalização mediada pela cultura. Suas concepções sobre
o processo de formação dos conceitos levam às relações entre o pensamento
e a linguagem como também ao processo de construção de significados pelo
indivíduo de acordo com a cultura no qual está inserido.
46
Em seus estudos (2009, p.15) ele aponta que o cérebro é base
biológica e suas características irão definir quais os limites e as possibilidades
para que o ser humano se desenvolva. Um bom exemplo nesse sentindo são
as funções psicológicas superiores tais como linguagem e memória, pois são
construídas no decorrer da história social do homem, através da sua relação
com o mundo. Essas funções psicológicas são intencionais, ocorrem à medida
que agimos e interagimos com o mundo e dependem dos processos de
aprendizagem.
A mediação é o ponto central para a compreensão de como ocorre o
desenvolvimento humano Vygotsky afirma que o homem não tem acesso direto
aos objetos, e sim, um acesso cotidiana e somados aos sistemas simbólicos de
que dispõe. Desta forma a construção do conhecimento se dá através de uma
interação mediada por várias relações do meio.
A linguagem, uma das formas de comunicação mais primitivas da
espécie humana, representa um grande salto nessa evolução. É através da
linguagem que são formadas as funções mentais superiores e transmitidas
culturalmente. Neste sentindo constatamos que sociedades e culturas
diferentes constroem saberes e produzem estruturas diferenciadas.
É a cultura que proporciona ao indivíduo a representação da realidade
através da simbologia, que por sua vez irá construir a interpretação do mundo
real e contribuir para que ocorra o processo de recriação dando à realidade
uma nova reinterpretação de informações, conceitos e significadas para o
desenvolvimento humano, essa internalização sofrerá modificações e
promoverá uma atividade de “interpessoal” para se tornar “intrapessoal”.
De Piaget (1896-1980), formulador de epistemologia genética, retiramos
a ideia de que, o sujeito da aprendizagem transforma níveis menos avançados
de conhecimento em níveis mais avançados. Onde o conhecimento é
construído, reconstruída e ampliado, de forma diferente em cada fase do seu
desenvolvimento.
47
Já para David Ausubel, teórico da aprendizagem significativa, o aluno
constrói a realidade, atribuindo-lhe significado, para tanto precisa ser
estimulado e sentir que seus conhecimentos prévios são valorizados.
Segundo esses estudiosos o aprendizado precisa ser aplicado e ter
alguma funcionalidade. Onde possa usar, refletir e usar novamente na sua
vida. Podemos afirmar que o educando não acumula conhecimentos e sim os
relaciona. Porem, os conteúdos da situação de aprendizagem devem: mobilizar
seus conhecimentos prévios, despertar o desejo de aprender, provocar um
conflito cognitivo, favorecer a construção de sua autoconfiança, construir
conhecimentos a partir de sua cultura e sua experiência, a construção do
conhecimento.
3.2 Relatos e Vivências do GREI5 e a sua interação com as artes plásticas
e as demais formas de linguagem
Na UMEI Maria Luiza da Cunha Sampaio são dois profissionais por
turma- professores. As turmas são nomeadas por GREI. Estamos
acompanhando está turma desde 2012, sendo este o seu último ano na
Educação Infantil. A turma ingressou com três anos e meio a quatro anos e
neste último ano (2014) têm entre cinco e seis anos.
A turma é dinâmica e participativa. Todos os trabalhos são realizados
com muito interesse. É um grupo bastante questionador, pois tudo o que é
proposto é discutido antes de ser realizado com as crianças.
Nossa ação pedagógica está sempre focada nos eixos de estudos. Em
cada eixo procuramos utilizar recursos variados como as conversas informais,
onde as crianças expressam os seus saberes e trocam informações. Identidade
e autonomia é um trabalho que não se esgota, pois acreditamos que a
formação do ser acontece de forma contínua. A nossa unidade escolar oferece
recursos tecnológicos que facilitam o desdobramento de nossas propostas
pedagógicas, que não fica restringida a isto, pois reaproveitamento de
materiais diversos se fazem presente na realização de atividades que
48
colaboram com o desenvolvimento psicomotor, a criatividade, a autonomia e a
organização do tempo e dos espaços.
A relação interpessoal entre todos do grupo ficou ainda melhor, pois a
turma sempre teve uma conduta tranqüila, mas que foi gradativamente
aprimorada. O trabalho está sempre voltado para o coletivo, sem deixar, no
entanto, de respeitar as individualidades. Outra característica marcante da
turma é a questão da autonomia, pois a oralidade está cada vez mais
desenvolvida e o próprio grupo é capaz de elaborar soluções para resolver as
situações-problema do nosso dia-a-dia. As regras de convivência foram
elaboradas pela própria turma, junto com as professoras e é seguida por todos.
Nosso trabalho com o GREI 5 foi todo pautado através das diferentes
formas de registros, tornando-o ainda mais legitimo e pessoal, respeitando as
singularidades de cada criança.
Ao entender cada aluno como ser único, valorizando a sua
individualidade e características próprias é possível ter um olhar mais atento
quanto ao seu desenvolvimento, seus fazeres e os registros, refletem isso.
Expressos nos mais variados tipos de linguagem (escrita, falada,
cinematográfica,fotográfica,musical, plástica,bidimensional ou tridimensional) é
possível fazermos uma avaliação mais detalhada não só do aluno, mas
principalmente do nosso trabalho diário , observando os pontos positivos e os
negativos, corrigindo assim, o que for necessário .
A nossa pratica pedagógica parte da observação das manifestações
infantis, priorizando o seu interesse.
No processo de aprendizagem em Artes a criança traça um percurso de
criação e construção individual que envolve escolhas, experiências pessoais,
aprendizagens, relação com a natureza, motivação interna e / ou externa.
Nesse sentindo cabe ao professor proporcionar o contato com materiais
diversos, dando oportunidade para que as crianças conheçam,manuseiem,
sintam e explorem podendo então criar, recriar, enfim, se expressarem.
49
Os relatos a seguir mostram uma pequena parte das vivencias deste
GREI e procura mostrar também que o papel do professor é mediar os
conhecimentos e apresentar novos saberes aos que a criança já possui.
O trabalho sobre o pé de acerola surgiu quando estávamos conversando
sobre a importância dos livros e cada criança fez o seu comentário.
Entre os muitos livros ali dispostos, a turma escolheu “Pare no P da
Poesia” de Elza Beatriz. Conhecemos a poesia “A de Amar” e a turma
identificou e nomeou o” A de Acerola.” Este foi o inicio do nosso Projeto
Pesquisando e Descobrindo o Mundo.
Iniciamos a montagem do blocão com o titulo “O pé de acerola”, foram
feitos alguns comentários e decidimos fazer um passeio até o pátio externo da
escola para uma nova observação, com um outro olhar.
Partindo do desenho que Fabíolla fez no dia anterior, formos observar de
perto os dois pés de acerola. Já no final da observação, começou a chover e as
crianças vibraram ao sentir os pingos de chuva.
Retornamos à sala onde demos continuidade à escrita do blocão. As
crianças descreveram com detalhes tudo o que observaram das árvores
frutíferas. Escrevemos ACEROLA no quadro; identificamos as letras inicial e
final; contamos o numero de sílabas, pronunciando e marcando com batida das
mãos.
Já nas mesas cada criança desenhou a sua árvore, enriquecendo com
detalhes que observou no pátio. Registramos estes momentos também através
da fotografia. Durante o lanche, as crianças degustaram as frutas que foram
colhidas na parte da manhã.
No dia seguinte a turma retomou o desenho que foi realizado
coletivamente e foram feitos detalhes minuciosos como: galhos finos e grossos,
espinhos, flores e frutos verdes e maduros. Ao término da confecção das
árvores, as crianças colaram pequenos pedaços de emborrachado no verso do
desenho para dar efeito tridimensional. Para enriquecer a atividade, foram
feitas folhagens, nuvens e gotas de chuva.
50
Dando continuidade ao trabalho com as árvores, aprendemos a música
dona Árvore de Bia Bedran e desta vez, cada criança desenhou
individualmente a sua árvore e o macaquinho para compor o material do
corredor. Ver anexo página 60.
No final do projeto_ como culminância, a turma trabalhou a receita, preparou e
degustou um delicioso suco de acerola.
Ver anexo páginas 59 e 60.
Um outro momento marcante_ dando continuidade ao trabalho com a
linguagem literária foi que propomos à turma conhecer um pouco sobre a obra
de Vinícius de Moraes. Várias poesias foram lidas e a turma se encantou pela
poesia:
O GIRASSOL
Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel.
O girassol é o carrossel das abelhas.
Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.
- Vamos brincar de carrossel, pessoal?
-“Roda, roda, carrossel
51
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor.”
-Marimbondo não pode ir que é bicho
mau!
- Besouro é muito pesado!
-Borboletas tem que fingir de borboleta
na entrada!
-Dona Cigarra fica tocando seu realejo!
-“Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol”
E o girassol vai girando dia afora...
O girassol é o carrossel das abelhas.
Vinícius de Moraes
A Arca de Noé
Através da leitura da poesia a turma despertou o interesse pelas flores
que encontram-se nos canteiros espalhados pela escola.
Muitas atividades ocorrem no espaço externo da UMEI, tendo como
primeiro momento, a observação da paisagem. Nesta proposta inicial, o
professor deve estar atento ao “olhar” de cada criança, o que observam, suas
conversas, descobertas e constatações.
Em uma de nossas atividades, propomos que as crianças procurassem
elementos da natureza que chamaram sua atenção e recolhessem algumas
52
amostras do que encontraram pelo chão ou nos canteiros. Já dispostas na
rodinha cada um relatou o que e por que recolheu tal objeto. Brincar livremente
ou em grupos pequenos com o material foi a proposta seguinte a turma
explorou curiosa o colorido e a variedade das flores encontradas nos canteiros,
pois haviam sido preparadas para receber as crianças e suas famílias no início
do ano letivo. Além das formas, tamanho e cores das flores ali expostas,
algumas crianças perceberam sementes já secas no interior das flores e
recolheram.
No dia seguinte retomamos o assunto sobre as descoberta que fizemos
sobre os canteiros de flores e as sementes recolhidas.
As professoras trouxeram para sala sementes de outras flores, entre
elas, as sementes de girassol. Lemos as informações e curiosidades descritas
no verso da embalagem e pronto. Foi unânime, a turma decidiu que gostaria de
fazer flores de girassol bem grandes.
Problematizamos a situação junto aos nossos pequenos, pedindo que
pensassem de que forma poderíamos construir nossos girassóis. Não estou
com isso querendo dizer que não há a necessidade de se ter um planejamento
ou uma organização prévia dos conteúdos a serem propostos. Mas, acredito
que no contexto do processo educativo, o aluno não precisa de respostas
prontas, padronizadas, que limitam a capacidade do pensamento e da criação.
Nossas propostas devem ser orientadas para transcender os obstáculos da
monotonia, favorecendo soluções criativas, interagindo conteúdos, e
promovendo manifestações do raciocínio lógico e do domínio opinativo.
Como as crianças já encontram-se bem integradas ao ambiente escolar
e porque temos considerado a autonomia do pensamento como uma
construção progressiva que vem sendo aprimorada ao longo desses três anos,
a turma não só sugeriu uma forma de construir nosso JARDIM DE
GIRASSOIS, mas sim quatro atividades completamente diferente uma da outra.
Isso, sem contar com a contextualização da Arte com outras disciplinas como:
Português, Matemática, Ciências Naturais e Sociais.
53
Como todas as crianças já estão bem familiarizadas com o uso da
tesoura, a primeira proposta foi a mais complexa, segundo o meu ponto de
vista. Cada criança recortou e colou as pétalas sobrepostas e finalizou o miolo
com colagem de semente de girassol. No caule foi utilizado galhos secos da
enorme amendoeira que temos em um dos nossos parquinhos. Ver anexo
páginas 61 e 62.
Paralelamente, trabalhamos a poesia: O GIRASSOL- Vinícius de Moraes
(A Arca de Noé 1997, p.22)
É impossível “fazer arte”, sem esbarrar e mergulhar em outras temáticas,
em outras áreas do conhecimento. Quando a turma despertou para o JARDIM
DOS GIRASSOIS- sim, pois esse foi o titulo eleito para a construção dos
nossos trabalhos artísticos – já estávamos no final do ano e combinamos
então, caso eles ainda quisessem, retomaríamos o tema em 2014.
E sem sobra de dúvida, esta é uma turma que esbanja criatividade, arte
e pensamento crítico por todos os poros. Ás vezes caio num devaneio,
perplexa com a “maturidade” e sensibilidade que os alunos têm para falar o que
sentem e como percebem o mundo à sua volta. Em uma de nossas RODAS
DE CONVERSA, Matheus, um dos nossos alunos mais novos, que quando
entrou na UMEI quase não falava me perguntou: - Você lembra que a gente ia
continuar fazendo a “Arte do Girassol?
Quase não acreditamos. Como uma criança tão pequena pode ter uma
memória tão ativa a respeito de algo que poderia ter sido esquecido tão
facilmente? Que significados as aulas de arte têm para ela? Como eu enquanto
educadora, devo agir para que essa curiosidade e esse interesse natural não
se perca ao longo da sua trajetória na Educação Infantil? E mais. O que os
professores do Ensino Fundamental vão continuar fazendo para que essa e
outras crianças continuem tendo experiências significativas onde “arte, homem
e mundo” possam caminhar juntos.
Foi só o Matheus falar que o restante da turma começou a relembrar as
outras propostas que havíamos deixado para o ano de 2014.
54
Fizemos uma pintura dos girassóis utilizando papel 40k, guache e pincel.
Cada criança criou a sua tela.
Um outro momento foi observar um pôster: Os Girassois de Van Gogh
(1888) e logo começaram a fazer comparações e associações com a obra
produzidas por cada um da turma.
Muitos desses momentos foram registrados através do relato oral das
crianças e de fotografias além é claro, das próprias produções artísticas.
Com as sementes, fizemos um plantio para assim observar passo a
passo, o processo de germinação e crescimento de uma planta. Não foi
possível dar continuidade à observação do plantio, pois as sementes não
germinaram. Foi aí que para finalizar o projeto sobre os girassois, propomos à
turma pintar uma nova paisagem, fazendo outra releitura do quadro: Os
Girassois de Van Gogh. Desta vez utilizamos tela e tinta para tecido. Depois de
prontas as telas foram expostas nos corredores da escola.
Durante a pintura das telas, a turma conheceu ao mesmo tempo a leitura
do livro Érica e os girassóis de James Mayhew (editora Moderna 2005), o que
contribuiu ainda mais para o enriquecimento da atividade.
Esta é uma pequena mostra de como pode se dar um trabalho com
propostas significativas envolvendo não só a arte como as demais disciplinas
que compõem o Currículo na Educação Infantil.
Dando continuidade às atividades realizadas com pintura, iniciamos uma
nova técnica, utilizando tela de madeira forrada, com tecido, rolinho e tinta para
tecido.
Antes de partir para a pratica foi proposto uma conversa sobre a Arte
abstrata, sobre linhas curvas e retas e sobre figuras geométricas.
Foi utilizado como estratégia alguns livros de Artes, para que as crianças
pudessem observar diferentes técnicas de pintura em tela entre eles: Fazendo
Arte com os mestres 1 e 2 (Ivete Raffa). Fizemos uma visita pelos corredores
da escola, para visualizar trabalhos realizados por outras turmas e em sala,
55
revisitamos nossos murais, para recordar outras técnicas realizadas pelo GREI
5.
Como não dá para relatar aqui toda a riqueza, toda a imaginação e
criatividade que essa turma vivenciou nesta UMEI, já que inúmeros foram os
momentos em que a Arte esteve presente em nosso dia-a-dia, não posso
deixar de mencionar mais uma vez o trabalho com a música- que foi
fundamental para enriquecer as vivências dos nossos “pequenos artistas”.
Em seu livro: Música em Diálogo Ações Interdisciplinares na Educação
Infantil, Ponso (2014.p.15) nos diz que música é uma linguagem capaz de
interagir com todas as áreas do conhecimento como o letramento a literatura, a
psicomotricidade , e muitas outras. Ver anexo da música: TIBUM CHUÁ DE
Glorinha e Renato.
56
CONCLUSÃO
A arte pode contribuir imensamente, para o desenvolvimento da criança,
pois é na sua interação com o meio que se inicia a aprendizagem. Essa arte
tem início quando os sentidos da criança estabelecem o primeiro contato com o
ambiente, e ela reage a essas experiências sensoriais.
Tocar cheira ver, manipular, saborear, escutar, dramatizar, qualquer
estratégia de perceber o meio e interagir nele, é de fato, a base essencial para
a produção de formas artísticas.
A Arte somente não provoca transformações na educação, mas o
processo de criação pode reorientar o sentido de ensinar, assim como o papel
do professor e o valor das práticas culturais pode ser modificado.
No ensino da arte os alunos devem aprender conteúdos relacionados ao
fazer, ao apreciar e ao refletir sobre a arte e sua história. É a chamada
Proposta Triangular, trazida para o Brasil pela professora Ana Mae Barbosa.
É de suma importância que os conteúdos trabalhados em sala de aula
tenham sentido para o aluno, que a identidade cultural estabelecida no e para o
educando esteja conectada com outras culturas. O conhecimento da arte pode
ser articulado com outros conhecimentos, promovendo assim, a
interdisciplinaridade, através do trabalho com os pressupostos da Educação
infantil como afirma o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1998).
A importância de trabalhar Artes na Educação Infantil é possibilitar à
criança expressar suas emoções, seus pensamentos e seus sentimentos.
Sua criatividade é desenvolvida de forma livre, verdadeira e prazerosa,
como também sua sensibilidade, criticidade, ampliando assim, suas habilidades
através da exploração de diversos materiais, e com isso estará trabalhando
também sua identidade e autonomia.
57
Cabe a nós educadores construirmos um ambiente favorável para que
os alunos possam explorar sua função expressiva, revelando todo o potencial
criativo, seja no desenho, na pintura, na modelagem e em muitas outras formas
de linguagem.
Os desafios do professor devem ser de promover e estimular as
potencialidades dos educandos incentivá-los a fazer experiências, explorando
através da sua arte o mundo em que vive. Término este trabalho com o
pensamento do filosofo e pedagogo Rubem Alves (apud, 2004, p.58)
Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas. Para isto existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme.Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.
58
BIBLIOGRAFIA:
ANTUNES, Celso. Educação Infantil: Prioridade Imprescindível. 9ª ed._ Petrópolis:Vozes,2012.
ARNOLD, Dana. Introdução á história da arte. 1ª ed.São Paulo: Ática, 2008, p. 15 – 67.
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte. 8ª ed. - São Paulo: Perspectiva, 2010, p.1 – 45.
BARBIERI, Stela. Interações: onde está a arte na infância? São Paulo: Blucher, 2012. - (Coleção Interações).
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental
______. Referencial curricular nacional para a educação infantil: Conhecimento de mundo. V.3 - Brasília: MEC/SEF, 1998.
CADERNO DE PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO Á VIDA. Ministério do Meio Ambiente – MMA – Brasília, 2000.
EISNER, Elliot. Estrutura e Magica no Ensino da Arte. In: BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. (org.). ARTE – EDUCAÇÃO: leitura no subsolo. 3ª ed. – São Paulo: Cortez, 2001, p 79 – 93.
FERREIRA, Aurora. A criança e a Arte: o dia a dia na sala de aula. 4ª ed.
FONTOURA, Helena Amaral da. PIERRO, Gianine Maria de Souza. CHAVES, Iduína Mont’ Alverne Braun. Didática: do ofício e da arte de ensinar. – Niterói: Intertexto, 2011. P 27- 40.
GOMES, Denise Barata. Caminhando com arte na pré – escola. In: GARCIA, Regina Leite (org.). Revisitando a pré- escola. 5ª ed. – São Paulo, Cortez, 2001.
IAVELBERG, Rosa. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores – Porto Alegre: Artmed, 2003.
MARANHÃO, Diva Nereida Marques Machado. Ensinar Brincando: a aprendizagem pode ser uma grande brincadeira – Rio de Janeiro: Wak, 2001, p.57 – 64.
59
MORAES, Vinícius de. A Arca de Noé: Poemas infantis . São Paulo: Companhia da Letras, 1991.
MAYHEW,James.Érica e os girassóis.São Paulo:Moderna,2001.
OSTETTO, Luciana E. Leite, Maria Isabel. Arte, Infância e Formação de Professoras:Autoria e Transgressão.2ª ed ._Campinas:Papirus,2004.
PERROTTI, Edmir. A Criança e a Produção Cultural. In: ZILBERMAN, Regina (org.). A Produção Cultural para a Criança. 3ª ed. – Porto Alegre, Mercado Alberto, 1986.
POUGY, Eliana Gomes Pereira. Criança e arte. 2ª ed./2ª imp. – São Paulo: Ática, 2007.
ROJAS, Angelina Accetta. Arte, Educação e Sensibilidade: A Abertura para um Novo Olhar. In: AREZZO, Adriana Pires. LOBO, Ana Pula Santos Lima Lanter. CABRAL, Simone Garrido Esteves (organizadoras). Trajetórias e saberes na formação de professores: arte, infância e ludicidade – Niterói: Intertexto, 2012.
REVISTAS
MARAGON, Cristiane. Quando a Natureza é Tema e Matéria – prima para fazer Arte. Pátio – Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, Ano VIII – Nº 25. Outubro/Dezembro. 2010.
LOPES, Luiz Roberto. Algumas observações sobre a Arte. Presença Pedagógica. Belo Horizonte/: Dimensão, V.5 – Nº 28. Julho/Agosto. 1999.
AGUIAR, Alcione Gomes. Arte com os sentidos. Presença pedagógica. Belo horizonte: Dimensão, V.18 – Nº 106.
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Educação Infantil hoje: É preciso definir ações integradas para as práticas de cuidar e educar. Revista do Professor. Rio Pardo: CPOEC, Ano XVII – Nº 68. Outubro/Dezembro. 2001.
CAMARGO, Fátima. Criança e educação: uma trajetória cultural e institucional. É por intermédio do outro que a criança aprenderá a interpretar o mundo físico, social e cultural no qual se inscreve. Revista Criança do Professor de Educação Infantil. Ministério da Educação – Coordenação Geral de Educação Infantil – DPE/SEB. Brasília. Nº 39. Abril. 2005.
CASTILHO, Maria Terezinha Alves. Arte está em toda parte. Revista Criança do Professor de Educação Infantil. Ministério da Educação – Coordenação Geral de Educação Infantil – DPE/SEB. Brasília. Nº 43. Agosto. 2007.
SOUZA, Juliana Christina Rezende. MATIELLO, Silvana de Souza. Viverarte: criança toma consciência de si mesma. Como vivenciar o mundo por meio da arte e do corpo. Revista do Professor. Rio Pardo: CPOEC.
60
ANEXOS
Registros das vivências do GREI 5 e a sua interação com as artes
plásticas e as demais formas de linguagem
Figura 2 – Vendo o espinho da árvore.
Figura 1 - O pé de acerola
61
Figura 3 - Receita do suco de acerola
Figura 4 - Interpretando a música através do desenho
62
Figura 6 - Confecção do girassol (2)
Figura 5 - Confecção do girassol (1)
63
Figura 8 - Confecção da tela Os girassóis de Van Gogh. (1)
Figura 7 - O Jardim dos Girassóis
64
Figura 9 - Confecção da tela Os girassóis de Van Gogh. (2)
Figura 10 - Confecção da tela Os girassóis de Van Gogh. (3)
65
Figura 11 - Arte abstrata (1)
Figura 12 - Arte abstrata (2)
66
Figura 13 - Arte abstrata (3)
Figura 14 - Arte abstrata (4)
67
Figura 15 - Música Tibum Chuá (1)
Figura 16 - Música Tibum Chuá (2)
68
Figura 17 - Música Tibum Chuá (3)
Figura 18 - Música Tibum Chuá (4)
69
Figura 19 - O brincar (1)
Figura 20 - O brincar (2)
70
Figura 21 - O brincar (3)
Figura 22 - O brincar (4)
71