DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · 2013-01-27 · livros, a citar: Mentes inquietas...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DAS BASES
NEUROCIENTÍFICAS E O ESTUDANTE COM
COMPORTAMENTO DE TDAH NO AMBIENTE ESCOLAR
Por: Flávia Alves Soares
Orientadora
Prof.ª Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DAS BASES
NEUROCIENTÍFICAS E O ESTUDANTE COM
COMPORTAMENTO DE TDAH NO AMBIENTE ESCOLAR
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção
do grau de especialista em Neurociência
Pedagógica.
Por: . Flávia Alves Soares
3
AGRADECIMENTOS
... A todos aqueles que
de alguma forma fizeram parte
dessa escrita, seja com o silêncio,
seja com as palavras, por vezes
ditas sem perceber.
4
DEDICATÓRIA
... Dedica-se esta monografia a
minha família na pequena cidade de
Alto Alegre, interior de São Paulo,
base de tudo, e a meu namorado
Daniel, que se fez marido quando
soube compreender minhas
necessidades, me apoiando com
sua inteligência e seu amor.
5
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade apresentar e discutir as
intervenções e estratégias de apoio baseadas nas escolas, para
promover a aprendizagem e o comportamento pró-social dos estudantes
diagnosticados com TDAH, visto que este é frequentemente encontrado
em escolas.
Neste trabalho será explicado o que é o TDAH e as consequências
trazidas para as crianças que tem esse transtorno. Como a escola pode
lidar com esse estudante, como este pode ser orientado e o que pode ser
feito para melhoria de suas vidas. As causas neuroquímicas dessa
doença visto que ela é um transtorno comportamental que pode ser de
base neurobiológica, hereditária e em menor grau causada pelo meio
ambiente.
Com base em estudos feitos por especialistas dessa área a
pesquisa mostrará como pode se tornar mais fácil trabalhar com esses
estudantes e torná-los mais felizes tanto no ambiente escolar como
também em sua vida social e afetiva.
A Neurociência vem dando uma grande contribuição a esses
estudos, mostrando que se trata de uma doença relacionada ao
desenvolvimento do sistema nervoso central, com grande componente
genético, porém podendo sofrer modulações por fatores ambientais.
A visão sobre o estudo das Neurociências e o conhecimento do
funcionamento do cérebro auxiliará os profissionais da educação a
lidarem com as dificuldades de aprendizagem, possibilitando usar
técnicas de acordo com as áreas cerebrais afetadas.
Palavra-chave: Aprendizagem; Escola; Neurociência; TDAH.
6
METODOLOGIA
Para a realização da pesquisa, foi tido como método, o
levantamento bibliográfico acerca do assunto, com artigos científicos
presentes em diversos meios de comunicação, bem como a utilização de
livros, a citar: Mentes inquietas de Ana Beatriz Barbosa Silva, TDAH nas
escolas de George J. DuPaul e Gary Stoner, Transtornos da
Aprendizagem de Newra Tellechea Rotta, dentre outros.
Afim de uma melhor compreensão, também fora realizada a
observação de crianças com comportamentos de TDAH na escola
Agostinho da Silveira Mattos.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I – O que é TDAH? 9
CAPÍTULO II – Bases conceituais e neurobiológicas do TDAH 19
CAPÍTULO III – O impacto do TDAH no desempenho escolar 33
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
BIBLIOGRAFIA CITADA 47
ÍNDICE 49
8
INTRODUÇÃO
Em menos de 10 anos o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) deixou de ser tratado apenas por pais e
profissionais de saúde mental e tornou-se um assunto a ser discutido por
todos, seja por sua grande exposição na mídia ou simplesmente, pela
necessidade de que todos ao redor participassem do entendimento de
forma ativa na vida do TDAH.
Sintomas e causas começaram a ser esclarecidos a partir do final
dos anos 80, e as bases genéticas passaram a ser consideradas. A visão
atual é surpreendentemente diferente da de alguns anos atrás. Sabe-se
hoje que o TDAH não é um transtorno de atenção isolado, desvinculado
de outros circuitos, muito pelo contrário, está presente, em consequência
de uma falha de desenvolvimento no circuito cerebral responsável pela
inibição e pelo autocontrole, o que redunda em prejuízos de outras
funções cerebrais cruciais para manter a atenção, entre elas, a
capacidade de adiar recompensas imediatas para ganhos posteriores
maiores.
Todavia, embora o entendimento acerca do TDAH tenha avançado
nas últimas décadas, crianças com este transtorno ainda encontram
dificuldades significativas para o sucesso escolar. Para corrigir essa
situação se faz necessário um avanço ainda maior. Todos os educadores
devem possuir, no mínimo, competências básicas para identificar essas
crianças e criar programas educacionais eficientes para atender às suas
necessidades e para ajudá-las a se tornarem cidadãos bem-sucedidos e
produtivos.
9
CAPÍTULO I
O QUE É TDAH?
...a inquietude é maior quando
não se sabe ao certo o motivo pelo qual as coisas acontecem.
Segundo Phelan (2005), o Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem recebido muitos nomes ao longo
dos anos. Doença de Still e Distúrbio de Impulsividade foram tentativas
iniciais de descrever crianças excessivamente ativas e impulsivas. Mais
tarde, os termos Lesão Mínima do Cérebro e Disfunção Cerebral Mínima
assustaram para valer muitos pais. A esses se seguiu a expressão
Reação Hipercinética da Infância, que se concentrava no sintoma mais
comum do problema, o excesso de atividade.
Apenas em 1980, o nome Transtorno de Déficit de Atenção
(TDA) surgiu no assim chamado DSM-III (sigla em inglês para o Manual
Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, Terceira Edição). Essa
nova definição deixava claro que o ponto central do problema era a
dificuldade de se concentrar e manter a atenção.
Segundo o DSM-III, havia dois tipos de TDA: o TDA com
hiperatividade e o TDA sem hiperatividade. Ambos envolviam a
dificuldade de atenção, mas as crianças que se enquadravam no TDA
eram excessivamente ativas, impulsivas e comportavam-se muitas vezes
de maneira destrutiva, sendo em sua maioria do sexo masculino, já as
sem hiperatividade, embora também apresentassem problemas para se
concentrar e manter a atenção, normalmente eram do sexo feminino,
meigas, apresentando poucas evidências.
10
Apenas em 1987, o DSM-III foi revisto e aderiu-se a expressão
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Por meio
dessa mudança, reconhecia-se o fato de tanto a desatenção quanto à
inquietação estavam frequentemente envolvidas no distúrbio. Como
afirma Phelan (2005), essa descrição, no entanto eliminou o subtipo TDA
sem hiperatividade, fazendo em seu lugar, referencia a um “Tipo
Diferenciado”. Todavia, esse problema foi remediado no DSM-IV, onde o
TDAH se manteve e o TDA sem hiperatividade reapareceu como “Tipo
Predominantemente Desatento”.
Atualmente, segundo Muszkat (2011), os critérios diagnósticos
do TDAH envolvem a delimitação de uma tríade sintomática de
desatenção, hiperatividade e impulsividade. Assim, caracteriza-se pela
composição dos três principais sinais cardinais como: falta de atenção,
inquietude, dificuldade de inibir emoções e comportamentos (controle
inibitório); traduzidos por um aumento de comportamentos impulsivos.
Embora grande parte das crianças apresente sintomas tanto de
desatenção quanto de hiperatividade-impulsividade, existem casos nos
quais há predominância de um ou de outro padrão.
Ainda de acordo com Muszkat (2011), o Transtorno do Déficit
de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um dos principais transtornos do
desenvolvimento infantil, onde segundo estudos epidemiológicos atuais,
assume uma estimativa média em torno de 3% a 6% das crianças em
idade escolar. Essa alta prevalência tem um consequente impacto em
todas as esferas do neurodesenvolvimento e nas interações psicossociais
da criança, incluindo a sua rede familiar, a escola, amigos, bem como
repercute na formação da identidade relacionada ao sentido de
competência e autoestima.
Sabe-se que em 10 a 60% dos casos de TDAH os sintomas
podem persistir na idade adulta. Portanto, se for considerado a
prevalência no adulto é possível encontrar de 0,3 a 2,5%. O risco na
11
criança de apresentar mau rendimento escolar e dificuldades de
relacionamento devido ao TDAH pode se transformar em delinquência no
jovem, e em risco de acidentes de automóvel, abuso de álcool ou drogas,
além de dificuldades profissionais, no adulto.
Com o avanço não apenas tecnológico, mas conceitual das
neurociências hoje se encontra disponível melhores recursos para
conhecer as múltiplas variáveis, sejam estruturais (como as decorrentes
da disfunção de áreas cerebrais, de sistemas de neurotransmissores) ou
as variáveis fluídas (como as relacionadas à cultura, ao ambiente, ao
impacto de estressores) no neurodesenvolvimento.
O conceito atual considera que a base do TDAH é de natureza
neurobiológica, genética e neuroquímica, mas que a expressão dos
padrões herdados é também modulada pelo ambiente. Sabe-se hoje que
o próprio ambiente modifica a expressão de padrões endógenos
(endofenótipos), levando a grande heterogeneidade de apresentação
clínica e a diferentes influências de diferentes ambientes e estressores.
Daí a variabilidade dos sintomas e a natureza multidimensional do TDAH.
Desta forma, é inevitável um olhar interdisciplinar que inclua as
influências e variáveis ambientais, educacionais, familiares e culturais na
expressão e na conceituação do transtorno.
A verificação de fatores de risco é fundamental nos estudos
epidemiológicos sobre o TDAH. Variáveis sociodemográficas como
números de irmãos, idade de pais e irmãos, nível cultural familiar,
transtornos psiquiátricos na família, conduta agressiva dos pais,
transtorno mental materno e fatores de risco pré e perinatais são
importantes. Para Muszkat (2011), a associação positiva entre algumas
adversidades psicossociais e o TDAH é descrita, incluindo discórdia entre
os conjugues, desvantagem social, família muito numerosa, criminalidade
dos pais e colocação em lar adotivo.
12
A procura pela associação entre o TDAH e complicações na
gestação ou no parto tem levado a conclusões divergentes, assim como
afirma Olivier (2007), mas tende a suportar a ideia de que tais
complicações (toxemia, eclampsia, pós-maturidade fetal, duração do
parto, estresse fetal, baixo peso ao nascer, hemorragia pré-parto, má
saúde materna) predisponham ao transtorno. Foi observada também uma
associação significativa entre exposição a fumo e álcool durante a
gravidez e a presença de TDAH nos filhos.
Segundo Muszkat (2011), etiologias múltiplas que se associam
secundariamente a danos cerebrais perinatais no lobo frontal podem
afetar processos de atenção, motivação e planejamento, relacionando-se
indiretamente com o transtorno. É importante ressaltar que a maioria dos
estudos sobre possíveis agentes ambientais apenas evidenciou uma
associação desses fatores com o TDAH, não sendo possível estabelecer
uma relação clara de causa e efeito entre eles. O real papel dos fatores
ambientais não está bem caracterizado, mas sem dúvida existe algo mais
no TDAH além de etiologia genética.
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser fundamentado no quadro clínico
comportamental, uma vez que não existe um marcador biológico definido
para todos os casos de TDAH. Inicia com uma história cujo objetivo é
identificar fatores de risco. A queixa que motivou a consulta constitui a
primeira preocupação, se foi motivada predominantemente por
desatenção, se predomina hiperatividade ou se ambas estão presentes
com a mesma intensidade. Verificar com a família desde quando e em
que situações os sintomas ocorrem. Considerando que é necessário que
13
os sintomas ocorram em diversos ambientes e que se manifestem com
maior intensidade em momentos de estresse.
A fim de verificar a presença de alguma causa potencial de
lesão cerebral, como prematuridade, hemorragia intraventricular,
encefalopatia hipóxico-isquêmica, hidrocefalia e traumatismo craniano, é
necessário investigar o histórico clinico do paciente, bem como buscar
identificar possíveis síndromes, que podem cursar com comportamento
semelhante, como síndrome de Down, síndrome do X frágil, síndrome de
Williams ou síndrome alcoólica fetal.
Em relação às habilidades cognitivas, atraso na linguagem e
dificuldade de aprendizagem também devem ser investigadas. A
observação de cadernos e o resultado de avaliações escolares auxiliam
no diagnóstico, revelando desatenção e impulsividade. A história familiar
é importante, uma vez que o TDAH é uma patologia com base genética,
senão totalmente esclarecida, pelo menos com muitos aspectos já
comprovados.
Diagnosticar o TDAH é uma tarefa complexa e requer
experiência e maturidade. Uma vez que não existem exames
complementares que por si só diagnostiquem tal transtorno, seu
diagnóstico apoia-se na combinação cuidadosa da observação dos dados
da história clínica e das repercussões dos sintomas comportamentais na
rede relacional da criança.
Após a anamnese, é importante a observação dos critérios do
DSM-IV, onde vários critérios devem ser cumpridos para que um
indivíduo se qualifique como portador de TDAH. Basicamente, a pessoa
precisa apresentar um padrão de desatenção e/ou hiperatividade –
impulsividade que se encaixe nos critérios seguintes:
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1. Persistência: o comportamento tem de persistir por pelo menos
seis meses.
2. Início precoce: os sintomas tem de estar presentes (não
necessariamente diagnosticados) antes da idade de 7 anos.
3. Frequência e gravidade: a desatenção e/ou a hiperatividade –
impulsividade devem ter um caráter extraordinário quando
comparadas às de pessoas da mesma idade.
4. Claras evidências de deficiência: o padrão comportamental do
TDAH precisa causar uma interferência significativa na
capacidade funcional da pessoa.
5. Deficiência em um ou mais cenários: os sintomas causam
problemas sérios em contextos múltiplos, inclusive na escola
(ou no trabalho, no caso de adultos), em casa e em situações
sociais.
O DSM-IV fornece duas listas, cada uma com nove sintomas. A
primeira lista inclui manifestações de Desatenção:
a. Não consegue prestar muita atenção em detalhes ou comete
erros por descuido;
b. Tem dificuldade em manter a atenção no trabalho ou no lazer;
c. Não ouve quando abordado diretamente;
d. Não consegue terminar as tarefas escolares, os afazeres
domésticos ou os deveres do trabalho;
e. Tem dificuldade em organizar atividades;
15
f. Evita tarefas que exijam um esforço mental prolongado;
g. Perde coisas;
h. Distrai-se facilmente;
i. É esquecido.
A segunda lista também inclui nove sintomas. Os primeiros seis
são sinais de Hiperatividade e os últimos três são sinais de Impulsividade:
Hiperatividade
a. Tamborila com os dedos ou se contorce na cadeira;
b. Sai do lugar quando se espera que permaneça sentado;
c. Corre de um lado para o outro ou escala coisas em situações
em que tais atividades são inadequadas;
d. Tem dificuldade de brincar em silêncio;
e. Age como se fosse “movido a pilha”;
f. Fala em excesso;
Impulsividade
g. Responde antes que a pergunta seja completada;
h. Tem dificuldade de esperar sua vez;
i. Interrompe os outros ou se intromete.
16
O transtorno se torna claro quando os sintomas principais –
desatenção, hiperatividade e impulsividade – acontecem em uma
intensidade acima do esperado para a fase do desenvolvimento
neuropsicomotor e cognitivo da criança.
Segundo o DSM-IV, os sintomas devem ocorrer em diferentes
ambientes, como, por exemplo, em casa e na escola, como prejuízo no
desempenho acadêmico, bem como no relacionamento interpessoal e
nas atividades sociais. De acordo com os critérios acima demonstrados.
Para DuPaul (2007), embora tenham sido desenvolvidos no
contexto de um modelo médico para problemas de comportamentais
infantis, os critérios de diagnóstico de TDAH são úteis em cenários
educacionais por várias razões. Como por exemplo, a lista de sintomas,
que ao descrever um conjunto de comportamentos problemáticos que co-
variam de modo confiável em algumas crianças e partindo de seu
diagnóstico é possível prever o risco de dificuldades comportamentais
concomitantes ou futura.
Subtipos de TDAH
O TDAH atualmente é definido como uma síndrome
neurocomportamental com sintomas classificados em três categorias:
desatenção, hiperatividade e impulsividade. Portanto, o TDAH se
caracteriza por um nível inadequado de atenção em relação ao esperado
para a idade, o que leva a distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e
comportamentais.
No DSM-IV são apresentados três subtipos de TDAH, uma vez
que o perfil sintomático varia entre indivíduos, as crianças diagnosticadas
com TDAH formam um grupo heterogêneo, podendo resultar em um
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diagnóstico de TDAH predominantemente desatento, TDAH hiperativo-
impulsivo ou TDAH do tipo combinado. Uma breve visão geral de cada
um dos subtipos é oferecida a seguir:
TDAH predominantemente desatento
As crianças exibem problemas significativos de desatenção na
ausência de impulsividade e hiperatividade perceptíveis. Segundo DuPaul
(2007), existem evidências iniciais de que crianças com TDAH com
predomínio da desatenção tem maiores problemas de recuperação de
memória e velocidade perceptual motora que seus colegas impulsivos-
hiperativos. Além disso, essas crianças são descritas por pais e
professores como mais “perdidas” em termos cognitivos, sonhadoras e
socialmente retraídas em comparação com crianças do tipo combinado.
Tem dificuldade em prestar atenção a detalhes e, por esse
motivo, frequentemente comete erros em atividades escolares, não
consegue acompanhar instruções longas e não permanece atento até o
final das tarefas. Demonstra dificuldade na organização, no planejamento
e em realizar tarefas que envolvam esforço mental sustentado. Perde
com facilidade seus pertences e se distrai facilmente com estímulos do
ambiente.
TDAH predominantemente hiperativo-impulsivo
A hiperatividade é uma característica que chama muito a
atenção porque a atividade motora se apresenta exageradamente
intensa. As crianças são incapazes de se manter poucos instantes em
18
situação de controle do próprio corpo, exibindo uma atividade motora
inútil que parasita o ato motor voluntário. Está constantemente a agitar
pés ou mãos ou se mexendo na cadeira, não consegue permanecer
sentado, corre em demasia, fala muito, não consegue envolver-se em
atividades de lazer de modo silenciosos, parece estar “a mil por hora”.
Os sintomas da impulsividade podem se manifestar por
dificuldade em aguardar sua vez, responde a pergunta antes de seu
término, intromete-se na conversa dos outros. É uma criança instável, se
aborrece facilmente, é sempre impaciente, descontente com as atividades
buscando mudá-las com frequência, por vezes sente-se frustrado e tendo
reações catastróficas acaba por interferir no seu bom relacionamento com
os colegas.
A hiperatividade pode ser um problema, uma vez que perturba
o ambiente ao redor. A busca constante por estimulação, impulsividade e
dificuldade em pensar antes de agir pode trazer consequências, tanto
para crianças quanto para adultos.
TDAH combinado
As crianças apresentam simultaneamente ambos os
comportamentos, de desatenção, agitação, hiperatividade e
impulsividade.
19
CAPÍTULO II
BASES CONCEITUAIS E NEUROBIOLÓGICAS DO
TDAH
Para entender com mais profundidade a neurobiologia do
TDAH, torna-se importante compreender os aspectos conceituais da
atenção, como será visto a seguir.
Para o filósofo e psicólogo William James (1890): “Todo mundo
sabe o que é atenção. É a tomada de posse pela mente, de forma clara e
vívida, de um entre vários objetos do mundo que impõe certa ordem ao
fluxo ininterrupto e simultâneo de pensamento.” Neste contexto, a
atenção situa-se em posição privilegiada no acesso à cognição,
caracterizada nas quatro dimensões principais: funções receptivas, que
envolvem as habilidades para selecionar, adquirir, classificar e integrar a
informação; memória e aprendizagem, que integram as habilidades de
armazenamento e recuperação da informação; pensamento, que abrange
o sistema complexo de organização mental e reorganização da
informação; e funções expressivas e linguagem, meio pelo qual a
informação processada pelo cérebro é comunicada ou veiculada
enquanto ato em si.
Para Gazzaniga (2006), Ininterruptamente são recebidos sinais
sensoriais oriundos tanto do exterior como do interior do organismo. A
quantidade de informação que chega ao cérebro excede
consideravelmente a capacidade de processamento, sendo necessário
que um mecanismo estável que regule, focalize o organismo,
selecionando e organizando a percepção e permitindo que um estímulo
possa dar lugar a um processo neural eletroquímico adaptado. Sendo
este mecanismo neuronal a atenção.
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Estando inserida em um contínuo biológico, a atenção dispõe
diferentes graus de excitabilidade e de receptividade à informação
sensorial. Engloba toda atividade cognitiva organizada que possui algum
grau de direção, dando um caráter mais focalizado aos processos
cognitivos e psíquicos. Assim, a atenção atua como um controlador da
ação e da percepção e refere-se aos vários processos neurais
relacionados ao modo pelo qual o organismo se torna receptivo aos
estímulos e a partir do qual ele inicia o processamento de excitações.
A atenção possui um conjunto de ativação que vai desde uma
reação generalizada de despertar, da orientação sensorial em resposta
ao estímulo até a busca ativa do estímulo programada por ação
espontânea. Para Muszkat (2011), separando os componentes em
grandes sistemas funcionais, é possível encontrar quatro mecanismos
básicos fundamentais:
1. excitação - consiste na capacidade de aumentar o estado
de alerta e está relacionado às estruturas sobcorticais do
tronco encefálico (formação reticular) em estrita conexão
com os órgãos sensoriais (audição, olfato, visão, paladar e
tato) e com o sistema límbico, por meio da modulação das
emoções. De forma funcional o processo de catalogação
dos estímulos se dá pela participação ativa do hipocampo,
para que sejam processadas em áreas como o lobo
temporal e frontal.
2. orientação motora – consiste em um processo involuntário
que dispõe o indivíduo a desligar-se ou prender-se a um
determinado estímulo continuamente, onde o desligamento
de estímulos irrelevantes relaciona-se ao córtex parietal,
21
enquanto os gânglios da base relaciona-se às funções de
conexão de novos estímulos.
3. detecção de novidade e recompensa – o sistema de
detecção de novidade acessa estímulos não familiares
enquanto o sistema de recompensa relaciona sensações de
prazer com a atribuição emocional às informações. As
estruturas localizadas internamente ao sistema límbico
estão intimamente relacionadas à detecção de novidade,
enquanto uma pequena área localizada na profundidade do
encéfalo, conhecida como núcleo acumbente, parece ser o
sítio principal da vinculação das emoções prazerosas. Com
alta concentração de dopamina, serotonina e endorfinas, o
neurotransmissor envolvido nas sensações de satisfação,
recompensa e motivação, é gerado uma necessidade
exagerada de novidade e risco, visto que esse aumento
súbito na neurotransmissão dopaminérgica causa
desequilíbrio e desinibição do desejo. Encontrando-se
nesse grupo, indivíduos com vários transtornos do
neurodesenvolvimento como TDAH.
4. orientação executiva – consiste no planejamento e
autorregulação, dispondo nossa ação em relação aos
objetivos a curto e longo prazo. São áreas anteriores do
cérebro, áreas pré-frontais e órbito-frontais que
desempenham um importante papel nesta função, estando
elas intimamente ligadas com áreas sobcorticais e com os
gânglios da base, que parecem modular a filtragem dos
estímulos sensoriais para o cérebro. Todavia, uma lesão
nesta área leva uma perda de excitação, graus variados de
22
impulsividade e uma atração por estímulos externos.
Relacionadas à organização executiva está à região do giro
do cíngulo anterior, caracterizado por sua capacidade de
modular seus próprios níveis de dopamina, regulando,
seguidamente, as redes neurais a ele conectados, ou seja,
determinado um sistema complexo no qual excitação,
emoção e motivação estão repetidamente ligadas. Outra
área ligada à motivação é a amígdala cerebral, que define a
informação antes mesmo de o estímulo chegar aos lobos
frontais, dando uma atribuição negativa ou positiva pré-
consciente e preparando o organismo para reações de
fuga, pânico ou relaxamento.
A atenção, não apenas resultado de apenas uma área cerebral, é
resultante da relação entre redes neurais corticais e sobcorticais. A
formação reticular apresenta as diferentes formas e graus de vigília e
alerta. Os componentes do córtex límbico inibem os estímulos
irrelevantes, enquanto as áreas frontais relacionam-se tanto com as
formas superiores da atenção, quanto na conservação de comportamento
dirigido a metas.
Modalidades da atenção
Segundo Maia (2011), deve-se considerar que a atenção é uma
rede, já que várias modalidades estão envolvidas nesse processo. A
seguir, serão apresentadas as categorias dessa rede para uma melhor
compreensão. A atenção voluntária, que se encontra dividida em atenção
seletiva, dividida e sustentada e a atenção involuntária.
23
A atenção voluntária consiste na organização social da atenção
mediada pela linguagem e depende da programação intencional e
motivacional, que são à base do comportamento humano adaptativo e
organizado.
Dentre suas três partes, há a atenção seletiva, trata-se daquela em
que estímulos sensoriais do meio externo, traços de memória e
pensamentos ininterruptos são ignorados e um foco é mantido, a atenção
se direciona para apenas um ponto do ambiente. A consciência é
orientada a perceber um único estímulo, de forma que se consiga subtrair
algum significado. Envolve a habilidade de atender potencialmente a um
contexto e simultaneamente ignorar detalhes desnecessários.
A atenção dividida compreende a capacidade de alternar fontes de
informações simultaneamente, alternando estímulos de forma igualitária,
como por exemplo, a competição entre processos sensoriais diversos
(audição e visão) e processamentos automáticos de capacidade limitada
como dirigir e ler um livro. Para que haja eficácia no desempenho nesta
forma de atenção é fundamental um processamento eficiente, associado
à habilidade e treino. Um cantor experiente que também dança em seus
shows consegue controlar facilmente processos motores, diferente de um
iniciante.
A atenção sustentada, também conhecida como concentração,
refere-se a capacidade de direcionar e manter o foco durante um longo
tempo. Sua capacidade varia de acordo com a faixa etária, o treino e as
características individuais e culturais.
Acerca da atenção involuntária é possível afirmar se tratar de uma
mudança de foco não programada por estímulo externo que pode estar
em conflito com a expectativa e o contexto, podendo ser desencadeada
quando a informação sensorial é intensa, complexa, surpreendente,
incongruente ou inédita. Podem ser resultado de saturação e estimulação
externa como por mudanças da homeostase do organismo, o que pode
24
dar lugar às alterações da atenção com retorno ao estado basal, com
mudanças substanciais de foco, num processo instável e fragmentado, o
que ocorre, por exemplo, em crianças com extrema excitabilidade nos
casos graves de TDAH.
Todos os elementos da atenção ocorrem conjuntamente e para
que haja uma compreensão significativa o estudante deve, portanto, estar
frente a todos esses elementos, os desempenhando igualmente, sem que
fatores opositores possam interferir. A saber, interesse, números de
estímulos, aspectos afetivos, nível de consciência, integridade de vias
sensoriais, das demais funções cognitivas, etc.
As dificuldades de atenção seletiva, sustentada, de organização,
inibição e integração podem ser sintomas do TDAH, bem como afirma
Muszkat (2011), isto é, a criança é desatenta, com frequência desvia a
atenção da tarefa em curso antes de concluí-la e é excessivamente ativa.
Há evidências claras de que crianças com TDAH acham mais difícil
concentrar-se em uma tarefa e inibir pensamentos não relacionados a
elas. Elas têm mais trabalho para retornar a atenção ao que estavam
fazendo quando sua atenção é desviada.
Além da atenção, déficits em funções executivas – incluindo
memória de trabalho, internalização da fala, controle das emoções e
análise e síntese do comportamento – podem estar presentes no quadro
do TDAH, como será visto a seguir.
Funções executivas
Embora os estudos indiquem de forma convincente alterações em
estruturas cerebrais produzidas por genes defeituosos em portadores de
TDAH, o autocontrole ou a capacidade de inibir ou adiar respostas iniciais
25
motoras (talvez emocionais) a um evento, se faz essencial para o
desempenho de qualquer tarefa.
São vários os desafios presentes no dia a dia, nosso cérebro
precisa estar sempre atendo aos imprevistos para que as habilidades das
funções cerebrais sejam ativadas. Por exemplo: descobrir o melhor
trajeto, analisar e realizar uma questão matemática.
Essas funções, chamadas de executivas, são constituídas por
raciocínio, lógica, estratégias e tomada de decisões, bem como mantém
ações permanentes de controle mental. Auxiliando na manutenção de
iniciativa, estabelecendo os objetivos, monitorizando as tarefas por meio
do autocontrole, repensando as estratégias originais, as funções
executivas tem um papel central na organização e no planejamento de
todas as nossas ações.
Sendo o cérebro humano o que há de mais complexo dentre os
sistemas naturais, assim como qualquer orquestra, são várias as áreas,
responsáveis por diferentes funções, que necessitam de um “maestro”, a
“orquestrar” o funcionamento de diversas atividades mentais otimizando
seu desempenho.
As funções executivas, segundo Rotta (2006), organizam as
capacidades perceptivas, mnésticas e práxicas dentro de um contexto,
com a finalidade de:
• eleger um objetivo específico;
• decidir o inicio ou não desta proposta;
• planejar as etapas de todo o processo;
• monitorar cada uma das etapas, comparando com o modelo
proposto;
26
• modificar o modelo, se necessário;
• dar sequencia ou interromper a proposta inicial;
• avaliar o resultado final em relação ao objetivo inicialmente
determinado.
O aprendizado necessita da participação orquestrada de uma série
de funções cognitivas, sendo elas organizadas pelas funções executivas,
permitindo traçar, realizar, monitorar e modificar objetivos e, portanto,
determinando a capacidade de aprendizagem. Mesmo não havendo
relação entre o nível intelectual e a capacidade de aprendizagem, é
possível, bem como se vê em crianças com TDAH, que aquelas que
apresentem problemas com a função executiva, tenham sim, baixo
rendimento escolar.
Se inicialmente as funções executivas podem ser externalizadas,
podendo a criança, falar alto ou sozinha quando realiza uma atividade,
com o amadurecimento elas devem ser internalizadas, de modo que os
pensamentos sejam algo privativo. Em contraste, meninos e meninas
com TDAH perecem não contar com o controle necessário para inibir o
desempenho dessas atividades.
Para Barkley (2002), as funções executivas podem ser agrupadas
em quatro atividades mentais, a serem esclarecidas logo a baixo:
A primeira refere-se ao funcionamento da memória de trabalho,
fundamental para um desempenho eficiente das funções executivas.
Considerando que para atingir um determinado objetivo, as informações
sejam conhecidas e conservadas mnesticamente, ela é composta por um
conjunto de sistemas cognitivos que funciona como uma área de trabalho,
onde as representações mentais das informações sensoriais e os eventos
27
externos já inexistentes se mantenham para a realização das tarefas
desejadas.
A memória de trabalho se faz necessária para a realização do que
foi proposto, sendo fundamental que haja critérios pré-estabelecidos,
como, por exemplo, o bom entendimento da leitura de um texto para
interpretação, onde é preciso recorrer a informações anteriores, a fim de
realizar mentalmente, de forma rica e proveitosa, o que está redigido. Ela
fornece meios para a função retrospectiva, capacidade de premeditação,
preparação e habilidade para imitar o comportamento dos outros –
capacidades prejudicadas nas pessoas com TDAH.
Muszkat (2011) acredita que o comprometimento da memória de
trabalho em crianças com TDAH pode ser explicado pelo fato de que as
vias que modulam a memória operacional são dopaminérgicas, que são
as mais envolvidas na fisiopatologia do transtorno. O comprometimento
do sistema visoespacial causaria mais a disfunção atencional que a
hiperatividade, enquanto o componente fonológico envolveria a regulação
da linguagem, as dificuldades de aprendizagem bastante frequentes em
crianças com TDAH.
A segunda função executiva é a da internalização da fala. Se
inicialmente a criança, como já dito, necessita se pronunciar oralmente
sobre seus pensamentos, até os 10 anos a fala é internalizada,
permitindo a reflexão acerca de si mesmo e o autoquestionamento como
forma de resolução de problemas e construa a base para compreender
“as regras para seguir regras”. Processo que deve ser silencioso e
rapidamente, sem comprometer o desempenho das atividades. Todavia,
em crianças com TDAH, esta internalização da fala pode estar
comprometida, visto que apresentam dificuldades para estabelecer regras
próprias e de convivência com os outros, bem como, para preparar-se
para aprendizados mais complexos.
28
A terceira das funções executivas consiste no controle das
emoções, motivação e estado de estimulação. Esse controle ajuda as
pessoas a alcançar o objetivo permitindo que adiem ou alterem reações
emocionais a um evento determinado. Os que controlam suas paixões
imediatas podem se comportar de maneira mais aceitável socialmente. A
internalização se dá em decorrência do desenvolvimento e da
representação da memória verbal e não-verbal, estabelecendo-se a
condição privada do indivíduo poder motivar-se na busca por seus futuros
objetivos e emocionar-se.
Para finalizar, a reconstituição é a função executiva que diz
respeito à análise e síntese do comportamento. Permite ao indivíduo que
haja com objetivo, por meio de sua fluidez, flexibilidade e criatividade,
sem que tenha de aprender todos os passos necessários a atingi-lo. É a
capacidade de amadurecer e controlar seu comportamento durante
intervalos cada vez maiores. Ocorrem sucessivos períodos de análise e
síntese que oferecem a possibilidade de novas recombinações da
proposta de planejamento, excluindo definitivamente ideias
desnecessárias para a obtenção do objetivo final.
Como se verifica, desde cedo as funções executivas apresentam
papel fundamental por meio de comportamentos organizados, nos quais
precisa estabelecer objetivos, planejar como realizá-los, desenvolver as
etapas necessárias, corrigir as ações quando necessário e verificar a o
bom resultado final. Talvez em razão de um problema genético ou de um
desenvolvimento embrionário problemático, crianças com TDAH não
adquiram esta habilidade e, portanto, apresentam comportamento publico
excessivo e fala exagerada. A desatenção, hiperatividade e a
impulsividade típicas delas são causadas pela incapacidade de serem
guiadas por instruções internas e pela inabilidade em reprimir posturas
inapropriadas.
29
O problema essencial do TDAH reside na dificuldade de inibição do
comportamento e tal inibição está intimamente ligada à ontogênese e
filogênese do cérebro humano. O ser humano tem habilidade de esperar
por período de tempo mais longo que outras espécies. Esse poder de
espera não é um ato passivo, implica na habilidade humana de inibir
respostas instintivas e de recompensa imediata.
Essa inibição permite criar um senso de passado e de futuro e usar
o pensamento e o autodiscurso para controlar o comportamento,
separando emoções das informações do ambiente externo. Assim,
separar as informações em partes que facilitam compreender a ordem
temporal das informações e a síntese e a análise dos resultados dessas
interações propiciaria a internalização das emoções úteis para modular o
comportamento em busca de objetivos.
Ao processo de aprendizagem, as habilidades apresentadas pelas
funções executivas são fundamentais. Todavia, nem sempre crianças
com dificuldades de aprendizagem apresentarão alterações em suas
funções executivas, da mesma forma, crianças com TDAH também
podem evoluir, com possibilidade de sucesso acadêmico.
A relação afetiva da criança com todos aqueles que o cercam
agregada ao entendimento das regras sociais no contato em seu
ambiente de convívio, a compreensão dos limites, das frustrações e
adequações às condições naturais da vida, servem como matéria para a
formação da estrutura neurobiológica e sua correspondente atuação, bem
como para criar um ambiente saudável, sem tantos prejuízos para o
desenvolvimento do TDAH.
Neurotransmissores
30
Os dois sistemas neuroquímicos mais importantes relacionados ao
TDAH seriam o sistema de atenção anterior pré-frontal,
predominantemente dopaminérgico, e o sistema de atenção posterior,
predominantemente noradrenérgico, envolvido na diminuição do
comportamento, refletindo a base neuropsicológica do TDAH, bem como
seriam envolvidas na expressão dos três sintomas cardinais do
transtorno: desatenção, hiperatividade, impulsividade.
O maior ou menor comprometimento ou a hipofunção dessas vias
em crianças com TDAH levariam aos diferentes graus de
comprometimento das funções comportamentais, caracterizadas por
alteração da motivação, processamento temporal das informações,
planejamento e organização motora, que compõem a base
neuropsicológica disfuncional, representada por falhas das funções
executivas, já citadas anteriormente, atencionais e falas na inibição do
comportamento.
Com base nos estudos de Rotta (2006), é possível afirmar que a
base neuroquímica da atenção está principalmente relacionada ao
neurotransmissor responsável pelo controle executivo, o domínio e
inibição do comportamento motor, à memória de trabalho e aos sistemas
que relacionam as reações de recompensa não imediata.
O neurotransmissor dopamina determina o controle dos níveis de
excitação cerebral e o preparo para a ação motora e tem sua expressão
maior nas áreas pré-frontais do cérebro. Sua secreção se dá por
neurônios oriundos da substância negra, que tem, sobretudo, sua
terminação na região estriada dos gânglios da base. O efeito da
dopamina é usualmente, de inibição.
Segundo Guyton (2002), sintetizada a partir da tirosina, por uma
via metabólica de duas etapas, catalisada pelas enzimas tirosina
hidroxilase e dopa descarboxilase. A dopamina é secretada em grande
quantidade quando uma recompensa inesperada é obtida, podendo
31
assim, estar associada à aquisição de novos comportamentos. Por estar
intimamente relacionada à socialização, pessoas com deficiência no
receptor dopaminérgico D2 apresentam ansiedade social.
Devido a sua relação com o sistema de prazer do cérebro, está
associada à motivação para o vício, visto que à criação de expectativa de
uma grande recompensa nem sempre pode ser obtida.
A noradrenalina, também conhecida como norepinefrina, é
secretada pelas terminações de muitos neurônios cujos corpos celulares
estão localizados no tronco encefálico e no hipotálamo. Esses neurônios,
localizados no locus cerúleo da ponte, mandam fibras nervosas para
áreas amplamente dispersas do encéfalo, para ajudar a controlar a
atividade global e o humor da mente, tal como o nível crescente de vigília.
Ainda de acordo com Guyton (2002), relacionada ao acoplamento
aos estímulos relevantes, à modulação neurocomportamental e as
mudanças fisiológicas, a noradrenalina, parece ter um papel importante
no sistema de controle da vigilância, do acoplamento e desacoplamento
de informações consideradas relevantes e para a memória de trabalho
visoespacial, dada a sua representação cerebral mais difusa e mais
ampla nas áreas posteriores do cérebro. Sintetizada a partir da dopamina,
pela enzima B-hidroxilase, participa conjuntamente com a epinefrina no
controle da resposta de fuga ou luta, estimulando os receptores
adrenérgicos. Como um hormônio do estresse, atua sobre regiões do
cérebro em que atenção e ações de resposta são controladas.
Neurotransmissores, como a serotonina, importante na modulação
da liberação de dopamina pré-sináptica também deve ser considerada
importante para o entendimento de alterações comportamentais no
TDAH. A serotonina é secretada por núcleos que se originam na rafe
mediana do tronco encefálico e se projetam para muitas áreas
encefálicas e da medula espinhal e para o hipotálamo. Ela atua como
inibidor da via da dor, na medula espinhal, e acredita-se que sua ação
32
inibitória, nas regiões superiores, do sistema nervoso, ajude a controlar o
humor da pessoa e, talvez mesmo, a causar o sono.
Também as chamadas neurotrofinas, que são proteínas
secretadas no sistema nervoso central (SNC), tem um papel na
modulação da atenção e estão relacionadas a respostas de facilitação da
cognição e da atenção envolvidas.
Para DuPaul (2007), o tratamento do TDAH, bem como seu
diagnóstico, deve ser feito de forma multidisciplinar, a envolver todos os
aspectos cabíveis, dando a cada um sua menor ou maior importância. O
tratamento medicamentoso, quando necessário, se faz principalmente à
custa dos estimulantes do SNC. Embora haja muitas discussões a
respeito, há determinados fármacos que melhoram o TDAH, seja porque
aumentam a produção dos neurotransmissores envolvidos nesse quadro,
ou porque inibem as enzimas que os destroem ou, ainda, porque atuam
na via nervosa como se fossem os próprios neurotransmissores,
melhorando a sintomatologia.
33
CAPÍTULO III
O IMPACTO DO TDAH NO DESEMPENHO ESCOLAR
Em geral, o comportamento da criança com TDAH pode passar
despercebido pelos pais, mas quando ela ingressa na escola, mesmo os
casos mais leves tendem a se tornar evidentes, uma vez que na escola
existe a possibilidade de se comparar várias crianças com a mesma faixa
etária, além do fato de se exigir mais atenção e das necessidades de ficar
parado em um mesmo local por mais tempo.
Uma vez que crianças com TDAH muitas vezes tem problemas de
atenção em tarefas que exijam concentração, a finalização de atividades
independentes, que devem ser executadas na carteira, é um tanto
inconstante, bem como a falta de atenção também pode comprometer o
entendimento das instruções de uma tarefa.
Crianças com TDAH com frequência perturbam as atividades em
sala de aula e, portanto, atrapalham a aprendizagem dos colegas. Por
exemplo, podem exibir impulsividade de várias maneiras, incluindo falar
sem permissão, conversar com colegas em momentos inapropriados e
ficar zangadas quando confrontadas com reprimendas ou tarefas
frustrantes. A qualidade dos trabalhos em sala de aula e em casa
também pode ser afetada negativamente devido a um estilo de resposta
impulsivo e descuidado nessas tarefas.
Os problemas referentes à hiperatividade incluem sair da cadeira
sem permissão, brincar com objetos inapropriados, batucar com os
dedos, bater os pés ritmicamente e se remexer na cadeira. Embora os
últimos comportamentos pareçam inofensivos, quando executados com
frequência podem perturbar imensamente a instrução na sala de aula.
34
Sendo assim, parece inegável que é no ambiente escolar que os
sintomas se manifestam de maneira mais evidente, causando impactos
significativos na vida das crianças, principalmente nas séries iniciais do
ensino fundamental. E, ainda, que a contribuição do professor pode
ser significativa tanto na identificação dos sintomas do TDAH para um
diagnóstico precoce como no manejo das dificuldades apresentadas pela
criança na sala de aula.
TDAH e Transtornos de aprendizagem
Atenção e funções executivas são processos fundamentais na
aprendizagem escolar, pois permitem o processamento de informações, a
integração de informações selecionadas, os processos mnêmicos. Na
prática, esses déficits se traduzem em dificuldades que a criança
apresenta em diversas atividades escolares, tais como: fazer anotações
organizadamente, finalizar tarefas de longa duração, organizar materiais e
espaço, usar estratégias efetivas para estudar, entre outros.
Alterações no desenvolvimento da linguagem também pode ser um
fator comprometido no TDAH, levando à maior índice de má articulação e
fala desorganizado, o que implica em dificuldade para organizar
respostas, especialmente as complexas de compreensão de leitura,
maiores índices de dificuldades de coordenação motora refina –
dificuldades na escrita, tempo e qualidade.
Crianças com TDAH frequentemente apresentam dificuldades na
inibição motora, levando à alterações de reflexos na coordenação motora
refinada e agitação motora. Segundo Phelan (2005), de 20% a 40% das
crianças com TDAH também tem diagnóstico de dificuldade de
aprendizagem.
35
Os transtornos de aprendizagem incluem as dificuldades da
aprendizagem escolar e condições crônicas relacionadas ao
desenvolvimento de leitura e escrita, disgrafia e alterações no
desenvolvimento da matemática. Tais transtornos não são devidos
diretamente ao TDAH, mas ao fato dos circuitos neurofuncionais serem
comuns em vários transtornos; daí a associação múltipla com os
transtornos específicos de aprendizagem.
Nesse sentido, nas crianças com TDAH, Rotta (2006) afirma que a
prevalência de transtornos de aprendizagem situa-se entre 20% e 80%,
sendo que as grandes variações ficam por conta de diferenças
metodológicas. Embora alguns estudos relacionem o TDAH com o
rendimento escolar, se deve ressaltar que não implica necessariamente
em transtorno de aprendizagem. A saber, que pesquisas sugerem
problemas de atenção e aprendizagem como entidades separadas,
todavia co-ocorrentes.
Família X Escola
Como os sintomas do TDAH são, muitas vezes, mais evidentes no
ambiente escolar, os pais dessas crianças precisam interagir com todo o
corpo docente e com frequência. Buscar informações úteis acerca das
opções legais, processuais e de intervenção que possam estar
disponíveis na escola.
Manter um relacionamento positivo e consistente com os pais das
crianças com TDAH é essencial, e muitas vezes, bastante difícil. A
comunicação escola X família, à medida que a criança começa a
enfrentar mais e mais problemas, se torna imprescindível.
36
Os avanços dos estudos da neurociência e a aceitação lenta,
porém constante, por parte da educação dessas descobertas vêm criando
chances ainda maiores de sucesso na escola para crianças com TDAH. É
possível perceber cada vez mais professores cientes das necessidades
do TDAH, buscando informações, realizando parcerias com os pais.
Todavia, crianças em idade escolar passam a maior parte do
tempo fora de casa, convivendo diariamente com diferenças e regras,
participando de mudanças e sendo levados à aceita-las. São instruídos a
todo instante para que não perturbem a aprendizagem e as atividades
dos outros e busquem compreender o que lhes é ensinado.
Para os professores, transmitir o conhecimento e as habilidades
que perfazem o currículo e ensinar as crianças a se comportarem de
modo coerente com as expectativas organizacionais, sociais e culturais
são tarefas bastante difíceis. Torna-se ainda mais desafiador quando o
trabalho envolve crianças diagnosticadas com TDAH, visto que os
comportamentos característicos dessas crianças com frequência
interferem na aprendizagem e impedem interações sociais positivas.
Não são raras às vezes em que o professor, frente a um TDAH se
vê perdido, sem saber o que fazer, encontra-se cansado, desanimado e
sem apoio. No entanto, o direito dessas crianças se faz igual, sendo
fundamental que a elas seja dado o ensino adequado para suas
necessidades, bem como as próprias leis de inclusão asseguram, de
forma cada vez mais abrangente e rígida. Visto que não é possível
ignorar a presença dessas crianças na sala de aula.
Há vários obstáculos com os quais os pais podem se defrontar ao
lidar com o corpo de funcionários de uma escola. Os pais podem, por
exemplo, subestimar ou superestimar o que os profissionais,
principalmente o professor pode fazer e vice-versa. Portanto, é importante
que a relação seja a mais saudável possível e cada um possa expor o
que verdadeiramente pode oferecer.
37
Quando pais e professores se encontram, é necessário achar uma
forma de pensar aberta e flexível. Fundamental que adotem atitudes
provisórias e pragmáticas frente ao problema, tentando encontrar
estratégias que sejam as mais eficazes e mais realísticas em termos do
tempo, da energia e da experiência do professor.
O TDAH não é apenas um problema comportamental. Não é
apenas dos pais e das próprias crianças o problema. Além dos
professores, é importante que os demais profissionais da escola também
participem do planejamento terapêutico. Implicar o professor significa
implicar a escola inteira. Para DuPaul (2007), o professor necessita de
conhecimentos teóricos, necessita confrontar seus saberes, suas
atuações práticas com novos saberes; caso contrário, a sala de aula
poderá se tornar um ambiente de rótulos, uma força restritiva para o
desenvolvimento do aluno.
As politicas públicas são fundamentais no auxílio ao professor, a
considerar sua contribuição significativa em todo caminho traçado pelo
TDAH dentro da escola.
O professor tem papel fundamental no processo de aprendizagem
e na saúde mental de crianças com TDAH. A seguir, portanto, serão
apresentadas, algumas das orientações descritas por Muszkat (2011),
que irão ajudar nesta relação tão cheia de desafios.
Orientações ao professor
• Manter contato regularmente com os pais da criança, evitando
somente nos momentos de crise ou problemas.
38
• Dialogar com a criança, a fim de realizar acordos acerca da melhor
maneira para seu aprendizado. Por serem intuitivas podem dar
grandes ideias.
• Monitorar o tempo de suas tarefas, de modo que a criança possa
se programar e se orientar dentro deste prazo.
• Focando as expectativas, o aluno deve ser orientado sobre o que é
esperado dele, em termos de aprendizagem e comportamento.
• Criar novas estratégias por meio do uso de multimídias. Como a
criança tem um apelo intrínseco a novidades, todos os recursos
disponíveis podem ajudar na manutenção da atenção e,
consequentemente, no processo de aprendizagem. Essa criança
aprende melhor visualmente, pois dessa maneira ela pode por as
ideias no lugar e se estruturar.
• Na necessidade de mudanças curriculares, no cronograma ou de
didática, mais uma vez dialogar com a criança e realizar alterações
até que ela esteja ajustada.
• Ser compreensiva quanto às dificuldades temperamentais e
educacionais da criança. Repetir quantas forem as vezes, sejam
regras, prazos, diretrizes, limites ou qualquer outra exigência a ser
feita.
• Deixar que o aluno sinta-se aceito em suas diferenças, não só em
sua sala de aula como também em todo ambiente escolar.
• Flexibilizar o uso de recursos até que se descubra o melhor estilo
de aprendizagem da criança.
• Incentivar e recompensar todo bom comportamento e o
desempenho. A cada elogio mais sentimentos positivos surgirão.
39
• Utilizar o passo a passo é essencial, bem como a verificação da
aprendizagem em cada etapa.
• Apresentar pequenas tarefas, de modo que o aluno não se sinta
desanimado, acreditando não conseguir realiza-los.
• Envolver, estimular, motivar. Três palavras preciosas para
assegurar o interesse do aluno para aprender.
• Dar ao aluno um espaço tranquilo e sem muitos estímulos, como a
porta e janela, sempre cercadas por ruídos externos.
• Evitar o constante convívio da criança com aqueles que o
estimulem negativamente, com incentivos ao comportamento
inadequado, buscando sempre um colega que lhe traga coisas
positivas e sirva como ponto de referência.
• Para que a criança possa corresponder melhor ao aprendizado, um
ambiente com organização e bem estruturado pode ajudar.
• Estabelecer o uso de rotinas diárias.
• Alternar os níveis das atividades durante a aula.
• Deixar que a criança realize tarefas, como por exemplo, ser o
ajudando da sala, de forma que possa se movimentar de vez
enquando.
• Preparar o aluno para qualquer que sejam as mudanças em sua
rotina escolar, prazerosas ou não – excursões, provas, etc. – se
possível com antecedência, visto que, alterações sem aviso prévio
são muito difíceis, levando-as a perder a noção do tempo. Avisar o
que vai acontecer e repetir os avisos à medida que a hora for se
aproximando.
40
• Evitar o uso frequente da mesma tarefa. Como essa criança
responde bem as novidades, deve-se evitar tarefas monótonas e
repetitivas que podem levar à distração e à falta de interesse. Sem
se esquecer de que a distração é involuntária no TDAH.
• Ser sempre objetivo, simplificando instruções. Com uma linguagem
simples o entendimento se torna muito mais claro e rápido.
• Dar prioridade para o conceito. A qualidade e não a quantidade.
• Motivar o interesse e a responsabilidade através do envolvimento
com a criança.
• Olhar nos olhos ao dirigir a palavra, possibilitando a segurança e a
atenção imediata.
• Desenvolver alternativas, fornecendo dicas de como a criança
pode lidar com suas dificuldades. Auxilia-la na construção de listas,
anotações, etc.
• Dar uma supervisão adicional, discutindo e auxiliando diariamente
nas principais dificuldades.
• Ser firme, direto, estabelecendo limites e fronteiras. Nunca de
modo punitivo.
• Dar ênfase ao lado emocional que a aprendizagem requer.
Propiciar situações favoráveis ao descobrimento das emoções e
prazeres durante o processo de ensino, para que haja excitação e
não tédio na aprendizagem.
• Mostrar o positivo sempre, em primeiro lugar. O prejuízo a
autoestima é mais prejudicial que o TDAH em si.
41
• Apresentar diariamente os bons frutos colhidos pela criança, por
menores que sejam, a fim de que ela saiba como está se saindo e
a desenvolver a auto-observação.
• Criar condições para que alcance as suas metas. Monitore.
• Pedir que leia em voz alta, que reconte histórias. Essas atividades
ajudam na organização de ideias.
• Permitir a brincadeira, mesmo em sala de aula, deixando claras
todas as regras a serem seguidas, antes e depois da diversão.
Frente a todas essas instruções é possível concluir que estudantes
com TDAH apresentam melhor rendimento em salas de aula com
atividades bem estruturadas, onde haja empenho e comunicação entre
todos aqueles que estejam envolvidos - pais, professores, profissionais da
saúde, responsáveis pelo caso. Seja de forma teórica ou prática, o apoio
sempre deve estar presente, até mesmo quando não há um profissional
clínico responsável.
Todo e qualquer esforço é válido para que as crianças com TDAH
sintam-se confortáveis. A busca pelo aperfeiçoamento do professor que
incentive a compreensão da diversidade permitirá que tais crianças
desenvolvam progressivamente suas potencialidades.
42
CONCLUSÃO
Diante da realização da pesquisa, baseada no levantamento
bibliográfico e nos objetivos propostos, foi possível perceber que,
historicamente, fatores neurobiológicos têm recebido a maior atenção
como fatores etiológicos. As hipóteses mais antigas postulavam que
crianças com TDAH tinham dano cerebral estrutural que contribuía para
dificuldades de controle da atenção e do comportamento. Aparentemente,
existem leves diferenças estruturais entre os cérebros de indivíduos com
TDAH e os de controles normais. Especificamente, estudos usando
técnicas de imagens estruturais (por exemplo, imagem por ressonância
magnética – IRM) e funcionais (por exemplo, tomografia por emissão de
pósitrons – TEP) indicaram diferenças importantes e possíveis
anormalidades nas redes estriatais frontais do cérebro.
Interessantemente, uma das seções do cérebro estudadas com relação a
isso é o córtex pré-frontal, que supostamente está envolvido na inibição
do comportamento e na mediação de reações a estímulos ambientais.
Além disso, os neurotransmissores – dopamina e norepinefrina – estão
presumivelmente “menos disponíveis” em certas regiões do cérebro (por
exemplo, córtex frontal), contribuindo assim para a sintomatologia do
TDAH. Essa hipótese baseia-se, em parte, na ação dos psicoestimulantes
(por exemplo, Ritalina) no cérebro, onde a disponibilidade de dopamina e
norepinefrina é aumentada, com base nas evidências disponíveis,
presume-se que essas diferenças neurobiológicas devem-se a
anormalidade no desenvolvimento do cérebro, resultantes de fatores
genéticos, hormonais e/ou ambientais.
Embora, hipoteticamente as variáveis biológicas sejam as
principais causas do TDAH, o papel dos fatores ambientais no
estabelecimento da ocasião para a probabilidade de comportamentos de
43
TDAH ou sua redução permanece importante para a prestação de
serviços profissionais. Estímulos tanto antecedentes quanto
consequentes são fundamentais para determinar a gravidade dos
problemas de atenção, impulsividade e controle do comportamento. Na
verdade, o desenvolvimento de intervenções em sala de aula para
crianças com TDAH é melhorado pela determinação da função
comportamental dos comportamentos relacionados ao TDAH e
implementação de estratégias ligadas diretamente à função do
comportamento. Por exemplo, se determina-se que o comportamento
diruptivo e desatento de uma criança resulta confiavelmente em acesso à
atenção do professor, então a intervenção em sala de aula deve
proporcionar a atenção do professor contingente do comportamento não
perturbador. A suposição principal é de que, embora os fatores
ambientais afetem o comportamento de todas as crianças, o desempenho
de crianças com problemas de desatenção e de controle de
comportamento é mais sensível a esses eventos.
O TDAH se faz diante da integração entre a biologia e os
fenômenos psicossociais, que não só está presente no TDAH, como
também se dá em decorrência do próprio transtorno. Muitos padrões do
neurodesenvolvimento modificam-se de acordo com o perfil dinâmico,
com as mudanças maturacionais, com os diferentes potenciais de
plasticidade e vulnerabilidade nas várias fases da ontogênese. Assim, as
contradições entre ambiente e biologia, entre estrutura e função são
apenas aparência, uma vez que mesmo alterações estruturais em áreas
cerebrais específicas podem ser desencadeadas por impulsos
psicossociais. As bases neurobiológicas do TDAH apoiam-se sobre uma
base fenomenológica diagnóstica de grande heterogeneidade, sendo
importante ressaltar que o fraco controle inibitório das regiões frontais
sobre as áreas relacionadas a emoções, como as áreas límbicas, não é
exclusivo e específico do TDAH, pode ocorrer em crianças submetidas a
44
estresse crônico, violência ou negligência, bem como afirma Muszkat
(2011).
Portanto, o desafio da interdisciplinaridade envolve um esforço de
transcendência para entender a perspectiva de diversidade do
desenvolvimento e as diferenças de expressão das crianças com o
transtorno. É necessário vencer a fragmentação e o isolamento dos
conhecimentos específicos, buscando estabelecer um maior contato entre
as necessidades da criança e sua rede contextual.
É fundamental que haja uma correta avaliação das variáveis
dinâmicas e fluidas do comportamento e cognição, incluindo a delimitação
de conflitos, os modos de interação entre os membros familiares, o nível
de exigência da família e da escola e a complexidade neurobiológica, e a
heterogeneidade clínica que os vários tipos de TDAH podem apresentar.
Desta forma, é possível concluir que, a contribuição positiva da
ciência na construção de novos conceitos passa necessariamente pela
busca de fronteiras entre as especificidades. Criar tais interfaces entre a
saúde e a educação possibilita a construção de uma prática de inserção
mais realista e efetiva junto a crianças com distúrbios do
neurodesenvolvimento, baseada no conhecimento, na parceria e na
solidariedade.
45
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
DUPAUL, George J. TDAH nas escolas. São Paulo: M. Books do Brasil
Editora Ltda. 2007.
FIORI, Nicole. As neurociências cognitivas. Lisboa: Instituto Piaget. 2006.
GAZZANIGA, Michael S. Neurociência cognitiva: a biologia da mente. 2ª
edição. Porto Alegre: Artmed. 2006.
GUYTON, Arthur C. Tratado de fisiologia médica. 10ª edição. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara. 2002.
MAIA, Heber. Neurociências e desenvolvimento cognitivo. Rio de Janeiro:
Wak Editora. 2011.
MUSZKAT, Mauro. Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.
São Paulo: Cortez. 2011.
OLIVIER, Lou de. Anoxia Perinatal. In: psiconeuroarte.br.tripod.com.
acessado as 20:30 do dia 5 de janeiro de 2013.
46
PHELAN, Thomas W. TDA/TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda. 2005.
ROTTA, Newra T. Transtornos da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed.
2006.
Revista Mente e Cérebro – coleção revista atualizada. Doenças do
Cérebro: Epilepsia e TDAH. 2ª edição. São Paulo: Duetto Editorial. 2012.
Autores diversos.
SILVA, Ana B. B. Mentes inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e
impulsividade. Rio de Janeiro: Objetiva. 2009.
47
BIBLIOGRAFIA CITADA
DUPAUL, George J. TDAH nas escolas. São Paulo: M. Books do Brasil
Editora Ltda. 2007.
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edição. Porto Alegre: Artmed. 2006.
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MUSZKAT, Mauro. Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.
São Paulo: Cortez. 2011.
OLIVIER, Lou de. Anoxia Perinatal. In: psiconeuroarte.br.tripod.com.
acessado as 20:30 do dia 5 de janeiro de 2013.
PHELAN, Thomas W. TDA/TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda. 2005.
Revista Mente e Cérebro – coleção revista atualizada. Doenças do
Cérebro: Epilepsia e TDAH. 2ª edição. São Paulo: Duetto Editorial. 2012.
Autores diversos.
48
ROTTA, Newra T. Transtornos da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed.
2006.
SILVA, Ana B. B. Mentes inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e
impulsividade. Rio de Janeiro: Objetiva. 2009.
49
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O que é TDAH? 9
1.1 – Diagnóstico 12
1.2 – Subtipos do TDAH 16
1.2.1 – TDAH predominantemente desatento 16
1.2.2 – TDAH predominantemente hiperativo-impulsivo 17
1.2.3 – TDAH combinado 18
CAPÍTULO II
Bases conceituais e neurobiológicas do TDAH 19
2.1 – Modalidades da atenção 22
2.2 – Funções executivas 24
2.3 – Neurotransmissores 29
CAPÍTULO III
O impacto do TDAH no desempenho escolar 33
3.1 – TDAH e transtorno de aprendizagem 34
3.2 – Família X Escola 35
3.2.1 – Orientações ao professor 37
CONCLUSÃO 42
50
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45
BIBLIOGRAFIA CITADA 47
ÍNDICE 49