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ir FRANCISCO RENDEIRO ASSISTENTE DE MEDICINA LEGAL DOCIMÁSIA HEPÁTICA SEU VALOR COMO ELEMENTO DE DIAGNÓSTICO MÉDICO-LEGAL TESE DE DOUTORAMENTO APRESENTADA À FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO (TRABALHO DO INSTITUTO DE MEDICINA LEGAL) iZ$)* f*f? NOVEMBRO DE 1920

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FRANCISCO RENDEIRO ASSISTENTE DE MEDICINA LEGAL

DOCIMÁSIA HEPÁTICA SEU VALOR COMO ELEMENTO DE DIAGNÓSTICO MÉDICO-LEGAL

TESE DE D O U T O R A M E N T O APRESENTADA À FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

(TRABALHO DO INSTITUTO DE MEDICINA LEGAL)

iZ$)* f*f? NOVEMBRO DE 1920

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FRANCISCO RENDEIRO ASSISTENTE DE MEDICINA LEGAL

DOCIMÁSIA HEPÁTICA SEU VALOR COMO ELEMENTO DE DIAGNÓSTICO MÉDICO-LEGAL

TESE DE D O U T O R A M E N T O APRESENTADA À FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

jtr/sr f-H

NOVEMBRO DE 1920

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Tip. Pritf. da Sociedade de Papelaria, L."**

189, Rua de Sá da Bandeira, 191 — P O R T O

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FACULDADE DE MEDICINA DO PORTO

Professor Director Dr. Maximiano Augusto de Oliveira Lemos.

Professor Secretario Dr. Álvaro Teixeira Bastos.

COP PO DOCENTE PROFESSORES ORDINÁRIOS

Anatomia descritiva Dr. Joaquim Alberto Pires de Lima. Histologia e Embriologia Dr. Abel de Lima Salazar. Fisiologia geral e Especial Dr. Antonio de Almeida Garrett. Farmacologia Dr. José de Oliveira Lima. Patologia geral. Dr. Alberto Pereira Pinto de Aguiar. Anatomia patológica Dr. Augusto Henrique de Almeida

Brandão. Bacteriologia e Parasitologia Dr. Carlos Faria Moreira Ramalhão. Higiene. Dr. João Lopes da Silva Martins Junior. Medicina legal Dr. Manuel Lourenço Gomes. Medicina operatória e pequena cirurgia Dr. Antonio Joaquim de Souza Junior Patologia cirúrgica Dr. Carlos Alberto de Lima. Clinica cirúrgica Dr. Álvaro Teixeira Bastos. Patologia médica Dr. Alfredo da Rocha Pereira. Clinica médica Dr. Tiago Augusto de Almt ida. Terapêutica geral Dr. José Alfredo Mendes de Magalhães. Clinica obstétrica Vaga. Historia da Medicina e Deontologia... Dr. Maximiano Augusto de Oliveira

Lemos. Dermatologia e sifiligrafia Dr. Luiz de Freitas Viegas. Psiquiatria Dr. Antonio de Souza Magalhães Lemos. Pediatria Vaga (1).

PROFESSORES JUBILADOS

T . , .. José de Andrade Gramaxo. Lentes catedráticos _ , , . _.. Pedro Augusto Dias.

(1) Cadeira reíida pelo professor ordinário Dr. Antonio de Almeida Garrett

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A

ANTÓNIO VIEIRA PINTO

EM HOMENAGEM AO SEU ALTO ESPIRITO E COMO PROVA DE IMPERECÍVEL GRATIDÃO

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A FACULDADE NÃO RESPONDE PELAS DOUTRINAS EXPENDIDAS NA DISSERTAÇÃO

(Artigo 15.° § 2.° do Regulamento privativo da Facul­dade de Medicina do Porto de 3 de Janeiro de 1920)

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O trabalho que vimos submeter á apreciação do douto júri, como tese de doutoramento, não teve inicialmente este destino, pois fazia parte de uma série de investigações scientificas que se estão efectuando no Instituto de Medicina Legal do Porto, para virem a ser os seus resultados reunidos em publicação propria, porem, a necessidade de nos doutorarmos e a impossibilidade de concluirmos em praso conveniente a tese que primitivamente escolhêramos, le-varam-nos a reservar a docimásia hepática para objecto da nossa tese, visto termos já bastantes observações e tratar-se de assunto em estudo, com actualidade e de vivo interesse.

E' nosso dever declarar que ao ilustre Director do Ins­tituto de Medicina Legal do Porto, Snr. Professor Lourenço Gomes, ao seu esclarecido conselho, sua alta competência e amor pelos pro­gressos do Instituto que brilhantemente dirige, devemos o estimulo que nos conduziu ao fim deste modesto trabalho. Por isso, e por obsequiosamente se haver prestado a presidir ao acto do nosso doutoramento, aqui lhe deixamos o preito da nossa gratidão.

Aos ilustres Professores de Medicina Legal das Faculdades de Paris e Lyon, Doutores Balthazard e E. Martin, exprimimos o nosso vivo agradecimento pelos bons elementos que amavelmente nos forneceram.

De entre as 369 autopsias a que assistimos no Instituto Me­dico-Legal do Porto, só pudemos utilisar 65 para as nossas experiên­cias, pois só ultimamente, quando resolvemos apresental-as em tese, aproveitamos todos os casos ou a maior parle pelo menos.

Evidentemente que não foi nosso intuito, ao apresentar este trabalho, fornecer outra coisa que não fosse uma modesta contribui­ção para o estudo de um problema tão debatido e diversamente en­carado; são testemunhas firmes das nossas intenções os bons colegas do Instituto, Doutores Francisco Coimbra, Manuel Pinto, José Maria de Oliveira e Sebastião Lopes, a quem nos agrada estreitar num abrace de muita amizade e gratidão. 2

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RESUMO HISTÓRICO

A pesquiza do glicógenio e da glucose no fígado dos cadáve­res, como elemento de diagnóstico médico-legal, com o nome dt docimásia hepática, data de 1899, ano em que os dois ilustres Pro­fessores de Lyon, Lacassagne e Étienne Martin, publicaram sobre o assumpto o seu mais importante trabalho, article fondamental, (1) lhe chama Vasfi de Constantinopla, Em verdade foram aqueles dois medicos legistas que mais e melhor trataram o problema e sem duvida foram também dos primeiros a tratal-o, visto que a própria tese de Colomb (2), anterior ao article fondamental, aparece inspi­rada por Lacassagne.

A docimásia hepática estava, porem, de facto estabelecida ao tempo em que os trabalhos da Escola de Lyon vieram destacar a sua importância médico-legal, desde os estudos memoráveis de Claude Bernard (3) que numa serie de felizes experiências estabeleceu as seguintes leis :

a) o assucar existe no figado do homem e de todos os ani­mais saudáveis, quer carnívoros, quer herbívoros ;

b) o assucar fórma-se no figado ; c) a funcção glicógenica do figado é mais activa no momento

da digestão, chegando a desaparecer com um jejum prolongado (dans le cas d'inanition prolongée le sucre diminue graduellement et lors­qu'il n'existe plus qu'à l'état de traces, la vie est bien près de s'é teindre — Leçons sur le diabète, pag. 291).

Nas suas Leçons sur le diabète, a pag. 294, Claude Ber­nard exprime conclusões baseadas em experiências, que são com­pletamente idênticas ás leis formuladas por Lacassagne e E. Martin,

(1) Contribution à l'étude de la docimasie hépatique — Dr. Vasfi (Cons­tantinopla). Annales d'hygiène Publique et de Médecine légale.

(2) La fonction glycogénique du foie dans ses rapports avec les experti­ses médico-légales (These de Lyon, 1894) Colomb.

(3) Leçons sur le diabète et la glycogenèse animal — Claude Bernard —1877.

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«Uma das consequências da maior parte das doenças é fazer desapa­recer, perto da morte, o assucar do tecido do ficado como do liquido sanguíneo. E' por isto que as experiências feitas sobre o fígado dos individuos mortos nos hospitais sam a maior parte das vezes negativas.

«Ao contrario, se se pratica o exame, como me foi dado pra-íical-o, em casos de morte violenta, o assucar manifesta-se com a maior evidencia.

«Pratiquei o ensaio em treze ou quatorze supliciados, Examinei vários suicidas sãos ou doentes e reconheci quantidades de assucar consideráveis» (1).

A Lacassagnc e E, Martin cabe, porem, como já dissemos, a honra de ter chamado sobre o assunto a atenção, valorisando a sua importância como elemento de diagnóstico num dos capítulos mais complexos da Medicina Legal—morte súbita. Já em 1897, no Con­gresso de Moscou, estes dois ilustres professores tinham apresentado uma memoria (2) considerando as formulas de Claude Bernard apli­cáveis á Medicina Legal. Nas suas linhas gerais, o processo destes experimentadores é o mesmo de que se serviu Claude Bernard nas suas experiências e que assim se pode resumir : tornar 100 gramas de fígado c depois de cuidadosamente triturado lançal-o num vaso com agua em ebulição ; deixar a mistura a decantar e em seguida es­magar num almofariz a polpa obtida, misturada com areia ; filtrar o liquido resultante; acrescentar-lhe um pouco de carvão animal; leva-lo á ebulição e filtral-o definitivamente. Estes autores aconse­lham que se prescinda do carvão animal sempre que a limpidez do extracto o permita.

São as seguintes as conclusões a que chegaram : «o liquido de filtração pode revestir dois aspectos ; branco leitoso ou absolutamente límpido; no primeiro caso estamos em presença de glicógenio; os reagentes habituais permitem-nos facilmente dístinguil-o, Acrescen­tando dois centímetros cúbicos de alcool a 90°, precipita-se o glicógenio em pequenos flocos brancos que se acumulam no fundo do tubo ; a tintura de iodo cora de acaju a solução que contem glicógenio : dize­mos então que a docimásia é positiva. Esta docimásia positiva cor-

(1) Thèses de la Faculté des Sciences — Nouvelle fonction du foie—Pa­lis, 1853. Dans cette proposition de Claude Bernard est contenu tout le principe de la docimasie hépatique (Thoinot, I, pag. 178).

(2) La fonction glycogénique du foie dans ses rapports avec les expertises médico-légales, arch, d'anthr. criminelle, 1897, Lacassagne e E. Martin.

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responde ás mortes rápidas. No segundo caso, se o licor de Fehling não põe em evidencia a glucose, considera-se a docimásia como ne­gativa (morte lenta com agonia).

«Enfim, numa terceira categoria de factos, encontramos o li­quido de filtração límpido, contendo apesar d'isso glucose. Comprecn-de-se, quanto é difícil, neste caso, interpretar a marcha do fenó­meno: a agonia que começara não se prolongou até ao fim; foi suspensa bruscamente por uma causa mecânica que determinou a morte (asfixia, perturbações bulbares, etc.)

«A putrefacção faz desaparecer o glicógenío e a glucose do fígado muito rapidamente no verão e ao ar livre; muito mais tardiamente no inverno ou quando o cadaver se conservou na agua. Após a morte, o glicógenio diminue regularmente de quantidade, até á sua desapa­rição completa, e a glucose augmenta em proporção inversa para desaparecer progressivamente por seu turno» (1),

Antes do congresso de Moscou, em 1892, Colrat e Fochícr (2) publicaram um artigo—Sur la valeur de la presence du sucre dans le foie des nouveau-nés — , no qual dizem : «verificamos nas creanças, como nos adultos, a verdade da formula de Claude Bernard, ou seja : que a presença de assucar no fígado indica que a morte foi rápida, ao passo que a sua ausência se observa em indivíduos mortos em virtude de afecções agudas e crónicas. Assim, numa creança tendo sofrido a cefalotripsia, encontramos muito assucar, ao passo que numa creança morta por atrepsía ou diarreia não se encontrou.»

Um ano mais tarde (1893-1894) aparecia a tese de Colomb (3) inspirada pelo Professor Lacassagne, estudando a função glicógenica do fígado nas suas relações com as autopsias médico-legais. Depois de ter reproduzido as conclusões de Claude Bernard e sem querer tirar do seu trabalho conclusões absolutas—por a função glicógenica do figado estar sugeita a múltiplas variações — diz : «A presença de uma quantidade média de assucar, variando entre dois e quatro gra­mas (adição da glucose e glicógenio) indica uma morte rápida ou uma agonia muito curta e constitue assim uma probabilidade de que o individuo foi surpreendido pela morte em estado de saúde. A pre­sença de muito assucar e de glicógenío poderá fazer supor que o

(1) De la docimasie hépatique, arch, d'anthr. criminelle, 1899, Lacas­sagne e E, Martin.

(2) Province Médicale, 26 de Novembro, 1892. Colrat et Fochier. (3) Colomb, op. cit.

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individuo, no momento da morte, estava em plena digestão, o que tem uma grande importância para precisar a época a que deve atri-buir-se a morte. A ausência de assucar no fígado indica que o indi­viduo sucumbiu a uma morte lenta ou estava atingido de uma afecção orgânica grave acompanhada de febre e tendo-se fortemente repercu­tido sobre o estado geral.»

Se bem que dos trabalhos que antecederam as publicações de Lacassagne e E, Martin, tenham resultado conclusões muito inte­ressantes, a critica estabeleceu-se de facto em redor das conclusões destes que teem sido em verdade o fulcro da discussão.

Logo em 1898 aparece o trabalho de Brown e Johnston (1) relatando o resultado das experiências em 100 casos de morte natu­ral e violenta por meio da docimásia hepática, e fazendo algumas reservas sobre a utilidade do método.

Em 1899-1900, Gadrau, apresenta a sua tese de doutoramento (2) confirmando inteiramente as conclusões da escola de Lyon.

Módica (3) (1900) servindo-se de um método um pouco dife­rente do que até então fora seguido, em 51 casos de exame em que a morte fôia patológica, encontrou 26 com docimásia positiva e con­clue que o simples exame do fígado não basta para determinar se a morte foi rápida ou lenta.

Em 1901, Corbey (4) que se serviu de um método um pouco especial, (5) mostra-se nas linhas gerais de acordo com Lacassagne e E. Martin, formulando, porem, algumas reservas no que respeita ao valor da docimásia hepática como prova única e suficiente para o diagnóstico de uma morte rápida ou lenta. Este autor salienta ainda o facto da transformação do glicógenio em glucose e a destruição

(1) The medico legal significance of the presence of sugar and glycogen in the liver post mortem (The Boston medical and surgical Journal, 1898, Brown and Johnston.

(2) Docimasie hépatique — Thèse de Paris, 1899-1900 Gadrau. (3) Glicogene e Glucosio nel fegato in medicina forense, Gazeta degli

ospedali e délie clin. 1900—Módica. (4) Sur la valeur médico-légale de la docimasie hépatique, Archives

médicales belges, 1900, Corbey. (5) Deixar os pedaços de figado durante seis horas no extractor de

Soxhlet, hidratar a seguir o liquido de Papin a 120°, em presença de acido clo­rídrico e precipitar as matérias albuminóides pelo liquido de Brucke. Fazer a dosagem do assucar pelo polarimetro de Laurent.

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deste produto serem influenciadas por diferentes factores que não é fácil determinar,

Vervaeck critica o modo como é feita a experiência, dizendo: «renunciamos na maior parte dos casos ás manobras da descoloração e precipitação das albuminas cuja utilidade não compensa de nenhum modo as grandes dificuldades de execução ; em alguns casos, o pre­cipitado arrasta uma parte mais ou menos importante das matérias assucaradas ; contentamo-nos com filtrar cuidadosamente o extracto hepático». (1) Com este processo, em 22 casos de afecções de toda a espécie, Vervaeck diz ter constatado a presença de matérias assu­caradas no fígado, 19 vezes, com intensidades de reacção extrema­mente variadas. As suas conclusões concordam com as de Módica,

No ano seguinte, 1902, um discípulo de E. Martin, o Dr. Azemar, numa tese (2) apresentada á Faculdade de Lyon, analisa o trabalho do professor belga, estudando a seguir as variações do glicógenio e da glucose nos diferentes graus de putrefacção.

Na Alemanha, fizeram-se também bastantes trabalhos de con­trôle e critica, avultando entre eles o de Wachholz (3) que apresen­tou uma objecção bem fundamentada ás conclusões da Escola de Lyon. Wachholz fez 52 experiências, concluindo principalmente, que nos casos de morte por hemorragia, a quantidade de assucar dimi­nue consideravelmente. Os restantes trabalhos, de Strohe (4) e Seegen, (5) de menor importância, visto incidirem sobre um pe­queno numero de casos, (onze o primeiro e um o segundo), contradi­zem as conclusões de Lyon.

Estas objecções deram lugar a alguns trabalhos de E. Martin e dos seus discípulos Azemar e Jacques. A's reservas formuladas por Módica sobre a necessidade de não considerar esta prova com um valor definitivo, no que de resto o acompanha Vervaeck, respon-

(1) De l'importance médico-légale de la docimasie hépatique au point de vue du diagnostic de la mort subite, Journal médical de Bruxelles, 1901 h Vervaeck.

(2) La docimasie hépatique. Thèse de Lyon, 1902, Azemar. (3) Uber der Forensische Bedentung der Leberzucker probe, Aerzte.

sachv. Itg. N.° 11, pag. 224, 1903, Wachholz. Cit. por Vasfi, An. d'Hig. 1912. (4) Beitrage zur Wurdigung der forensischen Leberuntersuchung Vier-

telf. fur germ. Med. III. Fofcge, Bd. XXIV. pag. 97. Cit. por Vasfi, An. d'Hig. 1912. (5) Ueber Leberprobe Wien. Klin. Wochenschr. 1903, n.° 9, Seegen. Cit.

por Vasfi, An. d'Hig. 1912.

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de E. Martin na sua memoria—à propos de la docimasie hépatique — pretendendo destruir as objecções feitas, quer referentes á técnica da experiência, quer referentes ás suas conclusões, a que não dera um valor absoluto: «jamais quizemos apresentar a docimásia hepá­tica como prova única a invocar da morte rápida ou lenta, mas como um elemento de apreciação prático e excessivamente seguro (quando não queremos dos fenómenos estudados senão o que eles podem in-dicar-nos) a acrescentar aos meios que nos são fornecidos pelas cons­tatações múltiplas feitas na autópsia» (1).

«0 que afirmamos, como Vervaeck de resto, é que a abun­dância das matérias assucaradas é prova de uma morte muito rápida, a sua ausência é prova de que a morte fora lenta; enfim, que se entre estes dois extremos, se encontram graus intermédios (não ha glicógenio mas somente glucose), trata-se de uma agonia que foi interrompida por uma causa mecânica actuando bruscamente».

E. Martin responde também á objecção de Wachholz num ar­tigo publicado nos Arch, d'antrop. crim. (2) atribuindo a falta de êxito das experiências deste á intoxicação crónica.

Pelo método histológico, Brault, chegando a conclusões que até certo ponto confirmam as de E. Martin e Lacassagne, formula algumas reservas respeitantes ás doenças crónicas e agudas—«Pu­demos recolher observações que, posto publicadas com uma intenção diferente, contradizem em parte esta doutrina atenuando-lhe singular­mente o rigor. Fazem ver que o glicógenio hepático não é constante­mente destruído no decurso das doenças crónicas e que não desaparece necessariamente durante o período agónico das doenças agudas» (3). Neste sentido apresenta cinco observações de indivíduos portadores de cirroses (4) em que o exame histológico revela células com gli­cógenio, e duas outras observações, uma de gripe, outra de infecção paratifoide (5) e algumas de tumores em que aparece glicógenio a

(1) À propos de la docimasie hépatique. Imp. A. Storck & G", E. Martin.

(2) La disparition du glycogène et du glucose du foie dans les grandes hémorragies n'est pas le fait de la saignée à blan, mais bien d'une intoxication chronique de l'organisme (arch, d'anthr. crim. n.° 145,15, Jan. 1906. E. Martin.

(3) Bulletin Médical, 1." Mars, 1911, pag. 171, Brault. (4) Le glicogèue hépatique dans les cirrhoses, 1902, pag. 453, arch, de

mcd. exp. Brault (5) Arch, de méd. exp. 1908, pag. 754, Brault e G. Faroy.

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despeito da duração da doença. Na interpretação destas observações, Brault que chega a considerar a hiperglícogenese nos fígados cirro-ticos e neoplásicos (1), admite a influencia da flora microbiana que caminha após a morte nas ramificações do sistema porta ou das vias biliares, ficando desta maneira explicada a conservação do glicógenio nos núcleos cancerosos, nos quistos hidáticos e nas cirroses, por falta de conexão com os vasos ou relativa obliteração do sistema porta, concordando porem em que esta explicação não satisfaz em alguns casos. Brault, após as suas observações, e postas as reservas que acabamos de ver, diz que «é inegável que quanto mais rápida é a morte maior quantidade de glicógenio intra-celular se encontra» e conclue por dizer que é mister inquirir das condições em que os órgãos foram recolhidos antes de tirar conclusões sobre o resultado da docimásia.

Na Austria, em 1911, K. Meixner (2) publicava um notável trabalho sobre docimásia hepática, pelo método histológico, adoptando o processo de coloração de Best. Considera como elementos mais importantes de análise a quantidade e a situação intra ou extra ce­lular do glicógenio. A seu ver, uma pequena ou média quantidade de glicógenio não tem importância, mas tão somente uma grande quantidade ou a ausência total. As aplicações deste principio são sobretudo interessantes, diz K. Meixner, nos casos de infanticídio; se não se encontra glicógenio ou se encontram simples vestígios nos casos em que os resultados da autópsia excluem uma vida extra uterina, é admissível a hipótese do feto ter respirado no seio da mãe ou ter sucumbido a uma asfixia lenta durante o nascimento. Segundo

(1) Les reserves glycogèniques du foie dans la cirrhose, Presse Medical Brault, 29, Mai, 1901.

— Sur la présence et le mode de repartition du glycogène dans les tu­meurs, Acad. des se., novembre, 1894, Brault.

— La glycogénèse dans les tumeurs, Arch, des se. méd., tome I, 1896, Brault.

—La production du glycogène dans les tissus qui avoisinent les tumeurs. Arch. gen. de méd. 1899.

—Le pronostic des tumeurs basé sur la recherche du glycogène. Monogr, Paris, 1899.

— Tumeurs in Cornil et Ranvier, tome I, 1901, pag. 288. (2) Das glykogen der Leber bei verschiedenen Todesarten ia~Beitrage

zur girechteíchen Medizin, Viena, 1911, Karl Meixner. Cit por Thoinot. Precis da M. L. t. l.° pag. 181. 3

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este mesmo autor só o método histológico fornece elementos seguros, quando, nos casos de grandes mutilações, se trata de saber se a mu­tilação foi feita antes ou após a morte.

Seguindo o método de Meixner, Einar Sjõvall, de Keil (1) chega a conclusões muito mais restritivas. E' de opinião que a doci-másia hepática não fornece indicação alguma sobre o género da morte, considerando como um simples fenómeno postmortem a Ioca-lisação extra-celular do glicógenio.

Vasfi, que em 1912 (2) apresentou um estudo de setenta e cinco casos de morte súbita ou lenta, observou que o glicógenio apa­rece não só em quasi todos os casos de morte súbita mas também em alguns casos de doenças agudas ou crónicas. Concorda em que a falta de glicógenio se observa quasi somente nos casos de morte lenta. «Se a presença de glicógenio no figado não pode obrigar a concluir pela rapidez da morte, a sua ausência, pelo contrario, pare-ce-nos muito mais em favor da morte lenta». As suas observações discordam das de Meixner no qu3 respeita á localisação intra ou extra celular do glicógenio. Este autor conclue que a docimásia só tem um valor definitivo em casos de resultado negativo, quando afas­tadas todas as causas que fazem desaparecer o glicógenio do figado.

Mais recentemente, no visinho paíz, Alvarez de Toledo (3) numa serie de cincoenta observações, algumas feitas em cadáveres de indivíduos mortos sem agonia, quando gozavam de saúde mais ou menos perfeita, outras, em cadáveres de doentes que tiveram uma agonia mais ou menos longa, verificou que, «se é bem certo (confor­me o afirmam Lacassagne e E. Martin) que nas mortes súbitas que surprendem um indivíduo saudável a docimásia hepática é positiva, não sucedeu assim em todos os nossos casos mas tão somente em 88, 8 °[0», 0 doutor Alvarez de Toledo destaca a seguir os casos de excepção á regra e que se referem a duas mulheres, morta, a pri­meira, por hemorragia da artéria tibial anterior, a segunda, afogada, e a vinte e seis indivíduos mortos por doença, com agonia. Verificou também que em todos os casos em que a morte se produziu subita­mente no decurso de uma enfermidade, a docimásia foi positiva,

(1) Leberglicogen und gerichtleich Medizin, Vierty, far gerichtl med, pag. 43. Cit. por Lecha-Marzo. Man. d'Autop. e Embai.

(2) Vasfi, op. cit. (3) Investigaciones acerca de la docimásia hepática, Trabajos dei la­

boratório de Medicina Legal de la universidad de Granada, Sociedad Espanota de Biologia. Dr. Alvarez.

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TÉCNICA SEGUIDA NAS EXPERIÊNCIAS

Adoptamos nas nossas experiências exclusivamente o método químico para a pesquiza da glucose, porque nos faltaram alguns ele­mentos necessários para proceder aos exames histológicos e que não conseguimos obter, a despeito de todos os esforços empregados neste sentido, mercê da anormalidade resultante da guerra. E assim fomos forçados a apresentar as nossas experiências sem nada podermos acrescentar, sem nenhum elemento podermos fornecer á crítica que se eslabeleceu em volta deste processo, e que tem até certo ponto posto em duvida a sua eficácia. Como, porem, quizemos dar ao nosso humilde trabalho um caracter estrictamente médico-legal, orientando as nossas experiências no sentido de verificar o valor desta prova, como elemento de diagnóstico, no momento da autópsia, estamos em crer que, a despeito desta falta, notável sem dúvida, realisamos, embora com imperfeições de noviço, o nosso desideratum. A doci-másia histológica, é um método que se nos afigura impróprio para a pratica médico-legal corrente, pelas dificuldades que apresenta e pela morosidade na aplicação, alem de estar em duvida a sua eficácia, como o afirma Vasfi na crítica ao processo de Meixner. Por nossa parte não podemos emitir uma opinião definitiva sobre o seu valor, porque nem sequer o utilisamos, afigurando-se-nos, porem, como dizemos acima, sem valor prático.

A técnica seguida nas nossas experiências é, nas suas linhas gerais, a que até agora fora seguida pelos demais experimentadores, diferindo apenas nalguns detalhes como vamos vêr. Trituramos cui­dadosamente, numa maquina de triturar carne, muito usada nas cosinhas, 100 gramas de fígado e vamos acrescentando á polpa obtida 200 centímetros cúbicos de agua distilada, levando a seguir a mistura á ebulição durante alguns minutos; juntamos algumas gotas (VI) de ácido acético e filtramos cuidadosamente. Passamos imediatamente a fazer a análise química do extracto obtido, depois de notar o seu aspecto de transparência. Num primeiro ensaio faze­mos a investigação da quantidade relativa de glicógenio e glucose,

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já pelo grau de turvação do liquido em presença do alcool a 90°, já pela quantidade de oxídulo de cobre que precipita no fundo do tubo. Como se vê da descrição que fica acima, os reagentes que emprega­mos para pôr em destaque o glicógenio e a glucose do extracto, são respectivamente o alcool a 90° e o licor de Fehling. Evidentemente que aos resultados obtidos neste ensaio não pode ligar-se um valor absoluto, até porque o critério adoptado está sugeito a permanentes oscilações individuaes e por isso mesmo não figura nas nossas con­clusões.

Num segundo tempo das experiências fazemos o doseamento com todo o rigor possível e assim : tratamos o líquido de maceração, digo o extracto de tecido hepático por 1 20 do seu volume de ácido clorídrico concentrado, fervido durante meia hora, filtrado, e depois de arrefecido, neutralisado com soda cáustica e diluido com agua até ao volume primitivo. Este líquido contido em uma borêta gra­duada, era adicionado a pouco e pouco a 10 centímetros cúbicos de licor de Fehling (cujo título era tal que 10 centímetros cúbicos eram reduzidos exactamente por 5 centigramas de glucose) mantido em ebulição, depois de cada adição, até redução completa reconhecida pela formação do precipitado vermelho de oxídulo de cobre (Cu2o), ficando o liquido incolor, ou quando era um pouco corado, sem colo­ração azul ou verde.

Do numero de centímetros cúbicos consumidos deduzimos o peso da glucose.

Sendo Vem3 o volume total do líquido e vem3 o volume do líquido consumido| para reduzir os 10 centímetros cúbicos de licor de Fehling, a quantidade de glucose (adição da preexistente e da resultante da transformação do glicógenio) no volume total, era dada pela formula 0, í r05x^.

Vejamos nos quadros que seguem os resultados das expe­riências feitas:

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CAUSA DA MORTE­NOTAS Suicídio com arma de fogo (morte rápida) lesões craneo­encefálicas Atiopelamento (morte rápida) lesões craneo­encefálicas ; hemorragia Desastre com arma de fogo (morte rápida) lesões craneo­encefálicas; hemorragia. Envenenamento com ácido sulfúrico (sobreviveu três dias) Lesões cárdio­renaes, edema agudo do pulmão Envenenamento pelo subl imado (sobreviveu dois dias)

Esmagado pelo comboio Suicídio com arma de fogo (perfuração do coração) Acidente de t rabalho com sobrevinda de péritonite hipertóxica

Asfixia por soterramento Caquexia tuberculosa Broncopneumonia aguda Atropelamento (hemorragia interna) Lesões cárdio­renaes

Afogado Bronco­pneumonia aguda .

Enforcamento Assistolia Envenenamento pelo subl imado (sobreviveu três dias) Assassinato a tiro (lesões craneo­encefálicas) Enforcamento (suicídio) Lesões meningo­encefálicas Bronco­pneumonia á g u i a Enterite tuberculosa, péritonite, abcesso subfrénico Atropelamento por electr ic j ; contusão cerebral, hemorragia Suicídio com arma de fogo ; hemorrag a Desastre, contusão medular Assassinato á paulada (lesões craneo­encefálicas) Atropelamento por automóvel (hemorragia interna)

Sem diagnóstico — encontrado no rio Douro Desastre com arma de fogo (comoção cerebral) Envenenamento pelo arsénio (sobreviveu três dias) Sem diagnóstico — encontrado no rio Douro Desastre com arma de fogo (péritonite aguda puru lea ta ) Tuberculose pulmonar Sem diagnóstico — encontrado no rio Ferreira Toxi­inf ecção Sem diagnóstico — encontrado morto na via públ ica com um pé esmagado Lesões craneo­encefálicas — assassinado a tiro Lesões cárdio­aórticas, edema pulmonar agudo Atropelamento por carro eléctrico (hemorragia) Lesões craneo­encefálicas (suicídio com arma de fogo) Esmagamento entre dois vagões de caminho de ferro Choque traumático, contusão medular — Qneda Envenenamento com ácido azótico Lesões craneanas, hemorragia (atropelamento por automóvel) Tuberculose pulmonar

Lesões cárdio­aórticas

Obs. — Nos três casos em que não se diagnosticou a causa da morte, foi isso devido ao estado de putrefacção.

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DOCIMASIA HEPÁTICA 57

Alem das experiências atraz mencionadas, e anteriormente a elas, fizéramos já dezessete experiências, é certo que sem o mesmo rigor que presidiu ás que fazem parte do quadro que ora publicamos, mas cujo resultado não é de desprezar para as nossas conclusões. São dezessete observações feitas em indivíduos que sucumbiram a vários géneros de morte natural ou violenta:

Morte violenta (10 casos)

Docimásia positiva (7 casos)

Docimásia negativa (3 casos)

Morte natural (7 casos)

Docimásia positiva (5 casos)

Docimásia negativa (2 casos)

Morte vJoíenta — Nos sete casos de docimásia positiva, ha quatro—rutura de aneurisma, queimadura abrangendo todo o corpo, enforcamento com putrefação avançada mascarando todas as lesões, agressão (hemorragia interna) em que encontramos muito glicógenio e muito pouca glucose e três —duas agressões com arma de fogo (hemorragia), queda de logar elevado (comoção cerebral) em que sam igualmente abundantes o glicógenio e a glucose. Num dos casos de docimásia negativa, a autópsia foi feita dez dias após a morte e re­velou ligeiros vestígios de glucose ; noutro, em que a morte fora resul­tado imediato de agressão a tiro, revelaram-se quantidades mínimas de glicógenio e glucose e finalmente no terceiro (precipitação de lo­gar elevado) apareceram apenas vestígios insignificantes de glicógenio.

Morte natural —Em todos os casos, cinco, de docimásia positiva —caquexia cancerosa, lesões cárdio-renais, lesões cárdio-renais, bronco-pneumonia aguda, inanição —se encontra muita glu­cose e vestígios apenas de glicógenio.

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RESULTADO DAS EXPERIÊNCIAS

(OBSERVAÇÕES COMPLETAS, COM DOSEAMENTO RIGOROSO)

Vejamos agora, analisando as nossas observações, o valor mé-dico-legal dos resultados obtidos e o seu grau de concordância com as conclusões a que chegaram os demais experimentores,

Dos treze casos que entraram no Instituto de Medicina Le­gal, com a indicação de morte consecutiva a doença, independente­mente de qualquer traumatismo, alguns apresentam quantidades de glucose relativamente elevadas.

Assim, nos números 16, 22, ha respectivamente lír,073 e lgr,158 de glucose, quantidade portanto superiores a lgr e que aproxi­mam estes casos daqueles em que a morte fora violenta, com agonia rápida; os números 5, 14, 40, apresentam menores quantidades de glucose mas que ainda assim oscilam ao redor de 0 í r,5; dos oito restantes, três, apresentam quantidades inferiores a 0ír,l e cinco, quantidades mínimas, impossíveis de dosear, que sem erro de maior se podem igualar a 0.

Os números 16 e 22 referem-se a indivíduos mortos, respe­ctivamente de bronco-pneumonia aguda e lesões meningo-encefálicas, possivelmente sem agonia muito prolongada, visto que a morte do primeiro monta a uma época em que grassou a bronco-pneumonia com um caracter epidémico, produzindo com relativa frequência mortes muito rápidas e uma ou outra vez mortes fulminantes, e a do segundo foi devida a lesões menin-encefálicas, consecutivas a trau­matismo violento,

Os números 5, 14, 40, referem-se a individuos portadores de lesões cárdio-renais ou cárdio-aórticas que sucumbiram, dois deles, « a edema pulmonar agudo, individuos que vinham ha muito arrastando uma saúde precária, a que pôs termo rápido o edema pulmonar.

As oito restantes observações—11, 12, 23, 24, 35, 37, 47, 48, referem-se a individuos respectivamente mortos de caquexia tubercu-

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losa, bronco­pneumonia aguda (12,23), enterite tuberculosa (péritonite), tuberculose pulmonar, toxi­infecção, tuberculose pulmonar, lesões cár­dio­aórticas, e as quantidades de glucose estão bem de acordo com a duração da doença quer nos casos de quantidades mínimas quer nos casos de ausência absoluta. Todas estas observações concordam com as leis formuladas por Lacassagne e E. Martin.

Nas observações restantes, em numero de trinta e quatro, todas referentes a indivíduos que sucumbiram a morte violenta, os resultados são bem mais discordantes e a quantidade de glucose ex­tremamente variável, pois vae de 0,ír­ a 2,"­882.

Para comodidade de estudo incluímos num quadro os resul­tados das experiências, juntando em quatro colunas os seus números, conforme as quantidades de glucose vão de lír> a 3ár­, de 0,ár>5 a lír­, de 0,Èr­l a 0, í r5, inferiores a 0,sr­l ou 0ír­, Assim se torna mais fá­cil lançar uma vista de conjunto e avaliar rapidamente os resultados colhidos, o que doutra forma dificilmente se alcançaria, dada a va­riabilidade do índice glucósico,

/gr - 3«r o,srs- isr 0,erl 0f-r5 menos de Of H Ï, OS?

1,2, 3, 7, 8, 10, 13, ZU 28,, Z9, 30.

6, 15, Z6 34, 36, 39, 43, 4-6.

4, ,3, 17, 31 38, 42, 45.

20, 27, 33 fl, 44.

19, 25, 32

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Por aqui se verifica que o numeio de observações varia na rasão directa da quantidade da glucose; assim, ao passo que ha onze casos em que a glucose varia de \ix- a 3ír­ ha apenas três em que não foi possível dosear a glucose, ficando entre estes extremos três termos intermédios subordinados contudo á mesma lei,

As observações numero 19 e 32 referem­se a indivíduos en­venenados que sobreviveram, três dias e morreram conragonia ; estão portanto dentro da regra.

A observação numero 25 refere­se a uma mulher que sucum­

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biu rapidamente em consequência de traumatismo violento, portadora de extensas lesões de esclerose em todo o sistema cárdío-vascular ; fez em consequência da rutura da aorta e laceração da meníngea média, largas hemorragias e apresentava ainda uma contusão cere­bral, Como vimos, o extracto hepático não revelou glucose. É este um caso em desacordo com as leis de Lacassagne e E, Martin, um ar­gumento favorável á objeção de Wachholz? E. Martin publicou um trabalho (La disparation du glycogène et du glucose du foie dans les grandes hémorragies n'est pas le fait de la saignée á blanc, mais bien d'une intoxication chronique de l'organisme—Arch, d'anthropo­logie crim. n,° 145, 15 de Janeiro de 1906) em que atribue, em casos desta natureza, a falta de glucose a intoxicação crónica. Não é este um caso em que possamos filiar a ausência de glucose na intoxica­ção crónica, pela falta de lesões características. Teria realmente a hemorragia influencia no resultado obtido?

Sucede que em oito casos de morte consecutiva a hemorragia (n.os 2, 3, 8, 13, 26, 29, 41 e 46) encontramos sempre glucose e na maior parte dos casos em alta percentagem. Em alguns casos, porem, sobretudo na experiência numero 41 encontramos uma percentagem pequena de glucose, o que até certo ponto diverge do resultado das restantes observações bastante concordantes com a opinião de E. Martin. As observações 26, 46, apresentam uma percentagem de glucose relativamente baixa, 0ár,756 e 0ír,610 respectivamente, ape-zar de se tratar de mortes absolutamente rápidas, sem agonia.

Devem atribuir-se estesgresultados à hemorragia? Os indivíduos autopsiados estavam isentos de qualquer into­

xicação e a técnica seguida foi rigorosamente a mesma em todos os casos, directamente fiscalísada pelo distincto Professor de analise química Dr. Pereira Salgado.

A que devem pois atribuir-se estes resultados em discordân­cia com os resultados das observações [números 2, 3, 8, 13 e 29, que acusam respectivamente lár,510—2ár,882—2a%105— lgr,479 — lír,785 de glucose?

Esta discordância de resultados em casos de lesões seme­lhantes entre si aiada se mantém noutras observações; os números 1, 20, 39 e 42, referem-se a indivíduos que sucumbiram rapidamen­te a lesões cranoencefálicas produzidas por projetil de arma de fogo e as percentagens são respectivamente 2^,238 — 0^,052—0",500 -—0ár,103; o cadaver do primeiro foi autopsiado quatro dias após a morte; o cadaver do segundo, vinte e quatro horas depois; o do ter-

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ceiro e quarto após vinte e quatro horas e sessenta e oito horas res­pectivamente.

Em três casos de suicídio por envenenamento— números 4, 6, 45,—com'ácido sulfúrico, ;sublimado, ácido azótico, respectiva­mente, em que os indivíduos sobreviveram três, dois e um dia, as per­centagens são também muito variáveis: 0,"r-214-0,"r-946-0,^109.

Em dois casos de esmagamento pelo comboio—números 7, 43—em que a autópsia se realisou para um e outro três dias após a morte, com os cadáveres bem conservados, a quantidade de glu­cose é respectivamente l,*f-024 e 0,ír-525,

As observações números 17, 21, ambas referentes a suicídios por enforcamento, apresentam respectivamente 0,ír-496 e l,4t-428 de glucose,

A observação numero 27 que se refere a um indivíduo que morreu rapidamente e cujo cadáver foi autopsiado vinte e quatro ho­ras após á morte, apresenta 0,ír-070 de glucose.

Por aqui se vê que a docimásia hepática nem sempre é um elemento de elucidação, pois a percentagem de assucar está sugeita a grandes variações. As nossas observações são bem concludentes e o seu resultado não pôde ser atribuído a incúria ou deficiência de técnica, tão comprovada é a competência do Prof, Salgado, que com uma amabilidade penhorante e um cuidado inexcedivel dirigiu as nossas pesquisas quantitativas.

Colomb afirma que uma quantidade de assucar variando en­tre 2 e 4 gramas (adição de glicógenio e glucose) indica uma morte muito rápida; nas nossas observações nunca atingimos números tão altos; a maior percentagem que obtivemos foi 2,ír-882 e excepto em dois casos—números 1, 8—essa percentagem não atingiu dois gra­mas, pois raro ultrapassou l,gr,5.

A docimásia hepática poderia prestar óptimos serviços se fosse possível estabeler limites fixos para a variação das percentagens de glucose, mas esse desideratum não está realizado e as nossas obser­vações, bem ao contrario, estabelecem a impossibilidade de o reali-sar, tão grandes sam as oscilações.

Verificamos que na maior parte dos casos de morte consecu­tiva a doença mais ou menos longa, a glucose desaparece do tecido hepático; verificamos que em casos de morte rápida, com agonia rápida, se encontram, por vezes, percentagens de assucar importantes, mas verificamos igualmente que noutros casos de morte não menos rápida as percentagens de assucar são insignificantes e algumas vezes

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até inferiores ás percentagens obtidas em fígados de indivíduos que sucumbiram a doenças mais ou menos longas. Isto resulta directa­mente das nossas observações.

Cremos, porisso, que esta prova não tem presentemente grande utilidade prática nem oferece ao médico-legista um elemento apre­ciável de diagnóstico.

Visto. Pode imprimir-se.

O Presidente, O Director,

Lourenço Gomes. Maximiano de Lemos.

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ERRATAS

ONDE SE LÊ: (OBS.) :

. . . do pericardite 12 . . . morta 14

. . . congelação 19 . . . morta 23 . . . arco 26

. . . morta 35 . . . sinfese 35 . . . Pasta 39

. . . diminutiva 39 . . . pafurmeningite 40

. . . toraxica 43 . . . cascificado 48

. . . cardio-renaes 43 . . menin-encefalicas pag. 59

DEVE LER-SE".

. . . de pericardite crónica . . . morto

. . . coagulação . . . morto . . . angulo . . . morto . . . sínfise . . . Vasta

. . . cominutiva . . . paquimeningite

. . . torácica . . . casei ficado

. . . cardio-aorticas (?) . . . meningo-encefálicas