Constituição epidêmica: velho e novo nas teorias e práticas da ...
DO VELHO AO NOVO: poLfTrCA E EDUCAÇÃO NO MARANHÃO
Transcript of DO VELHO AO NOVO: poLfTrCA E EDUCAÇÃO NO MARANHÃO
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DO VELHO AO NOVO:
poLfTrCA E EDUCAO NO MARANHO
Maria Nbia Bonfim Pinto
---.'-
DO VELHO AO NOVO:
POLfTICA E EDUCAO NO MARANHO
Maria Nbia Bonfim Pinto
Tese submetida como requisito pa!.
cial para a obteno do grau de
mestre em Educao.
Elter Dias Maciel
Orientador
Rio de Janeiro
Fundao Getlio Vargas
Instituto de Estudos Avanados em Educao
Departamento de Administrao de Sistemas Educacionais
1982
",
Aos fi lhos George 3 Marce lo e Aracy;
Ao Orlando 3 pelo apoio e pelo modo c~
mo preencheu minha ausncia 3 cuidando
dos nossos filhos.
Esto na minha lembrana:
Elter
que no dia a dia da orientao tornou-se o am~go
maior;
"". . Julieta
por ter levado esta Escola ao ~aranh~;
Jos Carlos e Lcia
pelas horas de discusso animada na praia do Olho
d'gua;
Raimunda ... que no se esqueceu de mimar meus filhos~ enqua~
SUMRIO
Pago
INTRODUO ......................................... -I
1. Notas Metodolgicas ............................. 1
2. Procedimentos ................................... 7
CAPITULO I
O CONTEXTO POLITICO MARANHENSE DE 1954 A 1965:
O CAMINHO DE SARNEY ............................ 13
1. O Maranho no Sistema Partidrio..... ......... 13
1.1 - Vitorino Freire, o Velho Cacique ....... 14
2. O Panorama Poltico de 1954-55 > 16
2.1 - Sarney, o Novo Ator 25
3. O Panorama Poltico de 1958 .................. 27
3.1 - Sarney, o Novo Lder ................... 30
4. O Panorama Poltico de 1962 .................. 38
4.1 - Sarney, o Lder Consagrado ............. 39
4.2 - Posio de Sarney no Cenrio Nacional... 41
5. O Panorama Poltico em 1965 .................. 46
5.1 - Sarney e os outros candidatos............ 51
CAPITULO 11
A RUPTURA COM O VELHO:
SARNEY NO GOVERNO ............................... 53
1. O Panorama Poltico depois de 1964 - repercus-
ses no Maranho ............................. 53
1.1 - As circunstncias polticas de Sarney... 55
2. Alguns Traos do Perfil de Sarney 68
V
Pag.
3. Enunciado do Maranho Novo ...................... 72
4. Sarney, Governador - Desenvolvimento e moderniza
ao ............................................ 74
4.1 - Prioridades Governamentais ............... 83
4.2 - Setores da Sociedade beneficiada pelo NOVO 86
CAP!TULO 111
O PROJETO EDUCACIONAL DO MARANHO NOVO ............ 92
1. A Ideologia do NOVO 92
2. A Educao antes do NOVO ...................... . 96
3. Diretrizes para a Educao Nacional ............ 118
4. Aspectos Polticos da Prop~sta Educacional do M~
RANHO NOVO .................................... 12 O
5. la. Fase do Programa Educao: discurso distan -
ciado da - . pratIca .............................. . 129 6. 2a. Fase do Programa Educao: tentativa de ra -
cionalizao .................................... 141
7. 3a. Fase do Programa Educao: Adeso ao NOVO ... 150
8. Projetos Educacionais do MARANHO NOVO .......... 156
8.1 - Viso Geral sobre-o Ensino Mdio maranhense158
8.2 --2rojeto Bandeirante 162
8.3 - Projeto TV Educativa ..................... 169
8.4 - Proj eto Madureza ......................... 177
8.5 - Viso Geral sobre o Ensino Superior Mara -nhense ................................... 183
8.6 - Projeto Centauro ......................... 187
8.7 - Aspectos comuns aos Projetos Educacionais 191
CONCLUSO 194
BIBLIOGRAFIA 204
VI
RESUMO
Apresento neste trabalho urna anlise sobre a poli
tica educacional do Maranho, desenvolvida no perfodo do Go
verno Sarney (1966/70).
Assumindo o Governo do Estado, Sarney condiciona
seu Programa s diretrizes desenvolvimentistas, j dinamiz~
das no sul do pafs. Enuncia 'o MARANHO NOVO, construfdo a
partir da implantao de projetos industriais e agro-pecua-
rios, que teriam o respaldo governamental, a partir da pre-
paraao de urna infra-estrutura que lhe desse suporte.
Nesse contexto, a Educao convocada para cum -
prir funes destacadas, que se estenderiam desde a trans -
misso ideolgica contida na mensagem do NOVO at acionar o
projeto de desenvolvimento em que se lanara o Estado.
Essa anlise situa a Educao corno elemento polf-
tico, por excel~ncia, a ~er utilizado face quela situao . . "!-'
So implantados no-setor educacional projetos que se carac-.....
terizam pelo: imediatismo e audcia de suas propostas ,em sin
tonia com outras aes governamentais de igual teor,sem que
fosse considerada a realidade do Estado em suas mltiplas e
diversas dimenses.
VII
ABSTRACT
This dissertation aims ana1ysing the educationa1
po1icy of the Sarney administration in the State of Maranho
four 1966 to 1970.
When Sarney begins his governement he conditions
his program to be deve10pment 1ines abready adopted in the
Southern part of Brazi1. He proposes a "new Maranho", ba
sed on industrial and on agricu1ture and catt1e - raising
projects which were to be supported by an infrastructure in
troduced and/or maintained by means of governamental incen-
tives.
In such a context, the educationa1 sector is ca1-
1ed in to perform an important series of functions,from the
ideo1ogica1 incu1cation of the "new" idea action the deve -
lopmenta1 p1ans for the State.
This study identifies education as a po1itica1
e1ement by exce11ence, to be emp10yed in a situation ~like-
that. In this perio~; most of the ~ducationa1 projects are
characterized by a certain immediacy as we11 a~ by bo1d pro ~ -
proposa1s, and are consistent wi th other similar governamental
projects, guarding no re1ationship with the mu1tip1e and
diversified rea1ity of Maranho.
VIII
LISTA DE ABREVIATURAS
Agncia para o Desenvolvimento Internacional - USAID
Aliana Renovadora Nacional - ARENA
Campanha de Aperfeioamento e Difuso do Ensino no Maranho
- CADEM
Campanha de Aperfeioamento do Ensino Secundrio - CADES
Campanha Nacional de Educandrios Gratuitos - CNEG
Campanha Nacional de Escolas da Comunidade - CNEC
Centrais Eltricas do Maranho - CEMAR
Centro Educacional do Maranho - CEMA
Comisso Econmica para a Amrica Latina - CEPAL
Comisso Executiva do Plano Estadual do Maranho - CEPLEMA
Con~~lho Federal de Educao - CFE
Departamento de Estradas de Rodagem - DER
Departamento Nacional de Obras contra a Seca - DNOCS
Fundao Maranhense de Televiso Educativa - FMTVE
Grupo de Trabalho e Assessoria de Planejamento - GTAP
Instituto Latinoamericano de Planificao Econmica - ILPES
Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos - INEP
Movimento Democrtico Nacional - MDB
Operao Nordeste - aPENO
Partido Democrtico Cristo - PDC
Partido Democrtico Social - PDS
Partido Social Democrtico - PSD
Partido Social Progressista - PSP
Partido Republicano - PR
Partido Trabalhista Nacional - PTN
IX
Partido Trabalhista Brasileiro - PTB
Unio Democrtica Nacional - UDN
Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE
Superintendncia para a Valorizao e 'Estudos
da Amaznia - SPVEA
Superintendncia para o Desenvolvimento do Maranho - SUDEMA
x
INTRODUO
1. Notas Metodolgicas
Cabe colocar, logo no incio deste estudo, o meu
posicionamento como pedagoga que descobre ser possvel ir
alm da horizontalidade, dentro do campo profissional em que
milita e do mundo em que vive. E na verticalidade vislum -
bra o campo maior do conhecimento e nele encontra sentido
para continuar, por descobrir as vinculaes da Educao com
o prprio emergir desse conhecimento. Assim, deixo expl-
cito que me aventuro a tomar posiao frente ao caminho que
d substncia a este estudo, sem tentar justificaes para
falhas e imperfeies que permeiam toda a sistematizao que
apresento. Antes de tudo, minha inteno mostrar que a
partida no quer significar qualquer compromisso com algum
ponto que possa ser chamado de chegada. Isto no expressa
ausncia de propsitos e sim o fato de que estou consideran
do somente a caminhada.
Quero explicar tambm que, quando falo do conheci
mento, refiro-me quele conhecer que procura desvendar as a
parncias situando-as como formas manifestas da essenciali-
dade, configurada pelo real. Assim, o ato de conhecer o ob
jeto construdo pela teoria, conforme seus pressupostos e
de acordo com a postura assumida diante dela. Da, a exis-
tncia de mltiplas interpretaes dadas ao real e, conse -
quentemente, a possibilidade de relativizao do prprio co
nhecimento, derivado dessas interpretaes.
2
Diria que, neste trabalho tento dar uma interpre-
tao ao meu objeto de estudo segundo posicionamento teri-
co que o coloca no processo de historicidade do homem, marcado
pela existncia de classes sociais 1 em constante luta, situadas em cam-
pos sociais antagnicos. Creio que, a partir dessa premissa se d a co~
truo do conhecimento e a interpretao do objeto e que a prpria esco-
lha de categorias analticas decorre desse posicionamento.
Logo, a anlise que fao da poltica educacional
do Maranho .pressupe um traado metodolgico a ser seguido,
nao com a rigidez que permita apenas encaixar os dados nos
espaos de uma teoria, mas no sentido de ilumin-los e ln-)
terpret-los de acordo com generalizaes tericas concer -
nentes quela realidade. Estou querendo dizer que na reali
zaao deste estudo est presente, ou melhor, orienta minha
ao, a linha terica que aceita a historicidade do real,
sendo que esse movimento temporal depende do modo como os
homens se relacionam entre si e com a natureza, constituin-
do relaes de produo que sao invariavelmente relaes s~
ciais. Logo, as categorias que este estudo tenta apresen -
tar como unidades de anlise so construdas a partir des-
ses pressupostos.
l"Definem-se duplamente as classes SOClalS, no cada qual isoladamente, mas enquanto sistema: 19 ) nas relaes que estabelecem entre a base e-conmica da sociedade e as suas formas ideolgicas; 29 ) nas relaes que mantm entre si. Deste modo, elas so_a dimenso crucial da arti-culao estrutural, com sua raiz na base econmica - que~responde pela sua forma objetiva -, e com sua afirmao no plano ideolgico - em que se tornam capazes de identificar seus prprios interesses, de defi n-los face aos das outras classes, e em que se organizam e agem de a-cordo com eles. Sua formao se faz em ambos os planos, o econmico e o ideolgico.
CARDOSO, M.L. IdeoZogia do desenvolvimento - Bpasil: JK-JQ. Rio de Ja-neiro, Paz e Terra, 2a. edio. 1978. p. S6
Na elaborao deste trabalho, admito que 3
possa
ter havido uma tendncia da anlise propender mais para o
terreno ideolgico. No entanto, este fato no significa de~
cuido, no sentido de desvalor dado base econmica. Procu
ro estar vigilante em relao a esta questo, entendendo que
1t1?elaciones econmicas e ideoZgicas se engendran atravs de
una dialctica~ cuya determinacin~ en ltima instncia~co~
responde a lo econmico"2. A opo ~ feita tomando em con-
siderao a tese de que "es en el terreno de la ideologia
donde los hombres toman consciencia de los conflictos que se
manifestan en el mundo econmico"3~ Assim, atravs das a-
oes polticas que os conflitos concret0s chegam conscin
cia, em decorrncia da insero dos indivduos no processo
social. -Entendo que e politicamente que se constroem as i-deologias; estas por sua vez, concretizam-se nas institui -
es polticas: partidos polticos, sindicatos etc. Ora ,se
a manifestao ideolgica se apresenta organizada a nvel
insti tucion,al e estas insti tuies adquirem mais fora e
representam os setores dominantes da sociedade, fica eviden
ciado o espao existente no campo ideolgico, para a mani -
festao de antagonismos, advindos da atividade poltica.
Logo, a luta entre as classes sociais uma luta poltica.
Assim percebendo, tento colocar esta anlise no
campo poltico-ideolgico, preferentemente, a fim de inter-
2 CARDOSO , M.L. La Construccin de Conocimientos . Mxico , Ediciones Era S.A., 1977, p. 75.
3'ldem, ibidem, p. 100. ..
4
cambiar a realidade maranhense a partir dele. Portanto, o
termo poltica que penteia todo o corpo deste estudo conte-
ra esta conotao, at mesmo quando a referncia se fizer
poltica partidaria, visto que eu a classifico tambm como
uma aao poltica. Assim procedendo, dou ao termo sentido
diferente daquele que o situa como diretriz para a aao,sem
levar em conta a causalidade dessas aoes.
-Outro aspecto a ressaltar diz respeito a concei -tuao dada , Educao, no decorrer desta analise. Ora,quer
me parecer que a prpria coerncia da investigao e as co-
locaes j a fei tas tm a ver com o -sentido que ; intenciono
dar Educao, objeto mais central com lque me proponho li-
dar. A Educao aqui referida processa-se no interior das
insti tuies escolares e tem seu mbito de abrangncia e seus
objetivos maiores configurados no campo poltico-ideolgico
com respaldo do poder estatal. Assim, sendo, a correlao a
ser feita similar: a ao educativa tambm se apresentanum
processo dehistoricidade e se reproduz com grande fora no
terreno dos grupos dominantes que a mantm sob controle. No
entanto, esse espao tambm contraditrio, visto ser per -
meado pelas classes sociais em luta, propiciando a manifesta
o de ideologias. Logo, a aao educativa constitui-se em
orientao para a ao poltica.
Assim sendo,- reside a a maior fora a~tribuda -as instituies educacionais. O Estado como entidade que ex-
pressa os interesses da classe dominante vislumbra na Educa-
ao e atravs dela a reproduo de sua dominao. Origina-se
da a preocupao do Estado em controlar e manter essas ins-
5
tituies para assegurar o poder, a dominao ideolgica e
a reproduo da cultura, alm da nova atribuio que lhe
foi conferida de preparar recursos humanos para o sistema
vigente, corno parte necessria para a expansao do modelo
de desenvolvimento econmico.
Aqui, oportuno enfocar que quando elejo desen -
volvimento corno unidade de anlise para esta investigao
nao me escapa a existncia de outra que lhe contrria, ou
seja, a de .subdesenvolvimento. S que elas aparecem num
processo de linearidade que apenas polariza as duas categ~
rias, admitindo a existncia "natural" desses estgios. Ve
jo a questo por outro ngulo, concordando com a premissa
de que "compreender o modo como se d~ o desenvolvimento nu
ma etapa histrica determinada significa captar a forma es
pecifica assumida pelo modo de produo da existncia huma
na na etapa histrica considerada~ Ora~ no momento histri
co em que vivemos~ o modo de produo da existncia humana
assume a forma capitalista. E a lgica do capital segue um
duplo e contraditrio movimento: de um lado~ concentrado~
de outro~ por exigncia mesma da acumulao~ tende a expan-
so"4. Nestes termos, o desenv-olvimento econmico'captura
o Maranho, no seu duplo processo de concentrao e cresci-
mento.
4SAVIANNIT, Dermeval. Participao da universidade no desenvolvimento na cional - trabalho apresentado na XVIII Reunio Plenria do Conselho de Reitores pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. p. 6.
6
Outros pressupostos tericos aparecem neste estu-
do, no entanto creio que esbocei aqueles que, de certo modo,
sao os mais pertinentes.
2. Procedimentos
A proposta deste estudo tenta dar conta de anali-
sar a poltica Educacional que se processa no Maranho, no
Governo de Jos Sarney, cobrindo o perodo de 1966 a 1970.
Inicialmente convm coloar que a Educao passa
a expressar a ideologia do desenvolvimento econmico que
chegara ao espao maranhense, naquele perodo, atingindo t~
dos os setores, inclusive o educacional. Assim, neste est~
do, procuro atentar para a existncia de pontos de ligao
dessas relaes que, longe de serem isoladas, so imbrica -
das e processadas num determinado contexto histrico.
Com referncia escolha do campo de investigao
tenho a dizer que no foi casual, nem imposta. Creio -que
ele quer conter, antes de tudo, uma viso de mundo e a ne -
cessidade de construir o conhecimento da realidade educacio
nal do Maranho, mesmo que numa pequena fatia do seu proce~
sarnento, a partir desta concepo. Assim, campo-mtodo fun
dem-se e a partir da todos os procedimentos utilizados tor
nam-se apenas modos decorrentes para a anlise.
b difcil demensionar o caminho percorrido e a
percorrer; entretanto, parece que todo ele est permeado
pela curiosidade de'ter enveredado por atalhos, pelo desni-
7
mo de tantas vezes ter tido de voltar atrs e pelo impacto
dos momentos fecundos da descoberta.
Por questes didticas, tentarei descrever, ago -
ra, os principais passos dados para que este trabalho se con
cretizasse. Isto sem levar em considerao os antecedentes
mais distanciados, refiro-me apenas aos procedimentos pro -
priamente ditos.
Logo, no incio, me dei conta de que havia escas-
sez de dados para realizar o estudo e de que o meu conheci-
mento do campo a pesquisar era muito limitado e superficial.
Admi tindo este diagnstico, procedi a dois tipos; de coleta
de dados: um~ mais geral e sobre assuntos relacionados com
o contexto maranhense; o outro, direcionando para o campo
ne interesse especfico. Ambos os tipos serviram de fios de ligao a me conduzirem a outros dados, que se avoluma -
ram a ponto de me sentir indecisa diante deles, sabendo que
teria de selecion-los e interpret-los. Diria que esta foi
a fase mais "assistemtica" da pesquisa e a exploratria,por
excelncia.
Num segundo momento, organizei um arquivo do pe -
rodo estudado que me permitiu catalogar no dados "frios",
mas compreender o processo e nvel das relaes, nos mais diveTsos aspectos porque passara a sociedade maranhense. Es
te arquivo foi montado a partir de leituras que fiz dos jo~
nais da poca. FOTam consultados: "O Imparcial", "Jornal do
Povo", "Jornal Pequeno", "Jornal do Dia" e "Dirio Oficial ",
no perodo de 1954 e 1971. Queria dizer, aqui, que nos po-
8 roes da Biblioteca Pblica do Maranho encontrei as melho -
res diretrizes e a maior fonte de motivao para encaminhar
minha pesquisa. No deleite daquela leitura, viria a desco-
brir e a valorizar as relaes sociais, expressas ou nao nos
textos dos jornais. No sei se consigo teorizar sobre elas,
ou a partir delas, tanto quanto me pareceram significativas.
Tambm neste momento, fui construindo sob Jlinha
viso metodolgica, os atores polticos que, de certo .odo,
intercamb~aram ou expressaram essas relaes. E aqui, vale
colocar que chego a pensar t-los distinguido sobremaneira,
no processamento da anlise. A minha inteno, era de SI
tu-Ios como "personas" do capital, no dizer de Marx. No en
tanto, posso ter extrapolado o intento e os caracterizadoco
mo se os atores principais fossem mais importantes que o
contedo do "espetculo". Talvez o espao fsico que nos
aproxima e a minha curiosidade de desvend-los tenham condu
zido tambm a minha inteno.
Num terceiro passo pareceu-me o momento oportuno
para realizar entrevistas com pessoas que tivffis~m depoimen-
tos importantes e contraditrios sobre a temtica, de um mo
do geral. Assim sendo, consegui depoimentos de: Jomar Mo-
raes, escritor e jornalista; Reginaldo Telles, jurista e
ex-integrante da equipe de Sarney; Freitas Diniz, deputado
federai (MDB); Lus Rocha, deputado federal (ARENA); Celso
Veras, economista e professor da Universidade Federal do Ma
ranho; Diomar das Graas Motta, pedagoga e membro da equi-
pe de planejamento da Secretaria de Educao no Governo Sa~
ney; Rosemary Lauande, professora da Universidade FedeTal~o
9
"Maranho; Maria da Conceio Ferreira, professora da Univer
sidade Federal do Maranho e Superintendente da CEPLEMA no
Governo Newton Bello; Jos de Ribamar Bastos, tcnico em Ad
ministrao e Superintendente da CEPLEMA no Governo Sarney;
Neiva Moreira, ex-deputado federal (PSP) , cassado e exila-
do aps 1964; Jos de Ribamar Seguins, jurista e Presidente
da Campanha Nacional de Escolas.da Comunidade e os trs Se-
cretirios de Educao durante o Governo Sarney: Orlando Me-
deiros, Jos Sales de Andrade e Jos Maria Cabral Marques.
Quero ressaltar que essas entrevistas constituirarn material
valioso para algumas interpretae.s, alm de me proporcion~
rem acrescentar muitos dados minha iThvestigao, pela ri-
queza de contedo e pela viso expressa sobre a temitica em
estudo.
Concomitantemente, trabalhei com dados oficiais re
lacionados com o perodo. Valeram-se, principalmente ,as Meg
sagens Governamentais enviadas Assemblia Legislativa por
ocasio da abertura anual dos trabalhos daquela Casa,os PIa
nos de Governo, os Diagnsticos sobre o Maranho e os Proj~
tos Educacionais do Governo Sarney. Esse documentirio vem
discriminado na Bibliografia anexa.
Devo ainda esclarecer que, em todo o processo de
elaborao, trabalhei com esses dados conjuntamente. Da lei
tura e anilise constru esta interpreto, qu~ apenas ini-
cia uma srie de estudos que possa ser feita sobre a Polti
ca Educacional do Maranho.
O trabalho vem organizado em trs captulos, as -
sim distribudos:
10
Captulo I - O Contexto Poltico Maranhense de
1954 a 1965: O Caminho de Sarney.
Neste captulo, intenciono mostrar como se proce~
savarn as relaes sociais no Maranho, marcadas politicame~
te pelo mandonismo dos grandes proprietrios de terra que
se impunham a partir do monoplio econmico. Tento ainda
caracterizar Vitorino Freire, figura poltica que corporifi
ca o coronelismo no Maranho e o surgimento dos contestado-
res, destacando-se entre eles, o jovem Sarney.
Este Captulo expressa minha primeira aproximao,
diante do campo especfico de estudo. Entendo que precisa-
va constru-lo para ter condies de deslindar depois, que~
tes pertinentes Educao maranhense, no perodo delimit~
do. Talvez ele possa parecer extenso e pormenorizado,no e~
tanto, cada um dos seus detalhes teve um significado especi
fico na minha investigao.
. ~ Capltulo 11 - A Ruptura com o VELHO - Sarney no
Governo.
Sistematizo, neste Captulo, a minha interpreta -
ao sobre o dinamismo que propicia a incluso do Maranho no
processo de desenvolvimento econmico que se alastrara no
pas, chegando ao espao maranhense e procuro tambm mos-
trar o desempenho de Sarney diante dessa conjuntura. Ele a-
presenta na mensagem ideolgica do MARANHO NOVO uma propo~
ta de ruptura com o VELHO e essa apenas vem modernizada, me
tamorfoseando o arcaico.
11
Por outro lado, procuro mostrar como o desenvolvi
mento maranhense significa, em ltima instncia, o fortale-
cimento de grupos econmicos em aliana com o poder estatal,
uma vez que o Programa Governamental de Sarney dota o Mara-
nho de uma infra-estrutura voltada para os interesses des-
ses grupos. E mais, sofisticando uma poltica que continua
clientelstica, so convocados tcnicos que, adotando mode-
los de planificao, acreditam poder transformar o VELHO em
NOVO, como se esse fato fosse possvel sem mudanas estrutu
rais profundas.
Captulo 111 - O Projeto Educgcional do Maranho
Novo.
Neste Captulo, coloco a Educao como parte inte
grante do projeto social global e demonstro como no caso em
estudo, ela solicitada para difundir a ideologia do NOVO
e preparar recursos humanos tendo em vista o Plano de Gover
no que anuncia a incluso do Maranho no processo de desen
volvimento econmico. Para tanto, siste.atizo a situaoda
Educao no Estado, antes do Governo Sarney para poder de-
monstrar como apareceriam as proposies "milagreiras" que
diziam resolver problemas educacionais crnicos. Mostro tam
bm a resistncia oferecida pelo setor, em decorrncia de
sua prpria inrcia e como foram adotadas "aes planeja
das" para a dinamizao do sistema de Educao.
Essas aes seriam corporificadas eJD piojetos- impactos,
assumindo caractersticas de grandes realizaes, pelo per-
centual crescente da populao atingida, mesmo que aparece~
12
sem caracterizadas pelo imediatismo. ~ E al, se processa uma
ao poltica, por excelncia, visto que a dinamizao do
setor educacional passa a significar progresso e bem-estar
social, deixando encobertos os objetivos causais dessas de-
cises.
13
CAPITULO I
O CONTEXTO POLITICO MARANHENSE DE 1954 A 1965:
O CAMINHO DE SARNEY
1. O Maranho no Sistema Partidrio
Creio que o ponto de partida para um estudo sobre
determinado contexto poltico remete-se, necessariamente, a
uma abordagem no sistema partidrio 1 propiciado e em proces-
so nesse contexto.
Da porque tentarei rela~ionar os ~ato~ aconteci -I
dos no contexto poltico maranhense com a prpria dinmica
que se processa e encaminha o sistema partidriq nacional,de~
cartando desde j qualquer inteno de enveredar-me demasia-
damente por esses meandros. Considero desnecessrias maiores
incurses nesseterreno, j que muitos estudos esto sendo rea
lizados nesse campo~
lSistema partidrio entendido como "o conjunto de relaes dos diversos partidos entre si, com o corpo eleitoral e com os grupos de interesse, por um lado, e com os diversos aparatos que compem o Estado, em senti do estrito, . por outro. - SOUZA, Maria do Carmo Campel~ lo. Estado e partidos politicos no Brasil. So Paulo, Alfa-Omega, 1976. p. 43.
2BENEVIDES, Maria Vitria. A Unio Democrtica Nacional: wn partido em questo. so Paulo, Centro de Estudos de Cultura Contempornea, 1978. n 9 1. -
IANNI, Otvio. O colapso do populismo no Brasil. Rio de Janeiro. Ci-vilizao Brasileira. 4 ed., 1968.
SOUZA; Maria do Carmo Campello. Estados e partidos pol{ticos no Bra -silo so Paulo. Alfa-Omega, 1976.
PlCALUGA, Izabel. Partidos pol{ticos e classes sociais: a UDN na Gua-nabara. Petrpolis, Vozes, 1980.
14
No entanto, convm deixar explcito que nao me es
capa, nesta anlise, o sentido de globalidade que caracteri
za esse processo, em que o Estado do Maranhio apenas o e~
pao que elegi para objetivar minha anlise. Por outro la-
do, reconheo e admito a existncia de especificidades que
personalizam cada fatia do real, impedindo que se possa es
tabelecer urna relao mecnica entre o geral e o particular.
1.1 - Vitorino Freire, o velho cacique
No caso do Maranho, o sistema paTtid;rio estava
montado na' dcada de 50 no poderio dos senhores de terra que
dominavam o setor rural e as pequenas cidades interioranas,
~doLando um tipo de comportamento decorrente do prprio mo-
. delo poltico herdado da Repblica Velha. A disputa polti
ca resumia-se numa luta pela conquista do poder, que asseg~
rava ao grupo que o detivesse ou conquistasse urna posio
hegemnica propcia defesa dos interesses identificados
com esse grupo. O perodo, caracterizado pelo mandonismo
que se refletia nos nveis econmico e poltico, estava mar
cado pela dominao dos coronis e dos seus correligion-
rios.
Segundo Maria Isaura de Queiroz, "a pol{tica pas-
sa a processar-se de acordo com as lis de um jo-
go claro e simples, composta pelos coronis, pelo 3
governo estadual e pelo governo federal" .
3QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. tica brasileira e outros ensaios.
o mandonismo local na vida poli So Paulo. Alfa-Qnega, 1976. p. 22-:
15
Assim, adquire vulto e valor a figura do chefe poltico, in
corporada pelos coronis, em torno de quem se desenvolve u-
ma poltica clientelstica, marcada pela contenda indivi -
dual. .() coronel o senhor do seu "territrio" e, alm de
no permitir concesses, deve manter seu poderio que, at
certo ponto, d suporte e repercute nos nveis estadual e
federal. Por outro lado, deve congregar o seu "pessoal"que
lhe presta obedincia e de quem se torna legtimo represen-
tante, estabelecendo-se um processo de recproca cumplicid~
de. Logo, em troca dos favores que concede, recebe apoio e
cobra um tipo de comportamento stlbserviente e marcado por ;
extrema p~ssividade, de quantos estiverem sob o seu dom
nio e proteo.
b nessa conjuntura scio-poltica que cresce ~ im
portncia a figura de Vitorino Freire~ caracterizado na po-
ltica maranhense como mn verdadeiro "cacique". Poltico h .. bil, de uma.astcia extraordinria e com grande sede de p~
4Vitorino Freire, natural de Pernambuco, chegara ao Maranho como Secre trio de um Tenente-Interventor, o Capito Martins de Almeida, em 193~ Soluciona uma greve da Associao Comercial contra o Interventor, man-dando espancar pessoas envolvidas, fato que gerou uma crise poltica de grandes propores. Mais tarde, vai para o Rio de Janeiro como Ofi cial-de-Gabinete do General Mendona de Lima, Ministro de Viaes PU-blicas do Presidente Getlio Vargas, passando a controlar os cargos p
- blicos do Maranho. Chegara ao Gabinete de Mendona Lima por indica ::-o do General Eurico Dutra de quem era amigo pessoal, desde que este servira em Pernambuco. Em 1932, retorna para casar-se com uma mara -nhense pertencente famlia tradicional, estabelecendo definitivamen-te seu vnculo com o Maranho. Em 1945, foi eleito Deputado Federal e em 1947 candidata-se ao Senado, elegendo-se tambm. Vitorino no pIei:. teava cargos estaduais, reivindicava para si a mediao entre o Gover-no do Maranho e o Governo Gentral, desenvolvendo uma poltica de esti 10 coronelista, como ser demonstrado no decorrer desse estudo.
16
der, que fazia questo de ostentar, soube manter-se como in
termedirio entre o governo estadual e o federal. Desse mo
do, manipulando a poltica do Estado, de quem se fez legti
mo representante, atravs dos cargos que exerceu, dominou o
Maranho, durante 20 anos. A sua liderana montava-se na
disciplina partidria e no respeito pelo chefe poltico dos
Municpios que, segundo Vi torino, -era a autoridade mxima
na zua zona, mandando tanto quanto o Governador, que na maio
ria das vezes tambm era um coronel. Ostentava nos crculos
polticos sua bandeira de luta, sintetizada na frase: "Aos
amigos tudo~ aos inimigos a lei,,5. Como se percee, preva-
lecia uma poltica pautada no clientalismo, na permuta de f~
vores, que em ltima instncia, estava a servio dos inte -
resses do grupo oligrquico, detentor do poder.
2 - O Panorama Poltico de 1954-55
Cessada a 11 Guerra Mundial, d-se uma acentuada
decomposio da indstria txtil maranhense, que nao conse-
gue suportar o nvel de competio que lhe imposto pelas
grandes indstrias instaladas no Sul/Sudeste do pas.
O algodo que at ento apresentara o maior ndi-
ce de produtividade, tambm entra em declnio. Inversamen-
te, cresce a imp;rtncia econmica do babau, caracterizado
por ser um produto a demandar uma atividade extrativista e
50 SEGREDO DE VITORINO. Jornal do Dia. so Luis, 27 out. 1954.
17
de carter permamente. Torna-se assim renda complementar
para as famlias dos lavradores que juntam e quebram a amen
doa e possibilita tambm a instalao de indstrias de me-
dio porte que assumem o monoplio para a extrao do leo de
babau e para a fabricao incipiente de produtos deriva-
dos 6.
Dentre as lavouras temporrias, destaca-se a do
arroz que se expande na regio dos cocais e acompanha a di-
nmica expansionista da fronteira agrcola. O 1argamento de~
sa fronteira acontece em decorr~ncia,principa1mente, da in
tensificao do fluxo migrat6rio qu~ se d na dcada 1950/
60, como cons~qu~ncia das grandes secas que flagelam a pop~
1ao nordestina. O fenmeno tambm se reflete no "cresci-
mento da populao rural que passa de 2~2% (1940/1950) para
4~5% (1950/1960) ao ano~ com a populao crescendo em ter -
mos absolutos de 20% e 56%~ respectivamente, nos dois peri~
dos,,7 Assim, como enfoca Jos Carlos Saboia tIos anos 50
constituem-se num outro marco na evoluo maranhense~ a pa~
tir do qual percebe-se um estreitamento progressivo dos seus
laos com o processo de acumulao de capitais em curso na
economia bpasileira,,8. Essas modificaes no processo eco-
nmico teriam repercusses polticas significativas e engen
drariam novas formas de relaes sociais decorrentes da pr
pria conjuntura econmica que passava a delinear rupelas JIlUdanas.
SIIDe> leo bruto produzido no Maranho, 15$ fica na regio para ser usa-do na fabricao de sabo, velas ... enquanto 85% vai para as grandes em presas,no Rio e So Paulo. BABAu, Belm, SUDAM-Estudos setoriais e le vantamento de dados da Amaznia,1972 , SERETE, DSR, vol.III, tomo 11.
7SABdIA, Jos Carlos. Comercializao e formao de preos. So Lus, 1979, vol. 11. Conv~nio INCRA-UNlCAMP, p. 417.
8 Idem, ibidem, p. 421.
18
Quero crer que o coronelismo, em suas diversas manifesta-
oes, passaria a adquirir outras conotaes e tentaria 50 -
breviver como modelo polti~o, naquela fase marcada pelo a
vano do capitalismo em terras maranhenses.
Conforme expressa Benedito Buzar, "n5o era por acaso que o
Poder 3 aps a redemoeratiza5o do pais 3 (]945) foi parar e
xatamente nas m50s de representantes da estrutura econmica
que dominava o Estado: Sebasti50 Arch~r da Silva (1947-1951)
e Eugnio Barros (] 951 - 1956) ambos 3 por coincidncia in-
dustriais txteis 3 respectivamente nas cidades de Cod& e Ca
xias"9. Diria que' a ao poltica ~ntrara em con)ugao com
as modulaes da economi? regional que reclamava seu soergui
mento, respalJada no poder polt{co, exercido por pessoas ..
pertencentes iquele mesmo grupo econmico, no caso, indus -
triais e latifundirios.
Estudando o contexto poltico do Maranho, despo~
ta como fato not6rio a fraude eleitoral apoiada, ou melhor,
forjada a partir dos "feudos" dos coronis. Talvez o -pro-prio sistema eleitoral tenha favorecido este fenmeno. uma
vez que o voto individual se sobrepunha ao partidrio, le -
vando a competio ao interior dos pr6prios partidos. Tanto
e que escapa a uma primeira anlise situar em que bloco paE
tidrio era manipulada a fraude, uma vez que os dados apon-
9BUZAR, Benedito. A greve poltica de 1951 em So Luis. O Estado do Ma ranho. So Luis, 06 set. 1981.
19 tam mais para a existncia de conchavos clandestinos, Gara
cterizados por chantagens e acordos montados por todas as
faces partidrias. E assim, a fraude permeia os parti -
dos do governo e da oposio, na luta das urnas: os gover-
nistas tentando manter o "status quo" e os oposicionistas
querendo conquistar o poder.
o contedo poltico dOa oposio era estrutural -
mente o mesmo da situao, tendo como base uma estrutura a
grria arc~ica e uma indstria local incipiente, e como di
retriz a conquista ou manuteno do poder.
Por outro lado, a fraude concretizava~se graas
cooptao. do poder j udic irio: mapas rasurados, urnas vi~
ladas, sees anuladas, eleitores-fantasma constituiam-se~
nobras usadas, entre muitas outras, para eleger ou no um
candidato. Fica pendente o questionamento: Haveria, real -
mente, uma hipertrofia do judicirio ou seria apenas um jo-
go de favores para barganhar prestgio, pOSlao e dinheiro?
No perodo estudado, o Partido Social Democrtico
(PSD) constitua-se o partido majoritrio e jogava com a for
a dos coronis para manter a unidade partidria. s vespe
ras das eleies, como por exemplo, em 1954, firmava alian-
a com partidos menores (no caso, o Partido Libertador) pa-
ra fortalecimento dos candidatos apontados. Portanto, os
partidos menores eram outros elementos do prprio poder,vi~
to que se propunham a negociar o registro de candidaturas~a
maioria das vezes, vinculando-se ou fazendo alianas entre
si ou com partidos maiores, ora a nvel estadual, ora a .,
nl
20
vel municipal.
Outra coligaio montada, no mesmo ano, foi a que
encampava o Partido Republicano (PR) , o Partido Republic~
no Progressista (PRP) , o Partido Trabalhi~ta Nacional (PTN),
a Uniio Democrtica Nacional (UDN) sob o ttulo "Unidos pe-
lo Maranho", com o objetivo de fazer oposio ao Governo
Estadual. J o Partido Democrata Cristo (PDC) e o Partido
Social Progressista (PSP) apresentaram-se separadamente co-
mo frentes oposicionistas.
E ass im, mui tas vezes os 'partidos " perdiam sua e~
pressao que no era fortalecida por uma )filosofia e prtica
partidria. Tanto ~ que o PSP, partido ultra-conservador,a
nvel nacional, passa a ser no Maranho partido de "vangua.!:,
da". Dizendo de outr'o modo, o PSP assume a liderana oposi,
tora no Maranhio, mesmo tendo nos seus quadros dirigentes,l~
tifundirios como Clodomir Milet. A divergncia substan
cial existente entre os partidos polticos expressava-se de
certo modo nos m~todos a serem utilizados, no entanto havia
uma convergncia em relao ao contedo, pautado na domina-
ao oligrquica.
Os princpios defendidos pelos partidos de oposi-
ao no Maranho j tinham sido conquistados em outras Unida
des da Federao como, por exemplo, a proposta de purifi-
cao do sistema eleitoral e nao apresentavam no seu bo-
jo nenhuma sugesto direcionada para uma transformao
21
social. Talvez, individualmente, o Deputado Neiva Morei-
ralO tivesse captado o significado que deveria ter urna luta
poltica voltada tambm para os interesses dos grupos menos
favorecidos.
Esse contexto propiciaria o aparecimento de ou-
tros jovens no cenirio poltico maranhense, com militin,-
cia nas alas do Governo e da Oposio. E entre eles est
Jos Sarney Costa, lanado corno candidato do PSD Cimara
Federal e o~iundo do Palcio do Governo, onde exercia o car
go de Chefe de Gabinete do Governador Eugnio Barros (1951-
1954) . O jovem Sarney consegue a' 8a. Suplncia e somente
lONeiva Moreira, embora maranhense, VTVl.a e trabalhava no Rio como joma lista dos Dirios Associados. Voltara ao Maranho para vis i tar a faml lia, em 1949. Na ocasio, estava sendo publicada no "Combate", j or -nal do PR, uma srie de artigos intitulada '~ fui capanga de Vitori -no", em que eram divulgadas as arbitrariedades do velho cacique. Neiva fica chocado com a situao em que se encontrava o Maranho, marcado pelo mandonisrno e pelo alto nvel de concentrao de renda e escreve tambm um artigo denunciando aquele estado de coisas. A ele atribu da a publicao sobre Vitorino, sendo preso e tratado com muita dure ~ za. O fato provocou um enorme movimento de opinio pblica no pas, resultando no envio a So Lus de um emissirio do Governo Federal, por presso da imprensa carioca,para solucionar o caso. Neiva solto e o fatQ Q populariza. TantQ ~ que resolve transferir-se para o Maranho, candidatando-se a Deputado Estadual pelo PSP. Em 1951, lidera uma gre ve para impedir a posse de Eugnio Barros como Govemadr do Estado~ visto que se evidenciava a fraude eleitoral que o elegera. Esse movi-mento grevista define, de certo modo um posicionamento mais crtico de alguns setores da populao (estudantes, operirios, cornerciirios) con-tra as arbitrariedades do grupo que detm o poder polcito e econmi -co. Neiva viria a participar ativamente da vida 'poltico - partidria do Maranho, at 1965, quando cassado pelo Golpe de 64, como seri co locado no decorrer deste estudo.
22
aps a homologao dos resultados da 4la. Zona Eleitoral ll
e das eleies suplementares desloca-se para a 2a. supln -
cia. A essa altura Sarney j se coloca entre a incipien-
te dissidncia do PSD, formada por jovens polticos que co-
meam a contestar o vitorinismo.
Torna-se perceptvel a tomada de posio desses
jovens que j no aceitam com tanta passividade as decises
polticas tomadas pelo velho cacique, revelia do que pu -
desse se constituir em outra alternativa. Foi assim, por
exemplo, em 1955, quando o PSD maranhense forja a renncia
do Senador Antnio Bayma para que em seu lugar ascendesse ao I
Senado o -Sr. Assis Chateaubriand, lanado pelo Maranho e
com a garan~ia de ser eleito pelos vitorinistas. A grande
mquina eleitoral que elegeria Presidncia da Repblica
Sr. Juscelino Kubstichek exigia aquela posio para Chateau
briand que controlava a grande cadeia dos Dirios Associados.
lIA 4la. Zona Eleitoral do Maranho abrange os MUnicpios de Arari, Vi-tria do Baixo Mearim, Vitorino Frei~e (antiga_ gua Branca) e La~{) da Pedra, zona tutelada por Manduca Bogea, velho coronel do PSD. Apos as eleies de 1954, o Juiz responsvel pela apurao das urnas, inicia o processo sigilosamente para assegurar a eleio de alguns candida -tos, entre eles figurando Raimundo Boga, filho do velho coronel. O fato repercute por todo o Estado, sendo suspensas as apuraes por de ciso do Tribunal Regional Eleitoral. Era to escandalosa e evidente a fraude eleitoral dessa Zona que, segundo notcias divulgadas pelos jornais da poca s na contagem dos votos de Lago da Pedra e Vitorino Freire apareceram cerca de 13.000 votos-fantasmas. Depois de gran-de polmica, envolvendo lideranas e foras po1tic~s do Governo e Oposio, (inclusive a nvel nacional), conchavos, acordos, subor-nos, o caso levado ao Tribunal Superior Eleitoral que vai contra a deciso do TRE, e resolve mandar prosseguir a apurao interrompi -da. O fato to singular que gera desaven~ e rompimentos no seio S do Governo e da Oposio. Assim, nruda o placar eleitoral e alguns candidatos j considerados eleitos saem do quadro, enquanto outros entram, inclusive Raimundo Boga e Sarney.
23
o fato em si parece corriqueiro se olhado apenas
como um conchavo no meio de tantos outros que se armavam e
desarmavam nos bastidores polfticos do pafs e do Maranho.
No entanto, passa a adquirir outra conotao se visto como
o aparecimento de outras opinies que passam a ter expres -
so no meio de pequenos grupos que se atrevem a discutir as
decises tomadas e compromissos firmados por Vitorino. As-
sume o sentido de "conspirao" no interior do prprio Par-
tido que nQ admite um debate de idias e muito menos "deso
bedincias" que possam quebrar o bloco monolftico, mantido
ciosamente pelo lfder, representante daquele sistema marca-
do pelo cor~nelismo. E af desponta outr~ prisma para a an
lise desse contexto: o aparecimento dos contestadores. Sim
plesmente ocasional ou decorrente de uma conjuntura social
que premia a situao e "quase" forava o seu surgimento?
Creio que se mostra claramente o delineamento da
ques to. Por mais isolado que parecesse o Maranho ~ por mais
marginalizado que estivesse do processo global de moderniza
o 12 que se iniciava no pafs, por mais arcaicas que fossem
12"modernizao um processo que consiste sobretudo na adoo!de pa-droes de consumo, de comportamento, de instituies, valores e idias caracterfsticas de sociedades mais avanadas, sem importar necessaria-mente em transformao da estrutura econmica e social".
PINTO, L.A. Costa. DesenvoZvimento econmico e transio sociaZ. Rio de Janeiro. Civilizao Brasileira, 1978. p. 37.
24
suas estruturas calcadas no latifndio e na estagnao de
suas pequenas cidades, distanciadas entre si e perdidas dos
campos do Mearim s regies do Agreste, seria 'irreversvel
a incluso do Estado no projeto maior que se desenvolvia no ~
palS, voltado para o desenvolvimento econmico e social e
para a modernizao.
Nesse processo comea a se descaracterizar a figu
ra do "chefo" e perde terreno o caciquismo, subproduto do
latifndio que pretendia manter-se no domnio da situao
custa da subservincia dos seus agregados. Para os senho-
res rurais e chefes polticos a conteno do pr'ocesso modeE
nizante seria um mecanismo a ser utilizdo de modo a prolon
gar seu poderio. Da porque resistiam em aceitar, na lide
rana dos partidos, a presena de jovens polticos que se
identificavam com o processo de modernizao.
Os velhos e novos lderes aparecem no contexto p~
ltico como "personas" no dizer de Marx. "Seus nomes priva
dos so nomes prprios das classes e grupos sociais que re
presentam,,13. A atuao desses lderes apresenta-se premi
da pelas circunstncias e passa a adquirir substncia pela
representatividade de que se torna portadora. No caso em
estudo, os nomes de Vitorino Freire, Clodomir Milet, Neiva
Moreira, Jos Sarney e tantos outros constituem a personifi
cao dos grupos sociais neles representados. A$sim, Vito-
rino e Milet representavam os interesses das oligarquias
13 OLIVElRA, Francisco de. Elegia para uma re(li)gio. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977, p. 14.
25
agrrias maranhenses e, independentemente de estarem em blo
cos partidrios divergentes, mantinham posio ideolgica e
ao poltica convergentes. Assim, a conquista do poder
por um desses grupos no redimensionaria a estrutura econo-
mica maranhense. A proposta de renovao torna-se aparente
e se esvazia j que est em jogo apenas a ascensao de pes -
soas que, em ltima anlise, se identificam com os interes-
ses de sua prpria classe sobrepondo~se a faces partid-
rias. Quanto a Sarney, personificava no Maranho no s o
rompimento com u. projeto poltico exaurido, como as foras
sociais e polticas que emergiam da,sociedade -maranhense,
pressionando-a no sentido de incorporar as mudanas que ad-
viriam daquele rompimento. Personalizava tambm naquele mo .-
mento histrico o grupo dos grandes empresrios, inclusive
os oriundos do Sul/Sudeste, comprometido com a modernizao
do Estado. Seria a expresso concretizada do desenvolvimen
to econmico que se implantaria no Maranho, forma conse
quente da eX,panso do capi talismo monopol ista.
Esses fatos no querem significar a caricaturiza -
ao desses atores; no entanto, faz-se mister que eles sejam
analisados isentos de mistificao.
2.1 - Sarney, O Novo Ator
A anlise dos dados aponta para um exame a atua
ao poltica do jovem Deputado Federal Jos Sarney, que nos
seus primeiros pronunciamentos na Cmara Federal denuncia -
quela Casa a situao de precariedade em que se encontra o
26
Maranho, responsabilizando Vitorino Freire e seus corre1i -
gionrios pela estagnao do Estado e pelo emprego indevido
de verbas federais destinadas ao Maranho. S para exempli-
ficar a afirmativa, transcrevo o texto:
"Rio~ l8 (Tel) - Conforme ja divulgou a Telepress~
o Ministro da Sade pronunciou importante discurso
na Escola Superior de Guerra~ fazendo estarrecedo-
ras declaraes sobre o roubo do leite do FISI. Em
fape da revela~o dd Deputado Portugal Tavares~ do
PR paranaense~ solicitou informaes sobre o assun
to~ talo interesse que o'mesmo de~pertou na Cma-
ra. O Deputado Sarney~ da representa~o maranhen-
se~ em face das declaraes do Ministro~ responsa-
bilizando o Sr. Tavares das Neves~ Secretario de
Sade~ pelo roubo do leite do FI SI no Maranh~o~pr~
nune~ou importante discurso abordando o assunto~re
latando a situa~o dramatica em que se encontra o
Es~ado e o descalabro a que foi arrastado pelo vi-
torinismo"14.
Outra constante no seu discurso parlamentar a s~
licitao de recursos financeiros para a realizao de obras
de grande porte no Maranho. Constam dessa temtica: o pro~
seguimento da construo do Porto de Itaqui, a construo
da Companhia Hidreltrica de Bo Esperana, o asfaltamento da
14JORNAL DO POVO. So Lus, 19 ago. 1956.
27
Estrada So Lus-Terezina etc. Assim, j se delineiam na fa
se inicial de sua carreira poltica o interesse pela moderni
zao do Estado e a luta aberta contra o vitorinismo. Os fa
tos caracterizam o ator: de um lado tentando levar o pro-
gresso 15 ao Estado, do outro confrontando-os com Vitorino p!
ra tirar-lhe o poder. A animosidade que os esperava, mostra
va-se "quase instintiva", corno se ambos pressentissem o sen-
tido e o fim daquele confronto.
3. O Panorama Poltico de 1958
Em princpios de 1957, a ala dIssidente do PSD ma-
ranhense ingressa na UDN, fazendo frente oposicionista ao G~
verno Federal e Estadual. Segundo pronunciamento de Sarney,
nessa ocasio, os propsitos maiores do partido seriam os de
dar continuidade a urna conduta opositora a nvel federal e
estadual e tornar vivel a unio com os demais partidos da
oposio, no Maranho.
A UDN maranhense at ento se mostrara corno um paE
tido sem maior expresso poltica, sob o comando de um velho
mdico, Alarico Pacheco. At sua vinculao com o partido a
nvel nacional, apresentava-se muito dbil. ~ Sarney quem
soergue a UDN, tornando-a expressiva e preparando sua plata-
(15) Progresso entendido corno "assimilao das novas formas de vida pos sibilitadas por um nvel mais alto de acumulao. -FURTADO~ Celso. Pequena introduO ao desenvolvimento. So Pau -
10, Ed. Nacional, 1980, p. 23.
28
forma poltica para as eleies de 1958. E nessa fase, h
uma coerncia na linha de pensamento partidria: oposio
a nvel federal e estadual. At ento, os partidos de opo-
sio local assumiam posies diferentes no cenrio nacio -
nal, o que delimita a luta local: oposio ao vitorinismo e
nao ao esquema governista como um todo.
Nessa ocasio, a UDN maranhense recebe uma mensagem de con-
gratulao de Juracy Magalhes, enfocando a importncia do
fortalecimento das fileiras partidrias para a conquista do
poder e recuperao moral do pas. No discurso do lder u-
denista esto explcitos os princpios do rart~do que, des-
de a sua criao em abril de 1945, pretendeu, como objetivo
maior, a conquista do poder o que seria no dizer dos seus
lderes "a consagrao nacional do partido"16, conquistada
ainda que por pouco tempo, com a eleio de Jnio Quadros,
em 1960.
o moralismo tambm aparece como elemento constan-
te da fildsofia partidria. Vale lembrar Maria Vitria Be-
nevides quando o coloca como "nico elemento de forte cata-
lizao"17 em todos as campanhas eleitorais.
o iderio do partido nacional foi seguido,de cer-
ta forma, pela UDN maranhense que perseguia objetivos afins,
dentro do quadro estadual, naturalmente. Isto sem signifi-
car uma integrao total, mesmo porque o partio divide-se
16BENEVIDES, Maria Vitria. Op. cito p. 2
17Idem, ibidem, p. 10.
29
entre os coronis conservadores (zona rural) e os profissi~
nais liberais (zona urban~), o que ji significa representa-
tividade em grupos sociais diferenciados. No entanto, o fa
to nao constituiu impedimento para que fosse firmado um pa~
to com abrangncia nacional.
Nas eleies legislativas de 1958, no Maranho,hou
ve uma quase unidade oposicionista em torno do que se con -
vencionou chamar "Plano Interpartidirio", sob a legenda das
Oposies C01igadas, emcampando o PSP - UDN - PR e PDC que
f6rmaram uma aliana 18 , a nivel estadual, sem continuidade
ap6s eleies, o que vem comprovar ~s objetivos imediatis -
tas e eleitor~iros dessas alianas, em que "a hegemonia se
encontra sell!pre com os interesses vinculadoss classes do-
minantes, mas impossivel de realizar-se sem o atendimentode
algumas aspiraes bisicas das classes populares, entre as
quais caberia mencionar a reivindicao do emprego, de mai~
res possibilidades de consumo e de direito de participao
nos assuntos' do Estado"19 . Creio que estaria assim caracte
rizado o tipo de aliana adotado pelas chamadas "oposies
maranhenses", que no diferia substancialmente das alianas
nacionais, onde o avano do processo politico tambm ainda
se apresentava linear, uma vez que no contemplava nenhuma
transformao significativa e nem mesmo, uma continuidadena
19 "Estas alian~as eminentemente eleitorais ocorriam, via de regra, como como consequencia de problemas econmicos e/oupoliticos locais e co!. respondiam sempre a composies municipais ou estaduais". PlCALUGA, Isabel, op. cito p. 20.
20 WEFFORT, Francisco. O populismo na politica brasileira. Rio de Janei ro, Paz e Terra, 1978, p. 76.
30
unificao partidiria, decorrido o perodo eleitoral.
3.1 - Sarney, o novo lder
Em 1958, inicia-se o crescimento poltico de Sar -
ney, eleito com urna certa expressividade para a Cmara Fede
ral, onde passa a debater com entusiasmo as propostas e pro-
jetos relativos ao Norte/Nordeste ou mais especificamente ao
Maranho. Um dos seus primeiros posicionamentos foi em rel~
o Operao Nordeste (OEENQ'i o, mostrando-se frontalmente
contra. Assegura em entrevista Tribuna da Imprensa que:
"0 Programa de Desenvolvimento, do Presidente JK ti
nhd o seu lado falso 3 justamente por ser um plane-
jmento que no encara o Brasil como um todo e sim atravs do favorecimento de regies ou zonas que
mais de perto convm aos interesses politicos e co
merciais do grupo dominante,,21.
Mais adiante acrescenta:
"Acredi to que s um programa de indus tria lizao 1-
mediata 3 de mecanizao da lavoura e da reforma do
regime agrrio poderia modificar a atual situa -
o,,22.
20Ver COHN, Amlia. Crise regional e planejamento. So Paulo, Ed.Pers pectiva, 1978.
2 1 TRIBUNA DA IMPRmSA. Rio de Janeiro, 05 ma? 1959.
22Idem, ibidem.
31
Acredito que a oposio de Sarney OPENOdeve ser
vista, levando em considerao o nivel de descr~dito a que
se chegara diante de Projetos para o desenvolvimento do Nor
deste, como fora o caso do Departamento Nacional de Obras
Contra a Seca (DNOCS), caracterizado e conhecido como "In -
dstria da seca", pelos beneficios canalizados para os gra~
des proprietrios rurais do Nordeste, em detrimento acinto-
so s massas de flagelados pela seca. Dai, o posicionamen-
to de Sarney a favor de um programa que lidasse com aspec -
tos mais dinmicos da problemtica: a industrializao re -
gional, a montagem de grandes projetos agro-pecu~rios, a me
canizao da lavoura e a pr6pria reforma'agrria passam a
ter conotao de instrumentos necessrios para a transforma
ao social.
A nivel de anlise, entretanto, percebe-se que e~
ses instrumentos fazem parte integrante de um projeto desen
volvimentista que teria como consequncia a incluso da re
gio na propb~ta modernizante, j em andamento nas diversas
regies do pais.
Prossegue Sarney no seu mandato e na sua atuao
politica na Cmara Baixa do pais, apresentando em 1959 um
projeto que proibe aos Bancos Oficiais o financiamento a em
presas estrangeiras. De certa forma, parece despontar no
jovem maranhense algum interesse pelas diretrizes naciona -
listas que se manifestam quela altura entre membros dos mais
diversos partidos politicos. E aqui, vale colocar a posi -
o de Weffort sobre os nacionalistas:
32
"n~o h~ a menor d~vida que os nacionalistas - do
mesmo modo, ali5s, que os lideres populistas, ca
da qual sua maneira - tenham procurado defender
os interesses das massas populares. Pode-se mes-
mo admitir que os nacionalistas, ter~o sido no p~
riodo que estamos analisando, sua express~o poli
tica mais alta. N~o o~tante, n~o h~ d~vidas que
o nacionalismo obscureceu gravemente o sentido de
classe da emergncia pol{tica das massas, a form~
~o do proletariado no bojo do desenvolvimento ca
pitalista"23.
Ainda em 1959, Sarney indicado para o cargo de
vice-lder da UDN na Bancada Federal:
"Ri o, 11 (M). Para os fins regimentais, o Deput~
do Carlos Lacerda comunicou hoje, Mesa da Cma-
ra Federal que a bancada da UDN havia escolhido e
indicado naquele momento o nome do Deputado Sar -
ney para o elevado posto de Vice-L{der da UDN.
Na mesma oportunidade a UDN indicou-o tambm re-
presentante da Comiss~o Permanente de Diplomacia
e de Valoriza~o Econmica da Amaznia, lugares
esses que de acordo com a divis~o proporcional d~
ve ser ocupado pe la Op()si~o. Foi indicado para
aquela destacada fun~o parlamentar - mais novo
representante na Cmara"24.
23WEFFORT, F. op, cito p. 39 240 IMPARCIAL. So Lus, 12 abro 1959.
33
Retomando a anlise da poltica maranhense,ou mais
especificamente da UDN, poder-se-ia dizer que houve um re -
trocesso do partido local que aceita uma coligao com o PSD,
o que de certa forma o descaracteriza, alm de colocar-se co
alvo de severas crticas do P$P, formuladas atravs de Clo-
domir Milet, velho poltico e inimigo inconcilivel de Vito
rino Freire.
A prpria posio de Sarney mostra-se ambgua: e~
quanto volta a apoiar (no manifestamente) o partido gover-
nista local, continua udenista atuante na Cimara Federal.
Isabel Picaluga no seu livro "Partidos' Polticos e ;
Classes So~iais: a UDN na Guanabara" enfoca. ao tratar das
alianas partidrias, que nunca houve oficialmente em ter -
lfIDS Tl,H:ioTiais aliana tipo UDN - PSD ou UDN - PTB, (isto n~
ma anlise de ideologia partidria). No entanto, os dados
apontam para esse tipo de aliana, entre UDN-PSD, no Mara -
nho, explicitada em Nota Oficial do Partido, da qual trans
crevo trechos significativos:
nA UDN~ seo do Maranho ... considerando que o ~
xecutivo tem mantido uma linha de coerncia no que
diz respeito harmonia entre os Poderes consti -
tuidos~ notadamente o acatamento s decises do
Poder Judicirio;
considerando que~ a pol{tica em torno de homens e
no de idias tem atrofiado o desenvolvimento eco
nmico do Estado~ sendo essa tambm a opinio au-
torizada das classes conservadoras locais que de-
34
fendem a necessidade de uma nova mentalidade poli
tica na vida pblica maranhense impe-se uma con-
jugao de esforos~ visando colocar o Maranho no
mesmo rumo de desenvolvimento dos demais Estados
da Federao;
considerando que a plataforma poli.tica administra
tiva anunciada pelo Deputado Newton Bello~ candi-
dato do PSD ao Governo do Estado~ coincide com os
pQstulados defendidos pela UDN;
considerando que o candidato em apreo tem reais
afinidades com os proble~as maranhenses por vincu
l~es decorrentes da sua participao efetiva e
interrupta na vida pblica do Estado;
a UDN ( ... } usando os poderes ( ... ) decidiu conjun
tamente com os deputados que a esta subscrevem em
prestar seu apoio administrao Matos Carvalho
e candidatura Newton Belto ao Cargo de Governa-
dbr nas eleies de 60"25.
Analisando, convm ressaltar o carter conciliat
rio dos Partidos que firmam aliana e colocam as divergn -
cias em torno de pessoas e nao de idias, como se essas i-
dias no partissem de pessoas que por sua vez as definem a
partir dos grupos sociais qu~ corporificam. Em ltima ins-
tncia, sob as legendas UDN-PSD, esto representados os mes
mos segmentos da sociedade, ou seja, os latifundirios, os
250 IMPARCIAL. So Lus, 02 ago. 1959.
35
industriais, os profissionais liberais, enfim, os legtimos
e/ou fiis representantes das classes produtoras do Mara
nho. E nesse ponto o discurso de ambos coincidente, res
tando apenas uma conciliao entre o "velho" e o "novo", o
"tradicional" e o "moderno", entre o "vitorinismo" reinante
e o " sameysmo" nascente. Se essa conciliao nem sempre
possvel ou se desfaz aps os ~erodos eleitorais por-
que todos os grupos aspiram ao poder ou a fatias do poder,
apenas seguindo caminhos diferentes: o ponto de partida e o
de chegada, no entanto, o mesmo, oferecendo estabilidade
ao contexto social que no est em. questo.
Barrington Moore Jr. diz que "todos os grupos e
individuos que buscam o poder est~o descontentes com algum
aspecto da sociedade em que vivem. Em muitos casos odes -
contentamento n~o reflete outra coisa que o fato de uma pe~
-soa desejar o poder que outra pessoa possu~. Neste caso .. nao
existe a exigncia de mudar a estrutura do sistema ... "2 6-:
A essa altura j se definira a candidatura de Ja -
nio Quadros Presidncia da Repblica, pela UDN, tendo Sar-
ney se comportado como janista ardoroso, participando ativa-
mente da campanha eleitoral. Por outro lado, continua a de-
fender e a propor projetos para o desenvolvimento do Mara
nho.
Segundo Sarney o problema principal doEstado diz
respeito aos investimentos. Como a taxa de poupana muito
baixa e o setor da agricultura no resiste as leis de concor
26Citado por Picaluga. op. cito p. 39.
36
rncia existentes numa economia capitalista, h necessidade
de expandir a rede creditcia maranhense. Neste sentido, as
sim se manifesta:
"S arrancaremos o Maranho do cic lo colonial em que
se encontra se conseguirmos investimentos macios
para financiar a iniciativa privada de que o poder
pblico se encontra desaparelhado para esse progr~
,,27 ma .
C~nvm apreciar que este o contedo que perpassa
o discurso oficial do perodo: a posio colonial do Norte /
Nordeste brasileiro, em relao ao Sul/~udeste, que soubera
aproveitar os mecanismos da poltica econmica colocados -a disposio dos empresrios, para que houvesse a implantao
e ampliao da indstria nacional. E assim, o fenmeno mos-
tra-se apenas corno decorrncia da internalizao das rela
es coloniais que, no caso, passam a desenvolver-se dentro
do espao econmico do pas, ou mais especificamente entre
regies 28
De um lado, a Regio Sul/Sudeste que "arranca" pa-
ro o desenvolvimento, do outro a Regio Norte/Nordeste que
"estagna" e, portanto, sofre um processo de regresso. Essa
270 IMPARCIAL. So Lus, 10 out. 1959.
28"As regies so apenas espaos scio-econmicos, onde urna das fonnas do capital se sobrepe s demais, homogenizando a regio exatamente pela sua predominncia e pela sua consequente constituio de elas -ses sociais cuja hierarquia e poder so determinados pelo lugar e forma em que so "personas" do capital e de sua contradio bsica. OLIVEIRA, Francisco, op. cito p. 30.
37
oscilao vai permitir que haja um esvaziamento de capital
da regio "estagnada" que se canaliza para a IJprspera",de~
truindo assim a economia da Regio "frgil" e agravando as
disparidades regionais. "As disparidades regionais s50,co~
eretamente, o sinal do movimento diferencial de acumula50
nas rela5es entre os "Nordestes" e o Centro-Sul e ass~s-
te-se destrui50 ou fechamento-de fbricas, invas50 de
produtos agricolas do Centro-Sul, a ritmos de acumula50 di
ferenciais que implicavam, no final, no predominio das mer-
cadorias do Centro-Sul sobre as dos "Nordestes", em todos
os setores ,,29
/
Conforme a expressa0 poltica de Sarney consubs -
tanciada nos seus pronunciamentos na Cmara Fede_ral, "inve~
timentos matios" feitos atravs da iniciativa privada pro-
piciariam o soerguimento econmico do Maranho. Uma anlise
desta proposta vai mostrar como apenas grupos econmicos se
riam beneficiados com a sua implantao, o que ser objeto
de estudo posterior, j que essa sistemtica se concretizou
no perodo governamental de Sarney (1966-70).
Em 1960, com o apoio da UDN maranhense e eleito
Newton Bello para o cargo de Governador do Estado do Mara -
nho que exerceria at 1965. ~ mais um representante do vi
torinismo que assume a governana maranhense, mantendo no
poder essa corrente que est em posio hegemnica desde
1945, mostrando que a fora poltica e o prestgio pessoal
29 Idem, ibidem, p. 89.
38
do velho cacique continuavam a impor-se, ap6s 15 anos de do-
minao.
Confirmando o fato de que as alianas partidrias
eram eminentemente eleitoreiras, conseguidos os objetivos(fo~
talecimento de candidaturas, enfraquecimento de outros par -
tidos), essas alianas mostravam-se inconsistentes para ad -
quirir continuidade. Assim,advio o rompimento, ou melhor,
o retorno da UDN maranhense que nao conseguira barganhar as
posies a que aspirava, quando firmado o acordo com o PSD.
4. O Panorama Poltico de 1962
A .UDN maranhense que j vinha de um longo perodo
de inexpressividade, necessita de toda uma reestruturao p~
10 descrdito a que chegara junto aos demais partidos de op~
sio, que viam com desconfiana a luta da UDN para a reorg~
nizao dos seus quadros.
- -O Jornal do Povo, orgao da imprensa local, mantido pelo PSP, assim se expressa nessa conjuntura:
" no mesmo momento em que o Brasil inteiro se
rebela contra a mquina do poder do PSD e a derro-
ta~ a UDN maranhense contribui com uma razovel so
ma de votos para manter uma lament~vel mquina de ~
corrupo~ fraude e coao ( ... ) No h regra sem
exceo. A UDN maranhense o comprova. Que fez ela
da "eterna vigi lncia?" Uma barganha atravs da
qual recebe algumas vantagens do poder e o repdio
39
dos homens de bem do Maranho,,3 o.
Sarney eleito presidente do partido e assume o
cargo, compromissando-se a unificar a fragmentada UDN (1960).
~ o lder poltico que toma para si as responsabilidades e
as vantagens que advir iam desse, JDsto. E neste contexto, lan
a-se como candidato cmara Federal para tentar uma reelel
ao. Poltico habilidoso, possuidor de grande fluncia ver-
bal, percorre todo o Estado numa campanha eleitoral que em -
polga o povo,maranhense. Creio que o momento propcio pa-
ra a consagraao de um novo e jovem lder. E Sarn~y o com -
preendeu.
Cid ~arvalho, deputado contemporneo de Sarney, as
sim se expressa, explicitando o fato: "Foi Sarney quem criou
a UDN e no a UDN que criou Sarney; ela cresceu na hora em
que a encostaram contra a parede. o esmagamento por parte
do Governo (Estadual) e o trancamento do PSP obrigaram Sar -
ney a virar her6i,,31
4.1 - Sarney, o lder consagrado
Creio que a consagrao poltica de Sarney deu - se
nesta conjuntura, manifestada explicitamente atravs do nme
ro de votos obtidos na eleio de 1962: 21.294 votos, o depu
tado federal mais votado em ~oda a h~stT~a poltica da opo-
sio maranhense.
30JORNAL 00 POVO. A UDN maranhense. So Lus, 16 out. 1960. 31CARVAlRO, Cid. Cid Carvalho (depoimento3 1977). Rio, FGV/CPOOC - Hist
ria Oral, 1977.
40
A partir da h um enfraquecimento substancial da
corrente vitorinista i medida que se corporifica o fen6meno
que tentaria caracterizar corno sarneysmo ~ a fase decli-
nante do vitorinismo. Segundo Rosemary Lauande, di -se a
substituio do coronelismo rural, representado por Vitori-
no pelo coronelismo urbano, corporificado pelo jovem Sarney
e fundado na expresso do contedo do seu discurso e princ!
palmente na sua manifestao poltica 32 . Teria surgido pa-
ra integrar na poltica maranhense novos elementos, ou seja,
seria a maneira prpria de incorporar ao processo .poltico
do Maranho novas formas de manifestao, decorrentes do p~
cesso de seu desenvolvimento histrico.
Parece-me que o prprio Vitorino Freire ~Tessent!
ra, com toda a argcia poltica que lhe era peculiar, o ~
TIl
vel da disputa que travaria com Sarney. Diz ele: "Desde que
se elegeu deputado~ Sarney soube fortalecer-se politicamen-
te. Vaidoso e oportunista, sabia esperar para ver de que
lado estava soprando o vento~ a fim de assumir posies que
lhe fossem favor~veis,,33.
Por outro lado, Sarney personifica com seu discur
50 voltado para o desenvolvimento e modernizao do Estado,
as aspiraes do eleitorado "desavisado" que ve no seu pro-
j eto a HSa1 vao " do Maranh-, entr"gu-e h tant-c~ .anos .ao mando dos coronis rurais.
32LAUANDE, Rosernary. Entrevista sobre O vitorinismo no Maranho. So Lus, jun. 1981.
33FRElRE, Vitorino. A laje da raposa. Rio de Janeiro, Guavira Edito -res, 1978, p. 37.
41
No estava em questo o modelo econmico, mas suas
formas de expressa0. A substituio da forma "arcaica" pe-
la "modernizante" seria eficaz e lanaria o Estado rumo ao
desenvolvimento, contido na proposta da corrente poltica e
mergente. E assim, se instaura no Maranho o sarneyismo, a
glutinao poltica renovadora e que estava cada vez mais
pr6xima do poder mais amplo, que seria conquistado com a
chegada de Sarney governador estadal.
4.2 - Posio de Sarney no cenrio nacional
No.contexto nacional, a poca marcada pela re -
nncia de Jnio Quadros, que agita todo o pas,instauran
do-se um clima de desconfiana pelo impacto emocional que o
fato causou, inclusive.
De certo modo, a UDN - partido que elegera Jnio
era o mesmo que o pressionara, levando-o renncia do man-
dato. Por outro lado, a ascenso de Joo Goulart Presi -
dncia, oriundo e com razes no PTB, tirava UDN as chan -
ces de manter-se no poder, poder esse que tanto lutara para
conquistar. Nesse sentido, assim se expressa Lencio Bas -
baum: "A verdade que a UDN estava inconsolvel; mais uma
vez havia perdido a parada. Acpeditava voltar ao poder e 3
ao invs 3 l estava o seu maior inimigo. Era 8 "retorno"
que tanto temiam desde o afastamento de Getlio,,3~.
3 ~BASBAUM, Lencio. Histria sincera da repb Zica. So Paulo, Editora Alfa-Omega, 1977, p. 26.
42
Intercambiando os acontecimentos maiores da pol-
tica nacional com os da estadual maranhense, percebe-se que
os reflexos se fizeram sentir. principalmente, nas conces-
ses feitas pelo Governo Jnio e que sofreram alteraes
substanciais. Explicando melhor, Sarney se fizera porta-
voz de uma srie de reivindicaes dos grupos empresariais
do Maranho junto ao Governo Federal e quando algumas torna
vam-se concretas, como: a incluso dos prolongamentos das Ro
dovias BR-2~ e BR-24, Maranho no Plano Rodovirio Quinque-
nal do Governo Jnio Quadros, liberao de verba p':!ra pesqui.
_sa de carvo mineral no Maranho, o 'President~ r'enuncia.
A e~sa altura dos acontecimentos, Sarney renuncia
truWm as funes de 1 9 vice-lder da UDN e explica as ra
-ZGes
"( ... ) discorda e condena o "reacionarismo l1 conserva-
dor das c~pulas udenistas" e acha que o Partido de
va "desfraldar as bandeiras' popu lares indo s ruas,
as fbricas, em defesa dos novos niveis salariais,
da reforma agrria, da lei anti-truste etc.; consi
dera-se incompatibilizado com a c~pula partidria
que apoiou a comisso de inqurito contra o Sr. J
nio Quadros,,35.
Convm cqJocar que nos anos 60 os agrupamentos in-~
tra e interpartidrios refletiam posies ideolgicas nao
350-I~~ARCIAL. Razes da renncia do Deputado Sarney. So Lus, 24 sete 1961.
43
comuns a todos os membros dos partidos. Delineiam-se,ento,
no 1 9 caso, grupos congregando deputados com idias "progre~
sitas", outros pertencentes aos antigos quadros conservado -
res. Nesse esquema, adquirem expresso: "Ala Moa" do PSD,
"Bossa Nova", "Ala Moderada", "Ala Golpista" da UDN. No 29
caso, os agrupamentos se faziam em torno de idias e posi
es polticas independentemente do partido, citando-se en-
tre outros a "Frente Parlamentar Nacionalista" e a "Ao De-
mocrtica Parlamentar".
Creio que o fato explica a posio de Sarney, qua,!!
do critica abertamente seu prprio P"artido .. ou mel,hor, quan-)
do critica" setores da UDN. Ele se identifica com o grupopr~
gressista, pa.!ticipava da ala udenista "Bossa Nov.a", lidera-
da por Jos Aparecido.
Analisando a UDN nas suas origens~ no seu iderio,
de um modo geral, percebe-se que "nascida em bero de ouro,
de uma aliana marcada, entre outros, por representantes das
"tradicionais famlias mineiras" e das oligarquias paulistas,
a UDN nunca conseguiu transcender suas origens senhoriais.
Na linguagem de Duverger, se a UDN no foi, integralmente um
"partido de notveis", nunca chegou a ser um partido de mas-
sas"36. E assim, parece que se explica a presso do Partido
do "leno branco" ao "homem da vassoura'. Para continuar no
poder ele teria que se "udenizar" ... o que no aconteceu.
36BENEVlDES, Maria Vitria. op, cito p. 48.
44
Por outro lado, explica-se tambm a reaao pro-
posta udenista do grupo "Bossa Nova", que se identificava
posio do ex-Presidente Janio Quadros. Explicando melhor,
a ala progressista da UDN apresentava uma proposta partid-
ria destoante da linha filosfica seguida pelo partido, che
gando a pressionar os dirigentes udenistas na tentativa de
participar das decises maiores -da UDN e de influir na sua
orientao programtica. O jovem grupo no qual Sarney est
integrado apresenta bancada udenista um manifesto que agi
ta de certo modo os debates internos do partido por ser va-
sado em linhas progressistas. Defende o vot:o para os anal-
fabetos e exige da UDN posio favorvei s reformas de ba-
se. Talvez o fato possa ser analisado, levando-se em conta
o clima poltico reinante no pas {~~).
Jango adota um Plano Trienal com o objetivo de
"deter a inflao sem parar o desenvolvimento", pois a taxa
de crescimento do produto industrial bruto cara acelerada-
mente, em 1962 37 Ao mesmo tempo, compromete-se com as camadas
populares,tentanto concretizar urna srie de reformas ,dentre
as quais a principal seria a Reforma Agrria. O prenncio des
sas medidas levou o setor latifundirio a reagir energica -
mente contra a execuo das mesmas, pois seus interesses es
tavam em jogo. Esse setor estava filiado ao PSD e UDN e pa~
370 Plano previa o aumento de 7% no ndice de crescimento e o abaixamen to prcgressivo de 10% da taxa de inflao. O total de investimentos previstos era da ordem de 4 bilhes de dlares dos quais dois teros seria. fornecidos pelo setor privado e o tero resta~te pelo Estado,o qual deveria reduzir suas despesas, aumentar alguns irnposto~ e supri-mir subvenes a determinados bens de consumo. BASBAUM, Leoncio, op. cit.p. 34.
4S
sa a exercer vigilncia aos atos do Governo Central que se
manifestam antagnicos aos dos grupos dominantes. No entan
to, os jovens polticos das mais diversas filiaes partid~
rias viam com "simpatia" o quadro de "reformas" que se de
lineava sob os auspcios do Governo Jango.
No Maranho, Sarney coloca-se a favor das Refor-
mas, chegando a fazer alguns pronunci~mentos sobre o probl~
ma agrrio e neles chega a condenar o latifndio e a aao
dos grileiros. Assim se expressa:
"0 problema agrno e o mais dificil problema do ~,
pais~ pelas implicaes que envolve. I
Aqui no Ma-
rnho~ assume carter dramtico porque a mentali
daae dos governa~tes no o enxerga e julga que a
"crise social wna questo de policia ... " O Go-
verno acha que no deve combater o latifndio, nem
a misria e sim os agitadores~ como se estes pu -
dessem existir sem, que antes existisse o regime
da explorao~ da escravido e da,expoliao das
massas camponesas,,3B.
Chega a analisar dados que comprovam o problema
maranhense:
"0 Maranho possui (dados do IBGE) 95.l65 propri!
trios. Destes 84.505 so proprietr~os de res
3 BSARNEY, Jos. A guerra do Maranho. O Imparcial. 1962.
So Lus, 23 maio,
46
inferiores a 1 Oha. em mdia~ totaZizando 542.257 ha.
68 proprie~~rios possuem~ 86 eZes 1.324.?64ha.~is-
to ~ o dobro dos pequenos proprie~~rios. Os da -
dos mostram que o que caracteriza o Maranho -e a grande propriedade ( ... )39
Ora, mostra-se evidente',a sintnia desse ator com as reformas prec~
nizadas por Jango,logo sob a gide da legalidade, visto parti -
rem do mbito do prprio Governo Central. No creio, no en-
tanto, que a ao poltica de Sarney estivesse em sintonia
com o nvel do seu discurso~ que naquela circunstncia torna
va-se oportuno e ~im do mais o colocava apoiado pelos pode-
res constitucionais vigentes. Resta verificar se as posi-
oes assumidas por Sarney seriam apenas "oportunas", sem maior
teor de comprometimento, diante dos problemas que quela al-
tura premiam por solues que chegaram a ser vislumbradas.
Posteriormente, este estudo dever retomar a questo, quando
a anlise recair sobre Sarney - Governador do Maranho.
5. O Panorama Poltico de 1965
Em princpios de 64, j se deflagara a campanhate~
do em vista as eleies para Governador que se realizariam
em 65. E nessa poca Jango mostrava-se a favor da candidatu
ra Sarney ao Governo do Maranho, chegando a declarar que a-
judaria a luta oposicionista e manteria o seu Partido, o PTB,
39SARNEY, Jos, op. cito
47
dentro da unidade oposicionista, j que o PSD maranhense era
o que existia de mais retrgrado em matria de amadurecimen
to poltico. Jango chega a declarar, conforme divulgam os
jornais da poca, ao prprio Governador do Maranho -Newton
Bello que Sarney teria o seu apoio. Assim, j se delineava
a candidatura Sarney que veio a se expressar concretamente
a 27/3/64.
Nesse nterim, d-se a queda de Joo Goulart, de
sestabilizan,do substancialmente a estrutura poltica do pas.
Segundo Le6ncio Basbaum, mais uma vez "a UDN comanda o esp~
tcu lo"4 o, pois liderara o movimento que culminava COIl a de
posio de ~ango e para isso contara com o apoio dos Ililit~
res. S que "as Foras Armadas uma vez derrubado Jango e
tomado o poder, em vez de entreg-lo UDN, ficaram com ele.
Todavia o mal no era to grande, eis que o Marechal Caste-
lo Branco, logo que empossado no poder como Presidente da
Repblica, se confessa "udenista de cabresto"4l.
Instaura-se assim uma di tadura mili tar no pas que
entra num perodo de convulses e repressoes em todos os se
tores sociais. O poder Executivo reveste-se de maior fora
em detrimento do Legislativo e do Judicirio que se enfra -
quecem gradativamente, diante das cassaes e de outros atos
de arbtrio.
40BASBAUM, Lencio. op. cito p. 75.
4 lIdem, ibidem, p. 80.
48
Sarney, em pronunciamento feito na Cmara Federal
mostra-se contra a cassao dos direitos polticos dos es -
querdistas. proposta por Herbert Levy. Confessa ser um li
beral democrata, razes que o levara a ingressar na UDN e
assim se expressa:
"A democracia se mostra com vitalidade bastante pa -
pa reagir contra os que a ameaam, usando para i~
so simplesmente os instrumentos juridicos de que
dispe. Todos os recursos legais podem serempr~
gados, - concordo arbi mas nao em que se ca-z-a no -
trio e na violncia a pretexto de de fe na,e r>. o regi I -me, das liberdades. Aqui nao se cassa mandato de
ni~gum fora dos termos previstos na C~nstituio
A nossa Carta Magna deve ser respeitada a qual -
quer preo,,42.
Procedendo a uma anlise do discurso de Sarney,
creio poder ~firmar que nela transparece a posio por ele
assumida naquele momento histrico, em relao s perspecti
vas que se delineavam no cenrio poltico nacional. Vislum
brava com desconfiana as consequentes arbitrariedades que
... poderiam advir do Governo Militar a instalar-se no pals, ao
mesmo tempo em que queria crer na preservao dos direitos
constitucinna~s, at ento em vigncia. No entanto, estes
foram alterados e as cassaes e o arbtrio ocorreram, apoi
ados em atos institucionais impostos pelo Golpe Militar.
420 IMPARCIAL. So Lus, 08 abr., 1964
49
Decorrido o perodo inicial da implantao do Go-
verno Castelo Branco, Sarney procura conquistar posio JU~
to ao novo Governo. A esta altura, j est registrada sua
candidatura ao cargo de Governador do Estado, devendo seu
Governo basear-se no Trinmio: Energia, Transporte e Fixa -
o do Homem Terra.
Seu programa sensibilizou grandes contingentes da
populao que viam em Sarney uma alternativa para romper com
o velho esquema poltico vigente no Estado, tanto que as li
deranas camponesas malS representativas, como Manuel da Con
ceio, tornaram-se cabos eleitorais de Sarney, n;aseleies
de 65. 43
o Maranho nos anos 60 passava a ser o receptorda
massa de nordestinos que fugia da seca e da dominao dos
grandes latifundirios do Nordeste. Possuindo terras devo-
lutas extremamente conservadas, vislumbrado pelo retiran-
te como "A Terra Prometida"; estaria livre do jugo do coro-
nel e consequentemente tornava-se mais "dono" de si e de seu
voto. Segundo Celso Veras, nestas regies no abrangidasp~
lo latifndio profissional, Sarney teria expressiva votao
para Governador 44 .
Nos centros urbanos o panorama poltico tambm o
favorecia porque existia um descontentamento popular muito
43VERAS, Celso. Entrevista sobre a Politica do Maranho - de Vitorino a Sarney. So Lus, abril, 1981.
44Idem, ibidem.
50
grande, tanto em relao ao vi torinismo, quanto a sua dissidn-
cia representada pelo ento Governador Newton Bello. Ambos
pretendiam prolongar a fase ji exaurida do "coronelismo ru
ral" que se coadunava aos seus esquemas polticos e tentava
resistir a incluso do Maranho na trajetria desenvolvimen
tista que, no entanto, tornava-se irreversvel.
Sarney teve a habilidade poltica de se aprovei -
tar desse descontentamento e lana sua mensagem poltica a~
sentada no desenvolvimentismo e assim a sua figura cresce
num momento em que as prprias alteraes econmicas nacio-
nais ji exigem um programa poltico mais elaborado_ e em con ~ .
sonanCla com.seus objetivos.
Por outro lado, vai barganhando pOSlao junto ao
Presidente Castelo Branco que apoia sua candidatura, possi-
velmente por vislumbrar em Sarney um elemento capaz de inse
rir o Estad? no projeto econmico que se esboava, pautado ,
na integrao nacional e em sintonia com os objetivos "revo
lucionirios".
Castelo Branco chega a declarar que:
"O Maranho seria o grande campo experimental para
a Revoluo: campo para uma ao moralizadora;ca~
po para demonstrar at que ponto desceu a co~sa
pblica neste pais e campo para fazer funcionar as
potencialidades de um Estado rico que paradoxal -
mente s tem servido para manter um povo pobre e
abandonado,,4 5.
450 IMPARCIAL. So Lus, 8 dez., 1964.
51
Portanto, para a aao ser "moralizante" e moderni
zadora deveria haver remanejo no quadro governamental.E Sar-
ney se enquadrava ao esquema: "seria o elemento responsvel
pela integrao da sociedade maranhense no contexto revolu-
cionrio de 64,,"6.
5.1 - Sarney e.os outros candidatos
Cabe tambm analisar a posio dos demais candida
tos ao Executivo do Estado nas eleies de 65, para que fi
que mais caracterizada a figura de Sarney e para que seja
possvel, atravs de um estudo comparativo, a elaborao de
um quadro mais aproximado em que se explicite aquela conju~
tura poltica.
o PSD, em 1965, nao apresentou candidato ao GoveE
no do Estado por no ter conseguido realizar a convenao.
E a o Partido se divide e consequentemente, enfraquece. O
ento Governador Newton Bello apia a candidatura de Costa
Rodrigues, figura poltica sem maior expresso eleitoral e
que representava, ou melhor, que propunha o continusmo de
uma estrutura arcaica sem maior elemento de sustentao. O
Partido que o apresente - o PTN - nao possua tambm a con-
sistncia de outros partidos estaduais.
Ao lado disso, havia o constrangimento gerado no
seio do PSD, que fora pressionado a desmantelar a candidatu
It 6BG1ENY, Helena M. Bousquet. 1981,p. 18.
PaI'a-so tropical. Rio de Janeiro~Achiam,
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ra de Renato Archer, que nao era "bem visto" pelo Governo Mi
litar. E Renato fora escolhido pelo PSD e para ele conver -
giam as aspiraes do Partido naquela disputa que se tornava
cad vez mais difcil. Vetado pelo seu Partido (fora pesse-
dista por hereditariedade), candidata-se pelo PTB.Vitorino
Freire.o apoia. No entanto, o velho cacique j no consegue
deter o poder e a sua antiga fora poltica agora est des -
gastada. Renato Archer lanou-se numa campanha, contandocom
a adeso de alguns setores da sociedade (estudantes, profis-
sionais liberais, etc.) pelos termos em que a moldou: compr~
metia-se (corno Sarney) com o desenvolvimento do Estado, mas
nao comungava os princpios advindos do Golpe de 64.
Acreditara na eleio de Sarney, tanto que assim
se expressou sobre a mesma: "Acredito que~ mesmo que n50 ti-
vesse havido a press50 do Governo Federal~ Sarney ganharia a
elei50. -O PSD se dividiu em duas candidaturas~ por pressao
pessoal do Marechal Castelo Branco ( ... ) Muito antes do sur-
gimento das candidaturas~ Costa Cavalcanti (porta-voz desse
grupo militar que ascendeu em 1964) m!! dizia~ na Cmara: "Vo
c n50 pode ser candidato ao Go