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F a s c c u l o 11 - A v i a o e 2 G u e r r a

Natal na Segunda Guerra MundialInfluncia Americana e Mudana dos CostumesA presena norte-americana em Natal mudou os hbitos de uma pequena cidade nordestina. Lenine Pinto relata que "dos bares vazava a msica das Wurlitzers, das lojas o burburinho de consumidores vidos e, quando as ruas esvaziavam-se, acendiam-se os sales de bailes, fluam fantasias (...) Naquele tempo as festas sucediam-se freneticamente, danava-se freneticamente, amava-se freneticamente". A Cidade do Natal modificou-se de maneira muito significativa com a presena do grande nmero de militares estrangeiros aqui sediados. Do entrosamento entre americanos e jovens natalenses resultaram alguns casamentos. O drama das jovens, no s natalenses, mas nordestinas que no tiveram os seus romances com jovens americanos referendados pelo casamento, descrito pelo poeta Mauro Mota no seu "Boletim Sentimental da Guerra no Recife", atravs dos versos: "Meninas, tristes meninas, de mo em mo hoje andais. Sois autnticas heronas da guerra, sem ter rivais. Lutastes na frente interna com bravura e destemor. vitria aliada destes o sangue do vosso amor. Ingnuas meninas grvidas, o que que fstes fazer? Apertai bem os vestidos pra famlia no saber. Que os indiscretos vizinhos vos percam tambm de vista. Sastes do pediatra para o ginecologista". Surgiram associaes recreativas como, por exemplo, os "Clubes 50". Tanto o Aro Clube como igualmente o "Clube Hpico", foram alugados com o objetivo de realizar bailes. A finalidade principal, certamente, era promover uma maior integrao dos militares norte-americanos com a populao natalense. Houve, por causa disso, uma invaso de ritmos estrangeiros: "rumba", "conga", "bolero". As moas passaram a agir com mais autonomia e, conforme relata Lenine Pinto, "tendo incorporado modos e modismos americanos, algumas aproveitaram para alongar o passo: comearam a fumar (por ser o Chesterfield

um cigarro "fraquinho", era a desculpa); a bebericar "Cube Libre" (com a CocaCola inocentando a mistura de rum) e a pegar os primeiros "foguinhos". Natal perdia aos poucos suas caractersticas de cidade pequena, com seus habitantes levando uma vida modesta e tranqila. Tomando inclusive um aspecto cosmopolita, com a passagem, pela cidade, de pessoas de outras nacionalidades, com direito a figuras importantes: D. Francis J. Spellman (arcebispo de Nova York), Bernard (prncipe da Holanda), Higinio Morringo (presidente do Paraguai), Sra. Franklin D. Roosevelt (esposa do presidente dos Estados Unidos), Sr. Noel Cherles (embaixador do Reino Unido no Brasil) etc. Os preos aumentaram por causa da injeo de dlares na economia local. A influncia norte-americana se fez sentir tambm na linguagem, com a introduo de algumas palavras e expresses inglesas, exemplificadas por Clyde Smith Junior: "change money" (troquedinheiro), "drink beer" (beba cerveja), "give me a cigarrette" (d-me um cigarro), "blackout" (blecaute) etc. Outro fato lembrado pelo mesmos autor: "de uma cidade pequena e desconhecida, passou a ser conhecida por milhes de americanos e outros aliados". Durante a guerra. Natal cresceu muito, aumentando consideravelmente a sua populao.

F asc culo 12 - Doi s Governos Popul ares

O Populismo no RNOposies Vitoriosas nos Anos 60Nos anos 60, o Brasil, passava por uma srie crise poltica, agravada pelo conflito ideolgico esquerda versus direita, com radicalismo de ambas as partes. Dentro desse contexto, se destacava o antagonismo entre as foras nacionais ("comunistas") e as foras conservadoras ("entreguistas"), com a participao ativa de polticos operrios e estudantes. Como conseqncia da crise que abalava o Pas. Quadros renunciou, entregando o cargo de presidente da Repblica a Joo Goulart, em agosto de 1961. Goulart, em agosto de 1961. Goulart tomou posse em 7 de setembro e governou, em regime parlamentarista, at ser deposto pelo golpe militar em 1964. As constantes crises polticas vividas pelo Pas refletiam e deixavam profundas marcas na regio nordestina. Apesar do crescimento de sua produo industrial, a participao do Nordeste no produto total do Pas caa para 15,5% ! ndice menor do que o de outras regies. Como conseqncia do processo de industrializao, cresceram os centros urbanos, e, ao mesmo tempo, aumentava o xodo rural, com o deslocamento de grande nmero de famlias para as grandes cidades.

Um dos fatores que contriburam para o xito do populismo no Rio Grande do Norte foi a atuao da Igreja Catlica, com a instalao dos sindicatos rurais e com o Movimento de Educao de Base. As campanhas de educao popular contriburam tambm para acelerar o processo de politizao das camadas mais humildes. Exemplos: a "Campanha de P no Cho Tambm se Aprende a Ler", em Natal, e ao Movimento de Cultura Popular" em Recife, ambas em 1960. Foi sobretudo no processo poltico que o descontentamento popular se refletiu no Nordeste, com grandes vitrias conquistadas pela oposio durante o perodo compreendido entre 1956 a 1962. No Rio Grande do Norte, em 1960, Aluzio Alves se elegeu governador e, no mesmo ano, Djalma Maranho chegou prefeitura de Natal, tambm pela oposio. A campanha poltica de 1960 se desenrolou num clima de muita agitao. O governo Dinarte Maris deixou um testamento poltico que desorganizou, completamente, as finanas do Estado. O povo norte-rio-grandense estava asfixiado, aspirava por se livrar daquela situao, recebendo com entusiasmo a mensagem oposicionistas que prometia reformular os processos administrativos, dinamizar a administrao pblica e criar as condies bsicas para iniciar a industrializao, comeando, dessa maneira, o desenvolvimento do Estado. Essa proposta de governo era defendida por um jovem e dinmico poltico: Aluzio Alves . Uma vez candidato, rapidamente assumiu a liderana do seu grupo, organizando uma coligao partidria com a denominao de "Cruzada da Esperana", formada pelo PSD, PTB, PCB, PRP, PTN e dissidentes da UDN. Para vice-governador foi indicado o monsenhor Walfredo Gurgel, uma das mais expressivas lideranas do PSD seridoense. Para a prefeitura da Cidade do Natal, dois lderes representantes da esquerda: Djalma Maranho, para titular, e Luiz Gonzaga, para viceprefeito. A nvel nacional, a Cruzada da Esperana dividia-se. PSD, PTB e PTN apoiavam o marechal Lott para presidente da Repblica, um homem honesto, nacionalista, porm, sem nenhuma aptido poltica. Aluzio Alves e a dissidncia da UDN apoiavam Jnio Quadros. Para vicepresidente, os candidatos eram Joo Goulart, com apoio do PSD, PTB e PTN, e Milton Campos, apoiado por Aluzio. Djalma Maranho, um homem da classe mdia sem nenhuma ligao com qualquer grupo econmico forte, de mos limpas, partiu para a sua campanha com muita garra. Sua atuao vai se caracterizar, principalmente, por dois aspectos. Primeiro, um carter nitidamente ideolgico. Nacionalista, desencadeava uma luta aberta contra o imperialismo. Segundo, a participao direta e espontnea do povo, em seus segmentos mais pobres. Dentro dessa linha de ao, foram criados os Comits Nacionalistas, cuja importncia foi salientada por Moacyr de Ges: "a organizao da campanha se fez em funo dos Comits Nacionalistas. A mobilizao origina-se do Comit, para o Comit e pelo Comit. Entre janeiro e fins de setembro, foram organizados e funcionaram 240 Comits Nacionalistas tambm conhecidos como Comits Populares ou Comits de Rua. Esse nmero ganha maior expresso quando situado numa cidade de 160 mil habitantes, poca, tendo tido um comparecimento eleitoral de pouco mais de 36 mil votantes". A mobilizao foi, portanto, muito grande. Crescia de importncia porque no se fazia apenas a exaltao da personalidade do candidato Djalma Maranho, mas ao mesmo tempo eram discutidos temas locais, regionais e nacionais. Paralelamente campanha poltica propriamente dita, se realizava tambm um verdadeiro trabalho de politizao das massas. Claro, uma vez politizado, o eleitor se integrava na luta nacionalista e antimperialista. A sua campanha fugia, e muito, das tradicionais campanhas polticas, cuja base era o ataque pessoal, to comum no Rio Grande do Norte e no restante do Brasil.

A campanha de Aluzio Alves foi radicalmente diversa da realizada por Djalma Maranho quanto metodologia de ao empregada. Bem mais sofisticada. Utilizando inclusive uma empresa publicitria. Empregando, de maneira racional e inteligente, os meios de comunicao de massa (rdio e jornal). Usando slogans, como "Fome ou Libertao?". "mendicncia ou trabalho?", ou ainda "Misria ou Industrializao?", colocava diante do eleitor o caos em que se encontrava o Estado, sugerindo uma mudana radical atravs da vitria da oposio. Esse triunfo marcaria o incio de um processo de desenvolvimento no Estado do Rio Grande do Norte. A "Tribuna do Norte", jornal de Aluzio Alves, produzia cerca de 5 mil exemplares dirios, uma tiragem, bem maior do que "A Folha da Tarde", de Djalma Maranho. Como disse Agnelo Alves, irmo de Aluzio Alves, e tambm jornalista, "foi o jornal que sedimentou a imagem de Aluzio, levando diariamente, durante dez anos, seu nome a todo o Estado". A 'Tribuna do Norte' serviu para influenciar determinados segmentos da sociedade, como intelectuais, estudantes e grande parte do funcionalismo pblico federal, estadual e municipal. Contribuiu igualmente para a tomada de deciso de muitos indecisos. Com suas manchetes, notcias, fotos e editoriais, traava um quadro inteiramente favorvel aos candidatos da Cruzada da Esperana. A situao catica em que se encontrava o Estado foi uma importante causa da vitria desta coligao partidria. A liderana carismtica de Aluzio Alves empolgou o povo. Ciente de seu magnetismo pessoal, ele procurava por todos os meios manter o contato direto e pessoal com os eleitores. O seus comcios e as suas passeatas impressionavam pelo nmero de participantes e pelo entusiasmo. Velhos, moos, crianas, mulheres de todas as idades, agitando nas mos bandeiras e ramos verdes, cantando as msicas da campanha e gritando "Aluzio, Aluzio, Aluzio". Um espetculo nunca visto no Rio Grande do Norte, suplantando, portanto, a campanha de Jos da Penha, o primeiro lder popular da histria poltica do Estado. Enfim, Aluzio Alves aparecia como um "homem comum", simples, pobre, de resistncia fsica extraordinria, passando noites inteiras acordado, em virtude de viglias, lutando e sofrendo sempre ao lado do povo. Nesse aspecto, certamente, se aproximavam os dois lderes populistas: Djalma Maranho e Aluzio Alves. Ambos se apresentavam como pessoas pobres, da classe mdia, sem dinheiro, lutando contra a mquina lubrificada, manipulada pelos poderosos. Havia, entretanto, uma grande diferena com relao ao posicionamento ideolgico. Um da esquerda, o outro do centro. Para Djalma Maranho, "o nacionalismo ainda um movimento, uma revoluo em marcha, para se transformar, no futuro, no mais poderoso partido de toda a Histria do Brasil". Aluzio Alves definia o seu nacionalismo de outra maneira: "o nosso nacionalismo , por isso, pragmtico, e se despe de qualquer sentido ideolgico de classe. Ele assenta no esforo capitalista, o esforo pblico, no esforo misto. Os seus dois objetivos so: primeiro, entregar a instrumentos brasileiros que representam a iniciativa privada e pblica o comando da economia, estabelecendo mecanismo atravs do qual o enriquecimento nacional no se acumula nas mos de poucos e antes alcance seu legtimo usufruturio, que o povo; segundo, criar no Nordeste parcela significativa e pondervel de um grande mercado interno que funcione para si e apenas secundariamente para o mercado externo". "Tal nacionalismo no anti coisa alguma. Nem anticapitalista nem antisocialista. Ele se situa fora da rea do debate ideolgico para inserir-se corretamente na rea em que o nacionalismo deve, por natureza colocar-se para colher o apoio de toda a Nao".

A poltica na dcada e 60 e o Golpe: Aluzio, Dinarte, Djalma Maranho entre sonhos populares e populistas.

(Por Maria Auxiliadora Oliveira da Silva e Neily Lopes Dutra concluintes de 2000)

Os acontecimentos que culminaram com o golpe militar de 1964, no Rio Grande do Norte, foram bastante tumultuados, mas logo a represso instaurou-se nos quatro cantos do Estado.

No dia 1 de abril, o Sr. Aluzio Alves, imprensado pelos acontecimentos, redigiu dois manifestos, um a favor da revoluo, e o outro, ao lado do amigo Jango. (GES, 1999 b, p. 246). Aps consultar Magalhes Pinto, lder nacional da UDN e um dos articuladores do golpe civil-militar, o governador do Rio Grande do Norte, Aluzio Alves, define posio favorvel aos golpistas, passando a integrar-se ao movimento, assumindo com os militares a defesa da Ditadura Militar no Estado. O governador Aluzio Alves era at ento um lder populista, eleito governador em 1960, pelo PSD (Partido Social Democrtico), numa coligao que reuniu o PCB, o PS (Partido Socialista) e o PTN (Partido Trabalhista Nacional) partido do ex-prefeito de Natal, Djalma Maranho, um dos maiores lderes de esquerda nacionalista no Rio Grande do Norte. Contava ainda com dissidentes udenistas que lhe apoiaram no momento do rompimento poltico com Dinarte Mariz, o qual preferiu apoiar Djalma Marinho na chapa da UDN. Para os grupos progressistas, esquerdistas e nacionalistas, que apoiaram a candidatura aluizista, a aliana poria fim poltica oligrquica, iniciando um perodo de conquistas econmicas e sociais para o povo do Rio Grande do Norte. A nvel nacional, Aluzio mantinha aliana com o governo Joo Goulart, mas a nvel local sua aliana era com as oligarquias e os EUA, atravs da Aliana para o Progresso, motivo que resultou no rompimento com Djalma Maranho, fato deflagrado nas eleies de 1962, para os cargos legislativos nacionais e prefeituras. Aluzio Alves recusou-se a apoiar a candidatura de Djalma Maranho para o Senado Federal, garantindo a vitria de Walfredo Gurgel, ento seu vice-governador. Com isso, Aluzio rompe definitivamente com os movimentos populares, que o haviam elegido, adotando prticas clientelistas e oligrquicas. Este passa a reprimir e perseguir movimentos reivindicatrios e manifestaes coletivas, como no caso do movimento dos estudantes de Direito, em 1961, da greve dos Trabalhadores da Construo Civil, em 1963, e da greve da Polcia Militar, no mesmo ano. Quando o golpe j estava deflagrado, Aluzio Alves publicou nota na Tribuna do Norte, intitulada Ao Povo, na qual informava lamentar:

que o presidente Joo Goulart, a quem reconhece e sempre h de proclamar inestimveis servios ao Rio Grande do Norte (...) no tenha podido impedir a radicalizao das posies ideolgicas e polticas, conduzindo o pas a um impasse intolervel, que s pode ser solucionado com o respeito s tradies das foras armadas. (TRIBUNA DO NORTE, 02/04/64 apud PEREIRA, 1996, p. 132).

Em posio contrria ao golpe militar e ao governador Aluzio Alves ficou o prefeito de Natal, Djalma Maranho. Na manh de 1 de abril/64, o prefeito comunicou ao Comandante Militar e ao Secretrio de Segurana Pblica que estaria ao lado da democracia e do presidente da Repblica, Joo Goulart. No mesmo dia, Djalma Maranho reuniu-se na Prefeitura de Natal com seus secretrios, lideranas estudantis, sindicais e polticas. Numa atitude legtima, do ponto de vista democrtico, Djalma conclama o povo, atravs de notas oficiais, a resistir ao golpe. Na primeira delas consta:

O prefeito Djalma Maranho, ao lado das foras populares e democrticas, conclama o povo para que se mantenha em permanente estado de alerta, nos seus sindicatos, diretrios, rgos de classe, sociedades de bairros, ruas e praas pblicas, na defesa intransigente da legalidade, que possibilitar a libertao do povo e do Pas do imperialismo e do latifndio, a concretizao das Reformas de Base do amanh mais justo e mais feliz do Brasil. O prefeito Djalma Maranho (...) cumpre a sua obrigao de dizer que a Prefeitura a casa do povo onde se instala nesta hora, o Q.G. da legalidade e da resistncia.(DIRIO DE NATAL, 1/04/64 APUD PEREIRA, 1996, p. 128).

Em Natal, no ocorre nenhuma manifestao popular de resistncia, pois as autoridades militares das Foras Armadas, junto com o governador do Estado, Aluzio Alves, adotam medidas preventivas para impedir, mesmo com o emprego violento da fora, se for o caso, a perturbao da ordem pblica, deixando tropas de prontido nas ruas. Em notas oficiais, os militares advertiam ao povo em geral e, particularmente, os estudantes e operrios, que estavam proibidas as aglomeraes, passeatas e comcios contrrios ao regime instaurado. A situao era tensa na Prefeitura. Djalma Maranho tentou entrar em contato com Miguel Arraes, governador do Pernambuco, para informar-se dos acontecimentos naquele estado, mas no conseguiu. A notcia que chegou Prefeitura naquele dia era que o presidente Joo Goulart j havia sido deposto. Durante a noite, uma patrulha do exrcito invadira o prdio da Prefeitura de Natal. O oficial que a comandava abriu a porta do gabinete do prefeito com um chute, e gritou: Acabou a baderna! Pra fora comunistas, filhos da puta. (GES, 1999 a, p. 182). Junto com Djalma Maranho foram presos o presidente do Sindicato da Construo Civil, Evlin Medeiros e o vice-prefeito Lus Gonzaga dos Santos, todos acusados de serem comunistas. Os outros presentes na Prefeitura foram expulsos. Sobre este evento o prprio Djalma Maranho relata numa de suas cartas no exlio:

Fui trado pelo Comandante da Guarnio de Natal, Coronel Mendona Lima (...) e que, se bandeando para o golpe, aps invadir a Prefeitura com foras militares, convocou-me ao Quartel General oferecendo-me a liberdade em troca da minha renncia. Recusei em nome de minha honra e do respeito ao povo que, me conferira o mandato por mim desempenhado. (MARANHO, 1984, p. 74).

No desejo maior de manter-se no controle do poder estadual, Aluzio Alves apoiou e liderou diversas aes repressivas. Formou ele prprio uma Comisso Especial de Investigao no Rio Grande do Norte, contratando em Pernambuco dois policiais que tinham treinamento especial na CIA: Carlos Moura de Morais Veras, com cursos no FBI (Federal Bureau of Information), e Jos Domingos da Silva. Estes agentes tinham amplos poderes para prender, encarcerar e torturar os subversivos que faziam mobilizaes populares. Estes amplos poderes eram justificados pela retrica de que eles estavam agindo em nome da Segurana Nacional. Como em todo o pas, foram instalados, no Rio Grande do Norte, diversos IPMs, criados pelo AI-1, chefiados por coronis do Exrcito, ampliando o poder repressivo dos militares frente s atividades consideradas subversivas e antidemocrticas, juntamente com uma Comisso Geral de Investigaes. Os militares e civis que cercearam o poder poltico fizeram questo de ocultar informaes e apagar da memria do povo norte-rio-grandense, o trabalho social desempenhado por Djalma Maranho, prefeito de Natal poca do golpe. A respeito da administrao de Djalma Maranho, Dorian Jorge Freire afirma:

Djalma no administrava para o povo Djalma administrava com o povo. Com ele a democracia era mais o governo do povo do que pelo povo e para o povo (...) A interveno militar de 1964 tinha de peg-lo, porque no podia aceitar o povo no governo. Cassou Djalma Maranho, prendeu Djalma Maranho e terminou por exil-lo. (MARANHO, 1984, S/P).

Com o golpe de 1964, Djalma Maranho foi afastado da Prefeitura do Natal, preso e teve seu mandato cassado. Aps a priso, foi entregue ao IPM, dirigido pelo capito nio de Lacerda. Segundo o prprio Djalma Maranho: Este [nio] com tcnicas da Gestapo de Hitler, devassou a Prefeitura, sindicatos (...) diretrios estudantis, prendendo dezenas de pessoas, chegando a torturar presos

polticos. (MARANHO, 1984, p. 70). Djalma Maranho passou pelas prises em Natal, Recife e Fernando de Noronha.

(...) em vrias oportunidades, quando dos interrogatrios dos IPMs, foi incitado para acusar o Governador do seu Estado, sob a alegao de que o homem, para estar ali em seu lugar, era o Sr. Aluzio Alves. Recusou-se, (...) e em todos os seus depoimentos no delatou ningum assumindo, unicamente, a responsabilidade dos seus atos, apesar do terror existente. (GES, 1999 b, p. 246).

Em sua administrao, Djalma Maranho deu prioridade Educao. Este acreditava que o seu crime maior foi alfabetizar vinte e cinco mil crianas na pioneira campanha De P no Cho Tambm se Aprende a Ler, reconhecida pela UNESCO. (MARANHO, 1984, p. 69). Mas no foi s isso. Djalma Maranho defendia a reforma agrria e a limitao da remessa de lucros dos trustes para o exterior. Somente em fins de 1964, que Djalma Maranho foi libertado, por intermdio de umhabeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. A Comisso Especial de Investigaes chegou a produzir um relatrio intitulado Subverso no Rio Grande do Norte. Este ficou conhecido como Relatrio Veras, fazendo aluso ao nome do delegado que presidia a comisso. (PEREIRA, 1996, p. 138). Esta comisso tratou de perseguir os funcionrios pblicos acusados de subverso e comunismo.

As investigaes duraram cinco meses. De abril a junho, as prises se encheram. Foram 83 indiciados e 60 denunciados pela 7a Auditoria Militar do Recife. E, com base nas concluses da Comisso Estadual de Investigao, o governo fez as demisses no Estado e no municpio: 13 demitidos, 9 aposentados e 1 em disponibilidade. (GES, 1999 a, p. 189).

O Relatrio Veras foi publicado no jornal O POTI, de 27/09/64, mostrando ainda fotos de pessoas indiciadas, acusadas de subversivas. Os militares e o governo civil, usando-se de IPMs e comisses de investigaes, chegaram a prender, torturar e exilar participantes do PCB, de sindicatos, do movimento estudantil, funcionrios pblicos e trabalhadores rurais. Maria Conceio P. de Ges afirma:

Foram presos muitos trabalhadores do campo que reivindicavam direitos trabalhistas, e que, por esse motivo, se haviam aproximado das ligas camponesas ou dos sindicatos rurais (...) Muitos presos no eram chamados para depor, no sabiam de que eram acusados, iam ficando desesperados. (GES, 1999 a, p. 192).

Muitas lideranas catlicas que trabalhavam em prol dos sindicatos rurais eram igualmente acusadas de comunistas, ou de pactuarem com eles. Dom Eugnio Sales, bispo conservador e administrador apostlico de Natal, teve seu principal colaborador no sindicalismo rural potiguar, Jos Rodrigues Sobrinho, presidente da Federao dos Trabalhadores Rurais do Rio Grande do Norte, preso por participar da Frente de Mobilizao Popular e de movimentos grevistas no Estado. Dom Eugnio conseguiu a libertao de Jos Rodrigues do quartel do 16 RI (Regimento de Infantaria), mas a este fora recomendado o exlio, fato concretizado a posteriori. A represso de 64 no atingira apenas os homens, pela primeira vez em Natal, mulheres foram presas por envolvimento poltico. Entre elas, estavam Maria Laly Carneiro, pertencente Ao Popular; Diva da Salete Lucena e Margarida de Jesus Corts, pedagogas da Campanha De P no Cho Tambm se Aprende a Ler e, Mailde Pinto Galvo, diretora de Documentao e Cultura da Prefeitura do Natal.

No dia 10 de abril de 1964, foi preso tambm Lus Maranho Filho, militante do PCB, irmo de Djalma Maranho. Lus havia sido descoberto numa casa na Praia da Redinha, onde havia se refugiado aps ter sado do Q.G. da Legalidade, em 1/04/64. Lus Maranho Filho j temia uma crise institucional no Brasil, por isso, e por sua posio ideolgica, procurou refgio. Lus Maranho, que assistira ao Comcio da Central em 13/03/64, ficara bastante impressionado com o tom dos discursos. Parecia que as lideranas de esquerda pretendiam ultrapassar umas s outras pelo radicalismo. (GES, 1999 a, p. 179). Ao ser preso, Lus foi levado para o RO (Regimento de Obuses) e deixado numa sala onde j se encontravam Lus Gonzaga dos Santos, Jos Macedo, Hlio Xavier de Vasconcelos e Omar Pimenta, indiciados como comunistas e subversivos. Na noite de 21/04/64, Lus Maranho e mais trs companheiros foram levados para uma sesso de tortura. Amarrados, pendurados pelos ps, recebiam choques eltricos, e, em seguida, mergulhados em tonel de gua e leo at quase desfaleceram. (GES, 1999 a, p. 192).

No 16 RI, os procedimentos com os presos no eram diferentes. Entre os presos que l se encontravam estavam: Djalma Maranho, o mdico Vulpiano Cavalcanti um dos mais expressivos comunistas no Rio Grande do Norte Moacir de Ges, Aldo Tinoco, alguns estudantes universitrios, entre outros. O presidente da Ultar, Waldier Gomes dos Santos sofreu tanto espancamento que ficou com um pulmo afetado. J o caicoense Evlin Medeiros, alm das torturas, sofreu simulao de fuzilamento. Em agosto de 1964, foram embarcados para a priso na ilha de Fernando de Noronha: Lus e Djalma Maranho, Floriano Bezerra e Aldo Tinoco, s que eles no sabiam para onde estavam sendo levados. Ao chegarem em Fernando de Noronha (...) foram colocados em uma priso do quartel militar do Exrcito e puderam conversar. Na cela ao lado estava o ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Mesmo sem se avistarem conversaram noite, durante muito tempo. (GES, 1999 a, p. 197). Por interveno do advogado e deputado federal Carvalho Neto, foi concedido o habeas corpus a Lus Maranho, que foi libertado em fins de outubro de 1964. Este retorna Natal, mas sente um clima de insegurana e teme continuar na cidade, decidindo partir para o Rio de Janeiro. Nem o advogado e deputado federal Carvalho Neto foi poupado da represso. Este, que por intermdio de habeas corpus conseguiu a libertao de muitos presos polticos do Rio Grande do Norte, fora igualmente detido no 16 RI, em fins de 1964. Carvalho Neto era acusado de prestar desservios Revoluo e advogar comunistas e subversivos. O capito nio Lacerda chegou a ameaar Carvalho Neto de espancamento. Por interveno da OAB junto ao Ministrio da Justia, Carvalho Neto foi libertado.

Muitos polticos da UDN acusavam seus adversrios da esquerda nacionalista de terem atividades subversivas, envolvendo-os em algum IPM, de maneira a eliminar a concorrncia. Com a implantao do bipartidarismo pelo AI-2, Aluzio Alves filia-se ARENA, partido do governo, e consegue eleger-se deputado federal em 1966. Consegue tambm eleger seu sucessor a governador, Walfredo Gurgel, derrotando Dinarte Mariz, maior inimigo poltico de Aluzio Alves. Mesmo fazendo parte da mesma legenda, a convivncia entre dinartistas e aluizistas tornava-se cada vez mais difcil. Por isso, a ARENA no Rio Grande do Norte ramifica-se em duas: ARENA verde, liderada por Aluzio Alves e, ARENA vermelha, liderada por Dinarte Mariz. Devido a grande influncia junto ao governo Costa e Silva, Dinarte Mariz faz srias acusaes ao governo de Aluzio Alves, que desembocaram no seu processo de cassao, entre elas destacaram-se: populismo, corrupo, abuso do poder econmico durante as eleies e atos incompatveis com o golpe de 1964. Com isso, em 1969, por meio do AI-5, Aluzio tm seus direitos polticos cassados at 1973. Assim como seus irmos Agnelo e Garibaldi Alves. Durante este perodo, a famlia Alves ingressou no MDB, como nica alternativa de oposio, mas sem respaldo poltico. A partir de 1970, as eleies para governo passam a ser indiretas, dando vantagens apenas aos polticos da ARENA, ou seja, o partido da situao. O norte-rio-grandense Dinarte Mariz foi um grande defensor do regime militar. Nos seus discursos no Senado Federal, ele sempre reafirmava seu compromisso com os militares. Considerava-se o defensor daRevoluo e das Foras Armadas contra as investidas dos comunistas e daquelas reas que contestavam o regime (...) (MARIZ, 1980, p. 66).

Economia do RN: ontem e hoje

Publicao: 19 de Fevereiro de 2010 s 00:00

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Alcyr Veras [ Economista e professor universitrio] No passado, o sal e a scheelita representavam "a galinha dos ovos de ouro" da economia potiguar.

Durante a dcada de setenta, o Rio Grande do Norte apostou num modelo de industrializao tendo como carro-chefe o Plo Txtil Integrado e de Confeces, sobre o qual no tinha a menor tradio, nem domnio suficiente sobre os conhecimentos da tecnologia e das complexas relaes de mercado que envolvem aquela atividade fabril. Por isso, o resultado foi o esvaziamento da iniciativa privada, em razo da forte interveno do Estado na economia. Sobreviveu s enquanto duraram os generosos incentivos governamentais.

No incio dos anos noventa, costumava-se dizer que se o Rio Grande do Norte fosse uma ilha, ligada ao continente brasileiro por uma nica ponte e essa mesma ponte tivesse que ser repentinamente interditada, sua populao, consequentemente, morreria de fome. Essa comparao, um tanto quanto ficcionista e pitoresca, refere-se ao fato de ser o Rio Grande do Norte um Estado essencialmente consumidor. Naquela poca, cerca de 92% dos produtos consumidos no solo potiguar provinham de outros Estados nordestinos e do Centro-Sul. Do abridor de latas ao automvel; do rdio de pilhas ao aparelho de televiso; da caneta esferogrfica ao guarda-chuva, eram fabricados fora. Sem contar os alimentos "in natura" e industrializados, incluindo-se os legumes, medicamentos, computadores, material eltrico, calados, materiais de construo em geral e toda a variedade de eletrodomsticos. Ou seja, da mais simples manufatura semiartesanal aos artigos mais convencionais, que aqui consumamos, eram de procedncia externa.

Do volume de recursos que aportavam no Rio Grande do Norte, oriundos de verbas federais para obras e servios, bem como o pagamento de salrios dos rgos federais, civis e militares, cerca de 70 a 82% desse total de recursos retornavam a outros Estados da regio Nordeste e ao Centro-Sul, onde se encontrava o bero-me, isto , o lugar de origem onde aqueles produtos so gerados. Desse modo, quando, por exemplo, algum comprava um bem ou um artigo qualquer de consumo no comrcio do Rio Grande do Norte, apenas 20% ou 30% do valor pago ficava em nosso Estado, o restante voltava para o lugar onde aquele produto foi

fabricado, em geral para o Estado de So Paulo.

Hoje, a economia norte-rio-grandense est potencialmente direcionada para as atividades produtivas de maior tendncia de mercado, porm identificadas com as suas vocaes naturais. Essas atividades esto reunidas nos quatro seguintes eixos econmicos: Fruticultura; Carcinicultura; Turismo e Petrleo. Com exceo deste ltimo eixo, os demais sofreram oscilaes, alternando perodos de altas e baixas em decorrncia, sobretudo, de problemas sazonais.

O potencial turstico vem registrando ndices favorveis, principalmente com a chegada de empresrios estrangeiros, a ampliao da rede hoteleira, da malha viria e o surgimento de novos empreendimentos. O setor da construo civil, pouco afetado pela crise, apresenta indicadores positivos de crescimento e responsvel pela gerao de empregos em Natal e Mossor.

Escolhida como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, a cidade de Natal poder atrair grandes investimentos em projetos imobilirios, comerciais e em negcios de expanso urbana. O aeroporto de So Gonalo do Amarante, que vem sendo chamado de portal do Rio Grande do Norte para os mercados da Europa, um empreendimento de efeito multiplicador. Os investimentos do Banco Nordeste, na economia estadual, saltaram de 73 milhes de reais em 2002 para cerca de 1 bilho em 2009.