Discussões sobre a situação de saúde entre os Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul

download Discussões sobre a situação de saúde entre os Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul

of 18

Transcript of Discussões sobre a situação de saúde entre os Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    1/18

    Originalmente publicado emhttp://www.aids.gov.br/prevencao/indios/mbya/indios.htm

    Coordenao: Ivori Jos Garlet, Marinez Garlet e os representantes Mby-GuaraniFelipe Oscar Brissuela, Santiago Franco, Flix Kara Brissuela, Augustin Duarte, Horcio Lopes, Mrio

    Lopez e Roberto Gonalves.

    Traduo: Ivori Jos Garleet e representantes Mby-GuaraniTexto e reviso final: Ivori Jos Garlet, Marinez Garlet e representantes Mby-Guarani

    Projeto Grfico/Diagramao: Jorge AresiTratamento de imagens: Andres Vince

    Impresso: tica Impressora LtdaApoio: OMG - Organizao Mby-GuaraniCOMIM - Conselho de Misso Entre ndios

    PMG - Projeto Mby-GuaraniMINISTRIO DA SADE - Coordenao Nacional de DST e Aids

    Correspondncias: COMIM - Conselho de Misso Entre ndiosRua Amadeo Rossi, 467 - Caixa Postal 14

    93.001-970 - So Leopoldo - RSFone: (051) 590.1455 - Fax: (051) 590.1603

    ROJOGUEROAYVU MBA'E ACHY REKPE OREKUA I VA'E RIO GRANDEPYGUA MBYA-GUARANIKURY

    Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no RioGrande do Sul

    Os Mby nos surpreendem e nos brindam com esta deciso de "plantar" nopapel algumas Belas Palavras que revelam, entre outros aspectos, a fora desua tradio oral. Quem teve o privilgio de acompanhar o processo deelaborao da presente cartilha tem clareza de que a frase estampada na suacapa, e repetida no incio desta apresentao, no deve ser tomada e avaliadaapenas na sua condio e extenso de ttulo. Tambm no somente ocontedo explcito nesta cartilha que vai revelar a sua verdadeira dimenso.

    Onde, ento, buscar elementos para avali-la?

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    2/18

    Antes, porm, de responder a esta questo, gostaramos de informar ao leitorque esta cartilha foi produzida com a inteno primeira de ser um instrumentoque auxilie as comunidades Mby no RS no processo de identificao etratamento das doenas que sobre elas incidem com maior freqncia. Visaatender, portanto, uma exigncia prtica do seu cotidiano. Este aspecto estcircunscrito Segunda Parte desta cartilha.

    Por outro lado, entendemos que h, sobretudo na Primeira Parte, um ncleodestinado aos "brancos". A reflexo dos Mby nela contida foi produzida comeste objetivo explcito. Deve ser analisada e considerada pelas instituies queintervm junto a este grupo tnico, quando da definio de suas polticas deatendimento, e como subsdio para repensarem sua prtica. Tambm do pontode vista acadmico entendemos ser de inestimvel valor esta Primeira Parte.Ainda que possa ser criticado como sendo lacnico, o texto possui grandedensidade. Merece ser avaliado e apreciado por seu aspecto lingstico e teoretnogrfico; principalmente pelo segmento desta ltima disciplina que, nosltimos anos, tem se preocupado com os enfoques denominados de"antropologia mdica". Esta apresentao, portanto, dirige-se basicamente aos"brancos", buscando antes suscitar questionamentos do que oferecer chaves

    para a leitura do texto Mby.

    Voltamos, agora, a recolocar a questo acima proposta, a partir da qual sepretende relacionar alguns elementos implicados na elaborao e finalidadedesta cartilha.

    Se a preocupao estabelecer um ponto de partida, podemos focalizar apalavra ayvu (falar, conversa, linguagem) como gnese, como fundamento,no apenas desta ao especfica, mas da prpria humanidade (Guarani).Assim, rojogueroayvu pode ser literalmente traduzida por "ns nos dizemosmutuamente". Temos, portanto, no centro da ao a importncia da palavra, jamplamente detectada e tratada por estudiosos da cultura Guarani, como Lon

    Cadogan e Bartomeu Meli, por exemplo. Tambm podemos referir que aexpresso em evidncia permite ser entendida como uma ao de consenso,em que as "palavras foram emparelhadas", isto , as idias e opinies dosparticipantes das assemblias foram sendo equiparadas, afinadas. Ao se ler"discusses", portanto, deve-se subentender esta dimenso mais dilatada quenela est implcita.

    Assim que as palavras "plantadas" nesta cartilha podem ser avaliadas em umadupla dimenso. Plantadas no seu sentido esttico, mortas nesta espcie deatade que nos lembram os livros - conforme analogia de Meli1 -, uma vezque o papel no nos possibilita v-Ias na sua real condio de alma (anima)percebvel nos discursos, quando so dotadas de vida, de movimento, quandocirculam, inflamam... Mas plantadas tambm na condio de sementes, a

    serem deitadas nas conscincias e nelas rebentarem e multiplicarem-se.Cremos que foi com a inteno de cultivadores que os Mby se lanaram aodesafio de escrever esta cartilha.

    a partir desta colocao explicativa que podemos apresentar esta cartilha emsua dupla dimenso: de um lado como uma camisa de fora e, de outro, comoum desafio. Uma camisa de fora porque, ao elabor-la, os Mby sedepararam com as limitaes impostas pelo papel e pela escrita em detrimento densidade e riqueza da palavra proferida. O desafio pode ser vistoenquanto esta inteno da palavra encontrar - na sociedade envolvente - umespao, um cho, onde se estabelecer e se desenvolver. Tal qual os Mby,que continuam a proferir "Palavras Sem-Males", esto em busca de espaosque lhes permitam viver com um mnimo de dignidade.

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    3/18

    Mas - no nos equivoquemos! - proferir Belas Palavras no implica dizerapenas palavras conformistas: elas devem tambm gerar inquietao, poistratam de desnudar a verdade.

    Falar da situao da sade dos Mby no Rio Grande do Sul - e o mesmo podeser dito a respeito das comunidades deste grupo tnico que se encontram em

    toda a extenso de seu territrio - implica numa anlise ampla, abarcando ocontexto em que os mesmos se encontram inseridos. A sade no umaspecto que pode ser desmembrado dos demais e que pode ser "tratada" comsolues burocrticas setorizadas. Como to bem definem os prprios Mbynos textos a seguir, a sociedade est doente porque o mundo est doente.

    Falar da doena, portanto, colocar no centro das discusses a qualidade dasrelaes que estamos produzindo hoje, envolvendo as pessoas, a natureza e osobrenatural. Em todas estas esferas observa-se um progressivodeterioramento, um crescente desequilbrio. De acordo com a interpretaodos Mby, so indicativos da intensificao da presena do mal sobre omundo. Estamos falando, portanto, de uma grande doena.

    Seus sintomas so por demais evidentes.

    Sugerimos ao leitor desta cartilha que, tomando o texto produzido pelos Mbycomo referncia, procure evidenciar alguns. Sugerimos, tambm, um exercciode relativizao - isto , uma tentativa de colocar-se no lugar do outro, no casodos Mby - relacionando sade com os seguintes aspectos: espao econdies ecolgicas, sistema econmico, organizao social... Se isto parecermuito difcil, imagine as seguintes situaes: suponha que voc no possuamais uma referncia de moradia fixa; que as fontes em que voc normalmenteabastece sua cozinha (supermercados, armazns...) entrem em colapso; omesmo acontecendo em relao aos hospitais e s farmcias; todo seusistema de crenas e valores toma-se constantemente questionado como

    infundado...

    Portanto, com muita perspiccia e no sem razo que os Mby avaliam:"hoje nos sentimos duplamente ameaados: pelos brancos e por nossosDeuses".

    A quem recorrer, a quem clamar face a tais circunstncias? Os Mby noquerem faltar aos compromissos com seus antepassados, com sua tradio,com seus Deuses. Pedem que os "brancos" entendam que seu papel nestemundo diverso, justamente porque tm um compromisso que queremcontinuar honrando. Por outro lado, se o mundo atual j no mais o mesmode seus antepassados e percebem ser necessria uma interao maior com os"brancos" - no caso aceitar uma maior interveno da nossa medicina - queremque tambm isso fique bem evidente: esto fazendo uma pequena concesso medicina ocidental. A qual, obviamente, no deve ser entendida por sujeio,ou substituio sumria de seus princpios e valores.

    Ns, seres humanos, fomos dotados de linguagem (conscincia). E, segundo areflexo dos Mby, justamente por isso temos uma grande responsabilidadedurante nossa passagem pela terra. Em que medida as nossas aes sodignas e correspondern nossa condio?

    Talvez fosse oportuno - s vsperas de "comemoramos" (sic) os 500 anos deconquista do Brasil - repensarmos os pressupostos de nossa futura conduta. Econsiderarmos a possibilidade de que as sementes que, at agora,

    sistematicamente procuramos erradicar, possam se constituir em suportes doequili`brio e da sade do mundo e das sociedades.

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    4/18

    Ivori GarletMaring, agosto de 1998

    OMBOATY TETAR RETA JOGUEROYAVUPMA OPA MBA'E REKRE...

    Reunimo-nos poro tratar de diversos assuntos ...1 MELI, Bartolomeu. El Paraguay Inventado. Asuncin: CEPAG. 1997.

    Hoje nos encontramos doentes porqueo mundo est doente

    Antes [da chegada dos estrangeiros] nsdispnhamos da terra totalmente livre,ningum nos importunava. Dispnhamos,ento, de muitos bens, de matas virgens,

    de cujas riquezas gozvamos. A BoaPalavra [Esprito Sagrado] pairava e zelavasobre todas as coisas. A mata supriaintegralmente as nossas necessidades deremdios, de animais, de frutas, lenha,nascentes, bons arroios para a pesca,reservas naturais de sementes, espaosadequados para a implantao de nossosteko'a [aldeia] e das opy [casa ritual], queserviam para nos tomar plenos de alegria.

    NGY MBYA KUERY HACHYPMA, OPAMBA'E ACHY AVEI

    YMA ORE ROGUREKO YVY JAEA'EA,MAVA'EVE OPENAE' A. A'VY ROGUREKOKA'AGUY POR, OPA MBA'E OGUREKO. E'POR ANGAREKO'A. KA'AGUY A'PY OPAMBA'E OGUREKO: PO, MBA'E REI REIKA'AGUY, YVA'A, JAPE'A, YVU ETE, PIRA'YPOR, MBA'E MONO I POR I TEKO'ARENDAR POR I, OPY RENDAR MBA'ENEMBOVY'A.

    A'RAMI VY ROGUREKO TEKO VY'A

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    5/18

    "Assim quando possumos uma vida alegre"(Opy, Casa de Reza, desenho de Mrio Lopes, curso Multiplicadores de Sade, maio/1998 )

    Em tais circunstncias, no carecamos de

    nada. Portanto, no nos faltavam HomensInspirados [Sacerdotes], que dominavam oconhecimento dos remdios e com nimopara trabalharem em prol da nossa sade.Tais Homens Inspirados eram fortalecidose acompanhados pelas MulheresInspiradas [Sacerdotisas].

    De forma, ento, que os Mby possuamuma vida plena de alegria.

    Depois, porm, chegaram os habitantes deoutras terras [estrangeiros, brancos], e

    acabaram com tudo; destruram a terra, amata, os rios e todas as riquezas naturais.Destruram as fontes de recursos para anossa medicina. Deixaram-nos semcondies para cultivarmos nossosplantios. Destruram, portanto, nossafelicidade. E, em sendo assim, nosdeixaram desprovidos de recursos.

    A'RAMI INDOATI VA'EKUE MBA'EVE I MBYAKUERYPE. A'RAMIRAMO KARAI KURYNDOATI PO KUAA ETAVE OMOKYRE'TESI REKO OMBA'EAPO ANGU. A'GUIOMOIR VA'E KUA KARAI KURY OMOIRVA'E KARAI KURY REVE.

    A'RAMI VY MBYA KUERY OGUREKO TEKOVY'A.

    A'ERIRMA YVYPO KURY OEMOMBA'PA.EMOMBA'E YVRE, KA`AGURE, PIRA'RE,

    MBA'E REI REI KA'AGURE. MBYA POOMOKAYMBA. OEMOMBA'E TEKO VY'RE.ARAMI RAMO ROJEECHA VAI. ORE REKORMAETNGUA I VA'E OKATAMA ANGUMYMA ORE REKO GUA YVYPO KURY. A'EVA'E ROMBOAVAETE.

    ROIKOTEV TEKO'A POR ANDE REKOR ROIKO ANGU...

    Necessitamos de espaos adequados para vivermos de acordo com nossas normas...(rea indgena PachecaIRS Camaquil, fev/96)

    As normas sagradas de nossa futuraconduta passaram a estar ameaadas pelapresena dos estrangeiros/brancos. E issose nos apresenta como uma abominveldesgraa.

    De duas formas nos sentimos ameaados:pelos brancos e tambm por parte denossos Deuses. Isso o que percebemoscomo resultado da ao dos brancos. Jno possumos nossas casas tradicionais.

    Nem os ventos nos so favorveis e j no

    IJAVAETE MOKI ENDGUI: YVYPOKUERYGUI,ANDE RU KURYGUIGUA AVE.ROECHA ROVY VA'E YVYPO KURYGUI VA'.OO ET TEI NDOGUREKOVI. NI YVYTGUINOROIKOPORVI PETGUIGUA'E MBA'EACHY ROJOPY ROVY, YY VAIKUGUI, OREREMBI'U ETE I NDORO'UVI VY. TEKO'ARENDA PORVE' MYMA NGY ROIKO. A'EVA'E EGUI EPORANDU REKOROJEPYTACHO.

    NGY OJEPYTACHO RIRMA TETAR RETA'

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    6/18

    as guas encontram-se contaminadas, nemnossos prprios alimentos podemosconsumir e, onde hoje nos encontramos, oslocais so inadequados para a implantaode nossos teko'a. Todos estes aspectosconstituem-se em grandes obstculos paravivermos de acordo com as normasdeixadas [pelos Deuses] para a nossaconduta.

    OECHA KUAMA TEKO NGYGUA VA'E PETEENDAGUIVE'MA A'VYMA. AYVU OJAPOVA'ER YVYPO KURY MEME OJAPO VA'ERO AVI MBYA KUERY MEME OJAPO VAER OAVI. MBYA KUERY PEGUAR VA'EKUE IANDE RU VOI OA'ANGA VA'EKUE VOI, OJAPOVA'ER OME I TERI PETE TE'I.

    ANDE AVATI RA'YI ETE

    Sementes de nossos milhos tradicionais

    ANDE KYRNGUEPE NDOJOU RACHYIVE MBA'E ACHY

    Nossas crianas so as mais vulnerveis s doenas

    Diante destes obstculos, temos nosreunido entre muitos parentes - paratratarmos de vrios assuntos. Percebemosque o modo de ser de agora j no maiso mesmo [como era o de antes]. Portanto,entendemos que os brancos tm o deverde informar-nos/esclarecer-nos sobrenossos direitos. Tambm entendemos queos brancos possuem tarefas especficas,assim como ns, Mby, possumos tarefasespecficas [que competem a cada umadas partes realizar]. A forma comodevemos agir, como devemos proceder, foi

    estabelecida por nosso Deus; para cumprir

    A'E VA'E KYRNGUEVE KURY NOMOKAYSIOKUAPY. A'E VA'E RIMA JURUA OECHAKUAMA O VA'ER OMBOJEROVIA UKATAMORA'E JURUA KURY PAVPE.

    A'E VA'PY RIMA KARAI KURY, KUA KARAIKURY OEPYTYV UKA JEVY VA'ERGUETAR I KURY PEGUAR. PO IOITYKUA'I ANGU TATACHINA REKO ACHY IOIPORU ANGU. MBA'E ACHY ETA ENDGUIOREJOPY: YVYTU REAKUGUI, YY KY'GUI,TEMBI'U VA'IKUGUI JURUA REMBI'U IVAIKUEV'E. A'E VA'E MBA'E ACHY OJOPY KATUVEVA'E KYRNGUE I OEVANGTA RAMO I

    ' ' '

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    7/18

    esforar para que o legado [de nosso Deus]no se perca completamente. E isso oque os brancos devem procurar saber erespeitar nos Mby. Os brancos [aqui]presentes tm a responsabilidade desensibilizar as autoridades para que nosdem crdito e, dessa forma, sensibiliz-lasa reconhecer nossas necessidades e arespeitar nossos direitos. A partir disso osHomens Inspirados [Sacerdotes] e asMulheres Inspiradas [Sacerdotisas]novamente merecero os favores dosDeuses para continuar intercedendo embenefcio dos Mby, utilizando a nossamedicina e tambm empregando aneblina vivificante [fumaa] dos cachimbosrituais no tratamento dos males que nosacometem. De diversas formas somosatacados por doenas: pela poluio do ar,pela gua contaminada, pelos alimentosque no so os dos Mby. As crianas que so as que mais sofrem emconseqncia das doenas, e isso temoscomo uma grande preocupao. Por elas que imploramos ao nosso Deus que estno cu.

    IJAVAETE VA'E OREVPE. A'VY RIMANGYGUI A'E VA'E ROMOMBE'U UKA ORE RUYVATEGUPE.

    A'RAMO RIMA O CHA' UKA OREVPE

    KA'AGUY RUPA PETE ENDA ENDAPY JEPEITU I IVA'E RERA'MA ROJATAPYI ROKEANGU, ROJAPYCHAKA AGU, ORE REKOACHY ROMOMBE'U ANGU OREMBOU ARPE.

    A'E VA'E RIMA ORE REKO RA VA'E. A' VA'ERIMA ANDE RU OMBOJEROVIA KO YVPY.A'E VA'E RIMA YVYPO RUVICHA KURYOMBOJEROVIA VA'ER OREVYPE GUAR.

    TAPE RUPI RAMO, RONDOGUREKOVIMA TEKO VY'A

    "Quando estamos em beira de estradas, no possumos uma vida decente"Sr. Alberto Brissuela e Dna. Maria, crianas Luiz e Graciela.

    Acampamento Passo da Estncia (BR 116 - Barra do Ribeiro/RS) maro/98PO I OITYKUI ANGU TATACHINA REKO ACHY I OIPORU ANGU

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    8/18

    Faz parte do nossa Medicina a utilizao da neblina vivificante

    dos cachimbos rituais no tratamento das doenas

    Nosso Deus, em razo de nossapreocupao e de nosso clamor, nos revelaonde ainda possvel encontrarmos algumlugar no que restou da extenso do leitodas selvas [das belas matas]. Onde aindapoderemos reconstituir nosso teko'a etermos tranqilidade para podermosescutar e implorar quele que aqui [a estaterra] nos enviou, aprimorando a nossaconduta imperfeita.

    Essa que deve ser a conduta correta aquina terra para aquele que acredita emanderu. E isso que as autoridades dosbrancos devem entender e respeitar emns, Mby.

    A'E VA'PY MA RIMA MBA'EAPO JURUAKURY PEGUAR VA'EKURE JEPENOROPENI VA'ER. ROPENA TEMA JURUAREKO RUPI A'E VA'E NOPOR'AROIKUAAPMA.

    YVY O'UVEI AJAVRE OJAPO VA'ER OREMBYA KUE'RY A'E VA'MA MIT EMBO'RYMBA'E KARAI OKRE JEVY'A POR. ORE RU

    TUP OMONGARAI YVA'A PYAU, AVACHIPYAU... A'E VA'RE RIMA NGY MBYA KUERYOEMBOACHY ORE RAMI, ORE JARI,KYRYNGUEVE AVE OEMBOACHY AVI.

    TATU RA'ANGA

    Tatu entalhado em madeira

    A pessoa que j ficou doente sabe muitobem o que tambm a terra poder sofrer sea natureza no for respeitada. Entretanto,quase ningum se apercebe de que necessrio render respeito tambm s

    TETE REKO ACHY OGUEROAYVU KOVA'E,A'VYMA OECHA OIKUAMA AVI YVPYOEMBOJERA VA'EKUE AICHA'E' VA'EKUEJEPE RIMA IJAYVU OMMA. A'E VA'MAJAECHA VA'E RIMA KA'AGUY, YVYRA

    '

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    9/18

    seres dotados de alma, esto nosalertando, atravs de seus murmrios detristeza, que no devem continuar sendocortadas. Conseqentemente j noproduzem mais frutos perfeitos, j no maisflorescem formosamente.

    O'MY AVI. E' POR AVI RIMA A'EOEMBOACHY AVI, OGUEROJAE'O AVI,OJEJAYA, OMONDORO PA'I, NDAI'A PORVENDAIPOTY PORVI.

    TAPE REMBE RUPI, YAPU ENDU VA'E... RYAPU RIVMA OENDU OINY NGY

    Na beira da estrada, barulho o que se ouve...somente barulho [dos automveis] o que ouvimos agora"

    (Acampamento na BR 116, Barra do Ribeiro/RS, desenho de Santiago Franco,curso Multiplicadores de Sade, maio 1998)

    Aquele que zela pelo leito das selvas

    tambm est falando que dessa forma jno mais possvel prosseguir, tudo jest se extinguindo; se existissem somenteos Mby no haveria destruio. O Criadorda Terra zela por quem anda no interiordas matas, por quem ouve o murmrio dassuas criaturas [os Mby]. Ento nossentimos felizes quando vemos o porco-do-mato sagrado, o quati, o tatu, a cutia, apaca, o veado, a anta, a capivara, o peixe,os pssaros ... Isso o que toma a nossaexistncia plena, alegre. Isso que trazalegria para nossas crianas e faz com que

    elas se sintam bem.

    Mas agora ouve-se somente o barulhogerado pelos brancos; e somente rudoso que se escuta. Conseqentemente, jno nos encontramos mais felizes. Por estarazo que continuamos a implorar pelasmatas que ainda restam. Bem sabemosque o branco no o dono da terra, mascontinuamos a implorar. Quem criou omundo e seu dono Papa Tenonde[Deus Primeiro], Ele o sabe perfeitamente.

    A'E VA'E RIMA KA'AGUY RUPAREOANGAREKO VA'E JEPE OGUEROAYVUNDA'EVEVIMA OMOMBMA CHEREMIMOE'POR KUE RY, AO RIRE KO VA'EPYE'ARANGUE OECHA IJYVY RUPA VA'E KA'AGUYGUY RUPI OIKO VA'E, OENDU VA'E MBA'EREI REI. A'E VA'EPMA OEJA AVI TEKOVY'AR MYMBA KOCHI, CHI'Y, TATU, AKUTI,JAICHA, GUACHU, TAPI'I, KAPI'YVA, PIRA,GUYRA KYR... A'E VA'E RIMA JECHAKA RUPAMOENDU'A OGUERU VA'E VY'A. A'E VA'ERIMA KYRNGUE I OVY'A OENDU POR I AVI.

    NGMA YAPU ENDU VA'E, YVYPO KURYREMIMBOJERA RYAPU RIVMA OENDUOINY NGY. A'E VA'E RIMANDOROGUEROVY'AVI. A'EVYRIMAROJERURE KA'AGUY OME I ME I VA'REROJERURE. ROIKUAA I RIATEMA YVY ONOAREE'PE RIVE ROJERURE. YVY ONOAREMA ORE RU PAPA TENONDE ROIKUAAROMY.

    CHI'Y RA'ANGA

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    10/18

    Quati entalhado em madeira

    Mas agora j estamos trabalhando juntocom os brancos sobre a situao dasade. Assim procedemos parapodermos conseguir amenizar osnossos males, para podermos contar

    com remdios e um melhor atendimentomdico. Porque as doenas estoaumentando cada vez mais, e sovrias, como: pneumonia, dor decabea, diarria, feridas, febres, sarna,dor de dente, perda da conscincia,bronquite, vermes, doenas dos olhos,doenas dos ouvidos, furnculo,diarria com sangue, vmito,tuberculose, AIDS...

    Estas so doenas do branco. Paratrat-Ias se faz necessrio aceitar o

    tratamento oferecido por sua medicina,para o qual no podem faltar osmedicamentos.

    NGMA TEMBIAPO REKO YVYPO KURYREVE, MBA'E ACHY REKO REGUMA.A'VYMA EPYTYV ANGU VA'ER,

    A'VYMA PO OJOUVE ANGU OANGAREKOPORVE I ANGU. MBA'E ACHY KUAA, MBA'EACHMA OREJOPMA JORAMINGUAE'E':JUKUA VAIKUE, AK RACHY VAI, TYE VAI, AIVAI, PIRE RAKU VAI, TEMO, TI RACHYAKAY, PYTU RACHY, TACHO EMOA,NEV AI, TECHA RACHY, APYCHA RACHY,ACHI'I GUACHU, T RUGUY MBOJEVY MBA'EACHY PO'I, TUGUY VAIKUE ...

    KO VA'MA JURUA MBA'E ACHY A'RAMOMAJURUA RA'MA OREPOANO. A'VYMA PONOMBOATI AR PAVPE.

    Agora vamos falar um poucosobre as doenas que somais perigosas para os Mby

    Doenas respiratrias

    Estas doenas pegam muito para os Mbyporque agora j quase no podemos maisfazer as casas tradicionais. O lugar ondemoramos j no bom, j noencontramos o que caar, no tem peixe,no tem terra boa para plantar.

    Quando moramos em casas ruins, na beiradas estradas e nos alimentamos mal,nosso corpo fica com pouca proteo.Ento aparecem as doenas.

    As crianas so as que mais sofrem;

    NGY ROMOMBE'TA ANDEMBYA PAVPE MBA'E ACHYANDE JOUVE VA'E

    PYTU RACHY

    KO VA'E MBA'E ACHY ANDE JOUVE VA'MAPEICHA JAIKO RAMO OO'ERE. JAIKO I PYNDAIPOVI KA'AGURE ANEKYRE'Y AGUNDAIPOVEI, PIRAY POR NDAIPOVI, NI YVYPOR I AMAETY AGU.

    JAIKO AJRE TAPE RUPI, JAIKO JAVREANDE KARUAGUI ANDE RETE KANGYRAMO MBA'E ACHY IPOAKA.

    OJECHA VAIVE VA'MA KYRNGUE I. OACHAYRO'Y, KARUE', ANDE TUUKURY NOIVI

    JAJAPO ANGU ANDE REKPY. HA UPEI'

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    11/18

    condies para tratar de acordo com osistema dos Mby e tambm, nem sempresabem como encontrar ajuda no sistema dobranco.

    Das doenas respiratrias, as que so maispesadas para ns Mby so a gripe, apneumonia e a tuberculose.

    ANEPYTYV VA'ER.

    MBA'E ACHY ANDE JOU VA'E ANE YVREVA'MA JUKUA, A'E ANDE KUTU'A, MBA'EACHY PO'I.

    GripeComo pega:

    Quando a pessoa est se alimentando mal,o corpo fica fraco e deixa entrar o bichinhoda doena. Tambm um doente podepassar para a pessoa sadia.

    Como fica o doente:

    A pessoa com gripe sente febre, dor decabea, dor no corpo e corre gua do nariz.

    Como cuidar:

    Esta doena pode ser tratada em casa. preciso, todavia, tomar muito cuidado coma umidade e o frio. O melhor o doenteficar um dia ou dois na cama.

    Ns Mby sabemos muitos remdios domato que podem ajudar a melhorar dagripe. E muito importante pedir ajuda paraaquele que sabe o remdio. Tomarbastante ch e gua ajuda muito narecuperao do doente.

    JUKUA

    ANDE JOU ANGUMA:

    YVYT YRO'YSGUI, ANDE PIRUKUEI RAMO.JUKUAJA IPOAKA A'E PAVRE.

    ANDE JUKUAMA VY ANEANDU:

    ANDE YRO'Y AI, ANDE AK RACHY, ANDEPIRE RAKU, ANDE RETE RACHYPA, ANDEAPNJY.

    MBA'ICHA AEANGAREKO:

    AEANGAREKO ANDE RPY.AEANGAREKO VA'ER YRO'YSGUI.NAAPUIRANG VA'ER PETE, MOKl RA.A'RAMI ANEANGAREKO RAMO A'EVE

    VA'ER. ANDE MBYA KURY JAIKUAA ETAPO JAI ROGUEGUIGUA ANE MOPUPORVEJU VA'ER JUKUGUI, A'EVE VA'ERJAJAPO UKA PO KUAAPE.

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    12/18

    Pneumonia

    Como pega:

    Quando o corpo est sem proteo e apessoa fica muito exposta ao frio e umidade.

    As crianas so as que mais facilmente soatacadas por esta doena.

    Como fica o doente:

    Esta doena deixa a pessoa com febre,chiado no peito, dor muito forte no pulmo,com catarro e tambm respirao curta erpida.

    Quando a pessoa respira sente uma"pontada" muito forte dentro do peito.

    Como cuidar:

    A Pneumonia uma doena muitoperigosa. Se no procurar ajuda, a pessoadoente pode morrer. Mesmo antes de ficarmuito pesada a doena, deve-se procurarajuda.

    O doente deve tomar cuidado para nopegar vento frio, chuva e umidade. importante agasalhar bem o doente. Se

    criana, precisa ter mais cuidado ainda.

    Os remdios dos Mby no so suficientespara curar completamente esta doena. Seno se deixar a doena avanar muito, otratamento pode ser feito em casa. Otratamento pode ser feito com o remdio dobranco, mas tambm pode usar junto osremdios conhecidos pelos Mby.

    ANDE KUTU'A

    ANDE JOU ANGUMA:

    ANDE RETE KANGUY RAMO, ANDE JOUVEYRO'Y RUPI, YVYAKY RUPI.

    KYRNGUEPE NDOJOU RACHYIVE KO VA'EMBA'E ACHY.

    ANDE KUTU'AMA VY AEANDU:

    KO VA'E MBA'E ACHMA ANDE MBOPIRERAKU, IPY'A JOPY, IPY'A JOPY RACHY ANEYVIRE, JUKUA PU A'E ANDE PYTU JOKORAMO ANDE KUTU'A AENDU.

    ANDE KUTU'A RACHY A'RAMINGUA MBA'EACHY PO'IMA RIMA ADEVPE.NDAJAJEPY'A PI RAMO A'E INDAJAIKUAAPOTA I RAMO NDA'EVI VA'ER. A'RAMI VYIPO'YIE'RE AANGAREKO VA'ER.

    A'VYMA NDAJAJEPEJU UKI VA'ER YVYTRO'YSPE, OKPE, YVY AKY RUPI.TEKOTEV EANGAREKO KUAA ANDEMBA'E ACHY VA'E. KYRNGUEPE KATUVMAJAREKO KUAA VA'ER.

    MBYA PO NDAIPOAKAPI KO VA'E JURUAMBA'E AHRE. NDAIPO'I ETE I RAMOANDERO RUPI JEPE A'VE AANGAREKOANGU. A'VE JAIPORU ANGU JURUA POA'E ANEPO AVE.

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    13/18

    Tuberculose

    Como fica a pessoa:

    A Tuberculose outra doena muitoperigosa. A pessoa com esta doena temmuita tosse, tem catarro com sangue, fica

    muito magra e de noite, quando estdormindo, pode ter suadores.

    Como pega:

    O bichinho desta doena passa de umapessoa para outra pela saliva. Tambmpode passar quando uma pessoa ocupa omesmo prato ou colher que um doenteusou.

    Aquele que se alimenta mal, pega maisfcil tuberculose. Quando o corpo estfraco, o bichinho entra mais fcil.

    Como cuidar:

    Esta doena s pode ser tratada com oremdio do branco. Se a pessoa descobrirlogo que est doente, o tratamento podeser feito em casa. Se no estiver muitograve, o doente no precisa ficar nohospital.

    Agora o tratamento , na maioria dos

    casos, de seis meses. Se a doena formuito pesada, ento pode demorar at umano.

    Mas aquele que est doente deve seguir otratamento at o fim. Se parar, o bichinhoda doena fica mais forte e o tratamentofica mais difcil.

    MBA'E ACHY PO'I

    ANDE JOU ANGUMA:

    MBA'E ACHY PO'I IJAVAETEVE AVI ANDE

    JOU RAMO. MBA'E ACHY PO'I JAREKO RAMOANDE MBOJUKUA RI, JUKUA PU RUGUY,ANEMOMBIRU, PYARE ANEMBOY'I.

    ANDE MBA'E ACHY PO'I MA VY AEANDU:

    MBA'E ACHY PO'IJMA OVA TENDYRY RUPI,A'E TEMBIPORU RUPI.

    NDOKARU POR I VA'E, NDACHIVE ANDEJOU ANGU MBA'E ACHY PO'I J.

    MBA'ICHA AEANGAREKO:

    KO VA'E MBA'E ACHYMA JURUA POMYGUAR. JAIKUAA VOI RAMO, ANDE RPETE A'VE AEANGAREKO ANGU ANDERPE. AEMOKANGUY ETE JEPE I RAMONAATEKOTEVI JAPYTA OPITALPY.

    NAANEKANGUY ETE I RAMO AEPOANOVA'ER 6 MESES PEVE VA'ER. IPO'I JEPERAMO AEPOANO VA'ER 1 ANO PEVEVA'ER.

    KO VA'E MBA'E ACHY OGUREKOVAOEPOAN VA'ER OKUERA POR PEVE.NAAEPOAN VEI RAMO MBA'E ACHYJAOEMO VETA, HA'E RAMI RAMHACHYVETA JAKUERA ANGU.

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    14/18

    Doenas de pele

    difcil as doenas de pele matarem apessoa [contaminada]. Mas incomodammuito. Se a criana que pega, certo queo sofrimento ser ainda mais pesado.

    Tm muitos tipos de doenas de pele. Asque mais pegam os Mby so: sarna,empetigo, fogo de santo antnio,abcesso, furnculo.

    Ns sabemos muitos remdios do matoque servem para curar estas doenas. Sque nem todos os lugares onde estamosvivendo existem as ervas que usamos.

    Se no deixarmos ficar muito grave, possvel tratar com facilidade estas

    doenas. Se usarmos bastante a gua e osabo j nem vamos precisar ocupar oremdio do branco.

    MBA'E ACHY PIRE REGUA

    MBA'E ACHY PIRE REGUA ANDEJUKIRIATE, PERO AANGA REMA. KYRNGUEPE

    KATUVMA OMOANGEKOVE.

    JORAMINGUAE' OS ANDE PIRRE. OSVEANDE JOUVE TEMO, APA, KAITA, ACHI'IRAT, ACHI'I GUACHU.

    JEIKUAA RIATE IPO. OPA TEKO'A RUPI'E OKO VA'E PEGUA.

    NAAAARI RAMO OKUERA REVE I.AMBOJAU RIA'E RAMO NAAIKOTEV POKATU ETE.

    Me Mby amamentando sua criana

    Doenas do sistema digestivo ANDE PY'A JURU RACHY

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    15/18

    Estas doenas aparecem principalmenteporque ns Mby trocamos quase todanossa alimentao. Agora comemos quaseexclusivamente a comida do branco. Acomida do branco muito forte e pesada.Ento causam-nos uma srie de doenas.

    Tambm a gua que hoje usamos [paracozinhar e beber] encontra-se muitopoluda. Os arroios e as fontes estocheios de veneno das plantaes dosbrancos. Ns tomamos a gua e corremosmuitos perigos.

    Por isso que sentimos dor de estmago,dor de barriga, diarria, diarria comsangue, vmitos, gastrite.

    Tambm temos muitos problemasrelacionados com vermes. Antigamente osMby tinham muitos remdios para eliminaros vermes. At hoje ainda conhecemos osremdios, s que agora muito difcilencontr-los.

    Como podemos resolver esta situao seestamos morando na beira da estrada, ouem lugares muito pequenos e nem fonteboa encontramos para ter gua potvel?

    Doenas do sexo

    Vacinao em criana Cinta Larga,aldeia Rooselt/RO, agosto 1996

    As doenas deste tipo tambm aparecempara ns Mby porque estamos vivendo no

    meio do branco. Alguns Mby esquecem as

    ANEREMBI'U VA'ER VAEKUE' J'U RUPI.NDA'EVI A'MA J'UTAMA JURUA REMBI'U.JURUA REMBI'MA ETA REGUA OA'ERAMINGUA ANDEVPE IPO'I. A'VYMAOGUERU ETA MBA'E ACHY MBYPE.

    A'GUI YY JAIPURU IKY'A Y AK, YVU JURUAREMIT OIPOANOMBA REMMA.A'RAMINGUARE OCHYRY YY RUPI JAY'UJAJEPOYUE'RE.

    AVYMA 'AENDMA ANDE PY'A JURU RUPIACHY VA'E, TYE RACHY, TYE, TYE RUGUY,MBOJEVYSE, PY'A TI.

    AGMA JAREKO REMA TACHO EMOA.YMA RAMO MBYA KURI ETA PO TACHOPEGUAR. ANGY REVE JAIKUAA PO, ANGY

    RUPI ACHMA JAJOTEMA ANGU.

    MBA'ICHA JAJOVETA TAPPY RIVE, TEKO'ARENDA KYRY, YY POR NDAIPI?

    TEKO ACHY JAJOPY VA'E AVAKUEKUANGUE REVE

    ANGMA JAIKMA APENA SENHORRE,JURURE GUIVE. AMONGUE MBYANAIMANDUAVI ANDE RU MBA'E E'IAGURE. A'E VA'E REKO ANDEVPE

    IJAVAETE.

    ETA REMA MBA'E ACHY JOE APENAAGUGUI. A'ENI JAJOPMA VY MBA'EACHY OGUREKO. REPENA RAMO A'EKUEKUE'RE JAROVA ROVA JOE.

    O MBA'E ACHY A'ENI VA'E KUA MBA'EACHY. AMBOAMA GONORRIA...

    AVAKUE, KUNGUE JAKUARU RACHY, IJAIRAMO, O RAMO IPU TAKUI RUPI, KUA

    AVAKUGUI AVE, A'VYMA JAJECHA UKA ARAPO KUAPE.

    KO VA'E MBA'E ACHY NOMONGUERA RACHIJURUA PO. JOE APENA RIRE JAJAU PORKAV MY A'E APENA ANGU AVE, A'RAMIVY JAJOKO MBA'E ACHY.

    TUGUY VAIKUE

    PETE REGUA A'MA IVAIKUE VA'E NAIPO IVA'E. A'E VA'MA TUGUY VAIKUE. KO VA'MAIJAVAETE. TUGUY VAIKUEJA OKARUTUGURE O'UPA MA VY ANDE JUKA VA'ER.

    '

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    16/18

    do grupo]. Para ns este assunto muitograve. De um lado porque no estamosseguindo as nossas leis antigas. Por outroporque podemos pegar doenas muitograves.

    Existem muitas doenas do sexo. Sochamadas assim porque a gente pega adoena quando namora com algum que jest doente. Quando namora com outro, aj pode passar adiante a doena.

    Tem doena que se chama sfilis. Outrachamada gonorria. Se o homem ou amulher sentem dor para urinar, se tmferidas ou se est saindo pus do pnis ouda vagina, precisam procurar quem sabecurar.

    Todas estas doenas curam fcil com oremdio do branco. Lavar os genitais comgua e sabo antes e aps o contatosexual ajuda a prevenir o contgio.

    AIDS

    Existe s umtipo de

    doenarelacionada

    ao sexo queainda notem remdiopara curar.Esta aAIDS. Estadoena

    muitoperigosa.

    Por isso quens Mbyhoje, temos

    que pensar muito para descobrirmos comovamos atacar [impedir, prevenir] estadoena. Em primeiro lugar, no podemosnamorar com o branco. Tambm entre osprprios Mby j temos que ter muitocuidado, porque algum j morreucontaminado por esta doena.

    Outro jeito que existe usar camisinha.Esta uma forma segura para evitarmos aAIDS.

    AIDS no tem cura, mas a camisinha podeevitar.

    AVRE OVA.

    ANGGUI OIKUAA POTMA VA'ER MBYAKURY OJOKOVE ANGU KO VA'E MBA'EACHY. A'VYMA JURUA SENHORA KURY

    AAPENI ETE VA'ER MBYA MEME TEAANGAREKO VA'ER JOE APENA ANGU.

    AMBOAE ENDA RAMIMA O PONO JAROVATUGUY VAIKUE JAIPORU VA'ER JURUAREMBIPORU TAKUI RYRU. KO VA'E JAJAPORAMO JAJOKOVE TUGUY VAIKUE.

    TI RACHY

    ANDE MBOJEECHA VAI VA'MA TI RACHYAVE. ANGY TEMBI'U J'U VA'E ANDE RIOMBOVAIPA VA'ER RIVMA. E' J'U REMARAMO ASUKA, BOLACHINHA, BALA,GUARANA... OPYTA TIRE. A'E RAMI VYOMBOKUAPA.

    A'RAMINGUARE OATENDE VA'ER,ANEPONO VA'ER NDAJAREKI NGYREVE.

    MBA'E ACHY JOKO'A

    YMANGUA MBYA KURY NDOIPORI MBA'EACHY JOKO'A ANDE RU ETA MBA'E OEJA

    VPE JAIPORU VA'ER ARAKA'E TESVEREKOR.

    ANGY NDA'EVI A'RAMI JAIKO ANGU.

    ANGGUI JAIPORMA MBA'E ACHY JOKO'AKYRNGUEPE KATUVMA OIKOTEVVE OIKOPOR I TE TUU KURY, ISY KURYOANGAREKOVE MBA'E ACHY OJOKO'AANGURE. A'RAMI VY OIKUAA POTA POSTODE SADEPY. A'VE AVI JAJERUREANEPYTYV ANGU PETEi VA'E JURUA

    RIVERE TE.MBA'E ACHY JOKO'A MBOVEVI VA'ESARAPI, DIFTERIA, JUKUA PUKU, TTANO ...

    MBA'E ACHY JOKO'A AMO RAMO ANDERETE ENDU PORVE MBA'E ACHYJGUI.OEJA ANDE RETE IMUNE. IMUNE A'E VA'MAANDE RETE OMOENDU PORVE.

    AVYMA A'VETE ANDEVPE MBA'E ACHYJOKO'A MBA'E ACHY JOKO'A OJOKO MBA'EACHY ANDE JUKTEMAVE I.

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    17/18

    Problemas relacionados aosdentes

    Enfrentamos muitos problemasrelacionados dor de dentes. O alimento

    que utilizamos hoje muito diferente dodos nossos antepassados. Se comemosmuito acar, bolachinha, bala, guaran, odoce ficar (grudado) nos dentes,deixando-os todos furados.

    At hoje nunca contamos com nenhum tipode atendimento para tratarmos dos nossosproblemas de dentes.

    Vacinao

    Antigamente os Mby no ocupavamvacina. Nosso pai/deus (anderu) e tudo oque ele criou aqui na terra que davamproteo para ns.

    Agora, entretanto, j no mais possvelseguirmos da mesma forma queantigamente.

    Hoje j temos que contar com a vacinapara proteger-nos um pouco mais dasdoenas. As crianas so as que mais

    necessitam de cuidado. Mesmo que acriana esteja (aparentemente) bem, o paie a me devem se preocupar em vacin-la.Para isso podem procurar o responsvel noposto de sade. Tambm podem pedirajuda de algum amigo branco.

    As vacinas ajudam a atacar o sarampo, adifteria, a coqueluche, o ttano, apoliomielite, a tuberculose.

    As vacinas ajudam a aumentar a defesa donosso corpo contra os bichinhos quecausam as doenas. Deixam nosso corpoimune. Imune quer dizer que o corpo estcom proteo.

    Para ns, agora, muito importante avacina. Ela ataca e impede muitas doenase muitas mortes.

    Como existem muitas doenas, tambmtm muitas vacinas. Tambm tem o tempocerto para fazer a vacinao. Por issovamos mostrar o calendrio com os tempos

    certos das vacinas.

    OPAMBA'E MBA'E ACHY O, RAMO JEPEOJOKO'A ETA AVI. MBA'E ACHY JOKO' I RAOGUA RAMO AMO VA'ER MBA'E ACHYJOKO'A A'RAMO JAECHA UKA KUATIA MBA'EACHY JOKO'A REGUA.

    Calendrio de Vacinao

  • 8/15/2019 Discusses sobre a situao de sade entre os Mby-Guarani no Rio Grande do Sul

    18/18

    IDADE VACINAS

    Ao nascer

    02 meses

    04 meses

    06 meses

    09 meses

    15 meses

    15 meses

    06 anos

    10/11 anos

    BCG + Hepatite "B"

    Trplice (DPT) + Poliomielite

    Trplice (DPT) + Poliomielite

    Trplice (DPT) + Poliomielite + Febre Amarela*

    Sarampo

    Trplice (DPT) + Poliomielite

    Triviral (Sarampo, rubola, caxumba)

    BCG

    Vacina Dupla tipo adulto (DT)*(*) Reforo de 10 em 10 anos durante toda a vida

    " A [forma de atendimento de sade para os povos indgenas] seria ainda melhor sefosse uma abordagem intercultural, na qual a biomedicina fosse relativizada e os

    saberes da medicina indgena fossem tratados como cincia, para redifinir os conceitosde eficcia e cura.

    Para isto ser uma realidade, os profissionais de sade tem que reconhecer as limitaesde sua medicina, relativizando-a e admitindo que existem outros sistemas de medicinacom saberes sobre sade que, por suas diferenas epistemolgicas, no s devem serrespeitados, mas tambm compreendidos como possveis de fazer uma contribuio ao

    conhecimento. "Jean Langdon, Revista de Divulgao Cultural, p. 79/1998

    OMG - Organizao Mby-GuaraniCOMIN - Conselho de Misso Entre ndios

    PMG - Projeto Mby-GuaraniMINISTRIO DA SADE - Coordenao Nacional DST e AIDS