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  • Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, N 2 Mar/Abr, 2003 43

    Diretriz da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte

    Modificaes dietticas, reposio hdrica, suplementosalimentares e drogas: comprovao de ao ergognica

    e potenciais riscos para a sade

    Editor: Tales de CarvalhoCo-editores: Tnia Rodrigues, Flvia Meyer, Antonio Herbert Lancha Jr. e Eduardo Henrique De Rose

    Participantes: Antonio Claudio Lucas da Nbrega, Arthur Haddad Herdy, Carlos Alberto Werutski,Eney de Oliveira Fernandes, Flix Albuquerque Drummond, Glaycon Michels, Ileana Kazapi,

    Kharla Medeiros, Jos Kawazoe Lazzolli, Luis Fernando Funchal, Luiz Aragon, Magnus Benetti,Marcelo Bichels Leito, Marcelo Salazar, Marcos Aurlio de Oliveira Brazo, Michel Dacar,

    Rafael de Souza Trindade, Ricardo Nahas e Turbio Leite de Barros Neto

    Realizao: Sociedade Brasileira de Medicina do EsporteApoio: Gatorade Sports Science Institute (GSSI)

    INTRODUOCom finalidade ergognica e esttica, no Brasil, tem sido

    observado um uso abusivo de suplementos alimentares edrogas. Trata-se de atitude que tem crescido em ambientesde prtica de exerccios fsicos, tendendo generalizaoem algumas academias de ginstica e associaes esporti-vas.

    Trata-se muitas vezes de um comrcio ilegal, sem con-trole dos setores da vigilncia sanitria, funcionando noprprio ambiente de prtica de exerccios e contando coma participao, direta ou indireta, de profissionais respon-sveis pelas sesses de exerccios fsicos. A regra, nestascircunstncias, a inexistncia de prescrio mdica e/ouorientao de nutricionista com formao em cincia doesporte, que so os profissionais qualificados para atua-rem neste contexto. Algo que deveria ser cogitado somenteexcepcionalmente tem sido utilizado por indivduos paraos quais no h nenhuma indicao de uso. Esta prtica,mesmo quando conta com a prescrio de profissionais damedicina e da nutrio, muitas vezes adotada sem umabase slida de conhecimentos, portanto, de forma empri-ca. Existe, em geral, falta de comprovao cientfica quejustifique a ao proposta.

    A situao, em parte, decorre da falta do conhecimentode que uma alimentao balanceada e de qualidade, a noser em situaes especiais, atende s necessidades nutri-

    cionais de um praticante de exerccios fsicos, inclusive deatletas de nvel competitivo, o que dispensaria o uso desuplementos alimentares.

    Quando se trata do uso de algumas drogas e hormniosde comprovada ao ergognica, mas que oferecem riscospara a sade e so considerados doping, a situao carac-teriza-se no somente como antitica, mas at mesmo cri-minosa. Se ficar caracterizado o dolo do profissional res-ponsvel pela prescrio, h necessidade at mesmo de umaao punitiva advinda da justia comum.

    Outro aspecto que justifica esta diretriz a constataode situaes nas quais h falhas nos esquemas de alimen-tao e reposio hidroeletroltica, que prejudicam o de-sempenho desportivo e colocam em risco a sade dos pra-ticantes de exerccios fsicos, podendo at mesmo causar amorte. o caso dos distrbios hidroeletrolticos freqen-temente observados em provas de longa durao.

    Esta diretriz, que contou com a participao de eminen-tes profissionais e pesquisadores da medicina e demais cin-cias do esporte do Brasil, tem como objetivo principal con-tribuir para um processo de educao continuada queveicule informaes abalizadas aos profissionais que mili-tam no esporte e atuam em programas de exerccios fsicosdestinados populao em geral. Pretende-se que estasinformaes cheguem aos principais interessados, os pra-ticantes de exerccios fsicos, sejam os atletas competiti-

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    vos, sejam os annimos freqentadores de academias eoutros espaos destinados prtica desportiva, de modo acontribuir para a promoo da sade, tornando-os menosvulnerveis s aes nefastas de indivduos desqualifica-dos e/ou mal-intencionados. Destina-se, enfim, a desmisti-ficar atitudes inadequadas, que mesmo sem base cientficae com potenciais riscos para sade, so, infelizmente, mui-to comuns em ambientes de prtica de exerccios fsicos.Visa, principalmente, estimular a adoo de prticas com-provadamente saudveis, que contribuem para o melhorrendimento desportivo.

    Prof. Dr. Tales de CarvalhoEditor da Diretriz

    Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte

    INTRODUCCINModificaciones dietticas, reposicin hdrica, suplemen-tos alimenticios y drogas: verificacin de la accin ergo-nmica y potenciales riesgos para la salud

    Con finalidad ergonmica y esttica, en Brasil, ha sidoobservado un uso excesivo de suplementos alimenticios ydrogas. Se trata de una actitud que ha crecido en ambien-tes de prctica de ejercicios fsicos, tendiendo a una gene-ralizacin en algunas academias de gimnasia y asociacio-nes deportivas.

    Muchas veces, se trata de una comercializacin ilegal,sin control por parte de sanidad, funcionando incluso, enel propio recinto de la prctica de los ejercicios y contan-do con la participacin, directa o indirecta, de los profe-sionales responsables por las sesiones de los ejercicios f-sicos. La regla, en estas circunstancias, es la inexistenciade prescripcin mdica y/o orientacin de un nutrlogoespecializado en prcticas deportivas, que son los profe-sionales calificados para actuar en este ramo. Algo quedebera ser pensado, excepcionalmente, es que, slo hasido utilizado por individuos para los cuales no hay nin-guna indicacin de uso. Esta prctica, incluso contandocon la prescripcin de profesionales en medicina y nutri-cin, muchas veces se adopta sin una base slida de cono-cimientos; por tanto, de forma emprica. Existe, en gene-ral, falta de sustentacin cientfica que justifique la accinpropuesta.

    Esta situacin, proviene en parte de la falta de conoci-miento de que una alimentacin balanceada y de calidad,a no ser en situaciones especiales, atiende a las necesida-des nutritivas de un practicante de ejercicios fsicos, in-cluso de atletas en nivel competitivo, lo que permitira eluso de suplementos alimenticios.

    Cuando se trata del uso de algunas drogas y hormonasde comprobada accin ergonmica, pero ofreciendo ries-gos a la salud y son considerados doping, la situacin secataloga no slo como antitica, sino tambin como cri-men. Si se verifica el dolo del profesional responsable porla prescripcin, incluso hay necesidad de una accin pe-nal proveniente del fuero comn.

    Otro aspecto que justifica esta directriz es la constata-cin de situaciones en las cuales hay fallas en las dietasde alimentacin y en la reposicin hidro-electroltica, queperjudican el desempeo deportivo y colocan en riesgo lasalud de los practicantes de ejercicios fsicos, hasta inclu-so pudiendo causar la muerte. ste es el caso de los dis-turbios hidro-electrolticos que con frecuencia son obser-vados en pruebas de larga duracin.

    Esta directriz, que cont con la participacin de emi-nentes profesionales e investigadores en medicina y de-ms ciencias relacionadas al deporte en Brasil, tiene comoobjetivo principal contribuir con el proceso de educacincontinua, propagando informaciones apropiadas a los pro-fesionales que militan en el rea deportiva y actan eneventos de ejercicios fsicos destinados a la poblacin engeneral. Se pretende que estas informaciones lleguen a losprincipales interesados, los practicantes de ejercicios fsi-cos, sean stos, atletas en nivel competitivo, frecuentado-res annimos de academias u otros espacios destinados ala prctica deportiva, de tal modo que contribuya al in-centivo de la salud, hacindolos menos vulnerables a lasacciones nefastas de individuos no calificados y/o mal in-tencionados. Finalmente, se destina a desenmascarar ac-titudes inadecuadas, que sin contar con una base cientfi-ca e infelizmente con riesgos potenciales para salud,continan siendo muy comunes en los ambientes donde sepractican ejercicios fsicos. Vislumbra, principalmente,estimular a la adopcin de prcticas saludables, que con-tribuyan con un mejor desempeo deportivo.

    Prof. Dr. Tales de CarvalhoEditor de la Directriz

    Presidente de la Sociedad Brasilea de Medicina del Deporte

    Para as posies assumidas neste documento foram ado-tados os critrios sugeridos pela Comisso de CardiologiaBaseada em Evidncia da Sociedade Brasileira de Cardio-logia e Associao Mdica Brasileira (quadros 1 e 2). Asposies foram classificadas segundo o grau de recomen-dao e o nvel de evidncia cientfica. Para a determina-o do grau de recomendao, alm do nvel de evidnciacientfica, foram levados em considerao a aplicabilidadee o custo-benefcio e o custo-efetividade da recomenda-o, dentre outros aspectos.

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    I. MODIFICAES DIETTICASOs estudos cientficos vm demonstrando que a perfor-

    mance e a sade de atletas podem ser beneficiadas com amodificao diettica. Em relao a este tema existem pou-cas controvrsias, diante da documentao que comprovaos efeitos benficos para a sade, mudanas favorveis dacomposio corporal e aprimoramento do desempenhodesportivo de atletas, decorrentes do manejo diettico. Osestudos tm sido convergentes em concluses que estabe-lecem que, de um modo geral, basta o manejo dietticopara a obteno dos efeitos acima explicitados. A suple-mentao alimentar deve, portanto, ficar restrita aos casosespeciais, que sero apresentados nesta diretriz, nos quaisa eventual utilizao deve sempre decorrer da prescrio

    dos profissionais qualificados para tal, que so os nutricio-nistas e os mdicos especialistas.

    A indstria de alimentos e suplementos nutricionais temdesenvolvido alimentos modificados com a promessa demelhorar a performance. De uma forma geral, utilizamapenas nutrientes cujas fontes so os alimentos consumi-dos na alimentao normal. Pode-se afirmar que o atletaque deseja otimizar sua performance, antes de qualquermanipulao nutricional, precisa adotar um comportamentoalimentar adequado ao seu esforo, em termos de quanti-dade e variedade, levando em considerao o que est es-tabelecido como alimentao saudvel.

    As orientaes que constam nesta seo destinam-se aatletas saudveis, adultos e adolescentes em fase de matu-

    QUADRO 1Nvel de evidncia

    Nvel 1: evidncia baseada em muitos estudos randomizados, controlados, amplos, concordan-tes e com poder estatstico adequado; preferencialmente com reviso sistemtica conclusiva.

    Nvel 2: evidncia baseada em poucos estudos randomizados, controlados, concordantes e demdio porte ou metanlises de vrios estudos desta natureza, pequenos ou de mdio porte.

    Nvel 3: evidncia baseada em poucos estudos randomizados, controlados e de tima qualidade.

    Nvel 4: evidncia baseada em mais de um estudo coorte, de tima qualidade.

    Nvel 5: evidncia baseada em mais de um estudo caso-controle, de qualidade.

    Nvel 6: evidncia baseada em mais de uma srie de casos de alta qualidade. Inclui registros.

    Nvel 7: evidncia baseada apenas em: extrapolaes de resultados coletados para outros prop-sitos (testar outras hipteses); conjecturas racionais, experimentos com animais, ou baseadosem modelos mecansticos de fisiopatologia e/ou mecanismos de ao; conduta antiga baseadaem prtica comum; opinies sem referncia a estudos anteriores.

    Fonte: Comisso de Cardiologia Baseada em Evidncia da SBC e AMB.

    QUADRO 2Grau de recomendao

    A = Sempre usar. Recomendao conclusiva, sendo adotada por unanimidade; conduta conclusi-vamente til e segura; eficcia e segurana comprovadas. Quase sempre se requer nveis deevidncia 1 ou 2 para que este grau de recomendao seja adotado.B = Deve ser geralmente indicada. Recomendao considerada aceitvel, mas com ressalvas;conduta aceitvel e segura; grande potencial de utilidade, mas ainda sem comprovao conclu-siva, com nvel de evidncia menos slido.C = Fica a critrio pessoal usar. Recomendao indefinida; conduta a respeito da qual no hevidncia segura a favor ou contra, quanto eficcia e segurana.D = Em geral no se deve usar. Conduta no recomendada, embora possa em algum contextoexcepcional ser adotada, tratando-se de opo muito fraca; evidncia mnima de eficcia e segu-rana, embora se vislumbre algum potencial de utilidade em algumas circunstncias.E = Nunca usar. No recomendada por unanimidade.

    Fonte: Comisso de Cardiologia Baseada em Evidncia da SBC e AMB.

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    rao sexual final. Para os indivduos que praticam exer-ccios fsicos sem maiores preocupaes com performan-ce, uma dieta balanceada, que atenda s recomenda-es dadas populao em geral, suficiente para amanuteno da sade e possibilitar bom desempenhofsico (Grau de recomendao A e nvel de evidncia 2).

    Avaliao nutricionalA avaliao nutricional um fator importante para a ela-

    borao e adeso dieta. A anamnese alimentar criteriosapermite que se estabeleam as estratgias para introduodas eventuais modificaes dietticas necessrias. Os atle-tas no devem ser privados dos alimentos preferidos ouiniciar uma dieta com regras e obrigaes incompatveiscom sua realidade. As prescries devem ser flexveis, demodo a serem passveis de se transformar em hbito ali-mentar regular. As necessidades nutricionais podem sercalculadas atravs de protocolos apropriados, sendo esti-madas por meio de tabelas prprias. Devem ser levadosem considerao a modalidade esportiva praticada, a fasede treinamento, o calendrio de competies e os objeti-vos da equipe tcnica em relao ao desempenho, dadosreferentes ao metabolismo basal, demanda energtica detreino, necessidades de modificao da composio cor-poral e fatores clnicos presentes, como as condies demastigao, digesto e absoro. As necessidades energ-ticas so calculadas por meio da soma da necessidade ener-gtica basal (protocolo de livre escolha), gasto energticomdio em treino e consumo extra ou reduzido para contro-le de composio corporal.

    Para a determinao das necessidades dos macronutrien-tes (carboidratos, protenas e lipdios) devem ser levadosem considerao as necessidades calricas e o tempo ne-cessrio de digesto para o aproveitamento dos msculos.Os macronutrientes so essenciais para a recuperao mus-cular, manuteno do sistema imunolgico, ao equilbriodo sistema endcrino e manuteno e/ou melhora da per-formance.

    De um modo geral, os micronutrientes (vitaminas, mi-nerais e os oligoelementos) presentes em dietas balancea-das e diversificadas em alimentos, com aporte calrico su-ficiente para atender demanda energtica, so suficientespara as necessidades do desportista. Recomenda-se a su-plementao em algumas situaes especiais. o caso dautilizao de cido flico em gestantes, da utilizao declcio na presena de osteopenia e osteoporose e do ferropara a anemia. Os micronutrientes desempenham papelimportante na produo de energia, sntese de hemoglobi-na, manuteno da sade ssea, funo imunolgica e aproteo dos tecidos corporais em relao aos danos oxi-dativos. So necessrios na construo e manuteno dos

    tecidos musculares aps os exerccios. Os treinos podemaumentar ou alterar a necessidade de vitaminas e minerais.O estresse dos exerccios pode resultar numa adaptaobioqumica muscular que aumenta as necessidades nutri-cionais, com maior utilizao e/ou perda de micronutrien-tes. O ajuste das dietas, em termos de macronutrientes, smaiores necessidades calricas decorrentes das atividadesdesportivas, proporciona um concomitante ajuste no con-sumo dos micronutrientes. Recomenda-se que sejam con-sideradas as orientaes nutricionais destinadas po-pulao em geral, calculadas para cada 1.000 kcaloriasingeridas. Deste modo, o incremento na oferta de mi-cronutrientes proporcional ao aumento calrico dadieta, mantendo-se o equilbrio ou balano nutricionalem nveis adequados (Grau de recomendao A e nvelde evidncia 2).

    Recomendaes:

    a) Taxa calrica total da alimentaoVrios estudos demonstram baixa ingesto calrica e

    desequilbrio nutricional nas dietas de atletas profissionaise/ou amadores. Apesar da comprovada eficincia do car-boidrato na recuperao do glicognio muscular, atletasde elite ainda demonstram resistncia no consumo destenutriente. A alimentao adequada em termos de oferta decarboidratos contribui para a manuteno do peso corporale a adequada composio corporal, maximizando os resul-tados do treinamento e contribuindo para a manuteno dasade. Balano calrico negativo, que se acompanha demenor ingesto de micronutrientes, pode ocasionar perdade massa muscular, disfuno hormonal, osteopenia e maiorincidncia de fadiga crnica, leses msculo-esquelticase doenas infecciosas, que se constituem em algumas dasprincipais caractersticas da sndrome do excesso de trei-namento ou overtraining.

    Quando se deseja a modificao da composio corpo-ral custa de reduo da massa gorda, em geral, se propea reduo da ingesto calrica com a escolha de alimentosde baixa densidade energtica, pobres em gordura. Entre-tanto, em atletas, a reduo de 10 a 20% na ingesto cal-rica total promove alterao na composio corporal, comreduo de massa corporal de gordura, no induzindo fome e fadiga, como ocorre com dietas de muito baixo va-lor calrico e pobres em gordura. A reduo drstica dagordura diettica pode no garantir a reduo de gorduracorporal e ocasionar perdas musculares importantes porfalta de nutrientes importantes na recuperao aps o exer-ccio fsico, como as vitaminas lipossolveis e protenas.

    A necessidade calrica diettica influenciada pela he-reditariedade, sexo, idade, peso corporal, composio cor-

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    poral, condicionamento fsico e fase de treinamento. De-vem ser levadas em considerao a freqncia, intensida-de e durao das sesses de exerccios fsicos. As necessi-dades nutricionais, em termos calricos, esto entre 1,5a 1,7 vezes a energia produzida, o que, em geral, cor-responde a um consumo que se situa entre 37 a 41kcal/kg de peso/dia. Dependendo dos objetivos, a taxa cal-rica pode apresentar variaes mais amplas, com o teorcalrico da dieta situando-se entre 30 e 50kcal/kg/dia(Recomendao de grau A e nvel de evidncia 2).

    b) CarboidratosO efeito ergognico da ingesto de carboidratos durante

    o exerccio j foi consistentemente demonstrado em vriosexperimentos, muitos dos quais efetuados durante etapasde muitas horas de durao. Foi demonstrado que o exerc-cio prolongado reduz acentuadamente o nvel de glicog-nio muscular, exigindo constante preocupao com suareposio, porm, apesar de tal constatao, tem sido ob-servado um baixo consumo de carboidratos pelos atletas.

    A energia consumida durante os treinos e competiesdepende da intensidade e durao dos exerccios, sexo dosatletas e o estado nutricional inicial. Quanto maior a inten-sidade dos exerccios maior ser a participao dos carboi-dratos como fornecedores de energia. A contribuio dagordura pode ser importante para todo o tempo em quedurar o exerccio, tendendo a se tornar mais expressivaquando a atividade se prolonga e se mantm em intensida-de francamente aerbia. Contudo, a proporo de energiaadvinda da gordura tende a diminuir quando a intensidadede exerccio aumenta, o que exige maior participao doscarboidratos. A protena, com a maior a durao do exerc-cio, aumenta a sua participao, o que contribui para amanuteno da glicose sangunea, principalmente por meioda gliconeognese heptica.

    A escolha dos alimentos fontes de carboidrato, assimcomo a preparao da refeio que antecede o evento es-portivo, deve respeitar as caractersticas gastrintestinaisindividuais dos atletas. A recomendao do fracionamentoda dieta em trs a cinco refeies dirias deve considerar otempo de digesto necessria para a refeio pr-treino ouprova. O tamanho da refeio e a composio da mesmaem quantidades de protenas e fibras podem exigir mais detrs horas para o esvaziamento gstrico. Na impossibilida-de de esperar por mais de trs horas para a digesto, podese evitar o desconforto gstrico com refeies pobres emfibras e ricas em carboidratos. Sugere-se escolher uma pre-parao com consistncia leve ou lquida, com adequaona quantidade de carboidratos. Assim, a refeio que ante-cede os treinos deve ser suficiente na quantidade de lqui-

    dos para manter hidratao, pobre em gorduras e fibras parafacilitar o esvaziamento gstrico, rica em carboidratos paramanter a glicemia e maximizar os estoques de glicognio,moderada na quantidade de protena e deve fazer parte dohbito alimentar do atleta.

    Estima-se que a ingesto de carboidratos corresponden-te a 60 a 70% do aporte calrico dirio atende demandade um treinamento esportivo. Para otimizar a recupera-o muscular recomenda-se que o consumo de carboi-dratos esteja entre 5 e 8g/kg de peso/dia. Em atividadesde longa durao e/ou treinos intensos h necessidadede at 10g/kg de peso/dia para a adequada recuperaodo glicognio muscular e/ou aumento da massa muscu-lar (Recomendao de grau A e nvel de evidncia 2).

    A quantidade de glicognio consumida depende, natu-ralmente, da durao do exerccio. Para provas longas, osatletas devem consumir entre 7 e 8g/kg de peso ou 30 a60g de carboidrato, para cada hora de exerccio, o queevita hipoglicemia, depleo de glicognio e fadiga. Fre-qentemente os carboidratos consumidos fazem parteda composio de bebidas especialmente desenvolvidaspara atletas. Aps o exerccio exaustivo, recomenda-sea ingesto de carboidratos simples entre 0,7 e 1,5g/kgpeso no perodo de quatro horas, o que suficiente paraa ressntese plena de glicognio muscular (Recomenda-o de grau A e nvel de evidncia 2).

    c) ProtenasPara os indivduos sedentrios recomenda-se o consu-

    mo dirio de protenas (RDA) entre 0,8 e 1,2g/kg de peso/dia. Tem sido constatada uma maior necessidade de inges-to para aqueles indivduos praticantes de exerccios fsi-cos, pois as protenas contribuem para o fornecimento deenergia em exerccios de endurance, sendo, ainda, neces-srias na sntese protica muscular no ps-exerccio. Paraatletas de endurance, as protenas tm um papel auxi-liar no fornecimento de energia para a atividade, calcu-lando-se ser de 1,2 a 1,6g/kg de peso a necessidade di-ria. Para os atletas de fora, a protena tem papelimportante no fornecimento de matria-prima paraa sntese de tecido, sendo de 1,4 a 1,8g/kg de peso asnecessidades dirias (Recomendao de grau A e nvelde evidncia 2).

    d) LipdiosUm adulto necessita diariamente cerca de 1g de gordura

    por kg/peso corporal, o que significa 30% do valor calri-co total (VCT) da dieta. A parcela de cidos graxos essen-ciais deve ser de 8 a 10g/dia. Para os atletas, tem preva-lecido a mesma recomendao nutricional destinada

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    populao em geral, portanto, as mesmas proporesde cidos graxos essenciais, que so: 10% de saturados,10% de polinsaturados e 10% de monoinsaturados (Re-comendao de grau A e nvel de evidncia 2).

    Deve constar a orientao para no ingerirem dietas muitopobres em gorduras por muito tempo. Quando houver anecessidade de dietas hipolipdicas, devem prevalecer ascotas, em relao ao aporte calrico total, menor do que8% para as saturadas, maior que 8% para as monoinsatu-radas e de 7 a 10% para as polinsaturadas. Em geral, osatletas consomem mais do que 30% do VCT em lipdios,com dficit na ingesto de carboidratos, que tendem a serconsumidos em propores inferiores ao recomendvel.

    Alguns estudos sugerem um efeito positivo de dietas re-lativamente altas em gorduras na performance atltica etm proposto a suplementao de lipdios de cadeia mdiae longa, poucas horas antes ou durante o exerccio, com afinalidade de poupar o glicognio muscular. Diante da faltade evidncias cientficas consistentes, recomenda-se nousar suplementao de lipdios (Recomendao de grauE e nvel de evidncia 7).

    e) VitaminasPara atletas em regime de treinamento intenso, tem sido

    sugerido, o que tem gerado controvrsia, o consumo devitamina C entre 500 e 1.500mg/dia (proporcionaria me-lhor resposta imunolgica e antioxidante) e de vitamina E(aprimoraria a ao antioxidante). A documentao cien-tfica permite que os profissionais qualificados, nutri-cionistas e mdicos, prescrevam de forma sistemticavitamina C e E para atletas, com a ressalva de que estaatitude se baseia em um baixo grau de evidncia cient-fica (Recomendao de grau C e nvel de evidncia 7).

    f) MineraisO zinco est envolvido no processo respiratrio celular

    e sua deficincia em atletas pode gerar anorexia, perda depeso significativa, fadiga, queda no rendimento em provasde endurance e risco de osteoporose, razo pela qual temsido sugerida a utilizao em suplementao alimentar.Entretanto, as evidncias cientficas no justificam o usosistemtico do zinco em suplementao nutricional (Re-comendao de grau E e nvel de evidncia 7).

    Atletas do sexo feminino, em dietas de restrio calri-ca, podem sofrer deficincias no aporte de minerais. ocaso do clcio, envolvido na formao e manuteno s-sea. O baixo nvel de ferro, que ocorre em cerca de 15% dapopulao mundial, causa fadiga e anemia, afetando a per-formance e o sistema imunolgico. Recomenda-se aten-o especial ao consumo de alimentos com ferro de eleva-

    da biodisponibilidade. Recomenda-se que a dieta conte-nha a quantidade mnima de 1.000mg/dia de clcio. Emrelao ao ferro, recomenda-se 15mg/dia para a popu-lao feminina e 10mg/dia para a masculina. Para asgestantes, a recomendao diria (RDI) de 30mg. Taisnecessidades so contempladas pela manipulao die-ttica, no sendo necessria a suplementao (Recomen-dao de grau A e nvel de evidncia 2).

    II. REPOSIO HDRICAO estresse do exerccio acentuado pela desidratao,

    que aumenta a temperatura corporal, prejudica as respos-tas fisiolgicas e o desempenho fsico e produz riscos paraa sade. Estes efeitos podem ocorrer mesmo que a desidra-tao seja leve ou moderada, com at 2% de perda, agra-vando-se medida que ela se acentua. Com 1 a 2% de de-sidratao inicia-se o aumento da temperatura corporal emat 0,4oC para cada percentual subseqente de desidrata-o. Em torno de 3%, h uma reduo importante do de-sempenho; com 4 a 6% pode ocorrer fadiga trmica; a par-tir de 6% existe risco de choque trmico, coma e morte.

    Como o suor hipotnico em relao ao sangue, a desi-dratao provocada pelo exerccio pode resultar num au-mento da osmolaridade sangunea. Tanto a hipovolemiacomo a hiperosmolaridade aumentam a temperatura inter-na e reduzem a dissipao de calor pela evaporao e con-veco. A hiperosmolaridade plasmtica pode aumentar atemperatura interna, afetando o hipotlamo e/ou glndulassudorparas e retardando o incio da sudorese e da vasodi-latao perifrica durante o exerccio.

    A desidratao afeta o desempenho aerbio, diminui ovolume de ejeo ventricular pela reduo no volumesanguneo e aumenta a freqncia cardaca. So alteraesacentuadas em climas quentes e midos, pois a maior va-sodilatao cutnea transfere grande parte do fluxo san-guneo para a periferia, ao invs da musculatura esquelti-ca, ocasionando importantes redues da presso arterial,do retorno venoso e do dbito cardaco. A reposio hdri-ca em volumes equivalentes s perdas de gua pela sudo-rese pode prevenir um declnio no volume de ejeo ven-tricular, sendo, tambm, benfica para a termorregulao,pois aumenta o fluxo sanguneo perifrico, facilitando atransferncia de calor interno para a periferia.

    importante que sejam reconhecidos os sinais e sinto-mas da desidratao. Quando leve a moderada, ela se ma-nifesta com fadiga, perda de apetite e sede, pele vermelha,intolerncia ao calor, tontura, oligria e aumento da con-centrao urinria. Quando grave, ocorre dificuldade paraengolir, perda de equilbrio, a pele se apresenta seca e mur-

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    cha, olhos afundados e viso fosca, disria, pele dormente,delrio e espasmos musculares. Foi demonstrado ainda quea ingesto de lquidos, independente da presena de car-boidrato, melhora o desempenho durante uma hora de exer-ccio aerbio em alta intensidade. Como a desidratao de-corrente do exerccio pode ocorrer no apenas devido sudorese intensa, mas, tambm, devido ingesto insufi-ciente e/ou deficiente absoro de lquidos, importantereconhecer os elementos que influem na qualidade da hi-dratao.

    guaA gua pode ser uma boa opo de reidratao para o

    exerccio por ser facilmente disponvel, barata e ocasionarum esvaziamento gstrico relativamente rpido. Entretan-to, para as atividades prolongadas, de mais de uma hora dedurao, ou para as atividades de elevada intensidade comoo futebol, o basquetebol e, o tnis, apresenta as desvanta-gens de no conter sdio e carboidratos e de ser inspida,favorecendo a desidratao voluntria e dificultando o pro-cesso de equilbrio hidro-eletroltico. A desidratao vo-luntria verificada quando se compara a hidratao comgua com a hidratao com bebidas contendo sabor.

    SdioComo perdemos sdio atravs da sudorese, em algumas

    situaes justifica-se a sua ingesto durante o exerccio. Aconcentrao de sdio no suor varia individualmente, deacordo com vrios fatores, como a idade, o grau de condi-cionamento e a aclimatizao ao calor. A concentraomdia de sdio no suor de um adulto est em torno de40mEq/L. Supondo que um indivduo de 70kg corra portrs horas e perca dois litros de suor por hora, a perda totalde sdio de 240mEq, ou seja 10% do total de Na+ doespao extracelular. Esta perda seria irrelevante, no fosseo risco de hiponatremia, concentrao de sdio plasmticomenor que 130mEql-1, decorrente de uma reposio hdri-ca com lquidos isentos de sdio ou com pouco sdio, prin-cipalmente em eventos muito prolongados. A diminuioda osmolaridade plasmtica produz um gradiente osmti-co entre o sangue e o crebro, causando apatia, nusea,vmito, conscincia alterada e convulses, que so algu-mas das manifestaes neurolgicas da hiponatremia. Aincluso de sdio nas bebidas reidratantes promove maiorabsoro de gua e carboidratos pelo intestino durante eaps o exerccio. Isto se d porque o transporte de glicosena mucosa do entercito acoplado com o transporte desdio, resultando numa maior absoro de gua.

    Em exerccios prolongados, que ultrapassam umahora de durao, recomenda-se beber lquidos conten-

    do de 0,5 a 0,7g/l (20 a 30mEql-1) de sdio, que corres-ponde a uma concentrao similar ou mesmo inferiorquela do suor de um indivduo adulto. (Recomenda-o de grau A e nvel de evidncia 2).

    CarboidratoA ingesto de carboidratos durante o exerccio prolon-

    gado melhora o desempenho e pode retardar a fadiga nasmodalidades esportivas que envolvem exerccios intermi-tentes e de alta intensidade. A ingesto de carboidratos pre-vine a queda da glicemia aps duas horas de exerccio. Exis-tem estudos indicando que uma bebida com 8% decarboidrato ocasiona maior lentido na absoro e no es-vaziamento gstrico, em comparao gua e s bebidasque contm at 6% de carboidrato. Preferencialmente deveser utilizada uma mistura de glicose, frutose e sacarose. Ouso isolado de frutose pode causar distrbios gastrintesti-nais. A reposio necessria de carboidratos para man-ter a glicemia e retardar a fadiga de 30 a 60g/hora,com concentrao de 4 a 8g/decilitro (Recomendaode grau A e nvel de evidncia 2).

    Outros elementos que afetam a eficcia de uma bebi-da esportivaO esvaziamento gstrico facilitado com a ingesto de

    lquidos com baixo teor calrico, sendo a absoro intesti-nal otimizada com lquidos isosmticos, entre 200 e260mosmol/kg. A ingesto de lquidos hipertnicos pode-riam causar a secreo de gua do organismo para a luzintestinal. Vrios outros fatores referentes palatabilidadedo lquido afetam a ingesto voluntria como a temperatu-ra, doura, intensidade do gosto e acidez, alm da sensa-o de sede e das preferncias pessoais.

    Recomendaes de reposio de lquidosDevemos ingerir lquidos antes, durante e aps o exerc-

    cio. Para garantir que o indivduo inicie o exerccio bemhidratado, recomenda-se que ele beba cerca de 250 a500ml de gua duas horas antes do exerccio. Durante oexerccio recomenda-se iniciar a ingesto j nos primei-ros 15 minutos e continuar bebendo a cada 15 a 20 mi-nutos. O volume a ser ingerido varia conforme as taxasde sudorese, na faixa de 500 a 2.000ml/hora. Se a ativi-dade durar mais de uma hora, ou se for intensa do tipointermitente mesmo com menos de uma hora, devemosrepor carboidrato na quantidade de 30 a 60gh-1 e Na+na quantidade de 0,5 a 0,7gl-1. A bebida deve estar numatemperatura em torno de 15 a 22oC e apresentar umsabor de acordo com a preferncia do indivduo. Aps o

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    exerccio, deve-se continuar ingerindo lquidos paracompensar as perdas adicionais de gua pela urina esudorese. Deve-se aproveitar para ingerir carboidratos,em mdia de 50g de glicose, nas primeiras duas horasaps o exerccio para que se promova a ressntese doglicognio muscular e o rpido armazenamento de gli-cognio muscular e heptico. (Recomendao de grauA e nvel de evidncia 2).

    Mesmo que uma boa hidratao durante o exerccio pro-longado no calor favorea as respostas termorregulatriase de performance ao exerccio, no podemos garantir queem situaes de extremo estresse trmico, ela seja sufi-ciente para evitar uma fadiga ou choque trmico. Reco-mendaes especficas foram elaboradas pelo Comit emMedicina do Esporte e Condicionamento da AcademiaAmericana de Pediatria (tabela abaixo). O grau de estressetrmico segue o ndice da Temperatura do Globo e Bulbomido (WBGT), que combina as medidas de temperaturado ar (Tdb), umidade (Twb) e radiao solar (Tg), de acor-do com a equao WBGT = 0.7 Twb + 0.2 Tg + 0.1 Tdb.

    Restries de atividades fsicas de acordocom os nveis de estresse trmico

    WBGT (oC) Restries das atividades

    < 24 Qualquer atividade permitida. Em atividadesprolongadas, observar os sinais iniciais de hi-pertermia e desidratao.

    24-25,9 Fazer intervalos mais prolongados na sombra,estimular a ingesto de lquidos a cada 15min.

    26-29 Interromper as atividades daqueles que no es-to aclimatizados ao calor ou que apresentamalgum outro fator de risco. Limitar as ativida-des para todos os outros.

    > 29 Cancelar qualquer atividade atltica.

    American Academy of Pediatrics, 2000.

    III. SUPLEMENTOS ALIMENTARESProtenasOs benefcios de um aporte adequado de protenas para

    praticantes de atividade fsica regular tm sido documen-tados na literatura cientfica de forma significativa. Para seestabelecer o valor adequado para ingesto de protena, necessrio, antes de tudo, determinar alm das caracters-ticas individuais (sexo, idade, perfil antropomtrico, esta-do de sade, etc.), parmetros bsicos a respeito da ativi-dade fsica praticada, tais como intensidade, durao e

    freqncia. Recomenda-se para indivduos sedentriosa ingesto de 0,8g de protena por kg/dia. J indivduosativos, com a ingesto de 1,2 a 1,4g/kg/dia, teriam suademanda atendida. Atletas e indivduos visando hi-pertrofia muscular teriam suas necessidades atendidascom o consumo mximo de 1,8g/kg/dia. Tais necessida-des seriam contempladas, a no ser em situaes espe-ciais, por uma alimentao equilibrada (Grau de reco-mendao A nvel de evidncia 2).

    Estudos recomendam que o uso dos suplementos proti-cos, como a protena do soro do leite ou a albumina daclara do ovo, deve estar de acordo com a ingesto proticatotal. O consumo adicional destes suplementos proticosacima das necessidades dirias (1,8g/kg/dia) no determi-na ganho de massa muscular adicional, nem promove au-mento do desempenho.

    Ingesto protica, aps o exerccio fsico de hipertrofia,favorece o aumento de massa muscular, quando combina-do com a ingesto de carboidratos, reduzindo a degrada-o protica. Este consumo deve estar de acordo com aingesto protica e calrica total. O aumento da massamuscular ocorre como conseqncia do treinamento, as-sim como a demanda protica, no sendo o inverso verda-deiro.

    AminocidosO consumo de aminocidos, sob a forma de suplemen-

    tao, tem sido sugerido como estratgia que visa atendera uma solicitao metablica especfica para as necessida-des do exerccio. A ingesto de aminocidos essenciais apso treino intenso, adicionados a solues de carboidratos,determinaria maior recuperao do esforo seguido de au-mento da massa muscular. Do consumo de aminocidosisolados, apenas os essenciais apresentam alguma susten-tao na literatura cientfica. Os efeitos da suplementaocom BCAA no desempenho esportivo so discordantes e amaioria dos estudos realizados parece no mostrar benef-cios na performance. Faltam estudos cientficos com in-formaes consistentes a respeito das vantagens ergogni-cas desta suplementao, assim como a respeito de seuspossveis efeitos colaterais.

    Consideraes especiaisOs aminocidos de cadeia ramificada, que so a leucina,

    isoleucina e valina, por serem potentes moduladores dacaptao de triptofano pelo sistema nervoso central, esti-mulariam a tolerncia ao esforo fsico prolongado. Entre-tanto, estes dados, relatados em alguns estudos, so poucoreprodutivos, no sendo justificvel o consumo destes ami-nocidos com finalidade ergognica. Outro ponto a ser

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    considerado com relao aos aminocidos ramificados oseu consumo visando aprimoramento da atividade do sis-tema imunitrio aps atividade fsica intensa, para o que,tambm, h carncia de evidncias cientficas. Deste modo,recomenda-se que no seja utilizada a suplementaode aminocidos de cadeia ramificada, com finalidadeergognica (Grau de recomendao E e nvel de evidn-cia 7).

    A glutamina, um aminocido que age como nutrientepara as clulas de diviso rpida, como as intestinais e imu-nitrias, tem sido utilizado para aumentar a defesa imuno-lgica de atletas. Quando a ingesto oral, o elevado con-sumo das clulas intestinais inviabiliza sua disponibilidadepara outras regies do organismo. Portanto, no justifi-cvel a suplementao oral de glutamina, mesmo paraos participantes de exerccios fsicos muito desgastan-tes (Grau de recomendao E e nvel de evidncia 7).

    A ornitina e a arginina so aminocidos que infundidosintravenosamente produzem maior secreo de hormniode crescimento, sendo, entretanto, o seu consumo por viaoral ineficaz. No recomendada a suplementao des-tes aminocidos (Grau de recomendao E e nvel deevidncia 7).

    CreatinaUltimamente, no meio esportivo, vem sendo relaciona-

    do o uso da suplementao de creatina a potenciais efeitosergognicos, que repercutiriam na prtica em aumento daresistncia ao esforo em atividades de curta durao e altaintensidade e aumento da massa muscular. J o uso da crea-tina, como recurso ergognico em atividades fsicas pro-longadas, no encontra nenhum suporte na literatura cien-tfica.

    Embora com resultados ainda controversos, muitos es-tudos tm sugerido que a creatina teria efeito ergognicoem indivduos nos quais se constata diminuio de aporteda creatina exgena alimentar, como os vegetarianos e osindivduos idosos, sendo somente para estes casos espec-ficos, aps uma boa anlise do profissional especializado,mdico e/ou nutricionista, justificvel o seu uso, embora,ainda, com um fraco grau de recomendao.

    Somente para atletas competitivos de eventos de gran-de intensidade e curta durao, ou seja, atividades nasquais predomina a utilizao de fosfagnios, sempre emcarter excepcional, permitido o uso. Portanto, mes-mo nestes casos, a recomendao a de que em geralno se deve usar a suplementao de creatina, sendo oseu uso aceito em raras ocasies (Grau D de recomen-dao e nvel de evidncia 4). Para os demais desportis-

    tas fica estabelecida a recomendao de nunca usar(Grau E de recomendao).-hidroxi--metilbutiratoO uso de -hidroxi--metilbutirato (HMB) tem sido co-

    gitado como um potencial agente para o aumento da forae massa magra corporal. Seria uma ao anticatablica.Porm ainda faltam estudos cientficos que comprovem demaneira inequvoca a eficcia do suplemento nesta aoergognica, a no ser em algumas situaes especficas,como o caso de populaes de idosos que participam deprogramas de exerccios fsicos visando o ganho de foramuscular. Para a populao em geral, mesmo quando setrata de atletas de competio, no existe recomenda-o para o seu uso, devendo prevalecer a orientao deque no se deve usar. (Grau E de recomendao e nvelde evidncia 7).

    IV. DROGAS LCITAS E ILCITASDrogas ilcitas so aquelas cuja utilizao, de acordo com

    a Agncia Mundial Antidoping e o Comit Olmpico Inter-nacional (COI), caracteriza uma infrao de cdigos ticose disciplinares, podendo ocasionar sanes aos atletas, bemcomo aos seus tcnicos, mdicos e dirigentes. A lista desubstncias e mtodos proibidos, aprovada em 1o de se-tembro de 2001, consta no Anexo A do Cdigo Antidopingdo Movimento Olmpico.

    I. Classes de substncias proibidas:A. Estimulantes;B. Narcticos;C. Agentes anabolizantes:

    1. Anablicos esterides andrognios;2. Beta-2 agonistas;

    D. Diurticos;E. Hormnios peptdicos, mimticos e anlogos:

    1. Hormnio gonadotrfico corinico (hCG) (somenteem atletas masculinos);

    2. Gonadotrofinas pituitrias e sintticas (LH) (so-mente em atletas masculinos);

    3. Corticotrofinas (ACTH, tetracosactide)4. Hormnio de crescimento (hGH)5. Fator de crescimento tipo insulnico-1 (IGF-1)

    Precursores e anlogos destes hormnios so tambmproibidos:

    6. Eritropoetina (EPO);7. Insulina (exceo feita a atletas insulino-dependen-

    tes)

  • 52 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, N 2 Mar/Abr, 2003

    A presena de uma concentrao anormal de um horm-nio endgeno (referido na classe E), ou seus marcadoresdiagnsticos, na urina de um atleta implica infrao, amenos que sejam devidos a uma condio prpria do indi-vduo.

    II. Mtodos proibidos:1. Dopagem sangunea: significa a administrao de

    sangue, clulas vermelhas e/ou produtos sanguneos simi-lares. Pode ser precedida pela retirada de sangue do atleta,que continua a treinar em um estado de deficincia sangu-nea;

    2. Administrao de carreadores artificiais de oxignioou expansores de plasma;

    3. Manipulao farmacolgica, qumica ou fsica da uri-na.

    III. Classes de substncias proibidas em certas cir-cunstncias:1. lcool;2. Canabinides;3. Anestsicos locais;4. Glucocorticides;5. Betabloqueadores.Cabe ressaltar que algumas drogas podem ser lcitas em

    um determinado momento e ilcitas em outro. o caso dosestimulantes, narcticos, analgsicos e corticosterides, quepodem ser usados em algumas situaes clnicas durante operodo de treinamento, mas no devem ser ministradosantes de uma competio. O uso de certas substncias il-citas pode ocasionar sanes legais, por infrao do cdi-go penal. O Comit Olmpico Brasileiro (COB) publica re-gularmente um boletim informativo listando o nomecomercial dos medicamentos lcitos por sintomatologia eas classes farmacolgicas ilcitas, de acordo com as nor-mas emanadas pelo COI.

    Algumas substncias so positivas a partir de determi-nada concentrao na urina, tais como a cafena, a catina,a efedrina, a metilefedrina, a fenilpropenilamina (fenilpro-panolamina), a morfina e a pseudoefedrina. Somam-se aelas substncias precursoras da nandrolona. O THC possuitambm uma concentrao limite para proteger o fumantepassivo. O salbutamol considerado estimulante acima deuma certa concentrao e agente anablico acima de ou-tra, dez vezes maior. Por ltimo, a relao testosterona/epitestosterona somente ser considerada quando superiora 6.

    Anablicos esterides andrognios, hormnios peptdi-cos e diurticos no podem ser utilizados a menos que hajauma autorizao especfica da autoridade mdica relevan-te em um determinado esporte ou competio. Em funode uma indicao clnica comprovada, pode o mdico es-pecializado prescrever qualquer droga, mesmo que teori-camente ilcita, desde que tenha autorizao expressa daautoridade mdica pertinente. Muito embora as razes maisimportantes pelas quais o mdico do esporte no deva pres-crever substncias dopantes sejam morais e ticas, tam-bm importante entender os problemas mdicos relaciona-dos ao uso destas substncias. Os atletas tm o direito deconhecer os riscos relativos a eventuais escolhas inadequa-das e discutir esta questo tambm uma tarefa importan-te do mdico de equipe. A atividade do mdico especiali-zado no esporte regulada por cdigos de tica daAssociao Mdica Mundial, da Federao Internacionalde Medicina do Esporte e do COI.

    Problemas relativos ao uso de suplementos alimenta-res

    Em funo de um incremento nos casos positivos de nan-drolona no esporte de alto rendimento a partir de 1997, oConselho de Esportes do Reino Unido indicou uma comis-so de especialistas para analisar a razo deste problema.Esta comisso concluiu que a produo endgena destehormnio no ocorre em humanos, pelo menos em quanti-dades que poderiam ser definidas como acima das estabe-lecidas pelo COI, para que os laboratrios credenciados pelosistema olmpico considerassem positivos para doping.

    Tem sido detectada a presena de esterides em suple-mentos alimentares e produtos vegetais, tais como vitami-nas, creatinas e aminocidos, sem que este fato fosse indi-cado em seus rtulos. A comisso mdica do COI, tendoem vista as deficincias da legislao de vrios pases, querepercutiam em deficiente controle da qualidade de produ-o, decidiu alertar para os riscos do consumo destes pro-dutos. Um estudo financiado pelo COI (disponvel em suahomepage), mostra que de 634 suplementos analisados peloLaboratrio Antidoping de Colnia, provenientes de 215fornecedores, de 13 pases, 94 deles (14,8%) continhamprecursores de hormnios, no declarados em seus rtulose que poderiam gerar casos positivos para doping. Dentreeles, 24,5% continham precursores de testosterona e 24,5%precursores de nandrolona. Por esta razo, fazendo eco srecomendaes do COI, recomendamos aos profissionaisda medicina do esporte mxima precauo na prescriodeste tipo de produto.

  • Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, N 2 Mar/Abr, 2003 53

    BENEFCIOS ERGOGNICOS E POTENCIAIS RISCOS PARA A SADE

    Drogas Benefcios esportivos Riscos potenciais e outras observaes

    Estimulantesdo sistemanervosocentral

    Melhoria da performance poraumento da agressividade eda fora, melhor fluxo de pen-samento, menos sonolncia efadiga. Contribuem para dimi-nuio do tecido adiposo.

    Aumento da presso arterial, freqncia cardaca, propenso a arrit-mias cardacas, espasmo coronariano e isquemia miocrdica em pes-soas suscetveis. Ocasionam distrbios do sono. Causam, ainda, tre-mores, agitao, incoordenao motora. Em ambientes midos, h orisco de morte por insuficincia cardaca. Possibilidade de desencadea-rem dependncia psicolgica.

    Narcticos Controle de dor, tosse, dis-pnia, cefalia e analgesia.

    Inibio perigosa da dor em atletas lesionados. Risco de dependnciafsica e sndrome de abstinncia. Indicados para a analgesia profunda.

    Esteridesanablicosandrognicos

    Aumento da sntese protica,com aumento da massa, for-a e potncia muscular. Au-mentam a reteno de nitro-gnio, sdio, potssio, clore-to e gua.

    Indicados em hipogonadismo primrio masculino, anemia refratria,edema angioneurtico hereditrio e distrofias musculares (AIDS e doen-as reumticas). Efeitos txicos so reteno hidrossalina com forma-o de edema; hipertenso arterial, aumento do LDL colesterol, dimi-nuio do HDL colesterol, disfuno tiroidiana, alteraes do humor edo sono. Com esterides modificados na posio 17 alfa, podem ocor-rer alterao da funo heptica, ictercia e adenocarcinoma heptico.Todos os esterides andrognicos aumentam a agressividade. Noexiste qualquer condio na qual esterides anablicos andrognicosdevam ser administrados a indivduos sadios.

    Agonistabeta-2adrenrgico

    Aumentam a massa corporalmagra e diminuem a gorduracorporal

    Ansiedade, tremores, cefalia, aumento da presso arterial e arritmiascardacas. Podem ocasionar hiperglicemia, hipopotassemia, aumentodo lactato e dos cidos graxos livres circulantes.

    Diurticos Causam rpida perda de peso.Diminuem a concentrao desolutos na urina (agente ms-cara).

    Entre outras indicaes, so usados para controle da hipertenso arte-rial. So proibidos por serem agentes-mscara para substncias do-pantes, por diminurem a concentrao de solutos na urina; promove-rem perda rpida de peso, permitindo que um atleta participe em umacategoria de peso inferior sua, estabelecendo uma vantagem artifi-cial e ilcita.

    Hormnio docrescimento(hGH)

    Aumento do volume e potn-cia muscular

    Aumenta a reteno de nitrognio, a assimilao de aminocidos pe-los tecidos, ocasionando aumento do peso magro. indicado em dis-trbios do crescimento, mediante criteriosa avaliao mdica.

    Eritropoetina(EPO) (8)

    Aumento da quantidade deglbulos vermelhos e, porconseqncia, da potnciaaerbia.

    Indicada no tratamento da anemia, principalmente em pacientes comdoena renal crnica, em que a sntese deste hormnio reduzida.Como utilizada na forma injetvel, pode provocar dor local e dissemi-nao de doenas infecciosas. O aumento exagerado do hematcritoreduz a velocidade de perfuso capilar, diminuindo a oxigenao teci-dual, com comprometimento da performance. A transfuso sangunea,com o intuito de tambm elevar o hematcrito, pode ocasionar rea-es alrgicas graves, hemlise aguda, sobrecarga hemodinmica, de-sequilbrio metablico e transmisso de doenas infecciosas.

    Betabloqueadores

    Diminuio da ansiedade etremor, reduo da freqnciacardaca e presso arterial.

    Favorecem a performance em esportes de pequeno empenho muscu-lar e grande concentrao e equilbrio, tais como tiro, pentatlo moder-no, arco e flecha, saltos ornamentais, vela e hipismo. No caso do tiro,particularmente com pistola, a menor freqncia cardaca correspondea um tempo mais longo de distole entre cada batimento, permitindomaior preciso na mira.

    Canabinides Sensao de relaxamento ediminuio da ansiedade.

    Comprometem a viso, a performance fsica e psicolgica. A memria,a habilidade de aprender e os nveis sricos de testosterona diminuem.Droga social. Utilizada na forma sinttica como antiemtico.

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