DIFERENTES ENFOQUES DAS RELAÇÕES FAMILIARES · da linguagem de sinais e suas perspectivas em...
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VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 1316-1327
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DIFERENTES ENFOQUES DAS RELAÇÕES FAMILIARES:
SUPERPROTEÇÃO E ABANDONO1
Maria Aparecida Pereira de Castro Augusto2 Miguel Cláudio Moriel Chacon3
RESUMO
Este trabalho enfoca as diferentes relações no núcleo familiar de crianças surdas com pais
ouvintes valorizando principalmente os fenômenos de superproteção e de abandono, refletindo
como essas famílias se articulam, e como essas relações interferem no desenvolvimento social
destas crianças. Tem como objetivo observar se há superproteção e abandono na relação entre
pais ouvintes e filhos surdos, e comparar se a interação materna é similar à paterna. Utilizando o
instrumento avaliativo de ligação pais-filhos, Parental Bonding Instrument (PBI) que por meio
de questionário, que pode ser auto aplicável, enquadra pais dentro de quadrantes de
comportamento. Participaram da pesquisa sete casais que possuem filhos em escolas bilíngues;
os participantes responderam ao PBI cujas respostas foram mapeadas nas categorias
confinamento afetivo, controle sem afeição, cuidado ideal ou abandono. O trabalho pode
contribuir para buscar recursos que auxiliem no relacionamento entre pais e seus filhos.
PALAVRAS-CHAVE: Superproteção. Abandono. Surdez. Família.
ABSTRACT
This work focuses the different relations in the familiar nucleus of deaf children with parents
listeners valuing mainly the phenomenon of overprotection and the abandonment, reflecting as
these families if they articulate, and as these relations intervene with the social development of
these children. The article has as objective to observe if overprotection and abandonment exists
in the relation between listeners parents and yours deaf children, and to compare if the maternal
relation is similar to the paternal one. Using the issuing instrument of linking father-children,
Parental Bonding Instrument, thereafter PBI that by means of auto-applicable questionnaire put
parents behaviors fits in one of four quadrants, six couples that they possess children in
bilingual schools (the majority of the municipal net of São Paulo) had answered and had been
mapped between 'optimal bonding' (high care-low overprotection), 'affectionless control' (low
care-high overprotection), 'affectionate constraint' (High care-high overprotection), and 'absent
or weak bonding' (low care-low overprotection). This work can contribute to search resources
that can assist in the relationship between parents and its children.
1 Pesquisa desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação Lato Sensu – Curso de
Especialização em Formação de Professores em Educação Especial da Faculdade de Filosofia e Ciências -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Marília como exigência parcial
para a obtenção do título de Especialista em Educação Especial. 2 Professora da Rede Municipal de São Paulo, licenciada em artes visuais pelo Instituto de artes –
Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” 3 Orientador da Pesquisa e docente do Departamento de Educação Especial da Faculdade de
Filosofia e Ciências – UNESP, Campus de Marília.
VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
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KEYWORDS: Overprotection. Abandon. Deafness. Family.
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA A opção por essa linha de pesquisa se justifica pelo desejo de compreender se a
superproteção e o abandono interferem nas relações familiares e na vida de crianças
surdas e como esses fenômenos se manifestam no seio familiar, refletindo na escola e
em outros ambientes sociais. Procuramos trabalhar com pais que vivem juntos, e que
tem filhos com idade entre 13 e 16 anos, estudantes de escolas públicas bilíngues
(libras-português) e, além disso, os sujeitos desta pesquisa são ouvintes e possuem
outros filhos ouvintes.
Se para um indivíduo comum a superproteção pode ter o efeito de impedir e
atrapalhar o processo de ensino e aprendizado, o desenvolvimento psicológico saudável
e a integração social é possível imaginar qual o efeito da superproteção em uma criança
com deficiência, que além de superar grandes obstáculos se depara com o cuidado
exagerado em seu convívio familiar, principalmente no contato materno. “(...) famílias
superprotegem suas crianças, procuram realizar todos os desejos possíveis dos mesmos e
acabam não criando condições para que elas desenvolvam suas potencialidades e não as permite
sofrer frustrações.” (GOLFETO e MIAN, 1999, p. 208).
Este estudo intenciona fomentar questionamentos que permitam que se
estabeleçam novas mudanças nas relações família/criança/escola/profissionais da saúde,
de modo que novas parceiras sejam inauguradas enriquecendo e valorizando o
indivíduo, para que este seja notado como protagonista de sua história, desviando o
olhar de sua deficiência.
O foco desta pesquisa é as relações familiares entre pais ouvintes e filhos surdos.
Segundo Helen Bee “noventa por cento das crianças surdas nascem em lares ouvintes e
em seu estudo ela observa que as crianças filhas de surdos tem um melhor prognóstico
com relação à linguagem" (BEE, 1996, p. 446). Esse bom resultado acontece pelo uso
da linguagem de sinais e suas perspectivas em relação à comunicação como um todo.
Muitos pais ouvintes de crianças surdas demoram em optar se a educação do seu filho
será pautada pela linguagem gestual ou pela modalidade oral, ou ainda se fará ou não
implante coclear, talvez a decisão dos pais seja a primeira forma de controle afetivo e de
proteção, pois quanto mais se posterga a escolha pelo melhor caminho a seguir mais
demorado é para a criança o processo de aprendizagem e de apreensão da linguagem.
1.1 PROTEÇÃO E ABANDONO Dentro desse processo investigativo pode-se notar que antes de estudar o
fenômeno de superproteção, é necessário saber como são as relações familiares dessas
crianças surdas. Inicialmente, se partirmos do preceito de que a proteção está ligada à
afeição e ao calor humano, no contraste, temos a frieza e a rejeição, sentimentos
totalmente plausíveis quando a família se vê em uma situação nova como, por exemplo,
a descoberta que seu filho não escuta.
Segundo Parker (1990) além desses dois quadrantes que se contrapõem, outras
características constantes que farão contraponto é a autonomia psicológica e o controle
psicológico sem afeição. Para isso o especialista desenvolveu um trabalho analítico e a
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partir dele um questionário para identificar os pais nesses quadrantes. Os resultados
foram compatíveis em pesquisa psicológicas abrangentes, sugerindo que todos os
comportamentos interpessoais sejam adaptativos, e as duas dimensões de agrupamento
seriam “afeição/hostilidade e dominação/submissão."
A superproteção é um fenômeno que se caracteriza pelo excesso de cuidados e
zelo que os pais tem em relação aos seus filhos, os motivos são variados, não estão
relacionados diretamente com deficiência, pode estar relacionado com o medo do
mundo e da violência. (GOLFETO e MIAN, 1999). Esse excesso pode interferir nas
relações sociais e no processo de ensino-aprendizagem, assim como o contraponto desse
cuidado, a indiferença e o descaso, também são fatores que prejudicam a formação
psicossocial desse indivíduo.
O papel da família dentro da sociedade foi resgatado nos últimos anos para que
junto às outras instituições (escola, igreja) tenha um papel mais decisivo na vida da
criança com deficiência. Se a igreja, a escola e a família são consideradas bases da
sociedade, hoje a família deveria exercer um papel relevante na história de cada
indivíduo, porém a instituição familiar está em processo de mudanças e alterações
comportamentais.
A família traz a seus pares um vínculo indiscutível, e como será para os pais
notar que seu filho tem uma deficiência?
Cabe aos pais decidir o tratamento de seus filhos e as opções educativas para seu
acompanhamento pedagógico, porém devem acompanhá-los e não deixá-los a cargo
somente dos profissionais habilitados. Outro aspecto significativo está no aumento da dedicação que, em geral, supõe que um
filho com deficiência requer um processo de esforço pessoal (PANIAGUA, 2004).
Segundo Seligman (1979 apud PANIAGUA, 2004 p. 334), existem diferentes
reações com pais que constatam deficiência no filho. A primeira é a fase de choque, se
dá no momento inicial, a segunda é a negação que a família tende a ignorar o problema,
a terceira é a reação em que eles tem que se adaptar à deficiência do filho. Nesses casos
são sentimentos comuns: a depressão, a culpa, o desapego, entre outras.
Dentro desse universo a superproteção se torna uma atitude diante da deficiência
do filho, assim como a expectativa e exigências educacionais. No caso da Criança surda
os pais tem de tomar uma decisão: escolher, pelo menos inicialmente, a modalidade de
língua que o filho usará: a linguagem gestual ou oral. Essas escolhas podem interferir na
identidade e na integração dessa criança na Cultura Surda. (SANTANA, 2007).
Já o abandono afetivo se caracteriza pelo distanciamento dessa família em
relação a esse filho surdo que é incompreendido. Sendo assim, muitos ignoram a
deficiência, são intolerantes ao silêncio e à falta de comunicação.
Tanto proteger em exagero como abandoná-lo pode trazer dificuldades nas
relações e adoecer a família como um todo, porém isso atingirá a personalidade desse
indivíduo. Segundo Goleman (1997) quando uma criança chega para ter seções de
psicoterapia ou outro atendimento psicológico, em geral é necessário estudar a família,
pois os problemas de personalidade desse jovem geralmente estão relacionados a todos
os membros desse clã, sendo assim ninguém adoece sozinho.
É natural, segundo Seligmam (1979 apud PANIAGUA, 2004), que ocorram
reações frequentes relacionadas à deficiência, entre elas a fase do choque, da negação e
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da reação; na primeira é compreensível que os pais gerem um bloqueio, já na segunda
existe o momento de adaptação em que os pais podem simplesmente ignorar essa
informação, após esses dois momentos breves, vem o momento de reação onde o
indivíduo nutre um turbilhão de sentimentos, muitas vezes contraditórios: como culpa,
desapego e sentimento de fracasso, no entanto, após esse momento, surge o sentimento
de adaptação que seria um grau de calma emocional, reflexão e ação, para mediar esses
conflitos. É possível que haja pais que não passem por todas as etapas, porém cabe a
todos mobilizarem e organizarem-se frente à surdez.
1.2 OBJETIVOS No início, esta pesquisa tinha como questionamento verificar se há
superproteção ou abandono nas relações familiares de crianças surdas de pais ouvintes,
pois compreender o universo da criança superprotegida ou abandonada permitiria buscar
recursos que auxiliassem o relacionamento familiar. Posteriormente, também surgiu o
interesse por investigar se a relação materna com surdo era similar à paterna, visto que a
mãe, muitas vezes, não permite que nem mesmo o pai se torne um ser atuante e presente
na formação social e cognitiva do filho, tornando o papel do pai secundário. Porém, se o
espaço necessário for dado ao progenitor, ele poderá sentir-se seguro para relacionar-se
com o filho e protegê-lo. A partir desta reflexão surgiu o interesse em analisarmos se os
pais e mães corroboram no processo de relações interpessoais.
2.TRAJETÓRIA METODOLÓGICA Atribuímos um número para cada criança de 1 a 6 para poder comparar os
resultados de pais e mães. Adaptamos o questionário e o utilizamos diretamente com os
pais de alunos surdos, de uma escola da prefeitura de São Paulo, situada na região oeste
da cidade (número 2 a 6) e de pais voluntários do Colégio Rio Branco (um casal,
criança implantada, a qual será denominada como número 1).
Além das 25 questões originais, incluímos três questões relacionadas com os
limites e responsabilidades que atribuíam aos seus filhos.
Apesar da adaptação, as questões e os scores de cada uma delas, assim como
suas variáveis, permaneceram seguindo a estrutura que Parker criou, respeitando os
quadrantes onde se estabelece as diferentes atitudes e comportamentos dos pais em
relação aos seus filhos.
Todas as crianças dessa pesquisa são surdas profundas, estudantes entre 12 e 16
anos, apenas a criança implantada tem 12 anos e não estuda na escola pública. Sem
exceções as crianças moram com seus pais em bairros afastados ou em cidades vizinhas
da escola, tais como: Osasco, Francisco Morato, Parada de Taipas entre outras.
O questionário apresenta as questões que foram traduzidas e modificadas, assim
como as que foram formuladas para o trabalho com crianças surdas e seus pais. O estudo de diferentes enfoques nas relações familiares foi baseado no
instrumento de medida de ligação entre pais e filhos denominado Parental Bonding
Instrument (PBI), que é uma avaliação da ligação afetiva entre pais e filhos. O PBI foi
desenhado como uma medida autoaplicável, em princípio com crianças com menos de
16 anos, permitindo exprimir os comportamentos entre pais e filhos. O instrumento
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relaciona as características de superproteção e cuidado. Consiste em um questionário
com 25 questões utilizado desde o fim dos anos 70 em vários países e para avaliar as
relações familiares,
Muitas adaptações foram produzidas ao redor do mundo, pois as questões PBI
abrem margem para essas adaptações. Ao avaliar e compará-las, elas nos permite traçar
mapas de diversos comportamentos e transtornos relacionados às relações familiares e
às situações psicossociais.
A avaliação do questionário é calculada por meio de pontuação que varia de zero
a três pontos. Para evitar respostas tendenciosas algumas questões são formuladas de
maneira inversa. Os questionários com grande concentração de resposta em uma
determinada coluna tem que ser observados com grande zelo e atenção.
Comportamentos e atitudes que de algum modo reflitam no desenvolvimento da pessoa
em questão, são avaliados.
Figura 1 - PBI normalizado com os cortes de Sydney.
A análise de fatores dividiu os pais em dois grupos não-clínicos, isolaram uma
clara dimensão de cuidado como primeiro fator. Um segundo e terceiro fator sugeriram
superproteção e o encorajamento de independência e autonomia respectivamente.
No artigo original sugeriu-se que a medida poderia ser usada em vários modos,
calculando e examinando contagens cruas de cuidado e superproteção para pais e de
uma maneira secundária restringindo vários estilos de relação pai-filho. A partir dessas
pontuações foi possível criar quatro grupos distintos, traduzimos em forma de gráfico e
de maneira que a nomenclatura fosse original como o pesquisar sugeriu (Figura 1). Os
grupos são: Ligação ótima: alto cuidado – baixa superproteção; Controle sem afeição:
baixo cuidado – alta superproteção; Confinamento afetivo: alto cuidado – alta
superproteção; e Ligação fraca ou inexistente: baixo cuidado – baixa superproteção.
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Inicialmente o questionário foi aplicado ao universo de 2140 adolescentes
australianos, resultando após a análise com o método de componentes principais cortes
diferenciados para pais e mães. O corte para superproteção e cuidado para mães é de
13,5 pontos e 27 pontos, já para os pais 12,5 pontos e 24 pontos respectivamente. Estes
cortes diferenciados sugerem que os pais superprotegem e cuidam menos de seus filhos
que as mães.
Se observarmos, existem dois pólos negativos dos quais dois fatores tenderam
para ter itens pesando positivamente sobre o outro fator, foi julgado que um fosse
largamente observado em relação ao outro. Por esta razão e, também, para ter um
conjunto de dimensões mais restrito, uma solução de dois fatores (levando em conta
para variância de 28% e 17%) e uma rotação, foi imposta, a estratégia usada em seguida
para gerar itens mais relevantes para uma dimensão e independente da outra.
Como tantos, os estudos iniciais e subsequentes de Parker mostraram
consistentemente uma correlação negativa entre os "scores" das escalas inicialmente
rotuladas como "cuidado" e "superproteção" (girando em torno de -0,40), é claro que as
finais de dimensões interdependentes. Pesquisas que adaptaram os PBI na Itália
afirmam que as correlações de -0,16 para mães e 0,08 para pais, a despeito da
independência objetiva ou ortogonalidade, com a superproteção sendo associada à falta
de cuidado.
Este último número é, no entanto, impressionante quando a superproteção é
igualada com alto cuidado de acordo com alguns teóricos. Essa experiência explicita
que a superproteção nada mais é que, um envolvente controle social, que exclui o
protegido de escolhas simples do seu cotidiano e que pode suplantar frequentemente, ou
não, e permitir controle, explicando a associação entre os "escores" das duas escalas. A
despeito desta ligação geral o uso do PBI por meio dos quadrantes que serão descritos
rapidamente, permite a relevância tanto de cuidado como descuido da superproteção
para ser examinado.
Utilizou-se a normalização do estudo prático geral realizado em Sydney para se
determinar os cortes para o que se define ‘cuidado’ e ‘proteção’ (27.0 e 13.5 para mães)
e (24.0 e 12.5 para pais). Rotularam depois a escala de ‘superproteção’ para ‘proteção’,
que poderia ser nomeada ‘controle’, o quadrante de ‘ligação ótima’ foi rotulado como
‘ótima ligação pais-filhos’ e o quadrante ‘ligação fraca ou inexistente’ foi nomeado
então ‘ligação negligente’.
A pontuação de alguns itens do PBI foi ordenada ao inverso (alguns itens de
cuidado, por exemplo, foram ordenados na direção de ‘descuido’) na tentativa de
detectar respostas errôneas (Tabela 1 - adaptada de Parker, Tupling and Brown, abaixo:).
Cuidado
Ítens: 1, 5, 6, 11, 12, 17: Freqüente = 3
Relevante = 2
Raro = 1
Nunca = 0
Ítens: 2, 4, 14, 16, 18, 24 Nunca = 3
Raro = 2
Relevante = 1
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Freqüente = 0
Superproteção
Ítens: 8, 9, 10, 13, 19, 20, 23 Freqüente = 3
Relevante = 2
Raro = 1
Nunca = 0
Ítens: 3, 7, 15, 21, 22, 25 Nunca = 3
Raro = 2
Relevante = 1
Freqüente = 0
Tabela 1 – Pontuações no PBI
Desta maneira qualquer formulário com um excesso de resposta numa
determinada coluna sugere imediatamente uma resposta inválida. Da mesma forma o
uso do PBI sugere que alguns indivíduos interpretam aqueles itens de maneira ambígua.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Devido a nova visão da família que tem se formado, tornou-se necessário que a
família perceba sua capacidade de sentir-se inserida em um contexto interativo, de ajuda
mútua e de regras claras e vidas comuns.
O questionário utilizado nesta pesquisa foi respondido nos domicílios de cada
criança, pais e mães responderam separadamente, em dias alternados, com a presença
do pesquisador.
Participaram da pesquisa seis casais sendo que, destes cinco moram juntos e
apenas um casal é separado sendo que a mãe vive com a criança e o padrasto respondeu
como pai (criança 4). No caso da criança 6 até o momento o pai não respondeu o
questionário.
Buscamos crianças que tivessem rotinas e famílias semelhantes entre si para
analisar se apesar dessas semelhanças os resultados também seriam aproximados, era
interessante que os pais e mães vivessem no mesmo teto para analisar se os
comportamentos entre os dois progenitores eram semelhantes ou se contrariavam
devido a sua posição no núcleo familiar.
Para complementar a análise, calculamos a distância do ponto ao centro do
gráfico usando a seguinte equação: Distância ponto-centro = raiz quadrada ((Pontuação
de Cuidado)2+(Pontuação de Superproteção)
2). Cujo resultado é possível verificar na
Tabela 2 abaixo:
Pais Mães
Criança Distância ao Centro Distância ao centro
2 0,5 8,1
3 9,6 8,9
1 13,1 10,3
4 13,5 11,6
5 15,4 12,2
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6 18,2
Tabela 2 – Distância do ponto ao centro do gráfico.
A concentração de mães e pais no quadrante de confinamento afetivo verificado
é grande. A tabela 2 é um auxílio para destrinchar os graus de relações parentais, entre
as díades, de acordo com os as respostas dadas. Analisando a tabela verifica-se que o
grau de relação é inerente ao filho e não de pai ou mãe em separado. Comparando casais
não houve caso em nossa amostra de um pai estar com grau mais alto de confinamento
afetivo e a respectiva mãe menos em comparação a outro casal.
Após a aplicação do questionário, foi possível obtermos os seguintes resultados:
Considerando o gráfico Cuidado x Superproteção para as mães (Figura 2), apenas uma
se encontra no quadrante de excesso de controle com baixa afetividade (16%), as outras
cinco mães (84%) estão no confinamento afetivo.
Figura 2 - PBI mães, os números ao lado dos símbolos indicam os filhos, esta mesma
sequência é usada na Figura 3, para pais.
O gráfico Cuidado x Superproteção para pais (Figura 3) demonstrou na região da
superproteção uma concentração de pais, sendo que 60% estão na região do
confinamento afetivo; apenas um pai (20%) encontra-se no limite entre ótima relação e
negligente; e um pai (20%) no limite entre confinamento afetivo e controle sem afeição.
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Figura 3 - PBI pais, os números ao lado dos símbolos indicam os filhos, esta
mesma seqüência é usada na Figura 2 para mães.
Como já mencionamos Paker (1979) trabalhou a variante em quatro pontos
fundamentais:
A Alta proteção e Alto Cuidado (confinamento afetivo), a proteção
está intimamente ligada ao controle que os pais possuem em
relações aos seus filhos e das escolhas desse individuo, no caso do
cuidado ele está relacionado com o afeto desprendido a esse ser
humano, em geral podemos classificar o cuidar como algo
positivo, o cuidar com sinônimo de amor, tolerância e desejo de
crescimento individual.
O Cuidar sem a Alta proteção (Ligação ótima), é por certo
altamente salutar, pois define que o individuo está livre do
controle e capacita esse ser humano a escolher e produzir e
principalmente definir sua própria história.
A Alta proteção sem o Cuidar (Controle sem afeição), está
relacionado com o controle sem afeto, se o ato de cuidar é o afeto
esse controle é totalmente desprovido do afeto da capacidade de
ver o outro, que suas necessidades vão além de alimento e
vestuário.
A Falta de proteção e de Cuidado (Ligação fraca ou inexistente),
define o abandono, a incapacidade de criar vínculos e gerar afeto,
cuidado e proteção. (PARKER, TUPLING e BROWN, 1979, p.
02).
Abaixo coloco os resultados explicando o comportamento observado díade a díade:
Família 1: Menina surda com implante coclear desde os três anos de idade.
Segundo o pai, após o implante, a família notou melhora significativa em sua
linguagem. A mesma conhece LIBRAS e comunica-se normalmente, estuda em uma
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instituição de ensino tradicional que possui uma unidade para crianças surdas que são
aos poucos inseridas em classes regulares. Seus pais são casados e ela é filha única, os
dois possuem nível superior e trabalham fora, são moradores de Osasco, região
metropolitana de São Paulo. A criança 1 é a única com implante coclear e também a
única que não estuda em uma escola bilíngüe da prefeitura de São Paulo. O casal
encontra-se próximo ao meio do quadrante de confinamento afetivo. É a criança cujos
pais apresentaram maior pontuação de cuidado entre os entrevistados.
Família 2: A família é moradora da região norte da cidade de São Paulo. Os pais
possuem nível superior e o filho estuda em uma escola pública. A mãe é fluente em
LIBRAS e ensinou o filho desde cedo a linguagem de sinais. O garoto, filho único, se
alfabetizou com facilidade aos seis anos. A mãe encontra-se no confinamento afetivo,
sendo a mais próxima da zona ideal, o pai por sua vez encontra-se na zona ideal
próximo à mãe.
Família 3: família humilde, a mãe dona de casa são três filhos sendo dois
ouvintes. O filho surdo é o mais velho, com 16 anos de idade, estuda em uma escola
bilíngüe em Pirituba, São Paulo. Moram no Jaraguá, todos conhecem LIBRAS, mas não
possuem fluência, costumam utilizar comunicação total. O pai é de origem nipônica e se
encontra mais no quadrante de confinamento afetivo do que sua esposa. Seu filho está
na sexta série e portanto atrasado em relação aos jovens de sua idade.
Família 4: O jovem com 15 anos é surdo profundo, conhece LIBRAS e é
excelente desenhista. Aparentemente o menino não tem contato com a vizinhança, tive a
oportunidade de conversar com os vizinhos desta criança e eles não tinham
conhecimento que o menino era surdo, porém o jovem tem por hábito freqüentar todo
final de semana o sítio que a família mantém fora da cidade. A família é composta por
mãe e padrasto. Os dois trabalham fora e moram no Jardim Britânia, região afastada e
simples do noroeste da cidade de São Paulo. A mãe possui uma filha ouvinte mais
jovem com o padrasto. A mãe deste menino é a única mãe que se encontra no quadrante
controle sem afeição, o padrasto se aproxima da mãe porém se encontra no limite com o
quadrante de confinamento afetivo, apresentando maior pontuação de cuidado do que a
mãe.
Família 5: Jovem com 15 anos surdo profundo é o filho do meio de uma família
que reside em uma área livre na periferia de Osasco. As irmãs são ouvintes e apenas o
pai trabalha fora, são fluentes em LIBRAS. Os vizinhos desta criança se relacionam
com ele por meio de comunicação total. Verifica-se pelos gráficos que é a criança mais
superprotegida da amostra, os dois pais estão no confinamento afetivo. A mãe é de
longe a mais superprotetora entre todas as mães da amostra e o pai é o segundo mais
superprotetor, sendo apenas menos superprotetor do que o padrasto da família 4. É o pai
juntamente com o pai da família 1 que apresenta maior pontuação de cuidado, sendo
porém mais superprotetor.. Este comportamento se corrobora, por exemplo, pelo fato de
que houve um aniversário no dia anterior ao preenchimento do questionário e mesmo
sendo vizinho há três casas de distância o jovem surdo com 15 anos foi impedido pela
mãe de comparecer a festa. Os vizinhos mostram acolhimento tanto que levaram no dia
da entrevista um pedaço de bolo “especial” para ele. Foi observado ainda que a irmã
mais velha também superprotege o jovem, a mesma fez questão de preencher o
questionário PBI, porém não o coloquei nos dados.
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Família 6: Menina de 15 anos surda, a mãe é separada do pai. A mãe trabalha
fora, porém acompanha sua filha todos os dias a escola. Até o fechamento da pesquisa
não consegui o questionário do pai. A mãe se encontra na região de confinamento
afetivo sendo a segunda mãe mais superprotetora da amostra.
Analisando as respostas dos genitores em relação às crianças de 1 a 6, de acordo
com a posição dos pontos no gráfico e a distância ao centro do gráfico, verificamos que
o resultado para esses pais corrobora o de seus cônjuges, isso demonstra que as relações
afetivas e de superproteção estão relacionadas com os núcleos familiares e não com os
pais como indivíduos únicos e isolados, mesmo quando o pai e mãe da mesma criança
estão em quadrantes diferentes graças à pontuação de seu questionário, a variável é
pequena e em geral estão aproximados no quadrante (Tabela 2). Ainda cabe observar
que a corroboração existe também com os pais da criança 4, onde a mãe se localiza no
quadrante de controle sem afeição e seu pai que é adotivo está no limite entre
confinamento afetivo e controle sem afeição.
Alguns autores apontam para uma diferença no tratamento dado pelo pai e pela
mãe. O impacto da vinda de um filho surdo pode ser tão traumática que as reações ao
nascimento de um filho com deficiência são diferentes por mais semelhanças que
existam entre marido e mulher HONORA e FRIZANCO (2009). Em PANIAGUA
(2004) a autora indica ser distante da realidade que o pai e a mãe atravessam em
uníssono e com as mesmas reações os vários momentos da vida da criança especial
como se fossem uma só pessoa, pais e mães se adaptam e em certos momentos se
alternam com um genitor em determinado momento se permitindo um certo abandono
ao atravessar as fases mais depressivas e outro se mostra ativo e forte nestas fases.
Nossos dados apontaram que se há diferença no tratamento dado pelo pai e pela mãe
esta não é significante.
4. CONCLUSÕES Neste trabalho verificamos que a maioria dos pais de crianças surdas são
superprotetores, localizados na região de confinamento afetivo do PBI. Concluímos
também que, as relações afetivas e de superproteção estão relacionadas com os núcleos
familiares e não com os pais enquanto indivíduos únicos e isolados. Em outras palavras,
percebeu-se que em um núcleo onde há superproteção, esta está presente em ambos, pai
e mãe, visto que este fenômeno não atinge apenas a mãe ou o pai, enquanto indivíduos,
mas atinge a ambos que se sintam pertencentes ao mesmo núcleo.
Ainda foi possível constatar que as relações afetivas são similares em relação a
afetividade materna e paterna, já que no quadrante todos os pais, sem exceção,
aproximaram-se do resultados apresentados. Desse modo, mães e pais assemelham-se
em relação aos tratamentos dependidos aos filhos surdos.
Enfim, dentro do grupo estudado nenhum dos pais enquadrou-se no abandono
afetivo. Devido a esse resultado surge um questionamento: será que pais de crianças
com deficiência tendem a ser superprotetores se comparados com pais de crianças sem
deficiência?
VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 1316-1327
1327
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