Didática

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Didática

Suzi Silva Resende

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Jouberto Uchôa de MendonçaReitor

Amélia Maria Cerqueira UchôaVice-Reitora

Jouberto Uchôa de Mendonça JuniorPró-Reitoria Administrativa - PROAD

Ihanmarck Damasceno dos SantosPró-Reitoria Acadêmica - PROAC

Domingos Sávio Alcântara MachadoPró-Reitoria Adjunta de Graduação - PAGR

Temisson José dos SantosPró-Reitoria Adjunta de Pós-Graduaçãoe Pesquisa - PAPGP

Gilton Kennedy Sousa FragaPró-Reitoria Adjunta de Assuntos Comunitários e Extensão - PAACE

Jane Luci Ornelas FreireGerente do Núcleo de Educação a Distância - Nead

Andrea Karla Ferreira NunesCoordenadora Pedagógica de Projetos - Nead

Lucas Cerqueira do ValeCoordenador de Tecnologias Educacionais - Nead

Equipe de Elaboração e Produção de Conteúdos Midiáticos: Alexandre Meneses Chagas - Supervisor Ancéjo Santana Resende - CorretorAndira Maltas dos Santos – DiagramadoraBruno Costa Pinheiro - WebdesignerClaudivan da Silva Santana - DiagramadorEdilberto Marcelino da Gama Neto – DiagramadorEdivan Santos Guimarães - DiagramadorFábio de Rezende Cardoso - WebdesignerGeová da Silva Borges Junior - IlustradorMárcia Maria da Silva Santos - CorretoraMatheus Oliveira dos Santos - IlustradorMonique Lara Farias Alves - WebdesignerPedro Antonio Dantas P. Nou - WebdesignerRebecca Wanderley N. Agra Silva - DesignerRodrigo Otávio Sales Pereira Guedes - WebdesignerRodrigo Sangiovanni Lima - AssessorWalmir Oliveira Santos Júnior - Ilustrador

Redação:Núcleo de Educação a Distância - NeadAv. Murilo Dantas, 300 - FarolândiaPrédio da Reitoria - Sala 40CEP: 49.032-490 - Aracaju / SETel.: (79) 3218-2186E-mail: [email protected]: www.ead.unit.br

Impressão:Gráfica GutembergTelefone: (79) 3218-2154E-mail: [email protected]: www.unit.br

Banco de Imagens:Shutterstock

Copyright © Sociedade de educação Tiradentes.

R467d Rezende, Suzi Silva Didática / Suzi Silva Rezende. – Aracaju : UNIT, 2010.

160 p.: il.

Inclui bibliografia

1. Didática I. Universidade Tiradentes – Educação à Distância II. Titulo

CDU : 37.02

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Prezado(a) estudante, A modernidade anda cada vez mais atrelada ao tempo,

e a educação não pode ficar para trás. Prova disso são as nossas disciplinas on-line, que possibilitam a você estudar com o maior conforto e comodidade possível, sem perder a qualidade do conteúdo.

Por meio do nosso programa de disciplinas on-line

você pode ter acesso ao conhecimento de forma rápida, prática e eficiente, como deve ser a sua forma de comunicação e interação com o mundo na modernidade. Fóruns on-line, chats, podcasts, livespace, vídeos, MSN, tudo é válido para o seu aprendizado.

Mesmo com tantas opções, a Universidade Tiradentes

optou por criar a coleção de livros Série Bibliográfica Unit como mais uma opção de acesso ao conhecimento. Escrita por nossos professores, a obra contém todo o conteúdo da disciplina que você está cursando na modalidade EAD e representa, sobretudo, a nossa preocupação em garantir o seu acesso ao conhecimento, onde quer que você esteja.

Desejo a você bom aprendizado e muito sucesso!

Professor Jouberto Uchôa de Mendonça

Reitor da Universidade Tiradentes

Apresentação

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Sumário

Parte 1: A Didática na Educação, Instrução e Ensino e sua Evolução Histórica . . . . . . . . . . . . . . .11

Tema 1: Educação, História e Evolução Didática . . . . . . . . . . . . . . . . 131.1 Educação, instrução e ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141.2 As concepções de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .211.3 A ação didática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291.4 Evolução histórica da Didática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

Tema 2: Planejamentos e Projetos Educacionais . . . . . . . . . . . . . . .472.1 Definição de planejamento e planos. . . . . . . . . . . . . . . . . . 482.2 Os tipos de planejamentos didáticos . . . . . . . . . . . . . . . . 552.3 Elaboração e procedimentos de projetos . . . . . . . . . . . . . 642.4 Projeto escolar e curricular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Parte 2: Processo Ensino Aprendizagem: Os sujeitos do processo . . . . . . . . 81

Tema 3: Plano de Ensino e suas Especificidades . . . . . . . . . . . . . . .833.1 Planejamento de ensino: plano de curso, plano de

unidade e plano de aula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 843.2 Objetivos de ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 923.3 A organização dos conteúdos curriculares na

estrutura escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1013.4 Metodologia e recursos no processo de

ensino/aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

Tema 4: Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes . . . 1194.1 A Formação do profissional docente . . . . . . . . . . . . . . . . 1204.2 O valor pedagógico da relação professor-aluno . . . . . . . .1274.3 Avaliação no processo de ensino e aprendizagem . . . . .1354.4 A prática da regência de classe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

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Ementa

Educação, história evolução: Educação, Instrução e Ensino; As concepções de ensino; A ação da Didática; A evolução histórica da Didática. Planejamento e Projetos Educacionais: Definição de Planejamento e Planos; Os tipos de planejamento didático; Elaboração e procedimentos de Projetos. Projeto Escolar e curricular. Plano de Ensino e suas especificidades: planejamento de ensino: plano de curso, plano de unidade e de aula. Objetivos de ensino; Organização dos conteúdos curriculares na estrutura esco-lar; Metodologia e recursos no processo de ensino aprendi-zagem. Formação docente, avaliação e práticas do docente: A formação do profissional docente; O valor pedagógico da relação professor-aluno; Avaliação do Processo Ensino Aprendizagem; A prática da regência de classe.

Objetivos

Geral Proporcionar conhecimentos teóricos e práticos que

possibilitem aos professores a compreensão reflexiva e crítica das situações didáticas, no seu contexto histórico.

Específicos• Reconhecer o processo de ensino na sua função de

assegurar, com eficácia, o encontro ativo do aluno com as matérias escolares.

• Compreender a importância da Didática para o de-senvolvimento da prática pedagógica.

• Entender a Didática no contexto histórico.

Concepção da Disciplina

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• Analisar os processos teórico-metodológicos da Didática.

• Compreender o valor da interação professor-aluno.

• Analisar o processo de avaliação para a formação do professor reflexivo.

Orientação para Estudo

A disciplina propõe orientá-lo em seus procedimentos de estudo e na produção de trabalhos científicos, possibi-litando que você desenvolva em seus trabalhos pesquisas, o rigor metodológico e o espírito crítico necessários ao estudo.

Tendo em vista que a experiência de estudar a distância é algo novo, é importante que você observe algumas orientações:

• Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horário regular para acessar todo o conteúdo da sua disciplina disponível neste material impresso e no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Organize-se de tal forma para que você possa dedicar tempo suficiente para leitura e reflexão;

• Esforce-se para alcançar os objetivos propostos na disciplina;

• Utilize-se dos recursos técnicos e humanos que estão ao seu dispor para buscar esclarecimentos e para aprofundar as suas reflexões. Estamos nos referindo ao contato permanente com o professor e com os colegas a partir dos fóruns, chats e encontros presenciais. Além dos recursos disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA.

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Para que sua trajetória no curso ocorra de forma tranquila, você deve realizar as atividades propostas e estar sempre em contato com o professor, além de acessar o AVA.

Para se estudar num curso a distância deve-se ter a clareza que a área da Educação a Distância pauta-se na autonomia, responsabilidade, cooperação e colaboração por parte dos envolvidos, o que requer uma nova postura do aluno e uma nova forma de concepção de educação.

Por isso, você contará com o apoio das equipes pedagógica e técnica envolvidas na operacionalização do curso, além dos recursos tecnológicos que contribuirão na mediação entre você e o professor.

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Parte 1

A DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO, INSTRUÇÃO E ENSINO E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA

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1 Educação, História e Evolução Didática

Caro aluno, espero que esse momento seja de suma importância para sua vida acadêmica, pois, neste tema I, trataremos de assuntos envolvendo conceitos básicos sobre educação e como esta tem grande importância na agregação de valores da espécie humana. Continuando com o estudo, fala-remos dos diversos tipos de educação inserida no contexto social a partir da evolução histórica da humanidade e de como essa educação cresceu consideravelmente mediante o aperfeiçoamento histórico da Didática. Diante disso, faremos reflexões sobre a ação da didática, os objetivos da educação, para, a partir desse contexto, ajudar o docente a escolher as alternativas mais adequadas para cada situação.

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1.1 Educação, instrução e ensino

Nesse momento vamos falar sobre educação e como essa palavra tem sido utilizada ao longo do tempo com dois sentidos distintos: formal e informal.

O termo educação tem sua origem no verbo latino educare1, que tem o significado de alimentar, criar. Nesse sentido, educação é algo externo, concedido por alguém. Segundo Durkheim (1981. p, 25), a educação é ação exercida por gerações adultas sobre as gerações não amadurecidas. Se colocarmos esse conceito no ponto de vista social, as gerações adultas acabam norteando a conduta dos mais jovens, através da transmissão do conjunto de conhecimentos, normas, valores, crenças, usos e costumes aceitos pelo grupo social.

Dessa forma, a educação é fundamental na manutenção da vida de um grupo ou mesmo da sociedade. À medida que vai aumentando a complexidade da vida de um grupo, a educação vai tornando-se cada vez mais relevante, a tal ponto que, na sociedade contemporânea, a educação está sempre presente em lugar de destaque.

Você sabe a diferença entre educação e escolarização?

É imprescindível que o aluno tenha discernimento de que educação não se confunde com escolarização, pois a escola não é o único lugar onde a educação acontece, uma vez que esta também é transmitida em ambientes onde não há escolas. Em todo lugar existem redes e estruturas sociais de transferência do saber de uma geração para outra. Assim, mesmo nos lugares onde não há sequer a sombra de algum modelo de ensino formal, existe educação.

Se a educação, do ponto de vista social, é a trans-missão, pelas gerações adultas, de valores, normas, usos, costumes, conhecimento às gerações mais jovens, como surge a escola?

1 EDUCARE:verbo composto do prefi xo ex (fora) + ducere ‘conduzir para fora’, ou seja, preparar o indivíduo para o mundo.

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15Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

Numa sociedade onde a educação

é rudimentar, essa se realiza de

forma assistemática. Dessa forma,

as crianças e os jovens que partici-

pam das atividades dos adultos, e

pela experiência direta, aprendem

as lendas, os mitos, as normas que

regulam a conduta, as técnicas de

trabalho, as formas de convívio

e de recreação. Nas sociedades

mais complexas, em que o acervo

é muito vasto, torna-se necessário

sistematizar uma parte significativa

desse patrimônio cultural, para

garantir sua transmissão às no-

vas gerações, em um certo espaço

de tempo e dentro de uma deter-

minada sistemática, achada mais

conveniente naquele momento

histórico dentro daquele quadro

cultural. (MELLO, 2006, p.11).

Diante do que é posto pelo autor, podemos responder a pergunta feita anteriormente. Assim, dentro desse contexto, surge, então, a escola instituição social criada, especificamente para educar e ensinar. A escola sendo instituída e regulamentada pelo grupo reflete seus valores e seu nível cultural. (WALTER e GARCIA, 1981).

Convém lembrar, também, que além dos lugares onde a educação se processa de forma sistemática, existem lugares onde ela se processa de forma assistemática. Entre esses lugares podemos citar: a família, a igreja, os sindica-tos, as empresas, os meios de comunicação de massa, etc.

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Educação sistemática ou formal – é um modo de trans-missão de conhecimentos organizados dentro de um contexto histórico-social, político e cultural, que são repassados por profissionais preparados e dentro de um planejamento.

Educação informal, assistemática ou difusa – são os conhecimentos adquiridos pela prática diária e observância do modo de agir de pessoas mais velhas e convivência nos diferentes grupos sociais.

O que você entende por educação do ponto de vista individual?

Partindo do pressuposto do termo educare, que, como visto, significa fazer sair, conduzir para fora, o verbo latino expressa, nesse caso, algo que parte da liberação de tornar externo algo que se manifesta interiormen-te. Neste sentido, a educação, do ponto de vista individu-al, refere-se ao desencadeamento das capacidades e potencialidades de cada indivíduo, tendo como princípio o aprimoramento de sua personalidade. A aplicação da educação individual busca métodos para permitir a mani-festação e individualidade de cada um. Nessa modalidade o educador deverá encontrar caminhos que o levarão a compreender seus alunos, tendo sensibilidade o suficiente para descobrir dons especiais de cada um e também suas dificuldades em relação a certas matérias.

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17Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

Podemos observar, no entanto, que nos dois sen-tidos, individual e coletivo, a palavra educação está ligada ao aspecto formativo.

Uma questão muito relevante quando se trata de educação individual é a grande necessidade de conci-liar os interesses de uma educação centrada no indivíduo com a importância da educação social. Diante disso, faz-se necessário implantar metodologias pedagógicas de um sis-tema de ensino coletivo, para dar maior ênfase à manifes-tação da individualidade. Uma delas seria a aproximação do professor do ambiente social onde vivem seus alunos, facilitando assim a sua forma de linguagem, fazendo com que o educando sinta-se mais familiarizado na escola, e uma vez inteirado, ele irá desenvolver suas aptidões e po-tencialidades. Daí a importância dos educadores estarem atentos às tendências dos aspectos sociais.

Assim sendo, podemos afirmar que ensino de modo coletivo deve prevalecer, no entanto, o professor deverá ficar sempre atento às inteligências múltiplas de seus alu-nos, ou seja, cada indivíduo tem um tipo de habilidade, e essa deverá ser explorada pelo educador. Por exemplo, um aluno que não demonstra muita aptidão por matemática deverá ser estimulado pelo professor através de atividades que o faça ter vontade de aprender.

Existe uma forte relação de subordinação da ins-trução no que se refere à formação intelectual, à edu-cação, já que o resultado da instrução é orientado para o desenvolvimento de características peculiares da perso-nalidade do indivíduo, já que cada um tem um tipo de competência diferente.

Segundo Libâneo2 (1994, p.23), a instrução me-diante o ensino tem resultados formativos quando con-verge para o objetivo educativo, isto é, quando os co-nhecimentos, habilidades e capacidades propiciados pelo ensino se tornam princípios reguladores da ação huma-na. Existe, pois, uma ligação entre instrução e educação, muito embora sejam processos diferentes: pode-se instruir sem educar e educar sem instruir.

2 José Carlos Libâneo é professor da Universidade Católica de Goiás. É formado em Filosofi a pela Pon-tifi ca Universidade Católica de São Paulo, concluída em 1996, Mestre em Filosofi a da Edu-cação e Doutor em Filosofi a e História da Educação.Uma das suas principais obra é: Didática, que hoje se encontra na 20ª edição.

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Assim, o fato de um indivíduo ter conhecimento sobre tal matéria não implica dizer que ele irá praticá-lo. Essa ciência sobre determinado assunto, se não empregada às dificuldades da realidade não se tornarão experiências. Desta forma, o indi-víduo educado não se torna instruído porque não pratica seu conhecimento. Sendo assim, o objetivo educativo não é um resultado espontâneo do ensino. Deve-se propor ao edu-cador que crie um objetivo intencional e claro para mediar à instrução aos fins educacionais.

É importante salientar que, dentro da educação, o ensino é o principal elemento, embora não o único e, por isso, ele se destaca como fundamental fator da instrução e educação.

Como vocês podem perceber, existe uma rela-ção entre instruir e educar. Em grupo, discu-tam outras formas práticas ligadas a esse campo.

Contudo, antes de começarmos a falar propriamente

sobre ensino, é viável ressaltar que a educação pode ser pautada de forma sistemática e assistemática. O ensino, por sua vez, é uma ação composta de organização. Ensi-nar é a atividade na qual o professor, com sua metodologia adequada à realidade do seu aluno, conduz a aprendizagem.

De acordo com o conceito etimológico3, ensinar (do latim signare) é colocar para dentro, gravar no espírito. Dessa etimologia originou-se o conceito tradi-cional de ensino, onde ensinar resume-se a transmitir conhecimentos e a função do professor é apenas de transmissor, e a do aluno, um receptor passivo, que simplesmente absorve esse conhecimento sem maiores indagações.

Em função de ter como base essa visão do ensino, o método tradicional de ensino foi se mostrando, ao longo do tempo, cada vez mais ineficiente, passando a receber diversas críticas que, a partir do final do século XX, foram tomando maior dimensão e deram origem a uma nova teoria da educação, fazendo com que o movimento da

3 Etimologia (do grego antigo µ , composto de µ e -“-logia”[1]) é a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação do significado de palavras através da análise dos elementos que as constituem. Por outras palavras, é o estudo da composi-ção dos vocábulos e das regras de sua evolução histórica

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Etimologia

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19Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

Escola Nova4 gradativamente ganhasse espaço. Essas mudanças permitiram que hoje a arte de ensinar seja vista como algo bem mais amplo, não mais se limitando somente aos elementos constituintes da prática pedagógica: docentes, discentes, os procedimentos, os recursos e as tecnologias utilizadas

Do ponto de vista pedagógico essa nova modalidade ultrapassa conceitos obsoletos, auxiliando professores a se constituirem de elementos básicos, tais como sen-sibilidade e técnicas de atividades interpessoais, como referências à transformação da prática escolar.

Assim, segundo Sacristán e Gomez (1998, p. 10), o profissional de ensino, antes de ser um técnico eficaz, e mais do que ser um fiel servidor de diretrizes das mais variadas tendências, num sistema submetido a controles técnicos que mascaram seu caráter ideológico, deve ser alguém responsável que fundamenta sua prática numa opção de valores e em ideias que lhe ajudam a esclarecer as situações, os projetos e os planos, bem como as previsíveis consequências de sua prática.

Diante disto, levando em consideração que o tra-balho do docente fundamenta-se em elementos organi-zados, buscando a aprendizagem de um saber do alu-no de modo sistematizado, por intermédio de técnicas e recursos pedagógicos, compreende-se que ele também se apoia em outras informações, como por exemplo, o ambiente social no qual o aluno está inserido. Neste con-texto, a Instituição escolar tem um papel fundamental em unificar os princípios que se situam entre a educação for-mal e as finalidades sociais para a formação humana.

Assim, o ensino corresponde à transferência de informações passadas aos alunos, mas do ponto de vis-ta pedagógico a arte de ensinar é disposta, também, em diversas áreas de conhecimentos que relatam relações entre finalidades da educação e a prática social mais extensa.

4 Como foi explanado no livro Fundamentos Históricos da Edu-cação, p. 95. Escola Nova parte de uma teoria pedagógica que considera que o importante não é aprender, mas aprender a aprender.

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INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

LIBÂNEO, J. C. Educação: pedagogia e didática – Cortez: São Paulo, 1997.

O autor inicia abordando a problemática da identidade no campo do conhecimento pedagógico, defendendo que a Pedagogia seja uma das “ciências da educação” que busca integrar e dar coerência a todas elas, sendo o seu objeto o fenômeno educativo em seu conjunto. A seguir, Libâneo faz uma retrospectiva histórica dos estudos teóricos da Pedagogia no Brasil, dos jesuítas à década de noventa do século passado. Aponta a necessidade de se buscar uma identidade epistemológica para esse campo e procura diferenciar o “pedagógico” do “didático”, caracterizando-os.SOUZA, Rosa Fátima; VALDEMARIN, Vera Tereza. A cultura escolar em debate. Campinas-SP: Autores Associados, 2005.

A obra retrata o uso do conceito de cultura escolar evidenciando sua fertilidade para explicar a complexidade da educação moderna e contemporânea, de modo que enfatiza fatores determinantes para abordar pontos específicos para integração a um quadro mais amplo que lhes dê significação.

PARA REFLETIR

Agora, após a leitura do texto, faça uma analogia entre ensino e educação. Compartilhe em sala de aula com colegas e tutores a sua conclusão.

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21Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

1.2 As concepções de ensino

Foi conceituado no conteúdo anterior que ensino é uma ação composta de organização. Faremos dessa defini-ção um apoio para concepções de ensino na projeção evolu-tiva da educação.

O ensino e a aprendizagem são tão antigos quanto a própria natureza humana. Os costumes e hábitos fazem parte de uma transmissão de conhecimentos. Os povos primitivos aprendiam com os seus pais a arte da caça e da pesca por uma necessidade existencial.

Ao logo do tempo essas necessidades tomaram uma proporção bem maior, condicionando o homem a buscar mé-todos, caminhos para que tais necessidades fossem sanadas. Neste sentido, em frente a esses acontecimentos evolutivos da humanização, destacam-se fatores cruciais que ajudaram e ajudam nesse processo: o ato de ensinar e aprender.

Sendo assim, o ensino pode ser entendido como uma atividade da qual a maior finalidade é a realização da aprendizagem, sendo organizado de maneira a respei-tar as características cognitivas do indivíduo e as competências em formar os seus próprios conceitos. Assim também deve ocorrer no ambiente escolar, principalmente na relação professor-aluno.

Há uma reciprocidade5 existente entre a ação do professor (considerada como ensino) e a ação dos alunos (aprendizagem). Assim, torna-se inseparável a afinidade exis-tente na transmissão/assimilação das informações e capa-

5 (latim reciprocitas, -atis)s. f.

1. Caráter do que é recíproco.

2. Mutualidade.

Fonte: http://www.pribe-ram.pt/dlpo/default.x?pal=caracter%u00edsticas

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cidades, a partir das especificidades existentes nas situações didáticas, que ocorrem quando existe o propósito da aprendi-zagem.

Vamos compreender melhor essa questão?São quatro os tipos de situações didáticas: de ação,

formulação, validação e institucionalização. Na situação de ação, o aluno se predispõe a realizar suas próprias pesquisas, enquanto na situação de formulação é utilizada uma fonte de pesquisa já estudada. Na situação de validação, o aluno precisará utilizar técnicas que comprovem suas afirma-ções. Já na situação de institucionalização são abordados pelo professor assuntos relacionados às questões culturais de um modo geral.

Essas especificidades de cada situação didática defi-nem que o professor (aquele que ensina) deve ser capaz de se colocar no lugar do aluno (o que aprende) e entender suas condições mentais, realizando a chamada Teoria da Mente, que afirma que o ser humano conta com a capacidade de se inferir na mente das outras pessoas.

Mas em que se fundamenta basicamente o ensino?

Assim, conforme já vimos no conteúdo 1.1, do tema 1, o conceito etimológico de ensino baseia-se em instruir alguém sobre aquilo que não sabe ou que sabe de forma inadequada. Se aplicarmos essa definição à sala de aula, teremos basicamente um professor que transmite o que sabe, e espera que o aluno descreva o que lhe foi passado. Foi a partir desta premissa que o método tradicional de ensino construiu suas bases, que mais tarde foram questio-nadas e deram lugar a novos métodos de ensino.

Contudo, para entendermos como esse movimento de mudança se deu é importante primeiro conhecermos os princípios do método tradicional de ensino. Assim, este método evidencia a memorização de conceitos, fórmulas matemáticas, atividades repetitivas. Ele é sustenta-do pela ideia de que o professor é o detentor do co-

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23Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

nhecimento a ser transmitido aos alunos. Na maioria das escolas públicas e particulares ainda encontramos profissionais que usam métodos tradicionais em sala de aula e nas suas práticas docentes.

Sobre o ensino tradicional destacam-se ainda asseguintes características:

• Os alunos reproduzem mecanicamente o que aprenderam;

• Repetir as informações transmitidas, dando ênfase ao professor;

• Subestima a capacidade intelectual do aluno, tirando dele a possibilidade de desenvolvi-mento de suas ideias;

• Os conteúdos passados não têm ligação com a realidade dos alunos;

• O ensino é somente transmissivo, não haven-do na verificação o cuidado de se identificar se os alunos estão aptos a enfrentar nova matéria;

• O professor fica preso somente na sala de aula, sem se preocupar com a prática de vida dos alunos;

• O professor age como dono do saber, e o aluno agente passivo das informações trans-mitidas a eles.

Assim, podemos perceber que os aspectos que funda-mentam o ensino tradicionalista baseiam-se em conteúdos de ensino que fazem imposições, dissociados da experiência do alu-no e fora do contexto da realidade social.

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Em função do que foi posto, o método de ensino tra-dicional passou a ser criticado, pois passou-se a acreditar que era ineficiente, já que o mesmo não atendia as expectativas e necessidades da sociedade. Contudo, apesar das críticas e do surgimento de novos métodos, em escolas públicas e par-ticulares, ainda encontramos profissionais que usam métodos tradicionais em sala de aula e nas suas práticas docentes.

[Muitos professores ainda acreditam que ensinar é depositar conhecimentos

na cabeça do aluno]

Sobre esta mudança de paradigma com relação ao método de ensino, os Parâmetros Curriculares Nacionais6 (PCN) colocam que por muito tempo a pedagogia focou o proces-so de ensino no professor, supondo que, como decorrência, estaria valorizando o conhecimento. O ensino, assim, ganhou autonomia em relação à aprendizagem, criou seus próprios métodos e o processo de aprendizagem ficou relegado a segundo plano. Hoje sabe-se que é necessário ressignificar a unidade entre aprendizagem e ensino, uma vez que, em ultima instância, sem aprendizagem o ensino não alcança seu objetivo.

Neste sentido, conforme os conceitos estudados por você no Tema II, conteúdo 2.4, do livro de Fundamentos His-tóricos da Educação, a partir do final do século passado, hou-ve uma grande ascensão na educação promovendo mudan-

6 Os Parâmetros Curriculares Nacio-nais são referências para o trabalho dos professores das diversas disciplinas e áreas do ensino fundamental e médio, tendo, como objetivo, garantir que todas as crianças e jovens brasileiros possam usufruir dos conhecimentos básicos necessários para o exercício da cidadania.

Os PCN têm como função subsidiar a elaboração ou a revisão curricular dos Estados e Mu-nicípios, dialogando com as propostas e experiências já existentes, incenti-vando a discussão pedagógica interna das escolas e a ela-boração de projetos educativos, assim como servir de material de refl exão para a prática de professores.

http://www.klickeducacao.com.br/conteudo/pagina/0,6313,POR-187-,00.

html

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25Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

ças na ação pedagógica passando do tradicionalismo para o sentimento, dos fundamentos lógicos para os psicológicos, do docente para o discente; da quantidade para qualidade. De for-ma sucinta, procede-se de uma teoria educativa que promove a importância de aprender a aprender.

É justamente diante dessa percepção, de que era ne-cessário mudar a forma como o conhecimento era passado nas escolas, que nasceu uma nova teoria de ensino, denomi-nada de Escola Nova7.

TEXTO COMPLEMENTAR

O ENSINOEntão, um professor disse: “Fala-nos do ensino”

E ele disse:“Nenhum homem poderá revelar-vos nada senão o que já está meio adormecido na aurora do vosso entendimento.O mestre que caminha à sombra do templo, rodeado de discípu-los, não dá de sua sabedoria, mas sim de sua fé e sua ternura.Se ele for verdadeiramente sábio, não vos convidará a entrar na mansão do seu saber, mas antes vos conduzirá ao limiar de vossa própria mente.O astrônomo poderá falar-vos de sua compreensão do es-paço, mas não vos poderá dar sua compreensão.O músico poderá contar para vós o ritmo que existe em todo o universo, mas não vos poderá levar até lá.Porque a visão de um homem não empresta suas asas a outro homem.“E assim como cada um de vós se mantém só no co-nhecimento de Deus, assim cada um de vós deve ter a sua própria compreensão de Deus e sua própria compreensão das coisas da terra.”

Fonte: GIBRAN, K. G. O profeta. Rio de Janeiro: Mansour Challita,

1978, p. 53.

7 Denominado de Escola Nova, o movimento ganhou impulso na década de 1930, após a divulgação do Manifesto da Escola Nova (1932). Esse movimento tinha como obje-tivo a Renovação Pedagógico-didática, fazendo com que a prática educacional fosse voltada para o comportamento humano. Além disso, trazia es-sencialmente, uma visão de homem e de mundo. ).

Fonte: http://pt.wikipedia.

org/wiki/Escola_Nova

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PARA REFLETIRDe acordo com o texto, qual a visão predominante de ensino nas colocações do autor?

Apesar da ideia escolanovista de renovar a prática educacional unificando as escolas públicas e particulares, por ser um projeto de alto custo, o sucesso só foi obtido nas redes de ensino destinadas às elites, o que provocou um sentimento de desilusão no meio educacional, fazendo surgir, então, uma nova concepção de ensino: o tecnicista.

Originada no norte da América, a Concepção Tecnicista surgiu na segunda metade do século XX e se efetivou no Brasil entre 1960-1970. Esse modelo pedagógico inspira nos princípios da racionalidade e capacidade para produzir. As diretrizes que fundamentam essa tendência devem ser úteis e necessárias para que o sujeito se adapte ao sistema global.

Para Libâneo (1989, p. 290) a educação tecnicista discute diretamente com o sistema produtivo, vigente na ciência da mudança comportamental. Sua função a priori é de construir indivíduos aptos para o mercado de trabalho, transportando de forma eficaz conhecimentos precisos, objetivos e rápidos.

Vejamos logo a seguir o que caracteriza o método tecnicista:

• O professor e o aluno são vistos como agentes se-cundários nesse processo, pois o sistema técnico é elemento fundamental na estrutura da aula.

• Professor e aluno são banidos às condições de realizadores de processos cujos conceitos, objetivos, coordenação e execução ficam sob responsabilidade de especialistas preparados, neutros e imparciais.

Page 28: Didática

27Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

• Utilização excessiva de recursos tecnológicos, fazendo uso de sistemas audiovisuais dando ênfase ao ensino moderno8.

• A escola organiza-se como precursora da proce-dência do ser humano, direcionada a técnicas que apontam para a produção de indivíduos aptos e qualificados para o mundo do trabalho;

• •

Muito embora o modelo tecnicista tenha sido bastante utilizado pelas entidades burocráticas do ministério da educação, as demonstrações da pedagogia tecnicista ainda se fazem presentes nas entidades de ensino, dimensionalizando as proporções educacionais e os recursos tecnológicos de âmbito educacional.

O processo de ensino é uma junção de atividades sistemáticas fundamentadas pelo professor e alunos, buscando alcançar finalidades na aquisição de conheci-mentos e progressos das aptidões cognitivas, visando à capacidade de aprendizagem de cada indivíduo. Vamos analisar alguns aspectos envolvidos nesse processo de ensino definidos por Libâneo (1994, p. 79-80):

1. O ensino é um processo, ou seja, caracteri-za-se pelo desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuias dos alunos em direção ao domínio dos conheci-mentos e habilidades, e sua aplicação.

8 DISCUSSÃO DO ENSINO ANTIGO COM O ENSINO MODERNOANTIGO - Eu venho dos opressores;Nasci de um regime austero!Com cediços professoresVenho ensinar o que eu quero.Tiro do livro a liçãoE imponho uma educaçãoPuramente radical.Sou mestre e não sou amigo;Eu sou o ENSINO ANTIGO;Me chamo TRADI-CIONAL!

MODERNO - Eu sou um ensino novo,Nasci da necessi-dadeDa integração do povoÀ sua sociedade.Debato, ensino e aprendo,Pesquiso em vídeos ou lendoEm jornal, livro ou revista.Serei seu amigo eterno,Me chamo ENSINO MODERNO,Sou INTERACIO-NISTA!Para saber mais sobre essa discussão sobre os ensinos.

Visite o site: http://sitedepoesias.com.br/poesias/48599

ONDE O ALUNO É PREPARADO DIRETA-MENTE PARA O MERCADO DE TRABALHO

Page 29: Didática

Didática28

2. O progresso de ensino visa alcançar determi-nados resultados em termos de dominio de conhecimentos, habilidades, hábitos, atitu-des, convicções e de desenvolvimento cogni-tivo dos alunos;

3. O ensino tem caráter bilateral, onde na trans-missão, o professor organiza e os torna di-daticamente assimiláveis, estabelecendo as condições e os meios de aprendizagem, con-trolando e avaliando.

Assim, diferente da Escola Nova, que se funda-menta na importância de aprender a aprender, o método tecnicista tem como base aprender a fazer.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para se aprofundar mais sobre concepções de ensino, ler o livro - Ensino: as abordagens do processo.

NICOLETTI, Maria da G. Mizukami. Ensino: as abordagens do processo. Livros em Inglês, São Paulo:-E.P.U, 1986.

O livro trata de conceitos em todos os processos de abor-dagens tradicional; Abordagem cognitivita, Abordagem sócio-cultural; Abordagem comportamentalista; Aborda-gem humanista; Abordagem sociocultural. As abordagens do processo ensino-aprendizagem e o professor.

SILVEIRA, Renê José Tretin. A filosofia vai a escola? Campinas-SP: Autores Associados, 2001.

O autor escreve o livro problematizando pressupostos filosó-ficos, pedagógicos e envolvimentos político-ideológicos do Programa de Filosofia para crianças, de Matthew Lipman.

Page 30: Didática

29Tema I | Introdução à Economia

PARA REFLETIR

Após a leitura sobre os diversos tipos de abordagens de ensino, faça um paralelo entre as mesmas. Quais as que mais predominam nas escolas da comuni-dade de cada um de vocês?

1.3 A ação didática

Começaremos este conteúdo fazendo diversas indagações sobre alguns problemas enfrentados por muitos professores, tais como: o que fazer para ajudar o aluno a resolver problemas matemáticos envolvendo as quatro operações? Quais os critérios que devem ser usados para que os estudantes leiam e interpretem textos de forma correta? O que propor aos alunos que têm dificuldades em entender uma fórmula de Física?

Perguntas como essas são feitas rotineiramente por professores do mundo inteiro. Trata-se, então, da Didática específica que veremos com mais precisão no decorrer desse capítulo.

Page 31: Didática

Didática30

Assim, segundo Candau (1984, p.23), a didática é con-ceituada como um conjunto de regras que visam assegurar aos futuros professores as orientações necessárias ao trabalho docente. Trata-se de uma disciplina técnica que tem como objeto específico a direção da aprendizagem.

Desta forma, quando falamos em Didática nos re-ferimos aos aspectos através dos quais essa é com-preendida e analisada na concepção do ato de ensinar, na forma de comportamento e na atuação do docente, por meio das diversas maneiras como este passa o conhe-cimento para o seu aluno, das metodologias e recursos usados para melhor assimilação dos conteúdos por parte dos mesmos.

Neste sentido, de acordo com o que foi colocado sobre Didática, podemos analisar que ela trata do estudo das técni-cas de ensino em todos os âmbitos práticos, buscando forma de estimular, direcionar e guiar o conhecimento do homem no convívio social e educacional.

Essas técnicas evidenciam a instrução9 e o ensino10 como recursos principais na ação escolar, transformando ca-racterísticas sociais e políticas em propriedades de en-sino, sistematizando ligações entre os fins específicos de educação formal e as determinações sociais necessárias à formação humana.

Muito embora as definições sobre o real papel da Didática sejam vastas e pertinentes, vale ressaltar que esse campo na educação é de suma importância para orientações de situações problema, como vimos no início desse capítulo, pois é através dela que se buscam respostas plausíveis para a solução dos mesmos, uma vez que ela desenvolve os pro-cessos de ensino-aprendizagem para favorecer principalmente a função cognitiva.

Portanto, a Didática não trata somente do âmbito do ensino envolvendo exclusivamente o professor. Há uma ligação lógica com a aprendizagem contendo como agente principal o aluno. Constata-se, no entanto, que o estudo da dinâmica da aprendizagem é fundamental para uma Didáti-ca ativa na construção do conhecimento.

9 Pela defi nição do primeiro capítulo desse livro, a ins-trução reúne fatos, conhecimentos sistemáticos.

10 No mesmo capí-tulo - 1 o ensino é uma ação composta de organização

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31Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

Enquanto instrumentalização téc-

nica, a didática não pode, por

conseguinte, ser tratada como

um componente isolado, como

algo em si mesmo, sem levar em

conta considerações da ordem

dos valores e dos fins, pois ela

não se justifica a si mesma, ape-

sar da pretensão da neutralidade

que toda técnica advoga para si

enquanto decorrente de teorias

científicas às quais serve inclusive

de critérios de validação pela veri-

ficação de sua eficácia constatada

nas observações dos resultados

obtidos. (CANDAU, 2009, p.42)

Candau,(1990, p.25), também afirma que o êxito dos procedimentos didáticos não lhe confere um valor absoluto a não ser que nos deixemos levar por uma con-cepção instrumentalista11 e pragmática12 de educação. Em outras palavras, ela nos mostra nessa colocação, o verdadeiro valor da aplicabilidade dos processos didáti-cos enquanto ciência que auxilia a ação do professor na eficiência da sua prática em sala de aula.

Neste sentido, engana-se o professor que acha que dominar o assunto a ser abordado nas suas aulas é o bastante para a transmissão eficaz do conhecimento. Esses acabam se tornando “escravos” da sua própria sabedoria. Por isso, enfatizamos aqui que, além desse domínio, o docente deve fazer uso dos procedimentos didáticos para garantir maior eficácia na transmissão do conteúdo abordado no ambiente educacional.

A didática não pode tratar do ensino relacionado ao professor sem salientar de modo simultâneo a apren-dizagem por parte de aluno. O estudo da dinâmica da aprendizagem reporta a didática à atividade do aluno. Dessa forma, podemos afirmar que a Didática é a análise

11 Que auxilia a ação (servindo de instrumento).

12 a) Que tem motiva-ções relacionadas com a ação ou com a efi ciência. = prático.

b) Que ou quem revela um sentido prático e sabe ou quer agir com efi cácia.

Page 33: Didática

Didática32

da situação instrucional, ou seja, dos procedimentos de ensino e aprendizagem, e aí se pode enfatizar a relação professor-aluno.

Nesse momento abordaremos alguns conceitos sobre Didática e o ponto de vista de diversos autores a respeito do assunto.

Quadro demonstrativo sobre acepções de didática

AUTOR CONCEITOS DE DIDÁTICA

Villar (1990, p.30)

Refere-se à didática como “ciência da educação, que ex-plica a estrutura do processo de instrução metodicamen-te, dando lugar a diferentes modelos de currículos”

Libâneo (1992, p. 52)

Diz que a didática investiga as condições e formas que vigoram no ensino e, ao mesmo tempo, os fatores reais (sociais, políticos, culturais, psicossocial) condicionantes entre a docência e a aprendizagem.

Escudero(1981, p. 117)

Didática é a ciência que tem por objetivo a organização e a orientação de situações de ensino-aprendizagem que servem à formação do indivíduo em estreita dependência da educação integral.

Comênio(1976, p. 44)

Afirma que o papel da Didática será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendam mais.

Laeng (1973, p. 128)

Diz que a pesquisa Didática deve adaptar os métodos e as técnicas de maneira a obter um máximo de resultado com o mínimo de esforço (princípio comeniano da Didáti-ca Magna), “tendo em conta quer os requisitos objetivos da matéria de ensino e da sua lógica interna quer as ca-pacidades subjetivas do aluno e da sua psicologia”.

Assim, podemos fazer comparações entre os diversos conceitos de Didática e os pontos de vista de cada autor citado no quadro acima.

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33Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

O que vem ser a Didática e qual a sua importância?

Tratando-se da dimensão técnica, essa está direciona-da aos conteúdos do ensino, referente à forma de organização, desenvolvimento e a avaliação das maneiras de transmissão desses conteúdos. Para Comênio, a Didática é considerada como ponte fundamental para ensinar tudo a todos.

Para Candau (2009, p. 46) tornou-se frequente no ensino de didática o estudo dessa ou daquela teoria instru-cional e sua respectiva decorrência metodológica, sem uma análise questionadora de seus fins pedagógicos e sociais. Esquece-se, assim, o educacional e o social em detrimento exclusivo da dimensão técnica do ensino.

Ao tratar deste assunto, Candau (1990, p.72) retra-ta ainda a realidade do ensino brasileiro, enfatizando que ainda são inacessíveis livros no ensino da Didática que façam um apanhado sobre funções da ação do professor desenvolvidas em nossas escolas. Contudo, essa deficiên-cia de materiais motiva os docentes a buscarem, em outras fontes, métodos e técnicas provenientes de países mais de-senvolvidos educacionalmente do que o nosso. Entretanto, as técnicas usadas pelos docentes na maioria das vezes fogem totalmente do contexto social em que as nossas escolas estão inseridas.

Mas você dever estar se perguntando: o que fazer para sanar e superar os problemas cau-sados que estão figurados em muitas técnicas didáticas que sucedem os modelos de ensino?

Deve existir uma relação mútua entre os interes-ses educativos e sociais. Por isso, para um bom êxito educacional, o professor deve levar em consideração não só o conhecimento que ele leva para sala de aula, mas deve ter também consciência de que o seu aluno

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Didática34

leva uma bagagem de conhecimentos adquiridos na família, com os amigos e com o ambiente em que ele vive. Isso le-vará o discente a ter mais interesse pelo meio em que está inserido e, consequentemente, adequando os conteúdos a esse meio o professor de certa forma superará alguns problemas que limitam o desenvolvimento do educador.

Como já sabemos, a Didática é uma disciplina técnica, que estuda procedimentos práticos e operacio-nais do ensino e pode ser determinada como:

Didática Geral – essa trata diretamente da instrução do ensino e da prática em sala de aula, de modo geral, trabalham-se técnicas que são aplicadas em qualquer matéria ou disciplina. Determina princípios e normas em torno do trabalho docente, ajudando no bom desempenho da aprendizagem.

Didática Especial – essa estuda aspectos mais limitados no campo educacional. Faz uso das normas da Didática Geral em determinadas disciplinas de maneira específica. A Didática Especial tem como base a análise de problemas ligados ao ensino de cada disciplina, expondo soluções e organizando métodos e sugestões para solucioná-los. Examina os programas voltados ao ensino, relatando se estão ou não condizentes ao meio do aluno, assim como analisa os objetivos dos métodos de ensino de cada escola e de cada disciplina.

Convém ressaltar que os métodos de ensino va-riam de docente para docente, de como esse profissio-nal adequará os conteúdos de ensino aos seus alunos e o meio em que está inserido.

As escolas do seu município adequam os conteúdos à realidade do aluno que a com-põe? Acesse o ambiente virtual de aprendiza-gem (AVA) e discuta sobre o assunto.

Page 36: Didática

35Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

Assim, podemos levar em consideração que a Didática oferece subsídios fundamentais para a construção do ensino, considerando os objetivos da educação e instrução, os conteúdos, a assimilação do conhecimento, as técnicas, métodos e a forma de organização da ação didática13.

Nesse momento, após uma análise sobre as concepções da Didática e suas principais funções e ca-racterísticas, façamos uma leitura do texto complementar sobre o papel da educação. Assim poderemos compre-ender melhor o quanto a Didática ajuda na orientação ao docente adotando uma atitude crítica e reflexiva no sentido de aperfeiçoar sua prática docente.

TEXTO COMPLEMENTAR

O PAPEL DA EDUCAÇÃOSegundo Paulo Freire, estudar não é ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las. Esta afirmação espelha bem o seu pensamento sobre educação, que o tornou mundialmente famoso.A Revista da Faculdade de Educação do Estado da Bahia publicou, em 1997, uma edição de homenagem a Paulo Freire, onde se pode ler no artigo Papel da Educação na Humanização:“Analisemos, ainda que brevemente, essas duas posições educativas; uma, que respeita o homem como pessoa; outra, que o transforma em “coisa”. Iniciemos pela apresentação e crítica da segunda concepção, em alguns dos seus pressupostos.Daqui por diante, essa visão chamaremos de concepção “bancária” da educação, pois ela faz do processo educativo um ato permanente de depositar conteúdos. Ato no qual o depositante é o “educador” e o depositário é o “educando”. A concepção bancária – ao não superar a contradição educador-educando, mas pelo contrário, ao enfatizá-la, não pode servir senão à “domesticação” do homem.

13 A palavra didática (português brasi-leiro) ou didática (português europeu) vem da expressão grega (techné didaktiké), que se pode tra-duzir como arte ou técnica de ensinar. A didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos mé-todos e técnicas de ensino destinados a colocar em prática as diretrizes da teoria pedagógica. A didática estuda os processos de ensino e aprendizagem. O educador Jan Amos Komensk , mais conhecido por Comenius, é reconhecido como o pai da didática moderna, e um dos maiores educadores do século XVII.

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Did%C3%A1tica

Page 37: Didática

Didática36

Da não superação dessa contradição decorre:

a) que o educador é sempre quem educa; o educando, o que é educado;

b) que o educador é quem disciplina; o educando, o disciplinado;

c) que o educador é quem fala; o educando, o que escuta;

d) que o educador prescreve; o educando segue a prescrição;

e) que o educador escolhe o conteúdo dos programas; o educando o recebe na forma de “depósito”;

f ) que o educador é sempre quem sabe; o educando, o que não sabe;

g) que o educador é o sujeito do processo; o educando seu objeto.

Segundo essa concepção, o educando é como se fosse uma “caixa” na qual o “educador” vai fazendo seus “depósitos”. Uma “caixa” que se vai enchendo de “conhecimentos”, como se o conhecer fosse o resultado de um ato passivo de receber doações ou imposições de outros.Essa falsa concepção de educação, que torna o edu-cando passivo e o adapta, repousa numa igualmente fal-sa concepção do homem. Uma distorcida concepção de sua consciência. “Para a concepção “bancária”, a cons-ciência do homem é algo espacializado, vazio, que vai sendo preenchido com pedaços de mundo que se vão transformando em conteúdos de consciência.

Fonte: http://blogdaformacao.wordpress.com/2006/11/06/o-papel-da-

educacao/

Page 38: Didática

37Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Repensando a didática. 21. ed. Ver. atual. – Campinas, SP: Papirus, 2006.

O livro trata de contribuir para a ampliação e o aprofun-damento das reflexões já realizadas e estimular a busca de uma proposta didática voltada para a efetivação da prática pedagógica crítica;

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola – teoria e prática. 5. ed. São Paulo-SP: Cortez, 2004.O livro estuda as práticas de organização e de gestão da escola e se torna indispensável para a construção de uma instituição democrática e participativa, que prepare os alunos para a cidadania plena.

PARA REFLETIR

Faça uma reflexão sobre a ação didática no papel edu-cativo, e como essa didática exercerá o seu papel espe-cífico na junção entre teoria e prática.

Page 39: Didática

Didática38

1.4 Evolução histórica da Didática

Vivemos atualmente em constante avanço tec-nológico e científico. Estamos em meio a um processo muito dinâmico de mudanças em todos os sentidos, seja no âmbito econômico, social ou cultural da nossa civilização. Nesse aspecto a educação tem um papel fundamental para o acompanhamento de tais modifi-cações, comprometendo-se em atender e subsidiar as reais necessidades que induzem as transformações desejadas.

Assim, considerando a importância da educação no progresso humano e o papel de destaque que a didática tem no processo de ensino, tomando como base a retrospectiva histórica da didática, faremos um apanhado geral sobre a evolução da mesma, apontando como essa desenvolve critérios indispensáveis para o processo educacional, utilizando-se também de aspectos socioeconômicos, políticos e culturais que servem de alicerce para uma visão geral da atividade docente.

Neste sentido, a história da didática está vinculada ao surgimento do ensino simultaneamente com o desen-volvimento da sociedade. Desde os primeiros tempos existem sinais de formas rudimentares de instrução e aprendizagem. Em algumas comunidades mais primitivas, os jovens passam por um “ritual de iniciação” para, só assim, entrarem no mundo adulto. Esse pode ser considerado um método de educação, muito embora não esteja ligado à Didática como processo de ensino.

Desta forma, para que tenhamos uma visão geral da Didática ao longo do tempo, a partir de agora, veremos alguns educadores e filósofos que foram de suma importância para a pedagogia, através da elaboração de teorias que repercutiram nos métodos de ensino.

Nossa retrospectiva começa então na idade antiga com Sócrates (469 – 399 a.c). Este filósofo considerava que o saber não é algo que alguém (o mestre) transmite

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39Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

à pessoa que aprende (discípulo). Neste sentido, ele colocava que o saber, o conhecimento, é uma desco-berta que a própria pessoa realiza. Assim, conhecer é um ato que se dá no interior do indivíduo. A função do mestre, segundo Sócrates, é apenas ajudar o discípulo a descobrir, por si mesmo, a verdade.

[Sócrates (469 – 399 a.c). Apesar de nunca ter escrito uma obra, a atividade filosófica de Sócrates está documentada nos livros do também filósofo grego Platão. Os célebres diálogos de Platão incluem o “Êutifron”, o “Critão”, o “Fédon” e “Um Banquete”. Em todos eles, Sócrates aparece como personagem.]

Partindo desse pressuposto o método socrático, também conhecido como método dialógico de Sócrates, é embasado em duas vertentes: a ironia e a maiêutica.

No método da ironia, Sócrates enfatiza a objeção às concepções que os discípulos tinham sobre algumas verdades. Com essas refutações14 levantadas por Sócrates, os discípulos acabavam por admitir que estavam errados em suas colocações e que não tinham total conhecimento do assunto. De acordo com Sócrates, essa consciência que o discípulo adquiria com o reconhecimento da sua própria ignorância era o caminho para a verdade.

Já o método da maiêutica, parte do preceito da ciência conhecida para o desconhecido, do fácil para o difícil, assim fazendo o seu discípulo a conhecer, pensar, criticar e a formular suas próprias perguntas e desta forma chegar a respostas plausíveis. Nessa técnica, Sócrates faz uma comparação com o trabalho de sua mãe, que era parteira, a arte de ajudar a dar à luz. Foi daí que o filósofo grego nomeou a arte de dar luz as ideias (maiêutica).

ca deros Osem on” es,

m.]

14 Ato ou efeito de refutar, de rebater com êxito os argumentos do adversário, apre-sentando provas convincentes.

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Didática40

Avançando na história, chegamos ao século XVI. Entre 1549 e 1759, época do Brasil colonial, os jesuítas eram os principais educadores do país. A educação dada por eles era marcada por preceitos religiosos e contrária ao pensamento crítico. A mesma dava ênfase à memori-zação e ao desenvolvimento do raciocínio e dedicava-se à formação de padres-mestres, focando principalmente a formação do caráter e psicológica para conhecimento de si e do aluno.

As ideias definidas no código de ensino dos jesuítas, conhecido como Ratio Studiorum15, centravam-se basicamente em instrumentos e regras metodológicas, onde predominava o espírito “escolástico” compreendido em livros que focavam a Suma Teológica de São Tomás e a obra filosófica de Aristóteles.

15 Uma espécie de coletânea privada, fundamentada em experiências acontecidas no Colégio Romano e adicionada a obser-vações pedagógicas de diversos outros colégios, que busca instruir rapidamente todo jesuíta docente sobre a natureza, a extensão e as obrigações do seu cargo. A Ratio (pronuncia-se rácio, palavra feminina latina da terceira declinação) surgiu com a necessidade de unifi car o proce-dimento pedagógico dos jesuítas diante da explosão do número de colégios confi ados à Compa-nhia de Jesus como base de uma ex-pansão missionária. Constituiu-se numa sistematização da pedagogia jesuítica contendo 467 regras cobrindo todas as atividades dos agentes diretamente ligados ao ensino e recomendava que o professor nunca se afastasse em matéria fi losófi ca de Aristóteles, e teológica de Santo Tomás de Aquino.Em 1584, o Pe. Aquaviva, novo superior geral da Ordem jesuíta, nomeia uma comissão encarre-gada de codifi car as observações que foram reunidas

[Imagem da obra original do código do ensino dos jesuítas. “Ratio Studiorum”].

Assim, a prática pedagógica dos jesuítas diferenciou-se com facilidade das outras Instituições existentes na mesma época, por ter traços singulares, se posicionando no lado psicológico. Mas, mesmo assim os jesuítas não pretende-ram infringir as tradições escolares existentes, muito menos dar contribuições inovadoras.

Page 42: Didática

41Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

O próximo passo importante e que não podemos deixar de destacar na evolução histórica da Didática está relacionado a João Amos Comenius16 (1592 – 1670). Para ele, de todas as obras concebidas por Deus, o ser hu-mano é a mais perfeita. Comenius crê também que tudo o que nos seja dado nesta vida não será o suficiente.

Considerado um dos maiores educadores e pedagogos do século XVII, em sua principal obra (Didática

Magna), Comenius afirma que vivemos três espécies de vida: a primeira é a vegetati-va- que nunca deixa o corpo, a segunda a animal – entende as coisas por meios materiais e sensoriais e a terceira é a inte-lectual – essa pode existir separadamente, mas ressalta que esse supremo grau da vida é ignorado pelos precedentes.

Mas você deve estar se perguntando: Qual o papel de Comenius na evolução da Didática?

O papel de Comenius neste contexto é de funda-mental importância, uma vez que, ao escrever sua primeira obra clássica sobre Didática: a Didática Magna, formulou a Teoria Didática com o intuito de analisar a relação entre aprendizagem e ensino.

Assim, este pensador promoveu uma ruptura radical com os costumes e modelos pregados nas escolas pela igreja católica. Ele foi um idealizador que racionalizou todas as práticas educativas, par-tindo da teoria didática até as questões em sala de aula. Desta forma, Comenius coloca que o professor seria um profissional e não mais um missionário, que utiliza a educação como forma de condução à felicidade eterna com Deus.

Vale destacar ainda que João Amos Comenius foi o primeiro educador que estabeleceu o conceito da transmissão dos conhecimentos e a criação dos princípios das regras do ensino.

em Roma. O ante-projeto motivado, redigido em 1586, depois de haver sido submetido às críticas dos execu-tores e de haver sido remanejado por nova comissão, torna-se o texto de 1591 e toma forma defi nitiva na famosa Ratio studiorum, promulgada em 8 de janeiro de 1599.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ratio_Stu-diorum

M

16 Jan Amos Komensk (28 de março de 1592 - 15 de novembro de 1670) foi um professor, cientista e escritor checo, considerado o fun-dador da Didática Moderna. A obra pedagógica essen-cial de Comenius é Didactica Magna (1667). Marca a sistemática da pedagogia e da didática.

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Comenius

Page 43: Didática

Didática42

No século seguinte, outro educador se destacará no contexto da história da Didática. Defendendo os princí-pios naturalistas, em particular o de Rousseau17, o peda-gogo alemão João Heinrich Pestalozzi18 (1746 – 1827) acreditava na tese de que o caráter do ser humano era constituído pelo ambiente do qual fazia parte. Ele acreditava que a transformação da sociedade era dada através da educação, dando muita importância ao ensino como via de educação transformadora de capacidades humanas. Foi um dos precursores da democratização da escola.

Na compreensão de Pestalozzi, o principal propósito da educação é o desenvolvimento físico, cognitivo e moral da criança e do jovem por meio da vivência e de experiências ordenadas, de forma necessária ao desempenho dessas capacidades.

Os conceitos de Comenius, Rosseau e Pestalozzi foram responsáveis pela formação de ideias para muitos outros pedagogos. Dentre estes se destaca John Frede-rick Herbart (1776 – 1841), um pedagogo alemão com grande influência e participação no mundo da didática. Inicialmente Herbart seguiu alguns trabalhos de Pesta-lozzi, logo depois formulou seus próprios princípios educacionais, embasado na ideia da unidade de desen-volvimento e da vida mental. Assegurava que o maior propósito da educação é a reflexão moral, e essa era decorrente da educação intelectual, defendia que a boa instrução era aquela que introduzia conceitos corretos na mente do homem.

Por fim, já chegando ao final do século XVIII e início do século XX, é importante destacarmos a contri-buição de John Dewey (1859–1952). Professor e filósofo, para ele o conceito de Herbart da educação através da instrução não era o mais correto, Dewey defendia a ação antecedendo o conhecimento e o pensamento. Defendia que antes de pensar e conhecer o homem age. Dentro da Didática a sua maior contribuição está no trabalho laboral e a ligação do ensino com a vida. Dewey destacou

17 Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Estudou fi losofi a, história, literatura e música. Uma das suas principais obras foi: Discurso sobre as ciências e as artes.

18 João Henrique Pestalozzi, nascido em Zurique-Suiça no séc. XVIII (1746). Considerado um grande humanista e pedagogo, cuja Filosofi a contribuiu para a educação moderna, que se prolongou até aos nossos dias. Em 1782, ele escreveu seu livro mais erudito.

http://www.fae.ufmg.br/teoriaspedagogicas/

Pestalozzi.htm

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43Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

que os alunos aprendem melhor realizando tarefas liga-das aos conteúdos ensinados. Ele defendia a democra-cia no campo institucional e no interior da escola.

É relevante salientar ainda que, além dos destacados aqui, existiram muitos outros educadores e filósofos que levantaram teses sobre a necessidade de se rever as téc-nicas do processo de ensino. Contudo, enfatizamos que os acima citados foram aqueles que fizeram maior dife-rença no âmbito da Didática, pois a maior característica comum a todos eles, foi a tentativa de expandir a reforma do ensino para todas as classes, e não apenas à elite. Dessa forma, eles pregavam, em tempos diferentes, que a qualidade e a quantidade podiam andar juntas.

Muitos educadores questionavam se a Didática era uma disciplina técnica de outras ciências ou se era de fato uma ciência. Só em 1934 aconteceu a inclusão da Didática como disciplina em curso de formação de professores para o ensino médio. O princípio da Didática como disciplina na formação de professores em nível superior está ligado à criação da faculdade também nes-se mesmo período.

O decreto lei 1.190/39 diz que a Didática foi ins-tituída como curso e disciplina, com duração de um ano. Logo depois, em 1941, a legislação educacional formulou alterações, e o curso deixa de ser uma disciplina técnica e passa a ser considerado um curso independente.

Hoje, a Didática assume novas margens que direcio-

nam para o avanço teórico e metodológico, mediante

compreensão e sistematização de conhecimentos do seu

objetivo de estudo, que é o ensino. Os novos parâmetros

da Didática buscam, a partir de observações e investi-

gações qualitativas, modificar o quadro da ação peda-

gógica, fazendo com que o professor ensine, o aluno

aprenda e o conhecimento seja produzido e repassado.

Assim, é evidente que a Didática hoje assume novas

configurações direcionadas para o progresso teórico

Page 45: Didática

Didática44

na problematização, na concepção e na regulação dos

conhecimentos de seu elemento de estudo: o ensino

como prática social concreta. Faremos a seguir a leitura de um texto que trata

das mudanças educacionais no contexto social. E como essas mudanças tiveram parceria na reforma educacional de forma sistemática.

TEXTO COMPLEMENTAR

As estratégias de mudança educacional têm um caráter sistêmico.Uma mudança educacional nas inovações implica, além disso, que se passe de um enfoque de mudança centra-do na oferta para um enfoque baseado no papel ativo da demanda. As reformas tradicionais caracterizam-se, assim, pela tentativa de mudar sempre algum aspecto específico da oferta educacional: os conteúdos, a es-trutura do sistema, o equipamento, o pessoal docente.Por fim, é preciso mencionar que outro traço importan-te das estratégias de reforma aplicadas no passado foi sua concentração na mudança de determinado elemento considerado fator-chave da reforma educacional: aumen-to dos salários dos docentes, reforma dos conteúdos, reforma institucional, equipamentos, infraestrutura, etc. A avaliação dessas mudanças permite observar que um dos principais fatores que explicam seus modestos resul-tados é o enfoque unidimensional com que foram aplica-das. As mudanças educacionais dependem da interação de múltiplos fatores, que atuam de forma sistêmica.Mas reconhecer o caráter sistêmico não significa que seja necessário ou possível modificar tudo ao mesmo tempo. Significa, sim, que em determinado momento é preciso levar em conta as consequências da modificação de um elemento específico sobre os demais fatores.

Page 46: Didática

45Tema 1 | Educação, História e Evolução Didática

O problema central das reformas é, portanto, estabelecer a sequência e a medida que deve cada um dos componentes do sistema. A experiência indica que esses aspectos (sequência e medida) podem ser definidos mais facil-mente no âmbito local do que no nível central. É prati-camente impossível determinar uma sequência similar para contextos sociais, geográficos e culturais muito diferentes. Essa é mais uma razão pela qual se defende atualmente a necessidade de dar prioridade às mudanças institucionais, destinadas a oferecer às instituições maior grau de autonomia para definir sua própria estratégia de melhoramento.

Fonte: TEDESCO, Juan Carlos. O novo pacto educativo. São Paulo – SP:

Ática, 2004, p.137.

Indicação de Leitura Complementar

OLIVEIRA, M. R. S. A reconstrução da didática: elementos teóricos- metodológicos. Campinas- SP: Papirus, 1992.

Partindo de uma concepção dialético-materialista do ensino, Maria Rita Oliveira de Oliveira defende que a Didática rompa com o tecnicismo e volte-se a uma prática educativa transformadora da realidade social. A autora pensa o ensino na perspectiva da prática social, como uma “totalidade concreta”. As diversas dimen-sões do fenômeno ensino (histórica, ideológica, antro-pológica e epistemológica) delineariam os elementos teórico- metodológicos do campo da Didática.

PIMENTA, S.G. (org.). Saberes pedagógicos e atividades docentes. São Paulo: Cortez, 1999.

Esse livro inclui a contribuição de vários autores sobre a articulação entre os saberes pedagógicos e a prática do-

Page 47: Didática

Didática46

cente. Os temas abordados são identidades do profes-sor na sociedade contemporânea e autonomia na escola. Textos relacionados à compreensão de contextos histó-ricos, sociais e organizacionais no âmbito da Didática.

PARA REFLETIR

Após o estudo sobre a Evolução histórica da Didática, quais as contribuições que esse desenvolvimento trouxe para a Didática contemporânea?

RESUMO

Nesse tema vimos os conceitos sobre: educação, ensino e instrução, relatando minuciosamente elos existentes entre essas três esferas e como a sociedade pode ser instruída sem ser educada e vice-versa. Vimos ainda que a forma de ensino baseava-se na con-cepção de que o ser humano era semelhante a um pe-daço de cerca ou argila úmida, que pode ser modelado a todo instante. Além disso, estudamos as passagens sobre a evolução da Didática e seus precursores e como essa revolução tem ajudado a moldar os aspectos sociopolíticos da nos-sa sociedade. Na mesma linha de raciocínio, discutimos os preceitos da ação didática em face de conceitos de vários autores e estudiosos.

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Planejamentos e Projetos Educacionais2

Nesse momento trataremos da grande importância do planejamento, esse se faz necessário e constante em todas as áreas da vida do ser huma-no. É importante ressaltar que planejar também é característica inerente ao trabalho do educador, pois sistematiza e organiza a ação docente, eviden-ciando as formas e princípios para elaboração do Planejamento educacional, escolar, curricular e de ensino.

Abordaremos neste tema análises sobre os tipos de planejamentos e projetos, conceituando-os e caracterizando-os de modo que todos tenham uma relação entre si.

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Didática48

2.1 Definição de planejamento e planos.

A maioria dos profissionais da educação, quando pensa na sala de aula, visa logo algumas sugestões bem interessantes para dinamizar sua aula, gerando no aluno interesse e perspectiva de uma aprendizagem satisfatória.

Na grade curricular existem conteúdos definidos a cada série, o que acaba muitas vezes dificultando o fazer dos docentes na seleção e organização de alguns temas que possam ter ligações entre si, ou objetivando o interesse dos alunos, usando a interdisciplinaridade.

Talvez essa relação ainda seja um tanto difícil, mas o professor pode e deve planejá-la e organizá-la visando uma junção entre esses conteúdos.

É de suma importância que o professor promova em sua aula um ambiente de pesquisa, de descobertas, e discussão em grupo, tornando a sala de aula um espaço de trocas de informações e interesse dos discentes.

O professor, por exemplo, numa aula de português poderá usar uma receita de bolo, e pedir aos alunos que façam uma análise sobre as classes gramaticais existentes naquela receita, ou até mesmo estudar assuntos relacionados à ciência, pedindo que destaquem as vitaminas existentes nos produtos que serão usados para fazer o bolo.

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49Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

Mas, para que esse espaço em sala de aula torne-se de fato um ambiente atrativo para descobertas educativas, se faz necessário que o professor trabalhe um processo de operações mentais envolvendo: análise, reflexão, definição, seleção, estruturação e distribuição de conteúdos, em busca de retornos significativos para aprendizagem dos alunos.

Gandin (1983) afirma que o processo educativo deveria ocupar um status obrigatório em todas as atividades humanas: é a compreensão do processo de planejamento como um processo educativo. É evidente que esta finalidade só é alcançada quando o processo de planejamento é concebido como prática que subli-nhe a participação, a democracia19, a libertação. Então o planejamento é uma tarefa vital, união entre a vida e técnica para o bem estar do homem e da sociedade.

Quando falamos em planejamento, a primeira coisa que pensamos sobre o seu principal objetivo é a eficiência. E quando pensamos em eficiência, logo chegamos a um conceito que é a capacidade para produzir.

Podemos citar alguns exemplos práticos sobre eficiência:

• O médico é eficiente quando, ao descobrir a doença, busca meios para curá-la;

• O motorista é eficiente quando é prudente no trânsito.

Os planejamentos e planos tornam-se peças fundamentais na busca de eficiência, portanto, ao elaborar planos são estabelecidos procedimentos ligados a planejamento, visando eficácia na execução do que foi pretendido.

Na verdade, que eficiência é a principal finalidade do planejamento. O intuito central do ato de planejar é

19 (“demo+kratos”) é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indi-retamente, por meio de representantes eleitos — forma mais usual. Uma democracia pode existir num sis-tema presidencialista ou parlamentarista, republicano ou monár-quico.As Democracias podem ser divididas em dife-rentes tipos baseados em um número de distinções. A distinção mais importante acon-tece entre democracia direta (algumas vezes chamada “democracia pura”), na qual o povo expressa a sua von-tade por voto direto em cada assunto par-ticular, e a democracia representativa (algu-mas vezes chamada “democracia indireta”), na qual o povo expressa sua vontade através da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram.Outros itens impor-tantes na democracia incluem exatamente quem é “o Povo”, isto é, quem terá direito ao voto; como proteger os direitos de minorias contra a “tirania da maioria” e qual sistema deve ser usado para a eleição de representantes ou outros executivos.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia

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Didática50

a constante busca da melhoria do funcionamento do sis-tema educacional, tornando o professor mais bem pre-parado para as adversidades, uma vez que a realidade educacional é bastante dinâmica e nunca será possível presumir quando o problema irá acontecer. O planeja-mento nesse caso dá ao educador capacidade de racio-nalização, organização e coordenação das suas ações.

Você deve estar se perguntando: o que são planejamento e plano?

O planejamento parte da análise de uma condição da realidade, busca-se através dele, possíveis resoluções e alternativas para vencer as dificuldades e almejar os objetivos propostos. É importante saber que a principal função do planejamento não é se preocupar somente com o “fazer bem” no processo educacional, mas que se façam as coisas que realmente importa fazer, o que a sociedade precisa e deseja.

Já o plano é a conclusão, o ponto mais alto do processo mental e organizacional do planejamento. Contudo, esse é muito importante no processo de planejamento, mas vale lembrar que mais importante do que os planos é todo o processo de desmembrá-lo.

Em consequência das definições em torno de planejamento, podemos chegar a uma conclusão de que esse transforma a realidade em um encaminhamento pretendido, e organiza a própria ação, introduzindo procedimentos de intervenção da realidade e aproxi-mando-a de um ideal.

Page 52: Didática

51Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

O processo de planejamento deve ser destacado através de indagações que direcionam o ato de planejar. Essas indagações podem ser:

• O que queremos alcançar?

• A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?

• O que faremos concretamente (no tempo previsto) para sanar essa distância?

Existem diversas formas e meios de alcançar es-sas premissas20, no entanto, se não forem seguidas de forma lógica e que uma tenha relação com a outra, po-demos dizer, enfim, que não houve planejamento.

O que queremos alcançar? Essa pergunta baseia-se em prospecção de fatos,

os quais fazem parte de uma tomada de decisão quando queremos alcançar algo, ou seja, constitui-se em cap-tação de maneira correta do que se procura praticar, estabelece parâmetros para a consecução das metas que foram traçadas.

A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?

20 Ideia ou fato inicial de que se parte para formar um raciocínio ou um estudo.Lóg. Cada uma das duas proposições, a maior e a menor, de um silogismo.(Do lat. praemissa)

http://www.dicionarioweb.

com.br/premissa.html

Page 53: Didática

Didática52

Tendo ciência de onde queremos chegar e o que falta para tal, devemos agora fazer um levantamento de informações relacionando com a realidade do que estamos fazendo, transformando essa relação com aquilo que queríamos que fosse. Então, a verdadeira essência dessa pergunta está basicamente na comparação entre as coisas que fazemos e as que esperávamos que fossem feitas. Essa ação é chamada de diagnóstico.

O que faremos concretamente (no tempo previsto) para sanar essa distância?

Uma vez respondidas as questões anteriores, estabelece uma fundamentação no planejamento: o que é imprescindível21 e possível concretamente para estrei-tar caminhos entre a distância existente no que se faz e o que deveria estar fazendo. A isso chamaremos de programação, onde são incluídos objetivos que visam ações que estabelecemos realizar em certo período para alcançar re-sultados desejados, e as políticas de ação responsáveis pelos princípios que guiarão nossa ação no período determinado pelo plano.

No mesmo contexto sobre as diretrizes do plane-jamento ainda temos a execução (ação de acordo com o que foi previsto) e avaliação (análise contínua sobre aspecto e característica do projeto).

Em suma, planejar é:

Elaborar – tomar decisões em torno da concepção

de sociedade que queremos e pretendemos formar,

quais as ações educacionais que devem ser tomadas

para chegar a resultados satisfatórios;

Executar – agir sempre em semelhança com o que

foi proposto;

Avaliar – examinar todo o processo de planeja-

mento e cada uma das ações, assim como os docu-

mentos que regem cada um desses procedimentos.

21 adj. 2 gén.1. De que se não pode prescindir.

2. Indispensável.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.x?pal=consecu

%u00e7%u00e3o

Page 54: Didática

53Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

PARA REFLETIR

Como vocês perceberam, o planejamento é um processo de previsão de necessidades, visando alcançar objetivos concretos em um determinado tempo. O ato de planejar é fundamental também para evitar alguns problemas no campo da educação. Façam um levantamento dos tipos de planejamentos existentes nas escolas das cidades de vocês. Discutam em grupo sobre esse tema.Nesse momento vamos analisar um panorama sobre a representação básica dos processos de planejamento feito por Gandin (1983, p. 26).

A presença da mesma letra (A, B, C), indica uma correspondência entre os tópicos.

PARTES SIGNIFICADO QUESTÕES FUNDAMENTAISMARCO REFERENCIAL

a)Marco Situacional

b)Marco Doutrinal

c)Marco Operativo

É o ideal Como é a realidade global?

O que pretendemos alcançar

nesse texto? Como deve ser

nossa ação para atingir o que

pretendemos?

DIAGNÓSTICO É a comparação entre o

ideal e o real

b) Até que ponto estamos con-

tribuindo para que o mundo

seja como pretendemos que

fosse?

c) A que distância está nossa

instituição do ideal que dela

fizemos?

PROGRAMAÇÃO

Inclui: objetivos, políti-

cas e estratégias, res-

ponsáveis, e demais ins-

trumentos de execução

É a proposta de ação O que faremos no decorrer do

plano (orientações da ação e

ações concretas) para contri-

buir mais na direção do que

pretendemos alcançar e para

diminuir a distância entre o

ideal e o real de nossa ins-

tituição?

Page 55: Didática

Didática54

Desse modo, fizemos uma análise sobre os processos de elaboração de Planejamento. O panorama acima permite a sua utilização para diversos tipos de planejamento, seu alcance é denso e abrangente, e admite uma captura de maneira coesa e correta do que se procura fazer.É necessário salientar que existem vários níveis de planejamento, e é possível encontrar dentro do âmbito da literatura especializada em educação e educação escolar, vários livros especificando esse assunto.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para se aprofundar mais sobre o assunto, ler:

GANDIN, Danilo. Planejamento como prática educativa. 11. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

Faz relatos sobre os diversos tipos de planejamentos e planos educacionais, enfatizando os procedimentos e diretrizes que devem ser tomadas como base para de-senvolvimento educacional.

MELO, Osvaldo Ferreira. Teoria e prática do planejamento educacional. 3. ed. Rio Grande do Sul: Globo, 1979.

O autor faz ressalvas sobre a Pedagogia e a Educação. Salienta também planejamento educacional com ênfase em teoria e prática. Nesta obra, o autor destaca doutrinas educacionais e Metodologia na educação.

Page 56: Didática

55Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

PARA REFLETIR

Os planejamentos são importantes no contexto educa-cional. Façam uma reflexão em torno dessa afirmação e discutam em grupo.

2.2 Os tipos de planejamentos didáticos

Agora que já sabemos as definições de planeja-mento, vamos destacar os tipos de planejamento didáti-cos, destacando características de cada um deles.

Planejamento Educacional

Qualquer atividade que desenvolvemos exige planejamento. Em se tratando da educação não é dife-rente, uma vez que a elaboração desse tipo de plane-jamento necessita da posição de objetivos em longo prazo que definam uma política da educação.

Em consequência da importância adquirida pela educação no nosso dia a dia como fator de desenvolvi-mento, e levando-se em consideração diversas variáveis que o atinge, é necessário que haja planejamento.

O planejamento educacional consiste num proces-so sistêmico, ou seja, a nível nacional, estadual e muni-cipal. E resume-se no processo de avaliação e reflexão das várias fases do sistema educacional, para denomi-nar as suas objeções e antecipar os meios de solução. Para tanto, alguns objetivos precisam ser estabelecidos.

Page 57: Didática

Didática56

Para Coaracy (1972, p.79) os objetivos estabelecidosdo planejamento educacional são:

• Relacionar o desenvolvimento do sistema educacional com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país, em geral e de cada comunidade, em particular;

• Estabelecer as condições necessárias para o aperfeiçoamento dos fatores que influem diretamente sobre a eficiência do sistema educacional (estrutura, administração, finan-ciamento, pessoal, conteúdo, procedimentos e instrumentos);

• Alcançar maior coerência interna na deter-minação de objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los;

• Conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do sistema.

A educação como fator de mudanças está em fre-quente transformação de acordo com a sociedade, obten-do desta uma série de influências. O processo educacional é sistematizado de tal forma que, à medida que atenda a algumas solicitações da sociedade, contribui também para aprimoramento da mesma. Por isso, a grande importância de um planejamento voltado para o sistema social, visando oferecer instrumentos para melhorias na sociedade.

Para cumprir com o que lhe é designado, o sistema educacional deve ter alguns requisitos indispensáveis, segundo a conclusão do Seminário Interamericano realizado pela UNESCO21, 1958:

• Aplicação do método científico na investigação da realidade educativa, cultural, social e eco-nômica do país;

21 A UNESCO foi criada em 16 de novembro de 1945, para promover a paz e os direitos humanos com base na “solidariedade intelectual e moral da humanidade”. É uma das agências das Nações Unidas para incentivar a cooperação técnica entre os Estados membros.Ao tempo de sua criação, o mundo acabara de experimentar a maior catástrofe de sua história - a Segunda Grande Guerra Mundial. Os representantes dos países aliados, percebendo a importância e o alcance da cooperação intelec-tual entre os povos, decidiram criar uma Organização para ser um sistema de vigilância e alerta, em defesa da paz, da solidariedade e da justiça.

http://www.direitoshumanos.usp.br

Page 58: Didática

57Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

• Apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a curto, médio e longo prazo;

• Apreciação realista das possibilidades de re-cursos humanos e financeiros a fim de asse-gurar a eficácia das soluções propostas;

• Previsão dos fatores mais significativos que intervêm no desenvolvimento;

• Coordenação dos serviços da educação e des-tes com os demais serviços do Estado, em todos os níveis da administração pública;

• Avaliação periódica dos planos e adaptação constante destes mesmos às novas necessi-dades e circunstâncias;

• Flexibilidade que permita a adaptação do plano às situações imprevistas ou imprevisí-veis;

• Formulação e apresentação do plano como iniciativa e esforços nacionais, e não como esforço de determinadas pessoas, grupos ou setores.

Planejamento Escolar

Quando se trata de planejamento geral de atividades de uma escola, estamos nos referindo a Planejamento Escolar. As ações pedagógicas que o envolve devem ser realizadas por todos os membros pertencentes à escola.

Sabemos que o planejamento não é somente uma atividade sistematizada exigida pela entidade administrativa escolar, mas o ponto de partida para o

Page 59: Didática

Didática58

desenvolvimento da prática pedagógica. Ele não é algo provisório e sim um processo que se estende durante o decorrer de todo ano letivo.

O planejamento escolar deve ser elaborado com a participação de todos os envolvidos no âmbito escolar (alunos, professores, funcionários e pais de alunos), como também a conclusão desse planejamento, que é o que chamamos de plano escolar.

Segundo Haidt (2006, pp.96-97), ao realizar o processo de planejamento geral de suas atividades cada escola segue um esquema de ação.

Vejamos as etapas a serem seguidas:

• Sondagem e diagnóstico da realidade da escola:

- Característica da comunidade;

- Característica da clientela escolar;

- Levantamentos dos recursos humanos e materiais

disponíveis;

- Avaliação da escola como um todo no ano

anterior (evasão, repetência, porcentagem,

qualidade do ensino ministrado, etc.).

Page 60: Didática

59Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

• Definição dos objetivos e qualidades da escola.

• Proporção da organização geral da escola no que se refere a:

- Quadro curricular e carga horária dos diversos

componentes do currículo;

- Calendário escolar;

- Critérios de agrupamentos dos grupos;

- Definição do sistema de avaliação, contendo

normas para a adaptação, recuperação, reposição

de aulas, compensação de ausência e promoção

dos alunos.

• Elaboração do plano de curso contendo as programações das atividades curriculares.

• Elaboração do sistema curricular da escola, com a participação de todos os membros da escola, inclusive do corpo discente.

• Atribuições de funções a todos os participantes da equipe escolar: direção, corpo docente, cor-po discente, equipe pedagógica, equipe admi-nistrativa, equipe de limpeza e outros.

Planejamento Curricular

Habitualmente costuma-se conceituar currículo como conjunto de disciplinas cada uma organizada numa sequência lógica em relação aos conteúdos.

A primeira medida a ser tomada ao elaborar o planejamento curricular é a transparência da concepção filosófica acerca dos objetivos da ação pedagógica.

Page 61: Didática

Didática60

Segundo Taba, mencionado por Traldi (1984, p. 37), o planejamento do currículo deve partir de uma pesquisa das necessidades socioculturais dos educandos, de onde serão determinados os objetivos, os conteúdos, as atividades de aprendizagem e os meios de avaliação.

Para Taba o planejamento do currículo segue umalinha de etapas, tais como:

- Seleção de conteúdos;

- Seleção de experiências ou atividades de aprendizagem;

- Avaliação.

É importante lembrar que no ato da elaboração do planejamento curricular, os vários componentes curriculares, ou seja, todas as disciplinas devem tendenciar para uma reorganização no aluno, essencialmente para o conheci-mento humano. Dessa forma, as escolas não devem sim-plesmente realizar o que é determinado pelos órgãos oficiais. É papel dela interpretar e concretizar esses currículos, adequando-os a situações reais, escolhendo experiências e costumes que poderão cooperar para atingir os objetivos dos alunos.

Em síntese, o currículo pode então ser conceituado como a totalidade de experiência. Sendo organizado e produzido pela escola.

Mediante os conceitos de planejamento curricular, nota-se que esse merece minuciosos cuidados sobre a elaboração do mesmo pela escola.

Segundo Sarubbi (1971, p. 34), o planejamento curricular consiste na atividade que envolve as disciplinas com o objetivo de organizar um sistema de relações lógicas dentro de um ou vários campos de conhecimento, visando favorecer ao máximo o processo ensino-aprendizagem.

Page 62: Didática

61Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

O autor destaca os seguintes objetivos doplanejamento curricular:

• Selecionar experiências que atendam simulta-neamente aos interesses, às necessidades e aspirações do educando e da sociedade.

• Organizar as experiências numa sequência lógica e psicológica que favoreça o desenvol-vimento integral do educando.

• Facilitar o estabelecimento de objetivos pelos docentes da escola.

• Incentivar, mediante ambiente próprio criado entre os componentes da escola, o desenvol-vimento das atividades educativas.

Ainda seguindo essa lógica em função dos objetivos,estabelece dos planejadores:

a) Atualização em relação aos processos alcança-dos nos campos das ciências, das artes e da tecnologia.

b) Capacidade para aproveitar os novos meios e as novas técnicas a serviço da escola.

c) Percepção e a sensibilidade para com os pro-blemas constatados numa realidade escolar e habilidade para a escolha das melhores solu-ções para os mesmos.

d) Visão prospectiva das mudanças que rapida-mente ocorrem na sociedade.

e) Capacidade de aperfeiçoar recursos humanos e materiais

Page 63: Didática

Didática62

Planejamento de ensino

Uma vez organizado o planejamento curricular, cabe agora ao professor planejar as tarefas que serão desenvolvidas com seus alunos, para alcançar tudo que foi traçado no planejamento curricular.

Mattos (1968, p.140) assim conceitua planejamento de ensino:

“Previsão inteligente e bem calculada de todas as etapas do trabalho que envolvem as atividades docentes e discentes, de modo a tornar o ensino seguro, econômico e eficiente.”

Podemos dizer, então, que planejamento de ensino é na verdade uma descrição do planejamento curricular, e fundamenta-se em explanar de forma mais detalhada e sólida o que o educador realizará em sala de aula para que os discentes possam atingir os objetivos educacionais almejados.

Uma forte característica do planejamento de ensino é o bom relacionamento que deve existir entre o professor e o aluno. E em linhas gerais, segue três objetivos, que são:

- Orientar racionalmente;

- Orientar os alunos a buscarem os objetivos do ensino;

- Averiguar o desenvolvimento do processo educacional.

Importante ressaltar que para planejar, o professor precisa conhecer minuciosamente a realidade em que irá operar, considerando as necessidades dos alunos, as especialidades da comunidade e as diretrizes da escola.

No terceiro tema desse livro, estudaremos os tipos de planejamento de ensino, de acordo com o seu nível de especificidade crescente.

Page 64: Didática

63Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

NEIRA, Marcos Garcia. Por dentro da sala de aula: con-versando sobre a prática. São Paulo: Phorte, 2004.

O livro traz um novo olhar sobre a prática pedagógica. Distribuídos em diversos textos que afligem a todos os atores da nova escola.

SANT’ANNA, F. M.; ENRICONE, D.; ANDRÉ, L.; TURRA, C. M. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra / DC Luzzatto, 1997.

Surgido de uma pergunta comum a professores de di-dática - como ensinar a planejar e a avaliar? - este livro apresenta os conceitos básicos, as etapas e a estrutura do planejamento. Propõe um estudo sobre objetivos, conteúdos, procedimentos, recursos de ensino e avalia-ção do ensino-aprendizagem. Indica sugestões concretas para a elaboração de planos de ensino, além de trazer outras opções existentes que podem interessar educa-dores e planejadores da educação

PARA REFLETIR

Você concorda que para o método do planejamento é útil e, sobretudo, muito importante o conhecimento que se tenha do aspecto da realidade? Faça uma reflexão e discu-ta no fórum do AVA sobre o assunto com os seus colegas.Para Martins (1988, p. 84), o planejamento educacional é feito em nível de sistema educacional, por exemplo, para rede de escolas oficiais de uma cidade, estabelecendo a política educacional, as estratégias de ação, os recursos, o cronograma das atividades.

Page 65: Didática

Didática64

2.3 Elaboração e procedimentos de projetos

Projeto é uma palavra que ouvimos com muita frequência em todos os aspectos da nossa vida, seja nos jornais, revistas, televisão, sempre nos deparamos com a expressão ligada a projetos.

Segundo Machado (1997), projeto vem do latim projectu, particípio passado de projicere, cujo significado é “Lançar para diante”. Vamos verificar ainda que pode também significar plano, intento, empreendedorismo.

De acordo com as palavras do autor, Projeto é algo relacionado à antecipação de ideias que poste-riormente poderão ser concretizadas.

Dessa forma, projetos desenvolvidos no âmbito escolar são na verdade procedimentos que buscam uma melhor dinâmica e desafia os alunos a encontrar melhores soluções para velhos e novos problemas. Assim como faz o bom professor ao lançar um projeto para a classe, todo educador compartilha com o educan-do a importância de agir coletivamente.

O desejo de todo professor envolvido no processo educacional é trabalhar em função do mesmo, visando o conhecimento de sua história, para que, consequente-mente, possa fazer intervenções futuras. Essa ação pode ser classificada Projetos educacionais.

Os projetos ligados à educação têm função trans-formadora e subsidiam a ação pedagógica, fazendo com que o professor realize uma reflexão sobre o cotidiano escolar e como direcionar a prática docente e discente de forma conjunta, fortalecendo assim o sucesso de ambos no sistema de desenvolvimento do conhecimento.

A proposta de trabalhar com projetos é essen-cialmente para proporcionar aos professores e alunos ambientes favoráveis ao ensino e aprendizagem. Por isso a grande importância da elaboração das temáticas em conjunto com os alunos. Ela estimulará os mesmos e fará com que eles sintam-se valorizados, uma vez que

Page 66: Didática

65Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

as suas opiniões foram levadas em consideração, e que servirá de produto fundamental para aprendizagem.

De forma célere22, somos tomados a cada momento

pela evolução e transformação de processo por parte

educacional, essa constante mudança deve também ser

adotada pelos professores. As inovações feitas embasadas em Projetos, sem

sombra de dúvidas, foram um salto para o acompanha-

mento da globalização. Parte das instituições preocupa-

rem-se com a forma de planejamento, mediante a reali-

dade de cada escola. Hoje os projetos são utilizados

para dar forma e conteúdo ao processo de ensino em

sala de aula.

De acordo com a demonstração a seguir, podemos

analisar o ciclo do contexto de introdução de projetos.

O termo Projeto tem sido comumente usado no cotidiano escolar. Esse tópico, assim como outros refe-rentes aos conhecimentos da humanidade, estará em permutação constante.

Diversas são as atividades humanas desenvolvidas através de projetos, assim busca-se uma nova forma de organizar e realizar as atividades desenvolvidas.

22 Ligeiro, rápido.http://www.priberam.pt/dlpo/default.

aspx?pal=célere

Page 67: Didática

Didática66

Tipologia de Projetos na área educacional, e suasdefinições.

Projetos de Intervenção – esses são desenvolvidos

no sistema educacional, promovendo intervenções, no

contexto estudado. Fazendo modificações positivas na

organização e na operação do sistema.

Projetos de Pesquisa – têm como objetivo obter

conhecimentos em torno de algum problema, funda-

mentados em realização experimental.

Projetos de Desenvolvimento – responsáveis pela

elaboração de novos sistemas e atividades. Como por

exemplo, a implantação de disciplinas na grade curricular.

Projetos de ensino – são elaborados dentro de

uma (ou mais) disciplina(s), regido a melhoria do processo

ensino-aprendizagem.

Projetos de Trabalho – são projetos desenvolvidos

por alunos, no contexto escolar, onde o professor orienta,

e tem como finalidade a aprendizagem de definições

e desenvolvimento das competências e habilidades.

Especialmente por serem desenvolvidos pelos próprios

discentes, é um projeto mais comumente empregado,

pois tem uma aplicabilidade onde o conhecimento se

torna parte integrante do projeto, que o aluno aprende

enquanto desenvolve.

Dessa forma, convém ressaltar que Hernandez23 &

Ventura (1998, p.28) dizem que a introdução dos Projetos

de Trabalho nas instituições de ensino pode ser elaborada

como meio de atrelar a teoria com a prática e com a

finalidade de alcançar os seguintes objetivos:

23 Fernando Her-nandez é Doutor em Psicologia e Profes-sor de História da Educação Artística e Psicologia da Arte na Universidade de Barcelona.Segundo a Revista Nova Escola, o autor baseia suas ideias em John Dewey (1859-1952), fi lósofo e pedagogo norte-americano que defendia a relação da escola com a vida e com a sociedade, dos meios com os fi ns e da teoria com a prática.

http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/materias_296380.shtml

Page 68: Didática

67Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

I. Abordar um sentido da globalização24 em que as relações entre as fontes de informação e os procedimentos para compreendê-la e utilizá-la fossem levados adiante pelos alunos e não pelo professor, como acontece nos enfoques interdisciplinares;

II. Introduzir a nova maneira do fazer do professor, na qual o processo de reflexão e interpretação sobre a prática fosse a pauta que permitisse ir tornando significativa a relação entre ensinar e aprender.

III. Gerar uma série de mudanças na organização dos conhecimentos escolares, tomando como ponto de partida as seguintes hipóteses:

a) Na sala de aula é possível trabalhar qualquer tema, o desafio está em abordá-lo com cada grupo de alunos e em especificar o que se pode aprender dele.

b) Cada tema se estabelece como um problema que deve ser resolvido, a partir de uma estru-tura que deve ser desenvolvida e que pode encontrar-se em outros temas ou problemas.

c) A ênfase na relação entre ensino e aprendizagem é, sobretudo, de caráter procedimental e gira em torno do tratamento da informação.

d) O docente ou equipe de professores não são os únicos responsáveis pela atividade que se realiza em sala de aula, mas também o grupo-classe tem um alto nível de implicação, na medida em que todos estão aprendendo e compartilhando o que aprende.

24 A globalização é um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política, que teria sido impulsionado pelo barateamento dos meios de transporte e comunicação dos paí-ses do mundo no fi nal do século XX e início do século XXI. É um fenômeno gerado pela necessidade da dinâ-mica do capitalismo de formar uma aldeia global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados. O processo de Globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. Com isso, gerando a fase da expansão capitalista, onde é possível realizar transações fi nanceiras, expandir seu negócio até então restrito ao seu mercado de atuação para mercados distantes e emergentes, sem necessariamente um investimento alto de capital fi nanceiro, pois a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém, obtém-se como consequência o aumento acirrado da concorrência.

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Didática68

e) Podem ser trabalhados as diferentes possibilida-des e interesses dos alunos em sala de aula, de forma que ninguém fique desconectado e cada um encontre um lugar para sua implicação e participação na aprendizagem.

Percebemos, então, que nessa relação entre a teoria e prática os projetos são fundamentados mais em algo concreto do que em desenvolvimento.

A asserção de Projetos de Trabalho está ligada à previsão do conhecimento globalizado. Quando se articula esses conhecimentos aos escolares, estabele-cem-se formas de organização as atividades no processo de ensino e aprendizagem.

Devemos levar em consideração os benefícios proporcionados pelos projetos, e como os mesmos contribuem para a criação de estratégias no tocante à organização dos conhecimentos escolares em relação à forma que a informação é tratada; à ligação entre os diferentes conteúdos em volta dos problemas e às su-posições que ajudem aos alunos na construção de seus conhecimentos.

Um projeto pode ser constituído pelosseguintes critérios:

• A exposição de conceitos;

• Uma problemática geral ou particular;

• Uma série de perguntas inter-relacionadas;

• Uma temática que busque interesse por parte do aluno, onde se possa trabalhar de forma prazerosa.

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69Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

PARA REFLETIR

Pesquisem nas escolas de sua comunidade quais os projetos aplicados durante o ano letivo.

Será que as escolas aplicam de fato esses projetos? Discutam em grupo as respostas obtidas. Muito embora tenham sido destacados os critérios acima, ao desenvolver um projeto devemos saber que esses são processos contínuos que não devem ser reduzidos a um esquema com objetivos e etapas. Deve-se desenvol-ver uma concepção de conhecimentos como produção em conjunto. O elemento principal para se trabalhar com projetos não é a origem do tema e sim o tratamento que é dado a ele, uma vez que é preciso estimular o trabalho com a intenção de que se torne convidati-vo e interessante para o grupo e não apenas para alguns alunos ou professor. Para tanto, o projeto deve ser considerado como subsídio, como uma ajuda, uma me-todologia de trabalho direcionada a dar vida ao conteúdo, transformando a escola em um ambiente atraente.Contudo, ao desenvolver um projeto de trabalho, os docentes devem saber que algumas etapas de-vem ser seguidas:

A intenção é a primeira delas, a partir da qual o docente estabelece e organiza seus objetivos, visando às neces-sidades do seu alunado para posteriormente problematizar o assunto que será abordado, instigando a curiosidade do aluno para elaboração do projeto.

Preparação e planejamento – nesse processo desenvolve-se o planejamento com as atividades principais, as estra-tégias, o tempo de duração, levantamento do material

?

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Didática70

de pesquisa, e como será a conclusão do estudo do mesmo. Ainda nessa fase, o professor deve elaborar junto aos alunos o diagnóstico do projeto, cuja função é registrar os conhecimentos prévios sobre o tema (o que já sabemos), as curiosidades a respeito do tema (o que queremos saber), e onde pesquisar (como descobrir).

Realização ou desenvolvimento – é nessa etapa que su-cede a realização das atividades planejadas, com a par-ticipação ativa do alunado.

A última etapa é a Análise final – aqui acontece a avaliação dos trabalhos que foram elaborados e desen-volvidos, dando oportunidade ao aluno de expressar os seus conceitos sobre a elaboração do projeto. Construindo, assim, saberes que provocam crescimento, no campo da ação cognitiva e social.

Ao formular um projeto, é fundamental que se tenha propostas de mudança da realidade. Quando os agentes que compõem a escola se propõem à mudança dentro de si, isso significa que esses influenciarão na transfor-mação da realidade global.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

HERNÁNDEZ Fernando; VENTURA, Montserrat. trad. Jussara Haubert Rodrigues. A organização do currículo por projetos de trabalho. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

O livro trata de Planejamento de Trabalhos realizados por professores, relatando os procedimentos relacionados aos tipos de projetos e planos.

Page 72: Didática

71Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

DIEGO, Fernando. Por um projeto educativo de rede. Portugal: Porto Codex, 1994. O livro aborda os diversos tipos de projetos educacionais, ressaltando também sobre o sucesso educativo e cultura escolar. Fala das unidades de ensino básico e exigência de articulação interescolar.

PARA REFLETIR

Levando-se em consideração a importância da elabora-ção de projetos educacionais no desenvolvimento cog-nitivo e social, façam uma reflexão sobre elaboração e desenvolvimento de Projetos educacionais. E como os mesmos consistem numa mudança de postura na prática docente.

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Didática72

2.4 Projeto escolar e curricular

O propósito de se trabalhar com projetos é inten-cionalmente de proporcionar aos discentes uma atmos-fera educacional mais propícia ao saber. Projeto escolar e projeto curricular andam juntos numa parceria que tem como finalidade criar recursos atraentes e possíveis, que propiciem aos alunos o interesse de participar ativamente das aulas.

O trabalho com projetos escolares viabilizam um grande envolvimento na prática do dia a dia, tornando possível a frequente meditação sobre a prática pedagógica, unindo as experiências realizadas com o contexto em que os alunos estão inseridos.

Os temas escolhidos partem das necessidades existentes na realidade dos alunos, tais necessidades, devem ser percebidas pelo professor. Esse tem o papel de intercessor na sala de aula, tornando viável o trabalho por meio de frequentes observações da turma, verificando, assim, o que está provocando o interesse dos mesmos.

“O planejamento desenvolvido

através de projetos pedagógi-

cos, tem por fundamento uma

aprendizagem significativa. Eles

podem se originar de brincadei-

ras, de leitura de livros, de even-

tos culturais, de áreas temáticas

trabalhadas, de necessidades ob-

servadas quanto ao desenvolvi-

mento cognitivo do aluno. Vários

projetos podem se desenvolver ao

mesmo tempo, de tal forma que se

dê a articulação entre o conheci-

mento científico e a realidade es-

pontânea do aluno, promovendo a

cooperação e a interdisciplinaridade

num contexto de jogo, trabalho e

lazer.” (HOFFMANN, 1999, p. 43)

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73Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

Outro fato muito importante que deve ser levado em consideração é a realização do trabalho coletivo, resultando na execução de vários projetos: sociopolítico, educacional escolar e os planos de ensino de cada com-ponente dos currículos.

Fusari (1993, p. 72) sintetiza a necessidade desse encontro de projetos quando se refere à escola como lugar do entrecruzamento do projeto coletivo e político da sociedade com os planos educadores. São eles que viabilizam a possibilidade de as ações pedagógicas tor-narem-se educacionais, na medida em que as impregna das finalidades políticas da cidadania que interessa ao educando.

O projeto escolar é composto de ferramentas educacionais baseadas na relação entre ensino e apren-dizagem. O alicerce desse projeto é favorecer o apren-dizado se utilizando da diversidade e não se baseando nas deficiências do alunado. São atividades de incentivo agregadas à grade curricular que, por sua vez, se compõe dos conteúdos moldados a cada série. A partir do projeto escolar originou-se o projeto curricular.

Projeto curricular são as atividades desenvolvidas de forma interdisciplinar, para incentivar e reviver o conteúdo explanado, ou seja, a teoria virando prática. Essas atividades, também chamadas de atividades extracurriculares, são capazes de mobilizar os alunos de forma intensa, fazendo-os ter mais interesse pela ma-téria. Exemplos desse tipo de projeto são as práticas de incentivo à leitura e os vários tipos de recursos didáticos utilizados em sala de aula.

O projeto curricular designa principalmente a função de preencher os conteúdos relacionando a teoria e a prática educativa na escola.

Partindo de alguns aspectos metodológicos que podem ser acentuados nos currículos gerando ações de totalidade, conservando as características sobre o espírito humano das áreas de conhecimento e das disciplinas,

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Didática74

é interessante propor ideias através do planejamento curricular, no qual o processo pedagógico tenha como princípio:

• Selecionar assuntos e desenvolver objetos de estudos adequados à integração de conhe-cimentos trabalhados nos referentes campos de conhecimento interdisciplinar, fazendo uso de livros didáticos e leituras de publicações de diversos tipos;

• Gerar trabalhos de acordo com a identidade escolar, dos discentes e da região, superando os aspectos sistemáticos e homogêneos contidos nos livros didáticos;

• Considerar a cultura global, fazendo ligação com os procedimentos da cultura local, respeitando os costumes, crenças, hábitos, interesses dos alunos;

• Fazer uso de diversos recursos pedagógicos oferecidos pelas escolas, servindo como ponte de ligação para aprendizagem, possibilitan-do aos alunos conhecer infinitas ferramentas de ensino, bem como os aspectos históricos socioculturais que viabilizam o conhecimento científico;

• Explorar materiais fora do contexto escolar, elaborando projetos operacionais, constituídos de ideias práticas, como: visitas a bibliotecas, cinemas, museus, parques da cidade, expo-sição, como opção de estimular o interesse cultural dos alunos;

• Fazer análises das problemáticas existentes no contexto histórico, econômico, social e político;

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75Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

Quando é desenvolvido um bom projeto curricular nas entidades de ensino, estimula-se o interesse do alunado. Fazendo, no entanto, abordagens a partir de posições de qualidade significativa é preciso esclarecer dúvidas em definições e também na elaboração de situações de aprendizagem.

Como percebemos, o projeto curricular vai além da sala de aula, a essencialidade para a elaboração desse está basicamente no trabalho em conjunto.

O trabalho de melhoria do nosso sistema educa-cional exige atuação em diversas dimensões e deter-minações fundamentadas, concretas e criativas. Numa face, há melhorias nas instituições, no aspecto físico e recursos materiais e humanos, deixando as escolas e organizações educacionais aptas para o desenvolvimento das funções que lhes cabem. Na outra face, existem me-lhorias nas condições de atendimento às novas práticas escolares.

Os projetos escolares e curriculares baseiam-se na busca de novos caminhos reais e concretos, onde todos (sujeitos envolvidos na educação) desempenhem suas tarefas e responsabilidades. Executar um projeto é como se fôssemos fazer uma viagem:

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Didática76

Exemplo prático: Estamos em Aracaju (o que sabemos) e que-remos ir a Maceió (o percurso significa o que vamos aprender). Assim, no ato da viagem teremos que tomar novas decisões. A apren-dizagem se dá durante todo o processo e não envolve somente conteúdos. Desenvol-vemos a capacidade de conviver, discutir, nos posicionar, buscar e avaliar todo o processo.

Os projetos ligados às escolas desenvolvem perspectivas políticas, afetivas e tecnológicas, para que o saber tenha significado de valores humanos. São essas as perspectivas que moldam a realidade, esclarecendo as cores e sabores no âmbito escolar.

A sociedade necessita da ação docente para realização dos seus fins, em contrapartida, os docentes precisam de extensão do seu trabalho para que sua manifestação promova uma mediação mais humanista nos educandos.

Percebemos, enfim, que as temáticas que envolvem tanto os projetos escolares quanto os curriculares não impõem limites para instruírem-se. Esse tipo de trabalho enaltece a construção de conhecimentos.

Faz-se necessário um conhecimento prévio da escola que temos, fazendo uma reflexão coletiva a respeito da escola que queremos e viabilizar meios para vencer a discrepância entre o real comprovado e o real almejado. O registro e a documentação que concretiza esses propósitos sobre a escola é chamado de “Projeto Pedagógico”, que fundamenta a elaboração do “Plano da escola”, pois nesses deverão ser explanados os objetivos gerais e específicos e métodos para o alcance da eficiência.

Percebe-se então que trabalhar embasado nos conhecimentos prévios e experiência dos alunos motiva-os a entender com mais intimidade as complexas relações que existem no mundo. Um projeto nesse aspecto envolve diversos processos cognitivos, desde que relacione fun-damentos da vida em sociedade.

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77Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

TEXTO COMPLEMENTAR

Elaboração do Projeto CurricularDe um modo geral, consideram-se duas posturas extremas em relação aos currículos: uma postura centralizadora e uma descentralizadora. No primeiro caso, temos o currículo completo e acabado, como minúcias de objetivo, contendo matérias didáticas e métodos de ensino; os professores apenas executam o currículo. É o que alguns autores chamam de “mo-delo fechado”. No segundo caso, a responsabilidade na formulação do currículo recai sobre o professor ou equipe de professores, com inteira liberdade. É o “modelo aberto”. No primeiro caso o ensino é idêntico para todos os alunos, enquanto que no “modelo aberto” concede-se grande importância às diferenças individuais e os objetivos são definidos em termos gerais para permitir sucessivas modificações.Optando pelo “modelo aberto”, Cesar Coll propõe concretizar as intenções educativas tendo como fonte (via de acesso) os resultados esperados e os conteúdos (matérias).O Projeto Curricular. Nesse contexto, leva-se em consi-deração a questão da ajuda pedagógica que o professor pode dar ao aluno, o que leva a formular uma série de princípios relativos à maneira de ministrar o ensino. Tais princípios, incluindo no Projeto Curricular, devem considerar:

- as características individuais dos alunos.

- as características individuais estão sujeitas à evolução.

- o que o aluno é capaz de aprender depende, sobretudo, da ajuda pedagógica.

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Didática78

- a verdadeira individualização consiste em ajustar o tipo de ajuda pedagógica às características e necessidades dos alunos.

- O Projeto Curricular deve incluir critérios gerais e exem-plificá-los, mas não deve recomendar um método de ensino determinado.

Fonte: http://www.maxpagesplus.com/elias/Uma_nova_proposta_curricular

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

BARBIER, Jean-Marie. Trad. Isabel Mota. Elaboração de projetos de ação e planificação. Porto Codex – Portugal: Porto editora, 1993.

O livro desenvolve ideias em torno da elaboração de projetos educacionais, bem como etapas para elaboração do mesmo. Conceitua Projetos, elucidando objetivos que devem ser explanados, na hipótese de que esse é o meio mais direto de chegar aos resultados previstos e desejados.

GANDIN, Danilo; GANDIN, Luiz Armando. Temas para um projeto político-pedagógico. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

Esse livro situa duas vertentes que englobam as tomadas de decisões importantes, que afetam a vida de todos, sendo que essas são tomadas pela minoria. Traz ideias que ajudam a compreender a pluralidade existente em nossa sociedade e propõe teoria e doutrina pra enfrentar as diferenças e conviver com elas. Esclarece processos que se constituem em ferramentas para que grupos possam realizar seus projetos políticos pedagógicos

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79Tema 2 | Planejamentos e Projetos Educacionais

PARA REFLETIR Nesse momento, reflitam sobre a importância de se tra-balhar projetos nas escolas e salas de aula. O ponto de partida para tal é a proposta: Em vez de abrir o caminho para os alunos, explorar a trilha junto com eles. Comente no fórum do AVA com os seus colegas sobre essa passagem.

RESUMO Após estudarmos esse tema podemos perceber quão im-portantes são os planejamentos na vida do ser humano, e que esses são processos mentais que supõem análises, reflexões e previsões. Destacando a importância do traba-lho planejado que: evita a improvisação, ajuda a prever e superar dificuldades. O plano é o resultado do planeja-mento. Destacamos também as características que envol-vem os projetos educacionais, constituídos de coerência, continuidade e sequência, flexibilidade, objetividade e funcionalidade. Didaticamente falando, planejar é prever os conhecimentos a serem trabalhados e organizados nas atividades e experiências de ensino/aprendizagem.

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PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM: OS SUJEITOS DO PROCESSO

Parte 2

Page 83: Didática
Page 84: Didática

Plano Ensino e suas Especificidades3

Começaremos aqui mais um tema e espero que os temas anteriores tenham ajudado a esclarecer dúvidas sobre as diferenças existentes entre educação, instrução e ensino, a importância da didática no contexto educativo evidenciando contribuições para o desenvolvimento significativo no âmbito educacional e sua evolução histórica até os dias atuais. Aprendemos também que é preciso que o professor se fundamente em planejamento e que este seja uma linha de direcionamento na sua conduta em sala de aula.

Nesse momento destacaremos a importância do planejamento de ensino no processo de ensino-aprendizagem e, também, os objetivos educacionais, proporcionando ao professor diretrizes fundamentais para atingir os resultados previstos. Juntamente a esses objetivos, colocaremos em foco os conteúdos curriculares e as metodologias de ensino como ponte para direcionar métodos de ensino viabilizando uma assimilação da realidade.

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Didática84

3.1 Planejamento de ensino: plano de curso, plano de unidade e plano de aula

No cotidiano enfrentamos diversas situações que exigem planejamento, muito embora esses nem sempre sejam formalizados. Neste contexto, considerando que vivemos constantes descobertas e que a realidade se torna mais complexa a cada dia, deparamo-nos cada vez mais com a necessidade crescente de sistematização do pensamento e de manifestação, para poder alcançar ou alterar os objetivos quando for preciso.

Assim, como pudemos ver na ilustração, planejar é prever as alternativas de ação para ultrapassar as difi-culdades ou conseguir os objetivos almejados. Assim, o planejamento é um segmento intelectual que envolve discernimento25, compreensão e julgamento da realidade.

25 s. m.1. Faculdade de discernir.2. Critério.3. Juízo.4. Escolha.5. Distinção.6. Apreciação.

http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx

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85Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

É em função do conceito apresentado acima que no contexto educacional o ato de planejar é importante. Neste sentido, o planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coorde-nação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. Assim, o planejamento é um meio para se pro-gramar as ações docentes, mas também um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado à avaliação (LIBÂNEO, 1994, p. 221).

Assim, sabendo que o ato de planejar é constituí-do de procedimentos que envolvem critérios intelectuais como analisar, refletir, organizar e praticar, é interessante ressaltar que o plano é um instrumento para ser tomado como base para a realização de atividades em sala de aula, uma vez que através dele o professor busca caminhos para a realização de sua prática26 docente.

Com o conceito e a importância do planejamento reavivados em nossa memória, antes de seguirmos em frente nos nossos estudos, é importante ainda reforçarmos o conceito sobre planejamento de ensino que foi explanado no Tema II, conteúdo 2.2. Assim sendo, destacamos que esse tipo de planejamento é o que mais diretamente está unido ao ensino, buscando concretizá-lo de forma objetiva. Representa um trabalho de reflexão sobre o modo como direcionar o ensino para que o educando de fato alcance os objetivos da educação.

Desta forma, o planejamento de ensino serve como direcionamento das ações e métodos que o professor realizará em conjunto com seus alunos. Ele é, na verdade, a especificação do planejamento do currículo. Resume-se, então, de forma mais concreta e funcional no que o docente utilizará na sala de aula para levar os alunos a atingirem os objetivos educacionais pre-viamente estabelecidos.

26 Para saber mais sobre Prática Docente, você pode ler o livro de FREIRE, Paulo. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.

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Didática86

Analisemos as etapas relacionadas ao planejamentode ensino:

• Conhecer a realidade do seu aluno, dando ên-fase aos seus anseios e necessidades educa-cionais;

• Determinar os objetivos para direcionar o tra-balho do professor, tendo em vista a aprendi-zagem do aluno;

• Organização dos procedimentos do professor. Essa metodologia dará vida aos objetivos tra-çados de uma aula ou de um conjunto de aulas;

• Execução do plano de ensino. Essa é a fase de assimilação, consiste no desenvolvimento das ati-vidades que antes já foram estabelecidas, buscan-do o máximo de compreensão do alunado;

• Desenvolver as etapas de avaliação mais ade-quadas aos objetivos lançados pelo professor.

Visualizaremos de forma esquematizada todo pro-cedimento do plano de ensino.

A partir disso podemos perceber o quanto é im-

portante o planejamento de ensino na vida profissional

do professor, pois é através dele que o docente pla-

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87Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

neja as etapas de suas aulas e consegue evitar alguns

contratempos que poderiam eventualmente prejudicar o

aprendizado do aluno.

Agora que você já conhece os procedimentos

do planejamento de ensino, quais as vanta-

gens que ele proporciona para o professor e

para o aluno?

Podemos concluir, então, que o planejamento de

ensino engloba uma série de procedimentos elaborados

para aperfeiçoar o trabalho do professor em sala de

aula, possibilitando a ele uma ação docente repensada,

onde será possível, para ambas as partes: docentes e

discentes, um melhor aproveitamento da matéria, além

de um melhor desempenho do aluno e do uso de técnicas

mais direcionadas pelo professor.No planejamento de ensino existem três tipos de

planos, que mudam de acordo com o âmbito e a exigência. Estudaremos nesse momento essas três modalidades:

• Plano de curso;• Plano de unidade;• Plano de aula. Plano de curso

O plano de curso é um pré-estabelecimento das atividades que serão desenvolvidas em classe, que serve como referência nas realizações do ensino-aprendizagem. Ele define-se também como um instrumento de trabalho a ser executado enquanto durar o curso, seja este bimestral, semestral ou anual. Assim, o planejamento de curso é uma previsão de todo o trabalho a ser realizado em um determinado período de tempo.

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Didática88

O plano de curso caracteriza-se de modo geralpela seguinte sistemática:

• Possibilitar ao professor o conhecimento prévio da realidade de sua clientela (aluno), gerando oportunidades de adequação dos conteúdos previamente estabelecidos;

• Definir objetivos que permitam uma melhor interação da aprendizagem;

• Tomar como base a execução de cada objetivo e, nas metodologias detalhadas para o seu fim, adequar as capacidades e potencialidades dos alunos;

• Oferecer objetivos gerais e determinar os específicos a serem alcançados no período letivo estabelecido;

• Manter uma ligação intima com o plano curricular, assegurando conexão nas ações das escolas;

• Permitir uma ação conjunta dos agentes in-teressados na sua organização, facilitando o alcance dos objetivos traçados pelo professor;

• Eleger e definir os métodos de avaliação mais lógicos com os objetivos definidos e os conteúdos que serão desenvolvidos.

Não existe uma forma padronizada a ser seguida na formulação dos planos. Entretanto, no plano de curso os processos devem ser organizados em uma ordem que garanta uma sucessão coerente no processo de ensino-aprendizagem.

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89Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

Plano de Unidade

Como vimos anteriormente, o pla-nejamento tende a precaver27 eventuais erros do professor, dando maior segurança na execução dos objetivos previstos. Este contexto plano de unidade consiste basi-camente em especificar o planejamento de curso, ordenando-o em partes.

Segundo Claudino Piletti (2007, p.71) o plano de ensino divide-se em três etapas:

Apresentação – Busca-se nessa fase reconhecer e estimular o desejo de aprender dos alunos, valorizando o conhecimento prévio de cada um, e adequá-los aos conteúdos da unidade. Contudo, é necessário que o professor desenvolva os seguintes procedimentos: pré-teste para sondar as experiências e conhecimentos dos alunos; conversação com a classe; exposição de material alusivo para introdução dos assuntos.

Desenvolvimento – Nessa etapa o docente sistematiza e explana situações de ensino-aprendizagem, buscando a participação ativa do aluno, de forma a alcançar os objetivos específicos propostos. O professor nessa etapa poderá proceder da seguinte forma: resolução de problemas, projetos, estudo dirigido, trabalhos em grupo.

Integração – Através dessa etapa os alunos poderão chegar a uma análise dos conteúdos estudados na unidade. Para a realização da integração, desenvolve-se a seguinte atividade: organização de resumos, possi-bilitando a síntese das situações mais importantes da unidade.

27 1. Acautelar; prevenir.v. pron.2. Acautelar-se.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.

aspx?pal=precaver

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Didática90

Plano de aula

O plano de aula28 é uma extensão detalhada do plano de ensino. Nesse momento colocam-se em prática os procedimentos diários que foram previstos anterior-mente. A preparação da aula é algo inerente ao trabalho do professor, bem como o plano de curso e de unidade. Esse deve resultar num trabalho escrito e sistematizado, não somente para facilitar as orientações do professor, mas também para aperfeiçoamento e melhoramento das atividades do docente de ano para ano.

Ao planejar uma aula o professor deverá levar emconsideração os seguintes aspectos:

• Saber que a aula é um período de tempo variável;

• Identificar o assunto que será abordado, tendo consciência que raramente comple-tamos em apenas uma aula o progresso de uma unidade. Isso porque o procedimento de ensino é qualificado por uma continuidade de fases tais como: estabilidade, exercícios, recapitulação, sistematização, aplicabilidade e avaliação;

• Concretizar os objetivos propostos, não esque-cendo que, ao iniciar cada tópico, deve-se seguir a sequência após o que foi finalizado. É fundamental assim, levar em consideração o nível intelectual de cada aluno;

• Seguir uma sequência lógica, demonstrando organização e clareza das ideias em torno do conteúdo abordado, possibilitando uma melhor compreensão do assunto;

28 Para saber mais sobre o assunto, você poderá consultar o livro de CAPPELLETI, Isabel Franchi. Planejamento de ensino. Escola, (5), abril. 1972.

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91Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

• Esboçar recursos (cartazes, mapas, jornais, revistas e recursos áudio-visuais). Fazendo uso desses materiais o professor desperta no aluno mais interesse pelo assunto, estimulando-o para a participação ativa nas aulas;

• Indicar os processos metodológicos, destacando aulas com fins específicos: aula expositiva, aula de discussão ou trabalho em grupo, aula de estudo dirigido, aula de exercício e aula de verificação para avaliação.

No entanto, apesar da comprovada necessidade do planejamento de cada etapa do processo de ensino, não devemos encarar a educação como um processo inalterável ou acabado, muito menos o ensino. Com base nesta afirmação reforçamos que, para manter uma qualidade na aula e êxito no processo de ensino-apren-dizagem, o plano em ação deverá ser alterado e revisto quando os resultados não forem tão satisfatórios. A flexibilidade do plano de aula faz parte do roteiro de adaptações, indispensáveis ao professor.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

MARTINEZ, Maria Josefina; LAHORE, Carlos E. Oliveira. Planejamento escolar. MEC/ Saraiva. 1977. Retrata os tipos de Planejamento da Educação em Ge-ral, frisando a escola como instituição social. O livro ressalta também o processo de planejamento ao nível das escolas.

ANTUNES, M. E. D.A et. al. Alternativas do Ensino de Didática. Campinas, SP: Papirus, 1997.

A obra traz relatos sobre como educadores têm lutado para entender por que alguns alunos não se desenvol-

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Didática92

vem na sala de aula, onde predomina o ensino tradicional, enfatizando problemas no ambiente escolar e no ensino, oferecendo recursos metodológicos de como resolver esses problemas.

PARA REFLETIR

Após o estudo do tema, verificamos o quanto é importante para o educador um planejamento de ensino para explanação e realização de suas práticas pedagógicas. Embasado nisso, descreva a importância político-pedagógica do Planejamento de ensino.Discuta com os seus colegas, no fórum do AVA, sobre a importância do planejamento em nosso dia a dia, e como esse processo forma instrumentos que possibilitam a superação das práticas constantes no nosso convívio em sociedade.

3.2 Objetivos de ensino

Vimos nos conteúdos anteriores métodos e técnicas que organizam o sistema de ensino, onde fizemos uma análise através dos conceitos explícitos sobre os tipos de planejamentos e os aspectos formadores da didática como fundamento da orientação docente. Neste conteúdo estudaremos minuciosamente componentes ligados ao processo de ensino e os componentes relacionados aos objetivos-conteúdos.

O ser humano vive em constantes buscas, e são impulsionados a descobrir caminhos e praticar ações para que essas possam sanar nossas necessidades, anseios e desejos. Mas, em paralelo à ação humana, é

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93Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

fundamental a importância dos objetivos traçados para alcançar determinados fins.

Essas ações e objetivos que cercam o ser humano, também estão introduzidos no contexto escolar. Os objetivos proporcionam estimativas do desenvolvi-mento esperado por parte do educador e educando, fazendo com que, a partir dessas estimativas, o professor busque fundamentos essenciais para a assimilação da aprendizagem.

O professor precisa ter consciência ao definir o aluno que ele quer formar, tomar uma posição ideológica29 para que suas ações possam ser fundamentadas em uma personalidade, que deve ser compreendida e inclinada para os objetivos que são construídos com fins no desenvolvimento do alunado.

Assim, como educadores, é fundamental termos clareza dos objetivos almejados. Contudo, isso não quer dizer que a princípio esse seja o único caminho a ser percorrido para atingir o aperfeiçoamento do ensino, pois esse percurso vai sendo reformulado com as utopias30 educacionais, desenvolvendo assim caminhos valiosos no procedimento de ensino. Neste sentido, havendo necessidades de reformulação e reconstrução das técnicas, o professor deverá se adequar e acompanhar essas mudanças, sem perder o foco principal, que é a melhoria contínua do processo ensino-aprendizagem.

29 Ideologia é um termo que possui diferentes signifi cados e duas concepções: a neutra e a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário (em portu-guês), contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas não por meio da força física) de forma prescritiva, alienan-do a consciência humana.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ideologia

30 O termo utopia signifi ca algo que está somente em pensamento, que ainda não foi posto em prática.

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Utopia

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Didática94

Esse processo de reestruturação do ensino está ro-deado de muitos outros elementos que envolvem as-pectos políticos, sociais, econômicos e até culturais, não partindo somente do âmbito escolar. Existem grandes pro-blemas que permeiam esse processo, além de uma grande parcela de falta de contribuição estrutural em volta da edu-cação, no entanto, isso não significa que devemos cruzar os braços e deixar que esses problemas se dimensionem sem fazermos nada para que sejam resolvidos.

Como vamos mudar esse quadro de proble-mas, uma vez que estes são grandes e estru-turais? O que é preciso mudar, afinal?

Partindo dos pressupostos que os problemas em torno da educação também são um problema social, que a sociedade tomou consciência que ela tem o poder de mudar tais questões, bem como que os professores têm participação ativa nesse processo, não apenas como executor, mas principalmente, como observador das necessidades, fica claro que quando todos estão envolvidos, a probabilidade de o objetivo ser alcançado é maior. Isso faz com que haja um melhoramento na finalidade do processo educacional.

O professor, partindo da análise de que o conhe-cimento do sistema social conduz ao sistema educacional e fazendo um elo entre esses dois sistemas, está contribuindo bastante para o alcance dos objetivos do sistema educacional, levando em conta as propostas que devem ser mantidas e as que serão reformuladas em sua prática em sala de aula.

Mediante essas afirmações podemos concluir que, assim como a estrutura educacional direciona seus fundamentos de acordo com as necessidades que a sociedade demanda, é importante falar que os objetivos educacionais direcionam propósitos com a finalidade de capacitar as pessoas para a transformação social.

Page 96: Didática

95Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

A educação como processo vivo e

dinâmico, cresce na qualidade do

serviço que presta e à medida em

que vive no dia-a-dia o íntimo e

indissolúvel31 relação entre téc-

nica e prática. (VEIGA, 2006, p. 67)

À medida que o professor traça seus objetivos, reformulando-os de acordo com as eventuais necessidades, e fazendo uma autoavaliação sobre seus resultados, ele mantém conexão entre a técnica e a prática, expondo com precisão os objetivos educacionais e adquirindo mais segurança para a sua prática docente. Isso direciona as atividades escolares e a utilização dos meios necessários para a obtenção de resultados satisfatórios.

Assim, podemos perceber que é fundamental que o educador saiba que os objetivos educacionais são de suma importância para o trabalho em sala de aula, determinando com precisão definições claras e diretas no plano escolar ou na produção e execução das aulas.

Vamos estudar agora os dois níveis de objetivoseducacionais:

• Objetivo geral – proporciona uma visão mais ampla do âmbito escolar e de ensino, atendendo as imposições do meio social e as potencialidades desenvolvidas pelo alunado.

Para que possamos entender de forma mais clara sobre objetivos gerais, é imprescindível que o professor tenha conhecimento dos planejamentos da escola e conheça os objetivos correlacionados do sistema da mesma, tanto no âmbito educativo, relacionados aos valores e ideias, como na organização curricular, que rege os programas essenciais das matérias.

31 adj. 2 gén.Que não se pode dissolver ou desfazer.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.spx?pal=indissolúvel

Page 97: Didática

Didática96

[...] esse caminho é necessário não

apenas porque o trabalho escolar

está vinculado a diretrizes nacionais,

estaduais e municipais de ensino,

mas também porque precisamos

saber que concepções de homem

e sociedade caracterizam os docu-

mentos oficiais, uma vez que ex-

pressam os interesses dominantes

dos que controlam os órgãos

públicos. (LIBÂNEO, 2004, p. 123)

Assim, para Libâneo (1994, p. 120), os objetivos gerais devem seguir uma linha de conceitos e experiên-cias embasados nos programas oficiais. Contudo, o pro-fessor deverá reformulá-lo de acordo com os aspectos socioculturais e políticos, criando uma relação com as condições locais onde a escola está inserida.

PARA REFLETIR

Os objetivos selecionados e desenvolvidos nas escolas da sua comunidade são transmitidos e transformados em função de alguns interesses e poderes existentes na sociedade nas quais estão inseridos?

Dito isto, vejamos a seguir alguns objetivos educacionais gerais que posteriormente ajudarão o professor a elaborar objetivos específicos e conteúdos de ensino.

Page 98: Didática

97Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

OBJETIVOS GERAIS

1º OBJETIVO Colocar a educação escolar no conjunto das lutas pela democratização da sociedade que consiste na conquista cultural dos alunos, fazendo com que eles se percebam como sujeitos ativos nas lutas presentes

2º OBJETIVO Funda-se em assegurar educação a todas as crianças, sem distinção de cor, raça, religião ou sexo.

3º OBJETIVO Consiste em dar a todas as crianças acompanha-mento no desenvolvimento das suas potencialidades, ajudando a vencer as barreiras impostas pelas condições socioeconômicas.

4º OBJETIVO Desenvolver nos alunos habilidades, senso crítico e criatividades através das matérias, para que esses possam utilizar esses conhecimentos nos processos teóricos e práticos.

5º OBJETIVO Procura viabilizar as funções educativas do ensino, enfa-tizando o trabalho coletivo.

6º OBJETIVO Trata da relação dos agentes envolvidos na instituição escolar, do comprometimento profissional de todos que fazem parte da escola: diretor, coordenador pedagógico, professores, funcionários, alunos e pais de alunos.

Fonte: Libâneo (2004, p. 124)

Outro aspecto importante sobre o Objetivo Geral

é que, quando nos referimos a ele, esperamos alcançar

resultados em longo prazo, por meio da articulação das

ideias gerais que temos (nosso conceito de educação),

com o desenvolvimento de atividades planejadas.

Nesse sentido, tendo como base a visão dos

aspectos correlacionados ao trabalho escolar, condizentes ao programa nacional de ensino, o professor está apto a desenvolver os objetivos educacionais especíificos que serão aplicados em sala de aula.

Page 99: Didática

Didática98

• Objetivo Específico – se caracteriza pelo desmem-bramento do objetivo geral, especificando com detalhes os objetivos educacionais. Singulariza as especificidades em torno das relações existes entre escola e sociedade.

Tal objetivo expressa as expectativas que são cria-das por parte do professor em relação à aprendizagem do aluno e conduz o trabalho docente subsidiando a seleção de conteúdos, a metodologia a ser utilizada e os procedimento avaliativos.

Ao formular os objetivos específicos, o professor não deverá perder a essência do objetivo geral, levando em consideração os aspectos da escola, da turma e dos conteúdos. Como já foi ressaltado, o objetivo geral segue diretrizes de forma mais extensa, já os objetivos específicos são mais diretos obtendo resultados gradativos no ensino-aprendizagem.

A elaboração dos objetivos específicos ajuda oprofessor a:

• Organizar os conteúdos a serem explanados, executando os conhecimentos e definições a serem assimilados pelos alunos, de modo que esses possam ser aplicados de forma prática em suas vidas;

• Estabelecer uma relação lógica entre os conceitos

e habilidades, para que o aluno construa um

conhecimento embasado numa compreensão

de forma organizada;

• Manifestar os objetivos de forma clara e

sucinta, para que os alunos nos agreguem ao

ensino, tornando-os objetivos também seus;

• Equilibrar o grau de dificuldades, passando

Page 100: Didática

99Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

questões desafiadoras e situações-problemas

de forma que os discentes sejam incentivados

a desenvolver o raciocínio com precisão;

• Estruturar estratégias de avaliação, de modo

a fazer uma autoavaliação do seu trabalho

docente, bem como da aprendizagem dos

alunos.

Para uma melhor compreensão, analisaremos o

panorama que dinamiza as características dos objetivos

educacionais vistos neste conteúdo.

Page 101: Didática

Didática100

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para saber mais sobre Objetivos educacionais, leia o texto: “Outros objetivos para o dia-a-dia”. No capítulo 4 (p. 70-73) do livro de HAYDT, Regina C. Cazaux. Curso de Didática Geral. 17. ed. São Paulo-SP: Ática, 2006.O livro trata das concepções sobre a Didática, a educação e o ensino de modo que esses fazem parte de um contexto social, e como esse contexto é dinâmico. Relata preparações para o magistério e também para professores que já se encontram em exercício

CANDAU, Vera Maria. Reinventar a Escola. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

Candau expõe na sua obra o descontentamento com o papel social e a inadequação dos resultados obtidos pela escola, fragmentando o atual paradigma da es-colarização. Na obra destaca alguns eixos - a relação entre escola e cultura, a formação e a construção da cidadania ativa.

PARA REFLETIR

Diante do assunto exposto e da notoriedade da im-portância da sociedade na evolução do processo edu-cacional faça uma relação sobre como você, enquanto cidadão e enquanto professor, poderá contribuir para este processo.

Page 102: Didática

101Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

3.3 A organização dos conteúdos curriculares na estrutura escolar

Nesse tópico, vamos evidenciar a organização dos conteúdos curriculares e a importância que esses desempenham no âmbito educacional.

A escolha dos conteúdos feita pelo professor prevê algumas capacidades que devem ser desenvolvidas pelos alunos ao término de cada etapa escolar. Além disso, o docente deve selecionar conteúdos específicos nas mais diferentes áreas do conhecimento, que se moldem às peculiaridades do aluno, e sejam adquiridos com maior facilidade.

Mesmo tendo uma ligação direta com o desen-volvimento das capacidades, os conteúdos devem ser escolhidos no currículo em função da sua importância cultural.

É através dos conteúdos e das experiências de aprendizagens que são vividas na escola e na sala de aula de forma sistemática que os alunos adquirem conhecimentos e costumes, que são colocados em prática no ambiente fora da escola, à exemplo da própria casa do aluno, formando assim valores julgados como fundamentais na formação do indivíduo.

É preciso destacar ainda que a realização da seleção e organização dos processos ligados às atividades escolares são promovidas pelo docente, visando uma aprendizagem satisfatória do seu aluno. Com isso, assinalamos que o ensino específico na escola, cuja aprendizagem é o objetivo principal, é fundamentado na relação didática existente entre objetivos e conteúdos, visando uma assimilação de conhecimentos e, conse-quentemente, a obtenção do aprendizado do aluno.

Mediante essas afirmações sobre aprendizagemescolar, você já sabe o que é conteúdo?

Page 103: Didática

Didática102

Certamente alguns de vocês responderão que

conteúdo é algo sistematizado, com esquemas relacio-

nados a matérias específicas, ou seja, que são informações

passadas pelo livro, são os conhecimentos de cada

matéria do currículo que se transmite ao aluno. Confesso

que essa resposta de fato não está totalmente errada.

Mas na verdade, existem no ensino três componentes: a

matéria, o professor e o aluno. O conteúdo é visto pela

maioria dos professores como um sistema sequencial

e acabado, mas não analisam o quão importante é o

movimento de “vai e volta” entre os conteúdos, ou seja,

não trocam informações de forma mútua.

Por isso Libâneo (2004) afirma que, por causa

dessa falta de ligação entre um conteúdo e outro, o

ensino é visto de forma mecânica: o professor passa o

assunto, em seguida o aluno descreve e repete o que

foi passado, de forma automática resolve os exercícios

e, por conseguinte faz as provas, depois o ciclo volta a

acontecer.

Para compreendermos melhor esse entendimento,

em função do ensino mecanizado, vejamos os pontos que devem ser levados em consideração.

O primeiro ponto para entendermos essa visão é que os conteúdos são vistos como estáticos, sem vida, prontos e acabados, não oferecendo ao aluno chances de conhecer seu verdadeiro significado. O segundo é

Page 104: Didática

103Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

que não oferecem ferramentas suficientes para o desen-volvimento mental dos alunos, tirando as chances destes desenvolverem os seus conhecimentos. O terceiro e último ponto é que os conteúdos são vistos como dissociados das condições sociais e culturais, não respeitando a individualidade do aluno.

Como foi enfatizado anteriormente, a função da escolaridade é de contribuir com a socialização dos alunos, no entanto, a importância de alguns conteúdos para o entendimento da realidade em que os mesmos se desenvolvem é, sem sombra de dúvida, um pon-to fundamental para que o indivíduo possa chegar a entender aquelas aprendizagens essenciais para o seu autodesenvolvimento com plenos direitos e deveres.

Diante disto, podemos entender que conteúdo é:

[...] tudo aquilo que é passível

de integrar um programa edu-

cativo com vistas à formação

das novas gerações. Um con-

teúdo pode referir-se a conheci-

mentos, atitudes, habilidades e

hábitos. (GARCIA, 1976, p.161).

Assim, os conteúdos podem revelar fatos sociais, conhecimentos e modos de ação, convertendo-se em ferramentas essenciais para assimilar, compreender e defrontar as exigências teóricas e práticas da vida em sociedade.

A essência dos conteúdos e a estrutura e a forma de organização através das quais eles são passados podem facilitar ou não a efetivação da aprendizagem por parte dos alunos.

Isto posto, passamos para outra questão funda-mental acerca do conteúdo: que tipo de conhecimento os alunos devem aprender?

Page 105: Didática

Didática104

Quando nós fazemos essa pergunta estamos abrindo um vasto leque de habilidades a serem desen-volvidas pelo professor, pois a escolha de conceitos a serem transmitidos aos alunos pode ajudá-los a desen-volver ou não as suas capacidades cognitivas.

[...] quando refletimos o que o alu-

no deve entender de fato, somos

levados a entender que na geração

do conhecimento científico, assim

como nos encontramos, embasados

culturalmente, há diferentes aspec-

tos que o aluno tem que descobrir

nos processos de aprendizagem

(MARCHESI; MARTIN, 2003, p. 219)

Entretanto, além de trabalhar conteúdos formaliza-dos, o docente deve levar em consideração os conhecimentos prévios que os alunos trazem dos seus costumes e habilida-des, para que se concretizem futuras aprendizagens.

Assim, não basta a escolha e organização dos conteúdos para transmiti-los, o professor deve ainda ter conhecimento e sensibilidade de que os conteúdos devem introduzir práticas do dia a dia do alunado, para deixá-los mais convidativos, cheios de vida, fazendo com que possam ser assimilados de forma eficaz e consciente.

Entretanto, ainda dentro do contexto das definições

Page 106: Didática

105Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

dos conteúdos há mais um aspecto a ser considerado. No tema II, falamos sobre objetivos da educação e a impor-tância de traçá-los para se ter um direcionamento no ensino e êxito nos resultados da aprendizagem. Mas o papel dos objetivos não se encerra aí. Além disso, eles devem dar também uma direção aos conteúdos. Com isso, conteúdos deixam de ter finalidade em si mesmos para se tornarem ferramentas para alcançar a materialização dos resultados visados pelo processo de aprendizagem.

Fazendo uma análise prévia sobre as diretrizes dos conteúdos, conclui-se que estes se tratam de infor-mações em forma de conjunto de princípios e organizados de forma dinâmica, de forma a manter uma relação en-tre as experiências escolares. Assim, torna-se imprescindível ter consciência de que os conteúdos de ensino funda-mentam-se na transmissão de conhecimentos formais, conceitos e informações necessárias para a vida aca-dêmica, bem como para o desenvolvimento de valores, habilidades e costumes.

Vejamos agora algumas sugestões apontadas por Delval (2001, p.115) sobre o que os conteúdos de ensino devem abranger.

• O universo, seja no aspecto físico ou no social;

• As relações sobre os seres humanos. Aprender a conviver com os demais, a cooperar, a compar-tilhar com eles suas satisfações e problemas, a respeitar regras de convivência, as regras mo-rais. Deve-se prestar atenção aos valores, aos costumes, às regras e à cultura da comunidade;

• Em relação à vida social, deve-se aprender sobre as instituições, sobre organização social.32 O próprio homem pode transformar-se em um objeto de estudo apaixonante, visto da perspectiva antropológica, considerando as diferentes culturas e os costumes;

32 é o conjunto de relações entre membros de um grupo, entre grupos ou entre pessoas e grupos.Uma sociedade não tem condições de sobreviver se não apresentar uma certa organização e relacionamento entre seus membros. Para que exista sociedade são ne-cessárias interações conscientes entre os indivíduos que a formam. Sem organização, o homem não conse-guirá, de maneira ideal, alimentação, vestimenta, moradia, enfi m, realizar com plenitude todas as suas potencialidades.

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Organização_Social

Page 107: Didática

Didática106

• A tecnologia pode ser um objeto de estudo de grande valor educativo. As máquinas, seus princípios, seu funcionamento, sua história, sua relação com a sociedade. Os processos industriais de fabricação, as propriedades das coisas, etc.

• A história do homem apresenta um grande interesse quando pode ser vista de uma perspectiva suficientemente ampla capaz de fazer uma integração de diferentes fatos. Deve ser naturalmente uma história das culturas, da satisfação das necessidades, dos movi-mentos sociais, das mentalidades.

Esses preceitos são funcionais e devem ser vistos como fundamentais ao bom funcionamento do ensino e da aprendizagem.

Existem, na verdade, três vertentes as quais a abrangência dos conteúdos deve atingir para concretizar o ensino: conhecimento, habilidade e capacidades. Conhecimento é o alicerce do conteúdo, habilidade é uma qualidade necessária para o desenvolvimento das intelectualidades e capacidades faz referência ao modo do aluno agir perante os trabalhos na vida social.

Podemos então afirmar que os objetos dos con-teúdos de ensino estão ligados intimamente. Assim, de-senvolver habilidades e capacidade se torna impossível sem o conhecimento por outro lado, uma boa base de conhecimentos, torna o indivíduo mais hábil e capaz.

Contudo, o futuro educador não deve se assustar ao elaborar os conteúdos de ensino, esses objetos andam sempre juntos, o que facilita a sequencialidade dos mesmos, tornando a formação do conteúdo um sistema automático. O mais importante a ressalvar, porém, é que o bom professor terá que ter um conheci-mento sólido da matéria e das técnicas de ensino. Dessa

Page 108: Didática

107Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

forma, com certeza irá atingir um bom desempenho na aprendizagem do aluno.

Neste sentido fica claro que é indispensável, por parte do professor, o conhecimento das esferas do mundo no contexto científico, pois é a partir desta perspectiva que ele será capaz de fazer com que os conteúdos de ensino sejam ampliados para os conhecimentos das no-vas gerações. Dessa forma, os alunos poderão assimilá-los de forma a condensar suas compreensões da realidade, e a se preparar culturalmente para o exercício pleno da sua cidadania.

Além disso, destacamos que é necessário que o docente desenvolva também uma elaboração de conteúdos buscando uma visão futurista, de forma a contribuir para a construção e transformação de uma sociedade pluralizada.

Acompanharemos agora alguns critérios de seleção dos conteúdos no ponto de vista de Libâneo (1994, p. 142 ):

Forma ordenada de critérios de seleção de conteúdos

Correspondência entre objetivos gerais e conteúdos

Os conteúdos devem expressar ob-jetivos sociais e pedagógicos da escola pública sistematizados na formação cultural e científica para todos.

Caráter científico

Os conhecimentos que fazem par-te dos conteúdos refletem os fatos, conceitos, ideias, métodos decor-rentes da ciência moderna. Trata-se de selecionar as bases das ciências, transformadas em objetos de ensino necessários à educação geral.

Caráter sistemático

O programa de ensino deve ser de-lineado em conhecimentos sistemati-zados e não em temas genéricos e esparsos, sem ligação entre si.

Page 109: Didática

Didática108

Relevância social

Esse critério corresponde à ligação entre saber sistematizado e a ex-periência prática, devendo os con-teúdos refletir objetivos esperados em relação à sua participação na vida social.

Acessibilidade e solidez

Acessibilidade significa compatibi-lizar os conteúdos com o nível de preparo e desenvolvimento mental dos alunos. Organizado sem perder o caráter científico e sistematizado, assim torna a assimilação mais sóli-da e duradoura.

Para tanto é bom salientar que ao escolher os con-teúdos, a forma de organizar e definir seus conceitos de-pende muito da visão de mundo do docente de como essa escolha influenciará nas projeções de ensino para o futuro.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para aprofundar-se mais sobre o assunto, leia o livro: Qualidade do ensino em tempos de mudança.

MARCHESI, Álvaro; MARTIN, Elena; Trad. Fátima Murad. – Qualidade do ensino em tempos de mudança. Porto Alegre: Artmed, 2003.

O livro relata a qualidade de ensino fazendo um apanha-do geral sobre as mudanças econômicas e sociais nas ultimas décadas. Faz paralelos entre os indicadores da qualidade de educação, chegando até os conceitos de equidades em educação. Além de traduzir, em palavras carregadas de sapiência, sobre os professores, autonomia, direção e publicação.

Page 110: Didática

109Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

NÉRICI, Giuseppe Imídeo. Atividade Extraclasse na Escola Média. Rio de Janeiro-RJ: Fundo de cultura, 1967.

O autor destaca a pedagogia extraclasse na escola média. conceituando objetivos de ensino, organização de plano e planejamento geral nas disciplinas curriculares.

PARA REFLETIR

Ao escolher os conteúdos, o professor deve considerar não somente as manifestações de conhecimentos culturais e sociais, mas também as experiências vividas pelos alunos, os principais anseios e problemas enfrentados pelos mesmos. Diante da afirmação e posto o que estu-damos acima, faça uma relação de quais experiências e anseios vividos pelos alunos influenciariam o educador na escolha dos conteúdos.

3.4 Metodologia e recursos no processo de ensino/aprendizagem

Em se tratando de Metodologia podemos enfatizar certa semelhança entre esta e a Didática, já que ambas estão ligadas aos métodos de ensino. Contudo, é de fundamental importância destacar que cada uma possui um ponto de vista distinto. Assim, enquanto a Metodo-logia estuda os métodos de ensino, a Didática, por sua vez, cria técnicas que vão auxiliar e dar valor ao bom de-sempenho do processo de ensino. Podemos dizer, então, que a Metodologia nos dá juízos descritivos e constata-tivos, enquanto a Didática nos oferece juízos de valores.

Neste sentido, o contexto educacional que vivemos hoje visa uma metodologia de ensino que atenda aos interesses dos discentes, com agilidade e determinação

Page 111: Didática

Didática110

do educador, sendo que esta opção só pode ser originada da análise crítica do contexto social e das características individuais e grupais daqueles que frequentam ou que virão a frequentar nossas escolas, pois o produto final da educação e as especificações são de interesses do educando e da sociedade de um modo geral.

A eficiência e a qualidade educacional são as razões do crescimento do educando, seguidas da elevação de sua

potencialidade e do aumento dos seus interesses. O

aprimoramento e a qualidade dos métodos33 de ensino deverão estar diretamente ligados à formação completa do aluno e não às necessidades imediatistas da dimensão alienante da globalização.

Neste sentido, a realidade em que o processo de

aprendizado está sendo concretizado são fatores fun-

damentais e que determinam a busca do caminho, por

meio do qual se materializam situações didáticas

contextualizadas. Assim, podemos citar o método de

ensino como condicionado e condicionador dos ambientes

de aprendizagem. Buscando entender melhor o sentido do método

de ensino, convêm ressaltar que este pode ser entendido como promoção de ações pedagógicas conscientes, orga-nizadas e críticas, a fim de tornar o trabalho do educador e do educando mais fácil e com maior produtividade para o alcance das metas desejadas e necessárias para o desenvolvimento integral do discente.

O profissional docente, ao direcionar o processo em relação à aprendizagem dos alunos, dispõe da utilidade de um conjunto de ações e procedimentos que chamamos de métodos de ensino. Temos alguns exem-plos como: a exposição de conteúdos com o uso da oralidade e o desenvolvimento de discussões e debates que corresponde ao método trabalhado coletivamente. Os alunos têm função de mentor principal desse processo, pois são sujeitos da própria aprendizagem, estes se utili-zam de métodos de assimilação de conhecimentos

33 Método: palavra originária do grego méthodos, de metá (pelo, através) e hodós (caminho).

Page 112: Didática

111Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

Assim sendo, as metodologias do ensino são re-presentadas pelas ações, processos ou comportamentos planejados pelo professor para colocar o aluno em contato imediato com acontecimentos que lhe possibilite uma aprendizagem em função dos objetivos previstos.

Neste sentido, considerando que a aprendizagem é um processo dinâmico que acontece através do desen-volvimento de alguma atividade, é importante observar que os métodos de ensino devem incluir ações que materializem tal perspectiva.

Os métodos de ensino devem, portanto, contribuir para a organização do pensamento e participação ativa das experiências de aprendizagem, observando, lendo, escrevendo, experimentando, propondo hipótese, solucionando problemas, comparando, classificando, ordenando, analisando, sintetizando, entre outros.

Cientes do que significa o método de ensino e de sua importância, é relevante sabermos ainda que exis-tam alguns aspectos que podem ser analisados pelos professores na escolha dos métodos a serem utilizados. Para tanto é primordial fazer uma análise do objetivo e a partir do mesmo estabelecer o método adequado, considerando a natureza do conteúdo a ser ensinado e o tipo de aprendizagem, como também as características gerais do aluno, além das condições físicas e do tempo disponível para a realização das atividades. Portanto, será a partir de critérios como os citados que o profes-sor decidirá os procedimentos coerentes para a evolução de sua aula.

Em função de sua variedade de forma e aplica-bilidade, o método de ensino foi classificado por Jean Piaget34 (1896-1980) a partir de uma análise psicológica e pedagógica. Assim, Piaget afirma que os métodos de ensino são classificados como: métodos verbais tradicio-nais, que tiveram seus fundamentos confirmados pelo conjunto de estudos sobre a origem associacionista; métodos ativos, que se desenvolveram a partir das pes-

34 Jean Piaget (1896-1980) foi um renomado psicólogo e fi lósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profi ssional interagindo com crianças e estudan-do seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.Piaget desenvolveu diversos campos de estudos científi cos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o que veio a ser chamado de episte-mologia genética.

Page 113: Didática

Didática112

quisas e conclusões da psicologia do desenvolvimento e, mais especificamente, do construtivismo operacional e cognitivo; e métodos intuitivos e audiovisuais: ensino programado, que tem por alicerce a psicologia do com-portamento ou behaviorista35.

Assim, podemos perceber que para que consiga-mos êxito na concretização do processo de aprendiza-gem, devemos estabelecer a escolha sobre o método de ensino a ser utilizado e praticar esses métodos com eficiência. Para tanto, é importante sabermos que a aprendizagem, apesar de ser um processo individual, se realiza mediante a combinação de atividades individuais e que exigem um envolvimento social.

A partir deste entendimento, vejamos a classificação que Irene Carvalho (1973) faz dos métodos de ensino:

a) Métodos individualizados de ensino são aqueles que valorizam o atendimento às diferenças indi-viduais e fazem a adequação do conteúdo ao nível de maturidade, à capacidade intelectual e ao ritmo de aprendizagem de cada aluno. Entre estes estão o trabalho com fichas, o estudo dirigido e o ensino programado.

b) Métodos socializados de ensino são os métodos que valorizam a interação social, fazendo a aprendizagem efetivar-se em grupo. Incluem as técnicas de trabalho em grupo, a dramatização e o estudo de casos.

c) Métodos socioindividualizados são os que com-binam as duas atividades, a individualizada e a socializada, alternando em suas fases os as-pectos individuais e sociais. Abrangem, entre outros, o método de problemas, as unidades de trabalho, as unidades didáticas e as unidades de experiência.

35 BEHAVIORISMO, como vocês já devem saber, é uma palavra de origem inglesa, que se refere ao estudo do comportamento:”Behavior”, em inglês. O Behaviorismo surgiu no começo deste século como uma proposta para a Psicologia, para tomar como seu objeto de estudo o comportamento, ele próprio, e não como indicador de alguma outra coisa, como indício da existência de alguma outra coisa que se expressasse pelo ou através do compor-tamento.

http://www.cfh.ufsc.br/~wfi l/matos.htm

Page 114: Didática

113Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

Como você pode observar, não existe um só mé-todo para o ensino. No decorrer das décadas já foram experimentadas algumas metodologias que buscam um caminho concreto na realização do processo de apren-dizagem. No final do século passado e começo deste, pôde se analisar um declínio em relação ao método tradicional de ensino. Isto aconteceu por se revelarem métodos inadequados às características da sociedade em transformação e obsoletos36 em relação aos estudos. Com isso surgiram então os novos métodos buscando apoiar-se na estrutura psicológica do aluno.

Para que sejam aplicados os métodos de ensino é necessário que existam recursos adequados para o de-senvolvimento dos mesmos. Podemos conceituar recur-sos, como os componentes do ambiente da aprendiza-gem concebidos por serem de fundamental importância para a realização de uma atividade.

Os recursos de ensino podem ser classificados por:

Recursos visuais, como projeções, cartazes, gravuras;

Recursos auditivos, como rádio, gravações;

Recursos audiovisuais, como cinema, televisão.

Você pode analisar que essa classificação é bas-tante arbitrária, pois é perceptível o quanto as expres-sões verbais, sonoras e visuais se preenchem entre si. Além dessa classificação podemos citar:

36 adj.1. Que não se usa.2. Extraordinário.3. Anormal.http://www.pribe-ram.pt/dlpo/default.aspx?pal=desusado

Page 115: Didática

Didática114

Recursos humanos: professor, alunos, pessoas em geral que formam a comunidade escolar ou até mesmo da população como um todo.

Recursos materiais: – Do ambiente escolar: quadro, giz, cartazes, livro

didático, etc;

– Do ambiente natural: água, folha, pedra, etc;

– Da comunidade: bibliotecas, indústrias, lojas, repartições públicas, etc.

Esta classificação é bastante ampla e traz consigo a junção de recursos no âmbito escolar, com recursos buscados no meio social, contribuindo assim na aproxi-mação entre a escola e a vida.

Além da classificação, é importante sabermos ainda que existem alguns critérios para a utilização dos recursos de ensino, pois há uma necessidade de interação entre o recurso, a metodologia e a aprendizagem, por isso se um desses critérios não forem seguidos não obteremos sucesso no processo.

Page 116: Didática

115Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

Neste contexto, a seleção de um recurso de ensino, que permita uma visão dos objetivos os quais almejam alcançar com a utilização do mesmo é um desses critérios; nunca se deve utilizar de um recurso se não existe o conhecimento adequado para manuseá-lo, ou se esse recurso não se adéqua ao assunto abordado.

Usar um recurso audiovisual é estimular a audição e a visão. Assim, esses recursos apro-ximam a aprendizagem com fatos da realidade.

É importante enfatizar que não são todas as pessoas que tem acesso a certas tecnologias, principal-mente aquelas que vivem em regiões menos desenvolvidas. Portanto, se faz necessário uma observação sobre o nível em que o discente está integrado com o meio de comunicação para que o uso do recurso de ensino seja bem escolhido. Além disso, ressaltamos que deve haver uma atração entre o aluno e o recurso para que haja interação e sucesso no desempenho da atividade.

Lembramos ainda que, ao selecionar os recursos a serem usados, o docente deverá levar em consideração a natureza da disciplina em questão e a adaptação do recurso de acordo com as demandas da mesma; avaliar se o ambiente é propício à utilização do recurso; planejar para a melhor distribuição do tempo, etc.

Diante do exposto fica claro que a busca pelo caminho da aprendizagem tem uma relação fundamental com os recursos e com o método de ensino a serem utilizados na perspectiva de atingir os objetivos planejados pelo docente.

O processo de aprendizagem se finaliza quando o educando partici-pa de modo ativo na reconstrução do conhecimento. Dessa forma, a aprendi-zagem presume a atividade mental. Aprender é agir e refletir.

Page 117: Didática

Didática116

O procedimento didático mais eficiente e adequado à aprendizagem é aquele que fará o aluno assimilar o conhecimento de forma eficaz e construtivista, estimu-lando o seu pensamento.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

MARTINS, J. P. Didática Geral: fundamentos, planejamento, metodologia, avaliação. São Paulo: Atlas, 1985.

Oferece ao leitor textos desenvolvidos através de um referencial teórico que visa oferecer condições ao leitor para analisar as posições de alguns autores sobre a Didática. Dessa maneira, procurou seguir uma linha de trabalho que, automaticamente, levasse o leitor a uma reflexão.LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.

É um livro de reflexão sobre a realidade educacional, relatando sob o prisma da filosofia os aspectos técnicos e metodológicos da prática escolar.

PARA REFLETIR O a categoria mais dinâmica do processo

O método de ensino é a categoria mais dinâmica do processo de ensino-aprendizagem. Baseado na afirmação acima faça uma analogia entre o construtivismo e os métodos de ensino.

Page 118: Didática

117Tema 3 | Planejamento de Ensino e suas Especificidades

RESUMO

No terceiro tema, conhecemos as definições e caracte-

rísticas dos planos de curso, de unidade e de aula, para

em seguida estudarmos os objetivos educacionais, fri-

sando a necessidade de traçar metas, de acordo com as

necessidades reais da sociedade.

Vimos ainda que para que os objetivos dos docentes

sejam significativos para um bom desenvolvimento dos

discentes é preciso levarmos em consideração o con-

texto social, bem como a relação daqueles com os con-

teúdos curriculares, que devem ser selecionados pelos

docentes a partir de alguns critérios estabelecidos, a

exemplo da ligação entre eles e a realidade dos seus

discentes.

Finalizamos esse tema abordando funções sobre a meto-dologia de ensino, focando aspectos na relação objetivo, conteúdo e metodologia, uma vez que os métodos de ensino dependem dos objetivos formulados pelo docente; bem como destacamos os diversos recursos educacionais que podem e devem ser usados em sala de aula.

Page 119: Didática
Page 120: Didática

Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes4

Começaremos esse tema fazendo diversas indagações sobre alguns problemas enfrentados por muitos professores, tais como: o que fazer para ajudar o aluno a resolver problemas matemáticos envolvendo as quatro operações? Quais os critérios que devem ser usados para que os estudantes a leiam e interpretem de forma correta? O que propor aos alunos que têm dificuldades em entender uma fórmula de Física? Perguntas como essas são feitas rotineiramente por professores do mundo inteiro. Trata-se de uma série de processos que envolvem as práticas pedagógicas e vão até a relação que o professor tem com o aluno. Abordaremos vários aspectos da relação professor/aluno e como essa relação está envolvida no processo de ensino-aprendizagem no ambiente escolar. Além disso, estudaremos elementos básicos no processo da avaliação desde as estratégias até o produto final que é a aprendizagem do aluno.

Page 121: Didática

Didática120

4.1 A Formação do profissional docente

Pode-se constatar que no decorrer dos anos percebemos mudanças nos aspectos educacionais em prol da produção acadêmica e do debate no campo da formação profissional do docente.

De acordo com o tempo, existe uma diferença clara na concepção e no modo de formar profissionais. Pode-se, então, afirmar que houve décadas em que a formação docente estava objetivamente ligada à relação entre o processo de ensino e as formas de aprendizagem.

Passando-se alguns anos, a modernização e a concorrência foram crescendo e, com isso, o surgimento de currículos, como instrumentos apropriados, tornou-se uma forma eficaz de comprovar a competência de grande parte do docente, fazendo da formação peça funda-mental na ação profissional. Portanto, para responder as expectativas e os desafios do sistema educacional, o profissional docente deve necessariamente evoluir e aperfeiçoar-se através de sua formação, uma vez que o aprimoramento do currículo é de suma importância para o seu desenvolvimento profissional.

O que um professor profissional é capaz de fazer?

A diversificação deve ser o ponto culminante em um profissional docente. Esse deve ser capaz de analisar fatos vivenciados pelo educando e agir de acordo com situações complexas, utilizando estratégias adaptadas aos objetivos e às exigências e escolhendo técnicas e recursos adequados para a promoção de experiências significativas. E essa ação deve ter resultados eficientes não só na aprendizagem dos educandos, mas também na atuação do professor.

Ao contrário, há uma corrente de desprestígio da profissão docente, que o considera como simples reprodutor de conhecimentos e manipulador de programas já elaborados.

Page 122: Didática

121Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

É comum encontrar no cotidiano escolar reclamações a respeito dos baixos salários dos professores, das más instalações de trabalho, das grandes jornadas em sala de aula e da falta de interesse dos alunos, e muitos pais, por sua vez, demonstram falta de compromisso em relação aos filhos na escola. Contudo, sabemos o quão necessária é a formação para a construção de análises que derrubem as barreiras, tornando o professor um profissional mediador nos processos constitutivos da cidadania dos discentes, tendo então como resultado a superação do fracasso e das desigualdades escolares.

De maneira progressiva, a função do professor foi se modificando. As variações que aconteceram na so-ciedade e na mente dos jovens, coligadas ao aumento da população escolar e globalização do ensino, agiram de forma atuante nas tarefas principais que o professor deve exercer.

Em virtude de tais considerações podemos afirmar a importância de enfrentar os acontecimentos do ambiente educacional, dando importância ao aperfei-çoamento docente, uma vez que este está diretamente relacionado à melhoria das condições de trabalho como também está baseado no desenvolvimento das aptidões necessárias ao desenvolvimento da atividade do educador.

Dando ênfase a essa percepção, fica comprovado, de fato, que todas as melhorias introduzidas no processo de formação dos educadores a fim de favorecer o bom desempenho profissional são causadoras de impactos significativos no reconhecimento da condição profissional dos docentes.

A profissionalização do docente é ou não necessária?

A profissionalização segue diversos caminhos que não são garantidos somente pelo processo de formação, pois esta não se resume somente a isso.

Page 123: Didática

Didática122

É de suma importância que haja uma formação inicial e continuada que desencadeie a construção dos saberes necessários à atividade profissional. É fundamental considerar os saberes das experiências já existentes para que facilite na construção e na recepção de outros vindouros.

A formação do educador deve objetivamente resultar da vivência do licenciado, da pesquisa como processo. Isso faz com que no futuro o professor tenha uma maior perspectiva de investigação e viva sempre numa busca constante do saber.

Existem traços que apontam na direção inversa, Entre esses se destacam a banalização das competên-cias diretamente ligada à tarefa de ensinar e a falta de compromisso pessoal mais do que de domínio técnico no exercício da atividade. Com base nessa afirmação compreende-se como mais interessante identificar características principais do trabalho do professor no quadro das novas metodologias educacionais do que discutir se uma maior profissionalização é ou não necessária.

Outro ponto importante no processo de formação do professor é a investigação37, pois ela é considerada a estratégia principal da formação. Contudo, podemos afirmar que a formação de professores pela investigação procura instituir um movimento de ideias que podem ser dialogadas entre a teoria e a prática, viabilizando a construção de conhecimentos baseada na análise da experiência.

37 s. f.1. Indagação ou pesquisa que se faz buscando, examinando e interrogando.

2. Inquirição de testemunhas.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.px?pal=investigação

Page 124: Didática

123Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

O curso de formação para professor tem uma

finalidade de formar a identidade do mesmo ao exercício

profissional da docência e colaborar para que desenvol-

vam de forma coerente suas atividades de educador, uma

vez que desenvolver a docência não é uma ativi-

dade burocrática38 para a qual se adquire conhecimen-

tos e habilidades técnico-mecânicas e sim desenvolver

habilidades, atitudes e valores que os possibilitem na

construção do saber docente a partir das necessidades

e desafios lançados no cotidiano.

Espera-se, pois, que mobilize os

conhecimentos da teoria da edu-

cação e da didática necessários à

compreensão do ensino como re-

alidade social, e que desenvolva

neles a capacidade de investigar

a própria atividade para, a partir

dela, construírem e transformarem

os seus saberes-fazeres docentes,

num processo contínuo de construção

de suas identidades como pro-

fessores. (PIMENTA, 1994, p.94).

Todas as profissões, incluindo a do professor

requerem reconhecimento, e esse é dado de acordo com

as necessidades que estão sendo expostas pela sociedade,

fazendo com que estas profissões adquiram estatutos,

que valorizem a classe. Dessa forma, percebemos que as

profissões devem seguir uma prática formalizada e com

significado burocrático. Paralelo a isso, existe a neces-

sidade de variar de acordo com os acontecimentos históricos

e sociais. Essas são considerações que apontam para

o caráter dinâmico da profissão docente como prática

social.

38 É um conceito administrativo amplamente usado, caracterizado prin-cipalmente por um sistema hierárquico, com alta divisão de responsabilidade, onde seus membros executam invaria-velmente regras e procedimentos padrões, como engrenagens de uma máquina. É também usado com sentido pejorativo, signifi cando uma administração com muitas divisões, regras e procedi-mentos redundan-tes, desnecessários ao funcionamento do sistema.

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Burocracia

Page 125: Didática

Didática124

No processo de ensino, exige-se uma busca

permanente de conhecimentos. Isso acontece por existir

uma constante mudança de acontecimentos e fatos que

obrigam um acompanhamento intelectual e formal por

parte do docente.

A formação permanente dos professores é a resposta

necessária a essas devidas mudanças. Essa dinâmica tornará

o professor habilitado e capaz de enfrentar com êxito essas

ocorrências no processo de ensino, seguindo exigências do

cotidiano e da sociedade como um todo.

O processo de formação profissional do docente é

uma expressão que ganhou evidência no cotidiano edu-

cacional e vem se constituindo em um conceito comum

no discurso de orientação das ações de sistemas formais

do ensino ao docente.

Isto porque foi reconhecido como base fundamental

para a organização significativa dos processos educacionais

no campo da docência, destacando a mobilização das

pessoas voltadas para o desenvolvimento e melhoria da

qualidade profissional.

Entende-se a partir dessa compreensão que a

formação docente visa à questão do desenvolvimento

da qualidade de ensino, em decorrência da sua com-

plexidade e, pela multiplicidade de fatores e processos

nelas intercorrentes, demandam uma orientação global,

abrangente e interativa, com visão de longo prazo, em

superação às localizadas, descontextualizadas e imedia-

tista, identificada nas ações situacionais e de caráter

ativista.

Precisamos fazer com que nossa prática educacional,

a partir do processo formativo, esteja preocupada com a formação social de modo consciente e reflexivo. Pois, necessitamos obter clareza sobre nossas ações e que as mesmas reflitam decisões cada vez mais coerentes sobre o nosso fazer pedagógico.

Page 126: Didática

125Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

Uma proposta pedagógica, em especial a formação docente, deverá ter como objetivo desenvolver a autonomia do professor que é indissociavelmente social, moral e intelectual. Assim sendo, estaremos contribuindo para o pleno desenvolvimento do professor enquanto cidadão e profissional, favorecendo o cresci-mento da sua capacidade de se organizar, de forma ativa.

É fundamental entender que a experiência exerce o papel de filtrar, acionado no próprio processo de aquisição de diferentes tipos de conhecimentos. E esse é utilizado durante o exercício profissional, em virtude de uma não consideração aos aspectos singulares das ações dos docentes. É importante seguir uma busca constante das regularidades em seus comportamentos, concepções e representações.

Em meio a todo esse processo de formação docente mais sistemático, existe também a construção da personalidade de cada professor ao longo de sua carreira profissional, pois esse desenvolvimento está intimamente ligado com os objetivos pessoais e com suas experiências no caminho docente. Vários aspectos influem em como o professor se enxerga perante o ensino, um deles seria, como já foi dito, a valorização do seu trabalho.

O processo de formação do professor é amplo e deve partir das próprias inquietações do educador, que precisa se situar no âmbito educacional como modelo de competência, baseado na reflexão e na criação de suas habilidades técnicas.

Page 127: Didática

Didática126

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

Para saber mais sobre o assunto, leia o livro:

Reflexões sobre a Formação de professores.

NETO, Alexandre Shigunov; MACIEL, Lizete Shizue B. Reflexões sobre a formação de professores. Campinas- SP: Papirus, 2002.

O livro retrata pensamento teórico e crítico sobre a formação do educador e sobre seu trabalho mediante tomada de decisões de um profissional mediador e sujeito de práticas, o que permite evidenciar a dimensão do fazer.

MARCHESI, Álvaro. O Bem-Estar dos Professores. Porto Alegre: Artmed, 2008.

O livro traz uma reflexão sobre o compromisso do professor com as novas gerações, o quanto ele tem papel ativo na felicidade dos alunos e o quanto precisa estar otimista enquanto mediador de conhecimentos.

PARA REFLETIR

Vimos que a formação continuada do profissional do-cente é a resposta para grandes mudanças no aspecto educacional e social. Reflita sobre isso e compactue com os seus colegas em sala de aula e no fórum do AVA.

Page 128: Didática

127Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

4.2 O valor pedagógico da relação professor-aluno

Começaremos esse tópico com uma reflexão: Será que as escolas dão o devido suporte para desenvolver nos alunos as potencialidades individuais quem possuem no seu interior?

Além de as escolas darem o devido suporte aos alunos, os professores são peças fundamentais no desenvolvimento intelectual e social dos seus discentes. A interação professor-aluno é um aspecto fundamental do processo de ensino-aprendizagem.

Existem diversas formas que constituem um grupo social. Dentre esses grupos, que constituem a sala de aula, podemos destacar a interação professor-aluno e a relação aluno-aluno. É no âmbito escolar que o aluno interage com professores e com amigos. Gradativamente diversos valores vão se tornando hábitos, desenvolvendo atitudes, agregados de conhecimentos.

Destacaremos dois aspectos fundamentais na interação professor-aluno no trabalho docente: o aspecto cognitivo39,que se refere às formas de comunicação dos conteúdos e as diversas atividades escolares passadas pelos professores, e o aspecto socioemocional, que define as relações entre docente e discente e os critérios disciplinares que são indispensáveis ao trabalho do professor.

Trataremos nesse primeiro momento sobre o aspecto cognitivo. Esse é dado através do ato de ensinar e de aprender, relacionados à transmissão e assimilação dos conhecimentos.

O professor deve se colocar numa posição de que não é o conhecedor de tudo, passar segurança para os seus alunos e trazê-los para perto dele, só assim des-pertará no seu discente interesse pelas suas aulas. Isso ocorre porque, durante este convívio, surge uma união entre as esferas cognitivas e emocionais, fazendo com que o aluno aja de forma integral. Com a junção dessas duas esferas em sala de aula, o trabalho do educador, tende a facilitar o aprendizado do aluno.

39 (latim medieval cognitivus)adj.Da cognição ou a ela relativo.Cognição é o ato ou processo de conhe-cer, que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=cognitivo

http://pt.wikipedia.org/

wiki/i%C3%A7%C3%A3o

Page 129: Didática

Didática128

De acordo com o que foi estudado até agora, a boa relação entre professor e aluno depende, fundamentalmente, do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos?

De acordo com Garcia (1974, p.63):

a educação, seja ela escolar ou ‘

do mundo’, é fenômeno que só

ocorre em função de um processo

básico de interação entre pessoas.

[...] Que a educação é processo

eminentemente social julgamos

desnecessário insistir, tal a evidên-

cia com que isto se manifesta. Aliás,

poderíamos ir bem mais além, ao

dizer que a educação existe exata-

mente porque o homem é um ser

gregário e que só se realiza como

tal a partir do momento em que en-

tra em relação com seu semelhante.

O professor não deve se preocupar somente com o processo de conhecimento embasado nas informações, mas também com a construção da cidadania dos seus alunos. O trabalho docente não tem somente esse sentido, podendo assim argumentar, direcionar perguntas para os seus alunos, fazendo com que os mesmos aprendam a se expressar, a manifestar suas respostas. Quando o professor se propõe a ensinar e os alunos a aprender, uma corrente de elos de conhecimentos se formam e o cumprimento de atividades passa a fazer sentido para todos.

Segundo Libâneo (1994), para atingir satisfatoria-mente uma boa interação no aspecto cognitivo, é preciso levar em conta: o manejo dos recursos da linguagem

Page 130: Didática

129Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

(variar o tom de voz, falar com simplicidade sobre temas complexos); conhecer bem o nível de conhecimento de seus alunos; ter um bom plano de aula e objetivos claros e explicar aos alunos o que se espera deles em relação à assimilação da matéria.

Dentro da relação professor-aluno existe a troca de transmissão de conhecimentos de ambas as partes. O educador, durante sua vivência e aproximação com alunado em sala de aula, busca transformar a curiosidade do discente em esforço cognitivo, passando de conheci-mento confuso para um aprendizado preciso e valioso.

O professor em contato com o seu aluno desem-

penha fundamentalmente diversas funções, entre elas

podemos destacar a função incentivadora, pois ele como

educador deve aproveitar a curiosidade do educando e

transformá-la em incentivo para o processo de aprendi-

zagem. Outra função trata-se do professor orientador,

pois deve orientar o interesse do aluno em aprender,

dando possibilidades e caminhos para que esse aluno

construa seu próprio conhecimento.

De forma mais concreta, não devemos pensar que

o desenvolvimento do conhecimento é dado de forma

individual e restrita. Esse é resultado do conhecimento

humano, social e cultural. E o papel fundamental do

,

Page 131: Didática

Didática130

professor, nesse contexto, é intermediar os conteúdos

que serão passados e as formas dinâmicas e constru-

tivas de aprendizagem.

Como já sabemos, essa construção de conheci-

mento é dada de forma interpessoal40, embasado nessas

informações deduzimos que a relação docente-discente

é construída basicamente por meio do processo interativo,

mas não é somente o aluno que aprende. O educando,

mediante o processo interativo, assimila os conheci-

mentos, adquire valores, crenças, costumes e passa a

se manifestar de forma mais aprimorada e desenvolve

sua capacidade intelectual.

O professor por sua vez aprende muito com o seu

aluno. Uma vez que essa interação se manifesta em sala

de aula, o educador absorve dos seus alunos conheci-

mentos que os mesmos trazem da vida familiar, e do

convívio com amigos, e essa troca de valores, costumes

e hábitos estreita laços entre professor e aluno, tornando

o ambiente educativo mais atrativo para o alunado e

mais favorável ao professor.

Para Haidt (2006) esse encontro do professor com

o aluno poderá representar uma situação de intercâmbio

bastante proveitosa para ambos, em que o conhecimento

será construído em conjunto ou, ao contrário, poderá se

transformar num verdadeiro duelo, num defrontar

de posições pouco ou nada proveitosas para ambos.

Para haver um processo de intercâmbio que propicia

a construção coletiva do conhecimento, é preciso que

a relação professor-aluno tenha como base o diálogo.

Partindo desse diálogo o professor poderá

manifestar o seu conhecimento, de modo que tome

como base informações sobre experiências vividas pelos

seus alunos, tornando um diálogo muito próximo da

realidade de cada um deles. Assim, chegará ao objetivo

tão almejado, que é o saber.

40 adj. 2 gén.Que implica uma relação entre duas ou mais pessoas.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.

px?pal=interpessoal

Page 132: Didática

131Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

41 Paulo Reglus Neves Freire (Recife, 19 de setembro de 1921 — São Paulo, 2 de maio de 1997) foi um educador e fi lósofo brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial tendo infl uenciado o mo-vimento chamado pedagogia crítica.O educador procurou fazer uma síntese de algumas correntes do pen-samento fi losófi co de sua época, como o existencialismo cristão, a fenomenologia, a dialética hegeliana e o materialismo histórico. Essa visão foi aliada ao talento como escritor que o ajudou a conquistar um amplo público de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos, quase sempre ligados a partidos de esquerda.

http://pt.wikipedia.org/wiki/

Paulo_Freire

Paulo Freire41 (1976, p. 66) salienta que o diálogo

é uma relação horizontal, nutre-se de amor, humildade,

esperança, fé e confiança.

Percebe-se nessa passagem de Paulo Freire que o

diálogo entre professor e aluno é peça fundamental para

resolver problemas ligados à prática educativa, os aspec-

tos emocionais que os alunos desenvolvem com colegas e

professor são de suma importância na base educacional,

fazendo com que os laços afetivos cresçam, constituindo a

base das relações entre as pessoas por toda a vida.

Como os aspectos socioemocionais podem ajudar no bom relacionamento entre professor e aluno?

Quando falamos dos aspectos sócioemocionais na interação professor-aluno estamos nos referindo aos laços afetivos que são construídos entre educador e educando e a construção de personalidade dos alunos em sala de aula (disciplina). É bom frisar que não esta-mos nos referindo a um vínculo de amizade criada por um determinado aluno, ou um sentimento de amor por criança. Deve-se evitar acima de tudo que o aluno tenha no professor a imagem fraternal e paternal. O que precisa de fato existir é uma relação de confiança entre o professor e o aluno para que, dessa forma, o aluno se sinta mais a vontade com a figura do educador e exprima suas dificuldades e capacidades mais espontaneamente.

Por mais que o docente tenha que atender alguns casos de modo individual, deve-se ter consciência que o trabalho de interação deve ser feito de forma coletiva, abrangendo todos os alunos em torno dos objetivos por ele traçado e dos conteúdos.

No âmbito educacional o pressuposto valor so-cial dá possibilidade de mudança, estabelecendo um novo olhar para as práticas educacionais, havendo um “divisor de mares” entre “o que ensinar” (conteúdos) e “como ensinar” (metodologia).

Page 133: Didática

Didática132

Muitos estudiosos da educação afirmam que a

relação ensino aprendizagem é mediada pela paixão,

assim torna-se favorável a boa aprendizagem do alunado.

Exemplo disso é o ponto de vista de Jean Piaget a respeito

da “educação” da afetividade, que consiste em garantir

o interesse pelas pessoas ou pelas atividades (o objeto

amado é aquele que mais satisfaz aos desejos ou às

carências do indivíduo, representando o objeto máximo

de interesse). Sendo assim, a afetividade manifesta-se

pelos interesses, pela motivação, pelo grau de dinamis-

mo e pelo dispêndio42 de energia.

Algo muito importante que merece ser colocado

diante dessa questão é que essa afetividade não deve

ser confundida com liberdade. O professor deve conciliar

rigorosidade com respeito. De acordo com o que estuda-

mos, o processo de aprendizagem é composto por duas

vertentes do processo pedagógico: autoridade e auto-

nomia. O professor se apresenta como mediador entre

a sociedade e o aluno. Este, por sua vez, traz dentro de

si a sua individualidade e liberdade. O professor deve

ter discernimento para examinar esse processo, fixando

critérios e esclarecendo o que espera do seu aluno.

No entanto, se faz necessário um equilíbrio na

relação professor-aluno no tocante à autoridade e à

autonomia, pois essa relação não está isenta de desar-

monia e desfiguração. Fazendo uso da autoridade o pro-

fessor não deve se impor para os seus alunos como

ser superior, fazendo imposições e humilhando-os. O

educador autoritário não usa essa autoridade para o de-

senvolvimento intelectual e autonomia dos seus alunos.

Trabalhar a afetividade significa transformar os impulsos

de base intelectual em estratégias cada vez mais perso-

nalistas, fazendo com que a “emocionalização” possa

contribuir para a construção de conhecimento.

42 s. m.1. Despesa; gasto.2. Fig. Prejuízo.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.

aspx?pal=interpessoal

Page 134: Didática

133Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

TEXTO COMPLEMENTAR

Elos de afetividade

Sem abandonar a responsabilidade de ensinar, ela consegue recobrir de “maravilhamento” os momentos de aprendizagem, provando que conhecimento e afeto não se excluem. Ao contrário, se completam. Quando o professor se propõe a ensinar e o aluno a aprender uma corrente de elos de afetividade vai se formando e o comprimento das atividades passa a fazer sentido para todos. Sem vínculos afetivos, a aprendizagem significativa não ocorre.Além dos conteúdos pragmáticos, é de fundamental impor-tância uma conversa franca sobre situações-problemas. O importante não é buscar respostas únicas, definitivas, mas fazer circular ideias a respeito do ofício de ensinar e das razões pelas quais alguns professores, em determinados momentos da carreira, se transformam em modelo para jovens e crianças – e serão lembrados por eles o resto da vida. Fonte: Nova Escola: A revista do professor. Ano XVI, outubro de 2001,

ed. abril, p.34.

Indicação de Leitura Complementar

CUNHA, Maria Isabel. O bom professor e sua prática. Campinas, SP: Papirus, 1989.

O livro fundamenta-se em educação de professores, con-siderando a sala de aula como lugar privilegiado onde se realiza o ato pedagógico escolar.

Page 135: Didática

Didática134

GANDIN, Luiz Armando; HYPOLITO, Álvaro Luiz Moreira. Educação em tempos de incertezas. 2. ed. São Paulo, SP: Autentica, 2003.

Alguns tempos são mais incertos do que outros - tempos em que os modos estabelecidos de ver as ques-tões sociais e educacionais começam a se desgastar, e não são capazes de prover respostas ou de fazer frente às forças da crise e do desmantelamento social. Estes são tempos desse tipo, caracterizados pelo colapso das comunidades, pela fragmentação da cultura e pela mais completa instrumentalização do eu dentro de uma lógica de mercado. Os autores que integram esta coletânea apresentam ao leitor ensaios fundamentais para se discutir a “educação em tempos de incertezas”.

PARA REFLETIR

Diante do texto, vamos parar para refletir sobre a seguinte pergunta: Será que um professor pode ser competente no ofício de ensinar e, ao mesmo tempo, se tornar admirado e querido por seus alunos?

Page 136: Didática

135Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

4.3 Avaliação no processo de ensino e aprendizagem

A avaliação poderá ser definida como um componente do processo de ensino, que analisa a qualificação dos resultados obtidos no decorrer de uma determinada atividade didática.

É um processo contínuo de pesquisas que nos permite a verificação de até que ponto os objetivos estão sendo alcançados. Como dizemos ser algo que tem uma continuação constante, estabelecemos aí uma concepção de que não é algo que termine em um determinado dia ou período, embora possa ser estabelecido um tempo para a realização da mesma.

O aluno deve enxergar a avaliação como um meio de pesquisa junto ao processo de aprendizagem, deixando de lado o medo de ser avaliado e fazendo com que o processo flua naturalmente.

Considera-se a avaliação como um processo diag-nóstico. Este processo permite identificar dificuldades dos alunos e, a partir do resultado deste, o professor possa agir determinando modificações no processo de ensino para melhor cumprir as exigências dos objetivos. Ela nos permite verificar se os objetivos estão ou não sendo alcançados, identificando o aluno que necessita de uma orientação especial de forma individualizada e com isso modificando o método utilizado para uma tentativa de êxito no processo. Para que esse procedimento seja realizado com sucesso é necessário que o aluno fique ciente da importância da avaliação e qual o objetivo da mesma.

As funções da avaliação variam de acordo com os diferentes momentos do processo de ensino-aprendizagem, e com a distinção dos objetivos. São elas:

A avaliação diagnóstica: esta busca diagnosticar, ou seja, verificar o conhecimento que o aluno já possui e particularidades dele. Este tipo de avaliação é aplicado no início das atividades, sejam elas anuais, semestrais, bimestrais ou mensais.

Page 137: Didática

Didática136

A avaliação formativa: esta tem a função controladora e informa ao professor e ao aluno sobre o rendimento da aprendizagem. Ela localiza as deficiências na organiza-ção do ensino.

A avaliação somativa: tem a função classificatória, isto é, qualifica os alunos no fim de um semestre, ano, curso ou unidade, de acordo com níveis de aproveitamento.

De acordo com os princípios básicos estudados em relação às funções da avaliação, decorrem as etapas da mesma da seguinte forma:

• Determinar o que vai ser avaliado, pois saber o que será avaliado é essencial para que haja um desencadeamento das etapas posteriores, sendo que a natureza desse determina em grande parte a seleção de condições, critérios, técnicas e de instrumentos avaliativos;

• Estabelecer os critérios e as condições para a avaliação, sabendo que os critérios são estabelecidos como os indicadores que nos mostram o êxito alcançado na operação, e as condições são as situações em que o processo de avaliação é realizado;

• Selecionar as técnicas e instrumentos de avaliação, para que não ocorra o uso de técnicas ou instrumentos inadequados para cada tipo de avaliação;

• Realizar a aferição dos resultados, tratando esses como uma hipótese e não como uma conclusão estabelecida.

Page 138: Didática

137Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

Todavia, há uma associação frequente entre o termo avaliar, tido por sentido de fazer prova, fazer exames, atribuir nota, repetir ou passar de ano, com o termo compreender, que se caracteriza em saber de fato as necessidades de cada aluno. Esta associação é consequência de uma concepção pedagógica arcaica43, porém tradicionalmente dominante.

A educação nesse sentido é baseada na transmissão e memorização de informações pinceladas e o aluno é considerado um ser passivo e receptivo. Tomando por base no que foi exposto, pode-se dizer que a avaliação assume um caráter seletivo e competitivo.

Os termos avaliar, medir e testar são frequentemente mencionados como sinônimos, para tanto ocorre uma distinção entre estes comprovando algumas diferenças existentes entre eles. Vejamos:

Testar significa verificar um desempenho de acordo com situações previamente organizadas, chamadas testes.

Medir significa determinar a quantidade, a extensão, as dimensões e o grau ou capacidade de alguma coisa, tendo como referência um sistema de unidades convencionais.

43 adj.1. Antiquado; velho, antigo.

2. Geol. Diz-se dos tempos geológicos anteriores à Era Primária.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.

aspx?pal=arcaico

Page 139: Didática

Didática138

Avaliar é interpretar dados quantitativos e qualitativos a fim de obter um parecer ou julgamento de valor, tendo por base padrões ou conceitos.

Com base nessas definições concluímos que testar

e medir fazem parte do processo de mensuração, que é

descritivo. No entanto, avaliar é um processo interpre-

tativo que exige um julgamento embasado em padrões

de critérios.

Com a modernização do processo pedagógico

ficou claro que a educação é concebida com a vivência

de experiências múltiplas e variadas, tendo em vista o

desenvolvimento do aluno.

Com o decorrer das experiências vivenciais podemos

considerar os conteúdos como instrumentos utilizados

para ativar e mobilizar os processos mentais de assimilação.

Analisando este aspecto, pode-se afirmar que essa asso-

ciação faz com que o aluno seja um ser ativo e dinâmico,

participativo na construção do seu próprio conhecimento

e facilitador de sua aprendizagem.

A educação renovada, que veio com o advento do

Movimento Escola Nova, surgiu não apenas mudando os

métodos de ensino, mas também o processo avaliativo,

tornando-os ativos. Para tanto, afirma-se que antes ela

tinha um caráter seletivo, uma vez que se submetia

apenas a classificar ou promover um aluno para uma

etapa seguinte. Hoje o processo avaliativo possui novas

características e busca analisar se os objetivos propostos

para o processo de ensino-aprendizagem estão tendo o

êxito esperado.

Enfatizando o que foi dito, observa-se que a avaliação permite que o aluno tenha noção de seus avanços e de suas dificuldades, podendo partir deste ponto a procura da solução da dificuldade diagnosticada.

Page 140: Didática

139Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

A avaliação está direcionada não somente ao aluno, pois o profissional docente está sempre sendo avaliado a partir do desenvolvimento de suas atividades como educador, tornando aí um elo existente entre a aprendi-zagem do aluno e o trabalho do professor. Sendo que se o aluno conseguiu aprender, automaticamente dizemos que o professor desempenhou seu papel com eficácia. Com isso podemos dizer que a avaliação contribui para a melhoria da qualidade da aprendizagem e do ensino.

Considera-se avaliação como um ato pedagó-gico, onde o professor desenvolve suas qualidades profissionais, na medida em que trabalha sempre com boas expectativas em relação ao desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos seguindo as exigências do cotidiano social.

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Didática140

O fato de que os objetivos de ensino são consi-derados como referência no processo de avaliação, não implica dizer que os alunos deverão estar aptos a desen-volver as mecânicas relacionadas ao processo da escola, estes devem expressar também as reais possibilidades de modo que estejam em condições de cumprir as exigências da escola.

É inerente descrever objetivos, conteúdos e métodos como características da avaliação escolar. Há uma exigência de ligação entre todos os integrantes do grupo que resulta na aprendizagem, pois um está dire-cionado ao outro buscando êxito na realização de suas etapas, sendo que todos almejam um só propósito.

A escolarização e os processos nela distintos, assim como o processo de avaliação, têm a função de colaborar para o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, promovendo e adquirindo capacidades que não estariam ao alcance sem a intervenção intencional que caracteriza o ensino.

Assim, podemos citar que a função pedagógica da avaliação exige uma compreensão do processo ensino-aprendizagem. Em se tratando de função social, notamos uma contradição, pois esta supõe valorizar o resultado da aprendizagem e expressar o resultado da avaliação.

Ao contrário, a função social-certificadora da avaliação propõe valorizar o resultado da aprendizagem e não o seu processo. Seu critério é a comparação de todos os alunos em comum.

Esse tipo de avaliação deveria ser feito no final do processo formativo do aluno, para que este fosse concebido com uma experiência adequada ao iniciar sua carreira de trabalho. Para tanto, na maioria das vezes isso não ocorre, pois a organização do sistema educa-cional em vias formativas e diferenciadas obriga a emitir certificações em momentos anteriores da escolaridade.

Contudo, percebe-se que a relação entre os dois tipos de avaliação é predominantemente da social sobre a pedagógica, o que impede o desenvolvimento

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de práticas de avaliação que contribuíam para a obtenção do êxito no processo de ensino e aprendizagem. Tendo a noção de que a avaliação deve servir para tomar decisões de caráter pedagógico, que permitam antes de tudo planejar o ensino de maneira adaptada às caracte-rísticas especiais dos alunos, aos seus conhecimentos prévios e à sua forma de aprender.

Existem três técnicas básicas e uma grande variedade de instrumentos da avaliação que servem para analisar o rendimento do aluno.

A primeira técnica é a observação que serve para verificar o desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicossocial do educando, em decorrência das experiências vivenciadas.

A segunda é a auto-avaliação que tem a mesma função da técnica de observação.

A terceira é a aplicação de provas, estas poderão ser através de arguição, dissertação e testagem, e servem para determinar o aproveitamento cognitivo do aluno, em decorrência da aprendizagem.

O professor necessita considerar alguns aspectos ao selecionar as técnicas e os instrumentos de avaliação da aprendizagem. Aspectos como:

• Os objetivos visados para o ensino aprendi-zagem;

• De onde vem o componente curricular ou área de estudo;

• A metodologia e os procedimentos usados no ensino e no processo de aprendizagem;

• As condições de tempo do professor;

• O número de alunos da classe.

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É importante que a seleção de técnicas e dos instrumentos de avaliação se realize durante o processo de planejamento, para que haja uma adequação nos recursos de avaliação.

As atividades avaliativas concorrem a um desen-volvimento intelectual social e moral dos discentes, e visam analisar como a escola e os professores estão contribuindo para esse processo. O sistema educacional tem o propósito de que todos os alunos desenvolvam suas capacidades físicas e intelectuais, seu pensamento próprio e criativo, tendo em vistas as tarefas teóricas e práticas de modo que se preparem de forma positiva para a vida social.

A avaliação é o processo que deverá ajudar a todos os alunos a crescerem, possibilitando então o conhecimento da sua posição em relação à classe, estabelecendo uma base para as atividades de ensino e aprendizagem.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professora, adeus professor?: novas exigências educacionais e profissionais docente. 4. ed. São Paulo, SP: Cortez, 2000.

Nas sociedades pós-industriais ocupam lugar central a informação e o conhecimento. Emergem no âmbito da produção e das instituições novas formas de trabalho, entre elas o trabalho intelectual, o trabalho interativo, o trabalho comunicacional. As transformações atingem em cheio as escolas e o trabalho dos pedagogos e pro-fessores, suscitando rearranjos no seu papel. Este livro discute os dilemas emergentes dessas novas realidades, identifica novas exigências educacionais e, principalmente, procura pensar proposições assertivas sobre a escola e os professores dentro de um projeto emancipatório de educação.

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LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2003. Nesse livro são encontrados estudos críticos sobre avaliação da aprendizagem escolar, assim como proposições no sentido de torná-la mais viável e construtiva. O tema da avaliação da aprendizagem escolar encontra, nestes textos, abordagens sociológicas, políticas e pedagógicas, numa tentativa interdisciplinar de compreender a sua fenomenologia e de propor caminhos.

PARA REFLETIR

Podemos citar a função social e a função pedagógica da avaliação como uma relação de aliados ou de inimigos?

4.4 A prática da regência de classe

Atualmente o professor deixou de ser apenas aquela figura que se colocava à frente dos alunos e ministrava suas aulas de uma maneira tradicional. Há tempos, muitos valores que andavam arraigados44 na Prática Docente deixaram de ser paradigmas passando por um processo de renovação. E hoje, para ser Mestre, não é suficiente apenas ter domínio pelo assunto que será aplicado, é necessário ter total interação no processo.

Aquele método de ensino tecnicista, onde o professor era apenas um facilitador e divulgador de informações, foi deixado para trás e, em seu lugar, veio ocupar um método muito mais renovado e reflexivo, onde o professor deixa de apresentar dados e informações inquestionáveis,

44 (latim *arradi-care, de radico, -are, ganhar raízes, enraizar)v. intr.

1. Lançar raízes.v. tr.

2. Inveterar.

3. Tornar durável.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=arraigados

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preocupando-se em elaborar provas com respostas automáticas e passa a contextualizar suas aulas e interagir diretamente com os alunos.

Dentre algumas características do professor, a mais importante delas é gostar de ensinar e gostar do relacionamento professor-aluno. É importante que o aluno veja seu professor como alguém que está ali para lhe propiciar a aprendizagem, e isto não se dá simplesmente pela capacidade de repassar o conteúdo, e sim pela forma como o professor o domina, o interpreta e o trabalha.

Hoje o professor é visto como um profissional reflexivo, ou seja, a sua interação com o aluno não pode se distanciar do seu papel de instrutor. É fundamental um plano estratégico para as técnicas de ensino, de modo que o assunto explanado seja assimilado da melhor forma pelos alunos. Uma vez que é notório que o êxito dos alunos está intimamente ligado ao comportamento do professor, se torna necessário interagir, trazer o aluno para si, e é aí que começa a relação professor-aluno.

Segundo Freire (1996, p.26), “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” Ou seja, compete ao professor propiciar aos discentes, caminhos para que estes expandam seus conhecimentos. Outro ponto importante nesse processo seria a reciprocidade de aprendiza-gem, “onde quem ensina aprende e quem aprende ensina”, ainda ressaltando Freire. Esse processo também chamado de ensino-aprendizagem torna-o cada vez mais prazeroso, pois ambas as partes fazem troca de experiências e conhecimentos, propiciando, ainda, um estreitamento de laços entre professor e aluno.

De acordo com Garrido (1999), o educador deve contextualizar seus métodos de ensino, exercitando diariamente técnicas inovadoras aliadas à ética profissional. Dessa forma, o professor vai criando a chamada Identi-dade Profissional45, ou seja, a sua maneira de trabalho, de ensino. Existem ainda três enfoques dos saberes

45 Identidade profi ssional, mas que está ligada ao vínculo e senti-mento de pertença de um indivíduo a uma determinada categoria ou grupo social, a categoria docente, e tendo como possibilidade construir, descons-truir e reconstruir algo que permita dar sentido a seu trabalho.

www.anped.org.br/reunioes/28/textos/gt20/

gt201132int.rtf

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fundamentais à prática educativa, são eles: conhecimen-tos específicos, pedagógicos e das experiências. Essa te-oria foi criada por Brousseau46, conhecido como o pai da Didática da Matemática Francesa e essa tríade é chamada Triângulo do conhecimento.

Conhecimento seria o aprendizado que é repassado diariamente ao aluno através do professor, costumes, lições de vida, humanização e regras para formação de bons cidadãos. Saberes pedagógicos seria a matéria propriamente dita, seguindo um plano de ensino e as experiências seriam exatamente essa troca de conhecimen-tos adquiridos pelo professor ao longo da vida. Pode-mos resumir esse saber como o encontro da teoria com a prática.

PARA REFLETIR

“Os corpos docentes são chamados a definir sua prática em relação aos saberes que possuem e transmitem... o professor é antes de tudo alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber aos outros”. (TARDIF, LESSARD e LAHAYE, 1991, p.215)Discorra brevemente sobre o seu entendimento do texto acima.

46 Guy Brousseau nasceu em 04 de fevereiro de 1933, em Taza, no Marrocos, fi lho de um soldado francês. Em 1953, começou a dar aulas no Ensino Fundamental numa aldeia da região de Lot et Garonne. Na única classe da escola local, Brousseau lecionava para crianças de 5 a 14 anos. No mesmo ano, casou-se com Nadine Labeque, que se tornou sua par-ceira de trabalho. No fi m dos anos 1960, depois de se formar em Matemática, ele passou a lecionar na Universidade de Bordeaux, onde hoje é diretor do Laboratório de Didática das Ciências e das Tecnologias e professor emérito. Em 1991, tornou-se docente do Instituto Normal Superior local. Recebeu o título de doutor honoris causa das universidades de Montreal (Canadá), Genebra (Suíça) e Córdoba (Espanha). Seus estudos têm grande infl uência nos parâmetros do ensino público francês. Em 2003, foi o primeiro ganhador do prêmio Felix Klein do Comitê Interna-cional do Ensino da Matemática.

Fonte: http://www.studiu-mensinofundamental.com.br/studium/palavra_educa-dor.asp?id=32

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É sabido que cada ser humano nasce com determinadas ap-tidões, a forma como ela será explorada é que de-nomina se esta irá desenvolver-se ou não, daí a ideia de que aprendemos aquilo que praticamos, tese do filósofo Jean Piaget, criador da técnica do ensino construtivista47, onde o professor deve exercitar a mente do aluno fazendo-o vivenciar o conhecimento adquirido junto à sua realidade.Existem alunos com diferentes formas de comportamen-to e diferentes formas de assimilação e entendimento do conteúdo. A principal função do educador reflexivo é reconhecer e entender a maneira como cada aluno desenvolve o que lhe foi passado, ou seja, a maneira como cada um aprende. Dessa forma, o professor deverá agir de modo dinâmico, para isso, será necessária a formulação de um novo tipo de aula, onde escrever no quadro não é o mais importante, a aula precisa ter um novo espaço para ativida-des que a deixe longe de ser cansativa. A famosa “boa” aula, onde o professor desempenha um papel desencadeador dos estímulos dos alunos. A linguagem precisa ser clara e as ideias organizadas, fazendo com que o aluno participe e tenha compromisso e torne a aula bem mais agradável.

PARA REFLETIR

Discuta com seus colegas no fórum do AVA quais as carac-terísticas básicas de uma boa aula.

É necessário que o professor perceba não somente o que ele deverá ensinar, e sim, o que o aluno precisa aprender para se tornar mais do que um bom profissional, mas também um cidadão de bem na sociedade. O professor é o con-

dutor no processo educativo, cabendo a ele alicerçar essa

relação pedagógica. Os alunos, por sua vez, são elementos

concretos nesse processo, com direitos e deveres que per-

meiam esse contexto.

47 “Construtivismo signifi ca isto: a ideia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especifi camente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele constitui-se pela interação do indi-víduo com o meio físico e social, com o simbolismo huma-no, com o mundo das relações sociais, e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afi rmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento”. “Entendemos que construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensa-mento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola, que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a

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147Tema 4 | Formação Docente, Avaliação e Práticas de Docentes

Existem três regras primordiais para se preparar uma boa

aula: preparação do professor para a aula, preparação da

aula e observação sobre os reflexos da aula. O professor

precisa se munir do maior número de informações possí-

vel, isso implica dizer que a busca do educador por novas

ideias precisa ser constante. É necessário que haja conhe-

cimento e aceitação pelos alunos, ou seja, o educador pre-

cisa estar de fato envolvido no processo.

Citando a forma mais direta da aula, o objetivo de ensi-

no precisa estar coerente com as necessidades da sua clas-

se, bem como a seleção dos conteúdos. Desenvolvimentos

de atividades de aprendizagem inovadores e reinventados

despertam as competências dos alunos tornando a rotina

de aulas menos entediantes.

Como já vimos no tema III, a utilização de recursos de ensi-

no provocam a curiosidade dos alunos e evita o desgaste

do professor. É imprescindível que exista uma elaboração

das avaliações de uma forma que permita ao professor

analisar amplamente quais as maiores dificuldades ou faci-

lidades do aluno, e até a sua, enquanto educador.

Após toda essa preparação de aula, o professor precisa

mostrar compromisso em cumpri-las, acompanhando

passo a passo as reações de cada apresentação e se

os objetivos foram de fato alcançados. Deve estar agora

preparado para ouvir questionamentos, tirar dúvidas e,

mais ainda, incitar48 reflexões.

partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos pou-cos, as distantes. A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de com-plementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (‘acervo cultural da Humani-dade’).” “Construtivismo, segundo pensamos, é esta forma de conceber o conhecimento: sua gênese e seu desen-volvimento – e, por consequência, um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais.”

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/dea_a.php?t=011

48 v. tr.1. Excitar (alguém) a (outrem) levar a efeito alguma coisa.

2. Despertar, aguilhoar.

3. Provocar.

4. Desafi ar.

5. Açular.

http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=arraigados

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É de suma importância ressaltar que o processo de auto-avaliação do professor deverá ser constante e diário, para que determinadas falhas que por ventura sejam identifica-das, possam ser corrigidas o quanto antes, minimizando o processo de execução das demais aulas.O ato de ensinar requer dos professores um olhar crítico e constantemente atento às mudanças cotidianas. É necessária a total inserção do professor no processo de aprendizagem, pois ele precisa se aprimorar com no-vos mecanismos e estratégias.

PARA REFLETIR Qual a visão que você tem sobre os métodos de ensino de hoje? Você acha que professores que acabaram de se for-mar realmente sabem o que é ser um professor reflexivo? Você acredita que de fato surge na educação um novo método de ensino? Debata sobre essas questões.Não podemos nos esquecer de que a escola é um estabele-cimento que educa, é um ambiente formador de opiniões. Dessa forma, precisamos ficar atentos para não exagerar no tocante à espontaneidade nas aulas e, ao invés de iniciar-mos uma nova realidade do aluno, ficarmos presos a ela, e assim, ficarmos impedidos de exercer o dom da instrução.É importante que os profissionais de hoje sejam compro-metidos com o processo de formação dos discentes e quei-ram construir uma escola bem estruturada, fazendo uso das novas técnicas de ensino e experiências.Segundo Freire (1996), ensinar exige criticidade49 e ética, pes-quisa, humildade, tolerância, segurança do que se fala, competência profissional, generosidade e compreensão que a educação é uma forma de intervenção no mundo, liberda-de de autoridade, querer bem aos educando e disponi-bilidade para o diálogo. Mas, antes de tudo, ensinar exige dos educadores saber escutar.

49 s. f.Qualidade do que é crítico. Relativo à crítica; que se funda em critério, que estabelece juízo de valor para obras artísticas, científi cas etc.: estudo crítico.

http://www.dicionarioweb.

com.br/critico.html

http://www.priberam.pt/dlpo/default.

aspx?pal=criticidade

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LEITURA COMPLEMENTAR

Liberdade intelectual para os alunos

A filosofia deweyana remete a uma prática docente baseada na liberdade do aluno para elaborar as próprias certezas, os próprios conhecimentos, as próprias regras morais. Isso não significa reduzir a importância do currículo ou dos saberes do educador. Para Dewey, o professor deve apresentar os conteúdos escolares na forma de questões ou problemas e jamais dar de antemão respostas ou soluções prontas. Em lugar de começar com defini-ções ou conceitos já elaborados, deve usar procedimentos que façam o aluno raciocinar e elaborar os próprios conceitos para depois confrontar com o conhecimento sistematizado. Pode-se afirmar que as teorias mais modernas da Didática, como o construtivismo e as bases teóricas dos Parâmetros Curriculares Nacionais, têm inspiração nas ideias do educador.

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/

john-dewey-428136.shtml

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR

NEIRA, Marcos Garcia. Por dentro da Sala de aula: conversando sobre a prática. São Paulo: Phorte, 2004.

Neira faz uma análise do cotidiano pedagógico, traduzindo aspectos rudes do intrincado enredo escolar. Convidando o leitor ao sentido histórico e social de tudo o que acontece na sala de aula. Ele elucida no livro a relação numa “nova sala de aula” de professor e aluno.

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FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino. 4. ed. Campinas, SP: Papirus, 2003

Esse livro apresenta reflexões sobre Didática e Práticas de Ensino de História desenvolvidas, no ensino funda-mental e médio, pela autora e por diversos professores, formadores, pesquisadores e alunos, em diferentes espaços e épocas.

PARA REFLETIR

Após a leitura do texto complementar, e depois do que vimos nesse tema, reflita sobre a postura que você vai assumir daqui pra frente enquanto profissional da edu-cação. Repense sobre os atos e mudanças que deverão ocorrer no seu comportamento e o que você poderá fazer para não se tornar um professor tecnicista ou inflexivo.

RESUMO

Nesse último tema, estudamos a formação do professor, citando vários pontos estratégicos para a falta de estímulo do mesmo para trabalhar em sala de aula, os baixos salários, precariedade no ambiente de trabalho, falta de compromisso dos pais em relação aos alunos na escola. Ao mesmo tempo foi explanado sobre a relação e interação entre professor e aluno, de como a afetividade se torna uma qualidade inerente à condição do profis-sional professor dentro da sala de aula, como também, os tipos de avaliações e suas funções pedagógicas, a forma como é vista a avaliação pela sociedade e como essa contribui para o fracasso ou sucesso das entidades escolares. Finalizamos, pois, com a regência de classe, as formas como os professores trabalham em sala de aula e as características que um bom professor deverá ter.

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Referências

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DELVAL, Juan. Aprender na vida e aprender na escola. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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LIBÂNEO, J. C. Educação: pedagogia e didática. São Paulo: Cortez, 1997

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professora, adeus professor?: novas exigências educacionais e profissionais docente. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

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SAVIANI, Dermeval. Educação brasileira: estrutura e sistema. Campinas, SP: Autores Associados, 2000.

SOARES, Suely Galli. Educação e comunicação: O ideal de inclusão pelas tecnologias de informação. Otimismo Exarcebado e lucidez pedagógica. São Paulo, SP: Cortez, 2006.

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FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino. 4.ed. Campinas, SP: Papirus, 2003.

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Anotações

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