Didática Trabalho

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Em “A pedagogia da contaminação”, Ortega Y Gasset conduz uma reflexão comovente, mas igualmente dolorosa. Sua tese central é a de que não se pode ensinar aquilo que, ao fim e ao cabo, é, de fato, valoroso. Por melhor que seja o método de ensino empregado e por mais culto que seja o mestre, sempre restará aquela epifania que só pode ser alcançada individualmente. Para Ortega Y Gasset, a arte, a ciência e a moral constituem saberes que não podem ser transmitidos ou inseridos no aprendiz, porquanto não correspondem a conjuntos cristalizados de conhecimento. É impossível ensiná-los. Como ensinar alguém a sublime experiência estética? Ou como ensinar a ter um espírito crítico e inquieto em relação ao “ainda velado”, movimento encerrado na palavra ciência? Além disso, seria razoável ensinar um modo de viver, como pretende a educação moral? A arte, a ciência e a moral são processos de natureza inequivocamente indeterminável. E são processos essenciais para a plenitude da vida humana. O senso comum desconfigura o sentido mais preciso desses vocábulos. Por ciência, por exemplo, a opinião pública pretende dizer os pacotes de informação coletados e os métodos de pesquisa utilizados. Reduz-se, assim, a ciência ao produto dela, aquilo que pode ser catalogado e ensinado. Diante da constatação da impossibilidade de ensinar a substância própria das coisas, Ortega Y Gasset propõe uma pedagogia não hipócrita: a pedagogia da contaminação. Assim, falando mais especificamente da filosofia, sua área

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Trabalho acadêmico sobre didática

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Em A pedagogia da contaminao, Ortega Y Gasset conduz uma reflexo comovente, mas igualmente dolorosa. Sua tese central a de que no se pode ensinar aquilo que, ao fim e ao cabo, , de fato, valoroso. Por melhor que seja o mtodo de ensino empregado e por mais culto que seja o mestre, sempre restar aquela epifania que s pode ser alcanada individualmente.Para Ortega Y Gasset, a arte, a cincia e a moral constituem saberes que no podem ser transmitidos ou inseridos no aprendiz, porquanto no correspondem a conjuntos cristalizados de conhecimento. impossvel ensin-los. Como ensinar algum a sublime experincia esttica? Ou como ensinar a ter um esprito crtico e inquieto em relao ao ainda velado, movimento encerrado na palavra cincia? Alm disso, seria razovel ensinar um modo de viver, como pretende a educao moral?A arte, a cincia e a moral so processos de natureza inequivocamente indeterminvel. E so processos essenciais para a plenitude da vida humana. O senso comum desconfigura o sentido mais preciso desses vocbulos. Por cincia, por exemplo, a opinio pblica pretende dizer os pacotes de informao coletados e os mtodos de pesquisa utilizados. Reduz-se, assim, a cincia ao produto dela, aquilo que pode ser catalogado e ensinado. Diante da constatao da impossibilidade de ensinar a substncia prpria das coisas, Ortega Y Gasset prope uma pedagogia no hipcrita: a pedagogia da contaminao. Assim, falando mais especificamente da filosofia, sua rea de docncia, ele prope que os educadores sejam capazes de seduzir os educandos quela matria. Com essa pedagogia, o autor assume que cabe ao mestre contaminar seu aprendiz com a filosofia, com a arte, com a cincia. Essa perspectiva do grande filsofo espanhol nos mostra uma verdade da qual sempre tentamos escapar: o aprendizado envolve uma construo prpria do sujeito aprendiz e, por melhor que sejamos enquanto educadores, no somos capazes de manipul-la. Esta construo pode ser auxiliada e potencializada atravs das aes pedaggicas, mas sua concretizao efetiva e o modo como ela opera depende muito de uma experincia individual com o saber. Nesse sentido, o mais interessante e promissor a ser feito buscar seduzir o educando pelo conhecimento. Uma vez engajado com a matria a ser descoberta, o aprendiz pode experimentar aquele saber e, assim, internaliz-lo.Toda esta reflexo nos leva a concluir que o papel principal do professor na sala de aula mediar o contato entre o sujeito e um determinado saber, buscando despertar neste sujeito um grande amor pela descoberta e pelo aprendizado. O professor deve pretender, acima de tudo, viabilizar concretamente (atravs dos mtodos de ensino-aprendizagem) e subjetivamente (atravs da contaminao com aquele saber) que os alunos incorporem o conhecimento que esto por desvelar.