Dicionário de História Empreesarial, vol.I, FEUC, notas ... · vamos tendo alguma reflexão deste...

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DICIONÁRIO DE HISTÓRIA EMPRESARIAL BANCOS E SEGURADORAS, SÉCS. XIX E XX: PROJECTO EM FASE DE CONCLUSÃO José Amado Mendes (Universidade de Coimbra) (Universidade Autónoma de Lisboa) Introdução A história empresarial, outrora acantonada na área da história económica, adquiriu a sua autonomia e tem vindo a registar um desenvolvimento considerável nas últimas décadas, um pouco por todo o mundo. Tal não é para admirar, atendendo, por um lado, à sua grande abrangência e, por outro, à sua posição no contexto dos saberes relacionados com o crescimento e o desenvolvimento. Com efeito, ela não só inclui a história das firmas individuais como a dos respectivos sistemas de negócios, ocupando uma posição peculiar entre as explicações micro e macro do crescimento económico e do seu desempenho (AMATORI e JONES, 2003: 1 e 7). O papel crucial desempenhado pela empresa nos últimos dois séculos desde o arranque da 1.ª Revolução Industrial, em finais do séc. XVIII e a importância que alguns autores têm atribuído às empresas e aos seus principais protagonistas, os empresários (por exemplo, J. Schumpeter e A. Chandler, entre outros), contribuíram para que os estudos sobre a matéria se multiplicassem, ao mesmo tempo que aquela tem vindo a conquistar espaço nos curricula do Ensino Superior, inclusive no ensino-aprendizagem de pós- graduação, a nível de Mestrado e Doutoramento. Por esse motivo, já foi sublinhado que, «seja qual for a definição e/ou representação que demos de empresariado, não podemos deixar de o incluir como uma parte vital da nossa realidade económica, social e cultural e dos sistemas políticos. De acordo com alguns autores, o empresariado molda aqueles sistemas» (AMATORI e COLLI, 2011: 27). Assim, é pertinente efectuar algumas reflexões sobre perspectivas de análise e os trabalhos delas resultantes, desde as monografias às obras de carácter geral, incluindo os dicionários, como úteis instrumentos de trabalho que são. 1.Diversidade e complementaridade de perspectivas O maior número de obras que têm as empresas como objecto (SAPELLI, 1990) situa-se no domínio dos estudos de caso ou das monografias, frequentemente elaborados no âmbito de comemorações de datas marcantes da respectiva história, com destaque para o centenário

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DICIONÁRIO DE HISTÓRIA EMPRESARIAL ‒ BANCOS E SEGURADORAS, SÉCS. XIX E XX: PROJECTO EM FASE DE CONCLUSÃO

José Amado Mendes (Universidade de Coimbra) (Universidade Autónoma de Lisboa) Introdução A história empresarial, outrora acantonada na área da história económica, adquiriu a sua autonomia e tem vindo a registar um desenvolvimento considerável nas últimas décadas, um pouco por todo o mundo. Tal não é para admirar, atendendo, por um lado, à sua grande abrangência e, por outro, à sua posição no contexto dos saberes relacionados com o crescimento e o desenvolvimento. Com efeito, ela não só inclui a história das firmas individuais como a dos respectivos sistemas de negócios, ocupando uma posição peculiar entre as explicações micro e macro do crescimento económico e do seu desempenho (AMATORI e JONES, 2003: 1 e 7). O papel crucial desempenhado pela empresa nos últimos dois séculos ‒ desde o arranque da 1.ª Revolução Industrial, em finais do séc. XVIII ‒ e a importância que alguns autores têm atribuído às empresas e aos seus principais protagonistas, os empresários (por exemplo, J. Schumpeter e A. Chandler, entre outros), contribuíram para que os estudos sobre a matéria se multiplicassem, ao mesmo tempo que aquela tem vindo a conquistar espaço nos curricula do Ensino Superior, inclusive no ensino-aprendizagem de pós-graduação, a nível de Mestrado e Doutoramento. Por esse motivo, já foi sublinhado que, «seja qual for a definição e/ou representação que demos de empresariado, não podemos deixar de o incluir como uma parte vital da nossa realidade económica, social e cultural e dos sistemas políticos. De acordo com alguns autores, o empresariado molda aqueles sistemas» (AMATORI e COLLI, 2011: 27). Assim, é pertinente efectuar algumas reflexões sobre perspectivas de análise e os trabalhos delas resultantes, desde as monografias às obras de carácter geral, incluindo os dicionários, como úteis instrumentos de trabalho que são. 1.Diversidade e complementaridade de perspectivas O maior número de obras que têm as empresas como objecto (SAPELLI, 1990) situa-se no domínio dos estudos de caso ou das monografias, frequentemente elaborados no âmbito de comemorações de datas marcantes da respectiva história, com destaque para o centenário

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ou, por vezes, também para assinalar outras datas relevantes (por exemplo, o 150º, 125.º e 50.º aniversário). Alguns desses estudos têm carácter apologético e promocional, pelo que devem ser interpretados com espírito crítico. Outros, porém, incorporam os avanços mais recentes da investigação histórica, tanto teórica como metodologicamente (MENDES, 2004: 17-39; 1999: 97-113). O maior número de empresas com as suas histórias publicadas pertence ao sector financeiro (REIS, 1994: 821-862; MENDES, 2002), embora algumas outras dos diversos sectores ‒ primário, secundário e terciário ‒ tenham sido igualmente objecto de estudo (MENDES, 2002, 39-56). Outros autores, porém, têm focado as empresas de forma agregada, perspectivando-as na sua relação com o desenvolvimento e com os sistemas económicos e políticos. Aos estudos de A. Chandler, bem conhecidos, podemos acrescentar vários outros (exs.: McCRAW, 1997; WILSON, 1995). Relativamente à realidade espanhola e latino-americana são elucidativos os estudos de Valdaliso e de Mario Cerutti, respectivamente (VALDALISO, 1996; 2004; CERUTTI, Mario, coord., 2006). Quanto à realidade empresarial portuguesa, também já vamos tendo alguma reflexão deste tipo (BASTIEN: 2004). Além das referências esporádicas a certas empresas e a empresários em vários tipos de dicionários ‒ Dicionário de História de Portugal, Dicionário do Estado Novo, Dicionário da História de Lisboa, etc. ‒, sem esquecer a muito útil Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, também em obras recentemente vindas a lume se encontram dados do maior interesse acerca do mundo empresarial (entre outras: FERNANDES, 2003; FERNANDES e VILLALOBOS, 2008; CASTRO, 2009; FARIA, 2009; COSTA et al., 2010). Todavia, dado o elevado número de organizações e dos seus líderes, muito há ainda a fazer, inclusive no que concerne às biografias do empresariado. Como sublinha Jaime Reis, a propósito deste assunto: «O estado ainda relativamente incipiente dos estudos de natureza biográfica em Portugal ‒ sobretudo dos dicionários histórico-biográficos ‒, a despeito de algumas notáveis excepções, ditou que a tarefa [estudo de um elite financeira, que integrou os corpos sociais do Banco de Portugal, 1846-1914] fosse algo mais árdua e um tanto menos bem sucedida do que teria sido em circunstâncias mais favoráveis. O mesmo se pode dizer em relação à desorganização muitos dos arquivos históricos de carácter público, não obstante, mais uma vez, as honrosas excepções que apraz reconhecer» (REIS, 2011: 5). Acrescente-se que nesta obra, assim como em estudo recente sobre a Caixa Geral de Depósitos (LAINS, 2011), encontram-se dados relevantes sobre a vida, obra e actividade de um grupo considerável de destacados líderes financeiros portugueses. 2. Dicionários de empresas e do sector financeiro Existindo numerosos dicionários sobre os mais diversos assuntos («Dicionário», Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, 8: 964-970), podemos interrogar-nos acerca do panorama em relação ao mundo dos negócios. Não obstante tratar-se de um tipo de literatura ainda escassa, já dispomos de alguns exemplos, como se verá seguidamente.

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Em Inglaterra, foi publicado A Dictionary of Finance and Banking, do qual já foram efectuadas quatro edições (1993-2008). As suas mais de 5000 entradas reportam-se a expressões e termos relacionados com a temática, não contemplando, propriamente a história de empresas ou a biografia de empresários. Por isso, é de maior utilidade para os profissionais do sector que para os investigadores e estudiosos da matéria. Já diferente é uma outra obra, intitulada Historical Dictionary of Japaneses Business (PICKEN, 2007). Após uma cronologia e introdução, contém três tipos de glossários: 1. “Business Proverbs”; 2. “Tradicional Business Expressions”; 3. “Modern Business Expressions”. É um trabalho útil, particularmente para estrangeiros que tenham necessidade de lidar com a realidade empresarial e cultural nipónicas. A despeito das designações de “glossário, provérbios e expressões”, este dicionário é também de alguma utilidade para o investigador de história empresarial, pois contempla igualmente, ainda que de forma sucinta, a história de certas subáreas do conhecimento daquela (“Banking history”, “Banking industry”, “Money history, etc.), como inclui ainda resumos da história de grandes empresas/grupos japoneses, aliás bem conhecidos internacionalmente (entre outros, Japanese Air Lines ‒ JAL, Mitsubishi Corporation, Nissan Motor Coporation e Toyota Motor Corporation). Como último exemplo, pode mencionar-se o Portuguese Business Dictionary. American and Portuguese Business Terms for the Internet (SOFER e PIZARRO, 2006). Ao invés do que poderia deduzir-se do respectivo título ‒ mas em consonância com o subtítulo ‒, estamos perante um dicionário de expressões e vocábulos usados no mundo empresarial, de utilidade prática para profissionais do ramo, mas com interesse relativo no que toca à investigação histórica sobre empresas e empresários. Com a referência a estes casos, pretende sublinhar-se, por um lado, a necessidade de prosseguir com a elaboração deste tipo de instrumentos e, por outro, constatar a quase inexistência ‒ mesmo a nível internacional ‒ de obras do género daquela a que nos dedicamos, sobre a qual se fornecerão, em seguida, alguns dados mais precisos. 3. Dicionário de História Empresarial ‒ Bancos e Seguradoras, sécs. XIX e XX 3.1. Processo de organização. Verificada a carência de um dicionário do ramo, delineámos um projecto, na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), no âmbito do Centro de Estudos de História Empresarial (CEHC) e do Instituto de Investigação Pluridisciplinar da UAL ‒ IIPUAL (actualmente Instituto de Apoio à Investigação & Desenvolvimento ‒ IAID), que contribuísse para colmatar aquela lacuna. Apesar de, segundo o projecto inicial ‒ iniciado em 2007 ‒, se ter em mente a organização de um dicionário em vários volumes, sendo o último dedicado à biografia de empresários, optámos por começar pelo sector financeiro (banca e seguros), adoptando como quadro cronológico os séculos XIX e XX. A obra é coordenada pelo Prof. Miguel Figueira de Faria e por mim próprio, que também integramos a Comissão Científica, à qual pertencem ainda os Profs. Jaime Reis e Pedro Lains. Uma vez feito o plano de trabalho e elaboradas as respectivas fichas-modelo, com o intuito de uniformizar, minimamente, a recolha de informação, efectuámos um número

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considerável de contactos e reuniões com investigadores de todo o País ‒ incluindo Regiões Autónoma da Madeira e dos Açores ‒, convidados de acordo com os seguintes critérios:

a) Sempre que possível, autores que tivessem publicado estudos, com a devida qualidade, sobre a actividade bancária e seguradora ou acerca de empresas destes domínios;

b) Autores pertencentes a instituições do Ensino Superior ou a centros de investigação, de preferência habilitados com o grau de Doutor;

c) Mestres ou licenciados com experiência no âmbito da pesquisa histórica e com provas dadas nesse âmbito.

É-nos grato constatar que encontrámos uma boa receptividade da parte dos autores a quem foi solicitada colaboração ‒ tendo sido reduzido o número das recusas, regra geral por motivos justificados ‒, integrando o leque, dos 38 colaboradores, 23 Doutores, 3 Mestres e 12 Licenciados, pertencentes a 20 instituições de todo o País (Universidades, entre as quais uma brasileira, Centos de Investigação, Institutos e Bancos). Dignaram-se colaborar connosco alguns dos especialistas mais destacados do domínio da História Financeira portuguesa. No total, o Dicionário contará com 248 entradas, 170 relativas a bancos e 78 a companhias de seguro. Prevê-se que a sua extensão ultrapasse as 700 páginas e que a sua publicação se concretize nos próximos meses. 3. 2. Resultados preliminares. Sem pretender antecipar-me ao que constará do texto introdutório ao Dicionário, permito-me apenas chamar a atenção para alguns aspectos acerca dos quais o nosso conhecimento ficará enriquecido e valorizado, com a futura publicação desta obra. Relativamente ao ritmo verificado na criação de empresas bancárias e seguradoras, consta-se que, enquanto no primeiro caso o número mais elevado se verificou nas décadas de 1860-80 e 1911-30, já no que se refere aos seguros se destacaram os anos 1811-20, 1901-30 e 1941-70.

QUADRO 1 e GRÁFICO 1 - Instituições Bancárias (1801-1990)

Anos Fundação Encerramento/fusão/incorporação Saldo 1801-1810 1 0 1 1821-1830 1 1 0 1831-1840 3 0 3 1841-1850 7 6 1 1851-1860 4 0 4 1861-1870 20 2 18 1871-1880 43 8 35 1881-1890 2 11 -9 1891-1900 9 13 -4 1901-1910 10 2 8 1911-1920 25 9 16

5

1921-1930 17 21 -4 1931-1940 6 15 -9 1941-1950 3 5 -2 1951-1960 5 2 3 1961-1970 2 11 -9 1971-1980 4 17 -13 1981-1990 3 10 -7

Nota: Foram somente contabilizadas as instituições em que são conhecidas as datas de fundação e de

encerramento/fusão/incorporação. Por sua vez, na sequência e devido aos efeitos de crises mais violentas, o número das empresas encerradas ou objecto de aquisição ou fusão aumentou, do que também foi resultando uma maior concentração e o aumento de capacidade das que sobreviveram. No caso da banca, assim sucedeu, sobretudo, nas décadas de 1880-1910, 1930-40 e 1970-90. Relativamente às seguradoras, esse movimento foi mais nítido nos anos 1830-40 e 1971-80.

QUADRO 2 e GRÁFICO 2 - Companhias de Seguros (1751-1990)

Anos Fundação Encerramento/fusão/incorporação Saldo 1751-1760 1 0 1 1791-1800 3 1 2 1801-1810 5 3 2 1811-1820 10 2 8 1821-1830 0 3 -3 1831-1840 2 5 -3 1841-1850 1 1 0 1851-1860 2 0 2 1871-1880 4 1 3 1881-1890 1 1 0 1891-1900 3 0 3 1901-1910 11 0 11 1911-1920 12 0 12 1921-1930 10 11 -1 1931-1940 4 5 -1

01020304050

Fundação Encerramento/fusão/incorporação

6

1941-1950 9 2 7 1961-1970 0 1 -1 1971-1980 2 22 -20 1981-1990 1 4 -3

Nota: Foram somente contabilizadas as instituições em que são conhecidas as datas de fundação e de encerramento/fusão/incorporação. No que concerne à longevidade das instituições bancárias (partindo dos anos da fundação e do encerramento/fusão/aquisição), verifica-se que a maior percentagem (17,45%) teve uma vida curta (até 5 anos), seguindo-se as que exerceram a sua actividade entre 11 e 15 anos e entre 21 e 25 (9,4%, nos dois casos).

QUADRO 3 e GRÁFICO 3 - Longevidade das instituições bancárias

Anos N.º % Até 5 26 17,456 a 10 14 9,40 11 a 15 14 9,40 16 a 20 8 5,37 21 a 25 14 9,40 26 a 30 6 4,03 31 a 35 9 6,04 36 a 40 7 4,70 41 a 45 5 3,36 46 a 50 10 6,71 51 a 55 1 0,67 56 a 60 5 3,36 61 a 65 4 2,68 66 a 70 8 5,37 71 a 75 3 2,01 76 a 80 2 1,34 81 a 85 1 0,67

0

5

10

15

20

25

Fundação Encerramento/fusão/incorporação

7

86 a 90 1 0,67 91 a 95 2 1,34 96 a 100 1 0,67

> 100 8 5,37 Total: 149 100

Nota: Não foram contabilizadas as instituições que ainda perduram, bem como as que não se conhece data de extinção/fusão/incorporação. Já as companhias de seguro que tiveram vida mais longa operaram entre 6 e 10 anos (13,89%) e entre 21 e 25 anos (11,11%).

QUADRO 4 e GRÁFICO 4 - Longevidade das Companhias de Seguros

Anos N.º % Até 5 2 2,78

06 a 10 10 13,8911 a 15 1 1,39 16 a 20 5 6,94 21 a 25 8 11,1126 a 30 4 5,56 31 a 35 1 1,39 36 a 40 4 5,56 41 a 45 2 2,78 46 a 50 5 6,94 51 a 55 2 2,78 56 a 60 2 2,78 61 a 65 5 6,94 66 a 70 4 5,56 71 a 75 4 5,56

17%

9%

9%

5%9%

4%6%

5%3%

7%1%

3%3%

5%2% 1% 1%

1% 1%1%

5%

Até 5 06 a 10 11 a 15 16 a 20 21 a 25 26 a 30 31 a 3536 a 40 41 a 45 46 a 50 51 a 55 56 a 60 61 a 65 66 a 7071 a 75 76 a 80 81 a 85 86 a 90 91 a 95 96 a 100 > 100

8

76 a 80 3 4,17 81 a 85 1 1,39 86 a 90 1 1,39 91 a 95 1 1,39 96 a 100 2 2,78

> 100 5 6,94 Total 72 100

Nota: Não foram contabilizadas as instituições que ainda perduram, bem como as que não se conhece data de extinção/fusão/incorporação. Quanto à distribuição geográfica pelo País das empresas bancárias ou da respectiva sede, constata-se uma dispersão considerável pelos diversos centros urbanos ‒ cidades e mesmo algumas vilas ‒, embora com destaque para a cidade do Porto (com 21,3% das instituições bancárias da Região Norte) e Lisboa (com 31,95% da Região Centro).

QUADRO 5 e GRÁFICO 5 - Instituições Bancárias – Localização e distribuição geográfica

Região N.º % % Norte 32,54Barcelos 1 0,59 Braga 3 1,78 Bragança 1 0,59 Chaves 1 0,59 Guimarães 2 1,18 Lamego 1 0,59

3%

14%1%

7%

11%

6%

1%6%

3%

7%3%

3%

7%

6%

6%

4%

1% 1% 1%3%

7%

a té 5 06 a 10 11 a 15 16 a 20 21 a 25 26 a 30 31 a 3536 a 40 41 a 45 46 a 50 51 a 55 56 a 60 61 a 65 66 a 7071 a 75 76 a 80 81 a 85 86 a 90 91 a 95 96 a 100 > 100

9

Ponte de Lima 1 0,59 Porto 36 21,30 Régua 1 0,59 Viana do Castelo

4 2,37

Vila Nava de Gaia

1 0,59

Vila Nova de Famalicão

1 0,59

Vila Real 1 0,59 Viseu 1 0,59 Centro 37,28Abrantes 1 0,59 Alcobaça 2 1,18 Aveiro 2 1,18 Coimbra 1 0,59 Covilhã 1 0,59 Leiria 1 0,59 Lisboa 54 31,95 Tomar 1 0,59 Sul 5,33Aljustrel 1 0,59 Elvas 1 0,59 Évora 2 1,18 Faro 2 1,18 Santiago do Cacém

1 0,59

Serpa 1 0,59 Setúbal 1 0,59 Açores 11,83Ponta Delgada 11 6,51 Povoação 1 0,59 Ribeira Grande 1 0,59 Angra do Heroísmo

3 1,78

Praia da Vitória 1 0,59 Horta 2 1,18Vila Madalena 1 0,59 Madeira 6,51Funchal 11 6,51 Províncias Ultramarinas

2,37

Lourenço Marques

1 0,59

Luanda 3 1,78 Estrangeiro 4,14Londres 4 2,37

10

Lyon 1 0,59 Rio de Janeiro 2 1,18 Totais 169 100 100

Por seu lado, no que toca às companhias de seguro, já a percentagem das concentradas/sedeadas em Lisboa (61,25%) se destaca nitidamente das concentradas/sedeadas no Porto (18,75%). Sob este ponto de vista também se destaca o Rio de Janeiro (8,75%).

QUADRO 6 e GRÁFICO 6 - Companhias de Seguros – Localização e distribuição geográfica

Cidade N.º % Lisboa 49 61,25 Porto 15 18,75 Elvas 1 1,25

Aveiro 1 1,25 Lourenço Marques

1 1,25

Évora 1 1,25 Torre de

Moncorvo 1 1,25

Ponta Delgada

1 1,25

Brasil/Baía 3 3,75 Brasil/Rio de

Janeiro 7 8,75

Total: 80 100

33%

37%

5%

12%

7%

2%4%

Norte

Centro

Sul

Açores

Madeira

Provícias Ultramarinas

Estrangeiro

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Não dispomos ainda de uma tipologia sistemática das instituições bancárias que têm operado em Portugal. Contudo, temos referências esparsas a alguns tipos, em certos casos nas próprias designações: casa bancária, banco (especializado, universal, unitário ou com sucursais, agências, agentes e balcões), caixa económica, caixa económica de crédito agrícola, companhia financeira, montepio, etc. Todos estes géneros de instituições financeiras estão contemplados no Dicionário. Faltam-nos estudos sistemáticos e desenvolvidos sobre aqueles que podemos classificar como bancos regionais, os quais desempenharam um papel relevante no desenvolvimento das diversas zonas do País, com destaque para as mais afastadas dos grandes centros urbanos, onde a oferta bancária era mais abundante. Assim, um dos maiores contributos que esperamos poder dar com este estudo é o proporcionar a investigadores, profissionais do sector financeiro, estudantes e público, em geral, um conhecimento mais completo e abrangente daqueles bancos. Mas, antes de prosseguirmos, convirá definir o que se entende por este tipo de bancos. Segundo se pode ler em obra especializada sobre a temática, quatro critérios se afiguram apropriados para definir bancos locais e regionais:

a) Meios de acção modestos; b) Implantação geográfica restrita; c) Recrutamento de accionistas, dirigentes e pessoal no meio local; d) Política bancária centrada nas prioridades locais (LESCURE e PLESSIS, 2004).

Ora, à luz deste critérios, um conjunto significativo dos bancos estudados pode ser classificado como bancos regionais e locais. Entre muitos outros sobre os quais termos entradas no Dicionário contam-se os seguintes: Banco do Alentejo; Banco de Barcelos; Banco de Bragança; Banco de Chaves; Banco Comercial de Coimbra; Banco Comercial de Guimarães; Banco Comercial de Viana; Banco da Covilhã; Banco do Douro; Banco Eborense; Banco da Estremadura; Banco Mercantil de Braga; Banco Mercantil de Viana;

62%19%

1%1%1%

1%1%

1% 4% 9%Lisboa

Porto

Elvas

Aveiro

Lourenço Marques

Évora

Torre de Moncorvo

Ponta Delgada

Baía

Rio de Janeiro

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Banco do Minho; Banco Regional de Aveiro; Banco Regional do Sado; Banco da Régua; Banco Rural de Serpa, etc., além de numerosas casas bancárias, caixas de crédito e caixas de crédito agrícola mútuo, que também exerceram actividade bancária. A despeito de, em muitos casos, se ter perdido quase por completo a memória destas instituições financeiras, elas desempenharam um papel importante a nível local e regional, ao captarem as pequenas poupanças das respectivas comunidades e ao concederem crédito a pequenos empresários que dele necessitavam. Dada a sua implantação regional, por vezes só de forma muito ténue e tardiamente sentiam os efeitos das grandes crises (como as de 1876 e 1929) mas, por outro lado, afectava-os profundamente as crises registadas na respectiva região, inclusive provocadas por maus anos agrícolas (assim sucedeu, por exemplo, com as diversas crises que se fizeram sentir na viticultura da região duriense, nas últimas décadas de Oitocentos). A evolução da história destas instituições fornece-nos também elementos de interesse sobre o papel da aristocracia e da burguesia regionais e locais ‒ como fundadores, accionistas, colaboradores ou clientes ‒ e, bem assim, a sua ligação à economia e à política, a nível local, regional e nacional. Como os ditos bancos regionais beneficiavam do efeito de proximidade e o seu pessoal tinha um profundo conhecimento do meio, em muitos casos, ao serem adquiridos por (e/ou fundidos com) bancos de implantação nacional, estes aproveitaram as agências e balcões daqueles para aí se instalarem, sob nova designação e com outra capacidade de acção. Assim, vários dos bancos hoje bem conhecidos tiveram as suas raízes em modestos bancos ou casas bancárias regionais, mantendo, por vezes, nas respectivas firmas, as designações iniciais ou mesmo os nomes dos seus fundadores. Também a história de aquisições e fusões que envolveu esses bancos nos fornece dados pertinentes sobre as conjunturas que facilitaram esse processo de um certa “selecção natural”, da qual resultou uma nítida concentração da actividade bancária, com o fortalecimento de uns tantos e, nas últimas décadas, a formação de grupos bastantes poderosos. No que diz respeito às caixas económicas e às caixas económicas de crédito agrícola ‒ cujo número chegou a ultrapassar a centena ‒, é interessante analisar como se foram adaptando à nova realidade do pós-25 de Abril, uma vez que, juntamente com os bancos estrangeiros, elas não foram afectadas pelo processo das nacionalizações. Ao invés, a partir de meados de 1986, com as privatizações e a abertura à entrada de novos bancos estrangeiros, aquelas tiveram que enfrentar um mercado financeiro muito mais dinâmico e concorrencial, o que fez com que várias delas não tivessem conseguido sobreviver, embora outras continuem no activo e a desempenhar o seu papel. Para concluir e na sequência do que sucintamente se acaba de expor, esperamos que o presente Dicionário de Bancos e Seguradoras (sécs. XIX e XX), quando publicado, possa ser da maior utilidade não só para investigadores e estudantes, como para os profissionais do sector e, em última análise, para um público mais vasto, interessado na nossa História Económica Contemporânea, da qual a actividade financeira é um pilar da maior relevância. Embora o que nele se apresenta sejam histórias sucintas das organizações financeiras contempladas ‒ todas aquelas de que tivemos conhecimento e acerca das quais foram

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localizadas fontes e bibliografia ‒, estes textos poderão constituir pontos de partida e servir de inspiração aos investigadores para novos trabalhos. Tal poderá verificar-se, inclusive, no âmbito da preparação de provas académicas, cujas dissertações de Mestrado e teses de Doutoramento tenham como objecto (a exemplo do que já se verificou, num ou outro caso) as nossas instituições financeiras, ainda insuficientemente estudadas e conhecidas. Além do contributo para a realização dos chamados case studies, os textos a publicar no Dicionário poderão contribuir ainda para o esclarecimento de questões de carácter mais geral, formuladas por economistas, como estas: a) a finança afecta a economia? um determinado sistema financeiro difere de cada um dos outros? quais as razões dessas diferenças? quais são as consequências? (LESCURE, 2007: 319).

BIBLIOGRAFIA

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Londres e Nova Iorque, Routledge, 2011. AMATORI, Franco e JONES, Geoffrey (Eds.), Business Histtory aroud the World,

Cambridge, Cambridge University Press, 2003. BASTIEN, Carlos, «A história empresarial em Portugal: um balanço da conjuntura

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