Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do … da III Jornada do... · Catalogação na...

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Maíra Bonafé Sei Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis (Organizadoras) Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL 1ª. Edição Londrina/PR Universidade Estadual de Londrina 2017

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Maíra Bonafé Sei

Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

(Organizadoras)

Diálogos em Psicanálise - Anais da III

Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso

de especialização em Clínica Psicanalítica

da UEL

1ª. Edição

Londrina/PR

Universidade Estadual de Londrina

2017

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Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da

Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

J82a Jornada do LEPPSI (3. : 2017 : Londrina, PR)

Anais da III Jornada do LEPPSI e [do] II Seminário do Curso de

Especialização em Clínica Psicanalítica da UEL [livro eletrônico] : Diálogos

em psicanálise / Organizadoras: Maíra Bonafé Sei, Maria Elizabeth Barreto

Tavares dos Reis. – Londrina : UEL, 2017.

1 Livro digital.

Inclui bibliografia.

Disponível em:

http://www.uel.br/projetos/leppsi/pages/eventos/iii-

jornada-leppsi.php.

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Sumário

Apresentação ............................................................................................................................................................................................. 1 Estudos e Pesquisas em Psicanálise: um caminho a seguir ............................................................................................ 2

Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ........................................................................................................................ 2 Palestra ......................................................................................................................................................................................................... 4

Breve apresentação de Sándor Ferenczi ................................................................................................................................. 5 Daniel Polimeni Maireno .......................................................................................................................................................... 5

Resumos expandidos............................................................................................................................................................................ 10 O manejo da transferência na relação terapêutica com adolescentes: relato de experiência ....................... 11

Amanda Lays Monteiro Inácio; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ..................................................... 11 A contratranferência na clínica atual ...................................................................................................................................... 17

Jéssica Gehring Palladino de Souza Dutra1; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................ 17 Dificuldades afetivo-emocionais na infância: a psicoterapia psicanalítica frente à medicalização ............ 22

Juliana Mistrini Veríssimo; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................................................. 22 Um estudo da relação parental na adolescência sob o ponto de vista psicanalítico .......................................... 27

Marisa de Cássia Domingues Subtil de Almeida; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis .................. 27 Um olhar para o masculino na clínica psicanalítica .......................................................................................................... 32

Solange Gomes de Melo Viol; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ......................................................... 32 Medidas socioeducativas: adolescência e a vulnerabilidade para o ato infracional .......................................... 37

Anderson José Rodrigues; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................... 37 Algumas expressões do falso self a partir de um caso clínico com adolescente .................................................. 42

Isabella Suttini Ferreira; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ....................................................................... 42 As contribuições da Psicanálise para o tratamento de adictos na clínica psicanalítica ................................... 48

Márcia Camacho da Silva Cordér; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Mauro Fernando Duarte 48 Em se tratando de atendimento infantil, quem é o paciente? ...................................................................................... 52

Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Paulo Victor Bezerra .............................. 52 Depressão na contemporaneidade: uma análise do filme “Entre Abelhas” ........................................................... 57

Mayra Ramalheira de Almeida; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Paulo Victor Bezerra ............ 57 Possibilidades da psicanálise em casos de alienação parental .................................................................................... 62

Naiara Calvi Oliveira; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .............................................................................. 62 Psicossomática: contribuições de Winnicott e Joyce McDougall ................................................................................ 67

Rosilene Devechi; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Mauro Fernando Duarte ................................ 67 A mãe que não se torna desnecessária e suas possíveis consequências para o amadurecimento do seu filho nos estágios iniciais da vida .............................................................................................................................................. 72

Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ..................................................................... 72 A função paterna: uma relação direta a partir do complexo de Édipo masculino sob um enfoque psicanalítico........................................................................................................................................................................................ 77

Cristiano Domingues da Silva; Ricardo Justino Flores .............................................................................................. 77 Repetição e relacionamentos amorosos ................................................................................................................................ 81

Homero Artur Belloni Silva; Ricardo Justino Flores ................................................................................................... 81 As saídas possíveis do Édipo e suas implicações nos (des)encontros do amor ................................................... 86

Mariana Mota Mesquita; Ricardo Justino Flores .......................................................................................................... 86 Resumos ..................................................................................................................................................................................................... 92

A teoria winnicottiana e o falso self: um estudo de caso ................................................................................................ 93 Amanda Lays Monteiro Inácio; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ..................................................... 93

Implicações dos aspectos psicológicos em uma avaliação com finalidade de mudança de sexo ................. 94 Amanda Lays Monteiro Inácio; Amália Clivati Cauduro; Eduardo Yudi Huss; Katya Luciane de Oliveira; Patrícia Silva Lúcio; Patricia Emi de Souza .................................................................................................. 94

Reflexões atuais sobre o processo de individualização em gêmeos ......................................................................... 95 Beatriz Cristina Gallo; Maria Elizabeth Barreto Tavares Dos Reis; Silvia Nogueira Cordeiro ................. 95

Grupo de Dinâmicas: Conversando sobre a Adolescência ............................................................................................. 96 Beatriz Cristina Gallo; Lara Balera; Daniel Polimeni Maireno ............................................................................... 96

Congresso nacional sobre relacionamento familiar (conaref) .................................................................................... 97 Cristiane Castilho Cadan ......................................................................................................................................................... 97

Os atravessamentos institucionais no atendimento com crianças a partir de um viés psicanalítico ........ 99 Debora Lydines Martins Corsino; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................... 99

Malandramente, uma menina inocente: reflexões sobre o manejo da psicoterapia com adolescentes . 101

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Felipe de Souza Barbeiro; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ............................................................ 101 Os processos de saúde-doença em mulheres: um estudo a partir da Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida (EDAO-R). ............................................................................................................................ 102

Flávia Angelo Verceze; Silvia Nogueira Cordeiro ...................................................................................................... 102 Pulsão de morte articulada ao corpo: sintoma? .............................................................................................................. 103

Isadora Nicastro Salvador; João Pedro Gomes Previdello; Claudia Maria de Sousa Palma ................... 103 Atividades dos projetos de Extensão e Pesquisa que lidam com a Adolescência e Escolha Profissional - aplicação do EMEP e outras técnicas psicológicas ......................................................................................................... 104

Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida; Jádia Cristina Dos Santos; Giovanna Sandoval Fioresi; Geovanna Moreno Cianca; Jéssica Cardoso Roque; Rafaela Grumadas Machado ...................................... 104

A Clínica Dermatológica e a sua articulação com o Serviço de Psicologia ........................................................... 106 Leonardo Piva Botega; Paula Medri; Claudia Maria de Sousa Palma ............................................................... 106

Subjetividade e maternidade: um caso clínico ................................................................................................................. 108 Luciane Cristina de O. Carnaúba; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................. 108

Aplicando o “Holding” em uma clínica psicológica universitária ............................................................................ 109 Luciane Cristina de O. Carnaúba; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................. 109

Modalidades de Intervenção em Orientação Profissional .......................................................................................... 110 Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Manuela dos Reis Parenti; Geovanna Moreno Cianca; Giovanna Sandoval Fioresi .................................................................................................................................................. 110

Transferência no atendimento clínico de crianças autistas ....................................................................................... 111 Márcia Camacho da Silva Cordér; Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ... 111

O serviço de Plantão Psicológico da UEL como dispositivo da Atenção Básica de Saúde: Psicologia, políticas públicas e a rede de saúde mental ...................................................................................................................... 112

Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei 112 Psicanálise, instituição e grupos: a escuta psicanalítica nos Grupos de Dinâmicas do serviço-escola de Psicologia da UEL .......................................................................................................................................................................... 113

Maria Lúcia Ortolan; Gabriel Candido Paiva; Daniel Polimeni Maireno; Maíra Bonafé Sei ................... 113 A psicoterapia psicanalítica com adolescentes e uso de jogos nas sessões ........................................................ 114

Maristela Helfenstein; Maíra Bonafé Sei ....................................................................................................................... 114 O setting e o manejo da clínica winnicottiana .................................................................................................................. 116

Maristela Helfenstein; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ......................................................................... 116 Abuso sexual: função materna, proteção e (des)proteção na perspectiva da psicanálise ........................... 117

Simone Paula A. Rodrigues; Gabriela Lorena Massardi ......................................................................................... 117 Abuso sexual e trauma na constituição do psiquismo sob o ponto vista da psicanálise............................... 118

Simone Paula A. Rodrigues; Gabriela Lorena Massardi ......................................................................................... 118 O ineditismo da psicanálise na exploração da psique .................................................................................................. 119

Vinícius Xavier Cintra Marangoni; Mary Yoko Okamoto ....................................................................................... 119 Os limites do pronto atendimento psicológico e a questão do encaminhamento............................................ 120

Ana Letícia Alves Morais; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei .................. 120 A psicoterapia familiar na adoção: cuidado em Saúde Mental ................................................................................. 122

Caroline da Silva Fantini; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................................. 122 A Psicose na infância a partir do viés winnicottiano, e o setting no dispositivo de saúde mental pós reforma psiquiátrica: relato de experiência de um Caps Infantil ............................................................................ 123

Caroline da Silva Fantini; Maíra Bonafé Sei ................................................................................................................. 123 A função simbolizante da creche no processo de subjetivação do bebê .............................................................. 125

Cleide Vitor Mussini Batista ............................................................................................................................................... 125 Crianças autistas e psicóticas: por uma construção de uma escola ........................................................................ 126

Cleide Vitor Mussini Batista ............................................................................................................................................... 126 Do “quintal” da escola: ................................................................................................................................................................ 127 Por um protocolo de observação dos brincares da criança ............................................................................................... 127

Cleide Vitor Mussini Batista; Paloma de Campos Ale Pereira ............................................................................. 127 Breve discussão sobre a atuação em psicologia hospitalar ....................................................................................... 129

Daiane Franciele Costa; Estela Parrilha Casemiro da Silva; Jaqueline Bezerra Ferreira; Luana Dias da Silva; Maria Gabriela Lima Gomes; Daniela Maria Maia Veríssimo .................................................................. 129

Breves considerações sobre o vínculo professor-aluno: Um olhar Psicanalítico ............................................. 131 Daniella de Souza Balduino; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ............................................................. 131

A oferta de atendimento na Clínica Psicológica da UEL a partir de um programa de Extensão ................ 132 Debora Lydines Martins Corsino; Felipe Montes Trevisan; Maíra Bonafé Sei ............................................. 132

Projeto de intervenção com adolescentes em processo de medida socioeducativa ....................................... 134

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Estela Parrilha Casemiro da Silva; Maria Gabriela Lima Gomes; Thaís Yazawa ......................................... 134 A escuta como ferramenta de trabalho no pronto atendimento psicológico ..................................................... 135

Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor Bezerra; Maíra Bonafé Sei ........................................................................ 135 Adolescência e a escolha profissional: o tempo do devir ............................................................................................ 137

Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida; Geovanna Moreno Cianca................................................................. 137 Atendimento familiar em clínica-escola: algumas reflexões sobre a resistência no processo terapêutico em famílias encaminhadas pelo sistema judiciário de Londrina ............................................................................. 139

Hellen Lima Buriolla; Hévila de Fátima P. Pereira; Maíra Bonafé Sei .............................................................. 139 Relato de Caso: Avaliação psicológica de uma criança encaminhada por suspeita de deficiência intelectual: divergências entre a avaliação formal e informal .................................................................................. 140

Hellen Lima Buriolla; Jaqueline Alvernaz de Miranda; Eduardo Yudi Huss; Patrícia Silva Lúcio; Katya Luciane de Oliveira ................................................................................................................................................................. 140

A ansiedade a partir dos conceitos de Freud .................................................................................................................... 142 Hévila de Fátima P. Pereira; Jéssica Guirardelli; Mauro Fernando Duarte.................................................... 142

Adolescência e Escolha Profissional de Adolescentes do Ensino Médio na cidade de Londrina –PR. .... 144 Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida; Jádia Cristina Dos Santos; Giovanna Sandoval Fioresi; Geovanna Moreno Cianca; Jéssica Cardoso Roque; Rafaela Grumadas ......................................................... 144

Uma articulação entre a psicanálise e a arte na saúde mental ................................................................................. 146 Josemar Santos de Matos; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ................................................................. 146

A transmissão transgeracional na trilogia tebana.......................................................................................................... 147 Josemar Santos de Matos; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida ................................................................. 147

Os casos de histeria no Plantão Psicológico da UEL: a importância das supervisões para o desenvolvimento de raciocínio diagnóstico e manejo clínico do psicólogo ....................................................... 148

Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan; Ana Letícia Alves Morais; Gabrieli Zaros Granusso; Paulo Victor Bezerra......................................................................................................................................................................................... 148 Maíra Bonafé Sei ...................................................................................................................................................................... 148

Ansiedade em psicanálise: um recorte clínico. ................................................................................................................ 150 Mayra Cristina Teixeira Batista; Carolina Caires Motta ......................................................................................... 150

Atenção à saúde da mulher: relato de experiência ........................................................................................................ 151 Nathália Tavares Bellato Spagiari; Sílvia Nogueira Cordeiro; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis ................................................................................................................................................................................................ 151

Percepções do psicólogo-observador sobre a relação mãe-bebê e equipe de saúde na visita puerperal: o método Bick ..................................................................................................................................................................................... 152

Nathália Tavares Bellato Spagiari; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis; Sílvia Nogueira Cordeiro....................................................................................................................................................................................... 152

Impactos cognitivos da depressão infantil sob a ótica da avaliação psicológica .............................................. 154 Patricia Emi de Souza; Amanda Lays Monteiro Inácio; Larissa Botelho Gaça ............................................. 154

Aspectos cognitivos e atencionais em uma avaliação psicológica no contexto de trânsito ......................... 155 Patrícia Emi de Souza; Eduardo Yudi Huss; Amanda Lays Monteiro Inácio; Katya Luciane de Oliveira ......................................................................................................................................................................................................... 155

A avaliação psicológica e a influência de questões emocionais em um caso de dificuldade de aprendizagem ................................................................................................................................................................................. 156

Patricia Emi de Souza; Lana Raquel Piassa; Amanda Lays Monteiro Inácio; Patrícia Silva Lúcio; Katya Luciane de Oliveira ................................................................................................................................................................. 156

Relato de experiência de atendimento clínico à pessoa idosa .................................................................................. 158 Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................. 158

Manejo da técnica em um caso de paciente com tentativas de suicídio ............................................................... 159 Vanessa Cristina Paviani; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida .................................................................. 159

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Comissões

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Comissões

Comissão Científica

Maíra Bonafé Sei

Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

Ricardo Justino Flores

Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida

Sílvia Nogueira Cordeiro

Organização dos Anais

Maíra Bonafé Sei

Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

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Programação

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Programação

27 de abril /2017

Horário Atividade

8h00 – 8h30 Credenciamento

8h15 – 8h30 Abertura

08h30 – 9h30 Conferência de Abertura: Clínica Psicanalítica na Infância Coordenadora: Profa. Dra. Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

Palestrante: Psicanalista Niracema Kuriki

9h30 – 10h00 Coffee break e Apresentação de pôsteres e lançamentos de livros

10h00 – 12h00 Mesa 1: Contribuições teórico-práticas à clínica psicanalítica na atualidade

Coordenadora da mesa: Profa. Dra.Maíra Bonafé Sei Sandor Ferenczi – Prof. Dr. Daniel Polimeni Maireno Thomas Ogden – Prof. Dr. Cleto Rocha Pombo Filho

13h00-14h00 Roda de conversa sobre o mestrado o Mestrado de Psicologia na UEL

14h00 – 15h30 Mesa 2: Os desafios da Psicanálise no contexto hospitalar Coordenadora da mesa: Profa. Dra.Sílvia Nogueira Cordeiro

Palestrantes:

Ana Lilian Marchesoni Parrelli (HU/UEL) Patrícia Maria Fassina Lepri (HU/UEL) Maria Terezinha Meira Lopes Monteiro (HU/UEL)

15h30 – 16h00 Coffee break, Apresentação de pôsteres e lançamentos de livros

16h00 – 18h00 Supervisão pública de caso clínico Coordenadora: Profa. Dra. Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida

Supervisora: Psicanalista Lucia A. Barreto Osti

Seminário especialização em Clínica Psicanalítica

28 de abril /2017

Horário Atividade

8h00 – 9h30 Sessão de Apresentação Oral 1 Sessão de Apresentação Oral 2

9h30 – 10h00 Coffee break

10h00 – 12h00 Sessão de Apresentação Oral 3 Sessão de Apresentação Oral 4

12h00 - 14h00 Almoço

14h00 – 15h30 Sessão de Apresentação Oral 5 Sessão de Apresentação Oral 6

15h30 – 16h00 Coffee break 16h00 – 18h00 Sessão de Apresentação Oral 7 Sessão de Apresentação Oral 8

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 1

Apresentação

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ISBN 978-85-7846-424-0 2

Estudos e Pesquisas em Psicanálise: um caminho a seguir

Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis

O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicanálise (LEPPSI) visa o estudo, o

ensino, a pesquisa, a extensão e a difusão da psicanálise no contexto universitário

nacional e internacional, tendo como uma das atividades a realização de Jornadas

científicas.

A III Jornada do Laboratório de Estudo e Pesquisa em Psicanálise (LEPPSI)

teve como objetivo estabelecer Diálogos em Psicanálise, com o intuito de fomentar o

estudo e aplicação da Psicanálise nos diversos pilares da academia – ensino, pesquisa e

extensão, bem como incentivar na comunidade o interesse pelo estudo e aplicação da

psicanálise tanto na clínica quanto nos serviços de saúde.

Os Diálogos em Psicanálise iniciaram com a conferência “Clínica Psicanalítica na

Infância”, onde foi possível refletir sobre a temática frente às novas configurações da

família e cuidados destinados à infância. Na mesa redonda “Contribuições teórico-

práticas à clínica psicanalítica na atualidade”, foram apresentadas as contribuições de

Sandor Ferenczi e Thomas Ogden à clínica psicanalítica na contemporaneidade. Na mesa

sobre “Os desafios da Psicanálise no contexto hospitalar” foi possível dialogar sobre a

atuação do serviço de Psicologia no Hospital Universitário da UEL, demonstrando as

dificuldades encontradas na realização das atividades e principalmente os benefícios

vivenciados pelos usuários atendidos. Finalmente, através do “Seminário Clínico” foi

possível dialogar a respeito da psicoterapia psicanalítica na atualidade.

O evento contou com a participação de pós-graduandos através do “II Seminário

de Pesquisa do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica” que contribuíram com a

apresentação oral de 18 trabalhos científicos que estão sendo elaborados pelos

acadêmicos do referido curso. Além disso, 50 trabalhos no formato pôster, elaborados

por graduandos, pós-graduandos, psicólogos e educadores provenientes de

universidades do Paraná e São Paulo.

As atividades realizadas contribuíram para a divulgação e atualização de

atividades teórico-práticas tanto no contexto do ensino da Psicanálise quanto na atuação

dos psicólogos na clínica e nos serviços de saúde.

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ISBN 978-85-7846-424-0 3

Agradecemos aos profissionais que aceitaram o convite e certamente

contribuíram para o sucesso do evento, à comissão organizadora e científica pela

elaboração da proposta e participação efetiva nas diversas etapas da realização da

Jornada, aos monitores e à Empresa Elo pelo auxílio logístico tanto do evento quanto

desta publicação.

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ISBN 978-85-7846-424-0 4

Palestra

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ISBN 978-85-7846-424-0 5

Breve apresentação de Sándor Ferenczi

Daniel Polimeni Maireno

Um dos mais criativos e audazes colaboradores de Freud, certamente aquele com

quem o pai da psicanálise estabelecera maior intimidade, Ferenczi foi um defensor e

propagador incansável da doutrina freudiana. Escreveu excelentes textos de introdução

à psicanálise, equiparáveis aos escritos por Freud com o mesmo objetivo. Dentre todos

os seus discípulos, era Ferenczi quem Freud mais acionava para publicamente

questionar as teorias de dissidentes como Adler e Jung, bem como para responder às

críticas vindas de diversas autoridades acadêmicas da época. Compreensível, então,

porque Freud orgulhosamente referiu-se a ele como um colaborador "que equivale a

uma sociedade inteira" (1914/2012, p. 281).

Paradoxalmente, Ferenczi foi também um crítico perspicaz – e, para muitos de

seus contemporâneos, bastante incômodo – de determinados pontos dessa mesma

teoria que tanto defendia e propagava, especialmente nos pontos que dizem respeito

diretamente à terapêutica psicanalítica, à performance do psicanalista, à sua

disponibilidade intelectual e emocional etc. Compreensível, então, porque Freud

reservadamente referiu-se a ele como o "padrinho de toda técnica transgressiva" (cf.

Sanches, 1993, p. 91).

Tais questionamentos, no entanto, jamais fizeram com que Ferenczi se tornasse

mais um dissidente do movimento psicanalítico. Segundo Green, Ferenczi poderia ser

legitimamente chamado de "o pai de grande parte da psicanálise contemporânea" (cf.

COELHO JUNIOR, 2004, p. 80). No mesmo sentido, Kezem afirma que "[...] as

controvérsias entre os dois expoentes da psicanálise é um divisor de águas entre a fase

clássica e a fase contemporânea da psicanálise." (2010, p. 23) – o que justifica, enfim,

falar de Ferenczi neste evento promovido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisa em

Psicanálise da UEL, numa mesa que pretende discutir a psicanálise na

contemporaneidade.

Com Ferenczi vê-se surgir um real entusiasmo em encarar clinicamente

modalidades de sofrimento estranhas àquele funcionamento neurótico que marcara as

primeiras descobertas freudianas, formas de sofrimento que pareciam implicar

mecanismos defensivos diferentes do recalque, e cujos movimentos pulsionais

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percorriam caminhos outros que não os do sintoma neurótico. Situações clínicas, enfim,

que pareciam demandar uma atuação terapêutica diferente da utilizada na lida com as

neuroses de transferência.

Não há dúvidas de que tais diversidades clínicas atraíam a atenção de muitos à

época, incluindo o próprio Freud. Mas foi Ferenczi quem de forma mais substanciosa

promoveu experimentações terapêuticas com tais pacientes. Segundo Mezan,

Freud se torna mais sensível aos diversos fatores que, na vida psíquica, parecem

colocar fora de circuito o princípio do prazer e as organizações neuróticas que

dele dependem. Traumatismos devastadores, sentimentos de culpa acachapantes,

masoquismos gravíssimos, reações terapêuticas negativas, vivências catastróficas

de desorganização, dor psíquica insuportável, inércia ou viscosidade da libido –

toda esta gama de fenômenos, qualitativamente diferentes daqueles a que a

psicanálise se dirigira até então, passa a receber mais atenção teórica por parte

dele, e mais atenção clínica por parte de seus discípulos, em particular Ferenczi

(2014, p. 199, grifo nosso).

Dessas incursões pelos casos mais desafiadores surgiram noções que marcaram

especialmente os últimos anos de sua vida, tais como a de elasticidade, tato, neocatarse,

mutualidade, entre outras, e que têm sido revisitadas pelos psicanalistas de hoje por sua

capacidade de nos fazer pensar os limites e as potencialidades da ação psicanalítica em

nossa época, tão marcada por formas de sofrimento que transbordam qualquer

enquadre inflexível.

Segundo Fédida, é em Ferenczi que se encontra de uma maneira mais

transparente um questionamento do ofício psicanalítico em que viu-se o "[...] abandono

crescente de qualquer expectativa de 'uniformização objetiva' da técnica [...] a des-

objetivação da técnica, com a maior ênfase dada ao funcionamento psíquico do analista

[...]" (1988, p. 11), o que aumentou ainda mais o alerta ferencziano quanto à necessidade

peremptória da segunda regra fundamental da psicanálise: a análise pessoal do analista.

Ao nomear esta última de "análise autêntica", Ferenczi pretendia criticar a "análise

didática" que, em seu entendimento, permanecia em geral numa superficialidade estéril,

coadunando na formação de analistas carregados de um excesso de saber intelectual,

mas com uma escassa assunção de suas próprias subjetividades. Trata-se de uma crítica

que se afina com o ulterior questionamento lacaniano sobre a formação nos institutos

tradicionais de psicanálise, bem como suas formulações sobre o desejo do analista:

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segundo Kupermann, "[...] os problemas suscitados por Lacan (1964) através da noção

de 'desejo do analista' não são estranhos aos problemas tratados por Ferenczi em seu

Diário Clínico." (2003, p. 48, nota de rodapé)

Vem também dessa última fase de sua vida as críticas mais contundentes ao

"fanatismo da interpretação" (FERENCZI, 1928/2011, p. 38), bem como às diversas

formas de resistência do analista:

Uma espécie de fé fanática nas possibilidades de êxito da psicologia da

profundidade fez-me considerar os eventuais fracassos menos como

consequência de uma 'incurabilidade' do que da nossa própria inépcia, hipótese

que me levou necessariamente a modificar a técnica nos casos difíceis em que era

impossível obter êxito com a técnica habitual. [...] a causa do fracasso será sempre

a resistência do paciente, não será antes o nosso próprio conforto que desdenha

adaptar-se às particularidades da pessoa, no plano do método? (1931/2011, p.

81)

O que lembra a famosa provocação de Lacan – novamente! – segundo a qual "[...]

não há outra resistência à análise senão a do próprio analista" (1958/1998, p. 601). Não

é coincidência, portanto, que Ferenczi e Lacan tenham sido marginalizados, cada um em

sua época, pelas forças políticas mais tradicionais do campo psicanalítico.

Ferenczi avançou sobre um tema problematizado, porém pouco discutido, por

Freud: a contratransferência. Segundo Haynal, "todo o assunto [sobre a

contratransferência] se tornou um fardo muito pesado e um grande problema, era

considerado um segredo sobre o qual não se poderia falar abertamente. Ferenczi foi

aquele que teve que trazê-lo à luz do dia [...]" (2004, p. 14, tradução nossa).

Avançou também em outro tema que, este sim, receberia também de Freud

crescente dedicação, especialmente a partir de 1920: a constituição do Eu. O artigo O

desenvolvimento do sentido de realidade e seus estágios, segundo Balint (1968/2011), foi

"sem dúvida o primeiro artigo que se escreveu sobre o desenvolvimento do ego" (cf.

FERENCZI, 2011, v. II, p. XI), uma tentativa de Ferenczi de complementação das noções

sobre o desenvolvimento da libido avançadas por Freud.

Por outro lado, Ferenczi também foi um precursor da escola das relações de

objeto: especialmente seus últimos trabalhos permitem concebê-lo, segundo Mezan,

como

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[...] o ponto de partida de uma corrente que irá valorizar o ambiente familiar e

social no qual se desenvolve o sujeito, e, do ponto de vista técnico, recomendar

uma postura conforme a esta perspectiva genética, diferente da clássica, que seria

demasiado rígida: a escola das relações de objeto. (2014, p. 349)

Uma leitura dos textos de Ferenczi evidencia a antecipação de muitas outras

noções que se tornariam fundamentais em determinadas correntes do pensamento

psicanalítico, que podem apenas ser mencionadas aqui. É o caso, por exemplo, da noção

de regressão terapêutica, cujos desenvolvimentos alcançaram importância notória na

obra de Winnicott, como estratégia alternativa à clínica da interpretação: "[...] em vez de

falar da criança que habita o analisando através do instrumento interpretativo, seria

preciso voltar a falar com a criança que se expressa em cada paciente em análise."

(KUPERMANN, 2008, p. 83, grifos do autor). Ainda segundo este autor, haveria em

Ferenczi uma passagem da clínica fundamentalmente freudiana balizada pela tríade

associação livre - princípio de abstinência - interpretação para uma clínica balizada pela

tríade associação livre - regressão - jogo – este último elemento influenciado pelas

primeiras tentativas na história da psicanálise de realizar psicanálise com crianças.

Falando em Winnicott, cabe mencionar que as noções ferenczianas de clivagem

narcísica e progressão traumática antecipam de forma surpreendente a noção de falso

self tão cara ao pensamento winnicottiano.

Ferenczi também pode ser uma instigante referência para os interessados na

abordagem psicanalítica de fenômenos somáticos, pois seus escritos sobre tiques,

convulsões epilépticas, gagueira, impotência sexual, ejaculação precoce, entre outros

temas, contribuíram para embaçar as fronteiras entre soma e psique, tornando

imprecisas suas delimitações.

Para finalizar, espera-se que esta diversidade de temas e linhas de raciocínio

possa favorecer uma aproximação a esta figura fundamental da história da Psicanálise

que, apesar de cronologicamente distante, parece ter muito com o que contribuir para os

desafios da psicanálise na contemporaneidade. E que esta aproximação se dê

independente das preferências teóricas e metodológicas de cada um, pois a obra de

Ferenczi – aliás, como a de Freud – permite-se ser apreciada pelos mais diversos ângulos

e interesses. Pensando a partir dessa diversidade, talvez Freud estivesse mesmo certo

quando escreveu que os trabalhos de Ferenczi "converteram todos os analistas em seus

discípulos" (1933/2010, p. 467)

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Resumos expandidos

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O manejo da transferência na relação terapêutica com adolescentes:

relato de experiência

Amanda Lays Monteiro Inácio 1; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos

Reis2

Palavras-chave: Adolescência. Atendimento Clínico. Relato de Experiência.

Transferência.

Introdução

A transferência é um fenômeno humano natural que ocorre em nosso cotidiano e

se aplica a diversas situações. No entanto, possui um valor único, sendo considerada

como um conceito fundamental utilizado em todo tratamento psicanalítico, tendo

características particulares dentre os teóricos, como Freud (1912) e Winnicott (1971),

abordados, no presente estudo. A transferência, juntamente com a resistência e

interpretação são considerados o tripé fundamental da prática psicanalítica (Zimerman,

2004).

Laplanche e Pontalis (2001) definem transferência como “processo pelo qual os

desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no enquadre de um

certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação

analítica” (p.514). Nesse sentido, a transferência pode ser compreendida como a

repetição dos moldes infantis, substituindo aquilo que não pode ser lembrado, a partir

do deslocamento de afeto de uma representação para outra. Assim, a relação do

indivíduo com as figuras de sua infância é revivida na relação com o analista (Martins,

2014).

Por meio da análise do caso Dora, Freud (1905) descobriu a importância da

transferência para a psicanálise, afirmando que o tratamento psicanalítico, não cria a

transferência, mas releva sua existência. Desde então, o autor observa que a

transferência pode ser um importante aliado ao trabalho em psicanálise (Sato, 2010).

1 Psicóloga, pós-graduanda do curso de especialização em Clínica Psicanalítica e mestranda do programa de pós-graduação em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. E-mail: [email protected]. 2 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].

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Sendo assim, afirma que “a transferência, destinada a constituir o maior obstáculo à

psicanálise, converte-se em sua mais poderosa aliada quando se consegue detectá-la a

cada surgimento e traduzi-la ao paciente” (Freud, 1905, p. 112).

A relação transferencial para Winnicott se baseia no paradigma da relação mãe e

bebê, pois a própria relação analítica pode ser vista como uma forma de reviver essa

relação primitiva. Nesse sentido, faz-se alusão ao papel da “mãe suficientemente boa”,

como aquela que por meio de sua sensibilidade exacerbada, consegue identificar

consciente e inconscientemente as necessidades do seu bebê, processo necessário para

seu bom desenvolvimento. Winnicott se baseia no conceito da "mãe suficientemente

boa" como norteador da transferência, para evidenciar a importância do terapeuta estar

identificado com o paciente e ao mesmo tempo permanecer atento a realidade externa,

nomeada como espaço potencial, uma área intermediária subjetiva e objetiva da qual o

terapeuta faz uso no contexto da psicoterapia (Januário & Tafuri 2010).

Diante do enfoque da transferência enquanto elemento fundamental presente na

prática clínica psicanalítica surge a necessidade de compreendê-la na clínica com

adolescentes, haja vista que essa faixa etária possui especificidades importantes a serem

consideradas. A adolescência, bem como a infância por si própria, pode ser considerada

como uma invenção moderna em nossa sociedade, sendo tema recorrente há cerca de

um século na história (Calligaris, 2000).

A teoria psicanalítica postulada por Freud sobre a importância das questões

relativas à infância na vida adulta dos indivíduos contribuiu de maneira geral também

para a compreensão da adolescência e suas vicissitudes. Nesse sentido, o complexo de

Édipo pode ser entendido como o campo central da vida sexual relativa à primeira

infância (Freud, 1924). Domingues, Domingues & Baracat (2009), ao discorrerem sobre

o período de latência, o caracterizam como o período após a dissolução do complexo de

Édipo, onde a criança deixa de sentir toda a excitação sexual em seu corpo e volta-se ao

seu desenvolvimento social e cognitivo. Com a chegada da puberdade, as exigências

pulsionais adquirem uma força maior e os objetos incestuosos da infância são

retomados.

Aberastury e Knobel (1981) remetem o período da adolescência à vivência de

lutos importantes, o luto pelo corpo infantil perdido, considerado a base biológica da

adolescência, o luto pelo papel e identidade infantis, onde ocorre a perda da

dependência e inserção das responsabilidades e o luto pelos pais da infância. Nesse

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sentido, o adolescente paira entre a dependência e a independência extremas, de modo

que somente a maturidade desenvolvida no final desse período lhe permitirá

compreender a necessidade dos limites. Sendo assim, esse período de caracteriza pelas

diversas contradições, fragilidades e ambivalências no contexto familiar e social, pois

todas as mudanças incontroláveis pelas quais estão passando dolorosamente são tidas

como uma invasão, motivo pelo qual o adolescente costuma de fechar em seu mundo

interno, a fim de reviver seu passado para conseguir então enfrentar o futuro.

O amadurecimento se mostra como uma questão central na adolescência, motivo

pelo qual a teoria de Winnicott sobre o amadurecimento pessoal representa grande

importância para o entendimento do tema proposto. Para o autor todo indivíduo é

dotado de uma tendência inata ao amadurecimento, essa tendência, no entanto, depende

fundamentalmente de um ambiente facilitador ao bebê que lhe forneça os cuidados

necessários e primordiais (Dias, 2008).

Se faz presente na adolescência o desejo de uma nova adaptação da realidade,

motivo pelo qual surge a arrogância, hostilidade, mentira, ironias e a necessidade de

confronto com a sociedade de modo geral. Desse modo, não há como evitar que o

adolescente passe por esse processo até chegar a maturidade, no entanto, é

imprescindível a existência de uma boa provisão ambiental por parte dos pais ou

responsáveis (Oliveira & Fulgencio, 2010).

Pode-se considerar que a adolescência possui um caráter universal permeado por

singularidades das quais a clínica psicanalítica atual possa abarcar através da escuta das

dores, lutos e fragilidades do adolescente. Esse papel é importante à medida que auxilia

no processo de subjetivação dos mesmos (Ayub & Macedo, 2011). A psicanálise de

adolescentes possui especificidades importantes a serem consideradas, sendo

necessário ao analista “sobreviver” às necessidades, pulsões e fantasias do adolescente

(Outeiral, 2012). Partindo desses pressupostos, o presente estudo tem por objetivo

analisar o tipo de manifestação transferencial que ocorre entre paciente e terapeuta na

clínica com adolescentes. Para tanto, serão utilizados fragmentos de um caso clínico.

Método

Trata-se de um estudo de caso de psicoterapia psicanalítica atendido em uma

clínica escola de Psicologia de uma universidade pública, com uma adolescente do sexo

feminino, denominada no presente estudo como Raquel. Os dados apresentados foram

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obtidos por meio de cerca de 15 sessões de atendimento psicanalítico realizadas

semanalmente com a adolescente. Para a realização do estudo foi feita análise do

discurso, utilizando uma metodologia qualitativa de análise de dados. A metodologia

qualitativa, segundo Turato (2005) direciona o pesquisador para o significado das

coisas, ou seja, não se busca compreender como ocorre determinado fenômeno, mas

sim, compreender seu significado e importância para a vida das pessoas.

Resultados e Discussão

O presente estudo ainda se encontra em desenvolvimento, no entanto já foi

possível identificar no material clínico advindo do caso de psicoterapia psicanalítica a

presença de manifestações tanto de transferência positiva quanto negativa,

influenciando o estabelecimento de vínculo paciente–psicoterapeuta no início do

tratamento. Ao longo do trabalho, pretende-se apresentar vinhetas dos atendimentos

realizados e analisa-las a partir da literatura psicanalítica sobre a temática da

transferência.

Durante as análises preliminares encontrou-se uma sessão onde a adolescente

relatou para a terapeuta, logo no início, que não gostaria de estar ali, tendo vindo contra

sua vontade e, no final da mesma sessão, informou que na próxima semana iria efetuar o

pagamento, enfatizando que pagaria com seu próprio dinheiro e não dos familiares por

ela responsáveis. Essa pequena vinheta ilustra um dos diversos momentos em que a

paciente faz um jogo com a terapeuta, de modo que ora se apresenta como uma pessoa

fechada, ora demonstra estar aberta ao trabalho da psicoterapia.

De acordo com Outeiral (2012), é comum ao adolescente a presença de oscilações

entre movimentos progressivos e regressivos, passando rapidamente por movimentos

transferenciais de amor e ódio, por meio de várias “idades” transferenciais. Desse modo,

durante uma mesma sessão pode-se observar uma adolescente determinada a agredir a

terapeuta e uma adolescente responsável que demanda pela continuidade do trabalho.

Considerações Finais

Até o momento, o presente estudo possibilitou uma melhor compreensão acerca

das características próprias do período da adolescência, principalmente no que se refere

ao âmbito da psicoterapia psicanalítica. Espera-se posteriormente contribuir para uma

melhor compreensão dos casos clínicos atendidos na adolescência, bem como analisar o

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tipo de manifestação transferencial que ocorre entre paciente e terapeuta na clínica com

adolescentes.

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A contratranferência na clínica atual

Jéssica Gehring Palladino de Souza Dutra 31; Maria Elizabeth Barreto

Tavares dos Reis4

Palavras-chave: contratransferência, atendimento clínico, psicanálise.

Introdução

De acordo com Laplanche & Pontalis (2001, p. 102) a contratransferência é o

“Conjunto das reações inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais

particularmente, à transferência deste”. Segundo Etchegoyen (2004) e Minerbo (2012),

Freud apresentou o termo contratransferência no texto: “As perspectivas futuras da

terapia psicanalítica” em 1910, no II Congresso Internacional de Psicanálise em

Nurenberg, onde descreveu a contratransferência como “a resposta emocional do

analista aos estímulos que provêm do paciente, como resultado da influência do

analisando sobre os sentimentos inconscientes do médico” (Etchegoyen, 2004, p. 156).

Nesse sentido, a contratransferência ocorre em função do paciente e constitui um

obstáculo a ser superado, já que se espera que o analista tome consciência de seus

sentimentos e os supere em prol do trabalho de análise. Para isso, Freud entendia ser

necessário um trabalho apurado de autoanálise, sendo esta indispensável para a prática

de um bom analista. Com exceção do caso Dora (Freud, 1905/1996), em que Freud

indica uma possível atitude contratransferencial quando o tratamento não mostra

progressos, o conceito não foi objeto específico de estudo na obra freudiana.

Segundo Etchegoyen (2004), em meados do século XX, quando a

contratransferência despertou a atenção de estudiosos da área, um esboço do conceito

apareceu nos estudos de H. Racker em 1953, analisando as experiências intuitivas de A.

Reich em 1933, sobre o caso de um paciente que não apresentava melhoras. A conclusão

de Racker no referido caso é que, determinados conteúdos relativos às frustrações do

paciente foram transferidos para o analista exercendo certa força castradora em sua

atuação, o fazendo sentir-se também impotente. Essa situação consistiria numa

3 Psicóloga, pós-graduanda do curso de especialização em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected] 4 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].

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experiência contratransferencial.

Minerbo (2012) ao comentar sobre o mesmo artigo de Racker, ressaltou aspectos

importantes sobre a posição do analista no fenômeno da contratransferência, explicando

que, mesmo fazendo sua análise, está sujeito as influências de seus aspectos neuróticos

na prática de seu ofício, tendo em vista a característica atemporal do inconsciente e suas

manifestações. A contratransferência deixa de ser considerada um evento isolado na

sessão, e percebido como uma relação (Laplanche & Pontalis (2001). Nesse sentido, a

contratransferência não é mais considerada um problema a ser resolvido, porém como

uma oportunidade de trabalho analítico resultante da relação analista-paciente. A

contratransferência “já não é mais vista apenas como um perigo, mas também como um

instrumento sensível, que pode ser muito útil para o desenvolvimento do processo

analítico. (...) configura, de certo modo, o campo no qual se dará a modificação do

paciente” (Etchegoyen, 2004, p. 159). Por isso a contratransferência, atuaria de

maneiras diferentes e complementares: sendo um obstáculo, constituindo os pontos

cegos do analista, mas também entendida como um instrumento, visando identificar o

que acontece com o paciente, sobretudo quando se torna uma espécie de campo no qual

o paciente experimentará vivências diferentes das originárias. (Etchegoyen, 2004).

Laplanche & Pontalis (2001) explicam que, do ponto de vista técnico, três

orientações sobre contratransferência se fazem necessárias: a primeira diz respeito ao

analista conter consideravelmente as manifestações contratransferenciais pela análise

pessoal, de maneira que a situação analítica seja estruturada apenas pela transferência

do paciente; a segunda orientação consiste em utilizar a contratransferência no trabalho

analítico conforme a indicação de Freud, tendo em vista que todos possuímos

inconscientemente instrumentos que nos permitem interpretar as expressões

inconscientes dos outros (Freud, 1913); e a terceira afirma a necessidade do analista, na

formulação das interpretações, orientar-se pelas suas próprias reações

contratransferenciais, muitas vezes assimiladas, nesta perspectiva, às emoções sentidas.

Essa postura reafirma uma ideia autenticamente psicanalítica: a ressonância de

“inconsciente a inconsciente” como verdadeira comunicação.

A partir do entendimento do conceito de contratransferência como uma relação

entre pares – uma relação bipessoal e recíproca, Laplanche & Pontalis (2001) explanam

que as diferentes variações na conceituação do fenômeno levam em conta dois aspectos

relativos ao analista: a contratranferência seria qualquer intervenção no processo

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analítico resultante de características da personalidade do analista, ou, a

contratransferência seria uma produção inconsciente do analista consequência da

transferência do paciente.

Assim, para Minerbo (2012) a contratransferência é caracterizada por uma dupla

perspectiva, ela diz respeito aos sentimentos do analista, mas sobretudo às ações do

mesmo concernente ao processo analítico. A contratransferência seria o resultado da

transferência em um sentido mais abrangente, mais produtivo do ponto de vista da

elaboração e da resolução dos conflitos do paciente.

Com esses princípios de compreensão, diversos analistas desenvolveram sua

maneira de trabalho. A divergência pode surgir enquanto técnica, mas é certo que o

fenômeno da contratransferência se impõe e precisa ser manejado. Considera-se assim

que a contratransferência está presente na relação terapêutica e que a mesma tem como

referência a carga transferencial do paciente. Por conseguinte, a contratransferência do

analista pode demonstrar a implicação deste no processo, bem como seu compromisso

com o tratamento e a melhora do paciente, tendo sempre em vista a necessidade do

reconhecimento e do manejo das situações contratransferenciais, pois que em um

processo de análise entendido como relação, ambos participam e contribuem

(Etchegoyen, 2004). Portanto, a noção de relação no conceito de contratransferência,

extrapola a ideia dos sentimentos e das reações do analista para com o paciente.

Em razão da mudança no paradigma da contratransferência, passando a ser

entendida como um aspecto essencial na relação da dupla terapêutica, faz-se importante

a realização de estudos sobre o tema em uma perspectiva mais atual, na tentativa de se

compreender um pouco mais desse fenômeno no âmbito da clínica. Por isso o objetivo

desse trabalho consiste em compreender como a contratransferência está sendo

considerada atualmente na prática clínica. Nesse momento, a percepção que se tem é

que a contratransferência esteja sendo conceituada a partir da relação psicanalítica, ou

seja, como resultante da produção do par analítico, de maneira a levar em conta sua

contribuição ao tratamento do paciente.

Metodologia

Será realizado um levantamento dos artigos científicos, que tratam da temática,

disponíveis on line nos principais sites de busca, tais como SciELO, Pepsic. Bv saude,

Google Academico, Lilacs e outros, no período de 2006-2016 de acordo com o seguinte

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critério de inclusão: textos que abordem a contratransferência no contexto do

atendimento clínico individual.

O método utilizado será a revisão narrativa, a qual consiste em “uma revisão

qualitativa que fornece sínteses narrativas, compreensivas, de informação publicada

anteriormente” (Ribeiro, 2014, p. 07). A revisão narrativa pode ser utilizada em

explorações iniciais de um problema, bem como para integrar temáticas diversas;

consiste em recurso educativo e útil por reunir informações relevantes apresentadas

sob um ponto vista coerente e amplo do tema a ser tratado, além disso a interpretação

dos conteúdos coletados possibilita a manifestação da análise crítica a partir da

subjetividade dos autores do trabalho a ser realizado.

Resultados e Discussão

A pesquisa encontra-se em andamento, logo, os resultados agora apresentados

são ainda preliminares.

De acordo com os artigos disponíveis on line que atendem aos critérios

metodológicos, observou-se que a contratransferência é considerada aspecto

fundamental do método psicanalítico, pois implica no compromisso inconsciente do

analista com seu paciente e na disponibilidade subjetiva deste para atender às

solicitações transferenciais. Esse aspecto da contratransferência a faz ocupar um lugar

importante na relação do par analítico, quando se presta ao serviço de acatar a

transferência com todas as suas peculiaridades, a partir da escuta analítica.

Em oposição ao pensamento clássico psicanalítico, a contratransferência é

atualmente concebida como componente atuante no processo analítico pois ela oferece

maiores e melhores possibilidades de interpretação em razão do vínculo inconsciente da

dupla analítica. Zambelli, Tafuri, Viana e Lazzarini (2013) explicam que o fato do analista

se utilizar de sua vivência emocional criando um espaço subjetivo para a compreensão

da condição psíquica do paciente constitui um enorme proveito, já que ele transforma

sua subjetividade em aliada para o manejo da transferência.

Conclusão

Os estudos sobre a contratransferência, da mesma maneira que progrediram ao

longo dos anos, ainda podem avançar e possibilitar formas de trabalho que favoreçam o

acolhimento, manejo adequado, interpretações apropriadas e possibilidades de sucesso

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na análise. Portanto, este trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas

realizar reflexões e apontamentos sobre o tema, além de contribuir para o entendimento

de princípios essenciais para a prática clínica psicanalítica.

Referências

Dias, Helena Maria Melo, & Berlinck, Manoel Tosta. (2011). Contratransferência e enquadre psicanalítico em Pierre Fédida. Psicologia Clínica, 23(2), 221-231. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-56652011000200014

Eizirik, Mariana, Schestatsky, Sidnei, Knijnik, Laís, Terra, Luciana, & Ceitlin, Lúcia Helena Freitas. (2006). Contratransferência e trauma psíquico. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 28(3), 314-320. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-81082006000300010

Etchegoyen, R. H. (2004). Fundamentos da técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artmed.

Freud, S. (1905/1996). Fragmentos de análise de um caso de histeria. In: Obras Psicológicas completas. Edição Standard Brasileira. (Vol. 7) Rio de Janeiro: Imago Editora.

Freud, S. (1912/1996). A dinâmica da transferência. In: Obras Psicológicas completas. Edição Standard Brasileira. (Vol. 12, pp-133-143) Rio de Janeiro: Imago Editora.

Freud, S. (1914/1996). Recordar, repetir e elaborar. In: Obras psicológicas completas de Freud. Edição Standard brasileira. (Vol. 12, pp-163-171) Rio de Janeiro: Imago Editora.

Freud, S. (1915/1996). Observações sobre o amor transferencial. In: Obras psicológicas completas de Freud. Edição Standard brasileira. (Vol. 12, pp-177-188) Rio de Janeiro: Imago Editora.

Laplanche, J. & Pontalis, J. B. (2001). Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.

Minerbo, M. (2012). Transferência e contratransferência. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Ribeiro, J. L. P. (2014). Revisão de investigação e evidência cientifica. Psicologia, Saúde e Doenças, 15(3), 672-683.

Zambelli, C. K., Tafuri, M. I., Viana, T. C., Lazzarini, E. R. (2013). Sobre o conceito de contratransferência em Freud, Ferenczi e Heimann. Psicologia Clínica, 25(1), 179-195. Recuperado em 30 de maio de 2017, de http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652013000100012&lang=pt

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Dificuldades afetivo-emocionais na infância: a psicoterapia

psicanalítica frente à medicalização

Juliana Mistrini Veríssimo 5; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis 6

Palavras-chave: Psicanálise; Infância; Medicalização.

Introdução

Muitas das demandas de psicoterapia infantil estão relacionadas às dificuldades

de aprendizagem, no entanto, tem sido fator de inquietação o fato de a prescrição

medicamentosa ser utilizada como primeiro procedimento adotado para tratamento por

profissionais da saúde.

A dificuldade de aprendizagem tem sido difundida de forma marcante pela mídia

leiga, pelas capas de revista semanais, revistas dirigidas aos pais e nas páginas de jornal

dedicadas a ciência. Nas escolas, o saber médico, difundido por essa mídia, faz com que

professores e coordenadores professem diagnósticos diante da observação de certos

comportamentos das crianças, principalmente de TDAH – Transtorno de Déficit de

Atenção e Hiperatividade, e as encaminhem para avaliação psiquiátrica, neurológica

e/ou psicológica (Guarido & Voltolini, 2009).

Lacet (2014), ao tratar da escuta psicanalítica da criança diagnosticada de TDAH,

aponta que de um lado tem-se a família e a escola que não conseguem controlar os

comportamentos da criança, portanto, desejam silenciar a criança e sua “agitação”. Do

outro se tem a criança que não é escutada. Tendo o saber médico como primeira escolha

tem-se também a intervenção medicamentosa, e esta, atende à demanda dos pais, que

não precisam questionar suas implicações nos sintomas do filho, e a escola que tende a

se eximir do questionamento sobre as maneiras de lidar com a criança. A criança neste

saber fica excluída do processo. Ao ser classificada como “doente” ou “portadora” de

síndromes e transtornos deixa de ser autora do próprio sofrimento e passa a ser objeto

de cuidados especializado (Marino, 2013).

5 Psicóloga. Especialização em Psicomotricidade pela Faculdade de Tecnologia do Vale do Ivaí – FATEC, 2015. Discente do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected]. 6 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].

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Além de excluir o olhar de outras disciplinas, é possível notar que por

considerarem os sintomas como manifestações da bioquímica cerebral, a descrição do

manual diagnóstico prevalece em detrimento a descrição dos sintomas apresentados

pelo sujeito (Guarido, 2007). As propostas de avaliação e tratamento se dividem de

maneira excludente entre o campo biológico e o campo subjetivo (Silva & Albertini,

2016).

As informações apresentadas pelo DSM IV acerca das disfunções da criança

mostram-se pouco operacionais, pois enfatizam a função/disfunção e ignoram o sujeito,

além de que as mesmas disfunções descritas no TDAH podem ser encontradas em

diferentes estruturas clínicas e posições subjetivas, como na psicose, autismo ou

debilidade intelectual, ou seja, “pode, por exemplo, diagnosticar a agitação psicomotora

de uma criança psicótica como sendo transtorno de hiperatividade” (Legnani & Almeida,

2009, p. 15).

Desse modo, supõe-se que o processo diagnóstico, psiquiátrico e/ou neurológico,

que antecede a prescrição medicamentosa tem sido realizado de modo impreciso, pois

ao excluir em sua análise o olhar das diversas disciplinas, reduz questões amplas ao

domínio do saber médico. Consequentemente, ao descrever um estado prévio ou

constitutivo do sujeito, pode ser capaz de estagnar outras observações sobre a

problemática (Guarido & Voltolini, 2009).

Jerusalinsky (2011) aponta como um dos efeitos do uso inadequado de

metilfenidato (medicamento com maior índice de consumo, aprovado para o tratamento

do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH) a interrupção da

espontaneidade, dos comportamentos de exploração, curiosidade, da socialização e do

brincar, além da redução ou eliminação da expressão de sentimentos e emoções,

principalmente da angústia associada ao conflito. Portanto seria possível pensar a

medicalização das crianças, inibidora da ação espontânea, como uma intrusão ambiental

referente à possibilidade de desenvolvimento emocional? Seria a medicalização a

silenciadora da subjetividade da criança?

Ao observar a teoria de Winnicott (1983) sobre processo de amadurecimento

compreende-se que o ambiente facilitador é fundamental para o desenvolvimento do

potencial intrínseco da criança. Neste sentido, o psicanalista precisará estar atento ao

ambiente e aos aspectos somáticos, mas deve-se ocupar do indivíduo vivendo, e este

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pode estar se defendendo das falhas do ambiente ou se desenvolvendo com o apoio do

ambiente, ou seja, é preciso pensar os fatores pessoais e ambientais.

Na relação terapêutica, o papel do psicanalista é permitir ao paciente criança, a

comunicação de seus sentimentos sem presumir a existência de um fio decisivo para

ideias e pensamentos aparentemente desconexos, ou seja, seu papel é favorecer o

amadurecimento da criança, para que ela alcance o gesto espontâneo e desenvolva o self

verdadeiro (Winnicott, 1975).

Partindo da breve exposição sobre as questões de medicalização e patologização

das queixas escolares, e a respeito da psicoterapia psicanalítica, levanta-se a hipótese de

que o psicólogo que se utiliza dos fundamentos psicanalíticos pode contribuir para o

debate sobre medicalização da infância a partir da prática clínica, uma vez que os

fundamentos teóricos e as práticas neste campo questionam a utilização do instrumento

médico organicista e propõem a criação de um espaço favorável para que os elementos

criativos fundamentais que não se estabeleceram possam ser desenvolvidos.

O objetivo deste trabalho é demonstrar a importância da psicoterapia

psicanalítica como espaço de escuta e elaboração dos conflitos enfrentados pela criança

em contrapartida à medicalização em função das queixas relativas ao contexto escolar.

Método

Será realizada revisão narrativa da literatura psicanalítica de autores clássicos,

sobretudo a teoria de Donald Woods Winnicott, seguida de um levantamento dos artigos

publicados no período de 2007 a 2016, em bases de dados eletrônicos, como Google

Acadêmico, Pepsic e SciELO, relacionados ao assunto proposto, tendo como base os

temas: medicalização na infância e psicanálise, psicanálise e educação, psicanálise e

TDAH e psicoterapia psicanalítica infantil.

Resultados e Discussão

Para Lacet (2014), a nomeação diagnóstica reconhecida pelos pais e especialistas

e a medicalização das questões subjetivas, impossibilitam a criança de acessar os

aspectos de sua singularidade, o que afeta seu processo de subjetivação.

Em Marino (2013) compreende-se que há uma supressão da criança como

sujeito, que ao ser classificada como doente ou portadora de síndromes e transtornos,

passa a ser objeto de cuidados especializados em detrimento do saber subjetivo. Em

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contrapartida, ao receber o direito de fala na clínica psicanalítica, que vai além dos

aspectos do desenvolvimento e da adaptação ao ambiente, a criança é tida enquanto

sujeito de uma clínica do infantil, de uma estrutura que remete a fantasia, e passa a ser

autora de sua própria história (Marino, 2013).

Apesar de se tratar de um estudo em andamento, acredita-se que, através da

articulação entre a teoria psicanalítica e a prática clínica das demandas escolares, terá

como resultado uma resposta psicanalítica às questões de medicalização da infância, que

considere a subjetividade da criança.

Considerações Finais

A psicoterapia psicanalítica na infância poderia ser melhor difundida e utilizada,

tendo em vista que segue na contramão do proposto pela lógica médica de diagnósticos

pautados no discurso biológico e vai de encontro com a necessidade de oferecer à

criança um espaço de escuta e acolhimento de suas questões, sejam elas do âmbito

familiar, social e individual, portanto proporciona um espaço onde a criança possa se

sentir segura em falar sobre seus sentimentos e dificuldades.

Referências

Guarido, R. (2007). A medicalização do sofrimento psíquico: considerações sobre o discurso psiquiátrico e seus efeitos na Educação. Educação e Pesquisa, 33(1), 151-161. https://dx.doi.org/10.1590/S1517-97022007000100010

Guarido, R., & Voltolini, R. (2009). O que não tem remédio, remediado está?. Educação em Revista, 25(1), 239-263. https://dx.doi.org/10.1590/S0102-46982009000100014

Jerusalinsky, D. (2011) Trata-se de caçar o caçador? In: Jerusalinsky, J., & Fendrik, S. (Orgs). O livro negro da psicopatologia contemporânea. São Paulo, SP: Via Lattera

Lacet, C. C. (2014). A escuta psicanalítica da criança e seu corpo frente ao diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo.

Legnani, V. N. & Almeida, S. F. C. de. (2009). Hiperatividade: o "não-decidido" da estrutura ou o "infantil" ainda no tempo da infância. Estilos da Clínica, 14(26), 14-35. Recuperado em 30 de maio de 2017, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282009000100002&lng=pt&tlng=pt.

Marino, A. S. (2013). A criança na interface do silêncio medicamentoso e como sujeito em psicanálise. Polêm!ca, 12(1), 39-53.

Silva, D. R., & Albertini, M. R. B. (2016). TDAH entre o global e o singular: incursões a partir da disjunção do corpo infantil. Psicologia Clínica, 28(1), 123-138. Recuperado em 30 de maio de 2017, de

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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652016000100007&lng=pt&tlng=pt.

Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, RS: Artmed.

Winnicott, D. W. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro, RJ: Imago.

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Um estudo da relação parental na adolescência sob o ponto de vista

psicanalítico

Marisa de Cássia Domingues Subtil de Almeida 7; Maria Elizabeth Barreto

Tavares dos Reis8

Palavras-chave: Adolescência. Relação parental. Psicanálise.

Introdução

A despeito das teorias desenvolvimentistas que abordam e explicam o processo

maturacional do ser humano, cada indivíduo percorre e vivencia esse caminho de forma

singular, embora compartilhe características em comum. A adolescência, de forma

específica, é reconhecida como um período de alterações físicas/biológicas, constitutivas

da puberdade, também de tribulações emocionais, conflitos psíquicos e desajustes

comportamentais pertinentes a esse momento transitivo e de evolução. A entrada no

mundo dos adultos é desejada e temida ao mesmo tempo, acompanhada pela perda da

condição de criança (Aberastury & Knobel, 1981).

Seria oportuno, nesse momento, debruçar-se sobre a etimologia da palavra

‘adolescência’ ou discorrer sobre as definições trazidas pela Organização Mundial da

Saúde e do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como resgatar a construção

histórica desse conceito, como uma das fases do desenvolvimento humano, porém

outros autores (Barreto & Rabelo, 2015; Santos & Pratta, 2012; Sei & Zuanazzi, 2016) o

fizeram de forma bastante inequívoca. Preferiu-se, nesse trabalho, voltar o olhar para a

afirmação de Winnicott, que diz: “[...], a ideia de adolescência surge no momento em que

as mudanças da puberdade ascendem ao primeiro plano e as defesas contra a ansiedade

organizadas nos primeiros anos de vida reaparecem ou tendem a reaparecer na psique

do indivíduo” (Winnicott, 1965/2001, p.123).

Experiências relatadas por outros autores (Bolsoni-Silva, Paiva & Barbosa, 2009;

Shoen-Ferreira, Silva, Farias & Silvares, 2002) confirmam esses fatos pela grande

procura de pais aflitos em busca de auxílio na compreensão e manejo dessa fase, na

7 Graduada em Filosofia, Psicologia e pós-graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]. 8 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina- UEL. E-mail: [email protected].

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relação com filhos adolescentes. O desrespeito às regras, a iniciação sexual precoce, as

dificuldades escolares, o uso de substâncias psicoativas são alguns dos dilemas

vivenciados por esses pais.

O pediatra e psicanalista Winnicott (1965/2001) questionava sobre como a

organização preexistente do ego reagiria à nova investida do id, nessa fase, e como se

acomodariam as mudanças da puberdade ao padrão de personalidade. A partir dessa

questão, asseverou a importância da “continuidade da existência e do interesse do pai,

da mãe e da família pelo adolescente” (p.116). Esse autor afirma que muitas das

dificuldades pelas quais passam os adolescentes derivam das más condições do

ambiente, tornando esse processo, para os pais, “pontilhado de dores de cabeça” (p.

116). Aberastury (1981) explica que a não compreensão, por parte dos pais, da

flutuação extremadamente polarizada entre dependência e independência, refúgio na

fantasia-ânsia de conhecimento, conquistas adultos-refúgio em conquistas infantis,

resulta em dificuldades no trabalho de luto “no qual são necessários permanentes

ensaios e provas de perda e recuperação de ambas as idades: a infância e a adulta” (p.

15).

Em se tratando de uma fase em que o jovem busca construir sua própria

identidade, sua relação com os pais ou autoridades familiares servirá de modelo e guia

nessa busca, seja para uma reprodução similar ou para uma completa diferenciação

dessas figuras parentais. Tal fato foi o que motivou a investigação da influência dessas

relações e seus desdobramentos na vida do adolescente; as contribuições de um manejo

adequado e as disfunções resultantes das faltas e falhas na função parental.

Já em 1905 Freud postulou a dependência e influência das imagos paternas

internalizadas na infância e a reedição do complexo de Édipo que ocorre no período da

adolescência, como organizador da escolha objetal: “Por fim, descobrimos que a escolha

objetal é guiada pelos indícios infantis, renovados na puberdade, da inclinação sexual da

criança pelos pais e por outras pessoas que cuidam dela, [...]” (Freud, 1905, p. 221).

Nessa delicada interação pais-filhos, função paterna e função materna exercem

igual importância, questão evidenciada pelo papel estruturante do pai, a partir da

instauração do complexo de Édipo e por sua posição de autoridade (Benczik, 2011), bem

como pela relevância dos cuidados oferecidos pela mãe suficientemente boa, referida

por Winnicott (Winnicott, 1965/2001; Zimerman, 2010). Tais fatos justificam a

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necessidade de se conhecer como os autores estão abordando o papel dos pais na

vivencia da adolescência.

Objetivos

Este trabalho tem como escopo fazer uma revisão narrativa sobre temas

concernentes ao período da adolescência em geral e de modo específico, investigar como

a relação entre os pais e o adolescente, tem sido considerada, no contexto atual, sob a

perspectiva psicanalítica.

Método

Será realizada uma revisão narrativa, considerando que o investigador “recorre à

investigação que foi feita anteriormente para identificar o estado da arte sobre um

determinado tema e para fundamentar a sua ação” (Ribeiro, 2014, p. 674). Esta

metodologia é, entre outras, defendida pelo autor supracitado, como forma de

ultrapassar uma multidão de conhecimento originada pelo aumento da produção

científica atual, em direção à “identificação de evidências científicas, seja para a prática,

seja para a investigação” (p. 673). Nesse sentido, a revisão narrativa pode comportar ou

não uma crítica, mas deve conter, de forma condensada, os conteúdos do material

analisado, constituindo “instrumentos educativos úteis” resultantes da associação e

junção legível de muitas informações além de “apresentarem uma perspectiva alargada

do tópico em revisão” (p. 678).

Tal revisão será de caráter qualitativo realizando-se buscas nas bases de dados

SciELO, Lilacs, BVS, PePSIC e Google Acadêmico, privilegiando-se o período que

compreende 2010 e 2016, a partir dos seguintes descritores: adolescência, relação

parental e psicanálise. Uma leitura criteriosa considerará, como critério de inclusão, a

presença dos temas relacionados a limites/liberdade, responsabilidade, imagem

corporal, isolamento, comportamentos antissociais, uso de drogas e busca por uma

identidade, característicos da fase de adolescência, associados à função parental. Como

critério de exclusão, serão desconsiderados artigos que façam referência a religiosidade;

relações de gênero entre os cuidadores de adolescentes; avaliações das propriedades

psicométricas de Escalas e Inventários ou aqueles que abordem, especificamente, a

saúde/doença física e gestação na adolescência. Perseguiremos um delineamento

teórico, fazendo um levantamento da produção científica realizada sobre o tema, com o

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intuito de evidenciar a relevância da adequada relação parental na adolescência, como

amparo ao adolescente diante das angústias sentidas nesse período.

Resultados e Discussão

Em se tratando de um estudo ainda em andamento, perseguimos o intento de

evidenciar que a função parental permeia todas as situações que envolvem um

adolescente, sejam elas positivas ou não, saudáveis ou patológicas, uma vez que

consideramos a família como lugar de referência e suporte para o adolescente, desde sua

infância (Barreto & Rabelo, 2015; Winnicott, 1965/2001). Buscamos destacar o poder

de influência das relações parentais no desenvolvimento dos filhos no sentido de que,

possíveis falhas e falta de habilidade dos mesmos, na forma de educar, dar acolhimento

e ao mesmo tempo limites, transmitindo a segurança necessária à concretização de um

estado de independência, podem comprometer o processo de adolescer.

Discutiremos, cotizando o diverso material estudado, a respeito dos diferentes

desfechos dos casos de adolescentes, seus comportamentos e suas histórias de vida,

relacionando-os à interação parental. Espera-se confirmar a relevância da relação

parento-filial na estruturação da personalidade, subjetivismo e equilíbrio psíquico do

jovem adolescente, futuro adulto, a partir da oferta dosada dos pais, de amor/atos de

correção, liberdade/imposição de limites, acolhimento/imposição de responsabilidades.

Considerações Finais

Diante da pretensão estabelecida para essa pesquisa, considera-se que o

aprofundamento em conhecimentos sobre a interferências resultantes da relação

parento-filial, pode auxiliar pais a aprenderem lidar com seus filhos, bem como se

implicarem nessa tarefa, reconhecendo sua participação no desencadeamento dos

sintomas.

Os profissionais que realizam a psicoterapia psicanalítica com adolescentes

poderão se beneficiar desse conhecimento, tanto no atendimento aos seus pacientes

quanto na orientação aos pais.

Finalmente pretende-se, através da confirmação da ideia de que a relação

vivenciada entre o adolescente e as figuras parentais, reflete-se de forma bastante

significativa no processo de amadurecimento do jovem, nessa fase da vida, a ponto de

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direcioná-los e até mesmo determiná-los, fomentar novos estudos e o incremento de

medidas profiláticas e remediativas à saúde mental na adolescência.

Referências

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Um olhar para o masculino na clínica psicanalítica

Solange Gomes de Melo Viol9; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis 10

Palavras-chave: masculino; masculinidades; homem.

Introdução

Esse artigo tem o objetivo de ampliar o olhar sobre o masculino e fomentar a

discussão em torno de um universo em transformação, o homem no século XXI. Esse

homem herdeiro das transformações culturais e sociais oriundas do movimento

feminista com suas angustias, conflitos e dilemas decorrentes de uma crise de

identidade provocada por abalos na ordem social patriarcal. Até meados do século XX, a

mulher era mantida num processo de subordinação, que se constituía como uma ordem

natural nas relações entre os sexos onde a subversão desse papel era impensável.

Nesse cenário histórico, a Psicanálise se constituiu, enquanto teoria, método e

técnica, a partir do olhar de Freud para a clínica da histeria, basicamente feminina, ainda

no século XIX. A teoria freudiana foi construída num período em que a diferença sexual

era utilizada para a perpetuação do patriarcado. Birman aponta que embora esse

paradigma não esteja explícito em suas obras, “ele esteve sempre lá, impondo-se como

figura de fundo, constrangendo, pois, as linhas de força da construção psicanalítica sobre

a diferença sexual” (2001, p 47).

Nesse sentido, Freud enquanto sujeito da cultura, constituiu sua teoria sob a

marca do falocentrismo que é a convicção baseada na idéia de superioridade masculina

(Michaelis online, 2016), onde imperavam discursos reprodutores da dominação

masculina e se caracterizava por colocar o homem numa posição hierárquica superior e

inquestionável em relação à mulher. Assim, ao homem caberia a função de dominação e

à mulher a condição de dominada. Nesse sentido, a Psicanálise freudiana emerge com a

Modernidade e se fundamenta em premissas típicas do momento histórico. Segundo

Bleichmar, há no pensamento freudiano um “sexo de partida” tomado como referência -

o masculino - que permanece como a norma, e a mulher como o desvio. Assim, o

9 Graduada em Psicologia, pós-graduanda em Clínica Psicanalítica – [email protected]. 10 Professora Doutora Depto. de Psicologia e Psicanálise/ CCB/UEL – [email protected].

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incompreendido é localizado no campo feminino e, o homem permanece pouco

problematizado (2006, p.77).

Freud (1976) em “Mal estar na civilização” aponta que “o trabalho de civilização

tornou-se cada vez mais um assunto masculino, confrontando os homens com tarefas

cada vez mais difíceis e compelindo-os a executarem sublimações instintivas de que as

mulheres são pouco capazes”. Em Três ensaios sobre a sexualidade há um pressuposto

notadamente falocêntrico: a definição de libido como masculina, por ser ativa. Em nota

de rodapé o autor justifica que “a libido seja descrita como masculina, pois a pulsão é

sempre ativa, mesmo quando escolhe para si um alvo passivo” (Freud, 1976, p. 207). Nos

textos “Algumas consequências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos” e em

“Sexualidade feminina” o autor reconhece a existência de uma tendência masculina a

menosprezar a mulher entendida como castrada a partir do Complexo de Édipo. O

homem é tido então como privilegiado por possuir um órgão, apesar de temer perde-lo.

Entretanto, para entender os homens hoje, essa teoria pode parecer limitante,

pois parece reduzir os dilemas masculinos à angustia da castração. Para melhor

compreender os dilemas masculinos e preciso olhar também para questões sociais e

culturais que atravessam o homem na contemporaneidade. Nesse sentido, refletindo

sobre o movimento feminista podemos pensar em mudanças nos papéis sociais. Desde

os anos de 1960, os papéis, masculino e feminino, tem sido revistos no ocidente e,

homens e mulheres vistos como igualitários, tem acesso a vida pública e a esfera

privada, possibilitando a construção de novos lugares sociais, o que, segundo Badinter

(1993) contradiz a cristalização dos papéis sexuais presentes na obra freudiana.

O tema da masculinidade como objeto de estudo, no Brasil, teve sua origem

também na década de 1960, no entanto, parece haver ainda hoje, uma escassez de

publicações que abarquem o masculino dentro da psicanálise (Silva, 2006). Miranda

aponta que ao lado da “nova mulher”, o “novo homem” parece ser assim conduzido a

assumir, uma certa fragilidade. Surge a palavra “crise que pode ser o resultado da

multiplicidade de identidades promovidas pela hipermodernidade ou referir-se a um

modo de existência ancorado pela liquidez das relações. Se há uma crise, é possível

sustentar que ela tende a suscitar papéis estereotipados tanto para o homem como para

a mulher (2010, p. 56).

Assim, é preciso se pensar numa reconstrução cultural da masculinidade pois o

masculino pode se tornar um enigma e é a partir do reconhecimento das contradições e

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lacunas desse homem contemporâneo que será possível construir novas narrativas

sobre o masculino – masculinidades. Pois, conforme assinala Badinter (1993), ser

homem não é uma questão tão natural como usualmente se supõe. Para chegar a ser

homem é necessário empreender toda uma tarefa de construção de virilidade.

Alizade e Dupetit (1997, citado por Alizade, 2009) afirmam não ter dúvidas de

que o heróico roteiro dos homens tem mudado e que a transformação cultural, as

reivindicações femininas produziram modificações no estereótipo masculino. Além

disso, apontam que a sociedade pós-industrial transformou o penetrante herói

conquistador num homem-máquina produzindo uma certa quebra identificatória da

figura masculina.

Esse homem contemporâneo, sem modelo e fruto da revolução feminista motivou

a presente pesquisa, que tem por objetivo investigar como a Psicanálise tem se ocupado

com os temas que envolvem as questões da masculinidade na contemporaneidade.

Metodologia

Será realizada uma revisão narrativa através de pesquisa nos sites Pepsic, Scielo,

Lilacs e BVS de publicações entre os anos de 2000 a 2016, considerando os seguintes

descritores de busca: masculino – masculinidade(s) – homem .

Segundo Pais Ribeiro (2014) a Revisão Narrativa se apresenta como revisão

qualitativa a partir de sínteses narrativas, compreensivas, de informações publicadas

anteriormente. Green, Johnson, e Adams (2006, citado por Pais Ribeiro, 2014, p. 7)

apontam que os resultados são apresentados em formato condensado sumariando os

conteúdos de cada artigo. Assim, a revisão narrativa foca um conjunto alargado de

questões relacionadas com um tópico específico (em vez de abordar uma questão

específica em profundidade).

Serão utilizados como critérios de inclusão os artigos que contiverem os

descritores mencionados em seus títulos. Serão excluídos os temas referentes a

transsexualidade e análises literárias.

Os dados coletados serão organizados através de categorias de assuntos

relevantes sobre o tema em questão.

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Resultados e Discussões

A pesquisa encontra-se em andamento, entretanto é possível apontar alguns

temas/questões que predominam: questões ligadas a saúde, adoecimento, gênero,

sofrimento psíquico do homem contemporâneo, crise de identidade masculina,

masculinidade e narcisismo, e masoquismo masculino dentre outros. Há que se pensar

as masculinidades a partir de diferentes pontos de partida e de diferentes

endereçamentos. Além disso, ao lado das enormes mudanças ocorridas a partir do

movimento feminista é possível identificar, coexistindo na sociedade contemporânea,

fatores reveladores de mudança e permanência da dominação masculina em alguns

setores. A masculinidade construída e vigente durante séculos passou a ser questionada

por um contingente feminino em franca revolução.

Ao se pensar no masculino e nas questões que atravessam o homem

contemporâneo, pode-se imaginar que ele enfrenta uma crise de identidade cuja origem

está na eclosão do movimento feminista que trouxe em seu bojo mudanças sociais e

culturais. Então, trata-se da escuta do masculino na atualidade e, assim como Sigmund

Freud olhou para o feminino e o tirou das sombras ao analisa-lo, nos sentimos

convocados a fazer o mesmo movimento na escuta do sujeito masculino.

Considerações finais

A partir dos estudos preliminares pode-se perceber a importância de melhor

conhecer como os homens têm sido acolhidos e atendidos na clínica psicanalítica na

atualidade. Assim será possível não apenas melhor compreender a problemática

emocional masculina, mas também melhor instrumentar os profissionais que deles se

ocupam.

Referências

Alizade, A.M. (2009). Cenários masculinos vulneráveis. Recuperado em 02 de Outubro, 2016, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352009000200013

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Medidas socioeducativas: adolescência e a vulnerabilidade para o ato

infracional

Anderson José Rodrigues11; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida12

Palavras Chave: Adolescência; Políticas Públicas; Ato Infracional.

Introdução

No final dos anos 1980, iniciaram-se vários movimentos de mudanças no intuito

de promover transformações nas políticas sociais, o que foi materializado com a

Constituição Federal de 1988. Um fato que contribuiu para essas transformações foram

as ações dos movimentos sociais e entidades que reivindicavam os direitos das crianças

e dos adolescentes e, por consequência dessas ações, foi promulgada a Lei nº. 8.069, de

13 de julho de 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Todo esse contexto de transformações permitiu que o serviço fosse dividido em

níveis de complexidade, criando-se dois planos de ações: Rede de Proteção Básica e

Rede de Proteção Especial. Para que tudo isso funcione, de acordo com o SUAS (Sistema

Único da Assistência Social), foram criados espaços públicos como os Centros de

Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de

Assistência Social (CREAS), cada serviço referenciado de acordo com sua demanda e sua

especificidade: CRAS – Proteção Básica (Prevenção a violações) e CREAS – (trabalhar as

violações com o sujeito e sua família) (Brasil, 1993).

Nesse sentido, serão abordados no CREAS os direitos já violados, situações em

que o adolescente já fez à passagem a infração, visto que o mesmo é um espaço

especializado de Assistência Social, um equipamento público que foi criado para ser

referência na coordenação de ações com adolescentes em conflito com a lei e articulador

da proteção social especial. No CREAS, as intervenções são propostas por meio dos

serviços ofertados que desenvolvem, promovem e articulam ações de importância na

inclusão e proteção social aos indivíduos e/ou famílias que se encontram em situação de

violação de direitos e de violência, visa resgatar os vínculos familiares e comunitários,

11 Psicólogo; Pós-Graduando em Clínica Psicanalítica CCB- Centro Ciências Biológicas UEL- Universidade Estadual de Londrina. 12 Psicóloga; Doutora em Psicologia; Coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Clínica Psicanalítica UEL.

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apoiar a construção e/ou reconstrução de projetos de vida, relacionados à autonomia e

empoderamento pessoal (Brasil, 2012).

Compreendemos que a adolescência é uma etapa que, atualmente, pressupõe-se

algumas características bem definidas teoricamente, e com atributos peculiares a essa

fase. Segundo Rigon (2012), quanto mais cedo for realizado um trabalho de intervenção

com esses adolescentes, maiores serão as probabilidades de que se construa um projeto

de vida saudável.

Portanto, a intervenção seja da instituição família, ou do Estado, para que seja

eficaz, deverá atentar a uma perspectiva de prevenção, algo que perpasse a infância

desse sujeito, promovendo a possibilidade de ressignificações ao longo de seu

desenvolvimento e do ambiente que o cerca. Ainda nesse sentido, deve-se discorrer

sobre essa fase do desenvolvimento, o que ela representa na contemporaneidade, o que

significa ser adolescente e os fatores que circundam esse momento da vida, com enfoque

nas infrações.

Na contemporaneidade, os serviços que atuam com adolescentes em conflitos

com a lei (Judiciário, CREAS, Conselho Tutelar), observa-se um aumento dos índices de

infrações provocados por adolescentes. O cenário atual reflete situações de violência,

frequentemente acompanhados por violações de direitos, ou seja, o infrator, autor do

cenário, é também vítima, pois seus direitos não são resguardados.

Com o aumento das infrações entre os adolescentes, faz-se necessário uma

reflexão/questionamento sobre os fatores que contribuem para que o adolescente faça a

passagem ao ato infracional. Nessa lógica, podemos pressupor algumas falhas no

processo de maturação ao longo do seu amadurecimento biopsicossocial.

Assim sendo, a teoria winnicottiana serve como uma abordagem teórica que

propõe estudar as relações do ambiente/adolescente. Segundo Winnicott (1987), a

referência materna será o primeiro organizador psíquico da criança, e, pela relação

estabelecida por essa dupla, ocorrerá à vinculação da criança a essa figura cuidadora,

ficando incumbida de repassar à criança as impressões acerca do mundo e da vida pelas

relações emocionais significativas. Sendo assim, as primeiras impressões na relação da

mãe (ou quem faça sua função) com a criança será de extrema importância, para sua

formação e seu desenvolvimento psíquico integrado e preventivo a uma adolescência

saudável.

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Cardoso (2014) nos apresenta a adolescência como uma fase a qual o jovem entra

em contato com vários sentimentos: medo, angústia, perdas e separações. A entrada

nesse novo campo, ainda inexplorável, será marcada pelas experiências subjetivas

internalizadas na fase anterior, fortemente arraigadas na figura infantil, no qual insere o

sujeito em desenvolvimento em situações novas, exigindo um retorno a outras

experiências já internalizadas. Ainda segundo Cardoso (2014) “estamos diante da

revivência da situação de desamparo infantil, inescapável na adolescência” (p. 66).

Portanto, o sujeito em desenvolvimento, que vivenciou uma experiência de

afetividade com sua figura cuidadora, sendo esta satisfatória, se no momento posterior

for colocado em um estado de privação emocional significativa, poderá desenvolver

comportamentos antissociais, hostis, apresentando dificuldades no envolvimento em

relações afetivas, por ter vivenciado experiência de perda no passado (Sá, 2001).

Sendo assim, os estudos em relação à tendência antissocial, Winnicott estabelece

duas referências: em uma via, considera uma falha na relação da “dupla” mãe/bebê no

que considera alguma privação emocional significativa, no qual não propicia o encontro

da criança com seus objetos desejados. Essa falha justificaria a busca pelo objeto, que

pressupõe o início de comportamentos tais como o furto. A outra via é atribuída ao pai

(ou a figura que faz a função), nessa perspectiva, em relação a uma tendência antissocial,

uma função específica no que se refere a uma condição de segurança a essa dupla,

conferindo a este ser em maturação uma condição de lidar com suas questões da

agressividade, ódio e destrutividade (Ferreira & Vaisberg, 2006).

Assim sendo, quando um adolescente inicia sua trajetória no percurso de

comportamentos antissociais, podemos pressupor que houve uma falha nas relações

familiares, algo da ordem da falta, seja afetiva e/ou econômica, portanto, esse jovem foi

privado em algum momento do seu desenvolvimento, sendo exposto a situações que

poderão propiciar uma condição de transgressão. São projeções incertas, que podem

influenciar os adolescentes ao mundo das transgressões e torná-los sujeitos vulneráveis

a alguma dependência.

Entretanto, se o ambiente que o cerca for acolhedor e satisfatório, a tendência à

agressividade que é inata, passa a ser direcionada a outra via pelo sujeito; a diversão,

uma vazão para essa energia. Colle (2001) diz: “Os sintomas dos adolescentes são

testemunhas do seu sofrimento, da sua vontade e, simultaneamente, da sua impotência

para curar os sistemas relacionais” (p. 196).

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Objetivo

A efetivação das legislações atuais de proteção Federal, Estadual e Municipal e a

rede de políticas públicas estão diretamente relacionadas ao crescente índice de ato

infracional de adolescentes. Há um sistema judicial que garante os direitos básicos e

essenciais a esses jovens; as ações das redes de serviços intersetoriais que, na prática,

atuam para legitimar sua execução. Entretanto, é preciso um questionamento sobre esse

sistema, pois como demonstram o CNJ – Conselho Nacional de Justiça (2012) e o Plano

Decenal de Medidas Socioeducativas do CREAS Ourinhos SP, um apresenta o cenário

nacional e outro municipal, que indica o crescente número de infrações entre a

adolescência.

Nessa perspectiva, este trabalho visa analisar o número crescente de

adolescentes em conflito com a lei, em face de um sistema judiciário que foi instituído

como garantia a violações e, assegurado pelas políticas públicas, explorando os possíveis

fatores que contribuem para o ingresso do adolescente ao ato infracional.

Metodologia

Este trabalho será desenvolvido com base em uma pesquisa bibliográfica e

documental. A pesquisa bibliográfica terá em sua essência livros e artigos científicos,

pautados na teoria winnicottiana.

Para pesquisa documental, utilizaremos o Plano Decenal do CREAS Ourinhos SP,

que realizou um estudo não analítico, e ilustra o cenário municipal das principais

infrações praticadas por adolescentes e, aponta que, os adolescentes não somente são

autores das infrações, e sim, vítimas, pois estão com seus direitos violados.

Resultados e Discussões

Os resultados e as discussões serão elaborados e fundamentados, através da

revisão de literatura, que a posteriori, serão confrontados com os dados quantitativos de

pesquisas que apontam o crescimento das infrações entre os adolescentes. Por

conseguinte, as discussões serão pensadas na interlocução dos dados: como a literatura

concebe esse adolescente em conflito com a lei, a realidade que se apresenta através dos

indicadores numéricos (dados quantitativos das infrações), a efetivação das legislações

atuais.

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Considerações finais

Quando as políticas públicas atuam com congruência rumo à promoção e

fortalecimento dos vínculos sociais, promovendo um espaço de desenvolvimento

saudável e acolhedor às famílias, espera-se que os indicadores de violações estejam

enfraquecidos nesse contexto.

Sendo assim, fica evidente a importância da instituição família e suas influências

nas garantias de direitos para que o adolescente, ao entrar em contato com essa fase

complexa de seu desenvolvimento, esteja suficientemente seguro, com um self Bollas

(1992) integrado, capaz de realizar suas identificações a diferentes grupos de iguais na

construção de sua identidade. Portanto, as medidas socioeducativas são medidas de

proteção ao adolescente, e por se tratar de um conjunto de ações que parte do

pressuposto da intersetorialidade, as ações de seus representantes (Judiciário, CREAS,

Conselho Tutelar, Escolas, Secretarias Municipais e outros), deverá ocorrer de forma

sincronizada uma a outras, para que assim, o sujeito em desenvolvimento esteja em uma

perspectiva de proteção integral ao sujeito em formação e protagonista de suas ações.

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Algumas expressões do falso self a partir de um caso clínico com

adolescente

Isabella Suttini Ferreira13; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 14

Palavras-chave: Falso self. Winnicott. Psicanálise.

Introdução

Na clínica psicanalítica contemporânea a compreensão do conceito de falso self se

faz necessária para o diagnóstico e manejo de certos casos, nos quais é expressiva a

queixa de um não saber sobre si e da falta de espontaneidade. Na adolescência, surgem

questões específicas que podem remeter a uma compreensão clínica da existência do

falso self. Este conceito foi desenvolvido por Winnicott (1983) a partir do conceito de

self verdadeiro que é o lugar da criatividade e espontaneidade, do “sentir-se real” e

remete ao eu autêntico. Já o falso self é voltado para o mundo externo, e tem a função de

ocultar e proteger o verdadeiro. Ele faz a mediação entre o verdadeiro e o ambiente

como meio de adaptação. Isso pode acontecer sob a forma de cisão, que caracteriza o

mecanismo das psicoses (Winnicott, 1983). No entanto, o falso self não é só patológico.

Ele é considerado saudável, na medida em que é a renúncia à onipotência, indispensável

para conviver em sociedade e se mostra por meio da atitude social, polida (Winnicott,

1983).

Na teoria do desenvolvimento emocional do ser humano, Winnicott (1988)

afirma que o bebê nasce com uma tendência para se desenvolver. Nos primeiros meses

da vida, ele vive um período de não-integração que será ultrapassado ao longo do

processo de amadurecimento, esse processo abarca o desenvolvimento do self no

caminho para a integração. Porém isso somente ocorrerá em um ambiente facilitador

que forneça cuidados suficientemente bons. No início, esse ambiente é representado

pela mãe-ambiente: ela será a pessoa responsável pelas condições facilitadoras para que

o crescimento do bebê se efetive. Winnicott (1983) denomina de “mãe suficientemente

13 Universidade Estadual de Londrina, Pós-Graduação em Clínica Psicanalítica. Psicóloga; [email protected]. 14 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica 2006-Puccamp. Professora Associada UEL -Graduação e Pós-Graduação em Psicologia- Departamento de Psicologia e Psicanálise. Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre: Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica- UEL. Atua na clínica Psicanalítica; [email protected]

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boa” àquela que, por estar identificada com o bebê, é capaz de satisfazer as necessidades

deste, e satisfazê-las tão bem que a criança é capaz de ter uma breve experiência de

onipotência. O self verdadeiro começa a despontar quando a mãe permite a manutenção

dessa ilusão de onipotência. Se isso não é permitido, pelo fato da mãe não conseguir

sentir as necessidades do filho, ela substitui o que seria a onipotência deste pelo seu

próprio gesto, ameaçando a continuidade deste, que precisa desenvolver defesas para

sobreviver. Assim, o gesto espontâneo do lactente passa a se submeter ao gesto

materno. É o início do falso self. Dessa forma, a individualidade do bebê passa a ser

marcada por padrões externos, buscando sempre a adaptação a esses padrões, mas

como nesse período o bebê ainda não possui maturidade para compreender o que é

interno e externo, essa apresentação da realidade ocorre precocemente, antes do estado

de integração. (Winnicott, 1983). O self verdadeiro que surge pela experiência, embora

seja um potencial herdado, nesses casos não está num ambiente favorável para emergir.

A mãe não olha para o bebê, no sentido de enxergá-lo com suas necessidades e, por isso,

ele não é visto, portanto não adquire o sentimento de existir. A identidade que se

constrói, então é falsa e artificial, pois emerge para atender aos desejos da mãe como

forma de sobrevivência. (Dias, 2003).

A adolescência faz parte dos estágios que compreendem o processo de

amadurecimento e é um período de transição da infância para a vida adulta, repleto de

novos sentimentos e demandas, mudanças corporais e emocionais e gerador de

angústias frente às quais, o adolescente repete os padrões dos estágios primitivos. A

identidade é ressignificada, implicando na busca pelo “si mesmo”. Diante disso, o

sentimento de irrealidade do bebê reaparece nesse estágio e o principal objetivo é

sentir-se real. (Winnicott, 1971).

Para Winnicott (1971):

A adolescência implica crescimento e esse crescimento leva tempo. E, enquanto o

crescimento se encontra em progresso, a responsabilidade tem que ser assumida

pelas figuras parentais. Se essas figuras abdicam, então os adolescentes têm de

passar para uma falsa maturidade e perder sua maior vantagem: a liberdade de

ter ideias e de agir segundo o impulso. (p. 202)

Segundo Almeida (2012), a ocorrência dessas questões do ambiente mostra que o

adolescente necessita da continuidade das experiências e atenção dos pais e do

ambiente sócio cultural. Nesse sentido, o adolescente se expressa de forma ainda

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confusa, pois está no processo de sair de uma situação de dependência quase absoluta

para uma independência relativa, construindo uma posição de crescimento e de sua

própria identidade. Para Winnicott (1987), “[...], é a partir de uma posição de isolamento

que ele se lança no que pode resultar em relações” (p. 152). Destarte, como o bebê, o

adolescente é um ser isolado, até estabelecer relações com “objetos que reconhece e

acolhe como não partes que o integram, e isso com satisfação, não mais como um

quantum de agressão instintual” (Almeida, 2015 p. 8). A partir desse contexto, o jovem

precisa de suporte e acolhimento para se sentir amparado no processo de descoberta do

“si mesmo”. O setting pode contribuir para isso, na medida em que dá condições para o

self verdadeiro se mostrar. (Winnicott,1955/2000).

Objetivo geral

Este trabalho tem como objetivo geral, analisar as formas de expressões do falso

self na busca pelo “si mesmo” na adolescência, a partir de um caso clínico atendido em

clínica escola. Frente a isso, os objetivos específicos são: verificar evidências de falso self

no processo de atendimento clínico, bem como os impasses do atendimento do

adolescente na clínica winnicottiana.

Método

A fim de atingir os objetivos propostos, está sendo realizado um estudo de caso,

tendo como fundamento o manejo da clínica winnicottiana. O referencial teórico foi

buscado em livros de Winnicott e de seus comentadores, como Dias (2003), Almeida

(2012, 2015). O caso analisado está sendo atendido em clínica escola e até o momento

foram realizadas 13 sessões com a adolescente e duas com os pais. Trata-se de uma

adolescente de 15 anos, terceira filha de quatro irmãos, estudante do segundo ano do

ensino médio. É a mãe quem procurou pelo atendimento, com o consentimento da filha.

A queixa trazida pelos pais foi a dificuldade na escola (que resultou em duas

reprovações e havia a possibilidade da terceira) e a dificuldade em lidar com o humor

oscilante da filha. A queixa da paciente também estava relacionada ao desempenho

escolar.

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Desenvolvimento do caso

Logo no início do processo, em uma sessão, relatou que preferia tirar notas ruins,

pois assim a mãe teria que dedicar seu tempo para estudar com ela. Ao longo do

processo, apareceu também a queixa de sentir que “não tem um espaço” em casa e “não

sobrar atenção” para ela. A adolescente diz que não gosta e não sabe falar de si. Queixa-

se por não conseguir fazer amigos, não saber conversar. Nas brigas com a irmã, acusa a

mãe de defender sempre a caçula, o que a mãe acabou confessando em um encontro. A

partir da terceira sessão, foi percebido algumas expressões do falso self; às vezes diz:

esta não ela “de verdade”, “a de verdade é extrovertida e brincalhona”, “não entendo por

que não consigo mostrar quem sou”. Apesar dos pais a relatarem como agressiva,

irritada, a paciente que se mostra em sessão é tímida, quieta, falando baixo, num tom

quase infantil; suas falas parecem ser ensaiadas. A mãe engravidou após uma crise no

casamento. No decorrer do processo, tanto nos encontros com os pais, quanto nas

sessões com a paciente, é trabalhada a necessidade de ser notada e cuidada e como isso

está relacionado à demanda por atenção e à dificuldade escolar. A partir disso, houve a

recuperação das notas. As conversas entre ela e os pais têm se tornado mais frequentes.

Discussão

No caso apresentado, a paciente revivencia o sentimento de irrealidade do bebê

(Dias, 2003). Ela precisa ser olhada para existir e se sentir real e descobrir quem ela é,

assim como afirma Winnicott (1988). No entanto, os pais não conseguem olhá-la em

suas necessidades, por isso, ela elege outras, em forma de um falso self, para conseguir

receber esse olhar. A dificuldade na escola tem a função de fazer com que os pais se

preocupem e a notem. Só sob esse olhar é que a paciente descobrirá quem é e, embora

essa atenção recaia sobre uma personalidade falsa, ainda assim o self verdadeiro tem a

possibilidade de emergir, uma vez que não houve a cisão típica da psicose e, no caso em

questão, o self verdadeiro está sendo protegido pelo falso (Winnicott, 1983). Esse self

real aparece nos poucos momentos em que mãe dá espaço para que isso ocorra, como

durante as conversas que tem com a filha.

Como a paciente não tem o sentimento de ter um espaço para si em casa e,

portanto, na vida dos pais, precisou fazer uso do falso self como meio de submissão aos

atos dos pais. Winnicott (1983) afirma que quando isso acontece, o bebê perde seu gesto

espontâneo e se adapta aos gestos dos outros. O fato da paciente não saber nomear o

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que está sentindo e não gostar de falar de si evidenciam uma ausência de sentido e, ao

mesmo tempo, um movimento em busca de si mesma, que é normal na adolescência

(Dias, 2003). No entanto, por assumir um falso self, essa busca fica prejudicada, já que o

self verdadeiro está oculto e, por isso não se expressa. No início, a adolescente se

mostrava nas sessões, submissa e preocupada em não contrariar a terapeuta, como

forma de garantir atenção e cuidado. Assim ela não expressava suas vontades, não

dando espaço para o gesto espontâneo. Ela repete no setting, o modo de agir em suas

relações com a realidade externa. Nesse caso, o falso self tem a função criar um ambiente

favorável e seguro para o verdadeiro emergir, o que segundo Winnicott (1983), é uma

forma normal de expressão do falso self. Embora os atendimentos estejam em

andamento, já foi percebido que o falso self se manifesta como estratégia defensiva,

protegendo o verdadeiro e criando condições para que ele venha a emergir. Como disse

Winnicott (1987) citado por Almeida (2015), os pais não poderão abdicar de um tipo de

cuidado para o filho adolescente, até que ele consiga constituir algo que se perdeu no

ambiente.

Considerações finais

No caso apresentado, que se encontra em desenvolvimento, a busca pelo si

mesmo é permeada por expressões do falso self, que fazem com que as angústias das

reedições dos estágios primitivos, sob aspectos peculiares desse novo contexto, sejam

acentuadas. O falso self em questão defende o verdadeiro que passa a existir como

secreto. Apesar disso, o falso self da paciente traz algumas consequências prejudiciais,

como o sentimento de irrealidade e a necessidade de fazer uso de mecanismos que

repercutem na vida como um todo, como o fato da reprovação. O não entender sobre si

mesmo conduz o adolescente à busca pela identidade, pelo seu eu real, mas quando esse

eu é sobreposto por um falso, a descoberta do si mesmo se faz por um caminho mais

tortuoso. A paciente precisa se lançar com seu falso self para, só então, após sentir-se

segura, fazer emergir o verdadeiro. Diante disso, o setting deve funcionar como um

espaço seguro, onde o self verdadeiro possa se expressar (Winnicott,1955/2000). Um

verdadeiro espaço temporal transicional (Almeida, 2012). Isso tem se mostrado, pelo

fato da paciente não precisar agradar a terapeuta o tempo todo nas sessões, às vezes

mostrando sentimentos de raiva nas falas e até discordando. O caso em questão é rico

em manifestações da adolescência, no entanto, neste estudo de caso, foram abordados

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com ênfase os desdobramentos referentes ao falso self, a fim de delimitar as a

explanações de acordo com o objetivo desse estudo.

Referências

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As contribuições da Psicanálise para o tratamento de adictos na

clínica psicanalítica

Márcia Camacho da Silva Cordér 15; Rosemarie Elizabeth Schimidt

Almeida16; Mauro Fernando Duarte17

Palavras-chave: Adicção. Psicanálise. Tratamento.

Introdução

Este artigo baseia-se num estudo bibliográfico acerca de contribuições da

psicanálise no tratamento terapêutico da adicção. Pretende-se percorrer um breve

histórico sobre a adicção e analisar os aspectos da clínica, levando em consideração o

atendimento e processo terapêutico desses pacientes.

Por meio da busca de pesquisa sobre o assunto, pode-se observar que Freud não

se dedicou à teorização sistemática no campo das adicções, porém, o tema da adicção

encontra-se em diversos trabalhos de Freud. Diante disso, o levantamento desse

referencial busca explicar a interação existente no tratamento psicanalítico com

dependentes químicos.

Poiares (1999) afirma que nos dois últimos séculos a droga passou a fazer parte

de uma tríade: a de mercadoria, sendo ela um eixo de união entre os componentes

jurídico, econômico e fiscal; a lúdica e terapêutica, como forma de proporcionar um

maior convívio social e também como tratamento médico; e, por fim, objeto e causa do

crime, perspectiva essa que tem sido emergente, principalmente a partir da metade do

século XX.

McDougall (1997 apud Stacechen; Bento, 2008) afirma o sentido de “adicção”

como qualquer dependência química que pode gerar um "estado de escravidão". Mesmo

diante dessa “escravidão” do indivíduo para com seu objeto adictivo, seja ele qual for

15 Psicóloga (Unifil- Londrina), Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica (Universidade Estadual de Londrina). Contato: [email protected]. 16 Título de Doutor em Psicologia - Campinas/BR, área: Psicologia Clínica/Título de Mestre em Educação - Universidade Estadual de Londrina/PR, área: Desenvolvimento Humano/1999. Título de Graduação em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina/PR. Professor Associado AC- A da Universidade Estadual de Londrina/PR. Departamento de Psicologia e Psicanálise. [email protected]. 17 Mestre em Psicologia e professor colaborador do curso de especialização de clínica psicanalítica da UEL-PR contato: mauroduarteuel@gmailcom.

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(álcool, drogas comida, sexo, etc.), este objeto não será o motivo de sua real busca, ainda

que ele apresente, diversas vezes, características de alívio ou satisfação.

Para essa autora, a adicção é considerada com uma dificuldade do sujeito de

suportar sentimentos desagradáveis, buscando na droga uma forma de dissipá-los.

Portanto, a real finalidade da busca adictiva seria, através do uso de drogas, acabar com

as tensões com as quais o indivíduo não consegue lidar.

Trata-se de um grande equívoco afirmar que a droga é algo recente em nossa

sociedade. É perceptível que ao longo dos anos, desde os primórdios, a droga já aparecia

em diferentes formas, seja na medicina e na ciência, mas também como expressão de

significado através da magia, da religião, de festas, etc. Em cada cultura, cada época,

meio e fim de administração, a droga era vista e julgada de maneira específica, seja ela

benéfica ou nociva; pura ou impura, sagrada ou não.

As drogas que foram surgindo na contemporaneidade referem-se à cocaína no

final do século XX que reaparece de forma mais violenta. Administrada pelas vias

intranasal e endovenosa, foi associada, no Brasil, à infecção do HIV no final dos anos 80.

A partir dos anos 90 percebeu-se um grande aumento do consumo de crack, uma

mistura de bicarbonato de sódio e de cocaína aquecida e fumada na forma de pedra. Um

dos fatores que influenciaram o aumento no consumo de crack é o seu potencial de

dependência e o baixo custo.

Contudo, para McDougall (1995), a adicção começa a se estabelecer muito

precocemente, conforme um padrão de relacionamento adictivo se desenvolve a relação

mãe-bebê. O bebê teme profundamente desenvolver os próprios recursos para lidar com

tensão, não desenvolve a capacidade de ficar só e busca constantemente a presença da

mãe para lidar com qualquer experiência afetiva.

Portanto, a prática clínica no atendimento à adicto traz um olhar mais voltado

para o campo da transferência e do vínculo, segundo a autora:

A cura psicanalítica se realizará fundamentalmente no campo da transferência. Se

a finalidade da análise é propiciar a emergência da simbolização, ela se realiza

mediante a análise da resistência, pela colocação da repetição no campo da

transferência, onde a significação encontra a condição de possibilidade para se

articular. O campo analítico está assim circunscrito entre o sentido e a força

pulsional. E o analista não pode se contentar em pensar as relações entre analista

e analisando em termos racionais. Tem que se entregar à experiência

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transferencial, para manter as coordenadas do espaço analítico e para que a

simbolização possa se articular. (Chaves, 2006, p109).

Espera-se encontrar neste trabalho uma compreensão da perturbação psíquica

produzida por afetos não simbolizados, ou seja, uma “intoxicação psíquica” citada por

Freud (1930, apud Gomes, 2010) como uma forma direta de prazer que possibilita o ser

humano afastar-se da realidade, como também a expectativa de encontrar modelo de

organização da psicanálise no trabalho terapêutico da adicção.

Sendo assim, demonstrar por meio do método de pesquisa qualitativa a

importância e a contribuição da Psicanálise e da psicoterapia de orientação psicanalítica,

como pilares teóricos e metodológicos que visam ampliar as possibilidades de

recuperação, abstinência e cura de si mesmo.

Objetivo

Neste artigo, o objetivo central é elaborar um estudo psicanalítico sobre o

fenômeno da adicção, efetuando um recorte nesse contexto para promover uma

fronteira clínica e teórica a partir do qual seja possível discutir e levantar possíveis

contribuições no tratamento dos sujeitos adictos, através da investigação de outros

estudos sobre o tema. E, cumprir a formalidade do processo de Conclusão do Curso de

Especialização em Clínica Psicanalítica.

Método

A fim de atingir os objetivos propostos, será realizado um estudo teórico sobre as

ideias de Freud, Décio Gurfinkel, J. McDougall, entre outros conceituados autores da

psicanálise, acerca das contribuições do tema para o tratamento de adictos na clínica

psicanalítica. Diante disso, busca-se alçar as implicações da psicanálise que oriente o

profissional no conhecimento psíquico do adicto, por meio da intervenção clínica.

Resultados e discussões

Na temática apresentada do estudo em desenvolvimento sobre a relação do

adicto com as drogas, segundo a teoria psicanalítica, tem nos apresenta o quanto o papel

do ambiente é importante. Um indivíduo que não tem um ambiente facilitador, ou seja,

uma mãe suficientemente boa, tem uma real possibilidade de relacionar-se com outros

objetos, de forma patológica, no caso as drogas. Diante dessas questões que serão

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aventadas, poderá ficar registrado a grande importância da prática clínica psicanalítica,

corroborando o ato da drogadicção do sujeito perante as falhas do ambiente.

Sendo assim, demonstrar por meio desse estudo, a importância e a contribuição

da Psicanálise e da psicoterapia de orientação psicanalítica, como pilares teóricos e

metodológicos que visam ampliar as possibilidades de recuperação, abstinência e cura

de si mesmo e dos pacientes drogadictos que se encontram em sofrimento.

Considerações finais

Com a proposta de pesquisa apresentada fica registrado a importância do estudo

das adicções na prática da clínica psicanalítica, promovendo um reconhecimento desse

indivíduo e acendendo uma nova oportunidade de se conhecer como um ser integrado.

Ademais, a clínica das adicções, é um ambiente natural para a psicanálise, e da

possibilidade de reconstrução de algo para o sujeito que poderá ser atendido. Esta

pesquisa fica com a proposta de contribuir para novos estudos, sendo possível a

descoberta de novos caminhos.

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Em se tratando de atendimento infantil, quem é o paciente?

Maristela Helfenstein18; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 19; Paulo

Victor Bezerra20

Palavras-chave: Psicanálise, Psicoterapia, Atendimento Infantil.

Introdução

Este trabalho de pesquisa tem como objetivo refletir sobre o atendimento clínico

infantil sob a visão da Psicanálise. Parte de uma breve compreensão histórica, fazendo

uma revisão das teorias psicanalíticas sobre a criança e seu sintoma e o sintoma

parental, além de sintetizar os principais manejos técnicos sugeridos por autores de

grande relevância no campo da psicanálise. Como ponto central a escuta psicanalítica de

crianças, procura-se refletir sobre a questão de saber se o psicanalista infantil deve ou

não receber os pais, ou se estes devem ou não aparecer na cena analítica.

A prática clínica infantil constitui-se um grande desafio para o psicanalista,

embora a Psicanálise seja a clínica do sujeito, no entanto a clínica com crianças gera

alguns impasses:

- Receber uma criança para atendimento nos coloca diante de uma questão

intrigante: de quem se trata, quando se trata de uma criança?

Haja vista que quando os pais solicitam ajuda para o filho, os profissionais dessa

área também estão diante de uma problemática própria de cada um deles, pois pais e

filho, “constroem” uma história entrelaçados. Quanto mais pais e filhos estão implicados

18 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. email: [email protected]. 19 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica -2006-Puuccamp. Professora Associada Uel - Graduação e Pós-Graduação em Psicologia -Departamento de Psicologia e Psicanálise. Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica-UEL-PR. Atua na Clínica Psicanalítica. Contato: [email protected]. 20 Possui graduação em Formação de Psicólogo - UNESP - Faculdade de Ciências e Letras de Assis (2008), mestrado em Psicologia e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (SP) (2011) e doutorado em Psicologia e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (SP) (2015). Atualmente é professor colaborador da Universidade Estadual de Londrina e psicólogo clínico. [email protected].

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entre si, tanto mais se percebe que um pode estar falando no “lugar” do outro. Deste

modo, os pais podem fazer a criança “falar por eles”, como a criança pode fazer a mãe ou

o pai “falar por ela”.

Assim, a questão de saber se o psicanalista infantil deve ou não receber os pais,

ou se estes devem ou não aparecer na cena analítica, remete a pensar sobre o manejo no

atendimento infantil. Destacando que os pais procuram atendimento, quando a criança

apresenta algum sintoma, que pode ser próprio da criança, mas também esse sintoma

pode vir para denunciar questões próprias dos pais. E assim entramos no campo da

sintomatização parental.

Para Lacan (1969) o sintoma da criança é capaz de responder pelo que há de

sintomático na estrutura familiar. Lacan remete à questão da relação entre a estrutura

familiar e o sintoma da criança, onde existe a possibilidade de uma apropriação

sintomática da criança através de suas produções fantasmáticas, ou de um

assujeitamento ao desejo do Outro.

Já para Manonni (1967/2003), os pais estão sempre implicados, de certa

maneira, nos sintomas trazidos pela criança. A autora pontua que é raro que não se

perceba, por trás de um sintoma infantil, certa desordem familiar. Dolto (1988)

compreende que a criança encarna e presentifica através dos seus sintomas, as

consequências de um conflito vivo, familiar ou conjugal, camuflado e aceito por seus

pais.

Outro ponto que merece ser destacado quanto à clínica infantil diz respeito a

quem é o paciente. De acordo com Siencman (2000), uma das principais diferenças desta

clínica (da infância) é o fato de que não se sabe, a priori, quem será o paciente: a criança

ou os pais, uma vez que esta criança vem de um meio social específico e de uma família

particular, sendo produto desta. Esta autora ainda define que é preciso que o terapeuta

“desvende” a quem diz respeito o sintoma que a criança carrega. Neste caso percebe-se

que o trabalho com a criança e com os pais é muito importante.

Objetivos

Esta pesquisa tem como objetivo, procurar compreender dentro da teoria

psicanalítica quem é o paciente em uma análise de crianças. A criança deve ser vista

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como sintoma dos pais, como um psiquismo independente ou se deve encarar a inter-

relação entre o psiquismo parental e o da criança? As atuações clínicas são diferentes,

no manejo clínico. Isto leva à pergunta de quem é o paciente na psicanálise de criança e

quais as configurações possíveis para este atendimento. A inclusão ou exclusão dos pais

no tratamento de uma criança, a possibilidade de se trabalhar com a família, o

atendimento mãe e filho, são opções que decorrem tanto de uma determinada maneira

de pensar o fazer clinico quanto de saber quem é efetivamente o paciente ou pacientes.

Metodologia

A pesquisa será em forma de revisão bibliográfica, abordando diferentes autores

clássicos sobre o atendimento infantil, possibilitando a comparação das distintas visões

teóricas dentro dos conceitos psicanalíticos. Primeiramente será pesquisado sobre o

sintoma infantil e o sintoma parental. E após as diferentes visões psicanalíticas no

manejo de atendimento infantil, tais como as de Manonni, Ana Freud, Klein e Winnicott.

Resultados esperados

Essa pesquisa ainda está em andamento e pretende-se alcançar os resultados

esperados.

A família é o espaço em que a criança deve se sentir protegida e amada, mas nem

sempre as famílias apresentam condições mínimas para um desenvolvimento sadio dos

filhos. Os sintomas trazidos pela criança podem refletir aspectos da dinâmica familiar,

sintomas que denunciam que algo não vai bem. Compreende-se então, que no

atendimento infantil, é necessário que os pais façam parte da cena analítica.

Ao recebermos uma criança para avaliação, não a recebemos de forma isolada.

Recebemos também seus pais, seus avós, seus irmãos, seu ambiente, via discurso. E

todas estas pessoas se tornam fatores importantes, até mesmos decisivos, para o

sucesso ou fracasso de uma psicoterapia.

Na maioria dos casos onde há procura por atendimento psicoterápico, os pais ou

responsáveis já realizaram algumas tentativas de ajuda para esta criança que está em

sofrimento. Percebe-se também que as famílias fazem tentativas de se adaptarem ao

comportamento sintomático que seus pequenos membros apresentam, e se o terapeuta

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não for sensível o suficiente para compreender toda esta cadeia, pode ter dificuldades

em executar o que se propõe.

Muitas vezes, não há somente o comportamento do paciente, mas também a

bagagem que esta família carrega. Como lidar com as semelhanças e também com as

diferenças? Observações como “ele é igual a mim quando eu tinha esta idade” são

frequentes no discurso dos pais.

As relações vinculares como terapeutas estabelecem com os familiares dos

pacientes, um questionamento sobre quem é o paciente. Pela sensibilidade de muitas

crianças, estas podem nomear a doença da família, tornando-se depositárias de uma

bagagem que nem sempre é só delas.

Durante a escuta analítica de crianças, torna-se imprescindível à escuta dos pais,

uma vez que, para que se sintam também acolhidos e entendidos, o tripé paciente –

terapeuta – família há que ser preservado.

Considerações Finais

Este trabalho pode possibilitar uma melhor compreensão acerca das diferentes

formas de manejo clinico no atendimento infantil. Espera-se posteriormente contribuir

para uma reflexão sobre a importância dos pais ou não na cena analítica.

Referências

Dolto, F. (1988.). A primeira entrevista em psicanálise.6. ed. Rio de Janeiro: Prefácio. In.

Flavio Carvalho Ferraz, R. M. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. SãoPaulo: Casa do Psicólogo.

Gurfinkel, D. (2011). Adicções e Paixão e Vício. São Paulo: Casapsi Livraria e Editora Ltda.

Lacan, J. (1969). Duas notas sobre a criança. (t. S. Sobreira, Trad.) Revista do Campo Freudiano, nº 37, 1986.

Manonni, M. (1988). A criança retardada e a mãe 2° edição. São Paulo: Martins Fontes.

Manonni, M. (1967). A criança, sua doença e os outros 2. ed. São Paulo: Via Lettera.

Mcdougall, J. (2000). Teatros do corpo. São Paulo: Martins Fontes.

Mcdougall, J. (2001). Um corpo para dois. São Paulo: Casa do Psicologo .

Rubens Marcelo Volich, F. C. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Seincman, M. ( ano XIII, nº 130, 2000.). Quem é o paciente na psicanálise de crianças? In: Pulsional Revista , 47-59.

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Stacechen, L. F. (2008). Consumo excessivo e Adicção na pós modernidade. Fractal, Rev. Psicol v. 20, n.2 , 421-435.

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Depressão na contemporaneidade: uma análise do filme “Entre

Abelhas”

Mayra Ramalheira de Almeida 21; Rosemarie Elizabeth Schimidt

Almeida22; Paulo Victor Bezerra23

Palavras-chaves: Depressão; Psicanálise; Cinema

Introdução

Tratada como a doença da sociedade moderna, a depressão possui características

que exprimem desde uma patologia grave até a ser apenas mais um sintoma do sujeito

diante do momento real que se vive. Assim, suas características podem determinar uma

melancolia em si ou ser apenas um sintoma constituinte de outra patologia. (Esteves &

Galvan, 2006). Dentro dos quadros clínicos da psicanálise, segundo Delouya (2010), a

depressão nunca ocupou um lugar de destaque entre seus temas, diferentemente da

psiquiatria, que adere os sintomas depressivos em grande parte dos quadros

patológicos.

No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4ª edição, (DSM-IV),

da Associação Psiquiátrica Americana, e a Classificação de Transtornos Mentais e de

Comportamento da CID- 10, da Organização Mundial da Saúde, dissipam a melancolia na

depressão. Consequentemente, os capítulos sobre os transtornos do humor desses

Manuais, os denominados “transtornos bipolares” não se referem mais à melancolia-

mania, mas à depressão-mania (Berlinck & Fédida, 2000).

No campo da psicanálise, Kehl (2015) coloca que o ensaio “Luto e melancolia” de

1917 da teoria freudiana veio muito a acrescentar sobre a melancolia, retirando esta do

campo da psiquiatria, porém, salienta que muito deve ser discutido e elaborado sobre a

sobre a clínica das depressões. Neste escrito, Freud nos lançou luz sobre a origem e o

21 Especializanda no curso em Clínica Psicanalítica da Universidade Estadual de Maringá. Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. [email protected]. 22 Coordenadora do Curso de Especialização em clínica psicanalítica. - Doutora em Psicologia PUCCAMP – Campinas. Mestre em Educação - Universidade Estadual de Londrina/PR. Graduação em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina/PR. [email protected] 23 Doutor em Psicologia e Sociedade pela Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP), Mestre em Psicologia e Sociedade pela UNESP e graduação em Formação de Psicólogo – UNESP. [email protected].

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caráter da depressão em seu sentido descritivo, dado como “nostalgia de algo que foi

perdido”, algo que se articula com o luto (Delouya, 2010).

Freud (1917/1996) definiu o luto como resultado da perda de um objeto

particularmente investido. É um processo que está inscrito no tempo e sua elaboração

só se faz paulatinamente, havendo a liberação da inibição própria e absorção da libido e

assim, o deslocamento a um novo objeto.

Lacan (1974/1993) pensou na depressão do seu ponto de vista ético, entendendo

o sujeito na sua emoção triste ou depressiva, levando em conta que este é o sujeito da

escolha e responsável por seu desejo. Péret (2003) acrescenta a depressão na clínica

lacaniana, é considerada como uma paixão da alma, um afeto e manifesta-se na vida do

sujeito mediante a perda, surpresa, o acaso, e deve ser verificada no um a um da

experiência analítica.

Assim colocado, para Lacan a depressão seria um afeto normal porque se

estrutura no sujeito em uma relação de gozo – ao inverso do sintoma, ou seja, é um afeto

que aparece em um momento que o sujeito evita a sua própria determinação

inconsciente, cede ao desejo, não querendo saber o que determina (Lacan, 1974).

A depressão tem certa relação com a cultura atual, que se mostra maníaca e

onipotente, tentando excluir o mal-estar e a ‘dor de existir’, ponto nodal do narcisismo e

que são inerentes ao sujeito. Kehl (2015) afirma que esta relação proporciona a

depressão como produto da cultura, colocando ela no campo psiquiátrico e

farmacológico. Contudo, na psicanálise, o que se ressalta é o desejo, sendo este o que

possibilita o sujeito a redimensionar a castração e a sustentar a singularidade de seu

desejo. Como já dizia Lacan (1962-63, p. 115), “o melhor remédio para a angústia é o

desejo”.

Para articular a temática da depressão contemporânea dentro do campo da

psicanálise, será utilizado neste estudo o cinema, uma base na qual podemos vivenciar e

se relacionar através de uma experiência singular. Psicanálise e o cinema são frutos de

um mesmo momento histórico, marcado pelas promessas, mas também pelas demandas

sociais de um significativo avanço industrial e capitalista (Souza, 2012). São continentes

que sempre se mantiveram em uma atração mútua, pois são campos que se articulam

através da linguagem e com diversos significantes em comum. Conforme Ramos (2000),

a psicanálise exerce uma função explicativa, e que algumas obras artísticas, surgem

diante da perspectiva autoral, surgem como manifestações da ordem do sintoma.

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Diante disso, serão utilizadas algumas vinhetas da cinematografia “Entre

Abelhas” (2015) para ilustrar o conteúdo contemporâneo da depressão no campo da

psicanálise, a fim de que mostrem reflexões para profissionais da área.

Objetivos

O objetivo geral desta pesquisa é articular o conceito de depressão

contemporânea na clínica psicanalítica com a análise do filme “Entre abelhas”. Como

específicos, será realizado um levantamento bibliográfico nas obras de Freud - “Luto e

Melancolia” e de Lacan (Seminário X – A angústia). Além de realizar buscas sobre a

depressão na contemporaneidade na perspectiva analítica, bem como analisar o filme

“Entre Abelhas”, a fim de se estabelecer os conteúdos recorrentes destes com o

conteúdo bibliográfico.

Método

O método será um estudo exploratório atrelado à análise do filme Entre Abelhas.

Assim, a referida pesquisa buscará produzir conhecimentos úteis no campo da

psicanálise, e se utilizará de livros, e artigos científicos que constam nas bases de dados

eletrônicas (PePSIC, Scielo, e Google Acadêmico), utilizando-se das palavras-chave

“Depressão”, “Contemporâneo” e “Psicanálise” de modo cruzado a partir da perspectiva

freudiana e lacaniana.

Com relação a análise fílmica, buscará combinar alguns aspectos de comparação

entre o fazer do montador no cinema que, dentre outras operações, articula sequências e

produz cortes no processo fílmico e o fazer do analista em sua escuta da cadeia

associativa produzindo recortes e interpretando, tendo por bússola a transferência

(Froemming, 2002). Assim, serão analisadas interlocuções e cenas do filme no qual

chamam a atenção para traçar um paralelo com a temática “depressão na

contemporaneidade”.

Resultados e Discussão

A cinematografia Entre Abelhas, escrita pelo ator e comediante Fábio Porchat ao

juntamente com o diretor Ian Sbf apresenta à situação de Bruno, que, recém-divorciado

de Regina, passa a morar com a mãe, ao mesmo tempo em que é levado pelo melhor

amigo Davi para uma vida de baladas. Aos poucos, nessa nova rotina, Bruno percebe que

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as pessoas ao seu redor estão desaparecendo - não deixando de existir, já que ele ainda

sente as pancadas quando tromba com os seres agora invisíveis na rua, ele apenas não

consegue mais vê-las. Por não ver e não falar mais com tais pessoas, ele começa a se

isolar, se retirando de sua rotina de trabalho e da vida social, caracterizado como um

estado depressivo.

A depressão é empregada na clínica psicanalítica para dizer de situações

psíquicas de um sujeito com dificuldades em elaborar as suas determinações

inconscientes. Cada sujeito possui diversas maneiras de representar a depressão, que só

a análise pode decifrar.

O enredo do filme é desenvolvido sugerindo alguns sintomas depressivos, diante

da separação. Tal situação demonstra que o personagem está sofrendo um processo de

luto. Sobre o trabalho do luto Freud (1917/1996) definiu que este resulta da perda de

um objeto particularmente investido. Há um movimento do personagem em aceitar a

sua condição, desistindo de buscar soluções e assentindo em não enxergar pessoas. Tal

cena é retratada através da fala do psicólogo para Bruno no filme: “Será que deixando de

enxergar a todo mundo, você passou a se enxergar mais? ”.

Percebe-se que o sujeito goza diante da situação do ver, havendo uma repetição

diante da situação, e assim, ele deixa de ver mais pessoas a cada vez, mas não havendo

entendimento sobre o porquê isto ocorre. Lacan (1974) contribui dizendo que a

depressão é um afeto normal, e que se repete na estrutura do sujeito em forma de gozo.

Bruno se gratifica da situação de não se ver – ele passa a se ver mais e

consequentemente, se isolar, não possuindo o Outro como imagem.

Segundo Kehl (2015), a depressão do ponto de vista social expressa a

desvalorização que o sujeito possui de sua vida e interrogando o seu sentido diante do

espelho, e assim, não existe passado ou futuro, e o sujeito se desprende de qualquer

situação. O personagem Bruno, ao deixar de ver e, consequentemente, falar com as

pessoas, passa para um estado de isolamento. Foi a aceitação em não ver mais os outros,

que fez com que o personagem entrasse mais afundo neste estado de solidão.

Considerações Finais

O contato do estudo da depressão na contemporaneidade faz-nos perceber o

quanto a psicanálise cresceu e se desenvolveu desde as teorizações freudianas,

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permitindo pensar a postura profissional a que compete a um analista frente às

demandas atuais.

No estudo em questão, percebe-se que no decorrer do filme o que foi ofertado ao

personagem e que vai de encontro com o que a psicanálise pode ofertar ao deprimido,

que é um percurso livre de pressa e de demanda do Outro. Cabe ao personagem do filme

estabelecer seu ritmo particular, com contorno pulsional para sair da situação de

deprimido. Deste modo, a análise fílmica contribui para dar compreensão a visão

psicanalítica na depressão, e esse método de estudo vai comprovando sua eficácia pois

para os profissionais da área tem agregado valor a temática da Depressão, ao seu

conhecimento e possibilidades de novos estudos a partir disso.

Referências

Berlinck, M. T., & Fedida, P. (2000). A clínica da depressão: questões atuais. Rev. latinoam. psicopatol. fundam.., 3(2), 9-25. http://dx.doi.org/10.1590/1415-47142000002002

Delouya, D. (2010) Depressão. Coleção clínica psicanalítica 5 ed. - São Paulo: Casa do Psicólogo.

Esteves, F. C., & Galvan, A. L. (2006). Depressão numa contextualização contemporânea. Aletheia, 24, 127-135.

Freud. S. (1996). Luto e Melancolia. In: Obras completas de Sigmund Freud: Edição Standard brasileira (Vol. XIV, pp. 249-266). São Paulo: Imago. Originalmente publicado em 1917.

Froemming, L. S. (2002) A montagem no cinema e a associação-livre na psicanálise. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio grande do Sul, Brasil.

Kehl, M. R. (2015). O tempo e o cão: A atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo.

Lacan, J. (1993). Televisão. Tradução de Antonio Quinet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1974.

Lacan, J. O Seminário, livro 10 - A angústia (2005). Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Originalmente publicado em 1962-63.

Péret, M. F. F. (2003). A depressão na clínica lacaniana: Um estudo de caso. Dissertação de mestrado, Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil.

Ramos, F. (2000). Teoria do cinema e psicanálise: intersecções. In: Bartucci, G. (org.) Psicanálise, cinema e estéticas de subjetivação. Rio de Janeiro: Imago.

Souza, M. R. (2012). Inquietantes traslados: uma leitura psicanalítica do filme Encontros e Desencontros. Psicologia em Estudo, 17(4), 587-595. https://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722012000400005

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Possibilidades da psicanálise em casos de alienação parental

Naiara Calvi Oliveira24; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 25

Palavras-chave: Alienação Parental, Psicanálise, Alienação.

Introdução

O presente estudo tem por objetivo compreender o conceito de Síndrome de

Alienação Parental e suas implicações no funcionamento psíquico da criança e da

dinâmica familiar. O interesse pelo tema advém da prática de trabalho dentro do Centro

de Referência de Assistência Social, o qual recebe demandas advindas do Poder

Judiciário com relação a revisão de guarda e/ou regulamentação de visitas.

Ressalta-se a importância da legislação acerca dos direitos da criança e do

adolescente, assegurados por meio da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, o Estatuto da

Criança e do Adolescente e a Lei nº 12.318, de 26 de outubro de 2010, que dispõe sobre

a alienação parental. Esta última, regulamenta o convívio dos filhos com os pais, após a

separação (Brasil, 2010).

O psiquiatra Richard Gardner cunhou os termos Alienação Parental (AP) e

Síndrome de Alienação Parental (SAP) em 1985, como resultado de seu extenso trabalho

no âmbito jurídico. Ao longo de mais de vinte e cinco anos de dedicação em avaliações

psicológicas de menores envolvidos em processos litigiosos entre seus responsáveis,

Gardner pôde observar que a Alienação Parental é o fenômeno onde um ou ambos

genitores alteram a percepção cognitiva e emocional da ou das crianças a respeito do

outro genitor (Gardner, 1998 apud Brockhausen, 2011).

Conforme disposto na Lei nº 12.318/10, em seu artigo segundo:

Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da

criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos

avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda

24 Psicóloga, graduada pela Universidade Estadual de Maringá e pós-graduanda Latu-sensu pela Universidade Estadual de Londrina. Contato: [email protected]. 25 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica - 2006 – Puccamp. Atua como professora associada na graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Esadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre: Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica.UEL/PR.

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ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento

ou à manutenção de vínculos com este (Brasil, 2010).

O desenvolvimento da Síndrome de Alienação Parental no menor depende de

dois fatores, de acordo com Gardner como citado por Brockhausen (2011): 1- a

argumentação feita ao menor para hostilizar um dos genitores e afastá-lo dele, e 2- as

atitudes desta criança para sustentar a depreciação contra o genitor alienado.

Ao refletir sobre a cultura, os valores sociais e os relacionamentos das famílias

brasileiras, percebe-se uma maior vinculação e cuidados do genitor masculino com os

filhos. Na tentativa de buscar igualdade no exercício da função parental, os pais vêm

assumindo todo o tipo de tarefas e responsabilidades com seus filhos. Quando a relação

conjugal termina, procuram manter os laços e a convivência com seus herdeiros, porém

com frequência são impedidos pelo ex-cônjuge guardião. Consequentemente, recorrem

aos Juizados da Família dando entrada em processos de regulamentação de visitas e

guarda (Souza, 2010).

Assim, sob a ameaça de perder a autoridade parental, a função e o papel de

protetor e até os vínculos afetivos, genitores de ambos os sexos passaram a produzir a

Síndrome da Alienação Parental em seus filhos, na tentativa de conquistá-los como seus

aliados no processo judicial (Souza, 2010).

Com a sanção da Lei nº 12.318/10, que dispõe sobre a alienação parental, faz-se

necessário discutir sobre o impacto do tema no processo de divórcio de um casal, na

dinâmica familiar e no funcionamento psíquico dos familiares, principalmente das

crianças ou adolescente destas famílias.

Em especial para o profissional psicólogo que irá intervir junto às crianças com a

função, muitas das vezes, de identificar as “verdades” do litígio do ex-casal parental,

como por exemplo: agressões verbais e físicas, abandono, abuso sexual, exploração do

trabalho infantil, além da síndrome da alienação parental.

Por isso é muito importante esse estudo, a medida que o profissional poderá

beneficiar-se de uma compreensão psicanalítica da SAP, que possa trazer contribuições

à intervenção. A Teoria Psicanalítica tem como princípio desvelar sintomas e dinâmicas

do psiquismo humano. Nesse sentido, pontuando a importância dos genitores, do

cuidado dirigido ao sujeito e do ambiente em sua constituição, a obra de Winnicott

(2011) poderá elucidar questões relevantes a esta temática social extremamente

relevante à infância.

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Objetivos

Com esta pesquisa pretende-se compreender o conceito de Síndrome de Alienação

Parental a partir de um embasamento psicanalítico e suas implicações no

funcionamento psíquico da criança e da dinâmica familiar.

Método

O método escolhido para o desenvolvimento do estudo foi o de revisão bibliográfica.

De acordo com Ferrari (1992), a pesquisa bibliográfica compreende a leitura, a seleção e

o fichamento dos tópicos de interesse para a pesquisa em pauta, com o intuito de

conhecer as contribuições efetuadas em relação ao assunto investigado. Dessa forma,

será feito um levantamento seletivo da literatura existente sobre a alienação parental

em bases de dados especializadas em Psicologia, priorizando aqueles relativos à

abordagem psicanalítica.

Para o primeiro levantamento de dados, utilizou-se os termos “alienação

parental” nas bases de dados eletrônicas indexadas à Biblioteca Virtual em Saúde Brasil

– Psicologia, no sítio www.bvs-psi.org.br. Assim, localizou-se trinta e cinco artigos, sendo

nove no SciELO, nove no PePSIC e dezessete na LILACS, como resultado da busca.

Nesta triagem, restaram quinze artigos, que serão analisados um a um. Procura-

se verificar nestas fontes de dados as formas como a síndrome de alienação parental se

manifesta e de que forma o psicólogo pode intervir, dentro dos limites de um Centro de

Referência de Assistência Social, auxiliando no desenvolvimento psíquico saudável de

crianças vítimas dessa realidade, levando em conta seu conhecimento teórico-prático

psicanalítico, com ênfase em Winnicott.

Resultados

Efetivamente, a Síndrome da Alienação Parental ainda não é reconhecida no

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, compêndio

psiquiátrico que legitima o sofrimento psíquico perante a sociedade. No entanto, o fato

de que não seja reconhecida como uma “doença”, não significa que não exista. As

pessoas que a vivenciam estão sujeitas a um abuso psicológico grave, no qual se instiga

medo, ressentimento e raiva contra um genitor que era figura de amor e proteção

(Maiada, Herskovic, & Prado, 2011).

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De acordo com Maiada et al. (2011), a SAP caracteriza-se pela existência de uma

campanha de difamação e rejeição a um genitor, por parte do alienador, transferindo

posteriormente a tarefa para a criança. O menor passa a manifestar argumentos

absurdos e frágeis para a desqualificação do genitor, porém tem a percepção de que são

conclusões suas, negando qualquer influência de outrem. Percebe-se apoio incondicional

ao alienador, sem questionar a validade de seus juízos sobre o outro. Pode manifestar

ausência de culpa pela crueldade dirigida ao alienado, comportamento que não seria

permitido em outras circunstâncias. Há presença de discursos emprestados, pois são

incompatíveis com a cognição verbal da criança. A animosidade ao pai alienado se

estende a sua família de origem e aos amigos.

Nesse processo de alienação parental, os filhos são negligenciados por seus pais,

suas necessidades e até seus pensamentos são capturados pela objetividade do adulto e

confundidos com as suas próprias. Preocupados em reconstruir a rotina familiar, mães e

pais tornam-se cegos aos comportamentos dos herdeiros. A convicção equivocada de

que a felicidade dos pais, tornará os filhos mais felizes, é alicerçada no fato persistente

de que a maioria dos adultos é incapaz de captar a visão de mundo de uma criança e de

como ela pensa. (Wallerstein, Lewis, & Blakeslee, 2002).

Dessa maneira, é difícil para os pais preparar seus filhos adequadamente para a

iminente separação e proporcionar-lhes o conforto de que precisam. Assim, Souza

(2010) propõe um serviço de auxílio à família pós-divórcio onde a equipe

multidisciplinar dos Juizados de Família ou dos Centros de Referência de Assistência

Social ofereça a oportunidade de os pais refletirem sobre a superação dos impasses e um

possível acordo judicial, de esclarecer suas dúvidas e dificuldades quanto à nova forma

de organização da família, bem como trabalhar junto às crianças seus anseios, temores e

questionamentos sobre tal organização.

Considerações Finais

Ao longo dos quase quarenta anos em que o divórcio foi instituído no país,

realizaram-se mudanças radicais na estrutura e na dinâmica familiar. Os mitos que

monitoram nossas teses e políticas a respeito do divórcio sustentam que a separação

gera uma crise temporária, e que o bem-estar dos pais, gera felicidade em seus filhos.

Todavia, Wallerstein, Lewis e Blakeslee (2002) apontam em seus estudos longitudinais

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sobre divórcio que estas são premissas frágeis, pois as emoções despertadas na

separação não são fáceis de serem vivenciadas e superadas.

Considerando esta realidade, a criança que desenvolve a síndrome de alienação

parental além de um sofrimento psíquico acentuado, tem seus direitos violados,

demandando dos profissionais que trabalham no âmbito jurídico e em Centros de

Referência de Assistência Social um olhar mais acurado às complexas relações

familiares.

O presente estudo, ainda em desenvolvimento, possibilita compreender que a

síndrome de alienação parental se desenvolve não só pela intensa ação do alienador,

mas por múltiplas circunstâncias psicodinâmicas da criança, dentre outras questões a

serem melhor investigadas como aponta Brockhausen (2011).

Referências

Brasil. (2010). Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Publicada no Diário Oficial da União em 31 de agosto de 2010.

Brockhausen, T. (2011). SAP e Psicanálise no Campo Psicojurídico: de um amor exaltado ao dom do amor. Dissertação de mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

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Maiada, A., Herskovic, V., & Prado, B. (2011). Síndrome de alienacíon parental. Revista Chilena de Pediatría, nov. – dic., 82, 6. Recuperado em 12 outubro, 2016, de LILACS.

Souza, A. M. (2010). Síndrome da alienação parental: um novo tema nos juízos de família. São Paulo: Cortez, 2010.

Wallerstein, J., Lewis, J., & Blakeslee, S. (2002). Filhos do divórcio. São Paulo: Edições Loyola, 2002. Recuperado em 14 outubro, 2016, de https://books.google.com.br/books?id=y1F-ocl0swQC&pg=PA29&lpg=PA29&dq= onepage&q=Filhos%20do%20Div%C3%B3rcio%20Judith%20Wallerstein&f=false

Winnicott, D. W. (2011). A família e o desenvolvimento individual. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2011.

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Psicossomática: contribuições de Winnicott e Joyce McDougall

Rosilene Devechi26; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 27; Mauro

Fernando Duarte28

Palavras-chave: Psicossomática. Psicologia. Psicanálise.

Introdução

Este artigo baseia-se no tema da psicossomática, um campo de atuação e

pesquisa tanto atual e interessante, quanto profundo aos estudiosos ligados à psicologia.

Analisar os aspectos constitutivos de uma patologia orgânica, partindo do pressuposto

de que o homem não é uma máquina, e trazendo à tona a necessidade de avaliar também

sua história de vida, é uma tarefa importante para a compreensão da visão

contemporânea do ser humano, e caracteriza diretamente o foco dos estudos da

psicossomática.

O termo psicossomático compreende toda perturbação somática relacionada

direta ou indiretamente com processos psicológicos mal elaborados (McDougall, 2001).

Atualmente, o estudo da psicossomática tem como finalidade estudar e integrar a

doença na dimensão psicológica, propiciando um melhor entendimento do paciente e

uma ação terapêutica mais abrangente e significativa.

Por ser um tema importante dentro da psicologia, é de grande valia assimilar

aspectos tão importantes do funcionamento humano, complexidade das relações através

de seus sintomas psicossomáticos. McDougall (2000) explica que os afetos são

manifestações psíquicas de carga de excitação que vem do corpo, na medida em que

essas cargas se tornam acumuladas como manifestação psíquica, a tendência do nosso

aparelho psíquico é descarregar essas tensões, mas esse descarregar só é possível para o

sujeito que possui representações disponíveis.

26 Psicóloga (Unifil- Londrina), Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica (Universidade Estadual de Londrina). [email protected]. 27 Doutor em Psicologia - Campinas/BR, área: Psicologia Clínica/Mestre em Educação - Universidade Estadual de Londrina/PR, área: Desenvolvimento Humano/1999. Título de Graduação em Psicologia - Universidade Estadual de Londrina/PR. Professor Associado AC- A da Universidade Estadual de Londrina/PR. Departamento de Psicologia e Psicanálise. [email protected]. 28 Mestre em Psicologia e professor colaborador do curso de Especialização Clínica Psicanalítica. Universidade Estadual de Londrina UEL-PR. [email protected].

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Objetivo

Desse modo, o objetivo dessa pesquisa é contextualizar á psicossomática,

enfocando as ideias dos autores Winnicott e Joyce McDougall aproximando as teorias e a

visão dos autores sobre a relação mente e corpo. Compreender o surgimento de

sintomas somáticos diante do não enfrentamento de situações adversas, nas quais

indivíduos não conseguem uma simbolização necessária, o que o leva a uma

desorganização mental e corporal.

A fim de atingir o objetivo proposto neste artigo busca-se a perspectiva de

encontrar respostas para a problemática seguinte: Não encontrando saída para lidar

com uma angústia indizível, não tendo recurso para uma simbolização, isso pode levar

indivíduos a desenvolver sintomas psicossomáticos?

Método

Será apresentado um breve levantamento teórico do tema psicossomática,

fazendo uma delimitação e aproximando as ideias dos autores Winnicott e Joyce

McDougall, quanto ao assunto exposto.

Discussão e Resultados

Sujeitos que não verbalizam afetos em suas falas, porque essa emoção não pode

ser realizado em seu interior psíquico, faz com que essa afeição volte para seu lugar de

origem que é o corpo. Logo, o percurso natural das hesitações era ser vinculado nas

representações e no significante, isso vai gerar como resultado o sintoma

psicossomático.

Esse sintoma, para Joice McDougall (2001), é resultado primeiramente desse

processo que ela vai chamar de desafetação, que seria o processo que inviabiliza a

formação de sintomas mentais e aumenta a vulnerabilidade somática do indivíduo.

A autora ainda cita que o terapeuta que desempenha adequadamente a função

materna, precisará ser capaz de auxiliá-los nessa empreitada, propiciar e fazer uma

maternagem. Como consequência, poderá torná-los capazes de concluir o processo de

dessomatização do aparelho psíquico.

Segundo McDougall (2000) por não haver as possibilidades de descarregar, a

única saída para não se desintegrar e lidar com essa angústia que aparecia como

resultado de uma manifestação psíquica é fazer uma negação de afetos. Então esses

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sujeitos vão constituir uma estrutura que no futuro poderá produzir como resultado

sintomas somáticos.

Conforme McDougall (2000) relata que em estados psicossomáticos, é o corpo

que se comporta de maneira delirante, ele hiperfunciona ou inibe funções somáticas

normais e o faz de modo insensato no plano fisiológico. O corpo enlouquece, porém,

seres humanos tendem mais a adoecer e a sofrer acidentes quando estão ansiosos,

deprimidos, angustiados, do que quando a vida e o futuro se apresentam de forma mais

leve.

Em Winnicott (1983), a experiência do nascimento também elucida, de forma

fundamental, o lugar do corpo na teoria do amadurecimento, ou seja, descrição e

conceituação das diferentes tarefas, conquistas e dificuldades que são inerentes ao

crescimento em cada um dos estágios da vida, desde o momento em que um estado de

ser tem início, ainda na vida intra-uterina, estendendo-se pela infância, adolescência,

juventude, idade adulta e velhice até a morte.

Desta forma, o autor desenvolve este processo para afirmar que todo o indivíduo

apresenta uma tendência herdada para o desenvolvimento e associada a um ambiente

facilitador, levará a integração da personalidade. De fato, o Amadurecimento remete a

passagem da fase de dependência absoluta dos primeiros momentos de vida do lactente,

para a dependência relativa, quando posteriormente atingirá a independência relativa

(Winnicott, 1998).

Segundo Winnicott (1998) revela a existência de uma angústia impensável na

base da formação subjetiva e da integração psicossomática. Esta experiência está

associada à ideia de um estado de não-integração, vivenciado no início do

desenvolvimento emocional. Logo após o nascimento, o bebê não tem acesso à

experiência de completude para formação da noção de “eu”, porém apresenta uma forte

tendência para esta integração. Para alcançá-la, necessita de cuidados maternos

acolhedores que garantam sua preservação. Por outro lado, repetidas falhas maternas,

antes que o lactente esteja preparado para se proteger, levarão a experiência de

angústia excessiva, que será manifestada pelo corpo, diante da falta de recursos

psíquicos.

O estudo do lugar do corpo na teoria de Winnicott mostrará a importância

fundamental da experiência corporal real como uma conquista importante no processo

de amadurecimento pessoal.

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Considerações Finais

Os autores asseguram que esses sujeitos possuem uma falha na elaboração

psíquica e entendem as afecções orgânicas como causadas pelo lapso do processo de

amadurecimento citado por Winnicott ou pela desafetação exposta por McDougall

(2001) que são caracterizadas como manifestações desprovidas de valor simbólico.

Depois de todo conteúdo exposto, é importante ressaltar que a falta de

investimento da mãe, consequentemente, pode marcar a vida de um indivíduo por

inúmeros conflitos e ambivalência, assim como, o papel do pai na constituição psíquica

vem trazer possibilidade da criança experimentar a oscilação da presença e ausência

materna. Esses aspectos determinam a essência da constituição e da experiência de se

tornar inteiro, de ter autonomia, capacidade de representação de seu aparelho psíquico,

e a possibilidade de reconhecimento da presença paterna. Constituindo um processo de

maturação saudável (McDougall, 2001).

Por fim, deve ser assinalado e concluído que a psicossomática, apesar de já ter

sido analisada e discutida por diversos autores, em diferentes vertentes, ainda se

encontra em constante evolução. Portanto diante das ideias expostas se pode colocar o

quanto a contribuição do analista se cumpre de forma profunda e transformadora na

vida de um indivíduo, podendo através do olhar psicanalítico construir uma

simbolização junto do paciente, e construir com palavras uma compreensão de sua

história e um reconhecimento do eu, não necessitando mais somatizar em seu corpo.

O analisante escreveu sua tragédia e o analista lhe pontua o texto cuja tinta se

imprime na alma e assim é a refundação desta experiência de sua pesquisa no divã o

analisante pode se fazer letra de uma outra pesquisa: a psicanalítica (Iribarry,1999).

Referências

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Flavio Carvalho Ferraz, R. M. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. SãoPaulo: Casa do Psicólogo.

Gurfinkel, D. (2011). Adicções e Paixão e Vício. São Paulo: Casapsi Livraria e Editora Ltda.

Lacan, J. (1969). Duas notas sobre a criança. (t. S. Sobreira, Trad.) Revista do Campo Freudiano, nº 37, 1986.

Manonni, M. (1988). A criança retardada e a mãe 2° edição. São Paulo: Martins Fontes.

Manonni, M. (1967). A criança, sua doença e os outros 2. ed. São Paulo: Via Lettera.

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Mcdougall, J. (2000). Teatros do corpo. São Paulo: Martins Fontes.

Mcdougall, J. (2001). Um corpo para dois. São Paulo: Casa do Psicologo .

Rubens Marcelo Volich, F. C. (1997). Psicossoma, Psicossomática, Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicologo.

Seincman, M. ( ano XIII, nº 130, 2000.). Quem é o paciente na psicanálise de crianças? In: Pulsional Revista , 47-59.

Stacechen, L. F. (2008). Consumo excessivo e Adicção na pós modernidade. Fractal, Rev. Psicol 20(2), 421-435.

Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed.

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A mãe que não se torna desnecessária e suas possíveis consequências

para o amadurecimento do seu filho nos estágios iniciais da vida

Vanessa Cristina Paviani29; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida30

Palavras-Chaves: Winnicott, mãe suficientemente boa, falha ambiental, estágios do

amadurecimento.

Introdução

Na atualidade da clínica psicanalítica o atendimento infantil vem encontrando

dificuldades para trabalhar a desvinculação entre mãe e filho e a conquista da

independência por parte da criança. Percebido isso se encontra na psicanálise infantil o

autor Donald Woods Winnicott, que discorre brilhantemente sobre a relação mãe e filho

e como essa relação influencia na conquista da independência da criança. Deste modo,

justifica-se a realização da pretendida pesquisa por que na clínica psicanalítica faz-se

necessário compreender como a relação entre mãe e filho interfere no processo de

amadurecimento da criança e de que forma essa relação pode desencadear falhas

ambientais precoces no desenvolvimento. Visto essa característica da clínica da infância

faz optou-se por realizar um estudo da teoria do amadurecimento com o objetivo de

compreender as consequências no desenvolvimento do sujeito quando a mãe não

adquire a capacidade de falhar.

Ao escrever sobre a mãe desnecessária Winnicott (2000) quer dizer que, com as

falhas da maternagem, ao seu devido tempo o indivíduo se tornará capaz de cuidar de si

mesmo, o autor diz que

Um resultado mais comum dos graus menos elevados da maternagem

tantalizante nos estágios inicias é que o funcionamento mental passa a existir por

si mesmo, praticamente substituindo a mãe boa e tornando-a desnecessária. (p.

336).

29 Psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Maringá. Possui experiência na área de psicologia clínica e orientação profissional. E-Mail: [email protected]. 30 Doutora em Psicologia. Atua como professora associada na graduação e na pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). E-Mail: [email protected].

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Desse modo é preciso que a mãe deixe de suprir todas as necessidades do bebê e

comece a falhar, para que ele comece a dar conta de suprir as suas falhas, de forma

patológica.

No início da vida a mãe que supre todas as necessidades do bebê, foi por

Winnicott (1975) denominada uma mãe suficientemente boa, que é aquela que efetua as

adaptações às necessidades do bebê, ao dar um sentido ao seu gestual inicial perceptivo.

Essa adaptação se dá quase que por completo e tende a ir diminuindo com o passar do

tempo, à medida que o bebê se torna capaz de lidar com o fracasso dela (Winnicott,

1975).

Dias (2003), aponta que a mãe suficientemente boa se torna um ambiente

facilitador, por tornar-se uma mãe capaz de reconhecer e atender as necessidades do

bebê devido a sua identificação com ele, que lhe permite saber qual a necessidade deve

ser atendida em dado momento. A capacidade de ser “suficientemente boa” vai além de

suprir as necessidades do bebê por completo, ela também implica em reconhecer que o

bebê está em um processo de amadurecimento em curso e por isso ela também precisa

oferecer condições para que o bebê-unidade se desenvolva.

Nos estágios iniciais da vida do bebê ele vive em um estado de dependência

absoluta, ao ponto de não podermos pensar na existência desse novo indivíduo como

uma unidade e nem em uma existência que independa de cuidados. A dependência

absoluta quer dizer que o bebê depende completamente da mãe para ser como é, para

existir, e para posteriormente realizar as tendências inatas à integração tornando-se

uma unidade, Dias (2003) explica que

O âmbito onde se dá o amadurecimento não é um espaço intrapsíquico, mas

inter-humano, um entre a mãe e o bebê. Esse espaço é ainda pré-pessoal, pelo

fato de não haver ainda duas pessoas; cada um é para o outro, a unidade do dois-

em-um (p. 331-332)

Dessa forma, com o passar do tempo e com a crescente capacidade de adaptação

do bebê, a mãe suficientemente boa tornará a dependência cada vez menos absoluta,

assim permitindo que ele caminhe em direção à dependência relativa e a independência.

O estágio de dependência relativa é um estado de adaptação a falha gradual da

mãe, explica Winnicott (1983). É comum que se promova uma desadaptação gradativa e

isso será favorável para o desenvolvimento saudável do lactente. Dias (2003) aponta

que a desadaptação da mãe é imprescindível para o rompimento da unidade mãe-bebê,

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de modo que o processo de separação levará o indivíduo a integração como um ser

unitário e separado, que é capaz de estabelecer relação com o mundo externo.

Progredindo para a independência é importante que se tenha em mente que ela

nunca é absoluta, pois o indivíduo normal não se torna isolado. O que acontece é que no

estado de independência o indivíduo vai se tornando capaz de compreender o mundo

com todas as suas complexidades, seus círculos sociais se tornam abrangentes e cada

vez mais ele se identifica com essa sociedade, como um exemplo de seu próprio mundo

pessoal (Winnicott, 1983).

Quando a mãe é saudável, essa mudança acontece de maneira tranquila e natural

para as duas partes, pois a mãe reconhece que esse amadurecimento é essencial para o

bebê; porém se a mãe não é capaz de reconhecer a necessidade desse caminho para a

independência, as consequências podem gerar sérias dificuldades para o

desenvolvimento da criança (Dias, 2003). Visto isso, se pretende compreender quais são

as consequências geradas quando essa mudança não acontece.

Objetivos

Compreender quais são as possíveis influencias no amadurecimento do ser

humano, quando a mãe não adquire a capacidade de falhar e as patologias que

poderão ser decorrentes desse processo.

Produzir um artigo científico que contribua para a ampliação do conhecimento

sobre o tema, e também para o desempenho da prática clínica.

Método

Optou-se por realizar um estudo de caso utilizando vinhetas de casos clínicos

triados na Clínica Escola de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). De

acordo com Castro (2010) o estudo de caso se sustenta por fragmentos do caso –

vinhetas – articulados com a teoria segundo a escrita do pesquisador e não tem a

pretensão de esgotar a compreensão da história do sujeito. O presente estudo será

embasado pela teoria winnicottiana. Os dados dos casos foram colhidos na pasta de

triagem infantil da Clínica Escola da UEL, existiam 13 casos triados, dos quais 5 foram

selecionados para compor o quadro de casos clínicos a serem estudados. As triagens

descartadas referiam-se a 3 casos de dificuldade de aprendizagem, 2 casos relacionados

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a problemas de saúde como dificuldades de locomoção e cegueira, 2 casos de

drogadição, 1 caso de tentativa de suicídio e 1 caso de agressividade.

Resultados e Discussão

De acordo com a literatura pertinente as hipóteses que serão investigadas

referem-se a:

1- Nos estudos investigados, será percebido que o filho poderá não sair do estado

de dependência absoluta ou relativa, e ser então passível de ter baixa tolerância à

frustração, além de não conquistar autonomia e até a ocorrência de um falso self.

2-Sabemos que para a psicanálise winnicottiana, o processo de conquista da

independência é fundamental para que o indivíduo se torne capaz de se relacionar com

o mundo, seu vir -a –ser, a busca de um sentido para estar-se no mundo. Ao constatar a

incapacidade de uma mãe em tornar-se insuficientemente boa, quais aspectos que a

literatura estudada poderá evidenciar as consequências disso, por exemplo, como

personalidades das crianças com tendência antissociais?

3- Como essa mãe, poderá sobreviver a separação entre o seu eu e o outro eu –o

bebê, tornarem –se 2 unidades em uma unidade, sem “perecer” o amadurecimento desse

processo?

Tais questões serão o mote para a contribuição esperada por esse estudo.

A seguir apresentar-se-á uma tabela com a relação dos casos clínicos

selecionados. Nos quais foram constatadas dificuldades ambientais relacionadas ao

desenvolvimento infantil referentes à dependência dos pais.

Idade

Sexo

Encaminhado por

Queixas

Criança 1

9 anos

F Hospital das clínicas

Dificuldade de dormir durante a noite, pede dormir na cama dos pais.

Criança 2

11 anos

F Pediatra Dificuldade de relacionar-se com outras pessoas. Dificuldade em realizar atividades básicas sozinha.

Criança 3

10 anos

M Demanda espontânea

Pede para dormir na cama com o pai. Retraimento social.

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Tabela 1: Crianças triadas na clínica escola de Psicologia da Universidade Estadual de

Londrina

Portanto diante destes primeiros resultados obtidos levanta-se a hipótese de que,

quando a mãe não falha em relação aos cuidados maternos, se torna cada vez mais difícil

que o filho avance rumo ao processo de independência. A partir desta constatação,

buscar-se- à na literatura, aspectos que evidenciem essas consequências para o

desenvolvimento do sujeito.

Considerações Finais

Espera-se que com o desenvolvimento do estudo em questão, sejam esclarecidas

de maneira mais aprofundada, visando contribuir com o tema não só com o meio

acadêmico, mas com a prática clínica.

Referências

Couto, J. E. (2010) O método psicanalítico e o estudo de caso. In: F. K. Neto e J. O. Moreira (Org.), Pesquisa em Psicanálise: transmissão na Universidade (pp. 59-80). Barbacena: EdUEMG.

Dias, E. O. (2003). A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de Janeiro: Imago.

Winnicott, D. W. (1975) Objetos tansicionais e fenômenos transicionais. In: D. W. Winnicott, O brincar e a realidade (pp. 13-44). Rio de Janeiro: Imago.

Winnicott. D. W. (1949) A mente e sua relação com o psicossoma. In: D. W. Winnicott, Da pediatria à psicanálise: Obras Escolhidas. (pp. 332-346). Rio de Janeiro: Imago.

Winnicott. D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed.

Criança 4

12 anos

M Grupo de dinâmicas UEL

Chupa o dedo. Carência excessiva: quer abraço e beijo da mãe a todo.

Criança 5

8 anos

M Demanda espontânea

Dependência excessiva da mãe

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A função paterna: uma relação direta a partir do complexo de Édipo

masculino sob um enfoque psicanalítico

Cristiano Domingues da Silva 31; Ricardo Justino Flores32

Palavras Chaves: clínica psicanalítica; complexo de Édipo; função paterna.

Introdução

Este artigo tem como objetivo investigar o campo da função paterna sob um

enfoque psicanalítico, buscando responder algumas perguntas. Como se compõe o

trabalho analítico a partir da ausência paterna? Esta ausência pode influenciar no

complexo de Édipo do menino? Quais as lacunas que ficam neste adulto que sofreu esta

ausência?

A demanda deste estudo foi devido ao grande número de pacientes que buscam a

clínica psicanalítica a partir de uma queixa sobre a ausência da figura paterna, sendo

que esta pode ser física ou não, o mais importante é ter alguém que faça este papel para

suprir tal lacuna.

O papel do pai varia de acordo com as diferentes fases que a criança está

vivenciando, por este motivo é necessário ter uma adequação deste papel, buscando

suprir cada momento do desenvolvimento e cada necessidade deste indivíduo.

Para Aberastury (1991), o pai tem um lugar fundamental entre os seis meses e o

primeiro ano do bebê, que não é tão falado na literatura como acontece com a figura

materna, porém este contato corporal entre ele e o bebê é o que dará um referencial na

organização psíquica, devido à sua função estruturante no desenvolvimento do ego. No

segundo ano de vida já existe a imagem da figura do “pai”, e o papel paterno fica mais

destacado para apoiar o desenvolvimento social da criança, auxiliando nas dificuldades

peculiares a este período.

31 Psicólogo clínico, graduado pelo Centro Universitário de Maringá (UNICESUMAR); especialista em avaliação psicológica pelo UNICESUMAR; especializando em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Contato: [email protected]. 32 Professor e mestre em psicologia pela PUCCAMP.

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ISBN 978-85-7846-424-0 78

Justificativa

Pesquisar a função paterna é de grande importância para clínica psicanalítica,

pois as consequências desta ausência são tão relevantes quanto à materna. Há pais que

não só deixam de desfrutar da paternidade como também perdem o contato afetivo com

a criança, tal questão está diretamente relacionada com o complexo de Édipo masculino

mal elaborado e a deficiência da função paterna, que este indivíduo pode ter vivenciado

em sua infância. Este homem que esteve no papel de filho e se prepara para assumir a

função de pai, será o foco dos estudos.

Objetivo

O objeto deste artigo é investigar a importância da função paterna em um

enfoque psicanalítico, e o quanto a falta desta figura pode causar consequências para

esta criança “menino” que também terá que assumir no futuro um papel de pai.

Metodologia

Este artigo se utiliza de revisão narrativa através de levantamento bibliográfico

para pensar sobre a função paterna no manejo da clínica psicanalítica. Para tanto, foram

utilizados autores clássicos e contemporâneos, como fonte primária para esta pesquisa

dois autores fundamentais para pensar na função paterna: Freud, o precursor da

psicanálise e Aberastury. Para uma melhor compreensão da temática estudada será

citado também alguns autores como Lacan, Mezan, Carvalho Filho, Amazonas e Braga.

Resultado e Discussão

Não é necessariamente o pai biológico que realiza a função paterna e segundo

Aberastury (1991), mesmo na impossibilidade da presença do Pai, esta função deve ser

feita por outro homem, um referencial masculino, como, por exemplo, um tio.

Para Freud (1924-1980), o complexo de Édipo é uma fase universal que ocorre

nos primeiros anos de vida da criança e é responsável por toda construção familiar.

Deste modo, é necessário entender, a partir da teoria psicanalítica, o processo de

dissolução, para então compreender mais adiante as consequências da ausência paterna.

O ser humano origina sempre de um pai e a uma mãe, não fugindo dessa triangulação

que constitui o centro do conflito humano, sendo que a mesma perpassa por toda a vida

do indivíduo, a partir deste esse acontecimento forma se a estrutura psíquica.

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Para psicanálise este conceito é universal, visto que desperta sentimentos de amor e

ódio direcionados para aqueles que farão o papel de pai e mãe. O complexo de Édipo

ocorre quando a criança está atravessando a fase fálica, assim como quando descobre

que ao chegar próximo dos três anos de idade passará por várias dificuldades que antes

eram ignoradas. Nesse período, a criança não pode mais fazer o que deseja os

cuidadores e a própria sociedade começam a impor regras, limites e padrões, a partir

deste momento, a criança começa a ter distinção entre ela e seus genitores, ingressando

em uma das fases mais importantes de sua vida, tendo em vista que definirá sua

personalidade na idade adulta, principalmente referente as questões de identificações

(Mezan, 2003). Na primeira elaboração da teoria da sexualidade infantil não aparecia

termos sobre o assunto, embora Freud já relata em uma carta para Fliess em 1897

algumas questões. “Ter descoberto em si mesmo impulsos carinhosos quanto à mãe e

hostis em relação ao pai, estes complicados pelo afeto que lhe dedicava” (Mezan, 2003,

p.189).

O início do Édipo no menino, aparece através de um investimento objetal com a

mãe, conduzido inicialmente para o seio, sendo que com o pai sua relação é de

identificação. Porem isto não têm uma longa duração, porque logo os desejos

incestuosos do menino pela mãe se tornam mais intensos, e o pai passa a ser visto como

um impedimento a eles, então damos início ao complexo de Édipo. Na sequência a

identificação com o pai fica bem resistente, e a ideia de ocupar o seu lugar fica

totalmente manifesto. A ambivalência inerente à identificação, desde o início, se

manifesta dominando a relação com o pai. Portanto, o complexo de Édipo positivo do

menino se caracteriza por uma atitude ambivalente em relação ao pai e por uma relação

objetal afetuosa com a mãe (Carvalho Filho, 2010).

No momento contemporâneo atual que vivenciamos existe uma discussão sobre

um suposto declínio da figura paterna, a presença do pai ou de alguém que faça esta

função nas atuais configurações familiares está cada vez mais limitante, (Amazonas &

Braga, 2004), a discussão mais importante não é sobre a presença de um pai, quer seja

ele biológico ou não, pois este bebê necessita de tal figura para seu desenvolvimento,

esta questão sobre um suposto decaimento da função paterna que nos convida a

pesquisar elementos que apresentem as especificidades da experiência edípica para o

menino, ou seja, o futuro candidato a pai.

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Lacan (1999, pp. 186-187), no seminário sobre as formações do inconsciente,

afirma: “O pai, para nós, é, ele é real. Mas, não nos esqueçamos de que ele só é real para

nós na medida em que as instituições lhe conferem, eu nem diria seu papel e sua função

de pai, não se trata de uma questão sociológica, mas seu nome de pai”.

Considerações Finais

A partir dos estudos sobre a função paterna, observa se que as transformações

estão ocorrendo na sociedade, antes o pai era visto apenas como figura de autoridade e

agora foi acrescentado o papel de fornecedor de atenção e afeto, sendo que a

participação no desenvolvimento da criança é vista na atualidade como cada vez mais

atuante. Portanto, a presença de uma figura paterna é vista hoje como essencial para o

desenvolvimento psíquico da criança, não apenas ter alguém que faça o papel de

autoridade, que imponha regras e punições, mas também, que forneça segurança, para

que a criança alcance a maturidade e consiga realizar sua função paterna

posteriormente de forma estruturada.

Referências

Aberastury A. (1991). A paternidade. In: Aberastury A & Salas E.J. (eds). Paternidade: um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artes Médicas.

Amazonas, M. C. L. A & Braga, M. G. R. (2004). Uma redescrição de família e a função paterna. Encontro. UNIA, 9(10), 33-46.

Carvalho Filho, J. G. T. (2010). A acepção de família na teoria psicanalítica: Sigmund Freud, Melanie Klein e Jacques Lacan. 2010. 166 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade Federal de São João Del-Rei.

Lacan, J. (1999). O seminário: livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

Mezan, R. (2003). Freud: A trama dos conceitos. Editora Perspectiva, 4 ed.

Freud, S. (1924). A dissolução do complexo de Édipo. In: Obras completas. Rio de Janeiro: Imago.

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Repetição e relacionamentos amorosos

Homero Artur Belloni Silva 33; Ricardo Justino Flores34

Palavras Chave: Psicanálise, Repetição e relacionamentos amorosos

Introdução

A noção da repetição se mostra um tema de grande importância na teoria

psicanalítica. Sua importância já fora apontada pelo próprio Freud, tanto é que o pai da

psicanálise reservou um artigo inteiro para trata de tal questão: “Recordar, repetir e

elaborar” (1914/1996). Segundo a nota do editor inglês da coleção standard das obras

completas de Freud (1996), Freud teria considerado esse o principal trabalho técnico de

sua série.

Para Freud (1914/1996) a repetição ocorre justamente em relação a materiais

inconscientes que ainda não foram elaborados. Ou seja, o indivíduo não recorda de

determinada ideia, mas age em função dela. Freud (1914/1996) também diz que a

repetição ocorre em relação as resistências, para ele um indivíduo costuma repetir a

maneira como se defende de determinada ideia, ele diz que a pessoa detém uma espécie

de “arsenal” de resistências e que lança mão dele quando é necessário. Assim, nas duas

maneiras que Freud (1914/1996) apresenta a repetição, ela se dá sempre como uma

atuação do indivíduo, seja quando o indivíduo repete um material inconsciente que

ainda não foi elaborado, ou quando o sujeito age de determinada maneira com o intuito

de se defender de algo.

Nesse mesmo artigo Freud (1914/1996) apresenta a ideia de que a repetição

sempre ocorreria dentro de uma relação, uma relação transferencial. Nesse momento

ele dá o exemplo de um paciente que não recordava ser desafiador frente as figuras de

seus pais, mas que agia dessa mesma forma em relação ao analista na relação de

transferência. Assim, a repetição seria uma ação dentro de uma relação transferencial.

Dessa forma, vale pensar que a noção das repetições não ocorre apenas na

relação com o analista, também a extrapolam, chegando a outras relações da vida do

indivíduo. Freud (1912/19966) diz que a quando um paciente se encontra insatisfeito

33 Psicólogo clínico formado pela UEL. E-mail: [email protected]. 34 Professor Adjunto da Universidade Estadual de Londrina.

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em uma relação amorosa ele tende e intensificar sua relação com o analista. Tal

proposição de Freud (1912/1996) traz à tona de que a relação amorosa entre as pessoas

também é transferencial, pois ele nos diz que uma pessoa frustrada em sua relação

amorosa tem essa energia sobrando para intensificar a relação com o analista, ou seja, a

energia é a mesma nas duas relações, na amorosa e na relação com o analista.

Partindo dessa noção, de que as relações amorosas também são marcadas pela

relação transferencial, e de que as repetições ocorrem dentro de uma relação de

transferência, pode ser pensado a questão das repetições dentro das relações amorosas,

e principalmente, dentro das relações conjugais.

Justificativa

Segundo o IBGE os números de divórcios só aumentam no Brasil, desde que se

começou a medir tais separações, o número só aumentou, ano após ano, e no intervalo

de tempo de dez anos, entre 2004 e 2014, esse número subiu de 130,5 mil casos por ano,

para 341,1 mil casos por ano. Dessa forma, um trabalho que busque investigar situações

sobre tal assunto, se mostra de extrema relevância para a sociedade atual, já que

segundo os dados do IBGE as pessoas estão encontrando cada vez mais dificuldades de

permanecerem juntas.

Objetivo

Esse trabalho tem por objetivo investigar em que momentos a questão da

repetição pode levar a uma separação do casal.

Metodologia

O método utilizado para investigar a problemática dessa pesquisa – a repetição

dentro das relações amorosas – será o relato de caso. Segundo Kupfer e Zanetti (2006)

existem três maneiras de se utilizar tal método, uma delas, e a que será empregada aqui,

parte da ideia de que as autoras chamam de “ponto fixo”, ou seja, uma espécie de tema

ou problemática central do caso, e tal problemática vai sendo construída pelo próprio

analista na relação transferencial. Kupfer e Zanetti (2006) defendem que tal

metodologia já fora empregada por Freud, de que quando ele relatava certo caso, esse

teria um “ponto fixo” em torno do qual o saber iria sendo construído. Nesse sentido, este

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trabalho buscará utilizar tal ideia, a da existência de um “ponto fixo” dentro do caso e de

que esse ponto será a repetição dentro das relações amorosas.

Caso Clínico

Ana chegou a clínica psicológica da Universidade Estadual de Londrina com a

queixa de depressão e por chorar diversas vezes ao dia. No entanto um aspecto chamou

a atenção, logo na primeira sessão, quando ela foi questionada sobre o início desses

sintomas, ela relatou que sua tristeza e choros tiverem início com seu casamento. A

partir desse momento a questão dos seus relacionamentos ganharam foco durante a

sessão e no decorrer de todo o tratamento.

Ana conta que sua infância foi extremamente humilde e marcada por um grande

sofrimento. Segundo Ana, seu pai era pastor de uma igreja em sua cidade e ele tinha todo

um código moral a ser obedecido, que ele impunha aos filhos por meio da austeridade.

Nesse ponto ela relata que a austeridade do pai extrapolava os limites do aceitável,

segundo ela, os filhos eram torturados por esse pai. Nesse momento ela começa a relatar

as torturas impostas por ele, como ficar horas de joelho em sementes de milho, ficar

presa ao pé da cama durante um dia inteiro, apanhar com um instrumento usado para

bater em cavalos, além de humilhações públicas que as vezes ele impunha perante aos

outros membros da igreja. Ela dá ênfase ao fato da sensação durante esses castigos, ela

se sentia uma pecadora, como alguém que se desvirtuou do caminho correto e ficava se

sentindo suja durante o dia inteiro.

Ainda na sua infância, Ana conta que devido a problemas financeiros sua família a

mandou morar com uma outra família na mesma cidade. Ela diz que isso foi para o seu

próprio bem, pois já estava começando a passar necessidades em sua casa, no entanto,

ela foi a única dos filhos a ser mandada embora de casa, motivo que ela relaciona ao fato

dela ser uma espécie de pecadora, de impura, coisa que a irmã não era.

Já na juventude, Ana se muda de cidade e vai morar junto a outra família, no

entanto agora na cidade. Ela conta que foi ser uma espécie de empregada para essa

família, em troca de comida e um lugar para morar. Ela diz que nessa época conheceu

seu marido - cuja a família era da mesma religião de seu pai - e que pouco tempo depois

se casou. Nesse momento, ela dá uma atenção muito grande ao fato dela não ter se

casado virgem e por tal motivo não pode casar de branco dentro da igreja. Ela diz que

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isso acabou se tornando um problema futuramente com a família de seu marido,

principalmente com seu sogro, que sempre dizia preferir sua outra nora.

Voltando para os atendimentos, passadas umas duas sessões Ana, vem muito

abalada pelo motivo do marido ter trocado ela por outra mulher e ter ido morar com ela.

Ana conta que é a segunda vez que ele faz isso, mas que dessa vez parecia ser definitivo.

Ela começou a contar que fez de tudo por ele e que nunca ele a reconheceu como uma

boa mulher. Ela conta, inclusive, que realizava práticas que feriam seu código moral para

satisfazer a vontade do marido mesmo se sentindo mal por isso. Ela relata que realizar

tais práticas fazia com que ela se sentisse a pior pessoa do mundo, e que passava o resto

do dia se lavando, pois se sentia extremamente suja. No entanto, mesmo fazendo tais

coisas não foi suficiente para manter o casamento, e que agora o ex-marido ainda fica

dizendo que sua mulher atual é uma pessoa correta e honesta, pois não faz as coisas que

Ana fazia. Mesmo diante de tudo isso Ana não consegue deixar de conversar com o ex-

marido, mesmo que seja para ele ficar comparando com a mulher atual e a deixando mal.

Resultados e Discussão

O caso de Ana tem um tema central que é a questão da repetição, Ana repete

diversos aspectos de sua infância na sua vida atual e em muitos momentos seu

casamento se mostrou uma reedição de suas relações infantis. Alguns fatos podem ser

explicitados em sua vida, o primeiro fato é o do pecado, que Ana sempre se coloca nessa

posição de pecadora, repetindo algo lá de sua infância e da relação com seu pai, foi assim

no dia de seu casamento, que ela não casou vestindo branco, e durante todo seu

casamento com aa práticas que rompiam com seu código moral. Outro aspecto a ser

mencionado é o fato de que ela sempre menciona a sensação produzida por seus

“pecados”, que é de sujeira, levando ela a passar horas do dia se lavando. Por fim, algo

que Ana repete em sua vida é a questão de sempre existir uma mulher correta frente aos

olhos dos homens, na infância a irmã, na vida adulta sua cunhada e a atual mulher de seu

ex-marido.

A vida de Ana pode ser olhada sob a luz da teoria psicanalítica pois Freud

(1914/1996) defende a ideia de que aspectos inconscientes não elaborados tendem a se

repetir durante a vida do indivíduo buscando a elaboração - a atribuição de um sentido a

tais aspectos. Tal fato é recorrente na vida de Ana, em sua infância, ela não conseguiu

atribuir um sentido as torturas do pai e a toda essa relação conturbada estabelecida com

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ele, levando-a a repetir esses aspectos durante toda sua vida, tornando seu casamento

uma grande repetição, e por conta disso sua separação se tornou algo inevitável.

Considerações Finais

O caso clínico exposto se configura como um exemplo de como a repetição se dá

em uma relação amorosa, mais precisamente a conjugal, e como ela leva ao sofrimento e

a separação da dupla amorosa. Assim, tal noção merece uma grande atenção na clínica

psicanalítica.

Referências Bibliográficas

Freud, S. (1912-1996). A dinâmica da transferência. In S. Freud, O Caso Schereber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos Vol. XII. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de S. Freud. (pp.109-119). Rio de Janeiro: Imago

Freud, S. (1914-1996). Recordar, repetir e elaborar. In S. Freud, O Caso Schereber, Artigos sobre Técnica e outros trabalhos Vol. XII. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de S. Freud. (pp. 159-171). Rio de Janeiro: Imago.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2013). Estatísticas do Registro Civil entre 1984 e 2013. Rio de Janeiro.

Zanetti, S. A. S., & Kupfer, M. C. M. (2006). O relato de casos clínicos em psicanálise: um estudo comparativo. Estilos da clínica, 11(21), 170-185.

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As saídas possíveis do Édipo e suas implicações nos (des)encontros do

amor

Mariana Mota Mesquita35; Ricardo Justino Flores36

Introdução

O relacionamento humano começa desde o desejo de uma gravidez e a fantasia

como será àquele bebê. Ele cresce e é a partir das relações que adentra no universo da

linguagem, aprende a falar, engatinhar, andar, depois conhecer sobre sua sexualidade e

encontrar outra pessoa para amar.

O complexo de Édipo é um período marcante que ocorre em uma fase inicial do

desenvolvimento e na formação da personalidade. Contudo, esta fase que ocorre em

ambos os sexos, têm características peculiares e distintas entre meninos e meninas.

Muito embora a história de todos nós inicia-se a partir da mãe. É com ela e por ela que

começamos a perceber e ter contato com a realidade, ou seja, a mãe é o primeiro objeto

de amor de todos nós. Esta relação é fundamental e foi largamente estudada pela

psicologia (Spitz, Klein, Bolwby, etc).

É a partir dela que aprendemos como nos relacionamos com os objetos que

compõe a realidade a qual estamos inseridos, que sempre se caracterizará por relações

objetais. Relações em que sempre estamos transferindo alguma coisa do passado para o

presente que se vive. Assim, os primórdios da vida humana, se inicia por uma relação de

amor, como já foi dito.

Parece simples, mas o que a psicanálise mostra na clínica é que muitos pacientes

relatam insatisfações com suas relações amorosas, passadas, atuais e até ansiosos por

àquelas que esperam ter. Relações que podem ser observadas como sintomáticas,

sintomas decorrentes de relações passadas, dificuldades em se relacionar e em se ter

prazer.

Na clínica psicanalítica essas questões da eleição do objeto apresentam relação

com a vivência do Complexo de Édipo como foi dito acima, visto que àquele que

escolhemos amar nunca é qualquer um, mas há neles um traço comum que sempre se

35 Psicóloga graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e estudante de especialização de clínica psicanalítica pela UEL – [email protected]. 36 Mestre em psicologia clínica pela PUC Campinas e Professor de psicologia da Universidade Estadual de Londrina.

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repete (Freud, 1910). Trata-se da fixação de alguns traços maternos, o que pontua que a

libido continua relacionada a essa figura.

A vivência edípica e a relação do Sujeito com o falo determina sua relação com a

realidade e os objetos. No início tanto o menino como a menina têm a mãe como o objeto

original, os meninos retêm esse objeto no complexo de Édipo, mas sob ação do complexo

de castração, identifica-se com o pai e substitui-a por outra mulher (Freud, 1925). As

meninas, contudo, abandonam a figura materna como objeto de amor tendo em vista a

descoberta do pênis e deslocam sua libido para a equação ‘pênis-criança’, tomando o pai

como objeto de amor e a mãe como objeto de ciúmes.

A dissolução do Complexo de Édipo se faz pela a identificação com o lugar do pai

(àquele tem o falo e pode ter relações com a mãe/ outras mulheres) ou com o lugar da

mãe (ser amada pelo pai – detentor do falo). Contudo Freud (1924) mostra que esta

libido pertencente à vivência edípica com o tempo e depois do complexo de castração é

dessexualizada e sublimada e, ainda parte dela é inibida em seu objetivo e transformada

em afeto e é por isso que se buscam substitutos.

Para o Sujeito amar o objeto de satisfação sexual é preciso que este tenha traços

do primeiro objeto de amor (mãe) e ao mesmo tempo, que não ocupe o lugar idealizado

da mãe. Neste sentido, a função paterna tem uma grande importância, visto que uma

barreira deve ser imposta a criança, sua mãe que é seu objeto de afeto não pode ser seu

objeto de satisfação sexual, visto que é de seu pai.

Freud (1912) na continuidade a suas investigações acerca do amor e como então

se daria o encontro amoroso, ele considera que a sexualidade é comporta por 2

correntes: corrente afetiva e corrente sensual. A corrente afetiva, se forma nos primeiros

anos de vida e se dirige àqueles que cuidam da criança e corresponde a escolha de

objetos primária. A pulsão sexual encontra os primeiros objetos no momento em que há

as primeiras experiências de satisfação sexual em ligação com a função de preservação

da vida. Sendo assim, mesmo possuindo componentes da pulsão sexual, esta corrente

tem em sua base as pulsões de autoconservação (Freud, 1912).

A partir da puberdade fixações afetivas da criança que trazem consigo elementos

de erotismo se desviam e se unem através da corrente sensual. Neste momento,

contudo, este Sujeito já se defrontou com a barreira do incesto e assim deve transpor

estes objetos que são inadequados para outros objetos com os quais possa levar uma

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vida sexual. No entanto, estes novos objetos ainda trazem consigo traços dos objetos

infantis e da mesma forma deverão suscitar a afeição (Freud, 1912).

Discute-se então como se dá a relação interpessoal e como esta segue um modelo

particular decorrente de um primeiro objeto que a priori é a mãe e os outros que seriam

àqueles substitutivos a figura materna (Freud, 1912). O deslocamento e a substituição

deste primeiro objeto caracterizariam àquilo que desencadeia o desejo sexual e

promove a escolha de um objeto, enquanto objeto de amor.

A vivência edípica é fundamental para o jogo das identificações e das identidades

sexuais e o que a clínica nos mostra são desencontros na maneira como estão se dando

os relacionamentos interpessoais. Questões de identificação com uma posição feminina

ou masculina e como serão delineados os relacionamentos a partir disso. Pessoas que

sofrem por não conseguirem gozar com quem se ama, ou àqueles que precisam de um

elemento de fetiche para obter prazer com o outro. Ou seja, as implicações que vivências

passadas deixam na forma como cada um tem de se encontrar com o amor.

Objetivo

Este artigo tem por objetivo levantar as questões trazidas por Freud à luz da

psicanálise sobre as escolhas amorosas do Sujeito e as implicações de vivências infantis

nesta a fim de melhor compreender as saídas possíveis do complexo edípico e as

ressonâncias na vida amorosa do Sujeito.

Metodologia

Para tanto o artigo terá um delineamento qualitativo e a metodologia utilizada

será a de uma pesquisa de cunho bibliográfico, tendo em vista que será elaborada a

partir de dados e materiais já publicados. Método cuja validade e importância já fora

citada por Gil (2010). Principalmente as obras completas de Sigmund Freud a fim de

discutir as saídas possíveis do Sujeito do Complexo de Édipo e a relação com os

encontros e desencontros no amor.

Resultados e Discussão

Freud (1912) coloca que é na puberdade que o Sujeito poderá encontrar um

objeto de amor e satisfação sexual a partir da junção das duas correntes e, assim iniciar

um laço amoroso. Mas aí há uma dificuldade, visto que até então a corrente afetiva tem

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sido satisfeita por familiares. Para se estabelecer o laço, o Sujeito pode usar-se da

depreciação do objeto que carrega o traço incestuoso.

Assim, para conseguir estabelecer laços o sujeito se usa da depreciação, tendo em

vista que é à medida que protege o Sujeito e o permite gozar de um objeto que carrega o

semblante do objeto incestuoso. Tendo em vista que o objeto de escolha está sempre

ligado ao objeto incestuoso e seus representantes, e é a partir da condição de

depreciação que a sensualidade pode se desenvolver livremente e este sujeito pode

desejar.

Contudo, a confluência destas duas correntes nem sempre é possível e quando

isto não se dá, esta clivagem das duas correntes se sobrepõe e pode resultar em sujeitos

com sintomas de frigidez, impotência, ou que quando amam não desejam e, quando

desejam, não podem amar.

Freud (1927) declara que a libido humana é instável e que a partir do complexo

de Édipo e de castração ela precisa encontrar uma via de descarga para se satisfazer. E

para isso pode até se desenvolver um fetiche, ou seja, a libido pode ter um desvio do alvo

sexual. Entretanto destaca que isso pode estar presente em todas as pessoas em maior

ou menor grau.

A sexualidade humana no início é perversa polimorfa, contudo com o

desenvolvimento e os processos de recalques, repressões, barreiras de incesto e

castração, e assim o que o sujeito pode fazer com essa pulsão? Recalcá-la, sublimá-la, há

àqueles ainda em que uma parte desta pulsão é recalcada e a outra idealizada e elevada

a fetiche (Freud, 1909).

O fetichismo, então pode ser uma saída possível da sexualidade devido a

castração na saída do Completo de Édipo. O recalque sempre se dá devido a conflitos

psíquicos causados por desejos que não podem ser aceitos pelo Ego (Freud, 1910). A

saída pelo fetiche suspenderia estes conflitos visto que se coloca como substituto do

objeto incestuoso, uma proteção contra a ameaça de castração, de modo que na neurose,

o Eu reprime um fragmento do Id em prol do princípio de realidade. O afeto é recalcado

e o complexo mental se cliva em uma parte recalcada e outra idealizada, ou seja, há um

recalque parcial (Freud, 1927).

A saída do conflito psíquico (colocada pelo complexo de castração) pode dar-se

por duas opções: (1) o reconhecimento da impossibilidade de satisfazer a pulsão,

renunciando-a, ou (2) através da rejeição da realidade dada pela satisfação da pulsão

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(FREUD, 1938). Portanto as saídas possíveis do sujeito podem ocasionar uma cisão do

Ego, em que um componente do conflito sempre obnubilaria o outro, mas coexistiria no

mesmo Eu.

Deste modo, para que o Sujeito consiga estabelecer um laço com o outro é preciso

que ele atravesse estas questões colocadas pela castração, alguns conseguem usar-se da

depreciação do objeto e encontrar-se com outro Sujeito.

Há àqueles em que isso não é possível, e o encontro dá-se com sintomas (frigidez,

impotência sexual), e outros em que o estabelecimento de um laço com o outro se torna

tão difícil que sua saída sintomática, mas possível é a obtenção de prazer com parte do

corpo do outro ou até mesmo com um objeto totalmente despersonificado.

Considerações Finais

Na prática clínica, é possível, cada vez mais observarmos sujeitos marcados por

esta separação entre as duas correntes, o que diz da saída possível que cada Sujeito

conseguiu no Complexo de Édipo. Conciliar o que quer do que se deseja, o amor do gozo,

isto nem sempre é fácil, por isso observamos saídas sintomáticas independente da

orientação sexual: frigidez, impotência sexual, fetichismo, entre outras. A clínica

psicanalítica pode oferecer a eles colocar palavras onde antes só havia atos, tentar

elaborar algo de uma vivência infantil para que possam encontra-se com um outro e,

enfim, amar.

Palavras-chave: Psicanálise, Dissolução, Complexo de Édipo

Referências

FREUD, S. (1912). Sobre a tendência universal à depreciação na esfera do amor. Contribuições à Psicologia do Amor II. In: S. Freud Cinco lições de psicanálise, Leonardo DA Vinci e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de janeiro: Imago editora, vol. XI, 1996. p. 159-173

FREUD, S. (1910). Um tipo especial de escolha de objeto. Contribuição à Psicologia do amor 1. In: S. Freud Cinco lições de psicanálise, Leonardo DA Vinci e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XI.

FREUD, S. (1924). A dissolução do complexo de Édipo. In S. Freud, O Ego, o Id e outros trabalhos. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago editora, 1996, vol. XIX.

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ISBN 978-85-7846-424-0 91

FREUD, S (1927) Fetichismo. In: S. Freud O futuro de uma ilusão. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol XXI, p.151-160

FREUD, S. (1938) A divisão do Ego no processo de defesa. In: Freud, S. Moises e o Monoteísmo, Esboço de psicanálise e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Obras completas. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol XXIII, p.306-312

GIL, A. C. (2010) Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas.

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Resumos

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A teoria winnicottiana e o falso self: um estudo de caso

Amanda Lays Monteiro Inácio 37; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos

Reis38

Resumo: O presente estudo pretende analisar um caso de atendimento psicoterápico

realizado no estágio clínico obrigatório do curso de Especialização em Clínica

Psicanalítica da Universidade Estadual de Londrina. A jovem no início da vida adulta

procurou atendimento com a queixa de ansiedade e necessidade de autoconhecimento

em relação a sua sexualidade. Durante o processo psicoterápico pode-se observar uma

falsa ideia de maturidade, apesar de ter comportamentos e vivências características da

fase adulta, apresentava aspectos como desconfiança, dificuldade em perceber o valor

de suas próprias realizações e baixa autoestima. Nesse sentido, a jovem parecia ser

guiada por um falso self, que serviria como uma defesa que ocultava e protegia seu

verdadeiro self. O falso self, termo proposto pela teoria de Winnicott (1896/1971)

advém de falhas no processo de amadurecimento primitivo, no qual o indivíduo é

prejudicado na constituição do ser e do reconhecer, servindo assim como uma tentativa

de substituição da função materna que falhou. Sobretudo, destacou-se o papel da

transferência no processo psicoterápico, haja vista que os mesmos sentimentos de

desconfiança trazidos em relação aos demais, são transferidos para a figura da

terapeuta. Com pacientes cujo ego não se estabeleceu verdadeiramente, ou seja, que

possuem um falso self, cabe ao psicoterapeuta uma preocupação maior com a

manutenção do setting. Diante do exposto, coube à psicoterapeuta possibilitar um

ambiente suficientemente bom no qual a paciente tivesse a possibilidade de expressar

seu self verdadeiro e entrar em contato com seus sentimentos e emoções.

Palavras-chave: Atendimento Clínico; Psicanálise; Winnicott.

37 1Psicóloga, Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela UEL. E-mail: [email protected]. 38 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL.

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Implicações dos aspectos psicológicos em uma avaliação com

finalidade de mudança de sexo

Amanda Lays Monteiro Inácio 39; Amália Clivati Cauduro 40; Eduardo Yudi

Huss41; Katya Luciane de Oliveira 42; Patrícia Silva Lúcio 43; Patricia Emi de

Souza44

Resumo: O termo transexual é designado ao indivíduo que se identifica psicológica e

socialmente com o sexo oposto ao constante em seu Registro de Nascimento, possuindo

uma forte inadequação ao papel social de seu sexo biológico. Para a realização da

cirurgia de redesignação do sexo, chamada também de adequação do sexo anatômico ao

sexo psicológico, é necessário um diagnóstico criterioso por uma equipe que envolve

diversos profissionais da saúde, como psiquiatra, endocrinologista, psicólogo, entre

outros. Diante disso, o presente estudo relata um caso de avaliação psicológica

encaminhado pela Clínica Psicológica da UEL ao projeto “Avaliação Psicodiagnóstica em

Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da UEL”. O

avaliando A., de 24 anos, buscava um laudo psicológico com a finalidade de compor uma

série de avaliações necessárias para a cirurgia de redesignação do sexo feminino para

masculino. A avaliação realizada de forma abrangente sobre sua personalidade e

aspectos emocionais concluiu que o avaliando apesar de ser uma pessoa comunicativa,

demonstra dificuldade em estabelecer objetivos fixos em sua vida, se preocupando

muito com a imagem que transmite aos demais, podendo se sentir sozinho e sem

expectativas em alguns momentos, o que corrobora com outros aspectos apresentados,

como indícios de desesperança e depressão. Diante do exposto, o encaminhamento

sugerido foi pela continuidade do processo psicoterápico que já realizava, a fim de que

possa haver maior reflexão acerca de sua autoimagem e sobre os aspectos relativos à

cirurgia desejada.

Palavras-chave: avaliação psicológica; mudança de sexo; transexualidade.

39 Psicóloga, Pós-graduanda do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. E-mail: [email protected] 40 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina–UEL. 41 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina–UEL. 42 4Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL. 43 4Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL. 44 6Psicóloga Colaboradora Externa da Universidade Estadual de Londrina –UEL.

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Reflexões atuais sobre o processo de individualização em gêmeos

Beatriz Cristina Gallo45; Maria Elizabeth Barreto Tavares Dos Reis 46;

Silvia Nogueira Cordeiro47

Resumo: A gemelaridade é um assunto repleto de dúvidas e mitos que tornam o tema

ainda pouco compreendido. No desenvolvimento gemelar, o processo de

individualização de cada gêmeo se mostra mais complexo se comparado com o de filhos

singulares, tendo em vista os estudos que apontam as dificuldades relativas à separação

entre o bebê e a mãe e, também, entre os próprios cogêmeos. Devido a maior incidência

de nascimentos de gemelares, em função de tratamentos contra infertilidade, o assunto

se torna atual, porém com poucos os estudos na área. O presente trabalho teve por

objetivo investigar a produção científica sobre o processo de individualização em

gêmeos na atualidade. Desta forma, realizou-se uma revisão bibliográfica, incluindo

artigos e teses sobre temática da individualização em gêmeos, em bases de dados online.

Foram selecionados e analisados 14 os trabalhos científicos que atenderam aos critérios

de inclusão. Verificou-se que o processo de individualização em gêmeos é dificultado

principalmente por práticas culturais implicadas pela sociedade, que afetam setores da

vida dos gêmeos como as relações familiares, as relações estabelecidas na escola, e entre

os próprios irmãos. Tendo isso em vista, a partir dos dados expostos em literatura,

optou-se por categorizar as informações encontradas considerando a maneira como os

gêmeos são tratados na família e escola, bem como sobre o relacionamento entre os

cogêmeos. Pode-se observar como os vários aspectos se interrelacionam e exercem

influência no processo da individualização. Observou-se também nos estudos atuais há

uma preferência pelo estudo com gêmeos univitelinos devido à possibilidade de

comparação entre as influências de aspectos genéticos e dos aspectos culturais que

atuam em seus desenvolvimentos. A partir disto, viu-se a necessidade de estudos mais

aprofundados na área, sendo o assunto complexo e ainda com poucos esclarecimentos.

Palavras-chave: gêmeos, individualização, relações fraternas, revisão bibliográfica.

45 Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Email: [email protected] 46 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected]. 47 Professora Dra. do departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected]

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Grupo de Dinâmicas: Conversando sobre a Adolescência

Beatriz Cristina Gallo48; Lara Balera49; Daniel Polimeni Maireno 50

Resumo: Com a crescente procura por atendimento na Clínica Psicológica da UEL e sua

recorrente demanda, houve um aumento também no número de casos em espera. Com a

intenção de diminuir essa numeração e de que as pessoas que procuram a instituição

não perdessem o vínculo com a Clínica Psicológica, ofertou-se mais um serviço que

acompanharia tais usuários enquanto permanecessem em espera, por meio do Projeto

Grupo de Dinâmicas. Inicialmente, a proposta se voltou para os usuários que ainda

aguardavam atendimentos e permaneciam em fila de espera, porém, atendendo à

demanda direcionada ao serviço, ampliou-se o público dos grupos de dinâmicas para a

população em geral, se tornando um projeto de grupos abertos. O projeto funciona de

forma a proporcionar grupos que são divididos em faixas etárias: crianças, adolescentes

e adultos. A cada encontro, propõe-se atividades diferenciadas e dinâmicas que

trabalhem assuntos diversos do cotidiano. No atual trabalho, enfatizou-se a prática

realizada no grupo de adolescentes, que ocorre às terças feiras das 14:00h as 15:30h.

Neste grupo, são trabalhadas atividades um pouco mais lúdicas como jogos,

brincadeiras, de acordo com a demanda dos participantes. As atividades são planejadas

a cada semana, sendo que algumas são decididas em grupo a partir de sugestões e

apontamentos dos próprios adolescentes. No decorrer dos encontros, percebeu-se a

dificuldade dos adolescentes em seguir determinadas atividades mais direcionadas à

temática dos sentimentos e a sua disponibilidade em falar sobre o tema. Por meio de

estratégias e atividades mais próximas aos hábitos dos participantes, foi possível

perceber uma maior vinculação entre os próprios participantes e entre as

coordenadoras, estando o processo em constante construção.

Palavras chave: grupo de dinâmicas, fila de espera, grupos abertos, adolescentes.

48 Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Email: [email protected] 49 Graduanda em Psicologia na Universidade Estadual de Londrina (UEL) Email: [email protected] 50 Mestre e Doutor em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Professor Colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected]

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Congresso nacional sobre relacionamento familiar (conaref)

Cristiane Castilho Cadan51

Resumo: O Congresso Nacional sobre Relacionamento Familiar (CONAREF) – 100%

online e gratuito – surgiu a partir da inquietação e do desejo de levar o conhecimento

psicanalítico produzido na clínica, acerca das relações familiares, do desenvolvimento

emocional de crianças e adolescentes, da técnica de intervenção terapêutica conjunta

pais-filhos, para além das quatro paredes do consultório. Divulgar esse conhecimento

através da internet, como veículo de compartilhamento, demonstrou-se muito

enriquecedor por alcançar um público amplo e por propiciar discussões com maior

alcance da informação e do conhecimento a respeito da temática. Teve como objetivos:

a) transmitir conhecimento psicanalítico sobre o desenvolvimento emocional de

crianças e adolescentes, bem como suas implicações nos vínculos familiares; b)

apresentar a técnica de intervenção terapêutica conjunta pais-filhos em suas

perspectivas teórica, técnica, implicações e possíveis alcances; c) discutir a importância

das funções psíquicas parentais no desenvolvimento emocional de crianças e

adolescentes; e d) favorecer a promoção do desenvolvimento pessoal e profissional de

estudantes e profissionais da área da saúde mental e da educação por meio da

transmissão de conhecimento científico com referencial psicanalítico. Como

procedimentos, ocorreram as gravações de 22 vídeos de palestras e entrevistas por

profissionais da área de saúde mental (psicanalistas, psicólogos e psicopedagogos), a

criação de uma plataforma digital por meio da qual foi disponibilizada a transmissão dos

vídeos em dias e horários previamente determinados através da internet. Participaram

530 pessoas. Ao final do evento foi realizada uma LIVE (transmissão ao vivo na rede

social Facebook) com o propósito de construir uma síntese do conteúdo transmitido e

das discussões. Foram ressaltados os principais aspectos abordados no congresso e

houve maior interação entre os participantes através de comentários, dúvidas,

51 CRP: 08/06646-2 Psicóloga clínica graduada pela UEM; Coordenadora do grupo de estudos e seminário clínico em psicanálise; Formação de base psicanalítica através de: GEPPPI (Grupo de estudos em psiquiatria psicologia e psicoterapia da Infância – SP), Grupo de Observação das Relações mãe-bebê- família vinculado ao IPPIA – SP, Curso de estudos observacionais e aplicação de conceitos psicanalíticos ao trabalho com crianças, adolescentes e famílias (CEPSI – Centro de Estudos Psicanalíticos Mãe – Bebê – Família – SP), Curso de psicoterapia psicanalítica (CEPSI – SP). Contato: [email protected] – (44) 3018-4893

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perguntas e respostas bem como sugestões de temas a serem abordados em futuros

eventos. A LIVE obteve mais de mil visualizações.

Palavras-chave: Psicanálise; Relacionamento familiar; Desenvolvimento emocional;

Pais e filhos.

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Os atravessamentos institucionais no atendimento com crianças a

partir de um viés psicanalítico

Debora Lydines Martins Corsino 52; Maíra Bonafé Sei53

Resumo: Atualmente entende-se que é possível exercer a Psicanálise em universidades

que ofertam o devido amparo para tal, entretanto essa prática é permeada por diversos

atravessamentos institucionais. Diante deste contexto, o presente trabalho objetiva

apresentar um caso de psicoterapia de criança atendido em um serviço-escola de

Psicologia e discutir questões concernentes ao atendimento no cenário institucional. O

caso em questão refere-se a uma criança de 6 anos, que chegou à clínica por uma

demanda dos pais. A entrevista inicial foi realizada com a mãe em outubro de 2016 e

atualmente o caso está na décima segunda sessão. Logo após a primeira sessão com o

menino a Universidade entrou em greve, portanto os atendimentos que não eram

urgentes foram interrompidos. No início de dezembro a greve foi suspensa e as

atividades retomadas, portanto o atendimento com o menino deveria ter continuidade.

Entretanto logo chegou o recesso de fim de ano e então aconteceu novamente a

interrupção, assim ocorreu um intervalo de três semanas. Com o retorno das atividades

normais da instituição os atendimentos passaram a ser mais contínuos e apresentar

mais conteúdos passíveis de análise. Entretanto com o recesso de carnaval os

atendimentos ficaram com um intervalo de duas semanas. Como o atendimento de

crianças é totalmente transpassado por metodologias lúdicas como desenhos,

brincadeiras e materiais pedagógicos, notou-se em alguns desenhos o paciente

representou a terapeuta com traços primitivos, demonstrando um sujeito sem

contornos. Esse dado evidencia que as intercorrências institucionais afetaram a

dinâmica do atendimento com esta criança, e dificultou o fortalecimento do vínculo tão

imprescindível para que o processo analítico aconteça. Compreende-se que as

vicissitudes do atendimento institucional são inerentes ao funcionamento dos serviço-

escola de Psicologia, principalmente aqueles vinculados às universidades públicas.

Assim, o terapeuta precisa buscar estratégias para minimizar a influência desta situação

52 Estudante do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (e-mail: [email protected]) 53 Professora Adjunta no Departamento de Psicologia e Psicanálise; Diretora da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina (Gestão 2014-2018); e-mail: [email protected]

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na psicoterapia.

Palavras-chave: Psicanálise; Crianças; Instituição; Psicoterapia.

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Malandramente, uma menina inocente: reflexões sobre o manejo da

psicoterapia com adolescentes

Felipe de Souza Barbeiro54; Maria Elizabeth Barreto Tavares dos Reis55

Resumo: A adolescência é um período de intensas modificações e instabilidades, tanto

biológicas como afetivas. Tal período não se resume à transição da criança para o adulto,

mas exige que o indivíduo repense seus conceitos e atitudes, o que pode acarretar em

conflitos entre as normas sociais e os desejos motivados pela busca do prazer. O

incremento da motivação em busca da experiência da sexualidade envolve dúvidas,

medos e repressões, os quais podem ser expressos de diferentes formas. O presente

trabalho tem por objetivo refletir sobre a comunicação do paciente através da música. A

paciente está no início da adolescência e demonstrou dificuldade em falar sobre

assuntos referentes à sua sexualidade, sempre afirmando: “Não sei, sou uma menina

inocente”. Com o andamento do caso, passou dessa para “menina séria”, que se

mantinha muitas vezes em silêncio, para a expressão de suas vontades e angústias. Em

uma das sessões, cantou o refrão de “Malandramente”, que narra a história de uma

menina inocente que se envolveu com garotos para “poder curtir”. A melodia comporta

uma letra que conota o assunto da sexualidade por metáforas, como “ganhar

madeirada”. A música foi utilizada como instrumento de interpretação sobre seu estado

emocional, possibilitando abordar o que precisava ser dito, não somente a partir da

letra, mas pelo contexto do funk, que é um estilo musical não apreciado por seus pais -

quase que proibido. Percebe-se que o atendimento psicoterápico ao adolescente implica

na possibilidade de o terapeuta se apropriar de formas alternativas, tais como a

expressão artística, como forma de acolher e interpretar as fantasias projetadas pelo

indivíduo no setting terapêutico, tanto no que tange à realidade interna como a externa.

Palavras-chave: Adolescência. Espaço potencial. Malandramente. Sexualidade.

54 Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected] 55 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – UEL. E-mail: [email protected].

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Os processos de saúde-doença em mulheres: um estudo a partir da

Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida (EDAO-R).

Flávia Angelo Verceze56; Silvia Nogueira Cordeiro57

Resumo: A inserção do psicólogo nos serviços de saúde tem requerido a reformulação

da atuação deste profissional, que significa um distanciamento do modelo clínico

tradicional e a criação de novas ferramentas de trabalho. Neste sentido, o presente

trabalho objetivou explorar e analisar os aspectos psicodinâmicos ligados aos processos

de saúde-doença encontrados em mulheres atendidas em uma Unidade Básica de Saúde

pela Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher. Foram realizadas entrevistas

tomando como base a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada Redefinida

(EDAO-R). A pesquisa consistiu em uma parte quantitativa e uma qualitativa. Na

primeira, foi realizada uma caracterização dos dados sociodemográficos das mulheres

entrevistadas e os resultados obtidos na EDAO-R foram analisados segundo a proposta

de Simon (1989), chegando a um diagnóstico adaptativo de cada participante. E em um

segundo momento, foi realizada uma análise qualitativa de conteúdo de 16 entrevistas

por meio da técnica de análise temática e através do aporte teórico da psicanálise. A

análise quantitativa teve como resultado que cerca de 50% das mulheres apresentaram

adaptação ineficaz grave ou severa e que as queixas estão principalmente relacionadas

ao setor afetivo-relacional. Da análise qualitativa resultaram três categorias: vivências

de luto, violência contra mulher e transtornos alimentares. Concluiu-se que os

resultados mostraram que os aspectos psicodinâmicos envolvidos no processo de

saúde-doença destas mulheres estão relacionados principalmente ao setor afetivo-

relacional, indicando que as intervenções deveriam ser mais centradas nesses aspectos e

em suas implicações em outros setores.

Palavras-chave: mulher, EDAO-R, afetivo-relacional.

56 Psicóloga, foi residente do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher da UEL. (43) 99620-8850 / [email protected] 57 Profa. Dra. do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina-PR, Brasil. (43) 8859-9779 / [email protected]

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Pulsão de morte articulada ao corpo: sintoma?

Isadora Nicastro Salvador58; João Pedro Gomes Previdello59; Claudia

Maria de Sousa Palma60

Resumo: O presente trabalho busca articular os conceitos psicanalíticos de pulsão de

morte e sintoma no corpo. Primeiramente, procura-se conceituar o que é a pulsão

dentro da teoria freudiana. Freud era dualista no que tange à pulsão. Lacan, em seu

retorno a Freud, faz uma releitura do dualismo, tendo uma concepção monista da

pulsão, proferindo que toda pulsão é virtualmente pulsão de morte. A pulsão de morte

possui atributos difíceis de articular e o próprio conceito não é bem definido e

esclarecido. Inicialmente, Freud tentou aborda-lo por um viés biológico, uma busca do

organismo ao seu estado anterior inanimado, também seu caráter destrutivo e

agressivo. Lacan situa a pulsão de morte como a pulsão que foge à cadeia significante, e,

portanto, uma pulsão crua, que ao atingir o corpo não produz significações, justamente

por estar para além da cadeia. Busca-se com o trabalho também descrever o conceito de

sintoma para a psicanálise, seguindo o mesmo percurso de escrita da pulsão, partindo

da teoria freudiana e, posteriormente, abordando-o com Lacan. Freud fundou a

psicanálise a partir da escuta da histérica sobre seu sintoma, ou seja, além dessa marca

no corpo, o sintoma da histérica produz um discurso. A histérica fala de seu sintoma e

este fala dela. Ao falar de pulsão e sintoma, o corpo entra em cena. Logo, discutir a noção

do que é o corpo para a psicanálise mostrou-se necessária. Corpo não apenas biológico,

mas libidinal, investido pulsionalmente. Através do corpo que os conceitos de pulsão de

morte e o sintoma articulam-se. Sendo assim, o trabalho buscou compreender como a

pulsão de morte se presentifica através de um sintoma no corpo e em que tal sintoma se

diferencia das sintomatologias clássicas estudadas por Freud. Ao final, encontrar na

teoria Lacaniana aporte para compreensão e manejo de tal configuração.

Palavras-chave: Metapsicologia; Psicanálise lacaniana; Pulsão de morte; Sintoma.

58 Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 59 Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected] 60 Profª Drª vinculada ao Departamento de Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – PPSIC. E-mail: [email protected]

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 104

Atividades dos projetos de Extensão e Pesquisa que lidam com a

Adolescência e Escolha Profissional - aplicação do EMEP e outras

técnicas psicológicas

Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida 61; Jádia Cristina Dos Santos62;

Giovanna Sandoval Fioresi63; Geovanna Moreno Cianca 64; Jéssica Cardoso

Roque65; Rafaela Grumadas Machado 66

Resumo: O projeto de Orientação Vocacional e Profissional (OVP), existente há

aproximadamente 20 anos é renovado sistematicamente com pouquíssimas alterações,

à medida que cumpre a formalidade institucional a cada 2 anos. Tem como objetivo

orientar adolescentes. A vida do jovem nesta fase é de dúvidas, ansiedades e conflitos,

haja vista um quantum de afeto e emoções que podem tornar-se condutas de risco,

como, por exemplo, a questão do suicídio. No espaço temporal transicional criado para a

reflexão de suas trajetórias, os adolescentes lidam com partes da sua própria

temporalidade, de suas identidades pessoal e profissional. Os atendimentos são

realizados na Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina, individuais ou

grupo, com alunos de escolas públicas do ensino médio. Utilizam-se neste processo o

método clínico, a escuta e a aplicação de técnicas psicológicas. Essas técnicas aplicadas e

o setting criado fazem parte de um contexto no tempo, o qual corrobora um estado

potencial - o DEVIR - por apresentar uma nova visão temporal dos adolescentes sobre

seu amadurecimento. Trata-se não tão somente a escolha de uma profissão, e sim da

superação desse momento do crescimento emocional, da continuidade do viver, do

ingresso na vida adulta. A história do trabalho com os adolescentes , por volta de 20

anos consolida-se cada vez mais, à medida que as atividades de prevenção e

psicoprofilaxia, realizadas por meio do conjunto de técnicas psicológicas que fazem

parte da metodologia do projeto de extensão: Orientação Vocacional e Profissional de

61 Prof. Dr. Associado PPSIC-CCB. Coordenadora dos Projetos de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanalise/PPSIC – CCB/UEL sobre Adolescência e a Escolha Vocacional e Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização em Clínica Psicanalítica-Departamento de Psicologia e Psicanálise. Atua na Clínica Psicanalítica. Londrina-PR. E-mail: [email protected]. 62 Graduada em Psicologia pela UEL. Foi bolsista PIBEX/PROEX/UEL. E-mail: [email protected] 63 Graduada em Psicologia/UEL - Colaboradora. 64 Psicóloga do Curso de Psicologia/UEL - Colaboradora. 65 Graduanda do Curso de Psicologia/UEL - Colaboradora 66 Psicóloga –Colaboradora Externa

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 105

Adolescentes das Escolas Estaduais da Cidade de Londrina e Região, e do projeto de

pesquisa: Avaliação das contribuições do grau de maturidade para escolha profissional

em adolescentes do ensino médio público antes e após intervenção de OVP. Definem um

espaço temporal transicional para que o adolescente pense o DEVIR. (Almeida,2015).

Palavras Chaves: O DEVIR e a Adolescência, Orientação Vocacional e Profissional, EMEP

– técnicas e testes psicológicos.

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 106

A Clínica Dermatológica e a sua articulação com o Serviço de

Psicologia

Leonardo Piva Botega67; Paula Medri68; Claudia Maria de Sousa Palma 69

Resumo: O presente trabalho apresenta os dados iniciais de um estudo realizado no

Ambulatório de Dermatologia do HC, juntamente com o Serviço de Psicologia, cuja

finalidade é sistematizar um fluxo para o encaminhamento dos pacientes ao Serviço de

Psicologia, otimizando a efetividade do tratamento psíquico a ser ofertado

posteriormente. A justificativa para o desenvolvimento deste estudo dá-se a partir da

constante demanda da Clínica Dermatológica para um acompanhamento psicológico de

seus pacientes. Demanda pertinente quando consideramos a própria constituição do

aparelho psíquico a partir de Freud (1923, p.39), em que “o ego é, primeiro e acima de

tudo, um ego corporal; não é simplesmente uma entidade de superfície, mas é, ele

próprio, a projeção de uma superfície”. A pele, enquanto órgão que reveste o corpo,

coloca-se como a primeira superfície de contato com o mundo externo, mediando a

formação dessa instância psíquica tão fundamental: o eu, do qual se conclui a

pertinência de uma proximidade entre patologias na pele e correlatos psíquicos. Para

tanto, o trabalho consistiu em 2 fases: na 1a. fase, aplicação de um questionário para o

levantamento do ponto de vista médico sobre as possíveis relações entre os sintomas de

pele e a incidência psíquica que justificariam um encaminhamento; e na 2a fase, uma

entrevista com os pacientes em sala de espera para o levantamento de uma amostra-

piloto, a partir de uma narrativa própria, do entendimento a respeito da doença e

possíveis relações com a vida emocional. A 3a. fase do estudo consistirá na construção

de um protocolo que espera otimizar a comunicação entre os dois Serviços a partir de

indicadores claros ao encaminhamento. Além disso, contará com uma triagem

psicológica a fim de ratificar o procedimento inicial, favorecendo também uma reflexão

quanto às possibilidades de oferta dos diferentes dispositivos, na direção da efetividade

no atendimento ao usuário.

67 Discente do Curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. Email:[email protected] 68 Discente do Curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina. Email: [email protected] 69 E-mail: [email protected]

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 107

Palavras-chave: Dermatologia; Serviço de Psicologia; Protocolo de Encaminhamento;

Instrumentos.

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 108

Subjetividade e maternidade: um caso clínico

Luciane Cristina de O. Carnaúba 70; Maíra Bonafé Sei71

Resumo: Décadas de transformações sociais, históricas e econômicas ocasionaram

mudanças que possibilitaram à mulher ocupar novos lugares na sociedade, inserir-se no

mercado de trabalho, apropriar-se de seu corpo, de sua sexualidade e aproximar-se de

seu desejo. As referidas transformações também geraram uma variedade de novas

modalidades de sofrimento psíquico, presentes na clínica contemporânea; novas formas

de subjetividade, que desafiam os psicanalistas em suas práticas clínicas. Partindo

dessas premissas, apresentar-se-á, sob uma abordagem psicanalítica e tendo por

objetivo a reflexão sobre a maternidade, mais especificamente acerca do antes e do

depois de ser mãe, um caso teórico-clínico realizado em um serviço-escola de Psicologia.

Trata-se de uma paciente com aproximadamente quarenta anos, casada e mãe de um

filho pequeno, a qual procurou atendimento para expor seu sofrimento psíquico após ter

se tornado mãe. Relatou este fato como um marco em sua vida, discorrendo sobre o

antes e o depois da maternidade. Suas queixas apontavam para uma sensação de

nulidade de si, de perda de identidade. Casos como o apresentado evidenciam as muitas

mudanças ocorrem após a maternidade, tais como, alterações físicas, novas rotinas, o

desempenho do papel de mãe e esposa, entre outras coisas. Soma-se a isto o fato de a

mulher moderna desempenhar muitos papéis, sendo exigida e cobrada por muitos para

seguir um padrão de beleza, ter o corpo perfeito, atender ao consumismo, além de dever

estar bem consigo mesma. Pensa-se que a psicoterapia pode promover um acolhimento

das vivências decorrentes da maternidade e dos demais papéis assumidos pela mulher,

contribuindo para a oferta de um ambiente suficientemente bom para mãe e criança.

Palavras-chave: maternidade, subjetividade, contemporaneidade.

70 Assessora Especial da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina; email: [email protected]. Graduada em Psicologia pela UNIFIL em 2011; Especialização em Residência Clínica e da Saúde – Ênfase em Psicanálise – UNIFIL 2012; Especialização em Clínica Psicanalítica UEL em 2013. 71 Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina – UEL. [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 109

Aplicando o “Holding” em uma clínica psicológica universitária

Luciane Cristina de O. Carnaúba 72; Maíra Bonafé Sei73

Resumo: Objetiva-se, com este estudo, refletir sobre a importância do papel do

psicólogo frente às questões apresentadas pelo paciente no setting clínico, a partir de

uma visão psicanalítica Winnicottiana. Trata-se de um estudo teórico-clínico, pautado

em um atendimento realizado em um serviço-escola de Psicologia. A análise do caso é de

uma mulher, na faixa etária dos 30 anos. Sua história traz o abandonado. Primeiro pela

mãe, depois pelo pai, finalizado com a separação do marido decorrente de várias

traições, após quinze anos de casada. Chega à clínica com muito sofrimento em ter que

lidar com as questões do abandono e diz que quer organizar suas ideias. Nas sessões, a

terapeuta lhe oferece o olhar, a escuta e a sustenta nas suas questões que são trazidas.

Dessa forma, constata-se a necessidade de aplicar o holding. De acordo com Dias (2003),

o segurar (holding) diz respeito ao manuseio do bebê e aos cuidados físicos relativos ao

seu bem-estar, o qual vai sendo ampliado à medida que o bebê cresce e se estende para

os cuidados em geral. Este foi um dos instrumentos utilizados para sustentar

emocionalmente as necessidades e angústias da paciente. Contudo, a paciente, em todo o

seu caminhar, passou a entender melhor a sua história de abandono, as suas perdas,

nomeou seus sentimentos e tenta lidar de forma mais saudável com as suas frustrações,

medos, angústias e abandono. Considera-se, para o estudo do caso clínico apresentado, a

atualidade dos conceitos desenvolvidos por Winnicott, pois eles se aplicam em todas as

fases da vida do ser humano, isto é, permitem que o indivíduo reconstrua o seu

emocional, danificado em alguma ou em algumas fases de sua vida.

Palavras Chave: holding, clínica psicológica, mãe suficientemente boa.

72 Assessora Especial da Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina; e-mail: [email protected]. Graduada em Psicologia pela UNIFIL em 2011; Especialização em Residência Clínica e da Saúde – Ênfase em Psicanálise – UNIFIL 2012; Especialização em Clínica Psicanalítica UEL em 2013. 73 Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina – UEL. [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 110

Modalidades de Intervenção em Orientação Profissional

Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida74; Manuela dos Reis Parenti75;

Geovanna Moreno Cianca76; Giovanna Sandoval Fioresi 77

Resumo: O projeto de extensão em Orientação Profissional, em sua trajetória ao longo

de aproximadamente 20 anos, surge com novas modalidades de atendimento, com o

intuito de produzir ambientes psicoprofiláticos. Em atividades recentes como o da

apresentação na Feira de Profissões, bem como o do Cursinho, ambos na UEL, os

objetivos das atividades foram de levar os jovens, aproximadamente 180, participaram

de uma reflexão sobre o contexto da escolha profissional, através de assuntos sobre o

tema, elucidando que esta estratégia interventiva visava ofertar um ambiente de

holding, um espaço temporal transicional, no qual o pensar do adolescente sobre a sua

vida, seu contexto social e sua escolha profissional, poderiam contribuir para uma

redução da angústia peculiar a esse momento. Essas práticas podem ser denominadas

como “consulta coletiva”, uma vez que constitui um potente instrumento clínico que

permite ao psicólogo psicanalítico atender um grande número de pessoas que, de outra

maneira, estariam impossibilitadas de serem beneficiadas por esse recurso, e que tem a

duração de 3 a 4 horas, nos próprios locais. Winnicott caracteriza-as como um espaço de

comunicação, de verdadeira mutualidade, em um tempo definido, entendido como

momento em que a criatividade é ativada na presença dos participantes desse espaço.

Observou-se o surgimento de um ambiente eficaz e psicoprofilático, através das

avaliações dos próprios adolescentes, visto que essas consultas coletivas são

intervenções pontuais e breves, que consistem em uma experiência com começo, meio e

fim, perpassada por elementos de holding, criados por esse setting acessível. Considera-

se que há a produção de novos sentidos, que favorecem o caminho do suposto devir.

Palavras-chave: Escolha Profissional; espaço-temporal transicional; consultas coletivas.

74 Professora Doutora,Associada - PPSIC-CCB. Coordenadora dos Projetos de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanalise/PPSIC – CCB/UEL sobre Adolescência e a Escolha Vocacional e Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização em Clínica Psicanalítica- Departamento de Psicologia e Psicanálise. Atua na Clínica Psicanalítica. Londrina-PR. E-mail: [email protected]. 75 75 Psicóloga e pós-graduanda Lato-sensu pela Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]. 76 Psicóloga, colaboradora PPSIC/UEL. E-mail: [email protected]. 77 Estagiária projeto UEL/PR.

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ISBN 978-85-7846-424-0 111

Transferência no atendimento clínico de crianças autistas

Márcia Camacho da Silva Cordér 78; Maristela Helfenstein 79; Rosemarie

Elizabeth Schimidt Almeida 80

Resumo: Esse trabalho tem como objetivo explorar a relação transferencial na clínica

psicanalítica com crianças autistas, na teoria de Klein e Winnicott. O trabalho de Melanie

Klein (1930), a análise da transferência com crianças autistas, é realizada por meio de

interpretações verbais e o lugar do analista é o de intérprete. A partir do pensamento de

Winnicott, o analista ganha outro lugar na situação transferencial com a criança autista

para além da função de intérprete. Dentre as ideias de Winnicott, destaca-se a questão

do holding e da interpretação, o modelo da “mãe suficientemente boa” como um

norteador da transferência e a importância dos vínculos sensoriais não-verbais na

relação transferencial. Através desses embasamentos teóricos e a grande demanda de

crianças com diagnóstico de autismo nas clinicas, procura-se entender a difícil tarefa do

vínculo paciente-terapeuta, explorar o campo transferencial. Destacando que a

transferência é uma ferramenta central na escuta clínica, os resultados apontam que o

atendimento de criança autista, além do ato de brincar onde se manifestam suas

fantasias, não se deve trabalhar apenas junto ao portador do autismo, mas todo o seu

contexto de convivência, e principalmente a família que convive diretamente com todo o

processo. Winnicott, diz em 1966 numa Conferência sobre o Autismo: [...] Do meu ponto

de vista, a invenção do termo autismo foi uma benção duvidosa. As vantagens estão

bastante óbvias, as desvantagens são menos óbvias. [...] A partir disso, vamos refletir

sobre a questão do autismo e tratamento, imbricados a questão transferencial e a

posição do analista perante o manejo da clínica winnicottiana.

Palavras-chave: transferência, clinica-psicanalítica, autismo.

78 Psicóloga (Unifil- Londrina), Pós-Graduanda do Curso de Especialização em Psicanálise Clínica (Universidade Estadual de Londrina). Contato: [email protected] 79 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected] 80 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica -2006 - PUCCAMP. Professora Associada UEL - Graduação e Pós-Graduação em Psicologia -Departamento de Psicologia e Psicanálise. Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica-UEL-PR. Atua na Clínica Psicanalítica. Contato: [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 112

O serviço de Plantão Psicológico da UEL como dispositivo da Atenção

Básica de Saúde: Psicologia, políticas públicas e a rede de saúde

mental

Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan81; Gabriel Candido Paiva; Paulo Victor

Bezerra82; Maíra Bonafé Sei83

Resumo: Desde 2015, o plantão psicológico é ofertado pelo serviço-escola de psicologia

da UEL diariamente por estudantes de psicologia do quarto e quinto ano. O serviço de

plantão psicológico configura-se a partir de três pontos: a) espaço de escuta e subsídio

para as potencialidades humanas e suas inúmeras formas de existir e de se autocuidar,

b) desenvolvimento de autopercepções do sujeito sobre sua situação-problema e c)

acolhimento deste no momento da crise. Objetiva-se aqui, por meio de uma revisão não

sistematizada da literatura, problematizar a modalidade de plantão psicológico como

estratégia de clínica ampliada na Atenção Básica de Saúde, implicando a psicologia pós-

moderna, suas relações com as políticas públicas e a inserção do psicólogo no contexto

de rede em saúde mental. Os resultados indicam que o trabalho que vem sido

desenvolvido no plantão psicológico da UEL faz do serviço-escola de psicologia da

universidade um ponto da rede de saúde mental, configurando-se como um dispositivo

da Atenção Básica, na medida em que muitas vezes este serviço é o atendimento inicial,

considerando-o porta de entrada do usuário no sistema de saúde mental. Conclui-se que

as políticas públicas que concerne à saúde mental e a formação dos profissionais da área

devem estar atentas a inserção desses profissionais no contexto da Saúde Coletiva, o que

indaga os currículos dos cursos de psicologia e os limites e avanços dos serviços

substitutivos à lógica manicomial, tais como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e

Unidades Básicas de Saúde organizadas pela Estratégia da Saúde da Família.

Palavras-chaves: Plantão psicológico. Atenção básica de saúde. Serviço-escola de

psicologia. Saúde mental. Políticas públicas.

81 Foi Bolsista CNPq-IC, Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Residente em Saúde da Família; [email protected] 82 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 83 Psicóloga, Mestre, Doutora e Pós-doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 113

Psicanálise, instituição e grupos: a escuta psicanalítica nos Grupos de

Dinâmicas do serviço-escola de Psicologia da UEL

Maria Lúcia Ortolan84; Gabriel Candido Paiva; Daniel Polimeni

Maireno85; Maíra Bonafé Sei86

Resumo: O serviço-escola de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL),

desde 2015, oferta o serviço de Grupo de Dinâmicas às diferentes faixas etárias em

diversos horários. São grupos abertos, coordenados por estudantes do quarto e quintos

anos de Psicologia, que se propõem trabalhar temas do cotidiano dotando-se de

atividades lúdicas e apostando na convivência social como promotora de saúde mental.

Objetiva-se aqui, por meio de uma revisão bibliográfica não sistematizada da literatura,

a problematizar esse espaço pelo referencial teórico da Psicanálise, privilegiando,

principalmente, a questão da escuta psicanalítica e sua aplicação nos contextos

institucionais. A escuta, como uma ação que pode ser feita em qualquer contexto, em

qualquer lugar, no recorte psicanalítico, é um modo de apreensão de aspectos latentes

presentes no discurso do sujeito. Assim, a escuta psicanalítica torna-se possível em

diversos contextos, inclusive o institucional, escutando-se o ser que se preste a falar, seja

ele de qual faixa etária que for, seja de qual condição estruturante que for. Os resultados

observados indicam que os grupos de dinâmicas da UEL é um espaço de possibilidade da

escuta psicanalítica, um espaço no qual a psicanálise tem a oportunidade de se

reinventar de uma maneira particular, de acordo com contexto exigido, o que é um

acréscimo à formação do praticante, tendo em vista que o serviço de dinâmicas se trata

de um projeto de extensão, atendendo também suas funções educativas e formativas.

Conclui-se que a Psicanálise nos contextos extramuros pode existir, tendo como norte

seus dispositivos, tais como a escuta psicanalítica e a ética de sua intervenção.

Palavras-chave: Psicanálise. Instituições. Grupo de dinâmicas. Serviço-escola de

Psicologia.

84 Psicóloga pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Residente em Saúde da Família; [email protected] 85 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 86 Psicóloga, Mestre e Doutora e Pós-doutora em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 114

A psicoterapia psicanalítica com adolescentes e uso de jogos nas

sessões

Maristela Helfenstein87; Maíra Bonafé Sei88

Resumo: A adolescência se configura como um momento de mudanças físicas,

psicológicas e sociais, que implicam na construção de uma nova identidade. A

psicoterapia desempenha um importante papel nesta etapa de vida, oportunizando um

espaço de expressão de sentimentos e elaboração dos lutos. Observa-se, entretanto,

certa dificuldade de comunicação dos adolescentes no setting terapêutico, já que se

diferenciam das crianças, que fazem uso intenso da linguagem lúdica e gráfica, e dos

adultos, que se comunicam primordialmente pela linguagem verbal. Tendo em vista

estes aspectos, o presente trabalho tem por objetivo discutir o uso de jogos da

psicoterapia psicanalítica do adolescente. Trata-se de um estudo teórico-clínico, pautado

no delineamento de estudo de caso, referente ao atendimento de uma adolescente

realizado em um serviço-escola de Psicologia. A adolescente foi inserida no atendimento

por desejo da mãe, que trazia queixas sobre o comportamento da filha. A garota foi

inserida na psicoterapia e ao longo das sessões foram utilizados jogos, ora escolhidos

pela própria adolescente, ora levados pela terapeuta, para comunicação nas sessões.

Observou-se que esta dinâmica favoreceu a abordagem de temas que possivelmente não

seriam tratados no atendimento, os jogos não estivessem disponíveis. Tal aspectos

mostra-se relevante, especialmente no contexto dos serviços-escola de Psicologia, que

apresentam restrições quanto ao tempo disponível para os processos terapêutico,

trabalhando frequentemente dentro da perspectiva da psicoterapia breve. Por meio do

caso em questão, notou-se, assim, que os jogos foram importantes mediadores para a

psicoterapia da adolescente, contribuindo para sua comunicação e compreensão de suas

questões. Considera-se ser necessário desenvolver maior número de pesquisas sobre o

uso destes recursos no setting terapêutico de adolescentes, favorecendo o

desenvolvimento de intervenções terapêuticas, especialmente no que se refere ao

87 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected] 88 Psicóloga, Mestre, Doutora e Pós-Doutoranda em Psicologia Clínica pelo IP-USP, Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise da UEL. E-mail: [email protected].

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ISBN 978-85-7846-424-0 115

atendimento no contexto institucional.

Palavras-chave: psicanálise, adolescência, técnica, jogos.

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ISBN 978-85-7846-424-0 116

O setting e o manejo da clínica winnicottiana

Maristela Helfenstein89; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 90

Resumo: O sujeito que chega a clínica em busca de ajuda vem marcado por um

sofrimento que muitas vezes o leva a uma desorganização psíquica que expõe toda sua

vulnerabilidade e o coloca frente a situações de extremo desamparo. Como o sujeito em

análise encontra-se em um processo de amadurecimento continuo, o setting analítico

será o ponto central, na qual acontecem intercomunicações nas diversas etapas deste

processo, e cada sessão é absolutamente imprevisível e traz características e

configurações próprias. Frente a isso, o presente trabalho tem como objetivo refletir

sobre o manejo do setting winnicottiano. E de que forma o setting poderá diferenciar-se

em se tratando de atendimento infantil, adolescente e adulto? Para isso serão abordados

fragmentos teóricos-clínicos de três casos, de uma criança de cinco anos trazida pela

mãe, com a queixa do comportamento inadequado após a separação dos pais, um

adolescente de 17 anos com a queixa, sobre a indecisão na escolha sexual, e uma pessoa

adulta de 50 anos, com a queixa de depressão. Todas atendidas no serviço-escola de

Psicologia. Tem-se observado que o setting se torna contínuo, estável, processual, à

medida que possamos levar em consideração os elementos de holding que possam

“sustentar”, “segurar no colo” o paciente, e questões que surgem na sessão. Essa

pesquisa facilita nesse sentido, ao abordar os diferentes estágios do amadurecimento, o

entendimento na escuta, em se tratando as formas de manejos, dependentes das

condições apresentadas por cada paciente, à necessidade do terapeuta, além do

embasamento teórico, torna-se necessário a criação de condições criativas no que se

refere ao par analista-paciente no ambiente setting. Identifica-se a importância sobre a

necessidade de o manejo adequado a cada paciente, com as necessidades que lhe são

próprias, de acordo com a falha que sofreu em seu processo de amadurecimento.

Palavras-chave: Winnicott, setting, manejo.

89 Psicóloga formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) Bacharel em psicologia, pela Universidade Noroeste do Rio Grande do Sul. Especializanda em Clínica Psicanalítica pela Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected] 90 Psicóloga. Doutora em Psicologia Clínica -2006- PUUCCAMP. Professora Associada UEL - Graduação e Pós-Graduação em Psicologia -Departamento de Psicologia e Psicanálise. Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). Coordenadora de projetos de pesquisa e extensão sobre: Adolescência e Orientação Profissional. Coordenadora do curso de Especialização em Clínica Psicanalítica-UEL- PR. Atua na Clínica Psicanalítica. Contato: [email protected]

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 117

Abuso sexual: função materna, proteção e (des)proteção na

perspectiva da psicanálise

Simone Paula A. Rodrigues 91; Gabriela Lorena Massardi 92

Resumo: Surpreendentemente o abuso sexual intrafamiliar é mais frequente do que as

outras formas de violência sexual, e abrange uma perversão das funções familiares, de

modo que, aquele que deveria ser o cuidador se tornara o agressor, o que resulta em

sequelas devastadoras ao psiquismo das vítimas. De acordo com a Assembleia Geral da

ONU, 230 milhões de crianças foram vítimas de abuso sexual e 270 milhões de violência

doméstica. Desta forma, o que intriga e também instiga a presente pesquisa é a questão

referente à proteção e à desproteção especialmente no que tange à função materna no

ponto de vista da psicanálise. Freud (1914) ressaltou a preocupação com o bebê em

relação à alimentação, aos cuidados e proteção da mãe, ou por quem a substitua e exerça

função materna. Por função materna compreende-se uma gama de fatores relacionados

à significação subjetiva e cuidados que contribuem para o desenvolvimento do sujeito e

suas relações com o mundo. A função da mãe é um operador fundamental na

estruturação do sujeito e de tais relações, podendo criar condições para o abuso sexual

ou para o incesto. A função materna falha quando a mãe fracassa em sua tarefa de

realizar o holding e o bebê sente grande aflição, devido à sensação de estar em um

estado não integrado. O fracasso da função materna seria uma incapacidade de amar a

criança como pessoa inteira, sendo ela, portanto, alvo do ódio, do abandono ou uma

extensão do corpo da mãe, objeto do prazer excitado, e utilizado para fins perversos.

Assim, a busca pela compreensão, acerca dos fatores de proteção e de desproteção

implicam em ações de prevenção e intervenção nas políticas públicas voltadas ao

atendimento das mães e crianças, a fim de interromper o ciclo da violência.

Palavras chaves: abuso sexual; função materna; proteção; desproteção.

91 Centro de Referência Especializado em Assistência Social, Pós-graduação em Saúde Mental e em Psicologia Clínica Psicanalítica; [email protected] 92 UNIFIL, Estudante do 5º ano de Psicologia; [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 118

Abuso sexual e trauma na constituição do psiquismo sob o ponto vista

da psicanálise

Simone Paula A. Rodrigues 93; Gabriela Lorena Massardi 94

Resumo: Definido como a submissão física e psicológica de uma criança a estímulos

sexuais inapropriados ao seu estágio de desenvolvimento psicossexual (Kaplan, 1995), a

experiência do abuso, segundo (Pizá, 2010), é sempre traumática e ocasiona maior dano

à configuração do psiquismo, quanto mais precocemente for vivenciada. O presente

trabalho objetiva analisar as implicações do abuso sexual enquanto experiência

traumática em relação à constituição do psiquismo, sob a ótica psicanalítica. A fim de

aprofundar a temática apresentada, propõe-se a investigação de bibliografia, com base

na fundamentação teórica e no método psicanalítico. Em seu texto de 1940, “Esboço de

Psicanalise”, Freud comparou a violência do trauma psicológico, à de uma agulha no

embrião humano, e o incesto com a uma crueldade associada ao canibalismo e ao

assassinato (Freud, 1996b). O psicanalista Shengold (1974) denominou a experiência

emocional do trauma como “Assassinato da Alma”, pois, a fim de evitar a dor psíquica, o

sujeito passa a vivenciar uma sensação de “morte em vida”, enquanto forma de

sobrevivência psíquica. Em Laplanche e Pontalis (2001), o trauma se refere a um

acontecimento da vida do sujeito que se define por sua intensidade, pela incapacidade

do sujeito reagir a ele, pelos transtornos e efeitos patogênicos duradouros que provoca

na organização psíquica. Segundo Lacan (2000) e Pizá (2010), a saída do conflito e do

trauma se torna possível a partir da construção de um significante novo, pela via da

palavra durante o processo de análise, visando à reconstrução psíquica, a fim de auxiliar

o sujeito a sair de uma posição paralisante e aprisionada à experiência do trauma.

Palavras chaves: abuso sexual; trauma; psiquismo; psicanálise.

93 Centro de Referência Especializado em Assistência Social, Pós-graduação em Saúde Mental e em Psicologia Clínica Psicanalítica; [email protected] 94 UNIFIL, Estudante do 5º ano de Psicologia; [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 119

O ineditismo da psicanálise na exploração da psique

Vinícius Xavier Cintra Marangoni 95; Mary Yoko Okamoto96

Resumo: Sobretudo por meio das obras pré-psicanalíticas, é possível inferir que os anos

que antecederam à descoberta da psicanálise referem a marca de um esforço

determinado a decifrar o enigma das neuroses, particularmente a histeria. O exercício

clínico incansável; a recusa das teorias neuropatológicas explicativas das neuroses,

correntes à época; e o emprego de procedimentos médicos-terapêuticos alternativos,

como a hipnose e o método catártico, conduziram Freud à descoberta de um novo

procedimento psicoterapêutico, que se demonstrou capacitado para vencer a resistência

dos pacientes e para, consequentemente, retirar a consciência do centro da psique.

Assim, viabilizou o acesso a conteúdos além-da-consciência e, ao colocá-los em aberto e

interpretá-los, possibilitou o alívio duradouro dos sintomas neuróticos e abriu caminho

para o conhecimento etiológico das neuroses. Ao dar provas da aplicabilidade e

eficiência do novo procedimento na patologia e na normalidade, Freud parteja a

psicanálise, formalmente com a publicação de A interpretação dos sonhos (1900).

Porém, somente com a publicação da obra Três ensaios da teoria da sexualidade (1905)

que é lançada uma teoria psíquica psicanalítica, mas nesta data Freud já acumulava

aproximadamente 10 anos de atendimento clínico com o uso do novo procedimento,

como prova A psicoterapia da histeria (1895) em que já empregava-o. Então, as

conclusões teóricas apresentadas em Três ensaios... são provenientes de dados reais

oriundos da exploração clínica da psique inconsciente, diferentemente das teorias

neurológicas e neuropatológicas, cujas enunciações revelaram-se impregnadas de

preconceito e do puritanismo que permeou também o campo da medicina mental

daquela época. Resumidamente, a psicanálise enunciou um conhecimento acerca do

psiquismo a partir de constatações clínicas, somente acessíveis por intermédio do

método psicanalítico, ao contrário das elucubrações da medicina mental positivista da

época, teorias baseadas em abstrações sem fundamento empírico.

Palavras-chave: psicanálise; método psicanalítico; medicina mental positivista.

95 Psicólogo. Mestrando em Psicologia. Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências e Letras - Unesp/Assis - SP. [email protected] 96 Psicóloga. Professora assistente doutora na Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Ciências e Letras - Unesp/Assis - SP. [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 120

Os limites do pronto atendimento psicológico e a questão do

encaminhamento

Ana Letícia Alves Morais 97; Gabriel Candido Paiva98; Paulo Victor

Bezerra99; Maíra Bonafé Sei100

Resumo: O presente trabalho almeja discutir os limites do pronto atendimento

psicológico, prática ofertada na Universidade Estadual de Londrina (UEL), apontando

para questões concernentes aos encaminhamentos realizados por meio desta

intervenção. No que se refere ao pronto atendimento, este se trata de um atendimento

imediato e pontual ao usuário que procura o serviço em qualquer situação de grande

sofrimento emocional, fornecendo o acolhimento adequado à demanda. Diferencia-se da

psicoterapia individual, pois a característica de um único encontro dificulta uma

investigação da dinâmica do usuário pautada na transferência terapêutica que é

formada por causa do número maior e de regularidade temporal das sessões. A

psicoterapia de base psicanalítica exige um período de entrevistas inicias para

compreender o quadro do usuário e a sua respectiva demanda. Por outro lado, uma

característica importante do pronto atendimento é a necessidade de uma devolução

rápida e concisa, a partir do encontro, do conteúdo apresentado pelo usuário,

contribuindo para esclarecer da demanda. Este esclarecimento envolve uma

estruturação do serviço, cuja importância é fundamental para que o terapeuta conheça

os limites de sua prática no pronto atendimento e consiga pensar, a partir da demanda,

os encaminhamentos coerentes que deverão ser apresentados. Por isso, é importante

pensar e refletir constantemente acerca do fator encaminhamento, pois não há a

regularidade própria da psicoterapia. Compreende-se que os encaminhamentos devem

ser pautados em um estudo que leve em consideração inúmeros fatores que atravessam

o sofrimento humano, inclusive as questões sociais, atualmente bem demarcadas na

97 Graduanda do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 98 Graduando do 4º ano de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) - [email protected] 99 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 100 Psicóloga, Mestre e Doutora e pós doutoranda em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 121

sociedade. Balizar esses limites é necessário para que o terapeuta não se responsabilize

além do que lhe é exigido. Além disso, o preparo teórico é fundamental para entender a

diferenciação do pronto atendimento e da psicoterapia individual, pois se enquadram

em modalidades diferentes, com o setting semelhante.

Palavras-chave: psicanálise, clínica-escola, pronto atendimento psicológico,

encaminhamento psicológico.

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ISBN 978-85-7846-424-0 122

A psicoterapia familiar na adoção: cuidado em Saúde Mental

Caroline da Silva Fantini101; Maíra Bonafé Sei102

Resumo: O presente trabalho propõe uma reflexão sobre questões envolvidas no

processo de adoção, através das contribuições de Winnicott e de outros autores busca-se

compreender o processo de maturação da criança abrigada, as relações com o ambiente,

e também a constituição familiar do casal que adota, visto que envolve questões pessoais

e institucionais. Segundo Gomes (2006, p. 52) “compreender a adoção com base na

teoria de Winnicott implica considerar que a família adotiva pode "tratar" a criança que

sofreu deprivação. Ainda é importante considerar que “as crianças que passam pelo

processo de adoção poderão ter questões com a memória, já que seu passado muitas

vezes traz segredos ou coisas doloridas demais para lembrar, e talvez problemas com o

desejo se seu futuro ao invés de ser sonhado, for temido por suas famílias de adoção”

(VERDI, 2010, p. 25). A psicoterapia familiar é um espaço que propícia para família se

reorganizar diante de questões sobre a adoção e também pode “prover o ambiente que

facilite a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional”. (WINNICOTT, 1983

p.63), configurando-se como um ambiente suficientemente bom. A metodologia utilizada

é qualitativa, buscou-se compreender através de conceitos psicanalíticos, o caso clínico

de família atendido em um serviço-escola de Psicologia de uma universidade pública.

Optou-se por atendimento mesclado de quinze em quinze dias: aos pais, e outro com a

família toda. Ao adotar o casal precisa cuidar de duas crianças, os dois irmãos, que não

foram geradas por eles, e se deparam com: medo, expectativas, e com o próprio passado

dos filhos que os assombram. Também com o atendimento surgiram projeções e

idealizações dos filhos O cuidado em Saúde Mental é importante em se tratando do

processo de adoção, pois a terapia familiar está auxiliando na elaboração de questões

inconscientes neste processo.

Palavras-chave: Adoção, Saúde mental, Psicoterapia, Vulnerabilidade.

101 5º ano de Psicologia (UEL); Pós-graduanda em Psicanálise pela Faculdade Pitágoras Londrina [email protected] 102 Professor Adjunto (UEL); Pós-doutoranda em Psicologia pelo Instituto da USP [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 123

A Psicose na infância a partir do viés winnicottiano, e o setting no

dispositivo de saúde mental pós reforma psiquiátrica: relato de

experiência de um Caps Infantil

Caroline da Silva Fantini103; Maíra Bonafé Sei104

Resumo: No cenário de Reforma Psiquiátrica e novas propostas de cuidado em saúde

mental, pensa-se que a "experiência institucional com psicóticos, possibilita ao analista

confrontar-se com uma atuação que requer uma abordagem diferenciada daquela

habitualmente adotada no âmbito do consultório privado" (MONTEIRO; QUEIROZ, 2006,

p. 133), sendo necessário buscar referenciais que primem pela flexibilização do setting.

Para Winnicott, psicanalista que contribuiu nessa lógica, a psicose é uma doença que “se

origina num estágio em que o ser humano imaturo é inerentemente dependente do que

o meio lhe propicia" (WINNICOTT, 1990, p. 34), e, portanto, deve-se “prover o ambiente

que facilite a saúde mental individual e o desenvolvimento emocional”. (WINNICOTT,

1983 p.63). Considerando o período da infância determinante para a saúde mental do

indivíduo, o CAPSi é um importante dispositivo em saúde que pode operar mudanças

significativas, como contemplar as questões relacionadas a essas falhas, poderia

reinventar vias de ofertar uma nova provisão ambiental, agora suficientemente boa.

Objetiva-se relatar a experiência advinda do acompanhamento de um grupo realizado

no CAPSi da cidade de Londrina/PR, e também entender sobre o trabalho desenvolvido

e o manejo de crianças em sofrimento psíquico. A experiência do estágio proporcionou

justamente esta sensibilização do lugar do profissional neste cuidado e do papel

ambiente e do manejo na promoção da saúde, em que há uma adaptação da profissional

às demandas das crianças, e deve primar não só "a ética da autonomia, mas a do

cuidado" (DIAS, 2010, p.31). Acredita-se que o papel dos profissionais se refere à

provisão de “1-tolerância para com a imaturidade e saúde mental deficiente do

indivíduo; 2-terapia; 3-profilaxia” (WINNICOTT, 1983, p. 63). Convoca-se, assim, o

profissional a oferecer um espaço de cuidado, entender a necessidade caso a caso e

potencializar o vir a ser das crianças e adolescentes atendidos no CAPSi.

103 5º ano de Psicologia (UEL); Pós-graduanda em Psicanálise pela Faculdade Pitágoras Londrina [email protected] 104 Professor Adjunto (UEL); Pós-doutoranda em Psicologia pelo Instituto da USP [email protected]

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 124

Palavras-chave: Clínica ampliada, CAPS infantil, Saúde Mental, Psicose, Winnicott.

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ISBN 978-85-7846-424-0 125

A função simbolizante da creche no processo de subjetivação do bebê

Cleide Vitor Mussini Batista 105

Resumo: Este trabalho tem como objetivo refletir acerca da entrada precoce dos bebês

em creches e os efeitos desta na constituição subjetiva deste sujeito que a de vir.

Recorrendo à história do atendimento às crianças de zero a 3 anos, encontramos

diferentes enfoques, correspondentes a diferentes períodos e contextos históricos e

culturais que impulsionaram práticas centradas no assistencialismo, no higienismo ou

na compensação das carências culturais das camadas populares. É, aqui, pois que se

instaura nosso problema: Que efeitos a entrada precoce de bebês em creches tem sobre

sua constituição subjetiva? Esta indagação nos faz refletir sobre como o berçário têm

uma função importante nos primórdios da história psíquica dos bebês atendidos por

este espaço. Partindo da constatação de que na atualidade a instituição creche faz parte

de um número expressivo de crianças, esta pesquisa, se mostra relevante na

contribuição de novos elementos para a reflexão acerca da constituição subjetiva do

bebê. Estas reflexões são oriundas de um projeto de pesquisa “Entre Fraldas,

mamadeiras, risos e choros: verificação de fenômenos cotidianos presentes nas creches”

e da análise de intervenções de cuidadoras junto aos bebês por meio de ações e

momentos propiciados por elas a estes na rotina diária e no brincar. A partir do olhar da

Psicanálise, buscamos investigar as particularidades da constituição do sujeito. Para

tanto utilizamos as contribuições dos conceitos psicanalíticos - segundo os referenciais

teóricos de Freud e Lacan. Elucidamos que a creche seja não apenas um lugar de

cuidados instrumentais, mas que se reconheça nisso o dispositivo de transmissão de

saberes. Tarefa que vai exigir da equipe não apenas um olhar diferenciado sobre a

criança em constituição, mas também uma abertura para fazer de sua prática uma

interrogação permanente, capaz de provocar uma mudança de posição junto à criança

que é atendida, cuidada e educada.

Palavras-chave: Bebês. Creche. Constituição. Desenvolvimento.

105 Profa Associado da Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Educação. Psicóloga da Gerência de Apoio Especializado GEAE/SME. Líder do Grupo do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos/CNPq. Coordenadora Coordenadora do Projeto de Extensão “Quintal da Infância: um tempo e um espaço para brincar” e do Projeto de Pesquisa “Entre Fraldas, mamadeiras, risos e choros: verificação de fenômenos cotidianos presentes nas creches”.

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ISBN 978-85-7846-424-0 126

Crianças autistas e psicóticas: por uma construção de uma escola

Cleide Vitor Mussini Batista106

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar como as concepções da escola

francesa (freudo-lacaniana) são tomadas como fundamento da escolarização da criança

autista e psicótica. A prática clínica, as construções teóricas aqui elaboradas e as

políticas atuais que recomendam a inclusão de todos nas classes regulares nos instigam

a refletir sobre a contribuição da Psicanálise no campo da Educação. Este estudo,

oriundo do projeto de extensão “Escolarização de crianças autistas e psicóticas” em

pareceria com a Secretaria Municipal de Educação/SME, ao amarrar experiência

empírica e reflexão teórica, permite inferir a possibilidade de aprendizagem de crianças

com distúrbios graves, bem como as condições e limites que se colocam no processo de

escolarização das mesmas. Participam deste estudo e formação, dez professoras

regentes das Classes TGDs, sendo que duas professoras por sala e vinte crianças. O

trabalho que aos poucos vai se desenvolvendo junto com as professoras e a troca de

experiências, contempla, de certo modo, esse entrelaçamento do educativo com o

terapêutico. Dentro desta proposta de trabalho somos guiadas pelo mesmo princípio

teórico, ou seja, o de considerar a criança não como tábula rasa ou como mero objeto de

cuidados, mas como sujeito particularizado e capaz de produzir um conhecimento,

acolhemos as crianças propondo canalizá-lo para a aprendizagem. O desafio que se

coloca para os profissionais de saúde e educação é o de sustentar o trabalho de inclusão

escolar na tensão do paradoxo entre o universal da “escola para todos” e o singular de

cada caso. Se a direção do trabalho de extensão da psicanálise implica em seguir os

princípios da ética psicanalítica, propomos que a inclusão de crianças autistas e

psicóticas nas escolas não se faça pela tentativa de adaptação da particularidade às

normas universalizantes da instituição de ensino, mas que esta possa abrir-se e dobrar-

se à singularidade de cada caso.

Palavras-chave: Autismo. Psicose. Educação Terapêutica.

106 Profa Associado da Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Educação. Psicóloga da Gerência de Apoio Especializado GEAE/SME. Líder do Grupo do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos/CNPq. Coordenadora do Projeto de Extensão “Escolarização de Crianças Autistas e Psicóticas” e de Formação Continuada acerca da temática.

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ISBN 978-85-7846-424-0 127

Do “quintal” da escola:

Por um protocolo de observação dos brincares da criança

Cleide Vitor Mussini Batista107; Paloma de Campos Ale Pereira 108

Resumo: O objetivo desta pesquisa oriunda do Projeto de Extensão: Quintal da Infância

é apresentar os passos da construção de uma metodologia observacional para coletar

dados de crianças brincando no ambiente escolar. A metodologia observacional aqui

proposta pode auxiliar também na observação de outros fenômenos relacionados ao

desenvolvimento infantil. Foi realizada uma busca teórica em três bases de dados

científicas com o intuito de verificar o que já foi publicado a respeito da construção e

sistematização de metodologias observacionais. Foi consultada uma base internacional,

a PsycInfo (base de dados on-line da American Psychological Association - APA) e duas

bases de dados nacionais, a IndexPsi do Conselho Federal de Psicologia/PUC - Campinas,

e a Scielo Brasil. Tal resultado aponta para as lacunas existentes na área e a necessidade

de uma maior discussão a respeito do tema, uma vez que, a pesquisa observacional, nas

últimas décadas, tem adquirido significativa importância nas áreas do desenvolvimento

infantil. Com o objetivo de buscar os parâmetros para a criação de uma metodologia

observacional e a consequente formulação de um protocolo de observação, foi realizado

um estudo piloto. Os dados fornecidos pelo estudo piloto auxiliaram na construção do

protocolo de observação final, nos procedimentos de observação e na categorização dos

comportamentos que devem ser observados. Participaram deste estudo crianças

(meninos e meninas) provenientes dos Centros de Educação Infantil, bem como Anos

Iniciais do ensino Fundamental da rede municipal, filantrópica e privada do município

de Londrina e região. Enfatizamos, então, que a utilização de um protocolo de

observação facilita na codificação dos comportamentos observados conduzindo os

pesquisadores a uma discussão mais fidedigna dos resultados, bem como dos

107 1 Profa Associado da Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Educação. Psicóloga da Gerência de Apoio Especializado GEAE/SME. Líder do Grupo do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos/CNPq. Coordenadora do Projeto de Extensão “Quintal da Infância: um tempo e um espaço para brincar” e do Projeto de Pesquisa “Entre Fraldas, mamadeiras, risos e choros: verificação de fenômenos cotidianos presentes nas creches”. 108 Discente da graduação em Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. Aluna de Iniciação científica do Projeto de Extensão “Quintal da Infância: um tempo e um espaço para brincar”. [email protected]

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profissionais da educação ter uma postura investigativa para compreender a

complexidade da natureza infantil e favorecer o enriquecimento das competências

imaginativas dos alunos por meio do brincar.

Palavras-chave: Brincar. Criança. Observação. Protocolo.

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ISBN 978-85-7846-424-0 129

Breve discussão sobre a atuação em psicologia hospitalar

Daiane Franciele Costa109; Estela Parrilha Casemiro da Silva110; Jaqueline

Bezerra Ferreira111; Luana Dias da Silva 112; Maria Gabriela Lima Gomes113;

Daniela Maria Maia Veríssimo 114

Resumo: Este trabalho é referente a um estudo realizado por alunas do 5° ano do curso

de Psicologia em seu estágio de Formação em Psicologia Hospitalar da Faculdade da Alta

Paulista de Tupã, estágio que motivou a composição deste trabalho, resultante dos

primeiros levantamentos bibliográficos para embasamento teórico sobre atuação do

estágio supervisionado realizado pelas estagiárias na Santa Casa de Misericórdia de

Tupã/SP. Tem-se como objetivo apresentar, de forma sucinta, a atuação do psicólogo em

hospital geral. O profissional atuante em tal área pode utilizar de técnicas interventivas

como a psicoterapia de apoio e a psicoterapia breve dinâmica. Segundo Cordioli e cols.

(1998) estas psicoterapias são modalidades de curta duração, que ocorrem de forma

ativa através de um foco, de acordo com as necessidades imediatas do indivíduo a fim de

promover a superação dos sintomas e alívio do sofrimento psíquico presentes na

realidade dos pacientes. Por meio destes métodos, a prática pode ser realizada, segundo

Cantarelli (2009), através de atendimentos no leito, sala de espera, sala de observação

atendendo desde pacientes a acompanhantes e até colaboradores, priorizando a

humanização do atendimento hospitalar e a minimização da angústia e ansiedade

intensificadas pelo contexto. O objetivo dos atendimentos é fornecer aos indivíduos

possibilidades de uma ressignificação das possíveis projeções negativas a respeito de

sua permanência no ambiente hospitalar, “ajudando a assumir a sua condição

existencial, a perceber suas responsabilidades nas escolhas efetuadas durante o

tratamento” (CANTARELLI, 2009, p.137), bem como acolhimento das diversas angústias

suscitadas pelo processo de adoecimento. Sendo assim, conclui-se que o psicólogo

hospitalar deve uma postura de facilitador no ambiente hospitalar, sempre atento as

109 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 110 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 111 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 112 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 113 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista - Tupã/SP. [email protected] 114 Psicóloga, Mestra e Docente do curso de psicologia da Faculdade da Alta Paulista, e-mail: [email protected]

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necessidades que emergir no ambiente, intervindo com sua experiência e apoio técnico

teórico de acordo com a psicoterapia utilizada por este, a fim de fornecer acolhimento e

o auxílio psicológico necessário aos demandantes no campo hospitalar.

Palavras chave: Psicologia Hospitalar, Psicoterapias e Acolhimento.

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Breves considerações sobre o vínculo professor-aluno: Um olhar

Psicanalítico

Daniella de Souza Balduino115; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida116

Resumo: Atualmente a prática educativa se depara com diversos conflitos, um deles

envolve a relação professor-aluno, em que as condutas dos alunos; desinteresse,

confronto com o docente, entre outras, repercutem como obstáculo para a realização do

trabalho dos professores. Nota-se que frequentemente os alunos se queixam dos

docentes, e atribuem aos mesmos a responsabilidade e o motivo de suas dificuldades de

aprendizagem. Em contrapartida, também pode-se constatar, que os professores

manifestam suas lamentações em relação aos impasses encontrados em sua prática

educativa devido aos comportamentos dos discentes. O vínculo professor-aluno engloba

os mais diversos e adversos sentimentos e atitudes, os quais podem impactar no ensino-

aprendizagem. Em decorrência dos fatos expostos, torna-se relevante a compreensão

dos aspectos intangíveis que permeiam a relação docente-discente, a qual reflete

diretamente no processo de aprendizado, tema este que tem sido discutido e estudado

ultimamente. Dessa forma, o presente artigo está estruturado por meio do procedimento

de estudo bibliográfico, e tem como desígnio, a partir de uma ótica psicanalítica,

possibilitar uma breve compreensão sobre os fenômenos transferenciais e contra-

transferenciais que permeiam o estabelecimento do vínculo professor-aluno. Será

necessário delinear um panorama entre as perspectivas da psicanálise e da educação, e

o vínculo propriamente dito; os sentimentos diversos e adversos que se encontram

presentes nesta relação, as atitudes dos alunos, as dificuldades vivenciadas pelos

professores, o desejo de ensinar, o desejo de aprender. Assim, torna-se possível uma

compreensão sobre alguns fenômenos decorrentes na relação professor-aluno, para

contribuir com o contexto da prática educativa.

Palavras-chave: professor-aluno; psicanálise; transferência; contratransferência.

115 Atua como psicóloga clínica em consultório particular e psicopedagoga clínica na Geração Integrar; Pós-graduanda em Clínica Psicanalítica pela UEL (2017-2018); Pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Esap; Graduada em Psicologia pela UniFil. e-mail: [email protected] 116 Doutora em Psicologia pela PUCCAMP; Mestre em Educação pela UEL; Graduada em Psicologia pela UEL; Professor Associado B do Departamento de Psicologia e Psicanálise da UEL; [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 132

A oferta de atendimento na Clínica Psicológica da UEL a partir de um

programa de Extensão

Debora Lydines Martins Corsino117; Felipe Montes Trevisan118; Maíra

Bonafé Sei119

Resumo: O projeto “A psicoterapia como instrumento de na clínica psicológica da UEL”

em vigor desde 2014, oferta para discentes e profissionais recém-formados a

possibilidade de atuar enquanto terapeutas na clínica psicológica, e assim contribuir

com a rotatividade de pessoas que aguardam atendimento, inscritas na lista de espera.

Os colaboradores possuem como função agendar atendimentos clínicos com crianças,

adolescentes e/ou adultos, e comprometer-se em zelar pela ética profissional,

garantindo o andamento destes tratamentos por meio de supervisões com

colaboradores formados e com experiência clínica. Tal dinâmica cumpre uma função

importante, tanto no que tange a formação acadêmica, adentrando a prática clínica nas

diversas correntes psi, como possibilita um melhor atendimento à comunidade que

demanda tais serviços, contribuindo com maior quantidade de atendimentos aos

diversos casos encaminhados para a clínica universitária. As reuniões clínicas são

agendadas com antecedência e contam com a participação do terapeuta que apresenta o

caso, o supervisor que trabalha com a abordagem utilizada pelo terapeuta, e os demais

participantes do projeto que desejam aprimorar a prática clínica, tendo em vista que

participar de supervisões é um passo fundamental para a formação do psicólogo. Além

disso vale ressaltar que algumas prerrogativas institucionais atravessam a formação do

estudante de Psicologia. A iniciação de atendimentos clínicos ocorre nos estágios

obrigatórios dos últimos anos da graduação, portanto, a prática extensionista surge

como uma possibilidade de inserção antecipada dos discentes no contexto da clínica.

Além disso, a Universidade possui apenas dois departamentos que ofertam estágio em

clínica para os estudantes, e como o presente projeto conta com supervisores externos à

instituição, é crescente a procura por supervisões em escolas psi diferentes das

117 Estudante do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina; e-mails: [email protected]

118 Estudante do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina; e-mails: [email protected]

119 Docente adjunta no Departamento de Psicologia e Psicanálise e atual diretora da Clínica-escola Psicológica da Universidade Estadual de Londrina; e-mail: [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 133

oferecidas na graduação, como a Psicologia Analítica e a Corporal. Portanto, a partir

destes dados o projeto se mostra relevante para a Universidade e para a comunidade

com um todo.

Palavras-Chave: Formação clínica; Supervisão; Clínica-escola; Psicoterapia.

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ISBN 978-85-7846-424-0 134

Projeto de intervenção com adolescentes em processo de medida

socioeducativa

Estela Parrilha Casemiro da Silva 120; Maria Gabriela Lima Gomes 121;

Thaís Yazawa122

Resumo: Este trabalho é referente a um estudo realizado por alunas do curso de Psicologia

em seu estágio de Formação em Psicologia Jurídica da Faculdade da Alta Paulista de Tupã,

com o intuito de apresentar o projeto de prática do estágio, realizado em uma instituição

que atende adolescentes que cumprem medidas socioeducativas no interior de São Paulo.

Dentro deste contexto, é proposto como prática interventiva a realização de atividades com

estes adolescentes focando nas problemáticas segundo a demanda do grupo, este no qual

residem em um contexto de vulnerabilidade social, desprovido de políticas públicas e

consequentemente, de qualidade de vida. A proposta de trabalho com este grupo inclui na

prevenção, que ‘‘contempla mais que a desvinculação dos jovens com o ato infracional:

remete a um olhar que o percebe como indivíduo de elevada vulnerabilidade e sujeito a

múltiplas situações de risco’’ (COSTA; ASSIS, p.75, 2006); assim como a conscientização e

promoção da autonomia utilizando-se de métodos como dinâmicas, rodas de conversas,

oficinas e ferramentas, abordando temas que atinjam os objetivos propostos e que sejam

coerentes com a realidade vivenciada pelo público alvo. Com o objetivo de provocar uma

reflexão e visão crítica sobre o ato infracional e seu contexto social, com temáticas que

concernem à realidade dessa população, tais como: abuso de substâncias, habilidades

sociais, relacionamentos interpessoais em um espaço para acolhimento de suas demandas

psicológicas, em uma tentativa de contextualizar o adolescente enquanto pessoa que deseja

e precisa ser ouvida (XAUD, 2000), fornecendo subsídios para auxiliá-lo a recolocar-se e

inserido na sociedade, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Participarão

das atividades adolescentes, entre 13 e 21 anos, em encontros quinzenais de

aproximadamente uma hora de duração. Durante tais encontros é esperado que os

adolescentes encontrem acolhimento e consigam visualizar outras possibilidades fora do

contexto do ato infracional.

Palavras-chave: Psicologia Jurídica, Ato Infracional, Adolescente.

120 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista, [email protected] 121 Graduanda em Psicologia da Faculdade da Alta Paulista, [email protected] 122 Psicóloga, Mestra e Docente do curso de Psicologia da Faculdade da Alta Paulista.

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ISBN 978-85-7846-424-0 135

A escuta como ferramenta de trabalho no pronto atendimento

psicológico

Gabriel Candido Paiva123; Paulo Victor Bezerra124; Maíra Bonafé Sei125

Resumo: A escuta como ferramenta de trabalho do plantonista é embasada e amparada

pelo arsenal teórico da Psicanálise que pretende extrapolar os consultórios privados

conforme preconizado por Freud e Lacan. Diferentemente de outros serviços de Atenção

Básica em Saúde nos quais o usuário apreende saberes de outros especialistas numa

tentativa de aplacar seu sofrimento, o espaço do Pronto Atendimento orienta-se pelo

caminho inverso: reconhecer o saber do paciente numa tentativa de implicá-lo em seu

próprio sofrimento. Isso tem o potencial de produzir mudanças pois, ao falar e não ser

prontamente atendido em sua demanda manifesta, o usuário é levado a narrar sua

história a partir do contexto em que passou a sofrer da maneira como vem sofrendo. O

silêncio do plantonista-analista permite a instalação de um sujeito que se põe a falar. A

partir da reconstrução do sofrimento do sujeito na experiência da fala produzida no

encontro, novos saberes são esboçados a partir das compreensões que o próprio

paciente realiza em função de informar o plantonista. Abre-se, então, a possibilidade de

um esclarecimento sobre as falhas do saber, uma retomada da consciência que joga luz

nas cenas as quais o sujeito não soube fazer, contribuindo para o quadro do seu

sofrimento. Esses novos saberes são caracterizados como novas posições que o sujeito

pode tomar frente ao seu próprio sofrimento, a partir do momento no qual ele percebe

que se tornou coadjuvante de uma história em que era protagonista. A fala do sujeito

que sofre, ou melhor, a circulação da palavra é um movimento chave para que a queixa

possa vir a se tornar produção de saber. Neste sentido, entende-se a importância do

Pronto Atendimento Psicológico na rede de saúde pública, privilegiando uma criação de

sínteses e saídas que quebrem a cadeia de repetições mortíferas.

123 Graduando do 4º ano de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) - [email protected] 124 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 125 Psicóloga, Mestre e Doutora e pós doutoranda em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 136

Palavras-chave: psicanálise, escuta em psicanálise, psicanálise em clínica-escola,

clínica-escola, pronto atendimento psicológico.

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ISBN 978-85-7846-424-0 137

Adolescência e a escolha profissional: o tempo do devir

Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida126; Geovanna Moreno Cianca127

Resumo: Através do projeto de pesquisa e extensão são realizados grupos terapêuticos

abordando o tema da escolha profissional na adolescência, com enfoque na teoria do

amadurecimento. A vida do adolescente é perpassada por conflitos, ansiedades e por

uma temporalidade subjetiva peculiar, o que justifica a importância do processo de

Orientação Vocacional e Profissional, fundamental nesse momento de transição, que

carece de elementos de holding sociocultural. Objetivo: O grupo objetiva orientar e

acolher os adolescentes frente à problemática da adolescência e da escolha profissional,

à medida que cria um espaço temporal transicional. Método: os beneficiados são

adolescentes do ensino médio de escolas estaduais da comunidade de Londrina-PR. O

método segue a modalidade clínica aplicada ao contexto grupal, levando em

consideração as nuances da vivência ao abordar aspectos sobre a família, a escolha

profissional e futuro. Resultados: Por meio das oficinas, foi possível aos adolescentes

refletir a escolha profissional através da produção criativa e da relação com o grupo de

pares. Em atividade realizada com grupo de adolescentes em agosto de 2016, surgiu

sobre o eixo “adolescência” as associações: dúvida, liberdade ou prisão?,

responsabilidade, perguntas sem resposta – que sinalizam os conflitos de adequação aos

papéis de adulto e as mudanças psíquicas e corporais que acompanham essa fase. Sobre

“família” foram associados: base, educação, amor, bem como a questão da influência

familiar na escolha profissional e os dilemas decorrentes “talvez a liberdade que as

famílias modernas passam aos seus filhos seja um dos problemas de tanta indecisão!” Ao

eixo “escolha profissional” foram relacionados: futuro, decisão, difícil, o que demonstra

relação entre os eixos, bem como variância entre a indecisão/incerteza e a certeza sobre

a profissão desejada. Conclusão: Conclui-se que o ao tirar dúvidas, gerar reflexão e

126 Profa. Dra. Associada PPSIC/CCB/UEL. Coordenadora do Projeto de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanálise/ UEL, sobre a Adolescência e a questão da Escolha Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização: Clínica Psicanalítica. Londrina - PR. E-mail: [email protected] 127 Psicóloga, CRP-08/21364. Colaboradora do Projeto de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanálise/ UEL, sobre a Adolescência e a questão da Escolha Profissional. E-mail: [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 138

discussão, o grupo serve como um espaço de acolhimento para os adolescentes e suas

ansiedades, cumprindo função psicoprofilática.

Palavras-chave: adolescência, escolha profissional, orientação vocacional, futuro.

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ISBN 978-85-7846-424-0 139

Atendimento familiar em clínica-escola: algumas reflexões sobre a

resistência no processo terapêutico em famílias encaminhadas pelo

sistema judiciário de Londrina

Hellen Lima Buriolla 128; Hévila de Fátima P. Pereira 129; Maíra Bonafé

Sei130

Resumo: A Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina (UEL) possui uma

grande demanda por atendimento psicoterapêutico familiar. Contudo, grande parte

dessas famílias não chegam por conta própria, mas sim encaminhadas por uma

instituição, sendo uma das principais, o Sistema Judiciário de Londrina. Para que seja

realizado esses atendimentos as famílias são encaminhadas ao projeto “A psicoterapia

psicanalítica de casal e família na Clínica Psicológica da UEL“ para iniciarem o processo

terapêutico. Sabe-se que a terapia familiar só é possível quando todos os participantes

da família estão envolvidos no processo terapêutico para que seja trabalhado a inter-

relação entre os membros envolvidos, ou seja, a família em sua totalidade, para que

assim ela consiga lidar com suas angústias e resistências, afim de mobilizar as mudanças

e transformações necessárias. Entretanto, quando a família vem encaminhada por uma

instituição e não porque acredita precisar de ajuda, nos deparamos com uma forte

resistência para com processo terapêutico, onde podemos identificar aspectos de recusa

ou enquistamento impostos aos laços intersubjetivos, que podem estar ligados a

gravidade do sintoma ou ao conflito encoberto. Na tentativa de elucidar os aspectos que

dificultam o avanço da psicoterapia familiar neste contexto, o presente trabalho buscou

apresentar reflexões acerca de dois casos encaminhados pelo sistema judiciário de

Londrina atendidos na clínica-escola da UEL. Os casos apresentados mostram alguns dos

obstáculos encontrados que dificultam o avanço da terapia, como: tentativas de

flexibilização dos atendimentos em relação periodicidade por parte da família; excessivo

número de faltas; atrasos; rejeição a comunicação; perguntas sobre credenciais ou

qualidades do terapeuta; e o abandono à terapia.

Palavras-chave: Terapia Familiar; Resistência, Sistema Judiciário; Psicanálise.

128 Graduanda do 5º ano de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 129 Graduanda do 5º ano de Psicologia na Universidade Estadual de Londrina - [email protected] 130 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina.

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Relato de Caso: Avaliação psicológica de uma criança encaminhada

por suspeita de deficiência intelectual: divergências entre a avaliação

formal e informal

Hellen Lima Buriolla 131; Jaqueline Alvernaz de Miranda 132; Eduardo Yudi

Huss133; Patrícia Silva Lúcio 134; Katya Luciane de Oliveira 135

Resumo: A avaliação psicológica fornece diversas informações que requerem do

psicólogo saber interpretar, selecionar, transmitir e devolver ao avaliando os resultados

obtidos. Exige um olhar atento e, principalmente, considerações éticas, pois os

resultados podem impactar na vida pessoal e social do indivíduo avaliado, podendo

ainda ser motivo de exclusão em diversos ambientes. O objetivo deste trabalho é relatar

o caso de uma criança (G., 7 anos) encaminhada ao projeto “Avaliação Psicodiagnóstica

em Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da UEL”

pela Neuropediatria do Hospital das Clínicas da UEL para investigação cognitiva e

aspectos comportamentais. G. frequentava a APAE há cerca de um ano após ser

encaminhado pela antiga escola regular. G. foi submetido aos seguintes instrumentos

padronizados: WISC-IV (Escala de Inteligência Wechsler para crianças), Matrizes

Progressivas de Raven e Escala de Maturidade Mental Colúmbia. G. apresentou

desempenho cognitivo geral dentro do esperado comparando-o com crianças de mesma

faixa etária. Analisando as subáreas especificas da inteligência do WISC-IV, constatamos

que G. apresenta boa capacidade de organização perceptual e velocidade para processar

informações. A principal dificuldade relaciona-se a memória de curto prazo para

informações verbalmente mediadas (mas sem caracterização de deficiência). O

desempenho cognitivo de G. em instrumentos não-verbais mostra-se superior a crianças

de mesma faixa etária. Observamos que G. apresenta habilidades mais desenvolvidas

nos aspectos não-verbais da cognição, contudo, as tarefas verbais são as mais exigidas

no contexto escolar e provavelmente isso força a ilusão de que ele apresenta

131 Discente do curso de psicologia da Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 132 Discente do curso de psicologia da Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 133 Psicólogo pela Universidade Estadual de Londrina - [email protected] 134 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – [email protected] 135 Professora Doutora do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina – [email protected]

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dificuldades mais gerais. Portanto, foi aconselhado que G. voltasse para a escola regular,

porém com estimulação diferenciada nas áreas onde possui maior dificuldade. O caso é

relevante para demonstrar a necessidade da observação atenta a questões subjetivas do

avaliando e o conhecimento adequado sobre as teorias psicológicas, critérios

diagnósticos e os instrumentos utilizados no processo de avaliação psicológica.

Palavras-chave: Criança, Avaliação Psicológica, Aspectos Cognitivos, Inclusão.

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A ansiedade a partir dos conceitos de Freud

Hévila de Fátima P. Pereira136; Jéssica Guirardelli137; Mauro Fernando

Duarte138

Resumo: Como objetivo, este trabalho buscou identificar os conceitos de ansiedade a

partir do viés psicanalítico, e compreender como se estabelece o processo de

desenvolvimento da ansiedade na psique do sujeito e como se manifesta no corpo,

proposto por Sigmund Freud ao longo de sua teoria. Em seus primeiros estudos, Freud

considera a ansiedade uma expressão sintomática de um conflito interno em que foi

reprimido da consciência quando ocorre alguma situação que sinta medo de algo ou

alguém. Posteriormente, Freud afirma que os conteúdos recalcados no inconsciente

possuem bastante energia libidinal em busca do prazer, e provoca a ansiedade pela

ameaça ao ego, e esta ansiedade precisa ser elaborada. Freud compõe sua teoria a partir

de dois momentos, o primeiro como ansiedade “realística”, o segundo como ansiedade

“neurótica”. A ansiedade “realística” seria a expectativa sexual não realizada ou não

completamente realizada. Uma derivação da libido que não encontrou a satisfação

buscada pela falta do objeto, ou por ausência do prazer esperado. Entretanto, a

ansiedade “neurótica”, era vista como resultado do conflito psíquico ente impulsos

sexuais ou agressivos inconscientes com origem no id, sendo essas ameaças um sinal da

presença de perigo no inconsciente. Neste caso, a ansiedade foi definida por Freud tanto

como uma manifestação sintomática de conflito neurótico quanto um sinal adaptativo

para desviar o conflito neurótico da consciência. O último conceito sobre ansiedade em

sua teoria é entendida como reprodução de um estado afetivo de conformidade com

uma imagem mnêmica já existente resultante de experiências traumáticas primevas.

Quando ocorre uma situação semelhante, são revividos como símbolos mnêmicos. Este

trabalho permitiu, enquanto futuras psicólogas, abranger as várias facetas da ansiedade

136 Graduanda em Psicologia pela UEL. Participou como bolsista do projeto “A psicoterapia psicanalítica de casal e família na clínica psicologia da UEL”. Contato: [email protected] 137 Graduanda em Psicologia pela UEL. Participou como bolsista do projeto de Iniciação Cientifica “Estudo sobre o processo de individuação segundo a percepção de gêmeos adultos”. Contato: [email protected] 138 Psicólogo e psicoterapeuta, doutorando em Psicologia pela USP, Mestre em Psicanalise pela UEM, especialista em Psicologia Clínica e Psicossomática pela UNIFIL, e graduado pela UEL. Contato: [email protected]

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ao longo da teoria psicanalítica de Freud e suas possíveis ações e reações no psiquismo

humano.

Palavras chave: conceitos, ansiedade, psicanálise.

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Adolescência e Escolha Profissional de Adolescentes do Ensino Médio

na cidade de Londrina –PR.

Rosemarie Elizabeth Schmidt Almeida 139; Jádia Cristina Dos Santos140;

Giovanna Sandoval Fioresi 141; Geovanna Moreno Cianca 142; Jéssica Cardoso

Roque143; Rafaela Grumadas 144

Resumo: O projeto “Adolescência e a Questão da Escolha Profissional, Atendimentos em

Grupo e Individual na Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina”, atende

as demandas que vão surgindo, relacionadas a Clínica Psicológica, e de Escolas que se

interessam em participar das atividades e dos processos que são ofertados pelo projeto.

O método é de Consulta Terapêutica Coletiva e seus desdobramentos podem ser na

modalidade de consulta terapêutica individual ou coletiva. Intervêm em eventos

institucionais, e quando há um setting específico, relacionados a uma imersão, ao

desenvolvimento de uma reflexão, às palestras, os quais são denominados como

Wokshpos e Oficinas terapêuticas. Tivemos como exemplos em 2016, a participação na

semana pedagógica do Colégio de Aplicação, do ensino médio, Pitch das Profissões na

Feira das Profissões, evento anual, tradicional da Universidade, Imersão de 4 horas com

os estudantes do Cursinho Vestibular da UEL. Além de outras atividades na modalidade

clínica, com a formação e o atendimento de 3 grupos de adolescentes na clínica

Psicológica, adolescentes oriundos de escolas da cidade de Londrina-PR. Todas as

modalidades de intervenção, tiveram em consideração o momento do amadurecimento

do adolescente, reunindo-se atividades com foco em uma reflexão sobre seus “sonhos”,

especialmente os profissionais, sobre si seu estado de isolamento e de uma suposta

integração. Sob o ponto de vista da teoria do amadurecimento, essa fase da adolescência

e da escolha profissional envolve manejos psicoprofiláticos, que acontecem por meio de

139 Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida - Prof. Dr. Associado PPSIC-CCB. Coordenadora dos Projetos de Pesquisa e de Extensão do Departamento de Psicologia e Psicanalise/PPSIC – CCB/UEL sobre Adolescência e a Escolha Vocacional e Profissional. Coordenadora do Curso de pós-graduação: Especialização em Clínica Psicanalítica-Departamento de Psicologia e Psicanálise. Atua na Clínica Psicanalítica. Londrina-PR. E-mail: [email protected]. 140 Jádia Cristina dos Santos – Graduanda do curso de Psicologia da UEL. Bolsista PIBEX/PROEX/UEL. E-mail: [email protected] 141 Giovanna Sandoval Fioresi – Graduanda do Curso de Psicologia/UEL. 142 Geovanna Moreno Cianca – Graduada do Curso de Psicologia/UEL. 143 Jéssica Cardoso Roque – Graduanda do Curso de Psicologia/UEL. 144 Yuriko Siu Takeda - Graduanda do Curso de Psicologia/UEL.

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um espaço temporal transicional, criado pelo setting perpassado por elementos de

holding.

Palavras-chave: Orientação Vocacional; Adolescentes; Consulta terapêutica.

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Uma articulação entre a psicanálise e a arte na saúde mental

Josemar Santos de Matos145; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida146

Resumo: Este trabalho estudou a articulação entre arte e psicanálise, na atuação

terapêutica na saúde mental. Na compreensão da terapêutica de pessoas acometidas por

um intenso sofrimento psíquico. Neste estudo foi realizada a pesquisa bibliográfica, da

articulação entre a psicanálise e arte e, também, sobre a psicose. A hipótese levantada

para o estudo é de quando o sujeito-artista, ao produzir a obra de arte, manifesta seu

inconsciente, e isso, pode possibilitar, através do seu discurso sobre a sua obra, uma

diminuição do sofrimento psíquico. Teve como foco a obra de arte, produzida pela

pessoa estruturada na psicose, devido à falta de valorização e inclusão social. Portanto,

pode-se notar que esta atuação terapêutica tem mais benefícios ao sujeito-artista.

Autuori (2005) ressalta que a arte se faz presente em vários estudos de Freud, em

especial no texto “Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen”. Neste texto, Freud tece

comparações entre a ciência psicanalítica e arte, trabalhando sobre as possibilidades de

efeitos e entrosamento entre ambas no que diz respeito à esfera mental, em especial no

sonho e no delírio. A autora escreve que Freud considera a arte como sua aliada, pois

esta expõe de forma artística o mesmo que ele descobrira em sua pesquisa clínica e

expusera em seus escritos psicanalíticos. Dessa forma, na produção artística, a história

de vida, é extremamente projetada na obra, manifestando seus conteúdos recalcados, ou

seja, o inconsciente. O sujeito pode ressignificar suas experiências reprimidas do

passado, através do discurso sobre a obra feita. Através desse trabalho, acontece

elaboração por meio da arte. Conclui-se, assim, que a arte é uma via sublimatória por

meio da qual o sujeito constrói uma nova realidade que lhe forneça uma satisfação não

encontrada na realidade objetiva.

Palavras-chave: Psicanálise. Arte. Psicose. Saúde Mental.

145 Psicólogo, Pós-graduando na Especialização de Clínica Psicanalítica 2017 e Pós-graduado em Saúde Mental pela UNINGÁ – Centro Universitário Ingá, Telefone: 044 99943-2762, e-mail: [email protected] 146 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Telefone: 043 99941-5364, e-mail: [email protected]

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 147

A transmissão transgeracional na trilogia tebana

Josemar Santos de Matos147; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 148

Resumo: Este trabalho tem a finalidade de propor uma reflexão teórica da intersecção

da Transmissão Psíquica Transgeracional e a mitologia grega, utilizando como recurso

material o livro “A Trilogia Tebana”. Através do estudo dos mitos do livro foi feito o

exercício interpretativo de alguns conceitos teóricos, envolvendo primeiramente a

definição de mito, transmissão psíquica e familiar. Para o entendimento teórico, utilizou-

se o corpo teórico da psicanálise. Em analise, os autores Trachtenberg, Kopittke, Pereira,

Chem, & Mello (2005) ressaltam que os conteúdos psíquicos dos filhos estarão

registrados pelo funcionamento psíquico de seus avós, ou até, de outros ascendentes,

que eles podem não ter conhecido, mas cuja vida psíquica marcou de forma traumática

seus próprios pais. Com isso, este tipo de transmissão é considerado alienante e não-

estruturante, assim, evitando a singularização do herdado, pois ela se impõe em estado

concreto aos descendentes. A intersecção entre psicanálise e mitologia grega percebida

nos estudos feitos por Freud que contribuiu na elaboração da teoria psicanalítica, é um

campo amplo para novos estudos. Logo, permitimo-nos a fazer uma intersecção da

transmissão psíquica transgeracional e com mitologia grega, pautando-se, no destino

traçado ao herói, por determinação dos deuses. Concomitantemente, esse estudo

pretende fazer articulação teórica do processo de subjetivação do humano. Então,

partir-se-ia da transmissão psíquica feita pelos pais aos seus filhos, a qual, pela via das

narrativas familiares, pode ocorrer à estruturação do aparelho psíquico. Assim como,

nos mitos gregos, o destino traçado por um deus a um herói e a sua trajetória trágica na

narrativa mítica. Conclui-se, que a interdição ao incesto estaria ligado com as primeiras

transmissões míticas ao inconsciente, que seria para manter a ordem social e interna

familiar.

Palavra Chave: Transmissão Transgeracional, Mitologia Grega, Psicanálise.

147 Psicólogo, Pós-graduando na Especialização de Clínica Psicanalítica 2017 e Pós-graduado em Saúde Mental pela UNINGÁ – Centro Universitário Ingá, Telefone: 044 99943-2762, e-mail: [email protected] 148 Prof. Doutor do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina. Telefone: 043 99941-5364, e-mail: [email protected]

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Diálogos em Psicanálise - Anais da III Jornada do LEPPSI e II Seminário do curso de especialização em Clínica Psicanalítica da UEL

ISBN 978-85-7846-424-0 148

Os casos de histeria no Plantão Psicológico da UEL: a importância das

supervisões para o desenvolvimento de raciocínio diagnóstico e

manejo clínico do psicólogo

Maria Lúcia Mantovanelli Ortolan149; Ana Letícia Alves Morais 150;

Gabrieli Zaros Granusso 151; Paulo Victor Bezerra152

Maíra Bonafé Sei153

Resumo: O plantão psicológico é uma modalidade de atendimento de encontro único

que acolhe a experiência do sujeito em sua emergência a fim de clarificar a demanda

deste e fazer possíveis encaminhamentos, podendo ser um dispositivo para a rede de

saúde pública. Implantado na clínica psicológica da UEL em 2015 o serviço é um projeto

de extensão que atende a comunidade externa e fomenta formação do estudante de

psicologia, aprimorando seu raciocínio e manejo clínico por meio dos atendimentos de

demanda espontânea e das supervisões clínicas. Este artigo objetiva-se discutir as

possibilidades da psicanálise como referencial teórico e metodológico nos atendimentos

e supervisões do Plantão Psicológico, problematizando os diagnósticos e

encaminhamentos da histeria. Trata-se de estudo investigativo-descritivo desenvolvido

por meio de relato de experiência acerca de dois atendimentos realizados no projeto do

plantão psicológico, além de uma revisão não-sistemática da literatura sobre a estrutura

clínica da histeria e sobre o lugar das supervisões clínicas para a formação do analista.

Freud, em seus estudos sobre a histeria clássica contribuiu para que a visão acerca

destes pacientes pudesse ter uma nova perspectiva, no entanto, entende-se que ainda

hoje os usuários histéricos, nos serviços de saúde de atenção primária, não recebem um

diagnóstico adequado e são comumente nomeados de pacientes poliqueixosos: hiperuso

149 Psicóloga (UEL), Residente no programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (RMSF-UEL) - [email protected] 150 Graduanda do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 151 Graduanda do 5º ano de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 152 Psicólogo, Mestre e Doutor em Psicologia e Sociedade (UNESP), Professor colaborador do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected] 153 Psicóloga, Mestre e Doutora e pós doutoranda em Psicologia Clínica (IP-USP), Professora adjunta do Departamento de Psicologia e Psicanálise, Universidade Estadual de Londrina (UEL) - [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 149

do serviço, hipocondríacos e “fazedores de cena”. O plantão psicológico pode ser uma via

de acesso para pensar nas manifestações atuais de indivíduos histéricos, havendo uma

importância em projetos como este que fomentem um raciocínio diagnóstico para que

os usuários de saúde mental sejam corretamente identificados e interpretados,

acarretando em uma saúde pública mais resoluta e efetiva.

Palavras-chaves: plantão psicológico; serviço-escola de psicologia; histeria; supervisão

clínica.

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ISBN 978-85-7846-424-0 150

Ansiedade em psicanálise: um recorte clínico.

Mayra Cristina Teixeira Batista154; Carolina Caires Motta155

Resumo: Ao pensarmos em ansiedade, devemos olhar para a contemporaneidade, pois

hoje muitos indivíduos vivem de modo, onde exista alguma forma de pressão, seja em

seus empregos, seus relacionamentos, seus estudos. Assim o papel do analista, é dar

significado a fala do paciente, deixando ameno os conteúdos inconscientes, dos quais ele

traz em terapia. No caso a ansiedade pode acontecer a princípio por algo indefinido ou

por falta de um objeto, outro ponto importante é o desamparo, que quando físico ele é

real, e quando psíquico ele é instintual, isso ocorre por uma situação traumática.

Entretanto o caso clínico abordado, com V., de 28 do sexo masculino, não foi diferente,

pois a queixa inicial, para o seu atendimento, foram crises de ansiedade e um termino de

um relacionamento que tinha acontecido recentemente. Assim trabalho foi realizado no

NPP – Núcleo de Práticas Psicológicas – no município de Londrina, por uma estagiária do

5º ano do curso de psicologia da PUCPR, a referente à disciplina de Estágio

Profissionalizante em Psicologia no ano de 2016. Podemos entender então que a

ansiedade no caso de V. é a reação de uma perda de objeto que ocorreu recentemente,

ou seja a perda de alguém significante. Contudo a Ansiedade passa a interferir na

qualidade de vida dos indivíduos, e na forma como se lida com as questões emocionais e

psíquicas, e isso pode acarretar, prejuízos no desempenho na vida cotidiana, trazendo

sofrimento psíquico, e impossibilitando que a pessoa continue seus afazeres do

cotidiano. Os atendimentos, tem feito com que o paciente, consiga ter a autorreflexão

sobre o quanto é necessário investir energia psíquica em outras coisas, para que o

sofrimento aos poucos, vá diminuindo, e ele consiga pensar mais em si, para que

diminua a intensidade do sintoma, até trabalharmos, outras questões inconscientes.

154 Psicóloga (CRP 08/23948) graduada na PUCPR- Campus Londrina no ano de 2016, com formação sempre voltada a psicanálise, hoje aluna da pós-graduação Clínica Psicanalítica da UEL. [email protected] Celular: (43) 99166 7855. 155 Psicóloga (CRP 08/ 15454)

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ISBN 978-85-7846-424-0 151

Atenção à saúde da mulher: relato de experiência

Nathália Tavares Bellato Spagiari 156; Sílvia Nogueira Cordeiro157; Maria

Elizabeth Barreto Tavares dos Reis 158

Resumo: Para a atender os princípios que embasam o conceito de saúde e assistência à

saúde do SUS – universalidade, integralidade, equidade, intersetorialidade, humanização

do atendimento e participação social –, demanda constante atualização das práticas

realizadas pelos diversos profissionais que compõem o quadro da atenção à saúde.

Devido a esta revisão da prática, foram criados os programas de residências

multiprofissionais para a capacitação do profissional ocorra de acordo com a filosofia do

SUS. A residência multiprofissional em saúde um campo novo de atuação do psicólogo,

portanto, cheio de desafios. Inclusive, as questões referentes à saúde da mulher vêm

sendo tratada com mais cuidados pelo SUS, devido à alta procura deste púbico pelos

serviços, além da maior ocorrência de transtornos psíquicos e físicos associados as fases

reprodutivas. Este trabalho tem como objetivo descrever a experiência do psicólogo em

um programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher. O trabalho se baseou

nas atividades das duas primeiras turmas do programa, sendo cada uma turma

constituída por 16 residentes – ao todo – das áreas de educação física, enfermagem,

farmácia, nutrição e psicologia. Durante o primeiro ano, os residentes atuavam na

Atenção Básica e, no segundo ano, na Atenção Secundária e Terciária. O trabalho

desenvolvido pela psicologia nos três setores da atenção à saúde, promoveu diversas

reflexões. Desta maneira, salientamos os desafios e contribuições da psicologia no

campo da residência multiprofissional, desde sua relação com demais residentes e

tutores, em conjunto com as experiências em campo de prática, que possibilitaram a

legitimação da importância do núcleo profissional específico, contribuindo para o

desenvolvimento profissional de cada residente.

Palavras-chaves: residência; multiprofissional; psicologia; saúde da mulher.

156 Psicóloga pós-graduanda na Especialização de Clínica Psicanalítica e pós-graduada pela Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher pela UEL, e-mail: [email protected] 157 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected] 158 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 152

Percepções do psicólogo-observador sobre a relação mãe-bebê e

equipe de saúde na visita puerperal: o método Bick

Nathália Tavares Bellato Spagiari 159; Maria Elizabeth Barreto Tavares

dos Reis160; Sílvia Nogueira Cordeiro161

Resumo: O puerpério é uma fase tomada por muitas emoções. Após o nascimento da

criança, o Sistema Único de Saúde (SUS) promove a realização de uma visita à puérpera,

através de suas equipes de saúde, visando o cuidado físico e emocional da díade mãe-

bebê. Por intermédio da observação de 20 duplas mãe-bebê de duas Unidades Básicas

de Saúde (UBS) e o método Bick de observação, buscou-se levantar as percepções do

psicólogo-observador sobre a relação mãe-bebê e equipe de saúde durante as visitas

puerperais realizadas pela equipe de saúde da UBS. A observação foi fundamentada no

método de observação psicanalítica modelo Esther Bick que permite que o pesquisador

observador reflita sobre suas emoções vivenciadas no local de pesquisa. Conforme o

método Bick, a observação é constituída por fenômenos reais e sentimentos envolvidos

que emergiram na situação, e possui como receptáculo dessas emoções, o observador.

Os sentimentos e emoções despertados pela dupla mãe-bebê no observador viabilizam

processos identificatórios, isto é, possibilitaram o experienciar da realidade psicológica

intrapsíquica pela díade e seu entorno pelo próprio observador. Por intermédio das

observações, as psicólogas-pesquisadoras afundaram nas vivências junto com a díade

em cada visita. Através da análise clínico-qualitativa do material coletado nas

observações, notou-se que algumas puérperas foram percebidas pelas observadoras

como inseguras e confusas; como também, que algumas puérperas demonstravam

sentimentos divergentes com intensidade – cansaço e atenção, carinho e desespero.

Através do método Bick, percebeu-se que a observadora se angustiou sendo afetada por

diversos sentimentos negativos na maioria das visitas puerperais, por conta da

condução do protocolo pela equipe de saúde, mas, principalmente, pela identificação

com os sentimentos vividos pela díade mãe-bebê. Desta maneira, demonstra-se que a

159 Psicóloga pós-graduanda na Especialização de Clínica Psicanalítica e pós-graduada pela Residência Multiprofissional em Saúde da Mulher pela UEL, e-mail: [email protected]

160 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected]

161 Docente do Departamento de Psicologia e Psicanálise da Universidade Estadual de Londrina, e-mail: [email protected]

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ISBN 978-85-7846-424-0 153

fase do puerpério tem recebido pouca atenção pelo sistema de saúde, acarretando

dificuldades na identificação de complicações ocorrentes nesta fase.

Palavras-chave: relação mãe-bebê; equipe de saúde; método Bick de observação; visita

puerperal; pesquisador-observador.

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ISBN 978-85-7846-424-0 154

Impactos cognitivos da depressão infantil sob a ótica da avaliação

psicológica

Patricia Emi de Souza162; Amanda Lays Monteiro Inácio 163; Larissa

Botelho Gaça164

Resumo: A depressão infantil tem se apresentado como um transtorno bastante comum

no mundo contemporâneo, diferentemente do que ocorria anos atrás, quando se

pensava que crianças fossem incapazes de desenvolver tal transtorno ou ainda que fosse

muito raro. O significativo aumento da manifestação da depressão infantil pode ser

consequência das exigências crescentes feitas às crianças nos dias atuais somado a uma

queda da qualidade do tempo e dos cuidados ofertados pelos pais ou responsáveis,

decorrentes das transformações da família e sociedade de forma geral. Além dos

sintomas emocionais, o desempenho cognitivo da criança pode ser prejudicado nesse

transtorno, sendo observados déficits de atenção, concentração e memória. Diante do

exposto, o objetivo do estudo é apresentar o relato de caso de uma criança avaliada

mediante a dificuldades de aprendizagem em contexto escolar. No que se refere aos

procedimentos da avaliação psicológica, foram realizadas entrevistas com os familiares

e direção escolar e aplicados instrumentos psicológicos na criança a fim de melhor

compreender o quadro clínico apresentado. Observou-se através dos resultados um

quadro diagnóstico de depressão moderada. Diante do exposto e considerado a

importância do papel dos pais e dos professores na melhora dos quadros de depressão

infantil, o encaminhamento do avaliando considerou a realização de orientação familiar

e escolar acerca do tema e de suas devidas implicações, bem como a necessidade de uma

avaliação psiquiátrica para compreender o quadro sob outra perspectiva. Além desses

encaminhamentos, foi solicitada a realização de futuras avaliações a fim de acompanhar

o quadro clínico e o desenvolvimento da criança.

Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Cognição; Depressão Infantil.

162 Psicóloga Colaboradora Externa da Universidade Estadual de Londrina –UEL, Especialista em Psicologia do Trânsito e Neuropsicologia. E-mail: [email protected] 163 Psicóloga, Pós-graduanda em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 164 Psicóloga, Especialista em Neuropsicologia e Doutouranda em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP.

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ISBN 978-85-7846-424-0 155

Aspectos cognitivos e atencionais em uma avaliação psicológica no

contexto de trânsito

Patrícia Emi de Souza165; Eduardo Yudi Huss166; Amanda Lays Monteiro

Inácio167; Katya Luciane de Oliveira 168

Resumo: A avaliação psicológica como processo de investigação pode ocorrer sob

diversas demandas e em diferentes populações, tendo como intuito a investigação dos

processos psicológicos, afetivos e cognitivos dos indivíduos. Cada etapa deste processo

deve ser planejada e executada considerando a individualidade do sujeito, para que os

resultados tenham valores reais, contextualizando as facilidades e dificuldades que cada

um possa vir a apresentar. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho é relatar o

caso de uma mulher com 63 anos, encaminhada ao projeto “Avaliação Psicodiagnóstica

em Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da

Universidade Estadual de Londrina (UEL)” por uma clínica de trânsito em razão de suas

recorrentes reprovações nos testes de habilidades exigidos para conseguir sua 1ª

Carteira Nacional de Habilitação. A avaliação psicológica no contexto do trânsito tem

recebido destaque em pesquisas da área nos últimos anos diante das mudanças na

legislação vigente no Brasil. Têm como finalidade auxiliar na identificação de

adequações psicológicas e cognitivas mínimas para o correto e seguro modo de conduzir

um veículo automotor, a fim de garantir a segurança de todos os envolvidos. Os

resultados apontaram dificuldades importantes em habilidades atencionais frente às

situações em que se necessita manter a atenção a diversos estímulos ao mesmo tempo.

Além disso, na avaliação da capacidade de inteligência geral não verbal a avalianda

demonstrou desempenho abaixo do esperado para a sua idade. Diante do exposto, foi

orientado que seriam necessários treinos cognitivos caso se decidisse pela continuidade

do processo de habilitação, visto se tratar de uma tarefa complexa que demanda a

utilização dos aspectos cognitivos e atencionais do sujeito em sua realização.

Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Avaliação de Trânsito; Cognição.

165 Psicóloga Colaboradora Externa e Especialista em Psicologia do Trânsito. E-mail: [email protected] 166 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina 167 Psicóloga e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 168 Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL.

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A avaliação psicológica e a influência de questões emocionais em um

caso de dificuldade de aprendizagem

Patricia Emi de Souza169; Lana Raquel Piassa170; Amanda Lays Monteiro

Inácio171; Patrícia Silva Lúcio172; Katya Luciane de Oliveira 173

Resumo: A avaliação psicológica consiste em procedimentos de investigação clínica, que

tem por objetivo esclarecer questões sobre o funcionamento cognitivo, comportamental

e afetivo do indivíduo com vistas a responder determinada demanda. Como

instrumentos de investigação podem ser utilizados testes cognitivos, entrevistas, escalas

de avaliação de sintomas e personalidade e observações comportamentais. Cabe

ressaltar a importância de se compreender o indivíduo enquanto ser biopsicossocial,

entendendo que as dificuldades que o sujeito possa apresentar, estão relacionadas a

diversos fatores como a família, meio social, aspectos genéticos entre outros. O objetivo

do presente trabalho é apresentar o relato de caso de uma criança encaminhada pelo

serviço de Psicologia de Unidade Básica de Saúde (UBS) de Londrina para avaliação

mediante dificuldades de aprendizagem e de relacionamento interpessoal em contexto

escolar. Os atendimentos foram realizados pelo projeto de “Avaliação Psicodiagnóstica

em Diferentes Contextos e Acolhimento na Clínica Escola do Curso de Psicologia da

UEL”. Durante a avaliação psicológica da criança foram realizadas entrevistas com

familiares e direção escolar, aplicadas provas e outros instrumentos de avaliação

cognitiva e emocional no avaliando a fim de compreender melhor a queixa apresentada.

Os atendimentos foram realizados entre os meses de Janeiro à Março de 2017. Os

resultados obtidos apontaram desempenho intelectual dentro da média e

demonstraram que questões emocionais e motivacionais estariam influenciando para a

ocorrência de déficits cognitivos e comportamentais do avaliando em sala de aula.

Assim, considerando que os aspectos afetivos são facilitadores e exercem grande

influência sobre o desenvolvimento intelectual infantil, o encaminhamento da criança

169 Psicóloga Colaboradora Externa da Universidade Estadual de Londrina –UEL, Especialista em Psicologia do Trânsito e Neuropsicologia. E-mail: [email protected] 170 Discente de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 171 Psicóloga, Pós-graduanda em Clínica Psicanalítica e Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Londrina –UEL. 172 Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL. 173 Professora Doutora da Universidade Estadual de Londrina –UEL.

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considerou acompanhamento psicoterápico e atividades grupais para auxilia-lo em seu

desenvolvimento.

Palavras-chave: Avaliação Psicológica; Atendimento Clínico; Dificuldade de

aprendizagem.

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Relato de experiência de atendimento clínico à pessoa idosa

Vanessa Cristina Paviani174; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 175

Resumo: Em seu texto “A sexualidade na etiologia das neuroses” Freud (1996) traz a

impossibilidade da clínica psicanalítica com idosos, devido ao acúmulo de material

psíquico e pouco tempo hábil que resta para lidar com esse material. Porém, Mucida

(2015) nos lembra que não é o idoso que fala, mas seu sintoma, trazendo a percepção de

que o inconsciente é atemporal, diante disso, a autora mostra que o sintoma é antigo,

mas não velho, ele se reedita e volta atualizado, independente da idade. Assim, ela

acredita que a clínica com idoso deve considerar a velhice e a passagem do tempo, mas

também deve considerar que a velhice não traz novos sujeitos/sintomas. O caso

apresentado se trata de uma paciente do sexo feminino, solteira, 71 anos. Procurou

atendimento por se sentir sozinha, por não ter com quem conversar percebe estar

adoecendo. É portadora de problemas de saúde graves. Tem-se como objetivo relatar

experiência de atendimento clínico na abordagem psicanalítica à pessoa idosa. Os

atendimentos foram realizados na Clínica Escola de Psicologia de uma universidade

pública, as sessões se deram semanalmente de 22/09/2016 a 08/12/2016.Foram

trabalhadas questões referentes aos lutos, não somente pelo fim da vida, mas, as perdas

reais e imaginárias (MUCIDA, 2015). É ressaltada a importância do espaço de escuta

para a quebra das resistências e enfrentamento do medo em relação à morte, além de

elaborar angústias e negações dessa fase da vida (BACKES, 2016).

Palavras-Chave: Idoso, Psicanálise, Envelhecimento.

174 Psicóloga graduada pela UEM. Experiência na área de psicologia clínica. E-Mail: [email protected] 175 Doutor-PUCCAMP (2006). Professor Associado UEL-PR. (2012). PPSIC-CCB (1997). Coordenadora do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica. E-Mail: [email protected]

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Manejo da técnica em um caso de paciente com tentativas de suicídio

Vanessa Cristina Paviani176; Rosemarie Elizabeth Schimidt Almeida 177

Resumo: Segundo registros da OMS o suicídio está entre as principais causas de morte

entre pessoas de 15 a 44 anos. O Brasil está entre os 10 países que registram os maiores

números. As causas mais comuns são associadas a outros transtornos psicológicos como

a depressão e a bipolaridade (BOTEGA, 2014). O Paciente do sexo masculino, casado, 32

anos, procurou atendimento apresentando sintomas depressivos com agravante de

ideações suicidas, que se transformaram em tentativas concretas. Os sintomas tiveram

início quando o mesmo, na vida adulta recordou-se de situações traumática sofrida na

infância. Tem-se como objetivo explanar o manejo da técnica psicanalítica no

atendimento a pessoa com risco de suicídio. Os atendimentos foram realizados na

Clínica Escola de Psicologia de uma universidade pública. Foram realizados

atendimentos psicoterápicos semanalmente de 28/07/2016 a 15/12/2016 totalizando

20 sessões. Ressalta-se a importância de construir uma rede de cuidados, envolvendo

pessoas próximas e equipe multidisciplinar. O contrato e sua formulação deve ser

baseado na proposição em que consiste o tratamento. O manejo do tratamento foi

determinado através das vicissitudes do processo, os elementos de holding – o pegar no

colo winnicottiano (ETCHEGOYEN, 1987) e também a empatia e a disponibilidade em se

aproximar do sofrimento do paciente (FUKUMITSU, 2014). Por fim, o manejo dos

atendimentos com pacientes em risco de suicídio deve caminhar em direção a empatia e

disponibilidade do terapeuta para se aproximar do sofrimento do paciente. Neste

sentido, técnica não prima pela cura, mas, pelo cuidado, permitindo que o paciente

encontre perspectivas para manejar seus conflitos.

Palavras-Chave: Suicídio, Depressão, Psicoterapia, Manejo da técnica.

176 Psicóloga graduada pela UEM. Possui experiência na área de psicologia clínica. E-Mail: [email protected] 177 Doutor-PUCCAMP (2006). Professor Associado, UEL-PR. (2012). PPSIC-CCB (1997). Coordenadora do Curso de Especialização em Clínica Psicanalítica. E-Mail: [email protected]