Diagnóstico 2

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- Entrevista ao Excelentíssimo Bastonário da Ordem dos Médicos - Entrevista às tunas da FCS

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- Entrevista ao Excelentíssimo Bastonário da Ordem dos Médicos

- Entrevista às tunas da FCS

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Editorial

Pois é pessoal! Para os mais distraídos a Diagnóstico já vai na sua 2ª Edição e não parece ter um fim à vista!

Seguindo a celha da edição anterior (dedicada à celebração do 10º aniversário do MedUBI) a Diagnóstico nº 2 destaca a iniciativa “10 Anos 10 Conferências”, acontecimento ímpar na história da nossa faculdade e do associativismo entre estudantes de medicina em Portugal.

Mas nós continuamos a crescer e esta edição inaugura as rúbricas “Curtas”, “À Tua Beira” e “Crónicas da FCS”.

As vossas sugestões, opiniões ou até mesmo críticas serão bem-vindas bastando-vos para isso escreverem-nos para o e-mail [email protected]. Quem quiser começar a colaborar connosco pode contactar-nos também através deste endereço.

Quero ainda aproveitar para agradecer com toda a minha alma a colaboração imprescindível do Samuel Gomes, da Jeniffer Jesus, da Sofia Carvalho e da Fabíola Figueiredo, porque sem eles este projeto nunca teria saído da gaveta.

Que a Diagnóstico continue a exceder-se e a chegar a cada vez mais leitores!

O Diretor,David Teixeira

Editorial 3Latada 4Intercâmbios 7Um olhar sobre a doença de Alzheimer 8CURTAS! 9O Médico como Filantropo 10O Médico como Investigador 11O Médico como Músico 12O médico como Activista 13O Médico como... mais que Médico 14O Médico como Escritor 15

O Médico como Político 16O Médico como Mentor 17Política da Saúde 18À Tua Beira... 19Sai da Cova! 20Mais um ano “MedUBI” 21Entrevista C’a Tuna Aos Saltos 22Entrevista Tuna-Mus 24Entrevista ao Excelentíssimo Bastonário da Ordem dos Médicos 26Crónicas da FCS 32

Índice

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Latada

Antes ainda de eles chegarem, mesmo até de saberem o resultado da sua candidatura ao Ensino Superior, já nós começávamos a preparar a recepção aos recém estudantes de Medicina colocados na UBI, naquele cantinho no sopé da Serra e ao qual todos nos afeiçoámos desde o primeiro dia. Escrevo recém colocados, pois não posso deixar de reparar que o termo “caloiro” é, ano após ano, cada vez menos popular junto das instâncias superiores, ainda que defendido aguerridamente pela grande maioria dos estudantes. De notar também que quando acima escrevi “preparar a recepção” dos nossos novos alunos, me quis referir à Praxe Académica, ainda que num sentido mais lato, não querendo o risco de ferir susceptibilidades de quem a ela não é afecto ou de quem não nutre por ela o mesmo carinho e o mesmo respeito que nós.

Na condição de Chefe de Latada, coube-me a responsabilidade de encabeçar a organização da Latada, aquele que é o evento que mais animação e massa humana traz à nossa Covilhã. Latada representa o culminar de um mês (tempo estimado) de fortes emoções e o seu extravasar, por vezes com excessos que não deixam de ser característicos de jovens de 18 anos que acabaram de dar o primeiro grande passo na decisão da sua vida futura, deslumbrados pelo frenético ritmo da Vida Académica e do Ensino Superior que, quer queiram, quer não, sempre virão intrinsecamente associados. Familiares, amigos e muitos desconhecidos que apenas pretendem encher a alma de positividades, acorrem à Covilhã para ver a “Festa dos Estudantes”.

Ao meu lado, nunca atrás, esteve uma equipa incansável de colegas estudantes, que sempre lutou, dia após dia, noite após noite, para que este mês ficasse gravado nas memórias dos

nossos benjamins. Muito trabalho, muitas horas de dedicação, mas sempre com a motivação de sabermos estar a contribuir para a formação de jovens estudantes, ao mesmo tempo que lhes transmitíamos e incutíamos o amor pelo nosso curso. Hoje eles são pequenos guerreiros, que sem nunca baixar os braços nem a voz, sempre defenderão a mais nobre das ciências!

Com as condições que nos foram impostas, o trabalho foi decorrendo dentro da normalidade. Os até então perfeitos desconhecidos, cedo se tornaram um grupo forte e corajoso, um grupo unido! Coragem e União, com que outras duas palavras poderia eu melhor descrever os últimos dias de Praxe? Perdoem-me religiosos e ateus, mas não posso deixar de associar a sexta-feira em que tentaram crucificar o nosso esforço a uma outra Sexta-Feira, essa de dimensões Bíblicas. Mas se três dias ganham contornos de eternidade, que dizer então de um curso que renasce em 40 minutos? Essa é a força de um Curso, essa é a Força de Medicina!

Chega por fim o dia da Latada, abençoada pelas águas de S. Pedro. Uma noite passada em claro, muitos pormenores ultimados durante a manhã, um corrupio de veste e despe fatos, até que ao bom estilo português, saímos finalmente rumo ao cortejo dos nossos caloiros. Dos nossos caloiros sim, porque tudo isto é organizado para eles, num gesto de altruísmo da nossa parte (vá, prometo não lançar mais críticas àqueles que não só não apoiam, como tentam destruir e destituir a Praxe Académica).

O cortejo, fazendo lembrar o recorte da Serra, foi marcado por momentos maus, mas por outros de uma grandeza e significância tão grandes, que duvido que alguém esqueça nos anos vindouros. Quando a roda do nosso portentoso carro sucumbiu ao seu peso, foi indescritível ver todo o curso, num esforço hercúleo, a juntar forças para levar o carro até ao seu destino final. Foi como olhar um exímio

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retrato da crise que a nossa Saúde atravessa, em que nós, médicos e estudantes de medicina, nos esfolamos por levar o SNS a bom porto, remando contra marés nestes tempos adversos.

A escalada até ao topo do Monte Sinai, vulgo, Pelourinho, onde iríamos dar a conhecer à nossa comunidade o manifesto, conhecido na gíria como “Discurso da Latada”, foi de uma exigência imensa, se nos lembrarmos de todas as vicissitudes que assolaram o nosso percurso durante esse dia.

No final, penso que as expectativas não só foram cumpridas, como foram superadas! O objectivo desta experiência não é vencer uma batalha entre cursos, mas sim conseguir unir

todos os seus elementos e, principalmente, integrar os recém chegados, nesta grande Família que juntos construímos e tanto acarinhamos!

Finalizo com um enorme agradecimento a todos os intervenientes, à minha Comissão de Latada que foi incansável; aos meus caloiros, um grupo de jovens irreverentes, dinâmicos, dedicados, um grupo de amigos que marcou a minha caminhada nesta Academia. Tenho uma gratidão especial para com todo o curso, que se ergueu e fez notar o nosso verdadeiro valor nos momentos capitais!

Diogo Rodrigues, Chefe de latada 2012

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Intercâmbios

Joana brioso, 5º Ano MIM:Em Boston tive a mais exigente, mas

também mais importante experiência da minha vida. Fiz investigação no hospital oncológico de Harvard, tive aulas nas típicas faculdades de tijolo vermelho, e descobri um mundo académico novo que nenhum filme conseguiria descrever.

Isabel Tadeu, Departamento de Anestesia e Cuidados Intensivos, Budapeste, Hungria:

“As luzes da cidade sobre o Danúbio, as suas famosas pontes, o Parlamento, o Bastião dos Pescadores, a ilha Margarida, entre tantos outros lugares maravilhosos que Budapeste nos oferece, não teriam sido os mesmos sem os amigos que fiz e todos os momentos que vivemos juntos!”

Inês Ferreira, Génova, Ospedale Giannina Gaslini, Agosto 2012:

“Foi sem dúvida uma experiência incrível, não só pela oportunidade de estagiar num dos melhores hospitais pediátricos de Itália, ma também pelas pessoas, momentos e aventuras inesquecíveis!”

Décia Gonçalves, Budapeste, Cuidados Intensivos e Anestesiologia:

Budapeste é uma cidade inspiradora. Todas as memórias despertam agora uma saudade imensa de um mês repleto de vivências únicas...

Gonçalo Mesquita, Serviço de Neurocirurgia - Hospital Civil de Guadalajara, México.

Durante um mês vivi aquela que foi talvez a experiência mais transformante de sempre para mim. Aprendi medicina ao lado de pessoas extremamente dedicadas ao mesmo tempo que tive a oportunidade de conhecer um país

de culturas e tradições tão diversas onde valores como, a família, humildade e trabalho são transversais a toda a sociedade. Fica a simples frase:

“Piensa y Trabaja!”

Miguel Vieira da Silva, 5º ano MIM:“A experiência na Catalunha revelou-se

muito gratificante a vários níveis, desde a parte didática e pedagógica até à parte cultural e de diversão. Trata-se de uma vivência espectacular, a qual recomendo a todos os estudantes de Medicina.”

Ana Rita Pardal Santos, Lublin Hospital: Samodzielny Publiczny Szpital Kliniczny:

“A sensação que eu trago dos meus intercâmbios é sempre a mesma: para onde será o próximo?”

David Teixeira, Serviço Cirurgia Geral, Hospital Policlinico de Bari, Bari:

“Ir de Intercâmbio permitiu-me, além de conhecer pessoas novas com quem fiz amizade para a vida, explorar novos lugares e descobrir capacidades em mim que eu nunca soube ou imaginei que existiam. Mal posso esperar pelo próximo!”

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Um olhar sobre a doença de Alzheimer

No passado dia 27 de Novembro realizou-se uma Tertúlia sobre Alzheimer, na Faculdade de Ciências da Saúde, que contou com a participação da Doutora Assunção Vaz Pato e duas familiares de um doente de Alzheimer.

Inicialmente esclareceram-se alguns pontos relativamente à doença, aos sintomas e à sua neuropatologia.

A doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas. Consequentemente, isto leva a alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização de actividades diárias. Numa primeira fase da doença, os sintomas iniciais são muitas vezes confundidos com o envelhecimento natural ou com o stresse. O sintoma primário mais notável é a perda de memória a curto prazo e a incapacidade de aprender factos novos. Com o passar dos anos, a doença evolui, sendo que, numa segunda fase, os sintomas passam pela dificuldade em reconhecer e identificar objectos (agnosia) e em executar movimentos (apraxia). Posteriormente, numa fase mais avançada, a degeneração progressiva dificulta a independência, pois não há um controlo de funções corporais como a marcha, a fala, ou a continência urinária.

Seguidamente, passou-se para a abordagem das bases anatomopatológicas da doença, nomeadamente a atrofia cerebral por perda celular, a existência de emaranhados neurofibrilares (hoje associados a mutações e consequente hiperfosforilação da proteína tau, no interior dos microtúbulos do citoesqueleto dos neurónios), a perda de conexões sinápticas e a existência de placas senis (hoje identificadas

como agregados beta-amilóide). Em paralelo com a descrição da doença,

o testemunho das familiares elucidaram as dificuldades inerentes ao cuidado de um doente de Alzheimer. A evolução das perdas de memória dia-após-dia, a agressividade perante familiares ou amigos, os dias em que o paciente parece mais lúcido (mas não recuperado), a dependência em relação aos cuidados de higiene, alimentação e marcha, foram as principais dificuldades apontadas. Juntando estes factos à pouca ajuda estatal, as familiares salientaram a necessidade da criação de grupos/instituições para auxiliarem as famílias, apoiando na prestação de cuidados, ou ajudando a melhorar a qualidade de vida dos doentes.

Num clima onde a neurologia se fez tertúlia e o Alzheimer foi assunto de destaque, clarificaram-se algumas dúvidas e conheceram-se novos aspectos desta realidade que afeta mais de 90 000 pessoas em Portugal. Destacaram-se fatores de risco como a idade, os casos esporádicos familiares, a síndrome de Down, o Alumínio, HTA e Hipercolesterolémia, e alertou-se para a importância de uma alimentação equilibrada, associada a exercício físico regular e execução de actividades intelectuais, para retardar o aparecimento da doença. Por fim, mencionaram-se algumas hipóteses que ainda estão a ser estudadas, como os benefícios da Vitamina B, do café, ou dos estrogénios, como métodos também preventivos.

Jeniffer Jesus – 3º ano

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Congresso MedUBINos dias 29 e 30 de Novembro decorreu no grande

auditório da FCS o 4º Congresso MedUBI dedicado ao tema “Vias Verdes”.

Tendo atingido um número recorde de espectadores (mais de 400), o Congresso deste ano inovou com um dia de Workshops lecionados em parceria com os LACC no dia anterior ao começo oficial do congresso.

Novo barNo passado dia 14 de Janeiro

foi inaugurado o “Buffet” da FCS, pertencente ao SASUBI. Este funciona das 12h às 14h e como o próprio nome indica contempla – exclusivamente – o serviço Buffet. O preço é único e tem o valor de 7€.

Festa de Hallowen com Dj AlvimEste ano o Halloween contou com uma iniciativa inédita

no Goldra, em parceria, claro está, com o MedUBI. Uma tenda anexa ao bar, com decoração fazendo jus ao tema, acolheu o mítico Dj Fernando Alvim, numa noite de animação que de certeza ninguém que participou se esquecerá.

1º LipDub da FCSDurante a 3ª semana de

Novembro filmou-se o 1º LipDub da FCS, uma multi-parceria do NEOUBI, UBIPharma, BioMedUBI e MedUBI. O tema escolhido foi “Feeling Alive” dos Gomo, e durante dois dias os corredores da FCS preencheram-se duma animação e parafernálias fora do comum.

AQTQEm 2012 formaram 41 novos voluntários! Nas Intervenções

Académicas tiveram 59 voluntários a intervir ativamente! Graças ao empenho de todos, realizaram 392 intervenções que permitiram que os estudantes universitários começassem a viver mais intensamente todas as noitadas!

Queres fazer parte deste grupo? Fica atento ao teu e-mail e junta-te a eles na Semana Académica!

Curso LGPIniciou em Outubro de 2012 a 2ª

edição do Curso de Linguagem Gestual Portuguesa para iniciados. Promovido pelo Departamento de Solidariedade Social do MedUbi e com a colaboração da Professora Catarina Pinto, este tem decorrido com periocidade semanal, novamente com adesão assinalável. Decorrerá até Abril de 2013 e os alunos colaborarão com a sua aprendizagem no Sarau Cultural da nossa Faculdade.

HFCA Faculdade de Ciências da Saúde recebe,

de 15 a 18 de Abril, a VI edição do Hospital do Faz de Conta. Nessa tão esperada semana, receberemos crianças de toda a região que vestem o papel de pais e trazem o seu brinquedo preferido ao médico. Todos os estudantes, da FCS e não só, têm a oportunidade de vestir a bata branca e participar nesta actividade. Com certeza voltará a fazer jus ao claro sucesso demonstrado nos anos anteriores.

Festa CarnavalNo passado dia 5 de Fevereiro, o MedUBI marcou presença

no Companhia Club patrocinando mais uma noite, desta vez em honra à folia carnavalesca. No desfile e concurso de máscaras, os mais ousados mostraram a sua originalidade. Depois de tantos chapéus, perucas, óculos e Wally’s, acabou por vencer um grupo auto-intitulado de “Os Albertos”, que se destacaram pela boa disposição. Para o ano há mais!

CURTAS!

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NOTA: Ainda que este artigo se intitule “10 anos 10 conferências” a falta de concretização de uma das mesmas (“O médico como Inovador”) impediu-nos de completarmos o nosso artigo. A direcção da Diagnóstico pede desculpa pelo lapso.

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O Médico como Músico

Foi no dia 8 de maio pelas 18h30 que a Dra. Kátia Guerreiro iniciou o ciclo de palestras “10 Anos 10 conferências”.

Apesar de todos a conhecermos enquanto fadista de calibre internacional – e porquanto a imaginarmos enquanto criança apaixonada pela música – a dra. Kátia Guerreiro revelou-nos possuir um grande gosto pelas ciências já desde pequena, e que a sua entrada em Medicina ocorreu porque “aliada a uma profunda vocação humana e sentido de missão de salvamento”.

Falou-nos também dos seus tempos de estudante universitária (foi uma dos membros fundadores da tuna médica feminina da UNL) e realçou que um médico não pode simplesmente triunfar pelo estudo se não tiver também uma componente profundamente humana. Como prova deixou-nos o seu exemplo pessoal, que no 3º ano da sua formação (não obstante o seu estudo intenso e desmesurado) obteve fracos resultados académicos precisamente porque, acredita, não tinha outras atividades a que se dedicar simultaneamente e que compensassem o excesso de trabalho e elevado stress.

Após terminar o curso foi admitida como internista no serviço de Oftalmologia no Hospital de Évora, internato esse que nunca chegou a acabar porque decidiu dedicar-se por inteiro ao fado. No entanto, continua a participar esporadicamente em cirurgias porque “nunca perdi o bichinho da Medicina”.

Por último, e para júbilo da plateia, anunciou na nossa conferência em primeiríssima mão a sua gravidez.*

*para os mais curiosos o bebé já nasceu, é uma menina e chama-se Mafalda.

A Dra. Katia Guerreiro

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O Médico como Mentor

A palestra ”O médico como mentor” teve como ilustre orador convidado o Professor Doutor Miguel Castelo-Branco, antigo presidente da Faculdade de Ciências da Saúde e actual presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar da Cova da Beira.

Com o à-vontade de quem conhece os cantos à casa e reconhece a plateia, o Prof. Dr. Miguel Castelo Branco optou por uma apresentação simples em powerpoint.

Ora – seguindo aqui o discurso do Prof. Dr. Miguel – o termo mentor tem etimologia latina e quer dizer o “artífice da mente”, sendo que o “ofício” já na época grega se legitimara.

Mentorear implica uma relação pessoal de desenvolvimento em que uma pessoa experiente – o mentor – instrui um menos experiente na sua arte. Assim sendo, o Mentor não é apenas o que possui uma grande techne, mas também reputação e habilidade para ensinar os outros e fazê-los pensar por si mesmos. Mentorear é assim, mais do que ensinar simplesmente transmitindo conhecimento, acompanhar e aconselhar a formação dos alunos e a construção da sua mente.

Cereja em topo do bolo, uma atuação da Tuna-Mus com a atuação do Prof. Dr. Miguel na fila de trás enquanto seu mais recente Tuno Honorário.

O Prof. Doutor Miguel Castelo Branco

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O Médico como Filantropo

Foi no passado dia 2 de outubro que se realizou mais uma das conferências alusivas ao ciclo comemorativo dos dez anos do MedUbi - “Dez Anos, Dez conferencias”. Desta vez, o tema predominante foi “O Médico como Filantropo”, apelando a todo o trabalho feito com Amor pela humanidade.

Inicialmente, deu a conhecer a sua história de vida, percurso um tanto atribulado e inconstante, passado em diversos países. Viveu em Angola até 1964, e no Congo Belga, até 1967. Nesse ano mudou-se para a Bélgica, onde se licenciou e se doutorou em Medicina, como especialista em Cirurgia Geral e em Urologia, na Universidade Livre de Bruxelas. Para desgosto do Pai, que pretendia para o filho um futuro de sucesso enquanto médico e professor catedrático, o sonho de fazer missões humanitárias ganhou consistência, ao iniciar a sua colaboração com os Médicos Sem Fronteiras, da qual foi membro e administrador. Posteriormente, regressou a Portugal e fundou a AMI, organização não-governamental, da qual é presidente.

Relativamente à filantropia na Medicina, considerou fundamental uma atitude humilde que coloca o médico e o paciente numa posição de igualdade enquanto seres humanos, proferindo que “Quando a morte chega, acontece o relaxamento dos esfíncteres, independentemente do título académico que se tem. Sem insultos podemos quebrar as barreiras dos formalismos, do “Professor”, do “Doutor”, porque não são os títulos que evitam que sejamos uns verdadeiros anencéfalos!”, e, remata dizendo, se quem tira Medicina pensa que é um feiticeiro capaz de tudo, não é Humano, nem médico”. No entanto, confesou acreditar que, lá no fundo, se pode tocar no coração das

pessoas e ficar de olhos esbugalhados para o mundo, abertos à descoberta e mudança, salientando a importância de sermos cidadãos globais e solidários, capazes de lutar, todos os dias, contra uma minoria poderosa e atuante que tenta derrubar uma maioria a precisar de ajuda e cuidados.

Ao longo da conferência, proporcionou uma viagem constante ao nosso interior, à reflexão sobre o propósito da vida e das nossas ações, transmitindo uma visão positiva para a construção do futuro.

Baseando-se no sentido de superação, aconselhou-nos a ser sempre muito mais do que aquilo que somos, mas com consciência das nossas limitações. - “É bom sentirmo-nos pequeninos, para não nos levarmos muito a sério!”

Por fim, revelou que ainda tem alguns sonhos por realizar, nomeadamente ir para “dentro da Síria”, e terminou apontando as qualidades que se devem ter para se ser filantropo e lutar com perseverança por um bem comum.

“Sejam espíritos livres e, quando necessário, abram esses olhos para o mundo que está à vossa espera!”

Professor Doutor Fernando Nobre

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O Médico como Humanista

Foi no dia 23/10/12 pelas 18h que o prof. Dr. Daniel Serrão palestrou sobre o tema “O Médico como Humanista”. Como não poderia deixar de o fazer, contou-nos o seu percurso de vida de forma cronológica (a qual tentaremos aqui respeitar).

Foi ainda enquanto estudante do secundário que optou fazer carreira médica. Sendo que terminou o curso com média de 18, foi ainda enquanto estudante que decidiu “fazer carreira académica enquanto professor universitário”. À altura, não havia concurso para admissão, mas sim “convite para se ser 2º assistente, sendo que após 6 anos deveríamos ter o doutoramento completo e assim subirmos a 1º assistente.” Conseguiu ser ainda 8 dias 2º assistente da cadeira de “Patologia Médica”, “a minha então disciplina de eleição”, antes de ser enviado para Mafra como soldado raso. Após a recruta, voltou a procurar a carreira académica, acabando por só a conseguir enquanto assistente de Anatomia Patológica da FMUP.

Com um percurso fortemente ligado à investigação e ao ensino, viajou pela Europa para aprender junto de quem “com mais equipamento e organização” ensinava Anatomia Patológica e publicava em revistas científicas de renome internacional.

Findo esse período, terminou o doutoramento e, enquanto professor, pautou-se por uma pontualidade intransigente e um imaculado método de trabalho que impede qualquer intromissão do “mundo exterior”. Foi, graças às suas viagens, ao seu método e à sua iniciativa que se realizou o primeiro Congresso Europeu de Anatomia Patológica em Portugal, no Porto, sendo que só agora, 50 anos depois, se volta a realizar o segundo em terras lusas.

“Tornei-me humanista aos 60 anos”

– enquanto promotor da humanização dos cuidados de saúde – com a formação do Conselho de Bioética da FMUP e da Comissão de Humanização Hospitalar do Hospital de São João. Daí em diante o seu percurso metamorfoseou-se e alargou-se exponencialmente, sendo que esteve presente na convenção de Oviedo, fez parte do Comité Internacional de Bioética da UNESCO (que decretou a “Declaração Universal do Genoma Humano”), do CNEV, entre muitos, muitos outros cargos que contribuíram para o seu mais que merecido prestígio, incluindo o convite do Papa João Paulo II para pertencer ao Conselho de Bioética do Vaticano.

O prof. Dr. Daniel Serrão

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O Médico como Investigador

Foi no dia 30 de Outubro que a Dra. Maria do Carmo Fonseca, investigadora do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa (IMMUL) palestrou sobre o tema “O Médico como Investigador”.

Médica de formação disse-nos que ainda experimentou a vida clínica antes de se dedicar por inteiro à investigação científica, aquilo em que “tinha mais jeito”.

Relembrou-nos que o cérebro nunca é demasiado aplástico pelo que é sempre tempo de investir na nossa formação e na investigação científica. Contudo, “as oportunidades não estão em Portugal mas no mundo” pelo que “Ir para fora não implica a tão falada fuga de cérebros” visto que só assim se pode aceder a Centros de Investigação capazes de abranger todas as áreas do saber.

Há no entanto que fazer uma adenda ao parágrafo anterior. Aquando a sua formação (pós 25 de Abril) as condições no nosso país eram muito mais precárias que as atuais, e isso não a impediu de fazer a sua carreira. Além do mais (apesar da pouca variedade de oferta) “os centros de investigação portugueses são especialistas em obter excelentes resultados com parcos recursos.”

“A clássica profissão do médico é prestar serviços de saúde ao doente concreto” pelo que se compreende o porquê do nosso ensino pré-graduado ser teórico. Contudo, “os médicos deviam ter maior formação no método científico”, não para se tornarem necessariamente investigadores, mas para “ficarem mais críticos e autónomos, distantes dos lobbies da indústria farmacêutica e de certas epidemias dúbias”. Mas a “formação científica exige conhecimentos sólidos e específicos. Ser

cientista não é hobbie mas um trabalho full-time. Se tivesse um mês de férias empregava-o no laboratório”.

Por fim, quando associada ao Prémio Pessoa respondeu-nos que “o que eu faço, faço-o por prazer e egoísmo. Nunca pensei que o que faço já estivesse num nível passível de ser reconhecido pela sociedade”.

Eis um excelente exemplo de dedicação e obstinação a par da célebre súmula de Kierkgaard “Escolhe-te a ti mesmo”.

A Dra. Maria do Carmo Fonseca

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O médico como Activista

No dia 6 de Novembro de 2012, o Grande Auditório da Faculdade de Ciências da Saúde recebeu o Prof. Dr. Duarte Nuno Vieira, que contemplou os presentes com a partilha da sua experiência enquanto médico activista em prol dos Direitos Humanos, no âmbito da iniciativa “10 anos, 10 conferências”.

Em jeito introdutório, o Prof. Dr. Duarte Nuno Vieira falou-nos acerca da Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada por 193 países, frisando a sua importância como ferramenta poderosa contra a violação dos Direitos Humanos. Referiu igualmente o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, formado por 47 países, que visa promover os Direitos Humanos e a investigação de situações que acometam a preservação dos mesmos.

Dono de um currículo impressionante, o Prof. Dr. Duarte Nuno Vieira conta nele a Presidência do Instituto Nacional de Medicina Legal, da Academia Internacional de Medicina Legal, do Painel Ibero-Americano da Associação Médico Legal e Deontologia Médica; os títulos de Consultor Forense para o Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, de Perito do Comité Internacional de Reabilitação de Vítimas de Tortura, entre outros, que o tornam altamente influente e activista na luta em defesa dos Direitos Humanos.

Durante a conferência, sublinhou a responsabilidade acrescida do médico na promoção e defesa dos Direitos Humanos, no

sentido de “melhorar o sofrimento das pessoas”, tendo o “dever ético de tratar qualquer pessoa imparcialmente” e, principalmente, “de procurar ser a voz de quem não tem voz”. Partilhou, então, a sua experiência pessoal e contribuição em países que sofreram conflitos, desastres naturais ou desastres consequentes de avanços tecnológicos, na procura de pessoas mortas ou desaparecidas, identificação dos seus corpos, circunstância da morte e entrega à família. Refere, inclusivamente, a importância de ter direito a um funeral digno, sinal de respeito pela pessoa. Ajudou, também, vítimas de tortura, um comportamento o desumano e degradante, procurando a equidade e justiça.

Desde 2006 que trabalha como relator especial contra a tortura das Nações Unidas, correndo por todo o mundo em missões que visam investigar qualquer possível situação de tortura ou acto desumano e degradante. Reúnem com os governos em cada país, construindo um contexto cultural, religioso e social; visitam as prisões, examinando as condições de lotação, sanitárias, as enfermarias, cantinas e intervindo com os detidos, fornecendo a ajuda necessária. Durante a palestra, o orador mostrou fotografias de situações desumanas em prisões de todo o mundo, abrindo os olhos aos presentes para uma realidade actual – o desrespeito pelos Direitos Humanos. Simultaneamente, relatou-nos o seu contributo nestes casos.

Confrontados com as vivências do Prof. Duarte Nuno Vieira, reflectimos inevitavelmente sobre a importância de, não só como médicos, mas como pessoas, intervir em qualquer situação que achemos que vá contra a defesa dos Direitos Humanos, lutando por protege-los e preservá-los. Foi, sem dúvida, mais um sucesso da iniciativa “10 anos, 10 conferências”, do MedUBI.

O Doutor Duarte Nuno Vieira

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O Médico como Escritor

Figura incontornável da Medicina, nacional e internacional, o Professor Doutor João Lobo Antunes, Neurocirurgião e Docente Universitário, brindou com a sua presença a nossa Faculdade em Novembro passado, no âmbito do evento “10 Anos, 10 Conferências”, promovido pelo MedUbi.

Numa conferência com um auditório repleto, o nosso convidado revelou-se um excelente comunicador, excedendo inclusivé as grandes expectativas construídas pela plateia acerca de um dos colaboradores que foi convidado para erguer a nossa Faculdade, como muitos desconheciam.

Temas como os perigos da tecnologia excessiva, a feminilização crescente do corpo médico, uma formação médica não contextualizada, novas opções formativas nos Cursos de Medicina (com referência ao cada vez maior afastamento do estudante do Hospital, onde deviam ter uma acompanhamento mais personalizado, e a uma “amnésia-programada”, “uma memória descartável”), a importância da história clínica, qualidades de um médico de excelência, políticas na saúde, foram abordados, com a preocupação por parte do Professor em estabelecer um paralelismo com literatura de referência, por si escrita ou por si lida, o que tornou a sua abordagem deveras interessante, provocando uma satisfatória interacção com a audiência.

Afinal, foi numa vertente diferente que lhe tinha sido endereçado o convite, o desvendar a sua faceta de escritor. Livros que foram o seu “brinquedo”, fruto de uma “educação austera”, mas a quem agradece profundamente a cultura que lhe proporcionaram e o prazer de uma visão alargada do Mundo.

Ser um médico diferente, diligente,

adaptável, visionário, pró-activo, que constrói um percurso de bom-senso, de muito conhecimento a vários níveis, de muita prática, de rigor, de treino comunicacional perante o contexto, que assume uma postura de dignidade, disponibilidade, respeito e confiança na relação médico-doente, que ainda nos vê como heróis, e de aperfeiçoamento do “poder da mão” aos vários níveis. Estas são as qualidades que considera termos de desenvolver, de trabalhar incansavelmente para alcançar.

Experiências marcantes, de um médico com um currículo invejável, mas acima de tudo de alguém “interessado em tentar perceber o que são as pessoas, em ouvi-las e conhecer o imenso mundo por trás do que dizem”.

E a sua lição de despedida da Faculdade vai ser assim. Um diálogo sobre o prazer de ser médico, o prazer de viver, e o prazer de ler e de escrever. A escrita que o melhorou a diversos níveis. Pois a sua obra perdurará e será a sua maior gratificação.

O Prof. Dr. João Lobo Antunes

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O Médico como... mais que Médico

No dia 5 de Dezembro de 2012, na Sessão Comemorativa dos 10 anos do MedUBI e no âmbito da iniciativa “10 anos, 10 conferências”, organizada pelo Núcleo de Medicina da Universidade da Beira Interior, o Prof. Dr. Luís Taborda Barata apresentou uma palestra enquadrada no tema “Um médico como… Mais do que um médico.”

Vestindo o cachecol do MedUBI, começou por felicitar o núcleo por todo o trabalho realizado e introduziu o seu discurso começando por apelidar “medicina como comunicação”. Referiu a técnica como importante, mas que o objectivo essencial é “ajudar o doente”. A cooperação com o doente na compreensão da Vida e da Morte é fulcral no papel de um médico. Cita Abraham Verghese, realçando a “Medicina centrada no doente” e o “doente ser mais importante que a doença”. Para tal, é necessário criar empatia e interacção, olhando para o doente na sua dimensão de ser humano, compreendendo os seus conceitos de vida e bem-estar, crenças, culturas, família, tendo em conta aspectos psicológicos, éticos, antropológicos e sociais.

Durante o resto da palestra, o Presidente da Faculdade de Ciências da Saúde priorizou, como médico, a urgência de procurar crescer culturalmente, refugiando-se nas artes, desporto, voluntariado, música, literatura… Quanto maior o grau de conhecimento, maior será o contributo de um médico na relação médico-doente. Citou vários

exemplos, como Hipócrates, no “transporte da filosofia para a medicina” e vice versa, como afirmação do “que é útil para a vida” e que “o conhecimento permite a isenção de superstições”, essencial para “entender e vencer os medos do doente e do próprio médico” ; Fernando Namora e Miguel Torga, profissionais da medicina e amantes da literatura; Abel Salazar, médico cientista e observador.

Falando da sua experiência pessoal, refere que, durante o seu percurso académico e de investigação na Holanda, Londres, Cidade do Cabo, aprendeu o que é sacrifício, paciência, trabalho de equipa, a ter atenção aos detalhes e a aceitar as suas próprias falhas. Como amante do desporto e treinador do Clube de Rugby de UBI, diz ter aprendido a “nunca tomar nada como garantido”, a “nunca desistir” e “ter a coragem de não escolher o caminho mais fácil”.

A sua experiência no voluntariado mostrou-lhe a necessidade de intervir socialmente, de relativizar, alargar conhecimentos e ter conhecimento dos limites, de maneira a tentar ultrapassá-los. Tudo isto se reflecte na sua prática da medicina, o que torna prioritário a cultura na sua vida.

O Prof. Dr. Taborda Barata participou em vários projectos que o fizeram crescer como pessoa e médico, ajudando na melhora da sua comunicação com o doente. “Trazer da interacção com o doente para a interacção com a vida em geral”

e “Trazer da interacção com a vida em geral para a interacção com o doente” marcou esta conferência, que se tornou um verdadeiro apelo a todos os presentes para se cultivarem fora da Medicina de maneira a cresceram dentro dela.

O Prof. Dr. Taborda Barata

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O Médico como Político

A 9ª conferência do ciclo “10 anos, 10 conferências”, contou com a presença da Profª Doutora Ana Teodoro Jorge, pediatra e antiga ministra da saúde, e realizou-se no passado dia 15 de Janeiro.

O discurso foi iniciado com a partilha da sua experiência profissional, deixando sempre bem claro que, após 40 anos de Licenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, sabe que se sente, e sempre se sentiu, muito mais Médica do que Política. No entanto, contou-nos que foi em 1996 que a aventura nesse mundo paralelo começou. No mesmo ano, coordenou a Sub-Região de Saúde de Lisboa, tendo transitado para a presidência do Conselho de Administração da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, entre 1997 e 2000. No ano seguinte, considerou abraçar a Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés do Hospital de Santa Maria, onde alcançou o cargo de Presidente da Comissão Nacional. Em 2006, fundou a Associação Portuguesa de Música nos Hospitais e Instituições de Solidariedade, que é é um projeto de Intervenção Musical, com a perspetiva de humanizar contextos de Cuidados de Saúde. Posteriormente, assumiu as funções de Ministra de saúde, em Janeiro de 2008. Confessou-nos que, quando recebeu o convite para presidir este cargo, ficou reticente, pois não queria “destruir o SNS, preferia lutar pelas carreiras médicas, diferenciação técnica e qualificação”. Porém, aceitou o desafio, com a pretensão de descobrir como é que um

Ministro, que é Médico, consegue gerir as coisas que são políticas. Durante este tempo, tentou lutar pelos cuidados de saúde e pelo acesso a medicamentos, delineando estratégias para melhorar o estado de saúde da população. Após cinco anos, deixou este cargo, voltando ao serviço, sem dificuldade.

Num tempo onde a “crise” é palavra de ordem, referiu que considera inviável tanto a privatização dos cuidados de saúde em Portugal, como o término da ADSE, alertando para a necessidade de rever e renegociar melhor ambos os parâmetros. Por outro lado, afirmou que as medidas implementadas pelo governo para contenção de custos, não devem por em causa a qualidade dos cuidados de saúde prestados, uma vez que estas se focam, primariamente, nas necessidades dos utentes.

A Prof. Doutora Ana Jorge

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Política da Saúde

A política de saúde é definida pelo governo e tem um âmbito nacional. Deve procurar promover a saúde e a prevenção da doença. É fundamental que o acesso aos cuidados de saúde seja feito com igualdade e que haja equidade na distribuição de recursos. A política de saúde deve também ter carácter evolutivo, adaptando-se permanentemente às condições da realidade nacional, às suas necessidades e aos seus recursos.

A situação socioeconómica do país, com uma grave crise económica, financeira e social em que todas as actividades, assistenciais e não só, do Estado são postas em causa por const rang imentos financeiros, com a saúde e educação à cabeça. Assim sendo será muito relevante discutir o futuro da saúde em Portugal, uma vez que esta área é responsável por 10,7% da despesa total do PIB (gastos público e privado) e mais de 20% dos gastos totais do Orçamento Geral do Estado, contando com a presença de dois deputados à AR, Dr. Manuel Pizarro e Dr. Ricardo Baptista Leite, ambos médicos. Embora de quadrantes políticos opostos, houve concordância em determinados temas desta mesa redonda, com particular importância para a Covilhã e a FCS-UBI, como a falta de médicos e outros recursos de saúde no interior do país, assim com a dificuldade de atracção destes para

estas zonas. Houve algumas medidas positivas aventadas acerca destas temáticas, das quais ficaremos à espera de futura aplicação. Houve também algumas quezílias, normais entre adversários políticos, principalmente acerca do aumento das taxas moderadoras e da tendencialmente gratuitidade do SNS expressa na Constituição.

Esta iniciativa do MEDUBI permitiu conhecer de uma forma geral, o que dois representantes do arco governativo deste país, PS e PSD, pensam da saúde, dos seus limites e desafios e mais propriamente do seu futuro.

José Rosa, 4º ano

Durante a sessão.

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À Tua Beira...

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A Indústria de Lanifícios na Covilhã

“Se os filhos de Adão pecaram, os da Covilhã sempre cardaram”. (Adágio popular, séc. XVIII)

Centro da produção nacional dos tecidos da lã, a Covilhã sempre constituiu um concelho em que as actividades ligadas à pastorícia e agricultura determinaram o grau de subsistência. Nomeadamente, desde o séc. XII, a produção de tecidos num sistema doméstico e artesanal assumiu uma importância central.

A partir do séc. XVII, surgem na cidade as primeiras manufacturas, que com o advento da Revolução Industrial europeia, proliferaram. A gigantesca Manufactura da Covilhã (1679) impunha-se entre o aglomerado fabril. Numa cidade de grande história de presença de comunidades judaicas, eram as grandes financiadoras; no entanto, tal facto provocou grande perseguição da Inquisição.

O Marquês de Pombal torna-se o grande promotor dos grandes processos de modernização da Covilhã, surgindo A Real Fábrica de Panos em 1764.

Em meados de 1850, a Covilhã era um dos maiores centros industriais de Portugal. Fabricavam-se anualmente mais de 80000 arrobas de lã e 29 fábricas tinham mais de 10 operários, que no total da cidade já somavam os 1340.

A máquina a vapor tardou em chegar à cidade, na medida em que esta desenvolveu, de forma pioneira na Europa, a técnica do aproveitamento da energia hidráulica. Dois marcos principais contribuíram para tal: as ribeiras Degoldra e Carpinteira, que descem da Estrela e percorrem a cidade entre os 800 m e os 500 m de altitude.

Em 1881, esta cidade apenas era superada pelas já variadas indústrias de Lisboa e Porto. As

indústrias que mais facturavam nas duas metrópoles portuguesas eram as de tecelagem de algodão e do linho. A Escola Industrial da Covilhã é inaugurada em 1887.

Nos anos seguintes à II Guerra Mundial verifica-se um expoente produtivo. No entanto, no final do século, grandes evoluções transformam social e economicamente a cidade, o que se traduz actualmente numa grande redução das unidades industriais.

A produção de lanifícios é, no entanto, muito maior do que alguma vez aconteceu, consequência da revolução tecnológica. Actualmente, cerca de trinta milhões de metros de tecido/ano são produzidos na Covilhã.

Visitar o Museu do Lanifícios da Universidade da Beira Interior permite o conhecimento mais aprofundado da designada “Rota da Lã”, cujo ponto principal é precisamente a Covilhã. Os lanifícios nesta cidade traduzem a identidade económica e social dos seus habitantes e a própria Universidade tem a sua génese nesta indústria.

. PINHEIRO, Elisa Calado (2006), O Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior, in «Extramuros-Catálogo». s.l: ADICAP, Asociación para el Desarrollo Integrado del Cabo Peñas, 2006 . PINHEIRO, Elisa Calado (2008). “Ruta de la lana TRANSLANA: rutas de transhumancia y del patrimonio industrial en un territorio fronterizo – Beira Interior (Portugal) y Comarca Tajo-Salor- Almonte (España)” Datatèxtil 19. Centre de Documentació i Museu Tèxtil, Terrassa: 2008. Pp. 48-61. (Versões em Inglês e Castelhano).

. http://www.rt-serradaestrela.pt/index.php/pt/rotas-turisticas/turismo-cultural/rota-da-la

. http://www.cm-covilha.pt/simples/?f=2691

Texto: Fabíola Figueiredo

Agradecimento: António dos Santos Pereira, Prof. Catedrático e Diretor do Museu de Lanifícios da Universidade da Beira Interior

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Depois do “Projecto Wool” e da loja “Fora de Serviço”, esta edição do Sai da Cova dedicou-se à cultura, procurando não só o fortalecimento da identidade pessoal e social de cada um, como também uma integração mais completa na Cidade da Covilhã.

Museu de Arte Sacra da Covilhã

Com a colaboração do bispo da Diocese, D. Manuel da Rocha Felício, e dos párocos das igrejas do concelho, o Museu de Arte Sacra da Covilhã tem como principais referências algumas peças de grandes dimensões, com destaque para uma escultura de Cristo crucificado, do século XVIII.

No total, há mais de 600 peças, com destaque para coleções de pintura, escultura, ourivesaria, paramentaria e figuras de roca, inerentes ao período compreendido entre os séculos XII e XX, e é composto por imagens sacras, retábulos, relicários, altares, crucifixos, livros e documentos raros, ourivesaria, mobiliário, telas, objetos religiosos e paramentos litúrgicos.

A exposição estende-se por dois edifícios, cujo percurso tem como referência os 7 sacramentos da Igreja Católica, com inicio numa oliveira plantada simbolicamente à entrada.

Terça-feira a Domingo | 10h00 às 18h00 | Entrada Livre Casa Maria José Alçada / Jardim Municipal, Avenida Frei Heitor Pinto 6200-113 Covilhã - Portugal T. +351 275 33 44 57 info@cm-covilha.

Teatro das Beiras

O Teatro das Beiras, com localização relativamente próxima do Pardim Público, é uma

companhia profissional de teatro, com sede na Covilhã, criada a 7 de Novembro de 1974 que visa a promoção de cultura na população, através da produção regular e sustentada de espetáculos de teatro, reconhecidos pelo público, instituições públicas e privadas.

Ao longo de 16 anos, a companhia produziu 81 espectáculos e realizou milhares de representações, para cerca de 230 mil espectadores, por todo o país, e também no estrangeiro.

Além disto, O Teatro das Beiras participa na organização da Capital do Teatro em Branco, atua em parceria com a Scutvias e a Quarta Parede, num projecto de segurança rodoviária e é também o organizador do Festival de Teatro da Covilhã, que teve a sua primeira edição em 1980. Produz 4 espetáculos por ano (1 para a infância, 1 ao ar livre, e 2 em sala) e acolhe diversas actividades, como workshops, instalações, exposições, e debates.

A última peça teatral, denominada «Pagar? Aqui, ninguém paga!», de Dario Fo, foi um sucesso e, brevemente, será apresentada outra, cujo o público alvo são maioritariamente as crianças, intitulada “Há dias assim!”.

Teatro é cultura, animação e arte, a um preço acessível, (bilhetes a 3€ até 25 anos).

Teatro é uma mistura de sentimentos exibidas ao vivo e sentidas a tempo real.

E “Ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer.” - Carlos Drummond de Andrade.

Para mais informações:https://www.facebook.com/tbeiras

Jeniffer Jesus – 3º ano

Sai da

Cova!

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Mais um ano “MedUBI”

Chegado o fim, é tempo de balanço. O ano de 2012 foi sem dúvida alguma intenso. Intenso em trabalho por parte do MedUBI, que nunca parou. Chegamos neste ano de 2012 aos 10 anos de existência, e verificamos que ano após ano o MedUBI ganhou vitalidade e cresceu, na qualidade e na quantidade de iniciativas que organiza.

O ano de 2012 foi, na minha opinião, memorável. Conseguimos organizar duas iniciativas que ficarão para a história deste núcleo de estudantes, por terem sido as duas maiores alguma vez levadas a cabo pelo MedUBI (até agora, claro está). Temos em primeiro lugar a II Medicina FacFest, que contou com 1800 pessoas. Em segundo lugar, e num âmbito mais científico, temos o Congresso MedUBI 2012, que contou com mais de 400 inscrições. Foram duas actividades que, embora com objectivos diferentes, primaram pela qualidade e pela enorme adesão de toda a comunidade.

Gostaria ainda de destacar duas outras iniciativas que decorreram ao longo deste ano de 2012. Por um lado temos a iniciativa “10 anos, 10 conferências”, que teve uma adesão muito importante e que permitiu que o nome do MedUBI fosse conhecido por algumas das mais importantes personalidades médicas em Portugal. Conseguimos apresentar nomes importantíssimos, o que permitiu que a Covilhã, a FCS-UBI e o MedUBI fossem conhecidos e falados em meios muito distintos. Por outro lado organizamos, pela primeira vez, as Jornadas de Política da Saúde,

que permitiram a discussão de temas que nem sempre são considerados como prioritários.

Ao longo deste mandato demos ainda continuidade a iniciativas medubianas marcantes, em que tentamos primar sempre pela manutenção da qualidade, ao mesmo tempo que tentamos imprimir alguma originalidade. São exemplos flagrantes o Hospital Faz de Conta, o Antes Que te Queimes, o Sarau Cultural, a Gala de Medicina, as Jornadas “Exercício é Saúde” ou os Intercâmbios Científicos e Clínicos. É importante ainda deixar uma palavra de agradecimento a todos os responsáveis por outra vitória deste mandato: precisamente a revista “Diagnóstico”, que conseguimos reerguer.

Chegado o fim, é também tempo de agradecimentos. Sem individualizar, é importante começar por agradecer à fantástica equipa que me acompanhou ao longo deste mandato. Tive a sorte de contar com uma direcção fantástica, que permitiu que todos os sucessos deste ano de 2012 fossem alcançados. Não poderia também deixar de agradecer, e de novo sem especificar, a todas as entidades que connosco colaboraram, sempre com o interesse dos estudantes em primeiro lugar.

Pedro Oliveira, 10º presidente do MedUBI, 4º ano do MIM.

A 10a Direcção do MedUBI

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Entrevista C’a Tuna Aos Saltos

A Tuna Médica Feminina da Universidade da Beira Interior nasceu no ano de 2009, cresceu e hoje abraça mais de 50 alunas da Faculdade de Ciências da Saúde. Para quem se quiser juntar a este grupo feminino de música e boémia, os ensaios C’a Tuna Aos Saltos realizam-se todas as segundas e quartas-feiras, às 20h e 19h, respectivamente, no Bar Académico.

A “Diagnóstico” esteve à conversa com a actual Magíster, Rita Torres, aluna do 3º ano de Medicina.

Diagnóstico: Como nasceu a “C’a Tuna Aos Saltos”?

Rita Torres: A C’a Tuna aos Saltos surgiu da vontade e coragem de um grupo de estudantes de Medicina, com o objectivo de criar algo nunca antes visto na UBI: uma Tuna Médica Feminina. Naturalmente, o propósito final foi, e ainda é, levar o nome da academia ubiana além

fronteiras, representando sempre com muita garra e orgulho os cursos e a cidade que a todos nos acolheu, a nossa doce Covilhã.

D.: Em título de curiosidade, como surgiu o nome?

R. T.: O nome nasceu por sugestão de um amigo nosso, Ruben Carvalho (elemento da tuna que nos apadrinhou: Tuna-MUs), que depois de muitas tentativas, sugeriu o nome C’a Tuna aos Saltos. Apesar de ser um nome

peculiar, adorámos e decidimos então assumi-lo com todo o carinho e responsabilidade. É um nome sonante e representativo da alegria e boa-disposição que esta Tuna pretende espalhar por este país afora.

D.: Já assinalaram presença em várias regiões do país. Houve alguma actuação que vos tenha marcado mais? Porquê?

R.T.: Falo pela minha experiência pessoal, e digo que em cerca de dois anos na tuna houve muito boas terras que me marcaram. Guarda e Castelo Branco, talvez pela proximidade,

A C’a Tuna durante uma atuação na FCS

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recebem-nos sempre muito bem, mesmo em festivais em que participamos lá, são sempre muito hospitaleiros. Um dos pontos altos do nosso ano de trabalho costuma sempre ser a Recepção ao Caloiro! Por ser na nossa cidade, por termos o “nosso” público presente e por estarmos a mostrar aos novos caloiros o que a nossa academia realmente vale. Por fim, posso também referir o sul do país. No último Verão, fizemos uma digressão pelo Algarve em que fomos igualmente muito bem acolhidas, tanto por algarvios como por turistas. Foi uma semana espectacular, óptimo para cimentar as nossas relações internas e ganharmos confiança e ânimo pelo bom trabalho que temos vindo a desenvolver.

D.: No ano passado, a Faculdade de Ciências da Saúde foi tecto do vosso primeiro festival, o I Medicalis, que voltou a realizar-se este ano. Como foi o papel de anfitriãs? Qual o mais gratificante de toda a iniciativa?

R.T.: É sempre um grande orgulho dar a conhecer a excelentes tunas de fora as maravilhas que a Covilhã tem para oferecer. É igualmente muito importante proporcionar ao público covilhanense um excelente espectáculo, aliando boa música a causas solidárias que merecem verdadeiramente a nossa atenção. Trabalhamos muito para conseguirmos realizar os nossos festivais, mas no fim, apesar das contrariedades que todos os anos se nos apresentam, vale muito a pena conseguir provar que juntas somos capazes de realizar grandes feitos, impressionando miúdos e graúdos e todos aqueles que participaram no nosso festival

D.: Qual é, para ti, a importância de uma tuna no seio académico?

R. T.: As tunas, ainda mais na UBI, representam um conjunto de núcleos culturais que todos os anos orgulham cada vez mais os cursos e academia que representam. São essenciais, pois encerram em si uma oportunidade para o estudante, de algum modo, se distrair e

conseguir atingir objectivos a que se propõem fora do próprio curso. Saber lidar com várias personalidades e aprender a realizar algo a que nunca antes nos propusemos é absolutamente fulcral. E quando entramos para uma Tuna, tudo isso acontece. Travamos amizades improváveis, falamos com pessoas inverosímeis e fazemos o que nunca antes sequer pusemos em questão... É uma verdadeira escola da vida, num bom sentido!

D.: Há alguma surpresa da C’a Tuna Aos Saltos para um futuro breve que gostariam de partilhar com os leitores?

R. T.: Tudo o que posso revelar é que vamos continuar a animar as ruas da Covilhã e arredores, durante todo o ano. Pretendemos também perpetuar a nossa digressão de Verão pelo Sul, que foi uma experiência tremenda! Num futuro próximo, teremos a oportunidade de representar, em concurso, a nossa Academia, numa grande cidade e num grande festival (no futuro haverá mais informações). O objectivo é sempre inovar e surpreender, o que com muito sacrifício e trabalho conseguimos atingir.

D.: Para terminar, algum apelo que a “C’a Tuna Aos Saltos” gostaria de fazer às estudantes desta Academia?

R. T.: Depois de tudo o que disse para trás, muito pouco tenho a acrescentar. Quem leu o que eu disse, possivelmente já se terá apercebido no grande espírito que esta Tuna possui e das grandes ambições que ainda temos. Quem se quiser juntar a nós é mais que bem-vinda, e com certeza não se arrependerá de pertencer a esta grande família. Qualquer estudante feminina dos quatro cursos da FCS pode integrar a C’a Tuna, tudo o que é preciso é muita vontade de contribuir positivamente para este projecto que representa no fundo, e penso que falo por todas ao dizer isto, o nosso cavalo de guerra.

Entrevista conduzida pela Sofia Carvalho do 3º ano

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Entrevista Tuna-Mus

A Tuna Médica da Universidade da Beira Interior nasceu em 2007 e conta hoje com alunos não só de Medicina, mas também Optometria, Ciências Farmacêuticas, Engenharia Aeronáutica, bem como com a presença em muitas das suas actuações, principalmente as mais importantes, dos Tunos Ancionis, já médicos, outrora pertencentes à Tuna-MUs. Todos os interessados em fazer parte deste projecto amante da vida académica e da música, compareçam num ensaio! Realiza-se 2ªs e 4ªs feiras, das 19h30 às 21h30, no salão nobre do G.I.R. do Rodrigo.

A “Diagnóstico” conversou com o actual Magíster, Paulo César, aluno do 5º ano de Medicina.

Diagnóstico: Como nasceu a “Tuna-MUs”?

Paulo César: A Tuna-MU’s nasceu de cinco amigos com um grande Espírito Académico e com um especial gosto pela Música decidiram fundar a Tuna Médica da UBI. Seguiram-se tempos difíceis, de muito trabalho, surgindo momentos que exigiram uma enorme confiança na potencialidade da Tuna-MU’s, por parte dos nossos fundadores, para vencer todas as provas e processos que regulam a criação de um Núcleo da AAUBI e aprovação do estatuto de Tuna pelo Forum Veteranum. Inicialmente, a Tuna-MU’s foi a primeira Tuna de um só curso a ser formada na nossa Academia, contudo cresceu e já conta com membros até de outras faculdades.

D.: Na tua opinião, qual a importância de uma tuna dentro da Academia?

P. C.: Na minha opinião, sem querer tirar o mérito e reconhecimento à Associação Académica e aos Núcleos que representam os vários cursos, são as Tunas que mais vezes representam a nossa Academia por todo o País

e, até mesmo, fora dele. Em qualquer festival ou actuação que uma Tuna seja convidada, ela apresenta sempre os elementos característicos da Academia, isto é, o traje específico da Covilhã, os estandartes com os brasões da AAUBI, da Universidade e da Cidade e o orgulho de estudar nesta Académica (demonstrado em conversas e em entrevistas para a comunicação social que faz apoio ao espectáculo). A UBI é representada por 6 Tunas, cada uma com o seu próprio plano de actividades, e num ano civil uma Tuna actua pelo menos 50 vezes. Logo, a UBI é representada, por todo o país, em mais de 300 ocasiões, publicitadas na internet, na televisão, na rádio, em posters espalhados pelas cidades, etc. É impossível não atribuir “importância” às Tunas!

D.: Recentemente decorreu o primeiro encontro de tunas organizado pela Tuna-MUs, “I Alma e a Beira”. Contou com a participação de tunas da nossa Academia, nomeadamente a Desertuna, Já b’UBI e Tokuskopos e as vossas afilhadas C’a Tuna Aos Saltos. Como Tuna organizadora, qual o ponto mais alto desta iniciativa?

P.C.: Nós organizámos o “I Alma e a Beira” em parceria com a Câmara Municipal da Covilhã, no âmbito do 142º Aniversário da Cidade. A nossa intenção era que esta primeira edição fosse uma homenagem à Cidade que nos acolheu como estudantes universitários, nos proporcionou memórias inesquecíveis e amigos para a vida. Como tal, não faria sentido convidar Tunas de outra região. O ponto mais alto para nós, para além do convívio que se verificou entre as várias Tunas participantes, foi notar que a maioria do público era composto pelos habitantes da Covilhã. O que significa que os Covilhanenses reconhecem o trabalho realizado pelas Tunas “da casa”, dando-nos alento para continuar a desenvolver novas edições dos nossos Encontro e Festival de Tunas, visto que são projectos mais direccionados à população e

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aos estudantes da Covilhã.D.: A Tuna-MUs conta já com o lançamento

de um CD, “Trilhos da Neve”. Estão satisfeitos com o rumo deste projecto e o seu sucesso?

P.C.: Sem dúvida! Nunca imaginámos que o nosso primeiro álbum fosse criar tamanho impacto na história da Tuna, como aquele que gerou. Temos um grande carinho por este projecto, nele foi dedicado muito suor e muitas horas por todas as pessoas envolvidas. E quando digo isto, não estou a falar apenas da Tuna-MU’s. O CD “Trilhos de Neve” foi gravado e editado graças aos maravilhosos contactos do nosso “manager”, do apoio dos nossos patrocinadores e Faculdade e da competência do técnico que gravou connosco, em tempo record, este primeiro CD. Agora os nossos familiares, amigos e todos que estejam interessados podem ter consigo uma recordação da Tuna-MU’s, um excelente “cartão de visitas” que retrata muito bem o nosso trabalho ao longo destes 5 anos. No futuro esperamos gravar um próximo, ou até próximos álbuns!

D.: Sabendo que já percorreram o país em digressões, festivais, actuações; houve alguma ocasião em particular que vos tenha marcado mais?

P.C.: É muito difícil seleccionar uma ocasião que nos marcou, porque praticamente todas têm histórias e acontecimentos memoráveis. Portanto, se tivesse de escolher algo, diria a forma carinhosa como somos recebidos em qualquer local do País. Estar na Tuna permite-nos conhecer imensas Cidades e pessoas, estabelecer novas amizades e conhecer diferentes culturas regionais de Portugal. Comprovamos que somos um Povo, independentemente da localidade, que sabe acolher quem vem de boa vontade.

D.: Têm em mente algum projecto futuro que gostariam de partilhar com a Diagnóstico?

P.C.: Estamos a organizar o “II Herminius”, o nosso Festival de Tunas, que se vai realizar

nos dias 15 e 16 de Março de 2013. Este ano conta com algumas surpresas! Uma delas é que esta edição irá corresponder a um Festival Internacional de Tunas da Universidade da Beira Interior, onde vamos contar com a presença de grandes Tunas nacionais e uma grande Tuna estrangeira. Também adoptamos por fazer um festival de dois dias, onde o primeiro dia será marcado por serenatas à população da Covilhã, e o segundo pelo habitual e tradicional Passe Calles e, à noite, o Festival de Tunas. Estamos a trabalhar imenso para colocar o “Herminius” como um dos melhores festivais de Tunas organizados no nosso País. Sabemos que a Covilhã e a nossa Universidade têm características únicas que possibilitam que qualquer evento cultural aqui bem organizado tem a potencialidade para atingir os mais elevados parâmetros de qualidade. Vamos apostar toda a nossa criatividade e faremos, com toda a certeza, um Festival com muitas surpresas e números que o público nunca esperaria num evento organizado por uma Tuna.

Faço o apelo para que todos os estudantes, professores e funcionários da UBI compareçam na máxima assiduidade ao “II Herminius”, pois a Tuna-MU’s trabalha sempre para deixar orgulhosa a sua Academia.

D.: Para terminar, algum apelo que a “Tuna-MUs” gostaria de fazer aos estudantes desta Academia?

P. C.: Fazemos o convite a todos os alunos, do sexo masculino, que tenham boa vontade, gosto pela música e que sejam adeptos de uma grande experiência Académica, que venham falar connosco, A Tuna-MU’s terá sempre as portas abertas para quem quer trabalhar connosco. Um facto posso prometer: todo o esforço que fiz por esta Tuna, recebi em troca imensas experiências que recordarei sempre com enorme saudade quando iniciar a minha vida profissional.

Entrevista conduzida pela Sofia Carvalho do 3º ano

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Entrevista ao Excelentíssimo Bastonário da Ordem dos Médicos

O grande destaque desta edição vai para a entrevista concedida pelo Excelentíssimo Bastonário da Ordem dos Médicos, no triénio 2011-2013, Professor Doutor José Manuel Monteiro de Carvalho e Silva. Com um currículo de referência, o nosso Bastonário é um profundo defensor do Sistema Nacional de Saúde e da contínua melhoria do sistema de ensino e prática médica.

É Assistente Hospitalar Graduado de Medicina Interna Coordenador da Consulta de Lipidologia dos HUC, tendo chefiado a Equipa do Serviço de Urgência dos HUC e integrando a VMER do INEM/HUC de 1996 a 2003.

Ao nível Académico, formou-se na Faculdade de Medicina de Coimbra, onde foi Assistente de Fisiologia e de Endocrinologia da FMUC. É actualmente Professor Auxiliar de Medicina Interna e Regente da Cadeira de Clínica Geral da Faculdade de Medicina de Coimbra. Desempenhou o cargo de Pró-Reitor da Universidade de Coimbra em 2003-2004. É Detentor da Competência em Gestão dos Serviços de Saúde, Mestrado em Saúde Ocupacional e Doutoramento Académico em Medicina Interna.

Autor ou co-autor de cerca de 600 trabalhos científicos apresentados ou publicados em congressos ou revistas nacionais e internacionais e de onze comunicações e posters premiados. Moderou 50 mesas redondas e debates. Publicou um livro sobre “Colesterol, Lípidos e Doença Vascular” e um CD de slides em Lipidologia.

Foi galardoado com Prémio Prestígio 2011 do Diário as Beiras.

Ex-Vogal da Comissão de Qualidade e Segurança do Doente dos HUC.

Ex-Presidente da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e foi Presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos nos triénios 2005-2007, 2008-2010.

Ficam então registados os seus valiosos contributos para a nossa Faculdade.

O outro lado

Revista Diagnóstico (RD) – Qual o maior factor que contribui para a sua candidatura a Bastonário? E quando surgiu esta aspiração?

Bastonário José Manuel Silva (BJSM) - Nunca tive aspiração a ser Bastonário, mas encarei a candidatura como uma missão quando, estando já a agravar-se a situação do país, considerei que a Ordem dos Médicos deveria assumir uma postura mais interventiva e assertiva na defesa dos Médicos, dos Doentes e da Saúde. O futuro veio a revelar que essa perspectiva estava correcta.

RD - Enquanto estudante de Medicina, como foi a sua vida associativa? Qual a importância que atribui a Associações Estudantis, como por exemplo a ANEM?

PJMS - Fiz parte da Comissão de Curso do 1º e do 3º ano do meu curso. A ANEM, fundada no ano em que concluí a licenciatura, tem tido uma posição central na discussão de todas as questões ligadas ao ensino pré-graduado e ao futuro da medicina em Portugal, num diálogo extremamente construtivo e de elevada qualidade com as outras estruturas associativas, nomeadamente a Ordem dos Médicos.

RD - Resumo da sua actividade enquanto Bastonário. Tem sido recompensador?

BJSM - É um permanente desafio, com momentos particularmente complexos, exigentes e difíceis, mas também extraordinariamente

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gratificantes. São possíveis múltiplos exemplos, mas daria dois que considero paradigmáticos. A assinatura do protocolo para a elaboração de Normas de Orientação Clínica com a Direcção Geral da Saúde e a extraordinária mobilização dos médicos na greve de 2012, para a qual a Ordem teve um papel fundamental e que representou um dos momentos mais marcantes da história da Ordem dos Médicos, permitindo a assinatura de um acordo de primordial i m p o r t â n c i a para o futuro os jovens médicos.

RD - Quais os principais desafios e projectos futuros para a Ordem dos Médicos?

BJSM - Rever e modernizar os Estatutos, reorganizar-se para responder cabalmente às exigências do presente e do futuro, incrementar a ligação às Associações de Doentes, colocar-se como entidade fulcral em todas as questões relacionadas com a Qualidade da Saúde e colaborar num correcto planeamento dos recursos humanos em Saúde, evitando a degradação da profissão médica e da qualidade da medicina portuguesa.

RD - Actividades extra-profissionais preferidas.

BJSM - Aproveitar os poucos momentos livres para estar com a família.

Políticas de saúde

RD - Políticas para a saúde do actual Governo até agora – a mais penalizadora e a mais benéfica (para a comunidade em geral e para a própria classe médica)?

BJSM - O Governo não tem uma política de saúde bem definida, para além da promoção

de cortes e de redução da despesa. A medida mais benéfica foi a redução do preço dos medicamentos, mas que tem gerado algumas consequências particularmente n e g a t i v a s , como a e x p o r t a ç ã o paralela de medicamentos.

As medidas mais penalizadoras são todas aquelas que reflectem um aumento da transferência de custos da Saúde do Estado para os Cidadãos, com prejuízo da sua acessibilidade, e a desvalorização do trabalho médico.

RD – Tendo em conta a actual despesa pública que o SNS representa ao nível do PIB, considera que os ajustamentos estão a ser feitos de forma correcta? Justificam-se? Na sua opinião, deve existir controlo na área financeira a que nível?

BJSM - Segundo os dados mais recentes da OCDE, Portugal é apenas o 25º país da OCDE em percentagem de contribuição pública para a despesa em Saúde, somente o 23º em despesa anual per capita (cerca de 2700 dólares), muito abaixo da média da OCDE (cerca de 3200

O Professor Doutor José Manuel Silva

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dólares) e no orçamento de Estado para 2013 prevê-se uma despesa pública no SNS de apenas 5,1% do PIB. Por conseguinte, o SNS é barato, sustentável e de elevada Qualidade. Alguns cortes não estão a ser feitos de forma correcta.

Como é possível que os doentes HIV do Centro Hospitalar do Médio Tejo tenham sido deslocalizados à força para Santarém, aumentado 90km a cada deslocação, e agora, para além das consultas, sejam obrigados a deslocar-se com periodicidades frequentemente inferiores a um mês para levantamento da medicação, afectando a sua adesão ao tratamento? Em termos humanos e de gestão esta medida geográfica também é uma decisão absurda. Só neste grupo de pouco mais de 200 doentes acrescentaram-se mais cerca de 300000 quilómetros de deslocações anuais, com graves custos sociais e económicos. Não tratar convenientemente os Doentes HIV, para além da questão individual, é um crime de Saúde Pública. Na Grécia já se assiste a um surto de disseminação do HIV, com consequência humanas e económicas gravíssimas.

Como é possível persistirem disparidades imensas nos preços de aquisição para o SNS, sem qualquer tipo de benchmarking? Cito um recente relatório do Tribunal de Contas: “… aquisição pelo Catálogo prejudicaria financeiramente as entidades hospitalares, como por exemplo o medicamento docetaxel 80 mg que, em 2011, constava no Catálogo de Aprovisionamento Público da Saúde pelo montante de € 400,00/unidade, mas foi adquirido pelo Centro Hospitalar Barreiro Montijo por € 41,72/unidade (89,57% de poupança) e pelo Hospital Garcia de Orta por € 55,00/unidade (86,25% de poupança), a outros fornecedores que não se encontravam no referido Catálogo. Nestas circunstâncias a racionalidade da gestão financeira daqueles hospitais sobrepôs-se à disciplina que estabelece

a regra da obrigatoriedade de aquisição através de Contrato Público de Aprovisionamento.”

O SNS não tolera mais cortes, o que pode ser melhorado no SNS é a eficiência da gestão e o excesso de gestores, as nomeações políticas, o deficiente aproveitamento da capacidade instalada, o insuficiente combate ao desperdício, a má e pouco transparente política de compras e as dificuldades em completar a reforma dos Cuidados de Saúde Primários.

RD - Opinião resumida sobre os seguintes tópicos:

- avançaremos cada vez mais para um sistema de saúde dominado pelas seguradoras?

BJSM - Seria um erro caro, como demonstram os exemplos da Holanda e dos EUA.

- aumento das taxas moderadoras.BJSM - Os doentes mais desfavorecidos

não suportam mais aumentos.- prescrição de medicamentos – o Parecer

do Conselho Nacional Ética das Ciências da Vida (de Setembro de 2012), que defende a existência de fundamento ético para o SNS promover medidas para conter os custos com os fármacos. E quais as reacções que eventualmente poderão desencadear no seio da própria Ordem e nos próprios utentes?

BJSM - Esse parecer foi um grave erro ético, admitindo, por exemplo, o racionamento por factor de idade! A longa explicação da posição da Ordem dos Médicos podem encontrá-la nos Editoriais da Revista da Ordem dos Médicos de Outubro e Novembro de 2012, cuja leitura recomendamos vivamente..

- novos contratos de trabalho e concurso para contratualização dos médicos à hora pelo preço mais baixo. A Ordem dos Médicos está satisfeita com o que alcançou a este nível nas negociações com o Governo?

BJSM - Inadmissível. O Governo recuou

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graças à greve dos médicos.- defende o regime de exclusividade da

prática médica no sistema público e no sistema privado, como algumas propostas a partidárias actuais? Pensa que tal poderá mesmo vir a constituir uma realidade futura?

BJSM - A “separação de águas” é um objectivo legítimo a médio e longo prazo, mas implica a alteração de muita da legislação em vigor e uma retribuição adequada aos médicos que se mantenham no público.

- Compart ic ipação da Metadona e de tratamentos de desabituação tabágica têm custos elevados. Pensa que os recursos financeiros da saúde estão efectivamente a ser bem aplicados?

BJSM - Todos os esforços devem ser feitos no sentido de lutar contra e tratar todas as formas de dependência. Quanto à compar t i c ipação dos tratamentos de desabituação tabágica, no momento actual não será possível, por não ser uma prioridade.

- fecho de diversas instituições de saúde (exemplo da Maternidade Alfredo da Costa) e reorganização em centros hospitalares.

BJSM - Todas as decisões devem ser baseadas em estudos técnicos e não em decisões políticas. Não foi divulgado nenhum estudo a fundamentar o encerramento da

MAC e a analisar as suas consequências. A constituições de grandes centros hospitalares não é benéfica, como demonstrou, por exemplo, um estudo da IGAS francesa.

RD - Negociações/relações com o Governo no seu mandato: vitórias e retrocessos.

BJSM - As relações com o Ministério são cordiais. Outros deverão fazer essa análise.

RD - Número de Médicos em Portugal – actualmente e no futuro (soluções se a resposta for excesso); Problemática da emigração é real ou não?

BJSM - Actualmente a emigração é real e irá acentuar-se. A Ordem encomendou um estudo sobre demografia médica à Universidade de Coimbra, cujos resultados se aguardam. Este ano já não haverá vagas

de especialidade para todos o candidatos. É forçoso reduzir o numerus clausus!

RD - Os médicos deveriam ser obrigados a um concurso que lhes impusesse a distribuição a nível nacional, como acontece na classe docente?

BJSM - Não é necessário impôr nada. Com o crescente excesso de médicos, todo o país irá receber os profissionais médicos de que

O Símbolo da Ordem dos Médicos

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necessita.

A formação médica

RD - Há ou não excesso de Faculdade de Medicina? As Faculdades privadas poderão efectivamente constituir uma realidade no futuro? Qual o papel da Ordem a este nível?

BJSM - Portugal tem faculdades de medicina a mais para o seu tamanho e população. O ensino privado, orientado para o lucro, pode comprometer gravemente a qualidade do ensino médico, que é muito caro, além de que não há massa crítica suficiente para um corpo docente de qualidade, situação com a qual já se debatem algumas das faculdades de medicina oficiais. A Ordem apenas pode ter um papel de exercício de magistratura de influência.

RD - Diferentes metodologias de ensino nas diferentes Faculdades. Qual o papel da Ordem a este nível? E pensa que a actual duração temporal do Curso é a adequada?

BJSM - Os estudos publicados demonstram que o ensino ideal será um misto de PBL (Problem-Based Learning) e ensino magistral. A duração ideal do ensino médico são cinco anos mais um ano verdadeiramente profissionalizante. Mais uma vez, a Ordem apenas pode ter um papel de exercício de magistratura de influência e aconselhamento

RD - Como encara a forte possibilidade do fim do designado “ano comum”?

BJSM - Para já não há condições para terminar o ano comum, que representa uma clara mais valia na formação dos futuros médicos.

RD - Opinião quanto aos novos moldes do exame de acesso à especialidade.

BJSM - Sou adepto claro de mudança para o novo modelo, do National Board of Medical Examiners, ou outro semelhante. No futuro Portugal deverá ser capaz de, autonomamente, organizar um exame em modelo sobreponível e com a mesma qualidade.

RD- Actualmente discute-se a ponderação da média de curso para a entrada na especialidade. Concorda que este seja um factor a ter em conta no acesso? Poderá vir efectivamente a constituir uma realidade?

BJSM - Actualmente já se usa a média de curso, sem ponderação, para o desempate na escolha da especialidade, o que coloca jovens de escolas diferentes numa

injusta desigualdade, que pode representar uma variação de muitos lugares relativamente ao posicionamento na seriação. Por conseguinte, a ponderação é absolutamente necessária e, logicamente, mais justa. O que se está a equacionar, depois da ponderação, é que a nota final de curso possa ter algum peso estatístico, menor, fazendo uma média ponderada em conjunto com o resultado do exame de seriação. É mais equilibrado ter em conta a avaliação global de vários anos de estudo do que deixar a totalidade da seriação para um único exame, que pode ser condicionado para várias circunstâncias

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e vicissitudes, por muita qualidade que esse exame possa ter.

RD - Acompanhamento actual da fomação médica complementar. Qual o papel da Ordem a este nível? Pensa que as especialidades deveriam ter uma redução temporal, à semelhança da maioria dos outros países?

BJSM - A Ordem é a principal responsável pela formação médica pós-graduada, cuja qualidade é mundialmente reconhecida. Com a evolução das exigências da medicina não parece adequado reduzir o tempo de formação. Pelo contrário, as especialidades que eram mais curtas como MGF e Anestesia, já aumentaram em um ano o seu período de formação.

RD - Vagas para a especialidade no futuro – todos terão acesso?

BJSM - Não, será impossível, porque o SNS e os privados não têm um suficiente número de vagas.

RD - Opinião sobre a entrada dos privados no sistema formativo do internado da especialidade.

BJSM - As regras são as mesmas e a avaliação de idoneidades e capacidades formativas feitas normalmente pelos Colégios, pelo que nada há a opor.

RD- Os médicos que se formam no estrangeiro poderem exercer desde logo autonomamente no nosso país, colocando os colegas formados no país em desvantagem. Que medidas a tomar?

BJSM- Pelo contrário, os Colegas formados em Portugal estão em vantagem porque têm uma melhor formação. A autonomia irá passar a ser concedida logo no fim do ano comum.

Particularidades

RD - Qualidades que um médico de

excelência deve ter?BJSM - Humanidade, Responsabilidade,

Dedicação.

RD - Como considera o estado da imagem actual da classe médica e da própria profissão médica perante a sociedade em geral?

BJSM - Esse é um aspecto a que a Ordem mais tem dedicado atenção, estreitando a relação com as associações de doentes e defendendo os direitos dos doentes. Verifica-se uma clara melhoria dessa imagem junto da população. Na altura da greve, em que os meios de comunicação social procuraram activamente críticas por parte dos doentes à greve dos médicos, verificou-se uma compreensão geral dos entrevistados pela posição dos médicos, uma situação inédita e que surpreendeu o próprio poder político.

RD - Novos desafios à classe médica – actuais e futuros (exemplo dos cargos de gestão).

BJSM - Preservar a Qualidade do Sistema Nacional de Saúde, que está a ser intensamente afectado pela crise; proteger a acessibilidade dos doentes ao SNS; completar a reforma dos Cuidados de Saúde Primários e “dar” um Médico de Família a todos os portugueses; adequar a demografia médica às reais necessidades nacionais; lutar pelo acesso a tecnologia e medicamentos inovadores; rigor na gestão dos recursos e na decisão médica, que é responsável por 80% da despesa com cada doente; adaptação ao novo paradigma das Normas de Orientação Clínica e respectivas auditorias, feitas interpares; carreiras Médicas e Recertificação e transparência total e maior celeridade na autorregulação disciplinar e ética.

Entrevista conduzida por: Fabíola Figueiredo

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Uma Experiência de Vida

In Dicionário da Língua Portuguesa Faculdade significa “escola superior destinada ao ensino de uma área específica do conhecimento e que confere graus académicos” mas apresenta também como sinónimos termos tão importantes como “capacidade; poder de efectuar uma acção; potência; aptidão natural; talento; virtude; destreza; oportunidade e ensejo”.

A experiência que tenho vivido na FCS ao

longo de quase 10 anos tem sido um processo de aprendizagem continuo e têm permitido presenciar momentos de transição em que se assiste não só ao crescimento físico mas também profissional, emocional e psicossocial dos alunos que integram esta “nossa” casa. Espera-se que com a sua permanência na Faculdade os alunos adquiram as competências referidas anteriormente e que este conjunto de características os torne mais capazes como profissionais e como seres humanos.

Esta experiência tem sido muito importante

para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. O carácter motivante do meu dia-a-dia ensinou-me a ser mais paciente, a saber ouvir e a conhecer a importância de compreender os outros.

As diferentes realidades e dificuldades com que me deparo diariamente induziram-me a adoptar um lema que é “se eu posso ajudar, eu ajudo; Se dá para fazer, eu corro atrás da solução”. Sabemos que o funcionário público tem em geral má fama, dizem que trabalhamos pouco, atendemos mal, temos preguiça… mas aqui sei que há pessoas que trabalham muito e procuram fazer sempre o seu melhor em prol

do bem-estar de toda a comunidade da Faculdade, e de forma muito especial, em beneficio dos seus Alunos.

Nada se faz sozinho, de forma isolada, existe sempre uma equipa e nós estamos sempre juntos e a minha experiência é, portanto, enriquecida pela experiência de outros e outras pessoas que comigo partilham as alegrias, as tristezas, as adversidades e as conquistas alcançadas.

Também tenho as minhas manias e uma delas é tentar lembrar o nome de todos os alunos, isso acontece porque acredito que esta condição exerce um

efeito positivo na interacção aluno-funcionário e pode contribuir para um desenvolvimento mais eficaz e activo da relação pessoal e académica das pessoas envolvidas.

A minha vida podia ter sido pior ou melhor… mas nunca da mesma forma se não fosse com os Alunos da FCS … vocês são a alma da Instituição … obrigada a todos!

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem”.

Fernando Pessoa

Marta, Secretária do Presidente da FCS.

Crónicas da FCS

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Referente a: Setembro - Março de 2012/13

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