DEUS , C RISTO E CARIDADE Ano 129 • Nº 2.183 • Fevereiro 2011 · Ante a mediunidade –...

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FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Ano 129 • Nº 2.183 • Fevereiro 2011 D EUS , C RISTO E C ARIDADE R$ 5,00 ISSN 1413 - 1749

Transcript of DEUS , C RISTO E CARIDADE Ano 129 • Nº 2.183 • Fevereiro 2011 · Ante a mediunidade –...

F E D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

Ano 129 • Nº 2.183 • Feverei ro 2011D EUS , CR I S TO E CAR I D ADE

R$ 5,00

ISSN 1

413

- 1

749

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: AUGUSTO ELIAS DA SILVA

Revista de Espiritismo Cristão

Ano 129 / Fevereiro, 2011 / N o 2.183

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRADiretor: NESTOR JOÃO MASOTTI

Editor: ALTIVO FERREIRA

Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO

CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO NOLETO

BEZERRA, GERALDO CAMPETTI SOBRINHO,MARTA ANTUNES DE OLIVEIRA DE MOURA E

SADY GUILHERME SCHMIDT

Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA

Gerente: ILCIO BIANCHI

Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE

Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR

TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO

Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA

CARVALHO

REFORMADOR: Registro de publicação no 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça)CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503

Direção e Redação:Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN) 70830-030 • Brasília (DF)Tel.: (61) 2101-6150FAX: (61) 3322-0523Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

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Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA

Capa: AGADYR TORRES PEREIRA

SumárioExpediente

PARA O BRASIL

Assinatura anual RR$$ 3399,,0000

Número avulso RR$$ 55,,0000

PARA O EXTERIOR

Assinatura anual UUSS$$ 3355,,0000

AAssssiinnaattuurraa ddee RReeffoorrmmaaddoorr:: Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274

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Editorial

Há Espíritos?

Entrevista: Carol Bowman

Crianças com memória de vidas anteriores

Presença de Chico Xavier

Ante a mediunidade – Emmanuel

Esflorando o Evangelho

Necessidade essencial – Emmanuel

A FEB e o Esperanto

Movimento Esperantista, em tópicos... – Affonso Soares

Cursos de Esperanto na FEB-Rio em 2011

Seara Espírita

O Livro dos Médiuns – Há Espíritos? (Capa)

Reflexões sobre a calúnia – Joanna de Ângelis

O amor ativo – Richard Simonetti

Almas de luz – Mário Frigéri

Lei de Destruição – Christiano Torchi

Acolhimento dos simples –

Antonio Cesar Perri de Carvalho

O Modelo Perfeito – Jorge Leite de Oliveira

Atmosfera psíquica – Licurgo Soares de Lacerda Filho

Em dia com o Espiritismo – Faculdades psíquicas da

alma – Marta Antunes Moura

Mais e menos – Carlos Abranches

O desafio do momento – Nancy Leite de Araújo

Palavras aos pais e aos evangelizadores da infância –

José Passini

“Nosso Lar” – Amor e dor – Alcione Peixoto

O equívoco de Judas – Julio Cesar de Sá Roriz

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Editorial

nosso planeta Terra, como o conhecemos, existe há bilhões de anos, afir-

mam os pesquisadores. Estes mesmos pesquisadores asseguram, também,

que os homens habitam este Orbe há milhões de anos. Todavia, somente

há quinhentos anos é que o homem descobriu que a Terra é redonda, e que a lei de

gravidade não é uma força de cima para baixo, mas uma força de fora para o cen-

tro do planeta.

Mesmo depois desta descoberta, os homens continuaram, por muito tempo,

acreditando que somente a Terra é habitada por seres inteligentes. Foi necessário o

progresso da Ciência e da Tecnologia para mostrar a amplitude do Universo e levar

os astrônomos e astrofísicos a começarem a aceitar a natural e lógica possibilidade

de vida inteligente fora do ambiente terreno.

Esse avanço da Ciência e da Tecnologia tem, igualmente, proporcionado ao pes-

quisador vislumbrar um universo multidimensional, com vários campos que se

interpenetram sem tocar nas percepções dos nossos cinco sentidos materiais.

Como sempre houve comunicação entre os homens e os Espíritos, sempre se

teorizou a respeito da existência de um mundo espiritual, tal como existe o mundo

material.

Allan Kardec teve a ousadia de começar a desvendar esse mundo espiritual.

Depois de iniciar os seus estudos sobre o assunto em 1855 e lançar O Livro dos

Espíritos, em 1857, publicou em janeiro de 1861 O Livro dos Médiuns, um verda-

deiro código que descreve as leis que regem a comunicação entre os homens e os

Espíritos. Logo de início, no seu primeiro capítulo, chama a nossa atenção com a

pergunta: “Há Espíritos?”. E começa a desenvolver um raciocínio lógico, unindo os

fatos à razão, que nos ajuda a compreender e a perceber o Espírito, que sempre

esteve convivendo conosco desde os primórdios da Humanidade.

Vale a pena analisar com Allan Kardec este assunto, lendo e estudando O Livro

dos Médiuns. Ele nos traz respostas para muitas dúvidas que carregamos conosco,

especialmente as que dizem respeito a quem somos, de onde viemos, para onde

vamos, qual o objetivo da nossa existência, qual a razão da dor e do sofrimento. São

sempre respostas que definem a nossa responsabilidade e que descortinam para nós

um futuro iluminado e promissor, em todas as dimensões.

Com esse estudo estaremos convictos de que somos realmente Espíritos imor-

tais, como estamos todos convictos, hoje, de que a Terra é redonda.

O

4 Reformador • Fevere i ro 20114422

Há Espíritos?

primeiro capítulo, da pri-meira parte de O Livrodos Médiuns, tem como

título a instigante pergunta: HáEspíritos?. Trata-se deindagação inteligente-mente elaborada porAllan Kardec que, apósrefletir sobre as conse-quências das manifes-tações mediúnicas dosEspíritos, responde apergunta por meio deadmirável análise, apre-sentada na forma de ar-gumentações metodi-camente encadeadas.

De início, Kardecdestaca a importânciade estarmos conscien-tes da existência doEspírito após a mortedo corpo, sobretudose pretendemos inter-cambiar com eles.

A dúvida relativa à

existência dos Espí-

ritos tem como causa princi-

pal a ignorância acerca da sua

verdadeira natureza. Geral-

mente, são figurados como

seres à parte da Criação e cuja

necessidade não está demons-

trada. [...]

Seja qual for a ideia que se fa-

ça dos Espíritos, a crença ne-

les necessariamente se baseia

na existência de um princípio

inteligente fora da matéria.

Essa crença é incompatível

com a negação absoluta deste

princípio. Tomamos, pois,

como ponto de partida,

a existência, a sobrevi-

vência e a individualida-

de da alma, que têm no

espiritualismo a sua de-

monstração teórica e

dogmática e, no Espiri-

tismo, a demonstração

positiva. [...]1

Admitida a existên-cia da alma e a sua in-dividualização, o Co-dificador conclui:

1o, que a sua natureza é

diferente da do corpo, vis-

to que, separada deste,

deixa de ter as proprie-

dades peculiares ao cor-

po; 2o, que goza da cons-

ciência de si mesma,

pois é passível de alegria

ou sofrimento, sem o que

seria um ser inerte e de nada

nos valeria possuí-la. [...]2

OHá Espíritos?

O Livrodos Médiuns

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Capa

Do aceitamento dessas ideiasresulta esta outra questão: Epara onde vai a alma depois desua morte?

As pessoas comuns possivel-mente responderiam que a al-ma vai para o céu, situado aci-ma, no alto; ou para o inferno,localizado embaixo, nas pro-fundezas da Terra. Céu e infer-no seriam, pois, lugares cir-cunscritos, impossíveis de se-rem localizados. Decorre daí oquestionamento de Kardec:

[...] Porém, o que são o alto e

o baixo no Universo, uma vez

que se conhece a redondeza

da Terra e o movimento dos

astros [...]?2

Argumenta, então, com lucidez:

Não podendo a doutrina da

localização das almas harmo-

nizar-se com os dados da

Ciência, outra doutrina mais

lógica lhes deve marcar o do-

mínio, não um lugar deter-

minado e circunscrito, mas o

espaço universal: é todo um

mundo invisível, no meio do

qual vivemos, que nos cerca e

nos acotovela incessante-

mente. Haverá nisso alguma

impossibilidade, alguma coi-

sa que repugne à razão? De

modo nenhum; tudo, ao con-

trário, nos diz que não pode

ser de outra maneira.2

A ideia de castigo e recom-pensa, ensinada por muitas reli-giões, é algo inaceitável, que ferea lógica e o bom senso, condiçãogeradora de descrença religiosae falta de fé em Deus. O castigoeterno, então, é algo extrema-mente desolador, não condizen-te com o amor divino porque se

reveste de terrível punição parao pecador, destituído da menorchance de reparar suas faltas.Neste aspecto, os ensinos espíri-tas são mais racionais e justos:

[...] Dizei, em vez disso, que as

almas tiram de si mesmas a

sua felicidade ou a sua desgra-

ça; que a sorte delas está su-

bordinada ao estado moral de

cada uma [...]. Dizei também

que as almas não atingem o

grau supremo senão pelos es-

forços que façam para se me-

lhorarem e depois de uma sé-

rie de provas adequadas à sua

purificação; que os anjos são

almas que alcançaram o últi-

mo grau da escala, grau que

todas podem atingir, desde

que tenham boa vontade; que

os anjos são os mensageiros de

Deus, encarregados de velar

pela execução de seus desíg-

6 Reformador • Fevere i ro 20114444

Capa

nios em todo o Universo [...].

Dizei, finalmente, que os de-

mônios são simplesmente as

almas dos maus, ainda não

purificadas, mas que podem,

como as outras, alcançar o

mais alto grau da perfeição,

e isto parecerá mais conforme à

justiça e à bondade de Deus, do

que a doutrina que os apre-

senta como seres criados para

o mal e perpetuamente devo-

tados ao mal. [...]2

De argumentação em argu-mentação, Allan Kardec nosconduz à compreensão dosfundamentos da Doutrina Es-pírita. Vemos, assim, que a Hu-manidade que habita o mundoespiritual não é constituída deseres criados à parte por Deus:

Ora, essas almas que povoam o

espaço são justamente aquilo

a que chamamos Espíritos.

Assim, pois, os Espíritos são

apenas almas dos homens,

despojadas do invólucro cor-

póreo. [...] Se se admitir que

as almas estão por toda parte,

ter-se-á que admitir igual-

mente que os Espíritos estão

por toda a parte.[...]2

Tais conclusões suscitam, porsua vez, nova indagação: comoas almas se apresentam nesseplano de vida? Esta perguntatem razão de ser porque, aqui, nomundo físico, temos um corpoque atende às necessidades evontades do Espírito. Mas, co-mo seria do outro lado?

A resposta espírita é simples:O Espírito se manifesta na novamoradia por meio de um corposemimaterial, o perispírito, queele já possuía quando ainda seencontrava encarnado. Kardecelucida melhor:

Figuremos, primeiramente, o

Espírito em sua união com

o corpo. Ele é o ser principal,

pois é o ser que pensa e sobre-

vive. O corpo não passa de

um acessório do Espírito, de um

envoltório, de uma veste, que

ele deixa quando está usada.

Além desse envoltório mate-

rial, o Espírito tem um se-

gundo, semimaterial, que o

liga ao primeiro. Por ocasião

da morte, despoja-se deste,

porém não do outro, a que

damos o nome de perispírito.

Esse envoltório semimate-

rial, que tem a forma huma-

na, constitui para o Espírito

um corpo fluídico, vaporoso,

mas que, pelo fato de nos ser

invisível no seu estado nor-

mal, não deixa de ter algu-

mas das propriedades da ma-

téria.[...]3

Admitido o princípio da exis-tência, sobrevivência e individua-lização da alma, resta mais umaquestão: os chamados mortospodem se comunicar com as pes-soas que vivem no plano físico?O Codificador esclarece, assim:

Por que não? Que é um ho-

mem, senão um Espírito apri-

sionado num corpo? Por que

o Espírito livre não poderia

comunicar-se com o Espírito

cativo, como o homem livre

se comunica com o prisionei-

ro? [...] Por que razão não

poderia a alma, após a morte,

entrar em acordo com outro

Espírito ligado a um corpo,

utilizar-se desse corpo vivo,

para [...] servir-se de uma

pessoa que fale, para se fazer

compreendido?4

O confrade Deolindo Amorim(1906-1984), respeitável confe-rencista e escritor espírita, afir-mava que o espírita não deveriaignorar que as obras básicas doEspiritismo têm como referên-cia primordial O Livro dos Espí-ritos, dedicando-se a estudá-la,primeiramente. Assim, o capítuloI (“Há Espíritos?”), de O Livrodos Médiuns, objeto deste estudo,é, na verdade, desdobramentodas questões 76 a 83, capítulo I(“Espíritos”), de O Livro dos Es-píritos, porém, apresentadas deforma genérica, como uma in-trodução mais ampla ao estudodo tema.5

Referências:1KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de

Janeiro: FEB, 2009. Cap. 1, it. 1.2______. ______. It. 2, p. 22-25.

3______. ______. It. 3, p. 25-26.

4______. ______. It. 5, p. 27-28.

5AMORIM, Deolindo. Cadernos doutri-

nários. Salvador: Circulus, 2000. Ca-

derno n. 5, it. 2: Relações de O Livro

dos Espíritos com outras obras da Co-

dificação do Espiritismo, p. 122-123.

7Fevere i ro 2011 • Reformador 4455

Capa

8 Reformador • Fevere i ro 2011 4466

inguém passa pela jorna-da terrestre sem experi-mentar o cerco da igno-

rância e da imperfeição humana.Considerado como planeta-

-escola, o mundo físico é aben-çoado reduto de aprendizagem, noqual são exercitados os valoresque dignificam, em detrimentodas heranças ancestrais que assi-nalam o passado de todas as cria-turas, no seu penoso processo deaquisição da consciência.

Herdando as experiências tran-satas nos seus conteúdos bons emaus, por um largo períodopredominam aqueles de nature-za primitiva, por estarem maisfixados nos painéis dos hábitosmorais, mantendo os instintosagressivos-defensivos que se vãotransformando em emoções,prioritariamente egóicas, emcontínuos conflitos com o Si--mesmo e com todos aquelesque fazem parte do grupo socialonde se movimentam. Inevitavel-mente, as imposições inferioressão muito mais fortes do que

aquelas que proporcionam a as-censão espiritual, liberando o or-gulho, a inveja, o ressentimento,a agressividade, o despotismo, aperseguição, a mentira, a calú-nia e outros perversos compor-tamentos que defluem do egoatormentado.

Toda vez, quando o indivíduose sente ameaçado na sua forta-leza de egotismo pelos valoresdignificantes do próximo, é do-minado pela inveja e investe fu-ribundo, atacando aquele quesupõe seu adversário.

Porque ainda se compraz nasituação deplorável em que seestorcega, não deseja permitirque outros rompam as barrei-ras que imobilizam as emoçõesdignas e os esforços de desenvol-vimento espiritual, assacandocalúnias contra o inimigo, ge-rando dificuldades ao seu traba-lho, criando desentendimentosem sua volta, produzindo campa-nhas difamatórias, em mecanis-mos de preservação da própriainferioridade.

Recusando-se, consciente ouinconscientemente, a crescer eigualar-se àqueles que estãoconquistando os tesouros do dis-cernimento, da verdade, do bem,transforma-se, na ociosidademental e moral em que perma-nece, em seu cruel perseguidor,não lhe dando trégua e retroali-mentando-se com a própriainsânia.

Torna-se revel e não aceita es-clarecimento, não admitindo queoutrem se encontre em melhorsituação emocional do que ele,que se autovaloriza e se auto-promove, comprazendo-se empersegui-lo e em malsiná-lo.

Ninguém consegue realizar algode enobrecido e dignificante naTerra sem sofrer-lhe a sanha, libe-rando a inveja e o ciúme que ex-perimenta quando confrontadocom as pessoas ricas de amor ede bondade, de conhecimentose de realizações edificantes...

A calúnia é a arma poderosade que se utilizam esses enfer-mos da alma, que a esgrimem de

N

Reflexõessobre a

calúnia

maneira covarde para tisnar a re-putação do seu próximo, a quemnão conseguem equiparar-se,optando pelo seu rebaixamento,quando seria muito mais fácil aprópria ascensão no rumo dafelicidade.

A calúnia, desse modo, é instru-mento perverso que a crueldadedissemina com um sorriso e cer-to ar de vitória, valendo-se dasimperfeições de outros cômpa-res que a ampliam, sombreandoa estrada dos conquistadores dofuturo.

Nada obstante, a calúnia étambém uma névoa que o sol daverdade dilui, não conseguindoir além da sombra que dificultaa marcha e das acusações aleivo-

sas que afligem a quem lhe ofe-reça consideração e perca tempoem contestá-la.

Nunca te permitas afligir,quando tomes conhecimentodas acusações mentirosas que sedivulgam a teu respeito, assimcomo de tudo quanto fazes.

Evita envenenar-te com os seusconteúdos doentios, não reser-vando espaço mental ou emocio-nal para que se te fixem, levan-do-te a reflexões e análises queatormentam pela sua injustiça emaldade.

Se alguém tem algo contra ti,que se te acerque e exponha, casoseja honesto.

Se cometeste algum erro ouequívoco que te coloque em si-tuação penosa e outrem o per-cebe, sendo uma pessoa digna,que se dirija diretamente a ti,solicitando esclarecimentos ouoferecendo ajuda, a fim de quedemonstre a lisura do seu com-portamento.

Se ages de maneira incorretaem relação a outrem e esse expe-rimenta mal-estar e desagrado,tratando-se de alguém responsá-vel, que te procure e mantenhaum diálogo esclarecedor.

Quando, porém, surgem naimprensa ou nas correspondên-cias, nas comunicações verbaisou nos veículos da mídia, acusa-ções graves contra ti, sem que

9Fevere i ro 2011 • Reformador 4477

antes haja havido a possibilidadede um esclarecimento de tuaparte, permanece tranquilo, por-que esse adversário não desejainformações cabíveis, mas man-tém o interesse subalterno deprojetar a própria imagem, uti-lizando-se de ti...

Quando consultado pelos ira-cundos donos da verdade e poli-ciais da conduta alheia com aarrogância com que se compor-tam, exigindo-te defesas e teste-munhos, não lhes dês impor-tância, porque o valor que seatribuem, somente eles mesmosse permitem...

Não vives a soldo de ninguéme o teu é o trabalho de ilumina-ção de consciências, de desen-volvimento intelecto-moral, defraternidade e de amor em nomede Jesus, não te encontrandosob o comando de quem querque seja. Em razão disso, facul-ta-te a liberdade de agir e depensar conforme te aprouver,sem solicitar licença ou permis-são de outrem.

Desde que o teu labor nãoagride a sociedade, não fere aninguém, antes, pelo contrário,é de socorro a todos quantos pa-decem carência, continua semtemor nem sofrimento na reali-zação daquilo que considerasimportante para a tua existência.

Desmente a calúnia medianteos atos de bondade e de perse-verança no ideal superior doBem.

Somente acreditam em male-dicências, aqueles que se alimen-tam da fantasia e da mentira.

Alegra-te, de certo modo,porque te encontras sob a alça--de-mira dos contumazes ini-migos do progresso.

Todos aqueles que edificarama sociedade sob qualquer ânguloexaminado, padeceram a cruezadesses Espíritos infelizes, invejo-sos e insensatos.

Criando leis absurdas para apli-carem-na contra os outros, estabe-lecendo dogmas e sistemas de do-minação, programando condutasarbitrárias e organizando tribunaisperversos, esses instrumentos domal, telementalizados pelas forçastiranizantes da erraticidade infe-rior, tornaram-se em todas as épo-cas inimigos do progresso, da fra-ternidade que odeiam, do amorcontra o qual vivem armados...

Apiada-te, portanto, de todoaquele que se transforme em teualgoz, que te crie embaraços àsrealizações edificantes com Jesus,que gere ciúmes e cizânia em re-ferência às tuas atividades, oran-do por eles e envolvendo-te na lãdo Cordeiro de Deus, sendo com-passivo e misericordioso, nuncarevidando-lhes mal por mal, nemacusação por acusação...

A força do ideal que abraças,dar-te-á coragem e valor para oprosseguimento do serviço a quete dedicas, e quanto mais ferido,mais caluniado, certamente maisconvicto da excelência dos teuspropósitos, da tua vinculaçãocom o Sumo Bem.

Como puderam, aqueles queconviveram com Jesus, recusar-

-lhe o apoio, a misericórdia, aorientação?!

Após receberem ajuda para asmazelas que os martirizavam,como é possível compreenderque, dentre dez leprosos, so-mente um voltou para agrade-cer-lhe?!

Como foi possível a Pedro,que era seu amigo, que o rece-bia no seu lar, que convivia emintimidade com Ele, negá-lo,não uma vez, mas três vezes su-cessivas?!

...E Judas, que o amava, ven-dê-lo e beijá-lo a fim de que fos-se identificado pelos seus inimi-gos naquela noite de horror?!

Sucede que o véu da carneobnubila o discernimento mes-mo em alguns Espíritos nobres,e as injunções sociais, culturais,emocionais, neles produzematitudes desconcertantes, emantagonismos terríveis às con-vicções mantidas na mente e nocoração.

Todos os seres humanos sãofrágeis e podem tornar-se víti-mas de situações penosas.

Assim, não julgues a nin-guém, entregando-te em totali-dade àquele que nunca se enga-nou, jamais tergiversou, e deu--se em absoluta renúncia do ego,para demonstrar que é o Cami-nho da Verdade e da Vida.

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Divaldo

Pereira Franco, na manhã de 29 de outu-

bro de 2010, na Mansão do Caminho, em

Salvador, Bahia.)

10 Reformador • Fevere i ro 20114488

Reformador: Qual foi sua motiva-ção para começar a pesquisar areencarnação?Carol Bowman: Fiquei interessadaem reencarnação, como estudante

universitária, no final dos anos 1960,quando tive uma epifania e perce-bi que uma parte da minha cons-ciência não morreria com o corpofísico. Foi um momento de mu-dança de vida. Ao mesmo tempo,encontrei validação para a minhaexperiência em O Livro Tibetano

dos Mortos, e vi que a crença nacontinuidade da consciênciaapós a morte era um dogma

do budismo tibetano e tam-bém da filosofia védica daÍndia. Percebi um paraleloentre as antigas tradiçõesorientais e as tradições oci-

dentais místicas do Cristia-nismo e do Judaísmo. Eu me

perguntava por que a reencar-nação havia se tornado uma

fonte de escárnio na ten-dência principal da

cultura america-na, enquanto, aomesmo tempo,

tornava-se tema de

conversa na contracultura ameri-cana dos anos 1960 e 1970. Des-cobri que séculos de repressão eperseguição por parte da IgrejaCristã e a esmagadora aceitaçãodo materialismo científico tinhamacabado com a crença na reencar-nação na cultura ocidental. Man-tive a crença na reencarnação aolongo dos anos e tive alguns vis-lumbres vagos do que eu achavaque eram algumas das minhas vi-das anteriores, mas não enten-dia como essas memórias esta-vam relacionadas com a minhavida atual. Quando experimenteiuma regressão a vidas passadas,aos trinta e poucos anos, tentandoencontrar a cura para uma doençacrônica física, finalmente comeceia entender como as vidas passadasafetam todos os aspectos de nossapersonalidade, nossa saúde, nossoscomportamentos e nossas atitudes.Essa regressão inverteu o padrãoda minha doença e explicou-me

11Fevere i ro 2011 • Reformador 4499

CA RO L B OW M A NEntrevista

Crianças com memória

de vidas anterioresCarol Bowman, pesquisadora americana sobre reencarnação, relata como surgiu seu

interesse pelo assunto e evoluiu para as pesquisas sobre recordações de vidas passadas emcrianças. A entrevistada proferiu palestra sobre o tema e lançou o livro Las Vidas Pasadas

de los Niños, editado em espanhol pelo CEI, no 6o Congresso Espírita Mundial, em Valencia.Há livros da autora, em português, publicados por editoras leigas

muito sobre os meus medos pre-sentes, doenças e outras caracte-rísticas da personalidade. Ela foi,provavelmente, a experiência maisreveladora e curativa da minhavida. Eu queria aprender a ajudaros outros da maneira como tinhasido ajudada.

Reformador: Por que o foco empesquisas com crianças?Carol Bowman: Ao mesmo tempo,e acho que não foi uma coinci-dência, os meus filhos desenvol-veram fobias: meu filho tinha pa-vor do som de trovões e minha fi-lha tinha medo de nossa casa quei-mar. Quando meus filhos eram in-centivados a falar sobre seus medos,descobrimos que as mortes trau-máticas de vidas passadas erama fonte de suas fobias. Depois defalar sobre suas vidas anteriores eas mortes, as fobias foram imedia-tamente afastadas. Suas curas indu-ziram-me a investigar as memó-rias de vidas passadas das crian-ças, bem como a terapia de regres-são com os adultos. Gostaria de

saber se as outras crianças tinhamessas lembranças também.

Encontrei o grande trabalho doDr. Ian Stevenson, que documentouquase três mil casos de recordaçãoespontânea de vidas passadas emcrianças. Sua pesquisa confirmouque as crianças de todo o mundopoderiam se lembrar de suas vidasanteriores e me ajudou a entenderque as memórias dos meus filhosnão eram tão incomuns. Depois deverificar que a criança estava emuma vida anterior, ele foi capaz decomparar a personalidade atual dacriança com a de vidas passadas.Ele descobriu que havia casos emque os traços de personalidadetransitaram de uma vida para outra.Ele também descobriu que muitascrianças tinham vívida recordaçãode suas vidas anteriores, especial-mente se morreram de formatraumática, e muitas vezes essascrianças teriam fobias relacionadasà morte traumática. Isso tambémse foi confirmando e me fascinan-do demais, uma vez que o obser-vei em meus próprios filhos. Mas

fiquei surpresa ao ver que, em to-dos os seus estudos de casos eanálises, o Dr. Stevenson nuncamencionou que essas memóriaspoderiam curar crianças. Paramim, isso foi o mais impressio-nante nas experiências dos meusfilhos: que eles poderiam curar otrauma que tinham trazido paraesta vida. Foi quando percebi quetinha encontrado algo importan-te que precisava ser compartilha-do com os outros.

Reformador: Qual foi a experiên-cia profissional que serviu de basepara executar tal pesquisa?Carol Bowman:Após minha própriaexperiência com terapia de vidaspassadas, e depois de meus filhosterem partilhado as suas memórias,fiquei obcecada por compreendercomo as memórias de vidas passa-das nos afetam. Eu não tinha forma-ção em pesquisa, e minha graduaçãofoi em inglês. Mas fui levada poruma forte curiosidade para aprendersobre esse fenômeno e suas apli-cações práticas, não apenas como

12 Reformador • Fevere i ro 20115500

filosofia, mas como ferramenta decura e autoconhecimento. Antesdisso, rezava para encontrar o tra-balho da minha vida. Uma vez queisso aconteceu, eu sabia o que era.Li tudo o que pude encontrar naslivrarias e nas bibliotecas sobrereencarnação e casos de vidas pas-sadas. Isso aconteceu antes da épocada internet, assim os meus recursoseram limitados. Procurei algunsdos pioneiros no campo daterapia de vidas passadas: Dr.Roger Woolger, Henry Bolduc,Winafred Lucas, NormanInge e outros, e treinei comeles. Decidi ir para a faculda-de e fiz mestrado em terapiana Universidade de Villanova.Acredito que meu caminhofoi orquestrado por mim. Eutinha uma crença na reen-carnação, então, experimen-tei minha própria cura comoresultado de uma regressãoa vidas passadas. E quandoos meus filhos me contaramsobre suas experiências de vidaspassadas, gostei do que esta-va testemunhando. Entendias implicações de suas expe-riências para outras criançastambém.

Reformador: Você tem muitos regis-tros de casos de reencarnação?Carol Bowman: Desde que come-cei a coletar casos de crianças, noinício dos anos 1990, recebi cen-tenas de e-mails e cartas de pais detodo o mundo. Alguns casos nãosão mais do que uma única obser-vação feita por uma criança. Outroscasos são mais detalhados e se

desenvolveram ao longo de algunsanos. Tenho sido patrocinada pe-lo site <www.reincarnationforum.com>, desde a publicação do meuprimeiro livro em 1997. As pessoaspostaram centenas de casos noFórum para exibição pública.

Reformador: O tema da reencarna-ção gera muito interesse nos Esta-dos Unidos?

Carol Bowman: Observo que mui-tos acreditam em reencarnação nosEUA, mas são crenças pessoais, eque ficam abafadas devido à suaformação religiosa, ou por medo daexposição ao ridículo, provenienteda família ou dos amigos. Ocorreuum aumento significativo de inte-resse pelo assunto nos últimos 20anos. Os livros do Dr. Brian Weiss,

em especial, têm gerado muito inte-resse, já que ele é um médico comcredenciais impecáveis que veio apúblico com seus próprios casosde cura através da terapia de vidaspassadas com seus pacientes. Temhavido também muita coberturade televisão e rádio sobre o temanos últimos 15 anos. Quando omaterial é apresentado de formajusta e não sensacionalista, acredito

que abre caminho para maispessoas expressarem suas con-vicções. Felizmente, essa ten-dência continuará.

Reformador: Como você se sen-te ao apresentar suas pesquisasem eventos espíritas?Carol Bowman: Tem sido umahonra e uma alegria apresentaras minhas descobertas em doiseventos espíritas, em Bostone Valencia. É uma alegria, pois,para muitos espectadores, aosquais falo, o que apresento éum novo material, por vezesideias completamente novas.Esse não é o caso da comuni-dade espírita. Sei que a co-munidade espírita é bem in-formada sobre os princípiosque abordo, e também acres-centa uma percepção valiosa

para a discussão. A partir do re-torno que tenho recebido, os espí-ritas apreciam as aplicações práti-cas dos princípios de reencarnação,crescimento espiritual, e de cura.Esse é o meu intuito. É por issoque é tão gratificante falar com aspessoas que entendem o que es-tou tentando transmitir por meioda fala e da escrita.

13Fevere i ro 2011 • Reformador 5511

m O Evangelho segundo o Es-piritismo, capítulo XV, item 5,comenta Kardec:

Caridade e humildade, tal a sendaúnica da salvação. Egoísmo e orgu-lho, tal a da perdição. Este princí-pio se acha formulado nos seguintesprecisos termos de Jesus: “Amarás aDeus de toda a tua alma e a teupróximo como a ti mesmo; toda alei e os profetas se acham contidosnesses dois mandamentos”. E, paraque não haja equívoco sobre a inter-pretação do amor de Deus e do pró-

ximo, acrescenta: “E aqui está o se-gundo mandamento que é seme-lhante ao primeiro”, isto é, que nãose pode verdadeiramente amar aDeus sem amar o próximo, nemamar o próximo sem amar a Deus.Logo, tudo o que se faça contra opróximo o mesmo é que fazê-locontra Deus. Não podendo amar aDeus sem praticar a caridade paracom o próximo, todos os deveres dohomem se resumem nesta máxima:Fora da Caridade não há Salvação.

As expressões amor a Deus e aopróximo soarão sempre vazias senão repercutirem em nosso com-portamento.

É a atitude e a iniciativa quedão consistência ao amor.

Assim considerando, per-gunto-lhe, prezado leitor:

Como demonstraramor a Deus?

A resposta está naobservação de Kar-dec: cultivando a hu-mildade, reconhe-cendo nossa peque-nez diante do Senhorque, conforme a ex-

pressão do sal-

mista, nos conduz pelas veredasretas da justiça.

Isso significa aceitar com sere-nidade os percalços, as lutas, asdificuldades da vida, considerandoque o Senhor sabe o que faz e nosoferece sempre o melhor. Revolta,rebeldia, desespero, inconforma-ção, infelicidade, são maus si-nais. Indicam que não amamosa Deus.

Esse amor que se exprime naaceitação de sua vontade estámuito bem definido nas palavrasde Jó (1:21), que após perder tudoo que possuía – família, saúde,bens materiais –, disse:

Nu saí do ventre de minha mãee nu tornarei para lá; o Senhor odeu e o Senhor o tomou. Benditoseja o nome do Senhor.

Imperioso considerar ainda,leitor amigo, que demonstramosamor a Deus não apenas aceitan-do o que nos dá ou nos tira, mas,também, cumprindo sua vontade.

O que o Senhor espera de nós?Que amemos o próximo como

a nós mesmos, esclarece Jesus.Como fazê-lo?Dizendo ao próximo que o

amamos?

ERI C H A R D SI M O N E T T I

O amor ativo

14 Reformador • Fevere i ro 20115522

Um bom começo, se exprimir averdade.

Mas, ainda aqui, as palavras se-rão vãs se não acompanhadas deatitudes.

É onde entra a caridade, o amorem ação.

Kardec enfatiza que a caridade étão importante, como exercício deamor, que sem ela não há salvação,não no sentido escatológico, de vidafutura, já que ninguém está definiti-vamente perdido. Somos todos fi-lhos de Deus, destinados à perfeição.

Salvação para o relacionamen-to humano, para nossa sociedade,para as situações difíceis.

O casamento está em crise.Brigas, ofensas, ressentimentose mágoas parecem ter atingidoum ponto de saturação, a impora separação, que sempre deixa mar-cas dolorosas, principalmente nosfilhos.

Como ressuscitar um amor queparece morto?

A salvação está no exercícioda caridade, interrompendo as

cobranças, perdoando as faltas, re-nunciando às brigas e discussões,ajudando sempre.

– Então tenho que me anular pa-ra viver em paz com minha mulher?

– Não, você deve anular oegoísmo, a intenção de fazer pre-valecer sua vontade, renunciar àaspereza, ao mau humor, renun-ciar à pretensão de agir como sol-teiro, embora casado.

Reclama a secretária nervosa,que lida com um superior ma-chista e mal-educado:

– Como vou exercitar amor pe-lo próximo em relação ao meuchefe, como ensina Jesus, se mi-nha vontade é estrangulá-lo?!

A salvação está no exercício dacaridade, que pede paciência, se-renidade, conciliação, o entendero outro.

Não estará ele com problemasconjugais? Não será a chefia umpeso para a qual não está prepara-do? Talvez nunca tenha recebido

um referencial de vida, ensinan-do-lhe a respeitar o próximo...

Praticando a caridade, ela con-seguirá ver no chefe não um tor-mento em sua atividade profissio-nal, mas um irmão em dificuldade.Respondendo sempre às suas in-solências com urbanidade, aca-bará por fazê-lo abrandar o com-portamento, ao mesmo tempo emque preservará a própria estabili-dade, sem desgastar-se.

O filho envolveu-se com o álcoole as noitadas festivas, resvalandopara um comportamento distante,propenso a brigas e discussões,criando sérios problemas para afamília.

– Vocês deveriam pô-lo narua! Que vá cuidar da vida! – dizum amigo pouco afeito aos valo-res cristãos.

Não é por aí.

15Fevere i ro 2011 • Reformador 5533

� �

A salvação está na caridade,vendo nele um doente que precisade ajuda. Parece um caso perdido,mas os valores da compreensão, doperdão e da tolerância, implícitosno comportamento caridoso, serãosementes que a seu tempo germi-narão na alma do filho, ajudan-do-o a superar seus desajustes.

A um médico desolado e infeliz,um orientador espiritual recomendao amor a Deus e ao próximo.

– Como fazer isso se não tenhoânimo para nada e só penso emmorrer?

Recomenda a entidade:– Três vezes por semana atenda

crianças numa creche, envolven-do-se com esse trabalho em suaprofissão. Duas vezes por dia repita,em voz alta, com ênfase, a precede Cáritas.

Foi sua salvação.Iluminava seus dias, cuidando

de crianças carentes.Iluminava sua alma, repetindo

com Cáritas:

Deus, nosso Pai, que sois todoPoder e Bondade, dai a força àquelesque passam pela provação, dai a luzàquele que procura a verdade, pondeno coração do homem a compaixãoe a caridade.

Deus! Dai ao viajor a estrela guia,ao aflito a consolação, ao doente orepouso.

Pai! Dai ao culpado o arrepen-dimento, ao Espírito a verdade, àcriança o guia, ao órfão o pai.

Senhor! Que vossa bondade seestenda sobre tudo que criastes.

Piedade, Senhor, para aqueles quevos não conhecem, esperança paraaqueles que sofrem.

Que a vossa bondade permitaaos Espíritos consoladores espalha-rem por toda parte a paz, a espe-rança e a fé.

Deus! um raio, uma faísca devosso amor pode abrasar a Terra;deixai-nos beber nas fontes dessabondade fecunda e infinita, e todasas lágrimas secarão, todas as doresse acalmarão.

Um só coração, um só pensa-mento subirá até vós, como um gritode reconhecimento e de amor.

Como Moisés sobre a montanha,nós vos esperamos com os braçosabertos, oh! Bondade, oh! Beleza, oh!

Perfeição, e queremos de algumasorte merecer a vossa misericórdia.

Deus! Dai-nos a força de ajudar oprogresso a fim de subirmos até vós;dai-nos a caridade pura, dai-nos a fée a razão; dai-nos a simplicidadeque fará das nossas almas o espelhoonde se refletirá a Vossa Imagem.1

Com amor a Deus, exercício dehumildade, e amor ao próximo,exercício de solidariedade, harmo-nizamo-nos com os ritmos do Uni-verso, habilitando-nos à felicidade,em qualquer situação.

16 Reformador • Fevere i ro 20115544

1KARDEC, Allan. Prece. Trad. GuillonRibeiro. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB,2010. Prece de Cáritas.

Almas de luz“Com amor eterno eu te amei.”

(Jeremias, 31:3.)

Mário Frigéri

O lindo amor de um casal,Que vive em mútua ternura,Na Terra é a essência mais pura Do Amor espiritual.

E quando a graça, afinal,Seu doce idílio emoldura,Dois corações transfigura Num coração celestial.

É assim o amor mais singelo:Tão despojado quão nobre;Quanto mais simples, mais belo...

Do próprio Deus Criador,Deus, cujo Amor tudo cobre – Disse Jesus: Deus é Amor.

o trato da mediunidade, não andemos à catade louros terrestres, nem mesmo esperemospelo entendimento imediato das criaturas.

Age e serve, ajuda e socorre sem recompensa.Recordemos Jesus e os fenômenos do espírito.Ainda criança, ele se submete, no Templo, ao exa-

me de homens doutos que lhe ouvem o verbo comimensa admiração, mas a atitude dos sábios nãopassa de êxtase improdutivo.

João Batista, o amigo eleito para organizar-lhe oscaminhos, depois de vê-lo nimbado de luz, em plenaconsagração messiânica, ante as vozes diretas doplano superior, envia mensageiros para lhe verifica-rem a idoneidade.

Dos nazarenos que lhe desfrutam a convivência,apenas recebe zombaria e desprezo.

Dos enfermos que lhe ouvem o sermão do monte,buscando tocá-lo, ansiosos, na expectativa da pró-pria cura, não se destaca um só para segui-lo até acruz.

Dos setenta discípulos designados para misteressantificantes, não há lembrança de qualquer deles, nalealdade maior.

Dos seguidores que comeram os pães multiplica-dos, ninguém surge perguntando pelo burilamentoda alma.

Dos numerosos doentes por ele reerguidos à bên-ção da saúde, nenhum aparece, nos instantes amar-gos, para testemunhar-lhe agradecimento.

Nicodemos, que podia assimilar-lhe os princípios,procura-lhe a palavra, na sombra noturna, sem cora-gem de liberar-se dos preconceitos.

Dos admiradores que o saúdam em regozijo,na entrada triunfal em Jerusalém, não emerge

uma voz para defendê-lo das falsas acusações,perante a justiça.

Judas, que lhe conhece a intimidade, não hesitaem comprometer-lhe a obra, diante dos interessesinferiores.

Somente aqueles que modificaram as própriasvidas foram capazes de refleti-lo, na glória doapostolado.

Pedro, fraco, fez-se forte na fé, e, esquecendo a simesmo, busca servi-lo até a morte.

Maria de Magdala, tresmalhada na obsessão,recupera o próprio equilíbrio e, apagando-se nahumildade, converte-se em mensageira de esperan-ça e ressurreição.

Joana de Cusa, amolecida no conforto doméstico,olvida as conveniências humanas e acompanha-lheos passos, sem vacilar no martírio.

Paulo de Tarso, o perseguidor, aceita-lhe a pala-vra amorosa e estende-lhe a Boa Nova em supremarenúncia.

Não detenhas, assim, qualquer ilusão à frente dosfenômenos medianímicos.

Encontrarás sempre, e por toda parte, muitas pes-soas beneficiadas e crentes, como testemunhas con-vencidas e deslumbradas diante deles; mas apenasaquelas que transfiguram a si mesmas, aperfeiçoan-do-se em bases de sacrifício pela felicidade dos ou-tros, conseguem aproveitá-los no serviço constanteem louvor do bem.

Fonte: XAVIER, Francisco C. Seara dos médiuns. Pelo Espírito

Emmanuel. 19. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

Ante amediunidade

17Fevere i ro 2011 • Reformador 5555

N

Presença de Chico Xavier

Pelo Espírito Emmanuel

Lei de DestruiçãoCH R I S T I A N O TO RC H I

esde os tempos remotos, hábilhões de anos, quando osprimeiros habitantes do orbe

ainda eram animálculos unicelu-lares, abrigados no seio das águastépidas dos mares, a saga evoluti-va dos seres vivos sempre foi mar-cada pela constante luta pela so-brevivência, em que duelam doisinstintos: o da conservação e o dadestruição.

Para sustentar a vida, as criaturasprecisam de energia, que encon-tram nos alimentos. Nessa faina,impulsionadas pelo instinto, entre-devoram-se mutuamente. É quandose opera o ciclo de transferência deenergia e de nutrientes, que seguenuma espiral infinita. Em uma daspontas dessa cadeia estamos nós,que também nos alimentamosdos vegetais e das vísceras dos ani-mais, “nossos irmãos inferiores”.1

Não bastasse isso, os hóspedesda casa planetária têm, ainda, queenfrentar os flagelos naturais queameaçam a vida e outros valores,causando grande sofrimento. Essaconstatação, impactante a princí-pio, já nos dá uma ideia da faixaevolutiva em que ainda nos situa-

mos, apesar da idade estimada doPlaneta em 4,6 bilhões de anos.2

Todavia, os mentores celestes,por meio do Espírito André Luiz,informam que o homem lida coma razão há apenas 40 mil anos, apro-ximadamente. Assim, cálculoselementares nos levam a concluirque estamos ainda nas primeiraslições da cartilha da vida. Não ésem razão que o comportamentosocial da criatura humana, blin-dado com o verniz da civilização,ainda apresenta os atavismos decompetição e beligerância:

[...] com o mesmo furioso ímpeto

com que o homem de Neandertal

aniquilava o companheiro, a gol-

pes de sílex, o homem da atuali-

dade, classificada de gloriosa era

das grandes potências, extermina

o próprio irmão a tiros de fuzil.3

Por isso, a convivência em socie-dade, muitas vezes marcada pelaopressão e pela violência de todosos tipos contra o semelhante, é in-terpretada por algumas pessoascom fundamento no célebre afo-

rismo, cunhado pelo filósofo inglêsThomas Hobbes (1588-1679), deque “o homem é o lobo do homem”.

Que razões teria a Sabedoria Di-vina para estabelecer entre os seresvivos, como regra da natureza, aluta pela sobrevivência, a destrui-ção recíproca e a destruição pelosflagelos naturais? Estariam essesprincípios em consonância com abondade e a justiça do Criador? Oestudo das Leis Morais reveladasem O Livro dos Espíritos abre umaampla visão filosófica e científica,baseada na unidade da criação, naimortalidade, na reencarnação e noprogresso dos seres, que permiteum entendimento melhor dos pro-pósitos superiores da InteligênciaSuprema, em que “as aquisições decada indivíduo resultam da lei doesforço próprio no caminho ilimi-tado da Criação”4 (Grifo nosso):

[...] Só o conhecimento do prin-

cípio espiritual, considerado em

sua verdadeira essência, e o da

grande lei de unidade, que cons-

titui a harmonia da criação, pode

dar ao homem a chave desse mis-

tério e mostrar-lhe a sabedoria

providencial e a harmonia, exa-

D

1XAVIER, Francisco C. Emmanuel. PeloEspírito Emmanuel. 27. ed. 2. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, it. Os ani-mais – nossos parentes próximos, p. 122.

2Disponível em: <http://www.igc.usp.br/index.php?id=304>. Acesso em 28/11/ 2010.

3XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo Es-pírito André Luiz. 31. ed. 3. reimp. Rio deJaneiro: FEB, 2010. Cap. 1, p. 18.

4Idem. O consolador. Pelo Espírito Em-manuel. 28. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB,2010. Q. 86.

18 Reformador • Fevere i ro 2011 5566

tamente onde apenas vê uma

anomalia e uma contradição.5

O homem começa a perceber quetambém integra os ecossistemas,tanto que já propugna pela substi-tuição do modelo de desenvolvi-mento atual, ecologicamente preda-tório, socialmente perverso e politi-camente injusto, por outro susten-tável, que tem por divisa progredirsem destruir. Mas será que é possí-vel progredir sem destruir? Em casoafirmativo, onde estariam os limiteséticos da destruição? Destruição,no sentido comum, significa extin-ção, aniquilamento. Sob o pontode vista espírita, contudo, a Lei deDestruição é transformação, me-tamorfose, tendo por fim a reno-vação e a melhoria dos seres vivos.

A destruição tem dupla finalidade:manutenção do equilíbrio na repro-dução, que poderia tornar-se excessi-va,e utilização dos despojos do envol-tório exterior que sofre a destruição:

[...] É esse equilíbrio dinâmico

– baseado em sofisticadas en-

grenagens que regem a vida e a

morte – que assegura a pereni-

dade dos ecossistemas e dos se-

res vivos que neles existem.6

A parte essencial do ser pensante(elemento inteligente) é distinta docorpo físico e não se destrói com a de-sintegração deste. Logo, a verdadeiravida, seja do animal, seja do homem,não está no organismo físico. Estáno princípio inteligente, que preexis-te e sobrevive ao corpo material, quese consome nesse trabalho,ao contrá-rio do Espírito, que sai daquele cadavez mais forte, mais lúcido e maisapto. Enfim, a vida e a morte, dentrodo planejamento divino, se apresen-tam como faces da mesma moeda:

[...] a lei de destruição é, por

assim dizer, o complemento do

processo evolutivo, visto ser pre-

ciso morrer para renascer e passar

por milhares de metamorfoses,

animando formas corporais gra-

dativamente mais aperfeiçoadas,

e é desse modo que, paralela-

mente, os seres vão passando por

estados de consciência cada vez

mais lúcidos, até atingir, na espé-

cie humana, o reinado da razão.7

O instinto de destruição coexistecom o de conservação, a título decontrapeso, de equilíbrio, para quea primeira não se dê antes do tempo,visto que toda destruição anteci-pada constitui obstáculo ao desen-volvimento da inteligência, motivopelo qual Deus fez que cada serexperimentasse a necessidade deviver e de se reproduzir.

Há dois tipos de destruição: adestruição natural e a destruição abu-siva. A destruição natural opera--se com o objetivo de manter o equi-líbrio dos ecossistemas, como, porexemplo, na morte natural doscorpos pela velhice, nos incêndiosnaturais das matas que dizimampragas, na erupção de vulcões, nosterremotos, nas cheias dos rios,

7CALLIGARIS, Rodolfo. As leis morais. 15.ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.A lei da destruição. Apud ROCHA, Cecília(Organizadora). Estudo sistematizado da dou-trina espírita. Programa fundamental. To-mo 2. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.Módulo 13, rot. 1, p. 99.5KARDEC, Allan. A gênese. Trad. Guillon

Ribeiro. 52. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2009. Cap. 3, it. 20.

6TRIGUEIRO, André. Espiritismo e ecolo-gia. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap.Lei de destruição.

19Fevere i ro 2011 • Reformador 5577

que regulam os ciclos de renova-ção da vida.

Os flagelos naturais que ceifam avida de milhares de pessoas nãoconstituem meros acidentes da Na-tureza, uma vez que o globo nãoestá sob a direção de forças cegas.Ninguém sofre sem uma razão justa.Tais fenômenos representam fatorde elevação moral, com vistas à feli-cidade dos indivíduos. Além de fa-vorecerem o desenvolvimento da in-teligência ante os desafios, auxiliamo desabrochar dos sentimentos, taiscomo paciência, resignação, solida-riedade e amor ao próximo. Isto é,

[...] as comoções do globo são

instrumentos de provações cole-

tivas, ríspidas e penosas. Nesses

cataclismos, a multidão resgata

igualmente os seus crimes de ou-

trora e cada elemento integrante

da mesma quita-se do pretérito

na pauta dos débitos individuais.8

Já a destruição abusiva, que ex-prime faces diferentes da violência, éaquela provocada de forma preda-

tória, com fins egoísticos, a pretextode prover o sustento alimentar oupara satisfazer paixões e necessida-des supérfluas, a exemplo do consu-mismo desenfreado, das caçadas deanimais, das touradas. Sem embar-go da destruição abusiva, o homemtambém ofende gravemente a leidivina quando assassina, quandopratica o suicídio e o aborto ilícito,quando provoca guerras etc.

Os animais, por terem no instintoum guia seguro, somente destroempara satisfação de suas próprias ne-cessidades, mas o homem, dotado delivre-arbítrio, nem sempre utiliza sualiberdade com sabedoria, sujeitan-do-se ao princípio de causa e efeito.

As leis divinas são perfeitas! A ne-cessidade de destruição tende a de-saparecer, à medida que o homem(Espírito encarnado), pela evoluçãointelectual e moral, sobrepuja a ma-téria. À proporção que adquire sen-so moral, vai desenvolvendo a sensi-bilidade e tomando aversão à vio-lência. É quando passa a ver no seusemelhante não mais o “lobo”, maso companheiro necessitado de am-paro e de solidariedade. Entretanto,ainda que se despoje dos sentimen-tos belicosos, o homem, até quedesenvolva plenamente o Espírito,

sempre estará sujeito aos desafiosda luta humana, cuja superação de-pende do trabalho, do esforço, daexperiência e do conhecimento:

[...] Mas, nessa ocasião, a luta, de

sangrenta e brutal que era, se torna

puramente intelectual. O homem

luta contra as dificuldades, não

mais contra os seus semelhantes.9

Há, da parte das instituições,grande preocupação com o dese-quilíbrio ambiental, com o cresci-mento demográfico e as desigual-dades sociais, com a miséria, a cri-minalidade, a corrupção. As me-didas tópicas, de ordem eco-nômica, tecnológica, muitas delascom a utilização da força bruta,não alcançam as verdadeiras cau-sas do problema, que estão na au-sência de educação moral do Es-pírito, educação essa que deve ini-ciar desde a infância como formapreventiva.

É possível colher os benefíciosde uma vida sóbria, sem necessida-de de agir com violência ou de des-truir o próximo: “A vida é muitomenos uma luta competitiva pelasobrevivência do que um triunfoda cooperação e da criatividade”.10

Que o homem não se iluda: semdominar a si mesmo, ele jamaisdominará a Natureza.

8XAVIER, Francisco C. O consolador. PeloEspírito Emmanuel. 28. ed. 3. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 88.

9KARDEC, Allan. A gênese. Trad. GuillonRibeiro. 52. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro:FEB, 2009. Cap. 3, it. 24.

10CAPRA, Fritjof. A teia da vida. Cap. 10.Apud NOBRE, Marlene. In: O clamor davida. Reflexões contra o aborto intencio-nal. São Paulo: FE Editora JornalísticaLtda., 2000. p. 192.

20 Reformador • Fevere i ro 20115588

21Fevere i ro 2011 • Reformador 5599

Esf lorando o EvangelhoPelo Espírito Emmanuel

“Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça.”– JESUS. (LUCAS, 22:32.)

essencial

Fonte: XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. 27. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 45.

usto destacar que Jesus, ciente de que Simão permanecia num mundo em que

imperam as vantagens de caráter material, não intercedesse, junto ao Pai, a fim

de que lhe não faltassem recursos físicos, tais como a satisfação do corpo, a

remuneração substanciosa ou a consideração social.

Declara o Mestre haver pedido ao Supremo Senhor para que em Pedro não se

enfraqueça o dom da fé.

Salientou, assim, o Cristo, a necessidade essencial da criatura humana, no que se

refere à confiança em Deus, num círculo de lutas onde todos os benefícios visíveis

estão sujeitos à transformação e à morte.

Testemunhava que, de todas as realizações sublimes do homem atual, a fé viva e

ativa é das mais difíceis de serem consolidadas. Reconhecia que a segurança

espiritual dos companheiros terrestres não é obra de alguns dias, porque pequeni-

nos acontecimentos podem interrompê-la, feri-la, adiá-la. A ingratidão de um

amigo, um gesto impensado, a incompreensão de alguém, uma insignificante

dificuldade podem prejudicar-lhe o desenvolvimento.

Em plena oficina humana, portanto, é imprescindível reconheças a transitorie-

dade de todos os bens transferíveis que te cercam. Mobiliza-os sempre, atendendo

aos superiores desígnios da fraternidade que nos ensinam a amar-nos uns aos

outros com fidelidade e devotamento. Convence-te, porém, de que a fé viva na

vitória final do espírito eterno é o óleo divino que nos sustenta a luz interior para

a divina ascensão.

J

Necessidade

22 Reformador • Fevere i ro 20116600

a trajetória do Movimen-to Espírita sempre foi mui-to marcante a ação dos

espíritas no atendimento dos so-cialmente carentes. Esta dedica-ção contribuiu significativamen-te para se assegurar a respeitabi-lidade dos espíritas junto à co-munidade, aos poderes públicose à mídia.

Todavia, se historicamente es-se é um fato inconteste, a simplesobservação mais ampla dos fre-quentadores dos centros espíri-tas e alguns dados estatísticossobre o perfil dos espíritas, des-de os anos 19901 até esta década,2

apontam para a realidade de que,usualmente, a frequência às reu-niões espíritas está concentradaem pessoas da faixa social médiae, em algumas regiões, com ligei-ra tendência para patamares su-periores. Ou seja, os integrantesdas faixas sociais menos dotadasgeralmente comparecem mais co-mo assistidos e, em proporção,são menos representativos atécomo espíritas declarados.

É chegado o momento de ava-liarmos as causas que levam a essecenário. Quais as razões de o Es-piritismo não ter sido efetivamen-te difundido e/ou não se comuni-car mais facilmente entre os maissimples? Por que há poucos, ouinexistem, centros espíritas nosbairros mais periféricos? Sugeri-mos que sejam analisadas a ade-quação e a compatibilidade doscentros espíritas para o atendi-mento da Diretriz 1 do “Plano deTrabalho para o Movimento Espí-rita Brasileiro (2007-2012)” ondehá a recomendação:

Difundir a Doutrina Espírita,

através do seu estudo, da sua

divulgação e da sua prática,

colocando-a ao alcance e a ser-

viço de todas as pessoas, in-

distintamente, independente-

mente de sua condição social,

cultural, econômica ou de sua

faixa etária.3

Com esse parâmetro, algu-mas questões sobre o fluxo de

pessoas dentro do Centro Espí-rita merecem reflexões e avalia-ções: a recepção e o atendimen-to fraterno aos novatos; os es-clarecimentos sobre as ativida-des da instituição; o real acolhi-mento, como o enlaçamentofraterno aos frequentadores ecolaboradores, propiciando, in-clusive, eventuais visitas aosseus lares; orientação e apoio àsreuniões de Evangelho no lar; onível das exposições nas reu-niões públicas; o nível e a dura-ção dos cursos oferecidos; as op-ções de atuação, atendendo-se àdiversidade das condições daspessoas que se dispõem a cola-borar; o atendimento às neces-sidades de apoio, orientação eequilíbrio a problemas mediú-nicos; a disponibilidade de li-vros com conteúdo, redação epreço compatíveis com as faixassociais mais simples, e algumasoutras opções que se caracteri-zam como prática da fraterni-dade e da caridade de naturezaespiritual.

NAN TO N I O CE S A R PE R R I D E CA RVA L H O

dos simplesAcolhimento

Desde as obras da Codifica-ção, há considerações oportunassobre o acolhimento e atendi-mento dos mais simples, comoem “Missão dos espíritas”:

Ide, pois, e levai a palavra divi-

na: aos grandes que a despreza-

rão, aos eruditos que exigirão

provas, aos pequenos e simples

que a aceitarão [...].4

Há subsídios recentes e inte-ressantes que robustecem a cita-da orientação de Erasto:

[...] deveríamos refletir em uni-

ficação, em termos de família

humana, evitando excessos de

consagração das elites culturais

na Doutrina Espírita, embora

necessitemos sustentá-las e cul-

tivá-las com respeitosa atenção,

mas nunca em detrimento dos

nossos irmãos em Humanida-

de, que reclamam amparo, so-

corro, esclarecimento e rumo.

[...] Não consigo entender o Es-

piritismo, sem Jesus e sem Allan

Kardec para todos, a fim de que

os nossos princípios alcancem os

fins a que se propõem.5

Nós deveremos trabalhar muito

pela disciplina na Casa Espírita,

mas não podemos olvidar dos

sentimentos, tendo em mente

que um grande número de neó-

fitos, que busca nossa Casa, é

constituído por pessoas muito so-

fridas, que não encontraram res-

postas além, e vêm até nós bus-

cando entendimento, cordialida-

de. Eis uma das funções do Aten-

dimento Fraterno, porque graças

a um bom Atendimento Frater-

no, a pessoa se sente em casa.6

Avançai no rumo do progresso

estendendo, porém, a mão ge-

nerosa e o coração afável àque-

le que se encontra na retaguar-

da, necessitado de carinho e de

ensejo iluminativo. Dai-lhe o

pão, mas também a luz, na ver-

dade, oferecei a informação

doutrinária para demonstrar-

-lhe quanto vos faz bem esse co-

nhecimento, em face das trans-

formações morais para melhor,

que vos impusestes, logrando

os primeiros êxitos...7

Esses norteamentos dispõemde recomendações gerais paraações no Centro e no Movimen-to Espírita nos documentos detrabalho aprovados pelo Conse-lho Federativo Nacional da FEB,além do já citado “Plano de Tra-balho”, principalmente no capí-tulo “Atendimento Espiritual noCentro Espírita”, em Orientaçãoao Centro Espírita8 e no item “In-centivar a criação de Centros Es-píritas em bairros e cidades,quando necessário”, em Orien-tação aos Órgãos de Unificação.9

Ponderamos também que paraesclarecimentos evangélicos à luzdo Espiritismo direcionados apessoas simples, livros com li-ções ensinadas pelo Mestre – noestilo de Jesus no Lar –,10 sãooportunos para o entendimentoda mensagem cristã.

Sem qualquer ideia de proselitis-mo, entendemos que o acolhimen-to dos simples no ambiente dasreuniões espíritas é tarefa de pri-

23Fevere i ro 2011 • Reformador 6611

Aspecto parcial do público, em reunião no C. E. Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo (MG)

mordial importância nos temposque vivemos. Lembramos que oEspiritismo está no momento pre-ciso para cumprir seu papel – deconsolo, apoio, esclarecimento econtribuição para a libertação espi-ritual –, notadamente na etapa dagrande transição que já vivemos:

[...] o Consolador, que é o

Santo Espírito, que meu Pai

enviará em meu nome, vos en-

sinará todas as coisas e vos fa-

rá recordar tudo o que vos

tenho dito.11

Referências:1CARVALHO, Antonio C. Perri de. Espiritis-

mo e modernidade. Visão de socieda-

de, família, centro e movimento espíritas.

São Paulo: USE, 1996. p. 88-92.2IBGE. Perfil das despesas no Brasil. Dis-

ponível em: <http://www.ibge.gov.br/home

/presidencia/noticias/noticia_visuali

za.php?id_noticia=961&id_pagina=1>.

Acesso em 17/11/2010.3PLANO DE TRABALHO PARA O MOVIMEN-

TO ESPÍRITA BRASILEIRO (2007-2012). In:

Reformador. ed. esp. ano 125, n. 2.140A,

p. 30, jul. 2007.4KARDEC, Allan. O evangelho segundo o

espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezer-

ra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

Cap. 20, it. 4.5CARVALHO, Antonio C. Perri de. Chico

Xavier – O homem e a obra. São Paulo:

USE, 1997. p. 80-81.6FRANCO, Divaldo P. Conversa fraterna:

Divaldo Franco no Conselho Federativo

Nacional. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.

p. 28.7______. Vivência do amor. Pelo Espírito

Bezerra de Menezes. In: Reformador. ed.

esp. ano 125, n. 2.138A, p. 37-38, mai. 2007.

8EQUIPE DA SECRETARIA-GERAL DO CFN

(Organizadora). Orientação ao centro es-

pírita. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 3,

p. 31-54,9CARVALHO, Antonio C. Perri de. (Organi-

zador). Orientação aos órgãos de unifica-

ção. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 8,

it. 3.17, p. 119-121.10XAVIER, Francisco C. Jesus no lar. Pelo

Espírito Neio Lúcio. 37. ed. 1. reimp. Rio

de Janeiro: FEB, 2009.11JOÃO, 14:26.

24 Reformador • Fevere i ro 20116622

Não fique inquieto, querido irmão,Vença a incerteza na paz da oração.

Não fique insegura, querida irmã,No Espiritismo está a fé cristã.

Supere, com Jesus, a tentação,A paz é o fruto da sublimação.

Não guarde mágoas, nem odeie ninguémSó é feliz quem vive para o bem.

Ajude sempre, seja tolerante,Jamais revide ao insulto ignorante.

Se precisa tratar questão complexa,Mantenha a calma, não aja com pressa.

Se a dúvida assalta seu coração,Recorra ao Cristo, nossa solução.

Pense em Jesus, antes da decisão E entregue a ele toda sua ação.Pense como Jesus está pensando,Fale como Jesus está falando,Sinta como Jesus está sentindo,Aja como Jesus está agindo.

E sentirá ser puro seu pensar E agirá tão bem quanto falarE falará tão bem quanto sentir Num só sentir, pensar, falar e agir.

(Inspirado na mensagem “O modelo”, do livro Encontro marcado, psicografado por

Chico Xavier. Autor espiritual Emmanuel. 13. ed. FEB, 2008. Cap. 60.)

Brasília, 4 de julho de 2008.

Jorge Leite de Oliveira

O Modelo Perfeito

ato de pensar – o princi-pal atributo qualificadorda inteligência –, apesar de

ser uma capacidade inerente a to-dos os Espíritos, confere a cada qualuma espécie de identidade parti-cular. Isto ocorre porque todos,não obstante viverem em uma mes-ma dimensão, possuem caracterís-ticas psíquicas próprias e, portan-to, pensam de forma distinta.

Essas peculiaridades no ato depensar têm sua origem nas varia-das experiências vividas pelo indi-víduo, considerando suas sequen-tes encarnações. Por esse motivo,diz-se que cada um possui sua at-mosfera psíquica, à qual alguns es-píritos e autores deram o nome dehálito psíquico ou halo psíquico,psicosfera, ambiente psíquico, den-tre outras denominações.

Em razão da diversidade dasexperiências vivenciadas e da for-ma como o ser humano lida comas mesmas, é que a atmosfera psí-quica se organiza de forma distin-ta entre nós. Essa diferenciação naorganização psíquica se dá de talforma que seria impossível en-contrar uma atmosfera que fosseperfeitamente idêntica a qualqueroutra, tal como ocorre com as im-pressões digitais e com as singula-

ridades da íris do olho humano.Devido a tais condições não encon-tramos pessoas, por mais que te-nham compartilhado as mesmasexperiências, que pensem de for-ma absolutamente idêntica sobrequalquer assunto.

Apesar, porém, de tais caracte-rísticas estarem tão bem delinea-das em cada ser, é fundamental con-siderar que estamos todos “mer-gulhados” no mesmo campo deação, e, por esta razão, interagi-mos continuamente uns com ou-tros. Essa interação pode ser facil-mente observada quando ocorreno campo físico, pois afeta nossossentidos carnais. Todavia, os Espí-ritos nos esclarecem que a influên-cia mútua acontece com muitomais ênfase quando se dá nocampo psíquico, onde as relaçõesocorrem com mais intensidade,seja entre encarnados, entre estes eos desencarnados, e nestes entre si.

Em função dessa influência mú-tua passamos a desfrutar da com-panhia uns dos outros, apro-ximando-nos. Esta proximidadeocorre quando há similaridade depensamentos, semelhança de pen-dores, afinidade de ideias, de pro-pósitos, enfim, sintonia. É aí queas atmosferas psíquicas interagem.

Algumas dessas interações sãodesejadas e aspiradas, resultandoem crescimento e progresso mo-ral; isto ocorre quando desfruta-mos de companhias de melhorcondição espiritual que a nossa,sejam encarnadas ou não, que nosassistem, sempre respeitando nos-so livre-arbítrio.

Entretanto, é interessante con-siderar que a natureza dos relacio-namentos mais comuns, que sedão na esfera psíquica, é aquelaem que uma das individualidades,ao identificar a sutileza das im-perfeições alheias, influencia-a, afim de que prevaleça a sua vonta-de sobre a outra. A respeito dessaquestão é oportuno lembrar a ad-vertência contida na resposta àpergunta 459, de O Livro dos Espí-ritos, edição FEB, sobre se nossospensamentos poderiam sofrer in-fluências de outros Espíritos: “Mui-to mais do que imaginais, poisfrequentemente são eles que vosdirigem”.

Diante desse quadro, e conside-rando a aspiração daqueles quepretendam alcançar a elevação es-piritual, é conveniente relembrara orientação de Jesus, para quenos dediquemos continuamente àoração e à vigilância.

25Fevere i ro 2011 • Reformador 6633

OLI C U RG O SOA R E S D E LAC E R DA FI L H O

25

Atmosfera psíquica

egundo o dicionário, facul-dade é a “possibilidade, na-tural ou adquirida, de fazer

algo”.1 É também “aptidão natural,dom ou talento”.1 A Medicinadefine faculdade como “atributoou senso mental normal”,2 espe-cificando faculdade psíquica comotudo “que é concernente à menteou à psique”.3 A filosofia apre-senta um significado mais am-plo, conhecido como “poderesda alma”.4

As contribuições dos filósofosgregos da Antiguidade foram fun-damentais para a elaboração domoderno conceito de faculdadepsíquica da alma. Entre elas, duasse revelaram notáveis: a de Platão(427-347 a. C.), subsidiada pelosensinos de Sócrates (469-399 a. C.),e a de Aristóteles (384-322 a. C.).Para melhor compreendê-las, épreciso considerar que a estraté-gia argumentativa utilizada porSócrates e Platão tem como focoo homem, sempre o homem, inde-pendentemente do tipo e da natu-

reza do questionamento. Já Aris-tóteles envolvia todos os seres emsuas cogitações:

[...] questionava as coisas, em

todas as direções e em todos os

sentidos. A preocupação cons-

tante de Aristóteles é vencer a

[suposta] abstração e a trans-

cendência da ideia platônica,

concretizar o universal, indivi-

dualizar o conceito [...].5

Platão distinguiu três poderes

que ele chamava de espécies da

alma: poder racional, graças ao

qual a alma raciocina e domina

os impulsos corpóreos; poder

concupiscível ou irracional, que

preside aos impulsos, aos dese-

jos, às necessidades e concerne

ao corpo; poder irascível, que é

auxiliar do princípio racional

e indigna-se e luta por aquilo

que a razão julga justo.4

Na terminologia atual, poder ra-cional equivale à razão; poder

concupiscível aos atos instintivos;poder irascível à vontade.

A classificação de Aristóteles émais detalhada e perdurou comforça total até o século XVIII,quando, a partir do movimentoiluminista, sofreu revisões:

a) parte vegetativa, que é a po-

tência nutritiva e reprodutiva

própria dos seres vivos, a co-

meçar pelo homem; b) parte

sensitiva, que compreende sen-

sibilidade e o movimento, e é

própria do animal; c) parte inte-

lectiva (dianoética), que é pró-

pria do homem. [...] Por sua

vez, o princípio dianoético ou

alma intelectiva divide-se em

duas partes que são, respectiva-

mente, a parte apetitiva ou prá-

tica (a vontade) e a parte inte-

lectiva ou contemplativa (ou

intelecto).4

A necessidade de tudo classi-ficar é peculiar do pensamentoaristotélico que, se por um lado,

S

Em dia com o Espiritismo

MA RTA AN T U N E S MO U R A

Faculdadespsíquicas da alma

26 Reformador • Fevere i ro 20116644

serviu para a sistematização dosconceitos, produziu muitas dico-tomias no conhecimento do psi-quismo. Contudo, com as con-clusões de Aristóteles, foi possívela René Descartes (1596-1650),no século XVII, lançar as basesdo método científico, iniciandoprodigiosa revolução no meiocientífico. Para esse filósofo,“[...] a alma é apenas a alma ‘ra-cional’, já que as funções vege-tativas e sensitivas não perten-cem à alma racional nem a ou-tra espécie de alma, porquantosão funções mecânicas, explica-das pelo mecanismo corpóreo”.4

Sem dúvida, equivocou-se o filó-sofo ao reduzir os poderes psí-quicos a apenas um, o da razão,e ao afirmar que as demais facul-dades da alma, como sentimentos,emoções, percepções etc., são fun-ções mecânicas.

Os conceitos socráticos e platô-nicos, ao contrário, se revelam maisalinhados com os atuais avançosda Ciência, que se empenha emaprofundar o conhecimento dasfaculdades mentais do homem,

haja vista a quantidade de pes-quisas e estudos desenvolvidos.É sabido, hoje, que a Psicologiae as neurociências, por exemplo,trabalham o método socrático,resumido na conhecida frase dooráculo de Delfos: “Conhece-tea ti mesmo!”.

Para o Espiritismo, as faculdadespsíquicas humanas extrapolamos órgãos do corpo físico que, naverdade, servem de instrumentode manifestação do Espírito. Daíos orientadores espirituais aler-tarem para não confundirmosefeito com causa:

[...] O Espírito dispõe sempre

de faculdades que lhes são pró-

prias. Ora, não são os órgãos

que dão as faculdades, e sim

as faculdades que impulsio-

nam o desenvolvimento dos

órgãos.6

Emmanuel, por sua vez, com-plementa:

A mente é o espelho da vida em

toda parte.

[...]

Nos seres primitivos, aparece sob

a ganga do instinto, nas almas

humanas surge entre as ilusões

que salteiam a inteligência, e

revela-se nos Espíritos aper-

feiçoados por brilhante

precioso a retratar a gló-

ria Divina.7

Em outra oportunidade, esseBenfeitor elucida, igualmente:

A mente é manancial vivo de

energias criadoras.

O pensamento é substância,

coisa mensurável.

[...] A imaginação não é um

país de névoa, de criações vagas

e incertas. É fonte de vitalidade,

energia, movimento...8

É útil considerar que todos osesclarecimentos prestados até aquiestão relacionados às faculdadespsíquicas comuns, ou mais eviden-tes. A mente humana possui mui-to mais poderes. Neste aspecto, aCiência está apenas engatinhando:

A Psicologia e a Psiquiatria, en-

tre os homens da atualidade,

conhecem tanto do espírito,

quanto um botânico, restrito ao

movimento em acanhado cír-

culo de observação do solo, que

tentasse julgar um continente

vasto e inexplorado, por alguns

talos de erva, crescidos ao al-

cance de suas mãos.9

Assim, os fenômenos mediú-nicos e os de emancipação da alma;a capacidade da mente comuni-car-se com outra, pela sintonia etelepatia, realizando, inclusive, lei-tura de arquivos mentais mais pro-fundos, são, entre outros, recur-sos praticamente desconhecidosdas ciências e que, infelizmente,muitas vezes são catalogadoscomo anomalias psíquicas.

A propósito, em O Livro dosMédiuns – que ora completa 150

anos de publicação – encontra-mos instrutiva dissertação, elabo-rada por Erasto e Timóteo, quedemonstra o poder das faculdadespsíquicas, evidenciadas duranteo intercâmbio mediúnico. Des-tacamos algumas ideias, comoilustração:10

• [...] De fato, nós nos comuni-

camos com os Espíritos encar-

nados dos médiuns, da mesma

forma que com os Espíritos

propriamente ditos, tão só

pela irradiação do nosso pen-

samento.

• Os nossos pensamentos não

precisam da vestimenta da pa-

lavra para serem compreendi-

dos pelos Espíritos, e todos os

Espíritos percebem os pensa-

mentos que desejamos trans-

mitir-lhes, bastando, para isso,

que lhes dirijamos esses pensa-

mentos, em razão de suas facul-

dades intelectuais. [...]

• [...] o nosso pensamento se

comunica instantaneamente

de Espírito a Espírito, graças a

uma faculdade peculiar à es-

sência mesma do Espírito.

Nesse caso, encontramos no

cérebro do médium os ele-

mentos apropriados [...].

• Quando queremos transmitir

ditados espontâneos, atuamos

sobre o cérebro, sobre os arqui-

vos do médium [...].

Referências1HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de

Salles. Dicionário Houaiss da língua por-

tuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

p. 867.2THOMAS, Clayton. (Coordenador). Dicio-

nário médico enciclopédico taber. Trad.

Fernando Gomes do Nascimento. 17. ed.

São Paulo: Ed. Manole, 2000. p. 702.3______. ______. p. 1463.4ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filo-

sofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone Castilho

Benedetti. 4. ed. São Paulo: Martins Fon-

tes, 2000. p. 425.5GILES, Thomas Ranson. Introdução à filo-

sofia. São Paulo: USP, 1979. P. 1, it. 4,

subitem 4.1.2, p. 47.6KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2010. Q. 370.7XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida.

Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 1.8______. Roteiro. Pelo Espírito Emma-

nuel. 13. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB,

2010. Cap. 25, p. 108.9______. ______. p. 107-108.10KARDEC, Allan. O livro dos médiuns.

Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp.

Rio de Janeiro: FEB, 2009. P. 2, cap. 19,

it. 225, p. 352, 353, 355.

28 Reformador • Fevere i ro 20116666

“O nosso

pensamento

se comunica

de Espírito

a Espírito”

29Fevere i ro 2011 • Reformador 6677

xercer direito de escolha éum dos princípios da liber-dade.

É em reforço a esse valor intrín-seco à evolução do ser que osEspíritos superiores, desde o iníciodo processo de implantação doEspiritismo, reforçam o livre--arbítrio como um dos pilares fun-damentais do edifício doutrinário.

Com base nisso, quero proporaqui um exercício pessoal a cadaum, em favor de nossa paz.

Escolher “para mais” o que éútil e considerar “para menos”o que for prejudicial pode ser fun-

damental para a felicidade. E comfelicidade não se brinca. Apareceuna frente, tem de pegar e não lar-gar nunca mais.

Portanto, dentro do que me épossível, escolho:

• mais companheirismo e me-nos indiferença;

• mais silêncio e menos agi-tação;

• mais certezas e menos dú-vidas;

• mais fé raciocinada e menoscrenças cegas;

• mais trabalho efetivo no bem,que me faça suar a camisa,do que teorizações idealistas

que não se fundamentam naprática;

• mais meditação e menos pressa;

• mais massagem e menos tensão;

• mais paciência e menos irri-tação;

• mais céu do que terra, depen-dendo do caso;

• mais terra do que céu, depen-dendo do caso;

• mais compreensão e menosruído na minha comunicaçãocom os outros;

• mais tempo para meus amores e menos para meusegoísmos;

• mais luz para todos os cami-nhos e menos trevas nos

corações.

Faça você a sualista e seja sempre“mais” do que pu-der, no sublimeexercício de trans-cendência pessoal,deixando para tráso que não servemais para sua feli-cidade integral.

Mais emenos

ECA R LO S AB R A N C H E S

ouvadas sejam as mãos queoperam as ações do Bem,dirigidas por mentes devo-

tadas à fidelidade aos nortea-mentos do Consolador.

Não é fácil encontrar-se naTerra muitas almas dispostas arenúncias e sacrifícios em favordos tempos novos que, parado-xalmente, todos aguardam.

A impressão que se tem é quementes muito poderosas mas nega-tivas, que conhecem bastante aesfera das fragilidades humanas,atuam no sentido de minar o bomânimo ou de insuflar desespe-rança em muitos corações, afas-tando-os dos caminhos segurosdo Senhor.

Nada obstante, as falanges doBem, capitaneadas por Prepos-tos de Jesus Cristo, diligentese discretas, seguem firmes

no empenho de desfazer espes-sas sombras que desorganizam eperturbam, além de iluminarconsciências, incentivando-as àesperada fidelidade aos ensina-mentos do Espiritismo.

É com essa reflexão que con-vidamos todos os irmãos de boavontade para participarem daCaravana do Amor, que não sepode desmontar nem atarantardiante das investidas negativasdo tempo presente.

O labor do Cristo nunca en-controu, na Terra, terreno fácilou aceitação tranquila, mesmoentre indivíduos que se afirmam

como seguidores do Bem. Paramuitos deles seria mais interes-sante que a Mensagem Espíritanão os retirasse das zonas deconforto nas quais se alocam,sem nenhum anseio de desaco-modar-se, de ir à luta ou de efe-tuar as indispensáveis mudançaspelos caminhos da existência.

Como o Mestre afirmou quenão se pode atender aos interes-ses de dois senhores, pelo riscode não se conseguir agradar aambos igualmente, sentimos quejá é tempo de optarmos pelapolaridade mais importante pa-ra nós, ou seja, de fazermos asnossas escolhas definitivas paraa vida.

É preciso que definamos aprópria escala de valores, umavez que ao assumirmos com-

promisso com a Verdade queliberta e com o Bem que ali-menta, correremos menor risco

de resvalar ou de nos contur-bar à frente dos serviços a

cumprir Seara afora.A nossa união em

torno do Ideal Espí-

O desafiodo momento

L

30 Reformador • Fevere i ro 20116688

rita não pode ser procrastinada,sob pena de perdermos o passodo progresso anelado nas lidas donosso Movimento Espírita, quese propõe difundir a exuberantemensagem do Mundo Maior.

Não temos mais tempo paraqualquer modalidade de fuga,de defecção ou de negligênciaperante os compromissos com ofuturo, que já começou.

Vários grupos de companhei-ros domiciliados nos Camposdo Além, com os quais coopera-mos pessoalmente, têm se so-mado às Falanges do Cristo, nosentido de reativar mentes in-contáveis e de sensibilizar umsem-número de corações, paraque não mais percamos a opor-tunidade de servir fielmente aJesus.

Unamo-nos, pois, irmãos, for-talecendo-nos, reciprocamente,para que, devidamente reforça-dos e responsáveis, alcancemos

a excelência da reencarnação erealizemos o nosso melhor es-forço pela construção do sonha-do mundo novo, a começar denós mesmos e dos que são nos-sos dependentes intelectuais ouafetivos.

Para tanto, não deveremosnos afastar do estudo aprofun-dado do Espiritismo, por meiode sérias meditações, de discus-sões e análises graves sobre seusconteúdos tão felizes.

Não mais podemos ver o mundoa incendiar-se sem que nos apre-sentemos como operadores dapaz e da alegria, da lucidez e dotrabalho, sem qualquer omissãoindevida.

No ensejo, bons amigos, con-tamos com a companhia dos ca-ros Jaime Rolemberg e LeopoldoMachado, embora outros valo-rosos servidores desencarnadosparticipem desses luminososinteresses.

O nosso grandioso Espiritis-mo, enfim, deve ser a nossa filo-sofia de vida ou não resistire-mos ao peso do anticristo, quese materializa de diversas for-mas, pelas estradas da nossaevolução para o Criador. O tem-po melhor, pois, é o agora!

Embora saibamos não ser fácilcorporificar no mundo o projetode Jesus Cristo, não poderemosesquecer que o nosso tempo é,de fato, o agora e o nosso me-lhor dia é o de hoje.

Desejo abraçar a todos os irmãosque sustentam com seriedade onosso Movimento, em todos oslugares, e despedir-me com fra-ternal carinho, sua irmã

Nancy Leite de Araújo

(Mensagem psicografada por José Raul

Teixeira, em 5/11/2010, durante a Reunião

Ordinária do Conselho Federativo Nacional

da FEB, em Brasília, DF.)

31Fevere i ro 2011 • Reformador 6699

Número de falantes do esperanto

Eis um tema que, usando uma surrada expres-são, tem feito “correr rios de tinta” nos círculosesperantistas e não-esperantistas. A complicação jáse põe pela dificuldade de se definir um “falante doesperanto”, uma vez que, diferenciados segundodiversas categorias, não se pode chegar a um núme-ro absoluto.

A questão foi recentemente abordada na página daVikipedio (Wikipedia, em esperanto) <http://eo.wikipedia.org.wiki/Nombro_de_Esperanto-parolantoj>onde, entre outros textos, figura uma lista cronológicade argumentos em torno de tão difícil avaliação. Desta-camos, em tradução, uma conclusão resumida, ali apre-sentada: “Pode ser que atualmente 100 mil pessoasusem o Esperanto regular e fluentemente (destaque nos-so); 500 mil de quando em quando, possivelmente comalguma hesitação; 2 milhões já o usaram, mesmo se hádécadas e com ocasional hesitação; e talvez 20 milhõestenham aprendido a língua em nível básico”.

Obviamente, o valor dessa conclusão é relativo.

Associação Brasileira deEsperantistas-Espíritas (ABEE)

Fundada para coordenar as atividades dos esperan-tistas-espíritas do Brasil, na condição de Entidade Espe-cializada filiada ao Conselho Federativo Nacional da Fe-deração Espírita Brasileira, a ABEE <[email protected]> consolida-se pouco a pouco sob acondução segura de sua diretoria provisória, composta

pelos operosos samideanos1 Waldir Antônio Silvestre(presidente), Eurípedes Alves Barbosa (vice-presidente),Ari Lima Haine (tesoureiro) e Carlos Maria (secretário).

A Associação funciona na Av. Central, bloco 1185,casa 1, fundos – Núcleo Bandeirante, Brasília (DF), ejá propõe a seguinte programação:

• Segunda-feira, das 14h às 15h30 – discussão so-bre projetos, programas, eventos, bem comosobre novas propostas e sugestões;

• Quinta-feira, das 20h às 21h – estudos espíritas.

Brevemente serão oferecidos cursos da LínguaInternacional Neutra, e, no período de 29 de abril a1o de maio do ano vindouro, a ABEE realizará, emBrasília (DF), o 5o Encontro Brasileiro de Esperantis-tas-Espíritas (5a Brazila Renkonti1o de Esperantistoj--Spiritistoj), com o tema principal “Spiritistoj, amukaj instruu vin!” (“Espíritas, amai-vos e instruí-vos!”).

Modelo católico

Como forte motivação para que os esperantistas--espíritas perseveremos no atual esforço por conquis-tar uma forma de organização que atenda às necessi-

Movimento Esperantista,em tópicos...

32 Reformador • Fevere i ro 20117700

A FEB e o Esperanto

AF F O N S O SOA R E S

1A palavra samideano está registrada no “Aurélio”: (Do Esperanto.)S.m. Adepto da mesma ideia. Vocábulo com que os esperantistas sedesignam entre si.N. da R.: Aqui, aportuguesamos o plural (samideanos), mas emesperanto o plural de samideano, como de qualquer outro substanti-vo, recebe a terminação j: samideanoj (coidealistas).

dades e objetivos de tão significativo movimento, sob acoordenação da ABEE, pretendemos tê-la encontra-do na estrutura organizacional da Unione EsperantistaCattolica Italiana (UECI) <www.ueci.it>, fundadaem Bologna no ano de 1920 e hoje sediada em Milão.

A Unione, que coordena as atividades dos espe-rantistas-católicos da Itália desde 1920, possui gru-pos locais em Milão, Rimini, Trento e Veneza, edita operiódico bimestral, bilíngue, Katolika Sento (Senti-mento Católico), tem publicado regularmente livros ediversos documentos, mantém uma biblioteca, reali-za anualmente congressos nacionais e é filiada à In-ternacia Katolika Unui1o Esperantista (1910) (UniãoCatólica Esperantista Internacional) <www.ikue.org>, com membros em 25 países.

Sem dúvida alguma, a UECI é um referencial signi-ficativo para que a ABEE construa a sua organização deforma segura e, assim, possa atingir os seus objetivos.

Propaganda na Ponte

No dia 15 de dezembro, data em que se comemo-ra o nascimento do iniciador do esperanto, LázaroLuís Zamenhof (1859-1917), todos os painéis eletrô-nicos da Ponte Rio–Niterói prestaram-lhe expressivahomenagem, como se vê na foto.

O fato se deveu à iniciativa do atleta niteroienseWalter Fontes, presidente da Associação Esperantista doRio de Janeiro <http://aerj.org.br/aerj> que, após longa,perseverante e bem fundamentada argumentação,obteve a aprovação e concretização de sua ideia.

33Fevere i ro 2011 • Reformador 7711

Cursos de Esperantona FEB-Rio em 2011

Têm início, neste mês, os seguintes cursos deesperanto na Sede Seccional da FEB, na Av.Passos, 30, no Centro do Rio de Janeiro:

Básico: 4a feira, das 15h45 às 17h;5a feira, das 14h30 às 16h.

Aperfeiçoamento: 6a feira, das 16h30 às 18h.

Estudos Doutrinários em Esperanto: 2a feira,das 15h às 16h.

As inscrições serão acolhidas no endereçoacima citado, no horário comercial.

Página inicial da Unione Esperantista Cattolica Italiana

Página inicial da Internacia Katolika

Unuigo Esperantista^

34 Reformador • Fevere i ro 20117722

visão que se tem da criançapela ótica espírita diferefundamentalmente daquela

que é sustentada pelas doutrinas quepregam a unicidade da existênciacorpórea. Para essas correntes depensamento religioso, a criança traz,ao nascer, apenas os ascendentesbiológicos, que seriam herdados dosantepassados próximos ou remo-tos. A concepção espírita diverge,também, de outras doutrinas reen-carnacionistas que consideram avolta do Espírito ao mundo ma-terial apenas com fins punitivosou, quando muito, para o cumpri-mento de uma missão.

O Espiritismo não nega a reen-carnação missionária, e ensina queaquilo que é visto como punição éapenas o funcionamento da lei decausa e efeito. Entretanto, vai além,ampliando a compreensão da pró-pria vida, ao revelar o aspecto evo-lutivo da reencarnação.

Vista sob essa ótica, a criança éum Espírito imortal, detentor deimensa bagagem de experiênciasvivenciadas em outras épocas, her-deira de si mesma, que retorna àTerra, a fim de adquirir novos co-nhecimentos e, principalmente, dereformular sua maneira de proceder,ajustando-a, tanto quanto possível,aos postulados do Evangelho deJesus. Assim, aprende-se, no Espiri-tismo, que a reencarnação tem porobjetivo o prosseguimento da jor-nada evolutiva do Espírito.

Ao responderem a Kardec a res-peito da utilidade de passar pelo es-tado de infância, os Espíritos supe-riores atribuíram a responsabilida-de da execução dos procedimentoseducativos, não só aos pais, mas atodos aqueles que têm oportuni-dade de propiciar à criança ensina-mentos e exemplos que a ajudema adquirir novos conhecimentos e areformular seu modo de proceder,ou seja, de reeducar-se através doesforço consciente, no sentido deexteriorizar sua luz, herança divinade que todos os Espíritos somos

dotados, conforme ensinamento deJesus (Mateus, 5: 16).

Dentre esses incumbidos de edu-cá-la, segundo a expressão dos Es-píritos (O Evangelho segundo o Espiri-tismo, cap. XIV, item 8, FEB), estãoos evangelizadores da infância, liga-dos a esses irmãos recém-chegadosdo mundo espiritual, não pelos la-ços da consanguinidade nem do pa-rentesco físico, mas pelos mais sa-grados elos da nobre tarefa assu-mida perante o Evangelizador Maior.Entende-se, assim, que foram ad-mitidos num trabalho que é con-tinuação daquele iniciado no mun-do espiritual, na preparação do Es-pírito para sua volta às lides terre-nas. Ao ser considerada a EscolaEspírita de Evangelização como umPosto Avançado do mundo espiri-tual, deve-se meditar sobre a exten-são e a responsabilidade da tarefaque é atribuída ao evangelizador.

Consciente dessa grave respon-sabilidade, qual seja a de iluminarconsciências, urge que se prepareconvenientemente através da oraçãosincera, da meditação serena, do

Palavras aos pais e aosevangelizadores da infância

A

“Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período,é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem

o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo.”1

JO S É PA S S I N I

1KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Riode Janeiro: FEB, 2010. Q. 383.

estudo edificante, a fim de que a suapalavra, portadora de carga magné-tica gerada na convicção profunda,e não apenas na informação super-ficial, possa tocar os pequeninos,pois quem não está convencido doque diz, raramente consegue con-vencer alguém. Como exemplo, éoportuna a lembrança das palavrasdo Benfeitor Alexandre, citadas nolivro Missionários da Luz:

[...] O companheiro que ensina a

virtude, vivendo-lhe as grande-

zas em si mesmo, tem o verbo

carregado de magnetismo posi-

tivo, estabelecendo edificações

espirituais nas almas que o ouvem.

Sem essa característica, a dou-

trinação, quase sempre, é vã.2

Desse modo, a palavra suave,embora firme, abrirá as portas doentendimento da criança, propician-do oportunidade à semeadura daslições do Evangelho, agora expli-cado à luz da Doutrina Espírita.

Deve, o evangelizador, ter cons-ciência de que a Escola Espírita deEvangelização – chamada afetiva-mente de “escolinha” – é, malgra-do o pouco tempo de que dispõepara o convívio com a criança, ape-sar da incompreensão de alguns di-rigentes de centros espíritas e dasdificuldades materiais, a escola quemais esclarece no mundo, aquelamais propícia à implantação dostempos novos, em face dos ensi-namentos libertadores, capazes delevar o evangelizando a uma mu-dança de mentalidade, que o capa-citará a colaborar efetivamentena implantação de uma sociedademais justa, mais humana, maisfraterna, conforme preconizamos Espíritos.

Importa seja lembrado tambémque o Espiritismo, ao trazer devolta os ensinamentos de Jesus, nasua simplicidade, objetividade epujança originais, anula aquelesentimento místico do compareci-

mento ao templo – assim chamadocasa de Deus – e revela o mundocomo oficina da vivência religiosa,portanto, do aperfeiçoamento espi-ritual. Anula, também, outro refe-rencial religioso, além do templo,qual seja a figura do guru, do sacer-dote, do pastor.

Tendo isso em mente,deve o evan-gelizador meditar sobre o que elerepresenta para a criança, que oobserva efetivamente como refe-rencial religioso, malgrado o seuempenho em mostrar-lhe os ver-dadeiros referenciais nas figurasveneráveis que, através dos tem-pos, têm trazido suas contribui-ções para a iluminação da criaturahumana, no que se destaca a figuramaior de Jesus.

Assim pensando, deve o evan-gelizador empenhar-se, com todaa força do seu entendimento, nosentido de aprimorar-se cada vezmais para a execução do seu tra-balho junto à criança. Esse apri-moramento envolve três aspectos

2XAVIER, Francisco C. Missionários da luz.Pelo Espírito André Luiz. 43. ed. 2. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. 18, p. 394.

35Fevere i ro 2011 • Reformador 7733

principais, que devem ocupar oprimeiro plano das suas preocu-pações: o pensar, o sentir e o fazer.

O pensar leva-o à reflexão,à cons-cientização plena do valor do seutrabalho. Quando medita sobre suaatuação no setor de evangeliza-ção infantil, deve avaliar o níveldo seu comprometimento com atarefa; que espaço ela ocupa emsua mente; quantas horas por se-mana dedica ao preparo da men-sagem que levará à criança queespera dele a orientação, a fim deque caminhe com segurança nestemundo tão conturbado da atuali-dade. Sem que se julgue grandemissionário ou Espírito iluminado,é justo que tenha consciência darelevância e do valor da tarefa a quese dispõe, ainda que a sua turmade evangelizandos seja pequena,que seja “turma” de um só!

E quando o assalte alguma dú-vida a respeito da validade do seuesforço, deve lembrar-se de que notrabalho mediúnico de desobsessão– que deveria denominar-se “evan-gelização do desencarnado” – umgrupo de várias pessoas se empe-nha, às vezes durante muito tem-po, no encaminhamento de umúnico Espírito que trilha caminhoequivocado, não raro por não tersido evangelizado na infância.

Ao serem examinados os resul-tados das tarefas desenvolvidas nasinstituições espíritas, fica evidenteque a Evangelização da criança é aatividade mais importante, uma vezque beneficia o Espírito desde a fa-se infantil, influenciando o seu pro-ceder,dando-lhe diretrizes que o aju-darão não só nesta sua passagem pe-la Terra,mas que servirão como farola iluminar-lhe a consciência em suavida de Espírito imortal. Por isso éque, embora reconhecendo o valordas outras tarefas desenvolvidas noscentros espíritas, chega-se facilmen-te à conclusão de que a Evangeli-zação da Criança deveria ter prima-zia, deveria ser atividade olhada coma maior responsabilidade por partedos dirigentes das instituições es-píritas, por ser a encaminhadora do

Espírito, numa verdadeira conti-nuação do trabalho iniciado nomundo espiritual, durante ospreparativos para sua volta.

É a consciência profundado insubstituível valor da ta-refa que deve alentar o evan-gelizador nos momentos dedesânimo, quando a incom-preensão dos dirigentes dacasa onde trabalha, a falta de

espaço físico, de material apro-priado, a falta de cooperação dospróprios pais, as dificuldades coma criança – todas essas dificuldadesquiserem tirá-lo dessa seara ben-dita a que foi convocado.

O evangelizador deve empenhar--se, também, no desenvolvimentoda sua capacidade de sentir. Todostemos em nós o amor, em estadode latência. Essa herança divina,que o Espírito vai revelando atravésdos séculos sucessivos, pode ter suaexteriorização acelerada pelo esfor-ço consciente da criatura. E o evan-gelizador é desafiado ao esforço deamar, pois quem não ama não temcondição de suscitar nos peque-ninos o desejo de amar. O pensar émuito importante, imprescindívelmesmo. Mas o pensar sem o sentirpode levá-lo a uma postura muitofria, muito calculada que, emboramatematicamente certa dentro dosparâmetros meramente pedagógi-cos, vistos do ângulo acadêmico,não se coaduna com o espírito dotrabalho de evangelização, que deveprimar pelo incentivo ao desenvol-vimento das virtudes preconizadaspelo Evangelho.

E quando, após anos de trabalhojunto a uma criança, souber queela se desviou, a partir da adoles-cência ou da juventude, o evange-lizador não deve desanimar, jul-gando perdido todo o seu esforçoao longo de anos sucessivos. O Bemnunca se perde. Mais cedo ou maistarde, às vezes com o concurso dador, as sementes recolhidas comos risos da infância germinarão,até mesmo regadas pelas lágrimasna idade adulta.

36 Reformador • Fevere i ro 20117744

presentaremos sucintamente“Nosso Lar”,uma colônia es-piritual de transição que está

situada entre os estados de Minas Ge-rais, Rio de Janeiro e parte do Espí-rito Santo, no Brasil. Foi fundada porum grupo de portugueses no séculoXVI. De sua organização política,consta um governador auxiliado por72 ministros, sendo 12 em cada umdos seis ministérios. A Colônia tema forma da estrela de Davi concen-trando um Ministério em cada umade suas pontas. É muito arborizadae florida. Lá, a disciplina e a hierar-quia são fatores determinantes paraa ordem, a harmonia e o bem geral.

No dizer de Emmanuel,“existemexpressões no Evangelho que, àmaneira de flores a se salientaremnum ramo divino, devem ser reti-radas do conjunto para que nosdeslumbremos ante o seu brilho eperfume peculiares”. (Fonte Viva,cap. 23, FEB). Ele, como ninguém,soube, com arte, fazer isso.

Há, também, nessa obra de AndréLuiz, flores encantadoras endereça-das aos nossos sentimentos, as quais,se colhidas com o devido cuidadoe atenção, poderiam evitar muitaslágrimas no futuro próximo.

Quando vemos anunciado noscinemas o filme Nosso Lar, prota-

gonizado pelo nosso amigo de lon-ga data, Renato Prieto, pensamosem estabelecer um preparo nos co-rações de nossos leitores para essaobra admirável de André Luiz, reti-rando dela lições que, como floresde ramo divino, podem ocultar per-fumes essenciais ao nosso espíritocarente de nobres odores.

Vamos nos deter em dois aspec-tos fundamentais para a vida denossos espíritos: o amor e a dor.Iniciamos pelo que conhecemosna Terra como dor:

A respeito da morte e do processode adaptação ao novo estágio para avida, aprendemos que “cerrar osolhos carnais constitui operação de-masiadamente simples” (Nosso Lar,cap.“Mensagem de André Luiz”,FEB).O mais difícil não é morrer, mas de-sencarnar, ou seja, desligar-se dos la-ços da carne.Fomos informados,ain-da, de que os pensamentos sombriosdos familiares da Terra agravam asaúde dos desencarnados sem forçamental para se defenderem: o melhorremédio para a saudade é o trabalho,é o que se deduz do pensamento damãe de André Luiz quando afirma:“o trabalho é tônico divino para ocoração” (Op. cit., cap. 36). Eis aíuma flor desse ramo lindo que é“Nosso Lar”: a flor da consolação!

Lá os hospitais são belos e confor-táveis e guardam valores como segu-rança, beleza e delicadeza. O atendi-mento médico é revestido de delicadasimpatia. Mas existem, próximas àCrosta da Terra, Câmaras de Retifi-cação para onde são levados os Espí-ritos doentes, recolhidos no Umbral,como o próprio André Luiz, que porlá ficou cerca de oito anos. A funçãodo Umbral, que começa na própriaTerra,é a de esgotar os resíduos men-tais. Nele deve ficar o que não tem fi-nalidade para a vida superior. Racio-cinamos, então, que o Umbral é, porisso, uma questão de justiça paraconosco. Aprendemos que “[...] ador, portanto, não nos edifica pelosprantos que vertemos [...] mas pelaporta de luz que nos oferece ao es-pírito” (Op. cit., cap. 15). Esta sen-tença é uma linda flor do ramo deverdades que nos deve perfumar avida. Toda dor deve ser uma “doraproveitada”! Sendo inevitável o so-frer, que aproveitemos seus ensina-mentos. É uma medida de inteligên-cia e de autopreservação. É a autoes-tima elevada ao mais alto grau.

O tempo de estágio de alguns Espí-ritos no Umbral depende de seu pen-samento. Para nos dar uma ideia daforça material de nosso pensamento,André Luiz,anotando as informações

“Nosso Lar”Amor e dor

AALC I O N E PE I XOTO

37Fevere i ro 2011 • Reformador 7755

de seus mentores, explica-nos que omau cheiro desse lugar se deve aospensamentos e às emanações men-tais ligadas ao corpo em decom-posição. Aprendemos, assim, que oculto ao corpo pode determinarsofrimentos imensos: “A flor mortavolve à terra, mas o perfume viveno céu!” (Op. cit., cap. 29). De possede tais anotações, registramos quehá grande necessidade de promo-vermos o desapego material e afe-tivo para evitar sofrimentos maio-res,porque o que levaremos conoscose refere aos patrimônios morais,nacionais e linguísticos, além dosconhecimentos adquiridos. Reverparentes que vivem em esferas maisaltas demanda vontade. O próprioAndré Luiz desejava enxergar suamãe, que o seguia de perto desde asua desencarnação, e não o conse-guia, pois a visão das almas maiseducadas está sujeita à lei de afini-dade vibratória. Mas “quando al-guém deseja algo ardentemente, já

se encontra a caminho da realização”(Op. cit., cap. 7). Eis mais uma flordeste ramo: a flor da conquista!

Outra grande informação refere--se à recomendação de Jesus de“Amar os inimigos”. Não devemoscultivar inimizades no plano físicoporque no plano espiritual sere-mos logo reconhecidos por nos-sos adversários. É aqui o lugar on-de devemos desfazer os equívocosde ontem. O ódio fomentado porguerras também é abordado:

[...] Quando um país toma a ini-

ciativa da guerra, encabeça a de-

sordem na Casa do Pai e pagará

um preço terrível.

[...] os países agressores conver-

tem-se, naturalmente, em núcleos

poderosos de centralização das

forças do mal. (Op. cit., cap. 41.)

Por isso, os brasileiros mais sen-síveis sentem a diferença vibratóriaquando viajam para países maisvelhos que já enfrentaram muitasguerras. A psicosfera de alguns ain-da guarda tais resquícios.

Nessa obra, André Luiz disponi-biliza-nos sua dura experiência derecém-desencarnado, advertindo--nos sobre o suicídio indireto que olevou para o túmulo: o corpo gas-tou-se por falta de equilíbrio men-tal, procedimento fraternal, de sere-nidade, tolerância e alegria alémde excesso de comida e álcool. Inte-ressante é a inclusão da alegria en-tre as necessidades naturais para asaúde. Esquecemo-nos de que “a ale-gria é sempre um medicamentode Deus”(Falando à Terra, cap.“Re-flexões”, p. 193, FEB.) e que preci-samos cultivá-la sempre. Rir faz bemà saúde! Benditas sejam as almasalegres! Outro aprendizado muitosignificativo destacado no livroem foco: “O organismo espiritualapresenta em si mesmo a históriacompleta das ações praticadas nomundo” (Op. cit., cap. 4). Com taladvertência recolhemos no textoas flores das virtudes indispensá-veis à saúde do homem.

O atendimento aos que choramno Umbral requer a solicitação hu-milde da súplica por parte do Espí-rito em dificuldade:“Não é possívelacender luz em candeia sem óleo esem pavio...” (Op. cit., cap. 16). Eisaí outra flor que recolhemos dotexto: a flor delicada da humildade!

Virando páginas, observemosagora algumas anotações sobre oamor e os laços afetivos e familiares:“[...] o maior sustentáculo das cria-turas é justamente o amor”, (Op. cit.,cap. 18, grifo nosso) observa Laura,orientando André Luiz, e prossegue:

[...] o sexo é manifestação sagra-

da desse amor universal e divino,

38 Reformador • Fevere i ro 20117766

mas é apenas uma expressão iso-

lada do potencial infinito [...].

(Idem, ibidem.)

E recolhemos mais flores:

[...] Almas gêmeas, almas irmãs,

almas afins constituem pares

e grupos numerosos. Unindo-

-se umas às outras, amparando-se

mutuamente, conseguem equilí-

brio no plano de redenção [...].

(Idem, ibidem.)

Quanto à solidão afetiva, quemuitos experimentamos na Terra,constata-se o seguinte: “Quando,porém, faltam companheiros, a cria-tura menos forte costuma sucum-bir em meio da jornada” (Op. cit.,cap. 18). Quantas histórias tristes depessoas que chegam à loucura porabandono afetivo! Retiramos essaflor do ramo da “solidariedade”.

E prossegue a Benfeitora, ensi-nando a André Luiz:

– Não se lembra do ensino evan-

gélico do “amai-vos uns aos ou-

tros”? [...] – Jesus não preceituou

esses princípios objetivando tão

somente os casos de caridade [...].

Aconselhava-nos, igualmente, a

nos alimentarmos uns aos outros,

no campo da fraternidade e da

simpatia. [...] (Idem, ibidem.)

E conclui:

[...] O homem encarnado saberá,

mais tarde, que a conversação

amiga, o gesto afetuoso, a bon-

dade recíproca, a confiança mú-

tua, a luz da compreensão, o

interesse fraternal – patrimônios

que se derivam naturalmente do

amor profundo – constituem

sólidos alimentos para a vida

em si [...]. (Idem, ibidem.)

Desse alimento muitos de nós jános temos nutrido na Terra. Cadaencontro e reencontro com ami-gos para uma conversa alegre e útilconstitui sempre um grande ban-quete a nutrir-nos o Espírito. E Deusnos permite viver aqui nesta festa,nesta alegria pura e fraternal.

Em “Nosso Lar”, que é uma colô-nia de transição, “os laços afetivos[...] são mais belos e mais fortes”(Idem, ibidem) e as famílias se reor-ganizam segundo a lei de afinidades.Isso nos lembra Jesus: “O que ligar-des na Terra será ligado no Céu. Oque desligardes na Terra, será desli-gado no Céu”(Mateus, 18:18). Cadafamília espiritual terá um lar por 30mil horas trabalhadas em favor dopróximo. Sobre o lar diz-nos, ainda,a instrutora:“o lar é conquista subli-me que os homens vão realizandovagarosamente” (Op. cit., cap. 20). Enós, que estamos do lado de cá, sa-bemos a dor e a delícia de tal con-quista! Quantas vidas com o mesmogrupo de Espíritos para formar-mos, um dia, uma verdadeira famí-lia espiritual! Entendemos a distin-ção que Emmanuel faz entre famí-lia e parentela. Aqui vivemos, mui-tas vezes, em parentela para com elaformarmos, mais adiante, a famíliaideal.Ajustes e reajustes são necessá-rios à harmonia, à alegria verdadei-ra da partilha, ao amor. Também so-bre a hospitalidade recolhemos maisuma rica flor:“Jesus alegra-se conos-

co sempre que recebemos um ami-go no coração” (Op. cit., cap. 17).

Ainda referente ao relacionamen-to afetivo, registramos, no capítulo38, que há na Terra vários tipos decasamento: “de amor, de fraterni-dade, de provação, de dever” (Grifonosso).Num momento de tanto ape-lo aos sentidos, como tem sido difí-cil a alguns casais reconhecerem eaceitarem que vivem um casamentopor dever ou provação, fazendo bomuso dessa relação difícil para garan-tir um futuro mais ameno e feliz.

Em “Nosso Lar” há tempo parao convívio social, seja em reuniõesfraternais nos lares, seja em excur-sões em grupo, seja em namoro noBosque das Águas, ou seja no lazerno Campo da Música. Seria bomque educássemos nossos Espíritosnesses hábitos refinados, para nãonos sentirmos desajustados nessesambientes espiritualmente saudá-veis. Eis a flor da convivência.

E, após havermos assistido ao fil-me, voltemos às páginas do livro queo inspirou, recolhendo nossas floresprediletas, ali dispostas para a suavecolheita. E não nos esqueçamos delouvar a Deus por essa dádiva, ro-gando ao Pai, num gesto de grati-dão, pela alma abençoada de ChicoXavier, aos pés de quem deposita-remos o perfume advindo da trans-formação de nosso Espírito, pelasinformações que por ele nos che-garam. Como a pecadora que un-giu os pés de Jesus, quero ungirtambém os pés desse emissário doCristo, com o perfume ainda frágildos meus aprendizados, a partir deseu trabalho redentor. Ave Cristo!Ave Chico Xavier!

39Fevere i ro 2011 • Reformador 7777

40 Reformador • Fevere i ro 20117788

leitor atento percebeu queo Espírito Emmanuel seutilizou do adjetivo adstri-

to, ao relatar a fala de Pedro quantoàs altercações e às impaciências deJudas. Então, ao que parece, o infe-licitado discípulo, apesar de muitoamar o Messias, só conseguia agir,

no apostolado, de modo adstrito,ou seja: ligado, incorporado, depen-dente, um servo; obrigado, sujeito,submetido; fechado... em função dosprincípios políticos do mundo.

Uma cilada como esta, torna--se, então, muito perigosa, uma vezque a identificação ou o apego docristão às coisas do mundo, aindaque pelo triunfo imediato dasideias do Cristo, fez o discípuloperder-se pela inquietação, no âm-bito das oportunidades sagradas

de poder ser útil na seara do Cris-to. A questão está no fato decor-rente desse modo incauto de agir,por desencadear contingênciasperigosas para todos, pois, con-forme Pedro, “tão só pelo desejode apressar a vitória [Judas] en-gendrou a tragédia da cruz, comsua falta de vigilância”.

E quanto a nós, espíritas atuan-tes no Movimento Espírita? O quetemos a ver com esse princípiofatal? O que seria, para nós, a deli-cada questão citada por SimãoPedro em referência ao equívocode Judas? Até que ponto, sem nosdarmos conta, estaremos traba-lhando com dedicação ao Movi-mento Espírita, porém assujeita-dos, submetidos, fechados ou de-pendentes de princípios políticose econômicos do mundo?

Creio que estas reflexões preci-sam ser discutidas entre nós, poisconsidero que, em termos de Mo-vimento Espírita, todos sofremquando algo afeta uma parcelaviva de nosso serviço, uma vez quenão há como imaginar um espíritaconsciente movimentar-se na di-vulgação doutrinária ao modo so-lipsista. É que estamos – e precisa-mos estar – o tempo todo, em rede,pois afetamos e somos afetadosconstantemente pelo meio. É poresta razão que existe o espírito daUnificação no Espiritismo vívido:

[...] Está escrito que o discípulo não poderá ser maior do que o mestre.

Aqui mesmo, em Jerusalém, vimos Judas cair numa cilada igual a esta.

Nos dias angustiosos do Calvário, em que o Senhor provou a excelên-

cia e a divindade do seu amor e, nós, o amargo testemunho da exígua

fé, condenamos o infortunado companheiro. Alguns irmãos nossos

mantêm, até o presente, a opinião dos primeiros dias; mas, em contato

com a realidade do mundo, cheguei à conclusão de que Judas foi mais

infeliz que perverso. Ele não acreditava na validade das obras sem

dinheiro, não aceitava outro poder que não fosse o dos príncipes do

mundo. Estava sempre inquieto pelo triunfo imediato das ideias

do Cristo. Muitas vezes, vimo-lo altercar, impaciente, pela construção do

Reino de Jesus, adstrito aos princípios políticos do mundo. O Mestre

sorria e fingia não entender as insinuações, como quem estava senhor

do seu divino programa. Judas, antes do apostolado, era negociante.

Estava habituado a vender a mercadoria e receber o pagamento imedia-

to. Julgo, nas meditações de agora, que ele não pôde compreender o

Evangelho de outra forma, ignorando que Deus é um credor cheio de

misericórdia, que espera generosamente a todos nós, que não passamos

de míseros devedores. Talvez amasse profundamente o Messias, con-

tudo, a inquietação fê-lo perder a oportunidade sagrada. Tão só pelo

desejo de apressar a vitória, engendrou a tragédia da cruz, com a sua

falta de vigilância.1 – Simão Pedro.

JU L I O CE S A R D E SÁ RO R I Z

O equívoco de Judas

1XAVIER, Francisco C. Paulo e Estêvão.Pelo Espírito Emmanuel. 4. ed. esp. 4. reimp.Rio de Janeiro: FEB, 2010. P. 2, cap. 3,p. 316-317.

O

há também uma Espiritualidademaior, bússola regente dessa teiasignificativa do Bem, laborandoativamente para a consecução daTerceira Revelação da Lei de Deusno mundo, entre os homens. Is-so, no entanto, não quer dizer queestejamos destituídos das respon-sabilidades que nos cabem, na di-vulgação do Espiritismo, em basesseguras. Pois a obra é maior do queo obreiro e, por isso, nada nos au-toriza a fazer do Movimento Espí-rita meio de exaltação do caráterpessoal. Ocorrendo isso, faz-se umdesserviço à Causa do Espiritismono mundo, pois, para que os Espí-ritos encarnados possam deman-dar aberturas espirituais mínimas,na busca progressiva de concreçãoda inevitável Regeneração na Ter-ra, torna-se indispensável, primei-ramente, que os espíritas, ou seja,os que estão orientados pelas obrasbásicas do Espiritismo, consigamvivê-lo na própria existência, cons-tituindo-se, ao mesmo tempo, emseus lídimos representantes. Cla-ro está que essa representação nãopode ser como a que existe nomundo dos negócios, qual ocorreuno equívoco de Judas; nem podeestar estribada em conceitos co-piados das castas sociais, das aca-demias eruditas, dos modismos oudos que estão na evidência da fa-ma ou da política vigente. Se, noentanto, isto ocorrer, há que se pre-servar as casas espíritas – células

vivas da divulgação e da vivêncialegítimas do Espiritismo – evitan-do-se que obras equivocadas se-jam adotadas e realizando-se estu-dos firmes e continuados nas obrasbásicas de Kardec e nas subsi-diárias de respeito. Mas, se o joioeventualmente crescer junto como trigo e se mostrar visível, tornar--se-á necessário neutralizá-lo comsabedoria para que o bom grãonão se perca. Por esta razão, nun-ca é demais examinar-se as raízesdoutrinárias dos que se lançam nomundo editorial, antes de se ad-quirir seus produtos.

Simão Pedro desvelou paraSaulo as raízes do equívoco deJudas: “Judas, antes do apostola-do, era negociante. Estava habi-tuado a vender a mercadoria e re-ceber o pagamento imediato”. Porisso, ele não escapou de tentartransformar o Movimento do Cris-to em meio. O Codificador, naRevista Espírita, também alertaquanto a este perigo. Ele infor-mou que aconteceram

[...] os abusos, as excentri-

cidades, as exibições, as ex-

plorações, o charlatanismo sob

todos os aspectos, as práti-

cas absurdas [...] que o

Espiritismo sério ja-

mais tomou a defe-

sa, mas que tem,

ao contrário, sem-

pre desautorizado.

[...] Quanto à Doutrina pro-

priamente dita, é de notar que

quase sempre ficou fora de de-

bate, embora seja a parte princi-

pal, a alma da causa. [...] Desde

o início o Espiritismo pareceu a

certos pobretões, uma fecunda

mina a explorar por sua novida-

de; alguns, menos tocados pela

pureza de sua moral do que pe-

las chances que aí entreviam,

puseram-se sob a égide de seu

nome, com a esperança de fazer

dele um meio. São os que po-

dem ser chamados de espíritas

de circunstância.2

Os fatos históricos demonstra-ram-nos que Judas equivocou-see vendeu Jesus. Kardec informou--nos que, à sua época, existiramos espíritas de circunstância (opor-tunistas). Pergunto ao leitor: Queespíritas de circunstância, na atua-lidade, desejariam transformaro Movimento Espírita em meio? Oque, nisto que Kardec nos alerta,seria importante ser analisado, noâmbito de nossas casas espíritas?

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2KARDEC, Allan. O poder do ridículo. In:Revista espírita: jornal de estudos psi-cológicos, ano 12, p. 68-69, fev. 1869.Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Riode Janeiro: FEB, 2009.

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Bahia: Espíritas comemoram 95 anosEm comemoração dos 95 anos de fundação da Fede-ração Espírita do Estado da Bahia, houve palestrade Divaldo Pereira Franco no Centro de Convençõesda Bahia, em Salvador, no dia 25 de dezembro. Infor-mações: <www.feeb.org.br>.

Uruguai: Evangelização InfantojuvenilDurante os dias 20 e 21 de novembro, a FederaçãoEspírita do Uruguai realizou o “Seminário Infânciae Juventude”, na cidade de Montevidéu, no CentroEspírita “Hacia la Verdad”. Com 44 participantesdas cidades da Capital, Maldonado, Rocha e Ri-vera, contou com os facilitadores Gladis Pedersende Oliveira e Silvio Luiz de Oliveira, do Brasil; eCarmen Marisa Patiño e Nancy Nunes Zarate, daArgentina. Informações: <www.fergs.org.br>; <www.spiritist.org>.

Santa Catarina: Congresso e Nova SedeEm comemoração dos 150 anos de O Livro dos Mé-diuns, a Federação Espírita Catarinense promoveu,no dia 8 de janeiro, o Congresso Catarinense sobreMediunidade, no Centro de Eventos de Itajaí, SantaCatarina. Foram palestrantes no evento: DivaldoPereira Franco, José Raul Teixeira, Sandra Della Póla,Suely Caldas Schubert, e os diretores da FederaçãoEspírita Brasileira Marta Antunes de Moura e An-tonio Cesar Perri de Carvalho. Informações: <www.fec.org.br>.

Alagoas: Comemoração sobre O Livro dosMédiuns

Em comemoração dos 150 anos de O Livro dos Mé-diuns, a Federação Espírita do Estado de Alagoas, quetambém comemorou seus 103 anos de fundação,realizou uma jornada de palestras durante o mês dejaneiro. Com a participação de diversos centros espí-ritas, teve como um dos destaques a realização doseminário ocorrido no dia 29 de janeiro, cujo temafoi “O Livro dos Médiuns: 150 anos de Orientação eSeriedade em Torno da Mediunidade”. Realizado no

auditório do Tribunal de Contas do Estado, o semi-nário contou com palestra de Frederico Menezes.Informações: <www.feeal.org.br>.

Espírito Santo: Semana sobre O Livro dosMédiuns

De 16 a 22 de janeiro, ocorreu a 16a Semana Espíritade Guarapari. Com o tema “Mediunidade Ponte en-tre dois mundos”, celebrou os 150 anos de O Livrodos Médiuns, sendo expositores Sandra Maria Bor-ba, Jacira Abranches, Izaías Claro entre outros, queabordaram o temário: “Mediunidade e Saúde”,“Devas-sando o Invisível”, “Memórias de um Suicida” e “Me-diunidade e Bom senso”. O evento, que contou como apoio da Federação Espírita do Estado do Espí-rito Santo, foi uma realização do Instituto de Di-vulgação Espírita de Guarapari. Informações: <www.feees. org.br>.

Pará: Congresso sobre Mediunidade“Dons Mediúnicos, comunicação dos mortos com aTerra: Visão da Doutrina Espírita” foi o tema do ICongresso Espírita Paraense promovido pela UniãoEspírita Paraense, de 14 a 16 de janeiro, em Belém.O evento teve a participação de Divaldo PereiraFranco, José Raul Teixeira, Marlene Nobre e AlbertoAlmeida. Informações: <www.paraespirita.com.br>.

Amazonas: 107 anos de fundação daFederação Espírita

A Federação Espírita Amazonense comemorou, nodia 1o de janeiro, os 107 anos de sua fundação. Acomemoração aconteceu na sua sede administrativa,em Manaus, onde foi promovida uma “Noite de Artepela Paz”. Informações: <www.feamazonas.org.br>.

Nosso Lar: Nas videolocadoras e nas lojasEm 12 de janeiro, chegou às videolocadoras o DVDdo filme Nosso Lar e foi iniciada a comercializaçãodo Blu-ray nas lojas especializadas. Em abril, os CDsserão lançados comercialmente. São edições da 20thCentury Fox Home Entertainment.

Seara Espírita