DETERMINISMO E LIBERDADE NA ACÇÃO HUMANA – capítulo 5
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DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA – capítulo 5
O Problema do livre-arbítrio
Professora Clara Gomes
Distinguir acontecimentos que são ações
1. A professora levanta o braço para indicar aos alunos que falem um de cada vez.
2. A professora levanta o braço porque sente uma picada.
3. As folhas de algumas árvores caem no Outono.
4. O vulcão x entrou em erupção.
1 Maria Clara Gomes | ESAS 2011-2012
Conflito entre a nossa crença na liberdade e o que as ciências nos dizem sobre o universo (pag.76)
1. A professora levantou o braço mas podia ter dito aos alunos que falassem um de cada vez; ou podia não ter feito nada e deixar que a confusão se instalasse na aula.
O agente (a professora) é livre porque escolheu entre várias alternativas possíveis.
As ciências dizem que todos os acontecimentos estão
determinados.
O Universo forma uma imensa cadeia causal
na qual cada efeito está determinado pelas causas que o antecedem.
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Condicionantes da ação
Aceitamos com naturalidade que a nossa personalidade é influenciada por:
condicionantes histórico-culturais; condicionantes físico – biológicas. Ex: A Joana cresceu numa cultura racista e isso pode influenciá-
la a aceitar o racismo, mas nada a impede de rejeitar essa posição se se informar sobre as razões que levam outras pessoas a fazê-lo.
Ela não está determinada a ser racista. É racista porque quer.
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O que é o Determinismo?
O Determinismo é a tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza.
Explicação: Quando um vulcão entra em erupção, dá-se
um acontecimento que não poderia deixar de ocorrer sem violar as leis da natureza e sem ter origem nos acontecimentos que o antecederam (causas).
Estas afirmações são feitas pela ciência. Se as aplicarmos
às ações obtemos o seguinte argumento: Todos os acontecimentos estão determinados. As ações são acontecimentos. Logo, as ações estão determinadas.
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Problema do Livre - arbítrio
Como compatibilizar a crença de que todos os acontecimentos, incluindo as ações, são causalmente determinados, segundo as leis da natureza, com a crença de que o homem é livre e responsável pelas suas ações?
Este problema levanta algumas questões: - Poderemos ser realmente livres num universo
determinista? - Ou será que temos de aceitar que a liberdade é uma
ilusão porque tudo está determinado? - E se o universo não estiver inteiramente determinado?
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Respostas ao problema:
Teorias Há livre-arbítrio?
Tudo está determinado?
Incompatibilismo Determinismo radical
Não Sim
Libertismo Sim Não Compatibilismo (determinismo moderado)
Sim Sim
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A - Determinismo radical - não temos livre-arbítrio e todos os acontecimentos estão determinados. O livre-arbítrio é incompatível com um mundo regido por leis. A liberdade é uma ilusão.
Esta posição é incompatibilista. Argumento dos deterministas radicais: Premissa 1: Se o determinismo é verdadeiro, não
há livre-arbítrio. Premissa 2: O determinismo é verdadeiro. Conclusão: Logo, não há livre-arbítrio.
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Defesa da premissa 1 O determinista pensa que a causa de uma ação, à
semelhança dos acontecimentos naturais, está fora do controlo do agente.
Estar causalmente determinado é não poder decidir nem poder querer outra coisa além do que efetivamente decidimos ou queremos – logo não somos livres.
Temos a falsa impressão de liberdade porque desconhecemos as causas que determinam as nossas ações. (Compreender a analogia da água do texto de Shopenhauer – pag. 81)
Se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio
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O Determinismo é verdadeiro.
Defesa da premissa 2 Só o determinismo nos permite
compreender o mundo: dadas as mesmas causas seguem-se os mesmos efeitos.
Isto é-nos dito pelas ciências como a
biologia, a física e a química …
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Duas críticas ao Determinismo radical:
Se o determinismo radical tiver razão, não temos livre-arbítrio.
Se não tivermos livre-arbítrio, não poderemos ser moralmente responsáveis.
Se não formos moralmente responsáveis, não podemos ser castigados.
É absurdo defender que não podemos ser castigados. Logo, o determinismo radical é falso. Os críticos defendem que o determinismo é falso
porque a responsabilidade moral não pode existir sem a liberdade e, por isso, não podemos ser castigados, o que é absurdo.
A objeção da responsabilidade moral 10
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A objeção fenomenológica
A experiência de que somos livres é muito forte.
Esta crença faz parte do próprio processo de agir.
Quando agimos não podemos deixar de sentir que somos livres.
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B- Libertismo: temos livre-arbítrio e nem todos os acontecimentos estão determinados.
As nossas ações não são causalmente determinadas, resultam das nossas deliberações.
Tal como o determinismo radical é uma posição incompatibilista.
Se temos livre-arbítrio, o determinismo é
falso. Temos livre-arbítrio. Logo, o determinismo é falso.
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Defesa das premissas
Defesa da premissa 1: Não estamos determinados a escolher de uma certa maneira. Escolhemos praticar uma ação mas podíamos ter escolhido e agido de forma diferente, por isso o determinismo é falso.
Defesa da premissa 2: Não é possível aceitar que
as nossas decisões estão todas determinadas por acontecimentos anteriores. Se decidimos é porque temos livre-arbítrio.
O determinismo radical diz o contrário, logo é falso. Ex. A escolha do João – pag.87
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Críticas ao libertismo O Determinismo diz que as deliberações do
agente, tal como as suas crenças e desejos são determinadas por acontecimentos anteriores. Mas o libertista não pode aceitar isso, pois defende que o livre-arbítrio é incompatível com o determinismo. Ex. do João pag.88-89
O problema dos libertistas é, então, explicar
como é que um ato é realmente livre sem ser determinado por acontecimentos anteriores mas que também não é
“ aleatório”, quer dizer, ao acaso.
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C - Posição compatibilista (determinismo moderado)
O determinismo pode coexistir com o livre-
arbítrio. Quer o livre-arbítrio, quer o determinismo são verdadeiros. O mundo é regido por relações causais, mas mesmo assim somos livres quando fazemos o que queremos fazer.
O compatibilista defende que somos livres
quando o que escolhemos e o modo como agimos resulta causalmente do que queremos, e o que queremos não resulta de qualquer coação, doença ou controlo artificial.
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Compatibilismo
Nem todas as causas são impedimentos à liberdade. É um erro pensar que as ações não são livres simplesmente porque são causadas. As causas que nos levam a fazer o que queremos potenciam a nossa liberdade, enquanto que outras (constrangimentos, por exemplo) impedem a nossa liberdade.
As nossas ações livres são causadas pela nossa
personalidade, inclinações e desejos ainda que estes sejam determinados por acontecimentos anteriores. Se as ações não fossem causadas pelo nosso caráter e pelos nossos motivos, não poderíamos ser responsabilizados pelas nossas ações. Não seriam as nossas ações.
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Críticas ao compatibilismo
Os compatibilistas argumentam que somos livres se agirmos sem constrangimentos ou obstáculos, internos ou externos, que nos impeçam de fazer o que desejamos. Mas, se aquilo que desejamos fazer se encontra determinado por acontecimentos anteriores (determinismo) então as nossas ações estão constrangidas por acontecimentos anteriores - não temos é consciência de que estamos a ser constrangidos.
O compatibilismo não explica por que é que ser
constrangido por acontecimentos anteriores é um ato livre e ser constrangido por alguém já não é um ato livre.
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Um problema em aberto
Como vimos não há, sobre o problema do livre-arbítrio uma teoria consensual. Há filósofos que acham que nenhuma destas teorias é plausível.
É o caso dos filósofos Searle e Nagel que consideram que não há boas razões para negar o determinismo que encontramos na natureza pois sem ele as ciências da natureza seriam impossíveis. Por outro lado não podemos negar o livre-arbítrio, como faz o Determinismo radical porque a experiência da liberdade faz parte da experiência de agir.
O compatibilismo não explica de forma plausível a
diferença entre ser constrangido e ser causado a agir de determinada maneira.
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