DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO Douglas...

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I DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO Douglas D’Agostini ANÁLISE MORFOLÓGICA DE PAISAGEM URBANA EM RUA DE PORTO ALEGRE: estudo de ordem e arranjo como princípios do Design no projeto de mobiliários urbanos. Porto Alegre 2011

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I

DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO

Douglas D’Agostini

ANÁLISE MORFOLÓGICA DE PAISAGEM URBANA EM RUA DE PORTO ALEGRE:

estudo de ordem e arranjo como princípios do Designno projeto de mobiliários urbanos.

Porto Alegre

2011

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II

DESIGN, EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO

Douglas D’Agostini

ANÁLISE MORFOLÓGICA DE PAISAGEM URBANA EM RUA DE PORTO ALEGRE:

estudo de ordem e arranjo como princípios do Designno projeto de mobiliários urbanos.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Design.

Orientadora Prof. Drª. Lígia Maria Sampaio de Medeiros

Porto Alegre

2011

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III

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D127a D’Agostini, Douglas Análise morfológica de paisagem urbana em Rua de Porto

Alegre: estudo de ordem e arranjo como princípios do design no projeto de mobiliários urbanos / Douglas D’Agostini. – Porto Alegre, 2011.

167 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário Ritter dos Reis, Mestrado em Letras, Porto Alegre, 2011.

Orientadora: Profª. Dra. Ligia Maria Sampaio de Medeiros.

1. Sinais e placas de sinalização – Projetos – Porto Alegre (RS). 2. Comunicação visual – Projetos – Porto Alegre (RS). 3. Morfologia urbana – Porto Alegre (RS). I. Medeiros, Ligia Maria Sampaio de.

CDU 711.68

Ficha catalográfica elaborada no Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Dr. Romeu Ritter dos Reis

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IV

DOUGLAS D’AGOSTINI

ANÁLISE MORFOLÓGICA DE PAISAGEM URBANA EM RUA DE PORTO ALEGRE:

estudo de ordem e arranjo como princípios do Designno projeto de mobiliários urbanos.

Dissertação de Mestrado defendida e aprovada como requisito parcial a obtenção do título de Mestre em Design, pela banca examinadora constituída por:

_____________________________ Drª. Lígia Maria Sampaio de Medeiros

_____________________________ Drª. Raquel Rodrigues Lima

_____________________________ Dr. Marcos Brod Junior

PORTO ALEGRE 2011

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V

À minha esposa Alessandra,

inspiração para minha persistência.

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VI

Agradeço ao UniRitter pela estrutura oferecida para a realização deste trabalho. Aos

professores do Mestrado, que contribuíram com suas experiências acadêmicas ao

longo das aulas. Em especial aos professores Dr. Vinícius Gadis Ribeiro, Drª Silvia

Bertagnolli e Dr. Sidnei Renato Silveira, pelas orientações sempre pertinentes.

Aos colegas de Mestrado, pela amizade construída e pelos momentos de alegria

vividos neste período.

À professora Drª Raquel Rodrigues Lima, que foi fundamental em suas

considerações sobre este trabalho.

Ao professor e amigo Dr. Marcos Brod Junior, pelos conselhos e por me incentivar a

ingressar no Curso de Mestrado em Design.

Aos Mestres, orientadores e amigos, Dr. Luiz Vidal de Negreiros Gomes e Drª Lígia

Maria Sampaio de Medeiros, pelo conhecimento generosamente compartilhado e o

privilégio de poder ouvir suas palavras durante os momentos como aluno e

Orientando do Mestrado em Design.

Em especial à minha esposa Alessandra, pelo carinho e apoio durante este período

de dedicação a esta pesquisa. E, a Deus.

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VII

I look for what needs to be done. After all, that’s how the universe designs itself.

R. Buckminster Fuller

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VIII

RESUMO

As inúmeras transformações ocorridas nas estruturas das cidades, ao longo dos

últimos séculos, aumentaram as discussões sobre o ambiente em que os seres

humanos vivem. Dentro dessa perspectiva, um dos pontos mais relevantes diz

respeito à forma como entendemos o contexto urbano e, mais especificamente, o

estabelecimento de uma comunicação visual entre a cidade e seus habitantes. Se

por um lado, o excesso de suportes visuais representa um grau elevado de nossa

evolução em termos comunicacionais, através de códigos precisos e já assimilados,

por outro, questiona-se o caráter funcional dessa verdadeira almágama de

informações visuais dispostas no ambiente de uma cidade. Esta pesquisa busca

questionar o caráter funcional da comunicação visual de elementos do mobiliário

urbano no trajeto da Rua dos Andradas, em Porto Alegre, com o intuito de revelar

um processo de análise da paisagem urbana mediado por princípios do Design.

Palavras–chave: Cidade, Comunicação Visual, Design, Design em Ambientes.

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IX

ABSTRACT

The many changes occurring in the structures of cities over the last centuries, have

increased discussions about the environment in which humans live. Within this

perspective, one of the most relevant with regard to how we understand the urban

context and more specifically, the establishment of a visual communication between

the city and its inhabitants. On the one hand, excessive visual media represents a

high degree of communication in our evolution, through accurate and codes already

assimilated the other hand, questioned whether the functional character of this true

amalgam visual information arranged in a city environment . This research seeks to

question the functional nature of visual communication elements of street furniture in

the path of the Andradas Street, in Porto Alegre, in order to reveal a process of

analysis of urban landscape mediated by Design principles.

Key - Words: City, Visual Communication Design, Environmental Design.

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X

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1

CAPÍTULO I

1.1 A CIDADE ......................................................................................................................... 6

1.1.1 Origens Urbanas .......................................................................................................... 7

1.1.2 A Cidade Moderna ..................................................................................................... 10

1.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ........................................................................................... 12

1.2.1 Transformação Tecnológica ..................................................................................... 14

1.2.2 Mobilidade Social ...................................................................................................... 16

1.2.3 Aumento Populacional e Concentração Urbana .................................................... 19

1.2.4 Alteração nos Padrões de Consumo ....................................................................... 22

1.3 A CIDADE DE PORTO ALEGRE ................................................................................... 25

1.4 A RUA DOS ANDRADAS ............................................................................................... 28

1.4.1 Aspectos da Ocupação da Rua dos Andradas ....................................................... 31

CAPÍTULO II

2.1 PAISAGEM URBANA ..................................................................................................... 35

2.1.1 A Visão Serial da Paisagem Urbana ........................................................................ 38

2.1.2 Classificação dos Elementos Urbanos .................................................................... 39

2.1.3 Elementos de Vegetação no Ambiente Urbano ...................................................... 42

2.1.4 Elementos Complementares no Ambiente Urbano ................................................ 44

2.1.5 Mobiliário Urbano ...................................................................................................... 46

2.2 ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO .................................................................................. 50

2.2.1 Campos Visuais na Escala Urbana .......................................................................... 53

2.3 POLUIÇÃO VISUAL NA PAISAGEM URBANA .............................................................. 55

2.3.1 Definição de Termos ................................................................................................. 57

2.3.2 Conceitos de Poluição Visual ................................................................................... 61

2.3.3 Aspectos da Poluição Visual .................................................................................... 70

2.3.4 Aspecto Psicofisiológico da Poluição Visual ......................................................... 71

2.3.5 Aspecto Jurídico da Poluição Visual ....................................................................... 75

2.3.6 A Poluição Visual da Publicidade no Ambiente Urbano ........................................ 76

2.4 COMUNICAÇÃO VISUAL ............................................................................................... 79

2.4.1 Pesquisa em Comunicação Visual ........................................................................... 82

2.5 PERCEPÇÃO DA MENSAGEM VISUAL ....................................................................... 83

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XI

CAPÍTULO III

3.1 METODOLOGIA ............................................................................................................. 88

3.1.1 Metodologia de Pesquisa .......................................................................................... 94

3.1.2 Metodologia Geral ..................................................................................................... 95

3.1.3 Metodologias Específicas ....................................................................................... 100

3.1.4 Método de Pesquisa ................................................................................................ 108

CAPÍTULO IV

4.1 RECORTE DA PESQUISA ........................................................................................... 112

4.2 LEVANTAMENTO DE DADOS NA RUA DOS ANDRADAS ........................................ 113

4.3 COLETA DE DADOS .................................................................................................... 115

4.3.1 Trecho A – Rua General Salustiano / Rua General Portinho ............................... 116

4.3.1.1 Principais Características do Trecho A ................................................................... 117

4.3.1.2 Elementos Urbanos do Trecho A ............................................................................ 117

4.3.2 Trecho B – Rua General Portinho / Rua General Bento Martins ......................... 118

4.3.2.1 Características do Trecho B ................................................................................... 118

4.3.2.2 Elementos Urbanos do Trecho B ............................................................................ 119

4.3.3 Trecho C – Rua General Bento Martins / Rua Caldas Júnior .............................. 120

4.3.3.1 Características do Trecho C ................................................................................... 121

4.3.3.2 Elementos Urbanos do Trecho C ........................................................................... 121

4.3.4 Trecho D – Rua Caldas Júnior / Rua General Câmara ......................................... 121

4.3.4.1 Características do Trecho D ................................................................................... 122

4.3.4.2 Elementos Urbanos do Trecho D ........................................................................... 123

4.3.5 Trecho E – Rua General Câmara / Rua Marechal Floriano Peixoto .................... 123

4.3.5.1 Características do Trecho E ................................................................................... 124

4.3.5.2 Elementos Urbanos do Trecho E ............................................................................ 124

4.3.6 Trecho F – Rua Marechal Floriano Peixoto / Rua Doutor Flores ......................... 124

4.3.6.1 Características do Trecho F ................................................................................... 125

4.3.6.2 Elementos Urbanos do Trecho F ............................................................................ 126

4.3.7 Trecho G – Rua Doutor Flores / Avenida Independência .................................... 126

4.3.7.1 Características do Trecho G ................................................................................... 127

4.3.7.2 Elementos Urbanos do Trecho G ........................................................................... 127

4.4 AVALIAÇÃO DOS DADOS COLETADOS .................................................................... 128

CAPÍTULO V

5.1 ANÁLISE FORMOLÓGICA SEGUNDO PRINCÍPIOS DO DESIGN ............................ 129

5.1.1 As relações de Figura e Fundo na Paisagem urbana .......................................... 131

5.1.2 As relações de Similaridade na Paisagem Urbana ............................................... 133

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XII

5.1.3 As relações de Acessibilidade na Paisagem Urbana ........................................... 135

5.2 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ................................................................................ 137

5.2.1 Análise do Trecho A da Rua dos Andradas .......................................................... 140

5.2.2 Análise do Trecho B da Rua dos Andradas .......................................................... 142

5.2.3 Análise do Trecho C da Rua dos Andradas .......................................................... 145

5.2.4 Análise do Trecho D da Rua dos Andradas .......................................................... 148

5.2.5 Análise do Trecho E da Rua dos Andradas .......................................................... 149

5.2.6 Análise do Trecho F da Rua dos Andradas .......................................................... 152

5.2.7 Análise do Trecho G da Rua dos Andradas .......................................................... 154

5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ANÁLISES ................................................................ 157

6 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 159

7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 163

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INTRODUÇÃO

Neste trabalho, busca-se o desenvolvimento de uma análise morfológica da

composição visual formada pela paisagem urbana e os elementos do mobiliário

urbano que, identificados como produtos desenvolvidos através de um projeto, e

fabricados de maneira seriada, são dispostos ao longo do trajeto da Rua dos

Andradas, localizada no Centro da cidade de Porto Alegre. O objetivo é sistematizar

um conjunto de procedimentos que, acredita-se, poderão ser úteis ao planejamento

de espaços urbanos melhores. Para isso, considera-se que a incidência, bem como

o acúmulo desses mobiliários, como postes de iluminação, lixeiras, bancos, placas

de sinalização, etc., quando inseridos de maneira mal planejada no contexto urbano,

podem prejudicar visualmente a ordem e o arranjo do ambiente de uma cidade.

Dentro dessa perspectiva, levam-se em conta os parâmetros de projeto, aparados

por Princípios do Design, e que podem ser associados às principais correntes

teóricas sobre a análise do espaço urbano, de modo a contribuir ao conhecimento

do projetista que trabalha para melhorar esses ambientes.

No artigo “A questão da ética e da estética no meio ambiente urbano ou porque

todos devemos ser belezuras” publicado em 2001 no sítio virtual Vitruvius, os

autores Minami & Guimarães Júnior afirmam: “Quando se pensa numa cidade,

pensa-se sempre em funcionalidade. (...) Embora a preocupação com a

funcionalidade seja a mais evidente, é certo que não deve ser a única” (MINAMI,

GUIMARÃES JR, 2001, disponível em http://www.vitruvius.com.br)

Desta forma, além da questão funcional é importante que se estabeleça uma

orientação estética da paisagem urbana, mesmo que este conceito seja subjetivo.

Os elementos que compõem o cenário urbano devem estar ordenados de

forma harmônica, que possa ser apreciada. A função estética da paisagem

urbana deve ser levada em conta pela Administração em toda e qualquer

intervenção urbanística e sua proteção e garantia devem ser disciplinadas

em lei. (MIMANI; GUIMARÃES JR., 2001)

Sabe-se que o compromisso e cuidados com a paisagem urbana ultrapassam as

questões funcionais e estéticas de uma cidade. Neste sentido, “aspectos culturais,

ecológicos, ambientais e sociais devem ser considerados” iniciando-se uma

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complexa discussão, que envolva diversos níveis de participação, e entendimento

tanto dos interesses público quanto privado, afinal, como reforçam os autores,

... o julgamento de padrões estéticos será sempre subjetivo, e a imposição

de um padrão oficial de estética seria autoritária. Algum grau de consenso,

no entanto, pode haver em relação à beleza de elementos naturais em geral

(vegetação, céu, lagos, rios e praias) e até de elementos artificiais

(monumentos, prédios históricos com características marcantes de

determinado estilo e fachadas visualmente desobstruídas). (MIMANI;

GUIMARÃES JR., 2001)

Dentro dessa perspectiva, o presente estudo busca compreender as formas como

poderiam ser atendidos os interesses públicos e privados na adequação visual de

ambientes urbanos que possuem a concentração de elementos do mobiliário urbano

que, de alguma forma, prejudicam o funcionamento dos mesmos e acabam

provocando, conseqüentemente, pela falta de ordem e arranjo, a degradação da

paisagem urbana de nossas cidades.

A abordagem aqui adotada entende o Design em sua concepção mais ampla,

aquela onde o projeto representa uma possibilidade de intervenção completa em

ambientes, comunicações e artefatos, como recomenda Potter (2002). Desta forma,

engenheiros, arquitetos e desenhistas industriais considerando suas competências

particulares, mas objetivando a convergência de seus esforços, poderiam contribuir

como orientação ao planejamento visual dos espaços públicos, visando assim trazer

maior equilíbrio aos ambientes urbanos.

Algumas iniciativas já foram observadas no Brasil para uma ordenação do ambiente

urbano. No ano de 2007, na cidade de São Paulo, foi implementada a Lei “Cidade

Limpa” com a proposta de evitar o uso indiscriminado de elementos publicitários nas

vias públicas daquela cidade. O intuito da lei não foi proibir a manifestação visual de

anunciantes, mas sim, promover a reorganização dos suportes das mensagens,

realocando-os adequadamente para que não interferissem de forma agressiva na

paisagem urbana. Esse planejamento se estende para a ordem e arranjo de outros

elementos urbanos tais como abrigos de ônibus, relógios de rua, cabines telefônicas,

entre tantos outros que, hoje em dia, fazem parte do espaço onde os cidadãos de

uma cidade transitam.

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Em Porto Alegre, no início de 2011, por iniciativa da ApDesign – Associação dos

Profissionais em Design do Rio Grande do Sul – abriu-se também a possibilidade de

uma discussão mais aberta sobre o efeito da falta de ordenação na comunicação

visual da cidade. A campanha “Quero Ver Porto Alegre” foi lançada visando não

apenas chamar a atenção da população e de autoridades para os problemas

decorrentes do caos instaurado por mensagens visuais no ambiente urbano, mas

também, promover ações que protejam a paisagem característica da cidade.

Anterior a esta iniciativa da ApDesign, em 2005, através da Secretaria Municipal do

Meio Ambiente de Porto Alegre – SMAM –, havia sido lançada a campanha “Porto

Visual Alegre”, com a intenção de, entre outras coisas, promover a educação de

lojistas quando da utilização letreiros em suas fachadas. Entretanto, hoje, não se

percebem os resultados das atividades realizadas por esse programa devido à

descontinuidade no processo educacional dos grupos de lojistas e à falta de

fiscalização permanente.

A respeito disso, possuímos leis federais, estaduais e municipais, que de alguma

forma protegem os direitos dos cidadãos em usufruir de uma paisagem urbana

menos degradada, mesmo em termos visuais. Ou seja, os mecanismos legais estão

fixados, mas não são cumpridos. Entretanto, não podemos dizer que somente a falta

de fiscalização justifica esses problemas. Na verdade, o projeto e desenho dos

elementos urbanos, tais como lixeiras, sinalização viária, postes de iluminação, entre

outros, se impõe como um assunto a ser debatido, como forma de avaliarmos o

estado atual de implementação desses artefatos no ambiente urbano.

O objetivo principal deste estudo, portanto, concentra-se em uma análise

morfológica da paisagem urbana na Rua dos Andradas, em que se destaque a

utilização de parâmetros para a avaliação do impacto visual do mobiliário urbano

quando inserido em locais específicos do trajeto desta via, que está localizada no

centro de Porto Alegre. As noções de ordem e arranjo serão exploradas como

princípios fundamentais para o projeto desses elementos urbanos e sua composição

dentro do cenário urbano. Para isso, utilizaremos um conjunto de Princípios de

Design recomendados por Lidwell et. al. (2003) na avaliação dos diferentes cenários

urbanos encontrados nesta via.

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Uma base conceitual e teórica para o estudo foi estabelecida a partir da explanação,

ainda que resumida, sobre o desenvolvimento das cidades, e como a forma de viver

nelas se alterou ao longo dos tempos, ressaltando momentos chave de seu

crescimento. O Capitulo Um deste trabalho, então, apresenta algumas referências

históricas para o entendimento dessa evolução. São apresentados os dados sobre a

formação das aldeias antigas, as revoluções urbanas, as características das cidades

modernas, e as transformações aceleradas após a Revolução Industrial.

Considerações são feitas a respeito do aumento vertiginoso da população nas

cidades e como esse fato demográfico nos atinge como cidadãos e como

profissionais de atividades projetuais. Entende-se que, se por um lado, o aumento

no número de pessoas morando numa cidade pode conduzir ao caos urbano, por

outro lado, é justamente essa demanda exige estudos e ações cada vez mais

responsáveis e eficientes para lidar com a complexidade do problema.

A cidade de Porto Alegre é apresentada brevemente em sua história e

características para posicionar o leitor no contexto do trabalho, bem como se traça a

formação da paisagem urbana da Rua dos Andradas ao longo do tempo. Registros

fotográficos do percurso realizado na Rua dos Andradas foram incluídos nesta

pesquisa, pois essas imagens serão relevantes para a análise em seções

posteriores.

No Capítulo Dois, a complexidade percebida na paisagem urbana contemporânea é

examinada a partir de conceitos sobre a poluição visual. A revisão da literatura sobre

o assunto naturalmente conduziu a uma organização de termos que seriam

contemplados no discurso aqui construído. Desta forma, o segundo capítulo

apresenta não apenas os conceitos de poluição visual segundo autores que vêm se

dedicando ao tema, como inclui considerações sobre aspectos psicofisiológicos e

jurídicos relacionados a ela. Comenta-se, particularmente, a poluição decorrente dos

excessos de informação publicitária no ambiente urbano. Considerações são feitas

sobre o papel que a comunicação desempenha no mundo moderno e sobre a

responsabilidade dos profissionais que se encarregam do projeto de mensagens e

seus suportes físicos.

O Capítulo Três descreve a metodologia da pesquisa aqui empreendida. Inicia-se

pontuando as dificuldades em se posicionar uma pesquisa desenhística no contexto

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acadêmico, muito mais familiarizado com pesquisas científicas e humanísticas

(CROSS, 2007). Traça-se um panorama das metodologias gerais e específicas

apropriadas à pesquisa proposta, detalhando-se seus procedimentos e técnicas para

coleta, registro e análise dos dados.

No Capítulo Quatro serão apresentados os dados da coleta de informações

realizada na Rua dos Andradas, como a delimitação da abrangência do que seria

estudado e tomado como dado importante para esta pesquisa. Descrevem-se de

maneira geral as impressões sobre o funcionamento desta via, aspectos relevantes

de sua paisagem e morfologia. Apresenta-se a divisão dos Trechos e a identificação

de suas características de funcionamento, onde se descreve também o cenário

urbano, formado por suas paisagens e os elementos que a compõe.

O Capítulo Cinco contribui com a convergência dos principais conceitos

apresentados, em fases analíticas do problema exposto, com os métodos utilizados

dentro da área do Design. Com isso, é defendida a utilização do que se consideram

os principais pontos da análise proposta por esta pesquisa, que são: o ambiente, o

usuário e a informação, mediados por princípios do Design no auxilio à análise

morfológica da paisagem urbana. O conjunto de Logogramas gerados para as

análises apoiou-se nos conceitos adotados na didática do ensino projetual como

forma de tornar sua sistematização de fácil assimilação tendo em vista a linha de

pesquisa adotada neste trabalho.

Assim, a análise da forma como se comporta o mobiliário urbano, em seu

planejamento, ordem e arranjo com o cenário da Rua de uma cidade, reserva-se

como uma das iniciativas essenciais para a construção de ambientes urbanos

melhores, e do que será deixado como legado para as futuras gerações. Não se

pode negar que o crescimento desenfreado do último século, praticamente estagnou

a consciência projetual de nossas cidades, no sentido de que o mobiliário urbano,

como paradas de ônibus, sinalizações viárias, entre outros, possuem um estrutura

padronizada que simplesmente são fixados no corpo da cidade sem levar em

consideração o contexto em que estão sendo inseridos. Em outras palavras, nos

falta um projeto orientado estipulando um limite máximo desses elementos dentro de

determinado perímetro, além da readequação da funcionalidade dos mesmos nos

locais onde se encontram.

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CAPÍTULO I

1.1 A CIDADE

Uma cidade é, acima de tudo, um espaço de interações, sendo estas de caráter

público ou privado. Nos dias de hoje, este espaço parece ter atingido seu ponto alto

em termos de organização social e distribuição perimetral. Muitas atividades com

suas múltiplas conexões ocorrem no seio desta construção que essencialmente é

fruto da engenhosidade de projetos do homem. Desde sua incipiente forma de

distribuição territorial, ainda no período Neolítico, quando surgiram as primeiras

evidências da ação do ser humano no ambiente, até os modernos conceitos de

urbanização de uma cidade, percorremos por inúmeras transformações de ordem

social, tecnológica e urbanística, sem contar as outras inúmeras intervenções

políticas, ideológicas e econômicas.

Mas, em sua definição mais contemporânea, segundo Ferreira (2001, p.161-162) a

cidade constitui-se num “complexo demográfico formado por importante

concentração populacional não agrícola e dada a atividade de caráter mercantil,

industrial, financeiro e cultural”. Enfim, temos um quadro bem claro do conceito

moderno de cidade, pois não reflete somente o hábito dos seres humanos

concentrarem-se dentro de um determinado espaço, mas, efetivamente, deflagra as

relações que estes estabelecem dentro do ambiente em que vivem. Relações estas

que representam a pura forma de um sistema interativo, onde o homem se comunica

e recebe comunicação num circulo infinito de possibilidades e trocas de mensagens,

seja dentro de espaços públicos ou privados.

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Desta forma, para que possamos compreender o status quo do ambiente urbano em

que vivemos de uma forma clara, sentimos a necessidade de averiguar sua

evolução e, conseqüentemente, destacar os períodos importantes de sua história,

como contribuição fundamental para revelar-se de que forma os fenômenos que

incidem nas metrópoles modernas surgiram, mesmo que se encontre uma resposta

talvez óbvia, dada evolução natural de suas estruturas construídas. O objetivo neste

ponto é trazer a luz dos estudos desta pesquisa evidências da forma como os seres

humanos, em diferentes épocas, equacionavam seus problemas territoriais diante

principalemente de sua evolução intelectual, social e tecnológica.

1.1.1 Origens Urbanas

(...) todo diseño deriva de impressiones del pasado, conscientes o subconscientes, y el paisaje colectivo moderno se inspira em los jardines y parques históricos y em formas que fueron creadas en su día por motivos sociales completamente distintos. (JELLICOE, 1995, p.7)

O mundo primitivo forneceu aos homens um ambiente de extrema hostilidade.

Dentro desse cenário de sobrevivência, o primitivo sabia que, ao menos

instintivamente, o melhor abrigo ainda estava no que o próprio ambiente poderia

oferecer, através de fendas em rochas, sombras de árvores e outros espaços que

pudessem representar um lugar seguro, distante dos perigos eminentes da natureza,

e para Benevolo (1983, p.13) a ação do homem primitivo sobre o espaço que o

circundava “não passava de uma modificação superficial do ambiente natural”.

Dentro dessa idéia, também, Jellicoe (1995, p.7) afirma que, uma das razões para

que o mundo e o desenho de sua paisagem identifiquem-se “como uma arte mais

ampla”, é o fato do homem sair de seu estado inicial de um reles animal para “criar

em seu entorno um ambiente que não é mais do que uma projeção sobre a natureza

de suas próprias idéias abstratas”.

Para Benevolo (1983, p.16) o ambiente deixou de ser um abrigo da natureza para se

tornar em “um fragmento de natureza transformado segundo um projeto humano”

durante o período Neolítico. Esta é uma afirmação que revela, entre outras coisas, o

grau de evolução na intervenção que o homem primitivo obteve a partir do ambiente

a sua volta nesse período. Se o homem foi capaz neste momento de perceber que

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sua ação na natureza modificava o espaço físico ao seu redor, então, trata-se de um

importante momento na história da ocupação territorial.

É preciso destacar, no entanto, que dentro da evolução continua dos espaços

físicos, construídos pelo homem, em seus diferentes períodos, a cidade nasceu das

antigas aldeias, mas, essencialmente não se constitui simplesmente na

conseqüência do crescimento delas, e sim, na organização da própria sociedade

que a habitava. Desta forma, segundo Benevolo (1983, p.23) a cidade é fruto do

surgimento de dois grupos sociais distintos: os dominantes, cujo trabalho

especializado concentra-se nas indústrias e nos serviços, que não são mais

executados pelos que cultivam o campo, e os subalternos, que agora oferecem seu

trabalho no campo para manter o outro grupo com o excedente das produções

dentro das cidades. Assim, evoluem os serviços e indústrias especializadas dentro

do perímetro das cidades e passam a oferecer à produção agrícola no campo o

resultado de seu desenvolvimento instrumental.

É neste momento que surge um salto evolutivo na composição econômica e

estrutural das cidades, uma espécie de descompasso, que segundo Benevolo (1983,

p.26) “(...) assinala o tempo da nova ordem civil.” tendo em vista as lentas

transformações do campo, e em contra partida, as rápidas transformações sentidas

na organização das atividades exercidas dentro das cidades pela classe dominante

que passava exercer influência sobre toda a sociedade.

Nesse novo cenário chamado de “Revolução Urbana” o domínio sobre técnicas na

produção e cultivo no campo e a evolução tecnológica de alguns instrumentos

levaram as civilizações a expandirem-se em termos populacionais, comerciais e

territoriais. O homem passou a dominar sua produção, seu território e estabelecer

uma nova ordem econômica, principalmente com a concentração do excedente

produzido no campo sendo distribuído dentro da cidade.

Basicamente, era na demarcação que dividia o meio ambiente natural do meio

ambiente artificial que cresciam as antigas civilizações, ao passo que, muitas delas

formavam Estados independentes. Esta nova situação impunha limites ao

desenvolvimento econômicos e fazia com que surgissem os primeiros impérios, que

passavam a controlar toda uma região dominada pela força de seu poder.

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As antigas civilizações formaram sua base estrutural, enquanto cidade, de acordo

com seus movimentos sociais, que não deixavam de levar em consideração a

organização política e econômica instaurada dentro do espaço físico que habitavam.

A dita “Revolução Urbana” convergiu avanços tecnológicos obtidos pelo

aprimoramento do instrumental dos pequenos grupos que se instalavam dentro da

cidade, o que conseqüentemente levou a uma nova estrutura social onde classes

dominantes eram abastecidas pelo excedente produzido no campo, além disso, um

novo sistema político pode estabelecer a divisão clara entre espaços públicos e

abertos daqueles locais mais restritos aos reis e sacerdotes, tudo isso dentro da

composição física das cidades cercadas por muros e valas.

Estas sociedades construíram valores próprios de organização territorial que

invariavelmente voltavam-se para o acúmulo dos provimentos resultantes do grande

excedente produtivo da agricultura, e assim erguiam incríveis construções que são

reconhecidas por sua magnitude até os dias de hoje. Entretanto, a composição da

cidade em si, manteve-se uniforme, pois as estruturas sociais da época

consolidaram-se entre àqueles que habitavam suas grandes cidades ordenadas nos

espaços privados de suas casas e seus serviços especializados, e aqueles que

regiam todas as regras de convivência e comportamento como os governantes

dispostos em espaços mais imponentes, possível resultado do próprio poder que

tinham sobre suas civilizações.

Antigas civilizações e sua organização social permaneceram conforme as estruturas

que surgiram há milênios, com a divisão clara entre os governantes e o povo

governado, entre a produção agrícola e a produção e prestação de serviços

especializados, entre o campo cultivado e a cidade construída, e essa influência,

pode-se dizer, é percebida em menor escala também até os dias de hoje. O que se

transforma, fundamentalmente, são as construções do meio ambiente artificial, que

surgem a partir de revoluções tecnológicas fruto da evolução do homem sobre seus

processos de construção e a necessidade da produção de instrumentos para suas

atividades.

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10

1.1.2 A Cidade Moderna

Para Benevolo (1978, p.169) os pontos de vista, tanto da propriedade privada

quanto da propriedade pública se contrapõem entre si, e “a ordenação da cidade

depende de qual dos pontos de vista prevalece.” Neste sentido existe uma

predominância do ponto de vista privado sobre o público na cidade tradicional que,

segundo Benevolo (1978), pode ser organizada em habitações privadas menores,

como casas pequenas, e em grandes edifícios.

Mas, um dos aspectos importantes levantados por Benevolo (1978) diz respeito ao

fato do conceito de arquitetura moderna não aceitar a visão de que exista,

fundamentalmente, um ponto de vista privado e outro público. Em uma análise

científica do tema, a partir do olhar sobre os estudos da arquitetura moderna, o que

se propõe é “estabelecer os tipos de casas segundo as exigências dos habitantes”.

Desse modo, existe uma definição bastante clara neste ponto de vista entre duas

partes no desenho de uma cidade, que são:

1. A habitação por conta própria, como unidade mínima arquitetônica e célula

fundamental da cidade;

2. O bairro como associação primaria que compreende certo número de

habitações com seus serviços coletivos.

Benevolo (1978, p.169) defende a idéia de que é justamente esta contraposição de

pontos de vista citados que estabelece uma dificuldade na aceitação do que é

estabelecido pela arquitetura moderna. Essa constatação revela, entre outras

coisas, o estado real da situação em que vivemos nas cidades e o problema de

poluição visual. É justamente no debate entre a interferência do espaço privado

sobre o público que decorrem as principais reivindicações de melhoria e

normatização de elementos visuais na paisagem urbana. E para isso Benevolo

(1978) ressalta que o estudo sobre a matéria resultante da ocupação territorial nas

cidades deve iniciar pelos aspectos que compõem o ponto de vista público.

(...) no considerar inamovibles las formas tradicionales de vivienda que cristalizan las formas de propriedad, por el contrario analizarlas para ver em qué medida satisfacen las exigencias de los habitantes: la exigencia de tener uma vivienda adecuada com um cierto equipo de servicios colectivos. (BENEVOLO, 1978, p.169)

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A partir da década de trinta as funções urbanas são melhor assimiladas e

distinguidas de forma a estabelecerem-se com o mínimo de interferência possível

entre elas. Benevolo (1983, p.657) afirma que desta época em diante “os planos

reguladores distinguem as zonas residenciais, as zonas industriais, as zonas para os

serviços, etc.” e assim acabam por serem “reduzidos os inconvenientes que derivam

da mistura das funções na cidade tradicional”. Isto, certamente, reflete-se na

composição urbana das cidades, estabelecendo uma lógica de uso dos espaços

dentro de uma cidade. O que se percebe, é o esforço em delimitar um espaço

central ou deslocado o suficiente dos limites periféricos da cidade para uso das

relações de serviços e do comércio, deixando que determinadas zonas,

principalmente afastadas do grande centro urbano, sejam utilizadas como áreas de

concentração das moradias dos habitantes e as áreas de lazer. Conseqüentemente,

a organização do fluxo de pedestres e veículos é distribuída de maneira planejada

com a construção de vias arteriais que levam o tráfego de uma zona a outra cidade,

deixando as vias secundárias para a delimitação e organização dos quarteirões de

um bairro.

É evidente que toda esta organização se deve a uma série de acontecimentos que

culminaram no estado do cenário urbano que presenciamos hoje. As transformações

geradas pela industrialização do mundo moderno, principalmente as ocorridas

durante o período da Revolução Industrial, são apontadas por muitos autores como

os motores do progresso tecnológico e, conseqüentemente, da construção das

grandes cidades, seja no aspecto demográfico a partir dos deslocamentos das

populações rurais para as metrópoles, seja pela oportunidade de estar próximo das

ofertas de trabalho.

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1.2 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

As profundas transformações ocorridas no final do século XVIII mudaram

radicalmente não só nossa história como também o comportamento de toda a

sociedade, que, acostumada com processos produtivos manufaturados passou a ter

que, abruptamente, reconhecer no progresso técnico o fator principal de sua

evolução em um sentido mais amplo. Essas transformações são listadas por

inúmeros autores que, ao longo da história e em diferentes momentos contribuíram

com pontos de vista sobre a Revolução Industrial, quando esta, era ligada aos

estudos da política, economia e antropologia em diferentes períodos.

Para Arruda (1994, p.8) a Revolução Industrial é uma conjunção de fatores “com

suas raízes fundidas na crise do sistema feudal, que consolida o modo de produção

capitalista, instaurando um sistema econômico-social, com sua forma peculiar de

Estado e ideologia específica.” Dentro desse conceito é possível afirmar que o

processo de transformação ocorrido com a Revolução Industrial despertou uma nova

rotina na organização das sociedades. Mas a percepção do que ela representava

em termos de mudança foi discutida em diferentes épocas e levou uma dezena de

vertentes teóricas nos mais diversos campos do saber.

Durante o século XIX a expressão “Revolução Industrial” significou muito mais uma

condição política do que algo que estaria relacionado à economia. Mas, o fato é que,

existiram diversos fatores que combinados entre si caracterizaram esse período de

nossa história, o qual, por ter a marcante participação principalmente do progresso

técnico, adquiriu uma associação direta com a rápida industrialização que foi

originada na Inglaterra.

Mas, foi no século XX, mais precisamente que, estudos sobre os fatores que

culminaram nas transformações sociais advindas da Revolução Industrial puderam

ser amplamente debatidos, agora, já com contribuições mais acadêmicas das áreas

da economia, da sociologia, entre outras. E neste mesmo século, pode-se dizer,

ramificaram-se os pontos de vista sobre a matéria.

Podemos destacar os principais fatores que contribuíram para as transformações de

modo geral em nossa sociedade no período da Revolução Industrial, e que são

citados por diversos autores, segundo Arruda (1994), como Toynbee (1884), Ashley

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(1882), Gilboy (1932), John (1950), Deane e Cole (1962), e Ashton (1948). Entre os

fatores que modificaram consideravelmente nossa estrutura social destacam-se,

segundo esses autores:

Aumento populacional;

Transformações agrícolas;

Passagem de um sistema corporativo para um sistema competitivo;

Mobilidade social;

Alteração nos padrões de consumo;

Expansão de mercados;

Acumulo de capitais;

Fenômeno comercial;

Aumento do crédito;

Surgimento da maquinaria;

Transformação tecnológica.

Dentre os itens listados, há de se destacar pelo menos quatro deles (grifados

acima), cuja interferência nos padrões de vida, assistidos atualmente, merece uma

atenção maior a título de juntarmos causa e conseqüência diante da matéria

proposta por esta pesquisa. Neste sentido, cabe chamar a atenção para o ponto de

vista de Arruda (1994, p.16), quando este autor expõe de forma clara que a

historiografia da Revolução Industrial divide-se em duas grandes ramificações: a) A

perspectiva de continuidade, em que os fatores que contribuíram para as

transformações sociais no período da Revolução Industrial seriam uma simples

evolução de acontecimentos que lentamente levariam aos progressos assistidos; b)

A perspectiva da ruptura qualitativa e quantitativa, onde se destacam os momentos

de modificação radical principalmente nas relações sociais (ruptura qualitativa) e

conseqüentemente “determinam o salto de indicadores quantitativos.”

É justamente, neste sentido, o da ruptura qualitativa e quantitativa, que se

enquadram os fatores que destacaremos neste tópico da pesquisa, que são: a)

Transformação tecnológica; b) Mobilidade social; c) Alteração nos padrões de

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consumo; e c) Aumento populacional. Mais precisamente, identificam-se esses

fatores como os promotores de uma nova ordem social, que refletem as

transformações em nosso meio urbano e no comportamento de seus habitantes.

1.2.1 Transformação Tecnológica

O período que antecede a Revolução Industrial é caracterizado essencialmente

como um momento de transição, em que o sistema feudal, já em crise, começa a dar

espaço a uma nova estrutura de produção capitalista. Nesse período, a manufatura

destacava-se ainda como um modelo de produção mais avançado dentre os

diversos sistemas produtivos existentes. Esse ponto é importante ser destacado,

pois, tendo em vista que foi a partir da manufatura que se ampliou a necessidade de

uma evolução tecnológica nas indústrias podemos identificar as reais causas dessa

evolução técnica.

O fato é que, obviamente, por haver um limite técnico na capacidade de produção

humana, e que só poderia ser superado pela substituição do homem pela máquina,

o modo de produção manufaturado chega a um limite insuperável, o limite humano.

Limite este que, nem mesmo com o crescimento da força produtiva em termos

quantitativos poderia dar conta das demandas de produção cada vez maiores.

Figura 1. Sistema de manufatura têxtil no período pré-revolução industrial.

Fonte: desconhecida.

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Ainda sobre esse ponto, há de ser destacado o problema da escassez de mão-de-

obra nas manufaturas, que agora viam o contingente trabalhador deslocar-se em

busca da oferta de trabalho no campo. É neste cenário, em que culmina a falta de

mão-de-obra, com o próprio limite físico do trabalhador, que a maquinaria é

introduzida como uma nova força produtiva capaz de dar vazão ao processo

produtivo da época.

Segundo Arruda (1994, p.48-49) é a partir do surgimento da maquina simples,

definida “como um mecanismo que sob o impulso de uma força motriz simples

executa os movimentos compostos de uma operação técnica, antes efetuada por

vários homens”, que surge a máquina-ferramenta, a qual da partida a Revolução

Industrial do século XVIII. Basicamente, a introdução deste mecanismo revolucionou

o modo de produção, pois extrapolava os limites humanos que a ferramenta normal

de um artesão poderia ultrapassar. Seu principio básico era tornar o “emprego da

energia humana meramente acidental”, e desta forma, “o homem passa a atuar

apenas como força motriz numa máquina-ferramenta, ao invés de atuar com a

ferramenta sobre o objeto de seu trabalho.”

A máquina da qual nasce a Revolução Industrial substitui o trabalhador que manipula apenas uma ferramenta, por um mecanismo que pode operar, concomitantemente, um determinado número de ferramentas semelhantes, acionadas por qualquer tipo de energia motriz, independente de sua forma. (ARRUDA, 1994, p.49-50)

Em 1784, James Watt patenteia um mecanismo mais potente capaz de superar a

força exercida pela máquina-ferramenta e conseqüentemente amplia as

possibilidades da potência final exercida pela máquina. Esta invenção foi chamada

de máquina a vapor de movimento duplo, e consumia apenas carvão e água, fato

esse, que a diferenciou de outros mecanismos hidráulicos que dependiam da ação

dos cursos de água para funcionar. Neste caso, a máquina a vapor acabou por ditar

uma nova ordem no cenário produtivo, podendo ser facilmente transportada de um

lugar ao outro, e assim estabelecer-se dentro das cidades, pois não dependia mais

efetivamente dos cursos de água.

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Figura 2. James Watt e a máquina a vapor de movimento duplo.

Fonte: ANDRESEN, 1872.

Fundamentalmente essa inovação no campo produtivo com a substituição da força

humana pela máquina rendeu uma série de desdobramentos que puderam ser

reconhecidos nos mais diversos pontos da sociedade. Dentro dessa perspectiva, da

ruptura qualitativa, que em conseqüência surge também à ruptura quantitativa,

citada por Arruda (1994), em seus vários âmbitos, como a produção em massa de

bens, o acesso ao consumo por um número cada vez maior de pessoas, e o

crescimento do contingente urbano, que agora via nas cidades o cenário que

congregava os ideais de prosperidade.

1.2.2 Mobilidade Social

Até o início da Revolução Industrial a composição social era dividia claramente entre

as instituições religiosas, as classes aristocráticas e os camponeses ou plebeus que

viviam sob a condição de subsistência através do trabalho no campo e da produção

manufatureira. Fundamentalmente, a composição da sociedade feudal era uma

imposição por força da descendência sanguínea, que não permitia em hipótese

alguma uma mudança de posição entre as classes. Era um sistema rígido e

cristalizado e sem perspectivas de mudança.

Mas, foi a partir da Revolução Inglesa de 1640, que é considerada por muitos

autores como a base para a Revolução Industrial, que a velha estrutura social feudal

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começou a passar por uma transformação. Dentre as principais transformações,

podemos destacar a eliminação do poder real, o surgimento do conceito de

propriedade individual e absoluta e o fim do aparelho do Estado, impondo limites ao

poder do Parlamento. Nas palavras de Arruda (1994, p.33) “o poder mudara

efetivamente de mãos.”

Caracterizou-se como um processo gradual em que a nobreza rural, identificada

como a “burguesia mercantil”, passou de um predomínio econômico, ao poder, e

posteriormente, em 1832, à hegemonia do bloco no poder. Assim como explica

Arruda (1994, p.34) citando Nicos Poulantzas, que é através da “fração hegemônica

do bloco no poder” representada pela figura do Parlamento, que se consegue “ao

mesmo tempo, concentrar em si o papel político-ideológico do Estado com relação

às classes dominadas.”

Pela primeira vez, num processo revolucionário, a burguesia tinha assumido o poder e implantado seu projeto político, derrubando pela força o poder constituído, com o indispensável apoio das massas rurais e urbanas, que se fizeram presentes nos momentos mais agudos deste processo revolucionário. (ARRUDA, 1994, p.34)

Figura 3. As respigadeiras, 1857 de François Millet, representando o trabalho no campo do período.

Fonte: http://www.artrenewal.org/

O poder político e ideológico concentrado agora na burguesia mercantil gerou uma

série de recomposições na estrutura social daquela época, principalmente, e talvez a

mais forte, ocorrida dentro da estrutura agrária, que revelou uma importante

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recomposição de classes. Basicamente, o protecionismo até então concedidos aos

camponeses pela monarquia, foi derrubado com o conceito dos cercamentos

(enclosures). Essa nova proposta foi utilizada pela burguesia mercantil rural, a fim de

se criarem grandes propriedades em que poderiam ser feitos investimentos

capitalistas.

A perspectiva de recomposição agrária naquele período, pode-se dizer que foi

decisiva para uma série de outros acontecimentos de ordem social, principalmente

com relação à divisão de classes e suas relações de trabalho. O camponês que

outrora dependia de sua própria terra para sobreviver era tomado agora como um

trabalhador que por força do sistema idealizado pelo poder burguês impunha esta

nova estrutura, proletarizando as relações do trabalho no campo. Este movimento,

também despertou um novo comportamento na atividade camponesa que agora se

via diante da possibilidade de especialização na agricultura, mas que em

contrapartida tornava a oferta de mão-de-obra escassa no artesanato e na

manufatura, fato este que acelerou a busca pela mudança nas formas de produção,

e neste sentido como destacado anteriormente, surge a busca pelo progresso

técnico.

Com a transformação na estrutura agrária rompe-se o bloqueio estrutural, imanente desde o primeiro momento da crise do sistema feudal e a emergência do capital mercantil, que resulta na crise de crescimento do século XVII, destravando às forças produtivas ruma à industrialização do século XVIII. (ARRUDA, 1994, p.36)

Em um primeiro momento, diante desta nova estrutura social, compreende-se a

gradativa mudança na configuração das classes no período que antecede a

Revolução Industrial. Efetivamente, é possível afirmar que o movimento iniciado

ainda no século XVII através da obtenção do controle das propriedades rurais pela

burguesia mercantil, e que levou a conseqüente aceleração da industrialização no

século XVIII, através da introdução da maquinaria, contribuiu para o estabelecimento

de uma clara divisão de classes, consagrada durante o período de crescimento

industrial e ascensão capitalista, formando assim a classe burguesa, detentora dos

meios produtivos, e o proletariado, explorado como força de trabalho. Deste modo,

torna-se necessário ilustrar como ocorreu essa divisão, para que se compreenda

efetivamente o início de um processo social que viria a desaguar na estrutura das

cidades, cujos efeitos são presenciamos até os dias de hoje.

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1.2.3 Aumento Populacional e Concentração Urbana

Dentre os fatores que destacamos anteriormente, sem dúvida, o aumento

vertiginoso da população, principalmente na Inglaterra, berço da Revolução

Industrial, pôde ser notado de forma mais evidente. E este aumento, segundo Arruda

(1994, p.65) segue no mínimo concomitantemente ao “arranque da industrialização.”

Dentro dessa perspectiva de crescimento populacional, o que chama atenção não é

só o aumento em termos quantitativos o que é verificado e avaliado sempre de

forma ampla considerando o território de um país como um todo – mas, também o

grau de concentração do contingente populacional nas grandes cidades que

revelavam agora uma tendência de aglomeração de industriais em seus centros

urbanos.

A máquina a vapor de Watt foi decisiva para isso, considerando que seu

funcionamento não dependia de fluxos naturais de água, e podia ser introduzida em

fábricas localizadas estratégicamente, agora, mais perto dos meios evoluídos de

circulação e transporte da época. Assim, a população urbana de Londres, por

exemplo, que já chegava a um milhão de habitantes no final do século XVIII, viu

crescer em pouco mais de cinco décadas sua população para mais de dois milhões

e meio de pessoas.

Figura 4. Ilustração de uma Rua em Londres durante o período da Revolução Industrial.

Fonte: http://www.urbanidades.arq.br/

Esta modificação na estrutura populacional nas cidades industrializadas é destacada

também por Benevolo (1983, p.551-552) que expõe os fatores que foram

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condicionantes desta modificação na estrutura urbana e territorial. De acordo com

sua avaliação estariam entre os fatores:

1. O aumento da população, devido à diminuição do índice de mortalidade;

2. O aumento dos bens e serviços em virtude do progresso tecnológico;

3. A redistribuição dos habitantes no território;

4. O desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação;

5. As rápidas mudanças em poucas décadas;

6. A desvalorização das formas de controle do ambiente público.

Nesse momento cabe comentar, que estes seis pontos destacados pelo autor

revelam, entre outras coisas, o grau de despreparo da sociedade da época diante

das profundas modificações ocorridas no ambiente de forma ampla. A revolução

tecnológica permitiu avanços imensos, mas, em contra partida parece ter deixado de

lado o aspecto humano de valorização do bem-estar e qualidade de vida da

população.

A fase idílica do trabalho no campo, da dualidade camponesa, havia passado. O ritmo inesperado e impetuoso da expansão urbana não fora acompanhado por adequados serviços urbanos. (...) A emergência do sistema fabril revoluciona completamente as estruturas de produção que permaneciam na sua reta guarda: a manufatura se transforma constantemente em fábrica, o artesanato em manufatura e, finalmente, os resquícios do artesanato e do trabalho doméstico transformam-se, rapidamente, em antros de miséria onde campeia livremente a exploração capitalista. (ARRUDA, 1994, p.67)

Diante desse cenário, mas, a parte das conseqüências sociais do que esse processo

representou, ressaltamos pelo menos os três primeiros pontos destacados

anteriormente por Benevolo (1983, p.551-552), e que fazem menção direta ao

fenômeno de aumento e concentração urbana, como o aumento da população em

virtude da baixa mortalidade, a crescente oferta de bens e serviços e a redistribuição

dos habitantes no território.

Segundo Benevolo (1983, p.551) o número de habitantes na Inglaterra passou em

1760 de sete milhões para 14 milhões em 1830, e que isso foi influenciado

decisivamente pela diminuição do índice de mortalidade, que rompeu “o secular

equilíbrio entre gerações, porque cada uma ocupava o lugar das anteriores e repetia

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o mesmo destino.” Em virtude da queda da mortalidade infantil, cresce o número de

jovens, o que fatalmente os impusera, pela força de suas condições sociais a

figurarem nas frentes de trabalho empregadas nas indústrias das grandes cidades.

Ou seja, a própria busca pelo meio de sobrevivência através do trabalho assalariado

forçosamente empurrava o contingente trabalhador disponível aos grandes centros

urbanizados e desta forma contribuía para a concentração de habitantes nas

cidades.

As cidades, agora, abarrotadas pelo aumento do contingente de pessoas, que

sobrevive entre a burguesia capitalista e o proletariado das grandes fábricas, vê

crescer também o aumento da oferta de bens e serviços, que nas palavras de

Benevolo (1983, p.551) permitiu “um aumento ulterior da população.” Ou seja, houve

sim uma associação entre aumento da produção e aumento populacional, pois “os

bens e serviços disponíveis em quantidade e em qualidade superior fazem aumentar

a qualidade de vida das classes sociais, e produzem a busca de outros bens mais

abundantes e mais diversos.” Diante disso, cabe destacar o ponto de vista de Karl

Marx (apud in Arruda, 1994, p.39) sobre a relação do consumo e consumidor.

(...) a produção não cria somente um objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto. Logo a produção gera o consumo: 1º) fornecendo-lhe a sua matéria; 2º) determinando o modo de consumo; 3º) criando no consumidor a necessidade de produtos que começaram por simples objetos. Produz, por conseguinte, o objeto do consumo, o modo de consumo, o instinto do consumo. De igual modo, o consumo engendra a vocação do produtor, solicitando-lhe a finalidade da produção, sob a forma de uma necessidade determinada (MARX, s.d, apud in ARRUDA, 1994, p.39)

A clareza com que Marx narra a lógica do sistema capitalista pós- industrialização

revela outro importante fator dentro da questão da ampliação do número de

habitantes nas cidades. O fato é que o progresso técnico atrelado a multiplicação da

capacidade de produção gerou um excedente de bens disponíveis, e que só

poderiam ser consumidos exatamente pela quantidade de pessoas que viviam

próximas aos centros de produção. Não iremos aqui nos aprofundar nas questões

relacionadas às particularidades do sistema econômico da época, entretanto,

observamos que a já comentada explosão produtiva fez com que se criassem

também mecanismos econômicos para dar condições ao consumo, àqueles que

antes não viam na obtenção de bens, sua condição fundamental de sobrevivência.

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1.2.4 Alteração nos Padrões de Consumo

A sobrevivência em uma cidade no início do século XIX nos remete a questões

muito importantes. Se as transformações dos padrões econômicos, sociais e

produtivos geraram um excedente populacional nos grandes centros urbanos, e

conseqüentemente o esvaziamento das zonas rurais, de que forma foi possível

abastecer, regular e educar toda uma população no sentido de que esta pudesse

sobreviver dignamente dentro desta nova organização? Sem dúvida, a

transformação de um sistema mercantilista para o capitalista trouxe em essência a

necessidade de um mecanismo que o sustentasse. Desta forma, é preciso notar

que, dentro dessa nova ordem, onde o interesse representado pelas grandes

industriais e pequenos comércios, que se proliferavam nos grandes centros urbanos,

o setor privado estava amparado pela lógica da circulação de capital, que nas

palavras de Marx (apud Arruda, 1994, p.40) tornava o produto em mercadoria por

meio do comércio, e neste momento “o capital mesmo aparece, primeiramente, no

processo de circulação.” E também, “é no processo de circulação que o dinheiro vira

capital” e “na circulação que o produto se torna valor de troca, mercadoria e

dinheiro.” Basicamente, segundo Arruda (1994, p.40) trata-se de “(...) um circuito

integrado, que revela certa circularidade, um movimento mais próximo do pendular.”

Mas, este “circuito integrado” só foi possível a partir da Revolução Burguesa do

século XVII, pois até então somente a antiga aristocracia, detinha o poder

econômico capaz de consumir bens vindos das manufaturas ou distantes do seu

lugar de origem. A partir da Revolução Industrial, e tudo o que a seguiu, o poder de

compra agora estava disponível ao proletariado que dominava grandes centros

urbanos, que em troca de um salário aceitava condições precárias de trabalho nas

fábricas. Essa foi realmente a nova composição que permitiu uma alteração

significativa no acesso ao consumo.

Em outras palavras, o papel do mercado interno no contexto da Revolução Industrial

e a alteração nos padrões de consumo foram decisivos, pois em análise de E. W.

Gilboy (apud Arruda, 1994, p43) as transformações industriais “não poderiam

ocorrer, a não ser em sociedades cujas demandas e consumos padronizados

tivessem passado por mudanças e reajustes radicais.” Essas mudanças seriam o

reflexo direto de uma sociedade com as características de “mobilidade social entre

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as camadas, pela introdução de novas mercadorias criadoras de novas

necessidades, e por um crescimento nos rendimentos reais da população como um

todo.” Dentro dessa perspectiva, onde se revelou diante do processo da Revolução

Industrial uma profunda alteração nas condições entre as classes sociais,

comentadas anteriormente, e, além disso, o fato do progresso técnico e produtivo

ser responsável pelo excedente do que se produzia nas fábricas, e assim criando a

necessidade de consumo pela instauração de um novo sistema econômico, revela-

se aqui outro importante aspecto, que diz respeito à efetiva “capacidade aquisitiva”

da população, que na análise teórica de E. W. Gilboy (apud Arruda, 1994, p.43),

aumentou “particularmente nas regiões industriais, economicamente mais

expansivas.”

É sem dúvida uma evidência de grande valia, pois revela, entre outras coisas, que

grandes centros urbanos, que possuíam alta expressividade econômica permitiam a

convergência de inúmeros fatores para o acesso ao consumo. Entre esses fatores,

como foi destacado, está a crescente produtividade e oferta de bens e serviços,

conseqüência do progresso técnico, onde foi demonstrado, principalmente, na

Grande Exposição de 1851 em Londres, apresentando inúmeros produtos frutos

dessa nova ordem industrial. Além disso, o novo sistema econômico e a divisão de

classes instauraram uma nova perspectiva dentro da sociedade, que agora se via

em grandes centros urbanos com possibilidades aquisição das mais variadas

quinquilharias.

Figura 5. A Grande Exposição de 1851 realizada em Londres.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/

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Como já destacamos anteriormente, outros fatores como o progresso tecnológico e

o crescimento da produção também contribuíram não só para o aumento das

populações urbanas, como também permitiu que se gerassem um excedente fabril

que, conseqüentemente, necessitava da procura pelo que era produzido. A

Revolução Industrial, dentro de uma perspectiva do ambiente em que se deu, bem

como na análise do corpo social da época, nos mostra o momento crucial de

mudanças de ordem urbana, social, econômica e tecnológica. Todas essas

alterações são sentidas até os dias de hoje, e não seria um absurdo compará-las

com a estrutura social em que vivemos. Se esta mesma análise pudesse ocorrer nos

dias de hoje, certamente, encontraríamos semelhanças e características observadas

quando estas formam demonstradas através desta pesquisa sobre as causas e

conseqüências da Revolução Industrial sob a perspectiva de rupturas qualitativas e

quantitativas.

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1.3 A CIDADE DE PORTO ALEGRE

Assim como outras capitais do país, Porto Alegre só sentiu as conseqüências da

evolução tecnológica ocorrida fruto da Revolução Industrial quase dois séculos após

a que se deu na Inglaterra e em outros países da Europa. Até o fim do século XVIII,

período efervescente desta Revolução, as cidades brasileiras, e mesmo as capitais

dos Estados da federação viviam em uma condição de caráter provinciano, com a

exceção das cidades que abrigavam o governo central, cujo desenvolvimento de

suas estruturas urbanas já lhes permitia estarem em um contexto urbanístico mais

avançado juto pela centralização do poder e também dos recursos econômicos.

Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande Sul, tem sua origem em 26 de março

de 1772 quando foi denominada Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais.

Um ano após, em 1773, recebeu o nome de Nossa Senhora da Madre de Deus de

Porto Alegre. A cidade acolheu os primeiros imigrantes em janeiro de 1752 com a

chegada de 60 famílias portuguesas açorianas vindas de Santa Catarina, que

inicialmente, aguardaram a demarcação de suas terras no Porto de Viamão. Mais

especificamente as terras designadas às famílias portuguesas foram demarcadas na

área do Morro Sant’Anna, que na época eram de propriedade de Jerônimo de

Ornellas, mas em virtude dos poucos recursos hídricos da região, os assentados

tiveram que se estabelecer nas proximidades do porto. Em virtude dessa ocupação,

próxima às margens do Guaíba, o povoado passou a ser conhecido como Porto dos

Casais, referência aos casais de açorianos assentados nas terras próximas à região

portuária.

A divisão dos lotes às famílias de colonos que povoavam a região do Porto só veio a

ocorrer em 1772, quando os assentados receberam os títulos de posse que

delimitavam suas terras em 141 ha, formando assim o núcleo urbano do povoado. A

capital da província, que até 1763 era a vila de Rio Grande, foi transferida para

Viamão, e o contingente populacional refugiado da dominação espanhola veio a

estabelecer-se também no Porto dos Casais, aumentando assim drasticamente a

população dessa área. Em virtude disso, o então governador Marcelino de

Figueiredo, que já notava o crescimento da região bem como entedia o porto como

um ponto estratégico, transferiu em 1773, novamente, a capital da província de

Viamão, para a então denominada Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto

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Alegre. O crescimento de Porto Alegre, então começa a ser sentido de maneira mais

acelerada no final do século XVIII, com a instalação do Palácio do Governador, a

primeira Igreja Matriz, a instalação do Arsenal de Guerra e as fortificações nas

margens do lado oposto do porto, além do surgimento de praças como a Praça da

Matriz, Praça da Alfândega e Praça IX.

O povoado já passava dos quatro mil habitantes. Nas últimas décadas do século

XVIII o setor de produção de tijolos e telhas estava a todo o vapor, além do comércio

em geral que aproveitava o fervor populacional para instalarem os mais diversos

tipos de serviços nos arredores do povoado. Nas regiões periféricas concentraram-

se os colonos que se dedicavam a agricultura e a manutenção dos mantimentos dos

cidadãos, concentrando-se na produção de trigo e farinha. Em virtude disso os

moinhos constituíram-se em importantes referências na memória dos habitantes,

possibilitando que até um dos bairros da cidade, atualmente, levasse o nome de

Moinhos de Vento. Além da produção agrícola, também as charqueadas atraídas

pelo crescimento urbano desse povoado passaram a se instalar em suas cercanias,

e a conseqüência disso possibilitou a transformação do cenário urbano de Porto

Alegre, com o surgimento dos primeiros bairros mais afastados do centro.

As duas décadas inicias do século XIX viram Porto Alegre sofrer o aumento

demográfico pela chegada de imigrantes alemães que passaram a oferecer os mais

variados tipos de serviços e estabelecimentos comerciais na cidade, que foi elevada

a essa categoria em 1822. Quase na metade do século, com a Revolução

Farroupilha, as tropas imperiais tomaram a cidade por entender o valor estratégico

de seu território, e assim, poder contornar o conflito. A partir de então, a cidade

começou a receber investimentos maiores em sua estrutura vindos do governo

central, que possibilitaram entre outras coisas, novos estaleiros, quartéis, serviços

de telégrafos, as primeiras linhas de bondes, além da expansão de seus bairros, já

no fim do século XIX.

Com ideais positivistas, a cidade de Porto Alegre crescia em ritmo acelerado no

início do século XX com a implementação de programas de obras públicas, focadas

em saneamento, saúde, transportes e obras de urbanização. Este momento foi

crucial para o surgimento de novos bairros na cidade, que passavam a seguir o

primeiro plano diretor instituído em 1950. Assim, a morfologia urbana de Porto

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Alegre começa a modificar-se e a incluir novos contrastes entre as regiões

urbanizadas, mais próximas do centro da capital e aquelas que ainda não haviam

sofrido grandes alterações por estarem ainda sendo construídas e recebendo novos

contingentes populacionais.

Da metade para o final do século XX, Porto Alegre continuou seu crescimento, e um

dos principais índices a aumentar foi, sem dúvida, o demográfico. Segundo

estimativa do IBGE, em 1950 Porto Alegre tinha em torno de 394 mil habitantes, e

no final de 2000 este número quase foi quadriplicado chegando a 1.360.000

habitantes. Este fator fez com que novos programas de urbanização fossem

desenvolvidos para atender a demanda de tamanho crescimento. Este novo cenário,

fez com que Porto Alegre experimentasse os efeitos comuns a um grande centro

urbano e a conseqüência negativa desse contexto, entre eles a poluição, o caos do

trânsito e todos os outros problemas que acabam por afligir as cidades mais

desenvolvidas do Brasil.

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1.4 A RUA DOS ANDRADAS

A atual Rua dos Andradas, localizada no centro de Porto Alegre, é considerada a via

mais antiga da cidade. Muitos autores como Spalding (1967), Oliveira (1993) e

Franco (1998), relatam as histórias e os acontecimentos que se desenrolaram nesta

Rua ao longo dos anos. Trata-se de uma via de muitas histórias e que registrou

inúmeros acontecimentos de relevância para a cidade de Porto Alegre.

Atualmente, sua extensão compreende um percurso de pouco mais de um

quilometro e meio, começando a partir da Rua General Salusiano, próxima a Usina

do Gasômetro, passando pela Praça da Alfândega, Rua General Câmara,

atravessando a Avenida Borges de Medeiros até chegar à Praça Dom Feliciano, na

parte alta da Rua dos Andradas.

Segundo Spalding (1967) as poucas ruas que começavam a se formar, no princípio

de formação da cidade de Porto Alegre, recebiam o nome do principal morador ou

do mais antigo, mas com o passar do tempo esses nomes acabaram

desaparecendo. Por volta de 1765, de acordo com Spalding (1967, p.35), que é

possível encontrarmos os primeiros registros já com a denominação de Rua da

Praça e Rua da Graça, as duas antigas ruas que formavam a atual Rua dos

Andradas. A Rua da Praia começando na parte mais ao oeste e terminando no

cruzamento com a Rua General Câmara e a Rua da Graça a partir desse

cruzamento até o antigo Largo da Caridade a atual Praça Dom Feliciano.

Desde seus primeiros momentos a antiga Rua da Praia concentrava pequenos

comerciantes, principalmente na altura da Praça da Alfândega, dada sua

proximidade com a ponte de desembarque do “porto de Viamão”, por onde

chegavam sempre as novas famílias para povoar a comunidade que se iniciava. A

maioria dessas famílias construiu suas casas na extensão da Rua da Praia.

Segundo Franco (1998, p.31) muitos registros históricos de (1781-1785) referem-se

às residências como “casas cobertas de capim”, o que conseqüentemente,

evidenciava o primitivismo da Vila.

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Figura 6. Na ilustração a junção da Rua da Praia com a Rua da Graça.

Fonte: ALVES, 1997.

Figura 7. Antigo Quartel General do Exército

Fonte: GUIMARAENS, 2010.

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De acordo com Oliveira (1993, p.89) “existiu nessa rua a primeira capela, de São

Francisco das Chagas”, além do Arquivo Militar, os Armazéns Reais, o Arsenal de

Guerra e a Alfândega. Hoje, muitos dos prédios que se encontram nessas áreas

representam uma ligação com o antigo estabelecimento territorial militar em épocas

passadas.

Em 1843, de acordo com Franco (1998, p.31), pelo estabelecimento do primeiro

emplacamento de ruas, é possível que a denominação Rua da Graça tenha

desaparecido definitivamente, passando a ser considerado, em toda a sua extensão,

o nome de Rua da Praia. Mas, foi no dia 7 de setembro de 1865, de acordo com

Oliveira (1993, p.89) por ato da Câmara Municipal, que a Rua da Praia e sua

continuação (antigamente denominada Rua da Graça) passariam a se chamar Rua

dos Andradas em toda sua extensão.

Figura 8. Dois meios de transporte em diferentes épocas na Rua dos Andradas.

Fonte: ALVES, 1997.

Diversos fatos marcantes ocorreram ao longo de sua história, e diversas ações

políticas promoveram a infra-estrutura dessa via. Entre as ações, destaca-se a

transferência em 1922 das linhas do antigo bonde que passava na Rua dos

Andradas, para a Rua Sete de Setembro, devido ao intenso movimento de veículos

e pedestres registrado entre o trecho da Praça da Alfândega e Rua Vigário José

Inácio (FRANCO, 1998, p.32).

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Hoje em dia, a Rua dos Andradas constitui-se em um importante eixo de circulação

do centro de Porto Alegre, abrigando uma diversidade de opções culturais, acervos

históricos e o comércio em geral, além de possuir ao longo de sua extensão diversos

pontos famosos por concentrarem manifestações políticas como a Praça da

Alfândega e a denominada “Esquina Democrática”, no seu cruzamento com a

Avenida Borges de Medeiros.

1.4.1 Aspectos da Ocupação da Rua dos Andradas

Desde os primeiros momentos em que houve o povoamento da cidade, a Rua dos

Andradas vem acompanhando o crescimento de Porto Alegre e, desta forma, acaba

se modificando a medida que o progresso e a urbanização se tornam

imprescindíveis para a organização dos espaços públicos da capital.

Na sua constituição inicial Rua dos Andradas já se caracterizava como um ponto

comercial de intensa atividade. Esta característica é descrita em detalhes no ano de

1820 pelo viajante francês Auguste Saint Hilaire, em passagem citada por

Guimaraens (2010, p.60).

A Rua da Praia que é a única comercial é extremamente movimentada. Nela, se encontram numerosas pessoas a pé ou a cavalo (...) É dotada de lojas muito bem instaladas, de vendas bem sortidas e de oficinas de diversas profissões. Quase na metade desta rua existe um grande cais dirigido para o lago, ao qual se vai por uma ponte de madeira de cerca de cem passos de comprimento guarnecida de parapeito e mantida sobre pilares de alvenaria. (GUIMARAENS, 2010, p.60)

O panorama descrito pelo viajante francês remonta um período inicial da

constituição da Rua dos Andradas, mas traduz perfeitamente algumas de suas

características atuais. Ao longo de sua extensão o comércio e a circulação de

pessoas são intensos. Mas, o que a torna assim, também é fruto da forma como foi

ocupada ao longo de suas décadas de existência por suas construções de estimada

relevância para a cidade.

Os Quartéis-Generais do Exército construído em 1908, o Arsenal de Guerra de

1855, que junto com o Theatro São Pedro é considerado o segundo prédio mais

antigo em preservação na capital, e o Quartel General da Brigada Militar construído

em 1925, são construções compõe o cenário dos primeiros quarteirões da Rua dos

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Andradas e em diferentes épocas foram locais de grande concentração da

segurança do território da cidade. Além deles a Igreja das Dores de 1813, também

registra em sua história importantes reuniões populares de demonstração da fé.

Mas, a Rua dos Andradas possui também uma importante tradição cultural. A

primeira sessão de cinema em Porto Alegre, segundo Guimaraens (2010, p.68), foi

rodada em cinco de novembro de 1896, e de lá para cá, a Rua dos Andradas se

difundiu como um espaço de reunião dos populares ávidos pelas projeções do

cinema.

Com o sucesso das primeiras exibições, Porto Alegre vira ponto obrigatório dos mascates da cultura que, munidos de projetor e algumas películas, circulam pelo país levando a nova arte. (...) As exibições são mostradas em locais públicos, como a Praça da Alfândega e os Campos da Redenção, onde a multidão se aglomera para ver as maravilhas da animação. O cinema se populariza, e os empresários locais percebem que a diversão animada tem futuro. A nova paixão dos porto-alegrenses já comporta espaços exclusivos. (GUIMARAENS, 2010, p.69)

As primeiras salas de cinema surgem no início do século XX, com a abertura do

Cine Recreio Ideal em 1908, que mais tarde daria lugar ao Cine Imperial em 1931, o

Cine Guarany de 1913, o Cinema Central de 1921 e o Cine Cacique de 1957. Todos

esses espaços para projeção de filmes e animações localizavam-se nas cercanias

da Praça da Alfândega junto aos principais cafés, e logo esse espaço ficou

conhecido como a Cinelândia da capital.

Figura 9. Foto do antigo Cinema Central.

Fonte: GUIMARAENS, 2010.

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Além das reuniões populares em conseqüência da atratividade dos cafés e os

cinemas da Rua dos Andradas, outro eventos tem como principal endereço esta via,

demonstrando a diversidade e a procura de alternativas culturais do público que a

freqüenta. Um dos mais populares e conhecidos eventos da cidade tem em 1955

seu início. A 1ª Feira do Livro de Porto Alegre inicia da vontade de livreiros como

Henrique Bertaso, que apoiado por diversos outros donos de livrarias insistem na

idéia de popularizar o livro. Assim, como “uma autêntica livraria ao céu aberto” a

Feira do Livro se instala na Praça da Alfândega e reúne até os dias de hoje

inúmeras pessoas em busca de novidades literárias. Mas, esse cenário de intensa

diversidade cultural, nem sempre foi assim, como afirma Strelow (2002, p.27) ao

explicar o motivo pelo qual o público da Rua dos Andradas mudou.

A passagem para o 20 exigiu que Porto Alegre se modernizasse. E isso, em outras palavras, significava também higienizar-se. Esse processo previa a extinção dos becos que durante décadas sinalizaram a paisagem urbana da região urbana. (STRELOW, 2002, p.27)

Segundo Strelow (2002, p.27) esse movimento fez com que as camadas mais

populares fossem deslocadas para a periferia da cidade, permitindo que a Rua dos

Andradas se tornasse no ponto de encontro de um público seleto. Guimaraens

(2010, p.170) afirma que no período dos anos 30, que sucedeu estas

transformações, viu novas lojas se instalarem na Rua dos Andradas e as mais

antigas se remodelarem, apresentando a Porto Alegre o “significado da expressão

sociedade de consumo”.

A Rua da Praia é a vitrine do progresso. Seu leito é repleto de letreiros coloridos, que oferecem todo o tipo de mercadorias nacionais e estrangeiras, tecidos, jóias, perfumes e eletrodomésticos. (GUIMARAENS, 2010, p.170)

Com o passar do tempo e o progresso da cidade como um todo, muitas das grandes

lojas comerciais que se localizavam na Rua dos Andradas deram lugar a outros

estabelecimentos menores como financeiras, lojas de miudezas, que segundo

Strelow (2002, p.26) são fruto também da mudança do público que a freqüentava.

Essa mudança deu-se por volta dos anos 60, que viu retornar ao espaço da Rua dos

Andradas aquelas camadas populares que antes haviam se distanciado. Hoje, como

explica Strelow (2002, p.26) dado o “medo dos assaltos, a balbúrdia do comércio

informal e a poluição visual e sonora foram se afugentando grande parcela do

público que circulava por ali”.

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Figura 10. Imagem de um trecho atual da Rua dos Andradas.

Fonte: GUIMARAENS, 2010.

Atualmente, mais de 400 mil pessoas circulam pela Rua dos Andradas, e quase que

a totalidade dessas pessoas não descobriu a história que guarda cada um de seus

quarteirões. Esta via de intensa atividade que já foi o palco de inúmeros

acontecimentos políticos, culturais e de grande relevância para a própria história da

cidade, hoje, abriga um público diferente, e até certo ponto indiferente com os

cenários urbanos e suas mais variadas características. A Rua dos Andradas, de

importância fundamental na construção de Porto Alegre, cresceu junto com a cidade,

e hoje, permanece com símbolo da diversidade em formas arquitetônicas, ambientes

culturais, paisagens urbanas e ocupação de seu território.

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CAPÍTULO II

2.1 PAISAGEM URBANA

Os elementos físicos e gráficos distribuídos em uma cidade constituem um

panorama bem definido do que podemos chamar de era pós-moderna. Já contamos

com benefícios que as cidades bem estruturadas podem oferecer, como avenidas,

ruas, calçamentos, praças, transporte público, etc. Mas, talvez o que mais chame a

atenção, seja o fato de que possuímos hierarquias na configuração do espaço

construído. Desta forma, somos orientados a viver em comunidades, sejam elas de

caráter ordenado, como bairros planejados, ou em verdadeiros complexos de casa e

vielas, fruto de ocupações de terrenos ilegais. A cidade, palco desse plano,

representa mais do que a simples divisão de espaços. Ela agrega valores, que

jamais o cidadão comum foi capaz de perceber durante a sua gradativa ocupação do

espaço urbano.

Para Cullen (2008, p.9) essencialmente uma cidade “é uma unidade geradora de um

excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a

preferirem – independentemente de outras razões – viver em comunidade a viverem

isoladas”. Esta avaliação nos leva a considerar que, apesar da explosão

demográfica nos grandes centros urbanos ter sido gerada pelo reles capricho de

sentir-se pertencente ao dito moderno, seria verdade, antes de tudo, que a busca

essencial é pela facilidade, comodidade e oportunidade de poder ter o que se

precisa dentro de um ambiente em que se possa viver. E neste sentido, talvez

estejamos mais do que nunca, ultrapassando os limites invisíveis dos espaços

públicos.

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Mas nossos abusos, em decorrência dessa ocupação, não podem ser encarados

como a conseqüência simplesmente de uma era pós-moderna, onde convergem

avanços tecnológicos, econômicos e culturais. O planejamento sempre fez parte das

transformações das cidades, e nesse sentido, importantes orientações advém dos

primeiros anos do século XX. Segundo Marchezini (2010, p.20) “o modelo de

urbanização implantado no Brasil foi fruto do chamado “urbanismo funcionalista” que

se expressou no cenário internacional a partir de 1910, com o movimento de

planificação urbana”. O chamado “urbanismo funcionalista”, implementado por

militares, trouxe como conseqüências a ocupação desordenada, além de considerar

somente as funções econômicas que o espaço urbano poderia proporcionar.

Este fato parece bastante esclarecedor quando observamos que a paisagem urbana

de nossas cidades vem sofrendo com o acúmulo de ofertas visuais, advindas da

malha comercial instalada nos principais eixos de circulação. Para Amaral (2009,

p.1) “(...) não podemos considerar a cidade como um simples produto de

demarcações administrativas..”. Somamos a isso, a necessidade de percebermos

que a cidade e sua paisagem urbana constituem o ambiente em que vivemos, e dele

devemos extrair a qualidade para se viver. Nesse sentido, olhar a cidade, e

conseqüentemente, para o fruto de sua organização através da paisagem que esta

propicia, traz um importante questionamento a respeito das condições em que

espaços púbicos são ocupados pelo meio privado, e de que forma se garantem os

direitos do cidadão em desfrutar de elementos desse meio ambiente.

Ao iniciarmos uma avaliação do que poderíamos entender sobre o direito do cidadão

em usufruir de seu meio ambiente de forma obter plena qualidade vida,

necessitamos esclarecer alguns pontos de vista com relação à paisagem urbana,

objeto principal dessa discussão.

Ao tentar definir a paisagem urbana, Cullen (2008, p.135), nos traz um conceito

elevado da sua idéia de como aos cidadãos podem se envolver emocionalmente

dentro uma cidade, causado principalmente pela relação dinâmica entre os espaços

e seus usuários.

Se me fosse pedido para definir o conceito de paisagem urbana, diria que um edifício é arquitetura, mas dois seriam já paisagem urbana, porque a relação entre dois edifícios próximos é suficiente para libertar a arte da paisagem urbana. (CULLEN, 2008, p.135)

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Para Bertoni (2010, p.3) “A paisagem urbana (...) conta a sua própria história por

meio dos seus elementos constitutivos, podendo ser considerados como tais: a sua

arquitetura, as praças, os parques, os monumentos, o comércio, a indústria, a

população, a geografia, os meios de comunicação, entre outros”. De forma objetiva

percebe-se que invariavelmente a paisagem urbana pertence ou é conseqüência da

própria ação do homem, pois sem sua atuação nesse ambiente as cidades não

poderiam existir, principalmente, da forma como foram construídas. Ou seja, a

paisagem urbana é em essência uma construção humana, mas o ponto crucial de

seu entendimento está no fato de que, talvez, essa construção não consiga atender

uma ordem lógica, ou organizada. A paisagem urbana, como define Cullen (2008),

não é em si o desenho de dois prédios, mas antes disso, a relação que se

estabelece entre os dois.

Ainda sobre esse enfoque, Bertoni (2006, p.2-3) afirma que “deve se visualizar a

cidade sob a ótica de que ela é um organismo vivo, mutável e que, independente de

sua data de formação, continua em um eterno processo de transformação, no qual

também não pode ser vista de forma absoluta”. Ora, se a cidade possui um caráter

mutante, sua paisagem urbana deveria acompanhar essa mesma lógica

heterogênea?

Para Lynch (2006, p. VII) “entre os inúmeros papéis, a paisagem urbana também é

algo a ser visto e lembrado, um conjunto de elementos do qual esperamos que nos

dê prazer.” Essa idéia parece dentre as opiniões a mais sensata, em virtude de que

acompanha os anseios não só progresso e modernização das grandes metrópoles,

mas inclui também a satisfação do usuário em poder usufruir de espaços mais

harmoniosos e ordenados, livre de excessos e de toda a parafernália de elementos

visuais que hoje as formam.

Mas, apesar de atribuir à paisagem urbana um conceito mais lúdico, Cullen (2008,

p.15) admite que os efeitos que o ambiente desperta no homem, neste caso

específico, podem estar pesando sobre a atual geração. Tudo porque, “a rapidez

com que hoje se operam as mudanças veio perturbar o equilíbrio normal entre quem

projeta e aquilo que é projetado.” Esse descompasso projetivo é, de fato, o ponto

crucial da que questão, pois Cullen (2008) vê na crescente explosão demográfica,

no aumento de casas e equipamentos, na rapidez das comunicações e nos métodos

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construtivos mal dominados as razões para tal desconformidade nos projetos que

visem estabelecer uma paisagem urbana mais ordenada.

Nossa avaliação permite concluir que a união de elementos dispostos no ambiente

da cidade e a relação de suas formas são o que podemos chamar de paisagem

urbana. Das estruturas urbanas e suas avenidas, passando pela vegetação até

chegar ao conjunto construído de casas e prédios, tudo se relaciona a fim de

proporcionar uma experiência visual, um panorama de relações no espaço.

2.1.1 A Visão Serial da Paisagem Urbana

Uma das maiores preocupações na relação dos projetos que acabam por definir a

paisagem urbana de uma cidade está no fato de que os projetistas ainda não

conseguiram, de certa forma, digerir o crescimento que estas tiveram nas últimas

décadas. Para Cullen (2008, p.15) “a rapidez com que hoje se operam as mudanças

veio perturbar o equilíbrio normal entre quem projeta e aquilo que é projetado” e

neste sentido, é normal que, pelos avanços tecnológicos correndo lado a lado com o

próprio crescimento do número de construções nas cidades, bem como a inserção

de novos elementos físicos na paisagem e o aumento populacional, acabe por gerar

esse descompasso, onde o designer mal assimila os métodos construtivos e logo

deve enfrentar novos desafios de ordem organizacional dentro do ambiente urbano.

Segundo Cullen (2008, p.17) é necessário que exista uma participação maior dos

habitantes de uma cidade, e isso, porventura só será possível com a popularização

da “Arte do Meio-Ambiente”, e assim, “uma maior participação emocional das

pessoas” facilitará o diálogo em torno das questões da paisagem urbana e como

estas podem ser relacionar de forma positiva com os habitantes de uma cidade.

Uma das primeiras lições comentadas por Cullen (2008, p.19) trata da forma como

percebemos os diferentes cenários quando se percorre caminhando um trajeto

dentro de uma cidade. Este conceito é chamado de “visão serial”, e que revela uma

sucessão de cenas que são pontuadas por uma série de “contrastes súbitos que tem

grande impacto visual e dão vida ao percurso”. Este importante conceito exposto

pelo autor revela entre outras coisas o caráter compositivo daquilo que vemos em

uma cidade.

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Figura 11. Demonstração da Visão Serial.

Fonte: CULLEN, 2006.

Assim, passa-se a tratar cada seqüência como um momento único na avaliação da

paisagem urbana e os efeitos que esta pode provocar no pedestre. Enquanto cena

estática, essas paisagens podem trazer inúmeros aspectos de ordem geométrica, e

dentro dessa avaliação, representariam um importante aprendizado para que os

habitantes de uma cidade compreendessem que as cidades são constituídas de

inúmeros cenários, que bem ou mal, foram projetados para seu uso, e assim

interferem também em suas vidas.

2.1.2 Classificação dos Elementos Urbanos

A construção de um espaço urbano, em termos de cenário, onde diferentes tipos de

elementos visuais se reúnem e acabam por formar uma paisagem que, intercala

tanto os componentes naturais, como árvores, canteiros e gramados, quanto

àqueles que são o fruto da concepção de um projeto, como lixeiras públicas, postes

de iluminação, placas de trânsito, de certa maneira, forma o conjunto do que

podemos perceber visualmente no corpo de uma cidade quando transitamos nela.

Segundo Gabardo (2001, p.94) “para identificar os elementos morfológicos do

espaço urbano é necessário conhecer as partes e o modo como elas se estruturam

nas diferentes escalas.” Neste sentido, para que possamos classificar os elementos

inseridos no espaço urbano faz-se necessário que haja um desmembramento de

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todas as suas partes, a fim de identificarmos sua composição e assim proceder em

uma análise morfológica.

A morfologia urbana para Lamas (1992, p.37 apud Gabardo, 2001, p.94) refere-se

aos “aspectos exteriores do meio urbano e às suas relações recíprocas, definindo e

explicando a paisagem urbana e a sua estrutura”. Assim, a simples identificação dos

elementos que compõe a estrutura urbana não bastará para sua análise morfológica,

e é necessário que se possam estabelecer as relações que se manifestam entre

suas partes dentro do ambiente. Lamas (1992) apud Gabardo (2001, p.94) aponta

“três escalas ou dimensões da forma urbana”:

Dimensão setorial – considerada a menor unidade do espaço urbano,

constituído em essência pelo ponto de vista do observador capaz de perceber

o conjunto construtivo de fachadas de prédios, mobiliário urbano, cores,

contrastes, texturas, letreiros, vegetação, e um número ilimitado de outros

elementos que formam a paisagem urbana como um todo.

Dimensão urbana – representada por uma parcela mais homogênea como as

estruturas de ruas e praças dentro do ambiente urbano, e nesta escala para o

reconhecimento dos elementos morfológicos que a compõe são necessárias

incursões por suas áreas para a familiarização com a sua estrutura.

Dimensão territorial – define as zonas características do espaço urbano, como

os bairros, e as regiões que se articulam entre si e podem ser características

de uma forma de utilização do ambiente, como zonas habitacionais, centrais e

industriais.

Dentro dessa divisão podemos notar que a percepção fundamental em termos de

composição da paisagem urbana se realiza no campo da Dimensão setorial. É nela,

que efetivamente o observador poderá notar as relações que se dão entre os

diferentes elementos que estão inseridos no ambiente construído. Assim, as

avaliações que seguem, buscando trazer à tona as partes que compõe

especificamente esta Dimensão setorial, servirão para conhecermos os elementos

que formam a paisagem, para que numa posterior avaliação possamos analisá-los

em suas diversas relações entre si.

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Figura 12. Os estágios de formação da Paisagem Urbana.

Fonte: BENEVOLO, 1978.

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Uma das primeiras avaliações ao nos deparamos com o cenário urbano, em muitos

casos, surge da distinção de pelo menos dois grandes grupos de estímulos visuais,

sendo estes: a) de incidência natural, e neste caso conta-se apenas seu caráter

enquanto vegetação, mesmo sendo fruto de um plano paisagístico do lugar; b) de

incidência artificial, que se destacam pelo caráter construtivo, onde houve um claro

processo de concepção e produção desses elementos oriundos da maquinofatura.

Neste sentido, queremos destacar que, para compreendermos um cenário urbano

como um todo em termos de informação visual, é necessário que possamos

classificar esses elementos (naturais ou artificiais), segundo a função que cumprem

no espaço em que estão inseridos. Assim utilizaremos a classificação morfológica

estrutural desenvolvida por Trieb e Schmidt (1980) e citada por Kohlsdorf (1996,

p.137) que radiografa “as representações urbanísticas convencionais, com fins de

mostrar composições geométricas que podem ser, então, analisadas”.

Segundo Trieb e Schmidt (1980) apud Kohlsdorf (1996, p.170) existem pelo menos

seis categorias para análise morfológica estrutural do espaço urbano, definidas

como: a) Sítio físico; b) Planta baixa; c) Conjunto de planos verticais; d) Edificações;

e) Elementos complementares; f) Estrutura interna do espaço.

Para fins desta pesquisa, nos concentraremos em pelo menos duas categorias que

possuem maior incidência dentro do espaço urbano selecionado para análise.

Assim, partiremos para considerações sobre os lugares selecionados a partir da

categoria Sítio físico, na análise da vegetação desses ambientes fotografados, e a

categoria Elementos complementares, para avaliação da incidência de elementos de

informação, pequenas construções e mobiliário urbano, definidos segundo a

categorização de Trieb e Schmidt (1980).

2.1.3 Elementos de Vegetação no Ambiente Urbano

A vegetação dentro de um ambiente construído, segundo Trieb e Schmidt (1980)

apud Kohlsdorf (1996), pertence à categoria Sítio físico, dentro da análise

morfológica estrutural do espaço urbano. Para Kohlsdorf (1996, p.141) “a

participação dos vegetais na configuração dos lugares deve ocorrer por meio de

seus tipos mórficos (forma e proporções de árvores e arbustos), e não

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necessariamente de suas espécies”. Assim, tanto os vegetais arbóreos e arbustivos

podem ser abordados em seus tipos de volumes e tipos de composição vegetais.

Tanto os volumes quanto a composições dos vegetais em uma dada situação

revelam os aspectos elementares de sua geometria, para fins da avaliação

perceptiva de sua incidência. Neste momento é deixada de lado sua característica

física enquanto elemento de cor e textura e ressalta-se sua característica formal.

As árvores que compõem a maioria das paisagens urbanas são elementos naturais

vistos com maior freqüência no corpo das cidades. Segundo Cullen (2008, p.84) “a

idéia de que, tal como os edifícios, as árvores eram verdadeiras estruturas, levava à

sua disposição segundo padrões arquitetônicos e à sua interpretação com os

elementos construídos”, entretanto, hoje, se aceita a idéia de que as árvores

constituem-se em uma “presença viva que habita entre nós”. Para o autor isto

possibilita uma nova interpretação que relaciona a avaliação desses elementos

naturais com os elementos construídos. Assim, a avaliação de forma categorial dos

elementos naturais dentro do espaço urbano pode revelar inúmeros aspectos de

suas formas e composições.

Segundo Kohlsdorf (1996, p.197) “a representação gráfica desses elementos

encontra possibilidades na geometria elementar por meio dos sólidos de revolução

(como a esfera, o cone e o cilindro)” e desta forma, podemos associar seu volume

através da similaridade com esses sólidos. Ainda, segundo a autora, podemos

seguir com um procedimento que é ordenado da seguinte maneira:

Define-se o número de árvores da situação considerada, devidamente

identificadas (numeradas no sentido horário);

Classificam-se cada exemplar segundo certos tipos-síntese de tamanho das

copas e altura dos fustes, que totalizam nove grupos: copa grande e fuste

alto, copa grande e fuste médio, copa grande e fuste baixo, copa média e

fuste alto copa e fuste médios, copa média e fuste baixo, copa pequena e

fuste alto, copa pequena e fuste médio, copa pequena e fuste baixo.

Calculam-se as incidências, em números absolutos e em porcentagens, de

cada um dos grupos anteriormente relacionados, em relação ao número total

de vegetais arbóreos considerados.

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Figura 13. Formas geométricas encontrados na vegetação da paisagem urbana.

Fonte: KOHLSDORF,1996.

Através deste conjunto de orientações é possível a avaliação da incidência dos

vegetais na composição dos espaços urbanos, bem como as características

principais de suas formas, possibilitando assim, um grau de análise pautado por sua

representação e abstração enquanto elementos de comunicação visual. Para

Kohlsdorf (1996, p.199) estas análises “devem ocorrer, no entanto, sempre de

maneira sistematizada” e neste sentido, a classificação desses elementos torna-se

fundamental para a avaliação enquanto parte do todo da paisagem urbana.

2.1.4 Elementos Complementares no Ambiente Urbano

Os elementos complementares dentro do ambiente de uma cidade, por vezes, são

denominados como “mobiliário urbano”. Basicamente, esta categoria de elementos,

caracteriza-se por uma configuração em menor escala em relação às edificações

que compõe os espaços urbanos. São bancos, luminárias, postes, placas de

trânsito, lixeiras, cartazes, entre outros, que acabam sendo anexados no ambiente

de uma cidade como complemento, visando assim o melhor funcionamento desses

lugares. Para Kohlsdorf (1996, p.160) esta categoria de elementos representam, por

vezes, “os principais responsáveis pela imagem dos lugares, seja por sua presença

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marcada pelo contraste, seja por se constituírem nos próprios elementos de

estruturação do espaço”.

Mas, mesmo está categoria de elementos pode ser classificada segundo Kohlsdorf

(1996, p.160) “por intermédio dos instrumentos geométricos e leis de composição

plástica” e desta forma, a avaliação de sua incidência no cenário urbano estudado

revela sua relação com outros elementos que compõe a paisagem urbana. Os

elementos complementares podem ser classificados da seguinte maneira, de acordo

com Kohlsdorf (1996):

Figura 14. Categoria de Elementos Complementares.

Fonte: KOHLSDORF, 1996.

Elementos de informação apostos – Referem-se a elementos de sinalização

(como placas de trânsito e nomenclaturas de logradouros) quanto a

elementos de propaganda. Comparecem incorporados às fachadas e

participando, portanto, de sua composição plástica ou como elementos

autônomos;

Pequenas construções – São edifícios que, por suas pequenas dimensões e

papel, não pertencem às edificações maiores como prédios, ou casas. É o

caso de bancas de revistas e dos abrigos de transporte coletivo.

Mobiliário Urbano – Reserva-se esta expressão a elementos com

características de maior mobilidade e ainda menor escala: bancos de

logradouros, lixeiras, caixas de correio, postes e luminárias, pequenos muros

ou cercas, obstáculos de trânsito, hidrantes, fontes e monumentos de

pequeno porte.

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2.1.5 Mobiliário Urbano

Os elementos que, de maneira geral, estruturam uma cidade são conhecidos como

mobiliário urbano. Segundo Serra (1998, p.6) o termo “mobiliário urbano” pode sofrer

algumas distorções de ordem semântica, pois muitas vezes se mal traduzido de

idiomas como o italiano, por exemplo, em que é definido como arredo urbano

(arredare=decorar) pode trazer uma compressão equivocada, que está ligada às

antigas idéias do urbanismo classicista onde a ornamentação das cidades estava

ligada ao atendimento de necessidades urbanas elementares por parte de alguns

elementos. Entretanto, a complexidade em que as cidades estão constituídas não

poderia suportar o conceito de decoração dos espaços urbanos por meios de

elementos de mobiliário urbano.

Para que haja “uma forma mais universal e compreensível” do que vem a ser o

esses elementos que são inseridos no ambiente urbano, Serra (1998, p.6) propõe

que sejam chamados de Elementos Urbanos. Assim o autor define esses elementos

como “objetos que se utilizam e se integram com a paisagem urbana, e devem ser

compreensíveis para o cidadão”.

Distante do debate terminológico, outro conceito sobre o mobiliário urbano consta na

norma NBR-9283 de março de 1986, onde estes elementos são definidos como

“todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da paisagem

urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder

público, em espaços públicos e privados”. Esta norma também divide o mobiliário

urbano em subcategorias, que são agrupadas de acordo com as características

atribuídas a cada elemento. Desta forma, conforme a NBR-9283, os elementos do

mobiliário urbano são divididos em nove categorias:

a) Circulação e Transporte;

b) Cultura e Religião;

c) Esporte e Lazer;

d) Infra-Estrutura;

e) Segurança Pública e Proteção;

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f) Abrigo;

g) Comércio;

h) Informação e Comunicação Visual;

i) Ornamentação da paisagem e Ambientação urbana.

A categoria denominada Circulação e Transporte contempla elementos como

abrigos de pontos de ônibus, acesso ao metrô, bicicletários, calçadas e elementos

que condicionam o trafego de veículos (quebra-molas, canteiros centrais, etc.), além

de parquímetros, semáforos, sinalizações de horizontais e a própria pavimentação

de uma via. Trata-se de uma categoria do mobiliário urbano que define algumas

estruturas essenciais para a circulação de pedestres e veículos e que se intercala

entre estruturas construídas e objetos em menor escala como um parquímetro ou

um semáforo.

Na categoria Cultura e Religião são identificados elementos do mobiliário urbano

como arquibancadas ou palanques, mastros de bandeiras, monumentos, murais e

obeliscos, além outros elementos que acabam sendo reunidos por seu caráter

memorial ou festivo. Outra categoria, Esporte e Lazer reúne elementos como

churrasqueiras, mesas e assentos, playgrounds, quadras de esporte, etc., que

acabam caracterizando-se como mobiliários urbanos que visam compor a estrutura

de entretenimento de uma cidade.

A categoria Infra-Estrutura por sua vez possui quatro subdivisões, conforme a NBR-

9283, definidas como: i) Sistemas de Comunicações; ii) Sistema de Energia; iii)

Sistema de Iluminação Pública; iv) Sistema de Saneamento.

De acordo com a subcategoria de Sistemas de Comunicações são identificados

elementos do mobiliário urbano como caixas de correios, cabine telefônicas, postes

da rede telefônica e sua fiação, além de torres e antenas de celular ou televisão.

Esta subcategoria define especificamente a característica atribuída à elementos que

estão inseridos no ambiente para que atendam as demandas comunicacionais da

população em geral. Já a categoria de Sistemas de Energia relaciona itens como

entradas para gás, galerias subterrâneas e outras estruturas que de certa forma são

ocultadas em um ambiente urbano.

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A subcategoria de Iluminação pública, por sua vez, reúne elementos do mobiliário

urbano como, luminárias e postes de luz, bem como a fiação desses postes. São

elementos mais freqüentes na extensão de uma via e constituem-se também em um

dos maiores problemas das cidades, pois são essenciais para o bom funcionamento

das mesmas, entretanto, não se pode negar que influenciam consideravelmente na

paisagem urbana das grandes cidades.

Outra subcategoria que está ligada ao mobiliário urbano de Infra-Estrutura são os

Sistemas de Saneamento, que reúne uma série de elementos que se caracterizam

pela estrutura fluvial da cidade. De maneira geral, não são elementos de fácil

reconhecimento em uma via, sendo algumas vezes ocultados ou dispostos de

maneira menos evidentes em um ambiente urbano.

Figura 15. Elementos do mobiliário urbano da categoria Infra-Estrutura.

Fonte: Ilustração do Autor.

Na categoria Segurança Pública e Proteção estão os elementos do mobiliário urbano

que visam servir ao público em estruturas de proteção privada ou pública, como

muros, guaritas e cabines policiais, grades e postos de salva vidas, além de

elementos de menor escala como hidrantes, que são essenciais ao combate de

incêndios.

A categoria Abrigo reúne elementos como abrigos e refúgios, além de quiosques,

que são muito comuns em cidades litorâneas ou históricas. Dentro da categoria

Comércio reúnem-se elementos como, bancas de jornal, barracas e trailers que

atendem ao público em diversos serviços. Já a categoria de mobiliário urbano de

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Informação e Comunicação Visual encontra-se elementos como anúncios em

cartazes, painéis, placas, faixas ou letreiros, bem como relógios eletrônicos e a

própria sinalização das placas de logradouros. Essencialmente, trata-se de uma

categoria que reúne um conjunto de elementos de informação ao público usuário

dos espaços urbanos.

Na última categoria, Ornamentação da Paisagem e Ambientação Urbana, são

relacionados elementos que ambientam os espaços urbanos, como a própria

arborização disposta nestes ambientes. São elementos que acabam compondo os

espaços urbanos como, bancos de praças, canteiros, esculturas e estátuas, fontes e

chafarizes, além de espelhos d’água.

De maneira geral, o mobiliário urbano representa o conjunto de elementos que são

planejados para informar, proteger, compor, entreter e garantir o bom funcionamento

dos espaços públicos, sendo projetados para que atendam a essa demanda em

estruturas e construções artificiais, ou seja, fruto de um pensamento projetual

específico empregado por profissionais ligados às áreas de projeto. Sua variedade

atesta o caráter complexo que as cidades assumem nos dias hoje. O fato é que,

tanto os elementos do mobiliário urbano, quanto à própria estrutura das cidades

crescem de maneira paralela, onde a necessidade do ambiente urbano geralmente

impõe que sejam criadas soluções para o seu melhor funcionamento. Em contra

partida, esses elementos vão sendo inseridos nas cidades de maneira pouco

orientada causando o excesso de informação visual identificado principalmente onde

a circulação de pedestres e veículos é maior.

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2.2 ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO

A construção de um cenário urbano constitui-se numa relação entre a necessidade

de ocupação de uma determinada área e os aspectos culturais que dada sociedade

impõe sobre sua configuração. Neste sentido, para Kohlsdorf (1996, p.21) “espaço

urbano e sociedade são duas facetas da mesma moeda”, pois os lugares

construídos não assumem uma posição estática, mas antes seguem a gerência dos

grupos sociais que neles vivem. Assim, ainda segundo a autora é necessário

entender o espaço urbano “pelo seu desenvolvimento histórico, marco dentro do

qual interagem, através do tempo, seus diversos aspectos, que adquirem

especificidade conforme a maneira como se relacionam em diferentes momentos”.

Compreender esse espaço urbano como forma física torna-se essencial na

construção dos mesmos, e esta compreensão só vem por meio da análise do

desempenho desses lugares. Fundamentalmente, para Kohlsdorf (1996, p.22) a

análise do desempenho do espaço urbano deve ser fruto das “expectativas

colocadas pelos que o freqüentam”, e assim tentar trazer a tona os diversos

interesses dos grupos sociais que podem vir a surgir dentro de um ambiente acaba

tornado-se uma tarefa muito complexa. Entretanto, segundo Kohlsdorf (1996, p.26)

seria possível analisar o binômio, espaço construído e expectativa social, “tanto a

partir de suas características de produção quanto de utilização”.

Assim, ao analisarmos um espaço urbano sob o ponto de vista de suas

características de produção nos são reveladas as “relações dos homens com a

natureza, dos processos de trabalho, das relações de produção, das estratégias de

localização dos indivíduos na estrutura do poder”. Mas, sob o ponto de vista da

utilização, podemos obter uma análise muito mais profunda da relação entre espaço

construído e os indivíduos que o freqüentam, e neste sentido, para Kohlsdorf (1996,

p.26) estas questões analíticas da utilização do espaço urbano voltam-se “a

aspirações sociais quanto a possibilidades de sermos informados, pelos lugares que

freqüentamos”. Neste sentido, a autora destaca que os lugares construídos possuem

a “capacidade de transmitir mensagens que serão interpretadas como revelação de

certos sinais codificados”.

A arquitetura urbana comunica-nos informações de várias naturezas, expressando suas diversas características por meio de signos captáveis pelo nosso sistema dos sentidos. Portanto, sua apreensão é expectativa

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social básica para a avaliação do comportamento dos lugares, como resposta às demais aspirações dos indivíduos. (KOHLSDORF,1996, p.26)

Para Kohlsdorf (1996, p.27) somente por meio de observações mais profundas seria

possível revelar as leis de estruturação dos fenômenos nos espaços urbanos, pois

“os juízos de utilização dos lugares realizam-se a partir de resultados nesse meio de

comunicação direta”, ou seja, é através das informações que o próprio ambiente

apresenta que, de certa forma, podemos decodificar as informações contidas em um

ambiente construído. Algumas dessas informações são descritas pela autora como,

por exemplo, o dimensionamento de uma rua adequada ao fluxo de veículos, uma

combinação de atividades em determinada área, barreiras que podem inviabilizar o

desejo de deslocamento de um lugar ao outro, e até mesmo a beleza ou fealdade

diante de uma praça ou rua. Assim, de acordo com Kohlsdorf (1996, p.27) os lugares

podem oferecer “informações relativas a uma série de aspectos de sua arquitetura,

correspondentes a aspirações situadas diferentemente em cada um desses

aspectos”, e neste sentido, cabe analisarmos cada aspecto “por meio de elementos

e relações pertinentes”. Isto, de certa forma, indica a possibilidade de uma avaliação

a partir dos conceitos específicos de ordem e arranjo de elementos urbanos dentro

das expectativas de utilização dos indivíduos, e como estes acabam percebendo o

conjunto de informações que lhe são expostos à medida que interagem com um

ambiente construído.

Segundo Kohlsdorf (1996, p.31) de maneira geral, a percepção de um espaço

urbano como forma física, advém de “sucessivas apreensões dos lugares”, e a

análise das formas físicas dos espaços urbanos é “resultado da ordenação de

elementos morfológicos segundo certas leis”. Em outras palavras, a autora destaca

que “é preciso que se observe os lugares como composições plásticas”, ou seja,

“elementos relacionados em conjuntos, ou ainda, totalidades”. Dentro dessa

perspectiva, o fato de avaliarmos a paisagem urbana segundo critérios que estejam

em consonância com seus aspectos compositivos através dos diversos elementos

comunicativos de um ambiente, recai sobre um enfoque atomista, ou seja, onde

devemos considerar a totalidade do espaço urbano como algo indivisível, e neste

sentido, segundo Kohlsdorf (1996, p.32) isso nos afastaria de uma “visão

universalista” do todo e suas partes. Assim, segundo a autora a configuração de um

espaço urbano “deve ser observada como totalidade formada por partes que se

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articulam de maneira biunívoca”, que ao contrário, permite a articulação de diversas

partes e seu todo de maneira dinâmica, e desta forma, se organizado como uma

regra de constituição morfológica que “permeia quaisquer escalas e graus de

complexidade do espaço arquitetônico”.

Considerando que os aspectos de percepção dos lugares por parte dos indivíduos

que o freqüentam podem vir a partir da forma como esses espaços são utilizados, e

que a apreensão da totalidade desse ambiente advém da composição das partes em

um conjunto morfológico regido por certas leis, seria necessário que, pelo menos,

pudesse existir um conjunto de orientações indicando as melhores formas de se

analisar o comportamento de uso desses espaços, sob seus diversos enfoques.

Para Kohlsdorf (1996, p.33) “a forma, como meio de aprendizado dos lugares,

responde a expectativas sociais, genéricas ou específicas, colocadas pelo processo

de conhecimento”, e neste sentido, tanto o processo de apreensão da forma dos

lugares quanto à decodificação das referências para a localização nos mesmos,

torna-se condição básica à formação da noção de espaço, e que trabalha sob certas

características de configuração desses lugares. Estas características são definidas

por Kohlsdorf (1996, p.39) como:

A noção de composição;

A capacidade de serem geometricamente representáveis;

A vinculação às dimensões socioculturais, nos seus aspectos simbólicos.

Dentro dessa pesquisa nos concentraremos na capacidade dos espaços urbanos de

serem geometricamente representados, deixando de lado os aspectos ligados as

dimensões socioculturais e a noção de composição dos lugares, por entendermos

que esses itens de nada poderiam contribuir para a avaliação específica da

morfologia do ambiente urbano escolhido como foco deste trabalho. Por tanto,

busca-se aqui seguir a orientação de Kohlsdorf (1996, p.39), quando a autora

destaca que, a partir da capacidade de podermos representar geometricamente um

espaço urbano, este pode ser avaliado segundo “parâmetros específicos de

composição plástica”, e desta forma, “trabalhar com a investigação e proposição das

leis de formação e comportamento das formas físicas como fenômenos.”

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2.2.1 Campos Visuais na Escala Urbana

Reconhecer os diferentes campos visuais dentro das diversas escalas de percepção

urbana é uma das primeiras tarefas na análise em ambientes construídos. Para

Oliveira (2003, p.44) “a primeira atitude proposta para identificar o que é lido na

cidade é reconhecer abrangência desta leitura”. Neste sentido, o autor cita o

trabalho de Romero (1999), quando esta estabelece uma escala de percepção do

cenário urbano através de um processo de observação, utilizando o método de

aproximações descrito como “uma espécie de zoom que se inicia com a visão

panorâmica da grande massa urbana termina no edifício e utiliza como parâmetro o

grau de proximidade do usuário na sua interação com o ambiente construído”.

O ponto de destaque deste método descrito por Romero (1999, apud Oliveira, 2003,

p.44) é o fato de podermos considerar que os diversos ambientes de uma cidade

necessitam de uma análise que inicia a partir do panorama particular de cada

paisagem, e que cada cenário possui uma escala de visualização diferente

dependendo da percepção que o usuário faz dos lugares. Assim, Oliveira (2003,

p.45) propõe que as diferentes escalas de percepção urbanas sejam visualizadas de

acordo com campos visuais específicos que estas escalas podem gerar.

Basicamente, segundo Oliveira (2003, p.45) cada escala de percepção “gera um

campo visual com suas características dimensionais em relação à largura, altura e

profundidade de campo”. O autor descreve esse campo visual como a relação entre

três elementos: altura (H), largura (W) e profundidade (P) “constituindo assim um

quadro visual tridimensional”.

Esta definição entre altura (H), largura (W) e profundidade (P) permite também que

possamos, segundo Oliveira (2003), definir os dois principais planos visuais que são

o “Plano Frontal” e o “Plano de Fundo”. O Plano Frontal define o “Campo Visual” do

cenário urbano analisado, através da relação entre altura do Plano Frontal (Hcp) e

largura do Plano Frontal (Wcp). E o Plano de Fundo é definido pela amplitude do

“Foco” de acordo com a relação entre a altura do Plano de Fundo (Hf) com a largura

do Plano de Fundo (Wf). Para completar o esquema de enquadramento visual a

profundidade (P) “define a presença das fronteiras laterais” do que é visualizado.

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Figura 16. Planos Visuais, análise WHP.

Fonte: OLIVEIRA, 2003.

Esta importante ferramenta possibilita uma melhor avaliação do cenário urbano, pois

reúne atributos suficientes para adaptar-se as diversas necessidades de

classificação dos enquadramentos dentro de uma cidade. Além disso, torna-se

fundamental enquanto processo metodológico permitindo que se estabeleça uma

relação entre a escala de percepção urbana e o que, efetivamente, o usuário desses

espaços consegue visualizar.

Além da definição da estrutura visual para a leitura dos espaços urbanos, Oliveira

(2003, p.48) destaca que seria necessário considerar também o tempo de

observação ( t) do usuário desses ambientes, pois todos estes enquadramentos

dos Campos Visuais “terão velocidades de percepção e tempos de observação

diferenciados de acordo com o meio de locomoção característico do observador”, e

conseqüentemente, são “fundamentais para atribuirmos parâmetros quantitativos de

informações vinculadas aos campos visuais e, por conseguinte a demanda mínima

necessária para ler-se”. Desta maneira, seria importante destacar que nesta

pesquisa buscar-se-á uma abordagem que coloca o usuário pedestre como os focos

das avaliações do espaço urbano escolhido, e neste sentido, não serão previstas as

velocidades empregadas por veículos, pois não é o principal objeto deste trabalho.

Mesmo assim, empregaremos na análise as considerações de Oliveira (2003, p.48)

sobre a velocidade de locomoção do observador e a relação entre a disposição e

quantidade de elementos presentes em cada espaço analisado.

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2.3 POLUIÇÃO VISUAL NA PAISAGEM URBANA

Antes mesmo que se possam avaliar as interferências visuais que estão dispostas

no ambiente urbano a nossa volta, cabe identificar primeiramente à que cenário

estamos nos referindo. Alguns conceitos, como (O que é poluição? Onde ocorre? De

que forma se manifesta? Quais os aspectos e pontos de vista a serem estudados?)

fazem parte das primeiras indagações sobre o tema, e podem ajudar no

esclarecimento do assunto em um âmbito mais aprofundado.

Campos (2006, p.27) admite que “(...) a poluição visual não está restrita à estética

urbana. Esta é apenas um lado da sua incidência.” Os prejuízos vão além, podendo

ser sentidos na saúde, no turismo, nos bens culturais, na economia e nas vias de

acesso onde tráfego transita.

(...) a poluição visual revela-se por intermédio de práticas, tais como, a propaganda eleitoral; a poluição luminosa (excesso de luminosidade); o acúmulo de lixo nas ruas; pichações e grafites; excesso de anúncios publicitários com verdadeiras aberrações em relação à cor, ao tamanho e ao idioma português; placas; painéis; monumentos mal conservados, lambe-lambes, anúncios estampados em ônibus (busdoor), em táxis, em coletores de lixo, entre outros instrumentos de publicidade. (CAMPOS, 2006, p.33)

Segundo Zagui et al. (2009, p.9) “(...) a poluição visual é um problema urbano mais

grave do que se imagina e não só causa danos à estrutura urbana, ao patrimônio

histórico, arquitetônico e paisagístico, como também prejudica a qualidade de vida

de sua população.” Dentro dessa idéia considera-se, efetivamente, que a poluição

visual é um fenômeno das sociedades modernas e que afeta de uma forma ou de

outra a qualidade de vida destas sociedades. Sua manifestação pode ser

reconhecida facilmente em qualquer grande cidade do mundo. Mas, o pouco que se

sabe é que, este tipo de poluição não possui parâmetros qualitativos e, muito menos

quantitativos, que visem o maior controle das autoridades e conseqüentemente a

promoção de uma fiscalização mais ostensiva. Sobre este ponto, cabe ressaltar,

ainda na perspectiva do estudo deste tema, que os instrumentos jurídicos instituídos

pelo poder público visam primordialmente regular as formas como interagem os

diversos interesses dentro do ambiente urbano, e conseqüentemente devem

oferecer aos órgãos fiscalizadores as ferramentas de lei que instaurem a ordem e

garantam que nenhum direito sobreponha-se ao outro. Ou seja, se vivemos diante

de interesses que, de um lado representam o setor privado, e de outro o direito

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público é preciso que se estabeleça um equilíbrio dentro do espaço urbano para que

ambos possam coexistir sem interferências. Para isso, podemos dizer que no âmbito

nacional, estadual e municipal, existem leis, normas e regulamentações que tornam

cada cidade um caso particular na busca de desse equilíbrio em todos os sentidos,

pois a poluição visual demanda a busca pela convergência de diversos pontos de

vista sobre o assunto.

Para Amaral (2009, p.99) “falar de poluição visual é falar de indivíduos, história,

cultura, sociedade, economia, política” e por isso, torna esse assunto dinâmico e

complexo. Dentro dessa perspectiva Amaral (2009, p.15) entende que existem pelo

menos três aspectos a serem considerados sobre o tema, que são: sociedade,

economia e legislação. Dentro desse ponto de vista, fica claro o enfoque polarizado

entre o setor privado e o setor público mediado pelo poder de leis que façam do

cenário urbano um espaço equilibrado de interesses. Entretanto, podemos dizer que

na elaboração de leis ou normas que regulem a utilização do espaço urbano

necessitam de evidências ou estudos que consigam mostrar, de uma forma ou de

outra, onde estão os pontos a serem revisados para a implantação de instrumentos

legais que não deixem dúvida dos prejuízos de uma falta de equilíbrio. Neste

sentido, estudos dos mais variados campos necessitam ser desenvolvidos e

revisados.

Figura 17. A poluição visual por cartazes que degradam espaços públicos.

Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br

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Segundo Maskulka (2004) apud Mezzomo et al. (2003, p.50) a poluição visual deve

ser abordado em seu sentido amplo, com o objetivo de compreender seu conjunto.

Para isso, seria necessário estudar áreas como a Psicologia, Arquitetura, Semiótica,

Engenharia Florestal, Programação Visual, Comunicação, etc. É neste âmbito que

residem os maiores campos de pesquisa que colocam em evidência as relações

entre o espaço urbano construído e os usuários, no sentido de compreender de que

forma é percebido o fenômeno da poluição visual diante do cenário atual de

transformações sociais, ambientais, econômicas e tecnológicas.

No que tange os aspectos sociais o um assunto envolve as características que

outrora fizeram do estudo de mobilidade social um dos principais aspectos da

Revolução Industrial e que agora reaparecem como fruto da crescente expansão

econômica do país. Além disso, são dos estudos realizados no âmbito social que se

compreendem de que forma se organiza socialmente o espaço urbano. Já do ponto

de vista econômico seria leviano não considerar que a base do sistema de compra e

venda de bens e serviços está enraizada no conceito de exposição da imagem e

promoção da oferta aos usuários. Mas, é na perspectiva da regulamentação, na

noção do espaço urbano enquanto bem material que propicia qualidade vida e

funcionalidade, que talvez ainda estejamos carecendo de argumentos sólidos em

prol do equilíbrio.

2.3.1 Definição de Termos

Nesta pesquisa, ao abordarmos o tema da poluição visual, podemos constatar que,

em uma primeira análise dos termos “poluição” e “visual”, poderíamos achar aí uma

definição bem clara sobre o assunto, entretanto, talvez não chegássemos com

precisão ao foco de discussão deste tópico, quando este é relacionado às questões

do habitat de uma grande cidade, e muito menos na sua relação direta com diversos

outros fatores que compõe a paisagem urbana. De qualquer maneira, a utilização

deste recurso na validação ou no confronto aos conceitos existentes na literatura

sobre o assunto é de extrema importância, pois possibilita que tenhamos uma

compreensão mais clara das abordagens que serão estudas.

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O termo “poluição” está associado, entre outras coisas, à “contaminação e

degradação do meio natural” podendo ser “causado por efeitos prejudiciais inclusive

a saúde, e ao equilíbrio emocional.” (FERREIRA, 2001, p.580). Desta forma, a

poluição em si não se constitui no agente causador, mas o resultado de uma série

efeitos que culminam na degradação do meio natural. Mas, afinal de contas, de que

meio natural estamos falando? Se, é possível definir que a cidade constitui-se neste

“meio natural” devemos abstrair o fato dela não existir “naturalmente”, senão pela

ação do homem, e sendo assim, também ignorar que as cidades, por si só,

constituem-se num meio ambiente artificial e não natural. Mas, se por um lado,

pensarmos que este “meio natural” é simplesmente o modo comum como estamos

acostumados a nos referir àquele ambiente construído em que vivemos, então

podemos, sim, dizer que a poluição degrada e contamina nosso habitat, dito

“natural”, pois é nele que se desenvolve a vida, e para nós, nada é mais natural do

que poder transitar entre prédios, avenidas, praças e espaços públicos com a

certeza de que isso tudo sempre esteve neste lugar.

Devemos ter atenção neste primeiro ponto, pois é essencial para não se perder

nessa discussão tentando associar a cidade, artificialmente construída, com o meio

ambiente natural, que traz conceitos ecológicos de preservação da biota, através

apenas da utilização da expressão “meio natural”. Ou seja, se existe um “meio

natural” na vida dentro de uma cidade, qual é a sua natureza? Neste sentido, é

possível afirmar que, qual quer que seja o meio – natural ou artificial – a poluição

poderá estar presente, e seu efeito de degradação e contaminação se dará em

ambos os meios, mas de formas diferentes. Assim, é diferente dizer que a poluição

visual que degrada a paisagem urbana, a qual é resultado da construção humana,

representa o mesmo prejuízo daquela poluição que contamina o ar, a água ou o

solo. A poluição visual em uma cidade não é o efeito da intervenção do homem no

meio ambiente natural, pelo contrário, é a ação do homem sobre o próprio meio

ambiente artificial fruto do que construiu.

Prosseguindo na decodificação de significados, o termo “poluir” – ato praticado

confirma mais alguns entendimentos sobre sua natureza, que estão ligados

principalmente à ação de sujar, manchar, corromper e tornar prejudicial à saúde.

Este mesmo exercício, apenas a título de uma verificação denotativa, pode ser

realizado com os termos: “visual” e “visão”. O termo “visual” refere-se tanto à “visão”

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quanto à “vista”, e neste sentido o termo “vista” possui uma definição mais ampla,

que está diretamente associado ao ato de ver. Desta forma, “vista” significa “aquilo

que se vê” como também pode ser definida como “panorama, paisagem”. No sentido

que queremos abordar o tema, buscamos a associação do termo “visual” quando

este se refere ao termo “vista”, pois essencialmente, a preocupação com a

degradação do meio ambiente – natural ou artificial – está nas conseqüências que a

poluição propaga no que se vê, e mais objetivamente, na paisagem que se vê. Neste

sentido, então, parece mais apropriado sua associação direta com o objeto de

estudo em si na forma proposta daquilo que se vê, o próprio panorama ou a

paisagem urbana. Desta forma, queremos ir adiante, para compreender os motivos

de uma possível falha no entendimento da expressão “poluição visual”, pois não

existe consenso de sua utilização, e muito menos conceitos esclarecedores na

literatura pesquisada.

Sabendo que o termo “visual” significa tanto o ato de ver (vista), como a forma como

vemos (visual) sentimos a necessidade de tentar buscar o significado no termo

“visão”, assim como fizemos com o termo “vista”, para compreendermos em qual

parte da expressão “poluição visual” acontece o desencontro de sentidos. O termo

“visão” refere-se ao “ato ou efeito de ver, ou o sentido da visão”. Mas, para

entendermos de maneira mais adequada este exercício denotativo propomos uma

análise sobre o verbo “ver” termo originário dos demais analisados procurando

destacar aqueles significados que possam fazer sentido a definição que procuramos.

ver v.t.d. 1. Conhecer ou perceber pela visão: (...) 2. Alcançar com a vista, enxergar: (...) 4. Presenciar, testemunhar: (...) 7. Reconhecer, compreender: (...) 9. Observar, notar: (...) 11. Reparar: (...) 17. Enxergar: (...) 18. Perceber as coisas pelo sentido da visão: (...) (FERREIRA, 2001, p.742-43).

Nota-se que as definições encontradas para o termo “ver” – termo este que origina

visão, visual, vista.. – carregam consigo ações ligadas não só ao ato ou ação de ver,

como também se confunde, muitas vezes, com o seu próprio efeito. Desta forma,

queremos destacar que não só o ato, mas seus efeitos mostram-se presentes como

se formassem um corpo único semântico nos termos analisados. Dentro disso, fica a

questão: ver é perceber? Ou, ver é compreender?

Parece-nos muito simples responder a esse questionamento, levando em

consideração que, ato e efeito, comumente, possuem distinções bastante claras,

como causa e conseqüência. Se ver traz consigo dois significados antagônicos,

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desta forma, podemos dizer que essa espécie de “confusão semântica” acaba por

ofuscar o real entendimento do termo “visual”.

Nem tudo o que se vê pode ser compreendido, mas tudo o que vemos pode ser

percebido. A partir desse raciocínio, levanta-se o questionamento sobre o que se

pretende dizer com a expressão “poluição visual”. Em uma cidade, não podemos

dizer que tudo o que vemos é compreendido, são linguagens de diferentes

naturezas, que nem o mais sábio poderia explicar o conjunto de formas glíficas e

gráficas que se apresentam aos olhos do público. Em contrapartida, afirmamos que

tudo o que vemos dentro de uma cidade é percebido, pois mesmo os elementos,

que não estão dentro de nossos campos de visão, podem ser notados.

Pela proposta de um entendimento adequado da expressão “poluição visual”

constata-se claramente a dificuldade semântica de união de suas duas palavras. Se

estivermos nos referindo à “poluição”, e esta, compreendida como o efeito do ato de

poluir, então sua associação com o termo “visual” parece inadequada, pois ambos,

no sentido destacado anteriormente, são efeitos de uma ação (ação de ver e ação

de poluir). O termo “poluição” enquanto efeito causado pela degradação ou

contaminação jamais poderia ser ligado à palavra “visual”, pois esta denota dois

sentidos: vista e visão. Se “poluição visual” pretende estabelecer-se como uma

expressão que conote a degradação ou contaminação de uma paisagem, não

poderia utilizar o termo “visual” sob o pretexto, deste, ser confundido com “visão”,

que não pode ser degradada por ações poluidoras e sim por algum desajuste

biológico e desgaste do tempo no órgão visor. Ou pelo motivo já destacado sobre a

junção de dois termos que denotam um efeito. Desta forma, “poluição visual” estaria

melhor empregado quando se refere ao termo “vista”, no sentido de panorama ou

paisagem. Ou seja, se a expressão “poluição visual” está estritamente definindo o

efeito de degradação paisagística e não o efeito de degradação do sentido da visão,

o melhor termo seria poluição da paisagem ou poluição paisagística ou degradação

da paisagem, degradação paisagística.

A dificuldade de compreensão da expressão “poluição visual” é apresentada por

Silveira (2009), que relata também esse problema quando da busca por uma

definição mais adequada.

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(...) a expressão “poluição visual”, por si só, pela margem de subjetividade com que se define, pelo caráter pejorativo que carrega, poderia ser dada, de antemão, como uma armadilha contornável, como questão insolúvel ou como obstáculo para análises menos normativas e mais atentas às singularidades criativas das expressões urbanas e do uso público da rua. (SILVEIRA, 2009, n.d)

Para Portella (2008), por exemplo, “(...) e necessário definir o que esse termo –

poluição visual - significa, caso contrario o urbanista e o legislador acabam por criar

regras que não refletem a cultura contemporânea em que vivemos.” A visão da

autora destaca-se, por demonstrar o quanto o assunto deve ser debatido antes

mesmo que possa ser levado a um conselho que elencará os parâmetros de uma

futura regulamentação. Outro ponto importante, além da definição precisa do tema,

refere-se aos pontos ou focos do problema. Se não conhecermos sua definição de

forma clara, não existirá a possibilidade de poder avaliar sua presença em qualquer

parte, pois resolver o problema pressupõe conhecê-lo em seus detalhes.

Tendo em vista a necessidade de compreensão da expressão “poluição visual”

buscasse nesse momento conceitos sobre o tema a partir da perspectiva de

diversas áreas, como o direito, a arquitetura e paisagismo, urbanismo e

comunicação. Alguns autores dessas áreas trazem importantes definições a cerca

do tema, não através de em uma análise dos termos em si, mas dentro de uma

contribuição para um entendimento mais amplo deste tópico. Alguns pontos de vista

são oferecidos em decorrência de experiências com o tema de pesquisa,

destacando o que a “poluição visual” seria capaz de englobar e definindo alguns

limites.

2.3.2 Conceitos de Poluição Visual

Segundo Fiorillo (2004, p.151) a poluição visual, na contramão dos direitos

garantidos pela constituição, ao tratar da política urbana, caracteriza-se como uma

“ofensa à integridade psíquica dos indivíduos que numa determinada cidade residem

ou transitam, violando diretamente o preceito garantidor de uma vida com

qualidade.” Este conceito defendido pelo autor, vai ao encontro de uma análise mais

ampla sobre o tema, que pretende mostrar que, a poluição visual, em si, deixando

de lado a característica de um olhar voltado somente à questão da estética urbana,

“prejudica a própria saúde, e, por decorrência, a obtenção de uma vida saudável”.

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Além disso, revela, em primeira instância, que à parte de várias outras

conseqüências, a poluição visual é antes de tudo uma violação de um direito do

cidadão, que por força da profusão de mensagens no ambiente estaria sendo

cerceado de uma paisagem urbana mais ordenada e harmoniosa.

A poluição visual, na maioria das vezes, dá-se de maneira gradativa, permitindo que nos acostumemos com a desarmonia visual. Essa paulatina poluição dos espaços urbanos deve ser contida, sob pena de inviabilizar-se às futuras gerações a oportunidade de desfrutarem um meio ambiente artificial harmônico. (FIORILLO, 2004, p.153)

Para Minami (2010, p.7) a poluição visual “é tudo aquilo que está em excesso no

espaço urbano e que causa essa sensação de desorganização que vemos todos os

dias no espaço das cidades”. Mas, não são somente os aspectos da comunicação

visual que influenciam nessa sensação de desordem, por isso, Minami (2010) afirma

que, a própria infra-estrutura da cidade contribui para a poluição visual, como o

excesso de construções e a exposição dos fios da rede elétrica, por exemplo. O

problema da poluição visual só vem à tona pela convergência desses elementos,

que dispostos em um mesmo ambiente ressaltam os aspectos da desordem visual, e

neste conceito mais amplo, acrescentamos o grande número de veículos que hoje

abarrotam as avenidas e ruas de nossas cidades. Com certeza, essa reunião de

elementos visuais, que em essência são o fruto da construção humana, caracteriza

o espaço urbano de maneira muito particular, de forma que é possível

diferenciarmos os efeitos da poluição visual em grandes e pequenas cidades.

Efetivamente, nota-se no conceito de Minami (2010), o grau de intervenção do

homem no meio ambiente artificial construído.

Outro ponto a ser destacado pelo autor é o próprio comportamento das pessoas que

vivem na cidade, e nela sobrevivem com suas atividades econômicas. Para Minami

(2010), tudo passa, prioritariamente, por uma mudança de comportamento. Ou seja,

depreende-se disso que, o próprio cidadão deve contribuir para que esse excesso

dentro do ambiente seja o menos nocivo e conseqüentemente adotar posturas

orientadas de preservação da paisagem urbana.

Se todo mundo se sentir no direito de levar o seu comércio, a sua publicidade, a sua marca, enfim, os seus interesses para o espaço público sem obedecer a nenhum critério, o resultado será a desorganização e a sensação de caos que já temos no espaço público. (MINAMI, 2010, p.7-8)

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Figura 18. Tipo de poluição visual provocada pela falta de cuidados da própria população.

Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br

Um outro enfoque sobre o tema é abordado por Espinosa (2004, p.9), destacando

que “o conceito de poluição visual depende das circunstâncias da sua interpretação,

dos enquadres e das experiências do indivíduo que interage com o fenômeno.” Para

a autora, diferentemente da poluição da água ou do ar, “o conceito de poluição

visual de um ambiente não tem para a sua interpretação um código dominante”.

Desta forma, a autora destaca que nosso “modo de leitura”, levando em

consideração que a poluição visual seria uma relação “entre a ordem ou a desordem

no uso do espaço” a discussão poderia evoluir para dois pontos de vista: a) leitura

discreta: onde ordem e desordem formariam os limites de uma escala; b) leitura

analógica: com modos de agrupar elementos, entre os “ordenados” e

“desordenados” ou “poluídos”. Neste sentido Espinosa (2004) destaca que essa

leitura “desloca-se para fatores como aceitação ou rejeição, empatia ou entropia,

inclusão ou exclusão.”

Esta visão revela um importante conceito que é também defendido por outros

autores, de que a poluição visual está atrelada a forma como o indivíduo percebe o

ambiente e como o ambiente deve ser diferenciado a partir de múltiplas perspectivas

socioculturais. Para Portella (2008), por exemplo, o que é necessário para solucionar

o problema da poluição visual é “considerar a cultura, a identidade local e os

interesses envolvidos no planejamento urbano de cada área da cidade na geração

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de princípios para ordenar os anúncios comerciais.” Desta forma, o problema da

poluição visual deve ser encarado através de diferentes variáveis e que “devem ser

manejadas para atingir um objetivo comum.” Segundo Portella (2008) “esse objetivo

comum varia de cidade para cidade, e de uma área para outra da cidade, estando

relacionado com a imagem que o usuário tem do espaço urbano.”

(...) não se pode criar normas gerais para o controle da poluição visual que sejam estendidas para toda uma cidade, pois cada área ou bairro possui uma diferente identidade. (...) normas para o controle de anúncios comerciais aplicadas no centro histórico de uma cidade não podem necessariamente serem aplicadas em outras áreas da mesma (tais como em grandes avenidas de comércio caracterizadas por prédios modernos e contemporâneos). (PORTELLA, 2008, n.d)

Dentro desse importante aspecto de percepção do ambiente urbano e sua relação

com o excesso de informação disposto nele, Vargas (2002) também ressalta que

“não se pode esquecer que a imagem de dinamismo e vitalidade no comércio é, em

parte, pelo congestionamento: de pessoas, de veículos, de mercadorias e de

imagens.” E neste sentido “Fica claro, que alguns lugares, necessitam desta forma

de poluição visual, que não está interessada em transmitir mensagens específicas

de produtos ou estabelecimentos. É, simplesmente, a sensação de vitalidade que

importa.”

O conceito de poluição visual admitido por Vargas (2002), mesmo assim, revela a

preocupação com um limite tolerável ao excesso, que inevitavelmente faz parte de

algumas cidades. Para a autora a poluição visual constitui-se no “limite a partir do

qual, o meio não consegue mais digerir os elementos causadores das

transformações em curso, e acaba por perder as características naturais que lhe

deram origem. Assim, Vargas (2002) entende que, o “meio” a que se refere é a

nossa própria visão, os “elementos causadores” seriam as imagens e as

“características iniciais” são as condições do meio transmitir as mensagens.

Essa definição é muito interessante sob o ponto de vista da estrutura da poluição

visual e seus agentes. Porém, quando Vargas se refere às “características iniciais”

enquanto “condições do meio de transmitir as mensagens” talvez estivesse se

referindo aos elementos de comunicação, ou suportes midiáticos, que efetivamente

são os agentes de transmissão de uma mensagem, ou ao ambiente em que estão

esses suportes, e não a “visão”, quando se refere ao “meio não consegue digerir”.

Outro ponto importante é destacar que, os “elementos causadores”, quando

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relacionados somente ao uso de imagens, podem confundir, pois se pergunta se

seriam imagens gráficas, ou imagens captadas pela visão? De qualquer forma trata-

se de uma definição bastante precisa que consegue englobar os principais aspectos

envolvidos na questão da poluição visual: o ambiente, o usuário e a informação.

Outros autores como, Mezzomo et al. (2003, p.50) destacam que a poluição visual

“refere a tudo que choca as impressões colhidas pelos olhos”, e neste sentido

“consiste no efeito de qualquer ação que prejudique o bem-estar da população e

afete as condições funcionais, estéticas e ambientais, ao ser observado pelo olho

humano.” Neste momento podemos identificar a preocupação com os aspectos de

funcionalidade do ambiente urbano, fatalmente prejudicados pelo excesso de

informações que podem acarretar na poluição visual. Além disso, mesmo sob o

ponto de vista qualitativo em que a estética poderia ser reconhecida como um

valor subjetivo, como afirma Espinosa (2004), ao propor que a poluição visual não

possui um código dominante na interpretação do ambiente, e sendo assim,

invalidando qualquer julgamento estético consta que se trata também de uma

variável a ser considerada, e neste sentido existem ferramentas, ou até mesmo um

corpo literário capaz de comprovar a tendência harmônica e equilíbrio de

determinadas formas de autores como Arnheim (1980), Gomes Filho (2004), Dondis

(2007).

Do ponto de vista semiótico, por exemplo, a questão da poluição visual, também se

encontram argumentos que podem trazer a tona outras variáveis sobre esse tema.

Para Drigo et. al. (2008, p.87) “A poluição visual se deve, em parte, à mistura de dois

sistemas de signos: o contexto urbano e a publicidade de rua.” Para o autor ao

relacionarem-se, o conjunto de elementos formados por ruas, prédios e passeios

públicos acabam se dinamizando e formando o que pode ser chamado de “contexto

urbano”. Neste sentido, Drigo et. al. (2008) afirma que a publicidade de rua,

constituída como o “outro sistema concreto de signos” distribuída de modo

desordenado pela cidade e em excesso constroem “um contexto urbano

diferenciado”. O que torna este ponto de vista importante é a relação que o autor

expõe de forma indireta entre os aspectos do estudo arquitetônico, que em essência

constitui o ambiente urbano como um todo, definido-o como o “contexto urbano”, e

sua relação com a paisagem urbana em si, onde os mais variados elementos, sejam

eles gráficos ou glíficos, se distribuem e organizam-se. Esse conjunto é o que

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fundamentalmente o usuário de um espaço construído percebe a sua volta e

interpreta de forma a criar um conjunto sígnico diferenciado em que se unem

formando as mais variadas interpretações. Ou seja, se para alguns essa profusão de

signos expostos no ambiente urbano é algo que faz parte do corpo de uma cidade

moderna, para outros se torna uma desordem incômoda.

Figura 19. Poluição Visual provocada pela falta de ordem e arranjo na composição com o ambiente.

Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br

Ainda dentro dessa discussão sobre a relação de espaço público e ação dos meios

que de uma forma ou de outra comunicam o ambiente a nossa volta, Portella (2008,

s.p) cita a poluição visual como “corresponde à degradação do espaço urbano em

função do uso desordenado de anúncios comerciais, os quais são fixados sem

serem consideradas as características estéticas dos edifícios e a identidade do

espaço urbano.” A autora defende a idéia de que o elemento comercial disposto no

ambiente de forma ordenada e respeitando a identidade do lugar não estaria

contemplado no conceito de poluição visual. Mas, se do contrário “(...) quando esses

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anúncios comerciais são fixados de modo desordenado não respeitando a

identidade do espaço urbano, o resultado é o caos.” Dentro dessa perspectiva os

suportes de comunicação que geram a desordem no espaço urbano são avaliados

não por sua profusão, mas antes pela relação de ordem e arranjo com outros

elementos que compõe da paisagem urbana. Essa desordem informacional, de certa

forma, atinge o usuário do espaço urbano o torna mais difícil a compreensão do que

está a sua volta.

Sobre isso, Ferrara (1976) apud Santos (2009, p.35-36) destaca que a “(...) poluição

visual urbana é um significado determinado pela impossibilidade que o usuário

encontra para apropriar-se do espaço urbano e usá-lo.” Dentro desse contexto

explicitado, entre o caráter de uma busca pela informação por parte do usuário

urbano dentro do ambiente, a poluição age como ruído e, portanto, se opõe “ao

significado e ao ambiente urbano planejado, enquanto sistema de comunicação.”

Essa impossibilidade de poder, o receptor de uma mensagem qualquer, e nesse

caso, aquele que recebe mensagens visuais, reconhecer um código comum de

comunicação, destaca-se pelo fato de que o mesmo não poderia ser capaz de

decodificar um ambiente de forma plena sem ter que submeter a mensagem pelos

filtros sensorial, funcional e cultural levantados por Munari (2006), cujos estudos

serão comentados no tópico sobre comunicação visual.

Figura 20. Excesso de informações que provocam um ruído no ambiente.

Fonte: http://www.queroverportoalegre.com.br

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Pesquisando outros conceitos acerca do tema encontramos alguns argumentos que

revelam a preocupação com a assimilação da paisagem dentro do contexto urbano e

a falta de qualidade de vida que isso poderia proporcionar. Assim, no ponto de vista

de Santos (2009, p.36) a poluição visual constitui-se em “tudo o que vem a dificultar

a leitura das paisagens de uma cidade; impedindo a sua apropriação e

transformação em lugares (topofilia) e que coloque em risco a saúde da população.”

Dentro desse conceito, Santos (2003) apud Santos (2009, p.36), afirma que a

poluição visual assume um caráter de “efeitos danosos resultantes dos impactos

visuais causados por determinadas ações e atividades.” Neste sentido, o autor

afirma que estes “efeitos danosos” podem prejudicar a saúde, a segurança e o bem-

estar da polução, além de “criar condições adversas às atividades sociais e

econômicas; afetar desfavoravelmente a biota; afetar as condições estéticas ou

sanitárias do meio ambiente”.

Mais uma vez, dentro dos conceitos revisados, encontra-se a preocupação

essencialmente com a qualidade de vida de quem habita em meio à desordem visual

das grandes cidades. Outro ponto importante destacado sobre o conceito de

poluição visual enquanto “efeito danoso” é fato de que neste momento existe uma

preocupação também com o aspecto estético da paisagem urbana, o que para

alguns autores, principalmente quando este fator é levando ao âmbito da discussão

jurídica. Evidentemente isso ocorre, pois não existem parâmetros claros que

consigam definir o que é harmonicamente mais belo e o que não é. No campo da

estética talvez esteja um dos principais pontos de discussão sobre esse tema.

Dentro dessa discussão podemos destacar autores como Campos (2006) que

analisa a relação direta dos efeitos da poluição visual e a estética da cidade dentro

de uma avaliação subjetiva. Para Campos (2006, p.112) “a poluição visual é

causada pela degradação ou desarmonia de elementos inseridos de forma

desordenada no meio ambiente contra a Estética.” E nesse sentido, destaca que

“cada caso de manifestação da poluição visual deve ser analisado separadamente,

por isso a sua avaliação é mais sujeita à subjetividade (senso estético).” Dessa

importante avaliação podemos retirar um conceito fundamental, que diz respeito, a

análise de um contexto geral sob o registro pontual das incidências de desordem no

meio urbano. Isto quer dizer que, apesar considerarmos, de modo geral, que a

cidade moderna constitui-se em um ambiente, de certa forma, livre de uma

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ordenação harmônica, cabe neste contexto ainda assim avaliar particularmente

determinados pontos levando em conta “a paisagem, o entorno e a cultura de cada

localidade”. Desta forma esse ponto de vista de Campos (2006), alia-se aos

conceitos já comentados anteriormente de Vargas (2002) e Portella (2008).

Em mais uma definição que encontramos, Minami & Guimarães Junior (2001, n.d)

destaca que a poluição visual “é pois, conseqüência e resultado de

desconformidades (...) e também o efeito da deterioração dos espaços da cidade,

pelo acúmulo exagerado de anúncios publicitários em determinados locais.” Essa

esclarecedora idéia sobre a essência do conceito, destacamos, pois vai ao encontro

também da definição que acreditamos, e desta forma, esclarece definitivamente que

a poluição visual é sim o efeito de um agente poluidor, quer seja esse agente fruto

da publicidade desordenada ou do mau planejamento de distribuição dos elementos

urbanos de uma cidade. Mas, em um âmbito mais abrangente, porém, para Minami

& Guimarães Junior (2001, n.d) o conceito de poluição visual está ligado ao fato do

“campo visual do cidadão se encontra de tal maneira que a sua percepção dos

espaços da cidade é impedida ou dificultada.” É nesse ponto que podemos dizer que

a poluição visual cerceia o direito do cidadão ao usufruir dos espaços públicos e

forçosamente estabelece uma relação de desequilíbrio dentro do contexto urbano,

gerando assim efeitos danosos a qualidade de vida dos habitantes das cidades que

sofrem com esse tipo de poluição.

(...) os problemas dos efeitos negativos tais como a poluição visual, advindos do ambiente urbano trazem como conseqüência a deterioração da qualidade de vida da população residente em áreas urbanas e de todos os aspectos que envolvem barulho (poluição sonora), contraste, conflito, diferença, dualidade nos elementos que compõem o meio ambiente (poluição atmosférica e visual), transito, violência, insegurança. (MINAMI & GUIMARÃES JUNIOR, 2001, n.d)

Mas, não podemos deixar também de destacar dentro dessa análise de conceitos

sobre a poluição visual o ponto de vista contrário, de certa forma, ao que todos os

autores citados até aqui defendem, principalmente com relação aos efeitos

prejudiciais aos habitantes que na maioria das vezes dentro dos conceitos referidos

apontam que a poluição visual tem profunda influência na qualidade de vida das

pessoas que vivem em uma cidade moderna. Neste sentido, Spinelli (2006) apud

Silveira (2009, n.d), argumenta que “o que para alguns pode ser considerado

poluição visual” para outros pode ser apenas “um reflexo lógico das novas formas de

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habitar um ecossistema urbano pós-moderno” que teve uma profunda transformação

através da “economia capitalista de mercado e seus devidos elementos

iconográficos e vídeo-lúdicos.”

Ainda dentro da perspectiva da contraposição de conceitos sobre a poluição visual

autores como, Silveira (2009) defende que o fenômeno atrelado a esse tema “não

deixa de ser um fenômeno típico, muito representativo e altamente sintomático da

lógica de visibilidade que caracteriza nossa sociedade contemporânea” e desta

forma é estimulada pelos atuais meios de massa, como a publicidade, e nesse

contexto mais específico a publicidade de rua. Entretanto o autor entende que

“continuamos ainda, (...) sem precisar/dominar direito o termo “poluição visual” e

sem compreender a maior parte de suas repercussões, caracterizações,

implicações, etc.” Sobre o ponto de vista das implicações que a poluição visual

representa, queremos aprofundar a análise em um próximo tópico, destacando o

artigo de um autor em especial, Georg Simmel (1979), citado por Silveira (2009), que

revela entre outras coisas o aspecto psicológico do habitante de uma cidade

moderna, em A Metrópole e a Vida Mental.

2.3.3 Aspectos da Poluição Visual

As cidades foram construídas durante os séculos e desde há muito tempo

comportam uma vida comercial intensa. Suas avenidas, praças, calçadas e edifícios

compõem o que podemos chamar de meio ambiente artificial. Dentro desse

conceito, a cidade, como meio ambiente construído, segundo Fiorillo (2004, p.21),

divide-se em “espaço urbano fechado”, que abrange os prédios e o conjunto de

edificações, e “espaço urbano aberto”, que compreende todos os equipamentos

públicos, como praças, ruas, avenidas, etc. E é, efetivamente, dentro desse espaço

urbano aberto que a poluição visual se eleva em níveis quase insuportáveis. São

esses espaços, que carecem de uma atenção redobrada, pois se caracterizam, em

essência, num ambiente comum de convivência.

Identificar os diferentes pontos que caracterizam o problema da poluição visual em

nossas cidades requer uma atenção redobrada, pois, não é por sinal, que muitas

áreas do conhecimento como a arquitetura, o urbanismo e o direito já tentaram

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elaborar argumentos contra ou a favor de determinadas ações, principalmente

lideradas pelo poder público, a fim de sanar ou pelo menos equacionar essa

demanda, que é um problema recorrente das grandes metrópoles. A definição dos

aspectos que compõem o problema da poluição visual visa, segundo Fiorillo (2004,

p.20) “facilitar a identificação da atividade degradante e do bem imediatamente

agredido.” Mas outro ponto importante, além de identificar onde a poluição visual se

concentra e de que forma ela é percebida, é definir o próprio conceito de poluição.

Dentro dessa perspectiva, assume-se aqui o empenho de, primeiramente, validar

não só termo poluição, mas a própria expressão “poluição visual”, e seus termos, de

forma denotativa e conotativa.

2.3.4 Aspecto Psicofisiológico da Poluição Visual

Se, de fato, pudermos reconhecer que a vida cotidiana dentro de uma cidade sofreu

alterações ao longo dos dois últimos séculos, seja no âmbito de sua estrutura,

comunicações ou transportes, talvez identifiquemos nestes fatores os agentes de

maior influência no comportamento dos habitantes das metrópoles contemporâneas.

No entanto, apesar de se atribuir ao crescimento dessas cidades o motivo pela

explosão da desordem e o excesso de elementos que degradam sua paisagem

urbana provocando uma mudança de comportamento em seus habitantes, o que se

sabe é que a composição de uma cidade e todas com todas as suas dificuldades,

parece não ser o principal elemento que contribui para a alteração do estado

psicológico das pessoas que nela habitam.

Segundo Simmel (1979, p.12) “a base psicológica do tipo metropolitano de

individualidade consiste na intensificação dos estímulos nervosos, que resultam da

alteração brusca e ininterrupta entre estímulos exteriores e interiores.” Ou seja,

dentro do contexto de uma cidade, de constantes mudanças, de inúmeras situações

novas e estímulos visuais, seus habitantes absorvem de forma mais natural toda

essa composição muitas vezes caótica. Para Simmel (1979, 12) “o homem é uma

criatura que procede a diferenciações”, e neste sentido, passa a ter uma rotina

mental que intercala entre a sua estimulação pela diferença de um contexto

específico e a imagem contextual que a precedeu. Em termos de assimilação do

espaço urbano, o que se apresenta como característica única dos habitantes de uma

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metrópole é um comportamento que não chega a ser absorvido em essência, mas

apenas o suficiente para se compreender o contexto ao seu redor. Nesses termos,

Simmel (1979, p.12) compara dois exemplos, entre os habitantes acostumados com

a vida em uma cidade rural, onde passam a maior parte do tempo entre paisagens

mais regulares, sem grandes contrastes e alterações, e assim, registram

“impressões duradouras, impressões que diferem apenas ligeiramente uma da

outra”, acabam gastando menos de sua consciência. Em contra partida, a vida em

uma cidade grande, passa a criar em seus habitantes uma espécie de fundamento

sensorial diferenciado, mais resignado aos fatos e excessos das transformações

urbanas.

Segundo Simmel (1979, p.12) existem pelo menos duas funções que compõe o lado

psicológico humano, uma mais emotiva e sensorial atribuída às “camadas mais

inconscientes do psiquismo” e por isso “crescem sem grande dificuldade ao ritmo

constante da aquisição ininterrupta de hábitos”, e a outra, atribuída ao intelecto, que

“se situa nas camadas transparentes, conscientes, mais altas do psiquismo; é a

mais adaptável de nossas forças interiores”. Isto significa que, o desenvolvimento de

um intelecto urbano representa uma maneira menos preza aos contrastes oferecidos

pelos fenômenos que a própria cidade oferece aos olhos de seus habitantes.

Para acomodar-se à mudança e ao contraste de fenômenos, o intelecto não exige qualquer choque ou transtorno interior; ao passo que é somente através de tais transtornos que a mente mais conservadora se poderia acomodar ao ritmo metropolitano de acontecimentos. (...) Assim, o tipo metropolitano de homem – que, naturalmente, existe em mil variantes individuais – desenvolve um órgão que o protege das correntes de discrepâncias ameaçadoras de sua ambientação externa, as quais, do contrário, o desenraizariam. Ele reage com a cabeça, ao invés de com o coração. Nisto, uma conscientização crescente vai assumindo uma prerrogativa do psíquico. (SIMMEL, 1979, p.12-13)

Para Simmel (1979, p.13) o homem metropolitano possui uma consciência elevada e

sua reação aos acontecimentos ocorridos no corpo de uma metrópole é conduzida

àquela camada mais racional que constitui o psicológico humano. Assim a vida

dentro de uma cidade é levada através da intelectualidade do homem, o que o faz

conseqüentemente menos sensível aos fenômenos visuais na vida dentro dela.

Se trouxermos a questão para o campo da assimilação da informação que é

disposta em um ambiente urbano, por exemplo, podemos inserir aqui o conceito de

Pignatari (1970, p.45), quando este autor define que “a idéia de informação está

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sempre ligada à idéia de seleção e escolha.” Assim, a possibilidade de se registrar

uma informação por parte de qualquer habitante de uma cidade só se dará por meio

da “escolha”, da “seleção” ou “discriminação” dela em meio a inúmeras outras

informações. Para Pignatari (1970, p.45) “sinais possuem um grau de informação em

virtude de sua força potencial de propiciar seleções”, ou seja, no caso das

informações que nos são apresentadas no ambiente a nossa volta, só serão

assimiladas aquelas que tiverem a força potencial em transmitir um dado

reconhecível e que seja forte o suficiente para causar uma reação, que neste caso,

poderia ser uma seleção, uma discriminação ou a escolha a que se refere Pignatari

(1970), como a separação de uma determinada informação do contexto que a

circunda em um ambiente urbano.

Outro ponto a ser destacado ainda dentro do âmbito da assimilação de uma

informação, é que, da mesma forma como Simmel (1979) revela que existe uma

espécie de inteligência própria dos habitantes que vivem no ambiente de uma

metrópole, Pignatari (1970, p.45-46) afirma que “não há informação possível fora de

um sistema qualquer de signos ou sinais”, no entanto, “a introdução de um signo

novo no sistema implicará, (...) num certo grau de inteligibilidade desse mesmo signo

face ao repertório ou sistema de signos existentes”. Isto significa que existe uma

forma pela qual a informação é assimilada, e isso depende de um estado inteligível

que varia de acordo com a formação específica de cada pessoa. Tudo indica que o

comportamento de habitantes de estruturas urbanas diferentes serão

correspondentes aos níveis intelectuais que cada um desenvolveu como forma de

entender o contexto de informações ao seu redor dentro do habitat em que vive.

Sendo assim, esta definição contribui para a idéia de que o homem que vive numa

metrópole jamais será acometido de um desconforto ao deparar-se com o que o

progresso e a modernidade fizeram da paisagem urbana, num sentido estrito

relacionado ao seu comportamento psíquico, pois este já formou um conjunto

intelectual que o faz reconhecer a estrutura visual da cidade de uma maneira sem

grandes esforços ou percalços.

De fato, não se pode negar que o comportamento de habitantes de cidades com

estruturas maiores ou menores sejam completamente diferentes diante do número

de estímulos visuais que cada um recebe em sua vida diária, dado o contexto em

que vivem. As experiências de determinada cultura são fortes ao ponto de influenciar

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no modo como seus habitantes vêem o ambiente ao seu redor. No caso da poluição

visual, que em maior grau se encontra no corpo das grandes cidades, parece passar

despercebida aos olhos racionais do homem que habita a metrópole. Apesar disso,

estudos relacionados, agora, não ao comportamento, mas, as conseqüências do

excesso visual na vida dos habitantes de uma metrópole, destacam-se ao

demonstrar o efeito nocivo em longo prazo que o caos visual urbano oferece a

saúde de todos que nela habitam.

Segundo Vasconcellos (2003) apud Campos (2006, p.30), “na vida cotidiana de um

indivíduo civilizado, o organismo recebe cerca de 23.000 informações ao dia”. Neste

momento, queremos destacar aqui que as “informações” a que Vasconcellos (2003)

se refere estão dentro de um quadro de simples registro visual, ou seja, se levarmos

em consideração a idéia de Pignatari (1970) em que a informação constitui-se em

um procedimento de escolha, seleção ou discriminação, seria improvável que o

habitante de uma cidade grande pudesse registrar tamanho número de registros

visuais. No entanto, prosseguindo com a avaliação de Vasconcellos (2003), o

processo ocorrido em nosso organismo diante de situações com que nos deparamos

diariamente nas metrópoles, tanto o eustress (motivo estressor positivo), quanto o

distresse (motivo estressor negativo), revela um processo complexo que envolve o

sistema neurológico e glandular. Tudo por que, segundo Vasconcellos (2003) “o

sistema límbico, o tálamo e o neocórtex superior, que são núcleos cerebrais vitais

para a elaboração da informação, são acionados e preparam uma resposta

comportamental a cada uma delas”. Desta forma, o processo corre puramente por

vias internas, e assim os efeitos biológicos desencadeiam uma série de reações em

nosso corpo. Basicamente, o que ocorre dependendo da resposta a informação

assimilada pelo sistema nervoso, é a liberação em maior ou menor grau de uma

secreção de “hormônios de ativação ou inibição” que despejados na corrente

sanguínea vão atuar em diferentes sistemas do nosso corpo humano.

O homem do século XX e, conseqüentemente, o deste século, elabora 85% das informações do meio ambiente através do sistema visual. Esse hiper-desenvolvimento do sistema visual provocou uma certa atrofia no funcionamento dos outros órgãos dos sentidos, ou seja, do paladar, da audição, do olfato e, sobretudo, do tato. Ver é fundamental. (...) É exatamente por essa via de entrada na integridade interior de nosso organismo, uma das mais importantes para o ser humano moderno, convém que se exerça aqui redobrados cuidados, visto que tudo que penetrar à membrana do receptor visual traz em si e consigo determinado potencial

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para desencadear um processo de stress lá dentro do corpo. (VASCONCELLOS, 2003, APUD CAMPOS, 2006, p.30)

Dentro dessa exposição, é possível dizer que esses dois contextos, tanto o

psicológico quanto o fisiológico, em que atuam as informações dispostas

excessivamente dentro de uma cidade, sejam ao mesmo tempo opostos em termos

de influência no comportamento dos habitantes de uma cidade, e complementares à

medida que explicam os reais efeitos ou não do fenômeno visual dentro das

metrópoles. Se por um lado o comportamento humano assume um caráter adaptável

ao contexto físico-social de uma cidade grande, por outro são os efeitos em longo

prazo causados por este mesmo contexto que trazem os prejuízos que a vida

moderna nos impõe em cidades com as paisagens urbanas degradas.

2.3.5 Aspecto Jurídico da Poluição Visual

A Lei n. 6.938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente, no artigo 3º, III, define a

poluição como “a degradação da qualidade ambiental.” Desta forma, tudo o que

possa prejudicar a saúde, a segurança e o bem estar da polução, além de criar

condições adversas às atividades sociais e econômicas, bem como afetar

desfavoravelmente a fauna, a flora, e as condições estéticas ou sanitárias do meio

ambiente, por definição estará infringindo um código de orientação nacional, que

procura trazer o equilíbrio na relação entre o meio ambiente e os seres humanos.

Cabe ressaltar que, a poluição, em suas mais variadas formas constitui-se

naturalmente em um efeito da degradação tanto do meio ambiente quanto do próprio

homem. Sua propagação se reflete nos inúmeros problemas de ordem ambiental e

saúde pública. Mas, no caso específico da poluição visual, outros fatores somam-se

no debate, como é o caso do apelo econômico que possa estar sendo ferido,

quando do combate ao excesso de comunicação visual nos grandes centros

comerciais.

Para que se possa estabelecer um critério condizente com os interesses tanto dos

habitantes, quanto da atividade econômica e suas relações com o meio ambiente,

neste caso, os espaços públicos, seria necessário, segundo Fiorillo (2004, p.153) “a

aplicação do princípio do desenvolvimento sustentável.” Isto porque, não há como

negar o conflito aparente entre as idéias da manutenção do bem estar e qualidade

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de vida do ser humano, dentro de um ambiente saudável, sem que se firam as

condições impostas pela livre concorrência comercial.

Mas no que tange o emprego de soluções a fim de manter o equilíbrio proposto pelo

princípio do desenvolvimento sustentável, Meirelles apud in Fiorillo (2004, p.153)

ressalta que “há necessidade de prévia fixação técnica legal dos índices de

tolerabilidade, ou seja, dos padrões admissíveis de alterabilidade de cada ambiente,

para cada atividade poluidora.” Esse importante esclarecimento vem ao encontro da

pesquisa a fim de gerar justamente um padrão que possa contribuir para a avaliação

de níveis admissíveis de poluição. É justamente nesse ponto que se percebe uma

carência de ferramentas disponíveis do poder público, que deve garantir esse

desenvolvimento sustentável de forma equilibrada.

2.3.6 A Poluição Visual da Publicidade no Ambiente Urbano

Um dos principais problemas na degradação da paisagem urbana está, sem dúvida,

na proliferação de peças publicitárias, como outdoors, cartazes, além de placas e

painéis que vem sendo inseridos no mobiliário urbano da cidade. Tem-se que estes

elementos de comunicação visual, bastante incisivos, representem, talvez, a síntese

do período em que vivemos. A necessidade de consumir se alterou, já há algum

tempo, à medida que, não mais o usuário vai atrás do que precisa, mas sim permite

que o próprio produto lhe seja oferecido para onde o olhar desse usuário se dirija.

Vivemos, hoje, o que Giddens (2004) batizou de “sociedade da informação” e

“sociedade de consumo”, e dentro dessa perspectiva a comunicação visual, por

meio de mensagens publicitárias, que tomam qualquer espaço que lhe pareça

ocioso, é o traço característico das metrópoles pós-modernas.

Para Canevacci (1993, p.16) “A materialidade virtual da comunicação via imagens é

determinada pelas relações sociais e culturais que nela se concentram” e desta

forma, compreende-se que a relação cultural existente no cerne de nossa sociedade

é fruto do instituído sistema econômico capitalista, que necessita de formas para

escoar o manancial de ofertas de bens e serviços, girando assim a roda comercial

estabelecida desde o início da Revolução Industrial. Neste cenário, a publicidade,

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que possuí forte vínculo com o ambiente empresarial, passa a servir como o meio de

propagação de mensagens visuais, na busca por atrair novos consumidores.

Efetivamente, o problema da poluição visual na paisagem urbana, não reside no fato

da publicidade, estar ocupando o lugar de destaque como agente de degradação do

espaço urbano, e há até quem diga que a publicidade constitui-se em uma

“contribuição” para os espaços urbanos

Os anúncios e publicidades nas ruas, embora quase totalmente ignorados pelos urbanistas, constituem um contribuição (bastante óbvia e freqüente) para a paisagem urbana. Torna-se muito difícil, folheando os desenhos de perspectivas de possíveis cidades novas, encontrar qualquer referência a publicidade. E no entanto esta parece ser no meio de tanta coisa, a contribuição mais importante do séc. XX para a paisagem urbana. (CULLEN, 2006, p.153)

Figura 21. Ilustração de fachada com diversos anúncios publicitários.

Fonte: CULLEN, 2006.

Estabelecer argumentos que possam de alguma forma demonstrar uma posição

contrária diante de um dos maiores pensadores do tema da paisagem urbana seria

quase que um “sacrilégio”. Entretanto, não poderíamos deixar de comentar que a

idéia de Cullen (2006) sobre os aspectos estéticos que a publicidade revela dentro

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de uma paisagem urbana são líricos e não levam em conta estudos que podem

comprovar que tais anúncios lançados na paisagem urbana, realmente criem essa

sensação de “vivacidade” a que o autor se refere.

O fato é que, hoje, não possuímos limites que possam estabelecer uma relação

tolerável da incidência de publicidade no meio urbano, e quem dirá reconhecer o

grau de animação que esses anúncios possam trazer ao ambiente cinzento do de

uma cidade. Dentro dessa perspectiva, a responsabilidade de se estabelecer uma

ordenação dos elementos publicitários no ambiente urbano recai sobre os

profissionais que estão diretamente envolvidos com os projetos de comunicação

visual, e, assim, cabe a estes reconhecer que parte do que presenciamos nas ruas,

hoje, é fruto de suas decisões equivocadas e livres de um julgamento projetual, que

poderia evitar a proliferação indiscriminada da publicidade no espaço urbano.

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79

2.4 COMUNICAÇÃO VISUAL

A comunicação visual, segundo Munari (2006, p.65) é praticamente tudo o que

podemos ver. De uma nuvem no céu até um cartaz exposto no muro de uma cidade,

tudo transmite uma mensagem, com valores diferentes dependendo do ambiente

onde estão inseridos. Mas há pelo menos uma divisão, bastante clara quando ele se

refere a esse manancial de mensagens visuais que estão a nossa volta. Para

Munari, tratar de comunicação visual pressupõe separar o que é comunicação

casual e o que é comunicação intencional.

A comunicação casual pode ser livremente interpretada por quem recebe, seja ela uma mensagem científica ou estética, ou de outro tipo. Ao contrário, a comunicação intencional deveria ser recebida na totalidade do significado pretendido pela intenção do emissor. (MUNARI, 2006, p.65)

Dentro da perspectiva, de uma comunicação visual intencionalmente gerada pelo ser

humano, ou seja, aquela cujo Munari (2006, p.65) se refere como fruto da iniciativa

do emissor na tentativa de transmitir uma mensagem “através de um código preciso

e uma informação precisa”, também podemos interpretar de acordo com sua

intencionalidade sob dois pontos de vista. Do ponto de vista da “informação prática”

seu código deve ser interpretado em sua totalidade, o que retira a carga subjetiva da

mensagem, não havendo assim um falso entendimento. Quando a informação

prática consegue ser reconhecida como uma mensagem precisa a resposta torna-se

mais natural, pois pressupõe que tanto o emissor da mensagem quanto o receptor

estabeleceram um código comum para se comunicarem. Já a “informação estética” é

carregada do fator subjetivo, cabendo assim a cada receptor uma interpretação

diferente.

Mensagens visuais fazem parte de uma grande família de mensagens que são

captadas pelos nossos sentidos. Em específico, as mensagens visuais, segundo

Munari (2006, p.68) estão sempre passando por filtros que podem apresentar-se no

próprio ambiente em que estão inseridas, ou dentro do repertório do receptor dessas

mensagens. Segundo Munari (2006), as perturbações em um ambiente podem, por

exemplo, “alterar ou mesmo anular certas mensagens.” Assim, os filtros podem ser a

soma tanto de efeitos causados pelo ambiente, quanto pela experiência que esse

usuário possui, sendo estas experiências advindas de várias fontes de percepção.

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Um importante ponto a ser destacado, no que se refere à mensagem visual, é o fato

de que os filtros inseridos dentro de um ambiente, seja através das perturbações ou

excessos, não são os únicos a interferirem na compreensão de uma informação por

parte do receptor. Segundo Munari (2006, p.68) os filtros que fazem parte da

constituição fisiológica e sensorial do ser humano, que são denominados de filtros

sensoriais, funcionais e culturais, também são responsáveis pela decodificação da

mensagem, representando dessa forma uma outra “barreira” para o entendimento

completo do que se está transmitindo. Dentro da idéia dos filtros que são carregados

pelo receptor, o filtro sensorial representaria a capacidade de quem recebe a

mensagem em fazer uso pleno de seus sentidos para compreender uma mensagem

visual. Assim, qualquer déficit da visão constitui-se em uma barreira relevante para

que a mensagem seja captada em sua plenitude pelo receptor. O filtro funcional, por

sua vez, está associado às características psicofisiológicas constitutivas de quem

recebe a mensagem. Sob este ponto os receptores são diferentes em níveis de

evolução cognitiva quando, por exemplo, a interpretação de uma mensagem visual é

realizada por uma criança, o que fundamentalmente difere em seu grau de

interpretação, quando esta mesma tarefa é realizada por um adulto. Outro fator que

faz parte do meio de interpretação da mensagem visual é o filtro cultural. O filtro

cultural pressupõe a existência de um universo de referências, códigos, normas ou

condutas que dizem respeito ao meio em que o receptor vive. Desta forma, algumas

mensagens visuais podem ser compreendidas dentro de um determinado local onde

os indivíduos reconhecem os mesmos códigos comuns, que estão difundidos e

influenciando o comportamento dentro de sua cultura.

Munari (2006, p.56) entende que, em certos casos, a comunicação visual seja um

meio insubstituível de passar informações entre um emissor a um receptor, mas

dentro dessa perspectiva as “condições fundamentais do seu funcionamento são a

exatidão das informações, a objetividade dos sinais, a codificação unitária e a

ausência de falsas interpretações.” Desta forma, a comunicação visual representa

sem dúvida nenhuma, uma espécie de linguagem cujo maior desafio seria

estabelecer um conjunto de regras capaz de transformar sinais visuais em códigos

de compreensão por parte de emissor e receptor da mensagem.

Na grande massa de informações visuais que nos assediam de toda a parte, de modo desordenado e contínuo, a comunicação visual procura

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definir, com base em dados objetivos, qual a relação mais exata possível entre informação e suporte. (MUNARI, 2006, p.56)

Segundo Munari (2006, p.57) na comunicação visual existem dois componentes que

são passíveis de estudo separados, que são: o suporte e a informação. Dentro

dessa concepção o suporte representa a comprovação, ou o real entendimento de

um código visual ou o meio material por quem irá receber a mensagem. Nesse

sentido, os suportes de comunicação visual são reconhecidos, por exemplo, como

um sinal, uma cor, uma luz, um movimento, etc. Mas o que de fato representa um

importante aspecto além da informação e o modo como esta é transmitida, que diz

respeito à própria figura do receptor da mensagem visual. Conhecer o indivíduo e

suas condições fisiológicas e sensoriais é fundamental para que se trace um perfil

dos possíveis filtros de recepção da mensagem visual.

Para Canevacci (1993, p.31) vivemos atualmente uma incrível mudança dentro da

perspectiva da comunicação visual moderna. A comunicação visual, segundo o

autor, “está fornecendo seus próprios signos e contra-signos à cultura

contemporânea, com uma força de penetração jamais “vista” antes”. Isto significa

que a forma com que o ser humano utilizava mensagens visuais pra se comunicar,

definitivamente, foi alterada, e num sentido que talvez tenha se perdido o controle

sobre a ética e a estética desse processo de geração de mensagens visuais.

Retomando o que Munari (2006) no diz, quando define a comunicação visual como

praticamente tudo o que podemos ver, fica pergunta: de que forma poderíamos

controlar um cenário urbano repleto de comunicações sem que este controle

prejudique a cultura visual contemporânea que, bem ou mal, se estabeleceu?

O que se pretende ao tratarmos desse aspecto ético e estético da comunicação

visual é, antes de tudo, estabelecermos parâmetros de uma atuação equilibrada

para a ordenação dos espaços públicos, que hoje, sofrem com o efeito da poluição

visual. Não seria com atitudes drásticas, pós produção, que o problema da poluição

visual deve ser confrontado. Ou seja, se destacamos a poluição visual como um

agente que transmite mensagens visuais, e estas, raramente são assimiladas de

forma plena, questionamos então a forma com que se conduzem os projetos

específicos e a distribuição de elementos visuais em pontos da cidade onde a

assimilação e clareza da informação são indispensáveis, por exemplo. Neste

sentido, a pesquisa sobre a comunicação visual no meio urbano ganha um relevo

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para pautar a coleta de dados deste trabalho a fim de obter um cenário livre de

julgamentos precipitados, ou falsos pré conceitos somente com as mídias de

publicidade externa. É preciso avaliar se o que nos circunda, são realmente

elementos visuais com ou sem uma função para a utilização dos ambientes em que

transitamos.

2.4.1 Pesquisa em Comunicação Visual

A pesquisa em comunicação visual, segundo Munari (2006, p.21) é estritamente

técnica e “parte das responsabilidades do meio para explorar os valores de

comunicação visual, independente do conteúdo da informação, e sem ter em conta

qualquer estética passada ou futura.” Sobre comunicação visual, Munari (2006, p.8)

considera que o tema é muito vasto.

“(...) que vai desde o desenho até a fotografia, as artes plásticas, o cinema; desde formas abstratas até as reais, de imagens estáticas a imagens em movimento, de imagens simples a imagens complexas, desde problemas de percepção visual que concernem ao lado psicológico do tema, como relações figura e fundo, mimetismo, moiré, ilusões ópticas, movimento aparente, imagens e ambiente, permanência retiniana e imagens póstumas.” (MUNARI, 2006, p.8)

Dentro deste escopo de atuação a comunicação visual constitui-se em uma

ferramenta que, em essência, preza pela objetividade. Esta ação objetiva da

comunicação visual, segundo Munari, deve estar sempre presente, pois do contrário

não há comunicação, e sim, uma “confusão visual”. Tudo isso, porque, uma imagem

deve ser “legível para todos e por todos da mesma maneira”.

Esta idéia recai sobre os objetivos secundários desta pesquisa, em que se

estabelece uma linha condutora para a avaliação, realizada principalmente, após a

coleta dos dados no ambiente deste trabalho. Basicamente, o que nos chama a

atenção e a forma como o status quo da comunicação visual contemporânea parece

correr contra as idéias de objetividade, de clareza e de fácil assimilação parte dos

receptores. Tudo isso, com o acréscimo do excesso de elementos visuais, colabora

com a idéia defendida por Canevacci (1993) da “cidade polifônica”.

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83

2.5 PERCEPÇÃO DA MENSAGEM VISUAL

Compreendemos o mundo que nos cerca, em grande parte, porque utilizamos o

aparelho visor com muito mais freqüência dos que os outros sentidos de nosso

corpo. No último século, pelo grande desenvolvimento da comunicação visual em

todas as suas instâncias o processo de ver e assimilar as informações, que se

apresentavam em diversos contextos, nos possibilitou, também, que criássemos

uma inteligência própria para a percepção da grande quantidade de estímulos

visuais que são expostos aos nossos olhos. E neste sentido, as cidades também

contribuíram para o crescimento desta característica nos seres humanos.

Para Dondis (2007, p.85) “vemos com precisão de detalhes, e aprendemos e

identificamos todo material visual elementar de nossas vidas para mantermos uma

relação mais competente com o mundo”, e desta forma, se quisermos compreender

o espaço em que vivemos, ou os objetos que criamos, necessitamos estabelecer

uma relação visual bem definida com toda essa produção que, essencialmente, é

fruto da capacidade do ser humano de produzir um conjunto de significados para

cada situação ou objeto.

Vemos o mundo que criamos, um mundo de cidades, aviões, casas e máquinas; é o mundo da manufatura e da complexidade da tecnologia moderna. Aprendemos instintivamente a compreender e a atuar psicofisiologicamente no meio ambiente e, intelectualmente, a conviver e a operar com esses objetos mecânicos que são necessários a nossa sobrevivência. Tanto instintivamente quanto intelectualmente, grande parte do processo de aprendizagem é visual. (DONDIS, 2007, p.85)

Mas, apesar do sistema visor ser compreendido como um importante meio que

contribui para a própria sobrevivência e a compreensão da realidade imediata que

nos cerca, é encarado como uma complexa forma de comunicação, pois,

diferentemente da linguagem verbal, que possui códigos comuns para um

verdadeiro aprendizado, a abordagem da linguagem visual era restrita a uma

habilidade visual particular que muito se sustentava na figura do artista.

A aproximação com os meios visuais de comunicação, e em especial pelos avanços

tecnológicos que colocaram o ser humano em contato direto com as formas de

reprodução da realidade, como a fotografia, o cinema e a televisão, servirão no

futuro, segundo Dondis (2007, p.86) como “um importante complemento intelectual”.

Neste sentido, vivemos hoje o ápice dessa apropriação visual, desse verdadeiro

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aprendizado. Estamos em um momento de compreensão de inúmeras definições

dessa linguagem visual, pois somos expostos a ela sabendo de forma elementar

distinguir essencialmente formas, estruturas, texturas, contrastes, cores,

profundidades, proporções, etc. Ou seja, possuímos alguns códigos básicos para a

compreensão visual mínima dos ambientes a nossa volta bem como os objetos que

produzimos e inserimos dentro de nossa realidade imediata.

Segundo Dondis (2007, p.86) somos capazes de reproduzir a realidade que nos

cerca através da câmera, mas que, fundamentalmente, podemos “preservá-la e

expandi-la com a mesma simplicidade de que somos capazes através da escrita e

da leitura” e neste sentido, o que é mais importante, “através da impressão e da

produção em série da linguagem”. Isto significa a possibilidade de estabelecermos

uma espécie de linguagem através das formas visuais, e que estas podem formar

um vocabulário mais consistente à medida que são assimiladas como um código

comum. Entretanto, essa não é uma tarefa fácil. Basicamente é necessário que se

construa uma forma com que se possa entender, aprender e expressar a

comunicação visual como um todo. Essa “competência” deve ultrapassar o “nível

primário” de observação da realidade, sendo necessário que se compreenda pelo

menos a formação da estrutura que compõe a mensagem visual, e desta forma, de

acordo com Dondis (2007, p.85) esta estrutura estaria dividida em três níveis de

percepção:

Nível Representacional – aquilo que vemos e identificamos com base no meio

ambiente e na experiência;

Nível Abstrato – a qualidade cinestésica de um fato visual reduzido a seus

componentes visuais básicos e elementares, enfatizando os meios mais

diretos, emocionais e mesmo primitivos da criação de mensagens;

Nível Simbólico – o vasto universo de sistemas de símbolos codificados que o

homem criou arbitrariamente e ao qual atribuiu significados.

A capacidade de registrarmos visualmente um fato, um momento ou um objeto,

repousa sobre o nível representacional, e assim como nosso aparelho visor registra

o contexto a nossa volta, ou seja, a realidade imediata, esta se torna segundo

Dondis (2007, p.87) “a experiência visual básica predominante”, pois parte-se do

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princípio que a representação se torna a imagem fidedigna “da experiência direta do

ato de ver”. O ser humano só foi capaz de reproduzir com tamanha precisão aquilo

que seus olhos viam, com o desenvolvimento das técnicas de pintura renascentistas,

que passaram a representar o mundo da mesma forma como ele se apresentava.

Mas, com o surgimento da câmera fotográfica, que para Dondis (2007, p.88) “se

equipara à habilidade do olho e do cérebro, reproduzindo (...) seu meio ambiente

real”, esta se tornou a forma mais comum nos dias de hoje de reproduzirmos a

realidade tal e qual a presenciamos. Isto, de certa forma, representa em termos

técnicos o surgimento de uma forma de expressão livre de subjetividades, não fosse

também o caráter de percepção individual que cada ser humano emprega na

representação daquilo que consegue captar visualmente no ambiente, e a utilização

da câmera fotográfica, assim, não foge do ímpeto do olhar particular de cada um.

Neste sentido, Dondis (2007, p.88) salienta que “na experiência direta, ou em

qualquer nível de escala de expressão visual, da foto ao esboço impressionista, toda

experiência visual está fortemente sujeita à interpretação individual” e, sendo assim,

nossa forma de representar aquilo que vemos depende do queremos salientar no

momento de cada registro, ou seja, a representação do que vemos é fruto do que

queremos que vejam, e não do que efetivamente pode ser visto.

Já o Nível Abstrato, por sua vez, considerado por Dondis (2007, p.90) como um

processo de “redução dos fatores visuais múltiplos os traços mais essenciais e

característicos daquilo que está sendo representado”, surge da possibilidade de

arbitrariamente a representação inicial atingir o estado de simplificação visual, e

dentro dessa perspectiva, surgem duas formas de abstração:

Abstração simbólica, que às vezes possui significado identificável ou

arbitrariamente instituído;

Abstração pura, que representa a redução da manifestação visual aos

elementos básicos e não conservam relação alguma com qualquer imagem

representacional extraída da experiência do meio ambiente.

Do ponto de vista da abstração simbólica, se faz necessário que haja certa

educação do público que convive com tal expressão visual, par que esta seja

suficientemente clara em sua comunicação. Assim, tem-se que a abstração

simbólica “requer uma simplificação radical, ou seja, a redução do detalhe visual a

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seu mínimo irredutível”. Desta forma, quando da sua exposição, este deve ser

reconhecido de maneira fácil e enquanto código deve ser compreendido em sua

essência. Em termos de linguagem a abstração simbólica tornou-se a base de

inúmeras formas de comunicação ao redor do mundo, pois sua manifestação lhe

confere o grau de veículo propagador de mensagens de maneira muito mais rápida

do que qualquer outra forma subjetiva de expressão, ou seja, a abstração simbólica

estabelece um código preciso de significado arbitrariamente imposto, não havendo

com isso a possibilidade para falsas interpretações.

Figura 22. Exemplos do Nível de Representacional e Abstrato.

Fonte: DONDIS, 2007.

Exemplos de abstração simbólica são a cruz, que representa o catolicismo, a estrela

de seis pontas ou “estrela de Davi” símbolo dos Judeus, o “V” de vitória utilizado

primeiramente por Winston Churchill, em menção a vitória na segunda Guerra

Mundial sobre alemães e que depois virou símbolo de paz por alguns jovens nos

Estados Unidos que eram contra a Guerra do Vietnã.

O outro tipo de abstração revela um caráter diferente do que representa a abstração

simbólica, e que basicamente não carrega consigo um significado específico. A

chamada abstração pura, segundo Dondis (2007, p.94-95) “também é um processo

de abstração, que, na verdade, é muito mais importante para o entendimento e a

estruturação das mensagens visuais”. Neste sentido, a autora traça um paralelo que

estabelece a relação existente de uma informação visual de caráter

representacional, que se torna mais específica à medida que se assimila seu

significado, e a informação visual abstrata, que acaba por assumir um caráter mais

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geral e abrangente, livre do vínculo simbólico ou da associação visual com algo

existente e reconhecível.

Nas questões visuais, a abstração pode existir não apenas na pureza de uma manifestação visual reduzida à mínima informação representacional, mas também como abstração pura e desvinculada de qualquer relação com dados visuais conhecidos, sejam eles ambientais ou vivenciais. (DONDIS, 2007, p.95)

Para Dondis (2007, p.100) “o significado se encontra na subestrutura, nas forças

elementares e puras”, e assim, a abstração pura que revela essa composição

elementar de formas da mensagem visual possui “grande intensidade em termos de

comunicação”. Basicamente a conclusão da autora aponta para uma associação

entre o nível representacional e abstrato, no sentido do segundo existir naturalmente

no momento em que o primeiro é representado.

(...) mesmo quando estamos diante de um relato visual extremamente representacional e detalhado do meio ambiente, esse relato coexiste com outra mensagem visual que expõe as forças visuais elementares e é de natureza abstrata, mas que está impregnada de significado e exerce uma enorme influência sobre a resposta. A estrutura abstrata é a composição, o design. (DONDIS, 2007, p.101)

Esta relação entre os níveis representacional, abstrato e simbólico, também

evidencia o que Dondis (2007, p.105) sugere que seja a “chave da percepção”. Para

a autora a “experiência cumulativa de input informativo”, onde o receptor de qualquer

mensagem visual inverte a ordem do processo criativo utilizado pelo emissor de tal

mensagem, aponta para os indícios de que este receptor identifica primeiramente os

fatos visuais, através das informações no ambiente para em seguida proceder com a

visualização do conteúdo compositivo dessas informações. Ou seja, o indivíduo

identifica na representação o significado, para num segundo momento reconhecer o

caráter abstrato da composição do que percebeu. Neste sentido, a autora reforça a

idéia de que “a interação entre propósito e composição, e entre estrutura sintática e

substância visual, deve ser mutuamente reforçada para que atinja uma maior

eficácia em termos visuais”. Assim, a “anatomia da mensagem visual” que constitui-

se na relação entre esses níveis, torna-se a “força mais importante de toda a

comunicação visual”.

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CAPÍTULO III

3.1 METODOLOGIA

Ciência e Design nem sempre tiveram uma relação de proximidade, principalmente,

se levarmos em consideração que, até início do século XX, as duas atividades

caminhavam em direções opostas: uma preocupada com os fenômenos de caráter

natural e a outra com àqueles ligados à artificialidade da produção industrial. E, se

for possível dizer que a Ciência, a partir de Descartes, surge fruto de uma mudança

de pensamento em meados do século XVII, também o Design, enquanto processo

de concepção, desenho e produção de novos produtos (glíficos e gráficos) passou

por essa alteração em seu percurso. Fruto de uma Revolução Industrial, o Design,

como consagrado nos dias de hoje, surge essencialmente de processos outrora

artesanais, que conferiam a essa especialidade o grau de reles artifício ornamental

empregado somente ao final de qualquer processo de produção manufaturada. Mas,

foi a partir do início do século XX que a forma de se conceber produtos através do

pensamento científico pôde ser experimentada pela primeira vez por essa atividade

projetual.

O primeiro movimento no sentido de estreitar relações entre Design e Ciência surge

a partir dos anos 20, com o Movimento de Design Moderno. O surgimento desse

pensamento no Design esteve intimamente ligado às idéias de William Morris e o

movimento de Arts and Crafts, ainda no século XIX, que trouxe uma nova

perspectiva para o campo da concepção e produção de novos produtos, alterando a

visão que as indústrias tinham da figura do artesão e do artista. Essencialmente, a

relação entre esses dois movimentos culminou numa nova perspectiva não só para

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a prática do Design, mas também o pensamento de projetos para produtos

industriais.

A partir da década de 1920, o Design começava a desenvolver-se como um campo

de estudos com o objetivo de dar ao mercado, em franca expansão, profissionais

capazes de agir racionalmente em prol da otimização de recursos tanto exigida

pelas indústrias na fabricação de bens e utilização de sentido estético na busca de

formas e arranjos que aliassem simplicidade a funcionalidade. É dentro desse

contexto que a Staatliches-Bauhaus consolidou-se como uma escola que aliava a

expressividade do artista com a técnica e o conhecimento do artesão, formando daí

um profissional mais reflexivo diante da demanda do mundo moderno. Foi

basicamente dentro da Bauhaus, em seus diferentes períodos, que se pôde

consolidar a prática do Design como um campo que deveria lidar com uma nova

ordem industrial aliando técnica, ciência e arte, libertando-se, assim, das amarras do

passado.

Segundo Cross (2007, p.119) “(...) na maior parte do movimento moderno, vemos o

desejo de produzir obras de arte e design baseados na objetividade e racionalidade,

ou seja, sobre os valores da ciência.” Neste sentido, o Design a partir do surgimento

de movimentos que buscavam a ruptura com padrões do passado, passou a se

desenvolver dentro de uma lógica pautada pelo procedimento científico, fruto de sua

abertura para novos conhecimentos advindos de diferentes áreas do saber, e

conseqüentemente, acabou revelando que esse campo poderia ter muito em comum

com o processo que ocorre na Ciência.

Mas, foi depois da Segunda Guerra Mundial que se viu surgir a necessidade de

novos procedimentos com vistas a dar ênfase aos métodos de investigação e

técnicas de gestão, que as empresas, agora, precisavam adotar em suas

organizações. Foi neste momento da história que o Design, enquanto processo de

elaboração de produtos sob uma nova perspectiva, passou a responder em estreita

associação com o campo da Ciência. Assim, como explica Cross (2007, p.119) foi

através do tecnólogo Buckminster Fuller, a partir de 1960, que reivindicava um

modelo “baseado em ciência, tecnologia e racionalismo, para superar os problemas

humanos e ambientais” cujos problemas “não poderiam ser resolvidos por política e

economia” que se estabelece a “década da ciência do projeto”, e que culminou nas

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idéias de Herbert Simon em “The Sciences of the Artificial” publicadas em 1969,

onde o autor revela seu desejo de ver implantado nas universidades “uma doutrina

para processo projetual que fosse intelectualmente consistente, analítica, parte

formalizada, parte empírica e ensinável”.

Em contrapartida, foi nos anos 1970 que as críticas a “cientização do design”

surgiram de maneira mais contundente, principalmente por nomes como o do

arquiteto urbanista Christopher Alexander e o engenheiro J. Christopher Jones, que

passaram a contrapor as idéias de um processo metódico nas relações projetuais.

Seu principal argumento revelou-se a partir da constatação que a aplicação de

métodos científicos na prática do desenho projetual no cotidiano de escritórios e

empresas não havia tido sucesso.

Apesar das poucas evidências de resultados da aplicação da metodologia projetual

no cotidiano das práticas profissionais, os estudos dentro das faculdades de

Engenharia e Desenho Industrial nos anos 80 continuaram a ser expandidos, e

culminaram em uma série de publicações de livros e revistas científicas sobre o

campo do Design abordando as questões metodológicas da área. Entretanto, nessa

busca incessante da ciência projetual muitos dos trabalhos publicados também

procuravam ao mesmo tempo, paradoxalmente, fazer distinções entre o desenho

projetual e a ciência, e desta forma ressaltar as diferenças nos resultados buscados

de ambos os procedimentos. Um dos argumentos curiosos encontrados é o de

Simon (1969) apud Cross (2004, p.151), dizendo que “as ciências naturais estão

preocupadas com o modo como as coisas são... o desenho projetual está

preocupado com o modo como as coisas deveriam ser”.

De fato, se pudermos avaliar pelo menos o contexto a que se refere o autor, talvez

esta afirmativa pareça equivocada, pois existem pelo menos dois modos de

interpretar a intencionalidade do desenho projetual: a) através da perspectiva

profissional e, nesse sentido, Simon (1969) estaria com a razão; b) através da

perspectiva científica, e neste momento não nos parece que os procedimentos

utilizados pelas ciências naturais estejam longe daqueles utilizados no desenho

projetual. Assim, os resultados de ambos, no sentido científico, conseqüentemente,

nos levam a questionar o “por que” das coisas serem como são. Ou seja, enquanto

fenômeno, qualquer estudo científico necessita de abordagens metodológicas que

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devem ser particularmente adotadas de acordo a perspectiva investigativa da

proposta. Desta forma, não nos basta compreender a natureza artificial por métodos

que estejam condicionados às avaliações das ciências naturais e sim, por

mecanismos que corram lado a lado com as correntes metodológicas da prática

projetual, pois é delas que surge o mundo artificial que hoje nos cerca e que não

deixa de ser questionado sob a luz do conhecimento científico.

Cross (2004, p.152) relata que, na ocasião da Conferência Design:Science:Methods,

promovida pela Research Society em 1980, ficou o sentimento de que havia a

necessidade de se “parar de fazer comparações simplistas e distinções entre ciência

e desenho projetual”. Assim, segundo Cross (2007, p.121) “a ciência depois de tudo,

talvez tivesse algo a aprender com design”. Nesta mesma conferência Bruce Archer

publicou seu artigo intitulado “A View of the Nature of Design Research” que, em

uma de suas passagens, afirma que “o desenho (design), tal como a ciência, é um

modo de olhar o mundo e de aplicar sobre ele uma estrutura”. Para Cross (2004,

p.152) ressaltando as palavras de Glynn (1985), “tanto a ciência quanto o desenho

(design) (...) estão baseados em atos de percepção”. Desta forma, torna-se claro o

objetivo do procedimento científico e sua estreita relação com o design, pois ambos

acabam por complementarem-se em busca de alternativas metodológicas diante de

problemas de pesquisa ou de projeto.

Diante do que foi exposto, trazemos outra consideração que advoga a favor do

procedimento metodológico projetual como alternativa de embasamento da

metodologia de pesquisa. Esta consideração está embasada nas idéias de Herbert

Simon que afirma existir um estudo específico sobre a arte e técnica de projetar que

formam um campo comum entre ciência, arte e tecnologia. Segundo Cross (2004,

p.157) “tal estudo seria interdisciplinar e acessível a todos os envolvidos na atividade

criativa de fazer o mundo artificial (o que inclui o gênero humano, efetivamente)”.

Desta forma, este primeiro enfoque revela que apesar dos inúmeros procedimentos

científicos, talvez nenhum deles seja completamente aplicável aos fenômenos da

construção do mundo artificial, e assim, somente com um corpo intelectual cultivado

em estreita convivência com os avanços da tecnologia do projeto, seria capaz de

avaliar com lucidez seus efeitos em uma pesquisa científica voltada para essa

temática.

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Não nos interessam conversações que não conectem as sub-disciplinas, que falhem em alcançar a compreensão comum, ou em criar conhecimento e percepções novas. Criar a disciplina – não a ciência – chamada Desenho é uma tarefa paradoxal. Esta “disciplina interdisciplinar” buscaria desenvolver uma abordagem independente, em termos de domínio, da teoria e da pesquisa. O axioma que sustenta a disciplina é que há formas de conhecimento peculiares à consciência e a habilidade de um desenhador (designer), independente do domínio profissional em que ele atue. Do mesmo modo que as culturas das Ciências e das Humanidades se concentram nas formas de conhecimento peculiares ao cientista e ao humanista, temos que nos concentrar nos modos desenhísticos (projetuais) de saber, pensar e agir. (CROSS, 2004, p.157)

Outro ponto a ser destacado por Cross (2004, p.157) está no fato de que “devemos

evitar submergir a nossa pesquisa em culturas importadas das Ciências ou das

Humanidades”. Entretanto, afirma o autor “não significa que as ignoremos”. Isto se

deve, pois já conseguimos vislumbrar que a prática metodológica projetual possui

“consistente e apropriado modo intelectual” de abordar as temáticas de pesquisa,

quando estas estão voltadas às questões das construções artificiais do ser humano.

Para isso seria necessário “demonstrar padrões de rigor em nossa cultura intelectual

que sejam comparáveis àqueles outros”, e conseqüentemente validar os resultados

da pesquisa sob a luz da Ciência e do Desenho.

Evidentemente, os estudos na área do desenho (design) estão progredindo com a

contribuição de diversas áreas do saber. Entretanto, podemos dizer que já existe

corpo teórico especifico para propostas de novas abordagens metodológicas que

tratem dos aspectos dos fenômenos do mundo artificial. Desta forma, as linhas de

estudo propostas por Cross (2004, p.158) estão concentradas em três grandes

fontes de pesquisa: as pessoas, os processos e os produtos. Essas três fontes

possuem seus próprios desafios, enquanto campos de pesquisa, e evidentemente,

necessitam de instrumentos metodológicos adequados para a construção do saber

em cada um deles.

Nas pessoas, por exemplo, concentram-se estudos ligados à capacidade projetiva

do ser humano, e qual seu grau de intervenção no mundo artificial, por meio de uma

habilidade específica. O fruto das pesquisas, nesse campo, auxiliará que novas

perspectivas acadêmicas sejam tomadas na evolução das ferramentas de

aprendizado projetual nas universidades, e por que não dizer, possam também ser

implementadas nas redes públicas de ensino no país, construindo uma educação

mais reflexiva, principalmente sobre a ação do ser humano na construção do mundo

artificial. Outro ponto destacado por Cross (2004), dentro das linhas de estudo sobre

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o Design, está no próprio processo empregado pelas pessoas nos empreendimentos

projetuais, e neste sentido, revela maior atenção e foco voltados aos procedimentos

adotados por designers na construção do artificial. São, basicamente, observações

das táticas e estratégias para se conceber uma série de artefatos, ambientes e

comunicações que formam o conjunto construído essencialmente pela mão do

homem. Neste sentido, é preciso avaliar que a evolução tecnológica nos impõe que

estudos voltados aos métodos de projeto estejam em constante renovação,

acompanhando assim as propostas de inovação na área do Design. E por último,

concentradas no resultado da intervenção do homem através do projeto, estão as

pesquisas sobre os produtos que montam o conjunto do meio ambiente artificial que

nos circunda, e neste campo, o pesquisador poderá optar por três vertentes,

segundo Gomes & Brod Jr. (2007): a) desenho de ambientes; b) desenho de

comunicação; c) desenho de artefato.

São basicamente estes pontos em que podem se desdobrar as propostas de

pesquisa na área do Design, sendo adotada por Cross (2004, p.160) a seguinte

taxonomia para o campo da pesquisa em Design:

Epistemologia do Desenho (Design) – estudo dos modos desenhísticos

(projetivos) de saber;

Praxiologia do Desenho (Design) – estudo das práticas e processos

projetuais;

Morfologia do Desenho (Design) – estudo das formas e configurações.

A presente proposta de pesquisa concentra-se especificamente no campo de

pesquisa da Morfologia do Desenho (Design), proposta por Cross (2004), e que pelo

caráter investigativo sobre o produto do Design, convergem as propostas da divisão

do Desenho Projetual de Gomes & Brod Jr. (2007) em: desenho de ambiente,

desenho de comunicação e desenho de artefato. Neste sentido, cabe esclarecer

que, apesar de seus objetos de estudo estarem em linhas de pesquisa próprias de

conhecimentos específicos, não podemos negar que o ambiente urbano é o espaço

que congrega e relaciona naturalmente estes três enfoques do Desenho Projetual

(ambiente, comunicação e artefato), seja através do ambiente físico em si,

característico por sua cultura e morfologia própria, e assim, com reflexões

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particulares, pela presença de meios de comunicação visual ou objetos dispostos

neste ambiente, que evidentemente, são as produções artificiais que o ser humano

planeja e implementa no corpo de uma cidade. É nesta avaliação entre ambiente,

comunicação e artefato que reside o caráter investigativo desta pesquisa, propondo

um olhar sobre a Morfologia do Desenho (Design) em espaços urbanos que

congreguem estes três enfoques.

3.1.1 Metodologia de Pesquisa

Reconhecer dentro do escopo de estudos do ambiente urbano uma metodologia que

balize de forma geral as ações da pesquisa é uma tarefa muito ampla, pois os

métodos existentes são tão diversificados quanto os problemas que se apresentam

no corpo das cidades. Assim, quando se trata de forma específica, o Desenho

Urbano – e aqui se pode ler: “campo disciplinar que convergem os estudos da

dimensão física ambiental da cidade, dos sistemas físico-espaciais e os sistemas de

interação com a população” Del Rio (1990, p.54) Del Rio (1990, p.67) afirma que

“existem diversas teorias e propostas metodológicas para o Desenho Urbano.”, mas,

em contrapartida, “nenhuma delas é suficiente por si própria (...)”. Dentro desta ideia,

reconhece-se que a proposta metodológica para abordar a temática do ambiente

urbano, com o foco na análise sobre o problema da poluição visual nas cidades,

requer que busquemos uma nova perspectiva de estudo, capaz de adequar-se a

situação encontrada.

Diversas metodologias de Desenho Urbano (...) nos levam a diferentes dimensões de análise da cidade e conseqüentemente a compreensões diferenciadas. As diversas posições conceituais nos levam a identificar diferentes facetas das problemáticas analisadas que, por sua vez, solicitarão do “designer” diferentes posturas quanto ao desenvolvimento dos diversos caminhos para a elaboração das proposições de intervenção. (DEL RIO, 1990, p.67).

A fim de buscarmos na orientação de Del Rio (1990, p.67) a oportunidade de

revermos alguns procedimentos metodológicos que possuam total aplicação dentro

desta pesquisa do ambiente urbano, pautamo-nos pelo autor, quando este afirma

“que é exatamente da riqueza de dimensões analíticas e em sua complementaridade

que reside a sua força maior, possibilitando-nos uma maior oportunidade para uma

melhor compreensão da complexidade do fato urbano.” Torna-se claro nesse

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momento a intenção de, a partir da delimitação específica desta pesquisa, unir

alguns pontos de vista teóricos a respeito das conclusões possíveis tiradas do

ambiente de uma cidade, não para resolver o problema de forma geral, mas, antes

de tudo, estarmos amparados por procedimentos específicos e até para delimitar o

escopo do problema. Desta forma, segundo Del Rio (1990, p.67) há uma

necessidade de conhecimento de diversas teorias “utilizando-nos de cada uma

conforme a especificidade do problema, e podendo fazer uso de diversas visando

sua complementaridade.” Nos baseando nas orientações de Del Rio (1990)

prosseguimos na abordagem do problema da pesquisa proposto, buscando esta

diversidade de procedimentos para que ao final possamos elaborar um conjunto de

ações de pesquisa capazes de trazer visões complementares ao tema.

3.1.2 Metodologia Geral

A poluição visual, enquanto efeito das ações de degradação da paisagem urbana e

manifestada em um grau maior dentro das grandes cidades necessita de uma

avaliação que pressuponha uma forma metodológica de análise, pois se trata,

efetivamente, de um fenômeno que, neste caso, pode ser abordado sob diversos

pontos de vista, como àqueles advindos das áreas do desenho, da psicologia, da

antropologia, da história, da economia, entre outras. Hoje, ao observarmos com

atenção a composição física urbana, percebemos a grande quantidade de

elementos que, de uma forma ou de outra, pode nos servir como indício de estudo e

levar-nos a um procedimento de coleta de informações, análise de dados,

classificação de ambientes, organização categorial de elementos, etc. Em virtude

disso, queremos destacar, neste tópico, procedimentos metodológicos adotados por

alguns autores que abordaram o tema da observação da paisagem urbana, a fim de

entendermos as práticas da pesquisa acadêmica, quando esta, é voltada a analise

do ambiente de uma cidade e, conseqüentemente, refletir sobre o problema da

poluição visual segundo parâmetros científicos e desenhísticos.

Partindo desse princípio, em uma macro estrutura, Del Rio (1990, p.70) define que o

enfoque metodológico sobre o Desenho Urbano deva ser pautado por três esferas

que atuam em sobreposição e de acordo com seus procedimentos metodológicos

específicos. Estas esferas correspondem a:

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Concepção e Imagem (Análise Visual e Percepção do Meio Ambiente);

Comportamento ambiental;

Morfologia Urbana

A esfera de “Concepção e Imagem” é dividida em “Análise Visual” e “Percepção do

Meio Ambiente”. Dentro da Análise Visual, segundo Del Rio (1990, p.91) estaria a

“compreensão das mensagens, dos relacionamentos percebidos entre elementos

componentes de um conjunto e das emoções que nos transmitem, a lógica

condicionadora das qualidades estéticas urbanas.” Neste sentido torna-se uma

“análise subjetiva” como explica o autor, pois “depende basicamente da capacidade

de observação e interpretação do pesquisador, conseqüentemente permeada por

seus próprios sistemas de valores.”

A análise visual é um procedimento que possui inúmeros aspectos que vão da

capacidade de interpretação do que se vê, que nesse sentido, torna o julgamento

muito particular e, portanto, subjetivo, até os critérios quantitativos que podem

apontar de forma mais tangível a composição formal entre ordem e arranjo do que

está diante de nossos olhos. Ou seja, podemos estabelecer dois parâmetros na

Análise Visual, um de ordem qualitativa, que esteja engajado no reconhecimento da

qualidade visual do que se vê, ou outro de ordem quantitativa, que revela os

aspectos numéricos da avaliação visual.

Do ponto de vista da “Percepção do Meio Ambiente”, inúmeros autores, como Lynch

(2006), Cullen (2008) e Kohlsdorf (1996), além do forte embasamento psicológico

advindo dos estudos da Gestalt, trabalham com análises voltadas aos parâmetros

semânticos do contexto urbano. E nesse sentido, Del Rio (1990, p.96) destaca que a

importância desse enfoque estaria no fato da população buscar a percepção de

“lugares familiares em seu ambiente construído que estejam carregados de

memórias significativas e que possam gerar-lhes estabilidade psíquica e social.”

Além disso, a Percepção do Meio Ambiente em termos científicos já sugere através

de inúmeros trabalhos como os dos autores supracitados, que pode constituir-se em

um procedimento sistemático de compreensão em termos de prática científica. Essa

avaliação, então, coloca esta etapa de Percepção do Meio Ambiente, junto com a

Análise Visual, em destaque dentro dos aspectos de apreensão e compreensão dos

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fenômenos urbanos, sendo estes de ordem qualitativa ou quantitativa, quando

relacionados ao próprio usuário de seus espaços construídos.

Outra esfera de atuação, e com procedimento metodológico específico, que deve ser

abordada no estudo do espaço urbano é o “Comportamento Ambiental”, pois, pela

hipótese de Del Rio (1990, p.97), “de alguma forma, com alguma intensidade, nosso

comportamento e nossas ações são influenciados pelo ambiente físico-espacial que

nos cerca.” Isto significa dizer, que o ambiente em si que nos cerca influencia no

nosso comportamento e sendo assim “age como catalisador (positivo ou negativo)”,

pois se pressupõe que sua ação desperte reações, sejam estas de ordem física ou

psíquica. Entretanto, jamais o ambiente poderá agir como um condicionante aos

objetivos já estabelecidos pelos usuários quando da sua interação dentro de

espaços construídos, e, neste sentido, Del Rio (1990, p.97) afirma que o ambiente

construído “não poderá jamais determinar que tomemos ou não determinada ação

se isto não estiver em nossas metas mentais.”

O ambiente influencia nosso comportamento e gera esquemas territoriais nos usuários (conscientes e inconscientes); a intensidade e a forma do uso são proporcionais à qualidade do espaço e seus elementos. (DEL RIO, 1990, p.97)

Ainda dentro dessa esfera de atuação metodológica, Del Rio (1990, p.100) destaca

que “os métodos de análise do comportamento podem ser subdivididos em

observação direta ou indireta”. Para isso, o autor cita os estudos de Zeisel (1981),

que revela três definições do procedimento de análise no arranjo dos estudos sobre

o comportamento ambiental e dentro da perspectiva de uma observação direta, que

são:

A posição do observador (pesquisador) em relação ao observado;

Os instrumentos de registros; e

O que observar.

Basicamente, trata-se de uma organização das ações e instrumentos para que o

pesquisador coloque na sua atividade uma sistematização capaz de adaptar-se às

diferentes situações encontradas dentro ambiente urbano, mas que, sem dúvida,

constitui-se em “valiosa colaboração” ao ferramental do observador dos fenômenos

ocorridos dentro do ambiente pesquisado. E, outro ponto destacado, dentro da

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observação direta do comportamento ambiental, está na análise das interações no

espaço estudado. Dentro desse conceito, Del Rio (1990, p.101) sugere a adoção da

unidade básica de análise chamada “ambiente comportamental”, que possui os

seguintes itens:

Análise do comportamento padrão ou típico;

Análise das regras e propósitos sociais; e

Análise dos aspectos físicos específicos.

Assim, para Del Rio (1990, p.101), são temáticas básicas para o pesquisador

“compreender quais são os ambientes comportamentais de um espaço urbano,

como são apropriados, quais os comportamentos com que se relacionam e qual sua

periodicidade (...)”. A partir dessa perspectiva metodológica, destacamos que a

relação entre o espaço construído e o ser humano revela inúmeras facetas de

estudo que vão desde os aspectos que influenciam os usuários do ponto de vista

cultural e psicológico, até a análise da composição do próprio espaço e sua relação

dinâmica com quem o utiliza.

Dentro do enfoque que trata da composição do espaço urbano, um dos pontos

destacados por Del Rio (1990, p.71) está na preocupação com os métodos de

análise da “Morfologia Urbana”, que se constitui em um estudo “que surgiu a partir

de um questionamento das atitudes modernistas em relação às cidades históricas e

as relações sociais que as regem (...)”. No estudo morfológico do urbano, o autor

destaca, de forma pragmática, que a cidade pode ser compreendida em três níveis

de organização: a) coletivo; b) comunitário; c) individual. Nesse momento, estes três

níveis possibilitam que se estruturem os significados e as apropriações sociais. Ou

seja, é no âmbito da experiência do ser humano com meio ambiente artificial sendo

esta experiência de caráter particular ou pública, que convergem as relações

culturais e, conseqüentemente, as rotinas de cada espaço urbano.

Assim, quando tratado sob o ponto de vista coletivo, a interação dos usuários no

ambiente “(...) possui uma lógica estruturadora percebida inconscientemente e

coletivamente.” Isto, de fato representa a forma como nos acostumamos a interagir

dentro de um espaço público de acordo com um padrão geral de regras e

comportamentos, adotados em essência pela maioria das pessoas. Depreende-se

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com isso que, por exemplo, os fluxos de acesso aos espaços públicos, bem como os

códigos do tráfego de pedestres e veículos, caracterizam-se como abordagens

morfológicas de estudo do nível coletivo do espaço urbano, e é justamente pela

permanência em espaço público, dentro de um período maior de tempo, que os

usuários acabam inconscientemente compreendendo os códigos utilizados

publicamente, passando a adotá-los quando presentes nesses ambientes.

Já, a partir da perspectiva da análise morfológica do contexto urbano em um nível

comunitário destaca-se “(...) uma lógica com significados especiais apenas para um

restrito círculo de população (...)”. Desta forma, o bairro passa a ser o maior

referencial do estudo morfológico, passando a ser interpretado de acordo com a

experiência de uma comunidade especifica e sua relação com o contexto urbano em

que vive. Para concluir, Del Rio (1990 p.83) destaca que, a partir da dimensão

individual que se estabelece uma relação mais livre, que se “expressam os

significados individuais, a residência e seu espaço imediato, e, conseqüentemente, é

a que apresenta uma maior rapidez de mutações.”

Esta importante construção teórica do espaço urbano e a possibilidade de recorte

morfológico dos diferentes níveis de organização de seu ambiente representam,

senão, a maneira como podemos compreender metodologicamente a cidade em sua

estrutura mais evidente. Assim, dos espaços públicos até o interior das residências,

o comportamento dos indivíduos são bastante peculiares e moldam-se de acordo

com códigos específicos de comportamento, criados a partir dessa organização

coletiva, comunitária e individual, ou seja, do maior nível de interação ao menor.

Para finalizar, Del Rio (1990, p.83) aponta alguns temas e elementos para a

pesquisa morfológica do espaço urbano, que são:

Crescimento: os modos, as intensidades e direções; elementos geradores e

regulamentadores, limites e superação de limites, modificação de estruturas,

pontos de cristalização, etc.;

Traçado e parcelamento: ordenadores do espaço, estrutura fundiária,

relações, distâncias, circulação e acessibilidade etc.;

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Tipologias dos elementos urbanos: inventário e categorização de tipologias

edilícias (residências, comércio, etc.), de lotes e sua ocupação, quarteirões e

sua ocupação, de praças, esquinas etc.;

Articulações: relações entre elementos, hierarquias, domínios do público e

privado, densidades, relações entre cheios e vazios etc.

O espaço urbano constitui-se em um campo rico de possibilidades em termos de

análise, como podemos verificar a partir dos estudos de Del Rio (1990). Entretanto,

como procedimento de pesquisa, necessitamos ainda rever as abordagens

metodológicas que nos são oferecidas para condução das análises de caráter

científico e desenhístico. Assim, propomos, no próximo tópico, fazer uma revisão dos

procedimentos metodológicos utilizados por diversos autores e de diferentes áreas

relacionadas ao fenômeno urbano. Neste sentido destacamos as palavras de Lang

(1987), apud Del Rio (1990, p. 67) definindo que “teorias bem sucedidas consistem

de generalizações simples, mas poderosas sobre o mundo e como ele funciona, de

modo a nos permitir predizer com precisão as operações futuras.”

3.1.3 Metodologias Específicas

Diante de uma necessidade metodológica para tratarmos do contexto urbano,

entendemos que um dos primeiros procedimentos a destacarmos é a análise do

ambiente estudado. Neste sentido, muitos autores, como Oliveira (2003), Ferrara

(1993) e D’Agostini & Gomes (2010), admitem que, conhecer o ambiente estudado é

fundamental para compreendermos o contexto em que ocorrem as interações entre

os usuários e as informações. Partindo desse princípio, Oliveira (2003, p.44) sugere

que “a primeira atitude para identificar o que é lido na cidade é reconhecer a

abrangência desta leitura.” Dentro dessa perspectiva, seria necessário que

adotássemos um procedimento de classificação da “escala de percepção” do

ambiente estudado. Para isso, o autor cita Romero (2001), que define a escala de

percepção dividida em:

Escala da cidade: macro escala da grande dimensão das estruturas urbanas;

Escala do Setor: escala intermediária da área ou do sítio;

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Escala do Lugar: micro escala de dimensões específicas do lugar; e

Escala do Edifício: micro escala de dimensões específicas dos edifícios.

Através dessa classificação de Romero (2001) apud Oliveira (2003, p.44) podemos

obter uma forma de estudarmos as questões da manifestação da poluição visual no

ambiente conforme sua disposição em diferentes planos visuais. Nesse sentido,

Oliveira (2003, p.45) acrescenta que “cada escala gera um campo visual com suas

características dimensionais em relação à largura, altura e profundidade do campo.”

O conceito exposto por Oliveira (2003) cria um “quadro visual tridimensional”

formado pela relação de Altura (H), Largura (W) e Profundidade (P). Além disso, esta

nova relação, segundo o autor caracteriza “dois planos visuais”, o plano frontal

(campo visual) e o plano de fundo (foco).

Outro ponto destacado nessa análise tridimensional da escala de percepção do

ambiente, diz respeito à velocidade com que se tem contato com as informações

dispostas em cada contexto. Para Oliveira (2003, p.48), um dos maiores equívocos

relacionados à programação visual do espaço urbano é “a disposição e/ou a

quantidade de elementos presentes no espaço”, pois estes são “displicentes quanto

ao tempo necessário à leitura de acordo com a velocidade de locomoção do

observador.” Neste sentido, o autor admite que “as velocidades e o tempo de

observação (!t) são fundamentais para atribuirmos parâmetros de informação

vinculadas aos campos visuais e, por conseguinte a demanda mínima necessária

para ler-se.”

Esta análise do ambiente é de extrema importância tendo vista os diversos ângulos

e situações em que o usuário dentro do contexto urbano apreende as informações

contidas nele. Assim, esse instrumento de avaliação da dinâmica dos ambientes

pode nos servir como ponto de partida na análise da situação proposta por essa

pesquisa.

Mas, no âmbito geral da pesquisa de campo, Oliveira (2003, p.90) define que o

procedimento de investigação do estudo específico possua dois aspectos. O

primeiro diz respeito ao “alfabetismo visual”, ou seja, reconhecer no entorno

estudado a gama de elementos visuais que fazem parte da situação de análise, e o

segundo ponto seria a própria análise, formulando um roteiro que leve em

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consideração os parâmetros apontados como relevantes para a pesquisa de campo.

Assim, sua proposta metodológica contempla as seguintes etapas:

1. Identificação da Escala de Percepção;

2. Reconhecimento da intenção inicial da composição (conjunto observado);

3. Reconhecimento das intervenções na composição;

4. Identificar atributos relativos e absolutos presentes na composição atual;

5. Qualificar e/ou quantificar os atributos presentes na composição atual com ou

sem intervenção pautado pela melhor leitura (nível de legibilidade);

6. Identificar os leitores (usuários) do campo visual analisado;

7. Verificar o nível de conforto visual oferecido pelos campos visuais nos leitores

(usuários);

8. Concluir quanto à legibilidade e ao nível de conforto visual e bases para

definição quanto ao grau de poluição visual encontrada.

Outro ponto de vista importante dentro da pesquisa voltada ao contexto urbano diz

respeito à forma como devemos perceber o ambiente, providenciando incursões ao

local de estudo para colher evidências fidedignas ao seu aspecto e configuração.

Dentro disso, Ferrara (1993, p.155) assume que uma das exigências metodológicas

de uma pesquisa voltada a percepção do ambiente é a Contextualização, pois é ela

que fará uma análise “rigorosamente fiel e colada à realidade concreta do espaço”. A

autora destaca que a Contextualização, comparada a uma atividade, deve ser de

caráter reflexivo, “no sentido de tornar inteligível o contexto e de reconstruir as

regras de funcionamento e interferência daquelas variáveis contextuais na criação

de um lugar informado”. Neste sentido, fica clara a intenção de uma abordagem que

necessite do contato com o problema para podermos avaliar essas “variáveis

contextuais” diretamente no ambiente estudado. E nota-se também, que esse

procedimento é de fundamental importância para futuras avaliações do problema.

Para uma pesquisa de percepção ambiental, a contextualização é a primeira etapa metodologicamente orientada e de importância fundamental, porque dela depende o levantamento de hipóteses possíveis sugeridas por um contato ainda superficial com o espaço concreto, mas suficientemente sugestivo para permitir a apreensão de imagens urbanas que atritam a

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atenção e permanecem, para o pesquisador, como um desafio a ser respondido cientificamente, uma curiosidade que só será satisfeita quando a possibilidade daquelas hipóteses for superada pela generalização, capaz de explicar manifestações urbanas que, ocorrendo repetidamente em lugares diversos, permitem uma aproximação de lugares em um espaço mais concreto e real. (FERRARA, 1993, p.156)

A contextualização, destacada por Ferrara (1993), também pode ser encarada como

um método que, aqui, pode ser descrito em forma de “etapas fundamentais” para a

pesquisa. Ferrara (1993, p.155) descreve esse método em quatro etapas: 1. Ir para

ver; 2. Os lugares do espaço; 3. Os riscos do projeto; 4. A correção do projeto.

A primeira etapa (Ir para ver) consiste na percepção do problema em seu habitat. Ou

seja, para Ferrara (1993, p.155), estar no local onde ocorre o fenômeno é

fundamental para que se supere “a concepção abstrata do espaço contido nos frios

dados descritivos e/ou quantitativos de memoriais e relatórios..”. Neste sentido, é

necessário que o pesquisador vá até o local objeto da pesquisa e tenha “uma

atenção perceptiva para apreender a imagem e suas características.” Essa

importante etapa revelará, entre outras coisas, elementos do problema, bem como

as possíveis variáveis que somente a comprovação ou a percepção in loco poderia

informar ao pesquisador.

Na segunda etapa (Os lugares do espaço) o objetivo é fragmentar o local observado

para que possamos nos distanciar de um contexto generalizado. Para Ferrara (1993,

p.155) esse procedimento tende a “superar aquela totalidade que é uma conquista

abstrata, um esforço de generalização, mas uma visão afastada da experiência.”

Compreende-se com isso que, apesar da imagem de um determinado espaço

urbano possuir características próprias como é o caso de avenidas onde a

concentração de lojas representa, em essência, uma atividade comercial intensa

ainda assim seria preciso avaliá-la conforme as condicionantes de cada espaço em

especial. Para isso, depreende-se que a própria arquitetura das construções, bem

como elementos de comunicação visual, não se constituem num corpo único e

uniforme ao longo de uma avenida com características de intensa atividade

comercial: pelo contrário, alguns prédios históricos, por exemplo, possuem um

tratamento diferenciado no que tange a utilização de suas fachadas, e isso, por si

só, já determina uma percepção diferenciada da imagem totalizadora ou

generalizada do espaço urbano estudado.

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A terceira etapa, descrita como (Os riscos do projeto), revela duas atenções com

pesquisa, que segundo Ferrara (1993, p.155-156), “são cruciais para a

confiabilidade do seu produto”, ou seja, a validação dos resultados ou conclusões

tiradas do que foi observado no local da pesquisa. Ainda segundo a autora, “o

controle desses riscos é uma necessidade da pesquisa que só a informação

decorrente do confronto com a realidade é capaz de proporcionar.” Uma das

atenções diz respeito ao “intuicionismo” que corresponde a uma tendência de ver ou

criar um “espaço distante de parâmetros concretos.” Dentro desse conceito, tentar

tornar uma teoria relativa aplicável dentro de um contexto, como é o espaço urbano,

poderia afastar a real compreensão do que está sendo estudando ou observado, sob

o argumento de que essa intuição não pode ser comprovada, senão por

procedimentos metodológicos que a sustentem. Outro ponto de atenção está na

“tendência nominalista” que, segundo Ferrara (1993, p.155) “procura isolar as

características do espaço apreendido abstratamente e nomeá-las, acreditando que

essa atribuição de nomes é suficiente para que o espaço se concretize e adquira

realidade material.” Neste sentido, não basta que se atribua um nome ou se

classifique o espaço apenas por sua característica evidente, pois é necessário que

se some, a isso, uma análise do ambiente com suas condicionantes e interferências,

que só serão possíveis de constatação concreta no próprio espaço estudado.

Intuição e nomeação são características de todo projeto de pesquisa a fim de ser possível criar, de um lado, um simulacro da realidade e, de outro, a sugestão de inferências necessárias à elaboração de hipóteses explicativas, porém ainda muito artificiais. Apenas o confronto com o espaço, ou com o problema concreto a ser pesquisado, permite fazer com que aquela artificialidade das hipóteses transforme-se em dados possíveis de serem controlados indutivamente. (FERRARA, 1993, p.156)

A quarta e última etapa da Contextualização (A correção do projeto) descrita por

Ferrara (1993, p.156) é, basicamente, a substituição daqueles dados abstratos,

necessários para apoiar inicialmente o projeto de pesquisa, por evidências concretas

coletadas nas três primeiras etapas da contextualização. Para a autora, os dados da

contextualização coletados nas três etapas iniciais “estabelecem parâmetros

concretos que corrigem aquela abstração, interferindo, não só nas hipóteses

projetadas, mas, sobretudo, na seleção dos locais e do corpus da pesquisa.” Desta

forma, por mais assertivo que possa ser nossa inferência sobre o problema da

pesquisa, esta observação deve estar sempre sendo revista sob a “luz de uma

concepção do espaço menos geral, porém, mais concreta e vivida”. Ou seja, “parte-

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se do geral cientificamente conquistado, não para comprová-lo, mas para testá-lo e

corrigi-lo, se for o caso”. (FERRARA, 1993, p.156)

Este modelo metodológico proposto por Ferrara (1993) trata-se de uma forma de

coletar evidências e formular hipóteses dentro da perspectiva de percepção do

ambiente urbano sob a luz dos procedimentos da pesquisa científica, mas não deixa

de conter também a análise da pesquisa desenhística. Não é um procedimento que

busque efetivamente a análise do problema da poluição visual em si, mas, em

contrapartida, apresenta uma ordem processual capaz de adaptar-se ao problema

desta pesquisa. Ou seja, as etapas supracitadas poderiam adaptar-se a

necessidade e objetivos do projeto de pesquisa proposto.

A partir dessa reflexão, buscamos na literatura voltada ao planejamento de sistemas

de sinalização outra contribuição metodológica que vise aliar-se aos conceitos de

Ferrara (1993) sobre a captação e análise de dados da pesquisa. Para isso,

podemos citar a metodologia de D’Agostini & Gomes (2010) focada no projeto de

sistemas de sinalização, que possui uma importante reflexão em termos de coleta de

informação e interpretação das características do ambiente, do usuário e da

informação dentro de uma análise e compreensão do campo de estudo. Nessa

proposta metodológica, basicamente, os problemas enfrentados dentro de um

projeto de sinalização podem ser interpretados segundo variáveis que também

existem em uma situação de degradação da paisagem urbana. Assim, D’Agostini &

Gomes (2010, p.96) propõe que os elementos essenciais a serem observados,

quando do projeto de sistemas de sinalização, sejam: 1. Ambiente; 2. Usuário; 3.

Informação; 4. Função; 5. Gráfico; 6. Suporte.

Para D’Agostini & Gomes (2010, p.96) “em cada projeto devemos primeiramente

conhecer o Ambiente”. Neste sentido, o estudo deve passar pela análise e

interpretação das condições físicas do local. De forma geral, esta análise representa

a iniciativa do pesquisador em compreender a estrutura do lugar que é observado.

Assim, existem alguns pontos dentro do ambiente com total relevância, como o fato

de sabermos identificar o tipo de arquitetura do local estudado. Em projetos de

sinalização – onde na maioria das vezes se trabalha apenas com uma perspectiva

arquitetônica – este tipo de avaliação torna-se mais simples. Entretanto, seria

necessário adotar algum outro mecanismo de observação do ambiente urbano, pelo

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fato da coexistência de um grande número de edificações com características

diferentes umas das outras.

Outro ponto destacado por D’Agostini & Gomes (2010, p.97) é a identificação do

usuário desses espaços “trazendo diretrizes de ordem ergonômica e antropológica”.

Esta avaliação vai ao encontro de muitos autores que tratam dos aspectos que

envolvem a paisagem urbana e sua relação com o próprio habitante da cidade,

como Simmel (1979), Canevacci (1993), Ribeiro (2005) e Scocuglia (2006). Mas o

destaque que esta avaliação traz, no que se refere ao usuário, é poder determinar

de que forma ele utiliza o ambiente. Dentro dessa perspectiva, os registros visuais

que um pedestre tem ao caminhar pelas calçadas de uma determinada avenida

serão fundamentalmente diferentes da percepção do motorista do carro, do piloto da

moto, etc. Outro ponto destacado pelos autores revela a preocupação em traçar o

perfil fisiológico do usuário, como as suas condições de captação visual. Neste

sentido, observar se há algum tipo de déficit visual por parte de quem utiliza o

ambiente torna-se um dado a ser levado em consideração. Mas, a principal

orientação com relação à observação do usuário indicada por D’Agostini & Gomes

(2010) está no fato, de que, podemos classificá-los de acordo com a rotina de uso

do espaço construído, e dentro desse conceito, podem ser divididos em dois grupos:

1. Usuários habituados; 2. Usuários não-habituados.

Os usuários habituados, essencialmente, conhecem os ambientes a sua volta e

dispensam maiores informações sobre a rotina dos mesmos. Já os usuários não-

habituados necessitam “do auxílio imediato de informações para navegar pelos

ambientes.” Este dado torna-se de extrema importância, tendo em vista que um dos

maiores problemas da poluição visual em uma cidade é o acúmulo de painéis e

outros elementos nas fachadas de prédios, ou nas esquinas, dificultando o

reconhecimento das ruas e edificações à distância.

Para uma análise do tipo de mensagem disposta em um ambiente D’Agostini &

Gomes (2010, p.123-126) destacam o grau de assimilação por parte de quem a

recebe. Assim, seria necessário que a informação transmitida por algum tipo emissor

seja codificada de forma a ser facilmente decodificada pelo receptor se o objetivo for

o seu real entendimento. As mensagens gráficas visuais, por exemplo, segundo

D’Agostini & Gomes (2010, p.126) dividem-se em: a) Pictórica; b) Tipográfica; c)

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Cromática. As mensagens pictóricas constituem-se de imagens, desenhos,

ilustrações, etc. A mensagem tipográfica é composta por textos e palavras. Já a

mensagem cromática refere-se à utilização de cores para informar.

É importante observar que, seja qual for o tipo de mensagem visual que será disposta em um ambiente, a opção por trabalhar com algumas dessas alternativas deverá partir de um princípio lógico em que a informação deverá ser compreensível por todos que irão utilizá-la. Nesse sentido, seu código visual deve possuir a capacidade de expressar uma mensagem carregando consigo uma informação que deverá ser decodificada para uma posterior tomada de decisão. Por isso, quando se fala em informação, esta, deve ser compreendida como algo que é transmitido por alguém e recebido por outra pessoa, para desempenhar uma ação. (D’AGOSTINI & GOMES, 2010, p.126)

Outro ponto de destaque dentro da análise metodológica proposta por D’Agostini &

Gomes (2010, p.86) são as razões pela qual existem as necessidades de

intervenções ou propostas para melhoria dos ambientes estudados. Segundo os

autores, existem pelo menos três enfoques na observação do ambiente a fim de

criarmos critérios na proposta de um tema de pesquisa, que são:

a) Desordem informacional: que são as falhas nas informações;

b) Complexidade funcional: problemas de identificação de áreas ou acessos;

c) Necessidade comunicacional: falta de característica ou personalidade de um

ambiente.

Se dentro, dessa proposta, pudermos reconhecer que a “desordem informacional

representa, em essência, a falta de organização lógica da distribuição das

informações em dado ambiente, então, este item a ser observado,

fundamentalmente, poderá incorporar-se à análise sobre o tema da poluição visual,

no contexto específico desta pesquisa. Assim, podemos também evidenciar as

questões do melhor reconhecimento dessas informações pela análise de

“complexidade funcional”, a qual revelará o grau de assimilação e legibilidade da

informação no ambiente estudado. Para concluir, cabe destacar o papel do estudo

da “necessidade comunicacional” para as futuras tomadas de decisão no âmbito do

planejamento das políticas de ajuste da paisagem urbana nos locais apontados por

essa pesquisa onde se encontra o problema.

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Estes critérios juntam-se aos procedimentos de coleta de informações no campo de

pesquisa e assumem um papel fundamental na avaliação do problema in loco.

Unindo as metodologias propostas por Del Rio (1990), Ferrara (1993), Oliveira

(2003) e D’Agostini & Gomes (2010), e considerando suas abordagens, monta-se

aqui, um plano de ação, que visa enquadrar as diferentes tarefas da pesquisa

proposta, em etapas para condução do trabalho científico.

3.1.4 Método de Pesquisa

O método geral desta pesquisa está fundamentado nos trabalhos de Del Rio (1990),

Ferrara (1993), Oliveira (2003) e D’Agostini & Gomes (2010), em que os autores

expõem sua visão da análise geral dos ambientes propondo seus métodos de

avaliação, subdividindo especificamente os problemas relacionados a essa temática.

Procuraremos aqui estabelecer a convergência dos pontos de vista sobre a pesquisa

do ambiente urbano, a fim de obter maior aproveitamento quando da coleta de

dados, classificação e reflexão dos materiais obtidos.

Desta forma, propomos a seguir um conjunto de ações e procedimentos de pesquisa

relacionados ao tema que foi proposto com o foco na investigação do fenômeno da

poluição visual no trajeto da Rua dos Andradas, localizada no Centro de Porto

Alegre, pautados pelas considerações dos autores supracitados. Neste momento,

buscamos elaborar uma rotina na observação, coleta de dados e análise do

fenômeno que nos possibilite refletir e trazer a contribuição necessária para esta

pesquisa científica. Também, procuramos estabelecer uma organização sistemática

de etapas que vão desde a visita ao campo da pesquisa, passando pelo registro dos

fenômenos, até a tabulação e edição dos resultados. Assim, o procedimento

investigativo será dividido em três frentes de análise:

Análise do Ambiente

Análise do Usuário

Análise da Informação

Na Análise do Ambiente, ou seja, o espaço urbano escolhido, procederemos com a

tarefa de Identificação dos locais que estejam ou não sofrendo com os aspectos de

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poluição visual. Para isso, escolhemos a Rua dos Andradas por possuir contrastes

de utilização em seu espaço e que de certa forma evidencia em maior ou menor

grau o problema de poluição visual ao longo de seu trajeto. Através de incursões a

pé pela Rua iremos marcar no mapa a localização dos locais a serem destacados.

Munidos de câmera fotográfica procederemos com os registros dos locais apontados

através de fotos. Basicamente, neste momento, nos será importante não só os

aspectos de configuração do espaço em si, mas sua rotina de uso também. Assim,

com o registro fotográfico, procuraremos identificar o tipo de usuário que transita

pelos locais e qual é seu comportamento, o que posteriormente poderá ser

analisado conforme procedimento específico.

O Usuário do espaço analisado primeiramente será identificado de acordo com a

forma com que utiliza o ambiente. Neste sentido, será avaliada somente a forma que

utiliza para transitar pela Rua, ou seja, se a pé ou motorizado. Nesta parte do

procedimento nos interessa, especificamente, a relação de uso que o usuário tem

com o espaço construído, de acordo com critérios específicos.

Por fim, a análise sobre a informação irá considerar o conjunto de elementos visuais

identificados como o mobiliário urbano que está disposto no Ambiente da pesquisa.

Assim, procederemos com o registro fotográfico desses elementos de informação

dispostos no trajeto da Rua dos Andradas, identificando-os e categorizando-os

segundo critérios estruturais, funcionais e morfológicos. A seguir iremos discriminar

essas avaliações e definir as tarefas específicas de cada análise:

1) Análise do Ambiente:

a) Identificar no ambiente os locais que apresentem a incidência ou não de

elementos que contribuam para a poluição visual;

b) Classificar os locais segundo critérios estruturais (revelando aspectos de

infra-estrutura física do local pesquisado), funcionais (através da identificação

de uso do local, no trânsito de pedestres e veículos), e morfológicos (através

de sua composição entre elementos que formem sua paisagem).

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2) Análise do Usuário:

a) Identificar os usuários do ambiente pesquisado de acordo com a forma com

que utilizam o espaço;

b) Proceder com o registro fotográfico do comportamento dos usuários do

espaço pesquisado, identificando sua forma de utilização;

3) Análise da Informação:

a) Identificar os elementos do mobiliário urbano que compõe a paisagem urbana

desses espaços estudados;

b) Analisar sua relação morfológica no contexto em que estão inseridos;

A partir dos dados levantados nesta pesquisa, de acordo com o procedimento

explicitado, pretendemos criar um conjunto de informações para a posterior reflexão

amparada por corpo teórico específico na análise da Morfologia do Desenho

(Design) na relação entre ambiente, usuário e informação. Para isso, nos

apoiaremos nos estudos de Lidwell et. al. (2003) quando estes autores apresentam

um conjunto de princípios de design para a concepção de projetos, a fim de avaliar

sob a luz desses conceitos o atual estado da inserção do mobiliário urbano em

espaços públicos, e de que forma estes se relacionam diante do eminente problema

da poluição visual no trajeto da Rua dos Andradas em Porto Alegre.

Na reflexão sobre a metodologia abordada nesta pesquisa, pudemos organizar um

conjunto de ações apresentadas aqui e exploradas por diversos autores, como

forma de identificarmos os focos principais de análise que, neste trabalho, serão

utilizados como métodos de avaliação do problema apresentando pela inserção

desordenada do mobiliário urbano na Rua dos Andradas. Essa organização nos

permitiu obter um quadro bastante claro da seqüência de estudos que deveriam

pautar as ações da pesquisa, e é demonstrada no quadro a seguir, como forma de

explicitar os caminhos escolhidos deste trabalho.

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Figura 23. Abordagens Metodológicas adotadas na Pesquisa.

Fonte: Ilustração do autor.

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CAPÍTULO IV

4.1 RECORTE DA PESQUISA

A poluição visual, como visto no capítulo anterior, representa muito mais um efeito

de uma ação degenerativa da paisagem urbana do que a incidência específica de

um agente poluidor no contexto da cidade. Podemos citar como principal prejuízo a

difícil identificação e assimilação de diversas mensagens visuais que são colocadas

a nossa frente dentro do contexto urbano. Isto, de fato, representa um ponto de

destaque, principalmente, em ambientes com intensa circulação de pedestres e

veículos, como é o caso do centro de uma cidade grande como Porto Alegre,

aumentando consideravelmente o número de informações a serem registradas e

posteriormente a baixa atenção em outros pontos.

Ao longo do trajeto de qualquer rua ou avenida podemos notar que o excesso de

informações visuais, desde as fachadas das lojas até o próprio mobiliário, entre

postes de iluminação, lixeiras e sinalizações viárias, acabam contribuindo para a

sensação de caos visual, surgindo de forma pouco ordenada ou nenhum princípio de

arranjo entre si.

Assim, trata-se de uma pesquisa com recorte específico que visa primordialmente

questionar a estrutura, funcionalidade e morfologia, de uma rua, em toda sua

extensão, a fim de obtermos um cenário de como estamos pensando os projetos

para implementação do mobiliário urbano (postes de iluminação, sinalizações

viárias, lixeiras, etc.), e qual sua relação com o cenário urbano sob o ponto de vista

do excesso de elementos visuais e seu conseqüente efeito de poluição visual.

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Buscou-se nesta pesquisa, primeiramente, identificar uma região de Porto Alegre

que pudesse oferecer a possibilidade da alta incidência de elementos urbanos

diversos ao longo de uma rua específica, bem como a grande circulação de

pedestres e veículos em toda a sua extensão. Em termos gerais, o excesso de

informações a serem assimiladas pelo olho humano contribui para a sensação de

desordem no meio urbano; em contrapartida, a falta de orientações visuais,

evidentemente, representa também um problema não relacionado ao excesso, mas,

agora, à falta de informações específicas para a tomada de decisão no tráfego de

veículos e pedestres. Desta maneira, recorta-se nesta pesquisa:

1) O perímetro do ambiente estudado (a rua);

2) Os elementos para análise (mobiliário urbano x paisagem urbana);

3) O fenômeno a ser observado (poluição visual);

4) A morfologia do espaço (relação de ordem e arranjo da paisagem);

A relação entre o ambiente da pesquisa definido como a extensão total da rua

escolhida para análise, que possa oferecer um número considerável de evidências

do fenômeno da poluição visual é que recaem as avaliações da inserção do

mobiliário urbano, seguindo a partir da pesquisa de campo e estudo de caso sobre a

Rua dos Andradas, localizada no centro de Porto Alegre.

4.2 LEVANTAMENTO DE DADOS NA RUA DOS ANDRADAS

A atual Rua dos Andradas localizada no Centro de Porto Alegre, compreende uma

extensão de pouco mais de um quilômetro e meio, que inicia a partir da junção com

a Rua General Salustiano e termina na Praça Dom Feliciano. Trata-se de uma Rua

rica em contrastes devido à variada ocupação de seus espaços por parte do

comércio e do público que circula no local.

Pode-se dizer que suas primeiras quadras, que compreende as ruas General

Salustiano, General Vasco Alves e General Portinho, possuem uma ocupação

fundamentalmente de prédios residenciais. Neste trecho também se encontra a

Praça Brigadeiro Sampaio, que apresenta abundante arborização. Entre as ruas

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General Portinho e General Bento Martins concentram-se os quartéis militares, a

Igreja Nossa Senhora das Dores, além de pequenos comércios.

No trecho que inicia a partir da Rua General Bento Martins até chegar a Rua Caldas

Júnior, encontram-se diversos estabelecimentos comerciais de ambos os lados da

Rua dos Andradas, e é a partir desse ponto que a circulação de pedestres e veículos

se intensifica. Neste trecho, além da diversidade de estabelecimentos comerciais,

também se encontra a Casa de Cultura Mário Quintana e o Museu da Comunicação

Hipólito José da Costa. Outro destaque fica por conta da intensa arborização do

trecho que acaba obscurecendo a imagem do local.

A partir da Rua Caldas Júnior até a Rua General Câmara, pode-se notar a ocupação

de ambulantes que utilizam suas bancas para expor os mais variados tipos de

produtos, principalmente, o artesanato. Neste mesmo trecho, que abriga a Praça da

Alfândega, com abundante arborização, estão os estabelecimentos comerciais

dispostos à direita do percurso em direção a Rua General Câmara. Trata-se de um

ponto de intensa movimentação de pedestres, onde não se verifica o trânsito de

nenhum veículo.

O trecho da Rua dos Andradas que inicia a partir da Rua General Câmara até a Rua

Marechal Floriano Peixoto possui a característica marcante de prédios altos de

ambos os lados da via, além de registrar a intensa movimentação de pedestres que

transitam entre os diversos estabelecimentos comerciais existentes ao longo desse

trecho. Neste ponto, a profusão de elementos visuais atinge um grau elevado,

devido à falta de arborização e a reunião de diversos tipos de mobiliários urbanos

dispostos de forma concentrada no meio da via. Além disso, as fachadas das lojas

contribuem para a sensação de acúmulo de mensagens visuais ao longo do trecho.

Outro ponto a ser destacado é a ausência de veículos circulando neste ponto da

Rua dos Andradas, que só são vistos quando do seu cruzamento com a Avenida

Borges de Medeiros.

A partir do trecho que compreende a Rua Marechal Floriano Peixoto até a Rua

Doutor Flores, o trânsito de veículos e pedestres ocorre simultaneamente,

concentrando-se a circulação de transeuntes principalmente nas calçadas. De

ambos os lados os estabelecimentos comerciais dispõe seus elementos de

identificação de forma perpendicular para a visualização dos pedestres. Muitos

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elementos do mobiliário urbano acabam de certa forma prejudicando o trânsito nas

calçadas, e assim, obrigando que haja uma circulação paralela também na via por

onde transitam os carros. Trata-se de um trecho sem arborização.

O trecho final da Rua dos Andradas que inicia na Rua Vigário José Inácio e termina

na sua parte alta, de fronte a Praça Dom Feliciano, caracteriza-se como um ponto

onde o trânsito de veículos é maior, e, portanto, os pedestres acabam por

concentrarem sua circulação, principalmente nas calçadas de ambos os lados da

via. Alguns carros estacionados também acabam por formar uma espécie de

barreira impedindo com que os transeuntes circulem livremente entre um lado e

outro da via. Este trecho registra um grande número de estabelecimentos comerciais

de ambos os lados da rua, que utilizam das fachadas para expor suas marcas.

4.3 COLETA DE DADOS

Dada a característica particular encontrada em cada trecho, a coleta de dados, para

posterior avaliação, ocorreu a partir da divisão da Rua dos Andradas em sete

trechos, a fim de se estabelecer uma análise morfológica de acordo com a

característica visual de cada paisagem urbana registrada. Assim, os trechos foram

identificados da seguinte maneira:

Trecho A - Rua Gen. Salusiano / Rua Gen. Portinho

Trecho B - Rua Gen. Portinho / Rua Gen. Bento Martins

Trecho C - Rua Gen. Bento Martins / Rua Caldas Júnior

Trecho D - Rua Caldas Júnior / Rua General Câmara

Trecho E - Rua General Câmara / Rua Marechal Floriano Peixoto

Trecho F - Rua Marechal Floriano Peixoto / Rua Doutor Flores

Trecho G - Rua Doutor Flores / Avenida Independência

Posteriormente, seguiu-se com a definição, primeiro, do perímetro de cada trecho a

ser avaliado através da identificação do ponto inicial e final de coleta de dados e

registros fotográficos. As anotações seguem com o registro das principais

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características identificadas no local de análise, além do levantamento dos tipos de

mobiliário urbano em cada trecho registrado. Por fim, discorre-se pequenos

comentários sobre a forma como cada ambiente se comporta em termos de fluxos

de circulação, incidência de arborização e dificuldades com relação à visualização

dos elementos urbanos.

4.3.1 Trecho A – Rua General Salustiano / Rua General Portinho

O trecho entre as ruas General Salusiano e General Porinho caracteriza-se como

um ambiente formado por conjuntos residenciais com a incidência menor de

estabelecimentos comerciais. Esse trecho possui o alargamento da via o que

possibilita uma visão mais ampla de diversos elementos a longa distância.

Figura 24. Foto da paisagem urbana do Trecho A da Rua dos Andradas.

Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.

A pouca incidência de anúncios comerciais nas portas dos estabelecimentos diminui

a sensação de acúmulo de elementos visuais ao longo do trecho, entretanto, ao

chegarmos ao cruzamento entre a Rua dos Andradas e a Rua General Portinho,

percebe-se que esse problema aparece com mais evidência. Principalmente neste

ponto, podemos notar que a reunião dos veículos estacionados, com os elementos

urbanos como as placas de sinalização viária, de identificação de logradouro, poste

de iluminação pública e cartazes comerciais acabam por apresentarem-se como

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uma série de estímulos visuais reunidos em um mesmo local em um mesmo instante

de percepção da paisagem.

Figura 25. Vista aérea do Trecho A.

Fonte: Imagem do Google Earth (2009)

4.3.1.1 Principais Características do Trecho A

rua larga

Incidência de vegetação somente no lado esquerdo do trecho

Acúmulo de veículos estacionados em ambos os lados do trecho

Existência de uma praça na parte esquerda do trecho

Prédios residenciais no lado direito do trecho

Poucos estabelecimentos comerciais espalhados ao longo do trecho

Os postes de iluminação pública são os elementos marcantes ao longo do

trecho com maior incidência.

Baixa circulação de pedestres e veículos

4.3.1.2 Elementos Urbanos do Trecho A

Postes de iluminação pública

Sinalização viária

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Lixeiras

Postes da rede elétrica

4.3.2 Trecho B – Rua General Portinho / Rua General Bento Martins

Figura 26. Vista aérea do Trecho B da Rua dos Andradas.

Fonte: Imagem do Google Earth (2009)

O trecho entre as ruas General Porinho e Rua General Bento Martins caracteriza-se

como um ambiente com construções em ambos os lados deste trecho da via. Inicia-

se com a vegetação das árvores que formam uma espécie de pórtico de entrada

para o trecho. Em seguida os estabelecimentos comerciais começam a se reunir no

lado direito deste trecho e do lado esquerdo a área de segurança militar com os

quartéis da marinha e do exército. O maior problema deste trecho concentra-se na

má distribuição das placas de sinalização viária que acabam se cumulando em

determinado momento do percurso.

4.3.2.1 Características do Trecho B

rua com sentido único

Trecho que se caracteriza como área de segurança militar onde estão

localizados alguns quartéis que ficam na parte esquerda do trecho.

Incidência de vegetação esparsa ao longo do trecho

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Estabelecimentos comerciais reunidos em parte do trecho

Acúmulo de carros estacionados em algumas partes do trecho

Figura 27. Foto da paisagem urbana do Trecho B da Rua dos Andradas.

Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.

4.3.2.2 Elementos Urbanos do Trecho B

Postes de iluminação pública

Sinalização viária

Lixeiras

Postes da rede elétrica

Telefones públicos

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4.3.3 Trecho C – Rua General Bento Martins / Rua Caldas Júnior

Figura 28. Vista aérea do Trecho C da Rua dos Andradas.

Fonte: Imagem do Google Earth (2009)

O trecho entre as ruas Rua General Bento Martins e Rua Caldas Júnior caracteriza-

se como um ambiente mais fechado, com pouca luminosidade natural pela

incidência de intensa arborização neste trecho. A grande movimentação de

pedestres e veículos soma-se a profusão de elementos urbanos ao longo do trecho,

tais como postes de iluminação, placas de sinalização, mesas de bares, entre

outros. Alguns pequenos comércios como as bancas de jornal, lanchonetes móveis

e serviços de chaveiros acabam por contribuir para a sensação de acúmulo de

estímulos visuais neste trecho.

Figura 29. Foto da paisagem urbana do Trecho C da Rua dos Andradas.

Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.

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4.3.3.1 Características do Trecho C

Intensa circulação de pedestres

Incidência de abundante vegetação

Grande acúmulo de veículos estacionados em ambos os lados do trecho

Trecho com maior incidência de estabelecimentos comerciais

Calçadas mais largas e via mais estreita

Concentração de elementos urbanos

4.3.3.2 Elementos Urbanos do Trecho C

Postes de iluminação pública

Sinalização viária

Lixeiras

Postes da rede elétrica

Telefones públicos

Bancas de jornal

Parquímetros

4.3.4 Trecho D – Rua Caldas Júnior / Rua General Câmara

O trecho entre as ruas Caldas Júnior e General Câmara caracteriza-se como um

ambiente de intensa movimentação de pedestres que transitam entre a Praça da

Alfândega e os estabelecimentos comerciais que se reúnem ao longo deste trecho.

Nenhum veículo transita no local, que possui uma grande quantidade de ambulantes

ao longo do trecho. Outro detalhe é que a intensa arborização pela existência da

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Praça da Alfândega acaba por ser o elemento visual de maior incidência ao longo de

todo o trajeto.

Figura 30. Vista aérea do Trecho D da Rua dos Andradas.

Fonte: Imagem do Google Earth (2009)

Figura 31. Foto da paisagem urbana do Trecho D da Rua dos Andradas.

Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.

4.3.4.1 Características do Trecho D

Intensa circulação de pedestres

Nenhum trânsito de veículos

Intenso comércio de ambulantes

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Incidência de arborização na parte esquerda do trecho

Comércio ao longo do lado direito do trecho

4.3.4.2 Elementos Urbanos do Trecho D

Postes de iluminação pública

Telefones públicos

4.3.5 Trecho E – Rua General Câmara / Rua Marechal Floriano Peixoto

Figura 32. Foto da paisagem urbana do Trecho E da Rua dos Andradas.

Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.

O trecho entre as ruas General Câmara e Marechal Floriano Peixoto caracteriza-se

como um ambiente de intensa movimentação de pedestres circulando entre os

estabelecimentos comerciais ao longo do percurso. Chama atenção a grande

quantidade de estímulos visuais provenientes dos anúncios das fachadas dos

estabelecimentos comerciais e o acúmulo de elementos urbanos no centro da via.

Os prédios altos também são parte da característica deste trecho.

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4.3.5.1 Características do Trecho E

Intensa circulação de pedestres

Nenhum trânsito de veículos

Nenhuma incidência de arborização

Comércio ao longo de ambos os lados do trecho

Prédios altos nos dois lados do trecho

Grande quantidade de informações comerciais ao longo do trajeto

Incidência de elementos urbanos concentrados em um mesmo ponto

4.3.5.2 Elementos Urbanos do Trecho E

Postes de iluminação pública

Telefones públicos

Lixeiras

Bancas de jornal

Caixas de correio

Cavaletes de obras públicas

4.3.6 Trecho F – Rua Marechal Floriano Peixoto / Rua Doutor Flores

O trecho entre as ruas Marechal Floriano Peixoto e Doutor Flores caracteriza-se

como um ambiente de intensa movimentação de pedestres que circulam entre os

estabelecimentos comerciais que se encontram ao longo do percurso. A via neste

trecho possui uma largura reduzida onde passam veículos em baixa velocidade junto

com os pedestres. A profusão de informações visuais provenientes dos

estabelecimentos comerciais destaca-se na paisagem urbana deste trecho. Os

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elementos urbanos como postes de iluminação e telefones públicos acabam

dificultando a circulação intensa de pedestres pelas calçadas.

Figura 33. Vista aérea do Trecho F da Rua dos Andradas.

Fonte: Imagem do Google Earth (2009)

Figura 34. Foto da paisagem urbana do Trecho F da Rua dos Andradas.

Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.

4.3.6.1 Características do Trecho F

Intensa circulação de pedestres

Trânsito de veículos

Nenhuma incidência de arborização

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Comércio ao longo de ambos os lados do trecho

Prédios altos nos dois lados do trecho

Grande quantidade de informações comerciais ao longo do trajeto

Via com largura pequena

4.3.6.2 Elementos Urbanos do Trecho F

Postes de iluminação pública

Telefones públicos

Lixeiras

Placas de sinalização viária

4.3.7 Trecho G – Rua Doutor Flores / Avenida Independência

O trecho entre as ruas Doutor Flores e Avenida Independência caracteriza-se como

um ambiente de intensa movimentação de pedestres nas calçadas deste percurso.

O acúmulo de veículos no lado esquerdo deste trecho impede uma maior circulação

de pedestres entre as duas calçadas.

Figura 35. Vista aérea do Trecho G da Rua dos Andradas.

Fonte: Imagem do Google Earth (2009)

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Figura 36. Foto da paisagem urbana do Trecho G da Rua dos Andradas.

Fonte: Registro fotográfico realizado pelo autor.

4.3.7.1 Características do Trecho G

Trânsito de veículos

Nenhuma incidência de arborização

Comércio ao longo de ambos os lados do trecho

Acúmulo de veículos estacionados no lado esquerdo do trecho

Grande quantidade de informações comerciais ao longo do trajeto

Via com inclinação

4.3.7.2 Elementos Urbanos do Trecho G

Postes de iluminação pública

Telefones públicos

Lixeiras

Placas de sinalização viária

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4.4 AVALIAÇÃO DOS DADOS COLETADOS

A partir da coleta de dados realizada na Rua do Andradas através do registro

fotográfico e as anotações dos diferentes cenários urbanos, identificados ao longo

do trajeto, podemos iniciar as análises da paisagem conforme orientações

metodológicas já apontadas nos capítulos anteriores. Assim, buscaremos na

identificação de princípios de design apontados por Lidwell et. al (2007) o auxílio na

dinâmica de avaliação do material coletado.

A divisão dos diferentes trechos a serem avaliados permitirá que cada ambiente seja

analisado conforme suas características e necessidades próprias, bem como

indicará a possibilidade da utilização de princípios específicos em design como

parâmetro das análises para esses diferentes ambientes.

Ao longo do trajeto da Rua dos Andradas percebeu-se que a necessidade de divisão

dos diferentes trechos tornou-se fundamental, pois revelou os contrastes de

apropriação dos espaços e suas diferentes dinâmicas de circulação. Notou-se

também que a incidência de elementos urbanos como luminárias públicas, lixeiras e

telefones públicos não possuem alguma evidência que permita dizer que

efetivamente foram implantados neste cenário com qualquer respeito a princípios de

design. Desta forma, torna-se um campo rico para análises que se fundamentem por

esses princípios.

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129

CAPÍTULO V

5.1 ANÁLISE MORFOLÓGICA SEGUNDO PRINCÍPIOS DO DESIGN

A análise morfológica de uma paisagem urbana pode revelar inúmeras fontes de

estudo. Nesta pesquisa, que se concentra no impacto visual do mobiliário urbano no

ambiente de uma Rua em Porto Alegre, é importante que se criem critérios para a

avaliação da incidência desse mobiliário urbano ao longo de toda a sua extensão.

Assim, para que possamos definir os diferentes enfoques da análise morfológica da

paisagem urbana na rua escolhida para este estudo, e tornar claros os critérios

dessa análise, sentiu-se a necessidade de dividir as abordagens pelas quais vão

seguir as avaliações do cenário urbano em que ela se encontra, para que possamos

posteriormente utilizar esses critérios como condicionantes na inclusão de princípios

de design dentro da avaliação da disposição do mobiliário urbano nos diferentes

cenários encontrados. Dentro desta pesquisa a análise parte, então, de três frentes

de avaliação, citadas no capítulo anterior, e que se concentra na: a) Análise do

Ambiente; b) Análise da Informação; c) Análise do Usuário.

Pretende-se com isso criar uma divisão clara dos enfoques a serem abordados com

vistas a utilizar essa divisão na adequação à princípios do design para reger esse

conjunto de análises. Dentro dessa perspectiva, a iniciativa de trazer os princípios do

design a luz de discussões sobre o cenário urbano e sua relação com os objetos que

normalmente são encontrados em seu espaço, nas mais variadas formas e

disposições, pretende revelar de que forma podem ser projetados, não só um

mobiliário urbano melhor, mas também, como seria sua inserção na paisagem

urbana de uma grande cidade respeitando princípios adequados de projeto.

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Para tanto, utiliza-se nesta pesquisa três princípios de design, que estão diretamente

ligados ao contexto imediato dos ambientes urbanos (Análise do Ambiente), ao

objeto específico de análise, e que neste caso representa uma informação visual

(Análise da Informação), e o usuário deste ambiente, que percebe a informação

visual destes objetos dentro do cenário urbano (Análise do Usuário).

Figura 37. Relação entre os tipos de análises da pesquisa e três princípios de projeto.

Fonte: Ilustração do autor.

O primeiro princípio, ligado à Análise do Ambiente, é a relação entre Figura e Fundo,

que entre outras coisas define a relação imediata entre o cenário urbano e o próprio

mobiliário urbano. Dentro desse princípio, algumas avaliações tornam-se essenciais,

como a relação existente do contraste do mobiliário urbano com a paisagem que o

cerca. Além disso, as avaliações podem seguir evidenciando as questões formais e

cromáticas desse mobiliário quando inserido no ambiente urbano.

O segundo princípio está ligado à frente de Análise da Informação. Trata-se do

princípio da Similaridade, em que as análises concentram-se especificamente na

relação entre o objeto com objeto. Esse princípio é de caráter comparativo, e visa

avaliar o conjunto de elementos urbanos dispostos em um mesmo cenário,

analisando seus tamanhos, materiais e as orientações em que estão expostos.

O terceiro princípio, o da Acessibilidade, evidencia a relação entre o usuário e o

mobiliário urbano, trazendo questões como a boa legibilidade dos espaços urbanos,

a segurança dos usuários ao transitarem sem obstáculos proporcionados pela má

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implementação do mobiliário urbano na vias da cidade, e o acesso a um fluxo sem

interrupções. Este princípio está diretamente ligado à Análise do Usuário.

Além desta definição utilizamos a técnica analítica sugerida por Gomes & Medeiros

(2007), que é definida para a avaliação de produtos industriais, cuja relação é dada

segundo uma escala de Alta, Média e Baixa Ordem de fatores projetuais,

originalmente tratada em Gomes (1998, p.139-141) quando este autor se refere à

ordem geométrica de representações gráficas.

Figura 38. Análise de baixa, média e alta ordem do fator geométrico em produtos industriais.

Fonte: Gomes; Medeiros (2007)

Esta classificação permite que possamos estabelecer parâmetros na observação do

que é considerado como Alta ordem, neste caso, atribuída para àquelas relações em

que se possa definir a excelência completa no atendimento a algum princípio de

design, e o que poderíamos considerar como Baixa ordem, que do contrário

representa uma avaliação com o mínimo atendido segundo determinado princípio do

design. Trata-se evidentemente de uma escala de valores, onde Alta ordem

representa o máximo atendido, a Média ordem representa o atendimento parcial do

princípio abordado, e a Baixa ordem o mínimo de atuação de determinado princípio

sobre a relação entre mobiliário urbano e a paisagem urbana.

5.1.1 As relações de Figura e Fundo na Paisagem urbana.

Quando um dado objeto é disposto em um ambiente logo se percebem as relações

entre este e seu entorno imediato. A primeira percepção fica por conta de que não

existe uma união por completo entre todas as informações em um dado campo

visual, assim, cada objeto representa uma figura circunscrita por uma linha que

define sua forma. A relação existente entre o objeto imediato e o plano que compõe

o cenário em volta deste objeto é considerada como uma relação entre Figura e

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Fundo. Segundo Lidwell et. al. (2003, p.80) este é um dos princípios de percepção

visual advindos da Gestalt, onde “o sistema perceptual humano separa estímulos

entre elementos de figura e elementos de fundo”. Ainda, de acordo com esse

princípio normalmente as figuras recebem maior atenção, pois se constituem no foco

de observação dentro de um campo visual “tornando a composição clara, e estável”.

Do contrário, quando não se tem definida claramente a relação entre a figura e o

fundo de uma cena “a relação é ambígua e pode ser interpretada de diferentes

maneiras”. Desta forma, pretende-se a partir deste critério tornar clara a avaliação da

figura, neste caso, o mobiliário urbano, e sua relação com a paisagem urbana, que

representa o fundo da composição visual.

Um dos pontos a serem avaliados dentro do princípio da Figura e Fundo são as

relações de constante, como a luminosidade de um objeto em relação ao cenário em

que está inserido, e desta forma, este objeto pode ou não destacar-se um dado

ambiente, como o de uma grande cidade. Este critério diz respeito ao Contraste

entre a luminosidade deste objeto com o ambiente a sua volta. Quanto mais claro

um objeto for a um fundo de completa escuridão, mais destaque terá em relação ao

seu entorno, do contrário, quanto mais escuro este objeto em relação ao mesmo

entorno escuro, sua presença praticamente não será notada.

Figura 39. Aspecto do contraste na relação entre Figura e Fundo.

Fonte: Ilustração do autor.

Outro ponto de destaque na relação Figura e Fundo está na Forma desse objeto.

Dentro desse critério de análise devemos considerar também o próprio cenário em

que um objeto é inserido. A Forma de um objeto será destacada se o ambiente a

sua volta possuir certa uniformidade, e desta maneira, formatos diferenciados

implementados em um cenário urbano possuem uma alta taxa de atratividade, pois

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acabam diferenciando-se das demais informações visuais que possam estar na

mesma paisagem ao fundo destes objetos.

Figura 40. Aspecto formal da relação entre Figura e Fundo.

Fonte: Ilustração do autor.

A cor também representa um fator relevante na relação entre a Figura e Fundo. O

objeto com cores mais intensas acaba se destacando na paisagem urbana pelo fato

das cidades possuírem um aspecto acinzentado. Códigos de cor geralmente são

utilizados em placas de sinalização viária para chamar a atenção de usuários para

informações importantes de circulação nas vias, e desta forma são elementos

visuais já assimilados pela grande maioria do público e acabando, assim, por não

representar um problema dentro do cenário urbano.

Figura 41. Aspecto cromático da relação entre Figura e Fundo.

Fonte: Ilustração do autor.

5.1.2 As relações de Similaridade na Paisagem Urbana

Os parâmetros para a Análise da Informação, que está disposta no ambiente, podem

ser definidos de acordo com as características que a própria informação possui.

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Desta forma, o princípio da Similaridade atua neste ponto como um balizador de

caráter comparativo da informação a ser analisada. O mobiliário urbano disposto ao

longo de um percurso com diferentes cenários urbanos sempre revelará alguns

atributos que são próprios de sua composição, como por exemplo, o tamanho de

sua estrutura em relação ao contexto imediato. Assim, basicamente, compara-se

neste momento a relação entre os diversos objetos que estão em um mesmo

ambiente, a fim de evidenciar alguma relação em todo o conjunto de elementos

visuais inseridos neste local específico.

Segundo Lidwell et. al. (2003, p.184) o princípio da similaridade afirma “afirma que

elementos semelhantes são percebidos como um único grupo ou bloco, e são

interpretadas como sendo mais relacionada do que elementos díspares”. Dentro

desta avaliação, um conjunto de elementos que ofereça diversas informações

visuais, e estas sejam distintas entre si, representaria uma condição mais complexa

em termos de compreensão.

Figura 42. Diferentes materiais utilizados na fabricação do mobiliário urbano.

Fonte: Registros fotográficos realizados pelo autor.

Um dos pontos a serem observados diz respeito aos materiais que estes elementos

são constituídos. Esse caráter revela o grau de padronização na estrutura desses

objetos, além de caracterizar um aspecto único em sua fabricação tornando o

conjunto do mobiliário urbano existente no ambiente com grau de semelhança maior

o menor. A figura 42 mostra claramente a diferença de substratos empregados no

mobiliário urbano, como um cavalete de obras confeccionado em madeira e a caixa

de correios que utiliza fibra de vidro e tubulação de metal. Evidentemente não se

questiona a utilização destes materiais, o ponto principal neste momento é

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evidenciar um cenário com a diversidade de objetos e os aspectos mais relevantes

de sua estrutura quando relacionados entre si.

Alguns elementos do mobiliário urbano também podem revelar diferentes tamanhos,

e neste sentido este critério de avaliação torna-se essencial na observação de sua

similaridade dentro do ambiente urbano. Além disso, um dos principais critérios a

serem revelados na análise sob o Princípio da Similaridade está ligado à orientação

em que estão dispostos estes mobiliários urbanos dentro de uma paisagem

específica. Esse critério revela o grau de similaridade na disposição de diversos

elementos em um mesmo plano. Alguns objetos, com a disposição em uma

orientação vertical diferem-se consideravelmente de elementos com orientação

horizontal, e essa relação deve ser evidenciada na análise de orientação em que o

conjunto do mobiliário urbano é implementado no ambiente. Neste momento,

analisa-se a relação entre todos os objetos do mobiliário urbano e sua similaridade

em termos de orientação dentro de uma paisagem urbana.

Figura 43. Avaliação das orientações em que o mobiliário urbano encontra-se na paisagem urbana.

Fonte: Registro fotográfico e ilustração do autor.

5.1.3 As relações de Acessibilidade na Paisagem Urbana

Nos dias de hoje, um dos maiores problemas encontrados no meio ambiente urbano

ainda está relacionado à falta de elementos que permitam os usuários com

limitações motoras ou físicas de transitarem com segurança pelos trechos de uma

rua. Muitas das recomendações e normas disponíveis para a boa implementação do

projeto de mobiliário urbano visam minimizar ou eliminar completamente os

possíveis problemas enfrentados pelos usuários em um ambiente de inúmeros

obstáculos como o da rua de uma grande cidade. Dentro desta idéia, a

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acessibilidade representa um fator de projeto a ser considerado em uma cidade com

múltiplas necessidades como a capital Porto Alegre.

Lidwell et. al. (2003, p.14) afirmam que o princípio da Acessibilidade deve ser

aplicado em projetos para serem “utilizáveis por pessoas de diversas habilidades,

sem adaptação especial ou modificação”. Dentro dessa idéia, justifica-se que o

mobiliário urbano, enquanto objeto físico em um ambiente, não deve ser modificado

ou adaptado para atender exclusivamente um grupo de usuários, sua fabricação e

implementação é que devem ser repensadas para adequar-se as capacidades

físicas e motoras de todos os usuários. Assim, dentro da avaliação que propomos

sobre a inserção do mobiliário urbano em um dado ambiente, percebe-se a

necessidade de considerar diferentes enfoques sobre o tema, a fim de reunir

parâmetros para a observação desses objetos em relação à utilização dos espaços

públicos estudados.

Um dos critérios que utilizaremos nesta pesquisa para a análise morfológica da

paisagem urbana é a legibilidade. Autores como Lynch (2006) abordam a questão

da legibilidade na paisagem urbana, entretanto, o enfoque adotado neste trabalho

propõe uma análise concentrada na observação do grau de interferência visual dos

objetos do mobiliário urbano acabam trazendo aos pedestres quando estes tentam

visualizar o horizonte de um cenário urbano. Desta forma, considera-se que a

paisagem urbana deve ser compreendida em essência. Quando qualquer objeto do

mobiliário urbano prejudica esta condição deve ser considerado como um obstáculo

para a visualização plena do ambiente.

Figura 44. Obstáculos que impedem a visualização da paisagem por completo.

Fonte: Registros fotográficos realizados pelo autor.

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Outro critério de análise diz respeito ao acesso que os usuários tem em determinado

ambiente. Os elementos inseridos em um cenário urbano não podem representar um

obstáculo físico aos pedestres de forma a estarem em locais onde não possam

prejudicar a circulação do público. Por este motivo procuramos estabelecer este

critério como condição na análise da inserção do mobiliário urbano no ambiente de

uma cidade. Muitos dos usuários que circulam por um ambiente urbano necessitam

de um espaço adequado ou de orientações claras para transitarem de forma segura.

Assim, é de extrema importância também que elementos do mobiliário urbano

possam ser inseridos no ambiente urbano com dispositivos que minimizem ou

eliminem de forma completa os acidentes ocorridos por esbarrões de usuários

nestes objetos ao longo de um percurso. A segurança deve ser avaliada, assim,

como critério de observação desse requisito na implementação do mobiliário urbano

no ambiente estudado.

5.2 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

Com o objetivo de criar uma sistematização na análise dos diferentes trechos da

Rua dos Andradas e buscar uma alternativa didática para o reconhecimento das

necessidades de princípios de design na relação entre paisagem urbana e o

mobiliário urbano, desenvolveu-se um conjunto de Logogramas, baseado nos

estudos de Gomes & Brod Jr. (2007), para auxiliar na identificação dos três

princípios de design descritos por Lidwell et. al. (2003), na relação entre o mobiliário

urbano e a paisagem urbana, que são: Princípio da Figura e Fundo; Princípio da

Similaridade; e Princípio da acessibilidade, Figura 45.

Figura 45. Logogramas dos Princípios da Figura e Fundo, Similaridade e Acessibilidade.

Fonte: Ilustração do autor.

Cada um dos três princípios supracitados será analisado sob três enfoques

diferentes. O princípio da Figura de Fundo reúne um conjunto de três análises que

se concentram na relação de Contrastes, Formas e Cores com a paisagem urbana,

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e são representadas conforme Figura 46. O princípio da Similaridade aborda o

conjunto de análises sobre as relações de Tamanhos, Materiais, e Orientações do

mobiliário urbano encontrado na paisagem urbana, e são representadas pela Figura

47. E o princípio da Acessibilidade é representado conforme Figura 48, destacando

as relações de Legibilidade, Acesso e Segurança entre usuários e o mobiliário

urbano disposto ao longo do trajeto da Rua dos Andradas.

Figura 46. Logogramas das relações de Contraste, Forma e Cor.

Fonte: Ilustração do autor.

Figura 47. Logogramas das relações de Tamanho, Materiais e Orientações.

Fonte: Ilustração do autor.

Figura 48. Logogramas das relações de Legibilidade, Acesso e Segurança.

Fonte: Ilustração do autor.

Cada uma das relações passará por uma avaliação a partir de uma escala que varia

entre alta, média e baixa ordem de fatores projetuais, citadas por Gomes & Medeiros

(2007), e que nesta pesquisa foi adaptada para a avaliação do emprego dos

princípios de design que irão reger as análises, cuja apresentação foi realizada

anteriormente. Os critérios para a classificação dos cenários urbanos e sua relação

com o mobiliário urbano em alta, média ou baixa ordem levará em conta aspectos

qualitativos dessa relação.

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139

Figura 49. Logogramas para análise morfológica da paisagem urbana segundo princípios do design.

Fonte: Ilustração do autor.

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140

5.2.1 Análise do Trecho A da Rua dos Andradas

Iniciando a análise do Trecho A, da Rua dos Andradas, dentro da relação entre

Figura e Fundo (mobiliário urbano / paisagem urbana) percebemos que o contraste

entre esses dois elementos não se apresenta em um grau elevado. Na relação entre

Figura e Fundo buscou-se analisar a Forma, Cor e o Contraste entre o mobiliário

urbano e a paisagem imediata. Neste sentido, pôde-se notar que a maior parte dos

elementos, fixados no chão por postes metálicos, acabam por assumir o mesmo

aspecto acinzentado dos prédios, e assim, não estabelecem uma relação de

contraste muito grande com a paisagem. Os elementos de informação, por sua vez,

ganham destaque, não só por sua forma, mas, pelas cores que acabam

contrastando com o entorno imediato.

Na maioria das vezes, esses elementos, como postes de iluminação e os fustes das

placas de sinalização não são visualmente percebidos na paisagem urbana.

Entretanto, os elementos acabam sendo percebidos por terem uma área de

informação maior, principalmente nas placas de sinalização, com fundos em branco

que contrastam com a paisagem do local.

Figura 50. Análise da Figura e Fundo de uma paisagem urbana do Trecho A.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

As formas encontradas são variadas o que leva sua classificação a uma escala de

Baixa Ordem, evidenciando esse aspecto negativo da profusão de formatos a serem

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141

reconhecidos nesse ambiente. A relação de Figura e Fundo desses elementos na

paisagem urbana, no Trecho, de maneira geral, foi avaliada em Média Ordem.

Ao analisarmos a relação de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano

constantes na paisagem urbana do Trecho A, da Rua dos Andradas, percebe-se que

suas formas verticais destacam-se como a característica principal, e assim, possuem

uma classificação entre Alta e Média Ordem na análise da Orientação em que estão

dispostos no ambiente. Os elementos variam muito em suas alturas, e por isso,

foram avaliadas entre Baixa e Média Ordem. Também podemos notar que a

fabricação dos elementos possui um critério principalmente na utilização de

estruturas tubulares de metal, entretanto identifica-se também a presença de outros

materiais como o vidro utilizado nas luminárias.

Figura 51. Análise de Similaridade de uma paisagem urbana do Trecho A.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Em alguns momentos no percurso deste Trecho a visibilidade foi prejudicada pelo

mobiliário urbano, entretanto, em nenhum momento cobriu completamente a

visualização da paisagem urbana deste local. A Legibilidade do Trecho apresenta-se

em Alta Ordem. Além disso, notamos que sua disposição no ambiente não interfere

na circulação de pedestres, permitindo um trânsito sem necessidade de desvios, o

que também possibilitou ser classificado com um Trecho com Alta Ordem de

Acesso. A avaliação em termos de Segurança foi considerada de Baixa Ordem,

devido à falta de proteções ou demarcações em volta desses mobiliários urbanos

para que pudessem evitar esbarrões e acidentes.

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142

Figura 52. Análise de Acessibilidade em uma paisagem do Trecho A.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

5.2.2 Análise do Trecho B da Rua dos Andradas

Analisando os aspectos entre Figura e Fundo do Trecho B, da Rua dos Andradas,

observa-se que, de maneira geral, as relações de Contraste, Forma e Cor do

mobiliário urbano identificado e seu entorno possuem uma classificação entre e

Média e Baixa Ordem. A relação de Contraste, por exemplo, não representa um fator

de grande problema, entretanto, existem poucos elementos ao longo deste Trecho

que, comparados em sua relação com a paisagem, podem não ser percebidos em

uma distância maior que dez metros, evidenciando o fato do contraste ser, em

alguns pontos, insuficiente para uma boa percepção.

Quanto à análise sobre a Forma, ficou caracterizado na maior parte deste Trecho

um equilíbrio entre a existência de conjuntos de elementos do mobiliário urbano que

estão em consonância com a própria forma da paisagem, e em outros, a completa

falta de harmonia de formatos dispostos no ambiente. A mesma avaliação se faz

quando comparamos a incidência da cor nestes locais, pois em muitas partes deste

Trecho as cores destacam-se nos elementos do mobiliário urbano em meio a

paisagem, como as caixas de correios, os telefones públicos e placas de

regulamentação viária.

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143

Figura 53. Análise de Figura e Fundo em paisagem do trecho B

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Em relação ao aspecto de Similaridade avaliado entre os elementos do mobiliário

urbano, pôde-se constatar que, em termos de Tamanho e Materiais encontrados

neste Trecho, os elementos variam entre Média e Baixa Ordem, devido à falta de

unidade em seus substratos e proporções. Cabe, mais uma vez ressaltar, que a

intenção aqui não é fazer juízo de valor, e sim realizar uma análise que possa

demonstrar que o mobiliário urbano, enquanto informação visual representa um

conjunto comunicativo e, como tal, com suas particularidades que também são

“lidas” dentro do ambiente urbano.

Seguindo na análise de Similaridade encontramos, no entanto, uma relação entre

Média e Alta Ordem na Orientação em que estão dispostos estes elementos do

mobiliário urbano dentro da paisagem do Trecho B. A maior parte desse mobiliário

possui uma orientação verticalizada, o que acentua a percepção de conjunto e

unidade em torno desses elementos. Em alguns casos, houve a identificação de

pequenos desajustes na orientação, quando encontrados cavaletes de obras

dispostos horizontalmente, contrastando com os postes das placas de sinalização

viária que possuem uma orientação essencialmente vertical.

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144

Figura 54. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho B.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Um ponto de destaque na avaliação deste Trecho fica por conta da análise sobre o

princípio da Acessibilidade. Conforme identificado no local a maioria dos elementos

do mobiliário urbano não possuem qualquer tipo de proteção que visem evitar

acidentes em pedestres com algum déficit de visão. O emprego piso tátil de alerta,

não foi utilizado neste Trecho e em alguns casos a única proteção torna-se o próprio

canteiro onde estão as vegetações, como árvores e arbustos. Considerou-se para

esse Trecho, que em termos de Segurança sua classificação estaria entre Média e

Baixa Ordem.

Mas, em uma análise sobre a interferência do mobiliário urbano para a plena

visualização da paisagem pôde revelar que, de maneira geral não existem

obstáculos na visualização do ambiente. Existem algumas interferências parciais

desse mobiliário sobre a paisagem em alguns locais, mas em nenhum momento é

prejudicial à legibilidade da paisagem.

A análise do tipo de Acesso dentro desse Trecho também chama a atenção, pois

demonstra alguns contrastes, a baixa incidência de obstáculos no caminho dos

pedestres, mas, em alguns pontos, a completa obstrução da área de circulação de

pedestres. De maneira geral esse Trecho possui uma classificação de Média Ordem

em termos de Acesso.

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145

Figura 55. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho B.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

5.2.3 Análise do Trecho C da Rua dos Andradas

A análise realizada no Trecho C da Rua dos Andradas destacou-se em alguns

pontos. Este Trecho, por possuir o trânsito maior de pedestres e o início de uma

maior incidência de pequenos comércios, possibilitou que a análise da relação

Figura e Fundo pudesse ser mais extensa. Assim, algumas avaliações puderam ser

destacadas, como a classificação do tipo de contraste entre o mobiliário e a

paisagem que, na maioria dos pontos, revelou-se com um grau de Média Ordem.

Isto se deve ao fato de que os postes de iluminação, na maioria das vezes,

confunde-se com a própria paisagem. Entretanto, elementos como caixas de correio,

placas de sinalização viária e bancas de revistas quando dispostos no mesmo

cenário acabam equilibrando esse parâmetro de análise do Contraste entre o

mobiliário e a paisagem urbana.

Com relação às formas encontradas e sua relação com a paisagem urbana, pôde-se

constatar o surgimento de novos elementos, que nos Trechos anteriores não haviam

até então sido descritos, mas, agora, somam-se em número maior aos formatos

diversificados de elementos com maior incidência ao longo da Rua, como os postes

de iluminação e as placas de trânsito. De maneira geral, este Trecho, revelou em

suas paisagens uma profusão de formas, assumindo o grau de classificação em

Baixa Ordem, dentro deste critério de avaliação. O mesmo ocorre com o aspecto

cromático desse mobiliário urbano encontrado neste Trecho, que varia entre Média e

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146

Baixa Ordem, justamente, pela profusão de códigos de cor empregados nos

diferentes tipos de mobiliário, como telefones públicos, parquímetros, entre outros.

Figura 56. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho C.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Na a análise de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano, identificou-se

que, de modo geral, a relação entre os tamanhos do mobiliário encontrado nas

paisagens varia entre Média e Baixa Ordem. Isto se deve a já mencionada profusão

de elementos encontrados, e este fator está ligado inclusive à avaliação de Média

Ordem em termos de materiais que constituem esses elementos.

Na maior parte do mobiliário urbano, percebeu-se que o uso de materiais metálicos

é predominante, mas, mesmo assim, ainda podem ser encontrados outros

substratos, como o vidro empregado nas luminárias e a fibra de vidro para os

telefones públicos. Outro fator de avaliação que chamou a atenção foi a Orientação

dos elementos que, em muitos casos, não eram percebidos em disposições

diferentes. A classificação para esse parâmetro de análise variou entre Média e Alta

Ordem em muitos cenários encontrados. Notou-se, principalmente, que o fato dos

elementos do mobiliário urbano possuir estruturas verticais contribuiu para a

percepção de uma Alta Ordem entre esses elementos ao longo deste Trecho,

entretanto, em alguns pontos puderam ser identificadas pequenas variações em

seus eixos, ocasionando inclinações nesses elementos.

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147

Figura 57. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho C.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Na análise realizada sob o princípio da Acessibilidade encontraram-se os maiores

problemas. Entre eles, citamos o baixo nível de Legibilidade e a inexistência de

Segurança, em muitos casos, ao longo deste Trecho. Um dos fatores que

contribuíram para essa avaliação de Baixa Ordem de Legibilidade é atribuído às

pequenas construções como as bancas de jornal. Mesmo assim, ainda foram

verificados que, em alguns locais, a obstrução da paisagem por parte desse

mobiliário era de caráter parcial, o que eleva sua classificação à Média Ordem de

Legibilidade ao longo deste Trecho.

Em termos de Acesso, o Trecho possibilita uma circulação sem dificuldades,

entretanto, para um fluxo reduzido de pedestres. Muitos dos mobiliários urbanos são

dispostos próximos ao meio fio da via, o que acaba facilitando a movimentação dos

transeuntes nas calçadas. Sua classificação pôde ser avaliada em Média Ordem

dentro do parâmetro de Acesso.

A Segurança neste Trecho também não favorece a circulação, pois não estão

inseridos junto ao mobiliário urbano quaisquer orientações ou pisos táteis para evitar

acidentes ou esbarrões nesses elementos. Assim, a classificação de Segurança

neste Trecho foi considerada de Baixa Ordem.

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148

Figura 58. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho C.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

5.2.4 Análise do Trecho D da Rua dos Andradas

O Trecho D da Rua dos Andradas possui uma característica bastante singular entre

os Trechos de análise nesta pesquisa. Notou-se ao longo de seu trajeto que,

praticamente, inexistem elementos do mobiliário urbano a serem tomados como

análise proposta. Mesmo assim, em alguns pontos puderam ser observados os

critérios de Figura e Fundo, Similaridade e Acessibilidade dentro das paisagens

urbanas captadas neste Trecho. Trata-se de um cenário urbano de intensa

movimentação de pedestres e onde há a grande incidência de ambulantes. Os

únicos elementos encontrados para as análises foram as bancas de jornal e os

postes iluminação pública.

Dentro dessa perspectiva de avaliação pôde ser constatada uma Legibilidade maior

devido à falta de elementos que pudessem obstruir a visualização da paisagem, e

uma classificação em Alta Ordem em termos de Acesso, devido ao alargamento da

via neste Trecho. Em alguns pontos a avaliação do Contraste pôde evidenciar que,

os postes de iluminação, praticamente desaparecem na paisagem, e o emprego de

cor no mobiliário urbano só é característico na única banca de jornal existente do

Trecho. Além disso, o parâmetro Segurança continuou a destacar-se negativamente

pela falta de proteções ao mobiliário urbano existente nos locais avaliados. De

maneira geral, a paisagem urbana do Trecho D possui muitos pontos positivos na

relação de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano.

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149

Figura 59. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho D.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

5.2.5 Análise do Trecho E da Rua dos Andradas

A análise da relação entre Figura e Fundo do Trecho E, inicia-se com a verificação

do Contraste entre o mobiliário existente ao longo do trajeto e a paisagem urbana

encontrada neste local. De maneira geral, a relação de Contraste possui uma

classificação de Média Ordem devido, principalmente, ao equilíbrio existente entre a

grande incidência de um mobiliário urbano que se confunde com a própria

paisagem, e os outros mobiliários, como lixeiras e telefones públicos, que utilizam

cores mais intensas e acabam, por isso, se destacando na paisagem.

Outro ponto a ser destacado é a Baixa Ordem verificada na relação entre o

mobiliário urbano e a paisagem. Não existe nenhuma relação formal entre o

mobiliário urbano encontrado neste Trecho e sua paisagem, constatando-se uma

profusão de formas não similares ao contexto em que estão inseridos.

As cores empregadas nesse mobiliário também são diversificadas e destacam-se

enquanto código cromático em relação a sua paisagem, mas sua avaliação possui

uma classificação de Baixa Ordem na maior parte dos locais analisados, justamente

por não possuir uma uniformidade que possa minimizar o excesso de informações

visuais que já competem com letreiros de fachadas e outros elementos do mobiliário

urbano dispostos no mesmo ambiente.

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150

Figura 60. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho E.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Na análise de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano existentes neste

Trecho encontram-se algumas considerações, principalmente, sobre seus aspectos

mais característicos, como os tamanhos desses elementos e os materiais

empregados em suas composições. Existe, neste Trecho, uma diversidade de

elementos que, conseqüentemente, possuem tamanhos distintos, e isto, de certa

forma, é facilmente identificado pelo pedestre que circula nos locais avaliados. Desta

forma, considerou-se a classificação dos elementos do mobiliário urbano, na maioria

dos locais onde a análise foi realizada, em Baixa Ordem.

Outro ponto importante que foi analisado neste Trecho diz respeito aos materiais

utilizados na composição do mobiliário urbano, que varia entre elementos

confeccionados em estruturas metálicas e outros materiais, o que acaba tornando a

classificação deste parâmetro em Média Ordem.

Na análise da Orientação em que estão dispostos os diferentes tipos de mobiliário

urbano, pôde-se constatar certa uniformidade na relação entre todos os elementos,

mas, em alguns pontos foram identificados mobiliários dispostos com disposições

diferentes em um mesmo local. Mas, de maneira geral, a classificação do parâmetro

de Orientação obteve o grau de Média Ordem neste Trecho.

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151

Figura 61. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho E.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

A Acessibilidade no Trecho E da Rua dos Andradas chama a atenção,

principalmente, pelo excesso de elementos do mobiliário urbano que acabam

obstruindo a visualização por completo da paisagem nos locais analisados. Isto

ocorre pelo fato dos elementos concentrarem-se em um mesmo local, na grande

maioria das vezes, e assim, acabam impedindo que se visualize o horizonte nas

paisagens analisadas. Mesmo assim, a Legibilidade do Trecho E é considerada de

Média Ordem, pois em alguns pontos o bloqueio da visualização é parcial.

A pesar deste Trecho da Rua dos Andradas possuir um alargamento da via

possibilitando com que pedestres circulem sem dificuldades a disposição do

mobiliário urbano ao longo do trajeto acaba formando obstáculos físicos. Isto, de

certa forma, força com que os pedestres desviem constantemente seu percurso para

que não esbarrem em telefones púbicos, postes de iluminação ou lixeiras ao longo

deste Trecho. Esta avaliação conclui que sua classificação seria de Baixa Ordem

dentro do parâmetro de Acesso, devido a essas dificuldades de circulação.

Quanto ao parâmetro Segurança, em nenhum momento constatou-se a utilização de

pisos táteis de alerta, ou desvios que pudessem proteger os pedestres de possíveis

acidentes com esse mobiliário urbano disposto ao longo do percurso. Desta forma,

considerou-se que neste Trecho a Segurança é classificada em Baixa Ordem.

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152

Figura 62. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho E.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

5.2.6 Análise do Trecho F da Rua dos Andradas

Na primeira análise sob o princípio Figura e Fundo realizada no Trecho F da Rua

dos Andradas, inicialmente, constatou-se que, tanto os aspectos de Contraste e Cor,

os quais caracterizam a maior parte do mobiliário urbano desse trajeto, possuem um

equilíbrio em relação à paisagem e sua discrição em alguns pontos. A Cor, por

exemplo, como identificado nos Trechos anteriores, está empregada somente em

alguns elementos como lixeira e telefones públicos, e sua incidência na paisagem

deste Trecho é mais destacada somente nestes elementos. Isto, de forma geral,

representa uma avaliação de Média Ordem em termos de Contraste e Cor nos

elementos do mobiliário urbano ao longo deste Trecho.

Os tipos de formatos identificados, e que estão inseridos dentro das paisagens

analisadas são diversificados e não possuem relação formal com o cenário urbano

em que estão inseridos. Esta avaliação acaba classificando-os em Baixa Ordem em

termos de Forma, quando comparados os formatos de mobiliário urbano com a

paisagem urbana dos locais que foram analisados.

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153

Figura 63. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho F.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Na análise de Similaridade do Trecho F o destaque está na relação de tamanhos

encontrados de diferentes mobiliários urbanos. Em muitos pontos a reunião desses

elementos evidencia com clareza essas diferenças. Isto acaba trazendo a

classificação para Baixa Ordem entre os tamanhos do mobiliário existente nas

paisagens deste Trecho. Os materiais e orientações encontradas em todos os

mobiliários urbanos, de maneira geral, possuem uma classificação de Média Ordem.

Em alguns pontos fica clara a falta de unidade destes parâmetros analisados.

Figura 64. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho F.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

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154

A Acessibilidade neste Trecho da Rua dos Andradas, de forma geral, não possui

problemas que possam impedir a Legibilidade completa de sua paisagem urbana.

Em alguns pontos o bloqueio da paisagem ocasionado pela disposição do mobiliário

urbano é parcial. Outro destaque é dado mais uma vez para a questão da

Segurança, pois ao longo de todo este Trecho não foram constatados elementos de

proteção ou orientações a usuários com déficit de visão, e que evitem acidentes com

o mobiliário urbano disposto na circulação de pedestres. O Acesso é considerado

ideal, pois permite que os pedestres circulem sem obstáculos pelo caminho.

Figura 65. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho F.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

5.2.7 Análise do Trecho G da Rua dos Andradas

Na análise da relação entre Figura e Fundo do Trecho G pôde-se constatar que o

Contraste do mobiliário urbano com a paisagem, de forma geral, deve ser

classificado em Média Ordem, devido à existência de alguns elementos que se

destacam mais do que outros em relação ao cenário a sua volta. Os formatos

identificados ao longo deste Trecho também mostraram um equilíbrio entre os

elementos do mobiliário urbano e o entorno imediato, formado na maioria por

fachadas de prédios comerciais com linha retas. Em alguns pontos as placas com

formatos arredondados acabam contrastando com o cenário analisado, e desta

forma pôde-se classificar o parâmetro Forma em Média Ordem ao longo de todo o

Trecho G da Rua dos Andradas. O mesmo ocorre com a Cor que em alguns pontos

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155

destaca-se como código cromático nas placas de sinalização viária, classificando

esse parâmetro em Média Ordem.

Figura 66. Análise de Figura e Fundo em paisagem do Trecho G.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Dentro da análise de Similaridade entre os elementos do mobiliário urbano

encontrados ao longo do Trecho G da Rua dos Andradas identificou-se que, em

termos de Tamanho, existem algumas semelhanças entre postes de sinalização

viária na maioria dos locais analisados, mesmo assim, alguns pontos possuem

elementos com alturas diferentes, o que acaba dado à classificação de Média

Ordem para esse parâmetro de avaliação.

Os materiais utilizados na confecção do mobiliário urbano são diversificados, mas,

de maneira geral, a utilização de estruturas de metal confere um aspecto similar

entre esses elementos. Assim a classificação de Similaridade por materiais obteve o

grau de Média Ordem.

Na avaliação da Orientação em que estão dispostos estes elementos pôde-se

identificar uma uniformidade pelo fato do mobiliário urbano ao longo do Trecho ser

composto por postes de iluminação e postes de sinalização viária com orientação

essencialmente vertical. Algumas placas de propaganda e de logradouros acabam

equilibrando essa relação e, por isso, este parâmetro de Similaridade na Orientação

foi avaliado em Média Ordem.

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Figura 67. Análise de Similaridade em paisagem do Trecho G.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

Na análise de Acessibilidade do Trecho G da Rua dos Andradas novamente

destacou-se a falta de proteções que pudessem envolver o mobiliário urbano e

assim evitar que pedestres com déficit de visão esbarrassem por acidente nestes

elementos. A classificação de Acessibilidade para o parâmetro de Segurança foi

avaliada em Baixa Ordem ao longo de todo este Trecho. Há uma boa Legibilidade

em alguns pontos, entretanto, existem alguns bloqueios parciais ocasionados por

placas de sinalização, postes de iluminação e telefones públicos.

Figura 68. Análise de Acessibilidade em paisagem do Trecho G.

Fonte: Gráfico desenvolvido pelo autor.

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De forma geral, a análise de Acessibilidade do fator Legibilidade da paisagem foi

classificada como Média ordem. Por fim, na análise do Acesso, considerou-se o fato

de se tratar de um Trecho onde o trânsito de veículos é maior e com isso a

circulação de pedestres limita-se a uma calçada estreita apenas. Assim, sua

classificação foi avaliada em Média Ordem sob o parâmetro de Acesso.

5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS ANÁLISES

O trabalho desenvolvido com objetivo de reconhecer na paisagem urbana da Rua

dos Andradas as inadequações da inserção do mobiliário urbano ao longo de seu

percurso revelou inúmeros pontos de estudo, que podem, através de um método

preciso, ser reconhecidas a partir da avaliação dos princípios de design. Muitos dos

elementos identificados e colocados sob esta avaliação dentro do seu contexto

podem ser regidos por princípios de Acessibilidade, Similaridade e a Relação entre

Figura e Fundo.

Os espaços públicos da Rua dos Andradas bem como suas diferentes paisagens

urbanas proporcionam a riqueza de observações que se desenrolaram ao longo

deste capítulo.

Muitas das soluções empregadas no projeto e implementação do mobiliário urbano

na Rua dos Andradas, acaba assumindo a própria diversidade que ao longo dos

anos foi característica principal dessa via. Hoje, encontramos um conjunto variado

de postes de iluminação pública, e isto, de certa forma, atesta contra a busca de

uma unidade desse elemento ao longo do percurso.

A paisagem ganha a cada dia novos mobiliários, e com eles chegam também novos

desafios. Um dos principais problemas encontrados em todos os trechos está ligado

a pouca visibilidade causadas pela obstrução ocasionada por bancas de jornal,

telefones públicos e outros elementos que são dispostos no ambiente de maneira

desordenada e sem levar em consideração essa percepção.

Quanto à questão da Acessibilidade, percebeu-se que em nenhum momento são

consideradas as orientações, por exemplo, da NBR 9050 que dispõe sobre a

acessibilidade de espaços públicos, recomendando que haja proteções no entorno

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do mobiliário urbano no percurso de pedestres, principalmente para àqueles com

dificuldades motoras ou déficit de visão. Neste quesito, também em alguns pontos

analisados encontram-se postes de iluminação praticamente interrompendo a

circulação de pedestres pela calçada, forçando inevitavelmente o desvio desses

para a própria via.

Se por um lado, reconhece-se que existe uma verticalidade nos elementos dispostos

dentro do ambiente da Rua dos Andradas, pelo menos pôde-se verificar que na

grande maioria das vezes a reunião de diversos tipos de mobiliário urbano acabam

por assumir orientações distintas em suas inclinações e orientações. Isto resulta em

uma baixa similaridade entre os mesmos, mas que de forma geral necessita ser

trabalhada dentro de uma atividade de manutenção desses elementos no ambiente.

De maneira geral, percebeu-se que, com a elaboração de uma ferramenta de

análise criteriosa da paisagem urbana que se alia aos conceitos e princípios de

design, acaba contribuindo para o entendimento de um problema que se manifesta

no espaço urbano de maneira silenciosa. Não basta aceitarmos que a paisagem

urbana deva representar o progresso e a evolução tecnológica de nossos tempos, é

preciso carregar em toda a percepção do espaço urbano esse olhar crítico para que

possamos construir para espaços públicos melhores, onde a informação seja

encontrada num ambiente de forma harmônica, e por usuários com diversas

necessidades.

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6 CONCLUSÃO

Ao longo desta pesquisa puderam-se discutir assuntos relevantes a formação de

uma paisagem urbana, entre eles, o aspecto da poluição visual encontrada nas

grandes cidades. Em virtude do acúmulo de elementos visuais, que concorrem pela

atenção de pedestres, a degradação deste cenário urbano vem sendo debatida em

diversas frentes de estudo, como por exemplo, o direito, o urbanismo e até mesmo a

psicologia. Nossa maior contribuição vem trazer uma visão de como este fenômeno,

atrelado a vida moderna, pode ser tratado sob o olhar do Design.

Aqui, entendemos que a palavra design, se refira a muito mais do que um adjetivo

para um produto com beleza a ser consumido como tal por todos. Pensamos que o

Design é essencialmente a atividade que se propõe a equacionar os diversos fatores

que levam a obtenção de um produto com qualidade e que através dessa atividade

esse produto é oferecido a seus usuários já prevendo sua adequação ao contexto

em que estão sendo inseridos. Esta qualidade, que é desejável, vem sendo

questionada em espaços públicos cada vez mais degradados por uma série de

fatores, que, entre eles, pode-se citar a falta de planejamento na inserção do

mobiliário urbano dentro do ambiente de uma cidade.

Do projeto que se inicia até a produção de elementos urbanos como placas de

trânsito, postes de iluminação, lixeiras, entre outros, busca-se sempre os vetores de

uma adequação ao plano visual do cenário urbano em que serão inseridos. Estes

vetores, que chamamos de princípios, norteiam, de certa forma, as boas práticas

para elaboração e adequação desses mobiliários urbanos no ambiente típico de uma

grande cidade. E como tal, um princípio será o orientador do tipo de qualidade que

se espera ter de um produto, ou o tipo de necessidade que este produto deva gerar

quando enfim produzido e elevado a um objeto de nossa cultura material.

A reunião de diferentes elementos em uma mesma paisagem urbana deve ser

discutida como um projeto integrado, em que o mobiliário urbano seja planejado

como parte do ambiente em que esteja inserido. No caso de uma rua, percebe-se

claramente que estes mobiliários são alocados de maneira a não sofrerem uma

avaliação de sua relação com o contexto, da relação que poderiam manter entre si,

ou até mesmo da relação com seus usuários.

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Diante desta lacuna, partimos para uma análise da morfologia da paisagem urbana

da Rua dos Andradas em Porto Alegre, buscando adequar princípios de design na

relação entre o ambiente, a informação e o usuário. Dentro desse objetivo, pôde-se

trazer a luz das discussões sobre a paisagem urbana, alguns fatores de extrema

relevância para a implantação do mobiliário urbano em vias públicas, como a

utilização do princípio da Figura e Fundo, fazendo menção à preocupação do que

representa a relação entre o mobiliário urbano e a paisagem em que está inserido, o

princípio da Similaridade, buscando fazer uma avaliação entre os diferentes

elementos urbanos encontrados no trajeto de uma rua, e o princípio da

Acessibilidade, que pode inegavelmente contribuir para a avaliação desse mobiliário

urbano, inserido no ambiente de uma rua, na relação com os usuários.

A Relação de Figura e Fundo mostrou-se primordial para analisarmos a relação

estabelecida entre o mobiliário urbano e a paisagem em seu entorno. Definiu-se que

os principais parâmetros nesta avaliação estariam concentrados na relação de

contraste, forma e cor. Estes três parâmetros puderam ser questionados em todos

os trechos da Rua dos Andradas, buscando evidenciar, principalmente, a relação

entre o objeto e o ambiente. Temos que, este tipo de avaliação contribui para que se

possa estabelecer um conjunto harmônico entre a paisagem urbana e os objetos

que nela são inseridos, permitindo que se faça uso de um princípio adequado para o

planejamento da inserção do mobiliário urbano no ambiente de uma cidade.

A Similaridade, por sua vez, colocou-se como uma avaliação que teve como

principais parâmetros entre os seus diferentes elementos urbanos, a relação de

tamanhos, materiais e orientações dispostas no ambiente estudado. Isto trouxe à

pesquisa um controle nos julgamentos de similaridade desses objetos em todos os

trechos analisados, e representou um critério que se faz necessário em qualquer

ambiente urbano para busca de uma unidade e adequação desses elementos na

paisagem urbana.

A análise da Acessibilidade também questionou a falta de orientações aos pedestres

para que estes não sofressem algum tipo de dano no seu trajeto ao longo da via.

Esse assunto eleva as discussões para questões relacionadas à acessibilidade do

espaço público, que vem sendo pouco abordada nesta relação entre ambiente,

informação e usuário. Em nenhum momento pôde-se notar a utilização de

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sinalização por piso tátil de alerta, prevista na norma NBR 9050, como forma de

proteger pedestres com déficit de visão de possíveis acidentes em seu percurso ao

longo da via estudada. Através de parâmetros definidos para a análise da

Acessibilidade, principalmente para a boa visualização dos usuários nos trechos

estudados, pôde-se estabelecer o nível de legibilidade dessa paisagem urbana,

além de identificar o grau de acesso e possibilidade de circulação desses usuários

em seus trechos.

Todas as análises realizadas, bem como a abordagem empregada para a avaliação

dos conceitos apontados como essenciais na pesquisa desenhística da morfologia

da paisagem urbana que foi estudada, preocuparam-se em transformar as

impressões do autor, bastante pessoais e subjetivas, em um conjunto teórico

didático, como forma de fazer com que novos estudos sobre o assunto possam

contribuir com suas próprias conclusões sobre o tema. Neste sentido, cabe destacar

a enorme contribuição, do que podemos denominar de ferramenta didática oferecida

pelos Logogramas, que vem sendo desenvolvidos e aplicados com sucesso por

Gomes & Brod Júnior (2007) em disciplinas de projeto nos cursos de Design.

Além disso, a forma que nos pareceu apropriada para a classificação do que se

pesquisou, não estava amparada por procedimentos alheios ao procedimento da

pesquisa desenhística. Por isso, utilizamos parâmetros qualitativos destacados nos

trabalhos de Gomes & Medeiros (2007), onde é clara a intenção do afastamento de

critérios subjetivos em análises comparativas de produtos industriais. Nossa

preocupação foi trazer o ferramental teórico utilizado em trabalhos voltados à

pesquisa em Design para apoiar nossas interpretações sobre o problema e garantir,

assim, que julgamentos precipitados pautassem a discussão pelo o que é bom, ou o

que é ruim, o que é belo ou o que é feio, o que gosto ou o que não gosto.

Trabalhamos em uma perspectiva objetiva, àquela voltada à necessidade do ser

humano em usufruir de ambientes, comunicações e artefatos que cumpram suas

funções essenciais, e não seja um problema a mais para a sociedade.

Ao longo do estudo, resgatou-se um pouco da história da Rua dos Andradas e ao

mesmo tempo percebeu-se que sua trajetória de grandes acontecimentos em

diferentes épocas sempre esteve atrelada a própria formação da Capital. Isto, sem

dúvida, trouxe a tona um dos problemas encontrados em sua paisagem urbana, e

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em seus diferentes trechos analisados. Tudo, porque, essa mesma trajetória fez com

que a Rua dos Andradas se tornasse uma via com dificuldades que se instalaram há

muitos anos e permanecem assim por força de sua história e tradição.

Outro ponto de destaque está na falta de uma definição clara sobre o termo

“poluição visual”, e que aqui, neste estudo, buscou-se trazer estudos que pudessem

definir com precisão este fenômeno que em essência degrada a paisagem. O

mesmo ocorre para se definir parâmetros quantitativos da incidência desse

fenômeno na rua, ou avenida de uma grande cidade.

Se um projeto realizado para uma cidade deve contemplar sua funcionalidade, o

certo estaria prever que o princípio da acessibilidade fosse discutido com mais força

em relação à forma com que estamos produzindo e inserindo o mobiliário urbano

nas ruas das grandes cidades. Por fim, abre-se com esta pesquisa a possibilidade

de outros estudos serem abordados com a temática da paisagem urbana, mas sob o

olhar dos fundamentos de design. Talvez seja possível a avaliação de uma

paisagem urbana com mais de três princípios, mas o importante é que os princípios

estejam sempre atrelados às necessidades reais dos usuários desses ambientes.

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