Desconstrução de Estereótipos na Literatura Infantil

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  • Desconstruo dos esteretipos negativos do negro em Menina bonita do lao de fita,

    de Ana Maria Machado, e em O menino marrom, de Ziraldo

    Luiz Fernando de Frana

    O negro na literatura infantil e juvenil contempornea

    Foi depois que me negaramQue eu virei a negaoNo deixaram construir

    Eu virei demolioPara no virar um rato

    Levantei e disse no

    Donaldo Schller

    No h dvida de que a literatura infantil contempornea apresenta uma imagem positivada do negro. Contudo, as marcas de sculos de inferiorizao no podem ser apagadas em algumas dcadas. Os esteretipos desfavorveis e as imagens depreciativas ainda aparecem na literatura infantil porque o racismo ainda ronda a sociedade brasileira. Nesta parte do texto, realizo de forma panormica algumas reflexes sobre o tratamento do negro na literatura infanto-juvenil contempornea e, em seguida, proponho uma classificao das obras que apresentam personagens negras.

    As reflexes sobre a presena do negro na literatura para crianas dia-logam com pesquisas realizadas por Rosemberg (1979), Oliveira (2003) e Souza (2003).

    Em sua pesquisa, Rosemberg (1979), procurando analisar as discrimina-es tnico-raciais na literatura infanto-juvenil brasileira, examinou cerca de 170 livros nacionais editados ou reeditados entre 1950 e 1975. Os resultados apresentados pela pesquisadora confirmam que a literatura infanto-juvenil desse perodo tanto reforou esteretipos do negro e do ndio como, a partir de uma postura etnocntrica, contribuiu para difundir a proposta racista de que o branco um ser superior, neutro e normal. No dizer de Rosemberg,

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    dentre as formas latentes de discriminao contra o no-branco, talvez seja a negao de seu direito existncia humana ao ser a mais constante: branco o represen-tante da espcie. Por esta sua condio, seus atributos so tidos como universais. A branquidade a condio normal e neutra da humanidade: os no-brancos consti-tuem exceo1.

    Assim, as principais formas de discriminao dos indivduos no-bran-cos, de acordo com as investigaes de Rosemberg, so: 1) demonstrao de preferncia pela personagem branca na ilustrao da obra (ilustrao de multides ou de uma parte do corpo humano); 2) insero de traos, funes sociais e comportamentais diversificados s personagens brancas, enquanto o tratamento do negro e do ndio tende unicidade e perda da individualidade; 3) representao incompleta e imperfeita do negro, sobretudo atravs da indeterminao de sua naturalidade, religiosidade e condio familiar; 4) utilizao do simbolismo da cor negra para fazer aluso maldade, sujeira e tragdia; 5) associao do negro a personagens antropomorfizadas e a animais.

    Na tarefa de identificar mecanismos de manuteno e ruptura no tratamento da personagem negra, nas obras infanto-juvenis das dcadas de 1970, 1980 e 1990, ocupam-se os estudos de Oliveira (2003) e Souza (2003).

    Analisando a temtica tnico-racial nas narrativas infanto-juvenis pu-blicadas entre 1979 e 1989, Oliveira (2003) estabelece que tal temtica apresentada a partir de trs tendncias: a) denncia da pobreza; b) denncia do preconceito racial; c) enaltecimento da beleza negra. De acordo com a crtica, possvel perceber a manuteno do processo de inferiorizao do negro em decorrncia dos seguintes fatores: 1) associao do negro sujeira/animalizao, atravs da utilizao de expresses como carnia, preto sujo, endiabrado, negrinho terrvel, preto cachorro etc; 2) utilizao de piadas depreciativas; 3) associao: favela/marginalidade, favela/quilombo; 4) ridicularizao e humilhao do negro em determinados espaos sociais. Nessa perspectiva, Oliveira (2003:9), apesar de no descartar os aspectos inovadores desses livros, entende que na maioria deles, os personagens negros so, principalmente, meios de reforar, de corroborar com o racismo que (dizem) tentar denunciar.

    1 Rosemberg, Discriminaes tico-raciais na literatura infanto-juvenil brasileira, p. 159.

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    Algumas caracterizaes encontradas nas narrativas, alm de afirmarem a estereotipao do negro, ainda reforam o racismo brasileira. Essas ca-racterizaes foram agrupadas pela crtica da seguinte maneira: 1) quanto aparncia: caracterizao que associa o negro feira e a animais (como exemplo, a autora cita as personagens Joca em Xixi na Cama, de Drumond Amorin; Carnia em Tonico e Carnia, de Jos R. Filho e Assis Brasil; Tnia em N na garganta, de Mirna Pinsky, e Dito em Dito, o negrinho da flauta, de Pedro Bloch); 2) quanto atividade profissional: em muitas narrativas as personagens negras aparecem desenvolvendo funes sociais consideradas depreciativas e sem perspectiva de mudana; 3) quanto ao espao social: representao do negro como morador apenas da favela e do morro; 4) quanto origem familiar: algumas personagens negras so criadas apenas pela me (ou no conhecem o pai); 5) quanto identificao: utilizao de apelidos ou nomes comuns para identificar a personagem.

    Um outro fator apresentado na pesquisa de Oliveira (2003) est rela-cionado atitude de autopercepo negativa da prpria personagem negra. Com exceo das obras N na garganta, de Mirna Pinsky, e A cor da ternura, de Geni Guimares, as narrativas Dito, o menino da flauta, A histria do galo Marqus, de Ganymdes Jos, Xixi na cama, Joo que semeava flor e cantava o amor, de Mrcia V. M. de Oliveira e Um sinal de esperana, de Giselda L. Nicollis, apresentam indcios de auto-rejeio.

    Entretanto, de acordo com Oliveira, no s de manuteno de estere-tipos desfavorveis do negro viveu a narrativa infanto-juvenil da dcada de 1980. Para a crtica, as obras O menino marrom, de Ziraldo, e Menina bonita de lao de fita, de Ana Maria Machado, rompem em muito com essa tendncia de inferiorizar o negro. Contudo, a crtica no deixa de visualizar uma identidade tnico-racial fragmentada e uma certa animalizao presente na ilustrao do livro de Ana Maria Machado (publicao dos anos 1980, Ed. Melhoramentos) e nem a idealizao da relao inter-racial em ambas as obras. Para a crtica,

    as duas narrativas inovam o cenrio literrio, sim, conforme j evidenciei, mas ineg-vel a aproximao entre os personagens tecidos nos textos e o iderio da mestiagem e da democracia racial. Eis a minha ponderao em relao s aludidas obras2.

    2 Oliveira, Negros personagens nas narrativas literrias infanto-juvenis brasileiras: 1979-1989, p. 9.

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    Segundo Oliveira, A cor da ternura a obra que pode ser tomada como exemplo de rompimento com a imagem negativa e estigmatizada do negro.

    O trabalho de Souza (2003) aproxima-se das reflexes citadas acima, medida que, alm de avaliar a insero da cultura afro-brasileira nos livros paradidticos, tambm procura verificar os mecanismos de conservao e ruptura de esteretipos desfavorveis do negro. Entretanto, alm das narra-tivas da dcada de 1980, a autora analisa tambm obras da dcada de 1990 e incio do sculo XIX. Para ela, a manuteno da imagem inferiorizada do negro pode ser percebida atravs dos seguintes fatores: a) imagens deprecia-tivas e caricaturadas; b) ausncia de imagens metafricas e da pluralidade cultural; c) associao das personagens negras ao medo; d) incoerncia entre ilustrao e o texto escrito; e) aproximao do livro infantil ao livro de histria; f) repetio de uma nica forma de tratamento; g) manuteno da ideologia de que todo negro igual; h) construes preconceituosas e discriminatrias.

    No que se refere s novas formas de representao, Souza (2003) elenca os seguintes procedimentos: 1) insero de traos e smbolos da cultura afro-brasileira, das religies de matrizes africanas, da capoeira, da dana e dos mecanismos de resistncia; 2) valorizao simblica de Zumbi dos Palmares; 3) aluso aos orixs e frica como grande Me, aos valores ancestrais, solidariedade; 4) representao da personagem mostrando sua resistncia ao enfrentar os preconceitos; 5) valorizao da mitologia e das religies como forma de re-significao da ancestralidade e da tradio oral; 6) ilustrao mais diversificada e menos estereotipada.

    Um fator importante abordado por essa crtica o fato de que, apesar do aumento das publicaes, existe um enorme descompasso entre o nmero de obras publicadas e o nmero de adotadas pela escola.

    Com objetivo tanto de subsidiar a anlise que realizarei posteriormente, como o de subdividir em algumas tendncias as obras da literatura infan-to-juvenil contempornea que apresentam personagens negras que tive acesso, proponho a seguinte subdiviso temtica: 1) Linha que tematiza o universo da cultura africana e afro-brasileira: O presente de Ossanha, Dudu Calunga, Gosto de frica: histrias de l e daqui, de Joel Rufino dos Santos; Lendas negras, de Jlio Emlio Braz e Salmo Dansa; Sundjata: o prncipe Leo, Duula: a mulher canibal, O filho do vento, Como as histrias se espalharam pelo

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    mundo, Histrias africanas para contar e recontar, A tatuagem e a Coleo Bichos da frica (1, 2, 3, 4), de Rogrio Andrade Barbosa; Os prncipes do destino: histrias da mitologia afro-brasileira, If, o adivinho e Xang, o trovo, de Reginaldo Prandi; Agbal: um lugar continente, de Marilda Castanha; Do outro lado tem segredos, de Ana Maria Machado; Silvino Silvrio, de Rogrio Borges; Bruna e a Galinha DAngola, de Gercilga de Almeida, Histrias da Preta, de Heloisa Pires; Ogum: o rei de muitas faces e outras histrias dos orixs, de Ldia Chaib e Elizabeth Rodrigues; As tranas de Bintou, de Sylviane A. Diouf. 2) Linha que tematiza o preconceito racial frente realidade social contempornea: Irmo negro, de Walcyr Carrasco; A cor da ternura, de Geni Guimares; N na Garganta, de Mirna Pinsky; Um boto negro, outro branco, de Beto Bevilcqua; Um sinal de esperana e Da cor da azeviche, de Giselda Laporta Nicolelis; Felicidade no tem cor, de Jlio Emlio Braz; O galinho Preto, Marques Rabelo e Arnaldo Tabaia; A ovelha negra, de Bernardo Aib; Toni-co e Carnia, de Jos Rezende Filho e Assis Brasil; Saudade da vila, de Luiz Galdino; Dito, o negrinho da flauta, de Pedro Bloch. 3) Linha que tematiza a escravido: O amigo do rei, de Ruth Rocha; O rei guerreiro e Zequinha: o estudioso, de Milton Berger; A histria do galo marqus, de Ganymdes Jos; A botija de ouro, de Joel Rufino dos Santos; Do outro mundo, de Ana Maria Machado; Quilombo do frechal, de Paula Saldanha; O negrinho Ganga Zumba, de Rogrio Borges; Em busca da liberdade, de Snia Demarquet. 4) Linha que tematiza a identidade negra e a diversidade cultural do Pas: Menina bonita de lao de fita, de Ana Maria Machado; Menino marrom, de Ziraldo; Luana: a menina que viu o Brasil nenm, de Aroldo Macedo e Osvaldo Faustino; Os trs amigos, de Milton Berger.

    Uma ltima linha de insero do negro nas literaturas infantil e juvenil contemporneas que me tem chamado bastante a ateno trata-se de uma incluso que se distancia destas j apontadas, uma vez que no existe uma inteno especfica de discusso racial ou uma bandeira de luta em favor do negro, mas sim de trazer a figura do negro para o texto literrio tratando-o como um ser humano normal e complexo, que no est nem acima nem abaixo de outros sujeitos (No ser esta a forma mais adequada de insero do negro na literatura?). Dentre as obras que apresentam esta dimenso, menciono: As trs rainhas magas, de Renata Pallotini; O menino Nito, de Sonia Rosa; Emma-nuela, de Ieda de Oliveira; A fada afilhada, de Mrcio Vassallo; O almoo, de Mrio Vale; Bruxa vira, virou sumiu, de Maria Heloisa Penteado.

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    importante salientar que esta classificao no isenta a obra de possuir em seu nvel temtico mais de uma dimenso. Por exemplo, o texto Luana: a menina que viu o Brasil nenm, apesar de tambm tematizar a cultura afro-brasileira, foi enquadrado na linha identidade negra e diversidade cultural. Neste caso, o critrio de enquadramento baseou-se, sobretudo, na temtica predominante do texto.

    A seguir, discuto uma das formas de insero do negro na literatura con-tempornea: a valorizao da identidade negra e da diversidade cultural do pas. Para exemplificar esta forma de representao sero analisadas as obras Menina bonita do lao de fita (1986), de Ana Maria Machado e O menino marrom (1986), de Ziraldo.

    Menina bonita do lao de fita: a cor preta como objeto-valor

    Ser negra,De negras mos,

    De negras mamasde negra alma.

    Geni Guimares

    O texto Menina bonita do lao de fita, de Ana Maria Machado, formal-mente estruturado da seguinte maneira3: a) a narrao feita em terceira pessoa por um narrador onisciente neutro, que se caracteriza pela ausn-cia de instrues e comentrios gerais ou mesmo sobre o comportamento das personagens, embora a sua presena, interpondo-se entre o leitor e a histria, seja sempre muito clara4; b) A efabulao organizada de forma linear, ou seja, o texto segue uma seqncia cronolgica dos fatos: comeo, meio e fim; c) As personagens so todas planas; destacam-se: a menina bonita (protagonista da histria); o coelho branco (personagem secundrio que deseja ser negro); a me da protagonista (personagem secundria); d) O tempo diegtico ou do enunciado cronolgico, uma vez que a sucesso

    3 A sistematizao de aspectos formais feita neste trabalho no possui a inteno de separar forma de contedo e deve ser encarada como uma tentativa de organizao didtica da anlise, pois os aspectos apontados so posteriormente retomados.

    4 Leite, O foco narrativo, p. 32.

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    dos acontecimentos medida atravs do calendrio: um dia ele foi at a casa...; da a alguns dias ele...; e) O espao horizontal (social) e tpico: a casa, a rua etc.

    Referente ainda estrutura da obra, vale ressaltar que existem alguns pontos em que o texto de Ana Maria Machado apresenta caractersticas estilsticas das narrativas primordiais (neste caso, o conto de fadas). Den-tre as aproximaes que podem ser realizadas, destaco: 1) utilizao do tempo indeterminado, expresso pelo pretrito imperfeito: era uma vez; 2) presena da tcnica narrativa da repetio (as trs tentativas que o co-elho realiza para ficar preto); 3) predominncia de personagens-tipos, que desempenham funes no grupo (a me, a filha) ou padres espirituais (o coelho sonhador); 4) convivncia natural do real (seres humanos) com o fantstico (coelho falante).

    Seguindo as reflexes de Coelho (2000), que estabelece cinco invarian-tes presentes na estrutura do conto maravilhoso (aspirao ou desgnio, viagem, obstculo ou desafio, mediao auxiliar e conquista do objetivo), possvel identificar essa sucesso narrativa em Menina bonita do lao de fita, da seguinte maneira:

    1) Desgnio: o coelho deseja ser preto como a menina.2) Viagem: para realizar seu sonho o coelho deixa sua moradia: um dia

    ele foi at a casa da menina....3) Desafio ou obstculo: instrudo pela menina, o coelho fracassa em

    todas as tentativas de ficar preto.4) Mediao auxiliar: a me revela o segredo da cor da menina ao co-

    elho.5) Conquista do objetivo: o coelho casa-se com uma coelha preta e

    realiza seu sonho.Como j foi mencionado, a narrativa apresenta personagens-tipos. Esta

    dimenso do texto comunga diretamente com a sua inteno principal: a valorizao da identidade negra. Desse modo, se em A cor da ternura, de Geni Guimares, a criana negra apresenta caracteres psicolgicos, em Me-nina bonita de lao de fita, como o prprio ttulo da obra j adianta, o foco de rompimento com o esteretipo desfavorvel concentra-se na positivao dos aspectos fsicos da personagem. O corpo do negro ganha um tratamento diferenciado que se ope s imagens depreciativas do negro presentes na literatura infantil nacional (negra beiuda, em Reinaes de Narizinho, de

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    Monteiro Lobato; pretalho comprido, em Cazuza, de Viriato Correia; negro de beiola cada e dente arreganhado, em As aventuras do avio vermelho, de rico Verssimo, s para citar alguns exemplos). Os olhos, os dentes e a pele participam de um processo harmonioso de elevao:

    Era uma vez uma menina linda, linda.Os olhos dela pareciam duas azeitonaspretas, daquelas bem brilhantes.Os cabelos eram enroladinhos e bemnegros, feito fiapos da noite. A pele eraescura e lustrosa, que nem o plo dapantera negra quando pula na chuva5.

    A indeterminao temporal indicada pela expresso Era uma vez, alm de fazer aluso a uma determinada forma narrativa o conto maravilhoso , ainda aproxima personagens: a menina negra (linda, linda) lembra muito as heronas brancas e louras sempre idealizadas da narrativa tradicional. Esta aproximao menina negra princesa encantada posteriormente reforada: Ela ficava parecendo uma princesa das Terras da frica, ou uma fada do Reino do Luar.

    Com intuito de ressaltar as relaes de semelhana possveis entre dois termos, o texto lana mo da metfora por comparao. Esta forma de me-tfora, segundo DOnfrio (1995), caracteriza-se pela utilizao de locues comparativas (feito e como) para atribuir qualidades de um termo a outro, operando uma transferncia de sentido, desse modo, a comparao realizada pode ser definida como uma metfora explcita ou desenvolvida6.

    Aparentemente, os trs elementos selecionados (olhos, cabelos e pele) apresentam uma caracterstica em comum: a cor. O preto desses rgos do corpo humano aproximado a outros trs elementos: azeitonas (vegetal), noite (temporal) e pantera (animal). Uma leitura simblica da insero de tais elementos pode revelar significaes pertinentes. De acordo com Che-valier e Gheerbrant (2002), o olho humano smbolo de conhecimento e de percepo sobrenatural7. No texto, os olhos da menina so comparados a

    5 Machado, Menina Bonita do lao de fita.6 DOnofrio, Teoria do Texto 2, p. 43.7 Chevalier e Gheerbrant, Dicionrio de smbolos, p. 654.

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    duas azeitonas pretas. Esse fruto, apesar de no possuir nenhuma simbologia particular, oriundo da oliveira, rvore que representa paz, fecundidade, purificao, fora, vitria e recompensa8. Os cabelos da protagonista so assemelhados fiapos da noite. Esta comparao parece-me expressiva, medida que os cabelos representam certas virtudes ou certos poderes do homem: a fora, a virilidade9 e a noite, apesar de estar tambm relacionada s trevas, tambm simboliza a preparao do dia, de onde brotar a luz da vida10. A ltima comparao completa o desejo de ressaltar os traos da protagonista: a pele aproxima-se do plo da pantera negra. Esta construo, que a princpio pode ser tomada como mecanismo de animalizao do negro (a exemplo do beio de boi de Tia Nastcia), pode ainda tomar um caminho diferente, uma vez que a pantera (diferente do boi que representante da passividade e da fidelidade) um animal smbolo da volpia e da sensu-alidade11. Esta significao dialoga com o prprio sentido dado ao termo no Brasil. De acordo com o Novo Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa, a palavra pantera pode significar no Brasil mulher muito bela e atraente12. O Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa tambm apresenta, dentre outros significados, a palavra pantera como modo de se referir a uma mulher muito bonita e sedutora; tigresa13. Assim, se por um lado a aproximao da cor da pele da herona com o plo da pantera negra ressalta a beleza e a altivez da mulher de cor, por outro, refora o esteretipo da negra sensual. Entretan-to, de forma geral, as comparaes olhos: azeitonas; cabelos: noite; pele: pantera atribuem conotaes positivas personagem negra. A proposta do texto, apesar de deixar rastros de estereotipao, positiva a criana negra e, conseqentemente, inaugura um novo ideal de beleza.

    A temtica da negritude participa da estruturao do livro, pois, do co-meo ao fim da narrativa, este fator externo interfere tanto no movimento de auto-aceitao como no sentimento de desejo, ou seja, a cor preta transformada no objeto-valor da narrativa. A busca pela cor preta, ao cons-tituir o motivo dinmico gerador do conflito, funciona como um mecanismo estruturador, ou ainda como integrante da prpria estrutura.

    8 Id., p. 656.9 Id., p. 153.10 Id., p. 640.11 Lexikon, Dicionrio de smbolos, p. 153.12 Ferreira, Novo Dicionrio Aurlio de Lngua Portuguesa.13 Houaiss, Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa.

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    Nesse sentido, a figura do coelho torna-se relevante uma vez que repre-senta o diferente, o branco. Em relao temtica da obra, essa personagem desenvolve uma funo importante: a de adorador da cor preta. A insero desta personagem, visivelmente apaixonada pela menina negra, no apenas supervaloriza os traos fsicos do negro como instaura um processo de idea-lizao das relaes inter-raciais e da mestiagem.

    Menino marrom: o negro como personagem-individualidade

    L vem o navio negreiroCom carga de resistnciaL vem o navio negreiroCheinho de inteligncia

    Solano Trindade

    O menino marrom, de Ziraldo, um texto narrado em primeira pessoa por um narrador heterodiegtico, que se aproxima muito da figura do contador de histrias. A narrao apresenta formas de interferncia pessoal do narrador atravs do comentrio, dissertao e digresso. O texto apresenta ainda uma caracterstica estilstica da narrativa primordial: a indeterminao temporal (Era uma vez...). No plano do enunciado preciso considerar primeira-mente que o enredo linear e apresenta em alguns momentos a tcnica narrativa denominada de flashback. O tempo cronolgico medido ora pela natureza, ora pelo calendrio, ora pelo relgio (Durou toda uma noite dos dois e mais seis horas. No dia seguinte...) e o espao social e tpico (a escola, a casa, a rua, a rodoviria etc.). A narrativa apresenta uma forma de personagem definida por Coelho (2000) como personagem-individualidade, que se caracteriza por representar o ser humano em diferentes graus de seu mistrio interior14. Duas personagens merecem destaque: o menino marrom, personagem protagonista, e o menino cor-de-rosa, personagem secundrio e amigo do menino marrom.

    A personagem negra no texto de Ziraldo recebe, da mesma maneira que em Menina bonita do lao de fita, um tratamento que positiva seus traos fsicos.

    14 Coelho, Literatura infantil: teoria, anlise, didtica, p. 76.

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    Alm disso, o menino marrom (vou cham-lo assim neste estudo, uma vez que ele no recebe um nome prprio na obra) aproxima-se um pouco da personagem Geni, de A cor da ternura, de Geni Guimares, pois ambos so representados como seres em transformao. Nesse sentido, a criana no perde dimenses e conflitos peculiares idade que apresentam.

    Proponho uma anlise da personagem negra em O menino marrom, de Ziraldo, a partir da prpria estrutura fabular da obra, pois, de acordo com Candido, enredo e personagem exprimem, ligados, os intuitos do romance, a viso da vida que decorre dele, os significados e valores que o animam15, assim, fica evidente a proximidade da estrutura fabular (o enredo) com a prpria configurao esttica da personagem ficcional.

    possvel identificar nessa obra que o enredo estruturado a partir de trs unidades: 1) Situao inicial, que se caracteriza pela ordem e pelo equilbrio; 2) As transformaes, momento de ao e do desequilbrio; 3) Situao final, o retorno da ordem inicial.

    Em O menino marrom, a situao inicial o momento em que os principais personagens so apresentados. Segundo DOnofrio (2001), este primeiro momento da narrativa apresenta funes integrativas, ou seja, serve para inserir informaes sobre os caracteres das personagens e as determinaes espao-temporais. Assim, na situao inicial que o narrador nos apresenta as caractersticas fsicas do menino marrom: Sua pele era cor de chocolate; Os olhos dele eram muito vivos, grandes, tinha dentes claros, certinhos, certinhos, Os cabelos eram enroladinhos e fofos, as bochechas do me-nino marrom, seu queixinho pontudo, sua testa, bem redonda, tudo har-moniosamente organizado no seu rosto, Nariz de menino marrom nunca pontudinho. Ele cresce mais para os lados, ele era magrinho, de joelhos redondos e perninhas finas, o peito era quadradinho e os ombros, tambm: um corpo muito bonito de atleta futuro.

    Nota-se que, por diversas vezes, o narrador usa o advrbio de inten-sidade muito para referir-se s qualidades do menino: muito bonito, muito vivos, muito expressivo etc. As comparaes pele-chocolate puro, olhos-jabuticadas, dentes-teclas de um piano (muito prxima da caracterizao depreciativa do negro Chocolate em As aventuras do avio vermelho, de rico Verssimo) e cabelos-esponja so tambm utilizadas para acentuar

    15 Candido, A personagem de fico, pp. 53-4.

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    as formas e as cores dos rgos faciais do protagonista. De forma geral, a proposta de O menino marrom, num primeiro momento, alm de realar os traos fsicos, coloca-os como partes de um conjunto harmonioso, um desenho perfeito.

    Esta harmonia corprea inicial do menino marrom tambm utilizada na caracterizao do menino cor-de-rosa: era muito clarinho, (...) o ros-to muito coradinho. Que ele era um menino muito bonito, O cabelo era amarelado (...) lisinho como rabo de cavalo, s que muito mais fino, Os lbios eram fininhos, O nariz era pontudinho e os olhos eram meio azuis, meio verdes, meio castanhos, toda a expresso do menino cor-de-rosa estava nos olhos.

    Se a princpio a situao inicial apresentada como um momento esttico, logo comeam a aparecer os primeiros motivos de conflito. Digo motivos porque, diferente das narrativas primordiais em que um nico enunciado de estado disjuntivo suficiente para instaurar uma situao conflituosa, em O menino marrom podemos afirmar que existem enunciados de estado disjuntivo. Esta dimenso plural manifestada nesta narrativa conseq-ncia das prprias peculiaridades existentes no universo psicolgico das personagens. Assim, em O menino marrom, o conflito no simplesmente causado por uma criana transgressora que, desconsiderando o conselho maternal, opta pelo caminho da floresta, mas pelas prprias ambigidades tanto do menino marrom como do cor-de-rosa. Temos aqui, certamente, a personagem-individualidade que, segundo Coelho (2000), representa o novo homem e coloca em questo a antiga interpretao do ser humano, visto de maneira maniquesta e dogmtica, como um bloco inteirio de qualidades ou de defeitos16. Nesta perspectiva, a instaurao do conflito nesta obra e, conseqentemente, o incio do segundo momento da estrutura fabular, deve-se, a princpio, ao fato de as crianas serem representadas como seres em transformao. Suas atitudes so apresentadas como inerentes indivi-dualidade do ser criana:

    Todo mundo sabe a hora em que a criana vira um perguntador permanente. Di-zem que ela chegou idade do por qu. Por que a gua escorrega? Por que o fogo quente? Por que eu tenho que ir dormir? Por que eu no tenho irmo? Me, por que sua barriga ficou grande? Pois todas essas perguntas, o menino marrom fez ou fazia.

    16 Coelho, Literatura infantil: teoria, anlise, didtica, p. 76.

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    E fazia outras mais complicadas ainda. Um dia ele se chegou para o pai e perguntou: Pai, quem nasceu primeiro o ovo ou o ndio?17.

    V-se que a obra se distancia de uma literatura infantil conservadora em que a criana no . Ela um vir a ser. Sua individualidade deixa de existir. Ela potencialidade e promessa18. A personagem menino marrom, apesar de representada como uma criana curiosa, perguntadora e inventora, tem tambm medo de cachorro; logo, sua individualidade respeitada. O meni-no cor-de-rosa apresenta as mesmas dimenses reinadoras do protagonista. Entretanto, apesar de parceiros, como todos os meninos, eles tambm se desentendiam:

    A, vocs vo me perguntar: Mas eles no brigavam nunca?Ah, isto, brigavam. Claro! Imagina os dois juntos o dia inteiro, a cabecinha de cada um funcionando por conta prpria, v se era possvel concordarem em tudo?Grandes brigas!Muito olho roxo, muita unhada, muito soco no peito. E muito cabelo puxado (mo-dalidade em que s o menino marrom levava vantagem).A briga mais famosa dos dois que os deixou separados e de mal por um tempo enorme foi a histrica briga do sou mais eu. Toda a dupla briga esta briga, um dia. Tem sempre a hora da disputa e esta hora pinta assim, sem nenhuma explicao19.

    Assim, o carter questionador e cheio de dvidas da criana que motiva as aes em toda a narrativa.

    Partindo do princpio de que os motivos desequilibradores so muitos (dvidas, sofrimentos, questionamentos, ansiedades, desejos etc.), o ob-jeto-valor, se que posso chamar assim, tambm diverso. Se em muitas narrativas o objeto-valor que precisa ser recuperado (ou encontrado) quase sempre um bem material ou social (dinheiro, mulher, felicidade, posio social etc.); em O menino marrom o objeto-valor o conhecer, o entender o mundo e o homem.

    A narrativa, a partir de ento, construda atravs de um constante e intenso jogo entre a dvida e a descoberta, em que os meninos representam a figura do heri (ou heris) que tem a funo de restituir a ordem; a

    17 Zirldo, O menino marrom, p. 6.18 Rosemberg, Literatura infantil e ideologia, p. 35.19 Id., p. 11.

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    escola, a vida e os livros (o dicionrio, por exemplo) so os doadores, aqueles que desempenham o papel de ajudantes dos heris (funo que outrora foi desenvolvido pela me da menina que ajuda o coelho em Menina bonita do lao de fita). A figura do agressor no representada pela bruxa dos contos de fadas ou por um malfeitor como nos romances policiais, as personagens travam uma luta consigo mesmas, com sua limitaes e incompreenses.

    Nesse sentido, em O menino marrom, os antagonistas no so derrotados de uma s vez, possvel que nem foram vencidos, foram conhecidos. Assim, a trade dvida-busca-descoberta revela aos meninos que

    O mundo no dividido entre pessoas brancas e pretas.Mesmo porque, elas no existem.O que existe que boa descoberta! gente marrom, marrom-escuro, marrom-claro, avermelhada, cor-de-cobre, cor-de-mel, charuto, parda, castanha, bege, flicts, esverdeada, creme, marfim, ocre, caf-com-leite, bronze, rosada, cor-de-rosa e todos aproximados e compostos das cores e suas variaes20.

    E ainda:Nessa de saber de cor e de luz matrias que passam a interess-lo profundamente o menino marrom comeou a entender por que que o branco dava uma idia de paz, de pureza e de alegria. E por que o preto simbolizava a angstia, a solido, a tristeza. Ele pensava: o preto a escurido, o olho fechado; voc no v nada. O branco o olho aberto, a luz!Santa me, a cabea do rapazinho fervia. A, ele conclua: para o Homem, tudo vira smbolo! verdade: o homem foi sempre um grande inventador de moda. Sua cabecinha de adolescente chegava a ranger, crec, crec, crec, ele via a hora que ela ia derreter21.

    Ambos os trechos transcritos so extremamente significativos. Este ltimo apresenta a idia de que o simbolismo do preto e do branco uma construo humana e, portanto, um discurso ideolgico. Como j foi mencionado, tem origem na tradio bblica o simbolismo do preto (maldade, feira etc.) e do branco (bondade, beleza etc.). Como conseqncia, tais formulaes consti-tuem parte intrincada da cultura europia, permanecendo em seu folclore e em seu patrimnio literrio e artstico. O primeiro trecho, alm de afirmar

    20 Id., p. 18.21 Id., p. 29.

  • 125Desconstruo dos esteretipos negativos do negro

    a inexistncia das cores branca e preta (contestao que, alis, feita desde as primeiras pginas do livro) ainda faz meno diversidade tnico-racial que existe no Brasil. A ilustrao, inspirada no quadro Operrios, de Tarsila do Amaral, tambm refora essa condio cultural. Contudo, a exemplo de Menina bonita do lao de fita, a obra de Ziraldo tambm apresenta uma imagem idealizada tanto da miscigenao quanto das relaes inter-raciais.

    O desfecho de O menino marrom no acontece com base num ideal ma-niquesta de felicidade eterna, quase sempre representado pela expresso felizes para sempre. A situao final, nesse sentido, no configura, como nas narrativas romnticas, um retorno ao equilbrio inicial (talvez porque o incio tambm no seja to equilibrado assim, pois o questionar a realidade uma constante em toda a obra). Se retornar significa regressar, voltar etc., em O menino marrom no existe retorno, mas sim prosseguimento. O homem continua seu caminho ambguo pelas estradas incertas da vida:

    S sei que os dois continuam fazendo das suas. Um craque de basque-te e o outro, de voleibol; um j est quase formado e o outro no estuda mais ou os dois j se formaram, todos dois j so doutores j nem posso precisar. S sei que um desistiu de tocar a bateria e o outro fez um samba e gravou uma cano; um est tocando flauta e o outro, violo. Um deles j se casou se casou, eu no sei bem e o outro perdeu a conta das namoradas que tem. Um quer conhecer o mundo e o outro a Patagnia, um o rei da informtica e o outro do vdeo-clip; um andou fazendo cursos de teatro e literatura e o outro j fez figura num festival de cano. Um j conseguiu emprego; o outro foi despedido do quinto que conseguiu. Um passa seus dias lendo ou no sei se so os dois um no l coisa nenhuma, deixa tudo pra depois. Mas, faz cada verso lindo, que ainda vai virar cano. Um pode ser diplomata. Ou chofer de caminho. O outro vai ser poeta ou viver na contramo. Um louco por sorvete de chocolate e o outro detesta o gosto de chocolate com leite; prefere, pro seu deleite, cerveja com tira-gosto. Um adora um som moderno e o outro como que pode? se amarra num pagode. Um dos dois muito alegre e o outro mais quietinho; um faz piadas com tudo e dois riem sozinhos. Um um cara timo e o outro, sem qualquer dvida, um sujeito muito bom. Um j no mais rosado e o outro est mais marrom22.

    22 Id., p. 31.

  • 126 Luiz Fernando de Frana

    Menina bonita do lao de fita e O menino marrom podem ser considerados dois bons exemplos de obras que procuram positivar a figura da personagem negra na literatura infantil e juvenil brasileira. Em O menino marrom, pre-ciso destacar que, alm da positivao dos traos fsicos e da valorizao da identidade do negro, a personagem negra recebe um tratamento artstico mais bem elaborado, ou seja, a figura do negro deixa de ter uma frmula nica (o que o afasta do personagem-tipo ou plano) e recebe contornos mltiplos e desenvolvidos; logo, muito mais humano e individualizado. No resta dvida de que uma das propostas desse tipo de insero do negro na literatura infantil fazer com que o leitor negro sinta orgulho de si prprio e do seu grupo tnico.

    Referncias bibliogrficasCandido, Antonio; Rosenfeld, A.; PRado, Dcio de A.; Gomes, Paulo E.

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  • 127Desconstruo dos esteretipos negativos do negro

    souza, Andria L. Personagens negros na literatura infantil e juvenil, em CavelleiRo, Eliane (org.). Racismo e anti-racismo na educao: repensando nossa escola. So Paulo: Summus, 2001.

    _______. O exerccio do olhar: etnocentrismo na literatura infanto-juve-nil, em PoRto, Maria do Rosrio Silveira et al. (org.). Negro: educao e multiculturalismo. So Paulo: Panorama, 2002.

    ziRaldo. O menino marrom. So Paulo: Melhoramentos, 2002.

    Recebido em maio de 2008.Aprovado para publicao em junho de 2008.

    Luiz Fernando de Frana Desconstruo dos esteretipos negativos do negro em Menina bonita do lao de fita, de Ana Maria Machado, e em O menino marrom, de Ziraldo. Estudos de Literatura Brasileira Contempornea, n. 31. Braslia, janeiro-junho de 2008, pp. 111-127.