Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica
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A CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica é uma revista independente e transdisciplinar que tem por objectivo reunir estudiosos, tradutores, especialistas, clientes e outros profissionais que trabalham com a tradução nas áreas das Ciências Exactas e Naturais, Engenharias e Tecnologias, Ciências da Saúde, Ciências Jurídicas, Economia e Localização de e para a língua portuguesa em toda a sua diversidade.
A CONFLUÊNCIAS é uma publicação em formato electrónico, de acesso livre e gratuito.
COLABORADORES.
Comissão de Redacção.
Ana Hermida Ruibal (Portugal) Edite Prada (Portugal) Eliene Zlatkin (Brasil) Ida Rebelo (Brasil) Isabel Coutinho Monteiro (Portugal) Steve Dyson (Portugal) Vicky Hartnack (Portugal)
Comissão Científica.
Amparo Hurtado Albir (Espanha) Ana Julia Perrotti-Garcia (Brasil) André Antunes Soares de Camargo (Brasil) Antonio Augusto Gorni (Brasil) Artur Portela (Portugal) Carlos Castilho Pais (Portugal) Christianne Nord (Alemanha) Conceição Carvalho (Macau) Diva Cardoso de Camargo (Brasil) Eduardo Lopes d’Oliveira (Portugal) Enilde Faulstich (Brasil) Fernando A. Navarro (Espanha) Fernando Ferreira-Alves (Portugal) Francisco José Magalhães (Portugal) Heloisa Gonçalves Barbosa (Brasil) Hermínio Duarte-Ramos (Portugal) Jacques Pélage (França) Jacques Vissoky (Brasil) João Roque Dias (Portugal) Jorge Cruz (Portugal) José Antonio Sabio Pinilla (Espanha) Manuel Gomes da Torre (Portugal) Margarita Correia (Portugal) M.ª Manuela Fernández Sánchez (Espanha) M. Teresa Cabré (Espanha) Oscar Diaz Fouces (Espanha) Pedro Coral Costa (Portugal) Ricardo Muñoz Martín (Espanha) Rodolfo Alpízar Castillo (Cuba) Rute Costa (Portugal) Sonia Collina (Estados Unidos da América) Steve Dyson (Portugal) Virgínia Matos (Portugal) Vivina Figueiredo (Portugal)
FICHA TÉCNICA.
Directora. Rosário Durão. Directora-Adjunta. Manuela Paiva. Assessora. Isabel Nogueira.
Periodicidade. Semestral (Maio e Novembro).
Entidade Proprietária e Editor. Maria do Rosário Frade Durão.
Contribuinte N.º. 152 886 486.
Morada e Sede de Redacção. Rua Jorge Colaço, 35, 4.º Esq. – 1700-252 Lisboa – Portugal.
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ISSN. 1645-9350.
© CONFLUÊNC AS – Revista de Tradução Científica e Técnica. I
1
Editorial 3Cartas à CONFLUÊNCIAS 6Artigos e ComunicaçõesTradução e Localização Jacques PELAGE Les défis de la traduction juridique 8 Oscar DIAZ FOUCES A Localização de Páginas da Internet na Formação de Tradutores 16 Vicky HARTNACK Short Terms, Long Search: Trying to Make Sense of Abbreviations 53
Terminologia e Lexicologia Ana Julia PERROTTI-GARCIA Reflexões sobre as Qualidades de Um Bom Glossário Técnico: Limites e Limitações 68 Ida REBELO Léxico, Regras e Idiossincrasias 77
Entrevista Entrevista a Jacques VISSOKY. Médico-Tradutor Brasileiro 88
Notas e Apontamentos Maria João B. REIS Traduzindo Fitness na Teoria da Complexidade 93 Maria José FIGUEIREDO Uma Dificuldade de Tradução Filosófica 95 Rosário DURÃO Temos Uma Disciplina 97
Glossários André Antunes Soares de CAMARGO Vocabulário Jurídico do Direito de Empresa no Novo Código Civil Brasileiro 99 Hermínio DR Confluência Polissémica na Terminologia Gráfica 105
Recensões Críticas e Resumos de Teses e Dissertações Jorge CRUZ Medicina e Farmácia em 11 Línguas 115 Ana Hermida RUIBAL Diccionario español-portugués/português-espanhol de términos comerciales, económicos y jurídicos 117
Relatórios de Eventos e Actividades Chrys CHRYSTELLO «3.o Colóquio Anual Internacional da Lusofonia» 120 Rosário DURÃO E Manuela PAIVA Duas Acções de Formação: «Seminário de Terminologia e Terminografia» e «A Localização de Páginas da Internet» 122 Manuela PAIVA «Entrega do Prémio de Tradução Científica e Técnica – 2004» 124 Ângela RODRIGUES «VI Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa» 126
Notas sobre os Autores 129
Í N D I C E
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Iniciamos aqui uma nova proposta editorial.
Um espaço de CONFLUÊNCIAS.
Um fórum de todos os agentes do universo da tradução – académicos, tradutores, clientes,
especialistas...
Um veículo de saberes e experiências da tradução – científica, técnica, tecnológica...
Um lugar em português e outras línguas sobre a tradução de e para a língua portuguesa – de Portugal,
do Brasil e de todos os outros países ou territórios onde se traduz de português ou para português ...
Um sítio de reflexão, diálogo, incentivo – de todos nós, para todos nós...
Estas são as grandes orientações da CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica,
publicação que acompanha o esboço de uma tendência para se falar da tradução especializada e para
se criarem conteúdos sobre tradução especializada, fazendo-o, singularmente, do ponto de vista da
língua portuguesa.
O contexto não podia ser melhor. Um mundo onde tudo adquire contornos globais torna o conhecimento
e a sua transmissão em todas as línguas e entre todas as línguas a matéria-prima mais valiosa. Aumentam
as exigências aos tradutores, aos formadores, aos investigadores. Diversifica-se o entendimento e
a prática da tradução. Começa-se a normalizar a profissão. Melhora-se a formação dos tradutores,
abrindo-a às realidades profissionais. Investiga-se a tradução em todas as suas dimensões.
São numerosas, pois, as oportunidades que se nos apresentam. Por isso, dedicámos este número
1 da semestral CONFLUÊNCIAS ao tema «Desafios e Perspectivas da Tradução Científica e
Técnica».
E, de facto, os artigos que nela publicamos espelham bem a latitude dos mesmos. Jacques Pélage
situa os desafios da tradução jurídica ao nível do conceito, dos tradutores e das situações que a
envolvem, apontando-lhe boas, mas variáveis, perspectivas.
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Para Oscar Diaz Fouces, a localização é uma das melhores expressões de um novo momento histórico,
sendo o conhecimento e ensino da tradução de páginas da Internet um grande desafio das instituições
de ensino superior e, naturalmente, uma excelente oportunidade para as novas gerações que desejam
fazer da tradução um meio de vida.
Já Vicky Hartnack mostra como a tradução de siglas, acrónimos e abreviaturas em textos económicos
e financeiros escritos em português é um desafio constante para os tradutores, devido a fenómenos
como o empréstimo de designações estrangeiras ou a coexistência com outras equivalentes na nossa
língua, apontando diversas estratégias para a sua resolução.
E porque a relação entre a Tradução, a Terminologia e a Lexicologia é estreita, publicamos os artigos de
Ana Julia Perrotti-Garcia, que enumera as características dos bons glossários, que tão necessários
são aos tradutores de Ciências e Tecnologias, e de Ida Rebelo, que transporta para a criação de novas
palavras o processo de decisão que atravessa todo o acto de traduzir.
E como a CONFLUÊNCIAS se propôs, ela mesma, o desafio – talvez o mais arriscado – de congregar
muitas vozes nas suas páginas, destacamos o percurso que levou o médico Jacques Vissoky à
tradução de Medicina e o seu convite implícito para que a formação de tradutores contemple, mais
amiúde, esta área do conhecimento.
Sublinhamos também os apontamentos de Maria João B. Reis e Maria José Figueiredo, que dão
conta da utilidade de material de referência numa terceira língua e de quanto a tradução de Filosofia
se aproxima do rigor, tradicionalmente associado às Ciências e Tecnologias.
Chamamos, ainda, a atenção para os glossários que ora se publicam, um no âmbito do Direito, o outro
sobre Terminologia Gráfica, dos nossos colaboradores André Antunes Soares de Camargo e
Hermínio DR.
E porque a divulgação do que se vai escrevendo e realizando em torno da tradução é a melhor forma
de a consolidar e aprofundar, publicamos aqui recensões a dois dicionários e relatos de alguns eventos
e acções de formação.
Não menos importante para o florescer de uma área do conhecimento e da experiência prática é o
diálogo crítico em seu redor. Este foi o motivo da secção «Cartas à CONFLUÊNCIAS», que, neste
número inaugural, contém os comentários de alguns dos nossos colaboradores à ideia da revista, mas
que esperamos venha a tornar-se um espaço onde as reacções e contributos dos nossos leitores aos
conteúdos da revista tenham um lugar cativo.
O objectivo principal deste número 1 foi, pois, contribuir para lançar o debate sobre a tradução científica
e técnica, especialmente de e para a língua portuguesa. A sua continuidade depende de todos nós.
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Não gostaríamos de concluir este editorial sem agradecer às pessoas que tão amavelmente se
disponibilizaram a escrever para a revista, e a todas as que têm ajudado a tornar a CONFLUÊNCIAS
– Revista de Tradução Científica e Técnica um nome conhecido de alguns.
Um agradecimento muito especial à extraordinária equipa editorial, particularmente ao Prof. Doutor
Francisco José Magalhães, pela amizade e apoio constante, e ao Prof. Doutor Carlos Castilho Pais, pelo
seu optimismo e exemplo de dinamismo. À União Latina também, nas pessoas da Dr.a Maria Renée
Gomes e do Dr. Daniel Prado, o nosso muito obrigada pelo valioso contributo que deram, alojando as
nossas páginas no seu sítio durante os seus primeiros meses de vida.
Por um futuro auspicioso, feito de muitas vozes e de muitos universos...
ROSÁRIO DURÃO
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Congratulo-me com a iniciativa que, amavelmente,
traz ao meu conhecimento. O panorama das
publicações na área da tradução técnica é, como
sabe, paupérrimo. Uma iniciativa editorial desta
natureza reveste-se, pois, do maior interesse. [...]
tenho de me confessar deliciada com a ideia da
Revista.
Virgínia MatosTradutora independente de Biologia, Biotecnologia e Medicina
Antes de mais, saúdo a sua iniciativa para criar
uma revista que acolha opiniões sobre a tradução
em Portugal. De facto, durante muito tempo, foi
negado à tradução (tanto ao seu ensino como à
sua prática) o estatuto de disciplina académica. Os
(órgãos) universitários olhavam com suspeita para
uma actividade que, bem vistas as coisas, estava
na base dos conhecimentos que lhes chegavam
quando gerados em línguas estranhas e aos quais
nunca teriam acesso se a tradução não tivesse
intervindo. Depois, quando as universidades e
outras instituições de ensino superior começaram
a investir na formação de tradutores, foram os
tradutores praticantes, na maior parte dos casos
sem preparação específica, que viam mal aqueles
que iam saindo das escolas com uma formação
(necessariamente básica) em tradução. Suponho
que esta segunda dificuldade ainda não foi
totalmente ultrapassada devido à existência de
um inaceitável corporativismo retrógrado.
Serve este arrazoado para lhe dizer que o
surgimento de uma revista que divulgue o que se
vai fazendo em tradução é algo para festejar.
Manuel Gomes da TorreProfessor CatedráticoFundador do primeiro curso de Licenciatura em Tradução em instituições portuguesas de ensino superior, fundador e criador do Mestrado em Estudos de Tradução
De fato, infelizmente muito pouco foi feito
na área de traduções técnicas para a língua
portuguesa. No Brasil, lamentavelmente, isso vem
sendo «resolvido» com a incorporação de termos
técnicos estrangeiros à língua, já que falta um
mecanismo de padronização de ampla aceitação.
Isso ocorre inclusive com termos de amplo uso,
como os da área de informática. Daí a importância
desta iniciativa...
António Augusto GorniEngenheiro de Materiais e editor-técnico da revista Plástico Industrial, professor no Departamento de Metalurgia da UniFEI-Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana
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Enviar correspondência para:
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As publicações sobre tradução em língua
portuguesa – quase sempre tratam de tradução
literária e realmente há muito que investigar
em Portugal sobre as traduções não-literárias
para poderem/podermos formar melhor os
futuros tradutores licenciados e termos,
consequentemente, traduções de melhor
qualidade em Portugal.
Ana Hermida RuibalTradutora independente e doutoranda em Tradução e Linguística.
Sim, li o blurb e, de facto, acho o projecto
interessante e inovador. [...] É a responsabilidade
de todos nós fazermos sair uma publicação de
qualidade.
Vicky HartnackTradutora e Docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Como director de Panace@: Revista de Medicina
y Traducción, ya en su quinto año y con 16
números publicados, me apresuro a enviar os mis
mejores deseos de éxito. Además de publicaciones
hermanas por su contenido, Panace@ y
CONFLUÊNCIAS son también hermanas de origen,
pues escribo desde suelo ibérico.
Fernando NavarroMédico-Tradutor e Director da revista Panace@
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LES DÉFIS DE LA TRADUCTION JURIDIQUE
JACQUES PELAGE
Chercheur-formateur
Résumé d’Article:
La traduction juridique est un défi pour le traducteur, d’une part, parce qu’il s’agit d’une notion aux
frontières incertaines, d’autre part, parce que le contenu et le niveau des connaissances requises
doivent répondre à des besoins divers, et, enfin, parce que les perspectives qui s’offrent aux traducteurs
juridiques sont réelles mais doivent être appréciées en fonction de diverses situations. Les textes
juridiques sont des normes ou des discours sur les normes. Or celles-ci peuvent s’appliquer à des
domaines autres que le droit. La notion de texte juridique est donc marquée du sceau de la relativité,
ce qui a une incidence sur le contenu et le niveau des connaissances nécessaires au traducteur.
Une connaissance des disciplines juridiques est nécessaire au traducteur juridique occasionnel, au
traducteur juridique spécialisé et au traducteur assermenté, pour comprendre les discours, pour les
réexprimer correctement, mais aussi pour avoir un regard critique sur les sources documentaires.
En outre, certaines disciplines relèvent de la culture générale, tandis que d’autres appartiennent à des
secteurs très spécialisés : d’où des niveaux de technicité variables chez les traducteurs. Les perspectives
de la traduction juridique doivent être envisagées dans plusieurs cadres d’exercice de la profession et
en fonction du statut des langues en présence dans un cadre donné.
Les traducteurs lusophones ont certainement une carte à jouer car, tant au Portugal qu’au Brésil,
le droit a assimilé des apports étrangers et son étude constitue en soi une ouverture sur d’autres
systèmes juridiques.
Mots-Clés:
Traduction juridique; Discours juridique; Connaissance spécialisée.
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Resumo:
São vários os motivos pelos quais a tradução jurídica constitui um desafio para os tradutores: a
imprecisão do próprio conceito, o facto de o conteúdo e nível de conhecimentos exigidos do tradutor
variarem segundo a natureza das soliticações e a necessidade de interpretar as perspectivas reais que
se oferecem ao tradutor à luz das mais diversas situações. Os textos jurídicos são normas legais, ou
discursos sobre normas legais, que, por se reportarem frequentemente a outras áreas do conhecimento,
relativizam a noção de «texto jurídico», reflectindo-se no tipo e nível de conhecimentos do tradutor.
Os tradutores jurídicos — dos ocasionais aos especializados e ajuramentados — devem conhecer todas
as áreas do direito, pois só assim saberão compreender e reexprimir os textos correctamente e avaliar
as fontes documentais de forma crítica. Por outro lado, se algumas áreas do direito exigem apenas uma
boa cultura geral, outras há cujo grau de especialização não dispensa um tradutor verdadeiramente
especializado, o que significa que não se pode falar de um tradutor jurídico padrão, mas, antes, de
tradutores jurídicos com diferentes níveis de competência técnica.
As perspectivas da tradução jurídica são também variadas, diferindo segundo os modos de exercer a
profissão e o estatuto de cada língua. Os tradutores lusófonos, por exemplo, têm um papel importante
a desempenhar, tanto em Portugal, como no Brasil, porque os seus sistemas jurídicos assimilaram
conceitos vindos de outros e porque o estudo dos seus próprios sistemas depende da abertura aos
outros.
Palavras-Chave:
Tradução jurídica; Discurso jurídico; Conhecimento especializado.
Abstract:
Legal translation presents a number of challenges. First, the very concept of “legal translation” is ill-
defined. Second, the content and level of understanding required to do the job must accommodate a
range of needs. And lastly, the prospects open to legal translators, though real, must be interpreted in
relation to a range of situations.
Legal documents are rules of law, or discourses thereon, which often cover areas other than law. The
concept of the legal document is thus unavoidably relative, which, in turn, affects the content and
level of understanding required of the translator.
Like the specialist, sworn and occasional legal translators need to know about various legal fields if
they are to understand the discourse and re-express it correctly while keeping their critical guard up
when using documentary resources. And whereas certain types of work require general knowledge,
others demand truly specialised knowledge. As a result, the type of work determines the technical
competence required of the translator.
The outlook for legal translation needs to be considered in relation to the various ways of exercising
the profession and according to the status of the languages involved. Translators working into or out
of Portuguese certainly have a role to play, be it in Portugal or Brazil, as their legal systems adopt
concepts from abroad, which means that studying these systems means reaching out to others.
Keywords:
Legal translation; Legal discourse; Specialized knowledge.
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Danica Seleskovitch, qui fut à l’origine de la théorie interprétative en traduction et de l’école dite
de Paris, disait parfois qu’il faut bien distinguer les problèmes de la traduction des problèmes des
traducteurs. Certes, on ne peut tracer une frontière étanche entre les deux, et on note que Danica elle-
même a fort bien expliqué que la pratique de l’interprétation de conférence est un bon observatoire
des phénomènes de transfert interculturel. Pour montrer que le traductologue doit, cependant, prendre
du recul par rapport aux faits de traduction, elle rappelait aussi que ce n’est pas en théorisant sur
les accidents d’avion que l’aéronautique a progressé. C’était, sans doute, une façon de montrer les
limites des écrits qui se contentent de gloser sur des erreurs de traduction. Mon propos, aujourd’hui,
est surtout orienté vers les problèmes des traducteurs et les compétences qui leur sont nécessaires
pour aborder la traduction juridique, un défi permanent. Comme d’habitude, mon optique sera plus
technique que linguistique.
Tout d’abord, je me livrerai à quelques réflexions sur la notion de traduction juridique (I), puis j’exposerai
mes idées sur le contenu et le niveau des connaissances requises chez le traducteur juridique (II), pour,
enfin, livrer au lecteur quelques considérations relatives aux perspectives de la traduction juridique (III).
I. Quelques reflexions sur la notion de traduction juridique
Ne revenons pas sur les caractéristiques du « langage du droit » dans les différents systèmes juridiques,
car ils ont été abondamment exposés par les spécialistes de la linguistique et du droit comparé.
Rappelons seulement que le traducteur ne travaille pas sur des langues, mais sur des discours. Il doit,
par conséquent, être familiarisé avec les différentes formes de discours existant dans les systèmes
dans le cadre desquels sont produits les textes qui lui sont soumis : discours du législateur, du juge,
du jurisconsulte, du praticien, pour reprendre une classification habituelle. Toutefois, la question se
pose de savoir si la traduction juridique se limite à la traduction de discours juridiques ou si elle peut
dépasser ce cadre. C’est la nature même du Droit qui impose cette question. En effet, il a une double
particularité : celle d’édicter des normes, d’une part, celle de régir tous les domaines de l’activité
humaine, d’autre part. Evidemment, ceci peut être déterminant dans le choix du traducteur.
I. 1. Textes énonçant le droit
Les textes qui énoncent le droit sont des discours normatifs ou des discours sur les normes. Dans la
première catégorie entrent les textes législatifs, textes de loi au sens formel, ou réglementaires, des
« lois » au sens fonctionnel, à savoir des décrets ou des arrêtés, qui émanent du pouvoir exécutif.
On peut y rattacher certaines décisions de justice, car le juge ne se contente pas toujours de dire le
droit : il le crée, par exemple dans le système de Common Law dont la cohérence se fonde sur la règle
du précédent, ou encore en droit administratif français, construit en partie sur la jurisprudence du
Conseil d’Etat. Le discours normatif, au sens large, peut donc être l’œuvre du parlement, du pouvoir
11
exécutif, ou du judiciaire. Mais les contrats, qui sont « la loi des parties », peuvent également être
considérés comme des normes privées.
Tous ces textes sont a priori juridiques, notamment parce qu’ils obéissent généralement à des règles de
forme propres au domaine juridique : par exemple, en droit français, rédaction subdivisée en articles dans
la loi, existence de visas dans un règlement, organisation en attendus dans une décision de justice.
Dans un sens plus large, on doit, selon moi, inclure dans cette catégorie les textes émanant de la
doctrine et même ceux des commentateurs et des vulgarisateurs qui font connaître le droit. Le critère
de la juridicité d’un texte devient alors un objet relevant de ce que l’on appelle les grandes branches du
droit privé – droit de la famille, des obligations, des biens, des successions, droit commercial, droit du
travail –, du droit public – droit constitutionnel, droit administratif, droit international public, finances
publiques –, et du droit pénal. A noter que le découpage du droit en branches n’est pas le même dans
tous les systèmes.
Toutefois, les discours sur les normes n’ont pas les effets de droit qui sont le propre des textes
normatifs.
I. 2. Textes ayant des effets de droit
Doit-on, pour autant, considérer comme juridiques, du point de vue strict de la traduction, tous les
textes qui produisent un effet de droit ? Concrètement, une loi relative à la recherche sur les embryons
est-elle plus juridique que médicale ? La réponse ne va pas de soi. En effet, les lois et les règlements
peuvent, dans le monde moderne, régir des activités agricoles, industrielles ou commerciales : ils ne
sont donc pas juridiques par leur contenu. C’est pourquoi j’ai souvent parlé de textes mixtes, dans
lesquels la dominante peut ne pas être le droit, en dépit d’un caractère normatif évident.
En bref, certains textes sont juridiques par leur forme, leur contenu et leurs effets. D’autres ne remplissent
pas ces trois conditions, ce qui amènera les donneurs d’ouvrage à réfléchir sur le choix du traducteur.
La notion de traduction juridique doit donc être envisagée suivant ces quelques réflexions sommaires
: la traduction juridique, stricto sensu, est la traduction des textes qui relèvent des domaines couverts
par les branches du droit dans un système juridique donné, qu’il s’agisse de discours normatifs ou de
discours sur les normes. Elle peut éventuellement porter sur tout texte produisant un effet de droit,
mais il y a lieu alors de s’interroger sur le domaine d’activité visé ainsi que sur la nature et le dosage
des compétences à mettre en œuvre dans l’opération traduisante. D’ailleurs dans certaines cultures, les
rites sociaux ou la religion couvrent des domaines couverts par le droit : ainsi, un texte peut devenir
juridique dans une société, alors qu’il ne l’était pas à l’origine.
La notion de texte juridique est donc marquée du sceau de la relativité.
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II. Contenu et niveau des connaissances requises chez le traducteur
Tout d’abord, il y a lieu de distinguer le traducteur juridique occasionnel, du traducteur juridique
spécialisé et du traducteur assermenté. Pratiquement tous les traducteurs sont amenés à traduire des
textes juridiques au sens large : un traducteur technique sera confronté à un contrat ; un traducteur
littéraire trouvera dans une œuvre le déroulement de procès. Cela n’a rien d’étonnant, car le droit d’un
pays fait naturellement partie de la composante culturelle que tout traducteur doit pouvoir prendre
en considération. En outre, le droit, comme d’ailleurs la science, fait partie jusqu’à un certain degré
de technicité de la culture générale de l’homme moderne. Soyons catégorique : il ne faut pas choisir
le métier de traducteur si l’on est allergique au droit, qui, répétons-le, imprègne toutes les activités
humaines du monde moderne ; il ne faut pas non plus s’offusquer de voir un ingénieur traduire un
texte dit juridique mais à dominante technique. Ce sera un traducteur juridique occasionnel, à moins
qu’il n’entreprenne de se spécialiser dans le droit.
Quant au traducteur juridique spécialisé, il doit être un initié, c’est-à-dire maîtriser les concepts, la
terminologie et l’organisation de la matière du droit dans les système de la langue d’arrivée et de
celle de départ. Le traducteur assermenté, quant à lui, doit avoir ce profil, mais il a parfois à établir
une traduction certifiée d’un texte non juridique : son rôle est celui d’un expert chargé de mettre sa
compétence à la disposition d’autorités administratives ou judiciaires.
On voit donc que les connaissances requises en traduction juridique sont variables. Je précise que ces
connaissances peuvent être élevées sans être pour autant sanctionnées par un des diplômes nécessaires
aux spécialistes du droit que sont les juristes. Mais l’expérience ne doit pas faire oublier le recours à la
connaissance, nécessaire même aux traducteurs chevronnés dès lors qu’ils refusent l’à-peu-près.
II. 1. La raison d’être des connaissances juridiques
On sait que les connaissances des langues ne suffisent pas pour exercer la profession de traducteur. La
compréhension complète d’un texte n’est possible que si l’on connaît le domaine traité ; la connaissance
de ce domaine permet également la réexpression fidèle dans la langue d’arrivée du discours compris.
Disons, par parenthèse, que l’approche technique de l’initié garantit des performances plus rapides
que l’approche linguistique, car le langage spécialisé s’acquiert en même temps que la spécialité elle-
même : le médecin, l’ingénieur et le juriste n’ont pas besoin d’un enseignement à base linguistique
pour s’exprimer dans leurs domaines de compétence.
Toutefois, cela ne signifie pas qu’ils ne commettent pas de fautes de langue dans leur propre spécialité.
C’est pourquoi, par exemple, les spécialistes de la linguistique et de la stylistique juridiques insistent
toujours sur des erreurs qui se répètent chez les praticiens du droit : en français, on ne doit pas dire
que la loi « stipule », car elle « dispose » ; « conjointement et solidairement » recèle une contradiction ;
« termes et conditions » ne correspond pas à l’anglais « terms and conditions ».
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En bref, le traducteur juridique doit connaître le droit, non seulement pour bien comprendre le texte
et en restituer le sens, mais encore pour avoir un regard critique sur les solutions proposées par les
dictionnaires et les manuels de toutes sortes, dont beaucoup mériteraient de subir le même sort que
la bibliothèque de Cervantes. Il faut également se méfier des traductions antérieures, car certaines
erreurs se transmettent de traduction en traduction, grâce, notamment, aux outils informatiques.
II. 2. Le contenu des connaissances requises en traduction, à la lumière de la pratique
Evidemment, on n’en sait jamais trop, mais le pragmatisme amène à conseiller au traducteur
non-juriste de ne pas se disperser. Il me semble que tout dépend de la sphère dans laquelle le praticien
va exercer ses talents : dans les organisations internationales et les institutions communautaires, il doit
avoir une bonne connaissance des institutions et des traités. Mais je ne pense pas que le traducteur
libéral ait souvent à utiliser de telles connaissances : pour lui, la priorité revient aux droits des contrats,
des biens, des sociétés, du commerce international. Quant à l’expert auprès des tribunaux, il doit avoir
des idées claires sur l’organisation judiciaire et les procédures.
Certaines connaissances juridiques doivent faire partie de la culture générale de tous les traducteurs :
contour des branches du droit dans un système donné, bases du droit constitutionnel, théorie générale
des obligations. D’autres ne sont indispensables que dans certaines formes de traduction spécialisée :
régimes matrimoniaux, droit des successions, sûretés, par exemple.
Enfin, le niveau de technicité des textes signifie que le degré de compétence des traducteurs est
également variable. Au niveau le plus élevé, le traducteur doit pouvoir collaborer avec le juriste à
l’étude d’un dossier en langue étrangère. Dans la pratique, il est souvent fait appel, dans ce cas, à
un juriste dit linguiste, mais le résultat n’est garanti que s’il s’est réellement formé à l’exercice de la
profession de traducteur.
III. Quelques considérations sur les perspectives de la traduction juridique
Il faut se garder des considérations trop générales, car plusieurs situations sont à examiner. Ainsi,
il faut tenir compte du cadre dans lequel s’effectue la traduction (relations internationales, cadre
européen), du donneur d’ouvrage (organisme public, juridiction, ou particulier), de la portée juridique
de la traduction (texte faisant foi, ou simple information), des langues en présence (statut dans un
cadre donné). Ceci peut aboutir à distinguer plusieurs sous-marchés de la traduction juridique, ce qui
implique des contraintes différentes pour le traducteur. Au risque de me tromper, ce dont le lecteur
voudra bien m’excuser, je vais m’en tenir à l’exemple de la traduction de portugais.
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III. 1. Le cadre de la traduction
Le portugais est une des langues les plus parlées dans le monde, et les relations culturelles et
économiques dans cette langue sont importantes. D’où un besoin réel de bonnes traductions juridiques
vers cette langue ou à partir d’elle. Toutefois, il semble que ce soit le portugais du Brésil qui pèse le plus
dans ces relations, d’où la nécessité de se documenter sur le droit brésilien, dans son ensemble, sans se
contenter de s’interroger sur les institutions politiques.
En Europe, le portugais, important comme langue de culture, se heurte au poids économique
et institutionnel de l’anglais, du français et de l’allemand. Il ne semble pas destiné à devenir une
langue-pivot dans l’Union Européenne. Mais cette situation peut se transformer en avantage pour les
traducteurs lusophones, dont le niveau dans les trois langues citées est généralement élevé. En effet,
le droit civil, tant au Portugal qu’au Brésil, a été influencé successivement par le droit français et par le
droit allemand, ce qui donne au traducteur des possibilités d’approche comparative que n’ont pas, dans
la plupart des cas, les germanophones et les francophones. Enfin, il existe en portugais d’excellents
ouvrages destinés aux praticiens du droit : traités et formulaires juridiques, notamment. Il y a là des
outils fort utiles pour ceux qui traduisent vers le portugais.
Aussi bien à Bruxelles, qu’à Luxembourg ou à Strasbourg, les traducteurs juridiques portugais ont des
atouts à faire valoir. D’une manière plus générale, en particulier sur les marchés privés, ils ont leur place
s’ils possèdent de bonnes connaissances des droits allemand, anglais et français.
III. 2. Le statut des langues
C’est une question à avoir à l’esprit dans le choix des combinaisons linguistiques. Des langues
européennes ont le statut de langue officielle dans le cadre des Nations Unies : l’anglais, l’espagnol
et le français. A la Chambre de Commerce Internationale, dont le siège est à Paris, les deux langues
de base sont l’anglais et le français. Dans les Institutions européennes, ces deux langues sont aussi au
premier rang. Si la domination de l’anglais est nette dans les domaines économique et technique, le
français marque encore le système juridique européen en cours de création.
Les Lusophones qui ont le courage d’approfondir le droit de Common Law et le droit français ont une
carte unique à jouer, car, en dehors de la traduction proprement dite, les besoins ne manquent pas dans
des domaines voisins, tel celui de la terminologie. A noter que la documentation juridique en anglais
et en français est abondante et d’accès facile. Toutefois, les dictionnaires et formulaires bilingues sont
à manier avec précaution. J’en parle avec d’autant plus de liberté que c’est un terrain sur lequel je me
suis moi-même aventuré.
15
Conclusion
La traduction juridique est un défi parce que les perspectives d’activité pour les traducteurs me semblent
réelles. Je me permets de dire que les écoles de traducteurs ont pris du retard en la matière, parce que
deux tendances antagonistes s’y sont manifestées : l’une consistant à voir dans la traduction juridique
une forme de traduction générale dans laquelle une vague teinture juridique pourrait suffire, l’autre
y voyant un domaine réservé aux juristes en raison d’une technicité réelle bien que non visible à l’œil
nu. A l’inverse, trop de juristes ont cru qu’il suffisait de quelques connaissances en langues étrangères
pour traduire.
Or le seul moyen pour les traducteurs de s’adapter aux différents cadres institutionnels, et aux divers
donneurs d’ouvrages, est de bien maîtriser l’organisation des principales familles de droit, les concepts
et la phraséologie des langues de travail, bref d’avoir une véritable culture juridique. Les juristes doivent
aussi jouer un rôle à la périphérie de la traduction, notamment en terminologie, à condition qu’ils
prennent conscience du fait que la traduction est une authentique spécialité.
16
A LOCALIZAÇÃO DE PÁGINAS DA INTERNET NA FORMAÇÃO DE TRADUTORES
OSCAR DIAZ FOUCES
Universidade de Vigo
Para o Francisco Magalhães,Coração de Leão
Resumo:
Este artigo caracteriza sinteticamente o espaço académico da localização de páginas da Internet a
partir do papel social que corresponde a essa actividade e das principais circunstâncias profissionais
que ela envolve.
Palavras-Chave:
Localização; Tradução; Páginas da Internet; Conteúdos electrónicos; Formação académica
Abstract:
This paper presents a brief analysis of website localization in the academic world considering the
activity’s social role and the main characteristics of the profession.
Keywords:
Localization; Translation; Web pages; Electronic content; Academic training.
PRELIMINAR (QUASE) DESNECESSÁRIO
Os teóricos das Ciências Sociais distinguem habitualmente três «revoluções» no mundo ocidental,
começando pela Revolução Industrial que, no século XIX, trouxe mudanças fundamentais como a
substituição da sociedade de castas pela sociedade de classes, o deslocamento maciço das populações
do campo para as cidades, a sua integração no caos da organização industrial e o correspondente
choque psicológico. Já no século XX, esta revolução iria sofrer um processo de aceleração histórica que
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17
coincidiu com o extraordinário desenvolvimento tecnológico, nomeadamente, das (tele)comunicações.
Este processo receberia uma nova dinâmica com as crises energéticas dos anos 60 e 70, acompanhando
o alvor da sociedade pós-moderna (ou, por outras palavras, da sociedade «da informação») que
caracterizou o último quartel do século XX e os primeiros anos do XXI, ainda agora encetado (v. Lucas,
García & Ruiz 1999).
Entre as características desta nova era, encontra-se o aumento da mobilidade - social, física e psicológica
- que abalou os modelos de organização social tradicionais e transformou a «comunicação» na
palavra de ordem. É, hoje, um lugar-comum afirmar que uma pessoa tem acesso a mais informação
num só dia do que alguém nascido nos primeiros anos do século XVIII, em toda a sua vida.
A possibilidade de transmitir informações de forma maciça e virtual para o mundo inteiro (embora
sujeita às limitações impostas pelas várias formas de censura ideológica e os muito menos subtis
constrangimentos económicos) está directamente relacionada com a criação, pela primeira vez, na
história da Humanidade, de uma área de intercâmbio comercial, baseada no mercado livre, e de âmbito
global. Não será por acaso que nos referimos a este fenómeno pelo nome de «globalização». Um dos
traços mais relevantes desta nova dinâmica é o processo, também maciço, de alargamento das redes
de comunicação, cujo símbolo (e suporte) maior é a Internet.
A importância deste fenómeno até pode ser quantificada. Atente-se, por exemplo, a estes dados:
«Según un estudio de la Universidad de California, Berkeley (Lyman y Varian,
2000), en la web hay unos 550.000 millones de documentos (95% de ellos
abiertos al público), y la información on line está creciendo a un ritmo de 7,3
millones de páginas web al día. [...] La producción anual de información en todo
el mundo y bajo diversas formas es de 1500 millones de gygabites, de los cuales
el 93% se produjo en formato digital durante el año 1999.» (Castells 2001, 108)
A eficácia do processo de comunicação numa rede de transmissão de informações que abrange todo
o planeta implica, obviamente, a presença de conteúdos próprios e de estratégias de comunicação
ad hoc. A mais evidente é a necessidade de optimizar esses conteúdos para atingir o público-alvo
da forma mais eficaz. Dado que esse público é, por definição, heterogéneo quanto à sua origem, a
planificação atenta dos elementos linguístico-culturais das mensagens e das informações parece ser
uma necessidade premente.
O facto de o inglês ser, actualmente, «a língua» universal da comunicação não parece ser incompatível,
por enquanto, com a tendência para a especialização linguística dos produtos que circulam na rede,
nomeadamente (mas não só) os produtos informáticos. Na verdade, detecta-se uma tendência
crescente nesse sentido. Num interessante texto de divulgação publicado na versão digital de The
Atlantic Monthly, em Novembro de 2000 («What Global Language?» <http://www.theatlantic.com/
issues/2000/11/wallraff3.htm>), Barbara Wallraff afirmava:
18
«According to one estimate that has been widely repeated over the past few
years, 80 percent of what’s available on the Internet is in English. Some
observers, however, have recently been warning that this may have been the
high-water mark. It’s not that English-speakers are logging-off — au contraire
— but that people are increasingly logging on, to search out or create content
in their own languages. As the newsletter that The English Company prepared
for the British Council asserted in September of 1998, “Non English Speakers
are the Fastest Growing Group of New Internet Users”.»
O aumento da diversificação linguística dos produtos e conteúdos informáticos desencadeou um
conjunto de dinâmicas económicas e linguístico-culturais que têm hoje designações específicas. Na
gíria técnica, é habitual apelidar «internacionalização» (do inglês internationalisation, abreviado
como I18N) ao processo de criar produtos e depurá-los de forma a poderem ser consumidos em qualquer
parte do mundo por um teórico público-alvo global. Reserva-se ainda a etiqueta de «localização»
(do inglês localisation, L10N) para o processo complementar de adaptação linguístico-cultural dos
produtos, em função de cada mercado.
DA REDE ÀS UNIVERSIDADES
Este conjunto de processos e dinâmicas apresenta-se como um quadro bastante interessante para os
profissionais da mediação linguística – não sendo por acaso que as áreas da tradução e da interpretação
se tornaram objecto de especial atenção nos últimos tempos.
O período subsequente à Segunda Grande Guerra coincidiu com o (re)nascimento do interesse pela
tradução, tendo-se multiplicado os centros universitários de formação de tradutores e intérpretes. Por
motivos óbvios, essa rede foi especialmente profícua nas estruturas multiestatais, nomeadamente na
Europa, cujo potencial económico é indiscutível, podendo investir uma parte significativa do orçamento
comunitário na perpetuação - e garante – do actual statu quo (multi)linguístico dentro das fronteiras
da União Europeia.
Recorde-se, a propósito, que, entre 1996 e 1999, o Conselho da Europa desenvolveu o Programa MLIS
(Multilingual Information Society Program) que, graças a um orçamento de 15 milhões de euros,
promoveu a diversidade linguística, o acesso à informação, a optimização do uso das novas tecnologias
e o estímulo à criação de serviços multilingues (1). O relatório final da avaliação foi realizado pela
ECOTEC Research and Consulting Ltd., entre Dezembro de 1999 e Junho de 2000, apresentando,
no capítulo reservado às conclusões e recomendações (capítulo 7), um conjunto de prioridades que
reproduzimos a seguir, salientando a terceira:
19
«However, multilingualism within the EU has a special significance because of
the strong nexus of economic, cultural and political issues involved. In the light
of the evaluation findings there is a strong case for incorporating the following
priorities in future programmes:
. Priority 1 The need to stimulate demand for language services applying
ICT. It is especially important to find ways to support SME in defining and
implementing language strategies. Identifying good practice and stimulating
interaction between resource holders, users and tool developers can assist this.
. Priority 2 The need for some infrastructure and technical issues, IPR,
standards, terminology etc.
. Priority 3 The need to encourage the localisation of the Internet. This,
however, is not only an EU issue. Localisation is likely to take place and there
are not evident market failures.
. Priority 4 The need to improve multilingual access to public sector
information.» (ECOTEC 2000)
Podemos completar estes dados com as informações de um segundo relatório, patrocinado pela Comissão
Europeia, o SPICE-PREP II Report on eContent Localisation, vocacionado, neste caso, para a análise do
impacto e difusão dos «conteúdos electrónicos» (e-contents). De entre os aspectos positivos da
avaliação, salienta-se que: «Localisation services are a potential source of new skills and employment
growth in all sectors related to eContent publishing» (EPS Ltd. & Equipe Consortium Ltd. 2000). Já
agora, e embora este artigo não pretenda ser ele mesmo «localizado» para um ambiente nacional
específico, dado que a revista que o acolhe é portuguesa e o autor é cidadão do Estado espanhol, não
podemos deixar de salientar que o mesmo relatório estabelece a capacidade que os diversos Estados
europeus têm de criar conteúdos electrónicos, utilizando como critérios a profundidade da localização
dos sítios da Internet e a contagem das línguas utilizadas. A classificação diz que: «Lowest levels of
localisation effectiveness (below the European average) are found in Germany, Greece, Poland, Austria,
Spain, Hungary, Italy and Portugal.» Pouparemos, por ora, outros comentários.
Na sequência das observações anteriores, parece-nos que a tradução de páginas e sítios da Internet
devia ocupar um lugar de destaque nos programas académicos das instituições universitárias que
formam os novos mediadores linguísticos. O relatório SPICE-PREP II a que aludimos não hesitou em
recomendar que os Estados-membros da UE:
«Promote the development of a programme of training and certification
of translators to work in eContent localisation via appropriate education,
employment and industry ministries and in collaboration with relevant
translators’ professional bodies.»
20
Porém, a realidade parece afastar-se ainda muito desse objectivo. A maior parte dos guias e manuais
académicos vocacionados para a tradução parece continuar de costas voltadas para este universo
profissional, aparentemente tão aliciante. Longe das explicações simplistas, que apontariam o dedo à
paralisia do mundo académico, alguns dados ajudam-nos a esclarecer este ponto. Segundo os elementos
fornecidos por M. Castells (2001), em finais de 1995 – que foi o primeiro ano de uso generalizado da
Internet (World Wide Web) – havia cerca de dezasseis milhões de utentes no mundo. No início de 2001,
havia mais de quatrocentos milhões. Em 2005, é provável que se atinjam os mil milhões de utentes, e
os dois mil milhões em 2010. Estamos, então, apenas no início de um fenómeno extraordinário que o
mesmo autor designa como «Galáxia Internet», parafraseando a Galáxia Gutenberg a que se referiu
Marshall McLuhan.
Valerá a pena considerar ainda um outro factor. Em 1997, Brian Harris fez um levantamento dos centros
universitários de formação de tradutores e intérpretes em todo o mundo. Embora o trabalho contenha
algumas imprecisões e omissões, é útil para se formular uma opinião geral. Por exemplo, é fácil notar
que praticamente um em cada dois centros só foi criado depois de 1980. Por outras palavras, a formação
universitária em tradução e interpretação é ainda recente (muito, quando comparada com outros cursos).
A área académica é, portanto, nova, e o próprio sucesso da Internet também o é. Portanto, este não
parece ser um mau momento para incorporar nos planos de estudos desta nova área, que acompanha o
novo milénio globalizado, a localização de material da rede, com toda a importância que ela merece.
ENSINAR A TRADUZIR PARA A INTERNET
O estabelecimento de qualquer novo espaço académico que vise uma formação aplicada começa,
necessariamente, por caracterizar o âmbito pretendido, a partir da definição das actividades a que diz
respeito. Do nosso ponto de vista, essa definição deve incluir a função social pretendida, a que até aqui
fizemos referência, e também as circunstâncias profissionais que a acompanham. Estas últimas devem
contemplar ainda as aptidões que deverão ser desenvolvidas, bem como as estratégias formativas que
terão de conduzir a esse objectivo docente. Tentaremos apresentar todos estes elementos nas alíneas
a seguir.
Nos bastidores da rede
Uma boa forma de começar será pelo mais evidente. Olhemos, então, para os objectos de trabalho. A
FIGURA 1 apresenta a imagem de uma página da Internet – a do Instituto dos Vinhos do Douro e do
Porto (<http://www.ivp.pt>).
21
FIGURA 1. Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
A FIGURA 1 é a captura da imagem do ecrã de um computador, na qual se vê um dos muitos programas
de navegação da Internet. Este tipo de «programa informático» (software) permite aos utentes acederem
às informações que outras pessoas colocaram na rede e, até, interagirem com elas. O exemplo mais
conhecido para o ambiente Microsoft Windows – o padrão dominante do mercado – é o Internet
Explorer (utilizado nesta captura). O maior concorrente do Explorer foi o Netscape, que foi o programa
hegemónico antes ser substituído pelo Mozilla (http://www.mozilla.org), uma versão em «código
aberto» (open source), que, juntamente com outros programas de navegação menos usados, como o
Opera (<http://www.opera.com>), o Konqueror (habitual nas distribuições Linux, como o Mozilla, o
Galeon e o Opera for Linux) ou o Jaguar (próprio do ambiente Apple), provavelmente não ultrapassam
10% das preferências dos utentes da rede.
Para a maior parte das pessoas, esta imagem (FIGURA 1) corresponde ao que elas desejam saber acerca
do funcionamento da Internet. Ou seja, do mesmo modo que, por via de regra, ninguém se coloca
dúvidas relativamente ao funcionamento dos cartões multibanco quando pretende levantar dinheiro
ou realizar pequenas operações de gestão, também não é habitural as pessoas interrogarem-se acerca
da maneira como funcionam as páginas da Internet. Esta é, porém, uma questão que faz muito sentido
para os técnicos que desenvolvem estes produtos e para todas as pessoas que trabalham com as
páginas da Internet: gestores de projecto, técnicos de marketing, publicitários, designers e também, é
claro, tradutores/localizadores.
O que é que todas estas pessoas vêem «por detrás» da tela do computador? Com ligeiras diferenças,
elas vêem algo semelhante a isto:
22
FIGURA 2. Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (código-fonte).
Esta captura mostra o que se vê depois de carregarmos na opção «Exibir código-fonte» no menu
do programa de navegação: uma série de códigos esquisitos, alternados com texto mais fácil de
reconhecer, mas... nada de imagens, nada de cores, nada de caixas de diálogo, nada de música ou de
qualquer elemento aliciante que habitualmente encontramos nas páginas da Internet.
Na FIGURA 2, deparamo-nos com um texto redigido numa linguagem própria, ou, para ser mais exacto,
um texto «marcado» com um sistema próprio: a HyperText Markup Language, também conhecida por
HTML. O HTML não é uma linguagem de programação. É, simplesmente, um sistema que permite
«formatar» as informações da linguagem natural de maneira a adequá-las a determinadas solicitações.
Por outras palavras, de modo a que o programa de navegação que interpreta o código as mostre da
forma como pretendemos. Tomando um exemplo muito simples: para conseguir que a tela do nosso
computador exiba um texto em negrito no programa de navegação, devemos fornecer-lhe as regras
de formatação que ele deve aplicar sobre o texto «puro». Com o HTML, utilizaríamos um sistema
de «marcas» que, colocadas antes e imediatamente a seguir ao texto, conseguiriam o efeito visado.
Neste caso concreto, para obtermos o resultado que pretendemos, deveríamos escrever a linha que
vem a seguir num editor de texto (por exemplo, o Notepad do Windows) e, depois, arquivar o novo
documento, escolhendo, em «Guardar como...», a opção HTML:
<B>Isto é um texto em negrito</B>
EXEMPLO 1.
23
Se abrirmos o novo arquivo a partir do programa de navegação, o ecrã mostrar-nos-á apenas esta
frase:
Isto é um texto em negrito
EXEMPLO 1B.
O texto que ficou entre as duas marcas passou a estar formatado de acordo com as convenções
HTML e as marcas do código-fonte deixaram de ser exibidas. Neste caso, o <B> (do inglês bold)
indicava o início da aplicação do atributo «negrito» sobre um trecho de texto e a marca </B> o fim
da aplicação desse formato. O elemento «/», que precede o símbolo que designa o atributo pretendido,
indica convencionalmente, em HTML, o fim da aplicação desse atributo. Todo o texto a seguir, portanto,
já não possui a característica com que «marcámos» a nossa frase. Daí, a referência que fizemos ao facto
de o HTML ser um sistema de marcação, e não uma linguagem (de programação) em sentido estrito.
O HTML nasceu a partir do Standard Generalized Markup Language (SGML), o padrão ISO 8879 para
definir o formato e a estrutura de documentos electrónicos. O SGML é, na realidade, uma metalinguagem
que permite definir linguagens mais específicas, como é o caso do próprio HTML.
As primeiras versões do HTML (HTML 1 e HTML 2) foram desenvolvidas pela Internet Engineering Task
Force (IETF), que se integrou no World Wide Web Consortium (W3C), do qual também fazem parte
as empresas com maior presença na rede (Microsoft, Sun, IBM, Netscape, Adobe...). Este consórcio
trabalha a partir de uma série de «Recomendações» que contêm indicações acerca dos padrões de
determinados tipos de documentos. Antes das «Recomendações», porém, existem as «Notas», que
são propostas sugeridas por organizações e em torno das quais podem ser constituídos «Grupos de
Trabalho». Estes «Grupos de Trabalho» podem elaborar «Propostas-Rascunho» (Working Drafts) a partir
das «Notas». As «Propostas-Rascunho» podem converter-se em «Propostas de Recomendação» e estas,
por sua vez, nas «Recomendações» finais a que nos referimos (cf. <http://www.w3.org>, algumas das
quais estão traduzidas em português europeu e/ou brasileiro).
O W3C aprovou a versão 3.2 do HTML em 1997 e, a seguir, a 4.0. O HTML 3.2 é também conhecido
como «estático» por apenas permitir um tipo de interacção com os visitantes: a hiperligação a outros
documentos. Já as recomendações HTML 4.0 são os alicerces do HTML «dinâmico» (Dynamic HTML ou
DHTML), pois: introduzem novas marcas e atributos que dão suporte às «folhas de estilo em cascata»
(Cascading Style Sheets, CSS); permitem homogeneizar a aplicação de formatos e estilos a um mesmo
documento ou em documentos diferentes (cf. a Directiva «Conselhos para fazer sítios web acessíveis»,
Web Accessibility Initiative em <http://www.w3.org/WAI/References/QuickTips/qt.pt.htm>); dão
suporte às linguagens de instruções, como veremos adiante; e permitem recorrer a programas exteriores,
applets (ou «aplicaçõezinhas», que são pequenos programas escritos em Java e executados dentro de
uma página da Internet) ou controlos ActiveX, bem como utilizar recursos multimédia e bases de dados.
Estes últimos elementos tornam as páginas da Internet muito mais interactivas.
24
Também em 1997, o W3C publicou as primeiras recomendações para o Extensible Markup Language
(XML), criado a partir do SGML (em certa medida, o XML é uma versão simplificada do SGML). O XML é
uma metalinguagem que permite gerar novas linguagens, como o HTML (na verdade, ele permite definir
marcas específicas para as aplicações). O XML permite definir as estruturas dos documentos, mas não
a sua representação/formatação (2), como acontece com o Extensive HiperText Markup Language
(XHTML), que foi desenvolvido a partir do XML e que está vocacionado para a criação de documentos
bem estruturados e a aplicação de formatos. O XHTML é, em certa medida, a linguagem HTML à qual
se aplicaram as normas XML.
As novas versões dos programas de navegação da Internet já permitem processar os documentos
criados segundo as especificações XML. Contudo, o número de utentes (em termos absolutos) que
trabalham com as versões anteriores dos programas de navegação e com páginas que seguem as
anteriores especificações HTML ainda é vastíssimo.
Palavras e coisas: nem tudo dá nas vistas
Podemos criar páginas da Internet – das versões mais básicas até às mais sofisticadas – utilizando
uma aplicação tão simples como o Notepad do Windows, ou qualquer outro editor de características
semelhantes que nos permita trabalhar com o código HTML. A estrutura mais elementar de uma página
da Internet envolve a especificação da versão de HTML utilizada, conhecida como o «prólogo» do
documento (na FIGURA 2, era <!DOCTYPE HTML PUBLIC “-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN”>),
seguida do documento estrito (entre os símbolos <HTML> e </HTML>), o qual inclui o cabeçalho (entre
os símbolos <HEAD> e </HEAD>) e o corpo (entre os símbolos <BODY> e </BODY>). Na prática, o
HTML 3.2 (que é muito menos «estrito» do que o XML) até permite prescindir das especificações HTML,
HEAD e BODY. No exemplo que colocamos a seguir propomos, porém, uma estrutura mais ortodoxa:
<!DOCTYPE HTML PUBLIC “-//W3C//DTD HTML 3.2 Final//EN”>
<HTML>
<HEAD>
<TITLE>Um exemplo muito simples</TITLE>
</HEAD>
<BODY>
<B>Isto é um texto em negrito</B>
</BODY>
</HTML>
EXEMPLO 2.
A primeira linha do exemplo indica que estamos perante um documento em HTML e que estamos a
utilizar a «Declaração de Tipo de Documento» (DTD) que corresponde ao HTML 3.2 Final, em língua
25
inglesa. A seguir, delimitamos o documento com as marcas <HTML> e </HTML>. Dentro delas, temos
a secção correspondente ao cabeçalho, delimitado por <HEAD> e </HEAD>. Neste exemplo, incluímos
também um título para o documento. Podíamos ter incluído outro tipo de explicações no cabeçalho,
destacadas com marcas META (um tipo de símbolo que não é preciso delimitar com uma segunda
marca para encerrar o processo) que se utilizam habitualmente para destacar as informações que irão
ser interpretadas pelos robôs-indexadores dos motores de busca da Internet. Por exemplo:
<META name=”keywords” lang=”eng”
content=”translation,localisation,websites,webpages”>
EXEMPLO 2B.
Uma declaração como esta indicaria aos indexadores que, na nossa página, é possível encontrar
informações sobre os assuntos especificados como «content».
No corpo do documento, entre as marcas <BODY> e </BODY>, reproduzimos o exemplo que utilizamos
acima. Se guardarmos, agora, o novo documento em HTML e deixarmos que um programa de navegação
o interprete, veremos novamente esta frase no ecrã do nosso computador:
Isto é um texto em negrito
EXEMPLO 2C.
Com efeito, as indicações incluídas no cabeçalho do nosso documento (o título e as palavras-chave)
não são exibidas pelos programas de navegação (se não seleccionarmos a opção «exibir
código-fonte», o que não faz muito sentido na consulta habitual das páginas da Internet). Verificamos,
assim, que nem todo o texto de um documento é visível, se não desejarmos ver o código-fonte, ou se
não utilizarmos programas de criação e edição de páginas e sítios da Internet bastante mais eficazes
como o Dreamweaver, FrontPage, HomeSite ou NetObjects Fusion, para citarmos apenas alguns dos
mais populares. Parece-nos que os futuros tradutores devem tomar isto em consideração. A localização
de uma página da Internet deve permitir, por exemplo, que ela seja indexada pelos motores de busca
«também» a partir de palavras-chave na língua-alvo.
Na imagem que encontramos a seguir vemos como é que um desses editores, mais concretamente, o
NetObjects Fusion 7, interpreta o exemplo proposto na FIGURA 1.
26
FIGURA 3.
Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, editada com o NetObjects Fusion 7.
Este tipo de programas permite distinguir claramente o texto das imagens e, consequentemente, o
texto que pode ser editado no processador do próprio programa (ou de outros programas) e aquele que
só pode ser editado em modo gráfico. No mesmo exemplo, os botões «Comentários/Sugestões» ou
«Sugira este site» fazem parte de imagens, não podendo ser editados como sucessões de caracteres
num processador de textos (como acontece com o trecho «A TAP Air Portugal e o Instituto dos Vinhos
do Douro e do Porto oferecem-lhe agora um passeio aos sabores do Norte»).
Num parágrafo anterior, referimo-nos à possibilidade de criar páginas da Internet mais interactivas do
que a simples apresentação de dados, através do HTML dinâmico, ou DHTML. Na prática, o DHTML é
uma combinação de HTML com a JavaScript, uma linguagem de programação que esteve associada à
Netscape, mas que, hoje, é suportada por quase todos os programas de navegação. Com esta linguagem,
podemos escrever pequenas sequências de instruções que fazem com que as páginas tenham alguma
versatilidade a partir de elementos bastante simples, como as mensagens em janelas, os formulários, as
senhas de acesso e os botões, e de outros mais complexos, como a gestão de arquivos no disco rígido
local (por exemplo, os cookies, ou «testemunhas», que as páginas visitadas utilizam para armazenar as
preferências dos utentes).
Partindo ainda do mesmo exemplo, acrescentamos, destacadas em negrito, as linhas de uma pequena
sequência de instruções que faz com que apareça uma janela com um botão contendo a mensagem
«Carregue aqui para ver o texto». Depois de carregar, o ecrã mostrará a frase que já conhecemos.
27
<!DOCTYPE HTML PUBLIC “-//W3C//DTD HTML 3.2 Final//EN”> <HTML> <HEAD> <TITLE>Um exemplo muito simples</TITLE>
<SCRIPT LANGUAGE=”JavaScript”>
<!--
alert(“Carregue aqui para ver o texto”);
// -->
</SCRIPT>
</HEAD> <BODY> <B>Isto é um texto em negrito</B> </BODY>
</HTML>
EXEMPLO 3.
É evidente que nem todas as sequências de instruções são tão simples. Como afirmámos, os exemplos
podem ser muito mais sofisticados (como acontece com o código-fonte da página do Instituto dos
Vinhos do Douro e do Porto, que vimos acima). Em <http://www.brainjar.com>, por exemplo, os leitores
podem ver alguns espantosos exemplos de trabalho com JavaScript.
Dizíamos acima que, actualmente, todos os programas de navegação conseguem interpretar o código
JavaScript. Na realidade, porém, esta afirmação não é exacta. A Microsoft dispõe de uma versão
própria, o Jscript, e, infelizmente, existem diversas versões de cada um deles, com diversos graus de
incompatibilidade. A Associação Europeia de Fabricantes de Computadores (ECMA, <http://www.ecma-
international.org>) já redigiu uma especificação sobre um padrão unificado, o ECMAScript. Porém, o
facto de este misturar o JavaScript e o HTML, que também tem mais do que uma versão e diversos tipos
de incompatibilidade em relação aos programas de navegação utilizados, faz com que a programação
nesta área contenha alguns problemas particularmente delicados.
As pessoas que nunca traduziram uma página da Internet começaram, certamente, a aperceber-se
de que este processo supõe algo mais do que a simples versão para a língua-alvo do texto que surge
no ecrã, cortando-o e colando-o no processador de texto. A tradução (ou localização) de material da
Internet implica lidar com texto «puro» dos mais variados temas, juntamente com o código HTML,
sequências de instruções, arquivos gráficos (JPEG, GIF, PNG, etc.) e elementos dinâmicos como: as
animações multimédia criadas com o Macromedia Flash (<http://www.macromediaflash.com>), que é
capaz de integrar, em pequenos clips («pequenos filmes»), o texto com desenho vectorial e até arquivos
28
de som WAV (comprimidos em formato MP3 para poupar espaço); as apresentações em arquivos
de vídeo digital (MOV, AVI, ou os novos «reis» do vídeo digital baseados no padrão MPEG4, que já
integra os reprodutores pessoais: o DivX e o XviD, entre outros); a documentação em arquivos RTF,
PostScript ou em documentos pré-formatados (Portable Document Format - PDF)... Por outras palavras,
a tradução/localização de páginas e sítios da Internet implica ter de lidar com todo o tipo de material
que se encontra na rede.
Novas ferramentas para novas encomendas
Seria uma grande ingenuidade esperar que uma única pessoa fosse capaz de satisfazer todo e qualquer
tipo de encomendas de tradução de páginas da Internet. Além disso, convém não esquecer que a
temática dos sítios susceptíveis de gerar encomendas profissionais é sempre especializada, de modo
que os «meros conteúdos» das páginas (independentemente dos aspectos técnicos) revelam um nível
de exigência bastante elevado.
Quanto aos aspectos técnicos, vimos que podem estar relacionados com o tratamento do próprio
código, ou com o processamento do material gráfico estático, dos elementos audiovisuais e de efeitos
multimédia. A combinação de conhecimentos avançados em todas estas áreas com um alto nível de
rigor profissional ultrapassa, claramente, os objectivos mais generalistas dos cursos universitários de
formação de tradutores, até nas previsões de reforma do Processo de Bolonha (no que diz respeito à
Europa Ocidental).
Nada nos impede, porém, de tentar apetrechar os estudantes com uma visão panorâmica do
processamento deste tipo de encomendas, das estratégias mais elementares para geri-las e do uso de
algumas das ferramentas essenciais para enfrentá-las.
Num trabalho recente, Daniel Gouadec (2003, 529-530) propõe um interessante modelo da estrutura
geral das encomendas de localização de páginas da Internet. Para os nossos fins, julgamos suficiente a
listagem sintética que reproduzimos a seguir:
29
Ciclo operativo
1. Recepção e gestão da encomenda.
. Análise da encomenda (conteúdos e características).
. Detalhes sobre a encomenda e negociação (consultas, orçamento).
. Obtenção dos conteúdos (se eles não tiverem sido fornecidos directamente).
. Classificação dos conteúdos (texto, código HTML, vídeos, bases de dados, etc.).
2. Organização dos recursos humanos.
. Distribuição da encomenda (por conteúdos, por características, etc.).
. Planificação/temporalização do fluxo de trabalho.
3. Organização dos recursos materiais.
. Obtenção, análise e distribuição de documentação (amostras, catálogos, audiovisuais...).
. Obtenção, preparação e distribuição dos recursos reutilizáveis (memórias de tradução,
glossários terminológicos, etc.).
4. Tradução / Localização.
5. Controlo de qualidade.
. Controlo da qualidade linguística (pontuação, redacção, estilo).
. Controlo da homogeneidade (harmonia de escolhas).
. Controlo da adaptação cultural.
6. Integração dos conteúdos.
7. Avaliação.
. Verificação global.
. (Re)início do ciclo operativo, quando aplicável.
8. Entrega da encomenda.
. Gestão da contabilidade (facturação, fiscalidade, arquivo de clientes).
. Gestão do material gerado para utilização futura (bases de dados, memórias e gestores
terminológicos).
TABELA 1.
Esta listagem, embora necessariamente superficial e incompleta, irá servir de guia para os parágrafos
seguintes, que descrevem o panorama geral do nosso objecto profissional e académico. Para já, é
importante reter que a tradução/localização de sítios da Internet envolve uma importante quantidade
de processos de natureza diversa (tradução de texto, tradução/legendagem de vídeo digital, design
gráfico, contabilidade, gestão de projectos, adaptação cultural, para referir apenas alguns). Como
antes apontámos, não nos parece lógico supor que uma única pessoa seja capaz de satisfazer todo e
qualquer tipo de encomendas de tradução de páginas da Internet (3). Porém, também é verdade que há
profissionais que resolvem, eles mesmos, encomendas menos complexas. Por outro lado, como também
apontámos, julgamos que é uma atitude prudente a de procurar dotar os estudantes de uma visão
global do processo, de modo a facilitar-lhes a eventual inserção num ponto do fluxo de trabalho. Nos
parágrafos seguintes, propomo-nos oferecer algumas indicações básicas neste sentido.
30
Para começar, definimos, de modo intuitivo, um «sítio» de rede como o conjunto de uma série de páginas
da Internet organizadas em pastas (as «directorias») que se relacionam entre si através de ligações
hipertextuais. Idealmente, as páginas têm uma estrutura e uma aparência uniformes (eventualmente,
mediante o uso de folhas de estilo – arquivos CSS – que permitem a sua homogeneização estilística),
e podem remeter para documentos de características diferentes (documentação PDF ou RTF, vídeos,
arquivos sonoros, etc.). Uma encomenda de tradução pode consistir apenas na tradução do texto «puro»
fornecido pelo cliente, a qual será, posteriormente, inserida no sítio pelos técnicos de informática. Esta
é a hipótese mais simples, que não requer qualquer tipo de conhecimentos técnicos para além daqueles
que têm que ver com os conteúdos a traduzir.
Porém, até este tipo de encomenda parte de uma necessidade inicial que qualquer profissional notará
imediatamente: a geração de um orçamento prévio, que servirá como fonte para a facturação final. Na
hipótese do texto «puro», a contagem de palavras não parece difícil, já que qualquer processador de
texto (por exemplo, o popular – não quanto ao preço – Microsoft Word) consegue realizar esta tarefa ao
carregarmos na opção «Contar palavras» no (sub)menu «Ferramentas». Uma aparente dificuldade
tem a ver com a contagem de palavras em arquivos PDF. Mas, neste caso, se não dispusermos de um
programa específico (o Adobe Acrobat <http://www.adobe.com> é o melhor exemplo), bastará cortar
o texto e colá-lo no ecrã do Word para se fazer a contagem.
A elaboração de orçamentos para arquivos HTML é que requer outro tipo de ferramentas (4), das quais
nós salientamos o Aquino WebBudget.
FIGURA 4. Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, processada pelo Aquino
WebBudget 2.51, com uma contagem das palavras do texto que devem ser traduzidas.
31
Na FIGURA 4 mostramos a captura do ecrã do computador a processar a página que estamos a utilizar
como exemplo. O WebBudget 2.51 permitia realizar uma contagem apurada do texto a traduzir,
distinguindo claramente as marcas, os caracteres com/sem espaços ou o texto JavaScript. A partir
destes dados, poderíamos ainda (carregando em «Process») obter um orçamento a partir de qualquer
preço por palavra/linha/carácter estabelecido por nós (bem como a unidade monetária: euros, dólares,
etc.), pronto para imprimir e/ou exportar para diversos formatos (HTML, RTF, entre outros). Alguns
tradutores até utilizavam este programa shareware (ou «suporte lógico partilhado», um programa de
livre cópia para avaliação, que pressupõe o registo e pagamento em caso de utilização prolongada)
para traduzir pequenas encomendas, limitando-se a substituir o texto original pelo texto traduzido e
guardando o novo documento. Recentemente, a Aquino lançou o WebBudget XP, que aumentou as
funções de gestão e, também, de tradução de páginas e sítios da rede.
FIGURA 5. Orçamento elaborado pelo Aquino WebBudget 2.51, a partir da contagem anterior de palavras.
Na página da Internet da Aquino (<http://www.webbudget.com>), podemos descarregar um
interessante programa freeware (ou «suporte lógico gratuito», programa distribuído, gratuitamente,
através da Internet), o Aquino FreeBudget, que permite efectuar uma contagem apurada de diversos
tipos de arquivos, excepto os PDF e HTML, e gerar orçamentos em diversos formatos. Para os tipos
de documentos com que não consegue trabalhar, existem alternativas como o TotalAssistant
(<http://www.surefiresoftware.com/totalassistant>).
A elaboração do orçamento pode referir-se apenas ao texto puro, às páginas (ou o sítio completo) em
suporte físico, mas também à operação que Daniel Gouadec inclui na sua listagem, denominada «aspiração»
ou descarga do sítio da rede. Felizmente, o número de clientes de FTP e de programas de navegação off-
line («não em linha») é já bastante significativo (WebReaper <http://www.webreaper.net> ; WinHTTrack e
32
WebHTTrack <http://www.httrack.com> para Windows 9x/NT/2000/XP e Linux/Unix, respectivamente...),
pelo que os profissionais contam com um bom leque de ferramentas para descarregar, sem
dificuldade, a estrutura completa de um sítio da rede para o disco rígido, de modo a poderem
trabalhar à vontade com todos os arquivos. No artigo citado, Daniel Gouadec destacava um
outro programa bem conhecido, o programa de navegação off-line WebCopier
(<http://www.maximumsoft.com/products/wc_windows/overview.html>). Na prática, a automatização dos
processos faz com que essa «aspiração» não apresente mais dificuldades do que cortar e colar pastas
entre duas janelas do ambiente Windows.
O orçamento poderá também contemplar a localização de um outro elemento bastante característico
dos conteúdos electrónicos, conforme referimos acima: as imagens. Felizmente, hoje também podemos
encontrar programas capazes de analisar os diferentes arquivos a tratar com programas de design
mais específicos (no caso de oferecermos nós próprios este tipo de serviços), como o AdobePhotoshop.
No capítulo dos programas que permitem analisar os pormenores dos diferentes tipos de imagens do
projecto, podemos citar o GIA - Globalization Image Assistant <http://www.ImageGlobalization.com>.
A seguir, mostramos uma captura desse programa, a processar as ilustrações da página que temos
vindo a utilizar como exemplo.
FIGURA 6. Imagens da página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, processadas pelo Globalization Image Assistant GIA 1.8.1.
O GIA consegue preparar relatórios pormenorizados, em que se podem incluir as principais características
das imagens (como as dimensões, o tamanho e o tipo de arquivo), o texto original e o texto-alvo e, a
partir destes, a contagem de palavras. Também identifica as imagens multiframe (múltiplas imagens
captadas simultaneamente), incluindo as animações GIF. Além disso, permite incluir comentários
específicos relativos à natureza das imagens. Alguns destes vêm já pré-definidos, como vemos no
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menu contextual da FIGURA 6, dizendo respeito, por exemplo, ao carácter etnocêntrico ou ofensivo das
imagens. Com todos estes dados, é possível gerar documentos em formato Word ou Excel para fornecer
aos designers, ao cliente, ou para alimentar o nosso próprio fluxo de trabalho, se pertencermos a uma
agência que ofereça serviços globais de localização.
O W3C sugere, relativamente à internacionalização das páginas da Internet, que se facilite também a
localização das imagens. Uma boa estratégia a seguir pelos fornecedores de conteúdos electrónicos é
a de trabalhar a partir de camadas editáveis independentemente. No exemplo anterior, seria possível
criar uma imagem única a partir da sobreposição de duas imagens prévias, uma delas mostrando o
cacho de uvas e a outra exibindo o texto «Bem-vindo ao Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto».
Desse modo, o tradutor/localizador teria apenas que mudar o texto da segunda. Infelizmente, o número
de gestores de conteúdos de rede que seguem estes conselhos é ainda pouco significativo, embora se
preveja que, no futuro próximo, estes conselhos sejam respeitados, facilitando o trabalho de criação de
conteúdos multilingues e de localização.
O núcleo central dos projectos de tradução/localização de páginas da Internet é, sem dúvida, a tradução
do texto, que surge misturado com o código HTML ou em arquivos para descarga, nomeadamente em
formato RTF ou PDF. Assumimos que todos os tradutores dispõem de um programa ou conjunto de
aplicações que consegue trabalhar com o formato RTF. Na hipótese de não contarem com o Adobe
Acrobat para criar e alterar os documentos PDF (o Acrobat Reader é um progrma shareware que apenas
permite a sua leitura), dispõem de alternativas em código aberto, como o Xpdf (<http://www.xpdf.
com>), ou freeware, como o pdf995 (<http://www.pdf995.com/download.html>).
Quanto ao texto que vem misturado com o código HTML, o problema é mais grave. Qualquer alteração
acidental das marcas de código tem consequências imprevisíveis na integridade do sítio. Embora
assumamos que os profissionais e os aprendentes têm conhecimentos básicos do código HTML, não
esperamos que tenham um conhecimento exaustivo (e actualizado!) das convenções que afectam
fundamentalmente uma área profissional tão especializada como é a da criação do apoio técnico para
os conteúdos electrónicos.
Uma revolução relativamente recente no trabalho dos tradutores foi a introdução, no fluxo de trabalho
profissional, dos programas que gerem as «memórias de tradução», os dispositivos informáticos capazes
de armazenar pares de segmentos textuais equivalentes que resultam do processo de tradução, ou
então do «alinhamento de textos», quer dizer, do emparelhamento de segmentos de traduções prévias
ou de textos paralelos. Pode consultar-se, em linha, uma boa descrição deste tipo de dispositivos e da
sua utilidade na prática profissional em Webb.
Um programa útil para traduzir páginas da Internet deve combinar a capacidade de isolar o texto puro
das marcas de código com a possibilidade de gerar e (re)utilizar memórias de tradução. Provavelmente,
o padrão na última destas áreas continua a ser definido ainda hoje pela Trados (<http://www.trados.
com>). Há vários anos que a Trados distribui no mercado, com grande êxito, produtos que simplificam
o trabalho dos profissionais da tradução, pois combinam memórias, gestão terminológica, alinhamento
de texto, tradução de recursos e executáveis, apresentações ou arquivos de folhas de cálculo, e a
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tradução de texto marcado (HTML ou os formatos nativos de QuarkXPress, PageMaker ou Ventura). O
TagEditor é, mais concretamente, a aplicação que utilizamos para esta última função.
FIGURA 7. Ambiente de trabalho no TagEditor 5.5.2.257, a exibir as marcas para o texto da página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
Outra função interessante do TagEditor é a capacidade de exibir os resultados das traduções e confrontá-los
com a página original. Esta possibilidade é especialmente útil, por exemplo, nas ocasiões em que o espaço
ocupado pelas palavras de cada uma das línguas é diferente (devido ao número de letras), podendo alterar a
formatação da página e interferir com elementos extratextuais, como as imagens. A FIGURA 8 exemplifica
esta função, mostrando a versão original à esquerda e a versão parcialmente traduzida à direita.
FIGURA 8. Ambiente de trabalho no TagEditor 5.5.2.257, a exibir em modo WYSIWYG as versões original e parcialmente traduzida para espanhol (atente-se na coluna da direita)
da página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
35
Outro programa que combina a gestão das encomendas (distinguindo texto e imagens e permitindo
a contagem de palavras e arquivos gráficos), o isolamento do texto a traduzir, ocultando as «marcas»
(tags), e que permite utilizar uma memória de tradução autónoma é o CatsCradle, que tem, além disso,
a vantagem de ser freeware (<http://www.stormdance.freeserve.co.uk>).
FIGURA 9. Ambiente de trabalho e contagem de palavras e gráficos a traduzir a partir da função «Catálogo» do CatsCradle 2.8, com a página do exemplo anterior.
Na imagem do ecrã da FIGURA 9, vemos o módulo de tradução do CatsCradle em duas colunas, com o
texto original à esquerda e a tradução à direita (nesta captura, o texto apresenta-se ainda por traduzir).
Em sobreimpressão, aparece uma descrição da página que deverá ser traduzida (o «Catálogo»), com
a contagem das palavras e dos gráficos com que iremos trabalhar na localização. Repare-se que o
programa apresenta unicamente os segmentos de texto que devem ser traduzidos, ocultando as marcas.
O CatsCradle inclui também uma memória de tradução e um gestor terminológico, que permitem
reutilizar os segmentos que já foram traduzidos em novas traduções. A memória utiliza um sistema
de cores (azul e verde) para identificar os segmentos traduzidos e deixa ao utilizador a liberdade de
escolher o momento em que ela pode ser actualizada.
O CatsCradle consegue trabalhar em modo WYSIWYG (What You See Is What You Get). A opção
«Navegador em tempo real» permite exibir no ecrã os resultados parciais da tradução, tal como
ela irá ficar.
36
FIGURA 10. Página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, capturada e importada com CatsCradle 2.8, pronta para ser traduzida (em modo WYSIWYG).
O CatsCradle tem ainda uma outra capacidade interessante que é a de abrir um editor de instruções
para localizar os applets em JavaScript que possam estar inseridos nas páginas, como aconteceu no
nosso EXEMPLO 3.
FIGURA 11. O editor de instruções do CatsCradle 2.8 a ser utilizado para traduzir o código JavaScript inserido no Exemplo 3.
37
A versão XP do Aquino WebBudget combina três possibilidades: a de gerar orçamentos a partir da
contagem de palavras e de imagens, o isolamento do texto a traduzir e uma aplicação para descarregar
sítios completos.
FIGURA 12. O Aquino WebBudget XP a preparar um orçamento para a tradução da página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
A tradução de páginas da Internet também pode envolver o trabalho com clips de vídeo, que tanto
podem estar inseridos na página, como ser oferecidos para descarga. Um dos formatos mais habituais é o
MOV, nativo da QuickTime (<http://www.apple.com>), que concorre com outros tipos de arquivo, como
o ASF da Microsoft, o AVI (Audio Video Interleave), o RealMedia, o Xvid e o DivX (os novos MPEG4, que
concorrem com o padrão de compressão MPEG2 que encontramos nos DVD convencionais). O trabalho
com vídeo digital conta, felizmente, com um número importante de ferramentas shareware e freeware
(ligeiramente menos para o ASF, que não é um formato livre), que permitem resolver as encomendas
mais simples, já que as mais complexas ultrapassam, habitualmente, as capacidades dos tradutores
independentes e das pequenas agências de tradução. O SubtitleWorkshop (<http://urusoft.co.nr>) é
um programa shareware que permite legendar o vídeo digital, bem como exportar o resultado para os
formatos mais habituais. Embora não consiga trabalhar com arquivos MOV, é possível convertê-los em
outros tipos de arquivos com os quais se pode trabalhar a partir de programas de distribuição livre, como
as RAD Video Tools (<http://www.radgametools.com>). Com este programa (que é, na realidade, um
conjunto de aplicações) ou com outras ferramentas (cf. <http://www.doom9.org>), podemos também
misturar vídeos com arquivos de áudio diferentes («multiplexá-los») (se tiverem sido fornecidos pelo
cliente), acrescentar/modificar legendas, etc. Alguns dos formatos de áudio mais comuns são o AC3
(para Dolby Digital), os mais leves MP3 e OGG (o OGG é em código aberto) e o mais pesado WAV.
38
FIGURA 13. O clip de vídeo Libre, de Joaquín Oristrell (<http://www.haymotivo.com>), a correr no programa de legendagem Subtitle Workshop 2.03.
Um factor habitualmente menosprezado na formação de tradutores, mas que nós não queremos deixar
de lado, tem a ver com a operação com que abrimos esta epígrafe: a gestão das encomendas, do ponto
de vista profissional, que inclui a criação de orçamentos, as estratégias de fidelização dos clientes e
o fluxo de trabalho. Habitualmente, a tradução de sítios da Internet faz parte de encomendas que
ultrapassam o carácter pontual. Na prática, as empresas do comércio electrónico necessitam de contar
com actualizações periódicas dos conteúdos multilingues das suas páginas. Obviamente, nenhuma
delas estará disposta a remunerar as actualizações das páginas, mantendo os preços das primeiras
traduções. A reciclagem de material traduzido (e, portanto, o uso de memórias de tradução a que já
nos referimos) é praticamente inevitável nestes casos, devendo a gestão de orçamentos e a facturação
adequar-se a este facto.
Os profissionais encontram, hoje, no mercado, produtos vocacionados especificamente para a sua
actividade profissional que permitem gerir o ciclo de trabalho, calcular orçamentos e aplicar descontos
a partir da utilização de ferramentas de tradução assistida. Um bom exemplo deste tipo de produtos é
o Translation Office 3000 (<http://www.translation3000.com>), um conjunto de aplicações e de bases
de dados relacionadas que permite administrar, com eficácia, pequenos trabalhos de tradução.
39
FIGURA 14. Janela de inserção do perfil dos clientes no Translation Office 3000 v.7.
Temos vindo a apresentar algumas das ferramentas essenciais ao trabalho dos tradutores/localizadores
das páginas da Internet. Dadas as características deste trabalho e a magnitude do tema (a casuística
é praticamente impossível de delimitar), não pretendemos fazer mais do que mencionar brevemente
as circunstâncias profissionais que envolvem as encomendas e que nos permitem caracterizar as fases
da sua reprodução em ambiente de sala de aula. No artigo de D. Gouadec, a que nos referimos, o
autor citava um produto informático bastante interessante: o WordFast (<http://www.champollion.
net>). Trata-se de um conjunto de macroinstruções desenvolvidas para trabalhar em conjunto com
o Microsoft Office (em combinação com as +Tools, que podem descarregar-se na mesma localização
como produto freeware) e que são capazes de reproduzir, a um custo reduzidíssimo, muitas das funções
de outros programas comerciais. Alguns dos programas que aqui apresentámos, como o CatsCradle,
partilham essa mesma característica, por ser nossa convicção que a formação de tradutores deve incluir,
não só o conhecimento das ferramentas mais habituais no desempenho profissional, como também
o desenvolvimento do espírito crítico em relação à supremacia, aparentemente inquestionável, dos
programas comerciais mais (re)conhecidos e a procura de alternativas que permitem poupar recursos.
Trata-se, por outras palavras, de adquirir a capacidade de optimizar a gestão profissional.
Por este motivo, na nossa óptica, a formação de tradutores deve incluir, necessariamente (e não apenas
na área da localização de conteúdos electrónicos), uma referência aos programas de código aberto.
Neste momento, existem várias alternativas à hegemonia do ambiente Microsoft Windows, baseadas
no sistema operativo Linux, relacionado com a licença GNU (<http://www.gnu.org>), que permite
realizar um número ilimitado de cópias dos produtos que adquirimos (ou que obtemos directamente da
Internet), modificá-las e adequá-las às nossas necessidades, redistribuí-las ou até vendê-las novamente,
sem estarmos a cometer uma ilegalidade.
40
Embora a tradução ainda não seja uma área privilegiada na criação e na difusão de programas
especialmente concebidos para o sistema operativo Linux, já existem algumas excepções (v. uma
boa mostra em <http://www.linuxfortranslators.org>). Na verdade, um tradutor pode começar a sua
actividade profissional, de forma eficaz e sem grande necessidade de reciclar os seus conhecimentos,
com uma distribuição como a Mandrake (<http://www.mandrakelinux.com/pt>), que corre também
em língua portuguesa (já existem produtos criados em Portugal, como a Caixa Mágica
<http://www.caixamagica.pt/pag/a_index.php>, que lançou, recentemente, a versão Desktop 8.1 Pro).
Para os não-iniciados, há uma excelente distribuição, que corre sem instalação a partir de um CD-ROM,
o Kurumin (a ISO do CD-ROM pode descarregar-se a partir de <http://www.guiadohardware.info>),
que foi criado no Brasil por Carlos Morimoto e que é baseado na Knoppix (<http://www.knoppix.org>),
que já foi (re)organizada no Kalango (<http://www.kalango.org>). Há também diversos editores
de texto capazes de processar, com eficácia, textos em HTML, DHTML e XTM, como o Quanta
(<http://quanta.sourceforge.net>), o BlueFish (<http://sourceforge.net/projects/bluefish>) ou o NVU
(<http://www.nvu.com>). A Linux é uma magnífica plataforma para gerir servidores da Internet a
partir do Apache (<http://www.apache.org>), que também conta com uma versão para Microsoft
Windows. Uma das ferramentas de criação de páginas dinâmicas mais usadas no mundo (senão
mesmo a mais usada), que é também um produto em código aberto, é o PHP (<http://www.php.net>).
O ambiente Linux dispõe de um magnífico programa para trabalhar com arquivos gráficos, para editar
imagens, botões e até animações: o Gimp (<http://www.gimp.org>). A jóia da coroa dos programas de
código aberto é o OpenOffice (<http://www.openoffice.org>), um conjunto de aplicações com prestações
equivalentes às do Microsoft Office, que lançou recentemente a versão 1.1 (tem também uma versão
paralela, de carácter comercial, o StarOffice), que até exporta directamente arquivos em formato PDF.
O mundo dos programas de código aberto merece ser conhecido pelos tradutores, merecendo, também,
ser apresentado nas aulas: é só experimentar, conferir e escolher a cada momento a opção que melhor
se adapta às nossas necessidades.
FIGURA 15. O programa de edição de páginas da Internet, Quanta 3.1, correndo na distribuição Mandrake 9.1, com o gerenciador de ambiente Gnome 2.2,
a editar a página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.
41
Naturalmente, os programas de código aberto são muito mais do que uma ferramenta informática
de baixo custo: eles são a expressão última de uma nova filosofia, de um modo diferente de entender
a Sociedade Global que nos rodeia. O acesso maciço às novas tecnologias da informação e da
comunicação tem nos programas de código aberto um instrumento de democratização fundamental,
como se constata pela leitura deste trecho de um relatório recente de The Internet Society para a
UNESCO (Maxwell ed. 2000):
«The impact of open source software in less developed countries can result in:
• Easy access to software products. Open source software can be easily
available for individuals and companies in less developed countries.
• Cost-effective transfer of software technology. Developed countries can
make cost-effective contributions to less emerging economies by helping
them to adopt free software technologies. Since there is no royalty or
per-copy fees, the cost of this transfer is really low for the contributor
country. Contributions can be focused in training, localization and
contextualization with a great multiplier factor.
• Direct access to software technology. Emerging economies can be granted
access to leading edge software technologies without having to pay
expensive royalties.»
A notícia recente (16.02.2004) da existência de uma equipa de trabalho no Ruanda a localizar a
OpenOffice para kynyarwanda, a língua maioritária do país, que ainda não tem palavras para designar
os computadores (v. <http://news.com.com/2102-7344_3-5159179.html?tag=st.util.print>), é
suficientemente reveladora. Contudo, as recomendações do relatório não são válidas apenas para os
países do Terceiro Mundo. No estado espanhol, na Comunidade Autónoma da Extremadura, a Junta
de Extremadura lançou um ambicioso programa de inserção maciça dos cidadãos extremenhos na
Sociedade da Informação (v. <http://www.nccintegrared.org>), baseado no uso de uma distribuição que
foi desenvolvida para esse efeito em 2002, a LinEx, que contém conjuntos de aplicações (processador
de texto, apresentações, finanças), programas para gerir a ligação à Internet (navegador, IRC – Internet
Relay Chat [sistema de conversação multiutilizador, em directo], correio electrónico) e actividades
relacionadas com o lazer, como vídeos, música e jogos. O último exemplo que citaremos vem de França,
mais concretamente, do Programme Gouvernamental ADELE – Plan Strategique de l’Administration
Électronique (P2AE) 2004-2007 do Ministère de la Fonction Publique, de la Réforme de l’État et de
l’Aménagement du Territoire, Secrétariat d’État à la Réforme de l’État (<http://www.adae.gouv.fr/
article.php3?id_ article=315>). Vejamos o que nele se diz (5):
42
« b) Instaurer une véritable politique d’emploi des logiciels
Les ministres de l’Union européenne, réunis à Côme les 7 et 8 juillet 2003, ont
encouragé leurs administrations à utiliser des standards ouverts. Par ailleurs, ils
ont pris note de l’intérêt croissant pour l’utilisation des logiciels libres dans les
administrations publiques.
L’objectif du gouvernement français n’est pas d’imposer un recours
systématique aux logiciels libres et aux standards ouverts dans l’administration,
mais de veiller à ce que l’ensemble de l’offre – y compris celle reposant sur le
logiciel libre – soit prise en compte au moment du choix, l’interopérabilité et la
mutualisation devant rester les principes fondateurs de ce choix.
Les bénéfices de l’emploi des logiciels libres pour les systèmes d’information
des administrations de l’État et des services publics sont en effet de plusieurs
ordres :
– Accéder à un patrimoine considérable de logiciels souvent de qualité
et conformes aux normes ;
– Maîtriser le rapport coût total de la solution/adéquation aux besoins,
par le renforcement de la concurrence, afin de maintenir ce ratio à un
niveau le plus bas possible ;
– Maîtriser les logiciels eux-mêmes et pouvoir s’assurer de leur
pérennité. Cet argument prend une résonance particulière dans des
domaines touchant à la sécurité tels que l’authentification et l’identité
du citoyen ou ceux relatifs à l’intégrité, à la confidentialité et à
l’accessibilité des données au cours du temps;
– Capitaliser les nombreux développements réalisés par et pour
l’administration afin de faire bénéficier rapidement l’ensemble des
administrations d’un logiciel d’intérêt général développé pour une
entité administrative donnée.
Pour qu’existe une véritable concurrence entre différents fournisseurs, y
compris sur les postes de travail et les logiciels de bureautique, l’ADAE étudiera
avec les départements ministériels l’opportunité de faire migrer sur des
solutions «libres» une partie des postes de travail des agents de l’État.»
43
FIGURA 16. O programa de design gráfico Gimp 1.2.3 e o processador de textos do OpenOffice 1.1 correndo na distribuição Mandrake 9.1, com o gerenciador de ambiente Gnome 2.2.
UMA PROPOSTA DE PROGRAMAÇÃO DOCENTE
Como avançámos acima, o propósito deste artigo não era apresentar todos os casos que envolvem a
tradução de páginas da Internet. Este tipo de trabalho daria, com certeza, para um volume monográfico
que, no entanto, não deixaria de ser incompleto. Felizmente, a criatividade humana não tem limites.
Os conteúdos da Internet são um exemplo excelente dessa mesma criatividade, reflectindo as suas
características. Contudo, as informações anteriores oferecem uma primeira impressão da tarefa que
nos propomos descrever.
No início deste texto, salientámos a necessidade de descrever um novo espaço académico, tendo
presentes a sua função social e características profissionais, bem como as estratégias de formação
adoptadas, de forma a adequá-las aos objectivos da formação. É sobre este último aspecto que nos
detemos a seguir.
Tendo presentes as sugestões de Gouadec (2003, 529-530), propomos os momentos de formação que
constam desta lista:
44
TABELA 2.
Qualquer proposta de organização de um curso académico apresenta um certo grau de subjectividade,
e esta que nós apontamos não tem intenção de escapar a essa contingência. Prescindimos, para
começar, de mais pormenores relativamente ao tipo de curso. A localização de páginas da Internet
(ou, se preferirmos, de «conteúdos electrónicos») tanto pode constituir seminários específicos, como
integrar-se em programas de carácter mais generalista (por exemplo, Solà 2003, 81-82). O plano que
propomos admite, portanto, diversos graus de profundidade de tratamento, pois, além do factor tempo,
haveria outras questões a considerar (de que nós prescindimos) como as que Jean Quirion (2003, 555-
556) menciona a propósito da localização dos programas informáticos:
Ciclo prático
1. Criação de conteúdos electrónicos (I). A construção e a edição de páginas e sítios de rede. Linguagens de instruções, sistemas de marcação e bases de dados.
3. Planificação e gestão de conteúdos electrónicos. Internacionalização e localização: conceitos e padrões.
2. Criação de conteúdos electrónicos (II). Arquivos de texto. Gestão terminológica e utilização de memórias de tradução.
3. Criação de conteúdos electrónicos (III). Arquivos de imagem e material audiovisual.
4. Localização de conteúdos electrónicos (I). Análise e gestão das encomendas.
5. Localização de conteúdos electrónicos (II). Resolução global das encomendas.
6. Localização de conteúdos electrónicos (III). Controlo de qualidade e avaliação (testing).
Ciclo teórico
1. Introdução. A rede Internet. Sítios de rede, páginas da Internet e suportes para os conteúdos electrónicos
2. Fundamentos da comunicação intercultural.
3. Planificação e gestão de conteúdos electrónicos. Internacionalização e localização: conceitos e padrões.
45
«Il ne faut pas perdre de vue qu’un cursus en localisation nécessite des
ressources professorales et matérielles relativement peu communes. D’un côté,
les ressources professorales sont forcément rares; il est déjà souvent difficile
de recruter des professeurs rompus aux aides à la traduction et, à plus forte
raison, à la localisation. L’émergence du domaine et des cursus implique que les
professeurs en place dans les universités n’ont pas, sauf exception, d’expérience
de la localisation. [...] Les difficultés liées aux matérielles ne sont pas non
plus à négliger. L’offre de cours en localisation nécessite un laboratoire fort
bien pourvu en matériel et logiciels. Ces derniers sont très coûteux et mis à
jour à un rythme rapide. Il demeure difficile pour les universités de créer un
environnement favorable à l’apprentisage des outils informatiques.»
Com efeito, a formação universitária de tradutores nestas áreas envolve frequentemente a contratação
de pessoal especializado ad hoc, bem como a atribuição de importantes recursos económicos para
dotar as salas de equipamento informático, multimédia, etc. Na nossa óptica, convém ultrapassar
de vez a visão esclerosante do papel social dos tradutores associado à Literatura e aos estudos
filológicos tradicionais e começar a assumir (já não será sem tempo) o carácter «técnico» da mediação
linguística.
Para além destas questões, de natureza mais pragmática, convém não perder de vista um outro aspecto,
que diz respeito ao segundo tema do ciclo teórico que propomos. No momento em que apresentámos
um programa para analisar as imagens das páginas da Internet, referimo-nos à necessidade de tomar em
conta algumas das suas características, como o facto de conterem elementos ofensivos para algumas
culturas, ou de estarem «ancoradas» na cultura original. Este tipo de questões tanto pode revelar-se
em pormenores ortotipográficos, como em elementos culturais com um enorme valor simbólico. Numa
página em inglês, por exemplo, as datas têm o formato YYYY-MM-DD (2004-07-04), que não se adapta
a todas as línguas. Outro exemplo, bastante frequente, será o tratamento de determinadas quantidades
(um bilhão português, habitualmente designado por bilião, é diferente de um bilhão brasileiro); o AIDS
inglês não mudará numa versão brasileira, mas será «sida» em Portugal... Existem, no entanto, casos
bastante mais subtis que requerem capacidades específicas da comunicação intercultural. F. E. Jandt
(2000, 111), por exemplo, diz a propósito do «sinal da vitória»:
«U. S. soldiers were warned against using the “V for victory” or peace sign in
Bosnia-Herzegovina. Serbs would find it offensive to see the peace-keeping
troops making this sign, as the Croats use it as an informal greeting.»
Com efeito, a comunicação intercultural envolve muitos aspectos para além dos estritamente
linguísticos. A comunicação não verbal tem nas imagens um dos seus alicerces. E as imagens são, como
46
sabemos, fundamentais no material que circula pela Internet. Até nos países em que as distâncias
culturais parecem menos evidentes, estes aspectos merecem uma atenção especial. A utilização de um
torero para representar a versão, em língua espanhola, de uma página da Internet não é bem aceite
por muitos cidadãos espanhóis, sendo ridícula para uns e ofensiva para outros. Na Catalunha, por
exemplo, uma conhecida marca de brandy que utiliza como símbolo um touro de grandes dimensões,
colocando-o em locais bem visíveis, foi alvo de um boicote. Até as cores, as formas dos botões, as
ilustrações e os modos de apresentar a informação estatística podem ter conotações especiais. A
adaptação dos conteúdos da Enciclopédia Encarta, da Microsoft, para espanhol constitui um exemplo
interessante:
«Although the headword “Falkland Islands” is used in English-speaking locales
and is acceptable in the US, it cannot be used in the Spanish product due to
its unacceptability in Argentina where the product is sold. The Spanish product
refers to the island group as “Islas Malvinas”.» (Kohlmeier 2000, 9)
Brislin & Yoshida (1994, 41-55) referem um conjunto de categorias para sintetizar os fundamentos das
diferenças culturais, os quais constituem o esqueleto dos fundamentos da comunicação intercultural do
nosso programa. De entre eles, salientamos as diferentes formas de categorização (que estão na base
da criação dos estereótipos e, portanto, dos preconceitos), a distinção nós-eles (In-Group/Out-Group
Distinction) e as atribuições pelas quais se determinam os motivos das condutas individuais. Na opinião
destes autores, nas interacções interculturais convém estar atento aos aspectos que reflectem as formas
de conhecimento específicas de uma cultura: o trabalho, o espaço e o tempo, a linguagem, os papéis
sociais, a importância do grupo e a importância do indivíduo, os rituais e as superstições, as hierarquias e
o estatuto e valores. Infelizmente, a reflexão sobre este tipo de conhecimentos nem sempre acompanha
as aptidões mais «instrumentais» dos programas de formação de tradutores, apesar de já contarmos
com um importante arsenal teórico-prático, como o estimulante trabalho de D. Katan (1999).
Atente-se agora às capacidades dos tradutores que participam em projectos de localização, segundo
a LEIT (LISA Education Initiative Taskforce, <http://www.lisa.org/info/leit.html>, num documento
de 1998 (LEIT Report, Findings, and Recommendations). A LEIT é uma divisão da prestigiosa LISA
(Localization Industry Standards Association, <http://www.lisa.org>, orientada especificamente para a
formação. A LISA, fundada em 1990, define-se como «the premier non-profit organization for the GILT
(Globalization, Internationalization, Localization, and Translation) business community», e dela fazem
parte algumas das principais empresas mundiais relacionadas com as novas tecnologias da informação
e da comunicação (6).
47
«TRANSLATORS
Skill Average Score Relative
importance
Basic SkillsProficiency in translation skills and methodologies
Awareness of cultural issues
Basic word-processing skills
Basic terminology management and research skills
Proficiency in a number of languages
Basic internet and web skills
1.39
1.51
1.73
1.86
2.02
2.29
-0.83
-0.71
-0.50
-0.36
-0.20
0.07
Additional Skills Culture-specific translatability problems
Familiarity with translation-oriented terminology management
Flexibility to work in technical fields
Familiarity with translation technology tools
Translation memory systems
Team-oriented translation work
Terminology management systems
Detailed word-processing capability
Expert terminology search, including web-search strategies
Experience with translation support tools
Experienced users of tools
Use of desktop publishing software
Stress-management
Machine Translation
Ability to format check outside of preferred languages
1.69
2.00
2.08
2.16
2.20
2.20
2.25
2.39
2.44
2.55
2.56
2.64
2.98
3.24
3.35
-0.54
-0.22
-0.14
-0.07
-0.03
-0.03
0.03
0.17
0.22
0.33
0.34
0.42
0.76
1.01
1.13»
A flexibilidade para compreender problemas de tipo cultural na tradução apresenta-se-nos como uma
aptidão adicional; e a consciência das circunstâncias que envolvem as diferenças culturais como uma
habilitação básica. Nós, que concordamos absolutamente com esta opinião, precisamente por isso
julgamos imprescindível a introdução de conteúdos relativos à gestão intercultural nos programas de
formação de tradutores/localizadores. De facto, a localização envolve esse processo de adaptação, que
é complementar à tradução. A própria LISA define assim a Localização:
48
«The Localization Industry Association (LISA) defines localization as “the
process of modifing products or services to account for differences in distinct
markets”. In practice, this means that localization needs to address three main
categories of issues:
Linguistic issues
These relate to the translation of a product’s user interface and documentation
and may also extend to the translation and re-engineering of any underlying
linguistic functionality such as applications programming interfaces (APIs),
search engines or wizards.
Content and cultural issues
In many cases, the information and functionality contained in products need
to be adapted for local audiences. Cars sold in Britain cannot have the steering
wheel on the left, while accounting software will have to comply with local
generally accepted accounting principles, to give just two examples. Cultural
issues concerning the presentation of information (icons, graphics, colors,
forms of address, etc.) may also need to be taken into account.
Technical issues
Supporting local languages and content may require redesing and
re-engineering. For example, Arabic scripts are bi-directional (i.e., they
generally run from right to left, except for numbers and foreign-language
words, which run from left to right). Equally, Far Eastern languages require
twice the disk space of English for each character (which is why their alphabets
are known as “double byte character sets”, or DBCs). Adapting products to
these scripts therefore requires changes to the code (in the case of software)
and/or product design, packaging, etc. Ideally, the localization process follows
on from product globalization [...] and should not be confused with it.»
Convém recordar aqui que o relatório da LEIT partia de uma divisão teórica em diferentes «perfis
profissionais» (profiles), a propósito dos tipos de trabalho que são detectados em diversas companhias:
Upper management, Project managers, Software engineers, Translators e Technical Writers. Anthony
Pym (2002) já assinalou uma progressiva tendência do mercado profissional globalizado, que nós
queremos salientar, considerando os tradutores como meros transcritores interlinguísticos. A tecnologia
que acompanha o seu trabalho, como as memórias de tradução (que recuperam, no fundo, a velha
noção de equivalência), está a fazer com que o trabalho dos tradutores seja cada vez mais mecânico.
O tradutor tornar-se-ia, assim, um simples operário que procura e substitui segmentos linguísticos.
A consequência evidente é a necessidade de conseguir que os aprendentes estejam conscientes da
dimensão global do processo que envolve a sua participação, a partir da máxima versatilidade e da
máxima capacidade de controlar essa dinâmica. Com as palavras de Pym:
49
«True enough, most discourses on localization restrict “translation” to the
replacement of user-visible natural-language strings, leaving the more creative
parts of localization projects to experts in marketing or product re-engineering.
For reasons of efficiency, this involves an operational discontinuity between
the two modes of mediation. The natural-language strings requiring translation
and leveraged out from the rest of the product codes. They are then usually
sent to people who just translate, and who only receive pay for just translating.
The adaptative and more lucrative parts of localization projects go to specialists
in alternative modes of mediation.»
E ainda,
«Often it is only by moving into the more high-tech sectors, or by becoming
project managers, that our graduates really find liveable long-term employment.
If we prepare them for no more than narrow linguistic replacement tasks, they
will be no more than foot-soldiers in battles of which they will have neither
vision nor control.»
Por esses motivos, o programa que propomos acentua o carácter global das encomendas, bem como as
diferentes fases em que consideramos o processo: análise, resolução e avaliação. Assumimos que o único
modo de veicular este tipo de conhecimentos é a partir da cooperação entre diversos agentes. Portanto,
os estudantes, no final da aprendizagem, devem estar em condições de reconhecer as diversas fases
e devem contar com as noções fundamentais para participar em cada uma delas, nas suas diferentes
dimensões: criação de orçamentos e facturação, tradução (+ adaptação cultural), documentação,
administração de recursos (memórias, glossários), revisão. De modo simultâneo, deverão conhecer
as diferentes ferramentas de que dispõem para esses trabalhos e terão de conseguir avaliá-las no
seu contexto, com uma perspectiva crítica (7). Esse conjunto de conhecimentos, fornecido em cursos
gerais, é o que depois permitirá, em cursos específicos, optar por orientações específicas (direcção de
projectos, gestão de recursos informáticos... até, eventualmente, localização-design).
Por outro lado, a fronteira entre a localização de conteúdos electrónicos e a sua criação/gestão é cada
vez mais ténue. Os tradutores/localizadores têm de possuir os instrumentos formativos necessários
para poderem concorrer com eficácia «também» nas áreas criativas. Como acabámos de ver, aliás, o
único modo em que pode ser safisfeita, eficazmente, a encomenda de traduzir páginas da Internet
é a partir de um conhecimento prévio (nem que seja elementar) dos fundamentos da construção de
páginas da Internet. Tudo o que se disse anteriormente justifica que este tipo de conteúdos apareçam
no programa que sugerimos.
50
CONCLUSÃO
Nas páginas precedentes, tentámos apresentar algumas das características mais relevantes da
localização de páginas da Internet na formação de tradutores, a partir da caracterização sintética da
actividade profissional que envolve e do seu papel social, bem como das circunstâncias que parece
oportuno considerar na sua descrição académica.
Estamos muito conscientes das limitações que apresenta este tipo de trabalhos, em que se pretende
transpor para a formação superior as estruturas do mundo profissional real. Este proceso acarreta,
necessariamente, um certo grau de abstracção e idealização, que é sempre perigoso. As limitações
que apontamos são ainda mais evidentes no caso das novas profissões que ainda não delimitaram o
seu espaço social, como aquela de que nos ocupamos. Habitualmente, o mundo académico começa
a interessar-se por este tipo de actividades e a codificá-las só quando elas estão bem consolidadas.
Do nosso ponto de vista, porém, os inícios são, precisamente, os momentos mais interessantes para
começar o processo de retroalimentação entre a Universidade e a Sociedade, até porque os saberes
académicos não podem diferir, por omissão ou por indiferença, dos saberes sociais.
1. O programa MLIS (1996-1999), juntamente com o programa INFO-2000 ([1996-1999]; confira-
se o relatório final em <http://www.hltcentral.org/usr_docs/eContent/INFO2000-Final-Eval-Report.
pdf>), lançou os alicerces para o programa eContent (2001-2005) <http://www.cordis.lu/econtent>,
que ainda vigora.
2. V. um interessante trabalho sobre o papel do XML nos processos de localização em Savourel (2002).
3. V. a descrição do fluxo de trabalho na gestão real de um sítio multilingue em Cheng (2001).
4. A referência imprescindível para ferramentas de localização é o livro de Esselink (2000). Um artigo
recente, com um bom leque de informações sobre esta matéria, é o de Sókoli (2002).
5. V. também as Fichas-Projecto do relatório: por exemplo, ADELE-129 (AGORA, nas págs. 420-421 do
Anexo ao Programa) relativamente à gestão de sítios de rede.
6. Pode consultar-se uma listagem completa dos membros da Assembleia Geral da LISA em
<http://www.lisa.org/members_info/gamembers.html>.
7. Cfr. a descrição de uma interessante experiência pedagógica de gestão integral de uma encomenda
(por acaso, relacionada com a tradução de documentação Linux) por um grupo de estudantes, com
diversas ferramentas informáticas em Kühbler (2002).
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Jandt, Fred E. Intercultural Communication. An Introduction. Thousand Oaks/London/New Delhi: Sage, 2003.
Katan, David. Translating Cultures. An Introduction for Translators, Interpreters and Mediators. Manchester: St. Jerome, 1999.
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52
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HIPERLIGAÇÕES
Todas as hiperligações deste documento foram verificadas a 7 de Abril de 2004.
53
SHORT FORMS, LONG SEARCH: TRYING TO MAKE SENSE OF ABBREVIATIONS *
VICKY HARTNACK
Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras
Abstract:
There is a marked lack of methodical reference when it comes to using initials, abbreviations and
acronyms in Portuguese economic and financial texts, thus making it very difficult for the translator to
decipher meaning. This study analyses the problem and attempts to classify these sorts of initials into
categories to make translation (mainly into English) easier.
Keywords:
Economic texts; Initials; Abbreviations; Acronyms; Classification.
Resumo:
A ausência de um método no uso das siglas, abreviaturas e acrónimos em toda a espécie de textos
sobre assuntos económicos e financeiros em língua portuguesa dificulta a vida do tradutor, que tem de
encontrar uma forma coerente de os decifrar. O estudo analisa o fenómeno das siglas, procurando pistas
para a sua categorização e mais fácil tradução para outras línguas, nomeadamente a inglesa.
Palavras-Chave:
Textos económicos; Siglas; Abreviaturas; Acrónimos; Categorização.
INTRODUCTION
One thing is certain when translating the acronyms, abbreviations and initials usually scattered
throughout Portuguese economic, trade and commercial texts, and that is that the translator is in
for an adventure. This means embarking on a long search in order to get to the bottom of these short
forms. A series of doubts cross his/her mind as the search ensues: does the translator have to know
what each abbreviation means so as to translate it, or can it be left as it is in the original language with
CO
NF
LU
ÊN
CI
AS
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R
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is
ta
d
e
Tr
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v.
2
00
4
54
an explanation in brackets? Abbreviations, acronyms and initials of a group of words obviously have a
different status for the user/writer than they do for the translator and it is this fundamental difference
that I would like to look at in this paper (1).
“ACRONYM”, “ABBREVIATIONS” AND “INITIALS” – CLARIFYING TERMS
The terms, “acronym”, “abbreviations” and “initials” need to be clarified. As is common knowledge,
an initial is the first letter of a word, as in MBA meaning a Masters in Business Administration or
p.m. for post meridian or DGCC (Direcção Geral do Comércio e da Concorrência). An abbreviation
may be the initials of a series of words, as in JIT technology (just-in-time technology) or R&D
(research and development), or a part of a word or words, such as, BC-NET which is short for Business
Company match-makers NETwork, a European Union (EU) network. According to the Merriam-Webster
dictionary, an acronym is a composite word issuing from the initials of a series of words or parts
of a compound term, giving a new term that is able to stand on its own: e.g. maser (microwave or
molecular amplification by stimulated emission of radiation), or VALOREN, an EU programme to mean
VALORisation of ENdogenous potential or the now fading Yuppy derived from Young, upwardly mobile
professional people and which in the plural, becomes Yuppies, or DINKS for an informal classification
of a social and tax status, namely Dual Income, No Kids.
More often than not, the acronym is absorbed into the language as a new term and is not translated,
although there might be pronunciation variations or a slight change in spelling to accommodate each
language’s idiosyncrasies. Moreover, what might be an acronym in one language, might not be in
another. Take the case of radar. Although it might be an acronym in English because it is derived
from radio detecting and ranging, in Portuguese it is not considered an acronym but a word in its
own right, that has been incorporated into the language from English. One may even argue that most
English-speakers are not even aware of the fact that “radar” was initially (i.e. during World War II) an
acronym.
This fact prompts a point about acronyms particularly when thinking about how a term changes its
status from acronym to word when it enjoys widespread use among the general public. For example,
AIDS – not as an abbreviation for Agency for International Development, or Artificial Insemination by
Donors – but Acquired Immunodeficiency Syndrome caused by a human immunodeficiency virus (HIV).
People have to think hard about what the acronym means, a fact which automatically favours making
the abbreviated form into the standard word that is meaningful. The fact that the acronym AIDS is
often written as Aids is telling and may be compared to the term SIDA in Portuguese, which is often
written as Sida. There are also terms like IVA (VAT in English), Prodep from PRODEP (an EU programme
for economic development and planning) which have become acronyms. Company names, government
bodies, brand names, new, artificial, or synthetic materials, military hardware and computerised
technology, not to mention new diseases are often best known in acronym form, e.g. IPC-Anacom (the
Portuguese Autoridade Nacional de Comunicações), Infarmed, Microsoft, Endvac (computer), polyester,
SAMs, Cobol, just to name a few.
55
USING ABBREVIATIONS IN SPECIALISED LEXIS
When compared with practices observed in business or economic newspapers and magazines ten years
ago, in the last few years the media have become more aware of the need to write the term in full
when first referring to it, following it up by the initials in brackets. A typical report would usually have
the initials in the headline and the full version in the body of the text as the example below aptly
shows. In this case translation is facilitated (2).
CMVM quer rever formas de financiamento
A redução do volume de transacções e a ausência de operações no mercado de
capitais portugueses representam menos receitas para a Comissão do Mercado de
Valores Mobiliários (CMVM), mas a situação não é, para já, preocupante...
EXAMPLE 1. “Economia”, Expresso, 22 December 2001.
This layout is not always the case, though. The extract below clarifies the translator immediately in
the headline.
Em 2002, o Imposto Automóvel continuará a favorecer os veículos de
grande cilindrada
O segmento dos monovolumes poderá ser a próxima vítima do
Imposto Automóvel se o Governo insistir na imposição de uma taxa de 100% de IA
sobre estes veículos...
EXAMPLE 2. “Economia”, Expresso, 17 November 2001.
The full term followed by the abbreviation, is not a hard and fast rule. In other words, a news report
might start like this:
Portugal é caro ou barato?
Eurostat e OCDE contrariam opinião do livro de Vasconcellos e Sá e Miguel
Frasquilho.
EXAMPLE 3. “Economia”, Expresso, 17 November 2001.
The organisation, OCDE, appears in the headline but nowhere in the text is it written in full. The
translator, however, will need to know that the English version is OECD (Organisation for Economic
Cooperation and Development) which offers a slight change in meaning when compared with the
Portuguese (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos, based on the original
56
French term (3)). In the English title, things are more ambiguous and the adjective qualifies “cooperation”
more heavily, whereas the Portuguese adjective, inflected in the plural, covers both nouns.
On the other hand, a regular columnist, such as Saldanha Sanches (Expresso, Economia) may write in
his second paragraph when speaking about the 2002 State Budget and the tax system:
O que se quer rever é uma exigência bárbara contida numa norma tirânica e
opressiva que obriga a DGCI a dar num prazo de um ano resposta à reclamação do
contribuinte sob pena de caducidade da garantia.
EXAMPLE 4. “Economia”, Expresso, 27 October 2001.
The reader is supposed to know that DGCI means Direcção Geral de Contribuições e Impostos although
it is not written in full anywhere in the article. The translator, therefore, may be forgiven for not taking
into account the particular Portuguese context of the organisation and simply call it: the General Tax
Office. The author, though, may well consider this a poor translation because, in the English version
it fails to carry over the idea that an extraneous regulation can have such a serious impact on a body
– implicit in the Portuguese name – which is directly responsible for carrying out government policies
and fiscal rulings.
The socio-cultural context of the abbreviation is implicit but far-reaching. Terms are laden with past
histories or act as indicators breaking with tradition and creating new history. The weightiness and
red-tape connotations behind many titles is sometimes lost in the translation. Direcção Geral has no
really suitable translation into English, as European Union translators discovered in Brussels. They
and English-speaking Euro-politicians adopted the anglicised version of the original French, Direction
Générale, and incorporated it into Euro-speak.
Another instance where the abbreviation usually appears without clarification may be found in the
stop-press column or in the “shorts” column, in either the headline or in the example below:
António Almeida demitiu-se de secretário-geral do Ministério da Economia,
cargo que ocupava há um ano, encontrando-se neste momento a fazer um
doutoramento. Antes da Secretaria-Geral, o responsável desempenhava funções no
IAPMEI.
EXAMPLE 5. ‘Passaporte’, “Economia”, Expresso, 20 October 2001.
The abbreviation IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e Investimento) is
unexplained probably due to lack of space and also to the fact that it is fairly well known and its
meaning is taken for granted. But it is difficult to translate. Should the translator aim for The Institute
57
for Investment and Aid to Small and Medium-Sized Companies followed by the Portuguese initials?
Note that I have changed the word order to place the smaller lexical units first which suits English
notions of rhythm and stress better. Or is it more useful to refer to the Portuguese initials first and
offer a very brief explanation about what the IAPMEI is rather than translate it word for word? Again,
it depends on the context and the type of text. Nonetheless, this point will be raised again later on.
Tables, for lack of space, are another instance of where the abbreviation appears without its extended
version, although ideally there should be a footnote in explanation. In the article quoted above about
motor vehicle tax, a table accompanying the article gave the following headings without any footnotes
with the exception of C.C. (which, we are informed, means “cubic centimetres”). It is taken for granted
that PVP, IVA, PPB+IA which all refer to selling prices and various taxes are known as the text fails to
provide a key. The title and main headings are as follows:
Carga Fiscal do IA sobre o Preço de Venda
Marca Modelo PVP IVA PPB+IA C.C. IA Carga fiscal do IA
EXAMPLE 6. “Economia”, Expresso, 5 October 2001.
Abbreviations deemed to be common knowledge are almost never clarified in tables. In a feature article
(see below) discussing what the income gained from taxes was spent on in 2001, a table showing
expenses in health and pensions among others, referred to ADSE and CGA without referring to full forms,
although when referring to tax ceilings, the table mentioned NF – Nível de Fiscalidade. It is assumed
that the abbreviation, Aut. Locais, is clearly meant to be: Autarquias Locais (Local Government).
Despesas Rígidas
1987 1991 1995 1999 2001
Despesas Rígidas
* Despesas Sociais
Saúde + ADSE
Educação
Segurança Social
CGA
* Regiões e Aut. Locais
Nível Fiscalidade (NF)
Despesas Rígidas/NF
EXAMPLE 7. “Economia”, Expresso, 22 December 2001.
An obvious explanation of why feature writers and columnists in the specialised press or report writers
fail to clarify the abbreviations they use is that they are writing with a specific public in mind, one
58
which is fully acquainted with the terminology. The translator has to assimilate this terminology if
he/she is to do a good job. The same may be said where company reports and the results of the annual
audit are concerned. Readership is selective and presumed knowledgeable. Unless it is a public or
state-owned company where the annual report is published in the press, readership is usually in-
company and limited or at most, read by the company’s shareholders at general meetings.
ARE ABBREVIATIONS JARGON?
It is interesting to note, however, that like most other professions, the businessman-economist-
financier-trader has his specialised language, his jargon. Consequently, the journalist/writer has to
become proficient in this jargon, too. It may be argued that each term in jargon has its own very
peculiar and particular meaning that is hard to convey in the words of everyday current language.
The bureaucratic weighting of terms often calls for abbreviations which in turn are often transformed
into acronyms. For example, is the specialist able to call to mind exactly what PIDDAC stands for?
Both he/she and the translator ought to know that it stands for Programa de Investimento e Despesas
de Desenvolvimento da Administração Central, that it is a European Union funding programme, and
that its title probably originated in French or English. The sort of terminology generated within the
European Union often results in additional layers of jargon that act as a barriers to anyone wishing to
join an exclusive club. In the act of transforming words into icons that are recognizable by like-minded
professionals, the jargon users are, perhaps, unconsciously helping to exclude those who have “no
right” to think they are included in the circle. With the excuse of saving time, what authors really do
is attempt to restrict access to information to those not already “in the know”. Look at the following
small extract where this idea emerges fairly clearly:
De passo intermédio sem grande expressão na transição entre o GSM e o UMTS,
o GPRS (General Packet Radio Services), também conhecida pela geração 2.5,
prepara-se agora para desempenhar um papel fundamental na expansão da
internet sem fios e no arranque do comércio electrónico móvel...
EXAMPLE 8. “Os Desafios do M-Commerce” in “Dossier Especial – Guia do e-Business”,
published by Grupo Sol-S (2001).
As the overwhelming majority of authors do not write with the translator in mind, no one has questioned
the right to use specialised terms that are not sufficiently clear. Indeed, why should they ever think
of doing so? And this is especially true when it comes to abbreviations and initials. Nevertheless, this
attitude reflects one of arrogance and clubishness, contrary to the spirit of universality and flexibility.
In certain cases, the reification of words into icons may also mask ignorance – the author simply
does not know what the full form of an abbreviated term stands for. In other words, in becoming an
acronym, the abbreviation has taken on a unique meaning that may or may not coincide very strictly
59
with the extended version. Take, for example, the term Grandes Opções do Plano which relays the idea
of “broad alternatives” lending flexibility to structural economic policy planning. GOP, on the other
hand does away with the idea of openness to choice and the term tends to portray a fixed entity: “as”
GOP (4).
I recall Halliday and Martin’s words (1993, 21), about the specialized language of the financier-
economist and their increasing use of abbreviations, rendering it incomprehensible to the general
reader:
The language of science, though forward-looking in its origins, has become
increasingly anti-democratic: its arcane grammatical metaphor set apart those
who can understand it and shields them from those who do not. It is elitist
also in another sense, in that its grammar constantly proclaims the uniqueness
of the human species. There are signs that people are looking for new ways of
meaning – for a grammar which, instead of reconstructing experience so that it
becomes accessible to only a few, takes seriously its own beginnings in everyday
language and construes a world that is recognizable to all those who live in it.
Could the translator belong to this set of people in wanting to clarify terms so that they are
recognizable?
Furthermore, in considering an author’s purpose in using abbreviations and initials in a text, we are
automatically led to ponder not only the elitism of which Halliday and Martin speak, but also the
functionality and practicality of abbreviations. Are they useful because they save time (in writing, in
reading)? Do they work alone – are they meaningful in themselves? Or, do they take on the status of
the icon in much the same way that words do, a fact which I mentioned earlier on? Do they take on
other meanings giving rise to new lexico-semantic networks? They are said as words with meanings
of their own that have a more immediate impact than the initials. If they are to be treated as words
– acronyms, and not initials – does the translator have to respect them as whole units or meaningful
words and translate them as such from the Portuguese, precisely because they have acquired the
status of words (e.g. Sida or Iva), which may go against English language conventions, or should they
be treated as the initials and abbreviations they once were? While Aids might be acceptable nowadays,
instead of AIDS, simply because it is a universally-understood and used term, serious doubts are raised
about other terms, particularly in finance and economics.
In becoming icons, such units take on political meanings of their own are sometimes at variance with or
go beyond their original meanings or that open up whole new panoramas. Many such icons originate in
English simply because English is the common language for speakers of many nationalities, or because
the USA played a major role in drawing up the rulings underlying the term. Thus when dealing with
translation from English into other European languages, these coinages resist attempts to “nationalise”
them. In the first instance, they successfully ward off any risk leading to a change in meaning – given
60
the common premise that translating is creating. However, in reifying a term, its status undergoes
change of a different sort. It is rather like the different representations the acronym NATO has for
different people, groups or even nations (5). There are some Portuguese abbreviations which came into
use after the country joined the EU in the mid-1980s and which became synonymous with “hand-outs”.
Consider, for instance, FEDER, FEOGA, INGA, PEDAP, PEDIP (6) that are all to do with direct or indirect
European funding of regions, agriculture, fishing, industry, roads and other infrastructures.
TRANSLATING MORE CLEARLY
The first questions the translator has to ponder and answer regarding the abbreviations and initials
of organisations have to do with deciding which ones are acronyms and what are not. In the case
of acronyms, they should stay as they are – not to be translated. The problems acronyms present in
Portuguese however, is deciding whether terms like PRODEP are, in fact, initials standing for complete
words, or whether they have acquired the status of acronyms. Thus the kind of problem-solving the
translator has to deal with, may be summarised as follows:
• Should I translate the initials into the full version and change the initials to suit the translation?
• Should I leave them as they are but translate what they stand for?
• Should I leave them as they are, write them out in full in the original language in brackets and then
translate?
• Should I leave them as they are in the body of the text and then explain in a translator’s footnote
or in a bracket in the text?
An attempt to answer these and other questions will be given as we go along. The first consideration
in arriving at an answer is the origin of the term.
ORIGINS OF TERMS AND THEIR ABBREVIATIONS
It is useful to find out the origin of the abbreviation in order to know how to proceed. As economic and
financial terms connected with political trade, commercial and industrial organisations are particularly
prone to being abbreviated, it is here that the translator should start keeping a record of entries in
his/her own glossary. For the sake of convenience, I have organised a list of three major groups of
abbreviated titles, although I am sure one could open up the selection to accept more groups. The list
includes the following categories about which a little will be said in the way of an explanation:
• Original English terms used in Portuguese texts in their English form so that while no translation
is required back into English, there may have been slight changes (e.g. use of capital letters) in the
Portuguese use that need to be anglicised once again.
61
• Original English (or sometimes French) terms used to name international organisations in which
there is a common international interest or membership. Here, the title and the abbreviation are
translated into Portuguese and need to be re-translated back into English. The danger lies in the
discrepancy between the original English term and its translation back into English.
• Portuguese terms referring to a strictly national context which need to be translated.
1. Untranslated original English terms
The classical commercial terms so often seen in handling bills and texts related to the import-export
side of trading keep to their original English versions: CIF (cost insurance freight), CET (common
external tariff), COD (cash on delivery) etc., and new financial products also tend to keep their
English abbreviations. These new services usually have to do with credit provision, leasing and auto-
leasing design (e.g. ALD); e- and m-commerce (e.g. GTW – Global World Trading, SCM – Supply Chain
Management; B2B and B2C services (7) ), and launching or privatising companies (e.g. CHIPS – Clearing
House Interbank Payments System, SDR – Special Drawing Rights, IBF – International Banking Facility,
ATS – Automatic Transfer Service). Even the popular Multibanco cash points are increasingly referred
to (erroneously in some cases) as ATMs (automatic telling machines) while PINs and IBANs remain in
their English version.
Abbreviations originating in English or French – for instance the United Nations and other worldwide
organisations (e.g. UNESCO, SADC, EFTA, etc.) rarely, if ever, change when translated into Portuguese.
Consequently, they present no problem when translating a Portuguese text into English. Among the
young today, even the North-Atlantic military alliance, NATO, has ceased to be referred to as OTAN,
although this may not be the case among older speakers, particularly if they are in the higher ranks
of the armed forces. The terminology falling under the European Union heading is, however, divided.
While some terms – such as the acronyms ECOFIN (Economic Committee for Financial Ministers), EFMD
(European Fund for Management and Development) and JET (Joint European Torus) are used as such,
possibly because they refer to exclusively Brussels-based EU organisations, others may be translated.
Entities like the DG IV, Q III, BERD, etc. are usually left in their original French or English perhaps
because they appeared and became current coinage long before Portugal joined the Community in
1986. Even the ECU (European Currency Unit) was adopted in this form by all EU countries, regardless
of language variations.
The names of economic control mechanisms, financial instruments and marketing concepts are very
often left in English, the language in which they originated. Take for example, the SEC (Securities and
Exchange Commission), the PER (price-to-earnings ratio) when talking about the ratio to evaluate
shares in relation to their dividends; the MATIF which comes from the French and means Marché à
Terme des Instruments Financiers, an SDR (Special Drawing Rights) or CRM (Customer Relationship
Management) and MOU, or MoU (Memorandum of Understanding). It is not hard to understand why
such abbreviations are kept if we recall that the current language of international finance and business
62
is English. What reports sometimes do (or should do), however, is add a quick explanation – not a
translation – of what the term means if they think that the readership is not specialised.
2. Translated titles of international organisations
World-sponsored organisations in which Portugal has a say, such as the United Nations Organisation
(UNO) and its different sections dealing with human rights, health, atomic energy, trade and
development, drug and crime prevention, etc. are translated (UNO/ONU, UNO HCHR/ONU ACDH, WHO/
OMS, IAEA/AIEA, UNCTAD/CNUCED, UNODCCP/GNUCDPC, etc.). Some UN organisations, however, are
left in the original English: FAO, Unicef, etc. The reasons are not clear but it surely has something to
do with how well publicized some UN programmes are internationally speaking. Other supra-national
political, banking and trade alliances are also translated: the OAU (Organisation of African Unity),
the IMF (the International Monetary Fund), the WB (World Bank), the World Economic Forum (WEF),
OPEC (Organisation of Petroleum-Exporting Countries), WTO (World Trade Organisation), ZEE (Zona
Económica Exclusiva) and SME (Sistema Monetário Europeu) – or the GAFI (Grupo de Acção contra o
Branqueamento de Dinheiro), with its headquarters in Washington to name just a few.
Due to the EU policy enshrining the rights of all member states to use their own languages, most
of the abbreviations and initials scattered throughout EU reports and policy-making documents are
translated. Thus the ECB (European Central Bank) becomes BCE, the European Investment Bank (EIB)
is BEI, the European Monetary System (EMS) is SME, the European Confederation of Trade Unions
(ECTU) becomes the CES, and so on. When it comes to funding, following EU directives in various areas
of economic and financial activity, and applying programmes, the abbreviations are translated into
Portuguese – as mentioned earlier on in this study – and often give birth to new Portuguese acronyms:
FIDES (Fundo de Investimento para o Desenvolvimento Económico e Social); FEOGA (Fundo Europeu
de Orientação e Garantia Agrícola), CEDEFOP (Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação
Profissional), IFOP (Investimento Financeiro de Orientação de Pescas), UNICE (União das Indústrias da
Comunidade Europeia), etc.
As Portugal belongs to a broad community sharing basic political and economic as well as cultural
precepts and practices, it has organisations and regulatory practices akin to other countries within
the community. It has its non-governmental organisations (NGOs-ONGs (8)); its wealth as a nation is
calculated on the basis of its Gross Domestic Product (GNP-PIB); it sets value-added tax on its consumer
goods (VAT-IVA), battles with its Public Debt (PD-DP), adheres to International Accountancy Rules (IAR-
NIC) and allows its trade unions to become affiliated with the International Labour Organisation (ILO-
OIT). On the basis of its wealth of abbreviations could this allow Portugal to swell the G-7 to G-8?
Furthermore, when concerned with the stock market and financial products available through
government or banking entities, although words are usually written in full, the translator might stumble
upon an abbreviation, such as the simple TB (Treasury Bonds) which would be BT (Bilhetes de Tesouro)
in Portuguese or the more complicated Fundos de OTFI (Obrigações de Taxa Fixa Internacional) – not
63
to mention other kinds of stocks, shares and bonds, such as the OTs (Obrigações de Tesouro), the stocks
or títulos called TRMs (Títulos Renda Mensal), and TIMs (Títulos Internacionais Mistos), the saving
schemes such as PPR (Plano de Poupança Reforma) or shares buying and selling (IPO-OPAs and OPVs).
Finally, in this section, it should be mentioned that some translations of “international” concepts and
classifications into Portuguese follow the usually English original very closely. Take for example, the
two abbreviations for newly developing countries (NDC) and developing countries (DC). In Portuguese
they are: NPI (Novos Países Industrializados) and PVD (Países em Vias de Desenvolvimento). Unless
dealing with a strictly Portuguese phenomenon, the tendency is to adopt a close translation of the
English wording when labelling general aspects. However, where a term has taken root, no matter how
“prestigious” the new abbreviation because it demonstrates the speaker is in-the-know, it is usually
hard to get rid of among the general public (see my previous comment on the specialist preferring the
term ATM which refers to the sales point or machine, while the general public still prefers to use the
word Multibanco for both the physical sales point and the banking transaction as it has done for the
last 10 to 15 years).
When transcribing the translated terms in this group, the full version may be accompanied by the
initials of the translated words if the term is going to be used again in the text later on. As the
Portuguese version is close to the English, usually referring to an international – or rather, not a strictly
national – context, the translated abbreviation or acronym probably already exists.
3. Portuguese terms in a national dimension
Herein lie most of the translator’s problems. There may be no corresponding organization or operation
in the target language and a full translation is essential. The very wordiness of Portuguese titles begs an
abbreviation simply because they are too unwieldy to write in full form or they do not lend themselves
easily to an abbreviated version composed of one or two words. Take for example the fairly well-known
acronym, the IFADAP (Instituto Financeiro de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pescas) in
use particularly when discussing community fishing quotas, or the even more impressive abbreviation,
PNICIAP (Programa Nacional de Interesse Comunitário de Incentivo à Actividade Produtiva), which
however, is not an acronym. As previously mentioned, these terms have taken on meanings of their
own and only a very few would be able to say what the initials stand for. Nevertheless, the translator
has to be in a position to render a close English approximation to the Portuguese term.
As far as economic and financial language is concerned, Portuguese abbreviations and acronyms may
be divided into a number of different groups which, when viewed diagrammatically as a funnel, contain
several strata. The abbreviated term has to be situated along a continuum within a context, located
somewhere in the hierarchical down-grading following the larger, broad-based “national” units into
the small local operative units. It is rather like trying to find a niche in a semantic group based on the
Stock Exchange for each of the following terms: the SEC (Securities and Exchange Commission) at EU
level, the FII (Fundo de Investimento Imobiliário), the CNBV (Conselho Nacional da Bolsa de Valores),
64
the OECVM (Organismos de Investimento Colectivo em Valores Mobiliários), the ABVL (Associação da
Bolsa de Valores de Lisboa), the SCP (Sociedade de Correctores Portugueses), the OEVT (Operadores
Especializados em Valores do Tesouro), and the products dealt with (e.g. FMMEuro [Fundos do Mercado
Monetário Euro], BTs, OTs, PPAs, etc.).
In trying to understand the contextualised situation of an abbreviation, it is possible to minimise errors
in transcribing the term in full. But it also means that the translator should not really venture into
fields where he/she does not have sufficient background knowledge. Things have to make sense as it
will probably be a specialist reading the translation at the other end.
The experienced translator often has inklings about what the first initials in a term stand for in a long
line of letters: for example, C might stand for Conselho, Confederação, Centro or Comissão. Often the
context is the only guide. Ideally speaking, one’s own experience is really the only source of clarification
barring personal contacts who would be “in the know”. On-line services to do with the subject at hand
are, perhaps, more rewarding if one knows what one is looking for and where to find it. Does this
mean having to wade through paper and digital texts in order to discover what an abbreviation or an
acronym means? Very often it does. That is why compiling a glossary is essential.
Once the full version has been found, what is the next step? The title has to be translated or at least
described if a faithful translation is difficult to contrive. The Portuguese abbreviation – the name under
which it is most commonly referred to should follow this translation in brackets in italics. If the title
recurs throughout the text, the translator should use the Portuguese abbreviation merely because a
translated version of the full title is not really enlightening or useful when referring to a particularly
Portuguese context. There is really only one cut-and-dried rule concerning abbreviations: and that
is the full version of the term must be supplied. Whether the translator opts for a literal or loose
translation of a long title or prefers giving a brief explanation, depends upon the text, the client’s
wishes, the (imagined) reader and the translator’s own practice.
CONCLUSION
What I have tried to show in this study, is that the seeming anarchy portrayed by the abbreviation
and the acronym in Portuguese may, after all, not be as confusing as it first appears. Although any
translator will be daunted by texts in which abbreviations of titles fail to be accompanied by a full
version of the term or at least a brief explanation, if the abbreviation is analysed and placed within
a context and is considered both morphologically as well as semantically, many questions about
how to proceed will be answered. There are terms which resist translation because they have gained
weight and status throughout the years and have taken on additional or changed status to their
meanings. Such terms are very often in English and will appear in Portuguese texts in their original
forms. Obviously the translator has no problem here and will adapt any slight changes in spelling or
orthography that could have taken place in the Portuguese rendering of the term, so that it returns to
its inherent Englishness.
65
Other terms, because they belong to what may be called “world patrimony” in which all nations or
language groups have some sort of a say, are found in translated forms but are easily re-translated
back into their often English originals. The translator’s problem here is his/her own ignorance of the
English original but Internet sources are an increasing help in locating terms and their abbreviations
and it is not too problematic to see the context in which a term is used. The match between the English
original and the Portuguese translation might sometimes be less than clear so that getting a term back
into an English translation would need cross-referencing for certainty.
The group that is most worrisome to the translator, however, is the third and largest group of nationally-
bound terms. It should be remembered though, that translation is not an exact science even though
the texts we are translating may express precise data and evidence. Language is open-ended, flexible,
creative and communicative. If the text’s interactive nature (i.e. the writer with the reader via the
text) is to be respected, the translator should always be in a position to rely on his/her own common
sense and should always enjoy enough freedom to make a wise choice. While a translation of the
Portuguese term is needed, whether in a bracket following the term or in a note, it is advisable to use
the Portuguese acronym, abbreviation or initials in the translated text itself (written in italics, if need
be) once it has been explained. It is up to the translator to decide if the abbreviation should be written
out in full in both English and Portuguese, although, personally, I have found the English translation
suffices. It should be remembered, however, that readers of translated texts need to understand what
the Portuguese context holds, and this sense of reality may be projected in a Portuguese abbreviation.
It follows, then, that the Portuguese abbreviation be written in its original form.
The insulated nature of specialised texts filled with abbreviations that only the specialist is able to
read with any degree of confidence, should not intimidate the determined, knowledgeable translator.
Nevertheless, being prepared to confront such challenges means that the translator has to be armed
with his/her own glossary and other paper and digital reference tools – all the more so if one is dealing
with Portuguese economic and business texts.
* This article is a modified version of what appeared in the magazine, Polifonia 5, Revista do UNIL-
FLUL, Lisboa, Colibri, 2002.
1. Right from the start, I would like to thank my students in the Faculty of Letters, Lisbon University,
post-graduate translation course (1990-91) for some of the terms I have used in this study. I have
taken them from our unpublished glossary of the abbreviations of economic and financial terms. In
addition to data I took from texts I was translating at the time, we used the following Portuguese
newspapers and magazines: Expresso, Diário Económico, Exame and Público. The recent work I have
done in this field acts as a tribute to this first joint effort.
2. All references to the initials, abbreviations and acronyms of recent terms used in this article have
been taken from texts in the Economic and Employment supplements of the weekly Portuguese
newspaper, Expresso, August to January 2002.
66
3. As it may be known, much of the terminology and literature about the initial institutional structures
and their rulings were in French, issuing as they did from the OECD headquarters, Paris. The gradual
encroachment of English as the major working language has happened in the last 20 years or so.
4. This example was taken from a report in Expresso Supplement, November 10, 2001.
5. A term such as NATO is given loaded socio-political and even civilisational connotations and can spark
off street demonstrations and effigy-burning and place opinion-makers in opposite camps of thought.
The unsuspecting would never guess that the very ambiguous North-Atlantic Treaty Organisation may
be interpreted to mean an all-powerful military alliance of Western-type democracies spear-headed
by the USA. GATT (General Agreement for Tariffs and Trade) is also semantically laden. To nations not
covered by the Agreement, the acronym is automatically associated with exclusion. Likewise, the IMF
or FMI (Fundo Monetário Internacional) for many developing countries is synonymous with the idea
of unsolvable national debt and continued economic subjugation to the powers that be. On a less
dramatic scale, however, many apparently neutral abbreviation describe unpopular European Union
(EU) policies or organisations, e.g. the CAP (or PAC – Programa Agrícola Comum) the mention of
which immediately raises the hackles of French, Spanish and even Portuguese farmers, or the EMS /
SME (Sistema Monetário Europeu) which is likely to bring a sneer to British Euro-sceptic faces. The
translator may only choose to forget the socio-cultural dimension contextualising even an abbreviation
at his/her peril.
6. FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional; FEOGA – Fundo Europeu de Orientação e
Garantia Agrícola; INGA – Instituto Nacional da Garantia Agrícola; PEDAP – Programa Específico de
Desenvolvimento para a Agricultura Portuguesa; PEDIP – Programa Específico de Desenvolvimento da
Indústria Portuguesa.
7. B2B means “business to business” where a service is offered by one company to another at the same
hierarchical or organisational level, while B2C means “business to a different kind of organisation”
which could include governmental departments or local authorities, etc.
8. The evolution from the term pronounced as initials in Portuguese: as O.N.G. into an acronym: as
Ong is already a reality particularly in the Portuguese-speaking African countries like Mozambique and
Angola. It apparently shows the general acceptance and frequent use of the term which has acquired
a meaning in itself and which dispenses with the meaning tied up in the extended version.
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yourDictionary.com – the last word in words. Quick Lookup Database: The American Heritage® Dictionary of the English Language. 2004. Consulted on November 2004. Available from <http://www.yourDictionary.com>.
68
REFLEXÕES SOBRE AS QUALIDADES DE UM BOM GLOSSÁRIO TÉCNICO:
LIMITES E LIMITAÇÕES
ANA JULIA PERROTTI-GARCIA
Citrat, Universidade de São Paulo
Resumo:
O objetivo deste artigo é estabelecer alguns aspectos relacionados às características de um bom
glossário técnico, independentemente do campo semântico, do par lingüístico e do número de verbetes
contidos.
Palavras-Chave:
Glossário; Dicionário; Verbete; Análise de Corpus.
Abstract:
This paper establishes some of the ideal characteristics of a high-quality glossary, independently of the
semantic field, language pair and number of entries.
Keywords:
Glossary; Dictionary; Entry; Corpus Analysis.
1. INTRODUÇÃO
«Colecionar» palavras parece ser uma atividade lúdica e instrutiva, compartilhada pela maioria dos
profissionais que trabalham com idiomas, sejam tradutores, intérpretes, jornalistas ou educadores.
Frases, expressões, gírias, termos técnicos, exemplos de polissemia ou de expressividade, qualquer
item lexical pode ser catalogado, classificado, armazenado e, eventualmente, recuperado em momento
oportuno. Seja para uso pessoal ou para uso de terceiros, para futuras publicações ou apenas para
a sistematização de informações, um glossário técnico organizado e estruturado de modo lógico e
coerente aumenta a velocidade de acesso ao conteúdo e permite a inserção de novas informações,
sempre que necessário (Perrotti-Garcia 2003).
CO
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4
69
A partir de nossa experiência profissional, acumulada ao longo de quase duas décadas de trabalho
como dicionarista, glossarista, escritora, tradutora e professora de idiomas, mas, acima de tudo, com a
leitura e a utilização de glossários e dicionários, procuramos estabelecer, neste artigo, alguns aspectos
relacionados às características de um bom glossário técnico, independentemente da especialidade, do
campo semântico enfocado, do par lingüístico e do número de verbetes. Estas reflexões procuram ser
abrangentes e universais, de modo que os critérios apresentados possam servir, inclusive, para orientar
na escolha e/ou na redação de glossários.
2. DEFINIÇÕES BÁSICAS
Um glossário, segundo a definição de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, do latim, «dicionário de
termos técnicos, poéticos, científicos, etc.» é formado por verbetes organizados em ordem alfabética.
Os verbetes, ainda segundo a definição deste grande dicionarista brasileiro, são «na organização dum
dicionário, glossário ou enciclopédia, conjunto das acepções e exemplos respeitantes a um vocábulo»
(Ferreira 1986).
3. REFLEXÕES SOBRE A FORMA DOS VERBETES: COMPONENTES BÁSICOS DE UM VERBETE
A primeira grande diferença entre um glossário estruturado e os chamados «glossários» produzidos
pelas ferramentas de auxílio à tradução (Trados, por exemplo), compostos por listas de palavras e de
expressões, com suas respectivas traduções e, em certos casos, algumas observações, é a estruturação
do texto (Perrotti-Garcia 2004).
Um glossário elaborado de modo a tornar-se útil e passível de ser publicado, compartilhado ou
ampliado, deve ser estruturado. A estruturação ampla, aqui denominada «formatação», nem sempre é
responsabilidade do autor, ficando muitas vezes a critério da editora responsável por sua publicação.
Contudo, a estruturação dos verbetes é de inteira responsabilidade do autor. Por essa razão, iremos
enfocá-la em maior profundidade neste texto.
3. 1. Verbete básico
A partir da análise de um verbete básico, teórico, poderemos depreender quais devam ser as
características de um glossário técnico, em termos meramente estruturais. Com base na definição
já citada, o verbete padrão deve conter, no mínimo, o vocábulo e sua tradução (abordam-se aqui
glossários bilíngües, L1-L2 ou vice-versa, apenas).
Entretanto, para ser útil, elucidativo e funcional, o glossário pode e deve incluir verbetes mais completos.
Entre outros, pela análise da definição de verbete apresentada acima, é possível depreender um
70
primeiro componente importante dos glossários: «exemplos respeitantes a um vocábulo». Serão esses
exemplos que irão ilustrar o uso das palavras, sedimentando os conhecimentos do leitor e ajudando-o a
memorizar um maior número de informações. Um bom glossário técnico, portanto, deve, por definição,
conter exemplos de uso do vocábulo. Por esses exemplos o leitor é apresentado paulatinamente ao
corpus, podendo assimilar o uso prático do termo, suas relações sintáticas e mórficas (principalmente
se os exemplos forem obtidos de material autêntico, não traduzido, originado de fontes fidedignas)
(Perrotti-Garcia 2003).
Quando o autor quiser imprimir um caráter enciclopédico ao glossário, enriquecendo seu valor como
obra de consulta, poderá acrescentar as definições dos vocábulos (significado proposicional). A
mera tradução (ou seja, o termo correspondente na língua de chegada), muitas vezes não é suficiente
para esclarecer o uso adequado de determinado vocábulo. Há os casos de polissemia, de homofonia e
de homografia que devem ser levados em consideração quando da elaboração de um glossário técnico.
Devemos sempre considerar que o leitor espera que nós, enquanto dicionaristas, forneçamos a ele todas
as informações necessárias sobre um determinado vocábulo, atuando como guias que irão indicar, não
apenas os caminhos a serem seguidos, mas também os atalhos aconselháveis e, principalmente, as ruas
sombrias a serem evitadas!
Ao considerar que o público-alvo de um glossário será, em parte, composto por estudantes e por
leitores para os quais pelo menos uma das duas línguas (quando não as duas) não é sua língua-mãe,
muitas vezes o glossarista precisará lançar mão de linguagem não verbal para melhor esclarecer certos
termos ou expressões. Incluem-se neste tópico as ilustrações esquemáticas, as fotografias, os gráficos
e tabelas e, caso o glossário seja publicado em algum tipo de multimídia (CD-ROM, por exemplo), as
animações, os filmes e as apresentações de diapositivos. Assim, um bom glossário pode e, muitas vezes,
deve apresentar gráficos, ilustrações, esquemas e tabelas que sejam pertinentes ao assunto abordado
e que tenham como finalidade o esclarecimento de conceitos que, de outro modo, talvez não ficassem
totalmente elucidados. Sempre que a linguagem verbal não for suficiente, cabe ao autor perceber e
optar pela inserção de ilustrações. Por outro lado, na qualidade de leitor que pretende comprar um
glossário técnico, ou apenas elegê-lo como seu material de consulta em uma biblioteca, é importante
observar todos os aspectos citados acima e também os que serão abordados a seguir.
Além de definições, exemplos e ilustrações, muitas vezes um glossário bilíngüe pode conter a
transcrição fonética dos vocábulos, o que facilitará a aplicação e o reconhecimento dos termos em
situações de comunicação oral. Contudo, embora essa transcrição seja muito comum nos grandes
dicionários (sendo considerada indispensável nessas obras), não são freqüentes os glossários que
apresentam esse tipo de informação.
Pelos aspectos expostos anteriormente, antes de iniciar o processo de sistematização do texto, o autor
deve refletir sobre uma série de aspectos pertinentes. Por exemplo: haverá exemplos criados pelo
autor? Haverá exemplos retirados do corpus? É preciso fazer a transcrição fonética dos vocábulos?
Será acrescentada a classe gramatical dos vocábulos? Serão necessárias ilustrações? Quantas?
Haverá gráficos, tabelas ou reproduções fotográficas? Em caso afirmativo, se não for inédito, o autor
71
deverá buscar as devidas autorizações para reprodução do material. Haverá algum tipo de código
que fornecerá ao leitor informações mais específicas como, por exemplo, relacionadas ao significado
expressivo ou evocado do termo?
Essas são apenas algumas das perguntas que devem ser feitas antes do início da sistematização de
um glossário. Do mesmo modo, enquanto leitor, é conveniente verificar a qualidade dos verbetes antes
de adquirir um glossário; caso contrário, será somente durante a utilização da obra que o leitor irá
perceber as limitações do texto, quando já será tarde demais.
A FIGURA 1 apresenta um modelo de um verbete que contém um grande número de elementos
informativos que auxiliam o leitor a compreender, de modo simples e direto, alguns aspectos relacionados
ao vocábulo bracket. Embora o verbete tenha sido reproduzido, as setas indicativas foram superpostas,
bem como a ilustração colorida.
FIGURA 1: Representação esquemática de um verbete básico. (1)
4. REFLEXÕES SOBRE O CONTEÚDO DOS VERBETES
Ao estruturar o verbete, é importante levarmos em consideração os diferentes significados. Podemos
distinguir quatro tipos principais de significado nas palavras e enunciações: significado proposicional,
significado expressivo, significado pressuposto e significado evocado (Baker 1992, 12-5).
O significado proposicional surge da relação entre a palavra e aquilo a que ela se refere ou descreve.
Para facilitar a compreensão, vejamos alguns exemplos:
72
exogenous – exógeno (que tem origem externa ao ambiente em questão).
(Perrotti-Garcia 2003, 204)
bracket – bráquete (dispositivo cerâmico ou metálico fixado à superfície
dentária, ao qual são acoplados fios e arcos metálicos).
(Perrotti-Garcia 2003, 86)
Os dois exemplos acima tornam evidente a importância da inclusão do significado proposicional em
um glossário. Afinal, não é necessário um grande conhecimento lingüístico para intuir que exogenous
é traduzido como «exógeno». A informação preciosa, que irá realmente ajudar o leitor é, sem dúvida, a
«explicação», a denominada tradução intralingual, ou seja, a inclusão do significado proposicional.
O significado expressivo refere-se aos sentimentos ou atitudes do falante, como por exemplo:
sawbones, que significa «cirurgião» (Perrotti-Garcia 2003, 516), mas que traz consigo uma carga
expressiva extremamente negativa, equivalente a do nosso «açougueiro» ou «carniceiro» (quando usados
em referência a um cirurgião, e não ao profissional que trabalha com comércio de carne bovina).
O significado pressuposto surge de restrições advindas de palavras que esperamos que surjam antes
ou depois da palavra em questão. Há dois tipos de restrições: as restrições seletivas e as restrições
colocacionais. As restrições seletivas ocorrem em função do significado proposicional. Por exemplo:
muscle attachment (inserção muscular) (Perrotti-Garcia 2003, 384) ou precision attachment (encaixe
de precisão) (Perrotti-Garcia 2002, 64). As restrições colocacionais são semanticamente arbitrárias.
Por exemplo, para «bancada para torno», se diz lathe bed (Perrotti-Garcia 2003, 330) em inglês, que
seria, literalmente, numa backtranslation direta e arbitrária, «cama de torno». Ao criar um glossário
técnico, portanto, o autor deverá esclarecer o futuro leitor quanto a essas exigências colocacionais de
ambas as línguas (que ele, autor, certamente terá que dominar muito bem!)
O significado evocado surge das variações dialetais e de registro (Baker 1992, 15). Um exemplo
bem complexo é a chamada «perereca». Em português do Brasil, entre outros sentidos que não vêm
ao caso agora, «perereca» é o termo leigo usado para referir-se a uma «prótese parcial removível
provisória». Outro termo, também leigo, mas usado em um registro um pouco mais formal, seria
«ponte móvel» (Perrotti-Garcia 2002, 47). Certamente poderia haver grandes confusões se, ao criar um
glossário, o autor simplesmente indicasse que o termo correspondente para removable partial denture
é «perereca», ou «ponte móvel», ou mesmo «prótese parcial removível», e não explicasse ao leitor todas
essas variações de significado. Do mesmo modo, enquanto leitores, temos a necessidade e o direito
de sermos informados pelo autor do glossário sobre essas «armadilhas lingüísticas». Afinal, o glossário
técnico deve ser um guia que irá ajudar o leitor a trilhar os caminhos da comunicação e, como tal, deve
ser completo, correto e, acima de tudo, confiável.
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Em relação às variantes dialetais, é importante levar em consideração os seguintes aspectos:
Geográfico (exemplo: doutorado [PT-BR] x doutoramento [PT-PT])
Temporal (exemplo: micróbio x microorganismo)
Social (exemplo: dentadura x prótese total x chapa)
5. REFLEXÕES ADICIONAIS
5. 1. Coesão e coerência
As anotações e listas de palavras coletadas ao longo do tempo são certamente valiosas, mas muitas
vezes contêm termos das mais diversas áreas do conhecimento humano. Quando assistimos a um
filme sobre a vida de um jogador, coletamos termos sobre esporte; em uma viagem de férias, podemos
conseguir termos e expressões sobre turismo; ouvindo nossos raps favoritos, é possível coletar dezenas
de gírias... mas, como juntar tudo isso?
Essa é, sem dúvida, a parte mais delicada da confecção de um glossário: a delimitação do campo
semântico e o estabelecimento de um corpus que tenha coesão e coerência. Uma das principais
qualidades de um bom glossário técnico (ou, se preferir olhar pelo outro lado do balcão, a maior
dificuldade para um glossarista iniciante) é incluir termos que, além de significativos e representativos,
sejam coesos e coerentes. É fundamental que haja uma razão de ser para que os termos selecionados
estejam ali, lado a lado, e não em um outro lugar. Nessa hora, muitas vezes, o glossarista precisará abrir
mão de certos vocábulos em favor de outros, agindo como o jardineiro prestimoso que, no exercício
consciente de seu ofício, é obrigado algumas vezes a sacrificar uma rosa para que floresçam outras em
posição mais adequada em relação ao sol.
Quando partimos de um corpus inicial com numerosos termos, e precisamos escolher apenas os mais
significativos, passaremos muito tempo definindo quais serão os critérios para inclusão dos termos.
Muitas vezes, teremos que criar também os critérios de exclusão. O que incluir? O que evitar? Essa
pode ser a diferença entre criar algo significativo ou desistir no meio do caminho. Este processo,
se bem dirigido, poderá levar à produção de um glossário «pequeno e eficiente» e, se feito de modo
intempestivo ou negligente, produzir um texto «vazio» ou «redundante e inútil», respectivamente.
5. 2. Campos semânticos
Além da forma, também é preciso avaliar o conteúdo do glossário. Para esta avaliação, algumas
definições básicas são importantes. Campos semânticos são as divisões e subdivisões de uma língua
(«assuntos», «áreas de interesse»). Itens lexicais são as palavras e expressões que compõem cada
um desses campos. Quando o glossário técnico for feito a partir de um manual ou de uma série
de textos, é importante ter em mente que deverão ser incluídos apenas os termos significativos
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e representativos. Não é conveniente incluir termos cotidianos, a menos que eles tenham algum
significado especial. Por exemplo, um bom glossário dificilmente irá incluir a palavra table com o
significado de «mesa», a menos que seja um glossário ilustrado para crianças bem pequenas. Usando
esse mesmo exemplo de table, se o sentido for de «tabela», dependendo do nível do público-alvo que
vai utilizar o glossário técnico, esse termo certamente será incluído.
Os campos semânticos estão dispostos hierarquicamente, dos mais genéricos para os mais específicos.
A palavra genérica é chamada hiperônimo e a específica hipônimo (Baker 1992, 47). Os campos
semânticos não são fixos, encontram-se em constante evolução, com a constante introdução e
eliminação de termos. Por essa razão, os glossários também não devem ser textos estáticos e eternos,
como muitos querem acreditar. Os glossários envelhecem, sofrem desgaste e tornam-se desatualizados
e, por isso, devem ser ampliados, inovados e atualizados periodicamente.
5. 3. Adequação ao público-alvo
A qualidade do texto final também irá depender da harmonia entre os verbetes. Cada novo verbete
somente deverá ser acrescentado se tiver uma razão de ser, se for pertinente; caso contrário, estaremos
como que guardando uma pasta na gaveta errada do arquivo, a qual jamais será encontrada novamente.
Acrescentar um verbete de Lingüística em um glossário de Medicina, por exemplo, nos parece algo
totalmente injustificável, mesmo porque uma pessoa que procure a explicação de um termo de
Lingüística jamais irá pensar em procurá-la em um glossário de termos médicos.
5. 4. Número de vocábulos
Os verbetes que irão integrar o glossário devem ser criteriosamente selecionados. Não devemos nos
preocupar com quantidade (que será conseqüência natural de um trabalho árduo e de pesquisas
constantes). O importante é alcançar a qualidade máxima de cada verbete. Muitas vezes, na
qualidade de assistentes do conselho editorial de uma grande editora, somos chamadas a analisar
a qualidade de textos candidatos à futura publicação. Nessas ocasiões, avaliamos todos os aspectos
citados até o momento. Entre eles, um aspecto que mais vezes nos leva a optar pelo veto à publicação
é perceber que o autor, na ânsia de aumentar o número de verbetes, ao invés de pesquisar mais ou
de estudar mais o assunto, fez o que chamamos de «desdobramento» de verbetes, fazendo com que
um mesmo verbete figure, desnecessariamente, em quatro ou cinco posições diferentes de um mesmo
glossário. Outra estratégia facilmente perceptível é a chamada «multiplicação» de verbetes. Neste
caso, o autor reproduz um mesmo verbete com diferentes adjetivos ou advérbios, conforme o caso,
procurando ampliar o corpus artificialmente.
Como sempre dizemos a nossos alunos, leitores e ouvintes, o corpus deve ser ampliado a partir
de pesquisas e de leituras («de fora para dentro»), por adição, e nunca por subdivisão ou por
multiplicação («de dentro para fora»).
75
6. CONCLUSÕES
Com base nas informações acima, podemos concluir que um glossário, para ser considerado de boa
qualidade, deverá ter as seguintes características:
• Textos estruturados de modo uniforme, englobando um campo semântico pré-determinado e bem
delimitado;
• Verbetes completos, com exemplos extraídos de material autêntico, contendo ilustrações claras e
elucidativas, quando necessárias;
• Informações sobre os diferentes significados de um mesmo vocábulo;
• Conteúdo atualizado e inovado periodicamente;
• Indicação clara do público-alvo;
• Verbetes significativos e representativos, independentemente de sua quantidade.
1 Reproduzido e adaptado sob permissão de: Ana Júlia Perrotti-Garcia. Glossário de Ortodontia &
Ortopedia Funcional dos Maxilares, Inglês-Português Português-Inglês Ilustrado. Editora SBS: Brasil,
2003.
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76
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77
LÉXICO, REGRAS E IDIOSSINCRASIAS
IDA REBELO
Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro
Resumo:
O objetivo deste artigo é lançar alguma luz sobre as estratégias de seleção lexical postas em prática
por tradutores e usuários não especialistas de uma língua estrangeira, além de sugerir possibilidades
de lidar com a transposição de vocabulário de uma língua para outra, atendendo às imposições que
se colocam ao profissional de tradução, como fidelidade ao conteúdo na língua-fonte e adequação
aos usos na língua-alvo. Tentamos estabelecer um diálogo entre áreas de pesquisa, apresentando
as propostas de dois modelos de constituição do léxico (Bybee 1985; DiSciullo & Williams 1987) e
confrontando-os com estudos que tanto apresentam discussões teóricas (Basílio 1980; 1993; 1997
e 1998; Nattinger, J. R. e J. S. Decarrico 1992; Gross, M. 1982) como resultados de pesquisa voltada
para a área da tradução (Correia, M. 2002), da lingüística computacional (Carvalho, P. 2001; Baptista,
J. 1994) e do ensino de português para estrangeiros (Scherer, M. 2002).
Palavras-Chave:
Léxico; Seleção lexical; Produtividade.
Abstract:
This paper aims to shed some light on the way both translators and foreign language speakers make
vocabulary choices. Another more specific objective is to suggest a means to deal with problems raised
by the need for accuracy in the source-language text and for adequacy in target-language use. A
kind of dialogue is established between multiple research fields by presenting, on the one hand, two
works that consider the problem of lexical acquisition and human lexicon differently (Bybee 1985;
DiSciullo & Williams 1987) and, on the other, theoretical discussions (Basílio 1980; 1993; 1997 and
1998; Nattinger, J. R. and J. S. Decarrico 1992; Gross, M.1982) and findings in different research fields
like translation (Correia, M. 2002), computational linguistics (Carvalho, P. 2001; Baptista, J. 1994) and
Portuguese as a Foreign Language teaching (Scherer, M. 2002).
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78
Keywords:
Lexicon; Lexical choice; Productivity.
1. INTRODUÇÃO
A área da tradução, como campo de estudo e atividade profissional, presta-se a diferentes abordagens,
não só devido ao fato de ser dinâmica e abranger vários aspectos do fenômeno lingüístico, como
também por estar sendo, constantemente, enriquecida e confrontada pelas novas produções existentes
em uma língua. Produções essas que se apresentam como desafio aos tradutores, experientes ou
novatos.
Assim, atrevemo-nos a tocar em um aspecto da atividade do tradutor que envolve conhecimento do
léxico de ambas as línguas envolvidas, mas, também, como quase tudo nesta área, habilidade para
fazer escolhas e sensibilidade para avaliar a qualidade da escolha feita.
Tomamos como ponto de partida modelos teóricos propostos para o armazenamento e produção de
vocabulário numa dada língua e buscamos levantar algumas contribuições que esses modelos possam
trazer para o fazer do tradutor.
No tratamento dado às questões morfológicas em diversos autores teóricos há renovadas tentativas
de lidar com a questão da formação e análise de palavras novas e seu armazenamento dentro de
uma projeção teórica da faculdade da linguagem. O processo envolvido suscita questionamentos
de diversas ordens entre pesquisadores de correntes teóricas variadas e serve de motivação para o
presente trabalho.
Propomo-nos, aqui, usar elementos de dois modelos de processamento da linguagem em busca de
estabelecer as diferentes maneiras como pode ser tratada a questão da formação de palavras na
passagem de uma língua para a outra e as soluções que o tradutor pode encontrar num tipo de tradução
que não se propõe literal mas fiel ao conteúdo como, em geral, se apresentam as traduções de textos
técnicos ou naqueles onde a informação contida é um objetivo que se sobrepõe à forma do texto.
Procedemos, inicialmente, à comparação de aspectos gerais dos modelos teóricos propostos. São
eles: DiSciulo & Williams 1987 e Bybee 1985. Colocamos em paralelo as maneiras como cada modelo
apresenta os constituintes do léxico bem como os diferentes encaminhamentos teóricos para as
questões das condições de produção a luz de conceitos colhidos em Basílio (1980; 1993; 1998).
Ao tentar delimitar os procedimentos teóricos pelos quais os autores em questão explicam a aquisição
do léxico, buscamos estabelecer como e se esses procedimentos podem dar conta de desvios na
tradução de alguns aspectos do léxico do português em relação ao francês e ao inglês.
79
2. CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS DE TRATAMENTO DO LÉXICO (1)
Pode-se dizer que os modelos mencionados são os extremos de um mesmo contínuo, pois, enquanto
Bybee extrai as regras de formação de palavras de generalizações feitas a partir das representações,
ou seja, do conjunto de objetos que constituem o léxico da língua, D&W não se ocupam do léxico
por considerá-lo um conjunto desestruturado de objetos incaracterísticos - até mesmo na sua
representação, uma vez que podem constituir-se de palavras ou frases – que não obedecem a regras
morfológicas ou sintáticas.
Bybee, por sua vez, procura similaridades entre os elementos do léxico que possam identificá-los com
subconjuntos partilhando determinados padrões de formação. D&W usam as irregularidades de formação
como argumento para deixar de lado esses produtos talvez por não conseguirem estabelecer regras com
alto grau de generalidade para a totalidade de elementos enfocados em um único conjunto. (2)
2. 1. Constituintes do léxico
No modelo de Bybee a abordagem se faz a partir da consideração e determinação de processos
e propriedades tais como: «conexões lexicais», «segmentação», «graus de relação», «força lexical»,
«interação entre força lexical e conexão lexical».
No modelo de D&W, por sua vez, a propriedade relevante por excelência é a da «listagem/listabilidade»,
ou seja, ser ou não listado para os elementos reais, e ser ou não listável para os produtos potenciais
da atividade lingüística é que define os objetos lingüísticos e as operações que precedem a sua
produção.
Independentemente dos julgamentos avaliativos que cada um dos modelos estabelece sobre o léxico,
os dois modelos reconhecem que os elementos desse léxico apresentam uma grande variedade na
forma.
Se compararmos a definição de «palavra» proposta por Bybee com a especificação do tipo de objetos
que compõem o léxico de D&W, defrontamo-nos com parâmetros convergentes. As palavras, sintagmas
verbais, morfemas, padrões prosódicos mencionados por D&W poderiam corresponder ao que Bybee
designa como palavras do léxico no seu modelo, como segue: «algumas podem ser maiores que as
palavras tradicionais, algumas podem ser menores e pode haver diferenças tipológicas entre línguas».
Os itens desse léxico não são passíveis de análise, nem correspondem a regras de formação de
palavras (RFP) (3). Melhor dizendo, os elementos que não podem ser analisados por regras concebidas
previamente no modelo vão formar o grande conjunto de listemas que constitui o que é designado por
léxico nessa teoria. Os listemas, por não serem produtos da aplicação de RFPs, são listados e devem ser
memorizados. Ou seja, todas as expressões opacas e palavras que não obedecem a regras de formação
de palavras seriam jogadas numa lista como num «saco de rejeitados».
80
Ao prender-se a um molde rígido de aplicação de regras de formação de palavras, o modelo parece
ignorar todos os conjuntos de sub-regularidades que possam existir além da aplicação estrita das
regras nele previstas. O conjunto de regularidades parece relevante quando se trata da atividade de
tradução, pois ao considerar essas regularidades tanto na língua-fonte como na língua-alvo, tornamo-
nos sensíveis aos diferentes tipos de soluções que se encontram numa dada língua para componentes
de outras línguas.
Ou seja, o que no inglês é expresso por uma locução verbal como would like verte-se em português por
um tempo verbal «gostaria»; à expressão would rather, por outro lado, corresponde um verbo simples,
«preferir», que traz o conteúdo da expressão em inglês, mas abre para um maior número de possibilidades
aspectuais ao poder ser conjugado em todos os tempos verbais. No francês il vaut mieux tem o mesmo
significado que, pelo menos três expressões em português: «é melhor», «é preferível», «mais vale», ou
mesmo o uso de «melhor», seguido de infinitivo, sem ser precedido pelo verbo «ser» conjugado.
Bybee defende o contínuo entre regras e representações. «O melhor exemplo de uma regra e o melhor
exemplo de uma representação são os pólos de um contínuo.» Como se trata de um contínuo, haverá,
em alguns dos listemas, regularidades identificáveis conforme a regra e, da mesma forma, em alguns
dos objetos morfológicos algo que escapa à regra ou, pelo menos, uma possibilidade de que isso
aconteça. Entre os substantivos deverbais, por exemplo, há regularidades que não se reproduzem de
forma equivalente em todos os itens do paradigma. Vejamos, abaixo:
«Faltar» > «falta»; «alcançar» > «alcance»; «buscar» > «busca»; «caçar» > «caça»; mas «*quedar» >
«queda», a possibilidade existe e está atestada nos dicionários, porém o uso passou a atribuir um outro
sentido ao verbo e esse mesmo item está em franco desuso. Temos, por exemplo, a expressão «queda
de rede», na área computacional, mas diz-se que «a rede caiu» e não «quedou-se».
No caso da tradução, encontram-se elementos que podem ser em parte analisáveis conforme regras
e em parte opacos. A vizinhança de certos itens lexicais, por exemplo, tem posições fixas. Não há
possibilidade de intercalação. Como em «tudo isso» e «isso tudo». A atual publicidade do McDonalds
trabalha com uma construção em que quase todos os elementos se alternam, mas vemos claramente a
impossibilidade de intercalação. Como segue: «Amo muito tudo isso»/«amo muito isso tudo»/«amo tudo
isso muito», mas não «*amo isso muito tudo», nem «*amo tudo muito isso».
Segundo Bybee, «a diferença entre regras majoritárias produtivas, regras minoritárias e supleção é
apenas uma questão de escala.» A essa noção de escala opõe-se uma outra posição de D&W ao afirmar
«o que é formalmente uma palavra é sintaticamente opaco.»
A referência à escala por Bybee traduz a idéia de que a opacidade, assim como a possibilidade de sofrer
análise por regras, tem níveis de gradação. Exemplos podem ser encontrados em Nattinger & DeCarrico
1992, ao distinguirem níveis de analisabilidade no que diz respeito à constituição das expressões fixas.
Essas expressões são igualmente apontadas por outros autores como Gross 1982 apresentando
diferentes graus de fixidez, o que permite que sejam, no todo ou em parte, analisáveis segundo regras
81
sintáticas. Há expressões que têm uma estrutura determinável e um sentido onde a composicionalidade
não é de todo excluída, como: «em outras palavras»... E há, também, expressões menos transparentes
ou mais opacas, como «tal qual», até estruturas completamente opacas e que não se submetem a
análise, como «dar a volta por cima» ou «a torto e a direito».
Todas essas expressões, porém, serão vertidas para outra língua segundo soluções ad hoc, pois dependem
do contexto em que estão sendo utilizadas, e conforme a possibilidade que terá o profissional de
tradução de dominar um grande número de expressões com diferentes níveis de fixidez, nas duas
línguas. Como exemplo, temos «fazer frente» traduzida para o francês como faire face, locução verbal
ligada a outro substantivo, e para o inglês como to face, verbo simples. Dentro do mesmo campo
lexical, encontramos ainda «frente a frente» que tem como correspondentes, em inglês e francês,
respectivamente, face to face e tête à tête.
Esses fatos levam-nos a refletir sobre as soluções que se pode buscar ao passar de uma língua para
outra um texto, mesmo que de caráter técnico. Ou seja, em um modelo de tradução que se pretenda
abrangente, não basta processar as palavras, encontrando-lhes correspondentes satisfatórios. Além
de dominar as relações sintáticas que ordenam as construções desse componente, é necessário ser
detentor de uma ou várias listas de elementos mais ou menos idiossincrásicos nas duas línguas e
fazer funcionar uma dinâmica entre essas listas. Melhor dizendo, há correspondências que não se
estabelecem item a item, mas a um item pode corresponder uma estrutura sintática e vice-e-versa.
Uma expressão banal como as far as tem como correspondente «até onde». A noção de comparação
se esvai na passagem para o português e cabe ao tradutor estar atento aos blocos de elementos que
constituem um único item lexical, pois tem nível alto de opacidade, não sofre análise por regras e
deve ser transposto na outra língua por um outro grupo de elementos igualmente opacos. A boa
notícia, aqui, é que um analisador automático dificilmente consegue dar conta desses itens, o que
torna a «febre» dos tradutores automáticos apenas isso, algo passageiro, e nos devolve a consciência
de que esses aplicativos computacionais podem acelerar um pouco o processo de tradução no caso,
sobretudo, da tradução técnica. Sem, porém, o manejo de um profissional experiente, jogam o «cliente»
em situações embaraçosas, quando defrontado com o resultado obtido após a tradução.
Basílio 1980 traz uma solução de consenso ao apresentar o processamento lexical como um processo
de aplicação de regras que é influenciado e retroalimentado pela lista já existente, seja ela de palavras
ou frases.
2. 2. Estruturação e propriedades do léxico
Para Bybee, o léxico se estrutura como vários conjuntos de redes dinâmicas. O caráter dinâmico
está ligado ao fato de que essas conexões variam em função da freqüência dos elementos e padrões
particulares. Como o uso dos itens lexicais varia no tempo, as conexões e seus elementos vão variar.
82
Elementos que se ligam a outros podem estabelecer novas conexões de acordo com novos sentidos e
funções a eles atribuídas no uso da língua.
D&W estendem aos objetos sintáticos propriedades que são tradicionalmente atribuídas à morfologia:
tais como as noções de bloqueio, paradigma e produtividade.
Das propriedades levantadas por D&W, a produtividade e o bloqueio parecem ser itens intimamente
relacionados ao trabalho do tradutor. Começando pela primeira, não podemos falar de produtividade
sem fazer referência ao seu correlato que é a produção efetiva. A primeira envolve a rentabilidade
de uma regra no sentido de formar palavras potencialmente possíveis e a segunda diz respeito às
produções concretas e depende de fatores de ordem paradigmática, discursiva e pragmática, ou seja,
as condições de produção.
Segundo Basílio 1993, as condições de produção interferem nas operações morfológicas e se relacionam
aos seguintes fatores: lexicais paradigmáticos; de tipo de discurso; pragmáticos ou culturais;
de enunciação.
Consideramos uma questão incontornável do fazer do profissional de tradução o constante
questionamento, com a necessária verificação em documentos autênticos nas línguas em questão, que
leve à separação entre produtividade e produção efetiva. Melhor dizendo, é preciso manter uma atitude
de constante desconfiança da nossa própria intuição para que não consideremos como elementos
efetivos da língua meras possibilidades dentro da sua produtividade. Há que considerar, igualmente,
quando uma forma é possível em uma das variedades de um idioma (Brasil/Portugal; EUA/Inglaterra;
França/Québec), mas não na outra. Um exemplo é a aplicação de sufixos a adjetivos ou substantivos
que variam de uma comunidade de fala para a outra. O termo «snobeira», de uso corrente em Portugal,
tem outro correspondente no Brasil, «esnobismo», significando a atitude de alguém «esnobe».
Por outro lado, ao falar de produtividade é necessário mencionar a noção de bloqueio, inicialmente
introduzida nos estudos do léxico por Aronoff 1976 (4). A ausência da propriedade de bloqueio,
conforme essa propriedade é discutida por D&W, poderia servir como justificativa para descrever a
forma como algumas traduções apresentam desvios na transposição de palavras de uma língua para
outra. Acreditamos, portanto, que o tradutor precisa constituir uma espécie de filtro através do qual
vai selecionando o que pode ou não ser possível na língua alvo de forma a estabelecer uma atitude
autônoma em que a maior rapidez e eficiência com que verte está relacionada a uma capacidade de
seleção entre as possibilidades da língua alvo e aquelas que realmente se concretizam.
Ao verter do inglês para o português, rejeitamos, automaticamente a forma «acreditável» como
correspondente de believable mas podemos fazer o mesmo tipo de confusão com itens menos comuns.
A propriedade de bloqueio é, portanto, função dos conhecimentos que o usuário da língua tem da lista
de elementos do léxico e ocorre sempre que, ao defrontar-se com a possibilidade de aplicação de uma
regra ou regularidade, esse usuário verifica que já existe na lista um item adequado à noção que busca
exprimir ou ainda que o item que selecionou não consta da lista.
83
No modelo de Bybee, a produtividade pode estar relacionada com a interação força lexical/
conexão lexical. Se a força lexical é alta, com uma alta freqüência de uso do elemento enfocado,
haverá um maior número de conexões com outros elementos da rede. A existência de mais conexões
aumenta a probabilidade de novas produções. E pode-se aventar a possibilidade de neologismos como
«sambódromo» a partir do paradigma «aeródromo», «autódromo», «kartódromo».
Surge, então, a idéia de que a produtividade também é função de um dado temporal e variará no tempo,
assim como as conexões. Ou seja, afixos que têm alto grau de produtividade podem não perder, mas ter
esse grau reduzido, conforme as bases sobre as quais atuem forem submetidas a uma menor freqüência
de uso, perdendo força lexical. A título de exemplo, pode-se citar Correia 2002 sobre a mudança do
sufixo —ismo, em português, já citado neste artigo, que perdeu o caráter erudito referido por certos
autores nos anos 40/50 e dá mostras de ter ganho força lexical ao se adicionar a nomes próprios como
«cavaquismo» e «guterrismo», em Portugal, e a nomes compostos como «terceiro-mundismo», no Brasil.
Além disso, a mesma autora dá conta da existência de pares de substantivos abstratos em que
um termina em —ade e o outro em —ismo, como: «centralismo» / «centralidade», «modernismo» /
«modernidade» e «pluralismo» / «pluralidade». Cada um dos elementos desses pares responde por usos e
sentidos diferentes e dão origem a impasses ao serem vertidos para outras línguas que possuam sufixos
equivalentes (—ty e —ité, —ism e —isme, respectivamente em inglês e francês).
Basílio 1980 apresenta uma lista (5) de sufixos em português cujos itens são classificados pelo grau de
produtividade e lembra, ainda, que «a maior ou menor produtividade do processo depende em última
análise de restrições semânticas determinadas pela função», o que já lança alguma luz sobre o caso dos
sufixos —ismo e –idade, mencionados anteriormente.
Embora não possamos sugerir estratégias de funcionamento no trabalho do profissional de tradução,
das propriedades de produtividade e bloqueio, podemos citar exemplos do que parece ser a aplicação,
ou não, dessas propriedades na produção de estudantes de Português Língua Estrangeira (PLE).
Parece que os falantes PLE, muitas vezes, usam inadequadamente as condições de produtividade,
que extraem dos padrões reconhecidos nos itens já aprendidos. A inadequação se dá por ignorarem
as condições de produção que, segundo Basílio 1998, «determinam circunstâncias que favorecem,
dificultam ou impedem a utilização de regras para a produção efetiva de novos itens lexicais.» A própria
existência da lista determina as condições lexicais paradigmáticas.
No caso do falante PLE, produzir o item «aprendimento» é como produzir um novo item lexical uma
vez que esse falante encontra-se num momento anterior ao da aquisição do item «aprendizado» ou
«aprendizagem». O falante utiliza, então, regras já aprendidas para formar essa palavra pela aplicação
do sufixo -mento a uma base já conhecida. Aparentemente, o falante estrangeiro tem a intuição de
que o sufixo -mento é mais produtivo do que -agem, por exemplo, para a substantivação de verbos.
Entretanto, devido a uma maior especificação semântica do termo alvo, a operação morfológica que
forma o item real vai ser direcionada para a seleção do sufixo menos produtivo em termos gerais, mas
de produtividade relativamente alta quando se trata de termos com maior especificação semântica ou
nomenclatura técnica.
84
Conforme explicitado por Basílio (1993, 6):
«A utilização de derivações para criação de nomenclatura poderá incidir mais
sobre elementos semanticamente mais restritos e portanto, menos produtivos,
e assim por diante. Conseqüentemente, embora possamos dizer, por exemplo
que –ação e –mento são mais produtivos que –agem, porque mais gerais,
ainda assim a freqüência de aplicação vai depender das condições externas de
produção. Isto sugere que a pressão paradigmática entre afixos tem relevância
muito relativa na morfologia derivacional.»
O falante estrangeiro tem um controle relativo sobre algumas regras de formação de palavras, mas não
domina as condições de produção em sua totalidade. Assim como também não tem acesso à lista de
itens idiossincrásicos necessária para a seleção correta entre bases e afixos.
Tomemos outros exemplos individualmente. «Acreditável» pode ser formado segundo dois tipos
diferentes de procedimento. Por analogia, aplica-se o sufixo -vel a um verbo da 1.a conjugação, como
ocorre em «decifrável» e «inflável». Basílio nos diz que esse sufixo é menos produtivo que -do, por
apresentar maior especificação semântica, uma vez que «decifrado» e «inflado» têm sentido diferente
das formas em -vel. Entretanto, neste caso, tão pouco é comum o uso de «acreditado» como adjetivo
independente, embora exista o item «desacreditado». O procedimento alternativo poderia consistir em
derivar-se acreditável da forma «inacreditável» por analogia com «indecifrável: decifrável».
O fato é que os adjetivos em -vel compõem várias sub-regularidades. Temos, como segue: «inflável»,
assim como «detestável», «amável», «passável», não tem correspondente com prefixo de negação;
«incomunicável», mas «*comunicável»; «estável» / «instável», sem que haja uma forma livre à qual os
prefixos se juntem; «memorável» não tem por base «*memorar». Sem mencionar as formas criativas
como «comível» e «bebível» que têm distribuição diferente de «comestível» e «potável».
Em um outro exemplo, ocorre a produção de item já existente, «escolástico», em lugar de «escolar». O
primeiro termo tem uso específico, é utilizado exclusivamente para designar um movimento intelectual
e social da Idade Média, assim como o período histórico que lhe corresponde, enquanto o outro adjetivo
refere-se a «escola», de maneira geral.
Ao considerar «aliação», «independização» e «mudação», talvez possamos supôr que o estrangeiro
reconhece a produtividade do sufixo mas, por alguma razão, não ocorre o bloqueio dessas formas pelas
formas reais. Uma conclusão possível seria que a propriedade de bloqueio ocorre prioritariamente em
falantes L1, enquanto os falantes LE levam muito tempo para que se instaure esse procedimento no
seu processamento lexical. No caso específico dos profissionais de tradução, essa propriedade deve ser
construída formalmente através da experiência e da formação, uma vez que ser detentor da lista é um
atributo que depende de tempo de aprendizado e de exposição às formas concretas do léxico de uma
dada língua.
85
3. CONCLUSÃO
À guisa de conclusão, recuperamos, de forma muito resumida, os elementos que, conforme nossa
análise, parecem aproximar o estudo do Léxico das necessidades de formação dos profissionais de
tradução. Esses elementos podem, igualmente, constituir apenas objeto de reflexão para quem se
debruce sobre algumas das dificuldades com que pode se deparar qualquer um que se aventure, ainda
que por diletantismo, no campo da tradução.
D&W parecem levantar uma particularidade relevante tanto para a aprendizagem de uma língua
estrangeira quanto para o trabalho do tradutor: trata-se da distinção listado/não listado dos itens
lexicais. Em ambos os casos, ter conhecimento da lista tem caráter decisivo na seleção de palavras que
tenham aceitabilidade na língua alvo. A análise nos faz intuir, além disso, que o fato de ser listado tem
ligações com fatores de ordem pragmático-discursiva que auxiliariam na decisão de aceitabilidade de
elementos como «escolástico» e «independização», por exemplo.
Outra propriedade, a ser melhor estudada com vistas a uma possível utilização no aperfeiçoamento dos
profissionais de tradução, é o bloqueio. Como verificado em muitos exemplos, essa noção tem ligação
direta com o reconhecimento da produtividade e das condições de produção que, por sua vez, são
condicionadas pelo fato de os elementos serem, ou não, integrantes da lista.
Talvez Rocha 1998 e D&W 1987 formulem o mesmo problema, ainda que suas avaliações sejam em
sentidos opostos. D&W atribuem ao léxico todos os produtos que escapam à aplicação ortodoxa das
regras morfossintáticas, mas alertam que conhecer a lista desses objetos faz parte do conhecimento
lingüístico, como segue:
«In sum we reject the idea that listedness is a grammatical property - the
lexicon is a collection of semigrammatical objects [...]. Of course this is not to
say that knowledge of the listed items of a language is not part of knowledge
of that language.» (D&W 1987, 4)
Rocha 1998, por sua vez, afirma que tudo está listado: o que é regular, irregular e as idiossincrasias, e
que faz parte da competência lexical conhecer a lista.
Nesse caso, um profissional de tradução teria como tarefa basilar a decisão entre a aplicação de regras
e a seleção de elementos da lista de objetos lexicais, tanto da língua-alvo, como da língua-fonte, e
essa dinâmica seria orientada, sempre que necessário, pela propriedade de bloqueio. O filtro fornecido
por essa propriedade é construído e acrescentado ininterruptamente ao longo do contato com a
língua-alvo e a conseqüente comparação entre as listas da língua-fonte e aquelas da língua-alvo.
Em um «mundo ideal», onde a propriedade de bloqueio funcionasse perfeitamente, não seria possível
encontrar-se exemplos como os sugeridos por Fernandes, 1994, como segue: «Ela abriu o jogo» / «She
opened the game»; «uma corrente de ar» / «an air chain», ainda que se tratem de chistes, sua motivação
são as traduções equivocadas, sejam elas perpetradas por profissionais ou amadores.
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1. DiSciulo & Williams serão identificados doravante, no presente texto, apenas como D&W.
2. «the lexicon is incredibly boring by its very nature. It contains objects of no single specifiable
type (words, VPs, morphemes, perhaps intonation patterns, and so on), and those objects that it does
contain are there because they fail to conform to interesting laws.» (D&W 1987, 3).
3. A definição de RFP que adotamos aqui é a de Basílio (1997, 11) como segue: «uma RFP define
construções lexicais possíveis pela postulação de uma operação fonológica sobre uma base categorial,
morfológica e semanticamente especificada, que tem como produto um item lexical morfológica,
semantica e categorialmente especificado.»
4. Há, em Aronoff, uma ligação direta entre produtividade e listagem pela ação do bloqueio. Assim,
segundo esse autor, o bloqueio é a não ocorrência de uma forma devido à existência de outra.
Evidentemente, para que isso ocorra é necessário um conhecimento da lista de objetos que compõem
o léxico.
5.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aronoff, M. Word Formation in Generative Grammar. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1976.
Basílio, M. Estruturas Lexicais do Português. Petrópolis: Vozes, 1980.
———. “Produtividade e Função do Processo de Formação de Palavras no Português Falado”. In Anais do IX Congresso Internacional da Associação de Lingüística e Filologia da América Latina – ALFAL. 1-9. Campinas: Universidade Estatal de Campinas, 1993.
———. “O Princípio da Analogia na Constituição do Léxico: Regras são Clichês Lexicais”. In Veredas – Revista de Estudos Lingüísticos. 1 (1) (1997): 9-21.
———. “Observações sobre a Conceituação de “Formação”, “Regra” e “Palavra” na Expressão “Regras de Formação de Palavras”. In Lingua, Lingüística e Literatura. Rio de Janeiro: UERJ, 1998.
Baptista, J. Estabelecimento e Formalização de Classes de Nomes Compostos. Dissertação de mestrado. FLUL: Lisboa, 1994.
Bybee, J. Morphology. Amsterdam: John Benjamins, 1985.
Carvalho, P. Gramáticas de Resolução de Ambiguidades Resultantes da Homografia de Nomes e Adjetivos. Dissertação de mestrado. FLUL, Lisboa, 2001.
PROCESSO DE MUDANÇA CATEGORIAL
Substantivação de V e A
Formadores de adjetivos deverbais
Formadores de adjetivos com base nominal
Formadores de advérbios
Formadores de agentivos denominais
Produtividade menor
-agem, -dor
-vel
-oso, -udo
Conversão
-eira, -ada
Produtividade maior
-ção, -mento, -idade, -eza
-do
-ico, -al
-mente
-ista, -eiro
87
Correira, M. “Solução de Dificuldades Linguísticas devidas à Influência de Outras Línguas”. In SILEX (URA 382 CNRS). FLUL: Lisboa, 2002.
DiSciullo, A. M. e E. Williams. On the Definition of Word. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1987.
Fernandes, M. A Vaca Foi pro Brejo = The Cow Went to the Swamp. Rio de Janeiro: Record, 1994.
Gross, M. “Une classification des phrases figées du français”. Revue Québéquoise de Linguistique. 11 (2) (1982): 151-185.
Nattinger, J. R. e J. S. DeCarrico. Lexical Phrases and Language Teaching. Oxford: O. U. P., 1992.
Rocha, L.C.A. Estruturas Morfológicas do Português. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG, Coleção Aprender, 1998.
Scherer, M. Uma Questão de Vocabulário – Considerações sobre o Campo Lexical no Ensino de Português para Estrangeiros. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2002.
88
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ENTREVISTA A JACQUES VISSOKY MÉDICO-TRADUTOR BRASILEIRO
ROSÁRIO DURÃO
Tradutora e Doutoranda
Jacques Vissoky é médico e tradutor. Foi laureado com o Prêmio União Latina de Tradução Científica
e Técnica 2003, em parceria com a CBL-Câmara Brasileira do Livro, pela versão da obra Princípios AO
Tratamento de Fraturas, de Thomas W. Rüedi e W. M. Murphy.
Jacques Vissoky - Eu nasci no dia 1.° de agosto de 1961, em Porto Alegre, capital do Rio Grande
do Sul, o estado mais meridional do Brasil. Como meu pai era médico e minha mãe professora e
jornalista, desde cedo me interessei pelo estudo de línguas estrangeiras e pelas leituras. A proximidade
com o Uruguai e a Argentina proporcionou-me a oportunidade de visitar esses países ainda criança,
desenvolvendo o gosto pela língua e pela cultura estrangeiras, o que também me despertou a vontade
de saber novos idiomas.
Adolescente, fui estudar por quase um ano nos Estados Unidos. Naquela época, não havia Internet
nem globalização e uma ligação telefônica somente se dava por intermédio de uma telefonista, com
um retardo de vários minutos. Morei no estado de Minnesota, onde fiz a última série do Ensino Médio
(High School).
Ao regressar ao Brasil, retomei os estudos para, no ano seguinte, ingressar na Faculdade de Medicina.
Já naquela época, traduzia as minhas músicas favoritas do inglês para o português, para o deleite da
minha turma.
Formei-me em 1985 e ingressei na Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia. No segundo
ano de residência (nessa especialidade, são três anos), tive a oportunidade de ir para a Inglaterra, para
um estágio de dois meses. Ao final desses dois meses, retornei ao Brasil e, para minha surpresa, fui
contactado pela então Editora Artes Médicas (atualmente Editora Artmed) para iniciar um trabalho
como free-lancer de tradutor de livros na área.
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O começo foi tímido e tecnicamente demandante (escrevendo ou datilografando laudas, errando,
datilografando novamente, errando novamente, usando corretor). Entretanto, o primeiro livro
ficou pronto. Depois, o segundo. Voltei, então, (já casado, mas sem filhos ainda) para a Inglaterra,
acompanhado de Ana Maria, minha esposa, lá permanecendo por aproximadamente dois anos, onde
cursei o equivalente a um mestrado.
Novamente no Brasil, em 1992, enquanto prestava serviço militar como oficial médico, fui novamente
contactado pela Editora Artes Médicas para reiniciar os trabalhos de tradução e revisão técnica.
Nesse momento, já «alfabetizado» em informática, recomecei a trabalhar com uma «magnífica»
máquina com processador 286, 2 MB de memória, e um «cavernoso» HD de 45 MB, que rodava - sem
travamentos - o saudoso sistema operacional DOS 5.0.
O computador foi evoluindo, e a demanda de trabalhos também. Assim, fui progressivamente sendo
absorvido pela carga de trabalho de tradução, onde fui me firmando como um nome de destaque da
área. Das dezenas de livros já traduzidos e/ou revisados, eu destacaria o Atlas de Anatomia, de Netter,
um clássico mundial da literatura médica em ciência básica.
Um outro marco na minha carreira foi a tradução oficial, comissionada pelo Centers for Disease Control
and Prevention, de Atlanta, nos Estados Unidos, do software EPIINFO, o programa de cópia livre na área
de epidemiologia mais difundido no mundo.
Paralelamente às traduções, ainda tive tempo de aproveitar um curso de extensão que me foi oferecido,
em 2002, pelo Center for AIDS Prevention Studies da University of California at San Francisco na área
de Métodos de Pesquisa Clínica, tornando-me um orientador e multiplicador brasileiro dos cursos da
área.
Atualmente, trabalho meio-período em um serviço público de atendimento traumatológico de urgência.
O resto do tempo é dedicado a traduções, aulas de metodologia de pesquisa clínica, e perícias judiciais
na área de ortopedia e traumatologia. Mesmo assim, acho que ainda consigo ser um pai atuante
para o Alexandre, que tem 11 anos, e o Leonardo de 8 anos que, com Ana Maria, ainda têm a chance
de degustar os jantares que eu mesmo preparo, quando me transformo em chef. Além disso, ainda
encontro tempo para passear com o Sammy, nosso poodle, e fazer afagos no Max, um gato da raça
sagrada da Birmânia.
(Rosário Durão) O Jacques foi galardoado com o Prémio de Tradução Científica e Técnica. Esperava
receber o prémio? Como surgiu a tradução dessa obra, foi uma iniciativa sua ou uma proposta da
editora? Quanto tempo demorou a traduzir a obra? Que método adoptou para a sua tradução?
(Jacques Vissoky) O Manual AO, que me rendeu a premiação inédita nos círculos literários nacionais,
foi entregue durante a II Bienal do Livro no Rio de Janeiro, em maio de 2003. A obra me foi oferecida
pela Editora Artmed, solicitando a tradução e a revisão técnica em torno de 4 a 5 meses para ser
completada.
A notícia da premiação foi uma surpresa muito agradável, porque o trabalho de tradução médica no
90
Brasil ainda é incipiente, exercido de forma bissexta e descontinuada por muitas pessoas. Como todo
trabalho de cunho intelectual, o respectivo pagamento também deixa algo a desejar.
O método de trabalho, então, baseava-se simplesmente em abrir o livro (ou sua cópia) ao lado do
monitor (ecrã) do computador, e digitar o texto.
Que funções desempenha no hospital? Que outras actividades médicas exerce?
Por causa das inúmeras atividades exercidas, tive que me afastar do hospital... na verdade, alguma
coisa devia ser cortada no dia-a-dia, e a escolha recaiu sobre o trabalho hospitalar e as cirurgias. Mas
minhas atividades médicas na urgência de traumatologia já exigem bastantes horas, com uma média
aproximada de 150 pacientes de trauma musculoesquelético por semana.
Conta com várias traduções no seu currículo. Como é que a tradução surgiu no seu percurso de
médico? Alguma vez pensou em ser tradutor a tempo inteiro?
Como já mencionei, as traduções já ocupam, no mínimo, 50 % do tempo que dedico ao trabalho.
Talvez, quando me aposentar do serviço público, possa me dedicar somente às traduções.
Quando escolhe os textos para traduzir, selecciona apenas os que se encontram
no seu âmbito de especialidade? Porquê?
Embora eu seja mais conhecido nessas especialidades, também traduzo e faço
versões de textos de outras áreas da medicina.
Alguma vez recebeu traduções do hospital onde trabalha? Há algumas diferenças
entre os textos «para consumo interno» e os restantes?
Algumas vezes, tive que fazer traduções «para ontem», para apresentações entre
os residentes. Isso, obviamente, era feito de forma mais rápida, sem o cuidado com o rigor ortográfico
e semântico necessários a um trabalho mais elaborado.
Já pensou em traduzir textos para português europeu? Por que motivo?
Por causa das particularidades e diferenças entre o português europeu e o brasileiro, prefiro abster-me
de traduzir textos exclusivamente para o português europeu.
Quem são os principais clientes dos médicos-tradutores/tradutores de medicina? Quais são as principais
línguas de partida? Quais são os critérios das editoras para a tradução de obras de medicina?
Os principais clientes são as próprias editoras, que representam um fluxo contínuo de trabalhos,
principalmente do inglês para o português.
Eu também leio em espanhol e francês, mas não tenho tempo (nem vontade) de traduzir nesses idiomas.
Os principais critérios das editoras são a rentabilidade da obra, obviamente, e a possibilidade de seu
uso multidisciplinar (por exemplo, livros que possam ser usados em medicina, fisioterapia, terapia
ocupacional, etc.).
O que prefere traduzir: obras científicas ou textos para os doentes? Que cuidados tem/teria neste caso?
Tenho mais intimidade com as obras científicas. Os textos para os doentes, atualmente, podem ser
traduzidos até com tradutores automáticos.
...os melhores tradutores de
poesia são os poetas,
provavelmente os
especialistas-tradutores
terão mais facilidade em
lidar com os meandros do
conhecimento técnico.
91
As traduções que circulam nos hospitais são satisfatórias?
Em geral, as traduções que ficam «no bolso» são mais precárias. Ainda assim, eventualmente, podem-se
encontrar traduções de melhor qualidade.
Que problemas levanta a tradução de textos de medicina? Costuma escrever sobre tradução?
Talvez o principal problema seja que muitas vezes o profissional da área médica é extremamente
competente como médico, mas tem dificuldades importantes nas técnicas de redação e na seleção
semântica, o que torna o trabalho do tradutor mais difícil e faz, muitas vezes, com que o tradutor se
sinta um «traidor» em nome da clareza.
O que é para si um médico-tradutor? Que conhecimentos e competências deve ele,
ou ela, ter? Deve procurar formação complementar para além da medicina?
O arcabouço cultural é básico. É impossível traduzir ou fazer a versão sem que
o profissional tenha já uma «milhagem» literária como leitor. Além disso, é
imprescindível que o tradutor faça cursos regulares de atualização na sua língua
materna.
Curiosamente, os prémios de tradução científica e técnica costumam ser
atribuídos a especialistas. Concorda que só os médicos podem ser bons tradutores
de medicina?
Absolutamente não. O que acontece é que, assim como os melhores tradutores de poesia são os
poetas, provavelmente os especialistas-tradutores terão mais facilidade em lidar com os meandros do
conhecimento técnico.
Que formação deve ter um tradutor que se queira dedicar à tradução na área da medicina? Há
programas de formação neste campo, no Brasil?
Que eu saiba, não há nenhum programa oficial de formação de tradutores médicos no Brasil. Não
é imprescindível, mas a formação na área biomédica ajuda muito, em função do jargão técnico
específico.
Quais são as vantagens e desvantagens dos «médicos-tradutores» e dos «tradutores de medicina»?
Como são muito poucos os médicos-tradutores que se dedicam de forma (quase) integral a tal tarefa,
há pouco intercâmbio. Por outro lado, os tradutores das Ciências de Saúde que não são médicos nunca
encontram cursos de atualização ou até de formação específica que lhes sejam direcionados.
Quando lê uma tradução, o que é para si mais importante, a precisão terminológica ou a correcção
linguística? Ou considera ambas igualmente importantes?
A tradução é o discurso do autor. O tênue limite entre o conhecimento técnico e a adequação ortográfica
e lingüística é uma espada de Dâmocles que está sempre a pairar sobre a cabeça do tradutor...
O arcabouço cultural
é básico.
É impossível traduzir ou
fazer a versão sem que o
profissional tenha já uma
«milhagem» literária
como leitor.
92
Alguma vez pensou em dar aulas de tradução? Como desenharia uma cadeira de tradução de medicina
e por que razão?
Eu me sentiria muito honrado em dar aulas de tradução. Infelizmente, ainda não fui convidado para
tal. O desenho curricular de uma cadeira de tradução de Medicina certamente teria que incluir uma
introdução às temáticas básicas da área de Biociências, oportunizando a intimidade necessária com os
termos biomédicos que têm, muitas vezes, mais de um sentido.
Que peso tem a tradução no universo editorial de medicina em língua portuguesa em geral, e na
vertente brasileira em particular?
Além de fazer, de forma contínua, as traduções para a editora, já há algum tempo sou responsável
pela versão inglesa da Revista Brasileira de Ortopedia, além de ser o tradutor oficial do Journal of
the American Academy of Orthopaedic Surgeons. Embora se exija muito do médico em termos de
conhecimentos técnicos, há uma enorme carência de médicos que sejam efetivamente bi- ou trilíngües.
Assim, o mercado para livros traduzidos em português é muito amplo.
Considera que o Brasil tem uma política para a tradução científica e técnica, e sobretudo de medicina?
Há alguma coisa que lhe parece urgente fazer?
Não há nenhuma política oficial voltada para o setor de tradução científica e técnica, sobretudo
na Medicina. Isso é confirmado pela ausência de padronização dos termos. Uma exceção seria a
terminologia anatômica, que já tem uma espécie de «jurisprudência» firmada entre as editoras. O mais
urgente, definitivamente, seria a uniformização das terminologias.
Como estamos de ferramentas, em papel e formato electrónico, para a tradução de medicina para
português? Poderia mencionar algumas?
Decididamente, as coisas estão muito melhores do que há dez anos atrás. Há programas de auxílio ao
tradutor – exemplo, o Trados (R) e o Wordfast (R), que segmentam o texto, facilitando o trabalho, bem
como tradutores eletrônicos como o Delta Translator, na minha opinião, o melhor tradutor eletrônico
atual, além de dicionários eletrônicos.
Que conselhos daria aos jovens e menos jovens tradutores desta área?
Persistência, leitura e muito estudo. A dedicação é fundamental, assim como o amor pela arte das
palavras.
Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?
Não existe tradutor que não seja escritor já que, muitas vezes, os tradutores têm que reescrever um
texto. E a tradução é uma forma menos compromissada de escrever, sob o manto do autor original,
isentando-se em parte da responsabilidade pelo conteúdo...
Muito obrigada, Jacques.
Este artigo é publicado simultaneamente nas revistas Panace@: Boletín de Medicina y Traducción e CONFLUÊNCIAS: Revista de Tradução Científica e Técnica, por acordo entre ambas as publicações.
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TRADUZINDO FITNESS NA TEORIA DA COMPLEXIDADE
MARIA JOÃO B. REIS
Tradutora
INTRODUÇÃO
O apontamento que se segue relata algumas dificuldades encontradas na tradução de um livro,
originalmente escrito em inglês (Navigating Complexity: Essential Guide to Complexity Theory in
Business and Management, de Arthur Battram).
Neste caso, as dificuldades prendiam-se, sobretudo, com o carácter recente de uma teoria que,
actualmente, atravessa todos os campos – a Teoria da Complexidade.
«A complexidade não é um conjunto de teorias mas uma compilação de campos de estudo
frequentemente díspares, que estão relacionados por um interesse comum num conjunto de conceitos
que não foram ainda perfeitamente definidos [...]. O estudo de “comportamentos emergentes” que
surgem continuamente em sistemas biológicos, tecnológicos, computacionais e económicos está em
pleno desenvolvimento», como se afirma no próprio livro.
Como, entretanto, detectei, a própria linguagem também parece encontrar-se em desenvolvimento,
tanto no sentido do aparecimento de novos termos/expressões como, e sobretudo, no sentido da
aplicação de termos existentes a novos campos: «Novos cenários, nova linguagem», como afirma o
autor.
O PROBLEMA
Concretamente, um dos termos que apresentavam a dificuldade era fitness, nas diversas utilizações em
que surgia no livro.
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À partida, a tradução de fitness não apresentava problema algum, tanto mais que o autor afirma que:
«O termo fitness, usado pela primeira vez por Wright no campo da Biologia da Evolução, expandiu-se
muito por acção dos estudiosos da Complexidade.» A opção por «aptidão» parecia adequada. Procurei,
então, confirmar a utilização do termo.
Mas, ao pesquisar textos relacionados com a Teoria da Complexidade, sobretudo em áreas ligadas às
Matemáticas e às Ciências da Computação, verifiquei que a palavra fitness surgia, frequentemente,
não traduzida – «grau de fitness», «a fitness média/relativa», «valor de fitness» – ou seguida, entre
parêntesis, de uma (possível) tradução: «critério de fitness (adequação)», «a função fitness (aptidão)»,
«algoritmo de fitness (desempenho)», sobretudo em Computação Evolutiva.
Opção (1)
Levantava-se, então, a dúvida: qual destes termos seria o mais correcto para traduzir um conceito que,
já não no contexto das Ciências Naturais, poderia ter várias traduções, ou mesmo não ter?
Optei por deixar em inglês o termo fitness, e traduzir «fitness landscape» por «paisagem de fitness»,
«fitness peak» por «pico de fitness», etc., presumindo que o seu significado ficaria claro numa altura
em que, possivelmente, ainda poderia estar por «cunhar» uma tradução consensual que abrangesse os
vários campos.
Entretanto...
Tive acesso a um livro, em francês, sobre o mesmo tema (La complexité, vertiges et promesses. Dix-huit
histoires de sciences, de Réda Benkirane, traduzido para português com o título A Complexidade,
vertigens e promessas - Histórias de Ciências). A perspectiva era diferente: uma série de entrevistas a
especialistas de renome «em torno de uma temática nova e original» – a Complexidade –, sendo que
várias delas eram traduções do inglês.
E eis que deparei, numa nota de rodapé, com a seguinte frase: «Le paysage évolutif ou adaptatif
(traduction de l’expression fitness landscape) est une métaphore matémathique)» e, mais adiante,
«que retoma o princípio darwinista da luta pela sobrevivência [...] os organismos devem continuar a
aperfeiçoar-se durante a evolução para sobreviverem.» No corpo do texto, verifiquei que o autor optara
pela tradução «paysage évolutif».
OPÇÃO FINAL
Perante este alargamento de possibilidades de tradução, decidi adoptar a sugestão do autor francês,
uma vez que «evolutivo» parecia coadunar-se com a visão biológica que está na base do termo fitness.
Revendo a tradução do livro, procedi então à substituição: a «paisagem de fitness» passou a ser
traduzida como «paisagem evolutiva», «o pico de fitness» por «pico evolutivo», etc.
Em conclusão, descobri que a tradução pode ser feita por via de outras línguas, de termos já cunhados
ou (também) a caminho de o serem.
95
UMA DIFICULDADE DE TRADUÇÃO FILOSÓFICA
MARIA JOSÉ FIGUEIREDO
Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras
1. O PROBLEMA
É intenção dos parágrafos que se seguem expor uma dificuldade encontrada no decurso da tradução
de um texto de filosofia, originalmente escrito em francês.
O autor é G. W. Leibniz, filósofo e matemático alemão (1646-1716) que, por circunstâncias diversas,
escreveu uma parte importante da sua obra em francês. O texto é um Sumário em 37 pontos – escrito
pelo próprio – de uma das suas obras, intitulada Discurso de Metafísica.
A frase que coloca a dificuldade surge no ponto 35 do referido Sumário. Diz Leibniz: «Que les esprits
expriment plutôt Dieu que le monde, mais que les autres substances simples expriment plutôt le monde
que Dieu.»
No ponto que me interessa salientar, a frase pode ser traduzida de duas maneiras (ou mais, combinando
entre si as diversas hipóteses) e é essa alternativa que constitui a dificuldade:
(1) «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que do mundo, sendo as outras substâncias
simples mais expressão do mundo do que de Deus»; ou
(2) «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que o mundo, sendo as outras substâncias
simples mais expressão do mundo do que Deus».
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O sentido de uma e outra tradução é diferente, como se torna perceptível completando as elipses [entre
parêntesis rectos]:
(1)’ «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que [são expressão] do mundo, sendo as
outras substâncias simples mais expressão do mundo do que [são expressão] de Deus»; ou
(2)’ «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que o mundo [é expressão de Deus], sendo as
outras substâncias simples mais expressão do mundo do que Deus [é expressão do mundo]».
Se optarmos por (1), estaremos a afirmar que os espíritos são expressão de Deus e são expressão do
mundo (embora o sejam mais de Deus do que do mundo), e que as outras substâncias são expressão de
Deus e são expressão do mundo (embora o sejam mais do mundo do que de Deus). Isto é, estaremos a
evidenciar uma simples gradação hierarquizada de quatro elementos (Deus, espíritos, outras substâncias,
mundo), organizados em dois pares (Deus/espíritos; outras substâncias/mundo), por via das respectivas
expressividades.
Enquanto que, se optarmos por (2), estaremos a afirmar que os espíritos são expressão de Deus,
e o mundo é expressão de Deus (embora o seja menos do que os espíritos); e que as substâncias
simples são expressão do mundo e Deus é expressão do mundo (embora o seja menos do que as outras
substâncias). Isto é, estaremos a enunciar um complexo conjunto de relações de expressividade entre
quatro elementos (Deus, espíritos, outras substâncias, mundo), sem uma hierarquização evidente entre
elas (espíritos & mundo/Deus; outras substâncias & Deus/mundo).
Como decidir?
O problema parece ser indecidível em termos puramente linguísticos, constituindo, portanto, um
daqueles casos de limite de competência, em que um tradutor fará melhor em consultar um especialista
na matéria, isto é, no referido autor, que lhe dirá qual a opção que melhor se coaduna com o pensamento
do autor.
2. A SOLUÇÃO
Realizada esta diligência, verificou-se que a opção mais correcta é (1). Efectivamente, o que Leibniz
pretende salientar neste texto é a hierarquia existente entre os seres, da qual resulta que – embora
todos sejam, pela sua natureza, uma expressão de todos, o que, em sentido estrito, torna igualmente
correcta a hipótese (2) – os seres mais perfeitos (os espíritos) exprimem melhor o ser superior (Deus) e,
conversamente, os seres menos perfeitos (as substâncias materiais) exprimem melhor os seres inferiores
(o mundo). Esta hierarquia fica evidenciada de forma óbvia por (1), ficando obscurecida pela complexa
rede de relações gerada na hipótese (2).
97
TEMOS UMA DISCIPLINA
ROSÁRIO DURÃO
Tradutora e Doutoranda
Foi há precisamente 32 anos que James S. Holmes criou uma disciplina independente para estudar os
fenómenos da tradução. A esta disciplina, ele chamou Translation Studies – «Estudos de Tradução»,
como tem vindo a ser denominada em português.
Ao contrário do que normalmente acontece com as pessoas, porém, a natividade e o baptismo dos
Estudos de Tradução nem sempre são celebrados com o júbilo que lhes é devido pela comunidade dos
que fazem da tradução o seu mister, sejam eles estudiosos ou tradutores.
E, no entanto, Holmes foi um pioneiro em vários sentidos.
Em primeiro lugar, porque soube que a tradução levantava tantas questões tão complexas que as
abordagens e soluções das disciplinas que habitualmente se debruçavam sobre ela – a Linguística,
a Literatura, a Lógica, a Matemática, as Ciências da Informação, etc. – haviam deixado de ser
adequadas.
Em segundo lugar, porque concebeu os Estudos de Tradução, não como um ramo ou subárea de outros
campos do saber, mas como uma disciplina independente.
Em terceiro lugar, porque atribuiu à (sua) disciplina um objecto de estudo claro – «a tradução e as
traduções» – e abrangente. Cabia aos Estudos de Tradução a tarefa de estudar os textos em si e os
processos mentais dos tradutores que subjazem à produção das traduções, mas também, porque toda
a comunicação tem um propósito, as funções que os textos desempenham nas comunidades de partida
e de chegada e o modo como tais funções se reflectem na actividade dos profissionais. Para isso
acontecer, porém, era necessário que a disciplina mantivesse um diálogo constante entre os seus ramos
(teórico, descritivo e aplicado) e com os tradutores profissionais.
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Assim se entende que o pai da disciplina não advogasse o isolamento dos Estudos de Tradução, mas,
antes, a sua comunicação e interpenetração com todas as áreas do saber – convertendo-a numa
(trans)disciplina de natureza (inter, multi e trans)disciplinar –, incluindo as da «tradução científica e
tecnológica», como ele escreveu.
Desde o momento em que James Holmes apresentou o artigo «The Name and Nature of Translation
Studies» na secção dedicada à «Tradução» do 3.o Congresso Internacional de Linguística Aplicada,
realizado em Copenhaga entre os dias 21 e 26 de Agosto de 1972, muito se aprendeu sobre a tradução
e sobre as suas relações internas e externas.
Do ponto de vista da organização da disciplina, salientam-se os contributos de Gideon Toury, a
quem o mundo ocidental deve a divulgação da versão inglesa do texto de Holmes (em 1987) e a
primeira esquematização e modificação do mapa da disciplina, e de Amparo Hurtado Albir (2001), que
preservando a estrutura básica de Holmes, trouxe-a até aos nossos dias, desenvolvendo-a à luz da
complexidade que os Estudos de Tradução demonstraram, de facto, ter.
Ao longo destes cerca de trinta anos, em que a disciplina se firmou como um saber verdadeiramente
autónomo e abrangente por todas as partes do mundo e quase ao ritmo do processo de globalização,
do qual que se alimenta, ao mesmo tempo que o alimenta, um dos aspectos mais interessantes foi
o de verificar que o essencial da visão holmesiana se manteve. À pergunta de como isto terá sido
possível, uma razão encontro. Os Estudos de Tradução têm a exuberância que lhes conhecemos hoje
porque Holmes, como todos os grandes criadores, idealizou a disciplina como algo inclusivo, fluído,
interrelacional e aberto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Holmes, James S. “The Name and Nature of Translation Studies”. Translated! Papers on Literary Translation and Translation Studies. 67-80. Amsterdam/Atlanta, GA: Editions Rodopi, 1994.
Hurtado Albir, Amparo. Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología. Madrid: Ediciones Cátedra, 2001.
Toury, Gideon. Translation Studies and Beyond. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 1995.
99
VOCABULÁRIO JURÍDICO DO DIREITO DE EMPRESA NO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
ANDRÉ ANTUNES SOARES DE CAMARGO
Ibmec LAW/SP e Universidade Paulista - UNIP
Com o advento do Novo Código Civil Brasileiro («NCC»), instituído pela Lei n.o 10.406, de 10.01.2002,
novos termos jurídicos foram introduzidos em várias áreas do Direito Brasileiro, principalmente no
Livro II, intitulado «Do Direito de Empresa», uma das maiores inovações desse novo diploma legal, pela
introdução da «teoria da empresa» em nosso ordenamento.
O objetivo do presente texto é o de justamente apresentar, de maneira sintetizada e objetiva, os
principais termos jurídicos constantes do Livro II do NCC, ao lado de uma definição simultaneamente
teórica e prática, os quais vêm sendo objeto de inúmeros questionamentos pelos nossos alunos e na
nossa prática profissional, tanto por empresários brasileiros, quanto estrangeiros.
BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DO NCC
Em poucas linhas, cumpre-se destacar a importância do NCC e das alterações por ele promovidas
dentro do Direito Brasileiro como um todo. Várias são as razões que embasam tal informação, quais
sejam:
a) As alterações promovidas pelo NCC praticamente afetaram todas as pessoas físicas e jurídicas,
nacionais e estrangeiras, seja de forma direta ou indireta;
b) Dentre as principais virtudes do NCC, encontram-se uma maior clareza na redação dos artigos, uma
melhor estrutura orgânica com relação à organização das matérias que contempla, uma compilação
de normas jurídicas e decisões judiciais esparsas, promovendo uma maior segurança jurídica, e uma
minimização dos conflitos entre leis, alinhando os mandamentos da Constituição Federal de 1988, o
Código de Defesa do Consumidor de 1990 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990; e
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c) Três princípios básicos passaram a nortear todas as regras constantes do NCC: SOCIALIDADE (e.g.
função social do contrato e da propriedade); ETICIDADE (e.g. princípios éticos dos administradores,
boa-fé e cláusulas abertas); e OPERACIONALIDADE (maior aplicação, na prática, dos ditames legais).
Desta forma, torna-se muito importante para todos aqueles atingidos pelas novas regras instituídas
pelo NCC de conhecerem seu real significado, principalmente no campo do Direito de Empresa, Livro II
do NCC, até porque se trata de um novo livro em sede de código civil, anteriormente disciplinado pelo
Código Comercial de 1850.
administrador
Termo oficial destinado àquele que deverá gerir os negócios da sociedade, podendo ser um sócio ou um
terceiro, tendo inúmeras novas regras de comportamento inexistentes até o advento do NCC (artigos
1.010 a 1.021 do NCC). O NCC traz uma idéia mais «profissional» dessa nova função, outorgando-a uma
série de deveres perante os sócios, a sociedade e a terceiros. A antiga figura do «gerente-delegado»
deixa de existir.
capacidade empresarial
Expressão técnica para designar a aptidão legal de um indivíduo ou de uma pessoa jurídica para exercer
a «empresa». O artigo 972 do NCC estabelece que a atividade de empresário poderá ser exercida caso a
pessoa física ou jurídica estiver em pleno gozo da capacidade civil e não for legalmente impedida.
conselho fiscal
Órgão criado originalmente nas sociedades por ações. Agora sua instituição foi facultada expressamente
nas sociedades limitadas. Se for instituído, o conselho fiscal deverá seguir as normas previstas nos
artigos 1.066 a 1.070 do NCC.
empresário
Definido no artigo 966 do NCC, será considerado como «empresário» aquele que exercer profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. Tal definição
é nova em nosso ordenamento jurídico, passando os referidos critérios como fundamentais para se
saber quem é empresário e quem não é, segundo a teoria da empresa introduzida em nosso Direito. O
empresário pode ser pessoa física (empresário individual) ou jurídica (sociedade empresária), sempre
tendo que conter tais requisitos. Há, no entanto, uma exceção, presente no parágrafo único desse
artigo, excluindo aqueles que exercerem profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, salvo se o exercício de sua profissão constituir, ele sim, elemento de empresa.
empresário rural
Terminologia utilizada para aquele empresário que explora uma atividade em uma propriedade
localizada em zona rural (não urbana). Os artigos 970 e 971 do NCC tratam do empresário rural no
Brasil. Como por aqui há grandes discrepâncias entre os pequenos e grandes empresários (subsistência
101
e agribusiness, respectivamente), o empresário rural terá a faculdade de se inscrever no Registro Público
de Empresas Mercantis. Trata-se, portanto, de uma faculdade legal.
estabelecimento empresarial
Pela primeira vez definido em lei (artigo 1.142 e regulação nos artigos subseqüentes), trata-se do
complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.
Portanto, é uma coletividade de bens que, isoladamente, possuem um valor, mas que, em conjunto e de
forma organizada, servem a um fim que é o da atividade empresarial.
fusão
Operação societária por meio da qual há a extinção das sociedades fusionadas, formando uma nova
sociedade, a qual sucederá as primeiras nos direitos e obrigações (artigo 1.119 do NCC).
incorporação
Operação societária por meio da qual uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, a qual lhes
sucede em todos os direitos e obrigações (artigo 1.116 do NCC).
nome empresarial
Nome empresarial é a firma (nome do sócio) ou denominação (nome outro que o do sócio) que identifica
o empresário individual ou a sociedade empresária para terceiros, respeitando os princípios da novidade
(anterioridade) e da veracidade. Suas regras estão dispostas nos artigos 1.155 a 1.168.
patrimônio especial
Previsto no artigo 988 do NCC, trata-se de uma nova figura no Direito brasileiro, representando
o conjunto de bens e dívidas sociais do qual os sócios são titulares em comum. Será justamente o
patrimônio especial que responderá em primeiro lugar pelas dívidas sociais, independentemente da
forma societária adotada e/ou da limitação ou não da responsabilidade pessoal dos sócios.
prepostos
Aqueles que trabalham em prol da sociedade, podendo ser o gerente (preposto permanente no exercício
da empresa), o contabilista e os demais auxiliares (regras constantes dos artigos 1.169 a 1.178 do
NCC).
registro
Termo técnico-jurídico que dá publicidade aos atos jurídicos em geral, portanto com eficácia erga
omnes, e é fundamental para conferir regularidade à atividade empresarial. As regras sobre registro
de sociedades encontram-se nos artigos 1.150 a 1.154 do NCC, sendo que as sociedades empresárias
serão registradas na Junta Comercial do Estado onde tiverem sua sede e as demais nos Cartórios de
Registro Civil das Pessoas Jurídicas do respectivo Município.
102
sociedade
Conforme estatui o artigo 981 do NCC, sociedade é, em primeiro lugar, um contrato, um acordo
de vontades de característica plurilateral, no qual há a assunção de obrigações de todas as partes
envolvidas entre si e com terceiros, contribuindo com bens ou serviços para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Ou seja, não é uma associação (fins não econômicos
– artigo 53 do NCC), tampouco uma fundação (destinação de um patrimônio em vida ou pós-morte
para um determinado fim – artigos 62 e seguintes do NCC).
sociedade anônima
Entidade cujo capital divide-se em ações, obrigando-se cada acionista somente pelo preço de emissão
das ações que subscrever ou adquirir. Apesar de ser regulada por uma lei específica (Lei n.o 6.404/1976),
sua caracterização encontra-se nos artigos 1.088 e 1.089 do NCC.
sociedade coligada
Sociedades coligadas são aquelas que, em sua relação de capital social, são controladas, filiadas ou
mantêm uma simples participação. O conceito legal encontra-se no artigo 1.097 do NCC.
sociedade controlada
Definida no artigo 1.098 do NCC, pode ser, tanto uma situação de fato (controle nas decisões sociais
e o poder de eleger a maioria dos administradores), quanto de direito (potencial mediante a simples
posse da maioria das ações com direito a voto).
sociedade cooperativa
Nome técnico para aquela forma societária criada justamente para os interesses dos próprios sócios
e sem o intuito de lucro, limitando-se a buscar melhores condições de mercado para os próprios
cooperados entre si e para com terceiros. Regulada pela Lei das Cooperativas, suas regras principais
encontram-se nos artigos 1.093 a 1.096 do NCC, como, por exemplo, o fato de seu capital social ser
variável ou até dispensável e a possibilidade de se limitar à responsabilidade dos sócios.
sociedade de propósito específico (SPE)
Terminologia utilizada para definir aquela sociedade cujo objeto social é limitado a um só fim especifico,
ou seja, a razão de existência dessa sociedade é justamente o cumprimento desse propósito específico,
findo o qual, a mesma será extinta. A SPE é normalmente utilizada em incorporações imobiliárias e
em estruturas de project finance. A SPE é agora expressamente permitida em lei (artigo 981, parágrafo
único do NCC) que a atividade de uma sociedade possa restringir-se à realização de um ou mais
negócios determinados, portanto, autorizando a exploração de um só negócio.
sociedade de simples participação
Sociedade de cujo capital social outra sociedade possua menos de 10 % (dez por cento) com direito a
voto (artigo 1.100 do NCC).
103
sociedade em comandita por ações
Sociedade que tem o capital dividido em ações, sendo que o seu administrador só poderá ser um dos
sócios e, como diretor, este responde subsidiaria e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Da mesma
forma que a sociedade anônima, tal espécie societária também é regulada pela Lei n.o 6.404/1976, mas
sua caracterização e regras gerais encontram-se nos artigos 1.090 a 1.092 do NCC.
sociedade em comandita simples
Quase inexistente no Direito brasileiro, sua regulação está nos artigos 1.045 a 1.051 do NCC. Trata-se de
uma forma híbrida de societária, caracterizada pela existência de duas classes de sócios: comanditados
(pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais) e comanditários
(obrigados somente pelo valor da sua quota).
sociedade em comum
Regulada pelos artigos 986 a 990 do NCC, trata-se das antigas sociedades irregulares ou de fato,
para as quais o direito atribui efeitos independentemente de as outorgar personalidade jurídica ou
regularidade.
sociedade em conta de participação
Constante nos artigos 991 a 996 do NCC, tal espécie societária caracteriza-se pela presença de duas
espécies de sócios: ostensivo (exerce a atividade em seu nome próprio); e participante (não aparece
para os terceiros, sendo considerado como um mero investidor).
sociedade em nome coletivo
Trata-se da antiga sociedade familiar, da qual só podem fazer parte pessoas físicas, as quais se obrigam,
solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. Suas regras encontram-se nos artigos 1.039 a
1.044 do NCC.
sociedade empresária
Sociedade empresária é a pessoa jurídica que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (artigo 967 do NCC). Seu registro dá-se na Junta Comercial do estado
onde se encontrar sua sede.
sociedade entre cônjuges
É a sociedade formada por sócios cônjuges entre si, independentemente do regime de bens adotado,
objeto de histórica discussão legal, doutrinária e jurisprudencial. Uma grande discussão trazida pelo
NCC encontra-se no artigo 977, segundo o qual cônjuges não poderiam mais ter sociedade quando
casados pelo regime da comunhão universal de bens, ou pelo regime da separação obrigatória. A
principal idéia por trás dessa proibição é a de evitar confusão patrimonial que venha a lesar terceiros.
Mas um recente parecer do Departamento Nacional do Registro de Comércio, órgão maior que regula
as atividades empresariais no Brasil, limita essa proibição somente às sociedades entre cônjuges
constituídas após o advento do NCC, em respeito aos princípios do direito adquirido e do ato jurídico
perfeito, constantes na Constituição Federal Brasileira de 1988.
104
sociedade estrangeira
Sociedade que, independentemente do seu objeto, não pode funcionar no Brasil sem a prévia e expressa
autorização do Poder Executivo (artigo 1.134 do NCC).
sociedade filiada
Sociedade cujo capital social outra sociedade participa com 10 % (dez por cento) ou mais, sem controle
(artigo 1.099 do NCC).
sociedade limitada
Forma societária mais preferida no Brasil, representando mais de 97 % (noventa e sete por cento) de
todas as sociedades registradas no País. É uma sociedade em que a responsabilidade de cada sócio é
restrita ao valor de suas quotas, mas todos os sócios permanecem solidariamente responsáveis pelo que
faltar a integralizar todo o capital social subscrito. Sua disciplina anterior encontrava-se no Decreto
n.o 3.708/1919, um texto legal curto e com poucas regras cogentes (sem a possibilidade de alteração
entre as partes). Com o advento do NCC, a antiga flexibilidade para a constituição e regulação de uma
sociedade limitada (ex-sociedade por quotas de responsabilidade limitada) diminuiu sensivelmente,
pela criação de diversas obrigações e formalidades para a realização da maioria dos atos societários e
pelo aumento dos quóruns decisórios, passando a ser de 75 % (setenta e cinco por cento) o quórum
necessário para se considerar alguém como sócio controlador de uma sociedade limitada. Grandes
discussões existem ainda sobre essa nova regulação, sendo que se aguarda um pronunciamento judicial
definitivo sobre vários aspectos dessa nova regulamentação e a aprovação de diversos projetos de lei
visando à readaptação dessas normas à realidade em que vivemos. As regras sobre sociedades limitadas
localizam-se nos artigos 1.052 a 1.087 do NCC.
sociedade nacional
Sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua
administração (artigo 1.126 do NCC).
sociedade simples
Figura nova no direito brasileiro, sendo, curiosamente, um conceito legal por exclusão, conforme dita
o artigo 982, caput do NCC. Se a sociedade não for empresária (Vide sociedade empresária), será
considerada como sociedade simples e terá um tratamento especifico em lei (artigos 997 a 1.038 do
NCC). Além de ser uma forma societária própria, serve como fonte interpretativa das demais formas
societárias existentes no direito brasileiro (fonte interpretativa). A única exceção é a sociedade por
ações, cujas regras não têm aplicação subsidiária para as sociedades simples e vice-versa (regramentos
diferentes e específicos). Os atos constitutivos de uma sociedade simples deverão ser registrados em
Cartórios de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da municipalidade onde sua sede estiver localizada.
transformação
Operação societária de conversão de um tipo societário em outro (artigo 1.113 do NCC).
105
CONFLUÊNCIA POLISSÉMICA NA TERMINOLOGIA GRÁFICA
HERMÍNIO DR
Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia
A representação gráfica exibe grande importância societal, exprimindo visualmente o que se pensa,
quer em informação enviada, quer na recebida. Nas múltiplas actividades profissionais, os diversos
modos gráficos usados evidenciam com clareza as propriedades representadas, a par de poucas
expressões verbais, ou mesmo sem palavras. É o que transparece das caricaturas. Basta saber interpretar
o respectivo grafismo.
No âmbito técnico, onde se evitam ambiguidades para atingir o desejado rigor científico, é fundamental
adoptar convenções universalmente aceites. Mesmo em terminologia. Qualquer que seja a língua
usada, deve ser praticada uma linguagem comum. Este princípio de confluência semântica pela
sintaxe, fundamento do motor semântico da mente, recomenda que os usos e costumes construam
correspondências biunívocas entre os termos das linguagens específicas. Certo é que a terminologia
associada ao grafismo técnico manifesta-se pertinente nas explicações narrativas dos discursos
verbais ou auditivos. Aí, as várias falas entre os diversos interlocutores exprimem-se por termos
convencionados. E, para que todos assimilem as interpretações de cada um, deve haver biunivocidade
entre as linguagens.
As sínteses proporcionadas pela linguagem gráfica são muito apetecidas na ciência moderna, pois
encurtam as descrições de maneira sugestiva e agradável, estimulando a compreensão. Desta arte,
provocam no leitor um efeito de intuição, manifestável sem esforço e acompanhado da alegria
sobreveniente da descoberta dos conhecimentos contidos nas simbolizações desenhadas. Tais
características justificam a crescente utilização da descrição estrutural e comportamental dos sistemas
por meio de técnicas gráficas. Realmente, da agradável leitura de poucos riscos emerge a apreensão
imediata dos conteúdos e a aquisição de enorme riqueza de informação. É esta convicção que me
impele a inserir nos livros que escrevo, aqui e ali, «figuras» de visualização das ideias descritas sob o
ponto de vista literário.
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A Ciência, em especial, serve-se da representação gráfica para exprimir conceitos complexos através
de diferentes modos gráficos adaptados às realidades conceptuais a registar ou transmitir. Umas vezes,
esboçam-se esquemas, em simples linhas de orientação qualitativa dos pensamentos (mais ou menos
complexos). Noutras ocasiões, desenham-se diagramas, num enquadramento de rigor quantitativo
que justifica os valores qualitativos implícitos.
As vantagens decorrentes levam muito a Tecnologia à prática das representações gráficas de descrição
tecnológica dos projectos e dos produtos. Por exemplo, é banal inserir descrições gráficas nas instruções
de uso dos equipamentos acessíveis ao grande público. Assim, será natural que os mesmos conceitos
gráficos passem para a linguagem vulgar, preenchendo uma boa parte do conteúdo da linguagem de
pensamento característica da psicologia popular (Fodor 1975).
Todavia, esta passagem representacional do domínio científico para a actividade tecnológica, até se
vulgarizar no senso comum, processa-se sem degenerescência (e portanto com eficácia) apenas se
não houver ambiguidade na terminologia usada. Ora, aconteceu, nas últimas décadas, que os termos
portugueses «esquema» e «diagrama» sofreram inconvenientes deformações, bem notórias após a
irreversível influência da língua inglesa, sendo um facto, entre outros, que testemunha como a eventual
inconsistência da terminologia inglesa, aceite acriticamente com todo o seu poder hegemónico,
contamina as linguagens de outros falantes.
Ambos os termos «esquema» e «diagrama» têm origem no grego clássico, que o latim assimilou
literalmente. Interessa agora comparar os seus significados em português e inglês, a fim de objectivar
a correcta tradução de uma para outra língua. Até ao terceiro quartel do século XX, antes da
generalização da linguística anglófona entre todos os povos do planeta Terra (para não ir mais longe
no cosmos), esses dois conceitos tinham significâncias nítidas, que os distinguiam. Assim se ensinava,
assim se aprendia e continua a ser: a esquematização é um traçado livre na forma e nas dimensões (no
espaço); a diagramatização resulta num desenho rigidamente ligado a um referencial, cujas distâncias
nos traços e entre riscos representativos se subordinam às escalas das variáveis marcadas nos eixos
coordenados.
Vem da história esta distinção dos esquemas e diagramas em engenharia. Por exemplo, na representação
de um circuito eléctrico, se se pretender esquematizar a realidade da sua estrutura, esboça-se o
«esquema eléctrico» que liga os símbolos dos componentes físicos (resistências e indutores, ou motores
e transformadores, por exemplo) em qualquer escala e sem cuidar das distâncias entre símbolos
gráficos; mas se as preocupações se centrarem na explicitação das funções desempenhadas pelos
vários componentes, usa-se um «esquema funcional» com blocos explicativos do comportamento dos
vários dispositivos estruturais; caso se queira efectuar cálculos de interacção, prefere-se o domínio da
frequência complexa, porque este simplifica muito o processamento, e então parte-se do «esquema de
blocos», caracterizando cada bloco estrutural pela respectiva função de transferência. Todavia, sempre
que se queira descrever graficamente as propriedades operativas dessa realidade, terão de ser elaborados
diagramas nos domínios de variação das grandezas em jogo no circuito eléctrico (basicamente a tensão
e a corrente): o «diagrama fasorial» das tensões e das correntes exibe os fasores destas variáveis, tendo
107
em conta as suas amplitudes eficazes e posições relativas de desfasagem; o «diagrama temporal» de
uma corrente eléctrica indica a amplitude instantânea e a fase desta grandeza no decurso do tempo,
em sucessivos períodos de repetição, conforme a frequência dos seus ciclos; e o comportamento do
circuito no domínio da frequência mostra-se pelas características de amplitude e de fase desenhadas
no chamado «diagrama de Bode».
É certo que os dicionários nunca souberam destrinçar cabalmente os termos que designam os dois
tipos de figuras técnicas: esquemas por um lado e diagramas por outro. Talvez porque os seus autores,
normalmente linguistas, não saiam dos cozinhados conforme as receitas dos pares, na pureza da
tradição, e desconfiem dos ingredientes culturais dos especialistas das «tecnologias» (como dizem,
acintosamente, no moderno sabor do paradigma tradicional), que nem sempre são de boa colheita,
diga-se em abono da verdade, por endémica deficiência no campo cultural.
O Dicionário de Morais (edição de 1948) não relacionou um termo com o outro, mantendo o esquema
no papel básico de descrição das relações entre entidades e atribuindo rigor ao diagrama (apesar
da possível indução de metáforas). De facto, a entrada lexical de «esquema» regista os seguintes
significados:
«nome genérico de todas as formas de ornato de estilo (Retórica, antigo);
representação dos planetas cada um no seu lugar num momento considerado
(Astronomia); conjunto de figuras que servem para demonstrar a disposição
geral de um aparelho ou a sucessão de um órgão ou para dar uma ideia
geral desses fenómenos (Medicina); figura que representa, não a forma
verdadeira dos objectos, mas as suas relações e funções: “certos
esquemas ideacionais topográficos ... encorporaram-se enfim nas manchas
dúbias”(António Sérgio, Ensaios III).»
E no caso de «diagrama» transcrevem-se estes registos:
«representação por meio de linhas; traçado gráfico, que serve para facilitar
uma demonstração ou fazer compreender um fenómeno: “deparam-se-
me outros e variados diagramas” (Aquilino Ribeiro, O Homem Que Matou o
Diabo); delineação, bosquejo.»
Os destaques nestas transcrições (a negrito) indicam ideias básicas subjacentes às interpretações
científicas e tecnológicas: o esquema aparece como gráfico que não representa a forma, mas as
relações funcionais; e o diagrama mostra graficamente as propriedades da realidade, subentendendo
(sem especificar) que tal só num referencial criteriosamente arbitrado (dispensável na representação
esquemática) acontece com rigor.
Nessa época, a língua inglesa também separava as águas, evitando turvas imprecisões: os textos
científicos reservavam diagram para o diagrama puro, devidamente referenciado, e faziam corresponder
schematic diagram ao esboço de um esquema. No entanto, os termos compostos por várias palavras
108
complicam a articulação e até a compreensão do discurso. Por isso, as linguagens específicas, praticadas
em diversas áreas científicas e tecnológicas, tenderam a abreviar essa designação composta. Só que
desapareceu o elemento qualificativo schematic, afinal o mais expressivo da ideia de esquematizar. E
o «esquema», na fala inglesa, reduziu-se ao substantivo «diagrama». A linguagem, em inglês, tornou-
se mais fluída, pela simplicidade adicionada, mas a ambiguidade aumentou. Daí o erro histórico da
anglofonia em não ter adoptado um termo próprio para referir as esquematizações: bem podia ter
sido escolhido «scheme», que existe nos dicionários ingleses (Atkins 1990). Alguns autores, talvez
mais conscientes dessa discrepância, chegam a dizer «figura esquemática» (schematic picture), porque
pressentem a debilidade dos termos específicos na representação daquilo que querem exprimir (Penrose
1999).
A verdade é que a tendência verificada, em conjunto com a progressiva generalização nos últimos tempos
dessa língua franca entre cientistas de todo o mundo, inverteu a natureza das coisas (terminológicas):
complicou-se a semântica das proposições à custa da simplificação sintática. Hoje, a situação viva
argumenta com o facto consumado: quase toda a gente portuguesa diz diagrama, por tudo e por nada,
desde que seja traçado um simples rabisco, esquemático ou referenciado, desprezando a exactidão da
linguística tradicional (a linguagem de pensamento do povo lusíada) e navegando nas águas turvas
do estrangeirismo à moda. Sem reflexão crítica nem conhecimento anímico, numa cognição estiolada
pela deformação linguística.
A prova mais eloquente do abandono desse rigor encontra-se nas páginas do recente Dicionário
da Academia das Ciências de Lisboa (ano 2001), propagando ainda mais o vírus corrosivo na língua
portuguesa, por deficiente especificação das diferentes representações gráficas. O «esquema» surge aí
com seis significados:
«nome genérico dado, antigamente, a todas as formas de ornato de estilo
(Retórica); figura que representa, não a verdadeira forma do objecto, mas
as proporções das suas partes [o que é errado!], as relações mútuas e o
funcionamento do todo, isto é, representação gráfica, por vezes simbólica,
de realidades não perceptíveis (“Na primeira aula de condução, o instrutor
explicou, através de um esquema, o funcionamento da embraiagem”);
delineamento ou exposição das ideias gerais e da articulação de uma obra
literária, de um discurso, de um projecto (“Via-se nitidamente que o discurso
não obedecia a qualquer esquema, era caótico, repetitivo.” “Após a aprovação
pelo professor do esquema de trabalho apresentado, os alunos lançaram mãos à
obra”); estrutura de conjunto de um objecto, de um processo (“A empresa onde
trabalhava tinha um esquema de funcionamento complexo, mas eficaz”); plano,
intenção (“O seu esquema era outro!”); representação mental simplificada,
intermédia entre a imagem real e o conceito abstracto (Psicologia).»
109
Por sua vez, em «diagrama» apontam-se os três significados seguintes:
«representação gráfica das relações entre as diferentes partes de um conjunto
ou sistema; representação gráfica, esquemática, do desenrolar ou das
variações de um ou vários fenómenos; descrição em traços largos (ou
bosquejo ou delineamento).»
Os destaques continuam a não acentuar a nota mais importante da definição de diagrama, relativa à
referência a um sistema de coordenadas, declarando mesmo uma natureza esquemática que o diagrama
não deve ter (fora da ambiguidade originada na língua inglesa).
De facto, nota-se que o conceito de esquema de um sistema não representa a forma real dos componentes
(objectos) interconectados no sistema, mas indica as relações mútuas que explicam o funcionamento da
estrutura de todo o sistema (pelas funções desempenhadas); por isso, esta representação esquemática
com blocos estruturais e suas interligações designa-se esquema funcional (ou functional scheme
em inglês, mas que se costuma dizer functional diagram). Analogamente, um esquema de blocos
não deve ser dito «diagrama de blocos», embora a extensão deste incongruente termo (ao assumir
também significado esquemático) se tenha difundido entre especialistas, numa literalização simplista
da linguagem inglesa (que usa sempre o termo block diagram) por quem despreza a língua portuguesa.
Este ponto de vista aparece confirmado no último dicionário atrás referido, segundo mostra a seguinte
transcrição lexical: «diagrama de blocos (Elect.) – representação esquemática de circuitos com base
em figuras geométricas.» Dir-se-á, sem dúvida, que é disparate. Valha-nos Morais! Se é que basta.
Na realidade, pelo caminho que as actuais gerações estão a tomar, creio não haver outro remédio
senão engolir a asneira e esperar não sofrer qualquer indigestão, enquanto a bela língua portuguesa
empobrece mais, cada vez mais.
Para facilitar o entendimento da tradução inglês-português, sistematizam-se alguns termos
correlacionados, em Apêndice. A listagem apresentada não esgota os termos da Ciência e da Tecnologia
ligados aos conceitos de esquema e diagrama. Mencionam-se aqueles que mais frequentemente
ocorrem na Engenharia moderna, aproveitando para contrastar certas características relevantes que
geralmente andam mal compreendidas (como funcionalidade e transferência, lineal e areal, linearidade
e não-linearidade, vectorial e fasorial). Observa-se ainda que os esquemas e os diagramas são referidos
genericamente por «gráficos». Nalguns casos, a língua inglesa serve-se dos termos plot (traçado) e
chart (mapa).
Vê-se bem que a mudança dos tempos conduz ao abandono da ideia de esquema, por determinação
da língua mundialmente dominante. Hoje em dia, talvez porque a humanidade procura, sem cessar,
a maior exactidão exigida pela evolução tecnológica, pretende-se esconder que se esquematiza. Mas
a condição humana, forçada pela Natureza, encarrega-se de afirmar o contrário. Inaceitavelmente,
recusa-se a designação que verte a liberdade de expressão (gráfica), afastando a melhor adaptação
à inteligência dos humanos. Quando se usa o esquema como modelo, quando se utiliza o esquema
como estratégia, por imposição dos esquemas de raciocínio (implicações e silogismos) e dos esquemas
110
lógicos, mesmo em inferências pragmáticas, com regras sensíveis ao contexto dentro dos esquemas
mentais. Afinal, bem longe de qualquer diagrama.
A minha experiência quotidiana confirma tão desagradável conclusão. Ainda hoje, ao redigir estas
linhas de combate quixotesco, participei numa reunião de trabalho com um doutorando e mostrei-
lhe que o seu diagrama de blocos não era mais do que um esquema de blocos funcionais, traçado
esquematicamente. Lá concordou, outra vez, até à próxima. Quando não se quer, de facto, não se quer
mesmo. E permaneci fixado a esta interrogação: apenas restará render-me à desnecessária e dúbia
polissemia? As relações verbais podem ser ambíguas, referindo-se a duas ou mais relações semânticas,
mas não devem. E se não eram – porque hão-de vir a ser?
Julgo que a introdução de ambiguidades na comunicação é um claro sinal de empobrecimento
linguístico. Outros pensam que será melhor deixar correr libertinariamente a pretensa voz do povo e
desfazer os equívocos pelo contexto. Sustento que as confluências não se devem fazer pela força dos
erros, mas antes pelo poder do rigor. Na verdade, creio que conhecer é sobretudo interpretar, para além
de qualquer explicação. E, por consequência, interpreto que os termos adequados induzem raciocínios
acertados mais facilmente. Pelo que os prefiro.
Uma cultura diagramática que perca a expressão das suas características esquemáticas, quando as
há, torna-se imprecisa e descolorida. Direi até que vai contra a evolução natural da sobrevivência na
diversidade. Por isso, as confluências polissémicas não auguram bons sinais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Silva, A. de Morais. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 10.a ed. Rio de Janeiro: Editorial Confluência, 1948.
Fodor, Jerry. The Language of Thought. New York: T. Y. Crowell, 1975.
Atkins, B. T., et al. Collins Robert Dictionary. 2.a ed. London: HaperCollins Publisher, 1990.
Penrose, Roger. The Large, the Small and the Human Mind. 2.a ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
Academia das Ciências de Lisboa. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Lisboa: Verbo, 2001.
APÊNDICE
Listagem de alguns termos associados aos conceitos de esquema e diagrama.
esquema
(scheme, vulgarmente dito diagram)
Representação gráfica por símbolos de uma certa configuração estrutural sem escala fixa.
111
esquema de princípio
(basic scheme, vulgarmente dito basic diagram)
Representação gráfica pelos símbolos básicos que exprimem a operação de um sistema.
esquema unifilar
(one-wire scheme, vulgarmente dito one-wire diagram)
Representação esquemática de circuitos eléctricos polifásicos (mecanicamente independentes e
electricamente relacionados) por meio de um único traço representativo de todas as fases eléctricas (o
número de condutores indica-se por pequenos riscos transversais ao traço unifilar).
esquema multifilar
(multi-wire scheme, vulgarmente dito multi-wire diagram)
Representação esquemática de circuitos eléctricos polifásicos (mecanicamente independentes e
electricamente relacionados) por meio de tantos traços quantas as fases eléctricas e o neutro ou,
ainda, o condutor da terra de protecção.
esquema de ligações
(connection scheme, vulgarmente dito connection diagram)
Representação esquemática das ligações por condutores entre terminais dos vários componentes de
um sistema.
esquema funcional
(functional scheme, vulgarmente dito functional diagram)
Representação por blocos de funções desempenhadas pelos componentes estruturais de um sistema e
suas interligações com variáveis de interactividade.
esquema de blocos
(block scheme, vulgarmente dito block diagram)
Representação por blocos de funções de transferência dos componentes estruturais de um sistema
e suas interligações pelas transformadas das variáveis de interactividade no domínio de descrição
(transformadas de Laplace a partir do tempo contínuo e transformadas em z do tempo discreto).
esquema de simulação
(simulation scheme, vulgarmente dito simulation diagram)
Representação por blocos de coeficientes e integradores no tempo contínuo (ou variáveis de atraso no
tempo discreto) interligados conforme a forma canónica da função de transferência representada.
esquema sequencial
(sequence scheme, vulgarmente dito sequence diagram)
Representação por sucessivas etapas e transições de estados numa sequência de tarefas entre a inicial
e a final, no desenvolvimento de automatismos.
112
esquema de fluência de sinais
(signal flow scheme, vulgarmente dito signal flow diagram)
Esquema funcional em que os blocos se reduzem a pontos em nós entre ramos de fluência dos sinais
de interconexão.
esquema hierárquico
(tree scheme, vulgarmente dito tree diagram)
Esquema de fluência de sinais em ramos ligados por configurações hierárquicas.
fluxograma
(flowchart)
Esquema funcional de representação de um algoritmo em informática, com blocos de processamento,
armazenagem e decisão, interligados por sinais de execução.
diagrama
(diagram)
Representação gráfica da variação de variáveis em relação a um referencial com eixos ortogonais numa
certa escala.
diagrama fasorial
(fasor diagram)
Representação dos vectores simbólicos de variáveis complexas, por meio das suas amplitudes e ângulos
de fase (em relação a uma referência nula). Por isso, antigamente (meados do século XX) falava-se
em «diagrama vectorial» (numa expressão imprópria, visto as variáveis poderem ser escalares e não
vectoriais, como é o caso da tensão eléctrica).
diagrama lineal
(line diagram)
Representação gráfica da variação de uma variável ao longo de uma linha (do tempo ou do espaço).
diagrama temporal
(time diagram)
Representação gráfica da variação de uma variável ao longo da linha do tempo (sendo, portanto, um
diagrama lineal).
diagrama linear
(linear diagram)
Representação, num sistema de eixos rectangulares, em que as variações expressas se projectam num
eixo, proporcionalmente às projecções ortogonais no outro eixo, através de uma recta que passa pela
origem de coordenadas.
113
diagrama não-linear
(non-linear diagram)
Representação não rectilínea num sistema de eixos coordenados ortogonais ou que, em qualquer caso,
não passe pela origem.
diagrama areal
(area diagram)
Representação gráfica da variação de uma variável na área de uma superfície de eixos ortogonais
(sendo, portanto, uma imagem).
diagrama de conexões
(connection diagram)
Representação topográfica, a uma dada escala, dos condutores de conexão entre terminais de
componentes electrónicos num circuito impresso.
diagrama de estados
(state diagram)
Representação gráfica da trajectória (variação no tempo) de uma variável no espaço de estados.
diagrama de pólos-zeros
(pole-zero diagram)
Representação gráfica da localização dos pólos e dos zeros da função de transferência no domínio da
frequência complexa de um sistema em tempo contínuo, ou no domínio da variávell complexa de um
sistema em tempo discreto.
diagrama polar
(polar diagram)
Representação gráfica da variação no domínio complexo de uma variável complexa, tendo a frequência
como parâmetro entre zero e infinito.
diagrama de Nyquist
(Nyquist diagram)
Representação gráfica no domínio complexo da transformação, conforme da função de transferência
do anel aberto de um sistema com retroacção, tendo a frequência, como parâmetro, entre menos e
mais infinito.
diagrama de Bode
(Bode plot)
Representação gráfica no domínio da frequência (em escala logarítmica) das variações da amplitude
(em escala logarítmica) e da fase (em escala linear) como determina a resposta em frequência de um
sistema.
114
diagrama de barras
(bar chart)
Representação gráfica por meio de barras rectangulares em que uma das suas dimensões (geralmente a
altura) exprime a relatividade (em valores absolutos ou em percentagem) de uma variável em diferentes
situações.
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MEDICINA E FARMÁCIA EM 11 LÍNGUAS
JORGE CRUZ
Médico-Tradutor
Medicina e Farmácia em 11 Línguas
Lisboa: Editorial Estampa, 2003. 1135pp, ISBN 972-33-1915-2
Foi publicado no final do ano passado, com a chancela da Editorial Estampa, o livro Medicina
e Farmácia em 11 Línguas. A versão original, em alemão, tinha sido editada em Setembro de
2003, pela Compact Verlag München. Este livro pretende ser um dicionário para consulta
de palavras na área da saúde nas 11 línguas europeias consideradas mais importantes:
inglês, francês, alemão, italiano, espanhol, português, holandês, sueco, polaco, checo e
húngaro. Apesar de anunciar conter «mais de 20.000 entradas, a que correspondem mais
de 200.000 vocábulos», este dicionário de 1.135 páginas apresenta pouco mais de 2.000
vocábulos em cada língua, um número que se nos afigura bastante reduzido.
As entradas das palavras podem ser pesquisadas por ordem alfabética de todas as línguas,
consecutivamente, o que torna este dicionário pouco prático e dá origem a inevitáveis repetições. Uma
obra deste tipo, vocacionada para uma consulta rápida, fazia mais sentido em ser produzida ou, pelo
menos, acompanhada, em suporte multimédia (CD-ROM).
Apesar do limitado número de vocábulos em cada língua, que torna esta obra muito básica e pouco útil
para profissionais da tradução, bem como para o público em geral, existem ainda algumas incorrecções,
de que darei apenas dois exemplos no que diz respeito à língua portuguesa. A palavra «aterosclerose»,
existente em português, foi sistematicamente substituída por «arteriosclerose», de significado diferente.
Por sua vez, o vocábulo stroke, que deveria aparecer em língua portuguesa como «acidente vascular
cerebral» (AVC), foi traduzido como «apoplexia». Por outro lado, apesar da referência à Medicina e à
Farmácia, no título do livro, apenas são incluídos termos genéricos da área da saúde e menos de uma
dezena do foro farmacológico.
116
Por último, não se compreende qual foi o critério de escolha dos vocábulos incluídos neste dicionário,
pois, embora alguns sejam bastante comuns, outros são utilizados com pouca frequência. Em relação
a outras palavras encontradas, como «xenofobia», não se percebe qual a sua relação com a Medicina
ou a Farmácia.
Em resumo, consideramos que esta publicação não oferece nada de novo no panorama editorial nacional
que possa ser recomendado aos que se dedicam à tradução científica e técnica, principalmente no
campo da saúde.
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DICCIONARIO ESPAÑOL-PORTUGUÉS/PORTUGUÊS-ESPANHOL DE TÉRMINOS
COMERCIALES, ECONÓMICOS Y JURÍDICOS.
ANA HERMIDA RUIBAL
Tradutora
Viñal, Antonio et al, Diccionario español-portugués/português-espanhol de términos comerciales,
económicos y jurídicos.
Madrid/Barcelona: Marcial Pons, 2003. 535pp, ISBN: 84-9768-074-X
Quando um tradutor de português para espanhol ou vice-versa efectua uma pesquisa dos dicionários,
vocabulários, léxicos e outro material terminológico que existe nestas duas combinações linguísticas,
geralmente fica desiludido – e mal servido – por causa da pouca variedade destas obras. Ora, se nos
referirmos a material terminológico útil para a tradução científico-técnica, isto é, a não-literária, o
problema agrava-se. A quase inexistência de material terminológico especializado de apoio ao tradutor
de português-espanhol-português é um facto – triste, neste caso, para a tradução e para as relações
entre Espanha e Portugal.
O lançamento, em Dezembro de 2003, do Diccionario español-portugués/português-
espanhol de términos comerciales, económicos y jurídicos, editado pela Marcial Pons
(http://www.marcialpons.es), dirigido por Antonio Viñal e elaborado em colaboração com
a Câmara Hispano-Portuguesa de Comércio e Indústria em Espanha, pretende quebrar
este impasse e oferecer uma ferramenta de apoio, quer a profissionais da tradução, quer
a especialistas das áreas de Direito, Economia e Empresas que têm negócios e lidam com
documentos de ambos os países.
O director do referido dicionário é Antonio Viñal, advogado e delegado na Galiza da Câmara
Hispano-Portuguesa de Comércio e Indústria. Para levar a cabo este projecto, Antonio Viñal dirigiu
uma equipa de trabalho formada por oito especialistas de nacionalidades portuguesa e espanhola
– apenas um deles é filólogo e nenhum tradutor, diga-se de passagem –, designadamente, João Flores,
118
Aureliano Neves, José Vital, Beatriz Aramburu, Marcelino Cabanas, Denis M. Canellas, Antonio Viñal
Menéndez-Ponte e Maria Barão.
O dicionário em análise, que abrange as áreas comercial, económica e jurídica, está centrado no
português de Portugal e no espanhol de Espanha.
Esta obra compõe-se de três partes bem diferenciadas: em primeiro lugar, a versão espanhol-português
de termos comerciais, económicos e jurídicos; em segundo lugar, a versão português-espanhol desses
mesmos termos; e, por último, quatro anexos, nomeadamente:
a) Uma selecção de termos comerciais, económicos e jurídicos internacionais, ordenados
alfabeticamente pelo termo internacional em inglês (na maioria dos casos), francês, italiano
e latim;
b) Uma selecção de palavras relacionadas com o tempo (dias da semana, estações e meses do ano
nos dois idiomas);
c) Os números cardinais, ordinais, multiplicativos e fraccionários, sempre em ambas as línguas,
mas tendo por base, neste caso, o espanhol;
d) Unidades de peso e medida (comprimento, superfície, volume e capacidade).
Relativamente ao conteúdo das duas primeiras partes do dicionário, algumas entradas não são, por
vezes, suficientemente precisas, contendo, sobretudo, alguns termos de tradução controversa.
Um deles, por exemplo, é o termo português «freguesia» que, quando aplicado à área de divisão
administrativa – pois também quer dizer «clientela», em espanhol e em português –, é frequentemente
traduzido por parroquia (termo que só se utiliza com este significado no Noroeste de Espanha,
nomeadamente na Galiza), feligresía e até há quem opte por omiti-lo; por exemplo: «Nasceu na
freguesia de Santo António dos Olivais, Concelho de Coimbra» é, por vezes, traduzido como «Nació en
Santo António dos Olivais, municipio de Coimbra». Este dicionário optou por oferecer uma explicação
do termo («división administrativa en un municipio, barrio o distrito; clientela»), sem propor um
equivalente espanhol.
Nas entradas e equivalências, nota-se a falta da indicação da categoria gramatical, do género e dos
campos e subcampos a que pertence o termo (Direito, Banca, Comércio Internacional, etc.) e muitas
entradas contêm a tradução mais óbvia que, por vezes, não é a mais adequada, sem fornecer qualquer
explicação adicional. É o caso de «funcionário», termo português que é frequentemente utilizado para
se referir a um «empregado» e que, para se distinguir do «funcionário do Estado» (que é o único
significado que tem em Espanha), deve ser acrescido do termo «público» («funcionário público»).
O preço do dicionário é de aproximadamente 43 euros. Pode ser encomendado a diversas livrarias e
editoras virtuais e, igualmente, à própria editora (cuja página da Internet é http://www.marcialpons.es),
que o enviará por correio pelo custo adicional de 5 euros de portes, se o destino for a Espanha.
119
Em conclusão, esta é a primeira obra do género, tanto em Espanha, como em Portugal, sendo, por
isso, uma obra obrigatória para todos os profissionais da tradução português-espanhol-português que
trabalham com textos jurídicos, económicos e comerciais de Portugal e Espanha. Esperamos que a obra
constitua uma base para outras investigações e outras publicações, mais exaustivas e completas, que
sejam úteis para o tradutor científico-técnico entre o português e o espanhol.
120
3.o COLÓQUIO ANUAL INTERNACIONAL DA LUSOFONIA
CHRYS CHRYSTELLO
Australia Council, University of Technology, Sydney; ACL - Association for Computational Linguistics
Entre os dias 21 e 23 de Outubro de 2004, Bragança acolheu a 3.a edição do Colóquio Anual Internacional
da Lusofonia, que teve como propósito:
a) Contribuir para a presença, difusão e consolidação da língua portuguesa, enriquecida pelas
línguas minoritárias que persistem em Trás-os-Montes e noutras regiões do país;
b) Explorar e analisar as questões da tradução como forma privilegiada de divulgação, expansão e
revitalização da língua portuguesa no mundo;
c) Analisar o ensino de português como língua materna e língua estrangeira (segunda).
Os Estudos de Tradução estiveram aqui presentes por três grandes motivos: o muito que está por
fazer neste campo, o desajustamento dos cursos de tradução e interpretação em relação ao mundo do
trabalho e as expectativas, muitas vezes irrealistas, dos nossos licenciados.
Do conjunto das intervenções, destacamos a de Maria d’Ajuda Alomba Ribeiro, que afirmou: «Quando
nos referimos ao bidirecionamento do ensino de português a hispanofalantes ou do espanhol para
falantes de português, seria de esperar que o alto índice de coincidências gramaticais favorecesse o
aprendizado. Todavia, a proximidade entre as duas línguas e a relativa facilidade têm propiciado um
dos maiores paradoxos da aprendizagem de línguas; se por um lado, a aquisição de uma L2 próxima à
L1 é facilitada pelo seu compartilhamento estrutural, por outro, essa aparente facilidade gera efeitos
prejudiciais no processo de aprendizagem, com a presença constante da interferência no processo de
produção e a possibilidade da fossilização dos erros ou equivocações. Com a experiência de ensinar
português para hispanofalantes em um contexto de não inmersão, observo que essa proximidade do
espanhol e do português permite que os falantes, tanto de português, como de espanhol, possam
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comunicar-se com relativa facilidade. Essa relativa facilidade cria a ilusão de que ele é razoavelmente
proficiente na língua-alvo e que, ressalvados os detalhes de acento, ele já “fala” a nossa língua. Esse
“falar a nossa língua”, entretanto, é inequívoco. Ao analisar o texto do aprendiz de português, seja na
modalidade oral ou escrita, observa-se diversas marcas de interferências lingüísticas do espanhol, o que
compromete o falar bem ou escrever bem. Assim, podemos dizer que os conectores argumentativos são
vias de acesso para que o aprendiz possa plantear um bom discurso escrito, já que esses conectores são
responsáveis para marcar o sentido da argumentação. Comprovamos essa hipótese analisando os usos
dos conectores argumentativos das composições dos hispanofalantes aprendentes de português fazendo
uma comparação do português com o espanhol, para explicar como se desenvolvem o processamento
cognitivo dos alunos e suas interferências geradas para construir a rede semântica do texto.»
A intervenção de Cecília Falcão, Cláudia Ferreira, Cláudia Martins, Fantina Pedrosa e Manuel Moreira da
Silva intitulou-se «Recursos para a Tradução Técnica e Científica em Língua Portuguesa: Um Dicionário
Terminológico em Geografia da População», dando conta das dificuldades com que os autores se
depararam para completarem este trabalho.
Por fim, um orador salientou, acerca da sua experiência profissional: «Confrontei-me inúmeras vezes
com a falta de consciencialização, a todos os níveis da comunidade, quer na Europa, quer na Austrália,
sobre o papel e as capacidades dos T&I profissionais. Na maior parte dos casos, o que mais choca é
depararmo-nos com pessoas não qualificadas a desempenharem um papel que só um profissional
qualificado deve desempenhar, tal como acontece na maior parte das profissões. A esses amadores
que impunemente se autodenominam tradutores e intérpretes devia ser dada a oportunidade de, num
certo contexto temporal, obterem as qualificações necessárias, sem as quais não poderiam exercer
livremente a profissão.
«Muita gente, ainda hoje, diz que trabalha como intérprete quando, na realidade, quer dizer que trabalha
com pessoas bilingues sem qualificações. Além de insultuoso para os profissionais, este aspecto é
responsável pela aleatoriedade dos preços que existem nos vários mercados. Para se evitar este estado
de coisas, seria necessário que os países constituíssem uma Comissão Nacional de Acreditação e
Reconhecimento de Qualificações, apoiada em legislação que limitasse o exercício da profissão aos
profissionais, sem os biscateiros que pululam por aí.»
Porque a Lusofonia tem um futuro brilhante à sua frente, como escreveu o emérito linguista anglófono,
Professor David Crystal — «O Português parece-me que tem um futuro forte, positivo e promissor,
garantido à partida pela sua população base de mais de 200 milhões e pela vasta variedade que
abrange, desde a formalidade parlamentar, até às origens de base do samba» — fica aqui a promessa da
realização de um novo Colóquio Anual Internacional da Lusofonia no próximo ano — um fórum no qual
se debate a diversidade da língua portuguesa e o seu lugar no mundo, nas suas múltiplas vertentes.
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DUAS ACÇÕES DE FORMAÇÃO: «SEMINÁRIO DE TERMINOLOGIA E TERMINOGRAFIA» E «A
TRADUÇÃO DE CONTEÚDOS PARA A INTERNET»
MANUELA PAIVA E ROSÁRIO DURÃO
Professora e Doutoranda; Tradutora e Doutoranda
Esta Primavera-Verão, decorreram em Lisboa duas acções de formação de curta duração que
interessam aos tradutores e estudantes de tradução, abrindo um precedente que esperamos venha a
ter continuidade.
A primeira, o «Seminário de Terminologia e Terminografia», leccionado pela Prof.a Doutora María
Teresa Cabré, da Universitat Pompeu Fabra (Barcelona), na Faculdade de Letras de Lisboa, foi uma
iniciativa que se enquadrou no Mestrado em Linguística Geral - Lexicologia e Lexicografia, sob a
responsabilidade do Professor Doutor Malaca Casteleiro. Destinada, originalmente, aos alunos deste
mestrado, foi aberta a participantes externos, devido ao interesse que o curso tinha para um número
alargado de profissionais.
O programa desenrolou-se em três módulos – de iniciação, nível intermédio e nível avançado. Neles,
a docente definiu conceitos (Terminologia, unidade terminológica, Terminografia...), apontou as
teorias, aplicações e modos de investigação em Terminologia e descreveu as relações da mesma com a
comunicação especializada, a normalização, a documentação, a Lexicografia e a Sociolinguística, entre
outros temas e subáreas.
O vínculo que liga a Tradução e a Terminologia, aflorado desde o primeiro dia, foi desenvolvido em
profundidade numa das doze sessões. Ao longo do seminário, Teresa Cabré falou da especificidade dos
glossários para tradutores, das fases de criação dos mesmos e, ainda, dos quatro níveis de envolvimento
do tradutor com a Terminologia: o tradutor passivo, mero utilizador dos recursos existentes; o tradutor
activo, que cria termos equivalentes, obedecendo às regras de formação de palavras da sua língua;
o tradutor especializado activo, uma espécie de terminólogo pontual, que propõe neologismos,
atendendo às regras lexicais, não só da sua língua, mas também da sua especialidade; e, por fim,
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o terminólogo-tradutor especializado, que publica os resultados do seu trabalho, armazenado na
memória de tradução do computador, na forma de glossário(s).
Foram doze sessões de um raro dinamismo científico e pedagógico, em que as palavras de ordem foram
o entusiasmo e a «aprendizagem» efectiva.
Igualmente dinâmico foi o curso de verão presencial, «A Tradução de Conteúdos para a Internet»,
ministrado pelo Prof. Doutor Oscar Diaz Fouces, da Universidade de Vigo, na Universidade Aberta, por
iniciativa do Prof. Doutor Carlos Castilho Pais.
Destinado, especificamente, a tradutores, nele se abordaram e aplicaram (com o inestimável apoio
informático dos Mestres Engenheiros José Coelho e Gracinda Carvalho) os fundamentos da localização
de páginas da Internet que o docente propõe no artigo que neste número se publica (v. «A Localização
de Páginas da Internet na Formação de Tradutores»).
O entusiasmo demonstrado pelos participantes (bem como o desconhecimento que revelaram dos
«reveses» dos hipertextos e sua tradução) espelha bem a oportunidade deste breve curso e a necessidade
de as instituições de ensino superior fazerem uma aposta séria nas acções de formação vocacionadas
para a aquisição dos conhecimentos e, acima de tudo, das competências que todos os tradutores/
localizadores/intérpretes dos nossos dias precisam – como a Universidade Aberta parece desejar fazer
ao integrar este curso num projecto a longo prazo apelidado «A Tradução na Universidade Aberta.»
Duas observações apenas, a título de conclusão. Que o ímpeto do qual participámos se prolongue em
acções de formação vocacionadas exclusivamente para os profissionais e estudiosos da tradução (um
«Seminário de Tradução e Terminologia», por exemplo) e em cursos cuja curta duração seja longa que
baste para a efectiva consolidação dos conhecimentos e das competências aprendidas.
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ENTREGA DO PRÉMIO DE TRADUÇÃO CIENTÍFICA E TÉCNICA EM LÍNGUA PORTUGUESA - 2004
MANUELA PAIVA
Professora e Doutoranda
Decorreu no dia 15 de Novembro de 2004, no Auditório do Instituto Franco-Português, em Lisboa, a
entrega do Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa – 2004, patrocionado pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia e União Latina.
Este ano, foram atribuídas Menções Honrosas às traduções das obras Estudos de Tradução, de Susan
Bassnett, traduzida por Vivina de Campos Figueiredo, Diferença entre os Sistemas Filosóficos de Fichte
e de Schelling, de G. W. F. Hegel, traduzida por Carlos Morujão, e O Conceito de Tempo, de Martin
Heidegger, traduzido por Irene Borges-Duarte.
E o Prémio ex aequo às obras Mais Rápido Que a Luz, de João Magueijo, traduzida por Paulo Ivo
Teixeira, e Constituição dos Atenienses, de Aristóteles, traduzido por Delfim Ferreira Leão.
O VII Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa - 2004, subordinado ao tema
«Tradução e Interculturalismo» levou àquele auditório uma assistência maioritariamente jovem, mas
bastante interessada nos assuntos que iam sendo apresentados ao longo das várias sessões.
Maeve Olohan, da Universidade de Manchester, abriu o Seminário com a conferência «Research Issues
in Non-Literary Translation», começando por delimitar, definir e sublinhar as diferenças da tradução
não literária por oposição à tradução literária.
Ao longo do dia, foram-se ouvindo relatos de experiências, descrições de projectos em curso, em
diferentes áreas, e foram ainda apresentados resultados da actividade de investigação nos Estudos de
Tradução. Foram ricas no conteúdo as diferentes sessões, todas elas de grande interesse para os ainda
aprendentes (que, afinal, somos todos nós), estudiosos, investigadores, professores e tradutores.
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A jornada de trabalho terminou com a comunicação de Federico Zanettin, da Università per Stranieri di
Perugia, «Comics in Translation Studies: An Overview and Suggestions for Research.»
Só nos resta esperar as próximas jornadas...
126
VI SEMINÁRIO DE TRADUÇÃO CIENTÍFICA E TÉCNICA EM LÍNGUA PORTUGUESA
ÂNGELA RODRIGUES
Tradutora
Nos dias 10 e 11 de Novembro de 2003, decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a 6.a
edição do Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, organizado pela Fundação
para a Ciência e Tecnologia e a União Latina. O tema deste ano foi «A Profissionalização do Tradutor.»
Os laureados com o Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, cujo objectivo é
promover a língua portuguesa como língua de comunicação nos campos científico e técnico, foram, ex
aequo, Irene Borges-Duarte, Filipa Pedroso, Alexandre Franco de Sá, Hélder Lourenço, Bernhard Sylla,
Vítor Moura e João Constâncio, pela tradução da obra de Martin Heidegger, Caminhos de Floresta, e
J. R. Guedes de Carvalho, pela versão de Mecânica dos Fluidos, de B. S. Massey. As Menções Honrosas
couberam a: Maria José Miranda e Maria João Afonso pela tradução de Evolução da Psicologia
Diferencial, de Maurice Reuchlin; José Nunes de Almeida, pela versão do Manual de Diagnóstico e
Estatística das Perturbações Mentais, da American Psychiatric Association; e Paulo Ivo Teixeira, pela
tradução de O Universo numa Casca de Noz, de Stephen Hawking.
Deste seminário, onde se falou da profissão, formação e das ligações entre as mesmas, destacaria alguns
momentos. Do ponto de vista da formação, Roberto Mayoral Asensio, da Universidade de Granada,
a dizer que o processo de Bolonha requer uma formação vocacionada para a auto-aprendizagem e
para a adequação dos currículos ao perfil dos estudantes. Martin Forstner, da CIUTI – Conférence
Internationale d’Instituts Universitaires de Traducteurs et Interprètes, a recordar que o apelo do
Espaço Europeu do Ensino Superior à qualidade envolve uma interacção maior entre o consumidor
(governos, ministérios, estudantes e empregadores) e o produtor (académicos e a relação entre ensino
e investigação) e que ambos estes factores devem ser contemplados, tanto na criação dos cursos de
tradução que, recorda, são «Estudos de Tradução “aplicados”», como na sua acreditação. Hannelore Lee-
Jahnke, da Fédération Internationale des Traducteurs, a referir a necessidade de um diálogo constante
entre os agentes profissionais e os académicos, pois só partindo do conhecimento das necessidades do
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mercado de trabalho se poderá traçar o perfil dos tradutores e intérpretes e as qualificações que os seus
formadores devem possuir. Francisco José Magalhães, da APT – Associação Portuguesa de Tradutores,
a lembrar que a dupla formação dos formadores (no âmbito da prática e da didáctica da tradução)
completa-se com um ensino vocacionado para a inserção profissional dos estudantes. Jacques Pélage,
da ESIT Sorbonne – École Supérieure d’Interprètes et de Traducteurs de l’Université de la Sorbonne
Nouvelle Paris III, a defender a aquisição de «conhecimentos científicos pertinentes» (conhecimentos
técnicos que sejam suficientes para um estudante de tradução compreender um texto técnico e que
sejam, também, suficientemente gerais para serem transpostos para outras áreas científicas) numa
formação organizada por grandes blocos de conhecimentos especializados, como, por exemplo,
Ciências Exactas para tradutores de Engenharia. E Pedro Coral Costa, do ISLA – Instituto Superior de
Línguas e Administração, a salientar os conhecimentos e as competências que se devem desenvolver
nos estudantes de tradução jurídica, tais como o domínio dos conceitos e dos termos, o conhecimento
das áreas básicas do Direito e as técnicas de redacção jurídica.
Relacionado com a profissão, Francisco Noronha, da Johnson & Johnson Produtos Profissionais,
defendeu duas ideias: em primeiro lugar, a do «tradutor-parceiro» do cliente/empregador, pois só assim
é possível assegurar a consistência terminológica e que cada tradutor domine perfeitamente a matéria;
em segundo lugar, a de que um trabalho de excelência apenas se consegue quando o profissional é
bem remunerado. Dalila Rosales apresentou a visão que a Oracle tem de um «TRADUTOR»: Trabalho
em equipa; Rigoroso; cApacidade crítica; capacidade de aDaptação; estUdioso; gesTor de projectos;
Objectivos; e feRramentas. João Ruivo, da HCR – Informática e Traduções, L.da, referiu o projecto CATI
– Controlled Authoring and Translation over the Internet como um exemplo de linguagem controlada
(terminologia normalizada, núcleo restrito de vocabulário e conjunto restrito de regras gramaticais
e de estilo) aplicada à indústria, à semelhança de outras memórias de linguagem simplificada que já
existem para os sectores do equipamento médico, Engenharia Mecânica e Engenharia Informática.
Graça Vicente, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, falou do
Projecto Tradaut-pt, chamando a atenção para os cuidados a ter na tradução automática. Anthony
Pym, da Universidade de Tarragona, defendeu uma nova ética para o tradutor e/ou o redactor, a qual
envolve a responsabilidade da equipa e o envolvimento em todos os processos de mediação cultural, da
terminologia à gestão de projectos ou tecnologia. Fátima Castanheira, presidente da APET – Associação
Portuguesa de Empresas de Tradução, referiu-se à criação de uma nova norma europeia de tradução, que
deverá estar concluída no final de 2004. Por fim, Bernardo Jerosch Herold, do Instituto Superior Técnico,
recordou como as traduções das grandes obras de referência feitas pelos especialistas das disciplinas,
que são, geralmente, professores universitários, são importantes fontes lexicais e conceptuais para os
tradutores profissionais por incluírem termos que só muito posteriormente constam dos dicionários.
A área temática eleita deste seminário foi o Direito. Isabel Feijó, presidente da APIC – Associação
Portuguesa de Intérpretes de Conferência, falou da criação de um diploma que regulamenta as
actividades do tradutor e intérprete ajuramentado como forma de resolver as condições precárias de
trabalho dos tradutores e intérpretes nos tribunais portugueses. Mariana Graça Gouveia, do Ministério
da Justiça, expôs que a certificação das traduções em Portugal atesta apenas o juramento do tradutor
em como a tradução é fiel, e não a fidelidade da tradução em si. Por último, Victor Pereira, da APET
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– Associação Portuguesa de Empresas de Tradução, mencionou a relativa ausência de uniformidade nos
países europeus quanto à tradução ajuramentada.
Em suma, foi um evento que contribuiu bastante para a percepção das necessidades e perspectivas
reservadas aos tradutores e aos aprendentes de tradução no nosso país, perspectivados num quadro
europeu e até mesmo global.
129
NOTAS SOBRE OS AUTORES
André Antunes Soares de Camargo
Advogado e professor de Direito em São Paulo, formado na Faculdade de Direito da Universidade
Mackenzie e com título de LL.M. em Direito Societário e Contratual pela Universidade da Califórnia,
Davis, EUA, André Antunes Soares de Camargo ministra aulas nos cursos de pós-graduação em Direito
do IbmecLAW/SP e na UNIP/SP. Coordena as turmas de LL.M. em «Direito Societário» do IbmecLAW/SP
e atua também como tradutor de textos jurídicos, contábeis e financeiros para diversos clientes e
instituições.
Endereço eletrônico: [email protected]
Telefone: (55) (11) 9626-1089.
Ana Hermida Ruibal
Licenciada em Tradução e Interpretação pela Universidade de Vigo (Galiza, Espanha) e doutoranda
em Tradução e Linguística na mesma universidade, Ana Hermida Ruibal é tradutora/intérprete
ajuramentada (Galego-Inglês-Galego). Fundou em 1998 a empresa Sintraweb, L.da (Portugal), de que é
sócia e directora do serviço de tradução. Já leccionou «Tradução Português-Espanhol» na Faculdade de
Letras da Universidade Clássica de Lisboa e «Língua Portuguesa» na Faculdade de Filologia e Tradução
da Universidade de Vigo.
Página da Internet: http://www.anahermida.com
Ana Julia Perrotti-Garcia
Cursando a Especialização Longa em Tradução, USP–SP Citrat; Proficiency em Inglês – Universidade
de Cambridge, Inglaterra; Letras Tradutor-Intérprete, UniFMU, Ana Julia Perrotti-Garcia é graduada
em Odontologia pela Faculdade de Odontologia da USP. Traduziu mais de 20 grandes livros técnicos
para reconhecidas editoras brasileiras e internacionais. Títulos publicados: Dicionário Inglês Português
de Termos Odontológicos, atualmente na 3.a edição; Grande Dicionário Ilustrado Inglês–Português de
Termos Odontológicos e de Especialidades Médicas (30 mil verbetes); Vocabulário para Odontologia,
Editora SBS; Vocabulário para Ortodontia & Ortopedia Funcional dos Maxilares, Editora SBS. Atualmente,
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além de ministrar palestras e cursos em diversas entidades, faculdades e centros de idiomas, é assessora
do Conselho Editorial de uma grande editora brasileira.
Endereço electrônico: [email protected]
Página da Internet: http://www.benvindos.com.br/drajulia
Ângela Rodrigues
Licenciada em Tradutores e Intérpretes pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias,
Ângela Rodrigues é tradutora independente, sobretudo na especialidade de Radiologia.
Chrys Chrystello
J. Chrys Chrystello interessou-se pela linguística ao ser confrontado com mais de 30 dialectos em Timor
e descobriu provas da chegada dos portugueses à Austrália cerca de 250 anos antes do capitão Cook
(1521-1525), bem como da existência de tribos aborígenes que falavam um crioulo português, herdado
de quatro séculos antes.
Membro Fundador do AUSIT (Australian Institute for Translators and Interpreters) e Examinador da
NAATI (National Accreditation Authority for Translators and Interpreters) desde os anos 80, publicou
a monografia Crónicas Austrais 1976-1996, em 1998, o ensaio político, «Dossier Timor-Leste 1973-
1975», em 1999, e acabou um novo volume sobre Timor: A Historiografia de um Repórter 1985-1992.
Actualmente, continua a ser assessor de Literatura Portuguesa do Australia Council, na UTS (University
of Technology, Sydney), e é mentor dos finalistas de Literatura da ACL (Association for Computational
Linguistics) para o Information Technology Research Institute, University of Brighton, no Reino Unido.
Organiza, desde 2001, os Colóquios Anuais da Lusofonia, que tiveram como patrono o Embaixador José
Augusto Seabra.
Correio electrónico: [email protected]; [email protected]
Página da Internet: http://oz.com.sapo.pt
Hermínio DR
Professor Catedrático de Engenharia Sistémica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
Nova de Lisboa, Hermínio DR pertence à Comissão de Terminologa da Comissão Electrotécnica
Internacional há 15 anos. Traduziu dois livros de electrónica de inglês para português para a McGraw-
Hill, tendo recebido o 1.o prémio de tradução científica e técnica União Latina / JNICT, em 1993, com
a primeira dessas obras. Publicou cerca de meia centena de artigos sobre linguagens específicas e
semânticas electrotécnicas, além da participação activa em várias conferências e seminários.
Ida Rebelo
Doutoranda em Estudos da Linguagem na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
Departamento de Letras, Centro de Estudos da Linguagem, e Mestre em Linguística, pela Faculdade de
Letras da Universidade Clássica de Lisboa, Ida Rebelo é professora agregada com vínculo extraordinário
no Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, desde Fevereiro,
2001, e professora do curso «Ensino de Português para falantes de Espanhol», do Programa de pós-
graduação Latu Sensu (Especialização) em Letras da PUC - Rio de Janeiro. É membro do Conselho
Consultivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.
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Jacques Vissoky
Mestre em Biociências e especialista em Traumatologia e Ortopedia, Pronto Atendimento Cruzeiro
do Sul, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, Jacques Vissoky é tradutor de
dezenas de livros da área médica e ganhador do Prêmio União Latina de Tradução Científica e Técnica
2003 pela tradução da obra Princípios AO do Tratamento de Fraturas, de Thomas W. Rüedi e W. M.
Murphy.
Jacques Pélage
Agé de 67 ans, Jacques Pélage a pris sa retraite de salarié, mais demeure chercheur-formateur.
Démarche sur deux axes : langues et droit, sur socle de culture hispanique.
Faculté des Lettres (Sorbonne) : passion de la linguistique romane. E.S.I.T. : découverte de la traduction
technique. Faculté de Droit de Paris : contrats et droit comparé comme spécialités. Synthèse dans une
thèse de doctorat.
Secteur de la coopération internationale (35 ans) : traduction, organisation de formations, conseil
en droit et en ressources humaines. Parallèlement, enseignement universitaire (23 ans) : Sorbonne
Nouvelle (E.S.I.T.), Paris X (Droit), I.S.I.T. Conférences et publications sur la traduction juridique, en
France et à l’étranger.
Jacques Pélage, de 67 anos, é reformado mas continua a leccionar e fazer investigação sobre línguas e
Direito. De origem francesa, sempre se interessou pela cultura hispânica.
Estudou Linguística Românica na Faculdade de Letras (Sorbonne) e Estudos de Tradução na ESIT, onde
se apaixonou pela tradução técnica. Na Faculdade de Direito de Paris, especializou-se em contratos e
Direito Comparado, temas que desenvolveu na sua tese de doutoramento.
Ao longo de 35 anos, trabalhou na área da Cooperação Internacional como tradutor, coordenador de
actividades de formação e consultor em Direito e Recursos Humanos. Simultaneamente, leccionou,
durante 23 anos, na ESIT (Sorbonne Nouvelle), Faculdade de Letras da Universidade de Paris X e ISIT.
Jacques Pélage tem inúmeras publicações sobre tradução jurídica, tendo sido convidado, regularmente,
para participar em conferências em França e noutros países.
Though officially retired, Jacques Pélage, 67, continues to work as a researcher and educator. His
native language and culture are French, his life-long interest is Spanish-speaking cultures, and his
professional activities have long focused on languages and law.
Jacques Pélage began his university studies by enrolling in the Sorbonne faculty of letters and ESIT for
courses in romance linguistics and translation studies, respectively. At ESIT, he discovered the world of
technical translation. Jacques went on the Paris law school (Faculté de Droit de Paris) to specialize in
contract and comparative law, in which he later completed a PhD.
Jacques Pélage spent some 35 years working in international cooperation as a translator, training
course organizer and adviser on legal matters and human resources. During much of this time (23
years) he also taught at ESIT/Sorbonne Nouvelle, Paris X (faculty of law) and Paris-based translation
school ISIT. Over the years, Jacques has published a number of papers on legal translation and been a
regular speaker at conferences in France and other countries.
132
Jorge Cruz
Licenciado em Medicina (1992), especialista em Cirurgia Vascular (2001) e Mestre em Bioética e Ética Médica
pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (2004), Jorge Cruz integra o quadro de tradutores
da ONG inglesa, Tear Fund, desde 1994. É revisor (referee) do European Journal of Vascular & Endovascular
Surgery, desde 2001. É autor de Morte Cerebral: Do Conceito à Ética (Climepsi Editores, 2004).
Maria João B. Reis
Licenciada em Estudos Germanísticos pela Universidade de Lisboa, tirou vários cursos de formação
na área da Tradução. Foi correspondente em Línguas Estrangeiras na Petrogal, entre 1980 e 1988, e
técnica e tradutora em Estudos de Mercado, entre 1988 e 1993. É tradutora independente em Estudos
de Mercado, Ciências Sociais e Humanas, divulgação científica e audiovisuais.
Maria José Figueiredo
Nascida a 15 de Abril de 1963, em Moçambique, Maria José Figueiredo é Licenciada, Mestre e Doutora
em Filosofia pela Universidade de Lisboa. É docente de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa (1988-1999 e desde 2004/05). Desde 1999, é tradutora independente em Filosofia, Ciências
Humanas, biografia, ficção e audiovisuais.
Manuela Paiva
Licenciada em Filologia Românica, concluiu o mestrado em Relações Interculturais em 2002. É,
actualmente, doutoranda na especialidade científica de Estudos de Tradução na Universidade Aberta
de Lisboa. É professora efectiva do ensino secundário desde 1982. Esteve em Macau entre 1987 e
2004, onde leccionou «Português Língua Estrangeira» em diversas instituições de ensino superior. Foi
directora da Escola de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau até 1999, tendo sido,
posteriormente, coordenadora do ensino de Português Língua Estrangeira e do Curso de Tradução e
Interpretação no mesmo Instituto (1999 a 2001). É autora de Encontros e Desencontros da Coexistência:
O Papel do Intérprete-Tradutor na Sociedade de Macau (Livros do Oriente, 2004).
Correio electrónico: [email protected]
Oscar Diaz Fouces
Licenciado e Doutor pela Universidade de Barcelona (Catalunha), Oscar Diaz Fouces é professor da
Licenciatura em Tradução e Interpretação e do Programa de Doutoramento em Tradução e Linguística,
da Universidade de Vigo (Galiza). É co-editor da série Traducción & Comunicación (Vigo: Universidade
de Vigo, vols. 1 a 4) e autor da monografia Didáctica de la Traducción (Português-Espanhol) (Vigo:
Universidade de Vigo, 1999) e de diversos artigos em publicações especializadas e comunicações em
congressos, nomeadamente nas áreas da Tradução e da Planificação Linguística.
Correio electrónico: [email protected]
Rosário Durão
Doutoranda em Estudos de Tradução (especialidade científica de Didáctica da Tradução) na Universidade
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Aberta, em Lisboa, e Mestre em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa, Rosário Durão foi correspondente em Línguas Estrangeiras na empresa Construções
Metalomecânicas Mague, SA., entre 1979 e 1987, tendo efectuado trabalhos de tradução desde
essa data. Exerceu funções docentes nas áreas dos Estudos Anglo-Americanos (língua e culturas) e
Estudos de Tradução (prática da tradução do inglês-português) e concebeu e organizou cursos de pós-
graduação e mestrado em tradução Técnica e Científica, Ciências da Saúde, Audiovisuais e Ciências
Sociais e Humanas na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, com a colaboração do
Prof. Doutor Francisco José Magalhães.
Correio electrónico: [email protected]
Vicky Hartnack
Vicky Hartnak is a freelance translator and teacher in the English Studies Department, Faculty of
Letters, Lisbon University. MA in English Culture and Linguistics, Diploma in Analytical Chemistry
and Certificate in Psychology. Leitora of English and teacher of technical translation methodology
in financial, economic and business language at Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Simultaneous interpreter and translator from Portuguese to English. Free-lance published translations
in the arts, history and economy, development and labour. Specialised in-company translation work in
science and medicine, legal texts, accounting and finance, architecture and education.
Tradutora independente e docente do Departamento de Estudos Anglísticos da Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa, Vicky Hartnack é Mestre em Cultura e Linguística Inglesa, diplomada em
Química Analítica e detentora de um certificado em Psicologia. Leitora de Língua Inglesa e docente de
Métodos de Tradução Técnica (Finanças, Economia e Gestão) na Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa, é também intérprete simultânea e tradutora de português-inglês. Tem publicadas traduções
sobre Arte, História, Economia, Desenvolvimento e Trabalho. Traduz em Ciência, Medicina, Direito,
Contabilidade e Finanças, Arquitectura e Educação numa empresa de tradução.
one.
or).
Concepção Gráfica e Montagem. São Carvalho e Sofia Bob
Imagem da Capa. Tela de Isabel Teixeira de Sousa (pormen
ISSN 1645-9350