Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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A CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica é uma revista independente e transdisciplinar que tem por objectivo reunir estudiosos, tradutores, especialistas, clientes e outros profissionais que trabalham com a tradução nas áreas das Ciências Exactas e Naturais, Engenharias e Tecnologias, Ciências da Saúde, Ciências Jurídicas, Economia e Localização de e para a língua portuguesa em toda a sua diversidade.

A CONFLUÊNCIAS é uma publicação em formato electrónico, de acesso livre e gratuito.

COLABORADORES.

Comissão de Redacção.

Ana Hermida Ruibal (Portugal) Edite Prada (Portugal) Eliene Zlatkin (Brasil) Ida Rebelo (Brasil) Isabel Coutinho Monteiro (Portugal) Steve Dyson (Portugal) Vicky Hartnack (Portugal)

Comissão Científica.

Amparo Hurtado Albir (Espanha) Ana Julia Perrotti-Garcia (Brasil) André Antunes Soares de Camargo (Brasil) Antonio Augusto Gorni (Brasil) Artur Portela (Portugal) Carlos Castilho Pais (Portugal) Christianne Nord (Alemanha) Conceição Carvalho (Macau) Diva Cardoso de Camargo (Brasil) Eduardo Lopes d’Oliveira (Portugal) Enilde Faulstich (Brasil) Fernando A. Navarro (Espanha) Fernando Ferreira-Alves (Portugal) Francisco José Magalhães (Portugal) Heloisa Gonçalves Barbosa (Brasil) Hermínio Duarte-Ramos (Portugal) Jacques Pélage (França) Jacques Vissoky (Brasil) João Roque Dias (Portugal) Jorge Cruz (Portugal) José Antonio Sabio Pinilla (Espanha) Manuel Gomes da Torre (Portugal) Margarita Correia (Portugal) M.ª Manuela Fernández Sánchez (Espanha) M. Teresa Cabré (Espanha) Oscar Diaz Fouces (Espanha) Pedro Coral Costa (Portugal) Ricardo Muñoz Martín (Espanha) Rodolfo Alpízar Castillo (Cuba) Rute Costa (Portugal) Sonia Collina (Estados Unidos da América) Steve Dyson (Portugal) Virgínia Matos (Portugal) Vivina Figueiredo (Portugal)

FICHA TÉCNICA.

Directora. Rosário Durão. Directora-Adjunta. Manuela Paiva. Assessora. Isabel Nogueira.

Periodicidade. Semestral (Maio e Novembro).

Entidade Proprietária e Editor. Maria do Rosário Frade Durão.

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Morada e Sede de Redacção. Rua Jorge Colaço, 35, 4.º Esq. – 1700-252 Lisboa – Portugal.

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Página da Internet. <www.confluencias.net>.

Correio-e. [email protected].

ISSN. 1645-9350.

© CONFLUÊNC AS – Revista de Tradução Científica e Técnica. I

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Editorial 3Cartas à CONFLUÊNCIAS 6Artigos e ComunicaçõesTradução e Localização Jacques PELAGE Les défis de la traduction juridique 8 Oscar DIAZ FOUCES A Localização de Páginas da Internet na Formação de Tradutores 16 Vicky HARTNACK Short Terms, Long Search: Trying to Make Sense of Abbreviations 53

Terminologia e Lexicologia Ana Julia PERROTTI-GARCIA Reflexões sobre as Qualidades de Um Bom Glossário Técnico: Limites e Limitações 68 Ida REBELO Léxico, Regras e Idiossincrasias 77

Entrevista Entrevista a Jacques VISSOKY. Médico-Tradutor Brasileiro 88

Notas e Apontamentos Maria João B. REIS Traduzindo Fitness na Teoria da Complexidade 93 Maria José FIGUEIREDO Uma Dificuldade de Tradução Filosófica 95 Rosário DURÃO Temos Uma Disciplina 97

Glossários André Antunes Soares de CAMARGO Vocabulário Jurídico do Direito de Empresa no Novo Código Civil Brasileiro 99 Hermínio DR Confluência Polissémica na Terminologia Gráfica 105

Recensões Críticas e Resumos de Teses e Dissertações Jorge CRUZ Medicina e Farmácia em 11 Línguas 115 Ana Hermida RUIBAL Diccionario español-portugués/português-espanhol de términos comerciales, económicos y jurídicos 117

Relatórios de Eventos e Actividades Chrys CHRYSTELLO «3.o Colóquio Anual Internacional da Lusofonia» 120 Rosário DURÃO E Manuela PAIVA Duas Acções de Formação: «Seminário de Terminologia e Terminografia» e «A Localização de Páginas da Internet» 122 Manuela PAIVA «Entrega do Prémio de Tradução Científica e Técnica – 2004» 124 Ângela RODRIGUES «VI Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa» 126

Notas sobre os Autores 129

Í N D I C E

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Iniciamos aqui uma nova proposta editorial.

Um espaço de CONFLUÊNCIAS.

Um fórum de todos os agentes do universo da tradução – académicos, tradutores, clientes,

especialistas...

Um veículo de saberes e experiências da tradução – científica, técnica, tecnológica...

Um lugar em português e outras línguas sobre a tradução de e para a língua portuguesa – de Portugal,

do Brasil e de todos os outros países ou territórios onde se traduz de português ou para português ...

Um sítio de reflexão, diálogo, incentivo – de todos nós, para todos nós...

Estas são as grandes orientações da CONFLUÊNCIAS – Revista de Tradução Científica e Técnica,

publicação que acompanha o esboço de uma tendência para se falar da tradução especializada e para

se criarem conteúdos sobre tradução especializada, fazendo-o, singularmente, do ponto de vista da

língua portuguesa.

O contexto não podia ser melhor. Um mundo onde tudo adquire contornos globais torna o conhecimento

e a sua transmissão em todas as línguas e entre todas as línguas a matéria-prima mais valiosa. Aumentam

as exigências aos tradutores, aos formadores, aos investigadores. Diversifica-se o entendimento e

a prática da tradução. Começa-se a normalizar a profissão. Melhora-se a formação dos tradutores,

abrindo-a às realidades profissionais. Investiga-se a tradução em todas as suas dimensões.

São numerosas, pois, as oportunidades que se nos apresentam. Por isso, dedicámos este número

1 da semestral CONFLUÊNCIAS ao tema «Desafios e Perspectivas da Tradução Científica e

Técnica».

E, de facto, os artigos que nela publicamos espelham bem a latitude dos mesmos. Jacques Pélage

situa os desafios da tradução jurídica ao nível do conceito, dos tradutores e das situações que a

envolvem, apontando-lhe boas, mas variáveis, perspectivas.

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Para Oscar Diaz Fouces, a localização é uma das melhores expressões de um novo momento histórico,

sendo o conhecimento e ensino da tradução de páginas da Internet um grande desafio das instituições

de ensino superior e, naturalmente, uma excelente oportunidade para as novas gerações que desejam

fazer da tradução um meio de vida.

Já Vicky Hartnack mostra como a tradução de siglas, acrónimos e abreviaturas em textos económicos

e financeiros escritos em português é um desafio constante para os tradutores, devido a fenómenos

como o empréstimo de designações estrangeiras ou a coexistência com outras equivalentes na nossa

língua, apontando diversas estratégias para a sua resolução.

E porque a relação entre a Tradução, a Terminologia e a Lexicologia é estreita, publicamos os artigos de

Ana Julia Perrotti-Garcia, que enumera as características dos bons glossários, que tão necessários

são aos tradutores de Ciências e Tecnologias, e de Ida Rebelo, que transporta para a criação de novas

palavras o processo de decisão que atravessa todo o acto de traduzir.

E como a CONFLUÊNCIAS se propôs, ela mesma, o desafio – talvez o mais arriscado – de congregar

muitas vozes nas suas páginas, destacamos o percurso que levou o médico Jacques Vissoky à

tradução de Medicina e o seu convite implícito para que a formação de tradutores contemple, mais

amiúde, esta área do conhecimento.

Sublinhamos também os apontamentos de Maria João B. Reis e Maria José Figueiredo, que dão

conta da utilidade de material de referência numa terceira língua e de quanto a tradução de Filosofia

se aproxima do rigor, tradicionalmente associado às Ciências e Tecnologias.

Chamamos, ainda, a atenção para os glossários que ora se publicam, um no âmbito do Direito, o outro

sobre Terminologia Gráfica, dos nossos colaboradores André Antunes Soares de Camargo e

Hermínio DR.

E porque a divulgação do que se vai escrevendo e realizando em torno da tradução é a melhor forma

de a consolidar e aprofundar, publicamos aqui recensões a dois dicionários e relatos de alguns eventos

e acções de formação.

Não menos importante para o florescer de uma área do conhecimento e da experiência prática é o

diálogo crítico em seu redor. Este foi o motivo da secção «Cartas à CONFLUÊNCIAS», que, neste

número inaugural, contém os comentários de alguns dos nossos colaboradores à ideia da revista, mas

que esperamos venha a tornar-se um espaço onde as reacções e contributos dos nossos leitores aos

conteúdos da revista tenham um lugar cativo.

O objectivo principal deste número 1 foi, pois, contribuir para lançar o debate sobre a tradução científica

e técnica, especialmente de e para a língua portuguesa. A sua continuidade depende de todos nós.

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Não gostaríamos de concluir este editorial sem agradecer às pessoas que tão amavelmente se

disponibilizaram a escrever para a revista, e a todas as que têm ajudado a tornar a CONFLUÊNCIAS

– Revista de Tradução Científica e Técnica um nome conhecido de alguns.

Um agradecimento muito especial à extraordinária equipa editorial, particularmente ao Prof. Doutor

Francisco José Magalhães, pela amizade e apoio constante, e ao Prof. Doutor Carlos Castilho Pais, pelo

seu optimismo e exemplo de dinamismo. À União Latina também, nas pessoas da Dr.a Maria Renée

Gomes e do Dr. Daniel Prado, o nosso muito obrigada pelo valioso contributo que deram, alojando as

nossas páginas no seu sítio durante os seus primeiros meses de vida.

Por um futuro auspicioso, feito de muitas vozes e de muitos universos...

ROSÁRIO DURÃO

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Congratulo-me com a iniciativa que, amavelmente,

traz ao meu conhecimento. O panorama das

publicações na área da tradução técnica é, como

sabe, paupérrimo. Uma iniciativa editorial desta

natureza reveste-se, pois, do maior interesse. [...]

tenho de me confessar deliciada com a ideia da

Revista.

Virgínia MatosTradutora independente de Biologia, Biotecnologia e Medicina

Antes de mais, saúdo a sua iniciativa para criar

uma revista que acolha opiniões sobre a tradução

em Portugal. De facto, durante muito tempo, foi

negado à tradução (tanto ao seu ensino como à

sua prática) o estatuto de disciplina académica. Os

(órgãos) universitários olhavam com suspeita para

uma actividade que, bem vistas as coisas, estava

na base dos conhecimentos que lhes chegavam

quando gerados em línguas estranhas e aos quais

nunca teriam acesso se a tradução não tivesse

intervindo. Depois, quando as universidades e

outras instituições de ensino superior começaram

a investir na formação de tradutores, foram os

tradutores praticantes, na maior parte dos casos

sem preparação específica, que viam mal aqueles

que iam saindo das escolas com uma formação

(necessariamente básica) em tradução. Suponho

que esta segunda dificuldade ainda não foi

totalmente ultrapassada devido à existência de

um inaceitável corporativismo retrógrado.

Serve este arrazoado para lhe dizer que o

surgimento de uma revista que divulgue o que se

vai fazendo em tradução é algo para festejar.

Manuel Gomes da TorreProfessor CatedráticoFundador do primeiro curso de Licenciatura em Tradução em instituições portuguesas de ensino superior, fundador e criador do Mestrado em Estudos de Tradução

De fato, infelizmente muito pouco foi feito

na área de traduções técnicas para a língua

portuguesa. No Brasil, lamentavelmente, isso vem

sendo «resolvido» com a incorporação de termos

técnicos estrangeiros à língua, já que falta um

mecanismo de padronização de ampla aceitação.

Isso ocorre inclusive com termos de amplo uso,

como os da área de informática. Daí a importância

desta iniciativa...

António Augusto GorniEngenheiro de Materiais e editor-técnico da revista Plástico Industrial, professor no Departamento de Metalurgia da UniFEI-Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana

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Enviar correspondência para:

[email protected]

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As publicações sobre tradução em língua

portuguesa – quase sempre tratam de tradução

literária e realmente há muito que investigar

em Portugal sobre as traduções não-literárias

para poderem/podermos formar melhor os

futuros tradutores licenciados e termos,

consequentemente, traduções de melhor

qualidade em Portugal.

Ana Hermida RuibalTradutora independente e doutoranda em Tradução e Linguística.

Sim, li o blurb e, de facto, acho o projecto

interessante e inovador. [...] É a responsabilidade

de todos nós fazermos sair uma publicação de

qualidade.

Vicky HartnackTradutora e Docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Como director de Panace@: Revista de Medicina

y Traducción, ya en su quinto año y con 16

números publicados, me apresuro a enviar os mis

mejores deseos de éxito. Además de publicaciones

hermanas por su contenido, Panace@ y

CONFLUÊNCIAS son también hermanas de origen,

pues escribo desde suelo ibérico.

Fernando NavarroMédico-Tradutor e Director da revista Panace@

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LES DÉFIS DE LA TRADUCTION JURIDIQUE

JACQUES PELAGE

Chercheur-formateur

Résumé d’Article:

La traduction juridique est un défi pour le traducteur, d’une part, parce qu’il s’agit d’une notion aux

frontières incertaines, d’autre part, parce que le contenu et le niveau des connaissances requises

doivent répondre à des besoins divers, et, enfin, parce que les perspectives qui s’offrent aux traducteurs

juridiques sont réelles mais doivent être appréciées en fonction de diverses situations. Les textes

juridiques sont des normes ou des discours sur les normes. Or celles-ci peuvent s’appliquer à des

domaines autres que le droit. La notion de texte juridique est donc marquée du sceau de la relativité,

ce qui a une incidence sur le contenu et le niveau des connaissances nécessaires au traducteur.

Une connaissance des disciplines juridiques est nécessaire au traducteur juridique occasionnel, au

traducteur juridique spécialisé et au traducteur assermenté, pour comprendre les discours, pour les

réexprimer correctement, mais aussi pour avoir un regard critique sur les sources documentaires.

En outre, certaines disciplines relèvent de la culture générale, tandis que d’autres appartiennent à des

secteurs très spécialisés : d’où des niveaux de technicité variables chez les traducteurs. Les perspectives

de la traduction juridique doivent être envisagées dans plusieurs cadres d’exercice de la profession et

en fonction du statut des langues en présence dans un cadre donné.

Les traducteurs lusophones ont certainement une carte à jouer car, tant au Portugal qu’au Brésil,

le droit a assimilé des apports étrangers et son étude constitue en soi une ouverture sur d’autres

systèmes juridiques.

Mots-Clés:

Traduction juridique; Discours juridique; Connaissance spécialisée.

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Resumo:

São vários os motivos pelos quais a tradução jurídica constitui um desafio para os tradutores: a

imprecisão do próprio conceito, o facto de o conteúdo e nível de conhecimentos exigidos do tradutor

variarem segundo a natureza das soliticações e a necessidade de interpretar as perspectivas reais que

se oferecem ao tradutor à luz das mais diversas situações. Os textos jurídicos são normas legais, ou

discursos sobre normas legais, que, por se reportarem frequentemente a outras áreas do conhecimento,

relativizam a noção de «texto jurídico», reflectindo-se no tipo e nível de conhecimentos do tradutor.

Os tradutores jurídicos — dos ocasionais aos especializados e ajuramentados — devem conhecer todas

as áreas do direito, pois só assim saberão compreender e reexprimir os textos correctamente e avaliar

as fontes documentais de forma crítica. Por outro lado, se algumas áreas do direito exigem apenas uma

boa cultura geral, outras há cujo grau de especialização não dispensa um tradutor verdadeiramente

especializado, o que significa que não se pode falar de um tradutor jurídico padrão, mas, antes, de

tradutores jurídicos com diferentes níveis de competência técnica.

As perspectivas da tradução jurídica são também variadas, diferindo segundo os modos de exercer a

profissão e o estatuto de cada língua. Os tradutores lusófonos, por exemplo, têm um papel importante

a desempenhar, tanto em Portugal, como no Brasil, porque os seus sistemas jurídicos assimilaram

conceitos vindos de outros e porque o estudo dos seus próprios sistemas depende da abertura aos

outros.

Palavras-Chave:

Tradução jurídica; Discurso jurídico; Conhecimento especializado.

Abstract:

Legal translation presents a number of challenges. First, the very concept of “legal translation” is ill-

defined. Second, the content and level of understanding required to do the job must accommodate a

range of needs. And lastly, the prospects open to legal translators, though real, must be interpreted in

relation to a range of situations.

Legal documents are rules of law, or discourses thereon, which often cover areas other than law. The

concept of the legal document is thus unavoidably relative, which, in turn, affects the content and

level of understanding required of the translator.

Like the specialist, sworn and occasional legal translators need to know about various legal fields if

they are to understand the discourse and re-express it correctly while keeping their critical guard up

when using documentary resources. And whereas certain types of work require general knowledge,

others demand truly specialised knowledge. As a result, the type of work determines the technical

competence required of the translator.

The outlook for legal translation needs to be considered in relation to the various ways of exercising

the profession and according to the status of the languages involved. Translators working into or out

of Portuguese certainly have a role to play, be it in Portugal or Brazil, as their legal systems adopt

concepts from abroad, which means that studying these systems means reaching out to others.

Keywords:

Legal translation; Legal discourse; Specialized knowledge.

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Danica Seleskovitch, qui fut à l’origine de la théorie interprétative en traduction et de l’école dite

de Paris, disait parfois qu’il faut bien distinguer les problèmes de la traduction des problèmes des

traducteurs. Certes, on ne peut tracer une frontière étanche entre les deux, et on note que Danica elle-

même a fort bien expliqué que la pratique de l’interprétation de conférence est un bon observatoire

des phénomènes de transfert interculturel. Pour montrer que le traductologue doit, cependant, prendre

du recul par rapport aux faits de traduction, elle rappelait aussi que ce n’est pas en théorisant sur

les accidents d’avion que l’aéronautique a progressé. C’était, sans doute, une façon de montrer les

limites des écrits qui se contentent de gloser sur des erreurs de traduction. Mon propos, aujourd’hui,

est surtout orienté vers les problèmes des traducteurs et les compétences qui leur sont nécessaires

pour aborder la traduction juridique, un défi permanent. Comme d’habitude, mon optique sera plus

technique que linguistique.

Tout d’abord, je me livrerai à quelques réflexions sur la notion de traduction juridique (I), puis j’exposerai

mes idées sur le contenu et le niveau des connaissances requises chez le traducteur juridique (II), pour,

enfin, livrer au lecteur quelques considérations relatives aux perspectives de la traduction juridique (III).

I. Quelques reflexions sur la notion de traduction juridique

Ne revenons pas sur les caractéristiques du « langage du droit » dans les différents systèmes juridiques,

car ils ont été abondamment exposés par les spécialistes de la linguistique et du droit comparé.

Rappelons seulement que le traducteur ne travaille pas sur des langues, mais sur des discours. Il doit,

par conséquent, être familiarisé avec les différentes formes de discours existant dans les systèmes

dans le cadre desquels sont produits les textes qui lui sont soumis : discours du législateur, du juge,

du jurisconsulte, du praticien, pour reprendre une classification habituelle. Toutefois, la question se

pose de savoir si la traduction juridique se limite à la traduction de discours juridiques ou si elle peut

dépasser ce cadre. C’est la nature même du Droit qui impose cette question. En effet, il a une double

particularité : celle d’édicter des normes, d’une part, celle de régir tous les domaines de l’activité

humaine, d’autre part. Evidemment, ceci peut être déterminant dans le choix du traducteur.

I. 1. Textes énonçant le droit

Les textes qui énoncent le droit sont des discours normatifs ou des discours sur les normes. Dans la

première catégorie entrent les textes législatifs, textes de loi au sens formel, ou réglementaires, des

« lois » au sens fonctionnel, à savoir des décrets ou des arrêtés, qui émanent du pouvoir exécutif.

On peut y rattacher certaines décisions de justice, car le juge ne se contente pas toujours de dire le

droit : il le crée, par exemple dans le système de Common Law dont la cohérence se fonde sur la règle

du précédent, ou encore en droit administratif français, construit en partie sur la jurisprudence du

Conseil d’Etat. Le discours normatif, au sens large, peut donc être l’œuvre du parlement, du pouvoir

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exécutif, ou du judiciaire. Mais les contrats, qui sont « la loi des parties », peuvent également être

considérés comme des normes privées.

Tous ces textes sont a priori juridiques, notamment parce qu’ils obéissent généralement à des règles de

forme propres au domaine juridique : par exemple, en droit français, rédaction subdivisée en articles dans

la loi, existence de visas dans un règlement, organisation en attendus dans une décision de justice.

Dans un sens plus large, on doit, selon moi, inclure dans cette catégorie les textes émanant de la

doctrine et même ceux des commentateurs et des vulgarisateurs qui font connaître le droit. Le critère

de la juridicité d’un texte devient alors un objet relevant de ce que l’on appelle les grandes branches du

droit privé – droit de la famille, des obligations, des biens, des successions, droit commercial, droit du

travail –, du droit public – droit constitutionnel, droit administratif, droit international public, finances

publiques –, et du droit pénal. A noter que le découpage du droit en branches n’est pas le même dans

tous les systèmes.

Toutefois, les discours sur les normes n’ont pas les effets de droit qui sont le propre des textes

normatifs.

I. 2. Textes ayant des effets de droit

Doit-on, pour autant, considérer comme juridiques, du point de vue strict de la traduction, tous les

textes qui produisent un effet de droit ? Concrètement, une loi relative à la recherche sur les embryons

est-elle plus juridique que médicale ? La réponse ne va pas de soi. En effet, les lois et les règlements

peuvent, dans le monde moderne, régir des activités agricoles, industrielles ou commerciales : ils ne

sont donc pas juridiques par leur contenu. C’est pourquoi j’ai souvent parlé de textes mixtes, dans

lesquels la dominante peut ne pas être le droit, en dépit d’un caractère normatif évident.

En bref, certains textes sont juridiques par leur forme, leur contenu et leurs effets. D’autres ne remplissent

pas ces trois conditions, ce qui amènera les donneurs d’ouvrage à réfléchir sur le choix du traducteur.

La notion de traduction juridique doit donc être envisagée suivant ces quelques réflexions sommaires

: la traduction juridique, stricto sensu, est la traduction des textes qui relèvent des domaines couverts

par les branches du droit dans un système juridique donné, qu’il s’agisse de discours normatifs ou de

discours sur les normes. Elle peut éventuellement porter sur tout texte produisant un effet de droit,

mais il y a lieu alors de s’interroger sur le domaine d’activité visé ainsi que sur la nature et le dosage

des compétences à mettre en œuvre dans l’opération traduisante. D’ailleurs dans certaines cultures, les

rites sociaux ou la religion couvrent des domaines couverts par le droit : ainsi, un texte peut devenir

juridique dans une société, alors qu’il ne l’était pas à l’origine.

La notion de texte juridique est donc marquée du sceau de la relativité.

Page 13: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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II. Contenu et niveau des connaissances requises chez le traducteur

Tout d’abord, il y a lieu de distinguer le traducteur juridique occasionnel, du traducteur juridique

spécialisé et du traducteur assermenté. Pratiquement tous les traducteurs sont amenés à traduire des

textes juridiques au sens large : un traducteur technique sera confronté à un contrat ; un traducteur

littéraire trouvera dans une œuvre le déroulement de procès. Cela n’a rien d’étonnant, car le droit d’un

pays fait naturellement partie de la composante culturelle que tout traducteur doit pouvoir prendre

en considération. En outre, le droit, comme d’ailleurs la science, fait partie jusqu’à un certain degré

de technicité de la culture générale de l’homme moderne. Soyons catégorique : il ne faut pas choisir

le métier de traducteur si l’on est allergique au droit, qui, répétons-le, imprègne toutes les activités

humaines du monde moderne ; il ne faut pas non plus s’offusquer de voir un ingénieur traduire un

texte dit juridique mais à dominante technique. Ce sera un traducteur juridique occasionnel, à moins

qu’il n’entreprenne de se spécialiser dans le droit.

Quant au traducteur juridique spécialisé, il doit être un initié, c’est-à-dire maîtriser les concepts, la

terminologie et l’organisation de la matière du droit dans les système de la langue d’arrivée et de

celle de départ. Le traducteur assermenté, quant à lui, doit avoir ce profil, mais il a parfois à établir

une traduction certifiée d’un texte non juridique : son rôle est celui d’un expert chargé de mettre sa

compétence à la disposition d’autorités administratives ou judiciaires.

On voit donc que les connaissances requises en traduction juridique sont variables. Je précise que ces

connaissances peuvent être élevées sans être pour autant sanctionnées par un des diplômes nécessaires

aux spécialistes du droit que sont les juristes. Mais l’expérience ne doit pas faire oublier le recours à la

connaissance, nécessaire même aux traducteurs chevronnés dès lors qu’ils refusent l’à-peu-près.

II. 1. La raison d’être des connaissances juridiques

On sait que les connaissances des langues ne suffisent pas pour exercer la profession de traducteur. La

compréhension complète d’un texte n’est possible que si l’on connaît le domaine traité ; la connaissance

de ce domaine permet également la réexpression fidèle dans la langue d’arrivée du discours compris.

Disons, par parenthèse, que l’approche technique de l’initié garantit des performances plus rapides

que l’approche linguistique, car le langage spécialisé s’acquiert en même temps que la spécialité elle-

même : le médecin, l’ingénieur et le juriste n’ont pas besoin d’un enseignement à base linguistique

pour s’exprimer dans leurs domaines de compétence.

Toutefois, cela ne signifie pas qu’ils ne commettent pas de fautes de langue dans leur propre spécialité.

C’est pourquoi, par exemple, les spécialistes de la linguistique et de la stylistique juridiques insistent

toujours sur des erreurs qui se répètent chez les praticiens du droit : en français, on ne doit pas dire

que la loi « stipule », car elle « dispose » ; « conjointement et solidairement » recèle une contradiction ;

« termes et conditions » ne correspond pas à l’anglais « terms and conditions ».

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En bref, le traducteur juridique doit connaître le droit, non seulement pour bien comprendre le texte

et en restituer le sens, mais encore pour avoir un regard critique sur les solutions proposées par les

dictionnaires et les manuels de toutes sortes, dont beaucoup mériteraient de subir le même sort que

la bibliothèque de Cervantes. Il faut également se méfier des traductions antérieures, car certaines

erreurs se transmettent de traduction en traduction, grâce, notamment, aux outils informatiques.

II. 2. Le contenu des connaissances requises en traduction, à la lumière de la pratique

Evidemment, on n’en sait jamais trop, mais le pragmatisme amène à conseiller au traducteur

non-juriste de ne pas se disperser. Il me semble que tout dépend de la sphère dans laquelle le praticien

va exercer ses talents : dans les organisations internationales et les institutions communautaires, il doit

avoir une bonne connaissance des institutions et des traités. Mais je ne pense pas que le traducteur

libéral ait souvent à utiliser de telles connaissances : pour lui, la priorité revient aux droits des contrats,

des biens, des sociétés, du commerce international. Quant à l’expert auprès des tribunaux, il doit avoir

des idées claires sur l’organisation judiciaire et les procédures.

Certaines connaissances juridiques doivent faire partie de la culture générale de tous les traducteurs :

contour des branches du droit dans un système donné, bases du droit constitutionnel, théorie générale

des obligations. D’autres ne sont indispensables que dans certaines formes de traduction spécialisée :

régimes matrimoniaux, droit des successions, sûretés, par exemple.

Enfin, le niveau de technicité des textes signifie que le degré de compétence des traducteurs est

également variable. Au niveau le plus élevé, le traducteur doit pouvoir collaborer avec le juriste à

l’étude d’un dossier en langue étrangère. Dans la pratique, il est souvent fait appel, dans ce cas, à

un juriste dit linguiste, mais le résultat n’est garanti que s’il s’est réellement formé à l’exercice de la

profession de traducteur.

III. Quelques considérations sur les perspectives de la traduction juridique

Il faut se garder des considérations trop générales, car plusieurs situations sont à examiner. Ainsi,

il faut tenir compte du cadre dans lequel s’effectue la traduction (relations internationales, cadre

européen), du donneur d’ouvrage (organisme public, juridiction, ou particulier), de la portée juridique

de la traduction (texte faisant foi, ou simple information), des langues en présence (statut dans un

cadre donné). Ceci peut aboutir à distinguer plusieurs sous-marchés de la traduction juridique, ce qui

implique des contraintes différentes pour le traducteur. Au risque de me tromper, ce dont le lecteur

voudra bien m’excuser, je vais m’en tenir à l’exemple de la traduction de portugais.

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III. 1. Le cadre de la traduction

Le portugais est une des langues les plus parlées dans le monde, et les relations culturelles et

économiques dans cette langue sont importantes. D’où un besoin réel de bonnes traductions juridiques

vers cette langue ou à partir d’elle. Toutefois, il semble que ce soit le portugais du Brésil qui pèse le plus

dans ces relations, d’où la nécessité de se documenter sur le droit brésilien, dans son ensemble, sans se

contenter de s’interroger sur les institutions politiques.

En Europe, le portugais, important comme langue de culture, se heurte au poids économique

et institutionnel de l’anglais, du français et de l’allemand. Il ne semble pas destiné à devenir une

langue-pivot dans l’Union Européenne. Mais cette situation peut se transformer en avantage pour les

traducteurs lusophones, dont le niveau dans les trois langues citées est généralement élevé. En effet,

le droit civil, tant au Portugal qu’au Brésil, a été influencé successivement par le droit français et par le

droit allemand, ce qui donne au traducteur des possibilités d’approche comparative que n’ont pas, dans

la plupart des cas, les germanophones et les francophones. Enfin, il existe en portugais d’excellents

ouvrages destinés aux praticiens du droit : traités et formulaires juridiques, notamment. Il y a là des

outils fort utiles pour ceux qui traduisent vers le portugais.

Aussi bien à Bruxelles, qu’à Luxembourg ou à Strasbourg, les traducteurs juridiques portugais ont des

atouts à faire valoir. D’une manière plus générale, en particulier sur les marchés privés, ils ont leur place

s’ils possèdent de bonnes connaissances des droits allemand, anglais et français.

III. 2. Le statut des langues

C’est une question à avoir à l’esprit dans le choix des combinaisons linguistiques. Des langues

européennes ont le statut de langue officielle dans le cadre des Nations Unies : l’anglais, l’espagnol

et le français. A la Chambre de Commerce Internationale, dont le siège est à Paris, les deux langues

de base sont l’anglais et le français. Dans les Institutions européennes, ces deux langues sont aussi au

premier rang. Si la domination de l’anglais est nette dans les domaines économique et technique, le

français marque encore le système juridique européen en cours de création.

Les Lusophones qui ont le courage d’approfondir le droit de Common Law et le droit français ont une

carte unique à jouer, car, en dehors de la traduction proprement dite, les besoins ne manquent pas dans

des domaines voisins, tel celui de la terminologie. A noter que la documentation juridique en anglais

et en français est abondante et d’accès facile. Toutefois, les dictionnaires et formulaires bilingues sont

à manier avec précaution. J’en parle avec d’autant plus de liberté que c’est un terrain sur lequel je me

suis moi-même aventuré.

Page 16: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

15

Conclusion

La traduction juridique est un défi parce que les perspectives d’activité pour les traducteurs me semblent

réelles. Je me permets de dire que les écoles de traducteurs ont pris du retard en la matière, parce que

deux tendances antagonistes s’y sont manifestées : l’une consistant à voir dans la traduction juridique

une forme de traduction générale dans laquelle une vague teinture juridique pourrait suffire, l’autre

y voyant un domaine réservé aux juristes en raison d’une technicité réelle bien que non visible à l’œil

nu. A l’inverse, trop de juristes ont cru qu’il suffisait de quelques connaissances en langues étrangères

pour traduire.

Or le seul moyen pour les traducteurs de s’adapter aux différents cadres institutionnels, et aux divers

donneurs d’ouvrages, est de bien maîtriser l’organisation des principales familles de droit, les concepts

et la phraséologie des langues de travail, bref d’avoir une véritable culture juridique. Les juristes doivent

aussi jouer un rôle à la périphérie de la traduction, notamment en terminologie, à condition qu’ils

prennent conscience du fait que la traduction est une authentique spécialité.

Page 17: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

16

A LOCALIZAÇÃO DE PÁGINAS DA INTERNET NA FORMAÇÃO DE TRADUTORES

OSCAR DIAZ FOUCES

Universidade de Vigo

Para o Francisco Magalhães,Coração de Leão

Resumo:

Este artigo caracteriza sinteticamente o espaço académico da localização de páginas da Internet a

partir do papel social que corresponde a essa actividade e das principais circunstâncias profissionais

que ela envolve.

Palavras-Chave:

Localização; Tradução; Páginas da Internet; Conteúdos electrónicos; Formação académica

Abstract:

This paper presents a brief analysis of website localization in the academic world considering the

activity’s social role and the main characteristics of the profession.

Keywords:

Localization; Translation; Web pages; Electronic content; Academic training.

PRELIMINAR (QUASE) DESNECESSÁRIO

Os teóricos das Ciências Sociais distinguem habitualmente três «revoluções» no mundo ocidental,

começando pela Revolução Industrial que, no século XIX, trouxe mudanças fundamentais como a

substituição da sociedade de castas pela sociedade de classes, o deslocamento maciço das populações

do campo para as cidades, a sua integração no caos da organização industrial e o correspondente

choque psicológico. Já no século XX, esta revolução iria sofrer um processo de aceleração histórica que

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Page 18: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

17

coincidiu com o extraordinário desenvolvimento tecnológico, nomeadamente, das (tele)comunicações.

Este processo receberia uma nova dinâmica com as crises energéticas dos anos 60 e 70, acompanhando

o alvor da sociedade pós-moderna (ou, por outras palavras, da sociedade «da informação») que

caracterizou o último quartel do século XX e os primeiros anos do XXI, ainda agora encetado (v. Lucas,

García & Ruiz 1999).

Entre as características desta nova era, encontra-se o aumento da mobilidade - social, física e psicológica

- que abalou os modelos de organização social tradicionais e transformou a «comunicação» na

palavra de ordem. É, hoje, um lugar-comum afirmar que uma pessoa tem acesso a mais informação

num só dia do que alguém nascido nos primeiros anos do século XVIII, em toda a sua vida.

A possibilidade de transmitir informações de forma maciça e virtual para o mundo inteiro (embora

sujeita às limitações impostas pelas várias formas de censura ideológica e os muito menos subtis

constrangimentos económicos) está directamente relacionada com a criação, pela primeira vez, na

história da Humanidade, de uma área de intercâmbio comercial, baseada no mercado livre, e de âmbito

global. Não será por acaso que nos referimos a este fenómeno pelo nome de «globalização». Um dos

traços mais relevantes desta nova dinâmica é o processo, também maciço, de alargamento das redes

de comunicação, cujo símbolo (e suporte) maior é a Internet.

A importância deste fenómeno até pode ser quantificada. Atente-se, por exemplo, a estes dados:

«Según un estudio de la Universidad de California, Berkeley (Lyman y Varian,

2000), en la web hay unos 550.000 millones de documentos (95% de ellos

abiertos al público), y la información on line está creciendo a un ritmo de 7,3

millones de páginas web al día. [...] La producción anual de información en todo

el mundo y bajo diversas formas es de 1500 millones de gygabites, de los cuales

el 93% se produjo en formato digital durante el año 1999.» (Castells 2001, 108)

A eficácia do processo de comunicação numa rede de transmissão de informações que abrange todo

o planeta implica, obviamente, a presença de conteúdos próprios e de estratégias de comunicação

ad hoc. A mais evidente é a necessidade de optimizar esses conteúdos para atingir o público-alvo

da forma mais eficaz. Dado que esse público é, por definição, heterogéneo quanto à sua origem, a

planificação atenta dos elementos linguístico-culturais das mensagens e das informações parece ser

uma necessidade premente.

O facto de o inglês ser, actualmente, «a língua» universal da comunicação não parece ser incompatível,

por enquanto, com a tendência para a especialização linguística dos produtos que circulam na rede,

nomeadamente (mas não só) os produtos informáticos. Na verdade, detecta-se uma tendência

crescente nesse sentido. Num interessante texto de divulgação publicado na versão digital de The

Atlantic Monthly, em Novembro de 2000 («What Global Language?» <http://www.theatlantic.com/

issues/2000/11/wallraff3.htm>), Barbara Wallraff afirmava:

Page 19: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

18

«According to one estimate that has been widely repeated over the past few

years, 80 percent of what’s available on the Internet is in English. Some

observers, however, have recently been warning that this may have been the

high-water mark. It’s not that English-speakers are logging-off — au contraire

— but that people are increasingly logging on, to search out or create content

in their own languages. As the newsletter that The English Company prepared

for the British Council asserted in September of 1998, “Non English Speakers

are the Fastest Growing Group of New Internet Users”.»

O aumento da diversificação linguística dos produtos e conteúdos informáticos desencadeou um

conjunto de dinâmicas económicas e linguístico-culturais que têm hoje designações específicas. Na

gíria técnica, é habitual apelidar «internacionalização» (do inglês internationalisation, abreviado

como I18N) ao processo de criar produtos e depurá-los de forma a poderem ser consumidos em qualquer

parte do mundo por um teórico público-alvo global. Reserva-se ainda a etiqueta de «localização»

(do inglês localisation, L10N) para o processo complementar de adaptação linguístico-cultural dos

produtos, em função de cada mercado.

DA REDE ÀS UNIVERSIDADES

Este conjunto de processos e dinâmicas apresenta-se como um quadro bastante interessante para os

profissionais da mediação linguística – não sendo por acaso que as áreas da tradução e da interpretação

se tornaram objecto de especial atenção nos últimos tempos.

O período subsequente à Segunda Grande Guerra coincidiu com o (re)nascimento do interesse pela

tradução, tendo-se multiplicado os centros universitários de formação de tradutores e intérpretes. Por

motivos óbvios, essa rede foi especialmente profícua nas estruturas multiestatais, nomeadamente na

Europa, cujo potencial económico é indiscutível, podendo investir uma parte significativa do orçamento

comunitário na perpetuação - e garante – do actual statu quo (multi)linguístico dentro das fronteiras

da União Europeia.

Recorde-se, a propósito, que, entre 1996 e 1999, o Conselho da Europa desenvolveu o Programa MLIS

(Multilingual Information Society Program) que, graças a um orçamento de 15 milhões de euros,

promoveu a diversidade linguística, o acesso à informação, a optimização do uso das novas tecnologias

e o estímulo à criação de serviços multilingues (1). O relatório final da avaliação foi realizado pela

ECOTEC Research and Consulting Ltd., entre Dezembro de 1999 e Junho de 2000, apresentando,

no capítulo reservado às conclusões e recomendações (capítulo 7), um conjunto de prioridades que

reproduzimos a seguir, salientando a terceira:

Page 20: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

19

«However, multilingualism within the EU has a special significance because of

the strong nexus of economic, cultural and political issues involved. In the light

of the evaluation findings there is a strong case for incorporating the following

priorities in future programmes:

. Priority 1 The need to stimulate demand for language services applying

ICT. It is especially important to find ways to support SME in defining and

implementing language strategies. Identifying good practice and stimulating

interaction between resource holders, users and tool developers can assist this.

. Priority 2 The need for some infrastructure and technical issues, IPR,

standards, terminology etc.

. Priority 3 The need to encourage the localisation of the Internet. This,

however, is not only an EU issue. Localisation is likely to take place and there

are not evident market failures.

. Priority 4 The need to improve multilingual access to public sector

information.» (ECOTEC 2000)

Podemos completar estes dados com as informações de um segundo relatório, patrocinado pela Comissão

Europeia, o SPICE-PREP II Report on eContent Localisation, vocacionado, neste caso, para a análise do

impacto e difusão dos «conteúdos electrónicos» (e-contents). De entre os aspectos positivos da

avaliação, salienta-se que: «Localisation services are a potential source of new skills and employment

growth in all sectors related to eContent publishing» (EPS Ltd. & Equipe Consortium Ltd. 2000). Já

agora, e embora este artigo não pretenda ser ele mesmo «localizado» para um ambiente nacional

específico, dado que a revista que o acolhe é portuguesa e o autor é cidadão do Estado espanhol, não

podemos deixar de salientar que o mesmo relatório estabelece a capacidade que os diversos Estados

europeus têm de criar conteúdos electrónicos, utilizando como critérios a profundidade da localização

dos sítios da Internet e a contagem das línguas utilizadas. A classificação diz que: «Lowest levels of

localisation effectiveness (below the European average) are found in Germany, Greece, Poland, Austria,

Spain, Hungary, Italy and Portugal.» Pouparemos, por ora, outros comentários.

Na sequência das observações anteriores, parece-nos que a tradução de páginas e sítios da Internet

devia ocupar um lugar de destaque nos programas académicos das instituições universitárias que

formam os novos mediadores linguísticos. O relatório SPICE-PREP II a que aludimos não hesitou em

recomendar que os Estados-membros da UE:

«Promote the development of a programme of training and certification

of translators to work in eContent localisation via appropriate education,

employment and industry ministries and in collaboration with relevant

translators’ professional bodies.»

Page 21: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

20

Porém, a realidade parece afastar-se ainda muito desse objectivo. A maior parte dos guias e manuais

académicos vocacionados para a tradução parece continuar de costas voltadas para este universo

profissional, aparentemente tão aliciante. Longe das explicações simplistas, que apontariam o dedo à

paralisia do mundo académico, alguns dados ajudam-nos a esclarecer este ponto. Segundo os elementos

fornecidos por M. Castells (2001), em finais de 1995 – que foi o primeiro ano de uso generalizado da

Internet (World Wide Web) – havia cerca de dezasseis milhões de utentes no mundo. No início de 2001,

havia mais de quatrocentos milhões. Em 2005, é provável que se atinjam os mil milhões de utentes, e

os dois mil milhões em 2010. Estamos, então, apenas no início de um fenómeno extraordinário que o

mesmo autor designa como «Galáxia Internet», parafraseando a Galáxia Gutenberg a que se referiu

Marshall McLuhan.

Valerá a pena considerar ainda um outro factor. Em 1997, Brian Harris fez um levantamento dos centros

universitários de formação de tradutores e intérpretes em todo o mundo. Embora o trabalho contenha

algumas imprecisões e omissões, é útil para se formular uma opinião geral. Por exemplo, é fácil notar

que praticamente um em cada dois centros só foi criado depois de 1980. Por outras palavras, a formação

universitária em tradução e interpretação é ainda recente (muito, quando comparada com outros cursos).

A área académica é, portanto, nova, e o próprio sucesso da Internet também o é. Portanto, este não

parece ser um mau momento para incorporar nos planos de estudos desta nova área, que acompanha o

novo milénio globalizado, a localização de material da rede, com toda a importância que ela merece.

ENSINAR A TRADUZIR PARA A INTERNET

O estabelecimento de qualquer novo espaço académico que vise uma formação aplicada começa,

necessariamente, por caracterizar o âmbito pretendido, a partir da definição das actividades a que diz

respeito. Do nosso ponto de vista, essa definição deve incluir a função social pretendida, a que até aqui

fizemos referência, e também as circunstâncias profissionais que a acompanham. Estas últimas devem

contemplar ainda as aptidões que deverão ser desenvolvidas, bem como as estratégias formativas que

terão de conduzir a esse objectivo docente. Tentaremos apresentar todos estes elementos nas alíneas

a seguir.

Nos bastidores da rede

Uma boa forma de começar será pelo mais evidente. Olhemos, então, para os objectos de trabalho. A

FIGURA 1 apresenta a imagem de uma página da Internet – a do Instituto dos Vinhos do Douro e do

Porto (<http://www.ivp.pt>).

Page 22: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

21

FIGURA 1. Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.

A FIGURA 1 é a captura da imagem do ecrã de um computador, na qual se vê um dos muitos programas

de navegação da Internet. Este tipo de «programa informático» (software) permite aos utentes acederem

às informações que outras pessoas colocaram na rede e, até, interagirem com elas. O exemplo mais

conhecido para o ambiente Microsoft Windows – o padrão dominante do mercado – é o Internet

Explorer (utilizado nesta captura). O maior concorrente do Explorer foi o Netscape, que foi o programa

hegemónico antes ser substituído pelo Mozilla (http://www.mozilla.org), uma versão em «código

aberto» (open source), que, juntamente com outros programas de navegação menos usados, como o

Opera (<http://www.opera.com>), o Konqueror (habitual nas distribuições Linux, como o Mozilla, o

Galeon e o Opera for Linux) ou o Jaguar (próprio do ambiente Apple), provavelmente não ultrapassam

10% das preferências dos utentes da rede.

Para a maior parte das pessoas, esta imagem (FIGURA 1) corresponde ao que elas desejam saber acerca

do funcionamento da Internet. Ou seja, do mesmo modo que, por via de regra, ninguém se coloca

dúvidas relativamente ao funcionamento dos cartões multibanco quando pretende levantar dinheiro

ou realizar pequenas operações de gestão, também não é habitural as pessoas interrogarem-se acerca

da maneira como funcionam as páginas da Internet. Esta é, porém, uma questão que faz muito sentido

para os técnicos que desenvolvem estes produtos e para todas as pessoas que trabalham com as

páginas da Internet: gestores de projecto, técnicos de marketing, publicitários, designers e também, é

claro, tradutores/localizadores.

O que é que todas estas pessoas vêem «por detrás» da tela do computador? Com ligeiras diferenças,

elas vêem algo semelhante a isto:

Page 23: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

22

FIGURA 2. Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (código-fonte).

Esta captura mostra o que se vê depois de carregarmos na opção «Exibir código-fonte» no menu

do programa de navegação: uma série de códigos esquisitos, alternados com texto mais fácil de

reconhecer, mas... nada de imagens, nada de cores, nada de caixas de diálogo, nada de música ou de

qualquer elemento aliciante que habitualmente encontramos nas páginas da Internet.

Na FIGURA 2, deparamo-nos com um texto redigido numa linguagem própria, ou, para ser mais exacto,

um texto «marcado» com um sistema próprio: a HyperText Markup Language, também conhecida por

HTML. O HTML não é uma linguagem de programação. É, simplesmente, um sistema que permite

«formatar» as informações da linguagem natural de maneira a adequá-las a determinadas solicitações.

Por outras palavras, de modo a que o programa de navegação que interpreta o código as mostre da

forma como pretendemos. Tomando um exemplo muito simples: para conseguir que a tela do nosso

computador exiba um texto em negrito no programa de navegação, devemos fornecer-lhe as regras

de formatação que ele deve aplicar sobre o texto «puro». Com o HTML, utilizaríamos um sistema

de «marcas» que, colocadas antes e imediatamente a seguir ao texto, conseguiriam o efeito visado.

Neste caso concreto, para obtermos o resultado que pretendemos, deveríamos escrever a linha que

vem a seguir num editor de texto (por exemplo, o Notepad do Windows) e, depois, arquivar o novo

documento, escolhendo, em «Guardar como...», a opção HTML:

<B>Isto é um texto em negrito</B>

EXEMPLO 1.

Page 24: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

23

Se abrirmos o novo arquivo a partir do programa de navegação, o ecrã mostrar-nos-á apenas esta

frase:

Isto é um texto em negrito

EXEMPLO 1B.

O texto que ficou entre as duas marcas passou a estar formatado de acordo com as convenções

HTML e as marcas do código-fonte deixaram de ser exibidas. Neste caso, o <B> (do inglês bold)

indicava o início da aplicação do atributo «negrito» sobre um trecho de texto e a marca </B> o fim

da aplicação desse formato. O elemento «/», que precede o símbolo que designa o atributo pretendido,

indica convencionalmente, em HTML, o fim da aplicação desse atributo. Todo o texto a seguir, portanto,

já não possui a característica com que «marcámos» a nossa frase. Daí, a referência que fizemos ao facto

de o HTML ser um sistema de marcação, e não uma linguagem (de programação) em sentido estrito.

O HTML nasceu a partir do Standard Generalized Markup Language (SGML), o padrão ISO 8879 para

definir o formato e a estrutura de documentos electrónicos. O SGML é, na realidade, uma metalinguagem

que permite definir linguagens mais específicas, como é o caso do próprio HTML.

As primeiras versões do HTML (HTML 1 e HTML 2) foram desenvolvidas pela Internet Engineering Task

Force (IETF), que se integrou no World Wide Web Consortium (W3C), do qual também fazem parte

as empresas com maior presença na rede (Microsoft, Sun, IBM, Netscape, Adobe...). Este consórcio

trabalha a partir de uma série de «Recomendações» que contêm indicações acerca dos padrões de

determinados tipos de documentos. Antes das «Recomendações», porém, existem as «Notas», que

são propostas sugeridas por organizações e em torno das quais podem ser constituídos «Grupos de

Trabalho». Estes «Grupos de Trabalho» podem elaborar «Propostas-Rascunho» (Working Drafts) a partir

das «Notas». As «Propostas-Rascunho» podem converter-se em «Propostas de Recomendação» e estas,

por sua vez, nas «Recomendações» finais a que nos referimos (cf. <http://www.w3.org>, algumas das

quais estão traduzidas em português europeu e/ou brasileiro).

O W3C aprovou a versão 3.2 do HTML em 1997 e, a seguir, a 4.0. O HTML 3.2 é também conhecido

como «estático» por apenas permitir um tipo de interacção com os visitantes: a hiperligação a outros

documentos. Já as recomendações HTML 4.0 são os alicerces do HTML «dinâmico» (Dynamic HTML ou

DHTML), pois: introduzem novas marcas e atributos que dão suporte às «folhas de estilo em cascata»

(Cascading Style Sheets, CSS); permitem homogeneizar a aplicação de formatos e estilos a um mesmo

documento ou em documentos diferentes (cf. a Directiva «Conselhos para fazer sítios web acessíveis»,

Web Accessibility Initiative em <http://www.w3.org/WAI/References/QuickTips/qt.pt.htm>); dão

suporte às linguagens de instruções, como veremos adiante; e permitem recorrer a programas exteriores,

applets (ou «aplicaçõezinhas», que são pequenos programas escritos em Java e executados dentro de

uma página da Internet) ou controlos ActiveX, bem como utilizar recursos multimédia e bases de dados.

Estes últimos elementos tornam as páginas da Internet muito mais interactivas.

Page 25: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

24

Também em 1997, o W3C publicou as primeiras recomendações para o Extensible Markup Language

(XML), criado a partir do SGML (em certa medida, o XML é uma versão simplificada do SGML). O XML é

uma metalinguagem que permite gerar novas linguagens, como o HTML (na verdade, ele permite definir

marcas específicas para as aplicações). O XML permite definir as estruturas dos documentos, mas não

a sua representação/formatação (2), como acontece com o Extensive HiperText Markup Language

(XHTML), que foi desenvolvido a partir do XML e que está vocacionado para a criação de documentos

bem estruturados e a aplicação de formatos. O XHTML é, em certa medida, a linguagem HTML à qual

se aplicaram as normas XML.

As novas versões dos programas de navegação da Internet já permitem processar os documentos

criados segundo as especificações XML. Contudo, o número de utentes (em termos absolutos) que

trabalham com as versões anteriores dos programas de navegação e com páginas que seguem as

anteriores especificações HTML ainda é vastíssimo.

Palavras e coisas: nem tudo dá nas vistas

Podemos criar páginas da Internet – das versões mais básicas até às mais sofisticadas – utilizando

uma aplicação tão simples como o Notepad do Windows, ou qualquer outro editor de características

semelhantes que nos permita trabalhar com o código HTML. A estrutura mais elementar de uma página

da Internet envolve a especificação da versão de HTML utilizada, conhecida como o «prólogo» do

documento (na FIGURA 2, era <!DOCTYPE HTML PUBLIC “-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN”>),

seguida do documento estrito (entre os símbolos <HTML> e </HTML>), o qual inclui o cabeçalho (entre

os símbolos <HEAD> e </HEAD>) e o corpo (entre os símbolos <BODY> e </BODY>). Na prática, o

HTML 3.2 (que é muito menos «estrito» do que o XML) até permite prescindir das especificações HTML,

HEAD e BODY. No exemplo que colocamos a seguir propomos, porém, uma estrutura mais ortodoxa:

<!DOCTYPE HTML PUBLIC “-//W3C//DTD HTML 3.2 Final//EN”>

<HTML>

<HEAD>

<TITLE>Um exemplo muito simples</TITLE>

</HEAD>

<BODY>

<B>Isto é um texto em negrito</B>

</BODY>

</HTML>

EXEMPLO 2.

A primeira linha do exemplo indica que estamos perante um documento em HTML e que estamos a

utilizar a «Declaração de Tipo de Documento» (DTD) que corresponde ao HTML 3.2 Final, em língua

Page 26: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

25

inglesa. A seguir, delimitamos o documento com as marcas <HTML> e </HTML>. Dentro delas, temos

a secção correspondente ao cabeçalho, delimitado por <HEAD> e </HEAD>. Neste exemplo, incluímos

também um título para o documento. Podíamos ter incluído outro tipo de explicações no cabeçalho,

destacadas com marcas META (um tipo de símbolo que não é preciso delimitar com uma segunda

marca para encerrar o processo) que se utilizam habitualmente para destacar as informações que irão

ser interpretadas pelos robôs-indexadores dos motores de busca da Internet. Por exemplo:

<META name=”keywords” lang=”eng”

content=”translation,localisation,websites,webpages”>

EXEMPLO 2B.

Uma declaração como esta indicaria aos indexadores que, na nossa página, é possível encontrar

informações sobre os assuntos especificados como «content».

No corpo do documento, entre as marcas <BODY> e </BODY>, reproduzimos o exemplo que utilizamos

acima. Se guardarmos, agora, o novo documento em HTML e deixarmos que um programa de navegação

o interprete, veremos novamente esta frase no ecrã do nosso computador:

Isto é um texto em negrito

EXEMPLO 2C.

Com efeito, as indicações incluídas no cabeçalho do nosso documento (o título e as palavras-chave)

não são exibidas pelos programas de navegação (se não seleccionarmos a opção «exibir

código-fonte», o que não faz muito sentido na consulta habitual das páginas da Internet). Verificamos,

assim, que nem todo o texto de um documento é visível, se não desejarmos ver o código-fonte, ou se

não utilizarmos programas de criação e edição de páginas e sítios da Internet bastante mais eficazes

como o Dreamweaver, FrontPage, HomeSite ou NetObjects Fusion, para citarmos apenas alguns dos

mais populares. Parece-nos que os futuros tradutores devem tomar isto em consideração. A localização

de uma página da Internet deve permitir, por exemplo, que ela seja indexada pelos motores de busca

«também» a partir de palavras-chave na língua-alvo.

Na imagem que encontramos a seguir vemos como é que um desses editores, mais concretamente, o

NetObjects Fusion 7, interpreta o exemplo proposto na FIGURA 1.

Page 27: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

26

FIGURA 3.

Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, editada com o NetObjects Fusion 7.

Este tipo de programas permite distinguir claramente o texto das imagens e, consequentemente, o

texto que pode ser editado no processador do próprio programa (ou de outros programas) e aquele que

só pode ser editado em modo gráfico. No mesmo exemplo, os botões «Comentários/Sugestões» ou

«Sugira este site» fazem parte de imagens, não podendo ser editados como sucessões de caracteres

num processador de textos (como acontece com o trecho «A TAP Air Portugal e o Instituto dos Vinhos

do Douro e do Porto oferecem-lhe agora um passeio aos sabores do Norte»).

Num parágrafo anterior, referimo-nos à possibilidade de criar páginas da Internet mais interactivas do

que a simples apresentação de dados, através do HTML dinâmico, ou DHTML. Na prática, o DHTML é

uma combinação de HTML com a JavaScript, uma linguagem de programação que esteve associada à

Netscape, mas que, hoje, é suportada por quase todos os programas de navegação. Com esta linguagem,

podemos escrever pequenas sequências de instruções que fazem com que as páginas tenham alguma

versatilidade a partir de elementos bastante simples, como as mensagens em janelas, os formulários, as

senhas de acesso e os botões, e de outros mais complexos, como a gestão de arquivos no disco rígido

local (por exemplo, os cookies, ou «testemunhas», que as páginas visitadas utilizam para armazenar as

preferências dos utentes).

Partindo ainda do mesmo exemplo, acrescentamos, destacadas em negrito, as linhas de uma pequena

sequência de instruções que faz com que apareça uma janela com um botão contendo a mensagem

«Carregue aqui para ver o texto». Depois de carregar, o ecrã mostrará a frase que já conhecemos.

Page 28: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

27

<!DOCTYPE HTML PUBLIC “-//W3C//DTD HTML 3.2 Final//EN”> <HTML> <HEAD> <TITLE>Um exemplo muito simples</TITLE>

<SCRIPT LANGUAGE=”JavaScript”>

<!--

alert(“Carregue aqui para ver o texto”);

// -->

</SCRIPT>

</HEAD> <BODY> <B>Isto é um texto em negrito</B> </BODY>

</HTML>

EXEMPLO 3.

É evidente que nem todas as sequências de instruções são tão simples. Como afirmámos, os exemplos

podem ser muito mais sofisticados (como acontece com o código-fonte da página do Instituto dos

Vinhos do Douro e do Porto, que vimos acima). Em <http://www.brainjar.com>, por exemplo, os leitores

podem ver alguns espantosos exemplos de trabalho com JavaScript.

Dizíamos acima que, actualmente, todos os programas de navegação conseguem interpretar o código

JavaScript. Na realidade, porém, esta afirmação não é exacta. A Microsoft dispõe de uma versão

própria, o Jscript, e, infelizmente, existem diversas versões de cada um deles, com diversos graus de

incompatibilidade. A Associação Europeia de Fabricantes de Computadores (ECMA, <http://www.ecma-

international.org>) já redigiu uma especificação sobre um padrão unificado, o ECMAScript. Porém, o

facto de este misturar o JavaScript e o HTML, que também tem mais do que uma versão e diversos tipos

de incompatibilidade em relação aos programas de navegação utilizados, faz com que a programação

nesta área contenha alguns problemas particularmente delicados.

As pessoas que nunca traduziram uma página da Internet começaram, certamente, a aperceber-se

de que este processo supõe algo mais do que a simples versão para a língua-alvo do texto que surge

no ecrã, cortando-o e colando-o no processador de texto. A tradução (ou localização) de material da

Internet implica lidar com texto «puro» dos mais variados temas, juntamente com o código HTML,

sequências de instruções, arquivos gráficos (JPEG, GIF, PNG, etc.) e elementos dinâmicos como: as

animações multimédia criadas com o Macromedia Flash (<http://www.macromediaflash.com>), que é

capaz de integrar, em pequenos clips («pequenos filmes»), o texto com desenho vectorial e até arquivos

Page 29: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

28

de som WAV (comprimidos em formato MP3 para poupar espaço); as apresentações em arquivos

de vídeo digital (MOV, AVI, ou os novos «reis» do vídeo digital baseados no padrão MPEG4, que já

integra os reprodutores pessoais: o DivX e o XviD, entre outros); a documentação em arquivos RTF,

PostScript ou em documentos pré-formatados (Portable Document Format - PDF)... Por outras palavras,

a tradução/localização de páginas e sítios da Internet implica ter de lidar com todo o tipo de material

que se encontra na rede.

Novas ferramentas para novas encomendas

Seria uma grande ingenuidade esperar que uma única pessoa fosse capaz de satisfazer todo e qualquer

tipo de encomendas de tradução de páginas da Internet. Além disso, convém não esquecer que a

temática dos sítios susceptíveis de gerar encomendas profissionais é sempre especializada, de modo

que os «meros conteúdos» das páginas (independentemente dos aspectos técnicos) revelam um nível

de exigência bastante elevado.

Quanto aos aspectos técnicos, vimos que podem estar relacionados com o tratamento do próprio

código, ou com o processamento do material gráfico estático, dos elementos audiovisuais e de efeitos

multimédia. A combinação de conhecimentos avançados em todas estas áreas com um alto nível de

rigor profissional ultrapassa, claramente, os objectivos mais generalistas dos cursos universitários de

formação de tradutores, até nas previsões de reforma do Processo de Bolonha (no que diz respeito à

Europa Ocidental).

Nada nos impede, porém, de tentar apetrechar os estudantes com uma visão panorâmica do

processamento deste tipo de encomendas, das estratégias mais elementares para geri-las e do uso de

algumas das ferramentas essenciais para enfrentá-las.

Num trabalho recente, Daniel Gouadec (2003, 529-530) propõe um interessante modelo da estrutura

geral das encomendas de localização de páginas da Internet. Para os nossos fins, julgamos suficiente a

listagem sintética que reproduzimos a seguir:

Page 30: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

29

Ciclo operativo

1. Recepção e gestão da encomenda.

. Análise da encomenda (conteúdos e características).

. Detalhes sobre a encomenda e negociação (consultas, orçamento).

. Obtenção dos conteúdos (se eles não tiverem sido fornecidos directamente).

. Classificação dos conteúdos (texto, código HTML, vídeos, bases de dados, etc.).

2. Organização dos recursos humanos.

. Distribuição da encomenda (por conteúdos, por características, etc.).

. Planificação/temporalização do fluxo de trabalho.

3. Organização dos recursos materiais.

. Obtenção, análise e distribuição de documentação (amostras, catálogos, audiovisuais...).

. Obtenção, preparação e distribuição dos recursos reutilizáveis (memórias de tradução,

glossários terminológicos, etc.).

4. Tradução / Localização.

5. Controlo de qualidade.

. Controlo da qualidade linguística (pontuação, redacção, estilo).

. Controlo da homogeneidade (harmonia de escolhas).

. Controlo da adaptação cultural.

6. Integração dos conteúdos.

7. Avaliação.

. Verificação global.

. (Re)início do ciclo operativo, quando aplicável.

8. Entrega da encomenda.

. Gestão da contabilidade (facturação, fiscalidade, arquivo de clientes).

. Gestão do material gerado para utilização futura (bases de dados, memórias e gestores

terminológicos).

TABELA 1.

Esta listagem, embora necessariamente superficial e incompleta, irá servir de guia para os parágrafos

seguintes, que descrevem o panorama geral do nosso objecto profissional e académico. Para já, é

importante reter que a tradução/localização de sítios da Internet envolve uma importante quantidade

de processos de natureza diversa (tradução de texto, tradução/legendagem de vídeo digital, design

gráfico, contabilidade, gestão de projectos, adaptação cultural, para referir apenas alguns). Como

antes apontámos, não nos parece lógico supor que uma única pessoa seja capaz de satisfazer todo e

qualquer tipo de encomendas de tradução de páginas da Internet (3). Porém, também é verdade que há

profissionais que resolvem, eles mesmos, encomendas menos complexas. Por outro lado, como também

apontámos, julgamos que é uma atitude prudente a de procurar dotar os estudantes de uma visão

global do processo, de modo a facilitar-lhes a eventual inserção num ponto do fluxo de trabalho. Nos

parágrafos seguintes, propomo-nos oferecer algumas indicações básicas neste sentido.

Page 31: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

30

Para começar, definimos, de modo intuitivo, um «sítio» de rede como o conjunto de uma série de páginas

da Internet organizadas em pastas (as «directorias») que se relacionam entre si através de ligações

hipertextuais. Idealmente, as páginas têm uma estrutura e uma aparência uniformes (eventualmente,

mediante o uso de folhas de estilo – arquivos CSS – que permitem a sua homogeneização estilística),

e podem remeter para documentos de características diferentes (documentação PDF ou RTF, vídeos,

arquivos sonoros, etc.). Uma encomenda de tradução pode consistir apenas na tradução do texto «puro»

fornecido pelo cliente, a qual será, posteriormente, inserida no sítio pelos técnicos de informática. Esta

é a hipótese mais simples, que não requer qualquer tipo de conhecimentos técnicos para além daqueles

que têm que ver com os conteúdos a traduzir.

Porém, até este tipo de encomenda parte de uma necessidade inicial que qualquer profissional notará

imediatamente: a geração de um orçamento prévio, que servirá como fonte para a facturação final. Na

hipótese do texto «puro», a contagem de palavras não parece difícil, já que qualquer processador de

texto (por exemplo, o popular – não quanto ao preço – Microsoft Word) consegue realizar esta tarefa ao

carregarmos na opção «Contar palavras» no (sub)menu «Ferramentas». Uma aparente dificuldade

tem a ver com a contagem de palavras em arquivos PDF. Mas, neste caso, se não dispusermos de um

programa específico (o Adobe Acrobat <http://www.adobe.com> é o melhor exemplo), bastará cortar

o texto e colá-lo no ecrã do Word para se fazer a contagem.

A elaboração de orçamentos para arquivos HTML é que requer outro tipo de ferramentas (4), das quais

nós salientamos o Aquino WebBudget.

FIGURA 4. Página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, processada pelo Aquino

WebBudget 2.51, com uma contagem das palavras do texto que devem ser traduzidas.

Page 32: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

31

Na FIGURA 4 mostramos a captura do ecrã do computador a processar a página que estamos a utilizar

como exemplo. O WebBudget 2.51 permitia realizar uma contagem apurada do texto a traduzir,

distinguindo claramente as marcas, os caracteres com/sem espaços ou o texto JavaScript. A partir

destes dados, poderíamos ainda (carregando em «Process») obter um orçamento a partir de qualquer

preço por palavra/linha/carácter estabelecido por nós (bem como a unidade monetária: euros, dólares,

etc.), pronto para imprimir e/ou exportar para diversos formatos (HTML, RTF, entre outros). Alguns

tradutores até utilizavam este programa shareware (ou «suporte lógico partilhado», um programa de

livre cópia para avaliação, que pressupõe o registo e pagamento em caso de utilização prolongada)

para traduzir pequenas encomendas, limitando-se a substituir o texto original pelo texto traduzido e

guardando o novo documento. Recentemente, a Aquino lançou o WebBudget XP, que aumentou as

funções de gestão e, também, de tradução de páginas e sítios da rede.

FIGURA 5. Orçamento elaborado pelo Aquino WebBudget 2.51, a partir da contagem anterior de palavras.

Na página da Internet da Aquino (<http://www.webbudget.com>), podemos descarregar um

interessante programa freeware (ou «suporte lógico gratuito», programa distribuído, gratuitamente,

através da Internet), o Aquino FreeBudget, que permite efectuar uma contagem apurada de diversos

tipos de arquivos, excepto os PDF e HTML, e gerar orçamentos em diversos formatos. Para os tipos

de documentos com que não consegue trabalhar, existem alternativas como o TotalAssistant

(<http://www.surefiresoftware.com/totalassistant>).

A elaboração do orçamento pode referir-se apenas ao texto puro, às páginas (ou o sítio completo) em

suporte físico, mas também à operação que Daniel Gouadec inclui na sua listagem, denominada «aspiração»

ou descarga do sítio da rede. Felizmente, o número de clientes de FTP e de programas de navegação off-

line («não em linha») é já bastante significativo (WebReaper <http://www.webreaper.net> ; WinHTTrack e

Page 33: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

32

WebHTTrack <http://www.httrack.com> para Windows 9x/NT/2000/XP e Linux/Unix, respectivamente...),

pelo que os profissionais contam com um bom leque de ferramentas para descarregar, sem

dificuldade, a estrutura completa de um sítio da rede para o disco rígido, de modo a poderem

trabalhar à vontade com todos os arquivos. No artigo citado, Daniel Gouadec destacava um

outro programa bem conhecido, o programa de navegação off-line WebCopier

(<http://www.maximumsoft.com/products/wc_windows/overview.html>). Na prática, a automatização dos

processos faz com que essa «aspiração» não apresente mais dificuldades do que cortar e colar pastas

entre duas janelas do ambiente Windows.

O orçamento poderá também contemplar a localização de um outro elemento bastante característico

dos conteúdos electrónicos, conforme referimos acima: as imagens. Felizmente, hoje também podemos

encontrar programas capazes de analisar os diferentes arquivos a tratar com programas de design

mais específicos (no caso de oferecermos nós próprios este tipo de serviços), como o AdobePhotoshop.

No capítulo dos programas que permitem analisar os pormenores dos diferentes tipos de imagens do

projecto, podemos citar o GIA - Globalization Image Assistant <http://www.ImageGlobalization.com>.

A seguir, mostramos uma captura desse programa, a processar as ilustrações da página que temos

vindo a utilizar como exemplo.

FIGURA 6. Imagens da página da Internet do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, processadas pelo Globalization Image Assistant GIA 1.8.1.

O GIA consegue preparar relatórios pormenorizados, em que se podem incluir as principais características

das imagens (como as dimensões, o tamanho e o tipo de arquivo), o texto original e o texto-alvo e, a

partir destes, a contagem de palavras. Também identifica as imagens multiframe (múltiplas imagens

captadas simultaneamente), incluindo as animações GIF. Além disso, permite incluir comentários

específicos relativos à natureza das imagens. Alguns destes vêm já pré-definidos, como vemos no

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menu contextual da FIGURA 6, dizendo respeito, por exemplo, ao carácter etnocêntrico ou ofensivo das

imagens. Com todos estes dados, é possível gerar documentos em formato Word ou Excel para fornecer

aos designers, ao cliente, ou para alimentar o nosso próprio fluxo de trabalho, se pertencermos a uma

agência que ofereça serviços globais de localização.

O W3C sugere, relativamente à internacionalização das páginas da Internet, que se facilite também a

localização das imagens. Uma boa estratégia a seguir pelos fornecedores de conteúdos electrónicos é

a de trabalhar a partir de camadas editáveis independentemente. No exemplo anterior, seria possível

criar uma imagem única a partir da sobreposição de duas imagens prévias, uma delas mostrando o

cacho de uvas e a outra exibindo o texto «Bem-vindo ao Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto».

Desse modo, o tradutor/localizador teria apenas que mudar o texto da segunda. Infelizmente, o número

de gestores de conteúdos de rede que seguem estes conselhos é ainda pouco significativo, embora se

preveja que, no futuro próximo, estes conselhos sejam respeitados, facilitando o trabalho de criação de

conteúdos multilingues e de localização.

O núcleo central dos projectos de tradução/localização de páginas da Internet é, sem dúvida, a tradução

do texto, que surge misturado com o código HTML ou em arquivos para descarga, nomeadamente em

formato RTF ou PDF. Assumimos que todos os tradutores dispõem de um programa ou conjunto de

aplicações que consegue trabalhar com o formato RTF. Na hipótese de não contarem com o Adobe

Acrobat para criar e alterar os documentos PDF (o Acrobat Reader é um progrma shareware que apenas

permite a sua leitura), dispõem de alternativas em código aberto, como o Xpdf (<http://www.xpdf.

com>), ou freeware, como o pdf995 (<http://www.pdf995.com/download.html>).

Quanto ao texto que vem misturado com o código HTML, o problema é mais grave. Qualquer alteração

acidental das marcas de código tem consequências imprevisíveis na integridade do sítio. Embora

assumamos que os profissionais e os aprendentes têm conhecimentos básicos do código HTML, não

esperamos que tenham um conhecimento exaustivo (e actualizado!) das convenções que afectam

fundamentalmente uma área profissional tão especializada como é a da criação do apoio técnico para

os conteúdos electrónicos.

Uma revolução relativamente recente no trabalho dos tradutores foi a introdução, no fluxo de trabalho

profissional, dos programas que gerem as «memórias de tradução», os dispositivos informáticos capazes

de armazenar pares de segmentos textuais equivalentes que resultam do processo de tradução, ou

então do «alinhamento de textos», quer dizer, do emparelhamento de segmentos de traduções prévias

ou de textos paralelos. Pode consultar-se, em linha, uma boa descrição deste tipo de dispositivos e da

sua utilidade na prática profissional em Webb.

Um programa útil para traduzir páginas da Internet deve combinar a capacidade de isolar o texto puro

das marcas de código com a possibilidade de gerar e (re)utilizar memórias de tradução. Provavelmente,

o padrão na última destas áreas continua a ser definido ainda hoje pela Trados (<http://www.trados.

com>). Há vários anos que a Trados distribui no mercado, com grande êxito, produtos que simplificam

o trabalho dos profissionais da tradução, pois combinam memórias, gestão terminológica, alinhamento

de texto, tradução de recursos e executáveis, apresentações ou arquivos de folhas de cálculo, e a

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tradução de texto marcado (HTML ou os formatos nativos de QuarkXPress, PageMaker ou Ventura). O

TagEditor é, mais concretamente, a aplicação que utilizamos para esta última função.

FIGURA 7. Ambiente de trabalho no TagEditor 5.5.2.257, a exibir as marcas para o texto da página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.

Outra função interessante do TagEditor é a capacidade de exibir os resultados das traduções e confrontá-los

com a página original. Esta possibilidade é especialmente útil, por exemplo, nas ocasiões em que o espaço

ocupado pelas palavras de cada uma das línguas é diferente (devido ao número de letras), podendo alterar a

formatação da página e interferir com elementos extratextuais, como as imagens. A FIGURA 8 exemplifica

esta função, mostrando a versão original à esquerda e a versão parcialmente traduzida à direita.

FIGURA 8. Ambiente de trabalho no TagEditor 5.5.2.257, a exibir em modo WYSIWYG as versões original e parcialmente traduzida para espanhol (atente-se na coluna da direita)

da página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.

Page 36: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

35

Outro programa que combina a gestão das encomendas (distinguindo texto e imagens e permitindo

a contagem de palavras e arquivos gráficos), o isolamento do texto a traduzir, ocultando as «marcas»

(tags), e que permite utilizar uma memória de tradução autónoma é o CatsCradle, que tem, além disso,

a vantagem de ser freeware (<http://www.stormdance.freeserve.co.uk>).

FIGURA 9. Ambiente de trabalho e contagem de palavras e gráficos a traduzir a partir da função «Catálogo» do CatsCradle 2.8, com a página do exemplo anterior.

Na imagem do ecrã da FIGURA 9, vemos o módulo de tradução do CatsCradle em duas colunas, com o

texto original à esquerda e a tradução à direita (nesta captura, o texto apresenta-se ainda por traduzir).

Em sobreimpressão, aparece uma descrição da página que deverá ser traduzida (o «Catálogo»), com

a contagem das palavras e dos gráficos com que iremos trabalhar na localização. Repare-se que o

programa apresenta unicamente os segmentos de texto que devem ser traduzidos, ocultando as marcas.

O CatsCradle inclui também uma memória de tradução e um gestor terminológico, que permitem

reutilizar os segmentos que já foram traduzidos em novas traduções. A memória utiliza um sistema

de cores (azul e verde) para identificar os segmentos traduzidos e deixa ao utilizador a liberdade de

escolher o momento em que ela pode ser actualizada.

O CatsCradle consegue trabalhar em modo WYSIWYG (What You See Is What You Get). A opção

«Navegador em tempo real» permite exibir no ecrã os resultados parciais da tradução, tal como

ela irá ficar.

Page 37: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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FIGURA 10. Página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, capturada e importada com CatsCradle 2.8, pronta para ser traduzida (em modo WYSIWYG).

O CatsCradle tem ainda uma outra capacidade interessante que é a de abrir um editor de instruções

para localizar os applets em JavaScript que possam estar inseridos nas páginas, como aconteceu no

nosso EXEMPLO 3.

FIGURA 11. O editor de instruções do CatsCradle 2.8 a ser utilizado para traduzir o código JavaScript inserido no Exemplo 3.

Page 38: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

37

A versão XP do Aquino WebBudget combina três possibilidades: a de gerar orçamentos a partir da

contagem de palavras e de imagens, o isolamento do texto a traduzir e uma aplicação para descarregar

sítios completos.

FIGURA 12. O Aquino WebBudget XP a preparar um orçamento para a tradução da página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.

A tradução de páginas da Internet também pode envolver o trabalho com clips de vídeo, que tanto

podem estar inseridos na página, como ser oferecidos para descarga. Um dos formatos mais habituais é o

MOV, nativo da QuickTime (<http://www.apple.com>), que concorre com outros tipos de arquivo, como

o ASF da Microsoft, o AVI (Audio Video Interleave), o RealMedia, o Xvid e o DivX (os novos MPEG4, que

concorrem com o padrão de compressão MPEG2 que encontramos nos DVD convencionais). O trabalho

com vídeo digital conta, felizmente, com um número importante de ferramentas shareware e freeware

(ligeiramente menos para o ASF, que não é um formato livre), que permitem resolver as encomendas

mais simples, já que as mais complexas ultrapassam, habitualmente, as capacidades dos tradutores

independentes e das pequenas agências de tradução. O SubtitleWorkshop (<http://urusoft.co.nr>) é

um programa shareware que permite legendar o vídeo digital, bem como exportar o resultado para os

formatos mais habituais. Embora não consiga trabalhar com arquivos MOV, é possível convertê-los em

outros tipos de arquivos com os quais se pode trabalhar a partir de programas de distribuição livre, como

as RAD Video Tools (<http://www.radgametools.com>). Com este programa (que é, na realidade, um

conjunto de aplicações) ou com outras ferramentas (cf. <http://www.doom9.org>), podemos também

misturar vídeos com arquivos de áudio diferentes («multiplexá-los») (se tiverem sido fornecidos pelo

cliente), acrescentar/modificar legendas, etc. Alguns dos formatos de áudio mais comuns são o AC3

(para Dolby Digital), os mais leves MP3 e OGG (o OGG é em código aberto) e o mais pesado WAV.

Page 39: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

38

FIGURA 13. O clip de vídeo Libre, de Joaquín Oristrell (<http://www.haymotivo.com>), a correr no programa de legendagem Subtitle Workshop 2.03.

Um factor habitualmente menosprezado na formação de tradutores, mas que nós não queremos deixar

de lado, tem a ver com a operação com que abrimos esta epígrafe: a gestão das encomendas, do ponto

de vista profissional, que inclui a criação de orçamentos, as estratégias de fidelização dos clientes e

o fluxo de trabalho. Habitualmente, a tradução de sítios da Internet faz parte de encomendas que

ultrapassam o carácter pontual. Na prática, as empresas do comércio electrónico necessitam de contar

com actualizações periódicas dos conteúdos multilingues das suas páginas. Obviamente, nenhuma

delas estará disposta a remunerar as actualizações das páginas, mantendo os preços das primeiras

traduções. A reciclagem de material traduzido (e, portanto, o uso de memórias de tradução a que já

nos referimos) é praticamente inevitável nestes casos, devendo a gestão de orçamentos e a facturação

adequar-se a este facto.

Os profissionais encontram, hoje, no mercado, produtos vocacionados especificamente para a sua

actividade profissional que permitem gerir o ciclo de trabalho, calcular orçamentos e aplicar descontos

a partir da utilização de ferramentas de tradução assistida. Um bom exemplo deste tipo de produtos é

o Translation Office 3000 (<http://www.translation3000.com>), um conjunto de aplicações e de bases

de dados relacionadas que permite administrar, com eficácia, pequenos trabalhos de tradução.

Page 40: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

39

FIGURA 14. Janela de inserção do perfil dos clientes no Translation Office 3000 v.7.

Temos vindo a apresentar algumas das ferramentas essenciais ao trabalho dos tradutores/localizadores

das páginas da Internet. Dadas as características deste trabalho e a magnitude do tema (a casuística

é praticamente impossível de delimitar), não pretendemos fazer mais do que mencionar brevemente

as circunstâncias profissionais que envolvem as encomendas e que nos permitem caracterizar as fases

da sua reprodução em ambiente de sala de aula. No artigo de D. Gouadec, a que nos referimos, o

autor citava um produto informático bastante interessante: o WordFast (<http://www.champollion.

net>). Trata-se de um conjunto de macroinstruções desenvolvidas para trabalhar em conjunto com

o Microsoft Office (em combinação com as +Tools, que podem descarregar-se na mesma localização

como produto freeware) e que são capazes de reproduzir, a um custo reduzidíssimo, muitas das funções

de outros programas comerciais. Alguns dos programas que aqui apresentámos, como o CatsCradle,

partilham essa mesma característica, por ser nossa convicção que a formação de tradutores deve incluir,

não só o conhecimento das ferramentas mais habituais no desempenho profissional, como também

o desenvolvimento do espírito crítico em relação à supremacia, aparentemente inquestionável, dos

programas comerciais mais (re)conhecidos e a procura de alternativas que permitem poupar recursos.

Trata-se, por outras palavras, de adquirir a capacidade de optimizar a gestão profissional.

Por este motivo, na nossa óptica, a formação de tradutores deve incluir, necessariamente (e não apenas

na área da localização de conteúdos electrónicos), uma referência aos programas de código aberto.

Neste momento, existem várias alternativas à hegemonia do ambiente Microsoft Windows, baseadas

no sistema operativo Linux, relacionado com a licença GNU (<http://www.gnu.org>), que permite

realizar um número ilimitado de cópias dos produtos que adquirimos (ou que obtemos directamente da

Internet), modificá-las e adequá-las às nossas necessidades, redistribuí-las ou até vendê-las novamente,

sem estarmos a cometer uma ilegalidade.

Page 41: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

40

Embora a tradução ainda não seja uma área privilegiada na criação e na difusão de programas

especialmente concebidos para o sistema operativo Linux, já existem algumas excepções (v. uma

boa mostra em <http://www.linuxfortranslators.org>). Na verdade, um tradutor pode começar a sua

actividade profissional, de forma eficaz e sem grande necessidade de reciclar os seus conhecimentos,

com uma distribuição como a Mandrake (<http://www.mandrakelinux.com/pt>), que corre também

em língua portuguesa (já existem produtos criados em Portugal, como a Caixa Mágica

<http://www.caixamagica.pt/pag/a_index.php>, que lançou, recentemente, a versão Desktop 8.1 Pro).

Para os não-iniciados, há uma excelente distribuição, que corre sem instalação a partir de um CD-ROM,

o Kurumin (a ISO do CD-ROM pode descarregar-se a partir de <http://www.guiadohardware.info>),

que foi criado no Brasil por Carlos Morimoto e que é baseado na Knoppix (<http://www.knoppix.org>),

que já foi (re)organizada no Kalango (<http://www.kalango.org>). Há também diversos editores

de texto capazes de processar, com eficácia, textos em HTML, DHTML e XTM, como o Quanta

(<http://quanta.sourceforge.net>), o BlueFish (<http://sourceforge.net/projects/bluefish>) ou o NVU

(<http://www.nvu.com>). A Linux é uma magnífica plataforma para gerir servidores da Internet a

partir do Apache (<http://www.apache.org>), que também conta com uma versão para Microsoft

Windows. Uma das ferramentas de criação de páginas dinâmicas mais usadas no mundo (senão

mesmo a mais usada), que é também um produto em código aberto, é o PHP (<http://www.php.net>).

O ambiente Linux dispõe de um magnífico programa para trabalhar com arquivos gráficos, para editar

imagens, botões e até animações: o Gimp (<http://www.gimp.org>). A jóia da coroa dos programas de

código aberto é o OpenOffice (<http://www.openoffice.org>), um conjunto de aplicações com prestações

equivalentes às do Microsoft Office, que lançou recentemente a versão 1.1 (tem também uma versão

paralela, de carácter comercial, o StarOffice), que até exporta directamente arquivos em formato PDF.

O mundo dos programas de código aberto merece ser conhecido pelos tradutores, merecendo, também,

ser apresentado nas aulas: é só experimentar, conferir e escolher a cada momento a opção que melhor

se adapta às nossas necessidades.

FIGURA 15. O programa de edição de páginas da Internet, Quanta 3.1, correndo na distribuição Mandrake 9.1, com o gerenciador de ambiente Gnome 2.2,

a editar a página do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto.

Page 42: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

41

Naturalmente, os programas de código aberto são muito mais do que uma ferramenta informática

de baixo custo: eles são a expressão última de uma nova filosofia, de um modo diferente de entender

a Sociedade Global que nos rodeia. O acesso maciço às novas tecnologias da informação e da

comunicação tem nos programas de código aberto um instrumento de democratização fundamental,

como se constata pela leitura deste trecho de um relatório recente de The Internet Society para a

UNESCO (Maxwell ed. 2000):

«The impact of open source software in less developed countries can result in:

• Easy access to software products. Open source software can be easily

available for individuals and companies in less developed countries.

• Cost-effective transfer of software technology. Developed countries can

make cost-effective contributions to less emerging economies by helping

them to adopt free software technologies. Since there is no royalty or

per-copy fees, the cost of this transfer is really low for the contributor

country. Contributions can be focused in training, localization and

contextualization with a great multiplier factor.

• Direct access to software technology. Emerging economies can be granted

access to leading edge software technologies without having to pay

expensive royalties.»

A notícia recente (16.02.2004) da existência de uma equipa de trabalho no Ruanda a localizar a

OpenOffice para kynyarwanda, a língua maioritária do país, que ainda não tem palavras para designar

os computadores (v. <http://news.com.com/2102-7344_3-5159179.html?tag=st.util.print>), é

suficientemente reveladora. Contudo, as recomendações do relatório não são válidas apenas para os

países do Terceiro Mundo. No estado espanhol, na Comunidade Autónoma da Extremadura, a Junta

de Extremadura lançou um ambicioso programa de inserção maciça dos cidadãos extremenhos na

Sociedade da Informação (v. <http://www.nccintegrared.org>), baseado no uso de uma distribuição que

foi desenvolvida para esse efeito em 2002, a LinEx, que contém conjuntos de aplicações (processador

de texto, apresentações, finanças), programas para gerir a ligação à Internet (navegador, IRC – Internet

Relay Chat [sistema de conversação multiutilizador, em directo], correio electrónico) e actividades

relacionadas com o lazer, como vídeos, música e jogos. O último exemplo que citaremos vem de França,

mais concretamente, do Programme Gouvernamental ADELE – Plan Strategique de l’Administration

Électronique (P2AE) 2004-2007 do Ministère de la Fonction Publique, de la Réforme de l’État et de

l’Aménagement du Territoire, Secrétariat d’État à la Réforme de l’État (<http://www.adae.gouv.fr/

article.php3?id_ article=315>). Vejamos o que nele se diz (5):

Page 43: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

42

« b) Instaurer une véritable politique d’emploi des logiciels

Les ministres de l’Union européenne, réunis à Côme les 7 et 8 juillet 2003, ont

encouragé leurs administrations à utiliser des standards ouverts. Par ailleurs, ils

ont pris note de l’intérêt croissant pour l’utilisation des logiciels libres dans les

administrations publiques.

L’objectif du gouvernement français n’est pas d’imposer un recours

systématique aux logiciels libres et aux standards ouverts dans l’administration,

mais de veiller à ce que l’ensemble de l’offre – y compris celle reposant sur le

logiciel libre – soit prise en compte au moment du choix, l’interopérabilité et la

mutualisation devant rester les principes fondateurs de ce choix.

Les bénéfices de l’emploi des logiciels libres pour les systèmes d’information

des administrations de l’État et des services publics sont en effet de plusieurs

ordres :

– Accéder à un patrimoine considérable de logiciels souvent de qualité

et conformes aux normes ;

– Maîtriser le rapport coût total de la solution/adéquation aux besoins,

par le renforcement de la concurrence, afin de maintenir ce ratio à un

niveau le plus bas possible ;

– Maîtriser les logiciels eux-mêmes et pouvoir s’assurer de leur

pérennité. Cet argument prend une résonance particulière dans des

domaines touchant à la sécurité tels que l’authentification et l’identité

du citoyen ou ceux relatifs à l’intégrité, à la confidentialité et à

l’accessibilité des données au cours du temps;

– Capitaliser les nombreux développements réalisés par et pour

l’administration afin de faire bénéficier rapidement l’ensemble des

administrations d’un logiciel d’intérêt général développé pour une

entité administrative donnée.

Pour qu’existe une véritable concurrence entre différents fournisseurs, y

compris sur les postes de travail et les logiciels de bureautique, l’ADAE étudiera

avec les départements ministériels l’opportunité de faire migrer sur des

solutions «libres» une partie des postes de travail des agents de l’État.»

Page 44: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

43

FIGURA 16. O programa de design gráfico Gimp 1.2.3 e o processador de textos do OpenOffice 1.1 correndo na distribuição Mandrake 9.1, com o gerenciador de ambiente Gnome 2.2.

UMA PROPOSTA DE PROGRAMAÇÃO DOCENTE

Como avançámos acima, o propósito deste artigo não era apresentar todos os casos que envolvem a

tradução de páginas da Internet. Este tipo de trabalho daria, com certeza, para um volume monográfico

que, no entanto, não deixaria de ser incompleto. Felizmente, a criatividade humana não tem limites.

Os conteúdos da Internet são um exemplo excelente dessa mesma criatividade, reflectindo as suas

características. Contudo, as informações anteriores oferecem uma primeira impressão da tarefa que

nos propomos descrever.

No início deste texto, salientámos a necessidade de descrever um novo espaço académico, tendo

presentes a sua função social e características profissionais, bem como as estratégias de formação

adoptadas, de forma a adequá-las aos objectivos da formação. É sobre este último aspecto que nos

detemos a seguir.

Tendo presentes as sugestões de Gouadec (2003, 529-530), propomos os momentos de formação que

constam desta lista:

Page 45: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

44

TABELA 2.

Qualquer proposta de organização de um curso académico apresenta um certo grau de subjectividade,

e esta que nós apontamos não tem intenção de escapar a essa contingência. Prescindimos, para

começar, de mais pormenores relativamente ao tipo de curso. A localização de páginas da Internet

(ou, se preferirmos, de «conteúdos electrónicos») tanto pode constituir seminários específicos, como

integrar-se em programas de carácter mais generalista (por exemplo, Solà 2003, 81-82). O plano que

propomos admite, portanto, diversos graus de profundidade de tratamento, pois, além do factor tempo,

haveria outras questões a considerar (de que nós prescindimos) como as que Jean Quirion (2003, 555-

556) menciona a propósito da localização dos programas informáticos:

Ciclo prático

1. Criação de conteúdos electrónicos (I). A construção e a edição de páginas e sítios de rede. Linguagens de instruções, sistemas de marcação e bases de dados.

3. Planificação e gestão de conteúdos electrónicos. Internacionalização e localização: conceitos e padrões.

2. Criação de conteúdos electrónicos (II). Arquivos de texto. Gestão terminológica e utilização de memórias de tradução.

3. Criação de conteúdos electrónicos (III). Arquivos de imagem e material audiovisual.

4. Localização de conteúdos electrónicos (I). Análise e gestão das encomendas.

5. Localização de conteúdos electrónicos (II). Resolução global das encomendas.

6. Localização de conteúdos electrónicos (III). Controlo de qualidade e avaliação (testing).

Ciclo teórico

1. Introdução. A rede Internet. Sítios de rede, páginas da Internet e suportes para os conteúdos electrónicos

2. Fundamentos da comunicação intercultural.

3. Planificação e gestão de conteúdos electrónicos. Internacionalização e localização: conceitos e padrões.

Page 46: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

45

«Il ne faut pas perdre de vue qu’un cursus en localisation nécessite des

ressources professorales et matérielles relativement peu communes. D’un côté,

les ressources professorales sont forcément rares; il est déjà souvent difficile

de recruter des professeurs rompus aux aides à la traduction et, à plus forte

raison, à la localisation. L’émergence du domaine et des cursus implique que les

professeurs en place dans les universités n’ont pas, sauf exception, d’expérience

de la localisation. [...] Les difficultés liées aux matérielles ne sont pas non

plus à négliger. L’offre de cours en localisation nécessite un laboratoire fort

bien pourvu en matériel et logiciels. Ces derniers sont très coûteux et mis à

jour à un rythme rapide. Il demeure difficile pour les universités de créer un

environnement favorable à l’apprentisage des outils informatiques.»

Com efeito, a formação universitária de tradutores nestas áreas envolve frequentemente a contratação

de pessoal especializado ad hoc, bem como a atribuição de importantes recursos económicos para

dotar as salas de equipamento informático, multimédia, etc. Na nossa óptica, convém ultrapassar

de vez a visão esclerosante do papel social dos tradutores associado à Literatura e aos estudos

filológicos tradicionais e começar a assumir (já não será sem tempo) o carácter «técnico» da mediação

linguística.

Para além destas questões, de natureza mais pragmática, convém não perder de vista um outro aspecto,

que diz respeito ao segundo tema do ciclo teórico que propomos. No momento em que apresentámos

um programa para analisar as imagens das páginas da Internet, referimo-nos à necessidade de tomar em

conta algumas das suas características, como o facto de conterem elementos ofensivos para algumas

culturas, ou de estarem «ancoradas» na cultura original. Este tipo de questões tanto pode revelar-se

em pormenores ortotipográficos, como em elementos culturais com um enorme valor simbólico. Numa

página em inglês, por exemplo, as datas têm o formato YYYY-MM-DD (2004-07-04), que não se adapta

a todas as línguas. Outro exemplo, bastante frequente, será o tratamento de determinadas quantidades

(um bilhão português, habitualmente designado por bilião, é diferente de um bilhão brasileiro); o AIDS

inglês não mudará numa versão brasileira, mas será «sida» em Portugal... Existem, no entanto, casos

bastante mais subtis que requerem capacidades específicas da comunicação intercultural. F. E. Jandt

(2000, 111), por exemplo, diz a propósito do «sinal da vitória»:

«U. S. soldiers were warned against using the “V for victory” or peace sign in

Bosnia-Herzegovina. Serbs would find it offensive to see the peace-keeping

troops making this sign, as the Croats use it as an informal greeting.»

Com efeito, a comunicação intercultural envolve muitos aspectos para além dos estritamente

linguísticos. A comunicação não verbal tem nas imagens um dos seus alicerces. E as imagens são, como

Page 47: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

46

sabemos, fundamentais no material que circula pela Internet. Até nos países em que as distâncias

culturais parecem menos evidentes, estes aspectos merecem uma atenção especial. A utilização de um

torero para representar a versão, em língua espanhola, de uma página da Internet não é bem aceite

por muitos cidadãos espanhóis, sendo ridícula para uns e ofensiva para outros. Na Catalunha, por

exemplo, uma conhecida marca de brandy que utiliza como símbolo um touro de grandes dimensões,

colocando-o em locais bem visíveis, foi alvo de um boicote. Até as cores, as formas dos botões, as

ilustrações e os modos de apresentar a informação estatística podem ter conotações especiais. A

adaptação dos conteúdos da Enciclopédia Encarta, da Microsoft, para espanhol constitui um exemplo

interessante:

«Although the headword “Falkland Islands” is used in English-speaking locales

and is acceptable in the US, it cannot be used in the Spanish product due to

its unacceptability in Argentina where the product is sold. The Spanish product

refers to the island group as “Islas Malvinas”.» (Kohlmeier 2000, 9)

Brislin & Yoshida (1994, 41-55) referem um conjunto de categorias para sintetizar os fundamentos das

diferenças culturais, os quais constituem o esqueleto dos fundamentos da comunicação intercultural do

nosso programa. De entre eles, salientamos as diferentes formas de categorização (que estão na base

da criação dos estereótipos e, portanto, dos preconceitos), a distinção nós-eles (In-Group/Out-Group

Distinction) e as atribuições pelas quais se determinam os motivos das condutas individuais. Na opinião

destes autores, nas interacções interculturais convém estar atento aos aspectos que reflectem as formas

de conhecimento específicas de uma cultura: o trabalho, o espaço e o tempo, a linguagem, os papéis

sociais, a importância do grupo e a importância do indivíduo, os rituais e as superstições, as hierarquias e

o estatuto e valores. Infelizmente, a reflexão sobre este tipo de conhecimentos nem sempre acompanha

as aptidões mais «instrumentais» dos programas de formação de tradutores, apesar de já contarmos

com um importante arsenal teórico-prático, como o estimulante trabalho de D. Katan (1999).

Atente-se agora às capacidades dos tradutores que participam em projectos de localização, segundo

a LEIT (LISA Education Initiative Taskforce, <http://www.lisa.org/info/leit.html>, num documento

de 1998 (LEIT Report, Findings, and Recommendations). A LEIT é uma divisão da prestigiosa LISA

(Localization Industry Standards Association, <http://www.lisa.org>, orientada especificamente para a

formação. A LISA, fundada em 1990, define-se como «the premier non-profit organization for the GILT

(Globalization, Internationalization, Localization, and Translation) business community», e dela fazem

parte algumas das principais empresas mundiais relacionadas com as novas tecnologias da informação

e da comunicação (6).

Page 48: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

47

«TRANSLATORS

Skill Average Score Relative

importance

Basic SkillsProficiency in translation skills and methodologies

Awareness of cultural issues

Basic word-processing skills

Basic terminology management and research skills

Proficiency in a number of languages

Basic internet and web skills

1.39

1.51

1.73

1.86

2.02

2.29

-0.83

-0.71

-0.50

-0.36

-0.20

0.07

Additional Skills Culture-specific translatability problems

Familiarity with translation-oriented terminology management

Flexibility to work in technical fields

Familiarity with translation technology tools

Translation memory systems

Team-oriented translation work

Terminology management systems

Detailed word-processing capability

Expert terminology search, including web-search strategies

Experience with translation support tools

Experienced users of tools

Use of desktop publishing software

Stress-management

Machine Translation

Ability to format check outside of preferred languages

1.69

2.00

2.08

2.16

2.20

2.20

2.25

2.39

2.44

2.55

2.56

2.64

2.98

3.24

3.35

-0.54

-0.22

-0.14

-0.07

-0.03

-0.03

0.03

0.17

0.22

0.33

0.34

0.42

0.76

1.01

1.13»

A flexibilidade para compreender problemas de tipo cultural na tradução apresenta-se-nos como uma

aptidão adicional; e a consciência das circunstâncias que envolvem as diferenças culturais como uma

habilitação básica. Nós, que concordamos absolutamente com esta opinião, precisamente por isso

julgamos imprescindível a introdução de conteúdos relativos à gestão intercultural nos programas de

formação de tradutores/localizadores. De facto, a localização envolve esse processo de adaptação, que

é complementar à tradução. A própria LISA define assim a Localização:

Page 49: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

48

«The Localization Industry Association (LISA) defines localization as “the

process of modifing products or services to account for differences in distinct

markets”. In practice, this means that localization needs to address three main

categories of issues:

Linguistic issues

These relate to the translation of a product’s user interface and documentation

and may also extend to the translation and re-engineering of any underlying

linguistic functionality such as applications programming interfaces (APIs),

search engines or wizards.

Content and cultural issues

In many cases, the information and functionality contained in products need

to be adapted for local audiences. Cars sold in Britain cannot have the steering

wheel on the left, while accounting software will have to comply with local

generally accepted accounting principles, to give just two examples. Cultural

issues concerning the presentation of information (icons, graphics, colors,

forms of address, etc.) may also need to be taken into account.

Technical issues

Supporting local languages and content may require redesing and

re-engineering. For example, Arabic scripts are bi-directional (i.e., they

generally run from right to left, except for numbers and foreign-language

words, which run from left to right). Equally, Far Eastern languages require

twice the disk space of English for each character (which is why their alphabets

are known as “double byte character sets”, or DBCs). Adapting products to

these scripts therefore requires changes to the code (in the case of software)

and/or product design, packaging, etc. Ideally, the localization process follows

on from product globalization [...] and should not be confused with it.»

Convém recordar aqui que o relatório da LEIT partia de uma divisão teórica em diferentes «perfis

profissionais» (profiles), a propósito dos tipos de trabalho que são detectados em diversas companhias:

Upper management, Project managers, Software engineers, Translators e Technical Writers. Anthony

Pym (2002) já assinalou uma progressiva tendência do mercado profissional globalizado, que nós

queremos salientar, considerando os tradutores como meros transcritores interlinguísticos. A tecnologia

que acompanha o seu trabalho, como as memórias de tradução (que recuperam, no fundo, a velha

noção de equivalência), está a fazer com que o trabalho dos tradutores seja cada vez mais mecânico.

O tradutor tornar-se-ia, assim, um simples operário que procura e substitui segmentos linguísticos.

A consequência evidente é a necessidade de conseguir que os aprendentes estejam conscientes da

dimensão global do processo que envolve a sua participação, a partir da máxima versatilidade e da

máxima capacidade de controlar essa dinâmica. Com as palavras de Pym:

Page 50: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

49

«True enough, most discourses on localization restrict “translation” to the

replacement of user-visible natural-language strings, leaving the more creative

parts of localization projects to experts in marketing or product re-engineering.

For reasons of efficiency, this involves an operational discontinuity between

the two modes of mediation. The natural-language strings requiring translation

and leveraged out from the rest of the product codes. They are then usually

sent to people who just translate, and who only receive pay for just translating.

The adaptative and more lucrative parts of localization projects go to specialists

in alternative modes of mediation.»

E ainda,

«Often it is only by moving into the more high-tech sectors, or by becoming

project managers, that our graduates really find liveable long-term employment.

If we prepare them for no more than narrow linguistic replacement tasks, they

will be no more than foot-soldiers in battles of which they will have neither

vision nor control.»

Por esses motivos, o programa que propomos acentua o carácter global das encomendas, bem como as

diferentes fases em que consideramos o processo: análise, resolução e avaliação. Assumimos que o único

modo de veicular este tipo de conhecimentos é a partir da cooperação entre diversos agentes. Portanto,

os estudantes, no final da aprendizagem, devem estar em condições de reconhecer as diversas fases

e devem contar com as noções fundamentais para participar em cada uma delas, nas suas diferentes

dimensões: criação de orçamentos e facturação, tradução (+ adaptação cultural), documentação,

administração de recursos (memórias, glossários), revisão. De modo simultâneo, deverão conhecer

as diferentes ferramentas de que dispõem para esses trabalhos e terão de conseguir avaliá-las no

seu contexto, com uma perspectiva crítica (7). Esse conjunto de conhecimentos, fornecido em cursos

gerais, é o que depois permitirá, em cursos específicos, optar por orientações específicas (direcção de

projectos, gestão de recursos informáticos... até, eventualmente, localização-design).

Por outro lado, a fronteira entre a localização de conteúdos electrónicos e a sua criação/gestão é cada

vez mais ténue. Os tradutores/localizadores têm de possuir os instrumentos formativos necessários

para poderem concorrer com eficácia «também» nas áreas criativas. Como acabámos de ver, aliás, o

único modo em que pode ser safisfeita, eficazmente, a encomenda de traduzir páginas da Internet

é a partir de um conhecimento prévio (nem que seja elementar) dos fundamentos da construção de

páginas da Internet. Tudo o que se disse anteriormente justifica que este tipo de conteúdos apareçam

no programa que sugerimos.

Page 51: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

50

CONCLUSÃO

Nas páginas precedentes, tentámos apresentar algumas das características mais relevantes da

localização de páginas da Internet na formação de tradutores, a partir da caracterização sintética da

actividade profissional que envolve e do seu papel social, bem como das circunstâncias que parece

oportuno considerar na sua descrição académica.

Estamos muito conscientes das limitações que apresenta este tipo de trabalhos, em que se pretende

transpor para a formação superior as estruturas do mundo profissional real. Este proceso acarreta,

necessariamente, um certo grau de abstracção e idealização, que é sempre perigoso. As limitações

que apontamos são ainda mais evidentes no caso das novas profissões que ainda não delimitaram o

seu espaço social, como aquela de que nos ocupamos. Habitualmente, o mundo académico começa

a interessar-se por este tipo de actividades e a codificá-las só quando elas estão bem consolidadas.

Do nosso ponto de vista, porém, os inícios são, precisamente, os momentos mais interessantes para

começar o processo de retroalimentação entre a Universidade e a Sociedade, até porque os saberes

académicos não podem diferir, por omissão ou por indiferença, dos saberes sociais.

1. O programa MLIS (1996-1999), juntamente com o programa INFO-2000 ([1996-1999]; confira-

se o relatório final em <http://www.hltcentral.org/usr_docs/eContent/INFO2000-Final-Eval-Report.

pdf>), lançou os alicerces para o programa eContent (2001-2005) <http://www.cordis.lu/econtent>,

que ainda vigora.

2. V. um interessante trabalho sobre o papel do XML nos processos de localização em Savourel (2002).

3. V. a descrição do fluxo de trabalho na gestão real de um sítio multilingue em Cheng (2001).

4. A referência imprescindível para ferramentas de localização é o livro de Esselink (2000). Um artigo

recente, com um bom leque de informações sobre esta matéria, é o de Sókoli (2002).

5. V. também as Fichas-Projecto do relatório: por exemplo, ADELE-129 (AGORA, nas págs. 420-421 do

Anexo ao Programa) relativamente à gestão de sítios de rede.

6. Pode consultar-se uma listagem completa dos membros da Assembleia Geral da LISA em

<http://www.lisa.org/members_info/gamembers.html>.

7. Cfr. a descrição de uma interessante experiência pedagógica de gestão integral de uma encomenda

(por acaso, relacionada com a tradução de documentação Linux) por um grupo de estudantes, com

diversas ferramentas informáticas em Kühbler (2002).

Page 52: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

51

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Page 53: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

52

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HIPERLIGAÇÕES

Todas as hiperligações deste documento foram verificadas a 7 de Abril de 2004.

Page 54: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

53

SHORT FORMS, LONG SEARCH: TRYING TO MAKE SENSE OF ABBREVIATIONS *

VICKY HARTNACK

Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras

Abstract:

There is a marked lack of methodical reference when it comes to using initials, abbreviations and

acronyms in Portuguese economic and financial texts, thus making it very difficult for the translator to

decipher meaning. This study analyses the problem and attempts to classify these sorts of initials into

categories to make translation (mainly into English) easier.

Keywords:

Economic texts; Initials; Abbreviations; Acronyms; Classification.

Resumo:

A ausência de um método no uso das siglas, abreviaturas e acrónimos em toda a espécie de textos

sobre assuntos económicos e financeiros em língua portuguesa dificulta a vida do tradutor, que tem de

encontrar uma forma coerente de os decifrar. O estudo analisa o fenómeno das siglas, procurando pistas

para a sua categorização e mais fácil tradução para outras línguas, nomeadamente a inglesa.

Palavras-Chave:

Textos económicos; Siglas; Abreviaturas; Acrónimos; Categorização.

INTRODUCTION

One thing is certain when translating the acronyms, abbreviations and initials usually scattered

throughout Portuguese economic, trade and commercial texts, and that is that the translator is in

for an adventure. This means embarking on a long search in order to get to the bottom of these short

forms. A series of doubts cross his/her mind as the search ensues: does the translator have to know

what each abbreviation means so as to translate it, or can it be left as it is in the original language with

CO

NF

LU

ÊN

CI

AS

-

R

ev

is

ta

d

e

Tr

ad

ão

C

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íf

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2

00

4

Page 55: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

54

an explanation in brackets? Abbreviations, acronyms and initials of a group of words obviously have a

different status for the user/writer than they do for the translator and it is this fundamental difference

that I would like to look at in this paper (1).

“ACRONYM”, “ABBREVIATIONS” AND “INITIALS” – CLARIFYING TERMS

The terms, “acronym”, “abbreviations” and “initials” need to be clarified. As is common knowledge,

an initial is the first letter of a word, as in MBA meaning a Masters in Business Administration or

p.m. for post meridian or DGCC (Direcção Geral do Comércio e da Concorrência). An abbreviation

may be the initials of a series of words, as in JIT technology (just-in-time technology) or R&D

(research and development), or a part of a word or words, such as, BC-NET which is short for Business

Company match-makers NETwork, a European Union (EU) network. According to the Merriam-Webster

dictionary, an acronym is a composite word issuing from the initials of a series of words or parts

of a compound term, giving a new term that is able to stand on its own: e.g. maser (microwave or

molecular amplification by stimulated emission of radiation), or VALOREN, an EU programme to mean

VALORisation of ENdogenous potential or the now fading Yuppy derived from Young, upwardly mobile

professional people and which in the plural, becomes Yuppies, or DINKS for an informal classification

of a social and tax status, namely Dual Income, No Kids.

More often than not, the acronym is absorbed into the language as a new term and is not translated,

although there might be pronunciation variations or a slight change in spelling to accommodate each

language’s idiosyncrasies. Moreover, what might be an acronym in one language, might not be in

another. Take the case of radar. Although it might be an acronym in English because it is derived

from radio detecting and ranging, in Portuguese it is not considered an acronym but a word in its

own right, that has been incorporated into the language from English. One may even argue that most

English-speakers are not even aware of the fact that “radar” was initially (i.e. during World War II) an

acronym.

This fact prompts a point about acronyms particularly when thinking about how a term changes its

status from acronym to word when it enjoys widespread use among the general public. For example,

AIDS – not as an abbreviation for Agency for International Development, or Artificial Insemination by

Donors – but Acquired Immunodeficiency Syndrome caused by a human immunodeficiency virus (HIV).

People have to think hard about what the acronym means, a fact which automatically favours making

the abbreviated form into the standard word that is meaningful. The fact that the acronym AIDS is

often written as Aids is telling and may be compared to the term SIDA in Portuguese, which is often

written as Sida. There are also terms like IVA (VAT in English), Prodep from PRODEP (an EU programme

for economic development and planning) which have become acronyms. Company names, government

bodies, brand names, new, artificial, or synthetic materials, military hardware and computerised

technology, not to mention new diseases are often best known in acronym form, e.g. IPC-Anacom (the

Portuguese Autoridade Nacional de Comunicações), Infarmed, Microsoft, Endvac (computer), polyester,

SAMs, Cobol, just to name a few.

Page 56: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

55

USING ABBREVIATIONS IN SPECIALISED LEXIS

When compared with practices observed in business or economic newspapers and magazines ten years

ago, in the last few years the media have become more aware of the need to write the term in full

when first referring to it, following it up by the initials in brackets. A typical report would usually have

the initials in the headline and the full version in the body of the text as the example below aptly

shows. In this case translation is facilitated (2).

CMVM quer rever formas de financiamento

A redução do volume de transacções e a ausência de operações no mercado de

capitais portugueses representam menos receitas para a Comissão do Mercado de

Valores Mobiliários (CMVM), mas a situação não é, para já, preocupante...

EXAMPLE 1. “Economia”, Expresso, 22 December 2001.

This layout is not always the case, though. The extract below clarifies the translator immediately in

the headline.

Em 2002, o Imposto Automóvel continuará a favorecer os veículos de

grande cilindrada

O segmento dos monovolumes poderá ser a próxima vítima do

Imposto Automóvel se o Governo insistir na imposição de uma taxa de 100% de IA

sobre estes veículos...

EXAMPLE 2. “Economia”, Expresso, 17 November 2001.

The full term followed by the abbreviation, is not a hard and fast rule. In other words, a news report

might start like this:

Portugal é caro ou barato?

Eurostat e OCDE contrariam opinião do livro de Vasconcellos e Sá e Miguel

Frasquilho.

EXAMPLE 3. “Economia”, Expresso, 17 November 2001.

The organisation, OCDE, appears in the headline but nowhere in the text is it written in full. The

translator, however, will need to know that the English version is OECD (Organisation for Economic

Cooperation and Development) which offers a slight change in meaning when compared with the

Portuguese (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos, based on the original

Page 57: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

56

French term (3)). In the English title, things are more ambiguous and the adjective qualifies “cooperation”

more heavily, whereas the Portuguese adjective, inflected in the plural, covers both nouns.

On the other hand, a regular columnist, such as Saldanha Sanches (Expresso, Economia) may write in

his second paragraph when speaking about the 2002 State Budget and the tax system:

O que se quer rever é uma exigência bárbara contida numa norma tirânica e

opressiva que obriga a DGCI a dar num prazo de um ano resposta à reclamação do

contribuinte sob pena de caducidade da garantia.

EXAMPLE 4. “Economia”, Expresso, 27 October 2001.

The reader is supposed to know that DGCI means Direcção Geral de Contribuições e Impostos although

it is not written in full anywhere in the article. The translator, therefore, may be forgiven for not taking

into account the particular Portuguese context of the organisation and simply call it: the General Tax

Office. The author, though, may well consider this a poor translation because, in the English version

it fails to carry over the idea that an extraneous regulation can have such a serious impact on a body

– implicit in the Portuguese name – which is directly responsible for carrying out government policies

and fiscal rulings.

The socio-cultural context of the abbreviation is implicit but far-reaching. Terms are laden with past

histories or act as indicators breaking with tradition and creating new history. The weightiness and

red-tape connotations behind many titles is sometimes lost in the translation. Direcção Geral has no

really suitable translation into English, as European Union translators discovered in Brussels. They

and English-speaking Euro-politicians adopted the anglicised version of the original French, Direction

Générale, and incorporated it into Euro-speak.

Another instance where the abbreviation usually appears without clarification may be found in the

stop-press column or in the “shorts” column, in either the headline or in the example below:

António Almeida demitiu-se de secretário-geral do Ministério da Economia,

cargo que ocupava há um ano, encontrando-se neste momento a fazer um

doutoramento. Antes da Secretaria-Geral, o responsável desempenhava funções no

IAPMEI.

EXAMPLE 5. ‘Passaporte’, “Economia”, Expresso, 20 October 2001.

The abbreviation IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e Investimento) is

unexplained probably due to lack of space and also to the fact that it is fairly well known and its

meaning is taken for granted. But it is difficult to translate. Should the translator aim for The Institute

Page 58: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

57

for Investment and Aid to Small and Medium-Sized Companies followed by the Portuguese initials?

Note that I have changed the word order to place the smaller lexical units first which suits English

notions of rhythm and stress better. Or is it more useful to refer to the Portuguese initials first and

offer a very brief explanation about what the IAPMEI is rather than translate it word for word? Again,

it depends on the context and the type of text. Nonetheless, this point will be raised again later on.

Tables, for lack of space, are another instance of where the abbreviation appears without its extended

version, although ideally there should be a footnote in explanation. In the article quoted above about

motor vehicle tax, a table accompanying the article gave the following headings without any footnotes

with the exception of C.C. (which, we are informed, means “cubic centimetres”). It is taken for granted

that PVP, IVA, PPB+IA which all refer to selling prices and various taxes are known as the text fails to

provide a key. The title and main headings are as follows:

Carga Fiscal do IA sobre o Preço de Venda

Marca Modelo PVP IVA PPB+IA C.C. IA Carga fiscal do IA

EXAMPLE 6. “Economia”, Expresso, 5 October 2001.

Abbreviations deemed to be common knowledge are almost never clarified in tables. In a feature article

(see below) discussing what the income gained from taxes was spent on in 2001, a table showing

expenses in health and pensions among others, referred to ADSE and CGA without referring to full forms,

although when referring to tax ceilings, the table mentioned NF – Nível de Fiscalidade. It is assumed

that the abbreviation, Aut. Locais, is clearly meant to be: Autarquias Locais (Local Government).

Despesas Rígidas

1987 1991 1995 1999 2001

Despesas Rígidas

* Despesas Sociais

Saúde + ADSE

Educação

Segurança Social

CGA

* Regiões e Aut. Locais

Nível Fiscalidade (NF)

Despesas Rígidas/NF

EXAMPLE 7. “Economia”, Expresso, 22 December 2001.

An obvious explanation of why feature writers and columnists in the specialised press or report writers

fail to clarify the abbreviations they use is that they are writing with a specific public in mind, one

Page 59: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

58

which is fully acquainted with the terminology. The translator has to assimilate this terminology if

he/she is to do a good job. The same may be said where company reports and the results of the annual

audit are concerned. Readership is selective and presumed knowledgeable. Unless it is a public or

state-owned company where the annual report is published in the press, readership is usually in-

company and limited or at most, read by the company’s shareholders at general meetings.

ARE ABBREVIATIONS JARGON?

It is interesting to note, however, that like most other professions, the businessman-economist-

financier-trader has his specialised language, his jargon. Consequently, the journalist/writer has to

become proficient in this jargon, too. It may be argued that each term in jargon has its own very

peculiar and particular meaning that is hard to convey in the words of everyday current language.

The bureaucratic weighting of terms often calls for abbreviations which in turn are often transformed

into acronyms. For example, is the specialist able to call to mind exactly what PIDDAC stands for?

Both he/she and the translator ought to know that it stands for Programa de Investimento e Despesas

de Desenvolvimento da Administração Central, that it is a European Union funding programme, and

that its title probably originated in French or English. The sort of terminology generated within the

European Union often results in additional layers of jargon that act as a barriers to anyone wishing to

join an exclusive club. In the act of transforming words into icons that are recognizable by like-minded

professionals, the jargon users are, perhaps, unconsciously helping to exclude those who have “no

right” to think they are included in the circle. With the excuse of saving time, what authors really do

is attempt to restrict access to information to those not already “in the know”. Look at the following

small extract where this idea emerges fairly clearly:

De passo intermédio sem grande expressão na transição entre o GSM e o UMTS,

o GPRS (General Packet Radio Services), também conhecida pela geração 2.5,

prepara-se agora para desempenhar um papel fundamental na expansão da

internet sem fios e no arranque do comércio electrónico móvel...

EXAMPLE 8. “Os Desafios do M-Commerce” in “Dossier Especial – Guia do e-Business”,

published by Grupo Sol-S (2001).

As the overwhelming majority of authors do not write with the translator in mind, no one has questioned

the right to use specialised terms that are not sufficiently clear. Indeed, why should they ever think

of doing so? And this is especially true when it comes to abbreviations and initials. Nevertheless, this

attitude reflects one of arrogance and clubishness, contrary to the spirit of universality and flexibility.

In certain cases, the reification of words into icons may also mask ignorance – the author simply

does not know what the full form of an abbreviated term stands for. In other words, in becoming an

acronym, the abbreviation has taken on a unique meaning that may or may not coincide very strictly

Page 60: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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with the extended version. Take, for example, the term Grandes Opções do Plano which relays the idea

of “broad alternatives” lending flexibility to structural economic policy planning. GOP, on the other

hand does away with the idea of openness to choice and the term tends to portray a fixed entity: “as”

GOP (4).

I recall Halliday and Martin’s words (1993, 21), about the specialized language of the financier-

economist and their increasing use of abbreviations, rendering it incomprehensible to the general

reader:

The language of science, though forward-looking in its origins, has become

increasingly anti-democratic: its arcane grammatical metaphor set apart those

who can understand it and shields them from those who do not. It is elitist

also in another sense, in that its grammar constantly proclaims the uniqueness

of the human species. There are signs that people are looking for new ways of

meaning – for a grammar which, instead of reconstructing experience so that it

becomes accessible to only a few, takes seriously its own beginnings in everyday

language and construes a world that is recognizable to all those who live in it.

Could the translator belong to this set of people in wanting to clarify terms so that they are

recognizable?

Furthermore, in considering an author’s purpose in using abbreviations and initials in a text, we are

automatically led to ponder not only the elitism of which Halliday and Martin speak, but also the

functionality and practicality of abbreviations. Are they useful because they save time (in writing, in

reading)? Do they work alone – are they meaningful in themselves? Or, do they take on the status of

the icon in much the same way that words do, a fact which I mentioned earlier on? Do they take on

other meanings giving rise to new lexico-semantic networks? They are said as words with meanings

of their own that have a more immediate impact than the initials. If they are to be treated as words

– acronyms, and not initials – does the translator have to respect them as whole units or meaningful

words and translate them as such from the Portuguese, precisely because they have acquired the

status of words (e.g. Sida or Iva), which may go against English language conventions, or should they

be treated as the initials and abbreviations they once were? While Aids might be acceptable nowadays,

instead of AIDS, simply because it is a universally-understood and used term, serious doubts are raised

about other terms, particularly in finance and economics.

In becoming icons, such units take on political meanings of their own are sometimes at variance with or

go beyond their original meanings or that open up whole new panoramas. Many such icons originate in

English simply because English is the common language for speakers of many nationalities, or because

the USA played a major role in drawing up the rulings underlying the term. Thus when dealing with

translation from English into other European languages, these coinages resist attempts to “nationalise”

them. In the first instance, they successfully ward off any risk leading to a change in meaning – given

Page 61: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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the common premise that translating is creating. However, in reifying a term, its status undergoes

change of a different sort. It is rather like the different representations the acronym NATO has for

different people, groups or even nations (5). There are some Portuguese abbreviations which came into

use after the country joined the EU in the mid-1980s and which became synonymous with “hand-outs”.

Consider, for instance, FEDER, FEOGA, INGA, PEDAP, PEDIP (6) that are all to do with direct or indirect

European funding of regions, agriculture, fishing, industry, roads and other infrastructures.

TRANSLATING MORE CLEARLY

The first questions the translator has to ponder and answer regarding the abbreviations and initials

of organisations have to do with deciding which ones are acronyms and what are not. In the case

of acronyms, they should stay as they are – not to be translated. The problems acronyms present in

Portuguese however, is deciding whether terms like PRODEP are, in fact, initials standing for complete

words, or whether they have acquired the status of acronyms. Thus the kind of problem-solving the

translator has to deal with, may be summarised as follows:

• Should I translate the initials into the full version and change the initials to suit the translation?

• Should I leave them as they are but translate what they stand for?

• Should I leave them as they are, write them out in full in the original language in brackets and then

translate?

• Should I leave them as they are in the body of the text and then explain in a translator’s footnote

or in a bracket in the text?

An attempt to answer these and other questions will be given as we go along. The first consideration

in arriving at an answer is the origin of the term.

ORIGINS OF TERMS AND THEIR ABBREVIATIONS

It is useful to find out the origin of the abbreviation in order to know how to proceed. As economic and

financial terms connected with political trade, commercial and industrial organisations are particularly

prone to being abbreviated, it is here that the translator should start keeping a record of entries in

his/her own glossary. For the sake of convenience, I have organised a list of three major groups of

abbreviated titles, although I am sure one could open up the selection to accept more groups. The list

includes the following categories about which a little will be said in the way of an explanation:

• Original English terms used in Portuguese texts in their English form so that while no translation

is required back into English, there may have been slight changes (e.g. use of capital letters) in the

Portuguese use that need to be anglicised once again.

Page 62: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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• Original English (or sometimes French) terms used to name international organisations in which

there is a common international interest or membership. Here, the title and the abbreviation are

translated into Portuguese and need to be re-translated back into English. The danger lies in the

discrepancy between the original English term and its translation back into English.

• Portuguese terms referring to a strictly national context which need to be translated.

1. Untranslated original English terms

The classical commercial terms so often seen in handling bills and texts related to the import-export

side of trading keep to their original English versions: CIF (cost insurance freight), CET (common

external tariff), COD (cash on delivery) etc., and new financial products also tend to keep their

English abbreviations. These new services usually have to do with credit provision, leasing and auto-

leasing design (e.g. ALD); e- and m-commerce (e.g. GTW – Global World Trading, SCM – Supply Chain

Management; B2B and B2C services (7) ), and launching or privatising companies (e.g. CHIPS – Clearing

House Interbank Payments System, SDR – Special Drawing Rights, IBF – International Banking Facility,

ATS – Automatic Transfer Service). Even the popular Multibanco cash points are increasingly referred

to (erroneously in some cases) as ATMs (automatic telling machines) while PINs and IBANs remain in

their English version.

Abbreviations originating in English or French – for instance the United Nations and other worldwide

organisations (e.g. UNESCO, SADC, EFTA, etc.) rarely, if ever, change when translated into Portuguese.

Consequently, they present no problem when translating a Portuguese text into English. Among the

young today, even the North-Atlantic military alliance, NATO, has ceased to be referred to as OTAN,

although this may not be the case among older speakers, particularly if they are in the higher ranks

of the armed forces. The terminology falling under the European Union heading is, however, divided.

While some terms – such as the acronyms ECOFIN (Economic Committee for Financial Ministers), EFMD

(European Fund for Management and Development) and JET (Joint European Torus) are used as such,

possibly because they refer to exclusively Brussels-based EU organisations, others may be translated.

Entities like the DG IV, Q III, BERD, etc. are usually left in their original French or English perhaps

because they appeared and became current coinage long before Portugal joined the Community in

1986. Even the ECU (European Currency Unit) was adopted in this form by all EU countries, regardless

of language variations.

The names of economic control mechanisms, financial instruments and marketing concepts are very

often left in English, the language in which they originated. Take for example, the SEC (Securities and

Exchange Commission), the PER (price-to-earnings ratio) when talking about the ratio to evaluate

shares in relation to their dividends; the MATIF which comes from the French and means Marché à

Terme des Instruments Financiers, an SDR (Special Drawing Rights) or CRM (Customer Relationship

Management) and MOU, or MoU (Memorandum of Understanding). It is not hard to understand why

such abbreviations are kept if we recall that the current language of international finance and business

Page 63: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

62

is English. What reports sometimes do (or should do), however, is add a quick explanation – not a

translation – of what the term means if they think that the readership is not specialised.

2. Translated titles of international organisations

World-sponsored organisations in which Portugal has a say, such as the United Nations Organisation

(UNO) and its different sections dealing with human rights, health, atomic energy, trade and

development, drug and crime prevention, etc. are translated (UNO/ONU, UNO HCHR/ONU ACDH, WHO/

OMS, IAEA/AIEA, UNCTAD/CNUCED, UNODCCP/GNUCDPC, etc.). Some UN organisations, however, are

left in the original English: FAO, Unicef, etc. The reasons are not clear but it surely has something to

do with how well publicized some UN programmes are internationally speaking. Other supra-national

political, banking and trade alliances are also translated: the OAU (Organisation of African Unity),

the IMF (the International Monetary Fund), the WB (World Bank), the World Economic Forum (WEF),

OPEC (Organisation of Petroleum-Exporting Countries), WTO (World Trade Organisation), ZEE (Zona

Económica Exclusiva) and SME (Sistema Monetário Europeu) – or the GAFI (Grupo de Acção contra o

Branqueamento de Dinheiro), with its headquarters in Washington to name just a few.

Due to the EU policy enshrining the rights of all member states to use their own languages, most

of the abbreviations and initials scattered throughout EU reports and policy-making documents are

translated. Thus the ECB (European Central Bank) becomes BCE, the European Investment Bank (EIB)

is BEI, the European Monetary System (EMS) is SME, the European Confederation of Trade Unions

(ECTU) becomes the CES, and so on. When it comes to funding, following EU directives in various areas

of economic and financial activity, and applying programmes, the abbreviations are translated into

Portuguese – as mentioned earlier on in this study – and often give birth to new Portuguese acronyms:

FIDES (Fundo de Investimento para o Desenvolvimento Económico e Social); FEOGA (Fundo Europeu

de Orientação e Garantia Agrícola), CEDEFOP (Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação

Profissional), IFOP (Investimento Financeiro de Orientação de Pescas), UNICE (União das Indústrias da

Comunidade Europeia), etc.

As Portugal belongs to a broad community sharing basic political and economic as well as cultural

precepts and practices, it has organisations and regulatory practices akin to other countries within

the community. It has its non-governmental organisations (NGOs-ONGs (8)); its wealth as a nation is

calculated on the basis of its Gross Domestic Product (GNP-PIB); it sets value-added tax on its consumer

goods (VAT-IVA), battles with its Public Debt (PD-DP), adheres to International Accountancy Rules (IAR-

NIC) and allows its trade unions to become affiliated with the International Labour Organisation (ILO-

OIT). On the basis of its wealth of abbreviations could this allow Portugal to swell the G-7 to G-8?

Furthermore, when concerned with the stock market and financial products available through

government or banking entities, although words are usually written in full, the translator might stumble

upon an abbreviation, such as the simple TB (Treasury Bonds) which would be BT (Bilhetes de Tesouro)

in Portuguese or the more complicated Fundos de OTFI (Obrigações de Taxa Fixa Internacional) – not

Page 64: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

63

to mention other kinds of stocks, shares and bonds, such as the OTs (Obrigações de Tesouro), the stocks

or títulos called TRMs (Títulos Renda Mensal), and TIMs (Títulos Internacionais Mistos), the saving

schemes such as PPR (Plano de Poupança Reforma) or shares buying and selling (IPO-OPAs and OPVs).

Finally, in this section, it should be mentioned that some translations of “international” concepts and

classifications into Portuguese follow the usually English original very closely. Take for example, the

two abbreviations for newly developing countries (NDC) and developing countries (DC). In Portuguese

they are: NPI (Novos Países Industrializados) and PVD (Países em Vias de Desenvolvimento). Unless

dealing with a strictly Portuguese phenomenon, the tendency is to adopt a close translation of the

English wording when labelling general aspects. However, where a term has taken root, no matter how

“prestigious” the new abbreviation because it demonstrates the speaker is in-the-know, it is usually

hard to get rid of among the general public (see my previous comment on the specialist preferring the

term ATM which refers to the sales point or machine, while the general public still prefers to use the

word Multibanco for both the physical sales point and the banking transaction as it has done for the

last 10 to 15 years).

When transcribing the translated terms in this group, the full version may be accompanied by the

initials of the translated words if the term is going to be used again in the text later on. As the

Portuguese version is close to the English, usually referring to an international – or rather, not a strictly

national – context, the translated abbreviation or acronym probably already exists.

3. Portuguese terms in a national dimension

Herein lie most of the translator’s problems. There may be no corresponding organization or operation

in the target language and a full translation is essential. The very wordiness of Portuguese titles begs an

abbreviation simply because they are too unwieldy to write in full form or they do not lend themselves

easily to an abbreviated version composed of one or two words. Take for example the fairly well-known

acronym, the IFADAP (Instituto Financeiro de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura e Pescas) in

use particularly when discussing community fishing quotas, or the even more impressive abbreviation,

PNICIAP (Programa Nacional de Interesse Comunitário de Incentivo à Actividade Produtiva), which

however, is not an acronym. As previously mentioned, these terms have taken on meanings of their

own and only a very few would be able to say what the initials stand for. Nevertheless, the translator

has to be in a position to render a close English approximation to the Portuguese term.

As far as economic and financial language is concerned, Portuguese abbreviations and acronyms may

be divided into a number of different groups which, when viewed diagrammatically as a funnel, contain

several strata. The abbreviated term has to be situated along a continuum within a context, located

somewhere in the hierarchical down-grading following the larger, broad-based “national” units into

the small local operative units. It is rather like trying to find a niche in a semantic group based on the

Stock Exchange for each of the following terms: the SEC (Securities and Exchange Commission) at EU

level, the FII (Fundo de Investimento Imobiliário), the CNBV (Conselho Nacional da Bolsa de Valores),

Page 65: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

64

the OECVM (Organismos de Investimento Colectivo em Valores Mobiliários), the ABVL (Associação da

Bolsa de Valores de Lisboa), the SCP (Sociedade de Correctores Portugueses), the OEVT (Operadores

Especializados em Valores do Tesouro), and the products dealt with (e.g. FMMEuro [Fundos do Mercado

Monetário Euro], BTs, OTs, PPAs, etc.).

In trying to understand the contextualised situation of an abbreviation, it is possible to minimise errors

in transcribing the term in full. But it also means that the translator should not really venture into

fields where he/she does not have sufficient background knowledge. Things have to make sense as it

will probably be a specialist reading the translation at the other end.

The experienced translator often has inklings about what the first initials in a term stand for in a long

line of letters: for example, C might stand for Conselho, Confederação, Centro or Comissão. Often the

context is the only guide. Ideally speaking, one’s own experience is really the only source of clarification

barring personal contacts who would be “in the know”. On-line services to do with the subject at hand

are, perhaps, more rewarding if one knows what one is looking for and where to find it. Does this

mean having to wade through paper and digital texts in order to discover what an abbreviation or an

acronym means? Very often it does. That is why compiling a glossary is essential.

Once the full version has been found, what is the next step? The title has to be translated or at least

described if a faithful translation is difficult to contrive. The Portuguese abbreviation – the name under

which it is most commonly referred to should follow this translation in brackets in italics. If the title

recurs throughout the text, the translator should use the Portuguese abbreviation merely because a

translated version of the full title is not really enlightening or useful when referring to a particularly

Portuguese context. There is really only one cut-and-dried rule concerning abbreviations: and that

is the full version of the term must be supplied. Whether the translator opts for a literal or loose

translation of a long title or prefers giving a brief explanation, depends upon the text, the client’s

wishes, the (imagined) reader and the translator’s own practice.

CONCLUSION

What I have tried to show in this study, is that the seeming anarchy portrayed by the abbreviation

and the acronym in Portuguese may, after all, not be as confusing as it first appears. Although any

translator will be daunted by texts in which abbreviations of titles fail to be accompanied by a full

version of the term or at least a brief explanation, if the abbreviation is analysed and placed within

a context and is considered both morphologically as well as semantically, many questions about

how to proceed will be answered. There are terms which resist translation because they have gained

weight and status throughout the years and have taken on additional or changed status to their

meanings. Such terms are very often in English and will appear in Portuguese texts in their original

forms. Obviously the translator has no problem here and will adapt any slight changes in spelling or

orthography that could have taken place in the Portuguese rendering of the term, so that it returns to

its inherent Englishness.

Page 66: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

65

Other terms, because they belong to what may be called “world patrimony” in which all nations or

language groups have some sort of a say, are found in translated forms but are easily re-translated

back into their often English originals. The translator’s problem here is his/her own ignorance of the

English original but Internet sources are an increasing help in locating terms and their abbreviations

and it is not too problematic to see the context in which a term is used. The match between the English

original and the Portuguese translation might sometimes be less than clear so that getting a term back

into an English translation would need cross-referencing for certainty.

The group that is most worrisome to the translator, however, is the third and largest group of nationally-

bound terms. It should be remembered though, that translation is not an exact science even though

the texts we are translating may express precise data and evidence. Language is open-ended, flexible,

creative and communicative. If the text’s interactive nature (i.e. the writer with the reader via the

text) is to be respected, the translator should always be in a position to rely on his/her own common

sense and should always enjoy enough freedom to make a wise choice. While a translation of the

Portuguese term is needed, whether in a bracket following the term or in a note, it is advisable to use

the Portuguese acronym, abbreviation or initials in the translated text itself (written in italics, if need

be) once it has been explained. It is up to the translator to decide if the abbreviation should be written

out in full in both English and Portuguese, although, personally, I have found the English translation

suffices. It should be remembered, however, that readers of translated texts need to understand what

the Portuguese context holds, and this sense of reality may be projected in a Portuguese abbreviation.

It follows, then, that the Portuguese abbreviation be written in its original form.

The insulated nature of specialised texts filled with abbreviations that only the specialist is able to

read with any degree of confidence, should not intimidate the determined, knowledgeable translator.

Nevertheless, being prepared to confront such challenges means that the translator has to be armed

with his/her own glossary and other paper and digital reference tools – all the more so if one is dealing

with Portuguese economic and business texts.

* This article is a modified version of what appeared in the magazine, Polifonia 5, Revista do UNIL-

FLUL, Lisboa, Colibri, 2002.

1. Right from the start, I would like to thank my students in the Faculty of Letters, Lisbon University,

post-graduate translation course (1990-91) for some of the terms I have used in this study. I have

taken them from our unpublished glossary of the abbreviations of economic and financial terms. In

addition to data I took from texts I was translating at the time, we used the following Portuguese

newspapers and magazines: Expresso, Diário Económico, Exame and Público. The recent work I have

done in this field acts as a tribute to this first joint effort.

2. All references to the initials, abbreviations and acronyms of recent terms used in this article have

been taken from texts in the Economic and Employment supplements of the weekly Portuguese

newspaper, Expresso, August to January 2002.

Page 67: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

66

3. As it may be known, much of the terminology and literature about the initial institutional structures

and their rulings were in French, issuing as they did from the OECD headquarters, Paris. The gradual

encroachment of English as the major working language has happened in the last 20 years or so.

4. This example was taken from a report in Expresso Supplement, November 10, 2001.

5. A term such as NATO is given loaded socio-political and even civilisational connotations and can spark

off street demonstrations and effigy-burning and place opinion-makers in opposite camps of thought.

The unsuspecting would never guess that the very ambiguous North-Atlantic Treaty Organisation may

be interpreted to mean an all-powerful military alliance of Western-type democracies spear-headed

by the USA. GATT (General Agreement for Tariffs and Trade) is also semantically laden. To nations not

covered by the Agreement, the acronym is automatically associated with exclusion. Likewise, the IMF

or FMI (Fundo Monetário Internacional) for many developing countries is synonymous with the idea

of unsolvable national debt and continued economic subjugation to the powers that be. On a less

dramatic scale, however, many apparently neutral abbreviation describe unpopular European Union

(EU) policies or organisations, e.g. the CAP (or PAC – Programa Agrícola Comum) the mention of

which immediately raises the hackles of French, Spanish and even Portuguese farmers, or the EMS /

SME (Sistema Monetário Europeu) which is likely to bring a sneer to British Euro-sceptic faces. The

translator may only choose to forget the socio-cultural dimension contextualising even an abbreviation

at his/her peril.

6. FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional; FEOGA – Fundo Europeu de Orientação e

Garantia Agrícola; INGA – Instituto Nacional da Garantia Agrícola; PEDAP – Programa Específico de

Desenvolvimento para a Agricultura Portuguesa; PEDIP – Programa Específico de Desenvolvimento da

Indústria Portuguesa.

7. B2B means “business to business” where a service is offered by one company to another at the same

hierarchical or organisational level, while B2C means “business to a different kind of organisation”

which could include governmental departments or local authorities, etc.

8. The evolution from the term pronounced as initials in Portuguese: as O.N.G. into an acronym: as

Ong is already a reality particularly in the Portuguese-speaking African countries like Mozambique and

Angola. It apparently shows the general acceptance and frequent use of the term which has acquired

a meaning in itself and which dispenses with the meaning tied up in the extended version.

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REFLEXÕES SOBRE AS QUALIDADES DE UM BOM GLOSSÁRIO TÉCNICO:

LIMITES E LIMITAÇÕES

ANA JULIA PERROTTI-GARCIA

Citrat, Universidade de São Paulo

Resumo:

O objetivo deste artigo é estabelecer alguns aspectos relacionados às características de um bom

glossário técnico, independentemente do campo semântico, do par lingüístico e do número de verbetes

contidos.

Palavras-Chave:

Glossário; Dicionário; Verbete; Análise de Corpus.

Abstract:

This paper establishes some of the ideal characteristics of a high-quality glossary, independently of the

semantic field, language pair and number of entries.

Keywords:

Glossary; Dictionary; Entry; Corpus Analysis.

1. INTRODUÇÃO

«Colecionar» palavras parece ser uma atividade lúdica e instrutiva, compartilhada pela maioria dos

profissionais que trabalham com idiomas, sejam tradutores, intérpretes, jornalistas ou educadores.

Frases, expressões, gírias, termos técnicos, exemplos de polissemia ou de expressividade, qualquer

item lexical pode ser catalogado, classificado, armazenado e, eventualmente, recuperado em momento

oportuno. Seja para uso pessoal ou para uso de terceiros, para futuras publicações ou apenas para

a sistematização de informações, um glossário técnico organizado e estruturado de modo lógico e

coerente aumenta a velocidade de acesso ao conteúdo e permite a inserção de novas informações,

sempre que necessário (Perrotti-Garcia 2003).

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A partir de nossa experiência profissional, acumulada ao longo de quase duas décadas de trabalho

como dicionarista, glossarista, escritora, tradutora e professora de idiomas, mas, acima de tudo, com a

leitura e a utilização de glossários e dicionários, procuramos estabelecer, neste artigo, alguns aspectos

relacionados às características de um bom glossário técnico, independentemente da especialidade, do

campo semântico enfocado, do par lingüístico e do número de verbetes. Estas reflexões procuram ser

abrangentes e universais, de modo que os critérios apresentados possam servir, inclusive, para orientar

na escolha e/ou na redação de glossários.

2. DEFINIÇÕES BÁSICAS

Um glossário, segundo a definição de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, do latim, «dicionário de

termos técnicos, poéticos, científicos, etc.» é formado por verbetes organizados em ordem alfabética.

Os verbetes, ainda segundo a definição deste grande dicionarista brasileiro, são «na organização dum

dicionário, glossário ou enciclopédia, conjunto das acepções e exemplos respeitantes a um vocábulo»

(Ferreira 1986).

3. REFLEXÕES SOBRE A FORMA DOS VERBETES: COMPONENTES BÁSICOS DE UM VERBETE

A primeira grande diferença entre um glossário estruturado e os chamados «glossários» produzidos

pelas ferramentas de auxílio à tradução (Trados, por exemplo), compostos por listas de palavras e de

expressões, com suas respectivas traduções e, em certos casos, algumas observações, é a estruturação

do texto (Perrotti-Garcia 2004).

Um glossário elaborado de modo a tornar-se útil e passível de ser publicado, compartilhado ou

ampliado, deve ser estruturado. A estruturação ampla, aqui denominada «formatação», nem sempre é

responsabilidade do autor, ficando muitas vezes a critério da editora responsável por sua publicação.

Contudo, a estruturação dos verbetes é de inteira responsabilidade do autor. Por essa razão, iremos

enfocá-la em maior profundidade neste texto.

3. 1. Verbete básico

A partir da análise de um verbete básico, teórico, poderemos depreender quais devam ser as

características de um glossário técnico, em termos meramente estruturais. Com base na definição

já citada, o verbete padrão deve conter, no mínimo, o vocábulo e sua tradução (abordam-se aqui

glossários bilíngües, L1-L2 ou vice-versa, apenas).

Entretanto, para ser útil, elucidativo e funcional, o glossário pode e deve incluir verbetes mais completos.

Entre outros, pela análise da definição de verbete apresentada acima, é possível depreender um

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70

primeiro componente importante dos glossários: «exemplos respeitantes a um vocábulo». Serão esses

exemplos que irão ilustrar o uso das palavras, sedimentando os conhecimentos do leitor e ajudando-o a

memorizar um maior número de informações. Um bom glossário técnico, portanto, deve, por definição,

conter exemplos de uso do vocábulo. Por esses exemplos o leitor é apresentado paulatinamente ao

corpus, podendo assimilar o uso prático do termo, suas relações sintáticas e mórficas (principalmente

se os exemplos forem obtidos de material autêntico, não traduzido, originado de fontes fidedignas)

(Perrotti-Garcia 2003).

Quando o autor quiser imprimir um caráter enciclopédico ao glossário, enriquecendo seu valor como

obra de consulta, poderá acrescentar as definições dos vocábulos (significado proposicional). A

mera tradução (ou seja, o termo correspondente na língua de chegada), muitas vezes não é suficiente

para esclarecer o uso adequado de determinado vocábulo. Há os casos de polissemia, de homofonia e

de homografia que devem ser levados em consideração quando da elaboração de um glossário técnico.

Devemos sempre considerar que o leitor espera que nós, enquanto dicionaristas, forneçamos a ele todas

as informações necessárias sobre um determinado vocábulo, atuando como guias que irão indicar, não

apenas os caminhos a serem seguidos, mas também os atalhos aconselháveis e, principalmente, as ruas

sombrias a serem evitadas!

Ao considerar que o público-alvo de um glossário será, em parte, composto por estudantes e por

leitores para os quais pelo menos uma das duas línguas (quando não as duas) não é sua língua-mãe,

muitas vezes o glossarista precisará lançar mão de linguagem não verbal para melhor esclarecer certos

termos ou expressões. Incluem-se neste tópico as ilustrações esquemáticas, as fotografias, os gráficos

e tabelas e, caso o glossário seja publicado em algum tipo de multimídia (CD-ROM, por exemplo), as

animações, os filmes e as apresentações de diapositivos. Assim, um bom glossário pode e, muitas vezes,

deve apresentar gráficos, ilustrações, esquemas e tabelas que sejam pertinentes ao assunto abordado

e que tenham como finalidade o esclarecimento de conceitos que, de outro modo, talvez não ficassem

totalmente elucidados. Sempre que a linguagem verbal não for suficiente, cabe ao autor perceber e

optar pela inserção de ilustrações. Por outro lado, na qualidade de leitor que pretende comprar um

glossário técnico, ou apenas elegê-lo como seu material de consulta em uma biblioteca, é importante

observar todos os aspectos citados acima e também os que serão abordados a seguir.

Além de definições, exemplos e ilustrações, muitas vezes um glossário bilíngüe pode conter a

transcrição fonética dos vocábulos, o que facilitará a aplicação e o reconhecimento dos termos em

situações de comunicação oral. Contudo, embora essa transcrição seja muito comum nos grandes

dicionários (sendo considerada indispensável nessas obras), não são freqüentes os glossários que

apresentam esse tipo de informação.

Pelos aspectos expostos anteriormente, antes de iniciar o processo de sistematização do texto, o autor

deve refletir sobre uma série de aspectos pertinentes. Por exemplo: haverá exemplos criados pelo

autor? Haverá exemplos retirados do corpus? É preciso fazer a transcrição fonética dos vocábulos?

Será acrescentada a classe gramatical dos vocábulos? Serão necessárias ilustrações? Quantas?

Haverá gráficos, tabelas ou reproduções fotográficas? Em caso afirmativo, se não for inédito, o autor

Page 72: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

71

deverá buscar as devidas autorizações para reprodução do material. Haverá algum tipo de código

que fornecerá ao leitor informações mais específicas como, por exemplo, relacionadas ao significado

expressivo ou evocado do termo?

Essas são apenas algumas das perguntas que devem ser feitas antes do início da sistematização de

um glossário. Do mesmo modo, enquanto leitor, é conveniente verificar a qualidade dos verbetes antes

de adquirir um glossário; caso contrário, será somente durante a utilização da obra que o leitor irá

perceber as limitações do texto, quando já será tarde demais.

A FIGURA 1 apresenta um modelo de um verbete que contém um grande número de elementos

informativos que auxiliam o leitor a compreender, de modo simples e direto, alguns aspectos relacionados

ao vocábulo bracket. Embora o verbete tenha sido reproduzido, as setas indicativas foram superpostas,

bem como a ilustração colorida.

FIGURA 1: Representação esquemática de um verbete básico. (1)

4. REFLEXÕES SOBRE O CONTEÚDO DOS VERBETES

Ao estruturar o verbete, é importante levarmos em consideração os diferentes significados. Podemos

distinguir quatro tipos principais de significado nas palavras e enunciações: significado proposicional,

significado expressivo, significado pressuposto e significado evocado (Baker 1992, 12-5).

O significado proposicional surge da relação entre a palavra e aquilo a que ela se refere ou descreve.

Para facilitar a compreensão, vejamos alguns exemplos:

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72

exogenous – exógeno (que tem origem externa ao ambiente em questão).

(Perrotti-Garcia 2003, 204)

bracket – bráquete (dispositivo cerâmico ou metálico fixado à superfície

dentária, ao qual são acoplados fios e arcos metálicos).

(Perrotti-Garcia 2003, 86)

Os dois exemplos acima tornam evidente a importância da inclusão do significado proposicional em

um glossário. Afinal, não é necessário um grande conhecimento lingüístico para intuir que exogenous

é traduzido como «exógeno». A informação preciosa, que irá realmente ajudar o leitor é, sem dúvida, a

«explicação», a denominada tradução intralingual, ou seja, a inclusão do significado proposicional.

O significado expressivo refere-se aos sentimentos ou atitudes do falante, como por exemplo:

sawbones, que significa «cirurgião» (Perrotti-Garcia 2003, 516), mas que traz consigo uma carga

expressiva extremamente negativa, equivalente a do nosso «açougueiro» ou «carniceiro» (quando usados

em referência a um cirurgião, e não ao profissional que trabalha com comércio de carne bovina).

O significado pressuposto surge de restrições advindas de palavras que esperamos que surjam antes

ou depois da palavra em questão. Há dois tipos de restrições: as restrições seletivas e as restrições

colocacionais. As restrições seletivas ocorrem em função do significado proposicional. Por exemplo:

muscle attachment (inserção muscular) (Perrotti-Garcia 2003, 384) ou precision attachment (encaixe

de precisão) (Perrotti-Garcia 2002, 64). As restrições colocacionais são semanticamente arbitrárias.

Por exemplo, para «bancada para torno», se diz lathe bed (Perrotti-Garcia 2003, 330) em inglês, que

seria, literalmente, numa backtranslation direta e arbitrária, «cama de torno». Ao criar um glossário

técnico, portanto, o autor deverá esclarecer o futuro leitor quanto a essas exigências colocacionais de

ambas as línguas (que ele, autor, certamente terá que dominar muito bem!)

O significado evocado surge das variações dialetais e de registro (Baker 1992, 15). Um exemplo

bem complexo é a chamada «perereca». Em português do Brasil, entre outros sentidos que não vêm

ao caso agora, «perereca» é o termo leigo usado para referir-se a uma «prótese parcial removível

provisória». Outro termo, também leigo, mas usado em um registro um pouco mais formal, seria

«ponte móvel» (Perrotti-Garcia 2002, 47). Certamente poderia haver grandes confusões se, ao criar um

glossário, o autor simplesmente indicasse que o termo correspondente para removable partial denture

é «perereca», ou «ponte móvel», ou mesmo «prótese parcial removível», e não explicasse ao leitor todas

essas variações de significado. Do mesmo modo, enquanto leitores, temos a necessidade e o direito

de sermos informados pelo autor do glossário sobre essas «armadilhas lingüísticas». Afinal, o glossário

técnico deve ser um guia que irá ajudar o leitor a trilhar os caminhos da comunicação e, como tal, deve

ser completo, correto e, acima de tudo, confiável.

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73

Em relação às variantes dialetais, é importante levar em consideração os seguintes aspectos:

Geográfico (exemplo: doutorado [PT-BR] x doutoramento [PT-PT])

Temporal (exemplo: micróbio x microorganismo)

Social (exemplo: dentadura x prótese total x chapa)

5. REFLEXÕES ADICIONAIS

5. 1. Coesão e coerência

As anotações e listas de palavras coletadas ao longo do tempo são certamente valiosas, mas muitas

vezes contêm termos das mais diversas áreas do conhecimento humano. Quando assistimos a um

filme sobre a vida de um jogador, coletamos termos sobre esporte; em uma viagem de férias, podemos

conseguir termos e expressões sobre turismo; ouvindo nossos raps favoritos, é possível coletar dezenas

de gírias... mas, como juntar tudo isso?

Essa é, sem dúvida, a parte mais delicada da confecção de um glossário: a delimitação do campo

semântico e o estabelecimento de um corpus que tenha coesão e coerência. Uma das principais

qualidades de um bom glossário técnico (ou, se preferir olhar pelo outro lado do balcão, a maior

dificuldade para um glossarista iniciante) é incluir termos que, além de significativos e representativos,

sejam coesos e coerentes. É fundamental que haja uma razão de ser para que os termos selecionados

estejam ali, lado a lado, e não em um outro lugar. Nessa hora, muitas vezes, o glossarista precisará abrir

mão de certos vocábulos em favor de outros, agindo como o jardineiro prestimoso que, no exercício

consciente de seu ofício, é obrigado algumas vezes a sacrificar uma rosa para que floresçam outras em

posição mais adequada em relação ao sol.

Quando partimos de um corpus inicial com numerosos termos, e precisamos escolher apenas os mais

significativos, passaremos muito tempo definindo quais serão os critérios para inclusão dos termos.

Muitas vezes, teremos que criar também os critérios de exclusão. O que incluir? O que evitar? Essa

pode ser a diferença entre criar algo significativo ou desistir no meio do caminho. Este processo,

se bem dirigido, poderá levar à produção de um glossário «pequeno e eficiente» e, se feito de modo

intempestivo ou negligente, produzir um texto «vazio» ou «redundante e inútil», respectivamente.

5. 2. Campos semânticos

Além da forma, também é preciso avaliar o conteúdo do glossário. Para esta avaliação, algumas

definições básicas são importantes. Campos semânticos são as divisões e subdivisões de uma língua

(«assuntos», «áreas de interesse»). Itens lexicais são as palavras e expressões que compõem cada

um desses campos. Quando o glossário técnico for feito a partir de um manual ou de uma série

de textos, é importante ter em mente que deverão ser incluídos apenas os termos significativos

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74

e representativos. Não é conveniente incluir termos cotidianos, a menos que eles tenham algum

significado especial. Por exemplo, um bom glossário dificilmente irá incluir a palavra table com o

significado de «mesa», a menos que seja um glossário ilustrado para crianças bem pequenas. Usando

esse mesmo exemplo de table, se o sentido for de «tabela», dependendo do nível do público-alvo que

vai utilizar o glossário técnico, esse termo certamente será incluído.

Os campos semânticos estão dispostos hierarquicamente, dos mais genéricos para os mais específicos.

A palavra genérica é chamada hiperônimo e a específica hipônimo (Baker 1992, 47). Os campos

semânticos não são fixos, encontram-se em constante evolução, com a constante introdução e

eliminação de termos. Por essa razão, os glossários também não devem ser textos estáticos e eternos,

como muitos querem acreditar. Os glossários envelhecem, sofrem desgaste e tornam-se desatualizados

e, por isso, devem ser ampliados, inovados e atualizados periodicamente.

5. 3. Adequação ao público-alvo

A qualidade do texto final também irá depender da harmonia entre os verbetes. Cada novo verbete

somente deverá ser acrescentado se tiver uma razão de ser, se for pertinente; caso contrário, estaremos

como que guardando uma pasta na gaveta errada do arquivo, a qual jamais será encontrada novamente.

Acrescentar um verbete de Lingüística em um glossário de Medicina, por exemplo, nos parece algo

totalmente injustificável, mesmo porque uma pessoa que procure a explicação de um termo de

Lingüística jamais irá pensar em procurá-la em um glossário de termos médicos.

5. 4. Número de vocábulos

Os verbetes que irão integrar o glossário devem ser criteriosamente selecionados. Não devemos nos

preocupar com quantidade (que será conseqüência natural de um trabalho árduo e de pesquisas

constantes). O importante é alcançar a qualidade máxima de cada verbete. Muitas vezes, na

qualidade de assistentes do conselho editorial de uma grande editora, somos chamadas a analisar

a qualidade de textos candidatos à futura publicação. Nessas ocasiões, avaliamos todos os aspectos

citados até o momento. Entre eles, um aspecto que mais vezes nos leva a optar pelo veto à publicação

é perceber que o autor, na ânsia de aumentar o número de verbetes, ao invés de pesquisar mais ou

de estudar mais o assunto, fez o que chamamos de «desdobramento» de verbetes, fazendo com que

um mesmo verbete figure, desnecessariamente, em quatro ou cinco posições diferentes de um mesmo

glossário. Outra estratégia facilmente perceptível é a chamada «multiplicação» de verbetes. Neste

caso, o autor reproduz um mesmo verbete com diferentes adjetivos ou advérbios, conforme o caso,

procurando ampliar o corpus artificialmente.

Como sempre dizemos a nossos alunos, leitores e ouvintes, o corpus deve ser ampliado a partir

de pesquisas e de leituras («de fora para dentro»), por adição, e nunca por subdivisão ou por

multiplicação («de dentro para fora»).

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75

6. CONCLUSÕES

Com base nas informações acima, podemos concluir que um glossário, para ser considerado de boa

qualidade, deverá ter as seguintes características:

• Textos estruturados de modo uniforme, englobando um campo semântico pré-determinado e bem

delimitado;

• Verbetes completos, com exemplos extraídos de material autêntico, contendo ilustrações claras e

elucidativas, quando necessárias;

• Informações sobre os diferentes significados de um mesmo vocábulo;

• Conteúdo atualizado e inovado periodicamente;

• Indicação clara do público-alvo;

• Verbetes significativos e representativos, independentemente de sua quantidade.

1 Reproduzido e adaptado sob permissão de: Ana Júlia Perrotti-Garcia. Glossário de Ortodontia &

Ortopedia Funcional dos Maxilares, Inglês-Português Português-Inglês Ilustrado. Editora SBS: Brasil,

2003.

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Page 78: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

77

LÉXICO, REGRAS E IDIOSSINCRASIAS

IDA REBELO

Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro

Resumo:

O objetivo deste artigo é lançar alguma luz sobre as estratégias de seleção lexical postas em prática

por tradutores e usuários não especialistas de uma língua estrangeira, além de sugerir possibilidades

de lidar com a transposição de vocabulário de uma língua para outra, atendendo às imposições que

se colocam ao profissional de tradução, como fidelidade ao conteúdo na língua-fonte e adequação

aos usos na língua-alvo. Tentamos estabelecer um diálogo entre áreas de pesquisa, apresentando

as propostas de dois modelos de constituição do léxico (Bybee 1985; DiSciullo & Williams 1987) e

confrontando-os com estudos que tanto apresentam discussões teóricas (Basílio 1980; 1993; 1997

e 1998; Nattinger, J. R. e J. S. Decarrico 1992; Gross, M. 1982) como resultados de pesquisa voltada

para a área da tradução (Correia, M. 2002), da lingüística computacional (Carvalho, P. 2001; Baptista,

J. 1994) e do ensino de português para estrangeiros (Scherer, M. 2002).

Palavras-Chave:

Léxico; Seleção lexical; Produtividade.

Abstract:

This paper aims to shed some light on the way both translators and foreign language speakers make

vocabulary choices. Another more specific objective is to suggest a means to deal with problems raised

by the need for accuracy in the source-language text and for adequacy in target-language use. A

kind of dialogue is established between multiple research fields by presenting, on the one hand, two

works that consider the problem of lexical acquisition and human lexicon differently (Bybee 1985;

DiSciullo & Williams 1987) and, on the other, theoretical discussions (Basílio 1980; 1993; 1997 and

1998; Nattinger, J. R. and J. S. Decarrico 1992; Gross, M.1982) and findings in different research fields

like translation (Correia, M. 2002), computational linguistics (Carvalho, P. 2001; Baptista, J. 1994) and

Portuguese as a Foreign Language teaching (Scherer, M. 2002).

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Keywords:

Lexicon; Lexical choice; Productivity.

1. INTRODUÇÃO

A área da tradução, como campo de estudo e atividade profissional, presta-se a diferentes abordagens,

não só devido ao fato de ser dinâmica e abranger vários aspectos do fenômeno lingüístico, como

também por estar sendo, constantemente, enriquecida e confrontada pelas novas produções existentes

em uma língua. Produções essas que se apresentam como desafio aos tradutores, experientes ou

novatos.

Assim, atrevemo-nos a tocar em um aspecto da atividade do tradutor que envolve conhecimento do

léxico de ambas as línguas envolvidas, mas, também, como quase tudo nesta área, habilidade para

fazer escolhas e sensibilidade para avaliar a qualidade da escolha feita.

Tomamos como ponto de partida modelos teóricos propostos para o armazenamento e produção de

vocabulário numa dada língua e buscamos levantar algumas contribuições que esses modelos possam

trazer para o fazer do tradutor.

No tratamento dado às questões morfológicas em diversos autores teóricos há renovadas tentativas

de lidar com a questão da formação e análise de palavras novas e seu armazenamento dentro de

uma projeção teórica da faculdade da linguagem. O processo envolvido suscita questionamentos

de diversas ordens entre pesquisadores de correntes teóricas variadas e serve de motivação para o

presente trabalho.

Propomo-nos, aqui, usar elementos de dois modelos de processamento da linguagem em busca de

estabelecer as diferentes maneiras como pode ser tratada a questão da formação de palavras na

passagem de uma língua para a outra e as soluções que o tradutor pode encontrar num tipo de tradução

que não se propõe literal mas fiel ao conteúdo como, em geral, se apresentam as traduções de textos

técnicos ou naqueles onde a informação contida é um objetivo que se sobrepõe à forma do texto.

Procedemos, inicialmente, à comparação de aspectos gerais dos modelos teóricos propostos. São

eles: DiSciulo & Williams 1987 e Bybee 1985. Colocamos em paralelo as maneiras como cada modelo

apresenta os constituintes do léxico bem como os diferentes encaminhamentos teóricos para as

questões das condições de produção a luz de conceitos colhidos em Basílio (1980; 1993; 1998).

Ao tentar delimitar os procedimentos teóricos pelos quais os autores em questão explicam a aquisição

do léxico, buscamos estabelecer como e se esses procedimentos podem dar conta de desvios na

tradução de alguns aspectos do léxico do português em relação ao francês e ao inglês.

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2. CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS DE TRATAMENTO DO LÉXICO (1)

Pode-se dizer que os modelos mencionados são os extremos de um mesmo contínuo, pois, enquanto

Bybee extrai as regras de formação de palavras de generalizações feitas a partir das representações,

ou seja, do conjunto de objetos que constituem o léxico da língua, D&W não se ocupam do léxico

por considerá-lo um conjunto desestruturado de objetos incaracterísticos - até mesmo na sua

representação, uma vez que podem constituir-se de palavras ou frases – que não obedecem a regras

morfológicas ou sintáticas.

Bybee, por sua vez, procura similaridades entre os elementos do léxico que possam identificá-los com

subconjuntos partilhando determinados padrões de formação. D&W usam as irregularidades de formação

como argumento para deixar de lado esses produtos talvez por não conseguirem estabelecer regras com

alto grau de generalidade para a totalidade de elementos enfocados em um único conjunto. (2)

2. 1. Constituintes do léxico

No modelo de Bybee a abordagem se faz a partir da consideração e determinação de processos

e propriedades tais como: «conexões lexicais», «segmentação», «graus de relação», «força lexical»,

«interação entre força lexical e conexão lexical».

No modelo de D&W, por sua vez, a propriedade relevante por excelência é a da «listagem/listabilidade»,

ou seja, ser ou não listado para os elementos reais, e ser ou não listável para os produtos potenciais

da atividade lingüística é que define os objetos lingüísticos e as operações que precedem a sua

produção.

Independentemente dos julgamentos avaliativos que cada um dos modelos estabelece sobre o léxico,

os dois modelos reconhecem que os elementos desse léxico apresentam uma grande variedade na

forma.

Se compararmos a definição de «palavra» proposta por Bybee com a especificação do tipo de objetos

que compõem o léxico de D&W, defrontamo-nos com parâmetros convergentes. As palavras, sintagmas

verbais, morfemas, padrões prosódicos mencionados por D&W poderiam corresponder ao que Bybee

designa como palavras do léxico no seu modelo, como segue: «algumas podem ser maiores que as

palavras tradicionais, algumas podem ser menores e pode haver diferenças tipológicas entre línguas».

Os itens desse léxico não são passíveis de análise, nem correspondem a regras de formação de

palavras (RFP) (3). Melhor dizendo, os elementos que não podem ser analisados por regras concebidas

previamente no modelo vão formar o grande conjunto de listemas que constitui o que é designado por

léxico nessa teoria. Os listemas, por não serem produtos da aplicação de RFPs, são listados e devem ser

memorizados. Ou seja, todas as expressões opacas e palavras que não obedecem a regras de formação

de palavras seriam jogadas numa lista como num «saco de rejeitados».

Page 81: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

80

Ao prender-se a um molde rígido de aplicação de regras de formação de palavras, o modelo parece

ignorar todos os conjuntos de sub-regularidades que possam existir além da aplicação estrita das

regras nele previstas. O conjunto de regularidades parece relevante quando se trata da atividade de

tradução, pois ao considerar essas regularidades tanto na língua-fonte como na língua-alvo, tornamo-

nos sensíveis aos diferentes tipos de soluções que se encontram numa dada língua para componentes

de outras línguas.

Ou seja, o que no inglês é expresso por uma locução verbal como would like verte-se em português por

um tempo verbal «gostaria»; à expressão would rather, por outro lado, corresponde um verbo simples,

«preferir», que traz o conteúdo da expressão em inglês, mas abre para um maior número de possibilidades

aspectuais ao poder ser conjugado em todos os tempos verbais. No francês il vaut mieux tem o mesmo

significado que, pelo menos três expressões em português: «é melhor», «é preferível», «mais vale», ou

mesmo o uso de «melhor», seguido de infinitivo, sem ser precedido pelo verbo «ser» conjugado.

Bybee defende o contínuo entre regras e representações. «O melhor exemplo de uma regra e o melhor

exemplo de uma representação são os pólos de um contínuo.» Como se trata de um contínuo, haverá,

em alguns dos listemas, regularidades identificáveis conforme a regra e, da mesma forma, em alguns

dos objetos morfológicos algo que escapa à regra ou, pelo menos, uma possibilidade de que isso

aconteça. Entre os substantivos deverbais, por exemplo, há regularidades que não se reproduzem de

forma equivalente em todos os itens do paradigma. Vejamos, abaixo:

«Faltar» > «falta»; «alcançar» > «alcance»; «buscar» > «busca»; «caçar» > «caça»; mas «*quedar» >

«queda», a possibilidade existe e está atestada nos dicionários, porém o uso passou a atribuir um outro

sentido ao verbo e esse mesmo item está em franco desuso. Temos, por exemplo, a expressão «queda

de rede», na área computacional, mas diz-se que «a rede caiu» e não «quedou-se».

No caso da tradução, encontram-se elementos que podem ser em parte analisáveis conforme regras

e em parte opacos. A vizinhança de certos itens lexicais, por exemplo, tem posições fixas. Não há

possibilidade de intercalação. Como em «tudo isso» e «isso tudo». A atual publicidade do McDonalds

trabalha com uma construção em que quase todos os elementos se alternam, mas vemos claramente a

impossibilidade de intercalação. Como segue: «Amo muito tudo isso»/«amo muito isso tudo»/«amo tudo

isso muito», mas não «*amo isso muito tudo», nem «*amo tudo muito isso».

Segundo Bybee, «a diferença entre regras majoritárias produtivas, regras minoritárias e supleção é

apenas uma questão de escala.» A essa noção de escala opõe-se uma outra posição de D&W ao afirmar

«o que é formalmente uma palavra é sintaticamente opaco.»

A referência à escala por Bybee traduz a idéia de que a opacidade, assim como a possibilidade de sofrer

análise por regras, tem níveis de gradação. Exemplos podem ser encontrados em Nattinger & DeCarrico

1992, ao distinguirem níveis de analisabilidade no que diz respeito à constituição das expressões fixas.

Essas expressões são igualmente apontadas por outros autores como Gross 1982 apresentando

diferentes graus de fixidez, o que permite que sejam, no todo ou em parte, analisáveis segundo regras

Page 82: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

81

sintáticas. Há expressões que têm uma estrutura determinável e um sentido onde a composicionalidade

não é de todo excluída, como: «em outras palavras»... E há, também, expressões menos transparentes

ou mais opacas, como «tal qual», até estruturas completamente opacas e que não se submetem a

análise, como «dar a volta por cima» ou «a torto e a direito».

Todas essas expressões, porém, serão vertidas para outra língua segundo soluções ad hoc, pois dependem

do contexto em que estão sendo utilizadas, e conforme a possibilidade que terá o profissional de

tradução de dominar um grande número de expressões com diferentes níveis de fixidez, nas duas

línguas. Como exemplo, temos «fazer frente» traduzida para o francês como faire face, locução verbal

ligada a outro substantivo, e para o inglês como to face, verbo simples. Dentro do mesmo campo

lexical, encontramos ainda «frente a frente» que tem como correspondentes, em inglês e francês,

respectivamente, face to face e tête à tête.

Esses fatos levam-nos a refletir sobre as soluções que se pode buscar ao passar de uma língua para

outra um texto, mesmo que de caráter técnico. Ou seja, em um modelo de tradução que se pretenda

abrangente, não basta processar as palavras, encontrando-lhes correspondentes satisfatórios. Além

de dominar as relações sintáticas que ordenam as construções desse componente, é necessário ser

detentor de uma ou várias listas de elementos mais ou menos idiossincrásicos nas duas línguas e

fazer funcionar uma dinâmica entre essas listas. Melhor dizendo, há correspondências que não se

estabelecem item a item, mas a um item pode corresponder uma estrutura sintática e vice-e-versa.

Uma expressão banal como as far as tem como correspondente «até onde». A noção de comparação

se esvai na passagem para o português e cabe ao tradutor estar atento aos blocos de elementos que

constituem um único item lexical, pois tem nível alto de opacidade, não sofre análise por regras e

deve ser transposto na outra língua por um outro grupo de elementos igualmente opacos. A boa

notícia, aqui, é que um analisador automático dificilmente consegue dar conta desses itens, o que

torna a «febre» dos tradutores automáticos apenas isso, algo passageiro, e nos devolve a consciência

de que esses aplicativos computacionais podem acelerar um pouco o processo de tradução no caso,

sobretudo, da tradução técnica. Sem, porém, o manejo de um profissional experiente, jogam o «cliente»

em situações embaraçosas, quando defrontado com o resultado obtido após a tradução.

Basílio 1980 traz uma solução de consenso ao apresentar o processamento lexical como um processo

de aplicação de regras que é influenciado e retroalimentado pela lista já existente, seja ela de palavras

ou frases.

2. 2. Estruturação e propriedades do léxico

Para Bybee, o léxico se estrutura como vários conjuntos de redes dinâmicas. O caráter dinâmico

está ligado ao fato de que essas conexões variam em função da freqüência dos elementos e padrões

particulares. Como o uso dos itens lexicais varia no tempo, as conexões e seus elementos vão variar.

Page 83: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

82

Elementos que se ligam a outros podem estabelecer novas conexões de acordo com novos sentidos e

funções a eles atribuídas no uso da língua.

D&W estendem aos objetos sintáticos propriedades que são tradicionalmente atribuídas à morfologia:

tais como as noções de bloqueio, paradigma e produtividade.

Das propriedades levantadas por D&W, a produtividade e o bloqueio parecem ser itens intimamente

relacionados ao trabalho do tradutor. Começando pela primeira, não podemos falar de produtividade

sem fazer referência ao seu correlato que é a produção efetiva. A primeira envolve a rentabilidade

de uma regra no sentido de formar palavras potencialmente possíveis e a segunda diz respeito às

produções concretas e depende de fatores de ordem paradigmática, discursiva e pragmática, ou seja,

as condições de produção.

Segundo Basílio 1993, as condições de produção interferem nas operações morfológicas e se relacionam

aos seguintes fatores: lexicais paradigmáticos; de tipo de discurso; pragmáticos ou culturais;

de enunciação.

Consideramos uma questão incontornável do fazer do profissional de tradução o constante

questionamento, com a necessária verificação em documentos autênticos nas línguas em questão, que

leve à separação entre produtividade e produção efetiva. Melhor dizendo, é preciso manter uma atitude

de constante desconfiança da nossa própria intuição para que não consideremos como elementos

efetivos da língua meras possibilidades dentro da sua produtividade. Há que considerar, igualmente,

quando uma forma é possível em uma das variedades de um idioma (Brasil/Portugal; EUA/Inglaterra;

França/Québec), mas não na outra. Um exemplo é a aplicação de sufixos a adjetivos ou substantivos

que variam de uma comunidade de fala para a outra. O termo «snobeira», de uso corrente em Portugal,

tem outro correspondente no Brasil, «esnobismo», significando a atitude de alguém «esnobe».

Por outro lado, ao falar de produtividade é necessário mencionar a noção de bloqueio, inicialmente

introduzida nos estudos do léxico por Aronoff 1976 (4). A ausência da propriedade de bloqueio,

conforme essa propriedade é discutida por D&W, poderia servir como justificativa para descrever a

forma como algumas traduções apresentam desvios na transposição de palavras de uma língua para

outra. Acreditamos, portanto, que o tradutor precisa constituir uma espécie de filtro através do qual

vai selecionando o que pode ou não ser possível na língua alvo de forma a estabelecer uma atitude

autônoma em que a maior rapidez e eficiência com que verte está relacionada a uma capacidade de

seleção entre as possibilidades da língua alvo e aquelas que realmente se concretizam.

Ao verter do inglês para o português, rejeitamos, automaticamente a forma «acreditável» como

correspondente de believable mas podemos fazer o mesmo tipo de confusão com itens menos comuns.

A propriedade de bloqueio é, portanto, função dos conhecimentos que o usuário da língua tem da lista

de elementos do léxico e ocorre sempre que, ao defrontar-se com a possibilidade de aplicação de uma

regra ou regularidade, esse usuário verifica que já existe na lista um item adequado à noção que busca

exprimir ou ainda que o item que selecionou não consta da lista.

Page 84: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

83

No modelo de Bybee, a produtividade pode estar relacionada com a interação força lexical/

conexão lexical. Se a força lexical é alta, com uma alta freqüência de uso do elemento enfocado,

haverá um maior número de conexões com outros elementos da rede. A existência de mais conexões

aumenta a probabilidade de novas produções. E pode-se aventar a possibilidade de neologismos como

«sambódromo» a partir do paradigma «aeródromo», «autódromo», «kartódromo».

Surge, então, a idéia de que a produtividade também é função de um dado temporal e variará no tempo,

assim como as conexões. Ou seja, afixos que têm alto grau de produtividade podem não perder, mas ter

esse grau reduzido, conforme as bases sobre as quais atuem forem submetidas a uma menor freqüência

de uso, perdendo força lexical. A título de exemplo, pode-se citar Correia 2002 sobre a mudança do

sufixo —ismo, em português, já citado neste artigo, que perdeu o caráter erudito referido por certos

autores nos anos 40/50 e dá mostras de ter ganho força lexical ao se adicionar a nomes próprios como

«cavaquismo» e «guterrismo», em Portugal, e a nomes compostos como «terceiro-mundismo», no Brasil.

Além disso, a mesma autora dá conta da existência de pares de substantivos abstratos em que

um termina em —ade e o outro em —ismo, como: «centralismo» / «centralidade», «modernismo» /

«modernidade» e «pluralismo» / «pluralidade». Cada um dos elementos desses pares responde por usos e

sentidos diferentes e dão origem a impasses ao serem vertidos para outras línguas que possuam sufixos

equivalentes (—ty e —ité, —ism e —isme, respectivamente em inglês e francês).

Basílio 1980 apresenta uma lista (5) de sufixos em português cujos itens são classificados pelo grau de

produtividade e lembra, ainda, que «a maior ou menor produtividade do processo depende em última

análise de restrições semânticas determinadas pela função», o que já lança alguma luz sobre o caso dos

sufixos —ismo e –idade, mencionados anteriormente.

Embora não possamos sugerir estratégias de funcionamento no trabalho do profissional de tradução,

das propriedades de produtividade e bloqueio, podemos citar exemplos do que parece ser a aplicação,

ou não, dessas propriedades na produção de estudantes de Português Língua Estrangeira (PLE).

Parece que os falantes PLE, muitas vezes, usam inadequadamente as condições de produtividade,

que extraem dos padrões reconhecidos nos itens já aprendidos. A inadequação se dá por ignorarem

as condições de produção que, segundo Basílio 1998, «determinam circunstâncias que favorecem,

dificultam ou impedem a utilização de regras para a produção efetiva de novos itens lexicais.» A própria

existência da lista determina as condições lexicais paradigmáticas.

No caso do falante PLE, produzir o item «aprendimento» é como produzir um novo item lexical uma

vez que esse falante encontra-se num momento anterior ao da aquisição do item «aprendizado» ou

«aprendizagem». O falante utiliza, então, regras já aprendidas para formar essa palavra pela aplicação

do sufixo -mento a uma base já conhecida. Aparentemente, o falante estrangeiro tem a intuição de

que o sufixo -mento é mais produtivo do que -agem, por exemplo, para a substantivação de verbos.

Entretanto, devido a uma maior especificação semântica do termo alvo, a operação morfológica que

forma o item real vai ser direcionada para a seleção do sufixo menos produtivo em termos gerais, mas

de produtividade relativamente alta quando se trata de termos com maior especificação semântica ou

nomenclatura técnica.

Page 85: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

84

Conforme explicitado por Basílio (1993, 6):

«A utilização de derivações para criação de nomenclatura poderá incidir mais

sobre elementos semanticamente mais restritos e portanto, menos produtivos,

e assim por diante. Conseqüentemente, embora possamos dizer, por exemplo

que –ação e –mento são mais produtivos que –agem, porque mais gerais,

ainda assim a freqüência de aplicação vai depender das condições externas de

produção. Isto sugere que a pressão paradigmática entre afixos tem relevância

muito relativa na morfologia derivacional.»

O falante estrangeiro tem um controle relativo sobre algumas regras de formação de palavras, mas não

domina as condições de produção em sua totalidade. Assim como também não tem acesso à lista de

itens idiossincrásicos necessária para a seleção correta entre bases e afixos.

Tomemos outros exemplos individualmente. «Acreditável» pode ser formado segundo dois tipos

diferentes de procedimento. Por analogia, aplica-se o sufixo -vel a um verbo da 1.a conjugação, como

ocorre em «decifrável» e «inflável». Basílio nos diz que esse sufixo é menos produtivo que -do, por

apresentar maior especificação semântica, uma vez que «decifrado» e «inflado» têm sentido diferente

das formas em -vel. Entretanto, neste caso, tão pouco é comum o uso de «acreditado» como adjetivo

independente, embora exista o item «desacreditado». O procedimento alternativo poderia consistir em

derivar-se acreditável da forma «inacreditável» por analogia com «indecifrável: decifrável».

O fato é que os adjetivos em -vel compõem várias sub-regularidades. Temos, como segue: «inflável»,

assim como «detestável», «amável», «passável», não tem correspondente com prefixo de negação;

«incomunicável», mas «*comunicável»; «estável» / «instável», sem que haja uma forma livre à qual os

prefixos se juntem; «memorável» não tem por base «*memorar». Sem mencionar as formas criativas

como «comível» e «bebível» que têm distribuição diferente de «comestível» e «potável».

Em um outro exemplo, ocorre a produção de item já existente, «escolástico», em lugar de «escolar». O

primeiro termo tem uso específico, é utilizado exclusivamente para designar um movimento intelectual

e social da Idade Média, assim como o período histórico que lhe corresponde, enquanto o outro adjetivo

refere-se a «escola», de maneira geral.

Ao considerar «aliação», «independização» e «mudação», talvez possamos supôr que o estrangeiro

reconhece a produtividade do sufixo mas, por alguma razão, não ocorre o bloqueio dessas formas pelas

formas reais. Uma conclusão possível seria que a propriedade de bloqueio ocorre prioritariamente em

falantes L1, enquanto os falantes LE levam muito tempo para que se instaure esse procedimento no

seu processamento lexical. No caso específico dos profissionais de tradução, essa propriedade deve ser

construída formalmente através da experiência e da formação, uma vez que ser detentor da lista é um

atributo que depende de tempo de aprendizado e de exposição às formas concretas do léxico de uma

dada língua.

Page 86: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

85

3. CONCLUSÃO

À guisa de conclusão, recuperamos, de forma muito resumida, os elementos que, conforme nossa

análise, parecem aproximar o estudo do Léxico das necessidades de formação dos profissionais de

tradução. Esses elementos podem, igualmente, constituir apenas objeto de reflexão para quem se

debruce sobre algumas das dificuldades com que pode se deparar qualquer um que se aventure, ainda

que por diletantismo, no campo da tradução.

D&W parecem levantar uma particularidade relevante tanto para a aprendizagem de uma língua

estrangeira quanto para o trabalho do tradutor: trata-se da distinção listado/não listado dos itens

lexicais. Em ambos os casos, ter conhecimento da lista tem caráter decisivo na seleção de palavras que

tenham aceitabilidade na língua alvo. A análise nos faz intuir, além disso, que o fato de ser listado tem

ligações com fatores de ordem pragmático-discursiva que auxiliariam na decisão de aceitabilidade de

elementos como «escolástico» e «independização», por exemplo.

Outra propriedade, a ser melhor estudada com vistas a uma possível utilização no aperfeiçoamento dos

profissionais de tradução, é o bloqueio. Como verificado em muitos exemplos, essa noção tem ligação

direta com o reconhecimento da produtividade e das condições de produção que, por sua vez, são

condicionadas pelo fato de os elementos serem, ou não, integrantes da lista.

Talvez Rocha 1998 e D&W 1987 formulem o mesmo problema, ainda que suas avaliações sejam em

sentidos opostos. D&W atribuem ao léxico todos os produtos que escapam à aplicação ortodoxa das

regras morfossintáticas, mas alertam que conhecer a lista desses objetos faz parte do conhecimento

lingüístico, como segue:

«In sum we reject the idea that listedness is a grammatical property - the

lexicon is a collection of semigrammatical objects [...]. Of course this is not to

say that knowledge of the listed items of a language is not part of knowledge

of that language.» (D&W 1987, 4)

Rocha 1998, por sua vez, afirma que tudo está listado: o que é regular, irregular e as idiossincrasias, e

que faz parte da competência lexical conhecer a lista.

Nesse caso, um profissional de tradução teria como tarefa basilar a decisão entre a aplicação de regras

e a seleção de elementos da lista de objetos lexicais, tanto da língua-alvo, como da língua-fonte, e

essa dinâmica seria orientada, sempre que necessário, pela propriedade de bloqueio. O filtro fornecido

por essa propriedade é construído e acrescentado ininterruptamente ao longo do contato com a

língua-alvo e a conseqüente comparação entre as listas da língua-fonte e aquelas da língua-alvo.

Em um «mundo ideal», onde a propriedade de bloqueio funcionasse perfeitamente, não seria possível

encontrar-se exemplos como os sugeridos por Fernandes, 1994, como segue: «Ela abriu o jogo» / «She

opened the game»; «uma corrente de ar» / «an air chain», ainda que se tratem de chistes, sua motivação

são as traduções equivocadas, sejam elas perpetradas por profissionais ou amadores.

Page 87: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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1. DiSciulo & Williams serão identificados doravante, no presente texto, apenas como D&W.

2. «the lexicon is incredibly boring by its very nature. It contains objects of no single specifiable

type (words, VPs, morphemes, perhaps intonation patterns, and so on), and those objects that it does

contain are there because they fail to conform to interesting laws.» (D&W 1987, 3).

3. A definição de RFP que adotamos aqui é a de Basílio (1997, 11) como segue: «uma RFP define

construções lexicais possíveis pela postulação de uma operação fonológica sobre uma base categorial,

morfológica e semanticamente especificada, que tem como produto um item lexical morfológica,

semantica e categorialmente especificado.»

4. Há, em Aronoff, uma ligação direta entre produtividade e listagem pela ação do bloqueio. Assim,

segundo esse autor, o bloqueio é a não ocorrência de uma forma devido à existência de outra.

Evidentemente, para que isso ocorra é necessário um conhecimento da lista de objetos que compõem

o léxico.

5.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aronoff, M. Word Formation in Generative Grammar. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1976.

Basílio, M. Estruturas Lexicais do Português. Petrópolis: Vozes, 1980.

———. “Produtividade e Função do Processo de Formação de Palavras no Português Falado”. In Anais do IX Congresso Internacional da Associação de Lingüística e Filologia da América Latina – ALFAL. 1-9. Campinas: Universidade Estatal de Campinas, 1993.

———. “O Princípio da Analogia na Constituição do Léxico: Regras são Clichês Lexicais”. In Veredas – Revista de Estudos Lingüísticos. 1 (1) (1997): 9-21.

———. “Observações sobre a Conceituação de “Formação”, “Regra” e “Palavra” na Expressão “Regras de Formação de Palavras”. In Lingua, Lingüística e Literatura. Rio de Janeiro: UERJ, 1998.

Baptista, J. Estabelecimento e Formalização de Classes de Nomes Compostos. Dissertação de mestrado. FLUL: Lisboa, 1994.

Bybee, J. Morphology. Amsterdam: John Benjamins, 1985.

Carvalho, P. Gramáticas de Resolução de Ambiguidades Resultantes da Homografia de Nomes e Adjetivos. Dissertação de mestrado. FLUL, Lisboa, 2001.

PROCESSO DE MUDANÇA CATEGORIAL

Substantivação de V e A

Formadores de adjetivos deverbais

Formadores de adjetivos com base nominal

Formadores de advérbios

Formadores de agentivos denominais

Produtividade menor

-agem, -dor

-vel

-oso, -udo

Conversão

-eira, -ada

Produtividade maior

-ção, -mento, -idade, -eza

-do

-ico, -al

-mente

-ista, -eiro

Page 88: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

87

Correira, M. “Solução de Dificuldades Linguísticas devidas à Influência de Outras Línguas”. In SILEX (URA 382 CNRS). FLUL: Lisboa, 2002.

DiSciullo, A. M. e E. Williams. On the Definition of Word. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1987.

Fernandes, M. A Vaca Foi pro Brejo = The Cow Went to the Swamp. Rio de Janeiro: Record, 1994.

Gross, M. “Une classification des phrases figées du français”. Revue Québéquoise de Linguistique. 11 (2) (1982): 151-185.

Nattinger, J. R. e J. S. DeCarrico. Lexical Phrases and Language Teaching. Oxford: O. U. P., 1992.

Rocha, L.C.A. Estruturas Morfológicas do Português. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG, Coleção Aprender, 1998.

Scherer, M. Uma Questão de Vocabulário – Considerações sobre o Campo Lexical no Ensino de Português para Estrangeiros. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2002.

Page 89: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

88

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ENTREVISTA A JACQUES VISSOKY MÉDICO-TRADUTOR BRASILEIRO

ROSÁRIO DURÃO

Tradutora e Doutoranda

Jacques Vissoky é médico e tradutor. Foi laureado com o Prêmio União Latina de Tradução Científica

e Técnica 2003, em parceria com a CBL-Câmara Brasileira do Livro, pela versão da obra Princípios AO

Tratamento de Fraturas, de Thomas W. Rüedi e W. M. Murphy.

Jacques Vissoky - Eu nasci no dia 1.° de agosto de 1961, em Porto Alegre, capital do Rio Grande

do Sul, o estado mais meridional do Brasil. Como meu pai era médico e minha mãe professora e

jornalista, desde cedo me interessei pelo estudo de línguas estrangeiras e pelas leituras. A proximidade

com o Uruguai e a Argentina proporcionou-me a oportunidade de visitar esses países ainda criança,

desenvolvendo o gosto pela língua e pela cultura estrangeiras, o que também me despertou a vontade

de saber novos idiomas.

Adolescente, fui estudar por quase um ano nos Estados Unidos. Naquela época, não havia Internet

nem globalização e uma ligação telefônica somente se dava por intermédio de uma telefonista, com

um retardo de vários minutos. Morei no estado de Minnesota, onde fiz a última série do Ensino Médio

(High School).

Ao regressar ao Brasil, retomei os estudos para, no ano seguinte, ingressar na Faculdade de Medicina.

Já naquela época, traduzia as minhas músicas favoritas do inglês para o português, para o deleite da

minha turma.

Formei-me em 1985 e ingressei na Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia. No segundo

ano de residência (nessa especialidade, são três anos), tive a oportunidade de ir para a Inglaterra, para

um estágio de dois meses. Ao final desses dois meses, retornei ao Brasil e, para minha surpresa, fui

contactado pela então Editora Artes Médicas (atualmente Editora Artmed) para iniciar um trabalho

como free-lancer de tradutor de livros na área.

Page 90: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

89

O começo foi tímido e tecnicamente demandante (escrevendo ou datilografando laudas, errando,

datilografando novamente, errando novamente, usando corretor). Entretanto, o primeiro livro

ficou pronto. Depois, o segundo. Voltei, então, (já casado, mas sem filhos ainda) para a Inglaterra,

acompanhado de Ana Maria, minha esposa, lá permanecendo por aproximadamente dois anos, onde

cursei o equivalente a um mestrado.

Novamente no Brasil, em 1992, enquanto prestava serviço militar como oficial médico, fui novamente

contactado pela Editora Artes Médicas para reiniciar os trabalhos de tradução e revisão técnica.

Nesse momento, já «alfabetizado» em informática, recomecei a trabalhar com uma «magnífica»

máquina com processador 286, 2 MB de memória, e um «cavernoso» HD de 45 MB, que rodava - sem

travamentos - o saudoso sistema operacional DOS 5.0.

O computador foi evoluindo, e a demanda de trabalhos também. Assim, fui progressivamente sendo

absorvido pela carga de trabalho de tradução, onde fui me firmando como um nome de destaque da

área. Das dezenas de livros já traduzidos e/ou revisados, eu destacaria o Atlas de Anatomia, de Netter,

um clássico mundial da literatura médica em ciência básica.

Um outro marco na minha carreira foi a tradução oficial, comissionada pelo Centers for Disease Control

and Prevention, de Atlanta, nos Estados Unidos, do software EPIINFO, o programa de cópia livre na área

de epidemiologia mais difundido no mundo.

Paralelamente às traduções, ainda tive tempo de aproveitar um curso de extensão que me foi oferecido,

em 2002, pelo Center for AIDS Prevention Studies da University of California at San Francisco na área

de Métodos de Pesquisa Clínica, tornando-me um orientador e multiplicador brasileiro dos cursos da

área.

Atualmente, trabalho meio-período em um serviço público de atendimento traumatológico de urgência.

O resto do tempo é dedicado a traduções, aulas de metodologia de pesquisa clínica, e perícias judiciais

na área de ortopedia e traumatologia. Mesmo assim, acho que ainda consigo ser um pai atuante

para o Alexandre, que tem 11 anos, e o Leonardo de 8 anos que, com Ana Maria, ainda têm a chance

de degustar os jantares que eu mesmo preparo, quando me transformo em chef. Além disso, ainda

encontro tempo para passear com o Sammy, nosso poodle, e fazer afagos no Max, um gato da raça

sagrada da Birmânia.

(Rosário Durão) O Jacques foi galardoado com o Prémio de Tradução Científica e Técnica. Esperava

receber o prémio? Como surgiu a tradução dessa obra, foi uma iniciativa sua ou uma proposta da

editora? Quanto tempo demorou a traduzir a obra? Que método adoptou para a sua tradução?

(Jacques Vissoky) O Manual AO, que me rendeu a premiação inédita nos círculos literários nacionais,

foi entregue durante a II Bienal do Livro no Rio de Janeiro, em maio de 2003. A obra me foi oferecida

pela Editora Artmed, solicitando a tradução e a revisão técnica em torno de 4 a 5 meses para ser

completada.

A notícia da premiação foi uma surpresa muito agradável, porque o trabalho de tradução médica no

Page 91: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

90

Brasil ainda é incipiente, exercido de forma bissexta e descontinuada por muitas pessoas. Como todo

trabalho de cunho intelectual, o respectivo pagamento também deixa algo a desejar.

O método de trabalho, então, baseava-se simplesmente em abrir o livro (ou sua cópia) ao lado do

monitor (ecrã) do computador, e digitar o texto.

Que funções desempenha no hospital? Que outras actividades médicas exerce?

Por causa das inúmeras atividades exercidas, tive que me afastar do hospital... na verdade, alguma

coisa devia ser cortada no dia-a-dia, e a escolha recaiu sobre o trabalho hospitalar e as cirurgias. Mas

minhas atividades médicas na urgência de traumatologia já exigem bastantes horas, com uma média

aproximada de 150 pacientes de trauma musculoesquelético por semana.

Conta com várias traduções no seu currículo. Como é que a tradução surgiu no seu percurso de

médico? Alguma vez pensou em ser tradutor a tempo inteiro?

Como já mencionei, as traduções já ocupam, no mínimo, 50 % do tempo que dedico ao trabalho.

Talvez, quando me aposentar do serviço público, possa me dedicar somente às traduções.

Quando escolhe os textos para traduzir, selecciona apenas os que se encontram

no seu âmbito de especialidade? Porquê?

Embora eu seja mais conhecido nessas especialidades, também traduzo e faço

versões de textos de outras áreas da medicina.

Alguma vez recebeu traduções do hospital onde trabalha? Há algumas diferenças

entre os textos «para consumo interno» e os restantes?

Algumas vezes, tive que fazer traduções «para ontem», para apresentações entre

os residentes. Isso, obviamente, era feito de forma mais rápida, sem o cuidado com o rigor ortográfico

e semântico necessários a um trabalho mais elaborado.

Já pensou em traduzir textos para português europeu? Por que motivo?

Por causa das particularidades e diferenças entre o português europeu e o brasileiro, prefiro abster-me

de traduzir textos exclusivamente para o português europeu.

Quem são os principais clientes dos médicos-tradutores/tradutores de medicina? Quais são as principais

línguas de partida? Quais são os critérios das editoras para a tradução de obras de medicina?

Os principais clientes são as próprias editoras, que representam um fluxo contínuo de trabalhos,

principalmente do inglês para o português.

Eu também leio em espanhol e francês, mas não tenho tempo (nem vontade) de traduzir nesses idiomas.

Os principais critérios das editoras são a rentabilidade da obra, obviamente, e a possibilidade de seu

uso multidisciplinar (por exemplo, livros que possam ser usados em medicina, fisioterapia, terapia

ocupacional, etc.).

O que prefere traduzir: obras científicas ou textos para os doentes? Que cuidados tem/teria neste caso?

Tenho mais intimidade com as obras científicas. Os textos para os doentes, atualmente, podem ser

traduzidos até com tradutores automáticos.

...os melhores tradutores de

poesia são os poetas,

provavelmente os

especialistas-tradutores

terão mais facilidade em

lidar com os meandros do

conhecimento técnico.

Page 92: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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As traduções que circulam nos hospitais são satisfatórias?

Em geral, as traduções que ficam «no bolso» são mais precárias. Ainda assim, eventualmente, podem-se

encontrar traduções de melhor qualidade.

Que problemas levanta a tradução de textos de medicina? Costuma escrever sobre tradução?

Talvez o principal problema seja que muitas vezes o profissional da área médica é extremamente

competente como médico, mas tem dificuldades importantes nas técnicas de redação e na seleção

semântica, o que torna o trabalho do tradutor mais difícil e faz, muitas vezes, com que o tradutor se

sinta um «traidor» em nome da clareza.

O que é para si um médico-tradutor? Que conhecimentos e competências deve ele,

ou ela, ter? Deve procurar formação complementar para além da medicina?

O arcabouço cultural é básico. É impossível traduzir ou fazer a versão sem que

o profissional tenha já uma «milhagem» literária como leitor. Além disso, é

imprescindível que o tradutor faça cursos regulares de atualização na sua língua

materna.

Curiosamente, os prémios de tradução científica e técnica costumam ser

atribuídos a especialistas. Concorda que só os médicos podem ser bons tradutores

de medicina?

Absolutamente não. O que acontece é que, assim como os melhores tradutores de poesia são os

poetas, provavelmente os especialistas-tradutores terão mais facilidade em lidar com os meandros do

conhecimento técnico.

Que formação deve ter um tradutor que se queira dedicar à tradução na área da medicina? Há

programas de formação neste campo, no Brasil?

Que eu saiba, não há nenhum programa oficial de formação de tradutores médicos no Brasil. Não

é imprescindível, mas a formação na área biomédica ajuda muito, em função do jargão técnico

específico.

Quais são as vantagens e desvantagens dos «médicos-tradutores» e dos «tradutores de medicina»?

Como são muito poucos os médicos-tradutores que se dedicam de forma (quase) integral a tal tarefa,

há pouco intercâmbio. Por outro lado, os tradutores das Ciências de Saúde que não são médicos nunca

encontram cursos de atualização ou até de formação específica que lhes sejam direcionados.

Quando lê uma tradução, o que é para si mais importante, a precisão terminológica ou a correcção

linguística? Ou considera ambas igualmente importantes?

A tradução é o discurso do autor. O tênue limite entre o conhecimento técnico e a adequação ortográfica

e lingüística é uma espada de Dâmocles que está sempre a pairar sobre a cabeça do tradutor...

O arcabouço cultural

é básico.

É impossível traduzir ou

fazer a versão sem que o

profissional tenha já uma

«milhagem» literária

como leitor.

Page 93: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

92

Alguma vez pensou em dar aulas de tradução? Como desenharia uma cadeira de tradução de medicina

e por que razão?

Eu me sentiria muito honrado em dar aulas de tradução. Infelizmente, ainda não fui convidado para

tal. O desenho curricular de uma cadeira de tradução de Medicina certamente teria que incluir uma

introdução às temáticas básicas da área de Biociências, oportunizando a intimidade necessária com os

termos biomédicos que têm, muitas vezes, mais de um sentido.

Que peso tem a tradução no universo editorial de medicina em língua portuguesa em geral, e na

vertente brasileira em particular?

Além de fazer, de forma contínua, as traduções para a editora, já há algum tempo sou responsável

pela versão inglesa da Revista Brasileira de Ortopedia, além de ser o tradutor oficial do Journal of

the American Academy of Orthopaedic Surgeons. Embora se exija muito do médico em termos de

conhecimentos técnicos, há uma enorme carência de médicos que sejam efetivamente bi- ou trilíngües.

Assim, o mercado para livros traduzidos em português é muito amplo.

Considera que o Brasil tem uma política para a tradução científica e técnica, e sobretudo de medicina?

Há alguma coisa que lhe parece urgente fazer?

Não há nenhuma política oficial voltada para o setor de tradução científica e técnica, sobretudo

na Medicina. Isso é confirmado pela ausência de padronização dos termos. Uma exceção seria a

terminologia anatômica, que já tem uma espécie de «jurisprudência» firmada entre as editoras. O mais

urgente, definitivamente, seria a uniformização das terminologias.

Como estamos de ferramentas, em papel e formato electrónico, para a tradução de medicina para

português? Poderia mencionar algumas?

Decididamente, as coisas estão muito melhores do que há dez anos atrás. Há programas de auxílio ao

tradutor – exemplo, o Trados (R) e o Wordfast (R), que segmentam o texto, facilitando o trabalho, bem

como tradutores eletrônicos como o Delta Translator, na minha opinião, o melhor tradutor eletrônico

atual, além de dicionários eletrônicos.

Que conselhos daria aos jovens e menos jovens tradutores desta área?

Persistência, leitura e muito estudo. A dedicação é fundamental, assim como o amor pela arte das

palavras.

Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

Não existe tradutor que não seja escritor já que, muitas vezes, os tradutores têm que reescrever um

texto. E a tradução é uma forma menos compromissada de escrever, sob o manto do autor original,

isentando-se em parte da responsabilidade pelo conteúdo...

Muito obrigada, Jacques.

Este artigo é publicado simultaneamente nas revistas Panace@: Boletín de Medicina y Traducción e CONFLUÊNCIAS: Revista de Tradução Científica e Técnica, por acordo entre ambas as publicações.

Page 94: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

93

TRADUZINDO FITNESS NA TEORIA DA COMPLEXIDADE

MARIA JOÃO B. REIS

Tradutora

INTRODUÇÃO

O apontamento que se segue relata algumas dificuldades encontradas na tradução de um livro,

originalmente escrito em inglês (Navigating Complexity: Essential Guide to Complexity Theory in

Business and Management, de Arthur Battram).

Neste caso, as dificuldades prendiam-se, sobretudo, com o carácter recente de uma teoria que,

actualmente, atravessa todos os campos – a Teoria da Complexidade.

«A complexidade não é um conjunto de teorias mas uma compilação de campos de estudo

frequentemente díspares, que estão relacionados por um interesse comum num conjunto de conceitos

que não foram ainda perfeitamente definidos [...]. O estudo de “comportamentos emergentes” que

surgem continuamente em sistemas biológicos, tecnológicos, computacionais e económicos está em

pleno desenvolvimento», como se afirma no próprio livro.

Como, entretanto, detectei, a própria linguagem também parece encontrar-se em desenvolvimento,

tanto no sentido do aparecimento de novos termos/expressões como, e sobretudo, no sentido da

aplicação de termos existentes a novos campos: «Novos cenários, nova linguagem», como afirma o

autor.

O PROBLEMA

Concretamente, um dos termos que apresentavam a dificuldade era fitness, nas diversas utilizações em

que surgia no livro.

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À partida, a tradução de fitness não apresentava problema algum, tanto mais que o autor afirma que:

«O termo fitness, usado pela primeira vez por Wright no campo da Biologia da Evolução, expandiu-se

muito por acção dos estudiosos da Complexidade.» A opção por «aptidão» parecia adequada. Procurei,

então, confirmar a utilização do termo.

Mas, ao pesquisar textos relacionados com a Teoria da Complexidade, sobretudo em áreas ligadas às

Matemáticas e às Ciências da Computação, verifiquei que a palavra fitness surgia, frequentemente,

não traduzida – «grau de fitness», «a fitness média/relativa», «valor de fitness» – ou seguida, entre

parêntesis, de uma (possível) tradução: «critério de fitness (adequação)», «a função fitness (aptidão)»,

«algoritmo de fitness (desempenho)», sobretudo em Computação Evolutiva.

Opção (1)

Levantava-se, então, a dúvida: qual destes termos seria o mais correcto para traduzir um conceito que,

já não no contexto das Ciências Naturais, poderia ter várias traduções, ou mesmo não ter?

Optei por deixar em inglês o termo fitness, e traduzir «fitness landscape» por «paisagem de fitness»,

«fitness peak» por «pico de fitness», etc., presumindo que o seu significado ficaria claro numa altura

em que, possivelmente, ainda poderia estar por «cunhar» uma tradução consensual que abrangesse os

vários campos.

Entretanto...

Tive acesso a um livro, em francês, sobre o mesmo tema (La complexité, vertiges et promesses. Dix-huit

histoires de sciences, de Réda Benkirane, traduzido para português com o título A Complexidade,

vertigens e promessas - Histórias de Ciências). A perspectiva era diferente: uma série de entrevistas a

especialistas de renome «em torno de uma temática nova e original» – a Complexidade –, sendo que

várias delas eram traduções do inglês.

E eis que deparei, numa nota de rodapé, com a seguinte frase: «Le paysage évolutif ou adaptatif

(traduction de l’expression fitness landscape) est une métaphore matémathique)» e, mais adiante,

«que retoma o princípio darwinista da luta pela sobrevivência [...] os organismos devem continuar a

aperfeiçoar-se durante a evolução para sobreviverem.» No corpo do texto, verifiquei que o autor optara

pela tradução «paysage évolutif».

OPÇÃO FINAL

Perante este alargamento de possibilidades de tradução, decidi adoptar a sugestão do autor francês,

uma vez que «evolutivo» parecia coadunar-se com a visão biológica que está na base do termo fitness.

Revendo a tradução do livro, procedi então à substituição: a «paisagem de fitness» passou a ser

traduzida como «paisagem evolutiva», «o pico de fitness» por «pico evolutivo», etc.

Em conclusão, descobri que a tradução pode ser feita por via de outras línguas, de termos já cunhados

ou (também) a caminho de o serem.

Page 96: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

95

UMA DIFICULDADE DE TRADUÇÃO FILOSÓFICA

MARIA JOSÉ FIGUEIREDO

Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras

1. O PROBLEMA

É intenção dos parágrafos que se seguem expor uma dificuldade encontrada no decurso da tradução

de um texto de filosofia, originalmente escrito em francês.

O autor é G. W. Leibniz, filósofo e matemático alemão (1646-1716) que, por circunstâncias diversas,

escreveu uma parte importante da sua obra em francês. O texto é um Sumário em 37 pontos – escrito

pelo próprio – de uma das suas obras, intitulada Discurso de Metafísica.

A frase que coloca a dificuldade surge no ponto 35 do referido Sumário. Diz Leibniz: «Que les esprits

expriment plutôt Dieu que le monde, mais que les autres substances simples expriment plutôt le monde

que Dieu.»

No ponto que me interessa salientar, a frase pode ser traduzida de duas maneiras (ou mais, combinando

entre si as diversas hipóteses) e é essa alternativa que constitui a dificuldade:

(1) «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que do mundo, sendo as outras substâncias

simples mais expressão do mundo do que de Deus»; ou

(2) «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que o mundo, sendo as outras substâncias

simples mais expressão do mundo do que Deus».

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O sentido de uma e outra tradução é diferente, como se torna perceptível completando as elipses [entre

parêntesis rectos]:

(1)’ «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que [são expressão] do mundo, sendo as

outras substâncias simples mais expressão do mundo do que [são expressão] de Deus»; ou

(2)’ «Que os espíritos são mais expressão de Deus do que o mundo [é expressão de Deus], sendo as

outras substâncias simples mais expressão do mundo do que Deus [é expressão do mundo]».

Se optarmos por (1), estaremos a afirmar que os espíritos são expressão de Deus e são expressão do

mundo (embora o sejam mais de Deus do que do mundo), e que as outras substâncias são expressão de

Deus e são expressão do mundo (embora o sejam mais do mundo do que de Deus). Isto é, estaremos a

evidenciar uma simples gradação hierarquizada de quatro elementos (Deus, espíritos, outras substâncias,

mundo), organizados em dois pares (Deus/espíritos; outras substâncias/mundo), por via das respectivas

expressividades.

Enquanto que, se optarmos por (2), estaremos a afirmar que os espíritos são expressão de Deus,

e o mundo é expressão de Deus (embora o seja menos do que os espíritos); e que as substâncias

simples são expressão do mundo e Deus é expressão do mundo (embora o seja menos do que as outras

substâncias). Isto é, estaremos a enunciar um complexo conjunto de relações de expressividade entre

quatro elementos (Deus, espíritos, outras substâncias, mundo), sem uma hierarquização evidente entre

elas (espíritos & mundo/Deus; outras substâncias & Deus/mundo).

Como decidir?

O problema parece ser indecidível em termos puramente linguísticos, constituindo, portanto, um

daqueles casos de limite de competência, em que um tradutor fará melhor em consultar um especialista

na matéria, isto é, no referido autor, que lhe dirá qual a opção que melhor se coaduna com o pensamento

do autor.

2. A SOLUÇÃO

Realizada esta diligência, verificou-se que a opção mais correcta é (1). Efectivamente, o que Leibniz

pretende salientar neste texto é a hierarquia existente entre os seres, da qual resulta que – embora

todos sejam, pela sua natureza, uma expressão de todos, o que, em sentido estrito, torna igualmente

correcta a hipótese (2) – os seres mais perfeitos (os espíritos) exprimem melhor o ser superior (Deus) e,

conversamente, os seres menos perfeitos (as substâncias materiais) exprimem melhor os seres inferiores

(o mundo). Esta hierarquia fica evidenciada de forma óbvia por (1), ficando obscurecida pela complexa

rede de relações gerada na hipótese (2).

Page 98: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

97

TEMOS UMA DISCIPLINA

ROSÁRIO DURÃO

Tradutora e Doutoranda

Foi há precisamente 32 anos que James S. Holmes criou uma disciplina independente para estudar os

fenómenos da tradução. A esta disciplina, ele chamou Translation Studies – «Estudos de Tradução»,

como tem vindo a ser denominada em português.

Ao contrário do que normalmente acontece com as pessoas, porém, a natividade e o baptismo dos

Estudos de Tradução nem sempre são celebrados com o júbilo que lhes é devido pela comunidade dos

que fazem da tradução o seu mister, sejam eles estudiosos ou tradutores.

E, no entanto, Holmes foi um pioneiro em vários sentidos.

Em primeiro lugar, porque soube que a tradução levantava tantas questões tão complexas que as

abordagens e soluções das disciplinas que habitualmente se debruçavam sobre ela – a Linguística,

a Literatura, a Lógica, a Matemática, as Ciências da Informação, etc. – haviam deixado de ser

adequadas.

Em segundo lugar, porque concebeu os Estudos de Tradução, não como um ramo ou subárea de outros

campos do saber, mas como uma disciplina independente.

Em terceiro lugar, porque atribuiu à (sua) disciplina um objecto de estudo claro – «a tradução e as

traduções» – e abrangente. Cabia aos Estudos de Tradução a tarefa de estudar os textos em si e os

processos mentais dos tradutores que subjazem à produção das traduções, mas também, porque toda

a comunicação tem um propósito, as funções que os textos desempenham nas comunidades de partida

e de chegada e o modo como tais funções se reflectem na actividade dos profissionais. Para isso

acontecer, porém, era necessário que a disciplina mantivesse um diálogo constante entre os seus ramos

(teórico, descritivo e aplicado) e com os tradutores profissionais.

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Assim se entende que o pai da disciplina não advogasse o isolamento dos Estudos de Tradução, mas,

antes, a sua comunicação e interpenetração com todas as áreas do saber – convertendo-a numa

(trans)disciplina de natureza (inter, multi e trans)disciplinar –, incluindo as da «tradução científica e

tecnológica», como ele escreveu.

Desde o momento em que James Holmes apresentou o artigo «The Name and Nature of Translation

Studies» na secção dedicada à «Tradução» do 3.o Congresso Internacional de Linguística Aplicada,

realizado em Copenhaga entre os dias 21 e 26 de Agosto de 1972, muito se aprendeu sobre a tradução

e sobre as suas relações internas e externas.

Do ponto de vista da organização da disciplina, salientam-se os contributos de Gideon Toury, a

quem o mundo ocidental deve a divulgação da versão inglesa do texto de Holmes (em 1987) e a

primeira esquematização e modificação do mapa da disciplina, e de Amparo Hurtado Albir (2001), que

preservando a estrutura básica de Holmes, trouxe-a até aos nossos dias, desenvolvendo-a à luz da

complexidade que os Estudos de Tradução demonstraram, de facto, ter.

Ao longo destes cerca de trinta anos, em que a disciplina se firmou como um saber verdadeiramente

autónomo e abrangente por todas as partes do mundo e quase ao ritmo do processo de globalização,

do qual que se alimenta, ao mesmo tempo que o alimenta, um dos aspectos mais interessantes foi

o de verificar que o essencial da visão holmesiana se manteve. À pergunta de como isto terá sido

possível, uma razão encontro. Os Estudos de Tradução têm a exuberância que lhes conhecemos hoje

porque Holmes, como todos os grandes criadores, idealizou a disciplina como algo inclusivo, fluído,

interrelacional e aberto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Holmes, James S. “The Name and Nature of Translation Studies”. Translated! Papers on Literary Translation and Translation Studies. 67-80. Amsterdam/Atlanta, GA: Editions Rodopi, 1994.

Hurtado Albir, Amparo. Traducción y Traductología. Introducción a la Traductología. Madrid: Ediciones Cátedra, 2001.

Toury, Gideon. Translation Studies and Beyond. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 1995.

Page 100: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

99

VOCABULÁRIO JURÍDICO DO DIREITO DE EMPRESA NO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

ANDRÉ ANTUNES SOARES DE CAMARGO

Ibmec LAW/SP e Universidade Paulista - UNIP

Com o advento do Novo Código Civil Brasileiro («NCC»), instituído pela Lei n.o 10.406, de 10.01.2002,

novos termos jurídicos foram introduzidos em várias áreas do Direito Brasileiro, principalmente no

Livro II, intitulado «Do Direito de Empresa», uma das maiores inovações desse novo diploma legal, pela

introdução da «teoria da empresa» em nosso ordenamento.

O objetivo do presente texto é o de justamente apresentar, de maneira sintetizada e objetiva, os

principais termos jurídicos constantes do Livro II do NCC, ao lado de uma definição simultaneamente

teórica e prática, os quais vêm sendo objeto de inúmeros questionamentos pelos nossos alunos e na

nossa prática profissional, tanto por empresários brasileiros, quanto estrangeiros.

BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A IMPORTÂNCIA DO NCC

Em poucas linhas, cumpre-se destacar a importância do NCC e das alterações por ele promovidas

dentro do Direito Brasileiro como um todo. Várias são as razões que embasam tal informação, quais

sejam:

a) As alterações promovidas pelo NCC praticamente afetaram todas as pessoas físicas e jurídicas,

nacionais e estrangeiras, seja de forma direta ou indireta;

b) Dentre as principais virtudes do NCC, encontram-se uma maior clareza na redação dos artigos, uma

melhor estrutura orgânica com relação à organização das matérias que contempla, uma compilação

de normas jurídicas e decisões judiciais esparsas, promovendo uma maior segurança jurídica, e uma

minimização dos conflitos entre leis, alinhando os mandamentos da Constituição Federal de 1988, o

Código de Defesa do Consumidor de 1990 e o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990; e

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c) Três princípios básicos passaram a nortear todas as regras constantes do NCC: SOCIALIDADE (e.g.

função social do contrato e da propriedade); ETICIDADE (e.g. princípios éticos dos administradores,

boa-fé e cláusulas abertas); e OPERACIONALIDADE (maior aplicação, na prática, dos ditames legais).

Desta forma, torna-se muito importante para todos aqueles atingidos pelas novas regras instituídas

pelo NCC de conhecerem seu real significado, principalmente no campo do Direito de Empresa, Livro II

do NCC, até porque se trata de um novo livro em sede de código civil, anteriormente disciplinado pelo

Código Comercial de 1850.

administrador

Termo oficial destinado àquele que deverá gerir os negócios da sociedade, podendo ser um sócio ou um

terceiro, tendo inúmeras novas regras de comportamento inexistentes até o advento do NCC (artigos

1.010 a 1.021 do NCC). O NCC traz uma idéia mais «profissional» dessa nova função, outorgando-a uma

série de deveres perante os sócios, a sociedade e a terceiros. A antiga figura do «gerente-delegado»

deixa de existir.

capacidade empresarial

Expressão técnica para designar a aptidão legal de um indivíduo ou de uma pessoa jurídica para exercer

a «empresa». O artigo 972 do NCC estabelece que a atividade de empresário poderá ser exercida caso a

pessoa física ou jurídica estiver em pleno gozo da capacidade civil e não for legalmente impedida.

conselho fiscal

Órgão criado originalmente nas sociedades por ações. Agora sua instituição foi facultada expressamente

nas sociedades limitadas. Se for instituído, o conselho fiscal deverá seguir as normas previstas nos

artigos 1.066 a 1.070 do NCC.

empresário

Definido no artigo 966 do NCC, será considerado como «empresário» aquele que exercer profissionalmente

atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. Tal definição

é nova em nosso ordenamento jurídico, passando os referidos critérios como fundamentais para se

saber quem é empresário e quem não é, segundo a teoria da empresa introduzida em nosso Direito. O

empresário pode ser pessoa física (empresário individual) ou jurídica (sociedade empresária), sempre

tendo que conter tais requisitos. Há, no entanto, uma exceção, presente no parágrafo único desse

artigo, excluindo aqueles que exercerem profissão intelectual, de natureza científica, literária ou

artística, salvo se o exercício de sua profissão constituir, ele sim, elemento de empresa.

empresário rural

Terminologia utilizada para aquele empresário que explora uma atividade em uma propriedade

localizada em zona rural (não urbana). Os artigos 970 e 971 do NCC tratam do empresário rural no

Brasil. Como por aqui há grandes discrepâncias entre os pequenos e grandes empresários (subsistência

Page 102: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

101

e agribusiness, respectivamente), o empresário rural terá a faculdade de se inscrever no Registro Público

de Empresas Mercantis. Trata-se, portanto, de uma faculdade legal.

estabelecimento empresarial

Pela primeira vez definido em lei (artigo 1.142 e regulação nos artigos subseqüentes), trata-se do

complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

Portanto, é uma coletividade de bens que, isoladamente, possuem um valor, mas que, em conjunto e de

forma organizada, servem a um fim que é o da atividade empresarial.

fusão

Operação societária por meio da qual há a extinção das sociedades fusionadas, formando uma nova

sociedade, a qual sucederá as primeiras nos direitos e obrigações (artigo 1.119 do NCC).

incorporação

Operação societária por meio da qual uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, a qual lhes

sucede em todos os direitos e obrigações (artigo 1.116 do NCC).

nome empresarial

Nome empresarial é a firma (nome do sócio) ou denominação (nome outro que o do sócio) que identifica

o empresário individual ou a sociedade empresária para terceiros, respeitando os princípios da novidade

(anterioridade) e da veracidade. Suas regras estão dispostas nos artigos 1.155 a 1.168.

patrimônio especial

Previsto no artigo 988 do NCC, trata-se de uma nova figura no Direito brasileiro, representando

o conjunto de bens e dívidas sociais do qual os sócios são titulares em comum. Será justamente o

patrimônio especial que responderá em primeiro lugar pelas dívidas sociais, independentemente da

forma societária adotada e/ou da limitação ou não da responsabilidade pessoal dos sócios.

prepostos

Aqueles que trabalham em prol da sociedade, podendo ser o gerente (preposto permanente no exercício

da empresa), o contabilista e os demais auxiliares (regras constantes dos artigos 1.169 a 1.178 do

NCC).

registro

Termo técnico-jurídico que dá publicidade aos atos jurídicos em geral, portanto com eficácia erga

omnes, e é fundamental para conferir regularidade à atividade empresarial. As regras sobre registro

de sociedades encontram-se nos artigos 1.150 a 1.154 do NCC, sendo que as sociedades empresárias

serão registradas na Junta Comercial do Estado onde tiverem sua sede e as demais nos Cartórios de

Registro Civil das Pessoas Jurídicas do respectivo Município.

Page 103: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

102

sociedade

Conforme estatui o artigo 981 do NCC, sociedade é, em primeiro lugar, um contrato, um acordo

de vontades de característica plurilateral, no qual há a assunção de obrigações de todas as partes

envolvidas entre si e com terceiros, contribuindo com bens ou serviços para o exercício de atividade

econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Ou seja, não é uma associação (fins não econômicos

– artigo 53 do NCC), tampouco uma fundação (destinação de um patrimônio em vida ou pós-morte

para um determinado fim – artigos 62 e seguintes do NCC).

sociedade anônima

Entidade cujo capital divide-se em ações, obrigando-se cada acionista somente pelo preço de emissão

das ações que subscrever ou adquirir. Apesar de ser regulada por uma lei específica (Lei n.o 6.404/1976),

sua caracterização encontra-se nos artigos 1.088 e 1.089 do NCC.

sociedade coligada

Sociedades coligadas são aquelas que, em sua relação de capital social, são controladas, filiadas ou

mantêm uma simples participação. O conceito legal encontra-se no artigo 1.097 do NCC.

sociedade controlada

Definida no artigo 1.098 do NCC, pode ser, tanto uma situação de fato (controle nas decisões sociais

e o poder de eleger a maioria dos administradores), quanto de direito (potencial mediante a simples

posse da maioria das ações com direito a voto).

sociedade cooperativa

Nome técnico para aquela forma societária criada justamente para os interesses dos próprios sócios

e sem o intuito de lucro, limitando-se a buscar melhores condições de mercado para os próprios

cooperados entre si e para com terceiros. Regulada pela Lei das Cooperativas, suas regras principais

encontram-se nos artigos 1.093 a 1.096 do NCC, como, por exemplo, o fato de seu capital social ser

variável ou até dispensável e a possibilidade de se limitar à responsabilidade dos sócios.

sociedade de propósito específico (SPE)

Terminologia utilizada para definir aquela sociedade cujo objeto social é limitado a um só fim especifico,

ou seja, a razão de existência dessa sociedade é justamente o cumprimento desse propósito específico,

findo o qual, a mesma será extinta. A SPE é normalmente utilizada em incorporações imobiliárias e

em estruturas de project finance. A SPE é agora expressamente permitida em lei (artigo 981, parágrafo

único do NCC) que a atividade de uma sociedade possa restringir-se à realização de um ou mais

negócios determinados, portanto, autorizando a exploração de um só negócio.

sociedade de simples participação

Sociedade de cujo capital social outra sociedade possua menos de 10 % (dez por cento) com direito a

voto (artigo 1.100 do NCC).

Page 104: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

103

sociedade em comandita por ações

Sociedade que tem o capital dividido em ações, sendo que o seu administrador só poderá ser um dos

sócios e, como diretor, este responde subsidiaria e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Da mesma

forma que a sociedade anônima, tal espécie societária também é regulada pela Lei n.o 6.404/1976, mas

sua caracterização e regras gerais encontram-se nos artigos 1.090 a 1.092 do NCC.

sociedade em comandita simples

Quase inexistente no Direito brasileiro, sua regulação está nos artigos 1.045 a 1.051 do NCC. Trata-se de

uma forma híbrida de societária, caracterizada pela existência de duas classes de sócios: comanditados

(pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais) e comanditários

(obrigados somente pelo valor da sua quota).

sociedade em comum

Regulada pelos artigos 986 a 990 do NCC, trata-se das antigas sociedades irregulares ou de fato,

para as quais o direito atribui efeitos independentemente de as outorgar personalidade jurídica ou

regularidade.

sociedade em conta de participação

Constante nos artigos 991 a 996 do NCC, tal espécie societária caracteriza-se pela presença de duas

espécies de sócios: ostensivo (exerce a atividade em seu nome próprio); e participante (não aparece

para os terceiros, sendo considerado como um mero investidor).

sociedade em nome coletivo

Trata-se da antiga sociedade familiar, da qual só podem fazer parte pessoas físicas, as quais se obrigam,

solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais. Suas regras encontram-se nos artigos 1.039 a

1.044 do NCC.

sociedade empresária

Sociedade empresária é a pessoa jurídica que tem por objeto o exercício de atividade própria de

empresário sujeito a registro (artigo 967 do NCC). Seu registro dá-se na Junta Comercial do estado

onde se encontrar sua sede.

sociedade entre cônjuges

É a sociedade formada por sócios cônjuges entre si, independentemente do regime de bens adotado,

objeto de histórica discussão legal, doutrinária e jurisprudencial. Uma grande discussão trazida pelo

NCC encontra-se no artigo 977, segundo o qual cônjuges não poderiam mais ter sociedade quando

casados pelo regime da comunhão universal de bens, ou pelo regime da separação obrigatória. A

principal idéia por trás dessa proibição é a de evitar confusão patrimonial que venha a lesar terceiros.

Mas um recente parecer do Departamento Nacional do Registro de Comércio, órgão maior que regula

as atividades empresariais no Brasil, limita essa proibição somente às sociedades entre cônjuges

constituídas após o advento do NCC, em respeito aos princípios do direito adquirido e do ato jurídico

perfeito, constantes na Constituição Federal Brasileira de 1988.

Page 105: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

104

sociedade estrangeira

Sociedade que, independentemente do seu objeto, não pode funcionar no Brasil sem a prévia e expressa

autorização do Poder Executivo (artigo 1.134 do NCC).

sociedade filiada

Sociedade cujo capital social outra sociedade participa com 10 % (dez por cento) ou mais, sem controle

(artigo 1.099 do NCC).

sociedade limitada

Forma societária mais preferida no Brasil, representando mais de 97 % (noventa e sete por cento) de

todas as sociedades registradas no País. É uma sociedade em que a responsabilidade de cada sócio é

restrita ao valor de suas quotas, mas todos os sócios permanecem solidariamente responsáveis pelo que

faltar a integralizar todo o capital social subscrito. Sua disciplina anterior encontrava-se no Decreto

n.o 3.708/1919, um texto legal curto e com poucas regras cogentes (sem a possibilidade de alteração

entre as partes). Com o advento do NCC, a antiga flexibilidade para a constituição e regulação de uma

sociedade limitada (ex-sociedade por quotas de responsabilidade limitada) diminuiu sensivelmente,

pela criação de diversas obrigações e formalidades para a realização da maioria dos atos societários e

pelo aumento dos quóruns decisórios, passando a ser de 75 % (setenta e cinco por cento) o quórum

necessário para se considerar alguém como sócio controlador de uma sociedade limitada. Grandes

discussões existem ainda sobre essa nova regulação, sendo que se aguarda um pronunciamento judicial

definitivo sobre vários aspectos dessa nova regulamentação e a aprovação de diversos projetos de lei

visando à readaptação dessas normas à realidade em que vivemos. As regras sobre sociedades limitadas

localizam-se nos artigos 1.052 a 1.087 do NCC.

sociedade nacional

Sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua

administração (artigo 1.126 do NCC).

sociedade simples

Figura nova no direito brasileiro, sendo, curiosamente, um conceito legal por exclusão, conforme dita

o artigo 982, caput do NCC. Se a sociedade não for empresária (Vide sociedade empresária), será

considerada como sociedade simples e terá um tratamento especifico em lei (artigos 997 a 1.038 do

NCC). Além de ser uma forma societária própria, serve como fonte interpretativa das demais formas

societárias existentes no direito brasileiro (fonte interpretativa). A única exceção é a sociedade por

ações, cujas regras não têm aplicação subsidiária para as sociedades simples e vice-versa (regramentos

diferentes e específicos). Os atos constitutivos de uma sociedade simples deverão ser registrados em

Cartórios de Registro Civil de Pessoas Jurídicas da municipalidade onde sua sede estiver localizada.

transformação

Operação societária de conversão de um tipo societário em outro (artigo 1.113 do NCC).

Page 106: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

105

CONFLUÊNCIA POLISSÉMICA NA TERMINOLOGIA GRÁFICA

HERMÍNIO DR

Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia

A representação gráfica exibe grande importância societal, exprimindo visualmente o que se pensa,

quer em informação enviada, quer na recebida. Nas múltiplas actividades profissionais, os diversos

modos gráficos usados evidenciam com clareza as propriedades representadas, a par de poucas

expressões verbais, ou mesmo sem palavras. É o que transparece das caricaturas. Basta saber interpretar

o respectivo grafismo.

No âmbito técnico, onde se evitam ambiguidades para atingir o desejado rigor científico, é fundamental

adoptar convenções universalmente aceites. Mesmo em terminologia. Qualquer que seja a língua

usada, deve ser praticada uma linguagem comum. Este princípio de confluência semântica pela

sintaxe, fundamento do motor semântico da mente, recomenda que os usos e costumes construam

correspondências biunívocas entre os termos das linguagens específicas. Certo é que a terminologia

associada ao grafismo técnico manifesta-se pertinente nas explicações narrativas dos discursos

verbais ou auditivos. Aí, as várias falas entre os diversos interlocutores exprimem-se por termos

convencionados. E, para que todos assimilem as interpretações de cada um, deve haver biunivocidade

entre as linguagens.

As sínteses proporcionadas pela linguagem gráfica são muito apetecidas na ciência moderna, pois

encurtam as descrições de maneira sugestiva e agradável, estimulando a compreensão. Desta arte,

provocam no leitor um efeito de intuição, manifestável sem esforço e acompanhado da alegria

sobreveniente da descoberta dos conhecimentos contidos nas simbolizações desenhadas. Tais

características justificam a crescente utilização da descrição estrutural e comportamental dos sistemas

por meio de técnicas gráficas. Realmente, da agradável leitura de poucos riscos emerge a apreensão

imediata dos conteúdos e a aquisição de enorme riqueza de informação. É esta convicção que me

impele a inserir nos livros que escrevo, aqui e ali, «figuras» de visualização das ideias descritas sob o

ponto de vista literário.

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Page 107: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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A Ciência, em especial, serve-se da representação gráfica para exprimir conceitos complexos através

de diferentes modos gráficos adaptados às realidades conceptuais a registar ou transmitir. Umas vezes,

esboçam-se esquemas, em simples linhas de orientação qualitativa dos pensamentos (mais ou menos

complexos). Noutras ocasiões, desenham-se diagramas, num enquadramento de rigor quantitativo

que justifica os valores qualitativos implícitos.

As vantagens decorrentes levam muito a Tecnologia à prática das representações gráficas de descrição

tecnológica dos projectos e dos produtos. Por exemplo, é banal inserir descrições gráficas nas instruções

de uso dos equipamentos acessíveis ao grande público. Assim, será natural que os mesmos conceitos

gráficos passem para a linguagem vulgar, preenchendo uma boa parte do conteúdo da linguagem de

pensamento característica da psicologia popular (Fodor 1975).

Todavia, esta passagem representacional do domínio científico para a actividade tecnológica, até se

vulgarizar no senso comum, processa-se sem degenerescência (e portanto com eficácia) apenas se

não houver ambiguidade na terminologia usada. Ora, aconteceu, nas últimas décadas, que os termos

portugueses «esquema» e «diagrama» sofreram inconvenientes deformações, bem notórias após a

irreversível influência da língua inglesa, sendo um facto, entre outros, que testemunha como a eventual

inconsistência da terminologia inglesa, aceite acriticamente com todo o seu poder hegemónico,

contamina as linguagens de outros falantes.

Ambos os termos «esquema» e «diagrama» têm origem no grego clássico, que o latim assimilou

literalmente. Interessa agora comparar os seus significados em português e inglês, a fim de objectivar

a correcta tradução de uma para outra língua. Até ao terceiro quartel do século XX, antes da

generalização da linguística anglófona entre todos os povos do planeta Terra (para não ir mais longe

no cosmos), esses dois conceitos tinham significâncias nítidas, que os distinguiam. Assim se ensinava,

assim se aprendia e continua a ser: a esquematização é um traçado livre na forma e nas dimensões (no

espaço); a diagramatização resulta num desenho rigidamente ligado a um referencial, cujas distâncias

nos traços e entre riscos representativos se subordinam às escalas das variáveis marcadas nos eixos

coordenados.

Vem da história esta distinção dos esquemas e diagramas em engenharia. Por exemplo, na representação

de um circuito eléctrico, se se pretender esquematizar a realidade da sua estrutura, esboça-se o

«esquema eléctrico» que liga os símbolos dos componentes físicos (resistências e indutores, ou motores

e transformadores, por exemplo) em qualquer escala e sem cuidar das distâncias entre símbolos

gráficos; mas se as preocupações se centrarem na explicitação das funções desempenhadas pelos

vários componentes, usa-se um «esquema funcional» com blocos explicativos do comportamento dos

vários dispositivos estruturais; caso se queira efectuar cálculos de interacção, prefere-se o domínio da

frequência complexa, porque este simplifica muito o processamento, e então parte-se do «esquema de

blocos», caracterizando cada bloco estrutural pela respectiva função de transferência. Todavia, sempre

que se queira descrever graficamente as propriedades operativas dessa realidade, terão de ser elaborados

diagramas nos domínios de variação das grandezas em jogo no circuito eléctrico (basicamente a tensão

e a corrente): o «diagrama fasorial» das tensões e das correntes exibe os fasores destas variáveis, tendo

Page 108: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

107

em conta as suas amplitudes eficazes e posições relativas de desfasagem; o «diagrama temporal» de

uma corrente eléctrica indica a amplitude instantânea e a fase desta grandeza no decurso do tempo,

em sucessivos períodos de repetição, conforme a frequência dos seus ciclos; e o comportamento do

circuito no domínio da frequência mostra-se pelas características de amplitude e de fase desenhadas

no chamado «diagrama de Bode».

É certo que os dicionários nunca souberam destrinçar cabalmente os termos que designam os dois

tipos de figuras técnicas: esquemas por um lado e diagramas por outro. Talvez porque os seus autores,

normalmente linguistas, não saiam dos cozinhados conforme as receitas dos pares, na pureza da

tradição, e desconfiem dos ingredientes culturais dos especialistas das «tecnologias» (como dizem,

acintosamente, no moderno sabor do paradigma tradicional), que nem sempre são de boa colheita,

diga-se em abono da verdade, por endémica deficiência no campo cultural.

O Dicionário de Morais (edição de 1948) não relacionou um termo com o outro, mantendo o esquema

no papel básico de descrição das relações entre entidades e atribuindo rigor ao diagrama (apesar

da possível indução de metáforas). De facto, a entrada lexical de «esquema» regista os seguintes

significados:

«nome genérico de todas as formas de ornato de estilo (Retórica, antigo);

representação dos planetas cada um no seu lugar num momento considerado

(Astronomia); conjunto de figuras que servem para demonstrar a disposição

geral de um aparelho ou a sucessão de um órgão ou para dar uma ideia

geral desses fenómenos (Medicina); figura que representa, não a forma

verdadeira dos objectos, mas as suas relações e funções: “certos

esquemas ideacionais topográficos ... encorporaram-se enfim nas manchas

dúbias”(António Sérgio, Ensaios III).»

E no caso de «diagrama» transcrevem-se estes registos:

«representação por meio de linhas; traçado gráfico, que serve para facilitar

uma demonstração ou fazer compreender um fenómeno: “deparam-se-

me outros e variados diagramas” (Aquilino Ribeiro, O Homem Que Matou o

Diabo); delineação, bosquejo.»

Os destaques nestas transcrições (a negrito) indicam ideias básicas subjacentes às interpretações

científicas e tecnológicas: o esquema aparece como gráfico que não representa a forma, mas as

relações funcionais; e o diagrama mostra graficamente as propriedades da realidade, subentendendo

(sem especificar) que tal só num referencial criteriosamente arbitrado (dispensável na representação

esquemática) acontece com rigor.

Nessa época, a língua inglesa também separava as águas, evitando turvas imprecisões: os textos

científicos reservavam diagram para o diagrama puro, devidamente referenciado, e faziam corresponder

schematic diagram ao esboço de um esquema. No entanto, os termos compostos por várias palavras

Page 109: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

108

complicam a articulação e até a compreensão do discurso. Por isso, as linguagens específicas, praticadas

em diversas áreas científicas e tecnológicas, tenderam a abreviar essa designação composta. Só que

desapareceu o elemento qualificativo schematic, afinal o mais expressivo da ideia de esquematizar. E

o «esquema», na fala inglesa, reduziu-se ao substantivo «diagrama». A linguagem, em inglês, tornou-

se mais fluída, pela simplicidade adicionada, mas a ambiguidade aumentou. Daí o erro histórico da

anglofonia em não ter adoptado um termo próprio para referir as esquematizações: bem podia ter

sido escolhido «scheme», que existe nos dicionários ingleses (Atkins 1990). Alguns autores, talvez

mais conscientes dessa discrepância, chegam a dizer «figura esquemática» (schematic picture), porque

pressentem a debilidade dos termos específicos na representação daquilo que querem exprimir (Penrose

1999).

A verdade é que a tendência verificada, em conjunto com a progressiva generalização nos últimos tempos

dessa língua franca entre cientistas de todo o mundo, inverteu a natureza das coisas (terminológicas):

complicou-se a semântica das proposições à custa da simplificação sintática. Hoje, a situação viva

argumenta com o facto consumado: quase toda a gente portuguesa diz diagrama, por tudo e por nada,

desde que seja traçado um simples rabisco, esquemático ou referenciado, desprezando a exactidão da

linguística tradicional (a linguagem de pensamento do povo lusíada) e navegando nas águas turvas

do estrangeirismo à moda. Sem reflexão crítica nem conhecimento anímico, numa cognição estiolada

pela deformação linguística.

A prova mais eloquente do abandono desse rigor encontra-se nas páginas do recente Dicionário

da Academia das Ciências de Lisboa (ano 2001), propagando ainda mais o vírus corrosivo na língua

portuguesa, por deficiente especificação das diferentes representações gráficas. O «esquema» surge aí

com seis significados:

«nome genérico dado, antigamente, a todas as formas de ornato de estilo

(Retórica); figura que representa, não a verdadeira forma do objecto, mas

as proporções das suas partes [o que é errado!], as relações mútuas e o

funcionamento do todo, isto é, representação gráfica, por vezes simbólica,

de realidades não perceptíveis (“Na primeira aula de condução, o instrutor

explicou, através de um esquema, o funcionamento da embraiagem”);

delineamento ou exposição das ideias gerais e da articulação de uma obra

literária, de um discurso, de um projecto (“Via-se nitidamente que o discurso

não obedecia a qualquer esquema, era caótico, repetitivo.” “Após a aprovação

pelo professor do esquema de trabalho apresentado, os alunos lançaram mãos à

obra”); estrutura de conjunto de um objecto, de um processo (“A empresa onde

trabalhava tinha um esquema de funcionamento complexo, mas eficaz”); plano,

intenção (“O seu esquema era outro!”); representação mental simplificada,

intermédia entre a imagem real e o conceito abstracto (Psicologia).»

Page 110: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

109

Por sua vez, em «diagrama» apontam-se os três significados seguintes:

«representação gráfica das relações entre as diferentes partes de um conjunto

ou sistema; representação gráfica, esquemática, do desenrolar ou das

variações de um ou vários fenómenos; descrição em traços largos (ou

bosquejo ou delineamento).»

Os destaques continuam a não acentuar a nota mais importante da definição de diagrama, relativa à

referência a um sistema de coordenadas, declarando mesmo uma natureza esquemática que o diagrama

não deve ter (fora da ambiguidade originada na língua inglesa).

De facto, nota-se que o conceito de esquema de um sistema não representa a forma real dos componentes

(objectos) interconectados no sistema, mas indica as relações mútuas que explicam o funcionamento da

estrutura de todo o sistema (pelas funções desempenhadas); por isso, esta representação esquemática

com blocos estruturais e suas interligações designa-se esquema funcional (ou functional scheme

em inglês, mas que se costuma dizer functional diagram). Analogamente, um esquema de blocos

não deve ser dito «diagrama de blocos», embora a extensão deste incongruente termo (ao assumir

também significado esquemático) se tenha difundido entre especialistas, numa literalização simplista

da linguagem inglesa (que usa sempre o termo block diagram) por quem despreza a língua portuguesa.

Este ponto de vista aparece confirmado no último dicionário atrás referido, segundo mostra a seguinte

transcrição lexical: «diagrama de blocos (Elect.) – representação esquemática de circuitos com base

em figuras geométricas.» Dir-se-á, sem dúvida, que é disparate. Valha-nos Morais! Se é que basta.

Na realidade, pelo caminho que as actuais gerações estão a tomar, creio não haver outro remédio

senão engolir a asneira e esperar não sofrer qualquer indigestão, enquanto a bela língua portuguesa

empobrece mais, cada vez mais.

Para facilitar o entendimento da tradução inglês-português, sistematizam-se alguns termos

correlacionados, em Apêndice. A listagem apresentada não esgota os termos da Ciência e da Tecnologia

ligados aos conceitos de esquema e diagrama. Mencionam-se aqueles que mais frequentemente

ocorrem na Engenharia moderna, aproveitando para contrastar certas características relevantes que

geralmente andam mal compreendidas (como funcionalidade e transferência, lineal e areal, linearidade

e não-linearidade, vectorial e fasorial). Observa-se ainda que os esquemas e os diagramas são referidos

genericamente por «gráficos». Nalguns casos, a língua inglesa serve-se dos termos plot (traçado) e

chart (mapa).

Vê-se bem que a mudança dos tempos conduz ao abandono da ideia de esquema, por determinação

da língua mundialmente dominante. Hoje em dia, talvez porque a humanidade procura, sem cessar,

a maior exactidão exigida pela evolução tecnológica, pretende-se esconder que se esquematiza. Mas

a condição humana, forçada pela Natureza, encarrega-se de afirmar o contrário. Inaceitavelmente,

recusa-se a designação que verte a liberdade de expressão (gráfica), afastando a melhor adaptação

à inteligência dos humanos. Quando se usa o esquema como modelo, quando se utiliza o esquema

como estratégia, por imposição dos esquemas de raciocínio (implicações e silogismos) e dos esquemas

Page 111: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

110

lógicos, mesmo em inferências pragmáticas, com regras sensíveis ao contexto dentro dos esquemas

mentais. Afinal, bem longe de qualquer diagrama.

A minha experiência quotidiana confirma tão desagradável conclusão. Ainda hoje, ao redigir estas

linhas de combate quixotesco, participei numa reunião de trabalho com um doutorando e mostrei-

lhe que o seu diagrama de blocos não era mais do que um esquema de blocos funcionais, traçado

esquematicamente. Lá concordou, outra vez, até à próxima. Quando não se quer, de facto, não se quer

mesmo. E permaneci fixado a esta interrogação: apenas restará render-me à desnecessária e dúbia

polissemia? As relações verbais podem ser ambíguas, referindo-se a duas ou mais relações semânticas,

mas não devem. E se não eram – porque hão-de vir a ser?

Julgo que a introdução de ambiguidades na comunicação é um claro sinal de empobrecimento

linguístico. Outros pensam que será melhor deixar correr libertinariamente a pretensa voz do povo e

desfazer os equívocos pelo contexto. Sustento que as confluências não se devem fazer pela força dos

erros, mas antes pelo poder do rigor. Na verdade, creio que conhecer é sobretudo interpretar, para além

de qualquer explicação. E, por consequência, interpreto que os termos adequados induzem raciocínios

acertados mais facilmente. Pelo que os prefiro.

Uma cultura diagramática que perca a expressão das suas características esquemáticas, quando as

há, torna-se imprecisa e descolorida. Direi até que vai contra a evolução natural da sobrevivência na

diversidade. Por isso, as confluências polissémicas não auguram bons sinais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Silva, A. de Morais. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. 10.a ed. Rio de Janeiro: Editorial Confluência, 1948.

Fodor, Jerry. The Language of Thought. New York: T. Y. Crowell, 1975.

Atkins, B. T., et al. Collins Robert Dictionary. 2.a ed. London: HaperCollins Publisher, 1990.

Penrose, Roger. The Large, the Small and the Human Mind. 2.a ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.

Academia das Ciências de Lisboa. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Lisboa: Verbo, 2001.

APÊNDICE

Listagem de alguns termos associados aos conceitos de esquema e diagrama.

esquema

(scheme, vulgarmente dito diagram)

Representação gráfica por símbolos de uma certa configuração estrutural sem escala fixa.

Page 112: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

111

esquema de princípio

(basic scheme, vulgarmente dito basic diagram)

Representação gráfica pelos símbolos básicos que exprimem a operação de um sistema.

esquema unifilar

(one-wire scheme, vulgarmente dito one-wire diagram)

Representação esquemática de circuitos eléctricos polifásicos (mecanicamente independentes e

electricamente relacionados) por meio de um único traço representativo de todas as fases eléctricas (o

número de condutores indica-se por pequenos riscos transversais ao traço unifilar).

esquema multifilar

(multi-wire scheme, vulgarmente dito multi-wire diagram)

Representação esquemática de circuitos eléctricos polifásicos (mecanicamente independentes e

electricamente relacionados) por meio de tantos traços quantas as fases eléctricas e o neutro ou,

ainda, o condutor da terra de protecção.

esquema de ligações

(connection scheme, vulgarmente dito connection diagram)

Representação esquemática das ligações por condutores entre terminais dos vários componentes de

um sistema.

esquema funcional

(functional scheme, vulgarmente dito functional diagram)

Representação por blocos de funções desempenhadas pelos componentes estruturais de um sistema e

suas interligações com variáveis de interactividade.

esquema de blocos

(block scheme, vulgarmente dito block diagram)

Representação por blocos de funções de transferência dos componentes estruturais de um sistema

e suas interligações pelas transformadas das variáveis de interactividade no domínio de descrição

(transformadas de Laplace a partir do tempo contínuo e transformadas em z do tempo discreto).

esquema de simulação

(simulation scheme, vulgarmente dito simulation diagram)

Representação por blocos de coeficientes e integradores no tempo contínuo (ou variáveis de atraso no

tempo discreto) interligados conforme a forma canónica da função de transferência representada.

esquema sequencial

(sequence scheme, vulgarmente dito sequence diagram)

Representação por sucessivas etapas e transições de estados numa sequência de tarefas entre a inicial

e a final, no desenvolvimento de automatismos.

Page 113: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

112

esquema de fluência de sinais

(signal flow scheme, vulgarmente dito signal flow diagram)

Esquema funcional em que os blocos se reduzem a pontos em nós entre ramos de fluência dos sinais

de interconexão.

esquema hierárquico

(tree scheme, vulgarmente dito tree diagram)

Esquema de fluência de sinais em ramos ligados por configurações hierárquicas.

fluxograma

(flowchart)

Esquema funcional de representação de um algoritmo em informática, com blocos de processamento,

armazenagem e decisão, interligados por sinais de execução.

diagrama

(diagram)

Representação gráfica da variação de variáveis em relação a um referencial com eixos ortogonais numa

certa escala.

diagrama fasorial

(fasor diagram)

Representação dos vectores simbólicos de variáveis complexas, por meio das suas amplitudes e ângulos

de fase (em relação a uma referência nula). Por isso, antigamente (meados do século XX) falava-se

em «diagrama vectorial» (numa expressão imprópria, visto as variáveis poderem ser escalares e não

vectoriais, como é o caso da tensão eléctrica).

diagrama lineal

(line diagram)

Representação gráfica da variação de uma variável ao longo de uma linha (do tempo ou do espaço).

diagrama temporal

(time diagram)

Representação gráfica da variação de uma variável ao longo da linha do tempo (sendo, portanto, um

diagrama lineal).

diagrama linear

(linear diagram)

Representação, num sistema de eixos rectangulares, em que as variações expressas se projectam num

eixo, proporcionalmente às projecções ortogonais no outro eixo, através de uma recta que passa pela

origem de coordenadas.

Page 114: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

113

diagrama não-linear

(non-linear diagram)

Representação não rectilínea num sistema de eixos coordenados ortogonais ou que, em qualquer caso,

não passe pela origem.

diagrama areal

(area diagram)

Representação gráfica da variação de uma variável na área de uma superfície de eixos ortogonais

(sendo, portanto, uma imagem).

diagrama de conexões

(connection diagram)

Representação topográfica, a uma dada escala, dos condutores de conexão entre terminais de

componentes electrónicos num circuito impresso.

diagrama de estados

(state diagram)

Representação gráfica da trajectória (variação no tempo) de uma variável no espaço de estados.

diagrama de pólos-zeros

(pole-zero diagram)

Representação gráfica da localização dos pólos e dos zeros da função de transferência no domínio da

frequência complexa de um sistema em tempo contínuo, ou no domínio da variávell complexa de um

sistema em tempo discreto.

diagrama polar

(polar diagram)

Representação gráfica da variação no domínio complexo de uma variável complexa, tendo a frequência

como parâmetro entre zero e infinito.

diagrama de Nyquist

(Nyquist diagram)

Representação gráfica no domínio complexo da transformação, conforme da função de transferência

do anel aberto de um sistema com retroacção, tendo a frequência, como parâmetro, entre menos e

mais infinito.

diagrama de Bode

(Bode plot)

Representação gráfica no domínio da frequência (em escala logarítmica) das variações da amplitude

(em escala logarítmica) e da fase (em escala linear) como determina a resposta em frequência de um

sistema.

Page 115: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

114

diagrama de barras

(bar chart)

Representação gráfica por meio de barras rectangulares em que uma das suas dimensões (geralmente a

altura) exprime a relatividade (em valores absolutos ou em percentagem) de uma variável em diferentes

situações.

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MEDICINA E FARMÁCIA EM 11 LÍNGUAS

JORGE CRUZ

Médico-Tradutor

Medicina e Farmácia em 11 Línguas

Lisboa: Editorial Estampa, 2003. 1135pp, ISBN 972-33-1915-2

Foi publicado no final do ano passado, com a chancela da Editorial Estampa, o livro Medicina

e Farmácia em 11 Línguas. A versão original, em alemão, tinha sido editada em Setembro de

2003, pela Compact Verlag München. Este livro pretende ser um dicionário para consulta

de palavras na área da saúde nas 11 línguas europeias consideradas mais importantes:

inglês, francês, alemão, italiano, espanhol, português, holandês, sueco, polaco, checo e

húngaro. Apesar de anunciar conter «mais de 20.000 entradas, a que correspondem mais

de 200.000 vocábulos», este dicionário de 1.135 páginas apresenta pouco mais de 2.000

vocábulos em cada língua, um número que se nos afigura bastante reduzido.

As entradas das palavras podem ser pesquisadas por ordem alfabética de todas as línguas,

consecutivamente, o que torna este dicionário pouco prático e dá origem a inevitáveis repetições. Uma

obra deste tipo, vocacionada para uma consulta rápida, fazia mais sentido em ser produzida ou, pelo

menos, acompanhada, em suporte multimédia (CD-ROM).

Apesar do limitado número de vocábulos em cada língua, que torna esta obra muito básica e pouco útil

para profissionais da tradução, bem como para o público em geral, existem ainda algumas incorrecções,

de que darei apenas dois exemplos no que diz respeito à língua portuguesa. A palavra «aterosclerose»,

existente em português, foi sistematicamente substituída por «arteriosclerose», de significado diferente.

Por sua vez, o vocábulo stroke, que deveria aparecer em língua portuguesa como «acidente vascular

cerebral» (AVC), foi traduzido como «apoplexia». Por outro lado, apesar da referência à Medicina e à

Farmácia, no título do livro, apenas são incluídos termos genéricos da área da saúde e menos de uma

dezena do foro farmacológico.

Page 117: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

116

Por último, não se compreende qual foi o critério de escolha dos vocábulos incluídos neste dicionário,

pois, embora alguns sejam bastante comuns, outros são utilizados com pouca frequência. Em relação

a outras palavras encontradas, como «xenofobia», não se percebe qual a sua relação com a Medicina

ou a Farmácia.

Em resumo, consideramos que esta publicação não oferece nada de novo no panorama editorial nacional

que possa ser recomendado aos que se dedicam à tradução científica e técnica, principalmente no

campo da saúde.

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DICCIONARIO ESPAÑOL-PORTUGUÉS/PORTUGUÊS-ESPANHOL DE TÉRMINOS

COMERCIALES, ECONÓMICOS Y JURÍDICOS.

ANA HERMIDA RUIBAL

Tradutora

Viñal, Antonio et al, Diccionario español-portugués/português-espanhol de términos comerciales,

económicos y jurídicos.

Madrid/Barcelona: Marcial Pons, 2003. 535pp, ISBN: 84-9768-074-X

Quando um tradutor de português para espanhol ou vice-versa efectua uma pesquisa dos dicionários,

vocabulários, léxicos e outro material terminológico que existe nestas duas combinações linguísticas,

geralmente fica desiludido – e mal servido – por causa da pouca variedade destas obras. Ora, se nos

referirmos a material terminológico útil para a tradução científico-técnica, isto é, a não-literária, o

problema agrava-se. A quase inexistência de material terminológico especializado de apoio ao tradutor

de português-espanhol-português é um facto – triste, neste caso, para a tradução e para as relações

entre Espanha e Portugal.

O lançamento, em Dezembro de 2003, do Diccionario español-portugués/português-

espanhol de términos comerciales, económicos y jurídicos, editado pela Marcial Pons

(http://www.marcialpons.es), dirigido por Antonio Viñal e elaborado em colaboração com

a Câmara Hispano-Portuguesa de Comércio e Indústria em Espanha, pretende quebrar

este impasse e oferecer uma ferramenta de apoio, quer a profissionais da tradução, quer

a especialistas das áreas de Direito, Economia e Empresas que têm negócios e lidam com

documentos de ambos os países.

O director do referido dicionário é Antonio Viñal, advogado e delegado na Galiza da Câmara

Hispano-Portuguesa de Comércio e Indústria. Para levar a cabo este projecto, Antonio Viñal dirigiu

uma equipa de trabalho formada por oito especialistas de nacionalidades portuguesa e espanhola

– apenas um deles é filólogo e nenhum tradutor, diga-se de passagem –, designadamente, João Flores,

Page 119: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

118

Aureliano Neves, José Vital, Beatriz Aramburu, Marcelino Cabanas, Denis M. Canellas, Antonio Viñal

Menéndez-Ponte e Maria Barão.

O dicionário em análise, que abrange as áreas comercial, económica e jurídica, está centrado no

português de Portugal e no espanhol de Espanha.

Esta obra compõe-se de três partes bem diferenciadas: em primeiro lugar, a versão espanhol-português

de termos comerciais, económicos e jurídicos; em segundo lugar, a versão português-espanhol desses

mesmos termos; e, por último, quatro anexos, nomeadamente:

a) Uma selecção de termos comerciais, económicos e jurídicos internacionais, ordenados

alfabeticamente pelo termo internacional em inglês (na maioria dos casos), francês, italiano

e latim;

b) Uma selecção de palavras relacionadas com o tempo (dias da semana, estações e meses do ano

nos dois idiomas);

c) Os números cardinais, ordinais, multiplicativos e fraccionários, sempre em ambas as línguas,

mas tendo por base, neste caso, o espanhol;

d) Unidades de peso e medida (comprimento, superfície, volume e capacidade).

Relativamente ao conteúdo das duas primeiras partes do dicionário, algumas entradas não são, por

vezes, suficientemente precisas, contendo, sobretudo, alguns termos de tradução controversa.

Um deles, por exemplo, é o termo português «freguesia» que, quando aplicado à área de divisão

administrativa – pois também quer dizer «clientela», em espanhol e em português –, é frequentemente

traduzido por parroquia (termo que só se utiliza com este significado no Noroeste de Espanha,

nomeadamente na Galiza), feligresía e até há quem opte por omiti-lo; por exemplo: «Nasceu na

freguesia de Santo António dos Olivais, Concelho de Coimbra» é, por vezes, traduzido como «Nació en

Santo António dos Olivais, municipio de Coimbra». Este dicionário optou por oferecer uma explicação

do termo («división administrativa en un municipio, barrio o distrito; clientela»), sem propor um

equivalente espanhol.

Nas entradas e equivalências, nota-se a falta da indicação da categoria gramatical, do género e dos

campos e subcampos a que pertence o termo (Direito, Banca, Comércio Internacional, etc.) e muitas

entradas contêm a tradução mais óbvia que, por vezes, não é a mais adequada, sem fornecer qualquer

explicação adicional. É o caso de «funcionário», termo português que é frequentemente utilizado para

se referir a um «empregado» e que, para se distinguir do «funcionário do Estado» (que é o único

significado que tem em Espanha), deve ser acrescido do termo «público» («funcionário público»).

O preço do dicionário é de aproximadamente 43 euros. Pode ser encomendado a diversas livrarias e

editoras virtuais e, igualmente, à própria editora (cuja página da Internet é http://www.marcialpons.es),

que o enviará por correio pelo custo adicional de 5 euros de portes, se o destino for a Espanha.

Page 120: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

119

Em conclusão, esta é a primeira obra do género, tanto em Espanha, como em Portugal, sendo, por

isso, uma obra obrigatória para todos os profissionais da tradução português-espanhol-português que

trabalham com textos jurídicos, económicos e comerciais de Portugal e Espanha. Esperamos que a obra

constitua uma base para outras investigações e outras publicações, mais exaustivas e completas, que

sejam úteis para o tradutor científico-técnico entre o português e o espanhol.

Page 121: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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3.o COLÓQUIO ANUAL INTERNACIONAL DA LUSOFONIA

CHRYS CHRYSTELLO

Australia Council, University of Technology, Sydney; ACL - Association for Computational Linguistics

Entre os dias 21 e 23 de Outubro de 2004, Bragança acolheu a 3.a edição do Colóquio Anual Internacional

da Lusofonia, que teve como propósito:

a) Contribuir para a presença, difusão e consolidação da língua portuguesa, enriquecida pelas

línguas minoritárias que persistem em Trás-os-Montes e noutras regiões do país;

b) Explorar e analisar as questões da tradução como forma privilegiada de divulgação, expansão e

revitalização da língua portuguesa no mundo;

c) Analisar o ensino de português como língua materna e língua estrangeira (segunda).

Os Estudos de Tradução estiveram aqui presentes por três grandes motivos: o muito que está por

fazer neste campo, o desajustamento dos cursos de tradução e interpretação em relação ao mundo do

trabalho e as expectativas, muitas vezes irrealistas, dos nossos licenciados.

Do conjunto das intervenções, destacamos a de Maria d’Ajuda Alomba Ribeiro, que afirmou: «Quando

nos referimos ao bidirecionamento do ensino de português a hispanofalantes ou do espanhol para

falantes de português, seria de esperar que o alto índice de coincidências gramaticais favorecesse o

aprendizado. Todavia, a proximidade entre as duas línguas e a relativa facilidade têm propiciado um

dos maiores paradoxos da aprendizagem de línguas; se por um lado, a aquisição de uma L2 próxima à

L1 é facilitada pelo seu compartilhamento estrutural, por outro, essa aparente facilidade gera efeitos

prejudiciais no processo de aprendizagem, com a presença constante da interferência no processo de

produção e a possibilidade da fossilização dos erros ou equivocações. Com a experiência de ensinar

português para hispanofalantes em um contexto de não inmersão, observo que essa proximidade do

espanhol e do português permite que os falantes, tanto de português, como de espanhol, possam

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comunicar-se com relativa facilidade. Essa relativa facilidade cria a ilusão de que ele é razoavelmente

proficiente na língua-alvo e que, ressalvados os detalhes de acento, ele já “fala” a nossa língua. Esse

“falar a nossa língua”, entretanto, é inequívoco. Ao analisar o texto do aprendiz de português, seja na

modalidade oral ou escrita, observa-se diversas marcas de interferências lingüísticas do espanhol, o que

compromete o falar bem ou escrever bem. Assim, podemos dizer que os conectores argumentativos são

vias de acesso para que o aprendiz possa plantear um bom discurso escrito, já que esses conectores são

responsáveis para marcar o sentido da argumentação. Comprovamos essa hipótese analisando os usos

dos conectores argumentativos das composições dos hispanofalantes aprendentes de português fazendo

uma comparação do português com o espanhol, para explicar como se desenvolvem o processamento

cognitivo dos alunos e suas interferências geradas para construir a rede semântica do texto.»

A intervenção de Cecília Falcão, Cláudia Ferreira, Cláudia Martins, Fantina Pedrosa e Manuel Moreira da

Silva intitulou-se «Recursos para a Tradução Técnica e Científica em Língua Portuguesa: Um Dicionário

Terminológico em Geografia da População», dando conta das dificuldades com que os autores se

depararam para completarem este trabalho.

Por fim, um orador salientou, acerca da sua experiência profissional: «Confrontei-me inúmeras vezes

com a falta de consciencialização, a todos os níveis da comunidade, quer na Europa, quer na Austrália,

sobre o papel e as capacidades dos T&I profissionais. Na maior parte dos casos, o que mais choca é

depararmo-nos com pessoas não qualificadas a desempenharem um papel que só um profissional

qualificado deve desempenhar, tal como acontece na maior parte das profissões. A esses amadores

que impunemente se autodenominam tradutores e intérpretes devia ser dada a oportunidade de, num

certo contexto temporal, obterem as qualificações necessárias, sem as quais não poderiam exercer

livremente a profissão.

«Muita gente, ainda hoje, diz que trabalha como intérprete quando, na realidade, quer dizer que trabalha

com pessoas bilingues sem qualificações. Além de insultuoso para os profissionais, este aspecto é

responsável pela aleatoriedade dos preços que existem nos vários mercados. Para se evitar este estado

de coisas, seria necessário que os países constituíssem uma Comissão Nacional de Acreditação e

Reconhecimento de Qualificações, apoiada em legislação que limitasse o exercício da profissão aos

profissionais, sem os biscateiros que pululam por aí.»

Porque a Lusofonia tem um futuro brilhante à sua frente, como escreveu o emérito linguista anglófono,

Professor David Crystal — «O Português parece-me que tem um futuro forte, positivo e promissor,

garantido à partida pela sua população base de mais de 200 milhões e pela vasta variedade que

abrange, desde a formalidade parlamentar, até às origens de base do samba» — fica aqui a promessa da

realização de um novo Colóquio Anual Internacional da Lusofonia no próximo ano — um fórum no qual

se debate a diversidade da língua portuguesa e o seu lugar no mundo, nas suas múltiplas vertentes.

Page 123: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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DUAS ACÇÕES DE FORMAÇÃO: «SEMINÁRIO DE TERMINOLOGIA E TERMINOGRAFIA» E «A

TRADUÇÃO DE CONTEÚDOS PARA A INTERNET»

MANUELA PAIVA E ROSÁRIO DURÃO

Professora e Doutoranda; Tradutora e Doutoranda

Esta Primavera-Verão, decorreram em Lisboa duas acções de formação de curta duração que

interessam aos tradutores e estudantes de tradução, abrindo um precedente que esperamos venha a

ter continuidade.

A primeira, o «Seminário de Terminologia e Terminografia», leccionado pela Prof.a Doutora María

Teresa Cabré, da Universitat Pompeu Fabra (Barcelona), na Faculdade de Letras de Lisboa, foi uma

iniciativa que se enquadrou no Mestrado em Linguística Geral - Lexicologia e Lexicografia, sob a

responsabilidade do Professor Doutor Malaca Casteleiro. Destinada, originalmente, aos alunos deste

mestrado, foi aberta a participantes externos, devido ao interesse que o curso tinha para um número

alargado de profissionais.

O programa desenrolou-se em três módulos – de iniciação, nível intermédio e nível avançado. Neles,

a docente definiu conceitos (Terminologia, unidade terminológica, Terminografia...), apontou as

teorias, aplicações e modos de investigação em Terminologia e descreveu as relações da mesma com a

comunicação especializada, a normalização, a documentação, a Lexicografia e a Sociolinguística, entre

outros temas e subáreas.

O vínculo que liga a Tradução e a Terminologia, aflorado desde o primeiro dia, foi desenvolvido em

profundidade numa das doze sessões. Ao longo do seminário, Teresa Cabré falou da especificidade dos

glossários para tradutores, das fases de criação dos mesmos e, ainda, dos quatro níveis de envolvimento

do tradutor com a Terminologia: o tradutor passivo, mero utilizador dos recursos existentes; o tradutor

activo, que cria termos equivalentes, obedecendo às regras de formação de palavras da sua língua;

o tradutor especializado activo, uma espécie de terminólogo pontual, que propõe neologismos,

atendendo às regras lexicais, não só da sua língua, mas também da sua especialidade; e, por fim,

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o terminólogo-tradutor especializado, que publica os resultados do seu trabalho, armazenado na

memória de tradução do computador, na forma de glossário(s).

Foram doze sessões de um raro dinamismo científico e pedagógico, em que as palavras de ordem foram

o entusiasmo e a «aprendizagem» efectiva.

Igualmente dinâmico foi o curso de verão presencial, «A Tradução de Conteúdos para a Internet»,

ministrado pelo Prof. Doutor Oscar Diaz Fouces, da Universidade de Vigo, na Universidade Aberta, por

iniciativa do Prof. Doutor Carlos Castilho Pais.

Destinado, especificamente, a tradutores, nele se abordaram e aplicaram (com o inestimável apoio

informático dos Mestres Engenheiros José Coelho e Gracinda Carvalho) os fundamentos da localização

de páginas da Internet que o docente propõe no artigo que neste número se publica (v. «A Localização

de Páginas da Internet na Formação de Tradutores»).

O entusiasmo demonstrado pelos participantes (bem como o desconhecimento que revelaram dos

«reveses» dos hipertextos e sua tradução) espelha bem a oportunidade deste breve curso e a necessidade

de as instituições de ensino superior fazerem uma aposta séria nas acções de formação vocacionadas

para a aquisição dos conhecimentos e, acima de tudo, das competências que todos os tradutores/

localizadores/intérpretes dos nossos dias precisam – como a Universidade Aberta parece desejar fazer

ao integrar este curso num projecto a longo prazo apelidado «A Tradução na Universidade Aberta.»

Duas observações apenas, a título de conclusão. Que o ímpeto do qual participámos se prolongue em

acções de formação vocacionadas exclusivamente para os profissionais e estudiosos da tradução (um

«Seminário de Tradução e Terminologia», por exemplo) e em cursos cuja curta duração seja longa que

baste para a efectiva consolidação dos conhecimentos e das competências aprendidas.

Page 125: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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ENTREGA DO PRÉMIO DE TRADUÇÃO CIENTÍFICA E TÉCNICA EM LÍNGUA PORTUGUESA - 2004

MANUELA PAIVA

Professora e Doutoranda

Decorreu no dia 15 de Novembro de 2004, no Auditório do Instituto Franco-Português, em Lisboa, a

entrega do Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa – 2004, patrocionado pela

Fundação para a Ciência e Tecnologia e União Latina.

Este ano, foram atribuídas Menções Honrosas às traduções das obras Estudos de Tradução, de Susan

Bassnett, traduzida por Vivina de Campos Figueiredo, Diferença entre os Sistemas Filosóficos de Fichte

e de Schelling, de G. W. F. Hegel, traduzida por Carlos Morujão, e O Conceito de Tempo, de Martin

Heidegger, traduzido por Irene Borges-Duarte.

E o Prémio ex aequo às obras Mais Rápido Que a Luz, de João Magueijo, traduzida por Paulo Ivo

Teixeira, e Constituição dos Atenienses, de Aristóteles, traduzido por Delfim Ferreira Leão.

O VII Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa - 2004, subordinado ao tema

«Tradução e Interculturalismo» levou àquele auditório uma assistência maioritariamente jovem, mas

bastante interessada nos assuntos que iam sendo apresentados ao longo das várias sessões.

Maeve Olohan, da Universidade de Manchester, abriu o Seminário com a conferência «Research Issues

in Non-Literary Translation», começando por delimitar, definir e sublinhar as diferenças da tradução

não literária por oposição à tradução literária.

Ao longo do dia, foram-se ouvindo relatos de experiências, descrições de projectos em curso, em

diferentes áreas, e foram ainda apresentados resultados da actividade de investigação nos Estudos de

Tradução. Foram ricas no conteúdo as diferentes sessões, todas elas de grande interesse para os ainda

aprendentes (que, afinal, somos todos nós), estudiosos, investigadores, professores e tradutores.

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A jornada de trabalho terminou com a comunicação de Federico Zanettin, da Università per Stranieri di

Perugia, «Comics in Translation Studies: An Overview and Suggestions for Research.»

Só nos resta esperar as próximas jornadas...

Page 127: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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VI SEMINÁRIO DE TRADUÇÃO CIENTÍFICA E TÉCNICA EM LÍNGUA PORTUGUESA

ÂNGELA RODRIGUES

Tradutora

Nos dias 10 e 11 de Novembro de 2003, decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a 6.a

edição do Seminário de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, organizado pela Fundação

para a Ciência e Tecnologia e a União Latina. O tema deste ano foi «A Profissionalização do Tradutor.»

Os laureados com o Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa, cujo objectivo é

promover a língua portuguesa como língua de comunicação nos campos científico e técnico, foram, ex

aequo, Irene Borges-Duarte, Filipa Pedroso, Alexandre Franco de Sá, Hélder Lourenço, Bernhard Sylla,

Vítor Moura e João Constâncio, pela tradução da obra de Martin Heidegger, Caminhos de Floresta, e

J. R. Guedes de Carvalho, pela versão de Mecânica dos Fluidos, de B. S. Massey. As Menções Honrosas

couberam a: Maria José Miranda e Maria João Afonso pela tradução de Evolução da Psicologia

Diferencial, de Maurice Reuchlin; José Nunes de Almeida, pela versão do Manual de Diagnóstico e

Estatística das Perturbações Mentais, da American Psychiatric Association; e Paulo Ivo Teixeira, pela

tradução de O Universo numa Casca de Noz, de Stephen Hawking.

Deste seminário, onde se falou da profissão, formação e das ligações entre as mesmas, destacaria alguns

momentos. Do ponto de vista da formação, Roberto Mayoral Asensio, da Universidade de Granada,

a dizer que o processo de Bolonha requer uma formação vocacionada para a auto-aprendizagem e

para a adequação dos currículos ao perfil dos estudantes. Martin Forstner, da CIUTI – Conférence

Internationale d’Instituts Universitaires de Traducteurs et Interprètes, a recordar que o apelo do

Espaço Europeu do Ensino Superior à qualidade envolve uma interacção maior entre o consumidor

(governos, ministérios, estudantes e empregadores) e o produtor (académicos e a relação entre ensino

e investigação) e que ambos estes factores devem ser contemplados, tanto na criação dos cursos de

tradução que, recorda, são «Estudos de Tradução “aplicados”», como na sua acreditação. Hannelore Lee-

Jahnke, da Fédération Internationale des Traducteurs, a referir a necessidade de um diálogo constante

entre os agentes profissionais e os académicos, pois só partindo do conhecimento das necessidades do

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mercado de trabalho se poderá traçar o perfil dos tradutores e intérpretes e as qualificações que os seus

formadores devem possuir. Francisco José Magalhães, da APT – Associação Portuguesa de Tradutores,

a lembrar que a dupla formação dos formadores (no âmbito da prática e da didáctica da tradução)

completa-se com um ensino vocacionado para a inserção profissional dos estudantes. Jacques Pélage,

da ESIT Sorbonne – École Supérieure d’Interprètes et de Traducteurs de l’Université de la Sorbonne

Nouvelle Paris III, a defender a aquisição de «conhecimentos científicos pertinentes» (conhecimentos

técnicos que sejam suficientes para um estudante de tradução compreender um texto técnico e que

sejam, também, suficientemente gerais para serem transpostos para outras áreas científicas) numa

formação organizada por grandes blocos de conhecimentos especializados, como, por exemplo,

Ciências Exactas para tradutores de Engenharia. E Pedro Coral Costa, do ISLA – Instituto Superior de

Línguas e Administração, a salientar os conhecimentos e as competências que se devem desenvolver

nos estudantes de tradução jurídica, tais como o domínio dos conceitos e dos termos, o conhecimento

das áreas básicas do Direito e as técnicas de redacção jurídica.

Relacionado com a profissão, Francisco Noronha, da Johnson & Johnson Produtos Profissionais,

defendeu duas ideias: em primeiro lugar, a do «tradutor-parceiro» do cliente/empregador, pois só assim

é possível assegurar a consistência terminológica e que cada tradutor domine perfeitamente a matéria;

em segundo lugar, a de que um trabalho de excelência apenas se consegue quando o profissional é

bem remunerado. Dalila Rosales apresentou a visão que a Oracle tem de um «TRADUTOR»: Trabalho

em equipa; Rigoroso; cApacidade crítica; capacidade de aDaptação; estUdioso; gesTor de projectos;

Objectivos; e feRramentas. João Ruivo, da HCR – Informática e Traduções, L.da, referiu o projecto CATI

– Controlled Authoring and Translation over the Internet como um exemplo de linguagem controlada

(terminologia normalizada, núcleo restrito de vocabulário e conjunto restrito de regras gramaticais

e de estilo) aplicada à indústria, à semelhança de outras memórias de linguagem simplificada que já

existem para os sectores do equipamento médico, Engenharia Mecânica e Engenharia Informática.

Graça Vicente, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, falou do

Projecto Tradaut-pt, chamando a atenção para os cuidados a ter na tradução automática. Anthony

Pym, da Universidade de Tarragona, defendeu uma nova ética para o tradutor e/ou o redactor, a qual

envolve a responsabilidade da equipa e o envolvimento em todos os processos de mediação cultural, da

terminologia à gestão de projectos ou tecnologia. Fátima Castanheira, presidente da APET – Associação

Portuguesa de Empresas de Tradução, referiu-se à criação de uma nova norma europeia de tradução, que

deverá estar concluída no final de 2004. Por fim, Bernardo Jerosch Herold, do Instituto Superior Técnico,

recordou como as traduções das grandes obras de referência feitas pelos especialistas das disciplinas,

que são, geralmente, professores universitários, são importantes fontes lexicais e conceptuais para os

tradutores profissionais por incluírem termos que só muito posteriormente constam dos dicionários.

A área temática eleita deste seminário foi o Direito. Isabel Feijó, presidente da APIC – Associação

Portuguesa de Intérpretes de Conferência, falou da criação de um diploma que regulamenta as

actividades do tradutor e intérprete ajuramentado como forma de resolver as condições precárias de

trabalho dos tradutores e intérpretes nos tribunais portugueses. Mariana Graça Gouveia, do Ministério

da Justiça, expôs que a certificação das traduções em Portugal atesta apenas o juramento do tradutor

em como a tradução é fiel, e não a fidelidade da tradução em si. Por último, Victor Pereira, da APET

Page 129: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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– Associação Portuguesa de Empresas de Tradução, mencionou a relativa ausência de uniformidade nos

países europeus quanto à tradução ajuramentada.

Em suma, foi um evento que contribuiu bastante para a percepção das necessidades e perspectivas

reservadas aos tradutores e aos aprendentes de tradução no nosso país, perspectivados num quadro

europeu e até mesmo global.

Page 130: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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NOTAS SOBRE OS AUTORES

André Antunes Soares de Camargo

Advogado e professor de Direito em São Paulo, formado na Faculdade de Direito da Universidade

Mackenzie e com título de LL.M. em Direito Societário e Contratual pela Universidade da Califórnia,

Davis, EUA, André Antunes Soares de Camargo ministra aulas nos cursos de pós-graduação em Direito

do IbmecLAW/SP e na UNIP/SP. Coordena as turmas de LL.M. em «Direito Societário» do IbmecLAW/SP

e atua também como tradutor de textos jurídicos, contábeis e financeiros para diversos clientes e

instituições.

Endereço eletrônico: [email protected]

Telefone: (55) (11) 9626-1089.

Ana Hermida Ruibal

Licenciada em Tradução e Interpretação pela Universidade de Vigo (Galiza, Espanha) e doutoranda

em Tradução e Linguística na mesma universidade, Ana Hermida Ruibal é tradutora/intérprete

ajuramentada (Galego-Inglês-Galego). Fundou em 1998 a empresa Sintraweb, L.da (Portugal), de que é

sócia e directora do serviço de tradução. Já leccionou «Tradução Português-Espanhol» na Faculdade de

Letras da Universidade Clássica de Lisboa e «Língua Portuguesa» na Faculdade de Filologia e Tradução

da Universidade de Vigo.

Página da Internet: http://www.anahermida.com

Ana Julia Perrotti-Garcia

Cursando a Especialização Longa em Tradução, USP–SP Citrat; Proficiency em Inglês – Universidade

de Cambridge, Inglaterra; Letras Tradutor-Intérprete, UniFMU, Ana Julia Perrotti-Garcia é graduada

em Odontologia pela Faculdade de Odontologia da USP. Traduziu mais de 20 grandes livros técnicos

para reconhecidas editoras brasileiras e internacionais. Títulos publicados: Dicionário Inglês Português

de Termos Odontológicos, atualmente na 3.a edição; Grande Dicionário Ilustrado Inglês–Português de

Termos Odontológicos e de Especialidades Médicas (30 mil verbetes); Vocabulário para Odontologia,

Editora SBS; Vocabulário para Ortodontia & Ortopedia Funcional dos Maxilares, Editora SBS. Atualmente,

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além de ministrar palestras e cursos em diversas entidades, faculdades e centros de idiomas, é assessora

do Conselho Editorial de uma grande editora brasileira.

Endereço electrônico: [email protected]

Página da Internet: http://www.benvindos.com.br/drajulia

Ângela Rodrigues

Licenciada em Tradutores e Intérpretes pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias,

Ângela Rodrigues é tradutora independente, sobretudo na especialidade de Radiologia.

Chrys Chrystello

J. Chrys Chrystello interessou-se pela linguística ao ser confrontado com mais de 30 dialectos em Timor

e descobriu provas da chegada dos portugueses à Austrália cerca de 250 anos antes do capitão Cook

(1521-1525), bem como da existência de tribos aborígenes que falavam um crioulo português, herdado

de quatro séculos antes.

Membro Fundador do AUSIT (Australian Institute for Translators and Interpreters) e Examinador da

NAATI (National Accreditation Authority for Translators and Interpreters) desde os anos 80, publicou

a monografia Crónicas Austrais 1976-1996, em 1998, o ensaio político, «Dossier Timor-Leste 1973-

1975», em 1999, e acabou um novo volume sobre Timor: A Historiografia de um Repórter 1985-1992.

Actualmente, continua a ser assessor de Literatura Portuguesa do Australia Council, na UTS (University

of Technology, Sydney), e é mentor dos finalistas de Literatura da ACL (Association for Computational

Linguistics) para o Information Technology Research Institute, University of Brighton, no Reino Unido.

Organiza, desde 2001, os Colóquios Anuais da Lusofonia, que tiveram como patrono o Embaixador José

Augusto Seabra.

Correio electrónico: [email protected]; [email protected]

Página da Internet: http://oz.com.sapo.pt

Hermínio DR

Professor Catedrático de Engenharia Sistémica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade

Nova de Lisboa, Hermínio DR pertence à Comissão de Terminologa da Comissão Electrotécnica

Internacional há 15 anos. Traduziu dois livros de electrónica de inglês para português para a McGraw-

Hill, tendo recebido o 1.o prémio de tradução científica e técnica União Latina / JNICT, em 1993, com

a primeira dessas obras. Publicou cerca de meia centena de artigos sobre linguagens específicas e

semânticas electrotécnicas, além da participação activa em várias conferências e seminários.

Ida Rebelo

Doutoranda em Estudos da Linguagem na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,

Departamento de Letras, Centro de Estudos da Linguagem, e Mestre em Linguística, pela Faculdade de

Letras da Universidade Clássica de Lisboa, Ida Rebelo é professora agregada com vínculo extraordinário

no Departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, desde Fevereiro,

2001, e professora do curso «Ensino de Português para falantes de Espanhol», do Programa de pós-

graduação Latu Sensu (Especialização) em Letras da PUC - Rio de Janeiro. É membro do Conselho

Consultivo do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa.

Page 132: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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Jacques Vissoky

Mestre em Biociências e especialista em Traumatologia e Ortopedia, Pronto Atendimento Cruzeiro

do Sul, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, Jacques Vissoky é tradutor de

dezenas de livros da área médica e ganhador do Prêmio União Latina de Tradução Científica e Técnica

2003 pela tradução da obra Princípios AO do Tratamento de Fraturas, de Thomas W. Rüedi e W. M.

Murphy.

Jacques Pélage

Agé de 67 ans, Jacques Pélage a pris sa retraite de salarié, mais demeure chercheur-formateur.

Démarche sur deux axes : langues et droit, sur socle de culture hispanique.

Faculté des Lettres (Sorbonne) : passion de la linguistique romane. E.S.I.T. : découverte de la traduction

technique. Faculté de Droit de Paris : contrats et droit comparé comme spécialités. Synthèse dans une

thèse de doctorat.

Secteur de la coopération internationale (35 ans) : traduction, organisation de formations, conseil

en droit et en ressources humaines. Parallèlement, enseignement universitaire (23 ans) : Sorbonne

Nouvelle (E.S.I.T.), Paris X (Droit), I.S.I.T. Conférences et publications sur la traduction juridique, en

France et à l’étranger.

Jacques Pélage, de 67 anos, é reformado mas continua a leccionar e fazer investigação sobre línguas e

Direito. De origem francesa, sempre se interessou pela cultura hispânica.

Estudou Linguística Românica na Faculdade de Letras (Sorbonne) e Estudos de Tradução na ESIT, onde

se apaixonou pela tradução técnica. Na Faculdade de Direito de Paris, especializou-se em contratos e

Direito Comparado, temas que desenvolveu na sua tese de doutoramento.

Ao longo de 35 anos, trabalhou na área da Cooperação Internacional como tradutor, coordenador de

actividades de formação e consultor em Direito e Recursos Humanos. Simultaneamente, leccionou,

durante 23 anos, na ESIT (Sorbonne Nouvelle), Faculdade de Letras da Universidade de Paris X e ISIT.

Jacques Pélage tem inúmeras publicações sobre tradução jurídica, tendo sido convidado, regularmente,

para participar em conferências em França e noutros países.

Though officially retired, Jacques Pélage, 67, continues to work as a researcher and educator. His

native language and culture are French, his life-long interest is Spanish-speaking cultures, and his

professional activities have long focused on languages and law.

Jacques Pélage began his university studies by enrolling in the Sorbonne faculty of letters and ESIT for

courses in romance linguistics and translation studies, respectively. At ESIT, he discovered the world of

technical translation. Jacques went on the Paris law school (Faculté de Droit de Paris) to specialize in

contract and comparative law, in which he later completed a PhD.

Jacques Pélage spent some 35 years working in international cooperation as a translator, training

course organizer and adviser on legal matters and human resources. During much of this time (23

years) he also taught at ESIT/Sorbonne Nouvelle, Paris X (faculty of law) and Paris-based translation

school ISIT. Over the years, Jacques has published a number of papers on legal translation and been a

regular speaker at conferences in France and other countries.

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Jorge Cruz

Licenciado em Medicina (1992), especialista em Cirurgia Vascular (2001) e Mestre em Bioética e Ética Médica

pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (2004), Jorge Cruz integra o quadro de tradutores

da ONG inglesa, Tear Fund, desde 1994. É revisor (referee) do European Journal of Vascular & Endovascular

Surgery, desde 2001. É autor de Morte Cerebral: Do Conceito à Ética (Climepsi Editores, 2004).

Maria João B. Reis

Licenciada em Estudos Germanísticos pela Universidade de Lisboa, tirou vários cursos de formação

na área da Tradução. Foi correspondente em Línguas Estrangeiras na Petrogal, entre 1980 e 1988, e

técnica e tradutora em Estudos de Mercado, entre 1988 e 1993. É tradutora independente em Estudos

de Mercado, Ciências Sociais e Humanas, divulgação científica e audiovisuais.

Maria José Figueiredo

Nascida a 15 de Abril de 1963, em Moçambique, Maria José Figueiredo é Licenciada, Mestre e Doutora

em Filosofia pela Universidade de Lisboa. É docente de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa (1988-1999 e desde 2004/05). Desde 1999, é tradutora independente em Filosofia, Ciências

Humanas, biografia, ficção e audiovisuais.

Manuela Paiva

Licenciada em Filologia Românica, concluiu o mestrado em Relações Interculturais em 2002. É,

actualmente, doutoranda na especialidade científica de Estudos de Tradução na Universidade Aberta

de Lisboa. É professora efectiva do ensino secundário desde 1982. Esteve em Macau entre 1987 e

2004, onde leccionou «Português Língua Estrangeira» em diversas instituições de ensino superior. Foi

directora da Escola de Línguas e Tradução do Instituto Politécnico de Macau até 1999, tendo sido,

posteriormente, coordenadora do ensino de Português Língua Estrangeira e do Curso de Tradução e

Interpretação no mesmo Instituto (1999 a 2001). É autora de Encontros e Desencontros da Coexistência:

O Papel do Intérprete-Tradutor na Sociedade de Macau (Livros do Oriente, 2004).

Correio electrónico: [email protected]

Oscar Diaz Fouces

Licenciado e Doutor pela Universidade de Barcelona (Catalunha), Oscar Diaz Fouces é professor da

Licenciatura em Tradução e Interpretação e do Programa de Doutoramento em Tradução e Linguística,

da Universidade de Vigo (Galiza). É co-editor da série Traducción & Comunicación (Vigo: Universidade

de Vigo, vols. 1 a 4) e autor da monografia Didáctica de la Traducción (Português-Espanhol) (Vigo:

Universidade de Vigo, 1999) e de diversos artigos em publicações especializadas e comunicações em

congressos, nomeadamente nas áreas da Tradução e da Planificação Linguística.

Correio electrónico: [email protected]

Rosário Durão

Doutoranda em Estudos de Tradução (especialidade científica de Didáctica da Tradução) na Universidade

Page 134: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

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Aberta, em Lisboa, e Mestre em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa, Rosário Durão foi correspondente em Línguas Estrangeiras na empresa Construções

Metalomecânicas Mague, SA., entre 1979 e 1987, tendo efectuado trabalhos de tradução desde

essa data. Exerceu funções docentes nas áreas dos Estudos Anglo-Americanos (língua e culturas) e

Estudos de Tradução (prática da tradução do inglês-português) e concebeu e organizou cursos de pós-

graduação e mestrado em tradução Técnica e Científica, Ciências da Saúde, Audiovisuais e Ciências

Sociais e Humanas na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, com a colaboração do

Prof. Doutor Francisco José Magalhães.

Correio electrónico: [email protected]

Vicky Hartnack

Vicky Hartnak is a freelance translator and teacher in the English Studies Department, Faculty of

Letters, Lisbon University. MA in English Culture and Linguistics, Diploma in Analytical Chemistry

and Certificate in Psychology. Leitora of English and teacher of technical translation methodology

in financial, economic and business language at Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Simultaneous interpreter and translator from Portuguese to English. Free-lance published translations

in the arts, history and economy, development and labour. Specialised in-company translation work in

science and medicine, legal texts, accounting and finance, architecture and education.

Tradutora independente e docente do Departamento de Estudos Anglísticos da Faculdade de Letras

da Universidade de Lisboa, Vicky Hartnack é Mestre em Cultura e Linguística Inglesa, diplomada em

Química Analítica e detentora de um certificado em Psicologia. Leitora de Língua Inglesa e docente de

Métodos de Tradução Técnica (Finanças, Economia e Gestão) na Faculdade de Letras da Universidade

de Lisboa, é também intérprete simultânea e tradutora de português-inglês. Tem publicadas traduções

sobre Arte, História, Economia, Desenvolvimento e Trabalho. Traduz em Ciência, Medicina, Direito,

Contabilidade e Finanças, Arquitectura e Educação numa empresa de tradução.

Page 135: Desafios e perspectivas da tradução científica e técnica

one.

or).

Concepção Gráfica e Montagem. São Carvalho e Sofia Bob

Imagem da Capa. Tela de Isabel Teixeira de Sousa (pormen

ISSN 1645-9350