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Dezembro 2014 ALTO RISCO 3 Deputado do Partido Socialista, Miguel Freitas, em entrevista “É fundamental que o estatuto do bombeiro seja consolidado” SUPLEMENTO DO JORNAL ALTO RISCO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE BOMBEIROS PROFISSIONAIS (instituição de utilidade pública) N.º51 | 6ª Série | Dezembro 2014

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Dezembro 2014 ALTO RISCO 3

Deputado do Partido Socialista, Miguel Freitas, em entrevista

“É fundamental que o estatuto do bombeiro seja consolidado”

SUPLEMENTO DO JORNAL ALTO RISCO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE BOMBEIROS PROFISSIONAIS

(instituição de utilidade pública)

N.º51 | 6ª Série | Dezembro 2014

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4 ALTO RISCO Dezembro 2014 Setembro 2013 ALTO RISCO 5

Feliz Natal

e um próspero Ano Novo são

os votos da ANBP e do SNBP

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6 ALTO RISCO Dezembro 2014 Dezembro 2014 ALTO RISCO 7

Destaques

6 Entrevista 12

32Maquete do Novo Quartel dos Sapadores de Braga

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Notícia

Notícia

NotíciaEstudo relaciona ritmo cardíaco com atividade dos bombeiros

Deputado PS, Miguel Freitas

Simulacro no túnel da Gardunha

Fernando CurtoPresidente da Associação Nacional

de Bombeiros Profissionais

Editorial

DiretorFilomena Barros

Diretor-AdjuntoSérgio Carvalho

RedaçãoCátia Godinho

Miguel Marques

GrafismoJoão Botas Gonçalves

PaginaçãoJoão Botas Gonçalves

FotografiaGab. Aud. ANBP

PublicidadePaulo Bandarra

PropriedadeAssociação Nacional

de Bombeiros Profissionais

Av. D. Carlos I, 89, r/c 1200 Lisboa

Tel.: 21 394 20 80

Tiragem20 000 exemplares

Registo n.117 011Dep. Legal n. 68

848/93

ImpressãoMX3

2015 com mais segurança!

O ano de 2014 está a chegar ao fim. Este é um tempo de balanço e de perspectivar o trabalho e os objectivos para o próximo ano.

Nesta edição de Alto Risco, o deputado socia-

lista Miguel Freitas analisa o relatório do Gru-po de Análise para os Incêndios Florestais e sugere estabilidade no dispositivo, melhor conhecimento e aposta na prevenção. Mas também aponta a necessidade de desconge-lamento de carreiras e contratação de mais bombeiros profissionais.

São propostas que marcaram o passado, estão no presente… e espera-se que sejam adoptadas no futuro.

Falamos ainda do que está a mudar na nossa costa, na entrevista com o especialista Filipe Duarte Santos. O professor da Facul-dade de Ciências da Universidade de Lisboa contabiliza em mais de 700 milhões de euros o investimento necessário para repor a areia nas zonas costeiras do Douro ao Mondego.

Um projecto do presente, para investir a longo prazo, de forma a garantir o futuro das

nossas praias.As crianças, que são o futuro do país, são

também focadas nesta edição – com a cam-panha de sensibilização da APSI, que alerta para as quedas; com a denúncia da DECO que aponta brinquedos perigosos que devem ficar de fora das compras neste Natal; e com o estudo sobre os riscos da Internet, que resul-ta em casos de dependência entre os jovens portugueses.

O novo quartel de Braga e o balanço do que está a ser feito em matéria de protecção civil pela Câmara Municipal do Montijo tam-bém são notícia.

O desporto, a cultura e o lazer, assim como as actividades do projecto Zé Baril, são também trazidos até si.

A revista ALTO RISCO tem como princi-pal objectivo a divulgação de temas ligados à segurança, protecção civil e bombeiros. São assuntos que interessam a toda a sociedade, a qualquer um de nós, em qualquer altura do ano.

Mas já que estamos em maré de balanço e desejos para o próximo ano… podemos pedir mais segurança em 2015!

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EntrevistaEntrevista

PerfilMiguel João de Freitas

é deputado do Partido Socia-lista na Assembleia da Repú-blica e Professor Universitá-rio. Participou no Grupo de

Análise para os Incêndios Florestais constituído pela Assembleia da República.

O financiamento dos bombeiros deveria ser feito pela “tipificação dos corpos de bombeiros e em função dos riscos”(Por Cátia Godinho)

O deputado socialista Miguel Freitas defendeu recentemente na Assembleia da República a necessidade de descongelar as carreiras dos bombeiros e de criar condições para a con-tratação de bombeiros profissionais. Participou no Grupo de Análise para os Incêndios Flo-restais de 2013. Em entrevista à Alto Risco, o deputado fala da negligência a que tem sido votada a floresta, na necessidade de uma aposta mais eficaz no pilar da prevenção e num sistema de proteção civil com maior grau de profissionalização.

borda frequentemente na necessidade de clarificar responsabilidades em matéria de prevenção dos incêndios florestais. Em que medida?

Nós precisamos de harmonizar pro-cedimentos e por isso defendemos a

existência de uma diretiva que oriente aqui lo que é a prevenção estrutural e operacional, tal como existe para o com-bate. Ninguém conhece o disposit ivo. Sabemos que estão no disposit ivo de combate 9500 operacionais, mas não sabemos exatamente o dispositivo para a prevenção. Primeiro, temos que saber quem é que trabalha em prevenção e o que é que faz; segundo, devemos har-monizar procedimentos através de uma diretiva; terceiro, devemos ter uma prio-ridade para o país, que é fazer a estru-tura primária de intervenção até 2020. Com o caminho que estamos a seguir só em 2030 é que teremos todas as faixas primárias concluídas.

Estas deveriam ter sido as linhas tra-çadas e seguidas por este Governo?

Acredito que sim. Devíamos reforçar mas também dar estabilidade ao exército de prevenção que temos em Portugal e

que são as equipas de sapadores flores-tais. Além de haver necessidade de um reforço dessas equipas é preciso dar-lhes estabilidade, porque este governo intro-duziu a contratação anual das equipas de sapadores florestais, o que faz com que as entidades gestoras destas equi-pas tenham de se candidatar anualmente aos apoios do Estado e, no caso de não serem aprovadas, acabam normalmente por desistir de manter as suas equipas de sapadores florestais. E para lhe darmos estabilidade temos que lhes dar uma con-tratação de médio-longo prazo.

Mas há ainda uma alteração profun-da que temos que fazer, quer do ponto de vista da prevenção, quer do ponto de

“Devemos avançar para um modelo intermunicipal”A

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10 ALTO RISCO Dezembro 2014 Dezembro 2014 ALTO RISCO 11

vista do combate: nós temos uma lógica de chegar a todo o lado mas temos que ter uma lógica de estar organizados em função da carta de risco. Não é preciso ter exatamente a mesma estrutura de preven-ção e combate num concelho onde há cin-co por cento de floresta ou num concelho com 60 por cento de floresta.

Neste momento existe uma base concelhia. E é em função da iniciat iva concelhia que se organizam bombeiros, sapadores florestais, técnicos florestais. Precisamos de redesenhar a estrutura no terreno em termos de prevenção e combate em função dos r iscos. Deve-mos avançar, progressivamente para um modelo intermunicipal.

Uma das conclusões do relatório (elaborado pelo Grupo de Anál ise aos Incêndios Florestais) prendeu-se tam-bém com alguma falta de formação do comando…

Na formação defendemos uma car-

reira de gestores de emergência e um diálogo com a Associação Nacional de Municípios no sentido de uniformização da formação dos comandantes operacio-nais municipais. São quatro os elemen-tos essenciais de formação: formação base, formação de comandantes, a cria-ção de uma carreira de gestão ao nível de emergência e uma harmonização daquilo que é a formação dos comandantes ope-racionais municipais.

O sistema tem-se caracterizado com uma palavra: instabilidade. E o essencial é dar estabilidade do sistema. Nos últi-mos quatro anos tivemos dois Coman-dantes Nacionais e três presidentes da

ANPC. Não estamos a falar de compe-tência. Estamos a falar de estabilidade e conhecimento e a criação de referências no dispositivo. Os dispositivos hierar-quizados de segurança vivem das suas referências. Ora hoje há muito poucas referências no sistema de proteção civil e estes elementos de comando são fun-damentais. Não podem mudar constan-temente.

Por outro lado, quando falamos da questão dos comandantes, o que esta-mos a dizer é que é preciso uma for-mação harmonizada, tanto dos CADIS (Comandantes Operacionais de Agru-pamento Distr i tal) como dos CODIS (Comandantes Operacionais Distritais). Há gente com muita experiência. Mas deve promover-se a criação de uma car-reira. Nos comandantes operacionais municipais a questão é que a nomeação é política e no nosso ponto de vista essa solução deve ser repensada.

Foi chumbada pela maioria parla-mentar uma proposta socialista que pre-via o descongelamento de carreiras e a criação de condições para a contratação de bombeiros profissionais. Como avalia esse veto?

O país não olha para a proteção civil como um pilar essencial da segurança interna. O que é um erro estratégico. Como exemplo vejamos: o governo intro-duziu neste orçamento de Estado uma norma que vai permitir que em todas as forças de segurança haja progressão na carreira, menos nos bombeiros. E foi nessa norma que o PS introduziu uma alteração, abrindo essa possibi l idade para bombeiros sapadores e municipais. Só isto. E a maioria chumbou, de for-ma errada. Se olhassem para este pilar como essencial da segurança interna tinham contemplado a possibilidade de progressão de todas as forças de segu-rança, incluindo bombeiros.

Ao apresentar a proposta teve como objectivo atirar para a actualidade políti-ca a importância da proteção civil?

Absolutamente. Nós f izemos duas propostas. A valorização da carreira de bombeiro profissional e, por outro lado, a criação de um regime de excepção na contratação de bombeiros sapadores e municipais. Há números, que são o que

“Classificamos todo o sistema

com uma palavra: instabilidade”

são. Nós acreditamos que há um défice grande de bombeiros e consideramos que deveria haver aqui uma excepção para suprir essa fal ta. Não foi essa a forma como a maioria PSD/CDS olhou para o problema e chumbou, quer uma proposta quer outra, do nosso ponto de vista, mal. Deu um sinal errado daquilo que deve ser a protecção civil.

Tendo em conta a sua posição em relação ao congelamento de carreiras e à falta de efectivos, como tem acompanha-do a luta dos bombeiros do Regimento Sapadores Bombeiros que reclamam a necessidade de progressão de carreiras?

Sobre essa situação, digo que o diá-logo é essencial, pese embora o facto de o governo não ter dado oportunidade à maioria parlamentar que o sustenta de aprovar as propostas de alteração à lei do orçamento do estado que o PS apre-sentou (tal como referi anteriormente)

e que iriam certamente contribuir para a resolução deste problema. Insisto: a proteção civil é essencial para todas as populações, sejam rurais sejam urbanas.

Que r iscos existem se não forem desbloqueadas situações, como esta da progressão de carreiras dos bombeiros?

A degradação de todo o sistema de proteção civil. Julgo que é fundamental que o estatuto do bombeiro seja conso-lidado - e foram dados passos positivos nesta matéria por este governo – mas está muito por fazer para haver um reco-nhecimento do papel do bombeiro em Portugal.

Considera que é sustentável que grande parte do sistema de proteção civil se baseie no voluntariado?

A grande questão aqui é a seguinte: temos que prever a forma de evoluir des-te sistema. O voluntariado, na maior par-

te das zonas do país, começa a escas-sear até porque há abandono desses territórios. Há muitos concelhos deste país que estão em regressão ao nível da população. E nós temos que suprir essa falta com um modelo que reforce a pro-fissionalização. Esse é o caminho.

Defendemos que a avaliação do Pla-no Nacional de Defesa da Floresta Con-tra Incêndios faça a previsão do efetivo necessário, quer para a prevenção quer para o combate até 2020, para se har-monizar com o ciclo dos apoios comu-nitár ios. Portanto, do nosso ponto de vista, devemos saber para onde esta-mos a caminhar, numa visão de médio--longo prazo.

A questão nestes sistemas é que se tenta resolver o problema em função da gestão das crises e não da gestão de ris-cos, isto é, passando para uma visão de médio-longo prazo. Toda a gente sabe que as alterações cl imáticas vão ter

“Precisamos de redesenhar a estru-tura no terreno em termos de preven-ção e combate”

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12 ALTO RISCO Dezembro 2014 Dezembro 2014 ALTO RISCO 13

profundas implicações no território por-tuguês, quer no litoral, quer nas zonas urbanas, quer nas zonas rurais. É fun-damental que saibamos fazer alterações aos modelos e sistemas para serem sus-tentáveis. Senão, a caminhar com trans-formações a este ritmo, o que temos são sistemas a degradar-se nas suas respos-tas, em que se joga dinheiro mas não resolvem.

Quando fala da reestruturação da estratégia a nível nacional, e da valoriza-ção da profissão do bombeiro profissio-nal, como é que avalia o financiamento que é feito aos bombeiros profissionais?

O financiamento devia ser feito atra-vés da chamada tipificação dos corpos de bombeiros e em função dos riscos. A grande questão quando falamos sobre is to é que parece que o grande r isco são os incêndios florestais. Por exem-plo, no ano passado, duas tempestades

chegaram ao ter r i tór io nac iona l com consequências gravíss imas. Estamos a ter todos os anos r iscos acrescidos a que temos que dar respostas e é em função disso que se deve fazer o finan-ciamento.

Mas não apenas o f inanciamento. Também tudo aquilo que é o equipamen-

to a fornecer seja de proteção individu-al , seja móvel . Houve um falhanço no sistema com este governo. Ainda hoje estamos à espera de equipamentos de protecção individual que deveriam ter sido contratados em 2013 e que vamos chegar a 2015 e a inda não estão nas

corporações. Mas também aí deve ser fe i to em função dos r iscos efect ivos. Essa é a grande questão. O sistema não pode chegar a todo o lado. Têm que ser traçadas prioridades, e estas devem ser traçadas em função de uma cartografia de r isco que deve indicar exactamen-te quais os riscos que existem naquele território e como é que nós temos que estar preparados para responder.

Alguns autarcas queixam-se de desi-gualdades no f inanciamento dos bom-beiros- ao nível de bombeiros voluntá-rios e municipais e sapadores…

Essa desigualdade existe e creio que deve ser corr igida. Temos que ter um modelo tripartido: Estado, municípios e agentes privados. E devemos equacio-nar não apenas os bombeiros voluntá-r ios mas todo o sistema de apoio aos corpos de bombeiros em Portugal . O Estado deve ter um papel supletivo no

“ É fundamental que o estatuto

do bombeiro seja consolidado”

Exposiçãof inanciamento dos bombeiros munici-pais, em função da prestação de serviço público.

O que se espera da nova ministra da Administração Interna até ao final da legislatura? Em traços gerais, que gran-des medidas ficaram por tomar?

É ev idente que es ta min is t ra tem algum trabalho pela frente, mas o tem-po que lhe res ta não dá para mui to . Há uma coisa que vale a pena dizer. O s is tema v ive de acrésc imos de va lor relativamente àquilo que está feito. Há um sistema de proteção civil a funcio-nar desde 2006, criado, como se sabe sob coordenação do então Ministro da Administração Interna António Costa. Temos de lhe dar estabilidade. Como é que nós lhe damos estabilidade? Intro-duzindo progressivamente as medidas necessárias, sem colocar tudo em cau-sa. No caso do combate, a nova minis-tra deve avançar num ritmo mais ace-lerado naquilo que são as medidas que estão a ser implementadas no terreno. Tem de o lhar para o re la tór io que fo i feito pela Assembleia da República em termos incêndios f lorestais e verif icar que há matér ias onde ainda é preciso fazer mais do que aquilo que está a ser fe i to . E es ta deve ser a missão pr in-c ipa l da nova min is t ra , que num ano não deverá ter tempo para pensar no sistema mais do que vinha sendo pen-sado dentro deste governo. Não v is-lumbro nenhuma alteração de fundo na mudança de min is t ros. Houve co isas que foram bem fe i tas . Houve out ras que não foram bem feitas e houve coi-sas que ficaram por fazer.

Que medidas é que na próxima legis-latura o Partido Social ista gostaria de ver implementadas?

Este relatório dá pistas para o futuro e eu espero que um governo do Partido Socialista possa concretizar o essencial que este relatório aponta. Este docu-mento foi feito ouvindo muita gente, e expressa aquilo que os principais agen-tes técnicos, pol í t icos e operacionais pensam. E, portanto, deve ser um ele-mento essencial na tomada de decisão. Do meu ponto de vista, o mais importan-te é pensarmos a floresta e termos uma visão de médio longo prazo. A avaliação

da estratégia nacional para a f loresta está feita e aprovada na sua nova versão. Vai f icar nas mãos do próximo gover-no a elaboração dos planos regionais de ordenamento f lorestal . Vai f icar ainda nas mãos do próximo executivo a opera-cionalização dos fundos comunitários. É preciso reforçar os fundos florestais - o fundo florestal permanente vai ter este ano 18 milhões de euros o que é insufi-ciente para aquilo que é necessário para termos um modelo mais eficaz de pre-venção. O Fundo de Carbono financiou projetos muito interessantes, que alte-ram práticas culturais. É preciso encon-trar novas formas de financiamento e de pagamentos aos produtores f lorestais pela provisão de bens públicos da flo-resta. Damos pouco mais de 10 milhões de euros aos produtores florestais para produzir cerca de 200 milhões de euros de bens públ icos para o país, através da floresta, como sumidouro de carbo-no, regulador da água e conservação de solos e preservação da biodiversida-de. Esta é uma mudança essencial para garantir o futuro da floresta portuguesa.

A floresta precisa de mais investimen-to, mais e melhor capacidade de gestão, inclusive, nesta vertente de gestão dos bens e serviços que a f loresta presta, senão está comprometida a sua susten-tabilidade.

É preciso que o Estado mantenha ou acelere a sua capacidade de intervenção no terreno em matéria de prevenção flo-restal, envolvendo mais as autarquias e as associações intermunicipais. É preciso uma diretiva e o conhecimento efectivo do dispositivo de prevenção florestal e dar estabilidade ao exército de prevenção florestal, que são os sapadores florestais.

É preciso alterar o modelo de forma-ção e integrar conhecimento a todo este sistema. É preciso fazer mais investiga-ção mas, acima de tudo, é necessário que os resultados dessa invest igação possam chegar ao terreno.

É preciso criar um programa de formação para a autoproteção e para a criação de comunidades resil ientes às catástrofes. Isso pode reduzir em muito as despesas em prevenção e combate aos fogos florestais.

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Simulacro

Túnel da Gardunha realizou simulacro

vidas 35 entidades, 60 veículos e 200 inter-venientes.

Em declarações ao jornal “A Reconquis-ta”, o comandante operacional distrital Rui Esteves considerou que este exercício veio “proporcionar algumas melhorias no atual plano porque essa é a capacidade que temos que ter: vermos o que fizemos bem e o que fizemos menos bem, e corrigir o que fizemos menos bem”. “É preciso termos a coragem de estarmos a testar”, concluiu.

Já o diretor da concessionária da Scu-

tvias, Pinto Martins, considerou que esta foi uma oportunidade para testar e verificar o que ainda há para fazer no túnel. “ Os inves-timentos feitos resultaram, funcionaram. Vamos aguardar resultados”. “ Se as conclu-sões indicarem alguns aperfeiçoamentos que impliquem novos investimentos, cá estare-mos para os fazer”, adiantou.

Scutvias investiu 500 mil na segurança do túnelO Túnel da Gardunha recebeu recente-

O exercício simulou uma colisão entre duas viatu-ras, no interior do túnel, no sentido sul-norte, da qual resultaram três feridos graves. Um dos veículos envolvidos no

acidente incendiou-se. Foi necessário desen-carcerar os feridos e retirar o fumo do interior daquela infraestrutura.

O simulacro interrompeu durante várias horas a circulação no túnel. Estiveram envol-

O Túnel da Gardunha, na A23, foi o palco de um simulacro de acidente para testar a rapidez e a eficácia da intervenção dos meios de socorro. O exercício “Túnel Seguro - Exercício LIVEX 2014”, foi realizado a 16 de dezembro, numa ação concertada entre a Scutvias (empresa concessionária da autoestrada da Beira Interior) e o Comando Distrital de Opera-ções de Socorro (CDOS) de Castelo Branco. O objetivo foi antecipar respostas operacionais numa estrutura onde passam diariamente cinco mil veículos.

D.R

.

Pub

mente um investimento em segurança na ordem dos 500 mil euros, traduzido num sistema de comunicações que permite falar do interior, através das três redes móveis de comunicações e na frequência do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP). Este foi o primeiro túnel, em 1999, a ter um plano especial de emergência de proteção civil, homologado pela Comissão Nacional de Proteção Civil, uma vez que na altura não havia legislação específica de emergência para este tipo de infraestruturas. A base de homologação centrou-se nas normas europeias. O simulacro permitiu testar o Plano Especial de Emergên-cia de Proteção Civil para túneis.

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Simulacro

Simulacro certifica aeródromo de Viseu

Part iciparam neste simulacro a Autoridade Nacional de Proteção Civil, o Serviço Municipal de Proteção Civi l da Câmara Municipal Viseu, várias Cor-porações de Bombeiros do distr i to de

Viseu, o INEM, a GNR, a PSP, a Policia Municipal , o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o Centro Humanitário de Viseu da Cruz Vermelha e o Hospital São Teotónio - Viseu.

Uma aeronave com 20 passa-geiros nacionais e estran-geiros a bordo faz uma aterragem de emergência no Aeródromo Municipal

Gonçalves Lobato, em Viseu, por ter deflagrado fogo num motor. Do “aciden-te” resultaram cinco mortos, três feridos graves, cinco feridos ligeiros e sete ile-sos. Foi este o “cenário” escolhido pela Câmara Municipal de Viseu e pela Dire-ção do Aeródromo Municipal Gonçalves Lobato, em coordenação com o CDOS de Viseu, para o exercício LIVEX, ocorri-do no dia 12 de Dezembro. A realização deste simulacro fez parte do processo de certificação do Plano de Emergência do Aeródromo Municipal quanto às condi-ções de segurança exigidas para que a reativação dos voos regulares, previstos para 2015, tenham início com todos os requisitos cumpridos.

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Notícia

Campanha sensibiliza para as quedas nas crianças“Acabe com as quedas para a desgraça” foi o mote escolhido para a campanha da Asso-ciação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) para alertar para o problema da queda das crianças. Uma das soluções, defende a APSI, poderá passar pela colocação de um painel rígido nas varandas para a criança não ter partes de apoio.

Mas, apesar desta realidade, nos núme-ros, “estamos bem situados a nível da média europeia”.

Campanha sensibiliza paisPara combater esta estes números a

APSI avançou com a campanha “Acabe com as quedas para a desgraça”. “Esta campanha pretender despertar as pessoas para este problema”, sublinha Sandra Nascimento. “Temos vários públicos distintos que pre-tendemos atingir com a campanha, porque destina-se a sensibilizar vários interlocuto-res”, refere a presidente da APSI.

Uma das vertentes que a APSI quer sublinhar tem a ver com as “normas de construção de varandas e escadas”. “A nor-ma portuguesa para a segurança de edifí-cios é a ferramenta essencial ao dispor dos construtores, para facilitar a vida aos proje-tistas”, refere Sandra Nascimento. Por isso “não faz sentido que as normas de constru-

A campanha da APSI destina--se a públicos distintos, como os pais, familiares e professores; os projetistas e construtores para que ado-tem as melhores práticas de

projeto e construção; e o poder local e cen-tral, que deve garantir a criação de legisla-ção e normas harmonizadas de construção, sublinha a associação em comunicado.

“Quando analisamos cada ano, verifi-cávamos que tem diminuído o número de mortes por quedas, de forma sistemática”, sublinha Sandra Nascimento, presidente da APSI, em declarações ao Alto Risco.

Para a responsável da APSI “os motivos que estão na origem das quedas de crian-ças e jovens são inaceitáveis”. Sandra Nas-cimento entende que uma das principais causas para a situação deve-se ao facto da “construção destes espaços não ser feita a pensar nos mais novos”.

ção em Lisboa e no Porto sejam diferentes do resto do país”.

“As mudanças que vão ocorrer nas nor-mas de segurança vão ser aplicadas nos edifícios novos”, tendo a APSI criado uma ferramenta útil para as famílias com filhos pequenos. Trata-se de um guia para prote-ger as varandas e qual a forma mais ade-quada de colocar seguranças nestas espa-ços da casa”, afirma Sandra Nascimento.

Uma das recomendações que a APSI defende, e que sugere aos pais, passa pela “colocação de um painel rígido nas varan-das, de preferência transparente, para a criança não ter partes de apoio”, sublinha a presidente da APSI.

“Após terminar a campanha vamos apresentar as conclusões do estudo ao poder local e grupos parlamentares”, subli-nha Sandra Nascimento. Uma campanha que “para ter impacto, deve ser constante-mente renovada”.

Nos últ imos 14 anos, pelo menos 109 crianças e jovens morreram na sequência de uma queda e mais de 60.500 tiveram que ser internadas.

A maior parte das mortes (Inst i tu-to Nacional de Estat íst ica, 2000-2012) na sequência de uma queda ocorreram em crianças e jovens do sexo masculino (77%) com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos (34%). Das restantes, 31% ocorre-ram entre os 0 e os 4 anos, 19% entre os 5 e os 9 anos e 16% os 10 e os 14 anos.

Nos internamentos 69% das crianças são do sexo masculino e 31% do sexo feminino. As crianças mais frequentemente internadas tinham idades compreendidas entre os 5 e os 9 anos (29%) e os 0 e os 4 anos (28%), seguidas das crianças com idades entre os 10 e 14 anos (26%) e os 15 e os 18 anos (17%).

Em muitos casos, o tipo de queda asso-ciada a estes acidentes não é conhecida. No entanto e a partir das situações onde existe esta informação (49% das mortes e 32% dos internamentos), é possível identificar qual o tipo de queda que provoca mais mortes e internamentos.

A maior parte das mortes resultam de quedas de edifícios e outras estruturas. De acordo com os dados disponibilizados pelo INE (2002-2012), 30% das mortes resulta-ram de uma queda de edif íc ios ou outras estruturas. A maior parte destes casos acon-teceu com crianças até aos 9 anos (9 casos com crianças entre o 0 e os 4 anos e 7 casos entre os 5 e os 9 anos).

São ainda referidas mortes que resul-taram de queda de leito, queda de árvore, penhasco, ou mergulho ou salto para a água. Em metade dos casos não se conhece o tipo de queda.

O t ipo de lesão mais frequentemente associado a estas mortes é a lesão traumáti-ca intracraniana. As quedas de altura eleva-da são responsáveis pelo maior número de internamentos. 64% dos internamento cujo tipo de queda é conhecido deveram-se a uma queda da altura elevada.

Os números negros da estatística

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Estudo

soltam ou que são arrancadas com facilida-de pelas crianças, que depois podem levá--las à boca e engoli-las, correndo o risco de asfixia. Esta tem sido uma das falhas diag-nosticadas ao longo dos 22 anos em que a Deco avalia a perigosidade dos brinquedos. A Associação realça que a lei tem vindo a ficar “mais abrangente nalguns aspetos, mas há retrocessos greves”. Entre eles, o facto da indicação da idade passar a ser facultativa.

A DECO disponibiliza, no seu site, o depoimento de uma das técnicas que par-ticipou neste estudo. Teresa Belchior reco-nhece que “há brinquedos que não têm a idade recomendada”, e explica que “até 2011 a idade mínima não era só o aviso, mas a marcação clara da idade mínima. Com a nova diretiva, essa norma deixou de existir e fica um pouco à consciência dos fabricantes colocarem ou não a sua indi-cação”.

E se alguns consumidores pensam que a marcação CE é garantia de segurança para as crianças, desengane-se. “É só uma indicação de que se cumpre as normas em vigor”, explica Teresa Belchior.

A época natalícia é marcada por uma maior procura de brinquedos para oferecer às crianças que a eles fazem referência nas enormes lis-tas que “oferecem” aos pais

para comprar. É também nesta altura que as lojas multiplicam as suas sugestões, colocando à venda brinquedos para todas as idades e carteiras, para que nenhuma criança fique com o “sapatinho” vazio.

O cumprimento das regras de seguran-ça deve, no entanto, ser o principal requi-sito na escolha de qualquer prenda para as crianças. Dos 18 brinquedos que não passaram no teste da Associação da Defesa do Consumidor (DECO), oito não cumpriam a legislação, o que levou a DECO a pedir à Autoridade de Segurança Alimentar e Eco-nómica a sua retirada imediata das lojas. Os restantes 10 apresentaram falhas que não constam da legislação nacional, mas que a DECO considera perigosas.

De acordo com informação disponibi-lizada pela associação do consumidor, os problemas mais comuns encontrados nos brinquedos são as pequenas peças que se

Assim sendo, a atenção a comprar brin-quedos para os mais pequenos deve ser redobrada e tendo sempre em atenção que há fabricantes que vendem produtos que não seguem os padrões recomendados ou que não têm o controlo de qualidade neces-sário.

Neste Natal, antes de comprar um pre-sente para os mais pequenos da família, faça um check list e verifique se os brinque-dos que quer oferecer se enquadram nos requisitos (ver caixa)

Um estudo da Associação da Defesa do Consumidor, veio alertar para os perigos inerentes a alguns dos brinquedos. A DECO testou 40, dos quais 18 chumbaram nos requisitos.

DECO identifica 18 brinquedos perigosos

Antes de comprar um brinquedo:

- Pense na criança a quem vai oferecer um brinquedo.- Verifique a idade mínima- Sempre que possível retire o brinque-do da embalagem, ainda na loja, e tente arrancar as peças.- Verifique todas as arestas e vértices de forma a verificar se existem extremi-dades que possam magoar as crianças.

Ser ou não brinquedo A diretiva comunitária define “brinquedos”

como produtos concebidos ou destinados a serem utilizados para fins lúdicos por crianças de idade inferior a 14 anos. A mesma diretiva não considera brinquedos:

• objetos decorativos para festas e comemo-rações;

• modelos reduzidos, construídos à escala em pormenor, para colecionadores de idade igual ou superior a 14 anos;

• conjuntos de montagem de modelos reduzi-dos construídos à escala;

• bonecas regionais ou decorativas e outros artigos semelhantes;

• reproduções históricas de brinquedos;• imitações de armas de fogo verdadeiras;• equipamentos desportivos, incluindo patins

de rodas, patins em linha e pranchas de skate des-tinados a crianças com peso superior a 20 kg;

• equipamento aquático, para usar em águas profundas, e material para crianças destinado ao ensino da natação;

• bicicletas em que a altura máxima de selim seja superior a 435 milímetros;

• trotinetas, veículos elétricos e outros meios de transporte concebidos para desporto ou que se destinam a deslocação na via pública;

• puzzles de mais de 500 peças;• armas de gás comprimido, fogos de artifício,

incluindo os dispositivos de detonação;• fundas e fisgas;• jogos que utilizam projéteis de pontas afia-

das;• fornos elétricos, ferros de engomar ou outros

artigos funcionais alimentados por uma tensão nominal superior a 24 V;

• produtos que compreendem elementos pro-dutores de calor destinados a ser utilizados, sob a vigilância de um adulto, num contexto pedagógico;

• veículos com motores de combustão;• brinquedos com máquinas a vapor; equipa-

mento eletrónico e periféricos conexos;• software interativo;• chupetas;• luminárias portáteis para crianças;• transformadores elétricos para brinquedos e

joias de fantasia para crianças.(fonte: site DECO)A Associação de Defesa do Consumidor publicou, no

seu site, os brinquedos que podem ser perigosos

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Reportagem

ral. E é a partir dela que avaliamos o grau de dependência”, explica.

As respostas foram dadas através de inquéritos realizados a cerca de 900 jovens portugueses, em contexto escolar, com a autorização do Ministério da educação. O universo da amostra inclui jovens que frequentam do sétimo ao décimo segundo ano e ensino universitário.

No entanto, esta percentagem de casos de risco não resulta de uma res-posta directa dos jovens. Ou seja, não são eles que admitem em voz própria que são dependentes da internet. “Estas escalas são construídas de forma a terem pergun-tas de reforço, com as quais os jovens concordam ou discordam, não são per-guntas directas. E para avaliarmos o mes-mo critério, perguntamos 3 ou 4 vezes ao longo do questionário, e se há uma con-

Os resultados até são seme-lhantes aos de outros paí-ses europeus mas Ivone Patrão não desvaloriza o facto de existir uma “elevada percentagem de

jovens em risco”. Risco – entenda-se – ligado ao uso da internet, à dependência desta ferramenta que entra em muitas casas, no nosso país.

A coordenadora do estudo e investi-gadora do ISPA – Instituto Universitário sublinha que as conclusões apontam para cerca de 70 por cento de casos de depen-dência mais grave da internet. E como se chegou a este número?

“Em termos internacionais, existe uma escala com critérios científicos e nós vali-dámos essa escala para português, é uma questão de tradução e de adaptação cultu-

cordância então é que achamos uma per-centagem”, detalha Ivone Patrão.

Esta técnica permite apurar respostas mesmo que os jovens não se apercebam que “estão a falar sobre eles próprios”. Mas, no fundo, são eles que “ dizem o quanto estão dependentes da internet, a forma como fazemos isso é que é um pou-co mais camuflada”. Mas tem de ser desta forma porque “sabemos que, do ponto de vista científico e de utilização de escalas, se perguntarmos directamente as pessoas têm tendência a recusar a pergunta e a não responder”.

Com base nos dados recolhidos, Ivone Patrão elabora um perfil: são sobretudo rapazes, mais velhos, que frequentam do 8º ano ao ensino secundário, que não têm amigos e que privilegiam os contac-tos virtualmente. Este é um ponto rele-

O estudo de investigadores do ISPA – Instituto Universitário e da Nottingham Trent University (Reino Unido), que analisou o impacto do uso da internet no bem-estar dos jovens portugueses, indica cerca de 70 por cento de casos de risco. A dependência da Internet pode traduz-se em dificuldades de relacionamento familiar e social, mas tam-bém nos resultados escolares e na saúde. Este é o tema para a conversa com Ivone Patrão, coordenadora do estudo.

A Internet é como uma droga

Entrevista

la, fazem um caminho diário que é escola--casa-computador, e não dormem…”.

Estes primeiros dados já permitem fazer “uma leitura do que se passa nas famílias, mas estamos a avançar para perceber melhor a caracterização, como funcionam e como reagem a esta proble-mática”.

Internet pode esconder outros problemas A análise deste problema não se pode

confinar ao jovem, porque, em alguns casos, a internet pode camuflar outros problemas sociais e familiares. A investi-gadora Ivone Patrão, que também atende jovens em consulta, sublinha o perigo na atitude de alguns pais. “Muitas vezes é mais fácil deixá-los estar no computador, com mínima supervisão, porque assim não se entra em conflito. E depois há tam-bém um pouco a fantasia dos pais que pensam que assim os filhos não saem de casa, não consomem drogas, estão aqui por perto…” .

Os jovens navegam, sobretudo, em “apostas online, jogos online” e andam pelas redes sociais. Há também casos de cyberbullying, “uma elevada percentagem que conseguimos perceber no estudo, de entrar em contacto com os outros para

vante, sublinha: “são mais deprimidos, mais isolados emocionalmente mas não socialmente porque eles estabelecem rela-ções virtuais com outros amigos através da internet, mas não têm relações face--a-face”.

E qual o papel da família, nomeada-mente dos pais? Ivone Patrão anuncia que esse será o próximo passo desta investi-gação. Pretende-se avaliar “quais são as características das famílias, qual é o seu funcionamento, como se gerem os confli-tos e a regulação do comportamento”.

A recolha de dados para fazer esta ava-liação vai ser feita a partir de agora, mas há já algumas informações que também são preocupantes. “O que acontece é que estes adolescentes estão entregues a um computador e são tidos por estas famílias como muito sossegados, tranquilos, que não dão problemas, só que depois temos aqui outro tipo de problemas. Mas, para o imediato, são miúdos, adolescentes que estão confinados ao seu quarto, horas, horas e horas. E esse é um dos critérios para a dependência da internet, é o núme-ro de horas, e, seguramente, os que têm um nível elevado de dependência da inter-net são aqueles que passam muitas horas, alguns deles em situações mais graves de absentismo escolar. Ou então, indo à esco-

fazer bullying”, revela a responsável.Ivone Patrão deixa claro que falar

destes casos de dependência é falar de um “comportamento aditivo sem substân-cia”. No fundo, a Internet funciona quase como uma droga, “faz a mesma coisa que os outros comportamentos aditivos com substância, que é aumentar as zonas do prazer no nosso cérebro”.

A dependência traduz-se em isolamen-to e pode levar os jovens a comunicar com as outras pessoas quase só por computa-dor. Mas não só por computador. A inter-net está, hoje em dia, acessível em diver-sos equipamentos. “Todos (os jovens) já têm dispositivos móveis, telemóveis com acesso à internet, e se não têm internet há o wi-fi em qualquer sítio, já não é preciso um computador. Se formos tirar fotogra-fias, eles, às vezes, estão todos ao pé uns dos outros mas a comunicar pelo telefone, estão todos ligados mas não estão face-a--face, estão ao lado mas não comunicam. E isto em termos de desenvolvimento, vão-se perdendo competências comunica-cionais e relacionais mais evoluídas, fican-do apenas as básicas”, alerta.

Ivone Patrão recusa dramatismo ou radicalizar posições. Não estamos a estra-gar uma geração mas deve apelar-se a um “consumo mais regrado das tecnologias. “

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Impacto na Saúde A saúde também reflecte efeitos da

dependência da internet. “Nas situações mais graves, a alimentação e o sono são as situações que ficam mais rapidamente deterioradas. Alguns (jovens) “passam” refeições ou fazem refeições mais ligei-ras em frente ao computador, não fazem refeições com a restante família. Depois, na mesma linha, não dormem durante a noite, ficam no computador e depois, no dia a seguir, têm sonolência e pouca con-centração nas aulas”.

A investigadora Ivone Patrão acres-centa: estes jovens “fecham-se mais em si próprio, tendencionalmente acabam por estar mais deprimidos, mais sonolentos, menos nutridos, e isto pode ter aqui uma escalada do ponto de vista da saúde física e mental grave”.

Não se pode, no entanto, falar de um cenário de alarmismo. Os especialistas sublinham que são poucos os casos con-siderados graves de dependência e quan-do surgem “as famílias vão-se aperceben-do e adoptam estratégias, quando mais não seja desligar a internet, em extremo”. Ivone Patrão esclarece, no entanto, que há situações com indicação de internamento, de jovens que são encaminhados para o hospital de referência e são tratados no departamento de psiquiatria. Mas, a maior parte dos casos diz respeito a risco mode-rado de dependência, casos de jovens que “utilizam a internet muitas horas, não dor-mem mas que não são situações extre-mas”.

A avaliação do número de horas, que determina se é um caso de dependência ou não, implica fazer uma equivalência entre as horas lectivas, as horas que cada um dispõe de actividades extra e as horas que dedicam a actividades na internet. Ivone Patrão conclui que tudo de resume a um desequilíbrio na divisão das horas do dia. “Assumimos que quem tem um número extra de internet, estamos perante um caso grave”.

A investigadora que coordena estes estudos assume que não ficou surpreen-dida, mas está preocupada com os jovens que estão em risco. Apela a que se desen-volvam “estratégias nas escolas de pro-moção e de prevenção, para alertar os pro-fessores, pais e os próprios adolescentes dos riscos da dependência da internet”.

- Objectivo desta investigaçãoAnalisar o bem-estar dos jovens portugueses e a sua relação com a dependência da

internet.

-Entidades envolvidas no estudoO ISPA-IU é a casa-mãe da realização deste estudo. Está a ser desenvolvido por Ivone

Patrão (ISPA-IU), Halley Pontes, Nottingham Trent University (International Gaming Research Unit) e Mark Griffiths, Nottingham Trent University (International Gaming Research Unit).

- Principais conclusõesUma elevada percentagem de jovens em risco moderado de dependência da internet.

Dependência associada à depressão, ao isolamento social dos jovens, e predominância dos jovens mais velhos, do sexo masculino.

- Dependência da internet nos jovens – como se manifesta?As manifestações têm a ver com o uso excessivo de todas as actividades online, no fun-

do, o desequilíbrio entre a dedicação à escola, ao trabalho, ao sono e outras actividades extra, é desproporcional com o uso da internet. E depois estes jovens manifestam sintomatologia associada à dependência, evidenciam mais irritabilidade, menos concentração e atenção, e mais dificuldade em gerir os conflitos no dia-a-dia.

- Implicações ao nível da interacção social?As implicações são várias, nomeadamente, o relacionamento. Se pensarmos num jovem

mais velho, não só o relacionamento com os amigos mas também o relacionamento amo-roso. E isto quer dizer que o seu desenvolvimento normal nessa área não está a decorrer da forma mais adequada. Estes jovens não sentem isolamento emocional mas social, porque não têm contactos face-a-face.

- Papel dos pais – resulta retirar/restringir o acesso à internet?O papel dos pais tem de ser aqui de negociação do número de horas e dos conteúdos

regulares online. E isso tem de ser graduado conforme a idade, claro está, que no início da adolescência, os pais terão um poder negocial maior. Mas em idades dos 18, 20 anos, dos estudantes universitários, os pais, até muitas vezes por distância, têm um poder negocial inferior. Portanto, tem de haver uma linha, um contínuo de conquista nesta área. Não pode ser uma área a descurar, a não falar, como muitas vezes acontece nas famílias.

Relatório

Álcool e drogas mais presentes nas mortes nas estradas

O relatório “Portugal - Saúde Mental em Núme-ros 2014” revela que duplicou a presença de substâncias psicotrópi-cas nas mortes por aci-

dente de viação.Este relatório, elaborado pela equipa

do Programa Nacional de Saúde Mental da Direção Geral de Saúde, conclui que houve mais mortos nas estradas associados à presença de álcool e drogas. Os núme-ros das vítimas de acidente autopsiadas pelo Instituto de Medicina Legal mostram que, comparando 2008 e 2013, houve uma duplicação dos casos em que foi confirma-da a presença de substâncias psicotrópi-cas, subindo de 6,8% para 11,2%.

O relatório refere que a combinação de álcool e droga é a mais frequente nes-tas vítimas, superando mais de metade do total (54%). Ao todo, foram 26 os condutores que morreram em acidente de viação com substâncias psicotrópi-cas no organismo. Nos restantes casos

rastreados (207) os resultados foram negativos.

Destas 26 vít imas mortais, 11,5%

tinham canabinóides no organismo, 27% opiáceos, 4% cocaína e metabol i tos e 4% várias drogas.

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com o acumular de situações de risco e a maior visibilidade das manifestações da crise. Todavia, apesar da elevada confiança que tem nos bombeiros, parece não ser tão detentor de um pleno e exato conhecimento da vertente profissional e das suas causas.

Ao refletir sobre a interação entre cida-dão e bombeiros profissionais, interrogo--me de novo, se o primeiro conhecerá que os segundos, para além de combaterem, em épocas específicas, os incêndios flores-tais e as cheias, diariamente se ocupam de outros riscos, não mediatizados. Se saberá que lutam por direitos, que a todos dizem respeito. Um estatuto que os uniformize, um SIADAP que contemple a especificidade do seu trabalho e uma carreira de oficial

O debate acerca do risco e do desastre natural, sobretudo num tempo em que sabemos que estarão cada vez mais presentes e de um modo imprevisível e

intenso, não se poderá fazer sem o princi-pal agente da sua mitigação: os bombeiros afetos ao Estado.

O livro “Sociedade do Risco e Prote-ção Civil” traz isso à luz, tornando-os o seu principal ator. Contudo, ao dirigir-se tam-bém ao cidadão comum, chama à atenção de que deverá estar presente nessa discus-são. É certo que está mais conscienciali-zado com a problemática dos desastres,

bombeiro, são algumas das suas causas analisadas no livro.

Percursora na sociologia em Portugal esta obra conceptualiza e explica as várias esferas que envolvem a função deste sec-tor, contribuindo para a construção de teo-ria científica sobre este grupo. Mas visa, sobretudo, ser mais um alerta esclarecido. Isto reconhecendo que é imperativo conhe-cer a sua identidade, as vicissitudes e pro-blemáticas, no seu dia-a-dia de prestadores de serviços de socorro e emergência.

Desta forma, traduziu-se numa cons-trução do modelo identitário que os carac-teriza, por via do estudo de caso dos muni-cipais da Figueira da Foz e Sapadores de Coimbra.

“Sociedade do Risco e Protecção Civil”

Apresentação do livro em Olhão

O presente artigo pretende ser um pequeno resumo das conclusões de uma tese de dou-toramento da sua autora, Noémia Salgado Cunha, que posteriormente deu origem ao livro “Sociedade do Risco e Proteção Civil”, publicado pela Chiado Editora em junho de 2014.

Técnico

SociólogaDra. Noémia Cunha

zações burocráticas, cujo poder se centra nos grupos hierarquicamente inferiores, através dos conhecimentos técnicos detido grandemente pelas categorias intermédias.

São, de igual modo, estruturas que exe-cutam mais tarefas não rotineiras e com-plexas. Revelam maior produtividade que pode não corresponder necessariamente a satisfação no trabalho, quando os efectivos têm lideranças directivas e não participati-vas. Os resultados obtidos privilegiam uma liderança orientada para o empregado, por-tanto, participativa (sapadores) e a orienta-da para a produção (municipais).

A investigação conclui também que as especializações e as formações frequenta-das têm orientações distintas em ambas. Na corporação da Figueira da Foz, destacam-se as ligadas ao mar e na corporação de Coim-bra as ligadas a áreas mais abrangentes. Repara-se que ambas estão expostas a um nível de perigosidade bastante elevado, no que diz respeito aos riscos de incêndios florestais e cheias ou inundações. Isto leva à constatação de que a de Coimbra faz uma adequação mais equilibrada entre os riscos existentes no seu concelho e as formações frequentadas.

Conclui-se do mesmo modo que ambas estão altamente informadas acerca dos seus direitos e regalias sociais. Denota--se uma acérrima discordância quanto ao SIADAP. É considerado desadequado ao tipo de funções onde a presença do ava-liador na maioria das vezes não é exigida. No tocante ao recrutamento e à promoção da carreira, a neutralidade evidenciada pela

Neste artigo, levantam-se conclusões que versam um dos cinco capítulos, refe-rente à segunda parte da análise a estes corpos de bombeiros. Comecemos por aborda-las do ponto de vista individual do bombeiro e depois do das corporações.

Maioritariamente do sexo masculino, inserindo-se desta forma numa cultura patriarcal, os elementos que as compõem são significativamente originários de famí-lias de bombeiros, onde a classe dominan-te dos seus progenitores é a operariado industrial semi ou não qualificado, com um grau de instrução baixa (1º ciclo), existin-do assim uma mobilidade intergeracional ascendente. Quanto a isto, repara-se que ambos os efectivos, detêm na sua maio-ria como habilitações o 12º ano, onde se destacam os municipais, ao apresentarem excesso de habilitações.

A principal motivação para o ingresso nesta carreira é o espírito de missão, evi-denciando o altruísmo destes profissionais, onde as regalias do estatuto ou o prestígio da carreira têm pouco significado.

Por outro lado, ficou determinado que estes bombeiros tiveram um ingresso maciço em 2001-2006 e que têm uma inte-gração definitiva no funcionalismo público bastante elevada, facto que dota as corpo-rações de um carácter extraordinário nesta matéria, relativamente ao todo nacional.

São altamente sindicalizados, com uma pertença considerável a outras associações fora do âmbito profissional. Porém, o bom-beiro sapador revela uma taxa de ocupação de cargos dirigentes na ANBP superior ao municipal, compreendida à luz da sua anti-guidade.

Quando abordada a sua naturalida-de, verifica-se que o bombeiro de ambas nasceu principalmente ou nas suas sedes de concelho ou na capital do distrito. Isto revela a importância que as redes de recru-tamento restrito têm no ingresso a esta profissão.

Do ponto de vista organizacional, esta-mos perante organizações hierarquizadas de complexidade baixa e média, no caso da Figueira da Foz e de Coimbra, respeti-vamente. A distinção, quanto a este nível, pauta-se principalmente, pelo facto da de Coimbra, mais antiga, deter um maior número de especializações e equipas espe-ciais, apesar destas últimas não se encon-traram formalmente constituídas.

Por outra via, estamos face a organi-

corporação da Figueira da Foz e a definição concreta (concordância e não concordân-cia) da de Coimbra, permite uma distinção entre ambas. A dos municipais é caracteri-zada pelo unanimismo e o consenso e a dos sapadores pela divergência de opiniões.

Verificou-se que na perspectiva da operacionalidade, os bombeiros profis-sionais, intervêm menos em ocorrências em habitações particulares, apesar de serem mais vezes solicitados no perío-do “todos os dias” e “algumas vezes por semana”, no conjunto das saídas cujo enquadramento é: urbano e industrial, contextos rurais e os relacionados com as vias. Os efetivos de ambas sentem que estão melhor preparados para enfrentar os seguintes riscos: acidentes rodoviá-rios e industriais, incêndios florestais e urbanos, inundações, afogamentos. Ris-cos que compreendem os mais premen-tes nos seus concelhos-sede.

Por fim, um aspecto de particular interesse, a profissionalização dos bom-beiros voluntários. Estas organizações encaram-na com positividade, na medida em que teriam maior preparação técnica e formativa. Ainda que, o simbolismo da rivalidade conhecida, entre as duas ver-tentes da actividade de bombeiro, mos-tra-se na prática. Apresentam a taxa de resposta mais baixa do relacionamento positivo com todos os agentes de protec-ção civil, e através dos depoimentos de alguns entrevistados, que afirmam que a rivalidade é, algumas vezes, transportada para o teatro operacional.

Lançamento do livro em Coimbra

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Reportagem

a uma T-Shirt, adequada à utilização por bombeiros.

Esta peça de vestiário especial combi-na o tecido com a mais avançada tecnolo-

Relacionar os registos do rit-mo cardíaco com os níveis de stress a que os bombei-ros estão sujeitos na sua atividade diária foi o obje-

tivo do estudo levado a cabo por inves-tigadores portugueses, em colaboração com uma Universidade Norte- America-na. Ao longo de três anos, bombeiros da corporação de Bombeiros Voluntários de Amarante e da Companhia Bombeiros Sapadores de Vila Nova de Gaia foram monitorizados através de uma t-shirt que permitiu recolher vários sinais de eletro-cardiograma. A frequência cardíaca foi avaliada continuamente durante várias ocorrências para que os bombeiros foram solicitados, de forma a avaliar as suas variações.

Foram analisadas 4600 horas de dados recolhidos de bombeiros em ação, incluindo 717 respostas a eventos num total de 454 ocorrências diferentes.

Para fazer estas medições foi utilizada a tecnologia do Vital Jacket, tecnologia desenvolvida pela Biodivices, adaptado

gia. A camisola tem um dispositivo eletró-nico e diversos sensores que captam os sinais vitais da pessoa que a veste e pode monitorizar o ritmo cardíaco no momento.

Estudo relaciona ritmo cardíaco com atividade dos bombeiros

Desenvolveram um projeto que visava medir o stress em pro-fissões de Alto Risco. Qual o objetivo que pretendiam alcan-çar com este estudo? Quem

apoiou a sua realização?O objetivo deste estudo foi perceber se

era possível desenvolver um sistema tecno-lógico para medir os níveis de stress des-tes profissionais em ambientes e situações reais. A motivação para isto foi o facto dos profissionais de primeira resposta, nome-adamente os bombeiros, terem o dobro de prevalência de patologias cardíacas, assim como quase menos dez anos de longevi-dade médica, por comparação com outras profissões.

O projeto foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do programa de colaboração entre Portugal e a Universidade de Carnegie Mellon nos EUA.

De que forma é que o colocaram em prá-tica?

Foram necessários avanços técnicos em múltiplas disciplinas, tais como sensores, transmissão sem fios, desenvolvimento de sistemas interativos e processamento de sinal. Estas várias equipas trabalharam em conjunto durante três anos, tendo sido testa-das as tecnologias em três fases. No primei-ro ano foi testada a adequação dos sensores, volume de dados, e aceitação de tecnolo-gia por parte do utilizador. No segundo ano

foram testados protocolos de transmissão sem fios inovadores e foram desenvolvidos sistemas de anotação de dados em ambiente real. No terceiro ano a tecnologia final foi aplicada na sua totalidade em campo, ten-do sido recolhido dados que confirmaram a capacidade do sistema de medir níveis de stress de profissionais de primeira resposta em ação.

Que parâmetros é que pretendiam verifi-car/estabelecer ao realizar este estudo?

Essencialmente parâmetros cardíacos e de atividade física. A variação do ritmo cardíaco é um indicador bem estudado de medição de stress, e era fundamental per-ceber se conseguiríamos ter um sistema que colhesse, transmitisse, e transformasse estes sinais numa quantificação fiável de stress.

Quanto tempo demorou a recolher dados?

A recolha de dados foi feita em três fases, como explicado no ponto 2. Cada uma destas demorou entre três e seis meses, tendo sido colhidas cerca de 400 horas de sinal ECG na primeira fase, 4600 horas de anotação de sinais na segunda fase, e 100 horas de sinais completos e anotados na terceira fase.

Que conclusões é que tiraram deste pro-

jeto?A conclusão principal tirada é que é

possível monitorizar os níveis de stress de profissionais de primeira resposta em ação, usando tecnologias atuais. Foram modeladas as rotinas e as oportunidades de interação de equipas de bombeiros, foi determinado qual a melhor forma de anotar todos estes dados durante situações reais, foi demonstrado que é possível adaptar uma roupa inteligente feita para ambientes médi-cos e de desporto para ambientes agressi-vos como o de bombeiros em ação, foram identificadas estratégias de transmissão de redes sem fios que permitam a comunicação em situações de desastre e emergência, e foi demonstrado que através de algoritmos de processamento de sinal conseguimos quan-tificar níveis de stress destes profissionais.

Qual a aplicabilidade dos resultados

obtidos?Os resultados obtidos demonstraram a

viabilidade da solução, mas também iden-tificaram campos onde era necessário mais trabalho para que no futuro se possa ter um sistema robusto de monitorização de stress em situações reais. Após este projeto já mais dois foram aprovados e aceites para financiamento, onde se estão a desenvol-ver métodos mais eficazes de transmissão sem fios que permitam poupar as baterias destes dispositivos, assim como estraté-gias de comercialização e de política pública que determinem qual o melhor modelo para sustentar a viabilidade económica desta tec-nologia.

“É possível monitorizar os níveis de stress de profissionais de primeira resposta em ação”Pedro Gomes faz parte de uma equipa de investigação que decidiu estudar os níveis de stress dos profissionais de primeira resposta em ação, nomeadamente dos bombeiros, utilizando as novas tecnologias. A Revista Alto Risco quis saber pormenores deste projeto financiado pela Fundação para a ciência e Tecnologia, no âmbito do programa de colaboração entre Portugal e a Universidade de Camegie Mellon, nos Estados Unidos da América.

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“Proteger a costa pode custar 780 milhões de euros”

A alimentação artificial das zonas costeiras entre os rios Douro e Mondego deverá custar, nos próximos 30 anos, entre 740 e 780 milhões de euros. A estimativa consta do Sumário Executivo e Recomendações do relatório elaborado pelo Grupo

de Trabalho do Litoral (GTL), liderado pelo professor Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.Este docente afirmou, em entrevista ao Alto Risco, que se não forem tomadas as medidas de proteção adequadas da costa, aumenta o risco de inundações. Fil ipe Santos Costa alertou ainda para uma possível falta de financiamento para estes projetos por parte da União Europeia.

Entrevista O estudo re fere que a a l i -mentação ar t i f ic ia l ent re o Douro e o Mondego vai ter um custo aproximado de 780 mi lhões de euros

durante 30 anos. De que forma vai apli-car esse investimento?

Há uma erosão mui to for te em alguns troços da nossa costa, sobre-tudo na que está v i rada a oeste . Is to s ign i f i ca que na lguns loca is a l inha de costa es tá a recuar mais de se is metros por ano em alguns locais. Nou-t ros loca is a a re ia acumula-se . Es te processo de retirada de areia pelo mar, principalmente no troço da foz do Dou-ro até à Nazaré, no passado não t inha consequências pois os r ios traz iam a areia que o mar levava. No século XIX o Douro t ranspor tava um mi lhão de metros cúbicos por ano, agora trans-porta cerca de um décimo desse valor. Nessa época não havia os portos que há hoje, como o da Figueira da Foz e de Aveiro. Os molhes que foram construí-dos acumulam a areia a norte e a sul há um défice de areia.

No troço que vai do rio Minho ao rio Douro o fenómeno é o mesmo, traziam muita areia para o l i toral mas, agora, transportam muito menos. O mar leva sempre a mesma quantidade de areia.

Por estas razões é que tem de haver a alimentação artificial entre o Douro e o Mondego?

Uma das medidas possíve is é nós dizermos que vamos manter a l inha de costa desde o Douro até à Nazaré. Uma opção é al imentar com areia, trata-se de substituir os rios, e encontrar areia suficiente para depositar ali de modo a substituir o equilíbrio.

Fizemos uma estimativa de quanto custava esta opção, com previsão até ao f im do século. Se pensarmos num horizonte temporal assim tão dilatado, acontece que o nível médio do mar está a sub i r e va i aumentar mais de meio metro até ao fim do século.

Isto fo i fe i to em colaboração com uns colegas da Holanda, que têm uma grande exper iênc ia em a l imentação artificial, pois um terço do país encon-tra-se abaixo do nível médio do mar.

Estes valores são uma indicação de quanto esta opção irá custar até ao fim

do sécu lo . Aqu i lo que se gastou nos ú l t imos 20 anos , inc lu indo o que se gastou em 2014 e o que se vai gastar em 2015, uma média de 10 milhões de euros por ano.

O estudo fa la do per igo de ga lga-mento e erosão entre o Douro e o Mon-dego. Estes são os riscos mais urgen-tes neste momento?

Nesse troço temos a r ia de Aveiro, que está protegida pelo cordão dunar, mas no passado não era ass im po is estava aberto para o mar. se não pro-tegermos aquela zona da costa, o mar ent ra para a r ia . É prec iso que es te Governo e os próx imos dec idam se vamos defender aquele troço à holan-desa ou fazendo o que for poss íve l . A disponibi l idade de verbas da União Europeia para acorrer a estas despesas não é uma coisa que esteja completa-mente garantida.

Quem v ive e desenvo lve uma a t i -v idade económica junto à costa , tem motivos para estar preocupado com a questão da erosão costeira?

Depende mui to do loca l em que a pessoa tenha essa atividade ou a resi-dência . No passado f izeram-se cons-t ruções em dunas , mas o mar a inda es tava longe . Const ru i r em c ima de dunas tem o risco de o mar poder avan-çar e é muito provável que continue a acontecer.

Aque las const ruções que es tão mui to per to das dunas , essas casas podem ser protegidas, mas é preciso saber quanto custa fazer isso.

Se não forem tomadas medidas de proteção qua is os per igos mais ime-diatos e de médio prazo para a costa portuguesa?

Se não houver proteção nem a l i -mentação artificial, o mar avança mais. A probabi l idade de haver inundação é mui to maior e teremos uma s i tuação semelhante à que ocorreu nos dois pri-mei ros meses de 2014, com aque les temporais.

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Outro dos alertas deixados pelo Grupo de Trabalho da Utal pren-de-se com a insustentabilidade do atual modelo de financiamento das obras de proteção do litoral.

Os especialistas notam que entre 1995 e 2014 estas obras custaram 196 milhões de euros, mas só para reparar os estragos provocados pelos temporais do início deste ano foram gas-tos 23 milhões de euros, vindos do Orçamento do Estado ou de fundos comunitários. “Nos horizontes de médio e longo prazo não é eco-nomicamente sustentável considerar apenas a proteção pelo que será necessário adotar progressivamente estratégias de acomodação e relocalização, assim como fontes de financia-mento alternativas”, recomendam.

Segundo o relatório, a solução pode estar, por exemplo, na lei sobre o domínio público hídrico. “No limite, as parcelas de terreno iden-tificadas em zonas de risco elevados seriam integradas no domínio público marítimo onde os valores indemnizatórios seriam negociados nos pressupostos que estas parcelas e o respe-tivo edificado não poderiam ser vendidos, tran-sacionados ou herdados”, sugerem, alertando que caso não sejam tomadas medidas deste tipo a gestão da zona costeira vai tornar-se “insustentável” para o erário público.

O GTL considera “imprescindível” que uma instituição da administração central se assuma “plenamente” como responsável pela gestão integrada da zona costeira. Caso contrário, esta “continuará a fazer-se de forma deficiente, frequentemente de forma casuística, reativa, inconsequente, e com custos médios mais ele-vados para o erário público”.

Financiamento “insustentável”

Gabinete Jurídico

gadora.O regime de horário flexível pode ser

prorrogado até dois anos, sendo que a partir do terceiro filho, o limite passa para três anos. No caso de um filho com defi-ciência ou doença crónica, este limite é de quatro anos. Além disso, este regime não implica qualquer redução salarial.

Se pretende trabalhar a tempo parcial ou em regime de horário de trabalho fle-xível deve solicitá-lo ao empregador, por escrito e com antecedência de 30 dias e nesse pedido deverá constar a indicação do prazo previsto, dentro do limite aplicá-vel para usufruir do horário flexível e uma declaração onde conste que o menor vive com o pai ou mãe em comunhão de mesa e habitação.

Depois de apresentado o pedido, a entidade empregadora apenas pode recu-sá-lo tendo como fundamento exigências imperiosas do funcionamento da empre-sa ou na impossibilidade de substituir o trabalhador, se este for indispensável. A resposta da entidade patronal, terá que ser comunicada ao trabalhador no prazo de 20 dias e no caso de recusa, esta terá que ser fundamentada. Posteriormente, o trabalhador deverá apresentar por escrito uma apreciação no prazo de cinco dias a contar a partir da receção da mesma.

Nos cinco dias subsequentes ao fim do prazo para apreciação pelo trabalha-dor, a entidade empregadora terá que enviar o processo para apreciação pela entidade competente na área de igual-dade de oportunidades entre homens e mulheres –Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), com cópia do pedido, do fundamento da decisão de recusa do pedido e com a apreciação do

Conciliar o trabalho com as responsabilidades familia-res não é uma tarefa fácil, na medida em que por vezes os horários de traba-lho são pouco compatíveis

com os horários das creches e jardins--de-infância disponíveis em Portugal.

A solução para estes situações (em que os trabalhadores não têm com quem deixar os seus filhos) é o pedido de horá-rio flexível de trabalho para pais e mães com filhos menores de 12 anos, portado-res de deficiência ou com doença crónica, independentemente da idade, nos termos do disposto no artigo 56.º do Código do Trabalho, o qual refere que horário flexí-vel de trabalho é “aquele em que o tra-balhador pode escolher dentro de certos l imites, as horas de início e termo do período normal de trabalho.”

É ainda estipulado que o horário fle-xível deve conter um ou dois períodos de presença obrigatória que tenham a dura-ção igual a metade do horário normal de trabalho diário (quatro horas num horário de trabalho diário de oito horas). Ou seja, um trabalhador que tenha um horário normal de oito horas diárias pode passar a ter apenas quatro horas fixas de traba-lho por dia, permitindo assim maior flexi-bilidade nas horas de entrada e de saída.

Note-se ainda que o trabalhador que trabalhe em regime de horário flexível pode efetuar até seis horas consecutivas de trabalho e até dez horas de trabalho em cada dia normal de trabalho, sendo que deve cumprir o correspondente perí-odo normal de trabalho por semana (40 horas) num período de quatro semanas, a combinar com a sua entidade empre-

trabalhador.Por sua vez, esta entidade dispõe de

30 dias para notificar a entidade empre-gadora e o trabalhador do seu parecer, que será favorável à entidade emprega-dora se não for emitido dentro do prazo. Se o parecer for favorável ao trabalhador, então a entidade empregadora só poderá recusar o pedido após a decisão proferida em Tribunal, que reconheça a existência de motivo justificativo para a fundamen-tação apresentada.

Mulheres grávidas e a amamentar podem recusar banco de horas, horas extraordinárias ou trabalho à noite

As alterações ao Código do Trabalho facilitaram também a implementação do banco de horas, que passará a ser possível por negociação direta entre empregador e trabalhador.

A referida Lei laboral determina, no entanto, que a trabalhadora grávida, puérpera (que está nos 120 dias seguin-tes ao parto) ou lactante (a amamentar) tem direito a ser dispensada destes regi-mes de flexibilidade nos termos em que eles se aplicam à generalidade dos traba-lhadores: adaptabilidade, banco de horas ou horário concentrado.

Por outro lado, as trabalhadoras grá-vidas ou os trabalhadores com fi lhos menores de um ano não estão obrigados a prestar trabalho extraordinário.

No que concerne ao trabalho notur-no, está dispensada de trabalhar entre as 20 horas e as 7 horas do dia seguinte a mulher que esteja num período de 112 dias antes e depois do parto (pelo menos metade do qual antes da data prevista para o parto) bem como as mulheres que amamentam.

Flexibilidade no horário de trabalhoProteção da maternidade e da paternidade - Horário específico, na modalidade de horário flexível. Assistência a filho com idade inferior a 12 anos, portadores de deficiência ou com doença crónica, independentemente da idade.

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Braga

Quartel dos Sapadores de Braga

O novo quartel dos Bombeiros Sapadores de Braga vai ser construído no lugar de Serrão ou Valadinhas, freguesia de Dume, com 52076.00 metros

quadrados. De acordo com a memória des-critiva e justificativa do projeto, a que o jor-nal Alto Risco teve acesso, no espaço “há uma clara intenção quanto à hierarquização e separação funcional dos espaços”. Desta-cam-se quatro volumes: o edifício principal, o parque de viaturas e socorros a náufragos, a casa escola e arrecadações exteriores de apoio.

No bloco principal e no piso 0 deverá situ-ar-se a receção e todas as áreas de comando, formação, administração e áreas de aloja-mento e vestiários.

O documento especifica ainda pormeno-res sobre os materiais utilizados para a cons-trução de “vãos exteriores”, em “caixilharia de alumínio com rutura de ponte térmica, anodi-zado acetinado à cor natural e vidro duplo 6/8mm Todas as portas e “esquadrias inte-riores serão estrutura favo-de-abelha e faces a composto fenólico 3mm”.O documento, datado de 1 de outubro de 2014, prevê como prazo de execução 180 dias.

O atual quartel dos Bombeiros Sapadores de Braga

Maquete do novo quartel dos Bombeiros Sapadores de Braga

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A segurança começa em cada um de nós

A ANBP tem pugnado, desde 1998, por um cidadão mais esclareci-do e por cidadão mais at ivo na sua proteção e segurança quer no âmbito prof issional

quer no âmbito particular.Ao longo destes últ imos dezasseis

anos muito se tem legislado, obrigando as organizações e entidades patronais a promoverem a formação entre os seus colaboradores, contudo a questão de fundo não é a formação profissional.

Em nosso entender, a cultura de segurança é um direito e uma obrigação “Constitucional” para que o progresso e evolução da sociedade portuguesa sejam uma realidade. É aquilo a que se chama a cultura de uma CIDADANIA ATIVA, e que deve ser cultivada e promovida logo no seio da família e acompanhada e traba-lhada nos meios de ensino, e a começar logo no pré-escolar, ao exemplo do que se passa nos países mais desenvolvidos.

Uma criança informada será sempre

ensinamentos, enchem-nos de orgulho. Afinal, era somente isto que nós preten-díamos – a primeira intervenção funcio-nou tal como nós sempre pedimos a todo o cidadão.

Também neste sentido não poderia deixar de lançar o repto aos leitores des-

um adulto responsável.É verdade que se tem trabalhado

em diversas áreas, câmaras e ministé-rios, mas quase sempre de uma forma esparti lhada, não dando os frutos que se desejam.

No âmbito dos estatutos desta asso-ciação, está patente uma premissa que é da formação ao cidadão, adultos e crian-ças, em matéria de segurança e prote-ção civil. Aliás, um dos projetos que tem projetado esta associação pela positiva é o Zé Baril – Mestre da Proteção Civil, inserido no programa Escola Viva, Segu-rança Ativa, que muitos ensinamentos tem transmitido aos mais novos e tam-bém aos professores e auxi l iares de educação, nomeadamente em primei-ros socorros, utilização de extintores e medidas de evacuação.

Na realidade, as demonstrações de gratidão por parte dos adultos e a alegria e demonstração de uma rápida aprendi-zagem pelas crianças, em situações reais em que os mesmos já foram protagonis-tas e conseguiram pôr em prática esses

Técnico

Diretor Nacional da ANBPDr. Domingos Morais

Zé Baril, Mestre da Proteção CIvil

ta revista, para que sejam eles também o veículo de informação e impulsionadores deste projeto escolar junto dos estabe-lecimentos escolares onde tenham os vossos filhos ou nas suas relações pro-fissionais ou de outra natureza para que Cultura de Segurança chegue mais longe e ajude as crianças de hoje a serem os homens e mulheres de amanhã.

Mas também não é só nas escolas que esta cultura de segurança tem sido incutida. Cada vez mais as solicitações por parte das organizações e entidades patronais são demonstradas à ANBP através dos pedidos que nos têm sido endereçados.

Nestes últimos meses do ano, e por-que também estamos num ano de crise e incerteza, a segurança é uma área que tem sido sempre relegada para últ imo plano, pondo em causa a cultura de segurança no seio profissional.

A Lei é clara na obrigatoriedade de tal formação, mas as sensibilidades e cons-trangimentos financeiros são um eterno problema. Contudo, quase sempre no final de ano, há sempre algum dinheiro que se poupou, e que vai servir para a dita formação e quase sempre muito dis-putada por todos os departamentos de uma organização.

A gestão desta formação também em si é uma dif iculdade para quem tem a responsabi l idade de a contratar e pôr em prática, mas tudo se torna mais fácil quando existem pessoas em cargos de responsabi l idade que entendem que a segurança é uma prioridade na valoração dos seus at ivos (colaboradores), e na manutenção e continuidade do negócio e atividade.

A todos eles a ANBP agradece pelo seu esforço e clarividência.

Como nota da continuidade e dos objetivos a que se propuseram para uma cultura de segurança profissional e pes-soal, destacamos a Secretaria Geral do Ministério das Finanças, nas pessoas que sempre estiveram relacionadas com a segurança deste espaço ministerial.

A ANBP tem, desde 2008, efetuado palestras, onde a temática principal era sensibil idade dos colaboradores deste ministério para a segurança e para os riscos inerentes ao edifício, bem como para os seus comportamentos em caso de sinistro, em que houvesse a necessi-

que os formadores eram confrontados, eram o espelho da preocupação e von-tade de aprender a resolver de uma for-ma rápida e prát ica por parte dos for-mandos. Salientaram diversas vezes a construção do edifício, a sua responsa-bil idade no seio do governo, os riscos por eles identificados, bem como toda a documentação valiosa que se encontra em arquivo.

Também aqui, por parte dos forma-dores da ANBP, foi demonstrada essa preocupação em dotar os formandos de ferramentas necessárias e ao alcance dentro dos seus locais de trabalho, para que a sua ação de segurança fosse efe-tiva.

Os formandos que compunham os vários grupos criados, demonstraram avidez de conhecimento e grande inte-resse na sua participação nestas temá-t icas. Al iás, havia colaboradores que estavam interessados em fazer todos os módulos, e que caso não o pudessem fazer este ano, iriam pedir para o fazer em 2015.

O reconhecimento da ANBP, por par-te da Secretaria Geral do Ministério das Finanças, para que a formação fosse rea-lizada, enche esta associação de orgulho e, ao mesmo tempo, demonstra que cla-ramente a aposta na segurança do cida-dão e da sua organização ou entidade profissional vai para lá de uma simples necessidade, tornando-se um desígnio nacional.

dade de uma evacuação. Estas palestras t iveram sempre o

objet ivo de acompanhar a informação do Plano de Emergência Interno e tam-bém dar alguns “inputs” que, na nossa ótica de bombeiro e técnicos de prote-ção civil, eram importantes e deviam ser af inados, para que a sua transmissão aos colaboradores do ministério fosse esclarecedora.

Ainda assim, os responsáveis desta Secretaria, não se quiseram ficar somen-te por palestras, iniciando rapidamente formação específica em primeiros socor-ros e combate a incêndios que, e bem em nosso entender, não se dirigiu exclusiva-mente aos colaboradores que integram a Organização de Segurança do edifício mas, sim, aberta aos demais colabora-dores sem função atribuída no seio da segurança.

Esta formação em nosso entender teria sempre de passar uma componente teórica e uma componente prática, o que na realidade aconteceu.

A part icipação, as questões levan-tadas, os testemunhos vividos, acabam sempre por ser a ponte entre a teoria e a prát ica, levando a uma maior pro-fundidade na abordagem de temas mais sensíveis.

E se na teoria a participação era ati-va, na componente prática a participa-ção superou as expetativas que os for-mandos tinham. Em toda a formação, as questões e os exemplos de acidentes/sinistros que poderiam acontecer e com

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Apresentação livro “Alice quer ser bombeira”

O olhar de uma criança sobre os Bombeiros é o ponto de par-tida para a história contada por Gabriela Caldeira, dirigido ao público infanto-juvenil – “Alice quer ser bombeira”.

Na sua primeira obra, Gabriela Caldeira pretendeu recriar a figura da bombeira no imaginário das crianças, através da personagem principal do livro – a Alice, uma menina que quer ser bombeira. Esta história retrata a

realidade de muitos lugares do nosso país, onde o quartel dos Bombeiros constitui o ponto de encontro de todas as gentes, de todas as idades e condição social.

A apresentação do livro decorreu no quartel da Associação Humani-tária dos Bombeiros Voluntários do Montijo (AHBVM), a 9 de dezembro, onde estiveram presentes o padre Vítor Melícias, o presidente da Câma-ra Municipal do Montijo, Nuno Canta, entre outros convidados.

A autora exerce a sua atividade profissional há seis anos na Liga dos Bombeiros Portugueses. “Desde então ganhou uma particular admiração por estes homens e mulheres que protagonizam um con-junto de valores humanistas, essenciais à vida em comunidade”, sublinha em declarações ao Alto Risco.

Reportagem

Os bombeiros sob o olhar de uma criança é o ponto de partida para a história contada por Gabriela Caldeira no livro “Alice quer ser bombeira”, dirigido ao público infanto-juvenil.

O livro foi apresentado pelo Professor Doutor Padre António Melícias

“É uma aventura para continuar”

Como surgiu esta ideia de fazer um livro infantil com a temática dos bombeiros?

Isto foi um desafio lançado pelo meu marido. Na altura, estava a decorrer um con-curso literário de escrita infantil e decidi acei-tar este desafio. Resolvi concorrer com este livro “Alice quer ser Bombeira”.

Qual a inspiração que teve para escrever este livro?

Antes de trabalhar na Liga (de Bombei-ros Portugueses), não tinha a noção do que era ser bombeiro. Agora, após estes anos de

contacto com realidade do que é ser bom-beiro, ganhei admiração pelo trabalho que desenvolvem a favor da comunidade e dos sacrifícios que fazem.

A personagem principal do livro, a Ali-ce, descobre o que é ser bombeira. Foi uma forma de mostrar, através dos olhos de uma criança, esta profissão?

Aproveitei os conhecimentos que adquiri neste contacto com os bombeiros e resolvi recriar uma história onde a protagonista fos-se uma criança – a Alice – vendo, através dos

seus olhos, o que é ser bombeiro.

Este livro vai ter continuação?Vamos ver qual a aceitação que o livro vai

ter junto do público. Depois, se tudo correr bem, a história da Alice vai ter continuação mas numa outra perspetiva.

Entrevista a Gabriela Caldeira, autora do livro “Alice quer ser bombeira”

Pub

A autora Gabriela Caldeira

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“Protocolo vai dar mais sustentabilidade financeira aos bombeiros”

Quais as principais alte-rações verificadas no âmbito da proteção civil no concelho do Montijo, desde que iniciou o seu mandato?

As nossas prin-cipais preocupações têm sido junto das associações de bombeiros, em particular da Associação de Bombeiros Voluntários do Montijo e a Associação dos Bombeiros Voluntários de Canha. Temos duas corpora-ções de bombeiros, uma vez que temos um território bastante vasto, com duas áreas geográficas distintas.

Trabalhamos com estas corporações para encontrarmos as soluções mais ade-quadas, não só à sustentabilidade de cada um dos quartéis e de cada uma das institui-ções, mas, também, ao socorro e à emer-gência que temos vindo a disponibilizar à população.

Pode dar alguns exemplos desse apoio?Por exemplo, na compra de ambulân-

cias para as duas corporações. Também apoiamos a recuperação e manutenção de veículos mais especializados como a auto--escada. Também prestamos apoio com os equipamentos de primeira intervenção e de segunda intervenção.

Estamos neste momento a trabalhar num novo protocolo de colaboração entre os bombeiros do Montijo e de Canha e a Câma-ra Municipal, para que possamos sustentar de uma forma mais consistente, do ponto de vista financeiro, estas associações.

No âmbito da proteção civil, há situa-ções que estejam a precisar de ser resol-vidas?

Temos questões sempre permanentes e, de algum modo, latentes, mas a proteção civil no Montijo responde com grande eficá-cia., quer a proteção civil a nível municipal assim como a colaboração com as corpora-ções de bombeiros.

As questões relacionadas com o fogo urbano e florestal, em particular na área de Canha, também é um aspeto muito impor-

tante. Temos ainda o apoio que prestamos à Ponte Vasco da Gama, em particular à entrada que vem de sul para Lisboa.

A proteção civil do Montijo tem ações de sensibilização junto dos alunos?

Fazemos muitos simulacros nas esco-las. E muitas atividades com as crian-ças. Praticamente todos os trimestres temos ações concretas em várias escolas do concelho, em particular nas escolas secundárias mas, também, nas esco-las do 1º e 2º ciclo, do ensino básico. As crianças aqui no Montijo são, desde muito cedo, envolvidos em treinos de proteção individual, que lhes permite ter uma resposta mais eficaz no caso de uma eventual emergência.

Os sismos são uma situação particu-larmente relevante aqui nesta zona e temos muitos simulacros nessa área, assim como em estruturas municipais e empresariais, onde envolvemos a população nestas ações.

O presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, que esteve na apresentação do livro, considera a colaboração com os bombeiros do concelho como um dos pilares essen-ciais no sistema de proteção civil. O autarca, de 46 anos, eleito pelo PS em 2013, sublinha a importância das ações de sensibilização na área da proteção civil junto dos alunos das escolas do concelho.

Entrevista Challenge Crossfire Portugal

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Zé Baril

Ao longo do ano, a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais realizou várias ações Zé Baril de Norte a Sul do país. No ano que agora termina, deixamos uma retrospetiva das iniciativas realizadas com a mascote da ANBP.

Mais um ano de Zé Baril pelo país!

Alcochete

Alenquer

Carnaxide

Coimbra

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Valongo

Matosinhos

Lisboa

Montijo

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Passatempos de NatalNesta quadra festiva, a Revista Alto Risco dedica este espaço a jogos de família, quebra-cabeças e palavras cruzadas, para todos os gostos e idades.

Une os pontos:

Ajuda o Pai Natal a encontrar as prendas:

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Foto-reportagem

O Natal nos quartéis dos corpos de bombeiros sapadores, municipais ou voluntários é assinalado todos os anos com a construção de presépios. São os elementos das corporações que se encarregam desta missão natalícia!

Natal nos Bombeiros!

Bombeiros Municipais Figueira da Foz

Bombeiros Voluntários de Fafe Companhia Bombeiros Sapadores de Coimbra

Bombeiros Voluntários de Barcelinhos

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Bombeiros Municipais de Tavira

Bombeiros Voluntáros de Vila Real de Santo António Bombeiros Municipais de Viseu

Bombeiros Voluntários de Gouveia

Bombeiros.pt

Bombeiros Voluntários de Penafiel

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52 ALTO RISCO Dezembro 2014 Dezembro 2014 ALTO RISCO 53

ASSINE JÁ!Jornal da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais Instituição de Utilidade Pública

Diretor: Filomena Barros Nº.179 - ano 16 Outubro/Novembro de 2014 Publicação Mensal Preço: €0,50 (iva incluído)

Alt Risco

Bombeiros e Chefiasquerem respostas para crise no RSB

Deputado do Partido Socialista, Miguel Freitas, em entrevista

“É fundamental que o estatuto do bombeiro seja consolidado”

SUPLEMENTO DO JORNAL ALTO RISCO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE BOMBEIROS PROFISSIONAIS

(instituição de utilidade pública)

N.º51 | 6ª Série | Dezembro 2014

Zé BarilMestre da

ProteçãoCivil

Realização de atividades na área

da proteção civil nas escolas

Informações:E-mail:[email protected]

Telefone:21 394 20 80

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