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An. Filos. São João del-Rei, n. 10. p. 203-220, jul. 2003
TEORIA DO SENTIDO EM DELEUZE
Luiz Manoel Lopes*UNIOESTE
Resumo: O propósito deste artigo é o de apresentar a teoria do sentido em Deleuzeinserida em um contexto filosófico contemporâneo. O nosso percurso seguirá as indica-ções de Deleuze em “Lógica do sentido”, sobretudo quando indica que o sentido foi des-coberto três vezes: a primeira, como lekton pelos estóicos no século III a C, a segunda,como complexe significabile, por Gregório de Rimini no século XIV e a terceira no séculoXIX, como objektiv, por Alexius Meinong. O nosso estudo se deterá nesta ultima, devidoao nosso interesse em pesquisar a lógica do sentido como um problema na filosofiatranscendental. Nos propomos a estudar tal problema, a partir do paradoxo das repre-sentações sem objeto o qual tem sua origem, no século XIX, em Bernhard Bolzano. Oparadoxo das representações sem objeto remete para a questão do sentido. O que nospermite afirmar que este encontra-se nas origens da fenomenologia e da filosofia analíti-ca. A teoria do sentido em Deleuze, deste modo, pode ser apresentada como fora destasduas correntes de filosofia contemporânea.
Palavras-chave: Deleuze. Filosofia transcendental. Sentido. Filosofia contemporânea.
Introdução
ste trabalho pretende aproxi-mar-se da difícil obra do filó-sofo francês Gilles Deleuze,
ainda pouco explorada e raramentecompreendida - tomando, no en-tanto, como base alguns trabalhosesclarecedores, que servirão de es-tímulo e apoio em nossa pesquisa -que se centrará na obra: “Lógica dosentido”.
Deleuze, nesta obra, articula o senti-do à noção de incorporal - cuja ori-gem é a filosofia estóica -, e por estavia procura mostrar uma linha depensamento que percorre a históriada filosofia desde o século III a C. Onosso propósito será explorar a teoriado sentido de Deleuze, procurando
indicar sua inserção no âmbito filosó-fico contemporâneo.
Segundo Deleuze, o sentido apareceem três momentos diversos: primei-ramente entre os estóicos no séculoIII a.C.; uma segunda descobertasendo feita no século XIV por Gregó-rio de Rimini1 e Nicolas d’Autrecourt;
1 Elie, H. Le Complexe Significabile, Paris,Vrin, 136, p.7: “Em suas Categorias ( Cap. X,12 b). Aristóteles disse: ‘A afirmação é umenunciado (ëïãïò ) afirmativo, a negação umenunciado negativo. Quando as coisas que secolocam sob uma dessas enunciações, nãopoderíamos dizer que são julgamentos: sãocoisas’. Em 1344, um monge italiano, Gregó-rio de Rimini, estimou, que nessa passagem,por coisa (ðñáãìá ) o Estagirita não teriaquerido falar de coisa exterior existente, masde uma entidade não existente que se exprime
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e uma terceira vez, como objektiv2,no século XIX, com o filósofo alemãoAlexius Von Meinong.3
De início, pode soar um pouco estra-nho o fato de Deleuze ter escrito umlivro apoiado em Meinong4, mesmo
por um complexo, «especialmente pela oraçãoinfinitiva. Considerava essa ‘coisa’, significa-do total e adequado da proposição, como edenominou-o ‘Significado por complexo’(Complexe significabile).”2 Cf. Elie, H. Le Complexe Significabile,Paris, Vrin, 1936, p.148. “Do mesmo que aspalavras e as frases possuem uma dupla fun-ção, a de exprimir nossas experiências interio-res ou idéias, e de significar os objetos dessasexperiências, também as proposições expri-mem nossos julgamentos ou assunções esignificam alguma outra coisa. Essa ‘algumacoisa’ que julgamos e examinamos é, segundoMeinong, uma entidade a qual ele denomina‘Objektiv’ que, reservando nesse momentotoda a questão de terminologia, traduziremospara o francês por ‘objectiv’. Se, entendemospor ‘objeto’ todo o objeto do conhecimentoem geral, diremos que os objetos se dividemem duas classes: os objetivos e os objetos nosentido estrito da palavra (esses que são ex-pressos por uma palavra ou frase)”.3 Deleuze cita o livro de Hubert Elie, LeComplexe Significabile, Paris, Vrin, 1936.como a fonte em que aparecem as semelhan-ças entre as doutrinas de Gregório de Rimini,Nicolas d’Autrecourt e as teorias de Meinong,sem deixar de assinalar que este autor nãoindica a origem estóica do problema.4 José Oscar de Oliveira Marques in A Onto-logia do Tractatus e o Problema do Sa-chverhalte Não- Subsistentes esclarece que aposição de Meinong acerca dos objetos puros:“Para Meinong, quando se julga que um certoobjeto (eg, a montanha de ouro, ou o círculoquadrado) não existe, esse julgamento é,ainda assim, acerca desse objeto, embora sejasua inexistência que torna o julgamento ver-dadeiro. Restringir o domínio dos objetos à scoisas reais ou existentes tornaria inexplicá-vel, para Meinong, a ocorrência de julga-mentos verdadeiros de inexistências, pois taisjulgamentos seriam acerca de nada, isto é
após Bertrand Russell5 ter atacado aposição do lógico alemão acerca doobjektiv6. Desse modo, Deleuze rom-
sequer seriam genuinamente julgamentos.Reciprocamente, ter-se-ia que admitir quetodo genuíno julgamento de existência seriasempre verdadeiro, pois seus objetos seriamsempre objetos existentes. Para evitar estasituação paradoxal, Meinong postula que osobjetos enquanto tais são neutros à existênciaou inexistência (doutrina do Außersein doobjeto puro). É certo que um objeto inteira-mente absurdo como o círculo quadrado (masnão a montanha de ouro), traz consigo a ga-rantia de sua inexistência , mas ele deve ser,ainda assim, ser capaz de configurar no con-teúdo do julgamento que assevera sua inexis-tência. É isso que permite, em última instân-cia, que o julgamento de que o círculo qua-drado não existe seja, afinal, diferente de quea montanha de ouro não existe, pois seusobjetos, embora inexistentes, são distintos etêm propriedades distintas (doutrina da inde-pendência do Sein e do Sosein)”.5 Bertrand Russell no Cap XXXI: A filosofiada análise lógica, in : História da FilosofiaOcidental VIII, São Paulo, Companhia Edito-ra Nacional, 1977. p.385, comenta que a teo-ria das descrições trata de designar uma pes-soa ou uma coisa não pelo seu nome, mas simpor alguma propriedade que se supõe ou sesabe peculiar e afirma: ‘Suponhamos quedigo: ‘A montanha dourada não existe, esuponhamos que o leitor pergunte: ‘Que é quenão existe?’ Pareceria que, se eu dissesse ‘amontanha dourada, estaria atribuindo a elauma espécie de existência. Evidentemente nãoestou fazendo o mesmo tipo de afirmação quefaria se dissesse: ‘O quadrado redondo nãoexiste’. Isto pareceria implicar que a monta-nha dourada é uma coisa e que o quadradoredondo é outra, embora nenhum dos doisexista. A teoria das descrições era destinada aresolver esta e outras dificuldades”.6 Bertrand Russell, Lógica e Conhecimento,São Paulo, Abril Cultural, Col. “Os Pensado-res”, 1978, p.89. “Meinong sustenta queexiste um objeto tal como o quadrado redon-do somente que ele não existe, e nem mesmosubsiste, mas apesar disto existe tal objeto, equando dizemos ‘o quadrado redondo é uma
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pe com toda a tradição inauguradapor Frege e se estende por BertrandRussell. Qual a importância daquestão do sentido para Deleuze? Oque pode ser construído, em filosofia,a partir dessa abordagem? É espan-toso como Deleuze tende mais paraMeinong do que para Frege7, o quede imediato nos leva a consideraçãodo sentido como entidade não-existente, ou seja, à tese capital dolivro. No desenvolvimento de suafilosofia, após o livro “Lógica do sen-tido, assistiremos a afirmação de quea filosofia é uma disciplina que tratada criação e invenção de conceitos. Atese de Deleuze é que o conceitoremete ao acontecimento. Ora, pro-curaremos distinguir e compreendercomo se dá esta passagem do livro“Lógica do sentido” para o livro “Oque é a filosofia?”. No primeiro, aquestão do sentido está diretamenterelacionada a proposição; já, no se-
ficção’, ele considera que existe um objeto ‘oquadrado redondo’ e existe um predicadoficção. Ninguém com um senso de realidadeteria analisado aquela proposição. Teria vistoque a proposição requer uma análise de talmodo que não tenhamos que considerar oquadrado redondo como um constituinte da-quela proposição. Supor que no mundo realda natureza existe todo um conjunto de pro-posições falsas que se dizem é para a minhamente algo de monstruoso. Não me consigopersuadir em supô-lo. Não posso acreditarque existem no sentido que existem os fatos”.7 O nosso espanto aqui se dá, sobretudo porser a partir de Frege que a questão da propo-sição e sentido começa a ser delineada culmi-nando em Wittgenstein. Tal espanto, tambémé fruto do silêncio de Deleuze em relação aoTracatatus Lógico-Philosophicus de Wi-ttgenstein onde aparece o tema da proposiçãoe sentido de modo inteiramente original. Oque aconteceu para que tal silêncio paira-sesobre Lógica do sentido?
gundo, o sentido remete ao conceito.A idéia de acontecimento dá ao con-ceito um aspecto diferente daquelepensado por Aristóteles. Desta ma-neira, o pensamento de Deleuze pro-cura apontar novas saídas para afilosofia. O nosso contacto com omundo, dando-se através da superfí-cie das coisas, nos faria apreenderalém das coisas e suas imagens osacontecimentos que as envolvem.Deleuze quer tornar relevante a idéiade que a linguagem e a superfícieestão relacionadas. O que pensamose falamos sobre as coisas passa pelasuperfície. O estatuto da idéia é su-perficial. A linguagem, somente atin-ge a significação quando se dá nasuperfície. A significação somente épossível pelo sentido que a envolve.O acontecimento sinaliza para o sen-tido como a proposição para a lin-guagem. O que deve ser esclarecidoé que Deleuze aposta no conceitofilosófico como incorporal.
Cláudio Ulpiano nos indica, em seutrabalho Afetos: um sorriso, um ges-to, como se dá essa aproximaçãoque Deleuze faz entre Meinong e osestóicos na “Lógica do sentido”:
O circulo quadrado, do qual jamais po-
deremos constituir uma forma, o exclui,
em definitivo, do campo existencial. A
impossibilidade do círculo quadrado,
seu absurdo é em si- absoluto e incon-
dicionado. Em qualquer situação, o cír-
culo quadrado estará sempre em im-
possibilidade existencial. Objeto im-
possível, inconcebível na série causal,
física e lógica. Logo, sua aparição se
dá na outra série – na série temporal,
que os estóicos nomeiam como sendo
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a linha aiônica – a do acontecimento,
semelhante à s linhas da plástica barro-
ca, do rosto de Joana d’Arc e de seus
cruéis julgadores, teólogos e juristas”8.
Por outro lado, há também um fascí-nio do autor da Lógica do sentidopela obra de Lewis Carroll; diantedesta, procura mostrar que a obralógica de Carroll difere de sua obrafantástica exatamente pelo trata-mento dado ao sentido.
É exatamente neste mundo plano do
sentido-acontecimento, ou do expri-
mível-atributo, que Lewis Carroll ins-
tala toda a sua obra. Disso decorre a
relação entre toda a obra fantástica
assinada Carroll e a obra matemático-
lógica assinada Dodgson. Parece difí-
cil aceitar que se diga, como já se fez,
que a obra fantástica apresenta sim-
plesmente a amostra das armadilhas
e dificuldades nas quais caímos
quando não observamos as regras e
as leis formuladas na obra lógica. Não
somente porque muitas das armadi-
lhas subsistem na própria obra lógica,
mas porque a partilha parece nos ou-
tras9.
O apreço de Deleuze por Lewis Car-roll fá-lo afirmar que este, ao distin-guir diferentes modos de tratar o sen-tido, sinaliza também para a diferen-ça entre significação e sentido.
8 Cláudio Ulpiano, Afetos: um sorriso, umgesto, in: Pontos de Fuga: Visão, Tato eOutros Pedaços, Rio de Janeiro, Taurus,1996, p.116.9 Gilles Deleuze, Lógica do sentido, traduçãode Luiz Roberto Salinas Fortes, São Paulo,Perspectiva, 1974, p.23
É curioso constatar que toda a obra ló-
gica diz respeito diretamente à signifi-
cação, à s implicações e conclusões e
não se refere ao sentido a não ser indi-
retamente – precisamente por intermé-
dio dos paradoxos que a significação
não resolve ou até mesmo que ela cria.
Ao contrário, a obra fantástica se refere
imediatamente ao sentido e relaciona
diretamente a ela a potência do para-
doxo. O que corresponde os dois esta-
dos do sentido, de fato e de direito, a
posteriori e a priori, um pelo qual o in-
ferimos indiretamente do círculo da
proposição, outro pelo qual o fazemos
parecer por si mesmo desdobrando o
circulo ao longo da fronteira entre as
proposições e as coisas10.
O livro: “Lógica do sentido” parecelançar-nos numa contracorrente filo-sófica, sobretudo, por tentar situar-sefora da linha platônica-aristotélica.Entretanto, este abalo nos induz,cada vez mais, em direção à pesqui-sa filosófica, forçando-nos a procuraruma maior aproximação com os te-mas apresentados. Deleuze mostraque a origem do problema do sentidoé a filosofia estóica; de modo que,nesse aspecto, procuraremos seguiros textos referentes ao tema, fazendoincursões naqueles que remetem aoestatuto dos incorporais.11
A filosofia antiga, como sabemos, éum forte pilar para a compreensão
10 Idem, ibdem, p.2311 Os textos em que Deleuze pesquisa estestemas são: La Theorie des incorporels dansl’ancien stoicisme, Paris, Vrin, 1928 de ÉmileBrehier e Le systeme stoicien et l’idée detemps, Paris, Vrin, 1953 de VictorGoldschimdt.
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dos diversos temas que percorrem ahistória da filosofia. O nosso projeto,em torno do livro “Lógica do sentido”,procurará também demonstrar a suaimportância para o ensino filosófico.Donde, podemos dizer que o estudoda lógica dos estóicos servirá de pe-dagogia para a compreensão, porexemplo, da diferença entre a lógicados termos e a lógica das proposi-ções. É oportuno afirmar que estetermo, lógica, foi forjado pelos estói-cos; antes deles, o modo correto ecoerente de raciocinar era o queAristóteles chamava de analítica.
Os estóicos admitem que no limitedos corpos e das coisas ocorremefeitos de superfície. É no plano dafísica que se encontram os corposcom seus limites e tensões internas.Os corpos são causas uns para osoutros de certos efeitos de superfície.O plano da lógica diz respeito aosincorporais, aos acontecimentos eaos laços dos efeitos entre si. A im-portância que Deleuze dá para osentido, como acontecimento incor-poral – o qual não possui as caracte-rísticas de uma coisa e nem de umestado de coisas – permite-lhe consi-derar que os estóicos tratam positi-vamente aquilo que Platão chamavade simulacros. O que seria esta posi-tividade? Platão dava o nome de si-mulacro a tudo aquilo que se furtavaa Idéia. Os estóicos concebem queno limite dos corpos dão-se os acon-tecimentos, os quais são expressospela proposição. Os simulacros pla-tônicos sobem a superfície e tornam-se sentido. Os incorporais estóicosdividem-se em quatro modos: o ex-
primível, o vazio, o lugar e o tempo.12
O exprimível é tratado com um esta-tuto “positivo”, ou seja, é o que nospermite falar dos acontecimentos queocorrem no mundo envolvendo ascoisas e estados de coisas.
A realidade lógica, o elemento principal
da lógica aristotélica é o conceito. Esse
elemento para os estóicos é uma coisa
inteiramente outra; não é nem a repre-
sentação (öáíôáòéá) que é a modifica-
ção da alma por um corpo exterior;
nem a noção (å í í ïéá), que se forma na
alma sob a ação de experiências se-
melhantes. Na realidade é alguma coi-
sa de inteiramente nova que os estói-
cos denominam exprimível (ëåêôïí).13
O estatuto do sentido, a partir da filo-sofia estóica, tem no exprimível, nolekton, seu ponto de partida. Deleuze,na Lógica do sentido, procura mostraros filósofos que tratam o sentido demodo direto, fazendo-o aparecer nafronteira entre as proposições e ascoisas. Pela via dos incorporais, eleacredita que temos um novo modo depensar a lógica, sobretudo pelo fatodo princípio de não-contradição nãoatingir os incorporais. (Desde Aristó-teles14, este princípio fundamenta egarante a verdade das premissas, econseqüentemente permite observarse, de premissas verdadeiras, se-
12 Sextus Empiricus, Adv. Math, X.218, in LesStoiciens, Paris, PUF, 1973, p.53.13 Emile Bréhier, La Theorie des incorporelsdans l’ancien stoicisme, Paris, Vrin, 1980,p.14.14 Os estudiosos de lógica paraconsistentesassinalam que Aristóteles já apontava parauma derrogação do princípio de não-contradição. Lukasiewski e Vassileiev sãodois lógicos que afirmam esta tese.
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guem-se necessariamente conclu-sões verdadeiras, ou seja, a prova davalidade dos argumentos). Nesselivro, ele também estabelece umarelação entre o sentido e o tempo,destacando a dimensão presente –que pertence aos corpos, o reino deCronos -, e o tempo dos incorporaisdenominado Aion. Na linguagem, osubstantivo e os verbos apareceriamrelacionados a essas dimensões dotempo.
O trabalho, enfim, procurará desen-volver essas questões que passampela história da filosofia e trazem umaluz para a compreensão da pesquisadeleuziana, assinalando que o seupropósito é o de construir uma novaimagem do pensamento. Nesse sen-tido, o autor, em certo momento dolivro, rompe com os estóicos, afir-mando que estes não resistiram atentação de relacionar o aconteci-mento à causalidade física, e citaLeibniz como o primeiro grande teóri-co do acontecimento. A tese de De-leuze é pensar o acontecimento, osentido, inteiramente independentede qualquer aspecto redutor, seja elefísico, lógico ou psicológico. O acon-tecimento não se reduz a nenhumacoisa, indivíduo ou pessoa, antes osenvolvem.
Logique du sens é um texto profunda-
mente afetado pela cisão causal; é sua
essência, do texto, a cisão causal e to-
das as suas conseqüências: que lhe
são imensas. O extra-ser, como a parte
inefetuada do acontecimento é a obra
de Deleuze. Uma idéia propriamente
estóica, para a qual o pensamento se
volta a fim de suprimir a psicologia, as
causalidades físicas, as contradições
lógicas e através de ressonâncias,
ecos, correspondências não-causais,
compatibilidades e incompatibilidades
alógicas: o acontecimento puro, con-
ceber uma nova imagem do pensa-
mento.15
Deleuze, ao longo de sua obra, ob-serva que sempre pensou o aconte-cimento16; tal observação, nós pode-mos comprovar em seu livro: “O queé a filosofia?” quando procura mos-trar que esta disciplina trata da cria-ção de conceitos. Desse modo, tudoo que tinha sido desenvolvido a partirde Lógica do sentido, em relação aoacontecimento e sentido, é retomadoe modificado. A contra-efetuação doAcontecimento é relacionada aocampo transcendental sem sujeito, aoplano de imanência, a uma vida; con-ceitos que aparecem, sobretudo, emseu último texto escrito publicado em1995 em um número especial da re-vista Philosophique produzido em suahomenagem: “A imanência: umavida”.
A paixão de Deleuze pela filosofialeva-o afirmar que o conceito filosófi-co jamais deve ser reduzido a funçãocientífica; o conceito filosófico diz
15 Cláudio Ulpiano, O Pensamento de Deleu-ze ou A Grande Aventura do Espírito, Tese deDoutoramento apresentada ao Departamentode Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciên-cias Humanas da UNICAMP sobre a orienta-ção do Prof. Dr, Luiz. B. L. Orlandi, p.77.16 Gilles Deleuze, Conversações tradução dePeter Pal Pelbart, Rio de Janeiro, Ed. 34,1992, p.177. “Em todos os meus livros bus-quei a natureza do acontecimento; este é umconceito filosófico. O único capaz de destituiro verbo ser e o atributo”.
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respeito somente ao acontecimento;Deleuze entra em confronto com to-das as posições filosóficas que ten-tam tirar da filosofia a condição realde criar e inventar conceitos. A cria-ção de conceitos é inseparável dascircunstâncias, dos acontecimentosque envolvem a vida do filósofo emseu mergulho no pensamento.
Bento Prado Júnior aponta a inserçãoda filosofia de Deleuze no âmbitocontemporâneo.
A crítica deleuziana a subjetividade
como fundamento é menos uma origi-
nalidade de sua filosofia do que um
ponto pacífico de toda reflexão con-
temporânea de vocação antifenome-
nológica, da filosofia analítica aos fa-
mosos ‘desconstrucionismos’, passan-
do por todos os neopragmatismos (o
naturalista, norte-americano, e o trans-
cendental, alemão) e por todos os es-
truturalismos. O que a distingue, talvez,
é ver no sujeito fundante (cartesiano,
kantiano, husserliano e mesmo hegeli-
ano – cf. Gerard Lebrun, O avesso da
dialética, São Paulo, Cia das Letras,
pp.254-7) um sujeito essencialmente
representativo e submetido ao regime
de identidade, arque unificadora e sín-
tese prévia da experiência capaz de
exorcizar toda forma de diferença re-
belde. Trata-se de inverter a linha de
pensamento, para leva-la para algo
como um camporévio, pré-subjetivo e
pré-objetivo, donde constituir tanto su-
jeito como objeto.17
17 Bento Prado Junior, A Idéia de “Plano deImanência” , in Gilles Deleuze: uma vidafilosófica, São Paulo, Ed. 34, 2000, p.34.
Deleuze investe numa nova imagemdo pensamento. Esta imagem, não éapenas para salvar o reino das me-táforas, pois sabemos que tangenciaa poesia; nem tampouco para ficar-mos apenas no domínio da conota-ção; trata-se de uma revitalização dafilosofia, de um acréscimo diferencialnesta disciplina que percorre os sé-culos.
O campo transcendental é a-subjetivo.
É ininteligível sem o modelo de uma
nova imagem do pensamento. Esta
nova imagem confronta-se com o re-
conhecimento, com a recognição e
todo o seu séqüito – sobretudo a cor-
relação sujeito-objeto. Para se enten-
der o pensamento como ato de cria-
ção, como rompimento com o eu pes-
soal, é necessário arrancá-lo de suas
possibilidades abstratas, separa-lo do
senso comum e do bom senso. Noutra
linguagem, quebrar por dentro o es-
quema sensório-motor. Para fazer apa-
recer o eu dissolvido – um conjunto de
eus larvares contraentes e contempla-
tivos. Liberar as singularidades nôma-
des das individualidades fixas e do su-
jeito finito – rompendo com o equívoco
de considerar que esta prática conduzi-
ria a um abismo indiferenciado. Ao
contrário, será, sim, alguma coisa que
não é nem individual nem pessoal; que
não será nem formal nem informe; mas
o aformal puro. Ë a renovação quando
o transcendental perde a forma da
consciência e expande a sua aventura
involuntária.18
18 Cláudio Ulpiano, Afetos: um gesto, umsorriso, in; Visão, Tatos e Outros Pedaços,Rio de Janeiro, Taurus, 1998, p.116.
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O trabalho tratará de apresentar,através da teoria do sentido, os mei-os e vias que nos permitam desen-volver com consistência os pormeno-res desta renovação da filosofia.
Dando, por exemplo, prosseguimentoas investigações iniciadas em nossadissertação de mestrado, procurare-mos fazer um paralelo entre uma teseque aparece em Lógica do sentido,que, de um certo modo, pode serconsiderada inversa à tese bergsoni-ana exposta em sua crítica à idéia deNada. Nesta crítica Bergson mostra,por diferentes vias, que jamais po-demos pensar o Ser após o Nada. Ailusão teórica, o falso problema daanterioridade do Nada sobre o Ser édissipada. O Ser é a realidade quepossui duração. Entretanto, o incor-poral não é o Nada. Deleuze, de ou-tro modo, esforça-se por nos mostrar,com a idéia de Acontecimento queeste apesar de não existir, possuisentido e realidade. A realidade doAcontecimento é de natureza dife-rente da dos corpos, como já disse-mos, é incorporal; não é um ser, masum extra-ser. Enfim, é nesta direçãoque aparecerão as conexões reais eas conjugações virtuais. A comunica-ção entre acontecimentos resultanuma lógica que trata o sentido forado campo da representação e dasignificação.
O Problema do Sentido na Filo-sofia Contemporânea
O nosso trabalho começará indicandoa origem do problema do sentido nafilosofia contemporânea, sobretudosublinhando os pensadores que con-
tribuíram para que a questão se de-senrolasse do modo que pretende-mos estudá-la. Iniciaremos por des-tacar dois pensadores que irãoacrescentar muito para o trabalhoque pretendemos desenvolver sobrea teoria do sentido em Deleuze; éoportuno lembrar que Deleuze no seulivro: “Lógica do sentido” faz algumascitações em relação à “controvérsia”que envolve os filósofos Meinong eBertrand Russell, porém são citaçõesligeiras. Tais citações nos levam atentar aprofundarmos a pesquisabuscando os pontos principais quesão discutidos nesta controvérsia.Não começaremos por confrontar afenomenologia com a filosofia analíti-ca, mas sim dois pensadores quefazem parte, ainda que indiretamente,destas escolas. Meinong, não é pro-priamente um fenomenologo, mas éinfluenciado pela linha de pensa-mento que descende dos filósofosaustríacos aparecidos no século XIXorientados pelos trabalhos de Ber-nhard Bolzano – que era tcheco denascimento. Tais filósofos propõemum afastamento de Kant, ou seja,deixam de ter uma preocupação níti-da com o sujeito voltando-se para oobjeto19. Bertrand Russell, como
19 Bento Prado Junior, em“Presença e campotranscendental: consciência e negatividadeem Bergson, São Paulo : Edusp, 1964, ensi-nou-nos como Kant, na refutação do idealis-mo – analítica transcendental da Crítica daRazão Pura – teria mostrado a dependência daconsciência em relação ao objeto externo.Neste sentido a fenomenologia seria herdeirade Kant, por considerar a tendência para oobjeto como bem indicou o filósofo deKönisberg. Deste modo, considerar que osfilósofos austríacos, liderados por Bolzano,afastam-se de Kant é estranho, pois o idealis-
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sabemos, é um dos mais importantesnomes da filosofia da análise lógica,uma vez que foi a partir de seu con-tato com Frege que procurou pesqui-sar a forma lógica da proposição foradas categorias de sujeito e objeto20.
1.1 Bertrand Russell e Meinong
O presente trabalho, ao tratar daquestão do sentido, insere-se numadiscussão que ocupa um capítuloimportante na história da filosofia: acontrovérsia entre Bertrand Russell eMeinong. O lógico inglês quando pro-cura expor, em Lógica e Conheci-mento, o que entende por denotaçãodepara-se com duas teorias: a deMeinong e a de Frege as quais, se-gundo ele, não satisfazem o seu pro-pósito. A teoria dos objetos de Mei-nong e a teoria do sentido e referên-cia de Frege seriam destituídas pelateoria das descrições de Russell.
De início, Russell apresenta os moti-vos pelos quais a teoria de Meinong
mo transcendental não prescinde do realismoempírico. Kant afirma que a minha existênciasomente pode ser experimentada em relação aexistência de objetos exteriores a mim. Arealidade, mais imediata, segundo Kant, não éa interna, e sim a externa. O tempo possuidependência em relação ao espaço e, tambémo sentido íntimo depende do sentido externo.
20 Luiz Henrique Lopes dos Santos in Russell(1872-1970) Vida e Obra, São Paulo, AbrilCultural, 1978, p.VII afirma: “A análise lógi-ca das proposições matemáticas e o contatocom as doutrinas lógicas de Peano (1858-1932) e Frege (1848-1925) levaram Russell areconhecer a irrelevância lógica das categori-as de sujeito e predicado, e particularmente aincorreção da análise de proposições queenunciam relações entre objetos, fundadasobre tais categorias.
não é satisfatória, sobretudo, porconsiderar toda e qualquer expressãodenotativa, gramaticalmente correta,como representante de um objeto etambém por infringir o princípio decontradição.
Por conseguinte, ‘o atual rei da Fran-
ça’, ‘o quadrado redondo’, etc., su-
põem-se ser objetos genuínos. Admite-
se que tais objetos não subsistem,
mas, entretanto, eles são supostos ser
objetos. Esta é em si mesma uma
perspectiva difícil; mas a principal ob-
jeção é que tais objetos, reconhecida-
mente, estão prontos a infringir a lei de
contradição. Sustenta-se, por exemplo,
que o existente atual rei da França
existe e também que não existe; o que
o quadrado redondo é redondo e tam-
bém não redondo, e também não re-
dondo etc. Mas isto é intolerável; e se
puder estabelecer qualquer teoria para
evitar este resultado, esta deve ser
certamente preferida21
O texto de Russell é esclarecedorprincipalmente no que tange ao nos-so conhecimento sobre Meinong. Écomum ouvirmos considerações so-bre Meinong pela ótica de Russell, oque nos deixa com idéias inadequa-das a respeito de sua filosofia. A teo-ria de Meinong é apresentada de ummodo que nos deixa sem entenderqual é o seu propósito. Não nos restaoutra alternativa a não ser a de apre-sentar o próprio Meinong; o que tam-bém nos permite enfocar o ponto departida das preocupações de Russell.Tal enfoque também nos deixa com 21 Bertrand Russell, Lógica e Conhecimento,tradução de Pablo Rubén Mariconda, SãoPaulo : Abril Cultural, 1978, p.6.
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uma visão mais próxima das ques-tões que envolvem a filosofia con-temporânea, sobretudo, no que dizrespeito à fenomenologia e à filosofiaanalítica. A teoria da denotação aqual Russell diz ser proveitosa nãoapenas para a lógica e a matemática,mas também para todo o conheci-mento, tem sua origem justamentenesta controvérsia com Meinong22.
22 Luiz Henrique Lopes Santos em texto pro-fundamente esclarecedor nos mostra queRussell entra em contro- vérsia com Meinongquando procura solucionar o problema deexpressões denotativas que tentam denotarobjetos tipo: “o atual rei da França” mostran-do-os como símbolos incompletos e não comoelementos independentes da proposição, po-rém com significados em contexto. “O pres-suposto de que toda expressão denotativadenota algo acarreta problemas insolúveis;torna impossível, por exemplo, a negação deexistência. Tome-se por exemplo a proposi-ção “O atual rei da França não existe”; se elafor reconhecida como significativa, dever-se-ia reconhecer a existência de algo denotadopor “o atual rei da França” e, portanto, a fal-sidade da proposição. Nenhuma negação deexistência seria então verdadeira, pois suasignificatividade implicaria necessariamentesua falsidade. Uma linha de solução, assumi-da entre outros por Meinong (1853-1921),consiste em distinguir entre existência e sub-sistência e exigir que expressões denotativasdenotem não apenas entidades existentes massimplesmente subsistentes. Sem falar na obs-curidade da noção de subsistência, se essadistinção resolvesse o problema no que con-cerne a “o atual rei da França’, certamentenão o resolveria no que concerne a “o círculoquadrado”, visto que o caráter contraditóriodas proposições que a entidade supostamentedenotada por essa expressão deveria possuirimpede até mesmo que seja admitida comosubsistente, seja qual for o sentido que se dê a“subsistência”. Problemas semelhantes pode-riam ser também levantados com respeito aexpressões como “um centauro”, “todos osanjos”, etc. Cf. Russell (1872-1970) Vida eObra, São Paulo, Abril Cultural, 1978, p.VIII.
Neste sentido é oportuno apresen-tarmos o próprio Meinong esclare-cendo o seu propósito.
Que não se pode conhecer sem co-
nhecer algo; mais genericamente, que
não se pode julgar e também não re-
presentar sem julgar sobre algo ou re-
presentar algo, isto pertence ao mais
evidente sob uma consideração ele-
mentar dessas experiências. Que no
domínio da suposição não é diferente,
eu pude mostrar sem recorrer a um
exame especial, embora a pesquisa
psicológica sobre isso mal tenha co-
meçado. O problema é mais complexo
no caso dos sentimentos, onde a lin-
guagem, sem dúvida, mais nos induz
ao erro, com a indicação do que se
sente, o gozo, a dor, assim como a pi-
edade, a inveja, etc., e no caso dos
objetos, na medida em que, a despeito
do testemunho da ocorrência muito cla-
ra na linguagem, sempre tem-se que
enfrentar a eventualidade de desejos
que não desejam nada. Mas, mesmo
aqueles que não compartilham a minha
opinião – qual seja, tantos os senti-
mentos quanto os desejos não são fa-
tos psíquicos independentes porque
eles são representações a título de
inelutável “pressuposição psicológica”
– concederão sem reservas que se
goza de alguma coisa, que se interes-
sa por alguma coisa e, ao menos na
extrema maioria dos casos, que se não
quer ou deseja sem querer ou desejar
qualquer coisa, em suma, ninguém ig-
nora que o processo psíquico tão fre-
qüentemente esteja de par com esta
propriedade de “ser orientada para
algo” que se está bem perto de ver nis-
so um aspecto característico que dis-
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tingue o que pertence ao psíquico do
que não é da ordem psíquica23.
A citação acima nos faz buscar recur-sos para tentarmos compreender emque ponto Russell pode desqualificara empresa de Meinong. A preocupa-ção do segundo é com a diversidadede casos que se apresentam quandoestamos direcionados para algo. Oconhecimento, segundo ele, não podeser estudado sem seu objeto. O ob-jeto do conhecimento cumpre estatendência, de modo que, quando per-guntamos pelo conhecimento, estáimplícito que estamos direcionadospara o objeto do conhecimento. Destemodo quando queremos conhecer,por exemplo, os casos em que esta-mos direcionados para nada, deve-mos perguntar se o nada é um objetoou apenas um sentido. A postura deMeinong é tratar cientificamente estescasos, por isto a pertinência de suasindagações nos faz olhar Russell comcerta desconfiança.
Todavia, não é a tarefa das considera-
ções seguintes explanar porque eu te-
nho esta suposição como a melhor
fundada a despeito das muitas dificul-
dades que a ela se opõem. Os casos
em que a referência, o estar expres-
samente orientado para ‘algo’ ou, como
se diz muito grosseiramente, a um ob-
jeto, são tantos que se impõe, mesmo
que seja para dar conta desses casos,
que a questão acerca de a quem cabe
23 Alexius Meinong, Sobre a Teoria dosObjetos, (tradução de Celso R. Braida, noprelo, p.1 (Original A Meinong, Über Ge-genstandtheorie; Selbstdarstellung; Mit. Einl.,Bibliogr. U. Reg.hrsg. von Josef M. Werle;Hamburg, Meiner, 1988. ppl-51).
tratar de maneira científica estes obje-
tos não deve permanecer sem res-
posta.
A questão de Meinong envolve a ci-ência do objeto que possa explicar adiversidade de casos em que esta-mos orientados para “nada. Em suaspesquisas já aparece uma preocupa-ção com o que atualmente chama-setransdisciplinaridade. A existência deuma “zona neutra” entre os diversosdomínios teóricos que procuram pen-sar o objeto, somente dificulta o en-contro desta ciência. Meinong expõemagistralmente que a existência deuma zona neutra é eficaz no domínioprático, por permitir a relação de boa-vizinhança – a interpenetração defronteiras é caso de conflito. Já nodomínio teórico, caso as fronteirasnão se interpenetrem não existiráavanço na ciência do objeto. A zonaneutra separa os diversos domíniosteóricos causando a estagnação daciência do objeto.
Interrogar-se sobre um determinado
domínio do saber, negligenciado a
ponto de ele não ter reconhecido ao
menos a medida de sua especificidade,
eis o que visa o problema aqui posto
de saber qual é de fato o lugar, de
qualquer maneira legítimo, do trata-
mento rigoroso do objeto enquanto tal
e em sua generalidade; trata-se da
questão seguinte: existe entre as disci-
plinas reconhecidas por sua proveni-
ência científica uma ciência onde se
pode encontrar um tratamento rigoroso
do objeto enquanto tal ou, ao menos,
onde tem valor esta exigência?.24
24 Idem, ibdem.
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A indagação de Meinong tem umaresposta negativa por não termosconhecimento de um tratamento rigo-roso que tenha sido dado ao objetopor parte de qualquer ciência. A pes-quisa de Meinong segue examinandoo que ele denomina: “pré-juízo a fa-vor do efetivo” sendo neste ponto queaparecerá o “objektiv” o qual remete-rá para o sentido dos objetos queexistem quanto dos que não existem:a doutrina do “Auâersein”, ou seja, daindiferença do objektiv em relação àexistência quanto à subsistência. Taldoutrina afirma que o objektiv estáfora do ser, o que é conseqüência dareflexão sobre a tendência que pos-suímos em favorecer o efetivo. Oensinamento que se retira desta dou-trina é que os objetos ideais, apesarde não existirem, são passíveis deentrarem no rol do conhecimento.Tome-se como exemplo os númerose as relações entre eles, diz Meinong.Todavia não é este o ponto que que-remos destacar, e sim aquele queremete aos objetos subsistentes. Opreconceito, a favor daquilo queexiste, deixou sua marca na históriada filosofia quando se procurou en-contrar uma ciência que subsumissetodos os objetos existentes. A metafí-sica foi considerada como a ciênciaprimeira que forneceria os funda-mentos para as ciências particularessendo definida como: “a ciência doser enquanto ser”.
O pré-juízo a favor do efetivo consistejustamente nisto, ou seja, em nãolevar em conta objetos subsistentes.A replica de Meinong visa sobretudoà questão do julgamento onde o ver-dadeiro e o falso aparecem sustenta-
dos pelo objektiv. O julgamento ne-gativo não poderia ter sentido se oobjektiv, fora do ser, não o garantis-se. Meinong mostra-nos que paraalém da não existência do sujeito dojuízo há o objektiv. Deste modo, po-deríamos discernir as várias espéciesde julgamentos negativos. O que aMetafísica diria sobre este aspecto?
Quando se recorda a que ponto a Me-
tafísica sempre teve a intenção de in-
tegrar ao domínio de suas colocações
o mais próximo como o mais distante,
o maior como o menor, pode parecer
estranho que ela não possa assumir a
tarefa que estamos evocando pela ra-
zão que, malgrado a universalidade de
suas intenções, a Metafísica não teve
sempre, de longe, a visada suficiente-
mente universal para ser uma ciência
do objeto. A Metafísica lida, sem dúvi-
da, com a totalidade do que existe.
Mas, a totalidade do que existe, inclu-
indo aí o que existiu e o que existirá, é
infinitamente pequena em relação a
totalidade dos objetos de conheci-
mento; e que se tenha negligenciado
isto tão facilmente tem, bem entendi-
mento, o seu fundamento no fato que o
interesse vivo pelo efetivo, que está em
nossa natureza, favorece este excesso
que consiste em tratar o não-efetivo
como um simples nada, mais precisa-
mente, a trata-lo como algo que não
oferece ao conhecimento nenhum
ponto de apreensão ou nenhum que
seja digno de interesse.25
Meinong diz que os objetos ideais osquais são dotados de subsistência(bestehen), mas em nenhum caso de
25 Idem, ibdem.
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existência (existierien), mostram oquanto esta tendência é insustentá-vel.
O sentido seria muito fácil de ser de-finido como alguma coisa que se si-tua entre as coisas e as proposições.Ora, não discordamos que assimpossa ser definido, porém é necessá-rio avançarmos em nosso estudoapresentando nuances que tornam otrabalho filosófico cada vez mais es-timulante. A pesquisa remete aospontos que são citados por Deleuzeem Lógica do sentido, mas não expli-citado em seus pormenores. O nossotrabalho consiste em trazer a luz es-tas contendas filosóficas apontandopara aquilo que Deleuze quer tratarcom um problema que percorre afilosofia ao longo dos tempos. O sen-tido foi descoberto por Meinong comoobjektiv afirma Deleuze. Entretanto,nós temos que ir atrás dos problemase, sobretudo da critica de Russell aMeinong apresentando-a, dentro deseu contexto.
O tratamento rigoroso em relação àciência do objeto, o qual foi exigidopor Meinong, teve através da filosofiavarias teorias. Husserl, por exemplo,afirmou o ato intencional como doa-dor de sentido. O noema - situadoentre a noesis e a coisa - estaria pró-ximo do objektiv. Em Lógica do senti-do é justamente o que vemos, umavez que Deleuze cita Husserl comoum filósofo que lhe permite pensar osentido como entidade não existente.A escola de Husserl e Meinong servepara Deleuze pensar o sentido. pró-ximo do exprimível preconizado pelosestóicos. Hubert Elie é citado por
Deleuze como aquele que apresentaa importância de Gregório de Rimini ede Meinong, porém sem citar a ori-gem estóica do problema. Deleuzeaponta que desde a filosofia antiga –século III a C - o problema do sentidovem percorrendo a história da filoso-fia. O nosso propósito é a aprofundaresta indicação de Deleuze em rela-ção a Meinong, por considerarmosque é a partir do século XIX que co-meçam as pesquisas de Bolzano emtorno das representações em objeto.Meinong começou a ter conheci-mento sobre tais questões a partir deTwardowski. Os filósofos austríacos,sobretudo os da escola de Brentano– Husserl, Twardowski e Meinong –são bastante influenciados pelas es-peculações de Bolzano. Tais pesqui-sas giram em torno do problema dosjulgamentos falsos. Vários pensado-res inscrevem-se neste propósito; aescola de filósofos austríacos - con-siderando o sentido como fruto de umato intencional - será confrontadapela filosofia analítica. Frege será ofilósofo que dará o respaldo necessá-rio para que o ato lógico seja pensa-do de modo diferente do ato psicoló-gico. Husserl ao receber esta influên-cia de Frege tratará de fazer da fe-nomenologia o fundamento da lógica.
Deleuze tece vários comentários so-bre o noema husserliano, porém emdeterminado ponto do texto começapor indicar a insuficiência da doaçãode sentido proveniente da fenome-nologia. Tal insuficiência, a primeiravista, parece provir da comparaçãocom “a estrutura”, uma vez que adoação de sentido fenomenológicanão apresenta o elemento paradoxal,
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o ponto aleatório que ele denominasimultaneamente: casa vazia e objetosupranumerário; lugar sem ocupantee ocupante sem lugar. A doação desentido deriva, através da inspiraçãoda estrutura, do não-sentido; sendoque neste aspecto podemos observarporque Deleuze não segue a consci-ência intencional como doadora desentido. O noema apesar de se situarentra as proposições e as coisas – asquais são consideradas duas sériesheterogêneas – não poderia serapreendido como o não-sentido quedoa sentido. O não-sentido que opõe-se ausência de sentido serve muitomais a Deleuze para que, de outromodo, faça remissão a um campotranscendental como aquele queSartre pensou a partir da Le Trans-cendence de l’Ego. A fenomenologia,como vemos, não deixa de estarsempre próxima das consideraçõesde Deleuze acerca do sentido. En-tretanto, a crítica ao campo transcen-dental sartreano não tardará a serfeita. Deleuze, no entanto conserva anoção de campo transcendental re-metendo-o para o sistema metaestá-vel de Gilbert Simondon. O pontomais importante desta viragem – aqual começa a nos remeter para aontologia – é a indicação de que osentido é produzido e não dado comouma essência. A Lógica do sentido éum problema dentro da filosofiatranscendental. A filosofia transcen-dental começa apontar para um cam-po transcendental sem as formas daconsciência e do sujeito. Seria possí-vel em algum tempo e lugar ensinaruma filosofia fora da consciência e dosujeito? O campo transcendental édenominado por Deleuze: mundo das
singularidades nômades e anônimas,impessoais e pré-individuais. Simon-don inspira Deleuze a indicar cincocaracterísticas do campo transcen-dental, a saber: 1) As singularidades-acontecimentos correspondem à sséries heterogêneas que se organi-zam num sistema meta-estável. 2) Assingularidades gozam de um proces-so de auto-unificação sempre móvele deslocado na medida em que umelemento paradoxal percorre as séri-es faz ressoar as séries envolvendoos pontos singulares em um mesmoponto aleatório. 3) As singularidadesou potenciais freqüentam a superfí-cie. 4) A superfície é o lugar do senti-do: os signos
Meinong parece continuar servindo aDeleuze, devido ao objektiv dos ob-jetos subsistentes não remeter aconsciência. O campo transcendentalpré-subjetivo e pré-objetivo esboça-se aqui para mais tarde ganhar umaimportância maior ao longo do livro.A indicação de que Meinong continuaa servi-lo é apontada quando Deleu-ze começa a pensar a 6a série: ”So-bre a colocação em séries” onde pelaprimeira vez é feita remissão a Ja-cques Lacan. A 5a série: “Do Parado-xo” onde Deleuze termina por citar oparadoxo dos objetos impossíveis deMeinong alinhava-se com os ele-mentos paradoxais que percorrem asséries da estrutura. A doação de sen-tido é dada pelo não-sentido que nãotem a forma de uma consciência fe-nomenológica. Deleuze, como já ti-nha afirmado que os objetos contra-ditórios são plenos de sentido, ali-nhava a teoria do objeto de Meinongcom a estrutura. Como podemos ver
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ao longo de toda obra não faz ne-nhuma crítica ao filósofo de Graz.Entretanto, de imediato caímos emum problema, pois não sabemos seDeleuze vai das concepções estrutu-ralistas à filosofia antiga ou destaaquela.
O livro começa, em sua primeira sériede paradoxos: “Do puro devir”, citan-do Lewis Carroll e os paradoxos queaparecem em “Alice no país das ma-ravilhas”; em seguida começa a partepropriamente filosófica onde é feita aremissão a Platão sobre a dualidadedo limite e do ilimitado contida noFilebo. Os paradoxos começam a serpensados em relação à linguagem eo Crátilo também é citado. Na segun-da série de paradoxos: “Do sentido”,os estóicos começam a ser apresen-tados através da distinção entre oscorpos e os incorporais. Os estóicos,diz Deleuze, são amantes de parado-xos e estes são os incorporais, osefeitos de superfícies que possuemuma natureza diferente das dos cor-pos. Os corpos possuem limites emseus contornos, ações e paixões queemanam de suas profundidades. Osincorporais são ilimitados, impassí-veis, efeitos que acontecem na su-perfície dos corpos. O acontecimentotem sua diferença para os estados decoisas justamente por não apresentaras características das coisas; nãoexiste, mas, antes subsiste ou insistenas coisas. O acontecimento ocorrenas coisas e é expresso pela propo-sição.
Deleuze, a partir da segunda série deparadoxos, começa a apontar para areversão que os estóicos operam na
filosofia. De inicio, poderíamos dizerque esta reversão dá-se em relação adois filósofos: Platão e Aristóteles.Em relação a Platão a diferença é aseguinte: a Idéia platônica deixa deser um modelo, uma causa exemplare constitui-se como um efeito de su-perfície.; os estóicos atribuem comosendo efeitos todo o tipo de idealida-des, ou seja, os exprimíveis: não ascoisas, mas aquilo que se pensa e sediz sobre elas. Os corpos com suastensões e limites tem as característi-cas da substância. A diferença paracom Aristóteles dá-se justamente emrelação à s categorias que se repor-tam à substância. Nesse sentido, éque podemos constatar a inovaçãoestóica; os acidentes em Aristótelesse dizem como ser no outro, ou seja,sem a substância não seriam; dondese conclui que possuiriam hierarqui-camente um nível inferior à substân-cia. Os estóicos revertem - segundoDeleuze apoiado em Emile Bréhier eVictor Goldschimdt - este procedi-mento por apontarem para os corposcomo possuidores de ser, o que im-pede que existam graus hierárquicosno interior de sua substancialidade.Tomemos, como exemplo, uma árvo-re verde; para Aristóteles essa árvoreé uma substância que é denominadao ser em si; o acidente verde possuium grau inferior em relação à subs-tância árvore por existir em funçãodela. Deste modo, os estóicos rever-tem Aristóteles por dizerem que aárvore e o verde possuem ser, mas overdejar é um acontecimento na su-perfície da árvore verde. A hierarquia,em relação ao Ser, é destituída emprol de uma outra relação que envol-ve os corpos e incorporais. O termo
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mais alto, diz Deleuze, não é mais oSer, mas Alguma coisa que envolveos corpos e incorporais.
1.2 Bolzano e Meinong
As questões que viemos apontando,desde o inicio deste trabalho, reme-tem à s especulações tecidas porBernhard Bolzano acerca das repre-sentações sem objeto. O desenvol-vimento de tais questões chegou atéMeinong via Twardowski. Bolzano no§ 67 da Wissenschaftlehre apresentaa questão das representações em si;o seu propósito é elucidar que asrepresentações subjetivas possuemcomo conteúdo uma representaçãoobjetiva, mas nem toda representa-ção objetiva remete para uma repre-sentação subjetiva. As representa-ções em si levaram-no à s especula-ções do paradoxo das representa-ções sem objeto. Entretanto, a ques-tão das representações sem objetoparece contradizer o que tinha sidoafirmado acerca das representaçõessubjetivas. Não é difícil compreenderque toda representação subjetivaremeta para uma representação ob-jetiva, mas não é fácil compreenderque representações em si sejam re-presentações objetivas e sem objeto.Bolzano elucida que representaçõesdo tipo: “nada”, “virtude viciosa”, “cír-culo quadrado” não possuem objeto.
Tais representações possuem rela-ções intrínsecas com a proposiçãosendo neste aspecto que não possu-em objeto. No caso da representaçãodo nada não encontramos objeto al-gum, mas Bolzano aponta que talrepresentação possui uma relaçãointrínseca com a proposição. O con-teúdo semântico é que possibilita aquestão do nada. O propósito deBolzano não é esclarecer que o nadanão passa apenas de uma palavra.Não é seu objetivo afirmar que onada seja uma palavra formada porquatro letras onde duas são vogais eduas consoantes. A sua especulação,também não visa de modo nenhumelucidar que a palavra nada sejaconstituída de dois fonemas: “na” e“da”. Bolzano não quer dizer que osdois fonemas somente possuem dife-rença quando relacionados entre si. Asua pesquisa não caminha em dire-ção ao simbólico. Na proposição:“Não existem quadrados redondos”; osujeito não é “os quadrados redon-dos”, mas as representações de qua-drados redondos. Deste modo, suasespeculações remetem ao conteúdosemântico estando estritamente liga-da a linguagem. A sua postura não éintencionalista, pois não pensa asrepresentações em si como sendoobjetos de um ato intencional.
* Luiz Manoel Lopes é doutorando do Programa de pós -graduação em Filosofia daUFSCar – Universidade Federal de São Carlos – SP, sob a orientação do Prof. Dr. BentoPrado Júnior.
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