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    LARA, Camila Veiga de; VOLPI, Jos Henrique. Lowen e Dejours: juntos a favor da sade e da qualidadede vida no trabalho. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIASCORPORAIS, XVII, XII, 2012. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2012. [ISBN 978-85-87691-22-4].Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos. Acesso em: ____/____/____.

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    ____________________________________________________CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA

    Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000(41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

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    LOWEN E DEJOURS: JUNTOS A FAVOR DA SADE E QUALIDADE DEVIDA NO TRABALHO

    Camila Veiga de LaraJos Henrique Volpi*

    RESUMOChristophe Dejours em sua teoria e tcnica concede palavra lugar dedestaque. Alexander Lowen, sem desvalorizar a palavra, enfatiza o corpo e ainterveno corporal. Nesta proposta, aliamos Anlise Bioenergtica de Lowena Psicodinmica do Trabalho de Dejours como estratgia de atuaoprofissional na melhoria da qualidade de vida no trabalho e dos trabalhadores.Embora o corpus desta pesquisa tenha sido profissionais de enfermagem, ajuno das duas teorias proporcionar aos trabalhadores de qualquer rearecursos para nomear e elaborar o sofrimento causado pelo trabalho.

    Palavras-chave: Bioenergtica. Enfermagem. Psicodinmica do Trabalho.

    Qualidade de vida.

    ..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..- ..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..

    Quando se fala em qualidade de vida, queremos enfatizar o bem-estar

    do ser humano em seus aspectos fsicos, energticos, emocionais e espirituais,

    que o permite encarar os obstculos da vida com serenidade e determinao, a

    fim de super-los com o menor estresse possvel.

    Em se tratando de qualidade de vida no trabalho, podemos afirmar que

    esse um grande desafio, pois o trabalho, um dos elementos que mais

    interferem nas condies de qualidade de vida das pessoas. Vida sem trabalho

    no tem significado, pois por meio dele que sobrevivemos e nos tornamos

    seres participantes e essenciais para a sociedade. Segundo Fernandes (2004,

    p.1) trabalho atualmente significa necessidade e razo de vida, e, lugar

    comum, forma a identidade do indivduo; a profisso caracteriza o seu ser; e o

    indivduo sua profisso.

    Trabalhar permite ao indivduo realizar-se enquanto sujeito, sendo fonte

    de prazer, no entanto, tambm pode ser fonte de sofrimento. O trabalhador

    sofre e adoece quando o trabalho no tem sentido, quando privado da

    possibilidade de adaptar suas tarefas e a organizao do trabalho as suas

    necessidades fsica e psicolgicas.

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    LARA, Camila Veiga de; VOLPI, Jos Henrique. Lowen e Dejours: juntos a favor da sade e da qualidadede vida no trabalho. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIASCORPORAIS, XVII, XII, 2012. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2012. [ISBN 978-85-87691-22-4].Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos. Acesso em: ____/____/____.

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    O trabalho se d atravs do binmio contribuio/retribuio. Em troca de

    todo envolvimento as pessoas que trabalham esperam retribuio e essa

    retribuio um ingrediente essencial da sade mental, isso por que a maioria

    dos indivduos tem falhas em sua identidade herdadas da infncia, sendoassim, Dejours (2007, p. 20) afirma que:

    para a maioria de ns a identidade no se constri apenas a partir doeu, mas a partir da confirmao do olhar do outro [...] a identidade aarmadura da sade mental. Toda descompensao psicopatolgica centrada por uma crise de identidade.

    Ainda segundo Dejours (2007), a dinmica da construo da identidade

    se d em dois campos, o primeiro ntimo ou ertico o amor, o segundo o

    campo social, que passa sempre pelo trabalho, pelo reconhecimento de seu

    fazer. Sendo assim, o trabalho constitui uma segunda chance para construo

    da identidade e da sade mental.

    A sade de uma organizao passa necessariamente pela sade de seus

    trabalhadores. O funcionamento de uma equipe ou organizao ser saudvel

    na medida em que as relaes forem saudveis. Para isso, os conflitos

    precisam ser enfrentados e administrados, tornando o clima

    predominantemente cooperativo. A aprendizagem do relacionar-se s

    possvel atravs da prtica constante do falar de si na relao com o outro.(ALVES e CORREIA, 2007, p. 92)

    A definio da Organizao Mundial da Sade OMS, formulada em

    1948, divulgada na carta de princpios, define sade como sendo um estado de

    bem estar fsico, psquico e social (SCLIAR, 2007). Dejours (2007) acredita que

    sade um ideal desejvel, um ponto de referncia ou de partida, servindocomo base para aes e condutas individuais para tentar conquist-la. Segre e

    Ferraz (1997) propem o conceito de sade como sendo um estado de

    razovel harmonia entre o sujeito e a sua prpria realidade.As patologias relacionadas ao trabalho esto em ascenso. Segundo

    Dejours (2007) as mais preocupantes, atualmente, podem ser reunidas em

    quatro categorias: Patologias da sobrecarga burnout, karshi (morte por

    excesso de trabalho), disfunes msculo-esquelticas; Patologias ps-

    traumticas conseqncias das agresses sofridas no exerccio da atividade

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    profissional; Patologias do assdio consideradas patologias da solido, pois a

    desestruturao dos mecanismos de defesa coletivos e de solidariedade tem

    fragilizado os trabalhadores; Depresses, tentativas de suicdio e suicdio.

    Fundamentamos a construo desta pesquisa nos profissionais daenfermagem, por fazer parte da minha rotina profissional, como psicloga

    organizacional de um hospital, responsvel pela preveno e promoo de

    sade dos trabalhadores.

    Meu interesse em pesquisar esse tema se deu em virtude de perceber o

    quanto os profissionais da enfermagem sofrem e adoecem. Lidam diariamente

    com a dor fsica e emocional de seus pacientes e familiares, com a morte e o

    luto. Sofrem, portanto pela especificidade do trabalho, pela sobrecarga e pela

    falta de condies de trabalho, pela forma como se do as relaes com aschefias, com a equipe mdica e at mesmo com os colegas, sofrem pelo

    excesso de exigncias, enfim adoecem por ter de enfrentar todas essas

    adversidades e ainda lidar com a falta de reconhecimento e valorizao do seu

    trabalho, do seu fazer. Apesar de o foco ser o profissional da enfermagem, a

    proposta pode ser desenvolvido com qualquer classe de trabalhadores.

    A enfermagem surgiu como uma profisso essencialmente feminina,

    relacionada ao ato de cuidar. Foi executada at o final da idade mdia, por

    religiosas, vivas, virgens, tendo como objetivo central a caridade. A

    profissionalizao da enfermagem teve incio em 1854 com Florence

    Nightingale, nobre inglesa, que serviu como voluntria nos hospitais militares

    durante a guerra. No Brasil, nas ltimas dcadas do sculo XIX que se deu o

    processo de profissionalizao da enfermagem, com exigncias de treinamento

    e remunerao.

    O processo de trabalho transformou-se e se complexificou ao longo do

    tempo, tornando o profissional mais autnomo. No entanto, o que antes era

    direcionado para um cuidar holstico do paciente precisou ser fragmentado para

    melhorar a organizao e a produtividade do servio. De acordo com Borsoi e

    Codo esta uma diviso do trabalho, semelhante a uma linha de montagem,

    onde quem circula o funcionrio. Assim o trabalho de cuidar adquiriu o

    carter de mercadoria o que produziu efeitos danosos na sade e no psiquismo

    do trabalhador. (BORSOI & CODO, 1995 apudHADDAD, 2000)

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    LARA, Camila Veiga de; VOLPI, Jos Henrique. Lowen e Dejours: juntos a favor da sade e da qualidadede vida no trabalho. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIASCORPORAIS, XVII, XII, 2012. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2012. [ISBN 978-85-87691-22-4].Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos. Acesso em: ____/____/____.

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    O trabalho do profissional da enfermagem, por sua prpria natureza e

    caracterstica, revela-se suscetvel ao fenmeno do estresse ocupacional,

    devido ao fato das atividades desenvolvidas serem fortemente tensigenas, em

    funo das prolongadas jornadas de trabalho, do nmero limitado deprofissionais, pela dinmica do trabalho que abarca eventos de toda natureza

    como a evoluo repentina do estado de sade de um paciente, pela falta de

    reconhecimento profissional e at mesmo por questes ergonmicas que

    tornam o trabalho ainda mais penoso. De acordo com Ferreira e Martino

    (2006), a Organizao Internacional do Trabalho (OIT) reconhece que

    praticamente todas as profisses padecem de estresse, porm a enfermagem

    apontada como uma das mais estressantes.

    Outro complicador que a dinmica do trabalho da enfermagem noleva em considerao os problemas do trabalhador, enfrentados dentro e fora

    do trabalho; espera-se do trabalhador que ele jamais expresse ao paciente seu

    descontentamento, e esteja sempre sereno, transmitindo ao paciente confiana

    e competncia. Repetindo assim, a mxima do homem moderno, que segundo

    Lowen (1986), no incentivado a ser e sim a fazer faa mais, sinta menos,

    podemos perceber que nesse exerccio de conteno o profissional deixa de

    ser ele mesmo e obrigado a criar papis, usar mscaras, o que segundo

    Lowen gera fadiga, irritabilidade e frustrao.

    Diante desta realidade o profissional esfora-se para prestar uma

    assistncia de qualidade, mas no tem condies de cuidar, pois tambm no

    cuidado. Trabalhadores doentes cuidam de pacientes doentes. Muitos sem

    identificar e entender o que est acontecendo, atuam, faltando ao servio,

    agredindo colegas, pacientes e superiores, desrespeitando normas e por fim,

    adoecendo. Segundo Dejours (2007, p.18) trabalhar no apenas produzir,

    implica necessariamente na transformao do eu.

    A partir dos pressupostos de Lowen (1986), podemos apontar outro fator

    de sofrimento que acompanha esses trabalhadores que a luta interna entre o

    que a pessoa e o que pensa que deveria ser, ou entre o trabalho que

    desenvolve e o trabalho que pensa que poderia desenvolver. Esse conflito,

    muitas vezes inconsciente esgota as energias do indivduo.

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    O mdico americano Alexander Lowen, criou a AnliseBioenergtica na

    dcada de 50, uma forma de terapia, considerada neo-reichiana por incluir

    novos conhecimentos tericos e tcnicos aos trabalhos iniciados por Reich, o

    pai da Psicologia Corporal que segundo Volpi e Volpi (2009, p.13),

    uma das escolas da Psicologia que busca compreender todo servivo como uma unidade de energia que contm em si dois processosparalelos: o psiquismo (mente) e o corpo (soma). Tem por objetivoreencontrar a capacidade do ser humano de regular sua prpriaenergia, e, por conseqncia, seus pensamentos e emoes,podendo alcanar uma vida mais saudvel.

    Na Psicologia Corporal o corpo considerado o inconsciente visvel, j

    que para Reich a histria de cada pessoa est inscrita em seu corpo. A Anlise

    Bioenergtica trabalha corpo e mente a fim de que as pessoas resolvam seusproblemas emocionais e encontrem seu potencial para o prazer e para alegria

    de viver.

    Seu fundamento bsico a relao corpo/mente, bem como a influncia

    da dinmica familiar na estruturao do carter e no conseqente

    funcionamento do organismo.

    Segundo Lowen (1985), a Bioenergtica uma maneira de entender a

    personalidade em termos do corpo e de seus processos energticos, que so a

    produo de energia atravs da respirao e do metabolismo e a descarga deenergia no movimento. uma tcnica teraputica que ajuda o indivduo a

    reencontrar-se com seu corpo, e a tirar o mais alto grau de proveito possvel da

    vida que h nele. (LOWEN, 1982, p. 38).

    O trabalho bioenergtico se faz atravs de massagens, presso

    controlada e toques suaves que relaxam a musculatura e exerccios que levam

    a pessoa a entrar em contato com suas tenses e liber-las. Essas tenses,

    provocadas ou no pelo trabalho, ao longo do tempo podem tornar-se crnicas

    e formar couraas, que tem a funo de proteger o indivduo de experinciasdolorosas, mas, no entanto, limitam a capacidade do organismo de se

    expressar, de viver em plenitude, pois a energia fica impossibilitada de circular.

    O objetivo da Anlise Bioenergtica :

    ajudar o indivduo a retomar sua natureza primria que se constitui nasua condio de ser livre, seu estado de ser gracioso e sua qualidade

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    de ser belo. A liberdade, a graa e a beleza so atributos naturais aqualquer organismo animal. A liberdade a ausncia de qualquerrestrio ao fluxo de sentimentos e sensaes, a graa a expressodesse fluir em movimentos, enquanto a beleza a manifestao daharmonia interna que tal fluir provoca. (LOWEN, 1982, p.38)

    Entendemos esse estado de liberdade, graciosidade e beleza como

    sendo o conceito de sade para Lowen, j que segundo ele, estes fatores

    denotam corpo e mente saudveis.

    Para Lowen (1985) a bioenergtica um caminho vibrante para a sade,

    que no significa meramente a ausncia de doenas, mas a condio de estar

    totalmente vivo e vibrante. Sade que dever ser a maneira primordial do ser

    humano estar no mundo, relacionar-se com seus pares, com a natureza, com a

    espiritualidade e com o trabalho. Em sendo saudvel em suas relaes sersaudvel em sua vitalidade, ter qualidade de vida e no trabalho.

    Ainda segundo Lowen (1985), os exerccios bioenergticos em si, sem o

    acompanhamento teraputico, no resolvem problemas emocionais profundos,

    mas aumentam a vitalidade e a capacidade para o prazer, alm de promover o

    autoconhecimento atravs do aumento do estado vibratrio do corpo,

    grounding (contato com o cho, com a realidade), aprofundamento da

    respirao, agudizao da autoconscincia e ampliao da autoexpresso.

    De acordo com Alves e Correia (2007), so princpios bsicos dabioenergtica respirao, enraizamento, sonorizao, movimento e

    autoexpresso. A respirao possibilita maior contato com os sentimentos, a

    sonorizao aliada aos movimentos de desbloqueio facilita a expresso das

    emoes, e o grounding proporciona o contato com a realidade, com o self. O

    que no trabalho desenvolvido no ambiente organizacional facilita o

    desenvolvimento de confiana nas equipes, ampliando por conseqncia toda

    possibilidade de uma vida saudvel.

    Dejours, psiquiatra e psicanalistas francs, em seu trabalho concede apalavra um lugar central. Inicialmente influenciado pela escola de

    Psicopatologia do trabalho, tenta compreender o sofrimento psquico no

    trabalho, estabelecendo relaes entre os constrangimentos organizacionais e

    possveis descompensaes psicolgicas dos indivduos. Pesquisando percebe

    que os trabalhadores no eram passivos diante das imposies

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    organizacionais, sofriam sim, mas buscavam se proteger para no adoecer.

    Criavam estratgias defensivas, individuais ou coletivas para preserv-los do

    sofrimento e que apesar da violenta deteriorao de muitas situaes de

    trabalho, frequentemente os trabalhadores conseguiam evitar o adoecimento.Quando deixa ento de pesquisar a psicopatologia e passa a pesquisar a

    normalidade, nomeia seu campo de pesquisa e as teorias que passa a

    formular de Psicodinmica do Trabalho. Segundo Dejours (2007) a

    Psicodinmica e a Psicopatologia do Trabalho procuram compreender como e

    porque o mesmo trabalho pode forjar uma dinmica de destruio, ou ao

    contrrio, de construo da sade.

    Sznelwar e Uchida (2004) destacam que no se deve confundir estado

    de normalidade com estado saudvel, pois a normalidade pode significar:

    um equilbrio saudvel [...] ou o mascaramento de um sofrimentoatroz, ou seja, o estabelecimento de um precrio equilbrio entre asforas desestabilizadoras dos sujeitos e o esforo destes e dosgrupos no sentido de se manterem produtivos e atuantes custa demuito sofrimento.

    A patologia surge quando, os mecanismos de defesa, individuais ou

    coletivos, no mais funcionam, quando se rompe o equilbrio e no mais

    possvel contornar o sofrimento.

    A Psicodinmica do Trabalho tem como premissa metodolgica o falar e

    ser ouvido. Dejours considera esse movimento como uma das mais poderosas

    formas de refletir sobre a prpria experincia. Conforme lembra Ferreira

    parafraseando Dejours (2007, p. 98) A enunciao da experincia permite sua

    elaborao. A palavra faz nascer o que no existia antes de ser pronunciada. A

    expresso profundamente transformadora calar, com o tempo, pode nos

    fazer adoecer.

    Lowen (1982, p. 42) corrobora a posio de Dejour dizendo que o prazer

    e a satisfao so [...] o resultado imediato das experincias de auto-

    expresso. Limite o direito de uma pessoa a sua auto-expresso e voc estar

    limitando suas oportunidades de prazer e de vivncia criativa.

    E neste lugar, de valorizao da palavra que se dar o encontro entre a

    Bioenergtica e a Psicodinmica do Trabalho, pois a proposta de trabalho ser

    o desenvolvimento de um grupo de expresso, onde, em um espao de tica,

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    estes tero condies para discutir questes ligadas a suas vivncias e

    experincias, tais como: organizao do trabalho, condies de trabalho,

    relaes interpessoais, entre outros temas, ou seja, o trabalhador ter espao

    para nomear o sofrimento e construir um consenso entre o coletivo, criandoassim, segundo Arendt (apud Sznelwar e Uchida 2004) uma linguagem

    comum, que leva a uma nova inteligibilidade, uma nova interpretao e um

    novo sentido ao trabalho.

    Quando se trata de sofrimento no trabalho a teraputica individual no

    resolve, pois no esgota a causa do sofrimento. A transformao e as

    mudanas precisam ser pensadas pelos trabalhadores. O grupo disponibilizar

    instrumentos para que juntos os trabalhadores possam conjurar o sofrimento, o

    que no significa que ele ser anulado, mas transformado.O grupo ser um local de manifestao de histrias que no podem ficar

    adormecidas no silncio, ser um espao coletivo de discusso e palavra, um

    espao para pensar, sentir e simbolizar. Proporcionar momentos de

    conhecimento, aceitao, escuta e acolhimento. Permitir que em conjunto os

    trabalhadores transformem o sofrimento que potencialmente patognico em

    sofrimento criativo. Segundo Dejours (2007) o sofrimento est sempre

    rondando o trabalho, mas ele pode ser um ponto de partida e no uma

    conseqncia lastimvel.

    O falar, a enunciao da palavra, ser mediado pelos toques e exerccios

    da bioenergtica, que sero utilizados como um recurso para facilitar a

    expresso j que no trabalho h pouco espao para expresso de sentimentos,

    e frequentemente as pessoas tm dificuldade de verbalizar, em especial suas

    dificuldades e fraquezas e consequentemente adoecem cada vez mais e mais

    cedo, adoecem fsica e/ou mentalmente.

    O medo do novo, enfrentado durante o incio do grupo, que pode levar os

    participantes a privilegiar o racional ao invs do emocional, ser minimizado

    pela estimulao corporal que favorecer a cura da ciso corpo mente,

    promovendo a distribuio de energia por todo corpo.

    O grounding ser a base que favorecer a coragem para expresso,

    dando profundidade. A mobilizao do pescoo, a expresso de sons, a

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    ateno a respirao e o trabalho com as pernas promovero a segurana e a

    energia necessria para expresso e a entrega do grupo.

    O grupo tentar promover uma nova relao entre o trabalhador e a

    organizao do trabalho, pois quando est relao bloqueada o sofrimentocomea, a energia fica acumulada no aparelho psquico, por impossibilidade de

    descarga, ocasionando sentimentos de desprazer e tenso. Diante da

    impossibilidade de descarregar a energia ela volta para o corpo atravs das

    somatizaes, gerando couraas e outras doenas. Assim, os trabalhadores

    tero condies de identificar sinais de sofrimento, que outrora foram

    considerados normais por eles mesmos, como: dores musculares, cefalia,

    insnia, alergias, queda de cabelo, irritao contnua, entre outros.

    Portanto, a proposta do grupo acolher os trabalhadores, atuando demaneira preventiva e teraputica, tornando-os, atravs da escuta e do trabalho

    corporal, conscientes de seus sentimentos, tenses, e estratgias utilizadas

    para dar conta do sofrimento vivido no trabalho, auxiliando-os assim a prestar

    uma assistncia adequada aos pacientes e principalmente trabalhar com

    prazer e equilbrio, cnscios de suas necessidades e potencialidades, com

    seus sentimentos de impotncia, ansiedade e medo minimizados, em um

    estado de razovel harmonia com sua prpria realidade.

    ..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..- ..-..-..-..-..-..-..-..-..-..-..

    REFERNCIAS

    ALVES, J. P.; CORREIA, G. W. O corpo nos grupos: experincias em AnliseBioenergtica. Recife: Libertas, 2007.

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    LARA, Camila Veiga de; VOLPI, Jos Henrique. Lowen e Dejours: juntos a favor da sade e da qualidadede vida no trabalho. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIASCORPORAIS, XVII, XII, 2012. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2012. [ISBN 978-85-87691-22-4].Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos. Acesso em: ____/____/____.

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    Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000(41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

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    CORPORAIS. 1., 4., 9., Foz do Iguau. Anais... Centro Reichiano, 2004 CD-ROM [ISBN-85-87691-12-0]

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    AUTORA

    Camila Veiga de Lara/MS - Psicloga da Seo de Medicina do Trabalho eAssistncia ao Servidor do Hospital Universitrio da Universidade Federal daGrande Dourados. Especialista em Gesto Avanada em Recursos Humanos.Cursando Especializao em Psicologia Corporal no Centro Reichiano,Curitiba/PR.E-mail:[email protected]

    ORIENTADOR

    Jos Henrique Volpi/PR CRP-08/3685 - Psiclogo, Analista Reichiano,Psicodramatista, Mestre em Psicologia da Sade (UMESP), Doutor em MeioAmbiente e Desenvolvimento. Diretor do Centro Reichiano-Curitiba/PR.E-mail: [email protected]