Declaração sobre as recentes manifestações no Brasil

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IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASIL DIOCESE ANGLICANA DE CURITIBA Escritório Diocesano Av. Sete de Setembro, 3927 – Tel. 30185667 – Curitiba – PR “Estamos construindo uma grande Diocese...” “QUAL LOBO ESTAMOS ALIMENTANDO?”: DECLARAÇÃO A PROPÓSITO DAS ÚLTIMAS MANIFESTAÇÕES POPULARES “Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também sob o impulso do Espírito” Gálatas 5.25 “Vocês todos são filhos e filhas de Deus.” Gálatas 3.26-28 Conflito entre dois lobos Um velho cherokee dava lições de vida aos seus netos. Disse-lhes: “Está se travando uma luta dentro de mim. Luta terrível, entre dois lobos. Um é o medo, a cólera, a inveja, a tristeza, o remorso, a arrogância a autopiedade, a culpa, o ressentimento, a inferioridade e a mentira. O Outro é a paz, a esperança, o amor, a alegria, a delicadeza, a benevolência, a amizade, a empatia, a generosidade, a verdade, a compaixão e a fé. A mesma luta está se travando dentro de vocês e de todas as outras pessoas…” As crianças puseram-se a refletir sobre o assunto e uma delas perguntou ao avô: ” Qual dos lobos vencerá?” O ancião respondeu: “Aquele que for alimentado…” Nos últimos anos se acentuou a tensão e a falta de diálogo entre as pessoas e instituições. O simples fato de pensar ou ser diferente do outro já é argumento para atitude de exclusão, qualificação com palavras que não podemos repetir aqui, e, em muitos momentos, a utilização do uso da violência levando pessoas a morte, como ocorreu recentemente com o adolescente filho do casal gay em SP. E como ocorre na dizimação dos jovens no Brasil, especialmente com os jovens negros e jovens brancos pobres e com outras demais minorias. Se por um lado, aumentou a qualidade de vida, milhares de pessoas e famílias saíram da linha da pobreza, milhões de jovens tem acesso à universidade, centenas de escolas técnicas foram criadas, o pleno emprego se mantém, com níveis baixíssimos de desemprego; a corrupção está sendo enfrentada também como nunca antes se viu na história do Brasil. Por outro lado, continuamos recorrendo ao uso da violência para afirmar posições e ideias. Continuamos excluindo quem pensa ou é diferente de nós. Além disso, as notícias da mídia são, no geral, veiculadas de forma seletiva não contribuindo para uma análise mais ampla da sociedade e para um novo caminho nas relações e na busca de soluções. As vezes nos parece que para muitos quanto pior ficar, melhor. Melhor para quem? Neste tempo de mobilizações populares e manifestações diversas desejamos como Igreja reafirmar nossa posição para que defendamos sempre o estado de direito e as instituições que são componentes de um Estado democrático. Ajudando a fortalecer como cidadãos e cidadãs o compromisso com os Direitos Humanos (conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos), com a justiça, com a paz, defendendo garantias e direitos dos trabalhadores/as, reconhecendo a importância das mobilizações populares como legítimo exercício de cidadania, em vista da transformação social e para promover mudanças para o bem comum do povo brasileiro. Queremos como Igreja lembrar que somos todos e todas, indistintamente, filhos e filhas e Deus. Todos e todas merecemos dignidade e respeito. Com sabedoria e discernimento, serenidade e diálogo haveremos de construir uma sociedade e um mundo melhor. Contudo, tenhamos sempre presente: nós alimentamos “o lobo”. Qual deles estamos alimentando? Dom Naudal Gomes, Bispo Diocesano Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – Diocese Anglicana do Paraná Rev. Luiz Carlos Gabas Comissão de Direitos Humanos da IEAB e da Diocese

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IGREJA EPISCOPAL ANGLICANA DO BRASILDIOCESE ANGLICANA DE CURITIBA

Escritório DiocesanoAv. Sete de Setembro, 3927 – Tel. 30185667 – Curitiba – PR “Estamos construindo uma grande Diocese...”

“QUAL LOBO ESTAMOS ALIMENTANDO?”: DECLARAÇÃO A PROPÓSITO DAS ÚLTIMASMANIFESTAÇÕES POPULARES

“Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também sob o impulso do Espírito” Gálatas 5.25“Vocês todos são filhos e filhas de Deus.” Gálatas 3.26-28

Conflito entre dois lobosUm velho cherokee dava lições de vida aos seus netos. Disse-lhes: “Está se travando uma luta dentro de mim. Luta

terrível, entre dois lobos. Um é o medo, a cólera, a inveja, a tristeza, o remorso, a arrogância a autopiedade, a culpa,o ressentimento, a inferioridade e a mentira.

O Outro é a paz, a esperança, o amor, a alegria, a delicadeza, a benevolência, a amizade, a empatia, agenerosidade, a verdade, a compaixão e a fé.

A mesma luta está se travando dentro de vocês e de todas as outras pessoas…”As crianças puseram-se a refletir sobre o assunto e uma delas perguntou ao avô: ” Qual dos lobos vencerá?”

O ancião respondeu: “Aquele que for alimentado…”

Nos últimos anos se acentuou a tensão e a falta de diálogo entre as pessoas e instituições. O simples fato de pensar ou ser diferentedo outro já é argumento para atitude de exclusão, qualificação com palavras que não podemos repetir aqui, e, em muitosmomentos, a utilização do uso da violência levando pessoas a morte, como ocorreu recentemente com o adolescente filho do casalgay em SP. E como ocorre na dizimação dos jovens no Brasil, especialmente com os jovens negros e jovens brancos pobres e comoutras demais minorias.

Se por um lado, aumentou a qualidade de vida, milhares de pessoas e famílias saíram da linha da pobreza, milhões de jovens temacesso à universidade, centenas de escolas técnicas foram criadas, o pleno emprego se mantém, com níveis baixíssimos dedesemprego; a corrupção está sendo enfrentada também como nunca antes se viu na história do Brasil. Por outro lado,continuamos recorrendo ao uso da violência para afirmar posições e ideias. Continuamos excluindo quem pensa ou é diferente denós. Além disso, as notícias da mídia são, no geral, veiculadas de forma seletiva não contribuindo para uma análise mais ampla dasociedade e para um novo caminho nas relações e na busca de soluções. As vezes nos parece que para muitos quanto pior ficar,melhor. Melhor para quem?

Neste tempo de mobilizações populares e manifestações diversas desejamos como Igreja reafirmar nossa posição para quedefendamos sempre o estado de direito e as instituições que são componentes de um Estado democrático. Ajudando a fortalecercomo cidadãos e cidadãs o compromisso com os Direitos Humanos (conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos), coma justiça, com a paz, defendendo garantias e direitos dos trabalhadores/as, reconhecendo a importância das mobilizações popularescomo legítimo exercício de cidadania, em vista da transformação social e para promover mudanças para o bem comum do povobrasileiro.

Queremos como Igreja lembrar que somos todos e todas, indistintamente, filhos e filhas e Deus. Todos e todas merecemosdignidade e respeito. Com sabedoria e discernimento, serenidade e diálogo haveremos de construir uma sociedade e um mundomelhor. Contudo, tenhamos sempre presente: nós alimentamos “o lobo”. Qual deles estamos alimentando?

Dom Naudal Gomes, Bispo DiocesanoIgreja Episcopal Anglicana do Brasil – Diocese Anglicana do Paraná

Rev. Luiz Carlos GabasComissão de Direitos Humanos da IEAB e da Diocese