Debate Projeto de Transposição das Águas do Rio São Francisco

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DEBATE Dilermando Alves do Nascimento Geólogo pesquisador do (IBGE) especialista em hidrogeologia e meio ambiente X Paulo Afonso da Mata Machado Engenheiro Ambientalista analista do Banco Central do Brasil Tema baseado no trabalho de autoria de Dilermando Alves do Nascimento OS NÚMEROS CONTRADITÓRIOS DO PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO Os textos em vermelho são os comentários anteriores de Paulo. Os textos em verde são as réplicas de Dilermando. Os textos em azul são as réplicas de Paulo. Os textos em marrom são as tréplicas do Dilermando. Os textos em rosa são contra-tréplicas do Paulo. Os textos em amarelo escuro são contra-tréplicas do Dilermando

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DEBATE

Dilermando Alves do Nascimento

Geólogo pesquisador do (IBGE) especialista em

hidrogeologia e meio ambiente

X

Paulo Afonso da Mata Machado

Engenheiro Ambientalista analista do Banco Central

do Brasil

Tema baseado no trabalho de autoria de Dilermando Alves do

Nascimento

OS NÚMEROS CONTRADITÓRIOS DO PROJETO DE

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Os textos em vermelho são os comentários anteriores de Paulo. Os textos em verde são as

réplicas de Dilermando. Os textos em azul são as réplicas de Paulo. Os textos em marrom

são as tréplicas do Dilermando. Os textos em rosa são contra-tréplicas do Paulo. Os textos

em amarelo escuro são contra-tréplicas do Dilermando

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ASSIBGE – SINDICATO NACIONAL/NÚCLEO DIGEO-BA

OS NÚMEROS CONTRADITÓRIOS DO PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Dilermando Alves do Nascimento

Geólogo pesquisador do (IBGE) especialista em hidrogeologia e meio ambiente.

“O Velho Chico ta morrendo já nem tem mais navegação

e ainda tem gente querendo essa tal transposição

o Velho Chico ta sumindo ta suplicando salvação

mas em seu leito ta pedindo a revitalização”

Silvio Brito e Carimbão

“De gota em gota te fo rmaste, cristalino,manso,e logo caudaloso, nas longínquas e alterosas nascentes como uma imensa dádiva de Deus”. Epitácio Mendes Silva

Seja mais um, junte-se a nós. Não permita que esta beleza seja degradada. Foz do Rio São Francisco Fotos: João Zinclar 1- CONHEÇA DETALHES HISTÓRICOS DA TRANSPOSIÇÃO

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- Século XIX (1820), o Imperador Dom João VI lança a idéia de utilizar as águas do Rio São Francisco para combater os efeitos da seca no sertão Nordestino. A idéia continuou sendo analisada durante os reinados de Dom Pedro I e Dom Pedro II. - No ano de 1847, o engenheiro cearense Marcos de Macedo intendente do Município do Crato, deputado pelo Ceará, apresentava ao Imperador Pedro II o plano de transposição para resolver os problemas gerados pela seca do nordeste, nada foi realizado. - Entre 1851 e 1854, o engenheiro Henrique Halfeld fez um detalhado levantamento do Vale do São Francisco, desde a Cachoeira de Pirapora até o Oceano Atlântico que deu origem ao Atlas e Relatório Concernente à Exploração do Rio São Francisco. Dificuldades financeiras fizeram com que a idéia do desvio de águas do São Francisco fosse arquivada. - Em 1856, uma Comissão Científica de Exploração, chefiada pelo Barão de Capanema, encarregada de estudar o problema das secas, recomendou a abertura de um canal ligando o Rio São Francisco ao Rio Jaguaribe. Os estudos foram complementados em 1859, por cientistas do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e arquivado. - Na grande seca entre 1877 e 1879, que vitimou 1,7 milhões de pessoas, a idéia retorna. A estiagem catastrófica obriga o imperador D.Pedro II a instituir em 07.12.1877 uma Comissão Imperial chefiada pelo Barão de Capanema, incumbida de minorar os efeitos da seca. A comissão recomenda as seguintes medidas: a construção de três ferrovias e 30 açudes, a instalação de observatórios meteorológicos, bem como um plano, a saber: a abertura de um canal comunicando as águas do Rio Jaguaribe com as do Rio São Francisco. Consta ainda que a comissão aventasse a importação de 12 camelos que levariam água do São Francisco para o Nordeste. Não foi encontrado registro sobre os resultados das medidas propostas. - Em 1886, mais um engenheiro cearense, Tristão Franklin Alencar, reativou a idéia, mas dificuldades financeiras e viabilidades técnicas do projeto fizeram com que ele desistisse da idéia da transposição. - O projeto de transposição teve ainda iniciativas posteriores, sem sucesso. Em 1909 foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), que elaborou um mapa com o canal que interligaria o Rio São Francisco ao Rio Jaguaribe, projeto repensado em 1919 com criação da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS), e arquivado. - No governo Getúlio Vargas, com a criação do Departamento de Obras Contra as Secas (DNOCS), o assunto voltou a ser tema de estudo. - Entre os anos de 1981 e 1985 o projeto começou a ser examinado no DNOCS, aonde os técnicos chegaram a elaborar um projeto de transposição em parceria com um organismo norte-americano especializado em agricultura, irrigação, solos e recursos hídricos. A idéia era captar 15% da vazão do Velho Chico. O projeto foi analisado por um grupo de consultores do coronel Mário Andreazza, para atender a seus interesses políticos, já que ambicionava a Presidência da República, na sucessão ao Presidente Figueiredo, o projeto foi arquivado. - Em 1993, no Governo de Itamar Franco, o Ministro da Integração Nacional, Aluísio Alves reabriu a discussão, propondo a construção de um canal em Cabrobó, para retirar do São Francisco até 150m³/s de água, com o propósito de beneficiar áreas do Ceará e Rio Grande do Norte. Em 1994, o Governo Itamar Franco chegou a anunciar que faria a licitação para que fossem feitos os projetos básicos das obras. O projeto foi fulminado por um parecer do Tribunal de Contas da União que alegou ser o projeto prejudicial à produção das hidrelétricas, impedia o crescimento da irrigação em Minas Gerais e na Bahia, não fazia parte do planejamento da administração federal e era ignorado pelo Ministério da Agricultura. - Em 1995, primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, o projeto esteve muito próximo de ser executado. O governo federal tinha gasto R$ 10 milhões para a elaboração do projeto básico, feito no segundo semestre do ano anterior. Na época, foram contratados 480 técnicos (entre engenheiros, economistas e agrônomos) para dar parecer sobre os estudos da transposição. Ainda nessa época, o governo federal chegou a realizar

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audiências públicas para que o projeto fosse realizado e depois lançou um edital para execução das obras. No entanto, algumas empresas entraram com uma ação na Justiça com um pedido de suspensão para impedir que os vencedores da licitação iniciassem a obra. - Os paraibanos Cícero Lucena e Fernando Catão, quando ocuparam a Secretaria Especial de Políticas Regionais, durante o primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso, redesenharam o projeto de Aloísio Alves. Nesse período, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) desenvolveu um projeto próprio para fornecer água a toda a região do semi-árido, mas esbarrou no elevado custo da obra, US$ 20 bilhões, e no prazo para a sua conclusão, entre 25 e 30 anos. - Com uma versão mais simplificada, onde o grande atrativo seria o baixo custo da construção dos canais de interligação, um bilhão de dólares, o Ministro da Integração Nacional do Governo Fernando Henrique, Senador Fernando Bezerra, tentou mais uma vez a ressurreição do sonho da transposição. Em seu projeto, o volume de água a ser desviado seria de 70 m3/s, e além do Ceará e Rio Grande do Norte, a Paraíba seria beneficiada com a perenização dos rios Peixe e Piranhas - Açu. Em 2001, a crise do "apagão" adiou os planos do governo. O projeto defendido pelo Ministro da Integração Nacional teve licenciamento ambiental suspenso pela justiça. Inicialmente, o Presidente Fernando Henrique concordou que o Ministro Fernando Bezerra impulsionasse o plano, contudo José Carlos Carvalho, que em 2002 assumiu o Ministério do Meio Ambiente, na última hora convenceu o Presidente de que era um erro colossal o projeto defendido por Fernando Bezerra. - Entre 2003 e 2006, a comunidade científica do país vê com indignação o Presidente Lula ressuscitar a famigerada idéia da transposição, sepultada por tantas vezes e rejeitada amplamente por toda sociedade brasileira, delegando plenos poderes ao então Ministro Ciro Gomes para implantar e executar obra. Ao assumir o comando, Ciro Gomes garante que o projeto do governo passado foi modificado radicalmente, e que o atual iria levar água a quem tem sede. Comentário – Paulo Machado Não cabe aqui a generalização. Não é a comunidade científica do país que vê com indignação a retomada do projeto. A oposição ao projeto é feita, principalmente, por habitantes da bacia doadora, como sói acontecer na maioria dos casos semelhantes. Seria interessante constar que a versão atual do projeto de transposição prevê a retirada contínua de 26,4 m

3/s em dois eixos e que, quando Sobradinho estiver em volume de

espera para controle de cheia ou com 94% de sua capacidade, poderá haver uma retirada instantânea de até 127 m

3/s, o que não constava do projeto anterior.

Réplica – Dilermando Vou fazer as minhas réplicas e tréplicas apenas abordando as questões que eu acho de fundamental importância dentro do contexto que envolve os aspectos mais relevantes sobre o Projeto de Transposição do Rio São Francisco. Espero que todos tomem conhecimento e consciência de que este famigerado projeto que usa o slogan prometendo "levar uma caneca de água a quem tem sede" para justificar para população a sua execução, na verdade vai levar o caos para toda a população nordestina, e causar danos irreparáveis ao meio ambiente. Pura demagogia para iludir o povo brasileiro principalmente a população mais carente e que mais necessita de ajuda. Quero lhe dizer que não sou contra a transposição das águas do Rio São Francisco conforme você afirma em seus comentários. A minha posição é clara e cristalina em meus artigos. Eu analiso com convicção os dados técnicos disponíveis que mostram o contraditório dos números que vão de encontro e condenam a decisão do governo, que é política e não técnica, para execução do projeto. Agora, eu sou definitivamente contra, a pratica da malversação e da má aplicação das verbas publicas em projetos mal concebidos, com ônus ao erário público sem retorno. Esta é que é a diferença fundamental. Confirmo que a comunidade cientifica de todo o país têm sim, dado uma demonstração do exercício da cidadania se mobilizando e realizando inúmeros movimentos contrários

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à execução do projeto, partindo principalmente dos centros de pesquisas das universidades e das associações de classes profissionais de todo o Brasil, gente que conhece e tem competência para julgar a viabilidade ou inviabilidade técnica e econômica do projeto. Veja a lista de quem é contra a transposição na Revista Transposição Águas da Ilusão do Projeto Manuelzão http://www.manuelzao.ufmg.br Réplica – Paulo Machado Seu protesto indignado dá idéia de como o debate fugiu do campo técnico-científico e resvalou para o emocional. Quando você se refere à comunidade científica de todo o país, deve retirar, por exemplo, os cientistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, já que não vi um único deles falar algo contra a transposição, a não ser em meras moções de apoio. Os protestos se circunscrevem, principalmente, à bacia do São Francisco. São mineiros, baianos, pernambucanos, alagoanos e sergipanos que escrevem contra o projeto. Há uma exceção de peso, que é o Prof. João Abner Júnior, do Rio Grande do Norte. Embora seja de um estado a ser beneficiado pela transposição, o professor tem-se envolvido de corpo e alma no combate à transposição. Tréplica – Dilermando Você se refere ao sul maravilha alienado, desinformado (eu sou testemunha desta omissão no bate papo com os sulistas no 43º Congresso Brasileiro de Geologia, realizado de 3 a 8 de Setembro de 2006 em Aracaju) que só ouviram falar da Transposição das águas do Rio São Francisco através da propaganda enganosa veiculada no horário nobre da televisão paga pelo governo com o dinheiro do contribuinte (saído do meu e do seu bolso) prometendo acabar com a seca do Nordeste e levar um caneco de água a quem tem sede. São raras as reportagens em revistas e jornais que retratam a realidade do Nordeste, isto sim é que é mexer com o emocional de pessoas que estão a mais de 3.000 km em uma outra região que faz parte dos “Brasis” da vida. Poderia aqui citar vários trabalhos técnicos de pesquisadores da UNICAMP, USP ,UFRS, UFRJ, UnB que são contra o projeto, de jornalistas renomados como Henrique Cortez subeditor do Jornal do Meio Ambiente, Washington Novaes profundo conhecedor das questões ambientais do geógrafo da Universidade de São Paulo,Aziz Ab'Saber de João Suassuna pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco em Pernambuco e do Apolo ai em Minas etc. Não é só o Rio Grande do Norte que tem se manifestado contra o projeto através do Prof. João Abner Júnior, mais também o Ceará e a Paraíba, através das Frentes Cearense e Paraibana contra a transposição e por uma nova cultura das águas composta por várias Ongs e movimentos sindicalistas. Portanto os quatro estados CE, RN, PB e PE que serão beneficiados com as águas da transposição têm os seus movimentos em defesa do São Francisco a favor da revitalização e contra a transposição. Contra Tréplica – Paulo Machado Como você pode observar, torna-se difícil achar pessoas da região a ser beneficiada pelo projeto de transposição contra o projeto. Nenhum dos que você nomeou, à exceção do Prof. Abner, habita alguma das bacias receptoras. Esse é um fenômeno que se observa em todo o mundo. Sempre que há um projeto de transposição de água de uma bacia para outras bacias, os habitantes da bacia doadora protestam e exigem compensação. Isso não tem sido diferente no caso atual. Não creio que os habitantes do "Sul-Maravilha" sejam alienados. O que ocorre é que muitos são beneficiários de projetos de transposição. O Rio de Janeiro se beneficia da transposição de águas do rio Paraíba do Sul e São Paulo importa águas do rio Piracicaba. Parte do abastecimento de minha cidade, Belo Horizonte, é feito com água importada da bacia do rio Paraopeba. É natural que nos habitantes do Centro-Sul não sejamos contra o projeto de transposição do rio São Francisco para o Nordeste Setentrional. Se há alguns mineiros de renome que combatem o projeto, é porque Belo Horizonte se situa na bacia do rio São Francisco. Quanto a paulistas e cariocas, eles não têm por que serem contrários ao projeto de transposição do rio São Francisco. As grandes obras nacionais sempre beneficiaram os estados do Centro-Sul. O Rio de Janeiro e São Paulo tiveram seus trens metropolitanos

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construídos com verba federal e já está prevista, no orçamento dos próximos anos, verba para sua ampliação. O trem-bala, orçado em cerca de 12 bilhões reais, ligando essas duas capitais, também já está previsto nos orçamentos federais dos próximos anos. Não há por que protestar contra uma obra orçada em 6,4 bilhões de reais (sendo 4,5 para a transposição e 1,9 para serem gastos na bacia do Velho Chico) quando valores maiores de recursos do Tesouro são aplicados nessas duas capitais. O que salta à vista é o fato de a maioria dos políticos de Aracaju vir se constituindo em um importante foco de resistência ao projeto de transposição do rio São Francisco. Muita gente não sabe, mas Aracaju não faz parte da bacia do rio São Francisco e foi a primeira cidade brasileira a ser beneficiada por um projeto de transposição de águas do Velho Chico. Os compêndios de Engenharia Sanitária dão conta de que o consumo de água "per capita" na capital de Sergipe é de cerca de 300 litros/hab.dia, superior ao valor recomendado pela ONU e muito superior ao consumo das demais capitais do Nordeste e de muitas outras capitais do restante do país. A transposição de águas do Velho Chico levou progresso para Aracaju, eliminando uma demanda reprimida, principalmente na indústria do turismo. Tanto isso é verdade que as adutoras de transposição do rio São Francisco para Aracaju estão, atualmente, em fase de duplicação. Contra Tréplica – Dilermando Meu caro amigo Paulo, Para um melhor entendimento, devemos separar o que é uma retirada de água dentro da própria Bacia Hidrográfica, do que é uma Transposição de águas entre bacias hidrográficas distintas. São duas coisas totalmente diferenciadas. O termo transposição é aplicado usualmente em todo o mundo para tipificar a retirada ou transferência de águas entre bacias hidrográficas conhecida como "Inter-Basin Water Transfer" (IBWT). Trata-se de um sistema totalmente diferenciado porque envolve biomas distintos, não se trata por tanto, de uma simples adução de água do rio dentro de sua própria bacia, via Canais, aquedutos ou adutoras, como por exemplo, as retiradas do Baixo Rio Colorado que transfere água para a Califórnia, Baixa Califórnia, México e para o Arizona, através dos canais, Los Angeles, Califórnia e o “All America Canal” que leva água para o vale do Imperial e do aqueduto do Arizona que leva água para o vale do Gila e as cidades de Phoenix e Tucsno . Existe uma diferença muito grande em retirar água de um rio via adutora ou canais para distribuí-la em cidades próximas ou irrigar áreas dentro da própria bacia , Uma outra coisa, é você retirar água de uma Bacia Hidrográfica e jogar em outra bacia com biomas totalmente adversos com implicações ecológicas imprevisíveis Pois bem, nos temos varias adutoras transportando água para as cidades próximas ou afastadas das margens do Rio São Francisco, como é o caso da adutora Do São Francisco que leva água para Aracaju a qual você tanto se referiu, e outras tantas adutoras já implantadas nos municípios do vale do São Francisco. No caso de Aracaju você tem toda razão, o município não faz parte da Bacia do São Francisco. No entanto, não vejo maiores problemas, mesmo porque no local em que está sendo bombeado às águas do São Francisco para Aracaju, a água já cumpriu a sua missão com a geração de energia, irrigação e abastecimento humano, daí por diante ela vai virar mar, mesmo. Este é o fenômeno que não deveria acontecer, pois temos uma vazão ecológica de 1.500 m³/s a ser mantida na foz para preservar o bioma do rio. Talvez você não conheça o historico, mais a primeira etapa desta adutora foi construída a partir de 1980 para atender as plantas de Amônia e Uréia , da NITROFÉRTIL e Cloreto e Potássio, da antiga PETROMISA , hoje operada pela Cia Vale do Rio Doce e não foi projetada para atender a capital Sergipana. Na época, chegou-se a ter água em abundância, que dava para atender as empresas e a capital. Neste ano de 2008 o governo do estado foi obrigado a fazer drenagem do leito do Rio São Francisco para conseguir captação, pois as bombas já não conseguiam mais trabalha Fotos (I II III). Eu não consigo entender porque tanta dependência do DESO com a Adutora do São Francisco, desde que Aracaju dispõe do sistema subterrâneo na Ibura com os aquíferos Sapucari – Laranjeiras com água surgente jorrando 24 horas, com um detalhe, não é preciso nem bombeamento. Quando você ler o meu último artigo você vai entender o porquê do motivo para não se usar estes aquíferos.

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Ponte da BR-101 que liga Propriá - SE, a Porto Real de Colégio - AL - Durante os últimos quatro anos do Governo Lula uma avalanche de ações na Justiça contra a execução do projeto manteve paralisada a obra até dezembro de 2006, quando o Ministro Sepúlveda Pertence, do STF, derrubou todas as liminares que seguravam o início da obra. Desta vez, o Ministro Sepúlveda Pertence, determinou a suspensão das liminares que impediam o licenciamento ambiental do IBAMA para a obra, e considerou ilegítimas as entidades civis que abriram processos no STF. - Em 12 de fevereiro de 2007, o Procurador-Geral da República, Antônio Fernando Souza, entrou com recurso no STF pedindo a suspensão da licença ambiental para a obra de transposição e a cassação da licença prévia concedida pelo IBAMA. No recurso, o procurador pede que seja cumprida a exigência de que o Congresso Nacional e as populações indígenas afetadas pela obra sejam consultadas sobre o aproveitamento de recursos naturais em terras indígenas. -Apesar do IBAMA, em 23 Março 2007, ter emitido seu parecer favorável referente à licença de instalação do projeto, no momento a situação encontra-se ―sob júdice‖ com o recurso do Ministério Público que deverá ser apreciado pelos 11 ministros do STF. Só então haverá uma decisão judicial definitiva sobre a obra. - Hoje, passados 187 anos da concepção de transpor as águas do Rio São Francisco, chega-se à conclusão, de que todos que se empenharam para resolver o problema da seca do Nordeste, sempre estiveram voltados para atender seus interesses pessoais e políticos, apresentando sempre a transposição do Rio São Francisco, como a solução para o combate à seca, solução esta, frágil e inexeqüível, porque não permitirá as comunidades carentes, o direito de acesso à água, e nem promoverá o bom convívio do homem com a seca. Comentário – Paulo Machado Novamente não cabe a generalização. O problema da seca no Nordeste não foi solucionado porque as pessoas estivessem empenhadas em resolver seus próprios problemas, mas porque a região é diferente do restante do país. Inúmeras tentativas já foram feitas: bilhões de metros cúbicos de açudes, poços artesianos, tentativa de desviar os ventos e provocar chuva no Nordeste, barragens subterrâneas, centenas de

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milhares de cisternas e, até mesmo, lançamento de gelo nas nuvens. A transposição tem voltado com freqüência porque nenhuma dessas iniciativas trouxe resultados satisfatórios. Réplica – Dilermando A seca do nordeste existe sim e está em cada metro quadrado, e ninguém de san consciência pode negar o fato fenômeno. Você descreveu muito bem o desespero de 2 milhões de nordestino mostrando a migração atribuída à seca, principalmente para os estados do sul do país durante décadas, pelo fato desta população não ter acesso à água nem para beber. Você esqueceu de falar que morreram também milhares de nordestinos na grande seca entre 1877 e 1879, que vitimou 1,7 milhões de pessoas, assertiva que eu concordo em gênero número e grau. Entretanto, discordo de seu ponto de vista quando você atribui esta desagregação social e este extermínio a falta de água. Este genocídio foi praticado pelos maus governantes que passaram a vida inteira fomentando a indústria da seca, enriquecendo ilicitamente à custa do dinheiro público através da malversação das verbas públicas que deveriam ser aplicadas em políticas estruturais para permitir condições de convivência do homem com a seca. Tenho me posicionado sempre, agora me permita dizer, contra a execução deste projeto, convicto de que as soluções para os problemas sócio-econômicos e da seca do Nordeste do Brasil não serão resolvidos com uma simples oferta de água. A água é fundamental, mais ela não é o suficiente para resolver os problemas da região, necessitando de programais adicionais para seu uso racional sustentável. Se a oferta de água fosse o fator essencial, já teria solucionado os problemas das populações das bacias hidrográficas do Rio São Francisco com 8 milhões de terras férteis irrigáveis em suas margens e do Rio Parnaíba, pois eles são os dois maiores rios perenes do Nordeste incluídos na região do polígono das secas, mais o que se vê lá é muita sede fome e miséria. Os municípios próximos às grandes massas d'água, a exemplo dos de Orós e daqueles situados às próprias margens do Rio São Francisco, e de todos os grandes açudes do nordeste, sempre entraram em estado de emergência durante os períodos de estiagens prolongadas por que toda a água ali acumulada nos açudes e nos reservatórios subterrâneos não foram distribuídas, se gastando vultosas verbas públicas emergenciais que só Deus sabe em que circunstâncias elas foram aplicadas, constituindo-se na grande fonte de enriquecimento ilícito das elites, e o governo ainda usa esta omissão vergonhosa seguida de roubo, para alegar que vai se gastar com a transposição do Rio São Francisco valores menores do que aqueles gastos aplicados pelo governo com as frentes de trabalho nas emergências do passado. Afirmo categoricamente que a migração e a miséria da população nordestina jamais foram causadas pela falta de água na região conforme você e grande maioria da população brasileira desinformada pensam e acreditam. Faltou sim, um bom gerenciamento competente de seus recursos hídricos com um planejamento adequado para atender a toda a população, implantando a combinação de um sistema integrado composto pela perfuração de poços, a implantação das cisternas e das barragens subterrâneas em numero suficientemente compatível para resolver o problema crucial, que é a da má distribuição da água já armazenada para atender a toda as demandas principalmente das regiões mais dispersas.

Veja este texto (A seca como Mito) escrito pelo teólogo Roberto Malvezzi membro da Comissão Pastoral de Terra com larga experiência e vivência no sertão do São Francisco que, apesar de não apresentar dados técnicos cheios de números retrata com fidelidade de suas palavras o que representa a proposta do projeto de transposição do Rio São Francisco.

"Como sustentar a indústria da seca senão existir a seca? Não pensem a indústria da seca como apenas a do carro pipa. Esse é seu primo pobre. A principal é a das grandes obras feitas em nome do povo, mas que enriquecem uma elite restrita e privilegiada. Esse é o dilema que se encontra a nova oligarquia Nordestina, justamente quando ela propõe a maior de suas obras, que transita da indústria da seca para o agro e hidronegócio no Nordeste, isto é, a transposição do rio São Francisco.

Primeiro conseguiram dividir o semi-árido em dois, como se os problemas e desafios fossem apenas do Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Insistem em

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ignorar que Bahia, Sergipe, Piauí, Alagoas, Maranhão e Norte de Minas têm os mesmos desafios. Esquecem ainda que a região mais pobre de água do Brasil – embora ainda esteja num nível suficiente segundo padrões da ONU – é o sertão pernambucano. Portanto, pasmem, a região mais pobre de água do Brasil encontra-se no Vale do São Francisco". http://www.brasildefato.com.br/

Faço minhas as palavras do Roberto Malvezzi completando o raciocino da sua análise dizendo que os defensores do projeto estão instigando o conflito entre os estados do nordeste, promovendo à divisão a desunião entre os governadores, os prefeitos e o povo, tratando os problemas oriundos das secas que são comuns a todos os nordestinos de forma altamente discriminatória, separando os nossos irmãos do de lá do Nordeste Setentrional dos nossos irmãozinhos do lado de cá (habitantes da bacia do Rio São Francisco) todos resignados e indefesos, tanto os do lado de lá, quantos os de cá, condenados a extinção já com pé na cova morrendo de sede e de fome.

Os defensores do projeto ainda alegam que a água do Rio São Francisco não deve ser propriedade e monopólio da população da bacia do Rio São Francisco, da CHESF e dos perímetros irrigados, esquecendo o governo e seus seguidores, que no caso da população pobre da bacia que é a grande maioria, ela não tem qualidade de vida e ainda serve como mão de obra escravizada para atender as oligarquias aos latifundiários, não usufruí em nada das benesses dos altos lucros do agronegócio, e da geração de energia, vivendo mergulhados em um apagão eterno.

Réplica – Paulo Machado Vou comentar apenas o parágrafo final: a água do rio São Francisco não é e não deve ser propriedade da população da bacia do São Francisco. Se iniciarmos um conflito de água desse gênero no Brasil, não sabemos onde vamos parar. Primeiramente, nós, em Minas Gerais, podemos dizer que a maior parte da água do São Francisco é nossa, já que recebe de Minas Gerais cerca de 80% de sua água. Quanto à pobreza de ribeirinhos que habitam o vale do S. Francisco, isso não é e não pode ser motivo para se combater o projeto de transposição. Como diz o jargão popular, não vamos usar um erro para justificar outro. Não vamos usar a pobreza de parte da população ribeirinha para justificar a manutenção do atraso da população do Nordeste Setentrional. Tréplica – Dilermando Paulo Afonso escreveu: “Quanto à pobreza de ribeirinhos que habitam o vale do S. Francisco, isso não é e não pode ser motivo para se combater o projeto de transposição. Não vamos usar a pobreza de parte da população ribeirinha para justificar a manutenção do atraso da população do Nordeste Setentrional”. Paulo você acaba de declarar que é daqueles que tem preferência para descobri um santo em processo de beatificação e cobrir o outro já canonizado, neste caso prevalece o velho provérbio popular, quanto pior melhor. Que idéia infeliz a sua da Mata, manter a pobreza e o atraso da população ribeirinha do São Francisco que tem água abundante, terras férteis para se fazer uma reforma agrária decente voltada para o cultivo da agricultura familiar com custo benefício significativamente abaixo do que será os valores cobrados pela água transposta, proibitivo para irrigação lá no CE, RN e PB. E como diz o Prof. Abner, será o hectare de terra irrigado mais caro do mundo, insustentável para os projetos, será inviável. E muito mais sensato e viável usar a água dos açudes, Castanhão, Orós, Banabuiú, Açu, Coremas Mã D´água, Engenheiro Ávido e do sistema Acauã-Boqueirão que se encontra em disponibilidade em qualquer dia do ano com reservas em disponibilidade suficiente para abastecer toda a população da região e irrigar os 113.974 hectares das bacias hidrográficas do Jaguaribe, Apodi-Mossoró, Piranhas - Açu, Leste Potiguar e Oriental Paraíba projetados para o ano 2020 segundos ánalise do Projeto ÁRIDAS, sem que seja necessário transpor uma só gota de água do rio São Francisco. E muito mais viável economicamente e sociambientalmente. Verifique no mapa do nordeste como estes açudes foram bem locados e construídos pelo DNOCS espalhados em posições estratégicas eqüidistantes exatamente para facilitar a distribuição de suas águas para atender a toda a população do Nordeste Setentrional. Contra Tréplica – Paulo Machado

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Quando você fala em mandar água do Castanhão, do Orós, do Banabuiú, do Açu e de outros açudes para abastecer a população nordestina, está desconsiderando uma das grandes virtudes do projeto de transposição: a sinergia hídrica. O Eng. Paulo Bezerril Jr., que participou dos estudos que concluíram pela viabilidade técnica e econômica do projeto de transposição do rio São Francisco, faz a seguinte pergunta: - Existem soluções mais econômicas e eficientes que a transferência das águas do São Francisco para enfrentar a crônica escassez hídrica do semi-árido nordestino? Ele mesmo responde: - Não. Os estudos de viabilidade demonstram que não existem. Foram cotejadas todas as alternativas possíveis para a região como a exploração das águas subterrâneas, a dessalinização das águas do mar e das águas salobras continentais, a indução de chuvas, a construção de mais açudes e a reutilização de águas servidas. Nenhuma delas, isoladamente ou em conjunto, constitui solução ao uso do São Francisco. Ou são mais caras, ou não proporcionam a mesma garantia hídrica. Com relação aos açudes da região, ele faz os seguintes comentários: A construção de novos açudes, por sua vez, também representaria um aumento pequeno na oferta de água, da ordem de apenas 5% da que já existe. E complementa: Uma vantagem relevante da integração das bacias e á gestão mais eficaz das águas armazenadas no semi-árido. Atualmente, os açudes oferecem para os usuários apenas 25%, em média, das águas que retêm. Um projeto com eficiência de apenas 25% não pode ser um bom projeto. Há que se buscar-lhe alternativas mais eficientes. Continuemos com o Eng. Bezerril: A irregularidade das chuvas no semi-árido obriga que se mantenha um maior volume de água nos açudes para suprir as necessidades básicas da população no caso de seca. Deste modo, ocorrendo seca, os açudes cheios e com excessivo espelho d'água apresentam grande perda por evaporação, que chega a atingir 2.500 mm/ano. Quando chove, eles vertem ("sangram") e a água se perde, pelos rios, até o oceano. Com a garantia de suprimento proporcionada pela transposição, os açudes não precisarão ficar plenamente cheios. Havendo seca, repõe-se a água. E, se chover, as águas serão retidas, já que existe um volume de "espera". A diminuição do volume de água - que hoje se perde por evaporação e transbordamento - é, na prática, um acréscimo de água aproveitável na região. Para tal acréscimo deu-se o nome de "sinergia hídrica" e sua estimativa representa uma vazão significativa que pode chegar a 25 m

3/s.

Portanto, a transposição vai fazer com que açudes como o Castanhão e o Açu se tornem mais eficientes. O Prof. Thomaz da Matta Machado, meu parente, reconheceu publicamente que o Castanhão já passou por falta de água durante uma seca prolongada. A equipe do Projeto Manuelzão alega que encontrou guardas armados impedindo a retirada de água do Castanhão. Com seu enorme volume e com a sinergia hídrica garantida pela transposição, o Castanhão jamais voltará a correr o risco de não ter água suficiente para abastecer Fortaleza e cidades vizinhas, além de garantir água para a irrigação. Contra Tréplica – Dilermando A sinergia hídrica não é novidade. Em 1913 o Eng. Arrojado Lisboa, primeiro Diretor da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), predecessora do DNOCS, já definia: “A solução naturalmente indicada para retenção d`água é a açudagem. Guardar a água caída no inverno para distribuí-la na seca; guarda-la nos anos chuvosos para distribuí-la nos escassos.” Após conclusão nos anos 70 das grandes barragens plurianuais, está escrito no volume Barragens No Nordeste do Brasil (1990), comemorativo dos 80 anos do DNOCS, que: “ De toda maneira qualquer tempo poderá ser necessária uma nova intensificação em obras de açudagem interanual, o que dirigiria as atenções do órgão para a perenização do Vale do Gurguéia, no Piauí, a complementação da regularização dos rios Salgado e Jaguaribe, no Ceará, a possível complementação da capacidade regularizadora do Rio

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Piranhas - Açu nos estados da Paraíba e Rio Grande do Norte.” Sinergia hídrica da boa e barata, melhores custos-beneficío e preservação do bioma dos rios. Apesar dos três rios citados serem perenes, se tivesse sido construída as barragens intercaladas com as grandes barragens como previu o Eng. Arrojado Lisboa teríamos hoje as vazões destes rios triplicadas, estando de acordo segundo os preceitos aceitos hoje no mundo inteiro que diz: “devemos primeiro esgotar os recursos hídricos da própria bacia antes de optar por uma transposição extra-bacia”. Os açudes dos estados que irão receber as águas da transposição , possuem uma capacidade para armazenar 37 bilhões m³ com disponibilidade aproveitável fantástica de 8,90 bilhões de m³ (o prof. Daker (2004) calcula um volume aproveitável anual de 9,25 bilhões de m³) por ano (100% garantia) já descontado 70% das perdas por evaporação e infiltrações nos aqüíferos e pontos de fuga do sistema barragem. As reservas subterrâneos para os quatro estados CE, RN, PB e PE chegam a 1,19 trilhões de m³ sendo 11,80 bilhões de m³ explotável (100% de garantia). Como você pode ver, os estoques hídricos tanto o superficial quanto subterrâneo são bastante elevados, todavia permanecem adormecidos em berço esplendido, em estado de inércia, estocados nos açudes e no subsolo, na dependência das intempéries do clima. A filosofia adotada na gestão das águas do Semi-Árido é uma questão única e pessoal, guarda-se água para ser aproveitada no ano seguinte, um paradigma ultrapassado, praticado pelos gestores dos açudes, em detrimento de que no próximo ano São Pedro resolva não mandar chuva. Esta é uma decisão, que só beneficia o seu único e maior usuário, o “Astro Rei” o Sol que bebe água p’ra caramba! Só na Represa de Sobradinho ele retira 250 m³/s significando dizer que ele bebe por ano 7,8 bilhões de m³ um volume que daria para abastecer todo o Nordeste em seus usos múltiplos durante três anos consecutivos sem que seja necessária regularização dos estoques dos açudes nos períodos normais de chuvas anuais.O que Falta é tão somente fazer-se a distribuição. É interessante, no entanto, se fazer aqui uma analise, a título de esclarecimento sobre as dúvidas que pairam no confronto conflitante de números que existem no que diz respeito ao balanço hídrico da Região do Nordeste do Brasil. Trata-se de um desafio que inspira as mais variadas interpretações.

O fato é que, os defensores do Projeto de Transposição das Águas do Rio São Francisco como Eng. Paulo Bezerril Jr., vêem alegando para justificar a obra, que existe um déficit hídrico entre o índice de precipitação pluviométrico médio anual de 700 mm e os 80% que se perde por evapotranspiração estimado em 2.000 mm.

Na realidade, não há como negar a assertiva desse fenômeno climático. Entretanto, eles os defensores da transposição como o Eng. Paulo Bezerril Jr., não podem e nem devem afirmar categoricamente que, os baixos índices pluviométricos, o altíssimo índice de insolação plena de 300 dias/ano, as altas taxas de evaporação e as irregularidades temporais das chuvas, sejam os principais ingredientes causadores da escassez hídrica e da falta de água na região do Nordeste.

Tamanho é o absurdo deste raciocínio que induz as pessoas a pensar de forma exígua , fazendo juízo de que esta tese seja verdadeira, quando na realidade, os defensores da transposição estão fazendo uma interpretação errônea e confusa, as vezes intencional e maliciosa, afirmando que a causa da falta d´água no Nordeste esteja relacionada com o desequilíbrio negativo existente no balanço hídrico da região.

A relação entre o índice de precipitação media anual de 700 mm sendo bem inferior ao índice de evapotranspiração de até 3.000 mm/ano é uma realidade que ninguém duvida. Ela gera realmente um déficit de 2.300 mm/ano. Todavia este fenômeno climático não significa dizer que não vai sobrar nenhuma gota d´água após as chuvas para ser captada e estocada. Este falso déficit hídrico não pode, e nem deve ser contabilizado como sendo o fator determinante da escassez hídrica no Nordeste. No fundo, o que interessa mesmo, é a quantidade de água do escoamento superficial que deve ser captada e retida nos reservatórios, açudes, cisternas e nas recargas dos aqüíferos, ademais é pura “matemágica”. Eu gostaria de saber quando foi que o Castanhão passou por falta de água durante uma seca prolongada. Desconheço este feito. O que eu sei é que após a inauguração foi dito

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pelos construtores que o Castanhão levaria 4 anos para encher, o resultado foi que no primeiro ano de chuvas o Castanhão não só encheu como também verteu. Talvez, a mais bem intencionada proposta esteja refletida no desejo de Dom Pedro I e Dom Pedro II autor da célebre frase "venderei até a última jóia da Coroa" para garantir o abastecimento de água para todos os nordestinos ―não vendeu‖. 2 - OS CUSTOS DA TRANSPOSIÇÃO No primeiro Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) 2000, a previsão para implantação do projeto foi estimada em R$ 2,7 bilhões. Em Julho de 2004, já no governo do Presidente Lula, passou para U$ 1,5 bilhões de dólares. Dois meses depois, em setembro, foi reavaliado para ser implantado ao custo de R$ 4,5 bilhões. Atualmente, a nova versão do projeto, recebeu mais um adicional de R$ 2,1 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), totalizando R$ 6,6 bilhões. Está verba não inclui os investimentos adicionais para levar a água para as pessoas que se encontram nas áreas laterais dos canais e para regiões mais dispersas do sertão, cujas despesas ocorrerão por conta dos governos estaduais. Estima-se na verdade, que o custo final da obra, ―se concluída!‖ chegue à R$ 20 bilhões, conforme declarações do Vice-Presidente José Alencar (http://www.joaosuassuna.hpg.ig.com.br) Comentário – Paulo Machado Nós, engenheiros, sabemos como é difícil calcular a priori o custo de uma obra de vulto. Enquanto se está na prancheta, não se imaginam os inúmeros problemas que surgirão no campo. Assim, os números apresentados apenas denotam a incerteza orçamentária que permeia qualquer grande obra de engenharia. De uma coisa, porém, podemos estar certos: a avaliação do Vice-Presidente está equivocada. Réplica – Dilermando O que está em jogo aí não é à margem de erro dos engenheiros, mesmo por que ninguém está contestando o projeto de engenharia em se, que deve atender as especificações técnicas satisfatoriamente, mais sim, a omissão intencional de esconder os números, passar de 4,5 para R$ 6,6 bilhões e omitir que o custo final do projeto chegará a mais de R$ 20 bilhões, não é erro de previsão não, é muito tendencioso. Réplica – Paulo Machado Bem dizia o povo antigo que panela de muitos é bem mexida e mal comida. De fato, é grande a controvérsia em relação ao custo final da obra. De uma coisa, porém, você pode estar certo: esse valor de R$ 20 bilhões está equivocado. Tréplica – Dilermando Você leu e conhece o histórico do projeto e viu que os custos da obra sempre foram elevados avaliados nesta ordem de grandeza com tempo estimado de aproximadamente 20 anos para conclusão. Você acha que o projeto vai terminar quando lançar a água transposta ao longo dos quatro eixos lineares nas calhas dos rios Jaguaribe, Apodi, Piranhas - Açu e Paraíba (já perenizados) e ficar no mesmo estado de inércia em que se encontram os açudes? Como fica a captação, o tratamento, e a tão prometida distribuição da água transposta para matar a sede de toda a população nordestina principalmente as das regiões mais dispersas? Será que vamos continuar repetindo o mesmo erro do passado guardando água nos açudes permitindo que 60% seja consumida pela evaporação, uma pratica incompetente e burra adotada ate hoje? E tão badalada “sinergia hídrica” que a transposição promete levar não passará de uma retórica? Em minha opinião acho mesmo, é que vai continuar tudo igual como era dantes no quartel de Abrantes. Contra Tréplica – Paulo Machado

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No Brasil, o tratamento e a distribuição da água são atribuições de cada município. Entretanto, para que se tenha economia de escala, cada estado tem sua empresa de saneamento. Em Minas, temos a Copasa, na Bahia, vocês têm a Embasa. Cabe aos municípios optarem por realizar eles próprios o tratamento e a distribuição da água, bem como a coleta e o tratamento de esgoto, ou, através de convênio, repassarem essa atribuição à respectiva companhia de saneamento. É legítima sua preocupação com relação à captação, ao tratamento e à distribuição da água. No Atlas Nordeste, a ANA afirma que a colocação de água tratada apenas nas sedes municipais do semi-árido com população superior a 5.000 habitantes e em alguns outros com população inferior custará de cerca de 3,6 bilhões de reais. Esse custo, no entanto, deverá ser muito reduzido depois de concluída a transposição, cujo objetivo é o de levar água em quantidade suficiente para o Nordeste Setentrional. Portanto, esse assunto nada tem a ver com a sinergia hídrica, que é o termo utilizado para aumentar a eficiência dos açudes a serem beneficiados com a transposição que você diz ser, atualmente, de 40% (60% de perdas), mas que a comissão encarregada dos estudos preliminares concluiu ser de apenas 25% (perdas de 75%) se forem incluídas as perdas por vertimento. Contra Tréplica – Dilermando As águas da transposição irão irrigar apenas os terrenos situados próximos dos eixos e especificamente das bacias sedimentares situadas as margens dos rios receptores ( Rio Jaguaribe, Piranhas-Açu e Parnaíba) e jamais chegarão as áreas de seus interflúvios. O fato é, que estas áreas são repletas de afloramentos compostos de granitos, migmatitos, gnaisses filitos, quartzitos etc. totalmente desnudos formando imensos lajedões de rochas estéreis desprovidas de solos e vegetação nativa.

Se já não existe água nestas áreas conforme afirmam os defensores da transposição também não tem solo, então eles pretendem irrigar o que?

A verdade tem de ser dita. O governo tem que ter a coragem de assumir e dizer para todo o povo brasileiro que as águas da transposição não é uma questão humanitária mais monetária, para melhor entendimento, é para manter a estabilidade econômica do agronegócio. Tem de assumir que as águas da transposição vai dá direto nas bacias sedimentares situadas nos eixos da transposição, Bacia do Araripe, Souza – Rio de Peixe, Icó-Iguatu e Potiguar, onde existem solos agricultáveis com projetos já em andamento nos perímetros de irrigação implantados pelo DNOCS desde os anos 50. Portanto a água da transposição vai mesmo é para ampliar a oferta de água para favorecer o agronegócio, a criação do camarão, e abastecer o pólo industrial do Porto de Pecém no Ceará.

Nos últimos anos, apesar da obra não ter saído do papel, ―nenhum tijolo assentado‖, a transposição do Rio São Francisco já custou aos cofres públicos 466 milhões de reais, de acordo com o Sistema de Acompanhamento dos Gastos Federais (SIAFI). A maior parte do dinheiro foi paga ao consórcio Logos-Concremat, que venceu licitação para administrar o projeto, a começar pelas licenças ambientais. Comentário – Paulo Afonso Os gastos iniciais de uma obra são de fundamental importância. Você tem se referido com freqüência à Transamazônica, procurando associá-la à transposição. Uma das razões pelas quais a Transamazônica não deu certo foi a falta de planejamento. Para você ter uma idéia, nem projeto a estrada tinha. O projeto de transposição foi muito bem delineado e discutido com a sociedade em sucessivas audiências públicas. Foi uma pena que profissionais de renome, que poderiam ter contribuído para aprimorar o projeto, tenham se esquivado de fazê-lo, preferindo a crítica sistemática. Réplica – Dilermando

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“não vai acabar com a seca do Nordeste, não vai promover o aceitável convívio do homem com o semi-árido, não vai democratizar o acesso do homem a água, e não vai promover o desenvolvimento socioeconômico do semi-árido” você conhece este texto? Palavras do Banco Mundial que sempre financiou qualquer projeto de água no Brasil para justificar o não financiamento do empreendimento do Projeto de Transposição do Rio São Francisco. Você esta muito enganado afirmando que a sociedade participou das audiências públicas, já que estas audiências públicas programadas para discutir o Projeto de Transposição das Águas do Rio São Francisco foram bastante conturbadas por protestos e manifestações de entidades de classe e de populares, alegando eles que o período entre a convocação e a data da audiência era muito curto, dificultando bastante a divulgação e a mobilização entre os debatedores principalmente a população ribeirinha e as organizações ligadas ao meio ambiente residentes a distancias não compatíveis aos locais marcados para a sua realização não dispondo de tempo hábil para chegar ao local escolhido. Portanto algumas das audiências foram dadas como realizadas e concluídas sem a presença dos debatedores. Réplica – Paulo Machado Se fôssemos dar atenção ao que os outros querem que nós façamos ou deixemos de fazer, não teríamos pesquisado petróleo e o Brasil não seria hoje auto-suficiente na produção de combustíveis nem estaria em vias de se associar à OPEP. Não tenho nada contra o Banco Mundial, mas quem entende do Brasil somos nós, brasileiros. Por que as audiências públicas foram conturbadas? Por falta de tempo hábil para prepará-las? É evidente que não. Eu fiquei sabendo com dois dias de antecedência da audiência pública que iria se realizar na Assembléia Legislativa e, nem por isso, fui lá para fazer baderna.

O tumulto realizado nas audiências públicas representou uma grande perda. Em mensagem ao Prof. Abner, eu lembrei esse fato. Se as audiências públicas não tivessem sido tumultuadas como foram, algumas falhas do projeto, como as que ele observou no Rio Grande do Norte, não teriam sido cometidas.

Tréplica – Dilermando Que bom você reconhecer que existem falhas no projeto, são tantas que nos passaríamos aqui dias para discuti-las principalmente as de cunho ambiental. Aliás, já é de conhecimento de toda a população que o governo federal já tomou conhecimento através de vários documentos técnicos apontando as incoerências e os erros existentes no projeto assinalados e assinados por instituições como SPBC, OAB, CREA, SBG, ABAS, Fórum Permanente em Defesa do São Francisco – Bahia, Projeto MANUELZÃO, CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, pesquisadores, técnicos e professores de varias universidades etc. Eu concordo que houve exagero por parte de alguns manifestantes que tentaram impedir que a audiência pública programada para Aracaju, por exemplo, fosse realizada. Entretanto, ressalto que teve instituições de ambientalistas do interior de Sergipe que receberam o comunicado da audiência um dia após ela ter sido realizada. Contra Tréplica – Paulo Machado Eu sou do tempo em que as manifestações públicas eram proibidas, por isso dou grande importância aos debates quando objetivam um fim útil, como está sendo este nosso. As audiências públicas preliminares tiveram por objetivo solucionar possíveis problemas futuros. Foi a grande oportunidade que tivemos de participar diretamente das discussões do Projeto São Francisco. Infelizmente, alguns adversários do projeto acharam que seria melhor impedir essas audiências para marcar posição contra o projeto. Com isso, perdemos a oportunidade de solucionar eventuais falhas que um projeto dessa magnitude possa conter. Discordo, no entanto, do posicionamento do Prof. Abner com relação ao lançamento da água em açudes que regularizam cursos de água da região. Em suas manifestações, o professor tem dito que o projeto está levando água para onde já existe. Dessa forma, ele não leva em consideração o que se convencionou chamar de "sinergia hídrica". O lançamento de água em açudes não é para aumentar o estoque de água como ele afirma,

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mas, sim, para aumentar a eficiência desses açudes, permitindo-os trabalhar com estoques menores e reduzindo significativamente as colossais perdas a que estão sujeitos. Contra Tréplica - Dilermando

Todos nos sabemos que não houve consenso, as audiências foram feitas a revelia pois os governadores interessados Aécio Neves de Minas e Paulo Souto da Bahia, os dois maiores estados doadores de água ( 70% de Minas e 20% da Bahia ) não foram ouvidos. As audiências publicas ocorreram em clima hostil como a de Salvador que foi comprometida por uma série de fatores como o local escolhido para o evento, o Centro de Convenções da Bahia local distante do centro da cidade e em horário de pico (18h30) além da proximidade com o Carnaval e a realização da festa da Lavagem de Itapuã no mesmo dia da audiência, foram fatores determinantes de exclusão de muitos debatedores. Inúmeros debatedores deixaram de comparecer as audiências porque os convites ou chegaram em cima da ora ou dias após a audiência ter sido realizada, exemplo a de Aracaju.

O Prof. Abner tem marcado sua posição sempre fundamentado em dados técnicos. Ele não admite a "sinergia hídrica” como sendo o carro chefe para justiçar a obra, pois os açudes que irão receber as águas da transposição são açudes interanuais não secam nunca. Trabalhei 33 anos fazendo levantamentos geológicos, hidrogeológicos e hidroquímica das águas subterrâneas e superficiais nos quatro estados e em todo o Nordeste, jamais vi um dos três rios o Jaguaribe, Piranhas – Açu e o Paraíba seco, aliás curti muitos domingos em Orós tomando banho no vertedouro do açude com uma das válvulas jorrando água a uma altura de mais de 40 metros, tive inclusive o prazer de assistir o Açude de Orós vertendo.

Conheço o sofrimento do sertanejo como ninguém, tudo que eu falei até agora não é apenas compilação bibliográfica, ou informações, de eu ouvi dizer, eu estive lá, nos locais mais longínquos que você possa imaginar .

O Prof. Abner não cometeu nenhum sacrilégio, o que ele falou é pura verdade, não há como negar, a transposição vai levar água para a região mais bem servida de água do Nordeste e uma das mais açudada do planeta que é o Ceará com capacidade de armazenamento de 17,6 Bilhões de m³ e 4,22 Bilhões de m³ de reservas de água subterrânea explotável seguido do Rio Grande do Norte com 5 Bilhões de m³ nos açudes e 2,62 Bilhões de m³ de reservas de água subterrânea explotável, vai chover no molhado. Deixou de lado a região do Seridó, a terra natal do amigo Abner, e parte do oeste da Paraíba as regiões de maior escassez hídrica do Semi-Árido com índices pluviométricos abaixo de 350 mm sem ver uma só gota a´água da transposição. Para o Tribunal de Contas da União (TCU), "a projeção desconsidera os investimentos necessários nas redes de captação, tratamento e distribuição das águas. Com isso, os gastos para levar à população do semi-árido nordestino os benefícios da transposição vão subir". Comentário – Paulo Machado Esse é um dado importantíssimo a ser considerado. O projeto objetiva dar segurança hídrica à população. As obras de tratamento e de distribuição, que são de responsabilidade das empresas de saneamento estaduais, vão continuar a sê-lo. Segundo o governo federal, fica a cargo dos governos estaduais do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco (já ―quebrados‖ e sem as verbas para investimentos básicos em educação, saúde, saneamento básico e segurança pública) a pesada missão de criarem políticas públicas de infra-estrutura para captação, tratamento e distribuição das águas da transposição para levá-las às diversas localidades a serem beneficiadas. Tal processo acarretará um custo adicional para os quatro estados estimado em R$ 13,4 bilhões, pois as populações que vivem nas áreas de influência de atuação do projeto (área total chamada de AII, com cerca de 787.000 km², dos quais 212.453 km² correspondem às bacias

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exclusivamente receptoras), estarão a uma distância que pode chegar 150 km, da rota dos eixos lineares da transposição. Comentário – Paulo Afonso Trata-se de um custo indispensável. Os estados não podem relegar a população difusa a segundo plano. O homem não é um mero dado de estatística. Réplica – Dilermando Aí é onde mora o X da questão. Se não foi feito até agora a distribuição da água em disponibilidade existente armazenada nos açudes e nos reservatórios subterrâneos, não é com a chegada da água da transposição que isto vai acontecer, mesmo por que, água já existe, só o Açude Castanhão com 6,7 bilhões de metros cúbicos ( jamais vai secar em tempo algum como você alega) tem uma vazão regularizada de 50 m³/s e dar para abastecer os quatro estados sem problema, é só fazer a distribuição, o que não existe é vontade política para realizar e resolver os problemas de forma correta. Será impossível distribuir água para populações dispersas via adutoras pelos autos custos deste tipo de abastecimento. Você sabe quanto custa um km de adutora? Um exemplo, a adutora Serra de Santana RN recebeu investimentos de R$ 32 milhões para construírem 204 quilômetros. O custo por km foi de R$ 156.862,00. Provo que a captação de água subterrânea é infinitamente inferior e não precisa de distribuição a longas distancias, ela é feita na porta de casa e com boa qualidade não necessitando de tratamento. E por isso que eu digo que o projeto de Transposição do Rio São Francisco vai ser a Transamazônica Hídrica do Nordeste, ou seja, terá começo mais não terá fim. Réplica – Paulo Machado Há alguns parâmetros a considerar em sua tréplica. Primeiramente, não há como estipular o custo de uma adutora, pois este depende, primeiramente, do diâmetro e do comprimento, e, depois, das condições do solo, das condições de transporte e de outros fatores. Em segundo lugar, a distribuição de água às populações difusas não será feita por meio de adutoras, mas, sim, por rede de distribuição, como acontece no meio urbano. A utilização de adutoras deveria ser usada caso se desejasse distribuir a água do Castanhão pelos 4 estados citados. E o custo seria muito maior que R$ 150.000 o km. A água subterrânea, que você tanto defende, é uma solução muito boa quando há aqüíferos disponíveis para tal, o que normalmente não ocorre no Nordeste Setentrional. Quem diz isso é o Paulo, defensor do projeto de transposição? Não. Quem diz isso é a Agência Nacional de Águas, órgão oficial do Governo Federal para tratar exclusivamente com o precioso líquido. Vou novamente reproduzir algumas frases do Atlas Nordeste: O Semi-Árido abrange os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais, ocupando uma área de 976.743,3 km². Compreende 1132 municípios, abrangendo uma população de 20 milhões de habitantes, ou seja, 12,2% da população brasileira. Destes 20 milhões, 56% corresponde à população urbana e 44% à população rural. O semi-árido caracteriza-se por apresentar reservas insuficientes de água em seus mananciais. Apresenta temperaturas elevadas durante todo ano, baixas amplitudes térmicas, da ordem de 2 a 3º C, forte insolação e altas taxas de evapotranspiração. As chuvas apresentam totais pluviométricos irregulares e inferiores a 900 mm. Normalmente são superadas pelos elevados índices de evapotranspiração, configurando taxas negativas no balanço hídrico. A irregularidade das chuvas pode chegar a condições extremas, caracterizando os chamados anos de seca. Para definir porções da região de estudo objeto de atenção especial, em função do maior risco de escassez hídrica, foram delimitadas pelo ATLAS Áreas de Elevado Risco Hídrico (AERHs), com base na análise de fatores geoclimáticos. As AERHs possuem extensão total de 321.711 km², distribuindo-se nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte e abrangem 502 sedes municipais, sendo 234 delas consideradas pelo Atlas.

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Sugiro que você entre no site da ANA para tomar conhecimento das áreas que ela define como de Elevado Risco Hídrico. Tréplica – Dilermando - Você quer dizer que a distribuição da água vai ser do tipo rede urbana? - Então, ela só vai abastecer as cidades ribeirinhas situadas as margens dos rios que já tem o seu sistema de abastecimento regularizado? - Este tipo de distribuição atende as localidades com distancias que podem variar de 10 km a 140 km? - Como vencer os recalques que podem chegar a 300m a serem percorridos entre uma serra e outra, para levar a água a estes locais mais distantes? - Quantas bombas e qual seria a potencia delas necessárias para atender a todas as localidades carentes das regiões difusas, e a manutenção destes equipamentos, e que tipo de energia seria utilizada? - Quem vai fiscalizar a retirada de água clandestina no trajeto? - Eu só estou fazendo estes questionamentos como replica ao comentário que você fez para descartar a solução alternativa de abastecimento com água subterrânea e o emprego dos dessalinizadores. Estes tipos de situações poderão ocorrer em ambos os casos, ou você acha que os itens acima questionados só são validos para descartar a distribuição da água subterrânea conforme você levantou? Eu acho que eles são muito mais aplicáveis para as águas superficiais, pelas distancias que serão percorridas para levar a água as áreas difusas, coisa que não acontece com a oferta de abastecimento das águas subterrâneas e das cisternas que na grande maioria dos abastecimentos serão feitos “in locum”. Quanto ao Atlas do Nordeste ele é muito bem visto do ponto de vista técnico e de custo benefício, bem mais próximo da realidade do semi-árido dando liberdade para a melhor escolha na opção da aplicação de soluções compatíveis peculiares para cada região e que realmente venham a resolver o abastecimento humano e da agricultura de subsistência. Segundo o texto abaixo, entrevista de José Machado diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA) o Atlas permite a melhor opção para oferta de água para toda a região. As soluções alternativas como a implantação das cisternas, perfuração de poços tubulares, barragens subterrâneas completando com sistema integrado dos açudes já existentes, de há muito tempo, já vem sendo apontadas como as propostas que deverão apresentar os melhores resultados. Não resolveu até agora o problema da seca (isto é a convivência do homem com o semi-árido) como você faz questão de frisar em seus comentários porque não houve vontade política para se colocar em pratica continua as várias sugestões técnicas apresentadas para novos projetos, bem como a falta de continuidade para aqueles projetos já implantados e parcialmente executados como o ProÁgua e o Projeto Áridas. Faço questão de apresentar o texto abaixo para mostrar como se faz pouco caso para levar o abastecimento de água para o consumo humano no semi-árido do Nordeste. De um Milhão de Cisternas previstas para serem construídas em cinco anos, apenas 200 mil aproximadamente foram implantadas. Veja abaixo. “Carta Aberta ao Povo Brasileiro e suas Autoridades”

Por um Milhão de Cisternas no Semi-Árido do Brasil

Os delegados e participantes do III ENCONASA – TERCEIRO ENCONTRO NACIONAL DA ARTICULAÇÃO NO SEMI-ÁRIDO DO BRASIL - reunidos em S. Luiz do Maranhão entre os dias 20 e 23 de novembro de 2002, manifestamos à comunidade brasileira e às suas autoridades o que se segue:

1) O abastecimento de água, especialmente aquela potável, na região do semi-árido brasileiro, é algo dramático. Nas secas e estiagens, como a que ora se aproxima, a imagem cruel do carro pipa, destruindo a cidadania e mantendo o coronelismo e clientelismo, é o que predomina; ter acesso à água faz parte do acesso à alimentação e da cidadania;

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2) Os problemas do nosso semi-árido, se são de falta de água, são também de falta de uma política de gerenciamento adequado das águas disponibilizadas. Somos uma das áreas semi-áridas que mais chove no mundo (grifo meu), porém da forma mais irregular possível;

3) Diante desse quadro e buscando solução para os problemas aqui aventados, Igrejas católicas e evangélicas, sindicatos, ONGs de desenvolvimento e ambientalistas, movimentos sociais os mais variados, vimos construindo uma longa história com os processos participativos de mobilização social e construção de cisternas rurais familiares, para captação, armazenamento e tratamento da água da chuva, exclusivamente para consumo humano. Essa história, com a sistematização das experiências, resultou num projeto denominado UM MILHÃO DE CISTERNAS. A proposta é construir um milhão de cisternas rurais, num espaço de 05 (cinco) anos, para as famílias do semi-árido brasileiro, trabalhando pedagogicamente, além disso, uma capacitação dessas famílias para uma convivência digna e sustentável com seu ecossistema;

4) Uma cisterna de 16 mil litros, construída com a participação efetiva da própria família, armazena água suficiente para o consumo humano de 05 pessoas, durante cerca de 08 a 09 meses, tempo médio de uma estiagem em nosso semi-árido. A cisterna é uma ação para muito além da emergência de uma seca, tem vida útil de cerca de 30 anos, investimento inicial muito baixo, custos de operação e manutenção praticamente nulos;

5) Na busca de recursos para este processo, está sendo negociado com o Banco Mundial, através da ANA (Agencia Nacional de Águas) e nossas organizações, a inclusão do Projeto Um Milhão de Cisternas, através de aditivo, no projeto do PRO-ÁGUA, contrato já celebrado entre o Banco Mundial e o Governo Brasileiro, para obras relativas ao abastecimento de água. Temos para isso, o de acordo do Banco Mundial e aquele do Governo Brasileiro”;

Tréplica – Dilermando A intenção de José Machado em lançar o Atlas não foi mesmo como sendo uma opção para substituir o projeto da transposição. Ele deixa bem claro na entrevista que o Projeto de Transposição do Rio São Francisco terá outro objetivo que é a garantia hídrica de oferta de água para a irrigação. Esta declaração não é novidade, desde que todos os críticos do projeto da transposição já vem apontando que na verdade o projeto vai beneficiar mesmo é a irrigação da fruticultura para exportação, a carcinicultura (criação de camarão) e o pólo siderúrgico-portuário do porto do Pecém em Fortaleza, no Ceará. Veja parte da entrevista de José Machado.

“Há um equívoco nessa abordagem e tentaremos, neste artigo, esclarecer os fatos. Em primeiro lugar, o Atlas não pode ser considerado um programa ou projeto. É, na verdade, um portfólio de eficientes soluções técnicas para serem eventualmente financiadas com recursos públicos, por iniciativa dos poderes Executivo e Legislativo, federal, estaduais e municipais, ou mesmo com recursos privados.

O Atlas consiste num estudo coordenado pela Agência Nacional de Águas (ANA) que busca identificar alternativas de abastecimento público de água para sedes municipais com mais de 5 mil habitantes, considerando cenários tendências de crescimento de demandas por consumo urbano de água em uma área que inclui mais de 1,3 mil municípios do Nordeste e da Bacia do Rio São Francisco, propondo soluções localizadas de curto e médio prazos (2005 a 2015).

Para elaboração desse estudo, a ANA contou com o envolvimento dos estados da área de abrangência do Atlas, do Ministério da Integração Nacional, do Ministério das Cidades e do Ministério da Saúde, por meio da FUNASA - Fundação Nacional de Saúde.

O Atlas não teve o objetivo de equacionar o problema de segurança hídrica da Região Nordeste, uma vez que não se tratou do atendimento de usos múltiplos da água, como a produção de alimentos com a irrigação. Também não foi considerado o abastecimento de água das sedes municipais com menos de 5 mil habitantes, dos distritos, das vilas e

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dos núcleos rurais. Para esse fim, outros levantamentos, estudos e iniciativas são necessários, propondo soluções e tecnologias apropriadas.

Por outro lado, o PISF é um projeto de desenvolvimento regional, com a perspectiva de conseguir benefícios que se estendam para além de 2025, proposto pelo governo federal, por meio do Ministério da Integração Nacional, que visa ao desenvolvimento sustentável de uma das áreas de maior concentração populacional do semi-árido, mediante o atendimento a múltiplos usos da água, com garantia adequada. Considerou-se, nessa proposição, a evolução das demandas por água no Nordeste Setentrional, associadas não só ao abastecimento urbano e doméstico de água, mas, também, aos usos produtivos da água e à produção de alimentos, a partir de atividades existentes ou a serem induzidas pelo próprio projeto.”

Afirmo com convicção conforme dados técnicos levantados e exaustivamente discutidos em todos os trabalhos técnicos da região do Nordestino Brasil que as reservas de água superficial e subterrânea existentes no Nordeste Setentrional são suficientes para o atendimento de todos os usos múltiplos da região para além do ano 2025. Quanto as Áreas de Elevado Risco Hídrico (AERHs) ninguém esta aqui negando que elas não existem. Elas são terríveis para a vida das populações que habitam estas áreas. O que se discute é a forma como será solucionado o abastecimento, se com a transposição, ou com a escolha das indicações prevista no Atlas do Nordeste. Quero ratificar que a seca existe em cada metro quadrado principalmente em áreas de terrenos onde predominam as rochas cristalinas. Não havendo opção local de abastecimento nestas áreas os grandes açudes estão aí bem mais próximos que o Rio São Francisco para oferecer a opção de distribuição de suas águas quando forem solicitados. Contra Tréplica – Paulo Machado Meu caro Dilermando, estamos rodando e chegando ao mesmo lugar. O Atlas Nordeste é um portfólio elaborado para atender apenas ao abastecimento urbano de sedes municipais com população superior a 5.000 habitantes e de algumas outras de menor porte. Diga-se de passagem, é lamentável que ainda exista no Brasil sede municipal com população superior a 5.000 habitantes sem água tratada. É por isso que verminoses como giardíase, amebíase e outras estão tão presentes em nosso cotidiano. O Projeto São Francisco não é para substituir os municípios e as empresas de saneamento em sua tarefa de levar água tratada à população urbana dessas cidades. Ele tem um escopo diferente. Vai levar água onde ela não existe e vai permitir que, onde ela existe, possa ser usada pela população e não perdida por evaporação ou por vertimento. Você faz um comentário interessante: como fiscalizar a retirada de água clandestina no trajeto? É evidente que você não está propondo a utilização de guardas armados para vigiarem se a água está sendo retirada dos canais pela população, como denunciou o Projeto Manuelzão. Queira Deus que essa fase se encerre definitivamente com o Projeto São Francisco e a garantia de segurança hídrica para a população. Quanto ao Projeto Um Milhão de Cisternas, gostaria de lembrar que ele objetiva exclusivamente o abastecimento humano e não é feito para a dessedentação animal ou para irrigação de hortas. Tanto a esse respeito, como à construção de novos açudes, o Ministério da Integração Nacional faz as seguintes colocações:

Não existe uma outra solução técnica mais econômica, como os açudes?

A água dos rios intermitentes do semi-árido setentrional já é armazenada em grandes açudes, mas investe-se muito nessas obras para disponibilizar relativamente pouca água. Para cada m³ de água disponibilizado, perdem-se 3 m³ por evaporação e vertimento (sangramento) nos açudes. Ou seja: é preciso represar 4 m³ para usar apenas um. Além disso, não há mais a possibilidade de guardar água nas bacias com novos açudes. O que poderá ocorrer, em muitas bacias, é que a construção de novos açudes necessários para distribuir água no território acabará causando mais perdas de água por evaporação, reduzindo a água disponível no conjunto da bacia.

E as cisternas?

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A coleta de água da chuva em cisternas garante água para beber no meio rural, para a população dispersa, para a qual, em geral, não se viabilizam longas adutoras, de alto custo, para atender a poucas pessoas. As cisternas, entretanto, não produzem modificações estruturais nem a inserção econômica da população rural nas condições modernas de vida. O uso de cisternas é válido numa conjuntura emergencial, mas muito precário se for a única fonte de água permanente. Para abastecer uma cisterna, é preciso uma área adequada de telhado, onde se faz a captação da água. Em muitos lugares, nem sempre existem áreas telhadas suficientes para manter as cisternas cheias, porque chove pouco. E nas secas prolongadas, a cisterna é um recurso que pode esgotar-se. Em resumo, apenas construir cisternas não resolve a questão principal, embora alivie a vida dos pobres dispersos no meio rural do sertão. Pesquisas feitas no semi-árido mostram também um outro problema grave: a contaminação das cisternas por coliformes fecais e outras fontes de poluição.

Contra Tréplica - Dilermando

Paulo, quanto a sinergia hídrica concordo com você de que ela é real dentro do conceito que você tão bem definui. Eu concordo com muita coisa que você tem dito, entretanto eu não tenho como me refutar sobre alguns pontos de vista abordado por você. Todo que você vem colocando até agora não tem nada de errado, é uma questão apenas de interpretações e pontos de vista divergentes, e acima de tudo, de credibilidade de sua parte sobre as promessas e os objetivos a serem atingidos pelo projeto.

O que a gente tem de entender, é que devemos separar, o que é, oferta de água para consumo humano, dessedentação animal e agricultura de subsistência, do que é oferta de água para o agronegócio, são duas coisas totalmente distintas em todos os sentidos. Quando você diz que eu estou desprezando a sinergia hídrica, não é verdade. Eu só quero ressaltar que o agronegócio não precisa das águas do São Francisco, os Açudes Orós, Castanhão, Banabuiú e a Barragem do Açu são açudes interanuais não secam nunca, são suficientes para atender a demanda do Ceará e do Rio Grande do Norte até o ano 2050, eu apenas estou demonstrando que existem soluções mais baratas para atender a população difusa, inclusive uma solução alternativa, que é a construção das barragens a jusante das grandes barragens conforme propôs o Eng. Arrojado Lisboa, uma opção para garantir a sinergia hídrica com melhores custos-benefício e socioambientais, o que as águas do São Francisco não terão condições de realizar, são dois biomas distintos é muita agressão ao meio ambiente. Se a gente se descuidar, mais do que, já foi, vamos deixar o homem extinguir a vida na superfície da terra, se deixar o homem faz.

Já está, mais do que demonstrado, que a oferta de água para o Semi-Árido, independente ou não da transposição, só vai ser resolvido com resultados satisfatório quando for introduzido nos planos de recursos hídricos dos estados um programa que adote um sistema integrado água superficial – subterrânea, com destaque para as barragens subterrâneas, os poços tubulares e o complemento indispensável que são as cisternas. É só ver o que se passa lá fora, será milagre?

Se não vejamos: Em média, chove no Nordeste 700 mm/ano um índice pluviométrico de fazer inveja a qualquer técnico israelense e americano. Já no Oeste dos USA por exemplo, nas terras áridas e semi-áridas das Grandes Planícies Americanas que se estendem desde o estado de Dakota do Sul passando por Nebraska, Kansas, Colorado, Oklahoma, Novo México, e Texas, as isoietas pluviométricas variam entre 250 a 500 mm/ano. No Arizona a média é de 180 mm com a cidade de Phoenix, recebendo menos de 250 mm. Na Califórnia chove entre 192 e 220 mm, mesmo assim, com estes índices pluviométricos tão baixos os americanos operam milagres. Eles são os primeiros do “ranking” em extensão de áreas irrigadas em regiões desérticas. São os donos das maiores fazendas agricultáveis do planeta cerca de 23 milhões de hectares irrigados atrás apenas da China. No sul de Israel, também se opera milagres. Com precipitações

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pluviométricas abaixo de 250 mm (há regiões em que chove apenas 70 mm/ano). Israel é considerada um “ícone” exemplo de como aperfeiçoar o uso da água quando ela é escassa. Hoje se irriga cerca de 285 mil hectares em um pais com uma área um pouco menor do que o estado de Sergipe. Só a título de comparação, a área irrigada em Israel hoje se aproxima da área total irrigada atualmente no vale do São Francisco que é de 340 mil hectares.

A açudagem nos USA junto com as águas subterrâneas, principalmente a exploração das barragens subterrâneas (o estado da Califórnia é a maior usuário das barragens subterrâneas do planeta) é quem move a maior agricultura do mundo, depois da China . Esta é uma forma de captação que faz da região uma das mais produtivas do Arizona e dos USA onde foram desenvolvidos vários projetos como os da Barragem de Roosevelt e o famoso perímetro irrigado do vale do “Salt River” que eu conheço.

No meu artigo publicado no Boletim 3 eu demonstrei que as três soluções alternativas resolveria o problema da oferta de água para o semi-árido com os melhores custos-benefício se não vejamos:

SOLUÇÕES ALTERNATIVAS

REVISADO 18/12/2008

ESTAS SÃO ALGUMAS FORMAS DE SE AMPLIAR A OFERTA D’ÁGUA NO SEMI-ÁRIDO

Dentre as opções que podem ser consideradas como objetivo de maximizar a disponibilidade de água na Região do Nordeste destacam-se:

• Dar continuidade ao programa de construção de grandes represas na região, intercalando com pequenas barragens a jusante.

• Construção de barragens subterrâneas.

• O uso de dessalinizadores em poços tubulares nas áreas onde a opção é única.

• Implantação pontual de cisternas para captação de água de chuva.

• Construção de mais poços tubulares em áreas de captação promissora.

• Tratamento e reutilização de águas recicladas ou servidas.

• Implementação de processos para recarga artificial de aqüíferos.

• Desenvolver políticas de combate ao desperdício de água já que no Brasil chega-se a desperdiçar entre 30 a 40% da oferta de água tratada.

E só pegar qualquer relatório por este mundo a fora que ta lá, inclusive muitos paises como os USA, Israel, Emirados Árabes já colocaram em pratica todos estes itens acima relacionados.

PROPOSTAS PARA IMPLANTAÇÃO DAS SOLUÇÕES ALTERNATIVAS

1- BARRAGENS SUBTERRÂNEAS

• Experiências feitas no Estado de Pernambuco com a construção de 500 barragens subterrâneas indicam que a barragem subterrânea é uma forma de

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captação de água mais eficiente para sustentar a agricultura familiar servindo até trinta famílias na utilização da água nas lavouras.

• A construção de 13.000 barragens subterrâneas na Região Setentrional dos quatro estados Ce, Rn, Pb e Pe com uma vazão média por barragem de 4 m³/s ao custo de R$ 6 mil reais cada totalizaria R$ 78 milhões. Cada barragem daria para atender trinta famílias ( 5 pessoas por família), beneficiando cerca de 2.500.000 pessoas ao consumo de 125 l/h (previsto para zona rural) e ainda irrigar 100 hectares ao consumo de 7.000 m³/ano deixando um excedente hídrico 340 milhões de m³ como reserva permanente estratégica.

• Se a área do Nordeste a ser beneficiada diretamente pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco for de 140.000 km² e construirmos nessa área 13.000 barragens subterrâneas, teremos uma média de 10,76 barragens /km² . Esse número indica que teríamos uma reserva de água para todos os habitantes da região a uma distância nunca superior a 3 Km, inclusive para os seus animais.

2- DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUA DE POÇOS TUBULARES

• Dos 70 mil poços perfurados no Nordeste , estima-se que cerca de 30% 21 mil poços possuem salinidade elevada imprópria para consumo humano.

• A instalação de dessalinizadores em 21 mil poços para atender uma vazão até 50 m³/dia (2.083l/h) ao preço unitário de 31 mil reais totalizaria R$ 651 milhões de reais suficientes para atender cerca de 2.000.000 pessoas ao consumo de 125 l/dia/p recomendado para a zona rural, deixando um excedente hídrico 7 bilhões de m³ como reserva permanente estratégica

3- CISTERNAS PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA

• Esta forma de captação tem demonstrado o melhor custo - beneficio das alternativas para consumo humano.

A ASA - Articulação para o Semi-Árido, estima que a construção de 1 milhão de cisternas beneficiaria 5 milhões de pessoas em 5 anos.

• Propomos a construção de 500 mil cisternas com capacidade para armazenar 16 mil litros ao custo médio de R$ 1 mil reais cada totalizando R$ 500 milhões reais, suficiente para atender à cerca de 2.191780 mil pessoas/ano (a 10 l/pessoa/dia para beber e cozinhar) consumo para zona rural). O Projeto ASA já construíu mais de 200 mil cisternas nos últimos anos.

PÚBLICO ALVO E CUSTOS DAS TRÊS OPÇÕES ALTERNATIVAS

- As três alternativas propostas atenderiam a 6.691.780 pessoas, espalhadas em comunidades do interior do sertão nos locais mais longínquos e afastados das grandes massas d’águas cobrindo aqueles espaços onde essas captações são as únicas alternativas e com os melhores custos-benefício bem inferior ao da construção de grandes adutoras. Estamos projetando uma oferta de água para atender acima da demanda da população rural dos quatro estados que é de 5.712.160 habitantes IBGE censo (2000).

- Custo total de captação da água das soluções alternativas é de R$ 1,229 bilhões de reais, comparados com o valor de R$ 6,6 bilhões de reais, consumidos na primeira etapa da obra (previsão custo final da obra 20 bilhões) teríamos uma economia para os cofres públicos de R$ 5,371 bilhões de reais, isto sem levar

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em consideração a economia que será feita em gastos com saúde publica, em função da oferta de água potável, minimizando ou eliminando os tratamentos das doenças de veiculação hídrica.

Os quatro governadores já firmaram um termo de compromisso que prevê investimentos de R$ 20 milhões por ano em obras de infra-estrutura para levar a água dos novos canais e açudes até o usuário final. Segundo depoimento do Senador Eduardo Suplicy (Jornal do Brasil (RJ), Opinião, 20/03/2007), ―Desde 1988, a CHESF repassa aos estados e aos municípios da Bacia do São Francisco 6% do seu faturamento bruto, R$ 90 milhões por ano. Até agora, a CHESF já repassou R$ 1,350 bilhão para os municípios sanfranciscanos. É um dinheiro que deve ser obrigatoriamente aplicado em ações de revitalização do rio.‖. Esta é uma informação que deve ser apurada a fundo para se descobrir o caminho percorrido por toda essa quantia liberada pela CHESF nos últimos anos, com assinatura exclusiva para aplicação na revitalização do rio, no qual não se conhece qualquer investimento em projetos de revitalização por parte das prefeituras e estados beneficiados. 3- O PROJETO E AS PREVISÕES DE CONCLUSÃO O Governo do Presidente Lula, disse que as obras dos dois eixos, norte e leste da Transposição do Rio São Francisco, ficariam prontas em 2,3 anos antes do término de seu primeiro mandato. O atual Ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, em entrevista ao Jornal Ceará Agora (28/03/2007) (www.cearaagora.com/), afirma que só o eixo leste é que ficará pronto em quatro anos, criando desde já um conflito federativo entre baianos e cearenses, sendo que estes é que levaram desvantagem, ficaram sem o Ministro Ciro Gomes e sem a água. Comentário – Paulo Machado No meu entender, o ex-Ministro Ciro Gomes cometeu um grande erro: falar demais. Não seguiu o exemplo do Ex-presidente JK quando construiu Brasília. Este sabia que, como toda grande obra, Brasília estava sujeita à oposição ferrenha de seus adversário. Por isso, ele evitava ao máximo falar sobre a obra, que acabou sendo realizada no prazo. Os inúmeros comentários na imprensa ao projeto de transposição durante o primeiro mandato de Lula serviram para que se fizessem muitas ações judiciais, algumas delas completamente sem sentido, mas que conseguiram paralisar a obra, aumentando-lhe o preço final. Depois, esse aumento de preço foi utilizado como argumento contra o projeto. Ora, com todo este otimismo, a previsão acima, jamais em tempo algum, será concretizada, pois será preciso para transpor, 26 m³/s podendo chegar a 127 m³/s das águas do Rio São Francisco, a construção de: "720 km de canais, 35 reservatórios, oito túneis com 37 km de extensão, 27 aquedutos com 4,8 km de extensão, 4,4 km de adutoras, nove estações elevatórias de bombeamento e duas pequenas centrais hidrelétricas, junto aos reservatórios de Jati e Atalho no Ceará, com respectivamente, 40 Mw e 12 Mw de capacidade. A água será distribuída ao longo de quatro eixos lineares em canais a céu aberto e nos leitos dos seguintes rios: ―Rio Salgado, a água percorrerá 60 km; no Rio Jaguaribe, 80 km; no Rio Apodi, 90 km; no Rio Piranhas - Açu, 130 km e no Rio Paraíba, 150 km‖. (www.integracao.gov.br/). Comentário – Paulo Machado O projeto está delineado com bastante precisão e é do conhecimento público. A conta é simples. Vamos admitir a construção de 100 m de canal por dia dos 720 km de extensão dos canais que terão 25 m de largura e 5 m de profundidade. Então, seriam necessários cerca de 7.200 (sete mil e duzentos dias) para concluí-los, ou seja, 19,7 anos, isto sem levar em conta uma avaliação dos prazos de construção dos reservatórios, túneis e estações elevatórias das duas pequenas centrais hidrelétricas, além da construção do Túnel

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Cuncas 2 ―de um total de 37 quilômetros de túneis‖, um túnel de 17 km de comprimento com sete metros de diâmetro, que será cortado em uma rocha de alta dureza como é o granito. Tudo leva a crer que a previsão mais aceitável é que essa transposição se transforme na Transamazônica Hídrica do Nordeste, ou seja, terá começo mais não terá fim. Comentário – Paulo Machado Essa conta está completamente equivocada. Não existirá apenas uma frente de trabalho. O Exército foi convocado para realizar grande parte dos canais e essa conta de 100 metros por dia está muito aquém de suas possibilidades. Réplica – Dilermando O governo convocou o Exército porque ele não depende das licitações públicas para iniciar as obras. Foi apenas uma abertura simbólica para mostrar para a nação que a obra já começou e é irreversível. Só que o Exército não dispõe de equipamentos para tocar a obra do porte do projeto da transposição, alem do mais existem dependências judiciais procedentes e pendentes. Réplica – Paulo Machado Permita-me discordar de sua colocação. O Exército já foi convocado inúmeras vezes para fazer estradas e o fez com grande êxito. A execução de canais é matéria semelhante. Além disso, compare o custo do metro de canal realizado pelo Exército com o custo realizado por uma empreiteira e você vai descobrir a razão de se estar utilizando o Exército. Tréplica – Dilermando A convocação do Exército para dar início as obras, foi feita porque existe pendência ainda não julgada pelos 11 Ministros do Supremo Tribunal Federal da apelação feita pela Promotoria Pública de Brasília contestando a decisão do Ministro Sepúlveda Pertence que suspendeu em dezembro de 2006 todas as liminares em tramitação no supremo, portanto nem uma outra construtora estaria em condições legais para iniciar as obras . Lembrando que no momento também tramita o mandado de segurança impetrado por três empresas participantes (Consórcio Construtor Águas do São Francisco) da concorrência do procedimento licitatório do Lote 01, referente às obras da transposição do rio São Francisco e é válida até o julgamento do pedido de concessão de liminar. Contra Tréplica – Paulo Machado Como esse comentário está desatualizado, prefiro não fazer contra-tréplica. Contra Tréplica - Dilermando Eu só quero ver se o glorioso Exército Brasileiro possui maquinário para tocar uma obra do porte da transposição. Vou pagar para ver aberto o Túnel Cunca II de um total de 37 quilômetros de túneis, um túnel de 17 km de comprimento com sete metros de diâmetro, que será cortado em uma rocha de alta dureza como é o granito. 4- VOLUME DE ÁGUA A SER RETIRADO PARA A TRANSPOSIÇÃO Consta, SBPC (2005) que o Rio São Francisco tem uma vazão alocável (aquela permitida para usos consuntivos), determinada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, de cerca de 360 m³/s, dos quais 335 m³/s já foram outorgados (desses, efetivamente, só estão sendo utilizados 91 m³/s), ou seja, já há o direito adquirido de uso da maior parte desse volume, restando portanto, um saldo de apenas 25 m³/s para o atendimento a um projeto que irá demandar uma vazão mínima de 26 m³/s, média de 63 m³/s e máxima de 127 m³/s. Considerando a vazão efetiva de uso atual de 91 m³/s, os 269 m³/s já com direito de outorga assegurados, a retirada de uma vazão média de 63 m³/s e de 127 m³/s previstas no projeto significa 23,4% e 47,2%, respectivamente, dos 269 m³/s já outorgados. Isto significa dizer que o governo será obrigado a cassar as licenças de outorga já concedidas em detrimento dos volumes a serem liberados para o projeto, e de novos pedidos de outorgas que por ventura venham a acontecer.

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De acordo com a outorga da ANA, o volume bombeado pode chegar a 127 m³/s apenas quando o reservatório de Sobradinho estiver acima do normal, o que, segundo estudos, acontece em 40% do tempo. Segundo os hidrólogos da SBPC (2005), essa aproximação volumétrica só será possível em 40% dos anos, pois a tendência da Represa de Sobradinho, desde a época de sua construção, é de encher quatro vezes a cada 10 anos. Para se ter uma idéia dessa problemática, a Represa de Sobradinho verteu em 1997, voltou a verter em 2004 e recentemente em 2007. Nesses treze anos, a bacia do rio passou por secas sucessivas, culminando, em 2001, com a mais séria crise energética da nossa história, ―o apagão‖. Isso representa um desperdício de dinheiro público, uma vez que a obra ficará 60% do tempo subutilizada. Comentário – Paulo Machado Há, aí, um grande equívoco. Uma obra de engenharia é sempre dimensionada para a condição limite. Um prédio de apartamentos é dimensionado para a ocupação máxima prevista, mesmo que essa possa jamais vir a ser alcançada. A vazão de transposição está muito bem definida: 26,4 m

3/s durante todo o ano e 114,3

m3/s de média máxima diária (podendo chegar a 127 m

3/s de vazão instantânea) quando

Sobradinho estiver com 94% de sua capacidade ou em volume de espera para controle de cheia. O sistema de bombeamento foi, obviamente, dimensionado para 127 m

3/s.

Réplica – Dilermando Se for obedecido o que foi determinado na outorga, e segundo as projeções feitas no texto acima pela SBPC (2005) não tem como contestar a subutilização das monstruosas bombas, elas vão ficar mesmo paralisadas, por que 94% da capacidade de Sobradinho só deve acontecer em 40% dos anos, e quando acontecer e sobradinho estiver vertendo, os açudes também estarão, não tem a onde colocar os 127 m

3/s da água transposta, os

volumes de espera de ambos estão saindo pelo ladrão. Réplica – Paulo O Prof. Abner, em resposta a minha mensagem, disse que muitos dos argumentos dos adversários da transposição são baseados no trabalho da UFRN, do qual ele foi um dos organizadores. Essa observação de que Sobradinho verte apenas em 40% dos anos está nesse trabalho. Acontece que o trabalho data de 2000 e, depois disso, as variações climáticas e o aumento na derrubada das matas ciliares concorreu para a alteração do regime de cheias. Sobradinho verteu em 2005, verteu em 2006 e verteu em 2007. Cada vez que Sobradinho verte, provoca enchentes arrebatadoras no baixo São Francisco. Neste ano, além de cinco mortes, colocou milhares de pessoas ao desabrigo e destruiu as plantações de subsistência da população ribeirinha. Tréplica – Dilermando Meu caro da Mata, segundo a outorga concedida pela ANA (de forma autoritária desrespeitosa os direitos do Comitê de Bacia do Rio São Francisco garantidos pela "Lei das Águas" (Lei 9.433/97) a quem compete de fato e de direito a emissão das outorgas) a liberação da vazão só pode acontecer quando: ―Excepcionalmente, será permitida a captação da vazão máxima diária de 114,3 m³/s e instantânea de 127 m³/s quando o nível de água do reservatório de Sobradinho estiver acima do menor valor entre: a) nível correspondente ao armazenamento de 94,0% do volume útil; b) nível correspondente ao volume de espera para controle de cheias‖. E o que diz o preceito da outorga emitida pela ANA. Veja no texto abaixo que o “verteu” a que você se refere em 2005 e 2006 não passou de uma simples vazão normal com oscilações que a própria CHESF adota como medidas de precaução em determinados períodos. O lago não estava cheio segundo os jornais da época, Sobradinho estava com sua capacidade abaixo dos 74% do volume útil da barragem. Então vamos considerar como vertendo conforme você mesmo diz, apenas quando “A liberação de vazão fora das turbinas é feita quando o lago está cheio ou está prestes a encher”.

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NÍVEL DO SÃO FRANCISCO PREOCUPA POPULAÇÃO

Redação – CBHSF 12.02.2007

O anúncio de chuvas na nascente do São Francisco e o aumento da vazão para sete mil metros cúbicos na barragem de Três Marias, em Minas Gerais, fez as autoridades lançarem um alerta às populações que vivem às margens do Rio. Na Bahia nove cidades decretaram estado de emergência. No Baixo - São Francisco a preocupação é com o nível do reservatório de Xingó, a vazão da hidrelétrica já é de seis mil metros cúbicos e pode ultrapassar o ponto máximo de oito mil metros cúbicos nos próximos dias. Segundo a Chesf, as vazões vão continuar a crescer nos próximos dias, podendo alcançar 7 mil metros cúbicos por segundo durante a próxima semana. Entre 2005 e 2006, o maior volume liberado pelo reservatório foi de 3,6 mil metros cúbicos por segundo. (Palavra da Chesf)

Para o Professor Francisco José Gondim Coutinho, "A CEMIG concessionária de energia de Minas Gerais, examinou a serie de vazões do São Francisco desde a inauguração de Sobradinho (1979-2003) ficou cheio em apenas 20% desse intervalo de tempo. Em uma serie mais curta de 12 anos a situação ocorreu apenas duas vezes. Depreende-se daí que o sistema São Francisco só transporá mais de 26 m³ apenas na melhor das hipóteses durante 18,8 % do tempo, trabalhará com uma capacidade ociosa de 77,2 % durante 80 % do tempo, considerando o máximo de águas transpostas de 114,3 m3/seg". (http://www.geocities.com/francisco_coutinho/prjsfrancisco1.html) Comentário – Paulo Machado Os cálculos do Prof. Coutinho precisam ser revistos. Em 2005 e 2006, Sobradinho verteu. Neste ano, chegou a provocar enchente no baixo São Francisco, com desvastação e mortes. Réplica – Dilermando Em 2004 e 2007 sim, mais em 2005 e 2006 como você quer, não. O estudo do professor foi entre os anos de 1979-2003. Réplica – Paulo Sobradinho verteu em 2005 e, também, em 2006. A propósito, tenho em mão uma nota de 2005 que trata exatamente do vertimento de Sobradinho e que diz o seguinte: Ressalte-se que o período de chuvas que vai de novembro a maio nas bacias hidrográficas do nordeste, coincide com o mesmo período de chuvas no médio e alto Rio São Francisco. Isto quer dizer que no momento em que forem bombeados os 127 m³/s para os açudes das bacias receptoras eles também estarão cheios. As bombas deverão ser desligadas, mesmo que a barragem de Sobradinho tenha atingido 94% de seu volume útil. Portanto, estando os açudes cheios, e possivelmente vertendo, não terão espaço de volume útil para receber as águas da transposição. Todo o excesso de água do São Francisco e das bacias receptoras vai ser jogado impreterivelmente no mar. Comentário – Paulo Machado Conclusão apressada. Os reservatórios não funcionarão mais completamente cheios, perdendo água por vertimento, como ocorre hoje, em que não se sabe quando haverá a próxima chuva. Com o bombeamento contínuo, a distribuição de água será feita com muito mais segurança com que é feita hoje. A alocação dos 114,3 m

3/s durante o período de chuvas intensas já

terá sido feita antes de se iniciar o bombeamento. Réplica – Dilermando

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Você quis dizer que vai antecipar o bombeamento em Sobradinho, e se São Pedro resolver não mandar a chuva prevista como aconteceu no Sudeste nos últimos meses que forçou Sobradinho a liberar uma vazão maior do que devia para compensar a energia que não chegou do Sudeste baixando sua capacidade da barragem para 26%, como é que fica? Réplica – Paulo Primeiramente, é preciso ficar claro que a vazão que gera energia é apenas aquela que passa pelas turbinas. A liberação de vazão fora das turbinas é feita quando o lago está cheio ou está prestes a encher. Em segundo lugar, não me referi a antecipar o bombeamento. A transposição prevê uma vazão constante e contínua de 26,4 m

3/s. Essa vazão será

alocada aos consumidores do Nordeste, mediante o pagamento de seu custo. Quanto ao excesso de água quando Sobradinho estiver vertendo ou prestes a verter, ela será vendida com total liberdade, já que não consta dos projetos de abastecimento. Pode acontecer, inclusive, que não seja necessário o bombeamento de 114,3 m

3/s, mas

vazões menores se o Nordeste estiver com água suficiente. Tréplica – Dilermando Sem comentário, já foi explicado anteriormente Para se evitar tanto desperdício de água via vertedouro, sugerimos à construção de pequenas barragens a jusante dos grandes açudes para permitir uma segurança hídrica mais efetiva ―sinergia hídrica‖ para garantir a perenização dos rios, conforme recomendação do projeto do DNOCS, prevista para uma segunda etapa após a construção das grandes barragens na década de 80. E muito mais econômico e ―ecológico‖ porque não haverá transferência de contaminação entre bacias. A Barragem de Sobradinho já apresenta sinais de eutrofização a exemplo do forte odor exalado de suas águas na crise do apagão em 2001. O mais importante, é não haver mistura de biomas entre bacias diferenciadas, que requer um levantamento prévio e preciso de seu ecossistema, com analise criteriosa das varias questões ambientais relacionadas a um mega-projeto desta magnitude. Comentário – Paulo Machado Sobradinho não apresenta sinais de eutrofização. O odor ocorrido durante o apagão não foi devido a algas, mas devido à matéria orgânica precipitada no fundo da represa (demanda bêntica). Réplica – Dilermando Em junho/2004, a barragem de Sobradinho e o açude Armando Ribeiro foram os pontos que apresentaram maiores concentrações de clorofila a e feofitina, densidade de organismos fitoplanctônicos superior a 100 mil org/mL. As cianobactérias foram dominantes na barragem de Sobradinho nos açudes Mãe d’Água, Pau dos Ferros e Armando Ribeiro e nos rios Apodi e Piranhas. As diatomáceas foram dominantes no rio Brígida e no rio São Francisco. O açude Boqueirão apresentou dominância de clorofíceas IBAMA (2005) não sou eu quem estou dizendo, é o IBAMA. Isto não é eutrofização? CONCEITUAÇÃO DO FENÔMENO As plantas aquáticas podem ser classificadas dentro das seguintes duas categorias bem amplas (Thomann e Mueller, 1987):

plantas que se movem livremente com a água (plantas aquáticas planctônicas): incluem o fitoplâncton microscópico, plantas flutuantes e certos tipos de plantas, como as algas cianofíceas, que podem flutuar na superfície e mover com a corrente superficial;

plantas fixas (aderidas ou enraizadas): incluem as plantas aquáticas enraizadas de diversos tamanhos e as plantas microscópicas aderidas (algas bênticas).

A eutrofização é o crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas, a níveis tais que sejam considerados como causadores de interferências com os usos desejáveis do corpo d’água (Thomann e Mueller, 1987). Como será visto no presente capítulo, o principal fator de estímulo é um nível excessivo

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de nutrientes no corpo d’água, principalmente nitrogênio e fósforo. (Provenientes da restituição da irrigação e dos esgotos, o grifo e meu) Réplica – Paulo Machado Nesse ponto, concordo com você. Durante o período de estiagem, em que o volume de água diminui e a concentração de nutrientes fica maior, há a proliferação de algas. Qual é a razão da presença desses nutrientes nos lagos do S. Francisco? É o lançamento de esgotos sem tratamento. Como você sabe, a CHESF repassa, de acordo com a lei, 6% de seu faturamento bruto aos municípios da bacia do S. Francisco. Esse dinheiro deve ser usado exclusivamente na revitalização do rio. Acontece que, no debate que tivemos ontem na Assembléia, fiquei sabendo que muitos municípios devolvem o dinheiro recebido porque não têm condições técnicas para tratarem o esgoto que lançam no rio. Com a palavra o CBHSF. Tréplica – Dilermando Prefeitura devolvendo dinheiro porque não têm condições técnicas para tratarem o esgoto que lançam no rio, então os prefeitos “certaram”, não dá para acreditar! Contra Tréplica – Paulo Machado Parece mentira, mas a Lei de Responsabilidade Fiscal tem feito com que alguns prefeitos ajam dessa forma. A Agência Nacional de Águas (ANA) em 19/09/2005 libera o pedido de outorga de direito de uso de recursos hídricos para o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. Veja alguns itens do texto de análise técnica de outorga emitida pela ANA. ―4. Além da vazão firme reservada de 26,4 m³/s, a referida Resolução determina, em seu art. 1º, §1º, que: ―Excepcionalmente, será permitida a captação da vazão máxima diária de 114,3 m³/s e instantânea de 127 m³/s quando o nível de água do reservatório de Sobradinho estiver acima do menor valor entre: a) nível correspondente ao armazenamento de 94,0% do volume útil; b) nível correspondente ao volume de espera para controle de cheias. ―106. Tendo em vista as simulações realizadas, conclui-se que as condições de bombeamento definidas na outorga preventiva estão adequadas e podem ser mantidas na outorga de direito de uso:‖ Ta. I. Tabela I

Bombeamento Vazão média(m³/s) Vazão máxima(m³/s) Vazão mínima(m³/s)

EIXO LESTE 17,60 25,20 10,29

EIXO NORTE 50,80 9,10 16,11

TOTAL 68,39 114,30 26,40

Veja agora a versão do Ministério da Integração: ―Hoje, trabalha-se com nova possibilidade. Com estudos técnicos mais elaborados e precisos, estima-se uma transferência média de 2,3% da vazão regularizada do rio São Francisco – uma média de 42,4 m³/s – destinados às bacias do Ceará, do Paraíba e do Rio Grande do Norte; e mais 21,1m³/s (1,2%) destinados ao Estado de Pernambuco, totalizando 63,5 m³/s. A redução da vazão prevista em 1994 para apenas 1/3 dela só foi possível porque se planejou um novo projeto, com retirada de águas do rio podendo variar de nenhuma a até, no máximo, 127 m³/s‖. (www.integracao.gov.br/).‖ Com a recente outorga concedida pela ANA de 26,4 m³/s ao projeto de transposição, já existe um déficit de 1,4 m³/s do volume alocável. O rio passou a não contar mais com o saldo volumétrico para outros fins. Caso o projeto venha a ser implantado, a área irrigável

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potencialmente existente no Rio São Francisco não poderá ser expandida por deficiência volumétrica no rio.

Ribeirinhos promovem abraço simbólico ao rio. Eles percorreram 5 km rio adentro na região da foz, entre Sergipe e Alagoas, para chamar a atenção da degradação do Velho Chico”. O assoreamento constante da foz do rio, já apresenta uma lamina d´água de poucos centímetros de profundidade onde em breve surgirão alguns pequenos deltas, formação de dunas que irão bloquear a ligação entre o rio o mar. Então, não são mais, apenas 1,4% que será retirado para o Projeto de Integração do Rio São Francisco como o governo e todos os seguidores vinham afirmando. Atualmente passou a 2,3% da vazão média do rio de 2.850 m³/s. Ressaltamos que o cálculo para retirada de água do Rio São Francisco tem que ser feito levando-se em consideração a vazão alocável de 360 m³/s determinada pelo parecer da Comissão do Comitê da Bacia do Rio São Francisco a quem cabe de fato e direito deliberar e aprovar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia, fiscalizar e acompanhar a sua execução, e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas. No momento já há comprometimento de mais de 100% desta vazão, com as outorgas concedidas, gerando um déficit de 1,4 m³/s do volume alocável. Comentário – Paulo Machado No já referido Relatório da SBPC, foi recomendada a revisão de diversas dessas outorgas, por não terem levado em conta o melhor uso da água. O CBHSF emitiu deliberação avocando a si o direito de reformar qualquer das outorgas concedidas. Portanto, não há que se falar em direito adquirido, mesmo porque o comitê apresentou à ANA um plano de cobrança das vazões alocadas e espera-se que muitas dessas outorgas serão simplesmente canceladas. Réplica – Dilermando No momento em que a lei seja cumprida não há o que reclamar. O que não pode, é passar por cima do direito adquirido caçando outorgas para beneficiar outro outorgado. Réplica – Paulo Machado Você está confundindo lei com deliberação do CBHSF. Os pedidos de outorga feitos ao comitê foram feitos, muitas vezes, apenas para garantir reserva de água. Não se tinha certeza se o projeto seria realizado. O CBHSF percebeu isso e, em outra deliberação, se deu o direito de modificar as outorgas concedidas. A não ser com relação à transposição do S. Francisco, cuja outorga foi concedida pela ANA, que, pela Lei 9.433, é instância superior aos comitês de bacia, o CBHSF pode modificar todas as outorgas por ele concedidas. E isso sem modificar lei alguma. Tréplica – Dilermando Existem pré-requisitos previstos em lei para que seja concedido pelo órgão competente um pedido de outorga. Satisfeito as condições exigidas será emitida a outorga de direito adquirido de uso da água. A outorga só será caçada ou devolvida caso o outorgado não venha a utilizar a água conforme especificações técnicas preestabelecidas no pedido. Então não se caça uma outorga simplesmente para beneficiar terceiros, passando por cima da lei, e não pela deliberação de quem quer que seja o outorgante. Comentário – Paulo Machado

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A autorização dada pela ANA é clara: "enquanto a demanda real for inferior a 26,4 m3/s, o

empreendimento poderá atender, com essa vazão, o uso múltiplo dos recursos hídricos na região receptora". Não há, portanto, que se falar em reserva de água para irrigação. Réplica – Dilermando Ainda bem, que o consumo per capita que eu venho usando é o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) 200 litros/pessoa/dia ou 73 m³/ano bem acima do da Copasa, mesmo assim sobra muita água no nordeste, mas tem gente que diz que falta água, o pior CEGO é aquele que não vê. Perda de 4,6 m

3/s foi calculada pela ANA. Ah! Esqueceram das perdas por infiltração no

leito dos rios receptores fora dos canais, conforme texto do relatório RIMA (2004). “Além dos açudes, os canais condutores vão lançar água às calhas de alguns rios da região para conduzir a água aos destinos finais. No rio Salgado, a água percorrerá 60 km; no rio Jaguaribe, 80 km; no rio Apodi, 90 km; no rio Piranhas - Açu, 130 km; no rio Paraíba, 150 km. A água percorrerá, portanto, 510 km em rios”. Então da Mata, a coisa não é como você afirma que as águas da transposição vão correr só em canais de concreto, esta perda vai acontecer e tem que ser calculada. Réplica – Paulo Machado Você calculou o comprimento total dos rios após receberem a transposição: 510 km. Esse comprimento é inferior à distância de Sobradinho à foz do S. Francisco. Acontece que a vazão firme na saída de Sobradinho é de 1.815 m

3/s e, na foz do São

Francisco, é de 1.849 m3/s.

Como isso acontece se não há nenhum afluente perene a jusante de Sobradinho? Se a intensidade de infiltração no leito dos rios fosse alta, a vazão firme do São Francisco na foz seria necessariamente inferior à vazão firme na saída de Sobradinho. Tréplica – Dilermando Epa! da Mata, agora você saiu dos trilhos ou operou um grande milagre. Como você pode explicar que saiu de Sobradinho 1.815 m

3/s e chega à foz do São Francisco, 1.849

m3/s. Segundo cálculos otimistas a demanda a jusante de Sobradinho gira acima dos 582

m3/s. Em não tendo mais rios perenes a partir de Sobradinho e sem considerar outras

perdas, já mais chegaria à foz 1.849 m3/s quando muito, apenas 1267 m

3/s.

Contra Tréplica – Paulo Machado A alimentação dos rios é feita pela água de chuva e pela contribuição subterrânea. Isso explica esse aparente paradoxo. Quanto à demanda a jusante de Sobradinho, é errado subtraí-la da vazão do rio. Parte da água utilizada retorna ao próprio rio. Em se tratando de água para consumo humano, estima-se em 80% o percentual de água que retorna como esgoto. Por que você acha que uma transposição é tão polêmica? A razão é simplesmente essa: a água transposta não retorna ao rio de origem. Contra Tréplica - Dilermando Você tem toda razão, volta poluída mais volta 30% da irrigação volta como exutório cheio de agrotóxicos, metais pesados e mais algumas coisinhas amais. 5- APROVEITAMENTO DAS ÁGUAS O Ministério da Integração, já definiu que 70% da água transposta pelo projeto vai para irrigação, 26% para uso urbano-industrial e apenas 4% para consumo humano da população das caatingas, em nome da qual se quer justificar a obra. Na verdade, o projeto vai beneficiar mesmo é a irrigação da fruticultura para exportação, a carcinicultura (criação de camarão) e o pólo siderúrgico-portuário do porto do Pecém em Fortaleza, no Ceará. Comentário – Paulo Machado Não conheço esse documento do Ministério da Integração. Você poderia citar a fonte? Réplica – Dilermando

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João Urbano Cagnin do Ministério da Integração Nacional ATA DA 2ª REUNIÃO CÂMARA TÉCNICA DE ANÁLISE DE PROJETO, Ministro Pedro Brito, Rômulo de Macedo Vieira coordenador do projeto em entrevista, o próprio IBAMA em 2005 concessões de licença prévia, Revista Águas da Ilusão, Washington Novaes etc. Contra Tréplica – Paulo Machado O que sei a esse respeito é o que está dito pelo Ministério da Integração Nacional: Como é usada a água nos países que fizeram a integração de bacias? Nessas regiões e países, o padrão típico de uso da água é de 70% na agricultura irrigada e 30% em outros usos (urbanos, industriais). Esse padrão típico é recomendável também para o desenvolvimento sustentável do Nordeste, porque viabiliza a geração de emprego e renda no interior, dando sustentabilidade econômica e social à população residente. Contra Tréplica - Dilermando Paulo você está coberto de razão. Seria mais um erro fatal do projeto se o governo não declarasse que 70% das águas da transposição seria para irrigação. Todas as transposições realizadas no mundo de 70% a 80% das águas são destinadas para irrigação, se assim não for se torna anti-econômico. Veja o que foi requerido pelo Ministério da Integração no pedido de outorga: ―Após refinamentos, a demanda humana difusa, atendida prioritariamente, (grifo nosso) foi estimada, pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco PISF, em 0,98 m³/s, em 2025, o que corresponde à população abastecida de 705.600 habitantes e 31% de toda a demanda rural das bacias receptoras estimada, pela ANA, de 3,17 m³/s. (população abastecida de 705.600 habitantes representa apenas 12,35% da população rural dos quatro estados ― grifo nosso‖). ―3. O PISF já possui Outorga Preventiva, com validade de 3 anos, conferida pela Resolução ANA n.º 29, de 24 de janeiro de 2005, que reservou a vazão de 26,4 m³/s no rio São Francisco, correspondente à demanda projetada para o ano 2025 para consumo humano e dessedentação animal (grifo nosso) na região receptora beneficiada. ―63. As demandas urbanas para abastecimento humano a serem atendidas pelo PISF de forma prioritária, que totalizam 23,8 m³/s em 2025, foram verificadas pela ANA com base nas populações constantes do Censo Demográfico de 2000, em taxas de crescimento em 1,1% a 2,1% ao ano e em consumos per capita utilizados pelo PROAGUA, concluindo-se pela sua adequação". Veja que no texto acima o PISF pede que seja reservada a vazão de 26,4 m³/s para consumo humano e dessedentação animal e 0,98 m³/s, para atendimento a demanda humana difusa em 2025. Então, esta água tem um destino especifico não podendo ser usada para outros fins que não seja para consumo humano e dessedentação animal . Parece já existir um desvio neste sentido, desde que Ministério da Integração garante que dos 26,4 m³/s já outorgado 70% vai para irrigação, 26% para uso urbano-industrial e apenas 4% para população difusa. Há também um erro fatal de projeção para o ano 2025 cometido pelo PISF no pedido de outorga, quando reserva 0,98 m³/s, (que corresponde a 84.672.000 l/dia) para atender uma população de 705.600 habitantes. O correto seria reservar uma vazão de 1,66 m³/s (141.120.000 l/dia) que é a quantidade de água necessária para atender essa população, calculada a base de uma taxa de 200 l/pessoa/dia recomendada OMS. A vazão de 0,98 m³/s só dá para abastecer uma população de 423.360 habitantes. Para 31%, de toda a demanda rural avaliada pela ANA, corresponde uma população de 1.770.769 habitantes. Esta população deverá consumir 354.153.920 l/dia, um volume bem superior ao estimado pela ANA que foi de 3,17 m³/s (273.888.000 l/dia). Toda esta discussão e a analise feita no texto anterior, perde sua validade em função de que as vazões destinadas para usos múltiplos em cada estado deverão ser redimensionadas a partir da vazão real efetiva de 21,8 m³/s que constitui efetivamente o volume que vai chegar ao destino final da transposição para ser consumido. Esta vazão 21,8 m³/s é o resultado do desconto de 4,6 m³/s admitidos como sendo perdas de água por evaporação ao longo dos canais. Comentário – Paulo Machado

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Ao considerar um consumo per capita inferior ao recomendado pela ONU, a ANA está buscando a realidade nacional. A Copasa, em Minas Gerais, considera consumo per capita de 150 l/dia para as cidades com população inferior a 5.000 habitantes. Com o reúso da água nos vasos sanitários, que já está ocorrendo em muitos prédios novos, espera-se que essa taxa venha a ser ainda menor. No Nordeste Setentrional, há, em execução, o projeto de 1.000.000 de cisternas, o que vai reduzir em muito, o consumo per capita. Quanto à perda de 4,6 m

3/s (17,4%) de evaporação nos canais, está havendo um

superdimensionamento. A evaporação com a água em movimento é bem inferior à evaporação com a água parada, devido à mistura de águas a diferentes temperaturas, ao contrário do que acontece nos lagos e açudes, em que a água mais quente se concentra na superfície, facilitando a evaporação. Neste sentido, se o projeto reservar 70% (15,26 m³/s) desta vazão para irrigação, restam apenas 6,54 m³/s para atender ao consumo humano, dessedentação animal, e ao consumo industrial. Já existe nesta avaliação uma redistribuição razoável das vazões estimadas no pedido de outorga em detrimento da nova vazão de 21,8 m³/s a qual o Ministério da Integração deverá se pronunciar . Comentário – Paulo Machado A autorização dada pela ANA é clara: "enquanto a demanda real for inferior a 26,4 m

3/s, o

empreendimento poderá atender, com essa vazão, o uso múltiplo dos recursos hídricos na região receptora". Não há, portanto, que se falar em reserva de água para irrigação. Réplica – Dilermando Ainda bem, que o consumo per capita que eu venho usando é o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) 200 litros/pessoa/dia ou 73 m³/ano bem acima do da Copasa, mesmo assim sobra muita água no nordeste, mas tem gente que diz que falta água, o pior CEGO é aquele que não vê. Perda de 4,6 m

3/s foi calculada pela ANA. Ah! Esqueceram das perdas por infiltração no

leito dos rios receptores fora dos canais, conforme texto do relatório RIMA (2004). “Além dos açudes, os canais condutores vão lançar água às calhas de alguns rios da região para conduzir a água aos destinos finais. No rio Salgado, a água percorrerá 60 km; no rio Jaguaribe, 80 km; no rio Apodi, 90 km; no rio Piranhas - Açu, 130 km; no rio Paraíba, 150 km. A água percorrerá, portanto, 510 km em rios”. Então da Mata, a coisa não é como você afirma que as águas da transposição vai correr só em canais de concreto, esta perda vai acontecer e tem que ser calculada. 6- CUSTO OPERACIONAL DAS ÁGUAS TRANSPOSTAS De acordo com Pedro Brito, coordenador do projeto no MIN, a operação do sistema ficará a cargo de uma subsidiária da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF), que seria totalmente formada até dezembro de 2006. Essa empresa irá vender a água bruta aos estados receptores a um custo de R$ 0,13 por m³. A água bruta não contempla o custo do bombeamento desde a fonte exportadora até as propriedades. Especialistas da Faculdade de Economia e Administração (FEA-RB) de Ribeirão Preto, em estudos chegaram a valores entre US$ 0,155 a US$ 0,312 por m³, dependendo de o ano ser úmido ou seco, Folha de S. Paulo, Nov./2005 (www.folha.com.br). Comentário – Paulo Machado Esses números são completamente contestáveis. Admite-se um custo operacional anual em torno de R$ 90.000.000,00. Nesse caso, o custo da água transposta será de cerca de R$0,11 por metro cúbico. O custo adicional será o mesmo que o de captação de águas superficiais, geralmente muito inferior ao custo de captação de águas subterrâneas em se tratando de água para irrigação.

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Quanto ao custo ao consumidor final, o ministério estima um subsídio correspondente a 4% de alta na conta do consumidor residencial. Outros estudos indicam impactos três a nove vezes maiores (http://www.cbhsaofrancisco.org.br/). Comentário – Paulo Machado Por favor, indique a fonte referida. Não vi um único documento nesse sentido. http://www.cbhsaofrancisco.org.br/ Equipe do Projeto Manuelzão (2004) comenta: ―Os valores cobrados pela CODEVASF, da ordem de R$ 0,023 por m³, já computado o custo do bombeamento da água posta nas propriedades. Deve-se observar ainda que o valor estimado da água na transposição (R$ 0,11/m³) não contempla o custo do bombeamento desde a fonte exportadora até as propriedades existentes nas bacias receptoras, o que elevará ainda mais esse valor, tornando-o proibitivo para fins de irrigação. Os juros a uma taxa de 6% ao ano, sobre o montante de 5,5 bilhões de dólares que previram para a transposição, precisam ser contabilizados no custo do hectare irrigado, que seremos obrigados a subsidiar.‖ (www.cbhsaofrancisco.org.br/). Segundo Abner (2007) (www.ana.gov.br/) ―O custo médio da água do projeto de transposição cobrado pelo uso da água bruta nos estados receptores será de R$ 0,1467/m³, ou seja, R$ 100.863.049,00 por ano para uma vazão de 21,8 m³/s dando um volume total disponível de 687.484.800,00 m³/ano. Este será o metro cúbico de água para irrigação dos mais caro do mundo, os projetos agrícolas ficarão inviáveis‖. Comentário – Paulo Machado Repetindo: A transposição visa, prioritariamente, ao consumo humano e animal. Quanto aos demais usos, caso o proprietário não deseje pagar pelo uso, pode recorrer às fontes disponíveis atualmente. Réplica – Dilermando O governo já assumiu que a água da transposição vai para os usos múltiplos. O Professor da Universidade Federal de Viçosa, Fernando Falco Pruski (2007) alerta: ―Um outro comentário que não tenho percebido em nenhum fórum de discussão é o relacionado ao custo de bombeamento de água necessário para transpor o desnível de 165 m do eixo Norte (equivalente a um prédio de cerca de 55 andares) ou de 304 m do eixo Leste (equivalente a um prédio de cerca de 100 andares). Os custos operacionais e de manutenção de um sistema de bombeamento desta magnitude não são nada desprezíveis. Para exemplificar, considerando o custo da energia requerida para vencer o desnível do eixo Norte ter-se-ia aumentos do custo de produção de 22 e 29 % para as culturas de citros, melão e banana, respectivamente. Para as culturas ditas de subsistência os aumentos nos custos seriam ainda mais elevados, e correspondentes a 35% para o feijão e 74 % para o milho. Se consideradas as condições impostas para vencer a altura geométrica correspondente ao eixo Leste o impacto no custo de produção seria ainda mais expressivo, representando percentuais de 40, 53, 53, 65 e 136 %, para as culturas de citros, melão, banana, feijão e milho, respectivamente. É importante frisar que estes custos são apenas para garantir a elevação da água para vencer os desníveis existentes e não consideram os custos de implantação do projeto, de bilhões de dólares, além de também não estar se considerando o pagamento pelo uso da água propriamente dito e para as obras de infra-estrutura necessárias para a sua distribuição. Comentário – Paulo Machado Quando se fala em R$ 0,11 por metro cúbico, já está computado o custo da energia elétrica. Réplica – Dilermando Sem réplica o texto acima é alto explicativo. ―Fica a dúvida se, em mundo tão globalizado e competitivo como o que estamos inseridos, aumentos do custo de produção desta ordem de grandeza ainda possibilitariam o desenvolvimento de uma agricultura viável economicamente. Não são raros no Brasil casos em que o irrigante, mesmo com o sistema de irrigação já implantado e com sua propriedade às margens do manancial hídrico, deixa de irrigar em virtude do custo de energia superar o benefício associado ao aumento de produtividade esperado pelo uso da irrigação. Deve-se mencionar ainda que o custo estimado para bombear a quantidade de água necessária para a

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produção de uma tonelada de feijão seria mais de 15 vezes superior ao custo requerido para transportar esta tonelada de grão por rodovia.‖ Contra Tréplica – Paulo Machado Não sei em que condições foi feita essa comparação já que o texto não fala na distância em que a tonelada de feijão será transportada nem nas condições da estrada em que o transporte será feito. Entretanto, posso lhe dizer que se a agricultura por irrigação não fosse viável economicamente, ela há muito já teria deixado de existir. 7- PÚBLICO ALVO Nas projeções do Ministério da Integração Nacional, os benefícios atingirão 9,075 milhões de habitantes do semi-árido, número que, pela evolução demográfica, deverá alcançar cerca de 12 milhões em 2025. A auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), com base em informações fornecidas pelos governos dos Estados "receptores" de águas do São Francisco (Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba), estima à população potencialmente beneficiada pelo projeto em 7,031 milhões de pessoas. Comentário – Paulo Machado O TCU desconta aqueles que já têm acesso à água. Réplica – Dilermando O texto não faz referência a este desconto. Por favor pode indicar a fonte?. Réplica – Paulo Vi em seu texto que os beneficiários do Projeto São Francisco seriam 7 milhões (em números redondos) e não 12 milhões como quer o Governo. Em outro texto comentando a transposição, os autores diziam que o TCU descontava dos 12 milhões aqueles que já tinham água. Está aí a explicação na diferença de números. Conforme informa o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, o Projeto de Transposição atende a menos de 20% da área do Semi-Árido e que 44% da população que vive no meio rural continuará sem acesso a água. Significa dizer que, de 5.712.160 habitantes (Censo IBGE 2001) da população rural dos quatro estados, apenas 3.198.809 habitantes, é que serão beneficiados. Portanto um número muito diferente daquele anunciado pelo projeto, que é de 9,075 milhões de pessoas. Lembramos que as cidades de médio a grande porte, inclusas na área de atuação do projeto já têm o seu sistema urbano de abastecimento de água regularizado. Comentário – Paulo Machado Há, aqui, um engano. Quando o CBHSF se refere a 44% da população rural que continuará sem acesso à água, não está se referindo à população que habita a área a ser beneficiada pelo projeto. Dos 12 milhões a serem beneficiados, 7,031 milhões não têm acesso à água. Réplica – Dilermando Então você admite que o projeto só vá atender 7,031 milhões, mais o governo diz que são 12 milhões, propaganda enganosa! O projeto dará segurança hídrica a 12 milhões de pessoas. Acontece que cerca de 5 milhões já têm acesso à água. No entanto, sejam 7 ou 12 milhões, o certo é que o Projeto São Francisco vai possibilitar o acesso à água a milhões de pessoas. Isso sem falar na água destinada às atividades econômicas, que vai levar riqueza e emprego para a região. Tréplica – Dilermando

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Tirando a dúvidas. “Nas projeções do Ministério da Integração Nacional, os benefícios atingirão 9,075 milhões de habitantes do semi-árido, número que, pela evolução demográfica, deverá alcançar cerca de 12 milhões em 2025. A auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), com base em informações fornecidas pelos governos dos Estados "receptores" de águas do São Francisco (Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba), estima à população potencialmente beneficiada pelo projeto em 7,031 milhões de pessoas”. Contra Tréplica – Paulo Machado Essa divergência de números me lembra a discussão entre Lula, Serra e Garotinho durante a campanha presidencial de 2002 sobre o número de empregos que cada um iria criar. Não interessa se serão 9,075 milhões, 12 milhões ou mesmo 7,031 milhões (que precisão!) os nordestinos beneficiados. O certo é que, ao beneficiar milhões de habitantes do semi-árido nordestino, isso poderá reduzir significativamente a migração dos nordestinos e ser um golpe de morte na indústria da seca. Contra Tréplica - Dilermando Paulo, bota na tua cabeça, que a oferta de água não vai acabar com a seca, e nem vai acabar com pobreza do Nordeste. Veja o parecer do banco Mundial: Instituições financeiras internacionais não se dispuseram a financiar o projeto; (O Banco Mundial que nunca negou financiamentos para programas de água no Brasil se recusou a financiar o Projeto de Transposição do Rio São Francisco alegando que o projeto não atendia as reivindicações socioambientais. O Bird examinou o projeto e concluiu que a transposição é inviável economicamente e tem baixa capacidade de combater a pobreza e de amenizar o efeito das secas sobre a população do Nordeste Setentrional “não vai acabar com a seca do Nordeste, não vai promover o aceitável convívio do homem com o semi-árido, não vai democratizar o acesso do homem a água, e não vai promover o desenvolvimento socioeconômico do semi-árido” Palavras do Banco Mundial); 8- POTENCIALIDADES HÍDRICAS DO CEARÁ, RIO GRANDE DO NORTE, PARAÍBA E PERNAMBUCO Segundo Albuquerque (2005), ― Sobre o Nordeste, precipitam-se, em média, anualmente, cerca de 1 trilhão e 700 bilhões de metros cúbicos anuais, 87% dos quais são perdidos por evapotranspiração real. Portanto, 13% desse total, ou seja, aproximadamente 220 bilhões de metros cúbicos é que sobram para formar os escoamentos dos rios e aqüíferos da região.‖ Comentário – Paulo Machado Em Hidrologia, não se usa a precipitação total, porque a grandeza dos números pode confundir. Utiliza-se a precipitação por área, em mm/ano. Para fazermos uma avaliação, falta a área total do Nordeste. No entanto, esse dado médio não pode ser adotado para todo o Nordeste, de acordo com o Atlas do Nordeste, que diz o seguinte: O Semi-Árido abrange os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais, ocupando uma área de 976.743,3 km². Compreende 1132 municípios, abrangendo uma população de 20 milhões de habitantes, ou seja, 12,2% da população brasileira. Destes 20 milhões, 56% correspondem à população urbana e 44% à população rural. O semi-árido caracteriza-se por apresentar reservas insuficientes de água em seus mananciais. Apresenta temperaturas elevadas durante todo ano, baixas amplitudes térmicas, da ordem de 2 a 3º C, forte insolação e altas taxas de evapotranspiração. As chuvas apresentam totais pluviométricos irregulares e inferiores a 900 mm. Normalmente são superadas pelos elevados índices de evapotranspiração, configurando taxas negativas no balanço

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hídrico. A irregularidade das chuvas pode chegar a condições extremas, caracterizando os chamados anos de seca. Mas não é tudo. A ANA entende que há áreas do Nordeste que podem ser classificadas como Áreas de Elevado Risco Hídrico (AERHs). As AERHs possuem extensão total de 321.711 km², distribuindo-se nos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte e abrangem 502 sedes municipais. As Áreas com Elevado Risco Hídrico – AERHs – são caracterizadas pela associação das seguintes variáveis: precipitação média anual inferior a 700 mm, delimitando regiões com baixa precipitação relativa; índice de aridez inferior a 0,35 (valor central da faixa de classificação da região semi-árida), indicando as regiões mais críticas no balanço precipitação-evapotranspiração; ausência de sistemas aqüíferos sedimentares, que representariam potencial fonte de suprimento e de segurança hídrica para o abastecimento humano; ausência de rios perenes com elevado porte ou com grande capilaridade, que também significariam fator de segurança hídrica. Segundo o Professor Darke (www.manuelzao.ufmg.br/), ―São em média 70.000 açudes particulares de pequeno porte e mais de 400 públicos de médio e grande porte construídos no Nordeste, armazenando cerca de 37 bilhões de metros cúbicos. Considera-se que somente 25% desse volume é aproveitado, Mesmo assim, tal volume pode irrigar uma área de 770.000 ha., mas só regam 120. 000 ha. (16% de sua capacidade). ―Mesmo assim os 25% dos 37 bilhões de m³ armazenados dão um volume aproveitável anual de 9,25 bilhões de m³. Na base de 12.000 m³ por hectare e por ano, tal volume pode irrigar uma área de 770 000 ha. e na base de 70 m³ por habitante por ano (cerca de 200 litros por dia), da para o abastecimento doméstico de 130 milhões de pessoas. Comentário – Paulo Machado Ledo engano. A existência de 37 bilhões de metros cúbicos de buracos não quer dizer que existam 37 bilhões de metros cúbicos de água. Se isso fosse verdadeiro, o Nordeste seria uma região totalmente aquinhoada de água, o que não é verdade. Os nordestinos famintos e sedentos invadiriam os açudes para obter água como fizeram com os armazéns. Réplica – Dilermando Os dados históricos mostram que em vários anos de bons invernos todos os buracos estiveram cheios “sangrando” capacidade igual a disponibilidade , ou não? Mais por um lapso de sua parte, você esqueceu de dizer que entre 1.200 a 1.500 “buracos” reservatórios públicos, com capacidade superior a 100.000 m3, e cerca de 450 açudes com mais de 1 milhão de m3 e uns poucos com capacidade entre 2 e 6,7 bilhões de m3 estes já mais secaram, Concordo que cerca de 70.000 pequenos “buracos” açudes particulares que foram construídos, inúmeros deles tem problemas sim, com as estiagens prolongadas e podem secar. Réplica – Paulo A palavra "buracos" pode ter chocado um pouco. O consultor do projeto de transposição, Eng. Rômulo de Macedo Vieira, em entrevista ao Estado de Minas publicada hoje (27.11.2007), referindo-se à propalada grande quantidade de água armazenada, chama a atenção para a diferença entre capacidade de acumulação e água disponível. Faço, portanto, minhas as palavras do colega Rômulo: não se pode confundir capacidade de acumulação de água com água disponível. Os açudes funcionam como cadernetas de poupança: guardam água do período chuvoso, os invernos, para os períodos secos. Você admite que cerca de 70.000 açudes secam durante o período de estiagem. Eu acrescento: durante esse período, o volume de água nos demais açudes diminui vertiginosamente pela evaporação, aumentando a salinidade da água.

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No debate de ontem, Apolo reconheceu que a perda de água nos açudes apenas por evaporação chega a 60%. O curioso é que não há consenso entre a açudagem nem mesmo entre os adversários da transposição. No Estado de Minas de hoje (27.11.2007), em suplemento especial sobre o São Francisco publicado também no Correio Brasiliense, no Diário de Natal e no Diário de Pernambuco, o Prof. Apolo refere-se aos açudes como política mal sucedida, que resultou em exclusão social. Diz, também, que é enorme a quantidade de pessoas que foram retiradas de suas casas para a expansão do açude ou que estavam na área dos canais e até hoje estão sem assentamento definitivo. Se a açudagem fosse a solução para os problemas da seca do Nordeste, há muito tempo eles já não existiriam mais. Tréplica – Dilermando Em determinado momento a potencialidade é igual a capacidade que é igual a disponibilidade hídrica (o conceito de disponibilidade muda para as reservas subterrâneas). E só ver o histórico e verificar em quantos anos os açudes do Nordeste verterem. Repito mais uma vez que os sites das Secretarias de Recursos Hídricos dos Estados disponibilizam uma tabela de atualização monitorada mês a mês o ano inteiro, mostrando a capacidade de armazenamento de cada um dos açudes públicos e os volumes de água em disponibilidade que estão sendo operados no dia a dia. Eu disse: “Concordo que cerca de 70.000 açudes particulares, inúmeros deles tem problemas sim, com as estiagens prolongadas e podem secar (eu não afirmei que todos os 70.000 secam você é quem está dizendo). Quanto à questão da evaporação que tanto você reclama, eu não entendo o porquê dos seus comentários e de suas dúvidas, se todos os cálculos que são feitos para definir a disponibilidade das reservas hídricas superficiais tem se aplicado sempre a taxa de 60% para ser descontada dos volumes dos açudes como perda por evaporação. Da mesma forma se aplica também a taxa de desconto de 60% no índice de precipitação restando 40% da precipitação para o escoamento superficial e infiltrações dos aqüíferos, qual é o problema falta algum X na função? Contra Tréplica – Paulo Machado Recentemente, assisti a uma palestra em que o orador disse o seguinte: existem pequenas mentiras, existem grandes mentiras e existem estatísticas. As generalizações que você vem fazendo são muito perigosas. Primeiramente, os açudes não estão distribuídos de forma igualitária, seja no tocante à geografia, seja no tocante à sua área superficial. Além disso, fixar a taxa de escoamento superficial em 40% é errado, pois o escoamento superficial varia de acordo com o solo e as condições topográficas e climáticas locais. Além disso, você está desconsiderando um fator importante. Estando o nível do açude acima do nível do lençol freático, há a percolação de água do açude para o solo, exatamente no sentido inverso do que ocorre com a alimentação subterrânea dos rios. Há ainda algo mais importante a ser considerado. Os 70.000 açudes já se demonstraram insuficientes para abastecer a população, caso contrário o problema da água já estaria há muito solucionado. Contra Tréplica – Dilermando Paulo, essa Contra Tréplica eu faço questão de ser extensivo, vou responder com o maior prazer. Vamos lá! - todos os dados que eu tenho passando nos meus artigos e na INTERNET sempre faço questão de citar os seus devidos autores. Só transmito informações confiáveis. Infelizmente nem todas as informações passadas tem precisão cirúrgica. Muita informação as vezes leva a interpretações antagônicas. Faz parte do estado de direito democrático. - os açudes do Nordeste foram construídos depois de passar por um planejamento minucioso. Vou apenas transcrever parte do texto do livro do Eng. Manoel Bomfim “ A Potencialidade do Semi-Árido Brasileiro”, que eu recomendo uma leitura. “Os açudes do Nordeste são reservatórios plurianuais, interanuais, (aqueles com capacidade acima de 100 milões de m

3 o grifo é meu) projetados e construídos com aprimoramento e rigor

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técnico pelos Engenheiros do Brasil, sobretudo nordestinos. Cada projeto exige todos os dados climatológicos da bacia hidrográfica em questão, pluviometria, fluviometria, vazões, run-off, quociente de evaporação, índice de armazenamento, tudo é definido em projetos, inclusive a ciclicidade das secas da região com toda sua série histórica. Os açudes foram muito bem locados sempre nas cabeceiras dos dos rios (Orós, Curema-Mãe D`Água, Barragem Eng. Ávido ou Açude Piranhas e Boqueirão), sempre em função da sinergia hídrica de que tanto você reenvidica, não uma sinergia de transposição, mais aquela proposta pelo Eng. Arrojado Lisboa, construção de barragens menores a jusante das grandes barragens. Eu só tenho uma ressalva a fazer. É que construíram Orós em cima da bacia sedimentar de Iguatu,que além de apresentar possibilidades matalogenéticas para exploração de barita se perdeu uma região de solos agricultáveis raros nestas áreas , foi um crime. - Releia o texto que você vai ver que eu disse “restando 40% da precipitação para o escoamento superficial e infiltrações dos aqüíferos”. Vou explicar melhor. Quando se faz o balanço hídrico se usa uma taxa de precipitação uma taxa de evapotranspiração, uma taxa de escoamento superfical e uma taxa de infiltração nos aquiferos. No nordeste as taxas de infiltrações nos aquiferos vai depender da bacia sedimentar e da rocha hospedeira do aquifero. Muitos dos aquiferos já tem sua taxa de infiltração conhecida. Destes 40% que você está dizendo que eu admiti como sendo a taxa de infiltração se você ler o texto novamente, verá que os 40% vai ser dividido em escoamento superficial e infiltrações nos aquiferos são parâmetros que quando vai se trabalhar em qual quer área tem que dispor destes dados, OK? Agora, este a seguir , é um corolário fora da tese verdadeira “Estando o nível do açude acima do nível do lençol freático, há a percolação de água do açude para o solo, exatamente no sentido inverso do que ocorre com a alimentação subterrânea dos rios” afirmação não pode ser generalizada , porque não funciona, se o aquifero for confinado e seu nível piezométrico estiver abaixo do espelho d´água do açude como você quer, ou do rio, você vai sempre ter o aquifero fornecendo água para o açude a depender em que posição se encontra o açude em relação a camada aqüífera, isto se a camada Aquiclude que uma característica do aquifero confinado não fizer o isolamento total do aquifero, aí nem entra água nem sai. - Os defensores da transposição alegam sempre que, já se fez de tudo, construções de açudes perfuração de poços, cisternas e não se resolveu problema da oferta da água nem da seca, e que não adianta insistir porque não tem retorno. Me desculpe mais na realidade é pura demagogia para descartar o uso da solução mais simples e a mais barata que é o abastecimento com água subterrânea. A questão da falta de manutenção dos equipamentos que é prato cheio para o discurso dos defensores da transposição, é um problema que tem haver com a irresponsabilidade dos inescrupulosos governantes estaduais e municipais pela falta de eficiência e de continuidade na manutenção dos equipamentos. Lembro-me que visitei vários poços em todo o nordeste paralisados por vários meses (um a sete) pela falta banal de substituição de um embolo “uma simples sola de couro da bomba” ou as vezes uma haste do catavento danificada. São problemas simples que podem muito bem ser resolvido bastando uma pequena orientação ao próprio “caboclo” usuário para que eles façam a substituição das peças. Tudo isso sem contar com o aproveitamento da água subterrânea, que em certos locais é abundante. Comentário – Paulo Machado Abundante onde? No semi-árido? Nas Áreas de Elevado Risco Hídrico? Réplica – Dilermando Nos aqüíferos das bacias sedimentares interiores, distribuídas em meio às rochas ditas cristalinas nos estados do CE, RN, PB e PE, com potencial de reservas subterrâneas e vazões por poço excelentes, entre 5 m³/h a 120 m³/h com água límpida e pura. Anote aí o nome destas bacias: Araripe, Fátima, São José do Belmonte, Betânia, Cedro, Mirandiba, Pau dos Ferros, Serra dos Martins, Lavra das Mangabeiras, Souza - Rio de Peixe, Icó-Iguatu, Açu - Potiguar ,Jatobá e em especial a do Piauí/Maranhão todas no semi-árido do nordeste. Se você tem problemas cardíacos não procure saber quanto existe de reservas

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de água explotáveis nestas bacias, o susto vai ser mega. Existe ainda as seguintes bacias periféricas: São Luís/Barreirinhas com 250 km³/ano, Potiguar/Recife com 230 km³/ano, Alagoas/Sergipe com 100 km³/ano e Jatobá/Tucano/Recôncavo com 840 km³/ano. Quero ver, se tem algum filho de Deus que tenha coragem de dizer que não tem água subterrânea nestas bacias sedimentares, ou quando tem, ou ela é pouca ou salgada. Gostaria que você apresentasse provas de levantamentos hidrogeológicos que comprovem o contrário, pode até aparecer algum maluco para defender este absurdo, eu não acredito. Réplica – Paulo Machado As rochas cristalinas, que produzem aqüíferos sedimentares, representam menos de 40% da área do Nordeste. Em toda a região seca, o que ocorre são solos pobres de água. Vou, novamente, recorrer à ANA para descrever as áreas de elevado risco hídrico: As Áreas com Elevado Risco Hídrico – AERHs – são caracterizadas pela associação das seguintes variáveis: - precipitação média anual inferior a 700 mm, delimitando regiões com baixa precipitação relativa; - índice de aridez inferior a 0,35 (valor central da faixa de classificação da região semi-árida), indicando as regiões mais críticas no balanço precipitação-evapotranspiração; - ausência de sistemas aqüíferos sedimentares, que representariam potencial fonte de suprimento e de segurança hídrica para o abastecimento humano; - ausência de rios perenes com elevado porte ou com grande capilaridade, que também significariam fator de segurança hídrica. Tréplica – Dilermando Para consumo humano e dessendentação animal em áreas onde os aqüíferos sedimentares não estão presentes ou estão situados a longas distancias, pode-se muito bem usar a distribuição da água dos grandes açudes, implantar as cisternas, as barragens subterrâneas, e usar o aqüífero fissural do cristalino. Caso este apresente um índice de resíduo seco acima do recomendado para o consumo humano usar os dessalinizadores. O Atlas do Nordeste está a procura de soluções, até que me provem ao contrário estas são as que melhores se encaixam tecnicamente, e dentro do orçamento da união. Contra Tréplica – Paulo Machado Dilermando, eu e você estamos discutindo essas questões em frente a nossos computadores. Houve uma comissão criada especialmente para isso que viajou o semi-árido nordestino e pôde observar "in loco" as agruras provocadas pela seca. Ficarmos recomendando soluções para os outros com água encanada em casa e chuveiro quente é muito fácil. Em tempo: o Atlas Nordeste não está à procura de soluções. Ele já está concluído e não está em seu escopo o atendimento às populações difusas. Contra Tréplica – Dilermando Quando você se referiu que nos estamos em nossas casas com todo o conforto, ar condicionado, banho quente querendo dá palpite eu me sinto orgulhoso não pelo conforto, afinal de contas nós fizemos jus, mais pelo dever comprido, é como, eu já falei aqui, conheço o Nordeste dos quatro cantos, indo a pé, de jegue, Mula, sei do sofrimento do sertanejo porque eu estive lá, e é por ele que eu estou na luta para que seja implantado um programa de convivência com o semi-árido, este é o caminho, já disse algumas vezes, a água por se só não resolve o problema, exjge ações complementares, o problema não é ter água em abundancia é saber usa-lá o pouco que se tem. As perdas nas águas transpostas serão também inevitáveis, prevendo-se, nos 2.100 km de canais, de cerca de 30 a 50% de seu volume.‖ Comentário – Paulo Machado Não sei qual é a formação do Prof. Darke, mas, certamente, não é engenheiro. Como um canal vai perder metade de seu volume em 2.100 km de extensão se é de concreto e não

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tem perda por infiltração? Se isso fosse verdade, o Rio São Francisco perderia praticamente toda sua água a jusante do Rio Urucuia, que é o seu último afluente perene. Réplica – Dilermando Vai haver perda por infiltração sim. Em alguns trechos conforme o RIMA as águas da transposição vai cair nas calhas dos leitos dos rios receptores. Teremos ainda perdas por retiradas clandestinas ao longo dos canais pela abertura de fissuras provocadas pelas altas temperaturas a exemplo do que ocorreu no Canal do Trabalhador do Dr. Ciro Gomes que liga o Rio Jaguaribe a Fortaleza hoje praticamente abandonado. O professor Alberto Darke é Engenheiro Agrônomo professor Titular (aposentado) e Doutor em Hidráulica Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa. Autor de livros e trabalhos em Irrigação e Drenagem, com experiência, como técnico da OEA, em projetos de irrigação em outros países, com uma experienciazinha por mais de 10 anos trabalhando na bacia do rio Colorado nos Estados Unidos. Réplica – Paulo Machado O Prof. Darke é muito citado nos debates em relação à transposição. Uma das afirmações que lhe é atribuída é de que o consumo de energia para a transposição seria tão alto que equivaleria à energia gerada por Três Marias. Como isso é falso, prefiro não comentar o que é atribuído ao Prof. Darke, mesmo porque, segundo o Apolo, ele está afastado das atividades acadêmicas. Tréplica – Dilermando Primeiro eu acho que agente tem que ter um pouco de respeito para com o professor Alberto Darke um dos maiores conhecedores em Hidráulica e irrigação no Brasil e com vários trabalhos desenvolvidos no exterior. Você não conhece o trabalho do professor Alberto Darke de 1984 o qual eu tenho a honra de possuir uma copia em minuta, intitulado TRANSPOSIÇÃO DE ÁGUA DO SÃO FRANCISCO, NO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO. UMA OPÇÃO OU MEGALOMANIA? Neste época, exatos 23 anos atrás, o professor Alberto Darke já chama atenção para os principais argumentos contrários a transposição mostrando que existe excedente de água armazenada a espera de aproveitamento nas centenas de açudes públicos e milhares de particulares no semi-árido. Ele fez um levantamento sobre as diferenças de custos e benéficos entre 1 hectare irrigado dentro e fora bacia do São Francisco. Calculou a potência necessário para as bombas e a retirada de energia das hidroelétricas com a transposição (estimativas para o projeto de transposição versão do DNOCS na época). Eu fiz os cálculos e demonstrei que o comprometimento total máximo de energia para a CHESF é de 609 Mw mais da metade da energia gerada na Barragem de Sobradinho(1.050 Mw), só para atender à demanda do Projeto de Transposição do Rio São Francisco. Pergunto existe algum erro? Contra Tréplica – Paulo Machado Meu caro Dilermando, em vez de ficarmos discutindo se Fulano está ou não com a razão, que tal fazermos nossos próprios cálculos? Vou-lhe mostrar o caminho das pedras. A energia potencial necessária a elevar uma massa de água m a uma altura h é dada por: E = mgh (1) Por definição, a massa de uma substância é igual ao peso específico dessa substância (Y) multiplicado pelo volume da substância (V). Então: E = YgVh (2) O volume de água é igual à vazão de água (Q) multiplicada pelo tempo de bombeamento e a energia é igual à potência (P) multiplicada pelo tempo. Assim, se usarmos tempos iguais, poderemos escrever: P = YgQh (4)

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Essa potência é a útil. Para calcularmos a potência a potência real (Pr) devemos multiplicar a potência útil por um coeficiente (K) que leve em conta tanto as perdas de carga ao longo da tubulação como o rendimento dos conjuntos motor-bomba. Então: Pr = KYgQh (5) Nós dispomos dos seguintes valores: Y = 1000 kg/m

3 (massa específica da água)

g = 9,8 m/s2 (aceleração da gravidade)

Q = 26,4 m3/s (vazão de bombeamento, exceto em casos especiais)

Vamos considerar, a favor da segurança, K = 1,5. Quanto à altura, temos desnível de 165 metros no eixo norte e de 304 metros no eixo leste. Há um desvio do eixo norte para o agreste pernambucano, em que a altura de elevação chega a 500 metros. O eixo norte terá vazão de 18,4 m

3/s e o eixo leste, vazão de 8 m

3/s.

Adotando, a favor da segurança, que todo o eixo norte tenha altura de elevação de 500 metros, encontramos uma altura média ponderada de 266,5 m. Aplicando a expressão (5) com esses valores, encontramos P = 103 MW. Talvez esse valor de 609 MW se refira à vazão máxima que o Sistema São Francisco atingirá em casos excepcionais. Essa vazão é de 127 m

3/s, sendo 99 no eixo norte e 28

no eixo sul, o que dá uma potência de 375 MW, ainda assim muito inferior a 609 MW. Com relação ao custo dessa energia, o Ministério da Integração Nacional faz os seguintes comentários: A que altura a água será bombeada? No Eixo Norte, o bombeamento da água vencerá uma altura de 160 metros. Uma vez atingido o divisor topográfico de águas entre bacias, o canal seguirá por gravidade (sem bombeamento), gerando energia elétrica no percurso até a calha dos rios intermitentes (o grifo é meu). Como resultado, o bombeamento equivalente será similar ao bombeamento dos projetos de irrigação do Vale do São Francisco. O custo da água no Eixo Norte, em termos operacionais, será inferior ao do Eixo Leste e, com o ganho de água decorrente da economia de parte das perdas por evaporação nos açudes receptores, haverá viabilidade do uso múltiplo da água. E no Eixo Leste? No Eixo Leste, a altura de bombeamento é mais elevada (300 metros para a Paraíba e 500 metros para o Agreste Pernambucano). A água terá utilização no setor urbano, onde a capacidade de pagamento viabiliza a sua transferência. Contra Tréplica - Dilermando O meu amigo Paulo esqueceu de contabilizar a produtividade de geração de energia. Me desculpe Paulo, mais é o que diz a ANA, ver gráfico abaixo . Pelas sua contas a perda vai ser de 375 mais 346 (de potência instalada perdida) chegamos a 721 MW de perda total . Segundo Albuquerque “para cada 1m³/s de água retirado do rio deixa de ser gerado 2,731 Mw. Esta é a chamada “produtividade de geração de energia” do rio São Francisco no trecho considerado.” Então, para a vazão máxima a ser retirada de 127 m³/s, considerando que será destinado para o eixo norte uma vazão de 84,79 m³/s (66,77%) e para o eixo leste 44,18 m³/s (33,32%) teremos uma perda de 346 Mw (potência instalada perdida nas hidrelétricas) que deixam de ser gerados. Considerando agora que para recalcar uma diferença de cota de cerca de 160 m, cada 1m

3/s de água consumiria 1,6

Mw de energia gerada, (dados da CHESF) a energia requerida para o recalque nos dois eixos da transposição é de 263 Mw (potência instalada necessária à elevação). Junte-se a 346 Mw que deixam de ser gerados teremos um total de 609 Mw.

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Conflito: Geração de Energia x Irrigação

Fonte: ANA Perda de energia garantida em função da retirada de 1 m3/s para uso consuntivo A região semi-árida dos quatro estados CE, RN, PB, PE, (357.485 km²), tem uma precipitação média de 700 mm caindo 250,2 bilhões m³ de água de chuva ao ano. Destes, 150,1 bilhões m³ (60%) se perdem por evapotranspiração, restando 100 bilhões de m³ para o escoamento superficial e infiltração de água nos seus aqüíferos. É chuva que cai do céu de graça, que, se bem aproveitada, dá para fazer a grande festa do povo nordestino, não vai faltar água. Comentário – Paulo Machado Conforme foi dito, o raciocínio nunca pode ser feito em torno do volume precipitado, mas da altura de precipitação. 700 mm por ano é uma precipitação muito pequena. Mal dá para alimentar as nascentes e eventuais cursos de água da região. Réplica – Dilermando Você esta afirmando que todos os cálculos que foram feitos ate agora pelos mais renomados mestres professores de universidades e por técnicos especialistas, para cubar o volume de escoamento superficial e a infiltração das águas das chuvas para a região do Nordeste estão todos errados?.

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Olha, você esta fazendo uma denúncia muito séria. Caso você venha a ratificar essa sua denúncia ela tem que ser apurada. Se confirmada, é para ser preso todo mundo e caçados os seus respectivos diplomas. Réplica – Paulo Acho que não fui claro em minha colocação. Não estou discutindo os cálculos, mesmo porque não os vi. Estou afirmando que, em Hidrologia, trabalha-se com altura e não com volume. A altura é calculada dividindo-se o volume pela área. Assim, ao se dizer que a precipitação em determinada região é inferior a 700 mm/ano, sabe-se, de antemão, que se trata de uma região carente de água. Quando se diz que existem 150 bilhões de m

3 de água, não se sabe se representa muita

ou pouca água. Vai depender da área considerada. Pela magnitude do número, percebo que você esteja considerando uma área muito grande, talvez colocando no mesmo balaio o litoral, o semi-árido e o que ANA considera como áreas de elevado risco hídrico. Tréplica – Dilermando Negativo da Mata, presta atenção no que você ler. Eu citei as bacias sedimentares ditas periféricas que são: São Luís/Barreirinhas com 250 km³ (de água/ano), Potiguar/Recife com 230 km³/ano, Alagoas/Sergipe com 100 km³/ano e Jatobá/Tucano/Recôncavo com 840 km³/ano, mais não as incluí como reservas subterrâneas para atender a população dos grandes centros urbanos da orla dos quatro estados CE, RN, PB, PE que ficaram de fora da divisão per capta, exceto a reserva da bacia de Jatobá que já faz parte do interior do Nordeste. E tem mais, apesar dos cálculos do governo contabilizar a população dos grandes centros urbanos como Recife, João pessoa, Natal e Fortaleza (situação de abastecimento já regularizada) como sendo beneficiados com a chegada da água da transposição, eu não estou levando em consideração para efeito de cálculo os aqüíferos costeiros formados pelas dunas e pelas coberturas sedimentares tipo Formação Barreiras que se estendem por toda o orla do nordeste com um potencial estimado só para o Ceará e o Rio Grande do Norte acima dos 2,5 bilhões de m³ de reserva explotáveis. Só o aqüífero Barreiras, indo da cidade de Touros à divisa com a Paraíba, disponibiliza 1,2 bilhões de m³ de água por ano. Segundo Rebouças (2001), as descargas dos rios nordestinos representam uma infiltração de água nos seus aqüíferos da ordem de 58 bilhões de m³/ano. A extração de apenas 1/3 dessas reservas representaria potenciais suficientes para abastecer a população nordestina (estimada em cerca de 47 milhões de pessoas), com uma taxa de 200 litros/pessoa/dia e ainda irrigar dois milhões de hectares com uma taxa de 7.000 ha./ano. Comentário – Paulo Machado Peço a gentileza de indicar a referência, pois o palavreado difere um pouco do jargão hidrológico. Réplica – Dilermando O FLUXO DE BASE DOS RIOS E A RECARGA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS As águas subterrâneas representam a parcela da chuva que infiltra nos terrenos da unidade de planejamento – UP em questão. Por sua vez, estas infiltrações alimentam as descargas de base dos rios durante os períodos de estiagem ou sem chuvas. Segundo esse modelo conceitual e o princípio de conservação das massas – a quantidade de água que infiltra (entrada) nos terrenos da bacia hidrográfica em questão é equivalente à quantidade de água subterrânea que deságua (saída) na sua rede de drenagem – pode-se considerar como viável realizar o gerenciamento integrado das águas que circulam na bacia hidrográfica em apreço, Rebouças (2001).

Aldo da Cunha Rebouças Hidrogeologo do Instituto de Estudos Avançados, Universidade de São Paulo e Colaborador de Pós-graduação do Instituto de Geociências; Consultor da Secretaria Nacional de Recursos Hídricos; Superintendência de Recursos Hídricos da Bahia. Possui mestrado pela Universite de Strasburg na França (1964),

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doutorado pela Universite de Strasburg (1973) e pós-doutorado pela Standfor Universyty Califórnia-USA (1986)

Réplica – Paulo Machado

Você me faz recordar meus tempos de professor de Hidrologia. É exatamente isso o que acontece: a quantidade de água que infiltra (a menos da evaporação da água do solo, que, no semi-árido, é muito alta) é equivalente à quantidade de água subterrânea que alimenta os cursos de água superficiais.

Daí você pode concluir que a utilização da água subterrânea pode comprometer as vazões superficiais.

Durante o período de estiagem no semi-árido nordestino, a maior parte dos rios seca. Trata-se de uma conclusão do que você disse: não havendo precipitação, não há infiltração. Baixando-se o nível do lençol, este não consegue mais abastecer os cursos de água.

Imaginemos que você insista em manter um poço funcionando durante esse período. Obviamente, o lençol vai baixar ainda mais, podendo secar. Antes, porém, vai provocar sérios danos ambientais, pois a retirada da água do solo vai forçar sua compactação, sendo comum, nesses casos, dar a impressão de terremoto.

Tréplica – Dilermando Meu caro da Mata, você continua atrapalhado nas suas interpretações hidrogeológicas. Vamos ver se você consegue entender como é estudado e analisado o comportamento dos aqüíferos e de suas reservas. Primeiro, não confunda reposições temporárias anuais ou recargas renováveis com reservas permanentes ou explotáveis. Separe o que é aqüífero confinado, semi-confinado e livre das bacias sedimentares do que é um aqüífero livre fissural das rochas cristalinas que são bastante diferenciados. Veja o que constitui as reservas permanentes e as explotáveis dos aqüíferos sedimentares e do cristalino, e quanto é permitido ser explorado de cada uma delas ao longo de um determinado período sem que haja superexploração e exaustão do aqüífero. Entendido, então vamos lá. Quando a chuva cai parte evapora e a outra parte vai para o escoamento superficial e infiltração dos aqüíferos. Uma parte da água que infiltra vai para reposição das reservas permanentes e a outra parte chamada de exutório ou descarga natural dos AQÜÍFEROS CONFINADOS OU DOS AQÜÍFEROS LIVRES ALIMENTAM OS RIOS, tanto no período das chuvas quanto no período após o cessar das chuvas, as vezes a descarga não é interrompida mantendo os rios perenes o ano inteiro (caso do aqüífero Urucuia) ou deixa de alimentar os rios pelo rebaixamento do nível estático o que tornam os rios intermitentes, e secos. (caso dos rios do semi-árido principalmente os que drenam as rochas cristalinas). Teoricamente esta parte da água que vai alimentar as descargas dos rios pode e deve servir de referencia para se estimar que no mínimo os aqüíferos terão suas recargas renováveis iguais as descargas de base dos rios. Quando o nível estático do aqüífero rebaixa com relação ao nível de base do rio ele deixa de alimentar o rio, mais as suas reservas permanentes permanecem preservadas e passam a fazer parte das reservas explotáveis. Aí é que esta e diferença, nem toda a água que é infiltra é “equivalente à quantidade de água subterrânea que alimenta os cursos de água superficiais”. A coisa não funciona como você imagina que toda água que infiltra é descarregada nos rios e o aqüífero seca. As reservas permanentes retém parte da água que infiltra permanecendo acumulada até que se faça sua retirada dentro de padrões técnicos determinados e recomendados pelo hidrogeólogo para que não haja superexploração e exaustão do aqüífero. Normalmente após todos os testes de vazões efetuados para se determinar a vazão específica de cada aqüífero e de posse dos demais parâmetro físicos e hrigeológicos da área estudada, o hidrogeólogo vai calcular as reservas permanentes e as explotáveis. A exploração dos aqüíferos confinados, semi-confinados e livres das bacias sedimentares bem como dos aqüíferos fissurais, possuem suas variantes o que requer especificações diferenciadas para sua explotação, como a quantidade e a qualidade da água o número de poços que deverão ser perfurados, a que distancia um do outro deve ser locados, a vazão de produção da bateria de poços bem definida, para que não haja interferência do

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cone de depressão nem o rebaixamento predatório do nível estático e dinâmico. Obedecendo estes preceitos não vai acontecer erros para promover a exaustão do aqüífero por rebaixamento do “lençol, nem teremos problemas ambientais” conforme você vem afirmando em seus comentários. Asseguro-lhes que qualquer programa de recursos hídricos tanto faz, de água superficial ou subterrânea, que não preveja a exploração racional destes recursos, com uma fiscalização eficiente e severa por parte das autoridades competentes, vai haver sempre inevitavelmente a exploração predatória com exaustão dos recursos conforme os exemplos mundiais, como o do aqüífero Olgalla nos Estados Unidos um dos maiores do mundo. Segundo um estudo da BBC Mundo (2003), verificou-se que o maior aqüífero desse país, o Ogallala, está empobrecendo a uma taxa de 12 bilhões de m3 ao ano. A redução total chega a uns 325 bilhões de m3, um volume que iguala o fluxo anual dos 18 rios do estado do Colorado. Os Rios Syrdar'ya e Amudar'ya, na região da Sibéria, o Rio Amarelo da China estão praticamente extintos o rio Colorado já não chega mais a sua foz, e São Francisco já entrou na fila. È só ir retirando volumes de água do rio ou do aqüífero em quantidades superiores a que eles não podem oferecer, até que a morte os leve, sem direito a UTI a revitalização, mas com direito a um atestado de óbito apontando sua morte sem causa etiológica. Contra Tréplica – Paulo Machado Fiquei surpreso quando você disse que o rio Colorado não chega a sua foz. Fui à Wikipédia e obtive as seguintes informações:

O rio Colorado é um rio da Região Sudoeste dos Estados Unidos da América, que banha o estado do Texas. A sua bacia hidrográfica e alguns dos seus afluentes (habitualmente secos) estendem-se até ao Novo México. Este rio é uma importante fonte de água para irrigação, consumo humano e produção de electricidade. Tem numerosas barragens e albufeiras, a mais conhecida das quais é o Lago Austin. Seu comprimento total é de 1.380 km e sua foz é no Golfo do México.

Quanto ao rio Amarelo na China, a Wikipédia diz o seguinte:

O Rio Amarelo recebe no verão um grande volume de águas originadas do degelo nas montanhas no oeste da China, e isso causava grandes inundações períódicas em toda a bacia. O loesse trazido pelo rio sedimenta-se, causando seu assoreamento, agravando as enchentes. No início do estabelecimento humano, as enchentes repentinas causavam tantas mortes que os chineses ainda apelidam o Rio Amarelo de "Rio das Lamentações". Por causa destas eventualidades, os chineses demoraram séculos para ocupar de forma permanente a grande e fértil planície central da bacia do Rio Amarelo. O controle das inundações surgiu em algum momento por volta de 2.200 a.C., quando um extenso sistema de diques, canais de escoamento e reservatórios foi construído, contendo o excesso de água proveniente do degelo e possibilitando o cultivo permanente da planície central. Complementando, gostaria de dizer que a China é um país enorme e, como as disponibilidades de água são limitadas, os chineses aproveitam cada gota do rio Amarelo, impedindo que ele chegue ao mar. Não satisfeitos em utilizarem toda sua água superficial, os chineses ainda perfuraram poços para explorar o lençol de água abaixo do rio. Contra Tréplica - Dilermando Paulo cuidado com as informações que circulam no SITE Wikipédia. O Rio Colorado passa a 850 km aproximadamente da divisa do Texas com o Novo México Jamais em outros tempos geológicos banhou o Texas.. O Rio Colorado Banha os estados, do Colorado passando por Utah, Arizona, Nevada, California, Baixa Californiae e Sonoran no Mexico. Ele nasce nos contrafortes das Montanhas Rochosas exatamente aonde foi feito a famosa tranposição Colorado- Big Thompson, por sinal uma das poucas transposições que eu conheço que deu certo, ela é autosustentavel. O Projeto serve a 30 cidades, irriga 280 mil hectares, transfere 382 milhões m³/ano para a Bacia Hidrográfica do South Pllate River. Fico devendo a geração de energia. Os conflitos de 1938 pelas

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disputas das águas do Rio Colorado fez com que o Projeto Colorado- Big Thompson fosse obrigado a construi cinco grandes represas, nas cabeceiras do Rio Colorado, a Moutain Reservoir, Williams Fork, Lake Granby, Shadow Moutain Reservoir e a Mary´s Lake, isto, para que os estados a jusante não perdesse uma só gota d´água, ou seja, o que é retirado para ser transposta para o Rio Big Thompson, igual quantidade é liberada para o Rio Colorado. Isto é, que é, uma transposição bem fundamentada. Aquela noticia que corre sobre problemas de poluição, que todo mundo aceita como sendo um argumento contra a transposição do, Projeto Colorado- Big Thompson, não foi nada mais, nada menos, de que um acidente em uma das barragens, como elas estão interligadas, uma foi contaminando a outra, identificado o problema foi resolvido. Eu tambem entrei nesta, nos primeiros artigos que eu escrevi incluindo Projeto Colorado- Big Thompson como exemplo de transposição que não deu certo. Hoje eu digo o Projeto Colorado- Big Thompson é um “baita” de um projeto. Nascimento (2006, boletim nº. 2, revisado) mediante monitorização feita nos açudes públicos pelas Secretarias de Recursos Hídricos dos quatro estados achou um potencial de água armazenado em superfície de 37 bilhões de m³. Comentário – Paulo Machado Já ouvi falar por diversas vezes nesses 37 bilhões de metros cúbicos. Não se trata de água, mas sim de buracos. E os buracos nem sempre contêm água. Réplica – Dilermando Estes reservatórios que você chama de “buracos” existem e tem muita água, cuidado se você cair em um deles e não soube nadar pode morrer afogado. As reservas de água subterrânea com potencial explotável são de 2,4 bilhões de m³ totalizando 39,4 bilhões de m³. Apesar de o limite de explotação convencionalmente adotado ser de 30% em 50 anos para as reservas de águas subterrâneas permanentes, foi adotado neste trabalho o percentual apenas, de 10% dessas reservas no mesmo período, para rochas sedimentares (Costa & Costa-1997) como margem de segurança, sem que haja prejuízo e risco de exaustão do aqüífero, o que equivale a 0,2% ao ano, durante 50 anos consecutivos. Ressaltamos o fato, de que as reservas permanentes em rochas sedimentares e cristalinas dos quatro estados chegam ao fantástico volume de 1,18 trilhões de m³ (Costa & Costa, 1997). Se adotarmos um índice de 30% (0,6% ao ano) para retirada de água das reservas permanentes destes aqüíferos teremos um volume disponível fantástico para os quatro estados de 7,08 bilhões de m³/ano ou, 354 bilhões de m³ de reservas de águas subterrâneas explotáveis em 50 anos, sem que haja prejuízo e risco de exaustão do aqüífero durante este período. Isto sem levarmos em conta a restituição da recarga dos aqüíferos neste mesmo período. Comentário – Paulo Machado Esses números podem impressionar, mas, na prática, não têm valor algum. Falar de uma reserva sem indicar sua área é o mesmo que falar na vazão de um rio indicando o volume sem indicar a unidade de tempo. Réplica – Dilermando Meu querido da Mata, desta vez você está falando uma bobagem que não tem mais tamanho, uma comparação ímpar sem conexão, muito infeliz. O que importa em um aqüífero para efeito de cálculo de suas reservas não é sua área de ocorrência e sim o conhecimento da espessura de sua cama saturada, que nas bacias sedimentares tem sua distribuição em sub-superficie geralmente ao longo de toda a bacia seguindo a formação geológica que lhe hospeda. Esta formação geológica, normalmente você vai encontrá-la em qualquer lugar da bacia, o que muda é a profundidade a sua espessura, por tanto são coisas totalmente diferentes, área de ocorrência das águas superficiais e distribuição espacial dos aqüíferos não se falam não servem para comparações. Réplica – Paulo Machado Lembro-me do meu saudoso Prof. Sinval Macedo, quando dizia: - Num aqüífero, o principal são as condições de recarga.

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Dispor de solo arenoso, que propicia maior transferência de água, não é garantia de suprimento. A água que você tira do aqüífero precisa ser reposta. Como ser reposta se não pela chuva? Lembremo-nos do ciclo hidrológico da natureza. Tréplica – Dilermando Sem comentário, já foi explicado anteriormente Carisio (2005) demonstrou que: ―Fazendo cálculos aproximados da superfície correspondente aos 70 mil açudes encontraremos algo em torno de 630 km² (média de 0.9 ha/açude, resultado obtido de um índice em torno de 0.18 na relação entre o espelho d’água e o volume armazenado – espelho d’água em km² e volume armazenado em hm³). Com esta superfície de espelho d’água, e média de perda por evaporação de 2000 mm/ano, resulta numa perda total de 1.26 x 10^9 m3/ano (um bilhão duzentos e sessenta milhões de metros cúbicos por ano). Este volume de água corresponderia a uma vazão de 40,51 m3/s para se conseguir repor somente a água evaporada dos açudes. Observou-se, p.ex., que nos grandes açudes à perda por evaporação gira em torno de 7% do volume médio afluente anual enquanto que nos pequenos, foi de 18%.‖ Comentário – Paulo Machado O trabalho do Carisio está mais próximo da realidade. Indica uma unidade interessante. Ao invés de bater na tecla de que existem 37 bilhões de metros cúbicos de açudes no Nordeste, prefere analisar o volume evaporado nesses açudes. E chega à espantosa cifra de 1,26x10^9 m

3/ano.

E há adversários da transposição pleiteando a perfuração de novos açudes! Nesta pesquisa de Carisio (2005) a taxa de evaporação encontrada para os açudes do nordeste foi de 3,4%. Este percentual é o resultado da relação de toda a água evaporada (1,26*109) dos 37 bilhões de m³ do espelho d´água da superfície dos 70 mil açudes. Queremos chamar atenção para o fato de que uma taxa de 3,4% de evaporação para a região do nordeste, esta bem abaixo dos índices que normalmente são aplicados para o calculo da evaporação. Eles variam em um intervalo muito amplo que vai de 20% a 60%. Este resultado mostra que a escolha de um dos índices para calculo da evaporação fica a critério, havendo necessidade de estudos estatísticos mais completos em toda a região do nordeste para permitir que o resultado seja fidedigno e satisfatório. Comentário – Paulo Machado 3,4% em qual unidade de tempo? Dia, mês? Se a unidade for ano, os números da ANA são muito diferentes. Apesar da controvérsia na escolha da aplicação do índice, vamos aplicar os 37 bilhões de m³ armazenados nos açudes dos quatro estados a taxa máxima de 60% de evaporação tradicionalmente usada. O resultado é uma perda 22,2 bilhões de m³/ano restando 14,8 bilhões de m³/ano. Adicionado as reservas subterrâneas explotáveis de 2,4 bilhões de m³/ano restam um volume de água de 17,2 bilhões de m³/ano em disponibilidade. Comentário – Paulo Machado 37 bilhões de metros cúbicos armazenados? Brincadeira! Conforme dito atrás, o primeiro dado e o mais importante é a área considerada. Esses números grandes podem impressionar, mas, na prática, não têm valor algum. Réplica – Dilermando Brincadeira é o Açude Castanhão mandar 50 m³/s para o fundo do mar o ano inteiro quando deveria ser distribuída parte desta vazão para as bacias vizinhas com custo - benefício bem mais viável e garantido do que os 6,6 bilhões que serão torrados no projeto de transposição, o que você acha ?. Não tem valor algum! Então me responda de onde é que saiu tanta água se você afirma que os buracos são secos . Realmente 1,2 bilhões de m3/ano de perda por evaporação é fantástico, indicativo de que os açudes tem realmente água acumulada, ou não? Então vamos fazer as contas. Vou retirar a perda por evaporação dos 37 bilhões de m3/ano que é a capacidade de armazenamento dos açudes dos quatro estados,

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resultando 35,7 bilhões de m3/ano. Vamos agora supor, que os açudes só consigam operar durante o ano com apenas 30% de sua capacidade (35,7 bilhões de m3/ano já descontada a evaporação) entre os anos de invernos saudáveis e os de estiagens, reduzindo sua capacidade efetiva de operação para 10,7 bilhões de m3/ano. Aplicando um nível de utilização de consumo (população mais irrigação) dos açudes em torno de 20% ao ano que é bastante alto para o nordeste, teremos um consumo de 2,14 bilhões de m3/ano sobrando portanto 8,5 7 bilhões de m3/ano de reservas estratégicas, bem abaixo, se comparadas os cálculos do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento do Ministério das Cidades), que estima para os quatro estados um consumo médio de 106,7 litros/pessoa/dia que representa um total consumido apenas de 840.039.324 milhões de m3/ano para uma população de 21.569.612 de habitantes IBGE (2004). Ora, são cálculos simples da aritmética que eu não entendo por que tanta rejeição em aceita-los. Os açudes existem, eles estão lá, é só fazer um cheque visitando os sites das Secretarias de Recursos Hídricos dos Estados e verificar que existe uma tabela de atualização monitorada mês a mês o ano inteiro, mostrando a capacidade de armazenamento de cada um dos açudes e os volumes de água em disponibilidade que estão sendo operados no dia a dia. Está dito no inicio do texto que é m3/ano. Agora, a ANA é quem vai ditar qual é a taxa que deve ser usada para calcular a evapotranspiração? Réplica – Paulo Não vou entrar nessa polêmica. Apenas gostaria de lembrar que os números aceitos são os seguintes: A perda de água nos açudes, conforme foi dito pelo Apolo, é de até 60%. Tréplica – Dilermando Sem comentário, já foi explicado anteriormente A uma taxa de 200 litros/pessoa/dia dá para atender à população dos quatro estados (21.569.612 habitantes), com um consumo de 1,57 bilhões m³/ ano, e ainda irrigar a uma taxa de 7.000 m³/ha./ano a área de 98.828 ha. ao consumo de 691,79 milhões m³/ano, correspondentes as áreas irrigáveis das bacias receptoras: (55.624 ha. na bacia do Jaguaribe, 7.209 ha. no Apodi, 22.538 na bacia do Piranhas - Açu e 13.457 ha. na bacia Oriental da Paraíba, Albuquerque -2005). Sendo o consumo de água dos quatro estados estimado em 2,26 bilhões m³/ano, (população mais irrigação), quando subtraído dos 17,2 bilhões de m³/ano em disponibilidade, restam ainda uma reserva de água potencial estratégica de 14,94 bilhões m³/ano. Este volume estratégico atende a demanda dos quatro estados (população, mais irrigação), durante 6,6 anos consecutivos de estiagem prolonga sem que seja necessário chover uma só gota d´água. O volume de 17,2 bilhões de m³/ano de água em disponibilidade já descontado a perda por evaporação, representa uma vazão disponível para os quatro estados de 545,04 m³/s, um volume per capita de 797,41 m³/pessoa/ano, ou ainda 2.184 litros/pessoa/dia, quando o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 200 litros/pessoa/dia. O consumo de água per capita varia de país para país e de lugar para lugar. Alguns exemplos abaixo, conforme Pedro Jacobi (www.geologo.com.br). Comentário – Paulo Machado Quando os resultados distam tanto da realidade, podemos concluir que a premissa seja falsa. Com tanta água, por que o Nordeste passa sede? Réplica – Dilermando A pergunta procede. Por que não há distribuição e não é permitido o acesso democrático do homem, mesmo ele morando na beira do açude conforme testemunhas oculares presentes ao Açude Castanhão no Ceará no mês de agosto de 2007 participantes da caravana do Projeto MANUELZÃO quando da visita ao açude. Réplica – Paulo

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Existe uma frase da qual não me recordo o autor, que diz o seguinte: É possível enganar a todos durante algum tempo, é possível enganar a alguns durante todo o tempo, mas não se pode enganar a todos durante todo o tempo. Você acha que, num país democrático como o nosso, seria possível manter o Castanhão fechado ao consumo público por tanto tempo se ele realmente tivesse condições de abastecer a população? Penso que uma simples visita ao Castanhão é pouco para avaliar suas reais condições de funcionamento. Tréplica – Dilermando Foi feito o registro de algumas pessoas entrevistadas que alegaram estar sendo proibidas de usar a água do Castanhão. Um fato para ser investigado. Contra Tréplica – Paulo Machado Fico satisfeito que você reconheça que, embora o Castanhão tenha um volume muito elevado, sua disponibilidade hídrica é limitada. O Castanhão somente poderá trabalhar com volumes menores, diminuindo suas elevadas perdas por evaporação depois de concluído o projeto de transposição do São Francisco.

PAÍS CONSUMO DE ÁGUA PER CAPITA

Escócia 410 litros/pessoa/dia

Estados Unidos/Canadá

300 litros/pessoa/dia

Austrália 270 litros/pessoa/dia

As informações da tabela abaixo estão no último relatório do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), produzido pelo Ministério das Cidades. A pesquisa abrange 4.186 municípios, que abrigam 94,3% da população urbana nacional. Veja o ranking do consumo d'água das oito unidades da Federação do Nordeste do Brasil (2002).

13º Rio Grande do Norte: 115,84

14º Sergipe: 114,10

15º Ceará: 113,84

17º Paraíba: 112,08

18º Bahia: 111,53

19º Piauí: 107,33

20º Alagoas: 107,23

25º Pernambuco: 85,14

*Em litros por habitante por dia Fonte: SNIS — Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, Ministério das Cidades. Na tabela acima, a media do consumo dos quatro estados CE, RN, PB e PE chega a 106,7 litros/pessoa/dia, correspondendo a apenas 4,88 % do volume potencial per capita para estes estados, que é de 2.184 litros/pessoa/dia calculado sobre 17,2 bilhões de m³ em disponibilidade. Então, o que falta mesmo é uma gestão bem planejada dos recursos hídricos já disponíveis, para distribuir os 95,11% do volume potencial da região que não esta sendo consumido, para atender a toda população dos quatro estados sem que seja necessário transpor uma só gota de água do Rio São Francisco. Comentário – Paulo Machado

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Esse discurso de que falta gestão da água no Nordeste, de tão repetido, está acabando por ser aceito como realidade. A realidade é bem outra. A precipitação no Nordeste é a mais baixa no país. Além disso, é a que pior se distribui: concentra-se apenas em alguns meses, o chamado inverno. Isso levou ao seguinte raciocínio: devemos armazenar a água no período chuvoso para ser usada no período seco. Não deu certo. Foram precisos açudes com volumes cada vez maiores para captarem a água disponível no período chuvoso e diminuir as perdas por vertimento. Os índices geoclimáticos são os piores possíveis: altas temperaturas, baixa umidade, elevada evapotranspiração. Os açudes secam no período de estiagem. A importação de água superficial de outra bacia é a solução mais viável. O governador de Tocantins se ofereceu para fornecer água da bacia do Tocantins. Entretanto, a captação de água do São Francisco será muito mais barata e eficaz. É natural que haja reações. Se a transposição fosse do Tocantins também haveria. Como brasileiros, temos que ver o que é melhor para o país: nesse caso, a transposição do São Francisco é a medida mais eficaz. Réplica – Dilermando Sem comentário, já foi replicado anteriormente. Veja o que diz Rebouças (1994): ―Entretanto, tomando-se por base os potenciais per capita ano de água em cada um dos estados do Brasil, representados pelo quociente do volume das descargas médias dos rios (DNAEE, 1985) e população (IBGE, 1991), verifica-se que, mesmo naqueles que compõem a região Nordeste, os valores são relativamente importantes. Por exemplo, um pernambucano dispõe, em média, de mais água (1.320 m³/hab/ano) do que um alemão (1.160 m³/hab/ano); o baiano (3.028 m³/hab/ano) tem potencial equivalente ao francês (3.030 m3/hab/ano); um piauiense (9.608 m³/hab/ano) dispõe de tanta água quanto um norte-americano (9.940 m³/hab/ano). Por outro lado, enquanto o consumo total per capita na maioria dos países relativamente mais desenvolvidos já fica entre 500 e pouco acima de 1000 m³/ano, ou seja, entre 24 e 92% dos respectivos potenciais, na maioria dos estados da região Nordeste os consumos per capita são inferiores 10% dos seus potenciais de água nos rios‖. Comentário – Paulo Machado A ONU não compartilha deste otimismo. Segundo aquele organismo internacional, disponibilidades inferiores a 1.500 m

3/hab.ano representam situação de carência de

água. Réplica – Dilermando Sem comentário, já foi replicado anteriormente. Isto significa dizer que temos excedente hídrico na região setentrional do Nordeste do Brasil necessitando apenas que essa água seja bem gerenciada e distribuída em cada área de acordo com suas peculiaridades, evitando a eventual escassez hídrica local aplicando-se as soluções alternativas conforme discutidas em Nascimento (2006, boletim nº. 3). No Nordeste a chuva média anual está em torno de 700 milímetros, enquanto no Arizona, por exemplo, é de 180 mm, e na Califórnia o índice pluviométrico anual médio é de 192 mm, só que lá não existe falta d’água, pois há uma política de economia hídrica e de sustentabilidade que mantém uma das maiores áreas agricultáveis do mundo em plena expansão. No Brasil, principalmente no Nordeste, existe o caos na gestão dos recursos hídricos de suas bacias hidrográficas. Politicagem e idéias sonhadoras certamente não resolverão a situação da seca do Nordeste nem a de convivência do homem com o semi-árido. Comentário – Paulo Machado É verdade, mas não se pode esquecer a transposição do Colorado, que deu maior segurança hídrica à região.

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9- ENERGIA O potencial de geração de energia hidroelétrica do Rio São Francisco é de 26.300 Mw, dos quais apenas 10.361 Mw encontram-se em operação. A CHESF investiu, a preços atuais, cerca de US$ 13 bilhões de dólares em seu parque gerador de energia entre as usinas de Sobradinho e Xingó. São nove usinas gerando 9.974 Mw necessitando de uma vazão de mais de 3.000 m³/s para colocar a sua capacidade máxima em funcionamento nestes empreendimentos. Nestes termos, já existe um déficit hídrico para geração de energia nas Usinas de Itaparica, que engole 2.744 m³/s em seu potencial instalado, e na de Xingó, que engole 3.000 m³/s, com previsão para implantação de mais quatro turbinas com capacidade para engolimento de mais 2.000 m³/s. Então, como podemos constatar nesta simples conta, já existe hoje um conflito entre a demanda e a oferta de água para geração de energia no parque da CHESF, pois só a Usina de Xingó, necessitaria de uma vazão de 5.000 m³/s para colocar sua ampliação em pleno funcionamento. Comentário – Paulo Machado Dilermando, dessa vez você escolheu um argumento sem pensar mais detidamente. As hidroelétricas não engolem água no sentido literal da palavra. A vazão que passa por Itaparica passa também por Xingo. Assim, não faz sentido somar as duas demandas. Réplica – Dilermando O termo engolimento é usado pela CHESF e não significa dizer que a água vai ser consumida neste caso, ela não é uso consuntivo, ela passa pelas turbinas e segue em frente não existe perda nenhuma. E simples, Itaparica e Xingó, não podem usar a sua capacidade máxima de geração porque nem sempre durante o ano chega ou se dispõe da vazão requerida para movimentar todas as turbinas. A previsão de crescimento de energia para o Nordeste está entre 4% e 6%, inclusive para as regiões abastecidas pela Hidroelétrica de Tucuruí, que deverá esgotar sua capacidade de fornecer um número maior de mega-watts para CHESF, atualmente em média 700 Mw a 800 Mw, chegando a 1200 Mw em 2001. Comentário – Paulo Machado A questão energética no Brasil está dentro de um contexto maior. O apagão de 2001 chamou a atenção do Governo para diversificar a matriz energética, seja com gás natural, seja com termoelétricas, seja com novas hidroelétricas, como a do Rio Madeira. Ora, sabe-se que a vazão média do Rio São Francisco de longo período é de 2.850 m³/s e a sua vazão mínima regularizada é de 2.060 m³/s. Estamos antecipando verdadeiros apagões para infernizar a vida de 47 milhões de nordestinos nos próximos seis anos. Comentário – Paulo Machado A tendência é a interligação de todo o sistema elétrico brasileiro. Assim, não haverá mais preocupação com a energia no Nordeste, pois o sistema nordestino estará totalmente interligado a Itaipu. Réplica – Dilermando A tão badalada interligação de todo o sistema elétrico brasileiro acaba de encomendar um apagão para o nordeste. Sobradinho encontra-se com seu nível de água bem abaixo do que deveria estar nesta época do ano com apenas 26% graças a seca do sudeste que forçou a liberação de mais água do que devia do volume útil da barragem de Sobradinho para gerar e compensar a energia que não veio de ITAIPU. O sistema é precário sem falar na grande perda de energia na transmissão a longa distancia algo em torno de 30%. Segundo Albuquerque ―para cada 1m³/s de água retirado do rio deixa de ser gerado 2,731 Mw. Esta é a chamada ―produtividade de geração de energia‖ do rio São Francisco no trecho considerado.‖ Então, para a vazão máxima a ser retirada de 127 m³/s, considerando que será

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destinado para o eixo norte uma vazão de 84,79 m³/s (66,77%) e para o eixo leste 44,18 m³/s (33,32%) teremos uma perda de 346 Mw que deixam de ser gerados. Considerando agora que para recalcar uma diferença de cota de cerca de 160 m, cada 1m3/s de água consumiria 1,6 Mw de energia gerada, (dados da CHESF) a energia requerida para o recalque nos dois eixos da transposição é de 263 Mw. Junte-se a 346 Mw que deixam de ser gerados teremos um total de 609 Mw. Portanto o comprometimento total máximo de energia para a CHESF é de 609 Mw mais da metade da energia gerada na Barragem de Sobradinho (1.050 Mw), só para atender à demanda do Projeto de Transposição do Rio São Francisco. Comentário – Paulo Machado Dilermando, você sabe que esse cálculo está errado. A vazão de transposição é de 26,4 m

3/s, inferior a 8% da vazão alocável no Rio São

Francisco. Isso significa que a irrigação do baixio do Irecê, para a qual estão alocados 60 m

3/s, representa uma perda de geração de energia elétrica superior a duas vezes a perda

de geração de energia elétrica devido à transposição. 127 m

3/s é uma vazão instantânea, que não pode ser mantida nem mesmo durante todo o

dia em que o Rio São Francisco estiver inundando suas margens. Quando o Rio São Francisco estiver prestea a provocar nova enchente, será possível usar a vazão média diária de 114,3 m

3/s. Nesse caso, os reservatórios estarão cheios e

funcionando à carga máxima e não haverá perda na geração de energia. Réplica – Dilermando Paulo o seu raciocínio está perfeito, se não fosse as condições preestabelecidas de que Sobradinho só vai liberar a vazão de 114,3 m

3/s quando a represa atingir a cota de 94%.

Essa cota só vai acontecer como foi mostrado em 40% dos anos pois o histórico aponta que Sobradinho só enche quatro vezes a cada 10 anos. Se a CHESF liberar vai ter que contabilizar esta perda. Em um de seus comentários você afirma que quando Sobradinho estiver liberando essa vazão de 114,3 m

3/s as cidades ribeirinhas e as plantações ficariam livres das

inundações. Mais uma afirmação incompatível com os dados históricos de inundações do baixo São Francisco. Será que a adução de uma vazão de 26m3/s correspondente 0,32% ou 114 m3/s 1,9% (o equivalente apenas a retirada de uma gota d´água) da vazão defluente de 6.000m3/s registrada em janeiro de 2007 para o Rio São Francisco que provocou as inundações das cidades e das plantações ribeirinhas no baixo São Francisco, seriam o suficiente para conter estas inundações conforme vocês defensores do projeto afirmam que quando as obras do projeto de transposição forem concluídas não haverá mais inundações? Vamos cair na real e não ficar palavreando. Primeiro você tem que tomar conhecimento de que a construção de Sobradinho foi projetada com o objetivo de regularizar a geração de energia e não previne cheia, uma prova, é que o volume de espera da Barragem de Sobradinho não suporta defluentes acima de 12 mil m3/s ou 16 mil m3/s como ocorreu este ano, vai continuar havendo inundações com ou sem a transposição. Réplica – Paulo Este debate está ficando interessante. O que provoca uma enchente é a elevação de nível do rio, o que o faz se espalhar pelas áreas de cota mais baixa. O rio São Francisco chega a ter vazões de 6.000 m

3/s. Para que não chegue a tais

valores, é necessário um amortecimento dessa vazão, o que pode ser obtido pela retirada de vazões menores antes que o pico de vazão aconteça. Uma vazão de 6.000 m

3/s não se obtém subitamente. Assim, antes que ela aconteça, é

preciso se fazer a retirada contínua de um certo volume de água do rio. Quando Sobradinho estiver com 94% de sua capacidade ou quando estiver em volume de espera para controle de cheias, acionar-se-ão as bombas que conduzirão a vazão média diária de 113,4 m

3/s. Um cálculo simples indica que a retirada dessa vazão durante 1 dia

equivalerá ao volume de cerca de 10.000 m3. Se for necessário mais tempo, maior

quantidade de água será retirada do rio, de modo a impedir que ele atinja a vazão histórica de 6.000 m

3/s.

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Tréplica – Dilermando Sem comentário, já foi explicado anteriormente Obs. O numero exato é 9.797.760 m

3

A CODEVASF, considera como significativas as limitações volumétricas do São Francisco, ao ponto de estimar, para irrigação em sua bacia, uma área máxima de 800 mil ha., em detrimento de um potencial irrigável, por ela previsto, de cerca de 8 milhões de hectares, julgando necessário o aporte volumétrico, oriundo de outras bacias, para suprir essa deficiência no São Francisco. Comentário – Paulo Afonso Observe que a idéia da transposição não é nova. Suassuna (1996), alerta: "O São Francisco já está com as suas águas comprometidas na geração de energia e na irrigação. A explicação é a seguinte: a vazão média do rio é de 2800 m³/seg. Para gerar energia, levando em conta todo o potencial gerador da CHESF, são necessários, desse total, cerca de 2100 m³/seg. Portanto, restam 700 m³/seg. O potencial de áreas irrigáveis do São Francisco é de 3.000.000 ha. Se considerarmos 0,5 litro/seg./ha. como um número razoável para fins de cálculo da irrigação que é praticada atualmente no vale do São Francisco seriam necessários 1.500 m³/seg. para irrigar aquela área potencial. Ocorre que não temos esse volume disponível no rio. Temos, conforme mencionado anteriormente, apenas 700 m³/seg. Apesar de termos uma área potencialmente irrigável de 3.000.000 ha., só é possível irrigar, com o volume de água disponível no rio (700 m³/seg.), cerca de 1.000.000 ha. Já nos parece existir, nessa contabilidade, um sério conflito quanto ao uso das águas do São Francisco. Certamente não iremos ter água suficiente para gerar energia, irrigar e abastecer as cidades do Semi-árido nordestino conforme se está pretendendo". Comentário – Paulo Machado É curioso que os adversários da transposição gostam de encontrar fontes de água no Nordeste Setentrional, mas se esquivam de encontrá-las no Vale do São Francisco. O Vale do São Francisco tem um potencial hídrico equivalente ao dobro do restante do Nordeste e condições climáticas muito melhores. Todas as alternativas de poços, açudes, barragens subterrâneas e outros se aplicam ao Vale do São Francisco com muito maior segurança. Não faltará água jamais para irrigação no Vale do São Francisco. Os projetos em andamento jamais deveriam ser usados como argumento contra a transposição. Réplica – Dilermando O IBGE fez um levantamento geoambiental da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e analisou as potencialidades hídricas para exploração das águas subterrâneas da bacia. Existem também outros levantamentos, CPRM, SUDENE, UFBA etc.

Esse refrão “Não faltará água jamais para irrigação no Vale do São Francisco” também já foi dito para o povo do Cazaquistão e o Uzbequistão Ex-União Soviética pelo ditador soviético Josef Stalin que dizia que o Mar de Aral parecia ser uma fonte inesgotável de água. Começava ali a morte dos rios Syrdar'ya e Amudar'ya pela adução indiscriminada de suas águas para irrigação do algodão que em pouco mais de 30 anos veio a se tornar em uma das maiores catástrofes ecológicas já vista no mundo, a do Mar D'aral (ainda tem gente que diz que é reversível, mas não diz em quanto tempo e quanto vai ser gasto, asseguro que serão bilhões de dólares). Os mexicanos da Baixa Califórnia ouviram dos americanos que não ia faltar água para irrigação e o resultado é que o Rio Colorado hoje corre minguado e poluído em território mexicano desde a tríplice fronteira Califórnia - Arizona - Baixa Califórnia (120km) até a sua foz no Mar do Cortez no México onde milhares de hectares de solos férteis foram salinizados tornando-se improdutivos, afetando todo o bioma desta região aniquilando com a fauna e a flora. O rio São Francisco deve ser o próximo da lista.

Réplica – Paulo Machado O Vice-Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Prof. Silveira Fontes, escreveu um longo artigo no último número da revista do CBHSF intitulado

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"Água para Todos ou Água para Poucos". Nesse artigo, à pág. 63, consta o seguinte: A análise dos cenários revelou que em 2035 a vazão alocável estará esgotada (...) O professor não leva em conta que as modernas técnicas de irrigação estão diminuindo, em muito, o consumo de água. Assim, eu diria, com toda a certeza, que essa data pode ser esticada para 2050 pelo menos. Não considerando a melhora nas técnicas de irrigação, o professor faz uma previsão sombria (pág. 64): Se nessa previsão for incluído o projeto de transposição para o Nordeste Setentrional, este quadro deverá se verificar já em 2030. Portanto, o professor justifica por que é contra a transposição: vai ser levada água para o Nordeste Setentrional que poderá, no futuro, fazer falta aos habitantes da bacia. Mais adiante, ele faz uma revelação importante (pág. 71): O Ceará é um Estado que possui uma maior consciência do valor econômico da água. Dessa forma, ele poderá competir com os produtos agrícolas de exportação gerados na bacia do rio São Francisco, devido à maior proximidade dos portos da Europa. Certa vez, troquei e-mails com um pernambucano que era contra a transposição. Tentei fazê-lo ver que a transposição vai levar água para o sertão e o agreste de Pernambuco, regiões que tem o maior déficit de água do país. Ele me respondeu dizendo que ia levar água também para o Ceará e o tornaria o maior produtor de frutas do país, posição que é, atualmente, de Pernambuco. Tal posicionamento, que pode parecer hipócrita à primeira vista, demonstra uma coragem sem igual. Deixa claro o porquê de se combater a transposição, pois vai beneficiar um estado concorrente. Tanto o Prof. Silveira Fontes como meu correspondente pernambucano dizem o que muitos não têm coragem de dizer: combate-se a transposição não porque ela possa ser nociva para o Nordeste Setentrional, como querem alguns, mas porque vai tirar água da bacia para beneficiar outra região do país que lhe possa fazer concorrência. Tréplica – Dilermando E a primeira vez que eu tomo conhecimento de tamanho absurdo. Se estes senhores pensam de forma tão mesquinha não merecem atenção de minha parte. O potencial de irrigação da bacia do rio São Francisco cuja área tende a crescer cerca de 4% ao ano não deve ser esquecido. Veja o que diz Suassuna (2007). ―Como justificar, com as águas do rio São Francisco, a irrigação de áreas do Nordeste setentrional, portanto a 500 km de distância das margens do rio, existindo projetos em sua bacia que estão parados por falta de recursos financeiros, a exemplo do Irecê e Salitre na Bahia, os quais somados totalizam 90 mil ha., do Pontal em Pernambuco, com 10 mil ha., e do projeto Jaíba, em Minas Gerais, com área total superior a 100 mil ha., cuja primeira fase, de 18.500 ha., está sendo implantada com muita dificuldade? Seria muito mais lógica a solução, em primeiro lugar, dos problemas financeiros existentes nos projetos pertencentes a bacia do rio, do que se partir para a implantação de novos projetos de irrigação em regiões fora dela‖. Comentário – Paulo Machado Precisamos parar de enxergar que a água somente será usada para irrigação. No Nordeste Setentrional falta água para tudo, não apenas para a criação de camarões ou de frutas para exportação. A transposição não será feita para tirar água da irrigação do Vale do São Francisco para usá-la em irrigação no Nordeste Setentrional. Réplica – Dilermando Sem comentário, já foi replicado anteriormente. 11- CONCLUSÕES Queremos deixar claro que não somos contra a transposição, desde que ela esteja comprometida para levar água para dessedentação animal e para as pequenas populações dispersas do sertão (prioridade número um, sem discussão de custos e benefícios). Caso contrário, foi demonstrado aqui que os dados técnicos e os números disponíveis levantados e analisados inviabilizam totalmente a execução do projeto.

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Comentário – Paulo Machado Esse é o discurso dos adversários da transposição Para os habitantes da bacia, tudo. Para os de fora da bacia, só será concedida água para dessedentação animal e para os coitados que moram no sertão. Diante da posição radical adotada pelos então membros do CBHSF, o Governo se viu obrigado a tomar uma atitude rígida, recorrendo à ANA, que avocou a si o direito de conceder alocação de água. Observe que a posição dos membros anteriores do comitê de somente permitir que água saísse da bacia se fosse para dessedentação animal ou para consumo humano foi bastante incoerente. E a transposição feita para Aracaju? Vai ser cortada a água das indústrias da capital sergipana? Vai ser estabelecido que o Velho Chico só vai continuar a mandar água para Aracaju se for usada para dessedentação humana e animal? Réplica – Dilermando Sem comentário, já foi replicado anteriormente. O Ministério da Integração alega para justificar a transposição que existe falta de água na Região Setentrional do Nordeste. Cremos que existe uma desinformação total por parte do Presidente Lula quanto as divergências existentes entre os números, quando colocados em confronto aos dados levantados nos estudos realizados na Região do Nordeste e àqueles apresentados pelo Projeto de Integração do Rio São Francisco, assunto por demais já conhecido e debatido por toda comunidade de cientistas e técnicos deste país. O Presidente Lula precisa de uma acessória técnica que demonstre com clareza estas contradições, aí com certeza os números e as informações técnicas analisadas são indicativas contra a implantação do projeto. Mostre também, que a solução para minimizar a falta de água nas áreas mais dispersas de toda a Região do Nordeste do Brasil, só vai apresentar resultados satisfatórios, no momento que se optar decisivamente pela exploração do fabuloso potencial de águas subterrâneas armazenadas em seu subsolo, além da construção das barragens subterrâneas e das cisternas, independente se o projeto de transposição vai ou não vai ser concluído. A comunidade geológica vêm discutindo desde a década de 60 que a solução para a má distribuição espacial das grandes massas de águas do Nordeste, só deverá ser solucionada inevitavelmente com o aproveitamento das águas subterrâneas da região, independente ou não da transposição ser realizada. Será impossível distribuir água para populações dispersas via adutoras pelos altos custos deste tipo de abastecimento. Vamos tomar como exemplo a adutora Serra de Santana, RN, que recebeu investimentos de R$ 32 milhões para construírem 204 quilômetros. O custo por km foi de R$ 156.862,00. Assim, pode-se concluir que as soluções alternativas, construções de barragens subterrâneas (forma de captação de água mais eficiente para sustentar a agricultura familiar servindo até trinta famílias na utilização da água nas lavouras), construções de cisternas para captação de água de chuva (melhor custo benefício para consumo humano) e a dessalinização de poços tubulares, são as soluções que definitivamente vão levar água ―in loco‖ a uma distancia nunca superior a 4km2 e a poucos metros da porta da população dispersa do sertão, regularizando o abastecimento de água do semi-árido e minimizando os problemas oriundos da seca da Região do Nordeste do Brasil. Garante resultados satisfatórios já comprovados pelas experiências adquiridas em projetos atuais e em desenvolvimento nos quatro estados nordestinos, que além de oferecer vantagens no custo-benefício das obras que serão implantadas, elimina as incertezas do sucesso das soluções alternativas, dando garantia e segurança ao empreendimento, fator este, que não acontece no Projeto de Integração do Rio São Francisco, que deixa suspeitas em detrimento das ações que os programas delineados para o projeto venham a oferecer com retorno duvidoso.

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A proposta de soluções alternativas trata, portanto, da implantação e da construção de pequenas obras, simples e de baixo custo, já com tecnologias de eficiência comprovadas, que, além de gerar inúmeros empregos na região da zona rural utilizando a mão-de-obra local, vai permitir ao homem um acesso fácil e democrático, para a utilização dos recursos hídricos disponíveis da região, fator de vital importância e de prioridade para a sobrevivência e para a convivência do caboclo nordestino com a seca. Resta agora o desafio de concretizá-las, o que requer vontade e força política dos nossos governantes para implantá-las. Aí, sim, talvez um dia nós possamos ver eliminado o tão badalado estigma da indústria da seca. Comentário – Paulo Machado Esse grande número de obras é tudo o que os beneficiários da indústria da seca desejam. Um projeto da magnitude da transposição é fiscalizado pelo TCU, pela CGU, pela AGU, pelo Ministério Público, pelos governos estaduais, pelas ONGs e pela população em geral. Pequenas obras perdidas no interior do país, sem nenhuma conexão entre elas, não são fiscalizadas por ninguém. Para se obter a vazão de 26,4 m

3/s com poços no Nordeste, considerando que eles

tenham uma vazão média de 5 m3/s, serão necessários 19.000 deles. Eles deverão ser

perfurados de modo que um não esteja na zona de influência de outros poços, para que um não prejudique a vazão de outro. Isso quer dizer que eles estariam espalhados por toda a região o que dificultaria, em muito, sua fiscalização. Os poços deveriam ter dessalinadores, pois a água dos poços, mesmo de regiões não salinas, vai se salinizar durante o período de estiagem. Já imaginou 19.000 dessalinizadores funcionando (ou não funcionando) em locais retirados do sertão? E a água? Vai ser salobra mesmo ou vai haver dessalinizadores? Vai ser usada osmose reversa? Quem vai dar manutenção nos aparelhos? E para onde vão ser mandados os rejeitos? Vão ser lançados nos cursos de água superficiais? Brincadeira! E quando os poços pararem de funcionar durante a estiagem, como vai ficar o fornecimento de água? E as bombas para levar essa água para os reservatórios? Como funcionarão tantas bombas no sertão nordestino? E sua manutenção? Terão reatores de emergência caso haja falta de energia? Já pensou no traçado das tubulações para levar essa água para os reservatórios? E os reparos nas tubulações? E a substituição de tubos perfurados ou com crostras? Quantos reservatórios vai haver? Haverá altura suficiente para dar pressão à água? Vão ser em concreto? Como vão chegar o cimento, a areia e a brita no sertão? Dos reservatórios, a água precisa ser distribuída. Aí começa o problema tão decantado pelos adversários da transposição: quem vai financiar as adutoras para levar a água às propriedades? Se isso fosse fácil de realizar, pode saber que alguém já teria feito. Não será melhor executar uma obra dispendiosa, mas que vai gerar muitos empregos e, depois, levar segurança hídrica a 12 milhões de habitantes (ou 7 milhões, se descontarmos os que já têm água), além de fornecer água para o agro-negócio, que gera emprego e renda? Ou será melhor continuar a construir obras espalhadas pelo sertão, sem nenhuma garantia de êxito, como vem sendo feito há mais de um século? Será que a indústria da seca não vai acabar nunca? Réplica – Dilermando

Meu “dear” Paulo, leia e seu texto acima com atenção e veja quanta incoerência, quantas contradições e quanta falta de conhecimento sobre o tema que você desabrochou no seus finalmentes.

Primeiro, um erro inconcebível você considerar uma vazão média de 5 m3/h por poço

para os aqüíferos sedimentares do nordeste, quando o certo seria você estimar uma vazão de 25m

3/h, para os poços com produção de vazões mínimas de 5m

3/h e máximas

de 120m3/h conforme foi citado no meu texto. A ABAS (2003) apresenta um projeto que

mostra que com a perfuração de apenas 2.736 poços se disponibiliza uma vazão de 527 m3/s, nunca, jamais seria necessário a perfuração de 19.000 poços para cobrir a vazão de 26,4 m

3/s prometida pelo projeto de transposição conforme você calculou, veja o

texto abaixo.

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Em julho de 2003 a ABAS Associação Brasileira de Águas Subterrâneas apresentou um projeto ÁGUA SUBTERRÂNEA – MINIMIZAÇÃO DAS CONSEQUÊNCIAS DA SECA NO NORDESTE. Este projeto foi montado para atender uma população de 15.761.055 de habitantes ao consumo de 125 litros/ dia (0,125m3) com a perfuração de apenas 2.736 poços que dariam uma vazão aproximada de 527 m3/s ou 16.638.890.000 m3/ano de reservas explotaveis distribuídas para os estados do MA, PI, CE, RN, PB, PE, AL, SE e BA ao custo total de R$ 601.920.000,00. Como você pode ver, não são necessários 19.000 poços, apenas 2.736 para atender a uma população de 15 milhões 31% de toda a população do nordeste, este é um projeto feito por gente que entende de perfuração e água subterrânea, se não acreditar neles vai acreditar em quem?

Qualquer alternativa ao projeto de transposição, também poderá ser superfaturada, porque todos nós sabemos que no Brasil a corrupção já está institucionalizada e as verbas públicas vão sempre parar nas mãos dos mesmos. Agora, uma coisa é a gente fiscalizar tudo isto, propondo soluções para coibir as fraudes. Outra coisa é a gente não permitir que projetos maus concebidos tecnicamente e com exclusão ambiental e que não atendem aos objetivos para os quais foram concebidos, sejam implantados e executados para favorecer ao latifúndio aos empresários e aos políticos. Discordo quando você diz que a aplicação das verbas descentralizadas não será fiscalizada por ninguém e consequentemente irá facilitar ainda mais aos corruptos e corruptores no desvio de verbas na aplicação das soluções alternativas. Eu acho que distribuir verbas com um maior numero possível de gestores (estudos indicam que programas do semi-árido tem que ser descentralizados de acordo com as suas peculiaridades regionais) vai facilitar e muito, as denuncias dos desvios, pois teremos muito mais gente envolvida e aí, vai ter sempre alguém mal satisfeito traído ou traidor, que vai abrir o bico, melhor do que deixar a verba com meia dúzia do come sozinho.

Está provado que o melhor caminho para fiscalizar o dinheiro público é fazendo a descentralização criando o maior numero possível de gestores. Quanto mais pessoas envolvidas mais denúncias surgirão.

ÁGUA SUBTERRÂNEA SALGADA NO NORDESTE O MITO!

A dessalinização de água do mar ou de água salobra de poços tubulares é uma realidade no mundo inteiro e no Brasil. Inevitavelmente a dessalinização de água do mar caminha para o futuro da humanidade como a solução mais econômica para obtenção de água potável para o consumo humano. A dessalinização será fonte primeira de água para o consumo humano. O mundo inteiro já tem parte de seus abastecimentos com água dessalinizada do mar como os Estados Unidos, os pais dos Emirados Árabes, a Austrália, Egito, Israel etc. A Arábia Saudita é hoje o maior produtor de água dessalinizada do mundo, com 30 usinas de dessalinização que produzem quase 2,7 trilhões de litros. Soares et al. (2006) Estima-se que a atual capacidade instalada de dessalinização no mundo seja superior aos 32,37 milhões de m

3 por dia (Watson et al., 2003).

O método usado para a dessalinização no Nordeste tem sido, predominantemente, o processo de osmose reversa (Porto et al., 2004). Amorim et al. (2004b) atribuem o predomínio da osmose reversa à simplicidade e robustez do equipamento, aos baixos custos de instalação e operação, incluindo o consumo de energia e de mão-de-obra na operação, à capacidade de tratar volumes baixos a moderados de água bruta, à elevada taxa de recuperação, à continuidade do processo e à excelente qualidade da água tratada; entretanto, a osmose reversa implica na geração de rejeito, uma água residuária do processo e que tem concentração iônica majorada, ou seja, ao se dessalinizar a água salobra, transformando-a em água doce, gera-se um outro tipo de água, mais salina que a própria água salobra e, por conseguinte, com risco de contaminação ambiental elevado. Quanto ao problema do custo ambiental do rejeito da dessalinização Já existe no Nordeste mercado para o seu aproveitamento. O Laboratório de Dessalinização da UF de Campina Grande, desenvolve pesquisas para o uso do rejeito. O rejeito já é utilizado para criação de peixes (tilápias) camarão e irrigação de plantas suculentas (Atriplex) excelente forrageira para alimentação animal. Existe uma planta de processamento do

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rejeito na UF de Campina Grande já a disposição para o aproveitamento dos sais na indústria farmacêutica. Outra alternativa para redução do rejeito seria o secamento em evaporadores ou tanques de solarização sob condições controladas (Hayes & Kipps, 1992). Ahmed et al. (2003) confirmaram a viabilidade técnica de se tratar rejeitos de dessalinização por osmose reversa em instalações de estrutura simples, usando a tecnologia de cristalização de sais. Com base em sua análise, esclareceu-se que vários tipos de sais, incluindo gesso, cloreto de sódio, hidróxido de magnésio, cloreto de cálcio, carbonato de cálcio e sulfato de sódio, podem ser produzidos. Esses produtos foram considerados de alta qualidade, estando na demanda de várias indústrias. Vocês defensores do projeto de transposição alegam que 70% da área do Nordeste é composta de rochas cristalinas, que não tem água, que as vazões dos poços são baixas, que a água é salobra. Todos estes argumentos não são verdadeiros, temos poços em varias localidades com vazões muito boas entre 2 a 6 m³/s, com potabilidade excelente para o consumo humano, como exemplo, os poços da Serra de Baturite e o Granito Meruoca no Ceará, o Granito da Cidade de Patu no Rio Grande do Norte, todos em regiões extremamente áridas. Agora, porque vocês também não dizem, que nesta mesma região (70% da área do Nordeste) os solos são rasos com grande extensão de área com rocha aflorante (geralmente litossolos) e com poucas opções de solos agricultáveis com apenas manchas esporádicas de podzólicos e pequenas manchas de terra roxa e solos aluviais eutróficos que ocorrem em pequenas planícies dos vales dos rios intermitentes, opções excelentes para serem aproveitados na implantação das barragens subterrâneas. As águas da transposição não irão irrigar as rochas dos terrenos cristalinos (não tem solo) mais sim as áreas das bacias sedimentares, do Araripe, Souza, Icó-Iguatu, Potiguar e alguns hectares das planícies aluviais, já com perímetros de irrigação instalados desde os anos 50. Portanto vai mesmo é para ampliar a oferta de água para favorecer o agronegócio e a criação do camarão. A barragem subterrânea garante ate duas colheitas por ano de produtos como feijão, milho, arroz e frutas nas áreas onde dependendo do inverno (um, dois, três anos sem chuva) não se conseguia nem uma colheita. A barragem subterrânea quando bem locada e com um bom manuseio além de não salinizar os solos é uma ótima opção para o consumo humano e animal. As barragens subterrâneas você precisa visitar uma delas entre Pesqueira, Belo Jardim e Jataúba no semi-árido de Pernambuco, onde, 100 hectares são irrigados. Pesquisadores da UFP monitoram 16 das 498 barragens para sustentar a agricultura familiar. Não é para servir ao agronegocio a criação de camarão, mais para o pobre, matar a sede e a fome. Quando eu falo em dessalinização de poços tubulares de implantação das cisternas e das barragens subterrâneas em áreas de rochas ditas cristalinas, eu me reporto a oferta de água para dessedentação animal consumo humano e principalmente para agricultura de subsistência para alimentar a população pobre e carente. Agora, quando se fala em transposição do Rio São Francisco o governo já decidiu que 70% vai para irrigação, para atender ao agronegócio da fulticultura para exportação para a criação de camarão e para oferta de água ao pólo siderúrgico-portuário do porto do Pecém em Fortaleza. Se a intenção do governo é esta, é fácil de resolver. Basta um bom gerenciamento dos açudes da região e fim de papo. Quanto à dessalinização para poços tubulares já se consegue produzir 1 m³ a US$ 0,40 em quanto nas emergências das secas 1 m³ em carro pipa varia de US$ 3 a 6 dólares, às vezes mais lama do que água que proporcionam grandes lucros a indústria das secas. Recentemente estalamos em Fernando de Noronha dessalinizadores para processar água do mar ao custo de U$ 0,90 ( nos USA custa US$ 1 já custou até US$ 3,5) com energia eólica bem mais cara do que as outras fontes de energia. O preço de água dessalinizada esta sendo barateada pelo avanço tecnológico devendo alcançar entre US$ 0,30 a 0,25. O preço do dessalinizador a depender do processador varia de R$ 15 mil reais a R$ 40 para uma configuração básica padrão, de porte médio, para processar acima de 2.000/l/h. Você alega em seu texto acima que os dessalinizadores precisam de manutenção, mais é lógico, obvio, qualquer equipamento precisa de manutenção, ou você acha, que todos os contras que você apresentou no texto acima também não são validos para os

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equipamentos e para distribuição da água da transposição, ou ela vai ficar restrita aos vales dos rios receptores, não vai ser distribuida? Esta questão de poços e de dessalinizadores abandonados na zona rural do nordeste é porque falta eficiência na manutenção dos equipamentos por parte dos nossos governantes. Lembro-me que visitei vários poços em todo o nordeste paralisados por vários meses (um ate sete) pela falta banal de substituição do embolo “uma simples sola de couro da bomba”. A experiência no Rio Grande do Norte com a implantação em (1997), em Riacho Salgado, São Paulo do Potente, Riacho Fundo e Barcelona, os dessalinizadores estavam funcionando ate (2004), com as mesmas membranas. Funcionamento é de 90%. Na Bahia são mais de 600 dessalinizadores instalado em plena atividade. No Ceara são, 199 sistemas fixos, 50 dessalinizadores móveis e previsão de implantação de mais 240 unidades (1997). Temos uma empresa no Brasil especialista em dessalinização que mostra os preços atualizados para obtenção de água potável do mar e de poços tubulares confira.

CUSTO DA ÁGUA DO MAR

O processo utilizado pela Mar Báltico é denominado “Osmose Reversa Seletiva”. Utiliza tecnologia de última geração tanto nos equipamentos e periféricos quanto nos filtros e membranas.

As membranas (tempo de vida útil) podem durar até quinze anos se forem observados todos os cuidados de manutenção.

O custo para a produção de 1.000 litros de água do mar varia entre US$ 0.75 a US$ 1.50, dependendo do valor da energia elétrica local e do porte da usina.

ÁGUA SALOBRA Observando os mesmos princípios de conceito e tecnologia, a Mar Báltico oferece

também uma linha de dessalinizadores para processar água salobra em poços tubulares. Assim como nos equipamentos de dessalinização de água do mar, os equipamentos

que processam água salobra, oferecem água em condições de potabilidade para consumo humano

CUSTOS – ÁGUA SALOBRA EM POÇOS TUBULARES O custo para a produção de 1.000 litros de água varia entre US$ 0.35 a US$ 1.00,

dependendo do valor da energia elétrica local e do porte da usina. Portanto meu caro Paulo, a salinização de águas superficiais e subterrâneas é coisa do passado. Com projetos bem elaborados e uma assistência de manutenção adequada poderemos minimizar a oferta de água para população das regiões dispersas bem mais acessível aos cofres públicos. Réplica – Paulo Não vou discutir o estudo da ABAS que, evidentemente, não foi colocado na forma de projeto. Você, no entanto, falou uma coisa que eu concordo: o futuro do mundo é a dessalinização da água do mar. Com o aumento da população da Terra, conflitos como este a que agora estamos assistindo deixarão de existir. Soluções esdrúxulas como essa, como a de se perfurar milhares de poços na expectativa de que venham a produzir ininterruptamente até 120 m3/h em uma região sabidamente carente de água, para substituir a transposição do S. Francisco, que alguns habitantes de sua bacia teimam em não permitir, não existirão mais. Tréplica – Dilermando “Em quase todos os continentes, muitos dos principais aqüíferos estão sendo exauridos com uma rapidez maior do que sua taxa natural de recarga. A mais severa exaustão de água subterrânea ocorre na Índia, China, Estados Unidos, Norte da África e Oriente Médio, causando um déficit hídrico mundial de cerca de 200 bilhões de metros cúbicos por ano (SAMPAT,2001)”.

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Existem diversos exemplos no mundo de esgotamento de aqüíferos por superexplotação para uso em irrigação. O esgotamento das águas subterrâneas já provocou o afundamento dos solos situados sobre os aqüíferos na cidade do México e na Califórnia, Estados Unidos, assim como em outros países (CEPIS, 2000)”. (fato já abordado aqui por você ). Eu chamei atenção no texto acima de que esta exploração predatória dos aqüíferos também se comprova e está acontecendo com as águas superficiais do mundo inteiro. Este roubo hídrico só vai ser coibido no momento em que se fizer um planejamento dos recursos hídricos levando em consideração o gerenciamento de programas integrados para explotação racional das águas subterrâneas e superficiais acompanhados de uma fiscalização eficiente e severa, para que oferta e demanda com otimização dos recursos hídricos existentes sejam compatíveis com o desenvolvimento auto-sustentável. Comentário – Paulo Machado “Você afirma que a capacidade dos poços do Nordeste pode chegar a 120 m

3/h. Aqui no

Centro Sul, em que dispomos de muito melhores aqüíferos, um poço de 10 m3/h é

considerado um poço bom. Pois bem, considerando que os poços de 120 m3/h sejam

exceção e não regra e considerando uma média de vazão de 10 m3/h por poço, sabe

quantos poços seriam necessários para extrair a vazão de 48,16 bilhões de m3/ano?

550.000 poços! Se essa quantidade de poços fosse perfurada no aqüífero Guarani, o maior do mundo, este secaria em pouco tempo. Portanto, sem querer fazer juízo de valor, posso afirmar, a priori, que os autores do Projeto RADAMBRASIL estão equivocados nessa parte”. Réplica – Dilermando Aqui você foi mais generoso estimando a média para 10 m

3/h (o dobro da vazão do seu

último comentário) por poço para os aqüíferos sedimentares do nordeste, quando o certo conforme foi citado no meu texto seria você estimar uma vazão de 25m

3/h, para

os poços com produção de vazões mínimas de 5m3/h e máximas de 120m

3/h. Essa sua

alusão demonstra um total desconhecimento da distribuição geográfica dos aqüíferos e da hidrogeologia do nordeste. Os 550.000 poços conforme você calculou foi com intenção de impressionar pela grandeza do número. Apresentar este número para um americano como sendo um absurdo ele vai dar risada e gozar da tua cara, por que lá nos Estados Unidos da América onde você fez a sua especialização em Engenharia Ambiental, este número é normal. Hoje, são perfurados aproximadamente 500.000 poços por ano. Réplica – Paulo machado Primeiramente, é preciso deixar claro que as regiões sedimentares do Nordeste Setentrional são minoria. Quando eu falo em poços de 10 m

3/h, falo por experiência

própria. Quando fui incumbido de transformar o sistema de abastecimento de água da Petrobrás/Regap em Betim-MG para poços artesianos, em virtude de contaminação da lagoa que a abastecia por microcistinas, contratei um especialista em poços artesianos, que rodou toda a bacia para procurar locais de melhor produção de água. Após a escolha do local, perfuramos 5 poços e a vazão inicial (a vazão inicial sempre é maior que a vazão estabilizada) dos 5 poços não atingiu 60 m

3/h. De acordo com o especialista,

se perfurássemos mais poços, a vazão dos outros seria afetada. Acho pouco provável que a capacidade do semi-árido nordestino de fornecer água subterrânea seja maior que essa. Tréplica – Dilermando A questão aqui e terapêutica. Para cada paciente há uma forma e meios diferentes de administra e cura de sua doença (o amigo Apolo deve conhecer muito bem). Todas as bacias sedimentares do Nordeste já foram bastante estudadas e cada uma delas tem as suas peculiaridades. Se não vejamos alguns exemplos de dados gerais de algumas bacias sedimentares. BACIA DE JATOBÁ - Aqüífero Tacaratu, profundidade entre 50 e 250 metros vazões entre 4 a 30 m

3/h . Aqüífero Inajá, profundidade entre 500 e 6.000 metros vazão de explotação

90 m3/h. Em Pernambuco, a bacia do Jatobá também acena com uma promessa de

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abastecimento extra. Localizada no sertão do Estado, Jatobá tem uma reserva permanente de 100 milhões de m³, escoamento natural de 1 milhão de m³ anuais e uma capacidade de captação de 10 milhões de m³ no mesmo período. CHAPADA DO ARARIPE - apresenta excelentes condições de explotação de águas subterrâneas com profundidade dos poços entre 140 170 m e vazões de 60, 70 e até 100 m

3/h com reservas permanentes estimadas em 7,5 bilhões de m

3/água/ano e reservas

explotáveis de 30 milhões de m3/água/ano .

CHAPADA DO APODI - Aqüífero Jandaíra, reserva permanente de 6,25 bilhões de m3

e reserva reguladora de 7,87 bilhões m

3 ano. IPT (1982).

- Aqüífero Açu, reserva permanente 10,85 bilhões e reserva reguladora corresponde à infiltração, que é de 27.535.000 m

3/ano (2.5% do volume de águas pluviais anuais).

Potencialidade hídrica para a situação atual, calculada pelo modelo numérico para todos municípios em que o Aqüífero Açu aflora = 45.400 m

3/dia (1.890 m

3/hora) (525 L/s).

BACIA DE FÁTIMA - uma pequena bacia de Pernambuco com apenas (270 km²) que em apenas três poços perfurados recentemente pela CPRM na bacia, com profundidade da ordem de 415 m, forneceram vazão em torno de 120 m

3/h.

BACIA DO MEIO NORTE - (conhecida como Piauí-Maranhão ou Parnaíba) - o poço de Violeta, perfurado no vale do Gurguéia até uma profundidade de 960 m, forneceu inicialmente uma vazão jorrante de quase 1.000 m

3/h, a maior conhecida no Brasil. Ele

capta simultaneamente os aqüíferos Serra Grande e Cabeças. Atualmente existem 400 poços jorrantes (informação verbal do Prof. Itabaraci da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Gramado novembro, 2007 XV Encontro Nacional de Perfuradores de Poços). Curiosidade, há um mês atrás a televisão noticiou que 1,2 milhões de Piauienses estavam em estado de emergência passando sede, servidos por carro pipa. Sabe-se que a disponibilidade hídrica do Piauiense é uma das maiores do mundo, um piauiense tem (9.608 m³/hab/ano) dispõe de tanta água quanto um norte-americano (9.940 m³/hab/ano) Rebouças (1994). E duro demais aceitar situações de emergência por falta de água no Piauí, é fim de túnel nas trevas sem saída. Estes são apenas alguns exemplos de dados de alguns aqüíferos do nordeste todos fazem parte do semi-árido. Por favor Paulo, não caia na tentação de fazer comparações bisonhas de vazões e de produtividade dos poços das bacias sedimentares do nordeste com informações apenas de 5 poços (que você considera como experiência própria) sem levar em consideração o aqüífero como um todo. Pega mal. Comentário – Paulo Machado “Para haver uma infiltração de 144,5 bilhões de m

3/ano, como consta do Projeto

RADAMBRASIL, em uma região com 700 mm de chuva anuais, seria necessária uma área de 206.000 km

2. Repito, no entanto, que, para que isso ocorresse, seria necessário que

toda a precipitação se infiltrasse, sem qualquer perda por evaporação ou escoamento superficial e, uma vez infiltrada, o lençol não poderia alimentar nenhum curso de água ou mesmo uma nascente, nem haver qualquer vegetal cuja raiz utilizasse água do lençol. Não li o Projeto RADAMBRASIL, mas se você não tivesse dito que ele data de 1981, quando os conhecimentos hidrogeológicos eram bastante inferiores aos que temos hoje, diria que os autores estavam de gozação conosco, ao afirmarem que o subsolo do Nordeste tem uma recarga de 144,5 bilhões de m

3/ano, dos quais possam ser extraídos

48,16 m3/ano sem qualquer risco ao meio ambiente”

Réplica – Dilermando

Você cometeu dois erros primários brutais quando levanta suspeitas e critica as RESERVAS PERMANENTES (144,5 bilhões de m

3/ano) de águas subterrâneas do

trabalho do Projeto RADAMBRASIL, pertencentes as quatro bacias hidrográficas dos Rios Jaguaribe, Apodi, Piranhas - Açu e Rio Paraíba.

Primeiro você confundiu RESERVAS PERMANENTES com recarga anual do aqüífero o que é um absurdo, e segundo você faz o comentário confundindo a área das quatro bacias hidrográficas como se elas representassem todas as reservas de água da região do nordeste.

Este tipo de comentário dizendo que os autores do trabalho do Projeto RADAMBRASIL “afirmaram que o subsolo do Nordeste tem uma recarga de 144,5 bilhões de m

3/ano”

parece um pouco leviano, prefiro acreditar que partiu de uma interpretação mal

Page 62: Debate  Projeto de Transposição das Águas do Rio  São Francisco

concebida de sua parte por falta de conhecimento. O pior, é aludir os volumes das RESERVAS PERMANENTES de um aqüífero que foi se formando ao longo de milhões e milhões de ano, como é o caso dos aqüíferos citados cujas formações geológicas vão desde o período Siluro-Devoniano ao Cretáceo, portanto formadas a 430 milhões de anos atrás, só para dar um exemplo caso das formações Serra Grande, Cabeças e Poti-Piauí, cuja datação de seus aqüíferos sugerem idades de recarga há 10 mil anos. Como você pode afirmar que estas reservas são resultantes de uma única recarga anual, é no mínimo hilariante, parece aquele individuo que recebeu um totozinho na cabaça ouviu o galo cantar mais não sabe a onde foi. No caso do Projeto RADAMBRASIL os autores fizeram a opção de usar um terço das reservas permanentes, o que é permitido, para o cálculo das reservas explotáveis resultando um volume de 48 bilhões m

3/ano com restrições de explorações de longo

período se não houver recargas suficientes dos aqüíferos, o que não se aplica ao caso, pois dentro de um ciclo hidrológico com histórico de vários anos com excelentes invernos e períodos de estiagens intercalados registrado para o nordeste nos últimos cem anos, as precipitações dos anos de chuvas mais favoráveis são mais do que o suficiente para repor as possíveis perdas da recarga natural dos aqüíferos, especialmente os aqüíferos livres , conforme demonstra o volume de escoamento de base dos rios nordestino que é de 58 bilhões metros cúbicos ano ( Rebouças 2001), o que representa uma infiltração anual de água nos seus aqüíferos aproximadamente iguais as reservas renováveis. Este texto lembra demais o saudoso Engenheiro Arrojado Lisboa, primeiro Diretor da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), predecessor do DNOCS, que em 1913 já definia a celebre frase: “A solução naturalmente indicada para retenção d`água é a açudagem. Guardar a água caída no inverno para distribuí-la na seca; guarda-la nos anos chuvosos para distribuí-la nos escassos.” Pense um pouco e reflita no que o eminente Engenheiro Arrojado Lisboa disse, aí está a chave para a solução! Quanto aos cálculos sobre as reservas de água subterrâneas do nordeste que você está duvidando da sua autenticidade, eu sugiro uma acareação. A bibliografia encontra-se ao alcance de todos nós. Se você conhece algum trabalho técnico de levantamentos hidrogeológicos recentes que indiquem erros nos números apresentados, você tem todo o direito de contestar. Eu desconheço novos dados que venha mudar o que foi feito até agora. Continua valendo as reservas citadas como sendo verdadeiras até que se prove o contrário. Quero dizer para o nobre Paulo, que o Lassandro eminente geólogo da PETROBRAS disse."Em matemática não há polêmica pois todos têm o mesmo embasamento sobre o assunto". As duvidas que você levanta com relação aos cálculos sobre as reservas dos aqüíferos dos quatro estados que eu venho apresentando você não apontou até agora um só erro, só criticou e duvidou. Todos estes números que eu venho citando sobre as potencialidades das reservas de água subterrânea do nordeste tem autoria e de peso. Estes dados estão nos trabalhos do Professor Aldo Rebouças da USP e do Professor Waldir Costa UFP que você deve conhecer, dois dos maiores expoentes da hidrogeologia do Brasil. Eles participaram do primeiro Inventário Hidrogeológicos Básico do Nordeste da SUDENE. Trata-se de um estudo de todos os principais aqüíferos do nordeste com indicações das reservas e análise da hidroquímica, a bíblia de cabeceira de qualquer hidrogeólogo. A CPRM tem feito diversos levantamentos Hidrogeológicos em todo o nordeste. O volume 23 do Projeto RADAMBRASIL FOLHAS SB.24/25 Jaguaribe /Natal traz um capitulo do Potencial dos recursos Hídricos que da uma visão regional da distribuição espacial e temporal da água em superfície e em sub-superficie, considerando seu potencial de qualidade e quantidade. A revista água em Revista No 9 Nov.- 1997 CPRM trazem uma analise das reservas permanentes e explotáveis para os estado do nordeste do Professor Waldir, e a ABAS apresenta um trabalho dando o mesmo enfoque do Professor Aldo Rebouças. Réplica – Paulo Não vou discutir os números porque, como lhe disse, este não é meu objetivo. A questão se prende unicamente a unidades. Quando se fala de reservas, não se pode falar em m

3/ano. As reservas são medidas em

volume, não em vazão. Quando você fala em tantos m3/ano, a interpretação lógica que se

Page 63: Debate  Projeto de Transposição das Águas do Rio  São Francisco

faz é que você está falando do volume que pode ser retirado em 1 ano. Ainda bem que você reconhece que não pode haver infiltração de 144,5 bilhões de metros cúbico por ano no Nordeste. Vamos admitir que você tenha se equivocado e quisesse dizer que há reservas de 144,5 bilhões de metros cúbicos no Nordeste. Primeiramente, é preciso deixar claro que essa reserva não está espacialmente distribuída por todo o Nordeste. O Atlas Nordeste da ANA afirma isso, o que é confirmado pelo Prof. Abner, aliás, um crítico da transposição. As regiões do semi-árido nordestino são pobres de água. Em segundo lugar, é preciso analisar as condições de recarga. Não adianta consumir as reservas se a natureza não for repô-las. Água não é igual a petróleo, que só dá uma "safra". Você fala na perfuração de 550.000 poços por ano nos Estados Unidos. Não tenho conhecimento desse número, mas vamos admiti-lo como verdadeiro. Não haverá condições de exploração desses poços se não houver recarga dos aqüíferos. E, para exploração de tal ordem é necessária uma recarga artificial, o que o americano faz com freqüência. Quanto à frase do Eng. Arrojado Lisboa, já vimos que está ultrapassada. As altas perdas por evaporação desestimulam a abertura de novos açudes. Tréplica – Dilermando Da Mata você não esta prestando atenção no que ler. Primeiro todo mundo sabe que m

3/ano é volume que pode ser retirado em 1 ano, conforme você mesmo interpretou.

Segundo, os 144,5 bilhões de m3/água/ano aqui discutido foi o volume apresentado para

as RESERVAS PERMANENTES de águas subterrâneas pertencentes as quatro bacias hidrográficas dos Rios Jaguaribe, Apodi, Piranhas - Açu e Rio Paraíba calculadas pelo Projeto RADAMBRASIL. Não falei aqui em momento algum que este volume representava infiltração nos aqüíferos do Nordeste. Você é que se confundiu misturando recarga renováveis com reservas permanentes. Já que você diz que sem chuva não tem recarga a premissa a priori é verdadeira, mais para seu governo as infiltrações de água da região do Nordeste representa para seus aqüíferos uma recarga da ordem de 58 bilhões m³ /água/ano (lembre-se que as reservas permanentes que pode e devem ser exploradas em parte estão lá dormindo em berço esplêndido) você sabe quanto elas representam? As estimativas de reservas permanentes dos aqüíferos para a toda região do Nordeste do Brasil, isto é, o total de água acumulada, é da ordem de 10,4 trilhões de m³ Costa & Costa, (1997). Um total de 65 bilhões de m³ por ano que poderiam ser retirados sem comprometer as reservas do subsolo, Rebouças. Portanto meu caro da Mata, o problema não está na recarga ela existe e é real, o problema está na falta de controle de fiscalização da explotação dos aqüíferos pelos órgãos competentes outorgantes. Pó! Paulo até parece que você é o um agoureiro do mau de primeira linha que torce para que as chuvas não caiam. Comentário – Paulo Machado ―Tenho visto várias alternativas à transposição, mas nenhuma delas garantindo segurança hídrica à população a ser beneficiada por essa obra. Cisternas, poços artesianos, açudes e outras propostas que vêm sendo utilizadas desde o século XIX, não foram capazes de solucionar o problema da falta de água quando a população era menor e não creio que o serão com a população aumentando a taxas maiores. O volume de açudes atinge 37 bilhões de metros cúbicos. Acontece que, durante a seca, eles secam quase completamente. Não obstante todo esse volume de açudagem, o carro pipa ainda é uma realidade no Nordeste. E quando digo que os açudes secam, estou me referindo, também, aos rios Jaguaribe, Apodi e Piranhas - Açu, que são regularizados por represas que secam durante o período de estiagem.” Réplica – Dilermando O texto acima, passa de hilariante a choroso. Jamais em tempo algum eu ouvi alguém falar tamanho absurdo dos açudes que perenizam os rios Jaguaribe, Apodi e Piranhas - Açu .

Page 64: Debate  Projeto de Transposição das Águas do Rio  São Francisco

Ratifico que o rio Jaguaribe é um rio perene recebendo as águas da barragem do Açude de Orós (vazão 12 m³/s) sendo reforçado a sua jusante pelas águas da Barragem do Açude Castanhão (vazão 50 m³/s). O rio Piranhas - Açu também perenizado a partir da barragem dos Açudes Coremas - Mãe D´água (vazão 4 m³/s) deságua a jusante, na Barragem Armando Ribeiro Gonçalves ou Barragem do Açu, regularizando sua vazão em 14 m³/s. até o seu destino final, o Oceano Atlântico. O rio Apodi torna-se perene a partir da barragem do Açude santa Cruz com uma vazão regularizada de 6 m³/s. Você sabia que o açude de Orós passou 15 anos sem verter mesmo atravessando períodos de estiagens prolongadas e perenizando o Rio Jaguaribe, não secou? Mesmo chovendo tão pouco como você diz com uma precipitação de 7000 mm e uma alta evaporação , no dia 21 de janeiro de 2004, choveu o suficiente para encher o maior açude do nordeste o Castanhão (6,7 bilhões de m³). Em fevereiro de 2004 a Barragem do Castanhão verteu pela primeira vez, isto em apenas dois anos após a sua inauguração quando a previsão era de encher em 5 anos. Que tal uma reflexão! Solicito que você me diga o ano e o mês, e quem foi a testemunha ocular da historia que teve a proeza de vê os açudes de Orós, Coremas - Mãe D´água, Barragem Armando Ribeiro Gonçalves ou Barragem do Açu o Açude santa Cruz o Banabuiú e especificamente o Boqueirão que serve a população do município de Campina Grande e das cidades vizinhas secos? Paulo, você defende o projeto de Transposição do Rio São Francisco como se ele fosse a solução para miséria do povo nordestino, para acabar com a seca e melhorar as condições socioeconômicas das áreas beneficiadas. Entendo o seu lado emocional de boa fé respeito sua opinião, mais pela forma como você defende o projeto o seu perfil está mais para quem reza na mesma cartilha do governo e da rede globo a qual você já citou aqui. Até parece mais um assessor lobistas do governo ( respeito, nada contra pela prestação de serviços profissionais) que é pago para defender os verbetes mentirosos que ele o governo vem divulgando para justificar a transposição. A reportagem de um açude de pequeno porte seco, cheio de “mud ckracks” como foi mostrado a poucos dias no jornal nacional é tendenciosa, por que não mostra que a poucos quilômetros dali está a solução, há um mar de água doce chamado, Açude Castanhão, Barragem do Açu, Açude Orós etc. Réplica – Paulo

Eu vou lhe passar uma tabela que me foi enviada pelo Prof. Abner e que é a seguinte:

ESTADOS

BACIAS

Vazões em m³/s

Regularizada açudes

Água subterrânea Total

95% renováveis

Eixo Norte

CE Jaguaribe 34,5 7,2 41,8

Banbuiú* 10,9 0,8 11,6

Metropolitana* 8,3 8,3

RN Apodí 5,3 3,2 8,5

Piranhas - Açu 19,2 3,4 22,6

PB Peixe 0,5 0,5

Piranhas 2,8 2,8

Piancó 13,4 0,7 14,1

PE Brígida 4,4 0,4 4,8

Total 99,4 15,8 115,2

Eixo Leste

PB Paraíba 4,4 2,4 6,7

PE Moxotó 1,7 0,6 2,3

Total 6,1 2,9 9,0

PISF

CE 53,7 8,0 61,7

RN 24,6 6,6 31,2

PB 21,1 3,1 24,2

PE 6,1 1,0 7,1

Page 65: Debate  Projeto de Transposição das Águas do Rio  São Francisco

Total PISF 105,5 18,7 124,2

Segundo o Prof. Abner, o EIA-RIMA do projeto de transposição estima que é necessária uma vazão de 137,44 m

3/s para irrigação da área, o que representaria um déficit hídrico

das bacias de 3,24 m3/s.

Tréplica – Dilermando

A tabela acima mostra uma contradição indicando um superávit de vazão de 18,07 m3/s

a favor das bacias hidrográficas citadas com uma oferta de vazão total de 124,2 m3/s

(açudagem mais subterrânea) enquanto a vazão pretendida do PISF é de 105,5 m3/s.

O Prof. Abner deve ter esquecido de enviar para você estes itens complementares de sua apresentação como participante no debate, confira.

Contra Tréplica – Paulo Machado Conheço bem o posicionamento do Prof. Abner. Ele não considera a sinergia hídrica que resultará do lançamento de água nesses açudes e que o atendimento às regiões deficitárias ficará, portanto, muito fácil, com o que ele chama de "transposições internas". Contra Tréplica - Dilermando Paulo, hoje no mundo inteiro só se cogita em fazer transposições entre bacias hidrográficas quando se esgotam os recursos hídricos das próprias bacias, o aborto pelo Governo Espanhol da pretensa Transposição do Rio Ebro para o sul da Espanha é o exemplo típico. O que o prof. Abner, se refere, é exatamente esta questão de primeiro usar os recursos internos e depois pensar nos externos. Quando ele fala em transposição entre as bacias “internas” do RioJaguarime e do Piranhas-Açu é porque nos temos os açudes Orós, Castanhão, Banabuiú, Curemas-Mãe D ´Água e a Barragen Armando Ribeiro Gonçalves em condições de transferir água para as bacias próximas menos favorecidas. DÉFICIT HÍDRICO INEXISTENTE

No EIA, o déficit hídrico global das bacias receptoras foi avaliado pela soma dos déficits dos municípios em condições desfavoráveis.

– Isto é, não foi considerada a possibilidade de transposições internas nas bacias receptoras, de regiões com superávit para outras com déficit hídrico.

As demandas prioritárias de consumo humano, animal; urbanas e rurais apuradas no EIA em 43,8 m³/s são perfeitamente compatíveis com as disponibilidades locais de 124,2 m³/s.

– Este valor de demanda representa um comprometimento de apenas 35% da vazão garantida.

Demanda potencial de irrigação de 137,44 m³/s apurada no EIA irreal. – Foram incorporados no cálculo inúmeros projetos de irrigação inviáveis,

planejados sem a devida sustentabilidade local, gerando um déficit hídrico irreal de 78,11 m³/s.

Comentário – Paulo Machado

Em seu trabalho há uma tabelinha falando da disponibilidade hídrica atual, que seria suficiente para abastecer a população local. Novamente, temos que apelar para o exemplo do homem com a cabeça em água quente e os pés no gelo. Os rios citados são todos intermitentes. A disponibilidade média se refere ao período de chuvas intensas (cerca de três meses por ano) e ao período de estiagem, em que os rios secam completamente. Para ser aproveitada a disponibilidade hídrica desses rios, seria necessária a construção de barragens que represassem todo o volume de água obtido no período de chuvas. Acontece que a perda por evaporação nas represas é muito grande e a citada disponibilidade hídrica jamais poderá ser alcançada.e os Açudes de Orós pode eventualmente secar.”

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Réplica – Dilermando Primeiro eu quero dizer para você que o nordeste ou mais especificamente os quatro estados CE, RN, PB e PE escolhidos para receber as águas da transposição, não tem uma demanda atual e nem vai ter até o ano 2025 (projeção do projeto ÁRIDAS) para consumir este mar de água doce que se encontra no subsolo nordestino e nos açudes. Quando eu disse que, “o sertão pode virar mar” foi neste sentido plagiando o meu “Padin Pade Cícero como diz o cearenses” porque parte do volume do mar de água doce que ocorre em sub-superficie no nordeste pode ser tranquilamente levado até a superfície. Você pode analisar aquela tabelinha de disponibilidade hídrica de minha autoria, a que você se referiu com certo ar de desprezo, e mais três outras apresentadas por autores diferentes como a do Projeto ÁRIDAS, a do professor João Abner da UFRN a do grande mestre professor Alberto Daker sem falar na tabela do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) do Ministério das Cidades (todas elas citadas nos meus trabalhos) e constatar que os resultados obtidos por estes diferentes autores foram muito próximos, elucidando com clareza que a demanda hídrica dos estados é infinitamente abaixo da oferta, gerando um superaficit hídrico que não está sendo e nem vai ser aproveitado para os quatro estados até o ano 2025. Atualmente os quatro estados juntos, (população mais irrigação) consomem por ano apenas 2,26 bilhões m³/ano, quando subtraídos dos 17,2 bilhões de m³/ano em disponibilidade, restam ainda uma reserva de água potencial estratégica de 14,94 bilhões m³/ano, e ainda tem gente por aí dizendo que falta água no nordeste, quando o correto seria dizer que não existe falta de água, o que existe sim, é falta distribuição dos volumes armazenados que permita o fácil acesso democrático ao homem (o sertanejo) para o bom convívio com a seca. Réplica – Paulo Mantenho o que disse a respeito da temperatura média. Não se pode juntar num mesmo balaio solos de bacias com características tão diferentes. Disponibilidades destas em bilhões de m

3/ano (acredito que você queira dizer de m

3, já

que disse que não se trata de vazão infiltrável) transformariam o Nordeste em um verdadeiro oásis. Retorne a minha mensagem anterior e compare esses números com a vazão explorável do aqüífero Guarani, o maior do mundo. Tréplica – Dilermando Tirando dúvidas: ―consomem por ano apenas 2,26 bilhões m

3/água/ano tá bom assim, ta

se fazendo de desentendido da Mata? Comentário – Paulo Machado Dilermando, fiquei curioso com relação aos números fornecidos para as reservas explotáveis do Nordeste (48,16 bilhões de metros cúbicos por ano) e decidi comparar com as do aqüífero Guarani. Observe como elas estão superdimensionadas, pois o Guarani, com área de 1,2 milhões de km2, com reserva permanente da ordem de 45 trilhões de metros cúbicos e com espessura de camadas de 50 a 800 metros, tem modestos 166 bilhões de m3/ano de vazão explotável. Não posso imaginar que a vazão explotável do Nordeste, incluindo o árido e o semi-árido atinja a mesma ordem de grandeza que a do aqüífero Guarani. Tréplica – Dilermando Veja bem, as estimativas de reservas permanentes dos aqüíferos para a toda região do Nordeste do Brasil, isto é, o total de água acumulada através das recargas anuais ao longo de vários anos, é da ordem de 10,4 trilhões de m³ Costa & Costa, (1997) (alguns trabalhos admiti até 12 trilhões de m³, dentro de uma margem de erro aceitável), podendo ser explotados 62 bilhões isto retirando apenas (0,6%) ao ano sem que haja prejuízo e risco de exaustão do aqüífero durante 50 anos. Os 48,16 bilhões m3/ano analisados anteriormente corresponde as reservas calculadas para as quatro bacias hidrográficas dos Rios Jaguaribe, Apodi, Piranhas - Açu e Rio Paraíba cuja reservas

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permanentes levantadas pelo Projeto RADAMBRASIL são de 144,5 bilhões de m3/ano,

portanto não tem como misturar ou confundir os dados.

Quanto ao aqüífero Guarani que você fez comparação com as reservas permanentes e explotaveis do Nordeste confirmo que as RESERVAS PERMANENTES são estimadas em 45 trilhões de metros cúbicos, e explotaveis em 116 bilhões de metros cúbicos correspondendo a uma vazão de 5.263 m3/s. Entretanto, não há relação nenhuma de comparação com as reservas dos aqüíferos do Nordeste conforme você tentou correlacionar baseado apenas na área de ocorrência. O aqüífero guarani é composto por duas formações geológicas Pirambóia e Botucatu de idade entre o Triássico e o Jurássico (entre 250 e 200 milhões de anos) e com datação das suas águas (método carbono-14) apresentando idades superiores à 30.000 anos significando que os aqüíferos Pirambóia e Botucatu chamados de Guarani receberam recargas nesta época. Ocorre sotaposto aos derrames de basaltos da Formação Serra Geral de idade cretácea (datação radiométrica 120-140 M.a.) um aqüífero tipo fissural muito bem solicitado com vazões de ate 10 m3/h. O aqüífero Guarani possui também parâmetros físicos hidrogeológicos como, taxas de transmissividade de permeabilidade, coeficiente de armazenamento, vazão de escoamento natural, espessura de camada saturada e principalmente as áreas de exposição de recargas e de profundidade totalmente diferentes dos aqüíferos das formações sedimentares e do aqüífero fissural das rochas ditas cristalinas. A diferença marcante é que os aqüíferos do Nordeste, estão distribuídos em dezesseis bacias sedimentares separadas no tempo e no espaço, sem falar do aqüífero fissural das rochas ditas cristalinas que compõe as reservas totais dos aqüíferos permanentes e explotáveis do Nordeste. Tudo é água, mais uma coisa não tem nada ver com outra para servir de termo de comparação.

TRANSPOSIÇÕES NO MUNDO CONDIÇÕES BÁSICAS QUE DEVEM SER SATISFEITAS PARA UMA TRANSPOSIÇÃO SEGUNDO PRECEITOS DE ECONOMIA DOS RECURSOS HÍDRICOS 1. Existência de excedente hídrico na bacia doadora, em tempo suficientemente longo, de modo a não provocar prejuízo ao seu potencial de desenvolvimento futuro. 2. Bacia receptora com comprovada escassez e sem alternativa interna para abastecimento humano e dessedentação animal. 3. Se a transferência de água for para fins econômicos: 4. Haver uma relação custo-benefício aceitável para a transposição ser feita e que seja socioambientalmente aceitável. 5. Bacia doadora tem prioridade para atender todo o seu potencial dos usos múltiplos de desenvolvimento econômico. 6. Bacia receptora tenha potencial de terras irrigáveis e uso econômico da água mais vantajoso que na bacia doadora. 7 Consenso entre os estados envolvidos (pacto federativo)

REVOGAÇÃO DA TRANSPOSIÇÃO DAS ÁGUAS DO RIO EBRO, NA ESPANHA.

Justificativas da Revogação, no Decreto Real

1. Custos subestimados. 2. Estrutura de custos da água não explicada. 3. Benefícios superestimados. 4. Repercussões ambientais analisadas inadequadamente. 5. Ausência de rigor necessário nos estudos sobre a efetiva disponibilidade para transpor. 6. Instituições financeiras internacionais não se dispuseram a financiar. 7. Transposições só devem ocorrer após a otimização dos recursos hídricos de cada bacia. 8. Custos operacionais incompatíveis com a agricultura irrigada. Eu fiz questão de apresentar este texto acima porque você citou a transposição do Tejo-Segura na Espanha como um exemplo de sucesso internacional. Conforme o governo

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Espanhol baseado nas justificativas acima levantadas em um relatório encomendado para dar segurança ao empreendimento da execução do Projeto de Transposição do Rio EBRO decidiu abortar a implantação do projeto, e ainda se manifestou dizendo que se fosse hoje a transposição do Tejo-Segura não seria autorizada. Estes itens levantados pelo Governo Espanhol se encaixam muito bem nas questões já levantadas aqui no Brasil contra a transposição do Rio São Francisco, é só comparar que teremos uma réplica perfeita. Réplica – Paulo As reservas devem ser 144,5 bilhões de m3 e não de bilhões de m

3/ano.

Vazões de até 10 m3/h me parecem mais dentro da realidade do semi-árido. 116 bilhões de m

3 jamais podem ser convertidos numa vazão de 5.263 m

3/s.

Quanto à transposição do Tejo-Segura, eu desconheço os detalhes. Por que não falarmos das transposições brasileiras: Sistema Cantareira, Paraíba do Sul/Guandu, Brasília, Fortaleza, Aracaju, etc.? Tréplica – Dilermando Correção onde se ler 5.263 m

3/s leia-se 3.678,33 m

3/s, obrigado pela correção.

Tirando dúvidas: as reservas permanentes são 144,5 bilhões m3/água/ano tá bom assim?

Contra Tréplica – Paulo Machado Não está. As reservas jamais podem ser calculadas em m

3/ano ou em outra unidade de vazão. Elas

ocupam um volume fixo e, portanto, devem ser medidas em unidades de volume. É o caso das reservas de petróleo descobertas recentemente. Ninguém fala em m

3/ano,

mas, sim, em bilhões de metros cúbicos, km3 ou qualquer outra unidade de volume.

Para encerrar esse assunto de vez, reproduzo um artigo sobre as reservas do aqüífero Guarani, o maior do mundo: As reservas permanentes de água do aqüífero são da ordem de 45.000 km3 (ou 45 trilhões de metros cúbicos), considerando uma espessura média aqüífera de 250m e porosidade efetiva de 15%. Os estudos deverão ser aprofundados para definir a taxa de explotação sustentável das reservas, uma vez que a soma das extrações com as descargas naturais do aqüífero para rios e oceano, não pode ser superior a sua recarga natural. Em termos de reserva ativa, o volume disponível através da infiltração direta da água de chuva, varia entre 22 milhões m3 (REBOUÇAS, 1976) e 5,2 milhões m3 (CHANG, 2001). Contra Tréplica – Dilermando Paulo,nós usamos normalmente, m³/s, m³/h porque não (m³/min m³/ano) em qualquer compendio você vai encontra por exemplo (a reserva explotável anual é de 2 bilhões de m³ ou ainda, posso abreviar simplesmente para, a reserva explotável é de de 2 bilhões de m³/ano ou ainda 2.000.000.000 m³/ano), agora imagine se você se deparar com (0,5 l/s/dia (15.768m³/s/ano)) l/pessoa/dia ou l/hab./dia m³/hab./ano são anotações de uso em todos os países que adotam o sistema decimal, estas abreviações não tem nada de errado. No mundo inteiro se usa critérios para a definição das reservas de água subterrâneas e para sua explotação, o consenso é este: Para a exploração das reservas hidrogeológicas de um aqüífero, é “CONVENIENTE” considerar apenas como reserva economicamente explotável, a sua reserva reguladora ou renovável, ou em casos de necessidade, também uma parcela “MÍNIMA” das reservas permanentes passiveis de serem exploradas, principalmente com cautela se o aqüífero for fóssil e ou apresenta limitações nas áreas de recargas.

Os índices tradicionais usados para retirada de água das reservas permanentes normalmente variam de 20 % e 30% (0,2 e 0,6 ao ano, a critério) durante 50 anos sem que haja prejuízo e risco de superexploração e exaustão dos aqüíferos durante este período. Para as reservas reguladoras ou renováveis pode-se retirar de 1/3 (um terço)

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a 2/3 (dois terços) como sendo reserva explotável, principalmente para aqüíferos livres, ou ainda, tomar como reserva explotável 100% da reserva renovável (a critério). Ou seja, o que entra, sai.

É salutar lembrar, que tem autores que são conservadores, e tímidos. No momento da escolha do índice para retirada da parcela das reservas permanentes optam como medida máxima de segurança de proteção ao aqüífero, explotar apenas as reservas reguladoras renováveis, e exclui o acréscimo da parcela das reservas permanentes admitida como sendo explotável. Mesmo quando eles ousam uma tomada de decisão para retirar uma quantidade maior de água usando a parcela das reservas permanentes, simplesmente aplicam o índice mínimo que é de 0,2% ao ano. Não posso mudar um critério universal.

* TRANSFERÊNCIA DE ÁGUA ENTRE BACIAS, UMA AMEAÇA AO MEIO AMBIENTE

A história tem retratado ao longo do tempo a criação em grande escala da transferência de água entre bacias hidrográficas em todo mundo. As experiências mais antigas tem sido registradas em regiões da China, sendo os chineses os pioneiros nessa técnica, quando realizaram obras desta natureza utilizando o Rio Amarelo, milênios antes de Cristo. Civilizações antigas, como as da Mesopotâmia e do Egito, fizeram transposições dos rios Tigre, Eufrates e Nilo, e no Império Romano, foram erguidos aquedutos com até 300 quilômetros de extensão. Canais, túneis, aquedutos construídos há muitos séculos ainda hoje constituem monumentos históricos turísticos marcantes que registram essas ações elaboradas pelos excelentes engenheiros agrimensores da época. As transposições de águas entre bacias hidrográficas da era moderna, estão representadas nos rios Colorado- Big Thompson nos Estados Unidos, nos rios Tejo - Segura na Espanha, entre tantas outras .

Barragens de médio a grande porte foram construídas ao longo dos últimos cem anos em todo mundo, barrando os maiores rios dos continentes. Elas são destaques pela sua contribuição para melhoria da qualidade de vida das populações, permitindo que um número enorme de pessoas possam habitar mais confortavel as regiões áridas antes limitantes.

As barragens foram erguidas preconcebidas para justificar a geração de riqueza e de desenvolvimento, principalmente na produção de alimentos com projetos de irrigação de grandes áreas. Para aumentar oferta na geração de energia hidroelétrica a custos mais acessíveis , além de prevenir inundações em áreas a jusante das barragens, minimizando parcialmente as catástrofes que afetam as populações ribeirinhas. Por último, oferece as populações a oportunidade do desenvolvimento da pratica dos esportes e lazer.

Devemos entretanto ressaltar que, ao mesmo tempo em que as barragens e as transposições de águas entre bacias promovem o desenvolvimento de inúmeras regiões do mundo, elas acrescentam também elementos desagregadores nocivos para estas áreas, introduzindo vetores predadores de alto poder destrutivo, causando inúmeros problemas de ordem ecológica com riscos as vezes irreversíveis para o meio ambiente.

A implantação de um mega projeto de transferência de águas entre bacias do porte do projeto de transposição do Rio São Francisco, bem como a adução de grandes volumes de águas de rios em canais e aquedutos, e a construção de grandes barragens que não deram certo em outros países, são exemplos de experiências mal sucedidas em função da elaboração de projetos mal concebidos consequentemente gerando resultados insatisfatórios.

Se gasta hoje pelo mundo afora verbas vultosas as vezes superiores as aplicadas na execução dos projetos para se corrigir erros introduzidos com relação a omissões de ações e programas mitigadores que deveriam ser implantados para combater os impactos ambientais introduzidos quando da implantação de projetos de transposição de águas e de construção de represas.

O Canadá e os Estados Unidos juntos, estão hoje investindo 4 bilhões de dólares na recuperação da extinção do salmão na costa do pacifico atribuído ao barramento do rio Columbia com a construção da represa Grand Coulee. Antes do seu barramento o rio acolhia em torno de 10 milhões a 15 milhões de salmões adultos, em um ano normal, que nadavam rio

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acima a partir do oceano para desovar. Mas a Grand Coulee, um barramento intransponível de 550 ft. (170 m) de altura, fechou para sempre a parte superior da bacia hidrográfica, em torno de 40 % do habitat de reprodução original.

As experiências acumuladas em vários países, inclusive no Brasil, apesar das vantagens auferidas com a produção de alimentos e com a geração de energia, alguns projetos não foram compensatórios (Represas de Tucurui e Balbina na Amazônia) causando mais prejuízos ao meio ambiente e a população do que os resultados dos benefícios esperados.

Alguns exemplos internacionais abrangentes e mundialmente conhecidos de agressão ao meio ambiente estão presentes no rio Colorado EUA, no rio Amarelo da China, nos rios Syrdar'ya e Amudar'yae na região da Sibéria e na represa Grand Coulee no rio Columbia EUA. A devastação, a inundação de áreas florestadas, a extinção de pântanos com alteração de todo o ciclo de vida da região, a morte de espécies de peixes e de animais que tiveram seu habitat de reprodução totalmente dizimados, a cunha salina na foz dos rios adentrando em seus leitos, a salinização de solos em áreas antes férteis, e a hipersalinização de lagos, constituem as mudanças mais freqüentes introduzidas na natureza pela atuação do homem na elaboração e implantação de grandes projetos mal concebidos e executados pela omissão e pela falta de atenção especial para com as questões ambientais. Estas são características marcantes presentes nos exemplos das bacias hidrográficas dos rios acima citados.

Um caso exemplar em nosso país foi construção da Hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, no sul do Pará. A usina de Tucuruí que inundou vários municípios do sul paraense, provocou a praga de mosquito, emissão de gases, diminuição da produção do peixe, inundação de grande área de floresta, morte e extinção de muitos animais, deslocamentos de povos indígenas. Tudo isto para alimentar com energia, empresas de outros países na área de produção de alumínio, como a Alunorte e a Albrás no Pará e Alumar, no Maranhão. Águas sem Barragens (www.forumcarajas.org.br).

Segundo Andrade (2002) "Repercussão internacional sobre a problemática ambiental de grandes projetos que envolvam transposição de bacias começou a partir da década de 70, sendo que os mais relevantes ocorreram em 1977, na cidade de Luxemburgo, com apoio do Internacional Institute of Applied Systems Analysis, foi realizada reunião de grupo de especialistas em recursos hídricos para análise e revisão do estado da arte de projetos de grande porte de transposição de águas, com ênfase na questão ambiental. Em 1978, em Atenas, com o apoio do ICID, Comissão Internacional de Irrigação e Drenagem, outro estudo foi realizado visando entender as relações entre desenvolvimento regional e os impactos ambientais devido a grandes canais e aquedutos. Um encontro foi realizado em 1983, em Hamburgo, promovido pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), com o intuito de rever os problemas envolvidos com transposições em vários países do mundo. Devido ao reconhecimento dos muitos problemas relacionados a estes projetos, o número de canais e obras de transposição construídos caiu dramaticamente nos EUA e em outros lugares na Europa, iniciando-se um nova era de reabilitação de rios degradados por tantas intervenções de projetos de grande porte".

No momento em que as organizações de pesquisas cientificas de todo o mundo discutem programas voltados para o combate a poluição e a degradação ambiental, e que alguns dos rios mais importantes do mundo, como o Danúbio, o Ganges, o Nilo,o Colorado nos Estados Unidos, os rios Syrdar'ya e Amudar'yae na região da Sibéria o rio Amarelo da China, estão ameaçados de extinção, e ao mesmo tempo em que os Estados Unidos inicia a era da "des-inauguração" de barragens (removendo-as e deixando os rios correrem livres) termo criado pelos americanos contrario ao "New Deal" do presidente Franklin Roosevelt pela construção e inauguração das inúmeras represas no oeste americano, o governo brasileiro teimosamente anda na contra mão dos exemplos citados, e ordena o inicio da construção do Projeto de Transposição das Águas do Rio São Francisco. Por certo, todos que são favoráveis à Transposição das Águas do Rio São Francisco, e que não dão uma atenção especial às questões dos impactos ambientais, é por que não conhecem os registrados maleficos causados aos Rios Syrdar'ya e Amudar'ya, na região da Sibéria, que se encontram na UTI em conseqüência imediata das inúmeras sangrias aduzidas ao longo de seu curso, exauridos devido à irrigação de milhões de hectares de algodão e arroz no Uzbekistão e no Cazaquistão, cujo resultado é o pequeno filete de água altamente poluída que chega a sua foz, causando a maior catástrofe ecológica já vista no mundo, a do Mar D'aral.

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Implementado por Joseph Stalin, este roubo hidrológico de grande escala continua, apesar da dissolução do Império Soviético. Este empreendimento destruiu um dos mais ricos potenciais pesqueiros continentais do mundo; barcos abandonados enferrujam 50 milhas (80 km) a partir da costa marítima. Tempestades de poeira, contaminadas por metais pesados e pesticidas, alcançaram o lago em fase de extinção, gerando efeitos combinados de doenças que passaram a aparecer nos rios poluídos e debilitados, criando uma catástrofe em termos de saúde pública. No México ocorre o extermínio do santuário ecológico que se estendia por 120 quilômetros a montante da foz do Rio Colorado, desde o Mar do Cortez até a fronteira com os estados do Arizona e da Califórnia, mais especificamente no estado da Baixa Califórnia, no México onde milhares de hectares de solos férteis foram salinizados tornando-se improdutivos, afetando todo o bioma desta região e aniquilando com a fauna e a flora. Exemplo chocante de degradação ocorre no rio Amarelo da China que passa nove meses do ano seco ao longo de 550 quilômetros de extensão a partir de sua foz, conseqüência do mesmo esquema de adução indiscriminada de suas águas para fins de irrigação retiradas a montante deste curso, deixando milhões de chineses com fome e sede ao longo deste trecho afetado. O famoso aqueduto de Los Angeles na Califórnia promoveu a hipersalinização do Lago Mono e extinguiu a agricultura dos vales do Owens e do Mojave deixando a sua população em estado de abandono e pobreza. A eutrofização do Lago Salton localizado no complexo de canais do Aqueduto do Rio Colorado, fenômeno bioquímico introduzido pela restituição das águas poluídas da irrigação do Vale Imperial, não só causou prejuízo ambiental mais perda incalculável às imobiliárias que investiram uma fábula em um empreendimento que seria implantado em suas margens e que era considerado como uma nova Palm Spring da Califórnia. Para encerrar, lembro o extermínio de milhões de salmões e de trutas que todos só anos subiam o Rio Columbia, EUA para a piracema, atribuído à construção da represa Grand Coulee. No Brasil uma simples consulta ao tão badalado Projeto de Revitalização do Rio São Francisco (que anda a passo de cágado) e do sistema de exploração e preservação dos recursos naturais do rio, mostra que o rio já se apresenta em um estágio bastante avançado de desequilíbrio, em função da devastação de suas matas ciliares, do assoreamento e da descarga de toneladas de esgotos altamente poluídos jogados em sua calha. O assoreamento constante de sua foz , já apresenta uma lamina d´água de poucos centímetros de profundidade onde em breve surgirão alguns pequenos deltas e formação de dunas, que irão bloquear a ligação entre o rio o mar. Se junta, a retirada de água acima de sua disponibilidade alocável para uso consuntivo através das outorgas já emitidas e das incalculáveis aduções clandestinas, e aí, estão criadas as condições ideais para transformar a Bacia do Rio São Francisco em uma réplica perfeita do que aconteceu nas bacias do Rio Colorado, do Rio Amarelo (China) e dos Rios Syrdar'ya e Amudar'ya. O Rio São Francisco está, sim, seguindo passo a passo o mesmo caminho trilhado pelos seus coirmãos, usando a mesma receita que os deixaram em um estágio deplorável de degradação. A receita é simples e breve: onde se prescreve para o paciente um remédio infalível para ser aplicado em doses homeopáticas, é só ir retirando volumes de água do rio em quantidades superior as que ele pode oferecer até que a morte o leve, sem direito a UTI a revitalização, mas com direito a um atestado de óbito apontando sua morte sem causa etiológica. Poderia aqui continuar a enumerar vários outros exemplos mundiais mal sucedidos sobre represas, transposição e adução de água de rios que não deram certo. Todos os exemplos acima citados apresentam o mesmo perfil: promover modificações danosas à natureza, causa mais prejuízo ao meio ambiente e a população do que o retorno dos benefícios esperados. São situações estarrecedoras analisadas e rejeitadas pelo mundo afora, porém, aqui, parece que pelo andar da carruagem ninguém sabe, ninguém viu, e muito menos está disposto a ouvir e dialogar.

O Ministério da Integração para justificativa a execução do projeto de transposição do Rio São Francisco tem apresentado insistentemente alguns argumentos do sucesso de exemplos internacionais de transposições, citando o caso do rio Colorado, nos EUA, que transformou o deserto da Califórnia em um dos maiores celeiros de alimentos do mundo. Só que eles, os autores do Projeto de Integração do Rio São Francisco, não apresentam em momento algum

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os problemas criados pela disputa das cotas de água do rio que deu origem ao Colorado Compact (Acordo do rio Colorado), muito menos faz menção a respeito dos graves problemas ambientais surgidos em decorrências das inúmeras aduções feitas ao longo do rio Colorado conforme foram aqui analisadas.

Salvador 14 de Junho 2007

* Documento técnico elaborado para O Fórum Permanente de Defesa do São Francisco, parceria com o Sistema CONFEA/CREA.

COMENTÁRIO FINAL As Nações Unidas já não tem dúvida sobre um aspecto: a degradação ambiental é o fator mais importante para a deterioração da saúde humana e para a redução da qualidade de vida das populações. A falta de qualidade ambiental é, hoje, diratamente responsável por 25% das doenças evitáveis, destacando-se as diarréias e as doenças respiratórias. Globalmente, 7% de todas as mortes e doenças são devidas a problemas de qualidade da água, saneamento e higiene, enquanto que 5% são causadas por má qualidade do ar.

Como geólogo, 34 anos de experiência em levantamentos geológicos, hidrogeológicos e de hidroquímica das águas superficiais e subterrâneas da Região do Nordeste, especialmente dos estados do CE, RN, PB e PE, quero finalizar falando um pouquinho de mim, dizendo que tudo que eu escrevi não foi somente a base de leitura e de ouvi dizer. Eu estive presente, conheço o mais longínquo do sertão nordestino andando a pé, de jegue, de burro, subindo serra, descendo serra durante meses e anos de minha vida, abdicando do convívio de minha querida família para realizar um trabalho decente, honesto o melhor que eu pude dar. Conheço o sofrimento do sertanejo, e é por ele, e por um Brasil mais justo que não vou me calar. Vamos ajudar a todos os nossos irmãozinhos nordestinos mais sem descriminação.

P.S. O IBGE dispõe de um banco de dados o qual eu sou o gerente, com 86 mil poços cadastrados no Nordeste, com informações dos parâmetros físicos hidrogeológicos e 15 mil ánalises químicas de água subterrânea e 800 de água superficial. Réplica – Paulo Verifique nesse banco de dados qual é a vazão firme dos poços situados nas áreas de elevado risco hídrico. Verifique, também, a concentração salina na água desses poços. O consultor do projeto de transposição, Eng. Rômulo de Macedo Vieira, em entrevista ao Estado de Minas publicada hoje (27.11.2007), disse que não há dúvida de que a melhor e mais eficiente maneira de resolver o problema da seca no semi-árido é a transposição do Velho Chico. Segundo ele, esse tipo de empreendimento já obteve êxito em várias partes do mundo. Com relação às outras alternativas (cisternas, poços artesianos, chuvas artificiais, novos açudes ou dessalinização), ele afirma que não conseguiriam resolver por completo as demandas da população. Particularmente com relação aos poços, ele lembra que, no Rio Grande do Norte, já foram feitos centenas deles sem que a situação se amenizasse. Entendo que pessoas como o Eng. Rômulo que, há 16 anos se dedica ao Projeto São Francisco têm grande contribuição a oferecer ao debate sobre a transposição. Finalizo com as palavras ponderadas de Benedito Braga, diretor da ANA: Como diretor da ANA não posso entrar no mérito se a transposição é boa ou não. A nossa decisão tem a ver com a questão da outorga da disponibilidade de água do São Franciso e a necessidade de água na região receptora. Ou seja, se há demanda, viabilidade, disponibilidade e sustentabilidade hídrica do empreendimento. E após nossos estudos ficou comprovado que tem água disponível e demanda para tal projeto e é por isso que demos a outorga. Um abraço. Paulo Afonso da Mata Machado

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Tréplica – Dilermando

Por último, para replicar o que o consultor (ou ex-diretor) do projeto de transposição do rio São Francisco o Eng. Rômulo de Macedo Vieira disse, extensivo a você Paulo, vou apresentar um texto transcrito do site www.uniagua.org.br/ que representa o verdadeiro retrato da seca desmistificada acabando com o mito de tudo que já foi dito ao longo dos últimos 100 anos sobre a seca do Nordeste Brasileiro. Esta é, a minha homenagem muito especial de respeito ao profissional, e ao grande mestre de todos os mestres, o nordestino Aldo da Cunha Rebouças, conhecedor profundo dos problemas do semi-árido nordestino, pioneiro dos levantamentos hidrogeológicos e hidrológicos do Nordeste do Brasil, hoje transformados em livros de cabeiceira, não sómente para servir a hidrogeólogos mais tanbém para todos os profisisionais que se dedicam aos estudos dos Recursos Hídricos do Nordeste.

(21.11.2007) O homem das águas subterrâneas: Aldo Rebouças garante que há solução para a seca do Nordeste

“Em 1962, um quarto de século antes de a Organização das Nações Unidas publicar o relatório Bruntland – o primeiro documento a sugerir a inclusão do tema sustentabilidade na agenda de desenvolvimento dos países –, Aldo da Cunha Rebouças, um jovem geólogo formado pela Universidade Federal de Pernambuco, já alertava os órgãos públicos para o fato de que a má gestão e o uso inadequado da água comprometeriam a qualidade da oferta do produto. Ao longo de mais de 40 anos de pesquisa, ele defendeu obsessivamente a premissa de que “o conceito de água abundante, inesgotável e gratuita, uma dádiva de Deus ou de qualquer outra figura cósmica, da Igreja ou de políticos, dos coronéis ou do homem, da natureza”, era uma ficção obsoleta.

Brandiu esse alerta diante de vários governos. No final dos anos 1960 e início de 1970, foi diretor da Bacia Escola de Hidrogeologia da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). “Constatei que o problema do Nordeste não é de seca, mas de cerca”, lembra. A região tem uma importante fonte de recursos hídricos: a água subterrânea. Boa parte dessa água está protegida da evaporação e poderia abastecer o dobro da população do Polígono das Secas, que compreende nove estados do Nordeste e o norte de Minas Gerais. “A água subterrânea está presente nos terrenos sedimentares e não precisa de nenhum tratamento especial, exceto a cloração”, explicou em entrevista à Radiobras, em 1999. Esse potencial, no entanto, é subaproveitado, apesar de as tecnologias de retirada dessa água serem relativamente simples e de baixo custo: basta uma bomba manual ou cataventos movidos a energia eólica que custam entre R$ 200 e R$ 400. Um inventário recente dos poços já perfurados revelou, no entanto, que cerca de 30 mil deles não estavam equipados para a extração de água.

Uma das soluções para o Nordeste, na sua avaliação, estaria na construção de poços artesianos inclinados, já que a região está localizada sobre uma fratura de rochas antigas, pré-cambrianas, de muito movimento. A outra, e a regra vale para todo o país, está na educação. “O cidadão brasileiro precisa ser informado ao máximo para utilizar de forma cada vez mais eficiente cada gota d’água disponível, reduzindo-se os desperdícios nas grandes cidades onde ainda se utilizam bacias sanitárias que necessitam de descargas que consomem de 18 a 20 litros, quando se tem modelos no comércio que necessitam de apenas 6 litros”, afirmou em entrevista ao Diário de Petrópolis, em 2003.

Hoje Rebouças assiste perplexo ao debate sobre a transposição do rio São Francisco. “Um absurdo”, como ele qualifica o projeto, movido por interesses políticos e pela velha rixa entre engenheiros – “que só se preocupam com a água que está acima do solo” – e geólogos – “que só se preocupam com a água subterrânea”. Sugere reiteradamente que é preciso investir mais no homem e menos em obras: “Não adianta construir barragens

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se os homens não sabem usá-las”, argumenta. Cita o exemplo de regiões em Israel e nos Estados Unidos, com o mesmo clima, e que são bastante prósperas. Para ele, a seca do Nordeste deveria ser encarada como uma oportunidade. “Tudo que se planta no semi-árido dá, ele não é um solo pior para o cultivo que os outros.”

Rebouças tem fundamentado suas teses sobre hidrologia na história da humanidade. Em 2003 recorreu a esses dois argumentos para criticar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva que elegeu o programa Fome Zero como política prioritária de governo, em detrimento de ações de democratização do saneamento e acesso à água potável. “Há 25 mil anos a.C., pelo menos, já se sabia que o uso cada vez mais eficiente da gota d’água disponível era a alternativa mais barata de combate à fome. Parece, todavia, que esta lição não foi aprendida até agora, à medida que ainda se procura combater a fome com a distribuição de alimentos, como fez a Coroa portuguesa nas suas tentativas iniciais de colonização do Brasil”, escreveu na época. No mesmo texto invocava o Código Hamurabi, editado na Babilônia entre 1850 e 1750 a.C., como o primeiro documento a “definir o direito de uso da água por todo e qualquer indivíduo, prescrevendo estímulos às práticas consideradas adequadas e castigos severos aos que infringissem essas condições”.

Hoje, aos 70 anos, involuntariamente aposentado por doença, acha que o Brasil – contemplado pela natureza com a maior descarga média de água doce de todo o mundo: 34 mil metros cúbicos per capita/ano – não aprendeu a lição. “Aqui não falta água, falta água boa. Todas as águas estão contaminadas pelo esgotamento sanitário”, lamenta. “Assim, fica difícil explicar ao mundo de água escassa que até nas cidades mais importantes da região amazônica, tais como Manaus e Belém, quase metade das populações que aí vivem esteja sujeita aos mesmos problemas de saneamento básico que ocorrem nas regiões metropolitanas de Fortaleza, Recife ou São Paulo, por exemplo.” Vai ainda mais longe em suas críticas: “Estamos perdendo tempo e enrolando o mundo, querendo que todos coloquem dinheiro aqui, quando tem um serviço público três vezes mais caro do que lá fora, já que a corrupção domina”. E vaticina: “O país vai precisar sofrer o que estão sofrendo os países carentes de água para aprender”. A água foi objeto de suas teses de mestrado e doutorado, na Universidade de Strasbourg, na França; e de pós-doutorado, na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Nas suas andanças pelo mundo, assistiu ao primeiro seminário patrocinado pela Unesco, em 1965, em Washington, que resultou num programa mundial de estudos sobre as águas subterrâneas. “Foi feito um balanço hidrológico e constatou-se que 30% da água do planeta era subterrânea. O homem já tinha pisado na Lua e ainda não sabia o que havia sob os seus pés...” No início dos anos 1970, a nova descoberta fez a geologia “explodir” como a ciência do futuro, tendo como meca a França. Rebouças estava lá, desenvolvendo a tese de doutorado sobre a bacia Potiguar. “Mostrei que o projeto de desenvolvimento patrocinado pelo Banco Mundial estava instalado na região mais cara da bacia, sem nenhuma importância do ponto de vista hidrológico. A região correta, e mais barata, era a da Serra do Mel e de Serra Azul, onde estavam os minifúndios”, lembra. Em meados de 1970 o Nordeste “não lhe coube mais”. Já casado com dona Suzana e com três filhos, Rebouças transferiu-se para a Universidade de São Paulo (USP), onde realizou o que considera a sua maior contribuição para a hidrologia brasileira: descreveu o aqüífero Guarani, um manancial de água doce subterrânea de proporções gigantescas, localizado na região centro-leste da América do Sul, que se estende pelo Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina. “Descobri que o cristalino tem muita água”, resume, modesto. Até então a ciência descrevia apenas uma parte dessa imensa formação, o aqüífero Botucatu. A descoberta de Rebouças foi batizada pelo geólogo uruguaio, Danilo Anton, em memória dos povos indígenas da região”.

Faço minhas as palavras do colega Aldo Rebouças, dizendo que a seca do Nordeste tem solução sem que seja necessário transpor uma só gota de água do enfermo “Velho Chico” o Rio São Francisco. Um abraço e até breve, Dilermando

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Salvdor 05/12/07 P.S O IBGE dispõe de um banco de dados o qual eu sou o gerente, com 86 mil poços cadastrados no Nordeste, com informações dos parâmetros físicos hidrogeológicos e 15 mil ánalises químicas de água subterrânea e 800 de água superficial. PRESENTE DE NATAL PARA O AMIGO PAULO AFONSO DA MATA MACHADO Dilermando – Contra-tréplica Quero primeiro aqui fazer uma correção sem demérito a geografia, muito menos nada contra os meus colegas geógrafos do IBGE os quais eu mantenho um relacionamento bastante saudável de longos anos aqui na unidade estadual de Salvador. Eu sou geólogo ( não geógrafo conforme você citou) diplomado pela Escola de Geologia da Universidade Federal da Bahia (turma de 70) com pós-graduação em especialização de Qualidade Total aplicada a recursos hídricos e meio ambientes. Paulo, mais uma vez você está se fazendo de desentendido. O Prof. Aldo Rebouças é um profundo conhecedor do semi-árido do Nordeste e dos seus recursos hídricos. Ele tem inúmeros trabalhos publicados não só mostrando , que existem soluções alternativas que podem substituir o projeto, como por exemplo, a exploração racional dos aqüíferos da região, solução mais indicada para o combate a seca, sem que seja necessária a transposição das águas do rio São Francisco. Observe que no texto acima escrito (www.uniagua.org.br) deve ter havido um equívoco de quem o escreveu, dizendo que 30% de água do planeta são de água subterrânea, e não foi de autoria do Aldo Rebouças como você está insinuando. O Texto diz: Nas suas andanças pelo mundo, assistiu ao primeiro seminário patrocinado pela Unesco, em 1965, em Washington, que resultou num programa mundial de estudos sobre as águas subterrâneas. “Foi feito um balanço hidrológico e constatou-se que 30% da água do planeta era subterrâneas. O homem já tinha pisado na Lua e ainda não sabia o que havia sob os seus pés...” O texto está entre aspas significando uma citação que resultou dos estudos do programa mundial. Distribuição da água na Terra (adaptado de Nace,U.S. Geological Survey,1967). Esta instituição eu conheço, tem credibilidade e é confiável, afirma que cerca de 97% de toda a água existente no planeta está nos oceanos e os outros 3% representa água doce. Se excluirmos as reservas de gelo das calotes polares e glaciares (2,4%) a água doce utilizável representa apenas 0.6% (8,5 milhões de Km

3) da água do

nosso planeta, que se reparte desigualmente pelas diversas regiões continentais. Destes 8,5 milhões de K m

3 de água doce utilizável, 97%

correspondem as águas subterrâneas, e os outros 3% representa os rios e lagos. Se toda a água doce da terra utilizável é constituída de 97% de água subterrânea restando apenas 3% de águas superficiais , então eu pergunto: você ainda tem dúvidas de que é a água subterrânea a solução para o abastecimento e o combate a seca no Nordeste? Veja um breve resumo extraído da ABAS sobre o consumo mundial de água.

SITUAÇÃO DE ABASTECIMENTO NO MUNDO

Segundo Leal (1999), praticamente todos os países do mundo, desenvolvidos ou não, utilizam água subterrânea para suprir suas necessidades. Países como a Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Hungria, Itália, Marrocos, Rússia e Suíça atendem de 70 a 90% da demanda para o abastecimento público (OECD, 1989 citado por REBOUÇAS et al., 2002). Outros utilizam a água subterrânea no atendimento total (Dinamarca, Arábia Saudita, Malta) ou apenas como suplementação do abastecimento

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público e de atividades como irrigação, produção de energia, turismo, indústria, etc. (PIMENTEL, 1999). Na Austrália, 60% do país depende totalmente do manancial subterrâneo e em mais de 20% o seu uso é preponderante (HARBERMEHL, 1985 citado por REBOUÇAS et al., 2002). A cidade do México atende cerca de 80% da demanda dos quase 20 milhões de habitantes (GARDUÑO e ARREGUIN-CORTES, 1994 citado por REBOUÇAS et al., 2002).

A UNESCO estimava, em 1992, que mais de 50% da população mundial poderia estar sendo abastecida pelo manancial subterrâneo (REBOUÇAS et al., 2002).

Regiões áridas e semi-áridas (Nordeste do Brasil e a Austrália), e certas ilhas, têm a água subterrânea como o único recurso hídrico disponível para uso humano. Até regiões desérticas, como a Líbia, têm a demanda de água em cidades e na irrigação atendida por poços tubulares perfurados em pleno deserto do Saara.

Estima-se em 300 milhões o número de poços perfurados no mundo nas três últimas décadas (UNESCO, 1992 citado por REBOUÇAS et al., 2002), 100 milhões dos quais nos Estados Unidos, onde são perfurados cerca de 400 mil (hoje 500 mil grifo meu) poços por ano, com uma extração de mais de 120 bilhões de m

3/ano, atendendo mais de 70%

do abastecimento público, irrigação e das indústrias.

SITUAÇÃO DE ABASTECIMENTO NO BRASIL

Vários núcleos urbanos no Brasil abastecem-se de água subterrânea de forma exclusiva ou complementar, constituindo o recurso mais importante de água doce. Indústrias, propriedades rurais, escolas, hospitais e outros estabelecimentos utilizam, com freqüência, água de poços profundos. O maior volume de água ainda é, todavia, destinado ao abastecimento público. Importantes cidades do país dependem integral ou parcialmente da água subterrânea para abastecimento, como, por exemplo: Ribeirão Preto (SP), Mossoró e Natal (RN), Maceió (AL), Região Metropolitana de Recife (PE) (Fortaleza grifo meu) e Barreiras (BA). No Maranhão, mais de 70% das cidades são abastecidas por águas subterrâneas, e em São Paulo e no Piauí esse percentual alcança 80%.

Segundo o Censo de 2000 (IBGE, 2003), aproximadamente 61 % da população brasileira é abastecida, para fins domésticos, com água subterrânea, sendo que 6% se auto-abastece das águas de poços rasos, 12% de nascentes ou fontes e 43% de poços profundos.

Portanto meu caro da Mata, encerro a minha participação dizendo que não dá para entender porque tanta resistência para aceitar o fato de que o Nordeste também tem suas reservas de água subterrânea com potencialidade para atender a toda a população da região. Não se justificando esta rejeição emocional facciosa por parte dos defensores do projeto de transposição do Rio são Francisco que não acreditam , não aceitam e não querem permitir que seja feita a exploração destes aqüíferos.

Quanto ao programa Fome Zero, quem é que não faz criticas? Um programa assistencialista que além de não criar políticas públicas de prevenção e de combate aos efeitos das secas deixa a população mais vulnerável criando uma desestabilização emocional e uma sensação de impotência e de ociosidade psicologicamente instável inibindo o direito de cada um dos cidadãos assistidos de ter uma vida digna, sem receber esmolas, tendo em seu próprio trabalho o sustento de sua família. Na realidade o programa Fome Zero é uma grande ferramenta usada pelos políticos para manter firme os programas eleitoreiros com o dinheiro do contribuinte. O programa não combate a pobreza e nem a desigualdade social. Quanto ao seu belo passeio pela foz Velho Chico provavelmente você esteve em horário de maré baixa. Como você explica que nas cidades de Propriá em Sergipe e Traipu em Alagoas distantes 70 e 100 km da foz apareçam espécies de peixes de água salgada típicos do mar? Eles já são pescados ,inclusive temos registro da presença de caranguejos e siris na região de Propriá? Não acredito que você não tenha visto as inúmeras ilhas e o assoreamento no trecho entre Brejo Grande Sergipe e Piaçabuçu em Alagoas. Este trecho já apresenta formação de pequenos deltas com uma lamina de água de pouco mais de 30 centímetro onde os ribeirinhos da cidade de Brejo Grande, em setembro de 2006, percorreram 5 km rio

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adentro atravessando o rio a cavalo até a cidade de Piaçabuçu para protestar contra o estado de calamidade e de gradação em que se encontra o rio. Você também não deve ter visto o sumiço do povoado Cabeças em Sergipe minha terra natal (saudades de meus velhos tempos de veraneios quando menino) engolido pelo mar. E o avanço das areias de praia continente adentro soterrando coqueirais e toda vegetação nativa próximas de suas margens e 5 km adentro da linha de praia. E este o rio que você diz está pujante?

Como você tem demonstrado neste debate algumas deficiências e equívocos hidrogeológicos, além de também ser um incrédulo e inflexível na aceitação e no entendimento dos dados levantados envolvendo mais especificamente o potencial das reservas das águas subterrâneas do Nordeste do Brasil, vou apresentar parte de um texto do trabalho da CPRM do geólogo e hidrogeólogo Sebastião Milton publicado pela Fundação Joaquim Nabuco, esperando, que você a partir de agora, consiga ter uma visão mais ampla de entendimento e conheça um pouquinho melhor o complexo fabuloso do universo das águas subterrâneas (abastece 60% da população da superfície da terra) do Nordeste do Brasil e de suas reais condições de oferta para solucionar a escassez de água nesta região.

A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS RESERVAS HÍDRICAS SUBTERRÂNEAS DO NORDESTE E A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

Sebastião Milton Pinheiro da Silva1

RESUMO

“Este trabalho tem por objetivo subsidiar a reflexão em torno da real necessidade e importância da transposição de águas do Rio São Francisco em face de ampla distribuição geográfica de significativos mananciais subterrâneos na região Nordeste. São aqui também defendidas a tese de que o problema da sede e da baixa exploração agrícola no semi-árido nordestino não reside na escassez de água, mas decorre da ausência histórica de políticas sistemáticas para viabilizar soluções duradouras e a de a utilização racional dos recursos hídricos subterrâneos das bacias sedimentares, das aluviões e dos aqüíferos fissurais constituir-se-ia em solução alternativa ao consumo humano e à irrigação. A distribuição da água a ser transposta restringe-se a alguns tributários, alguns dos quais com oferta hídrica já regularizada, e pode mesmo ser entendida como uma desfeita à maioria da população do semi-árido, que não seria atendida pela oferta hídrica proposta pela obra. Deve-se levar em consideração o fato de que alguns estudos apontam para reservas exploráveis de águas subterrâneas estimadas em 29,6 x 10

9 m³/ano (estas são as reservas renováveis devendo ser

acrescidas de 0,6% das reservas permanentes o grifo é meu). A capacidade de produção varia entre 50 e 700 m³/h, por poço, em algumas bacias sedimentares do Nordeste.

BACIAS SEDIMENTARES

O exemplo marcante do potencial de águas subterrâneas do Nordeste é a Bacia Sedimentar do Meio Norte (Parnaíba - Maranhão). Ocupa uma área de cerca de 250.000 km² e é um dos maiores reservatórios subterrâneos de água doce existentes, mas é muito pouco explorada. As reservas exploráveis variam entre 0,2 e 9.600 x 10

6 m³/ano

com uma capacidade de produção que varia entre 50 e 700 m³/h, por poço (CPRM, 1995). A exploração dessas reservas possibilitaria atender-se não apenas à população da área da bacia mas também às de estados vizinhos.

A Bacia do Jatobá, em Pernambuco, é outro exemplo de aqüífero subterrâneo com capacidade de atender a cerca de 5.000.000 de pessoas por ano, ou irrigar 30.000 ha/ano. Bastaria perfurarem-se poços de maior profundidade ( 900 m), com expectativa de vazão de 150.000 l/h ou 1.000.000 m

3/ano (CPRM, 1995). A estimativa de custo de um

poço dessa natureza equivale ao de 20 km de adutora, em tubos PVC de 6’, não se

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contabilizando os custos de manutenção mais elevados da adutora e sem contar também que a água subterrânea não necessita de tratamento, o que não ocorre com águas oriundas de outros mananciais. Além disso, o custo de transporte dessa água também seria menor, pois em muitas situações seria feito por gravidade, em virtude do destaque topográfico de algumas bacias em relação às áreas circunvizinhas.

Figura 2 – Alternativas de transposição de rios para o Nordeste e as principais Bacias Sedimentares do Nordeste.

Recentemente, a imprensa pernambucana veiculou matéria com o título "CPRM faz jorrar água no Sertão do Pajeú". Trata-se de resultados de estudos hidrogeológicos (Silva, 1993; Silva, Morais e Sousa, 1994), (Oliveira, 1994; Leite et al., 2000, apud Silva, 2000) em sedimentos arenosos da Bacia Sedimentar de Fátima, na microrregião do Pajeú (PE), cujos resultados demonstraram o elevado potencial para captação de água subterrânea de boa qualidade naquela bacia.

Até pouco tempo atrás, bacias sedimentares com dimensões reduzidas e destacadas do pediplano geral, como é o caso da Bacia de Fátima (270 km²), eram consideradas, do ponto de vista hidrogeológico, como improdutivas. Nessas bacias, geralmente, os aqüíferos são sedimentos arenosos, por vezes parcialmente consolidados, com características locais de baixa porosidade e permeabilidade. Estudos de geologia-geofísica iniciados na primeira metade da década de 90 na Bacia de Fátima, no entanto, mostraram evidências favoráveis à acumulação de águas subterrâneas de boa qualidade em sedimentos com profundidades da ordem de 450 metros.

De acordo com Silva (ibid.), continuam sendo realizados estudos para definir limites de vazão, recarga do aqüífero e um modelo de gestão que garanta o eficiente atendimento à população. O sistema atual apresenta bons parâmetros hidrodinânicos e uma produção de 60 m³/hora, por poço. Segundo Silva (ibid.), "Fátima é um bom exemplo de uma intervenção simples, cujos resultados proporcionaram um espetacular impacto social".

Na contramão das intervenções simples, existem no Brasil inúmeras obras que exemplificam o mau uso do dinheiro público, que servem apenas para alimentar uma cultura política megalomaníaca. Segundo Rebouças (1997), o poço no Brasil é considerado como uma solução paliativa, aguardando pelo lobby das empreiteiras, que é fortíssimo: "ninguém faz um trabalho para uma política de águas e, sim, para uma política de obras".

No Rio Grande do Norte ocorre uma situação muito particular. A menos que haja uma revolução na agricultura do estado, a previsão é de que só a partir de 2020 haja necessidade de aumento da oferta hídrica (SERH/RN, 1998). Além disso, segundo

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Guimarães Júnior et al. (2000), só a vazão regularizada do Açude Armando Ribeiro Gonçalves, de 15 m³/s, seria suficiente para abastecer toda a população potiguar. No caso específico da Bacia Potiguar, também se dispõe de um grande número de poços perfurados para petróleo cujas águas poderiam ser tratadas, para suprirem, através de adutoras, as demandas das populações residentes nas áreas de embasamento cristalino.

SEDIMENTOS COSTEIROS E INTERIORES (Correlatos) E ALUVIÕES

Sedimentos arenosos tércio-quaternários estão distribuídos no interior e ao longo de todo o litoral do Nordeste Oriental do Brasil. Os aqüíferos aluvionares, de dimensões variadas, constituem a maior rede natural de distribuição de água subterrânea, acondicionada dos drenos naturais das bacias hidrográficas, e as reservas de águas subterrâneas nesses sedimentos arenosos mais recentes e inconsolidados são significativas para o semi-árido nordestino.

Na microrregião do Pajeú (PE), boa parte da produção de tomate, que abastece as indústrias de sucos e concentrados de polpa, provêm do plantio irrigado, às margens de tributários do Rio Pajeú. Estudos realizados por Silva, Morais e Sousa (1994), em alguns tributários menores, mostraram que o potencial por poço é da ordem de 60 m³/dia, o que seria suficiente para irrigar, mesmo por derramamento no solo, 1 (um) hectare de cultura não muito exigente por água, a um custo de locação e construção de um poço tipo Amazonas, de US$ 500,00 (quinhentos dólares).

Costa Filho e Costa (2000) estimaram em 0,1 x 109 m³/ano o potencial das aluviões no

Estado de Pernambuco.

Sousa (1987) enumera uma série de exemplos de tributários: entre outros, Potengi, Seridó e Trairi, no RN; Peixe, Piancó, Espinharas e Piranhas, na Paraíba; e Brígida, Pajeú e Moxotó em Pernambuco, que são utilizados, inclusive para abastecimento humano, com poços do tipo Amazonas.

Há na região Nordeste algo em torno de 32.000 km² de coberturas aluvionares em condições de fornecer água para dessendentação e irrigação rural, com reservas exploráveis da ordem de 1 a 2 bilhões m³/ano (DNAEE/DCRH, 1983/1985).

PROVÍNCIA CRISTALINA

Leite e Möbus (2000) utilizaram os cadastros da Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (1991) e da CPRM - Serviço Geológico do Brasil (1998), os únicos existentes naquele Estado, e estimaram o potencial instalado de cerca de 21.500 m³/h, relativo a 1991, para uma necessidade de 29.100 m³/h, ou seja, o suficiente para abastecer cerca de 74% da população dos municípios considerados naquele ano (151 municípios, excetuando-se a capital - Fortaleza). Em relação a 1998, aqueles autores estimaram o potencial de 27.000 m³/h, enquanto a necessidade calculada foi da ordem de 32.600 m³/h, ou seja, poderia ser abastecida cerca de 82% da população naquele ano (183 municípios, excetuando-se Fortaleza). De acordo com Leite e Möbus (2000), se fossem aproveitados os poços desativados e não instalados, o incremento seria da ordem de 9.000 m³/h e o percentual da população total passível de atendimento apenas com água subterrânea seria de cerca de 113%.

O recenseamento de fontes de abastecimento por água subterrânea no Estado do Ceará indicou a existência de 13.970 pontos d´água cadastrados, sendo 12.572 poços tubulares, 1.084 poços amazonas e 314 fontes naturais (CPRM, 2000). Em Pernambuco, o potencial dos aqüíferos do cristalino foi estimado em 0,28 x 10

9 m³/ano (Costa Filho e

Costa, 2000).

PRODUÇÃO E QUALIDADE DO AQÜÍFERO FISSURAL

Apesar dos baixos níveis de vazão e qualidade da água, o aqüífero fissural é um meio produtor importante, que não pode ser desprezado, face aos investimentos na perfuração de cerca de 50.000 poços tubulares e ao fato de que o poço no cristalino está mais próximo do usuário final. Muitos desses poços foram perfurados em fases críticas de estiagem e, na prática, nesses períodos o governo gastou muito dinheiro na perfuração de poços tubulares, impondo, na maioria das vezes, prazos e níveis de produção não condizentes com a correta execução técnica de trabalhos dessa natureza.

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Segundo Mente (1997), se fossem utilizados critérios de locação tecnicamente consistentes que levassem em conta os aspectos influentes ligados aos esforços tectônicos (tipo e distribuição dos fraturamentos) e os condicionantes morfológicos, hidrológicos e litológicos, poder-se-ia aumentar a probabilidade de obtenção de vazões razoáveis e de águas de potabilidade adequada, capazes de atenderem às necessidades do uso doméstico e do abastecimento de pequenas comunidades.

Leite e Möbus (2000) afirmam claramente que o Estado do Ceará carece de uma política de acompanhamento e de informações constantes sobre a situação dos seus poços tubulares, como distribuição e potencial, destacando a marcante ausência de programas de monitoramento e acompanhamento sistemático da situação das obras, através de atualizações de bases de dados e gerência única apoiada e alimentada pela comunidade e pelos órgãos gestores.

Para Silva, Silva e Galvão (1999), outros fatores, em menor ou maior grau, também contribuíram para a baixa oferta de água no semi-árido nordestino. Destacam que, após a fase de atuação da SUDENE na hidrogeologia do Nordeste, novas tecnologias de exploração de água subterrânea deixaram de ser pesquisadas e a intermitência de ações políticas e aportes financeiros regulares para solucionar o problema também causou uma lacuna de conhecimentos e um quadro de dificuldades que só serão superados retomando-se as pesquisas dos mananciais subterrâneos.

Com relação à salinidade das águas, dentre as tecnologias de tratamento existentes, a dessalinização por osmose reversa já é bastante aceita e utilizada em várias localidades do sertão nordestino. Cravo e Cardoso (1999) ressaltam que o que houve com essa forma de dessalinização foi desconhecimento de causa que gerou uma sensível reação à sua implantação por ter sido considerada uma tecnologia complexa e onerosa.

Segundo Rebouças (1997): "Não podemos separar a água subterrânea da superficial, seus gerenciamentos, monitoramentos, o planejamento de bacias e poços, bem como o uso e ocupação do solo. A má utilização do solo é um dos principais mentores da degradação da água. Tem que existir uma visão mais ampla, e integrar todos esses determinantes é o grande desafio."

É difícil imaginar a redenção sócioeconômica do Nordeste sem uma visão de conjunto das alternativas de soluções para o problema da água no semi-árido nordestino.

As reservas exploráveis de água no subsolo nordestino são da ordem de 29,6 x 109

m³/ano, ou 81.7 x 106 m³/dia (Mente et al., 1994, apud CPRM, 1999). ( Este volume

corresponde as reservas reguladoras e não estão acrescido dos 30% (0,6% ao ano) que no caso representa mais 60,6 bilhões de m³ retirada de água das reservas permanentes dos aqüíferos em 50 anos, sem que haja prejuízo e risco de exaustão do aqüífero durante este período. O grifo e meu).

É necessário que se adote alguma providência em termos de aproveitamento e distribuição dessas águas. Somente a união de esforços e a ampla discussão pela sociedade civil organizada poderá indicar as soluções compatíveis de uso e gestão dos recursos hídricos existentes para viabilizar a verdadeira transformação sócioeconômica do semi-árido nordestino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há muito mais preconceito e desconhecimento das potencialidades hídricas subterrâneas no Nordeste do Brasil do que se imagina. A escassez da água está, na verdade, relacionada com a falta de políticas continuadas de captação e gestão de recursos hídricos subterrâneos. Propostas e alternativas são discutidas na literatura (CPRM, 1998; Silva, Silva e Galvão 1999; Costa e Santos, 2000; Mente, 1997; Rebouças, 1997; Kelman, 1999; Souza, 1987; entre muitos outros especialistas). No momento em que o governo federal se propõe investir 3 bilhões de reais na obra da transposição, sem considerar a execução de um amplo programa nacional de aproveitamento das potencialidades hídricas subterrâneas existentes, a sociedade, de forma organizada e mobilizada, deve exigir o amplo debate e a devida justificativa da obra, para que não tenhamos no Nordeste, futuramente, uma nova Transamazônica: agora, a Transnordestina da Água.

Devido ao caráter informativo deste trabalho, seria inoportuno elencar recomendações

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técnicas. Entretanto destaca-se da literatura uma das recomendações do relatório de alternativas de transposição do DNAEE/DCRH (1983-1985): "Dar prioridade ao aproveitamento dos recursos hídricos ainda não explorados e economicamente aproveitáveis das próprias bacias hidrográficas antes de utilizar água importada através de transposições".

Caberia incluir, como sugestão, que se efetuasse um amplo programa federal, conduzido a nível de cada estado nordestino, de levantamento das necessidades e indicação de soluções, tanto individuais como conjuntas, com utilização dos recursos financeiros destinados à transposição de águas para estudo, captação e distribuição das reservas subterrâneas, inclusive, se necessário, aproveitando a disposição espacial estratégica das bacias sedimentares para a transposição dessas águas para estados vizinhos no Nordeste”.

Então meu caro da Mata, conforme você tomou conhecimento ao ler o texto acima, ele representa apenas uma pequena amostra de parte dos inúmeros levantamentos hidrogeológicos já realizados no Nordeste, efetuados por instituições do próprio governo, detentoras de credibilidade em todo o Brasil e no exterior.

Portanto não se trata de pontos de vista, de opiniões isoladas ou de ideologias, muito menos de informações e dados mascarados, e manipulados. Trata-se de uma análise dos resultados de estudos técnicos científicos realizados ao longo dos últimos 100 anos por profissionais competentes os quais eu tenho o maior respeito e admiração pela sua contribuição e dedicação ao conhecimento dos aqüíferos do Nordeste.

Quero reiterar mais uma vez que não houve de minha parte nem uma intenção de confundir você quanto a interpretação da unidade de volume usada ( m³/ano), que obviamente não se trata de vazão, e sim de uma forma abreviada do volume de água disponível por ano, usada exaustivamente e entendida por todos nos diversos trabalhos de hidrogeologia. Ratifico o fato, de que as reservas permanentes em rochas sedimentares e cristalinas dos quatro estados chegam ao fantástico volume de 1,18 trilhões de m³ (Costa & Costa, 1997). Se adotarmos um índice de 30% (0,6% ao ano) para retirada de água das reservas permanentes destes aqüíferos teremos um volume disponível fantástico para os quatro estados de 7,08 bilhões de m³/ano ou, 354 bilhões de m³ de reservas de águas subterrâneas explotáveis em 50 anos, sem que haja prejuízo e risco de exaustão do aqüífero durante este período o que representa apenas 30% em 50 anos de 1,18 trilhões de m³ das reservas permanentes. Isto sem levarmos em conta a restituição anual de recarga dos aqüíferos que podem ser 100% explotadas principalmente para aqüíferos livres. Eu vou agora apresentar para você bem "destrinchadinho" a dança dos números, o que é permitido e que é correto para o calculo das reservas explotáveis. Vamos admitir que os quatro estados CE, RN, PB e PE com uma área total de 357.485 km

2 possua 80% de rochas cristalinas (285.988 km

2) com a precipitação media de 700

mm teremos um volume de 200.191.600.000 m³ de precipitação anual. Aplicando o índice 0,15% que é a taxa aplicada para a infiltração nos aqüíferos do cristalino temos uma recarga renovável 300,3 milhões m³. Usando agora para os aqüíferos sedimentares para a área de 71.497 km

2 (diferença entre a área total dos quatro estados) teremos um

volume de 50.847.900.000 m³ de precipitação anual. Lembrando que para os aqüíferos sedimentares a taxa de infiltração pede chegar até 20%. Vamos usar aqui a taxa de 5,96% que é a taxa de infiltração presente para a bacia sedimentar do Apodi aplicada para o aqüífero Açu. Então teremos um volume de 2,98 bilhões de m³ que representa as recargas renováveis dos aqüíferos sedimentares dos quatro estados que podem ser explotadas. Somadas as reservas explotáveis dos aqüíferos permanentes (sedimentar mais cristalino) teremos um total de 10,36 bilhões de m³ de reserva explorável para os quatro estados escolhidos para receber as águas da transposição do Rio São Francisco. Você sabe quanto representa esta reserva explorável? Uma vazão de 328 m³/s. Paulo por favor, depois de toda esta explanação não confunda agora esta reserva de 10,36 bilhões de m³ que representa a água explorável da área dos quatro estados com as RESERVAS PERMANENTES de 144,5 bilhões de m³ e explotáveis de 48,16 bilhões de m³/ano calculadas pelo Projeto RADAMBRASIL para as águas subterrâneas pertencentes as áreas das quatro bacias hidrográficas dos Rios Jaguaribe, Apodi, Piranhas - Açu e Rio Paraíba.

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Bem, agora eu acho que você vai entender que os aqüíferos não vão secar e que as restituições de recargas renováveis dos aqüíferos não serão insuficientes. Quanto a superexplotação ou superexploração de aqüíferos que você vem insistentemente apresentando como argumento para descartar o aproveitamento das águas subterrâneas do Nordeste Setentrional, você acaba de ter uma prova de que este argumento não existe quando existe planejamento baseado nas recomendações para exploração racional dos recurso hídricos. Por fim, concluo dizendo que a utilização de poços e fontes de água subterrânea devem ter a orientação de um profissional habilitado nessa área, no caso um geólogo com especialização em hidrogeologia, de modo que o seu uso não comprometa o uso futuro desses recursos, seja por uma possível contaminação ou a exploração de uma vazão superior à que o aqüífero pode oferecer, Um abraço, um feliz natal para você e toda a sua família, Dilermando “É preciso salvar o São Francisco da morte Para não virmos a sofrer culpando a sorte Este Rio que testemunhou seca, dor e transporte... Está como moribundo gemendo com medo da morte”.

Valeriano Luiz da Silva

O leito do Rio São Francisco recebe hoje das cidades ribeirinhas efluentes produzidos por indústrias e esgotos domésticos urbanos principalmente do seu principal afluente o Rio das Velhas, que carrega hoje mais poluentes líquidos de esgotos do que água.

ANTES 1997 DEPOIS 2004

Fotos I OFICINA DE ARTICULAÇÃO – CBHSF & CBH’S AFLUENTES

A foto da direita é o que restou do Povoado Cabeço na Foz do Rio São Francisco em Sergipe. O avanço das águas do mar engoliu o povoado. O fenômeno é resultado das alterações provocadas no regime do rio causando o rebaixamento do seu nível de base.

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Este desequilíbrio promove a invasão das águas do mar através da sua foz penetrando ao longo do leito do rio causando a famosa “cunha salina”.

Foz do São Francisco onde as areias avançam continente adentro soterrando coqueirais e toda vegetação nativa.

Não deixe que esta beleza exuberante seja maculada. Diga não a Transposição Rio São Francisco.

Revitalização do Rio São Francisco já, mas sem transposição.

Salvador 23 de Abril de 2007

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Regina Coeli Costa, Regina Maria P. Coutinho, Mario Luiz P Silva, Ronaldo N.Gonçalves, Tânia Regina S Ribeiro; ENGENHEIROS AGRÔNOMOS: Glailson B.Silva, Helge H. Sokolonski, José Maria Ferraz Luz, Nelson Lara da Costa; ENGENHEIROS FLORESTAIS: Roberto Paulo Orlandi, Sérgio Barros da Silva; NATURALISTA: Hortênsia Pousada Bautista; BIÓLOGA: Rute M. Veras; ANALISTAS DE SISTEMA: Romel Reis dos Santos, Washington Santos Alves; PSICÓLOGA: Selma Chaves Guilera; TÉCNICOS EM GEOLOGIA: Ieda Maria Velloso Silva, José Carlos Mata Rocha, Lunalva N Rocha, Nazareno Bezerra.

Resposta no Dia de Ação de Graças

Dilermando, somente hoje respondo a esses comentários do natal do ano passado, hoje, dia 27 de novembro de 2008, dia de ação de graças. Vamos dar graças a Deus por termos um rio pujante como o rio São Francisco, que poderá ser a remissão do nosso sofrido Nordeste. Quero fazer apenas um pequeno comentário em relação ao avanço das águas do mar sobre o São Francisco. Por que esse fenômeno não ocorre em outros rios com muito menor vazão? Acho que já tive oportunidade de comentar anteriormente, mas não me custa repetir. Você sabe que uma represa funciona como um enorme decantador. Todo o material em suspensão com densidade inferior à densidade da água tende a se precipitar. A represa de Xingó está a poucos quilômetros da foz do Velho Chico. Ela retira praticamente todos o material sedimentável que o São Francisco recolhe a jusante do complexo de Paulo Afonso. A água do São Francisco na foz tem densidade muito baixa. As fotos que você apresentou são uma realidade. É um espetáculo maravilhoso ver as águas de um rio sem sedimentos, coisa rara no Brasil. Por outro lado, a ausência de sedimentos faz com que a água tenha densidade inferior à densidade da água do mar. Você sabe que, duas vezes por dia, a maré sobe e a água do mar tende a entrar pelo leito do rio. Os rios com grande quantidade de sedimentos, "ganham" essa luta contra o mar. O Amazonas, nosso maior rio, que é repleto de sedimentos, produz a famosa pororoca, que nada mais é que o rio impedindo que o mar entre em seu leito. O rio São Francisco, praticamente sem material sedimentável, não consegue impedir que o mar avance sobre seu leito. Essa é a causa de ter sido descoberto um siri em Penedo. Não é impedindo que uma pequena vazão saia do rio que esse fenômeno será controlado, pois ele nada tem a ver com a vazão. Fosse assim e, com a transposição do rio Piumhi, o rio São Francisco ficaria mais "vigoroso" e "enfrentaria" o mar. Sobre a transposição do rio Piumhi, ainda não tivemos oportunidade de debater. Você sabia que houve a transposição de um rio inteiro, com todos seus afluentes, para a bacia do São Francisco? Quem pode relatar isso com detalhes é o Prof. Orlando Moreira Filho, da UFSC: Entre o final da década de 50 e início dos anos 60, estava sendo concluída a construção de uma grande represa (Furnas) sobre o rio Grande, que pertence à bacia do rio Paraná. Quando as comportas da usina hidrelétrica fossem fechadas, o volume de água da represa atingiria uma tal quantidade que suas águas alagariam a cidade de Capitólio, em Minas Gerais, e escoariam por essa região até atingir a bacia do rio São Francisco, conectando assim duas diferentes bacias hidrográficas: a do rio Paraná e a do rio São Francisco. Para solucionar parte desse problema e não inundar a cidade, foi construído um dique para conter as águas da represa de Furnas, nas imediações do município de Capitólio. Entretanto, esse dique também represou as águas do rio Piumhi, que, naquela época, era um dos afluentes da margem direita do rio Grande. Aproveitando a topografia da região onde existia um grande pantanal - por onde corria o leito do rio Piumhi, com suas lagoas marginais - foi efetuado um sistema de drenagem, com a construção de um canal que alterou o curso do rio Piumhi, desviando as suas águas e as do pantanal para o córrego Água Limpa, que deságua na margem esquerda do ribeirão Sujo, um dos afluentes da margem direita do rio São Francisco. Para efetuar o desvio, foi necessário alterar o leito do córrego Água Limpa, que foi totalmente dragado e alargado para receber todo o volume de águas vindas do rio

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Piumhi e da drenagem do pantanal. O mesmo procedimento teve de ser feito em parte do leito do ribeirão Sujo. A transposição do rio Piumhi para a bacia do São Francisco é um prato cheio para os biólogos, que estão estudando as conseqüências da transferência de várias espécies de peixes da bacia do Paraná para a bacia do São Francisco: como se adaptaram no novo habitat, como foi feita a competição com as espécies já existentes na bacia do Velho Chico e se houve hibridização entre as espécies originárias de ambas as bacias. O rio São Francisco recebeu, portanto, não apenas água vinda da bacia do rio Paraná, como a transposição que está sendo feita para o Nordeste Setentrional. Ele recebeu um rio inteiro, com todos seus afluentes. Pergunto: a alteração da vazão do Velho Chico com água transposta da bacia do Paraná alterou as condições em sua foz? Se as condições na foz do São Francisco fossem motivo para condenar a transposição para o Nordeste Setentrional, certamente teria havido um avanço do São Francisco sobre o mar em conseqüência da transposição do rio Piumhi. Um abraço, Paulo Afonso da Mata Machado Dilermando Paulo, seu raciocínio está perfeito. Inclusive a gente às vezes acha que sabe de tudo, mero engano. Eu desconhecia esta transposição do rio Piumhi para a bacia do São Francisco. Aprendi muito neste debate. Foi um convívio salutar e acima de tudo com muito respeito aos profissionais, no caso eu e você. Espero que a partir de janeiro tenhamos vários debatedores para interagir conosco, pois o nosso debate vai circular na INTERNET nos Sites do RADAMBRASIL e o de minha família www.prudentes.com.br Desejo sinceramente, um feliz Natal para você e toda a sua família, e um ano novo repleto de muita saúde e muito dinheiro no bolso. Um abraço fraterno do amigo, Dilé