De_almas_postas_Edgar_Nogueira_1ºCap_Café

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Edgar Nogueira Lima De almas postas

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"Lanço o convite para adentrarem este espaço. Sinto-me como que na portaria, desejando boas vindas. O formato Sumário - Menu foi escolhido porque o conteúdo deste livro não foi preparado apenas para ser lido, mas para ser saboreado. Recebê-lo apenas com o olhar, portanto, limitaria o deleite completo das bebidas oferecidas. Aconselho, inclusive, quem em algumas ocasiões os olhos se fechem, para que seja possível enxergar aquilo que só o coração pode ver. Asseguro que os ingredientes de cada receita, listados no decorrer dos capítulos foram forjados na vida de quem aprendeu abrir as portas da alma. Alguém que, mesmo diante de muitas surpresas, riscos ou fragilidades, não teve medo de fazer parte do próprio mundo, e mais, de transformá-lo. E no processo de se assumir humano, de ser gente e ser sujeito a outros sujeitos e à realidade onde a vida se desenha, viu se delinear os caminhos escolhidos, desbravou os caminhos escondidos e descobriu que as estrelas do próprio céu poderiam iluminar noites alheias. Deste cardápio, há, na composição das bebidas, um teor elevado de amor, doses altíssimas de acolhimento e diversas diluições em sinceridade. Para comprazer-se do sabor contido em cada bebida e desfrutar das substâncias dissolvidas em sua fórmula, recomendo atenção aos detalhes deste encontro. Reconheça o gosto de cada palavra e inspire o perfume que a mistura de subjetividades pode originar. E o paladar, que seja o paladar da fantasia a provar cada sabor, e assim dar energia para que as asas da imaginação alcem voos mais altos, ou mergulhos mais profundos. Ao experimentar cada bebida perceberá que cada uma possui aspectos peculiares aos sentimentos que remetem. Perceba as sensações de frio, aconchego, calor, tonicidade, a precipitação, o adocicado, a energia e tudo aquilo que sua alma for capaz de absorver. Faça seu pedido, escolha o que deseja para saciar sua sede, sua expectativa, ou, enfim, seu coração."

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Edgar Nogueira Lima

De almas postas

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Ensaio de mim

Entre erros e acertos

O que fica, é o que é

O que foi, tornar-se-á

Eu.

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Café.......................................12

Vinho.................................... 25

Champagne........................... 38

Chocolate Quente................. 45

Água tônica.......................... 54

Água de coco......................... 63

Ice Tea................................. 66

Refrigerante......................... 71

Sucos.................................... 76

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III

presentação

Aceita uma bebida?

É com imenso prazer que estas palavras chegam ao seu olhar. Anseio também que

cheguem ao seu coração. Ofereço-lhe bebida, pois as páginas deste livro não têm pressa de

serem lidas. Elas são como o café, o chá, ou a bebida que mais lhe for do agrado. Carecem

de ser degustadas.

Encanta-me o hábito dos apreciadores de vinho, que apreciam o aroma da bebida

antes de degustá-la. Convido-lhe a fazer igual. Eu mesmo o fiz durante o processo de

escrita. Deixei que as palavras me alcançassem todos os sentidos, ao seu tempo, para

então, registrá-las no papel.

A proposta deste livro é compartilhar um pouco da minha vida em pequenas doses.

A vida durante o ano de dois mil e doze. Não foi a intenção inicial, mas, ao pedido de

alguns que dizem ter interesse no que escrevo – fato que precisei me acostumar, pois nem

eu cria no interessante de mim mesmo – resolvi colher e registrar aqui.

Fui colhendo pequenos escritos e colecionando, fui compartilhando com uns e

outros e verificando os efeitos que poderiam causar na vida dos que liam. Eu mesmo os

reli em algumas ocasiões e experimentei dos efeitos que podem causar.

Motivado por tudo isto, resolvi colecioná-los e dá-los de presente. Utilizei-me de

papel para tal, um modo mais convencional de compartilhar minha alma - algo nada

convencional.

O título explicita a realidade de pôr à mesa a própria alma. Quando sentamos à

mesa, sempre há mais do que comida e bebida sobre ela. Há vidas dos que se dispõem a

dividir o tempo, o olhar, a companhia. Estar de almas postas é um compromisso que

assumo ao produzir este livro. Me ponho e exponho, na expectativa de que ponhas tua

alma nas palavras que vais encontrar.

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IV

Espero, portanto, que ao lê-las você perceba que há um contexto por trás de cada

palavra. No entanto, não gaste tempo me procurando nelas. Busque-se! A delícia da

poesia é despertar em você efeitos diferentes do que produziu em mim. Meu paladar é

diferente do seu, e as bebidas que experimentamos trazem conotações diferentes, embora

sejam as mesmas. Lance mão do lúdico, do simbólico. Eles dão mais cores às cenas aqui

escritas.

Por fim, agradeço-lhe a companhia. Sempre que tomar este livro em mãos, sinta-se

sentando à mesa, com um lindo pôr do sol à sua frente, uma bebida agradável e uma

companhia salutar. Eu e você comungaremos sempre, em qualquer lugar em que este livro

venha a ser degustado.

Boa leitura!

Edgar Nogueira Lima

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V

refácio

Quando convidada para redigir este prefácio tive a impressão de que nenhuma

palavra que escrevesse nestas páginas estaria à altura da grandiosidade da obra. Abrir as

cortinas dos registros que seguem, demanda uma responsabilidade que, a princípio,

provocou-me vários receios. Contudo, entre dúvidas e desconcertos, escolhi amparar-me

nas certezas que confirmaram minha presença e nas verdades de uma história que também

é a minha história. A honra em compartilhar da construção desse livro não se reduz a assinar meu

nome após um pequeno texto. O privilégio habita, sim, na gratidão por ter compartilhado

da vida que produziu os versos contidos aqui, por ter contemplado a experiência em seu

ato e degustado cada capítulo ainda quando os sabores não estavam definidos. Em ter

admirado a junção das palavras enquanto ainda eram letras dispersas de um mundo não

tão consciente, por vê-las sendo traduzidas em vida, que geram mais vida quando

divididas com outras vidas.

Se me fosse dada a tarefa de adjetivar o autor, sem dúvidas usaria tantas páginas

quanto as que o livro possui. Entretanto, tal necessidade se dissolve, uma vez que ele

mesmo, o autor, o fez, dando-se em retalhos para aqueles que puderem saborear da sua

experiência ao traduzi-la em poesia. Devo advertir que encontrá-lo, muitas vezes, será

sinônimo de encontrar a si mesmo, deparar-se com a própria imagem refletida nas páginas

enquanto vê sua história sendo contada nos versos. Aos que duvidam, sugiro não perder a

oportunidade de experimentar.

Lanço o convite para adentrarem este espaço. Sinto-me como que na portaria,

desejando boas vindas. O formato Sumário - Menu foi escolhido porque o conteúdo deste

livro não foi preparado apenas para ser lido, mas para ser saboreado. Recebê-lo apenas

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com o olhar, portanto, limitaria o deleite completo das bebidas oferecidas. Aconselho,

inclusive, quem em algumas ocasiões os olhos se fechem, para que seja possível enxergar

aquilo que só o coração pode ver.

Asseguro que os ingredientes de cada receita, listados no decorrer dos capítulos

foram forjados na vida de quem aprendeu abrir as portas da alma. Alguém que, mesmo

diante de muitas surpresas, riscos ou fragilidades, não teve medo de fazer parte do próprio

mundo, e mais, de transformá-lo. E no processo de se assumir humano, de ser gente e ser

sujeito a outros sujeitos e à realidade onde a vida se desenha, viu se delinear os caminhos

escolhidos, desbravou os caminhos escondidos e descobriu que as estrelas do próprio céu

poderiam iluminar noites alheias.

Deste cardápio, há, na composição das bebidas, um teor elevado de amor, doses

altíssimas de acolhimento e diversas diluições em sinceridade. Para comprazer-se do sabor

contido em cada bebida e desfrutar das substâncias dissolvidas em sua fórmula,

recomendo atenção aos detalhes deste encontro. Reconheça o gosto de cada palavra e

inspire o perfume que a mistura de subjetividades pode originar. E o paladar, que seja o

paladar da fantasia a provar cada sabor, e assim dar energia para que as asas da

imaginação alcem voos mais altos, ou mergulhos mais profundos.

Ao experimentar cada bebida perceberá que cada uma possui aspectos peculiares

aos sentimentos que remetem. Perceba as sensações de frio, aconchego, calor, tonicidade, a

precipitação, o adocicado, a energia e tudo aquilo que sua alma for capaz de absorver.

Faça seu pedido, escolha o que deseja para saciar sua sede, sua expectativa, ou, enfim, seu

coração.

O tradicionalismo do Café exala o aroma forte da bebida que há muito tempo

acompanha essa história. Repleto de percepções e significados, o primeiro capítulo

simboliza sentimentos intensos que são produto dos grãos de vida torrados e moídos.

Naturalmente amargo e forte, a forma de preparo do café e os ingredientes a serem

acrescentados modificam a aparência e o gosto, mas não são capazes de ocultar sua

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VII

essência. Igualmente, as emoções misturadas também foram se ilustrando nas palavras de

encontros vividos no mundo do lado de dentro. Por vezes o café esteve servido no

contraste do leite, outras vezes, apenas adoçado. Em ocasiões mais nobres vestiu-se de

capuchino, embelezado com chantili e canela. Em dias especiais esteve dentro de uma

xícara pequenina, atento ao calor das mãos que seguravam outra xícara na extremidade

oposta da mesa. Por fim, o café se apresenta ao nos apresentar, entre seus efeitos destaca-

se a energia da cafeína, o cheiro que invade a cozinha e a satisfação do paladar.

Ainda mais histórico e tradicional que o café, o Vinho plantou sua história há

muitos e muitos séculos. Embebido de uma linguagem direta, o segundo capítulo fermenta

os pensamentos que traduziram a presença daqu‟Ele que ocupa o lugar de maior destaque,

a figura central do ser Pai: Deus. Degustar dos poemas selecionados pelo vinho é para

quem deseja sentar-se à mesa e partilhar da companhia e do movimento que o Espírito do

Criador promove. O coração do autor transparece o reflexo do Autor da Vida, tingido pelo

vinho nas cores do amor e da misericórdia, sua experiência indica caminhos para

aproximar-se de Deus. Remonta a importância do ser filho, contida na grandeza de ser

Pai.

Bebida de reis e rainhas e símbolo universal da comemoração, o Champagne

oferecido no capítulo três recorda o gosto da amizade. A espuma confere às palavras o

sabor do encontro, uma vez que para abrir uma garrafa de champagne é quase um pré-

requisito a companhia com quem brindar. Todavia, o encontro não se refere unicamente

aquele que acontece entre o eu e o outro, mas, principalmente, aquele vivido pelo eu

consigo mesmo. Ser companhia a si mesmo é um desafio superado na convivência, que

merece ser brindado sempre que a vida permitir.

Tanto quanto uma xícara de Chocolate Quente aquece o corpo em um dia frio, o

quarto capítulo faz o coração recordar dos abraços que o envolveram em calor e amor. As

frases são impulso para o aconchego, a doçura que liga palavra com palavra devolve o

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gosto da infância, a pureza dos sonhos e a necessidade do sono, de dormir no colo, de ser

acolhido e sentir-se amado.

Reavivando as emoções, o quinto capítulo traz um copo de Água Tônica,

energizando e potencializando o significado do que foi experimentado. O vigor dos

poemas brota nos versos incisivos e atravessa pensamentos outrora estagnados. A leitura

gaseificada pelos paradoxos expostos faz pensar, repensar, rever, desconstruir, reconstruir.

Tonifica o que continua sendo certeza e dissolve o que nunca foi tão certo assim.

Na combinação entre céu e mar surge o capítulo seis. O rapaz da barraquinha

anuncia “Água de Coco! Olha água de coco!”. O sabor doce do mar guardado dentro da

fruta verde com casca resistente é poetizado no movimento. Sede saciada pela agitação

das ondas tanto em dias de tempestade como em momentos de calmaria. O mar nunca

para, está sempre fazendo devoluções para a praia, remontando na areia o que um dia foi

nele lançado e reunindo, ainda, o que as correntes marítimas podem trazer do fundo do

oceano. Tomar dessa água de coco é um convite a não só ver o mar, mas a ser mar. Viver a

incontinência e expandir os territórios dentro de si, recolher o que retorna às suas margens

e acolher o que vem das profundezas da sua intimidade.

Refrescando as formas de agir no mundo, uma mistura saudável preparada a partir

de infusões de vida e possibilidades, o Ice Tea é servido no sétimo capítulo. A versão

moderna do clássico chá vem permitir que novas possibilidades sejam saboreadas, olhar

pelas mesmas janelas e encontrar um horizonte diferente. Bem como o preparo básico do

chá quente e gelado é o mesmo, os versos deste capítulo refletem sobre como as receitas

escolhidas para servir a vida vão diferenciar seu sabor.

Uma das bebidas mais consumidas, o Refrigerante traz a energia e atualidade do

capítulo oito. A coletânea de poemas confere vivacidade aos momentos de amizade

degustados em todo momento da vida. Fonte de energia e sustento, a essência do capítulo

refrigerante é amizade concentrada e manifestada em presença, reciprocidade,

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companheirismo, proximidade, cumplicidade e tudo aquilo que já experimentamos com as

pessoas que um dia dividiram conosco uma latinha de „refri‟.

Encerrando o Menu, os Sucos do capítulo nove são variedade e fidelidade ao que

representam. Das as bebidas servidas, os sucos retratam o coração simples e acessível do

autor. Na simplicidade com que foram preparados, os sucos elevam o grau de nobreza da

obra inteira. A receita encerra o livro conferindo originalidade não apenas a este capítulo,

mas autenticando a singularidade de todos os anteriores.

Abram as portas e descortinem o palco! É com grande honra que vos apresento a

concretização de um sonho que também foi meu, o sabor da poesia que brotou de uma

alma cujo valor é, para mim, inestimável. Que os versos não apenas alcancem o vosso

coração, mas que sejam continuados dentro dele. Escolha sua mesa, chegou a hora de

degustar os sabores da vida emoldurada nas páginas deste livro.

Com muito amor,

Fernanda Giasson

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X

ntrodução

Os fins de tarde sempre me reservam gratas surpresas. De forma bem pontual, uma

desponta em minhas lembranças quando começo essas tímidas linhas: o convite de um

grande Amigo.

Não sei o que defino agora. Se o convite ou o grande Amigo. Nem sei se quero, na

verdade, porém, acho que minh‟alma torna-se feliz em ter a oportunidade de escrever-vos.

Seja para você que me lê agora, seja para o autor do livro ou para a Flor que espera no

alto da colina, o Rei e a Rainha despontarem no horizonte, servida de um bom café e

observando a borboleta que rodopia. Devaneios? Utopia? Não. Vida!

A sensação é essa: Vida! E é dela que vou falar. Folhear esses livros dá ao leitor a

sensação (ou as sensações) de que o frescor da bebida que acalma e por vezes aquece, nos

mostra a condição de estarmos vivos.

Sendo assim, não há como permanecer inerte diante de palavras tão certeiras.

Como um suco que foi adoçado no ponto ou aquele café do lanche da tarde que nos faz

viajar no tempo e lembrar-se de quando crianças, éramos presenteados com o bucolismo e,

porque não dizer, o romantismo daquele cafezinho diário. Realidades.

Seria óbvio que o nome do livro fosse alinhado ao seu conteúdo e vice-versa. Mas o

autor prefere escrever do incrível. De detalhes que só as almas mais apuradas (leia-se:

lapidadas), podem perceber e encantar-se diante de tanta riqueza literária expressa nessa

obra.

Adianto-me até em dizer que esta obra requer de corações necessitados. Precisados

do incrível. O cansaço é, senão, reflexo do óbvio nos dias atuais. Permita-se! Prove! Verta

tantos quantos cálices forem necessários. Só assim a lapidação da alma será melhor

vivida. E vivida, tu te tornas reflexo do incrível.

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XI

Sugiro que antes, durante depois, o leitor possa buscar um verdadeiro abraço após

as leituras que se seguem. É como a colherzinha que apura o sabor da bebida. Faz toda a

diferença. Um abraço que devolva, que aqueça, que restitua e faça, acima de tudo,

resignificar os retalhos que precisam ser banhados, para que a alma daqueles que viverem

esta experiência das mais delicadas, possam ser novas vestes, odres novos. Abraços.

Devoluções. Sabores. Renovações.

Boa leitura! Que, assim como eu pude experimentar da fonte desse amor, você

possa buscar em meio ás palavras, seu melhor. Dessa forma, seremos incríveis. Não mais

óbvios...

João Henrique Viana

(Alguém que foi devolvido)

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Servido

com

Café

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Alguém me disse que olhar-se no espelho da alma é

muito fácil. Ver os reflexos de sua própria personalidade é

coisa simples.

Olhando-a, só pude dizer-lhe:

- Me diga isto após acender a luz!

Preciso fazer as pazes com o tempo.

Expor o outro para esconder-se é como atirar para

cima e esquecer que a bala vai ter que descer.

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Há quem queira mudar o mundo. Eu só quero mudar

meu jeito de vê-lo.

Renunciar ao som do rádio para ouvir o som da alma

é ato de coragem que dá bons frutos.

O Sr. Ciúme é a Sra. Insegurança travestida de Amor.

Cuide-se, pois quem se traveste também manipula

e sabe controlar.

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A gratidão, descobri, é a Sra. Humildade vestida em

trajes de festa.

Aprendo com as ausências a valorizar as presenças.

Ambas me são necessárias.

Hoje foi dia de "re"sentar nas mesas de corações

amigos. Um modo de garantir que minha cadeira ainda

estará ali quando eu quiser voltar. Para mim, isso é viver.

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Quanto mais me aproximo de mim, mais sinto um

perfume parecido com o de Deus.

Quando seus fantasmas aparecerem, chame-os para

conversar, sente à mesa com eles e sirva-lhes um café.

Mostre que não precisam ser inimigos.

Sentei à mesa com Deus.

Conversei com Ele muito tempo.

O café foi nossa ampulheta.

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Hoje eu corri atrás do Sol. Perdi a corrida. Sou um

feliz perdedor!

Então, eu e D. Saudade nos encontramos para mais

um café da tarde. Vamos, enfim, sentarmo-nos e ver

o que trazemos um para o outro.

Talvez eu ainda me ache muito são para ser poeta.

Alma muito consertada não produz efeitos de um

concerto.

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E a D. Saudade chegou em minha casa e já foi logo

comentando:

- Estou vendo que amaram por aqui...

Existe conservante para palavras que deveriam ter

sido ditas e não foram? Tenho medo que percam o amor

por ficarem guardadas na espera de ocasião.

Desculpe as folhas secas. São sinais do descuido,

porta aberta e janelas escancaradas.

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Um jardim bem cuidado não comporta lixo de

vizinho. Devolva o que não é seu! Isso não te faz

igual, mas te preserva.

Escolher o silêncio é ato de coragem. A alma fala

baixo, mas é dura no que diz.

A simplicidade arcaica deste coração que ama de um

modo tão diferente do meu, me faz ver Deus sorrindo

e dizendo o que é amor, independente do formato e tempo.

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Aos poucos vou me olhando e lembrando: já passei por

aqui!

Invisto sobre mim o dobro do tempo que eu gostaria de

investir para "consertar” os outros. Acredito que dá

mais frutos.

O processo de vir – a - ser me encanta, renova minhas

energias para começar uma nova jornada.

Poder ser muitos para manter-me um só.

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Chega uma hora em que dar o braço a torcer é a

estratégia mais inteligente. Principalmente quando o

oponente é Deus.

Sra. Expectativa, pode parar de tomar o meu lugar na

fila da serenidade, por favor?

A saudade é o amor em modo turbo.

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Não me prenda, voarei sempre que for preciso.

Não me esqueça, a saudade me fará voltar sempre que

necessário.

Quando o silêncio é apenas a reunião de muitas vozes

decidindo o que irão dizer.

Ler novos textos é fácil. A dificuldade está em ver

novos contextos em textos já lidos.

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Criei coragem, encarei a saudade.

Sentamos juntos, olhei em seus olhos e deixei que me

refletissem.

Dei-lhe minhas mãos, frias de receios.

Deixei que ela me conduzisse, me levasse para passear.

Qual foi minha surpresa, levou-me ao meu próprio

quarto.

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AmanheSendo,

EntardeSendo,

AnoiteSendo.

Não há preferência, desde que eu permaneça sendo.

Ser em qualquer hora.

O sol é quem define meu status, mas sou eu quem sofre sua ação.

A Lua me define também, noutras horas. Ela, igualmente, não é tão majoritária, careço de estar sendo, sempre.

EntarDescendo, por vezes é minha condição.

Nestas horas, preciso respeitar o movimento.

EntarDescer faz parte do caminho de estar sendo.

Se não desço, como experimento o subir?

E se estou a descer, decerto já subi, ora essa!

E assim vou segundo, girando, naSendo, a cada ciclo, a cada passo.