De olho nos observatórios: um estudo comparativo de críticas das midas do Observatório da...

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO DE OLHO NOS OBSERVATÓRIOS: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS CRÍTICAS DE MÍDIA DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA IMPRENSA Cristiane Costa Vasconcelos Rio de Janeiro, Dezembro/2005 CRISTIANE COSTA VASCONCELOS DE OLHO NOS OBSERVATÓRIOS: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS CRÍTICAS DE MÍDIA DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA IMPRENSA Monografia apresentada como exigência final da disciplina Projetos Experimentais III do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da Universidade Estácio de Sá. Orientador: Prof. Ms. Kleber Mendonça Rio de Janeiro, Dezembro/2005 Cristiane Costa Vasconcelos DE OLHO NOS OBSERVATÓRIOS: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS CRÍTICAS DE MÍDIA DO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA IMPRENSA Grau: _________ BANCA EXAMINADORA __________________________________________

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MonografiaCristiane Costa VasconcelosCurso de Comunicação Social, Universidade Estácio de SáEstudo comparativo de Media Criticism

Transcript of De olho nos observatórios: um estudo comparativo de críticas das midas do Observatório da...

UNIVERSIDADE ESTCIO DE S

MONOGRAFIA DE CONCLUSO DO CURSO DE COMUNICAO SOCIAL

HABILITAO EM JORNALISMO

DE OLHO NOS OBSERVATRIOS: UM ESTUDO

COMPARATIVO DAS CRTICAS DE MDIA DO

OBSERVATRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA

IMPRENSA

Cristiane Costa Vasconcelos

Rio de Janeiro,

Dezembro/2005 CRISTIANE COSTA VASCONCELOS

DE OLHO NOS OBSERVATRIOS: UM ESTUDO

COMPARATIVO DAS CRTICAS DE MDIA DO

OBSERVATRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA IMPRENSA

Monografia apresentada como exigncia final da

disciplina Projetos Experimentais III do Curso de

Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da

Universidade Estcio de S.

Orientador: Prof. Ms. Kleber Mendona

Rio de Janeiro,

Dezembro/2005 Cristiane Costa Vasconcelos

DE OLHO NOS OBSERVATRIOS: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS

CRTICAS DE MDIA DO OBSERVATRIO DA IMPRENSA E DO CANAL DA

IMPRENSA

Grau: _________

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Jos Luiz Laranjo

Prof. Ms.

__________________________________________

Beatriz Schmidt

Prof. Dr.

__________________________________________

Kleber Mendona

Prof. Ms.

Rio de Janeiro,

Dezembro/2005

ii

Dedico este trabalho aos meus pais, Leive e Maria

Cristina, as duas pessoas mais preciosas da minha

vida.

iiiAGRADECIMENTOS

Agradeo, primeiramente, ao apoio dos meus familiares: meus pais, Leive e

Maria Cristina, meus maiores e mais sinceros amigos; e ao meu irmo, Luis Claudio,

pela compreenso.

minha cadelinha Judy, por me fazer abrir um sorriso nas horas mais tensas.

Agradeo ao Kleber, enquanto orientador, pela pacincia e incentivo. E

enquanto mestre, agradeo por todos os ensinamentos, pois sem eles esta monografia

no teria sido concretizada.

No poderia deixar de agradecer tambm aos demais mestres da Universidade

Estcio de S. Todos, de alguma forma, contriburam para minha evoluo como futura

profissional na rea de comunicao.

ivRESUMO

O presente estudo visa mostrar como o media criticism brasileiro do atual

cenrio miditico pode se apresentar de diferentes maneiras, tendo como foco o pioneiro

no assunto, o site Observatrio da Imprensa, liderado pelo experiente jornalista Alberto

Dines; e, de outro lado, o site Canal da Imprensa, um jornal-laboratrio especializado

em crtica de mdia, escrito por alunos universitrios do curso de Jornalismo do Centro

Universitrio Adventista de So Paulo (campus Engenheiro Coelho). Para isso, foram

analisados todos os textos crticos dedicados ao assunto Referendo (sobre a proibio

das vendas de armas de fogo no Brasil), alm de todas as colunas de ombudsman

presentes no Canal da Imprensa cargo que inexiste no Observatrio. A princpio,

apresentado um histrico do media criticism: de onde surgiu, como chegou at o Brasil,

a importncia desse processo de crtica externa e interna o ombudsman e tambm as

experincias de maior visibilidade no Brasil e no exterior. Depois, feita uma anlise

das tcnicas e formas de apresentao desses observatrios. A Internet como meio de

acesso, a linguagem e o discurso usados, o papel do meio acadmico em alertar para

possveis deslizes ticos da mdia e a criao de um Quinto Poder, na tentativa de

formar uma massa de cidados atenta mdia. Por fim, feita a anlise comparativa

entre os sites, realando as diferenas dos discursos e procurando definir que tipo de

Jornalismo os dois sites apresentam.

Palavras-chave: crtica de mdia; tica jornalstica; ombudsman; observatrios de mdia.

v Para evitar crticas, no faa nada, no diga nada, no seja nada.

Elbert Hubbard

viSUMRIO

Introduo .............................................................................................................. p. 01

Captulo 1 O advento da Crtica na Mdia .......................................................... p. 03

1.1 Os primeiros passos do media criticism ........................................... p. 04

1.2 De dentro para fora: o ombudsman ................................................... p. 08

1.3 Outras experincias de crtica da mdia ............................................ p. 12

1.3.1 No Brasil ....................................................... p. 12

1.3.2 No exterior .................................................... p. 16

1.3.3 A disseminao dos observatrios................. p. 18

Captulo 2 Apresentao e tcnicas dos observatrios ....................................... p. 21

2.1 A Internet e a importncia da interatividade ..................................... p. 22

2.2 A busca pela transparncia no obtida .............................................. p. 25

2.3 A Universidade na construo do olhar crtico ................................. p. 30

2.4 O Quinto Poder sendo criado ........................................................ p. 34

Captulo 3 Observatrio da Imprensa e Canal da Imprensa: as vozes dos sites e

suas possveis repercusses ................................................................................... p. 37

3.1 Apresentao .................................................................................... p. 38

3.1.1 Canal da Imprensa ...................................... p. 38

3.1.2 Observatrio da Imprensa .......................... p. 40

3.2 A credibilidade dos contedos ........................................................ p. 42

3.2.1 A presena do ombudsman ......................... p. 45

3.3 Os tipos de Jornalismo propostos..................................................... p. 47

Concluso ............................................................................................................. p. 52

Referncias Bibliogrficas.................................................................................... p. 55

vii INTRODUO

O objeto deste estudo a linguagem usada por dois sites realizadores da crtica

de mdia Observatrio da Imprensa e Canal da Imprensa. A finalidade analisar

como eles podem se diferenciar e assemelhar diante do fato que o primeiro produzido

maciamente por profissionais da mdia e o outro, escrito por alunos de uma

universidade de Jornalismo, supervisionados por um profissional e que, ainda, contam

com a presena de um ombudsman.

Desde seu surgimento, o media criticism vem registrando a evoluo social do

pas seja pelo interesse de profissionais em dissemin-lo cada vez mais ou pela

importncia dada pelo prprio pblico. O fato de que os meios de comunicao tenham

se constitudo em novos tentculos, como a Internet, possibilitou uma maior interao

desse pblico e firmou a web como principal cenrio dessas atividades.

O presente estudo busca refletir o processo adotado por esses sites sobre a

produo jornalstica, ou seja, que tipo de Jornalismo possvel junto aos objetivos dos

observatrios. Em meio a tantas normas pelas quais os jornalistas so alicerados

como Cdigo de tica, manuais de Jornalismo adicionadas experincia e vises

particulares das vozes, pretende-se lanar uma perspectiva de como isso se reflete nos

sites. Busca-se compreender se essa mesma viso do mundo que pode contaminar um

texto jornalstico de subjetividade pode distorcer a inteno original de um observador

de mdia atravs de ataques pessoais ou falsos moralismos.

O objetivo deste trabalho mostrar, atravs da anlise do contedo, pesquisa e

da comparao dos sites, como dado o processo de apresentao das vozes e da

construo de credibilidade. Ou seja, busca-se aqui situar o Observatrio e o Canal em

um universo de discursos diversificados, cargas acadmicas e pessoais apresentadas a

um pblico cada vez mais possibilitado em receber esse olhar crtico e participar do

processo.

O primeiro captulo mostra, atravs de pesquisas bibliogrficas e Internet, como

surgiram os primeiros media critics, retratando, ainda, como o processo de crtica

interna (ombudsman) e externa so constitudas como etapa importante dentro do

processo jornalstico. Atravs da apresentao de outras experincias de cunho

semelhante pelo mundo afora, mostramos como a anlise crtica da mdia se disseminou

e tornou-se aceita por pblico e profissionais. O segundo captulo revela, tambm atravs de pesquisas bibliogrficas e de

Internet, como as tcnicas e forma de apresentao dos observatrios so produzidas. A

busca pela credibilidade e a questo tica, o espao da Internet como propagao, a

influncia do fator universitrio e, finalmente, a construo de uma nova forma de

contrapoder o Quinto Poder sendo construdo.

No terceiro captulo, aponto as semelhanas e diferenas existentes entre o

Observatrio da Imprensa e o Canal da Imprensa. Como a presena do ombudsman no

Canal pode fazer a diferena. Alm disso, as sees sero descritas e ser ponderado

novamente o fator Universidade dentro do aprimoramento do olhar crtico dos

realizadores das organizaes, relacionado questo das vozes e do espao dado a

sociedade.

Como metodologia, o assunto escolhido a anlise crtica dos sites relacionada

cobertura dos meios de comunicao sobre o Referendo, realizado no dia 23 de outubro

de 2005, que abordou a proibio ou no das vendas de armas de fogo no Brasil. No

Observatrio da Imprensa (edies n 349, 350, 351) foram escolhidas as sees

Imprensa em Questo e Interesse Pblico, pelo maior destaque dado ao assunto em

ambas; j no Canal da Imprensa, analisaremos a edio nmero 50, que foi toda

dedicada ao assunto, sendo, inclusive, lanada fora da periodicidade, tamanha a

relevncia dada ao tema.

Nesta ltima parte da monografia, foram reunidas todas as informaes

estudadas durante a pesquisa para analisar minuciosamente o contedo dos sites, o

espao dado s vozes, as artimanhas, os metadiscursos. CAPTULO I

O ADVENTO DA CRTICA NA MDIA

A busca por teorias ou estudos que faam assimilar a predominncia da mdia no

cotidiano dos cidados e seus efeitos j antiga. Mundo afora, tem-se disponveis vrias

formas de analisar essa relao: escritos valiosos, teorias fundamentadas e Escolas de

Comunicao tiveram suas tendncias espalhadas pelos quatro cantos. Porm, diante da

m estruturao e da ascenso de um Poder inatingvel escorado por conflitos de

interesses que a imprensa incorporou devendo esta executar seu papel social,

prestativo e democrtico viu-se necessrio no s tentar compreender os efeitos que a

mdia pode causar, mas tambm observar sua atuao.

Uma observao que passou a subsistir por ser resultado de uma participao

no-concedida, mesmo os media sendo concesso pblica o que no foi capaz de

incluir os cidados no debate tico; atualmente, grupos procuram asseverar a

responsabilidade social dos media, afinando a democracia e batalhando contra o silncio

e possveis deslizes e / ou contradies da imprensa. Os sites objetos de estudo, o

Observatrio da Imprensa e o Canal da Imprensa, se encaixam nos parmetros dessa

busca, que passou a se manifestar ou mesmo comeou a causar impacto tanto pelas

mos de jornalistas quanto pela voz de cidados fora da rea. Enfim, o media criticism

nasceu junto certeza de que era necessria a utilizao de instrumentos que buscassem

um alinhamento tico dos meios de comunicao.

Seja por meio de uma crtica de dentro pra fora (como o caso do ombudsman

1

(

ou vice-versa, o fato que a atividade dos media-critics se disseminou de forma intensa

e a procura e aceitao por parte do pblico vieram ganhando espao. Tanto que em

pases como Estados Unidos, certos media watchers hoje possuem status de referncia

1

Ombudsman uma palavra de origem sueca - ombud (representante) e man (homem) - que a partir de 1809 passou a

denominar os ouvidores das queixas dos cidados e fiscais do poder pblico; Na Roma Antiga, os Tribunos da Plebe

ouviam as queixas dos cidados. No Brasil Colonial eram os bispos que tinham a funo de ouvidores da coroa, o que

deu origem a expresso popular: v se queixar ao bispo. (MENDES, Jairo Faria. Ombudsman: o espao para a

autocrtica nos jornais. Instituto Gutenberg. Boletim N 24 Srie eletrnica, 1999. In:

http://www.igutenberg.org/jairo24.html consulta em 31 ago. 2005). Confira mais sobre a histria do ombudsman no

tpico 1.2 deste trabalho (p. 8). na discusso de assuntos polticos. Aqui no Brasil, comum que estudantes ou at

mesmo profissionais de jornalismo acessem a Internet com o intuito de procurar

opinies diversificadas sobre determinados assuntos ou simplesmente pela vontade de

se manifestar; tambm por isso, sites como o Observatrio e Canal da Imprensa, que

buscam estimular a participao da sociedade neste sentido, tm a visibilidade atual. a

representao de uma necessidade antiga da imprensa em se aprimorar atravs da

discusso aberta.

1.1 Media criticism: os primeiros passos da vigilncia

Toda atividade crtica, segundo CARNEIRO, logo entendida no sentido de

corrigir, constatar e suprir erros e deficincias

2

. Muito alm da idia de criticar para

progredir, o media criticism nasceu com o sentido de resgatar a funo social dos meios

de comunicao, que muitas vezes esmagada por deslizes ticos cometidos

ilimitadamente pelos media. Nesse contexto, surge a essncia da expresso media

criticism ou crtica da mdia , onde a existncia desses crticos importante quando o

direito informao no direcionado em seus mltiplos sentidos: os veculos

informando ao pblico e o pblico se informando sobre os veculos.

Certos de que estar atento permanentemente sobre a mdia tornou-se essencial

para que seja cumprida a funo social, jornalistas, alicerados ou no pelo meio

acadmico, passaram a refletir sobre meios que exercessem um controle sobre a

qualidade da informao que a mdia fabrica; comeou-se a pensar em formas de mover

a comunidade e os profissionais da mdia para o enredamento da funo jornalstica na

sociedade contempornea.

Embora o termo ainda no fosse conhecido, DINES (1982) relaciona a

existncia de trs media critics j nas dcadas de 40, 50 e 60. Godin da Fonseca, que

fazia a crtica dos jornais pela ento Folha da Manh, alm de ter exercido vigilncia no

jornal O Mundo

3

; Otvio Malta e Paulo Francis, que praticavam o media criticism na

ltima Hora. Porm, para o autor, nenhum deles atingiu a verdadeira essncia que o

controle prima em defender: alertar a sociedade para o direito a uma informao

2

CARNEIRO LEO, Emmanuel. Aprendendo a Pensar, 5 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1977, p. 164.

3

DINES, Alberto. Media criticism: Um espao mal-dito. In: Intercom. Comunicao, hegemonia e

contra-informao. So Paulo: Ed. Cortez, 1982. verdadeira no apenas punir profissionais ou empresas que estejam cometendo erros

conforme seus pontos de vista, mas pensar em educ-los para que os problemas no se

repitam. Para que tal acontea, DINES (1982) argumenta que o crtico de mdia deve

abnegar um espao de destaque na profisso para que sua vigilncia no esteja presa aos

limites das organizaes:

Ridicularizaram, criticaram, desmascararam jornais,

jornalistas ou desempenhos jornalsticos que em sua tica estavam

errados. Mas no feriam a estrutura nem o processo como um todo

(...). O media critic no pode focalizar desempenhos ou

comportamentos sem enquadrar a estrutura que cria, estimula e orienta

tais desempenhos ou comportamentos (...). O media critic que

bombardeia reas sensveis de determinado veculo ganha fatalmente

o estigma de maldito pelo resto da instituio (...). O media critic deve

capacitar-se de que um maldito, um renunciante, abrindo mo de um

lugar ao sol no establishment. Caso contrrio, suas posies sero

mal-ditas, isto , levianas

4

.

No Brasil, a introduo da crtica na mdia surgiu em 1965. O jornalista Alberto

Dines, em visita aos Estados Unidos

5

, conheceu o boletim Winners and Sinners (em

portugus, Ganhadores e Pecadores) do The New York Times, onde os erros dos

jornais eram discutidos de forma crtica e debochada. Ao retornar ao pas, Dines e seu

colega de trabalho Fernando Gabeira, resolveram lanar os Cadernos de Jornalismo

que, algum tempo depois, teve o nome alterado para Cadernos de Jornalismo e

Comunicao , primeira experincia de crtica mdia brasileira. Porm, ficou

limitado ao meio acadmico: era distribudo em escolas e vendido em livrarias. Em

1973, a publicao foi encerrada. Dois anos depois, Dines se tornaria diretor da sucursal

da Folha de SP, onde, no mesmo ano, ele comearia a produzir a coluna de media

criticism de maior visibilidade at ento.

A coluna em questo Jornal dos Jornais, lanada em julho de 1975 em meio

a discusses sobre o quadro poltico mundial, que se encontrava em turbulncia

6

s .

segundas-feiras, Dines expunha seu ponto de vista ao contrrio do que ocorre no

campo de debates do seu Observatrio, onde so introduzidas opinies diversas sobre

como os veculos haviam se comportado durante a semana, na pgina 6 da Folha

4

DINES, op. cit., p. 150.

5

Entrevista com Alberto Dines. In: http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/sobre_dines/memoria.htm

consulta em 25 ago. 2005.

6

Na coluna de estria (A Distenso para todos, em 06/07/1975), Dines procurou deixar claro a

postura que o Jornal procuraria seguir. Dizia: Onde a crtica est vigilante (...), a qualidade se eleva.

Quando a crtica abranda, abre-se o caminho para a estagnao. (hoje, ocupada pelo ombudsman). Mesmo com todo o destaque, a coluna Jornal dos

Jornais parou de circular em setembro de 1977. O Brasil vivia os tempos do regime

militar e, por isso, muitas das crticas desagradavam o governo.

Foi, inclusive, nas dcadas de 60 e 70 que, segundo Dines

7

, a crtica da mdia

comeou a firmar terreno. O pice do media criticism teria ocorrido em dois

acontecimentos: na campanha pacifista pelo fim da Guerra do Vietn, onde o autor

aponta o uso das colunas crticas como instrumentos teis; e na denncia do Caso

Watergatte, onde a presso da imprensa levou renncia do ento presidente Nixon, em

1974. Em ambos os casos, Dines descreve a importncia da atuao da sociedade

americana no desenvolvimento de instrumentos malditos e antdotos por meio de

imprensa alternativa, universidades ou at mesmo na grande imprensa.

Na dcada de 80, Dines teve ainda uma coluna crtica no Pasquim, chamada

Jornal da Cesta. Na dcada de 90, Dines voltou a fazer uma nova coluna de crtica dos

media, com o ttulo O Circo da Notcia que, atualmente, denomina uma das colunas

do site Observatrio da Imprensa publicada na revista Imprensa.

A revista Jornal dos Jornais, com nome e ideologia iguais pioneira coluna da

Folha, chegou em de maro de 1999 e analisava semanalmente como a imprensa

noticiava seus assuntos. A revista era dirigida por Ari Schneider e teve vrios colunistas

como Carlos Brickmann, Celso Japiassu, Luis Carlos Lisboa, entre outros

8

Alm de .

criticar a imprensa, Jornal dos Jornais mostrava os erros de ortografia e gramtica de

diversos veculos de mdia. Dentre os articulistas, encontrava-se o publisher Moacir

Japiassu que, no caso, fazia o papel de ombudsman, atendendo as reivindicaes e

estabelecendo contato com os leitores por meio da coluna Perdo, Leitores, que h

tempos foi parte da revista Imprensa. A revista Jornal dos Jornais tambm no foi

adiante: a exposio de certos fatos ilcitos, pela anlise de como jornalismo podia

apoiar ou se opor a governos, incomodava.

Pois como afirmou MENDES, muito desconfortvel estar de mal com a

mdia, ou com parte dela

9

. Seja por conflitos com os poderosos ou com colegas de

trabalho, a que o media critic est sujeito a ser tachado de maldito. Isso explica o

7

DINES, op. cit., p. 153.

8

Jornal dos Jornais sai com Mino Carta na capa. Instituto Gutenberg. Boletim N 24 Srie eletrnica, 1999. In:

http://www.igutenberg.org/jjornais24.html consulta em 31 ago. 2005.

9

MENDES, Jairo Faria. A Dura Vida dos Crticos de Mdia. In: http://www.ombudsmaneoleitor.jor.br/pressoes.htm

consulta em 31 ago. 2005. insucesso de alguns observatrios e os possveis breques daqueles que querem

continuar.

Conforme argumenta BUCCI, a qualidade da informao inexiste quando

veculos de comunicao visam a defesa de interesses, tanto internos quanto externos

10

.

Para no se sufocar dentro desses conflitos empresa-jornalista, percebe-se que foram

vrias as tentativas de efetuar a pretendida vigilncia atravs de veculos alternativos.

Segundo DINES (1982), a imprensa alternativa seria til nesse sentido, pois s um

rgo fora do sistema poder ter o desembarao para fazer um apanhado institucional da

atuao jornalstica

11

. O autor diz ainda que uma das principais funes da alternative

press servir de arena para a realizao do media criticism. Baseado nesta afirmativa,

ele comparou sua maior liberdade em trabalhar como crtico no alternativo O Pasquim

com os problemas que as crticas feitas no jornal Folha de S. Paulo acarretavam:

(...) o Jornal dos Jornais (...) apesar do seu enorme sucesso

junto ao pblico, era muito mal visto pelos quadros dirigentes ou

intermedirios da grande imprensa. (...) A direo da FSP jamais

interferiu (...), mas tive vrios problemas com as chefias da Folha de

S. Paulo. No domingo seguinte a uma crtica prpria FSP, minha

coluna foi composta em corpo 4, evidente sabotagem, mais tarde

confirmada. Em outra ocasio, criticando a linha de contracultura do

segundo caderno, seu responsvel quis iniciar uma ridcula polmica

pessoal atravs das prprias pginas da FSP. (...) J o Jornal da

Cesta, que lancei no Pasquim a partir de maio de 1980, tem sido feito

sem nenhuma coao ou controle

12

.

Alberto Dines cita trs exemplos de que a realizao de um media criticism

levado ao limite pode ser sempre perturbador

13

: o austraco Karl Kraus (1874-1936),

que atravs de seu pequeno jornaleco Die Facke vivia a zombar de tudo e todos,

inclusive do requintado jornal Neue Freie Presse; o ingls Gilbert Keith Chesterton

(1874-1936), socialista que para se expressar vontade, criou o jornal pessoal G. K.

Weekly; e o americano I. F. Stone, que aps trabalhar em jornais de grande porte como

NY Post, produziu dois jornais, I. F. Stone Weekly e By-Weekly.

Ao citar os exemplos, Alberto Dines enfatiza que a sada para a realizao de

crticas nesta poca seria o jornalismo solitrio; em 1982, quando escreveu Media

Criticism um espao mal-dito, o melhor cenrio seria a imprensa alternativa; Hoje,

10

BUCCI, Eugenio. Sobre tica e imprensa. So Paulo: Cia das Letras, 2000, p. 88.

11

DINES, op. cit (1982), p. 151.

12

Idem, Ibidem, p. 153.

13

Idem, Ibidem, p. 152. alm dos observatrios, tem-se, da virada dos anos 80 para os 90, a atuao do

ombudsman. Prope-se, ento, uma anlise desses segmentos como sintomas de uma

etapa do Jornalismo que se tornou necessria.

1.2 De dentro pra fora: o Ombudsman. Mais um sintoma de uma

etapa jornalstica

Trabalhos que tm como base o media criticism se assimilam s colunas de

ombudsman. Isso sucede porque tambm funo do ombudsman criticar os media

logo, tambm foram vrios os casos de experincias efmeras, alm de muitos

profissionais tambm terem de enfrentar problemas dentro e fora do ambiente de

trabalho. No entanto, o media criticism se difere das colunas de ombudsman por no

enfatizarem suas crticas ao jornal onde so publicadas. Alm disso, o media critic no

um ouvidor, ou seja, no seu papel delinear manifestaes dos leitores. Porm, a

essncia a mesma: buscar, atravs de crticas sejam elas internas ou externas o

aprimoramento dos meios de comunicao e representar a voz do interesse pblico.

Em 1967, o Louisville Courier Journal, dos Estados Unidos, contratava seu

primeiro ombudsman

14

A primeira coluna pblica foi escrita em territrio norteamericano por Richard Harwood, no jornal Washington Post de maior visibilidade at .

os dias de hoje , em 1970 e j na dcada de noventa, mais de trinta exerciam o papel

nos Estados Unidos

15

MENDES enfatiza que o modelo do ombudsman nos EUA se .

apresenta de forma bastante agressiva, funcionando como um advogado dos leitores,

pronto a criticar fortemente e afrontar o meio de comunicao e jornalistas

16

. A tnica

realar a apreciao externa do produto, tornando pblico os erros dos jornais e

polarizando pblico e jornalistas. O autor classifica os modelos da Frana (mediador,

como conhecido por l) e do Japo (departamentos de atendimento aos leitores) de

outra forma: estes procurariam aprimorar a relao entre jornalistas e pblico, evitando

possveis conflitos.

14

CORNU, Daniel. tica da informao, So Paulo, Edusc, 1998, p.42.

15

MENDES, Jairo Faria. O Ombudsman e o Pblico (1 parte). Tese de Mestrado em Comunicao. Rio de Janeiro,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo051098.htm

consulta em 20 set. 2005.

16

Idem, Difcil comeo: O Primeiro Ombudsman da Folha de S. Paulo e do jornal O Povo (CE). In:

http://www.ombudsmaneoleitor.jor.br/celacom.htm consulta em 20 set. 2005. Segundo MENDES, comeando pela adoo da terminologia ombudsman de

origem sueca, mas que os Estados Unidos tomaram para si, designando at mesmo um

plural para a palavra (ombudsmen) possvel perceber que o Brasil incorporou o

modelo bsico de ombudsman dos Estados Unidos

17

No Brasil, a figura do ombudsman .

chegou na virada dos anos 80 para os 90. A primeira experincia foi no jornal Folha de

S. Paulo a partir de 1989; aps esse pontap inicial, vrios veculos adotaram a funo,

seguindo o mesmo modelo americano dos pioneiros. Entre eles, os jornais Folha da

Tarde (SP), A Notcia Capital (SC), Folha do Povo (MS), Dirio do Povo (CampinasSP) e Correio da Paraba (PB); a revista Imprensa; as rdios Bandeirantes (SP) e O

Povo AM (CE); a PUC TV (MG) e Agncia Nacional (propriedade do Governo

Federal)

18

Na Regio Nordeste o pioneirismo dado ao O Povo, de Fortaleza, outra .

experincia de destaque.

Ao mesmo tempo em que causava alvoroo, por tender a expor flagrantes e, at

mesmo, fatos ilcitos dos prprios profissionais das redaes o que gerava um grande

desconforto no ambiente de trabalho , a existncia do ombudsman era tida como

necessria, j que era de extrema importncia, tanto para o pblico quanto para o jornal,

mostrar seu papel de servidor pblico e apresentar um controle que permitisse uma

avaliao crtica daquilo que era oferecido. Sem contar que, ao mesmo tempo,

estabelecia um canal de contato mais direto com os leitores.

Alguns jornais-laboratrio de cursos de Jornalismo tambm criaram o cargo.

Uma atitude que demonstra preocupao com a transparncia com o pblico, no caso,

acadmico. Entre eles, o Campus (UnB), o Entrevista (Universidade Catlica de

Santos) e o Portal (PUCMinas/Arcos).

MENDES afirma que somente trs experincias brasileiras de ombudsman

obtiveram sucesso duradouro. No quesito referncia, o destaque fica por conta da Folha

de SP que possui o cargo at os dias de hoje onde Caio Tlio Costa executou o papel

de primeiro ouvidor da imprensa brasileira. O cargo demorou a ser efetivado por conta

da grande dificuldade em encontrar algum jornalista que fosse bastante corajoso para a

17

MENDES, op. cit.

18

Idem, A ouvidoria de Imprensa no Brasil. In: http://www.ombudsmaneoleitor.jor.br/ouvidoriadeimprensa.htm consulta

em 20 set. 2005 assumir a funo

19

. Caio era considerado genioso e agressivo, o que colaborou para

que o jornalista tomasse o comando de uma nova e arriscada experincia.

No jornal O Povo, do Cear, o ombudsman foi implantado em 1994 com a

jornalista Adsia S. Na busca por uma maior transparncia com o leitor, a coluna

mantinha uma postura desafiadora atravs de crticas acirradas herana americana , o

que resultou at em ameaas contra a jornalista. A rdio O Povo tambm manteve um

ombudsman atravs do programa Com a palavra, o ouvinte. Esta foi a segunda

experincia do cargo no meio radiofnico. A primeira foi a rdio Bandeirantes.

Um fato curioso foi a contratao do at ento leitor Juvncio Mazarollo para o

cargo de ombudsman da Revista Imprensa. Juvncio enviou um e-mail para a revista

com reclamaes sobre erros gramaticais, o que gerou a ira do ento editor, To Gomes

Pinto. Ele alegou que crticas sobre vrgulas e crases no eram to importantes quanto

quelas que seriam as preocupaes principais da revista: os destinos da humanidade e

da civilizao ocidental

20

. Porm, To voltou atrs e contratou Juvncio como primeiro

ombudsman da Revista Imprensa, no ano de 2000. Algum tempo depois, To

substituiria Juvncio no cargo e criaria Caderno de Ombudsman, que fazia ampla

anlise miditica. Foi interrompida em junho de 2002.

Voltando ao maldito, o desconforto antes citado um risco a se correr. Esse

tipo de situao gera, muitas vezes, um certo mal-estar dentro das redaes. Da mesma

forma que se teme o fato do ombudsman ser escolhido dentre os funcionrios da prpria

empresa, teme-se o fato da crtica se localizar no fruto no ambiente de produo,

diferentemente das crticas realizadas de forma mais generalizada, conforme feito no

Observatrio e no Canal da Imprensa. Segundo BUCCI (2000), a incompatibilidade

das funes o nico grande problema tico da questo, no chegando a ser grave como

os conflitos de conscincia do jornalista, pois esses esto atrelados s convices

pessoais de cada profissional

21

O jornalista Germn Rey, que ocupou o cargo de .

ombudsman no jornal El Tiempo, de Bogot, compara a funo de ombudsman ao de

19

MENDES, op. cit.

20

MENDES, op. cit.

21

BUCCI, op. cit., p. 100 um pedagogo, pois ambos tm como tarefas confrontar comportamentos, analisar

prticas, assinalar atitudes que incidem sobre a qualidade da mdia

22

.

Mesmo com vrias experincias mundo afora, MENDES acredita que (...) no

se pode superestimar este espao. Ele representa muito pouco, diante da magnitude dos

media. (...) a estes oferecido um espao muito restrito, de forma que o pblico quase

nem chegue a not-los

23

. A curta propagao do ombudsman, o que acarreta numa

falta de conhecimento dos cidados sobre o cargo no necessariamente est atrelada

conscincia social do pblico, que, vide sucesso que muitas colunas obtiveram e

alcanam at hoje, procuram se manifestar e valorizam a interatividade presente nos

veculos. Segundo Marinilda Carvalho, a constatao da necessidade da crtica da mdia

evidencia antes o amadurecimento da sociedade, e no do jornalismo propriamente dito:

Prova disso que o media criticism existe h tempos em

outros pases, mais acostumados ao controle social e mais organizados

socialmente. Outra evidncia que a grande maioria dos veculos de

mdia ainda no dispe de ombudsman este sim, prova do

amadurecimento dos produtores de mdia, j que o ombudsman reduz

a distncia entre o emissor e o receptor, afinando a sintonia que deve

necessariamente existir entre essas duas partes

24

.

Se o papel do ombudsman est concentrado em representar uma instncia

intercalar entre os rgos de regulao tradicionais e os indivduos

25

, aceitvel dizer

que os observatrios de mdia procuram atuar como verdadeiros ombudsmans da

imprensa, papel este que j foi atribudo ao site Observatrio da Imprensa

26

.

Apesar de todas as ressalvas que se pode fazer sobre o ombudsman, as colunas

analisadas nesta monografia mostram que a sua presena contribui para que o processo

informativo seja mais transparente, e o leitor, mais respeitado. Alm disso, as colunas

de ombudsman estimulam o debate sobre temas relacionados aos media.

Conforme os conflitos de interesses citados por BUCCI (2000) se tornam cada

vez mais intensos alm dos media se concentrando nas mos de menos pessoas e

22

HOLDORF, Ruben. Ombudsman dos ombudsman. In:

http://www.canaldaimprensa.com.br/canalant/opiniao/dset/opini%C3%A3o2.htm consulta em 20 set.

2005.

23

MENDES, Jairo Faria. O ombudsman e o Pblico (3 parte). Tese de Mestrado em Comunicao. Rio de Janeiro,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo051198b.htm

consulta em 20 set. 2005.

24

Editora assistente do site Observatrio da Imprensa h nove anos, Marinilda Carvalho cedeu, por email, depoimento para a composio deste trabalho.

25

CORNU, op. cit., p. 41.

26

HOLDORF, op. cit. conseqentemente, no se produz jornalismo de qualidade, torna-se cada vez mais

necessria a implantao de mecanismos de observao, fiscalizao e questionamento

dos meios de comunicao. Assim, tanto os observatrios de mdia quanto os

ombudsmans acabam por se tornarem parte importante no processo jornalstico, sejam

por conscincia dos prprios cidados o que um sintoma positivo ou por

reconhecimento dos prprios profissionais de mdia, o que de certa forma dosa a

imagem de arrogncia e auto-suficincia tica que o jornalista parece carregar.

1.3 Outras experincias de crtica da mdia

Com ideologias semelhantes s do Observatrio da Imprensa e Canal da

Imprensa, em diversas partes do mundo outros observatrios desempenham um papel

concentrado na reflexo crtica sobre a mdia, de acordo com aquilo que esta prope:

objetividade, neutralidade, diversidade, entre outros sempre com premissas ticas

rondando essas caractersticas. A questo primordial dos observatrios alertar a

sociedade para possveis contradies da mdia, caso ela esteja caminhando contra seus

prprios princpios. Aqui, sero apresentadas algumas experincias de media criticism,

que j carregam certa referncia e servem como ferramentas a universitrios,

professores, profissionais da mdia e sociedade de uma forma geral.

A idia do Media-Watching (ou observadores de mdia) surgiu nos Estados

Unidos associando-se s experincias anteriores do ombudsman e do media criticism

como maneira de alertar a sociedade e os profissionais da mdia para o enredamento da

funo jornalstica na sociedade moderna.

1.3.1 No Brasil

No apenas atravs da Internet Alberto Dines e sua trupe analisam a mdia. O

nico programa de media criticism na televiso brasileira o Observatrio da Imprensa

na TV, no ar desde maio de 1998 pela Rede TVE (canal 02 no Rio de Janeiro). A idia

foi originada da verso online, lanada dois anos antes. O programa apresenta debates

sobre temas que estejam em destaque, onde o principal objetivo analisar o

comportamento da mdia e suas repercusses. O Observatrio na TV conta com a presena de jornalistas e profissionais da rea de comunicao, alm da participao de

convidados por telefone. O pblico pode participar, ao vivo, atravs de fax, telefone e email; tambm podem votar na pesquisa relacionada ao tema em debate, pela urna

eletrnica do site do Observatrio. A verso televisiva tambm possui um site

(http://www.tvebrasil.com.br/observatorio/) que traz um histrico dos programas. A

atrao semanal e no comando esto Claudia Tisato e o precursor Alberto Dines.

Alm disso, o Observatrio j conta com uma verso radiofnica, apresentada

pelo jornalista Mauro Malin e com participao de Alberto Dines. O programa

transmitido por estaes em So Paulo e no Rio de Janeiro, mas tambm est acessvel

pela Internet. Durante os cinco minutos de durao, o Observatrio da Imprensa prope

fazer uma breve leitura crtica das manchetes dos principais jornais brasileiros.

Dentre as experincias de media criticism que tambm deram certo se encontra a

Revista Imprensa, publicao mensal especializada em jornalismo e voltada para a

crtica dos veculos miditicos desde 1987. A publicao j foi vencedora de diversos

prmios e tambm criou o seu prprio o Lbero Badar de Jornalismo. Patrocinada

pela Caixa Econmica Federal e com apoio da Associao Brasileira de Imprensa, a

revista procura desenvolver temas diferenciados sobre o jornalismo de forma crtica e

analtica, atravs de matrias especiais e artigos de colunistas. dividida em vrias

sees que ampliam as escolhas dos leitores, como Design da Imprensa, Mapa da

Mdia, Bar da Imprensa, etc. Atravs do site da publicao

(www.portalimprensa.com.br) podem ser encontradas mais informaes sobre a revista,

alm de um arquivo com as edies anteriores e algumas sees como a interativa Foca

Online, para onde estudantes de comunicao podem enviar textos.

O site Comunique-se (http://www.comuniquese.com.br) foi lanado em meados

de 1996 em meio a uma Internet embrionria e hoje bastante conhecido como ponto

de encontro de jornalistas e profissionais de comunicao. uma ferramenta de apoio s

empresas, com fins lucrativos e enfoque nos bastidores da imprensa. O site oferece

mailing jornalstico, coletiva online, sala de imprensa, entre outros. O Comunique-se

promove constantemente a realizao de discusses com o pblico (seja este composto

por estudantes de comunicao ou mesmo jornalistas) muitas vezes sobre posturas dos

profissionais da rea, o que qualifica o espao como um frum de debates. Procura abrir

maior contato com seu pblico atravs da coluna Canal do Leitor, onde possvel enviar sugestes de pauta, artigos e notcias de bastidores, ou mesmo pela possibilidade

de se postar comentrios sobre os temas em destaque. Uma anlise mais crtica da mdia

pode ser encontrada nas colunas, dentro da seo Jornal da Imprena. Ali, os

articulistas propem uma discusso sobre a atuao dos media atravs de fruns, onde

associados ao site podem deixar seus comentrios e desenvolver debates sobre o tema

em questo. Uma das colunas de maior visibilidade no site a Reescrita, de Carlos

Chaparro. No Comunique-se ainda podem ser encontrados diversos textos relacionados

a questes ticas da imprensa o que muito comum, por exemplo, na seo Papo na

Redao.

No s observadores de mdia em si podem ser encontrados. Foi lanada em

novembro de 2002 a campanha Quem financia a baixaria contra a cidadania

(www.eticanatv.org.br), coordenada pelo deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), que

consiste no acompanhamento da programao televisiva, destinada a promover o

respeito aos direitos humanos e dignidade do cidado nos programas de televiso. O

ranking montado com base na manifestao popular. A partir dele, um conselho

elabora pareceres que sero entregues s emissoras de TV. A campanha, que uma

iniciativa da Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados em parceria

com entidades da sociedade civil, tambm abre espao interativo, onde podero ser

encaminhados elogios, sugestes ou crticas pelo telefone ou ainda pelo site da

campanha.

Voltado para as pesquisas acadmicas e com foco mais direcionado a

professores, pesquisadores e futuros profissionais do mercado jornalstico, encontra-se o

Observatrio Brasileiro de Mdia (http://www.observatoriodemidia.org.br), resultado

de uma parceria entre a ONG Observatrio Social e o Media Watch Global,

impulsionadas por questes do Frum Social Mundial. Realizado pelo Ncleo de

Jornalismo Comparado da ECA-USP com contedo escrito por alunos da Universidade

(coordenados por Jos Coelho Sobrinho) o site dedica seu espao a pesquisas de cunho

crtico sobre a mdia (especialmente a impressa), alm de artigos e matrias. A primeira

edio foi ao ar em setembro de 2004, porm, desde ento, apenas uma nica discusso

sobre as eleies municipais de So Paulo foi lanada, onde foram analisadas

quantitativa e qualitativamente as coberturas de cinco jornais da capital: Folha de

S.Paulo, Estado de S.Paulo, Agora So Paulo, Dirio de S.Paulo e Jornal da Tarde. Ainda em solo brasileiro, existem algumas iniciativas de media criticism

entrelaados ao meio acadmico. Apesar do SOS Imprensa

(http://www.unb.br/fac/sos) no se definir exatamente como um media watcher, e sim

como um ouvidor pblico, a equipe deste projeto realizado pela Universidade de

Braslia (UnB) tambm acompanha permanentemente noticirios e programaes.

Desde 1996, o site recebe a participao e a colaborao de estudantes, bolsistas (de

Iniciao Cientfica e de Extenso), voluntrios e at professores que estejam dispostos

a analisar o contedo abusivo da mdia. Alm do site, os SOS mantm meios interativos

com os usurios atravs do Disque-Imprensa. O projeto no visa atuar apenas pela

web, mas tambm atravs de debates, seminrios e apresentao de trabalhos em

fruns especializados.

Outro exemplo de observatrio na Universidade o Mdia Frum, um espao

de discusso de assuntos pautados pela mdia (...) destinado a estudantes, profissionais,

professores e pesquisadores da Comunicao

27

. Realizado por uma equipe de alunos

estagirios, mestres e colaboradores da Universidade Metodista de So Bernardo

(Umesb) coordenados pelo professor Prof. Dr. Jos Marques de Melo, o projeto

desenvolvido pela Ctedra UNESCO de Comunicao da UMESP; e o observatrio

regional Monitor de Mdia (http://www.univali.br/monitor) acompanha

sistematicamente o contedo dos trs maiores jornais dirios de Santa Catarina (Dirio

Catarinense, A Notcia e Jornal de Santa Catarina). O Monitor e coordenado pelo

jornalista Rogrio Christofoletti e produzido e atualizado nas dependncias do curso de

Jornalismo do Centro de Cincias Humanas e da Comunicao (Cehcom), sem fins

lucrativos.

O Instituto Gutenberg (http://www.igutenberg.org) funciona como uma

ferramenta de pesquisa e mantm registrado, de 1994 a 2004, com boletins sobre

notcias da mdia, avaliaes e casos que tiveram repercusso por desvios ticos. Dentre

os principais objetivos do site, criado pelo jornalista Srgio Buarque de Gusmo, est

Enaltecer a liberdade de imprensa como um valor democrtico da sociedade e

realizar seminrios de debates e de aperfeioamento profissional de jornalistas. No

site, podem ser encontrados diversos textos relacionados a fiscalizao tica da

imprensa.

27

Fonte: Site do Mdia Frum. In: http:// www.metodista.br/unesco/midi@frum consulta em 5 set.

2005. 1.3.2 No exterior

Antes mesmo de o Observatrio da Imprensa comear a atuar, o OBERCOM

Observatrio de Comunicao (http://www.obercom.pt), de Portugal, j procurava

traar suas metas, cujo objetivo maior se concentrava na produo e difuso de

informao, bem como na realizao de estudos e trabalhos de investigao que

contribuam para o melhor conhecimento na rea da comunicao

28

Alberto Dines, que .

foi co-fundador da verso portuguesa juntamente com Joaquim Vieira, inspirou-se em

tal modelo para criar o Observatrio.

Nos Estados Unidos, trs websites apresentam destaque na rea, inclusive so

referncias para tratar questes polticas do pas. Por terem uma estrada mais longa

dentro da discusso crtica da mdia, j conseguiram se estabelecer como cenrio

variado e democrtico, alm de receberem grande aceitao do pblico. O Media Watch

(http://www.mediawatch.com) j possui experincia de mais de 10 anos e age

principalmente contra possveis rtulos dados pela mdia. O site procura participar

atravs da distribuio de vdeos educacionais e informativos para ajudar a criar

consumidores de mdia de massa mais informados; o Accuracy In Media

(http://www.aim.org) tambm um site de grande aceitao e tradio, beirando para a

postura mais conservadora. Atravs de colunas fixas escritas tanto por colunistas

estveis quanto convidados, so feitas avaliaes da cobertura dada pelos principais

noticirios norte-americanos. O site prope oferecer ajuda aos prprios membros da

mdia, para que seja dada uma maior transparncia ao pblico.

O site Fairness and Accuracy in Reporting (http://www.fair.org), ou

simplesmente FAIR em ingls significa justo, trata-se, portanto, de um trocadilho

oferece crtica da mdia tendenciosa desde 1986 e tem grande popularidade nos EUA.

O criador, Jeff Cohen, procurou dar ao site um aspecto mais liberal, diferentemente do

Accuracy in Media. Alm disso, a FAIR publica uma revista crtica de mdia intitulada

Extra!, vencedora de prmios, e produz o programa semanal de rdio CounterSpin, o

show que traz a vocs as notcias por trs das manchetes. O site tambm oferece uma

lista de mensagens, atravs da qual so distribudas Alertas de Ao que procuram

encorajar o pblico a apresentar mdia suas preocupaes, para se tornarem ativistas

28

Artigo 3 dos estatutos do OBERCOM. da mdia ao invs de consumidores passivos de notcias. A FAIR acredita que a

reforma estrutural necessria para quebrar os conglomerados dominantes de mdia,

estabelecendo a transmisso pblica independente e promovendo fontes de informao

no-lucrativas.

A Rocky Mountain Media Watch, outra corporao no-lucrativa, foi fundada em

1994 por ativistas com habilidades em mdia e pesquisa. Prope analisar o contedo de

noticirios televisivos locais, baseado na afirmativa de que a programao saturada de

violncia e pouco dedicada em mostrar assuntos importantes sociedade. Dentre os

objetivos, est expor o excesso da mdia e ajudar cidados e a prpria mdia a entender e

visualizar o que constitui um jornalismo melhor

29

.

O Media Research Center tem como meta trazer balano e responsabilidade aos

noticirios. A entidade foi criada em 1987 por um grupo de jovens conservadores que

alegam atravs de pesquisas cientficas realizadas pelos mesmos - a existncia de uma

forte tendncia liberal nos noticirios norte-americanos, que influenciaria o pblico

sobre questes crticas e geraria impacto na cena poltica dos EUA.

H cinco anos, o Palestine Media Watch (http://www.pmwatch.org) deixa a

imparcialidade de lado e afirma existir um visvel jogo nos grandes noticirios norteamericanos, onde os assuntos palestinos seriam divulgados ou silenciados; no caso,

segundo protesta o site, somente as vozes de grupos anti-palestinos seriam ouvidas.

interessante observar que a sede se encontra em terreno norte-americano. Os maiores

focos so denunciar falhas dos noticirios sobretudo americanos e abastecer outras

mdias com materiais pr-palestinos. Regularmente, so postados relatrios de anlise

de mdia.

H exemplos de campanhas contra posturas antiticas da mdia, tambm no

exterior. The Campaign for Press and Broadcasting Freedom (http://www.cpbf.org.uk)

uma campanha local de origem inglesa, que visa incluir transmisses de servios

pblicos na nova programao da rede BBC. O objetivo realizar um tipo de reforma

na mdia, que sirva quebra da concentrao dos meios e promova a maior diversidade.

A idia que os cidados tenham o direito de reclamar asa coberturas injustas e que

jornalistas tambm tenham o direito de reportar livremente. Na Frana, outras

campanhas locais Prsentation de lObservatoire Bisontin des Mdias (OBM) e

29

A apresentao do site no poupa crticas mdia: ela cria cinismo, desencoraja a participao cvica

e promove a passividade e o afastamento amedrontado.Prsentation de lObservatoire nantais des mdias (ONM) tambm foram divulgadas

com intuitos semelhantes

30

.

Aqui vo exemplos de outros media watchers de grande sucesso e de postura

no-instucionalizada. Retornando Amrica Latina, mais precisamente na Venezuela,

temos o Observatrio Global de Medios (http://www.observatoriodemedios.org.ve). O

site est afiliado ao Observatrio Global dos Media (Media Watch Global), e a idia

nasceu em 2002, no Segundo Frum Social Mundial, em Porto Alegre. O site apresenta

documentos analticos sobre possveis manipulaes e censuras presentes na imprensa

venezuelana - principalmente no campo da poltica de carter transparente, que

delineia posies diante de assuntos. Segundo seus fundadores, um amplo confronto de

opinies pode proporcionar aos cidados elementos que permitiro a tomada de

decises conscientes em suas participaes como pblico da mdia

31

; na Europa, um dos

mais conhecidos o francs Observatoire Franais des Mdias

(http://www.observatoire-medias.info), que tambm recente: surgiu em janeiro de

2003, em Paris. Sua ideologia criar um contrapoder em detrimento de uma mdia mais

independente

32

.

1.3.3 A disseminao dos observatrios

interessante ressaltar que a discusso sobre a necessidade de fiscalizao da

mdia teve grande destaque em fruns sociais, apesar de os mesmos se queixarem em

relao ao descaso da imprensa suas divulgaes. Atravs da abordagem do tema

Comunicao no Frum Social Mundial, por exemplo, foi dado o impulso a iniciativas

do tipo na Venezuela e no Brasil. Esses fruns tambm podem se tornar arenas para a

manifestao das entidades de fiscalizao, a exemplo do Global Media Watch um

observatrio internacional do desempenho das empresas de comunicao e do

30

Fonte: Site do Observatoire Franais des Mdias. In: http://www.observatoire-medias.info/ consulta

em 5 set. 2005.

31

Os principais objetivos esto descritos no site. A organizao prope uma anlise rigorosa e

responsvel, atravs da vigilncia permanente tanto da validade da liberdade de expresso como do

cumprimento do dever de informar por parte dos Meios de Comunicao Social e de seus

comunicadores.

32

No site, so apresentados objetivos como proteger a sociedade contra os abusos e manipulaes,

alm de defender a informao como bem pblico e reivindica o direito dos cidados de serem

informados. jornalismo, com sede na Frana e ramificaes em vrios pases, entre os quais o Brasil

que participou do Frum Mundial Social do ano de 2004, onde foi abordado

criticamente um dos seus principais focos, que a concentrao cada vez mais

exacerbada dos meios de comunicao franceses nas mos de poucos empresrios.

Vimos que nos Estados Unidos os observatrios parecem ter boa aceitao, inclusive na prpria

mdia. Alm dessa constatao, percebemos que os norte-americanos j possuem um grande nmero de

organizaes voltadas para o media criticism. A Rocky Mountain Media Watch j foi assunto de 200

artigos impressos, incluindo de jornais renomados, como The New York Times, como

tambm foi o caso do Palestine Media Watch, que j teve seu trabalho mencionado diversas vezes por

grandes meios de comunicao americanos.

Podemos perceber que h vrias posturas apresentadas na tentativa de uma

fiscalizao nos media. bom lembrar que as posies crticas dos sites variam

conforme o contexto histrico particular de cada imprensa, alm das questes polticas

de cada regio ou, simplesmente, da ideologia (seja esta liberal, conservadora,

institucional ou no). Esses observatrios no devem procurar investir em crticas,

apologias ou ataques pessoais apenas de acordo com suas ideologias nem devem ser

vistos como busca exemplar de opinio pblica , mas servir de opo, de estmulo

crtico aos cidados; lembrando que, como escreveu Nelson Traquina, esses tambm

devem vigiar o Quarto Poder, atravs da sua capacidade de compreenso dos

assuntos cvicos e de avaliao crtica das notcias

33

.

Alm disso, vimos que os observatrios de mdia procuram fazer o estilo a

unio faz a fora. Alm de publicarem o endereo de outros sites de finalidades

semelhantes, h um tipo de corrente entre esses idealizadores. O Palestine Media

Watch, por exemplo, divide suas descobertas e pontos de vista com outros grupos de

observao de mdia, ombudsmans, escritores e crticos de mdia em geral. Logo que o

Observatrio Global de Mdia foi lanado, o Observatrio da Imprensa lanou um

artigo saudando e estimulando o aparecimento de novas propostas de cunho crtico na

mdia

34

.

33

TRAQUINA, Nelson. Quem vigia o Quarto Poder? In: O Estudo do Jornalismo no Sculo XX. Ed.

Unisinos (So Leopoldo), 2003, p. 198.

34

O artigo contm a seguinte nota: O OI sada o surgimento de quantos observatrios da

imprensa sejam possveis quanto mais observadores maiores as possibilidades de interveno social no

processo de mediao da informao. In:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/ipub290520022.htm consulta em 31 ago. 2005. O observatrio brasileiro mantm firmes elos de cooperao com as entidades

portuguesa e francesa (Observatoire de la presse, fundado em 1995 e brao do Centre

de formation et de perfectionnement des journalistes. A experincia brasileira segue o

modelo francs combinando duas entidades, uma formadora o LABJOR e outra

cvica). Esse ciclo de trabalho em conjunto manifesta positivamente nas entidades um

afastamento do ataque pessoal, ou seja, quanto mais amplo este entrelace das

organizaes, melhor ser para a credibilidade e o firmamento das mesmas. Assim, os

media watchers parecem funcionar bem, no sentido da complementaridade. CAPTULO II

APRESENTAO E TCNICAS DOS OBSERVATRIOS

O referencial terico deste estudo composto a partir de quatro variantes que

constituem as formaes prtica e terica dos presentes objetos de estudo.

Primeiramente, ser feito um diagnstico sobre a escolha da Internet e a importncia da

interatividade como meio de apresentao do Observatrio da Imprensa e do Canal da

Imprensa. interessante analisar, por exemplo, que a verso online do Observatrio

possui maior visibilidade do que a televisiva, exibida pela rede TVE. Ser apresentada a

atuao da Internet como palco desses observatrios, funcionando como uma forte

perspectiva na construo de um novo espao participativo sociedade considerada

passiva diante dos media.

Sero abordados a importncia da transparncia jornalstica na questo da

credibilidade e tambm o jogo de vozes envolvidas no discurso desses observatrios.

No s tm como proposta de manter uma vigilncia atenta sob os meios de

comunicao, mas tambm uma forma de contrapoder, ou melhor, um poder contra a

passividade da sociedade em assuntos relativos mdia, que lhes de direito ficar

parte.

Afinal, diante desta verdadeira guerra mercadolgica na qual o jornalismo est

inserido, possvel aliar boas atuao tcnica e noo terica desta cincia? A passagem

universitria na vida dos profissionais da rea de total importncia para que,

futuramente, a conduta tica seja mantida, assim como a transparncia individual e com

o pblico. Neste captulo, ser avaliada a participao do meio acadmico na apurao

do olhar crtico dos jornalistas.

Para fechar o ciclo da fundamentao, sero analisadas as possibilidades e a real

necessidade da construo do Quinto Poder, responsvel pelo resgate social do Quarto

Poder a imprensa, que h tempos j teria perdido sua funo fundamental de contrapoder

35

. Quem o est construindo e quais so as expectativas de alguns autores

sobre o tema? A partir destas perguntas, sero feitas perspectivas em torno da edificao

deste novo poder; se este ter base e estrutura fortes a ponto de sustentar a grande

misso de cumprir o papel social, de prestao de contas ao pblico.

2.1 A Internet e a importncia da interatividade

Nem televiso, nem colunas em revistas ou jornais. Experincias como o

Observatrio da Imprensa e o Canal da Imprensa ganharam destaque e visibilidade na

web, por apresentarem formas menos burocrticas de insero dos contedos, alm de

maneiras mais econmicas tanto na criao como na manuteno dos espaos na rede. A

Internet tornou-se, ento, a mais efetiva ferramenta para se observar sistematicamente

mdia na atualidade.

Porm, mesmo com todas essas possibilidades, alguns autores apresentam

teorias que, adaptadas ao estudo, podem ser tidas como empecilhos para uma realizao

efetiva da crtica de mdia e a importante incluso da massa neste processo. Segundo

CHRISTOFOLETTI (2003), um dos impasses para se fazer uma crtica no Brasil o

que ele chama de coronelismo eletrnico, onde a concentrao dos meios nas mos de

grupos polticos se torna uma estratgia para amplificar suas vozes junto ao eleitorado.

O autor afirma que a poltica coronelstica hoje se apresenta apoiada em mais

tecnologia, principalmente pela Internet, que atravs de suas armas de seduo

grfica, tcnica, simbolismos envolve a conscincia do pblico, e assim a realizao

de uma crtica se torna anulada. O aumento dessa concentrao vista como tendncia

por RAMONET (2003). Segundo o autor, vrias corporaes esto preocupadas em

ocupar o que ele define como o quarto meio a Internet que viria aps a cultura de

massas, publicidade / propaganda e a informao.

Dessa forma, o crescimento da Internet pode ser visto como ameaa ao sentido

da maior liberdade que o meio oferece. preciso no permitir que a infiltrao de

interesses corporativos desencadeie em conflitos que podem vir a contaminar o trabalho

jornalstico. A ausncia de lucratividade dificulta a penetrao da dominao

35

RAMONET, Igncio. O quinto poder. Le Monde Diplomatique. N 45, outubro de 2003 In:

http://geocities.yahoo.com.br/mcrost11/oi079.htm consulta em 6 set. 2005. corporativista, da mesma forma que a questo dos baixos custos na web funciona

positivamente para os objetos de estudo na medida em que so entidades sem fins

lucrativos. E por serem no-corporativas, no-partidrias e focadas em denunciar

condutas antiticas dentro do jornalismo, criticam o fato de que os conglomerados

monopolizem a informao para fins polticos e / ou econmicos. Como j foi visto,

onde h interesses particulares, inexiste qualidade de informao, logo, a construo de

um espao anti-coronelstico nesses observatrios foi buscada para que possa haver

transparncia e para que os interesses e estratgias de cunho publicista no interfiram

na realizao crtica dos media.

A possibilidade de uma inteligncia coletiva e a obteno de informaes em

tempo mnimo, alm da diversidade oferecida, torna a Internet um meio diferente dos

demais. O que RAMONET (2003) chama de quarto meio, visto como um terceiro

tipo de interatividade dos meios de comunicao

36

por LVY; o autor classifica a

relao emissor-receptor dos media com o pblico a partir de dispositivos como Um e

Todo onde s h interatividade por parte de um nico emissor, responsvel por

transmitir a mensagem a uma vasta gama de receptores; o segundo tipo, como explica o

autor, o Um e Um, onde a interatividade dada de forma igualitria entre dois

indivduos. E o terceiro onde se encaixa a Internet o dispositivo Todos e Todos,

que a emergncia de uma inteligncia coletiva, onde podem ser encontradas uma

variedade de ferramentas, de dispositivos, de tecnologias intelectuais

37

.

Os observatrios teorizam que seus espaos tambm se tornam inovadores na

medida em que permitida a participao do pblico de forma utopicamente ou no

igualitria, onde todos e todos acionam suas opinies, fazendo funcionar o ciclo

condutor dos debates.

A proposta de inserir um pblico, supostamente passivo diante da mdia,

funciona na medida em que pela Internet o leitor deixa de ser apenas um receptor, pois

alm de estar em um ambiente acessvel a uma gama diversificada de informaes de

maneira rpida, lhe oferecido lanar e disponibilizar suas prprias informaes,

tornando-se ele prprio tambm um emissor.

36

LVY, Pierre. A Emergncia do Cyberspace e as mutaes culturais. Palestra realizada no Festival Usina de

Arte e Cultura de Porto Alegre outubro de 2004 In: http://www.portoweb.com.br/PierreLevy/aemergen

consulta em 20 set. 2005.

37

Idem, Ibidem. Ao mesmo tempo em que LVY (1999) aponta a Internet como uma

inteligncia coletiva, ou como parte dos equipamentos que favorecem a emergncia

da autonomia, tanto de indivduos quanto de grupos ou ainda que estejam escuta

o que pode ser visto como possibilidade vivel de apresentar um palco de conscincia

pblica diante dos impasses da mdia questionado um aumento do abismo entre

bem-nascidos e excludos

38

, o que funcionaria de forma negativa dentro do verdadeiro

ideal de um observatrio. Afinal, a Internet , dentro do espao contemporneo, a

grande possibilidade do cidado participar ativamente, expor sua opinio e receber,

transformando esse processo em um verdadeiro frum de trocas, e isso tudo de maneira

massificada. Nessa sociedade integrada, vital o papel do indivduo para o bom

desempenho da poltica de incluso digital. LVY (1999) ressalta que

(...) no basta estar na frente de uma tela, munido de todas as

interfaces amigveis que se possa pensar, para superar uma situao

de inferioridade. preciso, antes de mais nada, estar em condies de

participar ativamente dos processos de inteligncia coletiva que

representam o principal interesse do ciberespao

39

.

A perspectiva que este meio apresenta de interatividade leva a crer que tantas

pessoas divulgaro opinies enquanto as recebero, o que abre caminhos cada vez mais

possveis de se ter a construo de verdadeiros fruns de debates sobre assuntos

diversos. Essa vertente pulsa fortemente dentro da atmosfera do media criticism. Por

esse meio interativo, possvel pensar em trazer tona o debate crtico sobre os

problemas que amofinam a sociedade no espao pblico.

Quando se trata de visibilidade de um dos objetos de estudo que compem este

trabalho, o Observatrio da Imprensa, percebe-se que h uma predominncia do

interesse pblico pela verso na web, mesmo havendo programas televisivo e

radiofnico. Conforme explica DIZARD JR. (1998), os grandes desafiadores dos

tradicionais media (televiso, jornais, rdio) so o computador e a revolucionria

Internet, que se expandem em um ritmo frentico, dispondo de mais informao do que

todos os meios de comunicao de massa oferecem combinados e que, atualmente, ela

domina os planos estratgicos da indstria da mdia de massa. O autor destaca o

diferencial entre a nova mdia e a velha mdia.

38

LVY, Pierre. Cibercultura. 1

edio, So Paulo: Editora 34, 1999, p. 12.

39

Idem, Ibidem, p. 238. O velho e o novo oferecem recursos de informao e

entretenimento para grandes pblicos, de maneira conveniente e a

preos competitivos. A diferena que a nova mdia pode expandir a

gama de recursos para novas dimenses (...). A nova mdia

crescentemente interativa, permitindo aos consumidores escolher

quais recursos de informao e entretenimento desejam, quando os

querem e em qual forma

40

.

Assim, fatores como o acesso rpido e cmodo dos contedos e a participao

ativa ainda mais se tratando do engajamento terico dos realizadores do Observatrio

na construo massificada de uma viso crtica se tornam decisivos para que o

interesse do pblico se volte para a verso online. Na Internet, so configurados um

novo mercado, novas polticas e novos comportamentos, pois a era eletrnica anuncia

novos suportes, fazendo com que mudem tambm as formas de produo e

armazenamento de informao.

Em suma, tanto para mdia quanto para mediados, esta nova realidade

proporciona uma gama diversificada de atuao, onde emissor e receptor revezam

papis, o que possibilita uma maior participao da massa no processo de construo da

realidade. Enfim, uma forma mais acessvel de se tornar voz participante do processo

opinativo e crtico da mdia voz essa do povo, a quem a concesso de direito.

2.2 A busca pela transparncia no-obtida

H uma identificao por parte das massas diante dos setores dominantes da

mdia considerados acima de qualquer suspeita, embora muitos deslizes ticos, como a

espetacularizao da misria humana, sejam captados pelo pblico e isso o incomode,

conforme afirma CHRISTOFOLETTI

41

Entre os jornalistas parece persistir a certeza .

de que tudo est sendo feito de maneira inquestionvel. Para BUCCI (2000), os

jornalistas so portadores da sndrome de auto-suficincia tica, que os transformam

em entraves medida que seus procedimentos no so debatidos com o pblico

42

Esse .

comportamento pode ser considerado uma artimanha para manter a mdia a salvo de

40

DIZARD JR., Wilson. A nova mdia: a comunicao de massa na era da informao. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editor, 1998, p. 32.

41

CHRISTOFOLETTI, Rogrio. tica Jornalstica. In: http://www.saladeprensa.org. Apresentando no 2

Seminrio de tica em Pesquisa da Univali, em Santa Catarina, Brasil, em junho de 2004 consulta em 6

set. 2005.

42

BUCCI, op. cit., p. 37. assuntos que possam pr em risco seus mtodos. A partir da, o autor explica que a

credibilidade do jornalista passa a vir no atravs da busca pela verdade, que se torna

cada vez mais precria diante da rapidez oferecida pela produo em tempo real; e sim

do seu esforo mximo ao buscar a informao.

Porm, quando os olhos do homem comum alcanam a noo de que a tica

jornalstica a prpria tcnica, pode ser gerado um grande descrdito na mdia. Diante

de tais afirmativas, a desculpa comumente dada de erros tcnicos no Jornalismo perde

seus fundamentos. Em texto publicado no ano de 1998 no Observatrio da Imprensa,

DINES recorda o caso do jornalista e escritor Joo Ubaldo Ribeiro, que teve seu artigo

limado do Jornal O Estado de SP, pois este apresentava crticas severas mas

respeitosas ao presidente da Repblica

43

. Dines ressalta que na semana seguinte, o

jornal publicou o texto, com explicaes de ordem tcnica. Dines afirma que esse tipo

de postura acarreta numa realidade no muito agradvel: fingimos que somos livres e

os veculos fingem que so imparciais.

Os observatrios, por sua vez, foram criados com o propsito de alertar

jornalistas e seus receptores para deslizes ticos dessa natureza. bom lembrar que, da

mesma forma, o indivduo pode deixar envolver-se em discursos presentes nos terrenos

dos observatrios, ao analisar, por exemplo, a rajada de crticas geralmente negativas

mdia, porm convincentes diante da percepo dos abusos ali descritos. O

autoritarismo presente na arrogncia jornalstica anteriormente citada pode se apresentar

de forma sutil na linguagem de um observatrio. ALBUQUERQUE, LADEIRA E

SILVA (2002) argumentam a existncia de sintomas de dominncia no site

Observatrio da Imprensa: na ausncia de um acordo amplo dos jornalistas em torno

de princpios ticos comuns, o Observatrio se v tentado a extrapolar o seu papel

formal (tal como expresso nos seus Objetivos) e se investir da autoridade de agente

normatizador

44

. Os autores dizem, inclusive, que a razo de supremacia e hierarquia de

discursos se d atravs do lugar da edio no caso, uma questo de ordem tcnica,

logo, ligada tica e credibilidade.

43

DINES, Alberto. O ano em que a mdia ficou pelada. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/iq201298a.htm

consulta em 6 set. 2005.

44

ALBUQUERQUE, LADEIRA E SILVA, ALBUQUERQUE, Afonso de; LADEIRA, Joo Damasceno Martins;

SILVA, Marco Antonio Roxo da. Media criticism no Brasil: o Observatrio da Imprensa. Revista Brasileira de Cincias da

Comunicao. SP: Volume XXV, n 2, julho-dezembro de 2002, p.14. Quanto questo das vozes, interessante analisar a presena ou no da

possibilidade de rompimento de uma onipotncia do discurso monolgico. A polifonia,

no sentido dado por Mikhail Bakhtin

45

, tida como caracterstica tanto linguagem

presente nas colunas do ombudsman (MENDES

46

) quanto do Observatrio

(ALBUQUERQUE, LADEIRA e SILVA

47

). Os autores relacionam o conceito atravs

do uso de discursos compostos por diversas opinies, na construo coletiva de vrios

agentes, num jogo de vozes implcitas e explicitas que procura introduzir o prprio

leitor. Para Bakhtin, a polifonia ressoa vozes no texto que no se sujeitam a um narrador

central; elas relacionam-se umas s outras em condies de igualdade. Alm disso,

nenhuma palavra seria a ltima palavra; e toda palavra seria potencial e necessariamente

carregada de dilogo, parte integrante e inseparvel de todas as outras vozes. Ou seja,

um processo de aceitao de todas as vozes como vozes equivalentes, que tenta

assegurar a credibilidade atravs do processo de decifrar o contedo da informao

desviada eticamente, deixar o receptor atento aos debates e iniciativas que dizem

respeito s estruturas dos meios. A credibilidade se d no somente pela condenao,

mas por promover debates sobre aquilo que foi criticado. Esse jogo de vozes permite

que novas discusses sejam propostas e introduzidas nos observatrios.

O maior objetivo dessas vozes montar anlises dos mtodos feitos por

debaixo dos panos pela mdia, ou seja, quando a tica deixada de lado em detrimento

de interesses e os mtodos jornalsticos no so feitos s claras para o pblico. Por que a

mdia no faz um jornalismo tico, acabando por virar alvo constante de crticas to

severas? TOGNOLLI visualiza os motivos dos desvios ticos sob ponto de vista

diferente dos crticos. Para ele, os jornalistas vivem em constante confronto entre o

saber aplicar sua arte e a presso do deadline.

Sua causa no tanto falta de energia ou talento e dedicao

verdade, como os crticos s vezes insinuam, mas um simples lapso

na aplicao das cincias da informao um corpo de conhecimentos

aos atemorizantes problemas de relatar as notcias em um tempo de

sobrecarga de informao

48

.

45

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 5a ed. So Paulo: Hucitec, 1978.

46

MENDES, Jairo Faria. O Ombudsman e o Pblico. Dissertao de Mestrado em Comunicao. Rio de Janeiro,

Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, 1998. In: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mo051098.htm

consulta em 31 ago. 2005.

47

ALBUQUERQUE, LADEIRA E SILVA, op. cit., p.6.

48

TOGNOLLI, Cludio. O jornalismo de que precisamos. In: http://www.tognolli.com/html/mid_o.htm

consulta em 15 set. 2005. Seja qual for a origem do quadro gerador dessa falta de credibilidade diante dos

graves impasses da mdia, o fator comum que a transformao da informao em

mercadoria e do jornalismo em mercado ocasionou em manifestaes de peso, como as

teorias da Escola de Frankfurt e seus seguidores. HABERMAS (1984), um dos ltimos

tericos da Escola, difere jornalismo crtico se encontraria no plano do jornalismo

literrio de opinio, do sculo XIX de publicidade jornalstica

49

subordinado

lgica mercadolgica e capitalista. Indo de encontro s teorias dos media critics, o autor

acredita que este ltimo nicho do jornalismo deve ser exterminado em detrimento do

ttulo de dono da histria ou mesmo da freqncia do cidado.

nesse espao de condutas antiticas que construdo o media criticism.

GUERRA (2005) definiu dois tipos de crticas feitas aos trabalhos jornalsticos: a de

conduta e a do princpio

50

No primeiro, classificado como mais comum, a crtica .

direcionada a aes onde ocorreram falta de tica (ou tcnica) e os deslizes so

reafirmados pelo crtico. Na crtica do princpio reina a validade dos parmetros, que

no so questionados at seu desdobramento. O jornalista acredita que embora haja

consistncia nas crticas, os deslizes dificilmente sero corrigidos justamente por

envolver questes discutidas acima, como o mercado e aspecto individual dos

jornalistas.

As esperanas, entretanto, no foram perdidas. Os observatrios aplaudem

atitudes ticas (alguns textos podem ser encontrados principalmente na seo Feitos e

Desfeitas, do Observatrio da Imprensa) e continuam a clamar para que esse se torne

um ato comum entre os jornalistas. So muitas as teses com o intuito de impedir que o

jornalismo e a funo social colidam com os conflitos de interesses, dentre elas, o

mtodo Igreja-Estado que consiste em (...) repartir a empresa em duas metades:

uma editorial e outra comercial

51

, cada parte exercendo sua autonomia. Assim, o lucro

da empresa jornalstica no viria do dinheiro de anunciantes, e sim da credibilidade

construda. Nesse esquema, bastante utpico para os dias de hoje, o jornalista viveria em

49

HABERMAS, Jrgen. Do jornalismo literrio aos meios de comunicao de massa apud Marcondes

Filho, Imprensa e capitalismo. So Paulo, Kairs, 1984, p. 13.

50

GUERRA, Josenildo Luiz. Breves notas sobre a crtica de mdia no Brasil: critrios de anlise e a

proposta de uma rede universitria de observatrios de imprensa texto apresentado no XXVIII

Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao da Intercom. Rio de Janeiro, setembro de 2005.

51

BUCCI, op. cit., p. 60. um ambiente mais confortvel para exercer a to necessria transparncia, j que a

metfora Igreja-Estado acarreta na quebra de mais um conflito existente.

As crticas internas as colunas de ombudsman tambm exercem papel

importante no fator da transparncia com o leitor e na credibilidade do prprio jornal.

Assim como de objetivo dos media critics, dado um estmulo discusso de temas

relacionados aos meios de comunicao. BUCCI (2000) aponta maneiras de enfrentar

de forma tica o que ele denomina como imposturas de neutralidade

52

Os jornalistas .

viveriam pressionados sob trs conflitos, na nsia de no apenas ser um profissional

isento, mas tambm parecer. No primeiro caso, o jornalista, involuntariamente,

acreditaria estar sendo imparcial, porm suas vises de mundo estariam permeando a

matria o que o autor chama de ocultao involuntria; o segundo e mais criticado

conflito denominado de ocultao deliberada. Consiste na insero proposital das

convices no trabalho jornalstico, ou seja, o jornalista passa do estgio de uma viso

de mundo (inconsciente) para uma opinio (consciente) mascarada, o que pode

contaminar o texto; a terceira e ltima a servido voluntria, na qual o jornalista deixa

suas convices de lado e incorpora as da empresa onde trabalha, por medo de ser

demitido.

BUCCI (2000) relata a importncia da transparncia, no s entre veculo e

pblico, mas consigo mesmo e com os colegas de trabalho. A inserido o papel do

ombudsman: seria preciso formar a veia crtica do cidado para se ter um jornalismo

bem feito; trazida ento a recordao do pensamento de ALBUQUERQUE,

LADEIRA e SILVA (2002, p. 1) sobre a diferena de compromissos dos jornalistas

entre imprensa brasileira e americana: a responsabilidade auto-atribuda de formar os

cidados sobre seus papis democrticos, o que seria algo muito alm de simplesmente

informar.

Nesse contexto entra tambm a importncia da prestao de contas, ou

Accountability: por ser uma questo de credibilidade. medida que os meios de

comunicao tornarem-se mais e mais transparentes com seus mtodos

53

atravs de

um ombudsman, ou pelo jornalista sendo transparente consigo mesmo, com os colegas

de trabalho e assim deixar de ser uma barreira para a insero da sociedade no debate

tico, mais cuidadosos com o seu trabalho e as conseqncias advindas dele, mais

52

BUCCI, op. cit., p. 97.

53

CHRISTOFOLETTI, op. cit., 2004. estaro trabalhando para a qualidade de seu jornalismo, mais estaro investindo na

prpria credibilidade

54

. O que no acarreta na perda de sentido do trabalho de um

media critic, afinal tendo como fato o papel participativo da mdia na vida dos cidados,

necessrio o constante uso de ferramentas que acarretem numa melhora dos media,

que funcione sempre com a funo de resgatar o direito informao que no pode ser

perdido.

At porque, bom lembrar, o jornalista exercendo o papel de ombudsman ainda

controla o feedback, no sentido de que este presta contas diretamente ao leitor. No caso

dos media critics, a prpria sociedade que interfere e de forma massificada.

2.3 A Universidade na construo de um olhar crtico

Tendo como estudo de caso sites de vozes diferentes calouros e

veteranos no assunto media criticism, se assim podemos classificar faz-se

necessrio um estudo da base terica sobre a construo do olhar crtico no meio

acadmico; de que forma dada essa edificao nesse espao, onde as teorias e tcnicas

da cincia jornalstica gravitam.

Uma estatstica comprova a pouca disseminao do trabalho que envolve o

media criticism: dentre os 443 cursos de Jornalismo existentes no Brasil at o ano de

2003, apenas quatro trabalham com a crtica de mdia, envolvendo alunos e

professores

55

.

CHRISTOFOLETTI (2004) fundamenta seu estudo a partir da hiptese de que

o interesse pelo assunto tica no Jornalismo aumentou demasiadamente, porm que o

assunto crtica de mdia ponderado por ele como ponto importante na questo do

auxlio acadmico ainda um campo pouco explorado tanto por alunos quanto por

professores.

Para possibilitar uma maior compreenso da carga universitria participativa

no processo crtico da mdia, ser aproveitada a questo levantada pelo pesquisador

54

CHRISTOFOLETTI, op. cit., 2004

55

Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP). In:

http://www.inep.gov.br consulta em 30 out. 2005. peruano Juan Gargurevich no Congresso da Intercom de 2005

56

: os futuros jornalistas

estariam sendo ensinados de maneira apropriada conforme a nova realidade?

Dentro dessa nova realidade, explicada pelo pesquisador como resultado da

mudana dos paradigmas do jornalismo inspirados no modelo americano do ps-guerra,

trs se encaixam dentro do presente estudo: a informao obtida a custo mnimo e

tempo real; os espaos virtuais ultrapassando limites e a popularizao do cidado

jornalista atravs da interatividade oferecida pela Internet. A liberdade jornalstica

protegida no Bill of Rights

57

, que ajudou na construo da denominao da imprensa

como o Quarto Poder estaria sendo superada pelo direito informao, que serve de

pano de fundo para uma discusso tica.

O paradigma do ps-guerra ento explicado pelo pesquisador, que

fundamentou tambm a concepo de jornalismo na Amrica Latina, apresenta a

informao como mercadoria, o que significa admitir que quanto melhores as notcias,

maiores sero as vendas

58

. Lembrando que, por conta dessa realidade, constantemente

a imprensa cai em contradio com sua funo social, ou acarreta na anulao de uma

Accountability, que consiste em dar satisfaes ao pblico

59

. Logo, trazendo ao foco

desse estudo, prev um convite geral crtica (Idem). O autor explica tambm que

Accountability um problema de cunho moral, que no caso do jornalismo envolve

questes ticas

60

. A prestao de contas de extrema importncia no jornalismo, como

afirma BUCCI (2000), ao relatar que os piores problemas do jornalismo se encontram

dentro das empresas por conta do conflito de interesses, que ocorrem justamente por

conta da mercadoria informao. A sada, para o autor, a incluso da sociedade no

debate tico, onde o cidado tem legitimidade para exigir que esta explorao

comercial no o desrespeite

61

. Ento, se o mercado se recusa a refletir sobre as

condies do jornalismo atual, a academia tem a obrigao de assumir essa funo,

56

CHAPARRO, Carlos. Que tipo de jornalista devemos formar? In: http://www.comuniquese.com.br/conteudo/newsshow.asp?op2=&op3=&editoria=343&idnot=23916 consulta em 20 set. 2005.

57

Consta na Constituio dos Estados Unidos de 1791: O Congresso no far nenhuma lei (...) que

restrinja a liberdade de expresso ou de imprensa (...) (Emenda 1, Bill of Rights). In:

http://usinfo.state.gov/journals/itgic/0401/ijgp/ig0402.htm consulta em 18 set. 2005.

58

CHAPARRO, op. cit.

59

CHRISTOFOLETTI, op. cit., 2004.

60

Idem, Ibidem.

61

BUCCI, op. cit., p. 35. oferecendo suas contribuies para uma melhora no jornalismo

62

. Quando no se

investe no aprimoramento do exerccio crtico de ao positiva para uma melhora dos

procedimentos jornalsticos, pode ser acarretada uma m formao dos jornalistas, agora

no sentido de que estes so os primeiros a criar barreiras para a realizao do debate

tico, na medida em que no discutem seus mtodos com o pblico. O meio acadmico

pode contribuir para o desenvolvimento do exerccio de uma prestao de contas ao

pblico, conforme afirma CHRISTOFOLETTI:

A universidade pode ajudar muito no processo de

disseminao de uma cultura que contenha preocupaes de

Accountability, fazendo pesquisas, realizando estudos, desenvolvendo

projetos inclusive em parceria com o mercado para o

aperfeioamento das prticas e dos processos jornalsticos

63

.

Retornando ao desenvolvimento da discusso tica, trazido baila o eterno

debate sobre teoria versus prtica no jornalismo. Estariam os alunos dominando o fazer

e se aprofundando muito pouco no pensar? Enquanto tem-se a sensao de que os

profissionais com domnio tcnico bastam s empresas, segmentos crticos do

jornalismo reivindicam uma dedicao formao humanstica dos futuros

profissionais.

Atravs desse pensamento, importante levar em conta que a experincia

adquirida no ensino universitrio de Dines, por exemplo, se diferencia da carga de um

aluno articulista no Canal da Imprensa. No s pelo contexto poltico do momento, mas

principalmente nos aspectos social e tecnolgico. um estmulo dado ao estudante para

que este se torne um profissional que se torne capaz de captar as complexidades das

questes as quais ele ser responsvel por relatar sociedade. A preocupao : de que

servem as habilidades tcnicas, se as mentes no esto preparadas para entender,

interpretar e filtrar as subjetividades, as vises de mundo? Na viso de Kellner (2001), a

forma mais adequada de investigar a cultura produzida pela mdia (e seus reflexos na

sociedade) d-se atravs de uma contextualizao scio-histrica dos fenmenos

64

.

Neste sentido, percebe-se que necessrio estar ciente de como e onde se chegou ou

seja, da realidade e das perspectivas que esta carrega, em um cenrio onde meios de

62

CHRISTOFOLETTI, Rogrio. Monitores de Mdia: como o jornalismo catarinense percebe seus

deslizes ticos. Florianpolis e Itaja: Ed. UFSC-Univali, 2003, p. 138-9.

63

CHRISTOFOLETTI, op. cit, 2004.

64

KELLNER, Douglas. A Cultura da Mdia. So Paulo: EDUSC, 2001, p. 76 apud CRUZ, Fbio Souza

da. Consumidores de Hoje, Cidados de Outrora: A Pedagogia Crtica da Mdia como Proposta de

Fortalecimento da Cultura In: http://www.intexto.ufrgs.br/n11/a-n11a5.html consulta em 20 set. 2005. comunicao, pblico, jornalistas, estudantes, media criticism, enfim, tudo esteja aberto

a questionamentos e possibilidades.

A agregao da palavra tcnica fuso entre teoria e prtica, dando fim

falsa dicotomia, transformaria os jornalistas em profissionais capazes de carregar uma

espcie de lead individual, cujo aperfeioamento seria dado no meio acadmico. Ou

seja, o profissional sabe como fazer, quando fazer e at onde ir para realizar seu

trabalho. Mas tambm saberiam por que, para qu e, principalmente, para quem est

sendo feito. importante que o aprofundamento nas questes tcnicas introduzidas no

meio acadmico no deixe o aprimoramento da sensibilidade crtica sob os media em

segundo plano. Conforme afirmou Sevcenko (2001)

(...) uma coisa que a tcnica no pode fazer abolir a crtica,

pela simples razo de que precisa dela para descortinar novos

horizontes (...) A crtica, portanto, a contrapartida cultural diante da

tcnica, o modo de a sociedade dialogar com as inovaes,

ponderando sobre seus impactos, avaliando seus efeitos e

perscrutando seus desdobramentos

65

.

Sendo assim, iniciativas como o Canal da Imprensa ou Monitor de Mdia

podem funcionar como estmulo no exerccio humanstico da profisso, deixando de

lado a disputa cega que induz a uma limitada formao tcnica e esquecendo-se de que

esta ligada a tica no jornalismo, ao transformar estudantes de comunicao / futuros

jornalistas em efetivos articulistas crticos da mdia. Iniciativas como estas podem no

ser as nicas sadas para se cobrar uma mdia mais justa em seus mtodos.

preciso mesclar mentes atentas e de base slida no contexto scio-cultural

com uma boa formao tcnica. Aliar o conhecimento de jornalistas professores

percepo atual de novos formandos na rea a se insere a importncia da existncia

tanto de observatrios que do foco maior aos alunos (Canal), quanto queles que

carregam experincia, como o cas