De novo Riviera

1
SÃO PAULO, SÁBADO, DE SETEMBRO DE www.metrojornal.com.br POR AÍ ◊◊ I naugurado originalmen- te em 1949, o Riviera Bar, que volta à ativa neste fim de semana, teve co- mo grande primeiro feito deslocar o burburinho notí- vago do centro à região da Paulista. Foi anos mais tar- de, porém, entre 1968 e o fim da década de 70, que a casa, instalada no térreo do icônico Edifício Anchieta, na esquina da rua da Conso- lação, viveu seus anos dou- rados. Sob a tensão do re- gime militar, figuras como Chico Buarque, Angeli, Arri- go Barnabé, Claudio Tozzi e Paulo Caruso, entre muitas outras personalidades, tro- cavam contatos, discutiam um novo Brasil possível, pa- queravam, davam vexame e tomavam seus porres. Tão ilustres quanto os fre- quentadores, eram os gar- çons, Juvenal Martins e José Henrique da Silva. Juvenal, em seu alinhado smoking branco, chegou, tal qual as moças que inspiraram a per- sonagem Rê Bordosa, a ser re- tratado como nas tiras de An- geli. Seu colega de profissão, o “Zé”, tinha fama de bom de lábia, e vivia ganhando bito- cas das clientes. “O espírito do tempo passou e o bar não acompanhou”, diz o empre- sário da noite Facundo Guer- ra, que, em sociedade com o chef Alex Atala, reabre o en- dereço, fechado desde 2006, quando Renato, filho do fun- dador, Ignácio Maniscalco, não conseguiu arcar com as contas atrasadas e baixou as portas do Riviera. Repaginado O ambiente e proposta do novo bar invocam latente refinamento estético; mas mantêm, de certa forma, a essência boêmia-intelectual e o menu a preços acessí- veis, como nos idos de ou- trora. Se a festa do antigo espaço funcionava no tér- reo, agora a escada serpen- teia ao mezanino, onde shows noturnos de jazz e MPB serão atração. E o que antes era um estreito balcão de fórmica, virou uma ex- tensa bancada coletiva: du- rante o almoço, a casa ser- virá bufê executivo. METRO Angeli cartunista “No Riviera conheci todo ti- po de gente, quebrei o bar, briguei, roubei vinho, criei personagens inspirados em fre- quentadores, casei e me sepa- rei. Foi uma escola.” Paulo Caruso cartunista “Se não tivesse ninguém conheci- do, você ficava conversando com os garçons, ou o seu Zé ou o Juve- nal. A gente tem esse estereótipo do garçom ideal, que adivinha o que você quer. Eles eram isso.” Juvenal Martins ex-garçom “Bebiam uísque, caipirinha... A Rê Bor- dosa gostava de vodca e amendoim. Quem frequentava? Angeli, Claudio Tozzi, Chico Buarque, Chico Caruso, Paulo Caruso... Conheço todos, mas não posso falar muito, fica mal, né?” Claudio Tozzi artista plástico “Era um ponto de encontro, de troca de informações, de fofocas políticas até coisas mais sérias, além de discus- sões de arte. Parecia que você estava em Paris. Era uma coisa muito viva, de que hoje a gente sente muito falta.” Facundo Guerra, um dos sócios do novo Riviera Bar, conversou com o Metro enquanto acompanhava os preparativos finais para a inauguração da casa. O que motivou a sua par- ceria com o Alex Atala nessa empreitada? Sempre se falou por aí que al- guém precisava revitalizar o Riviera. Uma amiga em co- mum já havia me colocado em contato com o Atala, e ha- via essa ideia de a gente fazer algo juntos, mas não sabía- mos o quê. A casa estava pos- ta à venda, o assunto veio à tona, então ele me procurou, fomos atrás, e conseguimos um contrato de aluguel. Você pensa no Riviera como o começo de uma revitali- zação daquele pedaço da Consolação com a Paulista? Seria audacioso da minha parte afirmar isso. Mas, co- mo paulistano, acho que seria ótimo. Digamos, um efeito colateral positivo. O que foi mantido e o que foi criado no novo cardápio? Os lanches e pratos, como o clássico sanduíche Royal, de rosbife, foram preserva- dos, mas com uma releitura e ingredientes mais sofisti- cados. Os drinks e coque- téis são versões de recei- tas como o Bombeirinho, a Maria Mole e a Meia de Se- da, mas temos também Dry Martini, Manhattan, e in- venções nossas como o Ri- vierinha, que leva vodca, li- cor de açaí, suco de limão e espuma de lichia. METRO PINGUE PONGUE DE NOVO RIVIERA Lendário bar, fechado desde 2006, foi repaginado e reabre a porta neste fim de semana Riviera Bar. Av. Paulista, 2584, Consolação, tel.: 3231-3705. Seg. a qua., das 12h à 0h; qui., até 1h; sex. e sáb., até 2h. Buffet: diariamente, das 12h às 15h. SAIBA MAIS Bar ficou mais amplo ANDRÉ PORTO/ METRO

description

 

Transcript of De novo Riviera

Page 1: De novo Riviera

SÃO PAULO, SÁBADO, !" DE SETEMBRO DE !#$%www.metrojornal.com.br !POR AÍ" #$%#&&

Inaugurado originalmen-te em 1949, o Riviera Bar, que volta à ativa neste fim de semana, teve co-mo grande primeiro feito

deslocar o burburinho notí-vago do centro à região da Paulista. Foi anos mais tar-de, porém, entre 1968 e o fim da década de 70, que a casa, instalada no térreo do icônico Edifício Anchieta, na esquina da rua da Conso-lação, viveu seus anos dou-rados. Sob a tensão do re-gime militar, figuras como Chico Buarque, Angeli, Arri-go Barnabé, Claudio Tozzi e Paulo Caruso, entre muitas outras personalidades, tro-cavam contatos, discutiam um novo Brasil possível, pa-queravam, davam vexame e tomavam seus porres.

Tão ilustres quanto os fre-quentadores, eram os gar-çons, Juvenal Martins e José Henrique da Silva. Juvenal, em seu alinhado smoking branco, chegou, tal qual as moças que inspiraram a per-sonagem Rê Bordosa, a ser re-tratado como nas tiras de An-geli. Seu colega de profissão,

o “Zé”, tinha fama de bom de lábia, e vivia ganhando bito-cas das clientes. “O espírito do tempo passou e o bar não acompanhou”, diz o empre-sário da noite Facundo Guer-ra, que, em sociedade com o chef Alex Atala, reabre o en-dereço, fechado desde 2006, quando Renato, filho do fun-dador, Ignácio Maniscalco, não conseguiu arcar com as contas atrasadas e baixou as portas do Riviera.

RepaginadoO ambiente e proposta do novo bar invocam latente refinamento estético; mas mantêm, de certa forma, a essência boêmia-intelectual e o menu a preços acessí-veis, como nos idos de ou-trora. Se a festa do antigo espaço funcionava no tér-reo, agora a escada serpen-teia ao mezanino, onde shows noturnos de jazz e MPB serão atração. E o que antes era um estreito balcão de fórmica, virou uma ex-tensa bancada coletiva: du-rante o almoço, a casa ser-virá bufê executivo. METRO

Angelicartunista“No Riviera conheci todo ti-po de gente, quebrei o bar, briguei, roubei vinho, criei personagens inspirados em fre-quentadores, casei e me sepa-rei. Foi uma escola.”

Paulo Carusocartunista“Se não tivesse ninguém conheci-do, você ficava conversando com os garçons, ou o seu Zé ou o Juve-nal. A gente tem esse estereótipo do garçom ideal, que adivinha o que você quer. Eles eram isso.”

Juvenal Martinsex-garçom“Bebiam uísque, caipirinha... A Rê Bor-dosa gostava de vodca e amendoim. Quem frequentava? Angeli, Claudio Tozzi, Chico Buarque, Chico Caruso, Paulo Caruso... Conheço todos, mas não posso falar muito, fica mal, né?”

Claudio Tozziartista plástico“Era um ponto de encontro, de troca de informações, de fofocas políticas até coisas mais sérias, além de discus-sões de arte. Parecia que você estava em Paris. Era uma coisa muito viva, de que hoje a gente sente muito falta.”

Facundo Guerra, um dos sócios do novo Riviera Bar, conversou com o Metro enquanto acompanhava os preparativos finais para a inauguração da casa.

O que motivou a sua par-ceria com o Alex Atala nessa empreitada?Sempre se falou por aí que al-guém precisava revitalizar o Riviera. Uma amiga em co-mum já havia me colocado em contato com o Atala, e ha-via essa ideia de a gente fazer algo juntos, mas não sabía-mos o quê. A casa estava pos-ta à venda, o assunto veio à tona, então ele me procurou, fomos atrás, e conseguimos um contrato de aluguel.

Você pensa no Riviera como o começo de uma revitali-zação daquele pedaço da Consolação com a Paulista?Seria audacioso da minha parte afirmar isso. Mas, co-mo paulistano, acho que seria ótimo. Digamos, um efeito colateral positivo.

O que foi mantido e o que foi criado no novo cardápio?Os lanches e pratos, como o clássico sanduíche Royal, de rosbife, foram preserva-dos, mas com uma releitura e ingredientes mais sofisti-cados. Os drinks e coque-téis são versões de recei-tas como o Bombeirinho, a Maria Mole e a Meia de Se-da, mas temos também Dry Martini, Manhattan, e in-venções nossas como o Ri-vierinha, que leva vodca, li-cor de açaí, suco de limão e espuma de lichia. METRO

PINGUEPONGUE DE NOVO

RIVIERA

Lendário bar, fechado desde

2006, foi repaginado e reabre

a porta neste fim de semana

Riviera Bar. Av. Paulista, 2584, Consolação, tel.: 3231-3705. Seg. a qua., das 12h à 0h; qui., até 1h; sex. e sáb., até 2h. Buffet: diariamente, das 12h às 15h.

SAIBA MAIS

Bar ficoumais amplo

ANDRÉ PORTO/ METRO

BRAPLUS_2013-09-28_3.indd 3 9/27/13 7:42 PM