Davi e o Regresso Da Arca

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DAVI E O REGRESSO DA ARCA (2 Samuel 6 e 1 Crônicas 13) VAMOS agora seguir Davi no seu regresso do exílio ao governo. Saul tinha passado da história, havendo encon- trado a morte às mãos de um cidadão do próprio país que ele havia poupado em desobediência à Palavra de Deus. Que aviso rio para todos s! Jônatas também tinha caído com seu pai na montanha de Gilboa, e David fizera a sua su- blime lamentação dos dois. David conduziu-se sempr e com r espeito a Saul com o sentimento pleno de que ele era o ungido do Senhor; nem tão-pouco manifestou coisa alguma que se pareça com o es- pírito de exultação com a sua morte; pelo contrário, chorou por ele, e convidou outros a fazerem o mesmo. Nem vemos que houvesse pr essa alguma em ele subir ao trono deixado vago para si; ele esperou em Deus. «E sucedeu depois disto que David consultou ao Senhor, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Judá? E disse- lhe o Senhor: Sobe. E disse David: Para onde subir ei? E disse: Para Hebron» (11 Sam. 2: 1 ). Isto era verdadeira dependência. A natureza teria que· rido precipitar-se no lugar de honra; mas David esperou no Senhor, e só se mexeu quando guiado por Ele. Teria sido muit o bom para ele se tivesse continuado a agir assim em dependência infantil. Mas ah! nós vemos mais da natureza

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Exemplos da vida de fé na vida de Davi e época de Davi - C. H. Mackintosh

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    (2 Samuel 6 e 1 Crnicas 13)

    VAMOS agora seguir Davi no seu regresso do exlio ao governo. Saul tinha passado da histria, havendo encon- trado a morte s mos de um cidado do prprio pas que ele havia poupado em desobedincia Palavra de Deus. Que aviso srio para todos ns! Jnatas tambm tinha cado com seu pai na montanha de Gilboa, e David fizera a sua su- blime lamentao dos dois.

    David conduziu-se sempre com respeito a Saul com o sentimento pleno de que ele era o ungido do Senhor; nem to-pouco manifestou coisa alguma que se parea com o es- prito de exultao com a sua morte; pelo contrrio, chorou por ele, e convidou outros a fazerem o mesmo. Nem vemos que houvesse pressa alguma em ele subir ao trono deixado vago para si; ele esperou em Deus. E sucedeu depois disto que David consultou ao Senhor, dizendo: Subirei a alguma das cidades de Jud? E disse- lhe o Senhor: Sobe. E disse David: Para onde subirei? E disse: Para Hebron (11 Sam. 2: 1 ). Isto era verdadeira dependncia. A natureza teria que rido precipitar-se no lugar de honra; mas David esperou no Senhor, e s se mexeu quando guiado por Ele. Teria sido muito bom para ele se tivesse continuado a agir assim em dependncia infantil. Mas ah! ns vemos mais da natureza

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    de David durante a sua exaltao do que durante o tempo da sua rejeio. O tempo de paz e prosperidade tende a desenvolver e conduzir maturidade muitas sementes do mal que podiam ser danificadas ou estragadas pelo sopro da adversidade. David descobriu que o trono era mais espinhoso e perigoso do que as montanhas.

    O primeiro erro de David, depois da sua subida ao trono, foi a respeito da arca do Senhor. Desejava traz-la para Jerusalm e coloc-la no seu lugar. Isto era bom, e muito agradvel; a nica dificuldade estava em saber como faz-la. Bom; havia dois modos de o conseguir: um era determinado pela Palavra de Deus; enquanto que o outro havia sido ordenado pelos sacerdotes filisteus e os adivinhos.

    A Palavra de Deus era muitssimo clara quanto a este importante assunto: indicava um meio muito simples e defi- nido de transportar a arca do Senhor dos exrcitos, a saber, aos ombros de homens consagrados, os quais haviam sido escolhidos e separados para este fim (veja-se nmeros 3 e 8). Porm, os filisteus nada sabiam a este respeito, e, por- tanto, empregaram um meio de sua prpria inveno, o qual, como podia esperar-se, era inteiramente oposto ao meio de Deus.

    Onde quer que for que os homens se disponham a legis- lar nas coisas de Deus certo cometerem erros terrveis, porque o homem natural no compreende as coisas do Es- prito de Deus, porque lhe parecem loucura; e no pode compreend-las, porque elas se discernem espiritualmente (I Cor. 2 :14). Por isso, se bem que o plano adaptado pelos filisteus fosse muito decente e bem organizado, como diriam os homens, contudo no era o plano de Deus. Os sacerdotes da casa de Dagon estavam mal habilitados para regular a ordem do servio divino. Pensaram que um carro de bois deveria servir to bem como qualquer outra coisa; podia muito bem ter servido para o servio de Dagon, e eles no conheciam nenhuma diferena. Houve uma ocasio em que

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    haviam tremido vista da arca, mas, por causa da infideli- dade de Israel, ela havia perdido a sua solenidade aos seus olhos, e embora tivesse sido solenemente vindicada perante eles por meio da destruio do seu deus, eles no compreen- deram a sua profunda significao, e no conheciam o seu maravilhoso contedo; nada disto estava ao seu alcance, e portanto nada melhor podiam inventar do que uma mera ordenao morta para a transportar ao seu lugar.

    Porm, os pensamentos de Deus no eram como os deles, e David deveria conhecer esses pensamentos, e ter atuado de acordo com eles: no devia ter atuado segundo os pen- samentos e as tradies dos homens no servio de Deus; deveria ter tirado as suas instrues de origem mais elevada, a saber: das pginas instrutivas do livro da Lei de Deus. uma coisa terrvel quando os filhos do reino se conduzem segundo o modelo do homem do mundo e seguem nas suas pisadas. Nunca podero faz-lo sem grave prejuzo para as suas prprias almas e um grande sacrifcio da verdade e testemunho. Os filisteus podiam construir um carro para conduzir a arca, e nada ocorrer para lhes mostrar o erro de assim procederem, mas Deus no consentiria que David o fizesse. E assim agora, os homens 'podem publicar os seus canones, estabelecer as suas leis, e decretar as suas ceri- mnias em religio; mas devem os filhos de Deus baixar da sua alta posio e privilgios, como aqueles que so guiados pelo Esprito Santo e a bendita Palavra de Deus, e permitirem que sejam guiados e influenciados por tais coisas? Podem faz-lo, mas tero incontestavelmente de so- frer detrimento.

    David foi obrigado a compreender o seu erro por amarga experincia, porque Chegando eira de Nacon, estendeu Uza a mo arca de Deus, e teve mo nela; porque os bois a deixavam pender. A inconsistncia louca e a impiedade miservel de todo o acontecimento foram mostradas plena- mente neste gesto. Os levitas, ministros de Deus, haviam transportado a arca desde Horeb at o Jordo, e contudo no

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    temos notcia de nenhum tropeo. No; esse era o meio de Deus; porm, o carro e os bois representavam o meio do homem. Nisto estava a diferena. Quem podia esperar que um israelita pusesse a arca do Deus de Israel sobre um carro de madeira para ser puxado por bois? E contudo assim sucedeu. Tal sempre o efeito triste de algum se afastar, ainda que seja no mnimo, da Palavra escrita de Deus com o fim de seguir as tradies humanas. Os bois a deixavam pender. Que mais podia esperar-se? O meio era incontestavelmente fraco e pobre, segundo o juzo do Esprito Santo, e Deus permitia apenas que se manifestasse esta loucura. A arca nunca deveria ter sido posta numa tal situao desonrosa; os bois nunca deveriam ter sino os con- dutores de um tal fardo.

    Ento a ira do Senhor se acendeu contra Uza, e Deus o feriu ali por esta imprudncia; e morreu ali junto arca de Deus. Na verdade, o juzo deve comear pela casa de Deus. O Senhor julgou David por haver feito o que os filisteus fizeram sem impedimento. Quanto mais perto um homem estiver de Deus, tanto mais rpida e solenemente ser julgado por qualquer mal. Isto no d nimo para o mundanismo, pois, como diz o apstolo, se o julgamento ... primeiro comea por ns, qual ser o fim daqueles que so desobedientes ao evangelho de Deus? E, se o justo apenas se salva, onde aparecer o mpio e o pecador? (I Ped. 4.:17, 18). Se Deus julga o Seu povo, que ser do mun- dano? uma interrogao aterradora, Os filisteus, embora tivessem escapado ao juzo de Deus no caso do carro de madeira, tiveram de enfrent-Io de outro modo. Deus trata com todos segundo os Seus sagrados princpios, e a quebra em Uza foi destinada a restaurar David a uma compreenso perfeita da mente de Deus quanto arca que simbolizava a Sua presena. Todavia, parece que isto no produziu efeito imediato.

    E David se contristou, porque o Senhor abrira rotura em Uza; e chamou aquele lugar Peres-uza, at ao dia de

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    hoje. E temeu David ao Senhor naquele dia; e disse: Como vir a mim a arca do Senhor? Existe profunda instruo nisto. David procurava fazer uma coisa boa por um meio errneo, e quando Deus exerceu juzo sobre o meio de actua- o ele desesperou de conseguir o que queria. um erro muito vulgar. Encetamos uma carreira de ao de um modo imprprio ou num mau esprito, que Deus no pode apro- var; e ento o nosso esprito, ou o nosso modo de agir, confundido com o servio no qual estamos ocupados. Ora, ns devemos fazer sempre distino entre aquilo que os ho- mens fazem e o modo como o fazem. Era natural que David trouxesse a arca; mas era mau p-la num carro. O Senhor aprovou o primeiro ato, mas teve que desaprovar e julgar o segundo. Deus nunca consentir que os Seus filhos persis- tam em fazer o Seu servio segundo princpios errados. Po- dem faz-lo por algum tempo com aparente sucesso, assim como no caso de David, e toda a casa de Israel, alegra- vam-se perante o Senhor, com toda a sorte de instrumentos de pau de faia: como com harpas, c com saltrios, e com tambores, e com pandeiros, e com smbalos (versculo 5). Tudo isto era imponente. Teria sido um caso difcil algum levantar objees atitude de David neste caso. O rei e todos os seus grandes estavam ocupados nisso; e o som da msica teria abafado qualquer objeo.

    Mas ah! como toda esta exultao acabou depressa! Os bois deixavam pender a arca; Uza estendeu a mo arca, julgando levianamente que Deus deixasse cair a arca da Sua presena. Aquele que havia mantido a dignidade da arca, at mesmo na solido da casa de Dagon, com certeza a pre- servaria da desonra entre a confuso e os erros do Seu povo. Era uma coisa solene chegar-se algum arca de Deus- um acto solene aproximar-se daquilo que era o smbolo es. pecial da presena Divina no meio da Sua congregao. uma coisa solene ser-se portador do nome de Jesus, e de- positrio da verdade ligada com a Sua bendita Pessoa. De- veramos sentir todos mais intensamente esta solenidade do

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    que o fazemos. Estamos sempre prontos a considerar uma coisa simples pr as nossas mos na arca; mas no assim, e todos quantos o experimentarem tero que, semelhana de Uza, sofrer por causa do seu erro.

    Porm, pode perguntar-se, a Igreja tem ao seu cuidado alguma coisa que se parea com a arca? Sim; a Pessoa do Filho de Deus corresponde arca da ar.tiguidade. A Sua natureza divina e humana simbolizada pelo ouro e a ma- deira de setim da arca. Os materiais de que a arca era feita ilustram a Sua Pessoa como o Deus-Homem; enquanto que o propsito da arca e o propiciatrio simbolizavam a Sua obra, quer na vida, quer na morte. A arca continha as t- buas elo testemunho; e o Filho de Deus podia dizer, com respeito ao corpo que fora preparado para Si, ... a tua lei est dentro do meu corao (veja-se Salmo 40). Por outro lado, o propiciatrio falava de paz e perdo, da justia regozi j ando-se contra o julgamento, para o pobre pecador; e o apstolo diz, Ele (Cristo) a propiciao pelos nossos pecados (I Joo 2:2), e, A Quem Deus props para propiciao (Rom. 3 :25). A palavra empregada em Romanos 3 precisamente a mesma que empregada em xodos 25.

    Desta forma compreendemos como a arca do concerto era um smbolo notvel d' Aquele que engrandeceu a lei e a tornou honrosa - Jesus, o Filho de Deus, cuja Pessoa glo- riosa deve ser o objecto especial das afeies reverentes do crente. E do mesmo modo que o poder moral de Israel estava sempre ligado com o reconhecimento e conservao da arca, assim o poder da Igreja est ligado com o modo como ela guardar a doutrina - a doutrina importante do Filho. em vo que exultamos no trabalho das nossas mos, e nos gloriamos no nosso conhecimento, no nosso testemunho, na nossa igreja, nos nossos dons, no nosso ministrio, ou em qualquer outra coisa. Se no mantermos a honra do Filho, somos realmente inteis - somos movidos apenas pela fasca do nosso entusiasmo - centelhas alis que em breve se

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    extinguiro, quando o Senhor tiver que, em fidelidade, vol- tar e abrir rotura em ns. E David se contristou com a rotura. Era um golpe grave em toda aquela alegria e gozo de ocasio; mas era preciso. O olhar fiel detectou a m condio moral da alma revelada com o carro de madeira, e a rotura em lha serviu de corretivo, e foi um corretivo eficaz.

    E no quis David retirar para si a arca do Senhor, para a cidade de David; mas David a fez levar casa de Obed-edom, o geteu. Aqui estava a perda de David - ele perdeu muita bno e privilgios desistindo desta maneira de a trazer, porque a arca de Deus no podia seno aben- oar todo aquele que estivesse justamente ligado com ela, embora tivesse de ser um meio de juzo quando no era assim ligada; como aconteceu no caso dos homens de Beth- -Semes e no de Uza. Foi um tempo feliz para Obed-edom aquele em que a arca esteve em sua casa, porque o Senhor abenoou Ebed-edom e a toda a sua casa. Durante todo o tempo em que David temeu e no teve a arca, Ohed-edom foi abenoado com ela. Verdade seja que as coisas no cor- riam de um modo animador: a bno era limitada ao cr- culo daquele que tinha a arca em sua casa, em vez de ser espalhada por toda a nao, como teria sido o caso se tudo houvesse estado em ordem. Ainda assim a bno, posto que restringida, era to real e positiva, to pura e verdadeira, como se toda a nao dela desfrutasse. No podia ser de outra forma, tanto mais que era o resultado da presena da arca.

    Deus ser sempre verdadeiro aos Seus prprios princ- pios, e tornar sempre felizes aqueles que andam em obe- dincia; do mesmo modo que abenoou Obed-edom durante os trs meses que a arca permaneceu em sua casa, apesar de mesmo o rei David estar com temor; assim Ele aben- oar agora aqueles que procurarem reunir-se em verdade e simplicidade, em nome de Jesus. Porque onde estiverem dois ou trs reunidos em meu nome, a estou eu no meio

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    deles (Mat. 18 :20). esta a Carta Magna da nossa reu- nio. Onde estiver a presena de Cristo a tem de haver bno. Pode haver fraqueza, sem dvida, e aqueles que estiverem reunidos podem ser muito poucos, mas haver bno e paz, porque Jesus est ali; e quanto mais ns sentirmos a nossa fraqueza, e nulidade, tanto mais a Sua presena ser apreciada e estimada.

    Os cristos deveriam conhecer mais da presena de Cristo nas suas reunies. No de sermes que ns precisamos, nem de poder de eloqncia, nem de intelectualidade hu- mana, nem nada que deriva meramente do homem; preci- samos da presena de Jesus; e sem ela tudo frio, morto, e infrutfero. Mas, ah! quem poder falar da doura do conhecimento da presena do Mestre? Quem pode explicar o sentimento veemente daqueles sobre quem derramado o orvalho da bno divina? Graas a Deus porque alguns o sentem! Graas a Deus, porque nestes dias, em que os tristes efeitos das tradies humanas so aparentes na Igreja, existe aquilo que podemos chamar a casa de Obed-edom, o geteu, onde a presena da verdadeira arca, e a conseqente bno de Deus, so conhecidas e desfrutadas! Oxal ns saibamos apreciar isto mais e mais, por entre os ritos e cerimoniais sombrios e insatisfatrios que nos rodeiam.

    Consideremos agora, por um momento, o mtodo gra- cioso de Deus na restaurao de David. A vida da f pouco mais do que uma srie de quedas e restauraes, erros e emendas; mostrando, por um lado, a triste fraqueza hu- mana, e por outro lado, a graa e poder de Deus. Em David estas coisas so amplamente ilustradas.

    Existe uma grande diferena na maneira como o re- gresso da arca de Deus relatado em Samuel e em Cr- nicas. Naquele temos apenas o relato de fatos, neste temos o treino moral a que foi submetida a alma de David durante todo o tempo em que ele estava com medo de Deus, ou, por outras palavras, durante o tempo em que ele laborou debaixo dos efeitos do seu prprio erro. Em Samuel lemos: Ento

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    avisaram a David, dizendo: Abenoou o Senhor a casa de Obed-edom, e tudo quanto tem, por amor da arca de Deus: foi pois David e trouxe a arca de Deus para cima, da casa de Obed-edom, cidade de David, com alegria. David compreendeu que estando to longe da arca com medo, era na realidade seu privilgio e bno estar perto dela. Em I Crnicas 14 encontramos David envolvido num conflito com os filisteus, e saindo vitorioso sobre eles. Ento con- sultou David a Deus, dizendo: Subirei contra os filisteus, e nas minhas mos os entregars? E o Senhor lhe disse: Sobe, porque os entregarei nas tuas mos. E, subindo David a Baal-perasim, David ali os feriu; e disse David: Por mi- nha mo Deus derrotou a meus inimigos, como a rotura das guas. Pelo que chamaram o nome daquele lugar, Baal- perasm (isto , um lugar de roturas).

    Existe uma grande diferena entre uma rotura e um lugar de roturas. Deus havia feito uma rotura em Israel por causa do seu erro com respeito arca; porm, quanto aos filisteus no se tratou apenas de fazer rotura sobre eles - eles estavam inteiramente num lugar de roturas; e David podia muito bem ter compreendido quo pobre era o exemplo que ele havia seguido quando fez com que o carro transpor- tasse a arca. Ao menos ele aprendeu o seu erro, pois que no captulo 15 lemos: Fez tambm casa para si na cidade de David: e preparou um lugar para a arca de Deus, e armou-lhe uma tenda. Ento disse David: Ningum pode levar a arca de Deus, seno os levitas; porque o Senhor os elegeu, para levar a arca de Deus, e para o servirem eter- namente. E mais adiante, falando aos chefes dos pais entre os levitas, ele dz-lhes: ... santificai-vos, vs e vossos irmos, para que faais subir a arca do Senhor, Deus de Israel, ao lugar que lhe tenho preparado. Pois que, porquanto pri- meiro vs assim o no fizestes, o Senhor fez rotura em ns, porque o no buscamos segundo a ordenao, Assim a alma de David foi inteiramente restaurada. Ele foi levado

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    a ver que seguir na corrente dos pensamentos humanos era contrrio ordenao.

    Ningum sabe ensinar como Deus. Quando David estava enganado, Deus fez rotura nele por Suas prprias mos. Ele no consentiu que os filisteus o fizessem; no, pelo con- trrio, Ele permite que David os encontre num lugar de roturas e habilita-o a derrot-los - a cair sobre eles como a impetuosidade das guas. Assim Deus ensinou, . e David aprendeu, qual era a ordenao. Assim ele aprendeu, com efeito, a tirar a arca do carro novo, e a coloc-la sobre os ombros dos levitas, aos quais Deus havia escolhido para O servirem para sempre; assim ele foi ensinado a pr de parte as tradies e seguir em simplicidade a Palavra escrita de Deus, na qual no havia nem sequer uma palavra acerca de um carro de bois. Ningum podia transportar a arca de Deus seno os levitas. Isto era claro. O erro todo era de- vido ao esquecimento da palavra, e de seguir-se o exemplo dos incircuncisos, os quais no tinham capacidade para compreender a mente de Deus sobre qualquer assunto, muito menos o assunto importante do transporte da arca.

    Porm, que meio maravilhosamente gracioso Deus em- pregou para ensinar o Seu servo! Ensinou-o por meio da vitria sobre os seus inimigos! assim que o Senhor leva freqentemente os Seus filhos a compreenderem a Sua mente, quando eles levianamente procuram seguir nas pisadas dos homens do mundo. O Senhor mostra-lhes que no devem adoptar os seus modelos. A rotura mostrou a David o seu erro; o lugar de roturas ensinou-lhe a ordenao de Deus. Por meio daquela ele aprendeu a loucura do carro e os bois; por esta ele aprendeu o valor dos levitas e do lugar que eles tinham ao servio de Deus.

    Deus h de ser sempre fiel aos Seus princpios; no pode permitir que o Seu povo abandone a ordem por Ele prescrita com impunidade. Por isso, a arca teria ficado at o fim em casa de Obed-edom se David no tivesse apren- dido a pr de lado o seu prprio mtodo de trazer a arca,

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    e adotado o mtodo de Deus. Santificaram-se pois os sa- cerdotes e levitas, para fazerem subir a arca do Senhor Deus de Israel. E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus aos ombros, como Moiss tinha ordenado, conforme a Palavra do Senhor. O Senhor foi glorificado em tudo isto, e pde, portanto, dar ao Seu povo verdadeira alegria e gozo, poder e energia.

    Agora j no havia bois para deixarem pender a arca; to-pouco houve esforo humano para no a deixar pen- der; a verdade de Deus prevaleceu e o Seu poder pde actuar. No pode haver verdadeiro poder onde a verdade sacrificada. Pode existir a aparncia de poder, mas no a realidade. Pois como poder haver poder? Deus a ori- gem de poder, porm, Deus no pode associar-Se com coisa alguma que no esteja em plena harmonia com a Sua ver- dade. Por isso, embora David e toda a casa de Israel se alegrassem perante o Senhor com toda a sorte de instru- mentos, no houve convocao de levitas ou de cantores segundo a ordem divina. Deus foi posto de parte pela orga- nizao humana, e tudo acabou em confuso e tristeza.

    Como tudo diferente no captulo XV! Ali vemos que h verdadeira alegria, e verdadeiro poder. E sucedeu que, ajudando Deus os levitas que levavam a arca do concerto do Senhor, sacrificavam sete novilhos e sete carneiros. E David ia vestido de um roupo de linho fino, como tambm todos os levitas que levavam a arca, e os cantores, e Che- nanias, chefe dos que levavam a arca e dos cantores. Numa Palavra, era uma cena com a qual Deus podia consistente- mente ligar-Se. Ele no auxiliou os bois, nem Uza, Nem os bois nem Uza tinham levado a arca, na antiguidade, atravs das guas do J ordo; to-pouco a haviam transportado roda dos muros de J eric. No, os levitas tinham-na transportado, e ningum nem coisa nenhuma devia tomar o seu lugar.

    A ordem de Deus , afinal, a nica que perfeita. Pode por vezes no ser recomendvel para o juzo humano;

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    todavia, ter sempre o selo da aprovao divina, e isto amplamente bastante para todo o corao fiel. David pde suportar o escrnio de Mical, a filha de Saul, por- que ACTUAV A PERANTE O SENHOR. Escutai a sua res- posta acertada sua mofa: Perante o Senhor, que me esco- lheu a mim antes do que a teu pai, e a toda a sua casa, mano dando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho alegrado. E ainda mais do que isto me envilecerei, e me humilharei aos meus olhos. Que preciosa deciso! Possa ela ser tambm a nossa, pela graa de Deus. Desprezveis aos nossos olhos, mas felizes em Deus. Humilhados at o prprio p da terra no sentido da nossa vileza, mas elevados s alturas, no sentido da graa e bondade do nosso Deus.

    O leitor notar que o captulo 16 de I Crnicas pre cisamente o crescimento do esprito revelado na passagem que acabamos de reproduzir. Trata-se de esconder a perso- nalidade e de manifestar o carter e os caminhos de Deus. Em suma, um cntico de louvor, o qual basta apenas ler para se ter um verdadeiro conforto. No posso deixar de chamar a ateno do leitor para o versculo 35, no qual poder encontrar os quatro caractersticos do povo de Deus plenamente revelados. Salva-nos, Deus da nossa salvao, e ajunta-nos, e livra-nos das naes, para que louvemos o teu santo nome, e nos gloriemos no teu louvor.

    A Igreja de Deus uma companhia salva. A salvao a base de tudo. No podemos corresponder a nenhum dos caractersticos deste versculo antes de sabermos que es- tamos salvos, pela graa de Deus, mediante a morte e res- surreio de Cristo.

    No poder desta salvao a Igreja reunida pela ener- gia do Esprito Santo enviado do cu. O verdadeiro efeito da operao do Esprito ser levar a uma verdadeira co- munho todos aqueles que se submetem Sua direo. A Sua ordem no separao, mas associao bendita na verdade. Mas se houver ignorncia quanto salvao, a

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    nossa reunio no ser para glria de Deus, mas antes para promover os nossos prprios interesses espirituais, assim chamados. Os homens freqentemente associam-se sobre princpios religiosos sem a certeza de estarem plenamente salvos pelo precioso sangue de Cristo Mas este no o mtodo usado pelo Esprito para reunir os crentes, porque Ele s os rene para Jesus, e sobre o princpio glorioso do que Ele consumou. Confessar a Cristo como o Filho do Deus vivo a rocha sobre a qual edificada a Igreja. No o acordo sobre opinies religiosas que constitui a comunho da Igreja, mas, sim, a posse de vida comum, em unio com a Cabea que est no cu.

    Ora, quanto mais bem compreendida for esta associao divina, tanto maior ser o nosso interesse pelo princpio da separao. Livrai-nos das naes. A Igreja tirada do mundo, apesar de ser chamada para .testemunhar de Cristo nele. Tudo na Igreja se encontra debaixo do governo do Esprito Santo; e tudo fora dela est sob a liderana de Satans, o prncipe deste mundo. isto que a Sagrada Escritura nos ensina quanto Igreja. Por isso, quando o apstolo fala de excomungar um transgressor diz: seja entregue a Satans (I Cor. 5 :5). ' E, outra vez, a quem entreguei a Satans. Fora dos limi- tes da Igreja h um reino basto e terrvel, sobre o qual Sa- tans domina, semelhana da regio desolada para a qual o leproso foi lanado do campo de Israel.

    Finalmente vemos a Igreja como um povo de adorado- res. Para que louvemos o teu santo nome. Isto segue-se a tudo que temos estado a considerar. Salvao, associao, separao, e adorao acham-se intimamente ligadas. A Igreja, respirando a atmosfera da salvao de Deus, con- duzida pelo Esprito em santa e feliz comunho, e sendo assim separada para Jesus, fora do arraial, apresenta a Deus o fruto dos seus lbios, dando graas em Seu nome.