Das Agências de Viagens aos Campos de Golfe ... · acho que faço as pessoas acreditar naquilo que...

23
Universidade de Aveiro - 27 Setembro 2010 Gentour in Algarve Das Agências de Viagens aos Campos de Golfe - estratégias e percursos de mulheres Helena Reis Universidade do Algarve E.S.G.H.T. Mª das Dores Guerreiro I.S.C.T.E.

Transcript of Das Agências de Viagens aos Campos de Golfe ... · acho que faço as pessoas acreditar naquilo que...

Universidade de Aveiro - 27 Setembro 2010

Gentour in Algarve

Das Agências de Viagens aos Campos de Golfe –

- estratégias e percursos de mulheres

Helena Reis – Universidade do Algarve – E.S.G.H.T.

Mª das Dores Guerreiro – I.S.C.T.E.

Estratégias e percursos de mulheres em agências de viagens algarvias

• Analisar as razões e as limitações à mobilidade vertical das mulheres

• Glass ceilings => discriminação invisível que impede as mulheres de acederem às chefias de topo.

• Stone floors (Blakemore & Drake, 1996) => as mulheres são deixadas num patamar de empregos de baixo nível salarial, com poucas hipóteses de se elevarem acima desse nível.

Cesurformacion.com

As agências de viagens como organizações

• 67 agências de viagens com sede regional.

• 6 directoras de agência, 3 das quais são donas das próprias agências. Tudodeturismo.com

As agências de viagens como organizações

• Homens: “ Os Barões do turismo”.

• Mulheres –

directoras/donas de agências e chefias médias altas que não ascendem ou até abandonam.

• Jovens mulheres que trabalham actualmente nas ag. viagens, mas que manifestam mudanças na maneira de pensar.

Tudodeturismo.com

As agências de viagens como organizações

• Culturas masculinas prevalecentes

=> não contemplam a necessidade de assegurar a vida

familiar, desfavorecem as mulheres

hierarquias de poder extensas;

cargos de topo ocupados por homens;

total disponibilidade para trabalhar longas horas;

capacidade para tomar iniciativas;

liderança, domínio, atitudes manipuladoras, poder...

(vs características mais femininas como a intuição, o trabalho gerido emocionalmente, amizades fortes, relacionamentos no local de trabalho, espaço limitado para o “carreirismo”, entre outras).

A voz do Barão

Quando se optou por abrir uma nova dependência no Algarve, não foi eleito para a chefiar um dos directores de Faro, como seria de esperar [uma mulher] . O director-regional escolheu a pessoa que estivera a dirigir a sucursal de Londres, independentemente do seu total desconhecimento da realidade algarvia.

Ela não tinha disponibilidade. Aliás, nem seria concebível pôr uma mulher a chefiar, não tinha autoridade…

(Joel Coimbra)

As agências de viagens como organizações

• Redes formais e informaisSão sistemas de tomada de decisões, mobilização de recursos, retenção ou transmissão de informação …

(…) provocam muitas desvantagens, incluindoobstrução ao conhecimento do que se passa naorganização e dificuldade em formar alianças, o queconsequentemente, leva à falta de “mobilidade” eaos efeitos dos “tectos de vidro” (Ibarra, 1993:56).

Ir para os copos … ajuda à promoção ?

Todas as tardes os homens saíam da agência e juntavam-se para tomar um copo. Acabaram por criar elos que nós, como íamos para casa logo a seguir, nunca criámos. Não admira que depois, nas alturas cruciais, isso tenha tido o seu peso e eles se tenham protegido tanto uns aos outros. (Florbela)

As agências de viagens como organizações

- Poder e centralidadeCom os lugares de poder ainda esmagadoramente ocupados por homens, a centralidade, isto é, a proximidade ao poder, favorece essencialmente outros homens.

Fui nomeada por um homem (...). De entre as pessoas possíveis, tinhasido eu quem trabalhara mais directamente com o director dessa altura;eu era a pessoa que estava mais próxima dele. (…)

Em termos de categoria profissional esse senhor até era menos do queeu – ele era chefe de secção e eu já era chefe de serviços, que éimediatamente acima. (Alba)

As agências de viagens como organizações

- Poder e influênciaAs redes masculinas tornam-se mais apetecíveis pois podem prometer mais benefícios e vantagens…

Consigo levar as pessoas a fazer o que eu preciso. (…). Nunca através daforça, mas sabendo insinuar-me. Dizem-me que sou muito carismático. Euacho que faço as pessoas acreditar naquilo que é preciso. Acho que quemquer um lugar no turismo tem de ser carismático: temos de sernecessariamente insinuantes. (Eduardo)

As agências de viagens como organizações

– Poder e informação(…) antecipar resistências e neutralização de concorrências, ou ainda mobilização de recursos para apoio a acções ou mudanças…

Se eu quisesse subir mais era muito fácil mas era preciso entrar no jogo que eu repudio – compadrios e saber da vida particular das pessoas. Nunca como agora as chefias tiveram tanta curiosidade em saber da vida particular das pessoas, de todos os funcionários, desde o paquete; ainda se fosse para ajudar! Mas não. Parece que querem ter o monopólio da situação, da informação sobre todos. Com a informação, controlam as pessoas. (Laura)

As agências de viagens como organizações

– Homofilia – redes de entreajuda masculinas (…) mais penalizador para as mulheres, por se apoiar fortemente na tradição, na tendência para o Clube-dos-Bons-Rapazes (For Gentlemen Only).

Eu acho que neste negócio os conhecimentos é que contam, (…) Conheço muito bem esta gente toda porque andei nos copos com eles. Iam para a farra comigo, a tal boa vida que me trouxe muitos contactos. Ainda hoje tiro benefícios das grandes noitadas, onde encontramos as pessoas certas para fazer negócios. (Bernardo)

As agências de viagens como organizações

Mentores ou Tutores

• Figuras facilmente identificáveis, com funções claras dentro da organização, intervenientes em relacionamentos do tipo Mentoring, Tutoria ou Apadrinhamento;

• Difícil evidenciar este tipo de relacionamento => entrevistados pouco abertos a comentar estas relações, embora tenham admitido a sua existência e que são inegáveis os benefícios que daí podem advir.

As agências de viagens como organizações

• Para o Mentor / Protector satisfação pessoal, apoio incondicional dos seus protegidos;maior reconhecimento por parte dos seus pares;melhora os seus desempenhos.

• Para a Protegée /o ProtegéO mentor ensina, protege, incentiva, propõe para promoção; dá visibilidade ao seu desempenho;desvaloriza as suas más intervenções;cria oportunidades que evidenciem as qualidades do protegido.

• Para a Organizaçãomaior produtividade; melhor entendimento da cultura organizacional; maior harmonia nas relações e comunicações internas; vantagens nas áreas da motivação, recrutamento e selecção ;fortalecimento das características de liderança.

Mariana sofre os efeitos negativos do apadrinhamento

Saiu o director e houve muita dificuldade em perdoarem-me a minha amizade com ele. As mulheres fizeram uma trama muito grande dentro daquela casa. Os directores que se seguiram, vinham com a ideia de me despedirem. Chegavam ao ponto de me revistar as gavetas, com medo da fuga de informação. Queriam que eu deixasse de falar ao Bernardo Bragança (...). Nunca me perdoaram essa minha amizade... (Mariana)

Alba ocupa a direcção

• Os meus chefes ensinaram-me tudo mas não queriam que eu falasse de serviço com ninguém. Não podia ensinar nada do programa de computador. Assim, eles e eu, é claro, podíamos monopolizar completamente aquele sector. (…) Bom, acontece que eles saíram da agência em bloco e, de repente, eu era a única pessoa que podia controlar as excursões. Eu, que tinha entrado apenas para arquivar papéis, fazer faxes. Eles ensinaram-me tudo a pouco e pouco...

• Agora, tenho umas estagiárias a ajudar-me mas só ensino o fundamental para que o serviço corra bem. Mesmo quando vou de férias, prefiro voltar e ter muito trabalho do que ensinar-lhes demais. Assim vão precisar de mim por muito mais tempo. Nunca estaria na posição em que estou hoje se não tivesse aprendido que é fundamental reter informações preciosas... e é preciso muita sorte, é claro. (Alba)

Conclusões parciais

Limitações à mobilidade vertical das mulheres:

• Culturas organizacionais masculinas;• Desconhecimento das redes informais; • Desconhecimento ou repúdio pelas diversas formas de poder;• Homofilia (redes de entreajuda masculinas);• Não utilização das vantagens de relacionamentos do tipo mentoring ou

apadrinhamento.

Nota: • também concluímos que muitas mulheres que atingiram cargos de topo,

NÃO tendem a promover ou ajudar outras mulheres, entre outras razões, porque:

• custou-lhes muito a chegar a essa posição; • fazem escolhas mais consensuais com as políticas da empresa;• não se arriscam a sugerir outra mulher com medo que ela falhe no seu

desempenho ou não aguente a pressão.

As agências de viagens como organizações

Tgonline.com

Entrevistas a jovens apontam a mudança …

. Emprego - actividade móvel, não sedentária;

. Saberes práticos e empresariais + formação académica com o objectivo da valorização pessoal;

. Projecto de carreira – competição de ambos os sexos ao nível das competências;

. Constrangimentos ligados à falta de oportunidades, à precariedade e insegurança dos contractos de trabalho e saídas profissionais mais compensatórias;

. Criar a sua própria oportunidade;

. Pensar em termos de diversidade: agências de viagens, hotelaria, nichos de serviços, a direcção de um pequeno hotel, etc.

. Opiniões críticas em relação aos seus superiores;

. Estratégias profissionais personalizadas;

. Visibilidade;

. Elevada auto-estima decorrente dos resultados escolares e profissionais;

. Vivem até tarde em casa dos pais;

. Disponibilidade profissional;

. Namorados, companheiros devem adaptar-se, compreender, futuro em conjunto;

. Casar e ter filhos, sem dúvida! MAS MAIS TARDE!

Das Agências de Viagens aos Campos de Golfe

Linkkando.com

GentlemenOnlyLadiesForbidden

Orientação: Antónia Correia – Universidade do Algarve – Faculdade de Economia

Porquê este tópico?

Joyce Wethered (1901-1997) lembra-se de uma ocasião em que, enquanto esperava que os parceiros homens com quem ia jogar saíssem do Clubhouse, manteve as mãos aquecidas no radiador do Rolls Royce.

Sandwich Golf Course

O Comité do Clube pede desculpa aos seus membros pelo inconveniente causado pela admissão de mulheres nas suas instalações.

Honourable Company of Edinburgh Golfers, 1952

Não é permitida a entrada a mulheres e cães no Clubhouse.

St. Andrews,1930's

Muito Obrigada

e que se derrubem de vez as Faces Veladas da Discriminação

no Turismo …

Helena Reis – Universidade do Algarve