Dança em Pernambuco

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Dança em Pernambuco Recife | setembro de 2011 Clube das Pás mantém tradição Página 03 Dançarino de aluguel tenta superar preconceito Página 03 Adultos aderem à prática do balé Página 05 Biodança gera benefícios à saúde Página 07 NESTA EDIÇÃO Foto: Paula Caal

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Unicap

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Dançaem Pernambuco

Recife | setembro de 2011

Clube das Pás mantém tradiçãoPágina 03

Dançarino de aluguel tenta superar preconceitoPágina 03

Adultos aderem à prática do baléPágina 05

Biodança gera benefícios à saúdePágina 07

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2 | Recife, setembro de 2011 O BERRO

E X P E D I E N T E

O BERRO é uma publicação da Disciplina Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da

Universidade Católica de Pernambuco.

Rua do Príncipe, 526 - Boa Vista - Recife-PE 50.050-900CNPJ 10.847.721/0001-95 Fone: (081) 2119.4000

Fax: 81 2119.4222 | site: www.unicap.br/oberro

Coordenador do Curso de JornalismoAlexandre Figueirôa

Professor OrientadorMarcelo Abreu

SubeditoresAlexandre CunhaMariana Lemos

RepórteresAlexandra GappoAlexandre CunhaAndré AmorimAndré MaiaEliane CarneiroGabriela AlcântaraGabriela ArantesThereza dos AnjosMariana LemosMilton RaulinoRodrigo AdamskiTássia Melo

RevisãoFernando Castim

DiagramaçãoFlávio Santos

Impressão FASA

Quem nunca teve von-tade de remexer o corpo en-quanto ouvia uma música, um batuque, um frevo? Esta edição do jornal O Berro é inteiramente dedicada à dan-ça, atividade que tem papel bastante significativo na evo-lução humana, sendo vista, ao longo dos séculos, não apenas como forma de entreteni-mento como também instru-mento de libertação e terapia.

A dança encontrou ma-neiras de comunicar, trans-pondo barreiras físicas, culturais e políticas. Nas próximas páginas, o leitor vai encontrar histórias de pessoas que não só vivem fi-nanceiramente da arte como

fazem dela a sua motivação para superar desafios.

As reportagens a seguir

buscam proporcionar uma fonte de conhecimento e re-flexão acerca da realidade da

dança no Recife. Desde pes-soas com deficiência, que su-peram os limites do corpo, à formação acadêmica de pro-fissionais da área. Do forró estilizado aos descontraídos passos da biodança, passean-do pela coreografia elaborada do balé e pelos atuais proble-mas do frevo.

O Berro mostra também que tradições orientais deixa-ram um legado às mulheres do nosso tempo, entre eles a sensual dança do ventre, que, adaptada à realidade ociden-tal, exala feminilidade através de movimentos que envol-vem todo o corpo. Hoje, ba-nida em alguns países árabes, a dança, há muito tempo,

deixou de sofrer preconceito no Brasil, o que, infelizmente, não acontece com os personal dancers, dançarinos contrata-dos na noite, vítimas constan-tes de discriminação.

Metrópole famosa pelos tradicionais ritmos da terra, a capital pernambucana mostra a multiplicidade de alterna-tivas que o amante da dança pode encontrar sem sair da cidade. Este jornal procu-ra oferecer uma abordagem, sempre que possível crítica, das atividades que movem a arte na região. Um olhar, es-sencialmente, sobre a vida, as pessoas, seus passos, desen-volturas e posições no cenário do Recife.

Um mundo de movimentosCarta ao leitor

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Curso de graduação profissionaliza jovensALEXANDRA GAPPO

Disciplina, esforço físico e vocação são características necessárias para ser um pro-fissional de dança. A carrei-ra, em suas duas vertentes (bailarino e professor), atu-almente não é bem remune-rada, a concorrência é dura, e a falta de profissionaliza-ção prejudica esse campo de trabalho.

No Recife existem inú-meras academias de dança que exploram a aptidão do bailarino, sem focar o lado teórico dessa atividade. Para suprir essa urgência de um curso superior na área, o Ministério da Educação in-tegrou a Universidade Fede-ral de Pernambuco (UFPE) ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e

Expansão das Universida-des Federais (Reuni), o que resultou na liberação de R$ 58,4 milhões para viabilizar o curso de Licenciatura em Dança, criado em 2008.

O objetivo não é formar bailarinos, mas sim pro-fissionais para atuar como professores. A maior difi-culdade está no mercado de trabalho, que não dispõe de muitas opções, pelo fato de a dança ainda não estar inserida nos programas das escolas públicas e privadas de Pernambuco.

A coordenadora e pro-fessora da graduação, Már-cia Virgínia Araújo, descre-ve o público do curso e as dificuldades encontradas por eles. “A suspresa foi que apareceram não só pes-soas já envolvidas com a

dança mas também pessoas interessadas no aprendiza-do em si. Uma das preocu-pações da gente como pro-fessor é onde esses alunos irão atuar além dos cursos de dança ”.Os candidatos às 30 vagas passam por testes de aptidão. Por eles são observados aspectos de postura e domínio corpo-ral, além de criatividade e comunicação.

Atualmente, a UFPE é a única universidade a abrigar uma graduação nessa área em Pernambuco, um dife-rencial para os alunos que recebem orientações teóri-cas e práticas. Djalma Rabe-lo, 21 anos, estudante do 4º período, é bailarino desde os 11 anos e optou por ter um curso de ensino superior no currículo: “Já passei por

academias de dança, mas a graduação tem outro teor, o pedagógico. Ela junta a arte com a educação.”

Assim como Rabelo, a estudante Taciana Silva, 22, também do 4° período do curso, explica que ainda

existe preconceito na área e que as pessoas não sabem o que a dança lhes pode pro-porcionar. “Para mudar isso, é preciso que a maior parte da população tenha acesso à dança como conhecimen-to”, afirma Taciana.

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LICENCIATURA Alunos de graduação misturam teoria e prática

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Clube das Pás mantém saudosismoALEXANDRE CUNHA

No alto do portão da en-trada, após as catracas, uma placa com letras vermelhas adverte: “proibido usar ber-muda neste recinto”. Um pouco mais acima e centrali-zada, outra chama a atenção sobre cigarros e bebidas no salão, proibidos. Aos que jul-garem pela primeira vista, o ambiente parece ter a rigidez de um quartel militar. Porém basta alguns passos para se constatar a atmosfera de nos-talgia e amizade no interior do Clube das Pás.

Oriundo de um bloco carnavalesco criado por ope-rários e carvoeiros do Porto do Recife, em 1888, o lugar se mantém, até hoje, como um dos maiores pontos de dança do estado. O eclético reper-tório dos bailes (desde valsas vienenses ao regionalismo do brega) atrai um público mais

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CASA CHEIA Mesmo sem apoio, local continua com público fiel

experiente e saudosista, cujos cabelos brancos não impe-dem a jovialidade do corpo. De acordo com o professor universitário Gilberto Pe-reira, assíduo frequentador do clube há mais de 20 anos, o fator primordial para o su-cesso é a qualidade do salão. “Pelo piso ser de taco, dan-çamos como se estivéssemos de patins, deslizando no gelo.

Não troco as Pás por clube algum”, afirma.

Além da estrutura física, a preferência também pode ser explicada por outra razão: foi no local que, há 15 anos, o professor conheceu sua mulher. “No dia em que ela visitou o clube pela primeira vez, na companhia da mãe, acabamos nos conhecendo. Como se diz por aí, foi amor

à primeira vista”, lembra Pe-reira, casado há oito anos. Para ele, o único aspecto ne-gativo do espaço são as ca-deiras e mesas, ainda antigas e desconfortáveis. Segundo Álvaro Melo, diretor de pro-moção de eventos das Pás, essa é uma reclamação habi-tual por parte dos visitantes; a seu ver, o motivo está na omissão por parte das autori-dades que lidam com cultura em Pernambuco.

“Falta incentivo das enti-dades competentes, o clube apenas ganha notoriedade no carnaval. As Pás é mais an-tigo do que o próprio frevo (19 anos de diferença) e as pessoas esquecem ou des-conhecem sua importância histórica”, conta o adminis-trador. O local é conhecido como a universidade do fre-vo e promove, gratuitamente, uma escolinha do tradicional ritmo para crianças e adoles-

centes do bairro de Campo Grande, onde fica localiza-do o clube. Com cerca de 12 participantes, o grupo já re-alizou apresentações em pa-íses europeus, sendo a mais recente na Suíça.

Um projeto para ofere-cer turmas de dança de salão é também objetivo das Pás, mas os interessados já po-dem ensaiar os dois pra lá e dois pra cá quatro vezes por semana (de sexta a segun-da), nas tradicionais festas da casa. O associado Hercílio Sena Salles, há três décadas participante ativo dos bailes, afirma jamais ter presenciado qualquer confusão no lugar. “O Clube das Pás é uma hi-giene mental para todos. Um grande exemplo à juventude de que, para se divertir, não é preciso violência”. Como diz a frase na fachada do local, “lugar onde se dança com muita paz”.

Mulheres contratam dançarinosMARIANA LEMOS

O que um professor de Educação Física, um ex-militar e um fiscal da pre-feitura têm em comum? Todos eles se encontram no baile da casa Black Tie, pelo menos três vezes na semana, para fazer aquilo de que mais gostam: dan-çar. E não é só isso; além de passarem horas a fio “fazendo o passo” no salão, os ra-pazes ainda lucram. Eles são os cha-mados per-sonal dancers, d a n ç a r i n o s de aluguel profissionais, que a cada dia estão re-cebendo mais e mais te-lefonemas do público fe-minino, formado, em sua maioria, por senhoras de idade, viúvas ou divorcia-das, que gostam de curtir a noite.

Nos dias de hoje, ficar

em casa assistindo à tele-visão ou fazendo crochê está longe de fazer par-te da rotina de mulheres como Ângela Valença, 58 anos, que é formada em Relações Públicas e dan-ça, no mínimo, uma vez por mês com seu personal, Del Santana, ex-sargento. Elegante e animada, Ân-gela conta que procurou

Santana logo depois de so-frer de uma forte crise de depres-são. “Ano p a s s a d o , descobri que estava com câncer. De-pois disso,

entrei em depressão. Du-rante minha recuperação, dançar foi a minha válvula de escape, e o Del passou de professor a amigo.”

A relação das senhoras com os dançarinos, que geralmente são homens muito bem arrumados, cheirosos e sorridentes, é

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PROCURA no Recife, cresce o número de personal dancers

sempre de muita parceria e companheirismo. Para eles, a aparência conta bastante para o sucesso na profissão. “Você tem que estar sempre bem vesti-do e ser uma pessoa bem educada, não adianta só ser um bom dançarino”, diz Sidney Assunção, 30 anos e fiscal da Prefeitura durante o dia. Assunção, que tem clientela fixa, diz que, com o tempo, o per-sonal acaba tornando-se uma espécie de psicólogo

das clientes. “Entre um passo de dança e outro, elas sempre chegam para conversar sobre seus pro-blemas pessoais, princi-palmente as mais antigas, com quem tenho mais in-timidade”, declara o dan-çarino.

Mas nem sempre tudo são flores. “A maioria dos homens que estão no baile não gosta dos dançarinos, eles dão cotovelada, em-purrão e te olham de cara feia. Isso nos deixa um

pouco chateados, pois so-mos profissionais e temos que passar por cima dis-so”, responde o professor de Educação Física, Ale-xandre Santana, 34 anos. Esse tipo de atitude no salão mostra que ainda há desrespeito com a profis-são. Mas contra fatos não há argumentos. Hoje em dia, um bom dançarino pode viver, sim, apenas do seu trabalho com a dança.

Como bailes não fal-tam na noite recifense, se o personal tiver fôlego para dançar de cinco a seis noi-tes por semana, ele pode ganhar até R$ 2 mil por mês. Isso porque a dama paga a entrada do dan-çarino, o que ele consumir e o valor acordado pela noite de trabalho, que va-ria entre R$ 80,00 e R$ 100,00. “Esse é um traba-lho como outro qualquer, nem melhor nem pior que o de ninguém, existem médicos, advogados e per-sonal dancers”, afirma San-tana.

Conhecidos comos personal dancers, eles fazem companhia para mulheres que adoram dançar

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Cadeirantes superam deficiência

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ELIANE CARNEIRO

Perder, ou nunca ter tido, o movimento nas pernas não impede ninguém de dançar. A funcionalidade dos membros inferiores é irrelevante, quan-do a música toca e convida o corpo a se expressar. As ba-tidas sonoras são cúmplices nesse momento de entrega, em que o deficiente vence obstáculos ao rodopiar pelo salão. Esse é o caso da biólo-ga Rosália Cavalcanti, 40, e da comerciante Rilmar Barros, 50, que, desde 2008, praticam a dança esportiva em cadei-ra de rodas. Atualmente, elas integram o grupo Cia Cadên-cias, pioneiro em Pernambu-co nessa modalidade.

É necessário, para parti-cipar de uma companhia do tipo, um investimento finan-ceiro, uma vez que a aquisi-ção da cadeira especial – que suporta o peso extra do par-ceiro durante as coreografias – custa mais de R$ 3.000,00. O fator emocional também é decisivo para a integração ao grupo. A reação do cadeirante à dança depende do tipo de paralisia por ele desenvolvida.

No caso da bióloga Rosá-lia, que contraiu ainda na in-fância poliomielite, essa rela-ção ficava apenas na vontade. “Eu me imaginava dançando, porém só me via andando, sempre em pé, nunca em uma cadeira de rodas”, declarou. Com o trabalho dos profes-sores, aprendeu que, mesmo cadeirante, conseguia dançar, além de ter outros benefí-cios. “Me senti capaz, percebi que posso fazer algo que não

imaginava. Eu prestei mais atenção ao meu corpo. Ti-nha vergonha dele, mas hoje o aceito. A dança não mexe só no corpo mas também na alma”, contou.

Para a comerciante Rilmar Barros não é uma questão de

SOBRE RODAS Rosália (esq.) e Rilmar (dir.) praticam a dança com alegria

autoestima, mas de conquis-tar espaço, estar inserida na sociedade. Mesmo com parte dos movimentos comprome-tidos, devido a um acidente de carro, os compromissos dela são iguais aos de todo mun-do, seja no trabalho ou com as duas filhas, nada a impede de ir e vir, inclusive de dirigir um carro adaptado. Então, dan-çar torna-se outra conquista. “Sempre gostei e foi o má-ximo descobrir que poderia fazer na cadeira de rodas. Sou independente e adoro a vida, adoro dançar”, disse.

A Cadências, companhia da qual elas fazem parte, tem um trabalho na reabilitação do deficiente físico através da dança. O gupo é coordenado pelas professoras, formadas em educação física, Lilianna Martins e Maria Eliza Mendes, que desenvolvem no Estado essa integração artística entre dançarinos sem deficiência e cadeirantes. Os entraves para manter o grupo são os mes-mos de qualquer outra compa-nhia. A começar pela falta de estrutura, pois não dispõe de uma academia para os ensaios, que ocorrem sem dia fixo e em

locais improvisados – como a sala de exercícios de um con-domínio residencial –, a escas-sez de patrocínio, e o próprio acesso aos locais de apresen-tação de dança esportiva em cadeira de rodas.

No entanto, essas dificul-dades unem o grupo na divul-gação da dança sobre rodas, que, segundo Mariel Rocha,

Dificuldades, como a falta de local e horário específicos para a realização de ensaios não abalam a união dentro do grupo Cia Cadências

psicóloga e coordenadora do projeto Fazer Viver, melhora a vida dos participantes. “Qual-quer atividade, principalmente atividades lúdicas: de dança, de música, de arte, tudo isso é bom para as pessoas com deficiência. É uma forma de elas se inserirem socialmente, desenvolvendo outras habili-dades que têm”, afirmou.

Balançando ao som frenético das guitarrasGABRIELA ALCÂNTARA

O som que sai das cai-xas é agitado e clássico. Ao ouvir as primeiras notas da guitarra, uma comoção geral pode ser sentida na pista de dança, e uma moça mais animada levanta os braços para comemorar: o dj acabara de colocar “Voodoo Child”, de Jimmy Hendrix, considerado por muitos o melhor guitarrista do mundo, e um dos músi-cos quase obrigatórios nas pistas de dança. Quer dizer, ao menos naquelas em que o rock ‘n roll predomina.

Não é de hoje que os jovens começaram a reque-brar ao som das guitarras. A bem da verdade, o rock nasceu, em meados dos anos 1950, como uma mú-sica que tocava principal-

mente em bailes estudantis. Quem não se lembra do re-bolado de Elvis, que encan-tava as moças e inspirava os rapazes? Difícil também esquecer os bailinhos dos anos 1960, onde os Beatles reinavam – ou, para quem prefere um olhar mais lo-cal, os rapazes do The Fe-vers, que, por sinal, ainda estão por aí.

Para a graduada em ci-nema Ianah Maia, 22, a dança é uma forma de li-bertação. Ela afirma que junta rock e dança sempre que pode, e diz ainda que isso a ajuda a relaxar. Se-gundo Ianah, as festas tra-zem também a chance de conhecer novas bandas: “sei que não é tão novo, mas conheci os Talking Heads em uma festa a que fui na semana passada”.

E que não se enganem os puristas, acreditando que apenas os ouvintes de um estilo mais pop ou indie conseguem entrar no baile: metaleiros e punk rockers

também dançam. Sim, pois, se em seu sentido mais cru, a dança é uma reação do corpo ao estímulo musical, nada mais natural que en-trar numa roda punk para dançar, mesmo que isso signifique fazer movimen-tos agressivos com chutes e pontapés. De acordo com o

estudante Marcelo Moreira, 19, quando se escuta uma boa guitarra, “a vontade de bater cabeça é praticamen-te instantânea”.

Independente do gêne-ro, o rock volta a tomar seu espaço nas pistas - onde, atualmente, predominam o pop, brega ou funk. Isso acontece, provavelmente, porque os frequentadores de festas de rock se identi-ficam mais facilmente com as músicas, que geralmente ouvem em casa. O músico Diego Max, 23, que tam-bém trabalha como dj, diz que já salvou algumas pis-tas de dança com o estilo. “Alguém colocou um remix de Mpb antes de eu entrar, daí ataquei de ‘Free the ro-bots’ e foi uma reação qua-se imediata, de gente pu-lando e neguinho batendo

o pé e sacudindo a cabeça”.O jornalista e designer

Luiz Arrais, 57, ressalta ainda que o ritmo acelera-do traz à tona várias face-tas das pessoas. “Sempre fui muito tímido, mas, em todos os shows do Ave Sangria, eu subia no palco e dançava sozinho quando eles tocavam ‘Geórgia, a carniceira’”.

ATEMPORALPara o produtor Pe-

dro Santos, 24, o rock “é bom de se dançar porque é clássico, atemporal. En-quanto hoje em dia tem gente lotando festa de brega, daqui a uns anos, ninguém mais vai querer ouvir isso. As guitarrinhas não, essas estão aí desde que minha avó suspirava pelo Johnny Cash”.

“O rock é bom de se dançar porque é classico, atemporal”, afirma o produtor Pedro Santos

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Prática do balé beneficia adultosFo

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MOVIMENTO Alunos aproveitam para se exercitar na barra

GABRIELA ARANTES

O estilo clássico sempre esteve associado a crianças e adolescentes. Essa visão foi re-forçada, ao longo dos anos, sob o lema de quanto mais cedo a pessoa iniciar no balé, melhor para sua desenvoltura, em virtu-de de o corpo ainda se encontrar em formação e apto a submeter-se à dura rotina de exercícios. Devido a isso, é muito comum os pais matricularem os filhos na infância para incentivá-los à prática do balé e, a partir daí, despertar neles o interesse de permanecer na dança pelo resto da vida.

No entanto, o universo so-fisticado e complexo do balé se modificou. O que antes parecia impensável, hoje é totalmente possível, especialmente para aqueles de 30, 40 ou 50 anos. “Antes, havia uma pressão de que o balé não era para adultos e que eles não podiam fazer isso ou aquilo. Mas, com o passar do tempo, eles perceberam que po-diam dançar, sim. E o melhor de tudo: vale a pena”, conta Flávia Barros, 70 anos, professora de balé, formada pela escola de dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Ao som da música clássica, os alunos fazem alongamento, flexões, atividades no solo, no centro (adágio), na barra e de frente ao espelho, de saltos e pliés (dobrar o joelho). Por exi-gir rigor e esforço, as limitações para um adulto são mais eviden-tes do que para uma criança. “O corpo de uma criança não está

formado e, por isso, é mais fácil moldá-lo. E as dificuldades de um adulto acontecem por vá-rios fatores: sedentarismo, idade, vícios posturais e diminuição da mobilidade. Mas a prática pode ajudá-los a superar esses entra-ves”, afirma Alexandre Trocco-li, professor de balé para adultos. “No início, tive problemas com coordenação motora e sincro-nismo, mas trabalhei em cima deles com exercícios e ganhei equilíbrio,” conta a atendente Magalli Fernandes, 50 anos.

O perfil dos alunos que vão em busca do balé é representa-do por universitários, pessoas

que nunca tiveram contato com a dança e por gente que, de al-guma maneira, deseja resgatar a modalidade clássica. A assitente

social Mônica Barroso, 46 anos, faz balé desde os oito anos, mas deixou de se apresentar nos

palcos em 2001 para se dedicar à área profissional. “Hoje faço balé com o objetivo de manter a forma. Em vez de recorrer a exercícios como pilates, pratico a dança duas vezes na semana. O balé me dá prazer”.

Outro detalhe importante é o benefício ao corpo e à men-te. “A dança, enquanto ativida-de física, mantém o corpo em movimento, proporcionando o bem-estar”, diz o fisioterapeu-ta e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Uni-cap) Bruno Melo. A terapeuta ocupacional e professora da Universidade Federal de Per-

nambuco (UFPE) Flávia Pereira complementa: “ Dançar melho-ra o humor, reforça a identidade e facilita as relações interpes-soais”. A psicóloga Magda Fi-gueiroa, 43 anos, atribui ao balé a melhora em sua qualidade de vida. “Antes, eu sentia dores nas pernas e muito cansaço. Com o balé, esses problemas desapare-ceram. Além disso, ele trabalha minha memória, tira o estresse e melhora minha autoestima”, afirma. Cuidados com a realiza-ção dos exercícios, dormir bem e ter uma alimentação saudável são essenciais para o bom fun-cionamento do corpo.

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“A dança mantém o corpo em movimento, proporcionando o bem-estar”, diz o fisioterapeuta Bruno Melo

EXPERIÊNCIA Pessoas de mais de 30 anos iniciam prática da dança

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Melodia e ritmo na hora de malharMILTON RAULINO

Halteres pesados, horas de corrida e muito esforço. Esqueça tudo isso. A busca pelo corpo perfeito, que leva homens e mulheres de todas as idades às academias de gi-nástica, pode ser simplificada por uma atividade bastante di-vertida. A arte de dançar alia perda de calorias ao ganho de qualidade de vida e de bem estar físico, mental e emocio-nal.

Tal como através de exer-cícios físicos comuns, é possí-vel deixar o corpo em forma dançando. Em uma hora de tango ou balé clássico, por exemplo, uma pessoa gasta, em média, entre 300 e 350 ca-lorias. Já em ritmos mais agi-tados, como samba ou salsa, pode-se queimar até 450 calo-rias. Sendo feita com regulari-dade e supervisionada por um profissional, a prática pode, inclusive, substituir atividades aeróbicas, como esteira e bici-

cleta. “Além da perda calórica, ela tonifica os músculos, exer-cita a flexibilidade e é bastante prazerosa”, diz a professora de educação física Eunaítala Farias.

A eficácia da arte como atividade física acabou se desdobrando em novos tipos de exercícios da musculação tradicional. É o caso do body jump, por exemplo, que con-siste em coreografias coorde-nadas feitas sobre a cama elás-tica. Já o body pump representa um tipo de malhação ritmada. “Os pumps e jumps são uma

mistura de dança, música e atividade aeróbica. Essa com-binação é potente para quem quer perder peso, além de fa-zer bem ao coração”, afirma Eunaítala.

Outra modalidade que tem sido frequentemente pro-curada nas academias é a dan-ça aeróbica. Bruna Monteiro, professora de educação física, já ensina esse tipo de dança há quatro anos. Nelas, os alunos se exercitam ao som daquilo de que gostam – do brega, ao axé e à música eletrônica. E é assim que eles encontram

a disposição para enfrentar a rotina. “A dança faz muito bem, porque você se exercita divertindo-se, fazendo algo que lhe dá prazer”, diz Bruna.

SAÚDE ALÉM DO CORPOApesar de um corpo sa-

rado ser o objetivo de alguns dançarinos e atletas, o bem-estar reservado aos pratican-tes da arte é ainda mais am-plo. Muito mais que trabalhar o físico, ela também gera sa-tisfação mental e emocional. “A dança é exercício para o corpo e para a alma. Com ela,

conseguimos expressar nosso estado interior, como também nos melhoramos por dentro”, diz a terapeuta holística e pro-fessora de dança cigana, Ro-berta do Espírito Santo.

Os alunos de Roberta aprendem uma espécie de te-rapia que foi formulada pela professora há dois anos. Nela, o dançarino passa a se co-nhecer melhor e a ficar mais à vontade consigo mesmo. “Muitas vezes, a vida corri-da trava nossos movimentos. Dançando, podemos relaxar e desestressar para vivermos melhor, sendo quem realmen-te somos”, explica. Como resultado, a turma aprende a ficar mais segura não somen-te na hora de mexer o corpo nos bailes e nas festas mas também nos simples movi-mentos do cotidiano. “A dan-ça demonstra autoafirmação. Por isso, ela aumenta a auto-estima, diminui a timidez e ajuda nas relações pessoais e profissionais”, diz a terapeuta.

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BODY PUMP Atividade é uma das inovações da malhação tradicional

Prática regular ajuda a manter vida saudávelANDRÉ AMORIM

O ditado popular diz que quem canta os males espanta. Pode até ser que isso seja verdade, mas uma pesquisa realizada pelo professor de educação física e pes-quisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Flávio Campos de Morais, mostrou que a prática de dança de salão tam-bém pode ser um importante aliado no combate a doenças co-muns no processo de envelheci-mento, em especial a hipertensão. De acordo com dados do Minis-tério da Saúde, cerca de 65% dos brasileiros com 65 anos ou mais têm esse mal, e esse número pode crescer nos próximos anos.

A pesquisa, realizada no município de Vitória de Santo Antão, contou com a ajuda de um grupo bem animado de 29 idosas, com idades entre 65 e 70 anos, inscritas no programa Saúde da Família, do Governo Federal, e atendidas pelo posto de saúde do bairro da Bela Vis-ta. As aulas de dança são minis-tradas pelo próprio pesquisador,

na quadra da paróquia da igreja do bairro. Em comum, o grupo apresentava uma mesma recla-mação. Todas se queixavam de problemas como pressão alta ou de diabetes e colesterol alto.

Para comprovar o resulta-do, o pesquisador aferiu a pres-são do grupo antes e após cada sessão, por um período de qua-tro meses. “Os resultados de-monstraram diminuição média significativa. As sessões foram significativas em potencializar os efeitos hipotensores”, disse. Outro dado relevante da pes-quisa é a diminuição na dose de medicamentos de algumas das participantes do estudo, o que confere à dança de salão a ideia de tratamento alternativo.

O presidente da Associação Pernambucana de Cardiologia, Carlos Melo, ratifica os resulta-dos da pesquisa. De acordo com o cardiologista, a prática de exercícios físicos, como a dança, é um tratamento eficaz contra esse tipo de doença, mas que não pode ser encontrado nas prate-leiras de farmácias. “Dançar faz

bem não só para o sistema car-diovascular como, também, para o emocional e o cognitivo dos idosos”, disse. “Quando fazemos a receita de um remédio, os exer-cícios físicos também estão inse-ridos não como recomendação, mas como obrigação. O proble-ma é que a gente não encontra nas drogarias”, disse.

A empregada doméstica Ma-ria das Graças Aguiar ficou ani-mada ao saber que dançando ela pode evitar problemas como, por exemplo, a hipertensão. Aos 67 anos, a doméstica está assustada com os altos e baixos na pressão e aponta a rotina no trabalho e a dieta rica em sal como vilões. “É muita coisa no trabalho. Eu acho que estou velha para isso. A co-mida lá da casa tem um dedinho bom de sal”, disse.

E o marido de Maria das Graças pode ir-se preparando que muita coisa vai mudar na rotina deles. “Vou ver se, na minha folga, eu dou uma dan-çada com meu marido. Vamos ver se as coisas, agora, ficam melhores para mim.”

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SAÚDE Dança de salão é alternativa no combate à hipertensão

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Dança do ventre se torna popularTHEREZA DOS ANJOS

A dança é algo capaz de envolver os mais variados povos. Entretanto, é evidente o fascínio que causa em gran-de parte das mulheres, especialmente quando consegue traduzir para as pes-soas um pouco do universo feminino. Nada representa melhor a sensualida-de do que a milenar dança do ventre, originária do Oriente Médio e Ásia Meridional. O estilo árabe apresenta diversas vertentes, que, mesmo exibin-do coreografias distintas, sempre pos-suem como principais características os movimentos sinuosos do quadril e da barriga.

Mesmo que o estilo árabe já fosse conhecido no país, foi apenas no ano de 2001, com a exibição da novela “O Clone” pela Rede Globo, que a dança do ventre começou a ganhar maior repercussão. Mesmo se tornando conhecida e acessível ao público feminino, a coreografia era vista por alguns como imoral, inibindo muitas mulheres de aprenderem o estilo.

No caso da terapeuta ocupacional Renata Magalhães, o preconceito foi do próprio namorado, que não aceitava as roupas e os movimentos. Mesmo que te-nha demorado alguns anos, as mulheres perceberam que a própria atitude era ma-chista, e lentamente o estilo passou a ser visto como arte.

Para comprovar essa mudança de pen-

samento, a professora e dançarina Renata Machado afirma que “o ensino de dan-ça do ventre no Recife está muito bom, muitas academias têm oferecido aulas, e há também um aumento no número de mulheres interessadas”.

O estilo não tem contraindicações de idade, podendo ser praticado desde a in-fância até a terceira idade. Este é o caso da

advogada Bernadete Lins, que começou a fazer as aulas em 2003. Aos 56 anos, ela se mostra apaixonada pelo estilo, exibin-do orgulhosamente as roupas usadas nas apresentações. Ela conta que a dança foi fundamental para superar a morte do fi-lho, e também a fez valorizar-se mais.

Karol Mahailah, professora de dan-ça do ventre desde 2001, declara que “os

benefícios são muitos, pois as mulheres perdem peso e modificam a postura, pas-sando a se sentir mais sensuais”. Poucos poderiam imaginar que uma dança mile-nar seria capaz de modificar de tantas for-mas a vida de quem a pratica. A dança não causa apenas uma mudança física, mas também um aumento de autoestima, fa-vorecendo uma melhor qualidade de vida.

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pratica a dança com uma espada

Biodança proporciona bem-estarTÁSSIA MELO

Muitas perguntas surgem ao se ouvir falar da biodança. Isso acontece porque ela ainda é pouco conhecida e valorizada, algo que serve para levantar dúvidas sobre seus resultados. Enquanto alguns acreditam que fazer ou ensinar a biodança foi de extrema impor-tância para suas vidas, outros du-vidam que ela seja útil e cumpra aquilo que propõe, já que não possui um “método” específico.

De acordo com a professora Ana Maria Leão, que participou de work-shops e praticou a bio-dança por um tempo, a atividade trouxe benefícios consideráveis para sua vida. Ela diz que o mais importante foi, “em primeiro lu-gar, a possibilidade de “sentir”, de ser apenas eu, sem rótulos ou julgamentos. Estes dois pontos eram muito marcantes em minha história de vida: não ser boa ou

ruim, competente ou incompe-tente, triste ou alegre - era apenas eu, meus sentimentos e minha ex-pressão.”

A biodança ou biodanza, seu nome original, foi criada na dé-cada de 1960 pelo antropólogo e psicólogo chileno Rolando Toro. Ela tem como principais objetivos melhorar a saúde, desenvolver a cria-tividade existencial, elevar a autoestima e garantir o resgate da autonomia. Através do chamado princí-pio biocêntrico, em que se faz uso dos métodos da nature-za para recriar vida, e do ideal de sentir a música e criar seus próprios movi-mentos, é possível realizar trocas de ener-gia positiva nas chamadas “vivên-cias”.

No Recife, a biodança surgiu

depois de um encontro de psi-cologia, em 1978. Cezar Wagner, professor na Universidade Federal do Ceará e facilitador da biodan-ça, foi convidado para fazer uma participação durante esse encon-tro. A partir daí, um grupo se interessou pelo assunto e entrou em contato com ele conseguindo

trazer para cá o pró-prio Rolando Toro. Em 1987, foi criada a Escola Pernambu-cana de Biodanza.

A biodança não é só um tipo de dança. Ela é definida por aqueles que a estu-dam como um sis-tema de integração

afetiva e é considerada uma pe-dagogia da arte de viver. Segundo a fisioterapeuta e especialista no assunto Lorena Oliveira, “qual-quer um pode praticar a biodança. Ela possui a vitalidade como uma

das linhas de desenvolvimento e expressão, trabalhando com dife-rentes qualidades do movimento como força, potência, resistência, fluidez e leveza.”

Apesar das controvérsias, a biodança vem ganhando cada vez mais credibilidade, além de ser um fato comprovado que ela ajuda tanto fisicamente quanto psicolo-gicamente aqueles que a ela recor-rem. É algo que exige disciplina e concentração tanto dos alunos quanto dos facilitadores, mas que vem oferecendo cada vez mais re-sultados positivos.

ALTERNATIVOS Durante as décadas de 70 e 80,

a biodança foi muito praticada por pessoas adeptas de terapias alernativas. Junto com a alimenta-ção natural e a yoga, ela faz par-te do grupo de práticas que são adotadas por quem tenta levar um estilo de vida mais natural.

“Qualquer um pode praticar a biodança”, afirma a fisioterapeuta Lorena Oliveira

Page 8: Dança em Pernambuco

8 | Recife, setembro de 2011 O BERRO

Coreografias de balé distorcem o forróANDRÉ LUFRAMAIA

O forró não é uma dan-ça restrita apenas aos ciclos juninos, ela é praticada o ano inteiro no Brasil, princi-palmente no Nordeste. Para entrar no compasso, não há mistério. Basta se deixar levar pelo tradicional “dois pra lá, dois pra cá”, bem agarradinho, ao som da san-fona, triângulo e a zabumba. Esse é o estilo original de forrozar. Mas, com o pas-sar dos tempos, e o adven-to das bandas estilizadas, o jeito rudimentar da dança desvalorizou-se e perdeu a identidade.

Atualmente, quem vai curtir um show de banda de forró, na esperança de aprender a cadência dos passos originais, depara-se com bailarinos no palco executando saltos acrobá-ticos, com coreografias e

figurinos apelativos, aliados a letras com palavras de bai-xo calão. A única coisa que não se vê é a originalidade. Tal decepção, para quem de-fende o tradicionalismo, se deve à introdução de varia-dos estilos de dança, como o pop, na cultura nordestina. Para os bailarinos, essa nova tendência vem mostrar uma mistura de teatro e espetá-culo, aliada à maneira como são feitas as produções mu-sicais das bandas.

De acordo com a baila-rina clássica, coreógrafa e figurinista, da banda Aviões do Forró, Dyva Brasil, a ideia de trazer casais de bailarinos para o forró é uma estratégia necessária para acompanhar as mudanças pelas quais o ritmo passou. “A proposta é fazer com que o público goste do som e admire com os olhos. O forró autêntico realmente não se vê, pois

ele, não é mais tocado por essas bandas”, disse. Segun-do a profissional de dança, a introdução do contempo-râneo no forró se encaixou

bem, devido à forma livre de expressar a dança numa co-reografia. “Primeiro escuto a canção, vejo os compassos e vou construindo os movi-mentos, tentando expressar, com o corpo, a mensagem da música.”

Com dez anos de ativida-des em bandas, o coreógra-

fo do Voadores do Forró, João Dance, 31 anos, revela que busca montar suas co-reografias, para serem ven-dáveis, espelhando-se nas técnicas usadas pelas can-toras internacionais, como: Britney Spears, Jannet Jack-son e Jennifer Lopez. “Hoje procuro sempre inovar. Não tenho definição para o esti-lo. Procuro colocar de tudo um pouco, ou seja, jazz, sal-sa, samba e o street”, contou. O bailarino reconhece que a autenticidade está extinta e se justifica, contrariando os conservadores quanto à maneira de dançar. “Infeliz-mente já se foi à época de que se ia para uma festa de forró, para dançar agarradi-nho.”

CRÍTICASDefensor da forma tra-

dicional de dançar, o pro-fessor da escola Studio de

Danças, Rogério Alves, 42 anos, é totalmente contrá-rio ao que se pratica nas megaproduções estilizadas. “O que eles fazem são pas-sos soltos, misturados com o jazz, o swing e a lambada. Isso não é forró. São apelos performáticos. A química do forró perdeu sua iden-tidade. O forró, o xote e o baião não existem nas mãos dos coreógrafos de bandas”, disse Alves.

O professor e diretor da academia Além do Passo, Flávio Campos, 36, refor-ça o coro. “Falta, para eles, contextualização de como se deve dançar. Não estão preocupados com a essên-cia. O estilo é agarradinho, não com piruetas aéreas. O turista passa a ter uma visão contrária. Por isso, defendo que eles estão queimando a imagem do forró”, afirmou Flávio Campos.

“Hoje procuro sempre inovar. Não tenho definição para o estilo”, diz João Dance, da banda Voadores do Forró.

Quadrilhas estilizadas provocam polêmicaRODRIGO ADAMSKI

Os passos indisciplinados e preguiçosos da figura do matu-to, incorporados nas tradicio-nais quadrilhas juninas, podem virar nostalgia. Isso porque uma nova modalidade dos con-juntos de dança popular nor-destina vêm ganhando força: a estilizada. Nessa, a sanfona, o triângulo e a zabumba dividem espaço com teclados e guitar-ras, e o alavantour e o anarriê dão lugar a coreografias sincroni-zadas e ordenadas muito além das antigas interpretações nas festas de São João.

Enquanto as quadrilhas tradicionais se preparam nas semanas que antecedem o feriado junino, os grupos es-tilizados passam o ano intei-ro dedicando-se à criação de enredos, de cenários, de figu-rinos e de passos previamente ensaiados à exaustão.

Com a mudança, entram em cena personagens como os casais de reis, o príncipe e a princesa, os ciganos e as espanholas. E, se antes a fun-ção do marcador era ditar os

passos, agora, na ruptura en-tre o antigo e o moderno, ele torna-se um apresentador e parte da coreografia.

Os concursos também não se prendem apenas à épo-ca das festas de junho, são de-dicados ao novo gênero e têm critérios de avaliação que mais se parecem com o de carna-vais cariocas, entre eles, reper-tório, evolução, criatividade e

adereços. Para a coreografa Marilana Freitas, da quadrilha junina Raio de Sol, a variação das performances não deve ser comparada às escolas de samba do Rio de Janeiro. “A gente trabalha em cima de um enredo que está ligado à his-tória e não perdemos a essên-cia da cultura nordestina. Os passos, apesar de modernos e com outras interpretações, es-

tão ligados a movimentos tí-picos como o cavalo-marinho e a ciranda”, afirma.

Estudiosos apontam que a estilização das quadrilhas acompanha os anseios do público, mas não representa o fim da cultura do meio ru-ral. Segundo Zuleica Dantas, professora de História da Universidade Católica de Per-nambuco, a nova perspectiva

rítmica já se descolou da tradi-ção agreste. “Essa modalida-de tem outro significado, um novo tipo de representação e faz parte de um processo de necessidade da espetaculari-zação do mundo urbano. As músicas são diferentes e o que importa é ganhar concursos”, afirma ela.

Se, por um lado, o costume pernambucano de dançar qua-drilha desde criança sempre foi lúdico e enraizado na his-tória brasileira como um movi-mento típico de representação de classes menos favorecidas, a cada ano e a cada novo con-curso, mais altos ficam os in-vestimentos por conta das es-tilizadas. O custo de substituir o chapéu de palha, camisa re-mendada e bigodes falsos por fantasias luxuosas e cenários modernos, ao todo, faz com que as apresentações cheguem a custar R$ 40 mil. “É só com muito amor mesmo pelo São João para nos mantermos jun-tos e no compromisso com a quadrilha”, afirmou André de Azevedo, do grupo Arraial do Balão Dourado.

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QUADRILHA RAIO DE SOL: coreografias teatrais e elegância transformam o “novo matuto”