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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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A INFLUÊNCIA DO LÚDICO NO DESENVOLVIMENTO DO RACIOC ÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

Autora: Leonor Etelvina Niehues¹ Orientadora: Simone Burioli Ivashita²

RESUMO: O tema de estudo desse artigo insere-se diretamente sobre o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, tendo por base que a utilização de jogos e brincadeiras são fundamentais no contexto escolar, para o desenvolvimento das noções e conceitos matemáticos. A problemática surgiu das práticas em sala de aula e da conversa com colegas de profissão, que manifestaram preocupação em relação à maneira como essa disciplina escolar é abordada em sala de aula e também na dificuldade que os alunos têm de desenvolver e organizar seu pensamento e raciocínio lógico-matemático. O objetivo maior desse trabalho é subsidiar os educadores da disciplina de matemática, especificamente da 5ª e 6ª séries, e da sala de recurso, quanto à importância da ludicidade no desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. Entendemos que é necessário que o professor posicione-se de forma consciente, baseado em uma teoria que oriente a articulação dos conteúdos trazidos pelos alunos com os conteúdos culturais e científicos transmitidos pela escola. Utilizamos como ponto de referência a perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano, fundamentada em Vygotsky (2001). Os jogos e brincadeiras devem ser utilizados como instrumentos culturais de desenvolvimento e aprendizagem por meio da mediação do educador. Palavras-chave : Atividades lúdicas; Raciocínio lógico; Aprendizagem.

¹Pós Graduação em Recursos Humanos para a Alfabetização, Psicopedagogia, Administração, Supervisão e Orientação Educacional, Psicopedagogia Clínica e Institucional e Métodos e Técnicas de Ensino. Licenciada em Pedagogia, atua na Escola Estadual de Mandiocaba-EF, ²Pedagoga formada pela Universidade Estadual de Maringá, com mestrado em educação pela mesma instituição. Atua na área de História da Educação.

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INTRODUÇÃO

Ensinar matemática de uma forma que haja efetivamente compreensão por

parte da maioria dos estudantes exige esforço e dedicação constantes dos

professores, é tarefa árdua. Os métodos de ensino utilizados por uma grande leva

dos educadores dessa disciplina tem gerado em muitos estudantes a falta de

interesse, outros ainda que veem a matemática como um terror, uma vilã e a ela

atribuem a culpa pelo fracasso escolar, para comprovar esses dados no entanto,

basta observar os índices educacionais brasileiros, nessa área de ensino.

Hoje ainda, o que mais se vê nas práticas pedagógicas são aulas expositivas,

onde o professor passa na lousa aquilo que ele considera importante e ao aluno,

resta fazer a cópia e repetir, muitas vezes, seguindo um modelo ou explicações

superficiais dadas pelo professor que raramente chega à compreensão dos

mesmos, que por sinal já não assimilaram em todos os anos de escolaridade

passados, os conceitos matemáticos mais elementares. Isso, no entanto, se reflete

na maioria das vezes nos dias de “prova” _ o professor só “troca” os números de

uma mesma questão do caderno e o aluno fica completamente inerte, sem saber por

onde começar. Confirmando assim, que pouco se aprende quando se ensina por um

processo de “transmissão de conhecimentos”.

Diariamente nas escolas, grande parte das queixas relatadas por educadores

da referida área aos pedagogos, referem-se às dificuldades dos educandos no

processo de aprendizagem de conteúdos da disciplina que exijam o raciocínio

lógico. E esses, por sua vez, acabam por transferir a culpa somente para os

professores dos anos iniciais que não ensinaram eficientemente, tendo em vista, que

não conseguem assimilar os conceitos matemáticos mais incipientes. E a realidade

confirma que muitos deles continuam fazendo pouco para que essas dificuldades

sejam superadas. Vasconcellos, (1994, p. 54) aponta que “o caminho não é ficar se

buscando o “culpado”, na verdade, justificativas para o mais-que-perfeito imobilismo.

Isto é desgastante e só provoca reações afetivas de ataque e defesa. Não podemos

também nos omitir”.

É também preocupante, como a maioria das crianças dos anos iniciais do

ensino fundamental e pré-adolescentes de 5ª e 6ª séries, bem como aqueles que já

frequentam uma sala de recursos, apresentam pouco desenvolvidos os seus

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raciocínios lógico-matemáticos e o quanto isso tem contribuído para o fracasso

escolar desses educandos.

Embora tenhamos consciência dos diversos fatores que podem impedir uma

aprendizagem mais eficaz e duradoura, tomaremos para discussão as dificuldades

apresentadas pelos educandos relacionadas à área matemática e ao

desenvolvimento do raciocínio lógico. Sabemos também, que existem muitas formas

de transformação, que podem contribuir com esse rompimento, garantindo uma

qualidade maior no ensino e na aprendizagem que é a utilização da ludicidade em

sala de aula.

Dessa forma, o presente artigo, tem a finalidade de refletir os problemas

referentes à aprendizagem de matemática e mais especificamente do

desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático que muitas vezes estão

relacionados às práticas educativas ineficientes (métodos de ensino), buscando

subsidiar os educadores da disciplina de matemática, especificamente da 5ª e 6ª

séries, e da sala de recurso, quanto à importância e os benefícios da ludicidade no

desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático na prática pedagógica, como

facilitadora do processo de ensino e da aprendizagem, buscando amenizar a

ansiedade gerada em todos nós, que vivenciamos cotidianamente tais dificuldades.

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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 A Utilização da Ludicidade no Ambiente Escolar

O que se constata hoje é que a grande maioria das escolas não tem

conseguido garantir com seus discentes a apropriação significativa dos conteúdos

historicamente acumulados, que é sua função primeira, pois, durante muito tempo e

presente até os dias atuais, as políticas de educação no Brasil estiveram ligadas a uma

estrutura burocrática, ocasionando, um sistema educacional pouco eficiente,

apresentando índices que o colocam nos últimos lugares, com reduzido número de

concluintes do Ensino Fundamental, se for comparado com as estatísticas de outros

países da América Latina.

Dessa forma, um dos grandes desafios da escola pública está em garantir um

padrão de qualidade para todos e, ao mesmo tempo respeitar a diversidade de cada

pessoa, em todos os seus aspectos, qual seja (cultural, ético, biológico, social),

trabalhando com as diferenças, buscando sempre reconhecê-las e não camuflá-las.

É notável nas salas de aula, a grande dificuldade que muitos educandos

encontram na aprendizagem da matemática, disciplina esta, tão indispensável à vida

em sociedade.

Diversos pesquisadores da área educacional apontam que é possível uma

revisão na prática pedagógica dos educadores que ministram tal disciplina, tendo em

vista, o quadro de fracassos que vislumbramos nessa área de ensino. Moisés,

(2006, p.59), frisa que:

A última década viu se acirrarem as críticas contra a forma como a escola vem trabalhando os conteúdos escolares. A matemática não é exceção. Ao contrário, talvez seja um dos campos onde melhor se observa o fenômeno do “encasulamento” ou “encapsulamento” da escola.

Uma visão mais abrangente de educação considera que, educar não é só

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ensinar a ler, a resolver um problema matemático ou dar forma a um pensamento. É,

principalmente, atender às necessidades do desenvolvimento da pessoa em todos

os aspectos. O educador precisa ter consciência e procurar romper o

preestabelecido, o poder autoritário e centralizador, as proibições sem sentido, que

levam ao fracasso eminente do educando.

Todavia, muitos profissionais dessa área vêm rogando por inovações na

maneira como essa disciplina escolar é abordada na atualidade nas salas de aulas e

concordam que a matemática é um tipo de conhecimento que pode ser adquirido a

partir das ações com as pessoas, implica, portanto, interação.

Para Gasparin (2009, p.103),

Na sala de aula, a ação do professor tem como objetivo criar as condições para a atividade de análise e das demais operações mentais do aluno, necessárias para a realização do processo de aprendizagem. Depois, ambos seguem juntos numa ação interativa na qual o professor, como mediador, apresenta o conteúdo científico ao educando, enquanto este vai, aos poucos, tornando seu o novo objeto de conhecimento.

Para tanto, em sala de aula, é necessário que o professor esteja atento para

tirar proveito de todas as situações, incentivando as crianças a pensarem, a

estabelecer relações, a concentrar-se, a aprimorar seu tato, a construir a partir do

erro, visto que, as pessoas não podem aprender com maior qualidade, por meio da

imposição, medo, obediência e isolamento.

Sabemos, contudo, que existem muitas formas de transformação, de

libertação, que podem contribuir com esse rompimento, garantindo uma qualidade

maior no ensino e na aprendizagem, que é a utilização da ludicidade em sala de

aula. Almeida (2000, p.13), relata que:

A educação lúdica está distante da concepção ingênua de passatempo, brincadeira vulgar, diversão superficial. Essa é uma ação inerente na criança, no adolescente, no jovem e no adulto e aparece sempre como uma forma transacional em direção a algum conhecimento, que se redefine na elaboração constante do pensamento individual em permutações com o pensamento coletivo.

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E continua o mesmo autor:

A educação lúdica, além de contribuir e influenciar na formação da criança e do adolescente, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. Sua prática exige a participação franca, criativa, livre, crítica, promovendo a interação social e tendo em vista o forte compromisso de transformação e modificação do meio. Integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus objetivos, além de explicar as relações múltiplas do ser humano em seu contexto histórico, social, cultural, psicológico, enfatizam a libertação das relações pessoais passivas, técnicas para as relações, criadoras, inteligentes, socializadoras, fazendo do ato de educar um compromisso consciente intencional, de esforço, sem perder o caráter de prazer, de satisfação individual e modificador da sociedade (ALMEIDA, 2000, p. 31).

Assim, considerando todas essas afirmações, podemos crer que a utilização

de jogos e brincadeiras no contexto escolar são fundamentais, especificamente para

o desenvolvimento das noções e conceitos matemáticos, onde pretendemos fixar

nossa atenção. Seus usos devem envolver atividades que possam estimular a

construção do raciocínio lógico pela criança em sala de aula, as quais irão contribuir

em muito com a organização do pensamento. Tomando como pressuposto este

entendimento, justifica-se nossa proposta de trabalho na escola, tendo em vista, a

necessidade dos professores incentivarem as crianças ao raciocínio e a criar o

hábito de estabelecer relações.

Os jogos mantêm relações entre as crianças e a permite aprender a viver e a

crescer conjuntamente nas relações sociais. Segundo Almeida, (2000, p. 53), “o jogo

não é uma atividade isolada de um grupo de pessoas formadas ao acaso: reflete

experiências, valores da própria comunidade em que estão inseridas”.

É, pois, preocupante, como a grande maioria das crianças dos anos iniciais do

ensino fundamental e pré-adolescentes de 5ª e 6ª séries, bem como aqueles que já

frequentam uma sala de recursos, apresentam pouco desenvolvidos os seus

raciocínios lógico-matemáticos e o quanto isso tem contribuído para o fracasso

escolar desses educandos.

Grande parte das queixas relatadas por educadores, da área matemática, aos

pedagogos, refere-se às dificuldades dos educandos no processo de aprendizagem

de conteúdos da disciplina que exijam o raciocínio lógico. E esses, por sua vez,

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acabam por transferir a culpa somente para os professores dos anos iniciais que não

ensinaram eficientemente, tendo em vista, que não conseguem assimilar os

conceitos matemáticos mais elementares.

As abordagens que refletem com maior propriedade sobre a utilização do

lúdico no ambiente escolar, como uma forma de se resgatar o encantamento, a

alegria e o prazer de aprender poderão contribuir para ampliar o conhecimento da

criança, possibilitando novos caminhos para um profissional mais dinâmico e

reflexivo, capaz de atender as necessidades dos educandos, pois cotidianamente, o

tempo e a história nos conferem a busca por novas metodologias que possam tornar

mais significativo o processo dinâmico que é a aprendizagem. Silva (2004, p.26)

afirma que,

Ensinar por meio de jogos é um caminho para o educador desenvolver aulas mais interessantes, descontraídas e dinâmicas, podendo competir em igualdade de condições com os inúmeros recursos que o aluno tem acesso fora da escola, despertando ou estimulando sua vontade de frequentar com assiduidade a sala de aula e incentivando seu envolvimento no processo ensino e aprendizagem, já que aprende e se diverte, simultaneamente.

O uso de jogos e curiosidades no ensino de matemática faz com que os

educandos gostem de aprender esta disciplina, mudando a rotina da classe e

despertando o interesse do aluno envolvido. A aprendizagem por meio de jogos

como dominó, quebra-cabeça, palavras cruzadas, memória e muitos outros, permite

que o aluno faça dela (da aprendizagem), um processo interessante e divertido,

assim sendo, o professor pode aproveitar o prazer decorrentes dessas brincadeiras

para articular com o aprendizado das áreas do conhecimento, tornando a

aprendizagem um momento prazeroso e não cansativo.

1.2 O Aprender e o Brincar na Perspectiva Históric o Cultural

Encontrar um novo caminho para reorientar a prática, refletir a importância da

ludicidade no processo de ensino e aprendizagem, apontar os benefícios das

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atividades lúdicas em uma sala de aula, são discussões fundamentais a serem

realizadas no ambiente escolar por todos os envolvidos nos serviços de ensino.

A ludicidade não se restringe ao mero passatempo, brincadeira ou diversão

superficial, trata-se de uma ação essencial da criança, a qual manifesta-se sempre

na elaboração de um pensamento individual em relação com o pensamento coletivo,

de um grupo. Ensinar de maneira lúdica é uma das formas mais eficazes de fazer

com que as crianças possam sentir prazer em aprender, pois brincar para as

crianças é coisa séria, visto que, é por meio da brincadeira que a criança aprende a

se relacionar e conviver com o mundo.

A dimensão sócio-cultural é privilegiada em diversas abordagens relacionadas

à educação, a teoria de Vygotsky, por sua vez, salienta o papel do professor como

central no processo ensino-aprendizagem, ao considerar o conhecimento e o

pensamento humano como essencialmente culturais, decorrentes de atividades

sociais, da linguagem, do discurso e de outras formas culturais.

Vygotsky (2002 p. 94) relata que “a aprendizagem das crianças começa

muitos antes de elas frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizagem

com a qual a criança se defronta na escola tem sempre uma historia prévia”.

Os estudos deste autor sobre o aprendizado decorrem da compreensão do

homem como um ser que se forma em contato com a sociedade, para ele, o homem

não se constrói homem na ausência do outro. Assim, observamos a importância da

mediação, da intervenção, do contato, para que ocorram avanços no

desenvolvimento global da pessoa, o que certamente não ocorreriam de forma

espontânea.

Vygotsky,(2001), considera que as potencialidades da pessoa devem ser

levadas em conta no processo de ensino-aprendizagem. Isto porque, a partir do

contato com uma pessoa mais experiente e com o quadro histórico-cultural, as

potencialidades do aprendiz são transformadas em situações que ativam nele,

esquemas processuais cognitivos ou comportamentais, ou de que este convívio

produza no indivíduo novas potencialidades, em um processo dialético contínuo.

Como para ele, a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, a escola tem função

primordial na construção desse sujeito; ela (a escola) deveria direcionar o ensino

não para etapas intelectuais já assimiladas, mas sim, para etapas ainda não

adquiridas pelos alunos, direcionando o seu trabalho para incentivar novas

conquistas, ampliando o desenvolvimento potencial do aluno.

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A teoria vygostkyana enfatiza que o processo em formação pode ser

concluído por meio da ajuda oferecida ao sujeito na realização de uma tarefa.

O desenvolvimento começa com a mobilização das funções mais primitivas (inatas), com seu uso natural. A seguir, passa por uma fase de treinamento, em que, sob a influência de condições externas, muda sua estrutura e começa a converter-se de um processo natural em um “processo cultural” complexo, quando se constitui uma nova forma de comportamento com a ajuda de uma série de dispositivos auxiliares externos são abandonados e tornados inúteis e o organismo sai desse processo evolutivo transformado, possuidor de novas formas e técnicas de comportamento (VYGOTSKY; LURIA,1996, p. 215, apud TULESKI.2008, p.142).

Dessa forma, o que realmente interessa para a teoria de Vygotsky é a

interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a chamada

experiência pessoalmente significativa; ou seja, ao internalizar um conceito, um

procedimento a pessoa se apropria dele, tornando-o voluntário e independente.

Vygotsky (2001, apud manual Esap, p. 108), lançou o conceito de

desenvolvimento proximal (potencial), onde afirmou que é aquilo que um sujeito é

capaz de fazer com a assistência de outro, seja um instrutor, um parceiro com maior

capacidade, seja até mesmo instrumentos como livros, calculadoras, computadores,

que são produtos de outros indivíduos, (os quais representam uma habilidade

intelectual desses indivíduos).

Vygotsky, (2001, apud manual Esap, p.110), inseriu a noção de Zona de

Desenvolvimento Proximal para avaliar as habilidades cognitivas das crianças, bem

como avaliar as práticas de instrução. A ZDP é aquilo que a criança ainda não tem,

mas que podemos imaginar que está em um horizonte próximo de se desenvolver

de se consolidar.

Gasparin, (2009, p.82), relata que:

Em outras palavras, o ensino fundamenta-se não nas conquistas já efetuadas pela criança, mas nas que se encontram em processo de amadurecimento. Inicia sempre por aquilo que ainda está imatura nela, por isso as possibilidades de ensino são determinadas pela zona de desenvolvimento imediato de cada criança. Isso significa que não é necessário que o desenvolvimento tenha preparado por

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completo os fundamentos sobre os quais a aprendizagem se deve erigir.

Não é possível medir a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) de cada

pessoa, pois é um conceito muito flexível e muito complexo e não é visível na

prática, haja vista que, cada vez que se fala alguma coisa a alguém estamos

alterando sua ZDP e cada pessoa também encontra-se em um nível mais avançado

de desenvolvimento proximal e tem potencial para aprender por força das funções

psicológicas superiores.

Segundo Gasparin, (2009, p. 83), “todo o trabalho realizado na zona de

desenvolvimento imediato encerra-se com a obtenção de um novo nível de

desenvolvimento atual: o aluno mostra que se superou”, isso se caracteriza como a

função de toda a atividade docente.

Dessa forma,

[...] cabe ao ensino escolar, portanto, a importante tarefa de transmitir à criança os conteúdos historicamente produzidos e socialmente necessários, selecionando o que desses conteúdos encontra-se, a cada momento do processo pedagógico, na zona de desenvolvimento próximo (DUARTE,1996, p.98, apud GASPARIN, 2009, p. 84).

As funções psíquicas superiores (memória, percepção, atenção, pensamento

e linguagem), formam a base psicológica do processo de formação de conceitos.

O desenvolvimento das funções psíquicas superiores da criança só é possível pelo caminho de seu desenvolvimento cultural, tanto que se trata de dominar os meios externos da cultura, tais como a linguagem, a escrita, a aritmética, como do aperfeiçoamento interno das próprias funções psíquicas, isto é, a formação da atenção voluntária, da memória lógica, do pensamento abstrato, da formação de conceitos, do livre arbítrio etc. (VYGOTSKY, 1995, p. 313, apud TULESKI. 2008, p.177).

Observamos, que as funções psicológicas superiores, sofrem mudanças de

acordo com o meio sócio-cultural a que são expostas. As funções psicológicas, nas

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palavras de Tuleski (2008, p. 130) “vão adquirindo um grau cada vez maior de

complexidade à medida que os signos produzidos pelos homens são cada vez mais

complexos”. Confirmando assim, que essas funções são construídas ao longo da

história social da pessoa, em sua relação com o mundo e dependem também de

processos de aprendizagens.

Na teoria vygotskyana a aprendizagem aparece como um ponto

extremamente importante na definição dos rumos do desenvolvimento, visto que é

ela (a aprendizagem), que promove o desenvolvimento. Isto é, o fato do aprender é

que vai definir por onde o desenvolvimento vai se dar; o qual depende da mediação

cultural e da qualidade das interações homem/natureza/homem, já que o indivíduo

não nasce pronto.

Isso posto, consideramos que os adultos exercem um papel bastante

importante como agentes de mudança ao transmitir os instrumentos culturais às

crianças. Vygotsky enfatizou o papel dos pais e professores quando formam,

organizam e direcionam de maneira significativa o desenvolvimento mental das

mesmas. Vygotsky (apud TULESKI, 2008, p. 166), comenta que “para isso é

completamente necessário que o mestre saiba de forma concreta e rigorosa por

quais canais deve desviar as tendências naturais da criança, que devem fazer girar

a qual mecanismo”.

Tuleski (2008, p. 166) afirma que, “assumir este papel requer conhecimentos

sobre o desenvolvimento infantil e as possibilidades de trabalho em cada idade, bem

como ter claros os fins educativos propostos pela própria sociedade”. Sendo assim,

o indivíduo será transformado nesse processo, atingindo novos níveis de

compreensão e de desenvolvimento.

Segundo Gasparin, (2009, p. 104),

A mediação realiza-se de fora para dentro quando o professor, atuando como agente cultural externo possibilita aos educandos o contato com a realidade científica. Ele atua como mediador, resumindo, valorizando, interpretando a informação a transmitir. Sua ação desenrola-se na zona de desenvolvimento imediato, através da explicitação do conteúdo científico, de perguntas sugestivas, de indicações sobre como o aluno deve iniciar e desenvolver a tarefa, do diálogo, de experiências vividas juntos, da colaboração. É sempre uma atividade orientada, cuja finalidade é forçar o surgimento de funções ainda não totalmente desenvolvidas.

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Diante disso, uma atividade interessante de se focar neste momento é o

brinquedo ou os jogos como exemplos que constituem aprendizagem e que

promovem sobremaneira o desenvolvimento das crianças de uma fase para a outra.

Vygotsky definiu o papel do brinquedo neste processo e salienta que os jogos

só dão prazer à criança se o resultado for considerado por ela interessante.

Enquanto o prazer não pode ser visto como uma característica definidora do brinquedo, parece-me que as teorias que ignoram o fato de que o brinquedo preenche necessidades da criança, nada mais são do que uma intelectualização pedante da atividade de brincar (VYGOTSKY, 1991, p. 105).

No entanto, é de importância fundamental que ela seja motivada e receba o

incentivo correto em cada período. A criança passa a se interessar por uma esfera

mais ampla da realidade e sente necessidade de agir sobre ela. Agir sobre as coisas

é a principal forma que a criança dispõe para conhecê-las, compreendê-las.

Se ignorarmos as necessidades e os incentivos que são eficazes para colocá-la em ação, nunca seremos capazes de entender seu avanço de um estágio do desenvolvimento para outro, porque todo avanço está conectado com uma mudança acentuada nas motivações, tendências e incentivos (VYGOTSKY, 1991, p. 105).

Essa evolução de um período para o outro, dá-se pela maturação das

necessidades da criança que satisfaz seus desejos momentaneamente e cada

período pede brinquedos específicos e a cada fase superada os brinquedos da fase

anterior deixam de ser interessantes. Nas palavras de Vygotsky (1991, p. 106) é

impossível “ignorar que a criança satisfaz certas necessidades no brinquedo. Se não

entendemos o caráter especial dessas necessidades, não podemos entender a

singularidade do brinquedo como uma forma de atividade”.

É então, por meio do brinquedo que a criança pode satisfazer certas

necessidades, como por exemplo, dirigir como seu pai ou cozinhar como sua mãe, a

brincadeira conduz a criança ao desenvolvimento da vontade, da capacidade de

fazer escolhas.

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No inicio da idade pré-escolar, quando surgem os desejos que não podem ser imediatamente satisfeitos ou esquecidos, e permanece ainda a característica do estágio precedente de uma tendência para a satisfação imediata desses desejos, o comportamento da criança muda. Para resolver essa tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo (VYGOTSKY, 1991, p.106).

Essa imaginação é o brinquedo sem ação, ou seja, essa contradição/

necessidade é resolvida pelo brincar, onde o objetivo principal do brincar é

preencher as necessidades da criança e as várias formas de brincar e os vários

tipos de brinquedos podem ser utilizados pela criança.

Assim sendo, é brincando que ela apreende a cultura do ambiente social e se

insere culturalmente, por meio da construção de normas e regras estabelecidas

participativamente. Vygotsky, (1991, p. 110), constata que “a ação numa ação

imaginária ensina a criança a dirigir seu comportamento não somente pela

percepção imediata dos objetos ou pela situação que a afeta de imediato, mas

também pelo significado dessa situação”.

O desenvolvimento do jogar com regras começa no fim da idade pré-escolar e

se desenvolve durante toda a idade escolar e o brinquedo envolvendo uma situação

imaginária é, de fato, um brinquedo baseado em regras - Exemplo: a criança

imagina-se como mãe e a boneca como criança e, dessa forma, deve obedecer às

regras de comportamento maternal. Assim como numa situação imaginária tem que

conter regras de comportamento, todo jogo com regras contém uma situação

imaginária - por mais simples que seja o jogo com regras, transforma-se sempre

numa situação imaginária, (regras claras ou ocultas), ao aprender a trabalhar com as

regras, as crianças passam a desenvolver um conceito de moral, apropriação das

normas sociais, isso, no entanto, delineia a evolução do brinquedo das crianças. “As

maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que

no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade.” (VYGOTSKY,

1991, p. 114).

Portanto, o brinquedo é um fato muito importante do desenvolvimento, pois

surgem transformações internas em conseqüência do brinquedo - o mundo da

criança é o mundo do brinquedo - ele fornece ampla estrutura básica para mudanças

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das necessidades e da consciência, pois é por meio da brincadeira que ela passa a

operar com significados, ou seja, confere sentido aos objetos e não apenas o

manipula.

“No brinquedo, a criança opera com significados desligados dos objetos e

ações aos quais estão habitualmente vinculados.” (VYGOTSKY, 1991, p. 112). E

quando a criança faz isto, estará iniciando-se a formação do pensamento abstrato.

Com o desenvolvimento do pensamento a criança não precisa mais do pensamento

simbólico e sim, dos jogos de regras, com isso, ela aprende a controlar seu próprio

comportamento, e a se apropriar do mundo adulto.

1.3 O Desenvolvimento do Raciocínio Lógico-Matemáti co na Visão de Vygotsky

Vygotsky (1896-1934) traz a abordagem histórico-cultural para o centro da

aprendizagem escolar. Destaca que os seres humanos têm as suas especificidades,

como perceber, representar, explicar, atuar e sentir como originária da vida em

sociedade. Afirma também que o processo de desenvolvimento está enraizado nas

ligações entre história individual e história social.

Esse mesmo autor divide o desenvolvimento em duas partes: o real, aquilo

que a criança é capaz de fazer sozinha e o proximal, aquilo que a criança consegue

fazer com a ajuda do outro. Assim, o desenvolvimento proximal de hoje será o

desenvolvimento real de amanhã.

Considera ele que a criança, ao lidar com jogo de regras consegue entender

melhor o conjunto de conhecimentos sociais e desenvolve-se cognitivamente,

porque para elas, o jogo está impregnado de aprendizagem. A criança, colocada

diante de situações lúdicas, aprende a estrutura lógica da brincadeira e, deste modo,

aprende também a estrutura matemática presente nessa brincadeira.

A aprendizagem nesta abordagem considera de fundamental importância, a

interação social daqueles envolvidos no processo. A colaboração entre essas

pessoas se dá especialmente nos trabalhos desenvolvidos em equipe.

Assim, para Vygotsky, (1987, p.17) “a colaboração entre pares durante

aprendizagem, pode ajudar a desenvolver estratégias e habilidades gerais de

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solução de problemas através da internalização do processo cognitivo implícito na

interação e na comunicação”.

No domínio lógico-matemático, a comparação entre diversos pontos de vistas

servem para aumentar a capacidade de raciocinar das crianças a nível sempre mais

elevado, portanto, a interação com os colegas e professores deve ser prioridade.

1.4 Os Benefícios do Jogo e da Brincadeira na Apren dizagem da Matemática

Considerando o que dizem os estudiosos, a escola deve procurar tirar

proveito de todos os momentos de alegria que a criança demonstra e tentar

canalizá-la emocionalmente por meio das atividades lúdicas educativas. Essas, por

sua vez, quando bem dirigidas, podem trazer benefícios, as quais tendem a

proporcionar saúde física, mental, social e intelectual à criança, ao adolescente, até

mesmo ao adulto, haja vista que, o lúdico satisfaz as necessidades de crescimento e

de competitividade da criança, contribui para desinibição da pessoa que está

envolvida na brincadeira, podendo também aprender sobre a cultura do ambiente

social no qual convive, propiciando ainda, situações de aprendizagem que

desenvolvem a concentração, o pensamento, a linguagem, além de muitos outros

benefícios.

A brincadeira, não deve ser confundida com um jogo que venha promover “as

competições”, que podem dar um sentido de obrigação, de treinamento, o que

certamente acabará gerando nas crianças a ansiedade e o desinteresse, isso, sem

sombra de dúvida acontece sempre que essa competição supera as verdadeiras

características do jogar, do brincar.

As diferentes abordagens sobre metodologias lúdicas no ambiente da escola,

como uma maneira de se resgatar o contentamento e o encanto do aprender,

poderão colaborar para ampliação dos conhecimentos e possibilitar também

caminhos para um profissional mais dinâmico e reflexivo, capaz de atender as

necessidades dos educandos, pois o tempo e a história nos incitam à busca por

novas práticas pedagógicas que auxiliem e possam facilitar o processo dinâmico,

que é a aprendizagem.

Observamos que a escola convive diariamente com alguns obstáculos

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pedagógicos, tais como: violência, desinteresse, indisciplina dos alunos, dificuldade

de aprendizagem, vemos uma escola abarrotada de alunos e muitas vezes não tem

clareza do seu papel na sociedade, além ainda de outros entraves de ordem sócio-

econômica e por esses e outros motivos ela perde seu brilho e seu encanto.

Pesquisadores de diversas áreas do conhecimento esforçam-se na tentativa

de buscar outros meios para auxiliar os educadores no processo dinâmico que é a

aprendizagem. Entretanto, ainda encontram-se presentes nas escolas, alunos

distraídos, desestimulados para desenvolver as atividades escolares, encarando a

escola como algo complicado, enfadonho e forçoso. Snyders (1993, p. 9, Apud

Manual ESAP, p. 274) salienta que:

Se o tempo da escola é um tempo de enfado em que educador (...) e educandos vivem os segundos, (...) à espera de que a monotonia termine a fim de que partam risonhos para a vida lá fora, a tristeza da escola termina por deteriorar a alegria de viver (...)

Convém afirmar que a mudança não ocorrerá de forma espontânea, é um

processo extremamente complexo e que exige competência e comprometimento de

todos os agentes que compõem a comunidade escolar.

Assim sendo, ressaltamos que se faz necessário uma escola diferente, onde a

criança queira estar e em que haja alegria e prazer para descobrir e aprender, pois é

evidente como em grande parte das escolas públicas situadas em bairros periféricos

ou em comunidades mais isoladas, encontram-se muitas crianças que trabalham

desde muito cedo em diversas atividades para ajudar na renda familiar, e o tempo de

que dispõem é preenchido por deveres e afazeres, restando quase nenhuma chance

para as atividades recreativas.

Acreditamos que para conhecer e entender os problemas que interferem na

aprendizagem dos alunos deve ser uma busca constante. Para isso, o professor

precisa refletir sobre sua prática pedagógica em sala de aula. Este aprender a

refletir, está relacionado com sua formação, com sua preocupação em estar

atualizado, em procurar novas metodologias em querer inovar, fazer diferente.

De acordo com Gasparin, (2009, p.3):

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[...] essa nova forma pedagógica de agir exige que se privilegiem a contradição, a dúvida, o questionamento; que se valorizem a diversidade e a divergência; que se interroguem as certezas e as incertezas, despojando os conteúdos de sua forma naturalizada, pronta, imutável. Se cada conteúdo deve ser analisado, compreendido e apreendido dentro de uma totalidade dinâmica, faz-se necessário instituir uma nova forma de trabalho pedagógico que dê conta deste novo desafio para a escola.

O que defendemos é uma proposta onde possa se adotar metodologias que

valorizem realmente o que a criança tem de mais comum, a sua espontaneidade, a

sua criatividade e a sua imaginação, pois só assim, ela estará aberta para

desenvolver suas habilidades e assimilar os conteúdos curriculares, sendo

indispensável a busca por estratégias de ensino que venham valorizar o ser como

um todo. Segundo Gasparin (2009, p. 33) “o processo de busca é o caminho que

predispõe o espírito do educando para a aprendizagem significativa, uma vez que

são levantadas situações-problema (oriundas de uma necessidade)”.

Na área matemática especificamente, as diferentes atividades que envolvem

o jogo estimulando o raciocínio lógico-matemático são indispensáveis, em especial

nos primeiros anos do ensino fundamental. Qualquer atividade que tenha o propósito

de explorar os conceitos matemáticos deve respeitar o nível de desenvolvimento de

cada criança, para que seus objetivos sejam, alcançados. No entendimento de Silva

(2004, p. 26):

Ensinar por meio de jogos é um caminho para o educador desenvolver aulas mais interessantes, descontraídas e dinâmicas, podendo competir em igualdade de condições com os inúmeros recursos que o aluno tem acesso fora da escola, despertando ou estimulando sua vontade de frequentar com assiduidade a sala de aula e incentivando seu envolvimento no processo ensino e aprendizagem, já que aprende e de diverte, simultaneamente.

Na maioria das escolas, no início da escolarização a matemática é muitas

vezes deixada de lado. Muitos professores dão preferência somente ao trabalho com

a linguagem escrita e oral, sem aproveitar os momentos para fazer a

contextualização dos conteúdos e explorar conceitos matemáticos, tornando a aula

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mais divertida e prazerosa. Moisés (2006, p. 76), relata que muitas vezes a “escola

desenvolve o trabalho matemático sem se preocupar com a questão da

contextualização. Ele se faz, essencialmente, com base em fórmulas, equações e

todo tipo de representação simbólica”.

A mesma autora continua afirmando que apresentar a contextualização das

questões “implica novas abordagens metodológicas, novos recursos didáticos,

revisão nas formas de avaliação; enfim, novos enfoques do processo de

ensino/aprendizagem (MOISÉS, 2006, p. 78).

O professor deveria usar mais em sua prática o cotidiano das crianças,

associando-o com os conteúdos matemáticos, pois elas precisam de conteúdos que

lhe sejam significativos, para que a aprendizagem seja efetivada com maior eficácia.

É primordial também que o educador esteja motivado, para despertar na criança a

vontade em participar de forma mais efetiva, construindo adequadamente o seu

conhecimento. Sendo assim, se as crianças fossem incentivadas por meio de jogos

e brincadeiras, com certeza a contribuição seria bem maior para a construção de um

conhecimento significativo, formando indivíduos mais confiantes, mais criativos e

apresentando um maior gosto pela matemática.

O prazer de aprender a matemática acontece quando a criança consegue, por

meio do jogo, resolver as situações-problemas, incitando sua curiosidade,

percebendo que tem potencialidade para realizar o que a ela for sugerido. Cabe ao

professor, no entanto, a tarefa de orientar e estimular a aprendizagem em sala de

aula, instituindo um ambiente socializador com as crianças e a partir deste, valer-se

de seus conhecimentos para então iniciar o trabalho pedagógico, visto que, é a partir

do que o educando já sabe e em cima desse conteúdo explorar cada vez mais, a fim

de fazer a ligação do novo, com experiências já vivenciadas pelos aprendizes.

Almeida (2000, p. 54) constata que:

O fato de a criança estar interessada e canalizar suas energias para aquilo que faz, e também o fato de o jogo ser um meio tão poderoso para a aprendizagem fazem notar que, ao se aplicar em qualquer atividade, mesmo maçante, as crianças se interessam e se apaixonam por essas ocupações.

Assim sendo, o professor precisa estar atento quando oportunizar um jogo,

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para direcionar a atividade, respeitando o tempo de cada criança na construção dos

conceitos e os objetivos que deseja atingir durante esta atividade.

Envolver os jogos e as brincadeiras nas práticas pedagógicas de sala de aula

é imprescindível, considerando não apenas o desenvolvimento da ludicidade, mas

também como um meio de desenvolver e aprimorar o raciocínio lógico, social e

cognitivo de maneira prazerosa para a criança. Por fazerem parte do cotidiano

escolar, os jogos e brincadeiras permitem ao professor explorar estes momentos de

prazer e imaginação junto às crianças, seja nas atividades diárias desenvolvendo as

capacidades de raciocínio lógico-matemático, bem como o desenvolvimento físico,

afetivo e cognitivo como já fora exposto.

2. A Implementação do Projeto de Intervenção na Esc ola

A problemática surgiu das práticas em sala de aula e da conversa com

colegas de profissão, que manifestaram preocupação em relação à maneira como a

disciplina de matemática é abordada em sala de aula e também na dificuldade que

os alunos têm de desenvolver e organizar seu pensamento e raciocínio lógico-

matemático, especificamente da 5ª e 6ª séries e da sala de recurso. Onde o objetivo

maior desse trabalho seria subsidiar os educadores dessa disciplina quanto a

importância da utilização da ludicidade no desenvolvimento do raciocínio lógico-

matemático por meio de jogos e brincadeiras, buscando elucidar o quanto a

efetividade dessa prática tem promovido uma aprendizagem mais significativa e

eficiente.

Para a implementação, utilizamos uma diversidade de textos, planejados e

articulados para orientar o desenvolvimento do tema, tendo em vista, uma maior

compreensão e assimilação daqueles que participaram dos estudos. Foi organizado

em oito encontros, apresentando-se com diferentes estratégias como vídeos,

questionamentos escritos e orais, slides, dinâmicas, atividades variadas, oficinas,

textos diversos que complementaram as análises desenvolvidas pelo grupo.

Abrindo a discussão com os docentes fez-se brevemente uma reflexão por

meio de dois questionamentos orais para verificar como os professores avaliam a

educação matemática e se existem em seus pontos de vista, práticas que precisam

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ser avaliadas, visto que, no dia-a-dia nas escolas, depara-se muitas vezes com

práticas educativas ineficientes, em especial na disciplina de matemática, onde uma

grande parte dos estudantes apresenta déficits naqueles conteúdos mais

elementares da referida disciplina.

Assim, depois de uma abrangente discussão os professores salientaram que

o ensino de matemática no ensino fundamental, onde se forma os conceitos básicos

e onde se deveria promover de forma mais efetiva o desenvolvimento do raciocínio

lógico das crianças, está ainda, bastante falho, embora haja maior preocupação por

parte dos educadores dos anos iniciais do ensino fundamental, pois na maioria das

escolas esse profissional é unidocente, facilitando a prática da interdisciplinaridade e

o emprego de metodologias diferenciadas. Os educadores também são unânimes

em dizer que o uso regular de materiais de apoio são cruciais para manter o

interesse dos aprendizes.

Quanto à observação da prática pedagógica, houve acordo entre a maioria, já

que concordam que as práticas de sala de aula necessitam ser avaliadas, haja vista

que, os métodos usados para o ensino da matemática, muitas vezes, não são

eficazes, os recursos didáticos são insuficientes, não prendem a atenção, além da

escassez de tempo, que dificulta a organização de aulas mais “atraentes”, dessa

forma, os estudantes não assimilam adequadamente os conteúdos, levando muitos

estudantes ao fracasso escolar.

Os educadores refletiram, analisando individualmente suas posturas na

realização de seus trabalhos em classe e por meio de vídeos e textos puderam

conhecer um pouco sobre o autor que sustentou a fundamentação teórica da

pesquisa, observando as suas relevantes contribuições para entendermos como se

dá o processo de ensino-aprendizagem e a importância de uma adequada mediação

do educador nesse processo de aprendizagem.

Considerando que quando o “educador atua como mediador, resumindo,

valorizando, interpretando a informação a transmitir, sua ação desenrola-se na zona

de desenvolvimento imediato através da explicitação do conteúdo científico, de

perguntas sugestivas são sempre uma atividade orientada, cuja finalidade é

incentivar o surgimento de funções ainda não totalmente desenvolvidas”, afirmação

de Gasparim (2009).

O que se ensina muitas vezes não chega a ser compreendido pelos

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educandos, partindo do pressuposto que cada um tem uma forma de assimilar ou

entender um determinado conteúdo e isso precisa ser considerado sempre pelo

professor, que, usando metodologia diferenciada estará garantindo a aprendizagem

pela maioria dos alunos e isso os professores cursistas reconheceram, quando

narraram suas reflexões.

O ensino da matemática pode acontecer de uma forma interessante e

prazerosa. Nessa perspectiva, o uso de metodologias lúdicas é importante, pois está

diretamente ligada ao desenvolvimento do raciocínio lógico matemático, contendo

regras, instruções, operações, definições, deduções que irão contribuir com a

organização do pensamento do aprendiz.

Assim sendo, considerando os inúmeros benefícios que os jogos e

brincadeiras proporcionam à pessoa, independentemente da sua idade, já

comprovados por diversos estudiosos, foi apresentado uma coletânea de diferentes

modelos de jogos e brincadeiras e situações-problemas que objetivam desenvolver o

pensamento lógico dos educandos o que deverá também facilitar no processo de

aprendizagem como um todo. Como bem indica os estudos, a aprendizagem por

meio de jogos como dominó, quebra-cabeça, palavras cruzadas, memória e muitos

outros, permite que o estudante faça da aprendizagem, um processo interessante e

divertido, assim sendo, o professor pode aproveitar o prazer que decorre de

brincadeiras para articular com o aprendizado das áreas do conhecimento, tornando-

a um momento prazeroso e não cansativo.

O que se constatou na maioria nos discursos dos educadores que um dos

motivos que leva o professor a não utilizar atividades lúdicas em suas aulas é a falta

de tempo para pesquisar e organizar jogos/brincadeiras que possam contribuir para

a efetivação de aulas mais dinâmicas, porém, com a produção do CD, apresentando

uma coletânea com uma variedade de atividades que vem contribuindo, segundo os

relatos dos professores, para o desenvolvimento de seus trabalhos em suas classes,

nas aulas de matemática, já que são os próprios estudantes que confeccionam os

jogos e isto tem aumentado a motivação, o interesse, a concentração dos mesmos

pelas aulas e consequentemente, a aprendizagem, que acontece de forma mais

abrangente. Tem-se observado também melhora significativa quanto aos atos

indisciplinares demonstrados por alguns dos alunos, durante as aulas de

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matemática, comprovando que os jogos exercem grandes influências no

desenvolvimento global da pessoa.

3. Considerações Finais No decorrer dos tempos, diversos foram os encaminhamentos didático-

metodológicos para transformar o ensino de matemática mais agradável e

significativo. Vários foram os esforços de educadores para demonstrarem a

importância do manuseio de materiais didáticos como um facilitador da

aprendizagem, mais especificamente para auxiliar na concretização de conceitos

matemáticos, destacando a utilização de jogos para o desenvolvimento do raciocínio

lógico-matemático.

Envolver os jogos e as brincadeiras nas práticas pedagógicas de sala de aula

é imprescindível, considerando não apenas o desenvolvimento da ludicidade, mas

também como um meio de desenvolver e aprimorar o raciocínio lógico, social e

cognitivo de maneira prazerosa para a criança. Por fazerem parte do cotidiano

escolar, os jogos e brincadeiras permitem ao professor explorar estes momentos de

prazer e imaginação junto às crianças, seja nas atividades diárias desenvolvendo as

capacidades de raciocínio lógico-matemático, bem como o desenvolvimento físico,

afetivo e cognitivo.

Ao trabalhar com o grupo de professores pode-se perceber uma grande

vontade de melhorar suas práticas no ensino de conteúdos matemáticos, articulando

o jogo e a brincadeira de forma mais organizada em seus trabalhos em sala de aula.

Os docentes foram incentivados a narrarem suas experiências a partir da

aplicação dos jogos, brincadeiras e situações-problemas, trabalhadas em classe,

observando a atenção, concentração, o interesse, a motivação, a participação e a

aprendizagem demonstradas pelos educandos. Por meio dos relatos das

experiências, pode-se concluir que com a utilização da metodologia tradicional não

se promove a participação dos estudantes, onde o professor não age como

mediador do conhecimento e não considera o conhecimento que o educando já tem

apropriado, não pode realmente, levar a uma aprendizagem mais eficaz, mais

abrangente e mais significativa.

As posições quanto à relevância e a viabilidade da utilização desses recursos

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lúdicos nas salas de aula, como propósito de se ampliar o desenvolvimento das

funções psicológicas superiores e em especial o raciocínio lógico dos aprendizes,

foram bastante positivas. Percebeu-se que a teoria estudada foi comprovada na

prática, mostrando que o uso regular de metodologias lúdicas em sala de aula muito

pode auxiliar no desenvolvimento integral da criança, melhorando sobremaneira o

seu desempenho escolar, em todos os aspectos.

As abordagens sobre a prática lúdica no contexto escolar, como alternativa de

resgatar a alegria e o prazer de aprender poderão realmente contribuir para ampliar

o conhecimento, possibilitando também, caminhos para um profissional mais

dinâmico e reflexivo, capaz de atender as necessidades dos educandos, sempre que

oportuno.

Assim sendo, considerando a importância que os jogos e brincadeiras

oferecem às crianças e jovens, é indiscutível não tornar obrigatório e indispensável a

utilização desses recursos no ambiente familiar, social e escolar para o

desenvolvimento integral de todo ser humano.

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Referências

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