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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE

ORIENTAÇÃO Prof. Ruth Ceccon Barreiros

NÚCLEO REGIONAL DE ENSINO - NRE Foz do Iguaçu

ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO

Colégio Estadual Bartolomeu Mitre

ÁREA Arte

PROFESSORA DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE /

2009 Ivanilda Fernandes da Silva

Foz do Iguaçu

2011

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PESQUISA EM ARTE-EDUCAÇÃO

Ivanilda Fernandes da Silva1

[email protected] Ruth Ceccon Barreiros2

[email protected]

RESUMO: Este texto visa o estudo da aplicação de procedimentos de pesquisa no processo de ensino e aprendizagem em arte. Para este propósito examina as seguintes teorias: “educação pela pesquisa”, de Pedro Demo (2007), “projetos de trabalho”, de Fernando Hernández (1998-2000) e “pesquisa em arte” de Silvio Zamboni (2001). Estes fundamentos estão associados às orientações quanto aos conteúdos sistematizados abordados por três aspectos interdependentes: a teorização, os trabalhos artísticos práticos e a leitura de imagens, de acordo com as DCE/Arte (2008), elaboradas pela SEED/PR. Nesta reflexão sobre a atividade docente é proposta metodologia para a disciplina Arte, tendo a pesquisa fundamentada no “questionamento reconstrutivo” como princípio educativo. Isto é, o exercício do questionamento sistemático, cultivo do espírito crítico, aprender a aprender e aprender a pensar, aprender a perguntar, conjugando teoria e prática, o educando chega ao saber fazer e refazer o conhecimento. A interação aluno, educador e conhecimento sendo mediada pela pesquisa-ação, onde a atuação do professor é de incentivador de iniciativas pessoais e orientador, estabelecendo estratégias; e o estudante, na condição de sujeito participativo, aprende a aprender. A proposta é concluída com elaborações de textos e criações artísticas inter-relacionando forma, conteúdo e vivências pessoais relativos ao tema dos estudos. Estas produções estão fundamentadas no processamento das informações oriundas da abordagem da arte enquanto conhecimento teórico, das apreensões obtidas na apreciação de obras de arte, e das ideias captadas do universo plástico investigado. Neste contexto diferencia-se a produção artística puramente intuitiva da criação artística resultante de pesquisa. Palavras-chave: arte-educação, DCEs, metodologia de ensino, pesquisa.

ABSTRACT: This paper aims at the studying of the application of research procedures in the process of teaching and learning in art. For this purpose it examines the following theories: "education through research”, Pedro Demo (2007), "work projects" by Fernando Hernández (1998-2000) and "research art" by Silvio Zamboni (2001). These groundworks are associated to the orientations as to the systematic contents approached by three interdependent aspects: the theorizing, the artistic practical works and the reading of images, according to the DCE/Art (2008), prepared by SEED/PR. In this reflection on the teaching activity it is proposed the methodology for the discipline of Art, with the research based on "reconstructive inquiry" as an educational principle. That is, the exercise of systematic inquiry, tillage of the critical thinking, learning to learn and learning to think, learn to ask, combining theory and practice, the student gets to know the making and remaking of knowledge. The interaction between student, teacher and knowledge is mediated by action-research, where the role of the teacher is of supportive of initiatives and personal advisor, establishing strategies, and the student as a participating subject, learns to learn. The proposal is completed with elaborations of texts and artistic creations, interrelating form, content and personal experiences regarding the subjects of the studies. These productions are based on the processing of information from the approach of art as theoretical knowledge, from the apprehensions obtained in the

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appreciation of works of art, and the ideas taken from the investigated plastic universe. In this context, there is a differentiation between the purely intuitive artistic production and the artistic creation resulted from research. Keywords: education-art, DCEs, teaching methodology, research. _____________________________________________ 1 Professora PDE 2009 atua na Rede Estadual de Educação no município de Foz do Iguaçu.

2 Professora orientadora da UNIOESTE – Campus Cascavel, Mestre em Línguística Aplicada ao Ensino da Língua Moderna/UEM – Maringá – PR. e doutoranda em Letras pela UFBA – Salvador – BA.

1 INTRODUÇÃO

A aceleração das inovações tecnológicas exige novas abordagens dos temas e uma

integração de conhecimentos. Esta realidade reflete na arte contemporânea na busca de

diversos campos experimentais, na exploração consciente das novas tecnologias, enquanto

suporte técnico, com propósitos artísticos, isto é, havendo veiculação de conteúdo e de valor

estético próprios. Trata-se de investigação promovendo interseção entre arte, ciência e

tecnologia, culturalmente e criativamente enriquecedora.

A didática de ensino e aprendizagem de arte por conseqüência também deve ser

revista, porque os educandos no encaminhamento metodológico produção artística

reproduzem, em outros níveis de resultados, os mesmos processos vivenciados pelo artista na

realização da manifestação artística em estudo. Há a necessidade de se priorizar um sistema

de ensino que permita a interação entre as diferentes áreas do conhecimento, associando

diferentes faculdades intelectivas, a fim de promover a experienciação do paradigma do

“artista-investigador” ou “investigador artista” característicos da contemporaneidade.

Existem pontos em comum entre a ciência e a arte. A arte, assim como a pesquisa

científica, trabalha com os fatos, resolve problemas e desenvolve processos de criação.

Entretanto, um processo de ensino e aprendizagem em arte que possibilite ao educando

transcender o senso comum e o espontaneísmo, passa pela cientificidade.

Este artigo apresenta os fundamentos teóricos concernentes a processo de ensino de

arte pautado em recursos da pesquisa científica.

A revisão bibliográfica de títulos relativos à metodologia de pesquisa, à indagação

como princípio educativo e à didática da arte orientada pelo fazer artístico, fruição de imagens

e teorização fundamentou esta produção didático-pedagógica. Os principais autores e

respectivas teorias que a constituíram são pesquisa em arte de Zamboni (2001), projeto de

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trabalho de Hernández (1998-2000) e educar pela pesquisa de Demo (2007), tendo as

Diretrizes Curriculares de Arte (PARANÁ, 2008) como orientação na articulação destes

preceitos.

O objetivo deste trabalho é sistematizar a metodologia de ensino de arte já estabelecida

pelas DCE/Arte (PARANÁ, 2008) no desenvolvimento dos seus aspectos pedagógicos de

teorização, prática criativa e apreciação, explorando recursos da pesquisa científica. Para este

propósito foram organizadas estratégias de integração entre as práticas da percepção,

produção artística e o estudo de conceitos teóricos no processo de ensino e de aprendizagem

na disciplina Arte, estabelecendo correlações entre a didática da arte e a metodologia da

pesquisa científica.

Neste estudo busca-se principalmente a superação do desinteresse dos educando

identificado em estratégias de ensino envolvendo a teorização.

Há também o propósito de potencializar o exercício da criticidade e da capacidade

criativa inerentes aos processos de produção artística e científica, associando estas duas áreas.

Este trabalho constitui pré-requisito ao cumprimento do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de Estado da Educação em convênio com

a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, sob orientação da professora Ruth

Ceccon Barreiros, lotada no campus de Cascavel.

O Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE é definido pela Secretaria de

Estado da Educação – SEED como “... política pública que estabelece diálogo entre os

professores da Educação Superior e os da Educação Básica, através de atividades teórico-

práticas orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças

qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense”.

2 A TEORIA QUE DELINEIA A PRÁTICA

Neste trabalho foi desenvolvida proposição procedimental denominada pesquisa em

arte-educação, que foi constituída pelas orientações que as DCEs (PARANÁ, 2008)

estabelecem quanto à produção artística, à apreciação e à arte enquanto conhecimento.

Também pressupõe as ideias de “Projeto de Trabalho”, desenvolvidas por Fernando

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Hernández (1998-2000), “Educar pela Pesquisa”, segundo Pedro Demo (2007), “Pesquisa em

Arte”, definida por Silvio Zamboni (2001).

As Diretrizes Curriculares Estaduais para a Educação em Arte - DCE (PARANÁ,

2008) constituem os fundamentos teórico-práticos orientadores da práxis pedagógica no

ensino público estadual, enfatizando os seguintes preceitos para a disciplina Arte:

1. O currículo composto por conhecimentos de arte sistematizados, apresentados sob a

forma de conteúdos estruturantes, que incluem os elementos formais, a composição, os

movimentos e períodos.

2. A abordagem dos conteúdos estruturantes nas manifestações artísticas dança,

música, teatro e artes visuais.

3. A teorização, a prática e a leitura de obras considerando a arte enquanto

conhecimento, ideologia e trabalho criador.

4. Os conteúdos desenvolvidos através de três aspectos metodológicos

interdependentes: a teorização, a leitura de obras (a apreciação, o sentir e o perceber, a

fruição) e os trabalhos artísticos práticos (a produção artística).

Teorização. A teorização pressupõe a compreensão do conhecimento sobre arte

produzido historicamente. Fundamenta a formação de conceitos que subsidiam os momentos

leitura e criação artística (PARANÁ, 2008). Este encaminhamento será empreendido

simultaneamente à apreciação de imagens, no desenvolvimento de estudo orientado por

roteiro organizado especificamente para este fim.

Apreciação. O elemento fruição, apresentado nas DCEs considera as obras no seu

contexto histórico e social. A leitura da obra envolve a análise dos aspectos ideológicos, visão

de mundo, contexto histórico e social do artista refletidos na produção da obra. Também deve

incluir a percepção por meio dos sentidos físicos e a experiência estética do aluno (PARANÁ,

2008).

Experimentação artística. O trabalho artístico é a produção criativa, a experienciação

estética, a expressão da imaginação, explorando procedimentos relativos à elaboração de obra

de arte (PARANÁ, 2008).

Os princípios norteadores da proposta metodológica das DCEs (PARANÁ, 2008)

estão sendo associados a outros encaminhamentos nas áreas da educação e do ensino de arte:

“Educar pela pesquisa”, segundo Pedro Demo (2007).

A pesquisa não será restrita à acumulação de dados, mas como princípio educativo,

isto é, a dinâmica do ensino e aprendizagem decorrente dos processos de investigação. Tendo

a educação pela pesquisa como intento o “questionamento reconstrutivo”.

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No questionamento reconstrutivo por meio do manejo das informações, do exercício

do questionamento sistemático, do cultivo do espírito crítico, do aprender a aprender e

aprender a pensar, do aprender a duvidar, de perguntar, de querer saber mais, o educando

chega ao saber fazer e refazer o conhecimento, ao questionamento como busca de inovação, à

auto-expressão, à elaboração própria como atividade de reconstrução do conhecimento

(DEMO, 2007).

Ainda segundo Demo (2007), a atuação do professor neste percurso será de motivador

do trabalho, incentivador de iniciativas pessoais e orientador, estabelecendo estratégias; e o

educando, na condição de parceiro de trabalho e de sujeito participativo, aprende a aprender,

conjugando teoria e prática. Sendo assim, a aula passa a ser suporte secundário e a pesquisa, o

“ambiente didático cotidiano”. A pesquisa, neste sentido, substituindo a didática reprodutiva,

a transmissão da informação e implicando em compreensão, análise crítica, síntese com

originalidade, processamento das informações, organização dos dados, interpretação,

argumentação e elaboração própria.

Neste sentido, está sendo revista a conotação da palavra “pesquisa” na escola e

requalificada sua significação de reprodução de textos. Assim, a pesquisa está sendo

considerada na sua acepção enquanto recurso pedagógico, elaborada por meio de dinâmicas

onde interagem educador e educandos na construção do conhecimento.

“Projeto de trabalho” , apresentado por Fernando Hernández (1998-2000).

A proposição de Hernández consiste numa forma de organização, de tratamento dos

conteúdos por meio de projetos. O projeto de trabalho é apresentado como vínculo da teoria

com a prática, em situações de aprendizagem onde os educandos possam elaborar respostas e

modos de execução diversos. O tema do projeto é definido pela argumentação envolvendo a

turma de alunos, que atuam na condição de co-participantes na situação de aprendizagem. O

tema é o problema do projeto. A partir do tema é elaborado índice, a ser estudado através da

relação entre fontes. “[...] o que se pretende desenvolver com os Projetos é buscar a estrutura

cogniscitiva, o problema eixo, que vincula as diferentes informações, as quais confluem num

tema para facilitar seu estudo e compreensão por parte dos alunos” (HERNÁNDEZ, 1998, p.

62).

A especificidade no modelo de Hernández (1998) está no conceito da

significatividade, no qual o projeto de trabalho é iniciado por diagnóstico do conhecimento

do aluno, que determina o desenvolvimento do processo e estabelece a revisão do sentido das

informações trabalhadas. Em outras palavras, Hernández apresenta como aspecto essencial do

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projeto de trabalho a significatividade, no sentido de conectar os conhecimentos escolares aos

interesses do estudante, na condição de indivíduos conscientes de sua ação na aprendizagem.

[...] Um sentido da aprendizagem que quer ser significativo, ou seja, que pretende conectar e partir do que os estudantes já sabem, de seus esquemas de conhecimentos precedentes de suas hipóteses (verdadeiras, falsas ou incompletas) ante a temática que se há de abordar. É importante constatar que a informação necessária para construir os Projetos está sim em função do que cada aluno já sabe sobre um tema e da informação com a qual se possa relacionar dentro e fora da escola (HERNÁNDEZ, 1998, p. 62 e 64).

Os conteúdos do currículo são trabalhados a partir da pluralidade e da diversidade,

vinculando-os a situações e problemas reais (HERNÁNDEZ, 2000). Nessa perspectiva, o

professor deverá encontrar meios de diagnosticar o conhecimento que o aluno já possui sobre

o tema, além de conhecer aspectos do seu contexto cultural para, a partir destes dados,

construir e propor um projeto de trabalho que possa ampliar esses conhecimentos de forma

sistematizada por meio de pesquisa.

Para Hernández (2000) na aprendizagem através de projeto de trabalho o aprender é

centrado em problemas ligados à realidade, ao contexto do aluno, aproximando o saber

ministrado na escola com a cultura do aluno. De acordo com Hernández,

[...] Entendo (...) a noção de cultura num sentido concreto: como conjunto de valores, crenças e significações que nossos alunos utilizam para dar sentido ao mundo em que vivem. Noção que abarca, na prática, desde a possibilidade de viajar pelo espaço e pelo tempo, o que torna possível a existência de um videogame (e seu valor simbólico), até as formas de vestir e de se comportar relacionadas à pertinência a um grupo, à moda e à identidade pessoal (HERNÁNDEZ, 2000, p. 180).

Compreender e considerar aspectos culturais que fazem parte do contexto dos

estudantes é fundamental para o sucesso na aplicação da proposta de um projeto de trabalho.

Assim, amparados pelo presente estudo e fundamentação teórica ora esboçada é que se

pretende alcançar os objetivos, inicialmente propostos, de construção de uma metodologia

para o ensino e aprendizagem em arte.

“Pesquisa em arte”, segundo Zamboni (2001).

Zamboni (2001, p. 5) assim define a pesquisa em arte:

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[...] pesquisa em arte é qualquer pesquisa que se desenvolva no campo das artes (...) pode ter em muitas circunstâncias os seus conceitos estendidos às artes em geral, e mesmo dentro desses limites estão todas as suas diversas faces: criação, recepção, crítica, ensino, etc. Essas faces, por sua vez, podem ser estudadas em muitas disciplinas, tais como história da arte, arte-educação, restauração, teoria da arte, curadoria, psicologia da arte, sociologia da arte e tantas outras.

Zamboni explicita a extensão do termo pesquisa em arte, mas nos conceitos ora

referidos por este autor está sendo delineada estritamente a pesquisa empreendida por artistas

visando trabalhos artísticos como resultado de suas pesquisas.

Considerando as especificidades da arte, Zamboni (2001) instaura os fundamentos

metodológicos da pesquisa em arte, fazendo adequação de técnicas de pesquisa científica.

Discrimina a pesquisa assumindo o caráter de obra de arte, na qual os resultados estão

contidos na manifestação artística.

Zamboni (2001) elabora método organizativo de trabalho associando a lógica e a

racionalidade ao caráter sensível e intuitivo inerente ao processo de criação em arte. Com esta

proposição diferencia a arte elaborada exclusivamente através de impulsos intuitivos e

inconsciência (derivada da especulação, caracterizada pelo acaso, imprevisão, impresciência,

desordem experimental), da produção resultante de pesquisa em arte. Este processo

investigativo é qualificado pelo domínio intelectual e consciência do autor, quanto ao

desenvolvimento do trabalho e dos parâmetros teóricos em que está atuando, que envolvem

ordenações racionais, o pensamento linear e analítico, concentração e outros atributos do

pensamento, interpostos à sensibilidade enquanto experiência sensorial. Neste contexto

diferencia-se a prática da produção artística puramente intuitiva da criação artística resultada

de pesquisa.

As instruções da pesquisa em arte estão acrescidas aos direcionamentos da pesquisa

na educação, devido ao ensino de arte envolver a produção artística e a apreciação de obras,

além dos estudos teóricos. A proposta da educação pela pesquisa discorre sobre a educação

de modo generalizado e a sistematização da pesquisa em arte estabelece direcionamentos aos

processos de pesquisa envolvendo a fruição, a experienciação artística e a arte como

conhecimento. Também foi incluída a dinâmica de projeto de trabalho, porque mesmo

apresentando as etapas da investigação simplificadas em relação à pesquisa em arte,

demonstra estratagemas de construção do projeto relacionando os conteúdos formais à

bagagem de conhecimentos dos alunos. Esta aproximação entre as formas de conhecimentos é

um subterfúgio visando o interesse, envolvimento e participação ativa dos estudantes.

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3 METODOLOGIA DE PESQUISA EM ARTE-EDUCAÇÃO

Pautando-se nestes fundamentos teóricos, foi configurada a seguinte dinâmica:

Pesquisa-ação

A pesquisa-ação está sendo adotada enquanto meio facilitador da integração

professor, aluno e conhecimento, na implementação da pesquisa em arte-educação. Na

prática do ensino por meio de pesquisa é inerente à conduta do professor o atendimento

individual aos alunos ou equipes de estudantes, conforme seus ritmos de aprendizagem,

motivações e desempenhos. Para atender a esta necessidade a pesquisa-ação está sendo

adotada como recurso que faculta ao professor mensurar o processo, isto é, diagnosticar a

própria atuação, o desempenho dos alunos individualmente e das técnicas de ensino

empreendidas, e assim, dando continuidade na busca dos objetivos, possa decidir qual a

próxima ação em relação a cada aluno. Sendo assim, a pesquisa-ação está sendo adotada

enquanto instrumento pedagógico, mediando a inter-relação educador, educando e

conhecimento.

No encaminhamento da pesquisa-ação podem ser aplicados: relatório, diário de

campo, questionário, entrevista individual, processamento estatístico das respostas, discussão

em grupo e observação participante. Entretanto, o seminário é a principal técnica, para a

organização metódica da utilização dos demais instrumentos de pesquisa.

Na pesquisa-ação os participantes, no caso os estudantes, produzem conhecimentos,

tomam decisões, participam ativamente no desenvolvimento do ensino e da aprendizagem.

Nos seminários, por meio de procedimentos argumentativos e elaboração de registros, as

informações coletadas e produzidas são discutidas, analisadas, interpretadas. Os seminários

possibilitam a elaboração de soluções, o redirecionamento de diretrizes de ação, o

acompanhamento e avaliação do processo e dos resultados (THIOLENT, 2004).

Professor observador participante: etapas de trabalho

Observação científica é a técnica de coleta de dados na qual se utiliza da aplicação dos

sentidos físicos em relação a um objeto e da capacidade intelectiva para examiná-lo, para dele

obter informações. Implica na atuação de um observador utilizando determinado

procedimento de observação. A observação passa a ser científica à medida que for

empreendida com sistematização, planejamento, controle objetivo e registro metódico. A

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observação científica acontece em conformidade a um plano de pesquisa e é passível de ser

verificada e controlada quanto à sua validade e segurança (MARCONI,2005).

A observação participante é a observação científica, aplicada como uma das técnicas

de coleta de dados da pesquisa-ação. De acordo com Chizzotti (2000), na observação

participante o pesquisador tem contato direto com o fenômeno observado, incorporando-se ao

grupo e ao contexto investigado, a fim de recolher informações sobre a realidade dos atores

sociais em seus contextos naturais. No caso do presente estudo, a obtenção de informações

refere-se aos resultados da implementação de cada etapa da proposta da pesquisa em arte-

educação, o fenômeno observado é o método da pesquisa em arte-educação e os atores

sociais em seus contextos naturais são os estudantes na situação educacional.

Na condição de observador participante, o professor atua como observador natural,

isto é, pertencendo ao grupo que investiga, fazendo da prática docente seu objeto de

investigação. Nesse momento, ele funciona como pesquisador participante, sendo que sua

participação consiste no exercício da docência. Há interação direta entre professor e alunos,

em todos os momentos correspondentes aos horários das aulas, explicando, orientando,

questionando, observando e registrando.

No desenvolvimento da pesquisa em arte o professor tem na técnica da observação

uma estratégia para que possa atuar como incentivador de iniciativas pessoais e orientador dos

estudantes, estabelecendo estratégias de acordo com as solicitações no desenvolvimento da

aprendizagem. Pois as ações apresentadas neste artigo constituem orientações didáticas, sendo

que a práxis é dinâmica exigindo adequação de atitudes caso a caso, que pressupõe

investigação do processo de modo metódico. Daí a relevância do emprego da observação

participante, no contexto da pesquisa-ação, pois esta aperfeiçoa o diagnóstico e permiti ao

professor influenciar, modificar e também ser influenciado e modificado pelo processo.

1. Caracterização da observação.

A observação participante exercida pelo educador na sua interação com o educando e

com o conhecimento caracteriza-se como sistemática direta, individual (quanto ao número de

observadores) e observação em campo.

2. Observação.

2.1. Instrumentos. Coleta de dados por meio da observação usando como instrumentos

anotações de campo e entrevista.

São feitas anotações sobre os fatos observados e separadamente os registros expondo

reflexão, exame, opinião e interpretação do (a) professor (a) sobre estes fenômenos

verificados. Os fatos correspondem às ocorrências na dinâmica do ensino e aprendizagem de

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arte em sala de aula. Por exemplo, o desempenho no processo de desenvolvimento das

atividades, a qualidade das elaborações artísticas e dos textos realizados.

O registro dos fatos compreende as ocorrências previamente definidas, sendo efetuado

por meio de listagem de comportamentos e ações quantificados por valores numéricos, e

qualificados quanto ao conteúdo e forma dos resultados produzidos. Sobre estes mesmos

dados também são anotadas as circunstâncias, o contexto em que se dão, o momento da

ocorrência, a relação com outros atos e o que influenciou a ocorrência. Ainda referente às

anotações relatando os fatos, são citadas situações diversas no desenrolar do cotidiano da

pesquisa, não previstas na listagem, como por exemplo: percepções, interferências, conflitos e

outros.

Nesta abordagem quantitativa e qualitativa há verificação dos resultados efetivos em

cada etapa do percurso da proposta.

Exemplos de comportamentos a serem observados: elaboração do tema; elaboração do

problema de pesquisa ; elaboração de hipóteses de pesquisa; leitura de imagem e análise de

referencial teórico; produção artística; elaborações de textos, relatório de pesquisa e

atividades complementares eventualmente necessárias para suprir pré-requisitos.

Os seguintes dados constituem itens a serem verificados: aspecto quantitativo

especificando sobre alunos presentes, faltosos, participantes das atividades, tarefas

parcialmente concluídas, tarefas concluídas, dúvidas, esclarecimentos de dúvidas, atitudes

e/ou comentários de resistência e a favor das propostas, providência de recursos necessários à

execução das atividades; aspecto qualitativo relatando sobre desempenho na execução de

atividades dentro e fora dos horários das aulas, discriminação da produtividade em ambientes

distintos da sala de aula, especificação dos rendimentos em ações diferenciadas (referentes a

conteúdos teóricos, à apreciação de imagens e à experienciação artística), caracterização da

auto-expressão e elaboração pessoal em produção de textos e criações artísticas. Os seguintes

critérios podem ser utilizados na análise das produções práticas: conteúdo (equivalência com

o projeto de estudo), originalidade, técnica, arte-final e apresentação. As interferências

(conflitos, disciplina, fatores motivacionais), as circunstâncias (o contexto, relação com outros

atos e o que influenciou a ocorrência) e as surpreendências também são averiguados.

2.2. Campo da observação.

População participante. São os alunos, na condição de sujeitos. Especificar as

características da turma: número de alunos por turma, sobre o desempenho escolar,

características sócio-econômicas, procedência.

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Circunstâncias. Os apontamentos são produzidos a cada encontro do professor com a

turma, durante os horários das aulas de arte, que correspondem semanalmente a 4 horas/aula

de 50 minutos, durante o ano letivo. Também são consideradas as tarefas complementares ou

finalizações de trabalhos realizados fora dos horários das aulas.

Local. Nos locais onde serão desenvolvidas as atividades planejadas, que incluem

além da sala de aula, a sala de informática do colégio, a biblioteca da escola ou a pública da

cidade, galeria de exposições e outros.

3. Interpretação dos dados. Após a implementação das ações é realizada análise,

organização e sistematização dos dados colhidos mediante a observação.

4. Análise grupal dos resultados. Retorno aos estudantes desta síntese que foi

elaborada pelo professor sobre os processos observacionais, para fins de discussão, avaliação,

análise de dificuldades, problemas, dúvidas, expectativas e bloqueios. Em seminário ocorrerá

reflexão grupal para elaboração de ações realistas e viáveis buscando soluções e revisão da

proposta metodológica.

5. Entrevista e questionário. Questionário e entrevista enquanto instrumentos para

validação das interpretações sobre os dados observados são redigidos e aplicados após a

análise grupal.

Prática da pesquisa, apreciação de imagens e produção artística

As etapas aqui elencadas seguem as premissas da pesquisa em arte. Quanto à

caracterização da pesquisa em arte, Zamboni (2001) menciona as seguintes particularidades:

identificação de um problema; premeditação e reflexão; organização metodológica; busca de

soluções previstas; segurança nos resultados; racionalidade interagindo com a intuição.

Fases da pesquisa em arte, listadas por Zamboni (2001): definição do objeto,

elaboração do problema, análise de referencial teórico, elaboração de hipóteses, prática da

observação; processo de trabalho; resultado e interpretação.

1. Elaborações dos temas, problemas e hipóteses de pesquisa dos estudantes

Na dinâmica do primeiro seminário, fase exploratória da pesquisa-ação ocorre um

diálogo entre o conteúdo programático e o cotidiano do aluno. São analisados os

conhecimentos originados pela comunidade onde a turma está inserida e os conhecimentos

trazidos das experiências pessoais dos alunos, pretendendo contextuar os saberes

sistematizados para atribuir-lhes significação.

Os educandos juntamente com o professor definem seus temas de estudo a partir do

diagnóstico de conhecimentos já apresentados pelos alunos. O tema de estudo significando

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determinada abordagem a um conteúdo programático. Usando a técnica de comparação, o

saber informal (baseado na experiência concreta, compreendendo os conhecimentos

circunstanciados relativas ao conteúdo programático em pauta) será considerado em relação

aos fundamentos teóricos formais, e daí serão extraídos e redigidos os temas e problemas dos

projetos. Os temas e problemas a serem investigados estarão inicialmente delimitados na área

das artes visuais, com a possibilidade de interação com outras manifestações artísticas.

O problema não significa lacuna na ciência ou objetiva elaboração de teoria nova, mas

corresponde às demandas na formação do educando e ao conhecimento a ser apreendido. A

originalidade estará no processo de acesso às informações, que será construído pelo estudante

– pesquisador.

O conceito de hipótese é flexibilizado, sendo afigurado por Zamboni (2001) como

expectativa quanto aos resultados.

Neste encaminhamento também serão analisadas além de ideias, obras de arte e

imagens do cotidiano representativas dos conteúdos a serem desenvolvidos. A leitura destas

imagens será nos níveis I favoritismo, II beleza e realismo e III expressão, em conformidade

com a escala de apreciação estética elaborada por Parsons (1987, apud Hernández, 2000, p.

115), isto é, faz livres associações, exprime emoções produzidas pelas obras, faz análises

baseadas nas experiências e gostos pessoais, enfatizando elementos conhecidos. Nesta

apropriação inicial a fruição se dará a partir dos sentidos físicos, do sensório perceptual.

Como esclarece Barbosa “[...] o caminho do conhecimento da arte se inicia na intuição

estética imediata do objeto, uma espécie de iluminação de interesse [...]” (BARBOSA, 1994,

p. 38).

2. Análise de referencial teórico e prática da observação (leitura de imagens)

No método organizativo de trabalho a análise de referencial teórico é executada em

conformidade com o elemento das DCEs (PARANÁ, 2008) “teorização”. À vista destes

encaminhamentos, a teorização se efetiva quando inclui também os momentos fruição e

prática artística. Por conseguinte, aqui serão utilizadas técnicas de pesquisa bibliográfica

abrangendo os conteúdos estruturantes (a composição, os elementos formais, os movimentos e

períodos) e subsidiando a leitura de imagens e a experienciação artística. A revisão

bibliográfica é orientada por um roteiro contendo itens sobre os quais serão levantados dados

referentes à (s) obra (s) de um determinado período, ou estilo, ou movimento. A listagem dos

itens foi elaborada a partir do estudo de vários títulos da história da arte e reúne um conjunto

de características, identificadas frequentemente nas obras da história das artes visuais,

detalhando o elenco dos conteúdos estruturantes das DCEs (PARANÁ, 2008).

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No estudo por meio deste roteiro os estudantes versarão sobre obras caracterizando-as

formalmente, no seu lugar, no seu tempo e na sua cultura, envolvendo as ações: levantar

dados objetivamente, descrever e identificar detalhes da gramática visual. Portanto, no estudo

da história da arte, contido no conteúdo estruturante movimentos e períodos, as informações

não serão abordadas linearmente, seguindo a evolução das formas artísticas, mas pretendendo

contextualizar as manifestações artísticas quanto aos aspectos políticos, sociais, econômicos e

ideológicos.

As informações reunidas na revisão bibliográfica mediante o estudo do roteiro

conduzindo a apreciação de obras constituem fundamentação teórica no exercício de leitura

destas imagens. Estes estudos devem ser apresentados em seminário de pesquisa-ação, para

que as vivências possam ser compartilhadas, discutidas, analisadas e avaliadas.

Roteiro para conduzir a investigação bibliográfica e fundamentar a leitura das

imagens, que ocorrem simultaneamente, uma em decorrência da outra:

a) Técnica: desenho (especificando os materiais usados), pintura (especificando os

materiais usados), gravura, recorte e colagem, mosaico, vitral, colagem, escultura,

modelagem, construções tridimensionais, ready-made, integração entre as técnicas artesanais

e a produção industrial, materiais industriais (vidro, aço, concreto, metais, plástico, gesso,

madeira e outros materiais), pré-fabricados, artes gráficas, instalações, o espectador incluído

na criação e recepção da arte, performance, pintura corporal, o corpo como suporte, outras

técnicas (artes visuais).

b) Gênero: abstrato, figura humana, nu artístico, retrato, paisagem, paisagem urbana,

marinha, natureza morta, gênero ou objetos da cultura popular e do consumismo.

c) Conteúdo: antiarte, ciência e/ou tecnologia (experienciação de descobertas

científicas), expressividade, imaginação (inconsciência, onirismo), mitologia, crença, religião

ou contexto histórico, social, político e ideológico.

d) Expressividade / racionalidade: irracionalismo (romantismo, emocionalismo,

expressionismo, lirismo) ou racionalismo (logicidade, objetividade).

e) Função: arte pela arte ou funcional / utilitária.

f) Definição: abstrato ou figurativo (estilizado, realismo, hiper-realismo, idealismo,

naturalismo, realismo conceitual, realismo fantástico ou verismo).

g) Elementos formais: linha, forma, cor, volume, textura (representação e /ou textura

do material pré-fabricado cujas qualidades artísticas são exploradas), luz e sombra.

h) Dimensões: bidimensionalidade, construções tridimensionais, representação do

espaço (perspectiva linear, planimetria - perspectiva aérea e quarta dimensão).

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i) Espaço: espaço virtual, figura e fundo, positivo e negativo.

j) Forma: definida por massas de cores ou linear e geométrica ou orgânica.

k) Composição: disposição dos elementos, equilíbrio, harmonia, proporção, simetria

ou assimetria, dinamismo (estático ou dinâmico), movimento (mecânico ou através de efeito

óptico), tensão espacial e ritmo.

l) Atuação do espectador: fruição, impacção, interação ou utilização.

m) Definição (síntese de): escola, estilo, movimento, período artístico ou tendência.

n) Histórico: local e período (data), origem (movimentos precursores), manifestos,

exposições ou principais atuações, obras mais representativas, artistas principais, áreas da arte

onde ocorreu, contexto, influências exercidas, inovação produzida.

Segundo estes direcionamentos a leitura das imagens se dá de acordo com os estágios

denominados por Parsons (1987 apud Hernández, 2000, p. 116) como estágios da apreciação

estética, IV estilo e forma e V autonomia. Esta caracterização significa que o aspecto

percepção envolve a contextualização do objeto analisado e a verificação das características

estilísticas.

A práxis da interpretação gráfica de obras de arte, baseada em dados levantados no

estudo orientado pelo roteiro, envolve procedimentos relacionados à decodificação da

gramática visual elaborados pelos autores Monique Brière, Rosanlind Ragans, Feldman,

Robert Saunders, sob o ponto de vista de Barbosa (1994), compreendendo as seguintes ações:

1. Analisar obras de arte identificando e descrevendo aspectos formais e teóricos.

2. Contextualizar, comparar, refletir, analisar, formular hipóteses, interpretar, julgar,

justificar, acerca de realizações artísticas.

3. Observar de diferentes pontos de vista, efetuando associações entre imagens e

princípios estéticos, simbólicos, mitológicos, éticos, históricos e outros.

4. Criar padrões apropriados para avaliar o novo, justificável formalmente.

5. Verificar, olhar, produções artísticas de momentos históricos variados, de acordo

com os padrões avaliativos da respectiva época e sob os valores da atualidade. “A cognição

em arte emerge do envolvimento existencial e total do aluno. Não se pode impor um corpo de

informações emotivamente neutral” (BARBOSA, 1994, p. 38).

6. Estabelecer comparações entre imagens a fim de elaborar conclusões envolvendo

problemas formais, por meio da percepção visual.

7. Identificar mediante comparações históricas, “como conceitos visuais e formais

aparecem na arte, como eles têm sido percebidos, redefinidos, redesenhados, distorcidos,

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descartados, reapropriados, reformulados, justificados e criticados em seu processo

formativo” (BARBOSA, 1994, p. 40).

8. Investigar obras de arte por meio da análise, síntese e interpretação, relacionando

imagem e fundamentos teóricos.

9. Discutir os elementos representacionais da arte (fundamentos visuais e teóricos).

10. Analisar a realidade representada, mediante as relações entre os elementos visuais

que a constituem.

11. Interpretar detalhes visuais, especular sobre as possíveis significações das obras,

apoiado nas informações objetivas coletadas, isto é, fazendo decodificação da gramática

visual.

12. Expressar interpretação e julgamento de valor, provenientes de conclusões

pessoais, demonstráveis e/ou defensáveis perante as evidências formais das obras.

13. Relacionar a arte com a realidade concreta, fazendo leitura social, cultural e

estética de imagens produzidas nos âmbitos do erudito, do popular, do folclórico e da cultura

de massa.

14. Identificar-se no universo estudado.

Afirma Zamboni, que a observação “tem antes de tudo, de perceber o objeto em suas

relações com o sistema simbólico que lhe dá significado” (ZAMBONI, 2001, p. 54) e ainda,

“Um objeto observado pelo olho pode remeter a outras imagens formadas a partir do olhar, o

qual não é limitação da percepção do objeto em suas características físicas imediatas, o olhar

é ir além, é captar estruturas, é interpretar o que foi observado” (ZAMBONI, 2001, p. 56).

Os resultados dos estudos são redigidos na forma de textos originais e apresentados

em seminário de pesquisa-ação a fim de serem comparados, analisados, discutidos e

avaliados por todos os participantes do processo.

3. Processos de trabalho artístico

A etapa processo de trabalho corresponde ao desenvolvimento da produção artística do

aluno, onde exercitam experimentações criativas e elaborações pessoais, processando as

ideias pesquisadas na abordagem da arte enquanto conhecimento teórico, e as apreensões

obtidas na apreciação de obras de arte. O trabalho prático é resultante da inter-relação entre

forma e conteúdo, onde são organizados os conhecimentos captados do universo plástico

investigado e das vivências pessoais relacionadas ao tema definido inicialmente como

referência dos estudos.

Para Zamboni, “[...] processo de trabalho é uma fase da pesquisa na qual, por meio de

ações sistemáticas, procura-se chegar à materialização de uma obra embasada pelas ideias e

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interpretações da observação” (ZAMBONI, 2001, p. 56). Explica também a possibilidade de

haver superposições das etapas da pesquisa em arte.

[...] O processo de trabalho, principalmente em arte, não é algo linear, é um processo de idas e vindas, de intuição e de racionalidade que se interpõem no caminho da reconstrução representativa de uma realidade. É uma etapa eminentemente criativa, e que dá forma material e organizada a uma série de idéias e fatos coletados de uma determinada realidade. Embora não seja o momento mais característico, é o momento mais importante do desenvolvimento de uma pesquisa em artes, por que é exatamente quando se materializam as idéias (ZAMBONI, 2001, p. 57).

Neste momento há a interação mais direta entre ciência e arte, que caracteriza a

pesquisa em arte-educação. Isto é, a pesquisa onde os resultados são materializados em forma

de criação artística. Também é a etapa que estabelece a diferença em relação à arte intuitiva,

porque aqui os subsídios teóricos que orientam o processo, são expressos no conteúdo da obra

refletindo na temática ou na elaboração formal (no modo como os elementos visuais são

explorados na composição). E este referencial teórico organizador da construção artística é

obtido pela sistematização de teorias e dados da fruição de obras de arte, empregando ações

do âmbito da pesquisa científica.

A interposição das etapas refere-se ao exercício da intuição e da razão. Há orientação

teórica na criação, no entanto, sem rigidez e sobrepujando a auto-expressão e a liberdade

criativa, senão deixaria de ser um processo artístico.

4. Resultados e interpretação

A fase resultados refere-se à produção artística concluída.

A interpretação formulada pelos estudantes implica na redação de relatório de pesquisa

discorrendo sobre os resultados. Este texto tem o propósito de estabelecer correlações entre o

projeto, as etapas de desenvolvimento do processo e o resultado final. Com caráter

explicativo, evidenciará o êxito desta proposta metodológica e dos objetivos da disciplina

como um todo.

É esperado como resultado destas análises comparativas, que os estudantes distingam

novos problemas de pesquisa envolvendo outros conteúdos do currículo.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A etapa processo de trabalho corresponde nas DCEs (PARANÁ, 2008), ao

desenvolvimento da produção artística do aluno. E na etapa prática da observação, sugerida

por Zamboni (2001), as orientações das DCEs (PARANÁ, 2008) relativas à apreciação da

produção artística e à percepção da natureza e de imagens diversas à nossa volta são

exercitadas.

As etapas da pesquisa em arte ordenadas por Zamboni (2001), que consistem nas

seguintes fases a serem executadas na sequência aqui disposta: definição do objeto,

elaboração do problema, análise de referencial teórico, elaboração de hipóteses, prática da

observação, processo de trabalho, resultado e interpretação foram alteradas na organização

das fases da pesquisa em arte-educação. Esta variação no presente estudo está na indicação da

análise de referencial teórico da prática da observação integrados numa única atividade,

partindo de uma imagem como referência e conduzidos por um roteiro. Isto é, tendo uma

imagem ou estilo artístico como referência, os estudantes a analisam seguindo um roteiro,

sendo que a verificação dos itens deste roteiro exigem a revisão de referencial teórico.

O cumprimento do currículo da disciplina de acordo com a proposição de temas de

pesquisa, que surgem dos interesses pessoais dos educandos, seguindo os direcionamentos de

Hernández (1998-2000) especifica uma dinâmica que atende aos direcionamentos oficiais

para a disciplina Arte, que recomendam o estudo não linear dos movimentos e períodos.

Seguindo os apontamentos das DCEs (PARANÁ, 2008) e explorando a flexibilidade e

o abertismo que a caracterizam, quando define o plano docente como “lugar de criação

pedagógica do professor” e afirma que o encaminhamento de trabalho pode ser escolhido pelo

professor, desde que inclua as orientações nele contidas em algum momento do processo

pedagógico, está sendo estruturada a pesquisa em arte-educação.

A pesquisa em arte-educação está integralmente coerente com as DCEs (PARANÁ,

2008), com suas recomendações ao professor que a partir de sua área de formação, explorem

os conteúdos de quatro linguagens artísticas (música, teatro, dança e artes visuais), abordando

a arte enquanto conhecimento, ideologia e trabalho criador. Estes encaminhamentos ressaltam

também que em todos os momentos da prática pedagógica estejam presentes a teorização, a

produção de trabalhos e a percepção, incorporando elementos específicos dos três conteúdos

estruturantes: elementos formais, composição, movimentos e períodos. Neste artigo, sob estes

encaminhamentos, a teorização e leitura de imagens são desenvolvidas simultaneamente, a

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produção artística finaliza os estudos e a articulação entre estes momentos é sistematizada por

procedimentos de pesquisa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se a compatibilidade entre técnicas de pesquisa e a didática de ensino de

arte, nas combinações de seus aspectos racionais e intuitivos. Alcançou-se na prática dos

encaminhamentos das DCEs (PARANÁ, 2008) à inspiração artística partindo de tema de

pesquisa, à previsão das possibilidades compositivas serem estabelecidas na elaboração de

hipóteses, à leitura de imagem e experienciação artística fundamentadas em referencial

teórico analisado por meio de técnicas de pesquisa bibliográfica. Sendo assim, ainda que de

caráter iniciante e obviamente diferenciando em seus alcances nos resultados, a investigação

científica é passível de ser empreendida nas aulas de arte do Ensino Médio. Considerando que

esta assume outras características em arte, por exemplo, os resultados apresentam-se contidos

nas produções artísticas concernentes aos estudos, diferenciando-se da ciência, cujos

resultados são concretos e materiais.

A teorização conduzida pela análise de imagem direcionada por um roteiro exige a

busca de informações em diferentes fontes e a elaboração pessoal, resultando na pesquisa

mais autoral nos textos apresentados.

A dinâmica integrando a produção artística, a apreciação de imagens e o estudo de

conceitos teóricos, por meio de um tema central a ser investigado, é um exercício das

capacidades de análise, elaborações próprias, argumentação crítica, síntese criativa,

propiciando ao educando a experienciação da condição de artista-pesquisador, característico

do cenário artístico atual.

O tema de pesquisa a partir da associação entre o cotidiano do aluno e o conteúdo

programático de arte, proporciona aproximação entre teoria e realidade do educando,

resultando em aceitação e interesse maior pelos estudos conceituais. As teorias assim como a

arte, deixam de pertencer ao mundo abstrato e passam a fazer parte do universo concreto ao

qual ele pertence.

A proposta é explorar o que procedimentos de pesquisa científica têm a oferecer na

ampliação das possibilidades metodológicas de ensino e aprendizagem na disciplina arte, sem

reduzir, enquadrar ou limitar a didática de arte à investigação científica. Entretanto, é preciso

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reconhecer a relevância da cientificidade na busca de processos que instiguem o

conhecimento da realidade, com vistas à atuação no mundo concreto de modo consciente.

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