CURSO FORMAÇÃO TEOLOGIA BÁSICA - MÓDULO I
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MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
1
Compilação e organização de
Pr Adriano Prist
Pb Vivaldo de Albuquerque Pinto
Igreja do Porto
PORTO VELHO, 2013
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
2
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO À BÍBLIA 3
2 O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO 6
3 HISTÓRIA DE ISRAEL 10
4 PANORAMA GERAL DO PENTATEUCO 23
5 INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS 29
6 INTRODUÇÃO AOS LIVROS POÉTICOS 32
7 PROFETISMO 49
8 OUTRAS DISCIPLINAS DO ANTIGO TESTAMENTO 52
9 MÉTODO DE ESTUDO DO ANTIGO TESTAMENTO 54
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
3
1 INTRODUÇÃO À BÍBLIA
A Bíblia é um livro antigo. O vocábulo "Bíblia" vem do grego. À folha de
papiro preparada para a escrita davam o nome de Biblos. Um rolo de Papiro de
tamanho pequeno era chamado de Biblion e vários formavam uma Bíblia,
"coleção de livros pequenos". Os livros antigos tinham a forma de rolos (Ez
3.2), eram feitos de papiro ou pergaminho.
O papiro era uma planta aquática que crescia junto aos rios, lagos e
banhados do Oriente Próximo, cuja entrecasca servia para a escrita (Ex 2.3; Jo
8.11; Is 18.2). Papiro deriva-se a nossa palavra papel. Seu uso na escrita vem
de 3.000 a.C.
O pergaminho é a pele de animais, curtida e polida, utilizada na escrita. É
melhor material que o papiro (2 Tm 4.13).
1.1 É Necessário Estudarmos a Bíblia
Estudar é mais do que ler, é aplicar a mente a um assunto de modo
sistemático e constante (1 Pe 3.15; 2 Tm 2. 15; Is 34.16; SI 119.130).
Não basta dizer que temos o Espírito Santo e não conhecermos a
Palavra, isso conduz ao fanatismo, por outro lado, conhecer a Palavra e não ter
o Espírito conduz ao formalismo, estes dois extremos são igualmente
perigosos.
Tudo que Deus tem para o ser humano é o que precisamos saber
espiritualmente sobre a Salvação, conduta cristã e vida vitoriosa, tudo está
revelada na Bíblia, tudo o que o homem tem a fazer é tomar o livro e apropriar-
se dele pela fé.
A Bíblia um livro divino, é nos dado por canais humanos tornando-se
assim divina e humana, como também o é a Palavra Viva - Cristo (Ap 1.13; Jo
1.1). Para fazer-se compreender, Deus vestiu a Bíblia da nossa linguagem,
bem como de nosso modo de pensar. Por isso, o autor da Bíblia é Deus e os
escritores foram pessoas humanas, assim como sua forma.
Em resumo notam-se na Bíblia duas coisas: o Livro e a Mensagem. O
estudo da Bíblia tem por finalidade precípua o conhecimento de Deus. Isso é
visto desde o primeiro versículo dela, no qual vemos que tudo tem o seu centro
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
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em Deus. Portanto, a causa motivante de ensinar a Bíblia aos outros, deve ser
a de lavá-los a conhecer a Deus.
Ela é o manual do crente na vida cristã e no trabalho do Senhor (1 Pe 2.9;
Ef 2.10). A Bíblia o livro texto do/a discípulo/a de Jesus é imperioso que este/a
maneje bem para o eficiente desempenho de sua missão (2 Tm 2.15), pois um
bom profissional sabe empregar bem as ferramentas de seus ofícios.
Ela é o instrumento que o Espírito Santo usa (Ef 6.17). A Palavra de Deus
produz fé em nós (Rm 10.17).
Ela alimenta a nossa alma. Não há duvidas, o estudo da palavra de Deus
traz nutrição e crescimento espiritual. É tão indispensável à alma quanto o pão
é ao corpo. Ter bom apetite pela Bíblia é sinal de saúde espiritual. ( Mt 4.4; Jr.
15.16 ; 1 Pe 2.1-2). Embora possamos tomá-la em doses pequenas para não
prejudicar na absorção.
O presente século é caracterizado por ceticismo, racionalismo,
materialismo e outros. A Bíblia em meio a tais sistemas sempre sofre
perversão. Até a pouco tempo, a luta do Diabo visava destruir o próprio Livro,
mas vendo que não conseguia isso, mudou de tática e agora procura perverter
a mensagem do Livro. Seitas e doutrinas falsas proliferam por toda parte
coadjuvadas pelo fanatismo e ignorância prevalecentes em muitos lugares.
Nossa crença na Bíblia deve ser convicta, sólida e fundamental. Por tudo isto,
ler, meditar e estudar a Palavra de Deus é necessário.
1.2 Inspiração e Revelação
Voltemos aquelas questões iniciais do primeiro módulo:
Porque dizemos que a Bíblia é a Palavra de Deus?
O que quer dizer “toda Escritura é inspirada por Deus”?
O que diferencia a Bíblia de todos os demais livros do mundo é sua
inspiração divina (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.20,21; Jó 32.8 ). É devido à inspiração
divina que ela é chamada de Palavra de Deus. Mas, o que vem a ser
inspiração divina?
É a influencia sobrenatural do Espírito Santo como um sopro na vida
dos escritores da Bíblia. Foi o Espírito de Deus quem falou através dos
escritores (Is 51.15; SI 78.1; Zc 7.9,12). Os escritores por sua vez evidenciaram
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ter inspiração divina (Ne 9.30; 2 Rs 17.13; At 1.6; 3.21; 1 Co 2.113; 14.37; 2 Pe
3.2; Hb 1.1; Mt 2.15).
Quanto à inspiração da Bíblia há várias teorias falsas, as quais o
estudante da Bíblia não deve ignorar.
Inspiração Natural - a Bíblia foi escrita por homens dotados de gênio e
força intelectual especial. É uma comparação simplista. Consideram Moisés
como Platão, por exemplo. Embora seja uma verdade, a inspiração é mais que
uma genialidade humana.
Inspiração comum - a inspiração dos escritores da Bíblia é a mesma que
hoje nos vem quando oramos, pregamos, cantamos, ensinamos, andamos em
comunhão com Deus, etc. embora seja verdade que é o mesmo Espírito que
opera em nós, a inspiração é especial, pois tratou de registros únicos.
Inspiração Parcial - algumas partes da Bíblia são inspiradas, outras não;
que a Bíblia não é a palavra de Deus, mas apenas contém a palavra de Deus.
Esta teoria pode ser aplicada a alguns tipos de bíblias, ou seja, há muito
dos escritores e ideologias inseridos nas bíblias. Porém, não se pode dizer o
mesmo do texto original da Bíblia.
Inspiração Verbal - Ensina que a inspiração da Bíblia é só quanto às
palavras, não deixando lugar para a atividade e estilo do escritor. Esta falsa
teoria faz dos escritores verdadeiras máquinas.
Diante disso, cabe a quem deseja conhecer a Deus, que ore pedindo
orientação de seu autor, e leia-a com muita sinceridade e respeito. Conhecer o
seu Autor é a melhor maneira de estudar. O autor de um livro pode explicá-lo
melhor do que ninguém. Mas, leia diariamente (Dt 17.19).
Aprofundando o Assunto:
1) Quanto ao combate espiritual, qual a importância de sabermos usar a Palavra de Deus? Mt 4.1-11
2) Dê um exemplo de revelação e inspiração divina?
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2 O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO
Cânon ou Escrituras Canônicas é a coleção completa dos livros
divinamente inspirados. Cânon, do grego, que significa literalmente "vara reta
de medir", no sentido religioso, aquilo que serve de norma, regra. A Bíblia como
cânon é a norma ou regra de fé e prática (Gl 6.16; 2 Co 10.13-15; Fp 3.16).
Diz-se dos livros da Bíblia que são canônicos para diferençá-los dos apócrifos
(informações à frente). O emprego do cânon foi primeiramente aplicado aos
livros da Bíblia por Orígenes (185–255 d.C.).
Na época patriarcal a revelação divina era transmitida oralmente, mas a
escrita já era conhecida na Palestina, séculos antes de Moisés, a arqueologia
tem provado isto, inclusive tem encontrado inúmeras placas e documentos
antediluvianos.
O Cânon do AT foi fechado desde o tempo de Esdras (após 445 a.C.),
embora também se defenda que só pelos meados do II a.C. é que foi
definitivamente definida esta questão.
2.1 A Estrutura da Bíblia
A Bíblia está dividida em Antigo e Novo Testamento. A palavra
“Testamento’ vem do termo grego diatheke e significa: aliança ou concerto.
Testamento, isto é, um documento contendo a última vontade de alguém,
quanto à distribuição de seus bens após a morte ( Lc 22.20 ). No AT a palavra
usada é berith que significa apenas Concerto (Hb 9.15-17). Com a morte do
Testador (Cristo) ratificou ou selou a Nova Aliança.
Existem diferenças básicas entre Antigo e Novo Testamento: o AT conta
a história do povo de Deus antes do nascimento de Jesus Cristo; já o NT conta
a história do nascimento de Cristo e o surgimento das primeiras comunidades
cristãs. O AT foi escrito na língua hebraica em sua maioria. Já o Novo
Testamento foi escrito na língua grega. No AT, o povo de Deus é chamado,
povo de Israel ou israelita. Já no NT, Jesus rompe a barreira do povo de Israel.
Quer dizer, o povo de Deus passa a se chamar Igreja.
O AT, para os judeus, tinha três divisões, as quais Jesus citou em Lc
24.44: Leis, Profetas e Escritos. A lei era formada dos cinco primeiros livros
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(Pentateuco); os profetas continham uma quantidade maior, profetas anteriores
(Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis) e os profetas posteriores (Isaias,
Jeremias, Ezequiel, e os livros de Oséias a Malaquias); e os Escritos eram
formados pelo restante escritos após o cativeiro babilônico (Salmos,
Provérbios, Jó, Cantares, Rute, lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel,
Esdras, Neemias, 1 e 2 Crônicas).
Os livros da Bíblia originalmente não eram divididos em capítulos e
versículos. A divisão em capítulos foi feita somente no século XIII, e a divisão
em versículos no século VXI.
Há, porém, outra divisão do AT que diferencia do texto em hebraico
(Bíblia Hebraica), incorporada por judeus piedosos que traduziram os 39 livros
do AT, que estava em hebraico para o Grego. Esta tradução é conhecida como
Septuaginta (LXX), e traz duas novas contribuições: uma nova estrutura
dividindo o AT em: da Lei (Pentateuco), Históricos (Josué a Ester), Poéticos (Jó
a Eclesiastes) e Proféticos (Oséias a Malaquias). A segunda contribuição foi o
acréscimo de sete livros conhecidos como Apócrifos (Tobias, Judite, Sabedoria
de Salomão, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2 Macabeus).
A disposição ou ordem dos livros no cânon hebraico é também diferente
da nossa. Convém ter em mente que toda cronologia Bíblica é apenas
aproximada. Além de dividir AT conforme os períodos históricos, podemos
dividi-los cronologicamente.
Período das Origens Gênesis 1-11
Período dos Patriarcas Gênesis 12-50
Período de Moisés Êxodo a Deuteronômio
Período da Conquista (ou Tribal) Josué e Juízes
Período da Monarquia 1 e 2 Samuel a 1 e Crônicas, etc.
Período do Exílio Babilônico Daniel, Ezequiel, etc.
Período Pós - Exílico Esdras, Neemias, Malaquias, etc.
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2.2 Autoridade das Escrituras
Na Bíblia de edição Católica Romana, o total de livros é 73 porque a
Igreja Romana, desde o Concílio de Trento em 1546 d.C., inclui oficialmente no
Cânon do AT sete livros “apócrifos”, além de quatro acréscimos ou apêndice a
livros canônicos, sendo assim um total de onze escritos.1
Desde sua aplicação por Jerônimo (sec. IV), nunca foram reconhecidos
pela Igreja Primitiva. Jerônimo, Agostinho, Atanásio e outros homens de valor
dentre os primitivos cristãos, se lhes opuseram como livros inspirados. Aparece
pela primeira vez na Septuaginta, a tradução grega do AT.
Jerônimo traduziu a Vulgata no início do século V (405 d.C.) onde inclui
os apócrifos oriundos da Septuaginta, através da antiga versão Latina de 170
d.C.2
Os sete livros apócrifos constantes da Bíblia de edição Católica Romana
são: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2
Macabeus. Os quatro acréscimos ou apêndice a livros canônicos são: Ester
(Ester 10.4; 16.24); Cânticos dos Três Santos Filhos (Dn. 3.24) História de
Suzana (Dn 13); Bel e o Dragão (Dn 14 ).
A igreja romana aprovou os apócrifos em 18 de abril de 1546 como meio
de combater a reforma protestante, então recente. Nessa época os
protestantes combatiam violentamente as novas doutrinas romanistas do
purgatório, oração pelos mortos, salvação mediante obras, etc. Os romanistas
viam nos “apócrifos” base para tais doutrinas, e apelaram para eles,
aprovando-os como canônicos.
Os debates sobre os apócrifos motivaram ataques dos Dominicanos
contra os Africanos. O cardeal Pallavacini em sua "História Eclesiásticas"
declara que em pleno concílio, 40 bispos dos 49 presentes travaram luta
corporal, agarrados, as barbas e batinas uns dos outros... Foi nesse ambiente
"espiritual" que os apócrifos foram aprovados. A primeira edição da Bíblia
1 Leia com atenção as introduções sobre cada livro apócrifo na Bíblia de Jerusalém para outras
informações. 2 Cf. ARCHER, JR. Gleason L. Merece Confiança o Antigo Testamento. Trad. Gordon Chown.
São Paulo: Vida Nova, 2005, pp. 76-85; ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 1993, vol. 1, pp. 175-177.
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católico-romana com os apócrifos deu-se em 1592, com autorização do papa
Clemente VI.3
Os apócrifos não são inspirados, não eram aceitos pelas sinagogas, não
foram usados por Jesus e nem pelos apóstolos, são livros que seus conteúdos
são duvidosos, e existe muita lenda, fatos e expressões falíveis.
Os canônicos são inspirados, eram aceitos, foram usados por Jesus e
pelos apóstolos, não são duvidosos. Não há o que discutir sobre isto.
Aprofundando o Assunto: 1) Por que se diz Antigo e Novo Testamento? 2) Há pelos menos dois tipos de divisão ou classificação dos livros do
Antigo Testamento, uma com três divisões e a outra com cinco divisões. Explique.
3) Como se chamam os sete períodos da história bíblica?
4) Cite um personagem principal de cada período bíblico? 5) Em sua opinião por que a Bíblia Católica aceitou os livros
apócrifos? 6) Por que nós metodistas são consideramos inspirados por Deus os
apócrifos?
3Texto disponível no site: http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-
InspiracApologetCriacionis/PqRecusaApocrifos-DefesaFeICP.htm. Acesso em 02/11/2009.
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3 HISTÓRIA DE ISRAEL
3.1 Os Primórdios da História
Por milênios Deus se revelou ao homem através de suas obras, isto é, a
criação (Rm 1.20; SI 19.1-6). Porém segundo seu propósito, chegou o tempo
em que desejou alcançar o homem com uma revelação maior, o que fez em
forma dupla: Através da Bíblia (Palavra Escrita) e, através de Jesus Cristo –
(Palavra Viva).
Deus revelou a Abraão como ele criou todas as coisas, Moisés descreveu
tudo em Gênesis. De acordo com a Bíblia, Deus criou o mundo e as demais
coisas em seis dias e no sétimo dia ele descansou de sua obra criadora. Após
a criação, Deus colocou o primeiro casal (Adão e Eva) no Éden e ordenou que
O adorassem. Determinou que governassem a terra, que não comessem da
fruta do conhecimento do bem e do mal. Todavia, a desobediência nasceu do
coração deles e da indução da serpente, que culminou com o pecado,
iniciando-se uma vida de miséria e morte. Após a Queda, Deus lhe prometeu
um REDENTOR, que salvaria e restauraria a relação entre a criatura e o
Criador, também, prometeu anular a obra de Satanás (Gênesis 3.15).
Após a morte de Abel, Deus deu a Adão e Eva outro filho de nome "Sete",
que tomou o lugar de AbeI. O redentor do mundo viria da família de "Sete".
Paralelamente a Bíblia mostra que o filho de Caim, Lameque, herdou os maus
caminhos do pai. O mal se espalhou por toda a humanidade (Gn 6.1-4), em
consequência, Deus mandou o dilúvio para castigar toda a humanidade
pecaminosa, este foi o mais importante acontecimento do período antigo. Deus,
entretanto, preservou a vida de Noé e de sua família, para que se cumprisse a
promessa de redimir a raça humana (2 Pe 3.2). Através de Noé, descreveu o
curso da história subsequente. Um fato importante aconteceu antes de Abrão
entrar em cena. Orgulhosos moradores tentaram chegar ao céu mediante a
construção de uma torre de BabeI (Gn 11), mas Deus castigou esses modos
arrogantes dividindo-os em várias línguas e espalhando-os depois para regiões
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diferentes. Foi assim que se iniciaram as nações do mundo.
3.2 O Período Patriarcal
O AT conta a história de um povo que está em busca de uma nova terra.
Essa história começa por volta de 2.000 anos a.C. Começa com Abrão e Sarai
[que tem seus nomes mudados para Abraão e Sara] que recebem um chamado
de Deus (Gênesis 12.1-9), isto por volta de 1.800 a.C.
Na cidade de Ur, capital do antigo reino de Suméria, Deus escolheu a
família de Abrão para trazer salvação ao restante da humanidade e prometeu-
lhe um filho e fazer de sua descendência uma grande nação (Gn 12.2-3 e 17.1-
6). Por amor a Abraão, Deus escolheu a Jacó, filho de lsaque, Jacó tem seu
nome mudado para Israel (Gn 35.1-15), para herdar as promessas de trazer ao
mundo o redentor.
Por volta do ano 2.000 a.C., as coisas andavam difíceis na Mesopotâmia
(terra de Abrão), acontece então uma grande migração em direção ao Egito
(Gn 11.31). Com Abrão e Sarai se inicia a história do povo de Deus. Nessa
época, Deus se apresentou a Abrão e Sarai e lhe faz três grandes promessas:
terra, família e benção (Gn 12.1-3).
Porém, no tempo de Jacó, há uma grande fome na terra de Canaã. Eles
são obrigados a descer ao Egito para buscar alimento. Não sabem, porém, que
o irmão que venderam para os mercadores tinha se tornado um governador no
Egito, seu nome era José (Gn 37-50). José perdoa seus irmãos, acolhe-os e dá
uma terra nas proximidades do rio Nilo para que pudessem viver em paz.
Ali no Egito, os descendentes de Jacó (Israel) se multiplicam e geram
preocupação aos faróis, que impõe serviço escravo sobre todo o povo. E por
muito tempo (400 anos aproximadamente) o povo de Israel é escravo na terra
do Egito, sem, contudo, ter condições de voltar à terra de onde saíram.
3.3 Período Mosaico
Os reis do Egito, chamados Faraós, temendo os descendentes de Jacó
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de que tomem conta do país, começam a escravizar os hebreus (Ex 1 e 2). O
povo era obrigado a trabalhar de graça para Faraó (Ex 1.11). A opressão não
tinha limites (Ex 1.8-22; 2.23-25; 5.1-23). Esta escravidão dura uns 400 anos
(Ex 12.40).
Os faraós escravizaram o povo e ordenaram a morte de recém-nascidos.
E neste ambiente de escravidão, uma jovem esconde seu bebe e quando não
pôde mais, lança-o no rio, que milagrosamente é tirado da água pela filha de
faraó. A princesa egípcia cria aquele menino com a ajuda de sua própria mãe e
irmã (Joquebede e Miriã) como se fosse seu próprio filho.
Quando Moisés estava jovem começou a incomodar-se com o sofrimento
de seu povo e desejava livrá-lo da escravidão (Ex 2.11; At 7.24-25). Aos 40
anos matou um egípcio e fugiu para o deserto de Midiã (Ex 2.14,15), onde
casou com a filha de Jetro, sacerdote pagão. Após 40 anos, Deus se revelou a
Moisés e o convocou a voltar ao Egito, e conduzisse os israelitas a Palestina
(Ex 3).
Moisés cumpriu a missão, entretanto, Faraó recusou-se a deixá-los ir. Foi
quando Deus enviou sobre o Egito dez terríveis pragas. Com a saída do povo,
Deus mandou celebrar a festa da Páscoa (Ex 12), e o seu povo foi conduzido
ao Mar Vermelho, onde partiu as águas e eles puderam atravessá-lo.
A missão de Deus era dá a “terra que mana leite e mel” ao seu povo,
porém, o povo não teve fé nem coragem para possuir a terra. Ao espiarem a
terra (Nm 14) dez dos dozes espias trouxeram um relatório negativo. Disseram
que não poderia conquistar a terra, pois ali habitavam os gigantes e as
muralhas eram muito grandes e fortificadas. Apenas Josué e Calebe tinham fé
e coragem, mas não conseguiram convencer o povo.
Sob a liderança dos irmãos Moisés, Aarão e Miriam, o povo caminha 40
anos pelo deserto em direção à terra prometida em Canaã. E neste tempo
muitas coisas aconteceram. Destaco apenas três fundamentais para este
estudo.
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1) Ex 16.1-30 = O maná. Eis aqui uma tentação de vender a liberdade “a
preço de banana”. O povo deseja voltar ao Egito por causa de comida.
Mostram claramente não confiar em Deus. Entretanto, Deus ensina o principio
da igualdade de distribuição de maná, na administração em não acumular, e
sobre a importância de ter um dia de descanso, o sábado sagrado.
2) Ex 18.13-27 = o discipulado. Jetro ensina Moisés repartir o poder.
Neste evento entendemos que um líder deve ter as seguintes qualidades:
capacidade, temor a Deus, segurança. Aqui também observamos a importância
do discipulado.
3) Ex 20.1-21 = Os dez mandamentos. Deus no monte Sinai ensina como
devem agir na terra prometida, para não voltarem a serem escravos como no
Egito. Estes 40 anos são um tempo de namoro de Deus com o povo e o povo
com Deus.
Moisés morre antes de o povo entrar na terra, a liderança passa para
Josué que introduz o povo na terra de Canaã (Js 1 a 3). Moisés despediu-se do
povo por não poder entrar na terra prometida, desobedecera a Deus em
Meribá, morreu no monte Nebo (Nm 20.12; Dt 34)
3.4 Período da Conquista (Tribal)
O povo de Deus nesta caminhada, do Egito à Canaã, se encontra com
outros grupos que também fizeram uma experiência semelhante: O grupo das
montanhas (apirús), o grupo dos pastores, o grupo do Sinai (e provavelmente
outros).
A entrada em Canaã não foi fácil (Js 12.7-24). Os hebreus encontraram
nas cidades-estado o mesmo esquema de injustiça do Egito: impostos,
violência e opressão. O jeito foi lutar por uma nova sociedade, baseada na
igualdade. Os hebreus, liderados por Josué, se aliaram aos diversos grupos
que resistiam contra a opressão em Canaã (Js 2.3-6).
O povo é organizado em 12 tribos, cada uma tinha o nome de um dos
filhos de Jacó: Rúben, Simeão, Levi, e Judá, Issacar, Zabulon e Benjamim, Dã
e Neftali, Gad, Aser e José (Ex 1.1-5). Cada tribo recebe pelo sistema de
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sorteio a sua terra, menos a tribo de Levi, por ser a tribo sacerdotal (Js 18.6-7;
Nm 18.20).
Josué organiza com eles a assembléia de Siquém e todos decidem
colocar em comum: a experiência da opressão, a produção, as tradições e a fé
num único Deus (Js 24). Liderados por juízes e juízas, o povo faz a experiência
de um sistema fraterno e igualitário: o sistema tribal. O último dos juízes foi
Samuel.
3.4.1 Situação social, política e econômica de Canaã
Hicsos: Importantes por causa da organização e espírito guerreiro. Hicsos
povos seminômades que vão ocupando o Egito - Delta do Nilo. Além de bons
administradores, eles formam uma casta militar dominante. Introduziram
cavalos e carros de guerra.
Rota de Comércio: A terra de Israel intermedeia o comércio internacional.
É passagem de produtos que do Egito e dirigem à Síria e Mesopotâmia ou
vice-versa.
Egípcios herdaram dos hicsos o sistema de cidade-estado. Através deles
realizaram sua dominação. Em Canaã, essas cidades-estado faziam parte do
império do Egito, e pagavam tributo ao Faraó. E os camponeses tinham
também que arcar com parte desse tributo.
3.4.2 As Cidades-Estado
Era uma cidade governada por um rei. Era independente, como se fosse
um pequeno país, cercada de muralhas, para evitar as invasões dos inimigos.
Ao redor da cidade havia terras cultivadas por camponeses, que aí
moravam em casas pequenas, eles eram desprotegidos, pois estavam fora das
muralhas. O rei dava certa proteção com soldados, mas exigia em troca
completa submissão. Com seu trabalho e lavoura esses camponeses
sustentavam os grandes, que viviam na parte alta, pagando a eles tributo.
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3.4.3 O Sistema Egípcio e Cananeu
1. Sociedade desigual, fundada no interesse particular e organizada a
partir de cima: rei, funcionários, soldados e camponeses (Js 11-12).
2. Exploração da força de trabalho. A terra pertence ao rei e o povo é
obrigado a se empregar sob as duras condições impostas pelo rei,
que se apropria do excedente da produção dos camponeses (Ex
5.6-18).
3. Poder centralizado no rei. O rei é dono de tudo e decide sobre tudo
(1 Sm 8.11-17).
4. Exército estável de mercenários. O rei mantém exércitos regulares,
que lhe garantem a dominação e a repressão (1 Sm 6.11-12).
5. As leis defendem o interesse do rei: Graças ao poder, a palavra do
rei é lei para o povo (Ex 1.8-10,22; 5.6-9).
6. Vários deuses, manipulados e impostos pelo rei, a fim de legitimar
e promover a exploração e a opressão: Baal, Astarte e outros (Js
24.14-15).
7. Culto centralizado para celebrar o mito que legitima o poder do rei.
Poderoso poder de dominação, sujeito a um esquema rigoroso.
Nada deve mudar (1 Sm 5; 1 Rs 11.1-8).
8. Sacerdotes a serviço do sistema. Os sacerdotes, ricos e donos de
terra, são também os intermediários entre o povo e os deuses,
colocando-se inteiramente a serviço do sistema (Gn 47.20-22).
3.5 Período Monárquico 3.5.1 O Reino Unido
O povo hebreu começava a invejar o sistema dos outros povos e pede
para Samuel que lhe dê um rei (1 Sm 8.1-22). Samuel alerta o povo para os
perigos da monarquia. Os primeiros reis de Israel são: Saul, Davi e Salomão.
Saul (1040 – 1010 a.C.) -– Seu governo é muito breve, de transição (1 Sm
10 a 14.7ss). Não tem estrutura de governo, nem palácio. Rejeitou parte do
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sistema tribal e a profecia. Em seus primeiros anos, Saul parecia um homem
humilde e seguro, mas aos poucos seu caráter mudou e tomou-se
desobediente a Deus e como consequência odiava a Davi, um jovem íntegro e
fiel a Deus.
Davi (1010 – 970 a.C.). Inicialmente se tornou chefe de bando (1 Sm
22.5). A Bíblia diz que ele governou segundo o coração de Deus, mas peca
também (2 Sm 5.1-4 e 12.1-13). Mantém um pé no sistema tribal e o outro no
monárquico. Conquista as rotas comerciais (2 Sm 8.1-14). Leva a arca a
Jerusalém com o apoio do Norte. Casa-se com fins políticos (1 Sm 18; 2 Sm
6.20; 1 Sm 25). Davi tinha todas as qualidades que o povo buscava em um rei
e isso resultou em ascensão para Israel, tornando a nação mais forte e segura
que antes.
Salomão (970 – 931 a.C.). Atingiu o apogeu do poder monárquico e da
exploração. Sobe ao trono a partir das intrigas palacianas (1 Rs 1-2). Elimina
os remanescentes tribais próximos da corte. Ele constrói o palácio e o templo.
Chama à Corte os sábios para que comessem a escrever a história do povo de
Israel. Um rei sábio e orgulhoso. Contrai muitas dívidas à custa do povo. Para
sustentar seu trono faz aliança com os reis vizinhos e casa-se com muitas
mulheres estrangeiras. Assim começou a introduzir em Israel a idolatria (1 Rs
11.1-12) e o sistema tributário (1 Rs 5.1). Com a morte de Salomão, por volta
de 930 a.C., o reino de Israel é dividido em dois: ao Norte com o nome de
Israel e ao Sul com o nome de Judá (1 Rs 12.12-24).
3.5.2 O Reino Dividido
O Reino de Israel: Reino do Norte
Neste período, após Salomão, o Reino do Norte, Israel (a partir de 922 a
722), estes reinos independentes começam com o líder Jeroboão I, chefe de
corvéia,4 apoiado pelo profeta Aías de Siló, com a futura capital Samaria. O
4 Corvéia era uma instituição formada por escravos. Entretanto, a corvéia só foi organizada em
Israel no período monárquico. Para outras informações, cf. VAUX, Roland de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. Trad. Daniel de Oliveira. São Paulo: Vida Nova, 2004, pp. 173-175.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
17
Reino do Sul, Judá (922 – 586) tem como líder Roboão, filho de Salomão,
apoiado pelo "povo da terra”,5 com a capital Jerusalém (1 Rs 12).6
Os profetas eram defensores das exigências da Aliança, defendiam o
projeto de Deus. Samuel é visto como o primeiro profeta-líder de um
movimento contra a Monarquia.7
Acabe (1 Rs 16.23-33) constitui o núcleo de afastamento de Deus.
Constrói Samaria, faz aliança com os fenícios, implanta o mercantilismo,
fortifica a cidade com bases militares, importa o deus Baal. Constrói santuários
para as divindades (Baais) e coloca bezerros de ouro, símbolos da força, como
representação divina. Assim, os reis de Israel levam o povo ao pecado da
idolatria e quebram a aliança com Javé.
Por volta do ano 722 a.C. a Assíria, querendo expandir seu império e
castigar Israel que não queria mais lhe pagar impostos, invade o reino do Norte
e toma posse daquela região. A classe alta é deportada para a Assíria. Israel
desaparece tornando-se província da Assíria (1 Rs17.7-18). Alguns conseguem
fugir para o Sul levando consigo os “escritos” que já possuem.
Destaca-se deste tempo a luta espiritual de Elias com Jezabel.8
O momento do ministério do profeta Elias é um tempo de apostasia, “...
tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios e foi, e serviu a
Baal, e o adorou” (1 Rs 16.31). Eles trocaram a adoração a Deus pelos ídolos:
Baal (masculino)= poder e sexo; e Astarote (feminino) = fertilidade, amor e
5 Sobre os vários significados desta expressão cf. VAUX, op. cit., pp. 95, 96. 6 O desenrolar monárquico posterior destaca Amri e Acab, entre 885 - 843 a.C. (1 Rs 16.23-
33), que constroem Samaria, fazem aliança com os fenícios, implantam o mercantilismo, fortificam a cidade com bases militares e importam o deus Baal. Este é um tempo de construção de impérios, de exploração e injustiça social, é tempo de um profetismo popular e não oficial.
7 Sobre o início do profetismo em Israel cf. VON RAD, G. Teologia do Antigo Testamento: teologia das tradições históricas de Israel. Trad. F. Catão. São Paulo: ASTE, 1986, vol. 2, pp. 10-35.
8 COIMBRA FILHO, João. Batalha Espiritual Contra o Espírito de Engano, pp. 22-23. Cf. JACKSON, John Paul. Desmascarando o Espírito de Jezabel. Rio de Janeiro: Danprewan. Texto disponível em: http://www.scribd.com/doc/3383971/John-Paul-Jackson-Desmascarando-o-Espirito-de-Jezabel-rev
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
18
guerra. A adoração aos deuses envolvia a prática sexual e sacrifício humano.
Contra esta apostasia Deus levantou o profeta Elias, mas Satanás levanta
Jezabel para silenciar a voz profética.
Neste tempo Elias reúne para exortar Israel, diz ele, “até quando
claudicareis entre dois pensamentos se Baal é Deus adorai, mas se o Senhor é
Deus segui-o”, afinal de contas o povo estava perdido não sabiam quem era
Deus. Por que o povo não sabe discernir sobre que deus seguir, se Baal ou
Javé? A resposta é que Israel estava sob maldição. Acabe estava sob
maldição, e Jezabel é a principal influência destas maldições. Todos estão sob
encantamento, como que dopados e anestesiados, não conseguindo sair.
Estas ações de engano e desgraça em Israel começaram com uma
Aliança Profana. Onri, o sexto rei de Israel, para ampliar seu reino, casou seu
filho Acabe com uma jovem de Tiro, seu nome era Jezabel. O objetivo era um
tratado de paz. Porém, Acabe se vendeu à idolatria pela iniciação de Jezabel.
Ele passou a participar dos cultos idólatras e das festas profanas e imorais. O
autor do primeiro livro dos Reis diz que “ninguém houve, pois, como Acabe que
se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel, sua
mulher, o instigava” (1 Rs 21.25). É claro que iria acontecer isso, Jezabel
operava sob influência maligna, e o espírito de Jezabel profana tudo o que
toca. Em seguida veja o que aconteceu.
Jezabel levou suas práticas para Israel. Jezabel tendo conquistado a
liderança principal (o rei), coloca ídolos em todo lugar, inclusive no templo. O
testemunho bíblico afirma que “Jezabel, sua mulher, o instigava; que fez
grandes abominações, seguindo os ídolos, segundo tudo o que fizeram os
amorreus, os quais o Senhor lançou de diante dos filhos de Israel’’ (1 Rs
21.25c-26). Ela era prostituta e adúltera, e também praticava bruxaria, foi o que
afirmou Jeú: “...que paz, enquanto perduram as prostituições de tua mãe
Jezabel e as suas muitas feitiçarias” (2 Rs 9.22). Também Jezabel tinha
características que envolvia: manipulação, controle, perversão sexual e
idolatria.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
19
Jezabel tinha forte determinação nos seus planos, isso aprendeu com seu
pai (Etbaal), capaz de tirar vidas para alcançar seus objetivos. Ela tentou
seduzir o rei Jeú (2 Rs 9.6,7), mas Jeú agiu pela profecia. Como líderes que
somos devemos escolher sermos como Jeú ou como Acabe.
Há dois tipos de Líderes. Vejamos qual a diferença entre estes dois reis.
O espírito de Acabe simboliza a abdicação da autoridade, ou, pelo menos, a
autoridade passiva. Ele se apresenta com uma mentalidade que evita os
confrontos e não assume os erros. Ele promove a paz fazendo alianças
profanas. Não se importa com o futuro, mesmo que venha desgraçar seu povo,
mesmo que venha trazer maldição sobre sua família. Acabe tolerava os
decretos e práticas abomináveis de sua esposa.
Não se pode adotar atitude de indecisão e evitar o confronto por medo de
dividir a igreja. Não se pode tolerar o inimigo. A Palavra nos adverte sobre isso
em Apocalipse 2.10, 20-24.
O fruto desta tolerância é ser vendido ao inimigo: “Não houve, porém,
ninguém como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau aos olhos do
Senhor, sendo instigado por Jezabel, sua mulher” (1 Rs 21.25). Por isso, o mal
veio sobre a família de Acabe, e morreu ele e seus filhos pela maldição de
Jezabel.
O outro modelo é Jeú. Deus levanta um rei para vingar o sangue dos
profetas (2 Rs 9.6,7). Ele veio para remover o espírito de Jezabel.
O Reino de Judá: Reino do Sul.
O reino do Sul/Judá (930 – 587 a. C.), também comete muitos pecados.
Apesar da ação dos profetas os reis de Judá quebram a aliança com Deus,
introduzem a idolatria e desobedecem aos Mandamentos (2 Rs 21.10-16). Mais
ou menos 150 anos depois da destruição de Israel, o império da Babilônia
vence a Assíria e começa a exercer seu domínio sobre Judá. Os reis lutam
para sustentar o reino do Sul e reagem contra as invasões do império
Babilônico.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
20
3.6 Período do Exílio9
É tempo de crise e de novidades (587 - 539 a.C.). Leia Ez 37.1-14. Vale
dos ossos secos. Quando falamos sobre o Exílio, não estamos falando do
Reino do Norte (Israel), mas do Reino do Sul (Judá), do cativeiro de Judá na
Babilônia que durou setenta anos. Porém, este castigo foi consequência
também dos pecados do reino do Norte, como se viu.
Num primeiro tempo, o rei e sua família são presos e levados para a
Babilônia. Num segundo tempo a Babilônia invade Jerusalém, destrói o templo
e a cidade (2 Rs 25.8-12). Os babilônios levam os líderes e boa parte da
população para a Babilônia, onde permanecem uns 50 anos (587-539 a.C.). É
o tempo do Exílio. Este é o período mais duro da história de Israel, pois perdem
sua própria identidade. Porém, é também o período mais rico de sua fé e do
reconhecimento de quanto Deus os ama (Sl 137; Ez 37.1-14).
3.7 Pós-Exílio
Mas a Babilônia, por sua vez, é vencida pela Pérsia. Ciro, o rei dos
persas, deixa o povo Judeu voltar para a sua terra, porém o mantém sob o seu
domínio político. É tempo de reconstrução da aliança com Deus (538–333
a.C.). É o tempo da reconstrução do templo, da cidade de Jerusalém, dos
palácios, das Leis, da religião, da identidade. É tempo também de purificação
do povo através da prática da lei.
Religiosamente o povo no cativeiro teve três fases citadas em Jeremias
29, Ezequiel 17.11-24, outra em Ezequiel 36-38 e uma de esperança
reivindicada ou revivida no tempo de Daniel. Os judeus regressaram do exílio
em duas ocasiões: o grupo de Sesbazar e Zorobabel - Esdras 1.8-2.70 e o
grupo de Esdras e Neemias - Esdras 8.1-14. 9 Cf. BRIGHT, John. História de Israel. Trad. Euclides da Silva. São Paulo: Paulus, 1978, pp.
463-547. Compreende-se o tempo do Exílio entre 587-539 a.C. (Ibidem, p. 464). Chama-se Pós-Exílio o período bíblico que vai da volta dos exilados – repatriados – (538 a.C.) com o Decreto de Ciro rei dos Persas e o nascimento de Jesus Cristo. Nesse tempo o povo está sob a dominação dos persas e volta à sua terra (GOTTWALD, Norman K. Introdução Socioliterária à Bíblia Hebraica. Trad. Anacleto Alvarez. São Paulo: Paulinas, 1988, pp. 394s; cf. Também SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. Trad. João Marques Bentes. São Paulo: Vida Nova, 1977, pp. 219-263).
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
21
Poucos retornaram à palestina, e só em 539 a.C. é que termina o Exílio, e
que a Babilônia está subjugada definitivamente pelos persas. O templo como
símbolo maior (Ed 1.7-11; 3.8-13) está sob o governo persa que criam uma
eficiente burocracia e política religiosa tolerante.
Politicamente, o povo se descobre como uma pequena comunidade
étnica (racial e cultural), perdida na imensidão de um império. Não são mais
independentes, são obrigados a pagar contínuos impostos. Convivem com
exército que ocupa seu território. Não há esperança de independência política
imediata. O povo de Deus deixa de ser israelita independente para ser judeu
colonizado.
O centro de tudo é o Templo de Deus. Em meio a essa realidade Esdras
(símbolo da lei) organiza o povo exigindo a expulsão dos estrangeiros (pureza
racial) e Neemias constrói as muralhas, o Templo, fechando as perspectivas
para se realizar o projeto de reforma. Este é o tempo em que o Pentateuco foi
concluído, após o Exílio.10
Em continuidade a esta nova fase do povo, agora chamado de Judeu, daí
a expressão judaísmo, passam a defender sua Identidade. Este período vai de
333–63 a. C. tempo do helenismo, a cultura grega domina o mundo. Em 333
a.C., a Palestina toda é conquistada pelo general grego, Alexandre Magno, rei
dos macedônios. Com a morte de Alexandre seus três generais dividem entre
si o grande império grego.
De 177 a 163 a.C. os judeus passam por outro período de grande
provação e perseguição debaixo do domínio grego e egípcio. É a época dos
defensores da fé, período dos Macabeus (2 Mc 7.1-41) e da expansão da
cultura grega.
10 Cf. quadro em PIXLEY, Jorge. Êxodo. Trad. J. Rezende costa. São Paulo: Paulinas, 1987, pp. 96s; HARRINGTON, Wilfrid John. Chave Para a Bíblia: a revelação: a promessa: a realização. Trad. Josué Xavier e Alexandre Macintyre. São Paulo: Paulus, 1985, pp. 23-24.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
22
Em seguida, há uma resistência final (63-135 d.C.). No ano 63 a.C.
Pompeu, general do exército romano, invade a Palestina e a reduz a uma
província romana. Nesta situação de frustração e sofrimento o povo sente
ainda mais viva a esperança de um Messias. Um novo Davi, que venha
governar com justiça e salvar o povo de tanta opressão (Is 42.1-9) é esperado.
Neste tempo nasce JESUS.
Aprofundando o Assunto:
Você percebe uma unidade (salvação-pecado-punição) nos textos da Queda (Gn 3), do Dilúvio (Gn 6) e da torre de Babel (Gn 11)? Como se vê a presença de Deus neste início?
Qual a importância de Abraão para se iniciar um povo? Podemos usar este mesmo principio de fé para começarmos uma igreja? [Rm 4.17-21]
O preparo de Moisés foi fundamental para o exercício de seu ministério. Que tipo de preparo Moisés recebeu nos seus primeiros 40
anos? E nos próximos 40 anos?
Estando no deserto Moisés liderou o povo com muita determinação e paciência. Cite pelo menos um momento de crise que Moisés passou
com o povo no deserto.
No deserto Deus ministrou muitas lições. Destaque quais as lições que podemos aplicar ao nosso ministério do maná que caia do céu, do conselho de Jetro e do bezerro de ouro que fizeram no pé do monte Sinai.
Na Conquista da terra prometida quais os grandes desafios de Josué?
O que eram as cidades-estado?
No período Monárquico houve uma divisão. Qual era?
Quem foi Jezabel e que mal ela fez ao povo de Isarel?
Que período aconteceu o Exílio Babilônico? Cite alguns profetas que viveram neste período.
Em suma, o que aconteceu no pós–Exílio?
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
23
4 PENTATEUCO
O Pentateuco diz respeito aos primeiros cinco livros da Bíblia atribuídos
a Moisés (Gn, Ex, Lv, Nm, Dt). A palavra significa literalmente “livro de cinco
volumes”. É designado no TM como “a Lei – hattôrâ”.
No Antigo Testamento o Pentateuco é chamado de:
Lei – Js 8.34; Ed 10.3.
Livro da Lei – Js 1.8; II Rs 22.8.
Livro da Lei de Moisés – Js 8.31; Ne 8.1.
Livro de Moisés – Ed 6.18; II Cr 25.4.
Lei do Senhor – Ed 7.10; I Cr 16.40.
Lei de Deus - Ne 10.28,29.
Livro da Lei de Deus – Js 24.26; Ne 8.18.
Livro da Lei do Senhor – II Cr 17.9; 34.14.
Livro da Lei do Senhor seu Deus – Ne 9.3.
Lei de Moisés, servo de Deus – Dn 9.11;Ml 4.4.
No Novo Testamento o Pentateuco é chamado de:
Livro da Lei – Gl 3.10.
Livro de Moisés – Mc 12.26.
Lei – Mt 12.5; Lc 16.16; Jo 7.19.
Lei de Moisés – Lc 2.22; Jo 7.23. (5) Lei do Senhor – Lc 2.23,24.
Embora não possamos afirmar categoricamente que todas estas
referências e outras mais sejam explícitas ao Pentateuco é difícil fazer tal
ligação.
O termo Pentateuco foi utilizado a primeira vez por Orígenes em seu
comentário de Jo 4.25 “do Pentateuco de Moisés”; e Tertuliano em sua obra
“Contra Márcion 1.10”.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
24
4.1 A Autoria do Pentateuco:
Há evidência Bíblica suficiente para crermos que Moisés foi o autor
humano do Pentateuco. Isso não quer dizer que Moisés tenha escrito cada
palavra como temos hoje, mas que é seu autor fundamental e real. É possível
que Moisés tenha se utilizado de fontes anteriores e que revisões posteriores
tenham ocorrido debaixo da inspiração do Espírito Santo, atualizando
informações geográficas e históricas para facilitar sua leitura e entendimento.
a) No próprio Pentateuco: Ex 17.14, 24.4-8, 34.27; Nm 33.1,2; Dt 31.9,22 e
ainda Dt 1.1,5.
b) No restante do AT: Josué está repleto (8.31,32,34;11.15,20; 14.2; 21.2,
22.5,9; 23.6 dentre outras); Jz 3.4, I Rs 2.3; II Rs 14.6; II Rs 21.8; Ed
6.18; II Cr 34.14; Dn 9.11-13.
c) No NT: Mt 10.5; Mt 19.8; Mc 1.44; Lc 5.14; At 3.22; Rm 10.5-9; I Co 9.9;
Ap 15.3.
LIVRO AUTOR DATA AÇÃO VERSO
CHAVE TEMA DIVISÃO
Gênesis Moisés 1.445 4.004 a 1.805 a.C.
1.1 Os princípios. Primórdios. Patriarcas. Providência.
Êxodo Moisés 1.444 1.444 a.C
3.10 Libertação pelo sangue.
Libertação. Locomoção. Legislação.
Levítico Moisés 1.444 1.444 a.C.
19.2 Santidade. Sacrifício. Sacerdócio. Saúde. Separação. Solenidade.
Números Moisés 1.405 1.444 a 1.405 a.C.
33.1 Peregrinação. Sinai. Sinai a Cades. A Moabe.
Deuteronômio Moisés 1.405 1.405 a.C.
12.1 Obediência. Recorda! Obedece!
4.2 Análise de Gênesis
4.2.1 Nome, Autoria e Data Na Torá (TM): Bereshit – “No Princípio”. Na LXX: Genesij (Gênesis –
origem, fonte, geração). Autor e data: Moisés, cerca de 1.450 a.C.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
25
4.2.2 Propósito
Fornecer um breve sumário da história da revelação divina, desde o
princípio até que os israelitas foram levados para o Egito e estavam prontos
para se tornarem uma nação teocrática.
4.2.3 Esboços
Capítulo Personagens Assuntos Lições
1-2 Deus Criação Deus é o criador de tudo.
3-5 Adão Queda Deus é santo.
6-10 Noé Dilúvio Deus é justo.
11 Os povos Babel Deus é o governante dos povos.
12-25 Abraão A Aliança Deus elege.
26-27 Isaque A promessa Deus é fiel.
28-36 Jacó Israel Deus cuida com paciência.
37-50 José Conservação
da promessa
Deus intervêm.
CRIAÇÃO QUEDA DILÚVIO NOVO COMEÇO
1 – 2 3 - 6.10 6.11 - 8.19 8.20 - 11
4.2.4 A Criação
A duração dos dias da criação ainda é ponto discutido:
Eles nunca existiram – evolucionista.
Os dias representam eras (Evolucionista-Teísta).
Os dias são literais – 24 horas.
1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia 6º dia 7º dia
Luz. Firmamento Separação
de terra e
mar
Luminária
nos céus
Criaturas
marinhas e
as aves
Os animais
terrestres
e o homem
Deus
terminou
seus atos
criativos e
descansou.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
26
4.2.5 A Queda
O pecado da queda foi a desobediência motivada por um desejo de
tornar-se como Deus.
“Deus proveu peles de animais para lhes servirem de vestes, o que
envolveu o abate de animais, em favor do homem pecaminoso”11
Caim O primeiro homicida.
Lameque O primeiro polígano.
Enos Começa-se a invocar a Deus (oração)
Enoque Foi arrebatado.
Jubal Invenção da música através de instrumentos musicais.
4.2.6 Dilúvio
Medida da Arca. Tomando-se o côvado como 46 cm = !37 m.
(comprimento) / 22,5 m. (largura) e13,5 m. (altura). Deslocamento de água de
50 mil toneladas.
4.2.7 Novo Começo
Terminado o dilúvio, começam as oferendas sacrificiais11. Deus
estabelece a pena de morte para o homicídio e estabeleceu o arco-íris como
promessa de mais destruir a terra com dilúvio.
Destaque para a construção da torre de Babel, quando Deus confundiu
as línguas para que o povo se dispersasse pelo mundo.
4.2.8 Distribuição dos povos
Sem Cão Jafé
Região do golfo Pérsico África e Palestina. Costa
do Mar Mediterrâneo
Europa e Ásia
A lição que aprendemos desse período é que a corrupção do pecado se
espalhou e contaminou a todos de forma crescente.
11 Samuel J. Shultz, A História de Israel no AT, p. 14.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
27
4.2.9 A Era Patriarcal
A narrativa desse período está contida em Gênesis 12-50. Novas
descobertas arqueológicas (Mari, Nuzi e Ugarite) têm trazido luz para esse
período. O mundo patriarcal está identificado com o “Crescente Fértil”
(Mesopotâmia, Palestina e Egito).Sua história está associada aos
desenvolvimentos dos Sumérios e acadianos na Mesopotâmia e dos Egípcios
no Egito.
Quatro personagens bíblicos recebem destaque: Abraão, Isaque, Jacó e
José.
A vida de Abraão tem três fases distintas:
1. Partida de Ur e estabelecimento em Canaã (12.1 – 14.24).
2. Espera do filho prometido (15.1 –22.24).
3. Provimento para sua posteridade (23.1 – 25.18).
A vida de Isaque se mistura ao relato da vida de Jacó (25.19 – 35.29).
A vida de Jacó:
1. Jacó adquire de Esaú a Primogenitura – cap. 25.
2. Jacó rouba a Benção de Esaú – cap.27.
3. Jacó e Labão – cap. 28 – 32.
4. Jacó retorna a Canaã – cap.32 – 35.
Os Filhos de Jacó (Gn 35.23-26)
Ruben, Simeão, Levi, Judá, Issacar e Zebulom. (filhos de Lia)
José e Benjamim. (Filhos de Raquel)
Gade e Aser. (filhos de Zilpa, serva de Lia)
Dã e Naftali. (filhos de Bila, serva de Raquel)
4.3 Implicações do Livro
4.3.1 Gênesis questiona
1. O ateísmo – Existe um Deus que é criador de tudo.
2. O Panteísmo – Deus, embora imanente (presente na criação), é
transcendente a ela (é separado da criação). Deus não é a criação, a
natureza.
3. O politeísmo – Existe apenas um Deus, que é o SENHOR (Javé).
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
28
4. O Deísmo – Esse Deus intervêm na história da sua criação e a
governa.
5. O materialismo – Deus não é a matéria, mas o seu criador (Ex nihilo –
do nada).
4.3.2 A queda do homem explica
1. A miséria do homem.
2. O vazio existencial do homem (quem sou? Donde vim ? Para onde
vou ?).
3. A perdição e corrupção humana.
4. A existência da morte.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
29
5 INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS
5.1 Composição
Os livros históricos compreendem doze livros, que vão de Josué a Ester.
A organização do TM segue uma linha diferente. Diferem do Pentateuco quanto
à sua ênfase. O Pentateuco traça a história redentora da criação à morte de
Moisés, destacando à aliança da Lei e aos alicerces legislativos de Israel como
povo da aliança. Os livros históricos, por outro lado demonstram o movimento
histórico de Israel na Palestina na sua obediência ou não à Lei e à aliança
divina.
Josué, Juízes, I e II Samuel, I e II Reis = Os Profetas Anteriores
(Primeiros Profetas). Essa designação é feita para contrastar com os
profetas posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas
menores). O termo não se refere a uma cronologia histórica, mas
simplesmente ao seu lugar no cânon. “Enfatiza o fato de que
apresentam uma história religiosa ou com um objetivo religioso. Eles
“contém dados históricos escolhidos numa perspectiva profética”12. O
elemento histórico está sempre ligado à mensagem espiritual. Os
primeiros Profetas são históricos; os Últimos são exortativos”13 Os
Profetas Anteriores enfatizam o assentamento em Canaã e à Monarquia,
os Profetas Posteriores enfatizam os séculos finais dos dois reinos,
especialmente Judá. A diferença fundamental entre ambos está no fato
de os Anteriores serem “constituídos de narrativas”14.
Esdras, Neemias, Ester, I e II Crônicas = Os Escritos.
Rute é contado entre os cinco Rolos.
5.2 Autoria
Os livros históricos têm em sua maioria autoria anônima, porém
certamente foram compilados por: Josué, Samuel, Jeremias e Esdras. Também
haviam cronistas que eram oficialmente encarregados de relatar os fatos
históricos para registro oficial; além do que, há outros escritores que narraram
histórias específicas.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
30
Davi = Samuel, Natã e Gade (I Cr 29.29).
Salomão = Natã, Aías e Ido (II Cr 9.29).
Roboão = Semaías e Ido (II Cr 12.15).
Baruque era o escrivão de Jeremias. Outros documentos históricos, não
inspirados, foram utilizados como fonte (Js 10.13 – O livro dos Justos. I
Rs – A História dos Reis de Israel e Judá).
5.3 Divisão Histórica do Período
No Período Duração Datas
1º Juizado Da entrada em Canaã até o estabelecimento
da Monarquia
1.406 – 1.044
a.C.
2º Monarquia 1) O Reino Unido: Saul, Davi e Salomão.
1.044 – 931 a.C.
2) O Reino divido ou Período Profético.
931 – 536 a.C.
1.044 – 536 a.C.
3º Restauração Do Cativeiro Babilônico até a Silêncio
Profético.
536 – 400 a.C.
5.4 Divisão Literária do Período
LIVRO DATA APROXIMADA
TEMA OUTROS POVOS
ANTES DO REINADO – 1.406 – 1.044 a.C.
Josué 1.406 – 1.375 Ocupação da terra
prometida
Pouca influência egípcia
na Palestina
Juízes 1.375 – 1.044 Bênçãos pela obediência
e castigo pela
desobediência conforme
a aliança.
Chegada dos Filisteus à
Palestina.
Rute 1.330 A linha davídica abrange
os gentios por intermédio
de Rute.
Período de paz entre
Israel e Moabe. Época
dos Juízes.
ASCENSÃO E QUEDA DDO REINO – 1.044 – 586 a.C.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
31
I e II
Samuel
1.100 – 970 Estabelecimento do
Reinado.
Filisteus: Os maiores
inimigos de Israel.
I e II Reis 970 – 586 A história do reino pelo
prisma da aliança.
Cativeiro sob a Assíria
(Israel) e Babilônia
(Judá).
I e II
Crônicas
Adão – 586 A história do reino com
ênfase em Judá. O
Templo de Salomão.
“Reinos e impérios
vizinhos erguem-se e
caem conforme o
desígnio de Deus para o
reino dravídico.”
PÓS-EXÍLIO (PERÍODO PERSA) – 537 – 432 a.C.
Esdras 537 – 458 Reconstrução do templo
e reforma do culto
O Novo Império Persa.
Retorno dos exilados.
Neemias 445 – 430 Reconstrução do templo
e reforma do culto
A boa vontade dos
governos persas
permitem uma relativa
paz.
Ester 483 – 473 Deus é providente para
com seu povo mesmo
longe da terra prometida.
A Pérsia governa da Índia
ao Helesponto.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
32
6 INTRODUÇÃO AOS LIVROS POÉTICOS
O Velho Testamento está dividido entre os Livros Históricos, os Livros
Poéticos e os Livros Proféticos.
1. Livros Históricos. – 17. Pentateuco - 5: Gênesis a Deuteronômio. Livros da
História de Israel - 12: Josué a Ester. Pentateuco dá a história bíblica da
criação do universo até o fim da vida de Moisés. Os doze Livros Históricos dão
a história de Israel desde a conquista da terra prometida até os cativeiros de
Israel e de Judá.
2. Livros Proféticos - 17. Profetas Maiores - 5: Isaías a Daniel. Profetas
Menores - 12: Oséias a Malaquias. Estes livros todos dão a história e a
condição espiritual de Israel nas suas várias épocas históricas. Inclusive; antes,
durante e depois dos cativeiros das nações de Israel e de Judá.
3. Livros Poéticos – 5. Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de
Salomão. Estes cinco livros que ficam no meio dos livros históricos e proféticos
são muitos diferentes do que aqueles que vem antes ou depois deles. Os livros
poéticos não são históricos. Os outros livros são históricos: contam a história
do povo de Israel. Estes livros são experimentais. Os livros históricos falam de
uma nação como tal, da nação hebraica. Os livors poéticos não tratam da
nação de Israel, mas tratam de assuntos individuais do coração. Os livros
poéticos falam de indivíduos como tais, do coração humano. Os livros poéticos
não são a única poesia encontrada no Velho Testamento. Estes livros são o
grupo poético de livros. Os livros poéticos falam das experiências da vida, da
relação do coração com Deus e da intimidade que o salvo tem com Deus.
4. Observe os livros poéticos individuais. Jó nos ensina como vencer no
sofrimento e morrer a nós mesmos. Salmos nos ensinam como é a vida nova
em Cristo que se manifesta em várias virtudes divinas. Provérbios nos ensinam
a sabedoria divina aplicada para nossa vida aqui na terra. Eclesiastes nos
ensina que nada aqui em baixo do sol dá a satisfação e felicidade verdadeira.
Mas que o sentimento certo da vida é temer a Deus e guardar os seus
mandamentos. Este é o dever de todo o homem. Cantares de Salomão nos
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
33
ensina de maneira simbólica como é o amor e a intimidade da comunhão com
Cristo aqui no mundo. Nenhum crente (salvo) chega para esta comunhão com
Cristo sem passar pelas outras coisas primeiro. Revise tudo para ver. É um
progresso espiritual que devemos observar.
5. Veja a quantia da poesia hebraica. É óbvio que o povo hebraico escreveu
muita poesia sobre muitos assuntos variados. Nem toda a poesia que eles
escreveram chegou para fazer parte da Bíblia. Exemplos: I Reis 4:29-33,
Números 21:14, Josué 10:13. poesia era a maneira popular para escrever em
Israel e chegou uma grande quantia.
6.1 Poesia Hebraica
Devemos dizer algumas palavras sobre a natureza da poesia hebraica.
Porque ela difere muito da poesia encontrada no mundo em vários dos seus
aspectos.
Uma grande parte da poesia do mundo apóia-se na rima (no paralelismo
sonoro) e no ritmo de tempo. Na rima atingimos o prazer da concordância
fonética. No ritmo atingimos o prazer da concordância métrica. Mas na poesia
hebraica não é a rima nem o ritmo de sons, mas é o paralelismo de idéias ou
verdades. Isso pode ser de três maneiras: completivo, contrastante e
construtivo.
1. Exemplos do completivo (progressivo): Salmo 92:12, Salmo 46:1, Salmo
19:7 e Salmo 30:11. O segundo pensamento coincide com o primeiro, mas não
é igual, porque desenvolve, enriquece, completa e colore o primeiro
pensamento. Observe Salmo 1:1 que faz isso três vezes, isso é chamado
ternário. O Salmo 1 é um bom exemplo do completivo ternário (triplo).
2. Exemplos do contrastante (antitético ou contrário). O livro de Provérbios
contém muitos deles. Provérbios 3:5, Provérbios 27:6, Salmo 30:5, Provérbios
14:11, Salmo 32:10. Pode ver que o segundo pensamento contrasta com o
primeiro pensamento. Algumas vezes também há dois pensamentos
(versículos) que contrastam entre si. Salmo 37:10-11. Veja o exemplo de uma
sucessão de paralelos contrastantes. Isaías 65:13.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
34
3. Exemplos do sinônimo: Salmo 2:4, Provérbios 1:8. Nestes versículos a
segunda linha repete o mesmo pensamento da primeira linha em outras
palavras. Este exemplo é quase igual ao exemplo 1, o completivo,
4. Exemplos do construtivo: Provérbios 30:17, Salmo 21:1-2, Salmo20:7-8. O
belo desenvolvimento dos versículos é facilmente perceptível. Naturalmente,
ainda tratando dos paralelos construtivos, devemos observar que existem
variedades deles. Por exemplo, há o paralelismo introvertido. Salmo 135:15-18.
Veja em baixo. Vemos aqui que o primeiro versículo corresponde ao último,
pois no primeiro lemos os ídolos dos gentios e no último aparece simplesmente
um outro nome para os gentios, a saber, todos os que confiam neles (nos
ídolos). A seguir, observamos que o segundo versículo corresponde ao
penúltimo, pois ambos falam da feitura de ídolos (num caso, a obra; no outro,
os feitores).
Os ídolos dos gentios são prata o ouro,
Obra das mãos dos homens.
Têm boca, mas não falam;
Têm olhos, mas não vêem,
Têm ouvidos, mas não ouvem,
Nem há respiro algum nas suas bocas.
Semelhantes a eles se tornem os que os fazem,
E todos os que confiam neles.
5. A compreensão desse paralelismo hebraico não é somente poeticamente
interessante, mas muito importante para a interpretação da Bíblia. Os
elementos correspondentes em cada paralelo esclarecem uns aos outros. Com
freqüência as palavras obscuras são explicadas desse modo, pois a mesma
idéia geralmente é encontrado na base de ambos os termos do paralelo.
Algumas vezes, um elemento expressa a idéia figuradamente, enquanto o
outro a expressa literalmente. Outras vezes, um elemento a expressa
positivamente e o outro, negativamente. É possível também que um membro
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
35
exprima o pensamento de um modo que a nós soa como fraseologia obscura,
enquanto o outro o faz em palavras bastante claras, não deixando nenhuma
dúvida. Por exemplo, quando lemos “O Senhor está no seu santo templo”.
Salmo 135:4. Talvez nos perguntemos: “Que templo é este, o terreno ou o
celestial?” Mas quando interpretamos essa declaração em seu paralelo poético
vemos que está indicando o templo celestial. “O trono do Senhor está nos
céus”.
6. Queremos comentar somente mais uma coisa sobre esta poesia hebraica de
ideias paralelas. O caráter peculiar torna-se incrivelmente adequada à tradução
para qualquer língua. É importante entender isso porque temos uma tradução
da Bíblia de hebraico para português. Nada é mais difícil do que traduzir certos
tipos de poesia de uma língua para outra. Quando tentamos transpor rima e
ritmo de uma língua para outra, enfrentamos obstáculos quase intransponíveis
e impossíveis. Mas a poesia hebraica pode ser traduzida para qualquer língua
sem diminuir sua beleza ou força. E Deus soube disso, porque a Bíblia ia ser
traduzida para centenas de línguas diferentes. O Deus soberano e onisciente
está atrás desta maravilhosa poesia.
6.2 Livro de Jó
6.2.1 Introdução do livro.
Data do livro
O livro de Gênesis é o primeiro livro da nossa Bíblia, mas isso não quer dizer
ele seja o primeiro para ser escrito. Há várias razões para crer que o livro de Jó
seja de uma data anterior. Talvez o livro de Jó seja o livro mais antigo do
mundo. Vamos observar algumas dessas razões.
1. A cabeça da família na época de Jó serviu também como o sacerdote da
família. 1:5. Foi assim também na época de Abraão, Isaque e Jacó. Isso indica
que Jó viveu na época deles.
2. Parece que não foi um livro divino escrito para o povo de Deus ainda, porque
Jó pediu um livro assim em oração. 31:35. Não é uma menção nesse livro dos
dez mandamentos nem da lei de Moisés. Também não é uma menção de
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
36
Moisés, Abraão, dos juízes, dos reis de Israel nem dos profetas de Israel. Essa
é outra indicação que o livro de Jó foi escrito antes que Moisés escreveu o
Pentateuco.
3. No livro de Jó não vemos uma certa nação que é foi separada por Deus para
ser a sua nação particular, como Israel. Então é uma razão para crer que Jó
viveu antes da época da nação de Israel.
4. O tempo total que Jó viveu foi 200 anos ou mais. 1:2, 32:6, 42:16. Se fosse,
isso indicaria que Jó viveu perto da época do dilúvio e Noé e Sem. Noé viveu
350 anos depois do dilúvio e Sem 502 anos depois do dilúvio. Então é possível
que uma parte da sua vida de Jó sobrepôs a vida de Noé e Sem.
5. Também no livro de Jó achamos muitas coisas sobre a criação do universo.
Até Jó falou sobre Beemote e Leviatã. Mostra que a ele teve contato com as
pessoas que conheceram esta história pessoalmente. Estes animais gigantes
(dinossauros) ainda estavam na terra na época de Jó? Tudo indica que seja.
Então isso mostra que estes animais não estavam extintos ainda totalmente.
Porque a extinção destes animais levou um bom tempo depois do dilúvio.
Terra de Uz
Onde ficou a terra de Uz não é sabido com certeza absoluta. Lamentações
4:21 diz: “Regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz”.
Este versículo indica que a terra de Uz ficou em Edom (a terra de Esaú). Edom,
que foi depois chamado Iduméia, ficou para o sudoeste e sudeste do Mar
Morto. Então parece que a terra de Uz ficou nesta região.
Quem foi Jó?
Provavelmente viveu no tempo de Abraão ou um pouco mais cedo. A
septuaginta diz que Jó é igual ao rei Joabe em Gênesis 36:33. É a verdade?
Veja os quatro amigos de Jó. Elifaz: Gênesis 36:11, parente de Esaú? Bildade:
Gênesis 25:2, descendente de Abraão? Zofar: o naamatita, habitante de
Naama? Eliú: o buzita, Gênesis 22:20-21. Parente de Abraão? Observa
também o nome Uz. Qual tipo de homem foi Jó? Veja Jó 1:1-5.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
37
Autor do livro
Do jeito que o autor escreve sobre as conversas entre Jó e seus amigos indica
que o autor foi uma testemunha ocular. Muitos acham que o autor foi Moisés.
Mas isso é improvável por causa da razão falada acima. Faz mais sentido que
Jó mesmo é o autor do livro. Jó mesmo falou seu desejo que passou na vida
dele fosse escrito. Jó 19:23-24.
Propósito do livro
Há várias opiniões sobre este assunto, o propósito do livro. O propósito que faz
mais sentido é: o mistério do sofrimento. Jó sofreu, isso é óbvio. Mas, para Jó,
o seu sofrimento era um mistério. Ele não soube a conversa entre Deus e Jó
que provocou seu sofrimento. Deus não revelou a ele o propósito do seu
sofrimento nem quando estava no meio dele. Se Jó é o autor do livro, ele não
soube nada disso até o fim da vida dele. Muita coisa passa na vida do crente
sem saber o que Deus faz. Temos que seguir e agüentar pela fé. Se soubesse,
não seria fé. Também nós os crentes temos que entender que Deus é
soberano e não a nós explicações. Deus tem direito soberano para fazer
conforme a Sua vontade!
Também neste livro vemos outros propósitos secundários. Por exemplo: a
necessidade de uma revelação, 31:35. Sem uma revelação inspirada por Deus
não há como conhecer o mistério da vida. Outro exemplo: mostrar a
necessidade de árbitro, mediador, redentor, que nos leva a Deus e nos dá o
entendimento e a revelação que é a verdade. 9:33, 19:25-27, 23:3-9. A
revelação divina nos dá a verdade e certeza sobre estas coisas. Outro exemplo
é a criação. Observe algumas coisas faladas no livro de Jó. A queda e a
maldição do homem. Jó 5:7, 10:9, 14:1-4, 25:4, 31:33, 34:14-15. Estes
versículos combinam com Gênesis 3:16-19. O Dilúvio. Jó 9:5-8, 12:14-15,
14:11-12, 22:15-17, 26:11-14, 38:8-11. A criação das estrelas as hostes do céu.
Jó 9:8-9, 26:13, 38:4, 12-14. A criação de animais, aves e peixes. Jó 12:7-10,
38:39-41, 39: 1-30, 40:124, 41:1-34. Observe as criaturas de Deus
mencionadas neste livro. Alimárias, aves, peixes, leão, corvo, cabra montesa,
cerva, jumento montês, boi selvagem (unicórnio), avestruz, cavalo, gavião,
águia, coelho, beemote e leviatã. Beemote e Leviatã são dinossauros.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
38
O livro de Jó é uma drama
É a maior drama do Velho Testamento. Não é simplesmente um relatório dos
eventos da vida de Jó. Ninguém que está no estado mental e emocional de que
Jó estava neste livro, esperaria paciente e cortesmente para cada homem falar
e depois responder cada um deles de sua vez em forma poética, fazendo isso
três vezes. Então pela inspiração de Deus o livro de Jó foi escrito desta forma
poética para que possamos entender melhor o que o livro ensina.
O esboço do livro de Jó.
Prólogo – Capítulos 1-2.
1. Jó – sua piedade na prosperidade. 1:1-5.
2. Satanás – sua mentira e maldade. 1:6-19.
3. Jó – sua piedade na adversidade. 1:20-22.
4. Satanás – sua maldade posterior. 2:1-8.
5. Jó – sua piedade ma miséria. 2:9-13.
Diálogo – Capítulos 3:1-42:6.
1. Primeiro Grupo de Discursos.
Elifaz versus Jó. 4-7.
Bildade versus Jó. 8-10.
Zofar versus Jó. 11-14.
2. Segundo Grupo de Discursos.
Elifaz versus Jó. 15-17.
Bildade versus Jó. 18-19.
Zofar versus Jó. 20-21.
3. Terceiro Grupo de Discursos.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
39
Elifaz versus Jó. 22-24.
Bildade versus Jó. 25-31.
Eliú fala. 32-37.
4. Deus fala: Intervenção Final. 38-41.
Epílogo – Capítulo 42.
1. Jó – se julga. 42:1-6.
2. Jó – sua integridade provada. 42:7
3. Amigos de Jó – sua perversidade censurada. 42:8.
4. Jó – fim de seu cativeiro. 42:10.
5. Jó e sua família – sua reintegração na sociedade. 42:11.
6. Jó – sua prosperidade final. 42:12-17.
O livro explicado abreviadamente.
Prólogo – Capítulos 1-2.
1. Capítulo 1:1-5. Jó e sua família.
Diz que era homem íntegro, reto, temente a Deus e desviava-se do mal. Foi um
bom pai e marido. Ofereceu sacrifícios ao Senhor por se mesmo e pela família
fiel e continuamente. Jó teve sete filhos e três filhas. Ele foi muito abençoado
por Deus e seus filhos também. Foi uma família unida e que viveu em paz. Jó
era maior do que todos os homens do oriente.
2. Capítulo 1:6-12. O encontro de Satanás e Deus.
O encontro de Satanás e Deus, descrito nestes versículos, é certamente,
à primeira vista, uma das partes mais estranhas da Bíblia. Temos que lembrar
que qualquer conhecimento que os homens têm do reino invisível só pode ser
obtido pelo meio de revelação sobrenatural. Então ou é revelado divinamente
neste livro a nós, ou não passa de pura invenção do escritor. Se foi por
revelação divina, a conversa entre Deus e Satanás realmente aconteceu. Se,
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
40
pelo contrário, é a pura invenção do escritor, o livro todo perde o seu sentido.
Isso também cria dúvida sobre a Bíblia toda. Com certeza Jó relatou o que de
verdade aconteceu, apesar do fato que parece para nós um pouco esquisito.
Esta passagem revela que em ocasiões estipuladas por Deus, Satanás
tem que se apresentar perante Deus. (1:6, 2:1). Os anjos eleitos e caídos têm
que fazer reportagem (prestar contas) a Deus sobre as suas atividades. Deus é
seu soberano e eles são responsáveis a Ele. (1:7, 2:2). As atividades de
Satanás são limitadas à terra. Satanás não tem trabalho no céu, somente entra
lá para fazer reportagem. Deus obriga Satanás fazer, Satanás não aparece por
curiosidade, nem audácia, mas por obrigação.
Deus elogiou o seu servo Jó por causa da sua fidelidade e perguntou
Satanás o que pensava dele. Deus iniciou esta conversa, porque sabia já que
ia fazer. Também observe que Deus conhece a vida de cada um dos seus
servos.
Satanás acusou Jó, ele acusa os santos do Senhor. (1:8-11, 2:3-5). Veja
Apocalipse 12:10. Zacarias 3:1-2. Lucas 22:31-32. Satanás tem uma grande
parte na maldade que acontece no mundo. Satanás não é onipresente, mas
tem milhares de demônios para fazer o seu mal. Porque Satanás disse que
estava rodeando a terra, e passeando por ela. Veja também que não devemos
subestimar o Diabo, porque ele tem o poder para fazer o que está escrito aqui.
Nem devemos superestimar o Diabo, porque ele está controlado pelo Senhor
Todo-Poderoso.
O homem servirá o Senhor na pobreza tanto quanto na prosperidade?
(1:9-11). Satanás disse que Jó serviu o Senhor porque estava cercado pela
proteção divina e não podia tocar nele. Satanás só pode afligir os santos com a
permissão de Deus. Graças a Deus por isso. Satanás afirmou que se deixar
tocar em tudo quanto que Jó teve, que ele blasfemava Deus na sua face. Deus
deu a sua permissão para tocar em tudo quanto que Jó teve, só não contra Jó
mesmo (sua pessoa ou vida). Satanás saiu correndo para fazer a sua maldade.
Note que Jó não sofreu por causa de uma coisa que fez. (2:3).
3. Capítulo 1:13-19. O primeiro assalto de Satanás.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
41
Satanás não perdeu tempo para tentar provar a sua teoria. Satanás nem
teve pena, mas fez ao máximo que Deus permitiu. O primeiro mensageiro veio
dizer a Jó que os sabeus tomaram os bois e as jumentas e mataram todos os
servos. O segundo mensageiro veio dizer a Jó que o fogo de Deus saiu do céu
e queimou as ovelhas e mataram todos os servos. O terceiro mensageiro veio
dizer a Jó que os caldeus tomaram os camelos e mataram todos os servos. O
quarto mensageiro veio dizer a Jó que o vento fez a casa cair em cima dos
seus filhos e todos morreram.
Pode imaginar o choque que Jó levou? Ele soube nada sobre a
conversa entre Satanás e Deus. Não foi explicado nada para ele porque estava
acontecendo tudo isso. Deus permitiu tudo isso acontecer sem explicar nada
para Jó. A vida não é assim? Muitas vezes acontece na vida coisas que não
temos nenhuma explicação. Temos que confiar no Senhor nesta hora, como
Jó.
4. Capítulo 1:20-21. A reação de Jó.
Jó rasgou a sua roupa e rapou a sua cabeça como sinais da sua
lamentação, pranto, angústia e tristeza, como foi o costume daquela época. O
sofrimento foi real e duro, como vem na vida de qualquer um dos servos de
Deus. Mas, note o resto que Jó fez nesta hora, adorou a Deus. Jó louvou o
Senhor Deus nesta hora difícil com fé e confiança. Também note a integridade
e sinceridade dele no v. 21.
5. Capítulo 1:22. A fidelidade de Jó.
Deus permitiu Satanás abusar Jó para provar que o servo verdadeiro de
Deus não serve o Senhor pelas coisas que Deus dá a ele. Jó não pecou contra
Deus, nem acusou Deus de fazer errado. Satanás perdeu.
6. Capítulo 2:1-6. O segundo encontro de Satanás e Deus.
De novo Satanás se apresenta no céu para prestar contas a Deus. Deus
levantou o assunto de Jó novamente e elogiou a sua fidelidade e perguntou
Satanás que pensava dele. Satanás ainda ficou insistindo que Jó servia o
Senhor por causa das bênçãos. Satanás pediu permissão a Deus para tirar a
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
42
sua saúde e Deus deu. Mas Deus deu a permissão para tocar na saúde de Jó
com limite, não podia tomar a vida dele.
7. Capítulo 2:7-8. O o segundo assalto de Satanás.
Satanás feriu Jó com úlceras malignas na pele no corpo todo. Jó tomou
um caco para se raspar com ele. Isso quer dizer para raspar a infecção que
estava saindo das úlceras. Jó se assentou no meio da cinza (sinal de tristeza e
lamentação), mas ainda sem pecar nem atribuir a Deus falta alguma. Jó não
blasfemou Deus como Satanás disse que ia fazer. Há crente sincero e fiel a
Deus apesar de tudo que vem na vida. Satanás ainda está perdendo.
8. Capítulo 2:9-10. A esposa de Jó.
A esposa de Jó ainda estava viva e agora ele fala com seu marido. Seria
bem melhor se ela não tivesse falado nada. As vezes quando o crente está no
sofrimento o seu amigo fala a pior besteira possível. Ela sugeriu a Jó para
amaldiçoar Deus e morrer. Note a diferença na integridade dos dois. Jó ficou
firme na sua integridade e chamou a sua esposa de doida. Em tudo isso Jó não
pecou com seus lábios. Que bom! A tentação nessa hora assim é abrir a boca
e dizer muita coisa que não devemos. Observe a grande verdade que Jó falou
no v. 10: “Receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” Confiar
em Deus sempre é a coisa certa, Ele sabe que faz quando nós não sabemos!
9. Capítulo 2:11-13. A chegada dos três de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar.
Note que a sua dor era muito grande. Devemos ter muito cuidado em
desprezar e fazer aparecer pouco a dor que os outros têm, quando não
sabemos o que passa na vida deles. É melhor tentar mostrar simpatia,
compaixão e amor, não desinteresse.
Diálogo: Os Três Discursos – Capítulos 3-41.
1. Capítulo 3. Jó fala primeiramente.
Observe a lamentação de Jó. Lamentou porque nasceu, v. 1-10.
Lamentou porque não morreu desde a madre, v. 11-15. Lamentou porque não
houve um aborto, v. 16-19. Lamentou porque não podia morrer naquele
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
43
momento, v. 20-26. Jó estava deprimido profundamente. Jó falou de morte
como sendo um alívio, está dormindo, está sossegado, com conselheiros,
como bebês não nascidos, sem problemas por causa dos ímpios e da opressão
dos malignos. Jó quis uma morte rápida, mas não suicídio. Já ficou também
deprimido assim por causa dos problemas de vida? Já quis morrer?
2. Capítulos 4-5, 15, 22. Elifaz versus Jó.
Observe que Elifaz é o homem que falou muito sobre “ver” as coisas
especiais, 4:8, 5:3, 5:27. Falou também “uma visão secreta”, 4:12-16. Também
a sabedoria dos seus predecessores temanitas, 15:17-18. Em suma, podemos
dizer que Elifaz baseou o seu argumento na “experiência”. Elifaz seria talvez
agora hoje em dia um pentecostal.
Veja a análise de Elifaz. Os seus conceitos podem ser resumidos como
segue. 1 - Apóia sua filosofia de vida especialmente nas próprias observações
e experiências, 4:8, 12, 5:3. 2 - Está preso a uma teoria fixa e defeituosa, 5:3-7,
5:12-16, 15:20-35. 3 – Esta teoria fixa e rígida está expressa de modo especial
em 4:7. 4 – Este ponto de vista, como aplicado a Jó, encontra seu foco em
5:17. A conclusão de Elifaz? Jó sofre por ter pecado.
3. Capítulos 8, 18, 25. Bildade versus Jó.
Veja agora as palavras de Bildade. Ele não tem o mesmo aspecto de
cortesia de Elifaz. Bildade é um declamador direto e não um argumentador
reflexivo. Sua fala é bem mais severa que a de Elifaz.
Ao contrário de Elifaz, que apóia sua filosofia de vida sobre a
observação e a experiência, Bildade baseia-se na tradição. Veja 8:8-10, 18:5-
20. Seus discursos parecem ser apenas uma lista de máximas e provérbios
extraídos da sabedoria de todos do Oriente. Em Bildade, portanto, temos a voz
da “tradição”. Ele seria talvez hoje em dia um católico.
Veja a análise de Bildade. 1 – Sua perspectiva de vida é caracterizada e
limitada pela tradição, 8:8, 18:15-20. 2 – Está preso a uma idéia muito rígida da
providência, 8:11-19, 18:5. 3 – Essa teoria limitada encontra expressão em
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
44
8:20. 4 – Essa teoria, aplicada a Jó, tem seu foco em 8:6. A conclusão de
Bildade? Jó é um hipócrita.
4. Capítulos 11 e 20. Zofar versus Jó.
O que dizer agora Zofar? Zofar é menos delicado e mais drástico do que
Elifaz e Bildade. As primeiras palavras de Zofar indicam que ele já se sente
irritado, 11:2-3. Zofar contenta-se com uma simples suposição. Existe pelo
menos uma dedução racional em Elifaz e ortodoxia em Bildade, mas Zofar
presume e expõe com uma firmeza que tornaria pecado até mesmo a ousadia
de Jó de divergir. Ele é um dogmatista puro. Ele fala “sabe, pois” e “tu sabes”
em 11:6 e 20:4. Ele seria tavez hoje em dia um sabichão e uma mente fechada.
Veja a análise de Zofar. 1 – É um dogmatista religioso, 11:6, 20:4. 2 –
Do mesmo modo que Elifaz e Bildade, é mentalmente limitado por uma idéia
excessivamente rígida da providência, 11:13-20, 20:5. 3 – Seu dogmatismo
limitado encontra expressão em 20:5. 4 – A teoria, quando aplicada a Jó, está
em 11:6. A conclusão de Zofar? Deus exigiu de Jó menos do que mereceu a
iniqüidade dele.
5. Os três amigos comparados e contrastados.
Elifaz apóia sua opinião das coisas na observação. Bildade apóia sua
opinião das coisas na tradição. Zofar apóia sua opinião das coisas na
suposição. Elifaz é o moralista religioso, Bildade é o legalista religioso e Zofar é
o dogmatista religioso. Elifaz defende a hipotética idéia de que se Jó não fosse
pecador, sua dificuldade não teria surgido. Bildade adota a posição de que Jó
deve ser pecador, uma vez que a dificuldade realmente veio. Zofar começa
com a suposição de que Jó é pecador e merece sua aflição. Todos três
defendem uma teoria fixa de vida que é: 1 – Sofrimento sempre é o resultado
direto do pecado, 2 – Estão tão certos de que seu ponto de vista está correto
que consideram a resistência a ele como resistência a Deus, 3 – A bondade e a
perversidade são sempre recompensadas e punidas nesta vida, 4 - Todos
condenam Jó. Nenhum deles consegue dar uma resposta real ou convincente
a Jó. Veja 32:3, 5, 11, 12.
6. Capítulos 6-7, 9-10, 12-14, 16-17, 19, 21, 23-24, 26-31. Jó contra os três.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
45
No que se refere à mera argumentação, Jó sem dúvida é o melhor. É certo que
ele dá espaço, aqui e ali, a pronunciamentos são precipitados, mas isso é
simplesmente extraído dele em momentos de terrível tensão, quando, além de
seu já extremo sofrimento mental e físico, foi levado à ira pela injustiça
obstinada e pela verdadeira falta de solidariedade por parte dos três que se
diziam solidários. Jó estava sofrendo demais para querer somente ganhar uma
discussão.
Faça uma revisão das palavras dos três amigos. Os três se uniram na
opinião de que Deus sempre faz prosperar os retos e castiga os perversos. Jó
respondeu que sua própria experiência prova que as palavras deles são sem
fundamento, pois ele é reto e ainda está afligido. A verdade é que não só o
perverso sofre, o justo também sofre. Nem o perverso sofre sempre, muitos
parecem escapar do sofrimento no mundo. A prosperidade do perverso não é
sempre curta, pois muitas vezes continua até a morte e estende-se aos filhos
que ficam.
A discussão se esgota assim num verdadeiro impasse. Deus, mais
tarde, dá o seu veredicto a favor de Jó e censura os amigos de Jó.
7. Capítulos 32-37. Eliú fala.
O último versículo de capítulo 31 marca uma interrupção importante:
“Acabaram-se as palavras de Jó”. Um homem bem mais jovem que os outros
(32:6) agora fala. Até agora ele ficou só ouvindo, dando respeito aos mais
velhos (32:4, 6-7). O discurso de Eliú era mais cortês de todos os outros e sem
dúvida superou os outros em seu discernimento espiritual. Em relação ao
problema em questão, o mais importante é que são introduzidos três fatores
novos. Eliú deu uma nova abordgem, uma nova resposta e um novo apelo.
A Nova Abordagem. Jó queria um mediador, quem podia atuar entre ele
e Deus (9:33). Eliú disse que era ele que podia servir nesta capacidade (33:6).
De qual maneira falou isso? Elifaz, Bildade e Zofar quiseram servir de juízes;
enquanto Eliú quis ser irmão e amigo.
A Nova Resposta. Observe o pensamento de Jó. Eliú disse que Deus é
maior do que o homem, e por isso não tem direito nem autoridade para exigir
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
46
uma explicação dEle (33:12-13). Algumas coisas que Deus faz
necessariamente têm que ser incompreensíveis para o homem. O que faltava
era um intérprete, e parece claro que Eliú se considerou a pessoa adequada
para isso (33:29-33). Eliú julgou que o sofrimento de Jó era instrutivo (capítulo
33). Sem dúvida, Eliú atingiu um nível mais alto do que os outros três. Nos
capítulos 36-37 Eliú chega ao desenvolvimento final de sua resposta. O que faz
a resposta de Eliú inédita e distinta? Eliú viu no sofrimento um propósito
diferente e superior àquele observado por Elifaz, Bildade e Zofar. O sofrimento
não é só punitivo, mas é também corretivo. Não é só penal, é também moral.
Não é só para castigar, mas é também para restaurar. Não é sempre para
punir, mas é também para purificar. Não é só a vara do juiz, mas é também o
cajado do pastor. 33:16-18, 19-20, 23-28, 34:10, 17-19, 21-23, 24, 27, 31-32,
33, 35:13-14, 36:5-12, 15-16, 18-21, 37:11-13.
O Apelo Novo. O apelo de Elifaz, Bildade e Zofar é: “Admita o fato que
pecou e deixe de ser hipócrita”. Elifaz, Bildade e Zofar insistiram em falar sobre
um suposto comportamento pecaminoso do passado. Eliú preocupa-se com
uma postura errada do presente. Portanto, de acordo com esta opinião, o
sofrimento de Jó é corretivo e educativo em lugar de judicial e punitivo e seu
apelo é para que Jó se humilhe, aceitando o ensinamento. Segundo Eliú, essa
foi a principal falha de Jó.
O que dizer da fala de Eliú como um todo? A sua fala alcança um nível
superior aos outros. Eliú tem uma compreensão espiritual mais ampla e uma
percepção espiritual mais verdadeira. Mas, também Eliú comete alguns erros e
é também insatisfatório. Ele diz que uma reação sincera à aflição sempre traz
de volta a restituição da prosperidade (33:23-30). A filosofia de Eliú não
abrange certamente toda a questão; porque ele ignora certamente sua causa
real, que é a calúnia de Satanás e o desafio do Senhor, da mesma forma dos
outros também. Lógico porque a causa real do sofrimento de Jó Deus revelou a
ninguém. Há coisa na vida do crente que só Deus mesmo pode responder. Nós
nem devemos tentar. Tentar é só especular em vão.
8. Deus fala: Intervenção Final. 38-41.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
47
Jó não respondeu a Eliú. O Senhor Deus respondeu em nome de Jó
(38:1). De repente Deus falou de um redemoinho. Neste momento os cincos
homens ficaram mudos e espantados enquanto a voz de Deus desce sobre
eles. Deus censurou Elifaz, Bildade, Zofar e Eliú. Quando vamos esperando
encontrar alguns versículos que dê a Jó, finalmente e de uma vez por todas, a
solução divina para seu problema, ficamos claramente desapontados. Não
encontramos nenhuma palavra de Deus de explicar o sofrimento de Jó ou
resolver a questão da providência provocada por essa angústia. Deus é
soberano e faz com os homens da terra conforme a sua vontade perfeita. Nós
somos as suas criaturas e temos que confiar na sua providência soberana e
perfeita.
Deus nem faz uma discussão das coisas que aconteceram. Deus faz
muitas perguntas a eles, e por elas Deus está mostrando, com ironia, que Ele é
Deus e sabe que faz. Capítulos 38 e 39 são quase todos as perguntas que
Deus faz a estes homens. A resposta é que o homem não sabe, mas Deus
sabe sim, então devemos deixar com Ele as coisas encobertas aos homens.
Então, quais são as lições da Palavra de Deus nos capítulos 38-41.
Primeiro; Jó não deveria conhecer a razão de seus sofrimentos. Se
conhecesse o motivo do seu sofrimento, isso influenciaria a reação dele para
tornar-se artificial. Não haveria teste verdadeiro de seu caráter. Não havia lugar
para o exercício e o aperfeiçoamento genuíno da sua fé. Existem certas coisas
sobre o sofrimento humano que Deus não pode explicar sem destruir o próprio
objetivo que estão destinadas a cumprir. Segundo; mostra o interesse divino
pelas coisas de Jó (também nós). Embora Deus não condescendesse em dar
uma explicação, Ele evidenciou que estava observando, ouvindo e cuidando. É
bom demais saber disso. Terceiro, o plano de Deus é levar Jó a apoiar-se no
próprio Deus, independentemente de explicações. Se Jó pudesse ser levado
para o ponto de confiar em Deus como um ser absolutamente justo e
benevolente em oposição a todas as adversidades misteriosas, então, a
acusação de Satanás seria revelada como sendo infundada e o diabo seria
derrotado. Funcionou, porque Jó venceu pela fé no Seu bom Deus. Ter fé em
Deus é confiar em Deus apesar de todas as aparentes contradições e mesmo
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
48
não tendo nenhuma explicação no momento. A vitória de fé é apoiar-se em
Deus com plena confiança (Jó 13:15). Então a fé foi confirmada.
Veja o que Jó falou quando ele ouviu o Senhor Deus falar (40:3-5).
Sempre é assim quando o homem vê Deus em verdade.
Epílogo – Capítulo 42.
1. Jó – se julga, é vindicado e honrado por Deus . 42.
Veja o homem Jó sincero com Deus apesar de tudo. Ele perdeu toda a
sua riqueza. Também perdeu todos os seus filhos. Depois disso, perdeu a
saúde. Além de tudo isso, perdeu a amizade da sua esposa. Também perdeu a
compaixão dos seus três amigos. Ele perdeu até o seu sentimento de
dignidade. O resultado de tudo isso na vida de Jó é uma poderosa percepção
da infinita sabedoria, autoridade, santidade e bondade de Deus (42:5-6).
Deus censurou os amigos de Jó e honrou Jó (v. 7). Deus mandou os
amigos de Jó oferecer ao Senhor sete bezerros e sete carneiros. Porque Deus
não estava agradado por eles. E o Senhor virou o cativeiro de Jó. Observe que
Deus fez isso quando orava pelos seus amigos. É uma boa lição para nós. O
Senhor abençoou o último estado de Jó, mais do que o primeiro. Deus é bom e
fiel para com o seu povo. Devemos confiar nEle.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
49
7 PROFETISMO
Profeta é a pessoa que anuncia a voz, o interesse, o projeto, o anseio e a
vida de Deus. É esta experiência de Deus e o compromisso com a causa do
grupo que sustenta e impulsiona o falar e o agir profético. Considerando o lugar
social, podemos destacar dois grupos de profetas:
O período dos reis de Israel é também o tempo dos profetas, porém, o
profetismo é anterior ao tempo da monarquia. Há dois tipos de profetas: os pré-
literários e os literários. Os profetas que não tem livros são chamados de pré-
literários são da profecia oral: Gad (1 Sm 22.5); Natã (2 Sm 2.2-17); Aías de
Silo (1 Rs 11.29-30); Jeú (1 Rs 19.16); Elias (1 Rs 17.1); Eliseu (1 Rs 19-21);
Micaías (1 Rs 22.8-22). E os profetas que tem livros são chamados de
Literários, são os da profecia escrita: Isaías, Jeremias e Lamentações,
Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, e Malaquias.
Os livros de Isaías, Jeremias, Ezequiel, e Daniel são chamados de
“Profetas Maiores” os demais de “Profetas Menores”.
Podemos classificar os profetas também em urbanos: os conselheiros do
rei (1 Sm 7; 1 Rs 1.11-26; 2 Rs 19.5-7; 22.11-20) e, em geral, são pagos (Mq
3.11). Entretanto, são sensíveis às situações de injustiças vividas pelo povo e
por isso critica e denuncia os agentes do sistema e, muitas vezes, paga com a
própria vida o preço de suas denúncias. Contudo, não conseguem propor uma
mudança estrutural, como é o caso do Isaías (Is 9.5). Existem aqueles que
defendem a elite dominante que também são seus interesses. Por exemplo, o
profeta Amasias (Am 7.10-17), Hananias (Jr 27-28), e os profetas de Baal. E
profetas camponeses: seu lugar social e seu grupo de apoio estão na periferia.
A partir de sua experiência no meio do povo, combatem o abuso do poder e
propõe mudança no sistema. Por isso, são perseguidos, presos e até
assassinados (1 Rs 19; Am 7.10-14; Os 9.7-9). Exemplo: Elias, Amós, Oséias.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
50
No início, tanto em Israel e Judá, como nos outros povos, os profetas
surgiam como pessoas ou grupos de pessoas ligadas às divindades do povo e
aos líderes do povo. Porém, os profetas de Javé, tinham um diferencial.
Para poder anunciar e denunciar, o profeta tinha um duplo quadro de
referência. O diferencial profético do profetismo do Antigo Testamento é: 1)
uma experiência profunda com Deus; 2) e uma experiência profunda com o
povo.
A experiência de fé em Deus é o principal referencial profético. O profeta
experimenta a presença de Javé (Is 52.6; 58.9; 65.1). sua experiência com
Deus é para ter condições de despertar a memória e o afeto do povo como
resposta a Palavra de Deus. Para isto usa de recursos diversos, por exemplo, o
Êxodo (Ex 22.20). Deus deseja conversão verdadeira, nisto o profeta exigir
fidelidade à aliança (Ex 19.6).
Também tem uma profunda experiência do pecado. Experiência daquilo
que o povo deveria ser e não é (Is 6.5), da infidelidade e da certeza do
julgamento. Além disso, o profeta convive com grupos marginalizados na
comunidade (Dt 14.29; 16.11-14; 24.14-22). O que revela um povo ferido, com
uma chaga viva (Is 1.6; Jr 30.12-15; 14.17-18; 15.18).
O profeta indica os caminhos da mudança. Primeiramente, Deus não
resiste a um coração quebrantado, isso indica o caminho da mística. É preciso
mudar o modo de pensar, e recriar a consciência a partir da comunhão com
Deus, da oração e da Palavra. O que mais se pode fazer para se crescer
espiritualmente?
O profeta indica o caminho da justiça. Não basta ter fé, é preciso ter
prática. É necessário mudar estruturas injustas, e transformar a sociedade. A
justiça acontece quando tudo está no lugar onde Deus o quer; quando tudo é
como deve ser. E o caminho da solidariedade, da necessidade de mudar o
relacionamento, de renovar a comunidade (Dt 15.1-18).
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
51
Aprofundando o Assunto:
Quais os tipos de profetas do Antigo Testamento?
Existe alguma semelhança com os profetas de hoje?
Qual o referencial profético que serve de modelo para nós
hoje?
Analisando a nossa realidade, os caminhos de mudança
continuam necessários? Explique.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
52
8 OUTRAS DISCIPLINAS DE ANTIGO TESTAMENTO
8.1 Introdução a Literatura do Antigo Testamento
a) Introdução aos grandes agrupamentos dos livros do AT tais como:
Pentateuco; Livros Históricos; Literatura Poética e Sapiencial; Profetas
Maiores; Profetas Menores.
b) Introdução ao estudo e síntese dos livros individuais do AT. Onde se
discute autoria, data ou período de redação, circunstâncias históricas,
destinatários, propósito, lugar no cânon, gênero literário, etc.
c) Apresentação de uma ordem cronológica provável para o surgimento
dos livros do AT.
d) Análise teórica racionalista sobre o desenvolvimento da religião de Israel
e sobre a autoria do Pentateuco.
8.2 Teologia do Antigo Testamento
a) Estudo dos temas e doutrinas principais do AT: a Criação, as origens, a
Lei, a monarquia, o tribalismo, o profetismo, messianismo, etc.
b) Explorar temas tais como: Deus, o homem, a vocação de Israel, as
bênçãos e maldições, o pecado, o exílio, a salvação, o reino de Deus, a
esperança messiânica, a vida além, etc.
c) Os principais enfoques e contribuições teológicas dos escritores, dos
livros ou dos conjuntos de livros do AT.
d) A relevância do AT para o Novo e para os cristãos.
8.3 História de Israel
a) Um estudo panorâmico da nação de Israel, desde sua formação em
Abraão até o fim do segundo século da Era Cristã.
b) Usar os relatos bíblicos como base, mas referendar também obras não
inspiradas como os livros dos Macabeus, Josefo e outros.
c) Apresentar uma cronologia para todos os eventos principais do AT e
discutir as diferenças entre várias cronologias propostas na literatura.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
53
d) Itens históricos que merecerão especial tratamento: a chamada de
Abrão; a data do Êxodo; o pacto no Sinai; a religião de Israel; o ministério dos
profetas; a reforma de Josias; o exílio e a restauração; os grandes impérios que
dominaram o crescente fértil, desde Abraão até o segundo século A.D.; a
formação de grupos judaicos no período inter-bíblico; a queda de Jerusalém
em 70 A.D.; o afastamento dos judeus do cristianismo.
e) Usar fartamente as informações arqueológicas para mostrar a
veracidade da história bíblica e para ilustrar o contexto histórico dos
acontecimentos.
f) Lições práticas espirituais da história de Israel para a igreja e os cristãos
de hoje.
g) Discutir teorias liberais sobre a origem e desenvolvimento da nação de
Israel.
8.4 Exegese Bíblica
a) Esta disciplina proporciona um aprofundamento aos métodos
exegéticos, com ênfase na abordagem teológico-pastoral, tendo por meta
capacitar estudantes para uma interpretação autônoma de textos do Antigo
Testamento.
b) Com os objetivos de compreender e aplicar os principais procedimentos
metodológicos da exegese; Interpretar de forma crítica e relevante um texto
bíblico;
c) Construir uma atitude de fidelidade à Palavra de Deus testemunhada na
Escritura, demonstrada primariamente através da sua apropriação pessoal na
ação e proclamação de forma relevante e coerente.
d) O conteúdo: Divisão dos passos da Exegese; Identificação da perícope e
observação do texto bíblico; Análise dos gêneros literários; Análise do texto;
Observação da estrutura e movimento; Paralelos e comparações bíblicas;
Análise histórico-contextual; A filologia – análise gramatical; A Interpretação do
texto – os significados; A análise teológica.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
54
9 MÉTODO DE ESTUDO DO ANTIGO TESTAMENTO
9.1 Introdução
9.1.1 Por que estudar a Bíblia?
O estudo da Bíblia, por excelência, torna o cristão mais capacitado a
utilizá-la com eficácia. Partindo de vários exemplos bíblicos, vemos que muitos
personagens não só liam como meditavam na Lei do Senhor, dia e noite. Jesus
utilizou-se dela contra as investidas de Satanás durante o seu retiro no deserto
(Mt 4), demonstrando profundo conhecimento sobre a Palavra e suas
implicações. Lucas, em At 17, refere-se aos moradores de Beréia como mais
nobres que os de Tessalônica, porque examinavam avidamente as Escrituras
para saberem se as coisas eram, de fato, como Paulo as falava.
O estudo pessoal da Bíblia traz benefícios próprios. Ao estudar, você é,
com toda a certeza, o mais beneficiado, pois fortalece o coração e o
entendimento, ganhando assim forças para lutar contra as artimanhas do
diabo. Não devemos apenas ter a Espada do Espírito (Ef 6), mas aprender a
manejá-la bem (2 Tm 2:15); pode ajudar com mais sabedoria aos irmãos que
necessitam de esclarecimento; protege-se contra as heresias e erros
teológicos. Quando o apóstolo Paulo escreve para Timóteo, ele pede que lhe
traga livros e pergaminhos para que estudasse as Escrituras. Apesar de alguns
dizerem que estudar a Bíblia é pecado, pois precisamos depender do Espírito,
não estudar a Bíblia é que é pecado.
O estudo pessoa da Bíblia também trás muitos benefícios comunitários.
Você, quando se aprofunda na Palavra de Deus, passa a ter um conhecimento
precioso para esclarecer aos que precisam de ajuda bíblica; tem condições de
defender a Igreja das heresias e pode ser que, além disso tudo, seja usado por
Deus para ensinar o que tem aprendido aos outros.
Este conhecimento, entretanto, é conseguido com esforço e dedicação,
tempo para ler e escrever. As recompensas são muitas como vimos. Então não
esmoreça e não estudo a Palavra somente durante o curso, mas crie na sua
vida o hábito de “garimpar” a Palavra de Deus.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
55
9.1.2 Métodos de estudo bíblico.
Existem vários métodos e formas de se estudar a Bíblia. Neste curso
apresentaremos três deles que são dos mais importantes:
a) Método de estudo temático, que busca compreender a Palavra por meio
da análise de personagens, palavras, locais, simbologias, etc.
Dividiremos esta parte em estudo de personagens ou como alguns
chamam de “estudo biográfico” (Jô, Débora, Moisés, etc.); estudo de
lugares ou “estudo geográfico” (Monte Sinai, Babilônia, Samaria, etc.); e
o estudo de palavras ou “estudo tópico”, que pode envolver um grande
número de palavras como “cruz”, “igreja”, “paz”, “esperança”, etc.
b) Método de estudo expositivo ou “estudo analítico”, que é mais complexo,
profundo e, por isso mesmo, mais completo. No método expositivo,
pesquisamos questões como “tipo literário”, “contexto”, “autoria”,
“destinatários”, “pano-de-fundo”, etc.
A escolha do método utilizado pelo estudante depende do seu objetivo.
Muitas vezes, um bom estudo torna-se um bom sermão, mas vale lembrar que
este curso apresenta apenas uma ferramenta. Estamos dando a “vara para
pescar” com o objetivo de que o estudante possa dar seus próprios passos no
seu aprofundamento nas Escrituras.
Isto, claro, depende de dois fatores essências:
Aquele que deseja estudar e se aprofundar nas Escrituras precisa ter um
investimento de tempo. Não se cava um poço de uma hora para outra, e nem
se perfura um poço de petróleo sem uma grande disponibilidade de tempo. O
sacrifício do tempo é essencial para o bom estudante.
É preciso também ser insistente e perseverante. Em alguns momentos
parecerá que as coisas não estão caminhando. Alguns textos são difíceis e é
preciso “quebrar a cabeça” para compreendê-los. Não devemos desanimar
perante as dificuldades encontradas. Lembre-se: a promessa para quem cava
a mina é encontrar ouro. Seja perseverante como quem busca o seu tesouro.
E, por fim, faz-se necessário um investimento financeiro. Um bom estudo
depende de bons livros à disposição, e estes custam algum dinheiro. Bons
dicionários, comentários, manuais e outros materiais são ferramentas
essenciais e indispensáveis para o estudante. Abrir mão de algo para adquirir
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
56
um livro deve ser algo presente na vida daquele que deseja aprofundamento
bíblico.
9.2 Materiais de Estudo Bíblico
Alguns materiais são essenciais para o estudo bíblico, outros são
opcionais.
9.2.1 Alguns tipos de Bíblia.
Algumas Bíblias possuem ferramentas especiais para o estudo.
Conheça algumas:
a) Bíblia Vida Nova: possui pequenos comentários de rodapé e versículos
em cadeia temática;
b) Bíblia Shedd: Possui os mesmo comentários de rodapé da Bíblia Vida
Nova e uma pequena chave bíblica no final;
c) Bíblia Apologética: Apresenta os textos mais comuns usados pelas
seitas para defenderem suas heresias com o respectivo esclarecimento;
d) Bíblia Thompson: Considerada uma das mais completas, possui:
versículos em cadeia temática; estudo esboçado dos livros; estudo de
diversos personagens; harmonia bíblica; suplemento arqueológico;
concordância bíblica e mapas;
e) Bíblia de estudo pentecostal: Possui muitos recursos, como a
Thompson, com comentários baseados na doutrina pentecostal.
Precisamos lembrar que um estudo começa pela definição do tipo de
linguagem que você utilizará. Leve em conta a clareza da linguagem e a
utilização dela pelas pessoas a quem o estudo se dirige. A Nova Tradução na
Linguagem de Hoje é melhor do que a Linguagem de Hoje. A Revista e
Atualizada é melhor que a Revista e Corrigida ou Revista e Fiel. Isto é de
extrema importância, principalmente no que diz respeito às palavras que vocês
estudará (amor ou caridade?) e quem acompanhará seu estudo.
Lembre-se também que algumas Bíblias possuem tendências
doutrinárias em seus comentários. Isto ocorre, por exemplo, com a Thompson
(que espiritualiza alguns assuntos) e a Pentecostal (que possui comentários
baseados na doutrina pentecostal).
Estabeleça, então, qual será a Bíblia que você utilizará em seu estudo.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
57
9.2.2 Materiais essenciais para o estudo.
a) Chave Bíblica ou Concordância: Possui uma lista de todos os versículos
divididos pelas palavras e em ordem alfabética. Existem concordâncias
em grego, hebraico e português. Também existem concordâncias sobre
o Novo e o Velho Testamentos separados e de toda a Bíblia. As mais
completas concordâncias são as chamadas “exaustivas”. Quando for
utilizar uma concordância bíblica é importante saber sobre versão ela
utiliza (LH, RA, RC, NTLH, NVI), pois algumas palavras são diferentes
de acordo com as traduções. Um exemplo é 1 Co 13, que na RA é
“amor” e na RC é “caridade”. O ideal é ter disponível uma bíblia na
linguagem da concordância.
b) Dicionário: O dicionário traz as explicações sobre lugares, pessoas,
palavras e outras questões bíblicas. Dê preferências aos dicionários em
que os verbetes são mais explicados. Neste caso, o tamanho do
dicionário é importante.
c) Manual bíblico: É semelhante ao dicionário, trazendo alguns outros
recursos que não apenas as explicações das palavras. Alguns trazem
questões de autoria bíblica, arqueologia, esboços de livros, história, etc.
Um dos mais utilizados é o “Manual Bíblico Harley” da editora Vida
Nova.
d) Comentário bíblico: Os comentários são recursos importantes na
elaboração de um estudo bíblico. Eles analisam o texto procurando
esclarecer seu significado para o leito. Alguns são simples e outros se
aprofundam nos textos gregos e hebraicos.
9.2.3 Materiais complementares.
a) Estudo de personagens: Estes livros trazem biografias de personagens
bíblicos. Podem fazer análises puramente históricas ou acrescentar
comentários devocionais.
b) Geografia bíblica: Todos os eventos históricos contidos nas Escrituras
ocorrem em determinados espaços físicos – desertos, mar, casa,
templo, monte, etc. O conhecimento destes locais não só enriquece o
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
58
estudo como pode levar à uma compreensão maior do que relata a
Bíblia.
c) Manual de costumes bíblicos: A Bíblia foi escrita dentro de uma cultura
específica. Compreender esta cultura enriquece e esclarece o estudo.
Muitos eventos encontrados nas Escrituras fazem referências a hábitos,
costumes e práticas presentes nos povos relatados.
d) Manual de história bíblica: Alguns livros contam as narrativas bíblicas de
forma histórica e cronológica. Apresentam a história de reis, profetas e
até do desenvolvimento da igreja cristã a partir de Atos. Uma
contextualização histórica também é importante no estudo bíblico.
e) Manual de doutrina: Explicam as doutrinas com a citação de versículos.
Dúvidas são retiradas com a consulta e pesquisa das doutrinas cristãs.
Erros podem ser evitados se estudarmos com atenção a teologia.
f) Estudo de palavras: Se você desejar aprofundar mais seu estudo, uma
consulta ao original grego ou hebraico pode ser feita mediante um
estudo da palavra. Saber seu significado ou tempo verbal torna mais
claro o estudo. Existem livros especializados em explicar o significado
das palavras, como os dicionários de grego e hebraico e os léxicos.
g) Bíblia digitais: Para quem tem acesso a computadores, este recurso
prático e eficiente. Normalmente, você tem em uma Bíblia digital o
recurso de busca de palavras, o que a torna uma chave bíblica. Uma
das Bíblia digitais mais poderosas em português é a “Bíblia On-Line” da
Sociedade Bíblica do Brasil, que possui várias versões portuguesas, a
Vulgata, Septuaginta, Velho Testamento em hebraico e o Novo
Testamento em grego, possuem léxico, mapas, dicionário e muito mais.
Se você ainda não possui livros à sua disposição, será interessante que
inicie a criação de uma biblioteca básica com alguns materiais citados acima.
Exercícios:
1. Quais razões você poderia apontar para o estudo da Bíblia?
2. O que devemos levar em conta quando vamos escolher uma linguagem da
Bíblia para estudar?
3. Qual o objetivo da consulta de materiais no estudo bíblico?
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
59
9.3 Método de Estudo Temático
9.3.1 Estudo de personagens ou biográfico.
Esta espécie de estudo bíblico tem importância pelo fato de sondar a
história e o caráter de personagens. Ele pode ser básico ou avançado.
Vamos iniciar com o estudo básico:
Passo 1. Escolha o personagem bíblico que você irá estudar e estabeleça os
limites de seu estudo. Se for um personagem que apareça em muitos textos,
será interessante você limitar o estudo a determinado período de tempo, livro
ou assunto. Se for estudar sobre Davi, por exemplo: Davi antes do adultério;
Davi antes de tornar-se rei, etc. Entretanto, pode ser sobre toda a vida do
personagem. Tendo escolhido o personagem e estabelecido o os limites de seu
estudo, procure numa concordância bíblica os quais textos nos quais ele
aparece e anote em uma folha separada fazendo também alguma observação.
Como exemplo, usaremos a figura de Raabe.
Raabe – Referências
Josué 2:1 – Ela era uma prostituta residente em Jericó;
Josué 2:3 – O rei de Jericó manda tomar informações sobre os espias;
Josué 2:4 – Raabe esconde os espias e mente ao rei;
Josué 2:5 – Ela, de propósito, desvia dali os homens da cidade;
Josué 2:6 – Raabe esconde os espias sob as canas de linho;
Josué 2:8, 9 – Raabe reconhece que o Senhor tomará posse de Jericó;
Josué 2:10 – Raabe relata os rumores do êxodo e da vitória sobre os
amorreus;
Josué 2:11 – Ela relata o medo do povo e o fato de que o Senhor é Deus de
todos e de tudo;
Josué 2:12, 13 – Raabe roga segurança para si e para a sua família;
Josué 2:14 – Os espias fazem a promessa a Raabe;
Josué 2:15 – Raabe lhes providencia um meio de fuga;
Josué 2:16 – Raabe lhes dá um plano de segurança;
Josué 2:17-20 – Os espias planejam a segurança de Raabe;
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
60
Josué 2:21 – O sinal do compromisso de Raabe;
Josué 6:22, 23 – O salvamento de Raabe e de sua família;
Mateus 1:5 – Raabe tem lugar na genealogia de Jesus Cristo;
Hebreus 11:31 – Raabe é citada como uma heroína da fé;
Tiago 2:25 – Ela foi justificada por sua ação de fazer partir em paz os espias.
Passo 2. Tome uma folha de papel e anote OBSERVAÇÕES no alto. Use esta
folha durante o estudo todo. Nesta folha você anotará:
a) Observações: Anote tudo e qualquer pormenor que notar sobre essa
pessoa. Quem era? Onde morava? Quando viveu? Por que fez o que
fez? Como o levou a efeito? Anote todos os detalhes que você perceber
sobre ela e seu caráter.
b) Dificuldades: Escreva o que você não entendeu ou não ficou claro
acerca dessa pessoa e de acontecimentos em sua vida.
c) Aplicações possível: Anote várias destas aplicações durante o
transcurso do seu estudo. Na conclusão você voltará a estas aplicações
possíveis. Deus pode falar muito com você neste momento.
OBSERVAÇÕES
Raabe era uma prostituta que morava em Jericó.
Por temor, escondeu os espias e mentiu para o rei de Jericó. Sua atitude
demonstra que ela tinha conhecimento do que Deus tinha feito com Israel.
Era esperta e decidida.
Não entendi o que são as “canas de linho” descritas no texto. Não
compreendi, também, como a mentira de Raabe é chamada de fé em
Hebreus.
Aplicações possíveis:
A fé de Raabe foi baseada em rumores. No que está baseada a minha fé?
Raabe aproveitou a oportunidade de salvação ao proteger os espias. Como
estou aprovei-tando as oportunidades que o Senhor me tem dado?
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
61
Passo 3. Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida do
personagem que você está estudando. Inclua os acontecimentos, fatos
importantes, atitudes dignas de nota e outras características que são essências
e que descrevem bem a pessoa. Procure escrever, o quanto for possível, em
ordem cronológica. Acrescente, também, algumas conclusões, principalmente
se houver ocorrências de personagens do Velho Testamento no Novo
Testamento, como acontece com: Jonas, Abraão, Isaías, Moisés e outros
heróis da fé. Se eles estão sendo citados no Novo Testamento, deve haver
algum motivo importante. Não esqueça, então, de acrescentar a este esboço.
Raabe – Esboço da sua vida
Raabe era uma prostituta da cidade de Jericó, situada além do Rio Jordão na
terra de Canaã. Ela e outros membros da sua comunidade tinham ouvido
como Deus tinha permitido que os israelitas atravessassem o Mar Vermelho
em terra seca, e também como tinham derrotado os dois reis amorreus.
Quando os espias chegaram à sua porta, ela os acolheu em paz e os
escondeu do rei de Jericó, que buscava suas vidas. Ela mentiu ao rei dizendo
que não estavam ali, e mandou os homens da cidade com falsa pista atrás
deles.
Raabe solicitou segurança aos espias, para si e para a sua família, dando-
lhes testemunho de que cria que o Deus de Israel era o Deus do céu e da
terra, baseada no que tinha ouvido dos Seus atos.
Os espias lhe prometeram salvamento se ela não revelasse o paradeiro
deles, e que teria a sua família em casa quando tomassem Jericó. A prova do
compromisso mútuo era um cordão vermelho pendente em sua janela.
A vida de Raabe foi poupada na queda de Jericó e mais tarde a vemos como
trisavô do rei Davi e, assim, na linhagem de Jesus.
O Novo Testamento registra ainda a sua fé e justificação por seu ato de
acolhida aos espias.
Passo 4. Registre as virtudes e as fraquezas da pessoa. Por que Deus a
considerou grande? Quando ela falhou?
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
62
Raabe – Virtudes e fraquezas
Virtudes: Baseada em bem pequeno conhecimento (rumores), Raabe
apostou toda a sua vida e a vida da sua família no que ouviu. Aplicou o que
sabia. Deus considera grandeza isto – crer nEle e agir com o que você tem.
O povo de Raabe recebera a mesma informação e, contudo, não creu.
Fraquezas: Raabe foi prostituta, mentirosa e traidora da pátria.
Passo 5. Escolha o versículo-chave para a vida do personagem. Trata-se do
versículo que, mais que qualquer outro, sintetiza a orientação da vida daquela
pessoa. Exponha a realização ou contribuição que coroa aquela vida. Escolher
esse versículo pode ser algo bem pessoal, isto é, varia de estudante para
estudante. Concentre-se naquele que melhor fala do motivo deste personagem
ser citado nas Escrituras.
Raabe – Versículo-chave
“Pela fé Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque
acolheu com paz os espias” (Hebreus 11:31).
Sua fé foi exercida enquanto ela era meretriz, e Deus a considera grande
naquele estágio da sua vida, não somente depois de ser aceita na
comunidade judaica. Com base no escasso conhecimento que tinha, ela agiu
ocultando os espias e creu que Jeová era o verdadeiro Deus.
Passo 6. Das aplicações possíveis registradas em suas observações, escolha
aquela que Deus quer que você ponha em ação.
Raabe – Aplicação
É fácil cair no hábito de ler a Bíblia para obter novas compreensões, e omitir
os aspectos da aplicação que transformam a vida. Sou culpado disto.
Desde que o segredo de uma vida transformada está em aplicar a Palavra de
Deus à minha vida, e não somente em aumentar o meu conhecimento, vou
orar e me comprometo a aplicar a verdade da Escritura toda vez que eu A ler.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
63
O estudo avançado:
Os seguintes passos podem ser acrescentados se e quando você achar
que o ajudarão em seus estudos biográficos. São facultativos e só devem ser
incluídos progressivamente, à medida que você ganha confiança e prática.
Passo 7. Trace o fundo histórico da pessoa. Use um dicionário bíblico para
ampliar este passo quando for necessário. As seguintes perguntas ajudarão a
estimular seu pensamento:
a) Quando viveu o personagem? Quais eram as condições políticas,
sociais, religiosas e econômicas de sua época?
b) Onde a pessoa nasceu? Quem foram seus pais? Houve alguma coisa
incomum em torno do seu nascimento e da sua infância?
c) Qual sua vocação? Era mestre, agricultor, ou tinha alguma outra
ocupação? Isto influenciou sua vida de alguma maneira? Como?
d) Quem foi seu esposo ou esposa? Tiveram filhos? Como eram eles? Este
cônjuge ou filhos ajudou ou atrapalharam a vida e o ministério da
pessoa?
e) Como morreu? Houve alguma coisa extraordinária em sua vida?
Obviamente, nem todas as perguntas acima serão respondidas com
todos os personagens, mas procure encontrar respostas para todas as
perguntas acima.
Raabe – Fundo histórico
Jericó, a Cidade das Palmeiras, ficava na terra de Canaã. Ficava na rota das
caravanas do deserto entre o Egito, ao sul, e a Babilônia, ao norte. Canaã
consistia de pequenos reinos, cada um com cidades fortificadas e um rei (ver
Josué 9:1, 2). Jericó era fortificada por uma muralha dupla, e a casa de
Raabe era sobre essa muralha.
Os cananeus eram descendentes de Cão (ver Gênesis 19:18-25), e seu culto
consistia de idolatria, ritos celebrando a fertilidade e sacrifícios humanos a
Baal.
Desde a hora em que os residentes em Jericó ouviram falar do Êxodo, viviam
com medo. O coração dos homens da cidade “desmaiou” dentro deles.
De acordo com o relato bíblico, o linho tinha sido colhido recentemente, visto
que es-tava no teto para secar, o que coloca o início da história no fim de
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
64
março ou princípio de abril.
Mais tarde Raabe casou-se com Salmon e teve um filho, Boaz. Boaz casou-
se com a gentia Rute, que dá nome ao conhecido livro do Velho Testamento.
O filho deles, Obede, gerou a Jessé, que foi o pai do maior rei de Israel, Davi.
Exercício 1:
Seguindo todos os passos descritos no “método de estudo de personagens”,
pesquise sobre a vida de alguém na Bíblia. Não esqueça de limitar sua
pesquisa.
9.3.2 Estudo de lugares ou geográfico.
Alguns podem pensar que o estudo geográfico seja sem tanta
importância. Ao contrário disso, saber o local em que as histórias bíblicas se
passam e quais as características do lugar tem se mostrado bastante relevante
para uma compreensão maior. A pergunta “Onde ocorreu determinado
evento?“, pode levar a conclusões mais claras sobre o texto em si e, um
aprofundamento com a pergunta “Como era este lugar?”, pode trazer uma
incrível compreensão ao estudante.
Este estudo é mais simples, mas que necessita de mais pesquisa em
maior quantidade de materiais.
Passo 1. A primeira coisa a fazer é determinar o lugar bíblico que você irá
estudar. Da mesma forma que o estudo biográfico abordado anteriormente,
poderá ser limitado em um livro, em determinado período de tempo ou ocasião
para facilitar, mas, por algumas vezes, talvez seja necessário o estudo mais
completo.
Veja alguns exemplos de locais para estudar: O Egito na época da
escravidão dos israelitas; Jerusalém na época do rei Davi e A cidade de Jericó
no Novo Testamento.
Tendo escolhido o tema e delimitado o estudo, relacione todos os
versículos e faça ao lado de cada um deles um breve comentário. Como
exemplo nós estudaremos “O Monte das Oliveiras no Novo Testamento”.
Preste atenção a referências quanto à localização e história. Como no estudo
de personagens, utilize uma folha separada.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
65
O Monte das Oliveiras – Referências
Mt 21:1 – Daqui Jesus entra em Jerusalém montado em um jumento (Mc
11:1, Lc 29:29);
Mt 24:3 – Neste lugar, Jesus fala sobre os acontecimentos futuros e sua
vinda (Mc 13:3);
Mt 26:30 – Jesus e seus discípulos vieram para cá após a última ceia (Mc
14:26);
Lc 9:37 – O povo recebe a Jesus com alegria ao entrar em Jerusalém;
Lc 21:37 – Para ali, Jesus se retirava após ensinar em Jerusalém;
Lc 22:39 – Era costume de Jesus se retirar a este lugar para a oração (v. 40);
Jo 8:1 – Enquanto os outros vão para casa, Jesus vai para lá;
At 1:12 – Foi deste monte que Jesus subiu aos céus após a ressurreição (v.
9).
Perceba que no caso do Novo Testamento há a presença de muitos
textos parecidos nos evangelhos. Não é necessário citar todos, mas apenas
aqueles que apresentam eventos diferentes. Faça a citação no final e entre
parênteses.
Passo 2. Faça a análise geográfica e histórica. Neste passo você precisará de
um dicionário bíblico para responder as seguintes questões (você pode criar
outras se achar relevante):
a) Que tipo de lugar era?
b) Onde se localizava?
c) O que significa seu nome? ou Por que foi chamado assim?
d) Alguma outra característica ou fato importante (do passado ou futuro)
está ligado a este lugar? Há alguma profecia que se cumpriu ou irá se
cumprir nele?
O Monte das Oliveiras – Análise geográfica e histórica
a. Que tipo de lugar era?
O local é uma pequena elevação com quatro cumes. O mais alto atinge a
altura de 830 metros. É cerca de 90 metros mais alto que o monte do templo.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
66
b. Onde se localizava?
Estava de frente para Jerusalém e para o cômodo do templo do outro lado do
vale de Cedrom e do poço de Siloé, para o lado leste.
c. O que significa seu nome? Por que foi chamado assim?
Na época de Jesus este monte era densamente arborizado, rico em oliveiras
(tal fato deu nome ao lugar). As oliveiras no tempo do imperador Tito foram
retiradas. O monte tem qua-tro cimos: (1) O Galileu ou Viri Galilae (Homens
da Galiléia), o tradicional lugar sobre o qual os anjos falaram “Varões
galileus” (At 1:11); (2) o tradicional “Monte da Ascensão”; (3) os “Profetas”,
nome derivado duma singular gruta, chamada “os túmulos dos profetas”; (4)
“O Monte da Ofensa”, por ser ali que Salomão edificou um alto (1 Rs 11:7 e 2
Rs 23:13).
d. Alguma outra característica ou fato importante (do passado ou futuro) está
ligado a este lugar? Há alguma profecia a se cumprir nele?
Existem referências no Velho Testamento sobre o Monte das Oliveiras em 2
Sm 15:30, Ne 8:15, Ez 11:23, mas são superficiais. Pelo Monte das Oliveiras
subiu Davi para fugir de Absalão (2 Sm 15:30 e 16: 1, 13). Em 1 Rs 11:7 e 2
Rs 23:13, se referem à idolatria de Sa-lomão, à ereção de lugares altos
dedicados a Camos e Moloque, o que provavelmente fez que um dos cumes
fosse cognominado de Monte das Ofensas. No futuro (profecia), Deus dividirá
o Monte das Oliveiras em duas partes, ao vir pôr-se de pé sobre o mesmo (Zc
14:4).
Referências:
O Novo Dicionário da Bíblia. Editora Vida Nova, 2ª ed. pg. 1143-1144.
Dicionário Bíblico Universal. Editora Vida, 1992. pg. 311.
Como você pôde perceber, é importante anotar o nome dos livros que
você utilizou para a sua pesquisa.
Passo 3. É o resumo. Relacione agora, de forma textual, os fatos relacionados
ao lugar em questão. Procure manter certa ordem cronológica. Faça uma
explanação de todos os ventos, fatos e registros bíblicos sobre o local que você
escolheu estudar. Veja o nosso exemplo do passo 3.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
67
O Monte das Oliveiras – Resumo
O Monte das Oliveiras faz parte da história de Jesus, pois ele tinha o hábito
de estar lá constantemente para a oração quando estava na região de
Jerusalém. Estando neste monte, Jesus entrou triunfante em Jerusalém.
Neste mesmo monte Ele pregou sobre o futuro, a destruição de Jerusalém e
seu retorno. O Getsêmane ficava no Monte das Oliveiras, e foi ali que Jesus
orou após a última ceia, chorou e foi entregue por Jesus. Deste monte Ele
subiu aos céus. Existem profecias que indicam ser este monte o local de seu
retorno.
Um outro exemplo de estudo geográfico é o estudo de povos, cidades,
nações e regiões. Este estudo é um pouco diferente do estudo de lugares. Siga
os passos.
Passo 1. Primeiramente, como em todos os casos anteriores, inicie escolhendo
o que irá estudar e fazendo a delimitação. Exemplos: O povo de Israel no Egito;
Os samaritanos no Novo Testamento; A pregação do evangelho na região da
Macedônia, etc.
Como exemplo utilizaremos “Os filipenses para quem Paulo escreveu
sua epístola”.
Passo 2. Relacione todos os versículos em que aparece a referência e faça um
comentário sobre cada versículo. No caso de “filipenses”, precisamos
acrescentar em nossa busca o termo “Filipos”. Caso fizéssemos sobre os
“assírios”, deveremos incluir “Assíria” na busca. Escreva os resultados em uma
folha.
Filipenses – Referências
Fp 4:14 – Quando estava na região da Macedônia, Paulo foi ajudado
somente pelos irmãos filipenses.
Filipos – Referências
At 16:12 – Primeira cidade da Macedônia e colônia romana. Paulo passou
alguns dias nesta cidade;
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
68
At 20:6 – Depois dos dias dos pães asmos, partiram desta cidade para
Trôade;
Fp 1:1 – Paulo endereça uma carta aos cristãos desta cidade;
1 Ts 2:2 – Paulo revela aos tessalonicenses que foi maltratado em Filipos;
Passo 3. Com a ajuda de um dicionário bíblico, responda as seguintes
questões:
a) Onde vivia este povo? (Onde ficava esta região?)
b) Quais os fatos mais importantes em sua história?
c) Quais seus hábitos e costumes (religião, festas, cultura, etc.)?
d) Quais fatos revelados por este povo são importantes para a nossa
compreensão da Bíblia?
Proceda pesquisando as respostas e fazendo as anotações.
Filipenses – Análise histórica e geográfica
a. Onde vivia esse povo?
Este povo vivia na cidade de Filipos, que tem seu nome em homenagem a
Filipe, rei da Macedônia e pai de Alexandre Magno, que a reedificou e
embelezou. Era rica em ouro e nela foram cunhadas moedas com o nome de
Filipe. Hoje não passa de ruínas.
b. Quais foram os fatos importantes em sua história?
Filipe da Macedônia a conquistou dos tásios cerca de 300 a.C. Em 168 a.C.,
depois da batalha de Pidna, a cidade foi anexada pelos romanos e dividida
em quatro porções administrativas (distritos). Em 42 a.C., a batalha de Filipos
teve lugar entre Antônio e Otaviano por uma lado e Bruto e Cesário por outro.
Depois disso a cidade foi anexada com a vinda de colonos. A cidade cresceu
ainda mais quando em 31 a.C., depois da batalha de Áctio, na qual Otaviano
derrotou as forças conjuntas de Antônio e Cleópatra. Após isto os colonos
romanos continuaram a ter os seus direitos, até mesmo o de votar nas
assembleias romanas.
c. Quais seus hábitos e costumes (religião, festas, cultura, etc.)?
Eram muito orgulhosos de sua história. Como colônia romana, tinham
práticas idólatras.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
69
d. Quais fatos revelados por este povo são importantes para a nossa
compreensão da Bíblia?
Paulo, cidadão romano, não cita sua cidadania na epístola, apesar de isto
parecer importante para os filipenses. Em Fp 1:27, é ressaltada a importância
da cidadania celestial sobre a cidadania romana.
Estas informações anteriores podem ser colhidas em dicionários ou
manuais bíblicos. Anote as referências dos livros em que você pesquisou.
Passo 4. Agora, procure na Bíblia as histórias que ocorrem com determinado
povo ou nação. No caso dos filipenses, podemos ler os textos que falam da
criação da igreja em Atos 16 e a própria epístola escrita.
Filipenses – Fatos e narrativas bíblicas
At 16:12 – Paulo e Silas passam alguns dias na colônia de Filipos;
At 16:13 – Num sábado, Paulo prega para algumas mulheres à beira de um
rio;
At 16:14 – Entre estas mulheres estava Lídia, vendedora de púrpura da
cidade de Tiatira;
At 16:15 – Lídia creu e foi batizada. Ela fez com que Paulo ficasse em sua
casa;
At 16:16-18 – Paulo expulsa o espírito de advinha de uma mulher;
At 16:19-21 – Paulo e Silas são levados perante os magistrados;
At 16:22, 23 – Paulo e Silas são açoitados e presos;
At 16:25, 26 – Durante a noite, enquanto cantavam, são libertos de forma
milagrosa;
At 16:27 – 34 – O carcereiro e toda a sua família se convertem;
At 16:35, 36 – Os magistrados libertam Paulo e Silas;
At 16:37, 39 – Os magistrados pedem a Paulo e Silas que partam, pois são
cidadãos romanos. A cidadania romana era importante;
At 16:40 – Paulo e Silas partem de Filipos;
At 20:6 – Paulo volta a Filipos e passa cinco dias;
Fp 1:1 – Paulo escreve uma epístola para os irmãos daquela cidade;
Fp 1:5 – Os filipenses cooperavam com Paulo para a propagação do
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
70
evangelho;
Fp 1:7 – Eles ajudaram Paulo no momento em que ele fora preso;
Fp 1:27 – A superioridade da cidadania celestial que os filipenses receberam;
Fp 1:29, 30 – Os filipenses estavam passando por dificuldades, assim como
Paulo;
Fp 2:3 – Parece haver algumas brigas na igreja em Filipos;
Fp 2:19 – Paulo quer mandar Timóteo para saber como eles estão;
Fp 2:24 – Paulo desejava voltar a Filipos e vê-los pessoalmente;
Fp 2:25 – Epafrodito é enviado á Filipos levando esta carta;
Fp 2:26 – Epafrodito estava, literalmente, morrendo de saudades dos
filipenses;
Fp 3:2 – Parece que os filipenses estavam recebendo falsos obreiros (cf.
1:14-19);
Fp 3:3 – Estes falsos obreiros estavam exigindo que eles fossem
circuncidados;
Fp 3:20 – A nacionalidade do Reino de Deus é maior;
Fp 4:2 – Duas mulheres estava causando desunião na igreja. Evódia e
Síntique;
Fp 4:15 – Paulo relembra o fato dos filipenses terem sido os únicos a
prestarem auxílio financeiro na Macedônia;
Fp 4:18 – Mesmo não estando em Filipos, os cristãos de lá enviaram suas
ofertas.
Passo 5. Faça um resumo utilizando os versículos colhidos. Se surgir alguma
dúvida, procure suas respostas em dicionários ou comentários bíblicos.
Procure criar um texto que explique bem o que você pesquisou.
Filipenses – Resumo
Os filipenses ouviram o evangelho por intermédio de Paulo durante a sua
primeira viagem pela Europa. Fundada cerca de 40 d.C. no princípio de sua
segunda viagem missionária. Lídia e o carcereiro estavam entre os novos
convertidos. O Manual Bíblico Harley cita Lucas como seu primeiro pastor e
responsável pelo desenvolvimento daquela igreja.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
71
Paulo cita a igreja dos filipenses como cooperadores nas suas dificuldades e
eles mesmos perseguidos por causa do evangelho, inclusive quando fora
preso. Contribuíram financeiramente com Paulo várias vezes para o seu
ministério. Havia um problema de divi-são da igreja, o que faz Paulo citar
muitas vezes a necessidade de unidade, principalmente de Evódia e Síntique,
duas líderes da igreja, mas que estavam causando dissensão pelas
discordâncias que tinham.
Exercício 2:
Utilizando os passos apresentados no método de estudo geográfico, escolha
um povo, lugar, nação, cidade ou região e faça a sua pesquisa.
9.3.3 Estudo de Palavras ou tópico.
O estudo de palavras ou tópico é um dos mais complexos e trabalhosos,
mas que produz bons resultados. Pelo fato de neles estarem envolvidos muitos
passos, aconselhamos que o iniciante limite bem o alcance do seu estudo.
Exemplos: O pecado em Romanos; A obediência em 1 João; A alegria em
Filipenses; O sacerdócio em Hebreus. Um local para fazer bons estudos é no
livro de Provérbios. Exemplos: A preguiça em Provérbios; O adultério em
Provérbios; A sabedoria em Provérbio.
Para este estudo serão importantes os seguintes materiais:
a) Um léxico, chave-bíblica ou concordância, para encontrar em quais
textos estão as palavras que você quer estudar;
b) Um dicionário (de preferência bíblico) para buscar as definições da
palavra;
c) Manual de doutrina para tirar dúvidas com, por exemplo, se você estudar
sobre a palavra “salvação”;
d) Se tiver acesso, tenha em mãos algum livro que traga explicações das
palavras em grego ou hebraico, pois podem ampliar sua compreensão.
Passo 1. Defina a palavra e limite o estudo. Neste estudo você poderá utilizar
quaisquer palavras em português, grego ou hebraico. Aconselhamos a limitar o
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
72
estudo, pois algumas palavras são muito utilizadas nas Escrituras com, por
exemplo, a palavra “salvação”. Obviamente o estudante poderá estudar em
toda a Bíblia, mas deve estar consciente de que maior será seu trabalho. Como
exemplo em nosso estudo vamos usar a palavra “justificação”. A limitação será
o livro de Romanos. Então, o título do nosso estudo será “A justificação em
Romanos”.
Como você fez anteriormente, procure no livro de Romanos os
versículos onde encontramos a palavra “justificação”. Anote a referência e faça
uma observação ao lado. Talvez seja importante ler o contexto no qual se
encontra o versículo para compreendê-lo totalmente.
A justificação em Romanos
Rm 4:25 – Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa
justificação;
Rm 5:16 – A justificação veio pela graça, apesar de todos os nossos
pecados;
Rm 5:18 – A condenação veio por um homem, e a justificação por um
homem, também;
Rm 9:30 – A justificação dos gentios pela fé;
Passo 2. Procure também pelas palavras relacionadas, como conjugações
verbais (ex: salvação – salvar, salvou, salvo). Da mesma forma que no quadro
anterior, anote o versículo e a observação ao lado.
A justificação em Romanos – Palavras relacionadas
Justificou:
Rm 8:30 – Foi Deus quem nos predestinou, chamou, justificou e glorificou;
Justificará:
Rm 3:30 – É Deus quem justificará tanto o judeu como o não-judeu;
Justifica:
Rm 4:5 – A justiça vem pela fé, e não pelas obras;
Rm 8:33 – Não há acusação para aquele que é justificado por Deus;
Justificado:
Rm 3:20 – O homem é justificado pela fé e não pelas obras;
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
73
Rm 3:28 – Novamente, o homem é justificado pela fé, independente das
obras;
Justificador:
Rm 3:26 – Deus é justo e justifica aquele que tem fé em Jesus; Justo:
Rm 3:10 – Não há ninguém justo;
Justificados:
Rm 2:13 – Será justificado aquele que pratica a lei (?);
Rm 3:24 – A justificação é gratuita, pela graça de Deus;
Rm 5:1 – A justificação é por meio da fé;
Rm 5:9 – Somos justificados pelo sangue de Cristo e seremos salvos da ira;
Justiça:
Rm 1:17 – O justo viverá pela fé;
Rm 3:22 – A justiça mediante Jesus;
Rm 4:3 – Abraão foi justificado pela fé;
Rm 4:5 – A justiça vem pela fé;
Rm 4:6 – Deus justifica independente das obras;
Rm 4:11 – Abraão creu antes de ser circuncidado. É o pai da fé;
Rm 4:13 – A justiça vem pela fé;
Rm 5:21 – A graça reina pela justiça para a eternidade;
Rm 6:18 – Ao sermos libertos do pecado, somos servos da justiça;
Rm 6:19 – Devemos nos oferecer para servir à justiça para a santificação;
Rm 10:4 – O fim da lei é Cristo, para justiça de todo o que crê;
Rm 10:10 – Com o coração se crê para a justiça;
Passo 3. Agora que você já selecionou os textos onde aparecem a palavra
“justificação” e as relacionadas, procure as definições em um dicionário bíblico.
Procure se ater aos comentários sobre as palavras no Novo Testamento e, se
for possível, no próprio limite de seu estudo.
Neste exemplo, vamos procurar a definição para a palavra “justificação”
no Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, da Ed. Vida
Nova. Poderemos anotar trechos, ideias ou fazer pequenos resumos que
facilitem nossa compreensão.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
74
A justificação em Romanos – Definição
É Paulo quem faz o emprego mais frequente de dikaios, dando-lhe sua gama
mais larga de sentidos. De todos os escritores do NT, é ele quem estabelece
a conexão mais estreita com o AT, ao falar da justiça de Deus, e da
justificação dos pecadores, da parte de Deus. A justiça de Deus é
essencialmente Seu modo de tratar Seu povo, baseado na Sua aliança, que
assim se constitui em uma nova humanidade, um novo Israel, composto de
judeus e gentios juntamente. Esta justiça divina se revela pelo fato de que os
propósitos de Deus não são frustrados pelo pecado do homem, pelo
contrário, Ele continua sendo onipotente, tanto co-mo Senhor quanto como
Salvador, a despeito da rebeldia do homem.
A transgressão e a incredulidade trouxeram ao mundo a descrença, com o
resultado que todos os homens caíram sob a condenação divina. Agora,
porém, o ato justo (dikaioma) de um só homem (Cristo), Sua confiança total
naquele que justifica os ímpios, desafia a maldição do pecado ao trazer para
o mundo a possibilidade de uma confiança em Deus. O resultado, na vinda
de Cristo, será a absolvição, o “declarar justo”, de todos aqueles que são
membros da nova humanidade (Rm 5:16-19).
Ninguém pode ser justificado pela obediência à lei, pois se isto fosse possível
não seria necessária a morte de Cristo. O homem só pode ser justificado
mediante a fé em Cristo (Rm 3:26), isto é, mediante o confiar total e
exclusivamente na graça de deus, a qual, por sua definição, tem que ser um
dom gratuito (Rm 3:24). Esta justificação pela fé é tanto para judeus como
para gentios. Agora, já que o crente morreu com Cristo no que diz respeito ao
pecado, e agora é justificado (Rm 6:7), vive somente para deus (Rm 6:11). O
cristão deve pertencer somente a Deus.
A justificação do indivíduo, portanto, tem sua origem naquela de todos os
homens (Rm 5:19), de tal modo que não somos nós que possuímos a justiça
– pelo contrário, é a justiça que nos possui; nós somos servos dela (Rm
6:18). Nossa justificação não somente nos advém da parte do futuro: também
se estende para o futuro.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
75
Passo 4. Se ao relacionar os versículos restar alguma dúvida sobre algum
significado, você pode procurar em algum comentário bíblico o versículo
específico para esclarecer. Um exemplo que podemos usar neste estudo é Rm
2:13. Neste texto, Paulo diz que “... os simples ouvidores da lei não são justos
diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados”. Paulo
parece afirmar que o que somente aquele que pratica a lei será justificado, mas
isto estaria em contradição com a doutrina de que a salvação não vem pela
obediência à lei. Qual seria a resposta? A resposta busquei no Novo
Testamento Interpretado Versículo por Versículo, de R. N. Champlim da Ed.
Candeia.
A justificação em Romanos – Rm 2:13
A resposta para este texto é de que Paulo fala do resultado da pessoa
justificada. Quem foi justificado procura obedecer a Lei de Deus, como é dito
nos vv. 7 e 10. Ele diz que a obediência à Lei “só pode ser conseguida
mediante a redenção que há em Cristo”. “É verdade que os verdadeiros
discípulos de Cristo, sendo transformados em Sua imagem moral e
metafísica, eventualmente poderão cumprir as justas exigências da lei... a
justificação deles não se deverá ao fato de que cumpriram tão perfeitamente
a lei mosaica, e, sim, porque Cristo foi perfeitamente formado neles, e um
subproduto disso será o cumprimento da lei”.
Passo 5. Cuidado com palavras iguais e significados diferentes. Algumas
palavras são iguais, mas que seu significado é diferente. Um exemplo é a
palavra “salvação”, que pode significar salvação da condenação eterna ou a
salvação de um castigo iminente ou salvação física. A palavra “dormir” também
pode significar “estar dormindo” ou “estar morto”. Dizer “Jesus veio em carne”
não quer dizer que Ele veio em pecado, mas que se fez em natureza humana.
Então, muito cuidado com a utilização da palavra no texto que você está lendo.
Se você se deparou com alguma palavra que não cabe dentro do seu propósito
de estudo, pode retirá-la. Se você pretende falar da salvação eterna, não
convém utilizar textos que falam da salvação de uma guerra, de uma doença
ou coisa parecida. Incluir estes textos em seu estudo pode provocar muitas
distorções, conclusões erradas, erros teológicos e até heresias.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
76
Passo 6. Atenção nas palavras doutrinárias. Outro cuidado que devemos ter é
com a doutrina na qual a palavra pode estar inserida. Este é o caso da palavra
“justificação”, que é parte essencial da doutrina da salvação. Consultar um bom
manual de doutrina é essencial para compreender e evitar erros de
interpretação.
Algumas outras palavras não fazem referência à doutrina alguma ou não
são essenciais dentro de algum ponto teológico. Estudar sobre animais,
plantas, instrumentos musicais, objetos, entre outros, não nos trazem o
trabalho da pesquisa mais aprofundada em comentários bíblicos.
Passo 7. Escreva um texto final com suas conclusões. Procure acrescentar
neste texto algo prático ou de que forma Deus tem falado com você através
deste estudo. Apesar de ser apenas um resumo, exponha suas ideias de forma
clara e coerente, de forma que tanto você como outra pessoa possam se
utilizar dele.
A justificação em Romanos – Resumo
O apóstolo Paulo escreveu muito sobre a justificação em Romanos.
Ninguém pode ser justificado pela prática da lei, seja ele judeu ou gentio. O
próprio Abraão foi justificado pela fé, antes de ser circuncidado, tornando-se o
pai da fé, de judeus e gentios. É pela graça de Deus, através da fé em Jesus
Cristo, que o homem alcança a justificação. Esta justificação é que garante
ao homem que ele é aceito por Deus, e será salva da Sua ira.
Pelo que estudei, apesar de não ser justificado pela lei, preciso obedecer a
Deus e à Sua Palavra como resultado da minha salvação. Paulo diz que sou
um servo da justiça, e não posso permitir que eu seja usado para a
desobediência. Realmente, preciso ter uma vida grata a Deus, pois a
justificação – perdão e salvação – só se tornaram possíveis mediante o
sacrifício espontâneo de Cristo.
Exercício:
Seguindo os passos que você aprendeu no método de estudo de palavras,
esco-lha uma para exercitar seu aprendizado. Como este estudo é um pouco
mais complexo que os demais, procure escolher uma palavra que não envolva
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
77
teologia ou doutrina e que possa ser bem delimitada. Que tal estudar alguma
palavra no livro de Provérbios?
9.4 Método de Estudo Expositivo
9.4.1Método de estudo expositivo ou analítico.
O método de estudo expositivo ou analítico é um dos mais difíceis e
completos que pode ser feito pelo estudante iniciante. Quando vocês estudar
grego e hebraico, descobrirá que existe um outro método que é tido como o
mais profundo. É a chamada exegese, que necessita de maior domínio das
estruturas linguísticas do Novo e do Velho Testamento.
Este método de estudo expositivo é utilizado na pesquisa de livros ou
versículos. Quando é feito a partir de um versículo ele é denominado de
“sintético”, e quando o fazemos a partir de um livro, o chamamos de “analítico”.
Nesta apostila estudaremos apenas o método analítico, por tornar o
estudante mais hábil na compreensão dos versículos de forma isolada, posto
que é feito a partir da totalidade.
Passo 1. A primeira coisa a ser feita é escolher qual livro você irá estudar.
Visto que este é um método que preza pela inteireza do texto, não poderá ser
delimitado o estudo. Após fazer esta escolha, busque responder as questões
abaixo. Como exemplo, estudaremos o livro de Filemom.
a) Qual o estilo do livro? (epístola, profético, poético, histórico, etc...) Os
livros possuem características diferentes, e isto você aprenderá em
hermenêutica.
b) Quem escreveu o livro? Quem foi o autor do livro em questão.
c) Quando escreveu?
d) Onde e como estava quando escreveu?
e) Para quem escreveu? Como eram os destinatários?
f) Por que escreveu? O que o motivou a escrever? Quais são os
problemas ou dificuldades apontados?
g) Há nele alguma informação importante? Algo que é dito sobre o livro que
deva ser citado?
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
78
Em uma folha separada, responda estas questões. Caso surjam mais
dúvidas, proceda a uma pesquisa mais profunda sobre estas questões.
A Epístola de Paulo a Filemom - Informações
a. Qual o estilo do livro? O livro é uma carta (epístola).
b. Quem escreveu? Foi o apóstolo Paulo.
c. Quando escreveu? Cerca de 62 d.C.
d. Onde e como estava quando escreveu? Paulo estava aprisionado em
Roma (1ª prisão).
e. Para quem escreveu? Escreveu para Filemom, cristão de Colossos dos
convertidos de Paulo. Era uma pessoa abastada. Em sua casa reunia-se uma
igreja. Parece que ele e Paulo eram amigos íntimos. Paulo nunca visitou
Colossos (Cl 2:1), e deve ter conhecido Filemom em outra parte,
provavelmente em Éfeso. A mulher de Filemom chamava-se Afia e seu fi-lho,
Arquipo.
f. Por que escreveu? Filemom possuía um escravo chamado Onésimo que
teria roubado ao seu senhor e fugido para Roma. Lá encontrou Paulo e se
converteu. Paulo queria tê-lo em Roma como seu ajudante, mas não sem o
consentimento de Filemom e sentiu a necessidade de enviá-lo de volta ao
seu senhor. Um escravo fugitivo poderia ser punido como o seu se-nhor
quisesse e quem o retivesse deveria pagar pelo tempo que ele deixou de
trabalhar. O objetivo da carta era pedir a Filemom que perdoasse o escravo
fugitivo e o recebesse como irmão em Cristo, oferecendo-se Paulo para
restituir o dinheiro furtado. A carta tem uma tonalidade muito cortês,
culminando com um comovente apelo a Filemom para que recebesse a
Onésimo como se fosse o próprio apóstolo Paulo.
g. Há alguma outra informação importante? Onésimo foi mandado a Colossos
com Tíquico. A Bíblia não dá nenhuma ideia de como esse senhor recebeu o
escravo de volta. Há, porém, uma tradição que diz ter sido recebido por
Filemom que, compreendendo qual era a intenção de Paulo, deu-lhe a
liberdade. É assim que o Evangelho faz. Cristo, no coração do escravo, fê-lo
reconhecer as praxes sociais de sua época e voltar a seu senhor, resolvido a
ser um bom escravo como irmão na fé e dar-lhe a liberdade. Há uma tradição
de que Onésimo veio a ser bispo da igreja em Beréia.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
79
Livros pesquisados:
O Novo Comentário da Bíblia. Ed. Vida Nova, 3 ed. pg. 1339 – 1340.
Bíblia Thompson. Ed. Vida, pg. 1428.
Dicionário Bíblico Universal Buckland. Ed. Vida, 1992, pg. 162.
O Novo Dicionário da Bíblia. Ed. Vida Nova, 2 ed. pg. 620 – 621.
Manual Bíblico Harley. Ed. Vida Nova, 4 ed. pg. 569.
Passo 2. Faça um esboço do livro. Muitas Bíblias trazem um pronto. Os
comentários e alguns dicionários e manuais o trazem também. Você pode
encontrar muitos esboços diferentes. Procure colocar aquele que for mais
utilizado ou que for mais claro. O esboço fará você compreender melhor o
pensamento do autor e o que ele queria dizer. O esboço também beneficia na
subdivisão dos parágrafos e no estabelecimento do contexto.
Para o livro de Filemom, entre muitos esboços pesquisados, utilizamos o
do Novo Comentário da Bíblia.
A Epístola de Paulo a Filemom - Esboço
O Novo Comentário da Bíblia, pg. 1340.
I. Saudação (v 1 a 3);
II. Ação de graças e oração por Filemom (v 4 a 7);
III. Justificativa por Onésimo (v. 8 a 21);
IV. Saudações finais e bênçãos (v 22 a 25).
Passo 3. Esboço comentado. Faça observações sobre cada versículo, dentro
de cada parte do esboço. Anote até os pequenos detalhes, como formas de
tratamento, nomes, sentimentos, etc. Preste muita atenção no que chamamos
de “conectivos” (portanto, todavia, por isso, logo, então, a fim de que, visto que,
etc.), pois fazem uma profunda relação com o contexto. Veja o exemplo dos vs.
8 e 9.
A Epístola de Paulo a Filemom – Esboço comentado
I. Saudação (v 1 a 3);
v. 1 – Paulo, que está aprisionado por causa de Jesus, juntamente com
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
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Timóteo, escrevem para o cooperador Filemom;
v. 2 – Dirigem a epístola a Afia (esposa) e Arquipo (filho), a quem chamam de
“camarada”. Na casa deles se reúne uma igreja;
v. 3 – Os Saúdam com a graça e a paz;
II. Ação de graças e oração por Filemom (v 4 a 7);
v. 4 – Paulo sempre lembra de filemom em suas orações e agradece a Deus
por ele;
v. 5 – Filemom se faz notável pelo amor a Deus e pelos seus irmãos e pela
grande fé;
v. 6 – Paulo ora para que Filemom possa comunicar o evangelho
eficazmente;
v. 7 – Paulo sente alegria e consolo por saber que Filemom socorre aos que
precisam;
III. Justificativa de Onésimo (v. 8 a 21);
v. 8 – Por causa deste amor que Filemom tem pelas pessoas (por isso) ele
escreve a epístola. Paulo diz que ele poderia mandar, ordenar a fazer o que
deve ser feito;
v. 9 – Entretanto (todavia) ele não age assim. Pede o que pede por amor.
Está velho e preso;
v. 10 – Seu pedido é por Onésimo, que foi convertido quando Paulo estava
preso;
v. 11 – Paulo cita que Onésimo, apesar de escravo, era inútil (pode querer
dizer que era um escravo preguiçoso e relapso). Hoje era útil para Paulo e
para Filemom. Paulo enviou Onésimo de volta (quem levou esta epístola foi o
próprio Onésimo);
v. 12 – Onésimo leva consigo o amor de Paulo (coração);
v. 13 – Paulo queria que Onésimo ficasse com ele para que este o servisse
no lugar de Filemom;
v. 14 – Paulo quer que Onésimo fique, mas só se Filemom concordar;
v. 15 – Paulo demonstra a soberania de Deus, que permitiu que Onésimo
deixasse seu senhor para que ambos pertencessem um ao outro por toda a
eternidade;
v. 16 – Não mais como escravo, mas como um querido irmãos em Cristo;
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
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v. 17 – Paulo pede, por consideração a ele, que receba Onésimo como se
estivesse recebendo a ele mesmo;
v. 18 – Paulo assume as dívidas de Onésimo. Esse “ponha na conta” pode
lembrar a Filemom aquilo que o próprio Paulo já fez por ele;
v. 19 – Paulo escreve do próprio punho que pagará o que Onésimo deve. No
entanto ele lembra a Filemom que este lhe deve a própria vida;
v. 20 – Filemom deve receber a Onésimo por amor a Cristo e para alegrar o
coração de Paulo;
v. 21 – Paulo diz que tem certeza de que ele obedecerá e que ainda fará
mais. Que “mais” será esse?
IV. Saudações finais e bênçãos (v. 22 a 25);
v. 22 – Paulo pede que preparem, pela fé, a sua ida até eles;
v. 23 – Epafras, preso com Paulo, saúda a Filemom;
v. 24 – Saúdam também Marcos, Aristarco, Demas e Lucas;
v. 25 – Paulo encerra desejando que a graça de Cristo esteja com eles.
Passo 4. Anote dúvidas ou observações que precisam ser aprofundadas. Ao
fazer o esboço comentado, podem surgir questões que precisam ser
esclarecidas. Talvez sejam nomes citados, expressões, promessas, questões
de cultura, lugares, eventos históricos ou coisas do tipo. Ao procurar esclarecer
estes fatos, o estudo é bastante enriquecido.
Lembre-se que o estudo bíblico é como garimpar ou cavar um poço:
sempre ir mais fundo. É, com toda a certeza, uma investigação.
A Epístola de Paulo a Filemom – Dúvidas
Os nomes “Afia” e “Arquipo” são citados em outros lugares?
Paulo deveria ter quantos anos quando escreveu esta carta?
O que se deveria fazer com um escravo fugitivo?
Por que Paulo faz questão de declarar que escreve a epístola de próprio
punho?
Paulo visitou Filemom como diz o v. 22?
Os nomes citados nos vs. 23 e 24 aparecem em outras ocasiões?
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
82
Se este exercício de sondagem for realizado, poderá descobrir que era
um hábito comum de Paulo citar as suas epístolas para que um amanuense as
escrevesse. Saberia, também, que um senhor poderia até matar o seu escravo
se estivesse descontente com ele (esta lei era diferente em Israel, pois um
judeu não poderia maltratar um escravo). Dos nomes citados nos versículos 23
e 24, descobrirá que Demas, a certa altura do ministério, abandona a Paulo.
Passo 5. Tire conclusões práticas do seu estudo e faça aplicações pessoais.
A Epístola de Paulo a Filemom – Conclusão
A mudança que Cristo trouxe para o coração de Onésimo, que se arrependeu
após ter roubado seu dono e fugido. Decidiu fazer o que era certo e voltar
para ele, assumindo todos os riscos. Devo fazer o que é certo, mesmo
sofrendo consequências. Preciso assumir meus erros e concertá-los.
A mudança que Cristo trouxe para o coração de Filemom, que recebeu a
Onésimo não mais como escravo, mas como um irmão em Cristo, dando-lhe
a liberdade. Preciso amar a todas as pessoas com o sincero amor de Cristo.
A mudança que Cristo trouxe para a sociedade, pois numa época tão
escravista, o amor de Cristo se sobressaiu a ponto de unir duas pessoas tão
diferentes como Filemom e Onésimo. Não devo temer ao mundo, pois o amor
de Cristo é muito amor.
Exercício:
Faça o mesmo com um livro da Bíblia. Aconselhamos a iniciar com um livro
que tenha um capítulo só ou, no máximo, dois capítulos.
9.5 Método de Estudo das Dificuldades Bíblicas
O apóstolo Pedro já dizia: “Por essa razão, pois, amados, esperando
estas coisas, empenhai-vos por serdes achados por ele em paz, sem mácula e
irrepreensíveis, e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como
igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria
que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer
em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender,
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
83
que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais
Escrituras, para a própria destruição deles” (2 Pedro 3:14-16).
Perceba que o apóstolo Pedro reconhece que algumas coisas que Paulo
escreve são difíceis de entender, principalmente para os “ignorantes”, isto é, os
que não tem conhecimento, e para os instáveis, que são as pessoas sem moral
cristã, sem espiritualidade. O próprio Pedro reconhece essas dificuldades e, da
mesma forma, precisamos tomar muito cuidado ao interpretar certos trechos
das Escrituras.
Este método de estudo das dificuldades bíblicas tem o propósito de lhe
chamar a atenção para alguns pontos que precisamos ter em mente quando
nos deparamos com algum texto mais complicado ou com alguma aparente
“contradição” da Bíblia.
A primeira coisa a se fazer é lembrar que, para nós crentes, a Bíblia é a
Palavra de Deus, ausente de erros e contradições, infalível e perfeita. A nossa
única regra de fé e prática. Mas talvez você questione agora: De onde surgem
estas dificuldades? Para isto nós temos algumas respostas.
a) O abismo temporal: querendo ou não, existe um tempo decorrido entre a
época em que os livros foram escritos e nossos dias de hoje. Isto implica
em conhecer a história pela qual perpassa as narrativas bíblicas.
Compreender a história de reis, profetas, povos, pessoas e da própria
nação de Israel é essencial para compreendermos melhor as Escrituras;
b) O abismo cultural: A nossa cultura é completamente diferente da cultura
dos povos citados na Bíblia. Não vemos em nossa cidade o sacrifício de
crianças a Moloque, não temos templos com prostitutas cultuais, não
presenciamos apedrejamentos ou crucificações, nossa cidade não tem
como lei a Bíblia e outras questões relativas à cultura. Então, algumas
coisas nós não compreendemos por causa da distância cultural. Um
exemplo é o do casamento que é tanto citado no Novo Testamento. Se
não soubermos como acontecia um casamento judaico, não
compreenderemos totalmente o que o Senhor Jesus queria dizer;
c) O abismo linguístico: A Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego.
Para termos uma ideia de como isso é significativo, devemos pensar em
como é diferente o português falado no Brasil do que é falado em
Portugal. Existem expressões características da língua hebraica, e por
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
84
trás dela existe uma forma de comunicar que é particular a eles. A falta
de compreensão pode vir por causa da nossa falta de conhecimento
destas línguas;
Diante dessas dificuldades, aconselhamos ao estudante um
aprofundamento cada vez maior na cultura, língua e história bíblica. De
qualquer forma, é importante lembrar que se há alguma contradição na Bíblia é
porque você não entendeu direito. Algumas outras coisas nós simplesmente
não temos como saber, pois não temos dados suficientes para interpretar
certas passagens. O que damos aqui são alguns conselhos na tentativa de
ajudá-lo a tirar suas dúvidas por meio do estudo da Bíblia.
Passo 1. Estabeleça qual dificuldade você irá estudar. Ao se deparar com um
problema, uma incompreensão ou aparente contradição, anote os versículos e
quais são suas dúvidas. Como exemplo, estudaremos dois textos que entram
em aparente contradição em Atos.
Estudo de At 9:7 e At 22:9
Em At 9:7 diz que os companheiros de Paulo ouviram a voz e não viram a
ninguém.
Em At 22:9 diz que os companheiros de Paulo viram a luz, mas não ouviram
a voz.
Há aqui uma aparente contradição, pois em At 9:7 há a confirmação de que
os homens que escoltam Paulo para Damasco ouvem a foz e não vêem
ninguém. Já em At 22:9 vemos que estes mesmos homens vêem a luz e não
ouvem nenhuma voz. Existe uma contradição neste texto? Afinal, os homens
ouviram ou não a voz? Viram ou não a luz?
Passo 2. Defina as questões de autoria. Você precisa fazer uma pergunta:
Quem escreveu os textos em questão? Estão em livros diferentes ou no
mesmo livro? Esta questão é especial, principalmente no Novo Testamento e
nos Evangelhos, pois são fatos narrados por observadores diferentes. Em
muitas curas de Jesus vemos um número diferente entre os Evangelhos: uns
citam a cura de um cego, outros dois. Erro? Não! A intenção de um autor era
mostrar a atitude do cego que intercedeu pela cura dos dois.
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
85
No caso do nosso exemplo, a dificuldade permanece, pois os dois textos
se encontram no mesmo livro e foram escritos pelo mesmo autor: Lucas.
Passo 3. Verifique as indicações dadas pelo próprio texto. Procure indícios e
direcionamentos que podem estar contidos no texto, principalmente no
contexto (versículos anteriores e posteriores). Talvez algo tenha passado
desapercebido. Leia várias vezes até perceber cada detalhe. Anote as
respostas que podem surgir neste momento. Veja o que podemos descobrir a
mais nestes dois textos de Atos.
Estudo de At 9:7 e At 22:9
O texto de At 9:7 é uma narração de Lucas sobre algo que aconteceu com
Paulo. Aqui é o fato narrado por Lucas sobre a conversão de Paulo. Em At
22:9 é o fato narrado pelo próprio Paulo. É o seu testemunho pessoal. Paulo
está falando da revelação que recebeu de Jesus.
Talvez, o que Lucas quis mostrar é que algo aconteceu com Paulo que
aqueles homens viram e ouviram, mas não conseguiram identificar. Paulo,
falando deste acontecimento em At 22:9 e referindo-se ao que lhe tinha sido
dito pelo Senhor Jesus, diz que somente ele pode ver ao Senhor e ouvir o
que Ele falava.
Passo 4. Procure apoio para sua resposta provisória. Existem alguns
comentários voltados para resolver estas questões de aparentes contradições
na Bíblia e outros comentários que podem ser úteis para lhe trazer um
esclarecimento final.
Olhar o comentário deve sempre ser precedido por uma meditação e
busca própria por esclarecimento. O último passo é a utilização do comentário,
e isto se for necessário, pois, talvez, nem seja necessário. Além do mais, não é
pecado estudar comentário bíblico, pois Deus capacitou alguns homens com
sabedoria e inteligência para estudarem e escreverem livros que nos servissem
de ajuda a apoio, para que não desviássemos e verdade revela na Palavra.
Passo 5. Escreveu a conclusão de sua pesquisa. Caso não tenha conseguido
encontrar a solução e a dúvida permanece, não se preocupe, pois não é pelo
fato de não conseguir explicar um texto que a Bíblia deixa de ser a Palavra de
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO
86
Deus e, enfim, o próprio apóstolo Pedro dizia que existem coisas difíceis de
entender.
Estudo de At 9:7 e At 22:9
O que conclui com minha pesquisa é que quando Lucas (At 9:7) nos conta
que os homens que acompanhavam Paulo ouviram uma voz e não viram a
ninguém, estava dizendo que eles ouviram algo, mas não compreenderam o
que era; apesar de virem algo, não viram ninguém falando.
Esta narrativa não entra em confronto com a de Paulo que, contando seu
testemunho (At 22:9), diz que os homens que o acompanhava viram uma luz,
mas quando ouviram um som não puderam identifica se era alguém que
falava ou o que falava. Então, eles puderam ver uma luz, mas não viram ao
Senhor como Paulo. Ouviram um som, mas não puderam perceber que eram
palavras humanas.
Por aqui terminamos o nosso curso de Métodos de Estudo Bíblico.
Esperamos que este ajude aos irmãos na pesquisa e estudo da Palavra de
Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FILHO, Rev. João Coimbra. Introdução ao Estudo do Antigo Testamento. REMA, 2005.
SILVA, Rev. Hélio O. Panorama Bíblico – Antigo e Novo Testamento. Goiânia: Seminário Presbiteriano Brasil Central, 2003.
ZUHARS JR, David Alfred. ESTUDOS RESUMIDOS NOS LIVROS POÉTICOS. Disponível em <http://www.palavraprudente.com.br/estudos/david_z/livrospoeticos/cap01.html>. Acesso em 23 ago. 2013.
XAVIER. Pr. Handerson. Métodos de Estudo Bíblico. Disponível em < http://www.slideshare.net/pastorhanderson/metodos-de-estudo-bblico >. Acesso em 23 ago. 2013.